ndiceIntroduo 2 Linguagem e estilo . 3 O discurso 4 Construo frsica . 5 Formas verbais . 8 Recursos estilsticos .. 10 Registo de lngua . 16 Vocabulrio . 17 Expresses e provrbios populares 20 Aforismos, adgios e sentenas 20 Jogos de palavras e trocadilhos 21 Marcas da oralidade . 22 Interaco com a literatura portuguesa . 22 Oposies sugeridas por vocbulos antnimos 25 Descries .. 25 Concluso . 27 Bibliografia .. 28

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IntroduoNo mbito da disciplina de Portugus, o professor Fernando Faustino props-nos a elaborao de um trabalho sobre a obra Memorial do Convento. De entre os temas sob os quais nos foi proposto trabalhar, a nossa opo recaiu sob Linguagem e estilo em Memorial do Convento.

A escrita de Jos Saramago caracterizada por um estilo inconfundvel, prprio e irreverente comeando de imediato pela ausncia de numerao dos captulos, separados somente por um espao em branco. Nesta obra, Saramago adopta um estilo onde se verifica a fuso de diferentes linhas, o que conduz possibilidade de serem tomadas duas atitudes opostas em relao ao romance: adeso ou repulsa. O estilo saramaguiano especfico, contemplando rupturas com as normas lingusticas prprias do registo escrito, principalmente a nvel da pontuao, da interpretao de falas e de discursos e do uso da maiscula no interior da frase. Este apresenta um discurso reflectido cuja ruptura propositada com as normas lingusticas fixadas conduzem aproximao a um estilo mais espontneo. Como as regras a que estamos habituados no so cumpridas, torna-se mais difcil aderir escrita de Saramago, mesmo porque esta exige uma aprendizagem, aps a qual se pode verificar uma adeso total ou uma completa repulsa. A escrita de Saramago apresenta algumas dificuldades de compreenso, visto que, se torna complicado compreender a que personagens pertencem as diferentes falas, dado que estas so apenas separadas por vrgulas, sendo a o incio de cada fala marcado pelo uso de letra maiscula, em vez de serem utilizados aspas e travesses para tal efeito. Alm disso, as falas so frequentemente interrompidas por comentrios do narrador.

Ao longo do trabalho sero retratados a linguagem e o estilo utilizados por Jos Saramago em Memorial do Convento e os seus aspectos caractersticos como a sua construo frsica, formas verbais, recursos estilsticos, registo de lngua, vocabulrio, expresses e provrbios populares, entre outros. Estes aspectos por ns apresentados, so suportados por excertos retirados da obra, que os exemplificam.

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Linguagem e estiloMemorial do Convento uma obra marcada por uma narrativa de ritmo caudaloso, fluente, ritmado por frases longas, onde so utilizados ditados populares e expresses que revelam uma sabedoria adquirida na vida quotidiana. As marcas de oralidade so, igualmente, utilizadas ao longo de toda a obra. Saramago possui um estilo muito prprio, dialogal e inconfundvel, onde as regras do discurso so aparentemente transgredidas: utiliza pargrafos com aproximadamente uma pgina, com textos contnuos com dilogos neles inseridos, sem recorrer utilizao da pontuao normalmente utilizada: os dois pontos, o travesso ou as aspas. A estrutura no deixa de ser organizada, mas existem no texto linguagens que no correspondem ao estilo discursivo habitualmente utilizado. De facto, Jos Saramago parece ter revertido ou radicado o processo de escrita ao modo prprio da fala. Enquanto o discurso escrito obedece a um conjunto de preceitos lingusticos segundo a normatividade da lngua, o discurso oral permite a libertao deste modelo, deixando soltar a linguagem em improvisos sintcticos, morfolgicos, semnticos e at fonticos, que exprimem a vivacidade, a novidade e a originalidade da lngua (in REAL, Miguel.Narrao, Maravilhoso, Trgico e Sagrado em Memorial do Convento de Jos Saramago. Caminho, Lisboa: Janeiro de 1996)

Exemplificando, a descrio de elementos espaciais ou de comportamentos e atitudes das personagens mostra uma transgresso das regras lingusticas do texto escrito, levando interpenetrao de elementos descritivos e narrativos, mistura com dilogos e outros segmentos frsicos que tornam o discurso indirecto "diludo", mais prximo de realizaes prprias do discurso indirecto livre (onde as coordenadas da narrao reflectem uma polifonia enunciativa sem fronteiras claras). (in PEIXOTO,Maria Jos, e FONSECA, Clia, Dossier Exame, Portugus B, 12 ano, 1. ed., Edies Asa, 2001, pp. 173174.)

Muitas das passagens na obra remetem-nos para excertos com elevada simbologia. Aps a leitura da obra, possvel verificar que o autor cria um novo discurso, proveniente da mistura dos discursos directo, indirecto e indirecto livre, que,3

por vezes, torna difcil a sua diferenciao. Existe uma alternncia entre o discurso escrito e o discurso oral onde, por vezes, est intercalado o monlogo interior.

O discursoTom coloquial e dialogante: Trata-se de uma das caractersticas mais evidentes ao longo de Memorial do Convento.1

Dilogo ldico: quantas vontades recolheste at hoje, Blimunda, perguntou o padre nessa noite, quando ceavam, no menos de trinta, disse ela, pouco, e a mais so de homem ou de mulher, tornou a perguntar, As mais so de homem.

Monlogo interior: onde ests Blimunda, se no foste presa depois de mim, aqui hs-de vir saber da tua me e eu te verei se no meio dessa multido estiveres, que s para te ver quero agora os olhos, a boca me amordaaram. (...) no fales, Blimunda, olha s, olha com esses teus olhos que tudo so capazes de ver, e aquele homem quem ser, to alto que est perto de Blimunda e no sabe, ai no sabe no, quem ele, donde vem, que vai ser deles, poder meu, pelas roupas soldado, pelo rosto castigado, pelo pulso cortado, adeus Blimunda que no te verei mais ()

Circularidade do discurso: Com essa mo e esse gancho podes fazer tudo quanto quiseres () e eu te digo que maneta Deus, e fez o universo. () s eu te digo que Deus no tem a mo esquerda, porque a sua direita, sua mo direita, que se sentam os eleitos, no se fala nunca da mo esquerda de Deus () e, levantando um pouco os braos, disse, Se1

cf. Marcas da oralidade4

Deus maneta e fez o universo, este homem sem mo pode atar a vela e o arame que ho-de voar

Frases parentticas ou intercaladas: Na guerra de Joo perdeu a me Baltasar, na guerra da Inquisio perdeu Blimunda a me, nem Joo ganhou, que feitas as pazes ficmos como dantes, nem ganhou a Inquisio, que por cada feiticeira morta nascem dez, sem contar os machos, que tambm no so poucos.

Construo frsicaFrases muito longas: Utilizam-se frases contnuas e longas que aproximam o texto ao discurso oral ou que funcionam como uma traduo do monlogo interior, e que dificultam a leitura da obra e a compreenso da informao.

Pontualmente escrevera o padre Bartolomeu Loureno quando se instalou em Coimbra, notcia s de ter chegado e bem, mas agora viera uma nova carta, que sim, seguissem para Lisboa to cedo pudesse, que ele, aliviando o estudo, os iria visitar, tanto mais que tinha obrigaes eclesisticas na corte, e ento se aconselhariam na obra magna em que estavam ocupados ()

Pontuao: A utilizao peculiar da pontuao um dos elementos que mais marca o discurso em Memorial do Convento. Saramago utiliza preferencialmente as vrgulas, sendo este o sinal grfico que se sobrepe a todos os outros, substituindo a pontuao tradicional da escrita, e marcando o ritmo e as pausas necessrias do discurso. o prprio que diz ns, quando falamos, no usamos sinais de pontuao. uma velha declarao minha: fala-se como se faz msica, com sons e com pausas; toda a msica feita de sons e pausas e toda a fala feita de sons e pausas.

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Nas passagens do discurso directo, o autor elimina o travesso, os dois pontos e as aspas e substitui o ponto de interrogao e outros sinais de pontuao pela vrgula, o que acontece no s no discurso directo, mas tambm no restante discurso, cabendo ao leitor esta descodificao de sinais de pontuao: as exclamaes e as interrogaes so proferidas pelas personagens (mas no so referidas pelo narrador) e o leitor deve ser capaz de demarcar as suas manifestaes e de descobrir a sua presena.

Normalmente, a vrgula que separa as falas das diferentes personagens. Como j foi dito, o incio das falas das personagens no assinalado com travesso ou aspas, mas atravs da utilizao de letra maiscula, o que faz com que seja frequente o uso de maiscula no interior das frases. O sinal de fim de frase ou de pargrafo feito normalmente, com a utilizao de ponto final.

Daqui saliente-se a importncia do emprego da vrgula que, sobrepondo-se aos demais sinais de pontuao, separa as falas das personagens e ritmo do texto, marcando as suas pausas mais ou menos longas. Tambm tem um papel importante na acelerao do ritmo de leitura do texto, j que as pausas definidas por vrgulas no sero nunca muito extensas e deixam apenas tempo a leitor de acertar a sua respirao e preparar o flego.(Ana Margarida Ramos, Memorial do Convento, da leitura anlise, Edies Asa)

Estas caractersticas peculiares tornam difcil identificar a quem pertencem as vozes intervenientes, que comummente so interrompidas por comentrios do narrador.

"Perguntou el-rei, verdade o que acaba de dizer-me sua eminncia, que se eu prometer levantar um convento em Mafra terei filhos, e o frade respondeu, Verdade , senhor, porm s se o convento for franciscano, e tornou el-rei, Como sabeis, e frei Antnio disse, Sei, no sei como vim a saber, eu sou apenas a boca de que a verdade se

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serve para falar, a f j no tem mais que responder, construa vossa majestade o convento e ter brevemente sucesso, no o construa e Deus decidir."

No entanto, no discurso do narrador, a transgresso das regras de pontuao no to evidente. Terra solta, pedrisco, calhau que a plvora ou o alvio arrancaram ao pedernal profundo, esse pouco o transportam por mo de homem os carrinhos, enchendo o vale com p que se vai arrasando do monte ou extraindo dos novos caboucos. Para o entulho de maior porte e arrastado peso andam os carros grandes, chapeados de ferro, que os bois e as bestas puxam sem mais pausa que carregar e descarregar. Aos andaimes, pelas travejadas rampas de madeira, sobem homens as pedras suspensas do jugo que sobre os ombros e a nuca lhes assenta, para sempre seja louvado quem inventou o chinguio, algum a quem lhe doa. So trabalhos j ditos, que mais facilmente se recapitulam por serem de fora bruta, porm, causa da sua reiterao no consentir que esqueamos o que, por to comum de to mnima arte, se costuma olhar sem mais considerao que distraidamente vermos os nossos prprios dedos escrevendo, assim de um modo e outro ficando oculto aquele que faz sob aquilo que feito.

O desrespeito pelas regras de pontuao tem os seguintes efeitos: aproximao ao discurso oral, fuso entre o discurso do narrador e das personagens, atenuao das fronteiras entre os discursos directo, indirecto e indirecto livre, apelo permanente e directo cumplicidade e ateno do leitor.

Acerca da construo frsica pode tambm ser referido a utilizao do polissndeto e do paralelismo de construo, isolada ou conjuntamente. Exemplos da sua utilizao podem ser consultados mais adiante.

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Formas verbaisNa narrativa comum as formas verbais mais utilizadas serem o Pretrito Perfeito ou Imperfeito, mas, em Memorial do Convento, raramente as frases se encontram nestes tempos verbais, sendo eles substitudos, principalmente, pelo presente e pelo futuro.

Utilizao do Presente do Indicativo: Normalmente, a utilizao deste tempo verbal conduz o narratrio para o tempo da narrativa. Trata-se de uma marca do fluir constante do narrador entre o passado e o presente.

Quando chegou ao cais, era j sol-fora. Comeara a vazante, o mestre da barca gritava que ia largar para no tarda, Est a mar boa, quem embarca para Lisboa ()

H aqui mais quem esteja dormindo, por essa razo no poderia falar, mas, se acordado estivesse, talvez lho no consentissem, porque s tem doze anos, pode a verdade estar na boca das crianas, mas para a dizerem tm de crescer primeiro, e ento passam a mentir, este o filho que ficou, chega noite morto de dar serventia, andaime acima, andaime abaixo, acaba de cear e adormece logo ()

Utilizao do Futuro do Indicativo: utilizado, por exemplo, nas profecias.

ai o destino das flores, um. dia as metero nos canos das espingardas referncia ao 25 de Abril de 1974. Tambm no se iro furtar vontades.

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Utilizao do Gerndio: Normalmente, o gerndio utilizado em situaes em que existem aces adecorrer, servindo como expresso de movimento ou sequencializao da aco.

Metem, quantas vezes foradamente, estas mulheres em recluso conventual, a ficas, por esta forma aliviando parties de heranas, favorecendo o morgadio e outros irmos vares, e, estando assim presas, at o simples apertar de dedos grade querem recusar-lhes, o clandestino encontro, o suave contacto, a doce carcia, mesmo trazendo ela tantas vezes consigo o inferno, abenoado seja.

Porm, hoje dia de alegria geral, porventura a palavra ser imprpria, porque o gosto vem de mais fundo, talvez da alma, olhar esta cidade saindo de suas casas, despejando-se pelas ruas e praas, descendo dos altos, juntando-se no Rossio para ver justiar a judeus e a cristos-novos ()

Utilizao do modo Imperativo: Frequentemente, esta forma verbal encontra-se associada ironia crtica.

() vem com a infanta D. Maria Brbara, mais o infante D. Pedro, este outro, com o mesmo nome do primeiro, frgeis mulheres, criana frgil, expostas aos agravos do mau tempo, ainda dizem que o cu est com os poderosos, vede, vede como para todos a chuva quando cai.

Ah, gente pecadora, homens e mulheres () ajoelhai, ajoelhai, pecadores, agora mesmo vos deveis capar para no fornicardes mais () porm, eis-me em pessoa, e tambm em pessoa os infantes meus manos e senhores vossos, ajoelhai, ajoelhai l, porque vai passando a custdia e eu vou passando ()

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Recursos estilsticos

Em Memorial do Convento vrias so as vezes em que o narrador recorre utilizao de enumeras figuras de estilo de modo a enriquecer o seu discurso.

De seguida sero apresentados alguns exemplos de figuras de estilo que podem ser encontradas ao longo da obra.

Adjectivao expressiva: a tripa empedernida lama aguada e pegajosa.

Adjectivao mltipla: aqui vou blasfema, hertica, temerria, amordaada.

Dupla adjectivao: mozinha suada e fria a boca () pequena e espremida correm guas abundantes e dulcssimas para o futuro pomar e horta

Polissndeto: Isto que aqui vs so as velhas que servem para cortar o vento e que se movem segundo as necessidades, e aqui o leme com que se dirigir a barca *+ e este o corpo do navio dos ares ()

Anfora, repetio anafrica ou paralelismo de construo: () agora vai casa do noviciado da companhia de Jesus, agora igreja paroquial de S. Paulo, agora faz a novena de S. Francisco Xavier, agora visita a imagem de Nossa Senhora das Necessidades

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() podes comear j pela primeira palavra, que a Casa de Jerusalm onde Jesus Cristo morreu por todos ns, o que dizem, e agora as duas palavras, que so as duas Tbuas de Moiss onde Jesus Cristo ps os ps, o que dizem, e agora as trs palavras, que so as trs pessoas da Santssima Trindade, o que dizem, e agora as quatro palavras, que so os quatro evangelistas, Joo, Lucas, Marcos e Mateus, o que dizem, e agora as cinco palavras, que so as cinco chagas de Jesus Cristo, o que dizem, e agora as seis palavras, que so os seis crios bentos que Jesus Cristo teve no seu nascimento, o que dizem ()

Passam velozmente sobre as obras do convento, mas desta vez h quem os veja, gente que foge espavorida, gente que se ajoelha ao acaso e levanta as mos implorativas de misericrdia, gente que atira pedras, o alvoroo toma conta de milhares de homens, quem no chegou a ver duvida, quem viu, jura e pede o testemunho do vizinho () () ajoelhai, ajoelhai, pecadores, agora mesmo vos deveis capar para no fornicardes mais, agora mesmo deveis atar os queixos para no sujardes mais a vossa alma com a comilana e a bebedice, agora mesmo deveis virar e despejar os vossos bolsos porque no paraso no se requerem escudos ()

() Cada qual tem sua contabilidade, seu razo e seu dirio, escrituram-se os mortos num lado da pgina, apuram-se os vivos do outro lado, tambm h modos diferentes de pagar e cobrar o imposto, com o dinheiro do sangue e o sangue do dinheiro, mas h quem prefira a orao, o caso da rainha, devota parideira que veio ao mundo s para isso, ao todo dar seis filhos, mas de preces contam-se por milhes, agora vai casa do noviciado da Companhia de Jesus, agora igreja paroquial de S. Paulo, agora faz a novena de S. Francisco Xavier, agora visita a imagem de Nossa Senhora das Necessidades, agora vai ao convento de S. Bento dos Loios, e vai igreja paroquial da Encarnao, e vai ao convento da Conceio de Marvila, e vai ao convento de S. Bento da Sade, e vai visitar a imagem de Nossa Senhora da Luz, e vai igreja do Corpo Santo, e vai igreja de Nossa Senhora da Graa, e igreja de S. Roque, e igreja da Santssima Trindade, e ao real convento da Madre de Deus, e visita a imagem de Nossa Senhora da Lembrana, e vai igreja de S. Pedro de Alcntara, e 11

igreja de Nossa Senhora de Loreto, e ao convento do Bom Sucesso () utilizao do paralelismo de construo e do polissndeto

Quiasmo: todos tm uma parte de cincia e outra de mando, a cincia por causa do mando, o mando por causa da cincia

Enumerao: () j que no podemos falar-lhes das vidas, por tantas serem, ao menos deixemos os nomes escritos, essa a nossa obrigao, s para isso escrevemos, tornlos imortais, pois a ficam, se de ns depende, Alcino; Brs, Cristvo, Daniel, Egas, Firmino, Geraldo, Horcio, Isidro, Juvino, Lus, Marcolino, Nicanor, Onofre, Paulo, Quitrio, Rufino, Sebastio, Tadeu, Ubaldo, Valrio, Xavier, Zacarias, uma letra de cada um para ficarem todos representados () vai escriturando no rol os bens e as riquezas, de Macau as sedas, os estofos, as porcelanas, os lacados, o ch, a pimenta, o cobre, o mbar cinzento, o ouro. Est o penitente diante da janela da amada, em baixo na rua, e ela olha-o dominante, talvez acompanhada de me ou prima, ou aia, ou tolerante av, ou tia assadssima solene procisso de juzes, corregedores e meirinhos padres, confrarias e irmandades cordas, panos, arames, ferros confundidos

Anttese: Via-se o castelo l no alto, as torres das igrejas dominando a confuso das casas baixas. A obra longa, a vida curta

Eufemismo: que ele prprio poder amanh fechar os olhos para todo o sempre

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Comparao: O sol est pousado no horizonte do mar, como uma laranja na palma da mo passadas as roupas de mo em mo to reverentemente como relquias de santos que tivessem trespassado donzelas Empoleirado em andas como uma cegonha negra passando os braos como crucificados triste morte, foi um abalo muito grande, como um terramoto profundo que lhe tivesse rachado os alicerces (comparao associada a hiprbole)

Metfora: "O cntaro est espera da fonte." () para D. Maria Ana que lhe vem chegando o tempo. A barriga no aguenta crescer mais por muito que a pele estique, um bojo enorme, uma nau da ndia. Mas esta cidade, mais que todas, uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro () () olharem-se era a casa de ambos () () a procisso uma serpente enorme que no cabe direita ao Rossio e por isso se vai curvando e recurvando

Hiprbole: um mar de gente de um e outro lado, portugueses de c, espanhis de l. vista do mar de povo que enchia a praa ()

Hiplage: Entrou no aougue que dava para a praa, a regalar a vista sfrega nas grandes peas de carne () de corao manso e alegre vontade nem Romeu que, descendo, colhe o debruado beijo de Julieta

Sinestesia: puxa o cordo da sineta *+ pairam cheiros diversos13

Gradao: O homem primeiro tropea, depois anda, depois corre, e um dia voar A barriga no aguenta crescer mais por muito que a pele estique, um bojo enorme, uma nau da ndia, uma frota do Brasil (gradao associada a hiprbole) Ah, gente pecadora, homens e mulheres que em danao teimais viver essas vossas transitrias vidas, fornicando, comendo, bebendo mais que a conta, faltando aos sacramentos e ao dzimo, que do inferno ousais falar com descaro e sem pavor

Personificao: Fechou-se a noite por completo, a cidade dorme, e se no dorme calou-se. () bendita sejas tu, noite, que cobres e proteges o belo e o feio com a mesma indiferente capa, noite antiqussima e idntica, vem (neste caso trata-se de uma personificao associada a uma apstrofe)

Onomatopeia: truca-truca, truca-truca, com o cinzel e a maceta. s os canteiros continuaram a bater a pedra, truca-truca, truca-truca taratat-t, sopra a corneta toque-toque-toque, lindo burriquito eeeeeiii-, se os bois puxarem mais de um lado que do outro, estamos mal aviados, eeeeeiii-, agora saiu o grito ()

Sarcasmo: "Porm, esta religio de oratrio mimoso, com anjos carnudos e santos arrebatados, e muitas agitaes de tnica, rolios braos, coxas adivinhadas, peitos que arredondam, reviraes dos olhos, tanto est sofrendo quem goza como est gozando quem sofre, por isso que no vo os caminhos dar todos a Roma, mas ao corpo."

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Ironia: Por ltimo abordamos a ironia, um dos recursos estilsticos que Jos Saramago privilegia. Em Memorial do Convento, a ironia apresenta uma relevante importncia no mbito da crtica social, poltica e religiosa, sendo atingidos atravs dela, objectivos satricos, caricaturais e zombeteiros. de salientar que em determinados momentos, como por exemplo, durante a descrio do auto-de-f ou das procisses, a viso crtica do narrador acompanhada de uma ironia que domina todo o relato.

"(...) com o que pretende sua majestade pr cobro ao escndalo de que so causa os freirticos, nobres e no nobres, que frequentam as esposas do Senhor e as deixam grvidas no tempo de uma ave-maria, que o faa D. Joo V, s lhe fica bem, mas no um joo-qualquer ou um jos-ningum."

D. Joo V conduz D. Maria Ana ao leito, leva-a pela mo como no baile o cavaleiro dama, e antes de subirem os degrauzinhos, cada um de seu lado, ajoelhamse e dizem as oraes acautelantes necessrias, para que no morram no momento do acto carnal, sem confisso, para que desta nova tentativa venha a resultar fruto () () Cada branco vale meio preto, agora arranjem-se para conseguir entrar no paraso, por isso que, um dia, as praias deste jardim, por acaso beira-mar plantado, estaro cheias de postulantes a enegrecer os costados, ideia que hoje faria rir, alguns nem praia iro, deixam-se ficar em casa e untam-se com untos vrios, e quando saem no os reconhece o vizinho ()

se este rei no se acautela acaba santo

() a est uma esttua oferecida na palma da mo, um profeta de barriga para baixo, um santo que trocou os ps pela cabea, mas nestas involuntrias irreverncias ningum repara, tanto mais que logo el-rei reconstitui a ordem e a solenidade que convm s coisas sagradas. ironia de tom jocoso

Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade no mal dos homens, das mulheres sim, por isso so repudiadas tantas vezes, e segundo,15

material prova, se necessria ela fosse, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procisso vai na praa. ironia que critica a mentalidade machista

() a mulher, entre duas igrejas, foi a encontrar-se com um homem, qual seja, e a criada que a guarda troca uma cumplicidade por outra, e ambas quando se reencontram diante do prximo altar, sabem que a quaresma ao existe e o mundo est felizmente louco desde que nasceu.- ironia de intencionalidade parodstica

Dizem que o reino anda mal governado, que nele est de menos a justia, e no reparam que ela est como deve estar, com sua venda nos olhos, sua balana e sua espada, que mais queramos ns.- ironia ao servio da stira politica e social

() passadas as roupas de mo em mo to reverentemente como relquias de santos que tivessem trespassado donzelas - comparao de sentido irnico

Registo de lnguaAo longo do Memorial do Convento podemos verificar a utilizao de diferentes registos de lngua:

Popular: de boca banda () E vossemess, que idade tem; e Baltasar respondeu, Vinte e seis anos.

Calo: "Queres tu dizer na tua que a merda dinheiro, No, majestade, o dinheiro

que merda" () tanto como a merda e o mijo em que viviam.

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Familiar: "correram o reino de ponta a ponta e no os apanharam" Meu querido filho, como foi isso, quem te fez isto..."

Cuidado: "no havendo portanto mediano termo entre a papada pletrica e o pescoo engelhado, entre o nariz rubicundo e o outro hctico" "Tirando as expresses enfticas esta mesma ordem j fora dada antes (...)"

Vulgarmente, o registo de lngua familiar e popular utilizado de modo a tornar o discurso irnico e/ou crtico ou de forma a traduzir o estrato social das personagens: D. Joo, quinto do nome na tabela real, ir esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou h mais de dois anos da ustria para dar infantes coroa portuguesa e at hoje ainda no emprenhou. () O salteador safo seguiu-o ainda por meia lgua entre os pinheiros, por fim desistiu, e s de longe lhe lano palavras de insulto e maldio, porm, como quem no acreditava que umas empecessem e outras ofendessem.

VocabulrioJos Saramago utiliza um vocabulrio rico que caracterizado por uma grande variedade lingustica.

Arcasmos: devia ser ledice

Diminutivos: o bispo vai fazendo sinaizinhos na cruz fitinhas de cores povinho derramado em pavores e splicas

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Expresses latinas: Te Deum Iaudamus

Neologismos: os frades atrs ladinhando beijou a mo do provincial, humildando o poder da terra ao poder do seu nos seus antigos tempos de soldadia

Utilizao de advrbios de modo: secretamente; estrepitosamente; vigorosamente; naturalmente;

reverentemente; dramaticamente

Polissemia: As palavras podem adquirir vrios sentidos, consoante a sua utilizao e Saramago consegue tirar partido dessa qualidade. a baslica de Santa Maria Maior, que sombreiro, e tambm a baslica patriarcal, ambas de gomos alternados, brancos e vermelhos, se daqui a duzentos ou trezentos anos comeam a chamar baslicas aos chapus-de-chuva, Tenho a minha baslica com uma vareta partida, Esqueci-me da minha baslica na autocarro, Mandei pr um cabo novo na minha baslica, Quando ficar pronta a minha baslica de Mafra, pensa el-rei ()

Mistura deliberada de conotao com denotao: O desacato ainda estava fresco, se assim se pode, pois as correntes de onde tinham estado suspensas as roubadas lmpadas oscilavam devagarinho, dizendo, em linguagem de arame, Foi por pouco, foi por pouco.

Vocabulrio litrgico-clerical: quem eram aqueles, no vi, no reparei, frades eram, terceiros de S. Francisco de Jesus, capuchinhos, religiosos de S. Joo de Deus, franciscanos, carmelitas, dominicanos, cistercienses, jesutas de S. Roque e Santo Anto, com tantos nomes e cores () as cruzes douradas, as mangas de bofes, os lenos brancos, as casacas18

compridas, as meias altas, os sapatos de fivela, os tufos, as toucas, as saias rodadas, os mantos de fantasia, as golas de renda.

Linguagem pseudo-elegaca: veio devolvida a coitada, magrinha, delicada, um pisco a comer, com o mal inventado pretexto de visitar os pais

Linguagem cinematogrfica: Jos Pequeno, pela primeira vez, ganhou conscincia do gosto que lhe dava poder olhar a direito com os seus olhos de homem os imensos olhos dos animais, imensos e mansos, onde via reflectida a sua prpria cabea, o tronco e, l para baixo, sumindo-se na fmbria interior da plpebra, as pernas, quando um homem cabe inteiro no olho de um boi.

Linguagem mimeticamente setecentista: Mas isto, confessemo-lo sem vergonha, uma terra de ladres, olho v, mo pilha

Importncia dos numerais no rigor de pormenor: com esta colunata de sessenta e uma colunas e catorze pilares, que no tm menos de oito metros de altura, e em extenso excede o arranjo dos seiscentos metros. que a laje tem de comprimento trinta e cinco palmos, de largura quinze, e a espessura de quatro palmos, e, para ser completa a notcia, depois de lavrada e polida, l em Mafra, ficar s um pouco mais pequena, trinta e dois palmos, catorze, trs, pela mesma ordem e partes, e quando um dia se acabarem palmos e ps por se terem achado metros na terra, iro outros homens a tirar outras medidas e encontraro sete metros, trs metros, sessenta e quatro centmetros, tome nota, e porque tambm os pesos velhos levaram o caminho das medidas velhas, em vez de duas mil cento e doze arrobas, diremos que o peso da pedra da varanda da casa a que se chamar de Benedictione de trinta e um mil e vinte e um quilos, trinta e uma

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toneladas em nmeros redondos, senhoras e senhores visitantes, e agora passemos sala seguinte, que ainda temos muito que andar.

Expresses e provrbios popularesJos Saramago joga com provrbios e expresses populares, dando-lhes sentidos diferentes conforme variam os interlocutores ou a situao. Alguns provrbios so modificados e outros inventados pelo prprio.

"Pela casca no se conhece o fruto, se lhe no tivermos metido o dente" "Se o po fosse comido pelos que o semeiam, o mundo seria outro" "O mundo de cada um os olhos que tem." olho v, mo pilha ainda agora a procisso vai na praa

Aforismos, adgios e sentenas

No est homem livre de julgar abraar a verdade e achar-se cingido com o erro, Como livre tambm no est de supor abraar o erro e encontrar-se cingido com a verdade ()

Adgios: grandes males, grandes remdios. a boda e a baptizado no vs sem seres convidado

Sentenas: que nascer, nascer morrer. Tudo no mundo est dando respostas, o que demora o tempo das perguntas.

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Jogos de palavras e trocadilhosSaramago utiliza as palavras, brincando com elas e, assim, narra acontecimentos srios, criticando ou elogiando as personagens da histria.

() mas agora farei eu outra pergunta, que mulher e homem sero esses que no so rainha nem ermito, e s mulher e homem, que ser homem e mulher no sendo estes ermito e rainha, que ser no sendo o que se , e o ermito respondeu, ningum pode ser no sendo, homem e mulher no existem, s existe o que forem e a rebelio contra o que so, e a rainha declarou, eu rebelo-me contra o que sou, diz-me agora tu se te rebelas contra o que s, e ele respondeu, ser ermito o contrrio de ser, pensam os que vivem no mundo, mas ainda ser alguma coisa, e ela, ento onde est o remdio, e ele, se mulher que queres ser, deixa de ser rainha, o resto s sabers depois, e ela, se queres ser homem, por que continuas ermito, e ele, porque o que mais se teme ser homem, e ela, sabes tu que ser homem e mulher, e ele, ningum sabe, com esta resposta se retirou a rainha ()

J sabemos que destes dois se amam as almas, os corpos e as vontades, porm, estando deitados, assistem as vontades e as almas ao gosto dos corpos, ou talvez ainda se agarrem mais a eles para tomarem parte no gosto, difcil saber que parte h em cada parte, se est perdendo ou ganhando a alma quando Blimunda levanta as saias e Baltasar deslaa as bragas, se est a vontade ganhando ou perdendo quando ambos suspiram e gemem, se ficou o corpo vencedor ou vencido quando Baltasar descansa em Blimunda e ela o descansa a ele, ambos se descansando. o capelo leva a cauda quando a cauda tem de ser levada.

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Marcas da oralidadeMuitas das caractersticas da escrita em Memorial do Convento convergem originando um tom familiar e informal, que aproximam o narrador do narratrio, estabelecendo-se como que uma cumplicidade entre eles. Na verdade, o narrador parece discursar oralmente, como se estivesse a falar para um auditrio. Assim sendo, o discurso encontra-se frequentemente repleto de marcas da oralidade: Imagine, pois, quem l no esteve, as galas do extensssimo cortejo, os frises de crinas entranadas puxando os coches () () cada qual sabe de si, Deus saber de todos () e foi caso que certo clrigo, costumeiro de andar por casas de mulheres de bem fazer () L no alto, o mestre da manobra vai dar a voz, um grito que comea arrastado e depois acaba secamente como um tiro de plvora, sem ecos, eeeeeiii-, se os bois puxarem mais de um lado que do outro, estamos mal aviados, eeeeeiii-, agora saiu o grito ()

Interaco com a literatura portuguesaQuadras populares: "Aqui me traz minha pena com bastante sobressalto, porque quer voar mais alto, a mais queda se condena"

Contos tradicionais: "Era uma vez uma rainha que vivia com o seu real marido em palcio..."

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Os Lusadas, de Lus de Cames: O homem, bicho da terra vs me direis qual mais excelente, se ser do mundo rei, se desta gente inverso da mensagem de Os Lusadas, na Dedicatria. Esta mensagem utilizada no sentido de salientar o facto de todas as vontades do rei serem imediatamente satisfeitas, mesmo isso seja impossvel. NOs Lusadas o rei era engrandecido por um povo determinado e corajoso, dotado de grandeza (Canto I) () como se finalmente tivessem abandonado o porto e as suas amarras para ir descobrir os caminhos ocultos, por isso se lhes aperta o corao tanto, quem sabe que perigos os esperam, que adamastores, que fogos de santelmo, acaso se levantam do mar, que ao longe se v, trombas de gua que vo sugar os ares e o tornam a dar salgado referncias soltas a vrios episdios de Os Lusadas. Na frente deles ergue-se um vulto escuro, ser o adamastor desta viagem, montes que se erguem redondos da terra, ainda riscados de luz vermelha na cumeada; foi como o sopro gigantesto de Adamastor, se Adamastor soprou, quando lhe dobravam o cabo dos seus e nossos trabalhos Referncias ao episdio do Adamastor (Canto V)

J vai andando a rcua dos homens de Arganil, acompanham-nos at fora da vila das infelizes, que vo aclamando, qual em cabelo, doce e amado esposo e outra protestando, filho, a quem eu tinha s para refrigrio e doce amparo desta cansada j velhice minha; glria de mandar, v cobia, rei infame, ptria sem justia Referncias ao episdio do Velho do Restelo (Canto IV)

Sermo de Santo Antnio aos Peixes, de Padre Antnio Vieira: "Esto parados diante do ltimo pano da histria de Tobias, aquele onde o amargo fel do peixe restitui a vista ao cego, A amargura o olhar dos videntes, senhor Domenico Scarlatti..." Assim o disse o anjo, e assim o mostrou logo a experincia, porque, sendo o pai de Tobias cego, aplicando-lhe o filho aos olhos um pequeno do fel, cobrou inteiramente a vista; e tendo um demnio, chamado Asmodeu, morto sete maridos a Sara, casou com ela o mesmo Tobias () (Sermo de Santo Antnio aos Peixes Captulo III)23

Mensagem, de Fernando Pessoa: "Em seu trono entre o brilho das estrelas, com seu manto de noite e solido, tem aos seus ps o mar novo e as mortas eras, o nico imperador que tem, deveras, o globo mundo em sua mo, este tal foi o infante D. Henrique, consoante o louvar o poeta por ora ainda no nascido... Referncia a: O Timbre A Cabea do Grifo O Infante D. Henrique

Em seu trono entre o brilho das esferas, Com seu manto de noite e solido, Tem aos ps o mar novo e as mortas eras O nico imperador que tem, deveras, O globo mundo em sua mo.

Bblia: () s os lrios do campo no sabem fiar nem tecer e por isso esto nus Referncia do Salmo bblico: Olhai os lrios do campo, no fiam nem tecem o melhor seria ir com um balde de cal e uma brocha, sinal neste, sinal naquele, para no repetir nem falhar, assim como quem prega cruzes de S. Lzaro nas portas, por causa do mal de pele. () ao todo cento e trinta e sete pessoas, que o Santo Ofcio, podendo, lana as redes ao mundo e tr-las cheias, assim peculiarmente praticando a boa lio de Cristo quando a Pedro disse que o queria pescador de homens. () esperou que Baltasar terminasse para se servir da colher dele, era como se calada estivesse respondendo a outra pergunta, Aceitas para a tua boca a colher de que se serviu a boca deste homem, fazendo seu o que era teu, agora tornando a ser teu o que foi ele e tantas vezes perdendo o sentido do teu e do meu, e como Blimunda j tinha dito que sim antes de perguntada, Ento declaro-vos casados. No casamento, h a troca de alianas; em Memorial do Convento, o padre Bartolomeu abenoa as coisas simples e do quotidiano, em vez das alianas, casando Baltasar e Blimunda.24

Existem ainda outras referncias ao texto bblico, havendo, inclusivamente, inverso de expresses bblicas: Pater noster que non estis in coelis

Estilo barroco: "Parece apenas um gracioso jogo de palavras, um brincar com os sentidos que elas tm, como nesta poca se usa, sem que extrema mente importe o entendimento ou propositadamente o escurecendo."

Oposies sugeridas por vocbulos antnimos() E que o arroz no falte alm do tolervel. Mas esta cidade, mais que todas, uma boca que mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro, no havendo portanto mediano termo entre a papada pletrica e o pescoo engelhado, entre o nariz rubicundo e o outro hctico, entre a ndega danarina e a escorrida, entre a pana repleta e a barriga agarrada s costas. Porm, a Quaresma, como o sol, quando nasce, para todos.

DescriesPor vezes somos confrontados com descries elaboradas em que impossvel no imaginar toda a cena descrita. Estas descries so caracterizadas, principalmente, por um grande visualismo, sequncias de movimento e apelo ao sensorial, sendo utilizadas com o objectivo de ser transmitida uma imagem mais realista que acaba por transportar o leitor para o meio.

De manh, ainda no nascera o sol, levantaram-se. Blimunda j comeu o po. Dobrou a manta, era apenas uma mulher repetindo um gesto antigo, abrindo e fechando os braos, segurando debaixo do queixo as dobras feitas, depois descendo as25

mos at ao centro do seu prprio corpo e a fazendo a dobra final, quem para ela olhasse no diria que tem estranhos poderes de ver, que, se esta noite estivesse fora do seu corpo, a si se veria debaixo de Baltasar ()

Sabia j Baltasar que o stio onde se encontrava era conhecido pelo nome de Ilha da Madeira, e bem posto lhe fora, porque, tirando umas poucas casas de pedra e cal, todo o mais era de tabuado, mas construdo para durar. Havia oficinas de ferreiros, bem que podia Baltasar ter mencionado a sua experincia de forja, nem tudo lembra, e outras artes de que nada sabia, mais tarde se juntaro as dos latoeiros, dos vidraceiros, dos pintores, e quantas mais. Muitas das casas de madeira tinham sobrados, em baixo acomodavam-se as bestas e os bois, em cima as pessoas de muita ou alguma distino, os mestres da obra, os matriculadores e outros senhores da vedoriageral, e oficiais da guerra que governavam os soldados. A esta hora da manh estavam saindo das lojas os bois e as mulas, outros teriam sido levados mais cedo, o cho empapava-se de urina e excrementos, e, como em Lisboa, na procisso do Corpo de Deus, os rapazitos corriam pelo meio da gente e do gado, empurravam-se com violncia, e um deles, querendo fugir a outro, caiu e rebolou para debaixo duma junta de bois, mas no foi pisado, estava l o anjo custdio, livrou-se de boa, sem mais mazela que ficar todo sujo de bosta e mal-cheiroso.

O tempo de primavera, cobre-se o campo de brancos malmequeres, rasteirinhos, se para atalhar caminho cortam os viajantes pelo meio deles, rufam as duras cabeas das flores nos ps descalos de Baltasar e Blimunda, tm um e outro sapatos ou botas, mas vo guardados no alforge para quando o caminho for de pedras, e do cho sobe um cheiro acre, a seiva do malmequer, perfume do mundo no primeiro dia, antes de Deus ter inventado a rosa. Est um lindo tempo para ir ver uma mquina de voar, passam no cu grandes nuvens brancas, que bom seria levantar-se a passarola uma vez mais que fosse, subir pelos ares fora, rodear aqueles castelos suspensos, ousar o que aves no ousam, entrar por eles gloriosamente, tremer de medo e de frio, e depois sair para o azul e para o sol, ver a terra formosa e dizer, Terra, que bela Blimunda.

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ConclusoAo longo do trabalho possvel verificar que Jos Saramago, em Memorial do Convento, nos apresenta um estilo e uma linguagem que se desenvolve fora dos modelos convencionais. Inicialmente, a leitura da obra pode parecer complicada, mas, com a continuao, tende a tornar-se mais simples.

Em Memorial do Convento, a linguagem no utilizada apenas como efeito ornamental, mas sim para comprometer o romance com a esttica que o guia. Todas as caractersticas particulares da escrita de Saramago originam um discurso prximo da oralidade e espontneo, estabelecendo-se como que uma relao entre o narrador e o leitor. Com a sua escrita, Saramago consegue criar um ritmo de escrita prximo da poesia, conseguindo conjugar diferentes figuras de estilo, utilizando aforismos, provrbios e ditados populares, originando uma nova forma de utilizar a pontuao, recorrendo a marcas caractersticas do discurso oral, construindo efeitos irnicos, sarcsticos e humorsticos e entrelaando o seu discurso com outros discursos literrios e jogos de conceitos tpicos do Barroco. Como narrador de O Memorial do Convento, o prprio Saramago, explica sua opo pela recuperao da imaginao na escrita: "...fingindo, passam ento as histrias a ser mais verdadeiras que os casos verdadeiros que elas contam...".

Gostmos de elaborar este trabalho, pois pudemos aprofundar um pouco mais esta temtica e porque se trata de uma das principais caractersticas das obras de Jos Saramago, que tornam a sua escrita inconfundvel.

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Bibliografia SARAMAGO, Jos; Memorial do Convento. 38 ed. Lisboa: Caminho, Junho de 2006. REAL, Miguel. Narrao, Maravilhoso, Trgico e Sagrado em Memorial do Convento de Jos Saramago. Lisboa: Caminho, Janeiro de 1996.

PEIXOTO, Maria Jos; FONSECA, Clia; Dossier Exame, Portugus B, 12 ano,

1. ed., Porto: Edies Asa, 2001, pp. 173-174. JACINTO, Conceio; LANA, Gabriela. Coleco estudar Portugus Memorial do Convento de Jos Saramago. Porto: Porto Editora, 2006, pp. 87-93. Apontamentos cedidos pelo Professor

http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/zips/saramago_memorial_estudo.pdf http://omj.no.sapo.pt/As%20Mensagens%20da%20Mensagem.pdf http://www.recantodasletras.net/teorialiteraria/405072 http://www.malhatlantica.pt/convento_mafra/galeria.htm http://www.lithis.net/p.php?id=74 http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0716-581120060001 00005&lng=en&nrm= http://www.espacoacademico.com.br/035/35wpraxedes.htm http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=resumos/docs/memo rialdoconvento

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