jornal expressão ed. 11

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A cara de quem faz a HISTÓRIA Conheça as experiências das pessoas, cujas profissões revelam a cara do povo manauara, que para vencer na vida procuram aliar talento à criatividade. Alguns herdaram a profissão dos pais, outros a própria vida se encarregou de mostrar o caminho a ser traçado e hoje, independente de estarem nas ruas, no mercado ou em feiras, eles são sinônimos da cultura amazônica. Veja como as mudanças climáticas trazem surpresas e mudam o cenário local a cada ano. Você vai se sur- preender com essa FOTOREPORTAGEM que mostra problemas causados tanto pela cheia quanto pela seca, mas que proporcionam visões únicas. As construções mais imponentes e luxuosas da cidade que muito tem a contar do passado são mostradas nessa repor- tagem, em que é possível conferir um pouco mais sobre a história urbanística de Manaus. Foto: Rafaela Marques 10 4 8 Linha do Tempo Memória Jornal Laboratório do curso de Jornalismo - Ano 3 - Edição 11 - Março de 2011 Foto: Delber Bittencourt Foto: Divulgação Foto: Arquivo Pessoal Entrevistamos Renan de Freitas 3 Um dos principais estudiosos amazonenses fala sobre a formação social na Amazônia

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Jornal Expressão Ed. 11

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Page 1: Jornal Expressão Ed. 11

A cara de quemfaz a HISTÓRIA

Conheça as experiências das pessoas, cujas profissões revelam a cara do povo manauara, que para vencer na vida procuram aliar talento à criatividade. Alguns herdaram a profissão dos pais, outros a própria vida se encarregou de mostrar o caminho a ser traçado e hoje, independente de estarem nas ruas, no mercado ou em feiras, eles são sinônimos da cultura amazônica.

Veja como as mudanças climáticas trazem surpresas e mudam o cenário local a cada ano. Você vai se sur-preender com essa FOTOREPORTAGEM que mostra problemas causados tanto pela cheia quanto pela seca, mas que proporcionam visões únicas.

As construções mais imponentes e luxuosas da cidade que muito tem a contar do passado são mostradas nessa repor-tagem, em que é possível conferir um pouco mais sobre a história urbanística de Manaus.

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Entrevistamos Renan de Freitas3Um dos principais estudiosos amazonenses fala sobre a formação social na Amazônia

Page 2: Jornal Expressão Ed. 11

JORNAL EXPRESSÃO - Em “Via-gens das idéias”, o senhor explica que a construção do pensamento social do Amazonas é essencial-mente europeu. Hoje, ainda é possível sentir esse reflexo?

RENAN FREITAS PINTO - Nós aprendemos a pensar sobre nós mesmos a partir das ideias dos outros, ou seja, das ideias que os outros formularam sobre nós. A si-tuação já não é a mesma. Um con-junto de trabalhos, especialmente ligados à pós-graduação, indica que já estamos pensando sobre nós mesmos com ideias nossas.

JE – Que trabalhos são es-ses?

RFP - São exemplos desse pro-cesso obras como “A Invenção da Amazônia”, de Neide Gondim, “A Ilu-são do Fausto” de Edinéia Masca-renhas Dias, e “As metamorfoses da Amazônia, de Marilene Correa.

JE - Partindo dessa premissa, a história do Amazonas e, conse-quentemente, de Manaus, tam-bém foi construída a partir de um olhar europeu?

RFP - Não apenas a história de Manaus, mas a cidade em si, foi concebida a partir de ideias oriun-das, principalmente, da Europa. So-bre isso, basta ler os livros de Oto-ni Mesquita, em especial o último: “La Belle Vitrine”.

JE - Em algum momento da his-tória, os colonizadores tentaram “esconder” os traços e obras his-

tóricas dos povos indígenas?RFP - A nossa história é base-

ada no silêncio desses povos. As suas culturas, apesar de serem formadoras de todo nosso legado cultural, são vítimas de uma ausên-cia de reconhecimento, não pos-suindo assim registro significativo.

JE - De modo geral, como pode-mos classificar a construção da história da cidade?

RFP - A cidade teve vários momentos em sua formação. O primeiro foi um aldeamento indí-gena, organizado por missionários em associação com uma fortaleza militar. Em seguida, uma modes-ta aglomeração urbana destituída dos elementos que, já nessa época, marcavam os núcleos urbanos do ocidente. Os viajantes registraram o aspecto tosco dessa aglomera-ção que estava na origem de Ma-naus.

JE – O que sobrou dessa épo-ca?

RFP - Hoje, poucos vestígios restaram desse período que ante-cede a arquitetura pretensiosa do ciclo da borracha. As poucas casas estão na Rua Frei José dos Inocen-tes.

JE - Manaus tem vários mo-mentos marcantes, de luta e de glória. Mas em sua opinião, qual é o mais impactante?

RFP - Não concordo que Ma-naus tenha momentos de luta e glória, a não ser que consideremos os acontecimentos como a caba-nagem, que aqui tiveram uma res-sonância bem menor.

JE - Manaus já foi conhecida como “Belle Époque” e “Paris dos Trópicos”. E hoje, como o senhor denominaria a cidade?

RFP - Uma cidade que desco-nhece a sua própria história e mal-trata de forma brutal o pouco que resta do seu patrimônio arquitetô-nico e urbanístico. Esses conceitos devem ser relativizados, porque a

cultura e a arte europeia tiveram apenas pálidos reflexos em nossa vida cultural, especialmente se for-mos considerar os movimentos de vanguarda, que eram vigorosos na Europa e que aqui, por exemplo, ninguém oferece qualquer tipo de registro.

JE - Que tipo de manifestações artísticas prevalecia naquela épo-ca?

RFP - O que predominava aqui era o neoclassicismo e, na me-lhor das hipóteses, alguns traços do movimento impressionista, na pintura local da época. Estávamos fracamente antenados com os mo-vimentos estéticos que estavam acontecendo mundo a fora.

JE - Há poucos dias, Manaus completou 341 anos. Mas é ver-dade que existe uma outra “ida-de”? Explique um pouco mais...

RFP - Isso depende do ponto de vista que estamos considerando. Podemos dizer que a cidade possui várias histórias, algumas delas des-conhecidas, como seria o caso da história indígena de Manaus. Entre-tanto, alguns trabalhos de mestra-do e doutorado das universidades estão envolvidos com o problema grave da memória e do esqueci-mento que envolve a história cultu-ral, etno-história, história oral e a redescoberta das tradições míti-cas indígenas que não morreram e que se refazem constantemente, muitas vezes sob as nossas vistas.

Jornal Expressão

Entrevista

Manaus: Os patrimônios e sua população

Manaus, a Paris dos trópicos “Estamos pensando sobre nós mesmos, com idéias nossas”

“(Manaus é) uma cidade que des-conhece a sua própria história e mal-trata de forma brutal o pouco que res-ta do seu patrimônio arquitetônico e urbanístico.

“Pacú, Curimatã, Tambaqui, Cará e Tucunaré... bem fresquinho, minha patroa!”. A garganta de Pedro Pereira, 57, é “afiada” na hora de gritar as

qualidades de sua mercadoria.

3Manaus 21 de Março de 2011

No mês de outubro, Manaus co-memorou 341 anos. São quase três séculos e meio de muitas histórias para contar, de transformações que elevou a cidade de uma mera vila no meio da selva à um dos principais centros urbanos do Brasil.

A terra que já foi conhecida como a Paris dos Trópicos, por causa da forte influência européia, que rece-beu durante o período de coloniza-ção, foi chamada também de Belle Époque, em alusão ao crescimento que a cidade gozava no período auge do Ciclo da Borracha.

Pensando nisso, o Expressão faz uma homenagem à terra dos Mana-ós para relembrar momentos histó-ricos que cercam esta cidade.

Nesta edição, você vai conferir uma entrevista com o cientista so-cial Renan de Freitas Pinto, que tam-

bém é historiador, professor e escri-tor. Ele fala sobre a formação social da cidade, dos principais problemas herdados da colonização e das influ-ências que o manauara recebe até hoje. Uma leitura indispensável para quem quer ter uma visão mais críti-ca do assunto.

Qual é a cara do Manauara? Suas principais características, seus desafios diários, suas conquis-tas? Conheça a história de quem faz a história, através da reportagem que retrata as principais profissões exercidas pelas pessoas da terra. Você vai saber como eles chegaram nessa posição e o que eles tiveram que enfrentar para se estabelecer na vida.

Além disso, você também vai re-lembrar dois momentos que marca-ram Manaus nos últimos dois anos

e que surpreenderam a muitos: a cheia de 2009, que deixou várias famílias desabrigadas e a seca de 2010, que deixou diversos lares isolados. Os dois lados da moeda são abordados através de uma fo-toreportagem, para que através da imagem, você, leitor, possa refletir e meditar.

Confira ainda um artigo produzi-do pelo estudante de jornalismo Dél-ber Bittencourt, onde ele chama a atenção para falta de interesse do Manauara, no que diz respeito ao centros culturais, os quais são aber-tos ao público diariamente, mas que registram mais visitais de turistas do que da comunidade local.

E para saber mais e ficar por dentro de tudo o que o Expressão or-ganizou, você precisa ir a fundo e se debruçar nesta edição. Boa leitura!

Nos últimos tempos são visíveis muitas publicidades que demons-tram o amor pela nossa cidade e pelo nosso estado, “o orgulho de ser amazonense” ou de produtos que visam o carinho do manauara pela sua cidade. Mas, será que esse ca-rinho, esse amor pela capital e suas histórias são realmente fortes?

Infelizmente, de dez filhos da ter-ra, oito, pelo menos, visitaram mais de três patrimônios da capital. Ou-tros, apenas visitaram os espaços mais conhecidos, como o Teatro Amazonas, Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (INPA), Par-que do Mindú, Centro Cultural Povos da Amazônia (CCPA) e os festivais culturais, como o Boi Manaus.

O mais incrível é que existem diversos espaços históricos que fi-cam próximos do cidadão e, mesmo assim, são pouco visitados, como o Palacete Provincial, localizado no Centro, em frente à Escola Estadual Dom Pedro II. Não faz muito tempo que o Palacete foi reformado, mas

já está carente da visita da popula-ção e das instituições de ensino da capital.

Os guias que trabalham no Pala-cete declaram que, durante a sema-na, de cada 20 pessoas que visitam o espaço, 16 são de fora e apesar

de a mídia divulgar, incentivando o comparecimento do manauara, a situação não mudou nada de lá para cá.

O Palacete Provincial não é o úni-co que sofre com esse tipo de pro-blema. Outros pontos turísticos tam-bém passam pela mesma situação: a carência de visitas, o que leva ao fechamento e ao abandono do local.

Manaus é uma cidade com am-pla e diversificada tradição cultural. Os nordestinos que migraram para cá, no fim do Século XIX e início do Século XX, atraídos pelo Ciclo da Borracha, também contribuíram para a formação da cultura. Sem

contar com a forte presença da cul-tura indígena.

Manaus possui uma ampla rede de teatros, casas de shows, espetá-culos e extensas atividades culturais. A falta de interesse e de informação em conhecer a história local é que causa o baixo comparecimento da população nesses espaços.

| Délber Bittencourt é acadêmica do 4º período de Jornalismo no UniNorte.

| Kelly Melo

Diretor ExecutivoJosemir Silva

ReitoraMaria Hercília Tribuzy de

Magalhães Cordeiro

Pró-Reitora AcadêmicaLeny Xavier Louzada

Pró-Reitor AdministrativoJosé Frota

Diretor FinanceiroFernando Martins

Diretora de Ensino e deGraduação

Maria Izolda de Oliveira Barreto

Diretor de Pós-Graduação e Pesquisa

Tristão Sócrates BaptistaCavalcante

Diretora de ExtensãoJúlia Cristina Silveira

Camilotto

Coordenadores Curso deComunicação

Prof. Gustavo Soranz GonçalvesProf. Márcio Pessoa

Jornalista ResponsávelProf. Leila Ronize

Mtb 179-AM

EdiçãoKelly Melo

Projeto Gráfico e DiagramaçãoKleiton Renzowww.r3nzo.com

RedaçãoBruno Tadeu

Camila HenriquesDiácara Ribeiro

Karina EmmanuelleWillian Pereira

FotografiaDélber BittencourtRafaela Marques

Bruno LimaAna Beatriz Bezerra

EXPRESSÃOé o Jornal Laboratório do curso

de Jornalismo do UniNorte, elaborado pela Agência Experi-mental de Comunicação (Agex).

EndereçoRua Hauscar de Figueiredo, 290

Centro Manaus AmazonasCEP 06020-190

Fone (92) 3212-5053

Edição nº 11 Março de 2011

Jornal Expressão

Editorial

Manaus 21 de Março de 20112

Expediente

Em comemoração ao aniversário de Manaus, o Expressão entrevistou um dos principais pensadores amazonenses, sobre a formação social na Amazônia da atualidade.

Ernesto Renan Melo de Freitas Pinto, apesar de ser graduado em Língua e Literatura Inglesa, pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), é Mestre em Sociologia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), e Doutor em Ciências Sociais, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).

Atualmente é professor do Departamento de Ciências Sociais da UFAM e pos-sui experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia do Desenvolvi-mento, onde atua nos temas: Amazônia, Pensamento Social, História das Idéias, Desenvolvimento Regional e Pensamento Social na Amazônia e Fundamentos Fi-losóficos das Ciências Humanas.

Renan de Freitas Pinto é membro e ex-presidente da Câmara Amazonense do Livro e Leitura (CALL), bem como autor de importantes trabalhos científicos sobre a região, tais como “A Sociologia de Florestan Fernandes”, de 2008, “Vozes da Ama-zônia: Investigação sobre o pensamento social brasileiro”, de 2007, “Viagem das Idéias” e “O Diário do Padre Samuel Fritz”, de 2006, e “Amazônia: a natureza dos problemas e os problemas da natureza”, de 2005.

Quer ficar inteirado do que o professor Renan pensa da formação social de Manaus? Então continue a leitura!

Pedro Pereira é feirante e pescador desde os oito anos. Ele conta a sua história na reportagem de Karina Emanuelle.

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“Manaus possui uma ampla rede de teatros, casas de shows, espetáculos e extensas atividades culturais. A falta de interes-se e de informação em conhecer a história local é que causa o

baixo comparecimento da população nesses espaços”

Page 3: Jornal Expressão Ed. 11

Jornal Expressão

Manaus: entre a cheia e a seca dos rios-mares

Manaus 21 de Março de 20114 Jornal Expressão 5Manaus 21 de Março de 2011

Especial

| cheia

| Eliena Monteiro & Kelly Melo

Fortes e ao mesmo tempo impressionantes, as paisagens que se formam com o fênomeno são encantadoras

Dois períodos marcam a história de Manaus todos os anos: a cheia e a seca. Entretanto, de 2009 para cá, os dois momentos surpreenderam, batendo todos os recordes de alta e a baixa do nível da águas.

A Praia da Ponta Negra, um dos principais destinos turísticos da cidade, ficou tomada por curiosos que, além de se re-

frescarem nas águas do Negro, também queriam registrar o fato histórico.

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O reflexo da ação do homem. Será que as pessoas conseguem perceber que o fato pode ser um espelho de duas situações: o

ciclo da natureza ou a consequência da degradação ambiental? É interessante notar que apesar dos transtornos, a cheia criou

belos cenários.

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Em 2009, o Negro atingiu a sua maior cota, superando o registro de 1953, quando o rio chegou a medir 29,69m. Ruas foram inundadas, casa alagadas e comércios interditados. A saída para driblar a natureza foi improvisar. Nos cantos das ruas, barrei-ras de saco e seixo se transformaram em passarela para que as pessoas continuassem suas atividades ‘normais’.

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Page 4: Jornal Expressão Ed. 11

Jornal Expressão Manaus 21 de Março de 20116 Jornal Expressão 7 Manaus 21 de Março de 2011 19 de Outubro de 2010

Comportamento

Manaus: entre a cheia e a seca dos rios-maresEspecial

| seca

| Eliene Monteiro & Kelly Melo

Fortes e ao mesmo tempo impressionantes, as paisagens que se formam com o fênomeno são encantadoras

Apenas um ano após a maior cheia, Manaus sofre, em 2010, a maior seca. O local que antes abrigava casas flutuantes, agora abre espaço para restos de embarcações naufragadas. É como se o ambiente tivesse se transformado

em uma cidade fantasma.

As pegadas na argila refletem o esforço para atravessar o que restou do Rio. O Negro virou barro.

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Page 5: Jornal Expressão Ed. 11

Além da fortaleza, a coloniza-ção européia influenciou na

construção de edifícios imponentes e residências luxuosas, tudo, com o requinte e toque do continente de origem. A herança deixada pelos imigrantes pode ser percebida e ad-mirada durante um turismo urbano, ainda nos dias atuais.

Não seria demais falar que ao caminhar pelo Centro Histórico de Manaus temos a sensação de estar passeando pelas ruas da Europa. A paisagem formada por prédios, praças, monumentos, templos reli-giosos, museus e estabelecimentos comerciais que mistura passado e presente, nos remete a um tempo que marcou época.

ResidênciasAs primeiras edificações per-

tencentes aos “donos da borracha” possuíam luz elétrica e sistema de água encanada e esgotos. O período de luxo em plena selva amazônica durou entre 1890 e 1920, gozando

de tecnologias que outras cidades do Sul e Sudeste do Brasil ainda não possuíam, tais como bondes elétri-cos.

O Centro Cultural Palácio Rio Ne-gro de Manaus é o maior exemplo de residências construídas no início do século XX, em estilo eclético, sen-do propriedade particular do comer-ciante da borracha, alemão Walde-

mar Scholz.Outro destaque é o edifício conhe-

cido como ‘Castelinho’, que, embora não esteja inserido no perímetro da área central da cidade, é dono de uma beleza e história singular. Localizado no bairro de Adrianópolis, o imóvel foi construído em1906, sendo a única residência edificada com recursos governamentais, que, curiosamente,

pertencia ao coronel Adolpho Lisboa, que na época, exercia seu tercei-ro mandato a frente da Prefeitura.

Templo religiosoSeu interior é marcado por pai-

néis e vitrais europeus, bem ao estilo da época, construída sob a direção de Gesualdo Marchetti de Lucas, em 1888, o prédio da Igreja de São Se-

bastião, localizada no Largo de mes-mo nome, faz parte de um complexo onde abriga a Praça São Sebastião e o Teatro Amazonas, tem estilo neoclássico, com alguns elementos medievalistas.

Monumento a Abertura dos Portos

Feito em mármore, granito bove-no e bronze, o Monumento assinala à Abertura dos Portos do Rio Ama-zonas ao Comércio Mundial, em 07 de setembro de 1867. Inaugurado em 1900, é uma obra do escultor Domênico de Angelis em estilo ne-oclássico, também localizado na Praça São Sebastião, em frente ao Teatro Amazonas e a Igreja de São Sebastião.

Ponte Benjamim ConstantA ponte metálica Benjamin Cons-

tant é um dos marcos históricos de Manaus, situada no bairro da cacho-eirinha, na entrada sul, construída no período de 1892 a 1895 com peças todas importada da Inglaterra.

As obras foram supervisionadas pelo engenheiro Frank Hirst Hebble-thwait. Das pontes metálicas que existem em Manaus, a da Cachoeiri-nha é a mais imponente, sendo com-pletamente reconstruída em 1938 durante o governo de Álvaro Maia.

Mas foi na gestão do governador Eduardo Braga (2004) que a ponte foi totalmente reformada voltando ao estilo original, com luzes que à noite, lembra a ponte da europa.

Palacete ProvincialA primeira notícia que se tem des-

sa edificação é de 1867, foi quando o presidente da província relatou a compra do prédio em construção,

conhecido como Palacete Garcia, para abrigar o Tesouro Provincial. Construído originalmente em um único bloco, o Palacete da Província, como ficou conhecido, foi inaugura-do em 1875.

Até o ano de 2004 funcionava como prédio do Comando Geral da Polícia Militar do Estado. Agora reformado, voltou a ser o Palacete Provincial.

Teatro AmazonasO projeto arquitetônico escolhi-

do foi de autoria do Gabinete Por-tuguês de Engenharia e Arquitetura de Lisboa, em 1883. A pedra fun-damental só foi lançada em 1884. Foram trazidos arquitetos, constru-tores, pintores e escultores da Eu-ropa para a realização da obra. A decoração interna ficou ao encargo

de Crispim do Amaral, com exceção do salão nobre, área mais luxuosa do prédio, entregue ao artista italia-no Domenico de Angelis. O teatro foi finalmente inaugurado no dia 31 de Dezembro de 1896, se tornando a mais imponente obra da colonização européia.

Palácio da JustiçaEste prédio, inaugurado em

1900, fez parte do plano de monu-mentalização da cidade, traçado pelo governador Eduardo Ribeiro que, em 1893, desapropriou o terreno e no ano seguinte assinou o contrato de construção com a firma Moers & Morton. A obra, concluída por José Gomes da Rocha, no governo de Ramalho Júnior, possui traços da arquitetura francesa, influenciando muitas das construções da cidade.

Jornal Expressão Manaus 21 de Março de 20118 Jornal Expressão 9Manaus 21 de Março de 2011

História

| Alan Charles Chaves

PRAÇAS: Área de lazer em estilo clássico à céu aberto. Percebe-se a preocupação dos projetistaas com o espaço para recreações e áreas verdes

Manaus e a herança da colonização europeiaDois canhões de bronze e outros dois de ferro. Os objetos bélicos que guarneciam as cortinas do Forte de São José da Barra do Rio Negro

foram os primeiros, de vários, desembarcados pela primeira leva de europeus que aportaram em Manaus, em 1669

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Ponte Benjamim Constant foi restaurada entre os anos de 2009 e 2010, mas hoje já está depredada e sem luz

No passado, os bondinhos trafegavam pela Ponte Benjamin Constant

CASTELINHO longe da área central, é visita obrigatória para turistas

Palácio da Cultura foi erguido para sediar a justiça amazonense

PALACETE PROVINCIAL de comando militar à museu histórico

Page 6: Jornal Expressão Ed. 11

mem das vestes brancas e toquinha na cabeça, se tornando um exímio vendedor. No rio, ele liga o motor e se destina ao lugar certo, atento as intui-ções de bom conhecedor das águas escuras.

Pescador desde os oito anos, sen-do o mais velho de uma sequência de oito irmãos, Pedro assumiu a tarefa de seguir os passos de seu pai e pro-fessor, que com atenção e zelo, o en-sinou a manusear o caniço, o arpão, a zagaia e ainda flechar o peixe.

Pedro se divide em uma rotina dura. Das 3h da manhã às 14h, ele assume o papel de vendedor. “Amola” a garganta e grita para chamar a fre-guesia. Com a faca na mão e muitas vezes sem olhar, ele passa o metal no pescado e começa a “ticar”. Perde-se a conta de quantos peixes são ticados por minuto, tamanha a agilidade do vendedor que mais parece um alto-falante.

Quando o relógio marca 15h, é hora de bater em retirada e rumar para Paricatuba. A viagem dura cerca de 4h30. Quando chega aos arredo-res do Rio Negro é só jogar a rede e esperar. Mas em tempos de seca, o jeito é espantar os peixes na beira do rio. Só assim, é possível retornar com os isopores cheios.

Em mais de 40 anos na vivência das águas escuras, Pedro guarda as boas histórias e relata que como toda profissão, ser pescador tem lá seus perigos. “A cobra é um perigo. Mas o jacaré é que é perigoso mesmo. Se

ele pega a gente, ele aleija, ‘tora’ braço e ‘tora perna’. Quando a gente encon-tra um, a gente tira fora”, diz.

As noites mal dormidas são evi-dentes no rosto de Pedro, que já contempla as marcas profundas da idade. Marcas também influenciadas pela profissão, que ao mesmo tempo, rouba a companhia da família e ofere-ce momentos de diversão e felicidade, que só ele é capaz de entender.

Camelô, a profissão do argumen-to

As miudezas estão espalhadas por toda a banca. Sentada, mas com os olhos atentos ao movimento está Jo-ana Xavier, 61, abanando-se com um amarelado jornal. A cada curioso que se aproxima, ela se levanta e come-ça o jogo da persuasão, aprimorado após 40 anos de muito treinamento. Transformar o perguntador em clien-te, é sua missão.

Filha de agricultores, Joana co-nheceu os campos de roçado desde cedo. Não teve acesso aos bancos da escola e as poucas letras que sabe, montam seu nome.

Aos 18 anos, decidiu ser vende-dora. Com mochilas nas costas e nos braços, Joana ainda carregava garra-fas de suco nas mãos. Andava horas pelas ruas do Centro, na tentativa de comercializar calcinhas e cuecas e de oferecer um copo de refresco a um rosto estranho. Foram anos não mui-to agradáveis, onde as pernas foram suas melhores aliadas.

Conseguir uma barraquinha, foi motivo de comemoração. Enfim,

um lugar seu. Lugar esse onde podia expor suas vendas, sem se preocupar com o peso dos objetos.

Há quatro anos, ela fica lá... sentada, esperando os olhares inda-gadores de quem busca um preço mais em conta, e ter a possibilidade de demonstrar o pensamento rápido com os números. Habilidade adquirida ao longo do anos de profissão, que lhe impôs a necessidade de conhecer as operações matemáticas.

Todos os dias Joana sai de casa para trabalhar sem saber que tempo vai enfrentar ou quem vai conhecer. Se terá que amarrar a barraca debai-xo de um temporal ou se recorrerá a uma toalhinha nos ombros, para enxugar o calor que lhe cai na face. Mas, de uma coisa ela tem certeza: “Vou continuar vendendo até quando Deus precisar de mim. Quando ele me chamar, eu vou. Por enquanto eu ‘tô’ aqui, trabalhando”, dessalta, demons-trando sua fé.

Jornal Expressão Manaus 21 de Março de 201110 Jornal Expressão 11Manaus 21 de Março de 2011

Manaus

Como qualquer trabalhador, to-dos os dias eles saem de suas

casas com destino ao “ganha pão”. O sustento é o maior objetivo, mas a sa-tisfação de se fazer o que gosta não tem preço.

Alguns herdaram a profissão dos pais, outros a própria vida se encar-regou de mostrar o caminho a ser traçado. São muitas as histórias dos mais de 1,7 milhão de manauaras que personificam a cidade, pois não há como falar de um lugar se não ci-tarmos aqueles que o constroem to-dos os dias.

Artesã: as mãos que criamEscamas e ossos de peixe, penas

de galinhas e pedaços de madeira,

normalmente, encontram seu desti-no nas latas de lixo. Mas o artesana-to produzido por Ivone Duque, 57, dá vida e cor a essas inutilidades.

Araras, tucanos, piranhas, colares e brincos indígenas, tiaras personali-zadas e até biquínis de cuia são alguns dos resultados do trabalho da artesã que carrega nas mãos as cicatrizes de mais de 30 anos de atividades.

De fala mansa, ela conta que co-nheceu o artesanato ainda nova, nos pés de seringueira do sítio dos pais, em Janauari (Iranduba, a 22 KM de Manaus). Eles produziam colares sim-ples e depois vendiam aos turistas, que visitavam o local, por apenas R$ 1.

Quando completou 16 anos, Ivone

atravessou o Rio Negro visando me-lhores condições de vida. Em Manaus, ela estudou e formou-se professora. Por sete anos se viu envolta de page-las e provas, mas, nas horas vagas, dedicava-se a a criação de novas pe-ças artesanais.

A carreira nas salas de aula não rendeu o suficiente para suprir todas as suas necessidades, mesmo lecio-nando em dois expedientes. Então abandonou o Magistério e seguiu a carreira de artesã.

Decidida pelo ramo da arte, Ivone se juntou a um grupo de 50 mulheres, e juntas deram início ao artesanato de penas coloridas. A idéia deu certo e a mostra dos trabalhos ganhou reco-nhecimento nacional e internacional.

Para divulgar as suas obras, a arte-sã viajou por todos os estados do Bra-sil e carimbou o passaporte passando pelo Chile, Argentina e Peru. “Quando as pessoas compram algo que eu faço e acham bonito, me engrandece mais do que qualquer quantia em dinheiro. É muito gratificante”, comenta.

Hoje, com o olhar cansado, senta-da em frente a sua barraca e atenta as palavras-cruzadas em suas mãos, Ivone guarda a vontade de permane-cer trabalhando até quando puder manusear a tesoura, a faca e a agu-lha.

Pescador, a profissão que trans-passa gerações

Na feira, ele assume o papel do ho-

| Karina Emanuelle

Todos os dias é a mesma coisa. D. Joana sai bem cedo de casa para conseguir vender alguma coisa e assim levar o sustento para casa

O ofício ele aprendeu com o pai, quando ainda era criança, há mais de 40 anos nos rios do Amazonas

Ela conheceu o artesanato debaixo das seringueiras do avô

História de quem é a cara de Manaus Mais do que a composição étnica e os traços culturais,conhecer o manauara é notar a fé, a simplicidade e acriatividade com que vive

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Page 7: Jornal Expressão Ed. 11

Jornal Expressão Manaus 21 de Março de 201112

As cigarras gostam de can-tar. Muitos acreditam que elas cantam até morrer. Mas os es-pecialistas dizem que o canto é feito pelo macho para atrair as fêmeas para o acasalamento. Em ambientes urbanos, como Manaus, elas não cantam mais. E como era a cidade quando elas catavam?

“Quando cantavam as cigar-ras” é o título do documentário que conta a história de Manaus nas décadas de 1950 a 1980. O filme reúne cenas importan-tes da ecologia, do cinema, do Teatro Amazonas, do futebol, da música e do rádio. Além dis-so, conta com a participação de nomes do cenário local como Kátia Maria, Joaquim Marinho, Baby Rizzato, Oscar Ramos, en-tre outros. O trabalho é resul-tado de uma pesquisa liderada pelo historiador amazonense Manoel Callado que, em uma hora e dezesseis minutos, o es-pectador é convidado a viajar pela cidade dos Manaós.

O filme também retrata os tempos em que um grupo (críti-cos de cinema, artistas, escrito-res, locutores, etc.) chamado “o clube da madrugada”, se reunia para pensar sobre a sociedade amazonense.

O 1º Festival Norte do Ci-nema Brasileiro, de 1969, que homenageou Silvino Santos, também é relembrado no do-cumentário. Silvino foi um dos primeiros cineastas a filmar a Amazônia.

A arte, a história e ecologia se casam em “Quando canta-vam as cigarras”. O DVD está disponível na Livraria Valer.

Eliena MonteiroEstudante de Jornalismo

O dia 31/10/2010 ficou marcado na história brasileira não só por se tratar do dia em que os brasileiros elegeram mais um presidente, mas sim, porque uma mulher foi escolhida, pelo voto direto e po-pular, para assumir o País. Dilma Rousseff é a nova presidente do Brasil.

No Amazonas, as eleições 2010 foram tran-qüilas. Omar Azziz se reelegeu para o Governo do Amazonas com mais de 63% dos votos. Foi um dos melhores resultados dos últimos anos.

Em outubro, Manaus comemorou 341 anos. A data foi festejada com muito fogos e ao som do ritmo local, o Boi Bumbá. Durante três noites no Sambódromo, o manauara tirou os pés do chão, em mais uma edição do Boi Manaus.

Omar Aziz

Dilma Rousseff

Aniversário

Dica de DVD

Eleições 2010

O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), prin-cipal porta de entrada para as universidades do país, pode ser suspenso este ano. O motivo foram as falhas operacionais encontradas nas provas amarelas. Ago-ra, os estudantes devem aguardar até serem remar-cas nova data para aplicação das provas.

Artistas locais, nacionais e internacionais, mais uma vez, marcam presença no Amazonas Film Festi-val, que aconteceu entre os dias 5 a 11 de novembro, em Manaus. Este ano, o evento foi levado para cin-co municípios do estado. Destaque para a produção Amazonense, que vem logrando bons resultados na produção cinematográfica.

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Fotos: Divulgação

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