introdução à leitura de memorial do convento

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Cândido MARTINS: Introdução à Leitura de: 1. José Saramago José Saramago (1922) A. Profissões variadas: de simples operário a jornalista B. Escritor tardio e multifacetado: crónica, poesia, teatro, romance, diário,tradução, etc. C. Prémios – Camões – Nobel (1998)

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Page 1: Introdução à leitura de Memorial do Convento

Cândido MARTINS:

Introdução à Leitura de:

1. José SaramagoJosé Saramago (1922)

A. Profissões variadas: de simples operário a jornalista

B. Escritor tardio e multifacetado: crónica, poesia, teatro, romance, diário,tradução, etc.

C. Prémios – Camões – Nobel (1998)

Page 2: Introdução à leitura de Memorial do Convento

2. José SaramagoJosé Saramago (1922)

D. Opções ideológicas e obsessão pelas temáticas da injustiça social e da globalização de hoje

E. Intelectual empenhado politicamente e polémico

F. Memorial do Convento– escrito em finais dos anos 70– publicado em 1982.

Page 3: Introdução à leitura de Memorial do Convento

3. ContextualizaçõesContextualizações:: da cultura barroca às Luzesda cultura barroca às Luzes

D. João VD. João V, o , o MagnânimoMagnânimo: : EsplendorEsplendor do Portugal joanino do Portugal joanino

D. Política absolutista (despotismo)E. Opulência financeira: enormes

remessas de ouro do BrasilF. Construções grandiosas: a

edificação faraónica de MafraG. Ampla política cultural:

academias, apoio às Artes (Carlos Seixas), artistas estrangeiros (D. Scarlatti)

H. Reforma do Ensino / Cultura:papel dos estrangeirados

Page 4: Introdução à leitura de Memorial do Convento

4. ContextualizaçõesContextualizações:: da cultura barroca às Luzesda cultura barroca às Luzes (cont.)

D. João VD. João V, o , o MagnânimoMagnânimo: :

SombrasSombras do Portugal joanino do Portugal joanino

D. Vida escandalosa do Monarca (Salomão devasso)

F. Poder temido da InquisiçãoG. Profundas injustiças sociaisH. Testemunhos negativos de

viajantes estrangeiros; de Camilo Castelo Branco (e de outros)

I. Cepticismo e preconceito de positivistas e republicanos (Oliveira Martins, v.g.)

Page 5: Introdução à leitura de Memorial do Convento

5. Do Do paratextoparatexto ao ao textotexto:: do do títulotítulo ao entrelaçamento da ao entrelaçamento da efabulaçãoefabulação

A. “Memorial do Convento” monumento aos humilhados e esquecidos da História

B. Início e fecho do romance:a simetria dos Autos-de-Fé

C. Três fios diegéticos: – história de um rei e duma

promessa (CONVENTO) – história entre Baltasar e

Blimunda (AMOR) – história do sonho de voar do

P. Bartolomeu (UTOPIA)D. Tripla dimensão: farsa

palaciana + epopeia do trabalho + elogio do sonho

Page 6: Introdução à leitura de Memorial do Convento

6. NARRADOR saramaguianoNARRADOR saramaguiano

A. Narrador / Autor – distinção narratológica – cepticismo do escritor

B. Estatuto e focalização – heterodiegético, omnisci- ente, muito interventivo e muito crítico – cronista anónimo, não ofi- cial, culto e identificado com o povo trabalhador – polifonia de vozes: narradores ocasionais – recurso ocasional à focalização interna

Page 7: Introdução à leitura de Memorial do Convento

7. NARRADOR saramaguianoNARRADOR saramaguiano (cont.)

Discurso do Narrador características maiores:

a) Ironia omnipresente

b) Registo picaresco / épico

c) Tendência metafórica

d) Estilo retórico-argumentativo

e) Marcas culturais (bíblico-religiosas)

f) Dimensão intertextual

Page 8: Introdução à leitura de Memorial do Convento

8. NARRADOR saramaguianoNARRADOR saramaguiano (cont.)

Discurso do Narrador características maiores:

g) Reflexão metanarrativa

h) Discurso sentencioso

i) Realismo narrativo (grotesco)

j) Coloquialidade intensa

k) Investimento simbólico

l) Mundividência ideológica

Page 9: Introdução à leitura de Memorial do Convento

9. PERSONAGENS: introduçãoPERSONAGENS: introdução

A. Personagens: arrancadas da História e re-interpretadas na Ficção (estória)

C. Personagens individuais e colectivos;

E. Variedade de processos de caracterização: hereto- e auto-caracterização

G. Oposição entre as classes opressoras (Nobreza e Clero) e a classe oprimida (Povo).

I. Configuração de personagens-tipo, com dimensão alegórica e simbólica

Page 10: Introdução à leitura de Memorial do Convento

10. PERSONAGENS: perfil simbólicoPERSONAGENS: perfil simbólico

D. João V o rei faraónico e devasso D. Maria Ana a rainha devota e parideira Baltasar Mateus, Sete-Sóis o soldado e o trabalhador Blimunda de Jesus, Sete-Luas a amante e a vidente Bartolomeu Lourenço o padre heterodoxo e o génio

inventivo Domenico Scarlatti o músico/artista barroco

Page 11: Introdução à leitura de Memorial do Convento

11. PERSONAGENS: PERSONAGENS: Simbólica do PODERdo PODER

TRONO + IGREJA(Poder imposto)

D. João V e D. Maria Ana(poder terreno)

Fr. António S. José e Bispo(poder intemporal)

João Frederico Ludovicearquitecto estrangeiro

Construção do CONVENTO:símbolo de um Poder

centralizador e despóticoiluminado e ortodoxo

Page 12: Introdução à leitura de Memorial do Convento

12. PERSONAGENS : Simbólica do Contra-PoderPERSONAGENS : Simbólica do Contra-Poder

SABER DAS ARTES(conjugação de saberes)

Baltasar (saber artesanal)Blimunda (saber sobrenatural)P.Bartolomeu (saber científico)D. Scarlatti (saber artístico)

Construção da PASSAROLAsímbolo do SABER da Ciência/Progresso

do Sonho/Utopia

Page 13: Introdução à leitura de Memorial do Convento

13. ESPAÇO: dimensões pluraisESPAÇO: dimensões plurais

A. Reconstituição de um cenário epocal, do Portugal joanino: procissões, autos-de-fé, cortejos touradas, festas, outeiros, etc.

C. Macro-espaços: Lisboa (espaço da Corte) e Mafra (espaço dos estaleiros da construção)

E. Micro-espaços: zonas da capital e arredores (Rossio, S. Sebastião da Pedreira, etc.)

Page 14: Introdução à leitura de Memorial do Convento

14. ESPAÇO: dimensões pluraisESPAÇO: dimensões plurais (cont.)

D. Simbolismo da viagem: – de Baltasar (vindo da guerra)

– de Bartolomeu (conhecimento)– do transporte da grande pedra

– de Blimunda (demanda final)

E. Oposição Cidade/Campo:Lisboa versus província (dos arredores da capital ao Alentejo)

F. Espaço social: o Portugal contra-ditório do de D. João V – faustoso e decadente.

Page 15: Introdução à leitura de Memorial do Convento

15. TEMPO: modalidadesTEMPO: modalidades

A. Tempo da História/Diegese da bênção da primeira pedra

(1711) à sagração da basílica (1730) e ao auto-de-fé (1739)

B. Tempo do Discurso– ordenação linear da diegese– alterações da sintaxe:

prolepses internas e externas

Page 16: Introdução à leitura de Memorial do Convento

16. TEMPO: dimensões TEMPO: dimensões (cont.)(cont.)

C. Tempo Psicológicotempo vivido interiormentefiltrado pela emotividade

D. Tempo da Narração– narração ulterior– narração simultânea– narração anterior

Page 17: Introdução à leitura de Memorial do Convento

17. ESTILO: ESTILO: subversão de convençõessubversão de convenções

Pontuação

• alteração da norma – diálogo (discurso directo)– ausência de sinais gráficos

• relação com a sintaxe nova

• captação do inconsciente?

• discurso coloquial/popular

• subversão de convenções

Page 18: Introdução à leitura de Memorial do Convento

18. ESTILO: ESTILO: mimetismo barrocomimetismo barroco

A. Processos recorrentesde construção sintáctica (metataxes):período longo, paralelismos,inversões da ordem (anástrofe,hipérbato), enumerações, etc.

B. Figuras conceptuais (metassememas):

comparação, metáfora, personificação, antítese, antonomásia, hipérbole, hipotipose, etc.

Page 19: Introdução à leitura de Memorial do Convento

19. ESTILO: ESTILO: sabedoria popularsabedoria popular

Influência omnipresente da sabedoria popular:

• discurso sentencioso•

• expressões e provérbios

• recursos carnavalescos – ironia– sátira– paródia

Page 20: Introdução à leitura de Memorial do Convento

20. INTERTEXTUALIDADE: INTERTEXTUALIDADE: Memória

IntroduçãoIntroduçãoC. Memória/Tradição Literária

* “Non nova, sed nove”* Mnemósine: deusa da

Memória, mãe das MusasB. “Texto” < textu(m) < texereC. “Intertextualidade” / “intertexto”D. Formas de intertextualidade:

citação, referência, alusão, paródia, etc.

E. Tipos de intertextualidade: literária e não-literária (endo- e exo-literária)

Page 21: Introdução à leitura de Memorial do Convento

21. INTERTEXTUALIDADE INTERTEXTUALIDADE extra-literáriaextra-literária

A. Intertexto histórico-cultural• crónicas e fontes historiográficas• relatos de viajantes estrangeiros• estilo paranético (oratória sacra)B. Intertexto artístico

música (D.Scarlatti), pintura, escultura, arquitectura, etc.

C. Intertexto bíblico-religioso• Bíblia:Antigo/Novo Testamento• Verdades e dogmas da fé católica• Sacramentos: Baptismo,

Eucaristia, Confissão, etc.• Milagres e Santos• Rituais e práticas religiosas

(teatralidade e hipocrisia)

Page 22: Introdução à leitura de Memorial do Convento

22. INTERTEXTUALIDADE literáriaINTERTEXTUALIDADE literária

Intertexto clássico– referências à mitologia: Vénus e Marte (comparação)– autores clássicos: • Luís de Camões:

Episódio do Adamastor• António Vieira• Tomás Pinto Brandão• Nicolau Tolentino• António José da Silva:

Obras do Diabinho da Mão Furada• Correia Garção• Bocage • Shakespeare, etc.

Page 23: Introdução à leitura de Memorial do Convento

23. INTERTEXTUALIDADE INTERTEXTUALIDADE literárialiterária (cont.)(cont.)

Intertexto moderno e contemporâneo

– Guerra Junqueiro: “Moleirinha”– Fernando Pessoa: Mensagem– António Gedeão

Intertexto da literatura popular e tradicional:

• provérbios e expressões• aforismos sentenciosos• crenças e tradições• contos tradicionais

Page 24: Introdução à leitura de Memorial do Convento

24.24. ClassificaçãoClassificação tipológica/genológica tipológica/genológica

IntroduçãoIntroduçãoB. Problema da literatura como

representação da realidadeC. Relações da literatura/romance

com a História (Passado)D. Conceito tradicional e romântico

de romance histórico: •nostalgia da História (raízes)• fidelidade na reconstituição• função moralizadora/formativaD. Evolução da Teoria da História –

do positivismo à actualidade:construção interpretativa do passado, aberta e plural

Page 25: Introdução à leitura de Memorial do Convento

25. ClassificaçãoClassificação tipológica/genológica tipológica/genológica (cont.)(cont.)

A. Moda/revalorização da HistóriaB. Romance histórico pós-moderno

– metaficção historiográfica

Características maiores:• Reescrita livre do passado• Visão alternativa e heterodoxa da

História oficial• Valorização do ponto de vista dos

marginalizados e proscritos• Construção irónica e parodística• Atitude auto-reflexiva:

desnudamento metanarrativo• Dimensão ucrónica: projecção

intemporal da matéria diegética