o ponte velha | dezembro de 2015

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RESENDE e ITATIAIA - DEZEMBRO DE 2015 Nº 236 . ANO 20 - JORNAL MENSAL Distribuição gratuita [email protected] www.pontevelha.com Pensar globalmente e agir loucamente! Esta edição vem com o encarte da Revista Sesmaria Minha Pátria é a língua portuguesa falada em Paris Nosso colaborador, Joel Pereira, não escreverá mais a coluna Politicalya, mas continuará no Jornal, escrevendo sobre o “Folclo- re Político da Região das Agulhas Negras” e retornando com a coluna “Nossa História, Nossa Gente”. A Politicalya foi uma cria- ção do saudoso Toninho Capitão, sucedido na redação pelo Joel, que reúne as qualidades da boa escrita e o comedimento indispen- sável para lidar com os temas espinhosos da política local, num universo onde todos se conhecem e estimam. Difícil substituí-lo. A pedido do Gustavo Praça, nosso jornalista responsável e idealizador deste jornal-revista que completa 20 anos, a editoria passa a ser par- tilhada com o Instituto Campo Bello, entidade sem fins lucrativos, que se afina com a proposta do Ponte Velha e se alinha com sua missão de refletir criticamente o momento histórico da Região das Agulhas Negras, desde sua consciência ambiental e sensibilidade sócio-cultural. 2016 Dom Pedro II, morto, vestido em uniforme de Almirante da Armada do Brasil, com as medalhas e fitas das quais era dignitário, segurando o crucifixo em prata de lei, enviado pelo Papa Leão XIII. Paris, 5 de Dezembro de 1891.

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Periódico local, Resende e Itatiaia, RJ

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Page 1: O Ponte Velha | Dezembro de 2015

RESENDE e ITATIAIA - DEZEMBRO DE 2015Nº 236 . ANO 20 - JORNAL MENSAL

Distribuição [email protected]

www.pontevelha.com

Pensar globalmentee agir loucamente!

Esta edição vem com o encarte da Revista

Sesmaria

Minha Pátria é a língua portuguesa falada em Paris

Nosso colaborador, Joel Pereira, não escreverá mais a coluna Politicalya, mas continuará no Jornal, escrevendo sobre o “Folclo-re Político da Região das Agulhas Negras” e retornando com a coluna “Nossa História, Nossa Gente”. A Politicalya foi uma cria-ção do saudoso Toninho Capitão, sucedido na redação pelo Joel, que reúne as qualidades da boa escrita e o comedimento indispen-sável para lidar com os temas espinhosos da política local, num universo onde todos se conhecem e estimam. Difícil substituí-lo.

A pedido do Gustavo Praça, nosso jornalista responsável e idealizador deste jornal-revista que completa 20 anos, a editoria passa a ser par-tilhada com o Instituto Campo Bello, entidade sem fi ns lucrativos, que se afi na com a proposta do Ponte Velha e se alinha com sua missão de refl etir criticamente o momento histórico da Região das Agulhas Negras, desde sua consciência ambiental e sensibilidade sócio-cultural.

2016

Dom Pedro II, morto, vestido em uniforme de Almirante da Armada do Brasil, com as medalhas e fi tas das quais era dignitário, segurando o crucifi xo em prata de lei, enviado pelo Papa Leão XIII. Paris, 5 de Dezembro de 1891.

Page 2: O Ponte Velha | Dezembro de 2015

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1) PENSAMENTO DO MÊS: “Houve momento em que nós, brasileiros, acreditamos no mote segundo o qual a esperança tinha vencido o medo. De-pois, nos deparamos com a ação penal 470 (mensalão) e descobrimos que o ci-nismo tinha vencido a esperança. Ago-ra, parece-se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça” (Dra. Cármen Lúcia – Ministra do Supremo Tribunal Federal).

2) DEDICATÓRIA - Dedicamos a coluna deste mês ao Oswaldo Ribeiro Teixeira, funcionário municipal, plan-tador das mangueiras às margens do Rio Paraíba, cujas frutas fazem a festa da garotada resendense, nesta época do ano.

3) OS ESCÂNDALOS NA POLÍTICA– Um servidor público (concursado, no-meado ou eleito) deveria sempre ter em mente um ensinamento do saudoso Dr. Luís Alberto Whately: “O dinheiro públi-co tem fi ns certos, e não certos fi ns”. Há casos em que a linha divisória entre o certo e o errado é muito tênue. A coisa se complica quando o servidor confi a na pessoa errada ou passa a integrar um grupo comprometido com práticas espúrias. Muitas vezes, seduzido pelo dinheiro e pelo poder, até passa para o Lado Sombrio da Força. A História nos mostra que, onde há dinheiro e poder, poderá haver corrupção. Acontece que, nos últimos tempos, houve uma profi s-sionalização muito grande da “política” e um gigantesco aparelhamento do Estado – contaminando outros esca-lões, com o péssimo exemplo – onde o errado vinha massacrando o certo. Havíamos, então, chegado à indesejá-vel situação prevista por Rui Barbosa: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter ver-gonha de ser honesto.”

A reação da sociedade, no entanto, veio mais rápido do que pensávamos que viria. E o mais interessante é que veio por intermédio de órgãos ofi ciais de controle. A Controladoria Geral da União, o Tribunal de Contas da União, os Ministérios Públicos Estadual e Federal, a Justiça de Primeiro Grau, o Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal, a Re-ceita Federal e o Senado Federal estão nos dando claros e bonitos exemplos de suas missões constitucionais, enfren-tando o crime organizado e instalado nas várias esferas do poder, punindo os desvios, com rigor.

4) OS CANDIDATOS SALVADORES (?) DA PÁTRIA – As ocasiões de crise po-lítica, como a atual, abrem uma brecha para os famosos “Salvadores da Pátria”, que usam o momento para tentarem ocupar o poder. O antídoto contra eles não é muito difícil. Basta acreditar que não existem candidatos “Salvadores da Pátria”. Via de regra, esses candidatos que se apresentam como paladinos da moralidade, como arautos da ética, costumam ser iguais ou piores do que os outros. Existem candidatos bons e can-didatos ruins, mas o “Salvador da Pátria” é o eleitor, que, mesmo votando com critério, pode errar em suas escolhas. Discurso também não enche barriga. Ser ético é questão de comportamento, não de discurso. Lembremo-nos do sujeito que estufa o peito e se diz humilde, em atitude que demonstra falta de humilda-de. Assim será qualquer candidato que viver se declarando ético. Esta atitude já demonstra falta de ética. Ser a favor da ética e contra a corrupção não é mais do que obrigação de qualquer um. Isto não é diferencial. Afi nal, nunca vimos um candidato declarar-se contra a ética e a favor da corrupção ...

5) PRECE DO VEREADOR – MARIA AMÉLIA ALVES - Maria Amélia Alves, nossa poetisa-mor (acaba de lançar o livro “Sonetos ao Luar”. Aquisições pelo fone 3355-1397), foi Vereadora em Resende, de 1966 a 1970, eleita pelo MDB. Em 31 de janeiro de 1967, con-cluiu o soneto Prece do Vereador. Nestes tempos difíceis em que um escândalo se abateu sobre a Câmara Municipal de Resende, talvez fosse interessante que nossos nobres legisladores fi zessem essa prece, diariamente, para ajudar a melhorar o astral de nossa Casa de Leis.

PRECE DO VEREADOR

Eis-me aqui, meu Senhor, na vereança,A cumprir Vossas ordens com doçura:

Dai que eu viva a mensagem grande e pura,

Deste amor me me destes e não cansa!

Que da Câmara régia onde se lançaOs anseios de um povo, em conjetura,Dai que eu leve um pouquinho de ven-

turaAos famintos de pão e de esperança!

Protegei, meu Senhor, meus Compa-nheiros!

Projetai sobre nós Vossos Luzeiros,Pois Convosco, de tudo se é capaz!

Fazei de nós, a bem do Vosso povoE para a construção de um Brasil novo,

Instrumentos fi éis da Vossa paz!

6) NOEL DE CARVALHO FIRME E FORTE NA DISPUTA -

Na posição atual, acreditamos que Noel é o favorito na disputa das eleições para Prefeito de Resende. Uma situação já defi nida é que Noel não será candidato a vice. Ele já decidiu – e com razão – que um político com o seu currículo não pode ser coadjuvante na disputa que se avizinha. Por falar em vice, o grupo do Noel alimenta a esperança de atrair o Julianelli para a chapa, hipótese em que se tornarão muito, muito fortes. Sonhar não custa nada ...

7) SORAIA BALIEIRO –

A Vereadora mais votada na última eleição está tendo uma chance de mostrar sua capacidade de ges-tão. Presidir a Câmara Municipal de Resende, neste momento de crise, é muito difícil, mas é uma oportunidade de mostrar para todos que tipo de administradora ela pode ser. Não é à toa que, na milenar cultura chinesa, o mesmo ideograma que representa “crise”, representa “oportunidade”.

8) DR. DIOGO BALIEIRO – UMA NOVA FORÇA NA POLÍTICA DE RESENDE -

Dentre os candidatos dos partidos que compõem a base política do Governo Rechuan, percebemos que o candidato mais forte é o Dr. Diogo Balieiro. Há uma intensa movimentação em torno de sua pré-candidatura. Jovem, competente, caris-mático, trabalhador, e sem nenhuma nódoa em sua fi cha política, é o que reúne mais condições de formar um bom grupo para disputar com os candidatos de oposição e para administrar a cidade. Se depender do Dr. Diogo, teremos uma eleição de alto nível, onde as discussões se travarão no campo das ideias e com respeito aos can-didatos e aos eleitores.

9) RESENDE GANHOU NOTA 10 EM DA CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, EM TRANSPARÊNCIA PÚBLICA – A Escala Brasil Transparente (EBT) é uma metodolo-gia para medir a transparência pública em estados e municípios brasileiros.

A menos de um mês do Dia Interna-cional contra a Corrupção, celebrado em 9 de dezembro, a Controladoria-Geral da União (CGU) apresenta, nesta sexta-feira (20), o resultado da segunda edição da Escala Brasil Transparente (EBT). O índice mede o grau de transparência pública em estados e municípios brasileiros quanto ao cumprimento às normas da Lei de Acesso à Informação (LAI).

O texto acima está no site da Contro-ladoria da União, link “http://relatorios.cgu.gov.br/Visualizador.aspx?id_relatorio=2”, onde, também, se poderá verifi car que Resende ganhou nota 10 (dez!). No Estado do Rio, apenas Niterói e Resende ganharam a nota máxima.

Parabéns ao Governo Rechuan, espe-cialmente à Assessoria de Comunicação, comandada pelo Ricardo Paiva, o famoso Banana Nanica.

10) O CASAL RECHUAN DEVERÁ TER GRANDE INFLUÊNCIA NA SUCESSÃO EM RESENDE –

A nota 10 que Resende ganhou da CGU (acima referida) foi apenas mais um destaque na Administração Rechuan, que já ganhou vários e importantes prêmios tais como: Primeiro lugar/RJ, no Índice Firjan de Desenvolvimento, em 2014; Prêmio Brasil Sorridente (Conse-lho Federal de Odontologia) – 1º lugar no Brasil em 2013, 2014 e 2015; “Prefeito Amigo da Criança”, da Fundação Abrinq; “Prefeito Empreendedor”, do Sebrae, em 2013. Todos esses prêmios – conferidos por instituições sérias, sem nenhum colo-rido partidário ou de amizade – demons-tram os acertos do Governo Rechuan, nas áreas analisadas. Certamente, José Rechuan Jr. terá uma grande infl uência em sua sucessão – principalmente se fi zer uma correção de rumo em seu governo – dedicando atenção às peque-nas obras, mas que falam diretamente na vida dos munícipes, tais como: acabar com o Cemitério de Automóveis, na en-trada da cidade; desalojar os moradores de rua do coreto da Praça Oliveira Bote-lho; cuidar das pracinhas e parques da cidade etc. Pensar grande é até bonito, desde que não signifi que abandonar as coisas mais simples da Administração. A nosso ver, o maior adversário do Go-verno Rechuan é a má administração de pequenas obras do Governo Rechuan.

A Deputada Ana Paula, por sua vez, está fazendo um grande trabalho na Assembleia Legislativa, sobressaindo--se pela atuação na área de Proteção à Mulher, na área de Saúde, e na área de Segurança. Destacamos, para comprovar nossa tese, três projetos da Deputada Ana Paula: 1º) o Projeto que se transformou na Lei nº 7110/15, que regulamenta a entrada de agentes de saúde em propriedades públicas e priva-das para combater focos de mosquitos transmissores da dengue e outras mo-léstias; 2º) o Projeto de Lei 360/2015 que estende à rede pública o direito ao parto humanizado; 3º) Luta pela reativação do DPO (Destacamento de Policiamento Ostensivo) de Engenheiro Passos.

Diante do exposto, o candidato apoiado pelo casal Rechuan certamente ocupará as primeiras posições na dispu-ta, tão logo esse apoio se torne público.

11) JOEL PEREIRA NÃO ESCRE-VERÁ MAIS A COLUNA POLITICALYA – Aproveitamos para agradecer ao Jor-nalista Gustavo Praça, ao Editor Marcos Cotrim e aos nossos queridos e pacien-tes leitores. Feliz Natal!

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Dezembro de 2015 - O Ponte Velha - 3

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1-Flutuei num domingo sobre as ruas de uma pequena cidade mineira, pedalando ao lado do poeta Walt Whitman. As casas não tinham muro alto nem cerca elétrica; tinham era cheiro de alho sendo temperado para o feijão. E um idoso numa varanda era a câmera de segurança, e sorria pra gente em vez de pedir que a gente sorrisse pra ele. O calçamento irregular das ruas massageava o nosso corpo, e passava um cavalo num terreno baldio, um camarada consertando um caminhão velho, deitado embaixo do chassi, com dois garotinhos ao lado chutando uma bola que foi bater nele e ele praguejou, e passavam muitas outras coisas boas, um estender infi nito delas, como a baixaria de um violão de sete cordas numa seresta, sendo que as cordas primas eram os pios de passarinho e o agudo das cigarras. Embaixo da sombra de uma jaqueira nós paramos as bicicletas para o Walt reacender o seu palheiro. Ele saboreou a primeira fumaça e recitou um de seus versos mais conhecidos: “por que haveria eu de querer ver Deus melhor do que vejo hoje?”

A gente pedalava umas bicicletas que ainda não haviam se tornado objetos esportivos. A minha era uma pesada Phillips preta, daquelas que os garrafeiros portugueses do Rio usavam; a do Walt era uma Monark contrapedal. De modo que a gente não precisou comprar roupas especiais de lycra, nem capacete, nem tênis apropriado para um determinado tipo de pedal, nem aparelho que se prende ao peito para medir batidas do coração. Também não precisávamos nos submeter àqueles movimentos insensatos de quinhentas mil pedaladas para vencer um metro numa subida. A cidade era toda plana, mas se houvesse subida íngreme, saltaríamos e empurraríamos com carinho as bicicletas.

Eu disse ao Walt que um dia, quando eu for pintor, vou fazer um quadrinho com duas ou três bicicletas

de “conservas” de estradas de terra, esse profi ssional em extinção. Elas são equipadas com espelho retrovisor e farol, e no guidom têm um embornal branco com a marmita e uma garrafa pequena com café tampada com sabugo de milho, e no porta-embrulhos vão amarradas uma foice e uma enxada, que se estendem para frente por baixo do quadro e se projetam para trás como canos de descarga de guatambu. Está tudo ali: a comida, o trabalho. Vou pintar três bicicletas com esses atributos encostadas numa dessas árvores que não se teve coragem de derrubar. Ou duas delas rodando emparelhadas, com os camaradas conversando, ou ainda um homem pedalando com a mulher no porta-embrulhos e a fi lhinha sentada no quadro.

O Walt observou que eu também podia pintar uma com um pedal preso àquela rua sossegada do miolo do Manejo, a cidadezinha mineira onde a gente pedalava. Concordei. Aquelas ruas, calçadas com blocos por entre os quais respira algum capim, ainda têm poesia para uma bicicleta sem marcha. Elas têm leite e Brasil autodeterminado no DNA. Estão entre o império do café e o império do petróleo. Resistem, ainda que sitiadas pelas largas pistas de asfalto com ciclovias para “bikes”, ainda que sufocadas pela cultura planetária das coisas sem delicadeza, ainda que

saqueadas por políticos a quem só resta roubar, pois o que vão fazer se são impotentes para exercer a arte de apoiar as vocações próprias de um país, de uma região?, se aprendem a mandar varrer as ruas com aqueles sopradores a gasolina ao invés de vassouras?

Quando não pode fazer arte, o homem rouba, digo eu ao Walt, que me aponta o céu e diz que está vendo passar por sobre as nuvens uma carroça com dois latões de leite e muito legume fresco. “ É o futuro!”, me diz ele com a fi rmeza de um poeta.

2 - Império não rima com poesia. Rima com barbaridade. Por isso quero aqui, ainda que com algum atraso, saudar o Zumbi dos Palmares. Não sabemos as circunstâncias em que ele teria matado seu tio Ganga Zumba, que queria negociar com os brancos; não sabemos como funcionava o sistema escravocrata em Palmares, se era parecido com o de certas nações africanas; as fontes são do Império vencedor. O que sabemos bem é como os senhores civilizados lhe cortaram a cabeça e a penduraram com o próprio pênis na boca. O que sabemos bem é que o negro não tinha alma, era um bicho jogado num chiqueiro. O que conhecemos de fato são os ferros e os troncos das torturas, que estão aí expostos bem próximos, nas fazendas

do Vale. Naqueles troncos de prender punhos, cabeça e tornozelos está escrita uma lei que obriga à paciência com o politicamente correto.

Nós (todos, negros e brancos) afi rmamos nossa humanidade de diversas maneiras, e uma delas é o enfrentamento corajoso quando a situação exige. O mito do Zumbi inspira essa coragem a todos: à mulher que precisa enfrentar o marido que lhe quebra os dentes e ao homem que precisa enfrentar a mulher que lhe tira a paz. Salve também Manoel Congo, líder do Quilombo da região de Pati e Vassouras.

Na última edição do Ponte o Marcos votou contra o Zumbi dos Palmares; nesta, quero dar meu voto a favor, ainda que um voto desnecessário: Zumbi é um mito de coragem. De insubmissão, que é um sinônimo para coragem.

PS- Só vou pra rua pedir fora Dilma depois que o Cunha for preso algemado ao Renan, e o Temer indiciado para explicar porque está preocupado com o depoimento do Zelada.

Várias cidades

Nilson Francisco dos Santos, e sua cadela Princesa.

Foto de Neide Carlos (http://www.jcnet.com.br/)

Esta manhã, antes do alvorecer, subi numa colina para admirar

o céu povoado,E disse à minha alma: Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que

encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?

E minha alma disse: Não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho.

Walt Whitman (1819-1892)

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4 - O Ponte Velha - Dezembro de 2015

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Expediente

Publicação do Instituto Campo Bello14673758/0001-03

ITATIAIA em pautaAbastecimento de água ameaçado

O estado da Estação de Captação de Água da Região Central (ECA) de Itatiaia preocu-pa moradores e autoridades.

Na sessão da Câmara Muni-cipal de 3/12, o Vereador Carlos Cesar de Paula fez um reque-rimento verbal solicitando ao Governo Municipal laudo técnico sobre a situação do terreno onde se encontra a ECA. O tema foi amplamente debatido mostrando preocupação com a situação, pois aparentemente o terreno está sofrendo erosão, por infi ltra-ção e falta de manutenção ha-vendo risco de deslizamento de grande quantidade de terra para o Rio Campo Belo com grave prejuízo ambiental.

O vereador Sebastião Man-tovane argumentou que este problema é antigo e aumentado pela difi culdade de realização de obras pelos governos anteriores pelo fato da ECA se encontrar em área do Parque Nacional o que difi cult autorização pelos órgãos reguladores (Estadual e Federal). Destacou a obra de modernização da ECA que foi iniciada e paralisada, ainda na gestão Almir Dumay, por problemas de licen-ciamento ambiental que renderam ao ex-prefeito um processo a que responde até hoje.

O vereador Eduardo Guedes demonstrou preocupação com os moradores adjacentes, devido à época de chuvas constantes que au-menta o risco de deslizamentos e destacou o risco iminente de Itatiaia fi car sem água, solicitando ao Vereador De Paula que acrescentasse ao seu requerimento o plano de ação da Prefeitura para solucionar o problema. Dia 4/12 último, foi publicado o parecer da Procuradoria Geral do Município autorizando a contratação da fi rma para realizar sondagem no local e avaliar as reais dimensões do problema. (Com CMI - Foto Jorge Botelho)

Procurado pelo Ponte Velha, o arquiteto Ruy Saldanha, Secretário Municipal de Administração, confi rmou que houve um movimento de massa de terra de aproximadamente 8m de altura, devido a vasa-mento na calha condutora de água que abastece a cidade. O equipa-mento data dos anos 1960.

Dentre as medidas emergenciais tomadas, disse o Secretário, procedeu-se à vedação das trincas na calha e ao isolamento da área; fez-se a notifi cação dos órgãos ambientais e de Defesa Civil, além dos moradores em possível risco. Desde então, o monitoramento diário revela estabilidade, acrescentou ele. Ato contínuo, contratou-se fi rma geotécnica especializada em emergências deste tipo, e as son-dagens indicam prognóstico de baixa probabilidade de vir a se afetar o abastecimento de água.

A Prefeitura deu início ainda às tratativas preliminares para con-tratar fi rma de projetos para construção de novo sistema adutor, acoplado a padrões de tratamento d’água compatíveis com o cresci-mento do município.

Meio-ambiente entre duas correntesDia 30 de novembro come-

çou ofi cialmente a COP 21, a 21a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, na qual se pretende que todos os países do mundo devem chegar a um acor-do para reduzir as emissões de gases causadores do chamado “efeito estufa”, propondo a meta de limitar em 2ºC o aquecimen-to da atmosfera até 2100, tendo como termo de comparação os níveis pré-industriais. No entan-to, países em desenvolvimento, que precisam passar pela fase de industrialização para garantir segurança alimentar, tecnologia etc., alegam que estes - após séculos de depredação do meio--ambiente para chegar onde estão - têm obrigação de con-tribuir para sustentar tal meta.

O problema se agrava tam-bém em sua face ideológica, pois o desenvolvimento, estratégico para os primeiros, parece amea-çar as estratégias de poder dos últimos, cuja pregação ambienta-lista é vista como arma do soft--power empregado contra o cerne da ideia de Estado-Nação e sua soberania, meios indispensáveis para formular o bem comum de seus povos. Estaríamos,assim, diante de uma utopia tribalista, neo-pagã, destinada a promo-ver uma “nova ordem mundial” a ser imposta arbitrariamen-te pelos “donos do mundo”.

O tema não se esgota aí, na esfera ético-política, sendo o “aquecimento global antropo-gênico” criticado como falacioso por cientistas de renome, o que traz ao debate uma importante angulação que ajuda a formar opinião sóbria, apesar da formi-dável mobilização das mídias de massa para tornar o processo de governança global algo “natural” e “politicamente correto”. (MCB)

1) Ao contrário do que ocorre com a literatura catastrofi sta, que já tem títulos sufi cientes para encher várias estantes, não é todo dia que surge uma obra críti-ca do alarmismo que tem caracterizado o tratamento das questões climáticas. Por isso, é bem-vindo o novo livro do jorna-lista paulista Richard Jakubaszko, CO2, aquecimento e mudanças climáticas: es-tão nos enganando?, que acaba de sair pela DBO Editores. O autor mantém um blog sobre temas da sua especialidade, http://richardjakubaszko.blogspot.com.

O livro, com 284 páginas, tem como coautores o climatologista Luiz Carlos Baldicero Molion e o físico José Carlos Parente de Oliveira, que, além de cientistas de primeira linha, têm sido incansáveis contribuintes para o esforço de recolocar as discussões sobre o clima global no âmbito rigoroso das evidências científi cas, tarefa inglória diante da tsu-nami de sensacionalismo, irracionalidade e oportunismo que as têm caracterizado.

Com base na sua contribuição e em uma competente bibliografi a, Jakubaszko afi rma que “o enunciado ambientalista carece de provas científi cas e não está comprovado, mas os governos e a socie-dade comportam-se de forma emocional nesse tema, e se está construindo uma legislação restritiva que engessará as gerações futuras, tudo isso para cumprir uma agenda política, patrocinada por interesses econômicos, conforme denun-ciamos no livro”. Os interessados devem dirigir-se à DBO Editores (com Cristiane – tel. 0xx11-3879-7099) ou pelo e-mail [email protected].

2) Publicado em 21 de setembro, o relatório “Oportunidades e desafi os para aumentar sinergias entre as políticas climáticas e energéticas no Brasil” (sumário executivo em português; texto completo em inglês) destaca que mais de 70% dos investimentos de US$ 500 bilhões previstos para o setor de energia, entre 2013 e 2022, deverão ser feitos em fontes altamente emissoras de carbono. Desse percentual, a maior parte (69,2%)

se refere a projetos de exploração, refi -no e transporte de petróleo, mas inclui ainda a construção de termelétricas a gás (1,45% dos investimentos previstos), a óleo diesel, energia nuclear (0,2% cada). “Em contraste com muitas das maiores economias emergentes, a matriz energética do Brasil está se tornando mais intensiva em carbono, não menos, por causa do aumento da dependência de combustíveis fósseis”, criticou o WRI (Agência Brasil, 21/09/2015).O estudo foi elaborado com a colabora-ção do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (ISS--USP), a partir de informações divulga-das pelo Ministério de Minas e Energia e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e é assinado pelo professor do Instituto de Energia e Ambiente da Uni-versidade de São Paulo, Oswaldo Lucon, pela coordenadora de projetos de clima do WRI Brasil, Viviane Romeiro, e pela diretora do Open Climate Network, Taryn Fransen. O documento reconhece que a poluição gerada pelo desmatamento no Brasil caiu 74% entre 2005 e 2011, mas critica o aumento de 24% para 44% a participação do setor energético nas emissões brasileiras de carbono no decênio de 1995-2005.

As críticas do documento não surpre-endem, já que o WRI é uma das ONGs que integram o “Estado-Maior” do apara-to ambientalista internacional, juntamente com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). Este é o trio que transcreve em iniciativas políticas as diretrizes estabelecidas pelos mentores do ambientalismo como ins-trumento de ação política. Entre os seus fi nanciadores, destacam-se, entre outros, a gigante do alumínio Alcoa, Caterpillar, Citi Foundation (braço de “sustentabilida-de” do Citigroup), Shell Foundation, UPS Foundation etc. Tutti buona gente!

(Com http://msiainforma.org/)

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Dezembro de 2015- O Ponte Velha - 5

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Está em curso o processo de criação de novas unidades de conservação em Resende. Trata-se dos Refúgios de Vida Silvestre (RVS) da Lagoa da Turfeira e do Médio Paraíba. Suas histórias são muito diferentes. O primeiro decorre de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) promovido pelo Ministério Públi-co como forma de compensar o impac-to ambiental causado pela construção da fábrica da Nissan numa área úmida de alta relevância ambiental.

Com uma extensão prevista de 70 hectares, seu objetivo, segundo informa o Inea, é de “preservar um remanescen-te natural de áreas úmidas, que outrora se estendiam por toda a várzea do Rio Paraíba do Sul, funcionando como suporte para descanso, alimentação e reprodução de aves durante as etapas de migração que integram o ciclo de vida de muitas delas”. Sabe-se que a cober-tura vegetal e a hidrografi a da região foram alteradas por ações humanas, mais ainda assim o lugar é considerado pelos especialistas um “importante re-duto para a biodiversidade local, espe-cialmente para diversas espécies de aves aquáticas”.

O segundo RVS deverá abranger uma área de 11.674 hectares ao longo do rio Paraíba do Sul, desde Resende até Três Rios, sendo 687 em Resende e 360 em Itatiaia. A proposta de criação da RVS Estadual do Médio Paraíba tem por objetivo, conforme informação do Inea, “preservar os ecossistemas re-manescente do rio Paraíba do Sul com vistas a proteção da biodiversidade local e a manutenção dos serviços ambientais. Da mesma forma que no caso da Lagoa

da Turfeira, a vegetação e a hidrografi a estão bastante alteradas em relação ao seu estado original, mas a iniciativa se justifi ca plenamente em razão de o rio Paraíba do Sul constituir um importante reduto para a biodiversidade e por ser a principal fonte de água do estado e da cidade do Rio de Janeiro.

Até 2012 Resende não possuía ne-nhuma unidade de conservação estadual. Desde a criação do Parque Estadual da Pedra Selada e com a esperada efetiva-ção dos RVS previstos, o município so-mará importantes novas áreas protegidas no seu território, que já abriga parte do Parque Nacional do Itatiaia e da APA da Serra da Mantiqueira, federais, além dos parques naturais municipais da Cacho-eira da Fumaça, do Rio Pombo, da APA da Serrinha do Alambari, da APA de Engenheiro Passos e diversas reservas particulares, as RPPN.

Tudo isso signifi ca aumento de ar-recadação proporcionado pela lei do ICMS Verde, proteção de ecossistemas com melhoria das condições ambientais

e climáticas, potencial para o ecoturis-mo, a educação ambiental e a pesquisa científi ca. Outro aspecto importante, institucional, é a maior presença do órgão de meio ambiente estadual na re-gião, o que contribui para melhor mo-nitoramento e fi scalização ambiental. A campanha de proteção à fauna que se realizará em breve e a recente apreen-são de tábuas de araucária em Visconde de Mauá pela equipe do Parque Esta-dual da Pedra Selada são alguns bons exemplos.

No contexto de uma região que se industrializa de forma acelerada, parques, refúgios, APAs e RPPNs são fundamentais para a formação de uma cultura de sustentabilidade e de massa crítica favorável às políticas ambientais. A chance de termos algum equilíbrio entre o que costumamos chamar de progresso e a qualidade ambiental (que alguns ainda confundem com o oposto de progresso) passa necessariamente por escolhas feitas agora, nem sempre cômodas ou fáceis.

A Questão da ImagemSomavilla

Se eu não conseguir, caro leitor,criar em sua mente imagens do que digo, declaro que fracassei no mister de balbu-

ciar escritos, espalhar palavras...Tente imaginar que seus olhos estejam

fixados em um palco de remoto teatro mambembe,

nos confins do mundo, que ousa encenar peças de Shakespeare.

Ouve-se o bardo queixar-se, como fez de verdade, no desenrolar da monumental

obra Enrique V, (*)que não tinha como reeditar, divulgar

batalhas no exíguo espaço que lhe cabia nas províncias,

mostrar corcéis e humanos em estertores nas lutas que travou o monarca.Então parece melhor silenciar:

Não fazer mais poesia... Não fazer mais teatro...

Refúgios hoje, prosperidade amanhã

A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris), também cha-mada de carpincho, capin-cho, beque, trombudo, caixa, cachapu, cunum e cubu, é o maior roedor do mundo. É uma espécie rústica, bem adapta-da e com ampla distribuição na América tropical e ocorria, praticamente, em todas as regiões do Brasil, mas hoje está extinta em muitos locais de sua distribuição original.O nome capivara procede do termo Tupi kapi’wara, que signifi ca “comedor de capim”. Em Puri, se diria bodaké.

(*) Henrique V (1599) é uma das mais conhe-cidas peças históricas de William Shakespea-re (1564-1616). Seu tema é a representação daquele que é considerado um dos mais importantes mo narcas ingleses, espécie de rei-herói (1413 a 1422), pacifi cando a Ingla-terra e consolidando a monarquia.

Num dos confl itos da chamada Guerra dos Cem Anos (1337-1453), o rei lidera uma campanha de invasão da França, em 1415. O rei-guerreiro combate ombro-a-ombro com os soldados, episódio descrito em um texto de exaltação nacional, elogio aos grandes feitos do rei. O clímax é o discurso em que Henrique V exorta seus homens a lutarem com valor, relati vizando perante o momento grave os desníveis sociais.

“Nós, estes poucos; nós, um punhado de sortudos; nós, um bando de irmãos... pois quem hoje derrama o seu sangue junto comigo passa a ser meu irmão. Pode ser homem de condição humil-de; o dia de hoje fará dele um nobre”.

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6 - O Ponte Velha - Dezembro de 2015

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Fernando Pessoa morreu há 80 anos, e entre seu legado se encontra a retomada do sonho português com um reino espiritual governado pelas crianças, sobrevivendo até hoje nos Impérios do Divino. Descontada sua gnose, o mesmo sonho foi sonhado por Vieira, trezentos anos antes, para quem os nativos do Brasil seriam os súditos ideais do Quinto Império. Um Brasil messiânico à la Gioachino di Fiori explicaria muito de nossa existência religiosa, cultural e política até hoje: “cheia de epiqueias”, como observou Monsenhor Pizarro a respeito do segundo pároco do Campo Alegre da Paraíba Nova, Henrique de Carvalho. O artigo do Jefferson nos dá esta chance, em pauta oportunamente barroca, de espiar dentro do imaginário pré-moderno da nacio-nalidade, e num estalo vestir a carapuça - um tanto republicana - de um destino a reconquistar. Um destino chamado Ocidente, tão bem simbolizado no título, atribuído a Píndaro(MCB).

“Torna-te o que tu és”

Vos estis sal terrae. (Mt 5, 3)

Padre Antônio Vieira nasceu em 6 de fevereiro, numa quarta-feira, de 1608. Chegou à Bahia, já completara seis anos, junto a seus pais. Aos 15, entrou para o noviciado do Colégio dos Jesuítas. Foi encarregado, na décima oitava primavera de vida, de redigir, em Latim, a Carta Ânua ao Geral dos Jesuítas. Estudou Filosofi a e Teologia. Lecionou Retórica. Foi diplomata. Escreveu sermões, salvo o engano: quase trezentos, em muitas lín-guas. Cartas também. Do nascimento até a morte, enfrentou vicissitudes à farta. Suscita-se que Fernando Pessoa o cha-mara: “meu mestre”. Mas o que aqui nos importa é a relação de seu decesso com um de seus sermões.

Convém esclarecermos alguns pingos hesternamente. A palavra sal é de origem latina sal, esta tem proveniência indo--europeia: sal. Observa-se que é um vo-cábulo que não transmutou, perpassando parte signifi cativa da História de maneira intata. Alguns de seus descendentes são: sal-ário, sal-ada e sal-ame. Digamos: o sal salga, além de nosso alimento, nossas palavras. Dá sabor e preserva-se nas pa-lavras. É, portanto, o sal, avante alimentí-cio, talento. Detém porte valedoiro desde a Antiguidade.

Tornando ao padre, em seu Sermão de Santo Antônio, nos ensina sobre o sal. Retoma o que Cristo ainda nos diz, “vós sois o sal da terra”, e explica: “chama--lhes sal da terra, porque quer que façam na terra o que o sal faz”. Assim, prosse-gue, no exórdio, dizendo que “o efeito do sal é impedir a corrupção” e que o sal que não salga é inútil e desprezível. Ex-pende que deste, os homens não queriam escutar pregações e, dessarte, Santo An-tônio afastou-se dos homens, mudando “somente o púlpito e o auditório”, sem desistir da doutrina. “Deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes: – Já que não me querem ouvir os homens,

ouçam-me os peixes”. Ousa dizer que “sal terra, vem-lhe (ao santo) muito curto”, pois Santo Antônio foi sal da terra e sal do mar. Trata também das obrigações do sal: “preservar o são” e “conservar do mal”, ressaltando as propriedades das pregações de Santo Antônio: “louvar o bem”, para o conservar, e “repreender o mal”, para preservar dele. Não obstante, revela-nos o seu desejo, sobre o qual nos inclinaremos: “isto suposto, quero hoje, à imitação de S. Antônio, voltar-me da terra ao mar, e, já que os homens se não apro-veitam, pregar aos peixes”.

Em 1654, após proferir o célebre “Ser-mão de Santo Antônio aos Peixes” em São Luís, no Maranhão, o padre foi para Lis-boa, com companheiros, a bordo de um navio da Companhia de Comércio, car-regado de açúcar. Passado dois meses de viagem, abateu sobre a embarcação uma forte tempestade e a embarcação naufraga-ra. Tão intenso era seu o seu clamor neste sermão que o mar já o chamava análogo ao que Florbela Espanca assinala, supondo a resposta à sua pergunta “Donde vem essa voz [...]?”, em seu poema Vozes do Mar.

Pois, digo: talvez (seja) a voz do Por-tugal, chamando por Vieira numa saudade imensa. Era um entendimento entre o mar e Vieira, como se seu sangue se entendes-se “com essas vozes poderosas” do mar, tal Cecília Meireles alinhou em seu belo carme Mar Absoluto.

Conta-se que Padre Antônio Vieira foi sepultado, em 1697, no Colégio dos Jesuítas, em Salvador, hoje Colégio Padre Antônio Vieira. À época, nos túmulos não eram identifi cados os nomes, mas os números. Consta que o ministro, o Irmão ou padre desta residência, possuía uma lista, com os nomes e números, em que se mencionavam as criptas. Empós, é sabido que o corpo foi exumado e, em seguida, depositado em uma caixa, que fi cou no colégio, guardada pelo Irmão. E, quando os jesuítas foram expulsos, a mando de Marques de Pombal, em 1759, as relíquias (“os restos”) de Vieira com alguns perten-ces foram encaminhados a Portugal, mas o navio que os levara naufragou.

João Adolfo Hansen, um dos principais estudiosos da literatura colonial brasileira, Doutor em Lite-ratura Brasileira, quando esteve no Salão de Ideias da 22ª Bienal In-ternacional do Livro, disse: “Padre Antônio Vieira era um homem de vontade”. O que ratifi ca que Vieira realmente conseguiu o que queria, o que tanto tinha vontade, à imita-ção de Santo Antônio: pregar aos peixes. Voltou-se, literalmente, da terra ao mar. Incorporou, banhan-do-se no mar, as propriedades do sal. Foi, como disse ter dito Aristó-teles sobre os peixes, viver nos ma-res e rios, mergulhar nos pegos, só não se esconderia nas grutas, pois era de uma coragem sem igual. Saí-ra da vida de homem assaz político, sobretudo, um homem que ajudou a integrar o Brasil, pois, segundo o Edivaldo Boaventura, Vieira foi à pé de Belém do Pará até o Ceará realinhando a paz entre os índios, à procura de entendimento, união entre os índios, assim, guardada as proporções, traçando já a unidade no território brasileiro. Agora, foi ao mar unir-se aos peixes, salgar--nos as águas e alumiar nosso Oce-ano. A vontade era tanta de ser sal que salgou-se, pois, o imperador da Língua Portuguesa, título dado a ele por Pessoa. Inclusive, diz-se que depois de lê-lo é que o poeta lusita-no cunhou a frase: “minha pátria é a Língua Portuguesa”, o que chama atenção para o fato de que até pelas mãos de Fernando Pessoa o sal de Vieira transpirou inspiração, inspi-ração identitária.

O céu estrela o azul e tem grandeza.Este, que teve a fama e a glória tem,

Imperador da língua portuguesa,Foi-nos um céu também.

(Continua na p. 7)

Talvez a voz do Portugal antigoChamando por Camões numa saudade!

Jefferson Divino

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Sesmaria - n. 10, Primavera de 2015

InstItuto Campo BelloHistória e Memória

da Região das Agulhas Negras

37

Marcos Cotrim

Estudar o passado não traz nostalgia. Traz um profundo

senso de identidade e admiração pela tradição que nos abriga e pela terra a que pertencemos.

Sem conhecer o passado viveríamos mutilados.

ICBSesmariaOs primeiros habitantes da Paraíba Nova

Há bem pouco tempo, quase nada sabíamos dos primeiros habitantes da Paraíba Nova, essa extensa região ilhada entre os dois ramos da Estra-da Real, que unia as Minas ao Rio de Janeiro, cobrindo o território que vai do Rio do Salto ao Piraí, no sen-tido leste-oeste, e da Serra do Mar à Mantiqueira, no eixo norte-sul. Re-gião de descaminhos do ouro, vedada por decisão da justiça aos viajantes e sertanistas, foi liberada para explo-ração na terceira década do século XVIII, dando origem ao arraial do Campo Alegre, onde já habitavam (desde quando?) os Puris.

Recentemente, parte de nossa ignorância sobre este povo foi dissi-pada, devido aos estudos dos pro-fessores Marcelo Sant’Ana Lemos e Ênio Sebastião Cardoso de Oliveira. Já Cláudio Moreira Bento, no ensaio “Os Puris do Vale do Paraíba Flu-minense e Paulista”, in Migrações do Vale do Paraíba (Anais do XII Simpó-sio de História do Vale do Paraíba/Academia Itatiaiense de História, 1995), contestava Joaquim Norberto de Souza e Silva em sua Memória Documentada das Aldeias de Índios da Província do Rio de Janeiro (Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, n. XIV, 1852), dando início às revisões historiográficas que aqui publicamos em parte.

Aos artigos dos professores Mar-celo e Ênio, reúne-se uma reflexão do professor Julio Fidelis, que põe em perspectiva econômica a questão das terras indígenas, somando-se assim à visada de Bento em história militar. O professor Marcelo problematiza o apagamento da memória indígena lo-cal em chave etnográfica, e o profes-sor Ênio reflete sobre a origem dos Puris nos quadros das hipóteses em confronto. Os artigos foram adapta-dos para publicação na Sesmaria.

O Instituto Campo Bello espera assim divulgar o que de mais recente há sobre nossos primeiros habitan-tes, satisfazendo o interesse de pro-fessores e a curiosidade dos leitores. Agradeço aos articulistas desta edi-ção pela generosa disponibilidade de suas pesquisas.

Desvendando a origem Puri: uma breve discussão sobre a pro-vável origem dos Índios Puris.

Ênio Sebastião Cardoso de Oliveira

Os Índios Puris e a sua suposta origem Segundo os apontamentos do na-

turalista Alemão Georg W. Freireyss: “as línguas que falam os Coroados e os Puris são tão pouco diferentes que só isso parece indicar uma origem co-mum e há entre elles a lenda que, há muito tempo atraz, formavam uma só nação”. Este pequeno fragmento de Freireyss, que viajou pelo Brasil nos anos de 1814 a 1815, mostra a aparen-te semelhança entre a língua dos Puris em relação a dos índios Coroados, que de acordo como os historiadores Bessa Freire e Márcia Malheiros, eram grupos étnicos pertencentes ao tronco linguístico macro-jê(gê).

No que diz respeito à origem dos Puris, Alfred Métraux afirma: “cem anos atrás o Coroado ainda se lembra-va de um tempo em que eles formaram uma única tribo com o Puri, que mais tarde, como o resultado de uma rixa entre duas famílias, tornou-se seu ini-migo ”. Nesta citação Métraux busca defender a tese de que os Puris e Co-roados tiveram a mesma origem e por isso, pertencentes ao mesmo tronco linguístico, vem reforçar a teoria de que essas duas etnias em seus primórdios talvez, no que podemos dizer como

tempos imemoriais, tivessem a mesma origem. Ainda segundo Métraux, os Puris eram uma etnia que habitava a área que se estendia do Rio Paraíba até a serra da Mantiqueira (províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais) e a parte superior do Rio Doce (província do Espírito Santo) . Isto nos remete ao indicativo de que os Puris habitaram uma região que ia além da província do Rio de Janeiro, o que foi ratificado segundo Métraux, por alguns memo-rialistas do século XIX: “No século 18, várias centenas de Puri foram atraídos para Villa Rica, onde eles foram vendi-dos como escravos. (...) Em 1800, um grupo de 87 Puris foram colocados na Missão de São João de Queluz, (...) Em 1815 Wied-Neuwied viu um grupo de Puri perto de São Fidelis.” .

A partir da ótica dos memorialistas, Métraux pontua na citação acima que o Puri foi uma etnia que ocupou uma grande área do atual sudeste brasileiro, sofrendo os avanços das fronteiras coloniais, promovidos pela coroa portuguesa no final do século XVIII e começo do XIX. Porém, analisar a origem dos Puris não é uma tarefa fácil já que as observações dos cronistas, missionários, viajantes e memorialistas eram muitas vezes conflitantes.

De acordo com Paulo Pereira dos Reis, os Índios Puris, os Coroados e os Coropós seriam aqueles grupos que nos primeiros séculos de coloni-zação eram chamados genericamente de Tapuias , como índios do sertão, e os Tupis como os do litoral, ou seja, a diversidade dos etnônimos na colônia luso-brasileira foi reduzida a apenas dois grupos.

Os Tapuias eram, portanto, aque-les índios desconhecidos para os europeus, com uma cultura e língua diferente daquelas etnias que viviam no litoral (os Tupis). Reis se baseia nos apontamentos de diversos relatos de cronistas e pesquisadores do século XVIII e começo do XIX . Segundo esse autor, todos os índios do interior da província do Rio de Janeiro eram reconhecidos de forma genérica por alguns memorialistas ainda no final do século XVIII e XIX. Desta forma, tanto os Puris, Coropós e Coroados, eram conhecidos no universo étnico dos primeiros anos de colonização como Tapuias.

Nesse contexto, Luciana Maghelli conclui: “(...) os Puri, Coroado e Coro-pós, pertenciam ao tronco linguístico Macro-Gê e não ao Tupi. Também co-nhecidos como ‘Tapuia’, os índios per-tencentes ao tronco Macro-Gê, sempre foram vistos por colonos e colonizado-res como inimigos, selvagens, destituí-dos de qualquer traço de humanidade, ao contrário daqueles pertencentes ao tronco Tupi (...). Observando tanto os autores citados, quanto os relatos de viajantes do século XVIII e XIX, os ameríndios que viviam na região do Médio Vale do Paraíba eram nitida-mente vistos como diferentes daqueles que viviam no litoral e a princípio eram considerados da mesma origem gené-rica dos Tapuias. Sobre essa temática Cristina Pompa faz a seguinte afirma-ção: “Tapui” é uma categoria criada no próprio contexto colonial. As línguas não-tupi foram identificadas pelos colo-nizadores, junto com seus falantes, com o nome genérico – utilizando de forma contrastiva pelos mesmos tupi – de “ta-puia”. O dos tapuias, então, é um uni-verso percebido em oposição ao tupi.

Imagens desta página: Puris - Desenhos de João Maurício Rugendas

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38 Sesmaria 10 - Primavera de 2015 De acordo com Pompa, a forma genérica

aplicada às etnias de língua não Tupi no período co-lonial, utilizada por viajantes em suas crônicas desde o século XVI, estabelece uma oposição entre Tupi e Tapuia, em certa medida para simplificar a imensa variedade étnica da colônia lusa no continente ame-ricano. Isso demonstra o quanto é difícil identificar os etnônimos dos índios nos primeiros séculos do Brasil colonial bem como a construção de uma et-no-história pelas diversas lacunas historiográficas, e ao mesmo tempo a carência de fontes, tanto quanto os contraditórios e até mesmo equivocados relatos dos viajantes que estiveram nas regiões de sertões nesse período, torna tarefa difícil afirmar uma su-posta origem dos Puris.

Em relação aos Tupi e Tapuia, John Monteiro ressalta o padrão bipolar no processo de interpre-tação do passado indígena e assinala chamando de binômio entre os Tupis e Tapuias na história do ín-dio no Brasil colonial, procurando demonstrar que essa oposição pode ser algo muito mais complexo do que pode aparentar em princípio. Inscrito ini-cialmente no binômio Tapuia/Tupi, este padrão foi reciclado em várias conjunturas distintas, reapare-cendo em outros pares de oposição, tais como bra-vio/manso, bárbaro/policiado ou selvagem /civili-zado.(...) Mais do que isso, também foram recicladas e reapropriadas entre alguns segmentos indígenas, o que torna esta história mais complicada ainda .

Podemos perceber que no século XIX a relação Tupi-Tapuia, toma outra dimensão, sendo que nesse contexto, o Tupi assume uma nostálgica condição heroica pela sua posição de contribuinte na con-solidação da presença portuguesa na colônia. John Monteiro complementa: “nos descendentes mesti-ços e na persistência da língua geral que, no século XIX, ainda vigorava entre algumas populações regionais e era cultivada por setores das elites impe-riais como a autêntica língua nacional” .

Sob a ótica dos oitocentos, os “Tupis do litoral pareciam ter perecido por completo desde há muito, sendo retratados cada vez mais em tons românticos e nostálgicos”. Já os Tapuias foram representados quase sempre como inimigos dos portugueses, mes-mo ocorrendo um caráter dúbio apresentado nas evidências históricas. Retratados como índios bra-vos, vistos como obstáculo para a marcha coloniza-dora, por não aceitar a submissão, mostrando bem o caráter dicotômico estabelecido entre os Tapuias e os Tupis, estes últimos colaboradores com o domí-nio colonial, acarretando o seu “desaparecimento”, garantindo aos Tapuias a sua sobrevivência no de-correr do período oitocentista.

Puris e os Goitacás na Capitania do Rio de Janeiro Falaremos sobre a visão de alguns autores que

colocaram os Puris e Coroados como de uma ori-gem ou descendência dos Goitacás. Em relação a essa descendência, o Dicionário Geográfico e Etnográfico do Brasil ao citar os Goitacás assinala que esses são parentes e descendentes dos Puris, Coroados e Co-ropós: “Além de Saint-Hilaire, outros viajantes (...), como Eschwege, o príncipe de Neuwied e Martius trataram demoradamente desses índios (...) os Co-roados, Puris e Coropós. Eschwege afirma que os Puris tinham origem commum com os Coroados, que eram Goitacás.”

O Dicionário Etnográfico do século XIX afirma que vários viajantes assinalam uma origem comum dos Puris, Coroados e Coropós com os Goitacás, paren-tesco ou descendência. Paul Ehrenreich reforçando a teoria sobre a suposta descendência dos Puris, Co-roados e Coropós em relação aos Goitacás, em seu texto “A Etnographia da América do Sul ao começar o Século XX” comenta: “Goytacazes (Waitaka), muito temido, mas já extinctos ao começar o século XVII. Seus parentes ou descendentes são considerados os Coroados, Puris e Coropós, assistentes do Parahyba para o Norte até Minas e Itapemirim.”

O fragmento de Ehrenreich demonstra que existiu identificação entre Puris, Coroados e Coropós, decla-rando como extintos os Goitacás. O autor se refere à extinção da etnia Goitacá ainda no século XVII, isso nos reporta que essa origem comum ou descendência tem suas raízes ainda em tempos remotos, pois as etnias Puris, Coroados e Coropós ainda estavam pre-sentes e em grande número no final do século XIX. Ehrenriche ratifica o que relataram outros cronistas que estiveram no Brasil no primeiro e segundo quar-to do século XIX, como é o caso de Von Eschwege, Príncipe de Maximillian de Wied-Neuwied, Von Mar-tins e Saint - Hilaire. Porém, quando nos debruçamos nos trabalhos desses viajantes, e da historiografia tradicional sobre o indígena brasileiro, podemos notar que ocorre, como afirma John Monteiro, uma tentati-va de simplificar o índio e sua história, quando se pro-põem em analisar o índio como uma espécie de bloco único com características gerais.

Sobre o assunto, Alfred Metraux questiona a ori-gem comum ou suposta a descendência dos Puris, Coroados e Coropós. Para ele, Métraux: “O Guaita-cá(...), que são tantas vezes mencionado na literatura inicial, desaparecido antes de uma única palavra de sua língua haver sido registrada, de modo que é im-possível classificá-los. Sem qualquer razão válida que foram identificados com o Puri moderno e Coroado.”

Metraux observa que a identificação dos Puris e Co-roados com os Goitacás não é verdadeira, pois não existe nenhuma comprovação científica que possa embasar essa afirmação.

Reforçando os apontamentos de Métraux, Luciana Maghelli ressalta que essas etnias são bastante distin-tas entre si e constituem identidades contrastantes e diferenciadas: “sendo uma tribo essencialmente cos-teira, já neste aspecto os Goitacás diferenciavam-se dos Puris, Coroados e Coropós, que concentravam-se em regiões interioranas”(...).

Márcia Malheiros, utilizando a abordagem de Maghelli, em seu trabalho de doutorado, também questiona a possibilidade dos Goitacás terem sido a origem dos Puris, Coroados e Coropós.

EHRENREICH, Paulo. A Etnographia da América do Sul ao Começar o Século XX. Revista do Instituto Histórico e Geographico de São Paulo. São Paulo. Typographia do Diário Oficial. Volume XI. 1906. FREIRYSS, Georg W. Viagem a Várias Tribos de Selvagens na Capi-tania de Minas Gerais; permanência entre ellas, descripção de seus usos e costumes. Trad.Alberto Löfgren. In. RHG de São Paulo, Vol. VI (1900 – 1901). São Paulo, Tip. Diário Oficial, 1902. MAGHELLI, Luciana. Aldeia da Pedra, estudo de um aldeamento indígena no Norte Fluminense. Dissertação de mestrado. UFRJ, RJ, 2000. MÉTRAUX, Alfred, The Puri-Coroado Linguistic Family. In Handbook Of South American Indians. Washington, Sminthsonian Institution, United States, Vol I. 1946.MONTEIRO, John Manuel. Tupis, Tapuias e Historiadores: Estudos de História Indígena e do Indigenismo. Campinas, SP: Unicamp, 2001. PIZA, Mirtaristides de Toledo. Itaocara. Antiga Aldeia de Índios. Nite-rói: Diário Oficial, 1946. POMPA, Cristina. As muitas Línguas da Conversão: missionários, Tupi e “Tapuia” no Brasil colonial. In Revista Tempo, nº 11. Niterói. UFF, 2001.REIS, Paulo Pereira dos. O Indígena do Vale do Paraíba. São Paulo. Coleção Paulista, 1979. Vol. XVI. LUFT, Vlademir José. MAGHELLI, L. RESENDE, J. Línguas Indíge-nas: A Questão Puri-Coroado. Caderno de Criação, ano V, número 15 - junho, Universidade Federal de Rondônia. Porto Velho Centro de Hermenêutica do Presente. 1998.

“Dança dos puris”, pintura do século XIX de Van de Velden a partir de Johann Baptist von Spix

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Sesmaria 10 - Primavera de 2015 39

Muito além dos Puris Marcelo Sant’ Ana Lemos

No município de Resende, 114 pessoas se autode-clararam índios, conforme revelou o censo de 2010. Esse número não reflete a realidade dos indiodes-cendentes do município, pois não incluiu centenas de pessoas, que por falta de informação (no âmbito familiar/escolar) ou por receio do que essa postura possa trazer de preconceito contra a si, não assumem a sua ancestralidade indígena.

Os censos do século XIX nos dão várias pistas para repensar esta questão:

1) O Mapa da população segundo as condições, sexos, e cores, dos habitantes do distríto, da Villa de Resende, de 27 de abril de 1840 , indicava a existência de 635 índígenas, na relação da pessoas livres, sendo 329 homens e 306 mulheres! A população total da Vila de Resende era de 9401 pessoas e os índios re-presentavam 6,75% dessa população;

2) O Censo de 1872 mostrava que existiam 1132 caboclos (indígenas e seus descendentes) no Município. No distrito da Vila viviam 162 caboclos. Já nos distritos rurais (Campo Belo, Vargem Grande, Ribeirão de Santana e São Vicente Ferrer ) viviam os outros 970 caboclos;

3) O último censo do século XIX, de 1890 , in-formava que em todo o Município viviam 1620 cabo-clos, distribuídos da seguinte forma: Vila de Resende – 629, Campo Belo – 285, Ribeirão de Santana – 118, Vargem Grande – 300 e Vicente Ferrer – 251.

O que chama atenção nas informações censitá-rias são os dados que demonstram uma crescente presença de índiodescendentes, no final do século XIX, entrando em contradição com os discursos de diversos setores, na mesma época, que informavam o seu desaparecimento: os Vereadores da Câmara Mu-nicipal, os jornais, ou as autoridades locais, regionais e do Império.

Primeiro vamos esclarecer como foi entendido o termo caboclo ao longo do século XIX: No início do século, mais precisamente na segunda década, o príncipe Maximiliano, que esteve viajando pelo Brasil, entre 1815/17, informava que naquele tempo chama-vam “os índios puros, os habitantes primitivos do Brasil, entre os quais denominam-se caboclos, os civilizados, e gentio, tapuias ou bugres os que ainda vivem em estado primitivo” (grifos nossos). Já para Saint Hilaire atribuia-se a palavra caboclo uma forma depreciativa de designar “índios puros”. O geógrafo Richard Burton, presente no Brasil na déca-da de 60, daquele século, informava que caboclo era “atualmente, um homem com mistura de sangue da raça vermelha e é aplicada um tanto depreciati-vamente(...)” . Os dois censos da segunda metade do XIX irão usar esse termo caboclo para contabilizar os índios e seus descendentes, mesmo que em contato com outros grupos sociais.

Consideramos então que essa palavra representa, nos censos de 1872 e 1890, todos indivíduos que viviam em aldeias, aldeamentos, nas vilas e cidades e eram reconhecidos pela sociedade envolvente como índios “civilizados” ou descendente de índios, por-tanto, caboclos. Uma outra questão sobre a qual nos posicionamos aqui é sobre o conceito de índios “puros”! Essa questão, no século XIX, foi usada

para diferenciar aqueles que não estavam ainda “ci-vilizados” ! Não existiam ou existem “índios puros”, existem povos indígenas, etnias indígenas, identidades indígenas, sejam no campo ou na cidade. Ao assumir a sua identidade indígena, a sua ancestralidade, a sua cultura, independente de estar de roupa ou nu, de falar o português ou o Guarani, de ter um celular ou um assobio, morar num apartamento ou numa nguará *, consideramos essas pessoas como índios.

Essas diferenciações (selvagens, puros, bugres x mansos, misturados,civilizados) foram ampliadas ao longo do século XIX, para que num segundo momen-to aqueles povos indígenas, já aldeados, convivendo com a sociedade envolvente e que sofreram um lento processo de etnocídio (perda da identidade cultural) também sofressem um processo de expropriação territorial, com o sequestro das terras dos seus alde-amentos, sob alegação que não eram índios “puros”, que estavam confundidos com a massa da população, etc. No Rio de Janeiro isso ocorreu por volta do ano de 1877, quando, por simples aviso ministerial, as terras doadas aos povos indígenas, ao longo de quatro séculos, foram consideradas devolutas e públicas, pois eles não eram mais índios!!

A construção desse processo é visível, ainda na década de quarenta, quando um vereador faz uma indicação para doarem o terreno do aldeamento de São Luiz Beltrão para a Câmara de Resende, dizendo que lá existem mui poucos índios, uns 8 ou 10 . A má-fé fica clara quando num outro documento pro-duzido na mesma Câmara, cerca de 12 anos depois, informaram que existiam 43 índios e índias, sendo 23 casado(a)s e 68 filhos, o que somados, excluindo os cônjuges, resultava num total de 111 índios e des-cendentes ! Além desses índios existiam aqueles que viviam nos outros distritos fora do aldeamento, como bem mostrou os censos de 40,72 e 90!

Essa trajetória não se deu sem lutas, resistências e também sem reinvenções de identidade por parte dos povos indígenas. Ao assumir ou lhe ser imposto a identidade cabocla, os índios desaldeados, que viviam com a sua família agregados as propriedades rurais, ou em posses ou nas cidades, se adaptaram as novas condições históricas que lhe foram impostas.

Aqui em Resende temos um exemplo dessa resis-tência coletiva dos índios, que viviam no aldeamento de São Luiz Beltrão: Eles enviaram ao Ministério da Agricultura um abaixo assinado, em 1881 , solicitan-do que não fossem doadas as terras do aldeamento para colonização, pois estas terras pertenciam a eles descendentes de índios. Este foi o último documento indígena coletivo produzido no nosso Estado, naque-le século, que temos conhecimento.

Mostramos aqui que o crescimento da população indígena em Resende, no final do século XIX, se deu junto com um processo político e histórico que visava também a construção da sua invisibilidade, através da utilização de um discurso de assimilacionista que negava aos índios o direito de serem índios, que alegavam que não eram “puros”, que estavam misturados, que eram poucos, etc. com fins também de apropriação da terra do aldeamento de São Luiz Beltrão, num processo semelhante aos que ocorreram nos outros aldeamentos do nosso Estado (São Lou-renço, São Pedro da Aldeia, Rio Bonito, Valença, São Fidelis etc.).

Hoje temos que rever a história local, com urgên-cia, e produzirmos políticas públicas que favoreçam aos indiodescendentes, pois não dá mais para conti-nuarmos a perpetuar o processo de invisibilidade e exclusão dos índios e dos seus descendentes na cidade de Resende.

* Casa em língua Puri. LEMOS, Marcelo Sant’ Ana. Vocabulário da Língua Puri ( Português- Puri). Rio de Janeiro: Editora Puri, 2012.

Fontes:

Arquivo Histórico Municipal de Resende. Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Fundo PP-2, coleção 38, pasta 1, maço 1 (1835-1889). Lista dos aldeados na Freguezia de S.Vicente Ferrer, 1855. BURTON, Richard. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP,1976 Mapa demonstrativo do Censo Demográfico da Vila de Resende, em 1840, realizado pelo Juiz de Paz Lucindo Soares Louzada. Recenseamento do Brazil em 1872. Typ. G. Leuzinger , 1874. WIED, Maximilian, Prinz von. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte: Ita-tiaia; São Paulo: EDUSP, 1989.

RugendasAldea Christã

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40 Sesmaria 10- Primavera de 2015

Agropecuária ITATIAIAElcio Camejo Aguiar

Ração em geral - Vacinas - Medicamentos - Pássaros - Pintinhos - Gaiolas - Sementes - Adubos

fone: (24) 3352-1445Rua Prefeito Assumpção, n. 61 - Centro - ITATIAIA, RJ

A expansão da fronteira agrícola em Resende e as terras indígenas: um breve estudoJulio Cesar Fidelis Soares

O Vale do Paraíba e a Vila de Resende entram nesta história primeiramente com a terra que se mos-trou atrativa pelo custo e produtividade. Um aspecto importante é a visão ou a protovisão dos conceitos econômicos de custo de oportunidade nos investi-mentos. Vários aspectos técnicos geológicos da terra valeparaibana favoreceram a chegada do café. Por um lado, num país onde apesar das vastas quantida-des de terras disponíveis, a terra sempre foi um bem disputadíssimo (principalmente quando eram próxi-mas aos grandes portos), o Vale do Paraíba oferecia um atrativo fascinante: terras praticamente desocu-padas. Com exceção de algumas pousadas e de uns poucos engenhos de açúcar sem grande expressão, a mata virgem dominava soberana região. Se a floresta tropical havia resistido ao colonizador até a passa-gem do século XVIII para o XIX, a partir daí os al-tos preços do café no mercado externo abriu contra ela uma guerra de vida ou morte. Somente a possibi-lidade grandiosa de enriquecimento proporcionada pelo café, fez com que este eliminasse o primeiro dos grandes riscos que a região impunha a flores-ta. O desmatamento e as “coivaras” (as queimadas que os índios faziam em pequena escala) passaram a fazer parte do cotidiano do Vale. O solo era fér-til, sem dúvida. Como toda floresta recém-cortada, mantinha por um bom tempo ainda seu húmus além de que as cinzas das queimadas, de imediato, refor-çavam esta aparência de fertilidade permanente. Por outro lado, o café é uma planta extremamente deli-cada e exigente, precisando de um clima onde o frio não seja intenso e também onde o calor não fos-se abrasador. Além disso, exigia que as chuvas não fossem demasiadas, nem escassas e, de preferência, bem distribuídas o ano inteiro. Essas pré-condições, a região valeparaibana oferecia em abundância e fo-ram atrativos irresistíveis aos futuros cafeicultores, que naquele momento eram donos de pequenas e médias propriedades salpicadas pelo vale arqueano.

Mas restava ainda um empecilho à ocupação definitiva. Foi sempre só interesse do governo por-tuguês a distribuição de sesmarias na região do Vale. No entanto, o habitante primitivo do lugar tornou--se uma grande barreira a esta ocupação, resistindo a invasão. Mas como no caso do pau-brasil e da cana do Nordeste, quando a possibilidade de enriqueci-mento era muito grande, o homem branco era capaz do impossível. Assim, como no caso da natureza, foi também aberta uma guerra de vida ou morte contra os índios do Vale. Em Vassouras, depois de violentos combates, os Coroados foram confinados numa aldeia em Valença, criando o Conservatório de Índios, afastando-os do roteiro do café. Em Resen-de, conta o historiador da cidade, João Carneiro de Azevedo Maia, que os Puris como não conseguiram ser derrotados pelos brancos num primeiro embate,

tiveram um fim triste. Pessoas contaminadas de varíola foram colocadas a banharem-se no rio em que os Puris tiravam água para beber. Parte da tribo, agora derro-tada, partiu para a Serra da Mantiqueira, rumo à re-gião de Visconde de Mauá e outras, foram confinados num aldeamento na freguesia de São Vicente Ferrer , criado o aldeamento reserva de São Luiz Beltrão para os Puris, pelo Capitão e Sargento-mor em comissão Joaquim Xavier Curado nomeado pelo Vice-Rei D. Luiz de Vasconcelos e Souza (1779-1790), onde hoje é a atual Vila da Fumaça. Segundo Bittencourt, é da fazenda Canha Grande da então freguesia de São Vi-cente Ferrer que Antonio Bernardes Bahia, em terras da antiga aldeia dos Puris, Aldeia de São Luiz Beltrão, que saíram as primeiras mudas de café que foram plan-tadas em terras da Província de São Paulo, mais exa-tamente em Bananal, onde Antonio Bernardes Bahia tinha também propriedade, sendo marco e polo irra-diador das futuras plantações de café do Vale do Pa-raíba Paulista fazendo com que Bananal fosse pioneira no plantio da rubiácea em terra da Província Paulista. Se o café é primeiro plantado nos arredores da cida-de do Rio, na Floresta da Tijuca (conhecida na época como “Morro Pelado”), nos anos de 1770, ocupando depois a baixada Fluminense (região de Nova Iguaçu e Caxias), não será aí que ele mais prosperará como atividade econômica. Foi com a experiência de Resen-de e São João Marcos (cidade hoje não mais existente, pois está submersa na represa de Furnas), que outras localidades do Vale se interessaram em plantar cafés.

O café percorreu muitos caminhos, desde o início do século XIX, saindo do Rio, passando por Resende e S. João Marcos e sendo distribuindo para Valença, Barra Mansa, Vassouras, Piraí, Paraíba do Sul, passando também para a parte paulista do Vale

(Bananal, Areias, S. José do Barreiro, Lorena, Silvei-ras) bem como para a parte mineira (Juiz de Fora, Cataguazes, Leopoldina, Carangola, até Visconde do Rio Branco). As primeiras mudas de café do Campo Alegre, futura Rezende, trazidas pelo padre Anto-nio do Couto Fonseca da fazenda do holandês Ho-ppman no Rio de Janeiro, foram plantadas, como experiência, na região de São Vicente Ferrer, onde padre Couto tinha terras, depois do confinamen-to dos índios Puris na aldeia de São Luiz Beltrão.

Em 1802, Resende já era exportadora de café e, a partir daí, a região sofreria uma grande mudança. O início do reinado do café começou mudando, aos pou-cos, toda a economia da região. Se até antes da chegada do café, os poucos habitantes do arraial e redondezas do “Campo Alegre” plantavam e beneficiavam um pouco de cana-de-açúcar, cuidavam de plantações de anil, criavam gado (vendendo alguma carne para Mi-nas e Rio); tudo, a partir do século XIX, estaria sujeito à novidade cafeeira. Antigas fazendas de gado, enge-nhos de açúcar e cachaça, plantações de anil, passavam a plantar café. Outras plantações como as de milho, feijão, arroz e mandioca passaram a alimentar as fazen-das de café e as sedes dos núcleos urbanos dentro de um sistema de apoio e subsistência. Entretanto o café já impunha o seu poder quase absoluto como cultura comercial destinada a exportação. Quando a Vila de Resende passa a ser considerada como cidade em 1848, a região resendense já se destacava como um dos maio-res centros cafeicultores da província. Já estávamos no Segundo Império e o reinado de D. Pedro II esteve marcado pela expansão do café pelo Vale, salvando, progressiva e lentamente, o Império da falência finan-ceira econômica que estava sujeito após a Independên-cia. Ao falarmos em Império devemos sempre lembrar do café, num outro aspecto fundamental ter garantido para Império seu sustento político através das elites agrárias e na escravidão negra e indígena como for-ça motriz daquilo chamaremos de economia agro--exportadora. Confirmada pela Constituição de 1824 e garantido o tráfico até 1850, possibilitando a compra maciça de mais braços para lavoura do café muito em-bora saibamos que muitos índios eram usados como piões trabalhadores das lides de algumas fazendas.

Ainda assim o café será produzido Resende até o século XX e dentro basicamente das pequenas e médias propriedades como originalmente, mas não mais em grande escala de valor, mas em qualidade dos grãos, sendo nossas produções premiadas em várias exposições internacionais onde o café era apresenta-do. Quanto aos índios estes não sumiram, foram se agregando as atividades do campo dentro das suas possibilidades que a economia lhes proporcionou para sobreviver ao modelo imposto pelo homem bran-co colonizador das terras que outrora foram deles.

João Batista Debret, Aldeia de caboclos em Canta-Galo

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Dezembro de 2015 - O Ponte Velha - 7

(continuação da pág. 6)“Torna-te o que tu és”

No poema acima, Pessoa também nos diz que é luz do etéreo, que é dia, isto é, luz celeste, brilhosa, luminosa, elevada, puríssima, que é sol. Além de salgar e conservar, Pe. Antônio Vieira nos ilumina, nos roga. Acrescentemos que, no poema Mar Português, falavas, sem pretensão, de Vieira que deixara lágrimas no Brasil e em Portugal, este que curiosamente no século XVII cruzou sete vezes o Atlântico, a qual hoje seu corpo pertence.

Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos fi lhos em vão rezaram!

Quantas noivas fi caram por casarPara que fosses nosso, ó mar!

[...]

Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.

Quem quer passar além do BojadorTem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.

E no fi m, diz que Deus no mar espelhou o céu. Digamos, pois, que Vieira foi do perigeu ao apogeu. Evidência de que Vieira imiscuiu-se, no mar, ao sal. Seu corpo encontrou-se com o sal. No sentido em que em-pregou Alphonsus de Guimaraens:

Sua alma subiu ao céu,seu corpo desceu ao mar...

Curioso, mesmo que fugaz à etimologia, é que até a terra onde foi enterrado era Sal-vador. Afogou-se, que-rendo ser feliz, tal qual versou Manuel Bandeira em seu poema Cantiga:

Nas ondas da praiaNas ondas do mar

Quero ser felizQuero me afogar.

A máxima de Delfos, atribuída a Sócrates, “conhece--te a ti mesmo”, seguiu. Conhecia-se tanto a si mesmo, que anteviu de modo singular, em seu Sermão, que tornar-se-ia sal da terra e sal do mar. Aqui, Píndaro convida-se ao diálogo, “torna-te o que tu és”. Se se sabe o que é, se se conhece a si, podes tonar-se o que é. Tornou-se, aqui, sal do mar como afi rmara ser Santo Antônio.

Trecho do Sermão do Bom Ladrão (Igreja da Misericórdia de Lisboa, 1655)

Existe, por aí propagado, certo dito de Padre Antô-nio Vieira: “há homens que são como as velas; sacrifi -cam-se, queimando-se para dar luz aos outros”. Diria que ele foi um destes, lembremo-nos das pressões que sofria, de quando foi hostilizado pelos colonos, expulso do Maranhão, de sua prisão, de quando lhe cassaram a palavra e o condenaram à reclusão. Sacrifi cou-se, quei-mou-se para dar luz aos pares. Poder-se-ia dizer até que foi além, deu sabor à História e preservou-se nela.

Charles Baudelaire, em seu poema L’Homme et la mer (O Homem e o mar), nos instrui quiçá sobre o porquê desta intensa vontade de Vieira de se tornar sal: “Hom-me libre, toujours tu chériras la mer! La mer est ton miroir; […]”, o qual o poeta e ensaísta Delfi m Guimarães tra-duziu por: “Homem livre, o oceano é um espelho ful-gente. Que tu sempre hás-de amar”. O amor era tanto pelo ensinamento de Cristo, asseverado pela conduta de Santo Antônio, que o mar tornou-se também um amor, o sal tornou-se amor.

E agora, feito Paulinho da Viola, digo adeus sem chorar.Mas quando choro, sinto no sal o desejo de a-mar.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.É um dia; e, no céu amplo de desejo,

A madrugada irreal do Quinto ImpérioDoira as margens do Tejo.

Escapara, tal qual se referiu, do “dilúvio”, fi cou “mais largo que dantes, porque a terra e o mar, tudo era mar”. Fernando Pessoa já afi rmava, em seu poema Antônio Vieira, que este abrilhantava, embelezava as margens do rio mais extenso da península ibérica, o rio Tejo, este que nasce Tajo na Espanha. Nota-se que até nisto há afi nidade, pois o padre nasceu em 1608, quan-do ainda estavam em União Ibérica. Percorre ambos, passeia por entre as águas, é ibérico.

Resende e Resende

Sobre o tema, adianta Ercílio:

“Nunca estamos sós no mundo! E isso também se passa com as terras, cidades e até aldeias. Como há alguns séculos, Resende, daqui do Brasil, iria imagi-nar que tinha uma cidade, irmã gêmea, do outro lado do oceano?

A palestra que se apresentará é uma breve exposi-ção das semelhanças (tanto geográfi cas como históri-cas) que ligam os dois municípios, e a descoberta de outras curiosidades que aprimorarão mais o conheci-mento sobre o a cidade irmã da nossa Resende, com a Resende do outro lado do Atlântico.”

Geminação - Resende, Brasil e Resende, Portugal Uma História em comum.

O mundo globalizado traz enormes desafi os, mas proporciona meios efi cazes de superação de barrei-ras de toda espécie. Um capítulo deste enredo de horizontes imprevisíveis é a, já clássica, “geminação” de cidades. O termo é português; no Brasil, se diz “cidade-irmã”, e signifi ca uma aproximação entre municípios devida a condições históricas, geográfi cas ou culturais, implicando trocas de experiências, e pos-sibilidade de convênios e acordos que levem ao inter-câmbio de estudantes, entre outras atividades.

Em Resende - e podemos ampliar para a região - a ideia está sendo promovida por Ercílio Galhardo Neto, e foi acolhida pela Academia Resendense de História (Ardhis). Para entender melhor o alcance de uma “geminação”, a Ardhis receberá o Ercílio para uma palestra na Reunião Festiva do dia 19 de dezem-bro próximo, às 16h, nas dependências da Associação Educacional Dom Bosco (Aedb).

Sobre o tema, adianta Galhardo:

“Nunca estamos sós no mundo! E isso também se passa com as terras, cidades e até aldeias. Como há alguns séculos atrás, Resende, daqui do Brasil, iria imaginar que tinha uma cidade, irmã gêmea, do outro lado do oceano?

A palestra que se apresentará é uma breve exposi-ção das semelhanças (tanto geográfi cas como históri-cas) que ligam os dois municípios, e a descoberta de outras curiosidades que aprimorarão mais o conheci-mento sobre o a cidade irmã da nossa Resende, com a Resende do outro lado do Atlântico.”

Resende é uma vila portuguesa no Distrito (no Brasil, Estado) de Viseu, região do Norte e sub-região do Rio Tâmega, com cerca de 3 100 habitantes.

É sede de um concelho (município) com 123,35 km² de área e 11 364 habitantes (2011), subdividido em 11 freguesias (distritos).

Terra muito antiga, foi couto de Egas Moniz. Constituiu uma honra de que foram senhores Vasco Martins e seus descendentes. Na Idade Média pertenceu à terra de Aregos. Teve foral de D.Manuel em 16 de Julho de 1514.

O actual concelho resultou da junção dos concelhos de: Aregos, São Martinho de Mouros e Resende. Vila e sede de concelho. Foi abadia da apresentação da Casa dos Castros, Almirantes de Portugal e mais tarde Condes de Resende. Diocese de Lamego.

(http://digitarq.advis.arquivos.pt/details?id=1062303)

“O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre e de mais alta esfera; os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem São Ba-sílio Magno. Não só são ladrões, diz o santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais pró-pria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças rou-bam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.”

Sermão do Bom Ladrão

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8 - O Ponte Velha - Dezembro de 2015

Hummm...Nonada!Mas aproveito o gorro vermelho

para desejar feliz Natal e próspero ano novo aos leitores, apoiadores e

colaboradoresÓ Maiada,

Vancê com essa perna cruzada parece o Saci Pererê...

Curtascurtascurtascurtascurtas10 Anos do Pedra Sonora

Foi uma beleza o encontro de tanta gente amiga na comemoração dos 10 anos do grupo cultural Pedra Sonora, no dia da Consciência Negra. A festa, realizada no espaço da antiga Dance House, com vista para a Mantiqueira, começou à tarde com roda da samba reunindo muitos músicos de Penedo e Resende, e prosseguiu pela noite e madrugada com o grupo de Maracatu e a banda Pedra Sonora. Muito petisco bom, como os pastéis e samosas do Partha, e a cerveja bem gelada até o fi m. Cerca de mil pessoas prestigiaram o evento desse ativo movimento cultural comandado pelo casal Jamile e Rômulo. O arquiteto Renato Serra comentou com nossa reportagem que aquela energia do Pedra Sonora e amigos era o antídoto da sociedade contra a corrupção, com o que concordamos prontamente.

Penedon é Ouro

O Penedon Brew Pub - cervejaria artesanal do nosso amigo Sérgio Buzzi, do restaurante Parrilla, em Penedo - ganhou uma das 10 medalhas de ouro na terceira edição do Mondial de La Bière, realizado durante quatro dias do mês passado em três pavilhões do Pier Mauá, no Rio, que fi caram lotados de turistas e cariocas. Sérgio apresentou uma cerveja escura, a Penedon Suklaata, que concorreu com cerca de 800 outras. Havia cervejas de várias partes do mundo, inclusive algumas artesanais de trigo da Baviera, e o julgamento foi através de degustação às cegas feita por um juri de sommeliers e cervejeiros. Realizado anualmente em Montreal, no Canadá, e em Mulhouse, na França, o Mondial de La Bière é considerado a porta de entrada para muitas indústrias de cervejas estrangeiras nos países de realização. Pode-se comprar a linha de cervejas Penedon no Parrilla, que fi ca na Avenida das Mangueiras. Parabéns ao Sérgio.

Foto

de

Ian

Mar

te

Gustavo Praça

Feira na ArcanjoNo primeiro sábado de cada

mês, na Associação Arcanjo Ga-briel, em Penedo, reúnem-se os produtores naturais e artesanais, orgânicos e agroecológicos da região.

A iniciativa é da Arcanjo Ga-briel, que é uma instituição sem fi ns lucrativos e que atende a jovens e adultos com defi ciência. Os produtores comercializam ver-duras, legumes e mudas de plan-tas, cosméticos naturais, suco verde, geléias, pães integrais, farinhas e grande variedade de produtos orgânicos, além de obje-tos de arte, artesanato e roupas.

Também estarão à venda os artigos produzidos pelos assis-tidos da Ofi cina Escola Arcanjo Gabriel. São jogos americanos, tapetes e cachecóis coloridos confeccionados em teares manu-ais, vidros decorados, papel reci-clado, esculturas e pinturas.

O almoço, comida caseira e salada feita com verduras frescas da horta da Associação, é servido no salão do Centro Cultural a partir das 12h e custa R$15,00, exceto sobremesas e bebidas.

A Associação fi ca na Rua Perugino, 650, Jardim Martinelli, Penedo.

Pré-Simpósio de História do IEV em ResendeEm preparação ao Simpósio

marcado para os dias 4 a 6 de agosto de 2016, o Instituto de Estudos Valeparaibanos (IEV) vem organizando uma agenda de pré-simpósios em algumas cida-des do Vale.

O Pré-simpósio de Resende e região acontecerá dia 9 de abril de 2016, e terá o seguinte eixo temático: I. A mulher na formação do Vale do ParaíbaII. A presença da mulher na Arte e Culturado Vale do ParaíbaIII. A mulher e a EducaçãoIV. Mulher e sociedade

A coordenação caberá ao prof. Mário Dias, e o comitê científi co fi cará a cargo das academias de história de Resende e Barra Mansa, do Instituto Campo Bello, do Arquivo Histórico Municipal, Cederj e Ufg e da Casa da Cultura Macedo Miranda (apoio e contato).

O pré-simpósio oferece duas possibilidades de envio de trabalhos: pôster (Alunos de graduação, Profi ssionais da Educação Básica; Alu-nos da pós-graduação, Pesquisadores da região interessados pelo tema).Comunicação oral (Profi ssionais do ensino superior, Alunos da pós-graduação). Divulgação detalhada em breve.

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Dezembro de 2015 - O Ponte Velha - 9

Gás - Água - Ração

(24)3351.1047

3351.1616

Av. Brasil, 851 - Penedo - Itatiaia

Disk Entrega

Otanes Solon

Para todos os santos

Uma das coisas que percebi no decorrer dos acontecimen-tos envolvendo a Câmara em um turbilhão de denúncias que culminaram em detenções, prisões, ações civis e criminais foram alguns comentários de alguns empresários da cidade, feitos em particular, em rodas de “butequim”. Em destaque uma certa câmera indiscreta, uma movimentação suspeita em pleno dia de fi nados, um dia após a libertação de um dos acusados, em homena-gem a todos os santos. Todos os comentários começavam invariavelmente assim: “Ele (ou “eles”, todos envolvidos) foi(foram) muito burro(s)! Se tivesse(m)..., Deveria(m)...., ” Não é difícil imaginar a varie-dade de conselhos, fórmulas ou meios “mais inteligentes” de obter êxito nos atos pratica-dos vindos após as afi rmações. Demonstra bem a mentalidade de uma parte do empresariado e de nossa sociedade. Não há vergonha no crime, há vergo-nha somente em ser pego em fl agrante. Como disse certa vez um presidente da Câmara de Vereadores em relação a uma demanda interna que poderia gerar uma cobrança judicial ao órgão : “Não sou eu que vou pagar, é dinheiro público, que se f…” Essa eu presenciei, nin-guém me contou. Estava pró-ximo à conversa e captei com meus ouvidos de tuberculoso.

Mas essa é ainda a menta-lidade. “É dinheiro público, que se f...” , como se fosse algo etéreo, intangível, fruto da ima-ginação. Na verdade o que há são oportunidades, quem não consegue aproveitar é burro.

Assim permanecemos todos, apáticos contra o assalto daqui-lo que não nos pertence, logo não há gravidade. Seguindo essa linha de raciocínio, não há nem o crime, no máximo uma “burrice”. Faz até um pouco de sentido, afi nal o dinheiro públi-co sempre pertenceu ao estado, que cada vez mais é um fi m em si mesmo. Ele existe para promover a ascensão social dos eleitos e seus apaniguados. São salários, benefícios, auxílio isso, auxílio aquilo, verbas de gabinete, diárias, assessores, verbas indenizatórias , pensões vitalícias, aposentadorias es-peciais…. Que mal há então de meter a mão e tirar alguma coisa “deles” . Só consigo achar esta explicação: Estão rouban-do “deles” e não de todos nós.

O empresariado e a socieda-de são parceiros neste processo. E nada que recai sobre nós é injusto. Consequência? Que se f... !

É o empresário nos con-tratos, doações de caixa-dois, comissões, superfaturamento, baixa qualidade dos serviços públicos.... É a população com lajota, bolsa isso, bolsa aquilo, cargo comissionado, dinheiro pra boca de urna, ou simples venda de seu voto. É a cultura da permissividade, do egoísmo e da enganação. Mentimos a nós mesmos com tanta convic-ção que acreditamos em nossas mentiras. Eu já fi quei velho… ultrapassado. Para mim não existe burro no caso da Câmara e em outros similares Existem crime, criminosos e uma totali-dade conivente.

Feliz Natal.

Segundo reza uma certa tradição – não de todo aceita pelos especialistas -, Aristóteles enfrentou o problema moral em três tratados: Grande Moral (Magna Moralia) – trabalho cuja autoria é discutida; Ética a Eu-demo (Ethica Eudemia) e Ética a Nicômaco (Ethica Nicomachea). Essas três peças formariam uma trilogia que refl etiria, na sua sequência, o desenvolvi-mento do pensamento aristoté-lico no que concerne ao proble-ma moral.

A Ética a Nicômaco – úl-timo dos três tratados e, se considerarmos acertado o que foi dito – é o mais refi nado e desenvolvido trabalho do fi ló-sofo sobre moral. É um tratado famoso, pois, a partir do mé-todo ali empregado, a tradição ocidental foi impregnada da ideia de mediania: Aristóteles afi rma que “a virtude moral é um justo meio termo entre dois extremos, dos quais um é um vício por excesso e o outro, um vício por falta ou defi ciência”. O “justo meio termo” de que ele fala pode ser representado geometricamente, não como um ponto médio a meio cami-nho de cada um dos extremos, mas simbolizado pelo segmento áureo, a medida de harmonia geométrica e estética, donde se pode especular que, para Aristóteles, o comportamento moral necessariamente é carac-terizado por apresentar, em seu conjunto, uma forma equilibra-da e bela. Tal equilíbrio é al-cançado considerando-se, entre outras coisas, a lei, os costumes sociais, a situação real do agente (a pessoa que se vê diante de

um problema que exige uma decisão moral) e a disposição psicológica desse agente. (É tentador, diante desses dados, sondar o quanto há de pitago-rismo em Aristóteles).

No Livro V da Ética a Ni-cômaco, Aristóteles se dedica ao estudo da justiça. Imedia-tamente o fi lósofo identifi ca o problema referente à tensão entre a justiça universal (aquilo que é sempre justo em qualquer ocasião) e a justiça particular (aquilo que é justo em deter-minada ocasião). É aí que se insere a discussão referente à lei e sua aplicação. A equidade é considerada um corretivo da justiça legal. Ou seja, Aristóte-les julga que a justiça apresenta duas faces: a justiça natural e a justiça legal.

A justiça natural decorre dos costumes e a justiça legal é estabelecida pelo legislador. A justiça natural é sujeita aos condicionamentos do espaço (lugar em que ocorre a ação humana) e do tempo (época ou ocasião em que a ação hu-mana se dá). Como a natureza humana tem como caracterís-tica a mutabilidade – ou seja, em cada lugar e/ou em cada

época os costumes diferem, não obstante sejam sempre costumes humanos – decorre que aquilo que é considerado justo num lugar e/ou tempo/ocasião específi cos pode ser considerado injusto noutro lugar e/ou tempo. Da mesma forma, aquilo que em deter-minado lugar e/ou época era considerado injusto, poderá ser, noutro lugar e/ou época, considerado justo. Logo, o julgamento de um ato estará necessariamente sujeito aos condicionantes do tempo e do espaço. Disso decorre que ao se julgar um ato, a autori-dade (e/ou a comunidade), ao aplicar a justiça legal, poderá frequentemente ser levada a considerar tais condicionan-tes, corrigindo a aplicação da lei. É a isso que se denomina equidade. Essa correção, en-tretanto, nem sempre é pací-fi ca, pois a autoridade poderá decidir em contrariedade com a comunidade, que poderá to-mar o veredito como injusto. Da mesma forma, a comuni-dade – ou parte dela, de acor-do com interesses específi cos – poderá demandar junto à autoridade concessões que por sua natureza sejam contrárias aos costumes ou mesmo às leis. Nos dois últimos casos, a discussão sobre equidade ga-nha novos contornos e maior complexidade, obrigando--nos a considerar não apenas o ordenamento jurídico e os costumes estabelecidos, mas também a forma e o regime político, por exemplo, em que se dá a ação humana. <[email protected]>

Sobre a justiça e equidade em AristótelesEm tempos de juducialização da política, refl etir sobre a virtude da justiça é fundamental. O campo político é governado, antes da justiça, pela prudência; sem ela, a justiça - dar a cada um o que é seu - perde a profundidade de sabedoria e se aproxima de uma ciência jurídica cujos limites encontram-se na advertência do aforismo de Cícero: “summum jus, summa injuria”. A letra mata! De fato, nossa época pautada pelas utopias cai facilmente na tentação de atribuir ao rigor científi co a condução das questões republicanas, como se a práxis fosse dedutível da teoria, ou a vida justa, das leis, tornando o direito cada vez mais abstrato, distante da natureza e da história. O artigo do prof. Túlio chega em boa hora nesta última edição de 2015 do Ponte Velha, e ajuda a entrar no debate do próximo ano eleitoral. (MCB)

Túlio Alcântara Valente

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10 - O Ponte Velha - Dezembro de 2015

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A mentira com responsabilidadeCom aproximação do Natal, Congresso para tudo para

organizar chegada do Papai Noel

E aproveitando que tivemos um ano sem maiores percalços, tirando uma crise política sem precedentes na história, um pequeno aumento básico do dólar para patamares ligeiramente estratosféri-cos, o preço da gasolina, dos alimentos, do vestuário e do ingresso para assistir o Rock in Rio um pouco, digamos, bem salgados, um desastre ambiental no estado de Minas Gerais de proporções alar-mantes e que parece não ter chamado muito a atenção das autori-dades que estão agindo a passos de tartaruga, um fi nal de ano com uma briguinhazinha de poderes entre o Legislativo e o Executivo, nas pessoas do presidente da Câmara dos Deputados, que se esqueceu de dizer, coitado, que tinha um porquinho de moedas guardadinho lá no país dos chocolates e relógios de precisão, e da presidenta brasileira, que anda estocando vento nas bolas de borra-cha dos funcionários aniversariantes do Palácio do Planalto, brigui-nhazinha essa que pode dar num impeachmentozinho e/ou numa cassaçãozinha de mandatozinho, nada que seja muito seriozinho nem decisivozinho para o povinho brasileirinho, e, principalmente, a separação de Chimbinha e Joelma, bem como tantas outras notí-cias sem maior importância crucial para a vida do país, o Congresso brasileiro fi nalmente se ocupará de uma questão séria e urgente: o auxílio logístico para as atividades do Papai Noel no Natal.

A primeira medida será a votação prioritária das ações do pro-grama “Minha lareira, meu presente de Natal”, que deverá construir alguns milhões de lareiras populares em casas populares, num cur-to espaço de tempo antes que o peru do Papai Noel, isto é, o peru da ceia natalina seja servido à mesa, e com aquela qualidade e acabamento típicos das grandes empreiteiras contratadas pelo go-verno, de primeiríssima. Outra proposta importante e que não pode passar em branco é a permissão para que os veados, isto é, as renas do Papai Noel possam sobrevoar o espaço aéreo brasileiro, se não, os presentinhos dos fi lhinhos dos parlamentarezinhos não poderão ser entregues antes que o peru do Cunha, isto é, o peru da ceia natalina termine de assar e seja servido à mesa.

Uma pena que os nossos nobres representantes não terão tem-po, no meio dessa confusão toda, de votar a urgentíssima proposta de inclusão do décimo sexto e décimo sétimo salário em seus paga-mentos, mas a medida deve fi car para o ano que vem. Quem sabe antes da vinda do Coelho da Páscoa.

Carta de amor do vice-presidente vaza e esposa do cara fi ca com bico quilométrico

E uma última notícia: uma carta de amor, de dor de cotovelo, de paixão não correspondida, de Michael Jackson, isto é, Michael Jordan, ou melhor, de Michel Temer, vice-presidente do Brasil, veio à tona na mídia esses dias, carta em que ele declara todos os seus sentimentos escondidos e reprimidos para a presidenta brasileira, um choro só, uma lamentação pior que todas as letras de todos as músicas de todos os cantores sertanejos do país juntas, e agora todo mundo sabe que ele, que andou pegando uma novinha, quer dizer, andou casando com uma moça um pouco mais nova, com idade para ser fi lha, ou melhor, neta, a bela Marcela Temer, também ataca uma coroa, afi nal de contas, pa-nela velha é que faz comida boa. Além de pegador (já está no terceiro casamento, sem contar as puladas de cerca), nosso vice representante máximo é um especialista em psicologia das palavras, um camarada de lábia, e espera que sua carta toque profundamente no coração fe-rido de Dilma, e estes possam, então, reatar as ações em conjunto, à portas fechadas, claro.

O bacharel em direito, Doutor pela PUC-SP, autor de diversos livros, deixa à mostra, agora, sua melhor obra literária, para que o público brasileiro conheça um pouco mais do que se passa na cabeça daquele que pode vir a ocupar, em breve, o trono, isto é, a cadeira pre-sidencial. Quem não está gostando nada dessa história é a Marcela, que já ameaçou o marido dormir de calça jeans e esconder o estoque de Viagra em algum canto perdido do Palácio Jaburu, até que tudo seja esclarecido. Enquanto isso, o povo brasileiro espera sentado, ou me-lhor, deitado, que Temer deixe de ser uma peça decorativa no panora-ma político nacional e faça alguma coisa pelo país que realmente valha o salário. Quem sabe antes da vinda do Coelho da Páscoa.

encomendas para hotéis entrega em domicílio

PMDB se prepara para dirigir o povo brasileiro.

Santa CasaDiante da ameaça ao atendimento a

milhares de pacientes do Sul Fluminen-se, a saúde fi nanceira abalada da Santa Casa de Misericórdia de Resende foi o tema da audiência pública que a Câmara Municipal organizou no dia 9, quarta-feira última. O evento acontece no momento em que o Legislativo tornou-se alvo de investigação pelo Ministério Público, e deixa claro que a função social da Câmara é insubstituível. Principalmente quando se trata de um patrimônio do resendense, criado há 180 anos.

O requerimento para a marcação da audiência pública partiu do vereador Dr. Irâni (PROS) e contou com a aprovação unânime dos parlamentares de Resende. “Em se tratando de uma instituição fi lan-trópica e que tem papel fundamental na Saúde do nosso município, e até mesmo na da região, tais difi culdades atingem a sociedade como um todo”, argumentou o vereador, que também é médico.

Ele conta que, como presidente da Comissão Permanente de Saúde e Assistência Social da Câmara, tomou conhecimento ofi cialmente dos proble-mas fi nanceiros da instituição durante uma reunião recente com o Conselho Municipal de Saúde. O intuito do en-contro, segundo Dr. Irâni, é permitir que as difi culdades enfrentadas pela Santa Casa sejam discutidas na presença de seus representantes, de autoridades e da população em geral.

As principais fontes de receita da instituição são os repasses provenientes do SUS (Sistema Único de Saúde) e do PAHI (Programa de Atenção aos Hospi-tais do Interior, do Governo do Estado do Rio de Janeiro), bem como a arrecada-ção gerada pelo atendimento particular.

A Santa Casa oferece atendimento nas áreas de ambulatório, em espe-cialidades médicas e na realização de cirurgias eletivas, tanto na rede particu-lar, quanto pelo SUS. De acordo com a diretoria da instituição, porém, 95 por cento dos atendimentos realizados são viabilizados pelo SUS. (Com CMR)

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Dezembro de 2015 - O Ponte Velha - 11

Posto AvenidaBob`s

Seu carro agradece e seu paladar tambémCREDIBILIDADE

Esta invocação é uma Prece MundialExpressa verdades essenciais.

Não pertence a nenhuma religião, seita ou gru-po em especial. Pertence a toda humanidade como forma de ajudar a trazer a Luz Amor e a

Boa Vontade para a Terra. Deve ser usada frequentemente de maneira altruísta, atitude de-dicada, amor puro e pensamento concentrado.

A Grande Invocação

Desde o ponto de Luz na Mente de Deus,que afl ua Luz às mentes dos homens.

Que a Luz desça à Terra.

Desde o ponto de Amor no Coração de Deus, que afl ua Amor aos corações dos homens.

Que aquele que vem volte à Terra.

Desde o Centro, onde a Vontade de Deus é conhecida, que o propósito guie

as pequenas vontades dos homens.O propósito que os Mestres conhecem

e a que servem.

Desde o centro a que chamamos raça humana, que se cumpra

o plano de Amor e Luz. E que se feche a porta onde mora o mal.

Que a Luz, o Amor e o Poder restabeleçam o Plano Divino na Terra.

Unidade de Serviço para Educação IntegralAv. Nova Resende, 320 – sala 204

CEP: 27542-130 – Resende RJ – BrasilTels(0xx24) 3351 1850 / 3354 6065

Martha Carvalho Rocha

Aquelas pessoas tinham pose e dinhei-ro de sobra. Tudo delas era enorme. Des-propositado! Era sinal de chuva grossa. De chuva solta de tudo! Elas disfarçavam--se de satisfeitas.

No nosso povoado havia três ruas. O resto era quase tudo de um: igrejinha singela, caiada de branco. Pracinha com fl ores bem tratadas. O coreto, armarinho do Amâncio, armazém, açougue, padaria do Zé Peão, farmácia, sapateiro, uma car-pintaria pequena com carpinteiro, - seu Acácio. Escolinha da dona Zulmira. Um ponto de amarrar cavalo, campinho de futebol. A estação linda de trem, bem visitada. Os trens eram o Rápido e o Expressinho Parador. Tudo muito bem cuidado, como se todos que habitavam aquele pequeno mundo, estivessem com-prometidos com a estética. Ah, o ônibus... apenas um ônibus e um único motorista, conhecido como seu “Zé do ônibus”.

Na casa dos meus pais reinava o singular. De plural, era a bastantinha de gente morando. Era a boa vontade. Os anjos de Nosso Senhor, particularizando aquela existência. Havia lá uma discipli-na silenciosa, uma ordem que parecia acontecer por si só. Tudo no sufi ciente, como gostava a minha mãe. Tudo nos conformes! Não fosse a dança diária de oferendas às almas fatigadas, na sua vir-tuosidade... Ao que minha mãe se rendia e dava graças. Sendo ela a promover a festa e, neste caso, cobrindo a mesa com solene abundância. Não fosse também a misturada de leite com manga que eu, de permeio com meu irmão, fazíamos, tomávamos e, por cima, oferecíamos. E esta misturada, no dizer geral, esmoa-çava, podia até matar. Jabuticaba no pé, engulição de caroço e casca, na afobação de comer sem paciência, também, no dizer geral, fazia desfalecer. Milho verde era quanto houvesse! Causava indigestão. Depois era pura imploração, pedindo cura pra famintagem. Estas coisas e mui-to sal no cocho, caldo de cana derraman-do na moagem, eram conhecidos como desperdício, como fruteira carregada.

Dos ensinamentos de minha mãe: coloque no prato a comida necessária! Comam com honestidade e boa educa-ção. Apesar das costuras, dos bordados e do bom gosto dela – roupas, poucas! Bicicleta era uma para nós quatro. O rádio era só para ouvir à noite ou, se bordando: “o dia foi feito pra trabalhar”. Dormir de dia, nunca vi ninguém naque-la casa. A tal da sesta. De carro, até mor-rerem, meus pais tiveram cada um seu fusca. Nada mais, nada menos que fusca! E o tempo passando paciencioso, era de grande valia... Difícil negar que nestes feitos e nestes ditos, havia uma categoria modesta de nobreza. Igual ao jogo de bola de gude, com os fi lhos dos colonos da fazenda: “marraio – fi lidô sô rei”!

Em nome do nada, tudo agora fi cou luxento por demais... Tudo desmudou sua pessoa. Restam os pensamentos em espasmos, o trajeto aborrecido da pres-sa de “postar, compartilhar, curtir”, no viver “on line”. E o coração acelerando sem a serenidade das antigas fotos nas paredes. É mormaço por todo lado! Pali-dez! Dor amoitada no coração.

Nunca, nada será tão alegre, tão ver-de nativo, como antes. Nunca, nada será como naquele tempo. Tempo que só um verdadeiro escritor, pra conseguir des-crever: um Manoel bandeira, um Paulo Mendes Campos! Apenas um pintor da arte primitiva.

E as palavras começando a me faltar. Não mais se amontoando sobre mim e, ao feito delas. E eu concluindo que, o que escrevi – livros e outros – já está de bom tamanho. Ou eu vou fi car igual aquela gente do começo desta história: despropositada! Parar de girar em torno da minha infância, em torno dos meus mortos – isto lá eu faço não! Ou onde fi cariam a admiração, o gosto da delícia, os segredos, os recados, a troca de bilhe-tinhos? Sonhá-los apertando-os no meu peito, agasalhando-os...

Então, se eu não conseguir de volta a minha escrita, vou dar de ler. Se de todo, me faltarem as palavras: “marraio, feridô sô rei”!

Misturada de manga com leite

Enrico Bianco (Itália/Brasil, 1918-2013), Jogando bolinha de gude (óleo sobre tela)

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12 - O Ponte Velha - Dezembro de 2015

Fala, Zé Leon! Adeus, Ano Velho, Feliz 20172015 não foi um bom ano.

Pensando bem, 2015 foi um péssimo ano. Acho que pen-sando melhor ainda, foi o pior ano para a humanidade.

Já começou com o Estado Islâmico apresentando seu cartão de visitas, atacando a revista Charlie Hebdo. Nem se discutiu a qualidade do humor politicamente incorreto que se praticava ali, mas sim o direito de fazê-lo.

Foi o ano da maior imi-gração da história, após a Segunda Guerra. Milhares de sírios fugindo de seus lares, em busca de novas oportunidades na Europa.

Je suis Charlie, mas je suis também as crianças e adoles-centes, pretas e pobres, chaci-nadas nas comunidades pela policia que atira primeiro e pergunta depois.

Je suis também os policiais que morreram assassinados, numa guerra sem fi m, por mais pacifi cadas que estejam algu-mas favelas do Rio.

Je suis Paris e seus mais de 130 mortos, também chacina-dos pelo EI. Je suis também Mariana, o Rio Doce, e as cida-des que por ele são banhadas

e que agora amargam o pior desastre ambiental da história do Brasil.

Mas dizem que sempre pode se enxergar um lado bom. Quando a gente vê de um lado o Cunha e o do outro a Dilma, numa queda de braço do me-nos pior, e que se as opções são Temer ou Aécio, não da pra ser otimista.

No apagar das luzes 2015 levar a Marilia Pera, foi muito chato. Vi no Vídeo Show (de-sempregado vê Vídeo Show) que os episódios do Pé na

Cova do ano que vem também já foram gravados. Que bom. Ainda teremos um pouco de Marília Pera

Pelos menos 2015 foi um ano que vimos pela primeira vez, a turma do andar de cima ir ver nascer o sol quadrado. O FBI e a FIFA fazerem uma lim-pa nas confederações de futebol, nosso “Zé das Medalhas” preso, toda cúpula da FIFA afastada. Meu Botafogo voltar à primeira divisão, o Vasco cair de novo.

Foi o ano em que abri o Costelão em Engenheiro Passos, mas pelo andar da carruagem, vou virar estatística do Sebrae.

Mas foi triste esse escândalo de corrupção na Câmara Muni-cipal. Pessoas com quem traba-lhei chafurdadas até o pescoço, presas, desmoralizadas. É 2015, vá com Deus, e que venha logo 2017.

********************

Minha vida com Marília Pera:

1)Eu era presidente da Co-missão de Incentivo à Cultura do Governo do Estado e toca meu celular. José Leon? Boa tarde, é Marília Pera. E me fez uma consulta sobre um proje-to de interesse dela.

2) Em 2006, o MAM de Resende foi homenageado pelo mesmo Governo do Es-tado no teatro Villa Lobos, em Copacabana. E a Marília também era uma das home-nageadas e fi cou no palco ao meu lado.

Posso dizer com orgulho que eu e Marília erámos ó...

*********************Meus poucos, mas fi éis lei-

tores devem estar achando que eu pirei, desejando em 2015 um feliz 2017. Claro que não. 2016 não vai acontecer. Carna-val, Semana Santa, Olimpíadas e Eleições?

Feliz 2017

A cidade ao cair da tarde, 1985

Heraldo Pedreira (Brasil, 1948)

óleo sobre tela, 35 x 50 cm

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dorA dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,Na dor lida sentem bem,Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de rodaGira, a entreter a razão,Esse comboio de cordaQue se chama coração.

Fernando Pessoa (1898-1935)

Implantes: cônico, cone morse Prótese sobre implantesEnxerto ósseo: regeneração óssea guiada

Dr. Maurício DiogoCRO 10689

Especialista em Implantodontia

Resende Shopping Torre II Sala 602

Tel. 33851474