ofensiva socialista n°3

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site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152 Avançar rumo à Nova Central página 3 Preparar novo round de luta contra Serra página 4 Fora Arruda! página 5 Demissão em massa na Sabesp página 5 O fiasco da Conferência da ONU sobre o clima página 6 A esquerda socialista em 2010 – que fazer? página 7 Olimpíadas 2016 – vitória para quem? página 8 Afeganistão – o pântano de Obama página 9 Estado é responsável pelas inundações no Jd Pantanal página 12 Haiti: Um desastre agravado pelo capitalismo página 12 N° 03 janeiro/fevereiro 2010 Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) Tendência do PSOL 2010 não será fácil. O lado de lá vem pra cima com força. Usam a retórica de que o Bra- sil está saindo da crise melhor do que entrou. Ilusão. A festa de 2010 vai se transformar em briga feia depois. Na hora de botar ordem na casa, o novo governo, seja ele petista ou tuca- no, não terá a mesma força que Lula para impor mais ataques aos trabalhadores. A esquerda brasileira ainda está em fase de recuperação depois da perda definitiva do PT. O PSOL jogou um papel importante nesse pro- cesso. O erro potencialmente fatal de buscar a coligação com o PV de Marina Silva foi evita- do. Mas, existem seqüelas. Nas eleições desse ano, PSOL, PSTU e PCB não podem se apresentar divididos. Para en- frentar a candidata de Lula e o candidato da di- reita tradicional, a esquerda socialista precisa se apresentar unificada. O processo de formação da Nova Central é um exemplo a ser seguido. A corrente Liberdade Socialismo e Revolu- ção - LSR, junto com os companheiros (as) do Bloco de Resistência Socialista, vem defenden- do a construção de um movimento, por cima das fronteiras partidárias, em defesa de uma candidatura unitária da esquerda socialista em 2010. Leia o editorial na página 2 Ainda é possível! UNIFICAR A ESQUERDA SOCIALISTA NAS URNAS E NAS RUAS Construir a nova Central unitária e reconstruir a Frente de Esquerda nas eleições!

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Jornal da Liberdade, Socialismo e Revolução Seção Brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores Corrente do PSOL

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Page 1: Ofensiva Socialista n°3

site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152

Avançar rumo àNova Central

página 3

Preparar novoround de lutacontra Serra

página 4

Fora Arruda!página 5

Demissão emmassa naSabesp

página 5

O fiasco daConferência daONU sobre oclima

página 6

A esquerdasocialista em2010 – quefazer?

página 7

Olimpíadas2016 – vitóriapara quem?

página 8

Afeganistão –o pântano deObama

página 9

Estado éresponsávelpelasinundações noJd Pantanal

página 12

Haiti: Umdesastreagravado pelocapitalismo

página 12

N° 03 janeiro/fevereiro 2010

Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR

Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

Tendênciado PSOL

2010 não será fácil. O lado de lá vem pracima com força. Usam a retórica de que o Bra-sil está saindo da crise melhor do que entrou.Ilusão. A festa de 2010 vai se transformar embriga feia depois. Na hora de botar ordem nacasa, o novo governo, seja ele petista ou tuca-no, não terá a mesma força que Lula para impormais ataques aos trabalhadores.

A esquerda brasileira ainda está em fase derecuperação depois da perda definitiva do PT.O PSOL jogou um papel importante nesse pro-cesso. O erro potencialmente fatal de buscar acoligação com o PV de Marina Silva foi evita-do. Mas, existem seqüelas.

Nas eleições desse ano, PSOL, PSTU e PCBnão podem se apresentar divididos. Para en-frentar a candidata de Lula e o candidato da di-reita tradicional, a esquerda socialista precisa seapresentar unificada. O processo de formaçãoda Nova Central é um exemplo a ser seguido.

A corrente Liberdade Socialismo e Revolu-ção - LSR, junto com os companheiros (as) doBloco de Resistência Socialista, vem defenden-do a construção de um movimento, por cimadas fronteiras partidárias, em defesa de umacandidatura unitária da esquerda socialista em2010.

Leia o editorial na página 2

Ainda é possível!

UNIFICAR AESQUERDASOCIALISTA NASURNAS E NAS RUASConstruir a nova Central unitária e reconstruir

a Frente de Esquerda nas eleições!

Page 2: Ofensiva Socialista n°3

2 • editorial Ofensiva Socialista n°03janeiro/fevereiro - 2010

2010não será fácil. O ladode lá vem pra cimacom força. De um

lado usam a retórica de que o Brasil estásaindo da crise melhor do que entrou. Ilu-são. Partindo do crescimento zero de 2009qualquer coisa que vier em 2010 pode pare-cer grande coisa. Mas, nem mesmo os maisotimistas comentaristas da burguesia podemdeixar de levar em consideração os riscosde um cenário externo ainda profundamentemarcado pela crise. A “bolha internacionalde otimismo” dos últimos meses, baseadana ilusão de que a crise já passou, é profun-damente irracional e insustentável.

A festa de 2010 vai se transformar embriga feia depois. Na hora de botar ordemna casa, o novo governo, seja ele petista outucano, não terá a mesma força que Lulapara impor mais ataques aos trabalhadores.

Quando a propaganda ufanista não semostra suficiente, o lado de lá não hesitaum segundo em utilizar todos os meios pos-síveis para calar os descontentes. A polêmi-ca em torno do Programa Nacional dos Di-reitos Humanos não esconde o fato de que acriminalização dos movimentos sociais e dapobreza como um todo avançam de formaclara nesse país. E vai ser pior quando a re-sistência e a luta se intensificarem.

A esquerda brasileira ainda está emfase de recuperação depois da per-da definitiva do PT para o lado de

lá. Iniciativas valorosas e fundamentais,como a formação do PSOL, jogaram umpapel muito importante para manter a cha-ma acesa. Mas, mesmo depois de cincoanos de existência do partido, um erro im-portante neste momento delicado pode co-locar tudo a perder. O maior dos erros – acoligação do PSOL com o PV de MarinaSilva – foi evitado. Mas, as seqüelas causa-das por aqueles que insistiram durante tantotempo nesse erro, não podem ser ignoradas.

Nas eleições desse ano, PSOL, PSTU ePCB não podem se apresentar divididos.Para enfrentar a candidata de Lula e o can-didato da direita tradicional, a esquerda so-

cialista precisa se apresentar unificada. Nãoestamos exigindo que os pré-candidatos quejá se apresentaram por cada um desses par-tidos abram mão de suas postulações. Mas,estamos chamando sim para que todos sejuntem num esforço consciente para cons-truir uma base política e programática co-mum para essa disputa. A partir daí se podeconstruir uma tática comum, com candida-turas unitárias, superando obstáculos.

A experiência do Seminário Nacional deReorganização do movimento sindical e po-pular, que deliberou pela convocação de umCongresso unitário da classe trabalhadorapara junto desse ano visando construir uma

Nova Central, é um exemplo a ser seguido.Foi a conjuntura de crise profunda do

capitalismo, a avalanche de demissões eataques sobre os trabalhadores e a disposi-ção consciente de setores organizados,como no caso da Conlutas, que permitiu oavanço desse processo.

A partir de agora, nenhum passo atrás!É preciso avançar na unidade da esquerdasocialista em todos os níveis e esferas daluta. A formação de uma Frente de Esquer-da envolvendo PSOL, PSTU e PCB na dis-puta eleitoral desse ano é o passo seguintenecessário.

O PSOL tem uma responsabilidade es-

pecial nesse processo. Se contribuiu paracolocar obstáculos à unidade até agora,deve então se transformar no seu maior de-fensor. É isso que vamos defender nos de-bates prévio à Conferência Eleitoral doPSOL e é isso que chamamos a todos os eas militantes do partido a defender conos-co.

Pelo seu peso, importância e pelo balan-ço do último período, o PSOL deve assumirjá a iniciativa de chamar o PSTU e o PCBpara um Encontro visando explorar as pos-sibilidades de unidade na disputa eleitoral.Se não fizer isso, arcará com o pesado ônusda divisão da esquerda. As deliberações daConferência Eleitoral devem priorizar essabusca da unidade.

A corrente Liberdade Socialismo eRevolução – LSR, junto com oscompanheiros (as) do Bloco de

Resistência Socialista, vem defendendo aconstrução de um movimento, por cima dasfronteiras partidárias, em defesa de umacandidatura unitária da esquerda socialistaem 2010.

Independentemente do fato de entender-mos que o nome do companheiro Plínio deArruda Sampaio é o que melhor pode cum-prir o papel de reconstruir os laços de uni-dade na esquerda (veja artigo na pág. 7),entendemos que esse movimento deve secolocar por cima das eventuais pré-candida-turas já apresentadas. O eixo principal deatuação dos socialistas conseqüentes nestemomento é evitar a fragmentação da es-querda.

Mas, para isso, é preciso derrotar a polí-tica do fato consumado, como aquela quelevou ao adiamento da Conferência Eleito-ral do PSOL, a recusa em apresentar qual-quer alternativa eleitoral no programa deTV do partido, a enorme perda de tempoprecioso tentando construir uma coligaçãocom o partido de Zequinha Sarney.

Nas portas de fábricas, bancos e escolas,nas ocupações de terra, nas ruas e tambémna disputa eleitoral é preciso unificar a es-querda socialista.

Colaboraram nessa edição:André Ferrari, Celso Calfullan, Clara Perin, Dimitri Silveira,Jane Barros, Joaquim Aristeu da Silva, Luciano Barboza,Marcus Kollbrunner, Miguel Leme, Niall Mulholland, Will deSiqueira, Wilson Borges Filho.é uma publicação da

Liberdade, Socialismo e Revolução

Telefone: (11) 3104-1152E-mail: [email protected]ítio: www.lsr-cit.orgCorreio: CP 02009 - CEP 01060970 - SP Assinatura: 10 edições: R$ 20 reais

(Envie à caixa postalcheque nominal p/Marcus William Ronny Kollbrunner)

Super-faturamentona escola

A Folha fez um levanta-mento sobre os materiais esco-lares que os colégios e as esco-las particulares do ensino fun-damental exigem do seus alu-nos, agora no início do ano le-tivo. E olha que na verdade asescolas só podem cobrar pro-dutos que tenham relação dire-ta com o ensino. Os exemplossão bizarros.

Uma escola exige 18 lápis(Móbile), outra 14 tubos de co-la (Vértice). E os exemplos se-guem: cinco caixas de lápis decor, cinco de giz de cera, cincode massinha... 500 folhas de pa-pel sulfite (Arquidiocesano),800 copos plásticos (Futura), 6caixas de lenço de papel(Futura), 4 rolos de papel tolha(Benjamin Constant), fones(Miguel de Cervantes), 1 litro

de álcool em gel (Arqui -diocesano) e uma almofada(Humboldt)!

Obama perdepara “SenadorGostosão”

Ninguém contava com apossibilidade dos democratasde Obama perderem a eleiçãopara preencher a vaga a senadorde Massachusetts de TedKennedy, que morreu o anopassado. Por 58 anos os demo-cratas tinham essa vaga, em ter-ritório considerado deles.

A derrota não fica menos pe-sada pelo fato de que a vaga foipara um político pouco conhe-cido, Scott Philip Brown. Atéagora, ele era mais conhecidopor outros méritos. Em 1982,quando era estudante de direito,ele venceu a competição “O ho-mem mais sexy da América” darevista feminina

“Cosmopolitan”, onde pousounu. Isso lhe rendeu o apelido“Senador Gostosão”...

McDonald’svai salvarHaiti?

Você acreditam que oMcDonald’s vai salvar o povodo Haiti? É incrível como em-presas que por décadas lucramem cima da miséria dos pobres,explora trabalhadores e fazemtudo para não pagar impostospara serviços públicos, queremse mostrar bonzinhas doandodinheiro quando há uma catás-trofe que comove o mundo.

Mas a maioria das empresaspegam do lucro que já extraí-ram dos trabalhadores e doamum pouco. McDonald’s é carade pau e quer que seus fregue-ses e trabalhadores paguem adoação para eles! mande sua contribuição para [email protected]

Ainda épossível!Unificar a esquerdasocialista nas urnas

e nas ruas

Page 3: Ofensiva Socialista n°3

Protesto contra aumento do ônibus

SÃO PAULO Aproveitando-sedo período em que a maior partedos estudantes está em férias, aprefeitura de São Paulo atendeuà reivindicação dos empresáriosdos transportes e elevou a tarifados ônibus de R$2,30 paraR$2,70, assim como da integraçãoônibus-metrô, de R$3,65 paraR$4,00.

Esse aumento é superior à in-flação do período anterior e com-prometerá ainda mais os gastosdos trabalhadores com transporte:algo em torno de 23% do saláriomínimo!

Os trabalhadores gastam cadavez mais dos seus respectivos bol-sos para usufruir de algo que de-veria ser garantido como direitopelo Estado. No entanto, nas mãosdo ‘Democratas’, partido do pre-feito Kassab e de seus aliadosproprietários dos transportes, odireito ao transporte vira espoliaçãoe lucro fácil com prejuízo paratodos que dependem de ônibus emetrô.

As manifestações realizadas con-tra o aumento da passagem sofre-ram dura repressão por parte dapolícia militar. Mobilizações maisfortes unindo estudantes e traba-lhadores precisam ser organizadaspara barrar esse aumento.

Passeata de trabalhadores daconstrução civil

FORTALEZA Durante dois diasseguidos mais de 3 mil operárioscruzaram os braços e tomaramas ruas da capital cearense parafortalecer a campanha salarial dacategoria. Os trabalhadores de-cidiram pela paralisação porquenão suportam mais as péssimascondições de trabalho. As prin-cipais reivindicações dos traba-lhadores são por mais segurançano trabalho e contra a precarizaçãono setor.

Pobres pagam 86%a mais de impostos que ricos

DESIGUALDADE De acordocom o estudo “Pobreza, desigual-dade e políticas públicas” divul-gado recentemente pelo Ipea (Ins-tituto de Pesquisa Econômica Apli-cada), a população pobre pagamais imposto no Brasil porque atributação é feita de forma indireta,isto é, o imposto está embutidonos preços dos alimentos e bensde consumo. Como os mais pobresgastam a maior parte dos ganhoscom estes produtos, pagam maisimpostos.

Segundo o presidente do Ipea,Marcio Pochman, “os que menospagam são os que mais criticam acarga tributária no Brasil porquesentem mais o imposto direto, queé aquele cobrado sobre a proprie-dade (como IPVA e IPTU). Já osmais pobres não ficam sabendo oquanto pagam porque o impostoestá embutido no preço do refri-gerante, por exemplo”.

A pesquisa mostra que quemganha até dois salários mínimos(atuais R$ 1.020,00) tem 48,9%do rendimento comprometido comimpostos. Já aqueles que recebemmais de 30 salários mínimos (R$15.300,00) têm o percentual re-duzido para 26,3%.

sindical • 3Ofensiva Socialista n° 03janeiro/fevereiro - 2010

O Seminário Nacional sobreReorganização realizado nosdias 1 e 2 de novembro de2009, em São Paulo, represen-tou um passo importante noprocesso de construção daNova Central.

Não è nenhum exagero afir-mar que a sua realização foiuma vitória da classe trabalha-dora brasileira.

Miguel LemeDiretor da Apeoesp pela

Oposição Alternativa

Este seminário aprovou por una-nimidade a realização de um Con-gresso Unitário da Classe Trabalha-dora (Conclat) para 5 e 6 de junhodeste ano, em Santos – SP, com atarefa de fundar uma Nova Central.Os delegados para este congressoserão eleitos na base do movimentosindical e popular.

Além disso, foi aprovada a reali-zação de uma Plenária da Reorgani-zação durante o Fórum Social Mun-dial, na cidade de Salvador, Bahia.

Nesta Plenária, será debatido edeliberado por todos os setores en-volvidos no processo de reorgani-zação, um plano de ação para a ju-ventude e a classe trabalhadora.

Coordenação Pró-Central

Para a organização deste Congressofoi formada uma Coordenação Pró-Central com a participação de todosos setores envolvidos no processode Reorganização.

É responsabilidade desta Coorde-nação, e em particular da Conlutase Intersindical fazer com que nãohaja qualquer tipo de recuo ou re-trocesso em relação à formação destanova ferramenta.

Durante o Seminário Nacional,todas as intervenções apontaram quea unidade do conjunto da esquerdaé fundamental para acabar com afragmentação existente hoje.

É uma necessidade histórica daclasse trabalhadora, a construção destanova ferramenta. A esquerda comba-tiva e socialista não tem o direito,mesmo com todas as diferenças, decolocar em risco a construção dessenovo instrumento. Se não houveracordo em temas fundamentais, houveum compromisso de todos os setoresenvolvidos no processo de reorgani-

zação, em respeitar as deliberaçõesda base do Congresso Unitário.

A formação de uma Nova Centralpoderá ter um impacto profundo juntoà vanguarda e se constituir num prazomuito curto como um pólo de atraçãoe uma alternativa real de luta para amassa dos trabalhadores.

Ferramenta necessária naatual conjuntura

A construção dessa ferramenta sefaz mais necessária na atual conjun-tura. Vivemos um momento em queo governo Lula goza de muita popu-laridade junto à população devidoàs diversas políticas assistencialistas.Conseguiu cooptar todo o movimentosindical, e em particular a CUT, paraa implementação de políticas neoli-berais que atacam os trabalhadores.

O exemplo mais recente foi oapoio da maioria das centrais sindi-cais, à exceção da Conlutas e Inter-sindical, à proposta do governo Lulade criar o chamado fator 85/95.

Este novo mecanismo é um ataque,pois começa a instituir uma idade mí-nima para a aposentadoria dos traba-

lhadores do setor privado. A aposen-tadoria integral seria tão somente ga-rantida aos que somando a idade maiso tempo de contribuição atinjam 95anos (homens) e 85 anos (mulheres).

As grandes centrais sindicais estãocada vez mais atreladas ao governonão só porque concordam com suapolítica, como também estão cadavez mais dependentes financeira-mente do imposto sindical.

Segundo dados do próprio Minis-tério do Trabalho, de janeiro a junhodo ano passado, foram repassados74 milhões de reais às centrais sin-dicais, recursos oriundos do chamadoimposto sindical. A principal bene-ficiária foi a CUT.

A LSR defende uma NovaCentral com caráterSindical e Popular

A LSR e os demais setores quecompõe o Bloco de Resistência So-cialista têm participado de formaativa do processo de reorganizaçãosindical e popular. Desde o primeiroo momento, temos defendido o ca-ráter sindical e popular da Nova

Central por permitir um grau deunidade mais orgânico para fazer oenfrentamento necessário contra osataques de patrões e governos.

Na Nova Central participariamnão só os trabalhadores, mas a ju-ventude, os movimentos de opressãoe o movimento popular. A defesado caráter sindical e popular nãosignifica qualquer tipo de concessãoà idéia de perda da centralidade daclasse trabalhadora como sujeito his-tórico do processo de transformação.

Mesmo tendo esta concepção, sea base do Congresso Unitário tiverposicionamento diferente, nós daLSR e do Bloco de Resistência So-cialista acataremos essa deliberaçãoe construiremos com entusiasmo aNova Central.

Além da natureza sindical e popular,nós da LSR entendemos que a NovaCentral deve romper com a luta me-ramente economicista e corporativa,tão característica do movimento sin-dical; e desenvolver uma luta estra-tégica em defesa do socialismo. Deveconstruir a solidariedade internacional,ser independentes de patrões e radi-calizar em sua democracia interna.

Avançar rumoà Nova CentralConclat marcado para 5 e 6 de junho em Santos

A última reunião da CoordenaçãoNacional da Conlutas, realizada de11 a 13 de dezembro de 2009, emBelo Horizonte – MG, reafirmou deforma correta, o compromisso daConlutas em construir uma NovaCentral junto com a Intersindical edemais setores. Foi aprovado quenos dias 3 e 4 de junho, será realizado

em Santos-SP, o seu último Congresso.Essa reunião reafirmou também de-liberações anteriores da Conlutassobre temas fundamentais que serãodebatidos no Congresso de Unificação,como a defesa do caráter sindical epopular da Nova Central e uma es-trutura de direção baseada na repre-sentação das entidades.

Conlutas reafirma compromissocom a Nova Central

Seminário de reorganização sindical aponta o caminho da unidade.

Unidade dos setores mais combativos do movimento sindical e popular.

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4 • movimento Ofensiva Socialista n°03janeiro/fevereiro - 2010

Anulação de concursos mostraa corrupção no poder público

CORRUPÇÃO Somente no úl-timo trimestre de 2009 foram anu-lados ou suspensos três concursospúblicos importantes, o da PolíciaRodoviária Federal (com 103.437mil pessoas inscritas), do governode Mato Grosso (com 274 mil), edo Instituto de Criminalística deSão Paulo (com mais de 17 milinscritos).

Segundo a diretora executivada Anpac (Associação Nacionalde Apoio e Proteção aos Concur-sos), Maria Thereza Sombra, cercade 20% dos concursos nacionaisapresentam algum tipo de irregu-laridade, mas nem todos são anu-lados. As fraudes podem ser maiscomuns do que se pensa, porémnão há estatísticas oficiais sobreo número de certames cancela-dos.

Senado institui“lei do silêncio”contra servidores

MORDAÇA Para evitar desgastepolítico em ano de eleição, o Se-nado instituiu uma “lei do silêncio”para tentar evitar que servidoresapontem irregularidades na gestãoadministrativa da casa.

O diretor geral Haroldo Tajra(indicado para este cargo pelo se-nador Heráclito Fortes – DEM-PI) criou uma comissão para apurara “divulgação de informações ad-ministrativas não autorizadas” como claro objetivo de intimidar osservidores, que denunciaram noinício do ano o pagamento super-faturado de rescisões trabalhistase a divulgação de ato autorizandoo uso de créditos de passagensaéreas de 2009 em 2010.

Quilombolas têmposse de terra garantida na Ilhade Marambaia

RIO DE JANEIRO A disputapela posse das terras controladaspela Marinha e um pescador des-cendente de escravos que vive hamais de 40 anos na Ilha da Ma-rambaia – RJ chegou ao fim.

Em 2006, a Marinha apresentoua possibilidade de ataques de sub-marinos a usinas nucleares de An-gra 1 e 2 como argumento paranão aceitar a permanência na Ilhada Marambaia de 200 famíliasquilombolas.

Depois de uma batalha jurídicana qual a União exigia reintegraçãode posse, e, além disso, receberdo pescador indenização por perdase danos no valor de um saláriomínimo por dia, o Superior Tri-bunal de Justiça garantiu o direitode posse ao quilombola.

De acordo com um laudo soli-citado pelo Ministério Público Fe-deral, os moradores da ilha des-cendem, direta ou indiretamente,de famílias que ocupam a áreahá, no mínimo, 120 anos, por se-rem remanescentes de escravosde duas fazendas que funcionavamno local até a abolição da escra-vatura.

A Marambaia era um dos prin-cipais entrepostos do tráfico ne-greiro no litoral brasileiro.

O ano 2009 foi desastroso paraos professores da rede públicaestadual de São Paulo. Graçasà política de traição da direçãomajoritária da APEOESP, sindi-cato da categoria, ArtSind,ArtNova e CSC permitiram queSerra continue destruindo aeducação Pública do Estado eaprofundando a política neoli-beral na educação do Estado.

Wilson Borges Filho“Educadores Socialistas na Luta”

e Oposição Alternativa

A aprovação dos decretos 19 e 20no primeiro semestre atacaram du-ramente as já precárias condiçõesde trabalho dos professores paulistas,alem de representar uma espécie desíntese dos ataques sofridos peloprofessorado paulista da última dé-cada.

Além de retomar a famigerada“provinha” (derrubada em decor-rência de uma greve histórica de 21dias em 2008) para regulamentar acontratação dos ACTs (contratados),o PL 19 precarizou os professoresque possuíam vínculo no períodoanterior a 2007. Destes, os que nãoatingirem a nota necessária na tal“provinha” ficarão com apenas 12aulas semanais e poderão sofrer comdesvio de função, além de amargarum salário de 392 reais por mês.

Como se não bastasse, o decretotambém estabeleceu que os profes-sores não ligados ao sistema de pre-vidência SPPREV serão vinculadosao INSS por no máximo 2 anos,tendo uma quarentena obrigatória

de 200 dias (um ano), sendo queestas regras passariam a valer apartir de 2011.

Aos efetivos, o governo estabele-ceu a aplicação de provas de avalia-ção de desempenho como condiçãopara atingir um salário mais elevado,argumentando que assim seriam pre-miados os “bons professores”, quepassariam a receber “um dos saláriosmais elevados do país”.

O que Serra não explica é quemenos de 400 professores de umtotal de mais de 150 000 chegariama receber tal remuneração e que oproblema dos baixos salários conti-nuaria a afligir a maioria esmagadorada categoria, além é claro de rasgaro estatuto do magistério e a lei deisonomia salarial.

Serra também esquece que segundoa própria constituição brasileira aqualidade da educação depende nãosó da qualificação e boa vontadedos professores, mas também saláriosadequados e boas condições de tra-balho.

Um dos salários maisbaixos do país

O engodo por trás destas medidasignora que possuímos um dos saláriosmais baixos da federação e que tra-balhamos em escolas destruídas peloabandono do governo. Como cobrarresultados nestas condições?

Mas o golpe final sofrido pela ca-tegoria acabou ficando por contados erros cometidos pela maioria

da Oposição Alternativa, que vacilouno momento crítico em que a grevedeveria ser convocada, confundindoassim a categoria e fortalecendo apolítica conciliacionista dos gover-nistas do bloco majoritário.

Infelizmente nem podemos dizerque 2009 encerrou e que 2010 serámuito mais tranqüilo. A provinhado Sr. Paulo Renato foi aplicada eaté agora, final de janeiro, não sa-bemos como será a atribuição deaulas para os contratados.

O clima de insegurança alarmantedeste começo de ano deve ser en-tendido como prévia do que virádos inimigos da educação represen-tados por Serra no Estado e comrespaldo dos governistas daArtNva/ArtSind/CSC, que para im-pedir enfrentamentos direto entretrabalhadores e o governo federalacabam por permitir a aplicação dosprojetos tucanos para São Paulo.

Não podemos nos iludir quanto àurgência de nos mobilizarmos paraenfrentar os ataques de Serra e aburocracia da direção majoritáriapara reverter esse quadro de derrotasque há anos atormenta a categoria epulveriza a educação paulista.

Neste sentido a demonstração deforça, vitalidade e iniciativa demons-trada pelos 3000 professores quecompareceram à Assembléia con-vocada pela APEOESP em 15 dejaneiro deste ano, em pleno recessoescolar para organizar a luta parabarrar a prova dos contratados pode,se potencializada, trazer ganhos paraa categoria e para a população, ga-rantindo uma educação pública, gra-tuita e de qualidade para todos.

A AB InBev/AmBev, fabricantedas marcas Brahma, Skol,Antártica e Boemia no Brasil, evárias outras marcas famosasem nível mundial, detém apro-ximadamente 30% do mercadode cerveja do mundo, comR$35 bilhões de faturamentoanual. Ela emprega 116 mil tra-balhadores em todo o mundo,com um patrimônio próximo de100 bilhões de dólares, e no in-tuito de aumentar ainda maiseste patrimônio, aprofunda aexploração de seus trabalhado-res em todo mundo.

Joaquim Aristeu da SilvaTrabalhador da AmBev há 22 anos

Aqui no Brasil, desde a fusãoBrahma/Skol com a Antártica, mi-lhares de trabalhadores perderamseus empregos, e não foi diferenteapós a fusão da AmBev com a In-terbrew da Bélgica.

Agora novamente, com a fusãocom a cervejaria americana Anheu-ser-Busch, a direção declarou quemais ataques serão feitos contra ostrabalhadores, como arrocho salarial,

retirada de direitos, aumento da ex-ploração com flexibilização da jor-nada de trabalho (banco de horas) edemissões de milhares de trabalha-dores em todo mundo.

Aproveitando o primeiro sinal decrise, cortaram direitos, reduzirama renumeração variável (PLR noBrasil), concederam aumentos abaixoda inflação e se iniciou um processode demissões na Europa e a contagotas no Brasil.

A reação dos trabalhadores foiimediata na Bélgica quando a ABInBev anunciou quase mil demissõesna Europa, começando pela cervejariaJupiler, demitindo 63 trabalhadores.

Os operários reagiram, prenderam12 gerentes dentro da fábrica e exi-giram abertura de negociações e fimdas ameaças de outras demissões.

A partir daí, varias mobilizaçõesnas fábricas da AB InBev foram de-flagradas por toda a Bélgica. Grevese bloqueios nas portas das fábricasestão ocorrendo todos os dias. Nodia 15 de janeiro, a justiça determinouque os bloqueios fossem retiradosdas portas das fábricas ocupadas.Os trabalhadores recusaram e ossindicatos ameaçaram realizar umagreve geral em todas as unidades daInBev da Europa caso a Justiça usea força para remover os piquetes.

No dia 21 de janeiro a empresarecou. Ela retirou todos os planosde demissões e vai retornar à mesade negociação com um “papel embranco”. Não há garantia de que aempresa não volte a fazer novaspropostas de demissões. Mas essavitória dá um ânimo aos trabalha-dores para que continuem a se or-ganizar, mostrando que a luta com-pensa.

Ataques também no Brasil

Aqui no Brasil também passamospor todo tipo de ataques feito pelaAmBev, com demissões, banco dehoras, ausência de programa de PLR,salários cada vez mais arrochados enão se pode descartar demissõesneste início de ano.

Em algumas unidades já começa-ram a demitir a conta gotas, comopor exemplo, em Jacareí.

Em Jacareí, onde existe a maiorunidade produtiva da companhia,ativistas da oposição e Cipeiros fi-zeram uma moção de apoio à grevena Europa e exigiram readmissãoimediata dos trabalhadores demitidose nenhuma demissão a mais.

Professores estaduais de São Paulo

Preparar novo roundde luta contra Serra

Greve vitoriosa contrademissões na InBev da Bélgica

Retomar a luta contra Serra e em defesa da educação.

Solidariedade de classe internacional: trabalhadores da Inbev em luta.

Page 5: Ofensiva Socialista n°3

nacional • 5Ofensiva Socialista n° 03janeiro/fevereiro - 2010

Brasil perde 12 posições emranking da educação

EDUCAÇÃO De acordo com aUNESCO, que é um braço daONU, o Brasil despencou da 76ºposição para o 88º lugar no rankingde 128 países. O motivo da piorase deu em função do menor índicedas crianças que conseguem chegaraté a quarta série. De 80,5% em2005, o percentual caiu para 75,6%em 2007.

Com essa queda do IDE (Índicede Desenvolvimento Educacional)o Brasil ocupa agora a última po-sição entre os países do Mercosul.

O IDE é composto pelas taxasde alfabetização de adultos, igual-dade de gênero, matrícula na edu-cação primária e sobrevivência naescola até a quinta série - no casodo Brasil, foi considerado o dadorelativo à quarta série.

Em relação ao investimento emeducação, o Brasil gastava em2005 menos de um quarto do queos países considerados desenvol-vidos: US$ 1.257 por aluno contraU$ 5.312 por aluno.

Deputados vãogastar R$ 1 milhãoem carros de luxo

DESPERDÍCIO PÚBLICO ACâmara Federal decidiu comprarcinco veículos, sendo dois delescarros de luxo estimados em R$124,4 mil cada.

As exigências do edital: os doiscarros devem ser ano 2009 ou su-perior, ter câmbio automático, mo-tor com potência de 173hp, bancosde couro, retrovisor com ajusteelétrico, rádio estéreo com CD,entre outros. A justificativa paracomprar carros de luxo é que elesserão usados para o transporte deautoridades estrangeiras.

Os outros veículos que a Câmarairá comprar são um ônibus e doismicro-ônibus para transportar tu-ristas e funcionários entre os ane-xos e os estacionamentos de Bra-sília. Atualmente a casa possui 76veículos.

Trabalho escravoem Minas Gerais

EXPLORAÇÃO Fiscais da Ge-rência Regional do Trabalho eEmprego em Uberlândia (MG) li-bertaram 14 trabalhadores em con-dições análogas à escravidão daFazenda Brejão, em Araguari(MG), que vieram do Ceará paratrabalhar na plantação e colheitade tomate.

O flagrante ocorreu em 22 dedezembro, após denúncia feita aoSindicato local dos TrabalhadoresRurais. “O empregador não res-peitou nenhum item exigido pelaNorma Regulamentadora 31”, disseFábio Lopes, da Procuradoria Re-gional do Trabalho da 3ª Região.Os trabalhadores retiravam águade um poço, sem garantia de po-tabilidade. As vítimas estavam hácerca de cinco meses no local.

Foi prometido aos trabalhadoressalário de R$ 375. Porém, era des-contada uma quantia de R$ 325para cobrir “gastos” de alimentaçãodos empregados. O empregador Pe-dro Eustáquio Pelegrini se recusoua pagar as verbas referentes a rescisãodo contrato de trabalho e sumiu du-rante a investigão dos fiscais.

As denúncias que colocaramBrasília nas manchetes de to-dos os jornais do país no finaldo ano foram desencadeadascom a operação Caixa dePandora, no qual um (agora)ex-assessor pessoal do gover-nador Arruda, denunciou um es-quema de corrupção montadomesmo antes de o atual gover-no começar, no que ficou co-nhecido como o “mensalinhode Brasília”.

Will de Siqueira

No esquema investigado pela Po-lícia Federal, a chefia do poder exe-cutivo, o governador José RobertoArruda, o vice Paulo Otávio (ambosdo DEM), e o assessor Durval Bar-bosa, eram intermediários de altasquantias financeiras que eram re-passadas a ‘selecionados’ deputadosda Câmara Legislativa do DistritoFederal.

Num esquema de propina, em-presas eram favorecidas tanto pelopoder executivo, ganhavam licitaçõespúblicas e também tinham seus in-teresses defendidos pelos deputadosnas votações da Câmara. Além destes,outros secretários do governo tam-bém estavam envolvidos no esquema.

O esquema antecedeArruda

O esquema, entretanto, foi cons-truído antes do próprio Arruda chegarao poder, já que a campanha dessefoi irrigada com dinheiro dessas em-presas fornecedoras.

Após as primeiras notícias da im-prensa o que se seguiu foram váriosvídeos com Arruda recebendo e en-tregando dinheiro a seus comparsas,alguns colocaram em meias, entreoutras cenas das mais vexatórias, ea declaração absurda de que partedo dinheiro apreendido era paracomprar panetones para famílias ca-

rentes da grande Brasília. Arrudacontinua no poder, mas teve queromper com seu partido.

Junto às denúncias, foram inevi-táveis as mobilizações dos partidosde oposição, movimentos sociaiscombativos e demais entidades dasociedade civil indignadas com acorrupção. O PSOL-DF foi um dosprimeiros a se posicionar formal-mente ao lançar nota à imprensa eentrar com pedido de impeachmentcontra o Governador na Câmara.

Entretanto, as lutas dos trabalha-dores e do povo de Brasília não po-dem ficar restritas à institucionali-dade, pois a cassação do governadortem que se dar com 16 dos 24 depu-tados da câmara. Para piorar, no dia21 de janeiro, os 8 deputados dire-tamente envolvidos com o ‘mensa-linho’ foram afastados da câmarapor determinação da justiça do Dis-trito Federal, esta ação, porém, nãoimpediu o encerramento, ou pelomenos o adiamento, da “CPI da cor-rupção” orquestrada pelos aliados

do governo Arruda, e afastando apossibilidade de um possível im-peachment do governador.

Esse fato gerou um ascenso daslutas no DF que solidificou-se nomovimento FORA ARRUDA. Nacomposição desse imenso fórum,temos várias forças, que vão desdePSOL, PSTU e PCB, ao PT, passandopor entidades estudantis (como oDCE-UnB), organizações sindicais(CUT, Conlutas) e diversos grupos,entre eles também autonimistas,anarquistas, além dos movimentossociais de luta do DF.

Série de mobilizações

Fizemos várias mobilizações atéagora, com grande destaque para aocupação da Câmara Legislativa doDF, no mês de dezembro, poucosdias depois das denúncias. Em váriosdesses atos, o movimento Fora Ar-ruda tem encontrado forte repressãotanto por parte da Polícia Militar(como no confronto em frente ao

Palácio do Governo), como contrapretensos ‘arrudistas’, alguns fun-cionários e pessoas escusas ligadasaqui ou acolá aos acusados do pro-cesso.

Assim, impõe-se para a esquerdaum grande desafio. Tal desafio estámais relacionado ao foco, ao pro-grama no horizonte a ser enfrentado.Essa é uma hora essencial para cons-truir a denúncia contra todo o sistemanão só de corrupção, mas políticoorligárquico e econômico de exclusãoe exploração dos trabalhadores.

Desmanche dos serviços públicos

Já há muito que convivemos noDF com uma situação de desmanchedo Estado nos vários serviços ofe-recidos à população, em vários cam-pos: educação, saúde, transporte pú-blico, etc. As políticas neoliberaisdo governo são cada vez mais sen-tidas pela população e pelos traba-lhadores do setor público, com asentidades de direito privado dispu-tando internamente os espaços ondedeveria haver servidores concursadostrabalhando.

Além disso, o DF é uma terra fa-tiada pelos mais caros interessesmobiliários. O vice governador,Paulo Otávio, é dono de uma dasmaiores construtoras da região, epermanece intocado no cargo e naliderança do DEM do DF.

Percebemos também diversos lo-cais que eram terrenos irregulares,onde foram construídas mansõesque agora são regularizados, en-quanto a população pobre da CidadeEstrutural é quase escorraçada, e asterras da reserva ambiental, ondefica o Santuário dos Pajés é leiloadapara construção de Setor Noroestede Habitações. Tudo isso faz partede um projeto nítido da burguesiaque pretende afastar os trabalhadoresdo coração do poder, o Plano Pilotode Brasília, o centro administrativo.

Ha algo podre no Distrito Federal

Forra Arruda!

A Sabesp (Companhia deSaneamento Básico do Estadode São Paulo) é uma empresade economia mista, mas quedeveria pertencer e ser geridapelo povo de São Paulo. Hojeela é comandada com mãos deferro pelo Governador JoséSerra, do PSDB. Este governovem promovendo um grandeataque contra os trabalhadorese trabalhadoras da maior com-panhia do ramo na AméricaLatina.

Por um trabalhador da Sabesp

Somente em 2009 houve 2,5 mildemissões de pais e mães de família.Em 2010, serão mais demissões.

A empresa tem três frentes de de-missões: os aposentados, os pós-88(admissões ocorridas entre 1988/92sem concurso público, 973 ao todo)e 2% da categoria (Acordo Coletivo).Com isso toda categoria é mapeada echantageada, passível de ser demitida.

Ocorreram demissões de pessoascom problemas de saúde, pré-apo-sentados, aposentados, trabalhadores

com estabilidade, diretores do sin-dicato, ex-diretores, lideranças sin-dicais, delegados sindicais, etc.

A categoria inteira vem passandopor um processo de assédio moralcoletivo. São trabalhadores e traba-lhadoras que têm uma tradição euma trajetória de muita luta e resis-tência, mas que estão apavoradoscom tal situação.

O sindicato não organiza a resistência

O sindicato, SINTAEMA – Sindi-cato dos Trabalhadores em Água,Esgoto e Meio Ambiente, dirigidopela CTB, ASS e Articulação, nãotem feito quase nada na tentativa debarrar esse perverso processo de ani-quilação. Nenhuma demissão foi re-vertida.

A Diretoria do sindicato assinou oAcordo Coletivo permitindo a de-missão de 2% dos trabalhadores.Mas os aposentados, PDV/PDI, justacausa, demissão de iniciativa do tra-balhador, óbitos, etc, ficam todosfora dos 2%. Isso significa que aSabesp pode e demite muito mais.

Hoje entendemos que a políticada diretoria do sindicato não passade uma extensão da empresa. Ou sepreferir, a direção do sindicato vivesob uma intervenção da empresa.

Maioria são terceirizados

A Sabesp é uma companhia queatua em 368 municípios do estadode São Paulo. Tinha 19 mil traba-lhadores e trabalhadoras até 2005.Hoje, têm menos de 16 mil funcio-nários. Por outro lado, os trabalha-dores terceirizados passam dos 20mil. Isto é, a Sabesp pratica umapolítica clara de substituição de mão-de-obra própria e qualificada poruma mão-de-obra precarizada, malremunerada e superexplorada.

No ano passado foi feito um con-curso público para contratar 1.771trabalhadores(as). Até agora foramchamados pouco mais de 300 con-cursados. Sem perspectiva de chamaros demais. Há uma demanda muitogrande de serviços a serem prestadospara a população. Enquanto isso aperiferia e as favelas sofrem com afalta de saneamento ambiental.

O governo de José Serra e o PSDBestão liquidando todas as estatais,sem nenhuma resistência da CUT,CTB, UGT, CGTB, Força Sindical,NCST, que dirigem a maioria dossindicatos.

Por isso construímos a OposiçãoAlternativa, para reconquistar o sin-dicato para uma linha de luta em de-fesa dos direitos dos trabalhadores.

Demissão em massa na Sabesp

O Sintaema tem que agir contraas demissões.

Arruda só cairá com a pressão das ruas.

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6 • especial: clima Ofensiva Socialista n°03janeiro/fevereiro - 2010

Passado um mês desde a reali-zação da Conferência da ONUsobre as Mudanças Climáticasem Copenhague, a COP15, osnoticiários dão conta da fortenevasca que afeta o hemisférionorte, tornando o inverno euro-peu, asiático e norte americanoum dos mais severos da histó-ria. Enquanto isso, aqui noBrasil, são as chuvas de verão,com as consequentes enchen-tes e deslizamentos de terra,que têm ocupado as manchetesdos jornais. O que há em co-mum entre as temperaturasabaixo de zero no hemisférionorte e as chuvas que ocorremaqui, abaixo da linha do equa-dor?

Dimitri Silveira

Além dos prejuízos e mortes cau-sadas por estes fenômenos, é possívelnotar que os mais atingidos pelascatástrofes naturais são os pobres, apopulação trabalhadora. Se não mefalha a memória, nunca vi em umtelejornal um milionário lamentandoter perdido sua mansão numa en-chente, ou que algum banqueiro tenhasido vítima fatal do frio congelantede um inverno implacável. Mas oque isso tudo tem a ver com aCOP15?

A COP15 não foi feita pensandoem ajudar os mais pobres. Com ousem acordo sobre o clima, a populaçãopobre, mais vulnerável, nunca é le-vada em consideração na hora de sediscutir e implementar políticas queanulem ou diminuam os efeitos doseventos climáticos sobre suas vidas.Diante disso, cabe dizer aqui que asconferências da ONU não têm enunca terão compromisso com osflagelados do clima.

O grande fiasco

Tornou-se notório o verdadeirofiasco que foi a conferência de Co-penhague, ocorrida entre os dias 7 e18 de dezembro de 2009. Isso ocorreu

porque o que estava em jogo não erauma preocupação séria em relaçãoàs mudanças climáticas e as medidasque são necessárias para proteger apopulação pobre, mas o que se pre-tendia era tão somente ganhar tempopara que nenhum governo tenha quecolocar as mãos no bolso e enfrentaros problemas decorrentes do aque-cimento global. Reduzir as emissõesde gases estufa custa caro e ninguémestá disposto a arcar com isso.

Preparada para receber chefes deestado do mundo todo, a capital daDinamarca transformou-se numa for-taleza e passou duas semanas atraindoa atenção do planeta inteiro, que es-perava um acordo no qual os paísesreduzissem as emissões de gases estufana atmosfera, prevenindo, assim, aintensificação do aquecimento global.

As atividades começaram camba-leando, pois desde o início não haviaacordo entre as lideranças mundiaissobre quem deveria cortar mais oumenos emissões e qual o prazo paraisso. Nem mesmo o superpresidenteBarack Obama, que chegou a Cope-nhague aos 45 minutos do segundotempo, conseguiu colocar as coisasno trilho. Antes pelo contrário, elefoi um dos principais responsáveispela falta de uma resolução da con-ferência. Ao final de tudo, o enca-minhamento que saiu da capital di-namarquesa foi uma inócua declara-ção de intenções, sem metas e semqualquer tipo de compromisso porparte dos governos. A montanha pariuum rato!

O presidente venezuelano HugoChávez tem mil vezes razão quandodisse que “se o clima do planetafosse um banco, já teria sido salvo”.

Todas as conferências sobre climarealizadas pela ONU, desde a COP1,em 1995, até a COP15, em 2009, le-vam em conta apenas os interesseseconômicos do sistema capitalista.Isso tanto é verdade que a única me-dida implementada para supostamentecombater o aquecimento global veiocom o famoso Protocolo de Kyoto,que não foi nada mais do que criarcréditos de carbono no mercado fi-

nanceiro para que algumas empresase especuladores ganhem muito di-nheiro com isso. Até mesmo partedos especialistas burgueses admiteque o Protocolo de Kyoto tornou-setotalmente inútil para combater oaquecimento global e as mudançasclimáticas.

Lula e a posição do Brasil na COP15

A delegação brasileira foi a Cope-nhague com o claro propósito defazer pirotecnia, um show para inglêsver, tendo à frente a figura de Lula,posando para a imprensa internacionalcomo o paladino do clima.

Restando menos de um ano paraas eleições presidenciais, a repre-sentação do Brasil apresentou inéditasmetas de redução de emissões, masque não seriam implementadas comforça de lei, isto é, seriam metas deadesão voluntária, sem nenhum com-promisso. Mas o que causou mais“frisson” foi a fala do presidentebrasileiro, que até puxou a orelhados países ricos para que arcassemcom suas responsabilidades históricasde emissão de gases. No discursoproferido da tribuna, Lula disse queaté o Brasil estaria disposto a contri-buir financeiramente para que sechegasse a um acordo em Copenha-gue! Dito desta forma, parece atéque o Brasil é uma potência econô-mica. Teria razão Barack Obamaquando disse que Lula “é o cara”?Se há uma coisa que Lula não é, éingênuo. No discurso cabe tudo, enosso presidente é um orador cale-jado. Lula sabia perfeitamente quena altura em que se encontrava ocampeonato ele poderia dizer o quebem entendesse, afinal de contas, aconferência do clima já havia nau-fragado e nada seria implementado.

Não podemos esquecer que sob asbarbas do governo Lula o cerrado

brasileiro está sendo desmatado auma taxa equivalente ao dobro dodesmatamento da Amazônia. Valelembrar que no Brasil o desmatamentoé uma das principais fontes geradorasde gases estufa.

Merece destaque também o entu-siasmo com que Lula comemorou adescoberta do Pré-Sal, dando clarasindicações de que o governo estádisposto a explorar as reservas depetróleo até a última gota, lançandotoneladas de dióxido de carbono naatmosfera.

Como é possível notar, o discursode Lula em Copenhague não condizcom a prática adotada pelo governofederal, uma prática anti-ambientale descompromissada em relação àredução do aquecimento global.

Há esperança?

As expectativas sobre Copenhagueeram grandes e com isso cunhou-seaté o termo Hopenhague (“Hope”,em inglês, significa esperança) numatentativa ingênua de acreditar quealguma coisa boa pudesse sair de lá.Como não poderia deixar de ser,quando a conferência chegou ao fimos mais realistas trataram logo decriar outro apelido, batizando-a deFlopenhague (“Flop”, em inglês, sig-nifica fiasco).

Mas mesmo representantes do ca-pitalismo que tentam seriamente en-frentar o problema tem que reconhecerque o mercado capitalista e a busca

do lucro não oferecem uma saída. Oex-economista chefe do Banco Mun-dial, Nicholas Stern, constatou no“Relatório Stern” que o aquecimentoglobal era “o maior fracasso do mer-cado já visto no mundo”.

A próxima conferência do climaacontecerá na Cidade do México em2010, porém sem data definida. Aindaque consigam costurar algum acordoaté lá, é possível afirmar com a maisabsoluta segurança que a ONU e oslíderes mundiais são incapazes dedar uma solução definitiva aos pro-blemas climáticos, pelo menos nãouma solução que atenda à maioriada população mundial, os mais po-bres.

Com acordo ou sem acordo, o fatoé que os mais pobres são os que co-tidianamente pagam com suas vidaspelo descaso das autoridades mun-diais, que nada fazem para anular ostrágicos efeitos daqueles fenômenossobre os trabalhadores. Mas issopode mudar? Há esperança? Ondeela está?

Sim. A esperança não estava dentrodas confortáveis instalações do BellaCenter, mas com os cem mil que sejuntaram nas ruas de Copenhaguepara denunciar a farsa da COP15 elutar por uma sociedade mais justa.Se em Copenhague fomos cem mil,teremos que ser um milhão na Cidadedo México! E é com esses lutadoresque levantamos a bandeira do socia-lismo e dizemos: vamos mudar o sis-tema antes que eles mudem o clima.

Vamos mudar osistema antes queeles mudem o clima

“Não nos vangloriemos demais por nossas vitóriassobre a natureza. Ela se vinga de cada uma delas.Cada vitória traz consigo, primeiramente, osbenefícios que dela esperávamos, mas depoisacarreta consequências diferentes, imprevistas,que destroem frequentemente, inclusive osprimeiros efeitos benéficos.” Engels

"Mudança de sistema e não mudança climática" foi a palavra de ordem nas manifestações em Copenhague.

“Não existe um planeta B”.

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especial: PSOL e as eleições • 7Ofensiva Socialista n° 03janeiro/fevereiro - 2010

O ano de 2010 será decisivopara a esquerda socialista bra-sileira. Em meio a um cenáriocomplexo, marcado pelas ilu-sões que persistem em relaçãoao governo Lula, recai sobre aesquerda que não se vendeu enão se rendeu a difícil tarefa deromper a falsa polarização en-tre PT e PSDB no processo elei-toral que se aproxima.

André FerrariDiretório Nacional do PSOL

Depois de uma enorme ofensivapropagandística de que o crescimentopraticamente zero no ano de 2009 foium bom resultado, o clima do "Brasilgrande", do pré-sal, da Copa e daOlimpíadas em solo nacional, seráestimulado ao máximo bloqueandoqualquer debate sério sobre o futurode milhões brasileiros que ainda viveme viverão o pão que o diabo amassou.

A situação é complicada para aesquerda. Mas, existem condiçõespara um acúmulo de forças que serávital quando o cenário mudar. O pró-ximo governo burguês não será comoo de Lula, seja quem for o novo pre-sidente e a composição do CongressoNacional. A persistência da crise in-ternacional terá consequências sobreo Brasil. A fatura das medidas ime-diatas do governo para minimizar acrise será cobrada na conta dos tra-

balhadores. Um cenário de resistênciae de avanço na consciência de masaspode se abrir.

Mas, para que a esquerda estimulee intervenha nesse cenário, precisa

passar pelo difícil teste de 2010. Al-gumas condições são básicas paraisso. Em primeiro lugar a esquerdaprecisa ter cara própria, apresentar-se como alternativa e lutar para ocupar

um espaço na consciência da massados trabalhadores, jovens e do povopobre desse país. Mesmo que sejaum espaço minoritário, a esquerdaprecisa mostrar que existe, que nãosucumbiu com a degeneração do PT.

Tão importante quanto isso, porém,é a necessidade da unidade da es-querda socialista em 2010. A apre-sentação de pequenas candidaturasfragmentadas disputando o mesmoespaço é uma política suicida e queprejudica a todos. A construção daFrente de Esquerda envolvendoPSOL, PSTU, PCB e setores com-bativos dos movimentos sociais évital para o conjunto da esquerda.

Apresentar umaalternativa coerente e

socialista

Uma candidatura unitária da es-querda em 2010 tem que rompercom o discurso hegemônico, quaseconsensual, imposto pelos neoliberaisde dentro e de fora do governo Lula.Não se trata de um debate técnicocomparando FHC e Lula utilizando-se critérios comuns a ambos. Trata-se de apresentar uma alternativa pro-gramática que, partindo das necessi-dades mais concretas dos trabalha-dores e do povo, possa construirsaídas com base em mudanças es-truturais em relação ao modelo eco-nômico comum de FHC e Lula e, a

partir daí, à propria lógica do capi-talismo brasileiro e internacional.

Mas, uma candidatura unitária daesquerda com um programa anti-ca-pitalista e socialista, como estamosdefendendo, não cumprirá seu papelse não tiver como objetivo claro ofomento à organização de base dostrabalhadores, à luta direta atravésdos movimentos sociais combativos,à organização operária, camponesa,estudantil e popular.

Nova central umaprioridade

Nesse marco, a formação da novaCentral sindical e popular unificadano Congresso da Classe Trabalhadora(CONCLAT) em junho deve ser en-carada como uma prioridade funda-mental. A esquerda nas eleições deveestar à serviço da organização dostrabalhadores e suas lutas. Elegerparlamentares e disputar o Executivodeve servir para fortaleceler a lutados trabalhadores e não transformar-se num fim em si.

Essa é a estratégia que defendemospara o PSOL, o PSTU, o PCB eoutros setores da esquerda socialistae dos movimentos sociais combativosem 2010. Partindo dessas condiçõesserá possível ocupar um espaço, acu-mular forças e nos prepararmos parao próximo período apesar da com-plexidade da conjuntura.

O Partido Socialismo eLiberdade (PSOL) entra em2010 em meio a uma grave cri-se. É verdade que o contextopolítico no país dificulta a atua-ção de um partido que se colo-ca abertamente como oposiçãode esquerda ao governo Lula eà direita tradicional.

Porém, os setores majoritá-rios da direção do PSOL não po-deriam ter sido mais eficientesem fomentar a confusão e agra-var as dificuldades. Um balançocrítico da nova direção eleitano II Congresso do partido pre-cisa ser feito.

Diante da decisão equivocada deHeloísa Helena de não disputar aseleições presidenciais, a maior partedos integrantes e das correntes naExecutiva Nacional (da chapa hojemajoritária, mas também da chapaque reflete a maioria anterior) decidiuabrir formalmente negociações comvistas a uma coligação com o PV deMarina Silva. Não são ingênuos, sa-biam com quem lidavam, conheciamo caráter oportunista do PV e a di-nâmica conservadora da própria pré-candidatura de Marina.

Junto com isso, pouco tempo depois,a quase totalidade da Executiva decidiuadiar a Conferência Eleitoral que oCongresso do partido havia decididorealizar no prazo de dois meses. AConferência fora adiada para marçoe agora novamente adiada para abril.

Adiar a decisão e negociar comMarina, ao mesmo tempo em que fi-guras públicas do PSOL, como He-

loísa, não se cansavam de dar decla-rações de apoio à pré-candidata doPV, causou um estrago considerável.

Hoje, depois de tanto tempo per-dido, o projeto de coligação com oPV fracassou de forma acachapante.O PV de Marina se coligará com oPSDB e Democratas no Rio, Marinanão se declara de oposição a FHC emuito menos a Lula e, pra piorar,sua candidatura mostra grandes di-ficuldades para decolar. Junto comisso, houve um grande rechaço dabase do partido à política de diluir oPSOL numa coligação com fins me-ramente eleitoreiros.

Diante dos terríveis danos da políticaimplementada, a maioria da Executivatenta se justificar com argumentos dotipo: "tínhamos que dialogar com abase de Marina, mostrar que nãosomos sectários". Mas, a que preço?Possivelmente, o preço de uma can-didatura para valer do PSOL e daFrente de Esquerda em 2010. Umpreço alto demais que terá que ser co-brado da direção majoritária do PSOL.

Tempo perdido dificultarecompor a Frente de

Esquerda

O tempo perdido tornou mais difícila composição da Frente de Esquerdacom PSTU e PCB. Tornou maisdifícil até mesmo a apresentação deuma candidatura para valer por partedo PSOL e não um mero ‘tapa buraco’improvisado na última hora.

A melhor forma do PSOL e aFrente de Esquerda abrirem um diá-logo franco e honesto com a base

social que hoje se ilude com MarinaSilva seria tendo cara própria, seapresentando para o debate, apre-sentando suas alternativas e não seescondendo com medo de que os di-rigentes do PSOL fossem fotografadosao lado de Zequinha Sarney quandoeste foi enviado a participar das ne-gociações com os dirigentes do PSOL.

Diante do estrago já feito, o partidotem duas possibilidades: remendar osdanos improvisadamente e seguir nomesmo caminho ou tomar uma decisãofirme e ousada, mudando radicalmenteos rumos adotados até agora.

O nome de Martiniano Cavalcanti,dirigente do partido em Goiás e mem-bro do Diretório Nacional, apresen-tado como pré-candidato por HeloísaHelena e muitos daqueles que pro-

moveram o desastre da tentativa decoligação com o PV, representa emnossa opinião, uma opção por insistirnos mesmos erros.

Independentemente dos qualifica-tivos do nome de Martiniano, a quemrespeitamos, trata-se essencialmentede uma alternativa apresentada paraa luta interna pelo controle do partido.A lógica não é a do nome com me-lhores condições de fazer avançar oPSOL e a Frente de Esquerda.

A possibilidade concreta de umasaída pela esquerda, voltada parafora, firme e ao mesmo tempo viável,diante da crise do PSOL, se mate-rializa nesse momento na pré-candi-datura de Plínio de Arruda Sampaio.

Plínio é uma figura pública inques-tionável da esquerda socialista do pontode vista de sua coerência militante esocialista. Como referência sólida daesquerda para milhares de ativistas,seu nome é capaz de ampliar a basesocial do PSOL dialogando abertamentecom os movimentos sociais.

Plínio ajudaria a aglutinar a esquerda

A pré-candidatura de Plínio é aúnica que poderia lutar, com chancesreais de êxito, contra a fragmentaçãoda esquerda em 2010 e pela consti-tuição da Frente de Esquerda comPSTU e PCB. Não existe hoje qual-quer outro nome disponível que abraconcretamente essa possibilidade.

Plínio é também uma alternativacapaz de combater as ilusões no PTou em Marina Silva presentes atémesmo nos movimentos sociais. Mais

ainda, o nome de Plínio e o tipo decampanha militante e socialista quepropõe podem desafiar até mesmo oceticismo despolitizado que cresceem meio à falta de alternativas.

O nome do ex-deputado e dirigentedo PSOL Babá, também recém apre-sentado como pré-candidato, mereceda nossa parte todo o respeito e con-sideração. Babá compôs conoscouma chapa de esquerda no II Con-gresso do PSOL e suas credenciaiscomo lutador social são inquestio-náveis. Infelizmente, porém, a lógicapor trás da apresentação de seu nometambém é a de marcar posição apenas.

Num momento em que a pré-can-didatura de Plínio se fortalece emrazão de seus méritos próprios e dacrise do campo majoritário e quandoaté mesmo setores da maioria da di-reção decidem apoiar Plínio sem queconcessões tenham sido feitas, aapresentação do nome de Babá nãoajuda a fortalecer a esquerda do par-tido. Também não ajuda na luta pelaconstituição da Frente de Esquerdacom PSTU e PCB.

A batalha pelo futuro do PSOL étambém parte fundamental da lutapara reconstruir uma esquerda so-cialista de massas no Brasil.

É preciso constituir um pólo deesquerda no PSOL que manterá ofio de continuidade do processo derecomposição da esquerda socialistabrasileira, uma continuidade com oprojeto original do PSOL que hojese esgarça e enfraquece diante dasvacilações e erros da direção majo-ritária do partido. A candidatura dePlínio deve ser uma ferramenta para

A esquerda socialistaem 2010 – que fazer?

Uma saída pela esquerda para a crise do PSOL

Unir a esquerda nas urnas e nas ruas.

Plínio de Arruda Sampaio, pré-candidato do PSOL à presidência –

pela unidade da esquerda.

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8 • nacional Ofensiva Socialista n°03janeiro/fevereiro - 2010

As obras do Pan-americano Rio2007 foram marcadas por irre-gularidades como desvio de di-nheiro público e superfatura-mento. Alguém dúvida queocorrerá o mesmo nasOlimpíadas de 2016?

Luciano BarbozaHistoriador e mestrando em

política e planejamento urbano

A utilização de grandes verbas pú-blicas em projetos que não são prio-ritários para a melhoria de vida daspessoas, pode ser percebida, porexemplo, na construção do EstádioOlímpico João Havelange (Engenhão)para o Pan-americano, inicialmenteorçado em R$ 60 milhões, teve umcusto final mais de seis vezes maiordo que o esperado, R$ 380 milhões.Além disso, os gastos com reparosde manutenção do estádio foram or-çados à época da licitação ao patamarde R$ 400 mil por mês.

Poderíamos pensar pelo menosque foi melhor para os atletas, masna verdade não foi. Por exemplo, apista de atletismo permaneceu inu-tilizada durante todo o ano de 2008.Em 2009, voltou a ser usada emapenas duas ocasiões: Troféu Brasilde Atletismo e o GP Internacional.Um dos projetos previa que os apa-relhos custeados pelo Ministério doEsporte ficassem no estádio paraatender projetos sociais previstosdesde a inauguração do estádio. Maso equipamento não ficou no estádioe a pista continua sem uso.

Desde 2007 o Botafogo foi de-clarado o gestor oficial do estádioaté 2027 pagando R$ 36 mil mensais,ou seja, foram gastos 380 milhões

inutilmente, e agora o governo ar-recada 36 mil mensais. Todo essedinheiro poderia ter sido gasto comquestões mais essenciais como amelhoria dos transportes públicospor exemplo.

O que resta dos grandesinvestimentos?

O que restou para a população doRio do PAN 2007? A resposta énada. O que restará para a populaçãodas obras das Olimpíadas 2016?

O orçamento inicial das Olimpía-das Rio-2016 prevê gastos de R$25,9 bilhões. A maior parte da verba

virá dos cofres dos governos (federal,estadual e municipal) e será usadaem obras de infra-estrutura para acidade, na maioria dos casos naBarra da Tijuca que será uma espéciede sede dos jogos.

Analisando historicamente a cons-trução por parte dos Governos Es-tadual e Municipal de infra-estruturano Rio de Janeiro, percebemos queos investimentos em água e esgotocaracterizaram-se por uma profundasegregação espacial e econômica,pois as populações de alta e médiarenda foram privilegiadas em seuterritório de habitação em detrimentodas populações mais pobres que re-

ceberam menores investimentos nasáreas onde vivem.

Segundo dados do Censo do IBGE,71,78% da população no Rio de Ja-neiro tinham acesso à rede de esgotosno início dos anos 2000, porém naZona Oeste e na Baixada Fluminense(locais de renda mais baixa), essarede alcançava apenas 11,07% e20,31% respectivamente.

Podemos perceber a luta de classesno espaço urbano na disputa por in-fra-estrutura. O Estado pode gerarinfra-estrutura em locais de interessesda burguesia gerando valorizaçãofundiária na área ou o Estado podegerar infra-estrutura nas favelas, be-neficiando os pobres moradores. Aopção de Lula (PT), Sergio Cabral(PMDB) e Eduardo Paes (PMDB) éobviamente privilegiar com inves-timentos as áreas de moradias daburguesia e abandonar as áreas demoradias dos trabalhadores.

Os jogos Olímpicos no RJ sãouma derrota para a população pobre,pois as obras que serão feitas vãoaprofundar a segregação urbana.Isso ocorrerá porque haverá inves-timentos massivos dos governos naBarra da Tijuca (área nobre do Rioonde ocorre uma forte especulaçãoimobiliária), em detrimento de in-vestimentos nas favelas.

A pobreza como caso de polícia

As favelas abrigam um terço dapopulação total da capital carioca ea policia do RJ é a que mais matano mundo. A violência policial au-mentou significativamente no go-verno Sergio Cabral (PMDB) que

mata jovens inocentes geralmentepobres negros favelados, oficiali-zando a criminalização da pobreza.

Com as Olimpíadas de 2016 aviolência policial deve aumentar (ogoverno promete contratar mais31mil policiais até as Olimpíadas)para garantir a “segurança” do eventoe a insegurança dos moradores dasfavelas. A política de ocupações po-liciais nos morros já começou e vá-rios moradores tiveram suas casasdestruídas e invadidas, tanto pelostraficantes em guerra entre si, comopelos policiais. O número de ino-centes baleados também deve au-mentar com o aumento dos con-frontos.

A segregação aumenta

Os governos Municipal e Estadualquerem ainda construir muros paraisolar as favelas no período das Olim-píadas, segregando os moradores dasfavelas, um verdadeiro absurdo eum atentado contra o direito de ir evir. Retomar a idéia da cidade comolocal por excelência da construçãoda convivência é necessário, pois sóassim se poderá começar a pensarcomo seria possível uma cidade com-partilhada por todos os indivíduos.

Somente a organização dos mo-radores de favelas em conjunto comos sindicatos e os movimentos desem-teto, poderá garantir protestosde massa contra a violência e contraa segregação urbana. A defesa davida, dos direitos humanos e da re-forma urbana, se expressa na lutacontra a política de extermínio dospobres que é feita pelos governosmunicipal, estadual e federal.

Olimpíadas 2016 – vitória para quem?

Em 12/01/2010 morreuo camarada DanielBensaïd aos 63 anos.Foi uma das caras maispúblicas do Maio 68francês, fundador daLiga ComunistaRevolucionaria francesae posteriormente doNovo PartidoAnticapitalista (NPA), foitambém dirigente da SUda IV Internacional, ficade inspiração seus livrose sua militância na lutapelo socialismo.

Um novo episódio da ofensivada criminalização dos movimentossociais está em pleno andamento.A condenação dos dirigentes doMTL no Estado de Minas GeraisJoão Batista, Marilda Ribeiro e DimCabral se inscreve dentro dos mes-mos procedimentos e acusações fal-sas e inaceitáveis, que o Estado dolatifúndio e do agronegócio utilizacontra todos aqueles que se levantampela defesa da reforma agrária.

João Batista, Dim Cabral e Ma-rilda estiveram a frente da luta peladesapropriação da fazenda Tangará,na região de Uberlândia, Minas Ge-rais, na ocupação que reuniu 700famílias em 2001. O mesmo fato,ocupação da sede da fazenda, cujoinquérito apurou o crime de esbulhopossessório, deu origem a dois pro-cessos, com denúncia por formaçãode quadrilha, incitação ao crime,roubo e extorsão. João Batista eDim foram duplamente condenadospor formação de quadrilha e incita-ção ao crime, sendo que no primeiroprocesso a sentença foi confirmadaem 2ª instância pelo TJMG, com apena de 5 anos e 4 meses de prisão.No segundo processo Marilda, ad-vogada do movimento foi condenadajuntamente com os outros dois, em1ª Instância, a uma pena de 5 anose 6 meses de prisão, com apelaçãoaguardando julgamento.

Trata-se de odiosa perseguiçãoaos lutadores sociais e uma retaliaçãoà vitoriosa luta que assentou naquelelatifúndio 250 (duzentos e cinqüenta)

famílias, a partir da improdutividadeda área. O processo evidenciou aposição conservadora e reacionáriados poderes públicos locais, dei-xando explícito o confronto de in-teresses entre o Movimento Sociale o Agronegócio na região do Triân-gulo Mineiro.

É a mesma ofensiva que está portrás da CPI dos MST, dos 15 man-datos de prisão contra dirigentesdo MST no estado de São Paulo eseis no Estado do Pará. Está sendoassim nos incontáveis processoscontra dirigentes do MLST, ou comona perseguição ao MTST, que lutapela moradia.

O Estado criminaliza a pobreza

Trata-se de uma ofensiva globaldo Estado brasileiro, que tambémcriminaliza a pobreza, persegue ehostiliza implacavelmente a juven-tude e a população trabalhadora dasgrandes periferias e subúrbios dascidades brasileiras, que no âmbitodas greves e da organização daclasse trabalhadora urbana procuraliquidar com o direito de greve eorganização, através dos interditosproibitórios, da perseguição aos di-rigentes e uma série de medidasque visam impedir a capacidade deresistência dos trabalhadores. É atentativa de se impedir a resistênciaorganizada da classe trabalhadorae a luta por suas demandas imediatase históricas.

Este é o caso da brutalidade daperseguição aos que lutam pela re-forma agrária em todo o país. En-quanto isso, esta mesma justiça,simplesmente ignora a ação crimi-nosa dos latifundiários e suas milí-cias, e se omite diante dos grandesesquemas de corrupção que, diaapós dia, são denunciados nas im-pressa nacional. O mas absurdo équando os criminosos, aos olhosda justiça se convertem em vítimas.O banqueiro Daniel Dantas denun-ciado pela policia federal na opera-ção caravelas passou de corrupto avítima da noite pro dia.

Este é o contexto da ofensivacontra os dirigentes do MTL e doPSOL. João Batista é membro daCoordenação Nacional do MTL,presidente do PSOL no estado deMinas Gerais e membro do DiretórioNacional do Partido; Marilda Ribeiroé também da Coordenação Nacionaldo MTL e membro do DiretórioNacional do PSOL, Dim Cabral émembro da Coordenação Estadualdo MTL/MG e membro da executivaestadual do PSOL/MG.

Uma afronta aosmovimentos dos que

lutam pela terra

O ataque ao MTL é uma afrontaaos movimentos que lutam pelaterra, é uma nova afronta ao direitode organização de todos aquelesque lutam por suas reivindicações,por direitos, pela dignidade roubada

pelo agronegócio, pelo parasitismosem fim dos lucros do mercado fi-nanceiro que ditam os rumos dapolítica econômica no país.

É preciso uma ampla e unitáriacampanha da classe trabalhadora ede todos os movimentos sociaiscombativos para rechaçar essa ofen-siva do estado e do grande capitalcontra as lutas populares e suas li-deranças.

De norte a sul do país é preciso amais ampla manifestação de soli-dariedade ativa para impedir qual-quer condenação ou prisão dos lu-tadores da reforma agrária.• Cadeia é para corrupto, para

militante não!• Não a condenação de João Ba-

tista, Marilda Ribeiro e DimCabral!

• Não a CPI do MST!• Nenhum condenação ou prisão

dos lutadores da reforma agrá-ria!

• Pelo fim da criminalização dosMovimentos Sociais!

Para assinar o manifesto:[email protected] contribuir financeiramentea com a campanha e a defesa ju-dicial dos companheiros:Banco do Brasil 001Agência: 1606-3Conta Poupança: 62.076-9Variação: 01Otamir Silva de Castro

Manifesto em solidariedade aos dirigentes do MTL e do PSOL

Cadeia é para corrupto, não para militante

Page 9: Ofensiva Socialista n°3

internacional • 9Ofensiva Socialista n° 03janeiro/fevereiro - 2010

No final de 2009, BarackObama anunciou o envio demais 30.000 soldados para re-forçar as tropas em guerra noAfeganistão. Ao mesmo tempofora agraciado com o Nobel daPaz. A hipocrisia da Academiade Oslo, em homenagearObama, não esconde a encruzi-lhada na qual os EUA estão en-volvidos com o conflito afegão.

Clara Perin

Para o professor de História daUSP, Osvaldo Coggiola, o Afega-nistão está no cruzamento políticomais “quente” do planeta. Os vizi-nhos Paquistão e Índia, detentoresde armas nucleares, disputam a Ca-xemira desde 1947, e o primeiroestá no limiar do abismo político.“É nessa zona cheia de armadilhasque Obama embrenhou ainda maisos EUA”.

Desde o início da guerra, em 2001,cerca de mil soldados estadunidensesmorreram. Os governos de Bush eagora de Obama já gastaram cercade um trilhão de dólares nas guerraspós 11/09 (Iraque e Afeganistão).Todo esse montante saiu e sai dobolso do contribuinte dos EUA e deoutros países. Os conflitos dentro dopróprio EUA, como o do plano desaúde, são potencializados pelo usodo orçamento governamental priori-tariamente para as guerras em curso.

Resistência histórica

O elemento econômico é, portanto,um dos fatores que, em médio elongo prazo, certamente, poderá “di-lacerar” o governo de Obama emsua própria casa. Contudo, a talfator, agrega-se à resistência históricados afegãos às invasões imperiaisque sofreram.

Ao longo de sua história, o Afe-ganistão foi ocupado pelo impériode Alexandre, o Grande, por Gengis

Khan, e, nos últimos 150 anos sofreu,com as invasões do império Britâ-nico, da ex-União Soviética e, agora,dos EUA, com apoio de seus aliados.Todos esses impérios sucumbiramna árida geografia afegã. Esse his-tórico rende a aquele país a fama de“túmulo dos impérios”.

Invasões provocarammiséria

Apesar da fama de “túmulo dosimpérios”, o fato é que o resultadode tantas invasões configurou umpaís com os piores indicadores sociaisdo mundo (ver Box com radiografiado país). Esse quadro foi agravadoquando, nos anos de 1980, os EUAtreinaram grupos internos, como ostalebans, milícias de maioria sunitase da etnia pashtu, para lutar contrao exército soviético. Os talebansvenceram essa disputa e assumiramo poder. Apesar de reacionária, aorganização não conquistou a plenaconfiança dos EUA. Com o ataqueàs torres gêmeas, em setembro de2001, o governo Bush obteve o ar-gumento para invadir o país e der-rubá-lo do poder. Nesse processo, ainfraestrutura afegã foi toda destruída.

Atualmente, 70% da populaçãonão têm acesso à água potável. Mi-lhões de afegãos sofrem de inanição.Metade da população tem menos de15 anos. De acordo com dados daUnicef, a taxa de mortalidade infantilé a maior do mundo. Cerca de 30%das crianças estão envolvidas emalgum tipo de trabalho, e 43% dasmeninas casam antes de completar15 anos.

No lugar do taleban assumiu umgoverno aliado dos EUA, encabeçadopor Hamid Karzai. Atolado em cor-rupção e nepotismo, o governo deKarzai provocou o aumento da re-sistência interna contra as tropasdos EUA e de seus aliados.

Obama avança em uma encruzi-lhada já experimentada pelos ex-

militares soviéticos. Em dezembrode 2009, o ex-general soviético, IgorRodionov, um dos comandantes dainvasão soviética ao Afeganistão,declarou ao Financial Times que asnotícias que chegam do atual conflitosão perturbadoramente familiares."Os Estados Unidos e os seus aliadosprecisam entender que não existenenhuma forma de se alcançar o su-cesso militarmente. A única soluçãoé política. E Karzai não goza de po-pularidade junto ao povo, ele sim-plesmente administra uma máfia".

Em seu depoimento, Rodionovdeu um conselho nada otimista paraàqueles que estão seguindo as suaspegadas no Afeganistão: "Tudo jáfoi tentado".

Ainda em entrevista ao FinancialTimes, outro ex-oficial soviético en-xerga uma futilidade similar nos es-

forços dos Estados Unidos no Afe-ganistão. “Mais soldados simples-mente significará mais mortes", ad-vertiu Gennady Zaitsev, ex-coman-dante da tropa de elite Alfa, da KGB,que participou da maioria das ope-rações mais críticas da guerra.

Alguns analistas políticos inter-nacionais corroboram com as opi-niões dos ex-militares soviéticos.Afirmam que o Afeganistão será ocemitério das tropas estadunidensescaso Obama não assuma que a saídaé se retirar daquele país.

Depois de 20 anos de mentirase de uma defesa cerrada daspolíticas econômicas (neolibe-rais) implementadas pela dita-dura e de um co-governo entrea Concertación e a direita pino-chetista, as pessoas se cansa-ram de acreditar em falsas pro-messas.

Celso CalfullanSocialismo Revolucionario (CIT Chile)

Isso é o que explica o triunfo docandidato da direita Sebastián Piñeracom 51,6% dos votos, sobre EduardoFrei, que obteve 48,3%.

A sociedade chilena sedireitizou?

Piñera obteve na realidade menosde 30% dos votos de um total de 12milhões de chilenos em idade devotar. As abstenções, votos nulos ebrancos, somados aos mais de umterço da população que se negam aregistra-se para votar chegaram a

pouco mais de 40%, algo que nãodeixa de ser importante, porque osnão-inscritos são fundamentalmentejovens menores de 30 anos, um setorque pode jogar um papel central nopróximo período.

A porcentagem obtida por Sebas-tián Piñera não alcançou o terço dosvotos que historicamente a direitasempre obteve no Chile. Por isso,falar de uma direitização da sociedadechilena não pode estar mais longeda realidade.

Sebastián Piñera e suaproposta populista

Piñera com suas promessas con-seguiu se aproveitar do descontenta-mento com um modelo de exploraçãoanti-popular, iniciado pela ditaduraem meados dos anos 70 e que a Con-certación manteve até agora.

O descontentamento se deu contraas privatizações, os cortes dos direitossociais dos trabalhadores, como edu-cação e saúde públicas, contra a fle-xibilidade e precarização da relações

trabalhistas, contra o saque dos re-cursos naturais (principalmente ocobre), contra a concentração da ri-queza e um crescimento cada vezmaior da desigualdade. A insatisfaçãotambém se deu contra um sistemapolítico anti-democrático, que hojeé funcional estritamente para os em-presários, não participativo, tuteladoe extremamente anti-popular.

O principal responsável pelo triun-fo de Piñera é a Concertación, jáque os partidos do governo, buscandoconstruir acordos com a direita pi-nochetista, dedicaram-se todos essesanos a dizer que esta era uma “novadireita”, “uma direita democrática”.

A chegada da direita pinochetistaao poder não é responsabilidade dostrabalhadores e menos ainda dosmilhares de jovens que inclusiveentregaram sua vida para acabarcom esses criminosos e tirá-los dopoder. A responsabilidade é daquelesque negociaram com a ditadura eterminaram traindo os desejos demudança de milhões de trabalhadorese jovens.

Os figurões da Concertación jácomeçaram a felicitar a direita porseu triunfo e a falar do democráticoe representativo sistema eleitoralchileno e da necessidade de que “to-dos os chilenos” se unam. Falam deum governo de “unidade nacional”e da necessidade de continuar a “po-lítica dos acordos”, ou seja, mais domesmo, mas agora a partir de umasuposta “oposição”.

Os trabalhadores sópodem esperar maisataques da direita

Um governo de direita, encabeçadopor um empresário ambicioso e ines-crupuloso, não pressagia nada debom para os trabalhadores, basta re-cordar o governo de Jorge Alessandrie da ditadura de Pinochet, para sa-bermos contra o que devemos nospreparar.

O bom de ter à frente um inimigoclaro dos trabalhadores (como é ocaso de Piñera) é que se acaba adesculpa utilizada pelos dirigentes

sindicais da CUT de que não erapossível mobilizar-se para defendernossos direitos, para não prejudicaros governos da Concertación e dessaforma impedir que a direita chegasseao poder. Agora estará a direita pi-nochetista no governo, acabaram-se as desculpas.

Afeganistão: o pântanodo “Nobel da Paz”

Radiografia do Afeganistão

Vitória da direita no Chile: a Concertación é culpada

Área: 652.230 km² (sem saídapara o mar)

População: 33 milhões Urbanização: 24% da população

é urbana Taxa de fertilidade: 6,5 crianças

nascidas por mulher (4º maiordo mundo)

Mortalidade infantil: 151 mortespor 1000 nascimentos (3ºmaior do mundo)

Expectativa de vida ao nascer:44,5 anos

Grupos étnicos: pashtu (42%),tajik (27%), hazara (9%), us-beque (9%) e outros

Religião: sunitas (80%), xiitas(19%), outros

Alfabetização: homens, 43%;mulheres, 12%

Taxa de desemprego: 40%Fonte: CIA World Factbook 2009

Até quando Piñera vai rir?

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10 • internacional Ofensiva Socialista n°03janeiro/fevereiro - 2010

Colapso financeiroameaça a Grécia

GRÉCIA A crise na Grécia estápreocupando os mercados finan-ceiros. O país começou o ano de2010 com um déficit orçamentáriode 13% do PIB, uma dívida públicade 125% e o índice de desempregose aproximando dos 20%.

Os governos do país têm frau-dado a contabilidade pública poranos, dando a impressão de que asituação era melhor do que real-mente era. Agora, para proteger omercado financeiro do risco deum colapso, a União Europeia e oFMI pressionam o governo a fazergrandes cortes no setor público,para jogar o custo da crise nascostas dos trabalhadores.

O temor é que um colapso naGrécia possa se espalhar para ou-tros países em crise na Europa,como Espanha, Portugal e Irlan-da.

Fiasco eleitoralpara Obama emMassachusetts

EUA O Partido Democrata deObama sofreu uma grande derrotaeleitoral na eleição para a vaga aoSenado após a morte de Ted Ken-nedy ano passado. Até recente-mente, a candidata democrata,Martha Coakley, tinha uma maioriade 31% nas pesquisas.

Os democratas controlavam essemandato há 58 anos, e Obamaganhou as eleições presidenciaisneste estado com uma maioria de26%.

A perda desse mandato para orepublicano Scott Brouwn significaque os democratas não têm maisa “super-maioria” de 60 dos 100mandatos no Senado, o que ga-rantia que suas propostas não po-deriam ser barradas pela minoria.Agora, qualquer proposta do go-verno vai ter que passar por umprocesso mais doloroso de nego-ciação com os republicanos.

A derrota reflete o temor da po-pulação com a crise, as dúvidassobre a “recuperação econômica”e a raiva contra os grandes resgatesaos bancos. O governador demo-crata no estado também se tornouimpopular depois de uma ondade cortes nos gastos públicos.

Pobreza atingemais os indígenas

MUNDO Segundo um relatórioda ONU, os povos originários, ape-sar de representar somente 5% dapopulação mundial, constituem15% dos mais pobres do mundo.Nas áreas rurais, eles chegam acompor um terço dos 900 milhõesque vivem em situação de miséria.

Estima-se que 370 milhões depessoas fazem parte dos povosoriginários, representando 5 milculturas distintas. Juntos, ocupamcerca de 20% do território do pla-neta, em 90 países.

Segundo o diretor do Unic (Cen-tro de Informações das NaçõesUnidas para o Brasil), GiancarloSumma, a pobreza dos povos in-dígenas está relacionada à perdade territórios e de recursos naturais,o que acaba por inviabilizar asformas tradicionais de vida destaspopulações.

“Quando o índio passa a ter quecomprar seu alimento no mercado,os níveis de pobreza aumentamautomaticamente”, diz ele à Folhade São Paulo.

A tomada militar dos EUA nasoperações de emergência noHaiti significa que as manobrasaéreas militares americanas re-ceberam prioridade no aeropor-to de Porto Príncipe, forçandomuitos vôos humanitários quenão fossem norte-americanos ase desviar para a RepúblicaDominicana. Isso provocouuma furiosa resposta de outraspotências com interesses naregião, incluindo Brasil eFrança. O ministro francês dasrelações exteriores acusou osEUA de tratar o aeroporto co-mo um "anexo de Washington".

Temendo protestos e motins emmassa, caso a ajuda não alcance ossobreviventes, os EUA estão colo-

cando tropas no solo para manter a“lei e a ordem”. Isso pode marcar ocomeço do que será, de fato, umgoverno militar dos EUA, que seráusado contra o povo do Haiti, assimcomo os nove mil soldados da ONUeram empregados no Haiti antes doterremoto devastador.

Já que o governo Obama e outraspotências falharam por vários diascruciais em fornecer mesmo a ajudamais básica necessária às massashaitianas, quem pode seriamenteacreditar que fornecerão os grandesrecursos necessários para reconstruire modernizar o país, incluindo aconstrução de prédios “à prova detremores”? Os EUA, a ONU e asONGs estrangeiras – já amplamenteridicularizados pelos haitianos portorrar 50% de suas verbas em “gastos

com administração” – ficarão cadavez mais desacreditados aos olhosdos pobres.

Por décadas, o Haiti é assoladopela pobreza, desemprego e ditadurasmilitares. Apenas as massas do Haiti,com a classe trabalhadora jogandoo papel principal, podem encontraruma saída da pobreza, violência egolpes sem fim.

Construir uma alternativade trabalhadores

Hoje, mais do que nunca, uma al-ternativa de massas dos trabalhadorese pobres tem que ser construída emoposição à minúscula elite rica. Odesastre do terremoto e o fracassoabjeto das grandes potências em for-necer ajuda, somado a um adequado

“programa de reconstrução” irão real-çar cruelmente para as massas hai-tianas a necessidade do controle de-mocrático dos recursos da sociedade.

Na base do capitalismo, a vastamaioria do povo continuará empo-brecida, sem emprego, analfabeta,faminta e vivendo em favelas. Essaexistência significa que a massa dopovo permanecerá altamente vulne-rável a “desastres naturais”.

Os trabalhadores e os pobres doHaiti precisam de suas próprias or-ganizações de classe independentes,sindicatos e um partido de massascom um programa socialista, paralutar por uma verdadeira mudançafundamental, apelando para a classetrabalhadora e os pobres de todo oCaribe e das Américas.

(N.H.)

– continuação da página 12

Os trabalhadores de todo o mundoestão compreensivelmente horrori-zados e assustados com essa tragédiahumanitária. Muitas pessoas, instintivae generosamente, correram para fazerdonativos e ajudar os esforços deresgate. Compare isso com os insig-nificantes fundos prometidos pelaONU e as maiores potências mundiais.A ONU inicialmente disse que le-vantaria 550 milhões de dólares emajuda para o Haiti – uma mera fraçãodos mais de 100 bilhões de dólaresque está sendo pago mundialmenteem bônus aos banqueiros este ano.

Sem dúvida, em um ato que pre-tendia ser de “boas relações públi-cas”, o banco de Nova Iorque Citi-group disse que daria 250 mil dólaresà Cruz Vermelha americana para se-rem usados em ajuda imediata aoHaiti. Mas o valor gasto pelo Citi-group com o pagamento de bônus,principalmente para os altos execu-tivos em 2009, é calculado em cercade 5,3 bilhões de dólares.

Resposta lenta

Ao mesmo tempo, a lenta respostadas grandes potências, especialmentedo vizinho rico do Haiti, os EUA,está causando uma crescente frus-tração e raiva em todo o mundo.Apesar da retórica de Washington,pouca ajuda chegou nos dias se-guintes ao terremoto, quando eramais necessária e quando as pessoaspresas debaixo dos prédios derru-bados ainda estavam vivas.

Furiosos com a miserável ajudafornecida, alguns haitianos recorre-ram a protestos com bloqueios deestradas feitos com corpos mortos eescombros das construções. Muitos

moradores de Porto Príncipe perde-ram qualquer esperança de ajudaalém-mar e estão fugindo a pé parao interior.

As administrações dos EUA e daONU afirmam repetidamente quesua resposta deplorável é causadapela falta de infraestrutura e coor-denação no Haiti. Mesmo essa des-culpa para a inação é sem dúvidaenormemente exagerada, o Haiti cer-

tamente já era um estado muitopobre antes do terremoto. É o paísmais pobre do hemisfério ocidentale tem uma história de destrutivosdesastres naturais. Mas de quem é aculpa disso? É do nocivo papel doimperialismo dos EUA, junto comuma série de regimes haitianos cor-ruptos e pró-EUA, que deixaram opaís tão empobrecido e vulnerávelaos desastres naturais.

Junto com o terremoto medidoem 7 pontos na escala Richter, aenorme dimensão do desastre hu-mano foi causada pela pobreza doHaiti. O país possui apenas doispostos de bombeiros e nenhuma mo-radia “a prova de tremores”. Terre-motos similares causaram muito me-nos impacto na vizinha RepúblicaDominicana, onde os regulamentosde construção são muito mais seve-ros, ou na vizinha Cuba, onde a ad-ministração de emergências é infi-nitamente melhor.

80% abaixo da linha da pobreza

80% dos haitianos vivem abaixoda linha da pobreza e o PIB per ca-pita do país em 2009 foi de apenasdois dólares por dia. O desempregoestá em terríveis 75%. A taxa desobrevivência dos recém-nascidosé a mais baixa do hemisfério oci-dental. “Para muitos adultos, asfontes mais promissoras de rendaprovavelmente vêm do tráfico dedrogas, comércio de armas, perten-cerem a uma gangue, seqüestro eextorsão”, comentou o jornal TheGuardian (15/01/10).

Ao invés de uma ajuda de emer-gência em larga escala ao Haiti, aCasa Branca embarcou numa inter-venção armada de larga escala. OsEUA se referem a “pilhagens gene-ralizadas” para justificar a necessi-dade de milhares de soldados e fu-zileiros americanos. Mas com aslojas destruídas ou fechadas, esse éo único meio, para muitos, de con-seguirem água ou alimento. Até ago-ra, segundo o The Guardian(18/01/10), "os alertas de que PortoPríncipe cairia na anarquia não sematerializaram".

Um desastre agravadopelo capitalismoEstimativas colocam o número de mortes em 200 mil

Ajuda humanitária ouintervenção armada?

TRAGÉDIA NO HAITI

Centenas de milhares de haitianos tentam escapar do caos em PortoPríncipe, por terra ou tentando algum espaço nos barcos do porto.

Page 11: Ofensiva Socialista n°3

O atual governo do presidenteRené Préval é visto amplamen-te como corrupto e débil. Masessa queda rumo a um “Estadofalido” não era inevitável ouconseqüência natural de umsuposto “caráter nacional” doshaitianos, como alguns políti-cos e setores da mídia ociden-tais dizem.

Niall Mulholland, CIT

Nos anos de 1780, sob o domíniofrancês, o Haiti exportava 60% detodo o café e 40% de todo o açúcarconsumido na Europa. Há apenas200 anos atrás, as massas negrasaboliram a escravidão no Haiti eganharam a independência nacionalda França; atos que inspiraram asmassas do Caribe e do mundo.

Mas as potências mundiais eramvingativas e determinaram que a“república negra” cairia e iniciaramuma série de intervenções e intro-missões sem fim. Em 1825, o Haitifoi sobrecarregado com enormes pa-gamentos de “reparações”, que es-tavam sendo pagos até 1947!

Fuzileiros americanos ocuparamo Haiti de 1915 a 1934. Entre 1957e 1986, os EUA apoiaram os notóriosregimes de 'Papa Doc' e 'Baby Doc'Duvalier, até que a tirania hereditáriafoi derrubada por um movimentode massas dos trabalhadores e estu-dantes.

Instabilidade

O Haiti seguiu com uma série deregimes altamente instáveis e decurta duração. Infelizmente, essesanos de movimentos urbanos radicaisnão tiveram uma direção revolucio-nária socialista que pudesse tomaro poder, varrer o capitalismo e rea-lizar as demandas dos trabalhadores.

Na semana passada, o presidenteObama uniu-se aos antigos presi-dentes Clinton e Bush, prometendoatender o “momento de necessidade”do Haiti. Esse foi um momento denauseante hipocrisia, já que o papelque Clinton e Bush jogaram quandoestavam no cargo aprofundaram apobreza e corrupção do Haiti.

Jean Bertrand Aristide ganhou aseleições presidenciais do Haiti de1990 prometendo enfrentar a pobrezae a injustiça social. Suas reformasiniciais eram populares entre os po-bres, mas tímidas comparadas aorealmente necessário para acabarcom a pobreza e o desemprego.Contudo, a reacionária elite rica seopôs violentamente a Aristide.

Intervenções dos EUA

Aristide foi derrubado pelo GeneralCedras, em 1991, mas voltou ao po-der em 1994, nas costas de 20 milsoldados americanos, depois que aadministração Clinton eventualmenteperdeu a paciência com o regimevolátil e desafiador do general. Clin-ton assegurou que Aristide não amea-

çasse os interesses vitais dos EUAou a continuação do domínio daelite rica.

Em 2000, Aristide foi novamenteeleito à presidência com mais de90% de apoio, mas esse apoio di-minuía à medida que ele deixava defazer qualquer mudança real nascondições de pobreza e as alegaçõesde corrupção e compra de votos au-mentavam.

A administração de Bush não obs-tante se opôs a Aristide e bloqueoua ajuda internacional ao Haiti. Aoposição reacionária montou um le-vante em 2004, com o apoio demembros do Partido Republicanodos EUA, e Aristide foi despachadodo Haiti por tropas americanas.

Crise contínua

Os anos desde a remoção de Aris-tide têm sido uma contínua crise,marcada pela violência e uma su-cessão de primeiros-ministros. Em2006, René Préval foi anunciadoganhador da eleição presidencial. Oaumento das tropas estrangeiras, li-deradas pelo Brasil (jogando um pa-pel imperialista regional) provocougrandes choques entre as tropas daONU e gangues armadas em CitéSoleil, uma das maiores favelas dospais. Mas também foram usadascontra trabalhadores e estudantesque protestaram. Motins por comida,em abril de 2008, forçaram o governoa anunciar um plano de corte dospreços do arroz.

Apesar da descrição do PresidentePréval como um “campeão dos po-bres”, ele não enfrentou as profundasdesigualdades do Haiti. O enormefosso social entre a maioria negra epobre de fala Creole, que constitui95% da população, e os 5% mulatos

que falam de francês, dos quais 1%possui aproximadamente metade dariqueza do país, continua sem solução.

As políticas comerciais impostaspelas agências financeiras interna-cionais deixaram o Haiti dependentedas importações de comida, espe-cialmente dos EUA. A subida dospreços de arroz e outros itens em2009 atingiram duramente o povohaitiano. O Haiti foi sobrecarregadocom 50 milhões de dólares por anoem pagamento da dívida. Na semana

passada, foi concedido um “emprés-timo de emergência” de cem milhõesde dólares do FMI, mas com a con-dição de congelamento dos paga-mentos do setor público.

Antes do terremoto, Bill Clinton,como enviado especial da ONU aoHaiti, estava promovendo ainda maisempresas baseadas na precarizaçãoe super-exploração dos trabalhadores,com os quais as corporações ameri-canas, canadenses e a elite rica doHaiti lucrariam.

O CIT defende:

O Comitê por Umainternacional dos

Trabalhadores é umaorganização socialista compresença em mais de 40

países, em todos oscontinentes. A LSR é aseção brasileira do CIT.Visites os sites do CIT:www.socialistworld.net

www.mundosocialista.net

Nova aliança deesquerda na GrãBretanha

GRÃ BRETANHA Em janeirofoi lançada a “Aliança Sindical eSocialista”, que une sindicalistase grupos da esquerda, como o So-cialist Party (CIT na Inglaterra/Paísde Gales), Solidarity – MovimentoSocialista Escocês, e outros, paraconcorrer às eleições esse ano.

A aliança dá continuidade àcampanha “Não à UE (União Eu-ropéia) – sim à democracia”, quefoi uma aliança específica para aseleições européias de 2009. Essacontou com o apoio do sindicatode transportes RMT. Desta vez oRMT não dá um apoio formal ànova aliança, mas suas subsedesregionais estão livres para apoiar,e o líder do sindicato Bob Crowfaz parte da coordenação da alian-ça, junto com dirigentes do sindi-cato dos agentes penitenciários eservidores públicos.

A aliança se posiciona contraas tropas britânicas no Afeganistão,contra os cortes no setor públicoe as privatizações, contra as leisanti-greves, e também coloca anecessidade de estatizar as grandesempresas e bancos sob controledemocrático, para possibilitar umplanejamento da produção de acor-do com a necessidade das pessoase para proteger o meio ambiente.

Arruinar o país parasalvar os bancos

ISLÂNDIA Durante uma décadao pequeno país nórdico funcionoucomo um cassino neoliberal, ondeinvestidores estrangeiros especu-lavam livremente, até a crise causara quebra dos bancos.

Os governos da Grã Bretanha eda Holanda pressionaram o go-verno islandês a aceitar um acordoem outubro para recompensar asperdas dos investidores de seuspaíses. Esses dois países exigem3,8 bilhões de euros, equivalentea 14 mil euros (37 mil reais) porhabitante na Islândia.

60 mil islandeses, um quarto dapopulação, assinaram uma petiçãocontra a proposta de lei do governo,que regula o pagamento dessa re-compensa. Isso forçou o governo achamar um referendo, planejadopara 20 de fevereiro. As pesquisasmostram que 70% são contra a lei,apesar de uma campanha de terrordentro e fora do país, dizendo queo país vai ficar totalmente isolado.

“Essa lei iria significar a ruínapara a população por muito tempo.3,8 bilhões de euros correspondema um terço do PIB, diz Skúli JónKristinsson do Sósíalískt Réttlæti(CIT na Islândia), que faz campa-nha pelo “não” no referendo.

internacional • 11Ofensiva Socialista n° 03janeiro/fevereiro - 2010

O papel podre doimperialismo

TRAGÉDIA NO HAITI

P Financiamento massivoimediato para ajudar asvítimas do terremoto ereconstrução.

P Controle democráticosobre toda a ajuda eassistência de emergência– resgate, remédios ereabilitação das pessoasafetadas, e massivosprogramas dereconstrução – através decomitês eleitos detrabalhadores,agricultores e pobres decada área.

P Construção de moradias,hospitais, escolas,estradas e infraestruturade boa qualidade à provade tremores, além deoutros recursos eserviços públicos vitais.

P Subsídios estatais para ospequenos agricultores emdificuldade.

P Cancelamento de todas asdívidas externas e injustaspolíticas comerciais.

P Empregos e saláriosdecentes para todos

P Colocar a economia sobpropriedade pública, comcontrole e gestãodemocrática dostrabalhadores.

P Tropas dos EUA e ONUfora do Haiti – fim daintromissão imperialista

P Construir sindicatosindependentes e um novopartido de massas daclasse trabalhadora e dospobres, com políticassocialistas.

P Por um Haiti socialista,como parte de umafederação socialistaigualitária e voluntária doCaribe.

Haiti devastado por desastres naturais e pela ganância do imperialismo.

Page 12: Ofensiva Socialista n°3

N° 03 janeiro/fevereiro 2010

Preço: R$1,50 • Solidário: R$3,00 Acesso o nosso site:

www.lsr-cit.orge-mail: [email protected]

telefone: (11) 3104-1152

Quando fechávamos esta edi-ção, a situação no JardimPantanal, extremo da zona les-te da cidade de São Paulo, in-cluindo parte de Itaqua -quecetuba e Guarulhos, conti-nuava calamitosa. A região per-manece inundada desde o iní-cio de dezembro de 2009 quan-do fortes chuvas passaram acair sobre São Paulo.

Militantes do LSR no Jd Pantanal

Os moradores locais acusam osgovernos de Serra e Kassab de seremcriminosos. Afirmam que o governoapesar de informados sobre as forteschuvas na região mandou abrir ascomportas da barragem de PonteNova (Alto Tietê), enchendo o RioTietê antes da chuva. Além disso,mandou fechar a barragem da Penha,entre os dias 8 e 10 de dezembro de2009. Tais medidas são as grandesprovocadoras das inundações con-tínuas no Pantanal. Essa atitude ir-responsável das autoridades públicaslevou a morte de sete pessoas, alémde causar doenças e sofrimento aoutras tantas. Milhares de famíliasperderam todos os bens que conse-guiram durante anos de trabalho.

Coincidentemente, as inundaçõesresolvem um problema dos governostanto estadual quanto municipal. As

duas instâncias públicas pretendemcriar na área do Pantanal “o maiorParque Linear da América Latina”.Contudo, precisariam indenizar osmoradores para que deixassem suascasas. Com as inundações, essas in-denizações transformaram-se em umamísera bolsa-enchente de R$ 300.

A prefeitura de São Paulo, gover-nada por Kassab, permitiu a cons-trução do conjunto habitacional doJd. Romano, pavimentou ruas semgalerias de águas pluviais e permitiuque os caminhões das empreiteirasdescarregassem entulhos na várzeado Tietê. O Jd. Romano é um dos 17bairros que compõe a área conhecidacomo Pantanal somente na Capital,mas ainda ocorreram inundações naVila Any (Guarulhos), no Jd. Fioreloe Vila Sônia, em Itaquaquecetuba.

Esgoto sem tratamento

Além disso, a Sabesp joga esgotode mais de 20 mil residências semtratamento nos córregos Tijuco Pretoe Três Pontes (afluentes do Tietê).Isso significa que o Jd. Romano e aVila Aimoré, localidades que tambémcompõe o Pantanal estão imersosem esgoto. Apesar de não garantir otratamento do esgoto, o governosempre cobrou a coleta e tratamentodos habitantes.

Os moradores denunciam que a

bolsa-enchente, no valor de R$ 300,é insuficiente para arranjar uma novacasa. Os representantes da sub-pre-feitura têm a “cara de pau” de argu-mentar que esta insuficiência é porconta de uma inflação miserável.Alegam que, com muita gente pro-

curando casa para alugar, o quarto ecozinha que custava R$ 250 agoranão sai por menos de R$ 400.

O Movimento de Urbanização eLegalização do Pantanal (MULP) eo movimento Terra Livre solicitaramprovidências do Ministério Público

e da Defensoria Pública para que osgovernos estadual e municipal sejamresponsabilizados pelo caos na região.Exigem que os governos reembolsemos moradores por suas perdas e ga-rantam novas casas para todos osafetados pelas enchentes.

A catástrofe humanitária quecaiu sobre o Haiti ultrapassaqualquer entendimento. O po-deroso terremoto de 12 de ja-neiro deixou milhares de mor-tos, com estimativas que che-gam a 200 mil ou mais. As frá-geis moradias das favelas dePorto Príncipe, a capital, co-lapsaram, assim como os pré-dios públicos, incluindo esco-las e hospitais. Milhares aindaestão desaparecidos e muitosmais seriamente feridos.

Niall Mulholland, CIT

O fornecimento de energia e ascomunicações foram destruídos eapenas um aeroporto continua ope-rando. Estima-se que cerca de trêsmilhões de pessoas, a maioria dasquais ficou sem casa, tenham ne-

cessidades diretas como água, co-mida, roupas, abrigo e medicamentosessenciais.

O país desesperadamente pobrepossui poucos recursos para lidarcom a catástrofe. As pessoas estãolimitadas a tentar resgatar as vítimasdos entulhos com as mãos nuas.

Semelhante às grotescas cenas deum campo de batalha medieval, mi-lhares de corpos inchados empi-lham-se nas ruas de Porto Príncipe.Não há serviços estatais básicospara lidar com os mortos com qual-quer dignidade, sem falar de resgataros vivos ou assistir os sobreviventes.

Muitos haitianos estão agora emrudimentares “acampamentos in-formais” ao ar livre, descritos como“insalubres” e “perigosos”. A faltade água potável, alimentos e meiossanitários significam que doençasinfecciosas e mortais podem se es-

palhar. O corpo médico está com-pletamente subjugado pelas condi-ções. Os feridos, frequentementecom ossos quebrados, estão enfren-tando amputações de membros oua morte devido à falta de medica-mentos básicos e tratamento.

Para os ricos a situação é muitodiferente; suas grandes casas no “fres-co e verde subúrbio” de Petionville“foram, em sua maioria, poupadas”e possuem “estoques de alimentosduráveis” (Washington Post,18/01/10). Trabalhadores de resgateinternacionais informam que estãosendo instruídos a primeiro encontrarestrangeiros nos grandes hotéis deluxo em colapso. O Washington Postprevê que os ricos em Petionville"receberão uma grande soma de di-nheiro americana e internacional paraajudar na reconstrução".

– continua na página 10

Campanha de Solidariedade ao Povo Haitiano

A Conlutas abriu uma conta especial para contribuiçõesa serem enviadas para a organização sindical haitiana

“Batay Ouvriey” (“Batalha Operária) com a qual aConlutas tem contato há anos.

Favorecido: Coordenação HaitiBanco do Brasil

Agência 4223-4, Conta 8844-7

Haiti: Um desastre agravado pelocapitalismo

Estado é responsável pelasinundações no Jd Pantanal

Irresponsabilidade e ação criminosa do Estado contra a população do Jardim Pantanal.