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A humanidade enfrenta hoje grandes mudanças na biosfera associadas não somente ao aquecimento global (emissões de CO2, CH4, etc), mas também decorrentes da destruição, alteração ou fragmentação de biótopos ou mesmo de biomas inteiros, tai s como as orestas tropicais. As cidades não param de crescer. Os congestionamentos desproporcionais fazem parte de nossa rotina. Enfrentamos a degradação dos mananciais e a constante poluiç ão do ar. O lixo amontoa-se em todo lugar. O que fazer então? Ao longo das últimas duas décadas, uma série de novos paradigmas em relação à questão ambiental foram adotados pela sociedade. Uma das principais mudanças é caracterizada pelo crescente envolvimento de diferentes segmentos da sociedade na questão ambiental. Nesse contexto, a sustentabilidad e das diferentes atividades humanas aparece com força cada  vez maior. A presente obra proc ura apresent ar a reciclagem em um contexto mais amplo, mostrando as vias de conexão entre essa ativ idade e as principais c adeias produtivas da indústria moderna. Os diferentes capítulos dessa obra procuram demonstrar que a reciclagem poderá se transformar em uma das mais poderosas ferramentas para se chegar ao verdadeiro desenvolvimento sustentável.

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A humanidade enfrenta hoje grandesmudanças na biosfera associadas nãosomente ao aquecimento global (emissõesde CO2, CH4, etc), mas também decorrentesda destruição, alteração ou fragmentação debiótopos ou mesmo de biomas inteiros, taiscomo as florestas tropicais. As cidades nãoparam de crescer. Os congestionamentosdesproporcionais fazem parte de nossarotina. Enfrentamos a degradação dosmananciais e a constante poluição do ar.O lixo amontoa-se em todo lugar.O que fazer então?

Ao longo das últimas duas décadas, uma sériede novos paradigmas em relação à questãoambiental foram adotados pela sociedade. Umdas principais mudanças é caracterizada pelocrescente envolvimento de diferentes segmenda sociedade na questão ambiental. Nessecontexto, a sustentabilidade das diferentes

atividades humanas aparece com força cada vez maior. A presente obra procura apresentaa reciclagem em um contexto mais amplo,mostrando as vias de conexão entre essa ative as principais cadeias produtivas da indústriamoderna. Os diferentes capítulos dessa obraprocuram demonstrar que a reciclagem poderse transformar em uma das mais poderosasferramentas para se chegar ao verdadeirodesenvolvimento sustentável.

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502.36 Pinto-Coelho, Ricardo Motta.P659r Reciclagem e desenvolvimento sustentável no Brasil. Ricardo Mota Pinto-

  Coelho. – Belo Horizonte : Recóleo Coleta e Reciclagem de Óleos, 2009.340 p. : il.ISBN: 978-85-61502-01-0

 1. Reaproveitamentos (Sobras, refugos e etc.) - Brasil. 2. Reaproveitamentos(Sobras, refugos e etc.) - Alemanha. 3. Reciclagem (Saúde Ambiental) .4. Desenvolvimento sustentável - Brasil. I. Recóleo Coleta e Reciclagem deÓleos Ltda. II. Título.

 

CDU: 502.36

Rua Flor da Paixão, 35 - Jardim Alvorada

Belo Horizonte - MG - Brasil

CEP 30810-250

www.recoleo.com.br

• e d i t o r a • 

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

RECICLAGEM

E

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BRASIL

• 1ª Edição •

Belo Horizonte

Recóleo

2009

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S U M Á R I OP Á G I N A

C A P Í T U L O

C A P Í T U L O

C A   P Í T U L O

C A P Í T U L O

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P Á G I N A

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P Á G I N A

Produção, Consumo eReciclagem de Alumínio.

Produção e Consumo deMinerais e Reciclagem do Ferroe do Aço no Brasil.

Tipologia, Produção, Consumo eReciclagem de Plásticos.

Gerenciamento deResíduos Sólidos, Coleta Seletiva deLixo e Reciclagem.

Introdução.

Prefácio.

Citações e Dedicatórias.

A Reciclagem de Materiais naConstrução Civil no Brasil.

Produção, Consumo eReciclagem de Água no Brasil.

Produção, Consumo eReciclagem de Óleos Vegetais.

Produção, Consumo e Reciclagem deAparelhos Eletroeletrônicos.

Tipologia, Produção e Reciclagemde Pilhas e Baterias.

Produção, Consumo eReciclagem de Papel no Brasil.

Produção, Consumo e Reciclagemde Vidro no Brasil.

Reciclagem eDesenvolvimento Sustentável.

C A   P Í T U L O

C A P Í T U L O

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Binliografia

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Citações e Dedicatórias

“Se devastação e exploração irracional de recursos naturais levassemao desenvolvimento, já seríamos o mais rico e desenvolvido país domundo”.

“We all live in a yellow submarine”

Dedico essa obra a meus filhos, Sofia, Paula e Ricardinho.

Que eles possam desfrutar de um mundo mais justo e menos caótico...

Washington Novaes,Jornalista e Ambientalista

The Beatles.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Prefácio

A reciclagem é um tema cada vez mais em evidência nas sociedades modernas. Na língua

portuguesa, já podemos encontrar uma vasta literatura sobre o assunto, principalmente sob a

forma de publicações voltadas à educação ambiental. Essa literatura está formatada basicamente

sob a forma de cartilhas, panfletos e manuais. Muitas empresas, por exemplo, disponibilizam

em web sites  tais materiais em sub-temas relacionados às suas respectivas áreas de atuação.

Existe um grande número de portais e páginas de internet dedicadas ao tema. Nesse universo

virtual, pode-se extrair um grande volume de conteúdo, mas que muitas vezes é apresentado sob

forma inadequada seja no uso da linguagem ou até mesmo com conteúdos contraditórios, sem

uma fonte precisa das informações. Por outro lado, existe um crescente número de dissertações

de mestrado, teses de doutorado e artigos científicos que abordam tópicos específicos dareciclagem com grande profundidade. Alguns livros didáticos podem ser encontrados enfocado

a temática da reciclagem. Em geral, são livros com uma abordagem muito superficial do tema,

mais voltados ao suporte de campanhas de reciclagem para públicos definidos. De toda forma,

é fácil constatar que a reciclagem ambiental está entrando de vez na agenda política, econômica

e social do Brasil. Essa tendência segue, com certo atraso, o que já acontece há décadas nos

países mais industrializados principalmente nos países mais avançados da comunidade européia,

tigres asiáticos e os EUA.

Porquê um novo livro sobre reciclagem no Brasil? A presente obra pretende ser inovadora

sob dois aspec tos. Em primeiro lugar, são tratados temas ligados à reciclagem que praticamenteainda não foram tocados em compêndios do gênero publicados no Brasil. Dentre esses temas,

podemos citar a reciclagem do óleo de cozinha, a reciclagem da água no ambiente doméstico

ou ainda a reciclagem da sucata eletrônica. No entanto, o principal aspecto que diferencia e

possivelmente irá atrair novos leitores para essa obra é a sua grande preocupação em ligar

a reciclagem ambiental à questão da produção e do consumo dos diferentes materiais que

necessitam ser reciclados. Para que possa ser um sucesso, a recic lagem deve envolver as cadeias

produtivas que estão envolvidas na produção seja do papel, do aço, dos produtos eletro-eletrônicos

ou dos plásticos, dentre outros. Outra questão impor tante no presente texto é a contextualização

da reciclagem à realidade brasileira. Dessa forma, em todos os capítulos procurou-se adaptar o

conteúdo ao cenário brasileiro.

Embora os capítulos possam ser lidos separadamente, o leitor sairá ganhando se fizer

uma leitura linear da obra principalmente no sentido de perceber que os diferentes entraves ao

desenvolvimento da reciclagem dos diferentes produtos no Brasil podem ser ligados não somente

à falta de políticas governamentais e de uma melhor regulamentação da matéria pelo poder

público, mas também à falta de profissionalismo e ao excesso de informalidade no mercado

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       P      r      e        f        á

      c        i      o

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dos recicladores que atuam no país. Assim, em vários momentos, são dadas orientações para o

desenvolvimento de políticas públicas, de legislação específica e do aumento da fiscalização e

para o incremento da profissionalização dos próprios recicladores.

O livro faz algumas comparações entre processos de reciclagem que estão sendo um

sucesso e outros que poderiam estar bem mais avançados no país. Ao comparar dados e

estatísticas de produção e reciclagem de diferentes matérias primas e ainda de diferentes cadeia

de reciclagem, são oferecidos argumentos ao leitor que procuram demonstrar que o processo d

retorno de materiais pós-consumo às cadeias de produção não depende somente de tecnologia

específicas e de bases legais pertinentes. A reciclagem pressupõe a existência de estrutura e

pessoal altamente capacitados a atuar nesse front .

Diminuir resíduos e retorná-los às cadeias de produção implica na existência deum movimento de mobilização social que enseja uma mudança de paradigma no perfil do

consumidor, na agenda dos políticos e administradores públicos em geral e também numa nov

postura dos empresários. Tudo deve começar ainda na área de produção. Esse desaf io pressupõe

a existência de um comprometimento ambiental tanto da alta administração das indústrias

produtoras quanto das associações patronais e dos sindicatos trabalhistas envolvidos. Dessa

forma, pode-se afirmar que o principal aspecto inovador do livro é a constante preocupação

da obra em associar a reciclagem às cadeias produtivas que geram o passivo a ser reciclado. A

reciclagem pressupõe não necessariamente a supressão do consumo, mas a adoção de uma

postura mais consciente do consumidor. Assim, a escolha do produto a ser consumido deve se

mais criteriosa. Questões ligadas não somente à qualidade intrínseca do que irá ser consumidodevem ser levadas em consideração. Outros aspectos ligados não somente à reciclagem em

si, mas também aos impactos ambientais de sua produção devem ser analisados. De nada

adianta serem os empresários e os consumidores recicladores se o poder público não estive

altamente comprometido com a idéia. Reciclar corretamente pressupõe mudanças no sistema

de acondicionamento, coleta e tratamento dos resíduos sólidos nas cidades isso sem considera

os investimentos (e, principalmente, as mudanças pedagógicas e os programas de capacitação

profissional) que serão necessários em educação ambiental no âmbito do Ensino Fundamenta

Médio e nas universidades.

A obra, embora tenha um conteúdo vasto e trate da questão da reciclagem com grandedetalhamento, foi concebida para ser lida por diferentes tipos de público. Tanto o estudante

universitário, quanto o funcionário de uma autarquia pública bem como os diferentes profissionai

envolvidos na gestão ambiental das grandes indústrias poderão encontrar ut ilidade em sua leitura

Acreditamos que o cidadão comum e mesmo a dona de casa encontrarão orientações visando a

melhoria do “seu” pequeno meio-ambiente doméstico. Afinal, de que adianta as grandes indústria

serem (ou deveriam ser) altamente conscientes sobre suas respectivas responsabilidades na

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

questão ambiental se, ao chegarmos em casa, abusamos do consumo de água, jogamos todo

tipo de recursos no lixo indiscriminadamente e poluímos, com o fósforo dos detergentes, os

nossos lagos e rios? Afinal é em nosso lixo, nas pias de cozinha e nos tanques de lavar roupa quecomeça a degradação ambiental em nosso planeta.

Gostaria de agradecer aos estudantes do curso de graduação em Ciências Biológicas da

UFMG, particularmente os alunos das disciplinas “Ecologia Energética” das turmas de 2006,

2007 e 2008 e de “Bases Ecológicas para o Desenvolvimento Sustentável” turmas de 2009.

Os seminários e grupos de discussão e, principalmente, as práticas de campo e os projetos

temáticos formaram, sem dúvida alguma, a grande base de dados e de informações bibliográficas

que impulsionou o autor a escrever esse livro. Toda essa informação foi checada, reavaliada

e reformatada de forma a dar uma maior solidez científica e também dotá-la de uma maior

contextualização à realidade brasileira.

Um agradecimento especial aos biólogos Newton Uchoa Barbosa e Ludmila Brighenti pela

cuidadosa revisão geral do texto.

Finalmente, eu gostaria de agradecer à minha companheira, Nivia de Freitas. O seu trabalho,

profissionalismo, motivação e a sua grande capacidade para superar todos os tipos obstáculos

me inspiraram a escrever esse livro. Trata-se de uma mulher verdadeiramente guerreira e que fez

da Recóleo, uma das melhores empresas de reciclagem do Brasil.

Belo Horizonte, Agosto de 2009.

  Ricardo Motta Pinto Coelho

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Ricardo Motta Pinto

Introdução

1.0C A P Í T U

INTRODUÇÃO

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1.0 - IntroduçãoNos últimos tempos, tem crescido, em todo o mundo, a consciência ambiental da sociedade

Um marco para essa nova postura é o documento Agenda 21 aprovado na Conferência sobreDesenvolvimento e Meio Ambiente, a Eco92, realizada no Rio de Janeiro. Esse documento propõeem essência, um novo paradigma na relação capital e trabalho, agora vistos como parceiros naquestão ambiental (Pinto-Coelho, 2009).

O crescimento da consciência da sociedade sobre as questões do meio ambiente decorrnão somente do aumento da gravidade da questão ambiental em todo o mundo, mas tambémda mudança de paradigma que o documento da Agenda 21 induziu. Antigamente, as questõeligadas à poluição e aos problemas ambientais eram tratadas principalmente pelos ecólogosque dedicavam-se a um novo ramo da ciência que tratava, entre outras coisas, desse tipo deproblema. Após a agenda 21, o meio ambiente passou a tratado com prioridade crescente nas

agendas governamentais de praticamente todos os países.

Questões tais como a manutenção da biodiversidade, a recuperação dos ambientesdegradados ou a adoção de políticas públicas que garantam o desenvolvimento sustentável saíramdo ambiente puramente acadêmico e passaram a ser debatidas pelos empresários, polít icos e asociedade em geral. Afinal, toda a sociedade passou a sentir e contabilizar os prejuízos causadopelas mudanças climáticas, pela extinção das espécies nativas e pelo crescente comprometimentode nossos recursos hídricos.

Nesse novo contexto, a sociedade percebeu que a conquista de um meio ambiente menodegradado não deve estar sempre associada a lutas e conflitos entre o meio acadêmico e osórgãos do governo ou setores produtivos. Um dos principais atributos do conceito moderno degestão ambiental é exatamente a par ticipação de todos para que se possa melhorar a qualidadde vida dos cidadãos.

Antes da Conferência de Meio Ambiente e Desenvolvimento que ocorreu no Rio de Janeiroem 1992, não havia uma delimitação precisa dos papéis dos diferentes atores no processoda gestão ambiental (Fig.1.1). Um bom exemplo disso, era a idéia de que qualquer avanço naquestão ambiental somente poderia ser conquistado através de uma luta, de um conflito. Deum lado, ficavam a sociedade e meio acadêmico e do outro, perfilavam frequentemente ogoverno junto aos setores produtivos envolvidos. Nesse mundo, acreditava-se que a melhoria domeio ambiente só poderia ser alcançada através de um confronto com as indústrias poluidorasprincipalmente aquelas que geravam grandes passivos ambientais.

Não havia a percepção de que os empresários, donos dessas indústrias, os diferentes

níveis de governo ou mesmo a sociedade em geral poderiam trabalhar em conjunto ao invés dese confrontarem. Faltava a idéia de que poderíamos obter um elevado comprometimento para causa ambiental mesmo em indústrias que estavam poluindo muito o meio ambiente, bastandopara isso, que a alta administração desses empreendimentos se comprometesse a elaborar eexecutar um plano de gestão ambiental de seus respectivos negócios onde f icassem claras quaiseriam as metas a serem alcançadas no curto, médio e longo prazos.

O crescimento da consciência da sociedade sobre as questões do meio ambiente decorr

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

não somente do aumento da gravidade da questão ambiental em todo o mundo, mas tambémda mudança de paradigma que o documento da Agenda 21 induziu. Após a aprovação desse

documento pelas Nações Unidas, o meio ambiente passou a ser tratado dentro de uma perspectivade cooperação multilateral e os atores que antes atuavam em diferentes frentes na questãopassaram a buscar áreas de consenso para, em seguida, começar a atuar de modo objetivo namelhoria da qualidade do meio ambiente. O termo gestão ambiental passa agora a ocupar umaposição central em lugar de uma visão de confronto e lutas. Agora, a questão ambiental extrapolao mundo acadêmico, sendo debatida e analisada por todos os segmentos da sociedade, incluindonão somente a sociedade civil, mas também as indústrias, as empresas, o governo além domundo acadêmico (Fig.1.2).

Fig. 1.1 - Antes da Eco 92, não havia uma idéia clara das relações entre os agentes que estudam,legislam, exploram ou usam os recursos naturais no Brasil.

ConhecimentoAcadêmico

Sociedade

IniciativaPrivada

GestãoAmbiental

Governo

 Vulgarizaçãodo

Conhecimento

NovasTecnologias

Percepção do

Problema

Leis eNormas

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        I      n       t      r      o

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 1.2 - A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento Sus tentável,a Eco 92, realizada no Rio de Janeiro, definiu claramente as interconexões entre osagentes que estudam, legislam, exploram ou usam os recursos naturais. O documentogerado nessa conferência, a Agenda 21 estabelece de modo bastante objetivo os novosparadigmas da luta para a conquista de um meio ambiente mais limpo e saudável. Noentanto, muitos países não at ingiram ainda as metas propostas pela Agenda 21.

ConhecimentoAcadêmico

Sociedade   IniciativaPrivada

NovasDemandas

Governo

 Vulgarizaçãodo

Conhecimento

NovasTecnologias

Percepção do

Problema

Leis eNormas

GestãoAmbiental

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Mais recentemente, surgiu um novo conceito, a gestão ecológica (AGR, 2009). A gestãoecológica (eco-management system, EMS) já conta com padrões internacionais estabelecidos

pela norma ISO 14000 e por diretivas específicas da comunidade européia (EMSA, EU-directive).A gestão ecológica vai muito mais além do que a tradicional gestão ambiental tradicionalmenteabrange. Ela é baseada na aplicação do conceito de controle de ciclo nos diversos tipos deatividades humanas (control loop) e é conseqüência da teoria geral dos ciclos biogeoquímicosaplicados ao ambiente em questão. Em cada tipo de indústria ou atividade humana sãodeterminadas as variáveis ambientais consideradas críticas ( key figures) que quantificam aspectostais como a quantidade de lixo, as taxas de reciclagem alcançadas dentro da empresa, o seuconsumo de energia, etc. Esses números são obtidos a partir das análises dos ciclos de vida( life cycle analysis) dos diferentes tipos de matérias usados na empresa (papel, v idro, plásticos,automóveis, computadores, pilhas e baterias, material usado nas obras de ampliação e reformana empresa, óleo vegetal usado nos refeitórios, etc). Essa avaliação cobre tanto o ambiente daprópria empresa quanto de todos os seus fornecedores. Assim como nos tradicionais planos de

gestão ambiental, a gestão ecológica prevê metas que serão auditadas em intervalos regularespela alta administração da empresa. O novo conceito da gestão ecológica, porém, implica naelaboração de um plano muito mais ambicioso que objetiva melhorar o eco-desempenho globalda empresa e não apenas zerar o footprint  ambiental da mesma.

A constituição do Brasil (versão de 1988) em seu capítulo sobre o Meio Ambiente, noartigo 225 diz “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de usocomum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Apesardesse preceito legal já ter completado 21 anos, ainda temos graves problemas ambientais noBrasil. São várias as razões que fazem com que o Brasil fique no meio desse novo caminho. Sepor um lado, a comunidade científica brasileira foi capaz de promover uma verdadeira revoluçãona pesquisa científica do país colocando-o hoje como um dos 20 maiores produtores de ciênciado planeta (17º lugar segundo Hagler, 2002), por outro, ela não foi capaz de descer dos seuscastelos acadêmicos e promover uma real “vulgarização” do conhecimento científico produzidono país a tal ponto que esse conhecimento realmente impulsione grandes transformações sociais,econômicas e ambientais. Quando se fala em vulgarização, entende-se em não somente umademocratização do conhecimento, mas uma repaginação e uma decodificação da informaçãocientífica que sofre, então, uma completa reformatação estando, assim, apta a ser prontamenteassimilada pelo setor produtivo, autarquias do governo e pelos setores leigos da sociedade.

Hoje, os pesquisadores brasileiros são medidos pela qualidade (e principalmente pelonúmero) de suas publicações de nível internacional. Os pesquisadores nacionais têm dif iculdadesem serem reconhecidos no meio acadêmico a partir de conhecimentos que eles efetivamentevenham a introduzir no seio da sociedade brasileira sob a forma de produtos fora dos arquétipos

tradicionalmente usados na academia. Nesse ponto, cabe a pergunta, qual o cidadão brasileiro,político ou industr ial desse país que irá efetivamente ler os cifrados e herméticos ar tigos, escritosem uma linguagem altamente técnica ou até rebuscada que caracterizam muitos dos artigoscientíficos encontrados nos periódicos internacionais que tratam da questão ecológica?

O setor industrial brasileiro avançou de modo notável na questão ambiental. A certi ficaçãoambiental (norma ISO 14.001) e o estabelecimento dos sistemas de gestão ambiental nasempresas, podem ser citados como exemplos nesse sentido. No entanto, muito ainda resta a

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

ser feito. O dueto EIA/RIMA previsto por leis federais (Tab. 1.1) é a peça fundamental para aconcessões das licenças de instalação (L .I.) e de operação (L.O.) de empreendimentos industriaino Brasil. Ele foi um grande avanço, muito embora apresente vícios conhecidos. Além doconflitos de competência entre diferentes níveis de governo para a concessão dessas outorgas(vide Parecer 312 /MMA/2004), o principal deles talvez seja o fato de que a própria empresaempreendedora é que deve contratar e financiar o EIA/RIMA. Em decorrência, muitos dessesrelatórios são executados de modo extremamente superficial sob a responsabilidade de jovensprofissionais, quase sempre sem a experiência técnico científica necessária para a condução e/oucoordenação desses estudos. Deve-se ainda considerar o excesso do uso de dados secundárioou pesquisas pontuais que normalmente caracterizam os estudos de impacto ambiental.

Outro aspecto relevante refere-se à tendência para um excessivo investimento em

“ marketing ambiental” em detrimento da busca real de soluções para os problemas conhecidosHá no país uma demanda por pesquisas ou tecnologias que realmente possam ser aplicadaà melhoria do meio ambiente, principalmente em tecnologias voltadas para a reversão da máqualidade dos efluentes ou do passivo ambiental gerado por indústrias. Podemos encontrar bonexemplos dessa postura ambígua no setor minerário, no setor da indústria petroquímica ou aindano sistema das concessionárias de hidroeletricidade. Assim, são ainda muito comuns os relatode acidentes ambientais em minerações, vazamentos de grande expressão em petroquímicasou plataformas off shore e terminais de importação e exportação de petróleo. A qualidade deágua e a queda da biodiversidade de peixes é um problema comum para a grande maioria dosreservatórios onde se produz hidroeletricidade no Brasil. Os acidentes com derramamento de óleotornaram-se manchetes freqüentes nos jornais e a gravidade desses eventos levaram o governoa editar uma resolução específica sobre o assunto (vide a resolução 293/2001 do ConselhoNacional do Meio Ambiente - CONAMA que cria o plano de emergência para incidentes depoluição por óleo) que mais tarde virou lei (Lei 9.966/2000 - prevenção, controle e fiscalizaçãoda poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas).

O governo brasileiro talvez seja o setor que mais avançou em relação aos pr incipais pontoda Agenda 21. Desde o início da década de oitenta, já estava em curso uma reorganizaçãodo estado brasileiro para se adequar às novas exigências em termos de meio ambiente. OIBAMA foi re-estruturado, foram criados os comitês de bacias, os estados passaram a controlamais eficazmente os poluidores e pesadas multas hoje atingem os principais poluidores dopaís. Algumas leis pré-existentes (ex: Lei 6.938 sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, de31/08/1981) foram aperfeiçoadas e regulamentadas. Novas e importantes leis foram votadae estão atualmente em fase de implementação ou de regulamentação (Tab. 1.1). As principaisdiretrizes para a execução do licenciamento ambiental estão expressas na Lei 6.938/81 e nas

Resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA nº 001/86 e nº 237/97. Apesade todos esses avanços do Estado, é importante destacar que, muito embora a reciclagemambiental possa estar subentendida em vários desses ins trumentos legais, não existe nenhumlei específica que institua uma política nacional de reciclagem ambiental no país.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

LEI NÚMERO ASSUNTO

Lei Nº 4.771/1965 A lei cria o Código Florestal.

Lei Nº 5.197/1967 Dispõe sobre a proteção a fauna.

Lei Nº 6.938/1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismosde formulação e aplicação.

Lei Nº 7.804/1989

Altera a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a PolíticaNacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação eaplicação, a 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, a 6.803, de 2 de junhode 1980, e dá outras providências.

Lei Nº 9.433/1997Dispõe sobre a Política Nacional de Recursos Hídricos e institui o sistemanacional de gerenciamento de recursos hídricos.

Lei Nº 7.661/1998 Insti tui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro.

Lei Nº 9.605/1998 Lei dos Crimes Ambientais.

Lei Nº 9.984/2000

Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas - ANA, entidadefederal de implementação da política nacional de recursos hídricose de coordenação do sistema nacional de gerenciamento de recursoshídricos.

Lei Nº 9.985/2000 Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC

Lei Nº 11.445/2007 Dispõe sobre as diretrizes nacionais para o Saneamento Básico.

Tab. 1.1 - Principais leis federais que fundamenta a aç ão do governo federal na questão ambiental.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente - MMA - http://www.mma.gov.br/estruturas/171/_legislacao/ 

A sociedade organizada brasileira também reagiu aos novos paradigmas lançados pelaAgenda 21. Numa análise superficial, poder-se-ia mesmo afirmar que esse segmento teria sido oque mais avançou na questão ambiental. No início dos anos noventa, houve um grande aumentodas organizações não governamentais (ONG´s) no Brasil. Uma parte delas vem exercendoum trabalho de alto nível, com atuações exemplares e que deve ser reconhecido por todos.No entanto, houve denúncias de corrupção em alguns casos. Em outros, essas organizaçõespassaram a ser objeto de críticas do setor produtivo por defenderem interesses externos.Houve casos onde as ONG´s acabaram por aguçar ainda mais as tensões sociais em áreas jáproblemáticas, tal como a Amazônia. Em decorrência, conclui-se que essas organizações devem

atuar juntamente com o Estado e não tomar o seu lugar. Estimular a criação de ONGs nãosignifica, necessariamente, estimular a inserção da sociedade nas questões do meio ambiente.Para uma visão mais aprofundada dos problemas e desafios enfrentados pelo terceiro setor,particularmente nos aspectos ligados à gestão das ONG´s, recomenda-se acessar Ckagmazaroff

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

(2006). Hoje, é fácil constatar que muito foi dito e feito em nome da sociedade, mas poucacoisa, de fato, emanou verdadeiramente do anseio popular no Brasil na questão ambiental

Poquê será? Este livro objetiva, em essência, a responder a essa questão.

A sociedade brasileira se interessa, evidentemente, pela Amazônia e pela plataformacontinental. Ela é capaz de sentir os efeitos perversos das mudanças climáticas e está muitosensível com a perda generalizada da riqueza de espécies em nossos ecossistemas. No entantoa sociedade brasileira é hoje, fundamentalmente, uma sociedade urbana, já que a grande maioridos brasileiros vive hoje em cidades de porte médio ou em grandes áreas metropolitanas. O qumais afeta os brasileiros de hoje são os problemas associados à vida urbana. O meio ambienturbano no Brasil necessita de cuidados intensivos. Os ecólogos devem dar mais atenção àEcologia Urbana no Brasil. Em decorrência da falta dessas informações, o governo ainda tempolíticas ambíguas nas questões ambientais que degradam as cidades. Muitas indústrias pesadaaté que investiram nos jardins de nossas praças, em novos parques ou reservas e mesmo em

programas de educação ambiental. No entanto, a grande maioria das cidades brasileiras aindanão tem coleta seletiva de lixo e não apresenta programas eficazes de reciclagem ambiental. Ouso quase que doentio do automóvel impede que se invista em transporte público de qualidadeciclovias ou mesmo que incentive o simples andar a pé. Existe uma grande proliferação defavelas nas principais cidades do país. Em decorrência, os mananciais urbanos estão poluídos, olagos e reservatórios urbanos estão hipereutróficos. Os lotes vagos muitas vezes são depósitode entulho de construções e transformam-se rapidamente em criatórios de mosquitos da dengue de vetores de leishmaniose. A grande ver ticalização das cidades brasileiras gerou ilhas de caloe de congestionamentos. Onde está a linha comum a todos esses males?

Em suma, vivemos hoje em um cenário urbano caracterizado por uma perda de qualidadambiental generalizada. Nesse contexto, a sociedade passou a perceber que os recursos naturai

são finitos e que devemos mudar comportamentos, adotar novas tecnologias, induzindo asempresas, o governo e a sociedade em geral a adotarem a “economia da rec iclagem”.

Há mais de três décadas, um grande ecólogo, Ramon Margalef (Margalef, 1977) chamavaa atenção para o lixo, para ele definido como recurso “fora de lugar”. Outro grande ecólogoRichard Vollenweider (Vollenweider, 1976), demonstrou a interdependência entre o crescimentopopulacional, o aporte de fósforo nos mananciais e a eutrofização das águas, em todo omundo.

Reciclar é economizar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao ciclo produtivoo resíduo que seria jogado fora, na forma de matéria-prima. Reciclar implica em gerar menoslixo, menos esgoto e assim contr ibuir para um ambiente mais sadio, garantindo não somente a

preservação de nossa espécie, mas também todas as formas de vida nesse maravilhoso planetazul, a Terra.

A vida urbana, para que possa tornar-se viável, deve estar atrelada a um novo conceitode se viver e trabalhar. O conceito que está por trás dessa nova postura é o da sustentabilidadeTrata-se de um conceito sistêmico, relacionado com a continuidade dos aspectos econômicossociais, culturais e ambientais da sociedade humana (Wikipédia, 2009). O conceito irá implicaem uma revisão de todos os modelos de desenvolvimento até hoje adotados. A humanidade tem

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

o direito a preencher as suas necessidades básicas e expressar todo o seu potencial no presentedesde que atenda ao pré-requisito de preservar a biodiversidade, os processos ecológicos e,

assim, todos os tipos de ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a manter a biosferatal como ela a recebeu de modo permanente.

A sustentabilidade é, portanto, o equilíbr io entre ações economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente cor retas, sejam elas praticadas por indivíduos ou por empresas. Acredita-se que esse conjunto de conceitos será o elemento dominante na maioria das empresas eorganizações que irão ter sucesso no futuro. Nesse contexto, aparece outro conceito muitorelevante para que se possa melhorar a vida nas cidades: o conceito da reciclagem. Reciclar,no contexto da sustentabilidade, significa educar e mobilizar a sociedade, coletar e reprocessardejetos e restos da sociedade, gerando uma nova classe de produtos que possa ter aceitaçãono mercado, sob estrita obediência a todos os preceitos legais pertinentes. A reciclagem éum pressuposto da sustentabilidade uma vez que qualquer atividade de reciclagem deve ser

economicamente viável e contribuir para a manutenção das paisagens e processos ecológicosvitais na área onde o rec iclador atua.

No início dos anos setenta, um grupo de cientistas se reuniu para traçar um panoramasobre o futuro do planeta terra. O produto do esforço desse grupo, também conhecido comosendo o “Clube de Roma”, gerou uma importante publicação (Meadows et al. 1978). Emboramuitas das previsões não tenham sido concretizadas, especialmente quanto aos reais limitesdo crescimento da civilização humana, o principal ponto dessa obra foi o de chamar a atençãopara o fato de que existem realmente esses limites de crescimento e que a humanidade estáperigosamente se aproximando de várias dessas fronteiras. Um dos aspectos que esses cientistaschamaram a atenção foi para o crescimento das concentrações de gases formadores do “efeitoestufa” e para o seu potencial em causar mudanças climáticas. No entanto, poucos eram aquelesque, nos anos 60 e 70, queriam falar sobre esse assunto. Outras questões, tais como, os efeitosdevastadores que o DDT estava fazendo na avifauna dos EUA, sensibilizavam muito mais osecólogos e ambientalistas dessa época (Carson, 1962).

O Brasil está em um momento de grande crescimento econômico. A base para essecrescimento pode ser vista em nossa matriz energética que é caracterizada por dois aspectosmuito importantes (Fig. 1.1): (a) um elevado percentual da energia elétrica produzida no paísé fornecido pela hidroeletricidade, tida e havida como uma fonte “limpa” de energia; (b) umacrescente queda em nossa dependência externa de importação de petróleo. Esses dois aspectospodem, de início, nos remeter a uma conclusão singela de que o país está diante de um “ciclovirtuoso” de crescimento sustentável. Isso seria verdadeiro se estivéssemos no início do século

passado. Hoje, as variáveis que regulam o crescimento econômico dos países são várias e ospadrões de interação entre elas muito mais complexos do que há um século. Variáveis taiscomo o índice de desenvolvimento humano ou os índices de qualidade ambiental poderão sertão ou mais importantes do que o total de barris de petróleo produzidos pelo país. E afinal,as hidroelétricas não são tão limpas assim: elas são responsáveis por extinções regionais deinúmeras espécies peixes (Vono, 2002). Pesquisas recentes também identificaram os grandeslagos das hidroelétricas como fontes de onde emana o metano, um dos gases mais perigosospara o aumento da temperatura global (Kemenes et al . 2008).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 1.3 - Crescimento da produção de petróleo e das principais fontes de energia elé trica no Brasil no período2000-2006. Um dos aspectos mais relevantes desse período é a grande queda observada na dependênciaexterna do pet róleo. Isso foi obtido não somente com o aumento da produção nacional de óleo bruto, mas

também com a crescente importância dos biocombustíveis e do gás natural em nossa matriz energética.

Nesse livro, iremos demonstrar que uma grande parte da energia produzida no país aindahoje é canalizada para que o país se torne um grande fornecedor de matéria-prima. Esse modelode desenvolvimento econômico pode até amenizar localmente a crise de liquidez que os paíseindustrializados estão sofrendo nesse momento (fev, 2009), mas, na verdade, esse mesmomodelo impede que o país cresça de forma vigorosa e sustentável, a longo prazo. Como grandeexportador de matéria prima e produtos semi-acabados, o Brasil permanecerá em uma eternadependência do preço internacional de algumas poucas commodities  que perfazem a maioparte de nossas exportações (minérios, produtos agro-pastoris, biocombustíveis e celulose)Esse perf il, na realidade, tende a fazer com que o país f ique sempre em uma posição de grandfragilidade em relação à economia mundial. É preciso repensar o modelo de desenvolvimento

econômico, adotando, progressivamente, a sustentabilidade nas diferentes cadeias produtivasVeremos o quanto o Brasil já avançou e o quanto ainda deve avançar nessa questão. A reciclagem de materiais não somente se insere, mas é um dos pilares desse novo tipo de modelo dedesenvolvimento.

O termo reciclar nos remete a teoria ecológica. Afinal, a ciclagem biogeoquímica dos elementos é tratada com destaque em quase todos os livros-texto de Ecologia ( i.e : Krebs, 1994Pinto-Coelho, 2000, Begon et al . 2007) e própria rec iclagem de resíduos humanos já vem sendo

Hidroelétricas Petróleo Termoelétricas Dependência Externa - Petróleo

Produção de Energia - Brasil (2000-2006)

0

5000

10000

15000

20000

25000

0

50

100

150

200

250

300

350 80000

60000

40000

20000

0-10

0

10

20

30

40

   P  e   t  r   ó   l  e  o   (  m   i   l   h   õ  e  s  m

   3   )

   T  e  r  m  o  e   l   é   t  r   i  c  a  s   (   M   W   )

   P  e  r  c  e  n   t  u  a   l   (   %   )   d  e   d  e  p  e  n   d   ê  n  c   i  a  e  x   t  e  r  n  a  -   P  e   t  r   ó   l  e  o

   H   i   d  r  o  e   l   é   t  r   i  c  a  s  -   (   M   W   )

1998 2000 2002 2004 2006 2008

Ano

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

tratada pela ciência ecológica (Hinrichs & Kleinbach, 2003). Assim, podem-se encontrar seçõesinteiramente dedicadas aos ciclos do carbono, nitrogênio, fósforo, enxofre ou da água. Os ciclos

biogeoquímicos são descritos tanto em termos estruturais, ou seja, através da descrição e quan-tificação dos principais compartimentos existentes quanto em termos funcionais, ou seja, emtermos dos principais processos envolvidos. Assim, certos tipos de ciclos, tais como o ciclo dofósforo, são classificados como sendo ciclos sedimentares uma vez que os maiores depósitosabióticos desses elementos encontram-se sob a forma de rochas sedimentares (Pinto-Coelho,2000). Em outros tipos de ciclos, tal como no ciclo do nitrogênio, o principal depósito abióticoencontra-se na atmosfera. Existem ainda ciclos mistos, tais como os ciclos da água ou do enxofre,onde a fração não incorporada na biomassa dos organismos pode ser encontrada tanto sob a for-ma sedimentar quanto na atmosfera. Um aspecto importante de todos os ciclos biogeoquímicosvitais para a vida na biosfera está na precisa identificação das vias de incorporação e excreçãodesses elementos pelos organismos (Fig. 1.4). Apesar de todo o conhecimento adquirido pelosecólogos ao longo das últimas décadas, existem ainda muitas lacunas de conhecimento quandose aplica essa teoria a reciclagem de materiais pelo homem (Fig. 1.5)

Fig.1.4 - Principais depósitos bióticos e abióticos dos ciclos biogeoquímicos na biosfera te rrestre(Fonte: Pinto-Coelho, 2000).

Heterótrofos

DepósitoAbiótico(rápido)

Depósito

Abrótico(lento)

PlantasIngestão

 Taxas deexcreção(internal load)

Sedimentação Intemperismo

AbsorçãoExudados

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        d      u      ç       ã      o

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Ciclos biogequimicos

(como poluentes)

Aterro eETE

Coletatradicional

Coletaseletiva

Nova tecnologias

Mobilização social

Legislação

Recursos naturais

Esgoto e lixo

Consumo humano

PassivoAmbiental

 Triageme separação

Processamento

Reciclagem

Novos recursos

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A reciclagem humana pode interferir diretamente em um grande número de rotas e depósitos dos ciclos biogeoquímicos tradicionais (Tab. 1.2). Essa interferência pode acontecer dedois modos muito claros: (a) diminuindo a taxa de utilização dos recursos naturais (água, metaispetróleo e outras formas de energia); podendo essa diminuição estar associada a um menoimpacto ambiental decorrente de uma menor necessidade de obtenção e industrialização desserecursos necessários para o consumo humano; (b) diminuindo o passivo ambiental gerado peladeposição contínua e crescente (muitas vezes inadequada) dos dejetos, efluentes e resíduosassociados ao uso contínuo desses recursos.

Fig. 1.5 - Uso de recursos naturais, geração de passivos ambientais e a inclusão da reciclagem ambiental como alternat ivde racionalização no uso de todos os recursos usandos na civilizção moderna. A reciclagem normalmenteestá associada aos programas de coleta seletiva, envolve toda uma nova cadeia produtiva que requer novatecnologias, grande mobilização social, legislação específica, dentre outros aspectos. As empresas dreciclagem normalmente se especializam em uma das três fases típicas do processo:(a) na triagem e separação dos resíduos, (b) reprocessamento e (c) fabricação de novos produtos.Original: RMPC

A Reciclagem e o Consumo Humano

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Recurso Elemento a ser reciclado Bem de Consumo

Bauxita AlEmbalagens, utensílios domésticos ematerial para indústria de transporte.

Minérios de Ferro,aços e ligasmetálicas

Fe, C, Mn, Cr, Si, Ca, V, Mo,Ni, W, Ti, P

Material de transporte, construção civil,utensílios domésticos.

Minério de Cobre Cu Fios e material elétrico em geral

Metais traços Cd, Pb, Mn, Ni, Zn, Hg, LiPilhas, baterias e produtos eletro-eletrôni-cos em geral.

Petróleo e

derivados C PlásticosBarrilhaAreia

Ca, Na, S, Si, C, B Vidros planos e não planos

Matéria Orgânica C, P, N, S, H, O Alimentos, bebidas, detergentes, óleos, etc.

Água H, OÁgua para beber, preparar alimento, higienepessoal, irrigação, uso industrial, usoagro-pastoril

Biocombustíveis C,N,S Etanol, biodiesel.

 Original: RMPC.

Outro aspecto ecológico relevante da reciclagem é a economia gerada no uso das fontes

de energia sejam elas renováveis ou não. Assim, a reciclagem ambiental pode contribuir de mododecisivo para a redução da emanação dos gases causadores do chamado “efeito estufa”, princi-palmente o CO2 (gás carbônico) e o CH4 (metano).

A reciclagem, por outro lado, pode induzir a um vigoroso aumento da atividade econômica,gerando muitos empregos e o que é mais importante: empregos que demandam envolvimentocomunitário, que promovam a inclusão social e que cont ribuam para a diminuição das diferençassócio-econômicas entre as classes sociais.

Apesar da importância do tema, são ainda poucas as publicações que tratam sobre a reci-clagem de resíduos humanos no Brasil. Existem pequenas obras voltadas especificamente para aquestão da reciclagem ( i.e: Nani, 2008). Muitas publicações técnicas estão disponíveis sobre temas

específicos da reciclagem ( i.e: Padilha & Bontempo, 1999; Rolim, 2000; Pereira & Yallouz, 2003;Medina & Gomes, 2002; Esmerado, 2007; Fabi, 2004; Martins, 2006, Mota et al . 2006). É crescenteo número de trabalhos acadêmicos tais como dissertações de mestrado ou teses de doutoramento(Pinto, 1999; Valt, 2004, Silveira, 2008). Merece destaque o elevado o número de web sites de in-ternet com informações sobre o tema ( i.e: Ambiente Brasil, 2009; CEMPRE, 2009, Reciclar é preciso,2009, Recicláveis, 2009; Setor Reciclagem, 2009; ISA, 2009; Plastivida, 2009, dentre outros). Entre-tanto, não existe ainda um amplo tratado sobre a reciclagem, voltado à realidade brasileira, uma obraque seja abrangente e, ao mesmo tempo, possua a necessária profundidade técnica.

Tab. 1.2 - A reciclagem humana pode inter ferir diretamente na c iclagem biogeoquímica de algumas dezenasde diferentes elementos constituintes da crosta terrestre. Abaixo, é dada uma relação dos principaiselementos bem como dos recursos naturais e bens de consumo a eles associados.

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Ricardo Motta Pinto

Gerenciamento de

Resíduos Sólidos,Coleta Seletiva de Lixoe Reciclagem

2.0C A P Í T U

2.1 - Introdução

2.2 - Composição do lixo doméstico no Brasil

2.3 - Sistemas de coleta de lixo

2.4 - Tratamento do lixo

2.5 - Classificação dos aterros e resíduos segundoo Conselho Nacional do Meio Ambiente –CONAMA (Resolução 06 de 15/06/1988).

2.6 - Sistemas de coleta e reciclagem de resíduossólidos

2.7 - Coleta seletiva

2.8 - Panorama comparativo da coleta de lixo naAlemanha e no Brasil.

RESÍDUOS SÓLIDOS

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   R  e  s   í   d  u  o  s   S   ó   l   i   d  o  s

28

2.1 - Introdução

O gerenciamento dos resíduos sólidos gerados pelo homem e os seus animais domésticos pode ser considerado como sendo um dos maiores desafios da trajetória atual da civ ilizaçãohumana. O gerenciamento dos resíduos sólidos pode ser decomposto nas seguintes etapaslimpeza pública e doméstica, acondicionamento, sistemas de coleta de lixo, sistemas tratamentoreciclagem e disposição final dos resíduos não reciclados.

Existe uma considerável diversidade de resíduos sólidos que são gerados tanto nas c idadequanto na área rural (Tab. 2.1). Antes de se pensar na reciclagem deve-se ter em mente que nemsempre todo tipo de resíduo sólido pode ser reciclado mesmo pertencendo a uma classe de produtos teoricamente reciclável. Um caso típico são os resíduos hospitalares e da área da saúde emgeral ou ainda as embalagens de agrotóxicos e de fertilizantes. Esse tipo de resíduo exige umadisposição adequada e não deve ser usado em programas de reciclagem convencionais.

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Origem Tipo de Resíduo Sólido

Urbano

Residencial/doméstico;Comercial, institucional e outros serviços;Resíduos e material de descarte da construção civil (entulhos, etc);Especial (certos tipos de lixo hospitalar, resíduos de baixa radioatividade, lixoindustrial especial e lixos de portos e aeropor tos);Área da saúde excluindo o lixo infecto-contagioso (lixo comum de hospitais,postos de saúde, farmácias, clínicas e laboratórios);Séptico ou infecto-contagioso (lixo especial contendo potencialmente vetores de

doenças infecto-contagiosas);Público (varrição, capina das ruas e remoção de grandes volumes);Lama de ETE;

Industrial Indústrias de transformação, alimentícias etc;

Agrícola

Embalagens de agrotóxicos e fertilizantesMaterial de poda;Excrementos;

Radioativo

Lixo e combustíveis de reatores nucleares;Raio X;Armas;

Tab. 2.1 - Tipologia dos resíduos sólidos gerados em áreas urbanas, indus triais e agrícolas.

Fontes: Andreoli et al.(2007), Lima (2004) e Barros & Möller (2007), Resoluções do CONAMA (números 05, 06, 14 237, 283, 307, 308, 313, 358, 459) e ABLP (2009) .

A pesquisa nacional de saneamento básico (PNSB), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, indica que o Brasil produzia diariamente 228.413 toneladas de lixo povolta do ano 2000 (Martins, 2006). Os cidadãos que vivem em cidades grandes produzem mais lix per capta. A tabela abaixo, nos dá uma idéia da produção de lixo por habitante no Brasil (Tab. 2.2)

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Tamanho da Cidade g.hab-1

Pequena 500

Média 700

Grande 1000

Tab. 2.2 - Taxa de produção de lixo per capta em diferentes tipos de cidades brasileiras , segundo o IBGE. as,industriais e agrícolas.

É importante termos em mente que muitos dos materiais que jogamos em uma lata delixo comum podem levar muitos anos para serem totalmente reciclados no meio ambiente. Apermanência dos materiais no meio ambiente está relacionada basicamente ao tempo de de-

composição que cada tipo de material exige para todos os elementos que o formam possam sertotalmente assimilados nos ciclos biogeoquímicos. Esse tempo é extremamente variável depen-dendo da natureza do material considerado (Tab. 2.3). Infelizmente, muitos dos materiais quefazem parte do nosso cotidiano tais como os plásticos e os vidros demoram muitos anos para sedecompor sob condições naturais. Apesar de sua importância, esse tipo de informação ainda émuito pouco disseminado na sociedade em geral. Esse conhecimento pode contribuir para queo ser humano passe a usar os recursos que a natureza oferece de forma mais responsável.

Material COMLURB  UNICEF

Casca de banana ou laranja 2 anos –

Papel – 3 mesesPapel plastificado 1 a 5 anos –

Ponta de cigarro 10 a 20 anos 1 a 2 anos

Meias de lã 10 a 20 anos –

Chiclete 5 anos 5 anos

Madeira pintada – 14 anos

Fralda descartável – 600 anos

Nylon – 30 anos

Sacos plásticos 30 a 40 anos –

Plástico – 450 anos

Metal Até 50 anos –Couro Até 50 anos –

Alumínio 80 a 100 anos 200 a 500 anos

Vidro Indefinido 4 mil anos

Garrafas plásticas Indefinido –

Tab. 2.3 - Tempo de decomposição média de tipos de objetos comumente encontrados no lixo doméstico

Observação:

UNICEF é o Fund

Nações Unidas p

Infância, criado e

dezembro de 19

Organização das

Unidas (ONU)

www.unicef.org.b

COMLRUB é a co

limpeza urbana d

Rio de Janeiro

www.rio.rj.gov.br

Ricardo Motta Pinto-Coelho

Fonte: Lixo.com.br, 2009.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

   R  e  s   í   d  u  o  s   S   ó   l   i   d  o  s

30

2.2 - Composição do lixo doméstico no

Brasil  A composição média do lixo urbano no Brasil pode variar bastante segundo a região

considerada (Lima, 2004). De um modo geral, a composição do lixo varia muito entre as cidades, principalmente devido aos hábitos, costumes e outros aspectos regionais. Os percentuaisde matéria orgânica tendem a decrescer nas cidades mais industrializadas onde, ao contráriohá uma tendência para o aumento das embalagens sejam elas de plástico, vidro ou papel. (Fig2.1). O percentual de matéria orgânica é bem menor em países mais desenvolvidos. Em algumacidades americanas, ele pode ser tão baixo quanto 6% (Lima, 2004). Dado o fato de que houvegrandes mudanças nos padrões de consumo do brasileiro ao longo das últimas duas décadasé provável que os percentuais apresentados na figura abaixo já tenham sofrido modificaçõesSegundo os dados da Superintendência de Limpeza urbana de Belo Horizonte – SLU, o lixo da

capital de Minas Gerais possuía, em 1991, 64% de matéria orgânica, 13,5 % de papel e papelão6,5% de plásticos, 2,7% de metais e 2,2% de v idros (Barros & Möller, 2007).

 51,2%

 29,1%

Matéria orgânica

4,67%

6,78%

3,45%

2,8%   2%

Manaus

20,7%

33,7%

33,6%

3,2%3,6%

3,1% 2%

Rio de Janeiro

37

29,6%

14,6%

5,5%

2,2%

9%  1,8%

São Paulo

Papel e papelão Vidros Metais Trapo, couro eborracha

Plásticos Outros

Fig.2.1 – Composição média do lixo doméstico comum coletado nas cidades do Brasil, segundo Lima (2004). Dadosexpressos percentuais de peso em base úmida.

Composição de Lixo Urbano no Brasil

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Além da composição gravimétrica vista acima, outras características são muito importantespara a tipificação do lixo: peso específico (peso por volume), teor de umidade (30-40%), grau

de compactação (3-5 vezes), produção por habitante (0,4-0,7 kg.hab-1

.dia-1

) , poder calorífico(1.280-4.300 kcal.kg -1), relação estequiométrica carbono:nitrogênio (C:N variando normalmentede 15 a 50). A relação C:N tende a diminuir com a degradação microbiana do lixo (Barros &Möller, 2007).

2.3 - Sistemas de coleta de lixoA maioria dos programas de reciclagem depende de um bom sistema de coleta, disposição

e tratamento de resíduos sólidos. Segundo o IBGE, a maior parte do lixo coletado no Brasil aindavai parar em lixões (IBGE, 2009_a). As estatísticas oficiais apontam uma porção considerável,ou seja, 63 % de todo o lixo doméstico coletado no país irá parar no meio ambiente sem ne-

nhum cuidado especial, nos famosos lixões (Fig. 2.2). Em consequência, a grande maioria dosmunicípios do Brasil possui áreas comprometidas por causa dessa prática. Sem nenhum controlesanitário ou ambiental, o lixo depositado a céu aberto e com acesso livre a urubus e catadoresinformais acarreta graves problemas de saúde pública, relacionados com a proliferação de veto-res de doenças (Lima, 2004). Em suma, é uma obrigação dos governos desse país acabar com atriste cena de crianças e adultos disputando com urubus os restos de alimento e outros materiaisnos lixões, uma cena que já se tornou um típico car tão postal que muitos estrangeiros levam devolta para casa quando visitam o nosso país.

63%

18%

Lixões

14%

5%

Aterro Controlado Aterro Sanitário N.D.

Fig. 2.2 - Destino f inal do lixo nos municípios brasileiros(IBGE, 2002). N.D.: não dete rminado.

Destinação dos Resíduos Sólidos no Brasil

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

   R  e  s   í   d  u  o  s   S   ó   l   i   d  o  s

32

2.4 - Tratamento do lixo

Existem vários tipos de tratamento dos resíduos sólidos: (a) compostagem, (b) reciclagem(c) incineração, (d) pirólise e (e) disposição em aterros apropriados (aterros controlados ouaterros sanitários).

A compostagem é definida como o processo de transformação de resíduos orgânicos emum composto biogênico, estável e resistente a ação de micro-organismos que pode ser usadocomo fertilizante orgânico, dependendo de sua composição final (modificado de Lima, 2004)Trata-se de uma alternativa de tratamento indicada apenas para o tratamento da fração orgânicado lixo. Ela pode ser feita tanto em áreas aber tas quanto em locais fechados. No Brasil, a preferência é sempre dada à compostagem em áreas abertas (F ig. 2.3), com a disposição do lixo emfaixas (leiras) lineares. A matéria prima é constituída por carboidratos, lipídeos, proteínas, produtos celulósicos que normalmente compõem a maior parte da biomassa dessa fração orgânica do

lixo. Trata-se de um processo que exige uma área apropriada e um tempo relativamente longopara que possa ser completado, normalmente em torno de 120 dias (Lima, 2004).

A compostagem pode ser feita em ambiente anaeróbico, aeróbico ou misto (Fig. 2.3)Outra maneira de tipificar o processo consiste na sua classificação segundo a temperatura doprocesso. Assim podemos ter a compostagem em baixas temperaturas (temperatura ambiente)a compostagem mesofílica que ocorre entre 45 e 55ºC e a compostagem termofílica, que ocorreacima de 55ºC.

Uma vez seja feita a triagem da fração orgânica do lixo, normalmente é feita uma trituraçãodo material antes que a compostagem possa realmente iniciar-se.

Fig.2.3 - Diversas et apas da compostagem, realizada na usina de compostagem do grupo Ulmann- Roda D Aguaem Florestal, MG. A primeira fase é fei ta em uma área coberta onde o compos to é enriquecido combactérias que aceleram o processo. A segunda fase, transcorre em áreas abertas, em leiras, comdimensões precisas e que são revolvidas periodicamente em um pátio onde o composto permaneceaté a fase f inal de maturação (120 dias). Depois de seco, o composto é ensac ado e vendido. A matériaprima é constituída por descartes orgânicos provenientes de restaurantes, cozinhas industriais e resíduosde reciclagem do óleo de cozinha. O composto é utilizado como adubos em diver sas floriculturas daregião metropolitana de Belo Horizonte.

Fonte: Dr.Flaviano José Torres Gomes, http://www.grupoullman.com.br. Fotos: RMPC.

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O processo da compostagem que normalmente é feita no Brasil pode ser subdividido emtrês fases:

(a) Fase mesofílica: trata-se da fase inicial da compostagem. Normalmente, a temperatura aindaé baixa (20 a 40ºC) sendo caracterizada por uma intensa proliferação de uma vasta gama debactérias, leveduras e fungos. Essa fase dura em geral de 30 a 40 dias. Nessa fase, pode-seadicionar inóculos de micro-organismos que podem acelerar o processo.

(b) Fase termofílica: essa fase é caracterizada por um aumento da temperatura que pode chegara 80ºC. Esse aumento de temperatura é consequência do metabolismo anaeróbico e temcomo uma de suas principais características a virtual eliminação de todos os organismospatogênicos eventualmente presentes no material em decomposição. Ao final do processo,haverá a dominância de dois micro-organismos típicos dessa fase: Hydrogenobacter  spp. eThermus spp. As bactérias do gênero Hydrogenobacter , por exemplo, são obrigatoriamente

quimiolitotróficas e são microorganismos hipertermófilos, ou seja, podem crescer emtemperaturas próximas ao ponto de ebulição da água, ou seja, até 95°C (embora o seucrescimento ótimo ocorra em temperaturas menores, da ordem de 85°C). Trata-se de umgênero rico em espécies sendo que a maioria delas utiliza os sulfetos ou tiossulfatos, H2, S ouo S2O32-, como doadores de elétrons e o oxigênio (O2) ou nitrato (NO3

-) como aceptores deelétrons em seu metabolismo. Vários estudos nutricionais demonstraram que as espécies deHydrogenobacter  são incapazes de crescer sob o regime da quimio-organotrofia e geralmenteelas preferem viver em condições anaeróbicas (RCN, 2009).

(c) Fase de estabilização: Nessa fase, o material submetido à compostagem vai adquirindogradualmente a coloração negra, há um aumento do pH e uma gradual queda natemperatura.

Os fatores que exercem forte influência nesse processo são: temperatura, qualidadee quantidade dos microorganismos presentes, granulometria do composto e a relação car-bono: nitrogênio (C:N).

Embora a compostagem seja uma boa alternativa para o tratamento de resíduos sólidoscom altos teores de matéria orgânica, existem alguns riscos associados à aplicação do compostocomo adubo. Ele pode ser usado em jardins públicos ou mesmo em cultivos de f lores decorati-vas. Entretanto, o seu uso em cultivos de alimentos não é indicado dada a possibilidade de queesse composto possa conter substâncias tóxicas tais como metais traços ou fármacos tais comoantibióticos e hormônios que podem causar problemas de saúde (Lima, 2004). 

Outra alternativa de tratamento de resíduos sólidos é constituída pela incineração. Trata-se

de uma forma de tratamento de lixo que é indicada prior itariamente para o tratamento de resídu-os tóxicos ou da área hospitalar. É importante ter em mente que essa forma de tratamento, alémde ter os seus custos operacionais elevados, irá gerar uma série de gases que podem contr ibuirpara o aumento global da temperatura e, no caso de grandes centros urbanos, contribuir para apiora da qualidade do ar. Outro problema dessa forma de tratamento está no perigo da emissãode hidrocarbonetos aromáticos com alto potencial carcinogênico tal como a dioxina. Assim, asplantas de incineração de lixo devem ter sistemas bem sofisticados de eliminação desses gasespotencialmente tóxicos (Lima, 2004).

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   R  e  s   í   d  u  o  s   S   ó   l   i   d  o  s

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A pirólise é uma decomposição física e química por ação térmica na ausência de oxigênioa temperaturas de 500 a 1.000°C. Esse processo também resulta além da produção de gases de

uma substancial produção de alcatrão, sulfato de amônia e carvão. A técnica ainda tem poucaaplicações no Brasil, pois depende, ainda, do aper feiçoamento da capacidade tecnológica nacional nesse aspecto. O tratamento de resíduos através da tecnologia do plasma será consideradomais adiante nessa obra (cap. 5.0).

Existem dois tipos de aterros usados para o tratamento de lixo. Os aterros cont rolados sãoum avanço em relação ao lixão convencional, pois não existe mais o contato físico do lixo comseres humanos e animais tais como aves, roedores e a maioria dos insetos que causam pragaurbanas (ex: baratas). No entanto, esse tipo de aterro não possui capa impermeabilizante paraconter o “chorume” e nem dispositivos para conter a emanação de gases. Dessa forma, os aterrocontrolados podem gerar uma substancial contaminação dos recursos hídricos do entorno e daatmosfera caso esses efluentes não sejam continuamente monitorados e controlados.

Os aterros sanitários constituem-se na forma mais adequada da disposição final dos resíduos sólidos nas áreas urbanas. Eles são dotados de sistemas impermeabilizantes que impendem a contaminação do lençol freático pelo chorume. Eles possuem, em geral, uma vidaútil de 30 anos ou mais, mas exigem consideráveis investimentos para serem construídos demodo apropriado. Já os aterros “controlados”, por não terem todos os dispositivos previstos noaterros sanitários, muitas vezes estão associados à poluição hídrica e geram freqüentementeconflitos com os moradores das vizinhanças. Todos os aterros exigem um estudo prévio bastantedetalhado e, assim como todo empreendimento de por te, necessita das licenças ambientais deinstalação e operação.

Fig. 2.4 - Corte esquemático de um aterro sanitário, construído segundo a norma NBR 8419. O aterro deve ser isoladdas comunidades do entorno por uma faixa de vegetação arbórea, de preferência árvores de dossel bemdesenvolvido, de crescimento vegetativo rápido porém organismos dotados de um sistema radicular poucagressivo. Esquema modificado de Barros & Möller (2007).

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Um aterro sanitário moderno deve seguir uma série de normas muito rígidas tanto para aelaboração do seu projeto quanto para a sua execução e operação (Fig. 2.4). No caso brasileiro,

essas normas estão previstas na NBR 8419. O aterro deve conter uma série de instalações deapoio, sistemas de drenagem de águas pluviais, de gases emanados do li xo enterrado e sistemaspara a coleta e tratamento de líquidos percolados. Um dos aspectos mais importantes de umaterro moderno é o seu isolamento de qualquer contato com o solo e o lençol freático das adja-cências (Barros & Möller, 2007; Lima, 2004).

2.5 - Classificação dos aterros e resíduossegundo o Conselho Nacional do

Meio Ambiente - CONAMA(resolução 06 de 15/06/1988).

Aterro industrial (resíduos de classe I)

O aterro sanitário de classe I deve cumprir uma série de exigências que garantem um bomcontrole ambiental, principalmente no sentido de que não haverá vazamento do “chorume” parao lençol freático adjacente. Assim, o aterro deve ser equipado com capas impermeabilizantesmais seguras, o aterro deverá ser subdividido em compartimentos estanques, cada um delescom um dreno sentinela. Não será permitida a emanação de gases ou de “chorume” e deveexistir uma perfeita drenagem superfic ial da água pluvial que não deverá entrar em contato como interior do aterro (Fig. 2.4).

Aterro sanitário (resíduos de classe II)

O chamado aterro simples, a curto prazo, é o mais barato. Já o aterro sanitário, acompa-nhado do tratamento e reciclagem, é uma das mais corretas e lucrativas formas de se resolver oproblema do tratamento do lixo. Como esse aterro produz o “chorume”, ele exige um monitora-mento e tratamento constante dos efluentes líquidos e gasosos gerados.

Tipologia dos resíduos (norma ABNT 10.004 de 2004)

Resíduos considerados perigosos - classe IOs resíduos que poderão ser encaminhados para um aterro sanitário de classe I são aque-les que podem ser corrosivos, tóxicos ou venenosos, inflamáveis ou que contém agentes pató-genos. Alguns exemplos de resíduos nessa categoria seriam: baterias de veículos, embalagensde produtos tóxicos, corrosivos, inflamáveis e venenosos, lâmpadas fluorescentes, lixo hospitalar,lixo odontológico e veterinário, lixo farmacêutico, curativos e similares. Outros itens que poderãoser encaminhados a esse tipo de aterro seriam os resíduos radioativos (baixa atividade), restosde remédios sejam eles vencidos ou não e as pilhas e baterias .

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

   R  e  s   í   d  u  o  s   S   ó   l   i   d  o  s

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Resíduos não inertes - classe I IResíduos que podem ter propriedades tais como combustibilidade, biodegradabilidade o

solubilidade em água.Resíduos inertes - classe II I

Resíduos inertes são aqueles que quando submetidos a um contato estático ou dinâmicocom a água destilada ou deionizada, à temperatura ambiente, não têm nenhum de seus componentes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água.

2.6 - Sistemas de coleta e reciclagem deresíduos sólidos

Tendo em vista as exigências dos órgãos ambientais que têm ficado cada vez mais rigo

rosas e restritivas, muitos centros urbanos, com altos índices de crescimento da população, têmencontrado muitas dificuldades em obter novos locais para instalarem novos depósitos de lixo(aterros). Logo, a reciclagem mostra-se como uma solução v iável do ponto de v ista econômicoalém de ser ambientalmente correta. No entanto, para que a reciclagem possa ser adotada nopaís de forma mais vigorosa, existe a necessidade de que a nação brasileira possa empreendeuma melhoria generalizada em todo o serviço de coleta de lixo no Brasil.

As melhorias são necessárias não somente na parte do tratamento dos resíduos, mastambém nos sistemas de coletas, na disposição preliminar, no tratamento e na destinação f inados resíduos coletados.

Nessa seção iremos abordar a necessidade de melhorar os serviços municipais de acon

dicionamento e coleta de lixo. As formas atuais de acondicionamento de lixo usadas no paísou seja, os sacos plásticos, recipientes com tampa, lixeiras públicas, instrumental dos garis oumesmo as caçambas estacionárias estão à espera de melhorias substanciais e de uma melhopadronização a ser adotada, se possível, em uma escala nacional.

É comum ainda o uso de caminhões basculantes para a coleta de lixo no Brasil, principalmente no interior. Esses caminhões devem ser banidos e deve-se dar preferência ao uso doscaminhões compactadores. Muito embora esse tipo de equipamento seja adequado, a forma doseu uso e a falta de uma padronização nos sistemas de coletas geram constantes vazamentosde líquidos, principalmente do óleo de cozinha que ficam como rastros da passagem desses veículos pelas vias públicas das principais cidades do Brasil. É preciso investir no desenvolvimentotecnológico de novos tipos de veículos tais como aqueles voltados para os programas de coletseletiva. Há, ainda, a necessidade de se investir em um maior grau de mecanização e no treina

mento do pessoal que atua nos caminhões compactadores.

Desde a década de 1980, a produção de embalagens e produtos descartáveis cresceusignificativamente, assim como a produção de lixo, principalmente nos países industrializadosMuitos governos e organizações não governamentais (ONG´s) estão cobrando das indústrias atitudes mais responsáveis. Neste sentido, o desenvolvimento econômico deve estar aliado à preservação do meio ambiente. Atividades como campanhas de coleta seletiva de lixo e reciclagemde alumínio, plástico e papel, já são cor riqueiras em várias cidades do mundo.

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O Brasil está se despertando para a reciclagem de materiais pós-consumo. Nas escolas,muitos alunos são orientados pelos educadores a separarem o lixo em suas casas. Outro fato

interessante é que já é muito comum nos grandes condomínios residenciais a reciclagem decertos componentes encontrados no lixo. Em regiões de zona rural a reciclagem também estáacontecendo. O lixo orgânico (sobras de vegetais, frutas, grãos e legumes) é utilizado na produ-ção de adubo orgânico para ser usado em paisagismo e produção de flores.

Já existem no Brasil milhares de pequenas indústrias e empresas especializadas na recicla-gem de diversos tipos de produtos. O alumínio, por exemplo, está sendo reciclado no país comum índice de reaproveitamento acima de 90%. Derretido, ele volta para as linhas de produçãodas indústrias de embalagens, reduzindo os custos para as empresas.

Várias campanhas de educação ambiental têm despertado a atenção para o problemado lixo nos grandes centros urbanos. Apesar das inúmeras iniciativas existentes (e que serãoabordadas em detalhes nos próximos capítulos) temos que constatar que a reciclagem ambiental

ainda tem um vasto caminho a percorrer no Brasil. O acúmulo de lixo nos mananciais e mesmono litoral brasileiro é um bom atestado das nossas carências em termos de reciclagem demateriais.

2.7 - Coleta SeletivaÉ um sistema de recolhimento de materiais recicláveis, tais como papéis, plásticos, v idros,

metais e orgânicos, previamente separados na fonte geradora. Estes materiais são vendidos àsindústrias recicladoras ou aos sucateiros. As quatro principais modalidades de coleta seletivaestão descritas na Tab. 2.4.

N Tipos de Coleta

1 coleta domiciliar

2coleta em postos de entrega voluntária(PEV ou LEV)

3 coleta em postos de troca

4 coleta por catadores

Tab.2.4 - Tipos de coletas sele tivas existentes no Brasil.

Fonte: Martins (2006)

Nos programas de coleta seletiva implantados no Brasil, há uma clara predominância depapéis, plásticos e vidros. O percentual dessas três classes de materiais chega a 72% do totalcoletado. Outro ponto importante a ser destacado é que os óleos de fritura usados não chegamsequer a ser mencionados nessas pesquisas (Fig. 2.5).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

   R  e  s   í   d  u  o  s   S   ó   l   i   d  o  s

38

Ao compararmos os gráficos das figuras 2.1 e 2.5 acima podemos assinalar as seguintestendências:

(a) não existe nenhuma estatística sobre a coleta seletiva de determinados produtos de origemorgânica no país o que sugere que grande parte desse material vai mesmo para os aterrossanitários ou para a compostagem o que inclui dentre outros recursos, o óleo de cozinhausado.

(b) Não existe nenhuma estatística no país sobre a reciclagem de produtos especiais tais comopilhas e baterias de celulares ou ainda o lixo eletrônico.

(c) Já existe uma estatística sobre a reciclagem de embalagens longa vida o que destaca o paínesse aspecto em relação aos demais países industrializados.

A coleta seletiva domiciliar assemelha-se ao procedimento clássico de coleta normal delixo. Porém, os veículos coletores percorrem as residências em dias e horários específicos quenão coincidam com a coleta normal. A coleta em PEV - Postos de Entrega Voluntária ou em LEV- Locais de Entrega Voluntária utiliza normalmente contêineres ou pequenos depósitos, colocados em pontos fixos, onde o cidadão, espontaneamente, deposita os recicláveis. A modalidade

de coleta seletiva em postos de troca se baseia na troca do material entregue por algum bemou benefício.

Podemos afirmar que a coleta seletiva no Brasil está apenas começando. Apenas 8,2% dototal de municípios brasileiros têm algum tipo de coleta. Existem regiões no pais onde menos de1,0% dos municípios contam com esse tipo de benefício (regiões norte e centro-oeste). Mesmonas regiões mais desenvolvidas do país, a grande maioria dos municípios ainda não adotou essimportante medida no gerenciamento de seus resíduos sólidos (Tab.2.5).

Fig. 2.5 - Composição média do lixo coletado em programasde coleta selet iva (% em peso) nas cidadesbrasileiras com coleta seletiva.

Fonte: CEMPRE (2009).

10%

2%

38%

20%

16%

14%

Papel e Papelão Plástico Diversos Vidro Metais (todos) Longa Vida

Composição Média do Lixo Urbano (Coleta Seletiva)

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Número de Municípios

Proporção (%) de

Municípios Atendidos porProgramas de Coleta Seletiva

Por região Coleta Seletiva Na região Brasil

Norte 449 1 0,2 0,2

Nordeste 1787 27 6,0 1,5

Sudeste 1666 140 31,0 8,4

Sul 1159 274 60,8 23,0

Cento-Oeste 446 9 2,0 2,0

Brasil 5507 451 8,2 -

Tab.2.5 – Número de municípios brasileiros atendidos por programas de coleta seletiva de lixo segundo o IBGE.

Fonte: IBGE, PNSB, 2000.

Existe uma simbologia específica para a reciclagem de diferentes materiais, incluindo osplásticos. As cores características dos recipientes apropriados para a coleta seletiva de li xo estãorepresentadas abaixo (Fig. 2.6).

Fig. 2.6 - Padrão internacional de cores usado em programas de coleta seletiva.

Papel / Papelão Metais

Plásticos Vidros

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

   R  e  s   í   d  u  o  s   S   ó   l   i   d  o  s

40

Esse padrão de cores vem sendo usado por um número crescente de países que já reconhecem esse padrão como um parâmetro oficial a ser seguido por qualquer modelo de gestão

de programas de coleta seletiva. Talvez tão importante quanto a padronização das cores, sejao desenvolvimento e a implantação de recipientes apropriados devidamente padronizados ecertif icados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, para serem depositados nãosomente nos postos ou locais de coleta voluntária (PEV´s ou LEV´s) mas também nos condomnios e residências (Figs. 2.7 e 2.8).

Fig.2.7 - Recipientes para coleta selet iva de lixo (plásticos, metais e pape l) usados pela Prefeitura Municipal de BeloHorizonte. Este posto de entrega coluntária (PEV) está localizado na praça das Mangueiras, próximo à Igrejade São Francisco de Assis, na orla da represa da Pampulha, Belo Horizonte. Foto: RMPC .

Fig. 2.8 - Depósitos circulares usados como coletores de vidrolocalizados ao lado dos recipientes vistos na figuanterior. Embora possamos ver o correto uso dcores, é fácil perceber que há uma necessidade duma maior padronização em relação ao formatdimensões e materiais a serem usados em tarecipientes. As normas alemãs, DIN, são umreferência, quando se trata da questão da coleconvencional e seletiva de lixo doméstico (vidtexto). Foto: RMPC.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

No Brasil já existe uma base normativa que atende alguns aspectos da coleta de lixo eda reciclagem doméstica. Um exemplo ser ia a norma (NBR 13230) da Associação Brasileira de

Normas Técnicas - ABNT, que padroniza os símbolos que identificam os diversos tipos de resinas(plásticos) virgens. O objetivo é facilitar a etapa de t riagem dos resíduos plásticos que serão en-caminhados à reciclagem. Os tipos de plásticos são classificados por números (Tab. 2.6).

1 PET

2 PEAD

3 PVC

4 PEBD

5 PP

6 OS

7 Outros

Tab. 2.6 - Códigos dos principais tipos de plásticos de consumo popular.

O sucesso da coleta seletiva está diretamente associado aos investimentos feitos para sen-sibilização e conscientização da população e também à conf iabilidade do serviço oferecido pelasprefeituras ou das empresas contratadas para executarem esse serviço. Normalmente, quantomaior a participação voluntária em programas de coleta seletiva, menor é seu custo de adminis-tração. Não se pode esquecer também a existência do mercado para absorver o lixo recolhidono sistema de coleta seletiva. Dessa forma, é muito importante que haja benefícios tais comoisenções fiscais e linhas de crédito específicas oferecidos pelo governo que possam fomentar acriação de novas empresas de rec iclagem.

As universidades poderiam criar parques tecnológicos voltados especificamente para odesenvolvimento de novas tecnologias de reciclagem bem como programas de incubação denovas empresas para o setor. Cursos de graduação e pós-graduação poder iam oferecer linhas depesquisas e modalidades de especialização voltados exclusivamente para a reciclagem e coletaseletiva de resíduos sólidos.

Existem razões para sustentar a hipótese de que a coleta seletiva não se desenvolveu maisno país dadas as características do modelo de gerenciamento de resíduos sólidos adotado noBrasil. Essa hipótese decorre, em grande par te, de um estudo muito detalhado sobre a evoluçãohistórica da gestão dos resíduos sólidos na cidade de São Paulo feita pelo prof. Dr. Pedro Jacobie sua aluna de mestrado Mariana Viveiros ambos do Programa de Pós-Graduação em CiênciaAmbiental da USP (Jacobi & Viveiros, 2006). Esses pesquisadores fizeram uma análise exaustivae detalhada das administrações municipais da c idade de São Paulo entre 1989 e 2004.

Observação: vide capítulo sobre a reciclagem de plásticos para maiores detalhes.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

   R  e  s   í   d  u  o  s   S   ó   l   i   d  o  s

42

Inicialmente, é bom frisar que a cidade de São Paulo apresenta estatísticas típicas de muitos países em seu conjunto. Trata-se de um universo de 11 milhões de habitantes que gera apro

 ximadamente 10% do PIB nacional . Em 2004, foram recolhidas das ruas da cidade nada menodo que 3,29 milhões de toneladas de lixo. Segundo os autores acima, pelo menos 30% dessemontante poderia estar sendo reciclado. Nesse mesmo ano, a coleta, o transbordo, transportedestinação final e tratamento do lixo doméstico na cidade de São Paulo consumiram nada menodo que R$ 211 milhões o que corresponde a cerca de 1,5% do orçamento dessa cidade para omesmo ano (Jacobi & Viveiros, 2006).

Nesse estudo fica claro que a idéia de se implantar um programa de coleta seletiva nacidade de São Paulo não é nova. A prefeita Luíza Erundina (1989-1992) implantou na cidade umprograma de coleta seletiva e chegou a inaugurar uma usina de reciclagem de entulhos (videcap. 12). O apogeu desse programa foi em 1992, quanto havia 37 circuitos de coletas, 50 postode entrega voluntária (LEV) que eram capazes de processar 10,5 toneladas diárias de resíduos

O programa atingiu um universo de 80 mil domicí lios ou 1% do lixo da cidade. No entanto, como passar do tempo, o programa foi gradualmente sendo desativado por ser antieconômico e pocolecionar uma vasta gama de todo tipo de críticas (Jacobi & V iveiros, 2006):

(a) o fator econômico: o prefeito Paulo Maluf que sucedeu a prefeita Erundina alegava quo sistema era deficitário já que o custo da coleta seletiva era de US$ 417,0 por toneladaenquanto que o custo da coleta tradicional era de apenas US$ 25,0;

(b) fator insalubridade: havia relatos de que os funcionários que trabalhavam na coleta seletivenfrentavam péssimas condições de higiene e de segurança;

(c) fator falta de pontualidade: várias reportagens de jornais da época documentaram que ocircuitos de coleta seletiva não es tavam sendo cumpridos ou se es tavam, não se cumpria o

cronogramas previamente determinados;(d) fator falta de seriedade: outras denúncias da mídia documentaram o desvio de materia

coletado nos programas de coleta seletiva para os aterros sanitários da cidade. O índice deabsenteísmo dos funcionários era muito alto;

(e) fator escassez de recursos: faltavam recursos para quase tudo dentro do programa(manutenção de veículos, combustíveis, etc).

Como os próprios autores ressaltam, a maior parte dos fatores acima apontados decorredo fato de que os serv iços de coleta seletiva na cidade de São Paulo estavam a cargo do própriopessoal da prefeitura, ou seja, eles nunca foram terceirizados. As mazelas acima destacadas sãotípicas da prestação de qualquer tipo de serviço público no país. No entanto, é interessante notaque o programa contou com forte apoio popular enquanto durou. Diante do exposto, os autoreconcluem que a cidade de São Paulo se mostrava, por volta de 1996, como a antítese da idéia desustentabilidade ao se considerar o seu sistema de gestão de resíduos sólidos (Jacobi & Viveiros2006).

O estudo publicado por Jacobi e Viveiros (2006) ainda faz uma análise dos procedimentos de licitação e contratação de empreiteiras para a execução de serviços de limpeza públicae coleta de lixo na cidade de São Paulo. É um longo relato de ir regularidades tais como desvio

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de verbas, licitações duvidosas, super-faturamentos, financiamentos de campanhas eleitorais porempreiteiras ligadas aos serviços de limpeza urbana, etc. Não é o objetivo dessa obra entrar no

mérito dessas denúncias por mais contundentes que elas possam ser. Entretanto, ficaria muitoingênuo falar sobre programas de coleta seletiva no Brasil sem deixar claro que ex iste um claro jogo de interesses, muitas vezes envolvendo g randes emprei tei ras, no sent ido de não apoiar odesenvolvimento de programas de coleta seletiva nas grandes cidades do Brasil.

A última parte do estudo de Jacobi e Viveiros (2003) descreve a fase atual da gestãodos resíduos sólidos em São Paulo. Eles caracterizam essa fase como uma fase menos ba-seada em grandes obras de engenharia. A fase atual está fundamentada em princípios deeducação ambiental e de reciclagem de materiais. Em 2004, a cidade não dispunha mais dasusinas de compostagem nem dos incineradores que formavam a base da gestão de resíduossólidos dos anos 70. A política passou a ser “coletar e enterrar ”.

Apesar dos “novos tempos”, a prefeita da cidade, Mar ta Suplicy (2001-2004) ao assumira prefeitura prometeu reativar os programas de coleta seletiva na cidade. A idéia então passoua ser terceirizar o serviço. Foram reservadas verbas para os editais de coleta seletiva que pre-viam contratos de 1 ano cada. O programa previa contratos com cooperativas e associaçõesde catadores que poderiam mobilizar até 20 mil catadores de lixo na cidade. Para colocar oprograma em prática, o poder público construiu um arcabouço legal que possibilitou a for-malização de convênios com as cooperativas de catadores, outorgando a elas prioridade paraatuar no recolhimento, triagem e posterior venda do material coletado em setores da cidade.

Em dezembro de 2004, a coleta seletiva atingia cerca de 3,3 milhões de pessoas, 45%da cidade em território ou cerca de 11 milhões de residências. A média mensal de saída de

material das centrais é em torno de 600 toneladas. O faturamento global das centrais é emtorno de R$ 200.000,00 por mês, no conjunto. Cada cooperativa possuía um faturamentomédio mensal em torno de R$ 23.000,00 e cada cooperado tinha uma remuneração varian-do entre R$ 1,00 e 4,00 a hora trabalhada. Os autores concluem que o programa apesar deenfrentar inúmeras dificuldades é um êxi to e depende, em grande medida, de novas polít icaspúblicas para o setor.

2.8 - Panorama comparativo da coleta delixo na Alemanha e no Brasil.

O sistema alemão de coleta, processamento e disposição de lixo doméstico pode ser umbom exemplo a ser considerado para a melhoria da coleta de lixo no Brasil. Talvez esse sistemaseja interessante como uma alternativa a ser eventualmente adaptada à realidade brasileira. Omobiliário urbano alemão, destinado ao gerenciamento de resíduos sólidos, é caracterizado nãosomente pela eficiência e qualidade dos produtos usados, mas também pela forte adesão e par-ticipação dos cidadãos no processo (Fig. 2.9).

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Fig. 2.9 - Recipientes de coleta de lixo domiciliar e condominial usados na Alemanha. Esses equipamentos são

construídos e certificados segundo as normas alemãs específicas aprovadas pela Associação Alemã deNormas Industriais, a Deusche Industrie Normen  - DIN. Nos detalhes à direita, vemos aspectos ligadoà segurança dos equipamentos tais como materiais isolantes das tampas para evitar a entrada de ratos einsetos (topo), travas de segurança nas rodas (centro) e o padrão em colméia do plástico usado nos cantodos recipientes plásticos (em baixo). Esses detalhes garantem, respectivamente, a higiene, a segurança e durabilidade do equipamento.

Cores Standart

Cores EspeciaisVerde Cinza Azul Marrom

Amarelo Vermelho Laranja Branco

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Equipamentos similares já são fabricados no Brasil, mas não existe ainda uma base legalque regulamenta o seu uso e nem um programa nacional de certificação industrial de equipa-

mentos de coleta de lixo (Fonte: Syscon, 2009).Assim como o sistema de coleta lixo adotado do Brasil, todos os equipamentos e pro-

cessos no sistema de coleta de lixo alemão estão sujeitos a uma padronização, normatização ecertificação industrial (Fig. 2.10 e 2.11).

Fig.2.10 - Normas alemãs, da  Deustche Industrie Normen - DINespecíficas para os recipientes domésticos de coleta de lixo.

Fig. 2.11 - Exemplo de selo de qualidadede certificação industrial apli-cável aos recipientes de coletade lixo doméstica. Somente osprodutos certificados e apro-vados pelas normas DIN po-derão ter esses selos afixados,indicando ao consumidor finalque são produtos aptos para odesempenho correto de suasfunções (Syscon, 2009).

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A melhor tecnologia usada no sistema alemão garante grande segurança na operaçãotanto para o lixeiro quanto para o cidadão comum, uma maior eficiência na coleta e, portanto

melhores índices finais de qualidade ambiental. Todos os equipamentos de coleta de lixo sãoliberados para uso somente após um rigoroso conjunto de testes em todos os componenteque compõem o equipamento. Assim, são raros os vazamentos, a emanação de maus odores, apresença de animais e pragas domésticas no interior dos contêineres. Esses aspectos minoramo risco de contaminação de lixo or iundo de clínicas e consultórios de dentistas, por exemplo, oumesmo acidentes com crianças e idosos, etc.

O sistema de coleta urbana de lixo usado atualmente na Alemanha permitiu ainda umelevado grau de profissionalização dos lixeiros e uma qualidade final muito boa tanto quanto àquestão de limpeza das ruas ao final da coleta, quanto do lixo coletado (Fig. 2.12). O lixo coletado em melhores condições poderá ter tanto o seu processamento convencional quanto a suaeventual reciclagem em muito facilitada.

Fig. 2.12 - Coleta de lixo mecanizada usada rotineiramente na Alemanha. O lixeiro apenas desloc a o recipientede um local pré-determinado e de fácil acesso a uma estrutura no caminhão, de onde um mecanismohidráulico especial cuida para que todo o lixo seja transferido para o caminhão. Foto: RMPC.

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No Brasil, o sistema de coleta de lixo urbano requer muitas melhorias. Frequentemente,depara-se com lixo praticamente amontoado nas ruas onde fica clara a falta de uma maior sen-

sibilização da população para a questão ambiental. Notamos a presença freqüente de grandequantidade de papel, garrafas de vidro e vários tipos de plásticos (ex: garrafas PET e isopor) nolixo comum, materiais que deveriam estar sendo coletados através de programas de coleta se-letiva. A forma de deposição do lixo doméstico nas ruas em sacos plásticos (frequentemente demá qualidade ou mesmo o uso de sacos inapropriados) impõe grandes dificuldades ao lixeiroe, ainda, contribui para uma coleta pouco eficiente, onde muitas vezes uma porção significativalixo a ser coletado irá ter como destino final o bueiro mais próximo da drenagem pluvial. É aindamuito comum, o descar te sumário do óleo de cozinha diretamente no esgoto ou mesmo na redede drenagem pluvial.

Fig. 2.13 - Lixo doméstico a espera da coleta em diversos locais do bairro Ouro Preto, Belo Horizonte, em dezembrode 2008. A falta de uma maior conscientização da população e também de uma melhor normatização e

padronização tanto nos processos quanto equipamentos de coleta de lixo doméstico e comercial geramesse triste quadro. É evidente a mistura de diferentes tipos de lixo, alguns dos quais poderiam facilmenteestar inseridos em um programa de coleta seletiva. A associação entre lixo e lote vago (direita, topo) aindafacilita a disseminação de pragas urbanas e animais peçonhentos tais como o escorpião. Outro aspecto seriaum melhor treinamento dos ca tadores de lixo (à esque rda, em baixo) que separam alguns materiais do lixo,principalmente papéis e metais, antes da passagem do caminhão de lixo. Os catadores de lixo, muitas vezes,deixam um rastro de sujeira que não será coletada pelos lixeiros. Eles poderiam ser um dos elementosmais importantes em um processo de coleta seletiva, especific amente voltado à realidade brasileira. Videtambém matéria veiculada no telejornal Bom Dia Brasil da Rede Globo do dia 20 de março de 2009 às 08horas da manhã. Fotos: RMPC

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Quem nunca constatou a má qualidade de alguns sacos destinados ao acondicionamentde lixo doméstico que estão disponíveis para a compra nos supermercados? Quem nunca comprou um recipiente para o acondicionamento de lixo que se danifica após um pequeno períodode uso?

É comum depararmos com as cenas vistas na figura 2.13 em muitas cidades brasileirasElas sugerem que existe uma série de mazelas seja por parte dos cidadãos seja nos sistemas dcoleta urbana das nossas cidades. Conclui-se que é preciso uma grande reforma em toda a estrutura de coleta de li xo em nossas grandes cidades. As mudanças devem começar não somente

por uma melhor padronização e cer tificação de equipamentos e processos usados na coleta urbana, mas também através de campanhas educacionais e outras ações voltadas a uma mudançade comportamento da sociedade com o gradual abandono de práticas inadequadas de descartee reciclagem dos resíduos domésticos.

Os equipamentos de coleta de lixo colocados nas ruas são constituem-se em outrosexemplos onde uma padronização industrial, seguida de certificação industrial deveria estar sendo adotada. Essas medidas podem contribuir para a melhoria da coleta urbana e, assim, deixaas cidades mais limpas (Otto, 2009). Os lixeiros trabalham de modo mais eficiente já que oprocesso do esvaziamento dos recipientes fica facilitado. No caso da Alemanha, é fácil constataque a padronização levou em conta uma série de aspectos que visam a facilitar a identificaçãoo uso e o posterior esvaziamento dos cestos de lixo. Observar, por exemplo, a altura em que orecipiente fica fixado na haste que facilita a ação do coletor de lixo bem como a inexistência decantos onde possam acumular sujeira e água. Esses recipientes são construídos de polietileno dealta densidade (portanto têm um baixo custo e uma longa vida de operação), são dotados de ummecanismo de fixação que permite uma instalação fácil e segura, evitando a ação de vândalosO cesto tem capacidade de 50 litros (Fig. 2.14).

Nas ruas de Belo Horizonte, e certamente de muitas outras cidades do Brasil, o cidadãodepara-se frequentemente com grande acúmulo de sujeira e detritos, alguns dos quais poderiamser facilmente recicláveis. Inicialmente, é fácil constatar que existe uma grande carência de cestoe recipientes para coleta de lixo dos transeuntes na maioria das cidades. Em muitos casos, oscestos existem, mas não são esvaziados com a freqüência necessária. Em outros casos, a população não foi instruída sobre o correto uso desses recipientes e deposita ali todo tipo de lixo. Finalmente, é evidente que a falta de uma melhor padronização ainda contribui sensivelmente par

piorar ainda mais a situação de sujeira encontrada em muitas vias públicas do Brasil (Fig. 2.15)

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Fig. 2.14 - Todos os equipamentos de colet a de lixo usados na Alemanha, são obje to de uma detalhada padronizaçãosegundo as normas industriais da Alemanha. No caso dos cestos para cole ta de lixo urbana, existe a normaDIN 30713. Os diferentes fabricantes submetem ainda os seus produtos a diferentes sistemas de certif icaçãoe podem então fixar selos de certificação como os vistos acima. Equipamentos similares já são fabricadosno Brasil mas não existe ainda uma regulamentação para o seu uso e nem um programa nacional decertificação industrial de equipamentos de coleta de lixo. Fonte: Otto, 2009.

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   R  e  s   í   d  u  o  s   S   ó   l   i   d  o  s

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Fig. 2.15 - Diferentes tipos de equipamentos colocados à disposição do cidadão para a colet a de lixo nas ruas da regiãnorte de Belo Horizonte. O uso de sistemas diferentes e as ausências de placas de identificação, de corevivas e padronizadas dificultam a sua localização pelos possíveis usuários. As diferentes formas e materiai

usados também diminuem a eficiência do trabalho de coleta de lixo a cargo pelos coletores públicosFinalmente, os cantos agudos e as frestas , em alguns casos, possibilitam a proliferação de pragas tais cominsetos. Fotos RMPC.

A melhor qualidade dos equipamentos e dos processos usados no sistema de coleta delixo alemão garante, não somente, que o consumidor final fique livre dos aborrecimentos tão comuns associados a má qualidade dos sacos plásticos e recipientes usados gestão do lixo doméstico no Brasil e ainda diminui sensivelmente os gastos das prefeituras com a varrição e limpezadas ruas e até mesmos os gastos da defesa civil em socorrer vítimas de enchentes causadas pofalhas no sistema de drenagem urbana no Brasil, que frequentemente fica entupida pela deposição de materiais plásticos e vegetação or iundos de mazelas na coleta de lixo e deficiências no

sistema de varrição das ruas (Fig. 2.16).

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Fig. 2.16 - Bueiro entupido por detritos vegetais, plásticos durante a estaçãochuvosa de 2009, no bairro Ouro Preto, Belo Horizonte, MG.O entupimento da rede pluvial da cidade causa todos os anosvárias enchentes nas partes baixas da cidade. Foto RMPC.

Há uma necessidade de uma verdadeira revolução no gerenciamento dos resíduos sólidosno Brasil. O governo reconhece essa questão tanto que propôs uma nova política nacional deresíduos sólidos, o anteprojeto de lei da política nacional de resíduos sólidos, o qual se encon-tra em análise na Casa Civil da Presidência da República. Entretanto, o web site do MMA nãofaz qualquer alusão à matéria. Além do anteprojeto em epígrafe, há um projeto de lei o PL nº203/91, o qual foi aprovado, em meados de 2006, na Comissão Especial da Política de Resíduosda Câmara dos Deputados. No entanto, segundo fontes do governo, este PL não tem o apoio doMAM, “.. por não representar as demandas discutidas com a sociedade e por não considerar os

 necessários cuidados à saúde e ao meio ambiente, almejados pelo Governo Federal ...”

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Ricardo Motta Pinto

Tipologia, Produção,

Consumo e Reciclagemde Plásticos

3.0C A P Í T U

3.1 - Introdução

3.2 - Monômeros e polímeros

3.3 - Classificação dos polímeros e tipologia dos

plásticos3.4 - Os polímeros mais produzidos no Brasil

3.5 - Modelagem do plástico

3.6 - Cadeia produtiva do plástico

3.7 - Produção e consumo de plásticos no Brasi

3.8 - A Reciclagem dos plásticos

3.9 - Métodos de reciclagem dos plásticos

3.10 - Desempenho e perspectivas da reciclagem dosplásticos no Brasil

3.11 - Comparativo da reciclagem de plásticos noBrasil com outros países.

3.12 - Reciclagem de pneus

3.13 - Reciclagem de garrafas PET

PLÁSTICO

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       P        l        á      s       t        i      c      o

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3.1 IntroduçãoO que são os plásticos? O termo plástico pode ser definido como aquele material que

 possui a caracterís tica de mudar a forma ou a estética. Que tem a propriedade de adquirir determinadas formas, por efeito de uma ação exterior. A origem do termo vem do grego plastikós quese referia às dobras do barro. Em latim,  plasticu, refere-se “aquele objeto pode ser modelado(Canto, 1997). Hoje, o plástico ou matéria plástica é uma designação genérica para um grandgrupo de materiais sintéticos que apresentam em comum o fato de serem moldáveis, através deprocessamento e aquecimento.

A matéria plástica, ou os plásticos, se tornaram comuns com o advento da petroquímicaque possibilitou a obtenção, em larga escala, da matéria prima necessária para se fabricar umavasta gama de plásticos, o nafta (Fig. 3.1).

Por que os plásticos têm tanto sucesso? Por que são tão disseminados? A matéria plásticestá presente em praticamente todos os ambientes de nosso cotidiano. Antes mesmo deacordarmos, dormimos em colchões que usam a espuma, uma forma de plástico. Ao acordarmofazemos o uso de escovas de dente, pentes e sandálias. Ao chegarmos à cozinha, para o caféda manhã, deparamos com o plástico presente sob diversas formas nas geladeiras, panelase uma infinidade de artefatos de cozinha. Ao voltarmos ao quarto para nos vestirmos para otrabalho, iremos usar peças de náilon, de polyester, etc em como parte de nosso vestuáriocotidiano. Nem reparamos que mesmo peças de “puro” algodão, tais como cuecas ou shorts têmelásticos compostos de materiais sintéticos. Nossas cr ianças usam uma infinidade de brinquedosquase todos com alto percentual de matéria plástica. Os médicos fazem uso de próteses feitacom plásticos especiais e muitos instrumentos cirúrgicos são igualmente produzidos a partir deplásticos. Plásticos sob diferentes composições, formas e formatos são usados na construçãocivil, na indústria automobilística, na indústria aeronáutica.

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 3.1 - Esquema de uma torre de refino do pe tróleocom os subprodutos que normalmente sãogerados nesse processo. Dependendo daposição vertical de extração do destilado,na torre de refino são obtidos diferentesprodutos com quantidades decrescentesde carbono (e de pontos de ebulição) emsuas moléculas. Na base, obtem-se o asfaltoe no topo sai o gás de petróleo. Esse gásé engarrafado em alta pressão para que sepossa tornar-se líquido. A nafta é a matériaprima da matéria plástica. Trata-se de umconjunto de substâncias com uma médiade 6-7 átomos de carbono e um pontode ebulição variando entre 20 e 100ºC.Original: RMPC.

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O uso dos plásticos é uma conseqüência direta do declínio gradual das reservas demadeira e minérios em todo o mundo. O crescimento da economia dos países asiáticos,

principalmente a da China causou um enorme aumento na demanda de vários tipos de matériasprimas principalmente de alimentos e minérios. Os plásticos, por serem mais resistentes que amadeira, sem apodrecer como ela, ou por serem mais leves que o ferro, sem se enferrujarem,foram ocupando o lugar dessas matérias primas em uma infinidade de aplicações. Um bomexemplo pode ser visto nas cadeiras feitas de matéria plástica que são usadas em áreas abertasde restaurantes, clubes e nas varandas de nossas casas. Assim, por serem mais leves, resistentes,práticos, nem tão duráveis, mas certamente mais baratos em comparação com outros materiais,os plásticos foram paulatinamente ocupando quase todos os espaços da vida do homem“civilizado” mesmo aqueles onde não deveria estar presente tais como as margens dos rios,os sedimentos dos lagos e mares ou no meio da floresta tropical. Provavelmente, uma navealienígena não tripulada, ao chegar à terra, em uma exploração robotizada, com o objetivo desondar as possibilidade de existir vida inteligente no planeta teria em suas primeiras amostrasalgum artefato de plástico para analisar (Fig. 3.2).

Fig. 3.2 - Existe uma enorme variedade de instrumentos e utensílios que fazem parte de nossa vida cotidiana e quesão feitos de matéria plástica. Imagine a nossa vida sem eles... Imagine também que tudo isso irá acabarum dia na lata do lixo e que temos a responsabilidade de sabermos exatamente o que fazer desse materialdescartado. Foto: RMPC.

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3.2 - Monômeros e polímeros

Plásticos são materiais formados pela união de grandes cadeias moleculares chamadapolímeros (Mano & Mendes, 2001). Os polímeros são moléculas gigantes de alto peso moleculaconstituídas pela união dos monômeros (do grego mono “uma”, mero, parte), através de reaçõequímicas específicas. Os plásticos são produzidos através de um processo químico conhecidocomo polimerização, que é a união química de monômeros que forma polímeros (Gorni, 2003)Os polímeros podem ser naturais ou sintéticos. São polímeros naturais, entre outros, algodãomadeira, cabelos, chifre de boi ou o látex. São polímeros sintéticos os plásticos obtidos atravéde reações químicas.

Um grande número de polímeros sintéticos resultam da adição (união) simples demilhares de moléculas de um único tipo de monômero (Mano & Mendes, 2001). Normalmente

os monômeros perdem a ligação dupla ao ligarem-se entre si (F ig. 3.3).

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 3.3 - Reação de adição do etileno e do cloreto de v inila formando, respectivamente, opolietileno e o policloreto de vinila (PVC). Original. Paula P. Coelho.

etileno

polietileno

cloreto de vinila

policloreto de vinila (PVC)

cloreto de vinila

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Outros polímeros podem ser obtidos pela adição de dois monômeros diferentes(copolímeros de adição): o polímero buna-S resulta da união do estireno com o 1,4 butadieno.

Um dos polímeros de uso mais comum é o PET. No início dos anos 40, Whinfield & Dickson(1941) desenvolveram o PET que é obtido a partir de dois monômeros diferentes, ou seja, oácido tereftálico e o etileno glicol (Figs. 3.4 e 3.5).

Fig. 3.4 - Dois monômeros usados para a síntese do polímero PET. Original. Sof ia P. Coelho

Através de uma reação de adição dos polímeros acima, forma-se um polímero, o PET emais um subproduto, a água (Mano & Mendes, 2001).

Fig. 3.5 - O PET poli-(tereft alato de etileno) é formado através de uma reaçãode poliadição, com produção de água. Original. Sofia P. Coelho.

Alguns polímeros de uso disseminado são obtidos pela condensação de dois copolímeros.Nessa categoria estão incluídos, por exemplo, o náilon, a fórmica e poliuretano (Mano & Mendes,2001, Rabello, 2000). A baquelite é um polímero formado a par tir da condensação do fenol como formaldeído (Fig. 3.6). Outros polímeros que são formados via condensação: poliésteres e aspoliamidas ( náilon).

Ácido tereftálico Etileno Glicol

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O acetato de vinila pode gerar polímeros importantes através da hidrólise alcalina(Fig. 3.7).

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 3.6 - Reação de condensação ent re o fenol e o formaldeído dando origem ao polifenol baquelite.Original. Paula P. Coelho.

Fig. 3.7 - Hidrólise alcalina do acetato de vinila produzindo o polímero poli(álcool vinílico). Original. Sofia P. Coelho.

Fenol Formaldeído Polifenol (baquelite)

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A maioria dos polímeros de uso intensivo na indústria de plásticos pode ser obtida porpoliadição (Tab. 3.1).

Monômero Polímero Aplicação

Etileno Polietileno

Frascos para bebidas, vasilha-mes para cozinha/banheiro,tanques de combustivel, man-gueiras para jardim, material iso-lante, etc.

Propileno PolipropilenoCadeiras, poltronas e pára-choques automotivos.

Cloreto de Vinila PVC Tubos e conexões.

Estireno Isopor Isolante térmico.

Acrilnitrilo OrionLã sintética em agasalhos,cobertores e tapetes.

Metilacrilato de metila PexiglassPlástico transparente quesubstitui o v idro plano e lentesem geral.

Tetrafluoretileno TeflonRevestimento interno depanelas.

Isobuteno Borracha FriaPneus, Câmaras e artefatos de

borracha em geral.Isopreno Borracha NaturalCloropreno Neopreno ou Duopreno

1,6-diaminohexano(ácido adípico)

NáilonEngrenagens, maquinaria,tecidos, cordas e escovas.

Etilenoglicol (ácido teref tálico) Terilene (Dracon) Tecidos em geral (Tergal).

Aldeído fórmico(fenol comum)

Baquelite (Fórmica comum)Revestimento de móveis,material elétrico (tomadas einterruptores).

Poliéster ou poliéter de polife-nileno

Poliuretano

Colchões e travesseiros,isolante térmico e acústico,rodas de carrinhos de

supermercados. 

Tab. 3.1 - Principais polímeros, suas aplicações e os monômeros usados para sua obtenção indus trial. Obser var queexistem vários monômetros sinté ticos que podem ser usados no lugar da borracha natural.

Fonte: Rabello, 2000 e Mano & Mendes, 2001.

O advento dos tecidos sintéticos possibilitou um enorme ganho na qualidade de vida daspessoas. Dentre esses polímeros podemos citar o náilon foi que foi um dos polímeros associadosa uma série de mudanças de hábitos e de formas de vidas das mulheres nos grandes centrosurbanos do mundo ocidental (Fig. 3.8).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 3.8 - Nos anos cinqüenta, a venda de meiade náilon da Dupont atraía multidõenos EUA. Todos na expectativa dobter um produto revolucionárioassociado a uma nova concepção dvida urbana, associada à liberdadde movimentos, à praticidade notrabalhos domésticos, tudo issa um custo plenamente acessíveà classe média. Naquela épocapoucos imaginavam os problemaambientais que a produção emmassa dos plásticos iria causar trê

décadas depois.

A disseminação do uso dos materiais sintéticos no vestuário humano bem como nosutensílios de higiene pessoal causou também um súbito aumento da presença desses materiaina natureza. Assim, meias de náilon, escovas de dentes ou garrafas PET podem ser encontradaflutuando no oceano a dezenas ou mesmo centenas de quilômetros da costa. Esses materiaiscausam não somente a morte de inúmeros peixes e outros vertebrados por incapacidade deingestão ou assimilação desses produtos no trato digestivo como também podem causar outro

distúrbios no funcionamento dos ecossistemas tais como impedindo a penetração de oxigênionos sedimentos quando presentes em grandes quantidades. Uma fase importante na fabricação da matéria plástica é a aditivação dos polímeros (Tab

3.2) que é obtida através da adição de uma série de agentes químicos especiais. Assim podese melhorar (e muito) a qualidade final do produto. Dessa forma, não somente a cor exata, matambém a durabilidade, a flexibilidade ou ainda a resistência mecânica podem ser ajustadosconforme as necessidades específicas do produto final que se deseja fabricar.

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Tab. 3.2 - Tipos de aditivos usados na indústr ia de matéria plástica que modificam as propriedades físicas dopolímero.

Fonte: modificado de Mano & Mendes, 2001.

Muitos dos aditivos químicos usados na indústria de matéria plástica podem dificultar (emuito) a reciclagem final do produto (Fig. 3.9). Dessa forma, é importante que a sociedade, oscentros de pesquisa e a indústria estejam sempre afinados de modo a maximizar não somentea questão da qualidade do produto, mas também deve ser observada a questão da facilidade dese reciclar o produto após o seu consumo.

Aditivos FunçãoAgente corante Conferir cor

Antiestático Evitar eletrização ao atrito

Antioxidante Impedir degradação por oxidação

Biocida Impedir degradação por micro-organismos

Plastificante Aumentar flexibilidade

Estabilizante UV Impedir degradação por raios ultravioletas

Estabilizante térmico Impedir degradação por aquecimento

Fig. 3.9 - Um dos aspectos mais atraentes da matéria plástic a é a grande diversidade de cores que o mesmo tipode plástico pode assumir. As diferentes cores são obtidas através da adição de agentes corantes. O uso deaditivos pode dificultar a reciclagem da matéria plástica. Fonte: Stock.XCHNG

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

3.3 - Classificação dos polímeros e

tipologia dos plásticosHá diversas maneiras de se dividir os polímeros. A classificação por produção, já citada

acima, é uma delas. Podemos também classificar os plásticos segundo as suas característicamecânicas. Essas características decorrem da configuração específica das moléculas do polímeroSob tais aspectos, os polímeros podem ser divididos em termoplásticos, termorrígidos (termofixose elastômeros (borrachas).

Termoplásticos

A esta categoria pertence a maior parte dos polímeros comerciais (Fig. 3.10). As suapropriedades mecânicas variam amplamente podendo ser maleáveis, rígidos ou mesmo frágei

à temperatura ambiente. A sua estrutura molecular consiste em uma organização muito simplesmoléculas lineares, dispostas na forma de cordões soltos e agregados, como num novelo de lãUma das principais características desse tipo de plástico é que ele pode ser fundido diversasvezes. Alguns tipos de termoplásticos também podem dissolver-se em vários solventes. Dessforma, a categoria pode ser classificada como sendo de bom potencial para a reciclagemExemplos: polietileno (PE), polipropileno (PP), politereftalato de etileno (PET), policarbonato(PC), poliestireno (PS), poli(cloreto de vinila) (PVC), polimetilmetacrilato,(PMMA), etc.

Fig. 3.10 - Exemplos de matéria plástica te rmoplástica. Esse material pode ser bastante f lexívelmesmo na temperatura ambiente e apresenta um bom potencial de recic lagem. Nafoto, vemos embaixo, baldes já fabricados com matéria plástica reciclada. Foto: RMPC.

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Termorrígidos (Termofixos) 

Esse tipo de matéria plástica é caracterizado pela sua rigidez e, ao mesmo tempo, pelasua fragilidade. A sua estrutura molecular é caracterizada pela presença de cordões ligadosfisicamente entre si, formando uma rede ou um reticulado. Estão presos entre si através denumerosas ligações, não se movimentando com liberdade. Assim, são plásticos muito estáveis avariações de temperatura. Uma vez prontos, não mais se fundem e, portanto, apresentam umareciclagem complicada. O principais exemplos são o baquelite, presente em tomadas elétricas ecabos de panela (Fig . 3.11).

Fig. 3.11 - A matéria plástica termorígida é muito usada em cabos de panelas . Esse tipo de matériaplástica apresenta um baixo potencial para a reciclagem. Foto: RMPC.

Elastômeros (Borrachas)

Trata-se de uma classe intermediária entre os termoplásticos e os termorrígidos, pois nãosão fusíveis, mas apresentam alta elasticidade, não sendo rígidos como os termofixos. A suaestrutura molecular é similar à do termorrígido, mas com um menor número de ligações entreos “cordões”. Eles apresentam uma estrutura em rede, mas com malhas bem mais largas queos termorrígidos. Exemplos dessa categoria são os pneus, os anéis de vedações (o-rings) e asmangueiras de borracha. Apresentam uma reciclagem complicada pela incapacidade de fusão(Fig. 3.12).

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Outro tipo de classificação dos plásticos baseia-se no tipo de uso que o material proporcionaAssim temos os plásticos comuns, os plásticos de engenharia e aqueles de uso especial.

Plásticos comuns ou de massa (commodities)

Estes plásticos são produzidos e consumidos em grande quantidade. Apresentam um custobaixo em relação a outros termoplásticos. Eles têm características comparáveis aos Plásticos deEngenharia. Ex: Polietileno, poliestireno, polipropileno, PVC, etc.

Plásticos de engenhariaEsses materiais são mais nobres se observarmos as suas propr iedades físicas e químicas

Eles apresentam melhores características de resistência, durabilidade ou flexibilidade e sãoproduzidos em menor escala (Mano, 2003). Eles são mais caros e têm uma demanda bem menoembora sejam muito importantes em diversas aplicações ligadas à construção civil, na indústria(aeronáutica, aeroespacial, etc) ou mesmo na pesquisa. Alguns exemplos dessa categoria estãoconcentrados nas poliamidas (náilons), nos policarbonatos e nos poliésteres.

Plásticos de uso especial

Últimas conquistas no desenvolvimento de termoplásticos, pesquisados para fin

específicos. Entre as suas propriedades específicas, está a sua grande resistência mecânica e aresistência a temperaturas elevadas. As suas propriedades mecânicas são mantidas constantesem uma larga faixa de temperatura. Eles apresentam alta resistência às intempéries e à oxidaçãopossuem auto-retardamento da chama e emitem pouca fumaça quando sob o fogo; possuemresistência à ação de solventes e outros reagentes; são também resistentes à abrasão, àsradiações eletromagnéticas e possuem, em geral, um baixo coeficiente de expansão térmicaExemplos: visores de astronautas (policarbonato modificado), janelas de avião, peças plásticasde equipamento científico ou cirúrgico.

Fig. 3.12 - Exemplos de e lastômeros. Foto: RMPC

Vedação para hidrante

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3.4 - Os polímeros mais produzidos no

BrasilNo Brasil, existem cerca de vinte empresas produtoras de resinas, a maioria localizada

nos pólos petroquímicos. As principais resinas termoplásticas produzidas por estas empresas, doponto de vista comercial, estão citadas na tabela abaixo (Tab. 3.3).

N Cod. Nome Aplicaçôes

1 PET Polietileno tereftalato.

Garrafas de água mi-

neral, bebidas e fibrassintéticas.

2 PEADPolietileno de alta

densidade.

Engradados de bebi-das, baldes, garrafasde álcool, bombonas,embalagens diversas.

3 PVC Policloreto de vinila. Tubos e conexões.

4 PEBD

Polietileno de baixa

densidade.

Embalagens dealimentos, sacos

industriais, sacos delixo, filmes plásticosem geral.

5 PP Polipropileno.

Embalagens demassas e biscoitos,potes de margarina,

seringas descartáveis,fibras e fios têxteis,

utilidades domésticas,autopeças.

6 OS Poliestireno.

Carcaças de eletro-

eletrônicos, coposdescartáveis, embala-gens em geral.

7 --Outras resinas plás-

ticas.Outras aplicações.

Tab. 3.3 - Quadro explicativo dos principais polímeros usados na indúst ria de matéria plástica. Cada polímero recebeum número que facilita a sua identificação e, portanto, a sua reciclagem

Fonte: modificado de Mano & Mendes, 2001.

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Polietilenos (designação antiga do eteno):

Os polietilenos são caracterizados pelo seu baixo custo de produção, pela sua elevadaresistência química e aos solventes e pelo baixo coeficiente de atrito. É um polímero macio eflexível, de fácil processamento e com excelentes propriedades isolantes. Apresenta ainda umapermeabilidade à água sendo atóxico e inodoro. O peso molecular varia entre 50.000 e 300.000de peso molecular. O peso molecular de um composto químico é calculado através da somados pesos atômicos dos átomos (elementos) que o constituem. Os polietilenos podem sesubdivididos em vários outros tipos, de acordo com a sua densidade final.

Polietileno de alta densidade (PEAD)

Este tipo de polímero possui densidades variando entre 0,935 - 0,960g.cm-3. Apresenta

estrutura praticamente isenta de ramificações . Trata-se de um material rígido, resistente à traçãoapresentando uma resistência moderada ao impacto. Ele é utilizado em bombonas, recipientesgarrafas, filmes, brinquedos, materiais hospitalares, tubos para distr ibuição de água e gás, tanquede combustível automotivos, etc. (Fig. 3.13).

Fig. 3.13 - O polietileno de alt a densidade é usado, por exemplo, em equipamentos para aspersão de água,fertilizantes e defensivos agrícolas em plantas. Fontes: Ferromar / Viagua

Polietileno de baixa densidade (PEBD)

É um polímero com densidade menor variando entre 0,910-0,925 g.cm-3. Apresentamoléculas com alto grau de ramificação. É uma versão mais leve e flexível do PE. O PEDB éutilizado basicamente em f ilmes, laminados, recipientes, embalagens, brinquedos, isolamento defios elétricos, etc. (Fig. 3.14).

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Polietileno de baixa densidade linear (PEBDL)

Este tipo de polímero apresenta densidades na faixa 0,918-0,940 g.cm-3. A sua estruturamolecular é caracterizada por uma menor incidência de ramificações sendo que essas ramificaçõessão mais regulares e mais curtas que no PEBD. Em conseqüência, o PEBDL possui uma resistênciamecânica ligeiramente superior ao PEBD. A vantagem é que esse polímero apresenta um custode fabricação menor. As principais características do polímero são a flexibilidade e resistênciaao impacto o que o torna ideal para a aplicação em diversos tipos de embalagens de alimentos,

bolsas de gelo, utensílios domésticos, canos e tubos (Fig. 3.15).

Fig. 3.14 - Polietileno de baixa densidade é usado em embalagens plásticas e em uma infinidade de brinquedos.Foto RMPC

Fig. 3.15 - O polímero de baixa densidade linear – PEBDL tem como uma de suas principais aplicações o seuemprego em embalagens de alimentos e bebidas. Foto Cezar Costa

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Polipropileno (PP)

Esse polímero possui propriedades semelhantes às do PE, mas com ponto de amolecimentomais elevado. As suas principais propriedades são: baixo custo, elevada resistência químicaprincipalmente contra solventes orgânicos, fácil moldagem, fácil coloração, alta resistência àfratura por flexão ou fadiga, resistência ao impacto acima de 15ºC, boa estabilidade térmicamaior sensibilidade à luz UV e agentes de oxidação, sofrendo degradação com maior facilidadeo que é um ponto importante em termos de impactos ambientais.

As principais aplicações do polipropileno são na fabricação de brinquedos, recipientepara alimentos e produtos químicos, carcaças para eletrodomésticos, sacarias (ráfia), filmesorientados, tubos de canetas esferográficas (Fig. 3.16), carpetes, material de uso hospitalar (jáque pode ser esterilizável), capacetes e autopeças (párachoques, pedais, carcaças de bateriasetc.) (Fig. 3.17).

Fig. 3.16 - Um dos objetos de uso universal na atualidade: a caneta es ferográfica da BIC®. O tubo plástico queenvolve a carga de tinta da cane ta é feito de polipropileno. Foto Cezar Costa

Fig. 3.17 - O polipropileno também é muito utilizado na fabricação de fibras usadas na fabricação das faixas coloridasdas cadeirinhas de praia ou mesmo em tapetes e capachos. Ele ainda pode ser usado na moldagem de peçamais rígidas que são usadas como encosto e no assento de cade iras ou capacetes usados na cons trução civiFoto Cezar Costa

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Poliestireno (PS)

Trata-se de um polímero termoplástico duro e quebradiço, com transparência cristalina(Fig. 3.18). As suas principais propriedades são: fácil processamento, fácil coloração, baixo custo,elevada resistência a ácidos e álcalis, transparência semelhante ao vidro, baixa densidade eabsorção de umidade, baixa resistência a solventes orgânicos, ao calor e às intempéries.

Fig. 3.18 - A elevada transparência do

poliestireno permite o seuuso em substituição emvidro em algumas aplicaçõesdomésticas e industriais. Asplacas de poliestireno podemser coradas e usadas emdiversas aplicações

  Fonte: stiloborrachas

PS expandido (EPS)

Trata-se de uma espuma semi-rígida que tem o seu uso universalmente conhecido atravésda marca comercial Isopor®. É polimerizado na presença do agente expansor ou então o mesmo

pode ser absorvido posteriormente (Fig. 3.19). Durante o processamento do material aquecido,ele se volatiliza, gerando as células no material. As principais características do EPS expandidosão a baixa densidade e o bom isolamento térmico. As principais aplicações são como protetorde equipamentos, isolante térmico, pranchas para flutuação, geladeiras isotérmicas, etc.

Fig. 3.19 - O PS expandido encont rouuma infinidade de aplicações

dada a sua excelentecapacidade de atuar comoisolante térmico. Aliás, essacaracterística do EPS foi aresponsável pela enorme listade aplicações para o produtoencotrada em um país tropicalcomo o Brasil.

  Fonte: Stock.XCHNG

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Policloreto de vinila (PVC)

As principais propr iedades do PVC são: o baixo custo e a sua elevada resistência à champrincipalmente pela presença do cloro. O seu processamento demanda cuidado dado ao fato deque o monômero que forma o polímero é um potente cancerígeno. Frequentemente são usadoaditivos plastificantes, usados para tornar o polímero mais flexível. Esses aditivos consistem decompostos formulados à base de ftalatos sendo também considerados cancerígenos. O GrupoGreenpeace vem promovendo ampla campanha para banir o uso do PVC que contenha esseaditivo. O PVC hoje é amplamente usado em tubos e conexões hidráulicas (Fig. 3.20).

Fig. 3.20 - O PVC teve o seu usoconsagrado em tubose conexões para adistribuição de água nasresidências. Ele substituiu,com inúmeras vantagens,o uso de tubulação de açogalvanizado nas instalaçõeshidráulicas nas residências.Foto: RMPC.

Polietileno tereftalato (PET)

Embora tenha sido inventado e patenteado em 1941, o uso inicial do PET destinou-seprincipalmente para a confecção de fibras têxteis. No final da década de 60, esse polímerocomeçou a ser desenvolvido para aplicações em embalagens. As principais propriedades sãoleveza, transparência, brilho, e suas boas propriedades mecânicas e de barreira do dióxido de

carbono (CO2). Atualmente, o PET encontra uma série de aplicações: frascos e garrafas para usoalimentício/hospitalar, cosméticos, bandejas para micro-ondas, filmes para áudio e vídeo, fibratêxteis.

As garrafas de refrigerante são responsáveis pelo consumo de 70% do total de embalagende PET (Fig. 3.21). Deve ser destacado que em apenas um ano, entre 1996 e 1997, o consumodesse material aumentou em 24% no Brasil e entre 1997 e 1998, novamente 17% (Sammarco& Delfini, 1999) (Tab. 3.4).

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1997 1998 1999

Produção(t) 97.945 143.343 200.00

Consumo aparente (t) 173.268 249.012 298.413

Tab. 3.4 - Produção e consumo de plásticos tipo PET no Brasil no tr iênio 1996-1998

Fonte: ABIPET, 2009.

Fig.3.21 - Apesar das garrafas PET serem produzidas em massa e causarem grandes danos ambientais no país, nãoexiste no país uma política pública definida para o estabelecimento de programas de reciclagem eficientedesse tipo de material. No entanto, a reciclagem de garrafas PET pode ser um negócio rentável se for bemplanejado e supervisionado por profissionais competentes e devidamente capacitados.

Fonte: Stock.XCHNG

3.5 - Modelagem do plásticoExistem quatro técnicas básicas que são usadas para a modelagem de peças plásticas:

(a) modelagem por injeção, (b) modelagem por assopro, (c) modelagem por extrusão e (d)modelagem por calandragem.

Modelagem por injeção

A matéria plástica (grãos coloridos) obtida da segunda geração, é derretida em máquinasespeciais que imediatamente injetam o material fundido em moldes apropriados. Com oresfriamento ocorre o endurecimento do material (Fig. 3.22).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 3.22 - Esquema ilustrando a modelagem de plásticos porinjeção. Esse método é muito usado para a fabricaçãodos termoplásticos.

Modelagem por assopro

A massa fundida é lançada violentamente contra as paredes internas do molde, através de

um jato de ar (Fig. 3.23).

Material Plástico

Resistências

Cilindrode Injeção

Roscade Injeção

Bico de Injeção

Produto

Molde

Fig. 3.23 - Esquema ilustrando a modelagem de plástico porassopro. Esse tipo de modelagem é usado para aprodução das garrafas PET, por exemplo.

Fonte: Modificado por CezarCosta do original de Silveira &Dopke, 2009.

Fonte: Modificado por CezarCosta do original de Silveira &Dopke, 2009.

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Modelagem por extrusão

A técnica da extrusão de plásticos é caracterizada por uma expansão como resultado daebulição do seu teor de água. Os produtos, após serem expostos à alta pressão de extrusão e auma temperatura correspondente elevada, levam a fusão do plástico que então deve passar porum orifício com a forma desejada, sendo imediatamente resfriado. Os produtos de ex trusão sãodescarregados continuamente ou de modo intermitente no interior de uma câmara, através dastubeiras de extrusão. Essa é uma câmara fechada, um ambiente onde existe uma sobrepressãoregulável em relação com a pressão atmosférica (Fig. 3.24).

Fig. 3.24 - Extrusora de 75 mm para PVC rígido desenvolv idapela empresa Perfilpolimer-Galvaplast, Joinville, SCque pode produzir forros e divisórias de PVC.

Fonte: Perfilpolimer (2009).

A técnica da extrusão é muito utilizada para a manufatura de tubos, canos, mangueiras,embalagens, hastes flexíveis, etc. (Fig. 3.25).

Fig. 3.25 - Exemplo de peças que são moldadas por modelagem de ex trusão. A técnica é muito usada para aprodução de tubos, mangueiras e per fis de vários polímeros, dentre eles o PVC . Fonte: Quebarato

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Geração 1

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Modelagem por calandragem

O material derretido, após atravessar cilindros em rotação, transforma-se em lâminaviabilizando a produção de folhas plásticas. (Fig. 3.26).

Fig. 3.26 - Calandra mecânica, modelo ACIM, produzida pela empresa AGA , Indústria e Comérc io, Limeira, SP. Essetipo de máquina pode produzir vários tipos de folhas plásticas com inúmeras aplicações.

Fonte: AGA (2009).

3.6 - Cadeia produtiva do plásticoA indústria petroquímica produz a matéria prima (nafta). O segundo elo (geração 2) dess

cadeia é formado pelas unidades de polimerização que trabalham em estreito contato com aindústria química que é responsável pelo fornecimento dos aditivos. O terceiro elo (geração3) é representado pelas indústrias de transformação cuja produção final destina-se a três tipo

de clientes: (a) comércio varejista, (b) atacadista (distribuidores) e (c) clientes industriaisFinalmente, o produto chega às mãos do consumidor final, que seria o quinto elo da cadeia deprodução dos plásticos (Fig. 3.27).

Fig. 3.27 - Cadeia produtiva da matéria plástica. Os produtos de matéria plástica que são encontrados nas lojas sãomanufaturados pelas indústrias de transformação (geração 3). Essas indústrias, por sua vez, recebem opolímeros já prontos e formulados por indústrias segunda geração. A indústria petroquímica fornecerá, posua vez, os produtos petroquímicos básicos tais como a nafta, por exemplo. Original. RMPC .

ConsumidorComércioGeração 3Geração 2

ClienteIndustrial

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As três gerações de indústrias envolvidas na cadeia produtiva do plástico são muitodiferentes entre si. A primeira geração é formada por indústrias de base do setor. Essas indústrias

exigem um grande investimento para serem instaladas, algo da ordem de US$ 0,5 bilhão. Sãoindústrias que dependem de políticas de governo específicas para a sua instalação e estãolocalizadas em pólos-petroquímicos. O seu número é reduzido (3-5 indústrias no Brasil, porexemplo) sendo que elas fornecem matéria prima para um grande número de empresas desegunda geração. Uma empresa típica da segunda geração seria uma unidade de polietilenoque pode chegar a ter uma capacidade instalada de até 200.000 toneladas por ano e requerinvestimentos de 100 a 400 milhões de dólares para a sua instalação. Essas empresas desegunda geração é que irão vender seus produtos para as indústrias de transformação (terceirageração) que realmente se constituem nas empresas que mais empregam no setor. O númerodas indústrias de transformação no Brasil pode chegar hoje a mais do que 5.200 empresas. Cadauma dessas empresas exige em média, cerca de 15 milhões de dólares para a sua instalação.Essas indústrias é que irão oferecer os produtos para o consumidor final (Fig. 3.27).

Fig. 3.28 - Existe uma relação inversa entre a capacidade instalada, os investimentos necessários e o número deempresas nas três gerações que compõem a cadeia produtiva da matéria plástica. A esquerda temos onúmero de empresas existentes em cada geração e à direita temos exemplos típicos da produção dasempresas de cada geração bem como os investimentos necessár ios para a sua construção e operação.

Fonte: modificado de Padilha (1999).

A cadeia petroquímica no Brasil tem cerca de trinta anos e hoje ela está em re-estruturação,em especial nos segmentos de primeira e segunda geração (processo de privatização iniciadona década passada). O segmento de terceira geração, foi implantado através de investimentos

oriundos do capital privado.

O consumidor final adquire produtos gerados pelas indústrias de terceira geração ou declientes industriais que, por sua vez, compram e manufaturam produtos usando matérias primasda segunda e terceira geração. O número de atores e os diferentes padrões de interações entreeles refletem a complexidade da cadeira produtiva de matéria plástica que ainda é caracterizadapelo elevado número de pessoas envolvidas. A cadeia produtiva da matéria plástica afeta, nofinal, uma enorme parcela da população.

Exemplo:450 x 103 ton.ano-1

US$ 500 x 106

Exemplo:200 x 103 ton.ano-1

US$ 100-400 x 106

Exemplo:1,5 x 103 ton.ano-1

US$ 15 x 1085200

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Inicialmente, eram fabricados produtos de baixo valor agregado (descartáveis, utensíliodomésticos, adornos, etc.). A expansão de mercado e desenvolvimento econômico, principalment

o desenvolvimento da indústria brasileira de polímeros, matéria-prima do setor de transformaçãgerou uma demanda por produção de produtos mais sofisticados produzidos no país. Hoje Brasil participa ativamente de diversos segmentos industriais, tais como têxteis, embalagenseletroeletrônicos e o setor automobilístico, dentre outros. Entretanto, a quase totalidade dopolímeros produzidos e consumidos no Brasil são commodities ou pseudo-commodities, tais compolietileno, polipropileno, poliuretano, poliestireno, PVC e PET. Os polímeros mais sofisticados dalto desempenho, que têm grande valor, em geral, ainda não são produzidos no país.

3.7 - Produção e consumo de plásticos noBrasil

O consumo aparente de trans formados plásticos no Brasil cresceu 7,1% em 2007, cheganda 4,9 milhões de toneladas (Tab. 3.5). O consumo médio per capta do brasileiro é de 24,23kg.habitante-1.ano-1. Esse pode ser considerado um consumo ainda muito baixo, se comparadaos valores dessa variável observados em outras partes do mundo. Os africanos, por exemploconsumiram, em 2005, em média 25,0 kg e os argentinos, no mesmo ano, 35,0 kg habitanteano -1 (ABIPLAST, 2009).

Item VolumeCrescimento Anual

(2007)

Consumo aparente 4,89 x 106  toneladas +7,1%

Importação de plásticos 0,39 x 106 toneladas +11,8%

Custo Importações (em US$) US$ 1,75 x 109 +24%

Exportação de plásticos pelo Brasi l 0,33 x 106 toneladas +2,7%

Custo em Expor tações (em US$ ) US$ 1,17 x 109 +12,5%

Tab. 3.5 – A indústria de transformação do plástico no Brasil em 2007.

Fonte: ABIPLAST, 2009.

A maior participação do mercado de plásticos do Brasil é devida ao setor de embalagenque contribui com nada menos do que 41% do mercado (F ig. 3.29). A seguir, vêm os setores dconstrução civil, dos descartáveis e dos componentes técnicos. Deve ser mencionado, ainda, elevado percentual dos diversos usos (“outros”) que sugere a multiplicidade de aplicações doplásticos na indústria e sociedade em geral.

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 41%

 12% 11%

 10%

 8%

 5%

 3% 2%

 8%

Embalagens Construção Civil Descartáveis Componemtes técnicos

UtilidadesDomésticas

Calçados Laminados Outros

Uso Agrícola

Fig. 3.29 - Segmentação do mercado de plást icos no Brasil (ABIPLAST, 2009).

O setor de fabricantes de produtos à base de matéria plástica vem experimentando umaforte expansão no Brasil, principalmente ao se considerar o período 2000-2004 (Fig. 3.30).

Fig. 3.30 - Segmentação do mercado de plásticos no Brasil - Evolução do número deempresas fabricantes de maté ria plástica no Brasil no período 2000-2003.

Fonte: ABIPLAST (2009). Brasil (ABIPLAST, 2009).

2000 2001 2002 2003

6000

6500

7000

7500

8000

8500

   N   ú  m  e  r  o   d  e   E  m  p  r  e  s  a  s

Ano

Número de Fabricantes de Plástico (Brasil)

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Ao compararmos as estatísticas da Tab. 3.5 juntamente com as figuras acima, fica claroque existe uma expansão da produção e do uso da matéria plástica no país. É possível deduzi

ao ler tais estatísticas, que vem crescendo o uso de alimentos já prontos para o consumo nopaís tais como bebidas, sucos, iogur tes, etc. A permanecer essa tendência, é possível antever umgrande aumento da contribuição da matéria plástica na composição média do lixo doméstico npaís.

O aumento do consumo de plástico está associado a dois tipos de problemas ambientais(a) impacto ambiental decorrente do aumento da produção em toda a cadeia produtiva dplástico; (b) aumento dos problemas associados a geração de resíduos sólidos, principalmentconsiderando o fato de que boa parte dos municípios brasileiros estão ainda bastante atrasadonessa questão (vide cap. 02).

Como foi visto acima, a cadeia produtiva do plástico inicia-se nas refinarias de petróleo já que o naf ta é a principal matér ia prima dessa cadeia. As ref inar ias de petróleo causam um

grande impacto tanto em termos de poluição hídrica quanto em termos de poluição atmosféricaO petróleo necessita de grandes volumes de água para ser refinado. O refino do petróleo gergrandes quantidades de efluentes líquidos que mesmo após passarem por diversas etapas dtratamento irão causar notáveis impactos nos mananciais que recebem os efluentes.

Na região metropolitana de Belo Horizonte, existe uma grande refinaria, a refinaria GabriePassos da Petrobrás, a REGAP. Essa refinaria apresenta uma capacidade de processamento dpetróleo equivalente a 24.000 m3.dia-1  ou 150.000 bbl.dia-1  (PETROBRÁS, 2009). Segunddados divulgados pela própria empresa, cerca de 9.700 m -3.dia-1 de água são usados no processdo refino do petróleo. A represa de Ibirité recebe os efluentes líquidos provenientes dessa usinaA REGAP está situada nas imediações da represa (Fig. 3.31).

O reservatório de Ibirité é um pequeno reservatório periurbano que está altamenteutrofizado. As suas águas apresentam uma baixa transparência e frequentemente são relatadoeventos típicos de sistemas hiper-eutróficos tais como o crescimento exagerado de plantaaquáticas (tais como o Aguapé) e o florescimento de cianobactérias (F ig. 3.31).

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Fig. 3.31 - Diferentes aspectos da represa da Ibirité, localizada na reg ião metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais .

À esquerda, em cima, a presença do aguapé. À direita, grumos de floração de cianobactérias. Em baixo, aesquerda, braço por onde entram os efluentes da lagoa de polimento anaeróbico da REGAP. Em baixo, ádireita, a represa em primeiro plano as torres de destilação do petróleo da REGAP no segundo plano e aofundo torres de telecomunicações. Fotos: RMPC.

O Laboratório de Gestão de Reservatórios (LGAR) do Instituto de Ciências Biológicas daUniversidade Federal de Minas Gerais, ICB-UFMG vem executando trabalhos nesse reservatório,de modo independente, desde 1998 (Pinto-Coelho et al. 1998). Recentemente, entre os mesesde outubro a dezembro de 2008, o LGAR fez uma série de estudos com o objetivo de monitoraro avanço do assoreamento e a qualidade de água nesse reservatório.

O primeiro estudo foi a execução de um levantamento completo da batimetria (carta dasprofundidades) do reservatório. Esse estudo permitiu, entre outras coisas, a validação da basecartográfica do sistema com uma precisão submétrica. Inicialmente, foram estimados uma série deparâmetros morfométricos do reservatório. O volume atual da represa, por exemplo, foi estimadoem 10.89 x 106 m3, a área inundada em 2,04 km2 (para a cota de 28 de outubro de 2009) ea profundidade máxima foi de 17,67 m (X= 592196, Y= 7785754 UTM). Adicionalmente, foramidentificadas as áreas mais propensas a sofrerem com o assoreamento e foram confeccionadasas cartas batimétricas da represa. As áreas mais assoreadas foram, a seguir, confrontadas com osprincipais tipos de usos do solo do entorno imediato.

Em um segundo estudo, e através de uma metodologia inovadora, o LGAR também conduziuum monitoramento superintensivo no reservatório que envolveu a tomada de amostras em mais

de 1000 pontos de coletas distribuídos em todo o reservatório. Essa metodologia envolveu o usode sondas multiparâmetros programáveis que permitem a tomada de uma grande lista de variáveislimnológicas praticamente em tempo real em uma f reqüência de milhares de pontos por hora. OLGAR desenvolveu uma metodologia inovadora que permite acoplar essas sondas com aparelhosde GPS (D-GPS) de tal modo que todos os dados obtidos são imediatamente geo-referenciados.Através de um tratamento de dados que exigiu o uso de sistemas de georefereciamento deúltima geração foram criadas cartas temáticas que ilustram o grau de degradação das águas darepresa de Ibirité (Fig. 3.32).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O outro problema ambiental associado ao aumento no consumo de plásticos previsto para

o Brasil é o aumento do lixo que é descartado de modo indevido nas cidades. Considerando ofato de que, ainda hoje, a maior par te do lixo doméstico coletado no Brasil tem um tratamentoinadequado, conclui-se que haverá um incremento da poluição causada por plásticos nos diversotipos de ecossistemas e biomas do país, em particular ao longo dos ribeirões, riachos, lagos erios e reservatórios.

Fig. 3.32 - Carta temática da condutividadelétrica na represa de Ibirit(MG). A condutividade é ummedida que reflete os teorede sais e outros íons dissolv idona água. Os dados tomados nprofundidade de sub-superfíciea 0,5 m com o auxílio de umsonda multiparâmetros YSI 556ao final da estação seca, emoutubro de 2008. A interpolaçãdos dados foi obtida pelmétodo da krigagem ordináriaO padrão espacial sugere umforte associação entre as regiõecom maior condutividade dágua e os locais de entrada do

efluentes líquidos originárioda REGAP. No encarte à direitapolígonos georeferenciadorepresentando os principaitipos de usos do solo ao redoda represa (a orla d a represestá representada como LAGOAem azul brilhante, ao fundo). Aoutras atividades humanas nbacia não poderiam justificaos padrões encontrados (PintoCoelho et al . in press).

Krigagem ordinária de dados de condutividade elétrica(300 - 490us/cm - 1000 pontos)

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Fig. 3.33 - Acúmulo de diversos tipos de plásticos (com ênfase em garrafas PET) na orla da represa da Pampulha,Belo Horizonte, na estação chuvosa de janeiro de 2009. Foto: RMPC.

A foto acima (Fig. 3.33), tirada às margens da represa da Pampulha em Belo Horizontedurante a estação chuvosa de janeiro de 2009, confirma a tendência para um maior acúmulo dematéria plástica usada nos rios, lagos e reservatórios do Brasil. Esse triste cenário decorre dasmazelas no gerenciamento da coleta dos resíduos sólidos nas grandes cidades brasileiras. Nocaso da represa da Pampulha, pode-se notar uma maior presença de matéria plástica usada nostributários que drenam bairros e vilas habitados por uma população de baixo poder aquisitivo.Em geral, as populações dessas vilas e favelas são muito pouco assistidas pelos diversos tiposde serviços públicos tais como coleta de lixo regular e eficiente, boa rede de segurança e de

escolas públicas.

Existe uma forte associação positiva entre a eficiência na prestação dos serviços públicosbásicos, o grau de cidadania e conscientização da população sobre a proteção do meio ambientee o sucesso dos programas de reciclagem ambiental.

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3.8 - A Reciclagem dos plásticosA sociedade moderna gera uma enorme quantidade de plástico que deve ser coletado

tratado e reciclado. O consumo mundial de plásticos aumentou de 5 milhões de toneladas em1950 para mais de 100 milhões de toneladas atualmente (WasteonLine, 2009).

No presente capítulo, iremos demonstrar que a reciclagem de plásticos é uma atividadeeconômica em franco desenvolvimento no Brasil (Fig. 3.34). Entretanto, o conceito e principalmenta prática da reciclagem de plásticos são ainda novidades para a maioria das pessoas. Pouco apouco, essa nova postura de reaproveitamento dos materiais está entrando na rotina de consumodos brasileiros e, nesse sentido a reciclagem da matéria plástica pode ser um bom exemplo parailustrar essas mudanças.

Fig. 3.34 - A sociedade brasileira está se adaptando rapidamente à idéia de que reciclar é fundamental. Nesse senti-  do, é importante que a reciclagem de matéria plástica não seja apenas vista como uma important

atividade econômica e não fique atrelada apenas a criatividade e a capacidade de investimento dalguns poucos empresários. É necessário que as escolas passem a usar a educação ambiental dentrode uma nova perspectiva com o emprego de profissionais mais capacitados, uso de conteúdo de melhoqualidade e com um foco maior no contexto local e regional. É necessário também que as universidadee centros de pesquisa possam oferecer tecnologias de reciclagem que realmente possam ser usadas noBrasil. Finalmente, é necessário que o poder público faça melhor a sua parte (não somente legislandonormatizando e fiscalizando melhor) mas também através do fomento à reciclagem através de políticapúblicas específ icas. Finalmente, espera- se que a sociedade adote o conceito da reciclagem em toda a suplenitude.

Ilustração: Cezar Cost

Um dos maiores causadores dos problemas ambientais gerados pelo descarte indevido dematéria plástica está relacionado ao uso excessivo dos sacos plásticos usados nas compras desupermercados, por exemplo. Recentemente, tanto o comércio varejista quanto as associaçõede consumidores passaram a adotar uma série de medidas visando minorar esse problema (Fig3.35).

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Fig. 3.35 - Um dos maiores vilões dapoluição por plásticos nas cidadestalvez seja o tradicional saquinhode compras do supermercadoque, após um breve uso, contr ibuipara o aumento da quantidadedo lixo convencional e, muitasvezes, ainda acaba por poluiro meio ambiente. No entanto,várias redes de supermercadosvêm buscando alternativas paraminorar o problema. Uma dasnovas alternativas refere-se aouso de matéria plástica reciclada

para fabricar o próprio saquinhode compras do supermercado,como no caso foto acima. Outrassoluções incluem o uso desacolas reaproveitáveis de tecidoou, ainda, o incentivo aos velhoscarrinhos aramados usados pelasdonas de casa, nos anos sessenta,para irem às feiras-livres.Foto: RMPC.

Já existem estatísticas confiáveis demonstrando que é bastante significativo o uso de

matéria plástica reciclável no país. Existem duas fontes de matéria plástica reciclada. A primeiratem a sua origem na matéria plástica originada no descarte doméstico e comercial ao quese convencionou chamar matéria plástica obtida após um primeiro ciclo de consumo, ou seja,matéria plástica pós-consumo. Outra importante fonte de matéria prima para a reciclagem deplásticos tem a sua origem na própria indústr ia através de sobras geradas no processo industr ialde transformação do plástico em algum bem de consumo. Em 2005, do total de matéria plásticareciclada, cerca de 59,4% desse total vieram da primeira categoria, ou seja, o pós-consumo. Osrestantes 40,6% tiveram a sua origem em sobras industriais.

O uso de matéria plástica reciclada proveniente do consumo era de apenas 50.000toneladas anuais em 1991 (ABIPLAST, 2009). Já em 2005, a indústria processou nada menos doque 456.000 toneladas desse material, o que significa um crescimento de 912% em apenas 14

anos (Fig. 3.36). A análise dessas estatísticas deve ser feita com muita cautela quando se tratade interpretar o seu significado em termos de redução de impactos ambientais causados pelodescarte de matéria plástica. Em primeiro lugar, devemos sublinhar que houve igualmente umgrande aumento na produção de matéria plástica nesse mesmo período e, em segundo lugar,devemos ainda lembrar que os programas de coleta seletiva estão ainda muito atrasados no país.Esse segundo fator talvez explique o fato de que temos visto um crescente acúmulo de matériaplástica em rios lagos e demais mananciais hídricos principalmente aqueles que recebem osdejetos de áreas intensamente urbanizadas no país.

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3.9 - Métodos de reciclagem dos plásticos

A reciclagem de matéria plástica pode ser alcançada através dos seguintes métodos:

Reciclagem Química: transforma o plástico em petroquímicos básicos, como monômeroou misturas de hidrocarbonetos que servem como matéria prima, em refinarias ou centraispetroquímicas, para a obtenção de produtos nobres de elevada qualidade.

Reciclagem Mecânica: converte os descartes plásticos pós-industriais ou pós-consumoem grânulos que são então enviados novamente para as indústrias da 3a geração (vide acima).

Reciclagem Energética:  visa a obtenção de energia contida nos plásticos através deprocessos térmicos.

Fig. 3.36 - Crescimento do uso de matéria plástica reciclável tanto do tipo reciclada do descarte doméstico (pósconsumo) quanto do uso de aparas e sobras da indús tria para a fabricação de novos produtos pela indústride terceira geração, ou seja, a indústria de transformação. Fonte: ABIPLAST (2009).

Ano

Reciclágem de Plásticos (Brasil)

Pós-Consumo Industrial

       T     o     n     e        l     a        d     a     s  .     a     n     o    -       1

1991 1995 1997 2003 2004 2005

0

100

200

300

400

500

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Reciclagem química

Este tipo de reciclagem tem por objetivo a recuperação dos componentes químicosindividuais para serem reutilizados como produtos químicos ou para a produção de novos plásticos(Fig. 3.37). O processo permite tratar mistura de plásticos, reduzindo custos de pré-tratamento,custos de coleta e seleção. Além disso, permite produzir plásticos novos com a mesma qualidadede um polímero original. Os pr incipais processos de reciclagem química são os seguintes:

Hidrogenação:   As cadeias dos polímeros são quebradas mediante o tratamento comhidrogênio e calor, gerando produtos capazes de serem processados em ref inarias.

Gaseificação: Os plásticos são aquecidos com ar ou oxigênio, gerando-se gás de síntesecontendo monóxido de carbono e hidrogênio.

 Quimólise: Consiste na quebra parcial ou total dos plásticos em monômeros na presença

de glicol, metanol e água.

Pirólise:  É a quebra das moléculas pela ação do calor na ausência de oxigênio. Esteprocesso gera frações de hidrocarbonetos capazes de serem processados em refinaria.

Fig. 3.37 - Esquema ilustrando as principais fases da reciclagem química de matér ia plástica. Esquema: Sofia P. Coelho

Reciclagem mecânica

O processo é caracterizado pela moagem dos produtos visando a obtenção de grânulosque poderão posteriormente ser usados na produção de outros produtos, como sacos de lixo,solados, pisos, conduítes, mangueiras, componentes de automóveis, fibras, embalagens não-alimentícias e muitos outros produtos (Fig. 3.38). A principal vantagem é a de que essa técnicapossibilita a obtenção de produtos compostos por um único tipo de plástico, ou produtos apartir de misturas de diferentes plásticos em determinadas proporções. A reciclagem mecânica écomposta geralmente pelas seguintes etapas (Tab. 3.6).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 3.6 – Fases da reciclagem mecânica de plást icos.

Etapas

SeparaçãoMoagem

Lavagem

Aglutinação

Extrusão

Fig. 3.38 - Principais etapas da reciclagem para a produção de plástico granulado. Esquema: Sofia P. Coelho.

Fig. 3.39 - Fluxograma com as principais fases da reciclagem mecânica de plásticos usados (ABIPLA ST, 2009).

ProdutoDescartado

Moagem

Pó(material

particulado)

Água deLavagem

Lavagem

Borra(resíduo damoagem)

Tratamento eDisposição

Final

Secagem

Extrusão

Granulação(produto final)

ProdutoGranulado

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

A figura anterior (Fig. 3.39) ilustra um processo esquemático de reciclagem mecânica deresíduos pós-consumo. A diferença entre os processos para resíduos pós-consumo e resíduos

industriais é que, neste último, as etapas de lavagem e secagem são, muitas vezes, eliminadas.

Reciclagem Energética

A técnica utiliza os resíduos plásticos como combustível na geração de energia elétricae/ou térmica (Fig. 3.40). Além da economia e da recuperação de energia conseguidas, ocorreainda uma redução de 70 a 90% da massa do material, restando apenas um resíduo inerteesterilizado. O retorno energético na queima de matéria plástica é muito elevado. Em geral, opoder calorífico do plástico iguala-se ao do óleo combustível. Assim, 1,0 kg de plástico podegerar tanta energia quanto a queima de 1,0 kg de óleo combust ível.

A queima de matéria plástica visando a produção de energia elétrica inicia-se com a coleta

e triagem da matéria plástica. Numa segunda etapa, essa matéria plástica é amassada (mas nãoprensada) e encaminhada a uma fornalha. Essa fornalha, por sua vez, alimenta uma caldeira devapor que pode, dentre outras aplicações, gerar tanto água quente ou energia elétr ica (Fig. 3.40).Para que a reciclagem energética funcione corretamente é necessário que se instalem filtros quepossam tratar de modo adequado os resíduos gasosos e sólidos que são gerados no processoda queima do plástico. No entanto, hoje existem diversas tecnologias altamente confiáveis quetornam o processo não só economicamente viável, mas também ecologicamente sustentável.

Fig. 3.40 - Principais etapas da reciclagem energé tica de plástico. Esquema: Sofia P. Coelho

Testes em escala real na Europa comprovaram que o uso dos resíduos de plásticos comocombustível juntamente com carvão, tur fa e madeira além de ser tecnicamente viável apresentabons resultados tanto em termos econômicos quanto ambientais. A queima de plásticos emprocessos de reciclagem energética reduz o uso de combustíveis (economia de recursosnaturais). A reciclagem energética é realizada em diversos países da Europa, EUA e Japão e utilizaequipamentos da mais alta tecnologia, cujos controles de emissão são rigidamente seguros,anulando riscos à saúde ou ao meio ambiente.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

3.10 - Desempenho e perspectivas dareciclagem dos plásticos no Brasil

O gerenciamento dos resíduos sólidos é prática fundamental nas economias preocupadacom o desenvolvimento sustentável, porque leva em conta não somente a importância dapreservação ambiental, mas considera também a impor tância da redução na geração de resíduoou a saturação dos espaços disponíveis para aterros sanitários. Essas questões ainda são tratadade modo muito tímido na grande agenda de desenvolvimento econômico no Brasil atual.

O Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos – Plastivida elaborou um interessante estudointitulado “Elaboração e Monitoramento dos Índices de Reciclagem Mecânica de Plástico no Bras(IRmP)” (Esmeraldo, 2007). Esse estudo objetivou a caracterização, dimensionamento e análisdo desenvolvimento da reciclagem dos plásticos no Brasil. Esse documento está embasado emseis estudos regionais realizados anteriormente e três novos estudos relativos ao monitoramentodos índices de reciclagem de plástico no Brasil, cuja base foi consolidada para o período de 2003a 2005. Iremos, em seguida, analisar as principais estatísticas apresentadas nesse estudo.

Geração de plástico pós-consumo no Brasil

No Brasil, cerca de 2,3 milhões de toneladas de matéria plástica são descar tadas todos oanos (Tab. 3.7). A maior par te dessa matéria plástica é constituída pelas seguintes modalidade

de plástico: PEBD/PELBD, PET, PEAD dentre outros. A região sudeste é a responsável pela geraçãodas maiores quantidades, seguida pela região nordeste e pelo sul do Brasil. É interessante aquo comparativo entre a região nordeste e a região sul. Embora a região nordeste tenha um PIBnotavelmente menor do que a região sul, é impressionante os totais de matéria plástica geradonessa região (Fig. 3.41).

 

PET PEAD PVCPEBD/PELBD

PP OS Outros Total

Brasil 454.925 335.387 149.736 788.713 381.062 133.441 55.896 2.299.160

 

Tab. 3.7 – Geração de matéria plástica (em tone ladas) usada no Brasil.

Fonte: Esmeraldo, 2007.

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 33803

 23228

73035

10466   9204

Centro Oeste Norte Nordeste Sul Sudeste

PVC

75714

 52027

163588

23442

20615

PEAD

102700

 70570

221895

31797

27963

PET

178053

 122349

384703

55127

48480

PEBD/PELBD

Fig. 3.41 - Geração de plás tico pós-consumo nas regiões brasileiras para diferentestipos de plástico.

Índice de reciclagem mecânica de plástico pós-consumono Brasil

O índice de reciclagem é definido como sendo o quociente entre a quantidade de produtosreciclados sobre a quantidade de produtos gerados.

Fonte: Esmeraldo, 2007.

Índice de Reciclagem = Quantidade de produtos reciclados

Quantidade de resíduos sólidos gerados

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Embora a reciclagem de matéria plástica trate dos mesmos tipos de materiais que sãoobtidos na produção, a cadeia produtiva da reciclagem é muito diferente daquela mostrada

anteriormente, principalmente pelo fato de que os elos intermediários dessa cadeia atuampraticamente no limiar da informalidade e são praticamente excluídos nas diferentes políticaspúblicas de fomento à atividade econômica (Fig. 3.42)

Fig. 3.42 - Cadeia da reciclagem de matéria plástica. Os três primeiros elos dessa cadeia atuam em condiçõesprecárias e nunca foram alvo de polític as públicas de fomento visando a sua consolidação. Não há tambémuma base legal consolidada para regular a atuação desses atores especific amente quando se trata dereciclagem. Original: RMPC.

A cadeia da reciclagem da matéria plástica está embasada nos catadores de lixo (primeiroelo da cadeia) que é formado por pessoas no limiar da pobreza. Não há um reconhecimentoformal da sociedade sobre o valor dessa atividade e também não há nenhum apoio do setoprodutivo da cadeia de plásticos para promover uma melhoria substancial desse elo da cadeiaO segundo elo é um pouco menos informal e é ocupado por pequenas empresas, os sucateiroque compram dos catadores uma série de produtos que serão mais tarde enviados a empresa

de reciclagem. No caso da matéria plástica, essas empresas do terceiro elo fazem normalmente reciclagem mecânica do plástico. Os granulados são então enviados ao quarto elo que é formadopelas indústrias de transformação do setor.

Em 2005, foram reprocessadas 767.503 toneladas de matéria plástica no Brasil (Tab. 3.8)O setor de ut ilidades domésticas foi o que mais contribuiu, assimilando 17% desse total. O setotêxtil, da construção civil e o automotivo também contribuíram de modo significativo para oreprocessamento da matéria plástica reciclada.

Consumidor

Catadorde lixo

Sucateiro

Indústria deTransformação

Empresa deReciclagem

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Empresas de IRP Toneladas %

Utilidades domésticas 130565 17,0

Indústria têxtil 106770 13,9

Construção civil 71881 9,4

Automobilístico 63047 8,2

Descartáveis 61828 8,1

Industrial 59066 7,7

Agropecuária 53813 7,0

Limpeza doméstica 49091 5,4

Brinquedos 37321 4,9

Calçados 33757 4,4

Eletro-eletrônicos 25193 3,3

Móveis 21177 2,8

Alimentos 19931 2,6

Bebidas 7200 0,9

Uso Pessoal 6570 0,9

Outros 20304 2,6

Total 767503 100,0

Tab. 3.8 - A reciclagem de matéria plástica reciclada no Brasil por setores de atividades, tonelagem e percentuaisprocessados por diferentes setores de atividades (ano base: 2005).

Fonte: Esmeraldo (2007).

Reciclagem de plástico por tipo de resíduo plásticoconsumido

Existe uma enorme variabilidade regional nos índices de reciclagem de matéria plástica noBrasil (Tab.3.9). A região sudeste é a região que mais recicla matéria plástica no Brasil em termosabsolutos de tonelagem reciclada, seguida da região sul. É importante destacar aqui os baixosvalores de reciclagem observados nas regiões centro-oeste e norte do Brasil.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 3.9 - Quantidade de matéria plástica reciclada no Brasil, por regiões e no total segundo o tipo de plástico.Ano base: 2005.

Em termos percentuais, a geografia da reciclagem de plásticos no Brasil muda um poucoA região sul é aquela que mais recicla materiais plásticos no Brasil em proporção ao consumoatingindo um total de 31% no total, seguida pela região sudeste com 22,5% (Tab. 3.10). Oíndices de reciclagem são mínimos nas regiões centro-oeste e norte. Em termos dos tipos deplásticos reciclados, os maiores índices são para o PET e o PEAD. Nota-se, por exemplo, queos governos estaduais e administrações municipais do nordeste brasileiro devem mudar a suapostura em relação a reciclagem de matéria plástica e adotar uma postura mais pró-ativa nessesetor, particularmente em relação à reciclagem do PVC e do PEAD.

Tipo dePlástico Se Sul Ne Co Norte Brasil

PET 147381 57003 56512 1016 0 261912

PEAD 46728 34305 9003 2905 1241 94181

PVC 9446 6701 2394 97 758 15387

PEBD/PELBD

71980 72007 31111 9657 1241 185976

PP 86570 39945 10828 2692 1175 141210

OS 29716 6697 0 130 1182 37725

Outros 21639 4223 0 0 1241 27103

Total 413.441 220.882 109.847 16.497 6.836 767.503

Tipo dePlástico

Sul (%) Se (%) Ne (%) Co (%) Norte (%) Brasil (%)

PET 78,7 59,2 55,0 3,2 0,0 53,4

PEAD 46,9 13,8 2,7 11,1 0,0 15,6

PVC 22,7 5,1 0,0 0,0 0,0 5,4

PEBD/PELBD

15,0 9,6 14,2 16,8 0,0 9,8

PP 18,1 10,5 0,0 9,1 0,0 9,4OS 0,0 28,3 0,0 0,0 0,0 12,9

Outros 4,0 28,3 0,0 0,0 0,0 13,6

Total 31,0 22,5 19,4 9,2 0,0 19,8

Legenda: SE = região sudeste, SUL = reg ião sul, NE= região nordeste, CO = região cent ro- oeste e NORTE = regiãonorte. Para as siglas dos diferentes tipos de plásticos vide texto. Fonte: Esmeraldo, 2007

Legenda: SE = região sudeste, SUL = região sul, NE = região nordeste, CO = região centro- oeste e NORTE = regiãonorte. Para as siglas dos diferentes tipos de plásticos vide texto. Fonte: Esmeraldo, 2007

Tab. 3.10 - Percentuais de reciclagem de plást ico pós-consumo por grandes regiões do Brasil.

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Tab. 3.11 - Principais indicadores da indúst ria de recic lagem de matéria plástica no Brasil. Fonte: IRMP, 2005

Houve um notável crescimento do nível de ocupação nas empresas de reciclagem deplástico brasileiras na primeira metade dessa década (Fig. 3.43). O número de empregos passoude 11.501 em 2003 para 17.548 postos de empregos em 2005. A produção, medida em termosde faturamento dessas empresas, também cresceu de modo expressivo passando de pouco mais

de R$ 1,2 milhões em 2003 para R$ 1,6 milhões em 2005. A capacidade instalada aumentouligeiramente no período analisado passando de 1,05 para 1,28 x 10 6  toneladas por ano. Emdecorrência, houve um decréscimo do nível operacional dessas empresas que caiu de 73% em2003 para 60% em 2005.

Dimensionamento e desempenho da IRMP do Brasil

O setor de reciclagem de matéria plástica no Brasil é novo e o tempo de vida da maioriadas empresas que atuam no setor é inferior a 01 ano (Tab. 3.11). Em 2005, a atividade dereciclagem de plásticos no Brasil estava distribuída em um universo de 512 indústrias recicladorasque tiveram um faturamento bruto de R$ 1,6 bilhões. Cerca de 17.548 pessoas estavam atuandonesse ramo da indústria. A capacidade instalada dessas indústrias era de 1,28 x 106  toneladas,mas nem toda essa capacidade estava sendo ut ilizada em 2005.

Empresas IRPNúmero deEmpresas

Tempo de Vida

(Meses)

 Valor daProdução (R$ )

Número deEmpregos

CapacidadeInstalada

(Toneladas)

Reciclador (R) 248 11 616.998.082 6.587 550.592

Triagem 99 12 569.100.099 6.668 431.513

Transformadoras 131 19 239.282.336 3.757 239.296

Triagem eTranformadoras

34 14 199.602.971 535 60.203

Total 512 13 1.624.983.459 17.548 1.281.706

Fig. 3.43 - Indicadores da atividade industrial da reciclagem de plásticos no Brasil. Fonte: IRMP, 2005.

20020 0

2003 2004 2005 2006

   N   ú  m  e  r  o   d  e   t  r

  a   b  a   l   h  a   d  o  r  e  s

   C  a  p  a  c   i   d  a   d  e   i  n  s   t  a   l  a   d  a

5000

10000

15000

20000

1000

2000

3000

4000

5000

Emprego

Produção

Capacidade

Reciclagem de Plásticos (Brasil)

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O índice de reciclagem mecânica no Brasil é hoje algo em torno de 19,8%, mas a estruturade coleta seletiva hoje tem uma capacidade ociosa em torno de 40% que pode ser utilizada.

3.11 - Comparativo da reciclagem deplásticos no Brasil com outros países.

Embora exista um enorme potencial de expansão para a reciclagem de plásticos no Brasié interessante notar que o país já ocupa uma posição de destaque no  ranking  mundial dreciclagem de matéria plástica (Fig. 3.44). Se comparado aos países europeus, os percentuaisgerais de reciclagem do plástico colocariam o país na sexta posição logo atrás da Áustria e daSuécia, se ele estivesse no contexto da U.E

Fig. 3.44 - Percentuais de reciclagem de plástico no Brasil, comparados aos dos países da União Européia, U.E.

Os teores de reciclagem de plásticos seriam ainda melhores se fosse diminuída a capacidadeociosa do sistema de coleta seletiva. É possível aumentar muito os índices de reciclagem deplásticos tendo como base a capacidade instalada das indústrias. O Brasil tería condições deaté mesmo superar a Alemanha que recicla hoje não menos do que 32% da matéria plásticacomercializada em seu território (Fig. 3.44).

0

AlamanhaBélgica

SuíçaSuéciaÁustria

BrasilHolanda

ItáliaIrlanda

NoruegaEspanha

FrançaInglaterra

DinamarcaPortugal

FinlândiaGrécia

10% 20% 30%

   P  a   í  s

Percentual de Reciclagem

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3.12 - Reciclagem de PneusApesar de existir uma resolução do MMA/CONAMA (Nº 258, de 26 de agosto de 1999)

específica para a gestão dos pneus usados no Brasil, o grande acúmulo desse tipo de material vemtrazendo sérios problemas para o meio ambiente e, no caso de um país tropical, complicaçõesadicionais em termos de saúde pública dado o fato de que os pneus se transformam emcriadouros para os mosquitos transmissores de doenças, tais como a dengue.

Muito embora existam várias tecnologias para o aproveitamento e a reciclagem de pneus àdisposição dos usuários e empresários é fácil constatar que carcaças velhas de todo os tipos depneumáticos são objetos comuns em lotes vagos, depósitos e mesmo nos quintais e garagensespalhados em todo o país.

Por que demos esse grande salto na reciclagem de plásticos e porquê não temos condiçõesde avançar ainda mais? Tudo isso não seria possível sem o grande “exército” de cerca de 500 mil

catadores informais que recolhem os resíduos e os revendem para os sucateiros. Esse mesmo“exército”, sem uniforme ou material adequado e sem patentes foi o responsável pela conquistado país do primeiro lugar em reciclagem de latinhas de alumínio. É importante destacar queesses índices foram alcançados apesar de existir uma falta de políticas públicas mais eficientesna questão da reciclagem e da coleta seletiva e mesmo da sustentabilidade ambiental em geralno país.

Fig. 3.45 - Os pneus usados podem ser uma importante matéria prima para a reciclagem, mas causamfrequentemente sér ios problemas ambientais e de saúde pública no Brasil. Foto: RMPC

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Os pneus usados podem ser reutilizados após sua recauchutagem. Esta consiste naremoção por raspagem da banda de rodagem desgastada da carcaça e na colocação de uma

nova banda. Após a vulcanização, o pneu “recauchutado” deverá ter a mesma durabilidade que onovo. A economia do processo favorece os pneus mais caros, como os de transporte (caminhãoônibus, avião), pois neste segmento os custos são melhor monitorados.

Há limites no número de recauchutagem que um pneu suporta sem afetar seu desempenhoAssim sendo, mais cedo ou mais tarde, os pneus serão descartados. Os pneus descartadopodem ser reciclados ou reutilizados para diversos fins. Neste caso, são apresentadas, a seguivárias opções:

Engenharia civil

O uso de carcaças de pneus na engenharia civil envolve diversas soluções criativas, emaplicações bastante diversificadas, tais como, barreiras em acostamentos de estradas, contençãode encostas (Fig. 3.45), elemento de construção em parques e playgrounds, quebra-marobstáculos para trânsito e, até mesmo, recifes ar tificiais para criação de peixes (Fig. 3.46).

Fig. 3.46 - Uso de pneus usados como degraus na Vila (Aglomerado) da Serra, zona sul de Belo Horizonte, M inasGerais. Esse tipo de ati tude além de evitar a erosão nos acessos à favela tem um importante efe ito juntoà população local que discute o problema, propõe uma solução, executa a obra e, assim, passa a atuar demodo pró-ativo na questão ambiental . Fotos: Ana Luíza Souto.

Regeneração da borracha

O processo de regeneração de borracha envolve a separação da borracha vulcanizadados demais componentes e sua digestão com vapor e produtos químicos, tais como, álcalismercaptanas e óleos minerais. O produto desta digestão é refinado em moinhos até a obtençãode uma manta uniforme, ou ex trusado para obtenção de material granulado. A moagem do pneem partículas finas permite o uso direto do resíduo de borracha em aplicações similares às daborracha regenerada.

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Geração de energia 

O poder calorífico de raspas de pneu equivale ao do óleo combustível, ficando em tornode 40 Mej/kg-1. O poder calorífico da madeira é por volta de 14 Mej/kg-1. Os pneus podem serqueimados em fornos já projetados para tornar essa queima bastante eficiente. Em alguns países,o uso de pneus em fábricas de cimento é uma realidade. A Associação Brasileira de CimentoPortland (ABCP) informa que cerca de 100 milhões de carcaças de pneus são queimadasanualmente nos Estados Unidos com esta finalidade, e que o Brasil já está experimentando amesma solução.

Asfalto modificado com borracha

O processo envolve a incorporação da borracha em pedaços ou em pó ao asfalto. Apesar

do maior custo, a adição de pneus no pavimento pode até dobrar a v ida útil da estrada, porque aborracha confere ao pavimento maiores propriedades de elasticidade frente às grandes oscilaçõestérmicas enfrentadas pelo pavimento asfáltico no ciclo diurno. O uso da borracha também reduzo ruído causado pelo contato dos veículos com a estrada. Por causa destes benefícios, e tambémpara reduzir o armazenamento de pneus velhos, o governo americano requer que 5% do materialusado para pavimentar estradas federais seja de borracha moída.

Mesmo considerando todas as alternativas acima, é fácil constatar o atraso do país naquestão da reciclagem de pneus. Abaixo, fornecemos algumas sugestões para acelerar o processo(Tab. 3.12).

Tab. 3.12 - Sugestões para o aumento dos índices de reciclagem de pneus no Brasil

Sugestões

Criação de legislação específica para a reciclagem de pneus automotores

Aumento da fiscalização municipal sobre a questão do descarte de pneus usadosprincipalmente juntos às lojas e revendas desse material.

Proibir ou regulamentar com mais rigor a importação de pneus usados.

Estímulo (financiamentos, leis específicas, normas) facilitando uso de pneus usados naconstrução civil

Estímulo (financiamentos, leis específicas e normas) facilitando o estabelecimento deindústrias recicladoras de pneus.

Melhorar e aperfeiçoar a tecnologia da recauchutagem gerando produtos mais confiáveis.

Melhorar e aperfeiçoar a tecnologia dos automóveis no sentido de prolongar avida útil dos pneus.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

3.13 - Reciclagem de garrafas PETA atividade de reciclagem de garrafas PET no Brasil começou com um certo atraso e está

associada a venda de linhas de moagem, lavagem e descontaminação dessas garrafas que estãosendo desenvolvidas pela indústria nacional. A reciclagem de garrafas PET passou a chamar aatenção dos empresários como uma boa alternativa de negócios em 1995 mas a expansão daatividade somente ocorreu a par tir de 1999, época em que aumentou em muito a venda das linhade lavagem, descontaminação e moagem do material. Assim como no caso dos outros plásticosas garrafas PET são coletadas por catadores de lixo que vendem o seu material aos sucateiros. Acadeia de coleta desse tipo de material, assim como a grande par te dos resíduos coletados paraa reciclagem, é caracterizada por emprego de uma mão de obra pouquíssimo qualificada, por umelevado grau de informalidade e por uma falta generalizada de boas condições de salubridadeEnfim, é um retrato que reflete a falta de uma política adequada de fomento à reciclagem emgeral no país (Fig. 3.47).

 

Fig. 3.47 - Grande parte do material que é hoje reciclado no Brasil é coletado nas ruas de modo informal e primitivopelos catadores que trafegam pelas ruas com bizarros carrinhos carregados com todo tipo de material. Aseguir, o resultado dessa coleta é entregue aos sucateiros que são pequenas firmas localizadas na periferidas grandes cidades (Mont Mor, na grande São Paulo/Campinas, Contagem na grande BH ou no Gamalocalizado no Distrito Federal, por exemplo). Essas empresas, em geral, fazem uma triagem grosseira domaterial e, no caso das garra fas PET, são gerados fardos com centenas de garrafas prensadas que as sim vãpara as empresas de reciclagem. Fotos de RMPC obtidas nas localidades acima descritas.

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O grande problema da reciclagem das garrafas PET no Brasil, está relacionado à máqualidade das garrafas que chegam para a firma recicladora. Como qualquer material, as condições

de coleta e armazenamento dessas garrafas que se pretende moer e lavar, influenciam muito naqualidade final do produto reciclado.

Nos países mais desenvolvidos, como no Canadá, por exemplo, existem as chamadas“ reverse vending machines” – RVM. Tratam-se de máquinas automatizadas onde pode-sedepositar as garrafas PET vazias obtendo-se em seguida cupons que dão direito a um determinadovalor em dinheiro ou produto. As RVM’s ainda não são empregadas de modo rotineiro no Brasil(Fig. 3.48). Elas poderiam solucionar o problema da falta de qualidade das garrafas PET usadas.

Fig. 3.48 - Máquinas que recolhem as gar rafasPET, as chamadas “reverse vendingmachines” – RVM que usualmentesão colocadas em supermercadose lojas de conveniência em váriospaíses tais como o Canadá.O consumidor, ao depositar umaou mais garrafas PET na máquinarecebe um cupom que pode sertrocado por outros produtos na lojaou mesmo em outros pontos devenda das redes conveniadas.

Fonte: RVC (2009).

Apesar de toda a dificuldade, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Embalagem dePET, a ABIPET (ABIPET, 2009), que congrega também os recicladores, afirma que a reciclagemdesse material tem alcançado índices muito satisfatórios dada as dif iculdades apresentadas. Deacordo com informações divulgadas pela ABIPET, o Brasil reciclou, em 1999, 50 mil toneladasde PET, contra as 40 mil de 1998. Porém, ainda estamos longe de resolver o problema dodescarte adequado deste material. A associação busca minimizar este grave problema ambiental,ajudando a desenvolver projetos que beneficiem a reciclagem do PET.

Um desses projetos, cuja síntese é apresentada a seguir, fornece as informações básicaspara que um pequeno empresário possa montar uma linha básica de reciclagem de PET. É dada

uma breve descrição do processo que pode ser usado como modelo nas principais recicladorasespalhadas pelo País. Entretanto, os empresários deverão adequar a planta às condições locaisbem como à qualidade do produto recebido.

Ao material obtido após a fase inicial de moagem recebe o nome de “ flake”. Tratam-sede pequenos flocos de PET que posteriormente serão reutilizados na cadeia de transformação.Segundo a ABEPET, os produtos obtidos estão assim divididos: 41% (fibra de Poliéster), 16%(não tecidos), 15% (cordas), 10% (resina insaturada).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 3.49 - Esquema de funcionamento básico de uma unidade de moagem, lavagem e descontaminação de PET.Original, RMPC modificado de Recicláveis (2009).

O processo de reciclagem das garrafas inicia-se com a desmontagem dos fardos que sãodepositados na esteira de entrada (Fig. 3.49). A seguir, inicia-se a lavagem com separação depedras e outras sujeiras menores passando as garrafas em uma peneira rotativa, normalmentecom utilização de água. O próximo passo consiste em uma inspeção visual onde as garrafas sãotransportadas lentamente em uma esteira de separação. Em seguida, é feita a primeira moageme o material moído vai então aos tanques onde é feita a separação de tampas e dos rótulos. Omaterial passa por uma descontaminação. Nesse ponto, então, é feita uma segunda moagem. Omaterial fino é então transferido a um lavador e secador e, em seguida, depositado em um siloDaí, ele é retirado em sacos de grande volume “ big-bags”, estando pronto para ser granulado ouenviado para outras indústrias de transformação.

O preço das linhas de lavagem e moagem de PET, além de variar entre os fabricantesdepende bastante da tecnologia empregada. Além do acabamento, a espessura do material, arobustez e a qualidade dos periféricos, bem como o tempo de vida útil do equipamento, sãodetalhes importantes. No entanto, um empresário que irá dedicar-se à atividade da reciclagemdeve também estar bastante atento aos gastos de energia e água. A qualidade final do produtodeverá ser testada antes da compra da linha de processamento através do envio de amostras aopossíveis compradores para que haja a sua aprovação.

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O PET hoje já é considerado uma “commodity”   e, nesse caso, não há como fugir dasregras do mercado principalmente observando os fatores de competitividade, produtividade e opreço que pode oscilar em função das cotações internacionais do petróleo e outros produtos da

petroquímica.O empresário deve investir em equipamentos que tenham o máximo de automatização e

o mínimo de gastos com água e energia. A maioria das linhas está projetada para capacidadesentre 500 e 600 kg por hora, que permitem uma produção média de aproximadamente 100toneladas/mês de material. Segundo as análises feitas pela ABEPET, a reciclagem das garrafas PETcomeça a demonstrar boa rentabilidade a partir de 100 toneladas/mês. Sugere-se ao empresárioque monte uma planta já prevendo produzir o material granulado, que no caso do PET, possuium valor final bem superior ao material não granulado, principalmente devido ao processo desecagem do material.

Os passos para se montar um negócio de reciclagem PET

1)  Pesquisar em todos os órgãos governamentais da região sobre programas de apoio aoscatadores de lixo (associações, etc), sobre os programas de coleta seletiva e sobre ogerenciamento de resíduos sólidos de um modo geral. Afinal, daí é que sairão as fontes deobtenção do material a ser processado.

2)  Identificar uma área (um galpão) adequada para a instalação da planta de reprocessamento;fazer uma pesquisa junto à prefeitura e junto ao órgão ambiental do seu estado para verificarse o zoneamento da região permite a instalação dessa indústria.

3)  Verificar se a região dispõe de boa infra-estrutura de transporte coletivo, água tratada, redeelétrica adequada, coleta de lixo e rede de esgotos.

4)  Visitar empresas congêneres em outras cidades ou outras regiões da mesma cidade (emgrandes cidades) para inteirar-se de todos os detalhes da atividade.

5)  Capacitar-se a atuar como um verdadeiro empresário do ramo da reciclagem ambiental. Para os

empresários ditos “tradicionais” essa capacitação cer tamente irá induzir uma grande mudançade hábitos, atitudes e comportamentos tendo por base a questão da sustentabilidade e orespeito ao meio ambiente. Essa capacitação pode ser feita através de cursos de extensãode curta duração e mesmo cursos à distância sobre Fundamentos de Ecologia e Tópicos emGestão Ambiental (ht tp://ecologia.icb.ufmg.br). Esses cursos, em geral, são oferecidos pelasuniversidades públicas ou privadas.

6)  Definir claramente qual é a área de atuação da empresa, especialmente quanto a compra dematéria prima.

7)  Estabelecer parcerias com ONG´s e grandes empresas privadas comprometidas e atuantes naquestão ambiental.

8)  Incentivar ou mesmo conduzir pequenos projetos de educação ambiental nas escolas doensino fundamental e secundário, envolvendo as universidades da região.

9)  Desenvolver um programa de coleta próprio da empresa.

O investimento mínimo necessário para a montagem de uma unidade de moagem e lavagem degarrafas PET com capacidade de até 100 toneladas, incluindo a aquisição das linhas de moageme lavagem bem como os gastos com as instalações para o tratamento de efluentes deve atingirUS$ 85.000 (oitenta e cinco mil dólares). A empresa poderá inicialmente ser instalada em umlote de 1.000 m2 dotado de um galpão coberto com cerca de 300m2 de área construída. Haveráa necessidade de um transformador de 125 a 500 KVA.

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Ricardo Motta Pinto

Produção e Consumo

de Minerais eReciclagem do Ferro edo Aço no Brasil

4.0C A P Í T U

4.1 - Tipos de metal e suas aplicações

4.2 - Minério de ferro

4.3 - Produção de ferro no Brasil4.4 - Produção e consumo de carvão vegetal

4.5 - Fundamentos da produção de aço

4.6 - Reciclagem do ferro e do aço

4.7 - Reciclagem de automóveis

4.8 - A reciclagem de automóveis no Brasil

FERRO E AÇO

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4.1 - Tipos de metal e suas aplicaçõesExistem muitos tipos de metais, chegando hoje ao total de sessenta e oito. Os metais

exibem propriedades bastante diferentes quando comparados entre si. O mercúrio, por exemploé líquido e o sódio é muito leve nas condições normais de temperatura e pressão (25oC, 1 atm)Os metais mais conhecidos e que são utilizados pelo homem há muitos séculos são: ferro, cobreestanho, chumbo, ouro e a prata. Os metais podem ser separados em dois grandes grupos: osferrosos, compostos por ferro, e os não-ferrosos (Tab. 4.1).

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 4.1 - Metais de uso comum na indústria e suas principais aplicações .

Tipos Aplicações

FERROSOS

Ferro (aço)

Utensílios domésticos, ferramentas, peças e chapas deautomóveis estruturas de edifícios, latas de alimentos ebebidas, latas de alimentos, peças de automóveis, açopara a construção civil, etc.

NÃO-FERROSOS

EstanhoEmbalagens, adornos, equipamentos eletroeletrônicos,química industrial, indústria do vidro, etc.

AlumínioLatas de bebidas, equipamento elétrico, esquadrias, in-dústria automobilística e aeronáutica, etc.

CobreCabos, fios e demais equipamentos elétricos e telefôni-cos, encanamentos (água quente), indústria automobi-lística, etc;

OuroMetal precioso, próteses, eletrônica f ina, jóias e adornos,etc.

PrataMetal semiprecioso, ligas metálicas, jóias e adornos, pi-lhas inúmeras aplicações na química, etc.

Metais pesados Chumbo Baterias de carros, lacres, etc.

Níquel Baterias de celular, etc.

Zinco Telhados, baterias, etc.

Mercúrio Lâmpadas fluorescentes, baterias, etc.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

4.2 - Minério de ferroÉ a principal matéria prima do alto-forno, pois é dele que se ex trai o ferro, um dos principais

componentes do aço. Os minerais que contêm ferro em quantidade apreciável são os óxidos,carbonatos, sulfetos e silicatos de ferro. Os mais impor tantes para a indústria siderúrgica são osóxidos de ferro magnetita (Fe3O4) e hematita (Fe2O3).

O principal minério de ferro explorado no Brasil é a hematita que ocorre principalmentesob a forma de itabirito. A tabela abaixo fornece os principais minérios bem como a formulaçãosob a qual o ferro es tá disponível em uma das principais regiões produtoras de minério de ferrodo Brasil, o quadrilátero ferrífero, na zona central de Minas Gerais (Tab. 4.2).

Tab. 4.2 - Mineralogia e tipologia das principais formações ferr íferas do quadrilátero ferrífero, zona central de MinasGerais (zona metropolitana de Belo Horizonte).

Formação Minérios de Ferro Outros minérios acessórios

ItabiritoHematita, martita, magnetita,quartzo

Clorita, sericita, dolomita, caolinita, ciani-ta, óxidos de manganês, apatita, pirofilita.

Itabirito dolomíticoHematita, magnetita, martita,dolomita-ferrosa

Calcita, grunerita, clorita, stilpnomelana,biotita, tremolita, actinolita, quartzo, sul-fetos, pirofilita.

Hematita-filito Hematita, sericita Quartzo, clorita

Filito-piritoso Pirita, matéria carbonosa –

As hematitas e magnetitas são os principais minérios de ferro com teores de ferro sempreacima de 60%. A limonita é um minério de ferro com teores bem mais baixos do metal (48%).

É interessante observar a riqueza de minerais acessórios que irão provavelmente comporo rejeito da mineração do ferro. A ação do intemperismo nesses minérios irá liberar nas águassuperficiais e subterrâneas uma série de elementos tais como o fósforo (presente nas apatitas),cloro, cálcio, manganês, enxofre, dentre outros elementos. O aporte desses elementos nosrecursos hídricos irá causar uma série de problemas de qualidade de água. Além da eutrofização

e assoreamento das águas, a contaminação com esses elementos irá causar um aumento noscustos finais de tratamento de água para o abastecimento público em mananciais contaminadoscom águas oriundas de represas de rejeitos de minérios.

O minério de ferro é um dos principais minérios produzidos no Brasil e é composto portrês partes a saber: (a) parte útil, ou seja, aquela parte que contém o ferro; (b) canga parte quecontém as impurezas sem valor e (c) estéril que é constituída pela rocha onde o minério foiextraído. O minério de ferro pode ser classificado em rico, médio ou pobre segundo os critérios

Fonte: Rosiére & Chemale (2003).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

abaixo (Tab. 4.3). No entanto, não somente os teores de ferro são importantes, mas também acaracterísticas estruturais do minério são fundamentais principalmente para garantir a eficácia do

processo da sinterização do minério (ver adiante) (Vieira et al . 2003).

Tipo Teor de Ferro (%)

Rico 60 a 70

Médio 50-60

Pobre <50

Tab 4.3 - Classificação teores de ferro nos diferentes minérios.

Fonte: Vieira et al. (2003).

4.3 - Produção de ferro no BrasilO Brasil está entre os países com maior potencial mineral do mundo, ao lado de Federação

Russa (CEI), Estados Unidos, Canadá, China e Austrália. O Brasil é detentor de 8,3 % das reser vamundiais de minério de ferro de alta qualidade (alto teor de ferro) e um dos maiores expor tadorede minérios do planeta.

O Brasil é o segundo maior produtor de minério de ferro do mundo (atrás apenas da China)respondendo por 18% da produção total do planeta para esse minério. O ferro também é umdos minerais de maior importância econômica, pois representa 30% da receita das expor taçõedo setor (BNDES, 2003) (Tab. 4.4).

País Reservas (x 109 toneladas) Produção (x 109 toneladas)

Rússia (CEI) 78,0 0,132

Austrália 28,0 0,142

Canadá 26,0 0,042

EUA 25,0 0,060

Brasil 17,0 0,183

Índia 12,0 0,071

África do Sul 9,3 0,031

China 9,0 0,254

Tab. 4.4 - Principais reservas mundiais de ferro e os países pr incipais produtores, em bilhões de tonelada.

Fonte: BNDES, 2003.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Pela análise da tabela acima, é possível depreender que o Brasil pode estar super-explorando as suas reservas de ferro uma vez que existem países com reservas maiores, mas

produção bem menor do que a brasileira. Rússia (CEI) e EUA, por exemplo, possuem maioresreservas e produções muito menores se comparadas com as do Brasil (BNDES, 2003).

As maiores minas do Brasil são a céu aberto e a lavra do minério de ferro é, de longe, otipo de mineração mais importante do Brasil (F ig. 4.1). Segundo o relatório final sobre a ati vidadede mineração no Brasil elaborado pelo Centro de Estudos Estratégicos, CGEE (Germani, 2002),existiam dezoito grandes minas a céu aberto destinadas à lavra do minério de ferro no Brasil.Essas minas, em seu conjunto, t inham uma produção de minério beneficiado de 251 milhões detoneladas para um valor total de 465,8 milhões de toneladas de movimentação total para todostipos de minérios beneficiados no país.

É interessante que essa produção gerou um total de 224,2 milhões de toneladas dematerial estéril (Germani, 2002). Esse valor nos dá uma idéia do impacto ambiental gerado

nessas minas seja em termos de destruição de cober tura vegetal, de contaminação de recursoshídricos e uma gigantesca geração de sólidos em suspensão (poeira).

Fig. 4.1 - Principais minas a céu aberto, des tinadas à produção de minério de ferro noBrasil. A maior parte das minas está concent rada em Minas Gerais embora a maiorde todas elas seja a mina de Carajás, localizada no Pará. Fonte : Germani, 2002.

Minas de Ferro do Brasil (Céu Aberto)

120

0C   a  r  a   j   á   s  

C   a  u  ê  C   o  n  c  e  i   ç  ã   o  

C   o  n   g  o   S   o  c  o  

A  l   e   g  r  i   a   9  

T   i   m  b  o   p  e  b  a  

M   o  r  r  o   A   g  u  d   o  

C   a   p  a  n  e  m  a  

A  l   e   g  r  i   a  

F   á   b  r  i   c  a  

C   ó  r  r  e   g  o   d   o   F   e  i    j   ã   o  

P  i   c  o  T   a  m  

a  n  d   u  á   

C   a   p  i   t  ã   o   d   o   M   a  t  o  

J   a  n   g  a  d   a  

C   a  s  a   d   e   P  e  d   r  a  

P  a  u   B  r  a  n  c  o  

E   n   g  e  n  h  o   S   e  c  o  

20

60

80

100

40

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e

   T  o  n  e   l  a   d  a  s

Mina

ROM Estéril Total

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 4.5 - Estados brasileiros mais importantes em termos de produção mineral do Brasil medida em termos dearrecadação tributária (ano base 2008).

Fonte: IBRAM (2009).

Um fator que contribuiu decisivamente para o crescimento da mineração no Brasil foi aretomada dos investimentos estrangeiros no setor, permitida pela Emenda Constitucional No 6de 1995. A constituição de 1988 restringia a utilização de capital estrangeiro. Com a mudança nlei e a gradativa entrada de capital externo, os investimentos na atividade mineral saltam de 96milhões de dólares, em 1996, para 130 milhões de dólares, em 1998.

Em 2005, a mineração brasileira comercializou um total de R$ 31,4 bilhões. Em termos dequantidades de minerais beneficiados, o ferro ocupou a primeira posição com 278 milhões detoneladas beneficiadas, seguido pela bauxita com 20,4 milhões de toneladas e pelo estanho com11,5 milhões de toneladas. Em termos de valores comercializados, o ferro continuou a ocupaa primeira posição tendo comercializado R$ 15,5 bilhões de reais. O segundo lugar, em termo

de valores comercializados, foi ocupado pelo ouro (R$ 1,3 bilhão) seguido muito de per to pelbauxita com R$ 1,2 bilhão de reais (DNPM, 2006).

O Brasil ocupa uma posição de destaque na produção mineral de pelo menos 12 minériodiferentes com destaque para o nióbio, ferro, manganês e a bauxita (Tab. 4.6). No entantoo Brasil tem importantes reservas e produz quantidades consideráveis de vários outros tiposde minérios: cobre, cromo, grafita, manganês, níquel, ouro, potássio, rocha fosfática e zinco(IBRAM, 2009).

Estado Percentual

MG 53,9%

PA 24,7%

GO 5,9%

SP 2,8%

BA 2,2%

SE 1,6%

outros 9,0%

No ano 2000, existiam no país cerca de 1.862 mil empresas mineradoras que extraíam emtorno de 80 substâncias (DNPM, 2003).

Os Estados produtores que mais se destacaram em termos de produção mineral no ano de2008 foram, respectivamente, Minas Gerais e Pará. A tabela abaixo (Tab. 4.5) cita os seis es tadomais importantes em termos de produção mineral considerando suas respectivas contribuiçõesfinanceiras pela exploração de recursos minerais arrecadadas pelos cofres públicos.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

N Mineral Posição Percentual

1 Nióbio 1º 95,0%

2 Ferro 2º 18,8%

3 Manganês 2º 25,0%

4 Tantalita 2º 17,0%

5 Alumínio (Bauxita) 2º 12,4%

6 Crisotila 3º 9,7%

7 Magnesita 3º 8,0%

8 Grafita 3º 7,1%

9 Vermiculita 4º 4,9%

10 Caulim 5º 5,5%11 Estanho 5º 4,7%

12 Rochas Ornamentais 6º 5,6%

Tab. 4.6 - Principais itens da produção mineral brasileira e a posição do país no rank ing internacional. Dados de 2008.

Fonte: IBRAM (2009).

Em 2008, a indústria ex trativa mineral manteve posição de destaque na geração de valoradicionado. O crescimento foi em torno de 12%, se comparado a igual período do ano anterior.Em 2008, a indústria da mineração e transformação mineral contribuiu com R$ 54 bilhões, umaparcela significativa do PIB nacional que deverá atingir em 2008 US$ 1,33 trilhão (Fig. 4.2).

Fig. 4.2 - Produto mineral do Brasil no pe ríodo 2000-2008 em milhões de reais.Fonte: IBRAM, 2009.

Produto Mineral do Brasil

0

 2000

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e   R  e  a   i  s   (   R   $   )

10000

20000

30000

40000

50000

60000

 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

PMB

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 4.3 - Percentual dos principais minérios expor tados (em relação ao valor export adoem R$) na matriz de exportação mineral do Brasil. Ano Base: 2008.

Fonte IBRAM (2009).

O minério de ferro é o item mais importante da pauta de exportações minerais do Brasi

(Fig. 4.3). Entre as maiores empresas exploradoras de ferro no país estão Companhia Vale do RioDoce, Mineração de Trindade (Samitri), Itaminas Comércio de Minérios, Companhia SiderúrgicaNacional, Samarco Mineração e Feterco Mineração. O quadrilátero ferrífero, em Minas Gerais, e areserva de Carajás, no Pará, são as mais importantes áreas de minério de ferro no Brasil.

Em 2009, espera-se um aumento significativo na produção de alumínio (bauxita), cobreníquel, ferro e fosfato, com a entrada em operação de novos projetos ou pela expansão de outro já existentes (IBRAM, 2009).

É importante, entretanto, destacar que o país é também um grande impor tador de minério(Fig. 4.4). Os principais minérios importados pelo país em 2008 foram, respectivamente, ocarvão mineral, o potássio e o cobre. O carvão mineral é usado nas indústrias siderúrgicaso cobre na indústria eletroeletrônica e na fabricação de fios elétricos e o potássio é um dosprincipais insumos na indústria de fertilizantes.

82,6

 6,5

 6,2 2,4 1,9 0,350,1

Ferro Rochas Ornamentais Cobre Caulim Bauxita Manganês Outros

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No entanto, ao compararmos a razão entre importações e exportações de minerais, fica claraa posição do país como um dos principais fornecedores de matérias primas do planeta (Fig. 4.5).

Fig. 4.4 - Principais minérios importados pelo Brasil em 2008, segundo o valor pago em importações.

Fonte: IBRAM, 2009.

Fig.4.5 - Diferença (em bilhões de dólares) entre as exportações e importaçõesde minerais no comércio ex terior do Brasil no período 2000 -2008.

 Fonte: IBRAM.

Saldo Comércio Exterior - Minerais (Brasil)

0

 2000

   B   i   l   h   õ  e  s   d  e

   D   ó   l  a  r  e  s

4

8

12

16

 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Saldo Comércio Exteriror - Minerais

29%

29,6%

3,33%8,37%

3,9%

4,9%

20,9%

Carvão Mineral Potássio Cobre Zinco Molibdênio Enxôfre Outros

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Os dados relativos ao comércio internacional de minérios do país revelam crescentessuperávits durante toda a primeira década do século XXI. O saldo estimado (exportações importações) do setor mineral (bens primários, sem transformação, excluídos petróleo e gáspara 2008 deverá alcançar um novo recorde na casa dos US$ 12 bilhões. Esse valor representaalgo como 42% do saldo total do comércio exterior do país, que deve atingir US$ 28 bilhões. Seconsiderarmos os bens semimanufaturados, manufaturados e compostos químicos, a indústriada mineração e transformação mineral deverá obter, em 2008, um saldo de US$ 20 bilhõesrepresentando 71% do saldo da balança comercial brasileira. Esses números sugerem nãosomente uma elevada dependência da economia do Brasil do setor mineral, mas também deixamclaro mais três pontos muito importantes quando consideramos a questão da sustentabilidadeambiental.

(a) a extração mineral do Brasil aumentou consideravelmente ao longo da última década bemcomo os passivos ambientais gerados por esse tipo de atividade;

(b) a elevada dependência da economia brasileira em relação à exportação de matérias primaexpõe - de modo agudo - a nossa dependência a qualquer oscilação internacional no ritmode crescimento econômico part icularmente nos grandes importadores de minérios tais comoa China, a União Européia e os EUA;

(c) houve uma excessiva concentração de políticas públicas voltadas exclusivamente ao incrementda produção de matérias primas no país se comparadas àquelas voltadas exclusivamente preservação do meio ambiente e, de modo part icular, na questão da reciclagem ambiental

Em síntese, o modelo de crescimento econômico adotado pelo país nas últimas décadas tempouquíssimos elementos que possam caracterizá-lo como um modelo embasado genuinamentdentro do conceito de sustentabilidade ambiental. Considerando a crescente dependência quehaverá entre o crescimento econômico e a saúde do meio ambiente nas próximas décadas, podese concluir que o modelo econômico brasileiro deverá passar por grandes ajustes estruturaipara que possa ganhar contornos mais coerentes com essa nova realidade da biosfera. Essanova realidade será condicionada não somente por uma crescente escassez de todos recursosnaturais primários tais como a água, a energia, alimentos e minerais, mas também pela crescentdegradação dos recursos naturais (solos, águas e florestas) e por uma piora generalizada emtodos os indicadores de qualidade de vida nas grandes áreas urbanas e periurbanas.

A produção de aço exige, além do ferro, grande aporte de energia, água. Apesar dosnotáveis avanços no controle de emissões gasosas, a siderurgia ao lado da petroquímica são o

responsáveis pelos maiores índices de emissão de gases GEE e outros dentre todos os tipos deindústrias. O aporte de energia para as siderurgias se dá sob a forma de eletricidade, queima dcombustíveis fósseis e, principalmente, pelo aporte de carvão mineral e, no caso do Brasil, docarvão vegetal.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

4.4 - Produção e consumo de carvão vegetalO uso de carvão vegetal como redutor do minério de ferro no Brasil vem ainda das

fundições artesanais que produziam ferramentas para o uso agrícola no século XVI. O carvãovegetal é produzido a partir da lenha pelo processo de carbonização ou pirólise. Ao contrário doque aconteceu nos países industrializados, no Brasil, o uso industrial do carvão vegetal continuasendo largamente praticado. O Brasil é o maior produtor mundial desse insumo energético (Por talMS, 2009).

O Brasil é um grande consumidor de lenha e carvão vegetal. O consumo atual de lenha noBrasil é da ordem de 69,5 milhões de toneladas (Biodiesel, 2009). Observar que esse consumovem crescendo substancialmente uma vez que em 2003 foram produzidos 45,1 milhões demetros cúbicos de lenha. Estima-se que hoje a produção nacional de gusa seja da ordem de 27milhões de toneladas que demandam pelo menos 17.5 milhões de toneladas anuais de carvãovegetal (Biodiesel, 2009). Para atender a essa produção seriam necessários cerca de 3,3 milhõesde hectares plantados com eucalipto somente para atender a essa demanda, não considerando,por exemplo, a produção de celulose. A legislação brasileira impõe um limite máximo de 10% nacomposição do carvão vegetal provenientes da queima de madeira de biomas nativos (cerrado,etc).

Mato Grosso do Sul lidera atualmente a produção de carvão vegetal no País (Portal MS,2009, IBGE, 2009). A pesquisa considerou 37 itens de produtos não-madeireiros. Esse estadoconcentra 24% da produção de carvão vegetal. Em seguida vem os estados do Maranhão, com19%; Bahia, 14,5%; Goiás, 11,4%.

No setor industrial, a produção de ferro-gusa, aço e ferro-ligas são os principais consumidoresdo carvão vegetal. As necessidades desse segmento cobrem 85% do consumo doméstico dessamatéria prima que é usada como agente redutor (coque vegetal) e, ao mesmo tempo, comoenergético. O setor residencial consome cerca de 9% seguido pelo setor comercial com 1,5%,representado por pizzarias, padarias e churrascarias.

A carbonização de lenha é praticada de forma tradicional em fornos de alvenaria comciclos de aquecimento e resfriamento que duram até vários dias (F ig. 4.6). Os fornos retangularesequipados com sistemas de condensação de vapores e sistemas de recuperação de alcatrão sãoos mais avançados em uso atualmente no país. Os fornos cilíndricos com pequena capacidadede produção, sem mecanização e sem sistemas de recuperação de alcatrão continuam sendo osmais usados nas carvoarias. A temperatura máxima média de carbonização é de 500oC.

O poder calorífico médio do carvão é de 7.365 kcal/kg (30,8 MJ/kg). O teor de materialvolátil varia de 20 a 35%, a quantidade de carbono fixo varia de 65 a 80% e os níveis de cinzas(material inorgânico) per fazem de 1 a 3% (Infoener, 2009).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 4.6 - Queima de madeira de Eucaliptus para a produção de carvão vegetal na região do médio rio Doce, MinaGerais. A queima geralmente é feita em fornos de alvenaria e apesar dos pequenos avanços tecnológicostais como a colocação de filtros ainda é responsável pela emissão de consideráveis quantidades de sólidoe outros gases que contribuem para a queda na qualidade do ar em toda a região do entorno do ParqueEstadual do Rio Doce. Foto: RMPC.

É importante notar que o rendimento em massa do carvão vegetal em relação à lenhaseca enfornada é de aproximadamente 25% nos fornos de alvenaria. A recuperação do licopirolenhoso pode chegar a 50% em massa da lenha, sendo o restante emitido sob a forma degases, dentre eles o CO e o CO2. O alcatrão pode ser usado como fonte de insumos químicopara a indústria através dos derivados fenólicos provenientes da degradação térmica da ligninaque podem substituir o fenol de origem fóssil nas suas aplicações em resinas e refratários .

É comum a associação entre a atividade de carvoejamento e condições verdadeiramentedesumanas de trabalho. Essa é uma visão em certa medida ainda atual, mas que já poderia jápertencer ao passado. Em vez de pobreza e poluição poderá surgir uma indústria limpa, realmentesustentável e renovável. Isso depende, contudo, do intenso aporte de novas tecnologias.

As recentes inovações tecnológicas de pirólise rápida de biomassa se aplicadas a esseproduto favorecem a produção de alcatrão, conferindo-lhe a denominação de biopetróleo oubio-óleo.

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Outro ponto a ser considerado é que o intenso aporte de tecnologia (ex: maior mecanizaçãoda lavoura ou automação dos fornos) irá causar desemprego além de demandar uma mão de

obra mais qualificada. Tanto o setor empresarial, mas principalmente o governo, todos devemestar atentos a essas mudanças e atuarem no sentido de corrigir e mitigar as distorções e tensõestrabalhistas que irão surgir nesse caminho.

Além dos inúmeros desafios que es tão sendo vencidos no aumento da produt ividade dosmonocultivos de eucalipto (Fig. 4.7), no incremento da mecanização e no aprimoramento dastécnicas de carvoejamento existem ainda uma enorme demanda para que se melhore rapidamenteos indicadores ambientais dessa atividade tanto no que diz respeito ao uso de material provenientede biomas nativos quanto no controle mais eficiente da poluição atmosférica.

Fig. 4.7 - Monocultura de Eucaliptus, a principal matéria prima da indústria do car vão vegetal. O plantio dessa espéc iearbórea foi um dos principais responsáveis pela gradual substit uição da vegetação natural(ex: cerrados) por florestas plantadas na produção de car vão vegetal. É incontest ável a grande potencialidadedo estado de Minas Gerais e de outras regiões do Brasil (sul da Bahia e norte do Espírito Santo, por exemplo)para o desenvolvimento dessa modalidade de silvicultura. Entretanto, é igualmente importante ter emmente que o cultivo de Eucaliptus apresenta uma série de impactos negativos sobre o meio ambiente tendodestaque o seu impacto sobre a riqueza em espécies de inúmeros representantes da microbiota, flora e dafauna e impactos import antes sobre o ciclo hidrológico e na qualidade das águas superfic iais e subterrâneas.Foto: RMPC.

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4.5 - Fundamentos da produção de aço

 4.5.1 - Introdução

O primeiro contato do homem com o ferro foi sob a forma de meteoritos e daí vem onome “siderurgia” cuja origem latina é “ sider ” que significa astro. As conquistas tecnológicaadvindas das descobertas dos diferenciados usos dos metais e de suas ligas são tão impor tantepara a humanidade que as últimas fases de nossa civilização ainda podem ser divididas emrelação aos usos do bronze, do ferro e do aço.

As principais civilizações da antiguidade aprenderam a fabricar armas e diversoinstrumentos a partir do ferro. Dentre elas, podemos citar os povos da Babilônia, do Egito, da

Pérsia, da China, da Índia e, bem mais tarde, os Gregos e os Romanos. No início era só o ferrodepois passou-se a usar uma liga feita a partir de ferro e carbono, o aço. A grande difusão no usodo ferro ocorreu no século XIII a.C. quando os hititas (hoje Turquia) desenvolveram uma técnicde forjamento que os possibilitou o desenvolvimento de armas mais eficientes.

Existem dois fatos na natureza que facilitaram a rápida evolução dos humanos nos trêúltimos séculos. O primeiro é a grande disponibilidade de algo tão útil quanto o minério de ferroO segundo é a disponibilidade de uma grande quantidade de petróleo e carvão para forneceenergia para a produção de ferro. Esta é uma coincidência afortunada, pois sem o ferro e aenergia, a civilização humana cer tamente não teria chegado tão longe quanto chegou.

A grande expansão da humanidade ocorrida nos três últimos séculos está ligada nãosomente a expansão do comércio, mas principalmente ao início da revolução industrial. Osfundamentos da sociedade industrial moderna têm as suas raízes na conquista da tecnologia daprodução do aço, em escala industrial, na invenção da máquina a vapor e na exploração, tambémem escala industrial, do carvão mineral. As perspectivas que se abriram para a humanidade emdecorrência dessas conquistas tecnológicas foram imensas e transformaram a nossa civilização demodo irreversível. As ferrovias, a indústria têx til e os navios a vapor são alguns das conseqüênciaóbvias dessas tecnologias.

Os avanços tecnológicos que ocorreram na siderurgia foram tão rápidos e intensosprincipalmente na Inglaterra vitoriana que a sociedade de então simplesmente não estavapreparada para enfrentar todas as conseqüências dessas mudanças. Os livros de histór ia relatamcom detalhes, as precárias condições de trabalho e o alto grau de insalubridade das vilas deoperários dessa época. São também comuns os relatos dos primeiros problemas ambientai

decorrentes da expansão da indústria e do consumo. Uma das primeiras consequências foa destruição de florestas cuja madeira era usada para a obtenção do carvão vegetal. Outraimportante conseqüência foi a poluição atmosférica causada pelos altos-fornos primitivos daépoca. As águas dos rios também ficaram rapidamente contaminadas. Grandes epidemias, taicomo os surtos de cólera em Londres, e várias outras cidades da Europa, eram comuns noséculo XIX . Logo, os capitães de indústria perceberam as vantagens de mudarem suas indústriapara áreas remotas ou mesmo para outros países com legislação mais branda em termos deexigências ambientais. Esse deslocamento de indústrias obsoletas e poluentes foi mantido em

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grande parte durante a primeira metade do século XX principalmente em direção aos países dochamado “terceiro” mundo.

Somente nos últimos cinquenta anos, a humanidade passa a conviver com sinais bemnítidos de que estamos enfrentando uma degeneração global da qualidade ecológica do planeta.Impactos ecológicos ligados às atividades humanas tais como a poluição dos mares, a perdade biodiversidade nos trópicos e, principalmente, a clara percepção de que há uma gravemudança climática global estão embasando um questionamento, em larga escala, sobre os atuaismodelos de desenvolvimento econômico. A sociedade moderna já percebeu que as medidas derecuperação e de mitigação desses impactos não podem ficar res tritas a um contexto meramenteregional. Nesse sentido, a história da produção de aço pode ser muito instrutiva.

4.5.2 - Matérias-primas da indústria do açoAs matérias-primas básicas da indústria siderúrgica são o minério de ferro, o carvão e o

calcário.

Carvão

O combustível utilizado no alto-forno é o carvão, coque ou de madeira. Trata-se dofornecedor de calor para a combustão. O carvão fornece ainda o carbono necessário paraa redução de óxido de ferro e, indiretamente, o carvão fornece o carbono que é o principalelemento de liga do ferro-gusa.

Carvão coque

O coque é obtido pelo processo de “coqueificação”, que consiste, em princípio, noaquecimento do carvão a altas temperaturas, em câmaras hermeticamente fechadas (excetopara saída de gases). No aquecimento às temperaturas de coqueificação e na ausência de ar, asmoléculas orgânicas complexas que constituem o carvão mineral se dividem, produzindo gasese compostos orgânicos sólidos e líquidos de baixo peso molecular e um resíduo carbonáceorelativamente não volátil. Este resíduo resultante é o “coque”, que se apresenta como umasubstância porosa, celular, heterogênea, sob os pontos de vista químico e físico. A qualidadedo coque depende muito do carvão mineral do qual se origina, principalmente do seu teor deimpurezas.

Carvão vegetal

O carvão vegetal ou de “madeira” é fabricado mediante pirólise da madeira, isto é, quebradas moléculas complexas que constituem a madeira, em moléculas mais simples, mediante calor.O aquecimento para a carbonização da madeira é feito em fornos de certo modo rudimentarese pouco eficientes, sobretudo no Brasil, pois os subprodutos gasosos e líquidos são perdidosdurante o processo, o que não deveria acontecer. O calor é aplicado à madeira, com ausênciade oxigênio, resultando em gases (CO2, CO, H2, etc.), líquidos (alcatrões, ácido acético, álcoolmetílico) e o resíduo sólido que é o carvão vegetal.

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Calcáreo

O cálcáreo, cuja fórmula é CaCO3, é usado para formar o fundente. A sua função écombinar-se com as impurezas (ganga) do minério e com as cinzas do carvão, formando aschamadas “escórias”.

Outras matérias primas da indústria siderúrgica

Entre elas, a mais impor tante é o minério de manganês. Outras matérias-primas incluemas “ferro-ligas” de silício, cromo, vanádio, molibdênio, níquel, tungstênio, titânio, etc. Finalmentedeve-se ainda mencionar como importante matéria-prima a sucata de aço, ou seja, subprodutoda fabricação de aço e itens ou componentes de aço desgastados, quebrados ou descartados.

4.5.3 - Beneficiamento do minério de ferroO termo genérico “beneficiamento” compreende uma série de operações que têm como

objetivo tornar o minério mais adequado para a utilização nos altos-fornos. Estas operaçõessão britamento, peneiramento, mistura, moagem, concentração, classificação e aglomeração(principal). A aglomeração visa melhorar a permeabilidade da carga do alto-forno, reduzir oconsumo de carvão e acelerar o processo de redução. Os processos mais importantes deaglomeração são a sinterização e a pelotização.

Sinterização

Consiste em aglomerar-se finos de minério de ferro numa mistura com aproximadament

5% de um carvão finamente dividido ou coque. A carga é aquecida por intermédio de queimadoree com o auxílio de fluxo de ar. A temperatura que se desenvolve durante o processo atinge 1.300a 1500ºC, suficiente para promover a ligação das partículas finas do minério, resultando numproduto uniforme e poroso chamado sínter.

Esse processo exige considerável aporte de tecnologias tanto no controle granulométricoquanto no controle da composição química do minério a ser utilizado (Viera et al.  2003). Apreparação do minério de ferro é feita cuidando-se da granulometria, visto que os grãos maifinos são indesejáveis, pois diminuem a permeabilidade do ar na combustão, comprometendo aqueima. Para solucionar o problema, adicionam-se materiais fundentes (calcário, areia de sílicaou o próprio sínter) aos grãos mais finos.

Com a composição correta, es tes elementos são levados ao forno onde a mistura é fundidaEm seguida, o material resultante é resfriado e britado até atingir a granulometria desejada(diâmetro médio de 5mm). O produto final deste processo é denominado de sínter (Fig. 4.8).

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Fig. 4.8 - Fornos contínuospara sinterizaçãoFonte: Combustol 

Pelotização

Este é o mais novo processo de aglomeração que produz os melhores resultados. Oprocesso visa obter “bolas” ou “pelotas” compactadas a par tir de finos de minério de alto teor oude ferro. Adiciona-se cerca de 10% de água e, geralmente, um aglomerante de natureza inorgânica.Uma vez obtidas as pelotas cruas, estas são secas, pré-aquecidas e então queimadas

4.5.4 - Fornos Primitivos

A redução do ferro foi obtida pela primeira vez através do uso de um forno muito pr imitivoo chamado poço fechado (Fig. 4.9). Esse forno era constituído por um simples buraco no solocoberto com uma capa de argila. No seu interior era adicionada uma pequena carga compostabasicamente por minério de ferro e carvão vegetal. Nas paredes laterais, eram feitos pequenosorifícios nos quais eram introduzidos pequenos tubos que possibilitavam a entrada de ar insuflado.

Esse processo, com pequenas modificações, foi usado até o século VIII d.C. quando os catalãescriaram uma forja que revolucionou a tecnologia da redução do minério de ferro. A principalinovação da forja catalã (Fig. 4.9) era o fato de que o minério era alimentado sobre uma camadasuperaquecida de carvão insuflado por um fole manual que jogava o ar embaixo do carvão.

Fig. 4.9 - Fornos primitivos usados na redução do minério de ferro, pelo empregode carvão vegetal como combustível. Original: RMPC

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No século XV, o ferro passa a ser produzido pelo refino do gusa e o crescente uso daforça motriz da água possibilitou grandes melhoras na laminação e trefilação do aço. No início

do século XVIII, a invenção do coque pelo inglês Abraham Darby causa uma nova revolução nafabricação do aço. O coque é obtido a partir do carvão que é aquecido a altas temperaturas, naausência de ar. Após a liberação dos voláteis, o processo resulta no aparecimento de resíduosólido, mas poroso e com altíssimo teor em carbono e dotado de uma alta resistência mecânicao coque siderúrgico. O uso do coque como o único combustível em altos fornos somente founiversalizado a partir do momento em que novas tecnologias de refino do coque principalmentevisando a eliminação dos resíduos sulfurosos que causavam o enfraquecimento final da ligaforam desenvolvidas o que ocorreu somente no final do século XVIII. A resistência mecânica docoque e a sua permeabilidade aos gases possibilitaram o aparecimento de altos-fornos cada vemaiores e mais complexos.

O desenvolvimento da siderurgia no Brasil pode ser considerado vertiginoso. Embora asprimeiras fundições no país tenham sido fundadas logo após o descobrimento, temos que leva

em consideração que o decreto da rainha de Portugal, D. Maria, proibindo as fundições na colôniacausou um enorme revés. Após a vinda da coroa portuguesa para o Brasil em 1808, houveum estímulo à industria de transformação do ferro com a criação da Fábrica de Ferro, perto deCongonhas em 1810. Apesar desse estímulo, o Brasil republicano tinha uma produção anual deapenas 2100 toneladas por ano de ferro gusa em 1905. Em 2005, o país produziu cerca de 25milhões de toneladas de ferro gusa, um aumento verdadeiramente extraordinário (UFSC, 2009)

O processo siderúrgico moderno pode ser dividido em quatro fases: (a) preparo damatérias primas (coqueira e sintetização); (b) produção de gusa (alto-forno); (c) produção deaço (aciaria) e (d) conformação mecânica (laminação). As usinas siderúrgicas modernas sãoconhecidas como sendo usinas integradas pois são capazes de reunir em um local todas aetapas acima

4.5.5 - Produção do ferro-gusa: o alto-forno

O alto-forno const itui ainda o principal aparelho utilizado na metalurgia do ferro. A metalurgiado ferro consiste, essencialmente, na redução dos óxidos dos minérios de ferro, mediante oemprego de um redutor, que é um material a base de carbono (carvão). A redução do minério deferro é feita utilizando o coque metalúrgico e out ros fundentes, que misturados com o minério deferro são transformados em ferro-gusa. Essa reação é exotérmica. O resíduo formado pela reaçãoa escória, é vendida para a indústr ia de cimento. Após a reação, o ferro-gusa, na forma líquida, étransportado nos carros- torpedos (vagões revestidos com elemento refratário) para uma estaçãode dessulfuração, onde são reduzidos os teores de enxofre a níveis aceitáveis. Também são feitaanálises da composição química da liga (carbono, silício, manganês, fósforo, enxofre) e, a segui

o carro-torpedo transporta o ferro gusa para a aciaria, onde será transformado em aço. A fig. 4.10 mostra a seção transversal de uma instalação de alto-forno, incluindo todo

o equipamento acessório e auxiliar. O alto forno é constituído por uma estrutura cilíndrica, degrande altura, que compreende essencialmente uma fundação e o forno propr iamente dito. Estepor sua vez, é constituído de três partes essenciais, isto é, cadinho, rampa e cuba. O equipamentoacessório e auxiliar tem como objetivo limpar os gases que saem do alto-forno, bem como préaquecer o ar que é introduzido no forno através das ventaneiras.

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Fig. 4.10 - Esquema de operação de um alto-forno dedicado á fabricação do ferrogusa. A carga (coque+ minério de ferro + calcário) é introduzida pelo topoe a injeção de ar é feit a, nesse caso, pelas laterais na par te inferior. A saídada escória e do gusa ocorre pelas partes inferiores. As temperaturas maiselevadas ocorrem justamente junto à saída do gusa. Original: RMPC.

Num alto-forno, existe um fluxo de materiais de cima para baixo representado pela cargaque desce paulatinamente e fluxo ascendente de gases que se originam através da reação docarbono do carvão com o oxigênio do ar injetado na base inferior do alto-forno.

O principal produto do alto-forno é o ferro gusa. O ferro-gusa é uma liga ferro-carbonode alto teor de carbono e teores variáveis de silício, manganês, fósforo e enxofre. De um modogeral, a maioria dos ferros gusas possíveis de serem obtidos em alto-forno es tá compreendida naseguinte faixa de composições da Tab. 4.7.

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Elemento Percentual

Carbono (C) 3,0 a 4,4%

Silício (Si) 0,5 a 4,0%

Manganês (Mn) 0,5 a 2,5%

Fósforo (P) 0,05 a 2,0%

Enxofre (S) 0,20% máx.

Tab. 4.7 - Composição média do ferro-gusa.

Fonte: UFSC, 2009

Um outro produto do alto-forno é a escória, cuja composição varia igualmente dentro delimites muito amplos (Tab. 4.8).

Tab. 4.8 - Faixa de variação da composição da escória de um alto-forno para a produção de aço.

Fonte: UFSC, 2009.

Substância Percentual

SiO2  29 a 38%

Al2O3  10 a 22%

CaO + MgO 44 a 48%

FeO + MnO 1 a 3%

CaS 3 a 4%

Este material, depois de solidificado, pode ser utilizado como lastro de ferrovias, materiaisolante, etc. A aplicação mais importante dá-se na fabricação do chamado “cimento metalúrgicoFinalmente, o gás de alto-forno é um subproduto muito importante devido ao seu alto podecalorífico. Sua composição pode ser vis ta na (Tab. 4.9).

Gás Percentual

CO2  13%

CO 27%

H2  3%

N2  57%

Tab. 4.9 - Composição dos gases presentes no interior dos altos-fornos que produzem aço.

Este gás é utilizado na própria usina siderúrgica nos regeneradores, fornos diversos deaquecimento, caldeiras etc.

Os altos fornos sofreram inúmeros aprimoramentos para minorar a poluição atmosférica(Fig. 4.11).

Obs.: O percentual restante é constituído pelo Fe.

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Fig. 4.11 - Corte transversal de um alto forno moderno equipado com vários sistemas antipoluentes tais como aremoção de sólidos por gravidade, por precipitação elétric a e queima de gases tóxicos. Notar o sistema deinjeção de ar comprido junto a base do alto forno. O ferro gusa líquido é extraído da base do forno assimcomo a escória. Original: RMPC.

4.5.6 - Reações químicas

As temperaturas mais elevadas ocorrem nas proximidades das ventaneiras, em valores queatingem 1.800 a 2000ºC . Nesta região, verifica-se a reação:

C + O2  CO2  [Reação 4.1]

Originando-se grande quantidade de calor. Este CO2, ao entrar em contato com o coqueincandescente, decompõe-se:

CO2 + C 2CO [Reação 4.2]

O CO originado é o agente redutor.

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A carga introduzida pelo topo, ao entrar em contato com a corrente gasosa ascendentesofre uma secagem. A decomposição dos carbonatos do calcário ocorrerá a cerca de 800ºC

As equações abaixo descrevem esse processo:

CaCO3  CaO + CO2  [Reação 4.3]

MgCO3  MgO + CO2  [Reação 4.4]

A seguir, ocorre a redução do ferro. O CO e o própr io carbono do carvão que atuam comoagentes redutores. As reações químicas que descrevem a redução do minério de ferro podemser escritas da seguinte maneira:

3Fe2O3 + CO 2Fe3O4 + CO2  [Reação 4.5]

Fe3O4 + CO 3FeO + CO2  [Reação 4.6]

ou

Fe2O3 + 3C 2Fe + 3CO [Reação 4.7]

Na parte inferior do alto-forno, em uma região que corresponde ao topo da rampa (éuma região que fica logo acima do cadinho onde o ferro líquido e a escória são depositados)inicia-se a formação da escória. Esse rejeito é formado através da combinação da cal (CaO) coma canga (impurezas do minério de ferro) acrescido de uma certa quantidade de óxido de ferro

e manganês. Essa escória, juntamente com o ferro, começa a gotejar através dos interstício(espaços vazios) da carga ainda sólida, para depositar-se no cadinho.

Outras reações

Mn3O4 + C 3MnO + CO [Reação 4.8]

MnO + C Mn + CO [Reação 4.9]

SiO2 + 2C Si + 2CO [Reação 4.10]

P2O5 + 5C 2P + 5CO [Reação 4.11]

FeS + CaO + C CaS + Fe + CO [Reação 4.12]

Finalmente, as últimas reações fundamentais são representadas pelas equações:

3Fe + C Fe3C [Reação 4.13]

3Fe + 2CO Fe3C + CO2  [Reação 4.14]

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Todas as reações acima descrevem a produção do ferro-gusa, que além de ferro e carbonotambém incorpora uma série de outros elementos tais como o manganês (Mn), silício (Si),

fósforo (P) e enxofre (S).A formação da escória compreende reações bem mais complexas. Ela resulta da combinação

do CaO e do MgO presentes no calcário (fundente) com a canga (impurezas) do minério e ascinzas do carvão. A escória caracteriza-se por sua grande fluidez e seu baixo peso específico.Assim, no cadinho (reservatório), a escória e o gusa líquido separam-se por gravidade, formandoduas camadas, isto é, a inferior (metálica) e a superior (escória), facilitando o vazamento deambos os produtos.

 4.5.7 - Fabricação do aço

Aço é o ferro-gusa removido de suas impurezas. O aço é uma liga de ferro e carbono,

contendo ainda outros elementos químicos (IBS, 2009). Nos aços, o teor de carbono situa-seentre 0,025 a 2,06 % (ITA, 2009). Um teor de carbono acima de 2,06 % qualifica a liga a serdenominada como ferro fundido. Os teores dos out ros elementos na liga são dosados de acordocom a finalidade a que se destina um tipo de aço. Os elementos químicos cobalto, cromo, níquel,manganês, molibdênio, vanádio e tungstênio (= volfrâmio) são os mais usados na preparaçãode aços especiais. As impurezas como a sílica, o fósforo e o enxofre enfraquecem muito o aço,então devem ser eliminadas. Quando os elementos predominantes são o ferro e o carbono, aliga recebe o nome de aço-carbono, aço comum ou aço comercial. A vantagem do aço sobre oferro é o aumento de sua resistência.

O ferro-gusa é uma liga Fe-C com out ros elementos resultantes do processo de fabricação.Estes outros elementos são o Si, Mn, P e S. A composição do ferro gusa apresenta cerca de 4%de carbono e 0,4% de fósforo o que impossibilita a sua conformação mecânica (Moreira, 2009).

No processo de fabricação do aço, estes e outros elementos, inclusive o carbono, devem terseus teores reduzidos. A redução da concentração desses elementos químicos presentes no açoocorre por oxidação. Os “agentes oxidantes”, isto é, aqueles que iram oxidar o ferro gusa parabaixar o teor dos elementos químicos, podem ser de natureza gasosa (ar ou oxigênio) ou sólida(minério de ferro).

Existem dois processos usados para a fabricação do aço (UFSC, 2009). O primeiro delesé conhecido como sendo o processo pneumático. Nesse processo, o agente oxidante é o ar ouoxigênio. O segundo processo é a rota do uso dos fornos elétricos. Nesse processo, o agenteoxidante é composto por uma mistura de substâncias sólidas contendo óxidos (minério de ferropor exemplo).

Processos pneumáticos

 Em 1952, uma aciaria austríaca desenvolveu um processo inovador baseado em conversoresa oxigênio, também conhecido com conversores LD (Araújo, 1996). Até hoje, essa tecnologia éamplamente usada em grandes aciarias. A carga em um forno LD é consti tuída basicamente degusa líquido com 10-30% de sucata ou gusa sólido (Fig. 4.12).

Esse processo é caracterizado pela introdução de ar ou oxigênio, pelo fundo, lateralmente

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Fig.4.12 - Processos pneumáticos para produção de aço, a partir de ferro gusa (Modificado de UFSC , 2009).

ou pelo topo, através de uma “lança”. Estes diferentes tipos de equipamentos são chamadosde conversores pneumáticos (Fig. 4.12). Sendo as reações de oxidação dos elementos contido

no ferro gusa líquido fortemente exotérmicas, principalmente a do silício, não há necessidadede aquecimento da carga metálica do conversor, eliminando-se, assim, a utilização de qualquecombustível.

Nos fornos pneumáticos, o ferro gusa é transportado, ainda líquido, para dentro dosconversores através dos carros-torpedos (Moreira, 2009). O próprio calor gerado pela oxidaçãodos elementos químicos é suficiente para manter a temperatura do forno. Os fornos pneumáticosão utilizados, basicamente, em usinas integradas (nestas usinas, estão geralmente concentradono mesmo local a sinterização, a redução do minério de ferro e a fabricação do aço e mesmoa sua posterior laminação), de forma que o ferro gusa pode ser transportado ainda líquido do

alto-forno para os conversores. As reações químicas de oxidação do ferro gusa estão descritaabaixo:

2Fe + O2  2FeO [Reação 4.15]

2FeO + Si SiO2 + 2Fe [Reação 4.16]

FeO + Mn MnO + Fe [Reação 4.17]

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Essa oxidação irá formar o óxido de sílica SiO2. Esse óxido, juntamente com os óxidos deferro e manganês são formados durante o “sopro” e originam uma escória de baixo ponto de

fusão, formada de silicatos de Fe e Mn. A medida que o sopro continua, inicia-se a oxidação docarbono:

FeO + C Fe + CO [Reação 4.18]

Após este primeiro estágio de oxidação, o metal está pronto para ser transferido a umapanela onde são, então, adicionadas as “ligas” Fe-Mn ou alumínio para desoxidar e dessulfurar ometal, segundo as seguintes reações:

FeO + Mn MnO + Fe [Reação 4.19]

FeS + Mn MnS + Fe [Reação 4.20]

ou

3FeO + 2Al Al2O3 + 3Fe [Reação 4.21]

Existem alguns problemas operacionais no processo de oxidação do ferro gusa. Os maisimportantes são de controle do final da oxidação, da temperatura e da composição química dobanho metálico. Os conversores mais conhecidos são o Bressemer, Thomas, de sopro laterale de sopro pelo topo (conversor L-D). A vantagem é que esse é um processo muito rápido,aproximadamente 10 vezes mais rápido que o forno elétrico Siemens-Martin (Araújo, 1996).

A rota tecnológica das usinas integradas baseada em alto-forno para a produção de ferrogusa, associado ao conversor pneumático LD deverá ter um futuro de pelo menos 20 anos

nos países menos desenvolvidos tais como o Brasil (Andrade et al. 2002). Essas usinas aindapermanecem competitivas aqui, uma vez existem inúmeros gargalos ligados a infraestutura detransporte, limitações de energia e outras limitações ligadas à logística da produção de açodescentralizada que é uma característica dos países que adotaram predominantemente a rotados fornos elétricos, tais como os EUA, Japão e Coréia do Sul.

Processos elétricos

Esse tipo de usina pode usar tanto o gusa sólido quanto a sucata de aço. No forno elétrico,a fusão do ferro e do aço ocorre devido ao calor gerado por um arco voltaico que se forma entretrês eletrodos e a carga metálica (Fig. 4.13). Após a fusão da carga, o oxigênio é injetado por umalança diretamente no banho líquido. A redução dos teores de impurezas é obtida pela oxidação

e as reações são as mesmas já descritas acima.

A fabricação do aço (refino do aço) ocorre em duas etapas. No refino primário (etapa 1)são reduzidos os teores de C , Mn, Si e P. A oxidação desses elementos libera grande quantidadede calor que ajuda a reduzir o consumo de eletricidade do forno. O calcário e o minério formamuma escória que flutua na superfície. As impurezas, incluindo o carbono, são oxidadas e migramdo ferro para a escór ia. A composição do banho líquido é continuamente monitorada.

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Fig 4.13 - Aspec to de um forno elét rico (etapa 1) no qual o aço é produzido através da ação da ele tricidade que geraum arco voltaico entre três eletrodos de grafite e a carga metálica.

Revestimento

refratário comtijolos

Lança parainjeção deoxigênio

Pote deescória

Adiçãode Ligas

Bica decorrida

Eletrodos

(a)

(b)

(c)

Nos fornos pneumáticos, o ferro gusa é transportado, ainda líquido, para o seu interior. Aose atingir o ponto ideal, a carga é transferida para outro forno (forno panela) onde é feito o refinosecundário (Fig. 4.13). Nessa segunda etapa, são acrescentadas as diversas ligas de ferro (Fe

Mn ou Fe-Si) que agem no sentido da redução de enxofre e oxigênio do aço. Quando o teor decarbono estiver correto, aço-carbono é então formado. A dessulfurização é realizada de acordocom a seguinte reação:

Mn + S MnS [Reação 4.22]

O enxofre é então reduzido pela formação do sulfeto de manganês (MnS) que vai para aescória. Já quanto à desoxidação, é inevitável que parte do ferro, durante o refino primário, sofroxidação, de acordo com a seguinte reação:

Fe + O FeO [Reação 4.23]

Então, na desoxidação, o óxido de manganês vai compor a escória.

FeO + Mn Fe + MnO [Reação 4.24]

Contudo, é interessante comentar que nem todo o sulfeto de manganês (MnS) e o MnOvão para a escória. Parte destes compostos, bem como o próprio FeO, permanecerão no açocomo impurezas, chamadas de inclusões não metálicas, as quais devem ser criteriosamentecontroladas pois afetam diretamente as propriedades dos aços produzidos.

Fonte: modificado por Cezar Costa do original de Figueira, 2009

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Fig. 4.14 - Sumário das principais fases da produção de aço em um forno elétrico do tipoMini-mills. Fonte: modificado por Cezar Costa do original de Figueira, 2009.

Carregamento Fusão

Refino

 Vazamento Escória

 Vazamento de Aço

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Durante a segunda etapa, normalmente é também adicionada uma grande variedade demetais ao aço para criar diversas propriedades. Por exemplo, a adição de 10 a 30 % de cromo

cria uma liga especial, o aço inoxidável, que é muito resistente à ferrugem. A adição de cromo emolibdênio cria o aço cromo-molibdênio, que é resistente e leve. Um sumário do processo podeser visto na (Fig. 4.14.)

Os fornos elétricos podem ser alimentados tanto por corrente contínua quanto por correntealternada. O consumo total de energia é menor quando a alimentação é feita com correntecontínua que também protege mais os eletrólitos. No entanto, essa forma de energia exigeinvestimentos mais elevados para a sua instalação.

A carga para alimentar esses fornos elétricos é formada por gusa sólido e diversos tipos desucata de aço. A fusão da mistura de sucata de aço e ferro gusa ocorre devido ao calor geradopor um arco voltaico que se forma entre três eletrodos de grafite e a carga metálica. Após afusão da carga, oxigênio é injetado por uma lança diretamente no banho líquido. A redução do

teores dos elementos de liga ocorre, então, por oxidação, sendo que as reações são as mesma já descritas para os fornos pneumáticos. Esses fornos podem ocasionalmente ser alimentadocom um tipo especial de minério de ferro, o  hot briquet ted iron  (HBI) que é um concentradoespecialmente formatado para o uso nessas instalações.

Segundo o Relatório sobre a reestruturação da siderurgia brasileira publicado poespecialistas da área do BNDES (Andrade et al. 2002), a reestruturação mundial das siderurgiavem favorecendo a implantação de projetos de usinas que utilizam a tecnologia dos altos fornoelétricos em comparação às grandes usinas integradas. A fabricação do aço por processos elétr icoapresentaria, segundo o documento acima, algumas vantagens competitivas importantes taicomo:

a) esse tipo de usina é menos agressivo ao meio ambiente e opera prioritariamente coma reciclagem de sucata possuindo, então, um forte apelo ecológico;

b) as usinas elétricas exigem menos investimento para serem instaladas;

c) elas possuem grande flex ibilidade na utilização de matérias primas;

d) tratam-se de usinas compactas e podem ficar localizadas próximas a centros urbanos;

e) existem inúmeros avanços tecnológicos recentes aplicáveis a esse tipo de usina;

f) os fornos elétricos já podem produzir aços planos que era uma importante limitaçãopara esse tipo tecnologia;

g) os seus produtos são bem aceitos no mercado internacional;

h) os fornos elétricos permitem uma menor concentração de capitais e podem se adequamais rapidamente às necessidades dos mercados locais.

No caso do Brasil, os fornos elétr icos tem o seu uso limitado em vir tude do alto custo daenergia elétrica o que ainda favorece as usinas integradas.

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Processos de redução direta (SL/RN)

Nesse processo, também conhecido como “redução direta”, os óxidos de ferro praticamentepuros (Fe2O3 ou Fe3O4) são tratados a temperaturas usualmente entre 950 e 1050ºC, na presençade uma substância redutora, resultando, freqüentemente uma massa escura e porosa, conhecidacomo “ferro esponja”. Essa redução é realizada no estado sólido. Aqui é eliminado o alto-fornoe o aço é produzido diretamente a partir do minério. Alternativamente, pode-se aqui produzirum material intermediário, a ser empregado como “sucata sintética” nos fornos de aço. Ospaíses que não dispõem de um carvão mineral que possa ser usado para a produção de coquesiderúrgico e que não dispõem de minério de ferro com altos teores de ferro são os candidatosnaturais a investirem nesse tipo de tecnologia.

Os processos de redução direta podem ser agrupados em duas classes: (a) processos queutilizam redutores sólidos e (b) processos que utilizam redutores gasosos. No processo SL/RN,a carga consiste de concentrados de minério de ferro, na forma moída ou na forma de “pelotas”,

coque e calcário moídos (Fig. 4.15).

Fig. 4.15 - Representação esquemática do processo SL/RN de redução direta. Original: RMPC.

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A carga é levada a um forno rotativo, onde a temperatura é mantida na faixa de 1000

a 1076ºC. O produto sólido resultante é resfriado e o ferro é separado mediante separadomagnético. O coque não utilizado é removido e reutilizado. O processo permite produzir materiacontendo enxofre entre 0,02 e 0,05% apenas, o que o torna adequado para a utilização emfornos de aço.

Laminação a frio

A laminação a frio melhora várias propriedades físicas do aço, tornando-o mais apto paravárias aplicações principalmente na indústria automobilística. Esse aço laminado a frio usualmentepossui menores teores de carbono. Ele é normalmente laminado em chapas usadas na fabricaçãode chassis e estamparia de veículos automotores. Esse processo gera um material com excelentecapacidade de estamparia além de boa resistência física. Esse tipo aço também é bastanteresistente a corrosão após o t ratamento adequado.

4.5.8 - Produção brasileira de aço

Segundo as estatísticas oficiais do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS, 2009), a produçãobrasileira de aço bruto em 2008 foi de 33,7 milhões de toneladas, representando reduçãode 0,2% em relação a 2007. Essa retração deveu-se principalmente às quedas de produçãoregistradas em novembro e dezembro em decorrência da baixa demanda de praticamente todoos grandes setores consumidores. Em relação aos laminados, a produção de 2008 foi de 24,7milhões de toneladas, representando queda de 4,5% em relação ao ano anterior.

Quanto às vendas internas, o resultado do ano foi de 21,8 milhões de toneladas deprodutos, crescimento de 6% sobre o ano anterior, que refletiu a boa performance do setor atoutubro, quando o crescimento acumulado foi de 14,4%.

As exportações de produtos siderúrgicos de 2008 atingiram 9,3 milhões de toneladas novalor de US$ 8,1 bilhões. A queda no volume das expor tações (-10,9%) deveu-se principalmenta prioridade das empresas para o atendimento ao mercado interno devido ao for te crescimentoobservado até o 3º trimestre. A receita das exportações, que representou aumento de 21,1%foi decorrente principalmente dos elevados níveis de preço do mercado internacional naqueleperíodo.No que se refere às importações, registrou-se o volume de 2,6 milhões de toneladas(US$ 3,7 bilhões).

O consumo aparente nacional de produtos siderúrgicos foi de 24,0 milhões de toneladaem 2008. Esse valor indica um crescimento de 9,1% em relação ao ano anterior. O consumo de

produtos planos atingiu 13,9 milhões de toneladas e representou crescimento de 4,1%, enquantque para os aços longos o consumo chegou a 10,1 milhões de toneladas, o que significa umaumento de 16,9%. Esses números refletem um crescimento muito acelerado do mercado, atéoutubro de 2008, principalmente na área da construção civil. Entretanto, graças à mudança dcenário da economia e a baixa demanda dos setores consumidores, observou-se for te queda nodois últimos meses de 2008.

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4.6 - Reciclagem do ferro e do aço

IntroduçãoA reciclagem de ferro e aço é uma das formas de reaproveitamento de matérias primas mais

antigas do mundo. Já no Império Romano, os soldados recolhiam utensílios e armas após guerraspara serem refundidos (ABEAÇO, 2009). A medida que foi aumentando a utilização do ferro, asua reciclagem igualmente foi crescendo. Hoje, as empresas e profissionais que trabalham nessesegmento são chamados de recicladores. No entanto, eles, na verdade, são os antigos sucateiros.Em passado recente, há trinta ou quarenta anos, era comum a presença de um carroceiro pelasruas das cidades brasileiras que recolhiam todo tipo de sucata, principalmente o “ferro velho”.Estes charreteiros que circulavam, inclusive em cidades grandes, eram a ponta desse processo.

As empresas de sucatas começaram a surgir no Brasil na década de 40, quando a indústr ia

brasileira se consolidava. É, ainda hoje, um mercado razoavelmente pulverizado, mas o maiorcontingente está mesmo concentrado na região sudeste. Segundo o Sindicato do ComércioAtacadista de Sucata Ferrosa e Não Ferrosa do Estado de São Paulo-SP (SINDINESFA , 2009),49% das empresas de sucata nacionais estão em São Paulo. Os estados de Minas Gerais e Riode Janeiro, juntos, possuem apenas 13% das empresas de sucata do país.

É muito diversa a lista de produtos que podem ser usados em um programa de reciclagemde aço: carcaças de eletrodomésticos, chassis de automóveis, autopeças, latinhas de produtosalimentícios (latas de aço), latas de outros produtos como tintas, grades, esquadrias, vigas dealicerces de construções (Fig. 4.16). Apesar de toda a variedade e dos elevados lucros envolvidosnesse tipo de atividade, é ainda elevado o grau de informalidade, a precariedade de maioria dasinstalações (principalmente aquelas fora de SP) e os baixos níveis de capacitação técnica quecaracterizam esse segmento de reaproveitamento da sucata de aço no Brasil.

A reciclagem de ferro, na verdade, não é uma atividade desprezível para o país. A sucataé responsável por mais de um quarto da produção total das siderúrgicas brasileiras. Em 2006,das 31 milhões de toneladas de aço produzidas no Brasil, 8,3 milhões foram devidas a sucatasreutilizadas, ou seja, 26,7% do novo aço produzido. (CEMPRE, 2009).

Fig. 4.16 - Carcaç as deeletrodomésticos,lataria ou chassi deautomóveis, tubos econexões, vergalhões deaço de construção civil,são uma das principaisfontes para a reciclagemde grandes volumesde aço. Normalmente,todos os componentesdo eletrodomésticos sãoseparados e vendidospara o pequenocomércio de peçasusadas. Original: RMPC.

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Além de contribuir para o aumento da produção de aço no país, a reciclagem de açocolabora para o ambiente. Cada tonelada de aço reciclado representa uma economia de 1.140

quilos de minério de ferro, 154 quilos de carvão e 18 quilos de cal (REVIVERDE, 2009).Há, na verdade, dois processos diferentes de reciclagem de aço no Brasil. Um voltado

apenas para o reaproveitamento das latas de aço e outra, para uso das siderúrgicas em geral. Aparticipação das latas de aço para bebidas no mercado brasileiro é bem pequena. Representam5% do mercado, concentrados principalmente no nordeste brasileiro (ABEAÇO, 2009). Vallembrar, no entanto, que outros produtos, alimentícios ou não, usam latas de aço. O seu processotanto de captação quanto de benefic iamento é muito semelhante ao da lata de alumínio, com aponta do processo nos catadores e final na própria chapa de aço. O aço leva desvantagem porqueos catadores acabam recebendo menos pelo material coletado do que recebem quando trazemo alumínio. Mesmo assim, as latas de aço alcançaram um índice significante de reciclagem, ouseja, cerca de 85% para o ano de 2006 (RECICLAÇO, 2009).

A reciclagem da sucata de ferro e aço normalmente começa com a ação de um batalhãode catadores de lixo ou de compradores de sucata. Em seguida, esse material é encaminado paruma pequena empresa de reciclagem de sucata. Ao chegar no pátio dessas empresas, a cargadeve ser monitorada para se verificar se não há nenhum material radioativo.

Alguns materiais, tais como tubos e v igas de aço são rapidamente reciclados. Muitos tuboscanos e vigas chegam nas fábricas e depósitos e acabam não sendo processados, já que temutilidade da forma que estão (Fig. 4.17). Esse padrão decorre do fato de que existe uma fortedemanda por vigas e canos no mercado. Desse modo, a fábrica entrega esse tipo de materiaapenas após uma rápida triagem e separação.

Fig. 4.17 - A reciclagem de v igas e tubos de aço muitas vezes não necessitade maiores intervenções além de uma triagem e inspeçãocom posterior envio do material selec ionado aos seus novosconsumidores. Fonte: Quebarato

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Já, eletrodomésticos e outros produtos com aço acabam passando por uma triagem e poralgum tipo de transformação antes de serem enviados para a próxima etapa. Muitas vezes, o

próprio catador retira várias peças que lhe interessam como, por exemplo, o motor da geladeiraou dos eletrodomésticos. A forma como esse material será reciclado vai depender invariavelmentedas leis do mercado. Em outros casos, como no caso da foto abaixo, o processamento inclui ocorte de grandes chapas em medidas mais apropriadas para o transporte aos novos consumidores(Fig. 4.18).

Fig.4.18 - Corte de peças de aço que possibilita um melhor aproveit amentoda sucata a ser reciclada. Original: RMPC.

O reprocessamento começa normalmente com a separação de tipos de sucata. As par tescom muita “sujeira” tais como tintas, colas, plástico e outros materiais devem sofrer uma limpezagrosseira. As sucatas mais “puras” tais como os retalhos que vêm das próprias siderúrgicasdispensam essa ação. A necessidade de separar vem dos pedidos de pureza do produto paracada cliente da sucateira. Daí por diante, os processos são muito parecidos. O material pode sercortado, prensado ou até mesmo refundido.

Fig. 4.19 - Esquema da prensagem da sucata de aço, reciclada e pronta para se r enviada de volta à siderúrgica.Original: RMPC.

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Após um período que em geral oscila entre 5 e 10 anos, toda essa matéria deverá fazer partede novos veículos.

Um conceito que é a base da reciclagem de automóveis é o conceito do Automóvel emFim de Vida – AFV. Na Europa, são eliminados cerca de 9 milhões de veículos por ano. Hoje, pelomenos 3/4 de todas as peças desses veículos podem ser rec icladas. Permanecem ainda cerca de25% cuja reciclagem é praticamente inviável. Podemos mesmo dizer que a culpa é dos plásticos.Isso significa dizer que pelo menos 2 milhões de toneladas de resíduos não metálicos irão paraos aterros do velho continente (Figs. 4.20 e 4.21).

Desmonte Reciclagem

Prensa

Resíduos (20-25%)

Ferrosos eNão Ferrosos

Motores

PneusTransmissãoÓleos e CombustíveisCFC’sHFC’sAirbags

Triagem (45-55%)

Remoção (45-55%)

Fig. 4.20 - Fluxograma indicando o processo de desmonte dos AFV. Esse processo inicia-se com a remoção e triagemdos componentes mais nobres ou que podem ser facilmente reutilizados. A seguir, a carroçaria é enviadapeara a prensagem de onde são separados os metais ferrosos e não ferrosos e ainda os resíduos que serão,posteriormente, enviados para uma segunda etapa da reciclagem. Esse processo envolve dois grupos deempresas, as empresas de desmonte e as empresas de reciclagem. Original: RMPC.

Até meados da década de 90, os demais resíduos de trituração eram considerados comosendo impossíveis de serem reciclados e eram normalmente enviados para os aterros sanitários.Entretanto, uma série de novas tecnologias vem sendo desenvolvidas recentemente no sentidode se aproveitar também as resinas, os vidros e a borracha. Algumas dessa novas tecnologiassão: (a) o desenvolvimento de produtos de isolamento acústico a partir de tecido e espumasrecicladas; (b) outra nova tecnologia permite recuperar o cobre do conjunto de f ios, o chamadochicote do veículo que será empregado em ligas metálicas; (c) emprego do vidro automotivoreciclado na fabricação de ladrilhos e peças cerâmicas; (d) emprego dos resíduos combustíveis

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Fig. 4.21 - Percentuais dos constit uintes de um automóvel. Os resíduos são tratados, inicialmente, para a separação domateriais combustíveis daqueles que não são combustíveis. Os materiais combustíveis podem ser usadospor exemplo, para a produção de energia. Original: RMPC .

A diretiva européia foi aprovada após um longo debate com os grandes fabricantes mundiaide automóveis. Ela obriga os vários atores da cadeia produtiva automobilística a dividiremtarefas e responsabilidades na eliminação dos AFV. Os fabricantes serão obrigados a assegurar a

recuperação e a destruição dos seus veículos no futuro, e de trabalhar para conceberem modelomais facilmente recicláveis. Em 2015, todos os veículos novos postos a venda no mercadoeuropeu deverão contar com um índice de reaproveitamento de 85% dos componentes doveículo, contra os atuais 75%. Por sua vez os importadores e as revendas terão que criar ofomentar os circuitos de recepção dos AFV o que inclui criar toda a logística para o transportearmazenamento e posterior envio dos AFV para o desmantelamento, triagem e reciclagem. Oprincipal objetivo dessa diretiva é o de proteger a qualidade ambiental das cidades e evitar ovirtual entupimento dos aterros sanitários na Europa.

(que possuem o mesmo poder calórico do carvão) em substituição ao carvão ou querosenecomo combustível alternativo em termoelétricas.

O processo moderno da reciclagem veicular inicia-se com o desmonte do veículo (Fig4.20). A precisão e a qualidade desse processo determinam o grau de reutlização de peçae componentes importantes. Durante o processo de desmonte, os motores, pneus e outrapeças vitais são removidos. Após o desmonte do veículo, as partes metálicas são separadas dapartes não metálicas (Fig. 4.21). Hoje, existem processos de reciclagem a seco, ou seja, nãogeram resíduos líquidos que são capazes de recuperar os metais ferrosos, não ferrosos, vidros eplásticos (Fig. 4.22). Ao final, a carroçaria é esmagada através do emprego de uma máquina detrituração.

19%   19%

17%

9%

9%

9%

6%

4%

3%

3%

2%

Resinas Espuma deUretano

Tecido Borracha Ferro Vidro

Fios Metais Não Ferrosos Madeira Outros Papel

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Fig. 4.22 - A reciclagem dos resíduos de um automóvel normalmente é feita através de diferentes tipos de triagem epulverização a seco. Ao final, matérias primas tais como o vidro, ferro, cobre, tecidos e plásticos são obt idos.Esses materiais, por sua vez, podem ser usados em uma infinidade de novas aplicações. Original: RMPC.

Uma das principais dificuldades que os fabricantes enfrentarão para construir veículosecologicamente mais corretos e mais facilmente recicláveis está localizada nos diversoscomponentes de plásticos hoje empregados na sua construção. A parte não metálica de umautomóvel (hoje ao redor de 25%) é quase toda constituída por plásticos. Os plásticos passarama ser largamente usados na indústria automobilística principalmente para substituir o metal, namedida em que conseguem reduzir o peso do veículo e, em consequência, baixando os níveisde consumo de combustível. Entretanto, os plásticos atualmente empregados nos automóveis ,em seu conjunto, são bastante difíceis de serem reciclados.

Os plásticos são, em geral, extremamente complicados de se identificar, separar, reciclarou mesmo reutilizar. Entretanto, algumas indústrias, com forte presença no continente europeu já saíram na frente e vêm desenvolvendo novas tecnologias de reciclagem de plásticos quepodem ser aplicadas à manufatura de componentes importantes em seus veículos (Fig. 4.23).O processo de reciclagem completa dos plásticos é bastante dispendioso a cadeia da indústriaautomobilística no Brasil somente irá adotar tal medida para atender a algum instrumento legalespecífico a ser criado no país.

Triagem Vibração

TecidoEsp. Uretano

Triagem Vibração

 VidroTambor

Giratório

TriagemNão Ferrosos

TriagemPneumática

TriagemMagnética

Granulação

Ferro

Cobre

Reciclagem à seco dos Resíduos de Trituração de um automóvel

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Fig. 4.23 - Processo novo desenvolvido pe la Toyota no Japão que permite a manufatura de tampas de motores apartir de um granulado composto feito à base de garrafas PET (modificado de Toyota, 2009).

Os construtores europeus estão condenados a “trabalhos forçados” nos próximos anos. Apartir de agora, eles terão de assumir a total responsabilidade em reciclar ao menos 85% do pesototal dos veículos fabricados a partir de 2006, incluindo um máximo de 5% a ser usado para aqueima de materiais para a produção de energia. E ainda terão de se ajustar para que 95% dopeso total dos veículos possa ser de fato recuperada até 2015, observando um limite máximo de10% para o que a indústr ia automobilística chama de valorização energética. Resta frisar que na

União Européia já está em vigor desde 2003 a proibição da utilização de substâncias perigosatais como o cádmio, chumbo e o cromo hexavalente (Tab. 4.10).

Tab. 4.10 - A indústria automobilística européia vem reduzindo o emprego de chumbo (Pb) nos veículos.

Peças de onde o chumbo (Pb)foi removido

Peças onde ainda existeo chumbo (Pb) .

Terminais de cabo da bateria Depósitos de combustível

Radiadores de cobre Vidro cerâmico

Núcleos de aquecimento do motor Velocímetro

Camada anticorrosiva da pintura Lubirificante de junta homocinética

Tubulação da direção hidráulica Contrapesos de rodasMoladagem da proteção lateral Pintura eletrodepositada

Conjunto de fios (chicotes) Vários componentes do motor

Sensores de gravidade dos cintos de segurança Circuitos impressos

Tubos de combustível

Fonte: Toyota, 2009.

Garrafas PET

Granulado de garrafas

PET e composto

Moldagem

por injeção

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

4.8 - A reciclagem de automóveis no BrasilEm 2007, foram vendidos no mundo 73 milhões de automóveis sendo que 30% desse

total foram comercializados em países emergentes (China, Brasil, Rússia e Índia). A frota brasileirade automóveis, em 2007, chegou a 21,1 x 106 de unidades (sétima maior frota do mundo).Cresce também o número de motocicletas que já atingem a cifra de 7,3 x 106 de unidades. Aindústria nacional produziu naquele mesmo ano 2,9 x 106 de unidades que a posicionou comoa quinta maior produtora de veículos nesse ano (ANFAVEA, 2008). Apesar desses números, areciclagem de automóveis ainda está muito atrasada no país. (Fig. 4.24).

Fig. 4.24 - A foto de um calhambeque talvez possa ser representativa do que é hoje a reciclagem de automóveis no Brasil:idéias, valores e métodos ultrapassados, ineficiência do setor como um todo, alto grau de informalidade,falta de rumos no governo e de um maior comprometimento sócio-ambiental da indústria automobilística, aquinta maior do mundo. Foto: RMPC.

O Brasil deve investir um considerável esforço na reciclagem de veículos nos próximosanos. Reciclar veículos automotores não é somente saudável para o meio ambiente. Hoje, amaior parte das peças fora de uso dos veículos alimenta um florescente comércio localizadona periferia (e às vezes em regiões nobres) das grandes cidades brasileiras. A grande parte

desse comércio é consti tuída por pequenas firmas de revenda de peças normalmente adquiridasem oficinas, de seguradoras (autos com perda total), em leilões públicos (Fig. 4.25). Sabemostambém, através da crônica policial dos jornais, que uma parte dos automóveis roubados nopaís acaba também por alimentar esse comércio. O ideal seria buscarmos uma reformulaçãodesse tipo de comércio, com a adoção de um programa de reciclagem de veículos no país queincluísse a lataria, os plásticos, as baterias e os componentes elétricos (todos com certificado deprocedência). Esses componentes deveriam ser demanufaturados, reprocessados em recicladorasdevidamente autorizadas a desempenhar tal atividade.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 4.25 - Exemplos de empresas dedicadas ao comércio de autopeças usadas. Esse comércio deve ser remodeladopara que possa atuar como o primeiro estág io da reciclagem completa dos veículos. Ao invés do reuso, tanto governo quanto a indústria automobilística deveriam trabalhar para estabelecer as bases ecológicas dsustentabilidade dessa importante indústria no país. Foto: RMPC

Fig. 4.26 - As empresas de peças usadas fazem uma triagem das peças em bom estado e de maior procura tais compeças de lataria (capôs e portas laterais), radiadores, caixas de marchas, motores, etc. Em Belo Horizonteas peças em mau estado e principalmente os painéis e pára-choques de plástico são encaminhadas pararecicladores. Isso é mais raro de acontecer em Brasília, por exemplo. Apenas uma pequena proporção dessapeças é encaminhada para firmas de reciclagem. Foto: RMPC.

No interior das empresas de autopeças usadas, normalmente é feita uma triagem daspeças. Aquelas que podem encontrar um comprador e um preço adequado são colocadasimediatamente à venda como peças usadas (Fig. 4.26).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

A reciclagem de autopeças no Brasil já ocorre, ainda que precariamente, para algunscomponentes veiculares. No entanto, há tanta coisa a fazer que não estaremos errando muito se

afirmarmos que se existe um setor industrial onde a questão da reciclagem está mais atrasadano Brasil, esse setor é aquele representado pela indústria automobilística nacional. Em virtudedessa postura, estabeleceu-se no país um florescente mercado de peças usadas que, de certomodo, vem impedindo o desenvolvimento da reciclagem nesse setor em um verdadeiro círculovicioso (Fig. 4.24).

Embora já existam algumas iniciativas voltadas para a reciclagem de autopeças no Brasil(Fig. 4.27), a preferência recai na reutilização das auto-peças usadas. Esse mercado tem algunsvícios que justificam uma completa reestruturação do setor. Os principais problemas seriam:(a) muita gente usa rotineiramente peças usadas o que pode comprometer a segurança dos

veículos; (b) esse tipo de comércio é muito difícil de ser fiscalizado e alguns se aproveitam daenorme demanda para repassar componentes de veículos roubados; (c) esse comércio reforçao atraso na questão da reciclagem de veículos no país uma vez que há um comércio firmee garantido para as peças usadas. (d) o uso e manuseio indevido de peças e componentesautomotivos pode aumentar o risco de contaminação do meio ambiente seja do solo seja dosrecursos hídricos.

O comércio de autopeças usadas poderia continuar com o enfoque totalmentediferenciado em relação ao que ocorre hoje. Ao invés de atuar como uma fonte de componentesde segunda mão, ele deveria estar embasado não no reuso das peças pura e simplesmente,mas na reciclagem e na demanufatura. A reutilização de autopeças poderia ser tolerada, emcircunstâncias excepcionais, como no caso de peças e componentes de grande valor agregado

(ex: caixas de câmbio ou certos tipos de componentes eletrônicos), desde que esse tipo decomércio fosse muito mais fiscalizado do que é hoje.

É evidente que a rec iclagem de veículos deve ser uma ativ idade muito bem regulamentadatal como ocorre hoje na Europa e nos Estados Unidos. É preciso que a indústria automobilísticanacional passe a ter um maior comprometimento sócio-ambiental, compatível com a suaimportância no cenário econômico nacional e internacional. Por outro lado, espera-se maisagilidade do governo na regulamentação dessa atividade.

Fig. 4.27 - Caminhão chegacom carregamentode pára-choquesem uma empresade reciclagemde plásticos emContagem, MinasGerais.Foto: RMPC.

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Ricardo Motta Pinto-CoelhoRicardo Motta Pinto

Produção, Consumo

e Reciclagem deAlumínio

5.0C A P Í T U

5.1 - Introdução

5.2 - Principais reservas e a produção mundial debauxita

5.3 - Mineração de bauxita5.4 - Beneficiamento da bauxita

5.5 - Redução

5.6 - Consumo de alumínio no mundo e no Brasil

5.5 - Impactos ambientais associados à mineração eprodução de alumínio

5.8 - O caso da usina de Brokopondo, Suriname eoutros casos de usinas hidroelétricas com

problemas ambientais.5.9 - Reciclagem do alumínio

5.10 - Reciclagem das embalagens Tetra Pak ® (folhas de papel, alumínio e plástico)

5.11 - O mito da reciclagem de alumínio

ALUMÍNIO

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5.1 - IntroduçãoO alumínio é um metal muito abundante na crosta terrestre e normalmente é encontrado

no mineral bauxita. O alumínio, na temperatura ambiente (25ºC), é sólido. É um metal muitoresistente à corrosão. O metal possui, no entanto, um baixo ponto de fusão. As suas principaiscaracterísticas físico-químicas são a leveza (alta relação resistência:peso), a alta condutividadetérmica e elétrica, impermeabilidade, opacidade, durabilidade, moldabilidade, soldabilidade, bemcomo elevada resistência e dureza.

A bauxita é um mineral composto basicamente pelos óxidos de alumínio, ferro e sílic(Al2O3, Fe2O3, e SiO2 ). É uma rocha avermelhada com ampla ocorrência nas regiões tropicais esubtropicais (Fig.5.1). Os principais hidróxidos de alumínio enncontrados em proporções variadana bauxita são gibsita, boemita e diásporo.

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Fig. 5.1 - Aspec to de uma mina de bauxita pertencente à CBG (Foto: Goto, 2007).

Há pelo menos sete mil anos atrás, o alumínio já era usado pelos ceramistas da PérsiaCerca de trinta séculos depois, os egípcios e babilônicos fabricavam cosméticos e produtomedicinais tendo por base o alumínio. No entanto, foi somente em 1808 que Humphrey Davyprovou sua existência como um elemento químico (IEC, 2009). Durante os séculos XVIII e XIX, o alumínio foi considerado um metal prec ioso, mas as suas aplicações industriais somenteforam estabelecidas bem recentemente, ou seja, a partir da segunda metade do século XIX e

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Fig 5.2 - As regiões tropicais são aquelas onde ocorrem as maiores reservas da bauxita um mineral associado aos altosíndices de intemperismo encontrados nas regiões mais quentes da biosfera. Nessas regiões, a lixiviação intensados solos leva a um contínuo carreamento do cálcio, do potássio que são paulatinamente substituídos peloalumínio e o íon H+. Esse processo é conhecido com a laterização dos solos (Goto, 2007).

principalmente, depois da difusão do uso da eletricidade. Em 1889, os preços internacionais doalumínio desabaram, mas aos poucos o metal se transformou em uma commodity  com preçosinternacionais bem estáveis ou mesmo com uma tendência de alta no longo prazo. A reciclagemdo alumínio se tornou bem di fundida a partir de 1960.

As principais aplicações industriais do alumínio são o seu emprego na fabricação de fiose cabos elétricos, construção de civil, peças para máquinas e equipamentos, tingimento detecidos, uso disseminado em embalagens descartáveis, no tratamento da água potável e namanufatura de produtos para a higiene pessoal, medicamentos, refratários e diversos tipos decatalisadores.

O alumínio é obtido a partir do beneficiamento da bauxita, um minério com ampla

ocorrência em regiões tropicais da biosfera (Fig. 5.2).

Regiões com potencial geográfico favorável

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5.2 - Principais reservas e a produção

mundial de bauxitaAs reservas mundiais de bauxita são da ordem de 33,4 x 109  toneladas (DNPM, 2006)

As maiores reservas mundiais desse minério estão, respectivamente, na Guiné e na AustráliaO Brasil contribui com cerca de 11% para esse total (Tab. 5.1, Fig. 5.3 ). A Jamaica e a Chinasão também detentores de importantes reservas do minério. Em termos de produção mineralo Brasil que em 2006 produziu 22 milhões de toneladas ocupa o segundo lugar, bem abaixo daAustrália que naquele mesmo ano produziu 60 milhões de toneladas.

25%

24%

11%

7%

7%

26%

Guiné Austrália Brasil Jamaica China Outros

Fig. 5.3 - Países detentores das principaisreservas de bauxita.

Fonte: Sumário Mineral DNPM/  MME 2006 (DNPM, 2006) .

Reservas Mundiais de Bauxita

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O processo de produção do alumínio é complexo, mas pode ser sumarizado em trêsgrandes etapas: mineração, refino e redução do alumínio (Tab. 5.2). A bauxita é explorada nasminerações em um processo relativamente complicado e com a geração de um grande passivoambiental principalmente em termos de remoção de grandes áreas de vegetação nativa e umgrande comprometimento dos recursos hídricos da área de entorno principalmente em termosde assoreamento e contaminação do lençol freático com uma série de metais traços.

Tab. 5.1 - Principais produtores mundiais de baux ita

Fonte: DNPM/MME, Sumário - Mineral 2006

Etapas Fases

Mineração

Decapeamento / Escavação / Transporte / Disposição de Rejeitos

 / Britagem / Lavagem / Secagem / Recuperação de áreas degra-dadas com reflorestamento

RefinariaTransporte / Moagem / Digestão / Filtragem / Precipitação /Calcinação

Redução Eletrólise / Forno de Espera / Transporte

Tab. 5.2 - Etapas da obtenção do alumínio.

Discriminação Reservas (106

 t ) Produção (103

 t )Países 2006(p) % 2005 (r) 2006 (p) %

Guiné 8.600 25,7 15.000 15.200 8,6

Austrália 7.900 23,6 60.000 61.400 34,5

Brasil 3.540 10,6 22.034 22.055 12,4

Jamaica 2.500 7,5 14.100 14.900 8,4

China 2.300 6,9 18.000 20.000 11,3

Índia 1.400 4,2 12.000 13.000 7,3

Rússia 250 0,8 6.400 7.200 4,1Guiana 900 2,7 1.500 1.500 0,8

Suriname 600 1,8 4.580 4.800 2,7

Venezuela 350 1,1 5.900 6.000 3,4

Outros Países 5.050 15,1 11.870 11.720 6,5

TOTAL 33.390 100,0 171.384 177.775 100,0

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5.3 - Mineração de bauxita

A primeira etapa de mineração da bauxita começa pela remoção da vegetação e do soloorgânico bem como das camadas superf iciais do solo, principalmente das argilas e lateritas (Fig5.4). Somente então começa o beneficiamento da bauxita. O minério sofre uma britagem; aseguir ele é lavado e secado 

Fig. 5.4 - A mineração da bauxita exige a retirada da vegetação bem como das camadas superficiais de solo (solorgânico, argila e laterita). O minério de bauxita normalmente encontra-se em profundidades que variam de2,0 a 4,0 metros da superfíc ie. Fonte: MRN (2009), modificado por S. Pinto-Coelho.

A atividade de lavra da baux ita compreende, respect ivamente, as fases de decapeamamentoescavação e transporte da bauxita e a disposição do rejeito. O beneficiamento do minério écomposto das fases de br itagem, lavagem e secagem do minério. Muitas vezes, há necessidadde transporte a grandes distâncias do minério (em ferrovias, hidrovias ou pelos mares) e daí a

necessidade de secagem do minério (Fig. 5.5).

O tratamento dos rejeitos exige uma série de etapas (Fig. 5.5). Inicialmente, os rejeitossofrem um adensamento no teor de sólidos em suspensão que passam de 9% para 40%Esse material irá ser depositado em bacias de contenção de rejeitos. Uma vez essas baciasestejam totalmente assoreadas, inicia-se um processo de recuperação da paisagem originalcom o estabelecimento das etapas de uma sucessão ecológica que, após um período que podechegar a algumas décadas, irá culminar na volta do estágio de clímax, típico da região.

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Fig. 5.5 - Fases da lavra do minério de bauxita. Fonte: Original. RMPC.

Fig.5.6 - Aspec to geral de uma mina de bauxita em Miraí, es tado de Minas Gerais (CBA-Votorantim). Em geral, a mineraçãoda bauxita exige a retirada da vegetação de grandes áreas, bem como a remoção das camadas super ficiais do soloo que exige grande movimentação de terra. O processo continua com a lavagem do minério de bauxita o que,por sua vez, gera uma grande quantidade de efluentes líquidos que normalmente vão parar em uma barragempara contenção do rejeito. A água dessa barragem contém em geral elevados teores de partículas em suspensão,principalmente de matéria fina e de origem inorgânica. Dependendo da geologia da região, essa água poderáconter uma diversidade de metais traços tais como o zinco. O decapemamento da vegetação e a represa derejeitos de lavagem são bem visíveis na fotografia acima (CBA, 2009).

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Acima, pode-se ver (F ig. 5.6) a área de extração da bauxita (áreas desmatadas ao fundobem como a bacia de contenção de rejeitos, em primeiro plano. No caso do município de Mira

MG, convém lembrar que foi aqui que ocorreu, em 10/01/2007, o segundo maior acidenteecológico de Minas Gerais, assim considerado pela Defesa Civil desse estado (Silveira, 2007)A barragem de rejeitos da Mineradora Rio Pomba/Cataguases se rompeu na madrugada dessedia. O bairro Jardim Indaiá foi muito afetado pois estava no caminho do “mar” de lama. Emboro acidente não tenha causado mortes, o cenário de destruição foi grande, com diversas ruascasas, pontes destruídas e ou interditadas. Muita gente perdeu tudo. Os rejeitos levaram para orio Pompa uma grande quantidade de poluentes, pr incipalmente metais. Esse acidente causou ofechamento temporário de várias estações de abastecimento de água na bacia do r io Paraíba doSul. A mineradora entrou num acordo de indenização para todos aqueles diretamente atingidosEla ofereceu a reforma e ou reconstrução de suas casas e mais uma pequena quantia emdinheiro (cinco mil reais) a serem pagos em duas parcelas para os moradores que perderam outiveram casas seriamente danificadas (Silveira, 2007).

O governo estadual declarou que a mineradora Cataguazes Rio Pomba estava impedidade continuar suas atividades em todo estado. Nesse mesmo município, já está em exploraçãoa segunda maior reserva de minério de alumínio do país, a Companhia Brasileira de Alumínio(CBA, 2009). A barragem de contenção de rejeitos dessa nova unidade é muito maior do queaquela que se rompeu. Cer tamente, foram tomadas todas medidas para que um acidente dessmagnitude não ocorra, mas fica a lembrança do terrível acidente em Miraí-MG (Silveira, 2007)

5.4 - Beneficiamento da bauxitaA bauxita é levada a britadores e uma vez que tenha sido moída é adicionado o cal em

misturadores. A seguir, é adicionada a soda cáustica e o material resultante é levado a um

digestor. O processo continua em cubas espessadoras onde o líquido sobrenadante retornacontinuamente aos digestores. O resíduo sobrenadante é formado por uma lama vermelhaque contém teores variáveis de argila e areia fina. Após a retirada do sobrenadante, a carga étransferida para tonéis de filtragem e, finalmente, para cilindros de precipitação. Nesse ponto, éformado um precipitado, o hidróxido de alumínio, Al(OH)3. A alumina, Al2O3  , é obtida após calcinação do hidróxido de alumínio em um forno rotativo (F ig. 5.7).

Atualmente, a purificação do alumínio é feita através de um processo de solubilização eposterior precipitação do alumínio, conhecido como processo Bayer. A transformação da bauxitem alumina compreende a fase inicial de digestão da bauxita com soda cáustica e cal. A fase ddigestão alcalina pode ser descrita pelas reações abaixo:

AlO(OH) (s) + NaOH (aq) + H2O NaAl(OH)4(aq)  [Reação 5.1]

Al (OH)3 (s) + NaOH (aq)  NaAl (OH)4(aq)  [Reação 5.2]

Essa fase é seguida de um resfriamento, com precipitação do hidróxido de alumínio ereaproveitamento da soda cáustica no estado aquoso.

NaAl (OH)4(aq)  Al (OH)3 (s) + NaOH(aq)  [Reação 5.3]

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Fig. 5.7 - Fluxograma detalhado mostrando os principais insumos (NaOH, CaO e H2O), o rejeito (lama verme lha) bemcomo as principais etapas (digestão, prec ipitação, lavagem e calcinação) do processo da transformação dabauxita em alumina. Original. S. Pinto-Coelho.

Al2O3

Lavagem

Digestão

Al(OH)2

Precipitação

Calcinação

Lavagemda Lama

Bauxita

ClarificaçãoEvaporação

Resfriamento

H2O

Aquecimento

Aquecimento Resfriamento

Lama Vermelha

H2O

H2O

NaOH

CaO

Após uma lavagem para retirada das impurezas, a etapa final é uma calcinação onde

o aquecimento a 1050ºC possibilita a transformação do hidróxido de sódio em alumina. Oprocesso é conhecido como o processo Bayer. Essa etapa da calcinação pode ser descrita daseguinte forma:

2 Al(OH)3(s)  Al2O3 (s) + 3H2O (g)  [Reação 5.4]

Ao final do processo acima é obtido o óxido de alumínio, a alumina, em um estado deelevada pureza. A alumina obtida nessas condições poderá então ser usada em um processo deredução catalítica com intenso aporte de energia elétrica que resultará então na obtenção doalumínio metálico (Fig. 5.8).

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Fig. 5.8 - Aspec to da alumina, Al2O3, óxido de alumínio, usado nas cubas eletrolíticas para a redução final e aprodução do lingote de alumínio (Foto: modificada e re-editada a partir de http://images.asia.ru/img/

alibaba/photo/51663453/Alumina_Ceramic_Balls.jpg ).

5.5 - ReduçãoA redução da alumina ocorre em cubas eletrolít icas que consistem em reservatór ios forrado

com carbono por onde circula a corrente elétrica em baixa tensão, a cerca de 960ºC. A alumina introduzida nessa cuba juntamente com uma solução química chamada eletrólito, formada por saide fluoreto de sódio e fluoreto de alumínio (criolita). A passagem da corrente elétrica provenientedo anodo (pólo positivo) pelo eletrólito promove a separação do metal do oxigênio. O oxigênio, aseguir, se combina com o ânodo de carbono, desprendendo-se na forma de dióxido de carbono(Fig. 5.9). Após a eletrólise, a corrente elétrica flui pelo pólo negativo para a próxima cuba.

O alumínio líquido se precipita no fundo da cuba eletrolítica. O metal líquido (já alumínioprimário) é transferido para a refusão através de cadinhos. Os lingotes, as placas e os tarugos sãoentão produzidos conforme as necessidades de cada cliente industrial (alumínio primário).

Fig. 5.9 - Esquema da redução da alumina que ocorre nas cubas eletrolíticas . Original. S. Pinto-Coelho.

O2

Fundida em Criolita eFluoreto de Alumínio

Al2O3

Al (sólido)   CO2

Al(líquido)

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Um esquema descrevendo a cuba eletrolítica (Fig. 5.10)

Fig. 5.10 - Esquema de uma cuba Eletrolítica. A tensão elétrica é fornecida por meios de barramentos de correntecontínua. No pólo positivo, estão dispostos os ânodos de carbono que ficam imersos em uma solução decriolita, fluoreto de alumínio e alumina. O alumínio metálico deposita-se sob a forma líquida no fundo dacuba de onde então é transferido para cadinhos. Original: RMPC.

Insumos no beneficiamento

Para que se produza uma tonelada de alumina são necessários vários insumos e um apor teconsiderável de energia seja sob a forma de óleo combustível usado no processo de calcinaçãoda bauxita seja sob a forma de energia elétrica usada na redução do alumínio (Tab. 5.3). Éimportante também destacar que a produção de uma tonelada de alumina demanda de 0,5 a2,0 metros cúbicos de água de boa qualidade além de consumir pelo menos 1,85 toneladas dabauxita refinada. A produção de uma tonelada de alumina demanda uma baixa alocação de mãode obra, algo como 0,5 a 3,0 homens.hora-1. Esses dados são importantes para que possamosestimar os impactos ecológicos associados à produção dessa importante commodity .

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Tab 5.3 - Principais insumos (mão de obra, materiais e energia) necessários para a produção de alumina.

Insumo

Consumo por tonelada de

alumina produzidaBauxita (ton/ton) 1,85 -3,40

Cal (kg/ton) 10-50

Soda cáustica (kg/ton) 40-140

Vapor de água (ton/ton) 1,5-4,0

Óleo Combustível – calcinação (kg/ton) 80-130

Floculante sintético (g/ton) 100-1000

Energia elétrica (kwh/ton) 150-400

Produtividade (Hh/ton) 0,5-3,0

Água (m3 /ton) 0,5-2,0

 Fonte:Boletim Técnico - ABAL/Produtores de Alumínio Primário (ABAL, 2009).

5.6 - Consumo de alumínio no mundo e noBrasil 

O consumo de alumínio no mundo é concentrado nas atividades de transporte (26%)embalagens e na construção civil (ambos com 20%), segundos dados do Instituto Internacional deAlumínio (IAI, 2009). No Brasil, os maiores percentuais de consumo em relação ao total de alumínicomercializado no país são reservados para o setor de embalagens (28,8%), transportes (25,5%) construção civil (12,8%) (Fig. 5.12). A considerar as tendências mundiais, deverá haver, nos próximoanos, um grande aumento na demanda de alumínio no setor da construção civil no Brasil.

 28,8%

 25,3%12,8%

 9,3%

 9,2%

4,2%

10,4%

Embalagens

Transportes

Construção Civil

Bens de Consumo

Eletricidade

Máquinas e Equipamentos

Outros

Fig 5.12 - Consumo de alumínio por setor da ativ idade econômica no Brasil em 2004. Fonte: ABAL (2009).

Consumo Setorial de Alumínio no Brasil (2004)

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5.7 - Impactos ambientais associados à

mineração e produção de alumínioOs principais impactos ambientais advindos da exploração da bauxita e da produção de

alumínio estão ligados à degradação de grandes áreas desmatadas necessárias para a lavra dabauxita e à necessidade de um grande aporte de energia tanto sob a forma de combustíveisfósseis usados na mineração da bauxita quanto sob a forma de eletricidade usada na reduçãodo alumínio. Como toda atividade de mineração, a lavra da bauxita está associada a emissõesatmosféricas importantes sob a forma de partículas sólidas e também sob a forma de gasesformadores do efeito estufa. Outro ponto importante a ser considerado é o grande impacto daatividade de mineração de bauxita e do seu refino e posterior redução do alumínio sobre osrecursos hídricos em geral. A água usada nas diversas etapas do processo pode conter elevadasconcentrações de metais traços (chumbo, mercúrio, cádmio, níquel e zinco) na água usada nas

diferentes etapas do beneficiamento e na produção do alumínio. As lagoas vermelhas (Fig. 5.13),assim chamadas por conter um elevado teor de argilas são um dos aspectos visuais mais típicosda mineração de bauxita.

Fig. 5.13 - Lagoa de disposiç ão de lama vermelha da ALUMAR (próximo a São Luís, Maranhão). A ALUMAR localiza- se naRodovia BR 135, Km 18, município de Pedrinhas, Maranhão. O Consórcio de Alumínio do Maranhão - ALUMARé um dos maiores complexos do mundo para produção de alumina e alumínio primário estando ativo desde

 julho de 1984. O consó rcio resulta da un ião dos gi gantes do alumínio, ou sejam a Alc oa, A lcan e BHP Bil liton.Em 2007, a refinaria produziu ce rca de 1,5 milhão de toneladas de alumina e a área da redução alcançou amarca recorde de 450 mil toneladas de alumínio. O Projeto de expansão da refinaria, iniciado em janeiro de2007, ampliará a produção de alumina desse consórcio de 1,5 para 3,5 milhões de toneladas por ano. Trata-se do maior projeto de expansão de uma refinaria de alumina já realizado no mundo (ALCOA, 2009).

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Impactos ambientais importantes estão também associados à grande necessidade deaporte de energia elétrica para a produção do alumínio. No caso do Brasil, onde a maior partedessa energia provém de hidroelétricas os pr incipais impactos seriam todos aqueles associados construção de hidroelétricas, ou seja, a eutrofização dos corpos de água, a perda de riqueza emespécies da ictiofauna, o aparecimento de pragas aquáticas tais como as macrófitas (ex: aguapou jacinto d´água), assoreamento, emanação de grandes quantidades de metano e outros gasecausadores do efeito estufa, os gases “GEE”.

Muitas pequenas centrais elétricas, as PCH´s foram especificamente construídas paraempreendimentos de produção de alumínio. Acreditou-se a princípio que as PCH´s seriam umaalternativa mais sustentável para a produção de energia elétrica no Brasil. No entanto, a práticatem demonstrado exatamente o contrário. Inúmeros desses empreendimentos apresentam umcabedal de problemas ambientais que vem se acumulando. O número de autos de infração

e termos de intimação emitidos pela ANEEL aumentaram muito em 2007 (Pugnaloni, 2008)Esses empreendimentos somente se justificam economicamente se puderem ser operados emregime de grande economia no seu custeio. Isso significa dizer que esses empreendimentonão oferecem muita margem de manobra para grandes investimentos nos diversos aspectosligados ao meio ambiente. É importante ter em conta que os problemas ambientais geradospor hidroelétricas, mesmo as PCH´s, não são linearmente relacionados com os investimentorealizados em sua construção.

Um dos principais impactos da mineração da bauxita está associado à necessidade de sconstruir e gerir grandes reservatórios que irão receber os efluentes da mina. No Pará, um lagonatural (lago Batata), que recebeu grandes quantidades de rejeito da mineração de bauxita, vemsendo estudado intensivamente pelo grupo do Prof. Francisco Esteves do Instituto de Biologia

da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Fig. 5.14). Existem diversos estudos já publicadoque vêm mensurado os diferentes impactos desse rejeito em diversos componentes da biotaaquática do lago Batata (Callisto et al. 1998; Bozelli & Esteves, 2000).

O lago Batata (Fig. 5.14) recebeu diariamente, durante 11 anos, cerca de 25.000 m3 doefluentes da lavagem da mina de bauxita de propriedade da Minerações Rio do Nor te S.A. - MRN(Bozelli & Esteves, 2000). O efluente era composto basicamente por argilas muito finas, comaltas concentrações de silicato, alumínio e ferro, que formaram uma camada relativamente dens(> 10 cm) sob a superfície do sedimento natural. O rejeito acumulado resultou no assoreamentode aproximadamente 30% da área total do lago.

Os efeitos do lançamento do efluente da lavagem de bauxita foram sentidos em diferentecompartimentos do lago Batata. Algas microscópicas, peixes, organismos bentônicos e a vegetação

de Igapó foram afetadas. As pesquisas do grupo da UFRJ or ientaram a MRN a tomar medidas dmitigação de impactos que resultaram na redução na turbidez da coluna d’água, no aumento nconcentração de matéria orgânica no sedimento, recuperação da vegetação de igapó e ainda a(re)colonização pelos peixes da área anteriormente impactada.

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Fig. 5.14 - Lago Batata, localizado próximo à c idade paraense de Orix iminá, PA (Lat=1° 30’ S Long= 56° 20’ W) nabacia do rio Trombetas um dos afluentes da margem esquerda do baixo rio Amazonas. Na foto, tomadano início do empreendimento, pode-se ver claramente alguns Igapós com a coloração ve rmelho tijolo

indicando claramente a contaminação por rejeitos da mina de bauxita. Fonte: Google Earth.

5.8 - O caso da usina de Brokopondo,Suriname e outros casos de usinashidroelétricas com problemas ambientais. 

A construção da usina hidroelétrica Prof. Dr. Blommestein Meer, mais conhecida pelo nomede represa Brokopondo, localizada no Suriname, antiga Guiana Holandesa, talvez possa ilustrar

bem a questão dos impactos ecológicos causados pela construção de uma usina hidroelétricadentro de uma floresta equatorial (Figs. 5.15 e 5.16). A represa foi finalizada em 1965, mas olago era tão grande que somente em 1971 é que atingiu a sua cota máxima. A barragem tem 54metros de altura e foi construída perto da pequena cidade de Brokopondo, no Suriname.

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A bacia de captação desse grande reservatório engloba nada menos de que 12.200 km²Esse empreendimento foi construído prioritariamente para prover energia a uma fabrica deredução de alumínio da Alcoa no Suriname. Nada menos do que 75% da produção total deenergia dessa usina eram, inicialmente, destinados a cobrir as necessidades de energia dessa

planta industrial. O restante seria enviado para a capital do Suriname, a cidade de Paramaribo.

O lago da represa possui 1560 km2, ou seja, 67% da área alagada de uma outra represa dregião, a represa de Balbina no Amazonas. Ele tem a profundidade média de aproximadament14 metros. O tempo de residência da água é elevado. A morfometria do lago é muito complexae existem numerosas ilhas no lago (1.166 ilhas). Quase a totalidade da floresta foi inundadaquando do fechamento da barragem. A grande área inundada, com uma morfometria complexao elevado tempo de residência e o fato de que a flores ta tropical foi inundada contr ibuíram parque uma variedade de problemas ambientais surgisse no ambiente.

Logo após a formação do lago, formou-se uma grande camada anóxica próximo ao fundodo reservatório que facilitou o aumento da concentração de produtos do metabolismo anaeróbic

tais como o gás sulfídrico, H2S. Esse gás, de reação ácida, levou a uma rápida degradação dasturbinas. Por outro lado, o déficit  de oxigenação no lago passou a causar uma grande mor tandadde peixes que, em algumas oportunidades, estendeu-se até o estuário do rio Suriname.

O lago apresenta uma forte estratificação térmica que contribui ainda mais para a piorada qualidade geral de suas águas. Devido a morfometria complexa, as plantas aquáticas, asmacrófitas, e especialmente o aguapé (Eichornia crassipes), chegaram a cobrir dezenas demilhares de hectares em outras ocasiões

Fig. 5.15 - Localização da represa de Brokopondo noSuriname. Fonte: Wikipedia (2009).

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Esse é um exemplo “clássico” que ilustra os grandes prejuízos ambientais (alguns dosquais irreversíveis) associados a uma decisão equivocada de se investir em uma grande obrade engenharia sem uma correta avaliação dos impactos ambientais associados. No caso do

Brasil, por exemplo, a construção da hidroelétrica de Balbina (potência instalada 250 MW, áreainundada até 2.360 km2), no estado do Amazonas pode ser também considerada como outroexemplo do gênero. Esse empreendimento é considerado pelos ambientalistas da região comoum dos maiores erros cometidos na Amazônia, uma decisão histórica, cujos benefícios estãolonge de contrabalançar os graves impactos (irreversíveis) em uma região de grande valorecológico (Kemenes et al. 2008).

Fig. 5.16 - Usina de Brokopondo, Suriname. Fonte: Wikipedia (2009).

A construção de grandes usinas de hidroeletricidade com objetivo principal de fomentaruma indústria de redução de alumínio é emblemática porque quase nada desse projeto levouem consideração a sustentabilidade ambiental. Muitas lições ficaram para as futuras gerações.Não deixa de ser triste lembrar que erros similares foram cometidos, décadas depois, em muitaspartes do mundo.

Outro caso a ser destacado é o da usina hidroelétrica de Três Marias, MG (potênciainstalada 396 MW, área inundada até 1040 km2). Essa usina que é operada pela Cia. Energéticade Minas Gerais (CEMIG, 2009) e destina uma parte significativa de sua produção para umausina de beneficiamento de zinco, a companhia Mineira de Metais - CMM (VOTORANTIM, 2009).Os rejeitos gerados no processo industrial dessa planta de beneficiamento de zinco estão sendofrequentemente associados a problemas de qualidade de águas e a mortandade de peixes no rioSão Francisco, um dos mais importantes rios do Brasil (Comissão Pastoral da Terra & Federaçãodos Pescadores de Minas Gerais, 2004).

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5.9 - Reciclagem do alumínio

A reciclagem do alumínio é aquela que produz maior retorno financeiro dado o preçorelativamente elevado do metal. Uma das principais características da reciclagem desse metal éque o mesmo material pode ser reciclado várias vezes. Essa característica confere uma grandevantagem ao alumínio, em contraste com a reciclagem do plástico e do papel. Estes dois últimomateriais, por exemplo, têm uma capacidade limitada de ciclos de reutilização.

O alumínio reciclado está sendo usado, cada vez mais, em várias cadeias produtivas. Umpercentual não menor do que 60% do alumínio usado em veículos novos produzidos no paístem a sua origem em material reciclado (Ambiente Brasil, 2009).

Segundo o Instituto Internacional do Alumínio (IAI, 2009), as latas de alumínio surgiramnos Estados Unidos, em 1963. Os programas de reciclagem do alumínio começaram em 1968

naquele mesmo país. Hoje, a lata de alumínio produzida é 32% mais leve que há vinte anoatrás e vazia pesa apenas 13,5g. Dessa forma, 1 kg de alumínio rende 74 latas. Há 25 anosa mesma quantidade de alumínio dava apenas para fabricar 42 latas. O consumo  per capitanacional é de 52 latas por ano enquanto que nos Estados Unidos a taxa de uso per capta chega 375 latas (ABAL, 2009, IAI, 2009).

O Brasil vem aumentando ano a ano os seus índices de reciclagem de alumínio (Tab. 5.4)O país obteve, em 2007, o recorde mundial da reciclagem de latas de alumínio atingindo umtotal de 96,5% das latas vendidas. Foram recicladas 160,6 mil toneladas o que corresponde a 12bilhões de latinhas. Essa quantidade de latas recicladas significa uma economia de 2,239 GWhano -1 o suficiente para abastecer uma cidade do porte de Campinas durante um ano completo(ABAL, 2009).

O ciclo completo da reciclagem de latas de alumínio no Brasil é de aproximadamente 30dias e existem pelo menos 160 mil pessoas envolvidas nesse tipo de atividade e que dependemdiretamente da reciclagem do alumínio (Tab. 5.4). Atualmente, existem 2.100 empresas envolvidacom a reciclagem de alumínio no Brasil (ABAL, 2009).

Discriminação 2003 2004

Latas Consumidas (109 unidades) 9,3 9,4

Latas Recicladas (109 unidades) 8,2 9,0

Índice de Reciclagem (%) 89,0 95,7

Recursos gerados (R$ x 106) n.d. 450

Empregos Gerados (x 103 empregos) 160 160

 Fonte: ABAL - Associação Brasileira de Alumínio (ABAL, 2009).

Tab. 5.4 - Indicadores da reciclagem de alumínio no Brasil (anos 2003 e 2004).

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A reciclagem das latinhas de alumínio é um grande sucesso no Brasil. Para isso, ascampanhas de educação ambiental certamente tiveram um papel relevante. A disponibilizaçãode informações básicas sobre o ciclo de vida das latinhas, em uma linguagem acessível paratodo tipo de cidadão, de diferentes classes etárias e grupos sociais certamente foi uma dasferramentas mais importantes para se garantir o sucesso desse programa (Fig.5.17).

A reciclagem ambiental requer, entre outras coisas, uma boa campanha de mobilização popular.Portanto, o seu sucesso está vinculado ao uso eficiente de todas as ferramentas que normalmentesão usadas nesse tipo de ação, incluindo a formatação de diferentes produtos tais como cartilhas,livros, panfletos, eventos, mini-cursos, projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico nasuniversidades, criação de centros de formação de educadores especializados, etc.

Um aspecto que chama a atenção no caso da reciclagem de latinhas de alumínio é ouso intensivo da rede mundial de computadores, ou seja, a internet, para a divulgação dessaatividade. O internauta pode ter fácil acesso a grande quantidade de informações incluindo asfases da produção, industrialização do alumínio bem como a um número muito elevado de sitesexclusivamente dedicados a reciclagem do alumínio. Pelas estatísticas disponíveis, podemos verindícios de que há um maior comprometimento com a questão ambiental na cadeia produtivado alumínio. É interessante observar que a maioria dos web sites das siderúrgicas, mineradorasde ferro ou de suas associações de classe não disponibilizam de forma clara informações sobrea questão da sustentabilidade e de reciclagem dos produtos que elas fabricam (Tab. 5.5).

Empresa ou Associação de Classe ReciclagemSustentabi-

lidadeResponsabili-

dade social

 VALE  www.vale.com/ NÃO SIM NÃO

CSN  www.csn.com.br/ NÃO NÃO SIM

USIMINAS  www.usiminas.com/ NÃO NÃO NÃO

GERDAU  www.gerdau.com.br/ SIM NÃO SIM

IBRAM  www.ibram.org.br/ NÃO NÃO NÃO

IBS  www.ibs.org.br/ SIM NÃO SIM

AlumínioCBA   www.cia-brasileira-aluminio.com.br/ NÃO SIM SIM

ALCOA www.alcoa.com/brazil/ SIM SIM SIM

ABAL  www.abal.org.br/ SIM SIM NÃO

Observação: As pesquisas foram feitas acessando os portais das respectivas empresas e associações de classe no dia24 de março de 2009 entre 14 e 15 horas.

Tab.5.5 - Presença de palavras chaves “reciclagem”, “sustentabilidade” e “responsabilidade social” nos linksdiretamente acessíveis a partir de suas respectivas páginas centrais de acolhida (pagina “ home” do web site ou portal da instituição) na rede mundial de computadores (www). Original. RMPC.

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Os sítios de acolhidas (web sites) das empresas de mineração de ferro e de siderurgiasão menos informativos em termos de educação ambiental e não disponibilizam de forma clar

e didática as informações mais importantes sobre as suas atividades. Nesse tipo de web site, ainformações sobre cotação de suas ações na bolsa de valores merecem muito mais destaque doque o eventual compromisso ambiental da instituição.

Fig. 5.17 - Quadro ilustrativo ressaltando as diferentes fases do processo de reciclagem e produção de latinhas de alumínio tendopor base a reciclagem ambiental. Esse tipo de informação está prontamente acessível na internet e possivelmentecontribui para o aumento da eficácia dos programas de reciclagem de alumínio no Brasil (ABAL, 2009).

A figura acima (F ig. 5.17), ext raída da internet, fornece uma idéia de como é ecologicamentesustentável a atividade de reciclar uma latinha de alumínio. Inicialmente, devemos considerar quea energia necessária para a produção de uma única lata de alumínio nova seria suficiente parareciclar vinte latas usadas do mesmo alumínio.

A partir da análise do ciclo de vida dos materiais (ACV) é possível demonstrar para ocidadão as vantagens econômicas da reciclagem. Baseando-se em uma série de estudos sobre

a ACV de diversos materiais, a AgSolve (2009) disponibilizou em seu web site informações queajudam ao consumidor avaliar a importância da reciclagem de uma lata de alumínio. A energiaeconomizada ao se reciclar uma única lata de alumínio é suficiente para manter ligado umaparelho comum de TV por cerca de 3 horas. Outro aspecto a considerar é que a produção deuma nova tonelada de alumínio requer no mínimo cerca de cindo toneladas de bauxita isso semmencionar a quantidade de solo e água necessários para se minerar tal quantidade do minérioA reciclagem de uma tonelada de latinhas de alumínio irá gerar uma tonelada de alumínioreciclado (AgSolve, 2009).

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5.10 - Reciclagem das embalagens Tetra Pak® 

(folhas de papel, alumínio e plástico)O uso das embalagens tipo longa-vida em formato de caixinhas disseminou-se em todo o

mundo. A embalagem é constituída por até seis camadas diferentes. De dentro para fora, ex istemduas camadas de plástico que evitam o contato do produto com as demais camadas. A terceiracamada é constituída por um filme de alumínio que evita a passagem da luz e do oxigênio. Aquarta camada é de plástico que é seguida por uma camada de papel que dá a sustentação àtoda a embalagem e ainda permite que sejam impressos todos os tex tos e gráficos que compõema embalagem. Finalmente, uma sexta e última camada de plástico complementa a embalagem.

Existem diversas tecnologias disponíveis para a reciclagem das embalagens da Tetra Pak®.A reciclagem das fibras do papel, do plástico e do alumínio que compõem a embalagem começa

com o uso de um equipamento chamado hidrapulper®, semelhante a um liquidificador gigante(Fig. 5.18).

Fig. 5.18 - Hidrapulper® é capaz de separar o papel das folhas de alumínio e plástico usadas nas embalagens TetraPak®. Hydrapulper é uma marca registrada de Kadant Black Clawson, Boston, USA. Esse equipamanto étambém usado na reciclagem do papel. Fonte: Tetra Pak®

Durante a agitação do material com água e sem produtos químicos, as fibras sãohidratadas, separando-se das camadas de plástico/alumínio. Em seguida, essas fibras são lavadas

e purificadas e podem ser usadas para a produção de papel utilizado na confecção de caixas depapelão, tubetes ou na produção de material gráfico, como os folhetos distribuídos pela TetraPak® (Tetra Pak®, 2009).

O material composto de plástico/alumínio é destinado para fábricas de processamento deplásticos, onde é reciclado por meio de processos de secagem, trituração, extrusão e injeção. Aofinal, esse material é usado para produzir peças plásticas como cabos de pá, vassouras, coletorese outros (Fig. 5.19).

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O plástico e alumínio triturados, juntamente com insumos específicos, podem seprensados, a quente, resultando em uma chapa semelhante ao compensado de madeira quepode ser usada na fabricação de divisórias, móveis, pequenas peças decorativas e telhas. Essemateriais têm grande aplicação na indústria de construção civil (Fig.5.20).

Outra tecnologia, esta nova e inédita, desenvolvida no Brasil, trabalha com o processamentodo composto de plástico/alumínio em um forno de plasma (TSL, 2009). O sistema aquece a misturade plástico e alumínio a altíssimas temperaturas em uma atmosfera sem oxigênio (que preserva qualidade do alumínio). Neste processo, o plástico se quebra em moléculas, transformando-se emparafina. O alumínio se funde, tornando-se matéria prima pura novamente, sendo t ransformado emlingotes que podem ser laminados novamente para uso em embalagens longa vida (Fig. 5.21). Umaplanta em escala industrial da tecnologia plasma iniciou a sua operação em junho de 2005 por meiode uma parceria da Tetra Pak®, Klabin®, Alcoa® e TSL®.

Fig. 5.20 - É possível fabricar móveis, painéis e telhas a part ir de chapas prensadas do plástico e alumínio trituradode embalangens usadas Tetra Pak®. Na foto, vemos telhas fabricadas com esse material.

Fonte: Telhas Ecológicas, Pará de Minas, E-mail: [email protected]

Fig. 5.19 - Material granulado, composto de plástico e alumínio que poderá ser usado na produção de móveis, telhas ediversos outros materiais de interesse

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Fig. 5.21 - O processo inovador, desenvolvido no Brasil, usa a tecnologia do plasma que em alt íssimas temperaturas écapaz de separar novamente o plástico do alumínio. Ao final do processo, o alumínio pode ser novamentetransformado em lingotes. O plástico, por sua vez, é transformado em parafina. Fonte: TSL (2009).

5.11 - O mito da reciclagem de alumínioBrasil é recordista mundial na reciclagem de alumínio, com a marca de 96,2% enquanto que

os EUA reciclam 52%. Somos mais conscientes que eles? A considerar os seguintes aspectos:

(a) O Brasil tem crescentes recordes anuais de extração de bauxita e a produção interna dealumínio cresce acima de 3% ao ano; a meta do setor é não somente manter a posiçãocomo ainda crescer a taxas maiores do que 3,0% ao ano.

(b) A produção nacional de alumínio consome 6% de toda a geração de energia brasileira.Devemos ter em conta o elevado passivo ambiental associado a construção de hidroelétricasno país; A indústria de alumínio consome hoje 25.938 GWh e até 2015 o setor deveráreceber um acréscimo de cerca de 10.000 GWh.

(c) A posição do Brasil como exportador de bauxita, alumina ou mesmo alumínio consolidao nosso perfil de um grande fornecedor de produtos primários (com pequeno valoragregado) e sujeito a todo tipo de oscilação nos mercados internacionais.

(d) O país deveria explorar melhor a sua posição como um dos poucos países com grandesreservas de bauxita. Observar, por exemplo, que nem os EUA, o Canadá ou mesmo nenhumgrande país europeu detém reservas consideráveis desse minério.

Para uma análise comparativa dos padrões nacionais de reciclagem de alumínio emcomparação com outros materiais, sugerimos ao leitor ir ao último capítulo dessa obra. Noentanto, os fatos destacados acima sugerem que a cadeia produtiva do alumínio no Brasil deveriainvestir muito mais ainda na recuperação do passivo ambiental a ser gerado nos próximos anos.

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Produção, Consumo e

Reciclagem de Vidrono Brasil.

6.0C A P Í T U

6.1 - Introdução

6.2 - Tipos de vidros

6.3 - Manufatura do vidro6.4 - Produção de vidros no Brasil

6.5 - Consumo de vidros no Brasil

6.6 - Reciclagem de vidro no Brasil

6.7 - Estatísticas da reciclagem do vidro

6.8 - Abrindo uma empresa de reciclagem de vidro

VIDRO

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       V        i        d     r     o

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6.1 - Introdução

O vidro é fundamentalmente um composto formado por óxidos de sílica (74%) e de sódio(12%) muito embora outros elementos tais como o sódio, cálcio, magnésio, alumínio e potássiotomem parte da composição final (Tab. 6.1). Segundo a definição proposta pela American Societyfor Testing and Materials (ASTM, 2009), o vidro é um produto inorgânico de fusão, que foi resfriadoaté atingir condição de rigidez, sem sofrer cristalização (ASTM, 2009; AcheTudo, 2009b).

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 6.1 - Principais componentes do vidro simples e suas funções

Fonte: AcheTudo, (2009b).

Existem registros de que o vidro já era usado pelos povos da Babilônia e pelos fenícioshá pelo menos 5000 anos atrás. No entanto, ele só foi amplamente popularizado no mundoantigo pelos romanos (400 a.C). Na idade média, ele já era muito usado na construção de igreja

principalmente nos vitrais (Fig. 6.1).

Componente Fórmula % Função

Óxido de Sílica SiO2  74 Vitrificante

Òxido de Sódio Na2O 12Baixa o ponto de

fusão da sílicaÓxido de Cálcio CaO 9 Estabilidade

Óxido de Magnésio MgO 2 Resistência mecânica

Óxido de Aumínio Al2O3  2 Resistência

Potássio K 1 Estabilidade

Fig. 6.1 - O uso dos vidros já estavamuito disseminado naEuropa durante a idademédia. Ele era muitousado, por exemplo, emvitrais de igrejas, castelose residências da nobreza.Aqui, um belo exemplo deuma antiga catedral, hojesede de um dos Collegesno campus da CambridgeUniveristy, Inglaterra.Foto: RMPC.

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No século XVI, a técnica da flutuação do vidro para a sua fabricação foi introduzida e osmonopólios para a sua fabricação e, principalmente, em relação ao seu comércio foram uma das

bases da formação da Inglaterra como potência comercial durante os séculos XVIII e XIX. Hoje,o vidro é um componente inseparável das sociedades modernas dadas as suas características eatrativos. (Tab 6.2).

O vidro possui uma série de propriedades físicas que o tornam um produto muitoapreciado pela civilização moderna. O vidro tem uma alta durabilidade, elevada transparência,ótima resistência à água, a solventes e ácidos (exceto para o ácido fluorídrico, HF e o ácido

fosfórico, H3PO4). O vidro, em geral, pode ser facilmente reciclável muito embora isso não sejapossível para alguns tipos de vidros, principalmente os vidros planos. Essas características, aliadasao baixo preço se comparado ao alumínio, garantem a sua praticidade e versatilidade de usos.

Tab. 6.2 - Principais propriedades físico-químicas e atrati vos do vidro,

Fig. 6.2 - Carbonato de sódio,a barrilha (Na2CO3),uma das principaismatérias primas dovidro.

Propriedades Físicas Atrativos

Dilatação térmica muito baixa

Transparente

Inerte

Prático e versátil

Reutilizável

HigiênicoAlta durabilidade Impermeável

Baixa condutividade elétrica Retornável

Ótima resistência à água e a líquidos salga-dos bem como substâncias orgânicas, alcalise ácidos, com exceção ao ácido fluorídrico e

o fosfórico.

Reciclável

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Tab. 6.3 - Composição e granulometria dos dois tipos de barrilha, a barr ilha leve (BL) e a barrilha densa (BD).

Fonte: ALCALIS, 2009.

Assim como os plásticos, cer tas propriedades físicas dos vidros podem ser modificadas peladição de um determinado tipo de aditivo. Os v idros podem ter uma impressionante diversidadede cores que podem ser obtidas pela adição de vários tipos de óxidos. O Cobalto e o cobreconferem uma tonalidade azul enquanto o manganês e o selênio geram cores em vermelhoO cromo e o níquel são usados quando se deseja obter uma coloração amarela ou marron e overde é obtido quando se adiciona o ferro (Fig. 6.3).

Segundo o Manual de Informações da Companhia Nacional de Álcalis (ALCALIS, 2009), aprincipal matéria prima para a fabricação do vidro é a bar rilha. A barrilha é o nome comercial docarbonato de sódio (Na2CO3). Trata-se de uma substância alcalina, de cor branca, em forma depó (barrilha leve) ou grão (barrilha densa), sem cheiro (Fig. 6.2).

A barrilha é um produto higroscópico, ou seja, absorve umidade lentamente quandoexposta a atmosfera úmida, sendo responsável pela aglomeração do produto. A barrilha nãoé um produto inflamável ou explosivo. Ela é usada como o agente fundente na indústria dovidro. Uma das mais importantes fábricas de barrilha do Brasil localiza-se em Arraial do Cabo, R(ALCALIS, 2009). Ali, a barrilha é obtida através do processamento de sedimentos lacustres dalagoa de Araruama, Rio de Janeiro, que são muito ricos em conchas de moluscos.

Existem dois tipos de barrilha, a barrilha densa e a barrilha leve (Tab. 6.3). Ambos ostipos possuem diversas aplicações. A barrilha leve é empregada em diversos tipos de indústriastendo destaque as indústrias petroquímicas, papel e celulose, sabão e detergentes. Esse tipo de

barrilha é utilizado na fabricação de vidros ocos e especiais.

A barrilha densa é muito usada na indústria alimentícia e farmacêutica, na fabricação dopapel e celulose, em diversas indústrias químicas, no preparo de sabão e detergentes e até notratamento de água. A barrilha densa é essencial na fabricação de vidros planos.

Composição BL BD

Na2CO3 99% 99%

NaCl 0,4% 0,7%

Na2SO4 0,07% 0,07%

Fe2O3 0,003% 0,003%

Densidade Aparente (g/l) 470-570 950-1150

Tamanho dos grãos < 2,00 > 2,0mm

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A coloração dos vidros é usada não somente para atrair o consumidor para adquirir um dadoproduto, tal como é o caso de frascos de per fume, por exemplo. O uso de certos tipos de corespode impedir a penetração de radiação solar na faixa do infra-vermelho ou na faixa da radiaçãoultra-violeta. O uso de garrafas na cor âmbar para a cerveja e na cor verde para o vinho impedea penetração de radiação UV que comprometeria seriamente a qualidade desses produtos. Osvidros planos usados em janelas de residências e veículos frequentemente são dotados de filtroscoloridos que impedem a entrada de radiação na faixa do infra-vermelho mas permitem, poroutro, lado a entrada da luz visível. Esses filtros impedem, portanto, a passagem do calor e tornamo clima interior mais agradável e ainda economizam o uso de sistemas de refrigeração.

6.2 - Tipos de vidrosExistem vários tipos de vidros. Abaixo, são apresentadas as principais características dos

vidros mais comuns.

Sílica Vítrea

Esse material é obtido aquecendo-se areia de sílica ou cristais de quartzo até uma

temperatura acima do ponto de fusão da sílica, ou seja, acima de 1.725°C. Por causa da redetridimensional da sílica cristalina, o processo de fusão é muito lento. O vidro resultante é tãoviscoso que qualquer bolha de gás formada durante o processo de fusão não é capaz de selibertar do f luido fundente. A sílica vítrea tem um coeficiente de expansão térmico muito baixo euma excelente resistência a choques térmicos. Devido à extrema pureza obtida no processo desua produção, a sílica vítrea é um material de alto custo de produção. A sílica vítrea é utilizadaem aplicações especiais tais como na manufatura de janelas de veículos espaciais, espelhosastronômicos ou ainda para produção de fibras óticas.

Fig. 6.3 - Óxidos que conferem cor ao vidro bem como o padrão final da cor do vidro em função do percentual deadição dos óxidos de cromo, níquel, selênio, manganês, cobalto, cobre e ferro. Original: RMPC .

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 Vidros Sodo-Cálcicos

Os óxidos alcalinos são excelentes fluxos já que eles “amolecem” o vidro, reduzindoa viscosidade do vidro fundido de sílica. Eles são muito usados como geradores de fluxo oumodificador de rede. Esses óxidos alcalinos são incorporados nas composições dos vidros sob forma de carbonatos. Acima de 550°C, os carbonatos reagem com a sílica formando um líquidosilicoso. Em determinadas proporções, a mistura de carbonato alcalino e sílica irá formar o vidroapós o resfriamento. A adição dos carbonatos alcalinos diminui a resistência química do vidroCom altas concentrações de álcalis, o vidro será solúvel em água, formando a base da indústriade silicatos solúveis muito utilizados em adesivos, produtos de limpeza e películas protetoras.

Para reduzir a solubilidade dos vidros de silicatos alcalinos mantendo-se a facilidade defusão, fluxos estabilizantes são incluídos na composição do vidro no lugar de fluxos alcalinosO óxido estabilizante mais utilizado é o de cálcio (CaO), muitas vezes junto com óxido de

magnésio (MgO). Estes vidros são comumente chamados de sodo-cálcicos (Tab. 6.4). Este tipode vidro compreende, de longe, a família de vidros mais antiga e largamente utilizada. Pertencemà categoria dos vidros sodo-cálcicos a maior parte das garrafas, frascos, potes, janelas, bulbos etubos de lâmpadas.

 Vidros ao chumbo

Vidros alcalinos ao chumbo têm uma longa faixa de trabalho (pequena alteração deviscosidade com diminuição de temperatura), e, desta maneira têm sido usados por séculos parprodução de artigos finos de mesa e peças de arte. O chumbo também confere ao vidro ummaior índice de refração, incrementando seu brilho. O vidro ao chumbo é o vidro nobre aplicadoem copos e taças finas. Esse tipo de vidro também é conhecido como cr istal, um termo errôneopois, o vidro não é um material cristalino, é amorfo. Devido ao fato do óxido de chumbo ser um

bom fluxo e, ao contrário dos óxidos alcalinos, não abaixar a sua resistividade elétrica, os vidrosao chumbo são usados largamente na indústria eletroeletrônica. Uma aplicação importante dessetipo vidro é o seu uso na manufatura de funil de tubo de televisão, devido às característicaelétricas e a sua propriedade de absorção dos raios X. Vidros ao chumbo são também utilizadoem ótica, devido aos seus altos índices de refração.

 Vidros boro-silicatos

O óxido de boro, por si só, forma um vidro com resfriamento a partir de temperaturasacima do seu ponto de fusão a 460°C . Os vidros boro-silicatos possuem uma alta resistência aochoque térmico e por isso são empregados em produtos de mesa que podem ser levados aoforno. É o caso dos produtos Pyrex® e Marinex®.

Devido a menor quantidade de óxidos modificadores, além da resistência ao choquetérmico, os vidros boro-silicatos são também muito resistentes ao ataque químico e por isso sãoutilizados em vários equipamentos de laboratório.

 Vidros alumínio-boro-silicato

Quando se adiciona alumina (óxido de alumínio) em uma formulação de vidro silicatoalcalino, o vidro se torna mais viscoso em temperaturas elevadas. Assim, os vidros alumino

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Tab. 6.4 - Tipologia do Vidro

Fonte: ABIVIDRO, 2009.

Tipo De Vidro Aplicações

Sí lica Vít rea Indúst ria aero-espacial, telescópios , f ibras ót icas

Sodo-CálcicoEmbalagens em geral, indústria automobilística, construção civil e eletro-domésticos (na forma de v idro não planos)

Boro-Silicato Utensí lios resis tentes a choque térmico

Ao chumbo“Cristais”: copos, taças, ornamentos e peças artesanais.(o chumbo confere mais brilho ao v idro)

Vidros Planos Vidro temperado, vidro laminado (ou blindado),vidros de controle solar, espelhos

boro-silicatos (Tab. 6.4) podem ser aquecidos a temperaturas superiores, sem deformação,comparativamente a vidros sodo-cálcicos ou à maioria dos borosilicatos. Os vidros alumino-

silicatos são utilizados em tubos de combustão, fibras de reforço, vidros com alta resistênciaquímica e em vidros cerâmicos.

Finalmente, existe a família dos vidros planos que podem ser vidros temperados vidroslaminados e os espelhos que recebem uma camada de prata para refletir as imagens. Os vidrosplanos, em geral, exigem uma tecnologia especial para serem reciclados. Alguns vidros planosresultam da sobreposição de camadas de vidros e polímeros tais como o policarbonato, porexemplo. Esse polímero pode atingir transparência de até 90%, além de ser extremamenteresistente a impactos. É muito utilizado na produção de vidros planos, lentes de óculos e CDs.Os vidros planos ainda podem receber uma série de aditivos especiais para filtrarem a radiaçãoinfra-vermelha, por exemplo. E devido a essas características especiais, a reciclagem dos vidrosplanos não é feita através dos métodos convencionais (vide abaixo). Um resumo das principaisaplicações dos diversos tipos de vidros é apresentado a seguir (Tab. 6.4).

6.3 - Manufatura do vidroAs principais etapas para a produção do vidro são a fusão dos insumos, a moldagem da

peça e o seu posterior resfriamento (Tab. 6.5). A fusão do vidro é obtida em altas temperaturas,algo da ordem de 1500-1600ºC. A afinagem, moldagem e homogeneização são realizadas emtemperaturas oscilando entre 800 e 1200ºC (Tab. 6.5).

Fases Temperatura

Fusão 1.500 - 1.600°C

Conformação (Afinagem e homogeneização) 800 - 1200°C

Resfriamento (Recozimento) 100 - 800°C

Tab. 6.5 - Principais etapas da produção de vidros.

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Fig. 6.4 - Esquema de uma prensa usada para a moldagem de utensílios de vidro. Original: RMPC.

Devido às altas temperaturas exigidas nas diferentes fases da sua produção, o v idro requeum elevado aporte de energia por cada tonelada produzida desse material. Em geral, a produçãode uma tonelada de vidro requer cerca de 1,8 milhão de kcal de energia térmica o que equivalea 200 m3 de gás ou 200 kWh/de energia elétrica.

O princípio de fabricação é o mesmo para todos os tipos de vidros não planos. O vidrodepois de elaborado e condicionado termicamente, é cor tado em “gotas”. Essas gotas const ituemem determinadas quantidades de vidro fundente que têm exatamente a quantidade de vidronecessária para a obtenção da peça final. O vidro não plano pode ser trabalhado de diferentesmaneiras. As peças podem ser fabr icadas por prensagem (Fig. 6.4) ou por assopro (Fig. 6 .5).

Na conformação por prensagem, as gotas caem em um dos moldes que estão situadosem uma mesa giratória. Uma vez que a gota tenha sido depositada no molde, a mesa gira, e agota passa para uma posição onde vai ser prensada juntamente com o molde, que conforma aparte interna, forçando o vidro a adquirir seu formato final. Ao sair da prensa, a peça é esfriada

até se enrijecer e não mais perder sua forma. Ao mesmo tempo, nova gota é prensada. Nesteponto, se for uma peça que tem aba, como uma xícara, o molde se abre, pois ele é feito emduas metades, para liberar a peça. No caso de pratos e travessas, o molde é inteiriço. A partidaí, a peça é retirada do molde por um robô, chamado de take-out , e transferida para um fornochamado de REC, onde a temperatura é homogeneizada, preparando a peça para a têmperaLogo após a saída do forno REC, a peça é temperada, através de fortes jatos de ar que cobremtoda superfície da peça.

A vantagem da têmpera é que o produto fica mecanicamente mais resistente e menosujeito a sofrer quebras ou perder lascas durante o uso. Em casos de quebra, os cacos sãomenores, reduzindo os riscos de ferimentos. Após a têmpera, o produto já es tá pronto, devendoapenas ser esfriado, passar pelos controles de qualidade, ser embalado e vendido.

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Os vidros para embalagens e garrafas são moldados pela conformação tipo assopro (Fig.6.5). Nessa técnica, uma “gota” (ver a definição desse termo logo acima) do vidro fundentecai dentro do bloco onde, primeiramente, será formado o gargalo. Para garantir a eficiência dométodo, é feita uma compressão com ar na par te superior. A seguir, ar é soprado por dentro dogargalo, criando o vazio interno da embalagem. È formando, então, o  parison, que é a primeiraetapa da conformação.

A segunda etapa inicia-se com a aber tura do bloco e o parison é então transferido para omolde, que visa a dar a forma final do produto. Uma vez dentro do molde, o parison permaneceem repouso por alguns instantes, para que a pele do vidro, que teve contato com o bloco metálicoe se esfriou um pouco possa novamente se reaquecer com o calor vindo do núcleo do vidro.Finalmente, é soprado ar no interior do parison, que vai empurrar a massa de vidro fundentecontra o molde, definindo a forma final da peça. O molde, então, se abre, e a embalagem pronta éextraída e conduzida ao forno de recozimento. Essa etapa é caracterizada por um lento processo deresfriamento até que a temperatura ambiente seja atingida. Esse processo de lento resfriamento é

necessário já que assim são produzidas tensões que poderiam tornar a peça mais frágil.

Este processo é chamado de soprado-soprado, pois tanto o parison como o produto finalsão produzidos por sopro. Um outro processo, chamado de prensado-soprado, é semelhanteao anterior, diferindo apenas pela formação do parison, que é feita por prensagem e não porsopro de ar. Este processo é indicado no caso de potes e peças muito leves, onde é exigida umaperfeita distribuição do vidro.

Fig. 6.5 - Esquema de moldagem do vidro pela técnica “v idro soprado”. Original: RMPC.

No caso dos vidros planos, o processo mais comum é o do estiramento. O estiramentopode ser obtido por laminação ou por flutuação ( floating) sobre o estanho líquido (Fig. 6.6).O processo float  foi inventado em 1859, por Alastair Pilkington (Pilkington, 2009). O processobaseia-se no uso do estanho líquido, que é mais denso do que o vidro fundente. O vidro fundenteliteralmente flutua sobre estanho líquido e não se mistura com ele, nas temperaturas em que sedá o enrijecimento do vidro (de 600 a 1.100ºC). Ao se despejar o v idro fundido sobre o estanho,

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Fig. 6.6 - Dois métodos usados para o estiramento de vidros planos. (A) Laminação e(B) Floating sobre o estanho líquido. Original. RMPC.

(A) Trabalhando vidros planos por laminação.

(B) Trabalhando vidros planos por flotação ( floating ) no estanho líquido

a tendência é de se formar uma lâmina de 5 a 6 mm de espessura. O banho de estanho deveser longo o suficiente para que dê tempo para o vidro esfriar, dos 1.100ºC na sua entrada, até600ºC, na saída, quando estará rígido.

A espessura do vidro é determinada através do equilíbrio entre as tensões superficiais, aforça de gravidade e a velocidade de extração. Aumentando-se a velocidade, a fita torna-se maidelgada. Ao diminuir a velocidade de tração, a placa se engrossa. O controle da temperatura desaída é muito importante, pois, caso a temperatura for muito elevada, o vidro ficará marcado pelosrolos que conduzem a placa pelo forno de recozimento (chamado de estenderia). Ao contrário, se atemperatura estiver muito baixa, a placa poderá se romper.

A velocidade de extração do vidro é controlada por máquinas chamadas de top-roll  quesão dotadas de rodas dentadas que pinçam o vidro pelas bordas e que têm rotação e ângulosvariáveis e regulados por motores. Para a produção de vidros de 5 a 6 mm de espessura, otop-rolls ficam paralelos ao fluxo de vidro e o controle da espessura se faz pela velocidade de

extração. Os vidros mais finos que a espessura de equilíbrio (5-6 mm), são formados a partide disposição das placas nas máquinas top-roll  em ângulos divergentes, o que leva a placa a semais esticada e ainda em conjunto com uma maior velocidade de tração. Ângulos convergentee menor velocidade de tração geram, ao contrário, vidros planos mais espessos do que 6 mm.

O estanho (Sn) tem um sério inconveniente: ele se oxida em contato com o oxigênio, natemperaturas exigidas na fabricação do vidro. Então, é necessário que todo o banho de estanhofique enclausurado dentro de uma grande caixa, onde se injeta nitrogênio gasoso. Dentro destacaixa, há, também, uma série de resistências elétricas que garantem um perf il térmico convenientdesde a entrada até o ponto de saída do v idro.

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O vidro ainda pode ser formatado em uma grande variedade de fibras que podem serempregadas em inúmeras utilidades. Elas são produzidas através de um processo especial (Fig.

6.7). As fibras se originam pela passagem do vidro fundente em placas metálicas de platinadotadas de milhares de furos de um ou dois milímetros de diâmetro. Após passar pelas fieiras, osfios são esticados mecanicamente a uma grande velocidade. Esse processo irá gerar filamentosmuito finos da ordem de poucos micrômetros de diâmetro (um micrômetro = 0,001 milímetro).Imediatamente após serem formados, os filamentos são impregnados com uma solução aquosade compostos orgânicos, em processo que recebe o nome de encimagem. Através desseprocesso, a fibra irá ter uma boa aderência ao material que ela vai reforçar (ABIVIDRO, 2009).

As fibras se esfriam rapidamente porque são muito finas. Elas podem ser enroladas naforma de novelos em bobinas de cartolina. O fio de v idro por ser mais fino que um fio de cabeloé bastante flexível. As bobinas com as fibras tratadas com a solução de produtos orgânicos sãotransferidas a uma estufa de secagem onde a fibra sofre um processo de polimerização com osorgânicos. A seguir, a fibra de vidro pode sofrer várias transformações que irão resultar em fibras

de diferentes formas: (a)  rovings (bobinas); (b) fio cortado (3 mm de comprimento); (c) fibratecida picotada e (d) f ibras espalhadas sob manta de ligante (Mat).

As fibras de vidro são usadas sobretudo para aumentar a resistência mecânica de plásticosque, reforçados, se prestam a muitas outras finalidades, como, por exemplo, piscinas, caixasd´água, carroceria de carros, pranchas de surf . Elas podem ser usadas até mesmo na construçãode trens e aviões.

Fig. 6.7 - Esquema ilustrando a produção de fibras (à esquerda) e tubos de vidro (à direita). Original: RMPC.

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As fibras por serem muito finas não requerem recozimento. Outra exceção seriam algunsprodutos domésticos, que já são temperados diretamente ao final da linha (o Duralex®, poexemplo).

O recozimento é realizado em fornos tipo túnel, cuja entrada fica perto de onde se faz aconformação, e a saída no local onde o produto passa por inspeção e controle de qualidade. Noprocessamento dos vidros planos pela técnica do float , estes fornos são chamados de estenderiae, na embalagem e domést ico, de arca de recozimento ou simplesmente forno de recozimentoA partir daí, o vidro está pronto para ser inspecionado, embalado ou trans formado.

6.4 - Produção de vidros no BrasilSegundo a ABIVIDRO (2009), existem atualmente mais de duzentos fabricantes de vidro

no Brasil que atendem tanto ao mercado interno quanto ao mercado externo. A produção tota

de vidros planos e não planos no país alcançou, em 2007, 2,9 milhões de toneladas ano. Ouniverso das empresas que fabricam vidros no Brasil emprega cerca de 11.500 trabalhadores ea comercialização dessa produção alcançou um faturamento anual (2007) em torno de R$ 3,8bilhões. Os segmentos dos vidros empregados em embalagens e v idros planos atingiram, juntosuma participação de 65,8% do mercado de vidros (Tab. 6.6)

 Tab. 6.6 - Desempenho do setor de v idros no Brasil em 2007.

SegmentoFaturamento

(X 106 R$)Participação

(%)Produção

(X 103 Ton)Empregos

(X 103 )

Embalagem 1350 35,1 1303 5,2

Doméstico 558 14,5 229 2,4

Vidros Técnicos 759 19,7 182 2,4

Vidros Planos 1183 30,7 1240 1,5

Total 3850 100,0 2954 11,5

Fonte: ABIVIDRO, 2009.

Ao contrário de outras cadeias produtivas enfocadas nessa obra, como, por exemplo, ada indústria do papel, a produção nacional de vidro vem se mantendo em patamares estáveiao longo dos últimos anos, excetuando o segmento dos vidros planos que teve um aumentosignificativo de sua produção a par tir de 2004. Os incrementos no faturamento das empresas sãomais uma decorrência dos ajustes nos preços do que de aumentos nominais de produção. Houveuma sensível queda tanto na produção quanto no faturamento dos vidros domésticos talvez emdecorrência do aumento do uso dos plásticos no ambiente doméstico (Fig. 6.8).

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6.5 - Consumo de vidros no BrasilO consumo de embalagens de vidro entre os brasileiros é de 12 kg por habitante por

ano. Nos países europeus, tais como na França, o consumo per capita chega pode chegar 65quilos. Como já visto anteriormente (Fig. 6.8), a maior demanda do setor está concentrada naconstrução civil.

O setor de vidros planos é um dos setores que maior expansão apresenta dentro dessesegmento, principalmente em decorrência da forte aceleração da atividade de construção civilobservada nos anos de 2007 e 2008. O setor de vidros planos apresentou um crescimento demais de 10% em 2007 sendo que a mesma tendência foi observada nos dez primeiros mesesde 2008. Apesar de toda essa expansão, o consumo per capita de vidro plano no país ainda ébaixo, cerca de quatro quilos por ano, bem abaixo dos quatorze quilos observados na Argentina. Aprodução de vidros planos no Brasil é dominada por três grandes fabricantes de vidros: Cebrace,Guardian e UBV (CBIC, 2009).

Fonte: ABIVIDRO, 2009.

Produção Nacional de Vidros - ABIVIDRO

Ano

Embalagens Vidros Planos

   (  x   1   0   3    t  o

  n  e   l  a   d  a  s   )

20020

2003 2004 2005 2006 2007

500

1000

1500

2000

   (  x   1   0   6    R

   $   )

200

400

600

800

1000

1200

1400

Vidros Domés tic os Vidros E speciais

Embalagens Vidros Planos Vidros Domésticos Vidros Especiais

Fig. 6.8 - Capacidade de produção em milhares de toneladas (barras ver ticais)e faturamento em milhões de reais (linhas) da indústria nacional de v idros

por segmento.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 6.9 - Depósito de vidro em uma empresa recicladora. Original: RMPC.

6.6 - Reciclagem de vidro no Brasil

O vidro pode ser reciclado ilimitadamente. No entanto, o processo da reciclagem do vidroimplica em custos elevados seja pelo emprego intensivo de mão de obra ou ainda pelo aportede grande quantidade de água ou de energia necessários para que o processo da reciclagem secomplete.

O processo inicia-se com a coleta e deposição do vidro em um depósito de uma empresrecicladora (Fig. 6.9). O processo da coleta de vidros usado no Brasil ainda é muito rudimentarNo entanto, não é isso o que ocorre em países mais desenvolvidos. Esse processo deve envolvea própria indústria do vidro, deve estar assoc iado a programas muito bem estruturados de coletaseletiva gerenciados pelas prefeituras. Nada disso irá funcionar se não houver o envolvimento dacomunidade-alvo. Uma coleta moderna de vidro bem como de outros resíduos potencialmentereaproveitáveis e recicláveis exige uma boa logística de transporte, uma boa campanha de

 marketing e, sobretudo, um suporte de ações de educação ambiental especif icamente desenhadapara motivar todos setores da comunidade que podem atuar nessa cadeia: associações de bairrosupermercados, igrejas, clubes, postos de gasolina, administrações regionais, imprensa local, etc(WasteonLine, 2009b)

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A reciclagem dos vidros continua com a remoção de tampas e tampas e rótulos . A seguir,é feita uma triagem com separação de garrafas de bebidas, frascos de remédios e cosméticos

e potes de conservas. Os vidros são nessa fase também separados em cores ou transparentes.Espelhos, lâmpadas, Pyrex® ou similares e cristais não se prestam para a reciclagem tradicionaldo vidro (Fig. 6.10).

Na próxima fase, os recipientes devem ser lavados para a completa remoção dos resíduos(Fig. 6.11). Até hoje, não existe uma clara or ientação aos consumidores sobre o fato se eles devemou não lavar os rec ipientes de vidro antes de jogá-los no lixo. Sugerimos aos consumidores finaisque eliminem os restos de alimentos e líquidos dos recipientes antes de jogarem os frascos no

lixo. Um leve enxágüe pode deixar o vidro praticamente limpo o que implicará em um ganho deeconomia de água e energia na lavagem final a ser feita pela recicladora.

Fig. 6.10 - Triagem de vidro em uma empresa recicladora. Original: RMPC.

Fig. 6.11 - Lavagem de v idros em uma empresa rec icladora. Original: RMPC .

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Uma das etapas finais do processo de reciclagem consiste na moagem dos vidros (Fig6.12). O material previamente triado e limpo é levado para es teiras rolantes que estão acopladaa um moinho industrial. Essa fase implica em gastos com energia e constante manutenção doequipamentos bem como em gastos com o treinamento em segurança dos funcionários.

A última etapa da reciclagem é a refundição do vidro. A reciclagem completa do vidropropicia uma enorme economia de energia que seria necessária para a fabricação do vidronovo.

Na fabricação do vidro novo, as temperaturas giram em torno de 1500°C e 1600°C. Jána reciclagem, há necessidade apenas de uma nova refusão do material o que implica emtemperaturas bem menos elevadas, na faixa de 1000°C e 1200°C. Considerando o acima expostouma importante medida de economia e que contribui para a melhoria do meio ambiente é aagregação de cacos de vidros no processo convencional da produção de vidros. A agregação auma taxa de 10% de cacos, por exemplo, pode gerar um ganho energético de cerca de 4% e

uma redução de 5% na emissão de CO2. Assim, a agregação de uma tonelada de cacos podegerar uma economia de cerca de 1,2 toneladas de matérias primas.

É essencial o envolvimento do setor produtivo para que haja um aumento ainda maior nopercentuais de reciclagem de qualquer tipo de material. Um bom exemplo dessa estratégia podeser visto na figura abaixo (Fig. 6.13), onde são dadas informações ao consumidor de quais ostipos de vidros que podem ser aceitos em um programa convencional de reciclagem (ABIVIDRO2009).

Fig. 6.12 - Esteira que transport a os resíduos do vidro após a moagem. Original: RMPC.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Hoje, sabemos que para cada tonelada de vidro reciclado, evitamos a extração de 1.300Kg de areia. Isso significa que se a totalidade dos 2,95 x 109 Kg de vidro produzidos no Brasil em2007 fosse reciclada seria evitada a ex tração de 3,83 x 109 Kg de areia.

A extração de areia é uma das principais causas da rápida degradação dos rios em diversaspartes do Brasil. A ex tração de areia na várzea do rio Paraíba do Sul, nos estados de São Paulo edo Rio de Janeiro é um bom exemplo disso. A produção de areia dessa região corresponde a 10%de toda a produção nacional. Isso equivale a uma taxa mensal de retirada de areia igual a 1,02 x 106 m3.mes-1 (DNPM, 2006). Grande parte dessa areia é levada para a região metropolitanade São Paulo. Em um estudo sobre o impacto da mineração de areia no balanço hídrico do rio

Paraíba do Sul, Reis et al. (2006) demonstraram que, no per íodo 1993-2003, o crescimento dasáreas de cavas abertas que resultam da exploração de areia, ao longo desse importante rio, foiextraordinário (Fig. 6.14). Esses autores estimaram um aumento de evaporação de até 203%devido a essas cavas na região abrangida pelo estudo. É importante destacar que essa é umaregião que já é afetada por um nítido déficit hídrico, principalmente entre os meses de abril esetembro.

Fig. 6.13 - Quadro organizado pela ABIVIDRO para ser usado em campanhas educacionais visando a reciclagem devidros (ABIVIDRO, 2009).

Fig. 6.14 - Imagem de satélite Landsat  demonstrando a evolução das ativ idades de extraç ão de areia no rio Paraíbado Sul, entre as cidades de Jacareí e Pindamonhangaba (SP). Em vermelho, cavas de áreas de extração deareia. À esquerda, situação em 1993; à direita, a mesma área 10 anos depois (2003).

 Fonte: Reis et al. 2006.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Deve ser ressaltado, contudo, que a rentabilidade da rec iclagem do vidro está muito aquémda rentabilidade obtida na reciclagem do alumínio, por exemplo. A rentabilidade da reciclagem d

vidro está hoje na casa de R$ 0,21 por kg de vidro enquanto que no caso do alumínio esse valopode chegar a R$ 3,70 por kg de latas de alumínio. Esses contrastes de rentabilidade ressaltama complexidade logística e operacional da reciclagem já que ela implica não somente em umgrande diversidade de metodologias dependendo do material considerado, mas também devser levada em conta a grande diferença nos custos finais envolvidos. Diante desse cenárioé recomendável que as diferentes esferas de governo passem não somente a reconhecea importância da reciclagem, mas também passem a atuar mais ativamente na questão dareciclagem. O governo deve atuar, não somente criando, aplicando e fiscalizando novas normaque possam disciplinar mais esse segmento, mas também criando políticas de fomento para areciclagem no Brasil a exemplo do que já vem sendo feito há décadas nas respectivas cadeiaprodutivas desses materiais.

6.7 - Estatísticas da reciclagem do vidroEm 2001, o Brasil reciclava apenas 42% do consumo interno um valor que estava bem

próximo dos EUA, por exemplo. Nesse mesmo ano, vários países europeus apresentaram taxade reciclagem acima de 80% com destaque para a Suíça, Finlândia ambos com percentuaisuperiores a 90% do consumo interno (Tab. 6.7).

Tab. 6.7 – Estatísticas da reciclagem de vidro em alguns países europeus e dos EUA, comparados ao Brasil.

Reciclagem Do Vidro (2001)

País % Toneladas.ano-1

Suiça 92 -

Finlândia 91 -

Bélgica 88 -

Noruega 88 -

Alemanha 87 2,6 milhões

Brasil 42 390 mil

Inglaterra 34

EUA 40 2,5 milhões

Fonte: WasteonLine (2009b), ABIVIDRO (2009).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

O Brasil tem experimentado um grande avanço na reciclagem do vidro (Fig. 6.15). Bastamencionar que em 1991, apenas 15 % do vidro era reciclado no país. Em 2007, os índices

nacionais de reciclagem se aproximavam de 50% do total de vidro comercializado no país.No entanto, ao observarmos os dados da Tab. 6.7, fica evidente que há um grande caminhoa ser percorrido para a reciclagem do vidro especialmente se as estatísticas nacionais foremcomparadas àquelas dos países europeus mais desenvolvidos.

Em termos de origem do vidro reciclado, a maior parte (80%) vem de embalagens e

do mercado difuso que é constituído pelo universo dos catadores, associações de catadores epequenas empresas de reciclagem. O “canal frio” é representado pelos bares e restaurantes. Aocontrário da indústria de matéria plástica, o refugo industrial tem um papel apenas secundário nareciclagem do vidro (Fig. 6.16).

40%

40%

10%

10%

Envaze

Mercado Difuso

Canal Frio

Refugo da Indústria

Fig. 6.15 - Evolução da reciclagem de vidro no B rasil entre 1991 e 2007.

Fig. 6.16 - Origem do vidro reciclado no Brasil.

Fonte: ABIVIDRO (2009).

Fonte: ABIVIDRO ( 2009).

Reciclagem de Vidro no Brasil

   %    R

  e  c   i  c   l  a  g  e  m

0

   1   9   9   1

   1   9   9   2

   1   9   9   3

   1   9   9  4

   1   9   9   5

   1   9   9  6

   1   9   9   7

   1   9   9  8

   1   9   9   9

   2   0   0   0

   2   0   0   1

   2   0   0   2

   2   0   0   3

   2   0   0  4

   2   0   0   5

   2   0   0  6

   2   0   0   7

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Ano

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

6.8 - Abrindo uma empresa de reciclagem

de vidroA ABIVIDRO (2009) elaborou um estudo sobre a abertura de empresas de reciclagem

de vidros e muito do que será exposto adiante sumariza esse documento e pode, inclusive, seaplicável a várias outras empresas de reciclagem, em geral. Inicialmente, o empreendedor devebuscar uma área apropriada. Será necessário um galpão industrial com área mínima construídade 600 a 800m2. A escolha do local da usina deve considerar, dentre outros aspectos, osseguintes fatores: (a) proximidade e facilidade de acesso aos pontos de captação do caco; (b)proximidade e facilidade de acesso aos clientes compradores; (c) a área deve estar adequada legislação urbana (municipal e estadual) sobre uso do solo (área permitida para uso industrial)Para se saber se uma área pode ser usada basta fazer uma consulta à prefeitura local; (d) boa

oferta de serviços públicos tais como energia elétrica, água potável e rede de esgotos, telefonefixo e sinal de telefonia móvel, serviço de internet por banda larga, transporte coletivo, segurançalimpeza urbana confiável.

Embora exista no país a tradição de que a atividade de reciclagem seja informal, todaempresa de reciclagem e, em particular, uma miniusina de reciclagem de vidro, deve estatotalmente enquadrada em um dos modelos jurídicos admitidos pela legislação brasileira para esstipo de atividade: firma individual, sociedade comercial ou sociedade civil, ou ainda organizaçõeda sociedade civil de interesse público (OSCIP) e, dentre elas, as associações comunitária Emtodos os casos, será estabelecida uma razão social, um nome fantasia. O novo empresário (ouo seu contador) deverá estar ciente de toda a regulamentação da atividade e deverá procede

aos pedidos de cadastramento na Junta Comercial da região, na Secretaria da Receita FederalSecretaria Estadual da Fazenda e na Prefeitura Municipal do município.

Além dos documentos fiscais (CNPJ, inscrição estadual, etc.), será necessário verificaem cada caso qual é a documentação requerida para se obter tanto o alvará de funcionamentobem como a licença de instalação e a licença ambiental. Esses documentos são normalmenteemitidos pela secretaria do meio ambiente do município considerado e pela fundação estaduado meio ambiente (ou congênere) o que normalmente ocorre após adequação do galpão àsexigências locais (essa fase pode demandar despesas adicionais em modif icações ou melhoriano galpão, dependendo do estado do galpão, da região considerada). Também são necessários oalvará da vigilância sanitária (que é emitido pela prefeitura local), o atestado da vistoria do corpode bombeiros, além de toda a documentação f iscal e trabalhista do novo estabelecimento.

Embora exista muita falácia a respeito das vantagens de se reciclar, é preciso de que oempresário(a) que irá se dedicar ao negócio tenha em mente, em primeiro lugar, que o seunegócio é como qualquer um outro no sentido de que ele deve gerar lucros para que possa serealmente sustentável. A reciclagem deve ser encarada como um negócio que vai gerar resultadofinanceiro, justificando a sua prática além do aspec to educativo e ambiental. Para isso, uma séride premissas devem ser levadas em consideração (Tab. 6.8).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

O programa deve ser autosustentável do ponto de vista f inanceiro. Nunca confiar em financia-mentos ou subsídios de qualquer naturezacomo forma de sobrevivência do negócio.

É desejável que o empresário faça ou encomende um plano de negócios para a nova empresa.Esse deverá orientar todo o negócio desde a sua instalação, as necessidades de investimentosa curto e longo prazos, o gerenciamento de recursos humanos, etc.

O envolvimento da comunidade é um pré-requisito para qualquer programa de reciclagem.Toda empresa de reciclagem terá mais sucesso se estiver inserida em um programa de coletaseletiva de lixo no município onde atua.

A empresa deve possuir uma excelente logística. Bons veículos, devidamente equipados e ade-quados à legislação local, uma rota muito bem definida a fim de que o gasto de combustívelseja minimizado e, ao mesmo, tempo todos os clientes sejam visitados na freqüência adequa-da. É absolutamente fundamental que o programa de coleta seja regular, confiável. A estruturade armazenamento deve ser adequada.

Um bom conhecimento do mercado é pré-requisito para garantir a compra dos resíduos apreços que justifiquem a operação. É essencial que o empresário tenha uma noção precisados custos envolvidos bem como das oscilações de mercado para a compra e venda de seusrespectivos produtos. Nesse sentido, a organização de várias empresas em um sistema decooperativas ou de franquias poderá ser muito útil, principalmente no sentido de apressar oretorno do investimento no negócio e de prover uma contínua troca de experiências.

A captação deverá ser planejada, respeitando a legislação per tinente quanto a mobiliário urba-no e facilidade de acesso. Recomenda-se a formalização de pequenos contratos de compra deresíduos com os clientes maiores.

No caso de uma empresa recicladora de cacos de vidros não são necessários altosinvestimentos em equipamentos de processamento, pois o beneficiamento pode ser feito deforma manual ou de forma semiautomatizada. Uma miniusina de beneficiamento se justifica àpartir de coletas que at injam 300 toneladas por mês e não requer equipamentos sofisticados. Cominvestimentos de R$ 150.000,00 é possível implantar uma unidade desta natureza (ABIVIDRO,2009).

Fonte: ABIVIDRO (2009), modificado pelo autor.

Tab. 6.8 - Premissas de um negócio autosustentável em reciclagem de vidros.

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Ricardo Motta Pinto

Produção,

Consumo eReciclagem de Papelno Brasil.

7.0C A P Í T U

7.1 - Introdução 

7.2 - Produção, consumo e o comércio mundial depapel

7.3 - A indústria brasileira de papel

7.4 - Comércio externo brasileiro na área do papel ecelulose

7.5 - Perspectivas da indústria de celulose e aquestão ambiental

7.6 - Reciclagem de papel

7.7 - Etapas da reciclagem do papel

7.8 - Reciclagem e competit ividade das indústrias depapel

PAPEL

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

7.1 - Introdução

 Ainda nos primórdios de nossa civilização, o homem fazia uso de corantes naturais e docarvão para representar, em paredões de pedra, suas emoções, experiências e crenças (Fig. 7.1)Mais tarde, o homem passou a usar plantas, rochas e mesmo a argila para registrar a sua históriaDaí surgiu, por exemplo, a escrita cuneiforme usada pelos babilônicos. De todos os produtoempregados, o papiro, usado inicialmente pelos egípcios, foi o de maior importância. A seguir, opergaminho foi usado até o século XVI.

O papel foi inventado na China em 105 d.C. (Santos et al. 2001), mas somente por voltde 700 d.C. é que o oc idente tomou conhecimento de sua existência. A primeira fábrica de papeda Europa surgiu na Espanha por volta de 1.100 d.C. No Brasil, a produção industrial do papesomente foi estabelecida ao final do século XIX.

Fig. 7.1 - Pintura rupes tre encontrada nos paredões de arenitoda Serra do Cabral, localizado nas proximidades dacidade de Lassance, norte de Minas Gerais. Foto deRMPC.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Fig. 7.2 - Estrutura da celulose, um polissacarídeo formado pela ligação de milhares de moléculas de glicose.Original: Paula Pinto-Coelho

Apesar de vivermos na era digital, na era da internet e estarmos rodeados por monitoresde computadores e aparelhos de TV de todas as formas e tamanhos imagináveis, não podemos

deixar de reconhecer a importância do papel. O papel é essencial não só para o ensino e otrabalho. O seu uso é imprescindível no lazer e em vários outros momentos de nossa vidacotidiana. Assim, os jornais, esse livro que você está lendo, as revistas, sejam elas popularesou altamente científicas, os recados que você escreve no dia a dia, a lista de compras dosupermercado ou mesmo os cheques que você emite quando vai comprar um automóvel ouusa durante suas férias para pagar uma conta de restaurante, tudo isso depende do papel. Nãodevemos esquecer o emprego universal do papel nas embalagens. E mesmo para quem nãogosta de ler, só usa o car tão de crédito ou vive diante de um computador, como fica na hora de irao banheiro? O papel é usado em toalhas descartáveis, lenços , absorventes, guardanapos e paraa fabricação do papel higiênico. Não existem indícios de que o uso do papel vá diminuir e, comoveremos mais adiante nesse capítulo, há claros sinais de que haverá um aumento significativo naprodução (e obviamente do consumo) mundial dessa matéria prima.

Os diferentes usos do papel na sociedade moderna impõem aos fabricantes atender a umademanda diferenciada. Os papéis usados nas embalagens, por exemplo, devem apresentar umaboa resistência física enquanto que os papéis sanitários (lenços, papel higiênico, etc) devem, aocontrário, serem macios e facilmente decompostos em água.

O papel é formado por fibras de celulose entrelaçadas (Fig. 7.2). A matéria prima para aobtenção das fibras de celulose pode ser formada por troncos de árvores, bambu, bagaço decana, algodão, linho ou sisal.

O processo da fabricação do papel inicia-se com a poda e transporte das árvores parao pátio da fábrica. Ainda nessa fase, são retiradas as folhas e ramos e somente os troncos sãotransportados. A seguir, as cascas são retiradas dos troncos. As cascas poderão ser usadas emcaldeiras tanto para a produção de calor quanto para a produção de outras formas de energia(CENIBRA, 2009).

A fabricação do papel continua com a picagem dos troncos em cavacos com dimensõese formas apropriadas para sofrerem o ataque químico na próxima etapa. Como as células damadeira são unidas pela lignina que age no sentido de dar rigidez e resistência, essa lignina éparcialmente retirada em um processo conhecido como polpação do t ipo  kraf t . Nesse processo,é adicionada uma solução conhecida como sendo o “licor branco”. Essa solução é formada pelohidróxido de sódio e pelo sulfeto de sódio em meio aquoso. Esse processo é feito dentro de um

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

digestor que é mantido em alta pressão e temperatura. A polpa ou massa celulósica resultante échamada de polpa de cor marrom. Essa cor resulta do fato de que nem toda a lignina foi retirada

pelo processo “ kraf t 

”.

A próxima etapa, chamada de branqueamento, é complexa e tem por objetivo central acompleta remoção da lignina. O processo é basicamente de natureza química. Nesse processosão utilizados o cloro, o hipoclorito de sódio, o dióxido de cloro, oxigênio e ozônio. O processoexige seguidas lavagens e daí a necessidade de um grande aporte de água. Finalmente, a celulosebranqueada ou não, é empregada na fabricação de inúmeros tipos de papel (Fig. 7.3).

Fig. 7.3 - Etapas da fabricação do papel a partir do eucalipto. Uma das principais caracterís ticas dessa indústria é oelevado consumo de água e a geração de efluentes industriais que necessitam um tratamento complexo demodo a minimizar os impactos ambientais sobre os mananciais hídricos. Original. RMPC .

No Brasil, a produção de celulose e papel utiliza basicamente a madeira de uma árvoretrazida da Austrália inicialmente para a fabricação de dormentes para as estradas de ferro: oeucalipto. Uma tonelada de papel requer cerca de 20 árvores dessa espécie com idade variandoentre 6 e 7 anos. Os grandes avanços da silvicultura e da biotecnologia permitiram que o Brasil setornasse o maior produtor mundial de celulose branqueada de eucalipto (celulose de fibra cur tae o sétimo produtor mundial de todo tipo de celulose e o décimo segundo produtor mundial depapel (BRACELPA, 2009).

Papéis de impressãoPapéis para escreverPapéis para embalagensPapéis sanitáriosCartões e cartolinasPapéis crespadosPapéis não classificados

Branqueamento

Polpa Marrom

Corte de Árvores

Preparo das Toras

Retirada das Cascas

Corte dos Cavacos

Água Lavagem

Cascas

Energia

Água

Polpação Kraft 

Água

LigninaNaOH Na 2S 

CloroClO2

NaClOO2

O3

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Fig. 7.4 - Comércio inter nacional de papel no pe ríodo 1990-1995 (Fonte: BNDES, 1995).

7.2 - Produção, consumo e o comércio

mundial de papelA produção e o consumo mundiais de papel vêm crescendo continuamente nos últimos

quinze anos. As taxas médias de crescimento da demanda mundial de papel para o período 1980-1995 estiveram sempre acima de 3,3% ao ano. No período 1995/2005, as taxas de crescimentoda produção interna de papel no Brasil ficaram também em torno de 3,3% (BRACELPA, 2009).

O comércio mundial de papel vem apresentando valores crescentes tanto em quantidadequanto em dólares americanos (Fig. 7.4). Esse tipo de comércio movimentou, em 1995, cerca de72 milhões de toneladas, correspondendo a US$ 80 bilhões (BNDES, 1995). Segundo o estudodo BNDES, o fluxo mais intenso de comércio é apresentado pelos segmentos embalagem,imprimir e escrever e papel de imprensa. Em 1995, cerca de 50% da importação de papel estava

concentrada apenas em seis países: EUA, Alemanha, Inglaterra, França, China e Itália (BNDES,1995).

Segundo o estudo do BNDES (BNDES, 1995), os Estados Unidos apresentam um fluxointenso com o Canadá no comércio de papel de imprensa. Os países europeus são grandesimportadores de papéis para imprimir e escrever e embalagens. Os principais países exportadoresde papel são Canadá, Finlândia, Suécia e EUA, atuando o primeiro fortemente em papel deimprensa. A Finlândia destaca-se como um grande exportador de papeis de impressão e deescrever. Os EUA exportam grandes quantidades de papéis para embalagem. A exportação daSuécia é a mais equilibrada entre os principais tipos de papel.

Comércio Internacional de papel (1990 - 1995)

AnoQuantidade

   (  x   1   0   6    t

  o  n  e   l  a   d  a  s   )

19900

1991 1992 1993 1994 1995

20

40

60

80

   (  x   1   0   6    U

   S   $   )

0

Ano

20

40

60

80

100

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 7.5 - Lançamento de novos títulos, número de exemplares comercializados e faturamento na venda de livros no

Brasil, segundo Earp & Kornis (2005). Figura original.

Entre todas as categorias de papel, os tipos de papel para imprimir e escrever são osque vêm apresentando as maiores taxas de crescimento devido ao uso cada vez mais intensivo

de propaganda (mala direta), além das novas tecnologias desenvolvidas para escritórios (faxcopiadoras, impressoras, computadores pessoais, etc.). Outro fator que contribuiu para esseaumento foi o barateamento dos custos de impressão industrial, permitindo uma maior diversidadede títulos de revistas e periódicos. Aliás, merece destaque o fato de que as vendas totais de livrosbem como o número de lançamento de novos títulos e o total de exemplares vendidos vêmdecrescendo de modo expressivo nos últimos anos no Brasil. (Earp & Kornis, 2005) (Fig. 7.5).

Fig. 7.6 - Consumo mundial de papel por categorias em 2005.

84,3

 81,4

 42,15

36,5

16,86

19,67

Embalagem

Imprimir e escrever

Cartão

Imprensa

Sanitários

Outros

Fonte: BRACELPA (2009).

Consumo Mundial de Papel (2005) - Milhões de Toneladas (106 ton)

Ano

Faturamento

1994

   E  x  e  m  p   l  a  r  e  s   (  x   1   0   6   )

Exemplares

0

100

200

300

400

500

1996 1998 2000 2002 20040

20

40

60

80

100Livros no

   N   ú  m  e  r  o   d  e   T   í   t  u   l  o  s   (  x   1   0   3   )

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

   F  a   t  u  r  a  m  e  n   t  o   (  x   1   0   6    R

   $   )

Títulos

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Os maiores produtores e também consumidores de papel são os países desenvolvidos:EUA, Japão e Canadá respondem por cerca de 47% da produção mundial e EUA, Japão e

Alemanha consomem 50% de todo o papel produzido (Fig. 7.6).

O consumo aparente  per capta de papel é influenciado pelos índices de alfabetização,formação acadêmica e pelos níveis dos salários médios da população em geral. No caso brasileiro,esse índice vem subindo lentamente. Ele passou de 34 kg.hab. -1  em 1995 para 42 kg.hab.-1 (2007), mas é ainda muito baixo quando comparado aos maiores consumidores (Fig. 7.7). OsEstados Unidos, por exemplo, apresentam um consumo  per capta de 288 kg.hab. -1 (EUA) e aFrança possui uma taxa de 144 kg.hab.-1. Mesmo entre os componentes do Mercosul, o Brasilconsome bem menos do que a Argentina, por exemplo, cujo consumo per capita passou de 45,0em 1994 para 59,5 kg.hab. -1 em 2007. Outros países da América Latina também apresentamtaxas mais elevadas de consumo, tais como o México (63,4 kg.hab.-1) e o Chile (77,3 kg.hab. -1).

 

Fig. 7.7 - Consumo per c apta de papel em alguns países industrializados ouemergentes. Ano base: 2007.

 Fonte: BRACELPA (2009).

7.3 - A indústria brasileira de papel

A indústria brasileira de papel e celulose apresentou um bom desempenho no período1980/95 (Fig. 7.8), fundamentado basicamente no comércio internacional, uma vez que oconsumo aparente do país foi incapaz de absorver todo o crescimento verificado na produção.A produção nacional de celulose e papel elevou-se de 2,87 / 3,36 milhões de toneladas detoneladas em 1980, para 5,44/ 5,85 milhões de toneladas, em 1995, respectivamente. Em 2007,o país produziu 9,0 milhões de toneladas de papel e 12 milhões de toneladas de celulose. Essesnúmeros posicionam o país como o sexto maior produtor mundial de celulose e o 12º maiorprodutor mundial de papel (BRACELPA, 2009).

Consumo per capta  de papel (2007)

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País

Consumo per capta de papel

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A produção mundial de celulose alcançou 194 milhões de toneladas em 2007. Durante adécada de 80, a celulose de fibra longa, produzida pelos países nórdicos e da América do Nor temostrou-se preponderante. No entanto, esse cenário mudou com o expressivo aumento daparticipação da celulose de f ibra curta, ou seja, aquela produzida a partir do Eucalipto, introduzidno mercado a par tir do final da década de 70 pelos países então chamados de não tradicionaiprodutores (Brasil, Portugal e Espanha). Mais recentemente, o ingresso do Chile e de algunspaíses asiáticos neste mercado, em particular da China e da Indonésia, tem contribuído paraelevar ainda mais a oferta de fibra curta (F ig. 7.9).

Fig. 7.8 - Produção e consumo de papel no Brasil nas últimas duas décadas do século XX. Fonte: BRACELPA (2009

Fig. 7.9 - Principais produtores mundiais de celulose de Eucalipto. O Brasil, juntamente com os países ibéricos(Portugal e Espanha), é um dos maiores produtores mundiais desse tipo de fibra que tem a sua origem noeucalipto. Os valores aplicados para 2010 são es timativas do setor.

Fonte: BRACELPA (2009).

   1   9  8   0

   1   9  8   1

   1   9  8   2

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   1   9   9  4

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   2   0   0  6

   2   0   0   7

Produção e consumo de papel (Brasil)

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e   t  o  n  e   l  a   d  a  s

0

Ano

2

4

6

8

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Produção Consumo

0   M   i   l   h   õ  e  s   d  e   t  o  n  e   l  a   d  a  s

4,0

6,0

12,0

1990 1995 2000 2005 2010

Ano

Produção de celulose (fibra curta) - Eucalipto

Brasil Portugal Chile Espanha China

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Fig. 7.10 - Distribuição por est ados da federação das florestas plantadas noBrasil para a produção de celulose.

 Fonte: BRACELPA (2009).

7.4 - Comércio externo brasileiro na área

do papel e celuloseA balança comercial do setor vem registrando saldos positivos crescentes, tendo

contribuído, em 1995, com cerca de 6% das exportações totais do Brasil: entre papel e celulose,o valor exportado somou US$ 2,7 bilhões, com importações de US$ 1,1 bilhão (BNDES, 1995).As importações brasileiras de papel são, basicamente, dos tipos imprensa (principalmente doCanadá) e imprimir/escrever revestidos (Finlândia). Em 1995, situaram-se na ordem de 805 miltoneladas, sendo 68% superior às impor tações de 1994.

A produção brasileira de celulose fibra cur ta é a que apresentou maior crescimento, sendoo tipo preponderantemente exportado pelo Brasil. O destino da fibra longa é o uso cativo na

fabricação de papéis para embalagem, principalmente. Um aspecto muito interessante da indústriade papel e celulose no país é o de que os aumentos das produções de papel e celulose foramconseguidos com aumentos de produtividade uma vez que o aumento da área plantada não foitão expressivo. Ao final de 1995, o setor possuía 1,5 milhão de hectares de reflorestamentospróprios, sendo 61% de Eucaliptus  e 37% de Pinus. Em 2007, o país contabilizava cerca de1,715 milhões de hectares ocupados com florestas art ific iais (BRACELPA, 2009) (Fig. 7.10). Noentanto, a área de florestas plantadas no país é bem maior e chega a 5,5 milhões de hectares,sendo a maior parte destinada à produção de carvão vegetal. Segundo a EMBRAPA (EMBRAPA,2009), a área total plantada com eucaliptos no Brasil era de 2,95 x 106 hectares, em 1999

Florestas Plantadas no Brasil - 2007

SP BA PR MG ES RS MS SC PA AP RJ MA

  x

   1   0   0   0

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0

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Estados

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

As exportações brasileiras de papel alcançaram 1,229 milhões de toneladas em 1995(1,7% das exportações mundiais) e concentram-se nos tipos imprimir/escrever não revestido

e embalagem ( kraf tliner ). Naquela época, o Brasil já se situava como um dos três maioresfornecedores mundiais de papel para imprimir e escrever não revestido, à base de celulose.

De 1995 até os dias atuais, a posição do Brasil como um grande expor tador de celulose ede papel se consolidou (Fig. 7.11). Hoje, o setor de papel e celulose conta com 220 empresaslocalizadas em 450 municípios espalhados por 17 estados da federação. O setor gera 110 miempregos diretos, sendo 65 mil na industr ial e 45 mil nas florestas e quase 500 mil empregoindiretos. O saldo comercial devido à boa performance das exportações foi de US$ 3,4 bilhõeem 2007, o que cor responde a 8,5% do saldo comercial total do Brasil (BRACELPA. 2009).

Em 2007, o país expor tou 12 milhões de toneladas de celulose e 9,0 milhões de toneladade papel o que corresponde, em seu conjunto, a um valor total de US$ 4,7 bilhões (BRACELPA

2009). Essa mudança de estratégia de comercialização dos seus produtos é muito visível naindústria do papel e celulose no Brasil. Até meados da década de 80, o mercado externo não ervisto como um mercado muito importante pelos produtores de papel. As exportações visavamapenas desovar o volume da produção não absorvido pelo mercado nacional. O agravamento drecessão interna e a boa receptividade do papel brasileiro no exterior contribuíram para modificaesse cenário. Atualmente, as exportações de papel assumem vital importância na ocupaçãoda capacidade produtiva. Os maiores mercados para as exportações brasileiras de papel sãoformados pelos países da América do Sul, Europa e países asiáticos e da Oceania (Fig. 7.12).

Fig. 7.11 - Fluxo anual de import ações e exportações de papel no Brasil, no período 1990-20075

Fonte: BNDES, 1995, BRACELPA, 2007.

Comércio exterior de papel e celulose (Brasil - 2007)

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Exportação

1

2

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Importação

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Fig. 7.12 - Destino das expor tações brasileiras de papel (2007). Fonte: BRACELPA (2009).

Fig. 7.13 - Destino das expor tações brasileiras de celulose (2007). Fonte: BRACELPA (2009).

Papel - Destino das Exportações Brasileiras - 2007

Celulose - Destino das Exportações Brasileiras - 2007

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Em termos de exportação de celulose os maiores mercados são, respectivamente, aEuropa, Asia e Oceania e a América do Norte (Fig. 7.13).

7.5 - Perspectivas da indústria decelulose e a questão ambiental

As perspectivas para o consumo mundial apontam para um crescimento anual de 2,7%(BRACELPA, 2009). Em 2005, o consumo mundial de celulose foi de 234 milhões de toneladade celulose e pastas e 117 milhões de toneladas para a pasta reciclada. O aumento do uso dapasta reciclada deve ser bem maior e, considerando as tendências atuais, esse consumo devemanter-se no patamar de crescimento de 4-5% ao ano (BRACELPA, 2009). Essas estimativaindicam que poderá haver até mesmo um déficit de oferta para o papel reciclado que pode

influenciar o preço final desse tipo de produto.

A principal vantagem competitiva do Brasil é a sua tecnologia florestal, onde, após 25 anoso desenvolvimento genético alcançado para o eucalipto permite o corte para industrialização emapenas sete anos, com alta produtividade. As florestas boreais têm um ciclo de 30 anos, sendo queusualmente corta-se mata nativa. Essa vantagem, entretanto, num médio prazo, é ameaçada pooutros países de climas tropical e subtropical, especialmente os asiáticos (BRACELPA, 2009).

As razões para os altos níveis de produtividade nas florestas plantadas alcançados peloBrasil estão associadas ao clima e ao solo adequados, a pesquisa e desenvolvimento na áreade silvicultura, ao alto grau de organização do setor privado e ao crescente uso de mão de obrqualificada. Os principais avanços tecnológicos estão nas áreas da genética, biotecnologia, no

manejo florestal e no planejamento sócio-ambiental.

Apesar do quadro otimista acima, é importante destacar que existem muitos desafiostecnológicos a vencer no front ambiental. É preciso melhorar (e muito) a qualidade dos ef luentelíquidos e perseguir a meta do efluente zero nessa indústria. O tratamento tradicional dosefluentes líquidos pode estar contribuindo para o aumento da eutrofização dos mananciais à jusante das indústrias . Dessa forma, é preciso moni torar melhor os impactos ambientais doefluentes líquidos principalmente em termos de sua contribuição para o aumento da eutrofizaçãodos sistemas aquáticos sejam eles lóticos ou lênticos. É necessário também diminuir os impactoda contaminação por metais traços. A questão da emissão de gases causadores do efeito estufprecisa ser melhor avaliada nas indústrias de papel e celulose e espera-se que novas medidas

sejam tomadas para diminuir a emissão de gases e partículas finas nessas plantas.

Os passivos ambientais gerados pela monocultura de eucalipto não são ainda bemconhecidos. Espera-se que o setor possa investir mais na questão da pesquisa ambientaespecialmente nos impactos desse tipo de cultivo nos bancos de biodiversidade genética e deespécies das áreas de entorno; bem como avaliando melhor o impacto dessas monoculturas nobalanço hídrico das bacias hidrográficas envolvidas.

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Fig. 7.14 - Percentuais de uso para o consumo e de recuperação de papel em alguns países industrializados eemergentes

7.6 - Reciclagem de papelA reciclagem aqui é entendida como o reaproveitamento do papel dito não-funcional

para produzir um novo tipo de papel, o papel reciclado. Há duas grandes fontes de papel a sereciclar: as aparas pré-consumo (recolhidas pelas próprias fábricas antes que o material passeao mercado consumidor) e o papel usado pós-consumo (geralmente recolhidas por catadoresde ruas). De um modo geral, o papel reciclado utiliza matéria prima das duas fontes acima etem a cor creme. O papel reciclado tem propriedades diferentes do papel novo sendo a maisnotória delas, a coloração. A aceitação do papel rec iclado é crescente, especialmente no mercadocorporativo. Vários bancos, por exemplo, usam somente papel reciclado. Esse tipo de papel temum apelo ecológico, o que faz com que alcance um preço até maior que o material virgem.

Atualmente, observa-se uma tendência mundial para o aumento tanto do consumo depapel reciclado quando da própria atividade de recuperação e reciclagem do papel. Em alguns

países, como a China por exemplo, as taxas de consumo de papel reciclado são muito maiselevadas do que a própria atividade de rec iclagem. Em outros países, tais como a França, o Japãoe os Estados Unidos, a produção de material reciclado chega mesmo a ser super ior ao consumonacional desse material (Fig. 7.14). Ao compararmos a situação do Brasil no contexto da produçãoe consumo de papel reciclado, f ica claro que temos um longo caminho a percorrer.

Fonte: BRACELPA (2009).

Reciclagem de papel no mundo - 2007

  A   l  e  m

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Consumo Recuperação

   P  e  r  c  e  n   t  u  a   l   d  e

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Países

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

No Brasil, os papéis reciclados chegavam a custar 40% a mais que o papel v irgem (preçode 2001). Em 2004, os preços estavam quase equivalentes, e o material reciclado custava de

3% a 5% a mais. A redução dos preços foi possibilitada por ganhos de escala, e pela diminuiçãoda margem média de lucro. Na Europa, o papel reciclado em escala industrial chega a custaaté mais barato que o virgem, graças à eficiência na coleta seletiva e ao acesso mais difícil àcelulose.

Como foi visto acima, a matéria prima vegetal mais utilizada na fabricação do papel éa madeira, embora outras também possam ser empregadas. Estas matérias primas são hojeprocessadas química ou mecanicamente, ou por uma combinação dos dois modos, gerandocomo produto o que se denomina de pasta celulósica, que pode ainda ser branqueada, caso sdeseje uma pasta de cor branca. A pasta celulósica, branqueada ou não, nada mais é do queas fibras celulósicas liberadas, prontas para serem empregadas na fabricação do papel. A pastacelulósica também pode prover do processamento do papel, ou seja, da rec iclagem do papel.

Hoje, a força motriz da reciclagem de papel no Brasil ainda é o fator econômico, mas ofator ambiental deverá cada vez mais ser um fator muito importante para o desenvolvimentodo setor, assim como ocorre em vários países mais desenvolvidos. A preocupação com o meioambiente criou uma demanda por “produtos e processos amigos do meio ambiente”. Reciclao papel é uma forma de responder a esta demanda. Assim, os principais fatores de incentivo àreciclagem de papel, além dos econômicos, são: a preservação de recursos naturais (matériaprima, energia e água), a minimização da poluição e a diminuição da quantidade de lixo quevai para os aterros e lixões. Dentre estes, certamente o último é o que tem tido maior pesonos países que adotam medidas legislativas em prol da reciclagem. É importante destacar quea fabricação do papel e da celulose, assim como na cadeia do alumínio, ainda está associada aum elevado impacto ambiental. A responsabilidade sócio-econômica dos diversos atores dessacadeia deve ser direcionada também para o incremento da recic lagem.

7.7 - Etapas da reciclagem do papelA reciclagem do papel inicia-se pela coleta do material (Fig. 7.15). Essa coleta é feita po

um exército de catadores de papel nas principais cidades do país. Já existem, em diversas cidadedo Brasil, iniciativas de sucesso visando uma organização desse importante elo da cadeia dereciclagem do papel. Um bom exemplo é o trabalho iniciado pela Pastoral de Rua da Arquidiocesede Belo Horizonte, a partir de 1987, que culminou, em 1992, no estabelecimento de umaparceria público-privada entre a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) da Prefeitura deBelo Horizonte (PBH) e a Associação dos Catadores de Papel (Dias, 2006). Essa parceria resultda implementação de um modelo de gestão que se enquadra no sistema de gerenciamentointegrado e sustentável de resíduos sólidos urbanos (GISRSU) que está baseado nas seguintespremissas: (a) consistência tecnológica; (b) qualificação do trabalhador e (c) cidadania eparticipação social. O ponto mais importante dessa parceria é o reconhecimento pelo podepúblico do catador não como um inimigo da limpeza pública, mas sim como um importanteparceiro para o desenvolvimento da coleta seletiva na região metropolitana de Belo Horizonteque encerrou décadas de relacionamento conflituoso entre a PBH e os catadores de lixo e papena cidade (Dias, 2006).

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Fig. 7.15 - A criação da ASMARE possibilitou a abertura de várias pequenas empresas de reciclagem que trabalhamem conjunto com os catadores de papel no hipercentro de Belo Horizonte. Nas fotos, vemos a atividadedos catadores que, ao final de cada dia, chegam com seus carrinhos lotados principalmente de papel eplásticos. Esse material sofre uma primeira triagem nessas empresas que encaminham os fardos de papel ede plásticos para o terceiro elo da cadeia de reciclagem. Fotos: RMPC.

Outra fonte importante de papel reciclado é constituída pelas sobras (aparas) de papelque surgem do próprio processo industr ial de fabricação do papel e pr incipalmente nas indústriasgráficas. Essas sobras (aparas) são entregues diretamente na recicladora.

Uma vez que todo o papel usado chega na recicladora, ele deverá passar pelo controle dequalidade e é classificado. Em geral, os lotes mais antigos vão para as esteiras transportadoras.O  hidrapulper  é um equipamento que desagrega o papel em solução aquosa. Após esta etapa,uma motobomba direciona a massa de papel e a envia para as próximas etapas.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Dependendo da natureza do lote, a próxima etapa consiste no emprego de uma máquinao turbo tiraplástico que irá retirar todo o material plástico eventualmente presente tais como

forros de capas, etiquetas, etc. A seguir, vem a centrifugação que é feita visando a retirada detodas as impurezas (poeira, grampos, pregos, etc.) que possam ser retiradas por gravidade.

Uma vez que a massa de papel esteja livre do plástico e de todas as outras impurezas, éfeito então o refino da massa homogeneizada. O refino inicia-se com a adição de aditi vos à masstais como o sulfato de alumínio, amido de mandioca, etc. Em seguida, a massa é transferida paraa caixa de entrada da máquina de papel. Essa máquina é constituída por uma mesa que é isoladaem uma câmara à vácuo que retira toda a umidade excedente.

Após o processo de retirada à vácuo da umidade, o papel seco e plano é então prensadoem um processo bem preciso onde é regulada com grande precisão a gramatura do papelNesse ponto, é feita então uma segunda secagem, só que agora o papel já em seu formato finaé tracionado em rolos secadores. Logo em seguida, o papel é transferido para enroladeiras que

irão dispor o papel em bobinas. Essas bobinas irão para o controle de qualidade. Dependendoda necessidade do cliente, essas bobinas ainda irão para o setor de car tonagem onde o papel étransformado em chapa de papelão, constituinte essencial das caixas de papelão.

7.8 - Reciclagem e competitividade dasindústrias de papel

A competição na indústria do papel, como em todas as outras indústrias, tradicionalmentsempre foi baseada no binômio preço-qualidade. As escalas de produção das novas plantas sãocada vez maiores proporcionando menores custos unitários, mas exigindo vultosos investimento

(BNDES, 1995). A diferenciação de produto torna-se cada vez mais relevante, revertendo otradicional tratamento da commodity . No entanto, a crescente consc ientização da sociedade emgeral sobre os grandes impactos ambientais associados à indústria da celulose, tem levado aempresas a investir no desenvolvimento e implantação de novas tecnologias de processo, comdestaque para a área de branqueamento, além de investimentos significativos na área ambientada empresa, infelizmente muitas vezes mais direcionados ao  marketing ambiental.

A tendência que se verifica atualmente é no sentido do “efluente zero”, ou seja, sistemafechado de produção, sem o lançamento dos enormes volumes de água altamente poluídanos mananciais (BNDES, 1995). É preciso acrescentar o fato de que o custo está se elevandoultimamente movido, por um lado, pela crescente escassez de recursos florestais de boa qualidade, por outro, pela crescente mobilização da sociedade exigindo uma postura mais conscientedas indústrias na questão dos impactos ecológicos advindos do monocultivo do eucalipto. Aindústria também vem sentindo a pressão de substituir fibras virgens por material reciclado. Alegislação dos países desenvolvidos, principalmente da União Européia, tem obrigado o uso depercentagens crescentes de reciclados na composição dos papéis. Por trás dessas pressões, háo interesse em diminuir a quantidade de lixo produzida pelas grandes cidades.

O percentual de reciclagem tem se elevado nos últimos anos. Como foi visto acima, a tax

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de reciclagem do papel no Brasil situa-se em torno de 43% (Fig. 7.14). Entretanto, es te percentual,na realidade, deve ser significativamente maior, mas a falta de estatísticas mais confiáveis impede

seu correto dimensionamento. As empresas brasileiras de celulose de mercado têm respondidorapidamente às exigências de seus consumidores, adaptando seus processos produtivos àsnovas normas e credenciando-se à obtenção do certi ficado ISO-9000 (todas as produtoras têmesse tipo de certificado). Tem-se verificado, também, a implantação de rígidos programas deredução de custos e modernização administrativa objetivando estruturas mais leves e capazesde responder às demandas de uma competição globalizada.

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Tipologia,

Produção e Reciclagemde Pilhas e Baterias.

 8.0C A P Í T U

8.1 - Introdução

8.2 - Pilhas atuais

8.3 - Classificação das pilhas e baterias

8.4 - Baterias ácido-chumbo

8.5 - Baterias de Ni-Cd

8.6 - Baterias NiMH

8-7 - Baterias de Lítio

8.8 - Produção de pilhas e baterias no Brasil

8.9 - Reciclagem de pilhas e baterias

8.10 - Um caso de estudos: a represa da Pampulha,

Belo Horizonte, MG.8.11 - O que diz a lei

PILHAS E BATERIAS

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8.1 - Introdução

As pilhas e as baterias são miniusinas portáteis, que transformam energia química emenergia elétrica. Em 1800, o italiano Alessandro Volta descobriu que empilhando alternadamentdiscos de metais diferentes (como prata e zinco, prata e cobre, cobre e zinco ou cobre e chumboe entremeando estes discos metálicos com discos de flanela ou feltro embebidos em água esal ou em vinagre, a pilha de discos produzia eletricidade. O ácido do vinagre produz reaçõesquímicas nos metais. Devido a essas reações, o zinco armazena um excesso de elétrons emrelação ao cobre, ocorrendo uma diferença de potencial. Estava inventada a pilha elétrica e aesse arranjo dá-se o nome de pilha voltaica. Uma pessoa pode sentir um choque elétrico comuma pilha similar a de Volta com cerca de 60 discos ao tocar as suas duas extremidades da pilh(Fig. 8.1).

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Fig. 8.1 - A pilha original de Alessandro Volta o italiano inventor da pilha elétrica. Original: RMPC .

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8.2 - Pilhas atuais

As pilhas líquidas de Volta, eram muito difíceis de transportar. Hoje, elas foram substituídaspelas pilhas secas, mas seria mais correto chamá-las de pilhas pastosas (Fig. 8.2). As pilhasmodernas geralmente usam eletrólitos sólidos imersos em um gel de manganês. A maioria daspilhas possui um bastão de carvão que é imerso em camadas pastosas de dióxido de manganêse cloreto de amônia. O conjunto é lacrado numa carcaça de zinco. Há uma lenta reação química,que produz uma diferença de potencial. Quando colocamos em contato o carvão e o zinco,através de um fio, a corrente flui, como na pilha úmida de Volta. A produção comercial de bateriase pilhas se iniciou ainda no século XIX.

Apesar de todos os avanços tecnológicos, as pilhas que utilizamos hoje têm o mesmoprincípio de funcionamento da pilha construída por Volta. A par te mais externa (capa) da pilha éde zinco, sendo freqüentemente recoberta com papelão ou plástico para evitar vazamento. Nointerior da pilha, em vez de outro metal, há um bastão de carbono (grafi te). O recipiente é cheiode uma pasta úmida, constituída por alguns sais e óxido de manganês (no lugar da solução deácido diluído). A placa de zinco e o óxido de manganês presente na pasta úmida se interagem,na presença dos sais e do carbono, gerando uma corrente elétrica contínua.

Fig. 8.2 - Corte transversal em uma pilha comercial comum. No seu interior, existe um bastão de grafite que estádiretamente ligado ao pólo positivo. O bastão es tá envolto em uma pasta úmida formada por amônio, cloretode zinco e dióxido de manganês. A membrana de zinco envolve essa pas ta e fica ligada ao pólo negativo, quelocaliza-se na par te inferior da pilha. Os elétrons fluem do pólo negativo para o pólo positivo.Original: RMPC.

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Como as reações químicas de retirada e adição de elétrons não cessam, o zinco vaacumulando progressivamente mais elétrons e não pode doá-los ao cobre, a não ser que seestabeleça um contato entre os dois metais. Se esse contato for feito por meio de um fiometálico, os elétrons excedentes do zinco fluirão para o cobre através do fio.

Várias substâncias químicas presentes nas pilhas e baterias são tóxicas, e podem fazemal à homens, animais e plantas. As pilhas de zinco e carvão foram as primeiras a seremcomercializadas. Uma pilha comum contém alguns metais traços que podem causar sériosproblemas à saúde dos animais e do homem. Normalmente, estão presentes o zinco, o chumboo níquel, a prata e o manganês. As pilhas mais comuns encontradas no mercado, além da pilhatradicional feita à base de zinco-carbono que libera cerca de 1,5 V, são as pilhas alcalinas, quecontém o hidróxido de potássio e o mercúrio. Elas liberam a mesma energia, mas a sua duração

é mais longa. Além desses metais, as pilhas e baterias possuem outros elementos químicosperigosos, como o cádmio, cloreto de amônia e negro de acetileno.

Toda a reação redox cuja voltagem é positiva ocorre espontaneamente, e dessa forma, apilhas estarão disponíveis a produzir corrente elétrica quando fecharmos o circuito unindo a cadmeia célula de zinco o que equivale a construir uma ponte por onde podem fluir os elétrons doagente redutor até o agente oxidante.

Nas pilhas, a reação química que produz a separação de cargas em geral não é reversíveÀ medida que a pilha vai sendo utilizada, as quantidades das substâncias que reagem vãodiminuindo e a produção de energia elétrica vai ficando menor, ocorrendo, então o desgasteda pilha. Uma vez esgotados os reagentes dessa reação, as pilhas “acabam” e não podem serecarregadas. Já na bateria de automóvel, que é tecnicamente chamada de acumulador, esseprocesso é reversível e, por isso, ela pode ser recarregada.

Recentemente, têm surgido no mercado, e com freqüência cada vez maior, as pilharecarregáveis. Do ponto de vista ecológico, as pilhas recarregáveis são muito superioresfuncionam por até cinco anos, enquanto uma alcalina dura por 90 dias. Os diversos tipos depilhas recarregáveis (secundárias) estão descritos a seguir.

8.3 - Classificação das pilhas e bateriasAs pilhas são classificadas de acordo com seus sistemas químicos, podendo haver em

cada um deles mais de uma categoria (Tab. 8.1). As categorias são representadas por letras, qunormalmente vêm impressas nas pilhas. Além disso, as pilhas podem ser recarregáveis ou nãosendo divididas em primárias (não recarregáveis) e secundárias (recarregáveis).

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Tab. 8.1 - Classificação das pilhas de acordo com seus sistemas químicos e suas aplicações (ELETRONICA, 2009)

8.4 - Baterias ácido-chumboAs baterias são sistemas compostos por uma associação de pilhas, fornecendo, portanto,

mais energia. Internamente a bateria consiste de dois tipos de placas imersas em ácido sulfúricoe água. Uma delas é uma forma esponjosa de chumbo, que serve como o ânodo, o pólo negativoda bateria que providencia os elétrons que irão viajar pelo circuito externo. A outra placa é dedióxido de chumbo, PbO2, que serve como o cátodo, o pólo positivo da bateria que recebe oselétrons depois deles passearem pelo circuito ex terno (Fig. 8.3).

Durante o funcionamento da bateria, acumulam-se depósitos de um composto chamadosulfato de chumbo, formando uma película entre as placas. A produção de energia elétricadecresce (a bateria descarrega) e a solução de ácido sulfúrico fica mais diluída. A bateriade ácido-chumbo pode ser recarregada passando por ela uma corrente elétrica contínua emdireção oposta a da corrente que a bateria fornece. Isso força o processo inverso, ou seja, a(re)-diluição do sulfato de chumbo depositado nas placas. Após o carregamento, a bateria voltaa produzir cor rente. Existe um aparelho chamado “densímetro” que indica quando a bateria estádescarregada, através da medida da densidade da solução de ácido sulfúr ico.

Primárias Código Uso Comum

Zinco carvão - Propósitos gerais

Alcalina de manganês L Propósitos gerais

Lítio C Relógios e equipamentos fotográficos

Óxido de mercúrio N,MAparelhos auditivos e equipamentos

fotográficos

Óxido de prata S,S Relógios e calculadoras

Zinco A,P Aparelhos auditivos

Secundárias Código Uso ComumNíquel cádmio(recarregável)

Ni-CdFerramentas, eletroportáteis sem fio e

propósitos gerais

Chumbo-ácido(recarregável)

Pb-ácido Eletroportáteis, brinquedos, etc.

Hidreto de Níquel metálico NiMH Celulares e lap tops

Baterias de Gel de Lítio Li Celulares

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Fig. 8.3 - Esquema de uma bateria automotiva convencional. As placas de chumbo ficam imersas em uma soluçãfortemente ácida feita a base de ácido sulfúrico (H 2SO4). Ao fornecer a corrente elétrica, há um graduadepósito do sulfato de chumbo sobre as placas. Ao contrário das pilhas comuns, a bateria permite umrecarga bastando para tanto passar uma corrente elétrica no sentido inverso. Esse procedimento faz com quparte do chumbo depositado sobre as placas volte à solução iniciando o processo novamente.

As baterias têm várias qualidades, elas podem ser carregadas e descarregadas centenasde vezes; elas são baratas e chegam a ter um tempo de vida, em condições normais de uso, deaté dois anos. No entanto, elas são pesadas, grandes e são geralmente empregadas em veículoautomotores tais como caminhões, tratores, embarcações ou ainda em diversos tipos de motore

estacionários.

Basicamente, o que acontece no interior de uma bateria é um processo de oxi-redução. Aoxidação ocorre no ânodo, enquanto que é no cátodo que se passa o processo correspondentede redução. As reações que irão ocorrer são as seguintes:

Na oxidação:

Pb + H2SO4  PbSO4 + 2H + + 2e- (+0,36V) [Reação 8.1]

Na redução:

PbO2 + H2SO4 + 2H + + 2e-  PbSO4 + 2H2O (+1,68V) [Reação 8.2]

As baterias são recarregáveis. Esse processo ocorre em uma bateria automotiva enquantoo motor estiver rodando, seja na estrada ou simplesmente parado no semáforo. O alternadoestará continuamente recarregando a bateria. A corrente entra na bateria pelo sentido inversoe reconverte o sulfato de chumbo e água em chumbo esponjoso, dióxido de chumbo e ácidosulfúrico, como descr ito a seguir.

Ânodo

Cátodo

Placa de chumborecoberta comchumbo esponjoso

Bateria ácido-chumbo

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Recarga:

2PbSO4 + H2O Pb + 2H2SO4 + PbO2  [Reação 8.3]

O potencial dessa reação é igual à soma das duas meia celas que começaram o processo,mas com sinal negativo (-2,04 V). Como a bateria automotiva comum é composta de seisconjuntos desse tipo, ela irá produzir uma tensão final de 12 volts. Assim, a bateria tem umaarquitetura interna composta por seis pares de células Pb/PbO2 ligados em série para promovera energia total, em uma situação análoga junção de várias pilhas encostadas, com o pólo positivode uma ligado ao pólo negativo de outra. A união de duas pilhas comuns de 1,5 Volts cada, geraa tensão de 3,0 Volts necessários para alimentar uma lanterna comum.

As baterias automotivas são as mais recicladas, pois o chumbo contido nelas é 100%reciclável, bem como o plástico, porém os processos são ainda muito rudimentares e não existeum controle ambiental apropriado o que acarreta muitas vezes na disposição inadequada dosresíduos gerados desse processo.

8.5 - Baterias de Ni-CdNos telefones celulares, existem em geral três tipos de baterias: as NiCd, as NiMH e as de

Lítio. As baterias de Níquel e Cádmio (NiCd) são uma das baterias mais comuns no mercado.As baterias normais de Ni-Cd produzem entre 500 e 650 mAh. Mas há também outros projetosque permitem chegar dos 1.200 aos 1.500 mAh. Essas baterias são, no entanto, maiores, maispesadas e mais caras.

Trata-se de uma bateria recarregável que envolve uma reação de oxi-redução entre cádmioe um óxido de níquel. Nestas baterias, o pólo positivo e o pólo negativo são dispostos juntos, opólo positivo é cober to com hidróxido de níquel e o pólo negativo é coberto de material sensívelao cádmio. Estes dois pólos são isolados por um separador. As baterias NiCd têm uma vida útilrelativamente curta além de perder a sua capacidade de carga gradualmente cada vez que sãorecarregadas. Os períodos entre os carregamentos vão se encurtando à medida que a bateria éusada. A voltagem da NiCd tende a cair abruptamente, ficando descarregadas de um momentopara o outro após um período considerável de utilização.

O problema dessas baterias está no fato de que elas contém um metal altamente venenoso,o cádmio. Essas baterias, comuns nos celulares hoje em dia, já estão se tornando um problemade poluição ambiental e, em nenhuma circunstância, devem ser jogadas no lixo. No Brasil, oconsumidor deve guardar a nota fiscal de compra e, ao final da vida útil da bateria, ele deveráencaminhá-la ao seu local de compra que, por sua vez, levará as baterias usadas para empresasde reciclagem devidamente credenciadas.

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8.6 - Baterias NiMHAs baterias de metal híbrido de níquel (NiMH) usam o hidrogênio no seu processo de

produção de energia. Elas nasceram nos anos 70 das mãos do químico Standford Ovshinsky(Fritzsche & Schwartz, 2008), mas só recentemente foram redescobertas para os celulares. Atecnologia dessas baterias permite o armazenamento de uma maior quantidade de energiaTipicamente, elas conseguem armazenar cerca de 30% ou mais de energia se comparadas auma bateria Ni-Cd de idêntico tamanho. A principal vantagem é que são baterias que não usammetais tóxicos. Muitas destas baterias são feitas com metais tais como o titânio, o zircônio, ovanádio, níquel e cromo. Algumas empresas japonesas têm experimentado, inclusive, outrometais como o raro lantânio. O uso desses novos materiais torna a nova geração de baterias, taicomo a bateria de NiMH, muito mais caras que as tradicionais baterias de Ni-Cd.

8.7 - Baterias de Lítio As baterias à base de lítio são as baterias mais recentes a conquistarem o mercado

dos celulares. Conseguem um armazenamento muito superior de energia, aumentandoconsideravelmente o tempo de ação dos celulares. São também muito leves, pesando cercade metade de uma Ni-Cd equivalente. Apesar das baterias de lítio serem muito caras, as suasvantagens acabaram por torná-las equipamento de série para muitos modelos de celulares etambém de notebooks e laptops.

As únicas baterias de celulares que devem ser obrigatoriamente recolhidas por um programespecífico de reciclagem são as de níquel-cádmio. O motivo é que o cádmio, assim como omercúrio e o chumbo, é considerado um metal nocivo ao meio ambiente. Os demais modelosno entanto, deveriam ser recolhidos por programas de coleta seletiva e não se aconselha o seu

descarte e posterior deposição em aterros sanitários. Todos os fabricantes recomendam aoconsumidores que não armazenem pilhas e baterias mesmo aquelas sem metais nocivos emcasa. Mesmo depois de usadas, essas unidades podem deixar escapar compostos químicos quecausam danos quando entram em contato com mucosas.

8.8 - Produção de pilhas e baterias no Brasil As pilhas e baterias estão definitivamente presentes no cotidiano do homem moderno

O consumo mundial é da ordem de 10 bilhões de pilhas.ano -1. Em 2004, a comercializaçãode pilhas no Brasil atingiu 1,2 bilhões de unidades. Desta quantidade, cerca de 800 milhõereferem-se a pilhas legalmente fornecidas ao mercado e o restante, 400 milhões, é ocupado popilhas ilegais. Desse total, cerca de 68,3% são pilhas secas de Zinco-Carbono não recarregávei(Rocha e Souza-Cruz, 2005; ABINEE, 2009). O país ainda produz cerca de dez milhões debaterias de celulares, doze milhões de baterias automotivas e, ainda, cerca de duzentas mbaterias industriais.

O consumo per capta chega a 15 pilhas.ano -1 nos países industrializados. Na maioria dopaíses em desenvolvimento esse consumo fica na casa das 5,0 pilhas.ano -1 (Abreu, 2009). Oconsumo brasileiro per capta está em torno de 6,0 unidades.habitante.ano-1.

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8.9 - Reciclagem de pilhas e bateriasInicialmente devemos ter em conta de que as pilhas são uma das fontes de energia mais

caras que existem, superando eletricidade e combustíveis derivados de petróleo. Portanto, sãosistemas que devem ser usados com a maior parcimônia pelos consumidores, em qualquer partedo mundo. No caso do Brasil, existe ainda o problema do uso bastante disseminado das pilhassem origem definida. Esse tipo de pilha, as pilhas e baterias “piratas”, ou seja, contrabandeadase sem nenhum tipo de certificado de procedência, e que contêm, quase sempre, índices aindamais elevados de diversas substâncias tóxicas.

Apesar de haver orientações atuais para que não se recicle uma grande parte das pilhasde uso comum no Brasil (vide resolução do CONAMA Nº 257 de 30/06/1999, MMA, (2009))

a presença de qualquer tipo de pilhas é origem de problemas nos lixões e aterros. Nas usinasde compostagem, por exemplo, a maior parte das pilhas é triturada junto com o lixo domésticoe o composto gira nos biodigestores liberando os vários tipos de metais (como, por exemplo, oZn, Mn e Ni) além de outras substâncias (sais de amônio) que podem eutrofizar os mananciaishídricos. O composto resultante pode contaminar o solo agrícola e até o leite das vacas quepastam em áreas que recebem esse tipo de adubação.

As pilhas e as baterias são compostas por metais pesados, tais como mercúrio, chumbo,cobre, níquel, zinco, cádmio e lítio. Esses metais são perigosos para o ambiente e a saúdehumana. Depois de descartadas, as pilhas vão se decompondo, podendo seus componentes,principalmente os metais traços, infiltrarem-se no solo, atingindo os lençóis de água subterrânea,entrando assim nas teias alimentares dos rios e mares, acumulando-se, ao final, na biomassa dos

seres vivos.

A reciclagem de pilhas depende de processos de alta tecnologia. Ela é custosa devido ànecessidade de tratamentos especializados que são voltados à recuperação específica de cadametal que compõe a pilha. A recuperação dos metais pode apresentar problemas tecnológicosimportantes. O mercúrio e o zinco, por exemplo, podem ser recuperados por vários tipos deprocessos, mas quase sempre apresentam uma contaminação por cádmio. Existem outras pilhaspara as quais a rec iclagem é atualmente inviável. Por exemplo, as pilhas de lítio não contêm nasua composição materiais de valor que justifiquem a sua recuperação.

A reciclagem de pilhas envolve quatro fases: a coleta das pilhas, a triagem, o tratamentofísico e o tratamento metalúrgico. Como todo programa de reciclagem, a coleta das pilhas usadasnão é uma tarefa simples. A resolução do CONAMA (resolução 257) específica sobre a reciclagemde pilhas não contribuiu muito para consolidar a reciclagem das pilhas e baterias no Brasil. Apesardisso, algumas iniciativas de empresas e ONG´s estão fazendo essa coleta de modo voluntário,mas com grande sucesso. Uma das iniciativas de maior sucesso, é o programa papa-pilhaslançado pelo Banco Real (Fig. 8.4).

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O tratamento físico consiste na moagem e posterior separação de constituintes: metaispapéis, plásticos, etc. O tratamento metalúrgico pode ser feito por duas vias: a via hidrometalúrgicaou a via pirometalúrgica. Na primeira via, após uma moagem, os metais existentes nas pilhasusadas são lixiviados com ácido clorídrico ou sulfúrico. A seguir, é feita uma purificação dassoluções através de operações de precipitação ou eletrólise. Nesse processo pode-se recuperao zinco, o manganês, o cádmio e o níquel. Muitas vezes, o mercúrio é removido previamente

por aquecimento. A principal vantagem do processo hidrometalúrgico está no fato deste utilizamenor quantidade de energia durante o processo. No entanto, ele gera efluentes líquidos queprecisam ser tratados posteriormente.

O processo pirometalúrgico consiste, essencialmente, no uso de alta temperatura para arecuperação dos materiais de interesse. O ferro é separado magneticamente. Os outros metaissão separados tendo em conta os di ferentes pontos de fusão. Trata-se portanto de um processotérmico que consiste em evaporar à temperatura precisa cada metal para recuperá-lo depoispor condensação. A vantagem deste processo está no fato de não se gerar efluentes líquidoscontaminados com resíduos perigosos que necessitem de tratamento para serem dispostos. Adesvantagem, por outro lado, está ligada ao consumo de energia, uma vez que são utilizadastemperaturas da ordem de 800 a 1000ºC .

Problemas ambientais relacionados ao descarte de pilhas e baterias de forma inadequadocorrem e, muitas vezes, são muito difíceis de serem diagnosticados. Isso é devido ao fato deque metais traços que estão presentes nas pilhas muitas vezes não causam problemas agudoe sim problemas crônicos de contaminação. Somente pessoas e animais que fiquem expostosàs fontes de contaminação durante muito tempo é que irão apresentar os sintomas clássicos deintoxicação aguda por metais traços (Tab. 8.2). Nesse sentido, a ciência ecológica pode ajudar identificar as fontes de poluição por metais traços antes que elas se tornem um problema grav

Fig. 8.4 - O programa papa-pilha lançado pelo Banco Real visa a estimular o cliente do banco a adotar uma posturmais responsável na questão ambiental. Em todas as agências do banco, são disponibilizados locais deentrega voluntária (LEV ), onde as pilhas podem ser depositadas. A seguir, as pilhas coletadas serão triadas enviadas a empresas de reciclagem (ver texto). Foto e edição: RMPC.

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Tab. 8.2 - Efeitos dos Metais Traços (Metais Pesados) presentes nas pilhas na saúde humana e de dos vertebrados emgeral (mamíferos, répteis, anfíbios e peixes).

Fonte: Quadros 3,2, 3.3, 3.4 e 3.5, págs. 83-89 em Andreoli et al. 2007.

de saúde pública. No entanto, é preciso lembrar que os estudos toxicológicos estão ainda emuma fase inicial e não se sabe ao certo o perigo real de pessoas que tenham ficado expostas

a fontes de contaminação de metais mesmo durante um breve período e ainda considerandoos níveis de concentração até mesmo abaixo dos níveis críticos estabelecidos pela legislaçãobrasileira (vide, por exemplo, a resolução do CONAMA Nº 357 em MMA, 2009).

Mercúrio (Hg)

Distúrbios renais e neurológicos (irritabilidade, timidez e problema de memória), mutaçõesgenéticas, e alterações no metabolismo e deficiências nos órgãos sensoriais (tremores,distorções da visão e da audição).

Cádmio (Cd)Agente cancerígeno, teratogênico, podendo causar danos ao sistema nervoso.Se acumula, principalmente, nos rins, fígado e nos ossos. O Cd provoca dores reumáticas emiálgicas, distúrbios metabólicos que levam à osteoporose, disfunção renal e câncer. O metalainda pode causar disfunções no aparelho reprodutor masculino e problemas na próstata.

Chumbo (Pb)

A presença de altas concentrações de chumbo na biomassa pode gerar a perda de memória,dores de cabeça, irritabilidade, tremores musculares, lentidão de raciocínio, alucinação, anemia,depressão, insônia, paralisia, salivação, náuseas, vômitos, cólicas, perda do tônus muscular,atrofia e perturbações visuais e hiperatividade.

Lítio (Li)

A contaminação com o lítio afeta o sistema nervoso central, gerando visão turva, ruídos nosouvidos, vert igens, debilidade e tremores.

Níquel (Ni)

A presença do níquel provoca dermatites, distúrbios respiratórios, gengivites, sabor metálico,“sarna de níquel”, efeitos carcinogênicos, cirrose e insuficiência renal;

Zinco (Zn)

Esse metal em excesso pode provocar vômitos e diarréias.

Cobalto (Co)

Existem vários compostos a base de cobalto nas baterias de lítio. O elemento Co causa a “sarna

do cobalto”, além de conjuntivite, bronquite e asma.Bióxido de manganês (MnO2)

Substância muito usada nas pilhas alcalinas. O óxido de Mn provoca anemia, dores abdominais,vômitos, crises nervosas, dores de cabeça, seborréia, impotência, tremor nas mãos, perturbaçãoemocional.

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No Brasil, a considerar o elevado percentual do uso de lixões e de aterros fora dasespecificações, as baterias e pilhas foram e ainda estão sendo descartadas de forma inadequadaÉ quase certo que uma par te considerável dos metais e outras substâncias presentes nas pilhaestejam contaminando ou já tenham contaminado os lençóis freáticos ou mesmo os rios eribeirões que drenam essas áreas. O mais grave é que esse tipo de contaminação normalmentpode ocorrer durante anos ou mesmo décadas, mesmo após o fechamento dos lixões ou ainterdição dos aterros precários. Esse é um problema que provavelmente existe em muitasáreas (peri)urbanas do Brasil e que deve ser levado mais a sério pelas nossas autoridadeambientais.

Freqüentemente, as águas dos rios, lagos e reservatórios que drenam áreas sujeitas àcontaminação por metais não contém concentrações perigosas desses elementos, mesmono caso de existir de fato essa contaminação. Isso ocorre porque uma das características dosecossistemas tropicais é a rápida intrabiotização dos elementos inorgânicos na biomassa dosorganismos. Isso quer dizer que os elementos minerais tendem a ficar pouco tempo em solução

sendo rapidamente absorvidos pelos organismos. O que fazer então? Nesses casos, somente umestudo do metabolismo do ecossistema é que irá identificar e sugerir as melhores soluções paro problema.

Inicialmente, deve-se averiguar os teores dos metais tóxicos na biomassa dos diversoscompartimentos do sistema, particularmente nas plantas aquáticas (macrófitas) que muitas vezebioacumulam os metais em suas partes tais como folhas, flores, frutos e sementes. Recomendase, ainda, examinar as concentrações dos metais na biomassa dos organismos bentônicos quesão aqueles insetos e moluscos, principalmente, que vivem nos sedimentos dos rios, lagos ereservatórios. Recomenda-se, ainda, examinar os teores desses metais na ictiofauna (peixes)e na avifauna (aves aquáticas) principalmente porque esses animais estão no topo da cadeiaalimentar e podem bioacumular quantidades muito elevadas dos metais. É importante expressa

os níveis de metais encontrados em termos de peso seco dos indivíduos e não em concentraçõetotais relativas ao peso fresco (ou seja, peso expresso em relação ao peso do organismo com oseu conteúdo em água).

Existe ainda uma forma (mais rara) de contaminação aguda que é a inalação ou o contatoprolongado com as substâncias tóxicas. Como exemplos, são citados o chumbo, que causadisfunção renal e anemia; o mercúrio, que gera estomatites e problemas renais, além de lesõecerebrais e neurológicas; o zinco, que provoca doenças pulmonares; e o manganês, que afeta osistema imunológico.

8.10 - Um caso de estudos: a represa da

Pampulha, Belo Horizonte, MG.Existem evidências de que a ação de lixões e aterros sanitários com saída de “chorume

(líquido negro que vaza do interior de aterros não controlados) para os mananciais próximoslocalizados na bacia hidrográfica da represa da Pampulha em Belo Horizonte causaram umaprogressiva contaminação com alguns metais traços nessa represa. Para testar essa hipótese,

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

laboratório de gestão de reservatórios da UFMG fez uma pesquisa visando determinar a possívelcontaminação por três metais traços (Zn, Cd e Pb) nos diversos compartimentos bióticos da

represa.

Amostras dos sedimentos, do zooplâncton, de plantas aquáticas e de peixes foram tomadasem vários pontos da represa entre setembro e outubro de 1999 na represa da Pampulha. Asamostras para determinação de metais pesados foram tratadas com ataque com água-régia. Osmetais foram determinados em fase dissolvida, por espectrofotometria de absorção atômica emforno de grafite na Hidroquímica – Centro de Pesquisas Especiais (CEPE) de Belo Horizonte.Todas as amostras dos organismos foram liofilizadas antes de serem enviadas ao laboratório daCEPE para as análises e, portanto, as concentrações dos metais foram expressas em relação aopeso seco dos organismos.

Os teores de metais-traços foram mais altos no sedimento da represa (Fig. 8.5). Isso

era esperado porque este compartimento é o principal reservatório para os metais. Os metaispesados formam compostos muito estáveis, como o CoS e ZnS, que, uma vez no sedimento,dificilmente são novamente liberados para a coluna d’água, levando a um grande acúmulo dosmesmos, razão pela qual o sedimento é um bom indicador do nível de contaminação ambientalde ecossistemas aquáticos.

O zinco foi o metal-traço que apresentou as maiores concentrações em todos oscompartimentos (peixes, zooplâncton, macrófitas e sedimento). As causas mais prováveis paraeste padrão são sua maior disponibilidade na natureza e também pelo fato de que o zinco é ummetal essencial para a maioria dos organismos, estando presente em baixas concentrações emsua biomassa, como constituinte de metaloproteínas, enzimas, etc. É importante destacar, comovisto acima, que o zinco é um metal ainda muito empregado na fabricação de pilhas.

O chumbo foi o segundo metal-traço com concentrações mais elevadas nos organismos.Este elemento é amplamente utilizado em uma grande variedade de processos industriais,contaminando o meio ambiente em qualquer estágio de sua exploração. O chumbo está presenteem vários tipos de baterias e não possui nenhum efeito benéfico ou nutricional desejável e tendea se acumular nos tecidos do homem e outros animais. Em peixes, é altamente tóxico. Os teoresde chumbo encontrados na represa sinalizam uma possível contaminação dos mananciais porlixões e aterros sanitários com problemas de impermeabilização.

O cádmio apesar de ter aparecido com as menores concentrações é um elemento comalto potencial de toxidez e normalmente não se encontra em concentrações detectáveis nos

ecossistemas sadios e não poluídos. Os valores encontrados nos diversos compartimentosda represa apesar de serem os mais baixos atestam a existência de uma contaminação desseelemento na bacia hidrográfica da Pampulha. O ribeirão do Sarandi é um dos principais tr ibutáriosda represa. Esse curso de água recebeu por muitos anos a contaminação de chorume deaterros sanitários (mal) controlados na região de Contagem, um município vizinho ao de BeloHorizonte.

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   P   i   l   h  a

  s

  e

   B  a   t  e  r   i  a  s

222

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 8.5 - Compartimentaç ão biótica de alguns metais traços (pesados) na represa da Pampulha. Dados originais doLaboratório de Gestão de Reservatórios, ICB, UFMG (Pinto-Coelho & Greco, 1998).

Existe contaminação com metais pesados narepresa da Pampulha?

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

8.11 - O que diz a leiDevido a seus componentes tóxicos, as pilhas podem também afetar a qualidade do

produto obtido na compostagem de li xo orgânico e mesmo impedir o uso desse composto comoadubo. Além disso, sua queima em incineradores também não consiste em uma boa prática,pois seus resíduos tóxicos permanecem nas cinzas e par te deles pode volatilizar, contaminandoa atmosfera.

Considerando os impactos negativos causados ao meio ambiente pelo descar te inadequadodas pilhas e baterias usadas e a necessidade de disciplinar o descarte e o gerenciamentoambientalmente adequado (coleta, reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final) depilhas e baterias usadas, a Resolução n° 257/99 do CONAMA resolve em seu artigo primeiro:

 “As pilhas e baterias que contenham em suas composições chumbo, cádmio, mercúrioe seus compostos, necessário ao funcionamento de quaisquer tipos de aparelhos, veículos ou sistemas, móveis ou fixos, bem como os produtos eletroeletrônicos que os contenham integradosem sua estrutura de forma não substituível, após seu esgotamento energético, serão entregues pelos usuários aos estabelecimentos que as comercializam ou à rede de assis tência técnicaautorizada pelas respectivas indústrias, para repasse aos fabricantes ou importadores, paraque estes adotem diretamente, ou por meio de terceiros, os procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição f inal ambientalmente adequado”.

Recentemente, uma nova resolução do CONAMA (resolução nº 401, de 04/11/2008)substituiu a antiga resolução nº 257. No entanto, essa nova resolução nada muda na questão dodscarte das pilhas comuns no lixo convencional.

Agora, vem a clássica pergunta: você já retornou as pilhas aos estabelecimentos onde foramadquiridas? Para quem quiser fazer valer essa norma, é bom lembrar que os estabelecimentosirão exigir que o consumidor apresente, no ato da devolução da bateria, a nota fiscal da comprado produto.

As resoluções 257/99 e 401/2008 se baseiam na pressuposição de que o descar te no lixocomum de pilhas com pequenas quantidades de substâncias nocivas não traria prejuízo maioraos ecossistemas, uma vez que elas se destinariam a aterros sanitários. A justificativa relaciona-se ao fato de que essas pilhas não possuem “quantidades significativas” de materiais perigosos enem de outros materiais que possam justificar a sua reciclagem sob o ponto de vista comercial.

A comunidade européia (CE) possui normas rigorosas sobre a reciclagem de pilhas e

baterias. Em março de 1991, a Comunidade Européia adotou uma nova diretiva visando acontenção do uso de substâncias tóxicas em pilhas e baterias (EUROPILE, 1992). Entre outrosaspectos reguladores, essa diretiva da CE baniu o uso do mercúrio na fabricação de todas aspilhas a partir da data de entrada em vigor do documento. Segundo a diretiva da CE, as pilhasalcalinas de manganês não devem conter mais que 0,025% de mercúrio. As pilhas de óxido demercúrio, cádmio, níquel e de chumbo ácido devem ser coletadas separadamente para reciclagemou disposição especial.

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   P   i   l   h  a

  s

  e

   B  a   t  e  r   i  a  s

224

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

 A Associação Européia de Fabricantes de Pilhas (EUROPILE, 2009) recomenda a coletae reciclagem das pilhas que contém “maiores” concentrações de Cd, Pb, Hg e Ag. A rest rição dacoleta aos tipos de pilhas mencionados melhora a eficiência da coleta, simplifica os requisitos deseparação de pilhas, maximiza a recuperação, simplifica a tecnologia de recuperação de materiaie minimiza custos, além de aumentar o valor comercial dos materiais recuperados.

Enquanto as baterias de celulares são compradas somente na rede autorizada, as pilhaspodem ser compradas tanto de camelôs quanto de grandes redes de lojas. As pessoas comprampilhas para rádios, controles remotos, jogos, lanternas e simplesmente jogam no lixo, queimamlançam em rios ou em terrenos baldios. Não têm informação de que se trata de lixo químicopotencialmente perigoso. Crianças manuseiam pilhas oxidadas, pilhas velhas são guardadas emdispensas junto com alimentos e remédios. Agricultores compram adubo orgânico e não imaginamque ele possa estar contaminado por metais pesados das pilhas e de baterias de celular.

Apesar da aparência inocente e do seu tamanho, as pilhas e baterias são hoje um graveproblema ambiental. Considerando as estatísticas apresentadas no Cap. 02 sobre a coleta delixo no país, podemos concluir que as pilhas se constituem em uma das maiores fontes decontaminações por metais no Brasil. Em função do que foi apresentado, conclui-se que as pilhae baterias, quando esgotadas seu potencial energético, tornam-se resíduos perigosos, e comotal deveriam ser encaminhadas para a reciclagem ou para um aterro industr ial. Como os metaipesados entram nas cadeias alimentares e terminam acumulados nos organismos e mesmo napessoas, produzindo vários tipos de contaminação, não deveriam ir para aterros sanitários oucompostagem e, muito menos, para os lixões. Nos aterros, a contínua exposição ao sol e à chuvaleva as pilhas a se romperem e, como conseqüência, temos a liberação de todos os metaipresentes que mais cedo ou mais tarde irão chegar aos lençóis f reáticos, córregos e r iachos.

As leis federais e estaduais estabelecem o princípio do poluidor-pagador, ou seja, quemgera o problema é também responsável por sua solução. No entanto, a resolução 257/99 doCONAMA permite que se descarte pilhas em aterros desde que elas não ultrapassem 0,010% empeso de mercúrio, 0,015% em peso de cádmio e 0,200% em peso de chumbo. Essa resoluçãoproíbe o lançamento de pilhas  in natura a céu aberto, em corpos d’água, praias, manguezaisterrenos baldios, poços, cavidades subterrâneas, redes de drenagem de águas pluviais, de esgotoou eletricidade e de telefone. Está proibida a queima de pilhas a céu aberto ou em recipientesnão adequados (artigo 8º). Entretanto, o ar tigo 13º permite que se jogue as pilhas e baterias nolixo doméstico, em aterros sanitários licenciados (desde que elas estejam nos limites previstono artigo sex to). A resolução não considera, por exemplo, que uma boa par te dos municípios dopaís não dispõe de aterro sanitário. Em muitos casos, existem aterros, mas trata-se de aterros nãolicenciados e muitas vezes em precárias condições de operação (vide capítulo 02). Em virtude

desse cenário conflituoso entre a legislação brasileira e a realidade do país, recomenda-se aoconsumidor uma série de medidas (Tab. 8.3) que se adotadas por uma parcela expressiva dapopulação brasileira poderão resultar em uma significativa melhoria da qualidade ambiental domananciais hídricos no país.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Pilhas Baterias

Use pilhas de alta qualidade e evite comprá-las de camelôs ou pilhas sem certificaçãoambiental.

Use baterias de alta qualidade

Evitar jogar pilhas no li xo domést ico Use o cic lo completo de carga e recarga dasbaterias principalmente no caso dos celularese lap tops.

Envie as pilhas usadas ao fabricante e nãoesqueça de guardar a nota fiscal da compradas baterias.

Mantenha o veículo bem regulado e siga asorientações do fabricante quanto ao programade manutenção periódica.

Prefira os modelos livres de mercúrio, cádmioou chumbo.

Não sobrecarregue o sistema elétrico do veículoe se informe sobre a capacidade do sistemaelétrico do seu veículo antes de instalar umnovo acessório que consome energia

Reuti lize as pilhas sempre que possível. Use o sistema de som do automóvel demodo civilizado. Não abuse do volume queimplica em uma grande sobrecarga no sistemaelétrico.

Evite brinquedos e eletrodomésticos movidosà pilha.

Dar preferência aos produtos que ofereçaminformações sobre as concentrações dos com-ponentes utilizados bem como disponibilizemessa informações em folhetos e brochuras. Os

folhetos devem dar indicações sobre o tempode vida útil da bateria bem como sobre as me-lhores maneiras de se reciclar o produto.

Não seja supérfulo: use as pilhas de modoracional

Estimular o governo a elaborar uma certifica-ção ambiental de todas as baterias automoti-vas comercializadas no país.

Dar preferência aos produtos que contenhamuma padronização e identificação dos tipos depilhas, com indicações claras nos rótulos sobreas concentrações de metais usados em suasrespectivas composições. Dar preferência aofabricante que disponibilizar tabelas e folhetos

explicativos contendo todos os aspectosrelacionados à reciclagem das pilhas bemcomo do aparelho a ser adquirido.

Tab. 8.3 - List a de pequenas atitudes do consumidor, sugestões para a indústria de pilhas e para os órgãos do governoque podem levar a uma sensível melhora nos índices de poluição com metais tóxicos nos mananciais hídricos.

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Ricardo Motta Pinto-

Produção,

Consumo e Reciclagemde AparelhosEletroeletrônicos.

9.0C A P Í T U

9.1 - Introdução 

9.2 - Lixo eletrônico

9.3 - Reciclagem do lixo eletrônico

9.4 - Aspectos legais

9.5 - Reciclagem de lâmpadas fluorescentes

ELETROELETRÔNICOS

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   A  p  a  r  e   l   h  o  s

   E   l  e   t  r  o  e   l  e   t  r   ô  n   i  c  o  s

228

9.1 - Introdução

O rápido avanço da tecnologia e o baixo custo de aquisição dos equipamentoseletroeletrônicos levam anualmente à substituição de milhões de aparelhos, resultando numcrescimento da chamada sucata eletrônica (“e-waste”). O Brasil não fugiu a essa tendênciamundial. Ao observarmos o número de aparelhos existentes nos domicílios brasileiros, podese notar uma clara tendência de aumento (Fig.9.1). Isso ocorre tanto na chamada linha branca(fogão, geladeira e máquina de lavar roupa) quanto para os demais aparelhos eletrônicos. Que obrasileiro é um cidadão permanentemente ligado à T.V. já se sabia. No entanto, podemos tambémnotar que o brasileiro está também cada vez mais ligado à rede mundial de computadores e adiversos outros tipos de serviços na área de telecomunicações (Fig. 9.2), além de ser um doscampeões mundiais no uso de telefonia móvel, muito embora esse serviço no Brasil seja umdos mais caros do mundo (VEJA, 2009). É quase certo que haverá um grande salto nas vendasdomésticas de computadores tanto desk top  quanto  lap tops,  notebooks  ou  palm  tops no

próximos anos.

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 9.1 - Número dos aparelhos eletroeletrônicos nos domicílios brasileiros na primeira metade dapresente década. Fonte: ABINEE (2009).

2001 2002 2003 2004 2005 2006

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e   U  n   i   d  a   d  e  s

0

20

40

60

Aparelhos eletro-eletrônicos nos lares do Brasil

Fogão

Rádio

PC com internet

Televisão

Máquina de lavar roupa

Freezer

Geladeira

PC

Ano

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Um dos aspectos mais espetaculares do crescimento do uso de aparelhos eletroeletrônicosno Brasil foi a universalização (pode-se mesmo falar em termos de excesso de uso) dos aparelhosde telefonia celular no Brasil (Fig. 9.2). No início da atual década havia menos de vinte milhõesde celulares ativos no país. Em 2007, esse número chegou a casa dos 121 milhões de aparelhos(ABINEE, 2009; ANATEL, 2009). É interessante notar que muito pouco tem sido efetivamentefeito na reciclagem tanto dos aparelhos celulares quanto na reciclagem de suas baterias (videcap. 10).

Fig. 9.2 - Número de assinaturas a provedores de serv iços de telecomunicação no Brasil durante a primeira metade daatual década. Fonte: ABINEE, 2009.

Considerando as estatísticas apresentadas nas duas figuras acima podemos esperar

uma verdadeira “avalanche” na produção de lixo eletrônico no Brasil tendo em vista o aumentoesperado na venda de computadores pessoais e, ainda, a reciclagem natural que certamenteirá acontecer na frota de telefones celulares do país. No caso dos telefones celulares, temosdois problemas de reciclagem: o das baterias dos celulares (Cap. 10) e a reciclagem da própriacarcaça do aparelho.

 

0

Ano

Assinaturas a serviços de telecomunicações no Brasil

Celulares em serviço

   M   i   l   h   õ  e  s   d  e   U  n   i   d  a   d  e  s

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

35

70

105

140

2000

Densidades de telefonia fixa Assinatura de TV a cabo

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   A  p  a  r

  e   l   h  o  s

   E   l  e   t  r  o  e   l  e   t  r   ô  n   i  c  o  s

230

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

9.2 - Lixo eletrônico

As estatísticas sobre a análise de ciclo de vida (ACV) aplicáveis, por exemplo, aos computadoresindicam que para a fabricação de um computador de mesa comum, com um monitor convencionade 17 polegadas, são usados cerca de 240 quilos de combustíveis fósseis, 22 quilos de químicodiversos além de 1.500 litros de água. Considerando, esses valores, fica claro que o descarte doscomputadores bem como da maioria dos eletrodomésticos exige uma atenção especial tanto dogoverno quanto da sociedade em geral.

A agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (Environmental Protection Agency EPA) alerta que 75% dos computadores em desuso nos Estados Unidos ainda estão armazenadoem garagens e armários à espera de serem reutilizados, reciclados ou simplesmente jogados foraUm típico monitor de PC pode conter até 25% do seu peso em chumbo, por isso alguns estadosdos EUA desenvolveram políticas que proíbem o descarte de qualquer lixo eletrônico, principalment

CRT’s (tubos de imagem), nos aterros sanitários.

O chamado Lixo Eletrônico é constituído de resíduos de aparelhos elétricos e eletrônicos(RAEE) chamados popularmente no Brasil de “sucata de informática”, “lixo eletrônico” ou “lixotecnológico” e, no exterior, WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment ), Electronic waste oue-Waste. Em janeiro de 2003, a União Européia implementou um sistema de responsabilidadesambientais, descrito na Diretiva 2002/96/EC e que já foi adaptada e efetivada em leis de muitospaíses integrantes do bloco (EC, 2009). Essa diretiva está baseada no fato de aparelhos elétricose eletrônicos conterem muitos componentes considerados tóxicos e não biodegradáveis. Assimos fabricantes passaram a ser responsabilizados pelo recebimento e reciclagem dos seus produtosem custo para o consumidor final. Com a responsabilização dos fabricantes a reciclagem do lixoeletrônico ganhou escala, empresas especializadas foram criadas para receberem os equipamentoobsoletos entregues pelos consumidores, promovendo uma parceria para o reaproveitamento dasmatérias primas. No Brasil, leis semelhantes devem ser aprovadas como incentivo para fomentar reciclagem de sucata de informática.

Na mesma época a União Européia implantou a restrição ao uso de substâncias nociva(RoHS – Restriction of Hazardous Substances) na fabricação de equipamentos eletrônicos, pela quaos fabricantes são obrigados a retirar (ou reduzir ao mínimo) da composição de seus produtos. Oelementos mais comumente empregados nessas indústrias são: chumbo, mercúrio, cádmio, cromocom valência 6, bifenilas polibromadas (PBB) e éter difenil- polibromado (PBDE). Estas duas últimasubstâncias são empregadas como agentes retardantes de chamas em peças plásticas.

Existe uma considerável diversidade de equipamentos eletrônicos que podem ser reciclado(Tab. 9.1). A maneira mais rápida e barata de iniciar o processo de reciclagem é a desmontagem

do equipamento que consiste na retirada e triagem de todos os componentes eletrônicos. Essescomponentes, uma vez tendo sido retirados, são encaminhados a diferentes tipos de clientesAlguns componentes tais como unidades de memória de computador podem ter uso imediatosendo fornecidos, por exemplo, para empresas de manutenção de equipamentos de informáticaEm outros casos, tais como para pilhas alcalinas ou baterias, esse material deverá ser encaminhadpara as empresas especializadas na reciclagem desse tipo de material. O importante, no caso doeletroeletrônicos, é evitar que eles entrem em processo de decomposição antes de serem separadoe triados (Fig. 9.3).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Tab. 9.1 - Relação dos princ ipais aparelhos que formam o lixo elet rônico.

Equipamentos

Informática e comunicações (monitores, PC’s, impressoras, telefones, fax etc.)

Eletrônica de entretenimento (televisores, aparelhos de som, leitores de CD etc .)

Equipamentos de iluminação (sobretudo lâmpadas f luorescentes)

Grandes aparelhos caseiros (fogões, geladeiras etc.) (*)

Pequenos aparelhos caseiros (torradeiras, aspiradores etc.)

Esportes e lazer (brinquedos eletrônicos, equipamentos de ginástica etc.)

Aparelhos e instrumentos médicos(**)

Equipamentos de vigilância

Estes produtos são uma fonte valiosa para a reciclagem de matérias primas, quandotratados apropriadamente. Quando esses equipamentos são descartados em lixões ou mesmoem áreas abertas tais como fundos de vales, córregos e lotes vagos (um fato ainda muito comumno Brasil) é quase certo que sejam liberados toda uma série de elementos e substâncias tóxicasno ambiente (Fig. 9.3).

Fig. 9.3 - É cada vez mais comum encontrarmos carca ças de computadores e outros aparelhos eletrônicos em depósitosde ferro-velho e até mesmo em corredores de universidades do interior de Minas Gerais, como no caso dafoto acima. A correta deposição desses materiais e a sua eventual reciclagem pode evitar sérios problemasambientais. Foto: RMPC.

Obs.: (*) A carcaça desses equipamentos deve ser reciclada como sucata de ferro (vide capítulo 04);  (**) Exceto equipamentos de raio-X e outros que contenham substâncias radioativas que devem ser recolhidos

pela autoridade competente.

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   A  p  a  r

  e   l   h  o  s

   E   l  e   t  r  o  e   l  e   t  r   ô  n   i  c  o  s

232

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

9.3 - Reciclagem do lixo eletrônico

Inicialmente, é importante a definição de dois conceitos importantes que serão usadonesse capítulo: (a) conceito de remanufatura de aparelhos está relacionado ao reaproveitamentode peças e componentes já usados em um equipamento para a fabricação de um novo aparelhocomo por exemplo, um novo computador desk top; (b) já o conceito de demanufatura implicana completa desmontagem do equipamento, seguida de processos físico-químicos de separaçãode matérias primas visando apenas o reaproveitamento de materiais tais como papéis, vidrosmetais (Ni, Zn, Hg, Pb, Cd, etc) e plásticos.

A reciclagem de componentes dos aparelhos eletroeletrônicos deve ainda merecer maioatenção dos centros de pesquisa e das universidades brasileiras. Uma das idéias seria o usodesses componentes para a remanufatura de computadores mais simples a serem usados emescolas do ensino fundamental. As possibilidades dos usos de computadores reciclados em

rede pode facilitar muito esse processo. Os computadores reciclados poderiam ser usados emum amplo programa de inclusão digital no país. No entanto, esse tipo de iniciativa depende nãosó de um rearranjo tecnológico em termos de  hardware, mas, sobretudo, de novos programaespecialmente adaptados a esse material que sejam, em alguma medida, compatíveis coma realidade atual da informática. Afinal, equipamento de informática reciclado não significaobrigatoriamente que tenha que ser usado com a base obsoleta de sistemas operacionais e deaplicativos.

Apesar de existirem perspectivas de remanufatura na área de informática em um paíscomo o Brasil, onde existem vastas regiões onde os computadores ainda são uma raridadedeve-se considerar que as iniciativas para a reciclagem da sucata de informática, surgem maidas oportunidades de negócio ou até mesmo do interesse das indústrias conscientes das suasresponsabilidades ambientais. O mercado para o reaproveitamento de peças de computadoresestá em final de vida, caso não existam políticas específicas para esse segmento. Neste contextoa demanufatura completa de equipamentos obsoletos é a única alternativa viável. A idéia, nessecaso, seria a de apenas se aproveitar a matéria prima de interesse existente nos componentes.

Na maioria das vezes, a legislação brasileira determina o cuidado com elementos tóxicosou contaminantes tão somente em sua forma singular, tornando-se omissa quanto ao aparelhoque dispõe do resíduo perigoso em sua estrutura. Os reatores para lâmpadas contêm resinas ecapacitores com óleo Ascarel e DEHP, que são exemplos de perigo ambiental. Assim é evidentque existe uma indefinição da legislação em tratar textualmente reatores como resíduos perigososo mesmo acontece com o monitor de computador e televisor, que em seu interior abriga chumboe fósforo.

A demanufatura permite recuperar metais, plásticos, vidros e outros componentes, além demetais raros ou mesmo preciosos que são, no entanto, de difícil separação e exigem um alto grautecnológico de metalurgia para que possam efetivamente ser reaproveitados. Deve-se consideraainda que nos aparelhos eletroeletrônicos são encontrados diversos elementos contaminantescomo fósforo, chumbo, cromo, cádmio e mercúrio, que requerem tratamento especial. Existemsoluções técnicas simples ou extremamente caras para o tratamento da sucata de informáticaporém problemas relacionados à escala de custos, logística, legislação e cultura, dificultam o trabalhoda reciclagem. É evidente que o setor está a espera de ações de fomento do governo.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Hoje em dia, já existe uma tecnologia sofisticada para a reciclagem de monitores devídeo CRT (CRT, 2009). O tubo sofre cor te preciso com diamante ou pelo uso da tecnologia de

bandagem térmica. Após esse cor te, o material é aspirado e posteriormente reciclado. A parte dovidro sem chumbo pode ser reutilizada.

9.4 - Aspectos legaisDevido às fracas leis ambientais e trabalhistas, países da Ásia e África recebem e-waste

muitas vezes ilegalmente, e usam métodos de incineração e eliminação descontrolada que, porconta do elevado grau de toxicidade de substâncias como o chumbo, mercúrio e cádmio, acabampor gerar graves problemas ambientais e de saúde pública.

A legislação brasileira trata os resíduos pelo elemento contaminante e determina o seutratamento, porém apenas alguns manufaturados dispõem de normas legais de descarte, como

pilhas e baterias, que são recebidos pelos fabricantes sem custo para o consumidor. A maioria dosprodutos ainda não dispõe de leis específicas e tem seu custo ambiental pago pelo usuário. Porconta da desinformação sobre os resíduos tóxicos, tais como aqueles existentes em monitorese reatores, tais equipamentos são vendidos como sucata e o que não é reaproveitado, como,por exemplo, o vidro, o chumbo, o fósforo, os capacitores de ascarel e DHEP vão parar no aterrosanitário, causando os mesmos tipos de problemas anteriormente descritos para as pilhas ebaterias.

A reciclagem de informática ou RAEE é imprescindível para o Brasil, sendo preciso definirse esta reciclagem será financeiramente positiva, neutra ou negativa para o gerador do resíduo.Nesta análise, deve-se considerar o valor dos materiais recicláveis versus  a complexidade dademanufatura e, ainda, o grau de toxicidade dos elementos contidos no resíduo e o custo

ambiental de tratamento.

A reciclagem dos aparelhos eletroeletrônicos possui diferentes modelos de separação eidentificação de matérias primas e materiais tóxicos que, muitas vezes, estão ocultos em aparelhoselétricos e eletrônicos aparentemente inofensivos. Uma das metas da reciclagem desses aparelhosé também a de induzir a tomada de responsabilidade por parte dos geradores (produtores) e asua gradual inserção na cadeia da reciclagem desses aparelhos. Uma das primeiras medidas queos fabricantes poderiam adotar no Brasil seria de afixar em local visível, em cada aparelho postoà venda no varejo, as instruções para a sua reciclagem bem como a relação dos produtos tóxicosque foram usados na sua fabricação com as suas respectivas dosagens f inais.

9.5 - Reciclagem de lâmpadasfluorescentesAs lâmpadas de mercúrio de baixa pressão, ou seja, as famosas lâmpadas fluorescentes,

embora úteis e de uso universal, são capazes de produzir impactos ambientais muito sériosse não forem convenientemente recicladas (Naime & Garcia, 2004). A indústria nacional delâmpadas fluorescentes, em 2003, chegou a produzir 70 milhões de unidades além de importarpelo menos outros 20 milhões de unidades (Pereira & Yallouz, 2003). Existem pelo menos 15

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   A  p  a  r  e   l   h  o  s

   E   l  e   t  r  o  e   l  e   t  r   ô  n   i  c  o  s

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

diferentes tipos de metais e outros elementos na poeira fosforosa de uma lâmpada fluorescentecom destaque para o cádmio, ferro, magnésio, manganês e mercúrio, dentre outros (Pereira &

Yallouz, 2003).Existem várias formas de se reciclar uma lâmpada fluorescente, desde técnicas muito

primitivas que inclusive podem afetar a saúde dos trabalhadores que atuam nesse tipo deprocesso até técnicas bem avançadas onde a segurança é muito elevada. Em todos os casos, alucratividade do processo é um dos atrativos que têm levado muitos empresários a investiremnesse tipo de at ividade (Pereira & Yallouz, 2003, Brandon International, 2009).

O processo de reciclagem de lâmpadas depende de um sistema eficiente de coleta delâmpadas usadas (Fig. 9.4). A reciclagem pode ser feita tanto a partir de lâmpadas inteiraou trituradas. Existem, no mercado, sistemas totalmente automatizados capazes de fazer essareciclagem. No caso de se trabalhar com lâmpadas trituradas, a maioria dos equipamentos triturae separa todos os componentes. Os componentes de metal são prensados e automaticamente

separados em material ferroso e não ferroso. Todo o material com exceção do pó contendofósforo e mercúrio, é descontaminado. Esse pó deve seguir para a destilação do mercúrionas destiladoras específicas. Existem máquinas que são capazes de processar 2.000 e 6.000tubos/hr.

Fig. 9.4 - Em muitas empresas, colégios, hospitais e universidades já existem programas de coleta seletiva delâmpadas fluorescentes usadas v isando a sua posterior reciclagem. O Programa de Gestão de Res íduos, dadivisão de obras do campus da UFMG é um desses exemplos. Foto: RMPC.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Outra tecnologia consiste no processamento das lâmpadas sem a trituração. Asextremidades das lâmpadas são cortadas e o conteúdo tóxico é forçado para dentro de tubos

canalizadores, antes que o tubo seja fragmentado. Os equipamentos usados nesse processo sãomais complexos e são usados quando o vidro e pó fosfórico serão reutilizados por fabricantes delâmpadas. Os equipamentos atuais podem separar o pó em seis receitas diferentes.

Recentemente, foram lançados no mercado equipamentos mais simples capazes deprocessar apenas um pequeno número de lâmpadas, mas com o custo final bem inferior. Umdesses equipamentos é o “Bulb Eater” ® ou papa-lâmpadas (Brandon International, 2009)(Fig. 9.5). Esse equipamento não somente tritura lâmpadas fluorescentes de qualquer tamanhocomo também captura 99.99% dos vapores liberados. O sistema é extremamente simplespodendo ser montado sobre um tambor de 200 litros, pode armazenar até 1350 lâmpadasfluorescentes de 1.20m/25mm. O Bul Eater  é capaz de triturar até 20 lâmpadas por minuto. Oprocesso de filtração se dá em três etapas para retirar partículas e os gases nocivos. O sistemade captura de gases utiliza carbono ativado de grau superior aos encontrados no mercado

brasileiro.

 Os filtros da máquina captam praticamente todo o vapor de mercúrio. No entanto, grandeparte do mercúrio contido no pó fosfórico que fica misturado no vidro quebrado necessita deser reciclado. Esse material moído (vidro da lâmpada mais o pó) só deverá ser reutilizado oureciclado, depois de ser feita a total descontaminação por empresas especializadas. Isso classificao material como Classe II - Não Inerte. Outra opção é enviar o material a aterros sanitáriosespecializados, de preferência Classe I, mantendo o material lacrado dentro dos tambores. Nessescasos, não se deve colocar o material triturado em lixões ou mesmo manuseá-lo.

Fig. 9.5 - “Bulb eater ”® desenvolvido pela empresa Brandon International  que possui representantes no Brasil. Es seequipamento, tritura e filt ra os gases tóxicos de até 20 lâmpadas fluorescentes por minuto. Ele pode serusado em pequenas empresas recicladoras de e-waste ou de vidro convenc ional.

Fonte: Brandom International (2009).

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Ricardo Motta Pinto-CoelhoRicardo Motta Pinto

Produção,

Consumo e Reciclagemde Óleos Vegetais

10.0C A P Í T U

10.1 - Introdução

10.2 - Formas de uso do óleo vegetal

10.3 - Produção brasileira de óleo vegetal10.4 - Reciclagem do óleo vegetal

10.5 - Mercado do óleo reciclado

10.6 - Comparando duas cadeias de reciclagem: óleode fritura e lubrificantes automotores

10.7 - Informalidade na reciclagem

10.8 - Óleo de fritura usado e o biodiesel

10.9 - O potencial da reciclagem de óleo de fritura

para o meio ambiente10.10 - A reciclagem e a mobilização social

ÓLEOS VEGETAIS

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   Ó   l  e  o

  s   V  e  g  e   t  a   i  s

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10.1 - Introdução

Os óleos vegetais pertencem ao grupo dos lipídeos que, juntamente com os carbohidratoe as proteínas, perfazem a maior parte da biomassa de todos os animais e plantas conhecidosOs lipídeos são compostos hidrofóbicos, ou seja, não são solubilizados na água (Manahan, 1993)Eles são agrupados em pelo menos 16 diferentes subclasses (Parrish, 1998). Cada classe delipídeo contém compostos de polaridade similar, mas as diferenças estruturais são enormes. Amaioria dos lipídeos biogênicos possui a ligação C=O que juntamente com a ligação do carbonoa uma hidroxila (C-OH) forma o grupo acil (-COOH) que está presente, por exemplo, nos ácidograxos (Manhan, 1993) (Fig. 10.1).

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 10.1 - O grupo acil (COOH) é característ ico de muitos tipos de lipídeos.

Os lipídeos não são só importantes como substâncias de reserva de energia, mas tambémexercem importantes funções bioquímicas dentro das células (Manahan, 1993).

Muitos hormônios pertencem ao grupo dos esteróis, uma das classes mais importantes

de lipídeos. Os hormônios são mensageiros químicos que regulam aspectos essenciais dometabolismo de plantas e animais tais como o crescimento, o metabolismo da glicose, asexualidade, etc. Os lipídeos são importantes constituintes das unidades da vida já que estãopresentes nas membranas de todas as células sejam elas animais ou vegetais. A maior par te doconteúdo em biomassa no cérebro humano, por exemplo, é constituída por lipídeos.

Uma importante classe de lipídeos é constituída pelos ácidos graxos (Napolitano, 1998)Eles podem ser agrupados em duas categorias: os que podem ser sintetizados ou não pelosanimais. Uma nomenclatura usual para os ácidos é quando se usa a fórmula 18:2 w6 o queequivale dizer que a molécula possui dezoito átomos de carbono e duas ligações duplas “cis”. Osímbolo grego ômega minúsculo w seguido de um número, indica a posição da primeira ligaçãodupla no átomo de carbono, contado a partir do lado da terminação da molécula onde está

o grupo CH3(à esquerda nas figuras abaixo). Assim, o termo w6 indica a posição da primeiraligação dupla encontrada na molécula que, nesse caso, fica a seis átomos de carbono contados partir da ex tremidade da molécula onde fica o grupo metila na molécula. Normalmente, o grupometila (-CH3) situa-se na ex tremidade oposta a do grupo acil.

Os ácidos graxos essenciais (EFA) devem ser obrigatoriamente supridos na dieta. Célulaanimais não podem desaturar abaixo do C-9 e C-10 (final metila). Outras classes importantes delipídeos são compostas pelos triglicérides, g licolipídeos e fosfolipídeos (Fig. 10.2).

OH

R – C = O

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Fig. 10.2 - Estrutura química básica das principais classes de lipídeos. ST: esteróis aquirepresentados pelo colesterol; TAG: triglicérides aqui representados pela triptalmitina;GL: glicolipídeos aqui representados pelo digalactosil diacilglicerol e PL: fosfolipídeosaqui representados pela fosfat ilcolina. Modificado de Parrish (1998).

Os ácidos graxos são um dos mais importantes constituintes da dieta humana e dosanimais. Alguns tipos não podem ser sintetizados por eles. Os ácidos graxos, de cadeia longa, osácidos ômega-3 e ômega-6 (w-3 e w-6) são um bom exemplo de ácidos essenciais na dieta. Osanimais podem elongar ou desaturar as moléculas, mas não alterar a posição da ligação duplano ponto 3 e 6. (Fig. 10.3).

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  s   V  e  g  e   t  a   i  s

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 10.3 - Ácidos graxos do tipo Omega-6 e Omega 3. Observar que a família do ácido linolêico possui representantede ambas as categorias. O símbolo grego Ômega (w) significa a posição da primeira ligação dupla a partido lado da terminação metila da molécula (à esquerda nas figuras). Os animais podem elongar ou desaturaas moléculas, mas não podem alterar a posição da ligação dupla no ponto 3 e 6. Modificado de Olsen(1998).

A família do ácido linolêico, um dos principais componentes do óleo de soja, possui tantorepresentantes de cadeias w-3 quanto de cadeias w-6. Os ácidos graxos poli-insaturados decadeia longa do tipo Omega-3 (popularmente conhecidos pela sigla PUFA) são encontradoapenas em plantas marinhas enquanto os ácidos com cadeias do tipo (w-6) prevalecem emplantas terrestres. Como os animais não podem alterar essa estrutura, essas diferenças persistemem toda a cadeia trófica desses sistemas (Arts & Waiman, 1998) (Fig. 10.4).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Fig 10.4 - Os ácidos graxos w-3 são produzidos predominantemente por algas marinhas daí os animais que estãoinseridos nas teias tróficas onde o fitoplâncton marinho é a base do seu alimento possuem elevados teoresdesse tipo de ácido graxo. Pesquisas recentes têm comprovado que os índices de doenças nas coronárias(artérias que irrigam o coração) é menor em populações humanas que apresentam uma dieta concentradaem frutos do mar. Uma das hipóteses que explica esse padrão se baseia no fato de que essa populaçõespossuem uma alimentação onde a fonte de lipídeos é constit uída predominantemente pelos ácidos graxosdo tipo w-3. No gráfico acima, o eixo das abscissas está representada a proporção de ácidos de ambos tiposde cadeias. Quanto maior for a razão n-3/n-6 (quanto mais à direita), maior será a proporção dos ácidosw-3 na composição da biomassa dos organismos e itens alimentares representados. Os frutos do mar sesituam mais à direita na f igura. Modificado de Olsen (1998).

Óleo de milho

Óleo de coco

Óleo de soja

Azeite de oliva

Azeite de bacalhau

0.03 0.1 0.3 1 3 10 30

Razão n-3/n-6

Os óleos vegetais e as gorduras animais são constituintes básicos da dieta de todos osanimais sejam eles vertebrados ou não sejam eles pecilotérmicos ou homeotérmicos. Os lipídeosestão presentes em proporções variadas nos principais tipos de alimentos consumidos pelohomem (Tab. 10.1). Nessa tabela, pode-se constatar que os alimentos com os teores maiselevados de lipídeos são, respectivamente, o óleo de soja, a manteiga, a margarina, a batata frita,o creme de leite, o requeijão cremoso, o leite de coco e a maionese.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

As carnes podem ter teores variados de lipídeos dependendo das condições de criação, docorte e do tipo de animal considerado. Em suínos, por exemplo, os teores de gordura total podem

variar entre 3,0 e 5,0 gramas por 100 gramas para cortes tais como o lombo e o pernil enquantoque o toucinho, um componente essencial da culinária mineira, têm uma composição média de83 gramas em cada porção de 100 gramas (Bragagnolo & Rodriguez-Amaya. 2002).

Os lipídeos podem ser classificados pelo grau de saturação em átomos de hidrogênioOs lipídeos insaturados podem ser mono-insaturados ou poli-insaturados. Exemplos dessasubstâncias seriam os óleos de canola, girassol, gergelim, soja, óleo de peixe e o azeite de olivaExemplos clássicos de gorduras saturadas seriam o toucinho de suínos, a banha de porco, óleoe derivados de coco e o óleo de palma (dendê). O óleo de soja, por exemplo, contém, emgeral, 20-25% de ácidos graxos mono-insaturados e 50-55% de compostos poli-insaturadosO percentual restante é devido aos ácidos graxos saturados (Tab. 10.1). As gorduras trans sãolipídeos artificialmente obtidos através da hidrogenação de óleos. Elas foram, durante muitotempo, intensivamente utilizadas no preparo de alimentos industrializados, tais como massas

biscoitos e guloseimas em geral. Pesquisas recentes demonstraram que esse tipo de gorduraestá associado com o aumento dos níveis de colesterol e doenças cardíacas em mamífero(Chiara et al.  2002). De acordo com a resoluções de número 359/360 de 26/12/2003 daANVISA (ANVISA, 2009), os alimentos hoje trazem em seus rótulos os percentuais de gordurastotais, gorduras saturadas e gorduras trans.

Tab. 10.1 - Teores médios de lipídeos (gorduras totais, gorduras saturadas, gorduras t rans e coleste rol) nos principaisalimentos consumidos pelo homem.

 Iogurte Manteiga Margarina Maionese Batata Frita

Porção 100g/ml Porção 100g/ml Porção 100g/ml Porção 100g/ml Porção 100g/ml

Datafabricação

  20.01.09 27.01.09 04.11.08 27.01.09 02.01.09

GordurasTotais

  4,0 2,0 8,3 83,0 6,5 65,0 1,9 15,8 9,0 36,0

GordurasSaturadas

  2,6 1,3 4,8 48,0 2,0 20,0 0,3 2,5 4,0 16,0

GordurasTrans

  nd nd 0,2 2,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Colesterol nd nd nd nd 0,0 0,0 2,2 18,3 nd nd

Porção(ml)

  200,0 100,0 10,0 100,0 10,0 100,0 12,0 100,0 25,0 100,0

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Leite Condesado Creme de LeiteRequeijãoCremoso

Óleo de Soja Leite de Coco

Porção 100g/ml Porção 100g/ml Porção 100 g/ml Porção 100 g/ml Porção 100 g/ml

Datafabricação   17.12.08 17.10.08 19.01.09 07.02.09 15.05.08

GordurasTotais   1,7 8,5 3,8 25,3 6,5 21,7 12,0 92,3 2,7 18,0

Gorduras

Saturadas  1,0 5,0 2,4 16,0 2,7 9,0 2,0 15,4 2,4 16,0

GordurasTrans   0,0 0,0 0,0 0,0 0,3 1,0 0,0 0,0 nd nd

Colesterolnd nd nd nd nd 0,0 0,0 0,0 0,0

Porção(ml)   20,0 100,0 15,0 100,0 30,0 100,0 13,0 100,0 15,0 100,0

10.2 - Formas de uso do óleo vegetalUma das maiores conquistas tecnológicas do Brasil foi a descoberta e o uso de bactérias

endosimbionticas capazes de fixar o nitrogênio atmosférico, em uma série de plantas muitoimportantes para a agricultura tropical (Prado, 2008). O nitrogênio é um nutriente essencial para

o desenvolvimento das plantas. Essas bactérias podem ser inoculadas em plantas tais como asoja e a cana de açúcar e desobrigam ao agricultor a gastar dinheiro com adubos nitrogenadostais como os sais de amônio. Uma pesquisadora da EMBRAPA (e posteriormente da UFRJ), a Dra.Joana Dobereiner (1924-2000) foi a precursora nesse tipo de pesquisa no Brasil e no mundo.Os resultados dessas e outras pesquisas nessa área conduzidas pelas universidades brasileiras epela Empresa de Pesquisas Agropecuárias a EMBRAPA foram provavelmente os responsáveis nãosomente pelo afastamento do fantasma da fome no país mas também pela rápida ascenção doBrasil à categoria de uma das principais potências agrícolas do mundo.

Observaç ão: As informações acima foram obtidas pela consulta aos rótulos de produtos comerciais postos a venda emsupermercados de Belo Horizonte no período compreendido entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009. Os rótulos

das seguintes marcas foram consultados: Iogurte Activia, Manteiga Aviação, Margarina Delícia, Maionese Arisco, BatataFrita Visconti (palha), Leite Condensado Carrefour, Creme de Leite Nestlé, Requeijão Cremoso Carrefour, Óleo de SojaLisa, Leite de Coco Du Coco.

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  s   V  e  g  e   t  a   i  s

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 10.2 - Composição básica do óleo de soja é a seguinte (port aria MAPA número 07 de 09 de novembro de 1988

Fig. 10.5 - Plantação de soja no sul do Brasil. Graças à biotecnologia e, princ ipalmente ao melhoramento genético, oBrasil transformou-se em uma potência agrícola. A soja é o car ro-chefe da agricultura brasileira.

Parâmetro Valor  

Umidade (máximo) 0,50%

Fosfatídeos (máximo) 0,30%

Extrato Etéreo (mínimo) 98,00%

Índice de Iodo 122/234%

Índice de saponificação 189/195%

Matéria insaponificável 0,50/2,00

Acidez total (max. Em meq KOH/g) 50,00%

Ácidos graxos saturados 10/18,00%

Ácido linolêico 50,00%

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Na alimentação humana, os óleos vegetais são usados para três finalidades básicas: (a) preparo(fritura) de alimentos; (b) tempero de saladas e (c) componente de alimento (ingrediente).

O óleo não somente é usado como ingrediente de vários tipos de alimentos, como também éindispensável no processo de cozimento, fritura e também para assar os alimentos. A maior parte doóleo vegetal produzido e consumido atualmente no Brasil vem da soja, Glycine Max (Fig. 10.5).

O óleo de soja é obtido por meio de uma extração química, mecânica ou mesmo por umaassociação de ambos. Posteriormente, ele é submetido a um processo de centrifugação, objetivandoa separação da goma (fosfatídeos). Nesse processo gera-se o primeiro produto que é o óleodegomado. O óleo deve ser isento de matérias estranhas à sua composição original (Tab. 10.2).

Durante a fritura, ocorre não somente a progressiva saturação do óleo de fritura mastambém o aumento do grau de polimerização das moléculas. Esse processo é caracterizado pela

formação de cadeias longas de carbono. Todas essas transformações irão afetar o processo dereciclagem do óleo de fritura usado.

O processo de fritura é o mais importante uso dos óleos vegetais. A fr itura é uma técnicaculinária que consiste em preparar os alimentos tais como carnes, peixe ou legumes em óleoou gordura a alta temperatura. Como os óleos vegetais entram em ebulição a uma temperaturamuito mais alta que a água, este processo tem resultados muito diferentes da cozedura, já quea parte exterior dos alimentos fica crocante e caramelizada enquanto que o interior fica tenro emantém um sabor típico do alimento usado.

Geralmente, o processo da fritura inicia-se derramando uma certa quantidade de óleoem uma frigideira ou panela. A seguir, o óleo é aquecido por alguns poucos minutos. Muitoslegumes, carnes e molhos são preparados a par tir de um refogado que também começa por uma

fritura leve da cebola e sal em óleo quente, acrescentando-se, a seguir, o tomate e os demaisingredientes.

As frituras mais usadas pelos brasileiros são as batatas e mandiocas (macaxeira) fritas,bolinhos de arroz, vários tipos de pastéis, peixes e frangos fritos. Um técnica de fritura muitousada no país é a fr itura de produtos envoltos em uma capa de farinha ou fubá, os empanados.Usa-se com frequência a moda de preparo à milanesa que consiste em envolver a carne oulegume em uma mistura de gema ovo batida e farinha Esse tipo de uso do óleo irá ter, comoserá visto adiante, importantes implicações em sua reciclagem.

As frituras são consideradas uma comida pouco saudável não só por fornecer um excessode calorias, mas também por que a fritura acaba por gerar um percentual mais elevado de

gorduras saturadas que podem ser responsáveis por problemas cardíacos.

Antigamente, usava-se no Brasil a gordura de porco, a gordura do coco e o óleo deamendoim para o preparo dos alimentos. Gradualmente, esses produtos deram lugar ao óleode soja principalmente tendo em vista os seus altos teores de ácidos graxos poli-insaturadosque são mais saudáveis do que as gorduras saturadas para a alimentação humana. Durante oprocesso de preparo dos alimentos uma das primeiras coisas que frequentemente ocorre, é aadição de diferentes produtos com gorduras de origem animal (Tab. 10.1).

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  s   V  e  g  e   t  a   i  s

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 10.6 - Mapa da produção de soja no Brasil. Os círculos em azul são proporcionais aprodução da soja por município (A). Fonte: IBGE 

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

10.3 - Produção brasileira de óleo vegetalO cultivo da soja experimentou um grande avanço no centro-oeste do Brasil nas últimas

duas décadas (Figs.10.6-A e 10.6-B). Há que se ter em mente que a soja não é usada apenaspara a produção de óleo vendido no supermercado. Ela também é usada como farelo, torta esob a forma de óleo degomado na formulação das rações de frango, gado, suínos e também depeixes. Portanto, essa planta leguminosa hoje está na base, de praticamente todas as cadeiasprodutivas relacionadas à produção de carnes aqui no Brasil, na China e muitas outras partes,em todo o mundo.

A produção brasileira de óleo de soja situa-se hoje em torno de 6,1 x 109 litros sendo 60%dessa produção destinado ao mercado interno e o restante é exportado. O consumo anual  percapta de soja no Brasil situa-se no patamar de 25,0 kg por habitante.ano -1. A taxa de crescimentodesse mercado cresce algo como 3,2% ao ano. (Tab. 10.3).

(Ano Base - 2008)

Consumo 25 kg.hab.-1.ano-1

Taxa de crescimento do uso + 3,2%.ano -1

Produção brasileira 6,1 x 106 ton. óleo soja

Exportação 2,5 x 106 ton.

Consumo interno 3,6 x 106 ton.

Rendimento industrial 19,2%

Preços de mercado (2008)

Grãos: 540 US$ .ton-1

Farelo: 440 US$.ton-1

Óleo: 1.400 US$ .ton-1

Tab.10.3 - Principais indicadores do mercado brasileiro de soja para o ano de 2008.

Fonte: ABIOVE (2009).

O Brasil é um dos maiores produtores de alimento do mundo. Segundo a Food and Agricul ture Organisation – FAO, um dos órgãos das Nações Unidas com sede em Roma, Itália(FAO, 2009), o país es tá entre os dez maiores produtores mundiais para uma série de importantesprodutos agropastoris (Tab. 10.4). Ele ocupa uma posição de destaque na produção de açúcar(1º lugar), café (1º lugar), suco de laranja (1º lugar), carne bovina (2º lugar), carne de suínos(3º lugar), carne de aves (4º lugar), óleo de soja (4º lugar), fibras, principalmente o algodão (5ºlugar), coco (5º lugar), milho e banana (10º lugar).

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Fig. 10.7 - Produção, export ação e consumo interno de óleos no Brasil.

Cereais Posição Carnes Posição

Açúcar 1 Bovina 2

Café 1 Suína 3

Suco de Laranja 1 Aves 4

Soja (Grão) 2

Observação: Merece destaque o fato de queo país apresenta uma produção medíocrede pescado tanto de ambientes marinhosquanto de águas interiores. O incremento dosníveis de produção e, sobretudo dos níveis deconsumo interno, de pescado deveria ser uma

prioridade nacional

Soja (Farelo) 4

Soja (Óleo) 4

Algodão 5

Milho 4

Arroz 10

Coco 5Banana 10

Fontes: FAO (2009), MAPA-USDA, elaboração MAPA . Dados consolidados para o período 2005-2007 (MAPA, 2009)

A produção nacional de óleos vegetais apresentou crescimento nos últimos sete anos(Fig. 10.7). Em 2000, o Brasil produzia 4,1 milhões de toneladas sendo que esse mesmo valosubiu para 6,0 milhões de toneladas em 2007. As exportações também apresentaram um bomdesempenho excetuando o ano de 2006, quando houve uma quebra na tendência de aumentonas exportações. O mercado interno é muito importante e consome a maior parte do óleovegetal produzido no país. Os percentuais de consumo de óleos vegetais nunca são inferiores 55% (Fig. 10.7).

Fonte: ABIOLEO (2009)

Ano

Produção, consumo e exportação de óleos no Brasil

Produção

   (  x   1   0   0   T  o  n  e   l  a   d  a  s   )

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 20070

2000

4000

6000

8000

Exportação Consumo interno

Tab. 10.4 - Posicionamento do Brasil em relação à produção mundial de produtos da pecuária e da agricultura.

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10.4 - Reciclagem do óleo vegetalO objetivo de toda empresa de reciclagem de óleo é o de transformar o óleo vegetal

usado em uma commodity  que tenha uma boa aceitação no mercado. Esse produto tem umademanda crescente em diversos setores da economia. Existem diferentes tipos de consumidorespotenciais, principalmente nas regiões sudeste e sul do país que oferecem diversas possibilidadesde inserção do óleo reciclado.

A reciclagem de óleo também oferece para os gestores municipais e estaduais umaalternativa de tratamento para um resíduo que está associado a toda uma série de problemasambientais (eutrofização das águas, mau funcionamento da rede pluvial ou de esgotos), pragasurbanas tais como a proliferação de baratas e ratos e também diminuição dos r iscos de enchentescausadas pelo entupimento da rede de drenagem urbana.

A reciclagem do óleo de fri tura pode ser sumarizada nas seguintes fases: (a) captação declientes fornecedores; (b) delineamento das rotas de coletas; (c) coleta do óleo; (d) transportedo óleo; (e) processamento do óleo; (f) venda dos produtos reciclados, basicamente o óleo(na realidade são vários tipos) e a gordura animal; (h) descarte adequado de todos os resíduossólidos e líquidos gerados no processo de benef iciamento do óleo; (i) a fase final do processo éo processo de lavagem de bombonas e o seu preparo para iniciar um novo ciclo de coletas.

 A reciclagem de óleos vegetais exige um bom relacionamento com um grande númerode clientes tanto fornecedores quanto de possíveis compradores para o óleo reciclado. Umbom exemplo de uma empresa que vem buscando atingir essas metas é da Recóleo Coleta e

Reciclagem de Óleos Ltda. (RECÓLEO, 2009).

A Recóleo conta hoje com uma sede própr ia e onze funcionários devidamente capacitadospara exercerem diferentes funções. Todos os funcionários da empresa possuem carteira detrabalho assinada e a empresa está em dia com as obrigações trabalhistas regulamentadas pelalei. A empresa conta com uma frota de quatro veículos coletores, dois triciclos e um veículopara serviços gerais (Fig. 10.8). Na sede própria da empresa, além de um escritório e de umpequeno laboratório, a empresa dispõe de um amplo galpão coberto, protegido por uma bacia decontenção, onde é feito todo o processamento do óleo a ser reciclado. Existe ainda uma cozinha,instalações sanitárias e alojamento para o funcionár io de plantão.

Uma característica essencial do reciclador de óleo vegetal é o fato de que ele deve visitarum grande número de clientes onde irá coletar volumes de óleo que variam muito. Em geral, sãopequenas quantidades em um grande número de estabelecimentos. Portanto, uma das etapasmais importantes nesse processo é a delimitação da rota de coleta. Essa rota deve otimizar onúmero de clientes atendidos e minimizar o tempo e a quantidade de combustível gastos nesseprocesso. A rota será a resultante de um equilíbrio de clientes grandes, médios e pequenos edeve ser formatada em função do veículo a ser utilizado.

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As rotas usadas atualmente pela empresa foram definidas a partir do uso de ferramentasde geoprocessamento. Todos os endereços têm as suas coordenadas geográficas tomadas poaparelhos de GPS. Essas coordenadas são posteriormente transferidas para aplicativos GIS queindicam as melhores alternativas viárias (Fig. 10.9). Através desses programas, a empresa sabe

por exemplo, onde estão concentrados os clientes mais importantes e onde deve investir maioreesforços na conquista de novos clientes. A Recóleo dispõe hoje de 1500 clientes somente naregião metropolitana de Belo Horizonte.

Fig. 10.8 - Uma frota de veículos novos, bem equipados e especialmente adaptada para atuar no ramo da reciclagemde óleo é um pré-requisito import ante para a empresa de reciclagem de óleo. A exis tência de uma equipebem treinada composta por um gerente comerc ial, motoristas e ajudantes é essencial para que o sistemade captação de novos clientes e de coleta de óleo funcione de modo adequado. Foto: RMPC.

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Fig. 10.9 - Rede de clientes atendidos pela Recóleo na Região Metropolitana de Belo Horizonte (status: dezembro de2008). A grande maioria dos clientes está localizada na regiões cental e sul do município de Belo Horizonte.Outras cidades atendidas nessa época eram, respectivamente, Contagem, Nova Lima e Ibirité. Em verde, ospontos de atendimento. Em vermelho os limites dos municípios da região. A localização de cada ponto decoleta foi obtida através do uso de um sistema de posicionamento assistido por satélites (GPS), operadopor um funcionário que obtinha as coordenadas posicionando o aparelho, fora do veículo, defronte doestabelecimento comercial a ser visitado. Original: RMPC.

No galpão da empresa, o reprocessamento do óleo vegetal consiste basicamente nasseguintes fases: peneiragem, decantação, lavagem, separação da gordura animal, microfiltragem,bombeamento, monitoramento e armazenamento (Figs. 10.10 e 10.11).

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Fig 10.10 - Fluxograma do processo de purificação e recic lagem de óleo de fritura usado em uma empresarecicladora de óleo de fritura. Original: RMPC.

Separação desólidos maiores

(peneiragem)

Aquecimento paraseparação da gordura

animal

Decantação

Ultrafiltragem

Monitoramento econtrole de qualidade

Lavagem do óleo eretirada da água

Transporte aoconsumidor

Bombeamento paratanques de

armazenamento

Coleta de óleo usado

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Fig. 10.11 - Processamento do óleo de fritura usado na empresa Recóleo Coleta e Reciclagem de Óleos Vegetais. Aempresa desenvolveu um processo de reciclagem que permite processar até 8 mil litros diários de óleoem um pequeno galpão de apenas 200 metros quadrados, com toda segurança e ainda garantido umaexcelente qualidade final do produto (Tab. 10.5). A empresa desenvolveu equipamentos especiais paraalgumas etapas do processo tais como o tanque aquecido separador de gorduras (6) e o cilindro de ultra-filtragem pressurizada (4). Original: RMPC.

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Fig. 10.12 - Sistema de peneiragem do óleo de cozinha desenvolvido pela empresa Recóleo® que consiste de umapeneira datada de malha fina de aço de 0,6 mm de aber tura de malha, adaptada a um tanque de aço comserpentinas que aquecem o óleo até a temperatura desejada. Ao final do processo, uma mangueira leva oóleo a um filtro também desenvolvido pela empresa que f az uma filtração mais fina ainda (200 micra) sopressão. Foto: RMPC.

A peneiragem (Fig. 10.12) é a primeira fase do processo e visa a imediata retirada derestos de alimentos e mesmo objetos (talheres, etc.) que podem estar presentes. Após passa

na peneira, o óleo é recolhido em tanques de decantação onde permanece por algumas horasEssas duas primeiras etapas geram um resíduo, a “farinha”, que deve ser descartado de modoapropriado. Inicialmente, a Recóleo o enviava para os aterros sanitários. Recentemente, a empresfirmou uma parceria com uma empresa de compostagem orgânica que recebe todos os rejeitogerados dentro da Recóleo e os processa para serem transformados em adubos orgânicos.

Dependendo da natureza do óleo, após a decantação há a formação de três fases, umade água, mais pesada e que permanece no fundo do tanque, uma fase intermediária de gorduraanimal e a fase mais leve que é constituída pelo óleo vegetal.

A água é retirada por gravidade e a gordura animal por bombeamento. A maior parte dosal existente no óleo sai juntamente com a água. Se os teores de gordura animal forem altoshá necessidade de fornecimento de calor ao processo a fim de que não haja uma solidificaçãodo produto. A empresa também desenvolveu uma metodologia específ ica para o tratamento dgordura animal (Fig. 10.13).

 

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Fig. 10.13 - Sistema para a separação da gordura animal existente no óleo de cozinha desenvolvido pela Recóleo®.Através desse sistema, é possível aquecer o óleo a gordura em diferentes temperaturas. Após a formaçãodas duas fases, o óleo e a gordura animal são bombeados para tanques de armazenamento específicos.Foto: RMPC.

Fig. 10.14 - Existe uma variedade de diferentes tipos de óleos de fritura usados. Além dos teores de unidade e desólidos, a acidez, os níveis de peróxido e os teores de gordura animal podem variar amplamente. Cabe aempresa recicladora realizar um monitoramento constante e adequar o produto às reais necessidades decada tipo de cliente. Foto Fraga (2008).

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Tab. 10.5 - Composição média do óleo de cozinha usado, após ser t ratado na Recóleo. Análises feitas nos laboratórioda Granol, em Anápolis, Goiás, com amostra enviada pela Recóleo no dia 2 de março de 2009.

Parâmetro Valor  

Acidez 2,22%

Umidade 1,88%

Impureza 0,70%

Sabões 30 PPM

Glicerol 0,04%

Ind. Iodo 90,50 CgI²/g

A próxima fase do processo é a ultra filtragem que, no caso da Recóleo, é feita em um

equipamento exclusivo da empresa (Fig. 10.15), também em vias de ser patenteado. Após afiltragem, o óleo é bombeado para os tanques de armazenamento (Fig. 10.16)

Fig. 10.15 - Sistema de ultra-filtração do óleo de cozinha usadodesenvolvido pela Recóleo®. Foto: RMPC.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

O final do processo consiste na lavagem das bombonas a fim de que elas sejam novamentedistribuídas para os clientes coletores. As bombonas são numeradas e gravadas com o nome

da empresa, em alto relevo. As bombonas são lavadas com água pressurizada, à quente (Fig.10.16). O excesso de gordura é removido com a adição de um desengraxante industrial. Á águade lavagem é transferida para um sistema especial de caixas de gordura que retém o excesso degorduras e óleos (Fig. 10.16). Esse resíduo é coletado e enviado periodicamente para o aterrosanitário ou para uma empresa de compostagem.

Fig. 10.16 - Área de estoc agem de óleo e gordura. Notar a nítida separação das fases “gordura animal” e “óleo”. A direitaem cima, um detalhe de um tanque com a caixa de contenção que evita que eventuais vazamentos cheguemà rua. No detalhe, abaixo e a esquerda, o setor de lavagem de bombonas antes de serem novamenteenviadas aos clientes. Essa lavagem é feita com água pressurizada a quente e com desengraxante industrial.No detalhe, a direita em baixo, as caixas de gordura espec ialmente desenhadas para recolher todo o óleo dalavagem das bombonas evitando, assim, um maior comprometimento da rede de esgotos. Abaixo e a direita,um aspecto do laboratório de análises físico-químicas (Icatu Meio Ambiente) que atende exclusivamente åRecóleo®. Foto: RMPC.

Separação das fasesóleo (sup.) e gordura (inf.)

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O óleo usado pode apresentar grandes variações de quantidade dependemdo do tipo deuso ao qual foi submetido. As f rituras de empanados ou à milanesa, por exemplo, produzem umóleo com teores muito elevados de sólidos em suspensão. O óleo usado para se fritar o frangoterá um elevado teror de gorduras animais.

Outro fator importante a ser considerado é o tempo de estocagem do produto final. Se oóleo usado ficar muito tempo armazenado, inicia-se um processo de decomposição bacterianaum processo basicamente de natureza anaeróbica que irá gerar uma série de subprodutosindesejáveis tais como ácidos e peróxidos. A ac idez do óleo, ao lado dos teores de umidade e desólidos, são os principais parâmetros a serem considerado no seu monitoramento final.

A reciclagem do óleo de fritura usado pode melhorar sensivelmente a qualidade do óleo

através de processos tais como peneiragem bruta, decantação, lavagem, separação da gorduraanimal, filtragem fina, cor reção de pH. Todo esse processo deve ser continuamente monitoradode modo a garantir uma qualidade final que atenda às especificações de cada tipo de c liente.

10.5 - Mercado do óleo recicladoUm dos pré-requisitos para o sucesso de qualquer tipo de empresa de reciclagem é a

perfeita compreensão tanto dos processos de manufatura, comercialização e dos diversos tipode uso do produto primário antes de ser reciclado. O mercado do óleo de fritura usado dependde vários fatores associados à produção de óleo de soja no Brasil. Os fluxogramas abaixo (Figs10.17 e 10.18) procuram ilustrar a diversidade de atores e a complexidade da interdependência

entre eles.

O mercado do óleo de soja irá depender das condições climatológicas nas áreas decultivo, do preço dos fertilizantes e dos defensivos agrícolas, da existência de crédito para ofinanciamento da próxima safra. As oscilações nos segmentos da extração e do processamento(oscilações climáticas, tensões trabalhistas) bem como as relações de oferta e demanda de soje dos seus produtos no mercado interno e externo são fatores a considerar. O somatório dessefatores irá influenciar o preço do óleo de soja no mercado doméstico. Na segunda metade de2009, com o agravamento da cr ise internacional, e principalmente devido à queda na demandde compra de soja pela China, levou a uma queda no preço da commodity  que permanece atos dias atuais (abril de 2009).

Após ser consumido nas residências ou nos restaurantes e cozinhas industriais, o óleo desoja usado irá entrar na cadeia da reciclagem (Fig. 10.18). Naturalmente, o preço de mercadopara o óleo de soja usado irá também ser afetado por todos os fatores descritos para ambas ascadeias. Os outros tipos de óleos vegetais usados no Brasil (canola, girassol, oliva, etc) tem umconsumo muito menor e, portanto, interferem muito pouco no preço do óleo usado.

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Fig. 10.17 - O fluxograma acima ilustra os principais agentes da cadeia produtiva do óleo de soja. Observar que ent re oprodutor e o consumidor final, uma série de agentes atuam nessa cadeia. Modificado de Fraga (2008).

Fig. 10.18 - O fluxograma acima ilustra os principais agentes da cadeia produtiva da reciclagem de óleos vegetais.Observar que essa cadeia é delimitada por diferentes tipos de consumidores de diferentes estágios domesmo produto, o óleo de soja. O papel do reciclador aqui é de grande impor tância para que a qualidadefinal do óleo seja a melhor possível. Modificado de Fraga (2008).

Produtor de grãos

Extração / Processamento

Produtor / Importador 

 Vendedor (atacado / varejo)

Consumidor 

Consumidor de óleo (PF/PJ)

Coletor 

Reciclador / Revendedor 

Consumidor de óleo reciclado (PF/PJ)

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É grande o universo de compradores em potencial do óleo de fritura reciclado (Tab. 10.6)Com essa matéria prima pode-se fazer sabão, sabonete, massa de vidro, aditivo para concreto

tijolos e telhas, emulsificante para defensivos agrícolas, biodiesel, etc. Diversas indústrias químicatambém fazem uso desse óleo. Finalmente, existe ainda a possibilidade de que o óleo vegetareciclado possa também vir a ser usado como insumo de ração animal.

Clientes Potenciais

Sabão e sabonetes (uso doméstico)

Massa de vidro

Aditivo na fabricação de concreto, tijolos e telhas

Aditivo para a fabricação de pneusIndústrias químicas e petroquímica.

Fábrica de ração animal (*)

Biocombustíveis (biodiesel)

Tab. 10.6 - Clientes potenciais do óleo reciclado. 

10.6 - Comparando duas cadeias dereciclagem: óleo de fritura elubrificantes automotores

Os óleos automotivos usados contém, além de todas substâncias que formam o óleo novouma série de produtos de degradação que os tornam verdadeiros vilões ambientais. Dentre esseprodutos, pode-se citar os hidrocarbonetos leves provenientes do combustível não queimadoas partículas carbonosas formadas devido ao coqueamento dos combustíveis e do própriolubrificante e, ainda, vários metais de desgaste dos motores tais como o chumbo, o cromo, obário e o cádmio. Além desses produtos de degradação, inúmeros aditivos estão presentes noóleo usado os mesmos que foram adicionados no processo de formulação de lubri ficantes.

É muito grande o potencial de poluição dos diversos tipos de óleos e lubrificantesautomotores quando eles são descartados de forma inadequada no meio ambiente. A poluiçãogerada pelo descar te de apenas uma tonelada de óleo lubrificante usado para o solo ou em cursod’água equivale ao descarte de esgoto doméstico de 40 mil habitantes (Ambiente Brasil, 2009)A queima indiscriminada do óleo lubrificante usado, sem tratamento prévio de desmetalizaçãogera emissões significativas de óxidos metálicos, além de outros gases tóxicos, tais como adioxina e óxidos de enxofre (SOx).

(*) O uso do óleo de fritura usado (caso esteja reprocessado, purificado e isento de contaminações) poderáser homologado para a manufatura de ração animal. Essa homologação depende ainda de uma autorização eregulamentação a ser feita pelo Ministério da Agricultura (MAPA).

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Tendo em vista o elevado poder de contaminação dos óleos lubrificantes bem como dosresíduos gerados em sua reciclagem, a Agência Nacional do Petróleo (ANP, 2009) baixou uma

série de portarias (125, 126, 127, 128 e 129 de 1999) que normatizam o mecanismo de coletade óleos lubrificantes usados. Recentemente, uma resolução do CONAMA procura aperfeiçoarainda mais as normas sobre o descarte, tratamento e reciclagem de óleos lubrificantes no país(Resolução 362 de 22 de julho de 2005) (MMA, 2009). Esse é o arcabouço legal que estabeleceas normas para o gerenciamento da reciclagem de óleos automotores no Brasil.

O selo abaixo (Fig. 10.19) é um exemplo do processo de regulamentação que já vemsendo aplicado a vários anos no Brasil. No caso dos óleos vegetais usados, há uma necessidadeurgente de que todo esse processo da coleta e reciclagem do óleo vegetal usado passe a sertambém regulamentado pelo governo.

Fig. 10.19 - Sinal de alerta, formatado segundo a resolução do CONAMA 362, que deveser afixado nos pontos de revenda de óleos lubrif icantes em todo o país.Original: RMPC.

ATENÇÃOO ÓLEO LUBRIFICANTE APÓS SEU USO É UM

RESÍDUO PERIGOSO

O óleo lubrificante usado quando é descartadono meio ambiente provoca impactos ambientaisnegativos, tais como: contaminação dos corpos deágua, contaminação do solo por metais pesados.

O produtor, importador e revendedor deóleo lubrificante usado, são responsáveis pelo seurecolhimento e sua destinação.

Senhor consumidor: retorne o óleo lubrificanteusado ao revendedor.

O não cumprimento da Resolução CONAMA

acarretará aos infratores as sanções previstas na Leinº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 e no Decretonº 3.179 de 22 de setembro de 1999.

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Tab. 10.7 - Tabela comparativa das cadeias de rec iclagem de lubrificantes veiculares e do óleo de cozinha usado.(parte A).

A importância da ação de regulamentação e de fomento do governo pode ser vista aocompararmos as cadeias de reciclagem de lubrificantes automotores com a cadeia da reciclagem

do óleo de fr itura (Tab. 10.7 A e B). Embora os volumes consumidos nas duas cadeias sejam muitomais expressivos para os óleos vegetais, a cadeia de lubrificantes está muito mais consolidada edevidamente regulamentada pelo governo. Cerca de 12% do óleo lubrificante automotor usadono país já é reciclado atualmente (ANP, 2009). Entretanto, inexistem estatísticas oficiais sobreas atividades de coleta e reciclagem do óleo vegetal usado no Brasil. Outro aspecto importanteé que a legislação brasileira ainda não atribui qualquer responsabilidade do custo da reciclagemambiental aos produtores de óleo vegetal no país.

A maioria das empresas que atuam no setor de reciclagem de óleo vegetal atua de modonão articulado já que não existem normas claras a serem seguidas por essas empresas. Nãoexistem, por exemplo, protocolos oficiais para a avaliação e monitoramento da qualidade doóleo vegetal usado no Brasil. Não existem leis e normas que orientem os recicladores no quediz respeito a quem pode consumir e comprar o óleo reciclado. Não existe uma regra para o uso

desse tipo de insumo para a fabricação de ração animal. O setor espera, por exemplo, que oMinistério da Agricultura e do Abastecimento possa regulamentar e normatizar o uso do óleo defritura usado em formulações de rações para aves, suínos e peixes. O tratamento e a disposiçãofinal dos resíduos da reciclagem do óleo vegetal ainda aguardam um instrumento legal paraserem devidamente regulamentados. Não existe nenhum instrumento legal que procure induzios produtores de óleos vegetais a uma maior responsabilidade ambiental. É importante ressaltaque esse tipo de compromisso empresarial com o meio ambiente é previsto pela lei 6.938 de 3de agosto de 1981 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente (inciso IV do artigoterceiro).

  Óleos Lubrificantes Óleos Vegetais

Consumo (x 106 ton) 0,9 3,7

Reciclagem (%) 12 < 1 (*)

Variabilidade materiais Pequena Media

Gerador / local Pequeno Imenso

Responsabilidade/produtor Sim Não

Mercado Consolidado A construir

Recicladores Poucos Moderado

Coletores Poucos Muitos

Observação: (*) estimativa feita pelo Prof. Dr. Antônio Carlos Fraga, Universidade Federal de Lavras (UFLA).Modificado de Fraga (2008).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

10.7 - Informalidade na reciclagemOs desafios para a consolidação dessa atividade no Brasil são vários: tecnológicos,

educacionais, ambientais, sociais e políticos. Apesar de se conhecer os principais atores dacadeia da reciclagem do óleo de fritura, existe ainda uma grande necessidade de que o governoregulamente a atividade. É grande o número de empresas ou mesmo pessoas físicas que atuamnesse setor na completa informalidade. Muitas empresas não estão sequer cadastradas na junta comercial , não possuem CNPJ muito menos licenças ambientais e vis tor ias do Corpo de

Bombeiros. Essas empresas funcionam literalmente em fundos de quintais.

Um dos maiores problemas com as empresas de reciclagem de óleo e isso vale tambémpara todo tipo de empresa de rec iclagem, é a informalidade. Esse tipo de empresa é carac terizadopor todo tipo de pequenas ilegalidades. Elas não pagam os impostos e taxas devidas e não temqualquer tipo de alvará de funcionamento ou mesmo licença ambiental. Contrariando a premissabásica da sustentabilidade ambiental que é um dos pilares do funcionamento de qualquerempresa de reciclagem, essas empresas informais contribuem para o aumento da poluição emgeral ao invés de diminuí-la. Não há uma preocupação, por exemplo, com o tratamento dosresíduos sólidos gerados que via de regra são descar tados em lotes vagos ou mesmo enterrados,ou ainda pior, queimados ao final de cada dia. Como os processos de reciclagem são primitivos eo pessoal que atua nessas empresas não tem treinamento adequado uma grande parte do óleo

irá parar mesmo na rede pluvial.

A informalidade na reciclagem é muito prejudicial para todos os atores do processo dareciclagem. Esse tipo de empresa não possui contratos com os clientes e, em alguns casos, elaschegam até mesmo a usar os uniformes ou bombonas de outras empresas para dominar fatias domercado, especialmente quando o preço do óleo usado está nas alturas como durante o primeirosemestre de 2008. No seu conjunto, o somatório de inconformidades e condutas inadequadasdessas empresas acaba por transmitir uma imagem negativa do setor para a sociedade. São

Óleos Lubrificantes Óleos VegetaisColeta / logística Definida A definir

Coleta / complexidade Simples Complexa

Pontos de coleta Poucos Muitos

Reciclador (registro) ANP/FEAMFEAM, IBAMA, Prefeituras,

MAPA, …

Processo do re-refino Definido Em construção

Resíduos do re-refino Definido Indefinido

Exigências para as empresas Muitas Poucas

Legislação Definida Em construção

Tab. 10.7 - Tabela comparativa das cadeias de reciclagem de lubrific antes veiculares e do óleo de cozinha usado.(parte B).

Fonte: Fraga (2008).

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empresas que não tem comprometimento social, não tem responsabilidade ambiental e somentse aproveitam dos momentos quando o preço do óleo usado sobe muito para obterem um lucro

fácil e imediato.

10.8 - Óleo de fritura usado e o biodieselA produção do biodiesel a partir da reciclagem do óleo de fritura usado permite implanta

um programa sustentável, promovendo a inclusão social de setores menos favorecidos dasociedade (catadores, coletores, recicladores), abre o caminho para interações com a escolaatravés de programas de educação ambiental, além de estimular o desenvolvimento de novastecnologias de produção e comercialização de um combustível com aceitação já reconhecidapelo mercado (Fig. 10.20).

Fig. 10.20 - Principais atributos da sustentabilidade da cadeira produtiva do biodiesel. A produção do biodiesel a partdo óleo de fritura deve ser vista, inicialmente, sob a ótica do mercado, de sua viabilidade econômicaEntretanto, a possibilidade de inclusão social e de mobilização de grandes contingentes de mão de obrnão qualificada e a questão da sustentabilidade ambiental, podem, em alguns casos (como, por exemploem cidades acima de 1 milhão de habitantes com muitas favelas), serem fatores ainda mais importantedo que as regras do mercado. Espera-se que o governo possa reconsiderar as políticas públicas volt adas cadeia do biodiesel com mais atenção aos fundamentos da sustentabilidade ambiental. Original. RMPC.

Base Tecnológica

   M  e   i  o   A  m   b   i  e  n   t  e

   S  o  c   i  e   d  a   d  e

   M  e  r  c  a   d  o

Biodiesel

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O biodiesel é obtido a partir da reação química de óleos ou gorduras, de origem animal ouvegetal, com um álcool na presença de um catalisador (reação conhecida como transesterificação).

Por meio dessa reação química é possível a separação da glicerina do óleo vegetal. As moléculasdos óleos vegetais em questão são formadas por t rês ésteres ligados a uma molécula de glicerina,ou seja, são triglicerídios.

O biodiesel pode ser fabricado a partir de diversos tipos de óleos vegetais ou gordurasanimais em reatores químicos a partir da reação química desses compostos com um álcoolna presença de um catalisador (reação conhecida como transesterificação). Pode ser obtidotambém pelos processos de craqueamento e esterificação (Santos & Pinto, 2009) (Fig. 10.21).

Fig. 10.21 - Obtenção de combustíveis líquidos a partir de ácidos graxos e triglicérides através das reações de (i) craqueamento deóleos e gorduras; (ii) craqueamento de ácidos graxos; (iii) transesterificação de óleos e gorduras e (iv) esterificação deácidos graxos. Notar que as equações não estão balanceadas. Original: Paula P. Coelho.

O Brasil apresenta um alto potencial para a produção de biodiesel principalmente

considerando a elevada diversidade regional em termos de produtos cultivados a partir dos quaisse pode fabricar o combustível (Tab. 10.8). No entanto, é preciso ter em mente que a maioriadesses produtos agrícolas está submetida a fortes oscilações de preço que por sua vez estãoatrelados ao mercado internacional. Isso é particularmente verdadeiro para a soja, o algodão,o amendoim e o girassol. O caso da mamona é ainda mais crítico. Esse produto, embora sejaum dos mais indicados para se produzir o combustível, tem preços de mercado muito elevadose estáveis o que praticamente inviabiliza o uso desse insumo na produção de biodiesel pelomenos na escala em que se pretende para o país. O pinhão manso, o nabo forrageiro e o dendê

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aparentemente estão entre os tipos de cultivos mais promissores para fomentar a cadeia dobiodiesel, mas ainda não existe escala na comercialização desses produtos. Portanto, é preciso

se investir muito em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para que se possa efetivamenteconcretizar essas potencialidades. O fato é que, hoje, a soja é a principal matéria prima quesustenta a maior parte da produção do biocombustível no país (GRANOL, 2009).

A fabricação de biodiesel tem um perfil totalmente diferente da fabricação do álcool anidroEnquanto que a produção de álcool se baseia quase que exclusivamente no cultivo da cana deaçúcar, o que se vê no panorama das minidestilarias de biodiesel é bem diferente. A literaturaoferece uma série de alternativas para o uso de diferentes insumos para a produção do biodieseque por sua vez, pode ser misturado em proporções ao óleo diesel mineral, com bons resultadofinais (Maia et al. 2009).

 Os administradores das usinas de biodiesel têm então diferentes alternativas para o usode insumos. Eles têm que avaliar continuamente qual será a melhor combinação de insumos que

lhes garanta a melhor razão custo:benefício. Uma hora é o óleo degomado de soja, outra horaé o sebo bovino ou mesmo o óleo de cozinha usado. Até outros produtos tais como o óleo devísceras de aves vem sendo usado. É pouco provável que essa situação mude e, nesse contextoo óleo de fritura usado deveria merecer uma política de governo específica para o seu fomentono Brasil.

EspécieProdutivi-

dade(Ton/ha)

Perc.De Óleo CicloDe Vida RegiõesProdutoras Tipo DeCultura

Rendi-

mento(Ton Óleo/ha)

Algodão 0,9-1,4 15 Anual MT,GO, BA Mecanizada 0,1-0,2

Amendoim 1,5-2,0 40-43 Anual SP Mecanizada 0,6-0,8

Dendê 15,0-25,0 20 Perene BA, PAM.O.

intensiva3,0-6,0

Girassol 1,5-2,0 28-48 AnualGO, MS, SP,

RS, PRMecanizada 0,5-0,9

Mamona 0,5-1,5 43-45 Anual NordesteM.O.

intensiva0,5-0,9

Pinhãomanso

2,0-12,0 50-52 PereneNordeste,

MGM.O.

intensiva1,0-6,0

Soja 2,0-3,0 17 AnualMT,PR, RS,

GO, MS, MG,SP

Mecanizada 0,2-4,0

Tab. 10.8 - Matérias primas comumente usadas para a fabricaç ão do biodiesel. O dendê e o pinhão manso possuemos maiores rendimentos expressos em toneladas de óleo por hec tare plantado. No entanto, a soja é amatéria prima mais usada na produção do biodiesel no Brasil.

Fontes: Parente (2005); Meirelles (2003).

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O biodiesel substitui total ou parcialmente o óleo diesel de petróleo em veículos (ônibus,caminhões, tratores, camionetas, automóveis, etc.), ou em motores estacionários (geradores de

eletricidade, calor, etc.).

Fig. 10.22 - Fluxograma com as principais etapas para a produção do biodiesel. Fonte: Parente, 2005, modificado por RMPC.

Separação de fases

Óleo ou gordura

Transesterificação

Desidrataçãodo álcool

Recuperaçãodo álcool (E)

Recuperaçãodo catalizador

Destilaçãoda glicerina

Purificação dosésteres

Residuo glicérico Glicerina dest ilada

Matéria prima

BIODIESEL

CatalizadorNaOH - KOH

EtanolMetanol

Reator

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O esquema acima (Fig. 10.22) é uma síntese das principais etapas que são cumpridasem uma usina de produção de biodiesel. O óleo sofre inicialmente um preparo que consistebasicamente na sua purificação (decantação, lavagem, centrifugação e filtragem). A seguir, elevai sofrer um processo de transesterificação. Esse processo consiste na remoção da glicerinados ésteres que irão formar o biocombustível. Esse processo é normalmente feito a quentecom adição de um agente catalítico que pode ser o etanol ou o metanol muito embora existamvários outros tipos de agentes catalíticos que podem ser empregados. A seguir, o óleo é obtidoatravés de um processo muito simples de separação de fases, onde a fase pesada, a glicerinaé retirada por gravidade.

A fase leve contendo óleo e etanol ou metanol é submetida a um novo processo de

separação onde o agente catalítico é recuperado para ser novamente usado no processo. A fasefinal consiste na purificação dos ésteres que irão compor o que se convencionou chamar debiodiesel.

O biodiesel é um combustível mais limpo que o diesel obtido do refino do petróleo(Tab. 10.9). Os teores de enxofre, por exemplo, um dos principais causadores da poluiçãoatmosférica, são uma ordem de grandeza inferiores no biodiesel obtido a partir do óleo defritura reciclado. Outras características distintivas importantes entre os dois combustíveis sãoos menores índices de carbono e de aromáticos do biodiesel. Embora o diesel tenha um pontoinicial de destilação muito menor, ambos os combustíveis apresentam praticamente o mesmoponto final de destilação.

O índice de cetano ou cetanagem é o equivalente para os motores a diesel ao grau deoctanagem para os motores ciclo Otto. O índice médio de cetanos é bastante aproximado paraos dois combustíveis e indica que o biodiesel queima tão bem quanto o próprio óleo diesemineral.

Apesar do valor calórico do biodiesel ser menor, as diferenças de potência e torque sãopequenas e somente são mensuráveis a partir de uma mistura superior a 30% de biodieseno óleo diesel comum. Outro ponto importante a ser considerado é que emissão de fumaça ésensivelmente menor principalmente quando o motor está em altas rotações.

As vantagens do biodiesel sobre o diesel comum podem ser sumarizadas na tabela (Tab10.10). O biodiesel, em essência, polui menos e tem um rendimento calórico muito próximo

do diesel. A cadeia do biodiesel pode gerar riquezas nos estados e municípios contribuindopara a distribuição de riquezas e diminuindo a presença dos monopólios de energia na regiãoreforçando assim a economia local.

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Tab. 10.9 - Característ icas do óleo diesel e do biodiesel obtido a part ir do óleo de fritura usado.

 Variável Óleo Diesel US – 2d Biodiesel(Óleo de Frituras)

Densidade (15ºC, Kg.m-3) 0,849 0,888

Ponto Inicial de Destilação (ºC) 189 307

10% 220 319

20% 234 328

80% 299 337

90% 317 340

Ponto Final de Destilação (ºC) 349 342

Aromáticos (%, v/v) 31,5 n.d.

Carbono (%) 86,0 77,4

Enxofre (%) 0,3 0,03

Índice de Cetano 46,1 44,6

Número de Cetano 46,2 50,8

Valor Calórico 42,30 37,50

Observação: óleo diesel com especificação to tipo US-2D. Fonte: Costa-Neto et al. (1999).

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Tab. 10.10 - Tabela comparativa descrevendo as principais vantagens do biodiesel em relação ao óleo diesel convenciona

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Características Propriedades

QuímicasTeores de enxofre são baixos.Alto número de cetanos.Boa lubricidade e fac ilmente diluível.

Ambientais

Não tóxico e biodegradável.Baixa emissão de fumaça (partículas de carbono), SOx e aromáticos.Alta sustentabilidade ambiental já que o CO2  emitido é novamentefixado nas plantações de soja e de outras plantas usadas na sua pro-dução.

Econômicas

Tecnologia disponível.Baixo investimento para instalação de miniusinas.Pode ser adicionado ao diesel em diferentes proporções.

Reforça a economia regional e alivia a presença dos monopólios deenergia na região.

RegionaisValoriza os produtos regionais.Aumenta a arrecadação de ICMS nos estados.

Cria empregos nosmunicípios.

Cria uma nova alternativa para os agricultores da região.Pode ser acoplado a programas de reciclagem de óleo de fr ituras.

Fonte: adaptado e modificado de Costa-Neto et al. (1999).

Embora seja um processo simples, a fabricação do biodiesel envolve muitas dificuldadede ordem financeira e ambiental. A energia necessária para o aquecimento, as perdas de agentcatalítico (metanol ou etanol, por exemplo) e o potencial de impacto ambiental das mini

destilarias (principalmente em termos de efluentes líquidos) são variáveis importantes e quedevem ser muito bem balanceadas em função do preço final do produto. O biodiesel somentetorna-se viável se os custos de produção forem realmente competitivos e o impacto ambientagerado possa ser efetivamente gerenciado de modo adequado.

Fig. 10.23 - Produção mundial de biodiesel (2005 – 2007) daUnião Européia, Estados Unidos e Brasil.

Fonte: SEBRAE (2007)

Biodiesel (2005-2007)

U.E.

Produção Biodiesel

   M

   i  o  m   3   /  a  n  o

0USA Brasil

1500

3000

4500

6000

7500

Países/Regiões

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Apesar de todas as dificuldades envolvidas, o Brasil já se destaca como um dos maioresprodutores mundiais dessa importante commodity  (Fig. 10.23).

Fig. 10.24 - Vendas de biodiesel no Brasil em 2006 (SEBRAE, 2007; ANP (2009)).

O ano de 2006 pode ser considerado um ano histórico para o biodiesel no Brasil (Fig.10.24). No entanto, considerando a experiência do programa brasileiro do etanol, o Pró-álcool,lançado em 1976, que somente se consolidou como uma alternativa energética factível a partirde 2001 com o advento dos automóveis “flex ”, devemos esperar ainda alguns anos para quepossamos ver, de fato, o biodiesel se firmar como uma alternativa viável.

No início do pró-álcool, muitas alternativas para a produção de álcool foram tentadas, amaioria delas sem sucesso. A Petrobrás, por exemplo, financiou uma grande destilaria de álcoolfeito a partir da mandioca em Curvelo, MG que apesar de ter funcionado, foi desmontada por serinviável sob o ponto de vista econômico. A tecnologia dos primeiros veículos movidos a álcooltambém deixava muito a desejar. Quem não se lembra o quanto era difícil dar a partida em umdos primeiros motores movidos a álcool na década de setenta, em uma manhã bem fr ia?

É interessante notar que, apesar de todas as dificuldades para que se implante de fatoa cadeia produtiva do biodiesel no Brasil, pouco se falou sobre o potencial do uso do óleo defritura usado para a produção deste biocombustível. As experiências de alguns países europeus,particularmente da Alemanha e da Áustria, mas também dos EUA, sugerem que a reciclagemde óleo de fritura doméstico pode ser uma boa alternativa para a produção de biodiesel,principalmente em programas onde a questão da sustentabilidade, dos conflitos urbanos ou dainclusão social seja uma das prioridades.

 Vendas de Biodiesel no Brasil (2006)

   R  e  a   i  s   (   R   $   )

0

Vendas

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

100.000

200.000

300.000

400.000

500.000

600.000

Meses

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   Ó   l  e  o

  s   V  e  g  e   t  a   i  s

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Tab. 10.11 - Teores de óleos e gra xas na represa da Pampulha, em amost ras de água tomadas em 12 de abril de2008. Análises realiz adas pela mestranda Ludmila Brighent i e pelo biólogo Cid Antônio Morais Jr.,Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios, ICB, UFMG.

Se considerarmos um consumo médio mensal de 300 ml de óleo de fritura por habitante eum universo de consumidores de óleo de uma grande cidade brasileira tal como o Rio de Janeiro

com seus 6,05 milhões de habitantes (IBGE, 2009), chegamos a conclusão de que o potenciaem termos de biocombustível fabricado apenas com a coleta de óleo de fritura usado não é naddesprezível . Essa cidade tem por tanto um potencial para reciclar 1,815 x 106 litros por mês de óleode fritura usado. Mesmo considerando uma perda de 20% no processo de fabricação do óleodiesel a partir do óleo de fr itura, uma frota de mais de 400 ônibus urbanos, rodando cerca de 300km.dia-1 a um consumo médio de 2,4 km.l-1 (ao consumo médio para ônibus coletivos movidocom motores Mercedes Benz, da nova geração a diesel tipo eletrônicos, segundo informações doGrupo Omnibus, Viação Nova Suíça, Belo Horizonte) estaria rodando na cidade do Rio de Janeirode modo permanente, usando apenas o biodiesel feito a partir do óleo de fritura usado.

10.9 - O potencial da reciclagem de óleo

de fritura para o meio ambienteA cidade de Belo Horizonte, por exemplo, conta com 10.000 estabelecimentos quese dividem entre bares, restaurantes e lanchonetes (ABRASEL, 2009). Se considerarmos umconsumo médio por estabelecimento de apenas 2,0 litros por dia, então o potencial de descartede óleo usado nesses estabelecimentos pode chegar a 520.000 litros.mês -1.

O óleo, por ser uma substancia hidrofóbica, exerce um grande impacto nos di ferentes tipode ambientes. No solo, ele atua como impermeabilizante dificultando a drenagem e as trocagasosas com a atmosfera. No meio aquático, ele forma uma película na superfície da água queimpede a troca gasosa com a atmosfera. Esse efeito aumenta o déficit de oxigenação das águae pode, por exemplo, causar a morte de peixes, o aumento dos gases formadores de odoresfétidos e a proliferação de vários tipos de organismos indesejáveis.

Em recente pesquisa, o laboratório de Gestão Ambiental do ICB/UFMG fez uma avaliaçãodos teores de óleos e graxas encontrados na entrada dos principais tributários na represa daPampulha (coletas realizadas em abril de 2008). Em pelo menos quatro tributários, notou-seconcentrações elevadas de óleos e graxas, com valores acima de 10,0 mg.l-1 (Tab. 10.11).

Pontos de Coletas Óleos e Graxas (mg.l-1)

Mergulhão 2,0

Tijuco 5,0

Ressaca/Sarandi 7,5Água Funda 12,5

Braúnas 20,5

AABB 18,5

Céu Azul 21,5

Barragem 22,0

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A mesma pesquisa foi realizada em um pequeno lago natural, a Lagoa Santa (população de47.200 habitantes segundo o IBGE) situado na cidade do mesmo nome na região metropolitana

de Belo Horizonte (sede do município está a 35 km de Belo Horizonte). Essa é uma pequenalagoa cárstica que já foi um importante centro de turismo de toda a região metropolitana dacapital mineira em décadas passadas (Fig. 10.25).

Fig. 10.25 - Diferentes aspectos da Lagoa Central, localizada no município de Lagoa Santa. Braço onde houve maiorconcentração de residências e condomínios (à esquerda, em cima). Região próxima ao vertedouroartific ial construído para alterar o nível da lagoa (à direita, em cima). Região da lagoa onde é mais visívelo assoreamento e também onde as concentrações de óleos e graxas foram mais elevadas (em baixo, àesquerda). A atividade de pesca é intensa e a tilápia é o peixe que é capturado em maior quantidade (àdireita, em baixo). Fotos: RMPC.

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   Ó   l  e  o

  s   V  e  g  e   t  a   i  s

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Ao longo das últimas duas décadas, a crescente degradação de suas águas afastougradualmente os turistas e acabou por criar um quadro de eutrofização acentuada do ambiente

Mudanças na drenagem da lagoa, entrada de esgotos não tratados e de sedimentos, peixamentocom espécies exóticas (tilápias) e a falta de um planejamento mais criterioso na ocupaçãohumana na bacia de captação do lago são as principais causas dessa situação. Assim como arepresa da Pampulha, são claros os indícios de contaminação com óleos e graxas em Lagoa SantaOs estudos do LGAR sugerem que há fontes pontuais de contaminação da lagoa (Fig. 10.26).

Fig. 10.26 - Teores de óleos e graxas na Lagoa Santa, MG (Brighent i, 2009).

Vários fatores podem estar influenciando a contaminação de óleos e graxas nesses doisambientes. Embora as fontes ligadas ao descarte indevido de óleo mineral seja sempre umahipótese a ser testada, é igualmente possível que os valores de óleos e graxas observados nesseambientes sejam também um reflexo do descar te indevido do óleo de fri tura na rede de esgotoou até mesmo na rede pluv ial em ambos os ambientes estudados.

Considerando a beleza cênica da lagoa central e de toda a região que inclui várias lagoasinúmeras grutas e sítios arqueológicos, bem como a relevância da área em termos históricoscientíficos e paleontológicos, a região do entorno do município foi incluída em uma unidade deconservação, a APA Carste de Lagoa Santa. Trata-se de uma unidade de conservação de usosustentável, criada através do Decreto Federal de número 98.881/1990. Apesar da criação dessunidade de conservação, pouca coisa mudou até o momento (fevereiro de 2009), o que levouo LGAR da UFMG a iniciar uma série de estudos limnológicos na região. Esses estudos já estão

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embasando um plano de recuperação do lago e de seu entorno a ser brevemente implantadopela Prefeitura Municipal de Lagoa Santa.

O descarte de óleo de cozinha junto ao lixo doméstico causa uma série de problemasambientais. Em primeiro lugar, pode haver derramamento de óleo nas vias públicas decorrentedas condições precárias de acondicionamento do lixo em sacos plásticos que quase semprese rompem antes mesmo da coleta ser efetivada (vide cap. 04). Uma vez que o óleo consigachegar ao aterro sanitário, o seu excesso pode causar um considerável atraso no processo decompostagem. Isso porque, o óleo exige enzimas especiais para a sua completa decomposição,as lípases. Essas enzimas, muitas vezes, não são sintetizadas pelos micro-organismos presentesno processo de compostagem nas quantidades necessárias para degradas todo o óleo presenteno lixo.

10.10 - A reciclagem e a mobilizaçãosocial

Um dos principais pré-requisitos de qualquer ativ idade ligada à reciclagem é a mobilizaçãode segmentos consideráveis da população no sentido de favorecer a mudança de hábitos etambém criar um terreno mais propício à atuação das pequenas empresas de reciclagem. Umadas melhores maneiras de atingir essa meta é através do uso de campanhas de educaçãoambiental. Essas campanhas devem ser formatadas de modo a atingir determinados tipos depúblico-alvo. Um bom exemplo desse tipo de ação são os projetos de reciclagem realizadoscom os alunos do ensino fundamental. Para que esse tipo de ação possa chegar aos objetivospropostos, é necessária a formulação de um bom projeto de ensino, a formação de umaequipe de tutores bem treinada, devidamente coordenada por um professor coordenador, o

comprometimento da direção da escola no sentido de possibilitar a inserção da campanha noplanejamento pedagógico e nos programas de ensino em curso no estabelecimento. Outro pontoessencial é que a campanha conte com material didático de suporte, tais comoweb-sites interativos, brochuras, cartilhas, cartazes, folders e vídeos. No caso da Recóleo®, todauma série de ferramentas didáticas está sendo desenvolvida e aperfeiçoada a partir de váriosprojetos de reciclagem envolvendo alunos do primeiro e segundo graus e ainda comunidades devoluntários em igrejas e templos especialmente em áreas carentes da periferia da grande BH. Aempresa também vem obtendo bons resultados a partir de projetos envolvendo comunidadesde catadores de lixo, associações de bairro e em grandes conjuntos habitacionais. Todas essasações são baseadas em projetos de educação ambiental, formatados dentro das diretrizes acimadescritas.

A Recóleo, juntamente com o Laboratório de Gestão Ambiental, sediado no Instituto deCiências Biológicas da UFMG, vem desenvolvendo uma série de produtos que tem por objetivocentral promover a educação ambiental e o conceito da reciclagem nas escolas de primeiro esegundo graus (Fig. 10.27). A Recóleo acredita que o sucesso de qualquer programa baseadona adoção de novos procedimentos de reciclagem doméstica (óleo de cozinha, vidros, plásticos,papel, etc) depende de uma campanha bem sucedida de educação ambiental nas escolas quepromova uma mudança de comportamento na sociedade.

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   Ó   l  e  o

  s   V  e  g  e   t  a   i  s

276

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 10.27 - Livreto sobre coleta e reciclagem de óleo de frit ura usado em diversascampanhas de educação ambiental promovidas pela Recóleo em associaçãocom o Laboratório de Gestão Ambiental, ICB, UFMG. Essa cartilha pode serobtida diretamente pela internet. Fonte: Freitas et al. (2008).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Uma série de vídeos, todos disponíveis, a partir da web site http://recoleo.com.br temsido distribuídos como material de suporte em palestras rotineiramente realizadas nas escolasdo ensino fundamental da rede pública e privada. Nesses vídeos um personagem-mascote nosensina que a reciclagem do óleo de cozinha não é uma tarefa t rivial. Afinal, é preciso contar coma ajuda de um super-herói para que a reciclagem dê cer to (Fig. 10.28).

Fig. 10.28 - Recolito, o mascote que hoje é um dos ícones dos programas de educação ambiental promovidos pelaempresa Recóleo em várias escolas da região norte de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Fonte: Freitas et al. (2008).

Olá.

Eu sou o Recolito e vou lhe

ensinar o que fazer com o óleo

que sobra das frituras.

Você vai aprender a importância

de reciclar este óleo e contribuir

com o meio ambiente.

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Ricardo Motta Pinto-CoelhoRicardo Motta Pinto-

Produção,

Consumo e Reciclagemde Água no Brasil

11.0C A P Í T U

11.1 - Introdução

11.2 - Padrões de consumo humano da água

11.3 - A Reutilização da água no ambiente doméstico

ÁGUA

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        Á     g     u     a

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11.1 - IntroduçãoA água é um recurso natural que ocupa uma posição central praticamente em todos

os aspectos da civilização humana, desde o desenvolvimento agrícola e industrial aos valoresculturais e religiosos. É um recurso natural essencial, seja como componente bioquímico de serevivos, como meio de vida de várias espécies vegetais e animais. Trata-se de um recurso queconsolida ainda mais os valores sociais, culturais e paisagísticos de qualquer grupo social alémde ser um fator estratégico para a produção de todos os alimentos e de quase todos os bens deconsumo existentes.

Cerca de setenta por cento da superfície do nosso planeta é ocupada pelas águas (GEMSWATER, 2006 e 2008). Desse total, a maior parte é ocupada pelos mares. Toda a vida na terradepende fundamentalmente da água. Os mares regulam os climas e a sua produção primária fixagrande parte do carbono nos devolvendo o oxigênio.

A Terra possui 1,38 bilhões de quilômetros cúbicos de água, mas apenas 2,61% dessetotal é devido às reservas de água doce (Tab. 11.1).

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Compartimento Volume (km3) Percentual (%)

Oceanos 1,348 x 109 92,40

Gelo 2,270 x 108 2,01

Água subterrânea 8,060 x 106 0,58

Lagos e rios 2,250 x 105 0,02

Atmosfera 1,300 x 104 0,001

Fonte: Meindarcus (1928) e Hoinkes (1968).

Os rios, lagos e reservatórios de onde a humanidade retira grande parte da água queconsome correspondem a 0,02% desse percentual. Daí a necessidade de preservação dorecursos hídricos. Em todo mundo, 10% da utilização da água vai para o abastecimento público23% para a indústria e 67% para a agricultura (Fig. 11.1)

Tab. 11.1 - Pr incipais compar timentos do ciclo da água.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

67%

23%

10%

Abastecimento Público Indústria Agricultura

Fig. 11.1 - Proporções de gastos de água dev ido às diferentes at ividades humanas.

11.2 - Padrões de consumo humano da águaA água doce utilizada pelo homem vem das represas, rios, lagos, açudes, reservas

subterrâneas e, em certos casos, ela vem do mar após ser tratada por um processo chamadodessalinização. A água para o consumo é armazenada em reservatórios de distribuição e depoisenviada para grandes tanques e caixas d’água de casas e edifícios. Após o uso, a água segue pelarede de captação de esgotos. Antes de voltar à natureza, ela deve ser novamente tratada, paraevitar a contaminação de rios e reservatórios.

Pesquisas realizadas pela Comissão Mundial de Água e de outros órgãos ambientaisinternacionais (GEMS-WATER, 2008; WICOS, 2009) afirmam que 1,6 milhões de pessoasmorrem anualmente por falta de água, 90% delas são crianças com menos de 5 anos de idadee portadoras de doenças que não existir iam se a água fosse tratada de modo adequado (ÚltimoSegundo, 2009).

As atividades humanas estão afetando drasticamente a qualidade e a disponibilidade deágua. As principais formas de impacto humano são: assoremanto, eutrofização, poluição térmica,acidificação, contaminação microbiana, salinização, contaminação com metais traços, pesticidas

e outras toxinas não metálicas e a introdução de espécies exóticas (GEMS-Water, 2008). Hoje,cerca de três bilhões de habitantes em nosso planeta estão vivendo sem o mínimo necessáriode condições sanitárias. Cerca de um bilhão de pessoas nesse planeta não tem acesso à águapotável. Em razão desses graves problemas, espalham-se diversas epidemias de doenças comodiarréia, cólera, leptospirose, esquistossomose, hepatite e febre tifóide. Por tanto, é possível preverque, muito em breve, a falta de água irá gerar conflitos e guerras entre povos e nações.

Usos da água pelo homem

Fonte: Moss & Moss (2009).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O homem, assim como a maioria dos vertebrados terrestres, necessita de água doce parasobreviver. Apenas 2,6% de toda a água do planeta encontra-se sob a forma de água doce (Tab

11.1). Os recursos hídricos são, de longe, aqueles que se encontram mais ameaçados pelasatividades do homem em todo o planeta (WICOS, 2009; GEMS-WATER, 2008). Assim comoas florestas tropicais, as águas interiores sofrem uma contínua agressão pelo homem. Alémdisso, essa agressão não se limita apenas a depauperar os mananciais. A atividade do homemalém de exaurir as nossas reservas naturais de água doce, nos devolve uma água contaminadaeutrofizada, com uma biodiversidade depauperada ou, ainda, modificada pelas introduções deespécies exóticas (GEMS-WATER, 2008).

A construção de reservatórios, ao longo dos principais rios do Brasil, pode ser vista comoum dos mais típicos exemplos de modificações de nossos recursos hídricos. A biodiversidadedos peixes nesses lagos artificiais é hoje apenas uma fração do que existia originalmente norios (Vono, 2002). Os reservatórios estão se eutrofizando rapidamente, estão se infestandode cianobactérias com cepas tóxicas para o homem e os animais domésticos inclusive o gado

Pesquisas recentes têm revelado o grande potencial desses ecossistemas artificiais em emitigases formadores do efeito estufa, particularmente o metano (Pinto-Coelho et al. 2005Fearnside, 2008).

Em várias partes do mundo, já existe um elevado comprometimento dos recursos hídricodevido às atividades do homem. Segundo a FAO (FAO, 2009), as regiões mais críticas estão nonorte da África, Ásia Central e Austrália. Embora ainda exista uma grande abundância de recursohídricos na América do Norte, essa região também se destaca pelos altos valores de consumo per capta de água (Fig. 11.2).

Fig. 11.2 - Os gastos per capta  de água pelo homem (incluindo os gastos com a agricultura, usos domésticos eindustriais) em metros cúbicos por ano e por habitante. Ano base 2001.

Fonte: FAO (2009).

ND

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

O Brasil concentra em torno de 12% da água doce do mundo disponível em rios e abrigao maior rio em extensão e volume do Planeta, o Amazonas (ISA, 2009a). Além disso, mais de

90% do território brasileiro recebe chuvas abundantes durante o ano e as condições climáticase geológicas propiciam a formação de uma extensa e densa rede de rios, com exceção doSemiárido. Essa água, no entanto, é distribuída de forma irregular, apesar da abundância emtermos gerais.

Na Amazônia, por exemplo, estão as mais baixas concentrações populacionais do Brasil. Ali,no entanto, concentram-se 78% da água super ficial existente no país. No entanto, é impor tanteter em vista que a evapotranspiração das florestas da Amazônia gera vapores de água que fluempara o sudeste do Brasil através das correntes da baixa atmosfera. Toda essa água contribui assimpara a recarga dos aqüíferos de praticamente todas as principais bacias hidrográficas do Brasil(Fearnside, 2004). Enquanto isso, no Sudeste, essa relação se inverte: a maior concentraçãopopulacional do país tem disponível 6% do total da água. E com o aumento populacional edas cidades já é notável a pressão que existe sobre os recursos hídricos nessa região do Brasil

(Fig. 11.3). O mapa da figura abaixo sugere que já é grande o comprometimento das baciashidrográficas das regiões sudeste e do sul do Brasil para fins de abastecimento público.

Fig. 11.3 - Regiões hidrográficas e uso dos recur sos hídricos do sudeste e sul do Brasil para o abastecimento doméstico.No Brasil, 82,1% da população urbana é assis tida por redes de abastecimento.

 Fonte: ANA (2009).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Na região metropolitana de São Paulo (RMSP), por exemplo, as demandas da enormepopulação dessa área são cobertas por oito sistemas produtores de água que produzem entre3,4 e 5,8 bilhões de litros de água por dia (39 a 67 m3.s -1). A RMSP importa mais da metade dágua que consome da Bacia do Rio Piracicaba, através do Sistema Cantareira que está a maisde 70 Km do centro de São Paulo e conta com seis represas interligadas por túneis. O restanteda água é produzida pelos mananciais que ainda restam na região, em especial as represaBillings, Guarapiranga e pelas cabeceiras do rio Tietê. Esses mananciais sofrem intenso processode ocupação. A despeito da lei de proteção aos mananciais estar em vigor desde 1975 (ISA2009b), a quantidade de água produzida para abastecimento na grande São Paulo está muitopróxima da disponibilidade hídrica máxima dos mananciais existentes. A pequena folga coloca região em uma situação frágil, onde um período de estiagem mais prolongado pode resultar emracionamento de água para grande parte da população. E, em pouco tempo, a região precisará demais água. Porém, novas fontes de água dependem de construção de represas, que demandamáreas para serem alagadas, tempo e recursos financeiros que são pouco acessíveis atualmente, que reforça a necessidade de preservação e uso adequado dos mananciais existentes.

É importante destacar que existem estatísticas que apontam para um desperdício de 50a 70% da água distribuída aos consumidores domésticos das grandes cidades. Na cidade deSão Paulo, por exemplo, os diversos sistemas de abastecimento de água da cidade bombeiamdiariamente pelo menos 3,4 bilhões de litros (39 m3.s -1) para os consumidores da cidade. Estimase que cerca de 30,8% do volume bombeado diariamente seja perdido ou desperdiçado nacidade (ISA, 2009c).

11.3 - A Reutilização da água no ambientedoméstico

O reaproveitamento ou reuso da água é o processo pelo qual a água, tratada ou não, éreutilizada para o mesmo ou outro fim com o objetivo de reduzir o desperdício de água tratada. Areutilização ou o reuso de água não é um conceito novo e tem sido praticada em todo o mundohá muitos anos. Entretanto, o tema ainda não é tratado com profundidade pelos atores quecomandam o cenário político-econômico-acadêmico voltado às questões ambientais no BrasiExistem relatos de sua prática na Gréc ia Antiga, com a disposição de esgotos e sua ut ilização nirrigação. No entanto, a demanda crescente por água tem feito do reuso planejado da água umtema atual e de grande importância.

 O reuso reduz a demanda sobre os mananciais de água devido à substituição da água

potável por uma água de qualidade inferior. Essa prática, atualmente muito discutida, posta emevidência e já utilizada em alguns países é baseada no conceito de substituição de mananciaisTal substituição é possível em função da qualidade requerida para um uso específico.

Águas de chuva

No Brasil, excetuando-se algumas áreas do semiárido nordestino, mais de 1,5 metros deágua caem do céu a cada ano em cada metro quadrado da superfície do país, em média. Issosignifica que em um lote convencional (algo como 360 metros quadrados) podemos recolher até

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500.000 litros de água de chuva todos os anos. Essa água não é potável e, em alguns grandescentros urbanos, como São Paulo, por exemplo, pode estar severamente contaminada por

diversos tipos de poluentes. No entanto, ainda assim, ela pode ter diversos usos. Em alguns casospoderemos mesmo reusar a água e ainda contribuir para despoluir e filtrar essa água, devolvendo-a ao meio ambiente com uma qualidade superior à da própria água da chuva. Existem diversosmétodos já consolidados para o aproveitamento da água da chuva. Em alguns países tais comoo Japão, Alemanha ou os Estados Unidos exis tem leis e normais municipais que regulamentam oseu uso e linhas de financiamento bancário que facilitam os moradores a instalarem os sistemasde captação, tratamento e distr ibuição da água da chuva nas residências.

O aproveitamento da água da chuva é indicado especialmente para o meio rural, mas podeser usado, sem maiores problemas, em chácaras, condomínios ou mesmo residências unifamiliareslocalizadas em áreas urbanas. No nordeste do Brasil, uma metodologia barata está acabando como coronelismo e a “ indústr ia da seca”: são as cisternas alimentadas com água de chuva. Essessistemas constituem-se em uma solução barata para os longos períodos de estiagem, oferecendo

ao consumidor rural e mesmo aqueles de pequenas vilas e cidades uma água barata e de boaqualidade que pode ser usada para todas as necessidades domésticas. Ela pode até mesmo serusada para beber, após uma cloração e filtração de rotina. Existem cloradores especialmentedesenvolvidos pela Embrapa (EMBRAPA, 2009) ou clorador tipo Venturi automático que sãolargamente usados.

Nos últimos três anos, o Brasil conseguiu construir mais de 100 mil cisternas, capazes dearmazenar cerca de 1,5 bilhão de litros de água, na região em que ela mais faz falta, o semiáridobrasileiro. A idéia é simples: coletar a água da chuva depois que cai nos telhados e armazená-laem grandes caixas de água feitas de cimento para usar no período da seca (Fig. 11.4). A metados brasileiros envolvidos nesse projeto é construir 1 milhão de cisternas até o ano de 2010(Montoia, 2009).

Fig. 11.4 - Cisterna com captação de água: uma solução vitoriosa contra o coronelismo e a “indústria da seca” nonordeste do Brasil. Uma das práticas mais comuns do coronelismo nordestino é a cobrança pela água muitas vezesdistribuída em caminhões pipa adquiridos com dinheiro público ou provenientes de poços financiados por programasde governo. Fonte: RMPC (original).

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A água de chuva também pode ser utilizada também para irrigação paisagística emparques, condomínios, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de autoestradas, camp

universitários, cinturões verdes, gramados residenciais. Ela também pode ser usada para airrigação de campos para cultivos.

Á água de chuva pode ainda ter usos industriais na refrigeração, alimentação de caldeiraságua de processamento. Outros usos urbanos seriam: combate ao fogo, descarga de vasossanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas e pontos deônibus, etc.

 Existem modos muito simples para se aproveitar a água que se desperdiça regularment

em todo domicílio: no chuveiro, é comum que as pessoas deixem a água escorrer até que atemperatura da água seja ideal. Uma opção seria já na construção instalar um registro de retornoda água ou simplesmente adotar o hábito de colocar um balde no chuveiro, coletando a água de

modo que não seja desperdiçada. Essa água pode ser usada para cozinhar, regar o jardim, etc.O reaproveitamento eficiente da água da chuva não tem mistérios, mas são necessários

alguns pequenos cuidados que tornam os sistemas mais seguros e de fácil manutenção. A seguifornecemos algumas orientações a serem seguidos na montagem do sistema de reaproveitamentoda água (Aquastock, 2009):

1) Dimensionamento do SistemaO primeiro passo para o reaproveitamento eficiente da água da chuva é o dimensionamento

do sistema ideal para cada caso, a partir das necessidades e objetivos do usuário, da área decaptação e das características da construção. A definição do tamanho e localização do reservatórioé particularmente importante, pois este é o item mais oneroso do projeto e sua especificaçãocorreta pode representar uma importante economia.

2) Modelo do SistemaO segundo passo é definir o modelo do sistema de reciclagem, que pode ser feito de

várias formas diferentes, dependendo da empresa contratada (Fig. 11.5). Eles podem variadesde linhas que utilizam cisternas e filtros subterrâneos e apresentam soluções mais completade reciclagem de água de chuva, às linhas mais simples, que utilizam filtros de descida e caixad’água acima do nível do solo.

 

Fig. 11.5 - Sistema de coleta, tratamento e distrbuição de água de chuvpara residências. A águda chuva após ser filtrad(filtros de descida, cloração e filtro flutuantepode ser usada para irrgação do jardim, descargde WC, lavagem de roupe do carro.Fonte: RMPC (original).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

3) Fornecimento de ComponentesCom base no dimensionamento e na definição dos objetivos e carac terísticas do sistema a

ser implantado, o fornecedor especifica, integra e fornece os diversos componentes necessários.O principal componente a ser especificado nesta etapa será o filtro por onde a água passará antesde ir para o reservatório (Fig. 11.6).

Fig. 11.6 - Um dos principais componentes do sistema de coleta de água de chuva são os filtros de descida (esq.) quefuncionam por gravidade, sem gasto de energia. Esse tipo de filtro é capaz de retirar folhas, galhos e detritosmaiores do que 0,3 mm da água antes que ela chegue ao reservatório. Os filtros de subida (dir.) são usadosno momento que se vai usar a água armazenada. Eles ficam flutuando dentro do reservatório e são acopla-dos à uma mangueira que dá acesso a bomba elétrica de sucção da água. Fonte: Aquastock (2009).

4) Instalação do SistemaNormalmente, esses sistemas usam a rede de calhas coletoras de água de chuva que

chega ao telhado das residências. Antes de chegar ao reservatório, a água passa por um filtrode descida. A água fica então armazenada. Antes de voltar a circular, água sofre uma segundafiltração (filt ro flutuante) (Fig. 11.6). Dependendo da região onde forem instalados os sistemas,outras adaptações serão necessárias tanto no telhado, bem como cortes seletivos na vegetaçãodo entorno.

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Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

O aproveitamento das águas domésticas pode ir mais longe ainda. Uma outra alternativconsiste em tratar a água dos esgotos e novamente usá-la em atividades tais como irrigação d

 jardim, lavagem de car ro e passeios. Já existem sistemas completos de tratamento da água desgoto de residências. Esse tipo de sistema, no entanto, além de exigir altos custos para a suainstalação requer uma série de ações de manutenção (Fig. 11.7).

Fig. 11.7 - Sistema completo de tratamento de esgotos domésticos. Esse sistema é composto de um filtro prelimina(caixa gradeada), uma ou duas caixas de gordura, uma fossa séptica, um filtro biológico anaeróbico, umcaixa para cloração e um reservatório final. Original: RMPC.

Um outro método de reuso de água para residências é desviar a água do ralo do chuveiropara um reservatório passando por f iltros e tratamentos para depois reutilizar essa água nos vasosanitários. Uma estimativa da viabilidade econômica desse projeto e também a real economiade água obtida com esse sistema foi objeto de um artigo recentemente publicado por Mota eal. (2008). O projeto consiste de um reservatório subterrâneo destinado a receber a água dochuveiro equipado com uma peneira com sistema de filtro de areia para retirar a sujeira da águauma bomba centrifuga de água de ¼CV, bivolt que eleva a água para o reservatório superior eeste por sua vez interligado ao vaso sanitário (F ig. 11.8). O custo de implantação desse sistemseria de R$ 1.200,00 (a preços de 2008) e o tempo de retorno do investimento, medido emdiminuição de gastos na conta de água seria em torno de 50 meses. O sistema possibilitaria umeconomia mensal da ordem de 50 metros cúbicos de água.

O reuso e conservação da água doce são hoje palavras-chaves da gestão dos recursohídricos em todo o mundo. Contudo, a prática de reuso de água ainda espera ser institucionalizade integrada aos planos de proteção e desenvolvimento de bacias hidrográficas no Brasil. Éimportante destacar que nenhuma agência reguladora ou fornecedora de água no Brasil orientaou incentiva as atividades de reuso da água no ambiente doméstico. Cada um de nós podeadotar uma série de pequenas atitudes em nossa vida cotidiana que podem levar a uma grandeeconomia de água (Tab. 11.2).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Fig. 11.8 - Sistema de reaproveitamento da água do chuveiro para uso em sistemas de descarga de privadas em umbanheiro doméstico. Original: RMPC.

Atividades

Conserte as torneiras que costumam ficar pingando.

Feche a torneira ao ensaboar as louças.

Não escove os dentes com a torneira aberta.

Diminua o tempo do seu banho.

Não use água para limpar a calçada.

Reaproveite toda a água que puder.

Procure ter o conhecimento preciso dos gastos com água em seu condomínio e os comparecom os seus próprios gastos.

Em condomínios, insista com o síndico para a implantação dos medidores individuais de con-sumo de água.

Imagine uma maneira de aproveitar a água de chuva para ser usada na lavagem do carro ouna irrigação do jardim em sua residência.

Implante um sistema de aproveitamento de água de chuva em sua residência.

Tab. 11.2 - Lista de pequenas e grandes ati tudes na vida cotidiana e outros planos de médio e longo prazo que podemlevar a uma grande economia no uso da água nas residências e condomínios.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

A Reciclagem

de Materiais naConstrução Civilno Brasil

12.0C A P Í T U

12.1 - Introdução

12.2 - Problemas ambientais na construção civil12.3 - Padrões internacionais de controle ambiental

na construção civil

12.4 - Programas de ação

CONSTRUÇÃO CIVIL

Ricardo Motta Pinto-

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   C  o  n  s   t  r  u  ç   ã  o   C   i  v   i   l

292

12.1 - Introdução

Construção civil é um conceito que engloba obras voltadas a construção de casasedifícios, pontes, barragens, fundações, estradas ou aeroportos. Nesses empreendimentosparticipam arquitetos e engenheiros civis e outros profissionais juntamente com técnicos deoutras disciplinas, grande número de mestres em alvenaria (pedreiros), marcenaria, pintura einstalações hidráulicas (bombeiros) e elétricas (eletricistas). Uma das principais características dosetor, é o emprego de uma vasta quantidade de trabalhadores pouco qualificados que irão atuacomo serventes, os peões (Tab. 12.1).

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Tab. 12.1 - Principais categorias profissionais (nível primário e secundário) atuantes na cons trução civ il no Brasil e osníveis salarias em janeiro de 2009, segundo o IBGE. (Valores em hora de trabalho).

Categorias Profissionais

 Valores em Reais (R$ )

São Paulo Rio deJaneiro MinasGerais Paraná Rio Grandedo Sul

Armador 3,87 4,10 3,54 3,16 3,82

Bombeiro hidráulico 4,38 4,41 3,54 3,16 3,82

Carpinteiro de esquadrias 4,20 4,41 3,54 3,16 3,82

Carpinteiro de formas 3,87 4,10 3,54 3,16 3,82

Eletricista 4,20 4,41 3,54 3,35 3,82

Ladrilheiro 4,20 4,41 3,54 3,58 4,87

Mestre 14,56 9,86 11,85 7,59 8,51

Pedreiro 3,87 4,10 3,54 3,16 3,82

Pintor 3,87 4,10 3,54 3,16 3,82Servente 3,25 2,98 2,28 2,15 2,73

Fonte: IBGE (2009).

Os termos construção civil e engenharia civil são originados de uma época em que sóexistiam apenas duas classificações para a engenharia sendo elas civil e militar. Com o tempoa engenharia civil, que englobava todas as outras áreas, foi se dividindo e hoje conhecemosvárias divisões: elétrica, mecânica, química, naval. Exemplos como engenharia naval dão origema construção naval, mas ambas eram agrupadas apenas na grande área da Engenharia Civil.

No Brasil, a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) regulamenta as normas e o

CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) fiscaliza o exercício da profissãoe a responsabilidade civil dos engenheiros e arquitetos. Toda obra de construção civil deve sepreviamente aprovada pelos orgãos municipais competentes, e sua execução acompanhada poengenheiros ou arquitetos registrados no CREA de seus respectivos estados.

A base legal para o gerenciamento dos resíduos das obras de construção civ il está previstano Estatuto das Cidades que é o que dispõe a Lei Federal Nº 10.257 de 10/06/2001. Essa ledetermina novas e importantes diretrizes para o desenvolvimento sustentado dos aglomerado

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

urbanos. Uma das políticas setoriais prev istas nesse instrumento é aquela que trata da gestãodos resíduos sólidos urbanos. A recente aprovação da resolução N° 307, de 05/07/02, pelo

conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA obriga todos os municípios e o Distrito Federala implantação de planos integrados de gerenciamento de resíduos da construção civil (MMA,2009).

12.2 - Problemas ambientais naconstrução civil

A reciclagem dos resíduos da construção e demolição já vem sendo feita desde ostempos remotos da antiguidade (John & Agopyan, 2003). Ela se desenvolveu muito no períodopós-guerra (1939-1945), principalmente nos países mais afetados pelo conflito tais como aAlemanha, Holanda, Itália e Japão (Tab. 12.2) . No Brasil, já existem alguns centros de pesquisas

em universidades muito ativos no estudo do aproveitamento dos resíduos de const rução, comopor exemplo, o Departamento de Engenharia da Escola Politécnica da USP em São Paulo (John& Agopyan, 2003). No entanto, são ainda comuns nas cidades brasileiras cenas como a daFig. 12.1 que sugerem ainda um atraso na gestão dos resíduos da construção civil.

Fig. 12.1 - Construção de um prédio apartamento dentro do programa de urbanização da Vila São José, financiadopelo Governo Federal. A construção está localizada no início da Avenida Tancredo Neves, zona norte deBelo Horizonte, MG. Uma cena comum nos canteiros de construção em toda a c idade de Belo Horizonteé o descaso a princípios básicos de gestão de residuos sólidos e uso de lotes vagos e terrenos baldios aolado da obra para o armazenamento mesmo que temporário de entulhos. Foto: RMPC.

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Alguns municípios brasileiros já fazem a reciclagem dos entulhos. E não se trata de umaquantidade desprezível, já que o total de entulho produzido em uma cidade de grande porte

pode chegar a 70% da massa total de resíduos sólidos (Pinto,1999). As estimativas para aprodução de entulhos variam muito entre os diferentes países.

Numa amostra com países europeus, norte-americanos e asiáticos, esse valor oscilouentre 100 e 3000 kg.hab.ano-1 (Tab. 12.2). A produção de entulho varia bastante no Brasil. Emum estudo englobando a produção de entulho em oito cidades de porte médio e grande doBrasil, Pinto (1999) encontrou valores oscilando entre 230 e 760 kg.hab-1.ano-1, com um valomédio de 510 kg.hab -1.ano-1.

País 106 ton.ano-1 Kg.habitante-1

Alemanha 79,0 – 300,0 963 - 3658

Holanda 12,8 - 20,2 820 - 1300

Japão 99,0 785

Itália 35,0 – 40,0 600 - 690

EUA 136,0 - 171,0 463 - 584

Dinamarca 2,3 - 10,7 440 - 210

Portugal 3,2 325

Brasil n.d. 230 - 760

Suécia 1,2 - 6,0 136 - 680

Tab. 12.2 - Produção de entulho provenitente de const rução civil em alguns países europeus , Japão e EUA,comparada a do Brasil.

Fonte: John & Agopyan (2003).

Embora os resíduos de construção e de demolição sejam considerados como inertes pelaNBR 10004, muitas vezes, verifica-se que essa condição não é confirmada após uma análise maidetalhada do material tido como “entulho”. A presença de material orgânico tais como madeirasplásticos, papéis, solventes, tintas, óxidos de metais e de umidade em teores muito variáveis podemudar drasticamente o caráter inerte desses resíduos.

O descarte indevido de entuhos é um problema comum na maioria das cidades brasileirasA reciclagem de materiais originários da construção civil normalmente está inserida nos programade coleta seletiva de materiais que, no caso específico do Brasil, está sob a responsabilidade daprefeituras. Pinto (1999) estima que os custos para a remoção desse material podem chegar a US$15,0 por tonelada de entulho removida das vias e outras áreas públicas.

Uma das iniciativas pioneiras no Brasil foi o estabelecimento de um programa de coleta seletivana gestão da prefeita Luíza Erundina em São Paulo (1989-1992). A prefeita chegou a inaugurar umaestação de reciclagem de entulhos com capacidade para processar 1800 toneladas por dia localizadno aterro de Itatinga (Jacobi & Viveiros, 2006). Esse programa, no entanto, foi sendo gradualmentabandonado nas administrações subsequentes devido a uma série de problemas admninistrativoinerentes ao sistema adotado nessa cidade. Deve-se também considerar a difícil convivência entre ocartel de empreiteiras que controlam o sistema de limpeza pública e coleta de lixo e os programade coleta seletiva nas cidades onde ambos sistemas coexistem (vide cap 02).

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Velocidade de vendas

A prefeitura de Belo Horizonte, através da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU,2009) vem mantendo, com sucesso, um programa de coleta seletiva de entulho. As unidadesde recebimento de pequenos volumes (URPV) estão aparelhadas para receberem entulhos deobras até o limite diário de 2,0 m3.dia-1.obra-1. O material é recebido gratuitamente. O entulhoé, em seguida, encaminhado para estações de reciclagem de entulho, onde grande parte dessematerial será reciclado em um tipo de agregado reciclado que poderá ser então reintroduzidona cadeia da construção civil (SLU, 2009). No entanto, apesar dessa iniciativa da PBH, é fácilconstatar que existe ainda um longo caminho a percorrer na reciclagem de entulhos da capitalmineira e, provavelmente, na grande maioria das cidades do Brasil.

Na foto acima (Fig. 12.1), pode-se perceber o grande acúmulo de entulho em área anexaà construção. O descuido no trato desse tipo de material que, em geral, é caracterizado pela altaconcentração de par tículas finas pode causar, dentre outras coisas, um aumento da emissão depoeira nos meses de seca e um carreamento de sólidos em suspensão nas enxurradas duranteas chuvas o que sobrecarrega a rede pluvial tendo como consequência a ocorrência de enchentes

e o asosreamento de corpos de água na bacia hidrográfica em questão.A atividade da construção civil sempre foi um dos “motores” da economia brasileira. No

gráfico abaixo, pode-se ver o ritmo de oferta, vendas, lançamentos imobiliários e velocidadede vendas de imóveis na cidade de Belo Horizonte no período 1996-2008. Pode-se observar,inicialmente, que o mercado dessa cidade vem sendo caracterizado por uma constante quedana oferta de imóveis. Essa queda na oferta vem sendo contrabalançada por intensos aumentosnos lançamentos de imóveis novos e nas vendas. É interesante notar que a velocidade média devenda de um imóvel na cidade mais do que dobrou de 2006 para 2008. Isso revela um mercadoaquecido e que apresenta uma grande demanda reprimida. Podemos esperar um aumentoconsiderável na atividade de contrução de moradias em Belo Horizonte nos próximos anos. Acrise econômica parece ainda não ter atingido o setor que tem se destacado na cidade pelogrande incremento na oferta de imóveis voltados à classe média baixa (Fig. 12.2).

Fig. 12.2 - Oferta, vendas, lançamentos e velocidade de vendas no mercado imobiliário de Belo Horizonte, no período1996-2008 (dados consolidados até outubro de 2008). Fonte: IPEAD/UFMG e SINDUSCOM-MG.

Construção civil em Belo Horizonte (1996-2008)

1994

   V  e   l  o  c   i   d  a   d  e   d  e  v  e  n   d  a  s   (   %   )

1996 1998 1999 2000 2001 2006 2008 2010

   O   f  e  r   t  a  s

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

50000

0

10

20

30

40

50

2000

4000

6000

8000

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

   V  e  n   d  a  s

   L  a  n  ç  a  m  e  n   t  o  s

Unidades vendidas

Ano

Unidades lançadas Unidades ofertadas

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A intensificação do ritmo da construção de moradias na cidade de Belo Horizonte irácausar uma intensificação dos problemas ambientais associados a atividade de construção civi

nessa cidade. É possível que cenários semelhantes se repitam para outras cidades brasileiras.Nos meses de janeiro e fevereiro de 2009, o Laboratório de Gestão Ambiental, ICB, UFMG

realizou uma pesquisa em dezenas de canteiros de obras em vários es tágios situados na regiãonorte de Belo Horizonte. Os bairros visitados foram: Castelo, Ouro Preto, Santa Terezinha eBandeirantes. A pesquisa revelou claramente que há uma necessidade urgente para que aautoridades ambientais do município direcionem uma maior atenção à questão ambiental juntoaos canteiros e obras de engenharia na região estudada. Constatou-se, inicialmente, que osoperários não tinham qualquer tipo de qualificação que pudesse ser comprovada em relação amedidas que deveriam se tomadas no tocante a proteção do meio ambiente e muito menos naquestão de gerenciamento de resíduos.

O bairro do Castelo, está localizado na região norte do município de Belo Horizonte. A

região apresenta uma notável taxa de novos lançamentos imobiliários e prédios de apartamentosem construção. A seguir, passamos a considerar algumas das mazelas frequentemente observadanos canteiros visitados. (Fig. 12.3).

Fig. 12.3 - Problemas ambientais associados à construção civil em obras localizadas no bairro Castelo, região da bacia doreservatório da Pampulha, Belo Horizonte, MG. Na parte superior, à esquerda, vê-se uma série de materiais agranel necessários para a obra sem nenhuma contenção contra as águas das chuvas; na foto superior, à direitacaçambas usadas para o recolhimento de “entulho” contendo vários ítens que poderiam estar sendo recicladocom grande facilidade; na foto inferior, uma terraplanagem recente feita sem considerar o impacto da água dchuva. Na foto inferior, à direita, o nítido transporte de areia em direção à rede pluvial. Fotos: RMPC.

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Em primeiro lugar, é muito frequente depararmos com cenas de terraplanagem onde nãoforam tomadas quaisquer medidas para a contenção da erosão superficial. O resultado que se

vê é o imediato transpor te de grande quantidade de sedimentos para a rede pluvial situada logoabaixo da obra. Belo Horizonte é uma cidade cheia de pequenos morros e muitas obras estãoem ruas íngremes onde o transpor te de sólidos via drenagem na época das chuvas é ainda maisgrave. O resultado desse descaso pode ser visto na foto da Fig. 12.4.

Fig. 12.4 - Assoreamento da represa da Pampulha que é uma das principais causas da degradação ambiental desse cartãopostal da cidade. A atividade de construção de pequenos prédios de apartamentos e residências usandotécnicas primitivas de gerenciamento de resíduos sólidos certamente foi uma das principais causas dessequadro desolador. A Prefeitura de Belo Horizonte fica então obrigada a ordenar obras muito dispendiosasvisando a dragagem do lago.

 Foto: SUDECAP 

Em segundo lugar, são poucas as obras que realmente se preocupam com a disposição

dos materiais que são entregues na obra, principalmente a areia, brita, pedras e madeiras.Muitas vezes, vários metros cúbicos de areia e br ita são dispostos sem qualquer proteção contraas fortes chuvas o que também causa uma enorme pressão sobre a rede pluvial da cidade(Fig. 12.3).

Em terceiro lugar, há sinais de que o sistema de coleta seletiva de resíduos sólidos geradosnas obras não está funcionando. As caçambas de entulho são muito usadas, mas recebemliteralmente de tudo, inclusive os entulhos (Fig. 12.3). Não foi constatada nenhuma obra com coleta

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seletiva de materiais. Não pudemos localizar nenhuma obra com um sistema de aproveitamentoda água de chuva ou ainda algum empreendimento que use sistemas alternativos de energia ta

como o aquecimento solar para uso do pessoal da obra. Em várias obras, foi possível identif icao uso do fogo para a queima de li xo incluindo certos t ipos de materiais cuja queima pode geraprodutos tóxicos, tais como plásticos, amianto, PVC, etc.

O caso acima assinalado em relação a represa da Pampulha merece uma análise maisdetalhada. O Laboratório de Gestão de Reservatórios do setor de Ecologia, da UFMG- LGAR temrealizado uma série de estudos sobre a hidrobiologia e ecologia da represa da Pampulha. Um doestudos mais importantes desse grupo foi uma pesquisa de longa duração que acompanhou, poquase 10 anos, a evolução do estado trófico do reservatório (Pinto-Coelho, 1998). Esse e outroestudos realizados pelo LGAR demonstraram a importância de informações atualizadas sobre abatimetria dos reservatórios. Foi exatamente isso que a dissertação do mestrando Rafael Resckobjetivou. O levantamento realizado nesse trabalho possibilitou identificar e quantificar comgrande precisão o avanço do assoreamento no reservatório bem como quais os tributários eram

os maiores contribuintes desse aporte de sedimentos (Fig. 12.5). Hoje, o reservatório apresentadois compartimentos bem claros sendo que a zona rasa do reservatório está constantementeameaçada pela entrada de sedimentos na represa.

Dos quase 300 hectares de área inundada, restam, hoje, apenas 196,8 hectares. Aprofundidade média está por volta de 5,08 metros enquanto que na região da barragem elaainda chega a 16,1 metros. O volume inicial de água acumulada da represa que era por volta de18 x 106 m3 hoje é de apenas 10 x 106 de metros cúbicos (Resck, 2008).

Fig. 12.5 - Estudo batimétrico da represa Pampulha realizado em 2007 e que ilusto avanço do assoreamento no reservatrio (Resck   et al ., 2008). O estudo avalioainda as obras de dragagem recentemenrealizadas pela Prefeitura de Belo Horizote e elenca uma série de medidas a seretomadas para a reversão do quadro.

Batimetriaem visão 3D

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O estudo realizado na represa da Pampulha revela a importância de um maiorcomprometimento da cadeia produtiva da construção civil na questão ambiental seja na cidade de

Belo Horizonte. A publicação da análise do ciclo de vida do reservatório, com o cálculo do passivoambiental ali existente expresso em valores atualizados na base monetária cor rente, poderia serum forte argumento no sentido a convencer os atores da cadeia produtiva da construção civila melhorarem significativamente a gestão ambiental e ecológica de seus empreendimentos nacidade.

Há sinais de desperdício ou uso inadequado de materiais na maioria das obras, especialmentea madeira (Fig. 12.6) o que, além de contribuir para o aumento dos custos finais de produção doimóvel ainda contribui para o aumento do lixo a ser coletado pelo sistema tradicional de coleta delixo urbano. Esses sinais são mais evidentes principalmente com a madeira, mas também podemser vistos com tijolos, ladrilhos e lajotas, PVC além de diversos outros itens de acabamento. Omau estado de conservação de gruas e betoneiras certamente também deve contribuir para oaumento dos gastos com energia elétrica.

Fig. 12.6 - Sobras de madeiras, um item usado intensivamente pr incipalmente para o escoramento de vigas e formasde concreto em obras localizadas no bairro Castelo, região nor te de Belo Horizonte. O uso de lotes vagos,anexos às obras, para a deposição de todo tipo de entulho é uma prática comum. Fotos tomadas emfevereiro de 2009. Fotos: RMPC.

É interessante notar que essa situação contrasta com as orientações das associaçõesde classes envolvidas na questão da construção civil em Belo Horizonte já que elas contémorientações nesse sentido (ex: CREA-MG, 2009). Assim, pode-se concluir que são ainda muitobaixos os níveis de comprometimento dos principais atores dessa cadeia produtiva, pelo menosna região norte da c idade de Belo Horizonte (fevereiro de 2009).

Obviamente, os fatos aqui apresentadas não constituem-se em uma amostra representativaque possa ser generalizável a outras partes cidade de Belo Horizonte e obviamente ainda menospara o Brasil como um todo. Os dados acima apresentados indicam, no entanto, que a questãodo assoreamento na represa da Pampulha em Belo Horizonte pode estar associada às mazelas

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A reciclagem de entulho é uma atividade que pode ser facilmente implementada pelainiciativa privada já que as experiências em Belo Horizonte sugerem que os investimentos serão

pagos em apenas três anos de operação da usina. John & Agopyan (2003) estimam que onegócio potencial de coleta e reciclagem de resíduos da construção civil para cidade de SãoPaulo (SP) pode chegar a R$ 101 milhões mensais.

O método inicia-se com a inspeção v isual e triagem do entulho. Normalmente, as empresasaceitam o entulho quando os outros materiais não ultrapassam 10% do volume total do materiala ser entregue. Uma vez estando o entulho dentro dessas especificações, é feita uma triageminicial que visa separar a matéria orgânica, os plásticos e os papéis. Numa segunda, etapa é feitaa separação dos metais. Os materiais separados e retirados do entulho são enviados para outrasempresas de reciclagem.

A seguir, o entulho passa por uma série de britadores e separadores. Ao final, são geradosareia e dois tipos de britas que podem ter uma infinidade de novas aplicações (Fig. 12.8). O

material cerâmico e outros elementos inadequados para a reciclagem são enviados para umaterro sanitário. Todo o processo é mecânico e não gera nenhum tipo de efluente líquido. Oprincipal impacto é a geração de poeira que deve ser monitorada e estar de acordo com normasespecíficas da ABNT para esse tipo de atividade. A figura abaixo (Fig. 12.8) ilustra uma daspossibilidades de aplicação do material reciclado dos entulhos.

Fig. 12.8 - Blocos manufaturados com material reciclado do entulho originado na construção civil no município deBelo Horizonte. Foto: RMPC.

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302

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

12.3 - Padrões internacionais de controle

ambiental na construção civilA Suíça é um pequeno país europeu, de relevo bastante acidentado e com uma enorme

densidade populacional. Além de ser um importante centro turístico, industrial e de negócios, aSuíça é um país abençoado se considerarmos a exuberância dos recursos naturais de que dispõeparticularmente se olharmos para os seus recursos hídricos. O país conta com lagos fascinantetais como o Genfersee,  Zurichsee  ou o Bodensee. É na Suíça que nasce um dos rios mai

Tab. 12.3 - Principais impactos ambientais espe rados com o aumento da atividade de construç ão civil na cidade deBelo Horizonte.

Deve ser observado, no entanto, que a reciclagem do entulho não soluciona totalmentea questão da gestão dos resíduos sólidos nas construções. Muitos outros problemas aguardam

soluções adequadas (Tab. 12.3).

Impacto Ambiental

Carreamento de sólidos para a rede pluvial e esgotos da cidade com possibilidade de causar oaumento nas taxas de assoreamento da lagoa da pampulha.

Aumento dos conflitos entre moradores causados pela disposição inadequada de entulhos erestos de construção nas vias públicas.

Aumento dos níveis de poluição sonora.

Aumento dos riscos de acidentes de t ráfego nas imediações das obras.

Aumento nos níveis de emissão de CO2, NOx e partículas finas oriundos de maquinário deterraplanagem, compactação, betoneiras, bombas e geradores movidos à diesel usados emobras.

Aumento dos casos de infestações de pragas tais como insetos, baratas e ratos associados aoexcesso de lixo e entulho nas obras.

Aumento dos casos de dengue e de outras doenças associadas ao acúmulo de lixo, entulho ede água parada nas construções.

Poluição visual causada pelos canteiros de obras com má gestão de resíduos sólidos e líqui-

dos.

Aumento da temperatura média na cidade associada aos maiores índice de ver ticalização urba-na com o conseqüente aparecimento das “ilhas” de calor.

Aumento dos problemas de tráfego causados pelo aumento da densidade populacional nacidade.

Aumento nos índices de criminalidade associados ao aumento da migração populacional.

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importantes para a Europa: o rio Reno (Der Rhein). A qualidade geral das águas da Suíça estámelhorando (ao invés de piorar) ao longo das últimas décadas. Um exemplo dessas melhoras

pode ser visto no programa internacional visando a recuperação do Bodensee, um dos maioreslagos europeus, localizados nas fronteiras da Alemanha, Suíça e Áustria (Pinto-Coelho, 1991).Os suíços já reconheceram, há bastante tempo, os diversos problemas ambientais associados àconstrução civil: erosão, assoreamento, poluição da água, solo e do ar, poluição sonora, dentreoutros impactos (Stämpfli, 2004). Por tanto, podemos esperar a regulamentação ambiental dessepaís seja muito eficaz.

A construção c ivil, na Suíça, está submetida a uma normatização de procedimentos para afiscalização ambiental de obras de construção civil que pode ser um modelo a ser consideradopor outros países (AWEL, 2009a; AWEL, 2009b; AWEL, 2009c; AWEL, 2009d). Não se tratade um modelo necessariamente muito rigoroso. As exigências ambientais são flexibilizadas emfunção do volume dos investimentos totais realizados pelo empreiteiro, da área total construídae, principalmente, pela relevância ambiental da área onde se encontra a obra. As áreas mais

relevantes são aquelas localizadas em bacias hidrográficas usadas como mananciais deabastecimento público, áreas de amortecimento de reservas ambientais ou na zona de influênciade lagos e reservatórios, por exemplo (Fig. 12.9).

Fig. 12.9 - Classificação das obras em vigor no Cantão de Berna na Suiça. As classes das obras são definidas em funçãodo valor total da obra, da área construída e do grau de relevânc ia ambiental da região onde se localiza a obra.Dependendo da classe, há variações nas exigências ambientais bem como no número de visitas dos fiscaisambientais que serão necessárias durante as três fases do empreendimento (planejamento, aprovação econstrução). As obras mais caras e com maiores áreas construídas e que localizam em áreas de granderelevância ambiental são aquelas que irão receber mais atenção da fiscalização.

Fonte: AWEL (2009c).

Classificação das Obras - Controle Ambiental

Classe II

Classe I

Classe III

Tempo

Pouca relevância

Grau de relevância

Grau de relevância ambiental +

Grau de relevância ambiental ++

Classe II < 20 milhões de francossuíços

Classe II > 20 milhões de francossuíços

Classe III < 3000 m2

   P   l  a  n  e   j   a  m  e  n   t  o

   A  p  r  o  v  a  ç   ã  o

   C  o  n  s   t  r  u  ç   ã  o

   C  o  n   t  r  o   l  e   f   i  n  a   l

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304

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A indústria suíça fornece máquinas e equipamentos para a construção c ivil especificamenteestudados e com um design ecológico que minimiza o impacto ambiental do equipamento

sem, contudo, diminuir a eficácia de suas funções elementares (Stämpfli, 2006). Abaixo, temoum bom exemplo do uso mini contâineres para o armazenamento de granéis em construçõestais como a areia e a brita. Essas estruturas, de fácil construção e manuseio podem evitao carreamento de sólidos para os rios e lagos, contribuindo para a melhoria das condiçõeambientais nas construções (Fig. 12.10).

Além de normas definidas (e flexíveis) de controle de qualidade ambiental nas obrasexistem na Suíça vários programas de capacitação de todos os agentes da construção civil. Esseprogramas incluem, por exemplo, visitas programadas dos empreiteiros e membros dos corposdirigentes das indústrias ligadas à construção civil aos institutos de Limnologia e de EcologiaAplicada (a Limnologia é a ciência que trata da hidrobiologia e do estudo da ecologia dos rios elagos) das Universidades. Existe uma série de cursos de atualização em Fundamentos de EcologiaLimnologia e Ecodesenvolvimento voltada para engenheiros e arquitetos. Uma terceira linha de

cursos e programas de capacitação técnica na área ambiental está voltada para os operáriosmenos qualificados da cadeia da construção civil. Como na Suíça existem muitos imigrantesmuitas vezes esses minicursos são dados nas línguas dos países de or igem dos trabalhadores.

Fig. 12.10 - Mini containers usados para o armazenamento de granéis (areia, brita, etc .) em canteiros de obras.O uso dessas estruturas simples pode impedir o transporte de sólidos para a rede pluvial e para omananciais que drenam a obra .

Fonte: Stämpfli (2006)

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Uma série de variáveis ambientais são constantemente monitoradas nos canteiros de obras.Dentre elas, os parâmetros mais importantes a serem observados estão o grau de emissão de

partículas em suspensão no ar, grau de contaminação do lençol freático e de impermeabilizaçãodo solo, a poluição sonora, a coleta seletiva de materiais, o gerenciamento de óleos e combustíveise a drenagem de água pluvial. A figura abaixo contém reproduções de avisos que são afixadosem locais estratégicos nas obras e que visam a lembrar os operários dos principais pontos decontrole ambiental a serem levados em consideração (Fig. 12.11).

Fig. 12.11 - Avisos colocados nas obras no Cantão de Berna, Suíça, alertando e orientando os funcionários da obra paraa redução da emissão de ruídos (em cima, à esquerda); para aderirem ao programa de coleta selet iva demateriais dentro da obra (em cima, à direita); para não derramarem óleo ou combustível no solo e, nocaso de haver algum derramamento, chamar a polícia ou o corpo de bombeiros (em baixo, à direita) e paraobservarem as boas práticas no sentido de evitar o excesso de impermeabilização do solo, impedindo adrenagem adequada da água pluvial (em baixo, à direit a). Fonte: Stämpfli (2006) 

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   C  o  n  s   t  r  u  ç   ã  o   C   i  v   i   l

306

Estratégias de Ação

Buscar parcerias com entidades e fabricantes da cadeia produtiva para implementar ou

melhorar a eficácia da gestão ambiental nas empresas de construção civil no Brasil;

Desenvolver programas de treinamento e capacitação voltados ao desenvolvimentosustentável na construção civil;

Buscar o equacionamento da gestão dos resíduos de construção priorizando a não geraçãoe sim o reuso, a triagem correta dos materiais a serem descartados e sua correta destinação;priorizar a reciclagem;

Participar na elaboração de novas políticas ambientais, incluindo leis, decretos e resoluçõesambientais que envolvam o gerenciamento de resíduos na cadeia produtiva da construçãocivil.

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

12.4 - Programas de ação

Os problemas associados à má gestão de resíduos nos canteiros de obra no Brasil são gravee exigem a adoção imediata de várias medidas de controle ambiental nas obras. Isso não podeser feito sem a existência de um plano estratégico de gestão ambiental que envolva não somento imediato comprometimento de toda a cadeia produtiva visando uma melhoria das condiçõeambientais na construção civil em todo o país. Essa melhoria passa pelo desenvolvimento denovos produtos oferecidos pela indústr ia, pelo treinamento de engenheiros e arquitetos, mestree toda a mão de obra empregada.

Os programas de ação devem contar com o desenvolvimento de uma estratégia visandoa implantação de todas inovações e melhoramentos. Por outro lado, é preciso que o governotambém contribua, aper feiçoando a base legal existente na questão do gerenciamento de resíduosólidos no país. Nas duas tabelas, a seguir, são dadas algumas sugestões contendo tópicosa serem incluídos em um programa de melhoramento da qualidade ambiental nos canteiros

de obras e uma proposta de agenda que inclui o envolvimento de todos os atores na cadeiaprodutiva da construção civil no Brasil (Tabs. 12.4 e 12.5).

Tab. 12.4 - Estratégias e programas de ação a serem adotados pelos agentes envolvidos na atividade de construção civil.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Agenda Ambiental da Construção Civil

Aproveitamento da água da chuva e uso racional da água da torneira nos canteiros deobra.

Uso racional de energia elétrica ou a adoção de outras formas de energia (ex: energiasolar) para aquecimento da água na obra, principalmente nos banheiros dos funcionários.

Adotar usos mais racionais para a madeira, areia, brita e dos demais materiais causadoresde impactos ambientais.

Estabelecer programas para contenção do carreameto de areia, brita e demais sólidos àgranel (cal, cimento, etc.), para a rede de drenagem evitando o entupimento de bueiros ea degradação dos sistemas lóticos e lênticos à jusante.

Prevenção das doenças tropicais nos canteiros de obras.

Prevenção da contaminação de água e do solo com metais (cobre, zinco, chumbo) eoutros poluentes tais como solventes, tintas, cimento e cal.

Capacitação e treinamento de pessoal em Ecologia, Legislação e Gestão Ambiental.

Adoção da coleta seletiva e da reciclagem de materiais nos canteiros (madeira, vidro,plásticos, embalagens, etc.)

Comprometimento dos empreiteiros e administradores da obra com a questão dasustentabilidade ambiental.

Ações de educação ambiental para os funcionários da obra, fornecedores e toda acomunidade afetada (associações de bairro, consumidores, etc .).

Tab. 12.5 - Temas prioritários na questão ambiental dentro da atividade da construção civil.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Reciclagem e

DesenvolvimentoSustentável.

13.0C A P Í T U

13.1 - Introdução

13.2 - Avaliando a eficiência da reciclagem: a análisedo ciclo de vida dos materiais.

13.3 - Outros benefícios sociais e econômicos dareciclagem

DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVEL

Ricardo Motta Pinto-

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   D  e  s  e  n  v  o   l  v   i  m  e  n   t  o   S  u  s   t  e  n   t   á  v  e   l

310

13.1 - IntroduçãoA preocupação com a reciclagem, de um modo geral, não é um tema novo. Nos Estados

Unidos, por exemplo, existe, desde o final da década de 1960, uma política nacional para agestão e reciclagem de resíduos sólidos, a Resource Conservation and Recovering Act (RCRA)Infelizmente, no Brasil o Programa Nacional de Reciclagem ainda não saiu do papel (John &Agopyan, 2003).

A reciclagem baseia-se no axioma “Tudo o que é novo tem algo de velho”. A reciclagempressupõe a reutilização, o reuso, a volta ao que era antes. A reciclagem certamente é um dopressupostos do conceito do desenvolvimento sustentável, que por sua vez, está hoje embasadonas dimensões econômicas, sociais, ecológicas e culturais do progresso humano (Fig. 13.1)Afinal, como já foi dito no primeiro capítulo, a teoria dos ciclos biogeoquímicos dos elementos éum dos pilares da ciência ecológica.

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

A forte interdependência das diferentes dimensões da sustentabilidade não somente éuma característica do conceito, mas, muitas vezes, também pode explicar porque é muito difícpara os povos e as nações modernas atingirem esse patamar mais avançado de desenvolvimentohumano.

Pode-se dizer que os últimos dez anos constituíram-se em um período histórico para areciclagem ambiental no Brasil. Houve, nesse período, uma mudança de paradigma no país emrelação à reciclagem de materiais. No início dos anos 90, a reciclagem ambiental simplesmentnão estava na agenda dos principais agentes políticos, econômicos e sociais dessa nação. Essaera uma situação de grande atraso, principalmente tendo em vista o avanço que os paíseindustrializados fizeram nesse setor ao longo das últimas décadas, principalmente os paíseseuropeus.

Fig. 13.1 - Articulação das dimensões sociais, econômicas, ecológicas e culturais para a formação do conceito de sustentabilidade. Original, RMPC.

Ecologicamentecorreto

Culturalmenteaceito

Socialmente justo

Economicamenteviável

Ecologicamente

correto

Culturalmenteaceito

Socialmente justo

Economicamenteviável

Sustentabilidade

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Fig. 13.2 - Distribuição das empresas de reciclagem por regiões no Brasil.

O que aconteceu para que houvesse essa mudança? A crescente degradação do meioambiente certamente contribuiu para que essa nova postura se implantasse no país. Houve

também consideráveis avanços no campo da legislação e, ainda, os sistemas de gestão ambientalnas empresas, principalmente aqueles decorrentes do processo de certificação ambiental(norma ISO 14001) cer tamente também contribuíram para essa mudança de postura. Entretanto,qualquer análise sobre a questão da reciclagem ambiental no Brasil seria falha caso não fossefeita devidamente embasada nas estatísticas existentes.

Fonte: CEMPRE (2009).

Norte

Regiões

Empresas de reciclagem no Brasil

0Centro-oeste Nordeste Sudeste Sul

   N   ú  m  e  r  o   d  e

   E  m  p  r  e  s  a  s

350700

1050

1400

Recicladores Cooperativas Sucateiros Rec. & S ucateiros

O mapa da reciclagem no Brasil

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   D  e  s  e

  n  v  o   l  v   i  m  e  n   t  o   S  u  s   t  e  n   t   á  v  e   l

312

Segundo o CEMPRE (2009), existiam em 2007, mais de duas mil e trezentas empresasno Brasil que dedicam ao ramo da reciclagem. A maior parte dessas empresas está localizada

nas regiões sudeste e sul. É interessante destacar o pequeno número dessas empresas nasregiões norte, centro -oeste e nordeste, principalmente na região nordeste que tem uma elevaddensidade populacional e grandes cidades tais como Recife, Salvador e For taleza (Fig. 13.2). Outroponto que se destaca é o elevado número de sucateiros nessa lista que deve ser comparado comos níveis ainda baixos da reciclagem do aço no Brasil (ver adiante).

A pergunta que se coloca nesse momento é a seguinte: a reciclagem está se desenvolvendobem no país? O gráfico abaixo (Fig. 13.3) nos dá algumas pistas bem coerentes do que pode estar potrás dos avanços e dos tropeços da reciclagem ambiental no Brasil nessas últimas duas décadas.

Comecemos por observar duas tendências opostas: a reciclagem do aço e a reciclagem dalatinhas de alumínio. Após a leitura dos capítulos da reciclagem ambiental dessas duas matériapodemos tentar fazer uma análise comparativa entre essas duas modalidades de reciclagem. Em

primeiro lugar, vamos mencionar alguns fatores que são similares a ambos os negócios. Ambotratam de metais que podem ser praticamente reciclados de modo contínuo quase sem limitesAmbos os materiais (aço e alumínio) são commodities com preços razoavelmente estáveis e queapresentam uma boa demanda para serem prontamente reciclados. O processo de reciclagemde ambos os materiais já está bem estabelecido, há muitas décadas, de modo que não existemlimitações de caráter tecnológico que impeçam o sucesso do negócio da reciclagem em amboos casos, como no caso do óleo de fritura, por exemplo. E ainda devemos lembrar que nãoexistem políticas públicas que estimulem a reciclagem tanto das latinhas de alumínio quanto dasucatas de aço. Então porque existem tantas diferenças? No caso do alumínio, os percentuais dereciclagem no país passaram de 61% em 1996 para 96,5% em 2007. Nesse mesmo período, areciclagem do aço passou de 18% para 28%, com grandes oscilações no período.

As diferenças entre essas duas modalidades de reciclagem não estão ligadas aos aspectotecnológicos da reciclagem, ou ao preço final dos produtos ou ainda às características físicoquímicas dos materiais ou, ainda, à (falta de) ação do governo. Talvez, a principal diferençaesteja ligada ao apelo ecológico que a mídia, o meio acadêmico e, principalmente, a indústriada produção do alumínio repassaram para a comunidade estimulando decididamente a suareciclagem. Enquanto que a reciclagem do aço permanece sendo feita nos mesmos moldessegundo os quais ela vinha sendo feita há décadas, toda a sociedade está reciclando latinhade alumínio: as escolas estão envolvidas, as igrejas estão envolvidas, há gente defendendodissertações de mestrado e de doutorado sobre a reciclagem de alumínio nas universidadesTodos viram a rápida resposta dos setores empresariais envolvidos com a rec iclagem do alumínioTalvez possamos destacar alguns aspectos essenciais da reciclagem no Brasil:

(a) ausência de políticas públicas não impede necessariamente o sucesso de uma novacadeia produtiva no ramo da reciclagem;

(b) o sucesso de um programa de reciclagem não depende exclusivamente de variáveiseconômicas;

(c) existe um potencial para uma rápida resposta da comunidade quando ela écorretamente estimulada a reciclar;

(d) não temos capacidade instalada no pais para a formação profissional derecicladores no país.

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

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Fig.13.3 - Índices de reciclagem dos principais materiais presentes no lixodoméstico no Brasil. Pe ríodo: 1996-2007.

Fontes: ABRALATAS, ABAL, ABEAÇO, APIPET, ABIVIDRO e Tetrapak®.

No entanto, como toda e qualquer atividade produtiva, a reciclagem ambiental está inseridanas leis do mercado. Desse modo, iremos centrar esse capítulo em uma análise comparativa das

diferentes cadeias de reciclagem tendo por base a questão de sua viabilidade econômica comotodo negócio e ainda tendo um outro balizador fundamental na atividade: a sustentabilidadeambiental. Acreditamos que o pilar da sustentabilidade ambiental é o mais importante fator queregula o sucesso da atividade. A Fig. 13.3 abaixo, no entanto, mostra que, a partir de 2000, houveum notável incremento nas taxas de reciclagem de vários materiais no país com destaque parao alumínio e o PET.

Ao consideramos as estatísticas do processo de coleta seletiva no Brasil, fica claro que ovidro, o alumínio e as garrafas PET são importantes consti tuintes do material recebido.

Recentemente, têm surgido na literatura especializada estudos detalhados enfocandoaspectos quantitativos dos ciclos de vida (ACV) de algumas das principais matérias que podemser recicladas. No caso de uma garrafa PET, por exemplo, esse estudo considera todas as variáveisenvolvidas desde a produção até a sua reciclagem. No caso da ACV aplicada às garrafas PETsão estudadas as seguintes fases de sua produção: extração e refino do petróleo, fabricação

do polímero e sua moldagem (por assopro), os processos da produção da garrafa, do rótulo eda tampa. Em cada uma dessas etapas, são contabilizados os gastos com energia elétrica, comcombustíveis fósseis (aquecimento de caldeiras e transporte, por exemplo), o consumo de água,as emissões de gases formadores do efeito estufa (CO2, CO e CH4, dentre outros) e de partículassólidas em suspensão na atmosfera, a produção de efluentes líquidos (aumento de turbidez, dademanda bioquímica de oxigênio – DBO e química de oxigênio - DQO, do aporte de fósforo enitrogênio e metais traços, por exemplo), resíduos sólidos (lamas e rejeitos minerais, embalagense resíduos de outros insumos industr iais e rejeitos inertes).

1996

Índices de reciclagem de materiais no Brasil

0

20

40

60

80

100

120

   P  e  r  c  e  n   t  u  a   l   (   %

   )

1997 1998 199 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Ano

Lata de Alumínio Aço PET Vidro Longa Vida

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   D  e  s  e  n  v  o   l  v   i  m  e  n   t  o   S  u  s   t  e  n   t   á  v  e   l

314

13.2 - Avaliando a eficiência da reciclagem:

a análise do ciclo de vida dos materiais.A seguir, iremos comentar brevemente alguns dos padrões do ciclo de reciclagem das garrafa

PET, do vidro e do alumínio. Em relação ao consumo de água, o vidro foi a cadeia de reciclagemque apresentou as maiores taxas de consumo de água que parece não ser afetada por percentuaicrescentes de reciclagem. O alumínio é o recurso que mais água exige para a sua produção. Noentanto, a medida que os percentuais de reciclagem evoluem, o consumo de água decresce em taxaquase que exponenciais (Fig. 13.4). É interessante notar também que o consumo de água se invertenas cadeias do alumínio e das garrafas PET, á medida que crescem os índices de reciclagem. A partide uma taxa de 50% de reciclagem, as garrafas PET consomem menos água para a sua reciclagem

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Fig. 13.4 - Efeitos de diferentes tax as de reciclagem em três materiais diferentes (vidro, alumínio e garrafas PET) sobro gasto de água e produção de efluentes líquidos. Para esses cálculos, considerou-se todos os gastos deinsumos necessários para o envase de 1000 litros para cada tipo de matéria prima.

Fonte: Valt (2004

0

   K  g

0 10 50 85 100

Percentual de Reciclagem

Produção de resíduos líquidos

PET Alumínio

50

100

150

200

250

Vidro

0

   K  g

0 10 50 85 100

Percentual de Reciclagem

Consumo de água

PET Alumínio

140

280

420

560

700

Vidro

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De um modo geral, o gasto de energia para se produzir um recipiente de 1,0 litro dealumínio, PET ou vidro tende a sofrer um decréscimo com o aumento das taxas de reciclagem.

Uma vez mais, podemos observar que os percentuais crescentes de reciclagem do vidro nãoafetam muito os gastos de energia, enquanto que a reciclagem do alumínio é a que mais sebeneficia quando se considera a questão energética. Padrão semelhante é observado para asemissões de gases GEE (Fig. 13.5).

Fig. 13.5 - Efeitos de diferentes taxas de reciclagem de três materiais diferentes (vidro, alumínio e garrafas PET de 1,0litro de capacidade) sobre o gasto de energia e sobre a produção de gases formadores do efeito estufa. Paraesses cálculos, considerou-se todos os gastos de insumos necessários para o envase de 1000 litros paracada tipo de matéria prima.

Fonte: Valt (2004).

0

   K  g

0 10 50 85 100

Percentual de Reciclagem

Emissões atmosféricas

PET Alumínio

10

20

30

40

50

Vidro

   M   J

0 10 50 85 100

Percentual de Reciclagem

Gasto de energia

PET Alumínio Vidro

0

4000

8000

12000

16000

20000

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   D  e  s  e

  n  v  o   l  v   i  m  e  n   t  o   S  u  s   t  e  n   t   á  v  e   l

316

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

Enquanto a maior parte da emissão de gases acontece na produção do PET, no ciclo dovidro acontece durante o transpor te. Sem nenhuma reciclagem, o alumínio é o material que maicontribui para o aquecimento global, se considerarmos todas as fases da obtenção do metal. Pooutro lado, a maior parte de emissão de gases acontece na produção do PET, no ciclo do vidroeste tipo de impacto acontece no transpor te.

Em termos de deplecionamento dos recursos naturais, o uso do alumínio não recicladoé o que mais afeta as reservas dos recursos naturais. Afinal, a mineração da bauxita é umadas atividades essenciais do homem que maiores impactos ambientais produz. No entantocom o acréscimo dos índices de reciclagem, todas as três cadeias chegam a patamares muitosemelhantes de comprometimento de recursos naturais.

Os níveis de comprometimento dos recursos naturais e a geração de resíduos sólidos

são altas tanto para o alumínio quanto para as garrafas PET quando são baixos os índices dereciclagem (Fig. 13.6).

Podemos sumarizar os resultados acima, dizendo que cada um dos t rês recursos analisadoapresenta diferenças bem marcantes em termos de usos de recursos naturais, gastos de energie geração de efluentes líquidos e sólidos. O vidro poderá ser a melhor solução em regiõescom abundância de água enquanto que a garrafa PET é imbatível quando se considera centrosurbanos dotados de um eficiente sistema de coleta seletiva e que são associados a programasde reciclagem. Os dados acima também mostram que a estratégia da indústria de alumínio emapoiar a reciclagem foi uma questão de sobrevivência da própria atividade como um todo.

A Análise do Ciclo de Vida (ACV) de um produto é capaz de mostrar os impactos ambientai

de cada etapa do processo de sua produção e eventual reciclagem, possibilitando assim oaperfeiçoamento dos sistemas de gestão ambiental da cadeia produtiva envolvida. Para algunsmateriais a reciclagem é a melhor saída, uma vez que a grande concentração de agentes quecausam distúrbios na natureza está concentrada na produção do bem primário, como no casodo alumínio. Para outros materiais, a reciclagem deve ser vista sobretudo como uma alternativapara se diminuir a produção de resíduos sólidos já que ela não resulta em grandes economiasnos gastos de energia ou recursos usados. Outro aspecto importante é que os resultados deuma análise do tipo ACV têm sempre uma for te componente regional. Assim, é impor tante questudos dessa natureza sejam realizados em diferentes regiões do Brasil.

Existem ainda outros aspectos ambientais que, muitas vezes, podem estar incorporadoapenas parcialmente na ACV. Um deles é o uso do solo associado à produção de um determinadotipo de material. Os principais tipos de uso do solo praticados na agricultura e silvicultura estãorepresentados na tabela abaixo (Tab. 13.1). Duas importantes cadeias produtivas foram analisadanessa obra: a produção de soja e a de celulose. Observamos que a área plantada destinada aocultivo da soja é de 20,5 milhões de hectares ao passo que a atividade de produção de celuloscompromete 1,7 milhão de hec tares no Brasil.

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Ricardo Motta Pinto-Coelho

Fig. 13.6 - Efeitos de diferentes ta xas de reciclagem de três materiais diferentes (vidro, alumínio e garrafas PET de 1,0litro de capacidade) sobre o uso de recursos naturais e na produção de resíduos sólidos. Para esses cálculos,considerou-se um recipiente padrão de 1,0 litro de capacidade.

Fonte: Valt (2004).

0

0 10 50 85 100

Percentual de Reciclagem

Produção de resíduos sólidos

PET Alumínio

50

100

150

200

250

Vidro

0 10 50 85 100

Percentual de Reciclagem

Uso de recursos naturais

PET Alumínio Vidro

0

50

100

150

200

250

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   D  e  s  e  n  v  o   l  v   i  m  e  n   t  o   S  u  s   t  e  n   t   á  v  e   l

318

Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável no Brasil

As análises do tipo ACV, como exposto acima, ainda deixam a desejar na quantificaçãode alguns aspectos sociais importantes. Qual é o impacto da reciclagem na criação de novosempregos? Quais são as melhoras, nos índices ambientais que podemos associar a implantaçãode programas de coleta seletiva e de reciclagem no curto prazo? Muitas pessoas sem empregoformal (com carteira registrada) estão buscando trabalho neste ramo e conseguindo renda paramanterem suas famílias. Cooperativas de catadores de papel e alumínio, por exemplo, já sãocomuns nas grandes cidades do Brasil.

Produto Cadeia ProdutivaPotencial deReciclagem

Área Plantada(milha)

Soja Alimento e rações Óleo, água 20581

Milho Alimento e rações Água 13177

Cana de açúcarBiocombustível e

açúcarEnergia (biomassa),

água6587

Café Alimento Água 2318

Silvicultura(Eucalipto e Pinus)

Celulose e papelPapel, Energia

(biomassa) e água1715

Algodão Fibras Água e tecidos 1047

Fumo Cigarro Água 473

Tab. 13.1 - Usos do solo associados a produção de alguns tipos de alimentos e fibras vege tais do Brasil.

Fonte: Fonte: Ministério da Agricultura/MDIC/SECEX/CONAB/IBGE (2007).

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13.3 - Outros benefícios sociais e

econômicos da reciclagemA reciclagem pode gerar uma série de importantes benefícios sociais. Em primeiro lugar,

trata-se de um comportamento que aumenta a consciência ecológica na comunidade despertandoos cidadãos para mudanças de atitudes em prol do meio ambiente. A reciclagem pode começarpor simples ações tais como a de entrar em um programa voluntário de coleta seletiva delixo. Normalmente, quem começa a reciclar um dado material logo irá adotar a reciclagem deoutros materiais. Um importante benefício da reciclagem é a possibilidade de inclusão socialdas classes menos favorecidas já que ela pode empregar de imediato um exército de mão deobra não qualificada. As entidades assistenciais podem e devem exercer um papel importantena implantação da reciclagem ambiental em diferentes comunidades. Assim, as igrejas, asassociações de bairro e as escolas são vetores muito importantes na implantação de qualquerprograma de reciclagem ambiental.

A reciclagem também gera benefícios diretos na economia local já que ela, além de gerarempregos, ainda corrobora para a injeção de recursos na economia local. Isso tudo aliado aofato de que a maioria das empresas que atuam no ramo da reciclagem não necessita de grandesinvestimentos. A reciclagem pode contribuir para a diminuição da poluição da água, para oaumento dos índices de economia de energia elétrica e ainda estimula uma série de outrosnegócios já que as empresas recicladoras também demandam produtos e serviços de apoio.

Inúmeros benefícios políticos podem ser obtidos por uma administração que apóia a

reciclagem. Por se tratar de uma atividade que não exige altos investimentos e mão de obraqualificada, ela normalmente apresenta um rápido retorno dos investimentos desde que haja umapoio inicial seja em treinamento seja em linhas de financiamento e outros benefícios tais comoa concessão de áreas e lotes específicos para a atividade. É interessante notar, por exemplo,que na região metropolitana de Belo Horizonte, já existem algumas áreas onde se concentraum grande número de empresas de reciclagem. Na região central de Belo Horizonte, ao longoda Av. Contorno, existe uma concentração de empresas dedicadas à reciclagem de papel quese instalaram ao redor da iniciativa pioneira da ASMARE (2009). Assim, os administradorespoderão ter um reconhecimento público de sua gestão através do apoio a diferentes atividadesde reciclagem. A criação de distritos de reciclagem poderia ser uma alternativa para apressar osnegócios e para que os resultados sejam mais visíveis para toda a comunidade.

Como a reciclagem contribui para a melhoria do meio ambiente e da qualidade de vidaem geral, a sociedade tende a valorizar qualquer administração que apóie a reciclagem de modoclaro e determinado. Por ser uma atividade que atrai a simpatia da opinião pública, ela pode estarassociada a uma série de eventos culturais, espor tivos e religiosos. A reciclagem é também umaatividade que envolve uma grande quantidade de pessoas. Assim trata-se de uma ferramentaque permite a rápida transmissão de idéias e conceitos associados a essa ativ idade a um grandepúblico em pouco tempo.

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Observação inicial: a lista bibliográfica abaixo traz, além do título e autor(es) da obrasempre que possível, o link de internet que seria a forma mais fácil de acessar a informaçãocitada por via eletrônica (seja através do acesso à web site ou ao texto no formato *.PDF quepode ser lido pelo Adobe Acrobat®). No caso das inúmeras autarquias públicas, associações declasse ou mesmo as empresas citadas, procurou-se, na medida do possível, informar além do seurespectivo portal de internet, o endereço da instituição.

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