matéria prima especial feira

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É DIA DE FEIRA Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades • Atibaia • Novembro 2013 • nº 18 Matéria-Prima Alunos do quarto semestre do curso de Jornalismo da FAAT vão a campo desvendar uma das profissões mais antigas do mundo. Espalhadas por diversas ruas da cidade de Atibaia, as feiras-livres oferecem de tudo um pouco e, durante duas semanas, acompanhamos a rotina dos feirantes. Das tradicionais frutas, legumes e verduras, até roupas, flores e pastéis são oferecidos por pessoas de simpatia e generosidade à toda prova. As curiosidades desse elo que liga o homem ao campo estão neste especial. Além das páginas a seguir, disponibilizamos ainda um vasto conteúdo na internet. Leia, desfrute e compartilhe com os amigos. ESPECIAL FEIRA LIVRE Acadêmicos de Jornalismo vão a campo e traçam um raio-X da feira em Alvinópolis Página 7 Reportagem mostra o olhar por traz da rotina de um feirante, no jornal e na Internet. Veja na página 7 O melhor pastel de São Paulo está na feira: conheça o segredo do sucesso nesta edição Página 6 JESSICA TAVARES LARISSA GODOY FOTOS: FABIO GALUPPI

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Alunos e professores de Jornalismo da FAAT-Faculdades resolveram conhecer, analisar e registrar o hábito brasileiro de ir à feira. Para isso todos foram a campo para aprender na prática como olhar e assimilar as idas e vindas das pessoas neste contexto, de modo a entender e valorizar a vida comum geralmente despercebida. A cobertura, realizada nos dias 2/11 e 9/11, na Feira de Alvinópolis, mobilizou repórteres, cinegrafistas e fotógrafos desde a madrugada, trabalho que pode ser apreciado pelo leitor a partir das matérias relacionadas na edição postada aqui.

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  • 1NOVEMBRO 2013 Matria Prima

    DIA DE FEIRA

    Jornal-laboratrio do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades Atibaia Novembro 2013 n 18

    Matria-Prima

    Alunos do quarto semestre do curso de Jornalismo da FAAT vo a campo desvendar uma das profisses

    mais antigas do mundo. Espalhadas por diversas ruas da cidade de Atibaia, as feiras-livres oferecem

    de tudo um pouco e, durante duas semanas, acompanhamos a rotina dos feirantes.

    Das tradicionais frutas, legumes e verduras, at roupas, flores e pastis so oferecidos por pessoas

    de simpatia e generosidade toda prova. As curiosidades desse elo que liga o homem ao campo

    esto neste especial. Alm das pginas a seguir, disponibilizamos ainda um vasto contedo na

    internet. Leia, desfrute e compartilhe com os amigos.

    ESPECIAL

    FEIRA LIVRE

    Acadmicos de Jornalismo vo a campo e traam um raio-X da feira em AlvinpolisPgina 7

    Reportagem mostra o olhar por traz da rotina de um feirante, no

    jornal e na Internet. Veja na pgina 7

    O melhor pastel de So Paulo est

    na feira: conhea o segredo do sucesso

    nesta edio Pgina 6

    JESSICA TAVARESLARISSA GODOY

    FOTOS: FABIO GALUPPI

  • 2 NOVEMBRO 2013 Matria Prima

    Uma viagem por geraes

    EDITORIAL

    Marcelo Rachid

    Os restos de uns so a fartu-ra de outros. Com essa ideia os historiadores presumem que as feiras surgiram no mundo por volta de 500 a.C., no M-dio Oriente, onde a primeira feira livre surgiu relacionada a festividades religiosas. Inicial-mente as feiras se resumiam em mercadores de lugares dis-tantes, trazendo produtos ex-clusivos para troca.

    As feiras perderam foras, at ressurgirem com poten-cia mxima na idade mdia, fazendo com que o comercio na Europa ressurgisse. Gra-as as Cruzadas, expandiram

    seu contato com o Oriente, de onde chegavam mercadorias exticas tais como: cravo, ca-nela, pimenta, seda, perfumes e porcelanas. E assim surgiu o Renascimento Comercial. Durante a realizao das feiras medievais havia uma trgua nas guerras: a paz era garantida para que os vendedores, dis-postos lado a lado, pudessem trabalhar com segurana, guar-das vigiavam toda a feira para no ter nenhum imprevisto.

    Com o renascimento do comrcio a moeda se tornou essencial, tendo desaparecido quase que totalmente nos scu-los anteriores. As feiras atraam pessoas de vrios lugares e havia

    Matria-Prima especial Feira-livreAno 6, n 18 Novembro de 2013

    Jornal-laboratrio do Curso de Comunicao Social, habilitao em Jornalismo, da FAAT Faculdades, produzido pelos alunos do 4 Semestre do curso de Jornalismo.

    Os textos publicados so de responsabilidade dos autores, que os assinam, no refletindo a opinio da Instituio.

    FACULDADES ATIBAIA FAAT: Diretores da Mantenedora: Profa. Marilisa Pinheiro de Souza; Prof. Hercules Brasil Vernalha; Prof. Joo Carlos da Silva; Prof. Jlio Csar Ribeiro.

    Corpo Administrativo: Prof. Saulo Brasil Vernalha (Diretor de Normatizao Institucional); Profa. Maria Gorette Loureno (Diretora Administrativo-Financeira); Prof. Gilvan Elias Pereira (Diretor Acadmico). Diretor de Comunicao: Professor Angel de Souza;

    Coordenador de Captao de Alunos e Pesquisa e Extenso: Orivaldo Leme Biagi; Coordenadora Geral da Ps-Graduao: Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga.

    Professores-orientadores: Moriti Neto, Osni Dias (MTb 21.511) e William Arajo (MTb 20.015).Editores: Fernanda Domingues (Texto), Paloma Rocha Barra (Imagem) e Paulo Toledo (Arte final e Computao Grfica)CURSO DE COMUNICAO SOCIAL: Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Ms. Osni Tadeu Dias

    Um histrico da feira-livreJos Pinheiro

    A feira livre um evento em local pblico, com dias e horas marcadas, aonde pessoas vendem e mostram seus produtos a outras pessoas que procuram mercadorias (frutas, legumes, verduras, lanches, roupas, etc.) com um valor mais baixo.As feiras livres no mundo tiveram inicio no Ori-ente Mdio, aproximadamente 500 a. C. nomead-as de Fenica de Tiro. A palavra feira vem do latim feria, que significa dia santo ou feriado, assim mostra a etimologia que mantinha junto a religio. Na Idade Mdia, a partir do fim do sculo XI, a crise do feudalismo afirma o surgimento das feiras medievais, marcando o ressurgimento do com-rcio na Europa, a partir desse contexto histrico os europeus puderam vivenciar um maior contato com o Oriente Mdio, lugar aonde vinha as mer-cadorias raras, como: cravo, canela, pimenta, seda, perfumes, porcelana).

    Durante a realizao das feiras interrompiam-se guerras, a paz era garantida para que os vende-dores pudessem expor seus produtos. A guarda mantinha vigilncia no permetro da feira para proteger os que a participavam.

    Com sua evoluo a feira passou a ser mensal ou at mesmo semanal, em variados lugares da Europa. A feira mais antiga registrada em relatos oficiais era portuguesa, conhecida como Ponte de Lima, no ano de 1125, seguida pelas feiras de Mel-gao e de Constantim de Panias.

    No Brasil, a chegada da feira no tem data certa, mas ela se constituiu junto com a descoberta do pas, pois ela veio de Portugal e se fixou aqui para vender alimentos as pessoas que trabalhavam na explorao das florestas. A feira desde seu inicio a 500 a.C. at os dias atuais manteve seu objetivo, que era manter um segundo mercado de venda de mercadorias por um preo mais baixo e destinado a todas as classes econmicas.

    uma grande variedade de moe-das em circulao, o que desen-volveu os bancos e o cmbio.

    J no Brasil, as feiras livres confundem-se com a nossa prpria histria, as feiras mul-tiplicaram-se, tendo um papel importante no s no abasteci-mento das primeiras aglome-raes humanas, mas tambm como elemento fundamental estruturador da prpria orga-nizao social e econmica das populaes. Mesmo nos dias atuais, em plena sociedade da informao e da economia globalizada, as feiras resistem como um trao sociocultural que identifica regies e reali-dades muito distantes.

    Veja a montagem da feira em time-lapse feita por Guto Piercing Felipe: http://youtu.be/jyImbwGUKTM

    Fotografia time-lapse um processo cinematogrfico em que a frequncia de cada quadro por segundo de filme muito menor do que aquela em que o filme ser reproduzido. Quando visto a uma velocidade normal, o tempo parece correr mais depressa e assim parece saltar. A fotografia time-lapse pode ser considerada a tcnica oposta fotografia de alta-velocidade. Alteraes que normalmente surgem como sutis aos nossos olhos, como o movimento do Sol e das estrelas no cu, tornam-se evidentes.

    Os segredos de uma feiraEvelyn Teixeira

    Quantas pessoas, quantas vi-das, quantas chegadas e partidas podem haver em meio agitao de uma feira? O que pode ser descoberto em meio ao barulho que quase silencia o desejo de compartilhar histrias de vida, experincias e conhecimento?

    Num primeiro olhar a feira--livre parece apenas um monte de barracas com diversos tipos de produtos, cercadas por um amontoado de pessoas. im-possvel imaginar um signifi-cado maior para tudo isso sem observar de maneira mais pro-funda e sensvel o que existe de fato em uma feira. Eu, particu-

    larmente, nunca tinha pensado que iria conhecer, ali, tantas his-trias capazes de me emocionar.

    Trabalhando com esta edi-o especial do Matria Prima, descobrimos que uma feira muito mais do que meras bar-racas e seus consumidores cada indivduo ali tem algo para compartilhar algo que enri-quece de uma maneira nica quem se dispe a ouvir. E voc, leitor, poder conhecer nesta edio algumas dessas histrias histrias de pessoas batalha-doras, que em meio correria e trabalho pesado de uma feira, encontram sempre um sorriso, uma boa conversa e uma forma de tornar melhor o dia das pes-

    soas que por ali passam.Esta edio especial por v-

    rios motivos: no apenas pelas histrias que contm, por ser o primeiro trabalho de campo dos alunos do segundo ano de Jor-nalismo, ou mesmo por abordar um nico assunto. especial, principalmente, pela possibili-dade de propagar o que apren-demos acompanhando de perto essas pessoas que fazem parte da feira: que no h nada mais boni-to do que conhecer novas hist-rias e lies de vida. Que a troca de experincias ainda uma das coisas mais enriquecedoras que existem. E que ainda possvel, sim, ter f no ser humano.

    Boa Leitura!

    Veja tambm: http://www.youtube.com/watch?v=yI7sDt10_kA

  • 3NOVEMBRO 2013 Matria Prima

    Feira em Alvinpolis rene pessoas encantadoras e uma Maria especialNos primeiros momentos de conversa, reprter nota algo diferente: o sotaque estrangeiroLivia Magrini

    Quando cheguei feira, o sol estava muito quente, mas ainda assim, animador. O ambiente e toda aquela mo-vimentao me foram agra-dveis desde o primeiro mo-mento. As vozes suaves de fundo davam uma sensao de quase silncio. Os acenos de bom dia e as trocas de olhares eram calorosos, ca-pazes de transformar o dia de qualquer um ali presente.

    A princpio, minha mis-so era abordar um casal, desses que esbanjam com-panheirismo at na hora de comprar frutas e verduras e de escolher o melhor preo entre as barracas. Mas no era pra acontecer eu ti-nha mesmo que encontrar aquela mulher. Quando a vi, ainda distante, senti medo por no ter a mnima ideia de como abord-la e dizer um simples oi, tudo bem?.

    Ainda no podia imaginar que nossa conversa fluiria de uma forma to especial. Seu nome Maria Rosa de Jesus, uma senhora de 84 anos, postura cansada e um sorriso encantador. Dona Maria feirante h 35 anos, sendo 20 deles na cidade de So Paulo, e os outros

    15 na principal feira livre de Atibaia, localizada em frente igreja Cristo Rei.

    Logo nos primeiros mo-mentos de conversa, notei algo diferente em sua fala: o sotaque. Dona Maria veio de Portugal, com o mari-do e o filho. Enquanto me contava essa parte de sua histria, houve uma pausa. Sua voz ficou mais baixa, quase no dava para ouvi--la. Me estiquei entre o es-

    pao que nos separava da barraca e pude entender o que dizia: Dona Maria per-deu o marido pouco tempo depois de chegar ao Brasil.

    Aquela mulher que dei-xou o seu pas junto da fa-mlia, criou sozinha o filho em uma terra desconhecida, estava ali, naquele dia en-solarado, contando sua his-tria para mim e dizendo com tamanha alegria que as feiras do Brasil so as mais

    bonitas que j encontrou. Fiquei sem palavras e segu-rei forte em sua mo, para tentar expressar minha gra-tido. Perguntei se ela po-deria sorrir para que uma foto fosse tirada. Ela pegou um chumao de alface da prpria barraca e sorriu. Para mim, aquele sorriso foi tudo. Talvez, daqui alguns dias, ela nem se lembre mais de mim, ou talvez at j te-nha me esquecido. Mas eu sempre me lembrarei dela.

    Daquela Maria com uma fora que encantou meu co-rao e me ensinou que al-gumas entrevistas possuem uma magia forte demais, ca-paz de engrandecer qualquer jornalista. Graas a ela, hoje eu compreendo quo huma-na a minha futura profisso. ENCANTADORA: Maria, exemplo de superao e coragem na feira que acontece aos sbados pela manh

    Centenas de pessoas circulam pela feira, de todos os credos e idades

    Um ba de histrias pra contarMarina Bastos

    Alm do trabalho sacrifi-cante, a feira revelou-se ser um ba de histrias, todos tem uma para contar, alm do tra-balho e dos horrios malucos consegui perceber todo mo-mento a nsia por se fazer ou-vir, a timidez foi bvia, mas s num primeiro momento.

    Esperei ouvir alguma in-dignao a respeito de polti-ca, da infraestrutura da feira, mas pelo contrrio, ouvi his-trias de pessoas, de famlias, e como a feira poderia ser um ganha po, um hobby e uma esperana.

    A historia que mais me

    emocionou foi a da Sra. Heli-ca. A principio ela no queria falar, no queria estar perto de ns, estava com medo porque havia denuncias a seu respei-

    to, mas depois desabafou. Esta senhora vai feira antes de to-dos, e ajuda os feirantes a des-carregar seu caminho, para ento conseguir comprar fiado

    umas caixas de frutas e legu-mes para vender em sua pr-pria casa. Ela mora prximo a um condomnio e nos fun-dos da sua casa distribui tudo o que pega nas feiras. O mais impressionante no a forma clandestina com qual ela tra-balha, mas sim sua histria de vida pra chegar at a.

    Helica sempre foi envolvida com a feira, apesar de estar sor-rindo todo o tempo ela lamen-ta muito por no ter estudado e pelo mau casamento. Hoje em dia, ela se coloca em uma posio bem mais tranquila, em sua casa mora seu compa-nheiro e mais 3 filhos, de ida-des entre 6 e 10 anos, e sustenta

    estas crianas com trabalho da venda de frutas e legumes e a criao de galinhas.

    Nestes minutos em que co-nhecemos a histria da Dona Helica vimos a imagem de milhares de brasileiros, aque-la sensao de que daqui pra frente a vida vai ser muito melhor, a esperana de poder seguir em frente, consertando os erros que so possveis e esquecendo o que no d para mudar, esperando sempre o melhor, como diria o samba a vida podia ser bem melhor, e ser. nestas palavras que to-dos os feirantes acreditam ao ver o dia comear antes mes-mo de amanhecer.

    Sorridente, Dona Maria participa da feira livre de Atibaia h 15 anos

    FOTOS: FABIO GALUPPI

  • 4 NOVEMBRO 2013 Matria Prima

    Frutas, legumes, verduras e um flanelinha: meu dia de reprterFigurando como a maior de Atibaia, a feira livre em Alvinpolis um local de encontro, passeio e compras

    Larissa Godoy

    s nove da manh o sol ardia na cabea de quem se estava na feira livre em Al-vinpolis. Em meio a uma imensido de barracas, mo-delos de automveis ali pre-sentes mostram que o espao costuma ser frequentado por todos os segmentos sociais. Um simptico flanelinha se aproxima e ajuda a manobrar o carro. Nosso passeio come-a ento pelo imenso corredor que rene 120 barracas, que vendem diversos produtos, entre frutas, legumes, roupas e brinquedos.

    s nove e meia multido ainda no tomou conta da

    rua estreita. Os passos lentos e os olhos atentos me ajudam a perceber algo de singular por ali. Uma calmaria no convencional. Naquela feira livre, que por natureza um local de gritos, manifestaes e brincadeiras de feirantes a fim de chamar os clientes, os sorridentes feirantes no gri-tam deixam que os consu-midores venham at eles. E os clientes vo. Perguntam, testam e levam as frutas que estaro em suas casas.

    Dez horas da manh. O sol que antes ardia nas cabeas, agora queima a nossa pele, que passa de branca para ro-sada, deixando marcas na pele. Tiro ento minha cme-

    ra da bolsa. Acabou a obser-vao, hora de colocar a mo na massa.

    Vai queimar o filme, moa disse um feirante, que ao ver tirar algumas fotos, tentou puxar assunto.

    Vai no, senhor. A foto ficou boa!

    E vocs, esto fazendo o que aqui?

    Uma hora essa pergunta ia chegar at mim. Minha pri-meira matria externa come-ava a ganhar asas e chegar s pessoas.

    Somos estudantes da FAAT, estamos desenvolven-do um trabalho da faculdade.

    Que legal.Vi meus colegas conver-

    sando e fui ao encontro de-les, que gravavam uma entre-vista, com microfone, cmera e tudo o que tm direito. Ob-servei, tirei algumas fotos e, ao ser abordada, me desviei da ideia de aparecer no v-deo. Por sorte fui salva por um colega, que chegou na hora certa

    Moradores, comrcio, fei-rantes. Conversamos e en-trevistamos pessoas que, de algum jeito, tm suas vidas entrelaadas pela feira. His-trias e depoimentos que, de alguma maneira, fazem a his-tria da cidade. Um espao que deixa de ser apenas um centro de comrcio de horti-frutigranjeiros para se tornar

    um ponto de encontro, de passeio e um espao de dis-trao para quem quer fugir do movimentado centro da cidade.

    O relgio passava do meio-dia e nosso trabalho estava terminando. Com a sensao do dever cumprido, me vi fazendo o mesmo ca-minho de algumas horas an-tes. Agora com o sol em cima da minha cabea, com as 120 barracas ao fundo e o flaneli-nha que encontrei no come-o da minha histria, ainda em seu trabalho, auxiliando os que ainda chegavam para ganhar suas moedas de agra-decimento.

  • 5NOVEMBRO 2013 Matria Prima

    O lugar da diversidadeVanessa Tenofio Beraldo

    s dez horas da manh, a feira do Alvinpolis estava repleta de consumidores. Jo-vens, adultos e idosos. Muitos acompanhados da famlia ou dos respectivos namorados. Uma imagem comum eram as senhoras com a famosa sacolinha de feira, repleta de frutas, verduras e legumes.

    A senhora vem sempre feira?, pergunto para dona Aparecida de Oliveira, 58 anos. Moro em Bom Jesus dos Perdes, a gente (estava com as filhas) vem cerca de uma vez por ano para pas-sear e olhar as frutas. Assim como dona Aparecida, mui-tas pessoas vo feira como forma de lazer. Alm das bar-racas de frutas e legumes, h tambm as que vendem rou-pas, acessrios e bijouterias.

    Em contrapartida, existem aqueles que fazem da feira de sbado um hbito. o caso de Paola Vertina, 30 anos, uma uruguaia que mora atualmente em Atibaia e vai feira todos os sbados para comprar verduras e legumes. Marcelo Nakagami, 35 anos, tambm vai feira todos os sbados. Porm o seu inte-resse, o Pastel do Zago. Quando pode, Marcelo leva a sua ex-mulher para juntos passearem.

    No importa qual a fi-nalidade. Se existe uma pa-lavra que descreve os consu-midores da feira de Atibaia diversidade. Enquanto uns fazem lista e vo com sacolas que ficam cheias de frutas e verduras, outros vo passear e experimentar os vrios sabores que a feira proporciona.

    Perfil dos consumidoresNome: Marcelo Nakagami e Telma PinheiroIdade: 35 e 29 anosProfisso: Motoboy e DiaristaCidade: AtibaiaMarcelo vai feira todos os sbados, para comer pastel na barraca do Zago. Telma vai eventualmente comprar frutas e verduras, atrada pela variedade e qualidade dos alimentos

    Nome: Michele Maral das Chagas (filha)Idade: 26 anosProfisso: EngenheiraCidade: Morou um tempo em So Paulo, atualmente mora em AtibaiaQuem vai feira todos os sbados seu pai. Michele disse que sente falta de uma feira que possua s produtos orgnicos, j que quando morava em So Paulo, ia toda semana.

    Nome: Vernica Maral das Chagas (me)Idade: 60 anosProfisso: AposentadaCidade: Nasceu em So Car-los, mas mora em Atibaia h 38 anos.Seu marido vai feira todos os sbados. Vernica acha que mais vantajoso comprar algumas frutas e verduras no supermercado.

    Nome: Aparecida de Oliveira Idade: 58 anosProfisso: AposentadaCidade: Bom Jesus dos PerdesVai feira cerca de uma vez por ano para passear com a famlia.

    FOTOS: FABIO GALUPPI

    LARISSA GODOY

    LARISSA GODOY

  • 6 NOVEMBRO 2013 Matria Prima

    O melhor pastel de So Pauloest na feira de Alvinpolis

    Na feira em Atibaia, o incio de uma jovem estudante na vida de reprter

    Emily Caroline K. Pereira

    9 de novembro, 8h. Eu e Jssica, minha colega de faculdade que adotei como fotgrafa, chegamos feira. O professor Osni Dias e os profissionais responsveis por udio e imagem, Alex Natal e Kleber Oliveira, j estavam l, aguardando o resto da turma. o comeo da cobertura especial da fei-ra livre de Alvinpolis.

    Comeo para ns duas, que acabamos de chegar. Na verdade comeou bem mais cedo, de madrugada. O Alex

    e dois estudantes acom-panharam um feirante da sada de casa at a chega-da Avenida Major Alvim e a montagem da barraca. Estou animada com o tra-balho na feira. Comeo a observar o movimento. Gente chegando e indo embora, de sacolas cheias. Procuro atentamente por consumidores a quem possa entrevistar.

    Com nossa pequena equipe a postos, comea-mos a descer a feira. Conti-nuo obeservando. Pessoas indo e vindo. Movimento. Vida. Sigo imaginando abordar algum, j que sou to tmida... Por fim, quan-do menos espero, estamos em frente a uma barraca que vende nada menos que o melhor pastel de So Pau-lo, ttulo recebido em 2010. O professor Osni j est falando com um e com ou-tro, colhendo informaes.

    Somos da FAAT, os alunos de Jornalismo esto desen-volvendo um trabalho na feira e gostaramos de fa-zer algumas perguntas. A moa do balco responde: quem pode responder j est chegando. Um jovem de origem asitica, vesti-do de branco. Seu nome Eric Rodrigo Agena Silva. Eu fico ao lado, com o mi-crofone na mo, esperando algo que nem mesmo sei o que .

    Emily, venha c. Voc vai entrevist-lo, diz o professor. Nunca segurei antes um microfone de reprter, daqueles que a gente v na TV. Mas consi-go, afinal. No um bicho de sete cabeas. O Eric todo sorrisos, simptico o tempo todo, como quem sabe que esta minha pri-meira vez. Agradeo ao entrevistado e sigo meu caminho. Mas o profes-

    sor Osni nos chama. Dito e feito. Nova entrevista, desta vez, um membro da AFAT Associao dos Feirantes de Atibaia. Seu nome Paulo Tom, ele tem uma barraca de brinquedos e bijuterias. Mais uma vez, meu corao dispara, mas aos poucos eu sinto o prazer de falar em frente cmera. Sinto-me importante. uma boa ex-perincia, que levarei para a vida. Olho no relgio. 8h55. Tenho que correr. Quero fi-car mais, mas no possvel. Fiz o que pude. E gostei do que fiz.

    FOTOS: FABIO GALUPPI FOTOS: FABIO GALUPPIJESSICA TAVARES

    LARISSA GODOYLARISSA GODOY

  • 7NOVEMBRO 2013 Matria Prima

    A vida na feira: reportagem mostra o olhar por traz da rotina de um feirante Joo da Cunha relata suas dificuldades e, tambm, seu orgulho em ser feirante h 30 anos

    Andr de Oliveira Pinto

    Eram 2h52m da manh de um sbado quando nossa equi-pe partiu para a casa do feirante Joo da Cunha, que casado e tem duas filhas. Estava frio e um pouco de neblina tomava conta da rua. Tivemos que ser rpidos, pois sabamos que se atrasssemos poderamos per-der os primeiros momentos do dia de Joo. As ruas estavam vazias e silenciosas.

    Todos os sbados, Joo da Cunha acorda por volta das 2h da manh; prepara as frutas nas caixas, muitas delas ficam em cmaras refrigeradas. Separa as caixas de acordo com os ti-pos de produtos e, em seguida, coloca tudo no caminho; na maioria das vezes ele faz tudo isso sozinho. Toda essa prepa-rao no acontece apenas no sbado, isso deve ser feito todos os dias da semana, exceto de segundas-feiras, pois ele ainda trabalha no CEASA.

    Joo nos conta que sempre sai as 3h30m, pois ainda preci-sa buscar dois de seus funcio-nrios no outro lado da cidade. Aceitamos o desafio e o acom-panhamos no trajeto. Dentro

    do caminho conversamos so-bre muita coisa. Joo nos con-tou sobre sua histria e sobre suas dificuldades. Ele cresceu trabalhando na feira com seu pai e seu av. Alm disso, Joo disse que os dias chuvosos a pior parte do trabalho. Depen-dendo da fora, a chuva pode estragar as frutas e destruir as barracas. Quando isso acon-tece no h nada que pode ser feito para resolver o problema. Muitos feirantes acabam com prejuzos enormes quando isso acontece afirmou Joo da Cunha. Outro fato que Joo nos revela que atualmente encon-trar mo de obra para trabalhar

    na feira no fcil. Uma das ra-zes a instabilidade de renda. Muitos comerciantes acabam deixando a profisso porque ela no garante renda fixa. A con-versa continuou e foi cativante. Pegamos os funcionrios, ento partimos para a feira.

    s 4h15 comea o proces-so para descarregar as frutas do caminho. O local j conta com alguns feirantes, mas a rua vazia e escura, no parecia ser o local onde haveria uma feira. O pro-cesso de montagem foi lento e demorado. As estruturas da barraca precisavam ser bem encaixadas para no correr o risco de desmontar em cima das frutas. A barraca s ficou completamente pronta perto das 7h. Avistamos os primeiros fregueses e, em pouco tempo, aquele local parecia mgico. Pessoas diferentes umas das outras comearam a ocupar o cenrio. Cores, movimento, sons e cheiros trouxeram vida ao ambiente, e aquilo que nos prontificamos a fazer havia acontecido: vivemos a vida de um feirante. Assim, quando Joo da Cunha disse no me vejo fazendo outra coisa eu sa-bia o porqu.

    Compartilhando conhecimento e sadeJessica Tavares

    Alunos de graduao em jornalismo da FAAT fizeram um trabalho de imerso na fei-ra do Alvinpolis, bairro co-nhecido e muito populoso de Atibaia. O trabalho foi motiva-do pelo coordenador do curso, professor Osni Dias. Foram dois sbados e, no decorrer dos encontros, conhecemos muitos feirantes com histrias de vida surpreendentes.

    Chegando ao local marca-do por volta das 8h da ma-nh, naquele sbado tpico para um passeio na feira e para beliscar um belo petisco, no demorou para sentimos o cheirinho do pastel e do cal-do de cana. Tudo isso s para animar a nossa chegada.

    Percorrendo a feira com o olhar curioso, encontramos uma barraca de ervas medicinais. Hector Suarez, um senhor de

    cabelos grisalhos, nos aten-deu muito solcito. Sua esposa, dona Neli Ortiz, chega e nos conta, muito carismtica, o porqu do trabalho na barraca de ervas medicinais. H mui-to tempo trabalhei com horti-frutis, mas depois de um curso sobre ervas decidi me dedicar a ajudar s pessoas com o meu conhecimento. Dona Neli mostra alguns saquinhos de ervas que tem mais sada em sua barraca. Sobre questio-namentos sobre determinada

    erva por parte dos fregueses, Neli mostra alguns livros que contm as respostas necess-rias, caso as dvidas surjam.

    Durante o encontro na feira podemos reparar que ela pra-ticamente dividida: de um lado, a maioria das barracas eram de roupas, bolsas, brinquedos e sa-patos. Do outro lado, a parte de alimentao, onde a barracas de hortifrtis, pastis, pamonhas, ervas medicinais, flores e a culi-nria japonesa e baiana atraem a ateno dos consumidores. Isso no atrapalhava os curiosos na procura por algo, em especial. Alm das histrias, encontra-mos amigos, familiares e pessoas que pouco conhecemos, mas que acordaram cedo pra montar sua barraca e vender seus pro-dutos sempre frescos. E ns, de forma prazerosa e gratificante, aproveitamos todo esse cuidado e apreo que eles tm em cada detalhe na feira do Alvinpolis.

    Lucas Valrio

    A seis e meia da manh toca o celular. Era o desperta-dor, colocado no dia anterior para despertar. Olhei para o relgio, ainda era cedo e de-cidi que dormiria mais cinco minutos, mas este cinco mi-nutos se tornaram duas horas.

    Levanto da cama corren-do, troco de roupa e vou dire-to para o ponto de nibus. De repente, percebo que estava fazendo outro caminho. Ao chegar feira, fui surpreendi-do pelo coordenador do cur-so, que j me colocou numa fria: eu faria uma reportagem audiovisual com a Dona Ed-nalva, comerciante de roupas usadas, h sete meses naquele ponto. Ela contou que a feira era bastante movimentada, mas hoje tem pouco movi-mento. Os feirantes reclamam que a feira no tem o mes-mo brilho de antigamente.

    Em outra entrevista, com Dona Maria Gonalves de Melo, ouo que a feira no tem banheiros, Dona Ednal-va, assim como Dona Maria deixam os feirantes usarem

    o banheiro. Elas disseram reportagem que outras pes-soas cobram R$ 2,50 pelo uso. Dona Maria acha que o certo seria disponibilizar sa-nitrios aos feirantes. Outra reclamao da Dona Maria que nem sempre ela consegue tirar o carro da garagem em razo de sempre ter um cami-nho na frente da casa dela. Ainda segundo a moradora, muitas vezes ela consegue tirar o carro da garagem em razo de sempre ter um cami-nho na frente da casa dela. Ainda segundo a moradora, muitas vezes ela precisou ti-rar o carro s quatro da ma-nh para poder sair de casa.

    Ao longo da feira pude-mos ver vrias pessoas de diferentes caractersticas e costumes. Ao final da mi-nha cobertura, entrevistei o proco da Igreja que fica ao lado da feira, a Igreja Cristo Rei. Padre Csar contou so-bre sua vida, a comunidade onde ele realiza o minist-rio de padre, e apontou que o bairro do Alvinpolis abenoado por Deus por ter uma feira nas imediaes.

    Impacto da feira no localNo me vejo fazendo outra coisa afirma Joo da Cunha

    FABIO GALUPPI

    Dona Ednalva, comerciante: feira atualmente tem pouco movimento

    LARISSA GODOY

  • 8 NOVEMBRO 2013 Matria Prima

    Aps algumas horas, conversas e percepes possibilitaram no s um aprendizado, mas uma nova apreciao para coisas que parecem simples

    Milca Oliveira Pinto

    As 2h30 da manh do dia 9 de novembro o despertador to-cou. Este seria o incio de uma experincia jornalstica indita para todos ns, estudantes do jornalismo da FAAT. A cober-tura da feira livre permitiu um olhar diferente ao cotidiano dos feirantes de Atibaia.

    Desde a madrugada at o pico do sol, acompanhamos, observamos e registramos as mais diversas histrias de vida e trabalho dos personagens que compem a rica e variada fei-ra da cidade. Comeando pelo exemplo de vida do feirante Joo da Cunha que monta sua barraca de hortifruti durante a madrugada, num ritual cuida-doso e demorado para garantir as vendas quando amanhecer.

    J no final da rua, esban-jando simpatia e jovialidade, encontramos D. Celina Abreu Menezes. Em meio aos tecidos, cores, texturas e detalhes estam-pados na barraca, percebemos todo o talento, exclusividade e criatividade com que D. Celina tece diversos tipos de roupas.

    Com uma experincia de 30 de feira, o uruguaio Hector Suarez carrega uma bagagem

    imensa de conhecimento sobre diversos tipos de ervas. Em sua barraca so oferecidos mais de 250 tipos de produtos, desde o mais conhecido, como a camo-mila, at o mais peculiar, como o chimichurri. Em uma extensa barraca colorida de hortifruti, conhecemos Joo Paulo Olivei-ra, que h vinte anos conquista clientes com produtos de quali-dade. E que pode, com o esforo

    de seu trabalho, formar seu fi-lho, Jlio Csar, em Direito.

    Aps algumas horas, as con-versas e percepes que fizemos nos possibilitaram uma nova apreciao para as coisas que, s vezes, parecem simples. A feira este grande exemplo, por trs de um lugar aparentemente, h uma diversidade riqussima de pessoas com suas histrias, ta-lentos, jeitos e sotaques.

    Equipe de reprteres comeou o trabalho na madrugada e terminou somente ao final da Feira: aprendizado

    Roberta Damiani

    A feira de Joanpolis no chega a ser grande, como as de So Paulo ou mesmo de Atibaia. So poucas as barra-cas e, em sua maioria, ven-dem roupas. Ao todo, a feira conta com uma barraca de hortifruti, um carro de flo-res e seis barracas de roupas. Mas, mesmo sendo uma feira to pequena, tem muitas his-trias para contar.

    Seu Sebastio Aparecido dos Santos, morador de Bra-gana Paulista, um dos pio-neiros na feira de Joanpolis. Feirante h 42 anos, ele conta que j fez muitos amigos ao longo desse tempo e que a fei-ra j foi em diferentes lugares da cidade. Fiquei muito tem-

    Pequenas feiras, grandes histrias em JoanpolisROBERTA DAMIANI

    REGIO

    po conversando com o seu Bastio da Feira, como gosta de ser chamado. Ele me con-tou que ele e sua barraca j trabalharam em Vargem, Ati-baia e Bragana, e em todos os lugares foi bem recebido, sempre com boas vendas.

    Os produtos que vende - frutas, legumes e verduras - so cuidadosamente sele-cionados por seu filho, que hoje quem toca a barraca, da qual seu Bastio antes to-mava conta. As verduras so plantadas em sua casa, en-quanto os outros produtos so buscados no CEASA, em Campinas.

    Outro feirante com quem conversei foi Regis das Flores, um senhor muito simptico, que me contou em detalhes

    como foi entrar para o mundo da Me Natureza - ele vende diversos tipos de plantas, de orqudeas a ervas medicinais. Algumas ele mesmo planta, outras, vai a lugares distantes comprar. O melhor para o cliente, diz, orgulhoso. Gra-

    as aos conhecimentos repas-sados por sua descendncia indgena e natureza nordesti-na, o senhor Regis ensina os clientes a usar as ervas que compram e qual utilidade de cada planta.

    Quando seu Regis fala, d

    para perceber o quanto gos-ta do que faz. Fica claro que h algo especial com aqueles pequenos fragmentos verdes - o que, para mim, como ob-servadora naquele momen-to, foi o mais tocante. Seu Regis comeou vendendo orqudeas para as datas espe-ciais, j que nestas pocas as vendas so maiores. At que um banco comprou tudo o que tinha para vender e mu-dou-se para o interior.

    A feira de Joanpolis, mesmo sendo pequena e com poucos comerciantes, conta muitas histrias. Quem olha, logo percebe que ali tem coi-sas nicas, que no se en-contram em outro lugar: tem tradio, tem paixo, tem fi-delidade... Tem histrias.

    Personagens ricos em histrias. Abaixo, Joo Paulo Oliveira. Abaixo dele, D. Celina Abreu Menezes.

    Histrias de vida e personagens que compem a rica e variada feira

    FOTOS: ALEX NATAL

    LARISSA GODOY