jornal gamboa digital - ed. 44 - jun/jul/2010

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Ano 11 N o 44 Junho/Julho/2010 Publicação Educativo-Cultural Distribuição Gratuita Boa Nova-BA A assinatura do decre- to presidencial, em 10 de junho deste ano, criando o Parque Nacional de Boa Nova e o Refúgio de Vida Silvestre de Boa Nova, coloca mais uma vez o mu- nicípio em evidência posi- tiva no Brasil. Com 27.089 hectares (12.065 perten- centes ao Parque e 15.024 ao Refúgio), a área total de conservação vai do limite de Boa Nova com o muni- cípio de Dário Meira, na Mata, até o limite com o município de Manoel Vito- rino, na Caatinga. Como está definido no decreto, a região do Parque Nacional de Boa Nova e do Refúgio de Vida Silvestre de Boa Nova abrange uma transição entre florestas úmidas, ao leste, e a vege- tação seca da Caatinga, ao oeste, onde ocorre a Mata de Cipó – uma das fitofisio- nomias mais ameaçadas da Mata Atlântica, com apenas 2,6% de remanescentes pre- servados. Por se tratar de uma área de transição de es- treita faixa vegetacional, possui alta diversidade bi- ológica, abrigando espéci- es dos biomas Mata Atlân- tica e Caatinga e, ao mesmo tempo, muitas espécies ra- ras e endêmicas. “Localiza-se em um dos Parque Nacional coloca Boa Nova em evidência poucos lugares de ocorrên- cia do Gravatazeiro (Rhopo- nis ardesiaca), ave conhe- cida mundialmente por ser uma das mais raras das Américas. Esta ave é endê- mica da Mata de Cipó e consta nas listas brasileiras e mundiais de espécies ame- açadas de extinção. A loca- lização das unidades de conservação possui alto potencial para ecoturismo e birdwatching (observação de pássaros), por conter es- pécies endêmicas e de dis- tribuição restrita. A região já é internacionalmente consi- derada em rotas de obser- vadores de pássaros”. Talvez a população de Boa Nova ainda não tenha a noção exata da importân- cia da criação do parque e do refúgio, mas certamen- te terá tão logo a notícia ga- nhe a devida repercussão na grande mídia. Isto já co- meça a acontecer com a re- portagem que será exibida no programa Globo Ecolo- gia, que vai ao ar no dia 7 de agosto, às 6h40min. Na penúltima semana de julho uma equipe da Rede Globo esteve em Boa Nova para as gravações. Uma das pessoas da ci- dade que acompanharam a reportagem nas andanças pela área do parque foi Ed- son Ribeiro Luiz – biólogo da SAVE Brasil (ONG sedi- ada em São Paulo, que reali- za projetos de conservação em Boa Nova). Ele disse que as imagens captadas fica- ram fantásticas e certamen- te o resultado final no pro- grama será excelente. “A criação do Parque Nacional de Boa Nova é uma notícia excepcional para a população e tam- bém para as gerações fu- turas. Ele, que chegou a ser chamado de cereja do bolo do Ministério do Meio Ambiente, significa uma perspectiva concreta de proteção do solo e dos re- cursos hídricos que abas- tecem a Caatinga; do fim e até da reversão do desma- tamento em vários trechos; do equilíbrio climático, de forma geral; da proteção de animais ameaçados, como o macaco-prego-de- peito-amarelo, a preguiça- de-coleira, o mico-leão-de- cara-amarela e várias espé- cies de aves; e de benefí- cios sócio-econômicos A equipe do Globo Ecologia filmando na área do parque... ... e com crianças boanovenses que farão parte da matéria Parte do parque, localizada no Morro do Inglês, na janela, Edson fotografando aves no local através da agricultura sus- tentável, do eco-turismo e do turismo rural”, ressal- tou Edson. O biólogo já trabalha, inclusive, na cri- ação de um clube de ob- servadores de aves, que pretende ser um ponto de partida para incrementar o eco-turismo nesta que é uma vertente com grande público no mundo inteiro. Uma boa notícia para os internautas que gostam do GAMBOA. Após dez anos chegando até você neste formato convencional, nosso jornal passa a circular a partir desta edição também numa versão virtual. Ainda não é o tão ansiado projeto de um site interativo, que há algum tempo se desenha, mas é uma forma de fazer o ideal e as ideias propostos pelo GAMBOA chegarem a um número ainda maior de pessoas. As mesmas edições em p&b passam, a partir de agora, a circular em cores na versão PDF – arquivo de fácil acesso e leve o bastante para ser enviado por e-mail. Através de suas listas de contatos na internet, os nossos colaboradores e todos os demais boanovenses e amigos de Boa Nova poderão fazer o GAMBOA chegar a todos os que já recebem e ainda não recebem o periódico impresso. O ponto de partida da versão PDF será o e-mail do próprio GAMBOA ([email protected]). Aqueles que quiserem recebê-la é só enviar um e-mail, que será devidamente cadastrado numa lista de leitores. Assim que o nosso jornal estiver na sua caixa de e-mail, antes de baixar o arquivo para seu computador, passe adiante. Esta é uma boa corrente. GAMBOA virtual

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Esta foi a primeira edição digitalizada do Jornal GAMBOA, inaugurando essa versão colorida no formato PDF. Ela manteve as 8 páginas originais da versão impressa em p&b. A partir da edição 45 a versão digital ganhou duas páginas a mais.

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Ano 11 No 44 Junho/Julho/2010 Publicação Educativo-Cultural Distribuição Gratuita Boa Nova-BA

A assinatura do decre-to presidencial, em 10 dejunho deste ano, criandoo Parque Nacional de BoaNova e o Refúgio de VidaSilvestre de Boa Nova,coloca mais uma vez o mu-nicípio em evidência posi-tiva no Brasil. Com 27.089hectares (12.065 perten-centes ao Parque e 15.024ao Refúgio), a área total deconservação vai do limitede Boa Nova com o muni-cípio de Dário Meira, naMata, até o limite com omunicípio de Manoel Vito-rino, na Caatinga.

Como está definido nodecreto, a região do ParqueNacional de Boa Nova e doRefúgio de Vida Silvestre deBoa Nova abrange umatransição entre florestasúmidas, ao leste, e a vege-tação seca da Caatinga, aooeste, onde ocorre a Matade Cipó – uma das fitofisio-nomias mais ameaçadas daMata Atlântica, com apenas2,6% de remanescentes pre-servados. Por se tratar deuma área de transição de es-treita faixa vegetacional,possui alta diversidade bi-ológica, abrigando espéci-es dos biomas Mata Atlân-tica e Caatinga e, ao mesmotempo, muitas espécies ra-ras e endêmicas.

“Localiza-se em um dos

Parque Nacional coloca Boa Nova em evidência

poucos lugares de ocorrên-cia do Gravatazeiro (Rhopo-nis ardesiaca), ave conhe-cida mundialmente por seruma das mais raras dasAméricas. Esta ave é endê-mica da Mata de Cipó econsta nas listas brasileirase mundiais de espécies ame-açadas de extinção. A loca-lização das unidades deconservação possui altopotencial para ecoturismo ebirdwatching (observaçãode pássaros), por conter es-pécies endêmicas e de dis-tribuição restrita. A região jáé internacionalmente consi-derada em rotas de obser-vadores de pássaros”.

Talvez a população deBoa Nova ainda não tenhaa noção exata da importân-cia da criação do parque edo refúgio, mas certamen-te terá tão logo a notícia ga-nhe a devida repercussãona grande mídia. Isto já co-meça a acontecer com a re-portagem que será exibidano programa Globo Ecolo-gia, que vai ao ar no dia 7de agosto, às 6h40min. Napenúltima semana de julhouma equipe da Rede Globoesteve em Boa Nova paraas gravações.

Uma das pessoas da ci-dade que acompanharam areportagem nas andançaspela área do parque foi Ed-

son Ribeiro Luiz – biólogoda SAVE Brasil (ONG sedi-ada em São Paulo, que reali-za projetos de conservaçãoem Boa Nova). Ele disse queas imagens captadas fica-ram fantásticas e certamen-te o resultado final no pro-grama será excelente.

“A criação do ParqueNacional de Boa Nova éuma notícia excepcionalpara a população e tam-bém para as gerações fu-turas. Ele, que chegou a serchamado de cereja do bolodo Ministério do MeioAmbiente, significa umaperspectiva concreta deproteção do solo e dos re-cursos hídricos que abas-

tecem a Caatinga; do fim eaté da reversão do desma-tamento em vários trechos;do equilíbrio climático, deforma geral; da proteçãode animais ameaçados,como o macaco-prego-de-peito-amarelo, a preguiça-de-coleira, o mico-leão-de-cara-amarela e várias espé-cies de aves; e de benefí-cios sócio-econômicos

A equipe do Globo Ecologia filmando na área do parque...

... e com crianças boanovenses que farão parte da matéria

Parte do parque, localizada no Morro do Inglês, na janela, Edson fotografando aves no local

através da agricultura sus-tentável, do eco-turismo edo turismo rural”, ressal-tou Edson. O biólogo játrabalha, inclusive, na cri-ação de um clube de ob-servadores de aves, quepretende ser um ponto departida para incrementar oeco-turismo nesta que éuma vertente com grandepúblico no mundo inteiro.

Uma boa notícia para os internautas que gostam do GAMBOA. Após dez anoschegando até você neste formato convencional, nosso jornal passa a circular a partirdesta edição também numa versão virtual. Ainda não é o tão ansiado projeto de um siteinterativo, que há algum tempo se desenha, mas é uma forma de fazer o ideal e as ideiaspropostos pelo GAMBOA chegarem a um número ainda maior de pessoas.

As mesmas edições em p&b passam, a partir de agora, a circular em cores naversão PDF – arquivo de fácil acesso e leve o bastante para ser enviado por e-mail.Através de suas listas de contatos na internet, os nossos colaboradores e todosos demais boanovenses e amigos de Boa Nova poderão fazer o GAMBOA chegara todos os que já recebem e ainda não recebem o periódico impresso.

O ponto de partida da versão PDF será o e-mail do próprio GAMBOA([email protected]). Aqueles que quiserem recebê-la é só enviar ume-mail, que será devidamente cadastrado numa lista de leitores. Assim que onosso jornal estiver na sua caixa de e-mail, antes de baixar o arquivo para seucomputador, passe adiante. Esta é uma boa corrente.

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Há alguns anos o termo bullying, ainda sem traduçãopara o português, passou a fazer parte do nosso vocabulárioe engloba toda prática de agressão ou intimidação com oobjetivo de humilhar alguém, acontecendo geralmente noâmbito escolar. Entretanto, essa prática de covardia temtomado outras vertentes.

Com a inclusão digital e o avanço tecnológico, a prática dobullying passou a acontecer também em outros espaços, como ainternet. Dessa forma, o cyberbullying ou bullying virtual, queacontece associado às tecnologias de informação, busca humilhare agredir a vítima através de blogs, e-mails, vídeos, sites de parti-lha de fotos e redess o c i a i sc o m oO r k u t ,twitter, fa-c e b o o k ,dentre ou-tros. Assim,o agressorpossui a su-posta vanta-gem demanter oanonimato,p o d e n d ousar pseudô-nimos ou atémesmo sepassar poroutra pessoacom o intuitode criar intrigas e fofocas, divulgar vídeos e fotos sem o consenti-mento da vítima, além de insultá-la por meio de calúnias, ofensas,boatos maldosos, podendo até forjar uma falsa imagem desta.

Sabendo-se que na internet tudo circula de maneira mui-to mais rápida do que fora do mundo virtual, o que torna oproblema muito pior, a melhor forma de evitá-lo é tendocuidado com a exposição pessoal demasiada, devendo-secontrolar a divulgação de telefones e e-mails, bem comofotos e vídeos pessoais, pois quem se expõe demais corremaior risco de ser mais uma vítima do cyberbullying, umaprática de desocupados.

(Allayana Sampaio S. Soares é boanovense, estudante do 6o se-mestre de Fisioterapia da FTC - Faculdade de Tecnologia e Ciências,campus de Vitória da Conquista)

Covardia VirtualAllayana Sampaio S. Soares

A Sala de Leitura Paulo An-drade – um dos projetos emexecução pelo IAM (InstitutoAdroaldo Moraes) – recebeudoações que são verdadeirasrelíquias culturais. Duas delasvieram do boanovense ItamarMoraes, que reside em Salva-dor, mas mantém casa em BoaNova, onde passa temporadas.

Em julho, durante sua estadana cidade, ele doou uma cartelacom 17 selos carimbados pelosCorreios de Boa Nova, datadosde 01 de junho de 1910. O selo,no valor de 200 réis, é uma ho-menagem ao presidente da Repú-blica – Afonso Penna, que gover-nou o Brasil de 1906 a 1909 (anoem que morreu). A outra doaçãoé um exemplar raro do Dicioná-

Imagem cinquentária da Festa da Padroeira de Boa Nova

IAM receberelíquias culturais

rio Tupi(antigo)-Português, deMoacyr Ribeiro de Carvalho.

Também foi doado à direto-ria do IAM pelo boanoven-se Jorge Lago uma lembran-ça da Festa de Nossa Senho-ra da Boa Nova, datada de30 de agosto de 1960. Nelaé possível identificar os no-mes dos responsáveis pelaorganização da primeira noitedo festejo religioso.

Interessados em doarou emprestar para digitali-zação de imagem este tipode relíquia cultural podemprocurar Luiz Moraes (di-retor-executivo do IAM)na Macol (praça 7 deSetembro 4, Centro) ,por telefone (77 3433-2122) ou por e -mai l([email protected]).A cartela com selos centenários

Capa do dicionário doado

Colaboraram nesta edição:Allayana Sampaio, Anderson Dias, Cibele de Sá, Edson Ribeiro, Elson Lago,Lucas Santos, Luiz Moraes, Sheyla Alencar e Vanzye Fargom.

Expediente Jornal GAMBOA

Impressão: Tribuna Editora GráficaViçosa-MG

Editor/Jornalista Responsável:Roberto D´arte

Editoração e edição de imagem:Anderson Miranda

Endereço:Rua Vaz de Melo 40 - CentroViçosa-MG - CEP 36570-000E-mail: [email protected]

O GAMBOA está vinculado ao IAM(Instituto Adroaldo Moraes)E-mail: [email protected]

Os artigos assinados do Gamboa são de inteira responsabilidade de seus autores

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O IAM (Instituto AdroaldoMoraes) está em busca de par-ceiros para realizar um de seusprojetos ligados à preservação damemória cultural de Boa Nova. O“Baú de Fotos e Recordações deBoa Nova” tem como objetivo oresgate de fotografias antigas apartir de álbuns de família paraeternizá-las em um livro com ver-sões convencional/impressa evirtual/e-book.

Considerando-se a formapouco adequada como muitos ál-buns de fotografias antigas sãoguardados pelas famílias em BoaNova, o que acelera a degrada-ção natural do papel na qual fo-ram reveladas, há um risco con-creto de se perder com o tempouma parte preciosa da memóriado município e sua gente.

Desde a sua fundação, em 14de março de 2008, o IAM vemamadurecendo maneiras de tirareste projeto do papel. Segundo

Sucesso de público, de crítica e de repercussão na grande mídiabaiana, o IX Mercado Cultural, que aconteceu de 26/11 a 12/12 de 2009com o tema “...Passagem...”, teve Boa Nova como uma de suas sedes.A cidade, durante dois dias (11 e 12 de dezembro), recebeu uma ricaprogramação cultural, envolvendo música, teatro, poesia, artes visuaise manifestações da tradição popular, a exemplo dos ternos de reis.

Com o tema “Utopias para um futuro presente”, o X Mercado Cultu-ral também terá Boa Nova como um de seus grandes palcos. No dia 19 dejulho se reuniram no distrito de Valentim representantes da sociedadecivil de Boa Nova (da sede, do próprio Valentim e da Goiabeira) e RuyCezar Silva (diretor geral do Instituto Casa Via Magia – ONG responsávelpela idealização e realização desse evento) para avaliar os efeitos positi-vos da implantação de um parque nacional em Boa Nova (ler matéria àpágina 1) e para definir o suporte necessário e mobilização da comunida-de para receber a edição 2010 do Mercado Cultural no município.

Ficou definido que a etapa de Boa Nova do Mercado acontecerádurante três dias (29/11, 30/11 e 01/12), sendo parte na sede e parte noValentim. As atrações serão definidas nos próximos meses e divulga-das em primeira mão no site do Via Magia (www.viamagia.org). OGAMBOA, no entanto, trará mais detalhes na próxima edição.

O texto a seguir, extraído do referido site, dá uma noção da propostatemática do X Mercado Cultural: “a cultura do medo, presente nas organiza-ções e na sociedade, afeta até as crianças e os jovens que temem a violência,a falta de trabalho e a devastação ambiental. Que alternativas temos paraestes temores? Como encaminhar os nossos anseios por uma cultura de paz,respeito à diversidade cultural e preservação da biodiversidade? Como esti-mular e difundir práticas inovadoras e soluções? Como construir referênciaspara um convívio sincero e ético? Como embasar as nossas ações no ser enão no ter? O X Mercado pretende reunir artistas, educadores, filósofos,historiadores, sociólogos, ambientalistas e outros participantes da comuni-dade de ativistas e intelectuais que engendram propostas e soluções paraum futuro que já bateu às nossas portas, por isso presente.”

IAM busca parceiros parapreservar a nossa memória

Luiz Henrique Moraes – di-retor-executivo da ONG, épraticamente impossível re-alizá-lo somente através dotrabalho voluntário. “Preci-samos de parceiros, de pa-trocínio para concretizar oBaú de Fotos. Nós o dividi-mos em três etapas: na pri-meira, através de um oumais estagiários, visitamosas famílias dispostas a em-prestar seus álbuns de fo-tografias antigas para digi-talizarmos e também a pres-tar informações a respeitodas próprias fotos. Na se-gunda etapa, organizamoso material coletado, digita-lizamos/escaneamos as fo-tos e as devolvemos aosseus respectivos donos. Ena última, editamos o livro

em si, com textos de apresenta-ção, sumário e os capítulos comas fotos e suas respectivas legen-das”, explicou Luiz.

O diretor-executivo do IAMressaltou que as parcerias po-dem ser tanto em trabalho (nocaso da primeira e segunda eta-pas) quanto em recursos finan-ceiros (para a edição e impres-são do livro). “Os nossos par-ceiros também terão seus nomeseternizados no produto final,que estará em bibliotecas e nascasas dos boanovenses e ami-gos de Boa Nova, além de todosos lugares que pudermos alcan-çar através da internet, uma vezque faz parte do projeto umaversão em e-book (livro virtu-al)”, finalizou Luiz Moraes.

Possíveis parceiros podem pro-curar Luiz pessoalmente na Macol(praça 7 de Setembro 4, Centro), portelefone (77 3433-2122) ou por e-mail([email protected]).

Foto cedida pelo boanovense Elson Lago

Mercado Culturalvoltará a Boa Nova

O Bumba-meu-boi de Dona Laurinha, apresentado no IX Mercado Cultural

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Na edição passada tivemos o prazer de lera homenagem feita pelo – indiscutivelmente –boanovense, Edson Ribeiro, para um dos ‘per-sonagens’ da nossa querida cidade: Luquinha.Um texto muito bom, que revela uma sensibili-dade possuída por poucos para perceber e darsentido às coisas da vida. Entretanto, para quepossamos retribuir a ‘personagens’ como Lu-quinha os mesmos sentimentos que nos pro-porcionam, outra face dessa mesma históriamerece nossa atenção e reflexão.

Antes de dar continuidade às discussõesdo presente texto, pare e reflita acerca dos ques-tionamentos a seguir: Quais papéis permitimos/esperamos que tais ‘personagens’ desempenhemem nossa cidade? Será que os reconhecemosenquanto sujeitos? E enquanto cidadãos? Qualo lugar do ‘louco’ em Boa Nova? Qual o limiteentre o normal e o anormal? [tic-tac, tic-tac, tic-tac] Já pensou? Ótimo, podemos continuar.

Os papéis, os lugares, as significações fei-tas acerca dos portadores de transtorno men-tal – assim como quaisquer outros papéis, lu-gares e significações sociais – diferem de acor-do o tempo/espaço em que se encontram. Obrascomo História da Loucura, de Michel Fou-cault, nos apresentam tais modificações, daPré-história à Idade Moderna, em que vemosque os ditos ‘loucos’, ‘lunáticos’, ‘doidos’,‘insanos’, ‘feiticeiros’, ‘pecadores’, já tiveramcomo formas de tratamento rituais tribais, ses-sões de exorcismo, jejuns prolongados, flage-lação, choques elétricos, sangria, ingestão ex-cessiva de purgantes etc. e que, como causas,já foram aceitas idéias como possessão demo-níaca, possessão de espíritos, castigo divino,evasão da alma e tantas outras.

Hoje, acerca dos portadores de transtornomental em pequenas cidades do interior – aqui

“Louco é o seu Preconceito!” ou“Outro Lado da Mesma História...”

Lucas Sampaio Rodrigues Santos

encontramos Boa Nova – verifica-se que, ge-ralmente, a sociedade acolhe tais sujeitos, in-corporando-os às suas atividades cotidianas.Não é difícil reconhecer que muitos deles pos-suem quase que um script diário, frequentan-do os mesmos lugares nos mesmos horários,quase todos os dias. Essa participação da vidaem sociedade se apresenta como algo positi-

vo, que está de acordo com o MovimentoNacional da Luta Antimanicomial (18 de Maio:Dia Nacional da Luta Antimanicomial), bemcomo com a Lei Paulo Delgado (Lei Federal10.216), que prevê, dentre outras possibilida-des de tratamento, o acompanhamento noCAPS (Centro de Atenção Psicossocial).

Contudo – e aqui chegamos, enfim, ao pro-pósito deste texto –, paralelamente a isto e pro-

duto também de tal inserção, há aqueles quefazem do portador de transtorno mental uma‘coisa’, não atribuem a ele o título de sujeito,de cidadão, de ser humano, que goza dos mes-mos sentimentos e direitos na vida em socie-dade. Assim, não é difícil que seja a ele atribu-ído o papel de ‘incapaz’, ‘improdutivo’, ‘boboda corte’, que não seja dado a ele um lugarlegítimo na comunidade. E ainda pior: quandoé desrespeitado física e moralmente.

Se você ainda não conseguiu visualizar talproblemática, seguem alguns exemplos de atitu-des que revelam tal postura: dar bebidas alcoóli-cas (eles utilizam medicação, sabia?), bater, pertur-bar (atentar, pirraçar), xingar, fazendo emergir sen-timentos de raiva, ódio, que podem culminar emcrises de agressividade, dentre outras coisas.

Agora, peço mais uma vez que pare e faça oexercício de assumir o lugar/papel de um porta-dor de transtorno mental que você conheça eimagine-se em uma das situações acima descri-tas, ou aquelas descritas no 3º parágrafo. [tic-tac, tic-tac, tic-tac] E aí, a experiência foi boa, agra-dável? Não, acredito que não tenha sido. Mas ébom que se faça tal exercício, pois todos nós –que nos autodenominamos normais – estamossujeitos a ser também, portadores de transtornomental, pelos mais diversos motivos.

É necessário revermos nossas relações, nãoapenas com os portadores de transtorno mental,mas também com todas as minorias sociais alvosde discriminações, pois o que se observa é quese tratam de relações que não permitem o dife-rente. Permite-se apenas o que reproduz e refor-ça as relações de dominação, objetivas e subjeti-vas, que permeiam a vida social.

Diante do exposto, faço o convite a maisuma reflexão; pergunte-se: a forma como merelaciono com os portadores de transtornomental em minha cidade é respeitosa, huma-na, cidadã ou não passa dos limites do des-respeito, do paternalismo e/ou alvos das mi-nhas chacotas e divertimento? [tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac...

(Lucas Sampaio Rodrigues Santos é estu-dante do 6o semestre de Psicologia da Faculda-de Juvêncio Terra; orientador social do Projo-vem Adolescente; presidente do Comitê de BoaNova do AFS Intercultura Brasil)

O quadro Extração da Pedra da Loucura, dopintor holandês Hieronymus Bosch

As pesquisas de cam-po e a prática ligada à te-oria são alicerces funda-mentais no aprendizadode uma geração que, cadavez mais, tem acesso atodo tipo de tecnologia ea informações de fontesdiversas. Esta é uma dasvertentes do Educandário

Escola aposta em pesquisa e valores humanos

Sheyla, Anielly e alunos da 4a série com Alaíde Senhorinha (2a esq.) e Fabiana numa palestra sobre boas maneiras

São Lucas, que aposta emprojetos que privilegiemestes aspectos.

Foi o que fez AniellySá – professora da 4ª Sé-rie do Ensino Fundamen-tal – numa aula de Ciênci-as sobre solos. Ela e a di-retora do educandário –Sheyla Alencar – acompa-

nharam os alunos a umachácara na zona urbana deBoa Nova, onde AlaídeSenhorinha faz o plantiode hortas. Lá eles pude-ram conhecer diferentesplantas, sua forma deplantio e colheita; pude-ram ainda colocar a mãona terra para plantar e le-

var para a escola e paracasa, em garrafas pet, oresultado de suas ativida-des. A turma produziu re-latórios com detalhes eimpressões da visita.

Por sua vez, a profes-sora Fabiana Freire vem re-alizando na disciplina Reli-gião, desde a segunda uni-

dade, o projeto “ValoresHumanos”. Os alunos da2ª, 3ª e 4ª séries estão tra-balhando regras de com-portamento, boas maneiraspara convivência em gru-po e conceitos de amor,solidariedade e família.

Segundo a educado-ra, os alunos já fizeram umtrabalho de identificaçãode atos de solidariedadena própria família, em BoaNova e no país. Tambémjá assistiram a palestrassobre ética e valores es-senciais para a vida emsociedade, e agora se pre-param para exercer a soli-dariedade a partir da es-colha dos próprios brin-quedos que podem serdoados a outras criançaseconomicamente menosfavorecidas. A doaçãoacontecerá em outubro,no Dia das Crianças.

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Quem estiver fora deBoa Nova há mais de seismeses e for visitar a cida-de certamente se surpre-enderá já na entrada comum empreendimento dife-rente. Trata-se do lotea-mento “Paraíso da Serra”,que está sendo realizadopela Celes Marinho Lote-amento e IncorporaçõesLtda, dirigida pelos boa-novenses Eugênio Mari-nho e Márcio Celes.

Diferentemente do queocorreu nas décadas de 80e 90, quando ir embora deBoa Nova era praticamen-te um imperativo – princi-palmente para os jovens,a última década foi marca-da pela perspectiva de re-torno para muitos boano-venses que um dia saíram.Neste público estão aque-les que retornaram parainvestir no município e embusca de qualidade devida, após a aposentado-ria. Outros tantos que ain-da se encontram fora cadavez mais vislumbram apossibilidade de retornare/ou de manter uma resi-dência de férias.

O “Paraíso da Serra”está sendo construído,segundo Eugênio e Már-cio, também para contem-plar os anseios dessaspessoas, que têm ligaçõesafetivas com a terra natal,mesmo ainda tendo resi-dência e uma vida profis-sional fora. Márcio, admi-

Loteamento traz proposta inovadorade moradia e urbanismo

Márcio Celes e Eugênio Marinho no canteiro de obras e vista parcial da cidade a partir do loteamento

nistrador de empresas, foium dos que um dia saírame há algum tempo retorna-ram para morar. Eugênio,funcionário da Petrobras eresidente em Salvador háquase três décadas, man-tém “um pé na capital eoutro em Boa Nova”.

Antenados com o quehá de mais contemporâneoem termos de qualidade demoradia coletiva e de ur-banismo, os dois resolve-ram apostar no que consi-deram uma proposta ino-vadora nestes dois con-ceitos. “O novo loteamen-to é um projeto arrojado aser feito em etapas, comum total de 1.477 lotesnuma área total de 74 hec-tares. Na primeira etapaserão 500 lotes de 250 m2 ealguns de 300 m2, com10% destinados a áreasverdes e 5% para áreas

institucionais (que podemser utilizados pelo Muni-cípio para construção deescola, creche, quadra po-liesportiva, praça com pal-co para eventos etc.”, res-saltou Eugênio.

Márcio explicou que oprojeto paisagístico pro-fissional prevê um portalde entrada, a inserção deespécies da flora da região,a preservação de dois la-gos existentes no terreno(que terão suas bordas de-vidamente construídas) eáreas de convivência,como praças e um clubeprivado com auditório,cujas cotas serão adquiri-das automaticamente pe-los mil proprietários dasduas primeiras etapas.

“Os nomes das ruas eavenidas do loteamentotambém valorizaram a fau-na e flora típicas de Boa

Nova, a exemplo das duasprincipais avenidas – a doGravatazeiro e a das Bro-mélias. Nós estamos ten-do o cuidado de consul-tar pessoas que atuam nomunicípio na área ambien-tal, como Jônatas Meira(Mello) e Edson Ribeiro”,completou Márcio.

Os sócios-proprietári-os da Celes Marinho, quetambém chamaram a aten-ção para o que represen-tará o loteamento para aeconomia local e para osprofissionais que traba-lham no ramo de constru-ção, disseram que o empre-endimento traz ainda umprojeto inovador: a Esta-ção de Tratamento de Es-goto, que poderá ser mon-tada e administrada tantopelo Município quantopelo Estado (através daEmbasa) e pela iniciativa

privada. “É um sistema to-talmente fechado e semodor, que tem como prin-cípio básico o reuso daágua para descarga, paisa-gismo e lavagem de carro.Além do tratamento doesgoto em si e do uso in-teligente da água, como jáacontece em algumas cida-des do Brasil e do mundo,este tipo de estação de tra-tamento ainda promoveuma economia considerá-vel na conta de água”, en-fatizou Eugênio.

Estão envolvidos naconstrução do loteamen-to o arquiteto Sérgio Pi-thon Nápoli (filho do bo-anovense Agnaldo Nápo-li, já falecido), a engenhei-ra sanitarista Simone Ca-valcanti e as empresas to-pográficas CerqueiraMaia Ltda (de Jequié) eGeotop (de Salvador).

Exatamente na manhã do dia 28 de julho, quando estaedição seguia para a gráfica (em Viçosa-MG), recebi umtriste telefonema da minha amiga e comadre Ana NeryMoraes Brito (secretária municipal de Educação). Ela mecomunicava que Boa Nova estava de luto, pois tinhaacabado de falecer Gilberto Pereira Silva, mais conhecidocomo Beto-de-Zelito. Conseguimos a tempo modificar adiagramação para inserir esta pequena homenagem.

Aos 43 anos, ele vinha desde o início deste anolutando bravamente contra um tumor cancerígeno, queo obrigou a um tratamento quimioterápico agudo e do-loroso. Em minha ida a Boa Nova no início de julho tivea oportunidade de visitá-lo e de abraçá-lo (só não imagi-nava que pela última vez). Beto, que desde o início de2009 assumia a chefia da Diretoria Municipal de Culturae Turismo (órgão ligado à Secretaria de Educação), foimais do que um conterrâneo e contemporâneo; foi um componente que-rido da minha turma de amigos da adolescência.

Conhecido pela determinação, pelo dinamismo e pelo espírito fes-

Beto da alegria e da culturativo, sua alegria era daquelas que contagiava todosao redor. Ele não media esforços para ajudar, paraacolher; nos anos em que morou em São Paulo-SPsua casa tinha as portas abertas para os amigos,principalmente os de Boa Nova.

Sua ligação com arte e cultura o fez durante algunsanos organizar praticamente sozinho o Bloco NanaMaçã, que era uma atração à parte na Festa de Setem-bro. Nos últimos anos Beto montou uma charmosapizzaria na cidade, elogiada pelas deliciosas pizzas fei-tas por ele mesmo e pela decoração genuinamente ar-tística. À frente da Diretoria de Cultura ele vinha sendouma peça-chave na construção de um calendário artís-tico-cultural para Boa Nova. A foto que ilustra estetexto foi tirada em julho de 2009 durante uma das edi-ções mensais do projeto Cultura & Som.

Que as sua marcas possam continuar nos inspirando a realizarprojetos para Boa Nova dignos dos seus sonhos.

(por Roberto D’arte – Betto-de-Dozinho, editor do GAMBOA)

Beto deixará muita saudade

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Junho/Julho/10Gamboa6

Contar a história de alguémé sempre uma oportunidade deconfirmar o quão valiosa é a vidade cada um também para a co-munidade. Assim como temosfeito desde a primeira edição doGAMBOA, em maio de 2000,continuamos a valorizar as bio-grafias dos boanovenses e/ouamigos de Boa Nova.

O homenageado desta ediçãoé para mim uma pessoa muitoquerida – ligada à minha infânciana condição de padrinho de cris-ma, ao lado de sua esposa – Geo-liane Sande Sampaio, a quemsempre chamei e continuo cari-nhosamente a chamar de DinhaJó. Ele, Ednaldo Nery Moura –popularmente conhecido comoNaide (para mim, Dinho Naide),tem uma rica história de vida.

Aos 78 anos, nosso biogra-fado tem 60 anos de Boa Nova, oque o faz um legítimo boanoven-se de adoção. Baiano de Jagua-quara, Naide passou a infância eparte da adolescência em SantaInês – cidade daquela região.Oriundo de uma família humildede agricultores, ele logo cedoteve que enfrentar a lida para aju-dar os pais a criar seus onze fi-lhos, dos quais era o mais velho.

Sua chegada a Boa Nova, em1950, foi na condição de va-queiro – seu principal ofícioà época. Sua missão erabuscar um cavalo perten-cente a Manoel Leôncio(respeitado fazendeiro nomunicípio), que deveria serlevado para um tio em Ja-guaquara.

Manoel Leôncio (casa-do com sua tia), vendo adestreza e seriedade daque-le jovem, deu a ele uma mis-são que marcaria a sua vidae a ligaria definitivamente aBoa Nova. Naide deverialevar cerca de 500 vacas

Vaqueiro, cantador e delegado

Naide no tempo de vaqueiro

O cantador com sua neta Ully ainda bebê e com o “cinto-cofre” da época das comitivas

para Carlos Chagas-MG, a quasemil quilômetros de distância,numa viagem de 36 dias.

“Quando eu já estava em Ito-roró-BA chegou um empregadode Manoel Leôncio para me dar anotícia de que meu pai tinha fale-cido em Santa Inês. Foi um hor-ror para mim aquele momento,mas eu tinha recebido uma tarefade grande responsabilidade, prin-cipalmente porque Manoel Leôn-cio tinha viajado para o Rio deJaneiro. Cumpri a missão semvoltar para o sepultamento demeu pai”, contou.

Órfão de pai e tendo que cui-dar da mãe e dos dez irmãos, Naideaceitou o convite do seu tio paramorar em Boa Nova e trabalharcomo vaqueiro na Fazenda Califór-nia. Em 1953, com a morte de Ma-noel Leôncio, a sua situação ficoudifícil, pois tinha dinheiro para re-ceber, mas também havia contraí-do dívidas com a família do tio. Porintermédio do seu primo Carlos Le-ôncio, conseguiu resolver o pro-blema, mas as desavenças geradaso impediram de continuar traba-lhando na fazenda.

Estabelecido na sede com amãe e irmãos (na casa que hojepertence a minhas tias Solange,Sisi e Aurinha Moraes), Naide en-frentou outro grande desafio:como sobreviver e sustentar suagrande família numa cidade ondeainda era praticamente um des-conhecido, ainda por cima soltei-ro e desempregado?

Foi aí que surgiu a chance defazer o que sabia como vaqueiroe ir mais além, tornando-se ele

próprio um negociante de gado.Algo que Naide soube fazer tãobem que algum tempo depois lherendeu as fazendas que adquiriu.Até hoje ele guarda o primeirocinto de couro onde o dinheirodas vendas de gado era transpor-tado durante as longas viagensem comitiva.

O episódio da primeira ven-da, no entanto, não foi nada tran-quilo. Um fazendeiro já falecido,conhecido em Boa Nova na dé-cada de 50 como Marcos Tan,ofereceu a Naide algumas cabe-ças de gado para serem vendi-das, mesmo o jovem tendo ditoque não possuía dinheiro parapagar a vista pelos animais. Comum voto de confiança de Tan, elesaiu para vender o gado; ao vol-tar com o dinheiro para quitar suadívida, foi surpreendido com ainformação de que o fazendeiro,num dia em que bebeu além daconta, tinha espalhado na cida-de que Naide havia roubado seugado e fugido.

“Lembro até hoje que foi o fi-nado João Quaresma que saiu naminha defesa, dizendo que eu eraum rapaz humilde, mas honrado.Eu fiquei com tanta raiva daquiloque fui na casa de Marcos Tanpara pagar o que devia, mas tam-bém para dizer a ele um monte dedesaforos. Eu cheguei a mandarele sair para resolver aquela his-tória na bala”, relembrou.

Felizmente, essa história nãoteve um fim trágico, mas serviupara Naide constatar que se qui-sesse se estabelecer numa cida-de onde ainda era visto com des-confiança era preciso se casar.

O homenageado com a esposa Jó (em pé, 3a da dir. p/ esq.), familiares e com os quatro netos

Algum tempodepois, numafesta ondemostrava seutalento tam-bém comocantador e vi-oleiro, ele co-meçou um na-moro com Pal-mira Rodri-gues Silva(Mimi), filhados boano-

venses Trancolino RodriguesSilva (Seu Tranco) e Laura Ro-drigues Silva, além de sobrinhade um respeitado político da épo-ca – José Balbino da Silva (presi-dente da então UDN).

Já na condição de fazendeirode gado e de 1o suplente de juizde paz, Naide viveu 17 anos comMimi, que faleceu em 1970, exa-tamente no dia da final da Copado Mundo em que o Brasil con-quistou o tricampeonato. Foi umcasamento sem filhos em decor-rência de um problema de saúdede sua esposa.

Em 1971 ele se casou com Ge-oliane Sampaio, com quem teve osfilhos Ednaldo e Maria CristinaSampaio Moura. É também pai deMaria da Glória Moura (filha deuma relação anterior) e avô dequatro netos (Ully, 17 anos; Ális-son e Ígor, de 13 anos; e Ian, de 8).

Além de vaqueiro, cantadore fazendeiro, a história de Naideem Boa Nova também está ligadaa sua contribuição como delega-do de Polícia – cargo que ocu-pou de 1973 a 1976 (na década de60 já tinha sido 1o suplente dedelegado). “Naquela época eramais fácil manter a ordem. Reali-zei um bom trabalho; fiz muitagente se casar e mandei muitosinquéritos para a Justiça. Comodelegado, nunca bati ou maltra-tei um preso. Era mais de dar con-selhos, como fazia quando eu fuijuiz de paz”, completou.

(por Roberto D’arte – gradua-do em Filosofia e especialista emPsicopedagogia; professor da FDV– Faculdade de Viçosa e redator do

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Junho/Julho/09 Gamboa 7

Formada em 27 de setembro de2007 e contando atualmente com qua-se 40 artesãos, a AVICA – Associa-ção do Valentim na Criação de Arte-sanato é um bom exemplo do poten-cial econômico criado a partir da arte.Apesar do pouco tempo de divulga-ção, o distrito boanovense já é umareferência de artesanato regional feitocom qualidade.

O começo da história do artesa-nato local se remete ao cipó com oqual se faziam as cestas para com-pras, para levar mercadorias à feira,balaios para carregar mandioca e ojacar (tipo de panacum utilizado notransporte de cargas em jegues e boisno tempo em que não existia carro).A sua ampliação é resultado do tra-quejo na arte de trabalhar o cipó, pas-sado de geração a geração, e na aqui-sição de novas matérias-primas, aexemplo dos cipós imbé, trinca-trin-ca, timborano e ginete (este, encon-trado só no Sul da Bahia, possui umafibra curta, o que o torna ideal parapeças pequenas e com detalhes).

Antes as peças eram utilitárias, masos artesãos do Valentim logo perceberamas muitas possibilidades e o valor agre-gado que tem o artesanato decorativo.Houve também a fusão de outros elemen-tos ao ginete, como a palha de milho, afibra do coco e sementes. Outros obje-

Como parte integrante dos meus pro-cessos de desenvolvimento de fala e es-crita, incorporei cedo o vocábulo “Va-lentim” ao meu repertório de palavras;uma palavra significativa.

Em Boa Nova, nos anos 1970, a pala-vra “Valentim” habitava o meu imaginá-rio de criança associada a dois aspectoscontextuais: relações familiares e econo-mia microrregional.

Cenas de minha tia paterna e/ou seumarido chegando de Valentim para nosvisitar em Boa Nova e retornando emseguida para o seu nicho de morada sãopeças do meu acervo familiar. O fato éque Tia Nen ligou-me a Valentim.

Aos domingos, no antológico cami-nhão de seu Humberto Brito, as lotaçõesde barraqueiros boanovenses rumo à fei-ra-livre de Valentim era um acontecimen-to. A feira-livre “valentinense”, no me-lhor estilo nordestino, era espontânea,ampla, falada e bastante movimentada.

De cabine ancestral, o caminhão deseu Humberto Brito era uma entidade;espécie de “marinete” boanovense; pa-trimônio cultural material.

De madrugada, em frente à casa deseu Humberto Brito, na praça Sete deSetembro, o ritual de preparação e saídado caminhão lotado de gente e mercado-ria guardava sutis relações com a prepa-ração e saída de romeiros para Bom Je-sus da Lapa; à tarde do mesmo domingo,o retorno da lotação era reportagem oralobrigatória pelas ruas, esquinas, bares elares da cidade.

Seu Joaquim, meu pai, e Renan, meuirmão mais velho, foram viajantes habi-tuais em tais caravanas comerciais pelaBR-030. Eu via as partidas e chegadassemanais de meu pai e meu irmão comoum privilégio. Nascia aí o meu primeirosonho de viagem.

Valentim produzartesanato de primeira

Três exemplos de peças decorativas produzidas por artesãos do Valentim

As artesãs Cleonice e Maria Bispo, membros da AVICA, com peças de sua criação

tos de criação recente são as bonecasde palhas de milho.

O grande salto dado pela ÁVICA,segundo a sua direção, aconteceu em2008 a partir da parceria com o Insti-tuto Mauá (órgão oficial do Governodo Estado da Bahia, responsável pelofomento à atividade artesanal). O ór-gão chamou a atenção dos artesãospara a necessidade de profissionaliza-ção. Um dos cursos já promovidospelo instituto na AVICA foi o de As-sociativismo e Relações Interpessoais,o que viabilizou a modernização e co-mercialização dos produtos da associ-ação feitos com o cipó ginete.

De cestinhas e chapeuzinhos ositens de produção foram ampliadospara flores e arranjos diversos. Hoje,os artesãos produzem milhares de pe-ças por ano, que são vendidas princi-palmente em cidades da Bahia e doSudeste do País, em especial o estadode São Paulo. De ambientes simplesaos sofisticados, o artesanato produ-zido no Valentim decora residências,consultórios, lojas e eventos.

Além dos produtos feitos a base deginete, os associados da AVICA tam-bém diversificam seu artesanato comcrochê, o fuxico, bordado em fita, bor-dado a mão, arte em couro e madeira,pintura em tecido e miniatura de ins-trumentos musicais.

Breve memorial doantológico caminhãode seu HumbertoBrito e da feira-livrede Valentim Vanzye Fargom

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São João em Valentim

São João em Valentim é muito animadoQuando a banda chega ninguém fica parado.Venha, minha gente, venha confirmáArraiá em Valentim vocês vão gostáO povo se reúne pra trazer a atraçãoTodo mundo junto curtindo o São João.No São João fogueira não pode faltarNa boca do povo não há licor que dá.Temos licor de jenipapo, abacaxi, cacau,cravo e canelaTodos são doces, mas nenhum igual a ela.Ela é doce e formosa como uma florEssa caipira já foi meu grande amor.Se você for a essa festa pode se prepararPorque Cláudio, Rosana, Rosalvo e Maria vocês vão encontrar.Deixamos aqui o nosso muito obrigado a todos que leram essa literatura de cordelPorque pra essa história vocês podem tirar o chapéu.

(Autores: Rosana Oliveira, Cláudio M. da Silva, Maria Senhora de Lisboa e Rosalvo Santos,tendo Cibele de Sá como professora mediadora)

Nosso Arraiá

Caros alunos e professores, viemos pra recitáUm cordel que fala do nosso arraiá.Queremos que prestem atençãoPois agora vamos contar como é nosso São JoãoTomamos muito quentão, tem muita animaçãoJunto com o povão que veio nos visitar.Tem muita música pra gente dançarE a gente tá lá para a festa animar.Tem muito moço bonito pra gente namorarE muita moça bonita para os moços paquerar.Com muita alegria, começamos a dançar e cantarComo estávamos dizendo, minha gente chega pra cá.Para a festa ficar completa, vamos todos se alegrarTomando licor e comendo mugunzáPor isso avisamos, no próximo São João venha nos visitar.Prometemos que você jamais esquecerá deste arraiáAgora com muita animação iremos finalizarEste cordel que resolvemos lhe contar.Esperamos que tenha gostado, pois tudo que foi faladoFoi para lhe agradar.Afinal o São João é uma data que devemos comemorarE lhe convido no próximo venha festejar aqui no nosso arraiá.

(Autoras: Jamile Santos de Souza e Daiane da Silva Alves, tendo Ivina Bitencourt comoprofessora mediadora)

A serra do Timorante

A história da serra é uma história muito boaPor isso, quem conta ela não está contando à toa.

A serra do Timorante já foi muito cobiçadaPor causa dos bandeirantes que ali exploravam.

A serra antigamente tinha muitos animaisHoje existem poucos precisamos de mais e mais.

Quem fez essa literatura foi uma pessoa legalQue se chama Marinaldo e é muito especial.

(Autor: Marinaldo Souza de Oliveira, tendo Cibele de Sá como professora mediadora)

8 Gamboa Junho/Julho/10

Criada há mais de um ano com o objeti-vo de divulgar a riqueza natural de BoaNova, a camisa "Diversidade Ambiental" fi-nalmente deixa de ser um projeto para virarrealidade. Com apoio do Jornal GAMBOAe da SAVE Brasil, o IAM (Instituto Adroal-do Moraes) criou a arte que integra a es-tampa a partir de fotografias da fauna, florae de outras belezas naturais do município.

O slogan "Diversidade Ambiental" foi tam-bém grafado em inglês para que a camisapossa ser adquirida como souvenir pelosobservadores de pássaros estrangeiros quecostumam visitar Boa Nova. "Sabemos quemuitos deles gostariam de levar algo que fos-se referência às belezas naturais do nossomunicípio, mas não encontram. Agora po-derão levar", ressaltou Luiz Henrique Mora-es - diretor-executivo do IAM.

Em Boa Nova, os interessados em ad-quirir a camisa (nas versões masculina efeminina babylook) podem procurar Luizou Sheyla Alencar na Macol Comércio eServiços (praça 7 de Setembro 4, Centro).Leitores de outras cidades também interes-sados em adquiri-la podem entrar em con-tato com Roberto D'arte (Betto) através doe-mail [email protected]. Aestampa da camisa, que ilustra este texto,pode ser vista colorida na versão do GAM-BOA em PDF (ver matéria à página 1).

Os trabalhos publicados nesta página fo-ram desenvolvidos por estudantes do Valentimatendidos pelo Emc@mpo - projeto de EnsinoMédio no Campo, desenvolvido desde 2009 pelaSecretaria de Educação da Bahia, tendo comobase a intermediação tecnológica de aulas, viasatélite, com mediador em sala de aula. Em Boa

Literatura de Cordel

Camisaambiental

Nova o Emc@mpo acontece numa parceria en-volvendo o Colégio Estadual Dr. Edivaldo Ma-chado Boaventura e a Secretaria Municipal deEducação, tendo como espaço para as aulas aEscola Municipal Luiz Viana, em Valentim.

A atividade de Literatura de Cordel foi fei-ta com a turma do noturno, sob a orientaçãode Neila Silveira - professora de Língua Por-tuguesa e Literatura Brasileira do projeto.

A estampa traz as nossas belezas naturais