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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA PROTESTOS DE TÍTULOS DE CRÉDITO TAÍS ABREU AMÁBILE Itajaí(SC), abril de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS – CEJURPS CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA

PROTESTOS DE TÍTULOS DE CRÉDITO

TAÍS ABREU AMÁBILE

Itajaí(SC), abril de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS

CURSO DE DIREITO

PROTESTOS DE TÍTULOS DE CRÉDITO

TAÍS ABREU AMÁBILE

Monografia submetida à Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc. Jefferson Custódio Próspero

Itajaí (SC), abril de 2006

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Meus Agradecimentos: A Deus por tudo, mas principalmente, por ter iluminado meu caminho na conclusão deste

trabalho.

Ao meu namorado Hálisson, pelas palavras certas nas horas difíceis, pelo incentivo,

compreensão e companheirismo;

Aos meus colegas de trabalho, em especial ao Sandro, que me auxiliaram em todos os

momentos que necessitei.

Agradeço ao Professor Jefferson Custódio Próspero, pela paciência e ajuda na

elaboração deste trabalho.

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Este trabalho dedico:

Aos meus pais, João Carlos e Elaine, pelo grande exemplo de dignidade, princípios e

moral, pelo amor e carinho;

.

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduando Taís Abreu Amábile sob o título PROTESTO DE TÍTULOS E OUTROS DOCUMENTOS DE DÍVIDA, foi submetida em 11 de maio de 2006, à Banca Examinadora composta pelos seguintes Professores: MSc. Jefferson Custódio Próspero (Orientador e Presidente da Banca), MSc. Eduardo Erivelto Campos (Membro) e MSc. José Silvio Wolf (Membro) e aprovada com a nota 10,0 (dez).

Itajaí (SC), 23 de maio de 2006

Prof. MSc Antônio Augusto Lapa Coordenação de Monografia

Prof. MSc. Jefferson Custódio Próspero

Orientador

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DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), 23 de maio de 2006.

Taís Abreu Amábile Graduando

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ROL DE CATEGORIAS

Ato notarial:

Atos elaborados pelo Notário em seu Tabelionato.1

Apontamento:

Descrição das caracteríticas do título ou documento de dívida em um livro de

protocolo. 2

Apresentante:

Pessoa responsável a apresentar o título ou documento de dívida ao Tabelião

com a finalidade de exteriorizar a impontualidade da obrigação.3

Credor:

Pessoa que teve sua obrigação descumprida, detentor do crédito.4

Declaração de Anuência:

Documento fornecido pela pessoa que se figura como credor, dando total

quitação da dívida.5

Desistência:

Procedimento que possui o apresentante de retirar o título ou documento de

dívida do Tabelionato, antes que seja lavrado o protesto ou ainda que o devedor

se manifeste, liquidando o título ou sustando- judicialmente.6

1 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 2 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial - Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997.1. ed. São Paulo: Frater et Labor Edições Ltda, 2001. 3 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 31. 4 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito Ltda, 1999. 5 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito.2. ed. Ouro Fino: Edipa, 1999.

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Devedor:

Pessoa que descumpriu com sua obrigação.7

Documentos de dívida:

Documentos que alicerçam obrigações, líquidas, certas e exigíveis.8

Intimação:

Procedimento que dá ciência ao devedor de que sua obrigação descumprida está

em cobrança no Tabelionato.9

Inadimplência:

Estado daquele que não cumpriu com as obrigações impostas.10

Instrumento de protesto:

Documento emitido para exteriorizar o descumprimento da obrigação.11

Lavratura do Protesto:

Ato público que concretiza a impontualidade do devedor.12

Obrigação:

Vínculo jurídico entre duas pessoas, onde uma fica obrigada com a outra a

satisfazer algo tratado.13

Pagamento:

Cumprimento da obrigação.14 6 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 50. 7 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, 2. ed. Ouro Fino: Edipa, 1999. 8 ABRÃO. Carlos Henrique. Do Protesto, p. 26. 9 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto,p.34. 10 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94),p.67. 11 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 52. 12 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 52. 13 GOMES, Orlando. Obrigações.13.ed.Rio de Janeiro: Forense,2000.

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Protesto:

Ato pelo qual se exterioriza a inadimplência do devedor.15

Protesto Cambiário:

Ato praticado pelo Notário ou Tabelião.16

Sustação:

Medida Judicial com intuito de evitar a efetivação do protesto.17

Tabelião:

Oficial público que exerce seu ofício em um Tabelionato de Notas e Protestos de

Títulos.18

Títulos de crédito:

Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito literal e

autônomo nele mencionado.19

Tríduo Legal:

São os três dias úteis contados para a procedência da efetivação do protesto.20

14 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 44. 15 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.19. 16 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 13. 17 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.58. 18 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.67. 19 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.24. 20 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.73.

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SUMÁRIO

RESUMO ..............................................................................................................11

INTRODUÇÃO......................................................................................................12

CAPÍTULO I..........................................................................................................16

NOÇÕES SOBRE PROTESTO DE TÍTULOS DE CRÉDITO...............................16

1.1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO PROTESTO ....................................16

1.2 CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E COMPETÊNCIA...............................18

1.3 LOCAL E DESTINATÁRIO DO PROTESTO..................................................22

1.4 PROTESTO COMO MEIO ASSECURATÓRIO AO DIREITO DO CREDOR .26

1.4.1 Protesto necessário...................................................................................27

1.4.2 Protesto facultativo....................................................................................28

1.4.3 Protesto especial para fins de falência ....................................................29

1.4.4 Protesto por falta de pagamento ..............................................................31

1.4.6 Protesto por falta de devolução................................................................35

CAPÍTULO II.........................................................................................................37

PROCEDIMENTOS QUE ANTECEDEM O ATO DO PROTESTO E SUA FORMALIZAÇÃO .................................................................................................37

2.1. DISTRIBUIÇÃO .............................................................................................37

2.2 DA APRESENTAÇÃO E DO APONTAMENTO .............................................40

2.3 DA INTIMAÇÃO..............................................................................................42

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2.3.1 Intimação por edital ...................................................................................45

2.4 DA MANIFESTAÇÃO DO DEVEDOR ............................................................47

2.4.1 Sustação do protesto.................................................................................47

2.4.2 Do pagamento ............................................................................................51

2.4.3 Da desistência do protesto .......................................................................56

CAPÍTULO III........................................................................................................59

DA LAVRATURA DO PROTESTO, PRAZOS E CANCELAMENTO...................59

3.1 DA CONTAGEM DE PRAZO PARA APONTAMENTO DO PROTESTO.......59

3.2 DA CONTAGEM DE PRAZO PARA LAVRATURA DO PROTESTO PELA LEI

Nº 9.492/97. ..........................................................................................................61

3.3 DA CONTAGEM DE PRAZO PARA LAVRATURA DO PROTESTO PELO CÓDIGO DE NORMAS DE SANTA CATARINA..................................................64

3.4 DA LAVRATURA DO INSTRUMENTO DE PROTESTO................................66

3.5 DO CANCELAMENTO DO PROTESTO ........................................................68

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................74

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ...........................................................80

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RESUMO

A presente monografia versa sobre o instituto do protesto de títulos e outros documentos de dívida. O protesto teve inicio com o surgimento do Código Comercial21, mas somente a partir de 1908 foi que a matéria passou a ser regida por outras legislações. Sua inovação foi trazida com o advento da Lei 9.492/9722, pois foi ela quem trouxe uma legislação específica sobre o instituto, ditando regras atinentes à competência e regulamentando os serviços a ele referentes. Com o surgimento da Lei em tela houve uma inovação para o instituto do protesto, oferecendo oportunidade de maior compreensão da matéria por vir a ser relatada de maneira mais abrangente. Cabe observar que em Santa Catarina a matéria é tratada também pelo Código de Normas do Foro Extrajudicial23, onde em um de seus artigos dispõe que o tríduo legal começa a contar da intimação do devedor, entrando em contradição com a Lei de Protesto24, em cujo texto está disposto que o tríduo legal será contado a partir da protocolização. Sob este prisma é que está focado o trabalho, qual seja, apresentar as divergências existentes entre as duas legislações.

21 BRASIL, Código Comercial.Lei nº 556 de 25 de junho de 1850. 22 BRASIL, Código Comercial. Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997. Lei de Protestos de Títulos. 16.ed.São Paulo: Saraiva. 2003. 23 SANTA CATARINA. Código de normas do foro extrajudicial de Santa Catarina. Florianópolis: Tribunal de Justiça, 2005. 24 Doravante Lei de Protestos.

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto “o protesto de títulos

de crédito”, instituto disposto na Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 199725.

Como objetivo, institucional, produzir uma Monografia para

obtenção do grau de Bacharel, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.

Como objetivo geral, analisar os procedimentos necessários

à concretização ao ato do protesto, sua devida efetivação, bem como a anulação

de seus efeitos.

Como objetivo específico, verificar quais foram os benefícios

trazidos pela Lei de Protestos26 e seu conflito com o Código de Normas do Foro

Extrajudicial do Estado de Santa Catarina, bem como o posicionamento da

doutrina sobre o assunto.27

O enfoque principal deste trabalho é enfatizar a divergência

de normas existentes entre a Lei de Protestos28 e o Código de Normas de Santa

Catarina.29

Com este trabalho, buscar-se-á demonstrar este conflito,

explanando suas diferenças, como a existente a respeito do tríduo legal, onde a

Lei Federal dispõe que o prazo para futura efetivação do protesto é de três dias

contados da protocolização, contrapondo o Código de Normas de Santa

Catarina30 menciona que o prazo começaria a fluir a partir da intimação feita ao

devedor.

Demonstrar-se-á a desarmonia existente entre vários

doutrinadores sobre algumas matérias aludidas, em especial: qual a finalidade do

protesto, se é exteriorizar a inadimplência, tendo o direito de exigir o cumprimento

da obrigação, ou se é somente constranger o indivíduo perante a sociedade;

25 Lei de Protestos. 26 Idem. 27 Código de Normas de Santa Catarina. 28 Lei de Protestos. 29 Código de Normas de Santa Catarina. 30 Idem.

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sobre a prescrição do cheque; sobre os procedimentos que segue o Tabelião até

a feitura do protesto.

Além da matéria dos prazos e da lavratura, estudar-se-á o

cancelamento do protesto, instituto através do qual, com a apresentação da

documentação correta ao Tabelionato, é possível ao devedor anular os efeitos do

protesto, resgatando assim seu crédito perante a sociedade. Matéria que causa

grandes transtornos ao Oficial por não ser clara no que diz respeito a

documentação necessária para sua efetivação.

Para iniciar a investigação adotou-se o método indutivo31,

operacionalizado com técnicas do referente32, da categoria33, dos conceitos

operacionais34 e da pesquisa de fontes documentais. Para relatar os resultados

da pesquisa, utilizou-se a metodologia proposta por Colzani35 e a apresentada

pela NBR/ABNT36.

Para a feitura do trabalho monográfico, foram apreciados

Leis, Decretos, Norma Estadual e doutrinas referentes a matéria, dando especial

destaque a doutrina de Wolffenbutel37 e Parizatto38.

A pesquisa foi desenvolvida tendo como base as seguintes

hipóteses:

31 Pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e coleciona-las de modo a ter um percepção ou conclusão geral (cf. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito.7.ed.rev.atual. ampl. Florianópolis: OAB/SC, 2002.P.104. 32 Explicitação prévia dos motivos, dos objetivos e do produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa(cf. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito,p.62). 33 Palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou à expressão de uma idéia(cf. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p.31). 34 (...) é uma definição para uma palavra e expressão, com desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos(cf. PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p.45). 35 COLZANI, Valdir Francisco. Guia para redação do trabalho científico. Curitiba: Juruá, 2001. 36 Norma Brasileira de Referência. 37 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, 1 ed. São Paulo: Frater et Labor Edições Ltda, 2001. 38 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, 2.ed. Ouro Fino: Edipa, 1999.

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1. Ainda que um direito do credor, com o intuito de cobrar a

dívida não paga, o protesto é meio de coação e constrangimento ao devedor

perante a sociedade;

2. A cobrança de juros na forma determinada pelo Código de

Normas Estadual fere o dispositivo constante da Lei Federal;

3.O tríduo legal previsto na Lei de Protestos deve ser

contado na forma prevista no Código de Normas do Estado de Santa Catarina

pois este é mais benéfico ao devedor.

Para melhor aparelhar o trabalho, este foi dividido em três

capítulos:

O primeiro cuidará de apresentar ao leitor as bases

introdutórias à compreensão ao instituto do protesto, através de seu

desenvolvimento histórico, seu conceito, sua natureza jurídica, discorrendo duas

teses distintas, a de ter ele o intuito de exteriorizar a inadimplência e a do

constrangimento legal do devedor.

Ainda versar-se-á o primeiro capítulo sobre a competência,

sendo esta privativa do Tabelião de Protestos, seu local e destinatário, fazendo

menção a regra sobre o local devido para lavratura do protesto de cheque, suas

espécies, classificando-as quanto sua função: protesto necessário, facultativo e

protestos especial para fins de falência; e quanto a natureza de sua solicitação:

protesto por falta de pagamento, por falta de aceite ou ainda por falta de

devolução.

O segundo tratar-se-á sobre as diversas etapas que o título

ou documento de dívida percorre até chegar a efetivação do protesto: sua

distribuição, sua apresentação e seu apontamento. Ainda sobre sua intimação,

tanto por remessa do oficial, como também da por edital. As manifestações do

devedor a respeito de sua obrigação exigida, sustando-o ou liquidando-o, por fim

sobre a desistência do protesto pelo apresentante.

Finalmente, aludir-se-á o terceiro capítulo sobre o registro do

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protesto, sua materialização através do instrumento de protesto e seus requisitos

dispostos na Lei Federal39. Sobre tríduo legal estabelecido pela Lei de

Protestos40, bem como o disposto no Código de Normas de Santa Catarina41,

enfocando o conflito existente entre eles. Discorrer-se-á enfim sobre a maneira de

anular seus efeitos, através do cancelamento, relevante firmar que será tratado

apenas sobre sua via administrativa.

Nas considerações finais demonstrar-se-á uma sucinta

síntese do trabalho monográfico, objetivando apresentar possíveis soluções,

referentes aos conflitos expostos.

39 Lei de Protestos. 40 Idem. 41 Código de Normas de Santa Catarina.

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CAPÍTULO I

NOÇÕES SOBRE PROTESTO DE TÍTULOS DE CRÉDITO

1.1 DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO PROTESTO

Para o desenvolvimento deste trabalho é necessário que se

faça uma retrospectiva da história do surgimento do protesto até os dias atuais. É

pressuposto essencial para que possamos compreender melhor este instituto e o

surgimento da Lei nº 9.49242, de 10 de setembro de 1997.

O protesto cambial, segundo Saraiva citado por Pinheiro43

“[...] já era praticado no século XIV, pois conhecidos protestos realizados em

1335, estando equivocada a afirmação de que o protesto mais antigo fora lavrado

em Gênova, a 14 de novembro de 1384”.

Confirma também Saraiva citado por Pinheiro44, que

A Breve Coll. notar. de Piza (1305) já incluía, entre as funções dos notários, a praesentatio e a protestatio litterarum, e que na França, há referências sobre o protesto no Edicto de Luiz XI, de 8 de março de 1462, e que a Alemanha tinha conhecimento sobre o protesto no século XVI.

Segundo se pode observar, não existia nenhuma

formalidade para sua realização, o que difere da atualidade.

Battaglini citado por Abrão45 afirma que,

[...] o surgimento do instituto estaria descrito pela facultatividade do aceite na cambial, assumidos na sua concretização, o protesto compunha-se de três atos específicos: “praesentatio litterarum”, “requisitio” e “protestatio”, somente feito por notário, com os requisitos essenciais, conferindo ao portador todos os direitos em

42 Lei de Protestos. 43 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. 44 Idem. 45 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto,p.15.

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relação aos co-obrigados, permitindo o conseqüente exercício do regresso.46

De acordo com Abrão47, no século XVI, a caracterização do

descumprimento da obrigação traduzida pela relação do comércio, era realizada

perante testemunhas, sob forma de “contestatio”, só mais tarde é que foi ganhar

forma própria através da letra de câmbio, que simbolizava unicamente a falta do

aceite48.

Este instituto no Direito Brasileiro teve inicio com o

surgimento do Código Comercial49 que dispunha sobre os protestos das letras de

câmbio e a quem os competia.

Somente a partir de 1908 é que tal assunto passou a ser

regido por outras legislações, como o Decreto nº 2.04450, ainda vigente, que além

de passar a tratar sobre a matéria relativa a nota promissória, referia-se também

as letras de câmbio, o que teve como conseqüência a revogação do Código

Comercial de 185051.

Pinheiro52 mencionou que, surgiram também diversas leis

como: a Lei Uniforme de Genebra53, a Lei do Cheque54, a Lei das Duplicatas55, a

46

Direito de regresso: Extraído da obra de Abrão. Citação através de citação (cf. BENASSE, Paulo

Roberto. Dicionário jurídico de bolso: terminologia jurídica, p.338. Campinas: Bookseller, 2000 (Verbete Terminologia). 47 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto. São Paulo: Livraria e Editora Universitária de Direito Ltda, 1999. 48 Tratar-se-á deste instituto no item 1.4.5. 49

Doravante Código Comercial. 50 BRASIL.Código Comercial. Decreto-lei n. 2044, de 31 de dezembro de 1908. Define a letra de câmbio e a nota promissória e regula as Operações Cambiais. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2001. 51 Doravante Código Comercial. 52 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial,p.6. 53 BRASIL. Código Comercial. Decreto-lei n. 57.663, de 24 de janeiro de 1966. Promulga as Conversões para adoção de uma lei uniforme em matéria de letra de câmbio e nota promissória. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 54 BRASIL. Código Comercial. Lei n. 7.357, de 02 de setembro de 1985. Dispõe sobre o cheque e dá outras providencias. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 55 BRASIL. Código Comercial. Lei n. 5.474, de 18 de julho de 1968. Dispõe sobre as duplicatas e dá outras providências. 16.ed.São Paulo: Saraiva, 2003.

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Lei de Falências56 e também e a Lei que disciplinava especificamente o

Cancelamento de Protesto.57

Conforme Wolffenbuttel58, apesar do aparecimento de

todas essas leis, que ainda continuam em vigor, o nosso ordenamento jurídico só

foi inovado com o advento da Lei nº 9.492 em 10 de setembro de 199759, pois

somente ela foi quem trouxe uma legislação que tratasse especificamente sobre

protesto de títulos e outros documentos de dívida, ditando regras atinentes à

competência e regulamentando os serviços a eles referentes.

No Estado de Santa Catarina para complementar tal

instituto foi criado a Consolidação Normativa Notarial e Registral60, que tratando

do Foro Extrajudicial em sua terceira parte (artigos 518 a 1.052), veio traçar em

seu Capítulo VII61, normas referentes ao Tabelionato de Protestos de Títulos, dos

artigos 953 a 1.050.

1.2 CONCEITO, NATUREZA JURÍDICA E COMPETÊNCIA

A própria Lei nº 9.49262, de 10 de setembro de 1997 define

logo de início em seu artigo 1º, que “Protesto é o ato formal e solene pelo qual se

prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e

outros documentos de dívida”.

Abrão63 preceitua protesto como,

Típico ato formal e de natureza solene, destinado a servir de meio probatório na configuração do inadimplemento, reveste-se o

56 BRASIL. Código Comercial. Decreto Lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências.16.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 57 BRASIL. Código Comercial. Lei n. 9.492, de 10 de setembro de 1997. Lei de Cancelamento de Protestos. 16.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 58 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p.17. 59 Lei de Protestos. 60 Código de Normas de Foro Extrajudicial de Santa Catarina. 61 Código de Normas de Foro Extrajudicial. Capítulo VII – Ofícios de Registro de Protesto arts. 953 a 1.050. 62 Lei de Protestos. 63 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.15.

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protesto de qualidades próprias, as quais denotam o relacionamento com uma determinada obrigação sem a conseqüente responsabilidade a ela satisfeita.

Menciona o mesmo autor64 que,

Priorizado na situação de ato extrajudicial, de espírito público, sempre na esfera formal que delineia sua concretização, o ato notarial tem uma eficácia que gera efeitos nas circunstâncias do padrão obrigacional, ou seja, o limite temporal estabelecido, quando determinado, restou desatendido.

Assim entende-se como a exteriorização do descumprimento

de uma obrigação, baseada na inadimplência de um negócio realizado, fundado

em um documento escrito. Submetendo sua eficácia a forma legal, sob a

responsabilidade de um delegado, neste caso o Tabelião de Protestos, que tem

por obrigação cumprir com os procedimentos previstos em lei.

Ceneviva65 afirma que, “[...] a lei os distinguiu, vinculando o

primeiro (descumprimento) à obrigação de fazer ou de não fazer e o segundo

(inadimplemento) à obrigação de pagar”.

Abrão66 foi feliz e sensato ao definir a expressão “[...] outros

documentos de dívidas”, estabelecendo que,

[...] quaisquer títulos ou documentos que alicerçam obrigações, líquidas, certas, exigíveis, fazem parte dos indicativos instrumentalizados ao protesto, cujo exame primeiro de suas condições caberá ao Tabelião, formalizando o ato, ou recusando sua feitura.

Portanto, o título ou documento de dívida sendo líquido,

certo e exigível seriam cabíveis para o ato do protesto. Exemplos: Faturas de

64 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.15. 65 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. 66 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.26.

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cartões de crédito, Carta de garantia, contrato de financiamento e rotativo de

crédito, carta de fiança, desconto bancário, etc.

Menciona Almeida67 que, protesto

[...] objetiva tão-só caracterizar a impontualidade do devedor, não gerando qualquer outro direito senão o de constituir-se em prova da existência da mora, não sendo, por isso mesmo, imprescindíveis à propositura da ação quando se trata de obrigados principais.

Abrão68 preleciona que,

Estruturada a forma específica na figura do enraizamento do protesto e seu típico elemento probatório, não é inexato afirmar que ele não gera direitos, não produz obrigações, somente instrumentaliza o inadimplemento e pelos informes representados na descrição da própria obrigação.

Parizatto69 afirma que,

O protesto de títulos se faz como medida probatória de falta de cumprimento de determinada obrigação firmada em titulo de crédito ou outros documentos de dívida, pressupondo-se que esse tenha vencido e não tenha sido pago pelo devedor, tratando-se de ato extrajudicial realizado pelo Tabelionato de Protestos, sem qualquer dependência do órgão judiciário.

Pires70 chega à conclusão após estudar várias doutrinas,

“[...] que o protesto cambial é um simples meio de prova não gerando direitos nem

obrigações na esfera do Direito”.

Da essência de todos os conceituados doutrinadores

citados, não é gerada nenhuma obrigação no âmbito do Direito, pela mesma já ter

67 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, 18.ed. São Paulo: Saraiva, 1998. 68 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.19. 69 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.12. 70 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97). São Paulo: Malheiros, 1998.

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sido gerada no momento em que as partes acordaram em realizar um negócio a

elas pertinente, pois naquele momento o devedor admitiu o compromisso com o

credor de satisfazer a obrigação, no prazo, praça e maneira entre eles pactuados.

Havendo a inadimplência e o descumprimento, é por lógica que surge um direito

pertencente ao credor de exigir que seja cumprida a promessa contida no título.

Com outra linha de pensamento, entende

Wolffenbuttel71que, o instituto do protesto é visto como um constrangimento legal

do devedor, pois o ato tem em uma de suas características a publicidade. Desta

forma, entende o doutrinador que o devedor fica exposto a sociedade, já que por

conseqüência passa a ter restrições em Bancos, Comércios e a diversos atos

praticados que possuam ligação com o seu C.P.F. (Cadastro de Pessoas Físicas),

pois na efetivação do protesto, a informação é enviada a Órgãos de Proteção ao

Crédito, como Serasa e S.P.C. (Serviço de Proteção ao Crédito).

Em um mesmo entendimento Darold72 afirma que o protesto

tem,

[...] a relevante função de constranger legalmente o devedor ao pagamento, sob pena de ter lavrado e registrado contra si ato restritivo de crédito, evitando, assim, que todo e qualquer inadimplemento vislumbre na ação judicial, a única providência formal possível.

Sustenta Oliveira citado por Pires73 que “[...] o ato notarial do

protesto tem como efeito imediato o abalo de crédito”.

Continua Oliveira citado por Pires74 que, o dano ao crédito

gera efeito jurídico profundo de natureza comercial, cabendo pedidos de

indenizações ao beneficiário do titulo, apenas quando tirado indevidamente.

Pelo que foi aludido, esta linha de pensamento entende que

71 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 22. 72 DAROLD, Ermínio Amarildo. Protesto Cambial: duplicatas x boletos. Curitiba: Juruá, 1998. 73 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.15. 74 Idem.

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protesto gera conseqüências negativas ao devedor, pois com sua devida

efetivação seria o mesmo levado ao constrangimento legal perante a sociedade,

por tratar-se de ato público. Por conseqüência causaria abalo crítico a seu crédito,

originando ao inadimplido, restrições a atos relativos ao comércio.

A competência para efetuar o protesto de título é exclusiva

do Tabelião de Protesto, este é dotado de fé pública para praticar os atos

dispostos no artigo 3º da Lei 9.492/9775, tutelando interesses públicos e privados.

Ceneviva76 discorre sobre o art. 3º da Lei,

O art. 3º determina a competência privativa do tabelião de protesto de títulos, na tutela dos interesses públicos e privados, para a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, do título e de outros documentos da dívida, bem como lavrar e registrar o protesto ou aceitar a desistência do credor em relação a ele, proceder às averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos praticados, na forma da mesma lei. Nenhum outro serviço notarial e de registro pratica tais atos, ante a força do advérbio de modo privativamente, a enunciar a restrição.

O artigo em comento dispõe que somente o Tabelião de

Protestos de Títulos poderá formalizar tal instituto, efetuando os procedimentos

impostos pelo artigo transcrito.

1.3 LOCAL E DESTINATÁRIO DO PROTESTO

O Decreto nº 2.044/190877 dispõe em seu art. 28, parágrafo

único que,“O protesto deve ser tirado do lugar indicado na letra, para o aceite ou

para o pagamento. Sacada ou aceita a letra para ser paga em outro domicílio que

não o do sacado, naquele domicílio deve ser tirado o protesto”.

Entende-se que a efetuação do protesto deva ocorrer na

75 Lei de Protestos. 76 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e registradores comentada (Lei nº 8,935/94), p.67. 77 Doravante Decreto – Lei n. 2044/1908.

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praça de pagamento do título, abranja-se esta, como sendo o lugar onde foi

originada a obrigação.

Almeida78 esclarece que

O protesto deve ser tirado no local onde deva ser exigida a obrigação. Esta é a regra geral. Todavia, não há obstáculo legal a que os interessados elejam outro local, que poderá ser o lugar indicado para aceite, o domicílio do sacado e, inclusive, indicação alternativa de lugares, hipótese em que ficará a critério do portador o direito de escolha.

A Lei nº 9.492/97 em seu art. 6º 79 dita a regra sobre o local

devido para a lavratura do protesto de cheque, que seria a da praça de

pagamento ou do domicílio do devedor, mencionando que no mesmo deve-se

constar apresentação ao banco sacado devidamente comprovado. A exceção à

regra se daria quando a finalidade do protesto fosse uma medida preparatória

contra estabelecimento bancário sacado.

Pires80 faz menção ao art. 1º do Provimento n. 30/9781, do

Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo,

Art. 1º. Fica proibido o apontamento de cheques quando estes tiverem sido devolvidos pelo estabelecimento bancário sacado por motivo de furto, roubo ou extravio das folhas de cheques ou dos talonários, nos casos dos motivos 25, 28 e 30 das Circulares n. 2.655, de 18 de janeiro de 1996 e COMPE n. 96/45 do Banco Central do Brasil, desde que os títulos não tenham circulado por meio de endosso, nem estejam garantidos por aval.

Continua o mesmo autor82, esclarecendo que os motivos

78 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, p.335. 79 Art.6. da Lei de Protestos: “Tratando-se de cheque, poderá o protesto ser lavrado no lugar do pagamento ou do domicílio do emitente, devendo do referido cheque constar a prova de apresentação ao banco sacado, salvo se o protesto tenha por fim instruir medidas pleiteadas contra o estabelecimento de crédito”. 80 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.19. 81 Provimento CG n. 30/97 de 24.12.97, Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. 82 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.19.

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dispostos no provimento, seriam: Cancelamento do talonário pelo Banco Sacado

(25), contra-ordem ou oposição (28) e furto ou roubo de malote (30).

A Lei nº 7.35783, de 2 de setembro de 1985, denominada Lei

do Cheque em seu art. 4884 já se referia sobre o lugar que o cheque poderia ser

protestado, assim como o art. 6º da Lei 9.492/9785, poderia ser no domicílio do

emitente ou no domicílio da agência bancária.

Portanto, fica a critério do credor escolher em qual lugar

procederá com o pedido de protesto, fundamentalmente na região de onde surgiu

a obrigação.

Afirma Parizatto86, no tocante a prescrição do cheque que,

Tratando-se de cheque o protesto deve fazer-se antes da expiração do prazo de apresentação, que é de trinta (30) dias quando emitido no lugar onde houver de ser pago e de sessenta (60) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior (art. 33 da Lei n. 7.357, de 2-9-85).

Em contrapartida, o art. 9º caput da Lei 9.492/9787 dispõe

que, “Todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão examinados

em seus caracteres formais e terão curso se não apresentarem vícios, não

cabendo ao Tabelião de Protesto investigar a ocorrência de prescrição ou

caducidade”.

Como estabelece Ceneviva88, tal dispositivo solucionou

problemas que afetavam a doutrina e a jurisprudência há tempos atrás, pois os

83 Doravante Lei do Cheque. 84 Art.48. da Lei de Protestos:: “O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo de apresentação. Se esta ocorrer no último dia do prazo, o protesto ou as declarações podem fazer-se no primeiro dia útil seguinte”. 85 Art.6 da Lei de Protestos: “Tratando-se de cheque, poderá o protesto ser lavrado no lugar do pagamento ou do domicílio do emitente, devendo do referido cheque constar a prova de apresentação ao banco sacado, salvo se o protesto tenha por fim instruir medidas pleiteadas contra o estabelecimento de crédito”. 86 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p. 29. 87 Lei de Protestos. 88 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p. 71.

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oficiais eram submetidos a ter que julgar questões diversas de sua competência,

pois cabem a apreciação e julgamento da prescrição89 ou caducidade90 ao

Judiciário.

No que diz respeito a títulos e documentos estrangeiros ou

em moeda diversa da brasileira, com o advento da Lei nº 9.492/97, em seu art.

10º caput91, foi admitida a realização do protesto, caso fosse necessário.

Parizatto92 a respeito de protesto de títulos ou outros

documentos de dívidas que forem emitidos fora do território nacional estabelece

que,

(...) Torna-se necessário em tal hipótese a devida tradução do documento de crédito, que deverá ser efetuada por tradutor público juramentado, que acompanhará o título apontado a protesto. Ainda, pois, que o Tabelião de Protestos tenha conhecimento do idioma no qual fora elaborado o título, a providencia da tradução é tida como indispensável.

Já a respeito dos emitidos em território nacional em moeda

estrangeira, o art. 10 da referida Lei, em seu § 3º93, estabelece que o Tabelião

terá que dar atenção ao que está disposto no Decreto – lei n. 85794, de 11

dezembro de 1969, e legislação complementar ou superveniente.

O referido Decreto, conforme consta em seu corpo, firma e

modifica a legislação sobre moeda de pagamento de obrigações realizáveis no

89 Prescrição. Extraído da Obra de Ceneviva. Citação através de citação (cf. BENASSE, Paulo Roberto. Dicionário jurídico de bolso: terminologia jurídica, p.338. Campinas: Bookseller, 2000 (Verbete Terminologia). 90

Caducidade. Extraído da obra de Ceneviva. Citação através de citação (cf. BENASSE, Paulo Roberto. Dicionário jurídico de bolso: terminologia jurídica, p.338. Campinas: Booksseller, 2000 (Verbete Terminologia). 91 Art.10 da Lei de Protestos: “Poderão ser protestados títulos e outros documentos de dívida em moeda estrangeira, emitidos fora do Brasil, desde que acompanhados de tradução efetuada por tradutor público juramentado”. 92 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p. 29 93 Art. 10, §3º da Lei de Protestos: “Tratando-se de títulos ou documentos de dívidas emitidos no Brasil, em moeda estrangeira, cuidará o tabelião de observar as disposições do Decreto-lei nº 857, de 11 de setembro de 1969, e legislação complementar ou superviniente”. 94

BRASIL, Decreto – lei n. 857, de 11 de dezembro de 1969. Consolida e altera a legislação sôbre moeda de pagamento de obrigações exeqüíveis no Brasil.

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Brasil.

Parizatto95 continua estabelecendo que, o pagamento do

título ou documento de dívida emitido em moeda estrangeira, será feito em moeda

nacional, baseado no dia da protocolização do documento junto ao Cartório de

Protestos.

Assim sobre este novo instituto pode–se aludir que, a Lei nº

9.492/9796 inovou admitindo a efetivação de protesto de títulos ou outros

documentos de dívida em moeda estrangeira, lançadas fora do país, ou ainda em

território nacional, fazendo apenas algumas imposições legais, tais como:

tradução do documento por tradutor juramentado, anexando esta ao título posto a

protesto; em caso de pagamento, teria que ser feito em moeda corrente nacional,

tendo o apresentante a obrigação de fazer a conversão da moeda, e ainda, teria o

Tabelião que analizar as disposições do Decreto – lei nº 85797, de 11 de

dezembro de 1969, e legislação complementar ou superveniente.

1.4 PROTESTO COMO MEIO ASSECURATÓRIO AO DIREITO DO CREDOR

Para uma melhor compreensão trataremos aqui, sobre as

espécies dos protestos, classificando - os quanto a sua função e quanto a

natureza de sua solicitação (motivo).

Baseado em grande parcela dos doutrinadores pesquisados

estudar-se-á quanto a sua função: Protesto necessário (obrigatório), protesto

facultativo (probatório) e protesto especial para fins de falência. Quanto ao motivo:

protesto por falta de pagamento, protesto por falta de aceite, protesto por falta de

devolução.

95 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p. 30. 96 Lei de Protestos. 97 Doravante Decreto – lei nº 857.

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1.4.1 Protesto necessário

Pinheiro98 leciona que, “Protesto necessário, também

conhecido como obrigatório ou conservatório. O protesto será necessário quando

este ato constituir elemento fundamental para o exercício de um direito do credor

da cambial”.

Entende Wolffenbuttel99 que, o protesto necessário não tem

apenas a finalidade probatória, mas sim tem o intuito de reservar os direitos

cambiários que possui o credor, e ainda é capaz de fundamentar uma futura ação

com pedido de falência.

Almeida100 acrescenta que, “O protesto é ainda fundamental

e obrigatório para que se possa requerer a falência do devedor até mesmo

quando se trata de títulos não sujeitos a ele...”.

Continua o mesmo autor101, “[...] o protesto se faz

indispensável quando se trata de coobrigados: sacador, endossantes e seus

avalistas”.

Wolffenbuttel102, a respeito da espécie do protesto

necessário dispõe que, “[...] se configura nas hipóteses em que o instituto

apresenta também o caráter de pressuposto processual, sendo considerado, pela

legislação, imprescindível à pratica deste ato específico”.

O art. 32 do Decreto nº 2.044/1908103 faz menção ao direito

de regresso. O dispositivo preceitua de forma clara que para exercer o credor do

direito de regresso contra coobrigados, terá o mesmo que apanhar o instrumento

de protesto dentro da forma legal.

98 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p.12. 99 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 23. 100 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, p.332. 101 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, p.332. 102 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 18. 103 Art. 32 do Decreto nº2.004/1908: “O portador que não tira, em tempo útil e forma regular, o instrumento do protesto, além da pena em que incorrer, segundo o Código Penal, responde por perdas e interesses”.

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Abrão104 estabelece que, “[...] quando a cadeia de assunção

da obrigação confirma a presença de inúmeros obrigados de tal forma a sugerir o

regresso, inelimitável que o protesto tirado atingirá a todos [...]”.

Ainda sobre direito de regresso, Pinheiro105 acrescenta que,

ele deriva da simples função de conservar o direito, este pertencente ao credor

que teve sua obrigação não cumprida pelos coobrigados.

Como exemplo de protesto necessário, Wolffenbuttel106 cita

a duplicata não aceita, mencionando que “[...] a lei determina que para que possa

ser interposta a ação executiva, é imprescindível a prática deste ato específico”.

Pelo que foi exposto entende-se que quando o credor além

de ter como objetivo comprovar o descumprimento da obrigação pelo devedor,

poderá também através da espécie do protesto necessário, garantir seu direito de

regresso contra seus coobrigados (endossante, avalista ou sacador), ou ainda

mais, pleitear em juízo a falência de seu respectivo devedor.

1.4.2 Protesto facultativo

Como foi exposto no item 1.4.1, no protesto necessário é

essencial que ocorra sua execução, para a finalidade de servir de fundamento

para uma futura ação de regresso ou embasar um pedido de falência.

Nesta espécie de protesto Pinheiro107 leciona que, “Protesto

Facultativo, também conhecido como probatório. Ocorre quando não há

obrigatoriedade em se lavrar o protesto da cambial”.

Entende-se que a finalidade de expor a inadimplência ou

impontualidade do devedor, através da lavratura do protesto, seria isto facultativo,

caso viesse o credor postular em juízo, possuindo assim uma função puramente

probatória.

104 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.28. 105 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p. 12. 106 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p.23. 107 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p.12.

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Wolffenbuttel108 esclarece que,

Protesto facultativo é aquele em que o credor não necessita da prática deste ato para exigir em juízo a obrigação constante no título cambial, ou seja, o credor somente executaria o ato de protesto com a simples finalidade de comprovar a impontualidade ou mora do devedor.

Requião citado por Pinheiro109, de forma diferente dos

demais autores citados, entende que, não há diferença em relação às duas

espécies de protestos citadas, visto que, o instituto do protesto é único, e tem a

finalidade de exteriorizar a inadimplência, contribuindo com requerimento de

falência do inadimplente.

Almeida110 faz distinção entre o protesto facultativo e o

necessário mencionando que,

O primeiro pode ser levado a efeito a qualquer tempo, observado tão somente o prazo prescricional, ocorrendo na falta de aceite, na falta de devolução ou de pagamento. O mesmo não ocorre com o protesto obrigatório, que se não exercido tempestivamente desonera aos coobrigados, impossibilitando ação de regresso.

Acompanhando a maioria dos doutrinadores, entende-se

esta espécie de protesto como sendo um simples meio probatório, onde o credor

não tem obrigação nenhuma de lavrar o protesto para postular em juízo

requerendo a liquidação do título cambiário.

1.4.3 Protesto especial para fins de falência

Esta espécie de protesto tem previsão legal expressa na Lei

11.101, de 09 de fevereiro de 2005.111

108 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p.24. 109 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p. 13. 110 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, p.334. 111 BRASIL, Lei nº 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária.

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Em 09 de fevereiro de 2005, o Presidente da República

sancionou a Lei n. 11.101112, que regula a recuperação de empresas e a falência.

Trata-se de legislação substitutiva do Decreto – Lei n. 7.661/45113, antiga “Lei de

Falências”.

A Nova Lei Falimentar114 reafirma a importância do protesto

especial com fins falimentares em seus dispositivos, fazendo também exigência

do cumprimento do protesto e também da juntada de seu respectivo instrumento a

inicial.

O art. 51115 em seu inciso VIII, da Lei em tela dispõe a

necessidade de conter na petição inicial de recuperação judicial, certidões dos

cartórios de protesto.

Ressalta-se, ainda, não ter havido alteração no dispositivo

da Lei de Protesto, que ordena em seu art. 23116, caput, que haverá apenas um

livro para efetuar a lavratura de todos e quaisquer protestos, sejam estas para fins

especiais, por falta de pagamento, de aceite, devoluções, bem como os para fins

falimentares.

Wolffenbuttel117 entende a respeito do parágrafo único do

artigo citado que, “[...] somente poderão ser protestados títulos ou documentos de

dívida de responsabilidade das pessoas sujeitas às conseqüências da legislação

falimentar, ou seja, devedores comerciais, não abrangendo, nesta hipótese, os

devedores civis”.

112 Lei de Falimentar. 113BRASIL, Código Comercial. Decreto-lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falência.16.ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 114 Doravante Lei Falimentar. 115 Art. 51, VIII da Nova Lei Falimentar: “A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial. 116 Art. 23 da Lei de Protestos: “Os termos dos protestos lavrados, inclusive para fins especiais, por falta de pagamento, de aceite ou de devolução serão registrados em um único livro e conterão as anotações do tipo e do motivo do protesto, além dos requisitos previstos no artigo anterior”. 117 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 25.

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Wolffenbuttel118 esclarece a que, a fundamentação do

pedido de falência através da prova de que o requerente é parte legítima para

proceder com tal ato, assim como a impontualidade expressa pela certidão de

protesto, são neste caso imprescindíveis.

Raitani citado por Almeida119 ao tratar deste tema foi

prudente ao afirmar que,

[...] tem um sentido próprio, pois, não visando responsabilidade dos coobrigados, objetiva solenizar a interpelação a fim de pagar o devedor a dívida vencida. Para efeito de tal gravidade mister se faz constatar publicamente a impontualidade do devedor e a diligência preliminar do credor no intuito de receber seu crédito antes de promover a execução coletiva daquele.

Abrão120 menciona que, “Os protestos especiais, muito mais

do que o formalismo que despontam, têm conotação própria visando emprestar

efeitos à regra que vislumbra o estado de insolvência, peculiar ao requerimento

do interessado”.

Conclui-se a respeito desta modalidade de protesto, que a

mesma serve para embasar um futuro ajuizamento de uma ação com

requerimento de falência da empresa inadimplente, sendo assim, pressuposto

processual essencial. Cabendo salientar que para procedência deste ato, é

necessário que seja comprovado a legitimidade do requerente e a impontualidade

do devedor através de certidão de protesto.

1.4.4 Protesto por falta de pagamento

A Lei nº 9.492/97 em seu art. 21, caput121, dispõe de forma

clara a natureza de solicitação do protesto, também nomeada como “motivos”. “O

protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução”.

118 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 24. 119 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, p. 334. 120 ABRÃO, Carlos Henrique.Protesto, p. 95. 121 Art. 21 da Lei de Protestos: “O protesto será tirado por falta de pagamente, de aceite ou de devolução”.

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Tratar-se-á das três modalidades respectivamente.

No § 2º 122 da referida Lei trata-se do protesto por falta de

pagamento, onde fica evidente que o mesmo apenas será efetuado

posteriormente ao seu vencimento.

Parizatto123 aduz que, “Estando vencido o título o protesto

será obrigatoriamente por falta de pagamento, fato demonstrador da

impontualidade e inadimplemento do devedor”.

Pires124em relação ao fato de só poder ser efetuado o

protesto após seu vencimento esclarece que, em se tratando de foro extrajudicial,

a caracterização do inadimplemento da dívida, somente efetiva-se posteriormente

ao dia de seu vencimento.

Continua o mesmo autor125 referindo-se ao final do § 2º do

artigo em questão, tangente a existência de motivos proeminentes para a não

lavratura do protesto, citando como exemplo a presença de erro ou defeito de

forma constantes na lei cambial. Mencionando ainda que é obrigatória e

indispensável à efetuação do protesto pelo Tabelião tendo em vista todos os

pressupostos essenciais para proceder com tal ato.

Wolffenbuttel126 estabelece que,

O tabelionato de protesto encarregado da prática deste ato apresenta o título ao devedor, para que este pague a quantia determinada, pois o título já é exigível. Recusando-se, pois, o devedor, a cumprir com sua obrigação, ou seja, não efetuando o pagamento, é lavrado o instrumento de protesto por falta de pagamento.

122 Art. 21, §2º da Lei de Protestos: “Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de pagamento, vedada a recusa da lavratura e registro do protesto por motivo não previsto na lei cambial”. 123 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p. 56. 124 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.42. 125 Idem. 126 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 27.

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No mesmo entendimento leciona Pinheiro127 que, “Protesto

por falta de pagamento ocorre quando o devedor se recusa a efetuar o

pagamento do valor constante do título apresentado para tal fim. Este protesto

somente poderá ser lavrado após a data de vencimento da obrigação”.

Assim, fica demonstrado que será o Tabelião o responsável

em fazer a cobrança do título exigível, havendo a recusa pelo devedor, não se

obstará em lavrar o protesto por falta de pagamento, a não ser que sejam

demonstrados motivos que proíbam sua procedência.

1.4.5 Protesto por falta de aceite

Em referência ao art. 21 § 1º da Lei de Protestos128, Pinheiro 129esclarece que,

Ocorre quando a cambial é apresentada para aceite e há recusa por parte da pessoa indicada como aceitante. Este tipo de protesto somente poderá ser efetuado antes do vencimento da obrigação ou após o decurso do prazo legal para o aceite ou para devolução.

Parizatto130 compreende que,

[...] comprova-se publicamente a recusa do aceite, documentando-se à vista da lei tal situação, demonstradora de que o sacado não aceitou a letra expedida pelo sacador. Observa-se que o portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação contra os endossantes, sacador e outros coobrigados, mesmo antes do vencimento, desde que tenha havido recusa total ou parcial de aceite (art. 43, § 1º da Lei Uniforme) e tal recusa se prova pelo protesto.

Notadamente, o protesto por falta de aceite ocorrerá

anteriormente ao vencimento da obrigação e posteriormente ao andamento do 127 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p.11. 128 Art. 21, §1º da Lei de Protestos: “O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da obrigação e após o decurso do prazo legal para aceite ou devolução”. 129 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p.11. 130 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p. 55.

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prazo legal para aceite ou devolução.

Ceneviva131 coloca que,

O protesto cabe por falta de aceite, antes do vencimento da obrigação cuja existência for comprovada (entrega de mercadoria, contrato obrigacional, prestação de serviço) e nunca depois deste, mas somente após o prazo previsto para tal providencia, a cargo do devedor.

Almeida132 estabelece que, diferente do protesto por falta de

pagamento, o protesto por falta de aceite não comporta um título que seja líquido,

certo e exigível, pois só é permitido o protesto antes do vencimento do título,

sendo vedado o protesto após este.

Ceneviva133 menciona que o aceite é manifestado pelo

devedor ou se for o caso por seu procurador devidamente comprovado ou, sendo

pessoa física com assinatura registrada em cartório no próprio título.

Wolffenbuttel134 leciona que, sendo o título protocolado no

Tabelionato, fica a cargo do tabelião apresentar o mesmo ao seu respectivo

devedor, que poderá aceitá-lo ou não. Havendo recusa, deverá o tabelião efetuar

o protesto do título por falta de aceite, ato este que comprovará a não aceitação

do título pelo devedor.

Em continuidade Wolffenbuttel135 preleciona que, “A

modalidade de protesto por falta de aceite somente é possível em duplicatas e

letras de câmbio”.

Seguindo o mesmo pensamento, Parizatto136 coloca que,

esta modalidade de protesto de título tem a finalidade de exteriorizar o não

cumprimento da obrigação em face de letra de câmbio e duplicatas. 131 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p. 81. 132 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, p. 333. 133 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p. 79. 134 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 26. 135 Idem. 136 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.55.

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Conclui-se que, se protesto por falta de aceite, ocorrerá

antes da expiração do prazo de vencimento da dívida, ou ainda, posteriormente a

expiração do prazo estabelecido para aceite ou devolução.

Com a efetivação desta modalidade de protesto comprova-

se a recusa do aceite pelo inadimplido do título enviado.

1.4.6 Protesto por falta de devolução

A última forma referente à natureza de solicitação de

protesto estudada será a por falta de devolução, onde esclarece Pinheiro137 que,

“[...] ocorre quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para

aceite e não a devolve no prazo legal”.

O dispositivo que o regula é o § 3º do artigo 21 da Nova Lei

de Protesto, onde está estabelecido que,

§ 3º - Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e não proceder à devolução dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado na segunda via da letra de câmbio ou nas indicações da duplicata, que se limitarão a conter os mesmos requisitos lançados pelo sacador ao tempo da emissão da duplicata, vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na Lei que regula a emissão e circulação das duplicatas.

Wolffenbuttel138 leciona que, “Esta modalidade de protesto é

possível quando a duplicata ou a letra de câmbio é entregue para aceite e não

são devolvidas. Sendo assim, o protesto será lavrado baseado na segunda via da

letra de câmbio ou nas indicações da duplicata”.

De acordo com os autores citados Ceneviva139 entende que,

a duplicata ou letra de câmbio que forem encaminhadas ao devedor para aceite, e

ocorrer do mesmo não devolvê-las e retê-las com ele, terá o representante a

137 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p. 11. 138 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 27. 139 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p. 82.

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possibilidade de protestá-las por falta de devolução, oferecendo segunda via ou

indicação das características que constarem na duplicata.

Pires140 estabelece que, “[...] quanto a este enfoque cumpre-

nos recordar que, tratando-se de duplicata de serviço não aceita, é de rigor que o

credor faça prova perante o Tabelião de Protesto da efetiva prestação do serviço

que deu origem à duplicata”.

Finalizando, ficou claro pelo que se foi aludido que, nesta

modalidade de protesto poderá o credor fazer a apresentação do título ao tabelião

através de uma segunda via ou fazendo uma indicação do que continha na

duplicata, isto quando ocorrer da primeira via ser enviada para o devedor

proceder com o aceite, e o mesmo não o fizer, por qualquer motivo, extraviando-a

ou retendo-a consigo.

140 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.45.

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CAPÍTULO II

PROCEDIMENTOS QUE ANTECEDEM O ATO DO PROTESTO E SUA FORMALIZAÇÃO

Neste capítulo far-se-á uma análise das diversas etapas que

o título transcorre, como a distribuição, a apresentação e seu apontamento, a

intimação, as manifestações do sacado e o pedido de devolução pelo

apresentante.

2.1. DISTRIBUIÇÃO

Dispõe o art. 7º da Lei nº 9.492/97141, que “Os títulos e

documentos de dívida destinados a protesto somente estarão sujeitos à prévia

distribuição obrigatória nas localidades onde houver mais de um Tabelionato de

Protesto de Títulos”.

De acordo com Parizatto142, em conformidade com o

parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.935143, de 18-11-94, lei esta que tratava dos

serviços notariais e de registro, a Lei de Protestos no artigo supra citado

continuou fazendo a exigência de que caso houvesse mais de um Tabelionato

numa mesma comarca, seria necessário que fosse feito uma distribuição

igualitária dos títulos que fossem encaminhados à protesto.

Pires144 afirma atribui que, “O caput do artigo, ao determinar

que, onde houver mais de um Tabelionato de Protesto, deve haver um serviço de

distribuição prévia, hospeda medida moralizadora, destinada a evitar possíveis

conluios indesejados”.

141 Lei de Protestos. 142 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito,p.23. 143 Art. 11º, Parágrafo único da Lei de Protestos: “Havendo mais de um tabelião de protestos na mesma localidade, será obrigatória a prévia distribuição dos títulos”. 144 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.20.

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Ceneviva145 em menção ao parágrafo único146 do referido

artigo, “[...] a distribuição será feita por um serviço instalado e mantido pelos

próprios tabelionatos [...]”, dispõe que foi mal colocado o vocábulo “tabelionato”,

por lembrar a função do tabelião, ou ainda aonde este exerce suas

responsabilidades.

Correto teria sido se o intérprete tivesse usado a expressão

“titular do serviço”, pois entenderia que este seria a pessoa delegada a responder

obrigatoriamente pelo serviço, que ficaria instalado em espaço privado, acordado

entre dois ou mais titulares, mantido por pessoa selecionada por eles, com

responsabilidade em desenvolver os serviços, seguindo os procedimentos legais.

Pires147 esclarece que, as comarcas que já possuírem esta

repartição, isto é, um Ofício Distribuidor constituído anteriormente à Lei de

Protestos, continuará nele o serviço de distribuição de títulos à protesto.

Referindo-se aos atos do distribuidor, Ceneviva148 preleciona

é que,

[...] acolhe os títulos contra recibos aos apresentantes, atribui eqüitativamente tais títulos aos tabeliães de protesto da comarca, fazendo anotações confirmadoras dos critérios adotados, e os entrega no correspondente tabelionato, mediante protocolo firmado por preposto autorizado do oficial ou por este.

Continua o mesmo autor149 estabelecendo que, “As leis

locais de organização judiciária ou as Corregedorias – Gerais poderão expedir

normas que dêem ordem ao sistema de entrega, uma vez findo o expediente do

distribuidor (mas não antes disso), especificando os papéis distribuídos”.

145 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.70. 146 Art.7º, parágrafo único da Lei de Protestos: “Onde houver mais de um Tabelionato de Protestos de Títulos, a distribuição será feita por um serviço instalado e mantido pelos próprios Tabelionatos, salvo se já existir Ofício Distribuidor organizado antes da promulgação desta Lei”. 147 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.21. 148 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94),p.70. 149 Idem.

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Parizatto150 leciona que, observando o art. 8º da citada Lei, a

distribuição dos títulos será feita por quantidade e qualidade para os Tabelionatos,

pois somente seguindo este critério os Tabelionatos correspondentes a sua

Comarca estariam com equidade nos emolumentos.

Ceneviva151 menciona que,

O distribuidor tem autorização para acolher a apresentação de duplicatas por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sem estar obrigado a conferir os elementos fornecidos, ficando a cargo dos tabeliães de protesto ( e não dos tabelionatos, como está no parágrafo) a responsabilidade pela avaliação instrumental.

Parizatto152 estabelece que, “O apresentante ficará

responsável pelos dados, podendo, sendo o caso, responder por danos causados

ao devedor”.

Ceneviva153 coloca que, somente será lavrado o protesto da

duplicata mencionada se for apresentado o comprovante de entrega ou da

prestação de serviço. É possível também o apresentante assumir a

responsabilidade de apresentá-la só quando for necessário.

Pelo que foi exposto, conclui-se que havendo mais de um

Ofício de Protestos de Títulos em uma mesma comarca, será necessária uma

prévia distribuição, ficando a cargo do Distribuidor receber os títulos, distribuí-los

e remetê-los ao Tabelionato de Protestos de Títulos correspondente, obedecendo

aos critérios de quantidade e qualidade, havendo assim uma igualdade nos

emolumentos para todos os Tabelionatos, evitando possíveis prejuízos aos

mesmos.

150 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.24. 151 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p. 70. 152 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p. 25. 153 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p. 71.

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2.2 DA APRESENTAÇÃO E DO APONTAMENTO

A Lei de Protestos reserva, em seu corpo, mais

precisamente em seu art. 9º154 um espaço para tratar da apresentação e do

apontamento do protesto, também conhecido como protocolização.

Pires155 a respeito da apresentação menciona que,

Este artigo limita a atividade e competência do exame inicial feito no momento da apresentação do título ou documento para protesto, reiterando regra geral, tratando-se de Registro Público, no sentido de que os Tabeliães de Protesto só podem se limitar à verificação dos aspectos formais dos títulos e documentos que lhes forem apresentados pelas partes.

Em conformidade Wolffenbuttel156 diz que, pelo o que dispõe

o artigo em comento, o portador do título deverá apresentá-lo para o Tabelião,

onde este analisará seus aspectos formais, tais como, se é competente para

receber o título e se consta corretamente à identificação do devedor, só mediante

os requisitos legais preenchidos e o título não possuindo vícios, estará habilitado

o Ofício de Protestos a receber o mesmo.

Abrão157 leciona que, “O exame dos requisitos formais será

feito dentro do prazo conferido ao Tabelião que poderá rejeitar o ato, ou

materializa-lo na certeza plena do preenchimento dos pressupostos da legalidade

obrigacional”.

Também mencionou o autor citado158 que, deverá ser o

Tabelionato competente para receber o título apresentado à protesto, pois caso

futuramente seja necessário, possa o portador ajuizar ações na comarca

154 Art.9. da Lei de Protestos: “Todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão examinados em seus caracteres formais e terão curso se não apresentarem vícios, não cabendo ao Tabelião de Protesto investigar a ocorrência de prescrição ou caducidade”. 155 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.22. 156 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 31. 157 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.32. 158 Idem.

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correspondente. Entretanto, não possuindo assim o Ofício a devida competência

para efetuar o protesto, poderá este ser invalidado, declarado nulo, bem como, o

ato notarial ser afirmado como inexistente.

Neste mesmo diapasão Ceneviva159 dispõe que, “O

esgotamento de prazos prescricionais (de que resulta a extinção do direito de

ação) ou decadenciais (o próprio direito deixa de existir) não obsta a acolhida do

papel, nem é motivo alegável para sua recusa”.

Ao final do caput do art. 9º160 foi o legislador preciso ao

estabelecer que, “[...] não cabendo ao Tabelião de Protestos investigar a

ocorrência de prescrição ou caducidade”.

Pires161 a respeito menciona que, “[...] tais figuras derivadas

da inércia só podem e devem ser apreciadas e julgadas por autoridade judicial,

não cabendo, assim, ao Tabelião do Protesto perquiri-las”.

Abrão162 foi mais claro ao expor que,

Cumpre ao Tabelião diante da apresentação do título ou do documento levado ao seu exame ferir o aspecto formal, sem ingressar na caducidade ou na prescrição, e qualquer vício encontrado servirá de obstáculo à formalização do protesto, tudo dentro da esfera de competência admitida pertinente à praça de pagamento ou vencimento da obrigação inadimplida.

Assim, pelo exposto, pode ser visto que estando o título com

seus requisitos sobre forma perfeita, nem possuindo vícios que o comprometam,

sendo-o apresentado ao Tabelião, deverá o mesmo prosseguir com o

procedimento à concretização do protesto, sem precisar se preocupar com a

prescrição ou caducidade do título, cabendo esta investigação apenas a

159 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p. 71. 160 Art. 9º da Lei de Protestos: “Todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão examinados em seus caracteres formais e terão curso se não apresentarem vícios, não cabendo ao Tabelião de Protesto investigar a ocorrência de prescrição ou caducidade”. 161 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.23. 162 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.32.

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autoridade judicial.

No tangente ao apontamento (protocolização), leciona

Wolffenbuttel163 que, o portador apresentando o título ao Tabelião, terá este como

ato posterior o apontamento do mesmo, que será feito em um livro de protocolo,

onde constará toda a característica provinda do título.

A respeito estabelece Darold164 que, “[...] não pode ser

recebido para apontamento documento que não reúna, segundo a lei, os

requisitos elementares revelados da presunção de reconhecimento do débito pelo

devedor, atributos que somente estão presentes nos títulos de crédito”.

Wolffenbuttel165 menciona que, obrigatoriamente deverá

constar no livro de protoloco as características do título, bem como, nome do

devedor, do apresentante, o tipo do título de crédito, número de ordem,

conjuntamente com futuras modificações em seu estado, como intimação do

devedor, pagamento, devolução, efetivação do protesto ou sustação via judicial.

Portanto, em face do exposto conclui-se que, não estando

obstado ao ato de apontamento do título por existência de irregularidades, deverá

o Tabelião proceder com o mesmo no livro de protocolo, onde este irá tornar-se

um livro de controle e organização sobre os títulos, pois constará nele todo um

histórico dos atos notariais subseqüentes à apresentação.

2.3 DA INTIMAÇÃO

O procedimento posterior à protocolização do título ou

documento de dívida é a intimação do devedor, deste instituto trata o art. 14 e

163 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 37. 164 DAROLD, Ermínio Amarildo. Protesto Cambial: duplicatas x boletos, p.41. 165 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 39.

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seus parágrafos da Lei nº 9.492166, de 10 de setembro de 1997, que estabelece

regras específicas para sua efetivação.

Pires167 menciona que, fica sobre responsabilidade do

Tabelião intimar o devedor, com a finalidade de que este fique ciente do título

posto a protesto e tome a devida providência para liquidar a dívida, sendo avisado

na intimação de que terá três dias para se apresentar em cartório para satisfazer

a obrigação.

Parizatto168 estabelece que,

Com a protocolização do título ou documento de dívida (art.9º), competirá ao Tabelião de Protesto expedir a competente intimação ao devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento, considerando-se como cumprida a intimação quando essa seja efetivamente entregue no endereço declinado.

Ceneviva169 diz que, “O modo de remessa é de livre escolha

do tabelião, desde que o recebimento da intimação seja assegurado e

comprovado mediante protocolo, aviso de recebimento do correio (AR) ou

documento equivalente”.

Abrão170 no que tange a intimação de pessoa física e jurídica

entende que, à primeira é necessário que a intimação seja à ela endereçada ou

ainda à pessoa que assumir a obrigação inadimplida, pois desta forma o

responsável teria conhecimento da realidade, que neste caso seria a cobrança da

obrigação descumprida pelo Tabelionato a pedido do portador do título ou 166 Art. 14º da Lei de Protestos: ”Protocolizado o título ou documento de dívida, o Tabelião de Protesto expedirá a intimação ao devedor, no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento, considerando-se cumprida quando comprovada a sua entrega no mesmo endereço”. § 1º A remessa da intimação poderá ser feita por portador do próprio tabelião, ou por qualquer outro meio, desde que o recebimento fique assegurado e comprovado através de protocolo, aviso de recepção (AR) ou documento equivalente. § 2º A intimação deverá conter nome e endereço do devedor, elementos de identificação do título ou documento de dívida, e prazo limite para cumprimento da obrigação no Tabelionato, bem como número do protocolo e valor a ser pago. 167 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.27. 168 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.39. 169 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.74. 170 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.34.

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documento de dívida e futura conseqüência caso não se manifestasse.

No entanto, à pessoa jurídica, entende que o responsável

para tomar ciência do ato, seria os designados a gerência ou pelo poder diretivo

da empresa, mas a seu ver no que se refere a representação, correto seria que o

emitente do título ou responsável contratual fosse devidamente intimado pelo

Tabelionato.

Parizatto171 dispõe que, “Contenta-se o dispositivo legal com

a entrega da intimação no endereço do devedor, não sendo necessária a entrega

dessa ao próprio”.

No mesmo entendimento Ceneviva172 menciona que,

necessita o Tabelião a ter documento que comprove a entrega da intimação, que

deverá ser remetida ao endereço fornecido pelo apresentante, podendo assim a

entrega ser feita a qualquer indivíduo que se encontre no respectivo endereço,

desobrigando que seja em mãos do devedor.

Pires173 preleciona que, “A intimação deverá conter todos os

elementos identificadores do título lançado para protesto”.

Pires174 ainda estabelece que, “A responsabilidade pela

correção do endereço do devedor é única e exclusiva do apresentante do título, o

qual, inclusive, responde civilmente no caso de ter agido com dolo”.

Pelo que foi aludido sobre intimação entende-se que esta,

em caso de protesto, fica a critério do Tabelião escolher o meio que utilizará para

concretiza-la, com o intuito de tornar ciente o devedor de que sua obrigação

descumprida está em Cartório, dando a ele a oportunidade de se manifestar, no

prazo do tríduo legal175.

171 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p. 40. 172 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p. 74. 173 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.28. 174 Idem. 175 Tratar-se-á deste instituto no Capítulo III.

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2.3.1 Intimação por edital

Vimos no item acima que fica o devedor ciente da realidade

de seu inadimplemento através da intimação, que deverá ser remetida ao

endereço fornecido pelo apresentante ao Tabelião. O fato é que, há a

possibilidade de ocorrerem motivos específicos de tornarem a entrega da

intimação frustrada, necessitando assim que ela seja feita por edital,

procedimento este que trataremos a seguir.

De acordo com o caput do art. 15176 da Lei de Protestos,

Wolffenbuttel177 estabelece que,

A intimação poderá ser realizada por edital nos casos em que a pessoa indicada para aceitar ou pagar for desconhecida; se o devedor se encontrar em lugar incerto ou ignorado; se o devedor for residente ou domiciliado fora da competência territorial do tabelionato; ou, ainda se ninguém se dispuser a receber a intimação no endereço fornecido pelo apresentante.

Abrão178 menciona que,

Deriva do insucesso da pessoal intimação do devedor e signatários da obrigação cambial ou contratual, a respectiva iniciativa revestida do edital que deverá atender aos requisitos mínimos, na dicção de conter os dados presentes e ainda ter sua publicação pela imprensa.

Pires179 leciona que, “Registre-se que, se tal fato vier a

ocorrer, o tríduo passa a fluir a partir da data da publicação na imprensa,

observados os mesmos critérios de fluência de prazo contidos no art. 12 da

presente lei”.

176 Art.15º da Lei de Protestos: “A intimação será feita por edital se a pessoa indicada para aceitar ou pagar for desconhecida, sua localização incerta ou ignorada, for residente ou domiciliada fora da competência territorial do Tabelionato, ou, ainda ninguém se dispuser a receber a intimação no endereço fornecido pelo apresentante”. 177 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 42. 178 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.36. 179 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.28.

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Parizatto180 dispõe que, com a intenção de fazer uma ligeira

intimação, surgiu a intimação por edital, sendo esta devidamente publicada em

jornal da comarca do respectivo cartório, que possua uma grande circulação

diária, bem como afixada em um mural no Tabelionato, facilitando assim ao

devedor e a outras pessoas interessadas a terem o conhecimento do fato

rapidamente.

De acordo com o doutrinador citado, Wolffenbuttel181 elucida

que, “No caso da intimação ser realizada por edital, este deverá ser afixado no

Tabelionato de Protesto e publicado pela imprensa local, onde houver jornal de

circulação diária”.

Parizatto182 estabelece que, caso a comarca onde for

localizado ou estiver instalado o Tabelionato de Protestos, não possuir jornal que

circule diariamente, e necessitar da intimação por edital, será está publicada e

apenas afixada em seu respectivo cartório.

Por fim, Wolffenbuttel183 menciona no que tange ao §2º do

art.15184 da Lei de Protestos que, “[...] é relevante explicitarmos que a Lei nº 9.492

determinou que aquele que fornecer endereço incorreto, agindo de má-fé, está

sujeito a responder por perdas e danos, além de sanções civis, administrativas ou

penais”.

Pelo que foi estudado, fica claro que a intimação por edital é

o meio pelo qual possibilita ao oficial do cartório, quando frustrada a primeira

intimação, tentar dar conhecimento ao devedor ou interessados da situação do

título posto a protesto por uma forma mais rápida, elaborando um edital,

publicando-o em jornal de circulação diária, e, ou, fixando-o no próprio

Tabelionato.

180 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.43. 181 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 42. 182 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.43. 183 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 44. 184 Art. 15, §2º da Lei de Protestos: “Aquele que fornecer endereço incorreto, agindo de má-fé, responderá por perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções civis, administrativas ou penais”.

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2.4 DA MANIFESTAÇÃO DO DEVEDOR

Tratar-se-á neste item sobre dois dos meios que possui o

devedor para manifestar-se a respeito da realidade de sua obrigação

descumprida, apresentada em cartório para ser devidamente exigida, onde como

já foi visto sua ciência foi dada através da intimação devidamente cumprida.

2.4.1 Sustação do protesto

Wolffenbuttel185 estabelece que, “O devedor, após ser

intimado, poderá optar pelo procedimento da sustação do protesto, se verificar

que o ato de protesto se reveste de alguma irregularidade”.

Pires186 leciona que, anteriormente a Lei de Protestos187 não

existia legislação que abrangesse o instituto da sustação de protesto, este era

tratado como uma medida inominada, melhor dizendo, medida que não dispunha

de previsão legal, não possuindo assim, uma denominação específica. Somente

com o advento da Lei nº 9.492/97188 é que a sustação de protesto pode ser

abrangida em seu art. 17189.

Abrão190 a respeito dispõe que,

Revestida de cunho cautelar preparatório, de natureza inominada, inespecífica, ou imprópria, nasce, fruto de criação pretoriana, procedimento encarregado de sustar os efeitos do protesto e permitir na lide de fundo a discussão sobre a constituição do crédito, os pressupostos da relação jurídica e o negócio entabulado entre as partes.

185 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 45. 186 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.30. 187 Lei de Protestos. 188 Idem.

189 Art. 17º da Lei de Protestos: “Permanecerão no Tabelionato, à disposição do Juízo respectivo,

os títulos ou documentos de dívida cujo protesto for judicialmente sustado”. 190 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.58.

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Wolffenbuttel191 leciona que, “[...] o procedimento de

sustação do protesto cambial poderá ser adotado como medida correcional ou

como prestação jurisdicional, dependendo a quem se atribuir a irregularidade no

ato de protesto”.

Abrão192 menciona que, “[...] no exame dos pressupostos

cautelares consiste na substancia do pedido, na clareza dos fatos e

significativamente na apresentação de documentação que bem demonstre a

situação do dano e da dúvida quanto a razão de ser do crédito”.

Parizatto193 a respeito alude que, sendo o pedido de

sustação aceito pelo juiz competente, este designará um oficial de justiça para

que faça cumprir o mandado, onde constará o pedido de sustação e a ordem de

não ser mais efetuado o respectivo protesto.

Ficará o Tabelião sobre responsabilidade do mandado,

arquivando-o, pois se futuramente necessitar o juízo dos documentos, estes terão

que estar à disposição.

Wolffenbuttel194 estabelece no que tange sobre o prazo para

impetrar com a medida de sustação que, terá o devedor prazo igual ao disposto

no art. 12195 da Lei nº 9.492/97, isto é, contados a partir da protocolização, três

dias úteis subseqüentes.

Em contra partida Darold196 dispõe que, “[...] impede

salientar que a ação cautelar de sustação de protesto somente pode ser aforada

no prazo estabelecido para pagamento, contado da intimação”.

Ceneviva197 afirma a respeito que, “Mesmo o pagamento,

191 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 46. 192 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.59. 193 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.46. 194 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 48. 195 Art. 12º da Lei de Protestos: “O protesto será registrado dentro de três dias úteis contados da protocolização do título ou documento de dívida”. 196 DAROLD, Ermínio Amarildo. Protesto Cambial: duplicatas x boletos, p.92. 197 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94),p.76.

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pretendido por terceiro ou pelo autor do pedido de sustação, e o protesto

dependerão de prévia e expressa decisão do juiz competente”.

Pires198 comenta com clareza sobre o §2º do art. 17199, “[...]

uma vez revogada a ordem judicial de sustação de protesto, automaticamente o

título será protestado no máximo até o primeiro dia útil subseqüente ao do

recebimento da ordem judicial, sem necessidade de ser providenciada nova

bazófia [...]”.

De acordo Parizatto200 esclarece que, terá o Tabelião o

prazo de até o primeiro dia útil, posteriormente ao recebimento do mandado de

revogação, para efetivação do protesto. Este prazo não será utilizado caso seja

necessário uma nova consulta sobre a situação da obrigação ao apresentante,

motivo pelo qual, o prazo começará a fluir a partir da resposta do apresentante ao

Tabelião.

Também elucida Parizatto201 que, “Se a ordem de sustação

do protesto vier a ser revogada, não haverá necessidade de se intimar novamente

o devedor já intimado[...]”.

A Ceneviva202 cabe salientar que, caso ocorra da liminar do

pedido de sustação feito pelo devedor ser mantida de forma definitiva, isto é, tiver

sentença transitada em julgado, o Tabelião não dispondo de determinação a

quem deveria remeter o título ou documento de dívida, expedirá ao Juízo

competente.

Parizatto203 elucida sobre a questão que,

Na hipótese de a liminar deferida na cautelar de sustação de

198 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.34. 199 Art. 17º, § 2º da Lei de Protestos: “Revogada a ordem de sustação, não há necessidade de se proceder a nova intimação do devedor, sendo a lavratura e o registro do protesto efetivados até o primeiro dia útil subseqüente ao do recebimento da revogação, salvo se a materialização do ato depender de consulta a ser formulada ao apresentante, caso em que o mesmo prazo será contado da data da resposta dada”. 200 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.47. 201 Idem. 202 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94),p. 77. 203 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.47.

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protesto ser mantida de forma definitiva, com sentença transitada em julgado, o título ou o documento de dívida será encaminhado ao Juízo respectivo, caso na comunicação feita ao Tabelionato de Protesto não conste determinação para quem deva ser entregue o título.

Pires204 estabelece que, “[...] entretanto, do ofício judicial

conste que o mesmo há de ser entregue a qualquer uma das partes, o tabelião

cumprirá a determinação judicial entregando-o a quem de direito”.

Pires205 concluindo seu pensamento, menciona que, terá a

parte competente a retirar o título ou documento de dívida sustado do

Tabelionato, o prazo de 30 dias. Caso incida de tal procedimento ser mal

sucedido, caberá ao Tabelião expedir ao seu respectivo Juízo.

A maioria dos autores que explicitam esta matéria trata da

sustação como medida correcional ou ainda prestação jurisdicional, isto é, na

primeira tem-se o intuito de evitar a lavratura do protesto irregularmente, e na

segunda procura-se impedir que o ato se concretize de forma abusiva causando

danos a uma das partes.

Tal instituto, como vem, foi mais bem tratado com o

surgimento da Lei nº 9.492/97206, que no corpo de seu art. 17 e respectivos

parágrafos207 disciplinou o procedimento deste artifício, que dispõe o devedor

para manifestar-se a respeito de sua obrigação exigida.

204 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.34. 205 Idem. 206 Lei de Protestos. 207 Art. 17º da Lei de Protestos: Permanecerão no Tabelionato, à disposição do Juízo respectivo, os títulos ou documentos de dívida cujo protesto for judicialmente sustado. § 1º O título do documento de dívida cujo protesto tiver sido sustado judicialmente só poderá ser pago, protestado ou retirado com autorização judicial. § 2º Revogada a ordem de sustação, não há necessidade de se proceder a nova intimação do devedor, sendo a lavratura e o registro do protesto efetivados até o primeiro dia útil subseqüente ao do recebimento da revogação, salvo se a materialização do ato depender de consulta a ser formulada ao apresentante, caso em que o mesmo prazo será contado da data da resposta dada. § 3º Tornada definitiva a ordem de sustação, o título ou o documento de dívida será encaminhado ao Juízo respectivo, quando não constar determinação expressa a qual das partes o mesmo deverá ser entregue, ou se decorridos trinta dias sem que a parte autorizada tenha comparecido no Tabelionato para retirá-lo.

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2.4.2 Do pagamento

Este procedimento tem respaldo no caput do art. 19 da Lei

9.492/97208. Fica condicionado ao devedor efetuar o pagamento da obrigação

descumprida ao Cartório de Protestos correspondente a intimação recebida pelo

mesmo.

Parizatto209 estabelece que, “O pagamento do título ou do

documento de dívida apontado para protesto, será efetuado diretamente ao

próprio Tabelião de Protesto, único local onde esse poderá ser efetuado,

dispensando-se qualquer outra forma”.

Wolffenbuttel210 também a respeito elucida que, o devedor

deve apresentar-se ao Cartório de Protestos dentro do prazo legal para satisfazer

a obrigação, isto é, concretizar o pagamento da dívida, de forma a elidir a

lavratura do protesto.

Abrão211 comenta que,

Reconhecendo a dívida e seus encargos, o devedor ou qualquer garante, mesmo terceiro interessado, poderá, dentro do prazo legal que precede o protesto, efetuar o pagamento e receber a quitação correspondente, pela importância de face do respectivo documento apresentado ao Tabelião.

Concluindo seu pensamento Abrão212 continua, “[...] a forma

natural de evitar a lavratura se conforma no pagamento que representa o

adimplemento[...]”.

Ceneviva213 leciona a respeito que, ficará a cargo do

apresentante informar ao Tabelião o valor que deverá ser cobrado, o

208 Art. 19º da Lei de Protestos: “O pagamento do título ou do documento de dívida apresentado para protesto será feito diretamente no Tabelionato competente, no valor igual ao declarado pelo apresentante, acrescido dos emolumentos e demais despesas”. 209 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.49. 210 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p.44. 211 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.45. 212 Idem. 213 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94),p.78.

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correspondente ao que deverá ser pago. Sobre responsabilidade do Tabelião

estará a devida cobrança dos emolumentos e despesas cartorárias que

acarretarão seus serviços prestados, onde segue uma norma de atribuição de

valores na forma legal, ficando obstado o parcelamento da dívida.

Parizatto214 menciona que, “O valor do pagamento deverá

ser igual ao declarado pelo apresentante, acrescido dos emolumentos e demais

despesas do ato”.

Num mesmo pensamento Pires215 esclarece que, “[...]

deverá compreender o pagamento, o valor da dívida, mais os emolumentos e, no

dizer do legislador, as demais despesas”.

Pires216 finalizando conclui que, a expressão “demais

despesas” refere-se a possibilidade do título ter seu protesto lavrado por edital, o

que originará ao Tabelião despesas extras, pois como foi estudado, terá o título

que ser publicado por edital em jornal local.

Darold217 elucida que, “O valor a ser pago deve

corresponder ao constante no título, acrescido dos encargos pactuados, ou legais

à falta de convenção, dos emolumentos e demais despesas previstas e tabeladas

às legislações estaduais respectivas [...]”.

Pires218 leciona que,

[...] pelo princípio da literalidade dos títulos de crédito não é lícito ao credor, em sede de tentativa de cobrança da cártula através de Cartório de Protesto, pretender receber qualquer outra importância, a qualquer título que seja, que não corresponda ao valor do título acrescido das despesas cartorárias.

214 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.50. 215 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.35. 216 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.36. 217 DAROLD, Ermínio Amarildo. Protesto Cambial: duplicatas x boletos, p.71. 218 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.36.

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Em contrapartida o Código de Normas de Santa Catarina219

dispõe em seu art. 1.016, que o pagamento incluirá desde o vencimento da

dívida, o valor líquido; os juros legais e as despesas cartorárias.

Vimos que trata a lei federal apenas da cobrança do valor do

título, de emolumentos e demais despesas que tenha o Cartorário, já a Norma

Estadual inclui a cobrança dos juros legais, desde o vencimento.

Parizatto220 diz que, o Tabelião não poderá obstar-se a

receber o pagamento do título ou documento de dívida constante em seu Cartório,

desde que o interessado apresente-se no tríduo legal, ficando a ele apenas a

condição de comparecer no horário de funcionamento do local.

Parizatto221 complementa a respeito do horário de

funcionamento, o que na Lei de Protestos está previsto no art. 4º222, esclarecendo

que, “[...] parecendo-nos necessário que na intimação procedida ao devedor

conste o local e o horário de funcionamento do Tabelionato de Protesto”.

Ceneviva223 esclarece que, “A observação do horário de

pagamento dentro do expediente normal do serviço é de rigor, constituindo falta

funcional o recebimento fora do horário”.

Pires224 afirma que, “[...] é vedado ao Tabelião recusar o

recebimento do pagamento oferecido (aqui se incluindo a hipótese do pagamento

por intervenção), desde que este ocorra no horário de funcionamento do referido

Cartório de Protesto”.

Pires225 tangente ao dispositivo mencionado elucida que,

pode ocasionar conflitos a legislação em questão, pois quando houver norma

estadual que por exemplo, regularmente que o título deverá ser pago apenas de

219 Código de Normas de Santa Catarina. 220 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.50. 221 Idem. 222 Art. 4º da Lei de Protestos: “O atendimento ao público será, no mínimo, de seis horas diárias”. 223 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94),p.78. 224 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.37. 225 Idem.

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uma forma específica, e o devedor apresentar-se para pagá-la de outra maneira,

o Tabelião assim o negará, o que evidentemente entrará em contradição com a lei

federal, podendo o devedor buscar amparo na justiça.

O §2º226 do artigo mencionado dispõe sobre a quitação do

pagamento do título ou documento posto a protesto, assim Parizatto227 afirma

que, “A quitação será dada de imediato no próprio título ou em documento

apartado[...]”.

Pires228 sobre o artigo supra citado menciona que, a

quitação do título por obrigatoriedade será dada ao devedor ou a pessoa que o

fizer, devendo o Tabelião lavrar o pagamento no corpo do título.

Pires229 sobre a matéria elucida que, “Neste §2º omitiu-se o

legislador, pois deveria fazer constar expressamente do texto legal que,

ocorrendo pagamento, o título deverá ser entregue ao devedor, ou a quem o

efetuou, no caso de pagamento por intervenção”.

Abrão230 sobre o parágrafo §2º231 e §3º232 do artigo em

questão conclui que, será dada a quitação do título ao devedor no momento que o

mesmo proceder com a liquidação, isto quando o fizer em moeda corrente,

fazendo-a em cheque, obrigar-se-á a esperar sua compensação junto ao Banco

competente. Após isso, ficará o Tabelião responsável por fazer a devolução do

título ou documento de dívida ao apresentante.

226 Art. 19º, § 2º da Lei de Protestos: “No ato do pagamento, o Tabelionato de Protesto dará a respectiva quitação, e o valor devido será colocado à disposição do apresentante no primeiro dia útil subseqüente ao do recebimento”. 227 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.51. 228 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.37. 229 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.37. 230 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.46. 231 Art. 19º, § 2º da Lei de Protestos: “No ato do pagamento, o Tabelionato de Protesto dará a respectiva quitação, e o valor devido será colocado à disposição do apresentante no primeiro dia útil subseqüente ao do recebimento”. 232 Art .19º, § 3º da Lei de Protestos: “Quando for adotado sistema de recebimento do pagamento por meio de cheque, ainda que de emissão de estabelecimento bancário, a quitação dada pelo Tabelionato fica condicionada à efetiva liquidação”.

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Ceneviva233 sobre a obrigação do Tabelião leciona que,

ficará a seu cargo receber a devida quantia e disponibilizar o valor ao

apresentante no primeiro dia útil após a liquidação.

Ceneviva234 continua esclarecendo que,

A disponibilidade do numerário deve ser submetida à espera da conciliação de cheque, quando a quitação for feita por meio deste, se pagável ao tabelião, mesmo que se trate de cheque administrativo, emitido pela instituição financeira.

Ainda o mesmo autor235 concluindo seu pensamento alude

que, “A lei local pode determinar, por razões de segurança, o pagamento

preferencial em cheque administrativo ou visado, mas o pagamento em dinheiro

não pode ser recusado, em virtude do curso legal da moeda brasileira”.

Pinheiro236 por fim menciona que, “[...] a quitação estará

condicionada à sua compensação, isto é, caso haja devolução do cheque, por

qualquer motivo (falta de fundos, sustação, não reconhecimento de

assinatura)[...]”.

O § 4º237 finaliza o artigo citado dispondo que a obrigação

que tiver seu valor parcelado, o Tabelião o cobrará de acordo com seus

vencimentos, efetuando suas quitações separadamente, após tel procedimento

remeterá ao apresentante a via original.

Pires238 preleciona que,

[...] se o protesto se deu em relação a uma parcela, persistindo outras, presumivelmente não vencidas, a quitação será dada em

233 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.78. 234 Idem. 235 Idem. 236 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p.29. 237 Art. 19º, § 4º da Lei de Protestos: “Quando do pagamento no Tabelionato ainda subsistirem parcelas vincendas, será dada quitação da parcela paga em apartado, devolvendo-se o original ao apresentante”. 238 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.38.

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apartado, devolvendo-se o documento ao apresentante ou ao credor (hipótese aplicável somente a documentos não se estendendo aos títulos de créditos em razão do princípio da cartularidade).

Assim, pelo que foi estudado podemos concluir que, terá o

devedor a opção de sanar sua dívida posta em cobrança no cartório de protestos,

efetuando o pagamento do respectivo valo, junto com as devidas despesas

cartorárias e emolumentos legais, respeitando assim a norma federal imposta.

Ficará ao devedor o prazo estabelecido por lei para fazer o

pagamento, apresentando-se no horário de funcionamento do Tabelionato, não

podendo o Tabelião obstar-se em receber.

Sendo o pagamento da obrigação feita por intermédio de

cheque, o devedor ou apresentante apenas receberá a respectiva quitação

quando o mesmo tive compensação efetivada.

Quando ocorrer da obrigação ter seu valor parcelado, a

cobrança será feita de acordo com seus vencimentos, assim a quitação será dada

separadamente, posteriormente ficará ao Tabelião a responsabilidade de remeter

a original ao apresentante.

2.4.3 Da desistência do protesto

Regulamentado no art. 16239 da Lei de Protestos, a

desistência (devolução) do protesto é a condição que o apresentante tem de

retirar o título posto em cartório para cobrança, evitando assim a possível a

efetivação do protesto.

Wolffenbuttel240 dispõe que, “Consiste na suspensão do ato

de protesto, antes da sua lavratura, por solicitação do apresentante do título ou

documento de dívida”.

239 Art. 16º da Lei de Protestos: “Antes da lavratura do protesto, poderá o apresentante retirar o título ou documento de dívida, pagos os emolumentos e demais despesas”. 240 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 50.

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Parizatto241 leciona que,

É licito ao apresentante, evidentemente, antes da lavratura do registro do protesto (art.20), retirar o título ou documento de dívida apontado, desistindo do protesto, ficando o mesmo sujeito ao pagamento dos emolumentos e demais despesas devidos ao Tabelião de Protesto, pela apresentação de seus serviços.

De acordo Wolffenbuttel242 menciona que, pode o

apresentante, desde que pague os devidos emolumentos e despesas referentes

ao título posto em cartório para protesto, retira-lo antes da lavratura do mesmo.

Continua Wolffenbuttel243 estabelecendo que, “A figura

jurídica da desistência pode ser entendida como uma forma de sustação de

protesto, que se efetua extrajudicialmente, pois não passa pelas mãos do poder

judiciário”.

Pinheiro244 esclarece que, o apresentante ao pedir a

devolução do título ou documento de dívida não se obriga a dar explicações ao

Tabelião do motivo pelo qual está procedendo com este pedido, pois o ato de

propositura do título a protesto é um direito potestativo, ficando o devedor inerente

a ele.

Parizatto245 num mesmo entendimento estabelece que, “Tal

desistência poderá ocorrer sem qualquer justificação do motivo, não sendo, ainda,

possível à indagação do Tabelionato, do porque da desistência, cabendo-lhe, tão

somente o acatamento do pedido, satisfeitas as exigências legais”.

Pires246 dispõe que, “A providência facultada ao

apresentante neste artigo só se consumará no caso de não ter havido pagamento

241 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.45. 242 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 50. 243 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 50. 244 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p.29. 245 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.45. 246 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.29.

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do título ou não ter o devedor intentado Medida Cautelar de Sustação de

Protesto”.

Pinheiro247 alude que, o pedido de retirada do título a

protesto deverá ser feito antes do tríduo legal, pois este é o prazo estabelecido

para devedor para proceder com alguma manifestação.

Ceneviva248 preleciona que, “A retirada independe de

requerimento formal, bastando a devolução do recibo dado ao ensejo da

apresentação do título ao distribuidor, se houver, ou de entrega na serventia”.

Parizatto249 de acordo com o autor citado menciona que, “[...]

em tal caso, será devolvido o título entregue, mediante recibo a ser firmado pelo

apresentante”.

Parizatto250 ainda conclui que, “[...] na realidade nada

impede que o devedor negocie a divida com o credor, pois que no Tabelionato de

Protesto isso não será possível, cabendo ao devedor tão somente o pagamento

do quantum devido e seus acréscimos”.

Assim, pelo que aludido, a desistência do protesto é o

procedimento que possui o apresentante de retirar o título ou documento de

dívida do cartório, antes que seja lavrado o protesto ou ainda que o devedor se

manifeste, liquidando o título ou sustando-o judicialmente.

O apresentante não necessita de dar explicações ao

Tabelião do motivo que o levou a ter tal procedimento, e nem ao Tabelião cabe

fazer tal exigência, pois nada impede que a obrigação seja negociada diretamente

entre as partes, mesmo depois de o título ser posto para cobrança em cartório.

Cabe apenas ao Tabelião devolver o recibo juntamente com o título ao

apresentante, independentemente de requerimento.

247 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p.29. 248 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.76. 249 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.45. 250 Idem.

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CAPÍTULO III

DA LAVRATURA DO PROTESTO, PRAZOS E CANCELAMENTO

Tratar-se-á neste capítulo sobre a lavratura do protesto, em

especial sobre o instituto da contagem do prazo, seja para apontamento, bem

como para a lavratura do protesto e seu eventual cancelamento.

A abordagem será feita no tocante ao conflito existente entre

a Lei de Protestos e o Código de Normas do Foro Extrajudicial do Estado de

Santa Catarina, referente ao prazo estipulado por ambas às legislações para a

contagem da efetivação do protesto.

Vimos no item 1.4 do Capítulo I, sobre as diversas espécies

de protesto. Estudamos sobre o instituto da efetivação do protesto de título ou

documento de dívida, seus procedimentos e suas exigências.

Discorrer-se-á neste último capítulo sobre o tríduo legal e os

conflitos de normas existentes sobre ele.

Por fim, far-se-á uma breve abordagem sobre o instituto do

cancelamento do protesto, procedimento este que poderá ocorrer de forma

administrativa ou por ordem judicial, com o intuito de tornar inexistentes os efeitos

do protesto.

3.1 DA CONTAGEM DE PRAZO PARA APONTAMENTO DO PROTESTO

O caput do art. 5º da Lei de Protestos foi preciso ao definir

em seu corpo que, “Todos os documentos apresentados ou distribuídos no

horário regulamentar serão protocolizados dentro de vinte e quatro horas,

obedecendo à ordem cronológica de entrega”.

O artigo citado impõe que o Tabelião terá que seguir uma

ordem de chegada dos títulos distribuídos ou apresentados para protesto para

proceder com a protocolização (apontamento), no prazo de 24 (vinte e quatro)

horas.

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Parizatto251 menciona que, seguindo o Tabelião a ordem

cronológica de chegada dos títulos ou documentos de dívida apresentados com a

finalidade de protesto, estaria ele prestando serviços de maneira justa e legal,

pois assim nenhum apresentante sairia prejudicado.

Parizatto252 também leciona que,

A ordem cronológica visa o atendimento e a prestação dos serviços de acordo com a entrega dos documentos ao Cartório de Protestos, não permitindo que serviços de uma pessoa sejam prestados sem que os da Pessoa antecedente tenham sidos executados”.

Ainda entende Parizatto253 que, “[…]tratar-se de

responsabilidade administrativa de quem não praticar tal ato no prazo que a lei

determina”.

Ceneviva254 de comum acordo esclarece que, o

procedimento de protocolização de títulos ou documentos de dívida aceita atraso,

desde que seja este dentro das 24 (vinte e quatro) horas seguintes a

apresentação ou distribuição, sem infringir a ordem de chegada.

Ambos os doutrinadores deixam claro a importância de fazer

cumprir a protocolização (apontamento) pela ordem de entrada dos títulos ou

documentos de dívida, garantindo assim um serviço prestado de maneira justa

perante seus apresentantes.

Ceneviva estabelece ainda a respeito que, “O prazo de vinte

e quatro horas é contado hora a hora, sendo assim aplicado nos serviços que

desenvolvam trabalhos de digitação e computação no período noturno”.

O Código de Normas de Foro Extrajudicial de Santa Catarina

dispõe sobre a matéria em seu art. 986 que, “O documento de dívida deverá ser

251 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.19. 252 Idem. 253 Idem. 254 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.68.

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imediatamente apontado no Livro Protocolo segundo a ordem de apresentação”.

Ceneviva255 esclarece que,

Em cada Estado, a lei local pode determinar outros critérios formais garantidores da ordem de entrada do título no serviço, especialmente para comarcas em que houver mais de um delegado de protestos, ante a exigência de prévia distribuição e de entrega na mesma data.

Por fim, o Tabelião não pode obstar-se em seguir o prazo

estabelecido pelo caput do art. 5º da Lei de Protestos256 para apontamento, isto é,

as vinte e quatro horas seguintes a apresentação do título ou documento de

dívida a protesto, seguindo devidamente a ordem de entrada do título no serviço.

Logo a Lei do Estado de Santa Catarina de comum acordo

com a Lei de Protestos estabelece que deva ser seguida uma ordem de

apresentação dos títulos para devida protocolização, no entanto dispõe que deva

ser feita de imediato, omitindo-se na determinação do tempo.

3.2 DA CONTAGEM DE PRAZO PARA LAVRATURA DO PROTESTO PELA LEI

Nº 9.492/97.

A Lei de Protestos traz no caput de seu art. 12257 a mesma

disposição do art. 28 do Decreto nº 2.044/1908258.

No entendimento de Parizatto259 a legislação continuou

deficiente, por não corresponder à realidade, pois conforme dispõe o caput do art.

255 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.68. 256 Art.5º da Lei de Protestos: “Todos os documentos apresentados ou distribuídos no horário regulamentar serão protocolizados dentro de vinte e quatro horas, obedecendo à ordem cronológica de entrega”. 257 Art. 12º da Lei de Protestos: “O protesto será registrado dentro de três dias úteis contados da protocolização do título ou documento de dívida”. 258 Art. 28º da Lei de Protestos: “A letra que houver de ser protestada por falta de aceite ou de pagamento deve ser entregue ao oficial competente, no primeiro dia útil que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento, e o respectivo protesto tirado dentro de 3(três)”. 259 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.35.

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12 da Lei citada, o prazo estabelecido ao devedor para manifestação seria o de 3

(três) dias úteis subseqüentes a protocolização do título ou documento de dívida.

Menciona Parizatto260 que, “[...] na prática não tem como ser

cumprida, exceto se o Tabelionato de Protesto conseguir realizar os atos

preparatórios à intimação do devedor, conseguir intimá-lo e conseguir registrar o

protesto no exíguo prazo de três dias úteis como pretende a lei”.

Pinheiro261 elucida que, “[...] a literalidade da norma leva à

conclusão de que inexiste prazo para que o devedor, intimado para o protesto,

tenha tempo hábil para cumprimento da obrigação ou para apresentar justificativa

para a recusa do pagamento ou aceite [...]”.

Ceneviva262 afirma que, “O tríduo corre a partir do

lançamento no protocolo [...]”.

Almeida263 de comum acordo com o Decreto nº

2.044/1908264 estabelece que ocorrendo a inadimplência pelo devedor, deve o

credor apresentar o título ao Tabelião no primeiro dia útil subseqüente ao

vencimento, devendo o mesmo proceder com o protesto posteriormente ao tríduo

legal.

Abrão265 esclarece que, “[...] o tríduo legal é aquele referente

aos dias úteis, descartando-se o feriado bancário ou quando não houver

funcionamento normal e regular do expediente, motivando impedimento que

possa abalar a fluência livre e desembaraçada”.

Bem como o §2º da Lei de Protestos vincula a definição de

dia não útil estabelecendo que, “Considera-se não útil o dia em que não houver

expediente bancário para o público ou aquele em que este não obedecer ao

horário normal”.

260 Idem. 261 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p.24. 262 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.73. 263 ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, p. 334. 264 Doravante Decreto nº 2.004/1908. 265 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.38.

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Ceneviva266 leciona a respeito do § 1º do art. 12267 da

referida lei que, o prazo começará a fluir a partir do primeiro dia útil a

protocolização, isto é, excluirá o primeiro dia e incluirá o último dia.

Abrão268 coloca que,

Excluído o cômputo da protocolização e incluído aquele do vencimento, durante o prazo de três dias se abrirá o curso do lapso voltado para a confirmação do protesto, mas se a intimação acontecer no último dia, por causa de força maior, o ato somente será determinado no primeiro dia útil subseqüente.

O art. 13 da Lei de Protestos269 elucida que na ocorrência de

algo que impossibilite a intimação de ser feita dentro do prazo, ou ainda que seja

ela cumprida no último dia, será o protesto lavrado no primeiro dia útil seguinte.

Abrão270 conclui que,

Certo, portanto, seria que o prazo somente fluísse a partir da intimação validamente efetuada, conciliando aquele entrechoque normativo, tanto quanto pela possibilidade sempre presente de sua concretização no último dia, e mesmo de modo ficto, por instrumentalizado no edital.

Parizatto271 estabelece que, é inviável para o devedor

proceder com alguma manifestação atinente ao título posto a protesto dentro do

prazo estabelecido pela Lei de Protestos272, isto é, o de 3 (três) dias úteis a partir

da protocolização, pois entende este é exíguo demais para que seja tomada

alguma providência.

266 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.73. 267 Art. 12º, § 1º da Lei de Protestos: “Na contagem do prazo a que se refere o caput exclui-se o dia da protocolização e inclui-se o do vencimento”. 268 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.38.

269 Art. 13º da Lei de Protestos: “Quando a intimação for efetivada excepcionalmente no último dia

do prazo ou além dele, por motivo de força maior, o protesto será tirado no primeiro dia útil subseqüente”

270 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.38. 271 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.36. 272 Lei de Protestos.

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Conclui-se pelo exposto, que a maioria dos doutrinadores

entende que o prazo estabelecido pelo caput do art. 12 da Lei de Protestos273 é

deficiente, por não corresponder com a realidade.

Entende-se que o prazo de 3 (três) dias úteis posteriores a

protocolização seria insuficiente para que o devedor procedesse com algum ato

referente a ciência do protesto, por se tratar de prazo exíguo para manifestar-se.

Pode-se esclarecer também que tríduo legal nada mais é

que, os dias úteis contados para a procedência da efetivação do protesto,

ignorando dias não úteis, como feriado bancário.

Na contagem do prazo, excluiria o primeiro dia, o da

protocolização do título ou documento de dívida, e incluiria o último dia, o do

vencimento do prazo.

Na hipótese da efetivação da intimação ocorrer no último dia

ou ainda posterior ao vencimento do prazo, por motivo de força maior, seria este

prorrogado até o primeiro dia útil seguinte.

Finalmente vale dizer, conforme Pinheiro274, que a norma

estaria infringindo um princípio constitucional, o do contraditório e o da ampla

defesa, visto que é o instituto de protesto um procedimento administrativo. Deve o

devedor ter a possibilidade de exercer os princípios constitucionais de forma

plena, e pelo exposto pode-se concluir que ficaria o devedor restringido a tais

garantias, por tratar-se de prazo insuficiente.

3.3 DA CONTAGEM DE PRAZO PARA LAVRATURA DO PROTESTO PELO CÓDIGO DE NORMAS DE SANTA CATARINA

Vimos que pela Lei Protestos275 a contagem de prazo para

sua efetivação é iniciada a partir do primeiro dia útil seguinte à protocolização

(apontamento), contando-se 3 (três) dias úteis.

273 Art. 12º da Lei de Protestos: ”O protesto será registrado dentro de três dias úteis contados da

protocolização do título ou documento de dívida”. 274 PINHEIRO, Hélia Márcia Gomes. Aspectos Atuais do Protesto Cambial, p.25. 275 Lei de Protestos.

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Vimos também, que os doutrinadores citados foram

unânimes ao estabelecerem que o dispositivo legal trazido pela Lei nº 9.492/97276

foi deficiente dispondo o prazo citado acima.

Assim, tratar-se-á de forma breve sobre a contagem de

prazo para lavratura do protesto estabelecido pelo Código de Normas de Santa

Catarina277 devido a bibliografia escassa referente a este instituto.

Dispõe o art. 1.023 do Código de Normas de Santa Catarina

que, “Esgotado o prazo de três dias úteis a contar da intimação do devedor, sem

que tenha havido o pagamento, o aceite ou a devolução e não ocorrendo

desistência ou sustação, o oficial, imediatamente, lavrará e registrará o protesto”.

Prazo este estabelecido de maneira sensata e justa, pois

desta forma teria o intimado tempo suficiente para manifestar-se.

Parizatto278 menciona, que este é o prazo que os

Tabelionatos utilizam, contando três dias úteis após a intimação recebida pelo

devedor, propiciando a ele oportunidade para que efetue o pagamento ou proceda

com alguma manifestação diversa desta.

Sobre a contagem de prazo, o art. 1.024279 do Código de

Normas, de igual forma ao art. 12, §1º da Lei de Protestos280, excluiu o dia do

início e incluiu o dia do vencimento.

Sabemos que a Lei 9.492/97281 é Lei Federal, por isso deve

se sobrepor as demais, entretanto o dispositivo mencionado veio para sanar a

deficiência que a Lei de Protestos trouxe em seu texto.

276 Idem. 277 Código de Normas de Santa Catarina. 278 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.36. 279 Art.1.024º do Código de Normas de Santa Catarina: ”Para a contagem do prazo exclui-se o dia do início, incluindo-se o dia do vencimento”. 280 Art. 12º, §1º da Lei de Protestos: “Na contagem do prazo a que se refere o caput exclui-se o dia da protocolização e inclui-se o do vencimento”. 281 Lei de Protestos.

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3.4 DA LAVRATURA DO INSTRUMENTO DE PROTESTO

Vimos que ao devedor é concedido um prazo para proceder

com alguma manifestação relativa a ciência da dívida, o tríduo legal.

Após a expiração do prazo concedido ao devedor, e este

permanecer inerte, será lavrado o protesto, caracterizado através do instrumento

de protesto.

Conforme Woffenbuttel282, “O instrumento de protesto é um

documento que atesta o inadimplemento do devedor”.

Dispõe o art. 20 da Lei de Protestos283 que, o tabelião

deverá entregar o instrumento de protesto ao apresentante do título ou

documento de dívida respectivo.

A Nova Lei de Protestos impõe requisitos essenciais que o

instrumento de protesto deve ter para sua perfectibilização, estes estão dispostos

no art. 22 da referida Lei.

Art. 22. O registro do protesto e seu instrumento deverão conter: I - data e número de protocolização; II - nome do apresentante e endereço; III - reprodução ou transcrição do documento ou das indicações feitas pelo apresentante e declarações nele inseridas; IV - certidão das intimações feitas e das respostas eventualmente oferecidas; V - indicação dos intervenientes voluntários e das firmas por eles honradas; VI - a aquiescência do portador ao aceite por honra; VII - nome, número do documento de identificação do devedor e endereço; VIII - data e assinatura do Tabelião de Protesto, de seus substitutos ou de Escrevente autorizado.

O texto é claro e objetivo, em seu inciso I menciona a

282 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 52. 283

Art. 20º da Lei de Protestos: “Esgotado o prazo previsto no art. 12, sem que tenham ocorrido as hipóteses dos Capítulos VII e VIII, o Tabelião lavrará e registrará o protesto, sendo o respectivo instrumento entregue ao apresentante”.

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obrigatoriedade da data e número do protocolo para obter um controle de entrada

dos títulos no Tabelionato. (Instituto tratado no sub-capítulo 2.2).

Em referência ao inciso II, Parizatto284 diz que é necessários

o nome e endereço do apresentante para simples identificação.

Segue o inciso III dispondo da obrigação do Tabelião em

transcrever as informações fornecidas pelo apresentante ao instrumento de

protesto.

Aludimos no sub-capítulo 2.3 sobre a intimação. Discorre no

inciso IV que deverá constar no corpo do instrumento de protesto a informação

das intimações realizadas ou ainda respostas oferecidas pelo devedor.

Sobre o que trata o inciso V, Ceneviva285 explica que

intervenientes são “[...] os garantidores ou quaisquer outros intervenientes

voluntários”.

Parizatto286 leciona sobre o inciso VI que, “O aceite por

honra ocorrerá quando qualquer pessoa compareça para aceitar a letra, honrando

de tal forma, a firma de qualquer dos obrigados”.

Exige o inciso VII que conste o nome do devedor, número de

seu documento para identificação e seu endereço.

Enfim ordena o inciso VIII que seja datado e assinado o

instrumento de protesto pelo Tabelião, por seu substituto ou ainda pelo

Escrevente nomeado.

Parizatto287 a respeito diz que, “A data visa à perfeita

identificação da época em que foram realizados os atos e a assinatura garante a

autenticidade daquilo que fora efetuado pelo Tabelião de Protestos [...]”.

O parágerafo único do artigo em tela dispõe que caso

284 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito,p.60. 285 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p. 81. 286 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.62. 287 Idem.

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possua o Tabelião gravação eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou

micrográfica do título ou documento de dívida, não será necessário a transcrição

literal dos mesmos, assim como declarações constantes nele.

Assim o registro do protesto é materializado através do

instrumento de protesto, que é prova da inadimplência do devedor, visto que para

sua perfectibilização deverá seguir o Tabelião as normas impostas no artigo

citado.

Trataremos no próximo sub-capítulo sobre o cancelamento

de protesto, procedimento adotado com a finalidade de anular os efeitos do

protesto.

3.5 DO CANCELAMENTO DO PROTESTO

Abordar-se-á finalmente sobre o instituto do cancelamento

do registro do protesto, suas modalidades e seu procedimento.

Wolffenbuttel288 conceitua cancelamento, “Cancelar o

protesto consiste em dar baixa ao mesmo, devido ao seu pagamento ou por

qualquer outro motivo, mediante determinação judicial”.

Como vimos caberá ao Tabelião proceder com a lavratura

do protesto caso não ocorra manifestação do devedor, seja com o pagamento ou

com a sustação do título ou documento de dívida, entregando assim o

instrumento para o respectivo apresentante.

Posteriormente o feito, poderá o devedor cancelar os efeitos

do protesto, caso já tenha honrado com sua dívida. O fará sobre via

administrativa, isto é, terá a oportunidade de cancelar o protesto comparecendo

ao Tabelionato munido dos documentos necessários. Texto Tais.

288 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p.56.

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Abrão289 define via administrativa como sendo a forma que

tem o interessado de cancelar o registro do protesto diretamente pelo Tabelionato

de Protestos.

Como vimos, o protesto tem a finalidade de firmar a

inadimplência do devedor, já o cancelamento de seu registro busca anular os

efeitos do mesmo.

Almeida290 preceitua que, os tribunais revendo critérios por

eles adotados, como o de somente cancelar o protesto na ocorrência de erros,

enganos e vícios causadores de lesões morais, entenderam que com a quitação

da dívida seria motivo também para dar baixa no registro do protesto.

Almeida291 continua dizendo que para vários doutrinadores o

protesto é a caracterização da impontualidade do devedor, fato este que não

deixa de existir pela efetuação do pagamento.

Wolffenbuttel292 preleciona que, “Enquanto não previsto em

lei, havia autores que não admitiam, por entenderem que o protesto seria ato

irretratável e, sendo assim, incancelável”.

Continua Wolffenbuttel293 dispondo que, os doutrinadores

que eram a favor do cancelamento de protesto firmaram-se com as decisões dos

Tribunais neste sentido, estes passaram a entender as teses defendidas naquelas

doutrinas, juntamente com o fato de tal procedimento ser livre de norma legal que

o vedasse.

O cancelamento de protesto somente foi encontrar amparo

legal com o surgimento da Lei nº 6.690, de 25 de setembro de 1979294, lei já

289 ABRÃO, Carlos Henrique. Do Protesto, p.75. 290

ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e prática dos títulos de crédito, p.345. 291 Idem. 292 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p.57. 293 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p.57. 294 Lei nº 6.990 de 25 de setembro de 1979.

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revogada com o advento da Lei de Protestos295.

Pires296 menciona que,

[...] a atual lei não foge da previsão legal anterior, bastando, para o cancelamento, a apresentação do original do título quitado e do instrumento do protesto, uma vez que, se este está de posse do devedor, presume-se o pagamento da obrigação [...]

Darold297 afirma que é possível cancelar o título “[...]

demonstrando a quitação do débito, ante a exibição do original do título

protestado”.

Wolffenbuttel298 dispõe que, com a quitação da dívida caberá

a qualquer interessado proceder com o cancelamento do protesto junto ao

respectivo Tabelionato, comparecendo com o documento protestado.

Ceneviva299 alude que, “Nesse caso o termo interessado,

constante do art. 26, deve ter interpretação ampla, quando a pessoa compareça

exibindo o instrumento do protesto”.

Percebe-se que qualquer pessoa pode apresentar-se ao

Tabelionato e proceder com o pedido de cancelamento de protesto, sendo este

ato de seu interesse.

Parizatto300 preleciona que não importa como o devedor

efetuou o pagamento, é necessário apenas para o Tabelionato que seja

apresentado o documento protestado para que se proceda com o cancelamento.

Nota-se um conflito entre os doutrinadores, onde expus

quatro teses distintas, uma que o cancelamento pode ser feito mediante a

295 Lei de Protestos. 296 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97),p.51. 297 DAROLD, Ermínio Amarildo. Protesto Cambial: duplicatas x boletos, p.96. 298 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 57. 299 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.83. 300 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.67.

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apresentação do título original quitado juntamente com o instrumento de protesto,

a outra mediante apresentação somente do título quitado, uma terceira exibindo o

instrumento de protesto e por fim a quarta com a apresentação do documento

protestado, esta baseada no artigo da Lei de Protestos.

Diante do exposto correto seria seguir a norma federal

disposta no caput do art. 26 da Lei de Protestos301, onde é suficiente a

apresentação do título ou documento de dívida protestado.

No final do artigo em tela é mencionado que o Tabelião

deverá arquivar uma cópia do documento.

Ao que dispõe o parágrafo 1º do art. acima citado302

Ceneviva303 elucida que:

Se o portador alegar a impossibilidade de apresentação do original do instrumento protestado da dívida, o cancelamento dependerá da declaração de anuência (desnecessária na primeira hipótese) do credor ou do endossatário, com identificação da pessoa física ou jurídica e firma reconhecida.

Wolffenbuttel304 dispõe sobre este caso que, será necessário

a carta de anuência, com sua devida identificação e firma reconhecida, fornecida

pelo credor do título, seja originário ou por endosso translativo.

De comum acordo com os demais Pires305 menciona que,

O §1º trata da conhecida “carta de anuência” que deve ser fornecida pelo credor originário ou por aquele que se tornou

301 Art. 26 da Lei de Protestos: O cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no Tabelionato de Protesto de Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento protestado, cuja cópia ficará arquivada. 302 Art. 26. §1º da Lei de Protestos: Na impossibilidade de apresentação do original do título ou documento de dívida protestado, será exigida a declaração de anuência, com identificação e firma reconhecida, daquele que figurou no registro de protesto como credor, originário ou por endosso translativo. 303 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.83. 304 WOLFFENBUTTEL, Miriam Comassetto. O protesto cambiário como atividade notarial – Aspectos Inovadores da Lei nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, p. 57. 305 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.51.

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credor por endosso - translativo, devendo constar da mesma, assinatura com firma reconhecida do signatário, quando do extravio ou impossibilidade de apresentação do título original.

Parizatto306 explica que, “Tal documento será feito com a

devida identificação do credor e com firma reconhecida, dando-se autenticidade

ao mesmo”.

Enfim nota-se que quando não for possível a apresentação

do original do título ou documento de dívida protestado, exigirá o Tabelião a

apresentação da carta de anuência fornecida pelo credor mandatário ou por

endosso translativo, com sua devida identificação e sua firma reconhecida.

Ceneviva307 elucida que, “O endosso formaliza a

transferência do título e dos direitos que lhe correspondem”.

Pires308 no que diz respeito a endosso – translativo explica

que, “[...] aquele que se tornou credor [...]”.

Isto é, caberá ao credor por endosso translativo fornecer a

declaração de anuência, pois foi através da transferência da dívida pelo endosso,

que este passou a ter poderes sobre a mesma.

Em referência ao §2º do art. 26309 o autor310 entende que,

quando tratar de título por endosso mandato, será suficiente a declaração de

anuência do credor que endossou o título outorgando procuração ao mandatário

da dívida protestada.

Pires311 expõe ser uma atitude admirável, pois o fato era que

alguns mandatários recusavam - se em fornecer documentação própria para 306 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito, p.68. 307 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94), p.83. 308 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.51. 309 Art.26.§2º da Lei de Protestos: Na hipótese de protesto em que tenha figurado apresentante por endosso-mandato, será suficiente a declaração de anuência passada pelo credor endossante. 310 CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada (Lei n. 8.935/94),p.84. 311 PIRES, José Paulo Leal Ferreira; PIRES, Ieda Maria Ferreira. Comentários à nova lei de protesto cambial e de documentos de dívida (Lei nº 9.492, de 10.9.97), p.51.

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procedência do cancelamento.

Parizatto312 em comum acordo explica que, “[...] será

suficiente a declaração de anuência passada pelo credor endossante, sendo

desnecessária a do apresentante”.

Em suma, será necessária a declaração de anuência do

credor endossante quando este figurar como mandatário.

Enfim, ficará livre destes últimos procedimentos citados,

quando, como vimos, o devedor tiver alcance ao original do título ou documento

de dívida protestado.

312 PARIZATTO, João Roberto. Protesto de Títulos de Crédito,p. 68.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho monográfico teve como objetivo

discorrer sobre a Lei Federal nº 9.492 de 10 de setembro de 1997313, expondo e

elucidando seus procedimentos através da mais atualizada doutrina existente.

Ao discorrer sobre o tema que intitula este trabalho, pode a

autora determinar que o instituto do protesto é forma que tem o credor de

caracterizar o descumprimento de uma obrigação, advinda da relação de um

negócio devidamente tratado.

O Instituto em análise passou a ser regido pela Lei

Federal314 em tela, bem como em nosso Estado, pelo Código de Normas do Foro

Extrajudicial315, em aplicação subsidiária, complementar e regulamentar.

Assim, vimos que o fato acabou gerando algumas

contradições, mesmo sendo a matéria tratada por Lei Federal316 e por uma

Codificação Estadual317.

O motivo da escolha do tema que intitula o presente trabalho

é o fato de ser ele interessante e pouco estudado pelos operadores de direito.

Relevante informar que o presente trabalho procurou apenas

dar enfoque ao conflito de normas existentes, bem como as divergências

existentes entre os doutrinadores sobre alguns temas.

A pesquisa foi dividida em três capítulos, procurando assim

um desenvolvimento coerente.

O primeiro tratou de introduzir uma compreensão ao instituto

do protesto, através de seu desenvolvimento histórico, mostrando que

antigamente não existia nenhuma formalidade para sua realização,

diferentemente da atualidade, onde se faz necessário o cumprimento de normas

313 Lei de Protestos. 314 Lei de Protestos. 315 Código de Normas de Santa Catarina. 316 Lei de Protestos. 317 Código de Normas de Santa Catarina.

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legais para sua concretização; seu conceito, entendido este como ato formal e

solene, provando-se através dele a inadimplência e o descumprimento de uma

obrigação.

Abordou-se ainda, sua natureza jurídica, apreciando duas

distintas teses, a de ter ele o intuito de exteriorizar a inadimplência de uma

obrigação tratada e não cumprida, e a do constrangimento legal do devedor

perante a sociedade, por ser este ato público.

Verificou-se que o instituto do protesto tem a finalidade de

exteriorizar a impontualidade do devedor, com o intuito de materializar esta

inadimplência, ato devido ao credor, por ter firmado obrigação e a mesma não ter

sido satisfeita.

Aludiu também o primeiro capítulo sobre a competência, seu

local e destinatário, fazendo menção a regra sobre o local devido para lavratura

do protesto de cheque, que pode ser no local do domicílio do emitente ou no

domicílio da agência bancária.

Verificou-se contradição a respeito da prescrição do cheque,

onde um conceituado doutrinador mencionou que o protesto deveria ser feito

antes da expiração do prazo de apresentação, isto é, de 30 dias, quando for

emitido na praça que deve ser pago, ou 60 dias quando emitido em outro lugar do

País ou ainda no exterior.

A partir desta premissa, entende a autora que o certo seria

seguir a norma federal, pois hierarquicamente esta prevalece.

Encerrou-se o capítulo relacionando as espécies de

protestos, classificando-as quanto sua função: protesto necessário, facultativo e

protesto especial para fins de falência; e quanto a natureza de sua solicitação:

protesto por falta de pagamento, por falta de aceite ou ainda por falta de

devolução.

No segundo capítulo aludiu-se sobre os procedimentos

anteriores ao ato do protesto, conforme foi disposto, para sua formalização é

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necessário que o título ou documento de dívida transcorra os seguintes atos:

apresentação; distribuição; apontamento; intimação, tanto por remessa do oficial,

como também da por edital.

Posteriormente relata-se no segundo capítulo os possíveis

procedimentos que o devedor pode ter após a ciência de sua obrigação exigida.

Terá o devedor a oportunidade de sustar o protesto, caso

verifique que o ato se cobre de alguma irregularidade. Cabe relembrar que esta

medida foi trazida com o advento da Lei de Protestos318. Incumbe ao devedor

também liquidar sua obrigação se for este seu dever. Por fim discorreu sobre a

desistência do protesto pelo apresentante.

Apurou-se a respeito da cobrança de juros legais. A Lei

Federal319 dispõe que será devido ao Tabelião cobrar apenas o valor original, os

emolumentos e demais despesas atinentes ao título ou documento de dívida. Já o

Código de Normas320 coloca que além do valor principal, dos encargos

estabelecidos, serão devidos também os juros legais desde o vencimento da

dívida, o que a Lei de Protestos321 nem menciona.

Como pode uma norma estadual impor que cabe ao devedor

pagar juros desde o vencimento da dívida quando for o título posto em cartório

para cobrança, sendo que a Lei de Protestos322 não o permite expressamente?

A autora entende que esta é uma questão indevida, por

infringir notadamente uma Lei Federal.323

No terceiro e derradeiro capítulo, atinou-se sobre o registro

do protesto, sua materialização através do instrumento de protesto e seus

requisitos dispostos na Lei Federal324, entendidos este como necessários para

organização e identificação do título ou documento de dívida protestado.

318 Lei de Protestos. 319 Idem. 320 Código de Normas de Santa Catarina. 321 Lei de Protestos. 322 Idem. 323 Idem. 324 Lei de Protestos.

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Finalmente enfatizou-se os prazos legais, o estabelecido

pela Lei de Protestos325 e o estabelecido pelo Código de Normas326.

Apurou –se que o primeiro dispõe ser o tríduo legal contado

a partir da devida protocolização do título ou documento de dívida, já o segundo

determina que seja contado a partir da efetiva intimação do devedor.

Conclui a autora ser falha a Lei de Protestos327, pois pelo

que foi aludido neste trabalho monográfico ficaria quase que impossível realizar

os serviços tendentes à intimação do devedor, ficando este ainda, sem prazo para

proceder com alguma manifestação.

Resta aos Tabelionatos de nosso Estado seguir o Código de

Normas328, pois este fornece ao devedor tempo hábil para oferecer alguma

resposta ao Tabelião.

Foi discutido também no Capítulo III sobre o instituto do

cancelamento de protesto, onde através deste tem o devedor a possibilidade de

anular os efeitos do protesto, resgatando assim seu crédito.

Verificou-se grande divergência entre os doutrinadores

citados, onde quatro teses foram expostas, uma que bastaria a apresentação do

original do título quitado e do instrumento de protesto para que o Tabelião

procedesse com o cancelamento, para segunda seria suficiente a apresentação

da quitação, já para a terceira tese necessário somente o documento protestado e

a última apenas o instrumento de protesto.

Portanto fica clara a contradição existente entre os

conceituados doutrinadores.

A autora entende que se faz necessário ao Tabelião seguir a

tese que acompanha a Lei Federal329, onde dispõe que para a efetivação do

325 Lei de Protestos. 326 Código de Normas de Santa Catarina. 327 Lei de Protestos. 328 Código de Normas de Santa Catarina. 329 Lei de Protestos.

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cancelamento do protesto é necessária apenas a apresentação do título ou

documento de dívida protestado.

Houve certa dificuldade na elaboração do trabalho, em razão

das poucas obras encontradas no acervo da biblioteca da UNIVALI. Concorreram

substancialmente para a feitura deste trabalho as obras de um colega de trabalho,

estas de edições antigas.

O trabalho abrangeu apenas o nosso Estado, em razão da

autora trabalhar diretamente com o instituto, vendo assim necessidade de um

estudo aprofundado para melhor compreensão na prática.

Assim volta-se as hipóteses iniciais da pesquisa:

1. Ainda que um direito do credor, com o intuito de cobrar a

dívida não paga, o protesto é meio de coação e constrangimento ao devedor

perante a sociedade;

A hipótese foi confirmada, cabendo entretanto considerar

que protesto trata-se, como vimos, de ato público, fato que acaba expondo a

informação ao conhecimento da sociedade, levando assim o devedor ao

constrangimento, porém legal, pois é uma maneira necessária que possui o

credor para coagir o devedor e exigir a satisfação de sua obrigação descumprida.

2. A cobrança de juros na forma determinada pelo Código de

Normas Estadual330 fere o dispositivo constante da Lei Federal331;

A hipótese foi confirmada, pois hierarquicamente a Lei

Federal332 sobrepõe a Estadual333.

A Lei de Protestos334 dispõe que sejam cobrados do

devedor, apenas o valor principal, os emolumentos devidos ao tabelionato e

demais despesas.

330 Código de Normas de Santa Catarina. 331 Lei de Protestos. 332 Idem. 333 Código de Normas de Santa Catarina. 334 Lei de Protestos.

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Já o Código de Normas de Santa Catarina335 dispõe que

caberá também ao Tabelião cobrar além do disposto na Lei Federal336, os juros

desde o vencimento da dívida.

Notadamente a Lei Federal337 não refere-se a cobrança de

juros legais, o que o faz o Código de Normas338 sem autorização legal federal,

ferindo assim norma federal.

3.O tríduo legal previsto na Lei de Protestos339 deve ser

contado na forma prevista no Código de Normas do Estado de Santa Catarina340

pois este é mais benéfico ao devedor.

A hipótese foi confirmada.

Ficou comprovado que é impossível ao devedor proceder

com alguma manifestação dentro do prazo estipulado pela Lei de Protestos341,

isto é, três dias contados desde a protocolização do título ou documento de

dívida, além de ser tempo insuficiente para o Tabelião proceder com os demais

atos posteriores a entrada do título em cartório.

O Código de Normas de Santa Catarina342 impôs ser o tríduo

legal três dias úteis, contados da data do recebimento da intimação.

Entende a autora ser este o tempo hábil para que o devedor

se manifestar. E que aos Tabelionatos a existência de cumprimento de prazo

diverso do estipulado pela os tenha como reguladora. Principalmente por uma

norma estadual estar substituindo uma federal.

Pelo exposto, a autora vê extrema urgência na

regulamentação na questão dos prazos, pois resolveria os problemas causados

aos cidadãos e aos próprios Tabelionatos, pela divergência de normas expostas.

335 Código de Normas de Santa Catarina. 336 Lei de Protestos. 337 Idem. 338 Código de Normas de Santa Catarina. 339 Lei de Protestos. 340 Código de Normas de Santa Catarina. 341 Lei de Protestos. 342 Código de Normas de Santa Catarina

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