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ANNA CHRISTINA ULLRICH BECK ANÁLISE DOS ASPECTOS ERGONÔMICOS QUE ENVOLVEM A ATIVIDADE PROFISSSIONAL DE CAMAREIRA, AUXILIAR DE COZINHA E COZINHEIRA NO HOTEL JARDIM EUROPA EM IJUÍ - RS Produção técnico-científica apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Turismo e Hotelaria, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação, Turismo e Lazer, Campus Balneário Camboriú. Orientadora: Profª Célia Denise Uller, MSc Balneário Camboriú - SC 2008

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ANNA CHRISTINA ULLRICH BECK

ANÁLISE DOS ASPECTOS ERGONÔMICOS QUE ENVOLVEM A ATI VIDADE

PROFISSSIONAL DE CAMAREIRA, AUXILIAR DE COZINHA E C OZINHEIRA NO

HOTEL JARDIM EUROPA EM

IJUÍ - RS

Produção técnico-científica apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Turismo e Hotelaria, na Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais Aplicadas – Comunicação, Turismo e Lazer, Campus Balneário Camboriú.

Orientadora: Profª Célia Denise Uller, MSc

Balneário Camboriú - SC

2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

Curso de Turismo e Hotelaria

José Roberto Provesi

Reitor

Mário César dos Santos Vice-Reitor

Valdir Cechinel Filho Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão

Amândia Maria de Borba Pró-Reitora de Ensino

Mércio Jacobsen Secretário Executivo

Carlos Alberto Tomelin Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas- Comunicação, Turismo e Lazer

Sílvia Regina Cabral Coordenadora do Curso de Turismo e Hotelaria

Arno Minella Responsável de Estágio

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ANNA CHRISTINA ULLRICH BECK

Análise dos Aspectos Ergonômicos que envolvem a atividade profissional de Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa em Ijuí-RS.

Esta Produção Técnico-Científica foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Turismo e Hotelaria e aprovada pelo Curso de Turismo e Hotelaria da

Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação, Turismo e Lazer.

Área de Concentração: Ciências Sociais Aplicadas Sub-Área: Turismo e Hotelaria

Balneário Camboriú, 03 de julho de 2008.

Profa MSc Célia Denise Uller UNIVALI Balneário Camboriú

Orientadora

Profa MSc Sílvia Regina Cabral UNIVALI Balneário Camboriú

Membro

Profa MSc Mirian Terezinha Pinheiro UNIVALI Balneário Camboriú

Membro

Profa Dra Regina Célia Linhares Hostins UNIVALI Balneário Camboriú

Membro

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AGRADECIMENTOS

Agradeço principalmente à minha Família, Derli, Eliane e Annelise, pela

oportunidade de estudar e constante incentivo.

Às Famílias Ullrich e Fengler que tão bem me receberam durante o

Estágio. À Família Bernardinis, que tantas vezes me levou no aeroporto,

me buscou na rodoviária, me ajudou com as malas...

E também a todos os amigos que compartilharam das minhas alegrias e

ansiedades durante esses cinco anos.

Muito Obrigada!

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Função desempenhada no Hotel Jardim Europa ..............................................

Gráfico 02: Tempo que desempenha a função no Hotel Jardim Europa .............................

Gráfico 03: Faixa etária das profissionais que desempenham as funções estudadas ..........

Gráfico 04: Grau de escolaridade ........................................................................................

Gráfico 05: Distância de casa até o Hotel Jardim Europa ...................................................

Gráfico 06: Deslocamento de casa até o Hotel Jardim Europa ...........................................

Gráfico 07: Tempo de deslocamento de casa até o Hotel Jardim Europa ...........................

Gráfico 08: Jornada de trabalho ..........................................................................................

Gráfico 09: Sensação física após um dia de trabalho ..........................................................

Gráfico 10: Parte do corpo onde sente maior desconforto ..................................................

Gráfico 11: Atenção à postura durante o trabalho ...............................................................

Gráfico 12: EPI – Equipamentos de Proteção Individual que Hotel fornece ......................

Gráfico 13: EPI – Equipamentos de Proteção Individual que realmente usa ......................

Gráfico 14: Sentimento com relação à vida pessoal e profissional .....................................

Gráfico 15: Desejo de benefícios oferecidos pela empresa .................................................

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01: Limpeza pesada do exaustor .............................................................................. 57

Figura 02: Limpeza pesada do exaustor .............................................................................. 57

Figura 03: Limpeza pesada da fritadeira grande ................................................................. 59

Figura 04: Limpeza pesada da fritadeira grande ................................................................. 59

Figura 05: Transporte de louça limpa ................................................................................. 60

Figura 06: Transporte do óleo utilizado na fritadeira grande .............................................. 60

Figura 07: Transporte de lixo .............................................................................................. 60

Figura 08: Transporte de óleo vegetal com carrinho auxiliar ............................................. 60

Figura 09: Trabalho na bancada – Cozinha ......................................................................... 61

Figura 10: Trabalho na bancada – Cozinha ......................................................................... 61

Figura 11: Higienização louça café da manhã – Copa de Higienização de Louças ............ 62

Figura 12: Higienização louça café da manhã – Copa de Higienização de Louças ............ 62

Figura 13: Limpeza prateleiras – Copa ............................................................................... 63

Figura 14: Troca de lixo ...................................................................................................... 63

Figura 15: Limpeza diária do piso da Cozinha ................................................................... 63

Figura 16: Transporte de roupa suja .................................................................................... 65

Figura 17: Transporte de roupa suja .................................................................................... 65

Figura 18: Transporte de carrinho ....................................................................................... 66

Figura 19: Limpeza leve do mini-bar .................................................................................. 66

Figura 20: Higienização do box do banheiro ...................................................................... 66

Figura 21: Arrumação da cama – UH Semi-luxo................................................................. 67

Figura 22: Arrumação da cama – UH Semi-luxo ................................................................ 67

Figura 23: Limpeza de vidros ............................................................................................. 68

Figura 24: Limpeza do filtro do condicionador de ar .......................................................... 68

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RESUMO

O presente estudo, intitulado Análise dos Aspectos Ergonômicos que envolvem a atividade profissional de Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa em Ijuí-RS, trata-se de um Relatório de Pesquisa elaborado a partir dos aspectos positivos e limitantes observados no empreendimento, em especial nos setores de governança e alimentos e bebidas, durante a prática de Estágio Supervisionado. Os objetivos propostos visavam levantar conceitos teóricos sobre Ergonomia, identificar os principais Aspectos Ergonômicos que envolvem as funções citadas anteriormente e propor formas de melhoria na qualidade de vida das funcionárias. A pesquisa, aplicada durante o mês de fevereiro de 2008, tem caráter teórico-empírico e abordagem quali-quantitativa, o que possibilitou uma investigação abrangente. A partir desta, verificou-se que os Aspectos Ergonômicos no Hotel Jardim Europa são favoráveis, no que tange à adequação das condições de trabalho às capacidades e realidades do trabalhador. Sugere-se, apenas, um programa de orientação ergonômica que esclareça sobre questões relacionadas à saúde da mulher, segurança no trabalho e qualidade de vida. Palavras-chave: Aspectos Ergonômicos; Camareira; Auxiliar de Cozinha; Cozinheira.

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SUMÁRIO

PARTE I

PRODUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA DE ESTÁGIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................

2 OBJETIVOS .................................................................................................................

2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................

2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ............................................................................

4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ..............................................................................

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................................

5.1 Análise dos Registros Fotográficos ............................................................................

5.1.1 Atividade Profissional de Auxiliar de Cozinha e Cozinheira ..................................

5.1.2 Atividade Profissional de Camareira .......................................................................

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................

REFERÊNCIAS ..............................................................................................................

APÊNDICES ...................................................................................................................

Apêndice A – Questionário de Pesquisa ...........................................................................

Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...........................................

Apêndice C – Roteiro de Entrevista com Gerente Geral ..................................................

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PARTE I

PRODUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA DE ESTÁGIO

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1 INTRODUÇÃO

A profissionalização da atividade turística e a valorização do trabalhador como ser humano

apresentam-se como de suma importância para qualificação dos serviços, em especial no setor de

hotelaria, onde pessoas servem pessoas.

A abordagem sobre os aspectos ergonômicos que envolvem as funções operacionais de um hotel

demonstra a preocupação com a busca da qualidade de vida do trabalhador o que reflete

diretamente na qualidade do serviço prestado ao cliente e ao hóspede.

O Hotel Jardim Europa localiza-se na região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul no

município de Ijuí-RS. É uma empresa de pequeno porte (67 UH’s) e classifica-se como hotel de

lazer durante a temporada de verão, entre os meses de dezembro a fevereiro, e de negócios,

atendendo também a eventos, durante os demais meses do ano. A administração é familiar e

como o hotel atua no mercado há 25 anos está em busca de um processo de inovação, através da

abertura de novas unidades habitacionais e da contratação de pessoal especializado para as

funções de atendimento. Já para as funções operacionais, a política de contratação do setor de

Recursos Humanos é a de dar preferência aos profissionais que residem próximo ao Hotel,

contribuindo para o desenvolvimento das localidades do entorno.

Diante desse cenário, foi observado durante o Estágio Supervisionado que o afastamento do

trabalho por motivo de saúde era freqüente entre as pessoas que desempenhavam a função de

Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa. Percebeu-se, assim, a

importância de desenvolver um Relatório de Pesquisa que permitisse propor formas de melhoria

na qualidade de vida dos funcionários.

Para tal foram analisados os aspectos ergonômicos que envolvem a atividade profissional de

Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa, considerando-se que

Ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem, não se referindo somente ao ambiente

físico, mas também aos aspectos organizacionais, à programação e ao controle da atividade de

forma a produzir os resultados desejados (IIDA, 2003). Com base nessa afirmação tornou-se

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pertinente levantar conceitos teóricos sobre Ergonomia no que se refere à adequação das

condições de trabalho às capacidades e realidades do trabalhador, identificar através da aplicação

de questionários e de registros fotográficos os aspectos ergonômicos que envolvem as funções

citadas anteriormente e, após análise dos resultados, propor formas de melhoria na qualidade de

vida das funcionárias a fim de evitar o afastamento por motivos de saúde, já que a ausência de um

colaborador sobrecarrega os demais e desestabiliza a rotina normal de trabalho.

Dul e Weerdmeester (2000) contribuem com essa visão ao apontar que a Ergonomia se aplica ao

projeto de equipamentos e à configuração de tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, a

saúde e a eficiência no trabalho e é isso que se pretende alcançar. Os autores mencionam ainda

que muitas situações de trabalho, e mesmo da vida cotidiana, apresentam riscos à saúde. Dores

musculares ou problemas de coluna assim como quadros de estresse são uma causa importante de

absenteísmo e até de incapacitação ao trabalho. Mas a aplicação dos conceitos da Ergonomia

pode colaborar para reduzir estes problemas ao adequar o uso de equipamentos, sistemas e

tarefas.

Rio e Pires (2001) têm uma concepção que vem de encontro com a busca pela inovação e

melhoria da qualidade de vida do trabalhador. Os autores citam que:

a ergonomia é muito importante para que o trabalho seja fonte de saúde e produtividade para pessoas e organizações. (...) Isso é tanto mais importante quanto mais acirradas são as circunstâncias de competitividade no mercado e maiores são as exigências de desempenho como tem ocorrido no contexto histórico atual (p. 17)

Por isso o Relatório de Pesquisa intitulado Análise dos Aspectos Ergonômicos que envolvem a

atividade profissional de Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa

em Ijuí-RS pretende colaborar com a pesquisa em áreas tão novas e interdisciplinares como são a

Ergonomia e a Hotelaria.

Apresenta-se, a seguir, os Objetivos Geral e Específicos que norteiam as etapas da pesquisa, os

Aspectos Metodológicos que descrevem os métodos escolhidos, a Fundamentação Teórica que

busca na literatura e periódicos especializados os conceitos e posições sobre Ergonomia, a

Análise dos Resultados que se encontra subdivida em Análise dos Registros Fotográficos

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referente às posturas no trabalho das Auxiliares de Cozinha, Cozinheiras e Camareiras e as

Considerações Finais que compilam todas as informações levantadas e indica possíveis soluções

aos problemas encontrados.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

• Analisar os Aspectos Ergonômicos que envolvem a atividade profissional de Camareira,

Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa em Ijuí-RS.

2.2 Objetivos Específicos

• Levantar conceitos teóricos sobre Ergonomia no que se refere à adequação das condições de

trabalho às capacidades e realidades do trabalhador;

• identificar os principais Aspectos Ergonômicos que envolvem a atividade profissional de

Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa em Ijuí-RS;

• propor formas de melhoria na qualidade de vida das funcionárias que desempenham as

funções de Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa em Ijuí-RS.

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3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

Esta pesquisa tem por objetivo analisar os Aspectos Ergonômicos que envolvem a atividade

profissional de Camareira, Auxiliar de Cozinha, e Cozinheira no Hotel Jardim Europa em Ijuí-

RS.

A motivação pela escolha do tema deveu-se ao fato observado durante o Estágio Supervisionado

de que o afastamento do trabalho por motivo de saúde é freqüente entre as pessoas que

desempenham a função de Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa.

Para comprovar as observações e fazer uma investigação mais aprofundada optou-se por aplicar

uma pesquisa com as funções relacionadas acima.

A pesquisa foi realizada em fevereiro de 2008 e tem caráter teórico-empírico com abordagem

quali-quantitativa. Goldenberg (2000) ressalta que a Metodologia não é limitada, fixa, mas

utilizada de acordo com o problema que se quer pesquisar, apontando os caminhos possíveis.

Bianchi (2002) observa ainda a importância de delimitar corretamente o tema da pesquisa para

que seu desenvolvimento seja viável e seus resultados aplicáveis. Dentro do tema abordado,

delimitou-se a investigação para o espaço do Hotel e especificamente os setores de Governança e

Alimentos e Bebidas – A&B.

Demo (1995) define a pesquisa teórica como dedicada a formular quadros de referência, estudar

teorias e aperfeiçoar conceitos enquanto a pesquisa empírica dedica-se a codificar a face

mensurável da realidade. A primeira é essencial para o embasamento científico e a segunda ganha

importância ao se partir da premissa de que somente se melhora o que se pode medir. Por isso a

prática de avaliar a satisfação das profissionais, verificar questões como o posicionamento em

relação ao posto de trabalho, ao ambiente, às formas de organização do trabalho é uma

ferramenta bastante válida para detectar a percepção dos funcionários sobre os aspectos gerais e

ergonômicos que interferem na qualidade de vida e por conseqüência na qualidade do serviço

prestado.

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A abordagem qualitativa prioriza o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma

organização, instituição ou trajetória. A quantitativa preocupa-se com a representatividade

numérica dos aspectos relacionados ao objeto de pesquisa. Geralmente, elas se complementam.

Segundo Goldenberg (2000) a diferenciação entre uma e outra se deve a concepção de que o

método utilizado pelas ciências sociais visa à compreensão e interpretação das experiências

pessoais dentro do contexto onde foram vivenciadas, ao contrário das ciências naturais, que busca

generalizações e a descoberta de regularidades.

Conforme Neves (1996) a pesquisa qualitativa “compreende um conjunto de diferentes técnicas

interpretativas que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de

significados”. As principais características que da abordagem qualitativa são:

• o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; • o caráter descritivo; • o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como preocupação do investigador e • enfoque indutivo (NEVES, 1996, p. 1).

A abordagem quantitativa utiliza técnicas estatísticas com objetivo de mensurar e permitir o teste

de hipóteses. Sua principal vantagem é que seus dados numéricos podem ser comparados ao

longo do tempo, permitindo elaborar um histórico sobre determinada informação (IBOPE, 2008).

Para esta pesquisa os instrumentos de pesquisa utilizados foram questionário, entrevista semi-

estruturada, registro fotográfico e observação participativa. Tem-se que a escolha pelas diferentes

técnicas de coleta de dados será a forma de o pesquisador sistematizar o processo de localização,

registro e tratamento das informações necessárias para a investigação e posterior análise (LIMA,

2004).

Optou-se por mais de um tipo de instrumento de coleta de dados para não limitar a análise. Lima

(2004, p. 29) afirma que “em pesquisas acadêmicas tem sido freqüente o uso combinado de

recursos metodológicos típicos dos métodos quantitativos e qualitativos”. Goldenberg (2000, p.

50) ratifica a importância dessa abordagem ampla ao considerar que “enquanto os métodos

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quantitativos supõem uma população de objetos comparáveis, os métodos qualitativos enfatizam

as particularidades de um fenômeno em termos de seu significado para o grupo humano

pesquisado”.

O questionário atende, geralmente, a duas funções principais: de descrever as características e

medir determinadas variáveis de um grupo social. Sua estrutura não é fixa, pois pode incluir o

número e o tipo de perguntas que o pesquisador considerar adequado, conforme a complexidade

das informações a serem coletadas. De qualquer forma, classifica-se um questionário de acordo

com o tipo de pergunta (aberta, fechada ou ambas) e com o modo de aplicação do instrumento

(contato direto ou via correio) (RICHARDSON, 1999).

No caso desta pesquisa, optou-se por formular perguntas tanto fechadas quanto abertas porque a

pesquisadora estava familiarizada com o grupo, o que permitiu antecipar algumas respostas e

buscava, ao mesmo tempo, aprofundamento em relação a algumas questões específicas. A

aplicação foi através de contato direto a fim de explicar e discutir os objetivos da pesquisa e sanar

as dúvidas que pudessem surgir durante o preenchimento do questionário

(APÊNDICE A).

Foram aplicados dezessete questionários considerando-se o total de vinte e uma profissionais que

desempenham a função de Camareira, Auxiliar de Cozinha ou Cozinheira. Duas Camareiras não

responderam devido ao afastamento do trabalho por motivo de saúde, uma Cozinheira

encontrava-se no período de férias e outra em licença maternidade.

Foi solicitada a assinatura das participantes no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(APÊNDICE B) a fim de explicitar os objetivos da pesquisa, o assunto abordado, bem como a

importância de sua colaboração, já que a pesquisa teve unicamente cunho acadêmico, havendo

sigilo das informações fornecidas.

A entrevista estruturada ou padronizada caracteriza-se por perguntas previamente elaboradas e

caracteriza a abordagem qualitativa. Exige contato direto entre pesquisador e objeto de pesquisa

sendo que as perguntas previamente elaboradas devem servir como um roteiro, para que não se

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perca o foco no assunto em questão, mas não podem ser inflexíveis. A escolha por realizar uma

entrevista pressupõe que o entrevistador não conhece bem a população que será entrevistada, por

isso relatos sobre fatos e opiniões serão apenas estimulados, orientados de maneira a se obter a

informação desejada (RICHARDSON, 1999).

No Hotel Jardim Europa, foi entrevistado o Gerente Geral do empreendimento a fim de verificar

quais eram os principais motivos de afastamento por motivo de saúde e se a empresa considerava

pertinente a realização da pesquisa para análise dos Aspectos Ergonômicos que envolvem a

atividade profissional de Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira. O roteiro da entrevista

encontra-se disposto no Apêndice C.

Considera-se ainda a observação como ferramenta imprescindível no processo de pesquisa

científica, pois o pesquisador deve ter um olhar crítico diante das situações cotidianas. Como

método qualitativo de investigação há a observação não-participante, em que o pesquisador é um

espectador dos fatos e a participante, em que ele participa ativamente do cotidiano do universo

pesquisado. (RICHARDSOM, 1999). O autor acrescenta que a observação participante “é

recomendada especialmente para estudos de grupos e comunidades. O observador participante

tem mais condições de compreender os hábitos, atitudes, interesses, relações pessoais” (1999, p.

261).

A prática do Estágio Supervisionado possibilita a observação participante porque o pesquisador,

no caso o acadêmico, torna-se um membro do grupo, mesmo que por pouco tempo. A

possibilidade de visualizar os fatos no momento em que ocorrem é muito importante, pois

permite perceber detalhes muitas vezes desconsiderados. O registro fotográfico vem para

demonstrar as situações observadas e analisar a posição no posto de trabalho do ponto de vista da

Ergonomia.

O Hotel Jardim Europa já foi tema de outras pesquisas decorrentes da prática de Estágio

Supervisionado, mas em outras áreas do conhecimento. Foram produzidas as pesquisas

intituladas "O Processo Administrativo no Hotel Jardim Europa" de 2002 e "Gestão do

Conhecimento e Aprendizagem Organizacional: uma análise da implantação das Boas Práticas de

Fabricação num Restaurante de Ijuí-RS" de 2003 para o Curso de Administração de Empresas da

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Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Também serviu

como estudo de caso para elaboração da Dissertação de Mestrado intitulada "Modelo de Gestão

Ambiental na Atividade Hoteleira" de 2002 para o Programa de Pós-Graduação em Engenharia

de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Isso demonstra que a empresa é

aberta à pesquisa, mas direciona o estudo para funções operacionais, analisadas sob a ótica da

Ergonomia, pela primeira vez.

Na forma de Relatório de Pesquisa a análise dos resultados desta pesquisa pretende atingir os

objetivos propostos que são levantar conceitos teóricos sobre Ergonomia no que se refere à

adequação das condições de trabalho às capacidades e realidades do trabalhador após identificar

os aspectos ergonômicos que envolvem a atividade profissional de Camareira, Auxiliar de

Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa em Ijuí-RS. Outro aspecto importante é que, ao

final da estruturação do Relatório de Pesquisa, se possa propor formas de melhoria na qualidade

de vida das funcionárias, pois mais que a formação acadêmica busca-se desenvolver a capacidade

de gestão.

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4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A grande alavanca da atividade turística e conseqüentemente da hotelaria moderna vem sendo a

evolução tecnológica que proporcionou melhores condições de segurança e comodidade nos

transportes, maior rapidez e eficiência na comunicação, além de diversificação da demanda. Por

isso os hotéis têm priorizado o conforto, as soluções informatizadas e acima de tudo a satisfação

do hóspede. Para melhor entendimento das fases de desenvolvimento da hotelaria moderna no

Brasil traçou-se um breve panorama.

Segundo Andrade (2002) o fator que mais contribuiu para o início do crescimento da hotelaria

nacional foi a chegada da Família Real Portuguesa no ano de 1808, início do Século XIX. Devido

ao aumento no fluxo de estrangeiros e à abertura dos portos, a demanda por alojamentos cresceu

consideravelmente. Apesar disso, os cem anos seguintes, em média, não apresentaram nenhuma

novidade. Somente a partir do ano de 1904 é que surgiu a primeira lei de incentivo para

implantação de hotéis na cidade do Rio de Janeiro, especificamente. Assim, em 1922, surgiram

os hotéis Glória e Capacabana Palace, que têm reconhecimento até hoje pela suntuosidade e

qualidade.

Duarte (1996) descreve o histórico da hotelaria brasileira de forma semelhante, mas acrescenta

alguns fatos curiosos, a saber: em 1885, foi editado o Almanaque da Província de São Paulo,

precursor dos guias turísticos atuais. Ressalta ainda que a troca da mão-de-obra escrava pela de

imigrantes europeus, juntamente com o desenvolvimento da cafeicultura, diversificaram as

atividades comerciais e industriais e impulsionaram novos negócios como a hotelaria

profissional.

Na década de 30, iniciou-se a implantação de grandes hotéis nas capitais e estâncias minerais. O

principal atrativo eram os cassinos, que após 1946 foram proibidos, provocando o fechamento de

alguns empreendimentos e a adaptação de outros (ANDRADE, 2002).

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A partir de 1966, foram criados a Embratur e o Fungetur (Fundo Geral de Turismo), responsáveis

por iniciar uma nova etapa na hotelaria brasileira. Mudanças nas leis de zoneamento das

principais cidades e capitais favoreceram a implantação de novos hotéis, sendo que incentivos

fiscais contribuíram muito com o segmento de hotéis de luxo, classificados como cinco estrelas

na época. Atualmente, a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) está vinculada ao Ministério

do Turismo e tem trabalhado no fomento da atividade turística, bem como na divulgação

internacional dos destinos brasileiros (CÂNDIDO; VIEIRA, 2003).

Já na década de 70, as redes hoteleiras internacionais se instalaram no Brasil, inaugurando uma

nova fase no que diz respeito a padrões de serviço e preços. Essa concorrência, naquele

momento, desleal, exigiu uma virada nas formas de administração da hotelaria nacional

(ANDRADE, 2002).

Diante dessa perspectiva, o ato de hospedar tornou-se gradualmente o negócio do setor hoteleiro

atual. Os componentes básicos, porém, permaneceram: um quarto agradável e asseado, comida

saborosa e nutritiva e funcionários cordiais e sinceros quando dizem: - “Estamos a seu dispor”.

Rutherford (2004) contribui definindo hospitalidade como:

a recepção cordial e generosa e o entretenimento de hóspedes ou estranhos, social ou comercialmente. [...] Independentemente das razões pelas quais as pessoas vão para uma “casa” longe dos seus lares, há a certeza de que elas precisarão de cuidados. Elas precisarão de um lugar limpo e confortável para dormir ou descansar, serviço de alimentação, espaço para socializar, e encontrar outras pessoas, acesso ao comércio e segurança. (2004, p. 120)

Para compreensão do conceito de hotel baseou-se no Regulamento Geral dos Meios de

Hospedagem (2002) utilizado pela EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo, que

estabelece:

Meio de hospedagem e de turismo é o estabelecimento que satisfaz cumulativamente as seguintes condições:

• é licenciado pelas autoridades competentes para prestar serviço de hospedagem; • é administrado ou explorado comercialmente por empresa hoteleira que adota, no

relacionamento com os hóspedes, contrato de hospedagem, com as características definidas pelo Regulamento mencionado e pelas demais legislações aplicáveis; [...]

Deverão ainda oferecer aos hóspedes, no mínimo: • alojamento, para uso temporário do hóspede, Unidades Habitacionais (UH) para esta

finalidade e

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• serviços mínimos necessários como: recepção ou portaria que atenda e controle permanentemente as entradas e saídas; guarda bagagem e objetos de uso pessoal dos hóspedes em local apropriado; conservação, arrumação e limpeza das instalações e dos equipamentos.

Assim, um hotel oferece basicamente alojamento, alimentação e entretenimento. Para

operacionalizar estes serviços os setores principais são recepção e reservas, governança,

alimentos e bebidas, recreação e eventos e administrativo. Como em qualquer empresa, um setor

é interdependente ao outro e grandes estruturas podem necessitar de um departamento específico

para marketing e vendas, recursos humanos, contabilidade, almoxarifado, segurança.

Ismail (2004) enfatiza que os setores devem estar sincronizados para que o hotel possa maximizar

a eficiência; suas relações são simbióticas, ou seja, os envolvidos agem ativamente para gerar

vantagens mútuas. O serviço de hospedagem, ponto-de-venda de alimentos e bebidas e áreas para

convenções e eventos são consideradas fontes de receita, que se bem geridas, são capazes de

garantir uma operação bem-sucedida e lucrativa.

O setor de recepção promove o primeiro contato direto do hóspede com o hotel e sua aparência e

sensação de hospitalidade influenciarão na concepção da imagem do hotel como um todo. É o

local onde se registram os hóspedes, se retiram as chaves, correspondência ou recados, se obtêm

informações e se quitam as despesas feitas durante a hospedagem (TORRE, 2001).

Também conhecido como Front Desk, o setor de recepção tem um papel interno muito

importante, pois controla o fluxo de entrada e saída de hóspedes e clientes, além de processar

diversas informações que serão o ponto de partida para operação dos outros setores (ISMAIL,

2004). A partir da taxa de ocupação, por exemplo, poderá ser definida desde a quantidade de

alimentos a ser produzida pela cozinha, até o fluxo de serviço do setor de governança.

Conforme Rutherford (2004) os profissionais do setor de recepção devem apresentar

determinados pré-requisitos, pois são a interface do hotel com seus hóspedes. Boa aparência, boa

dicção e capacidade de comunicação em todos os níveis, pró-atividade, conhecimentos em

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informática e línguas, além de desprendimento para trabalhar quando a maioria das pessoas está

de folga.

O setor de reservas, em hotéis de pequeno e médio porte, localiza-se geralmente anexo à recepção

ou, no caso de grandes hotéis de rede, tem espaço próprio e é denominada central de reservas. A

principal meta do setor deve ser a venda antecipada de hospedagem de forma que, quando

necessário, se tracem estratégias para elevar a média de ocupação em determinada época.

Trabalha de forma articulada com a recepção prevendo a chegada ou saída de um determinado

número de hóspedes para aquele dia (CASTELLI, 2001).

Uma habilidade do profissional de reservas é, sem dúvida, a organização, pois fica responsável

pelo mapa de ocupação e deve evitar problemas como overbooking1 ou reserva diferente do

solicitado, além de atenção a detalhes, pois durante a conversa com o cliente pode detectar

alguma preferência e no momento da hospedagem surpreender com um agrado. A respeito dessa

característica Lamprecht e Ricci dão o seguinte exemplo:

Suponha que determinado hóspede identifique como uma necessidade específica a localização de uma loja na cidade. Que tal o cliente ser surpreendido, após alguns minutos de sua acomodação no apartamento, com uma cópia do mapa da cidade identificando-lhe a localização exata da loja e ainda algumas sugestões de como chegar até lá. (1997, p. 7)

Seguindo o entendimento sobre os serviços mínimos necessários em um hotel, é o setor de

governança o responsável por manter as Unidades Habitacionais – UH’s, áreas sociais e de

serviço do empreendimento organizadas e limpas. Pode englobar o serviço da governanta,

camareiras, auxiliares de serviços gerais, jardineiros, no caso de haver áreas externas amplas e

auxiliares de lavanderia, quando não se opta pela terceirização.

O ponto crucial para que sua operacionalização seja eficiente é a comunicação com os demais

setores. Martin destaca essa importância:

A coordenação entre a governança e o front office requer respeito e compreensão do gerente de cada departamento pelas responsabilidades do outro. Além disso, a

1 Overbooking: palavra inglesa que traduzida significa excesso de reservas, resultando na falta de lugares para todos os clientes que adquiriram o serviço (TURISMO VISÃO E AÇÃO. GLOSSÁRIO, 2000).

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governanta executiva terá que se relacionar, em muitas ocasiões, com outros profissionais de todo o hotel. [...] os outros departamentos devem respeitar as funções da governança e entender seu significado dentro da operação hoteleira (2004, p. 28).

As camareiras têm importante papel na arrumação, conferência e verificação de possíveis

problemas nas UH’s. Sua rotina de trabalho consiste em verificar a situação das UH’s que

permanecem ocupadas e as que serão liberadas, proceder à limpeza, preencher os formulários

exigidos e informar à governanta ou recepção quando concluir o serviço. Deve procurar manter

uma atitude discreta e profissional. Antes de entrar na UH para iniciar a limpeza deve bater na

porta e anunciar-se, mas caso tenha havido um engano e o hóspede ainda esteja no local,

desculpar-se e sair (SENAC, 1988).

Cândido (2001) acrescenta que a camareira é encarregada da higienização das UH’s o que

engloba limpar o banheiro, retirar o lixo, trocar e fazer as camas, tirar o pó das superfícies, repor

os produtos do mini-bar, toalhas do banheiro, papel higiênico e amenities, limpar os vidros,

passar aspirador de pó no carpete ou pano úmido no chão. Caso o hóspede solicite, encaminha

suas roupas para a lavanderia. Deve ainda registrar e encaminhar objetos esquecidos a

governanta, manter seu material de trabalho devidamente arrumado, seja na rouparia de andar ou

no carrinho, informar o setor de manutenção sobre a necessidade de reparos e comunicar

qualquer ocorrência anormal como produtos de limpeza em falta, por exemplo.

A princípio, pouca coisa mudou quanto às funções da camareira, mas atualmente são oferecidos

cursos específicos em que são abordados tópicos importantes como apresentação profissional e

pessoal, tipos de arrumação, limpeza e higienização de UH´s, aplicação dos diversos tipos de

controles e suas implicações, organização do carrinho e rouparia, segurança no trabalho e

responsabilidade ambiental, além de como proceder diante de certas situações como reclamações

de hóspedes (SENAC, 2008).

Uma mudança significativa é a automatização do setor de governança, que começa a se tornar

realidade e representa uma inovação que aperfeiçoa o serviço e reduz o número de erros. O resort

The Royal Palm Plaza de Campinas-SP resolveu apostar nessa alternativa e concluiu os testes da

camareira eletrônica com sucesso. O sistema consiste em um software instalado num aparelho

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PDA e integrado ao sistema de gestão hoteleira já existente. A tarefa de incluir manualmente

dados sobre liberação da UH ou consumo do mini-bar no sistema, por exemplo, não é mais

necessária. O software tem ainda a vantagem de calcular automaticamente a próxima data para

realização de tarefas periódicas como rodízio de colchões e limpeza de cortinas (BrasilTuris

Jornal, 2008).

Percebe-se assim que o profissional que permanece trabalhando em áreas que tradicionalmente

exigem pouca escolaridade por “falta de opção” e não se qualifica está com os dias contados.

Prova disso é o estudo realizado pelo IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada que

demonstra que apenas 18% dos desempregados brasileiros têm os requisitos necessários para

serem absorvidos pelo mercado. A realidade aponta que há oportunidades, mas falta gente

preparada para aproveitá-las (SILVEIRA, 2008).

Torre (2001) descreve que antigamente nenhuma função desempenhada em hotel era considerada

profissão, por isso não se exigia qualificação prévia e o conhecimento era adquirido na prática.

Em alguns lugares, infelizmente, isso ainda é realidade, apesar do aumento no número de cursos

técnicos, profissionalizantes e superiores na área de Turismo e Hotelaria e a crescente

preocupação dos empregadores em selecionar funcionários realmente capacitados e

comprometidos com a satisfação do cliente.

Outro setor que agrega em um Hotel é o de alimentos e bebidas, que pode ter configurações

variadas, conforme a segmentação de mercado escolhida pelo empreendimento. Pode produzir

apenas o café da manhã, tradicionalmente incluso na diária, ou oferecer todas as refeições como

no caso dos resorts all inclusive. Pode ainda ser terceirizado e atender apenas aos hóspedes ou

também aos clientes externos.

Quando o hotel opta por administrar seus próprios pontos-de-venda de alimentos e bebidas ganha

em competitividade, pois agrega valor à hospedagem e torna-se totalmente responsável pela

imagem que projeta em seus hóspedes. No caso de terceirizar, ocorre a queda dos custos fixos

para o hotel, mas a qualidade do produto e/ou do atendimento pode ser comprometida e

prejudicar a percepção que as pessoas têm do hotel como um todo (VIANA, 2008).

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De Paula (2002) ratifica a opinião de que a gestão adequada do setor de alimentos e bebidas na

hotelaria pode incrementar a lucratividade. A grande oferta de produtos alimentícios prontos

desperta nas pessoas o desejo de vivenciar verdadeiras experiências gastronômicas. A

alimentação torna-se fonte de prazer, entretenimento e convívio entre as pessoas.

Do ponto de vista da operacionalização, Duarte (1996) afirma que a área de alimentos e bebidas é

dividida em dois subprocessos: produção e serviço.

Como tarefas da área de produção estão requisitar, receber e armazenar mercadorias, pré-preparar

alimentos, finalizar e montar pratos. Em grandes estruturas, os profissionais são especializados e

utiliza-se termos franceses para denominá-los, mas as funções mais conhecidas são de cozinheiro

e auxiliar de cozinha.

Com base na Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, utilizada pelo Ministério do Trabalho

e Emprego – MTE (2008), as funções de cozinheiro(a) e auxiliar de cozinha “organizam e

supervisionam serviços de cozinha em hotéis, restaurantes, hospitais, residências e outros locais

de refeições, planejando cardápios e elaborando o pré-preparo, o preparo e a finalização de

alimentos, observando métodos de cocção e padrões de qualidade dos alimentos”. Como

competências pessoais cita-se habilidade para trabalhar em equipe, dominar técnicas de

preparação e conservação de alimentos, desenvolver paladar e olfato, demonstrar iniciativa e

criatividade, evitar desperdícios, zelar por equipamentos e utensílios, usar EPI (Equipamento de

Proteção Individual) e apresentar asseio e higiene pessoal.

O serviço compreende todas as atividades de atendimento direto ao cliente. Cada

empreendimento adota uma tipologia de serviço adequada ao seu cardápio, modalidade de venda

e quantidade de pessoas a serem atendidas. É possível oferecer self-service para o almoço e a la

carte para o jantar, por exemplo, conforme o público identificado para cada horário (DUARTE,

1996). Devido a essas diferenciações, Rutherford (2004) defende o treinamento multifuncional

para a equipe do serviço de atendimento, pois permitirá que o profissional tenha múltiplas

responsabilidades.

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O setor de eventos é responsável pela locação dos espaços destinados às convenções, reuniões e

banquetes, que pode representar importante fonte de receita e alternativa para combater a

sazonalidade. Geralmente, utiliza os serviços do setor de alimentos e bebidas e comunica-se

através da “ordem de serviço” (CANTON, 2002).

O setor de lazer e recreação promove atividades recreativas diversificadas, visando ao

entretenimento, à integração social e ao desenvolvimento pessoal dos hóspedes – de todas as

faixas etárias. Mais comum em grandes hotéis e resorts, promove atividades lúdicas, administra

equipamentos e materiais para recreação, buscando sempre atividades desenvolvidas segundo as

normas de segurança. O profissional, muitas vezes autônomo, deve transmitir segurança e ter

espírito de liderança, além de criatividade e tolerância (CÂNDIDO; VIEIRA, 2003).

O setor administrativo é responsável pelo planejamento, controle e assessoria na área de recursos

humanos, patrimônio, materiais, financeira, tecnológica, entre outras. Implementa programas e

projetos e monitora o desempenho organizacional. No caso de a administração ser familiar, deve-

se atentar para determinadas características inerentes ao administrador como capacidade de

negociação, comunicação e decisão, espírito empreendedor e de liderança. Nas redes hoteleiras

ou mesmo hotéis independentes com administração profissional, o recrutamento e seleção para as

funções administrativas são bastante rígidos por ser um setor chave para o sucesso da

organização (CÂNDIDO; VIEIRA, 2003).

O Administrador Hoteleiro, mais que ninguém, entende como é trabalhar sob pressão e em

situações de estresse. Por isso, deve estender a preocupação com a saúde e a qualidade de vida à

toda sua equipe de trabalho. No setor de serviços, em especial na hotelaria, esse enfoque é

relativamente novo, mas extremamente importante, justamente devido à exigência por resultados

e diversidade de ocorrências com que se depara diariamente (RUTHERFORD, 2004).

A qualidade de vida no trabalho define-se como o conjunto de ações dentro de uma empresa que

envolve a implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais, que

propiciem condições adequadas de desenvolvimento humano para e durante a realização do

trabalho (LIMONGI-FRANÇA, 2004). A preocupação com a busca pela qualidade de vida no

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trabalho deve-se ao fato de que as pessoas passam, pelo menos, 8 horas diárias e em média 35

anos de suas vidas desempenhando atividades que dêem retorno financeiro, ou seja, trabalhando.

O que se questiona é que o trabalho deve proporcionar às pessoas mais do que divisas.

O local de trabalho, hoje, é um ambiente frio, hostil, que exige muito, econômica e psicologicamente. As pessoas estão emocional, física e espiritualmente exaustas. [...] Ao invés de existirem organizações para aumentar a capacidade das pessoas de ganhar a vida e realizar conquistas significativas, há pessoas sacrificando suas vidas e suas aspirações pelo bem das empresas. [...] os valores que determinam a qualidade da vida da organização não são os grupos de trabalho coesos que tentam fornecer produtos ou serviços excelentes, mas os de uma administração de resultados em uma empresa desesperada por fluxo de caixa (MASLACH. LEITER, 1999, p. 13-15).

A longo prazo, porém, a empresa que prioriza os ganhos financeiros perderá em produtividade

dos funcionários, pois Lopes (2007) ressalta que os principais sintomas de estresse que afetam as

mulheres são a perda de memória, tensão muscular e insônia, enquanto os homens sentem

cansaço constante e irritabilidade. Em contrapartida, Avediani (2007) considera o estresse como

fundamental para uma vida saudável e produtiva, a questão é a forma com que o profissional lida

com ele. Por isso, negociar junto à empresa menos cobranças, prazos maiores ou flexibilização da

carga de trabalho é válido para tentar diminuir os fatores de estresse negativo e propiciar

condições de desenvolvimento humano no trabalho. Um detalhe a ser destacado é o fato de que as

mulheres têm mais propensão a sofrerem com o estresse e doenças decorrentes do trabalho e do

esforço repetitivo. Como possuem menos massa muscular, correm mais riscos de desenvolver

inflamações como tendinites, dores e fisgadas na coluna, além de problemas crônicos como

enxaquecas (GUIMARÃES, 2008).

O ideal para manter a saúde e conquistar qualidade de vida no trabalho é incentivar a alternância

dos movimentos e posições durante o dia e a realização de alongamento. Com o desenvolvimento

da medicina preventiva, atualmente o tratamento de problemas decorrentes da exposição a

condições de trabalho inadequadas e extenuantes é multidisciplinar, pois reúne fisioterapeutas,

massagistas, farmacêuticos e psicólogos. Isso se deve também a um dado levantado pela SBED -

Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (2008): “30 % da população manifesta dores crônicas.

Como se não bastasse o sofrimento, elas ainda representam um alto custo social e econômico ao

provocar a incapacidade para o trabalho em 50% dos casos”. Diante disso convém esquecer o

velho conselho de que é preciso ser forte para agüentar a dor.

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A ciência responsável por estudar esses problemas e encontrar formas de preveni-los é a

Ergonomia. Iida (2003) conceitua Ergonomia como o estudo da adaptação do trabalho ao homem,

considerando-se o trabalho além daquele diante das máquinas e equipamentos utilizados para

transformar os materiais, abrangendo também o relacionamento entre o homem e o seu trabalho.

Diante disso estão envolvidos não somente o ambiente físico, mas também os aspectos

organizacionais de como esse trabalho é programado e controlado para produzir os resultados

desejados. Observa-se que a adaptação sempre ocorre do trabalho para o homem, pois é muito

mais difícil adaptar o homem ao trabalho. Isso significa que a ergonomia parte do conhecimento

do homem para fazer o projeto do trabalho, ajustando-o às capacidades e limitações humanas.

A palavra Ergonomia deriva do grego ergon (trabalho) e nomos (normas, regras, leis). Trata-se de

uma abordagem sistêmica de todos os aspectos da atividade humana. Para tal é necessária uma

visão holística do campo de atuação da disciplina, tanto em seus aspectos físicos e cognitivos,

como sociais, organizacionais e ambientais (ABERGO, 2008).

Gomes Filho (2003) amplia a definição e destaca que o objetivo da Ergonomia é buscar sempre a

melhor adequação dos usuários aos produtos em geral – ferramentas, equipamentos, máquinas,

postos de trabalho, sistemas de informação e assim por diante. Essa adequação refere-se

principalmente à segurança, conforto e eficácia na funcionalidade dos objetos.

A origem da Ergonomia, conforme Iida (2003), se deve ao primeiro homem pré-histórico que

escolheu uma pedra de um formato que facilitasse seu uso como arma ou sua transformação em

ferramenta para garantir sua sobrevivência. Gomes Filho (2003) acrescenta que a partir da Idade

Média obteve-se avanços técnicos nas várias disciplinas que compõem a Ergonomia após as

pesquisas de cientistas como Leonardo da Vinci (Biomecânica – 1452-1519), Albrecht Dürer

(Antropometria – 1471-1528) Charles Coulomb (realizou investigações sobre Ergonomia em

1777), Étienne-Jules Marey (Fisiologia - 1830-1904), Jean-Baptiste Chauveau (Anatomia –

1827-1917), Frederic Taylor (primeiro a se preocupar com a organização científica do trabalho

em 1878) e Jules Amar (estudou os diferentes tipos de contração muscular dinâmica e estática e

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os efeitos do meio ambiente, criando, em 1914 na França, o primeiro laboratório de investigação

sobre o trabalho profissional).

Sua evolução tem relação com as transformações sociais, econômicas e tecnológicas ocorridas no

mundo a partir da segunda metade do século XX. Muitos estudos a respeito da relação do

ambiente de trabalho com o trabalhador decorreram da necessidade de adaptar os instrumentos

bélicos, utilizados na II Guerra Mundial, a fim de reduzir acidentes e erros muitas vezes fatais

Em 1949, na Inglaterra, foi fundada a Sociedade de Investigação Ergonômica (Ergonomic

Research Society), responsável pelo reconhecimento da Ergonomia como disciplina científica

(IIDA, 2003).

No Brasil, a partir da década de 80 é que surgem as primeiras abordagens com relação à

Ergonomia no curso de Engenharia de Produção na Escola Politécnica da Universidade de São

Paulo (USP). Em 1983, foi fundada a ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia “cujo

objetivo é o estudo, a prática e a divulgação das interações das pessoas com a tecnologia, a

organização e o ambiente, considerando as suas necessidades, habilidades e limitações”. Com

sede na Universidade Federal de Pernambuco em Recife-PE, a ABERGO é responsável pela

certificação de pessoas, equipes e empresas prestadoras de serviços de Ergonomia através da

adequação ao Sistema de Certificação do Ergonomista Brasileiro que tem como objetivo

assegurar a competência técnica para o fornecimento de tais serviços.

A legislação brasileira vigente sobre Ergonomia baseia-se na Norma Regulamentadora – NR 17,

elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (2008), que estabelece parâmetros que

permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos

trabalhadores, de modo a proporcionar o máximo de conforto, segurança e desempenho.

Considera, ainda, como condições de trabalho, aspectos relacionados ao levantamento, transporte

e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos, às condições ambientais do posto de

trabalho e à própria organização do trabalho.

Pode-se perceber que uma das principais características dessa recente ciência é a

interdisciplinariedade. Rio e Pires (2001) esclarecem que a Ergonomia é uma das vertentes de

estudo e atuação da saúde ocupacional, que entre outras áreas, engloba a medicina e enfermagem

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do trabalho e a engenharia da segurança do trabalho, com as quais a psicologia, a sociologia e a

antropologia contribuem.

Verdussen (1978) explica que a Ergonomia é produto da colaboração de muitas ciências e

especialidades, visando humanizar o trabalho e como conseqüência natural, incrementar seus

resultados. A otimização do trabalho é um fator intrínseco ao sucesso de pessoas e organizações,

num mundo de alta competição, em que saúde e excelência de desempenho são aspectos

fundamentais. Laville (1977, p. 1) concorda e define Ergonomia como “o conjunto de

conhecimentos a respeito do desempenho do homem em atividade, a fim de aplicá-los à

concepção das tarefas, dos instrumentos, máquinas e sistemas de produção”.

Contribuindo com essas posições, Iida acredita que a aplicação da Ergonomia deve estar presente

desde o planejamento, seja de um posto de trabalho ou de um equipamento:

Numa situação ideal, a Ergonomia deve ser aplicada desde as etapas iniciais do projeto de uma máquina, ambiente ou local de trabalho. Estas devem sempre incluir o ser humano como um de seus componentes. Assim, as características desse operador humano devem ser consideradas conjuntamente com as características ou restrições das partes mecânicas ou ambientais, para se ajustarem mutuamente. (IIDA, 2003, p. 9)

No setor de serviços, em especial na hotelaria, essa necessidade de um planejamento físico que

considere todas as variáveis internas e externas merece maior atenção, pois muitas vezes o local

de trabalho do funcionário é o mesmo utilizado pelo hóspede e acaba sendo projetado priorizando

a beleza em detrimento da operacionalidade. Um exemplo disso é utilizar revestimentos claros

em regiões com terra vermelha ou revestimento de carpete em regiões litorâneas.

As literaturas sobre Ergonomia referem-se, em geral, ao trabalho em indústrias e em escritórios.

A relação homem-computador, inclusive, é tema recorrente em periódicos e sites da Internet. Um

ponto a ser ressaltado, porém, é que os postos de trabalho tradicionais têm se modificado com as

novas tecnologias. Nogueira (2006) expõe a tendência de escritório flexível ou não-territorial em

que o profissional não tem local nem horário de trabalho fixo. Com o avanço da tecnologia sem

fio e dos computadores pessoais trabalha-se em casa, no saguão de um aeroporto ou na sala de

espera do dentista, por exemplo. Essa mobilidade traz novos desafios para a Ergonomia, pois a

adaptação do trabalho ao homem torna-se responsabilidade quase que exclusiva do profissional

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em vários aspectos, desde a postura corporal até a programação e controle das atividades para que

produzam os resultados esperados. Não exagerar nas horas de trabalho nem sacrificar a

convivência social são preocupações com relação a esses novos profissionais “sem-mesa”.

Laville (1977) apresenta diferentes tipos de Ergonomia. A Ergonomia de correção, que procura

melhorar as condições de trabalho já existentes, tem eficácia limitada e custo alto. A Ergonomia

dos meios de produção, isto é, dos componentes do trabalho e a Ergonomia de produto, que é

mais abrangente e utiliza os conceitos ergonômicos na projeção de carros, aparelhos de ginástica

e musculação, eletrodomésticos, entre outros. Percebe-se que a chamada Ergonomia de

concepção apresenta melhores resultados, pois insere na construção de postos de trabalho e

máquinas elementos capazes de evitar a fadiga, o envelhecimento precoce, os acidentes de

trabalho, enfim, formas de manter a qualidade de vida do trabalhador, o que, por conseqüência,

beneficiará a empresa com maior produtividade.

A ABERGO (2008) adota, de maneira geral, três tipos de especialização da Ergonomia, a saber:

Ergonomia Física que está relacionada com as características da anatomia humana,

antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação a atividade física. Inclui o estudo da

postura no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios músculo-

esqueletais relacionados ao trabalho, projeto de posto de trabalho, segurança e saúde; Ergonomia

Cognitiva que se refere aos processos mentais, tais como percepção, memória, raciocínio e

resposta motora conforme afetem as interações entre seres humanos e outros elementos de um

sistema. Inclui o estudo da carga mental de trabalho, tomada de decisão, desempenho

especializado, interação homem computador, estresse e treinamento conforme esses se

relacionem a projetos envolvendo seres humanos e sistemas e a Ergonomia Organizacional que

visa à otimização dos sistemas sócio-técnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas

e de processos. Inclui o estudo da comunicação organizacional, projeto de trabalho, organização

temporal do trabalho, trabalho em grupo, projeto participativo, novos paradigmas do trabalho,

trabalho cooperativo, cultura organizacional, organizações em rede, tele-trabalho e gestão da

qualidade.

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Atualmente, os princípios ergonômicos têm sido absorvidos por outras áreas como o design no

que se refere ao planejamento e criação de produtos confortáveis anatomicamente e adequados à

diversidades de tipos físicos. Gomes Filho (2003) descreve o caso de utensílios de cozinha que

podem oferecer riscos aos usuários. As soluções ergonômicas e o dimensionamento correto que

deve ser dado à pega, à empunhadura, bem como o uso de materiais adequados para cabos, alças

e similares são questões de segurança. Panelas e frigideiras também merecem atenção, pois

manejam alimentos quentes, por isso o material utilizado na textura e na proteção do cabo ou alça

deve oferecer resistência e não ser condutor de calor.

Direcionando-se os aspectos ergonômicos para o local de trabalho, especificamente, este deve ser

sadio e agradável. O ambiente físico apresenta determinadas condições como temperatura,

iluminação, ruídos, vibrações, odores e cores. Quando um ou mais destes elementos não estiver

dentro das faixas de tolerância humana, tornam-se motivo de estresse e insatisfação, podendo

provocar distúrbios que levem ao afastamento do trabalho (IIDA, 2003). Para limitar a área de

estudo, tomou-se como exemplo dois setores de um meio de hospedagem, a área de produção de

alimentos (cozinha) e a governança.

Aspectos como temperatura e unidade ambiental influem diretamente no desempenho do trabalho

humano. O grau de umidade de um ambiente e a velocidade de circulação do ar poderão fazer

com que uma determinada temperatura seja mais ou menos suportável. Há, entretanto, limites

válidos para qualquer situação, além dos quais surge desconforto e danos à saúde. O trabalho

mais prolongado em presença de temperaturas elevadas traz conseqüências sérias como redução

da velocidade das reações, diminuição da agilidade mental, cãibras devido à sudação excessiva e

termodermatites. Esses distúrbios aumentam o risco de acidentes, além de afetarem

negativamente a produtividade do trabalhador O contrário também é prejudicial, ou seja,

temperaturas muito baixas ocasionam redução da capacidade motora e da sensibilidade tátil e em

casos extremos alucinações e, mesmo, a inconsciência (VERDUSSEN, 1978).

Torre (2002) chama atenção ao fato de que locais de trabalho como cozinhas de restaurantes não

costumam ser tranqüilos. Famosos pela pressão sob a qual trabalham seus funcionários nos

horários de pico, as cozinhas são locais quentes, mesmo que contem com sistema de exaustão ou

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ar-condicionado. Também apresentam muitos riscos que podem ocasionar acidentes de trabalho,

por isso o projeto da cozinha de um restaurante deve atentar para uma boa ventilação, a fim de

dissipar o ar quente e eliminar odores.

Quanto à iluminação, o ideal é que seja proporcionada pela luz natural, mas como razões de

ordem prática tornam seu uso limitado, deve-se compensar com luzes artificiais devidamente

distribuídas para adequada iluminação do local ou área de trabalho. Quando for possível

aproveitar a iluminação natural deve-se apenas evitar a incidência direta dos raios solares

utilizando-se de cortinas ou persianas. A má iluminação resulta em danos oculares, menor

produtividade e influência psicológica negativa nas pessoas (VERDUSSEN, 1978).

Na área de produção de alimentos, porém, dá-se preferência a toldos externos, pois cortinas

internas demandariam limpeza diária. A ABERC (Associação Brasileira das Empresas de

Refeições Coletivas) (2003) recomenda que as janelas devem ter superfícies lisas e laváveis e

estar protegidas de maneira que não permitam a penetração direta do sol sobre os alimentos e a

superfície de trabalho. As lâmpadas e instalações de iluminação suspensa sobre os produtos

alimentícios devem estar protegidas por grades para evitar a contaminação dos alimentos em caso

de quebra.

Os fatores a serem considerados no projeto de iluminação de um ambiente de trabalho são

inúmeros, mas a qualidade de iluminação de um ambiente dependerá basicamente da adequação

ao tipo de atividade prevista, da limitação do ofuscamento e brilho incômodo, da distribuição

uniforme das luminárias pelo recinto e da eliminação do calor inconveniente das fontes de luz.

Com relação ao ruído este refere-se a um som ou complexo de sons que proporcionam uma

sensação de desconforto. Sua percepção pode variar de pessoa para pessoa, pois fatores como

idade, condicionamento emocional e até mesmo gosto musical podem interferir naquilo que cada

um entende como um barulho insuportável. O fato é que um ambiente de trabalho ruidoso afeta

física e psicologicamente o trabalhador, pois tende a aumentar o estado de tensão, angústia e

irritabilidade. O ouvido humano percebe sons cuja pressão sonora esteja entre 0 e 140 decibéis

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(dB), sendo que o limite da sensação dolorosa os 120 dB, pois aos 140 dB há risco de ruptura do

tímpano (VERDUSSEN, 1978).

O primeiro procedimento para se evitar ou minimizar o ruído é descobrir sua origem e realizar

pequenos ajustes como manutenção do maquinário a isolamento acústico. Às vezes, porém, a

causa do problema é externa ao local de trabalho. O uso prolongado de aparelhos de MP3, por

exemplo, tem sido o principal motivo de danos ao ouvido. Isso porque os fones de ouvido emitem

as ondas sonoras diretamente no canal auditivo, a plena potência. Além disso, ao ouvir música

com fones não se incomoda quem está em volta e pode-se aumentar o volume ao máximo. Outro

ponto é que ao contrário de um CD tradicional que armazena algumas horas de música, os

aparelhos digitais portáteis podem ser ouvidos um dia inteiro, continuamente (GRECO, 2006).

Por isso as empresas devem ter um compromisso com a orientação de seus funcionários. Os

aspectos ergonômicos devem ser estendidos ao cotidiano do trabalhador, pois nem sempre o

motivo de afastamento do trabalho por motivo de saúde é responsabilidade da empresa.

No que diz respeito aos odores, certamente, são bastante desagradáveis os locais onde

predominem maus cheiros ou cheiros fortes. Quando existir exposição a agentes químicos como

agrotóxicos ou metais pesados, os trabalhadores devem ser protegidos por equipamentos de

proteção individual – EPI, como luvas e máscaras (IIDA, 2003).

A presença de odores é inerente à área de produção de alimentos, por isso o sistema de ventilação

de uma cozinha deve ser muito bem planejado. A ABERC (2003) indica que deve ser instalado

sobre todas as ilhas de cocção2 um sistema exaustor para dissipar o vapor e os odores decorrentes

do cozimento.

Um dado que chama atenção é que as mulheres, devido às variações hormonais, são mais

suscetíveis a sofrer com mudanças bruscas de temperatura, barulho freqüente ou odores fortes.

Esses fatores ambientais extremos podem causar crises de enxaqueca, que atingem de 13 a 18%

da população feminina brasileira, ou dores de cabeça mais brandas, mas repetidas, que já afetam

2 Ilhas de cocção: conjunto de equipamentos – fritadeira, forno, chapa de grelhado, fogão - instalados no meio da cozinha (Cozinha Profissional, 2008).

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80% das mulheres. Além disso, quando exposto a situações de estresse, distúrbios do sono ou

alcoolismo o sexo feminino é o alvo preferido das cefaléias (SBED, 2008). Assim, a dor de

cabeça feminina não deve ser encarada como uma desculpa, nem virar motivo de brincadeira

entre colegas de trabalho.

Em se tratando de cores considera-se as quentes, ou estimulantes, aquelas que provocam

estímulos, exceto quando em excesso, que enervam. Indicadas para ambientes onde são

desempenhadas tarefas monótonas (VERDUSSEN, 1978). Observa-se que o setor de recepção de

hotéis costuma apresentar cores quentes como tons de vermelho, laranja e amarelo, pois

transmitem a sensação de aconchego, remetendo a hospitalidade.

As cores frias como branco, azul-claro e verde-claro são indicadas para locais onde o trabalho é

fisicamente intenso, ou em que seja elevada a temperatura ambiente, pois são cores que

transmitem a sensação de frescor, tornando menos cansativa a atividade. Em ambientes de

trabalho como cozinhas de restaurantes isso é válido e além de tudo recomendado por uma

questão de higiene. A ABERC (2003) considera adequado que as paredes e divisórias, o piso e o

forro sejam de cor clara, acabamento liso e resistentes a higienização freqüente.

As cores são um importante complemento ambiental, pois sua combinação conveniente pode dar

a impressão de que um local é maior, menor, mais alto ou mais acolhedor. Outra função muito

importante das cores é sua aplicação visando à sinalização de segurança. A NR 26 (MTE, 2008)

recomenda o uso da cor vermelha em equipamentos de combate a incêndio, do amarelo para

indicar cuidado ou delimitar locais de trabalho perigosos, do verde para identificar equipamentos

de primeiros socorros, do branco para identificar locais de coleta de resíduos, entre outras

indicações que não se aplicam aos setores em questão.

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Considerando-se ainda a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho (Ministério da Saúde,

2008), a atividade profissional de auxiliar de cozinha, cozinheira e camareira está exposta a

doenças pulmonares crônicas como asma e bronquite, devido à utilização prolongada de cloro na

desinfecção de superfícies e utensílios.

No caso específico da auxiliar de cozinha e cozinheira, devido à exposição a riscos químicos e

biológicos decorrentes da provável contaminação de alimentos por microorganismos e parasitas,

é possível contrair tuberculose, leptospirose, tétano, entre outras patologias. Por isso a

preocupação com a higiene e segurança do ambiente e dos manipuladores é essencial para

oferecer condições adequadas de trabalho.

Assim, considerando-se que se passa praticamente um terço do dia no trabalho, seu ambiente ser

agradável e influenciar o estado de ânimo positivamente é mais que favorável à produtividade e

ao bem-estar do trabalhador.

No caso da camareira de hotel, colaboradora essencial do setor de governança, seu local de

trabalho é a própria UH (Unidade Habitacional). O aspecto ergonômico ambiental que merece

maior atenção está relacionado à segurança da profissional. O revestimento do piso, por exemplo,

é escolhido primando pelo conforto visual que proporcionará ao hóspede, mas será que é pensado

na situação de trabalho da camareira que vai utilizar esse piso molhado? (GOMES FILHO, 2003)

O risco de escorregões e quedas que podem resultar em graves acidentes é iminente e o

tratamento antiderrapante deve ser um investimento do hoteleiro para garantir a integridade física

de seus profissionais.

Os aspectos ambientais relacionados à temperatura, iluminação, ruídos e cores não oferecem

demasiados riscos no caso da atividade profissional de camareira. No que tange aos odores, deve-

se atentar ao contato freqüente com produtos químicos utilizados na limpeza, geralmente

concentrados. Para evitar acidentes deve-se fornecer, exigir e verificar o uso de Equipamentos de

Proteção Individual como luvas, máscaras e óculos no desempenho dessa atividade (CÂNDIDO;

VIEIRA, 2003).

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Os aspectos ergonômicos relacionados às posturas no trabalho referem-se à correta orientação do

funcionário. Às vezes o local de trabalho pode ser mal concebido, mas em outras pode ser falta de

informação e consciência corporal do trabalhador.

A má postura, além de prejudicial à saúde, pode transmitir sentimentos negativos através da

linguagem corporal. Braços cruzados, por exemplo, demonstram uma atitude defensiva, enquanto

inclinar-se sobre o balcão pode representar cansaço e desatenção. Em contrapartida, o principal

motivo da má postura do trabalhador é a altura inadequada do local de apoio no posto de

trabalho. Segundo Kroemer e Grandjean (2005) se a bancada, por exemplo, é muito alta, os

ombros são erguidos para compensar, o que leva a contrações musculares dolorosas na altura da

nuca e das costas. Já se a mesa, por exemplo, é muito baixa, as costas são sobrecarregadas pelo

excesso de curvatura do tronco provocando dores na região.

Devido a variedade de tipos físicos e faixas de altura o empregador tem duas possibilidades:

planejar postos de trabalho com alturas reguláveis ou adotar uma política de seleção que dê

preferência aos profissionais com faixas de altura semelhantes – o que é questionável, pois pode

configurar-se como discriminação. Diante disso a aplicação da Ergonomia de concepção ganha

importância, pois prevê um planejamento completo anterior ao início das atividades. Observa-se

que essa recomendação, porém, sofre limitações como no caso de prédios alugados onde não são

permitidas reformas estruturais.

Conforme pesquisa recente de Nunes (2007) um problema decorrente da má postura que vem

aumentando entre trabalhadores com faixa etária entre 20 e 35 anos é a hérnia de disco.

Provocada por um desgaste nos discos que existem entre as vértebras da coluna, sua origem pode

ser também obesidade e sedentarismo. O tratamento é feito com antiinflamatórios e analgésicos,

além de fisioterapia e prática de alongamento, mas o resultado positivo depende mesmo de uma

mudança de hábitos. A autora completa indicando alguns cuidados diários que o profissional

deve ter para prevenir a hérnia de disco:

• cadeira, mesa e acessórios devem garantir boa postura, apoiando coluna, pernas e braços

que devem permanecer em ângulo reto; • não cruze as pernas: os pés devem ficar bem apoiados no chão. Não sente na ponta da

cadeira, nem com o corpo torto;

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• se você fala muito ao telefone e precisa executar outra tarefa ao mesmo tempo, tenha um headfone (fone de ouvido). Nada de apoiar o telefone no ombro, porque isso força o pescoço e a coluna;

• não abaixe curvando as costas, só dobre os joelhos e

• o descontentamento com o ambiente de trabalho deixa qualquer um tenso, o que pode provocar dores nas costas. Por isso, se possível, garanta boas condições físicas e emocionais no trabalho. E procure atividades para aliviar o estresse (NUNES, 2007, p. 90)

Uma das doenças mais associadas ao trabalho é a LER - Lesões por Esforço Repetitivo,

posteriormente denominada DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho,

provocada pelo uso inadequado e excessivo do sistema que agrupa ossos, nervos, músculos e

tendões e atingem principalmente os membros superiores. As principais causas são posturas

inadequadas, ritmos acelerados de trabalho e ausência de pausas em tarefas que exigem

descansos. Os sintomas mais comuns são dores, sensação de formigamento, dormência, fadiga

muscular, perda de força muscular em conseqüência de alterações nos tendões, musculatura e

nervos periféricos. O tratamento pode ser clínico, com a indicação de remédios antiinflamatórios,

ou fisioterápico com prática de alongamento e fortalecimento muscular (FERREIRA, 2008).

Referente à atividade profissional de auxiliar de cozinha, cozinheira e camareira, o desempenho

das tarefas acontece em constante movimento, geralmente em pé. Por isso, um fator que provoca

grande desconforto e atinge os membros inferiores é a má circulação sangüínea, a qual, por

fatores hereditários e de estilo de vida, pode ocasionar varizes. As veias dilatadas, além de um

problema estético que afeta a auto-estima, podem provocar sensação de cansaço nas pernas,

inchaço e câimbras. A Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (2008) explica que

as varizes são provocadas devido a um defeito no retorno venoso do sangue. E o exercício mais

indicado para aliviar os sintomas é a caminhada, pois a bomba plantar é ativada a cada passo e o

sangue acumulado nos pés é bombeado para cima. Exercícios para a panturrilha também são

aconselháveis, pois a contração dos músculos da "batata da perna" também serve de bomba para

o retorno venoso.

As vantagens da caminhada como exercício físico são exaltadas por diversos profissionais da

saúde. Martinelli (2008) destaca que a atividade melhora a circulação e ajuda a diminuir os riscos

de problemas cardíacos. Além disso, reduz gorduras localizadas e é excelente para quem é

sedentário e quer começar um programa de exercícios porque o risco de lesão é pequeno, pois a

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intensidade é baixa. A freqüência indicada é de três a cinco vezes por semana, 30 minutos ao dia.

O professor ressalta, porém, que nunca se deve passar dos limites do corpo. O ritmo da

caminhada deve aumentar de acordo com os progressos da resistência física. Ele lembra também

de dar preferência a roupas leves e não esquecer da ingestão de líquido antes, durante e depois da

caminhada.

Apesar dos benefícios que a caminhada proporciona há um agravante: devido à influência dos

hormônios e peculiaridades da anatomia a possibilidade de lesões nos joelhos das mulheres é

maior que nos homens. A saída para prevenir boa parte dos problemas é preparar o corpo –

especialmente a área do joelho – antes de escolher um esporte, em especial os de impacto. Não

importando a modalidade, sempre é indicado reforçar os membros inferiores praticando sessões

de musculação. A escolha de um calçado compatível, confortável e com sistema de

amortecimento é imprescindível para absorver o impacto e minimizar os problemas nessa

articulação tão frágil nas mulheres. Praticar alongamento também protege os joelhos porque

aumenta o grau de flexibilidade das pernas, mas deve haver uma continuidade, fazer parte do

cotidiano da pessoa (KURT, 2008).

O alongamento, quando executado de maneira correta, não deve gerar dores musculares,

oxigenando a musculatura, eliminando as toxinas e possibilitando resposta motora mais rápida. A

redução das tensões musculares, próprias do estresse, é outro benefício. Os movimentos,

normalmente bloqueados, pela atividade profissional ou por um treinamento esportivo mais

intenso, ficam liberados (KURT, 2008).

A questão é que as empresas só têm condições de orientar seus funcionários quanto à importância

e benefícios da atividade física como um dos componentes da Ergonomia. A única forma de

interferir diretamente nessa relação é promovendo a ginástica laboral, que nem sempre é bem

vista por representar um centro de custos para a empresa. Verderi (2008) elaborou um

levantamento para verificar o custo de pacotes de ginástica laboral e constatou que variam de

R$3.300,00 mensais, para atividades cinco vezes por semana, a R$ 500,00 mensais, para

atividades duas vezes por semana. A orientação deve ser dada, preferencialmente, por

profissional de educação física ou fisioterapeuta.

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A prática de ginástica laboral é relativamente recente e deve ser compreendida como um

instrumento na melhoria da saúde física do trabalhador, reduzindo e prevenindo problemas

ocupacionais, através de exercícios específicos que são realizados no próprio local de trabalho,

durante o horário de expediente. Para as empresas, a incorporação da prática de exercícios físicos

no ambiente organizacional pode trazer benefícios como redução de absenteísmo e rotatividade

de funcionários, aumento da produtividade e maior integração da equipe (SOUZA, 2006).

Diante desse panorama percebeu-se a colaboração de diversas ciências e especialidades para com

a Ergonomia. E se o objetivo principal da maioria dos empreendimentos é incrementar seus

resultados e mostrar-se competitivo num mercado globalizado e com bastante concorrência o

diferencial encontra-se na humanização do trabalho. A questão da otimização do trabalho através

da promoção do bem-estar e da qualidade de vida dos funcionários deve estar previsto no

planejamento das empresas conscientes e inovadoras.

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5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Uma das medidas corporativas mais eficientes para melhorar o ambiente de trabalho consiste em

conhecer a fundo os colaboradores de cada setor e identificar suas necessidades. A partir do

momento em que a empresa considera válida a aplicação de uma pesquisa que investigue as

possíveis causas de um problema ela demonstra sua preocupação com o bem-estar de seus

trabalhadores. Permite que eles tenham voz, sejam escutados e possam apontar soluções que

auxiliem na tomada de decisão, visando promover melhorias contínuas no ambiente de trabalho.

No Hotel Jardim Europa, a coleta dos dados primários ocorreu durante o mês de fevereiro de

2008 com as colaboradoras que desempenham as funções de Camareira, Auxiliar de Cozinha e

Cozinheira. O objetivo da aplicação do questionário com perguntas abertas e fechadas era

identificar as características dessas profissionais, suas condições de trabalho do ponto de vista da

Ergonomia, bem como as sugestões de benefícios e melhorias. A opção por limitar a pesquisa às

três funções citadas anteriormente foi devido ao fato observado durante a prática do Estágio

Supervisionado de que o afastamento do trabalho por motivo de saúde era freqüente.

Foram aplicados dezessete questionários num total de vinte e uma profissionais que compõem a

equipe da área de produção do Restaurante e do setor de Governança. Duas Camareiras não

responderam devido ao afastamento do trabalho por motivo de saúde, uma Cozinheira

encontrava-se no período de férias e outra em licença maternidade.

A primeira pergunta referia-se à função desempenhada no Hotel Jardim Europa para quantificar a

distribuição das profissionais nos setores. Verificou-se, conforme demonstrado no Gráfico 01,

que 47% são Camareiras, 35% Auxiliares de Cozinha e 18% Cozinheiras. Essa proporção se deve

à preocupação do Hotel com a qualidade da higienização das Unidades Habitacionais (UH's),

pois cada Camareira é responsável por, em média, 11 UH's, quantidade considerada baixa, pois

Cândido (2001) sugere que é possível designar até 20 UH's para cada Camareira.

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Gráfico 01: Função desempenhada no Hotel Jardim Europa Fonte: Beck, 2008

A segunda pergunta questionava há quanto tempo a profissional trabalhava no Hotel Jardim

Europa. A proporção das respostas, demonstrada pelo Gráfico 02, evidenciou que a rotatividade

de funcionários na empresa é baixa, pois 29% são funcionárias do Hotel por um período entre 1 a

3 anos e 23% trabalham lá por um período entre 5 a 7 anos. As opções entre 3 a 5 anos e entre 7 a

10 anos ou mais receberam 18% das respostas cada. Apenas 12% desempenham sua função por

um período entre 6 meses a 1 ano. Não houve resposta para a opção 1 a 6 meses.

A rotatividade de funcionários, também conhecida pela expressão turn over, é a relação entre os

desligamentos e o número médio de funcionários que compõem o quadro de pessoal,

considerando um determinado período de tempo. Uma empresa com alta rotatividade de

funcionários é prejudicada porque tem seus custos com demissão aumentados (multas

contratuais, exames demissionais), contratação (divulgação da vaga) e integração de um novo

funcionário (treinamento, tempo de adaptação). O contrário, porém, pode não ser totalmente

positivo, pois a baixa rotatividade pode bloquear o desenvolvimento de estágios na carreira,

limitar a utilização de novas tecnologias e favorecer a permanência de funcionários de baixo

desempenho (KIMURA, 2003). Diante dessas informações, sugere-se implementar no Hotel

Jardim Europa ações constantes de motivação, para que as profissionais não se sintam na zona de

conforto e possam contribuir com a empresa em situações normais ou adversas.

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Gráfico 02: Tempo que desempenha a função no Hotel Jardim Europa Fonte: Beck, 2008

A terceira pergunta desejava saber a faixa etária das profissionais que desempenham as funções

de Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa. Percebeu-se que é uma

equipe madura, pois 53% das entrevistadas têm entre 41 a 50 anos. As demais declararam ter

entre 26 a 32 anos, equivalendo a 23%, e as opções entre 33 a 40 anos e acima de 50 anos tiveram

a proporção de 12% cada. Não houve resposta para a opção 20 a 25 anos.

Essa característica, apresentada pelo Gráfico 03, deve-se à política de Recursos Humanos do

Hotel de dar preferência a profissionais que possuem experiência anterior na função. A idade

avançada, em geral, sugere maior comprometimento e responsabilidade no cumprimento das

atividades. Em contrapartida, deve-se atentar aos vícios que às vezes a profissional de mais idade

traz consigo. Por isso, ações de treinamento e atualização são essenciais para manter a equipe

unida e não provocar o sentimento de ameaça ao seu lugar perante a chegada de colegas de

trabalho mais novas e com conhecimentos e experiências diferentes.

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Gráfico 03: Faixa etária das profissionais que desempenham as funções estudadas Fonte: Beck, 2008

Quando perguntadas sobre a altura pôde-se perceber que a profissional mais baixa possui

1,63 m e a mais alta 1,70m. Essa variação pequena é positiva do ponto de vista da Ergonomia,

pois a altura das bancadas na área de produção ou das prateleiras na rouparia pode ser uma só

porque não causaria desconforto no decorrer das tarefas.

Quanto ao peso a variação foi maior, pois a profissional com menos peso possui 49Kg e a com

mais peso 94Kg. Utilizou-se como parâmetro o cálculo do IMC – Índice de Massa Corporal, que

divide o peso pelo valor da altura ao quadrado, para avaliar se elas encontram-se dentro de uma

proporção considerada adequada. Verificou-se que 52% das profissionais têm IMC entre 22 e 25,

o que é positivo, pois para mulheres o ideal é que o resultado fique entre 20 e 25. (RIBEIRO,

2008). Percebeu-se, entretanto, que as profissionais que apresentam IMC entre 26 e 35, ou seja,

numa proporção inadequada para qual se deve indicar dieta de emagrecimento, somaram 36%.

Por outro lado, 12% das profissionais encontram-se abaixo do peso compatível com sua altura

apresentando IMC entre 17 e 19. Isso pode ocasionar enfermidades como anemia ou sensação de

cansaço e mesmo ser um sintoma de problemas mais graves como má absorção de nutrientes ou

distúrbios alimentares.

Esses dois extremos demandam ações de esclarecimento quanto à alimentação saudável que, já se

sabe, tem o poder de prevenir doenças como câncer, problemas respiratórios, neurológicos,

cardiovasculares e de pressão arterial. Para mulheres, em especial, o consumo regular de

alimentos como soja atuam na prevenção e controle de sintomas da menopausa, enquanto

sementes e fibras têm função de regular o intestino. Além disso, deve-se dar preferência a

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temperos e ervas como pimenta, gengibre, orégano e alecrim, pois reduzir a quantidade de sal e

condimentos industrializados na alimentação diária evita o envelhecimento precoce (DUARTE,

2008). Assim como a atenção aos aspectos ergonômicos, a ingestão freqüente de alimentos

funcionais tem a capacidade de promover saúde e bem-estar tanto na vida profissional, quanto

pessoal.

A quinta pergunta referia-se ao grau de escolaridade das profissionais pesquisadas. Através do

Gráfico 04 pode-se visualizar que 47% delas possuem o Ensino Fundamental Completo e apenas

12% têm o Ensino Médio Completo. A proporção para a opção Ensino Fundamental Incompleto

foi de 18% e para Ensino Médio Incompleto foi de 23%. Essa informação é preocupante do ponto

de vista da qualidade dos serviços prestados, apesar de as funções de Camareira, Auxiliar de

Cozinha e Cozinheira não serem de contato direto com o público.

Outra questão é que se a maioria das profissionais têm entre 41 e 50 anos e o grau de escolaridade

é baixo aponta que estão há um bom tempo sem estudar. Além de prejudicial do ponto de vista

técnico, esse cenário pode provocar uma baixa auto-estima entre as profissionais, até porque

nessa faixa etária os filhos costumam estar crescidos e elas podem se sentir "passadas para trás".

O Gerente Geral declarou em entrevista que há um esforço por parte da administração para mudar

essa situação através da exigência do atestado de freqüência escolar dos filhos menores de 14

anos e do incentivo à procura por cursos supletivos utilizando como argumento a possibilidade de

promoção dentro da empresa ou conquista de melhor posição em outra empresa da região, além

de representar um exemplo para os filhos. Mas nem sempre essa estratégia funciona.

Gráfico 04: Grau de Escolaridade Fonte: Beck, 2008

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A sexta pergunta desejava saber qual a distância percorrida entre a casa e o local de trabalho e

após, qual o meio de transporte utilizado para chegar. Devido à política de Recursos Humanos de

dar preferência aos residentes no seu entorno, o Gráfico 05 mostra que 53% das profissionais do

Hotel Jardim Europa moram de 2 a 5 Km de distância. A opção de resposta até 1 Km equivale a

35% e de 6 a 10 Km, 12%. Não houve resposta para as opções de 11 a 15 Km nem acima de 16

Km. Isso representa uma economia para empresa em termos de vale transporte e contribui para o

desenvolvimento das comunidades vizinhas.

Gráfico 05: Distância de casa até o Hotel Jardim Europa Fonte: Beck, 2008

Quando perguntadas sobre o meio de transporte utilizado para se deslocar até o local de trabalho,

conforme apresenta o Gráfico 06, a resposta mais citada foi a pé com 76%. Isso é bastante

positivo do ponto de vista da Ergonomia, pois uma das atividades físicas mais completas é a

caminhada. Deve haver uma orientação quanto ao uso do calçado adequado, com sistema de

amortecimento para evitar lesões. Aconselhar a ingestão freqüente de líquidos e a utilização de

protetor solar também são válidas, pois o cuidado com a saúde da profissional deve estender-se

ao seu cotidiano e não soar como uma imposição da empresa. Provavelmente, as profissionais

alegariam que adquirir um tênis com amortecedor e passar e reaplicar o protetor solar com a

freqüência indicada representaria uma despesa com a qual não podem arcar, por isso a empresa

poderia avaliar se é possível subsidiar esses artigos. Até porque o protetor solar já é visto como

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um EPI – Equipamento de Proteção Individual3 atualmente. As opções de resposta moto e ônibus

receberam o percentual de 6% cada e a opção carro recebeu o percentual de 12%. Não houve

resposta para a opção bicicleta.

É importante ressaltar que o Hotel transporta os funcionários do Restaurante que trabalham no

turno da noite para voltarem para casa (1 hora da manhã) e para as funcionárias que produzem o

café da manhã irem trabalhar (5 horas da madrugada), pois nesses horários não há transporte

coletivo na cidade. Assim, foi considerado o meio de transporte que utilizam no horário oposto.

Gráfico 06: Deslocamento de casa até o Hotel Jardim Europa Fonte: Beck, 2008

A oitava pergunta referia-se ao tempo médio de deslocamento entre a residência e o local de

trabalho. A resposta que recebeu maior percentual, conforme o Gráfico 07, foi 20 min com 47%,

provavelmente devido a distância entre a residência das funcionárias e o Hotel variar, em sua

maioria, entre 1 a 5 Km apenas. A segunda opção mais apontada foi 10 min com 20%. As

opções 30 min e 40 min receberam o percentual de 13% cada e a menos votada foi 50 min com

7%. Não houve resposta para a opção acima de 60 min. Esses resultados demonstram que a

proximidade do Hotel com o local de moradia das funcionárias é grande permitindo ir almoçar

em casa, por exemplo, prática que proporciona convivência com a família e conseqüente

qualidade de vida.

3 Protetor solar como EPI: o projeto do deputado paulista Antônio Lobbe Neto tramita no Congresso Nacional. Desde 2007, o produto é considerado medicamento, não mais cosmético, pois o câncer de pele representa 25% de todos os tumores malignos registrados no Brasil (Câmara dos Deputados, 2008).

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Gráfico 07: Tempo de deslocamento de casa até o Hotel Jardim Europa Fonte: Beck, 2008

As entrevistadas também foram questionadas quanto à jornada de trabalho. Não houve muita

variação, conforme apresentado no Gráfico 08, pois as Cozinheiras e Auxiliares de Cozinha,

equivalentes a 47%, trabalham 6h por dia e têm 15 min de intervalo para refeição. As camareiras,

equivalentes a 53%, trabalham 7h20 e têm 1h de intervalo para almoço. Apenas uma Auxiliar de

Cozinha do turno do dia trabalha 7h20min e tem 2h de intervalo porque é responsável pelo

fechamento da área de produção. Não houve resposta para as opções 4h, 8h, nem acima de 8h. Na

época da alta temporada, de dezembro a fevereiro, ou em dias de evento, a jornada de trabalho

costuma se estender por 1h ou 2h, mas há pagamento de horas extras.

Gráfico 08: Jornada de trabalho Fonte: Beck, 2008

Uma questão impresicidível para a análise dos aspectos ergonômicos foi identificar a sensação

física das profissionais após um dia de trabalho. O resultado foi considerado positivo, pois

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conforme o Gráfico 09, a grande maioria, 41%, sente cansaço natural. Em contrapartida, é

preocupante que uma parcela delas, 35%, sinta dores leves, mas constantes o que, se não tratado,

pode provocar lesões permanentes ou problemas mais graves que exijam o afastamento do

trabalho por motivo de saúde. As demais opções de resposta, dores leves ou dores fortes,

apresentaram o percentual de 12% cada. Não houve resposta para a opção dores insuportáveis, o

que também é positivo, pois indica que a profissional conhece o limite de seu corpo e não permite

que o desconforto atinja um estágio avançado.

Gráfico 09: Sensação física após um dia de trabalho Fonte: Beck, 2008

Procurou-se levantar também quais as partes do corpo onde a profissional sente maior

desconforto, sendo possível mais de uma resposta. O maior percentual, 28%, conforme Gráfico

10, apontou para desconforto e dores nas pernas, seguido das costas com 22%. Esse resultado já

era esperado, devido às características das funções estudadas de trabalhar em pé e em constante

movimento. Um agravante, porém, refere-se principalmente às Camareiras que devido ao partido

arquitetônico horizontal do Hotel deslocam-se ao ar livre com freqüência, além do fato de

precisarem levar a roupa suja das UH's até a lavanderia nas mãos. Esses fatores merecem bastante

atenção no que tange ao uso de calçado adequado, uniforme de tecido arejado para o verão e

quente para o inverno, ingestão de líquidos devido à transpiração natural e aplicação de protetor

solar devido à exposição aos raios solares. As demais opções de resposta foram pés com 17%,

pescoço e ombros com 8% cada, punhos e mãos e quadril com 6% cada e braços com 5%.

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Para evitar o desconforto ou mesmo dores constantes o exercício mais indicado é o alongamento,

praticado antes de iniciar o turno de trabalho, pois aquece as articulações e "avisa" ao corpo que

ele iniciará uma atividade que exige esforço.

Gráfico 10: Parte do corpo onde sente maior desconforto

Fonte: Beck, 2008

Quando perguntadas sobre a atenção que davam à postura durante o trabalho as respostas ficaram

equilibradas, pois conforme mostra o Gráfico 11, 53% não prestam atenção contra 47% que

tomam cuidado com a postura enquanto desempenham suas tarefas. A justificativa para não

atentar à postura era a "falta de tempo", enquanto as profissionais que se preocupavam alegaram

ter recebido alguma orientação a respeito. Isso prova que se a atenção a postura tornar-se normal

para a profissional ela não precisa "pensar" se seu corpo está na "certo ou errado", pois é natural

que ela se posicione de forma correta. Por esse motivo, a análise dos aspectos ergonômicos se

torna válida para direcionar as ações de melhoria na qualidade de vida e condições de trabalho

das Camareiras, Auxiliares de Cozinha e Cozinheiras do Hotel Jardim Europa.

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Gráfico 11: Atenção à postura durante o trabalho

Fonte: Beck, 2008

Como o fato que motivou a pesquisa foi o grande número de afastamentos do trabalho por motivo

de saúde buscou-se identificar também quais as ocorrências mais comuns, tanto no questionário

direcionado às profissionais quanto na entrevista realizada com o Gerente Geral do Hotel. Os

problemas mais citados foram doenças respiratórias, comuns devido ao inverno rigoroso da

região, e questões relacionados aos filhos como acompanhá-los no hospital ou mesmo licença

maternidade.

As demais ocorrências são variadas e pode-se dividi-las em problemas internos e externos à

empresa. Dentre os problemas internos estão machucar o braço carregando o lixo do Restaurante,

levar choque realizando a limpeza pesada da fritadeira da cozinha, queda devido a desnível não

sinalizado, fratura no braço devido a queda, intoxicação química devido à inalação de produto de

limpeza concentrado, lesão nas mãos por provável irritação com produtos de limpeza. Essas

ocorrências são passíveis de correção, pois com orientações quanto ao limite máximo de peso que

se pode levantar e deslocar, leitura das orientações na embalagem dos produtos e uso de luvas a

maioria delas poderia ser evitada ou ao menos minimizada. O tempo mínimo de afastamento do

trabalho citado foi de 5 dias e o máximo 3 meses, desconsiderando-se a licença maternidade que

prevê em lei o afastamento por 4 meses.

Dentre os problemas externos à empresa foram citados crise de hipertensão, gastrite nervosa,

repouso devido a aborto espontâneo, problema de visão e acidente de carro. O tempo mínimo de

afastamento do trabalho citado foi de 2 dias e o máximo 45 dias.

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Quanto às profissionais que estavam afastadas por motivo de saúde no período de Estágio

Supervisionado, uma Camareira precisou realizar cirurgia para retirar fístula no intestino e outra,

após complicações decorrentes de cirurgia na vesícula precisou realizar nova intervenção. Isso

provocou afastamento por tempo indeterminado de ambas e solicitação junto ao INSS – Intituto

Nacional de Seguridade Social de auxílio doença para recuperação. Diante disso, a princípio, a

empresa não tem despesa com estas funcionárias enquanto estão afastadas do trabalho, a questão

é todo o remanejamento necessário entre as demais profissionais e sua sobrecarga de trabalho.

Assim, se faz necessária uma análise dos aspectos ergonômicos que provocam essas ocorrências

e procurar intervir de forma a impedir ou ao menos diminuir o afastamento do trabalho por

motivo de saúde entre as profissionais da área de produção do Restaurante e do setor de

Governança.

Um dos instrumentos mais eficientes para evitar acidentes de trabalho é o uso de EPI. Por isso,

foi perguntado a respeito em dois momentos: quais EPI's o Hotel fornecia e quais as profissionais

realmente usavam, sendo possível mais de uma resposta. O Gráfico 12 deixa claro que a empresa

fornece os EPI's necessários. Os artigos mais comuns como luvas, touca e sapato aintiderrapante

receberam a porcentagem de 23%. A proteção para a câmara de congelados do Restaurante e

avental aparecem com 12% cada, enquanto o protetor de ouvido e os óculos aparecem com 4%

cada. Não houve resposta para opção máscara.

Gráfico 12: EPI – Equipamentos de Proteção Individual que Hotel fornece

Fonte: Beck, 2008

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A maioria das profissionais, somando 66%, afirma que utiliza luvas e touca, conforme Gráfico

13. Em seguida, aparece o uso avental com 17%, o uso do sapato aintiderrapante com 15%, e o

uso da proteção na câmara de congelados apenas 2% o que representa um risco, pois o choque

térmico pode ser prejudicial à saúde. Quando se passa de um ambiente muito refrigerado para

outro quente, ou vice-versa, ocorre um choque térmico e o organismo aciona uma série de

recursos para manter a temperatura do corpo estável. Esse processo pode comprometer

temporariamente as defesas imunológicas do corpo e abrir espaço para a ação de vírus e

bactérias, provocando doenças respiratórias. Não houve resposta para opção máscara, óculos ou

protetor de ouvido. Poucas usam sapato antiderrapante porque o consideram desconfortável.

Gráfico 13: EPI – Equipamentos de Proteção Individual que realmente usa

Fonte: Beck, 2008

Considerando-se que o ambiente organizacional é um dos aspectos que compõem a Ergonomia

questionou-se quanto ao sentimento com relação à vida pessoal e profissional. A maioria das

profissionais, 59%, conforme Gráfico 14, afirmou que consegue separar os problemas pessoais

dos problemas do ambiente de trabalho. Um fator positivo é que 35% afirmaram estar felizes e

realizadas tanto na vida pessoal quanto profissional enquanto apenas 6% afirmaram estar

estressadas e insatisfeitas. Não houve resposta para a opção está satisfeita com a vida pessoal,

mas insatisfeita com a vida profissional.

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Gráfico 14: Sentimento com relação à vida pessoal e profissional

Fonte: Beck, 2008

Buscou-se identificar também quais benefícios as profissionais consideravam mais pertinentes às

suas características e da empresa. A opção mais citada foi o plano de saúde com 33%. O Gráfico

15 aponta que as opções uniforme mais flexível, bolsa de estudos para os filhos e almoço gratuito

aparecem com 14% cada. É importante esclarecer que as opções de resposta almoço gratuito e

local de descanso adequado no intervalo de almoço, com percentual de apenas 4%, referem-se

apenas às camareiras, que têm 1h de intervalo e costumam permanecer no Hotel. Há uma cozinha

própria para preparação e consumo da refeição, mas elas solicitam que seja fornecida pelo Hotel

gratuitamente ou pelo menos a um preço popular como acontece na maioria das empresas da

região.

Disponibilizar bolsa de estudos para os filhos dos funcionários é considerado um importante fator

de motivação, pois representa a segurança de um futuro melhor. Ao saber que a empresa

contribui para o aprendizado e ingresso no mercado de trabalho de seus filhos, o funcionário

melhora sua produtividade, como se fosse uma retribuição (BERTONCELLO, 2004).

As demais opções de resposta eram sobre fornecer cesta básica que recebeu um percentual de

13% e promover cursos e treinamentos que recebeu um percentual de apenas 8%.

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Gráfico 15: Desejo de benefícios oferecidos pela empresa

Fonte: Beck, 2008

Ao final do questionário foi solicitado que as profissionais opinassem quanto a sugestões, elogios

e críticas ao ambiente de trabalho. As respostas mais citadas foram o elogio ao pagamento em dia

e a solicitação de uniforme de tecido mais leve para o verão.

Elas também argumentaram quanto à importância de a empresa oferecer um plano de saúde, pois

sua inexistência as obriga a enfrentar a fila do SUS – Sistema Único de Saúde e sacrificar seu dia

de folga ou mesmo ir à consulta médica em dia normal de trabalho. Com plano de saúde seria

possível marcar consultas médicas ou exames após o horário de trabalho.

Outras questões citadas foram a realização de reuniões com maior freqüência para discussão das

idéias e dificuldades enfrentadas, além de padronizar o uniforme de inverno, pois cada uma usa

uma blusa de frio por baixo do uniforme da cor e tipo que deseja. Foi solicitada ainda,

principalmente pelas Camareiras, uma política de compras mais eficiente, pois às vezes ocorre a

falta de produtos de limpeza e amenities. Elas também consideram necessária a contratação

temporária de profissional para ajudar a equipe durante a temporada de verão.

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Entre as funcionárias da área de produção do Restaurante foi levantada a questão de que deveria

haver igualdade salarial entre as Cozinheiras e Auxiliares de Cozinha, pois o volume de trabalho

é igual. Elas também solicitam maior segurança na limpeza pesada de equipamentos como

exaustor e locais como forro e paredes, através da melhor elaboração da escala de trabalho de

forma que a responsável pela limpeza não a faça sozinha.

A partir da análise dos dados apresentados pôde-se considerar que o Hotel Jardim Europa, em

especial na área de produção do Restaurante e no setor de Governança, apresenta um ambiente de

trabalho agradável e organizado, orientado para resultados compatíveis com sua infra-estrutura

atual. Percebeu-se ainda que as ocorrências que resultam em afastamento do trabalho por motivo

de saúde costumam ser externas à empresa. De qualquer forma, disponibilizar orientações sobre

posturas e atitudes ergonomicamente corretas só vem a acrescentar.

5.1 Análise dos Registros Fotográficos

A observação pode ser considerada uma ferramenta imprescindível no processo de pesquisa

científica, pois um pesquisador deve ter olhar crítico diante da realidade que o rodeia. Como

método qualitativo de investigação, a observação participante é recomendada para estudos de

grupos e comunidades. Isso porque o pesquisador participa ativamente do cotidiano do universo

pesquisado, possibilitando uma melhor compreensão dos hábitos, atitudes, interesses e relações

pessoais daquele determinado grupo de pessoas (RICHARDSOM, 1999). A prática do Estágio

Supervisionado possibilita a observação participante porque o pesquisador, no caso o acadêmico,

torna-se um membro do grupo, mesmo que por pouco tempo. A possibilidade de visualizar os

fatos no momento em que ocorrem é muito importante, pois permite perceber detalhes muitas

vezes desconsiderados. O registro fotográfico, devidamente autorizado pelo Hotel (ANEXO A),

vem para demonstrar as situações observadas e analisar a posição no posto de trabalho do ponto

de vista da Ergonomia.

Essa análise leva em consideração os conceitos da Biomecânica Ocupacional que, segundo Iida

(2003), estuda as interações entre o trabalho e o trabalhador, os movimentos músculo-esqueletais

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envolvidos em determinada tarefa e as possíveis conseqüências negativas caso os movimentos

estejam incorretos. O autor declara que uma das maiores dificuldades em analisar posturas

durante o trabalho é sua identificação e registro. Por isso, fotos auxiliam, ao menos, para um

registro instantâneo. Mas sua análise não é definitiva porque não permite saber a duração da

postura captada pela foto nem a força empregada, já que durante uma jornada de trabalho um

trabalhador pode assumir centenas de posturas diferentes.

De qualquer forma, um estudo, mesmo que incipiente, sempre contribui para o entendimento de

determinada circunstância e permite traçar estratégias para prevenção de lesões, respeitando

sempre a capacidade de trabalho humana, resultando em um desempenho seguro e satisfatório

das tarefas.

5.1.1 Atividade profissional de Auxiliar de Cozinha e Cozinheira

As funções de Auxiliar de Cozinha e Cozinheira são responsáveis pela organização e supervisão

das tarefas na cozinha de hotéis, restaurantes, hospitais e residências planejando cardápios e

elaborando o pré-preparo, o preparo e a finalização de pratos, observando os métodos de cocção

corretos e padrões satisfatórios de qualidade, higiene e segurança alimentar das matérias-primas

(CBO–MTE, 2008). Entre as competências pessoais necessárias para essas funções estão a

habilidade para trabalhar em equipe, o domínio de técnicas de preparação e conservação de

alimentos, paladar e olfato desenvolvidos, a consciência de evitar desperdícios, o zelo por

equipamentos e utensílios, o uso de EPI (Equipamento de Proteção Individual), além de asseio e

higiene pessoal. As profissionais do Hotel Jardim Europa atendem a esses requisitos e são atores

da pesquisa cuja análise se segue.

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Figuras 01 e 02: Limpeza pesada do exaustor – Cozinha Fonte: Beck, 2008

As Figuras 01 e 02 representam a limpeza pesada do exaustor da cozinha do Restaurante. Essa

tarefa é executada a cada 15 dias, conforme prevê o Manual de Procedimentos Padrão – POP –

Higienização de Equipamentos, Móveis e Utensílios, sempre às segundas-feiras das 07:00 às

13:00, pois não há atendimento no horário do almoço. No Manual, além da periodicidade,

também estão descritos os produtos de limpeza e a forma correta de utilizá-los, bem como a

funcionária responsável pela limpeza diária e pesada de cada equipamento. Mesmo assim, no

começo de cada mês, a listagem com as limpezas previstas e a respectiva responsável é afixada

em planilha específica na entrada da cozinha. Para os funcionários do serviço de atendimento,

ocorre o mesmo.

Em se tratando da análise dos Aspectos Ergonômicos, essa configuração classifica-se como

Ergonomia Organizacional que, conforme a ABERGO (2008), visa à otimização das estruturas

organizacionais, políticas e de processos. Por isso, considera-se favorável o nível de comunicação

organizacional e de clareza na organização temporal do trabalho no setor de Alimentos e Bebidas

do Hotel Jardim Europa. Estabelecer as responsabilidades de cada funcionária facilita o trabalho

em grupo, pois ninguém precisa assumir a tarefa da outra, apenas quando é solicitada ajuda.

Durante a prática do Estágio supervisionado, a única objeção levantada por parte das funcionárias

é que muitas vezes a escala de folgas era elaborada de tal forma que a responsável pela limpeza

pesada a realizava sozinha. Por mais que determinado equipamento fosse de sua exclusiva

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responsabilidade, por uma questão de segurança, elas solicitavam que trabalhassem em dupla nas

segundas-feiras. Além disso, como o Restaurante atende na segunda à noite, as funcionárias do

turno realizam as limpezas sob sua responsabilidade concomitante à produção de alimentos, o

que pode comprometer a qualidade do produto final, ou após o horário de fechamento, à meia-

noite, causando desgaste físico e descontentamento. Assim, sugere-se uma adaptação na escala de

trabalho para que a cada segunda-feira uma das funcionárias do turno da noite cumpra seu horário

das 09:00 às 15:00 (já que trabalhou na noite anterior), realizando sua respectiva limpeza pesada

e auxiliando a funcionária do turno do dia.

Do ponto de vista da Ergonomia Física que, segundo a ABERGO (2008), está relacionada às

posturas no trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, projeto do posto de

trabalho, segurança e saúde as situações demonstradas pelas Figuras 01 e 02 foram consideradas

corretas, pois são utilizados os Equipamentos de Proteção Individual – EPIs como escada, bota de

borracha, luva de borracha, uniforme próprio e flexível. Além disso, pode-se perceber que a

funcionária designada para limpeza pesada do exaustor apresenta baixa estatura não se

prejudicando para alcançar as grades, pois o apoio na chapa e no fogão, isolados com jornal,

proporciona uma altura adequada, permitindo a execução da tarefa da forma menos cansativa

possível. Pode-se observar também, que apesar de as funcionárias não receberem orientação

formal sobre Ergonomia, sua postura demonstrada na Figura 01, é correta, pois flexiona os

joelhos, não forçando as costas. Iida (2003) esclarece ainda que as pessoas que executam

trabalhos dinâmicos em pé, geralmente apresentam menos fadiga que aquelas que permanecem

estáticas ou com pouca movimentação. Diante disso, sugere-se apenas orientar as Auxiliares de

Cozinha e Cozinheiras quanto à prática de alongamento para melhorar a flexibilidade e evitar

lesões.

Outro equipamento muito utilizado e que exige limpeza periódica é a fritadeira grande. O óleo

vegetal utilizado não é descartado e sim repassado para uma indústria de farinha de ossos de

Cruzeiro do Sul-RS. Essa realidade é favorável do ponto de vista da Ergonomia Cognitiva, pois

conforme a ABERGO (2008) os processos mentais como percepção e interações entre seres

humanos são influenciadas por processos de tomada de decisão e projetos envolvendo o bem

comum. Dessa forma, o funcionário se sente motivado por contribuir com uma empresa

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preocupada com a preservação do meio ambiente (coleta seletiva de lixo, placas de aquecimento

solar, poço artesiano) e tende a adotar as mesmas atitudes em seu dia-a-dia.

Figuras 03 e 04: Limpeza pesada da fritadeira grande – Cozinha Fonte: Beck, 2008

Analisando-se a postura representada pelas Figuras 03 e 04 durante a limpeza pesada da fritadeira

grande pode-se considerá-la correta, pois a funcionária utiliza uma panela menor para retirar o

óleo, até que a quantidade restante esteja compatível com o peso que pode levantar. Iida (2003)

comenta que o manuseio de cargas pesadas tem sido uma das causas mais freqüentes de trauma

em trabalhadores, devido à variedade de capacidades físicas e substituição de trabalhadores

homens por mulheres, já que elas possuem aproximadamente metade da força dos homens para o

levantamento de pesos. O autor complementa que “toda a carga sobre a coluna vertebral deve ser

colocada na direção do seu eixo (vertical), para se evitar componentes de forças perpendiculares

ao mesmo” (2003, p. 95), ou seja, o levantamento de cargas deve ocorrer flexionando as pernas e

mantendo o dorso reto.

Quando se tratar do transporte manual de cargas, como representado nas Figuras 05, 06, 07 e 08,

em diferentes tarefas, deve-se tomar alguns cuidados, baseando-se em Iida (2003): manter a carga

próxima ao corpo; usar cargas simétricas, ou seja, carregar mais ou menos o mesmo peso nas

duas mãos ou, no caso de cargas grandes, usar dois carregadores; usar meios auxiliares como

carrinhos; trabalhar em equipe quando a carga for excessiva para uma só pessoa, evitando lesões

no trabalhador ou danos à carga. A partir disso, pode-se considerar que as Auxiliares de Cozinha

e Cozinheiras do Hotel Jardim Europa adotam posturas e atitudes ergonomicamente corretas.

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Cabe lembrar que o recebimento de mercadorias tem local apropriado – os caminhões estacionam

de ré na porta do Estoque Seco e o próprio fornecedor descarrega os produtos e alimentos. Como

é necessário higienizar as embalagens do fornecedor os fardos são abertos, e cada unidade é

higienizada e guardada no local apropriado, por isso as funcionárias não transportam cargas

demasiadamente pesadas.

Figuras 05 e 06: Transporte de louça limpa e transporte do óleo utilizado na fritadeira grande Fonte: Beck, 2008

Figuras 07 e 08: Transporte de lixo e transporte de óleo vegetal com carrinho auxiliar Fonte: Beck, 2008 O trabalho parado, em pé, é altamente fatigante porque exige muito trabalho estático da

musculatura envolvida para manter essa posição. Quando ocorrer, orienta-se reduzir o tempo na

tarefa alternando-a com outras tarefas predominantemente dinâmicas. Caso não seja possível,

aconselha-se adotar práticas complementares visando reduzir o esforço estático de posturas

prolongadas, como alternar o apoio dos pés em plataformas baixas (COUTO, 1995). As bancadas

de trabalho no Hotel Jardim Europa possuem um degrau de 15cm, em média, com essa

finalidade, conforme representado pela Figura 09.

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As posturas adotadas durante o trabalho nas bancadas da cozinha, demonstradas pelas Figuras 09

e 10, foram consideradas corretas, pois conforme Couto (1995, p. 169) “as bancadas de trabalho

devem ser estruturadas de tal forma que o corpo trabalhe na vertical, sem encurvamento de tronco

e sem elevação dos membros superiores”. Observa-se ainda que quando o trabalho exigir

movimentação dos braços ou emprego de força física, a bancada deve ficar, em média, na altura

do quadril do trabalhador (de 75 a 90cm) o que ocorre, pois a variação de altura das profissionais

no Hotel Jardim Europa é pequena, entre 1,63m e 1,70m. Caso isso não fosse possível, a

orientação seria instalar nas bancadas de trabalho um mecanismo de regulagem de altura para um

bom ajuste antropométrico (COUTO, 1995).

Figuras 09 e 10: Trabalho na bancada – Cozinha Fonte: Beck, 2008 A tarefa de higienizar louças e utensílios não é das mais desgastantes porque se tem o auxílio da

máquina de lavar louças. O ato de deslocar a bandeja com as louças previamente limpas na pia

para colocá-la e retirá-la da máquina é que merece atenção, pois é executado várias vezes por 2h,

em média. O ponto positivo é que as profissionais se intercalam para realização dessa tarefa.

Couto (1995) indica que o manuseio de peças deve ocorrer sempre perto do corpo, com pequena

distância vertical entre a origem e o destino e ocasionalmente. A peça deve ter pega simétrica e

adequada para as mãos, ser leve e ser deslocada a partir de 75cm do piso. As Figuras 11 e 12

mostram que esses elementos estão presentes na tarefa de higienizar louças e utensílios e deslocar

a bandeja da máquina de lavar louças. Os cuidados complementares referem-se à postura da

funcionária que para impedir lesões deve evitar torções na coluna lombar e qualquer rotação

lateral do tronco (COUTO, 1995).

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Figuras 11 e 12: Higienização louça café da manhã – Copa de Higienização de Louças Fonte: Beck, 2008

Um dos princípios mais importantes da biomecânica para a Ergonomia é manter as articulações

neutras, ou seja, os músculos e ligamentos que se estendem entre as articulações devem ser

esticados o menos possível. Em posturas com os braços esticados, a cabeça abaixada ou o tronco

inclinado a tensão sobre os músculos torna-se dolorosa e a longo prazo provoca lesões. Assim,

recomenda-se evitar manipulações fora do alcance através do uso de escadas ou plataformas,

atentando-se às mãos e braços, que devem permanecer abaixo do nível dos ombros. Caso não seja

possível, a tarefa executada acima do nível dos ombros deve ter duração limitada e prever

descansos regulares (DUL E WEERDMEESTER, 2000). A Figura 13, demonstrando a limpeza

periódica das prateleiras da Copa, aponta a postura adequada da profissional que utilizou a escada

como apoio para alcançar os locais mais altos.

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Figura 13: Limpeza prateleiras – Copa

Fonte: Beck, 2008 Para concluir essa breve análise sobre os Aspectos Ergonômicos que envolvem a atividade

profissional da Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa selecionou-se as

Figuras 14 e 15 que representam tarefas distintas, mas diárias, executadas durante o fechamento

da área de produção sempre pela mesma profissional. Por serem ações repetitivas, a troca de lixo

e a limpeza diária do piso podem acarretar lesões, além da curvatura das costas representada na

Figura 14 estar muito acentuada, sugerindo-se orientação específica para esta funcionária sobre a

prática de alongamento e atenção à postura durante o trabalho. Apesar disso, observa-se que ela

não executa movimentos bruscos e mantém o corpo em seu eixo vertical, sem torções no tronco.

Com base nisso, constatou-se que, em geral, as profissionais que desempenham as funções de

Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa encontram condições de trabalho

ergonomicamente favoráveis e adotam posturas corporais corretas.

Figuras 14 e 15: Troca de lixo e limpeza diária do piso da Cozinha Fonte: Beck, 2008

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Cabe ressaltar ainda que as condições ambientais, além de favoráveis do ponto de vista da

Ergonomia, estão de acordo com as normas higiênico-sanitárias previstas para empreendimentos

de alimentos e bebidas. Isso se deve à obediência dos requisitos necessários para obtenção da

certificação BPF – Boas Práticas de Fabricação. Além disso, a existência de vestiário próprio

com chuveiros e armários individuais para guarda de pertences demonstra a preocupação do

Hotel com o bem-estar de suas funcionárias.

5.1.2 Atividade profissional de Camareira

As Camareiras basicamente limpam, organizam, vistoriam e abastecem apartamentos em hotéis e

devem atender e auxiliar os hóspedes em suas solicitações e necessidades de forma rápida e

eficiente. Segundo a Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, elaborada pelo Ministério do

Trabalho em Emprego – MTE (2008), as principais habilidades pessoais necessárias para

desempenhar a função de Camareira são zelar pelos pertences dos hóspedes e do Hotel, trabalhar

em conformidade com o Manual de Procedimentos, demonstrar discrição e asseio, demonstrar

flexibilidade diante de situações adversas e ser atenta aos detalhes. Observa-se que no Hotel

Jardim Europa esses requisitos são atendidos.

A queixa mais freqüente das Camareiras refere-se à falta de um carrinho específico para o

transporte da roupa suja porque atualmente elas têm de deslocar os forros de cama e toalhas de

banho usadas das UH’s até a lavanderia nas mãos já que o partido arquitetônico do Hotel é

horizontal. Um agravante é a falta de estrutura coberta para os dias de chuva, apesar de o hotel

fornecer um guarda-chuva para cada camareira. Além da exposição à chuva, o inverno rigoroso

da região pode propiciar doenças respiratórias e mesmo lesões quando na falta de aquecimento

muscular. Diante disso, a construção de passeio coberto já está previsto para os próximos anos no

planejamento de reformas, declarou o Gerente Geral em entrevista informal.

As Figuras 16 e 17 demonstram o transporte da roupa suja que, dependendo do volume de UH’s

em check out, torna-se bastante volumosa. Dul e Weerdmeester (2000) indicam alguns cuidados

que favorecem o levantamento e transporte manual de pesos (que não devem ultrapassar 23Kg):

manter a carga próxima ao corpo; colocar o peso a uma altura de 75cm do solo antes de iniciar o

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levantamento; deve ser possível segurar o peso com as duas mãos; o tronco não deve ficar torcido

para o levantamento e durante o transporte a coluna deve ser mantida reta, em posição estável;

para cargas superiores a 23Kg solicitar auxílio de outra pessoa ou utilizar equipamentos como

carrinhos.

Figuras 16 e 17: Transporte de roupa suja Fonte: Beck, 2008

O movimento de puxar ou empurrar cargas provoca tensões nos braços, ombros e costas, que

podem ser aliviadas com um desenho adequado dos carrinhos. A postura correta para puxar ou

empurrar é aquela que permite usar o peso do próprio corpo a favor do movimento. Para puxar o

corpo deve pender para trás e, para empurrar, inclinar para frente. Os carrinhos devem ter pegas

em forma de barras, de modo que o emprego da força seja simétrico. A altura do carrinho não

deve exceder 130cm, para que a pessoa possa enxergar sobre ele e o peso não deve exceder

700Kg para deslocamento manual. O piso por onde o carrinho será deslocado deve ser duro, sem

depressões ou desníveis (DUL E WEERDMEESTER. 2000).

A Figura 18 demonstra a Camareira deslocando seu carrinho da lavanderia para seu setor de

UH´s para iniciar o turno de trabalho. Constata-se que o único elemento desfavorável é o piso que

apresenta uma leve inclinação, além de depressões. Como não é possível trocar esse

revestimento, recomenda-se a atenção à postura e caso o carrinho esteja muito pesado, solicitar

ajuda das colegas ou jardineiros que circulam no local nesse horário.

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Figura 18: Transporte do carrinho Fonte: Beck, 2008 A tarefa de remover poeira das superfícies e higienizar o banheiro faz parte do dia-a-dia de

trabalho das Camareiras. As Figuras 19 e 20 demonstram a postura correta adotada pelas

profissionais durante sua atividade: flexionar os joelhos em vez de curvar as costas. A posição de

cócoras proporciona equilíbrio e favorece o alongamento dos músculos do dorso, diminuindo a

incidência de dores lombares e dorsais (COUTO, 1995). O único cuidado refere-se ao alcance

dos objetos e superfícies, pois se deve evitar que os cotovelos fiquem muito afastados do tronco a

fim de proteger as articulações dos ombros: o afastamento para os lados não deve ultrapassar 200

e o afastamento para frente não deve ultrapassar 250. Além disso, as mãos, punhos e antebraços

precisam manter-se alinhados, evitando dobrá-los para cima, para baixo ou torcê-los para os lados

(IIDA, 2003).

Quanto aos aspectos ergonômicos físicos, observa-se que as UH’s, local de trabalho das

Camareiras na maior parte do tempo, são ambientes adequados, pois a ventilação e a iluminação

são naturais e há espaço para circulação. Além disso, a altura das molduras dos quadros,

espelhos, ar-condicionado e suporte da televisão está adequada (as profissionais têm pouca

variação de altura, entre 1,63m e 1,70m) e praticamente não há obstáculos para alcançá-los e

realizar a limpeza diária.

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Figuras 19 e 20: Limpeza leve do mini-bar e Higienização do box do banheiro Fonte: Beck, 2008

Uma tarefa habitual das Camareiras é arrumar a cama. No Hotel Jardim Europa, o número e o

tipo de cama variam conforme a categoria do apartamento. Nas UH’s Standard, há duas camas de

solteiro; nas UH’s Semi-luxo há uma cama de casal, uma cama de solteiro e uma cama extra na

alta temporada; nas UH’s Luxo há uma cama de casal, uma cama de solteiro e duas camas extras

na alta temporada e nas UH’s Executivo há uma cama de casal do tipo box spring. Vale lembrar

que tanto as camas extras, quanto os berços para criança que às vezes são solicitados, têm

rodízios e mesmo assim, são transportados pelos jardineiros ou pelo responsável da manutenção,

evitando a sobrecarga de peso para as Camareiras.

As Figuras 21 e 22 demonstram a Camareira executando essa tarefa com uma postura

considerada incorreta, pois a curvatura de suas costas está muito acentuada e os joelhos não estão

flexionados adequadamente, o que provavelmente resultou em dores musculares durante, e

mesmo depois da jornada de trabalho. Cabe lembrar que essa funcionária atuava como Auxiliar

de Lavanderia e precisou substituir uma das colegas que estava afastada do trabalho por motivo

de saúde. Assim, além de não estar acostumada com os movimentos diários que uma Camareira

executa, saiu de sua zona de conforto, o que pode provocar descontentamento e estresse. Do

ponto de vista da Ergonomia Organizacional, situações como essa precisam ser muito bem

conduzidas, através de orientações gerais sobre a nova função e ênfase de que se trata de uma

circunstância especial e temporária em que a empresa precisa da colaboração daquele profissional

para manter a rotina habitual de trabalho (VIDAL, 2002).

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Observa-se ainda que esta UH Semi-luxo é uma das únicas com revestimento em carpete, pois as

demais têm revestimento em parquet. Essa característica exige atenção especial quanto ao

transporte do aspirador de pó da lavanderia até o bloco de UH’s, bem como a postura adotada

para efetuar a limpeza do piso.

Figuras 21 e 22: Arrumação da cama – UH Semi-luxo Fonte: Beck, 2008

Ainda quanto às Figuras 21 e 22, observa-se que a profissional utiliza o uniforme fornecido pela

empresa de forma correta (peças limpas, cabelos bem presos na touca, bijuterias pequenas,

maquiagem leve, esmalte claro), apesar de não estar usando o sapato antiderrapante. Em geral, os

funcionários alegam que o calçado fornecido pelo Hotel é desconfortável e optam por usar tênis

próprios, mais macios. Vale lembrar a importância de usar modelos com sistema de

amortecimento, já que o partido arquitetônico do Hotel é horizontal e as Camareiras se deslocam

com freqüência entre os blocos de UH’s e a lavanderia.

Já as Figuras 23 e 24, demonstram a limpeza de vidros e do filtro do condicionador de ar que

ocorrem ocasionalmente, conforme periodicidade estabelecida no Manual de Procedimentos do

Setor de Governança ou sempre que se julgar necessário. As posturas observadas são

consideradas corretas, pois mantêm as articulações neutras, ou seja, os músculos e ligamentos

que se estendem entre as articulações são esticados o menos possível (DUL E

WEERDMEESTER, 2000). A utilização de escada como apoio para alcançar locais mais altos e

o auxílio de colega de trabalho por uma questão de segurança são atitudes favoráveis. Além

disso, o uso de escadas ajuda a impedir posturas com os braços esticados, a cabeça ou o tronco

inclinados e movimentos bruscos, como pular para tirar pó de uma prateleira alta, por exemplo.

Atenta-se apenas ao fato de que na Figura 24 as mãos e braços da Camareira estão acima do nível

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dos ombros, mas como se trata de uma tarefa com duração limitada e que não é repetitiva pode-se

considerar que não é prejudicial.

Figuras 23 e 24: Limpeza de vidros e do filtro do condicionador de ar Fonte: Beck, 2008

Para concluir a análise sobre os Aspectos Ergonômicos relacionados à atividade profissional de

Camareira, realizada a partir dos registros fotográficos efetuados durante as situações de habituais

de trabalho do setor de governança do Hotel Jardim Europa, tem-se apenas algumas sugestões.

Com base em Couto (1995, p. 50) “o trabalhador envolvido em atividade fisicamente pesada se

beneficia das ginásticas de aquecimento, que movimentam grandes grupos musculares, porém

sem sobrecarga”. Por isso, esclarecer a respeito e incentivar a prática de alongamento é a

alternativa mais adequada para proporcionar ao organismo humano condições de executar tarefas

que exigem esforço físico.

Outra observação refere-se à alimentação das Camareiras do Hotel Jardim Europa. Elas têm 1h de

intervalo para almoço durante a jornada de trabalho e seu refeitório conta com bancada para

alimentação, geladeira, fogão e pia. Apesar dessa estrutura, é preciso cuidado com o transporte e

armazenamento dos alimentos trazidos de casa (marmitas) sob o risco de contaminação alimentar.

Chama-se atenção ainda para os problemas de saúde que podem decorrer de hábitos alimentares

inadequados, pois a pouca aceitação de verduras, legumes e pescados e a preferência por

alimentos calóricos, como fontes de carboidratos e gorduras é comum. Além disso, a ingestão

muito rápida dos alimentos também é prejudicial. Assim, Lisboa (2008) ressalta que uma

alimentação balanceada facilita, inclusive, o combate ao estresse. A tensão permanente faz o

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corpo perder uma série de nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo, por isso

a reposição ou mesmo, absorção adequada de nutrientes provindos da alimentação, é necessária

para manter o profissional atento e disposto ao trabalho.

Uma característica interessante observada na administração do Hotel Jardim Europa foi a

exigência por qualidade e a manutenção de um ambiente de trabalho o mais harmonioso possível.

Cobranças por parte da chefia não permitem apatia e são positivas, segundo estudo da ISMABR –

International Stress Management Association (2008). A instituição identificou também que tanto

o excesso de trabalho como a falta dele, que tende a “enferrujar” o profissional, são estressantes.

A falta de desafios, metas sem clareza e um trabalho que não instiga é tão perturbador quanto

trabalhar horas a fio e sob pressão. Diante desse dado, considera-se que a empresa deve adotar

apenas ações de orientação às profissionais porque, em geral, apresenta estruturas e

procedimentos ergonomicamente corretos, ou seja, que tornam o trabalho adequado e satisfatório

ao trabalhador.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De uma maneira geral, pode-se considerar que os objetivos propostos para o desenvolvimento da

análise sobre os aspectos ergonômicos que envolvem a atividade profissional de Camareira,

Auxiliar de Cozinha e Cozinheira no Hotel Jardim Europa em Ijuí-RS, foram atendidos dentro do

prazo previsto e em sua totalidade.

Muito embora o levantamento de conceitos teóricos sobre Ergonomia tenha sido relativamente

adaptado às situações de trabalho das funções estudas, por não haver literatura específica para os

setores Governança e Alimentos e Bebidas, o saldo foi positivo. Através das experiências

vivenciadas durante o Estágio Supervisionado foi possível direcionar as considerações presentes

na literatura, geralmente sobre profissionais da indústria e de escritórios, para as profissionais da

área de produção de um restaurante e do setor de governança de um hotel.

Ressalta-se a importância desse tipo de estudo, pois muitos gestores do setor de serviços ainda

não despertaram para a importância da aplicação dos conceitos da Ergonomia em suas empresas e

o impacto positivo que a melhoria na qualidade de vida no trabalho é capaz de provocar na

produtividade. Nesse contexto, o Hotel Jardim Europa demonstrou maturidade administrativa ao

estar aberto à pesquisa acadêmica.

Considerou-se que a análise dos resultados foi abrangente e completa, pois a escolha por mais de

um instrumento de pesquisa (aplicação de questionário com as funções estudadas, entrevista com

o Gerente Geral, registro fotográfico, observação participativa) permitiu coletar dados sobre os

diversos aspectos organizacionais presentes na empresa. Buscou-se fundamentar a análise com

bibliografias preferencialmente recentes, complementado-se com periódicos sobre saúde em geral

e atividade laboral.

Quanto à alta freqüência de afastamentos do trabalho por motivo de saúde, situação que motivou

a presente pesquisa, verificou-se que provêm de causas externas à empresa, pois os aspectos

ergonômicos foram considerados corretos, favoráveis à adequação das condições de trabalho às

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capacidades e realidades do trabalhador. Sugeriu-se apenas um programa de orientação

ergonômica que esclarecesse alguns pontos sobre saúde da mulher, segurança no trabalho e

qualidade de vida.

Como um dos aspectos limitantes percebidos no setor de Governança foi o fato de que na alta

temporada as camareiras têm um volume maior de trabalho nas UH’s sob sua responsabilidade,

não havendo tempo hábil para realizar a limpeza do bloco da recepção ou outras limpezas

periódicas importantes, sugere-se a contratação de funcionária temporária para auxiliá-las.

Distribuir tarefas de forma que evite sobrecarga de trabalho e estresse é uma das principais

orientações ergonômicas.

Uma solicitação das camareiras junto à administração é que houvesse um carrinho específico para

o recolhimento da roupa suja, pois atualmente é necessário carregar a trouxa nas mãos. Acatar

essa sugestão é válido, pois o deslocamento freqüente de grandes volumes deve ser evitado

porque, a longo prazo, resulta em lesões.

Além disso, elas gostariam de ter acesso à refeição gratuita ou subsidiada durante o intervalo do

trabalho. Como as ocorrências que resultaram em afastamento do trabalho por motivo de saúde

foram principalmente relacionadas ao aparelho digestório, recomenda-se orientação quanto à

alimentação saudável, em quantidades moderadas e em horários adequados.

Cabe ressaltar que a concordância com as sugestões de melhoria na qualidade de vida das

funcionárias indicadas neste estudo fica a critério da empresa. De qualquer forma, procurou-se

apresentar propostas simples, adaptadas às características do Hotel e de seus funcionários,

percebidas durante o Estágio Supervisionado.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – Questionário de Pesquisa

Este questionário de pesquisa elaborado pela acadêmica de Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, Anna Christina Ullrich Beck, foi adaptado do trabalho da acadêmica Renata Vaz

Longo e tem a finalidade de investigar as condições ergonômicas, ou seja, a relação entre o ambiente de

trabalho e o trabalhador entre as Auxiliares de cozinha, Camareiras e Cozinheiras do Hotel Jardim Europa.

Questionário de Pesquisa

1) Sua função no Hotel Jardim Europa é:

( ) Auxiliar de cozinha ( ) Camareira ( ) Cozinheira

2) Você trabalha nessa função há:

( ) 1 a 6 meses ( ) 1 a 3 anos ( ) 5 a 7 anos

( ) 6 meses a 1 ano ( ) 3 a 5 anos ( ) 7 a 10 anos ou mais

3) Sua faixa de idade está entre:

( ) 20 a 25 anos ( ) 33 a 40 anos ( ) acima de 50 anos

( ) 26 a 32 anos ( ) 41 a 50 anos

4) Qual o seu peso? _________ E altura? ________

5) Seu grau de escolaridade é:

( ) Ensino Fundamental (1o grau) incompleto ( ) Ensino Médio (2o grau) incompleto

( ) Ensino Fundamental (1o grau) completo ( ) Ensino Médio (2o grau) completo

6) A distância da sua casa até o Hotel Jardim Europa é:

( ) até 1 Km ( ) de 2 a 5 Km ( ) de 6 a 10 Km

( ) de 11 a 15 Km ( ) acima de 16 Km

7) Você se desloca até o local de trabalho:

( ) a pé ( ) de bicicleta ( ) de carro

( ) de moto ( ) de ônibus

8) Você demora em média:

( ) 10 minutos ( ) 30 minutos ( ) 50 minutos

( ) 20 minutos ( ) 40 minutos ( ) acima de 60 minutos

9) Qual sua carga horária diária de trabalho?

( ) 4 horas ( ) 6 horas ( ) 7 h20min ( ) 8 horas ( ) mais de 8 horas

10) Sua sensação física após um dia de trabalho é:

( ) cansaço natural ( ) dores leves, mas constantes ( ) dores insuportáveis

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( ) dores leves ( ) dores fortes

11) Você sente maior desconforto:

( ) no pescoço ( ) nos punhos e mãos ( ) nas pernas

( ) nos ombros ( ) nas costas ( ) nos pés

( ) nos braços ( ) no quadril ( ) outra Qual? _________________

12) Você costuma prestar atenção na sua postura durante o trabalho?

( ) Sim ( ) Não Porque? ____________________________________

13) Você já se afastou do trabalho por motivo de saúde? Qual e por quanto tempo?

______________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

14) Os equipamentos de proteção individual que o Hotel Jardim Europa forneceu a você para serem

usados durante sua atividade foram:

( ) luvas ( ) avental ( ) óculos

( ) protetor de ouvido ( ) proteção para câmara de congelados ( ) touca

( ) máscara ( ) sapato antiderrapante ( ) outro Qual? _______

15) Os equipamentos de proteção individual que você realmente utiliza durante sua atividade são:

( ) luvas ( ) avental ( ) óculos

( ) protetor de ouvido ( ) proteção para câmara de congelados ( ) touca

( ) máscara ( ) sapato antiderrapante ( ) outro Qual? _______

16) Você sente:

( ) que é feliz e realizada tanto na vida pessoal quanto profissional.

( ) que está satisfeita com a vida pessoal, mas insatisfeita com a vida profissional.

( ) que consegue separar os problemas pessoais dos problemas do ambiente de trabalho.

( ) que está constantemente estressada e insatisfeita.

17) O que você gostaria que o hotel oferecesse para melhorar o ambiente e as condições de trabalho?

( ) Plano de saúde ( ) Uniforme com maior flexibilidade

( ) Cesta básica de alimentos ( ) Cursos e treinamentos

( ) Servir almoço gratuito ou com valor reduzido* ( ) Bolsa de estudos para os filhos

( ) Local adequado para descanso ( ) Outro Qual? _________________

no intervalo de almoço*

* Camareiras

18) Utilize este espaço para fazer elogios, críticas ou propor sugestões:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Você está sendo convidada a participar de uma pesquisa através do questionário a ser respondido

a seguir. As respostas servirão de base para análise da pesquisa realizada pela acadêmica de

Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Anna Christina Ullrich

Beck, durante a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.

O assunto abordado é Ergonomia, que pode ser definida como a ciência da configuração de

trabalho adaptada ao homem através da adequação das condições de trabalho às capacidades e

realidades do trabalhador. O termo vem do grego: ergon = trabalho e nomos = normas, leis

(GRANDJEAN, 1998).

Foi observado durante o Estágio Supervisionado que o afastamento do trabalho por motivo de

saúde é freqüente entre as pessoas que desempenham a função de Auxiliar de cozinha, Camareira

e Cozinheira no Hotel Jardim Europa. Percebeu-se, assim, a importância de desenvolver esta

pesquisa, que pretende propor formas de melhoria na qualidade de vida dos funcionários.

Caso você aceite contribuir com este estudo, assine ao final deste documento. Sua participação é

muito importante.

Eu, _________________________________________, abaixo assinada concordo em participar

do presente estudo. Fui devidamente informada e esclarecida sobre esta pesquisa que tem

unicamente cunho acadêmico, havendo sigilo das informações fornecidas.

_______________________________

Ijuí - RS, fevereiro de 2008

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APÊNDICE C – Roteiro de Entrevista com Gerente Geral

1) Quais são os principais tipos de ocorrências (problemas de saúde) entre as funcionárias da

produção do Restaurante e as Camareiras?

2) Quais aspectos você considera como "responsáveis" por estas ocorrências?

3) Qual o primeiro procedimento tomado quando ocorre?

4) Qual sua opinião sobre uma pesquisa que visa analisar os Aspectos Ergonômicos que

envolvem as funções de Camareira, Auxiliar de Cozinha e Cozinheira?

5) Você considera válido o esclarecimento às funcionárias sobre a importância do

alongamento e da atividade física a fim de melhorar as dores e evitar o estresse?