ofensiva socialista n° 2 - setembro/outubro 2009

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P Forjar a unidade das categorias e movimentos em luta. P Construir pela base uma nova Central sindical e popular. P Por uma Frente de Esquerda, classista e socialista nas eleições de 2010. site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152 Parque de Serra deixa 3,5 mil famílias desalojadas página 4 Gripe suína: Novas pande - mias, antigas questões página 5 Fora Yeda! página 5 Avançar na construção de uma Central Sindical e Popular página 6 II Congresso do PSOL: Faltaram as respostas que os trabalhadores precisam páginal 7 Bancada ruralista na defesa dos latifúndios improdutivos página 8 O petróleo será nosso? página 9 Honduras: continua a luta contra o golpe página 10 A luta pela legalização do aborto é internacional! página 12 N° 02 setembro/outubro 2009 Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) Lula disse que a crise termi- nou. A “marolinha” venceu o “tsunami” do mesmo jeito que antes a esperança teria venci- do o medo. A retomada das vendas a crédito e uma boa do- se de ufanismo em torno do pré-sal tem um objetivo claro: conter a insatisfação dos tra- balhadores e criar um clima fa- vorável à decolagem da candi- datura Dilma Rousseff. Mas, será simples assim? Ainda existem inúmeros pedre- gulhos no caminho do lulismo. Ou então, porque será que a expectativa de crescimento de míseros 1% do PIB, previstos para 2009, é come- morada como se o período do “mi- lagre” econômico tivesse voltado? Só isso já dá um sinal da gravidade da crise e das fragilidades ainda existentes na economia mundial e do Brasil. É verdade, o Brasil não despencará ladeira abaixo como o México ou o Leste Europeu. Mas, dá pra comemorar? O reaquecimento mínimo da eco- nomia só se deu porque centenas de bilhões de reais de dinheiro público foram despejados na economia. A ajuda do Estado através dos em- préstimos e subsídios ao setor privado sustentou lucros de grandes empre- sários e criou ilusões em setores amplos da população. Mas, até quan- do isso se sustenta e a que preço? A dívida não para de crescer Somente a dívida interna federal já chegou a um patamar de 1,8 trilhão de reais, tendo crescido cerca de 200 bilhões de reais somente nos primeiro sete meses de 2009. O go- verno contrai dívidas para sustentar os interesses de banqueiros e grandes empresários. Essa é a lógica das medidas adotadas por quase todos os governos diante da crise. Quem vai acabar pagando essa conta? Os cortes nos gastos sociais e os ataques sobre os trabalhadores e os serviços públicos são inevitáveis dentro da lógica capitalista, ganhe quem ganhe as eleições de 2010. Já estamos vendo isso na crise da gripe suína e no serviço público de saúde. Também na queda de arrecadação e nos cortes que provocaram inúmeras greves de servidores públicos de to- dos os níveis. Lula pode empurrar a crise com a barriga para promover o maior este- lionato eleitoral da história desse país no próximo ano. Mas, as contradições se agravarão depois. Não pode ser diferente. Nos marcos da crise estru- tural do capitalismo, as medidas to- madas para amenizar os efeitos ime- diatos da crise acabam aprofundando as contradições e tornando as crises futuras ainda mais graves. Diante desse cenário, a esquerda socialista e os movimentos sociais combativos precisam estar à altura dos desafios. Mesmo enfrentando dificuldades, uma consciência con- fusa entre os setores mais amplos, incluindo ilusões no governo, é pre- ciso que tomemos medidas imediatas e urgentes para acumular forças e nos preparar para o próximo período. Há base para isso. Basta ver a disposição das greves e campanhas salariais de Correios, metalúrgicos, bancários e várias outras categorias. Explosões sociais legítimas como a ocorrida na favela de Heliópolis em São Paulo e em tantas outras comu- nidades Brasil afora, também preci- sam ser canalizadas para uma luta consciente e organizada. É necessário unir as lutas É necessário fortalecer e articular as importantes campanhas salariais e lutas sindicais neste segundo se- mestre. Junto com isso, é preciso uma ação enérgica em defesa dos ativistas e movimentos atacados pela patronal, a mídia, as forças repressivas de todos os tipos e os governos. Nesse contexto, a prioridade das prioridades deve ser dada ao processo de reorganização do movimento sin- dical e popular e à construção de uma alternativa política da esquerda socialista nas eleições de 2010. Não há tempo a perder. É preciso garantir os debates e seminários que devem conduzir à formação de uma nova Central no início do próximo ano, como previsto pelo Seminário organizado pela Conlutas, Intersin- dical e outros setores em abril desse ano. Um adiamento desse calendário representaria um desastre para a reor- ganização do movimento social com- bativo. Da mesma forma, não é possível mais admitirmos a demora nas defi- nições sobre a formação de uma Frente de Esquerda, classista e so- cialista, com candidatura própria para as eleições de 2010. Cada minuto perdido é utilizado para que o espaço da esquerda seja ocupado por alternativas de dentro da ordem, como é o caso de Marina Silva. Para isso, o papel do PSOL é fundamental. A crise do partido depois de seu II Congresso só poderá ser superada com políticas ousadas e ofensivas diante da conjuntura. Tendência do PSOL Trabalhadores dos Correios dão o exemplo. Agora é construir a unidade de todos os setores em luta.

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Jornal da Liberdade, Socialismo e Revolução Seção Brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores Corrente do PSOL

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P Forjar a unidade das categorias e movimentos em luta.

P Construir pela base uma nova Centralsindical e popular.

P Por uma Frente de Esquerda, classista esocialista nas eleições de 2010.

site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152

Parque deSerra deixa 3,5mil famíliasdesalojadas

página 4

Gripe suína:Novas pande -mias, antigasquestões

página 5

Fora Yeda!página 5

Avançar naconstrução deuma CentralSindical ePopular

página 6

II Congresso doPSOL: Faltaramas respostasque ostrabalhadoresprecisam

páginal 7

Bancadaruralista nadefesa doslatifúndiosimprodutivos

página 8

O petróleo seránosso?

página 9

Honduras:continua a lutacontra o golpe

página 10

A luta pelalegalização doaborto éinternacional!

página 12

N° 02 setembro/outubro 2009

Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR

Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

Lula disse que a crise termi-nou. A “marolinha” venceu o“tsunami” do mesmo jeito queantes a esperança teria venci-do o medo. A retomada dasvendas a crédito e uma boa do-se de ufanismo em torno dopré-sal tem um objetivo claro:conter a insatisfação dos tra-balhadores e criar um clima fa-vorável à decolagem da candi-datura Dilma Rousseff.Mas, será simples assim?

Ainda existem inúmeros pedre-gulhos no caminho do lulismo. Ouentão, porque será que a expectativade crescimento de míseros 1% doPIB, previstos para 2009, é come-morada como se o período do “mi-lagre” econômico tivesse voltado?Só isso já dá um sinal da gravidadeda crise e das fragilidades aindaexistentes na economia mundial edo Brasil. É verdade, o Brasil nãodespencará ladeira abaixo como oMéxico ou o Leste Europeu. Mas,dá pra comemorar?

O reaquecimento mínimo da eco-nomia só se deu porque centenas debilhões de reais de dinheiro públicoforam despejados na economia. Aajuda do Estado através dos em-préstimos e subsídios ao setor privadosustentou lucros de grandes empre-sários e criou ilusões em setoresamplos da população. Mas, até quan-do isso se sustenta e a que preço?

A dívida não para de crescer

Somente a dívida interna federaljá chegou a um patamar de 1,8trilhão de reais, tendo crescido cercade 200 bilhões de reais somente nosprimeiro sete meses de 2009. O go-verno contrai dívidas para sustentaros interesses de banqueiros e grandesempresários. Essa é a lógica dasmedidas adotadas por quase todosos governos diante da crise. Quemvai acabar pagando essa conta?

Os cortes nos gastos sociais e osataques sobre os trabalhadores e os

serviços públicos são inevitáveisdentro da lógica capitalista, ganhequem ganhe as eleições de 2010. Jáestamos vendo isso na crise da gripesuína e no serviço público de saúde.Também na queda de arrecadação enos cortes que provocaram inúmerasgreves de servidores públicos de to-dos os níveis.

Lula pode empurrar a crise com abarriga para promover o maior este-lionato eleitoral da história desse paísno próximo ano. Mas, as contradiçõesse agravarão depois. Não pode serdiferente. Nos marcos da crise estru-tural do capitalismo, as medidas to-madas para amenizar os efeitos ime-diatos da crise acabam aprofundandoas contradições e tornando as crisesfuturas ainda mais graves.

Diante desse cenário, a esquerdasocialista e os movimentos sociaiscombativos precisam estar à alturados desafios. Mesmo enfrentandodificuldades, uma consciência con-fusa entre os setores mais amplos,incluindo ilusões no governo, é pre-ciso que tomemos medidas imediatas

e urgentes para acumular forças enos preparar para o próximo período.

Há base para isso. Basta ver adisposição das greves e campanhassalariais de Correios, metalúrgicos,bancários e várias outras categorias.Explosões sociais legítimas como aocorrida na favela de Heliópolis emSão Paulo e em tantas outras comu-nidades Brasil afora, também preci-sam ser canalizadas para uma lutaconsciente e organizada.

É necessário unir as lutas

É necessário fortalecer e articularas importantes campanhas salariaise lutas sindicais neste segundo se-mestre. Junto com isso, é precisouma ação enérgica em defesa dosativistas e movimentos atacados pelapatronal, a mídia, as forças repressivasde todos os tipos e os governos.

Nesse contexto, a prioridade dasprioridades deve ser dada ao processode reorganização do movimento sin-dical e popular e à construção de

uma alternativa política da esquerdasocialista nas eleições de 2010.

Não há tempo a perder. É precisogarantir os debates e seminários quedevem conduzir à formação de umanova Central no início do próximoano, como previsto pelo Seminárioorganizado pela Conlutas, Intersin-dical e outros setores em abril desseano. Um adiamento desse calendáriorepresentaria um desastre para a reor-ganização do movimento social com-bativo.

Da mesma forma, não é possívelmais admitirmos a demora nas defi-nições sobre a formação de umaFrente de Esquerda, classista e so-cialista, com candidatura própriapara as eleições de 2010.

Cada minuto perdido é utilizadopara que o espaço da esquerda sejaocupado por alternativas de dentroda ordem, como é o caso de MarinaSilva. Para isso, o papel do PSOL éfundamental. A crise do partido depoisde seu II Congresso só poderá sersuperada com políticas ousadas eofensivas diante da conjuntura.

Tendênciado PSOL

Trabalhadores dos Correios dão o exemplo. Agora é construir a unidade de todos os setores em luta.

2 • editorial Ofensiva Socialista n°02setembro/outubro - 2009

OII Congresso Nacional do PSOLaconteceu sem que um debate apro-fundado e uma deliberação clara ti-

vessem sido adotados em relação ao proces-so eleitoral de 2010. Todo o debate foi adia-do para uma futura Conferência Eleitoraldeixando no ar uma enorme incerteza paramilhares de militantes do partido e milhõesde trabalhadores e trabalhadoras que preci-sam de uma alternativa de esquerda na dis-puta de 2010.

O espaço vazio deixado pelo PSOL, jácomeça a ser disputado por setores que nãopoderão oferecer uma alternativa conse-qüente para os trabalhadores.

De um lado temos uma retórica camu-flada de ‘esquerda’ por parte do governoque visa confundir a população em torno daquestão do pré-sal ou do papel do Estado naeconomia. Como no segundo turno das elei-ções de 2006, o PT cinicamente vai tentarposar de ‘esquerda’ nas eleições de 2010para provocar uma polarização com a direi-ta tradicional encarnada no PSDB/DEM.

Porém, o rosto desfigurado por quaseoito anos servindo o grande capital nãopode mais ser recauchutado com maquia-gem eleitoral improvisada. O PT do gover-no Lula trabalha para garantir os interessesdos grandes capitalistas quando concede bi-lhões de reais para sustentar as grandes em-presas privadas em meio à crise ou pagarpontualmente a dívida pública aos banquei-ros e especuladores.

Mas, o grande fato novo no cenárioeleitoral de 2010 é a candidaturapresidencial da ex-senadora petis-

ta Marina Silva pelo Partido Verde. A traje-tória de Marina Silva, sua origem pobre naAmazônia, a militância conjunta com ChicoMendes, seu vinculo com as lutas sociais ecom a questão ambiental provocam umagrande simpatia por parte de muitos daque-les que querem mudanças de verdade nopaís.

O fato de Marina Silva ter rompido como PT, faz com que muitos a vejam comouma possível alternativa de esquerda a essepartido e ao governo Lula. A indefinição doPSOL sobre a candidatura presidencial ser-ve para estimular todo tipo de confusão emrelação a isso.

A opção consciente de Marina Silvapela filiação ao PV, porém, é um fator quenão pode ser menosprezado. O PV é umalegenda a serviço dos politiqueiros de todos

os tipos. Está na base de sustentação do go-verno Lula, de um lado, mas também apóiae participa dos governos de Serra (PSDB)no estado e Kassab (DEM) no município deSão Paulo, além de todo tipo de governo di-reitista pelo país afora. Trata-se do partidode Zequinha Sarney, um político do mesmocalibre de seu pai, José Sarney. Onde hátroca-troca de cargos públicos, fisiologismoe corrupção, características típicas do regi-me político burguês no Brasil, lá está o PVchafurdando na mesma lama.

Mesmo na questão ambiental, o pro-jeto político de Marina limita-se aum capitalismo mais regulado e

com uma preocupação ambiental relativa-mente maior. Marina não questiona as basesdo sistema capitalista e não reconhece a im-possibilidade de uma política ambientalefetiva enquanto a lógica do lucro, inerenteao sistema, se mantiver. Por isso, Marinaaceitou durante muito tempo ser parte dogoverno Lula e admitiu retrocessos impor-tantes na questão ambiental, como a libera-ção dos transgênicos, a aprovação da trans-posição do Rio São Francisco, o aumentodo desmatamento e ‘privatização’ de áreas

da Amazônia, além da divisão do IBAMA,a não valorização de seus trabalhadores,etc.

Acandidatura Marina Silva não repre-senta uma verdadeira alternativanem ao PT nem ao PSDB. Uma al-

ternativa de esquerda no processo eleitoralainda precisa ser construída e o PSOL temresponsabilidade central nessa tarefa. Aomissão do partido nessa conjuntura podeser fatal. O que está em jogo é o futuro doárduo, mas rico, processo de reconstruçãode uma esquerda socialista de massas noBrasil iniciado entre 2003 e 2004, com asprimeiras experiências negativas com o go-verno de Lula.

No interior do PSOL existem setoresque, de forma explícita ou não, discutem apossibilidade de uma aliança do partidocom Marina Silva e o PV. São os mesmossetores que em 2008 aceitaram fazer coliga-ções com o próprio PV, como no caso dePorto Alegre (RS), ou com partidos do mes-mo tipo, como no caso de Macapá (AP).Nenhuma corrente do PSOL admite publi-camente essa possibilidade, mas o debatesobre ela está em curso.

Outro risco é que a decisão acabe sendoadiada, e que, mesmo apresentando umacandidatura própria, como parte de umaFrente de esquerda, o PSOL já tenha perdi-do tempo e espaço para viabilizá-la. Dessaforma, transformariam, conscientemente ounão, a candidatura do PSOL numa candida-tura esvaziada. Isso confundiria o partido esua base social, abriria caminho inclusivepara que setores do PSOL estabelecessemrelações informais com a candidatura deMarina Silva.

A corrente LSR e nossos aliados do Blo-co de Resistência Socialista defenderamque o PSOL construa junto com o PSTU e oPCB, chamando os setores mais combativosdo movimento sindical, popular e estudan-til, uma Frente de Esquerda. Essa Frentetem que estar baseada na independência declasse e num programa socialista, para ofe-recer aos trabalhadores uma alternativa àcrise capitalista e às políticas de Lula e dadireita tradicional.

Essa Frente deve ter candidatura própriaà presidência e o melhor nome para assumiressa tarefa é o de Heloísa Helena. Foi issoque defendemos no II Congresso do partidoe continuamos defendendo. Porém, dianteda quase certa não disponibilização donome de Heloísa, o PSOL deve começar aconstruir uma alternativa para que essa defi-nição possa ser tomada já na ConferênciaEleitoral e em hipótese alguma depois disso.

Duas pré-candidaturas do partido jáforam formalmente apresentadas:Plínio de Arruda Sampaio, que foi

candidato a governador de São Paulo peloPSOL e a Frente de Esquerda em 2006; eMilton Temer, candidato a governador doRio de Janeiro também em 2006. Outraspodem surgir até a Conferência e o cenáriogeral pode mudar. Mas, no quadro atual, en-tendemos que o nome de Plínio de ArrudaSampaio reflete mais a possibilidade deuma campanha que seja coerente com operfil e a linha política que defendemospara o PSOL e que, ao mesmo tempo, man-tenha a preocupação com a pluralidade in-terna e a construção da unidade do partido eda Frente de Esquerda.

Independentemente dos nomes em dis-cussão, defenderemos sempre que a candi-datura própria do PSOL, como parte deuma Frente de Esquerda, deve estar a servi-ço de um programa e uma estratégia socia-listas.

Colaboraram nessa edição:André Ferrari, Clara Perin, Fabio Arruda, Eduardo ‘Jesus’,Fabiano Galbiatti, Jane Barros, Lizhi Chen, Luciano Barboza,Marcus Kollbrunner, Mauro Marques, Miguel Leme, RenataArnoldi, Vincent Kolo, Zelito Ferreira da Silvaé uma publicação da

Liberdade, Socialismo e Revolução

Telefone: (11) 3104-1152E-mail: [email protected]ítio: www.lsr-cit.orgCorreio: CP 02009 - CEP 01060970 - SP Assinatura: 10 edições: R$ 20 reais

(Envie cheque nominal p/Marcus WilliamRonny Kollbrunner à caixa postal)

O PSOL precisade uma

definição clarapara 2010Candidatura própria de

uma Frente de Esquerda combase nas lutas e com

um programa socialista!

Pra que serve um trabalhador?

No debate recente sobre a reduçãoda jornada de trabalho para 40 horassemanais, o ilustríssimo deputado fe-deral Nelson Marquezelli (PTB-SP)lançou o seguinte argumento devasta-dor contra a redução:

“Se você reduzir a carga horária, oque vai fazer o trabalhador? Eles di-zem: vai para casa ter lazer. Eu digo:vai para o boteco, beber álcool, vaipara o jogo. Não vai para a casa.Então, você veja bem, aí é que tá omal: ele gastar o tempo onde ele qui-ser, se nós podemos deixá-lo produ-zindo para a sociedade brasileira.”

Esse argumento tão bem articula-do, não é nada novo. Ele tem sidousado desde os tempos quando setrabalhava mais de 80 horas por se-mana.

Aliás, o mesmo deputado criticouo grupo móvel de fiscalização do go-

verno federal responsável por libertartrabalhadores da escravidão no país.Será que no fundo o que ele quermesmo é a volta da escravidão?

Isso sim que é aumento!

Qualquer notícia se espalha rapi-damente na era da internet. Mesmo asestranhas e inconcebíveis. A FolhaOnline/UOL é fonte de uma notíciaque está sendo reproduzida em deze-nas de sites de noticiários pelo paísinteiro sobre a greve dos trabalhado-res dos Correios. Eles dizem que exis-te um estudo da ECT, que diz que seas reivindicações dos trabalhadoresfossem atendidas, o custo total seriade cerca de R$ 54 bilhões por ano,quase cinco vezes mais que a receitaanual da estatal!!

Será que a ECT lançou mesmo umestudo desses? Onde ele pode ser en-contrado? Mas, com um pouco de re-

flexão, é possível verque o valor é absurdo.Significaria que cada tra-balhador dos Correios(são 109 mil) receberiamais de 40 mil reais pormês!! Mas, pensandobem... Por que não?Quando ganha o presidenteda ECT?

Trânsito,que trânsito?

Cansado de ficar preso notrânsito ou de esperar horas oônibus que quando chega estásuperlotado? A elite paulistanatem uma solução. Indo por ci-ma! Foi revelado que na regiãoda Vila Olímpia, na capital pau-lista, existem mais helipontos doque pontos de ônibus! Prático, não? Oúnico probleminha é pagar os cercade 500 reais por viagem. mande sua contribuição para [email protected]

Oposição ganha na SANEDSINTAEMAA Chapa 2 – Reno-

vação ganhou as eleições para aComissão Sindical da SANED(Companhia de Saneamento deDiadema) no dia 15 de setembro.Foi a chapa apoiada pela OposiçãoAlternativa do Sintaema (Sindicatodos Trabalhadores em Água, Es-goto e Meio Ambiente do Estadode São Paulo), ligado à Conlutas.

A Oposição Alternativa (Chapa2) tinha vencido as eleições geraisdo Sintaema na Saned e na Sabesp,mas a atual direção do Sintaemanão respeitou a vontade dos traba-lhadores, e com manobras e fraudesse apossou do aparato sindical. AOposição Alternativa entrou na jus-tiça para impugnar aquela eleição.

Uma luta imediata que tem queser travada é contra os planos daSabesp e da prefeitura de criaruma nova empresa, acabando coma Saned. O risco é que a Sabespacabe terceirizando o serviço,como tem sido o padrão da gestãoda Sabesp (do PSDB), a emprei-teiras, com redução da qualidadedo serviço e piores condições paraos trabalhadores. Até agora a di-reção da Sintaema não tem mobi-lizado contra isso.

Lutador eleito para a CIPA na P37PETROLEIROSDepois de muita

pressão por parte da chefia, incluindointimidação para que deixasse aplataforma e se transferisse a outrolocal, o companheiro Carlos Magnofoi eleito o cipeiro mais votado doseu grupo de trabalho dentro daP37, Plataforma da Petrobras loca-lizada na Bacia de Campos.

Sua vitória foi muito bem rece-bida pelos trabalhadores que co-memoraram como uma vitória de-les e da resistência.

Agora a luta vai ser garantirque o companheiro se mantenhadentro da plataforma e possa atuarcomo um fiscal dos trabalhadoresem relação à segurança e melhorescondições de trabalho. As chefiasjá começam a se organizar paraboicotar o trabalho dos cipeiroscombativos. Fazemos um chamadoaos companheiros da Frente Na-cional de Petroleiros para quesaiam em defesa do companheiroe da organização da CIPA na P37.

X Congresso dostrabalhadores daUnicampSTU Na última semana de no-

vembro ocorrerá o X Congressodo Sindicato dos Trabalhadoresda Unicamp (STU).

A intervenção no X Congressodo STU se faz importante tantopela necessidade de uma denúnciada direção (PCdoB e MNU) e dafalsa oposição do PT (que naúltima eleição fechou chapa coma Reitoria), que não constroemefetivamente a luta, quanto pelanecessidade de uma articulaçãodos lutadores que construa umareal alternativa de programa e lutapara a categoria.

Precisamos lutar pela propor-cionalidade na direção do Sindicatosem abrir mão da luta contra go-vernos e reitoria. Precisamos serlinha de frente da Campanha Sa-larial Unificada de 2010, cons-truindo uma sólida unidade entreos funcionários das estaduais pau-listas e as demais categorias.

movimento • 3Ofensiva Socialista n°02setembro/outubro - 2009

Desde o semestre passado areitoria da PUC de Campinasanunciou a unificação de doiscentros (Centro de CiênciasHumanas e Centro de CiênciasSociais Aplicadas) não apenasna nomenclatura, mas tambémna própria estrutura física. A di-reção do Centro prometeu umaestrutura adequada.Confiantes, os alunos acata-ram. Iniciam-se as aulas e osestudantes vêem-se num verda-deiro buraco.

Fabiano GalbiattiDiretor do DCE PUCCamp, gestão Contra a Corrente

Salas de aula pequenas, uma cantinacom apenas um restaurante que cobrapreços exorbitantes, xerox que nãodá conta da demanda e a falta detransporte interno que obriga os es-tudantes, funcionários e professoresa percorrerem uma enorme distânciaaté o ponto de ônibus. Some-se aisso a completa falta de democraciae uma burocracia grotesca. O resultadonão poderia ser outro: indignação.

Diante desse quadro, o DCE juntocom os CAs do Centro organizou aprimeira assembléia após dez anos.Ela deliberou, para o dia seguinte,uma mobilização. Foi com espantoque a reitoria e suas instâncias viram

uma passeata (com cerca de 150 es-tudantes) percorrer todo o Campus,entoando palavras de ordem e con-vidando todos para a luta. A passeataencerrou-se numa nova assembléiaque deliberou por paralisação.

No dia seguinte, o diretor doCentro foi rápido na reação e con-vocou uma reunião com aqueles queestavam à frente do movimento. Aintenção era clara, minar a paralisa-ção. Na terça feira da semana sub-seqüente, o mesmo diretor convocouuma nova reunião, agora com re-presentantes de entidades e de salasapresentando uma resposta às rei-

vindicações muito aquém do queera exigido. A única proposta con-creta apresentada foi um prazo dedez dias para que o transporte internocomeçasse a circular. Iniciou-se acontagem regressiva.

Temos clareza de que a via buro-crática não levará a nada, muito em-bora exista alguma ilusão em algunssetores. Ao término do prazo, estamosorganizando, por meio do DCE, As-sembléias em todos os Centros ecursos. Qual nossa intenção? Paralisaros três Campi da Universidade nodia 24 de setembro.

Reivindicando democracia interna,

com eleições paritárias (neste se-mestre haverá mudança de cargosadministrativos, inclusive reitoria),restaurante universitário, assistênciaestudantil para além de um Prounideficitário e redução das abusivasmensalidades, junto com as pautasespecíficas de cada centro. Os pro-blemas do CCHSA não são especí-ficos, refletem a realidade da PUCCenquanto totalidade imersa noutramais ampla e em crise, o capitalismo.

Os índices de inadimplência au-mentam e na esteira de uma lógicamercadológica esta Universidadevisa maximizar seus lucros. Novasvagas são abertas (vimos um inéditovestibular de inverno no curso deDireito), o Ensino a Distância é im-plementado, mas não existe políticapara a permanência dos alunos prou-nistas e não há nenhuma disposiçãopor parte da reitoria em resolverestes problemas.

A principal tarefa dos lutadores éconsolidar esse movimento, indi-cando as conclusões mais positivas,desvelando a mercantilização do en-sino e as contradições de um sistemaque precisa ser superado. Para isso,um Fórum Nacional de lutas queorganize e unifique o movimentoestudantil é a melhor saída para queos estudantes possam contribuir efe-tivamente na luta da classe traba-lhadora.

Professores e funcionários res-ponderam com uma semana degreve contra os novos ataquesdo governador do Rio deJaneiro, Sergio Cabral (PMDB).

Luciano BarbozaProfessor da rede

estadual – Nova Iguaçu

Cabral tentou aprovar na Assem-bléia Legislativa uma modificaçãopara pior no plano de carreira dostrabalhadores da educação do Riode Janeiro, reduzindo de 12% para7,5% o interstício entre os níveis.

Além disso, ao invés de incorporara gratificação chamada ‘programaNova Escola’ aos salários dos pro-fessores imediatamente - promessafeita desde sua campanha a gover-nador em 2006 e até agora não cum-prida - Cabral apresentou uma pro-posta de incorporação gradativa emseis anos. Isso significa dizer que aúltima parcela da incorporação serápaga pelo governador que vencer aseleições de 2014, um total absurdo.

Dez anos sem ajuste digno

O problema maior é que até láesse aumento será engolido pela in-flação e os professores precisam demelhores salários imediatamente.Há dez anos sem reajuste salarialdigno, a categoria teve perdas sala-riais de 60% por causa da inflação.

Uma das mentiras que mais re-

voltam os servidores é o argumentode que não há dinheiro suficientepara conceder reajustes decentes oumesmo melhorar esta proposta deincorporação. Estudo feito peloDIEESE aponta que o estado do RJé o segundo estado que proporcio-nalmente gasta menos com pessoal(23,68% da Receita Corrente Líquida,quando o limite é 49%), ou seja, ogoverno está investindo muito menosdo que pode na remuneração dosseus servidores e há espaço parareajustes dignos para todos os ser-vidores. A despesa com o pagamentoda ‘Nova Escola’ incorporado pelovalor máximo em uma única parcelasignificaria um impacto de 3,21%sobre a receita corrente liquida doEstado, portanto é mentira o argu-mento que falta dinheiro.

Houve intensa participação dos

profissionais da educação e de estu-dantes na passeata do dia 08/09 comcerca de 2 mil pessoas que foramaté as escadarias da Assembléia Le-gislativa. O ato sofreu com a re-pressão da tropa de choque da políciamilitar, que deu ordem de prisão aum professor, soltou bombas de gáslacrimogêneo, disparou sprays depimenta e balas de borracha. Onzepessoas ficaram feridas, entre elasdez professores e um repórter foto-gráfico.

Apesar da truculência da polícia,os educadores se mantiveram noAto até o final para garantir a ma-nutenção dos 12% entre os níveisdos planos de carreira e a incorpo-ração imediata da ‘Nova Escola’.Diante da pressão feita do lado defora da ALERJ, os deputados apro-varam a manutenção dos 12%, porém

a proposta de incorporação da ‘NovaEscola’ em seis anos foi mantida.“Cabral, a greve continua, a culpa ésua”, gritavam os professores apósa aprovação da lei.

A greve deveria ter sido mantida

Na assembléia da categoria do dia08/09, a continuidade da greve foiaprovada, porém na assembléia dodia 15/09 após novo ato na ALERJseguido de passeata, toda a atual di-reção do sindicato cometeu o graveerro de chamar o fim da greve antesmesmo que ela pudesse ganhar força,e sem que o governo tivesse acenadocom nada.

Havia muitas pessoas novas naassembléia que se incorporaram nagreve durante a semana, e que vota-ram a favor da manutenção da greve(isso poderia se multiplicar atravésde trabalho de base).

O secretário estadual de Planeja-mento Sérgio Ruy Barbosa, agendouuma audiência com o SEPE no dia05 de outubro. No dia da audiência,as escolas estaduais farão uma pa-ralisação de 24 horas, reivindicandoque Cabral atenda às reivindicaçõesda categoria de inclusão dos profis-sionais que trabalham em regimede 40 horas e dos funcionários ad-ministrativos no plano de carreira,e pela incorporação ainda neste man-dato da gratificação ‘Nova Escola’.Na mesma data haverá uma novaassembléia.

PUC Campinas

Mobilização dos estudantesenfrenta lógica mercantil

Importante mobilização na educação do Rio

Protesto dos estudantes da PUCC no dia 03 de setembro.

A luta do SEPE precisa continuar.

Desmatamento doCerrado é o dobrodo da AmazôniaMEIO AMBIENTE De acordo

com o monitoramento feito porsatélite entre os anos de 2002 e2008 pelo Ministério do MeioAmbiente, a área desmatada doCerrado brasileiro corresponde a20 mil km2 por ano - o dobro doregistrado na Amazônia.

É no Cerrado que se encontramas nascentes de importantes baciashidrográficas do país, como a doRio São Francisco, Araguaia-To-cantins e do Paraná-Paraguai, quepodem ficar com a oferta de águacomprometida em função do des-matamento.

O avanço do agronegócio foi oprincipal responsável pela devas-tação do bioma, que já perdeumais de 48% de sua vegetaçãooriginal (o equivalente a uma Ve-nezuela) e está sendo tomado peloavanço da cana-de-açúcar, algodão,soja, pecuária e pela produção decarvão.

Trabalho escravoem obra do PACEXPLORAÇÃO Fiscais do Mi-

nistério Público do Trabalho en-contraram 98 trabalhadores sobregime de escravidão em umaobra do PAC (Programa de Ace-leração do Crescimento) no sulde Goiás.

Os trabalhadores estavam en-volvidos na obra da usina hidre-létrica Salto do Rio Verdinho, queé de responsabilidade do grupoVotorantim e conta com financia-mento do BNDES (Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econô-mico e Social).

Contratados por “gatos” (alicia-dores de mão de obra escrava) osoperários vindos do Mato Grossoe de Minas Gerais faziam a limpezade uma área que será utilizadacomo reservatório da usina e nãorecebiam salários. Além disso, ostrabalhadores dormiam em barra-cos e não tinham banheiros à dis-posição.

O trabalho escravo ou semi-es-cravo ainda é comum também emcarvoarias do centro-oeste brasi-leiro e em canaviais da região su-deste.

Caos nos serviçosda TelefônicaCOMUNICAÇÕESO Procon de

São Paulo estabeleceu uma multaà empresa Telefônica que podechegar aos R$ 16 milhões. A pu-nição refere-se à falhas na presta-ção de serviços de telefonia fixae banda larga (Speedy), que tor-naram-se cada vez mais freqüen-tes.

De acordo com o Procon: "aTelefônica demonstra ter proble-mas estruturais graves que com-prometem sua capacidade de ga-rantir a continuidade dos serviços,inclusive o de telefonia fixa, queé essencial. Já é o quinto episódiosomente neste ano. Há um danoimenso à sociedade e um desres-peito ao contrato de concessão".

Em um de seus “apagões”, aTelefônica deixou fora do ar porvários minutos até mesmo telefonesde utilidade pública, como do cor-po de bombeiros, de hospitais eda polícia.

Esses problemas mostram comoa política de privatizações prejudicaa qualidade dos serviços.

4 • nacional

Na Maré está surgindo um no-vo movimento social, por quê?Nos últimos anos vem cres-

cendo o número de pessoas as-sassinadas por operações dapolícia na Maré. SegundoAlexandre Dias, morador e pro-fessor da Maré: “Os moradoresdas favelas não são considera-dos cidadãos pela polícia, esim cúmplices de atividadescriminosas, por isso a políciareprime esses moradores deforma tão violenta.”

Luciano BarbozaHistoriador e especialista em

política e planejamento urbano

Nos últimos anos vem também cres-cendo o número de projetos sociaisfeitos por ONGs nas favelas. A idéiacentral seria incluir e melhorar a vidados moradores. Estes projetos trazemem si o conceito de desenvolvimentolocal (das favelas) que enfatiza a ques-tão do empreendedorismo popular, ouseja, incentiva a união dos moradorespara desenvolver alternativas econô-micas através de cursos técnicos e doaumento da auto-estima da população

local. Porém, estes projetos não esti-mulam a conquista de empregos comcarteira de trabalho assinada, ou seja,não garantem os direitos trabalhistas.

Esta concepção culpabiliza os po-bres por sua condição financeira:“se o pobre não tem emprego é por-que não correu atrás, pois as ONGsdão as oportunidades”. Essa visãodescarta a compreensão das engre-nagens do capitalismo, pois o de-semprego no neoliberalismo é es-trutural, não há empregos para todos.Os que têm emprego aceitam receberpouco, pressionados pelo medo deficarem desempregados.

ONGs desarticulam omovimento

O desmonte de políticas sociaissubstituídas por políticas neoliberais,em parceria com ONGs, ajudarama desarticular os movimentos sociaisclassistas. Houve um crescimento efortalecimento do pólo associativodo Terceiro Setor, nada politizado,com compromissos genéricos sobreo combate à exclusão social, comdiscurso diluidor dos conflitos declasse, preocupado apenas com in-

clusão social em termos de integraçãosocial ao status quo vigente, semquestionar as bases do capitalismo.

As ONGs podem engajar alguns,mas a saída individual não respondeà necessidade de inclusão de todos.Projetos como o Afroreggae não po-dem incluir todos os moradores dasfavelas, transformando todos em mú-sicos, pois não há espaço para isso.

É necessário resgatar a atuaçãodos movimentos sociais classistasque produzem uma consciência socialcrítica combatendo o assistencialismoeleitoreiro. A luta deve ser uma lutaanticapitalista.

Resgatar a consciênciasocial crítica

Na Maré, fruto da articulação demilitantes moradores, profissionaisda saúde e da educação, estudantessecundaristas e universitários, estásurgindo um novo movimento socialclassista (Outubro ou nada) contra aviolência e o extermínio dos mora-dores das favelas e a favor do resgatede uma consciência social crítica. Omovimento tenta articular a luta dentroda favela da Maré e fora dela, através

da parceria com o coletivo ‘Constru-ção’ envolvendo estudantes da Uni-versidade Federal Fluminense (UFF).

Os militantes do ‘Outubro ou nada’participaram nos dias 7 e 8 de agostodo ‘Encontro Pela Vida e por OutraSegurança Pública’ no Rio de Janeiro,que formulou propostas de defesados direitos humanos para moradoresde favelas. O Encontro também apro-vou uma denúncia enfática contra apolítica de extermínio praticada pelapolícia do governador Sergio Cabrale contra a criminalização dos movi-mentos sociais.

‘Outubro ou nada’ agora fará umcurso de formação política no sobradoda Maré no mês de outubro, aberto atodos, que terá como tema: a sociedadecapitalista e as alternativas da classetrabalhadora. O curso será o lança-mento do movimento, que fará depoisuma série de atividades como atos,atividades culturais e debates.

O curso tem uma pasta de textospara leitura previa que será debatidaem plenária. Haverá também apre-sentação de vídeos como Ilha dasFlores e História das coisas, e nofinal haverá uma festa de encerra-mento com banda.

Com ofensivos anúncios pu-blicitários, o governo do estadode São Paulo, de José Serra(PSDB), veicula que vai cons-truir o maior parque linear domundo. A área, ao longo davárzea do rio Tietê, abrangeboa parte da zona Leste da ci-dade de São Paulo. Apoiado pe-la prefeitura da capital, deGilberto Kassab (DEM), o go-verno estadual revela que oprojeto faz parte da compensa-ção ambiental da duplicaçãodas marginais. A região é, contudo, habitada

por mais de 3,5 mil famílias, queo governo pretende desalojar pa-ra a construção do parque.

Clara Perin

Serra vai gastar R$ 12,5 milhõescom uma empresa para fazer o le-vantamento do número de famíliasque perderão seus imóveis. Tal verbajá daria para começar a indenizarparte dos moradores. Contudo, apreocupação com o direito à moradiacertamente não está nos planos cen-trais do governo.

Para se defenderem, os moradoresestão se mobilizando em assembléiaspor vilas e unificadas. Além disso,formaram uma Comissão para pres-sionar o poder público e para enca-minhar as suas reivindicações.

Os moradores da região exigemque o governo estadual garanta casaprópria para todos antes de qualqueroutra iniciativa em relação à cons-trução do parque. O Movimento deUrbanização e Legalização do Pan-tanal da Zona Leste (Mulp) e a TerraLivre - Campo e Cidade defendem

as reivindicações dos moradores epressionam o governo para garantircasa própria para cada uma das fa-mílias antes de desalojá-las.

Para Ronaldo Delfino, do Mulp edo Terra Livre - Campo e Cidade,somente a mobilização e organizaçãodos moradores poderá impedir quemuitos fiquem sem casa para morar.

Ronaldo revela que alguns parla-mentares do PT foram à região de-fender que as famílias aceitassem in-tegrar o Programa: “Minha casa, minhavida”, do governo federal. “Essa pro-posta significa, contudo, que os mo-radores terão que fazer financiamentopela CEF para pagar uma nova moradiaquando a responsabilidade pela perdade suas casas é do governo.”

Membros da Sub-Prefeitura deSão Miguel Paulista, também parteda zona Leste, propuseram à Co-missão de Moradores do JardimPantanal realizar, na comunidade,um “Feirão da Casa Própria”. Aproposta foi repudiada pela Co-

missão. “A nossa exigência é umacasa por outra casa”, enfatiza Ro-naldo. O movimento já conseguiuque uma Comissão de Parlamenta-res da Assembléia Legislativa fosseformada para acompanhar o pro-cesso.

Alguns integrantes da Comissãodos Moradores e do MULP estãorecebendo ameaças explícitas eoutras mais veladas por parte deassessores de parlamentares con-trários às propostas dos moradores.Segundo Ronaldo, essas ameaçascolocam em risco a vida dos inte-

grantes da Comissão de Moradores.As autoridades já foram acionadas,contudo, ainda não há nenhum pa-recer claro. Tais iniciativas estãosendo encaminhadas ao poder pú-blico por meio do gabinete do De-putado Estadual do PSOL, RaulMarcelo.

Parque de Serra deixa 3,5mil famílias desalojadasMovimento luta por moradia alternativa para todos

“Outubro ou nada” - novomovimento surge na Maré

Moradores são ameaçados

Direito à moradia não é a prioridade de Kassab e Serra.

nacional • 5Ofensiva Socialista n°02setembro/outubro - 2009

Curso superiorsem qualidadeEDUCAÇÃO De acordo com as

últimas avaliações do MEC (Mi-nistério da Educação), o ministériodecidiu cortar cerca de 2,5 mil vagasem cursos superiores de má quali-dade em várias instituições e proibiro vestibular em algumas outras.

Segundo o MEC, 36% das ins-tituições de ensino superior sãoinadequadas. Nessas estudam 737mil dos 4,8 milhões de universi-tários do país. Por exemplo, 1 emcada 4 engenheiros se formou emum curso ruim.

O que está acontecendo agora éreflexo das políticas educacionaisde FHC e Lula, que deixaram nasmãos dos donos de faculdades ocontrole sobre a expansão de vagase a qualidade oferecida nos cursossuperiores do país. Para eles, oque importa é apenas quantidade,e não qualidade.

Levante Culturade CampinasCULTURA No dia 09 de setem-

bro, o movimento Levante Culturade Campinas realizou um ato pú-blico contra o descaso com a políticade cultura na cidade. 70 pessoasparticiparam, debaixo de chuva.

A gota d’água que motivou amanifestação foi o não cumpri-mento do pagamento dos projetoscontemplados pela verba municipaldo Fundo de Incentivo à Culturade Campinas (FICC).

O diretor de cultura ViniciusGratti se recusou a ouvir o mani-festo e deu as costas para os ma-nifestantes. Mesmo assim a ma-nifestação foi vitoriosa. Foi ga-rantido o pagamento de uma par-cela do FICC. A manifestação deutambém a visibilidade pública daindignação dos artistas, que sen-tiram na pele a necessidade de searticular para encaminhar suas rei-vindicações.

Simpósio em Nataldiscute criseDEBATE Nos próximos dias 21,

22 e 23 de outubro de 2009, acon-tecerá em Natal, no CCHLA, daUniversidade Federal do Rio Gran-de do Norte, o Simpósio Nacional“Crise Econômica Global: origens,causas e desdobramentos”. O even-to é coordenado pelo professorda UFRN Robério Paulino, tam-bém militante da LSR.

O encontro, no entanto, não sedestina apenas ao público univer-sitário. Vários sindicatos de tra-balhadores do estado estão apoian-do e participarão do evento, queenvolverá também o público se-cundarista do IFRN.

Para o simpósio estão convida-dos e participarão economistas,historiadores, cientistas sociais eoutros profissionais do país. Entreos expositores confirmados estãoOsvaldo Coggiola, da USP, Rei-naldo Gonçalves, da UFRJ e Plíniode Arruda Sampaio Jr., da Uni-camp, além de diversos especia-listas da UFRN e da UFCG.

Para o encontro, além do públicoacadêmico, estão convidados tam-bém sindicalistas e militantes li-gados ao PSOL, bem como aoGAS, Grupo de Ação Socialista,que rompeu recentemente com oPSTU. O simpósio poderá propiciara constituição de um novo núcleode pensamento social crítico noNordeste, aglutinando intelectuaisengajados e movimentos sociais.

Passados 32 meses do iníciodo governo, os tucanos do RioGrande do Sul jamais poderiamimaginar que chegariam a essasituação.

Mauro MarquesSão Leopoldo - RS

Yeda surgiu como a alternativa bur-guesa moralizadora e para fazer oajuste fiscal num estado historicamentedeficitário. Acontece que a jornadapelo déficit zero da governadora es-barrou em vários obstáculos: o caloteàs demandas sociais, não cumprindopreceitos constitucionais como 35%do orçamento para educação e 10%para a saúde, e a quebra de cerca de500 milhões de reais na arrecadação.

Mas certamente o pior golpe paraYeda e seus seguidores é político: aincapacidade de formar uma equipede governo, a qual foi quase totalmentesubstituída nestes últimos meses, alémdas recentes denúncias de corrupçãoe favorecimentos que acabam de vezcom a estabilidade e a própria capa-cidade de governar de Yeda.

Manchetes em todo o país denun-ciam irregularidade na compra da casada governadora, esquemas no Depar-tamento Estadual de Trânsito (Detran),os quais envolvem vários quadros dapolítica do estado e inúmeras gravaçõesque comprovam irregularidades nasarrecadações da campanha.

Protegida pelo sigilo judicial – ab-surdo por se tratar de uma figura pú-blica – a governadora ainda resiste,apesar dos tramites de impeachmentna Assembléia Legislativa, da CPIrecém iniciada e da orientação do

Ministério Público Federal (MPF)no sentido do afastamento da gover-nadora pelas diversas suspeitas quepairam sobre ela.

A ação do MPF contém 207 páginasdedicadas a Yeda Crusius. O MPFafirma que Yeda, assim como os ou-tros oito réus, participou da fraudeno Detran, recebeu propina e ajudouna manutenção do esquema.

Lair Ferst, integrante da coordenaçãoda campanha tucana em 2006, pro-curou o MPF no início deste ano paraprestar depoimento e apontou o en-volvimento dos nove demandados nafraude. Lair entregou gravações deconversas suas com o ex-assessor deYeda, Marcelo Cavalcante, morto emfevereiro, em situação ainda nebulosa.

Com base numa das gravações feitaspor Lair, o MPF ressalta que FlavioVaz Netto, ex-presidente do Detran,teria dito que houve um “acordão”para a governadora receber 170 milpor mês do esquema de corrupção.

Empurra que ela cai

Os movimentos sociais, juventudee sindicatos combativos do RS vêmdenunciando e fazendo muito barulhoem frente ao Palácio Piratini, sededo governo.

Neida Oliveira, que é vice-presi-dente do CPERS (sindicato dos pro-fessores estaduais), dirigente da Con-lutas e do PSOL, relata:

“A situação da governadora nãochegaria à beira do caos se não fossea força do CPERS junto com o Fórumdos Servidores Públicos. As denúnciasde corrupção e a situação de calami-dade que vivem os serviços públicos

do Estado tomaram impulso e ga-nharam as ruas a partir destas entidadese só então os trabalhadores começarama entender claramente o papel nefastoque cumpre este governo.

“Nestes mais de sete meses, os es-tudantes, secundaristas e universitá-rios, e os movimentos sociais, comoMTD, Via Campesina e muitos outros,juntaram-se aos trabalhadores dosetor público e às centrais sindicaispara derrotar Yeda e sua gangue”.

O PSOL também esteve presenteno processo de denúncias contra agovernadora com destaque na mídia:

“As graves denúncias de corrupção,apresentadas pelo PSOL em fevereiro,abalaram seriamente as estruturaspolíticas gauchas, repercutindo emtodo o país. Porém, foi com a forçados movimentos que foi possível fra-gilizar o governo ao ponto de não termais nenhuma condição de promoveras mudanças reacionárias que pre-tendia nos Quadros de Carreira dos

servidores, especialmente dos pro-fessores”, complementa Neida.

Neida nos lembra ainda que:“Esta luta ainda não terminou. Ape-

sar do Ministério Público Federal teracusado a governadora de chefiaruma "quadrilha" no Estado, a bur-guesia continua apoiando Yeda e agrande mídia, monopolizada aqui noRS pela RBS, afiliada da Globo, per-manece blindando o governo e ten-tando abafar todos os escândalos.Iniciou-se agora uma CPI no parla-mento. Atrasada e que, nesta con-juntura, favorece o governo, pois, asprovas apresentadas à justiça peloMPF são mais do que suficientespara o impeachment da governadora.

“Por outro lado, foi criado um Co-mitê Estadual pelo Fora Yeda, queterá o papel de ampliar as mobiliza-ções, pois, até agora, apesar do grandeapoio da população, as manifestaçõesnão conseguiram levar às ruas o con-junto dos trabalhadores.”

A gripe suína coloca na ordemdo dia uma antiga questão: Ossistemas de saúde do mundoestão preparados para lidarcom as antigas e novas doen-ças que matam trabalhadoratodos os dias?

Renata Arnold Servidora Publica da Saúde RJ

A saúde tem sofrido vários ataquesdos governos neoliberais. Em temposde crise a situação de precarizaçãofica ainda mais evidente.

Segundo dados do Ministério daSaúde a gripe suína já tinha matado557 pessoa em território nacionalno final de agosto. No fim de julhoeste número era de 56 mortes.

Este aumento está relacionado àincapacidade estrutural do SUS deresponder à demanda, uma vez quequando se diagnóstica rapidamenteo tratamento se mostrou eficaz.

Todo Sistema Único de Saúde(SUS) sofre diretamente com o pro-cesso de mercantilização através dosplanos de saúde, que fazem um corteclaro de classe na hora em que oacesso faz a diferença entre a vida ea morte. Muitas empresas que pres-tam serviço de saúde partem agorapara a classe trabalhadora como pú-

blico-alvo, com planos financeira-mente mais acessíveis, mas comqualidade inferior, potencializandoo sucateamento do serviço público.Este, ainda sofre com a privatização,como as parcerias público-privadas,as fundações, a terceirização de tra-balhadores e as Organizações So-ciais.

Um SUS sucateado

Os trabalhadores do SUS quelidam com os casos de gripe suína,muitas vezes, não estão protegidospor falta de materiais como máscarasapropriadas e álcool-gel.

Os hospitais se deparam com faltade áreas de isolamento apropriadas,equipamentos de proteção, leitos emunidades de tratamento intensivo esofrem com uma enorme burocraciapara ter acesso ao medicamento uti-lizado, o Tamiflu, produzido pelaRoche, que lucrou 3,8 bilhões dedólares no primeiro semestre.

Antes dos primeiros casos no Bra-sil, a vigilância sanitária recolheutodos os lotes das drogarias e houvegarantia de um estoque suficientepara lidar com a doença. No entanto,nos casos menos graves, os traba-lhadores enfrentam longas filas emuitos não conseguem fazer o tra-

tamento, o que levar a um agrava-mento desnecessário da doença. Issoabriu espaço para um mercado negrona internet, aonde uma caixa comtratamento para cinco dias chega acustar R$ 250.

O direito a saúde mais uma vez

nos é negado em um processo hu-milhante. Não é de hoje, não somentenas pandemias, que a classe traba-lhadora vem sofrendo duramentepelo descaso com saúde no Brasil.As antigas doenças já controladasem alguns países ainda nos atingem,como a tuberculose, que mata noBrasil seis mil pessoas ao ano. Éhora de dizer chega! Precisamos nosorganizar para lutar pelos nossos di-reito à saúde e à vida!

P Pelo aumento de verbaspara a saúde, comcompleta transparênciafinanceira! Pela garantia deestrutura e financiamentopara o tratamento da gripesuína!

P Por um SUS sob gestãodemocrática dostrabalhadores!

P Pela reformas das unidadesde saúde, desde unidadesbásicas a hospitais!

P Pela contratação imediatade profissionais suficientespara lidar com a demandade usuários!

P Garantia de condições desegurança aostrabalhadores do SUS!

Novas pandemias,antigas questões

O governo da crise sem fim no Rio Grande do Sul

Fora Yeda! Impeachment já!

Érico Correa (Sindicaixa) e Neida Oliveira (CPERS) em Ato contra Yeda.

Direito à saúde: uma questão de classe.

6 • especial: nova central Ofensiva Socialista n°02setembro/outubro - 2009

No I Seminário Nacional sobreReorganização Sindical ePopular, realizado em abril des-se ano, foi aprovada a criaçãoda Comissão para aReorganização, com a tarefa ár-dua de aprofundar o debate so-bre os pontos divergentes refe-rentes à construção de umaNova Central.De lá para cá, foram feitas vá-

rias reuniões e a polêmica fun-damental tem sido sobre a na-tureza da Nova Central. Nessedebate, nós da LSR juntamentecom os companheiros do Blocode Resistência Socialista(BRS), temos apresentado umposicionamento favorável àconstrução de uma NovaCentral com um caráter sindicale popular.

Miguel Leme FerreiraDiretor da Apeoesp pela

Oposição Alternativa

Do nosso ponto de vista, é funda-mental que a Nova Central possa seruma ferramenta que consiga unirconcretamente os trabalhadores dacidade e do campo, a juventude e to-dos os movimentos sociais para der-rotar os ataques dos latifundiários,patrões e governos neoliberais, comoé o caso do governo Lula.

Além desse importante aspecto,entendemos que a Nova Central deveser organizada pela base e construídade forma autônoma e independente,política e financeiramente, de patrões,governos e partidos políticos; com amais ampla democracia interna e suadireção controlada pela base; e quetenha em seu programa uma plata-forma de transformação socialistada nossa sociedade e do mundo.

Para isso, é necessário realizarmosum balanço das experiências dascentrais sindicais no Brasil. Um dosgrandes problemas das centrais sin-dicais tem sido a perda da estratégiasocialista de transformação da so-ciedade por lutas meramente corpo-rativas ou a simples disputa pelocontrole de mais aparelhos sindicais.

Em muitas categorias, há até repulsapor parte dos trabalhadores em realizarações e campanhas unificadas comsem-tetos, sem-terras e estudantes.

Não há uma consciência sobre anecessidade de uma luta unificada.Entendemos que as direções dos sin-dicatos e das centrais sindicais jogamum papel fundamental para que ostrabalhadores tenham esse tipo deconsciência, mas é inegável que aestrutura sindical brasileira corpora-tiva contribuiu muito para isso.

Para que isso não ocorra, é neces-sário pensar outro modelo de Centralque, além dos sindicalizados, incor-pore também os trabalhadores pre-carizados, os desempregados, os es-tudantes e diversos movimentos so-ciais como os que lutam por terra emoradia.

A defesa de uma Nova Centralcom natureza sindical e popular nãosignifica qualquer tipo de concessãoà visão muito difundida a partir dosanos 90 de perda do protagonismorevolucionário da classe operária.

Apesar de reconhecermos que hou-ve muitas mudanças importantes naclasse que vive do trabalho, enten-demos que a classe operária é aclasse fundamental para o processode transformação socialista da so-ciedade.

A centralidade da classe operária

Muitos questionam a participaçãodos estudantes na Nova Central porser um movimento policlassista. Éverdade que um movimento de estu-dantes, mas também de mulheres ouLGBTT, ao contrário dos sindicatos,podem organizar também setores quenão vem diretamente da classe tra-balhadora. Mas, isso não nos impedede atuar e construir esses movimentoscom uma perspectiva classista e deunidade com os trabalhadores. Aliás,essa é nossa obrigação.

A participação desses movimentosna Nova Central é uma forma deajudar a construir um movimento deestudantes, mulheres ou LGBTT daclasse trabalhadora. Somente pode-riam se juntar à Nova Central movi-mentos que têm uma orientação clas-sista.

Caso haja alguma preocupação,em relação a uma possível distorçãona representação de algum dessessetores, a experiência concreta daConlutas pode ser bastante útil.

A Conlutas em seu I Congresso,realizado em junho de 2008, aprovouresolução que limita em 10% a par-ticipação dos estudantes em suas ins-tâncias. Apesar desta limitação, aparticipação dos estudantes na enti-dade tem sido inferior a 10%.

É possível, portanto, a definiçãode limites de representação para es-tudantes e os demais movimentossociais na Nova Central.

Uma Central do mundo do tra-balho excluirá, na prática, a par-ticipação do movimento Terra Li-vre, MTST e de possíveis rupturasdo MST.

Nas reuniões da Comissão para aReorganização ficou evidente que

não há uma definição unificada doque seja Central do Mundo do Tra-balho defendida por parte dos mili-tantes da Intersindical. Para alguns,esta concepção engloba a participaçãodos movimentos populares, para ou-tros não.

Alguns admitem a possibilidadede existência de alguns mecanismosde participação dos movimentos po-pulares numa Central do Mundo doTrabalho. Mas, o que significa isso?O movimento popular terá direitoapenas a um departamento na NovaCentral.

Mas, será que movimentos comoo MTST, o movimento Terra Livre,que organiza na cidade e no campoe mesmo na hipótese de uma movi-mentação de setores do MST na di-reção da nova Central, será que essessetores aceitariam uma posição su-balterna ou utilitária na Nova Central?Acreditamos que não. Esta concepção,na prática, inviabiliza a participaçãodestes importantes movimentos daclasse trabalhadora brasileira.

O Fórum Nacional deMobilização e a construção

da Nova Central

Nenhum ativista do movimento écontra, em tese, a criação de um Fó-rum Nacional que unifique os luta-dores de todos os movimentos sociaiscontra os ataques de patrões e go-vernos.

Um Fórum Nacional de Mobiliza-ção poderia ser formado para unificarsetores que hoje se recusam a parti-cipar da formação da Nova Central.Mas, a tarefa imediata e hierarqui-camente superior neste momento é aformação da Nova Central. O esforçocentral tem que ser em relação aesse objetivo. Com ela formada po-deremos discutir propostas para osoutros setores.

Se a proposta de criação deste Fó-rum é apresentada em contraposiçãoà criação urgente de uma Centralcom caráter Sindical e Popular, comoé o caso, ela é um equívoco.

Congresso Nacional doPSOL: definição sindical

precipitada

O II Congresso Nacional do PSOL,realizado em agosto deste ano, apro-vou por maioria a resolução sindicalque definiu o apoio do partido àconstrução de uma “Central Sindicaldo Mundo do Trabalho”.

A reafirmação do apoio do PSOLà formação de uma Nova Central épositivo. Mas, a definição sobre anatureza dessa Centra, (central sin-dical do mundo do trabalho, segundoo texto da resolução) foi um erro.

Nós da LSR, junto com os demaissetores do BRS, apresentamos umaresolução que colocava que o partidonão tinha condições políticas de de-finir sua visão sobre o caráter daNova Central naquele momento emvirtude da falta de acúmulo interno.A partir desta avaliação, propusemosa realização de uma Conferência Sin-dical Nacional, precedida de um am-plo debate na base, para que o partidopudesse definir sua posição.

Hegemonismo partidáriona Nova Central

Nos debates sobre a Nova Central,outra preocupação levantada por di-versos militantes foi de que esta novaferramenta não pode ser controladahegemonicamente por uma únicacorrente ou partido político.

Essa preocupação é relevante, prin-cipalmente após o balanço da CentralÚnica dos Trabalhadores (CUT). ACUT desde a sua fundação foi e édirigida pela corrente Articulação,

que sempre foi a corrente majoritáriado PT e, com mo governo Lula, aca-bou se transformando numa correiade transmissão dos interesses do go-verno dentro do movimento sindi-cal.

A partir desse balanço da CUT,gostaríamos de partilhar com os mi-litantes que estão no processo deconstrução da Nova Central uma daspropostas que defendemos no I Con-gresso da Conlutas realizado em2008.

Neste Congresso, apresentamosuma resolução que estabelecia quenenhuma corrente ou partido político,mesmo tendo maioria na Nova Cen-tral, poderia ter o controle de maisde 50% de sua Direção Nacional.

Entendemos que esta preocupaçãotambém deva existir entre todos ossetores que estão construindo estaNova Central e querem que ela tenhainfluência de massas. É fundamentalchegarmos a um consenso em relaçãoa esse critério político e que eleesteja garantido no estatuto da NovaCentral.

Essa medida é importante para in-corporar mais e mais setores queainda não fazem parte desse processoou mesmo convencer aqueles queainda receiam formar uma NovaCentral em virtude do balanço daCUT.

Em virtude disso, devemos deixarbastante explícito que na Nova Centralhaverá a mais ampla democracia in-terna.

O debate sobre a natureza e aausência de um ascenso das lutasnão podem ser impeditivos paraa formação da Nova Central.

Para fazer frente à conjuntura atualde crise econômica e de dificuldadesde mobilização do conjunto dos tra-balhadores é necessário o máximode unidade dos trabalhadores da ci-dade e do campo, da juventude e deoutros movimentos sociais.

Alguns setores, ao contrário, têmdefendido que este não é o melhormomento para construirmos umaNova Central, pois não há um ascensogeneralizado das lutas.

Discordamos dessa visão, poismesmo não existindo esse ascenso,é fundamental para classe trabalha-dora brasileira ter uma ferramentade luta para a resistência imediata epara situações novas que poderão seabrir no país.

Não está descartado que num pe-ríodo não muito distante estejamosvivendo um processo de retomadageneralizada das lutas em decorrênciadas conseqüências da crise econômicaatual em meio a mudanças abruptasno processo de tomada de consciênciados trabalhadores.

Se a classe trabalhadora não tiverconstruído suas novas ferramentas,oportunidades até revolucionáriaspoderão ser desperdiçadas.

Mas, diante de todo esse debate,entendemos que, em hipótese alguma,a definição do caráter da Nova Centralou as disputas por hegemonia destaferramenta possam ser utilizadascomo obstáculos para a unidade.

A construção da unidade se con-cretiza através da experiência comum,do debate franco e da tolerância coma diferença, o que não impede quetodas as correntes e setores possamdefender de forma democrática, mes-mo sendo minorias, as suas concep-ções dentro da Nova Central.

Avançar na construção de umaCentral Sindical e Popular

Conlutas e Intersindical juntos na luta.

Plínio de Arruda Sampaio no seminário nacional de abril desse ano.

especial: PSOL • 7Ofensiva Socialista n°02setembro/outubro - 2009

O ‘Ofensiva Socialista’ entrevis-tou ANDRÉ FERRARI, membroda direção da LSR e do DiretórioNacional do PSOL, sobre o ba-lanço do II Congresso do parti-do e as perspectivas para a es-querda socialista no Brasil.

O nome da Tese do Bloco deResistência Socialista para o II Congresso falava em “colocar o socialismo na ordem do dia e o partido à altura do momento histórico”. O Congresso avançou nessa direção?

Infelizmente não. O II Congressoabriu uma nova fase no partido, aindamuito incerta quanto ao seu futuro.O Congresso foi marcado pela rupturaentre as correntes que compunhamo campo majoritário surgido no ICongresso. A APS dirige um campojunto com Enlace e CSOL. Do outrolado, o MES encabeça um campocom o PP/MTL, além da própria He-loísa Helena.

Essa ruptura não se deu sobre basespolíticas claras e um debate apro-fundado sobre estratégia ou concepçãode partido. Isso torna o partido maisfrágil e volátil.

Não achamos que esta nova fasedo PSOL seja melhor que as ante-riores. Na verdade, o partido viveuma situação extremamente delicadae o projeto original do PSOL estáem sério risco.

Como dissemos na defesa de Teseem plenário, nunca a situação políticaexigiu tanto como agora uma esquerdasocialista conseqüente para responderà maior crise capitalista desde osanos 30. Ao mesmo tempo, nuncaantes o PSOL viveu momentos detanta incerteza.

Fundamos o PSOL para intervirem situações como as de hoje. Oneoliberalismo faliu, há muita con-fusão do lado de lá, do lado da bur-guesia e do imperialismo. Há umaânsia por alternativas do lado danossa classe, da juventude, etc.

Mas, a falta de uma alternativa so-cialista clara pode abrir espaço paramuita confusão na consciência de se-tores de massas. Vemos isso nas ilu-sões de que a crise e os ataques jápassaram e nas ilusões em Lula, maspodemos ver também em situaçõesainda piores. A retomada da extremadireita racista na Europa e o golpeem Honduras são exemplos disso.

A crise não vai fazer o trabalhoque deve ser feito pelo movimentodos trabalhadores e uma esquerdaforte, organizada e com um projetoclaro. Sem isso, o cenário pode ficarainda mais dramático.

Ao invés de se preparar para cons-truir respostas à altura desses desafios,as correntes majoritárias colocaramo PSOL no momento de maior crisedesde sua fundação. O que tivemosfoi um Congresso de crise. Ameaçasde ruptura no ar, pouco debate emuita disputa na cúpula.

Não houve deliberação política defundo no Congresso. Praticamentenada foi decidido sobre 2010. Can-didatura presidencial, plataforma pro-gramática, política de alianças, perfilde campanha, relação com os movi-mentos sociais, diferenciação em re-lação a falsas alternativas como Ma-rina Silva, tudo isso foi empurradocom a barriga para ver se conseguemalgum acordo numa ConferênciaEleitoral em outubro.

Então o balanço é de quehouve mais um retrocesso no partido?

Havia uma possibilidade bastanteconcreta de que o Congresso pro-movesse um retrocesso político, pro-gramático e organizativo profundo.Basta olhar a dinâmica do últimoperíodo, a ênfase despolitizada naquestão da corrupção, a forma comosetores do partido defendiam o in-gresso do delegado Protógenes (hojeum governista assumido filiado aoPCdoB), as alianças com partidosburgueses e governistas feitas em2008, o dinheiro da Gerdau na cam-panha de Porto Alegre, etc.

Se olhamos tudo isso, podíamossim desconfiar que esse Congressolegitimaria todas essas políticas, oque significaria um retrocesso qua-litativo em relação ao projeto funda-cional do partido.

Para começar é bom lembrar quefoi um Congresso inchado na base,pois os critérios de participação nãoexigiam nada além de preencher umaficha dentro do prazo. Mas, foi ex-tremamente restrito na cúpula, como funil dos Congressos estaduais eum número de delegados ao Con-gresso nacional que era menos dametade do que vimos no I Congresso.Com esse grau de descaracterizaçãoda militância partidária era possívelesperar-se qualquer coisa.

Mas, um retrocesso político maiorfoi evitado, em primeiro lugar, porquea crise internacional do capitalismoteve impacto sobre o partido. Porexemplo, setores que antes erammuito refratários em assumir ban-deiras como a suspensão do paga-mento da dívida ou a estatização desetores da economia passaram a as-sumir essas bandeiras.

A divisão no antigo campo majo-ritário também criou uma situaçãoem que ambos os lados, ironicamente,reivindicam estar na esquerda do par-tido. Uma parte do campo majoritário(a APS, por exemplo) passou a enfa-tizar mais a questão da crise para secontrapor à outra que falava mais notema da corrupção. Passou tambéma criticar o financiamento de campa-nha por empresas, sendo que antesnão levantava nenhum questionamentosério em relação a isso.

Já o outro lado (o MES, por exem-plo) passou a adotar uma retórica deque são os legítimos continuadoresdos ‘radicais’ que fundaram o partidoenquanto os outros ainda mantêmalgo do velho ‘petismo’.

Ambos os lados, em nosso entender,são responsáveis politicamente pelasituação a que o partido chegou, suascrises e incertezas, e têm que res-ponder por isso.

Nós continuamos a defender no IICongresso, a necessidade de construiruma forte ala esquerda, classista, de-mocrática e socialista no partido.Defendemos a formação de uma cha-pa de esquerda envolvendo o Blocode Resistência Socialista, onde atua-mos, junto com correntes como aCST e o CSOL, militantes indepen-dentes e coletivos regionais.

Infelizmente, um desses setorescom quem construímos uma chapade esquerda no I Congresso, o CSOL,foi ganho para a idéia de que o maisimportante no Congresso seria der-rotar o MES e seus aliados. Acabaramformando uma chapa junto com aAPS e o Enlace.

Nós achamos que foi um erro. Pri-meiro porque as diferenças políticasque tínhamos, todos os setores mais àesquerda do PSOL, com a APS nãodeixaram de existir. Por exemplo, odebate sobre a questão do programademocrático e popular não se limita aconseguir um acordo nas palavras deordem para a conjuntura. É uma dis-cussão de fundo que repercute naforma como eles encaram a disputainstitucional e o balanço que fazem da

experiência do PT. Além disso, achamosque a APS é tão responsável quanto oMES pelo balanço do último período.

Mas, além de tudo isso, entendemosque a tarefa central no Congresso eramostrar para militantes e apoiadoresdo PSOL no Brasil inteiro que háuma esquerda conseqüente no interiordo partido com base e força para avan-çar. Sem isso, a decepção e falta deperspectivas pode levar à perda deum setor importante de ativistas e nãoteremos as bases de uma alternativaquando a nova maioria mostrar algunsdos mesmos problemas da anterior.

Mesmo assim, entendemos que aintervenção do Bloco de ResistênciaSocialista foi muito positiva, atraiusetores, provocou a discussão e man-teve um fio de continuidade da lutapor uma ala esquerda revolucionáriaconseqüente no PSOL. Acabamosformando uma chapa, junto com aCST, que, embora minoritária, re-presenta uma referência importante.

O que vocês acham dessa visão que divide o partido entre os que estão a favor ou contra Heloísa Helena?

Bem, achamos que não é uma ava-liação séria. É parte de uma disputainterna despolitizada. Mesmo comdiferenças políticas que tenhamos nodebate interno, Heloísa é um patri-mônio construído pela esquerda nessepaís. Ela jogou, joga e jogará umpapel fundamental no PSOL. Nós in-clusive defendemos que ela fosse de-finida como candidata do partido ede uma Frente de Esquerda à presi-dência em 2010. Achamos que nãose justifica a política de apresentá-lacomo candidata ao senado por Alagoas.

Mas, para nós o fundamental é adefinição do programa, do perfil po-lítico, da política de alianças e dastáticas eleitorais e sua relação comas lutas dos trabalhadores. Somentecom essas definições políticas umacandidatura do PSOL pode fazeravançar a luta socialista no Brasil.Se Heloísa não for candidata, é ne-cessário apresentar outro nome. Hánomes já sendo colocados sobre amesa. O partido precisa de candida-tura própria em 2010 e precisa deuma definição rápida.

Apresentar as disputas internascomo uma disputa entre os que estãocom Heloísa e os que estão contraela só confunde as coisas e enfraqueceo partido. Da mesma forma que apre-sentar o debate como sendo entre osque estão a favor ou contra o MES,concentrando nessa corrente todosos males do partido, como foi feitopelos setores da APS e Enlace coma adesão posterior do CSOL.

Qual a avaliação da LSR sobre a resolução sindicalaprovada?

A resolução sobre a reorganizaçãosindical reafirmou o apoio do partidoà formação de uma nova central, oque é muito positivo. É bom lembrarque esse tema era polêmico no ICongresso e muitos no partido secolocaram contra essa política queacabou sendo aprovada indicativa-

mente no Congresso e referendadana Conferência Eleitoral de 2008.

Mas, também achamos que a re-solução refletiu uma intransigênciapor parte da maioria das correntesdo partido ao querer tomar posiçãonessa resolução, sem debate e emmeio a um Congresso de crise, sobreo tema da natureza e o caráter danova central.

Na prática, a resolução aponta quea nova central não deve incorporarno seu interior parte importante dosmovimentos sociais. Nós, que atua-mos na Conlutas, defendemos umacentral sindical e popular com parti-cipação até do movimento estudantilcom orientação classista. Mas, noCongresso, defendíamos que era me-lhor aprovar uma resolução que rea-firmasse claramente a necessidadeda nova central e remetesse a dis-cussão sobre o caráter e naturezadessa nova organização a um debatemais profundo posteriormente.

Isso acabou não sendo aceito. Nemmesmo um acordo na formulação dotexto foi aceito. Como o texto da re-solução sequer mencionava que setoresdo partido defendiam uma concepçãode central sindical e popular, tivemosque apresentar outra proposta de re-solução para reafirmar nossa posição.Isso se deu apenas em razão da in-transigência dos demais setores.

Quais as perspectivas para o PSOL?

O PSOL é parte importante da re-composição da esquerda brasileira.Seu fortalecimento como partido deluta, enraizado nos movimentos so-ciais e com um claro projeto socialistaé uma necessidade. É por isso quelutamos. Nesse momento, grandeparte do futuro do partido estarásendo jogada na Conferência Eleitorala se realizar ainda esse ano. Mesmose Heloísa não for candidata à presi-dência, o partido pode jogar um papelimportante no acúmulo de forçaspara o próximo período.

O PSOL tem que se preparar desdejá para ser a direção de um grandemovimento de massas que pode surgirno contexto de crise capitalista, ata-ques sobre os trabalhadores e umgoverno eleito em 2010 que serámuito mais frágil do que o governoLula hoje. Mas, para isso, terá queter a coragem, ousadia e clareza po-lítica que, infelizmente, faltou noseu II Congresso.

II Congresso do PSOL

Faltaram as respostas queos trabalhadores precisam

André Ferrari e Neida Oliveiradefendendo a tese do BRS.

Cerca de 500 pessoasacompanharam o congresso.

Heloísa Helena falando nocongresso.

Muitos debates centraisacabaram não sendo feitos.

8 • nacional Ofensiva Socialista n°02setembro/outubro - 2009

Com um atraso de sete anos,Lula prometeu editar uma me-dida provisória atualizando osíndices de produtividade da ter-ra utilizados como critério paraa reforma agrária. Trata-se deuma das bandeiras históricasde luta dos movimentos cam-poneses. A direita e o agrone-gócio se levantam das trevascontra a publicação da portariae atacam o movimento.

Zelito Ferreira da SilvaTerra Livre – Cidade e Campo

Em audiência com o MST, Luladisse que criaria uma portaria paraalterar os índices de produtividadeda terra. Com isso, busca comprometero movimento com sua política paraas eleições de 2010. Isso, porém, foio suficiente para que as elites repre-sentantes dos ruralistas no CongressoNacional, como a senadora KátiaAbreu (DEM-TO), presidente da CNA(Confederação Nacional da Agricul-tura), e o deputado Ronaldo Caiado(DEM-GO), enquadrassem o Ministroda Agricultura, Reinhold Stephanes,que declara abertamente ser contra aportaria e que não a assinará.

Imprensa burguesaatacando o movimento

A direita reacionária logo tratoude articular a imprensa burguesapara fazer campanha contra a medidae os movimentos de sem-terra. Arevista Veja publicou uma ediçãoespecial dando linha e argumentação,atacando o MST com noticias re-quentadas. A TV Bandeirantes ficoupor uma semana fazendo editoriaisem todos os telejornais e continuama campanha para criminalizar osmovimentos sociais.

O assassinato do militante do MSTem São Gabriel (RS) pela BrigadaMilitar num contexto em de umasimples desocupação em que as fa-mílias já estavam saindo pacifica-mente, é uma demonstração da açãocombinada de repressão e crimina-lização dos movimentos sociais, comobjetivo de desmoralizar os movi-mentos.

Isso conta com a conivência dogoverno Lula que só acena, masnão toma medidas de verdade emprol da reforma agrária, nem para

mandar prender os assassinos e man-dante dos crimes contra os traba-lhadores camponeses.

Os índices de produtividade sãoos instrumentos legais utilizados peloIncra (Instituto Nacional de Coloni-zação e Reforma Agrária) para fazera aferição do grau de utilidade e deeficiência na exploração da terra.

Após uma vistoria constatandoque a propriedade não está cumprindoa função social, a terra pode ser de-sapropriada, com indenização pormeio de títulos da dívida agrária.

Última atualização em 1975

A última vez em que os índicesforam atualizados foi no ano de1975. Neste período de mais detrinta anos, ocorreu uma revoluçãocientífica e tecnológica no campo.O crescimento da produtividade mé-dia foi de 3,68% por ano no períodode 1975 a 2000. De 2000 a 2006 ocrescimento foi ainda mais elevado- 4,98% por ano, segundo o próprioMAPA, Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento. O artigo11 da lei Agrária 8.629 de fevereirode 1993, determina ao Ministério

do Desenvolvimento Agrário e aoIncra que os índices devem ser ajus-tados periodicamente, de modo aacompanhar os processos evolutivos,tecnológicos e científicos.

Os ruralistas alegam que 400 milpropriedades seriam atingidas pelosnovos índices e que isso inviabilizarátotalmente a produção agrícola. Mas,embora estas propriedades repre-sentem 42,6% das terras agricultá-veis, elas representam apenas 10%da produção, segundo os dados doIncra. Dos 4.238.447 imóveis ca-dastrados, 3.838.000, ou seja, 90%não serão atingidos pela portariados novos índices. Na verdade oque querem é manter os latifúndiosimprodutivos e a concentração dasterras no Brasil.

Lula precisa cumprircompromisso assumido

A portaria é de caráter interminis-terial e precisa ser aprovada no Con-selho Nacional de Política Agrária(CNPA), que está desativado desdeo governo FHC. É preciso um decretodo presidente Lula para ser reativado,mas Lula ainda não o assinou.

É provável que com atualização

dos índices exista um aumento dapossibilidade de obtenção de terraspara a reforma agrária em torno de25%. Atualmente só uma de cadadez fazendas vistoriadas pelo Incraé considerada improdutiva, e aindaos fazendeiros recorrem na justiça,até a última instância. Atualmentehá em torno de 260 processos dedesapropriação travados na justiça.

Agora Kátia Abreu recolhe assi-naturas no Senado para abrir nova-mente uma CPI para investigar oMST, com a velha alegação de queo MST usa dinheiro público atravésdos convênios para fazer ocupaçãoem propriedades privadas e em pré-dios públicos. Como se o Senado,aquele antro de corrupção, tivessemoral para investigar alguém.

Kátia Abreu e o setor ruralistaprecisam explicar a dependência dosetor do agronegócio em relação aoEstado e do sistema financeiro e abaixa produtividade. O governo dis-ponibilizou 97 bilhões de reais emcrédito, para que o setor obtenha120 bilhões de reais no final dasafra. Os ruralistas são em torno de3 milhões de famílias e 1% delesdetém 46% das terras agricultáveis.

O modelo de produção agrícola é

totalmente voltado para exportaçãosem valor agregado. Não há nem umapreocupação com o mercado interno.

A CNA presidida por Kátia Abreunão diz quantos milhões pegou dogoverno, como recursos do FAT, quecom o pretexto de fazer capacitaçãodos agricultores utilizam o SENAR,Serviço Nacional de AprendizadoRural, ligado ao sistema S. Atravésdos sindicatos ruralistas, organizamcursos para os agricultores, inclusivenos assentamentos de reforma agrária,tentando disputar ideologicamenteos assentados com os movimentos ejustificar o dinheiro recebido.

Outro modelo deagricultura

A agricultura camponesa e familiarrepresenta 20 milhões de agricultores,enquanto a patronal representa 3 mi-lhões. As pequenas e médias pro-priedades, de até 15 módulos fiscais,ocupam 52,4% dos estabelecimentosrurais. A agricultura familiar, mesmocom apoio insignificante por partedo governo, representa 10% do PIBbrasileiro, um terço do PIB agrope-cuário e 70 % de todo alimento queabastece as mesas dos brasileiros,além de ser responsável por três quar-tos dos postos de trabalho no campo.

A reforma agrária é uma políticanecessária para o desenvolvimentodo país, por isto os movimentos queatuam no campo precisam avançarna unidade de ação e devem buscara solidariedade dos trabalhadoresurbanos.

P Reforma agrária sob ocontrole dos trabalhadores!

P Por outro modelo dedesenvolvimento para ocampo, voltado para omercado interno comobjetivo de atingir a nossasoberania alimentar!

P Atualização dos índices deprodutividade já!

P Delimitação do tamanho dapropriedade em no máximo15 módulos fiscais!

P Reestruturação do Incra,com concurso público paranovos servidores!

P Não à criminalização dosmovimentos!

Por dez anos a aplicação do FatorPrevidenciário espremeu as aposentado-rias, reduzindo beneficios em até 40% dovalor em relação ao salário que o traba-lhador recebia na ativa. Além disso, a po-lítica de reajuste das aposentadorias epensões dos últimos 10 anos, gerou per-das ainda maiores (principalmente nosvalores acima de um salário mínimo),chegando a mais de 50% de arrocho.Hoje, 75% dos benefícios previdenciáriossão de apenas um salário mínimo e a ten-dência é o aumento desse percentual.

Fabio ArrudaDiretor do Sinsprev-SP

Desde 2003, tramita no congresso, o PLS296/03 de autoria do senador Paulo Paim (PL3299/08 na Câmara), que extingue o fator pre-videnciario, e o PLC 42/07 (PL 1/07, na Câmara),

que trata da política de fixação de reajuste dosalário mínimo e que, por emenda de Paim, es-tende o mesmo ajuste às aposentadorias.

Quando se imaginava um final feliz para osaposentados, eis que surge o acordo nefasto fe-chado pelo governo e as centrais sindicais CUT,Força Sindical, UGT e CGTB. O acordo é umtremendo retrocesso em relação ao que estásendo discutido no Congresso e a longo prazoserá ainda pior do que o que está em vigorhoje, já que não extingue o fator previdenciárioe cria o fator 85/95.

A partir desse acordo, um trabalhador sóteria direito a aposentadoria integral se a somado tempo contribuição e a idade atingisse 85anos (mulheres) e 95 anos (homens), sendoque, no caso de professoras(es) a relação é de80/90. Um trabalhador que começa a trabalharcom 16 anos teria que trabalhar 40 anos. Con-siderando ainda que a grande maioria dos tra-balhadores varia com grande frequência da

condição de empregado para desempregado,vai ser necessário trabalhar cada vez mais parase aposentar com o que se ganhava na ativa.

O reajuste de quem recebe uma aposentadoriaacima do salário mínimo será a reposição dainflação (INPC/IBGE) mais 50% do PIB (Pro-duto Interno Bruto) do segundo ano anterior,abrindo perspectiva no futuro de reajuste zero,devido a crise econômica.

Conlutas e Intersindical denuncia o acordo

É um acordo nefasto que não foi aceito pelaCobap (Confederação Brasileira de Aposentados),pela CTB e está sendo denuciado pela Conlutase Intersindical.

Não podemos cair no discurso mentiroso dogoverno de que a Previdência é deficitária. Di-nheiro existe, é só ver o que foi utilizado parasalvar os bancos na crise, é preciso recuperar o

valor das aposentadorias tão arrochadas noúltimo periodo.

P Rechaçar o acordo fechado pelascentrais atreladas ao governo Lula!

P Pela imediata aprovação dos PL 01/2007 e PL 3298/08!

P Por uma previdência pública, solidária, única e integral para todos e controlada democratica-mente pelos trabalhadores!

P Não aos fundos complementares,à elevação da idade mínima, aoaumento das alíquotas e taxaçãodos inativos!

P Devassa nas contas da previdênciae punição dos corruptos!

P Expropriação das empresas quesonegam a previdência e nãopagam direitos trabalhistas!

Acordo sobre aposentadoria mantém arrocho

Bancada ruralista se articula emdefesa dos latifúndios improdutivos

Enterro de Elton Brum da Silva, militante do MST, morto pela PM do Rio Grande do Sul no dia 21 de agosto.

análise: pré-sal • 9Ofensiva Socialista n°02setembro/outubro - 2009

A descoberta de grandes reser-vas de petróleo no pré-sal setornou uma das armas centraisdo governo na disputa para ele-ger um sucessor de Lula naseleições no ano que vem. Noseu discurso na TV dia 06 desetembro, Lula chamava o po-vo a “celebrar uma nova inde-pendência”, com o pré-sal (e ogoverno) como um “passaportepara o futuro”.Temos que olhar por trás da

propaganda eleitoral e naciona-lista e analisar a proposta dogoverno. As descobertas nopré-sal têm o potencial detransformar o Brasil em um dosmaiores produtores do mundo,mas o petróleo ainda está lon-ge de ser nosso.

Marcus Kollbrunner

As propostas do governo vão nosentido de aumentar a fatia da pro-dução do petróleo que vai para o Es-tado, revertendo parcialmente a po-lítica entreguista e privatista de FHC.Mas só parcialmente. As reservas depetróleo fora da área do pré-sal vãocontinuar sob o antigo regime de“concessão” de FHC, os leilões vãoser mantidos. O modelo também vaiser mantido nas áreas do pré-sal quejá foram leiloadas, 29% do total.

A própria Petrobras vai continuara ter uma grande fatia de capital pri-vado. Hoje só um terço do capitalestá sob o controle do Estado brasi-leiro. Isso significa que a maioriados enormes lucros da empresa caiem mãos privadas. Mesmo se o go-verno quiser aumentar essa fatia, éincerto que consiga chegar a 50%.

Não se trata então de voltar à situaçãoque exisita antes das reformas neoli-berais de FHC, quando a Petrobras ti-nha monopólio e 80% do capital daestatal era público. Na verdade, o go-verno Lula manteve a política privatistade FHC durante todo o seu governonos últimos sete anos. Cerca de 500blocos foram leiloados nesse período.

Na proposta do governo, a parteda produção que fica com o Estadodeve aumentar dos atuais 5% a 50%para 80% no caso do pré-sal. Issoainda fica abaixo dos 84% que é amédia dos países exportadores,oudos 90% que é a parcela do Estadonos países da OPEP, mas mostra queseria insustentável seguir na linhaentreguista com reservas de petróleotão grandes.

Repetir o segundo turnoda campanha de 2006

A intenção clara do governo Lulaé de repetir o cenário do segundoturno de 2006 nas eleições em 2010.Em 2006, Lula atacou Alckmin pelaesquerda, acusando-o de querer pri-vatizar a Petrobras e o Banco doBrasil, assim criando um perfil deesquerda e escondendo a política pri-vatista do próprio governo Lula.

O cenário pode ficar bastante com-plicado para a esquerda, que vai en-

frentar uma massiva campanha detom nacionalista onde um futuro dou-rado é prometido para todos. Issosem precisar comprovar nada, já quea produção em larga escala do pré-sal só é esperada para 2015. Isso vaise somando à Copa do Mundo de2014, a campanha pelas Olimpíadasem 2016 etc.

Campanha unitária racha?

O cenário se complica pelo fatoque a campanha unitária “O Petróleotem que ser nosso” agora deve en-frentar divisões, com as organizaçõesgovernistas apoiando a campanha dogoverno Lula, propondo somente al-guns “ajustes”. Já alguns dias antesda apresentação do projeto do governofoi apresentada uma proposta de leipor Fernando Marroni (PT-RS), as-sinada por 27 deputados (infelizmenteincluindo Chico Alencar do PSOL),que traz recuos dos pontos acordadosda campanha. O projeto, impulsionadopela Federação Única dos Petroleiros(CUT) abre a possibilidade para aconcessão de indenizações para as

multinacionais em caso de estatizaçãoe também reafirma a manutenção daAgência Nacional do Petróleo criadapor FHC.

A posição da esquerda deve ser dereverter totalmente a lei 9.478 de1997 de FHC, fechando a ANP eacabando com os leilões, reintrodu-zindo o monopólio estatal do petróleo,incluindo os blocos já concedidos.Isso significa uma reestatização dasjazidas de petróleo. A Petrobras temque ser 100% estatal, mas isso não ésuficiente.

A Petrobras não pode funcionarsob a lógica do mercado como hojee a política de terceirizações tem queacabar. Os recursos devem ser usadospara cumprir as necessidades do povotrabalhador, sempre em harmoniacom o meio ambiente. Por isso asorganizações da classe trabalhadora(sindicatos, movimentos sociais, etc)devem participar na gestão e controledas riquezas do pré-sal. As estatizaçõesdevem ser feitas sem indenizaçõespara os grandes capitalistas, somentetrabalhadores e pequenos investidoresdevem ser compensados.

O pré-sal e a pré-campanha de 2010

O petróleoserá nosso?

• MODELO DE EXPLORAÇÃONo modelo atual, de “concessão”,a empresa que paga mais no leilãofica com a reserva de petróleo epaga um imposto sobre o que éextraído. No modelo de partilha,a produção é dividida entre a em-presa e o Estado. No leilão ganhaa empresa que aceita levar a menorparcela.

• PAPEL DA PETROBRAS APetrobras passa a ser a única ope-radora, ou seja, responsável porfurar e extrair o petróleo. As outrasempresas entram somente comoinvestidoras, e a Petrobras terá umaparticipação mínima de 30% nosconsórcios que vão explorar os blo-cos do pré-sal. Além disso, é possívelque a Petrobras seja contratada ex-clusivamente, sem leilão, em cam-pos considerados importantes.

O fato de que a Petrobras será aúnica operadora não significa au-tomaticamente um monopólio pú-blico. Hoje dois terços dos quetrabalham para a Petrobras sãoterceirizados.

• CAPITALIZAÇÃO Para forta-lecer a Petrobras e aumentar suacapacidade de investir, o governo

quer aumentar o estoque de açõesda empresa em cerca de R$ 100bilhões. Segundo a lei, novas açõesdevem ser oferecidas a todos osacionistas atuais. O governo calculaque os acionistas menores nãoconseguirão comprar mais açõese que, desse jeito, o estado ficarácom uma parcela maior da empresa(hoje 32,2%).

• NOVA ESTATALVai ser criadaa Petro-Sal para gerir a riqueza dopré-sal e representar o Estado noscomitês operacionais dos campos.A renda obtida com a venda par-celada do petróleo do Estado vaiser aplicada num FUNDO SOCIAL,que será usado para investimentosno Brasil e no exterior, além deeducação, inovação tecnológica,sustentabilidade ambiental e cul-tura.

• Um tema polêmico é a DIVI-SÃO DOS ROYALTIES. Hoje agrande maioria fica com os estados“produtores”. O governo queriadividir mais para os outros estados,mas recuou para não se chocarcom seus aliados no Rio de Janeiroe Espírito Santo. O tema foi dei-xado para ser definido depois.

O acesso a fontes de energiabaratas e abundantes foi umadas bases para o rápido cres-cimento da produção sob o ca-pitalismo. A grande maioriadas mais importantes indús-trias foi construída em cimado abundante acesso a petró-leo barato. Mas se por um la-do isso gerou enormes lucrospara os grandes capitalistas,do outro lado teve um enormeefeito negativo no meio-am-biente, por exemplo, com osgrandes centros urbanos cons-truídos para servir ao automo-bilismo em massa.

Com a exceção das potências ca-pitalistas mais poderosas, principal-mente os EUA, as grandes reservasde petróleo não têm sido uma benção.Na lista de países com as maioresreservas e produtores de petróleoencontramos ditaduras com fraca in-dustrialização e uma elite super-rica.

A própria história do Brasil nãojustifica de nenhuma maneira a falade Lula sobre uma suposta “segundaindependência” e futuro gloriosobaseados nas grandes reservas depetróleo. Na verdade o país, desdea “descoberta”, tem sido um grandeexportador de matérias primas, açú-car, ouro, borracha, café, ferro, soja...e ao mesmo tempo mantendo a de-pendência e subordinação ao impe-rialismo. A tendência dos últimosanos, incluindo os efeitos da crise,é que o Brasil aumente a dependênciada exportação de matérias primas.

Limitada e poluente

O petróleo tem uma posição es-tratégica, mas também grandes des-vantagens. Trata-se de uma fontede energia não renovável e extre-mamente poluente, que vai começara ser extraída num momento emque o mundo deveria estar se li-vrando da dependência dos com-bustíveis fósseis.

A extração do petróleo do pré-sal tem um impacto ambiental maiordo que em outras áreas. Além de

estar longe da costa e há quilômetrosabaixo da superfície e por isso gas-tando muito mais energia na suaextração e transporte, estudos mos-tram uma concentração três a quatrovezes maior de gás carbônico (CO2)no petróleo da camada pré-sal. Issoalém da emissão causada quandoo combustível é usado.

Para as futuras gerações o melhorseria deixar o máximo possível dopetróleo pré-sal enterrado nas pro-fundidades. Sob o capitalismo issonão é uma opção, já que existemenormes lucros a serem feitos ex-traindo esse veneno da terra.

Fonte de instabilidade

Segundo o BP Statistical Reviewde 2009, as reservas mundiais atuaisvão durar 42 anos. As descobertasde novas grandes reservas tem setornado mais raras, ao mesmo tempoem que o consumo continua a crescer.A descoberta de grandes reservasdo pré-sal no Brasil e Golfo do Mé-xico podem reverter essa tendência,mas só por um tempo. Por outrolado há vários especialistas que co-locam que as estimativas das reservasde vários países no Oriente Médiosão infladas por razões políticas.

O capitalismo foi construído emcima de um enorme consumo decombustível, sem planejamento dosrecursos. Um declínio definitivona produção mundial vai aumentaro preço do petróleo e gerar umagrande instabilidade mundial. Oschoques de aumento de preços de1973, 1979 e 2008, todos precede-ram crises econômicas mundiais.

O acesso ao petróleo já foi umfator decisivo de vários conflitos,como as guerras no Iraque.

Somente rompendo com o sistemacapitalista, no qual a busca de lucrosé o que decide o que é produzido,e introduzindo uma economia de-mocraticamente planificada, ondeo interesse do povo trabalhador é oque vale, poderemos mudar parauma matriz energética baseada emenergia renovável e limpa, de ma-neira harmônica.

Quais são as propostas?

Petróleo – bênção ou maldição?

Petrobras tem que ser 100% estatal!

10 • internacional“Não vamos pagarpela crise”FRANÇA No dia 17 de setem-

bro, cerca de 3 mil trabalhadoresdo setor automobilístico se ma-nifestaram contra o desempregoe a precarização do trabalho emParis.

Com a crise econômica, milharesde trabalhadores da Renault, Goo-dyear, Continental, Michelin, eoutras empresas metalúrgicas per-deram seus empregos. Enquantoos governos depositam bilhões naconta de patrões, os trabalhadoresestão sem emprego e sem pers-pectiva de vida.

Após diversas mobilizações lo-cais dos trabalhadores no meiodas férias, no dia 17 de setembroeles mostraram o seu desconten-tamento, em um primeiro passopara a luta conjunta contra o pa-tronato. Com uma semi-ocupaçãoda antiga bolsa de valores no meioda manifestação, ela indica qualserá o grau das lutas no próximoperíodo. Novas lutas já foram con-vocadas: solidariedade com os tra-balhadores do Correios no dia 22de setembro e manifestações locaisde todos os trabalhadores no dia7 de outubro.

Obama quer maisbases militares naAmérica do SulEUA Depois de firmar acordo

militar com a Colômbia de ÁlvaroUribe, no qual estabelece que osEstados Unidos poderão utilizaraté sete bases militares colombia-nas, o governo de Barack Obamatentou fechar um convênio de coo-peração militar com o Paraguai,mas que por enquanto não deveseguir adiante.

O presidente do país vizinho,Fernando Lugo, informou que oParaguai não vai fazer parte dochamado “Novos Horizontes 2010”do Comando Sul das Forças Ar-madas dos EUA, que previa a pre-sença de 500 militares estaduni-denses em solo paraguaio. O vetoà entrada da missão no país, porém,“não é definitivo”, disse Lugo.

Detentora de uma das maioresbacias hídricas (Amazônia) e pe-trolíferas (reservas do Orinoco, naVenezuela e do pré-sal, no Brasil)do planeta, a América do Sul é es-tratégica tanto do ponto de vistaeconômico quanto político para oimperialismo estadunidense.

Cresce o númerode famílias pobresnos EUAEUA Em 2008, o total de famí-

lias pobres nos EUA cresceu de12,5% para 13,2% da população,segundo o Census Bureau. Essefoi o maior patamar em 11 anos ea tendência é que siga subindo.Em 2008, o nível médio de de-semprego foi de 5,8%. Em agostode 2009 ele tinha atingido 9,7%da população. Em números abso-lutos, são 39,8 milhões de pessoasque ficam abaixo da linha de po-breza nos EUA.

Na média, a renda mensal dasfamílias caiu de R$ 7.960 por mêsem 2007 para R$ 7.670 em 2008,o menor patamar em dez anos.Os resultados não incluem a di-minuição na renda disponível cau-sada pelos gastos maiores comprestações imobiliárias e jurosbancários mais altos.

Ofensiva Socialista n°02setembro/outubro - 2009

Honduras: continuaa luta contra o golpeO golpe contra o governo deManuel Zelaya em Honduras nodia 28 de julho é um sinal dealerta para os trabalhadores docontinente. Num contexto decrise, a elite hondurenha nãoestava preparada para aceitarnem as limitadas reformas deZelaya. Desde então, umaFrente Nacional contra o Golpede Estado tem organizado lutasdiárias e enfrentando a repres-são do regime golpista.

Marcus Kollbrunner

Forças do exército hondurenho,em ação coordenada com as lide-ranças políticas mais reacionáriasdo Congresso e do poder Judiciário,romperam as regras do próprio re-gime democrático burguês no paíse, na noite de 28/06, sequestraram edeportaram o presidente Manuel Ze-laya, eleito em 2005 para um man-dato até 2010. No mesmo dia indi-caram o presidente do Congresso,Roberto Micheletti, como novo pre-sidente do país.

Os militares e a oposição de direitaa Zelaya desferiram o golpe no diaem que estava planejada uma con-sulta popular informal sobre a pos-sibilidade de que, junto com as elei-ções gerais de novembro, ocorresseum referendo sobre a convocaçãode uma Assembléia Constituinte nopaís.

O golpe de estado em Hondurasreflete os interesses de parte daclasse dominante e das elites políticasatemorizadas com a perda de controlesobre as ações de Zelaya no últimoperíodo e seu distanciamento daagenda política e econômica maisconservadora dessas elites. Somente10 famílias no país controlam 90%da economia, incluindo a mídia,agronegócio, etc.

Manuel Zelaya foi eleito pelo Par-tido Liberal, mas a partir de 2007passou a adotar uma postura deaproximação com o governo vene-zuelano de Chávez, solicitando aadesão formal de seu país à ALBA,Aliança Bolivariana das Américas.

Entre as medidas que Zelaya im-plementou que desagradaram a elitedo país estão um aumento do saláriomínimo e uma redução do preçodos combustíveis, se aliando ao Pe-trocaribe (através do qual o governovenezuelano vende petróleo compreço reduzido aos países do Caribee América Central).

Elite associada aoimperialismo

Independentemente do caráter dogoverno Zelaya, que não deixa deser um governo burguês, o golpe deEstado é um duro ataque sobre ostrabalhadores e a maioria do povonum país com mais de 50% da po-pulação abaixo da linha de pobrezae uma elite reacionária historicamenteassociada ao imperialismo estadu-nidense. Honduras sempre foi utili-zada como base para operações con-tra qualquer levante anti-imperialistana região, como no caso de Cuba eNicarágua.

Um golpe de Estado no momentoem que trabalhadores, camponeses,indígenas e jovens de vários paísesda região ousam levantar a cabeça e

resistir contra as políticas que colo-cam nas nossas costas o preço dacrise capitalista é um precedente pe-rigosíssimo.

Derrotar o golpe em Honduras éimpedir que os mesmos métodossejam utilizados no futuro contra oavanço da luta dos trabalhadoresnos demais países. É, portanto, umatarefa unitária e prioritária dos mo-vimentos sociais e da esquerda con-seqüente no continente.

Diante da impossibilidade de queaté mesmo o imperialismo estadu-nidense respaldasse abertamente onovo governo golpista – com Obamamantendo uma postura vacilante edúbia, mas sem reconhecer Micheletticomo presidente – os golpistas ten-tarão manter as eleições de 29 denovembro, sem o referendo sobre aAssembléia Constituinte.

A tática de Zelaya tem sido deapostar no isolamento diplomáticodo governo de Honduras, paralelo àmobilização de protestos no país.

Ao mesmo tempo em que exigimosuma clara posição de todas as auto-ridades, governos e organismos in-ternacionais em rechaço ao golpe,não estimulamos nenhuma ilusãonas credenciais democráticas de or-ganismos como a OEA ou mesmo aONU e alertamos a todos os traba-lhadores que fiquem atentos às ma-nobras do imperialismo e seus aliadosna América Latina.

O governo de Obama, por exem-plo, não reconhece o governo Mi-cheletti, mas recusa-se a dizer queo que aconteceu foi um golpe militar.Segunda a lei estadunidense, no caso

de golpe militar o governo teria quecortar toda a forma de ajuda econô-mica. O governo Obama diz tambémque não vai reconhecer as eleições,“nesse momento”. Ele pressionapara uma saída negociada. Mas aproposta de mediação de Arias, pre-sidente de Costa Rica, inclui a nãoconvocação de referendo sobre umaAssembléia Constituinte, quer dizer,manter a estrutura social da elite dopaís.

Primeiro golpe revertidopacificamente?

Zelaya enfatiza sempre que osprotestos têm que ser pacíficos, oque é uma maneira de manter o con-trole e colocar os protestos a serviçodas negociações diplomáticas. “Nun-ca se reverteu um golpe na históriade forma pacífica, este vai ser o pri-meiro”, disse Zelaya, segundo aBBC Brasil. Mas depois de mesesde greves e atos, o risco é que, semuma perspectiva de vitória, o movi-mento comece a cansar.

Há uma contradição embutida nomovimento ao tentar conciliar ossetores da esquerda com setores li-berais ligados a Zelaya. A grandemassa dos trabalhadores quer de-fender seus direitos democráticospara aprofundar as medidas que fa-vorecem os pobres do país. Em al-gum momento isso vai se chocarcom a linha do Zelaya, que não vêas mobilizações como uma maneirade mobilizar para mudar as estruturasda sociedade.

Zelaya mesmo coloca, segundo a

BBC Brasil, que seu governo temcomo fonte de inspiração muito maiso governo Lula do que Hugo Chávez.“Em Honduras, há um liberalismosocial. Não um socialismo... Sim,temos muita afinidade com Chávez,no amor que ele tem pela AméricaLatina. Mas o povo hondurenho sódeve solidariedade a Chávez, peloapoio que ele nos deu no setor ener-gético, na área da saúde.”

Até agora Zelaya não tem entradoem acordos com a elite, já que elanão cede na questão mais imediata– a restauração do governo derrubadopelo golpe.

As eleições serão um momentodecisivo. Com certeza vai ocorrer auma nova radicalização do movi-mento. Mas qual é a melhor tática?Participar nas eleições, ou boicotar?Está claro que uma eleição sob asatuais condições não será democrá-tica. Quem controla as eleições é oJudiciário e o Exército, os mesmossetores que destituíram Zelaya. Omovimento deve colocar que as elei-ções devem ocorrer sob o controledos movimentos, e que devem serpara eleger um parlamento com po-deres de uma constituinte, para mudara estrutura de poder do país.

A Frente Nacional contra o Golpede Estado decidiu na sua assembléianacional do dia 06 de setembro nãoreconhecer as eleições organizadaspelos golpistas.

Mas numa situação em que o mo-vimento perde o fôlego, é possívelque grande parte da classe trabalha-dora acabe votando num candidatoanti-golpe (já existem dois candidatosque se declararam contra o golpe, equatro a favor). Se não houver umboicote massivo às eleições, o pro-vável é que a maioria dos governos,e principalmente os EUA, acabempor reconhecer o novo governo.

Manter a frente de luta

A Frente também deliberou pormanter-se organizada sob o nome“Frente Nacional de Resistência Po-pular” e desencadear a luta por umaAssembléia Constituinte democráticae popular se a “ordem constitucional”for restituída. Isso aponta que a lutacontinua, mesmo se for feito umacordo sobre as eleições. É impor-tante que a Frente, que inclui osmovimentos sociais, sindicatos epartidos de esquerda, se mantenhapara organizar a luta, mas é tambémimportante discutir as reivindicaçõessociais.

Para os trabalhadores e o povohondurenho é fundamental que seaprofunde a adoção dos métodos deluta da classe trabalhadora, a grevegeral, as mobilizações massivas e aorganização democrática pela base,incluindo a autodefesa, trazendoconsigo todos os demais setores dapopulação pobre e oprimida, paracortar pela raiz a tentativa de inflexãopolítica autoritária e reacionária nopaís.

É preciso trabalhar para que aação golpista se reverta numa radi-calização maior da luta dos traba-lhadores, ultrapassando as moderadasreformas do governo Zelaya, supe-rando os limites do regime políticoburguês e avançando numa direçãoautenticamente democrática, antica-pitalista e socialista.

Mais de dois meses de luta contra o golpe em Honduras.

O Comitê por Umainternacional dos

Trabalhadores é umaorganização socialista compresença em mais de 40

países, em todoscontinentes. A LSR é aseção brasileira do CIT.Visites os sites da CIT:www.socialistworld.net

www.mundosocialista.net

Iraquiano que atirou sapatos emBush sai da cadeiaIRAQUE O jornalista iraquiano

Muntader al Zaidi, preso depoisde jogar seus sapatos em GeorgeW. Bush durante uma coletiva àimprensa em dezembro do anopassado, foi libertado no dia 15de setembro.

Ele disse que foi vítima de tor-tura nas mãos das forças de segu-rança iraquianas, através de surrascom varas de ferro, chicotadas echoques elétricos.

O jornalista se tornou um sím-bolo da resistência contra a ocu-pação estadunidense no país. Elefoi condenado a três anos de cadeia,mas a pena foi reduzida a um anopor falta de antecedentes criminas.Ele saiu após de nove meses, porbom comportamento.

“Hoje estou livre, mas meu paísainda é uma prisão”, declarou asair da prisão.

Vitória contra demissões naItália inspira ondade ocupaçõesITÁLIA Depois de 15 meses de

luta, os trabalhadores na fábricamecânica INNSE em Milão con-quistaram uma importante vitória,conseguindo reabrir a fábrica. Afábrica foi fechada em maio 2008.Nos primeiros meses os traba-lhadores mantiveram a produção,até a polícia invadir a fábrica.

Os trabalhadores continuarama luta bloqueando os portões,para evitar a retirada das máqui-nas.

Os trabalhadores resistiram àstentativas da polícia de acabar obloqueio, com vários trabalha-dores feridos.

A luta culminou com cinco tra-balhadores subindo num guin-daste e permanecendo lá por oitodias. A luta trouxe uma onda desolidariedade e acabou com umnovo dono se comprometendoem manter a produção por 16anos.

A vitória inspirou uma ondade luta contra demissões, ondemuitas vezes os trabalhadoresseguem o exemplo da INNSE,subindo no telhado e se acorren-tando. Isso inclui professores,que enfrentam um massacre deempregos. 42 mil professores e15 mil auxiliares foram demitidosesse ano.

Segundo o jornal financeiroitaliano “Il Sole 24 Ore”, maisde 30 ocupações e lutas seme-lhantes estavam ocorrendo emmeados de setembro.

internacional • 11Ofensiva Socialista n°02setembro/outubro - 2009

No fim de julho, dezenas de mi-lhares de trabalhadores, apo-sentados e seus parentes reali-zaram uma greve com ocupa-ção massiva da siderúrgica es-tatal Tonghua Steel para barrarsua privatização. Quando oexecutivo chefe da empresacompradora ameaçou demitirtodos caso não voltassem aotrabalho, ele foi espancado, fa-lecendo mais tarde. Após vio-lentos conflitos, a venda foicancelada pelo governo.

Lizhi Chen e Vincent KoloChinaworker - CIT na China

A Jianlong Group, empresa com-pradora, é conhecida por cresceratravés da privatização de estatais.Seu dono, um dos maiores bilionáriosda China, é parente de um alto bu-rocrata. Em 2005, a empresa já haviacomprado 40% das ações da TonghuaSteel, causando diminuição dos sa-lários dos trabalhadores (o equiva-lente a cerca de 80 reais por mês)ao mesmo tempo em que executivosenriqueciam com altos salários – osalário do executivo morto era oequivalente a 800 mil reais. Já em2008, conflitos levaram à morte deum gerente da fábrica e de lá pra cáinúmeros protestos aconteceram, ig-norados ou reprimidos pelo governoe capitalistas.

Em 2008, com o desenvolvimentoda crise, a indústria siderúrgica foibastante afetada, o que levou à para-lisação da produção por alguns meses.Isso afetou centenas de milhares depessoas na parte pobre da cidade,que dependiam do funcionamento dasiderúrgica para ter aquecimento du-rante o inverno. Com o crescimentodos conflitos, a empresa privada seretirou do gerenciamento da estatal,apesar de manter suas ações.

A Tonghua Steel voltou a funcionarpara garantir o aquecimento e osempregos, apesar de estar perdendodinheiro, entre o final de 2008 emeados de 2009. Quando o mercadoglobal do aço se reaqueceu e a em-presa voltou a ter lucro. Exatamentenesse momento a Jianlong Groupfechou acordo com o governo ondeaumentaria sua participação nasações e assumiria o gerenciamentoda Tonghua Steel.

Milhares participando na luta

Em 23 de julho, o anúncio doacordo provocou a ira dos trabalha-dores e da população local, que empoucas horas reuniram 10 mil pessoasem protesto. O governo reprimiacom violência e a Jianlong ameaçavaos trabalhadores de demissão. Comoconseqüência dos conflitos aconteceua morte do executivo da Jianlong,dezenas de prisões e carros destruídos.

À noite, 30 mil trabalhadores eparentes ocupavam a Tonghua quan-do receberam a notícia do governode que a Jianlong não mais partici-paria da “reestruturação da TonghuaSteel” - deixando claro que o governopretende privatizar a empresa futu-ramente.

Menos de um mês após os acon-tecimentos da Tonghua Steel, tra-balhadores chineses forçaram auto-ridades a cancelar a venda de outrasiderúrgica em Henan. Cerca de 3mil trabalhadores ocuparam a estatalLinzhou Steel Corporation por cincodias, fazendo um representante dogoverno como refém. Após uma ten-tativa frustrada de pôr fim à ocupaçãoatravés de uma invasão policial, ogoverno finalmente anunciou o can-celamento da venda. A ação radica-lizada dos trabalhadores, cuja cam-panha começou há cerca de um ano,foi claramente inspirada pela vitoriosaocupação da Tonghua Steel.

Vitória inspira outrostrabalhadores

As notícias da morte do executivoalertaram os burocratas “comunistas”e os industriais do aço sobre a fúriaque existe no chão de fábrica à medidaque a crise mostra suas garras. O in-cidente não foi suficiente para evitaroutras privatizações de siderúrgicas,mas sem dúvida foi uma grande ins-piração para toda a categoria.

O jornal burguês Wall Street Journalcomentou as duas mal sucedidas pri-vatizações dizendo que há “um sinalde crescimento do ativismo sindical”na China. “Estes eventos marcamuma importante mudança nas lutasdos trabalhadores, que nos dois casosforam muito bem organizadas e de-terminadas, mostrando um grau deconsciência acima da média”, dizChen Lizhi do Chinaworker.

Depois de mais de dez anos deprivatizações no setor, agora os tra-balhadores percebem mais clara-mente os resultados dessas políticas:perda de empregos, quebra de acor-dos de previdência e cortes salariais.

No caso da Linzhou, trabalhadoresdemitidos com a privatização rece-beriam compensações equivalentesa cerca de 290 reais por ano de ser-viço! Além disso, a Linzhou Steel

era avaliada em 222 milhões dereais, mas para a privatização foiavaliada em 88 milhões. Segundo ojornal oficial, Diário da China, “amaioria dos trabalhadores enxergaas privatizações como uma formade vender e marginalizar os própriostrabalhadores para encher os bolsosdos ricos e poderosos”.

O grupo que compraria a Linzhoupertence a um burocrata bilionáriodo “Partido Comunista”, irmão deum alto general do exército. Istoevidência as relações que se desen-volveram com a queda do stalinismoentre a burocracia e os capitalistas.As privatizações causaram a perdade 60 milhões de empregos na últimadécada, acompanhadas de corrupção,especulação e roubo descarado –tudo em detrimento da classe traba-lhadora.

O presidente da Linzhou Steel de-clarou que quanto mais a empresaestivesse no vermelho, melhor seriapara privatizá-la. Os trabalhadoresdizem que os gerentes “deliberada-mente ferraram” com a empresapara justificar a privatização. Umchefe provincial do PC alertou paraque “sejam avaliados os riscos à es-tabilidade social antes que se con-firmem as privatizações”, indicandoque conflitos como esses podem seespalhar pela indústria siderúrgicae outros candidatos à privatização.

As vitórias parciais dos trabalha-dores na Tonghua e na Linzhou tra-zem consigo um espectro para o re-gime chinês. Desde os protestos deTiananmen em 1989, o regime con-seguiu manter as lutas dos trabalha-dores isoladas, evitando conexões

nacionais. A luta da Linzhou mostraclaramente que os operários das Si-derúrgicas chinesas estão aprendendouns com os outros. Isso já haviasido manifestado na categoria dostaxistas, cuja greve varreu dezenasde cidades. Mas, está claro que casoalgo parecido aconteça na indústriapesada teria uma relevância muitomaior. Se os sindicatos são proibidos,os trabalhadores têm aumentado atroca de informações através da in-ternet, usando ilicitamente blogs eoutras ferramentas.

Sindicatos independentes

Os direitos políticos dos trabalha-dores são atropelados sem hesitaçãoe eles já sabem que por baixo do hi-pócrita manto de “Partido Comu-nista” predomina o culto ao mercado.A ameaça de privatização permanecena Tonghua, na Linzhou e no restodo país, mas os trabalhadores já sa-bem que a ação militante pode forçaros capitalistas e burocratas a recua-rem.

Somente com sindicatos indepen-dentes, auto-organização e lutasconscientes será possível a conquistados interesses básicos da classe tra-balhadora. Uma solução concretapara a atual crise econômica globalapenas ocorrerá com o completodesmantelamento do sistema capi-talista e ditaduras burocráticas, coma realização de um genuíno socia-lismo democrático no qual as massastrabalhadoras gerenciem e planejemdemocraticamente a economia, debaixo para cima, com a propriedadepública dos meios de produção.

Trabalhadores impedemprivatização desiderúrgicas na China

Acesse o site do CIT na China. Artigos em inglês e chinês:

chinaworker.info

Trabalhadores da Tonghua Steel em ato contra a privatização da siderúrgica.

Na pauta da luta feminista

N° 02 setembro/outubro 2009

Preço: R$1,50 • Solidário: R$3,00 Acesso o nosso site:

www.lsr-cit.orge-mail: [email protected]

telefone: (11) 3104-1152

O dia 28 de setembro é oficial-mente o dia latino-americano ecaribenho de luta pela descri-minalização do aborto.Segundo a OrganizaçãoMundial da Saúde, no mundo,são estimados 20 milhões deabortamentos realizados emcondições inseguras anualmen-te. Cerca de 13% das mortesrelacionadas com a gravidezsão atribuídas a complicaçõesdesses procedimentos, totali-zando 67 mil mortes anuais.

Renata Arnold Servidora Publica da Saúde RJ

Jane BarrosColetivo de Mulheres do PSOL

A luta pela descriminalização doaborto é uma etapa importante paragarantir a legalização e responsabilizaro Estado pela garantia destas vidas.A sociedade e, sobretudo, os lutadorese lutadoras socialistas não podemfechar os olhos para esta realidade.

Lutar pela legalização do aborto élutar pela vida de milhões de mulherestrabalhadoras em todo o mundo. Estaé uma pauta importante para a lutada classe trabalhadora hoje.

Uma questão de classe

O maior número de mortes porabortamentos se concentra nos paísescujo aborto é previsto como crimepela legislação. Segundo dados daOrganização Mundial de Saúde, oaborto inseguro é a primeira causa demortalidade materna na América La-tina e a ilegalidade dificulta uma in-tervenção capaz de impedir estas mor-tes. Este número chega a ser de 80 a600 vezes maior na América latina,Caribe e nos demais países periféricosse comparamos com os paises ricos.

Para nós, da LSR, o que está empauta é a defesa da vida de mulheres

que estão morrendo por falta de as-sistência médica devido a complica-ções de abortamento. Estamos diantede um problema de classe. Pois é no-tório e evidente que as clínicas clan-destinas de aborto, freqüentadas pormulheres que podem pagar, continuamfuncionando com o consentimentodo Estado. O lucro destas clínicas éexorbitante, garantindo a essas mu-lheres a possibilidade de comprar odireito de escolher sobre o seu corpo.

Como socialistas não nos cabeaqui julgar as concepções sobre oinício da vida de cada um e tampoucofazer uma defesa do aborto enquantoum método contraceptivo, mas simlutar para que as mulheres possamescolher e decidir sobre o seu própriocorpo, tendo condições objetivaspara tal escolha. Cabe à mulhersaber a hora que se sente preparadaa ter um filho e cabe ao Estadoacatar essa decisão!

Chega de culpabilizar a mulher! Oaborto é o ponto final de um ciclo ine-ficiente de prevenção da gravidez:educação sexual não machista e nãohomofóbica, informação, métodos con-traceptivos disponíveis nas unidadesbásicas de saúde e direito da mulherdecidir sozinha por métodos irreversí-veis, (como a ligadura de trompas).Criminalizar a mulher por decidir sobreo seu corpo, muitas vezes pagandocom a própria vida, é ficar do lado deum Estado autoritário e injusto, quedetermina quem vive e quem morre.

Recentemente vimos um caso dedez mil mulheres no Mato Grossodo Sul acusadas de realizar abortoilegalmente. Cerca de dez mil fichasmedicas foram encontradas numaclínica de planejamento familiar,acusada de praticar estas intervenções.O Ministério Público entrou comuma ação conta estas mulheres oque mobilizou feministas de todo opaís colocando a pauta da legalizaçãodo aborto de novo na ordem do dia.

As 26 primeiras mulheres indi-

ciadas fizeram acordos e estão cum-prindo trabalho comunitário. Estefato evidencia o quanto necessitamosmobilizar e lutar contra a criminali-zação das mulheres que optam porinterromper uma gravidez.

Governo Lula: na contra-mão da luta pela vida

Neste momento de crise econô-mica, os problemas com a saúdepública ficam ainda mais evidentes.A gripe suína mostra a falência deum sistema que não consegue trataros seus usuários. O governo Lula jágastou centenas de bilhões para aju-dar empresas e bancos. Este dinheirosai da saúde, da educação, dentreoutras áreas sociais, o que dificultaainda mais a possibilidade de umSUS pleno para a população, capazde cumprir a sua missão de garantiro direito a vida de todos, inclusivedas mulheres trabalhadoras.

Isso nos mostra como é impossíveltravar uma luta conseqüente contra acriminalização e pela legalização doaborto sem identificar os responsáveis.Não é possível legitimar um governoque dá com uma mão e tira com aoutra, que cria uma secretaria de mu-lheres no governo que não tem açõesefetivas, que cria projetos de lei eretira verbas para a sua execução,como no caso da lei Maria da Penha.

Exigimos que o Estado garantacondições objetivas para que nósmulheres de fato tenhamos escolhas.Se decidirmos pela maternidade quesejam garantidas creches, escolas,lavanderias públicas e restaurantescoletivos. Mas, exigimos tambémcondições legais no SUS para queas mulheres sejam atendidas e pos-sam realizar abortos, mediante a suadecisão, em condições dignas.

Lutamos para que nós mulherestrabalhadoras tenhamos condiçõesde fazer nossas escolhas, inclusivepela nossa própria vida!

Na luta pelalegalizaçãodo aborto!

Em pleno século XXI, no anode 2010, o Brasil promoveráo – mal chamado – IIIEncontro Mundial deLegisladores e Governantespela Vida. Este encontro temcomo objetivo fortalecer a cri-minalização do aborto e por-tando condenar as mulherespobres, sobretudo as negras,à morte precoce.

Precisamos organizar nossas fi-leiras para denunciar, criticar elutar contra tal ação. Necessitamosfortalecer uma Frente ampla, fazerum chamado a todas as organiza-ções feministas, aos partidos deesquerda, aos sindicatos, movi-mentos sociais, em defesa da vidadas mulheres trabalhadoras e contraa hipocrisia de um Estado e deuma sociedade capitalista que ma-tam lenta e diariamente os jovense crianças por ausência de umasaúde pública, educação, condiçõesdignas de vida.

Os mesmos que hoje defendema “vida” são aqueles que não sefurtam em apoiar um Estado e umgoverno que transfere dinheiro pú-blico a banqueiros e empresas, que

sucateiam a educação pública eque, na grande maioria, defendema redução da maioridade penal,como solução aos problemas daviolência urbana.

Por fim, a legalização e descri-minalização do aborto não são umatática final que resolverá todos osproblemas reprodutivos das mu-lheres. O aborto é o ponto final deuma trajetória de opressão na vidada mulher.

É necessário um plano de açãobem desenhado e eficaz que façacom que a mulher não chegue àgravidez indesejada. Isso incluimuitas ações específicas, como in-formações sobre métodos anticon-cepcionais, disponibilidade dessesmétodos no SUS, incorporação deprofissionais especializados emsaúde da mulher nos programasde saúde da família.

Criminalizar o aborto é uma res-posta a um problema estrutural deacesso das mulheres aos seus di-reitos reprodutivos, direito à vida,e sua dificuldade de acesso à saúde.Garantir o direito ao aborto é ga-rantir a vida das mulheres traba-lhadoras.

Educação sexual para decidir!Contraceptivos para não abortar! Aborto seguro para não morrer!

Pela garantia da vida, pela legalização do aborto!

Legalização não aumenta os casos de abortoContra os argumentos de que se

o aborto fosse legalizado teríamosum crescimento espantoso do nú-mero de abortamentos, utilizamoso contra-argumento de uma expe-riência concreta.

Na Itália, no primeiro ano em quea lei favorável ao aborto entrou emvigor, em 1978, realizaram-se 137.400

abortos. No ano seguinte houve umaumento significativo desse número,para 187.752, que refletia o ajusteda clandestinidade para a legalidade.O número maior de notificações re-flete o número de mulheres que saemda clandestinidade.

Os últimos dados disponíveis re-fletem a continuação da descida

do número de abortamentos, como total anual de 124.118 em 2003.

No Brasil, em 2005, apontava-se para a realização de 1.054.243abortos (ainda sem fator de correçãopor subnotificação) e o SUS nãotem uma política clara que forneçaatenção médica de emergência parasituações relacionadas ao aborto.

Atividade pelo direito ao aborto em São Paulo em 28 de setembro em 2007.