ofensiva socialista n°04 maio-junho 2010

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Nem Serra, Dilma ou Marina... PSOL vai de Plínio! site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152 Belo Monte de mentiras para manter os 500 anos de dominação página 9 Lula garante dinheiro para especuladores, mas não para os aposentados e o funcionalismo página 2 Abril vermelho ocupa latifúndio em Fortaleza página 4 Tragédia no Rio de Janeiro página 5 Aborto: Crime de quem? página 8 Grécia – mais um fracasso do mercado página 11 Alagados do Pantanal ocupam terreno na luta por moradia página 12 N° 04 maio/junho 2010 Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT) Depois de muito debate e uma dura luta política interna, o PSOL lançou Plínio de Arruda Sampaio como seu pré-candidato a presidente nas eleições de outubro desse ano. Essa foi a principal deliberação da III Conferência Eleitoral do partido, realizada em 10 de abril no Rio de Janeiro e repre- sentou uma grande vitória para a esquerda socialista brasileira. A campanha de Plínio já está sendo cons- truída junto aos ativistas e militantes dos movimentos sociais e da esquerda e pretende denunciar a falsa polarização entre Dilma e Serra, levantando uma alternativa socialista para o país. Um dos desafios centrais agora é convencer o PSTU e PCB a não dividirem a esquerda socialista nas eleições e com- porem com o PSOL uma Frente de Esquerda e dos trabalhadores. páginas 6-7 Tendência do PSOL O Congresso da Classe Tra- balhadora será realizado nos dias 5 e 6 de junho em Santos (SP). Ele reunirá milhares de delegados de todo o país eleitos por sindicatos, opo- sições sindicais e movimen- tos populares da cidade e do campo. Este Congresso deve marcar a unificação de entidades sin- dicais e populares combativas como a Conlutas e a Inter- sindical, além de movimentos sociais como o MTST, MTL, Terra Livre e pastoral operá- ria. A construção de uma nova Central unitária independente de patrões e governos é uma necessidade histórica da classe trabalhadora para acabarmos com a atual fragmentação da esquerda e para que os traba- lhadores possam retomar a ofensiva. O desafio agora é construir uma base política e organi- zativa de unidade entre os di- ferentes setores e garantir que os interesses maiores do con- junto da nossa classe estejam acima dos interesses locali- zados dos setores envolvi- dos. página 3 Nenhum passo atrás na construção da nova Central! Mas, ainda é preciso... + Insistir na formação de uma Frente de Esquerda! + Construir um programa anticapitalista e socialista! + Organizar uma campanha militante e vinculada às lutas!

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Jornal da Liberdade, Socialismo e Revolução, corrente do PSOL e seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores

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Page 1: Ofensiva Socialista n°04 maio-junho 2010

Nem Serra, Dilma ou Marina...

PSOL vai de Plínio!

site: www.lsr-cit.org • e-mail: [email protected] • telefone: (11) 3104-1152

Belo Montede mentiraspara manteros 500 anosde dominação

página 9

Lula garantedinheiro paraespeculadores,mas não para osaposentados e ofuncionalismo

página 2

Abril vermelhoocupa latifúndioem Fortaleza

página 4

Tragédia no Riode Janeiro

página 5

Aborto: Crimede quem?

página 8

Grécia – maisum fracasso domercado

página 11

Alagados doPantanal ocupamterreno na lutapor moradia

página 12

N° 04 maio/junho 2010

Preço: R$ 1,50 • Solidário: R$ 3,00 Jornal da LSR

Seção brasileira do Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores (CIT)

Depois de muito debate e uma dura lutapolítica interna, o PSOL lançou Plínio deArruda Sampaio como seu pré-candidatoa presidente nas eleições de outubro desseano. Essa foi a principal deliberação da IIIConferência Eleitoral do partido, realizadaem 10 de abril no Rio de Janeiro e repre-sentou uma grande vitória para a esquerdasocialista brasileira.

A campanha de Plínio já está sendo cons-truída junto aos ativistas e militantes dosmovimentos sociais e da esquerda e pretendedenunciar a falsa polarização entre Dilmae Serra, levantando uma alternativa socialistapara o país. Um dos desafios centrais agoraé convencer o PSTU e PCB a não dividirema esquerda socialista nas eleições e com-porem com o PSOL uma Frente de Esquerdae dos trabalhadores.

páginas 6-7

Tendênciado PSOL

O Congresso da Classe Tra-balhadora será realizado nosdias 5 e 6 de junho em Santos(SP). Ele reunirá milharesde delegados de todo o paíseleitos por sindicatos, opo-sições sindicais e movimen-tos populares da cidade e docampo.

Este Congresso deve marcara unificação de entidades sin-dicais e populares combativas

como a Conlutas e a Inter-sindical, além de movimentossociais como o MTST, MTL,Terra Livre e pastoral operá-ria.

A construção de uma novaCentral unitária independentede patrões e governos é umanecessidade histórica da classetrabalhadora para acabarmoscom a atual fragmentação daesquerda e para que os traba-

lhadores possam retomar aofensiva.

O desafio agora é construiruma base política e organi-zativa de unidade entre os di-ferentes setores e garantir queos interesses maiores do con-junto da nossa classe estejamacima dos interesses locali-zados dos setores envolvi-dos.

página 3

Nenhum passo atrás na construção da nova Central!

Mas, ainda é preciso...+ Insistir na formação de uma Frente de Esquerda!+ Construir um programa anticapitalista e socialista!+ Organizar uma campanha militante e vinculada às lutas!

Page 2: Ofensiva Socialista n°04 maio-junho 2010

2 • editorial Ofensiva Socialista n°04maio/junho - 2010

C om a Grécia a beira da moratória eoutros no mesmo caminho, a dívidapública tornou-se uma das bombas-

relógio armadas pela crise internacional docapitalismo. Os neoliberais do estado-míni-mo convertidos repentinamente em keyne-sianos perdulários para salvar a própriapele, agora querem jogar nas costas dos tra-balhadores a fatura dos pacotes de ajuda abanqueiros e empresários.

Apesar de toda a propaganda de que noBrasil é diferente, para os trabalhadorespairam as mesmas ameaças e os mesmosataques. O próximo governo burguês, sejaele encabeçado por Dilma ou Serra, teráque abrir sua caixa de maldades contra ostrabalhadores para tentar garantir os interes-ses do grande capital.

Já hoje, em nome da responsabilidadefiscal, o governo Lula se recusa a aceitarum reajuste da aposentadoria (para os apo-sentados que ganham mais do que um salá-rio mínimo) igual ao reajuste do mínimo(9,2% retroativo a janeiro). Até mesmo oacordo rebaixado proposto pelas Centraissindicais governistas (de 7,7%) não é aceitopelo governo. Mas, quando se trata de re-passar dinheiro público a banqueiros e em-presários, o governo Lula esbanja à vonta-de.

A través da chamada DRU (Desvin-culação das Receitas da União), ogoverno Lula cortou da Seguridade

Social no ano passado mais de R$ 39 bi-

lhões. Tudo para garantir a meta de superá-vit primário, ou seja, pagar aos especulado-res e tubarões capitalistas que são credoresda dívida pública. Segundo a Auditoria Ci-

dadã, esse montante retirado dos trabalha-dores equivaleria a um reajuste das aposen-tadorias 55 vezes maior do que esse tão te-mido pelo governo.

Além disso, um reajuste das aposenta-dorias seguindo o salário mínimo represen-taria pouco perto dos recursos que o gover-no abriu mão ao subsidiar empréstimos aosgrandes empresários via BNDES. Para ga-rantir crédito barato aos capitalistas, o go-verno emitiu títulos do Tesouro, ou seja,contraiu mais dívida, para repassar aoBNDES cerca de R$ 180 bilhões que estãoindo de mão beijada para o setor privado.

E m 2008, o pagamento de juros eamortizações da dívida representou30% do orçamento, enquanto ape-

nas 5% foram destinados à saúde, 3% àeducação e 12% para toda a área social dogoverno.

Segundo dados apresentados na CPI dadívida pública (formada a partir de propostade Ivan Valente do PSOL), o gasto acumu-lado entre 1988 e 2009 com o serviço da dí-vida chega a R$ 5,7 trilhões, com uma forteaceleração no último período. Mesmo pa-gando todo esse montante, quando Lula as-sumiu o primeiro mandato a dívida públicaera de R$ 687 bilhões e hoje já beira os R$2 trilhões.

Uma alternativa dos trabalhadores naseleições, como a candidatura de Plínio peloPSOL, terá que defender a imediata suspen-são do pagamento da dívida pública e umaauditoria com controle dos trabalhadores,junto com a estatização do sistema financei-ro com controle dos trabalhadores, comobandeiras centrais.

Colaboraram nessa edição:André Ferrari, Bernardo Mendes Ribeiro, Carlos AlbertoRibeiro, Cristiane Marçal, Eduardo Moraes, Jane Barros,Luciano Barboza, Marcus Kollbrunner, Mariana Cristina,Maycon de Oliveira, Miguel Leme, Paulo Gajanigo, ThaisPacheco, William Rodriques, Wilson Borges Filho.

é uma publicação da Liberdade, Socialismo e Revolução

Telefone: (11) 3104-1152E-mail: [email protected]ítio: www.lsr-cit.orgCorreio: CP 02009 - CEP 01060970 - SP Assinatura: 10 edições: R$ 20 reais

(Envie cheque nominal p/Marcus Wil-liam Ronny Kollbrunner à caixa postal)

Lula garantedinheiro paraespeculadores,mas não para osaposentados e ofuncionalismo

Os professores da rede públicado estado de São Paulo trava-ram uma grande batalha contraos ataques neoliberais do go-verno Serra. Por 32 dias, a ca-tegoria enfrentou bravamentetanto a intransigência dos tu-canos quanto as mentiras dagrande mídia, que blindou ostucanos durante toda a luta.

Wilson Borges FilhoOposição Alternativa e

Educadores Socialistas na Luta

Os ataques contra a educação pau-lista visavam aprofundar ainda maisa mercantilização e sucateamentoda escola pública e a culpabilizaçãodos professores pelo consequentefracasso. Neste sentido, as provasaplicadas para definir emprego e sa-lário na verdade apenas intensificamo problema.

A crise que atinge a educação es-tadual pública está relacionada àscondições em que ela é oferecida.Os professores estão abandonados epara os alunos, o simples acesso hojeem dia não é suficiente para afirmar-mos que se livraram da exclusão. Afalta de recursos é gritante e a realidadeé longe da propaganda na TV.

O conjunto de ataques, que sinte-tizam a lógica da aplicação do neo-liberalismo na educação, foram mo-tivos mais do que suficientes paraque a categoria se levantasse.

Recebidos com balas de borracha,

bombas de efeito moral e gás lacri-mogêneo, os professores saíram emluta por uma educação pública dequalidade. A adesão à greve chegoua 60% e foram realizadas manifes-tações que conseguiram reunir cercade 60 mil professores na AvenidaPaulista.

Completamente atrelada ao PT e,portanto, ao governo Lula e sua can-didata Dilma, a direção do sindicatoconcentrou sua munição na candi-datura de Serra. As falas do setormajoritário estiveram sempre focadosna incapacidade de Serra para serpresidente, uma vez que sequer con-seguia cuidar de um estado.

Este discurso abriu margem tantopara Serra quanto para a grandemídia afirmarem desavergonhada-mente que a greve tinha fins exclu-sivamente político-eleitorais e quea educação pública estadual melhoracada vez mais.

7 reais por aula

Só no final da nossa greve, apósfortes mobilizações dos professores,houve algumas reportagens maisimparciais na mídia, mostrando, porexemplo, que professores do estadoSão Paulo recebem em média R$ 7por aula e ocupam a décima quartaposição no ranking salarial dos es-tados da Federação. Não custa lem-brar que o estado de São Paulodetém 31% do PIB do país.

Além disso, a direção majoritária

não preparou a greve como deveria.A luta deve ser preparada no cotidianoe, para isso, momentos como reuniãocom pais para entrega de boletinsbimestrais poderiam ser alvo de pan-fletagem didática que explicasse co-tidianamente em que situação a edu-cação pública se encontrava.

Este movimento permitiria que asociedade estivesse ligada ao movi-mento desde a explosão da greve.Assim poderíamos nos concentrarnos comandos de greve sem ter quepartir do zero ao discutir com pais ea sociedade.

Diante da intransigência e trucu-lência do governo Serra, que sequerabriu negociações durante a greve,deveria ter havido um trabalho me-

lhor de coordenar a luta com outrossetores do funcionalismo estadual,que enfrentam o mesmo inimigo,como na saúde (que chegou a fazerparalisação), as universidades esta-duais, etc.

Um elemento positivo foi que con-seguimos abrir os olhos de muitosnovos professores que conseguiramsuas primeiras aulas através da pro-vinha do Serra, como categoria “L”e “O”. Serra usou a prova para tentarjogar o professor novo, feliz por terconseguido aula, contra o que dáaula há muitos anos, mas não con-seguiu passar na prova. Mas, para oprofessor novo isso é uma vitória dePirro, já que a regra de quarentena(criada para não dar vínculo ao sis-

tema de previdência para novos pro-fessores) faz com que esse novosprofessores só possam dar aula umano, depois são barrados por umano. Infelizmente a direção do sin-dicato inicialmente caiu na armadilhado Serra, fazendo material que jogavao velho professor contra o novo.Mas pela pressão da Oposição, a di-reção teve que ajustar seu discurso.

Infelizmente, o conjunto de pro-blemas enfrentados acabou por im-pedir que os professores conseguis-sem o atendimento de suas reivin-dicações. As provas não foram der-rubadas, os decretos que determinama quarentena às categorias “L” e“O” continuam em vigor e o reajustenão foi conquistado.

Tirar as lições da greve epreparar a continução da luta

Mas a luta ainda não terminou.Na próxima assembleia estadual dia07 de maio, temos que analisar sehouve avanços ou não nas negocia-ções com o governo e deliberar ospróximos passos da nossa luta.

Os professores deram um grandeexemplo de determinação para aluta e as lições deste processo podemser úteis nos próximos períodos, in-cluindo o fortalecimento da oposiçãoà direção burocrática do sindicato,mas também a intensificação dasdiscussões com a sociedade paraobtermos conquistas para a categoriae para a educação pública.

Professores continuam a lutacontra os ataques de Serra

No auge da greve, 60 mil professores tomaram as ruas.

Page 3: Ofensiva Socialista n°04 maio-junho 2010

Protesto contracongelamento de salário de servidores

SÃO PAULO Mais de 500 ser-vidores de diversas categorias par-ticiparam do Ato Unificado reali-zado no dia 27 de abril em frenteao prédio do Banco do Brasil,onde funciona o escritório de Re-presentação do Governo Federal.

Funcionários do Incra, do Ibama,da DRT, Ipen (Instituto de PesquisaNuclear) e do INSS, se uniramaos servidores do Judiciário Federalna luta contra o PLP 549/09, quecongela o salário do funcionalismopor 10 anos.

Representando os servidores doIncra, Elton Lucinda informou quea categoria decidiu entrar em grevea partir do dia 03. Para ele, essa éa única forma do governo abrirnegociação com os servidores, queestão com salários arrochados edefasagem no quadro de pessoal.“Esse é um governo que nuncacumpriu um acordo com a cate-goria. A greve é o único instrumentopara abrir a negociação”, disse.

Já no dia 15 de abril, comoparte da jornada nacional de mo-bilização do funcionalismo, doismil servidores do país inteiro sereuniram em Brasília para protestarcontra a PLP 549/09.

STJ concede a casalde lésbicas o direitode adoção

LGBTT Pela primeira vez nopaís, um tribunal superior reco-nhece o direito de adoção paracasais homossexuais. Foi a 4ª Tur-ma do Superior Tribunal de Justiçaque por unanimidade tomou essadecisão no dia 27 de abril. Apesarde o julgamento ter tratado de umcaso específico, ele pode influen-ciar futuras decisões sobre o tema.

O casal de Bagé (RS) já tinhaobtido o reconhecimento da adoçãode duas crianças no Tribunal deJustiça, mas isso foi contestadopelo Ministério Público.

As duas crianças foram adotadasainda bebês por uma das mulheresdo casal como solteira. Anos depois,ela solicitou à justiça que a adoçãopassasse a valer para o casal. Ocaso ainda vai ser analisado peloSupremo Tribunal Federal.

Fornecedor da JBSFriboi mantinha 28escravos

ESCRAVIDÃO NO CAMPO Fis-cais do Ministério do Trabalho eEmprego e do Ministério Públicodo Trabalho encontraram recente-mente 28 trabalhadores em condiçãoanáloga à escravidão na FazendaTarumã, em Santa Maria das Bar-reiras (PA), da CSM Agropecuária.

Os trabalhadores rurais viviam emconstruções precárias (sem acesso aestruturas básicas de sanitários, acessoà água e luz, dividindo espaço atécom cavalos e mulas), eram subme-tidos a longas jornadas (das 5h damanhã às 18h, sem descansos regu-lares) e sufocados pelo endividamento(cobranças de "aluguel", de alimen-tação e até equipamentos de proteçãoe ferramentas de trabalho).

A Fazenda Tarumã atuava comofornecedora da JBS Friboi. Comcerca de 30 mil cabeças de gado, apropriedade dispõe até de pista depouso, com hangar, para aviões depequeno porte.

movimento • 3Ofensiva Socialista n° 04 maio/junho - 2010

O Congresso da ClasseTrabalhadora será realizado nosdias 5 e 6 de junho em Santos(SP). Ele reunirá milhares dedelegados de todo o país elei-tos por sindicatos, oposiçõessindicais e movimentos popula-res da cidade e do campo.

Este Congresso tem tudo pa-ra ser histórico, pois deve mar-car a unificação de entidadessindicais e populares combati-vas como a Conlutas e aIntersindical, além de movi-mentos sociais como o MTST,MTL, Terra Livre e PastoralOperária dentro de uma mesmaCentral.

Miguel Leme Diretor da Apeoesp pela

Oposição Alternativa

A construção de uma nova centralindependente de patrões e governosé uma necessidade histórica da classetrabalhadora para acabarmos com aatual fragmentação da esquerda epara que os trabalhadores possamretomar a ofensiva.

A crise do capitalismotrará mais ataques

Vivemos uma situação internacionalmarcada pela crise econômica. Apesarda ofensiva de propaganda da bur-guesia de que o pior da crise já teriapassado, a falência da Grécia e as di-ficuldades econômicas de países comoEspanha, Portugal, Itália e Irlandamostram exatamente o contrário.

FMI e a União Européia têm exigidoque o governo grego tome medidasde ataques à população, o que temprovocado a revolta dos trabalhadoresatravés de diversas greves gerais.

No Brasil, o governo Lula jogoubilhões de reais no sistema financeiroe concedeu reduções tributárias paraa indústria a fim de minimizar os

efeitos da crise econômica em 2010que poderia atrapalhar a candidaturade Dilma Rousseff.

Há uma bomba relógio que poderáestourar logo depois das eleições. In-dependente de quem ganhe as eleições,Serra ou Dilma, mais ataques virãocontra os trabalhadores brasileiros.

Num provável governo Dilma, asdireções governistas dos grandes cen-trais continuarão com as suas políticasde colaboração de classe e de afinidadecom as políticas neoliberais que vemsendo implementadas. A tarefa deorganizar a resistência passará ne-cessariamente pela nova Central.

Que Central precisamos?

Defendemos uma Central sindicale popular, com a participação dosmovimentos estudantis e de luta contraas opressões de raça, gênero, etc, queadotem uma orientação classista.

Uma das tarefas dessa nossa fer-ramenta é a de conseguir organizar

todos os explorados e oprimidosque não estão organizados na estru-tura sindical, mas que continuamlutando por seus direitos nos maisdiversos movimentos sociais.

Esta central poderá unificar deforma democrática e conjunta osmilhões de trabalhadores registrados,precarizados, desempregados, sem-terra, sem-teto, jovens, negros, mu-lheres, homossexuais, comunidadesindígenas, enfim todo o conjuntoda nossa classe que sofre com asconsequências do capitalismo.

Entretanto, a tarefa da Nova Cen-tral não será apenas a de incorporaresses movimentos sociais, mas par-ticipar de suas elaborações políticase organização.

É preciso resgatar as melhorestradições do movimento social e dosindicalismo combativo, democráticoe organizado pela base contra a es-trutura sindical burocrática e cupulistaexistente no país.

Defendemos uma Central radical-mente democrática, com uma estru-tura baseada na participação diretadas entidades. Uma CoordenaçãoNacional formada por representantesdas entidades que se reúna periodi-camente é uma necessidade para evi-tar a verticalização e a concentraçãode poderes numa cúpula restrita.

Ao mesmo tempo, é preciso ga-rantir o direito à pluralidade interna,sem a ditadura da maioria, mas semtambém o despotismo de uma mi-noria. Queremos uma Central quetome decisões e funcione de formademocrática e efetiva.

Construir essa Central se fará come-tendo erros e aprendendo com a expe-riência. Mas, é preciso começar já.

O papel da Conlutas naformação da nova Central

A Coordenação por uma novaCentral criada no Seminário Nacionalrealizado em novembro do ano pas-sado vem se reunindo periodicamentee tem aprofundado o debate sobreos mais variados temas.

Apesar de muitos consensos esta-belecidos entre os diversos setores,como o de se votar a natureza danova Central, há muitos outros pontosimportantes onde há divergência,como a forma de eleição e a com-posição da direção executiva e onome da nova Central.

Para nós da LSR, estas diferenças,apesar de importantes não podem co-

locar em risco o projeto de construirmosuma nova Central em junho deste ano.

O II Congresso da Conlutas, queacontece nos dias 3 e 4 de junho,imediatamente antes do Congressoda Classe Trabalhadora, deve jogarum papel de armar a Conlutas comoforça de impulsione a nova Centrale impeça qualquer recuo na pers-pectiva de sua formação.

A Conlutas, que foi um dos pólosprincipais a impulsionar o processoque está culminando com formaçãoda nova Central e deve continuar jo-gando esse papel. Nossa entidade nãopode se transformar num obstáculo àunificação do movimento sindical epopular combativo e independente.

Defendemos que muito da expe-riência construída pela Conlutasdeve ser resgatado na nova Central.Ao mesmo tempo, a nova Centraldeve resultar numa síntese superioràs organizações preexistentes.

Os limites e erros cometidos pelaConlutas, embora menores do queos identificados na experiência daIntersindical, também não podemser ignorados. Na Conlutas, nemsempre, a retórica em defesa da de-mocracia e pluralidade interna trans-formou-se em prática coerente porparte do setor majoritário da Conlu-tas. Um exemplo marcante foi acomposição da Secretaria ExecutivaNacional logo depois do I Congressoda entidade, quando o PSTU tentouimpor os nomes do organismo usandosua posição hegemônica.

Os interesses da classeem primeiro lugar

A nova Central não pode ser palcode uma disputa nociva pela hege-monia interna a qualquer preço. Aesquerda socialista não tem o direitode priorizar a construção individualde suas correntes ou partidos emdetrimento dos interesses históricosda classe trabalhadora brasileira.

Por isso, é preciso garantir umprocesso negociado de construçãodas bases políticas e organizativaspara a nova Central. Não é possíveladmitir que temas como o nome danova Central transforme-se em jus-tificativa para a divisão entre os se-tores envolvidos no Congresso.

Qualquer sectarismo, vindo de ondevier, neste momento, representaráum grande atraso no processo de or-ganização e tomada de consciênciados trabalhadores brasileiros.

Nenhum passo atrás naconstrução da nova Central!

O Bloco de Resistência Socialistana Conlutas, que inclui os dirigentese ativistas sindicais vinculados àcorrente LSR, apresentou um Ma-nifesto dirigido a todos os traba-lhadores nas assembléias que ele-gerão delegados ao Congresso daClasse Trabalhadora.

Os dirigentes e ativistas das seiscorrentes que compõe o Bloco (ARS,AS, GAS, LSR, MNS, Reage So-cialista) com participação em enti-dades como: CPERS, Terra Livre,Oposição Apeoesp (SP), SEPE-RJ,Sindicatos de Gráficos de MG eDF, Oposição Sintaema (SP), Opo-sição Sind. Alimentação SJC e região(SP), Oposição Educação do PA,Sindsaúde do Rio Grande do Norte,e muitas entidades estudantis deuniversidades como USP, Unicamp,PUCCamp, UFF, UFRJ, UERJ,UFC(Ceará), UFS (Sergipe), etc.

O Manifesto do BRS chama àconstrução de uma Central sindical,popular e estudantil, classista, socialistae radicalmente democrática e resumesuas principais posições em 7 pontos:

1. Por uma nova central para res-ponder á crise internacional do ca-pitalismo com uma saída socialista;

2. Oposição de esquerda ao go-

verno Lula e à direita tradicional –ela unidade da esquerda socialistanas eleições;

3. Reivindicar a herança da Con-lutas e superar suas limitações;

4. Construir uma central sindical,popular e estudantil;

5. Construir uma plataforma delutas e um plano de ação para opróximo período;

6. Organização pela base e radi-calização da democracia no movi-mento sindical, popular e estudantil;

7. Respeito às diferenças e à plu-ralidade política em todos os níveis.

Você poderá ter acesso à integrado Manifesto na seguinte páginana internet: www.lsr-cit.org/doc/Manifesto_BRS.pdf

Seminário da reorganização envolvendo Conlutas, Intersindical e outros setores abriu caminho para oCongresso da Classe Trabalhadora.

Manifesto do Bloco de Resistência Socialistaao Congresso da Classe Trabalhadora

Page 4: Ofensiva Socialista n°04 maio-junho 2010

4 • movimento Ofensiva Socialista n°04maio/junho - 2010

A Unicamp, através de seu rei-tor, Fernando Costa, e da pro-curadoria geral da universida-de, iniciou no mês de marçouma série de processos de sin-dicância contra estudantes. Aacusação era de realização,sem autorização prévia, de fes-tas com consumo de álcool nocampus. Esta proibição estariaindicada no regimento internoda Unicamp de 1979, portanto,da ditadura militar.

Maycon de OliveiraCampo estudantil

Construção –Unicamp

Eu fui o primeiro indiciado, naresponsabilidade de Coordenadordo Centro Acadêmico de Pedagogia.Em seguida, veio uma série de con-vocações de estudantes de diversosinstitutos para “prestar esclareci-mentos” sobre as festas ocorridasneles.

A criminalização dasentidades de luta

Na realidade, esta é uma tentativaindiscriminada de reprimir o movi-mento estudantil, já que os acusados,na maioria das vezes, pertencem aoscentros acadêmicos que, no ano pas-sado, foram justamente aqueles quese posicionaram contra a UNIVESP,programa degradante da educaçãosuperior que implementa a educação

à distância. A Faculdade de Educação, que

alavancou a greve dos estudantesano passado na Unicamp, tambémteve o primeiro indiciado.

Trata-se de uma tentativa da reitoriade amedrontar os estudantes. Poispunindo pela realização de simplesfestas, o que poderia ocorrer em re-lação às manifestações de oposiçãoà reitoria, como atos e ocupações?

A resposta do movimentoestudantil

Mas o movimento estudantil soubedar uma resposta rápida e organizadaaos ataques da reitoria. Reunindo-se no Centro Acadêmico de Peda-gogia logo após o depoimento doprimeiro indiciado, os estudanteschamaram uma assembléia geral eformaram um comando de mobili-zação. Diante da proposta dos com-panheiros do DCE, dirigido pelocampo Domínio Público, de realizarassembléia somente três semanasdepois, com o argumento da difi-culdade de se organizar uma assem-bléia em uma semana, o campoConstrução e outros coletivos, juntocom a maioria da assembleia, posi-cionou-se pela organização rápidapara responder aos ataques.

O resultado da assembleia foi ofortalecimento do comando de mo-bilização, a organização de um “pulacatraca” no restaurante universitárioe de um ato até a Procuradoria Geral.

A princípio, a Reitoria não aceitou areivindicações do movimento estu-dantil, especialmente o cancelamentodas sindicâncias. Mas após um atoem frente à reitoria com adesão dosestudantes, o Reitor foi forçado avoltar atrás e suspendeu os processosde sindicância para negociar os termosda realização de festas.

Esta foi uma vitória do MovimentoEstudantil que mostrou que a lutaorganizada é o caminho para res-ponder aos ataques colocados pelareitoria e pelos governos.

A defesa das festas é uma defesa

da socialização no interior do campuse da ocupação do espaço público.Faz parte das lutas políticas no inte-rior da universidade, porque, diantedessas proibições e tentativas de pu-nição, lutar por festas é lutar pordemocracia e pelo direito de orga-nização independente dos estudan-tes.

Mas, para uma efetivação dessavitória do movimento estudantil, épreciso continuar a organização con-tra a repressão no campus, dandocontinuidade aos debates sobre autilização do espaço público da Uni-

versidade, posicionando-se contra-riamente à repressão da segurançano campus, e contra o regimento daUnicamp, que data da ditadura mi-litar.

Caráter elitista

Este regimento nos mostra, clara-mente, o elemento repressor na Uni-camp e nos oferece ferramentas parapolitizar cada vez mais o movimento,discutindo o caráter excludente, eli-tista e autoritário da universidadepública. Só para citar alguns rápidosexemplos, o regimento prevê puni-ções para casos de “desobediência,baderna, má conduta, algazarra, den-tro e fora do campus” (esta parte foiutilizada para tentar punir os estu-dantes pela organização de festas),entre outras coisas muito questio-náveis. Cabe questionarmos, porexemplo, o que é má conduta?

Outra coisa também apontada peloregimento é que a “Universidade sereserva o direito de desligar qualquerestudante que ela julgue indesejável”.A reitoria diz que passagens comoesta são letra morta, mas bastou àreitoria querer e o regimento ditatorialfoi reavivado para acusar de bader-neiros diversos estudantes.

É preciso fortalecer esse debateatravés dos CAs, preparando os es-tudantes para essa luta que apenasse iniciou. Força ao movimento es-tudantil para avançar nas lutas e nasvitórias!

A jornada do ‘abril vermelho’foi marcada pela ocupação deum latifúndio em Fortaleza.Cerca de 1,2 mil pessoas, namaioria de Fortaleza, ocuparamo Sítio São Jorge, de 800 hec-tares, no bairro José Walter, depropriedade da famíliaMontenegro, desde a madruga-da do dia 15 de abril. A açãofoi organizada pelo Movimentodos Trabalhadores Rurais SemTerra (MST), pelo Movimentodos Conselhos Populares(MCP, integrante da Frente deResistência Urbana) e por mili-tantes do núcleo do PSOL nosbairros Granja Portugal eConjunto Ceará.

Carlos Alberto RibeiroDiretório estadual PSOL-CE

William RodriguesMilitante do movimento

estudantil UFC

Segundo um servidor do INCRA(Instituto Nacional de Colonizaçãoe Reforma Agrária) no Ceará, 10hectares já é considerado latifúndiopara uma cidade como Fortaleza.De acordo com dados do NUHAB,

Núcleo Habitação e Meio Ambiente(rede de movimentos populares eentidades com atuação na ReformaUrbana), Fortaleza conta com maisde 600 assentamentos irregulares emais de 100 áreas de risco.

Existem 13 áreas com ameaças dedeslizamento, afetando 20.715 famí-lias, segundo dados da própria DefesaCivil de Fortaleza. Portanto, é umabsurdo manter um latifúndio urbanoem detrimento do déficit habitacionalque só em Fortaleza é de 77.615 e naRegião Metropolitana é de aproxi-madamente 140 mil unidades.

Déficit habitacionalpoderia ser eliminado

Além desse latifúndio da famíliaMontenegro, na capital cearenseexistem mais de 110 mil imóveisabandonados, segundo levantamentoda Secretaria Municipal de Saúde.Ou seja, mais do que o déficit habi-tacional.

Enquanto isso, o governo da pre-feita de Fortaleza Luizianne Lins,PT, alega que falta terreno para cons-trução de casas populares. Ora, nãocusta lembrar que apenas seis cons-trutoras contribuíram com mais deR$ 2,569 milhões (de um total de

R$ 4,7 milhões declarados à JustiçaEleitoral) para a campanha à reeleiçãode Luizianne em 2008.

Para a Defensoria Pública do EstadoCeará, caso as leis fossem cumpridas,não devia haver um déficit habita-cional tão elevado, pois o ordenamentojurídico brasileiro reconheceu o direitoà moradia como fundamental, incor-porando-o na Emenda 26 da Consti-tuição Federal, sendo incluído comodireito social no artigo 6º.

Em 2001 foi criado ainda o Esta-tuto da Cidade como marco legal-urbanístico, regulamentando em nívelfederal normas referentes ao plane-jamento e gestão urbana. No entanto,o capitalismo é um sistema políticoe econômico que só visa o lucropara um punhado de gente. Mesmoque existam algumas leis para mi-nimizar o sofrimento do povo pobre,estas não são cumpridas.

Aproximadamente 8 milhões defamílias vivem sem condições ade-quadas de moradia no Brasil. Issoporque o Estado burguês, atravésde suas instituições e poderes exe-cutivo, legislativo e judiciário, estáa serviço dos ricos. Ocupar e resistirnas terras para quem mora e trabalhaé necessário, porém, avançando naluta para construir o socialismo.

‘Abril vermelho’ de ocupações e protestos

‘Abril vermelho’ ocupalatifúndio em Fortaleza

Todos os anos o MST (Movi-mento dos Trabalhadores RuraisSem-Terra) realiza o “Abril Ver-melho”, em memória do massacrede Eldorado dos Carajás em 1996e para promover a luta pela reformaagrária.

Esse ano foram realizadas ma-nifestações em 20 estados, alémde Brasília. Foram ocupados maisde 70 latifúndios, a maior partelocalizada em Pernambuco.

A maioria das áreas ocupadas jáforam classificadas como impro-dutivas em vistorias do Incra, masainda não foram desapropriadas edestinadas à Reforma Agrária.

Também foram realizadas ocu-pações nas sedes do Incra (InstitutoNacional de Colonização e ReformaAgrária) em São Paulo, Rio de Ja-neiro, Pernambuco, Piauí, Paraíba,Rondônia, Pará, Maranhão e MatoGrosso.

Luta contra a criminalização de entidades de luta

Uma vitória do movimentoestudantil na Unicamp

Ocupação em Fortaleza: pela reforma urbana e agrária.

Educação Unicamp: reitoria tentou punir quem primeiro se levantou para lutar.

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nacional • 5Ofensiva Socialista n° 04 maio/junho - 2010

FSU: na luta pelareforma urbana

RIO DE JANEIRO Entre 22 e26 de março de 2010 aconteceuno Rio de Janeiro o Fórum SocialUrbano (FSU).

O FSU surgiu como um ato deresistência e crítica feito pelosmovimentos sociais do campo eda cidade ao V Fórum UrbanoMundial, organizado pela ONU.Isso porque, em suas edições an-teriores, o FUM se mostrou incapazde superar a lógica da cidade-em-presa competitiva, dos grandesprojetos de impacto, que aprofun-dam as desigualdades sociais eambientais das cidades.

O FSU terminou deixando umsaldo muito positivo: durante cincodias milhares de pessoas se reu-niram para debater propostas parauma cidade mais igualitária.

Essas propostas serão incorporadaspelos diversos movimentos sociaisna luta pela transformação da so-ciedade. Acompanhe o debate ocor-rido acessando a página: http://fo-rumsocialurbano.wordpress.com/

Ex-vereador doPSOL condenado porapoio a sem-tetos

SÃO BERNARDO No dia 12 deabril, o Tribunal de Justiça de SãoPaulo condenou o ex-vereador AldoSantos a cinco anos de suspensãode seus direitos políticos e paga-mento de uma multa equivalente acinco vezes o salário que recebia àépoca como vereador. Isso peloapoio ao acampamento Santo Diasorganizado pelo MTST (Movimentodos Trabalhadores Sem Teto) emSão Bernardo do Campo.

O acampamento Santo Dias teveinício no dia 19 de julho de 2003e contou com a participação de 7mil pessoas que ocuparam porvinte dias um terreno de 200 milmetros quadrados da Volks Ca-minhões. Após o fim da ocupação,que foi reprimida duramente pelogoverno Alckmin, o ministériopúblico de São Bernardo do Cam-po moveu uma batalha jurídicacontra o MTST e seus líderes.Aldo foi acusado de ato de im-probidade por ter colocado seumandato em apoio à mobilização.

Duas mil famíliasocupam prédios nocentro de São Paulo

SÃO PAULO Cerca de duas milfamílias ocuparam dois prédiosabandonados na região central deSão Paulo e um terreno no M’BoiMirim, na Zona Sul, na madrugadade 26 de abril. Ao mesmo tempofoi organizado um acampamentonas proximidades da Prefeiturapara denunciar a falta de moradiasna cidade.

As ocupações foram organizadaspela Frente de Luta por Moradia(FLM). Um dos principais objeti-vos é questionar as condições paraa participação em programas ha-bitacionais, como os do governofederal, que exigem renda de trêssalários mínimos.

“Para nós aqui em São Paulonão fluem os projetos habitacio-nais. Não há atendimento paraquem ganha até 3 salários mínimos,justamente quem mais precisa.Para essa faixa de renda, não foiassentado nenhum tijolo do ‘MinhaCasa, Minha Vida’”, diz a cartade reivindicações da FLM.

As tragédias causadas pelasfortes chuvas no Rio trouxerama tona os estragos de outratempestade, mas essa é per-manente, a chuva de ataques edescaso do Estado e do poderpúblico com a população. Foimais do que evidenciado queos governantes tinham conhe-cimento sobre o alto risco queas famílias atingidas pela chu-va corriam. E porque não foifeito nada para se evitar a tra-gédia?

Mariana Cristinapsicóloga e militante do

PSOL Niterói

Não só sabiam do risco que essasfamílias corriam, como também in-centivaram a ocupação e permanêncianos morros, como no caso do Morrodo Bumba, onde morreram mais de60 pessoas, que se localiza na cidadede Niterói, a mais afetada do Rio,que teve ao todo 165 mortos. Estafavela foi construída em um terrenoonde havia funcionado um lixão, noqual além de o solo não ser firme,poderiam ocorrer explosões de gasestóxicos, acumulados com a decom-posição do lixo. Em troca de votose da construção de um curral eleitorala dinastia PT-PDT, comandada porJorge Roberto Silveira (PDT), quese alterna no poder e governa acidade há 20 anos, doou barracosnesta comunidade e fez obras de in-fra-estrutura, como o programa “Fa-vela-Bairro”.

Governos não priorizamobras preventivas

O prefeito de Niterói, Jorge Ro-berto Silveira (PDT), destinou paraobras de contenção de encostas amísera quantia de 50 mil reais. Emcontrapartida, para a construção demais uma obra do “Caminho Nie-meyer”, ponto turístico da cidade,uma torre panorâmica, estão previstos19 milhões de reais. Após a tragédia,o governo municipal precisou soli-citar a ajuda do governo federal com14 milhões, para amenizar os efeitos.

Nesta equação a falta de verbas epolíticas reais de habitação digna (omunicípio de Niterói gastou 0,01%de seu orçamento de 2009 em habi-tação) e prevenção de deslizamentosgerou não só um prejuízo de 14 mi-lhões de reais, que sairão dos cofres

públicos, mas sim um sofrimentoda população, que é incalculável.Ao total foram 12 mil pessoas desa-brigadas no estado, 15 milhões queforam afetadas pelas chuvas e 251mortos, sendo que mais de 90%eram moradores de favelas.

Ainda existem centenas de pessoasmorando em escolas públicas, semágua e sem luz, segundo o Comitêde Solidariedade de Niterói, nestacidade em que os danos são maioresdo que a mídia burguesa divulga.Ainda existem muitas casas em riscode deslizamento. O Morro do Céu,também construído sobre um lixão,está com vazamento de gás, correndoo risco de explosões. Nas escolasque servem de alojamento existeuma enorme proliferação de doenças,as diretoras querem expulsar os abri-gados e estão ocorrendo casos dedesvio de doações de alimentos. Ogoverno está fazendo cadastro daspessoas, para realojá-las em lugaresmais adequados, mas não está dei-xando protocolo, o que implica quenão existe validade legal. Na práticaa defesa civil não ajuda em pratica-mente nada a população das regiõesameaçadas.

No entanto, o saldo final destaequação é positivo para os gover-nantes e para a burguesia, que po-derão utilizar-se da comoção públicapara aprofundar a política de mar-ginalizar, removendo a populaçãodas favelas, e culpabilizar os pobres,

atribuindo a eles a responsabilidadepor sua condição.

Mesmo antes de se ter a dimensãodo tamanho da tragédia, com centenasde corpos soterrados e famílias desa-brigadas, Sérgio Cabral (PMDB), go-vernador do estado, se pronuncioudefendendo a “necessidade” dos murosnas favelas, para impedir que novos“irresponsáveis” ocupem terrenos derisco, afirmando a necessidade de oestado ser ainda mais duro com estaspessoas. Na verdade, sabemos de suapreocupação em segregar e esconderatrás dos muros os pobres. EduardoPaes, prefeito do rio, assinou um de-creto autorizando “agentes públicos”a invadirem a casa das pessoas, mo-radores de favela, mesmo que à força,supostamente para garantir sua segu-rança. As favelas que estavam na listapara serem desabrigadas e lançadaspara bem longe dos olhos dos turistase dos centros econômicos e sociais,por conta dos grandes jogos esportivos,agora estão com seus dias contados,pelo que já foi anunciado pelo estado.

Especulação imobiliária

O que está em jogo é o lucro geradopela especulação imobiliária e a valo-rização de regiões a fim de atrair o tu-rismo e investimentos econômicos. Amídia burguesa já anunciou o interessede transformar o morro dos Prazeresem um dos pontos de visitação dostransatlânticos que aportam no Rio.Este foi o morro mais afetado pelaschuvas no município do Rio de Janeiro,que teve 30 mortos. Motivo perfeitopara remover o quanto antes a favela,liberando para especulação imobiliáriae para o turismo este terreno que selocaliza no centro do Rio, possui vistapara a cidade inteira e historicamenteé importante, por ser o primeiro morroa ser ocupado no estado.

Mal foi anunciado pelo estado oauxilio aos desabrigados, o miserávelaluguel social, de 400 reais, que ovalor dos alugueis em Niterói au-mentaram cerca de 50%. Se apro-veitando desta tragédia para fazercampanha, Sérgio Cabral entregou90 casas em Niterói, número ínfimocomparado aos 7mil desabrigados.

Para conseguir tirar a população

dos morros à força, os lançando emnovas favelas, mas desta vez longedos centros econômicos, o governoe a burguesia aprofundam uma cam-panha ideológica que associa a ima-gem dos moradores de favela a va-gabundos, bandidos, preguiçosos,etc. Atualmente estão alegando queeles não aceitam sair de suas casas,mesmo que correndo risco de desa-bamento, pois não querem morarlonge do trabalho.

Junto a isto vemos a política de cri-minalização da pobreza se acentuando,quando um ato em protesto contra osefeitos das enchentes, ocorrido emum bairro nobre de Niterói, foi divul-gado pela mídia como um arrastão.

Grande ato em Niterói

A população pobre que acompa-nhou e foi vítima dos efeitos destapolítica de marginalização dos pobres,em prol dos lucros da burguesia, jáestá se questionando sobre a legiti-midade desta política. Em Niteróiocorreu o maior ato dos últimos tem-pos, com representantes de 15 co-munidades, que não tinham organi-zação popular antes destes eventos emais de mil participantes, que segu-ravam cruzes, com amplo apoio dostranseuntes. Outras manifestaçõesocorreram, explosões de raiva e in-dignação, sem organização prévia,ou direção de entidades, ou grupospolíticos organizados. Já existe umcalendário de atividades, ocorreu umaaudiência pública, na qual as autori-dades reafirmaram seu descaso. Estaluta e que cada vez mais ganha novosadeptos, já totalizam 20 comunidadesno Comitê de Solidariedade de Niterói.

Enquanto milhões de famílias per-manecem desabrigadas, dezenas deprédios e terrenos públicos no centrodo Rio de Janeiro, Niterói e outroscentros econômicos e sociais, en-contram-se sem uso. Este é maisum exemplo que aponta o antago-nismo entre os interesses da burguesiae dos governantes e a satisfação dasnecessidades básicas da população.As conquistas que a população temhoje, mesmo que ainda poucas e li-mitadas, só ocorrem quando são to-madas com suas próprias mãos.

Tragédia no Rio de Janeiro

Sofrimento de muitos,lucro de poucos

Resposta de luta à tragédia social no Rio.

Desastre no Morro do Bumba: governos são culpados.

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6 • especial: PSOL e as eleições 2010 Ofensiva Socialista n°04maio/junho - 2010

Além de formalizar o nome dePlínio como pré-candidato do partido,a Conferência do PSOL votou umManifesto político que reivindica umprograma “que parta das demandassociais e populares, da defesa dosdireitos da classe trabalhadora e dopovo, e que coloque em pauta pro-postas que ataquem de frente a he-gemonia do capital financeiro, quedefendam a soberania nacional, quecaracterizem a marca anticapitalistae ecossocialista do nosso projeto degoverno e da nossa campanha”.

O Manifesto ainda conclama à re-tomada da Frente de Esquerda como PSTU e PCB, além de reivindicaruma campanha eleitoral inserida naslutas sociais, populares e dos traba-lhadores, por terra, moradia, direitossociais e todas as demandas de nossaclasse. A campanha também devecontribuir com o processo de forma-ção de uma nova Central combativa,independente e classista.

A eleição de parlamentares socia-listas tem como objetivo, segundo oManifesto, construir porta-vozes dasdemandas populares que denunciemas mazelas sociais e as negociatasdos poderes da República. A campa-nha eleitoral de Plínio e do PSOL,de acordo com o Manifesto, deveser de massas, “uma campanha so-cialista” e baseada nas “bandeirashistóricas da classe trabalhadora edo povo”.

A Conferência Eleitoral ainda votouresoluções convocando a realização

de um Seminário de Programa, comdatas indicativas de 26 e 27 de junho,visando construir uma plataformaunitária da esquerda socialista noprocesso eleitoral. Além disso, foivotada uma Carta Compromisso paratodos os candidatos que se apresen-tarão pelo PSOL. Nessa Carta, entreoutros inúmeros pontos, está o vetoa contribuições financeiras de bancos,multinacionais e qualquer empresacom contenciosos trabalhistas e am-bientais.

O significado davitória de Plínio

A vitória de Plínio na Conferênciado PSOL representou uma derrotados métodos do vale-tudo na disputapolítica dentro da esquerda. Saíramderrotados da Conferência aquelesque promoveram ações como o se-qüestro da página do partido na in-ternet, bloqueio financeiro para in-viabilizar reuniões das instâncias di-rigentes, irregularidades e até fraudescomprovadas em Plenárias locais,além da ‘guerrilha’ de boatos, calúniase desinformação pela internet.

Mas, a disputa no PSOL não seresumiu à luta contra os métodosgolpistas e burocráticos dentro daesquerda. A escolha de Plínio comocandidato do PSOL representou umadolorosa derrota de todos aqueles(as) que pretendiam levar o partidoa uma coligação com o PV de MarinaSilva e Zequinha Sarney. Foi, por-tanto, uma vitória do projeto quevisa reconstruir uma esquerda so-cialista no país baseada na indepen-dência de classe dos trabalhadores ena defesa de uma alternativa socialista.

O projeto de coligação com o PVrefletiu a enorme pressão eleitoralistasobre o PSOL, numa conjuntura mar-cada pela confusão ideológica, ilusõesno governo e grandes dificuldadespara a generalização das lutas sociaisnuma perspectiva de transformaçãoradical.

Marina não representa alternativaa Dilma ou Serra e não se apresentacomo oposição a ninguém. Declara

querer dar continuidade à políticaeconômica de FHC e Lula e aceita alógica do jogo político dominante.Sem qualquer pudor, seu partido, oPV, fará coligações estaduais comPT, PSDB, DEM e o que mais apa-recer. Sua alternativa ambiental semostra débil e ineficaz ao não ques-tionar seriamente a lógica do mercado.Basta ver sua atuação como ministrade Lula – o governo da privatizaçãoe devastação da Amazônia, do en-fraquecimento e divisão do IBAMA,enfim, o governo de Belo Monte e oterrível desastre ambiental e socialque provocará se não for barrado.

Se vitoriosa, a pré-candidatura deMartiniano Cavalcanti teria levadoo PSOL a ser uma mera linha auxiliarde Marina Silva nas eleições. Des-caracterizaria completamente o par-tido e faria regredir o já difícil pro-cesso de recomposição da esquerdasocialista no Brasil.

Ao contrário, a vitória de Plínioabre a perspectiva de uma campanhaeleitoral vinculada às lutas dos tra-balhadores e aos movimentos sociais.Plínio não será candidato para disputardentro da ordem, mas para questionara ordem estabelecida e colocar o so-cialismo na agenda dos debates paramilhões de brasileiros e brasileiras.

Lições da crisedo PSOL

Embora o momento seja de colocaro bloco na rua e partir para a disputade corações e mentes de milhões nacampanha, o processo de recompo-sição da esquerda só poderá efetiva-mente avançar com Plínio candidatose os militantes e dirigentes do PSOLe do conjunto da esquerda tiraremtodas as lições do que representou adisputa interna no partido.

Aliás, nesse aspecto, houve umaclara e perigosa limitação na Confe-rência Eleitoral do PSOL. Em meioà crise e à divisão promovida pelosetor que apoiou a pré-candidaturade Martiniano Cavalcanti, a mesacoordenadora da Conferência preferiusuprimir o direito dos militantes de-fenderem em Plenário as Teses de-batidas durante todo o período prévioà Conferência. Isso prejudicou se-riamente o debate de fundo sobre asituação do partido e as tarefas paraavançar.

A crise do PSOL tem raízes numasituação política difícil e uma relaçãode forças desfavorável para a luta demassas. Mas, isso não explica tudo.Na verdade, se queremos construirum partido socialista é exatamentepara poder incidir sobre essa realidadedifícil e transformá-la. A justificativahistórica do PSOL só existirá se forcapaz de enfrentar essas situações esuperá-las.

Desde sua fundação em 2004, oPSOL vive um processo gradual dedescaracterização enquanto partidomilitante e voltado à intervenção naslutas. Cada vez mais, a lógica internavai se tornando a de um partido paradisputar eleições. Internamente issose reflete no fato de que, em cadanovo momento da vida partidária, oque vemos é um grau a mais de di-luição do caráter militante projetadona origem do PSOL.

No II Congresso do PSOL (2009)sequer os tímidos critérios de paga-mento de cotas e participação empelo menos três reuniões foram exi-gidos para que o filiado pudessevotar. Houve um inchaço sem critériosna base e um fechamento na cúpula(o II Congresso teve menos da metadedos delegados do I Congresso). Atendência aponta para o terrível ce-nário petista de filiação massiva,

Nem Dilma, nem Serra ou Marina...

PSOL lança Plínio presidente!Depois de muito debate e uma dura luta política in-terna, o PSOL lançou Plínio de Arruda Sampaio comoseu pré-candidato a presidente nas eleições de outu-bro desse ano. Essa foi a principal deliberação da IIIConferência Eleitoral do partido, realizada em 10 deabril no Rio de Janeiro e representou uma grande vi-tória para a esquerda socialista brasileira.

A campanha de Plínio já está sendo construída jun-to aos ativistas e militantes dos movimentos sociaise da esquerda e pretende denunciar a falsa polariza-ção entre Dilma e Serra, levantando uma alternativasocialista para o país. Um dos desafios centrais ago-ra é convencer o PSTU e PCB a não dividirem a es-querda socialista nas eleições e comporem com oPSOL uma Frente de Esquerda e dos trabalhadores.

André FerrariMembro do Diretório Nacional do PSOL

A escolha de Plíniocomo candidato doPSOL representouuma dolorosa derrotade todos aqueles (as)que pretendiam levaro partido a umacoligação com o PVde Marina Silva eZequinha Sarney.

A vitória de Plínio no PSOL foi uma vitória da esquerda socialista.

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especial: PSOL e as eleições 2010 • 7Ofensiva Socialista n° 04 maio/junho - 2010

Nem Dilma, nem Serra ou Marina...

PSOL lança Plínio presidente!despolitizada e sem critérios, utilizadaapenas como massa de manobra nasvotações internas. Essa dinâmica,apoiada pela grande maioria das cor-rentes da direção do partido, é o queestá na base das distorções e práticasdegeneradas observadas na Confe-rência Eleitoral por parte de algunssetores.

Junto com a diluição do carátermilitante do partido, existe o rebai-xamento da linha política sob a fortepressão eleitoralista. Os setores queapoiaram Martiniano não foram osúnicos que defenderam a coligaçãocom o PV num primeiro momento.Junto com eles, a maior parte dascorrentes que compuseram a chapamajoritária no II Congresso do par-tido, também defendeu o esforçopara buscar uma aliança com o PV.

A derrota das intenções de coligaçãocom o PV e a vitória de Plínio foram,portanto, vitórias da base militantedo partido contra a maioria de seusdirigentes. A vontade da base doPSOL derrotou a posição da presi-denta do partido, Heloísa Helena,indicando que não quer um partidocom chefes inquestionáveis. Essamesma base também obrigou outrossetores majoritários a mudar de po-sição.

Esses são sinais de que ainda existeuma militância ativa no PSOL esobre a base dessa militância é quese podem avançar nas transformaçõesnecessárias no partido.

O eleitoralismo e a perda do carátermilitante do PSOL são uma receitaacabada para fazer ressurgir entrenós os terríveis e nefastos desviosda experiência petista. É precisocortar esse mal pela raiz. Para isso,é preciso que todos aqueles que semostraram indignados com os mé-todos golpistas no PSOL avancemem suas conclusões e adotem umnovo rumo no partido.

Para o PSOL, no futuro, só existemdois caminhos. Se não avançar cla-ramente na direção de transformar-se num partido militante, democrático,inserido nas lutas e com um claroprojeto socialista, tenderá a retrocedercada vez mais na direção das terríveispráticas que observamos nos últimosmeses.

A formação do PSOL foi um acertoe uma necessidade no processo derecomposição da esquerda. É precisoresgatar seu projeto original e avançar

na superação da política e dos méto-dos petistas.

As decisões da Conferência Elei-toral e a campanha de Plínio, mesmocom todas as dificuldades, oferecempossibilidades para um avanço doPSOL. Mas, é preciso ir além. Épreciso acabar de vez com qualquerpossibilidade de coligações com par-tidos governistas e/ou burgueses nosestados. É preciso construir umacampanha militante que se revertaem organização de base. É precisoaprofundar o programa realmentenuma direção anticapitalista e socia-lista.

Uma saída pela esquerda, com aretomada de elementos do projetooriginal do PSOL é necessária. Semisso, o que veremos depois das elei-ções é uma contra-ofensiva de tudoaquilo que abominamos no últimoperíodo na disputa interna do PSOL.

Acumular forçaspara a lutasocialista

A falsa polarização entre Serra eDilma, insuflada pelos partidos ma-joritários e a mídia burguesa, nãoesconde que o projeto de ambos vaina mesma direção: garantir os inte-resses do grande capital, dos ban-queiros, transnacionais, tubarões ca-pitalistas e latifundiários.

Mesmo numa conjuntura de ilusõesno governo, a campanha de Plíniotem condições de furar parcialmenteesse bloqueio. Construindo-se entreos sem-terra, entre os trabalhadoresque lutam, os estudantes e a juventudetrabalhadora, as mulheres, negros,índios e LGBTT, a campanha de Plí-nio vai buscar arrancar a máscara deDilma e Serra. Defendendo uma al-ternativa anticapitalista e socialista,poderá servir para que acumulemosforças diante dos fortes enfrenta-mentos que virão.

O futuro governo burguês, com

Serra ou Dilma, não hesitará emjogar nas costas dos trabalhadores opeso da crise do capitalismo e o faráde uma forma ainda mais intensaque Lula. A caixa de maldades teráque ser aberta para garantir os inte-resses das elites e para enfrentar acrise internacional que se mantém.Serra ou Dilma estão comprometidosaté a medula com a política de ajustefiscal, cortes nos gastos, ataques aofuncionalismo, desmonte dos serviçospúblicos e destruição do meio am-biente.

Como serão governos mais frágeis,pois não poderão contar com as gran-des ilusões existentes em Lula hoje,o nível de repressão a quem ousa re-sistir será maior. Mas, o nível daslutas, da resistência e da polarizaçãosocial e política também. Por isso, épreciso passar pelo teste de 2010,para chegarmos com força em 2011e na nova etapa que se abrirá. Issosignifica combinar a organização daluta hoje, incluindo a formação danova Central, com a construção dacampanha socialista de Plínio.

Um chamadoenfático ao

PSTU e PCB –reconstruir a

Frente deEsquerda!

Nesse contexto, a fragmentaçãoda esquerda socialista nas eleições éalgo inaceitável. Apesar do tempoperdido pelo PSOL com a fracassadanegociação com o PV, não existe,nesse momento, nenhum argumentominimamente aceitável para que nãose forme uma Frente de Esquerda edos trabalhadores nessas eleições.

É preciso reconhecer que o erroda tentativa de negociação com oPV foi um grande obstáculo para oaprofundamento das relações entreo PSOL, PSTU e PCB. A responsa-

bilidade do tempo perdido é da dire-ção do PSOL. Porém, esse obstáculojá foi retirado do caminho.

A vitória de Plínio não é umavitória apenas dos setores do PSOLque combateram a linha oportunistade coligação com o PV. É uma vitóriado conjunto da esquerda que desdeo início defendeu uma campanhaclassista e socialista. É, portanto,uma vitória também do PSTU e oPCB. Se estes partidos não reconhe-cem a vitória de Plínio como umavitória também sua, acabam, mesmosem desejar, fortalecendo o campoderrotado.

Por que o PSTU e o PCB nãoaceitam participar do processo deelaboração do programa da campanhade Plínio de forma aberta e demo-crática? Por que o PSTU e o PCBnão aceitam sentar para discutir asbases de uma campanha unitária daesquerda?

O PSOL está chamando formal-mente, a partir de resoluções de suaConferência e de sua direção nacional,o PSTU e o PCB para a realizaçãode um Seminário de Programa e reu-niões para discutir sobre composiçãoda chapa, nomes, eixos programáticose todos os pontos relacionados àcampanha. Por que não aceitar?

Mesmo respeitando a autonomiadesses partidos, uma recusa não sejustifica. O preço a ser pago portodos nós pela divisão da esquerdanessas eleições, recairá com aindamais força sobre quem respondernegativamente a essas propostas.

Ainda é tempo. Podemos passarpor 2010 com uma significativa vi-tória da esquerda a despeito das di-ficuldades e contradições do momentopolítico atual. É preciso unificar aesquerda socialista nas urnas e nasruas. Vamos juntos construir umanova central unitária, classista e com-bativa para organizar a luta diretados trabalhadores. Vamos juntos tam-bém construir uma Frente de Esquerdacom um programa e uma campanhasocialistas com Plínio presidente!

Apesar do tempoperdido pelo PSOLcom a fracassadanegociação com o PV,não existe, nessemomento, nenhumargumentominimamenteaceitável para quenão se forme umaFrente de Esquerda. PCB, PSTU e PSOL: Frente de Esquerda em 2006 – por que não em 2010?.

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8 • saúde/mulheres Ofensiva Socialista n°04maio/junho - 2010

Neste ano eleitoral, entre osdias 9 e 11 de abril, realizou-seem Campinas-SP a IIConferência Municipal deSaúde Mental. Esta faz partedo chamado controle social, doSUS, isto é, o espaço “demo-crático” de proposição e avalia-ção das políticas públicas pelapopulação. Esse processo de-veria incluir ainda a etapaEstadual, que em São Paulonão foi convocada porque o go-verno do PSDB alegou que aconferência poderia se tornarpalanque para o lançamento deDilma Roussef. A etapaNacional está prevista para ofinal de junho deste ano. Masqual a função das conferênciase o que podemos esperar desseprocesso?

Cristiane MarçalPsicóloga

Pela etapa municipal é possívelperceber que as conferências, ini-cialmente, funcionam como depósitosde angústias e inquietações e, aolongo do processo, vão se transfor-mado em momentos de grandes exal-tações de conquistas parciais, aindaque importantes para a vida de umusuário do sistema de saúde queantes era internado no manicômio eque hoje frequenta um serviço sus-btitutivo como o CAPS (Centro deAtenção Psicossocial).

É assustador vermos usuários etrabalhadores tomarem esse espaçocomo a única possibilidade de seorganizarem e ficarem horas a fio

debatendo quem erra ou acerta noprocesso de construção do SUS,mas não debaterem, por exemplo,de onde viria o financiamento paraas ações da rede substitutiva ao ma-nicômio da saúde mental ou comoo espaço do controle social vemsendo boicotado, com as políticassendo implementadas mesmo sema aprovação do Conselho Municipalde Saúde – como no caso da “priva-tização” do Complexo HospitalarOuro Verde em Campinas, que hojeestá sob a gestão de uma OrganizaçãoSocial – uma forma de promover aterceirização na saúde.

Sabe-se que apenas em 2006 o fi-nanciamento dos serviços substitu-tivos foi maior que o dos hospitaispsiquiátricos e que, mesmo estandoprevisto que para cada 200 mil ha-bitantes já se possa ter um CAPSIII (Centro de Atenção Psicossocial24h), existem apenas 48 CAPS IIIno Brasil, sendo que 6 em Campinas.

“Empresas de loucura”

O CAPS III é uma das novas for-mas de se lidar com as pessoasquando entram em crise, surtam, oupioram seu quadro, pois os profis-sionais já as conhecem e o serviçoestá no território no qual vivem. Aconsequente falta desses serviçosvêm mobilizando familiares que sãoimpulsionados por uma onda con-servadora que pede o retorno dasinternações a longo prazo, nos moldesdo manicômio. Estes eram e são“empresas da loucura”, pois obtêmgrandes lucros, através da exclusãodas pessoas do convívio na sociedade,

e retira delas a possibilidade deverem outra forma de cuidado dosofrimento mental.

A Lei nº 10216/2001, da ReformaPsiquiátrica, demorou 12 anos paraser aprovada e com importantes al-terações. Cinco anos se passarampara que o repasse fosse maior paraos serviços que substituem o mani-cômio. Mas, efetivamente, a mudançaimpulsionada pelo Movimento daLuta Antimanicomial foi se estacio-nando, e o que vemos é o desvio daidéia inicial e uma mudança de apa-rências, no nome e não no modeloimplementado. O manicômio ainda

existe, mesmo que em um novo for-mato.

Assim, em 2010, é possível sefalar em avanços da Reforma Psi-quiátrica para a IV Conferência Na-cional de Saúde Mental?

Mesmo o Brasil sendo um paíscapitalista dependente, por si só issonão explicaria nossas dificuldades.Ou acreditamos que se fossemos asgrandes potências imperialistas es-taríamos com a questão da saúdemental resolvida? Elas não estão.

Seja lá qual for a grandeza de re-cursos e investimentos nessas áreas,dentro do capitalismo, mesmo que a

social-democracia “desse certo”, nãoseria possível dar conta da intensaprodução de sofrimento que vemosa cada dia em um mundo capitalista.Vemos este sofrimento brotando aosmontes entre os trabalhadores daslinhas de produção, dos “call centers”,entre o funcionalismo público cadavez mais punido pela luta por seusdireitos, entre outras categorias.

Doenças do trabalho

Milhões são os exemplos de novasdoenças do trabalho que surgem –como a Síndrome do Burnout (es-gotamento físico e mental pelo tra-balho), que tem levado trabalhadoresinclusive à morte. Esses códigos dedoença, rótulos, escondem por detrása intensa selvageria na qual traba-lhadores submetem suas vidas ao seadaptarem ao mercado de trabalho.Muitas vezes chegam ao limite ex-tremo de se adaptarem a condiçõesde vida extremamente doentias.

Ao pensarmos nos processos dasconferências de saúde mental vemosum clima de euforia que em muitose afasta das lutas colocadas pelopróprio movimento da Luta Anti-manicomial – que não rompia como status quo, mas pontuava, entreoutras coisas, que a loucura era umproduto da sociedade que vivemos;que a sua solução deveria vir atravésda reflexão e mudança da produçãoda loucura nessa mesma sociedade.

Onde os rumos da luta antimani-comial mudaram? Quem esqueceupara onde íamos? Vivemos a loucuraem mundo são ou adoecemos emum mundo cada vez mais louco?

No dia 9 de Abril de 2010, cin-co mulheres foram condenadasem Campo Grande (MS) portrabalharem em uma determi-nada clínica clandestina deaborto que funcionava a cercade 20 anos na cidade. Elas ti-veram penas que variaram deum ano e meio a seis anos emeio em regime aberto e semiaberto. A condenação destasmulheres apenas denuncia afalta de política pública em re-lação ao aborto neste país.

Thais Pacheco e Jane Barros

Não podemos esquecer que so-mente recorrem a este método asmulheres que podem pagar. As quenão podem, realizam aborto commétodos rudimentares colocando asua saúde e sua vida em risco.Mesmo as clínicas clandestinas nãotêm como garantir a segurança ne-cessária por não possuir nenhum ór-gão de fiscalização diante da ilega-lidade de tal ato. Ilegalidade estaque custa a vida de mulheres e ga-rante lucros exorbitantes para os do-nos deste negócio.

Estas clínicas lideraram o rankingdas atividades lucrativas ilegais, se-gundo a ONU, perdendo apenas parao tráfico de drogas e armas. Estaação em MS evidencia a urgênciada organização da nossa luta contraa criminalização do aborto. Por mais

irônico que isso possa ser, muitasdestas mulheres que realizaram talprocedimento, podem estar vivashoje por terem recorrido a uma clínicaclandestina. A clandestinidade destaação só acontece por não ser legali-zado o Aborto no Brasil, como já épossível em diversos países, comoCuba, Porto Rico e na Guiana, França,Suécia, México, dentre outros.

Em um relatório produzido pelaRede Feminista de Saúde (2004),foi identificado um crescimento donumero de médicos e enfermeiraspresas nas clínicas de aborto, assimcomo também aumentou o númerode registro de mulheres na delegaciapor aborto provocado, estas denun-ciadas pelos médicos. Estas denún-cias são caracterizadas como quebrade sigilo profissional, sendo previstapenas, prisões e indenizações pordanos morais. Entretanto essas san-ções aos médicos que denunciamnunca são cumpridas.

Projeto que legaliza oaborto foi engavetado

Criminoso é este Estado e estegoverno Lula que, por conta dosacordos, barganhas de cargo e aliançascom as igrejas evangélicas e católicas,engavetou um projeto de lei favorávela legalização do aborto. É importantedenunciar os responsáveis e algozesdesta barbárie, que prende trabalha-doras, culpabiliza as mulheres por

decidirem sobre seu próprio corpo epor não estarem submetidas a umaconcepção de vida cristã, algo quenão deveria ser imposto por um Es-tado supostamente laico.

Por isso não é de se espantar queos mais amplos setores da direita,com a conivência do governo Lula,tenham atacado novamente a possi-bilidade de descriminalização e le-galização do aborto no Brasil. Reti-raram do III Plano Nacional de Di-reitos Humanos o item que apontavaa revisão da legislação punitiva doaborto. O plano que foi construídocom a ampla participação popular,foi barrado pelas camadas poderosasda sociedade, negando dessa formao direito da mulher sobre o seu pró-prio corpo.

Luta pela saúde da mulher

A defesa da legalização do abortoé parte da luta por uma saúde publicaque se atente à vida reprodutiva damulher, onde nós mulheres, jovens,trabalhadoras, negras possamos de-cidir se queremos ser mães ou não.Esta é a nossa luta. A decisão porfazer um aborto não pode ser de umser externo à mulher, ou de algo ex-terno ao seu corpo. Por isso defen-demos que a mulher tenha o direitode decidir pelo seu corpo.

Como socialistas não podemosnos restringir a uma discussão parcialda realidade. Não podemos ignorar

o fato de que a igreja se utiliza deargumentos infundados e dogmáticospara oprimir ainda mais as mulheres.Independentemente da nossa con-cepção de mundo e vida, não pode-mos fechar os olhos para as mulheresque hoje morrem por tomarem estadecisão legitima, de interromperuma gravidez.

Não podemos mascarar a realidadede que hoje em dia o aborto é “legal”para quem pode pagar, cabendo àstrabalhadoras o “titulo” de criminosase assassinas. Isso é uma questão declasse. Estamos falando da vida demilhares de mulheres trabalhadoras.

Hoje em dia as criminalizadas so-mos nós, mulheres, trabalhadoras.Entretanto crime é permitir que mi-lhares de mulheres morram comoconseqüência de aborto mal feito.Essa é a quarta maior causa de mor-talidade materna. É preciso denunciaros responsáveis por este crime: ogoverno Lula, as igrejas, a direita.

Isso é tarefa do movimento dos tra-balhadores, das organizações clas-sistas, e dos partidos socialistas. Aluta em defesa da vida das mulherestrabalhadoras é a luta do conjuntoda nossa classe!

4 Repúdio total à puniçãodas mulheres criminalizadasno Mato Grosso do Sul!

4 Contra a criminalização dasmulheres que abortam epela legalização do aborto!

4 Aborto: as mulheresdecidem, a sociedaderespeita, o estado garante!

4 Direito à vida, direito aocorpo, legalização doaborto!

4 Pela autonomia da mulher!

Conferência de Saúde Mental:cuidado ou insanidade?

Crime é permitir que milhares de mulheres morram comoconseqüência de aborto mal feito.

Conferência de Saúde Mental: vivemos a loucura em mundo são ouadoecemos em um mundo cada vez mais louco?

Aborto: Crime de qquueemm??

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análise • 9Ofensiva Socialista n° 04 maio/junho - 2010

No Brasil, há um dia do índio,os outros 364 não o são. Nodia seguinte ao 19 de abril,efetuou-se o leilão para definirquem construirá e gerirá a usi-na de Belo Monte. Lula estádecidido a fazer de tudo paragarantir a construção da usina,que pretende ser a terceiramaior do mundo. Fazer uma hi-drelétrica no rio Xingu, naAmazônia, é um projeto antigoda burguesia brasileira.

Eduardo Moraes, biólogoPaulo Gajanigo, antropólogo

O projeto foi concebido ainda du-rante a ditadura, em 1979. Faziaparte da política de “desenvolvi-mento” da Amazônia. Por causa daforte oposição indígena, o projetofoi engavetado em 1989. Agora, sus-tentado por uma grande aprovaçãopopular, Lula retoma o projeto crenteque conseguirá atropelar toda posiçãocontrária, inclusive de 15 etnias doAlto Xingu que já avisaram que lu-tarão até a morte.

Trata-se de uma traição política,como denunciou Dom Erwin Krau-tler: “O presidente Lula antes de sereleito manifestou-se contra BeloMonte. Do mesmo jeito vários mem-bros do Congresso Nacional (...)Mas que surpresa para todos nós:depois de eleitos mudaram de posi-ção. O que antes condenaram comveemência, de repente, da noite parao dia, passaram a defender comunhas e dentes. O que estaria portrás dessa repentina metamorfosecamaleônica?” (Correio da Cidada-nia, 18/07/08)

Lula e o PT aderiram aoprojeto da burguesia

Lula e o PT aderiram ao projetoda burguesia para o Brasil. Justificama construção da hidrelétrica por umanecessidade do crescimento econô-mico. Até agora, só os empresáriosda região e os investidores interna-cionais esfregaram as mãos com aidéia. Como nos alerta o professorda UFPA Rodolfo Slam, o maior in-teresse aqui é o das mineradoras:“José Antonio Muniz, presidente daEletrobras, que já admite que ‘nãoserá preciso uma linha de transmissãosomente para Belo Monte, porque aideia é de que parte da energia dausina fique no Pará’... ‘Como existemno Pará inúmeros projetos minero-metalúrgicos, é possível que parteda energia da usina fique no estado’”(Correio da Cidadania, 29/08/09).

A questão é clara: Belo Monte éum passo gigante para transformara Amazônia numa mistura de camposde soja, pasto de boi e zona de mi-neradoras. O recado para os índiose moradores em geral é: adaptem-se a isso ou tchau!

Esse terrível episódio, não só,reafirma Lula do lado de lá, comSarney e os generais da ditadura,como também, infelizmente, o marcacomo mais um governante que per-petuou a dominação sobre os indí-genas na história do Brasil. Não épor acaso que se ouve hoje dos

caiapós que Lula é o pior de todos(FSP 18/04/10).

O discurso que busca legitimar ausina, além de fundado na ideia dedesenvolvimento econômico, é o deque hidrelétricas são fontes de energialimpa. Taí mais uma mentira: é óbvioo prejuízo ambiental decorrente doalagamento de 500 km2 de área defloresta. Além disso, estudos recentesmostram que as hidrelétricas podemser mais poluentes que termelétricas:toda a vegetação submersa pela re-presa apodrece, liberando bastantemetano, gás 20 vezes mais potenteque o gás carbônico no efeito estufa.Ao se inundar uma floresta, a maiorquantidade de vegetação para apo-drecer também causará a acidificaçãoda água.

População ribeirinha é afetada

Belo Monte também alterará ofluxo do rio por mais de 100 km aoredor da obra, afetando o ciclo devida dos peixes, acabando com mui-tas espécies que ali vivem e dosquais a população ribeirinha e indí-gena depende. Com o rio mais lentoe com diversas poças que serão cria-das, também se espera a proliferaçãode mosquitos e doenças. Mas o go-verno acha que em nome de “de-senvolver a Amazônia”, não é umproblema acabar com o modo devida da população ribeirinha, elapoderá ser empregada na construçãoda usina! E após as obras, o queocorrerá com as dezenas de milharesde trabalhadores que serão deixadospara trás?

Enquanto sonha com a construçãode hidrelétricas faraônicas, o governocontinua a entregar o petróleo do

país. A débil discussão em tornodos royalties nos últimos meses es-cancarou uma importante questão:para onde vai a renda do petróleo?Independente do estado, o fato éque a renda do petróleo não vai paraa população através de saúde e edu-cação nem vai para o meio ambiente(que recebe apenas 5% dos royalties,apesar destes terem sido criadospara tal rubrica).

Devemos lutar pela estatizaçãototal da Petrobras e pela retomadado monopólio do petróleo. A partirdaí, podemos destinar a renda desua exploração em políticas sociaise no desenvolvimento e implantaçãode energias realmente limpas, comoa eólica, a solar ou as pequenas hi-drelétricas. É essencial, também,que as indústrias, responsáveis pormais de 40% da demanda de energiano país percam os imensos subsídiosque as fazem pagar bem menos queos consumidores residenciais, queconsomem apenas 25% da energiado país, o que iria obrigá-las a ra-cionalizar o consumo e diminuir a

demanda, ao mesmo tempo cobrandotarifas progressivas dos consumidoresresidenciais.

O processo de instalação da usinajá começou com inúmeras irregula-ridades. Primeiro, as comunidadesindígenas não foram ouvidas e oprojeto da usina não foi claramenteapresentado a elas, como determinaa lei. A vergonhosa licença ambientaldada pelo IBAMA autoriza um re-servatório de 400 km2, no entanto,o edital do leilão aponta um de 600km2. Está claro que a usina só con-seguirá se efetivar se o governo con-tinuar a mentir e a atropelar a opo-sição dos moradores da região e atémesmo as leis existentes.

Uma expressão da postura do go-verno se deu durante o leilão. Umahora antes de começar, o MinistérioPúblico Federal enviou uma liminarsuspendendo o leilão, a Aneel sim-plesmente ignorou e efetuou o leilãoàs pressas.

É possível derrotar oprojeto

Como em 1989, é possível derrotaro projeto. Uma campanha nacionalencabeçada pelo movimento dos in-dígenas e ribeirinhos pode ganharmuita força. O projeto é tão nocivoque a oposição a ele vem atraindomuitos setores e figuras midiáticas(como o diretor de Avatar, JamesCameron). A esquerda tem um im-portante papel a jogar: primeiro,usar sua força na articulação nacionaldessa campanha – levando-a paraos movimentos sociais, sindicatos,estudantes.

Deve também ajudar na clarifica-ção do papel que o governo Lulatem hoje para os projetos da bur-guesia – qualquer vacilo sobre o ca-ráter do governo Lula como um go-verno contra os trabalhadores podesignificar uma confusão política queenfraquecerá o movimento;

Por fim, a campanha eleitoral, queesperamos contará com uma frentede esquerda encabeçada por Plínio,deve ser uma força para denunciare ajudar na organização da oposiçãoa Belo Monte . Plínio já demonstrouque é o único candidato que estáclaramente contra o projeto e temparticipado das manifestações. Ma-rina Silva, a candidata “verde”,critica o projeto, mas até o momentonão se opôs, apenas exige mais dis-cussão, afinal, ela não quer ser opo-sição ao governo Lula.

Além de todo o impacto que ausina terá na vida dos moradoresdo local e no meio ambiente, BeloMonte é mais um projeto privatistado governo Lula.

Da forma como está definidoaté agora, o governo, através doBNDES financiará 80% do custo,com juros de 4% ao ano (para nós,um banco cobra por volta de 80%ao ano no cheque especial). Alémdisso, as empresas que ganharamo leilão contarão com desconto de

75% do imposto de renda por 10anos, e isenção de PIS e COFINSda obra. Ou seja, estamos pagandopara as empresas lucrarem depois,com a venda da energia!

Há gente que vem falando queLula e Dilma defendem o Estadoforte, contra o neoliberal Serra. Aburguesia não vê problemas numEstado forte se ele existir para ga-rantir seus lucros e expropriar ostrabalhadores, como está claro nocaso de Belo Monte.

Cadê osRoyalties?A aprovação na câmara dedeputados federais daemenda do deputado IbsenPinheiro (PMDB-RS) sobrea distribuição para todos osestados dos royalties dopetróleo, fará a receita dosestados produtores (RJ eES) diminuir drasticamente.O governador do RJ SergioCabral (PMDB) chorou lá-grimas de crocodilo na TV ejunto aos prefeitos da re-gião petrolífera (Macaé,Campos, Rio das Ostras...)patrocinou um show comartistas da TV Globo paraprotestar no centro do RJ.

Luciano Barboza Historiador especialista em

Planejamento Urbano

O prefeito de Rio das OstrasCarlos Augusto (PMDB) faz ter-rorismo com a população afir-mando que se os royalties aca-barem, encerrará também a par-ceria com a UFF no PURO(Pólo Universitário de Rio dasOstras) e fechará escolas secun-darias como o IMERO. Cabralfaz o mesmo dizendo que aCopa do Mundo de 2014 e asOlimpíadas de 2016 não saírãodo papel. Por outro lado todosos outros estados comemorama renda extra que virá do petró-leo.

O debate mais importante paraa população é onde tem sido in-vestido até hoje o dinheiro dopetróleo e como deve ser inves-tido, ao invés da briga entre osestados. O dinheiro já recebidopelos estados produtores foi in-vestido em questões ambientaise sociais? Será que Campos,município com maior produçãode petróleo, é um municípiocom menos desigualdade socialdepois que recebeu os royalties?Infelizmente sabemos que a res-posta é não, e que muitas vezesesse dinheiro desaparece atravésde uma intensa corrupção.

“Acabar com a caixa-preta dos royalties”�

O deputado estadual do PSOLMarcelo Freixo disse na Assem-bléia Legislativa do RJ: “Temque acabar com a caixa-pretados royalties de boa parte dosmunicípios do RJ, proponho quea verba dos royalties seja ca-rimbada e com controle social”.Além disso, é necessário ame-nizar os danos ambientais pro-vocados pela retirada do petróleoe construir infra-estrutura nasregiões produtoras para evitar oprocesso de crescimento de fa-velas que está ocorrendo.

O investimento em regiõesnão produtoras é essencial paraevitar o êxodo rural e para di-minuir as desigualdades regio-nais, assim como para diminuira desigualdade social. Somentecom uma Petrobras 100% estatalsob o controle dos trabalhadorese com um planejamento regionalpor parte do governo federalpoderíamos enfrentar os proble-mas regionais brasileiros e agrande concentração de capitalna região sudeste em detrimentodas demais regiões.

Lula não privatiza?

Belo Monte de mentiraspara manter os 500anos de dominação

Belo Monte é um símbolo da traição do governo Lula aos interessespopulares que ele diz defender.

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Capitalismo – uma história de enganação

10 • anti-racismo Ofensiva Socialista n°04maio/junho - 2010

O novo filme de MichaelMoore, "Capitalismo - uma his-tória de amor" mostra a irra-cionalidade e a crueldade dosistema capitalista. O filmemostra como o sistema provo-ca inúmeros sofrimentos paraa maioria do povo trabalhadornorte-americano.

Bernardo Mendes Ribeiro

São pessoas sendo despejadas desuas casas pelos bancos (que as ha-viam convencido de que era umaboa idéia refinanciarem as suascasas próprias); condenação de 6,5mil jovens inocentes, enviados parao reformatório privado de um sujeitoque era sócio do juiz que condenavaesses jovens; pilotos de avião ven-dendo o plasma do seu sangue paraganharem uma renda extra; grandesempresas fazendo seguros de vidapara seus empregados e lucrandocom a morte deles; abandono dapopulação pobre pelo governo, naépoca do furacão Katrina.

Essas barbaridades são recolhidaspor Michael Moore e apresentadasde maneira acessível à essa mesmapopulação abandonada, que, desdecriança, vai sendo acostumada àfalsa idéia de que o capitalismodeixa as pessoas "livres para lucrar,

sobreviver ou fracassar" - como setodo mundo pudesse sair ganhandocom a "livre iniciativa", o "livremercado" e a desregulamentaçãofinanceira!

O filme começa com uma com-paração entre os Estados Unidosde hoje e a Roma antiga, que tam-bém conquistava o mundo graças àforça do seu exército, mas que, aocontrário dos EUA, ainda garantia"pão e circo" para sua população,enquanto os Estados Unidos só ga-rantem o circo, com sua programa-ção de TV repleta de tolices.

EUA SA

É muito oportuna a recuperaçãodo que foi o governo de RonaldReagan, eleito para ser garoto-pro-paganda das mercadorias dos EstadosUnidos e para consolidar, de umavez por todas, a subordinação dogoverno aos grandes capitalistas.Numa cena exemplar dessa subor-dinação, o maior corretor de açõesdo mundo manda o presidente ace-lerar o discurso em que ele diziaque iria soltar o touro de Wall Street.Desde então, os Estados Unidos sãoadministrados como uma empresa.

Michael Moore é especialmentecompetente na localização e na de-núncia de alguns dos maiores res-

ponsáveis pela crise mais recentedo capitalismo: os executivos dasgrandes instituições financeiras, queocupam os postos mais importantesdo Tesouro norte-americano e quearticularam a entrega de 700 bilhõesde dólares do dinheiro público paraos especuladores da Bolsa de Valo-res. Enquanto isso, trabalhadoresde uma fábrica de portas e janelas,reais produtores de riquezas, eramdemitidos sem sequer receber seusdireitos trabalhistas.

Trabalhadores que lutam

Finalmente, o filme mostra doque esses e outros trabalhadoressão capazes quando se organizam:ocupam a fábrica, ganham a apro-vação da população e até da televi-são, que reclamava o pacote finan-ceiro para os especuladores, e con-quistam seus direitos. Os trabalha-dores indicam, assim, o caminhopara resgatar o país do comando deWall Street e para devolvê-lo aostrabalhadores. Com base na luta or-ganizada dos trabalhadores se podeapresentar a única alternativa realao capitalismo, uma alternativa ver-dadeiramente socialista, baseada nademocracia dos trabalhadores. Umaalternativa muito mais avançada atéque a sonhada por Michael Moore.

Neste 13 de maio de 2010completa-se 122 anos da aboli-ção da escravatura, um fatohistórico, mas que não garan-tiu a integração do negro nasociedade, pois após a aboli-ção os negros e negras não re-ceberam nenhum tipo de inde-nização pelos séculos de traba-lho escravo.

Luciano BarbozaHistoriador mestrando em

Planejamento Urbano

A abolição da escravidão não ga-rantiu nem casas para os negros mo-rarem, os ex-escravos saíram dassenzalas diretamente para as favelase periferias. Sendo assim, os negrosforam historicamente condenados àmarginalidade e negro se tornou si-nônimo de exclusão social no Brasil.Por isso esse processo é entendidopelo conjunto do movimento negrocomo uma abolição inacabada.

Percebemos que atualmente a mí-dia da pouca atenção para a questãoda exclusão dos negros na sociedade.E quando a questão negra aparececontém erros sociológicos e históricosgraves. Por exemplo, recentementea novela Sinhá Moça passou a serreprisada no programa Vale a PenaVer de Novo da TV Globo.

História inventada

O conto fala dos momentos finaisda escravidão no Brasil, colocandocomo a filha de um Barão de cafétinha pena dos escravos e lutavapelo fim da escravidão. Assistindoa novela recria-se um clima de poli-tização onde as irmandades repletas

de jovens brancos advogados lutavampelo fim da escravidão por bondade.A novela Sinhá Moça tenta apagara luta dos escravos pela sua liberdadee coloca todos os méritos nos brancosbons das irmandades abolicionistas.

Personagens como a Sinhá Moçareconstroem uma Historia do Brasilfalsa e inventada. Não é verdadeque o fim da escravidão tem comoeixo principal à solidariedade dosbrancos para com os negros. A his-toriografia não deixa margens paraduvidas sobre esses eventos históri-cos. O fim da escravidão é marcadopela luta do povo negro por sua li-bertação e pela pressão inglesa paraacabar com a escravidão, pois haviainteresse por parte dos ingleses em

aumentar o mercado consumidorpara consumir os produtos indus-trializados frutos da Revolução In-dustrial. Sendo assim interessavaaos ingleses o negro deixar de serescravo para se transformar em umtrabalhador assalariado.

Interesses econômicosatrás da Lei Áurea

Por outro lado, o fim da escravidãointeressava também os senhores deengenho mais esclarecidos, pois con-cluíram que o trabalho assalariadoera muito mais barato que o trabalhoescravo. O escravo doente era tratadopelo senhor de engenho que assimperdia dinheiro, o mesmo tinha medo

da perda de mais dinheiro caso sua“mercadoria” escravo viesse a morrer.O capitalismo tinha uma propostapara resolver esta situação para olatifundiário, pois caso o trabalhadorassalariado ficasse doente seria de-mitido tornando a produção maiseconômica. Sendo assim, alguns la-tifundiários aderiram ao projeto abo-licionista para aumentar seus lucros.

A Historia é muito diferente doscontos e os interesses econômicossuperam a suposta solidariedade debrancos para com negros. Entenderesse processo é fundamental paracombatermos o racismo em temposatuais.

O motivo do protagonismo da lutapela abolição não estar nos negros

na novela Sinhá Moça é para que aclasse trabalhadora não se identifiquee não perceba que a transformaçãoda sociedade só ocorre através daluta. Pelo contrario a intenção danovela conservadora é que os pobresassistam as mudanças da sociedadesem participação, deixando as mu-danças para seus governantes.

A data 13 de maio de 1888 e aaprovação da Lei Áurea não podemser representadas pela falsa e inven-tada bondade da princesa Isabel, poishavia interesses econômicos muitoclaros em jogo. O movimento negroexige a valorização da luta dos negrospor sua libertação e por isso não re-conhece o 13 de maio (data construídapela elite branca) como o dia principalde luta dos negros.

20 de novembro

O movimento negro não se iden-tifica com novelas como Sinhá Moça,a identidade negra e sua luta estápresente em Filmes como Quilombode Carlos Diegues de 1984, queconta à história de Zumbi dos Pal-mares como protagonista da lutados negros.

A luta do povo negro se fez duranteos 350 anos de escravidão atravésdos quilombos, da religião afro-bra-sileira, da capoeira e da música negra,e isso se expressa na comemoraçãodo dia 20 de novembro, dia da mortedo líder quilombola Zumbi dos Pal-mares, que morreu lutando pela li-bertação de todos os negros e negras.Por isso esse dia foi escolhido parase comemorar a Consciência Negra,representando a luta do povo negropor sua libertação e consciência dasua história no Brasil.

Por que os lutadores negrosnão reconhecem o 13 de maio

A luta do povo negro melhor se expressa no ‘20 de novembro’, quando Zumbi dos Palmares morreu lutando pela liberdade.

Page 11: Ofensiva Socialista n°04 maio-junho 2010

O Comitê por Umainternacional dos

Trabalhadores é umaorganização socialista compresença em mais de 40

países, em todos oscontinentes. A LSR é aseção brasileira do CIT.Visites os sites do CIT:www.socialistworld.net

www.mundosocialista.net

Nova central sindicalno Paquistão

PAQUISTÃO Em fevereiro desseano foi registrada a nova centralsindical “Federação Progressista dosTrabalhadores do Paquistão”, quereúne 500 mil trabalhadores na lutacontra as privatizações e demissões.

A nova central surgiu do trabalhofeito desde 2005 pela “Campanhapelos direitos sindicais no Paquistão”(TURCP), que surgiu para combateros ataques e privatizações.

“Muitos trabalhadores não co-nhecem seus direitos e a legislação,não sabem o que fazer quandosão demitidos. Nós lançamos acampanha para conscientizar e or-ganizar a resistência”, diz KhalidBhatti do SMP (Movimento So-cialista de Paquistão, a seção daCIT no país), que agora é secretáriode finanças da nova central.

O SMP participou e impulsionouesse processo desde o início e temvários de seus militantes como osprincipais organizadores da Central.

“Todas as outras Centrais sindicaisfuncionam como ONGs, envolvidasem projetos financiados do exteriore não tem a ambição de construirum movimento genuíno da classetrabalhadora. Muitas colaboramtambém com os patrões, para con-trolar e espionar nos trabalhadores.A TURCP tinha uma reputação deluta, desde que dirigiu a greve dostrabalhadores de telecomunicaçõesem 2005. Também dirigiu umacampanha contra as privatizações,algo que nenhuma Central tinhafeito”, continua Khalid Bhatti.

São 23 sindicatos nacionais quefazem parte da nova Central, com500 mil trabalhadores filiados.

A nova central está envolvidaem três lutas principais nesse mo-mento. Trabalhadores de pedreirasem Sargodha fizeram uma grevepor uma semana e conseguiramaumento de salário. Cinco traba-lhadores foram assassinados, masos grevistas conseguiram pressionarpara que os patrões responsáveispelas mortes fossem presos. A cen-tral também está lutando contra aprivatização das ferrovias e, na re-gião do Punjab, pelo aumento desalário dos funcionários públicos.

“A esquerda tem uma forte tradiçãono movimento dos trabalhadores noPaquistão. A esquerda construiugrande parte das organizações dostrabalhadores e dominava o movi-mento nos anos 60 e 70. Depois daqueda da União Soviética, os líderessindicais abandonaram as ideias so-cialistas e se tornaram pró-capitalistas.Isso levou a um colapso do movi-mento dos trabalhadores. O SMPestá engajado em reconstruir e for-talecer o movimento dos trabalha-dores. Junto com isso levantamos anecessidade de derrubar o capitalismoe o feudalismo no país, para isso te-mos que fortalecer a bandeira dosocialismo”, diz Khalid Bhatti.

internacional • 11Ofensiva Socialista n° 04 maio/junho - 2010

O principal foco da crise econô-mica mundial nesse momentoé sem dúvida a Grécia. AGrécia vive uma profunda crisefinanceira e é incapaz de ban-car seu enorme déficit orça-mentário e pagar suas dívidas.Há um grande temor de que,com o não-pagamento das dívi-das, a crise se espalhe para ou-tros países da Europa:Espanha, Portugal, Itália...

Marcus Kollbrunner

Durante os anos 1980, quando opaís entrou na União Europeia, etambém nos anos 90, a Grécia foium dos países que se beneficiou re-lativamente da participação na UE,recebendo mais do que pagava àUE. A condição imposta para o in-gresso na EU foi se adaptar à políticaneoliberal do bloco.

A joia da coroa da UE foi a intro-dução do euro, uma moeda comumque, segundo diziam, fortaleceria osmúsculos financeiros da UE. Quandoo euro foi introduzido, regras paragarantir a estabilidade da moeda fo-ram impostas: a dívida pública nãopodia ultrapassar 60% do PIB e odéficit no orçamento não poderiaultrapassar 3% do PIB.

Mas enquanto países pequenos,como Portugal e Grécia, eram forçadosa realizar grandes cortes nos gastospúblicos, países como Alemanha eFrança podiam exceder os limites dedéficit sem consequências.

A Grécia conseguiu se qualificarao euro somente usando a “contabi-lidade criativa”, isto é, fraude dascontas públicas.

O grande problema da Zona doEuro é que ela junta países comeconomias muito diferentes. Paísescom economia forte, como Françae Alemanha, se beneficiavam comuma moeda forte e baixos juros.Países mais pobres também podiamusufruir de juros baixos, mas com aprodutividade mais baixa, suas mer-cadorias não conseguiam competirno mercado mundial. As baixas taxasde juros acabam beneficiando maisa especulação imobiliária do que aexpansão na produção.

Países como Grécia, Itália, Portugale Espanha perdiam o mercado deexportações e não tinham mais aopção de desvalorizar sua moedacom a finalidade de diminuir os pre-ços de suas mercadorias e torná-lasmais baratas (mais tarde, são os tra-balhadores que acabam pagando,com a inflação gerada por essa ação).

A crise expõe osproblemas

A crise econômica afetou dura-mente a Grécia e o déficit públicodeste país aumentou rapidamente.Os ataques aos gastos públicos pelogoverno de direita anterior, NovaDemocracia, fez com que o partido“socialista” PASOK (quem vem im-plementando a mesma política neo-liberal desde os anos 1980) ganhasseas eleições no ano passado, comgrande parte da população tentandooptar pelo “mal menor”.

Pouco antes das eleições em outubroo governo anterior foi forçado a re-conhecer que a situação financeiraera muito mais grave do que se tinhadito antes. O déficit público para

2009 foi revisado de 6,7% para 12,7%do PIB. Nessa situação, os especula-dores do mercado financeiro come-çaram a cobrar juros mais altos parainvestir nos títulos públicos do paíse se iniciaram as dúvidas se o paísconseguiria pagar as suas dívidas.

No começo de março desse ano,o governo, com o objetivo de reduziro déficit público para 8,7%, anuncioumais uma pacote de cortes nos salá-rios dos funcionários públicos, con-gelamento das aposentadorias, au-mento de impostos de consumo, etc.Todas medidas afetavam duramenteos trabalhadores, enquanto os bancos,que receberam grande ajuda durantea crise financeira, lucram com osjuros altos que o governo é forçadoa pagar para poder adquirir novosempréstimos.

Mas a tentativa do governo decriar confiança na sua capacidadede conter a crise fracassou.

A reação dos trabalhadores tambémfoi dura, pois eles não queriam pagarpor uma crise que não tinham criado.Três greves gerais foram realizadasem quatro semanas e os protestoscontinuam.

A crise grega abriu grandes con-flitos entre os grandes poderes eu-ropeus. Especialmente o governoalemão exige duras condições pararesgatar a Grécia. Salvar a Grécia,que tem uma economia relativamentepequena, é uma coisa. Mas se acrise se espalhar para a Espanha(quatro vezes maior que a Grécia)ou a Itália (seis vezes maior), nãoserá mais possível bancar os resgates.

Por outro lado, muito está emjogo. Os principais financiadores dadívida pública grega são os bancosalemães e franceses. A crise gregatambém fez o euro cair e sua cotaçãoatingiu o menor valor comparadoao dólar no último ano e colocatodo o projeto de uma moeda única

em risco. Deixar de resgatar a Gréciapoderia levar a uma crise financeirageneralizada.

A crise já produziu uma grandederrota ao prestígio da União Euro-peia. No começo de abril, os governosda UE foram forçados a formalizar apossibilidade de um pacote de resgate,mas também a aceitar que o FMI en-traria com uma parte. O pacote seriade 45 bilhões de euros (60 bilhõesde dólares), com a UE bancando 30bilhões e o FMI 15 bilhões. A ajudado FMI significa admitir que a UE,o maior bloco econômico do mundo,não consegue mais resolver seus pró-prios problemas.

Mesmo assim, a ajuda prometidaestá demorando para sair. O governoalemão declarou que o dinheiro sósai quando se acertar com o governogrego sobre mais cortes e ataquesaos trabalhadores.

O mesmo venenoneoliberal

E a situação só piora. O governogrego foi forçado a oficializar o pe-dido de ajuda no dia 23 de abril, nomesmo dia em que foi revelado queo déficit orçamentário do ano passadoera ainda pior: 13,6% do PIB, algoque levou o rebaixamento da notade crédito do país e novas altas nataxa de juros (que agora superam osjuros brasileiros!). O primeiro-mi-nistro grego, George Papandreu,chegou a dizer que o país é “umnavio afundando”.

Ninguém acredita mais que essepacote de 45 bilhões é suficiente.Na melhor das hipóteses comprariamais um ano antes da crise da dívidaretornar novamente. O próprio FMIestá agora falando que pode ser ne-cessário até 120 bilhões de euros.

O remédio que os governos daUE e o FMI estão ordenando é o

mesmo veneno aplicado durante acrise asiática de 1997-98 ou na Ar-gentina nos anos antes de 2001. Jáque a Grécia não pode desvalorizara moeda, a receita é a de cortar oscustos rebaixando os salários dostrabalhadores e implementar cortesmuito maiores nos gastos públicos.Além de ser uma receita para umacatástrofe social, esse remédio vaiapenas piorar a situação.

A revista britânica The Economistcalcula que essa política fará comque o PIB caia em pelo menos 5%até 2014 (há estimativas que o PIBcaia 5% já esse ano). A queda doPIB fará com que o peso da dívida,que continuará aumentando, cheguea 149% do PIB em 2013.

A ideia central desta política étrocar o consumo interno por maisexportações e reduzir os gastos pú-blicos. Mas a Grécia tem uma in-dústria fraca e é muito improvávelque ela substitua o seu arrasado mer-cado interno por um mercado externo.

Vários comentaristas afirmam queo aprofundamento da crise provocadapelo arrocho pode levar ao mesmoponto de partida: com a Grécia nãosendo capaz de pagar suas dívidas eter que declarar um default. O eco-nomista Nouriel Roubini comparouesta situação com a Argentina, quedepois de anos de crise econômicaagravada pelo mesmo tipo de políticaacabou sendo forçada a não pagar adívida. A diferença, afirma Roubini,é que a Grécia tem um déficit público,déficit na conta corrente, e umadívida pública muito maiores que aArgentina em 2001!

Isso tudo levanta a possibilidadeda Grécia ser forçada a abandonar oeuro. Seria um cenário de pesadelopara o povo trabalhador. Mesmo sea Grécia, depois de um caos finan-ceiro, conseguisse reintroduzir umamoeda própria mais fraca, isso pro-vavelmente ocorreria depois dosricos retirarem todo seu capital dopaís. As dívidas ainda seriam cotadasem euro e muito mais caras parapagar com uma nova moeda fraca.

Construir uma alternativa

Um fator negativo é que os líderessindicais não têm uma estratégiapara ganhar essa luta. Foram forçadosa chamar as greves gerais pela pres-são da base, mas elas foram vistascomo um meio de abrir a válvula deescape e, assim, evitar uma explosãofora de seu controle. Isso faz comque muitos duvidem da possibilidadede enfrentar o mercado, a UE, osbancos e seu próprio governo.

Mas os ataques continuarão, seaprofundarão e, por isso, os traba-lhadores serão forçados a lutar. Osmilitantes do Xekinima – CIT naGrécia – colocam que é necessárioconstruir a força das greves comcomitês de lutas locais, regionais enacional, ao redor de um programade resistência aos ataques, de esta-tização do sistema financeiro, não-pagamento da dívida, etc. Tambémé necessária uma estratégia política.Os partidos de esquerda, como KKE(partido comunista) e Syriza (umacoalizão de esquerda em que o Xe-kinima participa), devem construiruma frente única da esquerda, paraapresentar como alternativa um go-verno dos trabalhadores com umprograma socialista.

Grécia – mais umfracasso do mercado

Demonstração de força dos trabalhadores gregos. Mas, as grevesgerais precisam estar vinculadas a uma alternativa anti-capitalista.

Page 12: Ofensiva Socialista n°04 maio-junho 2010

N° 04 maio/junho 2010

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Indignação:

No início de dezembro do anopassado, com as chuvas de verão,ficamos aproximadamente 70 diasdentro da “água” do Tietê (e o quemais estivesse nela), andando emandaimes dentro de casa, com águaaté o umbigo, peito. Vários perderamempregos, móveis e eletrodomésti-cos, sem contar aqueles que perderamas vidas. As recentes inundaçõesnaquela região ultrapassam em muitoa questão ambiental, pois foram cau-sadas diretamente pelo governo Serraque fechou a barragem da Penha eabriu as do Alto Tietê.

Intimidando e deixando a popu-lação no desespero para forçar asaída de suas casas, tudo isso parademolir essas moradias e “limparterreno” para a construção do ParqueLinear Várzeas do Tietê, importantemarco nas campanhas eleitorais epara a Copa do Mundo 2014. De-nunciamos esta política fascista de“desenfeiar” a cidade, tirando a po-breza e o povo do campo visual daburguesia e de seus turistas.

Numa situação de calamidade pú-blica, em que a imagem dos governosSerra-Kassab poderia sair arranhada,a população é criminalizada pelas

enchentes. Os argumentos na mídiavão desde alegações que a populaçãosuja e entope ruas, bueiros e rios ecausa a inundação, até o ponto denos chamar de irresponsáveis portermos “escolhido” locais tão insa-lubres e perigosos para morar.

E justamente essa situação torna-se favorável aos governos quandomuitos setores da sociedade cobramdo Estado uma intervenção para“salvar” as pessoas “que não queremabandonar suas casas”, mas que po-dem morrer “afogadas” ou com“doenças” nas áreas de risco. Cria-se assim a legitimidade para a retiradaforçada das pessoas de seus lares.

O governo Serra inunda a regiãoe Kassab faz o cadastramento parao bolsa aluguel e destrói as casas.Ficamos reféns deles, que nos ofe-recem uma bolsa-despejo, disfarçadade bolsa aluguel, benefício que jáacabou para muitos, que estão re-tornando ao Pantanal.

Não bastasse o terrorismo de Es-tado aplicado contra os “pantaneiros”,cria-se um quadro capaz de impul-sionar dois setores estratégicos daeconomia burguesa: construção civile bancos. Explico: o governo estádemolindo nossas casas para nosvender “apertamentos” do CDHU.As casas prometidas pelos governosnão são para morar, são para com-prar. E mesmo o governo Lula saidaí beneficiado, pois é largamentepropagandeado o programa “Minhacasa, minha vida”. Nossa resposta:“Minha casa, minha luta”!

Luta:

Muitos deixaram suas casas. Ou-tros tantos pegaram o bolsa-aluguele agora veêm suas moradias sendoderrubadas. A água baixou e as pes-soas retornaram e retomaram suasvidas. E à medida que souberam damá-fé dos governos com suas táticas,aumentava também a sua indignaçãoe sede de justiça. Houve reuniões –duas, três, incontáveis. Trabalhado-ras/es que viram suas coisas boiarem,alguns após 30 anos no bairro, co-meçaram a organizar uma ação ra-

dicalizada de luta urbana, a ocupaçãode um terreno abandonado, aindana zona leste.

Cabem aqui alguns esclarecimentos.Os ocupantes são trabalhadoras/es,empregados e desempregados, donasde casa, além dos apoiadores e dosmilitantes do movimento. A ocupaçãode prédios ou terrenos urbanos é his-toricamente uma forma legítima deluta pela moradia, devido às desi-gualdades sociais na distribuição doespaço urbano, especulação imobi-liária, etc. Não somos invasores, vân-dalos, somos trabalhadores em buscade condições dignas de vida, que sãoobrigações do estado fornecer. Nãomoramos na várzea do rio porquegostamos do cheiro do Tietê, masporque não há políticas de habitaçãopara quem ganha pouco e somos jo-gados cada vez mais para as periferias.Além disso, os terrenos são muitocaros, os salários muito baixos.

Sobre a questão jurídica, tomo aliberdade de reproduzir as palavrasdo militante Delze Laureano: “juri-dicamente o direito à propriedade éum direito real oponível erga omnes.Trocando em miúdos, é um direitoque ocorre entre um sujeito, aqueleque é o titular do domínio, em facede todos os outros integrantes daquelasociedade, que devem respeitar essedireito. Entretanto, para esse sujeitodono é exigido o cumprimento dafunção social. Essa é a condição sinequa non para que todos os demais,não proprietários, respeitem o seudireito de propriedade. Descumprindoa função social, perde o proprietárioo critério objetivo inerente à pro-priedade que é o direito de posse.Portanto, um imóvel que não cumprea função social está vazio. Se ninguémtem sua posse, como conseqüência

lógica, não pode o Poder Judiciário,baseado somente no registro, dar asgarantias de ação possessória. A pro-priedade, aspecto subjetivo, somentegarante ao detentor do título de do-mínio, o direito de indenização, nostermos do Art. 5º, XXIV da Consti-tuição. Portanto, errado falar quehouve invasão no imóvel pelos atuaisocupantes. Quem é invasor é aqueleque se diz proprietário sem legitimi-dade” (Folheto Terra Livre, MinasGerais, abril 2009, “Invasão ou ocu-pação de terras?”).

Esperança:

Na noite de 17 de abril, aproxi-madamente 50 famílias se reuniram.Em meio a medo e incertezas, todasseguiram em frente rumo ao seu ob-jetivo: ocupar um terreno, pressionaro poder público, fazer as denúnciasdevidas. Naquela noite, materializadana ocupação, tristeza, sofrimento emedo deram lugar à esperança.

Um fato que é necessário ressaltar,foi uma interessante questão de gê-nero na ocupação. No ato de entradadas famílias no terreno, o númerode mulheres era visivelmente superiorao de homens. Durante os dias quese sucederam, essas mulheres con-seguiram convencer muitos dos seuscompanheiros que aquela era a res-posta para dar a seus problemas,que a solução estava na luta. É vitallembrar do caráter central e do pesoque as companheiras mulheres jo-garam neste episódio da luta urbana.

Na manhã seguinte, após panfle-tagem e conversa com os moradoresvizinhos à ocupação, recebemos am-plo apoio: 9 de cada 10 famíliaseram simpáticas à ocupação.

No acampamento, todo o trabalho

foi divido em comissões. Quasetodos os dias há assembléia, come-çando com o balanço da luta e cons-trução. Percebemos que além denossas pautas políticas, uma enormetarefa é a paulatina quebra do indi-vidualismo, do personalismo (tãovitais ao capitalismo) e a construçãoda própria coletividade, das vivências,da partilha.

Houve repressão da polícia, quetrês dias depois do início da ocupa-ção, resolveu não permitir que en-trasse água e comida. Um absurdo!Só foi possível amainar esse conflitograças à ação do deputado estadualRaúl Marcelo (PSOL-SP), que in-termediou a situação.

Nossas pautas de reivindicaçõessão as seguintes:

1) O fim imediato do processo deremoções e de derrubada das mora-dias;

2) Fim do terrorismo e da falta derespeito aos direitos humanos, nasações do governo na área inundada;

3) Construção imediata das casaspara abrigar as famílias atingidas econcessão sem custo, em troca dascasas removidas;

4) Indenização pelos prejuízos cau-sados pela enchente, resultado dofechamento da barragem da Penha eabertura das barragens do alto Tietê;

5) Desapropriação do terreno ocu-pado na Vila Curuçá e linhas decrédito para material de construção,pois nós mesmos faremos nossascasas!

Há muito a ser construído ainda.Há muitos valorosos militantes eapoiadores na luta e quem quiser seaconchegar, será muito bem vindo.

Na luta, nós vamos resistir! Pelanossa casa, pela moradia, pela terralivre lutaremos todo dia!

“Aqui estão as famílias vítimas do governador Serra, quena enchente perderam tudo, mas não a coragem”. Essafrase está estampada logo na entrada, numa faixa, noacampamento ALAGADOS DO PANTANAL, uma ocupaçãode trabalhadores num terreno, até então abandonado,no bairro do Jd. Curuçá, São Miguel Paulista, na cidadede São Paulo. Trabalhadoras/es que foram criminosa epropositalmente alagados, em vários bairros da grandepantanal de SP, impulsionados pelo movimento TerraLivre – Campo e Cidade, ocupam essa área desde a noi-te do dia 17 de abril, e contam atualmente com cercade 80 famílias cadastradas e participantes do processo.Uma gente que tem transformado seu sofrimento e tris-teza, em indignação, esperança e luta.

Will de SiqueiraMilitante da LSR e do Terra Livre-SP

Alagados do Pantanal ocupamterreno na luta por moradia

Ocupação na Zona Leste é exemplo de luta de quem se recusa a se render.

Todo apoio ao Terra Livre –movimento popular no campo

e na cidade.