ofensiva socialista n°1 jun-jul 2009

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Crise mundial • Demissões, arrocho e ataques aos trabalhadores • Destruição ambiental • Corrupção e repressão Basta de capitalismo! É hora de partir para a ofensiva! Foi lançada a nova corrente Liberdade, Socialismo eRevolução! site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152 CNE: avanço ou retrocesso? página 2 Fora PM e Suely da USP página 2 Um novo período de lutas se abre no SEPE-RJ página 3 “Os moradores das favelas não são considerados cidadãos” página 4 Jornada de lutas vitoriosa coloca ‘Terra Livre’ no mapa de Goiás página 4 Sarney e o Senado são a face real do regime político página 5 A quebra da GM, a opção de Obama e o fim de uma era página 9 Protestos abrem novo período no Irã página 11 II Congresso Nacional do PSOL página 12 N° 01 junho/julho 2009 Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) A recém formada corrente LSR – Liberdade, Socialismo e Revolução, vem apresentar aos trabalhadores, jovens, a todos os explorados e oprimidos des- te país, uma nova ferramenta para a difusão das idéias socia- listas, dos interesses dos tra- balhadores e da organização dos revolucionários – o jornal ‘Ofensiva Socialista’. Nosso jornal nasceu para servir aos trabalhadores diante da nova etapa da luta de classes aberta com a profunda crise que afeta todo o planeta. É o futuro da humanidade sobre o planeta que está em jogo nesse momento histórico. O capitalismo mundial se afunda na crise e quer nos levar junto para o fundo do poço. Demissões em massa, retirada de direitos, arrocho salarial, destruição do meio ambiente, corrupção deslavada e repressão so- bre quem questiona tudo isso. Isso é o máximo que esse sistema pode nos oferecer! Os quase 12 trilhões de dólares dos orçamentos públicos que estão sendo utilizados pelos governos de vários países para salvar banqueiros e grandes corporações não poderão solucionar as contradições estruturais do sistema. Na verdade, só criarão mais problemas futuros e, se não fizermos nada, as conseqüências serão mais uma vez jogadas sobre as nossas costas. Nova perspectiva para a resistência A resistência contra os ataques só pode acontecer se adotar uma nova perspectiva, uma dinâmica diferente dos últimos 20 anos de hegemonia neoliberal. Nesse período, as direções sindicais e políticas dos trabalhadores limitaram sua atuação, de um lado, às negociações específicas em cada setor, buscando a conciliação de classe com os patrões e, de outro, à tentativa de usar o espaço institu- cional, a atuação dentro do regime burguês, para obter alguma coisa. O resultado disso foi derrota atrás de derrota, traição atrás de traição. As degenerações da CUT e do PT sob o governo Lula são a demons- tração mais evidente do fracasso dessa política. Nos marcos da crise capitalista, a luta defensiva cotidiana sem hori- zonte estratégico, sem vínculo com a defesa de uma alternativa de sis- tema, se mostra profundamente li- mitada e incapaz de oferecer uma saída. Se no passado, a ofensiva ideológica neoliberal tornava mais difícil apresentar a alternativa so- cialista, a situação hoje começa a mudar. É preciso aproveitar as opor- tunidades para a reconstrução das forças socialistas. O socialismo como alternativa pre- cisa ser levantado com ousadia. Cada luta imediata, cada embate com go- vernos e patrões, cada espaço de disputa, debate e enfrentamento que reflita a os interesses de classe anta- gônicos no cenário da crise precisa servir ao acúmulo das forças na pers- pectiva da alternativa socialista. Jornal a serviço das lutas Nosso jornal, junto com outros instrumentos de comunicação, estará a serviço da retomada dessa ofensiva dos socialistas diante da crise do capital e do mundo moldado à sua imagem e semelhança. Será um tra- balho político e ideológico, de apoio às lutas, mas de também de organi- zação dos socialistas. Suas páginas estarão a serviço da divulgação das lutas operárias, estu- dantis e populares, mas também do debate sobre os grandes temas polí- ticos, econômicos, sociais e culturais que afetam a humanidade. Sempre do ponto de vista de classe daqueles que carregam a tarefa histórica de dar fim a esse sistema apodrecido, os trabalhadores e trabalhadoras. Nos núcleos do PSOL, nas bases sindicais e populares da Conlutas, no processo de formação da nova Central, no movimento estudantil combativo, o jornal ‘Ofensiva So- cialista’ buscará sempre defender a independência de classe, a demo- cracia, o programa e a estratégia socialista. A defesa franca e aberta de nossas opiniões se dará junto com a construção da unidade de ação com todos os que lutam. Convidamos todos os companhei- ros e companheiras dispostos a ajudar a construir essa nova ofensiva so- cialista a que se juntem a nós nessa empreitada. Escrevam, leiam e di- vulguem o ‘Ofensiva Socialista’. Juntem-se a nós na luta que vai de- finir o nosso futuro e o futuro da humanidade. páginas 6 a 8 Tendência do PSOL 1ªedição

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Jornal da Liberdade, Socialismo e Revolução Seção Brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores Corrente do PSOL

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Page 1: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

Crise mundial • Demissões, arrocho eataques aos trabalhadores • Destruiçãoambiental • Corrupção e repressão

Basta de capitalismo!É hora de partirpara a ofensiva!

Foi lançada a nova corrente

Liberdade, Socialismo

eRevolução!

site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152

CNE: avanço ou retrocesso?

página 2

Fora PM eSuely da USP

página 2

Um novoperíodo delutas se abreno SEPE-RJ

página 3

“Os moradoresdas favelas não sãoconsideradoscidadãos”

página 4

Jornada delutas vitoriosacoloca ‘TerraLivre’ no mapade Goiás

página 4

Sarney e oSenado são aface real doregime político

página 5

A quebra daGM, a opçãode Obama e ofim de uma era

página 9

Protestosabrem novoperíodo no Irã

página 11

II CongressoNacional doPSOL

página 12

N° 01 junho/julho 2009

Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR

Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

A recém formada corrente LSR– Liberdade, Socialismo eRevolução, vem apresentar aostrabalhadores, jovens, a todosos explorados e oprimidos des-te país, uma nova ferramentapara a difusão das idéias socia-listas, dos interesses dos tra-balhadores e da organizaçãodos revolucionários – o jornal‘Ofensiva Socialista’.

Nosso jornal nasceu para serviraos trabalhadores diante da novaetapa da luta de classes aberta coma profunda crise que afeta todo oplaneta. É o futuro da humanidadesobre o planeta que está em jogonesse momento histórico.

O capitalismo mundial se afundana crise e quer nos levar junto parao fundo do poço. Demissões emmassa, retirada de direitos, arrochosalarial, destruição do meio ambiente,corrupção deslavada e repressão so-bre quem questiona tudo isso. Issoé o máximo que esse sistema podenos oferecer!

Os quase 12 trilhões de dólares dosorçamentos públicos que estão sendoutilizados pelos governos de váriospaíses para salvar banqueiros e grandes

corporações não poderão solucionaras contradições estruturais do sistema.Na verdade, só criarão mais problemasfuturos e, se não fizermos nada, asconseqüências serão mais uma vezjogadas sobre as nossas costas.

Nova perspectiva para aresistência

A resistência contra os ataques sópode acontecer se adotar uma novaperspectiva, uma dinâmica diferentedos últimos 20 anos de hegemonianeoliberal. Nesse período, as direçõessindicais e políticas dos trabalhadoreslimitaram sua atuação, de um lado,às negociações específicas em cadasetor, buscando a conciliação declasse com os patrões e, de outro, àtentativa de usar o espaço institu-cional, a atuação dentro do regimeburguês, para obter alguma coisa.

O resultado disso foi derrota atrásde derrota, traição atrás de traição.As degenerações da CUT e do PTsob o governo Lula são a demons-tração mais evidente do fracassodessa política.

Nos marcos da crise capitalista, aluta defensiva cotidiana sem hori-zonte estratégico, sem vínculo com

a defesa de uma alternativa de sis-tema, se mostra profundamente li-mitada e incapaz de oferecer umasaída. Se no passado, a ofensivaideológica neoliberal tornava maisdifícil apresentar a alternativa so-cialista, a situação hoje começa amudar. É preciso aproveitar as opor-tunidades para a reconstrução dasforças socialistas.

O socialismo como alternativa pre-cisa ser levantado com ousadia. Cadaluta imediata, cada embate com go-vernos e patrões, cada espaço dedisputa, debate e enfrentamento quereflita a os interesses de classe anta-gônicos no cenário da crise precisaservir ao acúmulo das forças na pers-pectiva da alternativa socialista.

Jornal a serviço das lutas

Nosso jornal, junto com outrosinstrumentos de comunicação, estaráa serviço da retomada dessa ofensivados socialistas diante da crise docapital e do mundo moldado à suaimagem e semelhança. Será um tra-balho político e ideológico, de apoioàs lutas, mas de também de organi-zação dos socialistas.

Suas páginas estarão a serviço da

divulgação das lutas operárias, estu-dantis e populares, mas também dodebate sobre os grandes temas polí-ticos, econômicos, sociais e culturaisque afetam a humanidade. Sempredo ponto de vista de classe daquelesque carregam a tarefa histórica dedar fim a esse sistema apodrecido,os trabalhadores e trabalhadoras.

Nos núcleos do PSOL, nas basessindicais e populares da Conlutas,no processo de formação da novaCentral, no movimento estudantilcombativo, o jornal ‘Ofensiva So-cialista’ buscará sempre defender aindependência de classe, a demo-cracia, o programa e a estratégiasocialista. A defesa franca e abertade nossas opiniões se dará juntocom a construção da unidade deação com todos os que lutam.

Convidamos todos os companhei-ros e companheiras dispostos a ajudara construir essa nova ofensiva so-cialista a que se juntem a nós nessaempreitada. Escrevam, leiam e di-vulguem o ‘Ofensiva Socialista’.Juntem-se a nós na luta que vai de-finir o nosso futuro e o futuro dahumanidade.

páginas 6 a 8

Tendênciado PSOL

1ªedição

Page 2: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

2 • juventude Ofensiva Socialista n°01 junho/julho - 2009

Desde o começo do ano aUniversidade de São Paulo tempassado por um processo deacirramento das lutas reivindi-catórias dos funcionários e dosestudantes.

Luita CastroEstudante de História da USP

Muitos dos acordos estabelecidospela greve de 2007 simplesmente nãoforam cumpridos. A não perseguiçãoaos grevistas, a construção de umnovo bloco no CRUSP (moradia es-tudantil) e a garantia das condiçõespara a ocorrência do V Congresso daUSP são apenas alguns exemplos dasexigências colocadas pela greve quenão foram encaminhadas.

A maior universidade do país seguefielmente o projeto político neoliberaldo governo Serra, que deliberada-mente fecha as portas da universidadepública para os estudantes pobres enão garante permanência adequadapara os poucos que conseguem burlaro filtro social do vestibular.

A situação dos funcionários não édiferente. Além do salário rebaixadoe as más condições de trabalho, emdezembro do ano passado, o diretor

do Sindicato dos Trabalhadores daUSP (Sintusp) Claudionor Brandãofoi demitido em plena gestão da di-reção do sindicato, configurandouma clara perseguição política.

No início desde ano os trabalhadoresalavancaram um amplo processo demobilização levando para todas asunidades as pautas reivindicatóriassalariais e de exigência da readmissãodo companheiro Brandão.

Após quase três meses de mobili-zações e adesões de várias unidadesàs reivindicações levantadas, os fun-cionários iniciaram uma greve nodia 5 de maio.

Estimulados por esse processo, osestudantes intensificaram as discus-sões sobre suas próprias pautas dereivindicações, como a questão dasverbas para educação e o novo pro-jeto de ensino a distância de Serra,a UNIVESP (Universidade Virtualdo Estado de São Paulo). Sob o pre-texto de democratizar o acesso aoensino superior, a UNIVESP fazcom que a juventude pobre e traba-lhadora receba um ensino de baixaqualidade, pela TV, enquanto a elitecontinua ocupando as salas de aula,laboratórios, etc.

A postura da reitora Suely Vilela

e do CRUESP (Conselho de reitoresdas universidades estaduais paulistas)foi de rejeitar o diálogo. A demons-tração mais clara disso foi o chamadopor parte da reitora para que a PolíciaMilitar entrasse no campus do Bu-tantã para impedir piquetes de fun-cionários na reitoria.

Presença da PMaumentou a mobilização

Mas, o tiro saiu pela culatra. A in-dignação diante da presença da PMdentro da universidade estimulouestudantes e professores a decidirpor uma greve unificada de toda acomunidade universitária exigindoa retirada da polícia do campus.

O ponto alto do enfrentamento nodia 9 de junho. Nos momentos finaisde uma manifestação pacífica de es-tudantes, professores e funcionários,a PM transformou a cidade univer-sitária num campo de guerra.

Depois de avançar pelas avenidasprincipais do campus, expulsandodo caminho à base de bombas degás, tiros com bala de borracha ecassetetes, tudo aquilo que dá vidaà universidade, ou seja, estudantes,professores, funcionários, o prédio

da História e Geografia foi sitiado ebombardeado pela PM.

A repressão provocou uma respostamais firme por parte da comunidadeuniversitária. O movimento tambémpassou a envolver de forma maisclara as demais universidades esta-duais paulistas.

Se em um primeiro momento vía-mos grande parte dos estudantes ape-nas contrários à presença da polícia,agora observamos um aumento qua-litativo no nível de discussão. Hojese debate sobre qual é o real signifi-cativo da repressão ao movimentosindical, sobre a violência institu-cionalizada na universidade e na so-ciedade e de como estes dois fatoresse articulam com o projeto educa-cional para conformar um modelode sociedade excludente e repressor.

Quando escrevíamos este artigo,a greve na USP continuava em todos

os setores, apesar da reitora ter sidoobrigada a anunciar a retirada parcialda PM do campus.

As lutas travadas no interior dauniversidade, muitas vezes, foramtratadas como fatores descolados daluta de classes que se estabelece nasociedade em que vivemos. Já nãopodemos permitir que isso aconteça.A Universidade é mantida como di-nheiro público, dinheiro do traba-lhador, deve, portanto, dar uma res-posta a eles e não servir a interessesde quem os explora.

Unifiquemos as causas dos traba-lhadores e estudantes dentro e forada universidade. Por uma universi-dade de qualidade para todos.

Fora PM da USP para sempre.Fora Reitora Suely Vilela. Por umauniversidade democrática em suasestruturas e abrangências.

O Congresso Nacional dosEstudantes (CNE) foi realizadono Rio entre os dias 11 e 14de junho e reuniu cerca de 1,8mil estudantes que debateramos rumos do movimento estu-dantil.

Toninho Filho

Foi um Congresso que poderiadar um passo importante em direçãoà reorganização do movimento es-tudantil após a falência da UNEcomo instrumento de luta. No en-tanto, tendo o PSTU como forçamajoritária, os debates no CNE seconcentraram na questão da criaçãoimediata de uma nova entidade.

Houve uma polarização entre aproposta da nova entidade já e osque acreditam que é mais importante,neste momento, construir um calen-dário unificado de lutas e um pro-grama político que balize o movi-mento estudantil para além das dis-cussões burocráticas.

Uma nova entidade deve ser frutode um acúmulo de lutas unificadas,não da vontade de um grupo ououtro. É preciso lembrar que a es-querda combativa do movimentoestudantil ainda hoje está fragmen-tada e encontra sérias dificuldadespara atuar de maneira conjunta.

O CNE acabou aprovando a cria-ção imediata de uma entidade estu-dantil, a chamada Assembléia Na-cional dos Estudantes – Livre(ANEL). O Congresso aprovou quea nova entidade está formalmenteaberta aos que participam dos fórunsda UNE. Mas, a postura geral adotadanão é muito diferente da antiga Con-lute (Coordenação Nacional de Lutados Estudantes), também patrocinadapelo PSTU, que enfatizava a sepa-ração entre quem participa, mesmoque fazendo oposição, em algum

fórum da UNE e os que constroemuma nova entidade.

Nossa proposta no Congresso, uni-ficando outros setores, foi a da cria-ção de um Fórum Nacional de Es-tudantes a ser construído localmente,com comitês locais, e nacionalmente,de modo a possibilitar que as enti-dades de base do movimento estu-dantil, como CAs, DAs, DCEs eExecutivas de Curso pudessem de-cidir de forma direta os rumos domovimento.

Isto possibilitaria a criação de umcalendário de lutas unificado. Issosim seria um passo sólido na reorga-nização do Movimento Estudantil.

Das 14 teses que foram apresen-tadas no CNE, apenas duas se posi-cionavam pela criação da ANEL.

Acreditamos que a ANEL podeservir, na prática, para confundirainda mais os estudantes e a formacomo ela foi criada é um exemplotípico das dificuldades que encon-tramos atualmente no processo dereorganização do movimento estu-dantil: cada um por si na construçãodos espaços próprios, buscando sediferenciar dos outros grupos.

Conseguimos aprovar no CNE aconstrução de uma plenária do mo-

vimento estudantil combativo parao final do ano. A idéia é trabalharessa plenária durante o ano para quede fato estejam lá todos os setoresque vêm lutando pela educação pú-blica e de qualidade para todos.

Um novo coletivo nacional

Estudantes do Rio de Janeiro, RioGrande do Sul, São Paulo e MinasGerais, reunidos no CNE, decidirampelo início de um processo de for-mação de um coletivo nacional paraatuação no movimento estudantil.

Este coletivo, em construção, lutapela unidade da esquerda combativa.Luta por bandeiras como a assistênciaestudantil e a instauração da demo-cracia nas universidades particulares.

Buscamos construir uma novaconcepção de movimento estudantilcom autonomia frente a partidos,classista, amplamente democrático,que seja capaz de superar as disputasfratricidas da esquerda na recom-posição da unidade das lutas estu-dantis!

Está nascendo um coletivo nacionalde estudantes que trabalhará paraunir os lutadores... Esta é nossaaposta: unir para lutar!

Fora PM e Suely da USP

Em meio à crise capitalista noBrasil e no mundo, aconteceráo 51º Congresso da UNE(ConUNE) entre os dias 15 e19 de julho, em Brasília.Serão mais de mil entidadesestudantis representadas,com a presença de cerca de10 mil estudantes discutindoos rumos para a juventude epara o movimento estudantil.

Reginaldo Costa

O cenário é propício para queaprofundemos a organização da ju-ventude em torno de lutas como adefesa do ensino público de quali-dade, pelo passe-livre, defesa dameia-entrada nos espaços culturaise tantas outras demandas.

Além disso, o momento é inspi-rador, pois os estudantes da USPdão exemplo da combatividade domovimento estudantil na luta contrao ensino à distância como “fórmulamágica” (e sucateada) para se au-mentar o acesso dos jovens à uni-versidade.

Á primeira vista pode parecerque poderemos ter um bom Con-gresso da UNE. Mas, a realidadenão é bem assim!

Mas o que a UNE tem feito?

Enquanto lutas importantes sãotravadas, a direção majoritária daUNE (PCdoB e PT) está mais preo-cupada com os milhões de reaisque o governo federal destinou evai destinar aos cofres da entidadedo que realmente encampar as lutas.

Só para o projeto de construçãoda sede da UNE no estado do Riode Janeiro já foram destinados cercade 10 milhões de reais, sem quetenha havido uma prestação de con-tas séria da entidade sobre estaverba. Como diz o ditado, quem

paga a banda, escolhe a música.Assim, o que vemos é a direçãomajoritária da UNE defender tudoque vem do governo Lula. Fazem,mais uma vez, do ConUNE o palcode uma festa chapa-branca pra ce-lebrar o adesismo ao programa neo-liberal de Lula.

Há mais de 18 anos na direçãoda entidade, a UJS (PCdoB) se es-pecializou em fazer dos espaçoscongressuais mera formalidade,sem que haja democracia na cons-trução e participação dos estudantes.A começar pela tiragem de delega-dos que não reflete a dinâmica domovimento estudantil, já que sãoeleições sem debates, totalmenteafastada da realidade da juventu-de.

Nossas tarefas...

Apesar deste quadro não podemosnos furtar de debater com os estu-dantes que estão conhecendo o mo-vimento estudantil pelos braços daUNE.

Faremos o debate fraterno, dis-cutindo, apresentando propostasem busca de um movimento estu-dantil democrático e combativo,que seja autônomo de partidos egovernos.

Não entraremos na picuinha ba-rata da disputa estéril por cargosna UNE. Isso só divide a oposiçãode esquerda da UNE. Somos favo-ráveis à construção de uma oposiçãoda UNE que se dê sobre marcosprogramáticos e sem sectarismo.

Não queremos cargos, queremosluta! Precisamos de uma plataformade ação nacional na defesa do pas-se-livre, da meia-entrada, de defesade direitos trabalhistas para a ju-ventude e tantas outras bandeiras,pois no contexto da crise os ricosquerem que a juventude seja a sal-va-guarda de seus lucros.

Vamos pra luta, seja onde for!

Congresso da UNE: não vá se perder por aí...

CNE: avanço ou retrocesso?

Grupo de discussão durante o CNE.

Militante da LSR da USP sob ataque da PM no dia 9 de junho.

Page 3: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

Servidores deHortolândia dãoexemplo de luta

Os servidores públicos municipaisde Hortolândia acabam de dar umexemplo de garra e disposição deluta na defesa de seus direitos -realizaram a primeira greve da his-tória de sua categoria. Paralisaramo serviço público municipal pormais de 30 dias em defesa de salário,cesta-básica, plano de cargos, con-curso público e pelo fim do assédiomoral e todo tipo de perseguição.

Como exemplo das novas ca-madas que entram na luta no con-texto da crise econômica, o mo-vimento teve que passar por cimade todos os obstáculos possíveise ainda assim os trabalhadoresmantiveram a cabeça erguida.

O prefeito de Hortolândia, Ân-gelo Perugini do PT, agiu comoum verdadeiro carrasco dos ser-vidores. Recusou-se a negociar,mentiu para a população, usou eabusou da injusta “Justiça” bur-guesa, foi truculento e ameaçouos trabalhadores. O PT se mostroutão podre quanto os demais parti-dos de direita na região.

Na luta contra a prefeitura, ostrabalhadores também tiveram quecontornar o enorme obstáculo re-presentado pela direção do sindi-cato dos servidores municipais.Inicialmente contra qualquer tipode luta (nunca organizaram umagreve na vida), os diretores dosindicato tiveram que engolir adecisão massiva da Assembléiaem favor da greve.

Mas, depois, não perderam opor-tunidades para frear o movimento.Um Comando de greve foi eleito emAssembléia, mas só encontrou nosindicato obstáculos para sua ação.

A greve terminou sem grandesvitórias econômicas, mas com umgrande saldo de organização econsciência. Independentementedo resultado final, uma camadaimportante dos trabalhadores jácomeça a tirar as conclusões cor-retas dessa experiência: a neces-sidade da organização democráticapela base, da independência emrelação aos governos e politiquei-ros, da unidade do movimentocom os demais setores da classetrabalhadora e, centralmente, deuma nova direção sindical paraos servidores de Hortolândia.

Márcia Soraya Teaniprofessora de educação

infantil - Hortolândia

Banco de Horas naAmBev – cadê osindicato?

Os patrões da AmBev, gigantedo setor de bebidas, em Jacareí,usaram a lentidão do sindicato daalimentação da região para enfiaro ‘banco de horas’ goela abaixodos trabalhadores.

Apesar da paralisia do sindicato,ativistas da oposição sindical, tam-bém vinculada à Conlutas, tinhamconseguido que uma Assembléiano dia 01/04 rejeitasse o ‘bancode horas’. A empresa não se deupor vencida. Fez todo tipo dechantagem e intimidação, inclusiveameaçando com 180 demissões,para conseguir nova votação.

Sem nenhuma iniciativa do sin-dicato, foi difícil reverter a situação.A direção do sindicato ainda se dizligada à Conlutas, mas só faz corpomole. Isso precisa mudar.

Joaquim Aristeu, Cipeiro da AmBev

sindical • 3Ofensiva Socialista n° 01 junho/julho - 2009

Um novo período delutas se abre no SEPE-RJGraças à mobilização dos pro-fissionais da educação, o pre-feito Eduardo Paes não conse-guiu aprovar o texto original doprojeto 02/2009 de privatiza-ção da educação municipal naíntegra. Este projeto previa acriação das OrganizaçõesSociais (OS) para gerir diversossetores da administração públi-ca municipal, entre elas a edu-cação, a saúde, o meio ambien-te e a cultura.

Luciano Barboza e Jane BarrosSEPE Nova Iguaçu

A pressão junto à Câmara dos Ve-readores acabou acarretando a criaçãode um substitutivo ao projeto original,que excluía a educação e a saúde.No dia 29/04, o substitutivo entrouem pauta, com a Câmara repleta deservidores, e foi rejeitado pela maio-ria de vereadores a favor da privati-zação. Mas, na mesma data, dianteda pressão da categoria, alguns ve-readores apresentaram emendas, mi-nimizando os efeitos do projeto nossetores de saúde e educação.

O prefeito Eduardo Paes prevêtrês meses para a entrega da gestãode setores da educação (creches ereforço escolar), saúde, esportes(vilas olímpicas), cultura, meio am-biente e ciência e tecnologia às OS.

O SEPE (sindicato dos trabalha-dores em educação) está com umarepresentação pronta para o Minis-

tério Público Estadual, para que esteentre com uma ação de inconstitu-cionalidade contra o projeto de lei02/2009 aprovado. O SEPE pretendemostrar aos procuradores do MPEque o prefeito não pode abandonarsimplesmente sua obrigação consti-tucional de oferecer educação públicae de qualidade para os cariocas.

Luta estadual

Cerca de 96 mil profissionais nãorecebem a gratificação Nova Escola(um abono de cerca de 300 reais).Cabral diz que vai incorporar a gra-tificação desde sua campanha em2006, mas tudo indica que ele vai

incorporar em junho de 2010, datalimite para o Executivo enviar aproposta ao Legislativo, devido àsregras eleitorais. Isso deve acontecerpara Cabral tentar a reeleição paragovernador, contando com os votosdos profissionais da educação. Só amobilização pode obrigar o Governoa fazer a incorporação já! Não po-demos também deixar que Cabralutilize a incorporação como um trun-fo eleitoral.

Eleições do SEPE

No ano em que completa 32 anosde luta, o SEPE realizou eleiçõespara sua direção entre os dias 16 a19 de junho. Percebemos a dificul-dade que a última gestão teve paramobilizar a categoria para as lutas,o que expressa certo afastamentodas demandas concretas da categoria.Também é verdade que a últimagestão do ponto de vista políticofez corretamente duras críticas aoprojeto neoliberal de educação dosgovernos municipais e estadual,mantendo sua independência políticaperante estes governos.

Disputaram as eleições duas chapasque apóiam governos (Chapa 2: CUT-PT e Chapa3: CUT-PT e CTB-PCdoB)e duas chapas de oposição aos go-vernos (Chapa 1: MTL, C-SOL e En-lace e Chapa 4: APS, Coletivo PauloRomão, LSR, PCB e PSTU.

Participamos da Chapa 4 por estater pautado de forma clara a neces-

sidade da unidade dos trabalhadorespara vencer as lutas. Ela se construiuem meio ao processo de reorgani-zação sindical, defendendo a fusãoentre Intersindical e Conlutas, o quepotencializa o processo de formaçãode uma nova central independentede governos, comprometida com ostrabalhadores.

O resultado das eleições garanteuma maioria independente de gover-nos, classista e de luta. Devemos su-perar as diferenças com a Chapa 1 etentar construir em conjunto muitaslutas para melhorar a vida dos pro-fissionais da educação. O dialogoagora é fundamental para construirmostambém uma nova central sindical epopular que una os membros daChapa 1 e da Chapa 4, ou seja, Con-lutas e Intersindical, pois isso poten-cializara a luta contra os ataques deSergio Cabral (PMDB), Eduardo Paes(PMDB) e Lindberg Farias (PT).

O primeiro semestre de 2009está se fechando de forma dra-mática para os professores darede pública estadual de SãoPaulo. Com o final do semes-tre, fica evidente que, se porum lado aprofundam-se os ata-ques à educação em SãoPaulo, por outro, a fragilidadeda mobilização da categoria ea imobilidade da direção do sin-dicato não nos permitem previ-sões otimistas.

Wilson Borges FilhoConselheiro estadual da Apeoesp

pela Oposição Alternativa

Os decretos 19 e 20, editados peloGoverno tucano de Serra, tinhamem seu conteúdo motivos mais doque suficientes para a deflagraçãode uma grandiosa greve em defesada educação pública de qualidade.

Além de retomar a famigerada“provinha” (derrubada em decor-rência de uma greve histórica de 21dias) para regulamentar a contrataçãodos ACTs (contratados), o PL 19precariza os professores que pos-suíam vínculo no período anterior a2007. Destes, os que não atingirema nota necessária na tal “provinha”ficarão com apenas 12 aulas semanais

e poderão sofrer com desvio de fun-ção além de amargar um salário de392 reais por mês.

Como se não bastasse, o decretoestabelece que os professores nãoligados ao sistema de previdênciaSPPREV serão vinculados ao INSSpor no máximo 2 anos, tendo umaquarentena obrigatória de 200 dias(um ano), sendo que estas regraspassariam a valer a partir de 2011.

Aos efetivos, o decreto 20 impõeo aumento da jornada sem aumentosalarial. Anuncia a criação de umconcurso para 50 mil novos cargos(12 aulas por semana), mas apontandoa efetivação de apenas 10 mil. Issosignifica que aquela pequena parcelaque for aprovada ainda será obrigadaa freqüentar a escolinha do PauloRenato, de onde receberá 75% deseu salário e será submetida a umanova “provinha”, e terão de passar,depois, pelo ensino probatório.

Como fica fácil perceber, os ata-ques são brutais e exigem uma res-posta firme da categoria. Por maisque o governo sempre encontre apoioentre a grande mídia para defendersuas políticas e culpabilizar o fun-cionalismo pelo quadro desoladordo ensino, a situação se complicouainda mais neste caso devido ao ca-minho adotado pela maioria da di-

reção da APEOESP que, tímida epassivamente, aceitou a derrota.

Os governistas da direção majo-ritária do sindicato (ArtSind, ArtNovae CSC) chegaram ao ponto de alegarque nos decretos estava contempladaa estabilidade de cerca de 80 milprofessores, o que iria de encontroa uma bandeira histórica da categoria.O que não comentam é que essa es-tabilidade se baseia na precarizaçãodestes professores que poderão ficar

com carga de 12 horas por semanae 392 reais por mês.

Uma parcela da Oposição Alter-nativa acabou por não ousar na cons-trução do movimento, pois entendeuque não havia forças para se tocaruma greve como em 2008.

O problema nessa avaliação en-contra-se no fato de que a deliberaçãopor uma greve pelo menos permitiriaà vanguarda da categoria mobilizaros comandos de greve, que poderiamsurtir efeito.

Além disso, a decisão pela nãogreve na luta contra os PLs 19 e 20evidenciou a todos a insegurançado sindicato. Este fato permitiu tantoa Serra quanto à grande mídia a uti-lização de uma desavergonhada pro-paganda, por todos os espaços pos-síveis, de que os professores não fi-zeram greve porque não havia mo-tivos para isso.

As perspectivas para o segundosemestre não são as melhores. Porémnão são irreversíveis. Precisamos uniros lutadores dos sindicatos e criarem cada escola uma poderosa orga-nização para reverter esse quadro dederrotas por um lado e por outrovarrer a burocracia que emperra aluta dos professores por condiçõesdignas de trabalho e por uma educaçãopública, de qualidade e para todos.

Professores estaduais em São Paulo

Preparar para o próximoround contra Serra

Resultado daeleição do SEPEChapa 1 (MTL, CSOL, ENLACE)

6.502 votos - 37,22%

Chapa 2 (PT)2.886 votos - 16,52%

Chapa 3 (PCdoB)2.178 votos - 12,47%

Chapa 4 (APS, PSTU, ColetivoPaulo Romão, LSR, PCB)

5.904 votos - 33,80%

Essa luta continua.

Eduardo Paes quer privatizaratravés das “Organizações

Sociais”.

Page 4: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

4 • movimento Ofensiva Socialista n°01 junho/julho - 2009

Jornada de lutas vitoriosa coloca‘Terra Livre’ no mapa de GoiásMovimento popular do campo e da cidade exige agilidade na reforma agrária

“Os moradores das favelas nãosão considerados cidadãos”

Uma jornada de lutas vitoriosa,entre os dias 18 e 23 de maio,marcou o lançamento públicodo movimento ‘Terra Livre’ emGoiás.

Zelito Ferreira da SilvaDireção do ‘Terra Livre’

e LSR-Goiás

A jornada começou com 200 tra-balhadores e trabalhadoras, além dedezenas de crianças, de diferentesmunicípios do estado, ocupando asede do INCRA (Instituto Nacionalde Colonização e Reforma Agrária)em Goiânia.

Fizemos isso para exigir mais agi-lidade na reforma agrária. No estadode Goiás, a reforma agrária está empleno retrocesso. Já faz mais de umano que o atual superintendente,Rogério Arantes, assumiu e nadaavançou.

O INCRA divulga que assentou430 famílias no estado em 2008,comparado com a meta de 3 mil.Destas, 300 foram assentadas emreposição de parcelas e 130 emáreas desapropriadas. Mas, o ‘TerraLivre’ não reconhece a reposiçãode parcelas como sendo “novas fa-mílias assentadas”. Porque não háalteração no número de assenta-mentos criados e não há desapro-

priação. Não altera, portanto, a es-trutura fundiária.

Consideramos as outras 130 fa-mílias como “pré-assentadas” porquesomente após dois anos, em média,é que estas famílias estarão efetiva-mente assentadas, com os créditospara produção, habitação e infra-estrutura, liberados.

Existem famílias assentadas hámais de um ano que não receberamsequer os primeiros créditos. As vis-torias estão paradas. O INCRA estásem recursos, com número de servi-dores insuficiente para atender as de-mandas. Por isso, o INCRA leva umaeternidade para realizar as vistoriase outra para divulgar os laudos.

Há Projetos de Assentamentoscom mais de quatro anos onde aindanão foram construídas as casas, asobras de infra-estrutura não foramrealizadas e não existe assistênciatécnica.

O INCRA alega que não podefazer nada nos assentamentos, porfalta da LIO (Licença de Instalaçãoe Operação) do IBAMA. O IBAMAjoga o problema para o INCRA eambos dizem que o problema é doMinistério Público Federal e esse,por sua vez, passa a responsabilidadepara o INCRA e o IBAMA. De fato,o IBAMA também está abandonado,sem recursos, sem estrutura e faltam

servidores para fazer vistorias nosassentamentos.

Ocupação ativa e vitoriosa

A ocupação teve repercussão namídia regional, com cobertura natelevisão, rádio e imprensa escrita.Foi uma ocupação ativa, onde reali-zamos palestras, oficinas e atividadesde formação política, além de umadoação coletiva de sangue no He-mocentro, como um gesto humani-tário e político.

Após quatro dias de ocupação,quando o superintendente do INCRAcedeu e se comprometeu a atender80% das nossas reivindicações, de-cidimos coletivamente por desocupara sede da instituição.

Para pressionar o IBAMA a re-solver o impasse das licenças am-bientais, realizamos em seguida umanova ocupação, desta vez na Supe-rintendência do IBAMA de Goiás.Com esta ação conseguimos que osuperintendente do IBAMA partici-passe de uma reunião com a equipe

do INCRA regional, que ocorreu nasegunda-feira seguinte. Nesta reuniãoas instituições se comprometeram aagilizar a liberação das licenças.

Construindo o ‘Terra Livre’

O ‘Terra Livre’ é um movimentopopular que trabalha na construçãoda auto-organização dos trabalhadorese trabalhadoras do campo e da cidade.O movimento está organizado emGoiás, São Paulo, Minas Gerais e Riode Janeiro. Esperamos que a nossajornada de luta vitoriosa sirva comoexemplo para inspirar outros a orga-nizarem-se e lutar por seus direitos.

Uma verdadeira reforma agráriaajudaria a criar empregos e combatera crise. Apesar da inexistência dereforma agrária verdadeira, a agri-cultura camponesa é responsávelpor 70% dos alimentos que chegamnas mesas dos brasileiros, 77 % doemprego gerado no campo e 10 %do PIB do país.

Mas há grandes interesses econô-micos atrás da paralisia da reformaagrária. E o governo Lula abandonoua reforma agrária em apoio ao agro-negócio. Por isso, a luta pela a re-forma agrária tem que ser autônomaem relação a esse governo e estarligada à luta contra o modelo eco-nômico capitalista.

Durante o mês de junho os mo-radores do conjunto da Favelada Maré (RJ) passaram pormais uma situação de fogo cru-zado. O conflito entre facçõesrivais divide a favela colocandoem risco a vida de trabalhado-res e trabalhadoras. O governoSergio Cabral deixa clara suapolítica de segurança, envian-do caveirões, reprimindo traba-lhadores e matando inocentes.Esta é a dura realidade de maisde 60% de trabalhadores e tra-balhadoras cariocas moradoresdas favelas. EntrevistamosALEXANDRE DIAS, professorde História do Pré-VestibularPopular na Maré, mestrandoem Etnomusicologia na UFRJ emilitante do PSOL, sobre as ta-refas colocadas para a esquer-da socialista...

Luciano Barbosa

LB: Nos últimos anos vem cres-cendo o número de pessoas assas-sinadas por operações da políciana Maré. Como você analisa o pro-cesso em curso de criminalizaçãodos pobres?

AD: Nas últimas semanas no con-junto de Favelas da Maré morreramentre 10 e 15 pessoas sendo quedessas pelo menos 6 comprovada-mente não tinham envolvimento comtráfico de drogas, as outras foramconsideradas suspeitas. Entre as duasúltimas vítimas, havia uma criançade 8 anos que saiu para comprar

pão de manhã e foi executada pelapolícia no portão de casa. A segunda,de 16 anos, estava vindo da escolae indo para o trabalho quando tam-bém foi executada pela polícia. Emfunção desses assassinatos ocorreramduas grandes passeatas que fecharama Avenida Brasil [via de acesso aoRio de Janeiro].

Os moradores das favelas não sãoconsiderados cidadãos pela polícia,e sim cúmplices de atividades cri-minosas, por isso a policia reprimeesses moradores de forma tão vio-lenta. Existe hoje um verdadeiroapartheid no Rio.

LB: A política de segurança dosgovernos estadual de Sergio Cabrale municipal de Eduardo Paes têmse concretizado nos chamados “cho-ques de ordem” e segregação espa-cial através da construção de ummuro que separaria as favelas do“asfalto”. Como você avalia esseprocesso?

AD: Para esses governos a políticade segurança é uma política de guerrae as mortes são um preço a se pagar,um mal menor. No entanto, essasmortes têm valores e pesos diferentesdependendo do local da cidade. OSecretário de Segurança do Estadodisse que trocar tiros com traficantesna Zona Sul (Copacabana) é umacoisa e no subúrbio é outra, já quena Zona Sul as vítimas inocentesteriam mais valor que as da periferia.

A prefeitura afirma que a cons-trução de muros seria para preservaras áreas verdes da cidade impedindo

o crescimento das favelas. No en-tanto, estudos recentes comprovamque a especulação imobiliária e ocrescimento da ocupação das áreasverdes do Rio de Janeiro têm sedado através de condomínios deluxo e que em algumas favelas onúmero de moradias tem até dimi-nuído em função do medo da vio-lência. Na verdade o muro é umcomplemento do apartheid social.

LB: Estamos às vésperas do IIcongresso do PSOL. Qual deveriaser e como tem sido a intervençãodo PSOL nos conflitos referentes àluta contra a violência urbana?

AD: Comparado a qualquer outropartido de esquerda no Rio de Janeiro,

o PSOL deu um salto qualitativonuma relação mais próxima com asdemandas e reivindicações das po-pulações favelizadas. Fora de umalinha clientelista ou assistencialista.Isso tem acontecido muito mais poriniciativa do deputado estadual Mar-celo Freixo, que tem nos direitoshumanos um eixo fundamental deseu mandato – por isso se aproximadas pautas das comunidades faveli-zadas – do que como uma preocu-pação do partido como um todo.

LB: E como você vê o fato deMarcelo Freixo estar ameaçado demorte pelas milícias?

AD:As milícias são infinitamentemais perigosas que o tráfico de dro-

gas, por fazerem parte do braço ar-mado do estado burguês e dominaremáreas onde antes nem ao menoshavia tráfico de drogas. As popula-ções locais são reféns de sujeitosque deveriam protegê-las e estes su-jeitos recebem seus salários atravésdo Estado, porém cumprem um papelmafioso de enriquecimento, extor-quindo a população. Nesse sentidoacho a atitude do deputado muitocorajosa e espero que inspire outrosmilitantes e parlamentares do PSOLa tomarem atitudes semelhantes prin-cipalmente relacionadas à luta con-creta dos moradores das favelas eperiferias do RJ.

LB: Você associa a luta dos mo-vimentos sociais da Maré à pers-pectiva de luta de classes?

AD: A luta dos moradores das fa-velas está dentro de um contexto deluta de classes. Embora não dentrodo contexto teórico clássico da for-mulação desta expressão, essas pes-soas estão incluídas no capitalismode forma perversa e não têm muitaperspectiva de entrada no mercadode trabalho formal. No Rio de Janeiroa luta pelo socialismo está atreladaa luta pelos direitos humanos, porquea barbárie é tão grande que nós de-vemos lutar primeiro pela nossa so-brevivência. A principal bandeira éseparar a luta dos moradores por di-reitos sociais e políticos, do discursode conivência com o trafico feitopelos meios de comunicação e peloEstado, pois isso atrapalha as mobi-lizações.

“Existe hoje um verdadeiro apartheid no Rio”, diz Alexandre Dias.

200 integrantes do Terra Livre participaram da ocupação da sede doINCRA em Goiânia.

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nacional • 5Ofensiva Socialista n° 01 junho/julho - 2009

Pescadores no RJ enfrentamgrandes empresasRIO DE JANEIRO No dia 24

de maio, os pescadores de Magé,município que fica na margem daBaía de Guanabara, sentiram opeso de sua organização contraos efeitos da instalação do pólopetroquímico pela Petrobrás. Con-seguiram que a Prefeitura interdi-tasse as obras por terem sido co-metidas 42 irregularidades.

A construção do pólo vem aca-bando com o sustento de 3 mil fa-mílias que vivem da pesca. Nomesmo dia, os pescadores sentiramtambém até onde podem ir os in-teresses do capital. Capangas ar-mados entraram, de noite, na casado tesoureiro da Associação dosHomens do Mar (AHOMAR), eo assassinaram. Outro companheirojá havia sido ameaçado de mortee teve que se refugiar.

Esse episódio trágico indica ograu de enfrentamento que osgrandes empreendimentos indus-triais causam ao destruir os meiosde vida dos trabalhadores paraatender seus interesses. Outro im-portante embate está se dando emSepetiba, também no RJ. Uma so-ciedade entre a Companhia Side-rúrgica do Atlântico e a alemãTyssenkrupp constrói um pólo si-derúrgico que também tem afetadomilhares de pessoas. Uma longaluta está em curso, e toda a soli-dariedade é importante.

Sabesp demite dirigente sindical

Uma característica do governoSerra (PSDB) é o ataque ao mo-vimento sindical, perseguindo edemitindo diversos ativistas e li-deranças sindicais, a exemplo doscompanheiros Brandão na USP,Dirceu Travesso da Nossa Caixae de várias lideranças dos metro-viários. Puro fascismo!

Serra e Gesner (presidente daSabesp) querem eliminar delegadose ativistas para enfraquecer a or-ganização sindical, impedindo queos trabalhadores se organizem elutem a partir do local de trabalho.

A Sabesp demitiu o companheiroUbiran Santos de Miranda (Bira).Ele é delegado sindical do Escri-tório Regional e Pólo de Barueri,e de Santana do Parnaíba. Alémdisso, foi diretor do Sintaema (2006a 2008). É integrante da OposiçãoAlternativa de Luta e secretáriogeral da “chapa 2” na última eleição(por conta da suspeita de fraudes,as eleições do Sintaema estão emlitígio e têm audiência marcadapara agosto/09).

Temos clareza de que a demissãodo companheiro Bira é política efaz parte da tentativa de eliminara Oposição Alternativa da categoriapor parte da atual direção sindical(CTB). Bem ao velho estilo stali-nista que dominou o movimentosindical e político no século pas-sado, onde burocratas se unem aocapital para “caçar” ativistas quejulgam ser um empecilho ao seuprojeto de permanência nos apa-ratos sindicais.

Exigimos uma campanha já,pela readmissão do companheiroBira!

Não às retaliações de Gesneraos delegados de base e ativistassindicais!

Oposição Alternativa de Luta - Sintaema

Foi aprovada no Congresso aMedida Provisória 458 que re-gulariza terras na AmazôniaLegal. De um projeto inicialque compreendia apenas pe-quenas propriedades, a MP foimutilada pela bancada ruralis-ta com a conivência do gover-no. Estão em jogo 67 milhõesde hectares de terras públi-cas, inclusive as terras do IN-CRA, que deveriam ser utiliza-das na reforma agrária!

Eduardo MoraesBiólogo, Rio de Janeiro

A medida junta grandes grileirose posseiros com ocupantes legítimosdas terras. Os posseiros receberãopropriedades de até 100 hectaresgratuitamente e pequenas proprie-dades de até 400 hectares com preçosimbólico, podendo ser vendidasapós 10 anos.

Médias propriedades, de até 1,5mil hectares poderão ser adquiridaspelos grileiros sem licitação, a preçode mercado. Os grileiros terão 20anos para pagar com uma carência

de 3 anos e poderão vender estasterras já daqui 3 anos. De maneirahipócrita, a MP afirma tratar da re-gularização de terras de até 1,5 milhectares, no entanto, estabelece queáreas acima deste limite serão lici-tadas com preferência para os ocu-pantes atuais!

Foram acrescentadas à medida,propostas da bancada ruralista, taiscomo a possibilidade de proprietáriosde outras terras, residentes de áreasfora da Amazônia legal e até mesmopessoas jurídicas serem beneficiados!

Não é surpreendente que a MPfoi construída sem a participaçãodos movimentos sociais e trabalha-dores do campo e da floresta.

A senadora e ex-ministra do meioambiente Marina Silva foi uma daspoucas vozes do governo a ir contraa medida e enviou uma carta a Lula,onde pede em nome do sangue decompanheiros como Chico Mendes,Dorothy Stang e outros, que vete amedida. Já o atual ministro do meioambiente, Carlos Minc garante que aMP trará ganhos ao meio ambiente.

Apenas áreas de até 100 hectarespoderiam ser regularizadas de acordo

com a constituição. Apesar de issorepresentar 55% das propriedadesatingidas pela medida, elas repre-sentam somente 7% da área a serregularizada, demonstrando o ver-dadeiro caráter da medida.

“Capitalismo de rapina”

De acordo com o geógrafo Ario-valdo Umbelino de Oliveira, daUSP, a MP “fere o princípio cons-titucional de função social da terra”.Ele diz ainda que “No Brasil háum capitalismo de rapina, que querenriquecer muito rápido e não darcontinuidade à sua atividade”.

O mais perturbador é que a “MPda grilagem” é apenas o último ata-que ao meio ambiente. No ‘pacotãoambiental’ do governo e seus aliadosruralistas estão: a pressão por apro-vação de obras do PAC; o fim daproteção às cavernas; o fim do li-cenciamento ambiental de rodovias;a redução do IPI para automóveissem nenhum estímulo ao transportede massas em contrapartida; o limitede indenizações ambientais a 0,5%do custo dos empreendimentos res-

ponsáveis pelo impacto; a não cria-ção de novas reservas; e a propostade descentralização da legislaçãoambiental para facilitar sua destrui-ção nos parlamentos estaduais.

Com a chegada da crise econô-mica, a pressão desenvolvimentistase torna ainda mais forte. Desespe-rados pela liberação de licenças atodo custo, o governo e grandesempresários demonstram que a des-truição ambiental pode se intensificarno próximo período.

Sarney e o Senado são aface real do regime políticoO ano de 2009 está repleto derevelações sobre a corrupçãono Senado. A crise atual dosatos secretos é só o últimoexemplo da podridão que impe-ra nessa instituição. Lula faztudo para abafar a crise queenvolve seu aliado e presidentedo Senado, José Sarney(PMDB-AP).

Marcus Kollbrunner

No início do ano foi revelado queo Senado gastou seis milhões dereais com horas extras em janeiroenquanto a Casa estava em recesso!Foi também revelado que o Senadoconta com 181 diretores, para 81senadores.

Dois dos principais agentes dessasujeira toda, o diretor-geral do SenadoAgaciel Maia e o diretor de recursoshumanos João Carlos Zoghbi, aca-baram caindo em março.

A farra das passagens aéreas, queinclui a Câmara dos deputados, apro-fundou a péssima imagem dos polí-ticos que acham que o dinheiro pú-blico é propriedade privada deles.O próprio Sarney deu vários exem-plos disso. Usou 8,6 mil reais doSenado para organizar sua própriabiblioteca. Em maio foi reveladoque ele recebia auxílio-moradia de3,8 mil reais mesmo tendo uma casaem Brasília.

Nesse último mês as denúncias semultiplicaram, com a revelação dosatos secretos. A comissão de sindi-cância criada no fim de maio identi-ficou 663 atos secretos entre 1995 e2009. Um deles foi a decisão daMesa Diretora do Senado em 2005de aumentar a verba indenizatóriados senadores de 12 mil para 15 milreais. A medida só foi tornada públicano dia 14 de maio desse ano.

Foram revelados pelos menos 250casos de nomeações de cargos deconfiança no Senado por meio deatos secretos, entre eles pelo menos

cinco pessoas ligadas à família Sarney.Muitas vezes esses cargos faziamparte de troca de favores para fortaleceralianças entre mandatos e partidos.

Além disso, foi revelado que 350servidores do Senado recebem umsalário acima do teto constitucionalde 24,5 mil reais.

Outra comissão, que analisou con-trato com empresas que fornecemserviços terceirizados, achou irre-gularidades em todos os 16 contatosanalisados. Foram encontrado casosde nepotismo, superfaturamento, pa-gamento por serviços nunca prestadose perpetuação de empresas por meiode contratos aditivos.

Impunidade geral

Lula saiu em defesa de José Sarney,um aliado chave do governo. Sarneyfoi um dos dissidentes do PMDBem 2002 que apoiou Lula na cam-panha eleitoral. Junto com RenanCalheiros, garante a sustentação do

governo no Senado. Para a candi-datura Dilma Rousseff em 2010, oapoio de Sarney é fundamental.

Durante todos os escândalos decorrupção, o papel de Lula foi detentar amenizar e abafar. “O Senado,a Câmara, o governo federal, quandotêm problema, resolvem. Não vamosfazer disso uma causa nacional, por-que temos coisas mais importantespara discutir no Brasil”, disse elerecentemente. Em outra ocasião dis-se: “o que você não pode é estabe-lecer um processo de paralisia daatuação do Legislativo por conta deuma coisa que existe há 40, 50 anosneste país”. Para ele tudo é isso éalgo normal, por que esquentar?

Lula também reforça a imagemdos políticos como “intocáveis”:“Sarney tem história no Brasil sufi-ciente para que não seja tratadocomo se fosse uma pessoa comum”.Se fosse uma pessoa comum, rou-bando um pacote de margarina, aípoderia ser mandado à prisão.

Quando muitos são envolvidos,reina mesmo a impunidade. Um exem-plo é o uso incorreto das verbas inde-nizatórias. Segundo a Folha de S.Paulo, o corregedor da Câmera, ACMNeto (DEM-BA), disse várias vezesnão haver como cassar o deputadoEdmar Moreira (sem partido-MG)sem abrir “uma porteira pela qual,muitos outros também teriam de pas-sar”. Moreira usou mais de 200 milreais para pagar serviços de segurançaa uma sua própria empresa.

O papel dosparlamentares do PSOL

A iniciativa do PSOL, através dosenador José Nery, de reivindicaruma CPI dos escândalos no Senado,pode ter alguma valia se visar esti-mular mais denúncias e complicarmais a vida dos corruptos. Mas,achar que uma CPI de senadores in-vestigando a corrupção dos própriossenadores possa conseguir alguma

coisa é, no mínimo, fomentar ilusõesnessa instituição apodrecida.

Os parlamentares do PSOL devemdenunciar não apenas os “desvios”morais cometidos por senadores,mas vincular isso à corrupção crônicaque assola as instituições do regimepolítico brasileiro, resultante do seucaráter de classe burguês.

Devem ainda questionar as razõesda existência do Senado Federal.Além de antro da corrupção, o Senadotem um claro objetivo de concentraras forças mais reacionárias da políticabrasileira e barrar qualquer iniciativamais progressiva que possa surgirno Legislativo por pressão popular.

Corrupção e defesa dos interessesdas oligarquias econômicas e polí-ticas são os dois lados da mesmamoeda do Senado Federal.

O PSOL deve levantar um conjuntode reivindicações no sentido da de-mocratização radical do parlamentoe que se choquem com os interessesoligárquicos no seu interior. Dessaforma acumularemos força na pers-pectiva da constituição de um novoregime político baseado numa de-mocracia direta dos trabalhadores.

l Por uma Comissão Popularde Inquérito envolvendo sindica-tos, movimentos sociais, intelec-tuais progressistas, etc para in-vestigar e denunciar os crimes depolíticos e empresários! Confiscodos bens e punição exemplar decorruptos e corruptores!

l Direito de revogabilidadedos mandatos parlamentares emtodos os níveis e a qualquer mo-mento por iniciativa dos pró-prios eleitores! Fim do Senado!Nenhum parlamentar ou asses-sor poderá receber um saláriosuperior ao de um trabalhadorqualificado! Proibição de finan-ciamento de campanhas eleito-rais por empresas e bancos e de-finição de um limite máximo decontribuição!

MP 458: a farra da grilagem

Corrupção e defesa dosinteresses das oligarquias

econômicas e políticas são osdois lados da mesma moeda do

Senado Federal.

Os grandes devastadores da Amazônia se beneficiam

da MP 458 e da complacênciade Lula.

Page 6: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

6 • especial: Nasceu a LSR! Ofensiva Socialista n°01 junho/julho - 2009

Congresso realizado entre osdias 22 e 24 de maio em SãoPaulo votou Carta dePrincípios, Programa eEstatuto da nova corrente queunifica os antigos agrupamen-tos SR e CLS e constitui a no-va seção brasileira do Comitêpor uma Internacional dosTrabalhadores (CIT).

André Ferrari

A formação da corrente Liberda-de, Socialismo e Revolução (LSR)acontece em um momento crucialpara a luta dos trabalhadores noBrasil e no mundo.

O capitalismo se vê diante de suamais grave crise desde a grande de-pressão dos anos 30 do século pas-sado. A ‘era neoliberal’ e a ofensivacapitalista dos últimos 20 anos, pelomenos chegou a um impasse.

Porém, o movimento dos traba-lhadores vem de um período decrise, divisão e frustração. Boa parteda esquerda degenerou-se nesse pro-cesso. O desafio da construção deuma alternativa de esquerda à alturado momento histórico deve ser ocentro de toda ação militante nessemomento.

Sem alternativa socialista clara,conseqüente e com base social demassas, a crise estrutural do capita-lismo se converterá inevitavelmenteem mais desespero para bilhões deseres humanos.

A luta para reconstruir uma es-querda socialista conseqüente emmeio à crise capitalista é o pano defundo que deu sentido à formaçãoda corrente LSR.

Unidade entre osrevolucionários

A LSR é resultado de uma relaçãode mais de três anos entre duas or-ganizações socialistas com origensdiferenciadas, mas com o mesmocompromisso com a luta dos traba-lhadores e o socialismo.

O Socialismo Revolucionário (SR)e os militantes que vieram a formaro Coletivo Liberdade Socialista(CLS) estiveram presentes na fun-dação do PSOL em 2004 e se apro-ximaram politicamente na luta contraos retrocessos políticos que o partidosofreu desde então.

Ambas as organizações apresenta-ram uma Tese conjunta no I Congressodo PSOL em 2007 e, a partir deentão, jogaram papel importante naconstrução de um bloco político comoutros setores da esquerda do PSOL.

O que veio a ser o Bloco de Re-sistência Socialista constituiu-se reu-nindo agrupamentos como a Alter-nativa Socialista (AS), com fortebase sindical no Rio Grande do Sul,a Alternativa Revolucionária Socia-lista (ARS), com base importanteno Pará e o agrupamento Reage So-cialista do Rio de Janeiro.

O Bloco consolidou-se como al-ternativa política a partir de sua par-ticipação no I Congresso da Conlutasem 2008, constituindo-se como ter-ceira força organizada dessa orga-nização sindical e popular.

A unificação que deu origem àLSR e a atuação conjunta dos agru-pamentos do Bloco de ResistênciaSocialista são exemplos de buscacoerente pela unidade entre os re-volucionários com base no debatepolítico franco e relações de con-fiança construídas a partir da expe-riência de luta conjunta.

Inserção nas lutas sociaise no debate da esquerda

Com presença, até o momento,em oito estados da federação, a LSRnasceu diretamente envolvida nasprincipais lutas em curso no país.

Os militantes de Goiás vieram aoCongresso imediatamente depois deuma vitoriosa luta envolvendo aocupação da sede do INCRA emGoiânia por cinco dias por partedos sem-terra organizados no mo-vimento ‘Terra Livre’.

Logo após o Congresso, os mili-tantes da LSR jogaram papel im-portante na greve da Sabesp em SãoPaulo através da Oposição sindical“Alternativa de Luta”.

Poucos dias depois do Congresso,a foto de um militante da LSR sendoatacado pela PM durante a dura re-pressão no campus Butantã da USP,estampou as primeiras páginas dejornais do país inteiro. Os estudantesda LSR na USP continuam na lutapela derrubada da reitora e a retiradada PM do campus.

No Vale do Paraíba (SP), focoimportante das demissões na indústria(GM, Embraer, etc) e resistênciados trabalhadores, militantes da LSRsaíram do Congresso para panfletarcontra o Banco de Horas na AmBev(indústria de bebidas) e em defesada reestatização da Embraer comcontrole dos trabalhadores.

Na onda de greves do funciona-lismo municipal que atinge inúmerascidades do país, militantes da LSRlutaram contra prefeitos e pelegos

em Hortolândia (SP) e Campinas(SP).

Os estudantes da LSR participaramativamente do Congresso Nacionaldos Estudantes no Rio de Janeirodefendendo uma linha combativa,classista, democrática e não sectáriapara a reconstrução do movimentoestudantil de luta no país diante donefasto papel da UNE hoje.

Como parte do Bloco de Resis-tência Socialista e atuando na Con-lutas, a LSR também participa daComissão pela Reorganização Sin-dical e luta pela construção de umanova Central sindical e popular uni-ficando os setores combativos dosmovimentos sociais.

Os militantes da LSR também têmparticipado dos debates preparatóriosao II Congresso Nacional do PSOLque acontecerá no final de agosto,defendendo a Tese do Bloco de Re-sistência Socialista, “Colocar o so-cialismo na ordem do dia! Colocaro PSOL á altura do momento histó-rico”.

Princípios, programa econcepção de organização

Os documentos aprovados peloCongresso de unificação que formoua LSR estabelecem as bases para aconstrução de uma nova esquerdarevolucionária.

A Carta de Princípios votada, aomesmo tempo em que reivindica aindependência de classe dos traba-lhadores e a necessidade da revoluçãosocialista, reafirma o caráter demo-crático do socialismo que defende-mos. Um socialismo baseado no au-têntico poder dos trabalhadores enão as caricaturas terríveis que asdiferentes variantes de stalinismorepresentaram.

A necessidade de uma nova culturapolítica na esquerda, baseada na de-mocracia interna, na tolerância erespeito às minorias, também foi

enfatizada na Carta de Princípios.Isso se coloca não como mera con-cessão pontual, mas como necessi-dade efetiva para podermos recompora esquerda socialista depois de tantosanos de sectarismo, brutalidade, di-visão e desmoralização, resultantesde métodos burocráticos tão arrai-gados.

O Documento Programático vo-tado no Congresso representa umesforço inicial de construção de umaplataforma política adequada aonovo período da luta de classes quese abre.

Partindo do método do programade transição desenvolvido pelo mar-xismo revolucionário, o Documentoparte de premissas socialistas clarase, a partir daí, desenvolve um sistemade palavras de ordem visando con-duzir as demandas das necessidadesmais vitais e concretas dos traba-lhadores e setores oprimidos da so-ciedade para uma clara perspectivade ruptura com o capitalismo e cons-trução do socialismo.

Entre as premissas do programasocialistas estão:

• A atualidade do socialismo e darevolução;

• O protagonismo e independênciade classe dos trabalhadores;

• A vinculação da luta democráticae anti-imperialista com a lutaanti-capitalista;

• O caráter internacional da lutasocialista;

• A importância central da lutacontra a opressão de mulheres,negros, LGBTT, etc, para a lutasocialista;

• A necessidade da construção dopartido revolucionário dos tra-balhadores numa relação de com-plementaridade com os movi-mentos sociais;

• A necessidade da luta contra asterríveis heranças stalinistas.

O programa de ação expresso noDocumento aponta um sistema dereivindicações transitórias que parteda defesa dos direitos básicos dostrabalhadores, do emprego e do salário,dos serviços públicos, infra-estrutura,reforma urbana e aposentadoria.

Levanta ainda a luta pela reformaagrária, uma verdadeira democracia

no país, o fim das opressões contramulheres, negros, a defesa do meioambiente e dos direitos da juventude.Tudo isso de forma a mostrar a im-possibilidade dessas conquistas semuma ruptura com a lógica do capi-talismo.

O programa então levanta a ne-cessidade de uma economia planejadaa serviços dos trabalhadores e damaioria do povo, rompendo com alógica do lucro e do mercado capi-talista.

Para que tudo isso seja possível,defende a necessidade de um governodos trabalhadores no Brasil. Levantaainda a necessidade da integraçãolatino-americana superando a lógicado capitalismo.

Para levar adiante essa luta, o pro-grama é uma arma a serviço da uni-dade dos movimentos sociais com-bativos e da reconstrução de umaesquerda socialista de massas.

Organização de luta edemocrática

A concepção de organização daLSR ficou expressa em seu Estatuto.Somos uma organização socialistade combate, de atuação no movi-mento de massas em defesa do pro-grama e estratégia do socialismo.Por isso somos uma organização demilitantes ativos, que se reúnem edeliberam coletivamente as políticasda organização, além de garantiremo seu sustento material de forma in-dependente.

Ao mesmo tempo, somos uma or-ganização democrática internamente,com liberdade de discussão e controledos militantes sobre os rumos daorganização.

A corrente LSR nasceu para con-tribuir com a construção de uma es-querda socialista e revolucionáriade massas no Brasil e internacio-nalmente.

Trata-se de uma nova alternativapara trabalhadores, jovens, mulheres,negros e todos aqueles que não temfuturo dentro desse sistema apodre-cido.

Venha conhecer mais nossas po-sições e nossa prática e junte-se anós nessa luta!

Construindo umaInternacional socialista

Nasceu a LSR – Liberdade,Socialismo e RevoluçãoUma nova corrente socialista para uma nova etapa da luta de classes

O Congresso de unificação tam-bém votou uma resolução inter-nacional que filiou a nova organi-zação ao Comitê por uma Inter-nacional dos Trabalhadores (CIT).

O CIT é uma organização so-cialista e revolucionária presenteem mais de 40 países em todos oscontinentes.

A unidade política e organizativaem torno ao CIT de companheirosde diferentes trajetórias da esquerdabrasileira e internacional se dácomo um processo de síntese enão simples adesão. A nova orga-nização unificada no Brasil buscacarregar consigo algumas das me-

lhores tradições de outras vertentesda esquerda revolucionária.

A experiência da unificação quedeu origem à nova seção brasileirado CIT deverá servir de exemplopara outros processos de debate eaproximação em curso em outrospaíses.

Participantes do Congresso de fundação da corrente Liberdade,Socialismo e Revolução.

Page 7: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

O Congresso que fundou a LSR votouuma Carta de Princípios que pretendeservir de base para uma nova práticae política socialistas revolucionáriase que deve nortear a atuação da novacorrente. A seguir transcrevemos aspartes principais do documento.

1 – A profunda crise global do capitalismoaberta em 2008, que vem gerando retraçãoeconômica, quebra ou paralisação de em-presas, destruição de riqueza e recursos,milhões de desempregados, um aumentoda desigualdade social e muito sofrimentohumano, só comprova mais uma vez a totalfalência desse sistema como modelo de or-ganização social. (...)

A crise estrutural do capitalismo e a co-moção humana que observamos neste iníciodo século XXI reafirmam a urgente neces-sidade do socialismo com liberdade comoúnica alternativa de organização para a so-ciedade humana e de sobrevivência da vidano planeta. Nesta direção, a corrente Li-berdade, Socialismo e Revolução defendeum programa e uma estratégia revolucio-nários, de mobilização contra o capitalismoe por uma revolução socialista no Brasil eno mundo.

2 - A LSR entende o socialismo comoum governo que seja efetivamente dos tra-balhadores, dos assalariados, um poder damaioria voltado para a maioria. Defendemosa construção de outra sociedade, de umacultura diferente, baseada em valores deigualdade, justiça, humanismo e elevadasolidariedade social, na qual sejam supri-midas a propriedade privada dos meios deprodução, a desigualdade, a injustiça, aopressão e a discriminação de toda espécie.Uma sociedade baseada na propriedade co-letiva, no uso racional e sustentável dos re-cursos naturais, no planejamento democrá-tico, onde a ninguém seja dado o direito deexplorar outrem e onde todos possam usu-fruir igualmente do produto social. (...)

3 – A experiência do século XX deixouclaro que é impossível construir o socialismode forma isolada, em um só país ou mesmoregião. O socialismo será mundial ou nãoserá. (...) Assim, a LSR defende que o inter-nacionalismo é um dos pilares básicos deuma corrente realmente revolucionária. (...)

4 – Aprendendo com as experiências doséculo XX, defendemos o socialismo comdemocracia e liberdade, rejeitando os mo-delos burocráticos e ditatoriais de sistemaspolíticos erroneamente identificados como socialismo, como o da ex-URSS, baseadosno partido único, na brutalidade, na supressãode direitos democráticos básicos dos traba-lhadores e na perseguição a qualquer opo-sição. (...)

5 - Rejeitamos também o reformismo e aconciliação de classe, que prega uma ilusóriamelhoria dentro dos marcos do sistema ca-pitalista. Entendemos que só haverá avançoreal para humanidade se ela se livrar dosistema atual, e que uma ruptura revolu-cionária só se dará com os trabalhadoresorganizados independentemente dos patrõese seus representantes. Não negamos a im-portância da luta institucional. Entretanto,

entendemos que a participação de partidossocialistas e revolucionários nas eleiçõesdeve estar a serviço da luta dos trabalhadores,não o contrário. (...)

6 – (...) Concebemos o novo poder comoo poder da própria sociedade auto-organizadaem seus fóruns, o poder democrático deseus conselhos, assembléias, congressos detrabalhadores, dos sindicatos, centrais sin-dicais, ou seja, dos próprios movimentos eorganismos sociais. (...) Nosso socialismoé aquele em que os trabalhadores tomam,eles mesmos, o poder em suas mãos, comonos sovietes revolucionários e nas vibrantese massivas assembléias dos dias decisivosda Revolução Russa de outubro de 1917,que abalaram e encantaram o mundo.

7 - Reivindicamos o papel decisivo deuma vanguarda revolucionária e de partidosrevolucionários na direção da luta dos tra-balhadores, na ruptura com o capital e na

construção da nova sociedade. O papel dopartido bolchevique, por exemplo, foi fun-damental para a vitória da Revolução Russa,como também o foi o de outros movimentosou partidos revolucionários nas revoluçõesdo século passado. A LSR busca construir,a cada dia, a ferramenta política revolucio-nária necessária aos trabalhadores, ou seja,construir um partido revolucionário. En-tretanto, rejeitamos que qualquer partidoou corrente substitua os trabalhadores emsuas tarefas e em seu poder. Negamos tam-bém a concepção de um partido único, di-rigindo por cima a nova sociedade, poisacreditamos que não existe um único partidorevolucionário e nenhum partido pode ex-pressar sozinho os múltiplos interesses daclasse trabalhadora, ainda mais em socie-dades tão complexas como as atuais. Ostalinismo foi para a lata do lixo da históriacom o colapso no Leste Europeu.

8 - Os partidos ou correntes socialistas

terão um papel central na luta revolucionária,mas não podem concentrar o poder político,substituindo os organismos dos própriostrabalhadores nas decisões que cabem aeles mesmos, à toda sociedade. Disso decorreque, desde hoje, buscamos fortalecer e es-timular o funcionamento autônomo das or-ganizações sociais, sem nunca esvaziá-lase aparelhá-las, nunca colocando os interessesde recrutamento e construção de nossa cor-rente acima dos interesses coletivos, comofazem as organizações sectárias, que apa-relham e assim destroem as organizaçõesdos trabalhadores e da juventude. Comba-teremos com vigor as políticas das correntesoportunistas e sectárias e buscaremos atrairde forma ousada para nossas fileiras novosintegrantes, mas colocando sempre o inte-resse e a unidade dos trabalhadores acimade tudo.

9 - Um novo socialismo com liberdadenão pode renegar as conquistas democráticase civilizatórias alcançadas pelos trabalhadorese pelos povos dentro do capitalismo. Pelocontrário, deve assegurá-las e alargá-las(...). O socialismo precisa propor-se superiorao capitalismo em todos os planos, espe-cialmente quanto à tolerância, no respeitoà imensa diversidade humana, à crítica, àlivre organização política dos que estão aolado do socialismo ou respeitam as decisõescoletivas, aos direitos das minorias, ou seja,precisa mostrar-se como uma civilizaçãomais elevada em todos os aspectos. (...)

10 - Rejeitamos enfaticamente a violência,a intimidação, a desqualificação dos opo-nentes, as manobras, as mentiras e calúniascomo método de luta política válido entreos trabalhadores e as correntes revolucio-nárias. Uma nova democracia socialistadeve se assentar antes de tudo na solidarie-dade de classe, na luta política leal nos or-ganismos dos trabalhadores, na reconstruçãoda moral revolucionária destruída pelo sta-linismo, no respeito às diferenças e à di-versidade política do movimento socialista,dos trabalhadores e dos povos, enfim, nodireito de todas as correntes do campo dostrabalhadores a se expressar livremente.Não descartamos a violência revolucionáriacomo forma de se defender e derrotar asantigas classes exploradoras que agem comviolência contra os trabalhadores. Mas asmedidas de exceção devem ser aplicadasunicamente contra a minoria reacionáriaque ataca a revolução.

11. É essa concepção de democracia re-volucionária, de respeito e tolerância paracom as diferenças políticas e as minorias,que a LSR buscará praticar no movimentosocial e em seu interior. O socialismo não éapenas uma nova construção econômica esocial, é também a passagem a uma novadimensão moral, a uma nova cultura políticade elevada solidariedade que precisamospraticar desde hoje. Agir com lealdade, ho-nestidade, grandeza e magnanimidade naluta política não é apenas um capricho, éuma necessidade urgente e uma pré-condiçãopara reconstruir a unidade e acelerar a reor-ganização das fileiras socialistas, depois detantas décadas de brutalidade, sectarismo,falsificações, desmoralização e divisão in-troduzidas pelo stalinismo e pelas burocracias.

especial: Nasceu a LSR! • 7Ofensiva Socialista n° 01 junho/julho - 2009

Princípios socialistas,democráticos e coerentesLSR adota Carta de Princípios coerente com as lições dahistória do socialismo e da luta dos trabalhadores

Acima: participantes do Congresso. Ao centro: Plínio de Arruda Sampaio faz umasaudação durante o Ato de abertura do Congresso. Abaixo: André Ferrari

faz uma introdução sobre a situação mundial.

Page 8: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

8 • especial: Nasceu a LSR! Ofensiva Socialista n°01 junho/julho - 2009

Formado há quase um ano, oBloco Resistência Socialistaatua em importantes frentesde lutas da classe trabalhado-ra brasileira, participa daConlutas, de movimentos detrabalhadores do campo etem batalhado por um PSOLcom independência de clas-ses e conseqüentemente so-cialista.

Clara Perin

No final de maio, militantes doBloco, que também integram omovimento Terra Livre, participa-ram da ocupação do Incra e doIbama, em Goiânia. A ocupaçãofoi para cobrar do governo agilidadena implementação da reforma agrá-ria. Para Zelito da Silva, da coor-denação nacional do Terra Livre,o Bloco Resistência Socialista tema importante tarefa de buscar uni-ficar as lutas dos trabalhadores docampo e da cidade.

Rio Grande do Sul...

No Rio Grande do Sul, o CPERS(sindicato dos trabalhadores daeducação) participa de lutas cons-tantes contra o autoritarismo e acorrupção do governo tucano deYeda Crusius. Para a diretora doSindicato e integrante da DireçãoNacional do PSOL, Neida Oliveira,o Bloco de Resistência Socialistatem cumprindo uma tarefa impor-tante ao procurar organizar umaparte da vanguarda socialista e re-volucionária do PSOL para intervircoletivamente nas lutas. “Precisa-mos transformar o PSOL em uminstrumento para organizar a classetrabalhadora. Só assim impediremoso rumo eleitoreiro do partido.”

Em São Paulo, militantes do Blo-co enfrentaram o governo do estadoe a direção do sindicato Sintaema,ligada ao PCdoB, participando derecente greve dos trabalhadores doSaneamento Básico do Estado (Sa-besp).

São Paulo...

Ainda em São Paulo, os profes-sores estaduais realizaram parali-sações contra as atuais condiçõesde trabalho. “O governo tucano deSerra só aprofundou o descaso notrato com os professores da redepública, diz Miguel Leme, diretorestadual da Apeoesp, dirigente da

regional do sindicato em Taboãoda Serra e militante do Bloco.

Diretor do Sindicato do JudiciárioEstadual do Pará e membro daExecutiva do PSOL daquele estado,Raimundo do Carmo, o Rai, dizque o Bloco de Resistência Socia-lista procura ser uma ferramenta aserviço da luta dos trabalhadoresneste momento de crise aguda docapitalismo. “A intervenção diretana luta da classe trabalhadora, exi-gindo mais empregos, readmissãodos demitidos, além de organizaroposições sindicais fortes e capazesde derrotar pelegos e burocratas,que transformaram sindicatos emextensão de interesses de suas or-ganizações políticas, tem definidoa atuação do Bloco.”

Rai diz ainda que o Bloco procuraconstruir alianças com setores dis-postos a organizar a resistência dostrabalhadores em cada local de tra-balho. “O papel do Bloco de Re-sistência Socialista é colaborar coma construção de uma alternativaviável, conseqüente e socialistapara atuar firme nos processos delutas que questionam o sistema ca-pitalista.”

Minas Gerais...

Para o dirigente do PSOL deBelo Horizonte, José Raimundo daCosta, a participação do Bloco noprocesso que resultará no Congressodo PSOL é importante para trans-formar o partido em uma ferramentade luta dos trabalhadores, classistae socialista, “diferentemente dacondução dada pela direção majo-ritária do PSOL à organização noúltimo período”. Segundo ele, “aatual política implementada pelamaioria da direção do PSOL conduzo partido para um rumo eleitoreirosem um perfil classista claro.”

José Raimundo avalia que, nestemomento de crise aguda do capi-talismo, infelizmente, o PSOL nãotem ocupado o espaço necessáriopara defender um programa socia-lista e alternativo ao capitalismo.

Integram o Bloco ResistênciaSocialista as seguintes organiza-ções: Alternativa RevolucionáriaSocialista (ARS), Alternativa So-cialista (AS), o coletivo ReageSocialista (RS) e a corrente Li-berdade, Socialismo e Revolução(LSR). O Bloco atua na organiza-ção e mobilização da classe tra-balhadora em mais de 10 Estadosbrasileiros.

Bloco de ResistênciaSocialista luta pelarecomposição daesquerda classista

Meu nome é Bernardo, tenho24 anos, sou estudante de peda-gogia da Unicamp e militanteda corrente Liberdade, Socialis-

mo e Revolução, coisa que, umano atrás, jamais teria pensadoque seria. Opa! Como assim?

Ingressei no curso de peda-gogia não somente porque desejoser professor de crianças, mastambém porque era tremenda-mente insatisfeito com o mundoem que vivemos e achava que aeducação era a via para um ou-tro, melhor, mais justo e iguali-tário. O curso, porém, logo mesacou da ingenuidade.

Descobri que a educação, alémde ser incapaz de reparar a de-sigualdade social, é armada parareproduzir a divisão da sociedadeem classes. Portanto, para man-ter a desigualdade social, tãonecessária à manutenção do sis-tema capitalista.

De insatisfeito com o mundo,passei então a indignado com arealidade enfrentada pelos tra-balhadores de nosso país. O sis-tema capitalista em que sobre-vivemos nos separa de nossosmeios de trabalho - ferramentas,

fábricas, terra, salas de aulas,livros - e nos obriga a trabalharpara aquela pequena elite, quese apodera dos mesmos meiosde trabalho e que pode, justa-mente por isso, impor, a toda a

sociedade, o ritmo e as finali-dades do trabalho. A produçãomaterial, de que nós todos de-pendemos, em vez de atender àsnossas necessidades mais bási-cas, está a serviço do lucro pri-vado e garante a dominação dosempregados pelos patrões.

Colocava-se, então, diante demim, a necessidade de ingressarnum coletivo socialista, por meiodo qual eu poderia me inteirardas lutas da classe trabalhadorae me associar a pessoas que, assimcomo eu, batalham pela superaçãoda sociedade de classes.

Fiquei muito satisfeito e felizcom o companheirismo, serie-dade e organização do grupo.Concordando com suas posiçõespolíticas, decidi me juntar aocoletivo. Logo quis escrever paranosso jornal, porque espero, sin-ceramente e sem constrangimen-to algum, que minha experiênciasirva de inspiração a novos epromissores militantes, e que es-tes venham se juntar a nós, naLSR, numa luta democrática eincansável pelo socialismo epela emancipação da classe tra-balhadora.

Liberdade, Socialismo e Revolução

Por que Liberdade?Liberdade não é um sonho, é algo a conquistar, uma

necessidade concreta. No capitalismo, a liberdade quenos é apresentada é uma farsa, aparece como liberdadeformal, expressa na lei e desrespeitada na vida. Paranós, a liberdade é a possibilidade de coletivamenteconstruirmos o mundo que desejamos, igualitário, semdominação e exploração. Um mundo com solidariedade,respeito e direito de todos se expressarem e viveremdignamente. Sem pão, trabalho e lazer, não há liberda-de.

Por que Socialismo?Só o fim do capitalismo e a construção de uma so-

ciedade onde os meios de produção da vida sejamcoletivos é que poderá garantir a emancipação humana.O socialismo é a sociedade onde todos tomam partedas decisões da vida. Não é a falsa democracia naqual vivemos. Hoje votamos, mas não escolhemosnem o que deve ser feito em nosso bairro. Imaginemconselhos de bairro, conselhos nos locais de trabalho,empresas que são geridas por seus trabalhadores,planejadas pelo interesse coletivo, escolas e hospitaisonde os trabalhadores decidem. Imaginem uma so-ciedade organizada pelo conjunto desses conselhos.Imaginem todo o avanço tecnológico de hoje voltadopara o interesse coletivo, contra a miséria e pelomeio-ambiente. Para nós, isso é o socialismo.

Por que Revolução?A construção de uma sociedade socialista entra em

choque direto com os interesses da classe que dirigeo capitalismo, a burguesia. O Estado nada mais é do

que o instrumento dela travestido de defensor da so-ciedade como um todo. Para chegarmos ao socialismodevemos derrotar a burguesia e seu Estado. Pois é aela que interessa a miséria, o trabalho mal pago. E aela não interessa a igualdade. Para derrotá-la comoclasse dirigente, e derrotar o capitalismo como sistema,precisamos organizar os trabalhadores como forçarevolucionária na luta pelo poder. A revolução é amudança radical do sistema, a revolução é a tomadada direção da sociedade por aqueles que a constroem,os trabalhadores e trabalhadoras.

Por que Liberdade, Socialismo eRevolução?

Para nós, não há socialismo sem liberdade, e nãochegamos a ele sem revolução. Isso quer dizer que ostalinismo que direcionou a experiência da UniãoSoviética após os anos 20 não se conformou comouma alternativa realmente socialista. A sociedade so-cialista só existe com liberdade de organização, ex-pressão dos trabalhadores, com poder de decisão.Também rejeitamos a via que pensa atingir uma so-ciedade melhor através de reformas no capitalismo.Essa posição mostrou-se fracassada historicamente.A luta institucional, eleitoral, é para nós um meio depropaganda e fortalecimento das lutas sociais reaisda classe. Não acreditamos que será comendo belasbeiradas do Estado que os trabalhadores construirãoo socialismo. Será uma luta direta pela socializaçãodos meios de produção, em oposição aos interessesda burguesia.

Por que me tornei socialista?

Contato: [email protected]

Page 9: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

análise • 9Ofensiva Socialista n° 01 junho/julho - 2009

O que pareceria inacreditávelhá dois anos aconteceu: a GM,um ícone do que se chamou“Século Americano”, quebrou.Antes da crise global iniciadaem 2008, sua solidez era pro-fissão de fé entre pseudo-ana-listas de mercado. No entanto,depois de três processos dereestruturação sem grande su-cesso desde 2000 e de perdasestimadas em US$ 88 bilhõesno período, no último dia 1º dejunho de 2009, a GM pediuconcordata.

Robério PaulinoProfessor de Economia Política e

Economia Internacional

A montadora chegou a ser a maiore mais lucrativa companhia do mun-do, é a maior empresa industrial dosEUA, com 243.000 funcionários,símbolo de seu poderio econômico.Junto com a Ford e a Chrysler, aGM sempre foi uma das gigantesna fabricação de automóveis, as má-quinas que mudaram a face do séculoXX. Por isso, sua quebra tem umimpacto profundo em termos eco-nômicos e sociais e um grande sim-bolismo, suscitando inúmeras ques-tões políticas, ideológicas, estraté-gicas e até ambientais.

Em primeiro lugar, demonstraque, ao contrário do que diziammuitos economistas e analistas apres-sados, a crise global que estalou em2008 é muito mais que um simplesdesequilíbrio financeiro; é sim umacrise estrutural de época do capita-lismo moderno.

É verdade que a GM fez escolhaserradas. Desconsiderando os alertas,apostou nos grandes utilitários es-portivos, como os jipes Hummers.Quando o preço do petróleo disparou,chegando a 150 dólares o barril, epela primeira vez os consumidoresnorte-americanos foram obrigadosa optar por carros menores, a empresafoi pega no contrapé.

Parte da crise global

Com a crise global, as vendas de-sabaram quase verticalmente paratodas as montadoras. Até maio, asvendas nos EUA estavam ainda emmédia 37% abaixo do patamar demaio de 2008. Para a GM, que jávinha avariada, o impacto foi, noentanto, muito maior. A quebra daGM, contudo, revela mais que faltade visão de longo prazo, ganânciade retornos rápidos, irresponsabili-dade ambiental e estratégias erradas.Ela é parte da profunda recessãomundial.

A crise global é também umacrise de superprodução, como aquelasdescritas por Marx. A capacidadeprodutiva de carros mundo é de 71milhões de veículos, mas a demandaestá casa dos 50 milhões de unidades.

Não é possível vender o excessode produção existente nos EUA, noJapão e na Alemanha em paísesemergentes, como a China, por umproblema muito simples que é afalta de mercados internos consu-midores mais amplos nestes países.Afinal, o segredo, a “vantagem com-

parativa” dos emergentes e do novoe selvagem capitalismo chinês éexatamente seus baixíssimos salá-rios.

A bancarrota da GM revela tam-bém outra importante tendência, queé o flagrante processo de desindus-trialização relativa que vivem osEUA nas últimas décadas. Com aglobalização e a desregulamentaçãoliberal, o capitalismo ianque desco-briu o segredo para voltar a elevarsuas margens de lucro: transferiumilhares de plantas e milhões deempregos para regiões e países desalários e custos mais baixos, comoMéxico e China. Aumentam assimenormemente seus lucros, mas dei-xam para trás nos EUA o fechamentode fábricas e desemprego.

Por outro lado, a introdução in-cessante de novas tecnologias e dosnovos métodos de gerenciamento daprodução enxuta oriundos do Japão,aos quais a indústria dos EUA foiobrigada a se converter para elevarsua produtividade, também causoudesemprego estrutural. Ainda em1995, a GM tinha 721.000 empre-gados no mundo, mais da metadedeles nos EUA. Hoje, emprega apenas240.000 no país e vai encolher mais.

Desindustrialização dos EUA

Dessa forma, o país dos velhoscapitães de indústria vem lentamentedando lugar a um país de comércioe serviços, setor que paga saláriosbem mais baixos, e de administra-dores de dinheiro, de capital a juros.Os símbolos dos EUA já não serãoa Ford, a GM, a GE, mas o WallMart, o Mcdonalds, o Citigroupsalvo pelo Estado, a Intel produzindona Ásia.

Uma grande contradição para ocapitalismo, entretanto, é que robôé bem comportado e o trabalhadorchinês, mexicano ou norte-americanonão sindicalizado ou desempregadonão fazem greve, mas também nãocompram. Tudo isso, junto com afinanceirização da economia, elevaos lucros, mas também potencializaa instabilidade do sistema, gerandodesemprego e miséria, concentrandorenda, reduzindo a demanda, criandoexcesso de oferta e violentas e re-correntes crises de ajuste. Essa é alei fundamental da acumulação ca-pitalista, segundo Marx, que nosajuda a entender a crise global e aquebra da General Motors.

A crise global e o emblemáticocolapso da GM também sinalizam acontinuidade do declínio da hege-monia do capitalismo norte-ameri-cano no mundo. Além disso, elasindicam a estupidez do argumentoneoliberal no longo prazo, cuja forçaera exatamente a associação com apotência do capitalismo dos EUA ea globalização por ele impulsionada.

Os EUA não deixarão de ser umapotência de primeira linha no curtoprazo. Sua lenta decadência, no en-tanto, pode ser apenas disfarçadapela “estratégia da diplomacia” deBarack Obama. Em abril, mais carrosforam vendidos na China que nosEUA e hoje grande parte dos déficitsfiscal e do balanço de pagamentos

do país é coberta pelos capitais acu-mulados na Ásia, investidos em pa-péis americanos. O balanço de poderno mundo parece começar a se moverem outra direção.

30 mil podem perder seus empregos

O novo plano de reestruturação,anunciado depois da concordata,prevê a demissão de 21.000 traba-lhadores horistas entre os sindicali-zados, o fechamento de 11 fábricase a paralisação de mais 3. A imprensa,no entanto, tem falado de mais 8.000mensalistas e de outros tantos cortesindiretos nas concessionárias, nosetor de marketing e nas fornecedorasde autopeças. O plano prevê aindaa eliminação de bonificações, fimdos reajustes automáticos dos saláriosde acordo com a inflação e suspensão“voluntária” do direito de greve en-quanto durar o pagamento de algu-mas parcelas de empréstimos do go-verno. Impõe, ademais, a dessindi-calização em todo um ramo da com-panhia.

Este conjunto de medidas foi acontrapartida exigida pelo governoObama para a injeção de mais de51 bilhões de dólares por parte dogoverno até agora, o que poderálevar o Estado a controlar algo emtorno de 70% das ações da empresa.

A aceitação de tal plano pelo sin-dicato nacional dos trabalhadoresdo setor automotivo (UAW) indicaa que ponto chegou o apodrecimentodo sindicalismo do país, negando a

grande tradição de luta, observadanas décadas de 1930 e 1940. Alémdo sindicato aceitar a redução dasconquistas e dos empregos sem cha-mar à reação, agora os fundos depensão comprarão 18% das açõesdesvalorizadas da empresa, com-prometendo assim sua capacidadefutura de manter o seguro-saúde eaposentadoria dos trabalhadores, dasquais depende mais de um milhãode norte-americanos.

Há toda uma campanha na mídiado país tentando apresentar a crisecomo resultado da “rigidez sindicale dos salários” e dos “privilégios”dos trabalhadores. Ou seja, a culpada crise da GM é agora apresentadacomo sendo dos trabalhadores, quechegam a trabalhar até 12 horas pordia. O discurso de que a compradas ações pelos fundos de pensãodá aos sindicatos o estatuto de “só-cios-proprietários” é ilusório e serveapenas para confundir. Para defenderseus empregos, os trabalhadores pre-cisarão ultrapassar os dirigentes cor-rompidos do UAW e encontrar novasformas de luta.

Obama representa aoligarquia empresarial

Este plano também revela as op-ções de Barack Obama pela oligar-quia financeira, frustrando as ilusõesde grande parte da população norte-americana e mundial. Afinal, Obamanão é nenhum líder de movimentossociais, mas sim um dirigente doPartido Democrata, completamente

associado ao establishment financeiroe empresarial do país. Se seu governoestivesse realmente preocupado coma manutenção dos empregos não ha-veria porque então fechar fábricas edemitir, contrariando as expectativasdo próprio UAW, que investiu mi-lhões de dólares dos trabalhadorespara elegê-lo contra John McCain.

Ao contrário, Obama propõe umanacionalização pela metade, vai en-tregar a direção da empresa a uma“equipe de especialistas” de mercado.Está prevista a volta dos investidoresprivados em 18 meses. Apostandonuma direção oposta à criação deempregos, aplica a receita tradicionaldo capital nas crises, ou seja, o fe-chamento de fábricas, a redução dospostos de trabalho, dos salários edas conquistas dos trabalhadores.Enquanto isso, o governo já entregoucentenas de bilhões de dinheiro pú-blico para os mesmos banqueiros eespeculadores que criaram a crise,aumentando o déficit público e pre-parando uma bomba relógio que po-derá explodir futuramente sob a for-ma de inflação.

Modelo de transporteirracional

A crise da GM ainda levanta umaimportante questão que é a patenteirracionalidade de um modelo detransporte baseado no automóvel.Nos EUA, existem mais de 250 mi-lhões de automóveis para uma po-pulação de 310 milhões de habitantes,um quarto da frota mundial. E a frotamundial de carros pode chegar a 2bilhões até 2030, o que pode se trans-formar em uma catástrofe ambiental.

É completamente irracional, ir-responsável e anti-econômico utilizarmilhões de automóveis para trans-portar apenas um passageiro na idae volta ao trabalho, como se observaem cidades como São Paulo, apenasporque as montadoras precisam ven-der mais carros e a indústria mundialdo petróleo precisa remunerar seusacionistas.

Por isso, uma das saídas para aGM, sem fechar fábricas e cortarempregos, seria exatamente recon-verter grande parte da sua produçãopara fabricar meios de transportecoletivo não poluidores e equipa-mentos de geração de energia limpa.Essa é e proposta levantada pelo ci-neasta Michael Moore, em artigorecente. Segundo ele, uma recon-versão desse tipo foi possível durantea Segunda Guerra Mundial e a pró-pria GM suspendeu a produção deautomóveis, começando a produzirtanques e carros de combate empoucos meses.

Por fim, tanto a crise global comoa quebra da GM só comprovammais uma vez a completa irraciona-lidade do próprio sistema capitalistaem sua busca de lucros a qualquercusto. A nova crise global do capitalestá desatando mais uma onda deataques contra os trabalhadores. Issodeve redobrar os esforços dos so-cialistas e de toda humanidade pelasuperação desse sistema e pela cons-trução do socialismo como alterna-tiva, dessa vez com liberdade e hu-manismo.

A quebra da GM, a opção deObama e o fim de uma eraNão fechar nenhuma fábrica, manter os empregos e reconverter a produção

Durante décadas a GM foi a maior montadora do mundo e umsímbolo do poder industrial dos EUA.

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10 • internacionalNova luta contrademissões emLindseyGRÃ BRETANHA Os trabalha-

dores da construção civil na refi-naria de Lindsey, que impediramdemissões e conseguiram 102 no-vos empregos após uma greve emjaneiro, estão de novo lutando emdefesa do emprego. A intenção daempresa Total é demitir trabalha-dores contratados sob o acordocoletivo nacional (NAECI), comos direitos que a luta sindical con-quistou após décadas de luta.

No dia 11 de junho centenas detrabalhadores terceirizados e con-tratados decidiram entrar em grevecontra a demissão de 51 trabalha-dores. A greve é considerada “ilegal”pela legislação anti-greve do país.

A empresa francesa Total, res-ponsável pela refinaria, respondeudemitindo 647 trabalhadores gre-vistas. Os trabalhadores respon-deram apelando por apoio de co-legas do setor de construção deoutras unidades. Em mais de 20locais, trabalhadores saíram emgreve em solidariedade à luta deLindsey. Esse tipo de greve tam-bém é considerada ilegal e significaum grande desafio à legislaçãoopressora do país.

1 bilhão passamfome no mundoBARBÁRIE O número de pes-

soas que passam fome no mundovai ultrapassar esse ano a marcade 1 bilhão pela primeira vez, se-gundo um relato da FAO (orga-nismo da ONU para agricultura ealimentação) publicado em 19 dejunho. Isso corresponde a um sextoda população mundial.

O que está por trás disso é umacombinação do aumento de preçodos alimentos dos últimos anoscom os efeitos da crise mundial. OPrograma Alimentar Mundial daONU, a principal agência de com-bate à fome, está cortando a ajudae fechando algumas de suas ope-rações porque os países doadoresestão reduzindo suas contribuiçõesdevido à crise mundial. A agênciaconta hoje com US$ 1,5 bilhão,quase US$ 5 bilhões a menos doque o orçamento necessário.

“Hoje, o aumento da fome éum fenômeno global. Todas as re-giões foram afetadas”, diz o dire-tor-geral da FAO, Jacques Diouf.

Vitória dos indígenas no PeruPERU Depois de 2 meses de

luta, quando vários indígenas forammortos em confronto com a políciaperuana, o governo de Alan Garciarecuou no dia 18 de junho e retiroudois decretos que facilitam a ex-ploração da selva amazônica.

Segundo os grupos indígenas,os decretos de Alan Garcia colo-cavam em perigo seus territórios.Travaram uma luta com bloqueiosde estradas e receberam forte re-pressão. Os grupos indígenas con-testam os dados oficiais, que falamde somente 10 indígenas mortose 24 policiais. Segundo eles, 500indígenas estão desaparecidos.

O pacote de dez decretos sobre aAmazônia faz parte de um conjuntode mais de cem decretos baixadospor Alan Garcia em 2008, quandoobteve a autorização do Congressopara legislar via decreto para cumpriras exigências do Tratado de LivreComércio (TLC) com os EUA.

Ofensiva Socialista n°01 junho/julho - 2009

Oposição sem realalternativa na EuropaVitória de Joe Higgins mostra potencial para alternativa socialista

As eleições européias realizadasno mês de junho demonstraramo enorme desgaste dos partidosque estão no governo da maioriados países do continente. A bai-xíssima participação, que ficouem torno de 43%, denota a des-confiança nos partidos e no sis-tema político.

Robert BechertComitê por uma Internacional

dos Trabalhadores

Num quadro em que houve umaimensa abstenção no processo eleitoralsomado à ausência de alternativaspela esquerda, saíram fortalecidos ospartidos nacionalistas e de extremadireita que aumentaram sua partici-pação no Parlamento Europeu.

O resultado eleitoral aponta, deforma distorcida e confusa, o rechaço,desconfiança e a hostilidade aosgrandes partidos da burguesia queprocuram descarregar nas costas dostrabalhadores o preço da crise docapitalismo.

Já houve protestos em grande es-cala, incluindo manifestações e gre-ves gerais, numa série de países eu-ropeus. Em particular na França, asmanifestações tiveram o caráter deuma crescente onda de oposição aosataques contra os trabalhadores. Mas,outros países, como Bélgica, Grécia,Portugal e Espanha, também viramprotestos importantes.

A crise capitalista levanta a ne-cessidade de oposição ao própriosistema capitalista e a defesa de umaalternativa socialista. Mas, atualmentena Europa, além do CIT, há poucasforças no movimento dos trabalha-dores que vinculem ativamente aluta contra os efeitos da crise com oapoio a uma clara alternativa socia-lista. Isto abriu o caminho para osavanços da direita nas eleições.

Em vários países, os partidos decentro-direita avançaram ou pelomenos sofreram menos perdas. Comfreqüência isso se deu porque, comono caso de Sarkozy na França, a di-reita mudou de estratégia e passoua criticar os excessos do capitalismo.No caso de Angela Merkel da Ale-manha, foi a ampliação do finan-ciamento público para criar empregosde meio período e limitar as perdasde postos de trabalho, que provocoualgum impacto eleitoral.

Direita racista cresceu

Em toda a União Européia, os par-tidos mais à direita ganharam, se nãoem números absolutos, pelo menospercentualmente. A imigração con-verteu-se numa questão fundamental,com a exploração pelos partidos dedireita do temor dos trabalhadores.

O racismo, a hostilidade aos mu-çulmanos, ciganos e, na Áustria, umsemi-velado anti-semitismo foramfatores utilizados. Em muitas situa-ções foram somente os partidos daextrema direita que expressaram aira popular contra a União Européia,tanto por sua essência antidemocrá-tica como por seu domínio pelasgrandes potências européias.

O resultado geral desta eleição

parece mostrar uma mudança à direitana Europa e, em alguns países, avan-ços importantes para partidos de ex-trema direita. Um dos exemplosmais notáveis disso foram os 769mil votos, 17%, que a extrema direitado PVV conseguiu na Holanda nasua primeira eleição européia e quetorna esse partido o segundo maiordo país. Na Áustria, a votação totalde extrema direita, aumentou de157,7 mil em 2004 para 490,9 mil(17,4%) apesar da divisão em 2005do Partido da Liberdade (FPÖ).

No entanto, na Alemanha, o Partidode Esquerda (Die Linke), apesar desuas limitações, segue sendo vistocomo o principal oponente aos ata-ques aos níveis de vida. O total na-cional da votação de extrema direitana Alemanha, por sua vez, não cres-ceu apesar de alguns ganhos naseleições locais que aconteceram si-multaneamente à eleições européiasnesse país.

Em alguns países onde a “cen-tro-esquerda” está na oposição, con-seguiram ganhar algo, já que sãovistos como um “mal menor”. As-sim, na Suécia, a social -democraciachegou em primeiro lugar com24,6% e também na Grécia, o PA-SOK obteve 36,6%. No entanto, oPartido Socialista (PS) na França,mesmo fora do governo, ainda so-freu perdas pela memória do quetinha feito quando esteve lá. Obteve16,48% e ficou só 0,2% à frente donovo Partido Verde.

Em três países os principais par-tidos de direita no governo ficaramà frente na votação, Na França, Sar-kozy teve 28% dos votos, sendoque 72% dos votantes não compa-receram às urnas. Na Alemanha, aChanceler Merkel da CDU, queficou na frente, teve 1,343 milhãode votos a menos que em 2004. Ogoverno polonês teve a mais altaporcentagem de votos, 44%. Porém,

somente 24% dos eleitores votaram,ou seja, teve o apoio efetivo demenos de 12% do eleitorado.

Poucos governos mantiveram osníveis de apoio. A coalizão do go-verno italiano foi um dos que con-seguiram mantê-lo, obtendo 45%dos votos. A Itália é um dos paísesque ilustra o tema central desta elei-ção, a debilidade de uma verdadeiraalternativa socialista, apesar da criseeconômica que assola o capitalismoitaliano onde se prevê que o PIBcairá mais de 4% neste ano.

A força de Berlusconi é funda-mentalmente resultado da decepçãocom os governos de centro-esquerda,como o encabeçado pela a aliançadas ‘Oliveiras’, e o fracasso do Par-tido da Refundação Comunista(PRC). Fundado em 1991, o PRC játinha obtido um apoio importante,não só eleitoralmente, mas tambémna base organizada da classe traba-lhadora. Mas, isto foi desperdiçadoquando seus dirigentes se uniramaos governos capitalistas ao invésde lutar para ganhar o apoio para aspolíticas socialistas. O resultado éque o PRC está próximo da extinção.Em comparação com 2004, diminuiude 8,47% a 3,37% do apoio, enquantoa "esquerda moderada/verde" caiude 4,51% a 3,12%.

Joe Higgins com 12,4%

O candidato do Partido Socialista(CIT na Irlanda), Joe Higgins, obteve50,51 mil (12,4%) votos de primeirapreferência em Dublin, mais do queo dobro da votação obtida em 2004.Ficou claro que esta votação se deuconscientemente no Partido Socia-lista, sobre a base de seu programae também sua longa história de luta,porque estava concorrendo com oPartido Trabalhista Irlandês, na opo-sição, que também cresceu.

O resultado de Joe Higgins só é

comparável ao do Bloco de Esquerdade Portugal (BE) que mais do queduplicou seus votos, para 381 mil(10,7%), superando por pouco aaliança liderada pelo Partido Co-munista, com 379,5 mil votos. Alémdisso, o “Movimento Popular contraa UE" na Dinamarca aumentou suavotação de 97,986 mil para 168,035mil votos (7,18%).

Na Grã Bretanha, a aliança patro-cinada pelo sindicato dos trabalha-dores dos transportes “Não à UniãoEuropéia, Sim à Democracia", ondeparticiparam o Partido Socialista(CIT) e o Partido Comunista da GrãBretanha entre outros obtive 1%.

Muitos dos novos partidos de es-querda que surgiram na Europa nãoobtiveram resultados expressivos.Isto ocorreu em parte porque muitosse moveram à direita, moderaramsua política, negaram-se a fazer cam-panhas se apresentando abertamentecomo socialistas e não apresentaramseus programas e exigências deforma clara e resoluta.

Na Alemanha, o Partido de Es-querda (Die Linke) obteve 390 milvotos e um pequeno aumento per-centual para 7,5%, em comparaçãocom os resultados do antigo PDS(originado do antigo partido stalinistada Alemanha Oriental e um dos se-tores que veio a formar o Die Linke)em 2004. Do mesmo modo, na Gré-cia, a aliança de esquerda Syrizaconseguiu 4,7%, pouco acima dos4,16% de 2004.

Decepção na França

Lamentavelmente, desenvolveu-se uma situação similar com o NovoPartido Anti-capitalista (NPA) naFrança, que recebeu 4,8% dos votos,em comparação com os 9% queapontavam as pesquisas.

Um elemento chave na formaçãodo Novo Partido Anticapitalista foi aantiga LCR. A votação de 857,8 milfoi quase o dobro dos 440,1 mil votos(2,56%) que a LCR teve em 2004em aliança com a LO. Desta vez aLO se apresentou sozinha e recebeu200,9 mil votos (1,2%). No entanto,estes 4,8% são decepcionantes diantedo esperado e está abaixo do que po-deria ter sido possível.

Em 2002, nas eleições presiden-ciais, Olivier Besancenot, obteve4,25% para a LCR. Neste sentido oresultado de 4,8% do NPA é pequeno,em vista da onda de protestos emmassa deste ano e dois dias de grevenacional na França.

Em alguns países a debilidade des-tes novos partidos de esquerda abriuespaço para os partidos verdes, es-pecialmente na França, onde a novaEuropa Ecológica obteve 16,2%.Também na Grã-Bretanha, Holandae na região da Valônia da Bélgica.

Em geral, estas eleições dão umaindicação da instabilidade na situaçãopolítica da Europa. A vitória do Par-tido Socialista em Dublin, Irlanda,e a duplicação dos votos do Blocode Esquerda em Portugal, indicamas possibilidades. O resultado doPS em Dublin demonstra que é pos-sível ganhar apoio com base numprograma socialista.

Joe Higgins, recém eleito ao parlamento Europeu, falando no II Encontro Nacional do PSOL em Porto Alegre em 2005.

Page 11: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

O Comitê por Umainternacional dos

Trabalhadores é umaorganização socialista compresença em mais de 40

países, em todoscontinentes. A LSR é aseção brasileira do CIT.Visites os sites da CIT:www.socialistworld.net

www.mundosocialista.net

Banco Mundialprevê crise maisprofundaECONOMIA MUNDIALA crise

é mais profunda do que o BancoMundial imaginava antes. O bancoestima que o PIB (soma de tudoque é produzido durante um ano)global deve cair 2,9% esse ano,contra a previsão de uma quedade 1,7% feita em março.

O banco ajustou sua previsãopara o Brasil, de um crescimentode 0,5% (previsão de março) parauma queda de 1,1%. Segundo oestudo publicado em 22 de junho,a situação continuou a se agravartanto nos países ricos como pobres,com exceção da China e da Índia.

Uma série de fatores apontapara que a economia mundial con-tinue em baixa: o desempregocontinua a crescer, os preços dascasas ainda caem em vários paísese os balanços dos bancos perma-necem fracos.

200 mil participamem protesto emHong KongCHINA Uma multidão de 200

mil pessoas fez o Victoria Parkem Hong Kong transbordar nodia 06 de junho. Era uma vigílianoturna em memória dos 20 anosdo massacre da Praça da Paz Ce-lestial, de 06 de junho de 1989.

O regime chinês tem tentadoapagar a memória do movimentoque abalou a burocracia. Toda ten-tativa de protesto na China conti-nental foi brutalmente reprimida.Mas, em Hong Kong, que durante99 anos foi uma colônia britânicae voltou ao controle chinês em1997, há uma abertura limitada,que torna esse tipo de protestopossível.

O protesto desse ano foi trêsvezes maior do que o do ano pas-sado. Ele mostrou não somente orepúdio à repressão aos direitosdemocráticos na China, mas tam-bém uma radicalização como re-sultado da crise econômica. HongKong tem sofrido os efeitos dacrise mais que o resto da China.O desemprego dobrou no últimoano.

Apoiadores do CIT (Comitê poruma Internacional dos Trabalha-dores) participaram no protesto.Um livro sobre os eventos de 1989foi vendido no ato. No resto daChina, por causa do bloqueio dapolícia, o livro é distribuído emformato eletrônico. Participantesdo ato de Hong Kong doaram oequivalente a R$ 3 mil reais emapoio à luta dos trabalhadores epor direitos democráticos.

internacional • 11Ofensiva Socialista n° 01 junho/julho - 2009

Os enormes protestos no Irãcontra a fraude nas eleiçõespresidenciais de 12 de junhomarcam um novo período parao país. O povo está perdendo omedo do regime teocrático re-pressivo. Os protestos expres-sam também um descontenta-mento com a pobreza, inflação,desemprego e corrupção, alémda opressão reacionária.

Marcus Kollbrunner

Esse ano marca 30 anos desde arevolução iraniana, quando os tra-balhadores e pobres derrubaram oditador Xá Mohammad Reza Pahlevi,que era apoiado pelos EUA. Mascom a falta de linha independentepor parte das organizações dos tra-balhadores, a revolução foi raptadapelos mulás (lideres religiosos). Ogrande partido comunista, Tudeh,apoiou o aiatolá Khomeini e foi es-magado posteriormente. As organi-zações dos trabalhadores foram proi-bidas, dezenas de milhares executa-dos, e um regime reacionário foiinstituído, com forte opressão sobremulheres e homossexuais.

Desde 1999 a oposição contra oregime tem aumentado. Nesse anoum movimento de oposição dos es-tudantes eclodiu, mas foi reprimidocom sangue. Desde 2004, greves detrabalhadores se tornaram mais co-muns. Houve greves importantes,como a dos trabalhadores do trans-porte público de Teerã, professores,trabalhadores da usina de açúcarHaf Tapeh, da indústria têxtil e deautopeças.

Muitas vezes os trabalhadores saí-ram em greve contra o atraso do sa-lário, que chegou a meses. As grevesforam fortemente reprimidas, comlíderes sindicais sendo presos ou atéexecutados. A greve do transportepúblico de Teerã de 2006, por exem-plo, com mais de 10 mil trabalhado-res, só acabou após a prisão de 1.200trabalhadores e familiares. Mesmoassim esses trabalhadores fundaramum sindicato, o que é proibido. Noúltimo 1° de maio em Teerã 80 tra-balhadores foram presos.

Divisão na classedominante

A atual crise reflete uma divisãona classe dominante sobre como en-carar o aumento de resistência po-pular. Há uma ala de “reformistas”entre o clero, que acredita que é ne-cessário diminuir a repressão, daralgumas liberdades, como válvulade escape para evitar uma explosãosocial.

Essa ala também acredita em umaaproximação com o imperialismoocidental, para fazer negócios e aju-dar a economia. Eles têm mais vín-culos com ricos comerciantes, comoos ex-presidentes Rafsanjani e Kha-tami, e o principal candidato da opo-sição na última eleição, Mousavi.

Os “conservadores” acreditam queé necessário manter a linha dura, senão o movimento de oposição vaiescapar do controle. Eles tambémquerem manter uma forte retóricaanti-imperialista, que é sua principalarma para segurar o apoio popular.O atual presidente Ahmadinejad,

que foi o primeiro presidente a nãoser líder religioso desde a revolução,é o principal representante dessegrupo agora, apoiado pelo aiatoláKhamenei, líder supremo do país eacima do presidente. Ahmadinejadrepresenta uma ala mais ligada àsforças armadas, que tem interesseseconômicos na construção civil eindústria petrolífera.

Ahmadinejad se elegeu em 2005com a promessa de lutar contra acorrupção e pobreza. Havia tambémuma decepção com os presidentes“reformistas” anteriores, Rafsanjanie Khatami, que não fizeram nadapara barrar a repressão à oposição,como o protesto dos estudantes em1999.

Porém, com Ahmadinejad, nãoveio nenhuma mudança para os maispobres. Ao contrário, o desempregoestá em 20% e a inflação chega a30%. O apoio de Ahmadinejad tinhatambém caído. Ele tentou reverterisso fortalecendo sua retórica anti-imperialista e com aumentos salariaispara os funcionários públicos e me-didas assistencialistas.

Apesar disso e do apoio do aiatoláKhamenei, a expectativa era que avitória iria para Mousavi. Quando foianunciada a vitória de Ahmadinejad,depois de apenas duas horas do fe-chamento dos locais de votação (nor-malmente o resultado só é declaradodepois de 2 ou 3 dias), isso levou auma explosão de raiva, com atos gi-gantescos, sendo que o maior, no dia16 de junho, teve entre 1 a 2 milhõesde participantes – mesmo com forterepressão e dezenas de mortes.

O clero está sob forte pressão enão está excluída a possibilidadedeles descartarem Ahmadinejad ebuscarem um acordo com a oposição.Em um gesto inédito, o Conselhodos Guardiães da Revolução con-cordou em recontar parte dos votos

declarando que em 50 cidades houveerros na votação, já que havia maisvotos do que votantes!

Construir uma alternativados trabalhadores

O sindicato dos trabalhadores dotransporte público em Teerã corre-tamente não apoiou nenhum dosquatro candidatos a presidente. Todosos quatro candidatos são represen-tantes da elite e precisavam do avaldos líderes religiosos para se candi-datar. Outros 470 candidatos foramexcluídos.

O próprio Mousavi foi primeiroministro entre 1981 e 1988, o períodoem que a repressão foi endurecida.Ele pode em qualquer momento ten-tar fazer um acordo com os líderesreligiosos, já que não quer mudar osistema a fundo.

Também é errado dar apoio a Ah-madinejad, como fez o presidenteHugo Chávez da Venezuela, quechamou a vitória de Ahmadinejadde “triunfo democrático” da “revo-lução iraniana”. Lula, que também

quer fazer negócios com Ahmadi-nejad, criticou a oposição e o movi-mento contra o governo, dizendoque são “maus perdedores”.

É claro que é necessário rechaçaro cinismo do imperialismo, que tentaganhar o apoio dos “reformistas”para instalar um governo com o qualpodem fazer negócios e ter acessoirrestrito ao petróleo. Eles não têmproblemas em fazer negócios comditaduras como as da China ouArábia Saudita. Onde estavam esses“democratas” quando a vitória daoposição no México recentementefoi roubada por uma evidente fraudeeleitoral?

Temos que dar todo apoio à lutapelos direitos democráticos levantadapelo atual movimento. Ao mesmotempo, os trabalhadores precisamconstruir suas próprias organizaçõese uma alternativa política que possadesafiar as duas alas da elite iraniana.Só assim será possível resgatar aenergia revolucionária que derrubouo Xá em 1979 e, dessa vez, impedirque seja desviada de um autênticocaminho socialista.

Protestos abremnovo período no Irã

Ahmadinejad se diz ser o “presidente dos pobres”, enquanto reprimegreve dos trabalhadores.

Um dos enormes protestos em Teerã, capital do Irã, contra a fraude nas eleições.

Page 12: Ofensiva Socialista n°1 jun-jul 2009

N° 01 junho/julho 2009

Preço: R$1,50 • Solidário: R$3,00

II Congresso Nacional do PSOL

Colocar o PSOL à alturado momento histórico!II Congresso Nacional doPSOL, que se realizará entre osdias 21 e 23 de agosto em SãoPaulo, definirá os rumos do par-tido nessa nova etapa da lutade classes. O partido não poderepetir os mesmos erros do PTe da esquerda no passado.

Paulo GajanigoPSOL – Rio de Janeiro

O período congressual se abriu eas teses estão na mesa. O desafiocolocado pela conjuntura de crisedo capitalismo terá de ser enfrentadonesse congresso. Podemos afirmarque há claramente uma disputa deconcepção partidária e de programapara tal desafio. Vemos uma polari-zação entre um partido de filiados eque enxerga na luta institucional ofoco da atuação; e um partido for-mado por militantes, com estruturasdemocráticas, e que atua no cotidianodas lutas, usando o espaço institu-cional e eleitoral como tribuna àserviço dessas lutas.

Um partido em (des)construção

A primeira posição vem se forta-lecendo desde a fundação do PSOL.Se compararmos o processo do ICongresso em 2007 e o de agora,claramente recuamos no aspecto deum partido militante e democrático.Os núcleos não podem mais elegerseus delegados diretamente e nãoexiste nenhum critério de militânciapara votar nos delegados.

A idéia de um congresso que de-bata e tire políticas necessárias seenfraquece com a priorização de umprocesso de plenárias de pouca dis-cussão e acúmulo, inviabilizando aparticipação de pequenos grupos re-gionais e independentes.

O balanço sobre a experiência como PT vem se perdendo. A APS, natese “Novos Tempos para o PSOL”,mantém uma visão que foi hegemô-nica no PT, de defender o ProgramaDemocrático e Popular (PDP). Aproposta é resumida da seguinte for-ma: “A construção de um Estadodemocrático e forte é um dos eixosde nossa proposta programática (...).Romper com os parâmetros da atualpolítica econômica cujo centro éatender os interesses do capital fi-nanceiro (...) e desenvolver políticaspara afirmar a soberania nacional e‘latino-americanizar o Brasil’”.

A pergunta que devemos fazer ése realmente é possível hoje, nosmarcos do capitalismo, construir umEstado democrático forte, que vácontra o interesse do capital finan-ceiro e tenha soberania nacional?

Quando a APS se defende, argu-mentando que o problema do PT

foi ter abandonado o PDP, ela ignoraque a degeneração desse partidoteve como um dos pilares a visãoreformista de democratização do Es-tado e de soberania nacional que osmotivaram a acumular forças atravésda eleição de parlamentares.

Falsa polarização APS x MES

O MES apresenta, em sua tese“Postular o PSOL como alternativapara disputar influência de massas”,uma retórica discordância ao PDP.No entanto, ao apresentar seu pro-grama para a crise, o MES não saido âmbito do PDP. Apresenta ban-deiras em parte corretas, como rees-tatização da Vale e do sistema fi-nanceiro, mas não dizem quem devecontrolar e se se deve pagar por isso.

Estatizar o sistema financeiro éprogressivo, mas não é garantia deque essa medida será no sentido dosinteresses coletivos dos trabalhadores.Hoje vemos vários países estatizaremsetores da economia mais como umasalvação de negócios falidos.

Está por trás das duas teses umacrença na possibilidade de um Estadoneutro e bom. Isso os autoriza aformular táticas de disputa por dentrodo Estado, através do foco na eleiçãode parlamentares.

A APS também tenta forjar umadiferença de fundo com o MES quesó confunde o real dilema do partido.Afirma que devemos priorizar ofoco do partido na questão da crise,e não no debate sobre corrupção.Nós, na tese “Colocar o Socialismona ordem do dia”, apontamos que otema da crise deve ser o centro da

atuação do partido, seja nas lutas,seja nas eleições de 2010. Mas, di-ferente de nós, a APS apresenta essaposição defendendo uma políticafocada nas eleições.

A real polarização

Em nossa tese, resumimos assimo desafio ao partido: “Construir umaalternativa política, diferenciada dosindicalismo corporativista de umlado e do eleitoralismo de outro,deve ser o papel do partido. Comofazer isso? Primeiro, incentivar osnúcleos a se reunirem. Pois são osmilitantes nas frentes de atuaçãoque poderão dar respostas mais ime-diatas à busca de alternativa pelostrabalhadores. Segundo, o PSOLdeve estimular e apoiar as lutas,usando de sua estrutura e dos man-datos para ampliar e fortalecer asvozes contra o sistema. Junto comisso, o partido tem a tarefa de cons-truir a unidade com os setores com-bativos da classe. Estar presente emtodas as lutas e respeitando a auto-nomia das instâncias dos movimentose sindicatos. O oportunismo políticosó faz atrasar a consciência dos tra-balhadores, alimentando o ceticismoem relação à ferramenta-partido”.

Hoje, só há políticas para desani-mar os militantes a construir os nú-cleos por parte da direção, formadaprincipalmente por MES, PP (MTL)e APS. Nós defendemos esse espaçocomo básico e obrigatório dos mili-tantes do PSOL, com direito a deci-são sobre a política partidária.

Além da questão da ausência dedemocracia partidária, há outro pontoque unifica vários setores que dirigem

o partido. As teses assinadas peloMES, PP (MTL), APS e outras de-fendem que em 2010 se busque am-pliar as alianças, reivindicando comopositiva a política em 2008 de fazeralianças com partidos burgueses(como PV e PSB).

Ampliar para onde asalianças em 2010?

No entanto, qual sinal mandamospara os trabalhadores quando nosapresentamos numa aliança com par-tidos que governam contra os traba-lhadores? O PV se alia com o PSDB,DEM, PT, conforme a ocasião, oPSB é base do governo Lula e apóiao PSDB em vários estados.

Nós não devemos ser um partidode ocasião. O que faz do PSOL umpartido que tem potencial de ser al-ternativa política para os trabalha-dores, é a imagem de não ter mudadode lado, e de ter princípios clarosde defesa dos trabalhadores. Essaimagem se corroerá com a formaçãode alianças buscando mais algunssegundos nos horários eleitorais.

A conseqüência da política de am-pliação das alianças para setoresburgueses foi demonstrada pela can-didatura de Luciana Genro à prefei-tura de Porto Alegre. Cem mil reaisvindos da Gerdau.

Devemos ser arrojados nesse mo-mento de crise, em que o capitalismomostra sua incapacidade de melhorara vida das pessoas em geral. O PSOLdeve atuar para aumentar a confiança

dos trabalhadores em suas própriasorganizações, e apontar claramenteque é necessária uma mudança ra-dical na sociedade. Devemos fazerisso apresentando um programa comas reivindicações mais concretashoje, como garantia dos empregos,dos salários, e avançando em pro-postas que caminham para a neces-sária ruptura com o sistema.

A construção desse programa teráum efeito maior se for construídoamplamente com os partidos da es-querda (PSTU e PCB) e com osmovimentos sociais em luta hoje.

Unir forças

O processo congressual será ummomento para que construamos umpólo de esquerda dentro do partidocom a defesa de um partido demo-crático, militante, socialista e à ser-viço das lutas dos trabalhadores.Acreditamos que todos os militantese correntes que concordam com essabase, devem unir forças. A nossatese é fruto de uma unidade fundadanessa luta através dos vários agru-pamentos que formaram o Bloco deResistência Socialista com o apoiode militantes independentes.

Acreditamos que o PSOL podejogar um papel fundamental nessanova conjuntura. Só um partido de-mocrático, com a base participandodas formulações e decisões partidá-rias é que construiremos um instru-mento eficaz para a luta dos traba-lhadores.

Acesso o nosso site:

www.lsr-cit.orge-mail: [email protected]

telefone: (11) 3104-1152

Sobre política deeleições em 2010:

• Construir um projeto alterna-tivo dos trabalhadores que seriaapresentado nas eleições atravésde uma candidatura com um pro-grama anti-capitalista e socialista.Conformando uma Frente de Es-querda, com um perfil de inde-pendência de classe, buscando co-ligações com PSTU e PCB e es-tabelecendo diálogo com os mo-vimentos sociais combativos, comoos sindicatos e movimentos queestão participando na construçãoda nova central, o MST, ConsultaPopular e outros setores.

Sobre concepçãopartidária:

• Construir um partido baseadoem critérios de militância, de mem-bros atuantes e organizados, e nãode meros filiados que não mili-tam.

• Os delegados dos Congressos

devem continuar a ser eleitos pelabase diretamente, como rege oestatuto.

• Controle democrático da di-reção pela base. Plenárias regularesde núcleos com poder de delibe-ração nos estados e municípios.

• Controle democrático sobreos mandatos. O mandato é do par-tido e não do parlamentar. Essecontrole inclui o controle das fi-nanças do mandato. O parlamentare seus assessores devem receberum salário de um trabalhador qua-lificado, ou o mesmo salário quetinha antes de ser eleito.

• Independência de classe é au-tonomia financeira: veto a doaçõesde empresas. Sustentar o partidocom cotização militante e doaçõesindividuais.

• Por um partido socialista in-dependente de patrões, governose do estado, amplamente demo-crático, com uma prática de res-peito às diferenças.

Algumas propostas

É preciso resgatar o PSOL como partido de luta e democrático.