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0 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA ELIZANETE NASCIMENTO A INTERVENÇÃO PSICOTERAPÊUTICA NO PROCESSO DO LUTO DE MÃES QUE PERDERAM FILHOS ADULTOS JOVENS Biguaçu 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – BIGUAÇU

CURSO DE PSICOLOGIA

ELIZANETE NASCIMENTO

A INTERVENÇÃO PSICOTERAPÊUTICA NO PROCESSO DO LUTO DE MÃES QUE PERDERAM FILHOS ADULTOS JOVENS

Biguaçu

2009

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ELIZANETE NASCIMENTO

A INTERVENÇÃO PSICOTERAPÊUTICA NO PROCESSO DO LUTO DE MÃES QUE PERDERAM FILHOS ADULTOS JOVENS

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia.

Orientadora Profª. MSc. Enis Mazzuco.

Biguaçu 2009

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ELIZANETE NASCIMENTO

ÁREA DE PESQUISA: Psicologia Clínica. TEMA: Perda e luto materno TÍTULO DE PROJETO: A intervenção psicoterapêutica na questão do luto de mães

que perdem filhos adultos jovens.

BANCA EXAMINADORA

Profª: Enis Mazzuco (Orientadora)

Titulação: Mestre em Sociologia Política

Profª: Ivânia Jann Luna

Titulação: Mestre em Psicologia Clínica.

Profª: Hebe Cristina Bastos Régis

Titulação: Psicóloga e Especialista em Gestalt Terapia

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Dedico esse trabalho ao meu querido sogro Osni Tarcísio Koerich, que infelizmente

não está entre nós, o que me inspirou na escolha do tema.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus pela vida.

Ao meu esposo Júlio, pela oportunidade de estar na faculdade, pelo apoio,

incentivo, carinho, companheirismo e por os meus choros e stress, enfim, por tudo.

Aos meus pais e irmãos.

Ao meu querido sogro, que infelizmente não está mais entre nós!

À minha sogra pelo incentivo e carinho.

À minha Orientadora Enis, meu reconhecimento por todo o conhecimento

compartilhado e por sua dedicação.

À professora Ivânia e a professora Hebe, por terem aceitado participar da

minha banca e pelos comentários e contribuições.

À professora Vera pela sua atenção e carinho.

À Simone da biblioteca por sua gentileza e paciência.

À minha amiga Priscila, pelo apoio e incentivo.

À Professora Maria Ligia dos Reis Bellaguarda, coordenadora do curso de

enfermagem – Univali – pela atenção e prestatividade.

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RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo geral identificar os tipos de intervenção

psicoterapêutica no processo de mães que perderam filhos adultos jovens. Para que

esse objetivo fosse alcançado foram abordados vários temas, como: morte e perda;

o processo de luto, fases e sintomatologia; luto normal e luto patológico; psicoterapia

para pessoas em situações de luto/perda e luto materno. Esse trabalho consiste

numa pesquisa qualitativa, do tipo bibliográfica. Como fonte de dados foram

utilizados livros e artigos, datados a partir do ano 2000, com exceção das obras

clássicas sobre o tema como a de Worden, Kubler-Ross, e outras que entendemos

terem sido necessárias a esta pesquisa. No decorrer do trabalho pode-se constatar

que o luto materno consiste num dos piores tipos de luto, ocasionando na mãe

profunda tristeza, desesperança, desânimo, sentimento de vazio e também, em

muitos casos a dificuldade de aceitação da morte. Logo, tais condições podem levar

à necessidade de intervenções psicoterapêuticas. Existem diferentes possibilidades

de intervenções, como: psicoterapia breve individual, psicoterapia familiar,

aconselhamento do luto e intervenções grupais em casos de enlutamento. De

maneira geral, tais abordagens visam auxiliar o enlutado na resolução de conflitos e

dificuldades decorrentes da perda, e também auxiliar o enlutado na adequação à

nova condição de vida.

Palavra-chave: Intervenção psicoterapêutica. Luto materno. Perda.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7

1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 9

1.1 MORTE E PERDA ................................................................................................. 9

1.2 PROCESSO DE LUTO, FASES E SINTOMATOLOGIA ..................................... 11

1.3 LUTO “NORMAL” E LUTO “PATOLÓGICO ........................................................ 14

1.4 PSICOTERAPIA PARA PESSOAS EM SITUAÇÕES DE LUTO/PERDA ........... 15

1.4.1 Psicoterapia breve individual para o enlutamento ...................................... 17

1.4.2 Psicoterapia familiar para o enlutamento .................................................... 19

1.4.3 Aconselhamento do luto ................................................................................ 21

1.4.4 Intervenções grupais em casos de enlutamento ......................................... 22

1.5 LUTO MATERNO ................................................................................................ 24

2 METODOLOGIA .................................................................................................... 28

2.1 TIPO DE PESQUISA ........................................................................................... 28

3 DISCUSSÃO TEÓRICA ......................................................................................... 30

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 37

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 40

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, de caráter

bibliográfico e refere-se a uma investigação sobre a intervenção psicoterapêutica no

processo do luto de mães que perderam filhos adultos jovens.

Questões como morte e luto fazem parte do cotidiano das pessoas. A morte

é uma das certezas existentes na vida, entretanto as pessoas não costumam estar

preparadas para lidar com essa situação. Segundo Kubler-Ross (1998), a morte,

enquanto fenômeno universal é considerado um processo natural, ou seja, as

pessoas aprendem que os homens são mortais. Porém, quando este pensamento é

aplicado a um indivíduo familiar ou conhecido principalmente, a morte passa a ser

sentida como amedrontadora. “Morrer é triste demais sob vários aspectos, sobretudo

é muito solitário, muito mecânico e desumano”. (KUBLER-ROSS, 1998, p. 11).

Sabe-se que situações como a perda de um filho causam um profundo

impacto emocional para uma mãe. Muitas mães têm dificuldades em superar essa

perda, e a vivencia do processo de luto nesses casos pode ter indícios de luto

patológico. Nesse sentido, costuma-se observar a necessidade e a importância de

uma intervenção psicoterapêutica, o que justifica o interesse da acadêmica na

investigação desse tema.

Por sua vez, psicoterapia, de maneira geral, vem sendo um suporte de suma

importância na vida dos sujeitos com algum tipo de sofrimento psíquico. No decorrer

desta pesquisa constatou-se que a intervenção psicoterapêutica pode auxiliar as

mães enlutadas no processo de adaptação a nova condição de vida, possibilitando a

continuidade às suas vidas sem tanta dor. Com isso, as mães enlutadas poderão vir

a entender e aceitar melhor o luto e a perda.

Esta pesquisa teve como objetivo geral, identificar os tipos de intervenção

psicoterapêutica no processo de mães que perderam filhos adultos jovens e, como

objetivos específicos, descrever os tipos de psicoterapia para enlutados; diferenciar

e definir o psicodiagnóstico do processo do luto normal e patológico/complicado;

identificar fatores que contribuem para a existência de dificuldades na elaboração do

luto de mães que perdem filhos adultos jovens; e, identificar de que forma a

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psicoterapia pode auxiliar na elaboração do luto de mães que perdem filhos adultos

jovens.

Convém assinalar que foi encontrado pouco material bibliográfico no Brasil

que aborde especificamente o tema em questão. Entendemos que isso justifica

ainda mais a relevância desta pesquisa, pois acreditamos que este estudo teórico

poderá contribuir para a melhoria da qualificação dos psicólogos, o que poderá

repercutir numa prática mais adequada nos atendimentos desses casos.

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1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1.1 MORTE E PERDA

A morte faz parte da vida, as pessoas sabem disso, mas vivem como se

nunca fossem morrer. Não existe fato mais universal do que a morte. Esta coloca um

ponto final no ciclo de vida humana e costuma causar muito impacto emocional nas

pessoas, mobilizando com freqüência mecanismos psicológicos de evitação e

negação (BROMBERG, 2000).

Dentre todos os assuntos-tabu, o principal na sociedade ocidental é a morte.

De todas as situações da vida, a morte geralmente leva a um dos processos

adaptativos mais dolorosos para uma família e para seus membros individualmente,

podendo ter reflexos nos demais relacionamentos. Isto é, a morte leva a uma

reorganização imediata e, também a longo prazo, gera mudanças em todo o

contexto familiar (WALSH; MCGOLDRICK, 1998).

Segundo Bromberg (2000, p. 13) “a morte é a ausência [...] a perda do

mundo, dos afetos, do pensamento [...] morte é perda [...] é ausência de todos [...]

morte é solidão [...]”. Todas essas emoções caracterizam o sentimento de luto, que

será abordado no decorrer deste estudo.

Para a autora citada, os sentimentos que acompanham a perda de uma

pessoa amada costumam afetar por longo tempo emoções, corpos e vidas. Dentre

esses sentimentos podemos destacar a tristeza, angústia, raiva, arrependimento,

saudade, medo e ausência (BROMBERG, 2000, p. 13).

Kubler–Ross (1998), através dos estudos de várias culturas e povos antigos

percebeu que a morte sempre foi abominada pelo homem, e provavelmente sempre

será. Existem várias razões que levam as pessoas a fugirem de encarar a morte

com serenidade. Uma delas é que nos dias de hoje morrer é muito triste, é visto

como algo solitário e desumano, que, por exemplo, remove uma pessoa amada do

seu ambiente familiar.

Conforme Kovács (1992, p. 150) “a morte como perda nos fala em primeiro

lugar de um vínculo que se rompe, de forma irreversível, sobretudo quando ocorre

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perda real e concreta”. Bromberg (2000) complementa, afirmando que a morte de

um ente querido não é somente uma perda, mas também uma ameaça a quem está

vivenciando tal perda, aproximando-o da própria morte. Segundo Kovács (1992, p.

149) a morte deste ente querido pode significar “[...] a possibilidade de experiência

da morte que não é a própria, mas é vivida como se uma parte nossa morresse, uma

parte ligada ao outro pelos vínculos estabelecidos”.

Segundo Walsh & Mcgoldrlck (1998) cabe assinalar que o sistema de

crenças de uma família a respeito da morte, os seus valores e o contexto em que

esta perda está inserida costumam influenciar na superação da dor da perda.

Conforme assinalado anteriormente, dentre as experiências mais dolorosas

que um ser humano pode vivenciar, está a perda de uma pessoa amada. Esta

vivência é dolorosa para quem experimenta, e também para quem observa, pois

muitas vezes as pessoas querem, mas não conseguem ajudar (BOWLBY, 1998).

Partindo de uma perspectiva familiar sistêmica, a morte de um membro da

família pode dar início a um processo que envolve várias mudanças, que costuma

atingir a todos os membros, no ciclo de vida em comum. Conseguir novamente o

equilíbrio do sistema familiar pode ser um processo demorado pelo qual a família

passará (WALSH; MCGOLDRICK, 1998).

A perda de um membro da família leva a um processo de reajustamento

social, levando muitas vezes a uma redistribuição de tarefas, mudanças na rotina,

mudanças no padrão de vida, entre outras mudanças (BROMBERG, 2000).

Para Walsh; Mcgoldrlck (1998, p. 43), “quanto mais importante a pessoa era

para a vida da família, e quanto mais central seu papel no funcionamento dela, maior

a perda.” O choque da perda pode ser amenizado quando são criados vínculos

substitutos, que levem à aceitação da função de suporte social (BROMBERG, 2000).

Cabe destacar que as reações do enlutado são influenciadas por alguns

fatores como, por exemplo, o tipo de morte: inesperada e prematura; morte após

doença muito longa; suicídio e assassinato. Existem também os casos nos quais o

enlutado encontrava-se fisicamente distante na ocasião da morte e casos em que o

enlutado não tinha conhecimento do diagnóstico e do prognóstico da pessoa que

morreu (BROMBERG, 2000).

Considerando o tema deste trabalho, faz-se necessário algumas

explanações no que diz respeito à perda, ocasionada pela morte de um filho adulto

jovem. Parkes (1965 apud BROMBERG, 2000, p. 149) “descreve a perda de um filho

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de qualquer idade como ‘o luto mais duradouro’ e que causa mais sofrimento”.

Bromberg (2000) também considera a morte do filho como uma das situações mais

difíceis para a elaboração do luto, pois se trata da morte de uma pessoa que se

encontrava num momento de construção da vida; é considerada uma morte

prematura, ou seja, que rompe com o ciclo vital da vida. Conforme, Walsh &

Mcgoldrlck (1998, p. 59), a perda do filho adulto jovem é muito trágica para família e

pode gerar um sofrimento que persistirá muito tempo. “[...] a família, pode

experimentar a sensação de que foi cometida uma injustiça cruel com a vida que

cessou antes de atingir sua plenitude”.

Segundo os autores citados, para a família esse jovem ainda tinha muito

potencial para inúmeras realizações na vida e poderia assumir várias

responsabilidades que foram inviabilizadas pela morte (WALSH; MCGOLDRLCK,

1998, p. 59).

Para os pais, quando se perde um filho é como se suas perspectivas de

futuro desmoronassem, pois é natural que os pais depositem em seus filhos sonhos,

projetos, idealizações, invistam neles tempo e afeto, de forma que este filho passe a

ser uma continuidade não só biológica, mas também psicológica. Logo, quando este

filho morre, costuma existir a sensação de ter perdido um pedaço de si mesmo, ou

seja, é como se parte significativa dos pais morresse junto com o filho (WALSH;

MCGOLDRLCK, 1998).

Conforme relatado, a experiência da perda costuma gerar muita dor e

aflição. A recuperação de alguém que sofre a perda de uma pessoa muito estimada

só pode ser atingida após a vivência do processo de luto. Tendo em vista o exposto

acima, podemos entender que a morte de um filho é um dos acontecimentos mais

difíceis de aceitar (BOWLBY, 1998).

1.2 PROCESSO DE LUTO, FASES E SINTOMATOLOGIA

Engel (1961 apud BROMBERG, 2000, p. 30), “coloca a questão de ser o luto

- em si – uma doença”. Para o autor citado o luto é “uma resposta característica à

perda de um objeto valorizado, seja a pessoa amada, um objeto material especial,

emprego, status, casa, pais, ideal, parte do corpo”. Ainda, segundo o autor, o

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processo do luto sem complicações segue a sua trajetória, que será influenciada por

diferentes aspectos como: morte repentina, natureza de preparação para o ocorrido

e o sentido que o objeto perdido tem para o sobrevivente.

Segundo Bromberg (2000), o processo psicológico do luto é caracterizado

por algumas fases que serão vivenciadas pelo enlutado. Inicialmente a pessoa

passa por um período de choque e descrença, ou seja, ela nega a perda e procura

se isolar contra o choque causado pela realidade. Em sequência, há uma fase de

crescente consciência da perda, seguida pela fase de recuperação.

Para Bromberg (2000, p. 31), na fase onde o indivíduo começa a tomar

consciência da perda é comum existirem “[...] efeitos dolorosos de tristeza, culpa,

vergonha, impotência e desesperança; há também o choro, uma sensação de vazio

e distúrbios de alimentação e de sono [...]”.

É comum que também ocorra à incidência de doenças psicossomáticas

associadas à dor física; muitas vezes as pessoas sentem-se desanimadas e têm

uma perda de interesse com relação às atividades que estavam habituadas a

desenvolver, dentre elas pode haver perda de qualidade no desenvolvimento de

atividades profissionais (BROMBERG, 2000).

Por sua vez, na fase de recuperação, na qual ocorre a elaboração do luto, o

enlutado supera o trauma e seu estado de saúde começa a ser restabelecido

(BROMBERG, 2000).

Segundo Stroebe & Stroebe (1987 apud BROMBERG, 2000) pode-se citar

os sintomas mais freqüentes encontrados no sujeito enlutado: depressão,

ansiedade, culpa, raiva e hostilidade, falta de prazer, solidão, agitação, fadiga,

choro, baixa auto-estima, desamparo, perda de apetite, distúrbios de sono, entre

outros.

Existem também outros autores que trabalham com a temática do luto.

Nesse sentido, por exemplo, Bowlby (1998) tem uma descrição própria sobre as

fases do luto. Para esse autor o luto é vivenciado a partir de quatro fases: fase de

entorpecimento; fase de anseio e busca da figura perdida; fase de desorganização e

desespero e fase de reorganização. O autor afirma que essas fases não são bem

definidas e que o indivíduo pode oscilar entre elas durante o mesmo período de

tempo (BOWLBY, 1998).

Ainda segundo o autor citado acima, a fase de entorpecimento refere-se às

primeiras reações frente à perda, ou seja, é a fase de choque. Pode durar poucas

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horas podendo se estender por uma semana. Raiva intensa e/ou explosões de

aflição podem ser o motivo da interrupção dessa fase (BOWLBY, 1998).

Por sua vez, a fase de anseio e a busca da figura perdida, trata-se de um

momento de fortes emoções e sofrimento psicológico. O indivíduo começa a

registrar a realidade da perda, o que o leva a apresentar sintomas depressivos,

como desânimo intenso e lamentação. Nesta fase é comum o aparecimento da

raiva, às vezes direcionada a si mesmo, aos outros que oferecem ajuda e até

mesmo contra o morto, pelo abandono que este provocou (BOWLBY, 1998).

Na fase de desorganização e desespero é importante que a pessoa enlutada

tolere as oscilações de emoção que lhe sobrevêm para que a elaboração do luto

tenha um bom resultado. Se o enlutado conseguir suportar o abatimento e aos

poucos eliminar a raiva relacionada a qualquer pessoa considerada responsável

pela morte do ente querido, ou até mesmo eliminar a raiva direcionada à pessoa

morta, se tornará mais possível, a aceitação e reconhecimento gradual de que a

perda existe, será permanente, e sendo assim, a sua vida deverá ser reconstruída.

É esperado que nesta fase o enlutado muitas vezes se sinta deprimido,

apático e desesperado, ao se dar conta de que a situação não pode ser revertida.

Porém, se o processo de elaboração do luto ocorrer conforme o esperado, algumas

mudanças acontecerão, ou seja, haverá uma fase, chamada “reorganização” na qual

a pessoa avaliará a situação em que se encontra, podendo definir as formas de

enfrentamento. Para que isso aconteça será necessário que a pessoa faça uma

redefinição de si mesma perante a situação. Ocorrerá o aprendizado de novas

habilidades e a aceitação de novos papéis, que não será fácil, pois a retomada da

vida social costuma ser um processo longo e doloroso.

Conforme Parkes (1998), em todo o processo de elaboração do luto existem

alguns componentes: o enlutado costuma pensar bastante na pessoa que morreu;

as lembranças dolorosas podem ser compreendidas como constantes e

necessárias, caso a perda não tenha sido aceita como inevitável. A partir de suas

crenças sobre a realidade, ou seja, sobre o mundo, o enlutado busca encontrar um

sentido para a perda, ou tenta modificar esse sentido, se for necessário.

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1.3 LUTO “NORMAL” E LUTO “PATOLÓGICO”

O luto “normal” caracteriza-se pela possibilidade que a pessoa tem de

adaptar-se à nova realidade gerada pela morte de um ente querido (BROMBERG

2000). Já o luto “patológico”, a autora (2000, p. 81) afirma que “[...] marca-se por ser

crônico, adiado ou inibido, com fatores específicos que o desencadeiam, como tipo

de morte e qualidade da relação anterior à morte”.

Existem diversos processos psicológicos presentes no luto “normal” e

também no luto “patológico”. No que diz respeito ao luto “normal” pode-se destacar

que o enlutado com o decorrer do tempo vai retirando o seu investimento emocional

da pessoa perdida, e logo passa a ser possível que tal investimento emocional seja

deslocado para uma relação com outras pessoas. Na trajetória do luto “normal” o

anseio do enlutado em recuperar a pessoa perdida, o que é muito intenso nas

primeiras semanas e meses após a perda, vai diminuindo com o passar do tempo e

a pessoa vai se adaptando à realidade da perda (BOWLBY, 1998).

Segundo Raimbault (1979 apud KOVÁSC, 1992) na elaboração do luto dito

saudável é necessário: um desligamento dos sentimentos investidos no morto; a

aceitação de que a morte foi inevitável e encontrar, quando possível, uma pessoa

substituta para refazer os vínculos perdidos.

A duração do luto varia conforme a pessoa, em alguns casos dura muitos

anos, isto é, o processo de luto não termina. Há uma tristeza constante, sentimento

de solidão, sensação de desespero e desânimo ao recordar-se do morto,

caracterizando assim o luto “patológico” (KOVÁSC, 1992).

Para Bromberg (1998, p. 40), a dificuldade em estabelecer a diferença entre

o luto “normal” e “patológico” “[...] baseia-se nas muitas variáveis que compõem o

luto além de pontos de semelhança com outros quadros, sendo a depressão o

exemplo mais tangível”. A autora citada coloca ainda que a depressão clínica por

sua vez pode ser considerada um efeito patológico, quando uma ação depressiva

surge como reação ao luto. (BROMBERG, 1998)

Lindemann (1944 apud BROMBERG, 1998) classificou o que chamou de

efeitos doentios do luto, como alterações do luto normal. Que são:

a) Reação adiada: a pessoa enlutada não apresenta reação ao luto,

porém estas reações poderão vir à tona num momento posterior.

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b) Reação distorcida: no comportamento do enlutado ocorrem distorções,

dando a impressão de que a pessoa está realmente passando pelo processo de

elaboração do luto, mas, na realidade não é isso que está acontecendo; essa é uma

falsa impressão.

Dentre os exemplos de distorções do comportamento, apresentados por

Lindemann (1944 apud BROMBERG, 2000, p. 41) podem ser citados:

[...] Superatividade sem sentir a perda; desenvolvimentos de sintomas da doença do morto; doença psicossomática, particularmente colite ulcerativa, artrite reumatóide e asma; alteração no relacionamento com amigos e parentes, principalmente na direção do isolamento social; hostilidade contra pessoas específicas, em geral pessoas que cuidam do morto, como médicos, por exemplo; perda duradouras dos padrões de interação social, como falta de iniciativa e decisão ; atividade em detrimento de sua existência social e econômica; depressão agitada, com tensão, insônia, sentimentos de desvalia, necessidade de autopunição. Em casos extremos, há risco de suicídio.

Parkes (1965 apud BROMBERG, 2000) não concordou com as

conceituações precisas, não apresentavam definições claras sobre os critérios de

normalidade. Sendo assim, Parkes (1965 apud BROMBERG, 2000) refaz as

definições, conceituando e ampliando o que ele chama de reações “anormais” de

luto:

a) luto crônico: luto permanente, com prolongamento indefinido. Há

evidência constante de ansiedade, tensão, inquietação e insônia.

b) luto adiado: o enlutado pode demonstrar comportamento “normal” ou

sintomas de luto distorcido, por exemplo: superatividade, sintomas da doença do

morto, isolamento.

c) luto inibido: há uma ausência dos sintomas do luto “normal”. Segundo

Parkes (1965 apud BROMBERG, 2000) não existe uma diferenciação clara entre

luto inibido e luto adiado, são considerados apenas etapas distintas de sucesso na

defesa psíquica.

1.4 PSICOTERAPIA PARA PESSOAS EM SITUAÇÕES DE LUTO/PERDA

A ruptura de uma relação significativa, ocasionada pela morte, gera a

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necessidade de uma adaptação a essa nova condição de vida. O enlutado passará

por diversos processos de mudança e crises desencadeadas pela perda

(BROMBERG, 2000).

Após a perda de um ente querido é comum a identificação de algumas

pessoas que necessitam de cuidados mais específicos, como os de caráter

psicoterapêutico. Segundo Bromberg (2000), os enlutados em geral costumam ter

algumas necessidades específicas como:

• Falar sobre a experiência de perda, sobre o momento do funeral e

sobre as lembranças da pessoa amada;

• Necessitam que suas expressões de dor sejam aceitas pelas pessoas

com as quais convivem;

• Poder falar, sem medo, sobre a sua raiva ou possível culpa;

• Em muitas ocasiões, necessitam proteger-se de algumas propostas

feitas por amigos que tentam, antes do processo de luto ter terminado, incentivar a

mudança de casa ou evitar a hora de voltar para casa;

• Na ocasião do primeiro aniversário de morte, por ser esse um momento

sofrido há maior necessidade de contato com outras pessoas;

• O enlutado pode necessitar de auxílio para a elaboração de sua nova

identidade, adaptação a novos papéis e mudanças na sua rotina.

Através de um trabalho psicoterápico pode-se buscar suprir as necessidades

descritas acima, com o objetivo de estabelecer uma nova condição de vida mais

próxima possível daquelas existentes antes da perda. Para isso poderão ser

utilizados os próprios recursos psicológicos do enlutado, assim como a sua rede de

suporte social, isto é, família e amigos.

Segundo Worden (1998, p. 100), “o objetivo da terapia do luto é resolver os

conflitos de separação e facilitar que as tarefas do luto se completem”. Segundo o

autor, para que a resolução desses conflitos se torne possível, é importante que o

enlutado vivencie sentimentos e pensamentos que costumava evitar. Quanto maior o

conflito, maior também costuma ser a resistência do enlutado em enfrentar os seus

dolorosos pensamentos e sentimentos.

É importante destacar que as resistências presentes na psicoterapia do

enlutado serão observadas pelo psicoterapeuta e trabalhadas como parte do

processo psicoterapêutico, assim como também ocorrem em outros casos de

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psicoterapia. Cabe ao psicoterapeuta oferecer o importante apoio social necessário

ao alcance de bons resultados no decorrer do trabalho de luto; ou seja, no trabalho

psicoterápico é permitido que o paciente fique de luto, o que muitas vezes não

ocorre nos ambientes sociais em que convive (WORDEN, 1998).

Para Worden (1998), geralmente, a terapia do luto é realizada

individualmente num consultório. Porém, também pode ocorrer de outras maneiras,

como por exemplo, através da psicoterapia em grupo. Parkes (1980 apud

BROMBERG, 2000), também fala sobre os diferentes métodos de aconselhamento e

intervenções psicoterápicas que podem servir de auxílio para o enlutado, como por

exemplo: serviços que oferecem apoio individual ou grupal, grupo de auto ajuda,

psicoterapia individual, psicoterapia familiar, entre outros. Todos esses serviços

auxiliam na redução de riscos de distúrbios psiquiátricos e psicossomáticos que

podem resultar do luto.

Segundo Bromberg (2000) é importante que o enlutado que solicitar ajuda

profissional tenha a possibilidade de encarar as influências da morte em seu

presente e futuro, visando uma adequação ao seu novo estilo de vida. Isso poderá

ser possível na psicoterapia individual para o enlutamento.

Worden (1998) vai falar na sua obra Terapia do Luto: um manual para o

profissional de saúde mental, que existem intervenções psicológicas voltadas ao luto

normal e também algumas mais específicas para o luto patológico.

1.4.1 Psicoterapia breve individual para o enlutamento

O luto dá origem a uma crise e é exatamente como uma crise que deve ser

tratado. Muitas pessoas não apresentam recursos pessoais para lidar com o período

de crise desencadeado pelo luto, sendo assim torna-se necessária a intervenção

psicoterapêutica a fim de auxiliar o enlutado nesse momento difícil. No luto “normal”

existem maiores possibilidades de adaptação a essa nova realidade, já no luto

“patológico” observa-se uma crise que não foi resolvida. No que diz respeito a esse

tipo de crise, a psicoterapia breve tem se revelado como um eficaz recurso

psicoterapêutico em casos de enlutamento (BROMBERG, 2000).

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Para Freitas (2000) a psicoterapia breve é focal, orientada para um objetivo.

É também necessário que o paciente colabore com o terapeuta, visando à resolução

de suas dificuldades e conflitos psicológicos.

Segundo Freitas (2000, p. 61):

A psicoterapia breve visa resolver conflitos psíquicos e ajudar aqueles que sofrem com eles a aprender novas maneiras de ser em suas relações mais intimas. É um tipo de tratamento que envolve uma interação didática entre paciente e terapeuta, com componentes afetivos, cognitivos e educacionais.

A psicoterapia breve focada nos processos de luto apresenta amplas

estratégias e utiliza diferentes recursos que podem ser direcionados às

necessidades da pessoa enlutada. Para isso é fundamental a compreensão da

rotina do paciente (FIORINE, 1978; KNOBEL, 1976; YOSHIDA, 1990 apud

BROMBERG, 2000). Conforme os autores citados, a psicoterapia breve individual

apresenta algumas características principais, que são:

[...] não é transferencial nem regressiva; elabora cognitivamente, em lugar de afetivamente; permite experimentar mudanças para que a pessoa passe a ser sujeito ativo de sua própria história (BROMBERG 2000, p. 83).

Segundo Bromberg (2000) é fundamental assinalar que a psicoterapia breve

deve ser direcionada por alguns pontos norteadores, como os apresentados a

seguir: delimitação do conflito e objetivos do tratamento; delimitação da direção da

terapia e transformação do principal motivo que leve o paciente à procura da

psicoterapia como um elemento do passado, isto é, desativando-o do presente.

Conforme Bromberg (2000) na psicoterapia breve existe, entre outros, a

técnica de “trabalho de reenlutamento” criada por Volkan (1971). Essa técnica

objetiva auxiliar a pessoa em luto “patológico” na resolução dos seus conflitos

gerados pela perda. Vale ressaltar que em casos nos quais a crise desencadeia

problemas de personalidade ainda assim a psicoterapia breve se mantém

direcionada ao problema em foco. Segundo Volkan (1971 apud BROMBERG, 2000)

o trabalho de reenlutamento divide-se em três etapas: a) demarcação: quando a

pessoa é auxiliada a diferenciar de forma racional entre o que pertence a ela e o que

pertence ao morto; b) externalização: nessa etapa o enlutado costuma sentir raiva,

em primeiro lugar relacionado à morte e depois ao morto; o enlutado é incentivado a

detalhar aspectos da morte e do morto; c) reorganização a pessoa sente-se triste e

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entra de fato no luto; nessa etapa costumam emergir questionamentos e sugestões

sobre o futuro.

Segundo Bromberg (2000) a psicoterapia breve costuma ser utilizada no

tratamento de indivíduos e não em grupos familiares. Esta abordagem permite que

os enlutados expressem suas emoções, por mais dolorosos ou contraditórios que

sejam, possibilitando ao terapeuta compreender o contexto do luto; é fundamental

que a perda seja tratada no âmbito da realidade, auxiliando o enlutado a enfrentá-la

e intervir sobre a mesma.

1.4.2 Psicoterapia familiar para o enlutamento

A perda de um ente-querido costuma levar a um doloroso processo

adaptativo para toda a família. O sistema familiar é afetado, gerando muitas

mudanças e reestruturações. Em muitos casos os membros da família poderão

necessitar de auxílio profissional para adaptar-se a essa nova realidade (WALSH;

MCGOLDRICK, 1998).

Segundo Worden (1998) a dinâmica de uma família pode dificultar o luto

“normal”. Sendo assim para que um psicoterapeuta familiar tenha condições de

ajudar uma família antes, durante e após a perda é necessário: “[...] o conhecimento

da configuração de toda a família, a posição de funcionamento da pessoa que

faleceu na família, bem como o nível total de adaptação à vida” (BOWEN, 1978 apud

WORDEN, 1998, p. 137).

Para Worden (1998) o conceito de terapia de família fundamenta-se na

crença de que em uma família os membros interagem e influenciam uns aos outros,

ou seja, constituem uma unidade interacional. Logo, é fundamental compreender o

luto de cada indivíduo que se relacionava com o morto, considerando também toda a

rede familiar.

Num processo de psicoterapia familiar é fundamental que os membros da

família se comuniquem e expressem os sentimentos de luto, isso aumentará as

chances de obtenção de resultados positivos no decorrer do tratamento

(BROMBERG, 2000). Entretanto, segundo Worden (1998) é importante considerar

que as famílias funcionam de diferentes maneiras quanto à forma de expressar e

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tolerar sentimentos. Por exemplo, existem famílias que lidam melhor e conversam

abertamente sobre o morto, aumentando a probabilidade dos sentimentos

relacionados à perda serem processados; mas também há famílias fechadas que

criam uma zona de silêncio não possibilitando que os seus membros falem sobre o

morto.

Segundo Worden (1998) no processo de avaliação do luto em sistemas

familiares é fundamental que três áreas sejam consideradas. São elas: a) a posição

ocupada pela pessoa falecida, isto é, o papel que esta desempenhava na família; b)

a integração emocional da família, ou seja, uma família bem integrada1 apresenta

maiores condições de um membro ajudar o outro a lidar com a morte. Já uma família

menos integrada pode apresentar sintomas físicos ou emocionais, má conduta

social, mesmo que na hora da morte tenham apresentado reações mínimas de luto;

c) a maneira como as famílias facilitam ou dificultam à expressão emocional. Cabe

assinalar que esta análise deve considerar o valor que as famílias atribuem às

emoções, bem como o padrão de comunicação que influencia na permissão em

expressar ou não os sentimentos de perda.

A Psicoterapia familiar em casos de enlutamento visa atingir alguns objetivos

principais como: “obter e compartilhar o reconhecimento da realidade da morte;

compartilhar a experiência da perda e colocá-la em seu contexto; reorganizar o

sistema familiar; reinvestir em outros relacionamentos e objetivos de vida”.

(BROMBERG, 2000, p. 91). Ainda segunda a autora, alguns recursos técnicos

podem ser utilizados no auxílio ao alcance desses objetivos, dentre eles: fazer

visitas ao cemitério: escrever cartas falando sobre o morto; olhar fotografias do

morto; registrar as lembranças que se tem do ente-querido, bem como algumas

reflexões sobre a morte; conversar sobre a perda com parentes e amigos; ler livros,

artigos, assistir filmes e ouvir músicas relacionadas à situação de perda.

Além destes recursos técnicos descritos por Bromberg (2000) podemos dizer

que existem outras técnicas que podem ser utilizadas na psicoterapia com famílias

enlutadas, entretanto todas objetivam o reconhecimento da perda e a adaptação à

nova realidade. A escolha das técnicas a serem utilizadas é determinada pelas

1 O autor Worden (1998) não define o que é “família bem integrada” e “família menos integrada”. Nesse trabalho temos a perspectiva de que utilizar termos para qualificar ou quantificar a instituição Família, é uma tarefa difícil, pois depende da concepção que se tem sobre o que é uma família. E sabemos o quanto há de ideologias embutidas nesse processo de conceituação.

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necessidades de intervenção específicas diagnosticadas em cada família

(BROMBERG, 2000).

1.4.3 Aconselhamento do luto

Worden (1998, p. 53) apresenta uma diferenciação entre aconselhamento do

luto e terapia do luto. Para o autor “o aconselhamento envolve ajudar as pessoas a

facilitar o luto não-complicado ou normal para uma conclusão saudável das tarefas

do luto num razoável período de tempo”. Por sua vez, a terapia do luto objetiva

auxiliar pessoas que apresentem reações de luto anormais ou “patológicas”, ou seja,

“na terapia do luto o objetivo é identificar e resolver os conflitos de separação que

impedem a conclusão das tarefas de luto nas pessoas cujo luto está ausente,

retardado, excessivo ou prolongado” (WORDEN, 1998, p. 100).

Para Worden (1998), o aconselhamento do luto tem como objetivo geral

auxiliar a pessoa enlutada a concluir todo o processo de luto. Para isso são traçados

alguns objetivos específicos como: auxiliar o enlutado a perceber a realidade da

perda; ajudar o enlutado a lidar com os seus afetos expressos ou não; ajudar na

superação de obstáculos à adaptação após a morte e encorajar a pessoa a se

despedir por completo e a se sentir livre e confortável para investir novamente em

sua vida.

Cabe assinalar que Parkes (1980 apud WORDEN, 1998) destaca três

modelos de aconselhamento do luto. O primeiro é realizado por profissionais como

médicos, enfermeiros, psicólogos ou assistentes sociais que prestam serviços de

apoio individual ou grupal aos enlutados. O segundo tipo de serviço é prestado por

voluntários que são selecionados; treinados e recebem o apoio de profissionais. O

terceiro tipo de aconselhamento é prestado através de grupos de auto-ajuda. Nestes

grupos as pessoas enlutadas se ajudam com ou sem o apoio de profissionais.

Para Worden (1998) diferente da terapia do luto, o aconselhamento não

ocorre somente em ambiente profissional, embora seja mais adequado. Pode ser

realizado também em outro ambientes informais, como num jardim ou na casa da

pessoa.

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Por fim, convém destacar que o aconselhamento do luto é fundamentado em

dez princípios: 1) ajudar a pessoa enlutada a se dar conta da perda; 2) ajudar o

enlutado a identificar e expressar seus sentimentos; 3) ajudar o enlutado a viver sem

o seu ente-querido; 4) ajudar a pessoa enlutada a encontrar um novo lugar em sua

vida para a pessoa falecida; 5) fornecer tempo para o luto; 6) interpretar os

comportamentos normais do luto; 7) considerar que pessoas reagem de maneiras

diferentes a uma perda; 8) oferecer apoio contínuo; e 9) examinar as defesas e o

estilo do enlutado para lidar com o problema; 10) identificar se há indícios de luto

patológico e, se necessário encaminhar para uma terapia do luto.

1.4.4 Intervenções grupais em casos de enlutamento

Conforme descrito no decorrer desta pesquisa o trabalho grupal é uma das

formas de intervenção psicoterapêuticas que podem servir de auxílio para o

enlutado, como a psicoterapia breve grupal, grupo de apoio, grupos de auto-ajuda e

aconselhamento do luto em grupo.

Freitas (2000) recomenda a psicoterapia breve grupal em casos de

enlutamento, pois segundo Mittag (1998 apud FREITAS, 2000, p. 57) essa

intervenção “[...] permite o tratamento de aspectos psicológicos de pacientes

enlutados, como: raiva, negação, depressão e ansiedade. Permite a elaboração da

perda sofrida”. Freitas ainda aponta a troca de vivências no grupo como importante e

fundamental no auxílio aos enlutados.

Parkes (1998) ao descrever os tipos de ajuda possíveis à pessoa enlutada

fala sobre o grupo de apoio. Conforme o autor, num grupo de apoio o enlutado tem a

possibilidade de conhecer pessoas que estão na mesma situação que ele.

Segundo Parkes (1998, p. 214):

As pessoas que tiverem passado por uma perda importante podem estar mais bem qualificadas para ajudar outras pessoas enlutadas. Realmente entendem aquilo que as outras estão vivendo e sabem que o luto não é o fim da vida.

As atividades desenvolvidas por um grupo de apoio são inúmeras. Podem

abranger desde ajuda de um grupo social destinado a viúvas que se reúnem para

apoiar umas às outras, até grupos estruturados no qual ocorrem seminários formais

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ou discussões abordando temas específicos de importância para as pessoas que

vivenciam uma situação de luto. (PARKES, 1998).

Segundo Parkes (1998) em muitos casos é difícil convencer a pessoa

enlutada, nas primeiras semanas ou meses do luto, a participar de um grupo de

apoio; porém, quando passam os primeiros impactos do luto, tais pessoas podem ter

muitos benefícios, considerados frutos da participação no grupo, como por exemplo,

evitar que o enlutado se isole socialmente.

Nesse mesmo raciocínio Osorio (2003), fala sobre os grupos de ajuda

recíproca ou como costumam ser chamados grupos de “auto-ajuda”. A proposta

desses grupos é que os seus membros ajudem uns aos outros na superação de

seus problemas. O principal instrumento de ação terapêutica desses grupos é a

própria força da motivação grupal.

Worden (1998) aborda o aconselhamento do luto em grupo como uma forma

eficaz que possibilita oferecer o apoio emocional desejado pelo enlutado.

Geralmente grupos de pessoas enlutadas são criados e mantidos em função de um

ou mais objetivos como, por exemplo, apoio emocional ou objetivos sociais. Em

muitos casos os grupos podem se formar com um objetivo e modificar para outros.

Um grupo que visa apoio emocional pode continuar, por longo tempo, com os

mesmos integrantes e se tornar um grupo social no seu objetivo, ainda assim o

apoio emocional pode ser oferecido.

Por último é importante destacar que em todos os tipos de intervenções

grupais existem algumas regras básicas que, segundo Worden (1998) mereciam ser

cumpridas pelos participantes do grupo. O autor exemplifica estas regras utilizadas

nos grupos de apoio coordenados por ele: a) espera-se freqüência e pontualidade

dos participantes em todas as sessões; b) as informações compartilhadas no grupo

devem ser mantidas no próprio grupo, pois é estabelecido um pacto de sigilo; c) as

pessoas são livres para falar sobre suas perdas; d) todos têm o mesmo tempo para

falar; isso evita a monopolização de algum participante do grupo e; e)

recomendações são dadas somente se forem solicitadas. O autor salienta isto, pois

segundo ele é muito comum em situações grupais as pessoas fazerem

recomendações umas às outras. Porém, nestes grupos essa não é uma prática

recomendada e nem solicitada.

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Gostaríamos de salientar que, as informações contidas acima sobre o modo

de intervenção em grupos, é uma dentre várias perspectivas e está de acordo com a

visão de Worden (1998).

1.5 LUTO MATERNO

Como o tema desta pesquisa está relacionado à questão do luto materno,

cabe assinalar que a partir de então enfatizaremos as reações que uma mãe pode

apresentar frente à morte do filho.

O relacionamento entre as pessoas acontece por meio de inúmeras

interações. Esta convivência leva à formação de vínculos afetivos. De acordo com

Klaus; Kennel e Klaus (2000, p. 16) “um vínculo pode ser definido como um

relacionamento específico, único entre duas pessoas, que dura ao longo do tempo”.

Segundo os autores citados, dentre as ligações humanas a mais importante é a

relação entre pais e filhos, também considerado o vínculo mais forte que existe.

Sendo assim, a quebra deste vínculo, através da morte do filho, gera um profundo

sofrimento psíquico, que em muitos casos é acompanhado pela dificuldade de

aceitação desta realidade.

A morte é um fato que não é visto como natural dentro do ciclo vital, ou seja,

as pessoas não a consideram como parte da vida. Isso pode ser percebido na

dificuldade que os pais têm para aceitar a morte de um filho (CASELLATO; MOTTA,

2002 apud VICENTE, 2008).

Segundo Hofer et al., (1996 apud FREITAS, 2000, p. 48) “a morte de um

filho é um dos acontecimentos mais difíceis de se aceitar”. Socialmente falando, o

luto materno é visto como o de “pior tipo”, ou seja, uma perda incomparável, na qual

o objeto que a mãe apreciava é perdido. O sentimento que as mães têm é como se

parte de si mesmas fossem amputadas. Isto gera alteração até mesmo em sua

identidade, pois perdem o papel social de cuidadoras daquele filho (CASELLATO;

MOTTA, 2002 apud VICENTE, 2008). Segundo Casellato e Motta (2002, apud

VICENTE, 2008, p.16) “[...] psicologicamente o processo de luto abrange não

somente a perda do filho em particular, mas também a afeição parental, o amor pela

criança e o amor dela mesma”.

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Segundo Freitas (2000), uma pessoa que perde um ente querido pode ter

sensação de culpa, pensando que poderia ter ajudado a pessoa que morreu, mesmo

que em muitas situações não sabendo de que maneira poderia oferecer essa ajuda.

É comum que esta pessoa sinta solidão e um sofrimento intenso, podendo ser

considerado indescritível ao tratar-se da morte de seu filho.

O equilíbrio familiar é abalado pela morte do filho. Os membros da família

costumam apresentar diferentes reações. A mãe, por exemplo, costuma se

questionar sobre o que fará sem o seu filho; é comum que esta mãe sinta culpa ao

acreditar que possa ter contribuído para a morte do filho, devido a possíveis falhas

quanto aos cuidados maternos. Quando uma mãe perde um filho é comum que

frequentemente enfatize as qualidades desse filho, até mesmo supervalorizando-as

como se nenhum outro membro da família tivesse as mesmas qualidades. Em

muitas ocasiões mulheres enlutadas se isolam e se retraem, gerando intensos

conflitos conjugais que podem resultar numa separação (FREITAS 2000).

Conforme Galenson (1997 apud FREITAS, 2000) mães que têm filhos

adultos jovens costumam desejar que estes cresçam profissionalmente, que

estudem, tenham um bom emprego e, no que diz respeito à vida afetiva que se

casem, constituam famílias, enfim que sejam bem sucedidos. “Quando esse curso

dito normal, por ser o esperado, é interrompido pela morte do filho, a dor da mãe é

intensa [...] Hilgard (1996 apud FREITAS, 2000, p. 49) ”.

Conforme assinalado no decorrer desta pesquisa as causas que levam à

morte costumam interferir no processo do luto. Nesse sentido, convém destacar uma

explanação sobre os tipos de morte, e as diferentes reações que as mães enlutadas

podem ter.

Segundo Worden (1998) as mortes súbitas, também denominadas por

Kováscs (1992) como mortes inesperadas ou repentinas “[...] são aquelas que

ocorrem sem aviso e precisam de uma intervenção e compreensão especiais”

(WORDEN, 1998, p. 118). Fazem parte desta categoria as mortes acidentais, mortes

causadas por uma doença grave, por ataques cardíacos, homicídios, suicídio, dentre

outras.

Conforme Parkes (1975 apud WORDEN, 1998) o luto por morte súbita é

mais complexo do que em casos nos quais houve um aviso prévio sobre a

possibilidade da morte. Para Kovács (1992), devido à característica de ruptura

brusca, as mortes inesperadas são muito complicadas, pois nesses casos o

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enlutado não tem a possibilidade de se preparar para tal acontecimento. Existem

ainda outros fatores agravantes, como por exemplo, nas situações em que há a

mutilação do corpo, originando revolta e desespero; e também nos casos em que os

familiares não têm acesso às informações de como aconteceu. Esta falta de

informações contribui para a existência de dificuldades no processo consciente do

luto.

Ainda no que diz respeito às mortes súbitas, segundo Freitas (2000, p. 50)

“um dos sentimentos mais comuns na mãe que perde um filho adulto jovem

repentinamente é o senso de irrealidade desta perda”. Durante um determinado

período de tempo a mãe tem dificuldade em acreditar nessa morte; em vários casos

a aceitação desta realidade só ocorre com o auxilio da intervenção terapêutica

(FREITAS, 2000).

Já nos casos em que mães perdem seus filhos repentinamente por doença,

o sentimento comum é de culpa. “Muitas vezes, a culpa é tão intensa, que a mãe

assume a responsabilidade pela morte” (GIBBONS, 1997 apud FREITAS, 2000, p.

50). Para Gibbons (1997 apud FREITAS, 2000) em muitos casos este sentimento de

culpa gera nas mães um comportamento hostil. Esta hostilidade pode ser

direcionada às pessoas que tenham sido hostis com o seu filho; ou seja, pode ser

direcionada ao marido que não tenha sido um pai amoroso com seu filho, aos irmãos

do filho falecido, amigos, entre outros. Conforme Gibbons (1997 apud FREITAS,

2000, p. 50) “muitas mães recusam a ajuda terapêutica, dirigindo raiva e hostilidade

também contra o terapeuta e contra o próprio tratamento”.

Segundo Windsdom (1997 apud FREITAS, 2000) as dificuldades iniciais ao

processo do luto de uma mãe que perde o seu filho repentinamente são muito

maiores. É importante que a mãe receba informações, sobre como ocorreu a morte

do filho, da equipe médica que o tenha atendido. Estas informações podem auxiliar

na aceitação da morte. Entretanto conforme Freitas (2000), quanto mais intenso o

vínculo entre mãe e filho maiores as possibilidades de complicações no luto,

podendo ocasionar até mesmo separação conjugal e/ou problemas com os filhos

sobreviventes.

Os sentimentos de tristeza, pesar, culpa, confusão, gerados na mãe, em

decorrência da morte do filho, podem permanecer por muito tempo, ou para sempre

como nos casos de luto patológico. Estes sentimentos podem ser a causa de

doenças e até mesmo da morte da mãe, pois esta pode desejar não mais viver por

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não suportar viver longe de seu filho perdido. Segundo o autor, muitas vezes a morte

de seu filho pode ser vivenciada como uma punição (FREITAS, 2000).

As reações de uma mãe que perde o seu filho devido a uma grave doença

podem ser diferentes dos casos de mães que perdem seus filhos por mortes

repentinas, (FREITAS, 2000).

Naquelas situações, a mãe passa por um longo período de cuidados com

seu filho antes da morte. Sendo assim, costuma ocorrer o que Kovács (1992)

denomina “luto antecipatório”. Isto é “[...] o processo de luto ocorre com a pessoa

ainda viva, e é sentida a sua perda como companheiro para uma série de atividades

[...]. A pessoa ainda não morreu, mas estas perdas já têm de ser elaboradas, com

ela viva e de ambos os lados” (KOVÁCS, 1992, p. 155).

Segundo Freitas (2000), no luto antecipatório a mãe pode acompanhar a

degeneração física ou psíquica de seu filho. Nesse momento a sua dor costuma ser

intensa, por sentir-se impotente para prover o alívio e o bem estar de seu filho.

Este processo pode gerar sentimentos ambivalentes naquele que cuida, surgindo o desejo de que o parente ou cônjuge morra para aliviar o sofrimento de ambos despertando a culpa por estes sentimentos [...] portanto a morte do doente pode trazer um certo alívio, mas também incitar sentimentos de culpa, pois a pessoa acredita que não tratou o outro da melhor forma possível e com isso não evitou a morte (KOVÁCS, 1992, p. 155).

Conforme Freitas (2000) durante o período de tratamento do filho com

doença grave, mesmo que o quadro clínico apresente uma sentença de morte,

muitas mães encontram condições emocionais para um auto encorajamento e para

encorajar o doente, incentivando-o a não desistir da luta para continuar a viver.

Para Freitas (2000) quando o filho morre a dor é intensa. Várias pessoas

podem tentar consolar a mãe, mas esta torna-se uma tarefa muito difícil, pois a

única coisa que interessa à mãe é a volta de seu filho. Porém, se as pessoas

desistirem, deixando-a de lado esta poderá isolar-se em sua dor, agravando ainda

mais a situação. Neste período costuma surgir à saudade, ansiedade, tristeza

aguda, lamentação, queixas somáticas, desespero, sensação de desamparo, apatia,

culpa e outros sentimentos depressivos que fazem parte do luto.

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2 METODOLOGIA

2.1 TIPO DE PESQUISA

Este estudo teve como abordagem metodológica a pesquisa de caráter

qualitativo. Segundo Chizzotti (2000), esta abordagem tem como fundamento a

existência de uma relação dinâmica entre o sujeito e o mundo real, um vínculo entre

o mundo objetivo e a subjetividade do indivíduo. A abordagem qualitativa se

diferencia da abordagem quantitativa, pois “[...] não emprega dados estatísticos

como centro do processo de análise de um problema” (OLIVEIRA 1998, p. 100).

Vale ressaltar que este trabalho foi pautado na pesquisa bibliográfica. Para

Marconi e Lakatos (2007, p. 71), a pesquisa bibliográfica é aquela que “[...] abrange

toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde

publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias [...],

até meios de comunicação orais”.

Oliveira (1998, p. 119), afirma que a pesquisa bibliográfica possibilita ao

pesquisador “[...] conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se

realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno”. Marconi e Lakatos (2007, p.

71), também afirmam que a finalidade deste tipo de pesquisa “[...] é colocar o

pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre

determinado assunto [...]”.

Conforme Andrade (2005) esta pesquisa bibliográfica teve várias etapas,

desde a escolha e delimitação do tema até a redação final. A trajetória percorrida

que resultou neste estudo teórico foram: a) escolha e delimitação do tema; b) coleta

de dados: através da procura em internet e bibliografias sobre o tema; c)

Localização das informações: realizada através de pré-leituras, isto é, verificando a

existência das informações nas obras pesquisadas; d) leitura seletiva, selecionando

informações úteis à elaboração do trabalho; e) leitura crítica analítica, que consiste

na compreensão, análise e interpretação do conteúdo lido e, f) leitura interpretativa,

visando estabelecer relações, confronto de idéias ou confirmação de opiniões que

levaram a responder o problema de pesquisa.

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Por último, cabe assinalar que através desta metodologia de pesquisa o

tema proposto foi investigado, o problema de pesquisa respondido e os objetivos

gerais e específicos alcançados.

No caso desse estudo teórico a pesquisa foi realizada em livros e artigos,

datados a partir do ano 2000, com exceção das obras clássicas sobre o tema como

a de Worden, Kubler-Ross, e outras que entendemos que eram necessárias a este

trabalho.

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30

3 DISCUSSÃO TEÓRICA

Este trabalho, através de uma pesquisa bibliográfica, teve como objetivo

principal identificar os tipos de intervenções psicoterapêuticas no processo de mães

que perderam filhos adultos jovens. Por sua vez, os objetivos específicos foram: a)

descrever os tipos de psicoterapia para enlutados; b) diferenciar e definir o

psicodiagnóstico do processo de luto normal e do patológico/complicado; c)

identificar fatores que contribuem para a existência de dificuldades na elaboração do

luto de mães que perdem filhos adultos jovens; e d) identificar de que forma a

psicoterapia pode auxiliar na elaboração do luto de mães que perdem filhos adultos

jovens.

Cabe assinalar que no decorrer desta etapa da pesquisa serão articulados e

apresentados os conteúdos pesquisados referentes a cada um dos objetivos

apresentados acima.

Nos estudos realizados no decorrer deste Trabalho de Conclusão de Curso

os autores Bromberg (2000); Worden (1999) e Walsh; Mcgoldrick (1998) apontam

que uma pessoa ao perder um ente querido passa por processos de mudança e, na

maioria dos casos, crises que se desencadeiam devido à perda. É fundamental que

os enlutados se adaptem à nova condição de vida; para isso, em muitos casos, são

necessários cuidados específicos como intervenções psicoterapêuticas. Nesse

sentido, apresentaremos brevemente algumas modalidades identificadas e

estudadas no decorrer desta pesquisa: psicoterapia breve individual; psicoterapia

familiar; aconselhamento do luto e intervenções grupais.

No que diz respeito à psicoterapia breve individual para o enlutamento,

Bromberg (2000) e Freitas (2000) assinalam que esta modalidade tem se

demonstrado um recurso psicoterapêutico muito eficaz. Ambos os autores

concordam que parte desta eficácia deve-se ao caráter focal, orientado ao processo

do luto como objetivo específico.

A psicoterapia breve individual para o enlutamento também necessita que o

paciente colabore com o terapeuta, visando resolver as suas dificuldades e conflitos

psicológicos, como em qualquer outro tipo de temática que leva a pessoa à

psicoterapia (FREITAS, 2000). Para isso são utilizados diferentes recursos e

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estratégias, que segundo Bromberg (2000), tem pontos norteadores: delimitação do

conflito; objetivo do tratamento; e delimitação da terapia, no sentido de transformar a

queixa principal do paciente, que o motiva à procura da terapia, como um elemento

do passado.

Freitas (2000) e Bromberg (2000) descrevem que a psicoterapia breve

focada nos processos de luto visa resolver conflitos e auxiliar o enlutado na

amenização do seu sofrimento, possibilitando a aprendizagem de novas formas de

se relacionar em sua atual condição de vida. Inclusive, no que diz respeito a esta

abordagem de tratamento, no decorrer desta pesquisa foi encontrada uma técnica

de trabalho de reenlutamento criada por Volkan (1971) citada por Bromberg (2000),

cujo objetivo consiste em auxiliar a pessoa em luto patológico na resolução de seus

conflitos gerados pela perda.

Com relação à psicoterapia familiar para o enlutamento foram utilizados

como referencial teórico para esta pesquisa os autores Worden (1998); Walsh

Mcgoldrick (1998) e Bromberg (2000). Worden (1998) baseia-se no entendimento de

que uma família consiste na interação e influência dos seus membros uns sobre os

outros. Por isso, o autor citado e Bromberg (2000) concordam com Walsh Mcgoldrick

(1998) que a morte de um membro da família costuma afetar o sistema familiar,

gerando um doloroso processo adaptativo para toda a família que ocasionará

diversas mudanças e a necessidade de reestruturações. Logo, Worden (1998)

destaca que para compreender o luto de cada indivíduo que se relacionava com o

morto é fundamental considerar e compreender toda a rede familiar.

Bromberg (2000); Worden (1998) e Walsh Mcgoldrick (1998) defendem a

importância dos membros da família em comunicar e expressar os seus sentimentos

de luto. Esta expressão dos sentimentos pode facilitar e aumentar as possibilidades

de obtenção de resultados positivos durante o tratamento. Entretanto, Worden

(1998) destaca a importância dos terapeutas familiares compreenderem que as

famílias têm diferentes formas de funcionamento no que diz respeito à expressão e

tolerância de sentimentos.

Quanto aos os principais objetivos da psicoterapia familiar em casos de

enlutamento, no decorrer desta pesquisa constatamos que Bromberg (2000) e

Mcgoldrick (1998) apresentam a mesma proposta, qual seja, aquela de que se pode

“obter e compartilhar o reconhecimento da realidade da morte; compartilhar a

experiência da perda e colocá-la em seu contexto; reorganizar o sistema familiar;

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reinvestir em outros relacionamentos e objetivos de vida”. (BROMBERG, 2000, p.

91).

Existem várias técnicas que podem ser utilizadas para alcançarem esses

objetivos. A sugestão de alguns desses recursos técnicos foram encontrados na

literatura de Bromberg (2000): visitas ao cemitério, escrever cartas falando sobre o

morto; olhar fotografias do morto; ler livros, assistir filmes e ouvir músicas que falem

sobre situações de perda, entre outras. Cabe ressaltar que as técnicas visam o

reconhecimento da perda e a adaptação à nova realidade. A escolha dessas

técnicas é feita conforme a necessidade de intervenção específica diagnosticada em

cada família (BROMBERG, 2000).

O aconselhamento do luto é outra abordagem de intervenção psicoterápica

em casos de enlutamento. Seu referencial teórico foi encontrado nos escritos de

Worden (1998). Para este autor o aconselhamento do luto objetiva auxiliar o

enlutado na conclusão de todo o processo de luto. Worden (1998) diferencia

aconselhamento do luto de terapia do luto. Para ele “o aconselhamento envolve

ajudar as pessoas a facilitar o luto não-complicado ou normal para uma conclusão

saudável das tarefas do luto num razoável período de tempo (WORDEN, 1998, p.

53). Já a terapia do luto tem como objetivo “[...] identificar e resolver os conflitos de

separação que impedem a conclusão das tarefas de luto nas pessoas cujo luto está

ausente, retardada, excessivo ou prolongado” (WORDEN, 1998, p. 100).

É importante destacar que o aconselhamento do luto baseia-se em dez

princípios: 1) ajudar a pessoa enlutada a se dar conta da perda; 2) ajudar o enlutado

a identificar e expressar seus sentimentos; 3) ajudar o enlutado a viver sem o seu

ente-querido; 4) ajudar a pessoa enlutada a encontrar um novo lugar em sua vida

para a pessoa falecida; 5) fornecer tempo para o luto; 6) interpretar os

comportamentos normais do luto; 7) considerar que pessoas reagem de maneiras

diferentes a uma perda; 8) oferecer apoio contínuo; e 9) examinar as defesas e o

estilo do enlutado para lidar com o problema; 10) identificar se há indícios de luto

patológico e, se necessário encaminhar para uma terapia do luto.

Com relação às intervenções grupais em casos de enlutamento nesta

pesquisa, foi abordadas a psicoterapia breve grupal, grupos de apoio, grupos de

auto-ajuda e aconselhamento do grupo. Convém destacar que utilizamos um autor

como referência para cada modalidade.

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A psicoterapia breve grupal, recomendada por Freitas (2000) propicia, aos

pacientes enlutados, o tratamento de aspectos psicológicos, auxiliando na

elaboração da perda. Além disso, a troca de vivências com os demais participantes

do grupo também constitui um importante auxílio aos enlutados. Este apoio mútuo

também ocorre nos grupos de apoio, nos quais segundo Parkes (1998) pessoas que

passam ou já passaram pela mesma situação podem compreender melhor o

enlutado, tendo mais condições para auxiliar estas pessoas que vivenciam uma

situação de luto. Seguindo esta mesma linha de raciocínio podem-se enquadrar os

grupos de auto-ajuda, segundo Osorio (2003). Nesta modalidade grupal os membros

também poderão ajudar uns aos outros a superar problemas. A força da motivação

grupal torna-se o principal instrumento de ação terapêutica. Por sua vez Worden

(1998) denomina o aconselhamento em grupo como uma eficaz possibilidade de

intervenção psicoterapêutica que visa oferecer ao enlutado o apoio emocional que

ele necessita.

Os autores citados concordam que a participação em modalidades de

intervenção grupal pode gerar muitos benefícios aos enlutados, dentre eles evitar o

isolamento social.

No que diz respeito ao psicodiagnóstico do processo de luto normal e

patológico cabem algumas considerações. Bromberg (2000); Bowlby (1998) e

Kovács (1992) apontam que no luto normal o enlutado tem possibilidades de

adaptação à nova condição de vida, gerada pela morte do ente-querido. Os autores

Bowlby (1998) e Raimbault (1979 apud KOVÁCS, 1992) concordam que com o

decorrer do tempo o enlutado retira o seu investimento emocional da pessoa perdida

e desloca-o para outras pessoas ou atividades. Segundo Raimbault (1979 apud

KOVÁCS, 1992) o enlutado aceita que a morte foi inevitável. Bowlby (1998) ainda

complementa que com o passar do tempo, algumas semanas e meses, a ansiedade

e o desejo em recuperar a pessoa perdida diminuem.

Para Kovács (1992) e Bromberg (2000) o processo do luto patológico pode

durar muitos anos ou não terminar. Os autores assinalam que pode ser crônico,

adiado ou inibido. Quanto aos principais sintomas deste quadro clínico, os autores

concordam que são: tristeza constante, sentimento de solidão, culpa, sensação de

desespero e desânimo ao lembrar-se do morto. Bromberg (2000) complementa

dizendo que a depressão nesses casos pode ser considerada um efeito patológico

decorrente do processo de luto.

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Segundo Parkes (1965 apud BROMBERG, 2000) o luto crônico caracteriza-

se por ser permanente, pode ocorrer num período de tempo indefinido, marcado por

constante ansiedade, tensão, inquietação e insônia. Já no luto adiado o enlutado

pode apresentar comportamento considerado “normal”. Lindermann (1944 apud

BROMBERG, 2000) chama essa fase de “reação adiada”, ou seja, o enlutado não

apresenta reação ao luto, mas reações poderão emergir num outro momento. Ainda

no que diz respeito ao luto adiado, segundo Parkes (1965 apud BROMBERG, 2000)

este é marcado por sintomas de luto distorcido, o que Lindermann (1944 apud

BROMBERG, 2000) chama de reação distorcida, isto é, o enlutado dá a impressão

de estar passando pelo processo de elaboração do luto, mas é apenas uma falsa

impressão. Por sua vez, o chamado luto inibido, conforme a classificação

apresentada por Parkes (1965 apud BROMBERG, 2000), não se diferencia

claramente do luto adiado, são consideradas diferentes etapas de sucesso na

defesa psíquica.

Com relação às dificuldades na elaboração do luto de mães que perdem

filhos adultos jovens, algumas considerações serão apresentadas. É importante

destacar, segundo Klaus; Kennel e Klaus (2000) que o vínculo afetivo entre mãe e

filho é um dos tipos de vínculos mais fortes e duradouros que existem. Segundo

Freitas (2000) quanto mais intenso for o vínculo entre mãe e filho maior será a

possibilidade de ocorrerem complicações no luto, podendo gerar até mesmo

problemas familiares como divórcio ou dificuldades no relacionamento com os outros

filhos. Tendo em vista esse forte vínculo, os autores Freitas (2000); Parks (1965

apud BROMBERG, 2000); Casellato; Motta, (2002 apud VICENTE, 2008) e

Mcgoldrick (1998) concordam que a morte de um filho origina intenso sofrimento,

ocasionando uma das situações mais difíceis para a elaboração do luto. A perda de

um filho em qualquer idade pode gerar o luto mais duradouro e, socialmente

considerado o de pior tipo.

Conforme Walsh; Mcgoldrick (1998) para uma mãe a sensação da perda de

um filho pode ser comparada a de ter perdido um pedaço de si mesma. Além disso,

segundo Casellato; Motta (2002 apud VICENTE, 2008) a mãe passará por

mudanças na constituição de sua identidade e perdas do papel social. Para Walsh;

Mcgoldrick (1998) a perda de um filho costuma destruir as perspectivas de futuro da

mãe, pois é natural que a mesma deposite sonhos, expectativas, projetos e

idealizações em seu filho.

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Outro fator contribuinte para dificuldades na aceitação da morte e

elaboração do luto da mãe que perde o seu filho adulto jovem refere-se a própria

fase da vida na qual o filho estava passando, ou seja, este filho encontrava-se em

um pleno momento de construção da vida. Além disso, essa morte rompe com o

ciclo vital da vida e não é percebida como um processo natural, no qual é esperado

que os pais morram antes dos filhos.

Os tipos de morte também contribuem para dificuldades na elaboração do

luto dessas mães, como por exemplo, a morte súbita, segundo Worden (1998) e

também denominada por Kovács (1992) como morte inesperada ou repentina.

Parkes (1975 apud WORDEN, 1998) e Kovács (1992) concordam que o luto nestes

casos é mais complexo. Há uma brusca ruptura, sem que ocorra um aviso prévio

sobre a possibilidade da morte. Logo, nessas situações, o enlutado não tem a

oportunidade de se preparar para este acontecimento. Segundo Kovács (1992)

ainda existem outros fatores agravantes, como por exemplo, mortes nas quais

ocorre a mutilação do corpo, gerando revolta e desespero nos entes queridos. Em

casos nos quais faltam informações aos familiares acerca de como a morte

aconteceu, também existem possibilidades de muitas dificuldades no processo de

elaboração do luto.

Com relação aos tipos de morte, acima relatados, vale destacar que

segundo Freitas (2000) durante certo tempo a mãe apresenta dificuldade em

acreditar na morte do filho; e, em muitos casos a aceitação desta realidade ocorrerá

somente com o auxílio da intervenção psicoterápica.

Nesse momento, convém apresentar o que foi encontrado nessa pesquisa

sobre as formas de auxílio que a psicoterapia pode oferecer nesses casos. Através

do estudo da literatura abordada constatamos que a psicoterapia em casos de

enlutamento visa auxiliar as mães que perdem filhos adultos jovens na elaboração

de sua nova identidade, ressignificando a própria vida. Para isso, será necessária a

adaptação a novos papéis e modificações na sua rotina, buscando estabelecer uma

nova condição de vida mais semelhante possível àquela existente antes da perda

(BROMBERG, 2000). Além disso, Parkes (1980 apud BROMBERG, 2000) apontam

que a intervenção psicoterápica em casos de enlutamento pode auxiliar na redução

de riscos de distúrbios psiquiátricos e psicossomáticos que, em muitos casos, são

resultantes do luto.

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Por fim, Worden (1998) destaca a importância de permitir que o paciente

fique de luto no trabalho psicoterápico, o que, muitas vezes, não ocorre em alguns

ambientes sociais nos quais convive. Freitas (2000 apud GIRON, 2008) concorda

sobre a importância das mães vivenciarem todos os sentimentos que podem surgir

no processo do luto como a raiva, tristeza, o desânimo, entre outros citados no

decorrer da pesquisa; é importante que as mães saibam que o processo do luto

pode levar algum tempo para ser concluído. Também cabe assinalar que as

possíveis resistências emergentes no processo psicoterápico deverão ser

identificadas pelo psicoterapeuta e trabalhadas como parte do processo do luto.

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CONCLUSÃO

Conforme constatado quanto mais intenso for o vínculo entre duas pessoas

maiores serão as possibilidades de dificuldades na elaboração do luto. Por isso, o

luto materno pode ser considerado um dos piores tipos de luto. Isso não quer dizer

que a elaboração do luto para pessoas que perdem outros entes queridos como, por

exemplo, o esposo(a), irmão(ã) ou um(a) amigo(a) muito próximo(a) seja fácil; tais

perdas também costumam ocasionar imensa dor. Entretanto, conforme descrito na

literatura pesquisada e, também observado informalmente no dia-a-dia, através do

depoimento de mães que perderam seus filhos, para uma mãe a morte de um filho

representa a perda de um pedaço de si mesma; é como se um pouco dela também

morresse.

É natural que uma mãe deposite sonhos, expectativas, desejos e

idealizações em seus filhos. Por isso, mães enlutadas não perdem apenas um ente

querido ou uma companhia, outras perdas também ocorrem, ou seja, a perda de seu

filho implica também na perda de sua identidade, do seu papel de mãe e de

cuidadora daquele filho. Isso levará à necessidade de direcionar a energia investida

em seu filho para outras coisas, tornando-se imprescindível a adaptação ao novo

estilo de vida.

Conforme observado em publicações sobre o tema, existem outros fatores

que podem contribuir para complicações na elaboração do luto materno, como

mortes repentinas, mortes trágicas e situações nas quais a mãe não sabe como a

morte ocorreu. Esses fatores podem levar a imaginações de como sucedeu o

acontecimento e também há uma sensação de algo em aberto por não ter tido

informações que respondam aos seus questionamentos. Tais fatores podem

contribuir para dificuldades na aceitação da morte, intensificando o sofrimento da

mãe.

Situações tão delicadas como estas apresentadas levam à acadêmica a

refletir ainda mais sobre a relevância do papel do psicólogo na intervenção em

situações de luto. Acredita-se que o trabalho do psicólogo possa contribuir para

oferecer apoio a estas mães, amenizando o sofrimento das mesmas. Conforme

descrito, no decorrer da pesquisa, existem diferentes possibilidades de intervenções

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psicoterápicas para casos de enlutamento; estudos mostram que em geral estas

possibilidades visam auxiliar a mãe enlutada a resolver os seus conflitos emocionais

decorrentes da perda e também auxiliar a enlutada no processo de adaptação à

nova realidade de vida.

Dentre os tipos de intervenções psicoterápicas abordadas vale um destaque

para as modalidades grupais, tendo em vista a importância que o grupo apresenta

nesses casos, ou seja, os seus membros, que passam por situações semelhantes,

compartilham experiências e ajudam uns aos outros na superação de seus

problemas, contribuindo para a elaboração do luto. Os benefícios que costumam

decorrer da participação do grupo chamaram a atenção da acadêmica, devido à

possibilidade das pessoas interagirem e se identificarem com outras que estão

passando pela mesma situação. Com isso cria-se um ambiente favorável para a

expressão de sentimentos positivos ou negativos. Esse ambiente também auxilia o

enlutado a perceber que está sendo compreendido e evita que o mesmo se isole

socialmente, o que é comum em muitos casos.

Por tratar-se de um trabalho de conclusão de curso, realizado em dois

semestres, cabe ressaltar que esta pesquisa constitui-se num recorte teórico sobre o

tema, uma vez que outros aspectos também poderiam ser pesquisados, como por

exemplo: investigar o luto materno relacionado aos diferentes tipos de mortes, como

morte repentina, morte trágica ou morte por uma doença grave, considerando

também interessante um estudo sobre o luto antecipatório.

Como sugestões decorrentes desta pesquisa fica a proposta da abertura de

convênios de estágios entre o curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajai

– UNIVALI – Biguaçu e Hospitais da grande Florianópolis e postos de saúde, via

secretarias municipais de saúde com o intuito de criar grupos terapêuticos e/ou

grupos de apoio às mães enlutadas. Esse tipo de trabalho contribuirá para a

formação acadêmica dos alunos e também, propiciará benefícios às participantes do

grupo, tendo em vista a criação e implementação de intervenções profissionais

adequadas, através das quais as mães que vivem essa experiência possam ser

acolhidas e apoiadas.

Por fim, convém destacar que a pesquisa sobre este tema foi muito

gratificante para a acadêmica em questão, por tratar-se de um tema de seu

interesse, que surgiu após uma experiência de perda em sua família. Para a

pesquisadora, este estudo, além de trazer contribuições que possibilitem uma

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melhor prática profissional do psicólogo, veio a responder muitos de seus

questionamentos e curiosidades relacionadas ao processo de luto.

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