memorial do convento

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Beatriz Xavier 12ºAno 2015/2016 Romance Memorial do Convento José Saramago

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Beatriz Xavier 12ºAno

2015/2016

Romance

Memorial do Convento

José Saramago

Temas Amor

Tema central da narrativa.

É possível encontrar vários tipos de “amor” no romance.

Ao longo da narração é notória a oposição entre o amor de Baltasar e Blimunda

(amor verdadeiro) e o amor do rei D. João V e da rainha D. Ana (amor contratual).

Baltasar e Blimunda amam-se verdadeiramente e constroem uma união de plena

partilha e comunhão; completam-se (como os seus cognomes, Sete-Sóis e Sete-

Luas, indicam) facto que será simbolizado na construção da Passarola uma vez que

os dois dividem as tarefas entre si e apenas com a articulação do esforço de ambos

é possível terminar a construção da aeronave.

D. João V e D. Ana, por contraste, possuem uma união meramente contratual e

institucional na qual o sentimento de amor está ausente.

Sonho

Tem por base a crença de certas personagens na capacidade do Homem de

ultrapassar as suas limitações e realizar o que antes lhe parecia impossível.

Por exemplo, a construção da Passarola, começou por ser um sonho censurado por

alguns (Inquisição) e troçado por outros.

Ao longo da narrativa subjaz a concretização de um outro sonho, maior e utópico,

de transformar a sociedade e de fazer um mundo melhor e mais humano: mas

esse é um projeto mais vasto para o qual contribuem neste romance a apologia do

verdadeiro amor, a celebração do sonho e a valorização do Homem.

Conhecimento

Tematizado neste romance uma vez que é fundamental para a construção do

sonho e para o progresso da humanidade.

A ciência, que ilustra a grandeza do Homem, é essencial na construção, tanto do

convento, como da Passarola.

No entanto, são valorizados outros tipos de saberes e, de facto, tanto a alquimia

(Química da Antiguidade) como os poderes de Blimunda (que lhe permitem ver

“mais longe” e ter um melhor conhecimento da realidade) são necessários na

recolha das vontades humanas e na construção da máquina voadora.

Ciência e “magia”, racional e irracional deixam de estar em competição para

passarem a coexistir complementando-se.

Injustiça social

Este romance celebra o esforço dos trabalhadores (epopeia do trabalho), que em

condições muito difíceis e perigosas se empenharam na construção faraónica do

Convento de Mafra.

Alguns dos trabalhadores morreram, outros ficaram feridos, mas todos foram

reduzidos à condição de “animais”, próximos da escravatura, o seu trabalho foi

explorado e as suas vidas foram consumidas devido aos interesses da Igreja e da

coroa.

É também injusta a situação em que vive grande parte do povo, que sobrevive no

limiar da pobreza enquanto classes mais altas (rei, nobreza e alto clero) prosperam

num dos períodos mais faustosos da História de Portugal, revelando ostentação,

futilidade e parasitismo.

Esta injustiça social também se fez sentir nas práticas da Inquisição e da Igreja

Católica.

Não pode haver justiça enquanto houver opressão (social, religiosa, política ou na

forma de exploração de trabalho), os homens não têm liberdade de expressão ou

de pensamento.

Religião

São denunciadas as práticas desumanas e a intolerância da Igreja Católica e da

Inquisição, instituições cujo relevo na época era elevado e que se associavam ao

poder político condicionando-o.

O obscurantismo religioso revela-se também na perseguição e na censura de ideias

inovadoras (como a Passarola) ou apenas diferentes (como a alquimia e a magia).

Ideologia

O romance incita uma visão progressista da sociedade e uma proposta de

transformação do mundo e dos costumes.

Estas ideias têm origem nas crenças de inspiração marxista* de José Saramago.

*Marxismo: sistema ideológico que visa a emancipação humana e a construção de uma sociedade sem

classes e igualitária.

Género, Estrutura e Ação

Como já vimos, em termos de género literário o Memorial do Convento é um romance.

Classificando-o quanto ao subgénero podemos enquadrá-lo como romance histórico,

social e de intervenção.

Em termos de estrutura, a obra é uma narrativa em prosa dividida em 25 capítulos.

Na estrutura interna os acontecimentos desenrolam-se, maioritariamente,

segundo uma ordem cronológica linear, embora existam várias elipses narrativas,

com algumas alterações na lógica temporal dos acontecimentos (analepses e

prolepses) e com pequenas narrativas encaixadas.

É possível distinguir quatro linhas narrativas no romance:

Governação de D. João V- ação das instituições e figuras associadas à Coroa e ao

poder político: Igreja, Inquisição, nobres (…). Inclui episódios como a promessa do

rei, o auto-de-fé, a Procissão do Corpo de Deus, etc.

Baltasar e Blimunda- desde o regresso de Sete-Sóis da guerra e do momento em

que conhece Sete-Luas no auto-de-fé, passando pelo trabalho na construção da

Passarola e a sua estadia em Mafra, e terminando na morte de Baltasar na

fogueira da Inquisição.

Passarola- todo o processo de planificação, construção e voo da Passarola,

corresponde a outra linha de ação, cujo motor dos acontecimentos é o Padre

Bartolomeu de Gusmão e que se entrelaça na narração do casal Baltasar e

Blimunda.

Convento de Mafra- diz respeito aos episódios de edificação do monumento. Este

vetor diegético* cruza-se com a Governação de D. João V e a vida de Baltasar e

Blimunda.

*Diegético: relativo à narração

Narrador O narrador principal de Memorial do Convento é uma entidade heterodiegética:

exterior à narrativa, não participa na ação como personagem. No entanto, em certas

passagens narrativas é invocada a primeira pessoa do plural (nós) de modo a criar

cumplicidade com o narratário.

Permite que se afaste dos factos relatados para os analisar com distanciação e de

forma crítica.

Quanto à focalização o narrador principal é omnisciente, ou seja, tem um

conhecimento global dos factos relatados e das personagens acedendo mesmo à sua

mente. O narrador é contemporâneo ao leitor pelo que a sua visão abrange tanto o

passado como o futuro e o presente, conferindo-lhe uma perspetiva trans-histórica

(por exemplo, no recurso a analepses ou prolepses ou no uso de elementos da nossa

atualidade como o avião).

Quanto à posição o narrador é interventivo, comenta e julga a ação que narra.

Existem também outros narradores homodiegéticos, de perspetiva interna

que nos proporciona uma visão subjetiva e personalizada das vivências das

personagens.

Espaço Espaço Físico

Os espaços principais deste romance são:

- Lisboa: Terreiro do Paço, Rossio, S. Sebastião da Pedreira;

- Mafra: Alto da Vela, Ilha da Madeira.

Espaço Social

O espaço social está associado ao ambiente gerado pela interação das

personagens num dado local, através do qual é possível proceder à caracterização

de um determinado grupo social.

Através da descrição fornecida do modo de vida da Corte no palácio, no Terreiro

do Paço e das condições em que vive o povo, tanto em Lisboa como em Mafra,

apercebemo-nos de uma acentuada desigualdade entre os privilegiados e os mais

desfavorecidos.

O povo vive na miséria enquanto D. João V pensa em maneiras de gastar dinheiro

no reino.

A opressão dos populares é notória, não apenas pela descrição das condições em

que vivem mas também pelo facto de serem as principais vítimas da

megalomania* do rei.

Outra característica visível da sociedade é a sua hipocrisia: sob a aparência de uma

intensa devoção, um comportamento obrigatório, todos os rituais religiosos são

oportunidades para a prática de sedução ou do adultério.

Esta sociedade é também marcada pelo gosto pela violência, que parece funcionar

como forma de se libertar dos seus instintos mais agressivos e que é visível, por

exemplo, na autoflagelação que se verifica na procissão dos penitentes da

Quaresma, nas touradas e nos autos-de-fé.

*Megalomania: mania das grandezas.

Espaço psicológico

O espaço psicológico diz respeito aos momentos da narrativa em que é possível ter

acesso ao mundo interior das personagens, às suas reflexões, sentimentos,

sonhos, etc.

Este espaço é notório na referência aos sonhos de D. Ana com o infante D.

Francisco, onde é possível perceber a sua atração pelo cunhado.

Pode destacar-se também o monólogo e Bartolomeu de Gusmão sobre a natureza

de Deus, manifestando dúvidas em relação aos dogmas* da doutrina católica.

*Dogma: base na qual assenta uma crença.

Tempo

Tempo da História

A narrativa inicia-se em 1711 e termina em 1739.

É ainda em 1711, quando a rainha D. Ana vai no quinto mês de gravidez que se

desenrola o auto-de-fé em que Baltasar e Blimunda se conhecem.

A referência cronológica seguinte surge no momento da bênção da primeira pedra

do convento de Mafra. A expressão “sempre são seis anos de casos acontecidos”

mostra que esta cerimónia ocorre em 1717.

Em dezembro desse ano, após assistirem à cerimónia, Baltasar e Blimunda

regressam a Lisboa, a pedido de Bartolomeu de Gusmão para continuarem a

construção da Passarola.

Em 1729, a infanta Maria Bárbara casa-se com o príncipe D. Fernando, e o príncipe

D. José casa-se com a infanta espanhola Mariana Vitória.

No dia 22 de outubro de 1730, data do quadragésimo primeiro aniversário de D.

João V, é feita a sagração do Convento de Mafra.

A narrativa termina em 1739, nove anos após a sagração do convento (período da

intensa procura de Blimunda por Baltasar) quando Blimunda reconhece Baltasar

num dos condenados ao auto-de-fé, no Rossio.

Tempo do Discurso

Está relacionado com a forma como o tempo da história é trabalhado na narrativa.

A narração pode ser feita por ordem cronológica, mas esta pode ser alterada

através de analepses ou prolepses.

Personagens

Baltasar

Homem do povo, tinha como alcunha de família “Sete-Sóis”.

Regressou da guerra, onde perdeu a mão esquerda.

É obrigado a lutar contra a miséria, devido à falta de apoios (crítica À indiferença

dos poderosos por aqueles que lutaram pelas suas causas).

Quando chega a Lisboa conhece Blimunda e o padre Bartolomeu de Gusmão num

auto-de-fé.

Apaixona-se por Blimunda e nessa mesma noite consumam a sua paixão.

Na “Trindade terrestre” representa a força física necessária à construção da

Passarola.

Após a morte de Bartolomeu, continua a manutenção da Passarola em conjunto

com Blimunda.

Esta transgressão acaba por ser a causa da sua morte na fogueira.

Blimunda

É batizada pelo padre Bartolomeu de Gusmão como “Sete-Luas”.

Mulher do povo, filha de Sebastiana de Jesus, que foi acusada de ser blasfema e

herética por ter visões e condenada a ser açoitada em público e a oito anos de

degredo em Angola.

Blimunda, tal como sua mãe, também tinha um dom, a capacidade de ver o

interior das pessoas.

Este dom estende-se a toda a sua personalidade, conferindo-lhe uma profunda

inteligência e sabedoria.

É a dimensão espiritual da “trindade terrestre” formada por ela, Baltasar e

Bartolomeu de Gusmão.

Será a responsável pela recolha das “vontades dos vivos”, ingrediente fundamental

para a concretização da Passarola.

O amor que sentia por Baltasar levou-a a procurá-lo por nove anos, e quando o

avista condenado no auto-de-fé quebra a promessa de nunca o “ver por dentro” e

recolhe a sua vontade (indício da sua sabedoria, demonstração de respeito pelo

homem que ama).

o Casal Baltasar/Blimunda:

- Tipifica o amor ideal, aquele que é feito por entrega mútua e espontânea, de

ternura e cumplicidade.

- Sagraram a sua união tanto através da bênção simbólica de o Padre

Bartolomeu Lourenço lhes dá quando Blimunda come com a colher que o

Baltasar utilizara, como através da cruz que Blimunda faz com o seu sangue

sobre o coração de Baltasar na primeira noite que passam juntos.

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

A personagem é conhecida como o “Voador”, por alimentar o sonho de voar.

Tal como o casal Blimunda e Baltasar, também o padre foge aos cânones da época,

na medida em que, para concretizar o seu projeto, não hesita em aproximar-se de

Sebastiana de Jesus que foi condenada pela Inquisição por ter visões, e

posteriormente de Blimunda, também suscetível pelos seus poderes a ser

condenada por feitiçaria pelos seus poderes.

Quebra as regras da Inquisição e prossegue com a concretização do seu projeto, a

máquina voadora.

Na “trindade terrestre” representa o conhecimento científico, graças ao qual

assume uma postura antidogmática, que o leva a pôr em causa a doutrina da Igreja

provocando nele mesmo uma profunda crise de fé e entra numa angústia e

inquietação, posteriormente agravada pelo facto de começar a ser perseguido pela

Inquisição.

Após conseguir fugir ao tribunal eclesiástico tenta deitar fogo à Passarola (o que

demonstra a capacidade que a Inquisição possui de deitar abaixo os homens de tal

forma que os leva a destruir os próprios sonhos).

Desaparece, tendo depois enlouquecido e morrido em Toledo.

Domenico Scarlatti

Mestre da capela real e professor de cravo* da infanta Maria Bárbara.

No paço trava conhecimentos com Bartolomeu de Gusmão, tendo este acabado

por partilha com Scarlatti o segredo da construção da Passarola.

É o quarto elemento da “trindade terrestre” e representa a dimensão artística.

A arte, neste caso a música, será fundamental para o sucesso da empresa, já que é

graças a ela que Blimunda recupera do estado de esgotamento após a recolhas das

vontades durante um surto de peste.

Sugere-se que tanto a arte como o conhecimento científico são fundamentais na

concretização dos sonhos do Homem, permitindo-lhe evoluir tanto a nível

espiritual como técnico.

D. João V

Apesar do interesse que demonstra pelo progresso científico e do facto de

contratar Scarlatti para dar lições de cravo à infanta Maria Bárbara, destacam-se,

sobretudo, os aspetos negativos do rei.

Decide, com a sua megalomania, contruir o Convento de Mafra que vai

aumentando à custa do tesouro do país e do sofrimento e morte de muitos

homens do povo.

A indiferença do rei em relação à miséria em que vivem os mais desfavorecidos é

notável também pelo facto de viver num ambiente faustoso no corte que se dedica

inteiramente a cerimónias ocas e de adulação do monarca.

Outra característica negativa, e bem visível, é a maneira desprezível como encara a

sua relação com a rainha, não se unem por amor, mas sim como dever, para além

da sua infidelidade para com a rainha.

A sua vivência religiosa é também marcada pela hipocrisia, apesar de parecer

devoto assistindo a cerimónias e a autos-de-fé e prometendo contruir o convento,

é ostensivamente infiel à rainha contando com freiras como suas amantes.

A vaidade e a megalomania levam-no mesmo a ponderar construir em Portugal

uma réplica da Basílica de São Pedro em Roma.

D. Maria Ana Josefa

Típica mulher do século XVIII: submissa ao marido, mero instrumento de

procriação, reprimida, recatada e profundamente devota.

Vive enclausurada no palácio, do qual apenas se ausenta para cumprir as suas

obrigações religiosas.

A sua relação com o rei não envolve qualquer tipo de afeto, sendo marcada apenas

por dois encontros por semana nos quais as excessivas formalidades privam os reis

de qualquer privacidade.

A única maneira de se libertar da repressão em que vive é através dos sonhos que

tem com o cunhado. No entanto quando se apercebe que o único desejo de D.

Francisco é o poder perde o interesse.

Toma consciência da infidelidade do marido vivendo numa grande infelicidade.

o Casal D. João V/ D. Ana:

- Opõe-se ao casal Baltasar/Blimunda.

- Possuem uma relação que põe em causa todas as normas.

- O casamentos entre os reis assemelha-se a um contrato desequilibrado, em

que apenas a figura feminina é obrigada a cumprir os votos de fidelidade.

- Neste tipo de união a mulher é instrumentalizada, servindo como meio para

alcançar descendência.

Povo

É visto como o verdadeiro responsável pela construção do Convento de Mafra.

Foi devido ao seu esforço e sofrido que se edificou o monumento.

Símbolos “Sete-Sóis” /” Sete-Luas”

A referência ao número sete está associada a um ciclo completo de tempo, à

tonalidade e à perfeição, pode ser uma evidência da plenitude que caracteriza este

casal.

A oposição Sol/Lua mostra a complementaridade destas personagens.

Baltasar é associado ao Sol (elemento relacionado com o masculino) pois “vê às

claras”, representa a dimensão apolínea do casal, estando fortemente ligado à

realidade e com o seu pragmatismo e trabalho manual consegue “dar vida” ao

sonho da máquina voadora.

Blimunda é associada à Lua (elemento relacionado com o feminino) porque “vê às

escuras”, tem poderes que estão associados ao subconsciente e lhe permitem ver

o oculto. A relação entre Blimunda e a Lua está evidenciada pelo facto do seu dom

ser influenciada pelas fases do astro.

Tal como a Lua está associada ao renascimento, também Blimunda vem trazer

novas vidas às vontades dos vivos que serão fundamentais para a concretização do

sonho do padre Bartolomeu de Gusmão.

Colher

Representa a aceitação mútua e o facto de que, a partir do momento da partilha

da mesma, Baltasar e Blimunda encontram-se simbolicamente casados.

Passarola

O facto de que a Passarola apenas pode voar devido às vontades recolhidas

evidencia simbolicamente o poder da vontade humana, graças à qual é possível

realizar todos os sonhos, mesmo que pareçam impossíveis.

Pode ser também vista como uma fuga à opressão criada pela Inquisição.

Poderá também opor-se ao peso, sofrimento e dor associados à construção do

Convento de Mafra. Demonstra que a mesma vontade que permitiu à Passarola

voar pode libertar os homens da repressão e da humilhação.

Resumos Capítulo 1

Assunção de um forte desejo por parte de D. João V e de D. Maria Ana Josefa de terem um filho varão que assegure a sucessão.

A rainha não consegue engravidar, a culpa é da mulher e não do homem uma vez que o reino se encontra cheio de bastardos do rei e esterilidade não mal dos homens.

Floreados desnecessários no encontro entre o rei e a rainha.

D. Nuno da Cunha, bispo inquisidor, traz consigo um frade velho, frei António de S. José. Ao falar com o rei dá a notícia de que se o rei prometer levantar um convento na vila de Mafra Deus lhe daria sucessão.

Encontro consumado entre rei e a rainha, caricatura do encontro pouco natural recorrendo ao uso de expressões de linguagem popular e existência de percevejos que atacam pobres e ricos.

Exposição do desejo da rainha em relação ao seu cunhado infante D. Francisco.

D. João V sonha com a edificação do convento que se erguerá devido ao seu sexo.

Capítulo 2

Caracterização das mentalidades fradescas, muito ligadas à crendice e a favores divinos em troca de atos de honra e proveito.

Referência a milagres franciscanos que auguram a promessa real, apresentação de casos como frei Miguel de Anunciação cujo corpo não foi corrompido após a morte; ou Santo António que por milagre vigiava altares e capelas “castigando” que mal lhes quisesse fazer.

Crítica do narrador face à riqueza excessiva do clero num mundo de extrema pobreza.

Capítulo 3

Enquadramento espaciotemporal e respetiva caracterização.

Descrição da cidade de Lisboa como “pocilga”, cheira mal a podridão.

Reflexões sobre as condições de vida em Lisboa, e as várias oposições entre quem tem tudo e quem nada tem.

Crítica a hábitos religiosos, à procissão da penitência e à Quaresma.

Mulheres eufóricas com o sofrimento dos homens de uma forma erótica.

A rainha já se encontra grávida.

Sonho de D. Maria Ana com o seu cunhado.

Capítulo 4

Apresentação da personagem Baltasar Mateus, o Sete-Sóis, e caracterização do ambiente.

Baltasar Mateus Sete-Sóis: 26 anos, natural de Mafra, com falta da mão esquerda devido a um incidente enquanto exercia a sua função de soldado na Batalha de Jerez de los Caballeros (Espanha).

Pediu esmola em Évora para poder arranjar dinheiro para comprar o gancho de ferro que lhe substituiria a mão.

Percurso até Lisboa, onde vive muitas dificuldades. Indecisão de Baltasar: regressar a Mafra ou dirigir-se ao Terreiro do Paço (Lisboa)

e pedir dinheiro pela mutilação na guerra. Encontro de Baltasar Sete-Sóis com um amigo, antigo soldado: João Elvas. Referências ao crime na cidade lisboeta e ao Limoeiro.

Capítulo 5

Apresentação de Blimunda.

Fragilidade de D. Maria Ana, com a gravidez e a morte do seu irmão, José Imperador da Áustria.

Ocorrência de um auto-de-fé que caracteriza as mentalidades rosto da Inquisição, mas também expõe a insensibilidade do povo que festeja.

Enumeração de condenados e o motivo das condenações.

Referência à mãe de Blimunda, Sebastiana Maria de Jesus.

Introdução do maravilhoso na narrativa através da caracterização de Sebastiana de Jesus e Blimunda e da atribuição de poderes mágicos.

Proximidade das personagens Blimunda, Bartolomeu Lourenço e Baltasar durante o auto-de-fé.

Casamento de Blimunda e Baltasar abençoado pelo padre Bartolomeu após a partilha de uma colher de sopa, que simboliza a comunhão. A espontaneidade e simplicidade deste casamento contrasta com o casamento contratual e encenado do casal rei/rainha.

Blimunda promete a Baltasar nunca o olhar “por dentro”.

A expressividade da linguagem assume particular relevo na crítica à mentalidade de uma sociedade pouco evoluída e dominada pela Igreja.

Capítulo 6

Apresentação do espaço onde vai ser construída a Passarola.

Padre Bartolomeu interessa-se pelo caso de Baltasar e tenta saber junto dos

desembargadores se ele tem direito a uma pensão por ter regressado da guerra

sem uma mão.

Descrição do padre, nasceu no Brasil, possuidor de grande inteligência e

conhecimento.

Introdução do sonho da narrativa com a apresentação da Passarola imaginada

pelo padre, a quem já chamam voador pelos ensaios que tem feito com balões.

O padre e Baltasar visitam, então, a quinta do duque de Aveiro em São Sebastião

da Pedreira, onde el-rei consente os “experimentos” do padre.

Descrição da Passarola feita a Baltasar através do desenho do padre.

Baltasar refere-se a Blimunda e ao que nela transcende a sua compreensão, quer

saber o seu segredo.

O padre convida Baltasar a participar na construção da Passarola e tenta

convencê-lo com o argumento que também Deus é maneta da mão esquerda.

Capítulo 7

O nascimento do herdeiro da coroa.

Trabalho de Baltasar no açougue.

Evolução da gravidez da rainha, infelizmente para o rei era uma menina.

Descrição da solenidade que envolvem o batismo da princesa, de nome Maria

Xavier Francisca Leonor Bárbara.

Os luxos da realeza exigem trabalhos redobrados do povo, queixa de Sete-Sóis.

Morte do frade que formulou a promessa ao rei fidelidade de D. João V perante

a promessa real.

Rendição das frotas portuguesas do Brasil aos franceses.

Capítulo 8

A revelação do segredo de Blimunda. Referência a aspetos circunstanciais da vida

da cidade e das suas gentes. O nascimento do infante D. Pedro.

Baltasar pede a Blimunda que lhe diga por que motivo come pão antes de abrir os

olhos.

Após muita relutância, Blimunda satisfaz o pedido de Baltasar e conta o seu

segredo. Baltasar não acredita e pede provas e Blimunda promete dar-lhas. No dia

seguinte, Blimunda cumpre o prometido.

Caracterização da nobreza e do clero.

O infante D. Francisco entretém-se a fazer pontaria aos marinheiros empoleirados

nas vergas dos barcos, indiferente às consequências. vista crítica sobre a

ociosidade da nobreza e o compadrio do governador com os franceses, que

saqueiam tudo o que encontram.

Relatório caricato do caso do clérigo mulherengo.

Baltasar não obteve notícias do pedido da sua pensão.

Breve referência ao nascimento do príncipe D. Pedro e da ida a Mafra de el-rei

escolher “o sítio onde há de ser levantado o convento”.

Capítulo 9

Contrariedades

Baltasar e Blimunda vão viver para São Sebastião da Pedreira onde o casal revela a

intimidade e cumplicidade de uma união perfeita.

A construção da Passarola constitui uma preocupação para:

o O padre pois reconhece a impossibilidade de a máquina voar sem éter;

o Baltasar que reconhece a inutilidade de todo o seu esforço;

o Blimunda vendo mais que os outros, verificará a má qualidade do ferro;

O padre Bartolomeu batiza a Blimunda de “Sete-Luas”.

Partida do padre para a Holanda em busca do elemento que permitirá à Passarola

voar e de que modo o consegue introduzir nas esferas.

Contrariedades a nível do quotidiano:

o Manifestação das freiras contra as ordens de el-rei chamada de atenção

para os costumes dissolutos das ordens religiosas;

o Realização de mais um auto-de-fé;

o Realização de uma tourada a barbárie contra pessoas e animais perante a

alegria do povo remete-nos para a caracterização “de uma sociedade

dominada por um obscurantismo ferrenho”.

Capítulo 10

O regresso de Baltasar a Mafra. Uniões reais e plebeias. Funerais reais e plebeus.

Baltasar é recebido pelos pais. Alegria e aflição no primeiro encontro pois dói à

mãe de Baltasar o facto de o filho ter perdido uma mão na guerra. O pai de

Baltasar dá a notícia de que teve de vender as terras devido à construção do

convento. Blimunda é apresentada à família de Baltasar.

O sobrinho de Baltasar, filho da sua irmã Inês Antónia e Álvaro Diogo, morre

estabelece-se a comparação entre o funeral realizado ao infante D. Pedro e o

sobrinho de Baltasar.

Constatação das diferenças entre o casal Baltasar/Blimunda e Rei/rainha.

Referência à religiosidade de D. Maria Ana. Fica sozinha em Lisboa a rezar e o

infante D. Francisco reconhece a fraqueza da cunhada e tenta aproveitar-se disso

D. Maria Ana compreende afinal a origem do interessa que o cunhado mostrava

por ela.

Capítulo 11

Este capítulo elege o sonho como tema central.

Após 3 anos, Bartolomeu Lourenço regressa da Holanda, vai a São Sebastião e vai

voltar para Coimbra para adquirir um grau académico.

Padre explica a Baltasar e Blimunda que o éter é, então, composto pelas vontades

dos vivos. Dados os poderes de Blimunda, é atribuída a esta a função de recolher

as vontades das pessoas colocando-as num frasco de vidro que contém uma

pastilha de âmbar que atrairá as vontades.

Baltasar construirá a máquina, portanto vai, com Blimunda, para Lisboa.

A “trindade terrestre” reunir-se-á novamente quando chegar o dia de voar.

Capítulo 12

El-rei vai a Mafra benzer e lançar a primeira pedra do convento.

A família de Baltasar reúne-se após a missa. Álvaro Diogo está feliz pois arranjou

trabalho na construção do convento e terá trabalho por muitos anos.

Blimunda decide ir à missa em jejum. Descobre que o que está dentro da hóstia é

o mesmo que está dentro do Homem existência de Deus e as bases da religião

são postas em causa.

Referência, novamente, à união pura entre Baltasar e Blimunda.

Bênção da pedra principal feita com grande solenidade. Ergueu-se uma igreja de

madeira para celebrar “o ato da bênção e da inauguração”. Saliente-se a grandeza

do espetáculo no dia da inauguração. A hierarquia da Igreja ostenta riqueza e

poder, que a casa real legitima com a sua presença. O povo é relatado como “sujo”

demais para entrar na Igreja.

Apesar de esmagado pelo trabalho e pela miséria, o povo adere com entusiasmo a

qualquer acontecimento comportamento que revela a sua incapacidade de

encarar criticamente os factos.

Após a cerimónia, Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa.

Capítulo 13

A recolha das vontades por Blimunda.

Quando Baltasar e Blimunda chegam a São Sebastião da Pedreira deparam-se com

a degradação dos materiais da Passarola.

Decidem esperar pelo padre para ver que solução dariam àquele “esqueleto

metálico”. Blimunda insiste para que Baltasar construa uma forja e um fole. A

desmoralização de Baltasar perante as dificuldades leva Blimunda a afirmar que é

melhor que seja ele a fazer o trabalho. este pequeno episódio revela a

importância da persistência na concretização dos sonhos, nada se alcança sem

esforço e sem vontade de viver.

O padre dirige-se a Blimunda e relembra que são necessárias, pelo menos, duas

mil vontades. este número excessivo revela a grande força de vontade essencial

para fazer a Passarola voar.

Blimunda vai recolher as vontades na procissão.

O padre regressa a Coimbra. Baltasar e Blimunda continuam o seu trabalho na

máquina.

Blimunda perde as suas capacidades visionárias com a chegada da Lua Nova.

Capítulo 14

A chegada a Portugal de Domenico Scarlatti.

O narrador perde algum tempo na composição da descrição do padre.

O casal real, o padre e mais umas trinta pessoas assistem à aula de música da

infanta Maria Bárbara lecionada por Domenico Scarlatti, vindo de Londres á um

ano.

Ficamos a saber que já onze anos se passaram quando el-rei pergunta pela

Passarola ao padre Bartolomeu.

O padre e Domenico iniciam uma amizade após o padre ter gostado de o ouvir

tocar. Passados alguns dias, o padre convida o músico a ir a São Sebastião da

Pedreira ver a Passarola.

Domenico demonstra interesse em juntar-se ao projeto.

Na génese da máquina estiveram a invenção e a criatividade (o padre), a força do

trabalho (Baltasar), a força de vontade (Blimunda) às quais se juntaria agora a

subtileza da arte representada por Scarlatti. quatro aparece como símbolo da

totalidade.

O padre dá mostras de grande ansiedade e perturbação ao ensaiar o seu sermão.

Afligiam-no as verdades da fé.

Capítulo 15

Scarlatti toca para Blimunda.

O sermão do padre passou na censura do Santo Ofício.

Bartolomeu de Gusmão atormenta-se devido às variadas facetas da sua vida. Não

encontra o limite entre cada uma das suas identidades. verifica-se uma

instabilidade emocional.

Scarlatti traz um cravo para São Sebastião onde se encontra a Passarola e toca

enquanto o casal trabalha. Confessa que se a máquina voar ele gostava de ir nela.

Aparecimento de uma epidemia de peste em Lisboa. Devido à morte de muitas

pessoas, o padre considera que seria uma boa oportunidade para Blimunda ir

recolher as vontades, mas avisa-a dos perigos que corre. Assim sendo, Baltasar e

Blimunda partem para Lisboa, durante cerca de um mês, a recolher vontades.

Blimunda adoece e foi a música de Domenico Scarlatti que a curou mais uma

vez, aparecimento da vertente mágica na narração, a música é a arte de atingir a

perfeição.

Baltasar e Blimunda dão pela falta do padre e vão a sua casa dar-lhe a notícia de

que a Passarola está pronta, mas encontram-no em mau estado. As suas dúvidas e

desconfianças persistem.

Capítulo 16

O voo da Passarola.

Inicia-se com uma reflexão sobre a (in)justiça, os julgamentos do Santo Ofício e a

falta de isenção na perseguição das vítimas. passagem marcada pela ironia.

A coroa perdeu a demanda em que andava com o duque de Aveiro, e assim el-rei

tem de devolver os seus bens, incluindo a quinta de São Sebastião da Pedreira.

Baltasar e Blimunda interpelam o padre sobre o seu futuro. Estranham a

inquietação do padre.

O Santo Ofício anda à procura do padre e este decide fugir na Passarola, levando

consigo Baltasar e Blimunda. Entram os três na Passarola para tentarem a grande

aventura. Em terra, Scarlatti viu-os descolar na máquina e dirigiu-se à abegoaria,

mas apenas encontrou destroços da partida. Apercebeu-se do perigo que corria se

ali deixasse o seu cravo então atirou-o a um poço.

Capítulo 17

Dificuldades na construção do convento. A morte do padre Bartolomeu Lourenço

de Gusmão.

Em Mafra, Baltasar pede a Álvaro Diogo que lhe arranje emprego. (a mãe de

Baltasar já tinha morrido). Baltasar é aceite para trabalhar no convento e conhece

a “Ilha da Madeira” onde os trabalhadores pernoitam sem quaisquer condições.

Referência às duras dificuldades na construção do convento. Distrações patéticas

dos trabalhadores que vão escorregando no lamaçal devido à chuva intensa que

tem caído em Mafra.

Baltasar visita Monte Junto para melhor esconder a Passarola.

Blimunda vai ao encontro de Baltasar e diz que Scarlatti está em Mafra.

Encontro de Blimunda e Scarlatti, em que este se mostra preocupado com ela e

Baltasar lhe diz que o padre Bartolomeu morreu louco em Toledo.

Capítulo 18

A construção do convento.

Inicia-se com a referência ao poema “Infante”, de Fernando Pessoa. prolepse

em “por ora ainda não nascido”

Enumeração das riquezas que vêm das colónias.

Crítica aos “toscos artífices” que nada entendem de arte. Daí D. João V requerer

somente pedra, tijolo e lenha de Portugal. Numa demonstração de vaidade e

poder, todos os adornos vêm do estrangeiro.

Oito anos se passam desde o inicio da construção, 20000 homens trabalham no

convento.

Inauguração da capela precedida de uma missa.

Apresentação de diversas personagens que trabalham no convento: Francisco

Marques, José Pequeno, Joaquim Rocha, Manuel Milho, João Anes, Julião Mau-

Tempo. Lamentos dos mesmos que estão há já muito tempo longe da família.

Baltasar já com 40 anos conta a sua história de vida.

O sino da Igreja toca as trindades e os homens regressam à “Ilha da Madeira” e

rezam.

Capítulo 19

O transporte da pedra Benedictione.

Narração dos trabalhos árduos, de força bruta, que os homens exercem

forçosamente.

Baltasar passa a trabalhar com uma junta de bois e sabe-se que os homens têm de

ir a Pêro Pinheiro buscar uma pedra gigantesca chamada Benedictione.

Enumeração dos trabalhadores de A a Z para os imortalizar, não pela beleza do

corpo ou do semblante, mas pelo esforço dispendioso no meio do desconforto de

condições indignas.

Grandes dificuldades, não só na colocação da pedra em cima do carro que a

transportaria, mas também no percurso, que era íngreme e sinuoso. Referência ao

esforço heroico dos trabalhadores. segundo o narrador, são as vaidades e os

“tolos orgulhosos” que levam a esquecer a brutalidade do esforço exigido ao povo

e a atribuir a D. João a construção do convento de Mafra.

Para tornar o quadro mais dolorosamente verosímil, ainda são referidos os dramas

humanos que envolveram a morte de Francisco Marques, esmagado debaixo do

carro e o caso de um outro que ficou sem um pé num acidente. surge a

comparação entre estes acontecimentos e um campo de batalha, com “os seus

mortos e feridos”.

Capítulo 20

Blimunda e Baltasar mantêm vivo o sonho.

Três anos passaram desde que a Passarola desceu em Monte Junto. Durante esse

tempo, Baltasar regressou ao local para tentar remediar os estragos mais

evidentes.

Baltasar e Blimunda vão os dois ver a Passarola. Pelo facto de apenas estas

personagens acreditarem no sonho, o narrador descreve o longo caminho entre

Mafra e Monte Junto como “sonho”, tranquilo. Quando chegaram deparam-se

com nítidos sinais de abandono. Regressam a Mafra.

Descrição em pormenor das condições em que vivem os operários.

Capítulo 21

D. João V manda aumentar o convento.

Brincadeira entre D. João e os seus filhos a construir uma maquete da Basílica de

São Pedro em Roma resulta na manifestação de um desejo megalómano, o de

querer construir uma basílica igual na sua corte. Mandou chamar Ludovice a fim de

lhe propor o seu desejo, ao qual Ludovice apresenta a impossibilidade de tal

desejo.

El-rei decide aumentar o convento de Mafra para este albergar trezentos frades.

Este capítulo é dedicado ao rei e ao modo como este geria pessoas e bens. É

leviano nas decisões e insensato, déspota pela forma como manda recrutar novos

trabalhadores (de forma abrupta), era também repressivo e ambicioso.

enquadra-se neste contexto a paráfrase d’ Os Lusíadas aqui proferida por um

ancião “Ó glória, ó vã cobiça, ó rei infame, ó pátria sem justiça.”

Capítulo 22

Acordos pré-nupciais.

Infanta Maria Bárbara está prometida a Fernando de Espanha e Mariana Vitória

contrairá matrimónio com D. José, futuro rei de Portugal.

Acompanhamos os reis e príncipes até Badajoz onde se encontrarão com os seus

prometidos.

Descrição pormenorizada as peripécias da viagem. As dificuldades impostas pelo

clima da época são motivo de chamada de atenção para o esforço dos homens

que, devidos às circunstâncias, alternavam com os animais.

Maria Bárbara pede a um oficial que vá saber quem eram os homens atados uns

aos outros na beira da estrada, este esclarece que são os homens que vão

trabalhar para Mafra.

A infanta indigna-se com o facto de nunca ter ido a Mafra. Está envolvida no voto

que deu origem ao convento, mas confessa que nunca a tinham levado lá a vê-lo.

Além de desencantada, a rainha é uma mulher amargurada. Não viveu o amor

experienciado por Blimunda e Baltasar. Chegou a refugiar-se no sonho e ver em D.

Francisco uma figura redentora até que descobriu o que o movia. A prática

religiosa, as rezas e as missam são o seu porto de abrigo de uma vida sem sentido.

Sabemos que os sentimentos, geralmente, não são tidos em conta nas uniões

entre realeza. No entanto, o narrador realça, com humor, o aspeto de simples

troca de pessoas e bens.

Capítulo 23

O desaparecimento de Baltasar.

Enumeração dos dezoito santos provenientes de Itália, sendo português apenas

São João de Deus. Baltasar é o boieiro que leva este santo.

Ironia na afirmação de que os santos de mármore parecem homens comuns.

Baltasar admite sentir-se velho. É caracterizado pelo narrador tendo a barba cheia

de brancas, testa carregada de rugas, pescoço encorreado e ombros descaídos.

Baltasar e Blimunda vão ver as estátuas e Baltasar avisa que no dia seguinte iria ver

da Passarola visto que já tinham passado seis meses desde a última vez.

É feita a apreciação dos trabalhos do convento que já contam com treze anos.

“Parece pouco e é muito, se não demasiado.”

O trabalho do homem é comparado com o de um gigante pois era este que devia

ter construído o convento realce para a heroicidade do povo.

Baltasar e Blimunda regressam a casa e entram numa barraca que existe no

quintal, onde fazem amor. Um amor já envelhecido.

Na manhã seguinte o casal despede-se. Baltasar parte “com o coração apertado” e

chega à tarde “às primeiras elevações da serra do Barregudo.”

Baltasar reconhece que a Passarola necessita de grandes reparações. Entra nela,

mas, de repente, o sol bate nas esferas e a máquina levantou voo.

Capítulo 24

Tentativa de violação de Blimunda por um frade.

Blimunda fica preocupada por Baltasar não aparecer e decide ir à sua procura.

Ao longo do caminho, Blimunda vai reconhecendo alguns locais por onde ela e

Baltasar passaram.

Para sua frustração, chega a Monte junto e vê que Baltasar não lá estava. Mas

Blimunda não desiste e persiste na busca pelo Sete-Sóis.

Encontra-se depois com um frade dominicano a quem pergunta por Baltasar e este

aconselha-a a ir-se embora. o aviso é um prenúncio do perigo que o próprio

frade vai personificar.

Blimunda aproxima-se do convento e entra numas ruínas que ficavam ao lado,

estava tão cansada que acaba por adormecer. Acorda, de repente, com um som

“um pisar cauteloso, quase inaudível, mas próximo” e apercebe-se que é o frade

com que se tinha deparado e quais as suas intenções. Quando o frade a tenta

violar Blimunda ela mata-o com o espigão de Baltasar. mesmo não estando

fisicamente presente é Baltasar que continua a proteger Blimunda.

Blimunda continua a sua busca incessante por Baltasar.

Entretanto, regressa a Mafra e depara-se com festejos e alegria do povo pela

inauguração do convento, era 22 de outubro de 1730.

Descrição da festa e da procissão que demonstram a opulência da cerimónia.

Blimunda, alheia de toda a festa, decide procurar o marido fora de Mafra. a

determinação em percorrer caminhos árduos e perigosos enaltece o seu amor por

Baltasar.

Capítulo 25

Blimunda reencontra Baltasar.

“Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar.”

Breve descrição das condições climatéricas com que Blimunda se deparou na sua

busca. novamente, o seu amor por Baltasar leva-a a superar as dificuldades.

Blimunda ia perguntando às pessoas se alguém tinha visto Baltasar.

Voltou a Mafra e soube pela cunhada da morte de Álvaro Diogo.

Blimunda começa a confundir o espaço e o tempo. Percorre léguas e léguas entre

Portugal e Espanha.

Volta a passar por Lisboa, vai em direção ao Rossio. 28 anos se passaram desde

que conheceu Baltasar.

“Havia procissão em S. Domingos” e no meio dos onze supliciados encontra

Baltasar quase moribundo.

Acaba por quebrar a sua promessa e retira a vontade a Baltasar pois “à terra

pertencia e Blimunda” podemos afirmar que Baltasar morre apenas fisicamente

porque parte dele fica com Blimunda, é como se o sonho de libertação de ambos

permanecesse vivo na figura feminina.