matéria prima - código florestal

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1 MAIO 2015 • Matéria Prima NOVO CÓDIGO FLORESTAL Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades • Atibaia • Maio 2015 • nº 20 Matéria-Prima Novo Código muda as regras na cidade e no campo. Em Bragança Paulista, represa está em siuação precária. FOTO: GISLAINE JANUÁRIO Produção sem o uso de químicos sintéticos busca a qualidade de vida e do meio ambiente Página 8 Proteção ambiental em destaque: Atibaia discute Lei de Uso e Ocupação e CURMA Página 6 MONIKA SCHULZ JULIANA DORIGO Pequenos e grandes agricultores têm ajuda para estruturar negócios na região Página 4

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Mais recente edição do jornal Matéria Prima aborda o Novo Código Florestal

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Page 1: Matéria Prima - Código Florestal

1MAIO 2015 • Matéria Prima

NOVO CÓDIGO FLORESTAL

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da FAAT Faculdades • Atibaia • Maio 2015 • nº 20

Matéria-Prima

Novo Código muda as regras na cidade e no campo. Em Bragança Paulista, represa está em siuação precária.

FOTO: GISLAINE JANUÁRIO

Produção sem o uso de químicos sintéticos

busca a qualidadede vida e do

meio ambiente Página 8

Proteção ambiental em destaque: Atibaia discuteLei de Uso e Ocupação e CURMAPágina 6

MONIKA SCHULZJULIANA DORIGO

Pequenos e grandes agricultores têm ajuda para estruturar

negócios na região Página 4

Page 2: Matéria Prima - Código Florestal

2 MAIO 2015 • Matéria Prima

EDITORIAL

Ana Medeiros

Água é fonte da vida. Não importa quem somos, o que fazemos, onde vivemos – de-pendemos dela para viver. No entanto, por maior que seja a importância da água, as pes-soas continuam poluindo os rios e suas nascentes, esque-cendo-se do quanto ela é vital para nossas vidas.

A água é provavelmente o único recurso natural rela-cionado a todos os aspectos da civilização humana, desde o desenvolvimento agrícola e industrial aos valores cul-turais e religiosos, arraigados na sociedade. É um recurso natural essencial, seja como componente bioquímico de

seres vivos, como meio de vida para várias espécies vegetais e animais, como elemento re-presentativo de valores sociais, culturais e até como fator de produção de vários bens de consumo – final e intermediá-rio.

Os recursos hídricos têm importância significativa no desenvolvimento de diversas atividades econômicas. Em relação à produção agrícola, a água pode representar até 90% da composição física das plan-tas. A falta d’água em períodos de crescimento dos vegetais pode destruir lavouras e até ecossistemas devidamente im-plantados. O novo código flo-restal brasileiro regulamenta como a terra pode ser explora-

Matéria-Prima especial “LEI DA ÁGUA”Ano 7, nº 20 – Maio de 2015

Henrique Cisman*

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) anunciou nesta segunda-feira a prorrogação do prazo para rea-lização do Cadastro Ambiental Rural por mais um ano, até 05 de maio de 2016. A decisão foi anuncia-da em Brasília pela ministra Isabella Teixeira um dia antes do vencimento do prazo anterior, após menos da metade das propriedades rurais do país ter sido cadastrada até o fim do mês de abril.

O Rio Grande do Sul, estado com pior índice, teve apenas 0,84% das propriedades inscritas até esta ter-ça-feira, 05. O CAR é um documento obrigatório instituído pelo Novo Código Florestal. Após o anún-cio da extensão do prazo, Isabella Teixeira justificou o índice pífio do Rio Grande do Sul afirmando que devem estar chegando informações distorcidas aos proprietários rurais gaúchos.

Segundo a ministra, “Nada vai ser feito para pu-nir, se o cadastro foi instituído para regularizar (as propriedades) do ponto de vista ambiental”. Isabella também afirmou que qualquer informação forne-cida pelo proprietário pode ser retificada depois, a qualquer momento, e finalizou: “Como que alguém diz para um agricultor pra ele não fazer (o cadastro) porque vai ser punido? Se ele não fizer é que ele vai ser punido. É exatamente o oposto, está na Lei isso.”.

A não realização do Cadastro Ambiental Rural re-sulta em impossibilidade de acesso ao crédito rural, além do possível recebimento de multas e sanções ambientais. Por outro lado, a inscrição no CAR per-mite alguns benefícios como a utilização consolida-da de área de vegetação suprimida até 22 de julho de 2008. * Matéria fechada em 5/5/2015, 20h14.A reportagem completa você lê em jornalismofaat.wordpress.com

da e estabelece onde a vegeta-ção nativa tem de ser mantida e onde pode haver diferentes tipos de produção rural.

O código que estava em vigor nesse quesito era o de 1965, ligeiramente modifica-do, por isso precisou ser atua-lizado e ajustado à realidade. As perspectivas de escassez e degradação da qualidade da água colocaram em discussão a necessidade de adoção do planejamento e do manejo in-tegrado dos recursos hídricos. Em suma, a água é vital para todas as atividades, portanto, é extremamente lógico que a preocupação com seu uso cor-reto seja uma constante, não só entre os governantes, mas também toda a sociedade.

Barbárie em forma de leiCarolina Bonassa

É sabido que, desde 2012, as mudanças catastróficas promovidas pelo novo código florestal têm gerado muita dis-cussão. Houve até mesmo pro-testos, como o “Veta Dilma”, tão popular entre os cidadãos comuns quanto entre famosos. Todavia, nada de grande valor foi feito e há dois anos o novo código serve de escudo para desmatar o que nos sobra da natureza brasileira.

Polêmica, a lei dividiu opi-niões basicamente entre rura-listas e ambientalistas. Os pri-

meiros, por claramente possuir interesses financeiros, basea-vam seus argumentos na (des)necessidade de aumentar a produção agropecuária. Dessa forma, justificam toda a barbá-rie cometida contra a natureza.

Já os ambientalistas são to-talmente contra as “pequenas” mudanças, que acabam afetan-do em muito o meio ambiente. Entre as mudanças, diminuir a distância de mata ciliar em rios e autorizar a utilização de vár-zeas e mangues para atividade econômica preocupam por seu impacto negativo.

Outras, como isenção de

multas aos proprietários rurais que cometeram irregularidades até 2008 ou o fim da exigência de averbação de reservas flores-tais são totalmente inconstitu-cionais e parecem ter sido cria-das apenas para facilitar a vida dos proprietários.

Apesar da gritante falta de bom senso em seus vários capí-tulos, a lei foi aprovada. Nenhum artigo controverso dela foi ve-tado. As medidas tomadas pela presidente em nada mudaram o que realmente seria importante mudar. Resta-nos, então, exercer nossa função de levar informa-ção como forma de protesto.

Prorrogado o prazo para o Cadastro Ambiental Rural

Medida foi anunciada em 4 de maio, em Brasília

Água, essencial para o planeta

Plantação de morangos orgânicos produzidos pelo agri-cultor Evaristo Silva em Atibaia. Imagem: Mônika Schulz

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo, da FAAT – Faculdades, produzido pelos alunos do 3º e 5º Semestres do curso. Os textos publicados são de responsabilidade dos autores, que os assinam, não refletindo a opinião da Instituição. Diretores da Mantenedora da FAAT: Marilisa Pinheiro, Hercules Brasil Vernalha, João Carlos da Silva, Júlio César Ribeiro, Manoel Ferraz. Diretor Geral de Administração: Saulo Brasil Ruas Vernalha. Diretor Acadêmico: Gilvan Elias Pereira. Diretor Administrativo-Financeiro: Elias dos Santos Reis. Diretora de Comunicação: Maria Gorette Lourenço Nobre. Diretor de Manutenção, TI e Projetos Prediais: Angel Henrique Rodrigues de Souza, Coordenador de Captação de Alunos e Pesquisa e Extensão: Orivaldo Leme Biagi; Coordenadora Geral da Pós-Graduação: Hilda Maria Cordeiro Barroso Braga. Professores-orientadores: Osni Dias (MTb 21.511) e William Araújo (MTb 20.015). Fotografia: Professora Marta AlvimCURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: Coordenador do Curso de Jornalismo: Prof. Ms. Osni Tadeu Dias

MONISE MONTANHER

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3MAIO 2015 • Matéria Prima

Seca em represa afeta tanto moradores quanto turismo da cidade de Joanópolis

Descaso dos responsáveis revela que problema pode perdurar e prejudicar as cidades envolvidasCarolina Bonassa

A seca da represa da cidade de Joanópolis – SP está longe de ser revertida. Ela faz parte do Sistema Cantareira, res-ponsável pelo abastecimento de 55% da Região Metropolita-na de São Paulo, e, há cerca de dois anos, seu nível começou a baixar, trazendo sérias con-sequências para os moradores e para o turismo da cidade.

A responsabilidade do abas-tecimento de água é da Sabesp e do governo do Estado. Ape-sar disso, o Secretário da Agri-cultura, Abastecimento e Meio Ambiente do município, Iná-cio Benedito Pereira, 66 anos, acredita que a Prefeitura tam-bém tem trabalho a fazer. “É preciso focar na reutilização da água em banheiros públicos, hidrantes e para regar jardins, preservando o que nos resta. Mas isso não está em primei-ro lugar nas preocupações dos vereadores, infelizmente”, diz.

A respeito de resoluções em maior escala, acredita que a chave está na universalização do tratamento de esgoto e na recuperação de rios inutilizá-veis como o Tietê e o Pinhei-ros, “como em países da Euro-pa, onde rios das cidades são utilizados até para navegar”.

José Maurício de Oliveira, 66 anos, mora há 33 na região do Mangue Seco, que ficava à beira da represa, onde hoje há um córrego construído pela Sabesp. Segundo ele, a empre-sa viu a água acabar aos pou-cos sem tomar providências. Ironizando, diz que “se antes a previsão era ter água até 2003, treze anos depois, quan-do tudo secou, o investimento foi abrir um buraco na estra-da e proibir a entrada”. Seu

irmão, Irineu Afonso de Oli-veira, compara: “o que vemos é o mesmo que no nordeste há anos atrás: gente andan-do quilômetros no lombo de burros para encontrar água”.

O turismo também sofre. Muitas pousadas localizadas à beira da represa mantinham atividades que dependiam da água. Agora, precisam inven-tar novas formas de atrair os turistas. Paulo Sérgio da Silva Souza, gerente da Pousada e

Ecoresort Monte Leone, con-tabiliza o prejuízo: desde 2013, houve redução de 40% do mo-vimento. De 35 funcionários, restam 10. Ele conta que fre-quenta uma reunião na capital a cada três meses para discutir a questão da seca. Em todas, a resposta da Sabesp é a mes-ma: só resta esperar pela chu-va. “Dizem que é ‘a vontade de Deus’. Se não chover, vão nos deixar sem nenhuma gota”.

Na Pousada Monte Leone, a chalana fica encalhada onde antes havia muita água, aguardando pela chuva. Abaixo, à esquerda, Inácio Benedito Pereira, Secretário Municipal do Abastecimento, Agricultura e Meio Ambiente. José Maurício de Oliveira, morador do Mangue Seco (á direita), viu a represa secar e nada ser feito para impedir.

Clima e desperdício são causas de baixos níveis do CantareiraAna Medeiros, Gislaine

Januario e Renan Sciola

O sistema Cantareira é res-ponsável pelo abastecimento de água para 8,1 milhões de moradores em parte da região metropolitana e interiorana do estado de São Paulo. Ele é com-posto por seis represas: Paiva Castro, Águas Claras, Cachoei-ra Paulista, Atibainha, Jaguari e Jacareí. Desde o mês de janeiro de 2014 esse sistema passa por transtornos.

Milhares de pessoas foram afetadas. Moradores de alguns bairros da capital reclamam da situação de racionamento a que estão sujeitos. “Aqui geral-mente a água é liberada após as quatro da manhã. Diante disso fico acordada e coloco meus

afazeres domésticos em dia, enquanto há água. Quando ligo na Sabesp, ouço da atendente apenas que o fornecimento já está sendo reestabelecido”, diz Sandra Altino, moradora do

Jardim Santa Maria, zona Leste de São Paulo.

Já nas cidades do interior, a população não foi afetada, não houve racionamentos. Zilda Teixeira, de Mairiporã, acredita

na responsabilidade que todos têm, “Não cortaram nosso for-necimento, mas comecei a eco-nomizar do meu jeito”, diz ela.

Desde o mês de janeiro de 2015, a Sabesp vem lançando em seu site boletins detalhados diariamente, demonstrando a situação dos mananciais. Ana-lisando esses boletins, se com-pararmos o dia 20 de janeiro a retirada total era de 19,04 (m²/s). Já no dia 20 de abril houve uma pequena queda, a retirada total nessa data é de 13,70 (m²/s). Esses dados dei-xam claro que ainda há queda nos níveis, mas podem ser re-vertidos. A Sabesp, como meio de intervenção, concedeu be-nefícios para quem reduzisse o consumo de água. Quanto menos desperdiçar, mais eco-

nomia na conta.O clima também é tido como

causa. Segundo o meteorologis-ta do CPTEC, Theomar Trinda-de, as condições climáticas re-centes têm sua parcela de culpa. “As chuvas nas regiões onde as represas estão localizadas não atingiram grandes proporções, devido a fatores como o desma-tamento na região amazônica. Devemos nos preocupar pelos próximos meses, pois o período de estiagem levará mais tempo do que o estimado”.

De acordo com ele, “o que nos resta é batalhar pela preser-vação e economia”. Quem sabe amanhã possamos refletir sobre a canção interpretada por Fag-ner: “Ê Cantareira, ê Cantareira, eu quero me afogar...” e não nos preocuparmos com a seca.

FOTOS: CAROLINA BONASSA

GISLAINE JANUÁRIO

Represa no trecho de Bragança Paulista, vista do alto: pouca água

Page 4: Matéria Prima - Código Florestal

4 MAIO 2015 • Matéria Prima

Pequenos e grandes agricultores têm ajuda para estruturar negócios na região

Bancos têm oferecido diversos programas e facilidades para auxiliar o crescimento agrícolaOtávio Pelegrino Chicaroni

Os subsídios agrícolas têm se tornado mais importantes a cada dia para o agronegócio no Brasil, e principalmente na nossa região. Todo agricultor pode utilizar desses benefícios e financiar safras, maquiná-rios, estufas, sementes, agro-tóxicos, entre outros, sendo que um dos principais pre-cursores e facilitadores desse crescimento do agronegócio em nossa região foi a Secreta-ria de Agricultura e Abasteci-mento do Estado de São Paulo, que criou programas de crédi-to rural como o Feap (Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista) e o Banagro (Ban-co do Agronegócio Familiar); eles oferecem linhas de finan-ciamento, subvenção ao segu-ro agrícola e apoio técnico ao produtor, cooperativas e asso-ciações. Além destes, também existem o Pronaf (Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar) e o Cedaf (Conselho da Agricul-tura Familiar). Os dois progra-mas têm uma relação bem pró-xima e disponibilizam apoio e várias linhas de financiamento ao agricultor familiar, o que fa-cilita ainda mais o crescimen-

to de pequenos agricultores.O banco também é um im-

portante meio para se con-seguir esses empréstimos e financiamentos voltados para o agronegócio. Lígia Baldin Granda, assistente de Pessoa Física (PF) com direciona-

mento para o agronegócio no Banco Santander, afirma que banco tem investido forte no agronegócio e só em 2013 o crescimento nessa área foi de 20%, repetindo o feito em 2014. Lígia conta que o Crédi-to Rural e as linhas de repasse

do BNDES são constantemen-te procurados nas agências bancárias, principalmente na região em que estamos. Ela também informa que o tempo de realização desses progra-mas podem variar de 15 dias a 6 meses. “Tudo é muito relati-vo. Primeiramente ocorre a vi-sita de um engenheiro agrôno-mo ao cliente e a partir desta visita são iniciados os laudos e é colhida a documentação estadual necessária”. Ela faz questão de lembrar que não basta os documentos do clien-te/grupo familiar estarem em ordem; também é necessário a documentação da propriedade estar de acordo com a legis-lação. “Após todos os docu-

Um dos grandes estoques de milho em Atibaia, do produtor Sérgio Souza. “A colheita desse ano está ainda melhor que a do ano passado”, diz o produtor Sérgio ao lado das sacarias de milho

FOTOS: OTÁVIO CHICARONI

mentos estarem em posse da agência, assinaturas colhidas, enviam-se os mesmos digita-lizados para a área responsá-vel. O Acompanhamento de cada processo é feito diaria-mente, e ele pode variar de 15 dias a casos de até 6 meses”

Sérgio Souza, produtor de milho e chuchu em mais de 210 hectares na cidade de Atibaia, diz que as facilidades que encontrou com o Crédito Rural, fizeram seu plantio au-mentar ainda mais, passando assim de pequeno para grande produtor. O fato de os bancos e o próprio governo terem facilitado os financiamentos e empréstimos a pequenos e grandes produtores tem sido um grande benefício para a agricultura em geral e tende a crescer na região braganti-na durante os próximos anos.

Rio Cachoeira na mira do reflorestamento Programa realizado em parceria com o Governo Estadual realiza o plantio de mudas nativas em áreas degradadas

Monise Montanher

Devido ao baixo nível de água para abastecimento no sistema Cantareira, a Secreta-ria do Meio Ambiente, junta-mente com o Governo do Es-tado de São Paulo, lançaram o “Programa Nascentes - Mata protegida, água na fonte”, rea-lizando o plantio de mudas nativas em áreas degradadas. Em 20 de março, o programa teve seu marco inicial no Sítio Beira-Rio, localizado no mu-nicípio de Piracaia.

O evento teve como pon-to principal a participação do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e da Secretária Estadual do Meio

Ambiente, Patrícia Iglecias, no plantio das mudas. “Hoje esta-mos dando o primeiro passo de um grande projeto, de mui-tas mãos, parceiras, e a Secre-taria do Meio Ambiente está fazendo toda essa articulação. A natureza agradece”, declarou o governador à imprensa.

O intuito do projeto é iden-tificar as Áreas de Proteção Permanentes (APP) hídricas degradadas que possibilitem restauração ecológica no mu-nicípio de Piracaia e, em espe-cial, as águas do Rio Cachoeira – que além de abastecer a cida-de, faz parte do sistema Canta-reira – auxiliando no abasteci-mento da cidade de São Paulo.

No município, o programa

Nascentes pretende restaurar 30 hectares, sendo que 10,22 hec-tares já foram selecionados para participar do primeiro grupo de restauração. Os critérios utili-

Ideia é identificar APPs hídricas degradadas que possibilitem restauração

MONISE MONTANHER

zados são a ordem de chegada, documentação, APP relaciona-da ao corpo-d’água e nascente, e o tamanho da área.

Segundo a proprietária do

Sítio Beira-Rio, Sônia Forão, a família já fazia o plantio de árvores, uma vez que reco-nhecem a necessidade de se manter, no mínimo, uma fai-xa de 30 metros de mata nas margens do rio. O programa veio para agregar forças a essa iniciativa. Para Sônia, apesar de não receberem subsídios financeiros, “a consciência é para que, daqui a 20, 30 anos, continuemos tendo água”.

Para participar do progra-ma, o proprietário rural deve estar cadastrado no SiCar-SP (Sistema de Cadastro Am-biental Rural do Estado de São Paulo) permitindo a utili-zação das terras para a restau-ração ecológica.

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5MAIO 2015 • Matéria Prima

Agrotóxicos: uso consciente, vida saudávelAtibaia é referência na utilização responsável de agroquímicos, com certificação do INMETROYasmin Godoy

O Brasil é o maior consumi-dor de agrotóxicos do mundo desde 2009, com cerca de 5,2 kg por habitante/ano. Os efeitos do uso inadequado e excessivo des-se tipo de insumo nas lavouras chegam rapidamente às cidades, trazendo graves danos à saúde humana e ao meio ambiente.

Por essa razão, diversos pro-gramas governamentais que regulamentam o uso de agro-químicos foram criados para fiscalizar a produção agrícola em todo o país. Anos atrás, ainda encontrava-se com frequência amostras de vegetais como bata-ta, tomate e pimentão com altos índices de resíduos de agrotóxi-cos. Iniciativas como o PARA (Programa Nacional de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos) tiraram estes alimentos do ran-king dos dez mais tóxicos.

Usar os produtos de forma consciente e na medida certa pode ser uma alternativa para

combater a deterioração, segun-do Osvaldo Maziero, Presidente da Associação dos Produtores de Morangos de Atibaia e Ja-rinu. “O defensivo deve ser usa-do somente quando necessário e com moderação, para preve-nir a fruta de fungos, pragas e doenças. Somos conscientes e temos responsabilidade com o consumidor”, afirma.

Atibaia é responsável por 25% de toda a produção de flo-

res do Brasil e pelo cultivo de morango - fruta que originou uma das festas mais famosas da região. Através de um projeto da Câmara dos Deputados, a cidade pode se tornar a capital nacional do morango. Esta fama ganhou ainda mais força com a implantação da PIMo (Produ-ção Integrada de Morangos), que certifica que os produtores locais utilizem menos agrotóxi-co e sigam procedimentos, nas

Maziero: uso de defensivo somente quando necessário e com moderação

YASMIN GODOYlavouras, que elevam a qualida-de da fruta. Atibaia foi a primei-ra cidade do Brasil a receber a certificação do INMETRO em 2012, o que a tornou ainda mais representativa na agricultura nacional.

Seis agricultores da cidade receberam o certificado PIMo ao passar por uma auditoria e têm de seguir setenta e duas normas técnicas. A produção é fiscalizada rigorosamente por responsáveis que verificam se todos os requisitos estão sendo cumpridos nas propriedades. Caso algum produtor infrinja as regras, será autuado e suspenso da certificação.

Alcides Ribeiro, Secretário de Agropecuária e Abasteci-mento de Atibaia, afirma que esta certificação envolve ques-tões sociais, legais, ambientais e toxicológicas. “A PIMo com-preende técnicas de produção, uso adequado de agrotóxicos, prevê quais produtos podem ser usados a respeito do perío-

do de carência e todos os cuida-dos ambientais de toxicologia e contaminação. Questões como higiene, legislação trabalhista, tratamento de água, preparo e análise do solo estão envolvidas. Estas normas são publicadas no Diário Oficial da União, que de-fine como deve ser feita a pro-dução”, conta. Por enquanto, a Produção Integrada compreen-de apenas Atibaia, mas a previ-são é de que em breve seja im-plementada em todo o país com o nome de “Brasil Certificado” e abranja todos os setores da agri-cultura nacional.

Osvaldo afirma que hoje os produtores têm mais incentivo e informação, o que faz com que o uso de agrotóxicos seja mode-rado e haja mais preocupação em produzir uma fruta de qua-lidade. “Com a tecnologia e o uso racional de produtos bioló-gicos, aplicados com receituário agronômico, é possível realizar um plantio saudável e seguro”, relata.

Matheus Godoy Taline Barcelos

Desde 2013 o Lago da Hípica Jaguari continua assoreado. A proposta de desassoreamento, que na época estava em pro-cesso de mapeamento da área úmida, não ocorreu, mas as melhorias realizadas em dois anos no lago pela Sabesp e Prefeitura são significativas.

De acordo com o Secretário do Meio Ambiente, Franci-so Chen, o desassoreamento do lago da Hípica Jaguari vai acontecer em 2015. O motivo de ainda não ter sido realizado é porque a Prefeitura, a Sabesp e o Ministério Público estavam discutindo os termos de um acordo judicial, buscando a reparação do dano ambiental causado durante anos no lago, em razão do descarte de resí-duos pela ETA (Estação de Tra-tamento de Água) de Bragança Paulista.

O acordo foi firmado em 26 de janeiro de 2015 e homologa-do pela Justiça em 9 de março de 2015. Ao ser homologado, ele tornou-se um título execu-

tivo, ganhando força de senten-ça judicial. Havia, até então, um desentendimento entre a Pre-feitura, a Sabesp e o Ministério Público, que já foi resolvido, chegando-se a um bom termo para todos os envolvidos. A Sa-besp vai custear o desassorea-mento, o processo de escavação e dragagem do lago e a Prefei-tura vai fazer a destinação do material recolhido. Um labo-ratório já foi contratado para realizar a análise dos sedimen-tos e de contaminação, a fim de verificar o método e a destina-ção adequada do resíduo. “Por conta das divergências, a etapa procedimental e jurídica é mais difícil de ser resolvida do que a etapa material de execução de obra. Houve, em dois anos, um avanço enorme em termos processuais, que era o maior obstáculo para a realização das obras”, concluiu Francisco Chen.

A Sabesp realizou um traba-lho para identificar o que havia no lago e descobriu que há uma camada de matéria sedimenta-da na superfície, mas que pos-sui água em baixo, não tendo

o lago sido completamente assoreado. Há uma camada de material flutuante, composta de água e lodo. Para que a lim-peza seja efetivada, é necessário saber o volume que está asso-reado efetivamente. “A Sabesp delimitou o desenho do lago, mas não se sabe ainda quanto de lodo será coletado. Para isso é necessário retirar a primeira camada e fazer uma batimetria (estudo que mede a profundi-dade do lago por meio de um sonar) a fim de se obter um perfil de profundidade. Após

Lago de Bragança já tem previsão de desassoreamentoLimpeza ainda não ocorreu por motivos de burocracia processual; prazo é para que se resolva ainda em 2015

ser precisado o volume do lago que está assoreado, a Sabesp dará continuidade ao processo e iniciará a retirada do material sedimentado”, explicou José Carlos de Camargo, Gerente da UGR (Unidade de Gerencia-mento Regional) de Bragança Paulista.

O problema do depósito irre-gular de resíduos no lago, libe-rados pela ETA (Estação de Tra-tamento de Água), que em 2013 era um fator degradante para o assoreamento, já foi resolvido. Atualmente, todo o lodo gera-

do na ETA é encaminhado ao Lododuto, uma rede própria da Sabesp, não sendo mais lança-do no Lago da Hípica Jaguari. “Hoje não é lançado absoluta-mente nada em nenhum corpo d’água de efluente”, afirmou José Carlos.

O lago da Hípica Jaguari pos-sui extrema importância para o município em termos ambien-tais e sociais. Antigamente ele era utilizado para lazer, hoje bastante limitado. Com o de-sassoreamento a importância social do lago será resgatada e aumentada a capacidade de re-servação, uma vez que ele serve para a contenção de cheias.

Além disso, o lago abriga a fauna aquática e semi-aquáti-ca, que também serão benefi-ciadas com a limpeza. “O lago da Hípica possui 10 mil metros quadrados, os quais serão recu-perados com o desassoreamen-to. Após isso, será realizada a revitalização do entorno com o plantio de árvores nativas or-namentais, paisagismo e equi-pamentos urbanos, como pis-tas de caminhada”, adiantou o Secretário do Meio Ambiente.

Resíduos lançados em rios são fatores degradantes para o assoreamento

TALINE BARCELOS

Page 6: Matéria Prima - Código Florestal

6 MAIO 2015 • Matéria Prima

Diego Lima, Letícia Dias e Samantha Wunsch

Em 16 de abril, (quinta-fei-ra), foi realizada, na Câmara Municipal de Atibaia, a se-gunda Audiência Pública para a discussão sobre o projeto de lei complementar 003/2015 para instituição da Legislação de Uso e Ocupação do Solo da Estância de Atibaia. O proje-to foi elaborado pela Prefei-tura, que altera o atual CUR-MA – Código de Urbanismo e Meio Ambiente do município.

Durante a Audiência, di-versos munícipes, especialis-tas e ativistas apresentaram suas opiniões concordando ou contrariando a proposta da Prefeitura. Segundo o ve-reador Daniel Martini (SSD),

“estamos diante de uma das leis mais importantes que re-gem a vida da sociedade. A discussão passa por um deba-te longo na Câmara durante o trâmite do projeto. Estamos na 2ª audiência e a tendência é que tenhamos outras para coletarmos dados da popu-lação e para que a Prefeitura possa trazer todos os detalhes

para compor o projeto”, dis-se. O vereador acrescenta que a Prefeitura ainda não apre-sentou todos os documentos necessários. “Não é possí-vel ter um posicionamento.

Os mapas, principais docu-mentos que mostram onde há alteração de zoneamento, não foram encaminhados correta-mente para a Câmara, o que

Beto Trícoli: sem a precaução de cuidar, não volta mais

Cardoso: necessário corrigir detalhes da atual legislação

Daniel: uma das leis mais importantes que regem a vida

Messias: aprimorar legislação de uso e ocupação já existente

DIEGO LIMA FOTOS: SAMANTA WUNSCH

prejudica a análise dos ve-readores”, completa Martini.

Já para o vereador e presi-dente da Comissão de Cons-tituição e Justiça, Lucas Car-doso (PROS), a lei é necessária para corrigir alguns detalhes da atual legislação. “Devido às impropriedades que existem no atual CURMA, hoje ela pas-sa por uma reforma. Pela pro-posta, ela deixa de ser CURMA e passa a ser ‘Lei de Uso e Ocu-pação de Solo’”, relata Cardoso.

Beto Trícoli, ex-prefeito de Atibaia, presente à reunião, disse que “essa é uma lei es-pecificamente de planejamen-to, uma lei que trata do uso e ocupação de solo. Há uma con-tradição na cronologia, ou seja, primeiro tem que fazer revisão do Plano Diretor, que é neces-sário fazer mesmo. Querem aprovar uma lei de uso e ocupa-ção de solo que fala só do terri-tório e não considera que neste território moram pessoas que têm cultura acumulada, têm atividade definida. Estão per-mitindo expandir o território urbano sem criar a precaução de garantir aquilo que a gente tem de mais precioso que, se não tiver a precaução de cuidar, não volta mais”, afirma Trícoli.

O vereador Lucas Cardoso contrapõe, dizendo que o Meio Ambiente não está sendo pre-judicado com essa alteração na Lei. “O Meio Ambiente não

Atibaia discute Lei de Uso e Ocupação de Solo e CURMA, sem consenso

está sendo descartado, porque a própria Lei de Uso e Ocupação de Solo tem Legislação Federal e Estadual que garante todas as proteções ambientais”, conclui.

Para Messias Camilo, dire-tor do Departamento de Con-sultoria Jurídica da Prefeitura de Atibaia, a Audiência Pú-blica mais uma vez cumpriu o papel de reunir opiniões. Ele nos contou sobre o obje-tivo do projeto apresentado pela Prefeitura. “A Audiência de hoje foi importante na me-dida em que foram ouvidas diversas sugestões, colheita de diversas opiniões da po-pulação, que é seu principal objetivo. A finalidade deste projeto é aprimorar a legis-lação de uso e ocupação de solo já existente, com base em anos de análises na área técni-ca onde se observou diversas impropriedades na lei atual.”

Dr. Messias conta ainda que a atual administração municipal quis modificar diversas impro-priedades que hoje são eviden-tes, como construção de edifí-cios em bairros residenciais e casas em fila, popularmente conhecidos como “pombais”.

Ainda não foi marcada a próxima Audiência Pública para a discussão deste tema. O Projeto de Lei pode ser lido na íntegra no site da Câ-mara Municipal de Atibaia, camaraat iba ia . sp .gov .br .

Esforço de especialistas tendem a harmonizar preservação. Em Bragança, efeitos do Código já são sentidos.

Em 2013. o Ribeirão La-vapés sofria com o descaso e a sujeira em suas águas. De longe se notava o acúmulo de materiais de todos os tipos, situação que intensificava os riscos de contaminação à po-pulação. Atualmente o cená-rio é outro. Algumas melho-rias foram realizadas, embora a situação ainda necessite de muita atenção e empenho das autoridades para que seja efe-tivamente resolvida.

De acordo com a Sabesp, atualmente 100% do esgoto coletado é destinado a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto), não sendo mais lan-çado no Ribeirão Lavapés. O que ainda se pode observar é a existência de alguns pontos de lançamento clandestinos de esgoto. Essa contribuição irregular não é o lançamen-to de uma casa que joga no

Ribeirão Lavapés ainda tem problemasrio, mas de esgotos em gale-rias que ao invés de estarem conectadas à rede de esgo-to, acabam por lançá-los no córrego. Por se tratar de um volume muito pequeno, essas ocorrências são difíceis de serem identificadas.

“No Lavapés ainda existem ligações irregulares de esgo-to, mas já está sendo reali-zado um mapeamento. Os bairros Santa Luzia, Jardim Califórnia e Jardim Europa já foram mapeados. Mais de mil pontos de monitoramen-to foram realizados e cerca de 10% das casas foram notifica-das pela irregularidade, para que sejam sanados os pro-blemas ambientais”, concluiu Francisco Chen.

José Carlos de Camargo ex-plica que o Ribeirão Lavapés possui dois tipos de poluição: do esgoto e difusa. A difusa

é aquela gerada quando cho-ve. Toda a sujeira empurrada pela chuva acaba no rio e isso intensifica a degradação e di-ficulta o processo de manu-tenção dele. Na proposta de renovação de contrato entre a Sabesp e a Prefeitura, aponta-se a recuperação dos ribeirões do município. “Para resolver o problema especificamente do Ribeirão Lavapés seria neces-sário que a prefeitura, em par-ceria com a Sabesp, arrumasse o rio metro a metro, desde a nascente, analisando a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e corrigindo-a, se necessário”, disse José Carlos .

A Sabesp vai implantar em Bragança Paulista o progra-ma “Córrego Limpo”, reali-zando um “pente fino” nos lançamentos de esgoto nos corpos d’água. (Matheus Godoy e Taline Barcelos)

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7MAIO 2015 • Matéria Prima

Novo Código Florestal modifica Áreas deProteção Ambiental na região bragantinaMudança é alvo de discussão em todo o país; em Bragança há descompasso entre o rural e o urbano

Diego Lima, Letícia Dias e Samantha Wunsch

Em 2012, a presidente Dil-ma Rousseff aprovou, median-te inúmeros protestos, o Novo Código Florestal. Cidades da região Bragantina que são co-nhecidas pelas suas matas e re-presas que abastecem pessoas da região metropolitana de São Paulo foram afetadas com essa medida. Desde a aprova-ção, se discute o que será mo-dificado no cenário da região.

A cidade de Bragança Paulis-ta faz parte do sistema Canta-reira, um dos maiores sistemas produtores de água do mundo. Dois reservatórios deste siste-ma estão localizados na cida-de: as represas Jaguari e Jacareí. Portanto, a proteção ambiental é essencial para o município, as-sim como o uso das leis flores-tais. Segundo Francisco Chen, secretário do Meio Ambiente de Bragança Paulista e analista ambiental, já é possível sentir o efeito do Novo Código Flo-restal na cidade. “Aqui em Bra-gança, nós sentimos um gran-de prejuízo na área ambiental, em relação à área de preser-vação permanente dos reser-vatórios”, relata o secretário.

Por outro lado, o engenhei-ro e consultor ambiental, Leo-nardo Cézar, explica que al-gumas mudanças do código são positivas, “principalmen-te aos pequenos produtores, pois dependendo do tamanho da propriedade, ele não pre-cisará replantar a vegetação nativa, além da possibilidade de produzir na área”, conta.

Segundo as alterações do có-digo para a área de produção consolidada, isto é, locais onde há produção humana, proprie-tários que possuem terrenos em até quatro módulos não são obrigados a replantar as matas usadas, mas ainda respeitando a distâncias das APPs. Já para quem possui terrenos maio-res, a reconstrução é obriga-tória. “A Prefeitura apoia este ato, com doações de mudas e programas de reflorestamento, tudo feito de forma gratuita”, completa Chen. Ação que Cé-zar critica, pois os proprietários podem trocar a sua quantidade

de mata que deveriam replan-tar e cuidar, por doações de mudas ao viveiro da cidade.

Bragança ainda está passan-do por um mapeamento de áreas de proteção permanente e possui diversos programas de incentivo à plantação, tanto para as áreas urbanas da cida-de, quanto para as áreas degra-dadas do Rio Jaguari e APPs.

Piracaia fez um plantio de mudas de espécies nativas em uma área de mata ciliar degra-dada, às margens do rio Ca-choeira, que marcou o lança-mento do Programa Nascente, além de contar com as áreas de reflorestamento e prote-ção de mananciais da Sabesp.

A Prefeitura de Piracaia não se pronunciou acerca dos efei-tos do Novo Código Florestal até o fechamento da matéria.

Atibaia também sofreu com as alterações no Código Flo-

restal. Segundo Maitê San-doval, ecóloga e mestre em Geociência e Meio Ambiente pela UNESP de Rio Claro e funcionária da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, o Novo Código Florestal afetou o município principalmente nas áreas de várzea do Rio Atibaia. Agora, a contagem começa a partir do leito já existente do rio, desconsiderando o quanto ele enche nas épocas chuvas.

Daniel Borghi, formado em Gestão Ambiental e pós-gra-duado em Engenharia Am-

biental e diretor de Meio Am-biente da Secretaria de Urba-nismo e Meio Ambiente de Atibaia, diz que as alterações do Novo Código Florestal afe-taram a cidade, mas o municí-pio já possuía uma legislação ambiental sobre a várzea do rio Atibaia, uma lei que pre-serva mais que o antigo código. Antes da aprovação do Novo Código Florestal, pedia-se que fossem preservados 50 metros, já a Lei da Várzea do município protege mais 200 metros. “No Antigo Código Florestal, nós protegíamos 250 metros. Hoje, com o novo, apenas 50 metros. Porém, tendo a lei municipal, ainda temos 200 metros de proteção dentro do curso da água definido”, disse Borghi.

Outra perda do município com o novo código, segundo Maitê, foram as APPs de topo de morro. Elas ainda existem,

mas da forma que está sendo feito o cálculo atualmente em todas as regiões do sistema Cantareira, inclusive em Ati-baia, essas APPs foram prejudi-cadas e praticamente sumiram.

Uma das mudanças expres-sivas do novo código diz que as atividades até 22 de julho de 2008 serão anistiadas, tan-to de desmatamento quanto atividades agro-civil-pastoril. “Essas atividades vão poder continuar acontecendo nas áreas de proteção de forma sdiferentes nas APPs de topo de morro e nas APPs dos rios, mas elas ainda serão permiti-das, então, com certeza, have-rá uma perda”, ressalta Maitê.

Para Borghi, um grande an-seio era que o código florestal resolvesse as questões da área urbana. “Entendemos que teve um questionamento da bancada ruralista e que tendeu a resolver as questões de área rural, mas deixou em aberto as questões da área urbana”, disse o diretor.

Para Maitê, num primeiro momento acredita-se que hou-ve uma perda não só em Ati-baia, mas no Brasil inteiro com esse novo código. “Nós perde-mos áreas de várzeas, parte das APPs de topo de morro, mas também houve alterações nas áreas de restingas e manguezais”, inexistentes na região, conclui.

Também em Atibaia, fica a Represa da Usina, APA es-tadual administrada pela Sa-besp. “A represa é uma área de recuperação da Sabesp, não do proprietário daquela chá-cara”, conta Leonardo Cézar. Projetos estão sendo feitos so-bre aumentar a área de prote-ção nas represas, portanto, o que já foi construído não será alterado, mas as novas cons-truções podem ser barradas.

DIEGO LIMA

Chen: já é possível sentir o efeito do Novo Código na cidade

Cézar: donos podem trocar mata replantando mudas de doações

Borghi: legislação municipal preserva mais que o antigo código

Maitê: várzea tem agora contagem a partir do leito já existente do rio

LETÍCIA DIAS

Opiniões divergem sobre o Código FlorestalLucas Borges

O Novo Código Flores-tal, que está em vigor desde 2012, ainda gera polêmica, tendo como desfecho mais recente a ampliação do prazo de um ano para que proprietários façam seus registros no CAR, Cadastro Ambiental Rural. Esse fôle-go contempla cerca de 5,4 milhões de proprietários.

Essa prorrogação tem em seu cerne a “lei da Água”, porque a instrução norma-tiva do Governo Federal na medida em que regulamen-ta os Programas de Regula-rização Ambiental (PRAs), traz em si a redução das Áreas de Proteção Ambien-

tal (APPs) e as matas ciliares.A divergência reside basi-

camente no posicionamen-to de vários deputados que compõem a Bancada Rura-lista, que visam ao lucro a curto prazo com uma área de produção livre ainda maior. Na outra ponta, estão os am-bientalistas que pregam uma maior conscientização sobre o assunto, com destaque para menor desmatamento que garanta melhor qualidade de vida para todos.

Em meio a estes embates, o professor Antonio Edson Monteiro Laurenti, mestre em Geografia pela UNESP, desenvolve um trabalho com seus alunos comparando o Antigo e o Novo Código Flo-

restal. Para ele, que leciona Gestão Ambiental na Etec Carmine Biagio Tundisi, “a escola é o local onde se tem a primeira experiência com os assuntos que envolvem política ou meio ambiente”.

Laurenti aponta que as rejeições ao atual modelo surgem espontaneamente, já que a maioria das crian-ças e adolescentes já sabem um pouco da situação da fauna e da flora brasileira. Nesse sentido, faz questão de destacar que, nessa fase da crise hídrica, a mídia tem cumprido um papel importante, exibindo com frequência a necessidade de mudanças na sociedade como um todo.

LETÍCIA DIAS

Antes da aprovação do Novo Código, pedia-se que fossem preservados 50 metros, já a Lei da

Várzea de Atibaia, protege mais 200 metros

SAMANTA WUNSCH SAMANTA WUNSCH

Page 8: Matéria Prima - Código Florestal

8 MAIO 2015 • Matéria Prima

Vilões da agricultura orgânica, agrotóxicosoferecem significativos riscos ambientais

Produção sem o uso de químicos sintéticos busca a qualidade de vida e do meio ambiente

Lucian OliveiraMonika Schulz

Agrotóxicos são os produtos químicos usados na agricultura convencional. Sua função prin-cipal é combater, impedindo ou matando as pragas que atingem as produções. Dentre os agro-tóxicos, também se incluem os dessecantes, os desfolhantes e as substâncias reguladoras do cres-cimento vegetal, conhecidos como os fitorreguladores. O uso dos agrotóxicos representa sig-nificativos riscos ambientais e à saúde humana, pois além de po-luir a atmosfera, a água e o solo, causa outros tipos de contami-nação. Segundo a EMBRAPA, os agricultores convencionais, em uma aplicação de alto vo-lume, em plantações rasteiras, utilizam em média 600 litros de agrotóxico por hectare e, em plantações com arbustos e árvo-res, cerca de 1000 l/ha.

A agricultura orgânica, prá-tica adotada desde o início do século XX, é um sistema de pro-dução agrícola de alimentos e produtos animais e vegetais, su-cedidos sem o uso de químicos sintéticos, como os agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes quí-micos. Seu objetivo principal é

a preservação da saúde do meio ambiente, da biodiversidade, dos consumidores e dos próprios agricultores. Busca a qualidade de vida respeitando as relações sociais e culturais. Este tipo de cultivo desenvolve e utiliza tec-nologias apropriadas à realidade de cada lugar, oferecendo har-monia entre os elementos da na-tureza e os seres humanos.

“Se uma pessoa ingerir regu-larmente alimentos cultivados com agrotóxicos, futuramente terá uma grande probabilidade de ter doenças graves. E devi-do à legislação dos fertilizantes químicos, dos danos à saúde e ao meio ambiente, o Brasil vem aumentando o número de agricultores que produzem ali-mentos sem o uso dos químicos sintéticos, embora seja difícil a aquisição do certificado”, afir-mou Aurélio Abreu, agrônomo e coordenador de agricultores orgânicos.

“Na agricultura convencio-nal são utilizados adubos quí-micos, agrotóxicos, na tentativa de defender as plantações con-tra as pragas e aumentar a pro-dução. No caso da agricultura orgânica, ela é amparada pela lei 10.831, de 23/12/2003, que proíbe o uso dessas práticas”,

explicou Jarbas Cordeiro, admi-nistrador e coordenador de ma-nutenção da Korin.

A utilização dos agrotóxi-cos, na maioria das vezes, não é realizada da forma correta ou na quantidade recomendada, por isso, plantações de agri-cultura orgânica vêm sofrendo para protegerem o seu cultivo. Esse transtorno se deu no Sítio Keiji Watanabe, localizado no bairro Rio do Peixe, na Cidade de Cambuí, Minas Gerais. Este sítio sempre cultivou hortaliças, tendo como produção principal o morango. Durante uma ven-da na feira dos orgânicos, há 12 anos, um fiscal que realiza a vistoria das hortaliças a cada seis meses verificou a presença

de vestígios químicos. Diante dos fatos, o fiscal entregou uma notificação e restringiu a venda dos produtos até a averiguação seguinte.

Após estudos e pesquisas, os agricultores e especialistas des-cobriram que os agrotóxicos uti-lizados pelo produtor vizinho, convencional, estavam conta-minando o solo e atravessando o Rio das Antas e um pedaço de solo que havia entre as proprie-dades. Com isso, a plantação or-gânica teve que realizar diversos manejos dentro do seu terreno. Aumentou as plantações de cer-ca viva, mudou a fonte de abas-tecimento de água e dispensou a safra. O descarte da safra foi ocasionado pela proibição da

venda do produto como orgâ-nico e a falta de interesse dos mercados em revendê-lo. “Está-vamos preocupados, pois se não conseguíssemos descobrir a ori-gem do problema, poderíamos perder o certificado e deixar de vender nossos produtos”, expli-cou Nair Ynone, agricultora há 20 anos e instrutora do curso de Alimentação Natural da Igreja Messiânica Mundial do Brasil.

O pesadelo na vida desses agricultores durou quatro me-ses, pois a safra de abobrinha contaminada era considerada de produção rápida. Em segui-da, a averiguação não verificou mais nenhum indício de subs-tâncias químicas, possibilitando a continuidade da produção or-gânica.

Atualmente existem ajudas financeiras de órgãos para que esses produtores se lancem em um mercado considerado como “novidade”. Os agricultores or-gânicos esperam que, com o passar do tempo, o avanço tec-nológico, a conscientização e o surgimento de novos produto-res do mesmo tipo de cultivo, aumente a produção, cresça a oferta e consecutivamente di-minuam os preços para o con-sumidor.

A evolução do Código Florestal no BrasilJuliana Dorigo, Laila Faria,

Carlos Eduardo

Trinta anos depois de rece-ber a denominação de Código Florestal, por meio do decreto 23.793/34, assinado pelo presi-dente Getúlio Vargas, este ins-trumento foi revisado em 1965, com o Decreto de Lei 4.771/65. Para atender ao avanço da agricultura e sua adequação, é sancionado o Projeto de Lei 1.876/99, que reduziu as faixas mínimas de preservação pre-vistas pelas APPs e das zonas de RL (Reserva Legal). Nesse sen-tido, acentua o Coordenador do curso de Direito da FAAT Faculdades, Orivaldo Leme Biagi, “quando as questões ecológicas ganharam devida importância e se tornaram leis públicas, o desmatamento co-meçou a se tornar desenfreado

devido a questões de aumento populacional, principalmen-te na Amazônia com a criação da Rodovia Transamazônica”, a seu ver “símbolo da evolução da agricultura e desmatamento na Amazônia”.

A mais recente alteração do Código Florestal, feita pela presidente da República Dil-ma Rousseff, em 2012, exige dos proprietários de imóveis rurais o reflorestamento da ve-getação nativa em percentuais de Reserva. Sancionado com vulnerabilidades, sofreu rejei-ção popular, que pediu veto. A presidente não vetou, mas sugeriu algumas alterações no artigo, que na prática beneficia grandes produtores e preju-dica pequenos agricultores e o meio ambiente. Para Biagi, “essa questão é muito grave, porque a expansão agrícola

do Brasil é de poucos produ-tos que ocupam grandes ex-tensões em solo”. A seu ver, a questão está longe de ter uma solução, sem previsão para uma lei definitiva. No cerne dessa questão considera-se o expressivo número de empre-go e renda desse setor, sendo ideal “um ponto de equilíbrio entre grandes produções que fluem a economia e a preser-vação ambiental”, destaca.

Para o engenheiro agrôno-mo da Coordenadoria de As-sistência Técnica Integral do Governo do Estado (CAT) da cidade de Atibaia – São Paulo, Marcos Albertini, a nova lei ambiental ao mesmo tempo em que autoriza a continuida-de das atividades agropecuárias cria a obrigação de recuperação

JULIANA DORIGOambiental. Este instrumento também possibilita trazer para a legalidade os produtores ins-critos no Cadastro Ambiental Rural (CAR) para que façam a adesão ao Programa de Recu-peração Ambiental (PRA).

Exemplo disso vem do sul de Minas Gerais, onde a ONG Copaíba complementa a pro-dução de mudas nativas e a restauração da mata atlântica das bacias dos rios Peixe e Ca-manducaia – que abrangem 20 municípios do Sul de Minas Gerais e do leste do Estado de São Paulo. Os proprietários da região fazem questão de recu-perar um raio de 50 metros, quando a obrigatoriedade é de apenas 15 metros. Essa decisão levou em conta a rígida seca vivenciada nos últimos anos.

MONIKA SCHULZ

Feira Orgânica no Espaço do produtor rural da Zeferino Alves do Amaral

Leia reportagem completa em https://jornalismofaat.wordpress.com