jornal de estudo outubro de 2012

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Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora, outubro de 2012 | Ano 47 | Nº 220 JORNALDE ESTUD Documentário, que conta a história do movimento hip-hop em Juiz de Fora, faz parte de pesquisa de doutorado desenvolvida na UFJF >>> P. 15 Hip-hop em cena Foto: Eduardo Moreira arte e lazer entrevista campus Nem só de aplausos vivem os artistas: atores revelam os desafios da profissão além dos palcos >>> Página 14 Marcos Pimentel, ex-aluno da Facom, fala de sua paixão por contar histórias no cinema >>> Página 12 Núcleo estuda relação entre mente e cérebro >>> Página 3 Pesquisa observa o comportamento de espécies usadas em tratamentos >>> P. 3 Foto: Fabrício Delamare Obras do novo Hospital Universitário já provocam polêmica por causa do modelo de gestão a ser implantado >>> Página 4 Sociedade reconhece a importância do tratamento aos portadores de TDAH Bairros da região central sofrem com a vida noturna cidade >>> P. 6 esporte Projetos esportivos ajudam na inclusão de pessoas com deficiência >>> P. 10 A partir deste ano, as pesso- as que sofrem de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperativi- dade (TDAH) receberão trata- mento diferenciado durante as provas do ENEM. O TDAH, ainda pouco co- nhecido entre profissionais, pais A discussão sobre a presença de bares e boates nos bairros resi- denciais se aquece mais uma vez. Embora funcionem como opção de lazer e movimentem a economia lo- cal, muitos moradores reclamam dos transtornos provocados, como a mú- sica em alto volume, a presença do comércio e uso de drogas, brigas e sujeira nas ruas. >>> P. 9 especial e alunos, divide opiniões, já que muitos se sentem despreparados para lidar com as situações que envolvem os portadores. O trans- torno é uma doença genética, que, quando diagnosticada precoce- mente, pode ser tratada através de acompanhamento. Foto: Fram Moraes

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Produção laboratorial dos alunos da Facom/UFJF

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Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora, outubro de 2012 | Ano 47 | Nº 220

JORN

ALDEESTUD

Documentário, que conta a história do movimento hip-hop em Juiz de Fora, faz parte de pesquisa de doutorado desenvolvida na UFJF >>> P. 15

Hip-hop em cena

Foto: Eduardo Moreira

arte e lazer entrevista campus

Nem só de aplausos vivem os artistas: atores revelam os desafios da profissão além dos palcos>>> Página 14

Marcos Pimentel, ex-aluno da Facom, fala de sua paixão por contar histórias no cinema>>> Página 12

Núcleo estuda relação entre mente e cérebro

>>> Página 3

Pesquisa observa o comportamento de espécies usadas em tratamentos >>> P. 3

Foto: Fabrício DelamareObras do novo Hospital Universitário já provocam polêmica por causa do modelo de gestão a ser implantado>>> Página 4

Sociedade reconhece a importância do tratamento aos portadores de TDAH

Bairros da região central sofrem com a vida noturna

cidade

>>> P. 6

esporte

Projetos esportivos ajudam na inclusão de pessoas com deficiência >>> P. 10

A partir deste ano, as pesso-as que sofrem de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperativi-dade (TDAH) receberão trata-mento diferenciado durante as provas do ENEM.

O TDAH, ainda pouco co-nhecido entre profissionais, pais

A discussão sobre a presença de bares e boates nos bairros resi-denciais se aquece mais uma vez. Embora funcionem como opção de lazer e movimentem a economia lo-cal, muitos moradores reclamam dos transtornos provocados, como a mú-sica em alto volume, a presença do comércio e uso de drogas, brigas e sujeira nas ruas. >>> P. 9

especial

e alunos, divide opiniões, já que muitos se sentem despreparados para lidar com as situações que envolvem os portadores. O trans-torno é uma doença genética, que, quando diagnosticada precoce-mente, pode ser tratada através de acompanhamento.

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Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora produzido pelos alunos de Técnica de Produção em Jornalismo ImpressoReitor: Prof. Dr. Henrique Duque de Miranda Chaves FilhoVice-Reitor: Prof. Dr. José Luiz Rezende PereiraDiretora da Faculdade de Comunicação: Profª. Drª. Marise Pimentel MendesVice-Diretor da Faculdade de Comunicação: Prof. Dr. Paulo Roberto Figueira LealCoordenadora da Faculdade de Comunicação diurno: Profª. Ms. Letícia TorresCoordenador da Faculdade de Comunicação noturno: Prof°. Ms. Eduardo Leão

Chefe do Dept. de Jornalismo: Profº. Drº. Boanerges Balbino Lopes FilhoProfessores orientadores:Profª. Ms. Janaina Nunes, Profª. Ms. Marise Baesso, Profª. Ms. Aline Maia

Monitoria: Luigi Gomes e Luiza Vale

Reportagem e Diagramação: Alice Bettencourt, Aline Faria, Ana Luiza Mcauchar, Ana Lúcia Pitta, Cíntia Charlene, Daniele Xavier,

Eduardo Moreira, Fabrício Delamare, Flávio Christo, Fram Moraes, Glória Baltazar, Helena Tallmann, Henrique Oliveira, Laís Miranda, Luiza Bravo, Maria Thereza Fialho, Mariane Sequeto, Natália Corrêa, Ramon Freitas e Romerito Pontes

Tiragem: 1.000 exemplares.

Endereço: Campus Universitário de Martelos, s/n – Bairro Martelos 36036-900 - Telefones: (32) 2102-3601 / 2102-3602

Expediente

A divulgação do resultado de uma pes-quisa que avalia o desempenho das faculdades é sempre acompanhada

pelo entusiasmo de alunos e professores – principalmente quando essa faculdade fica entre as melhores do Brasil. Nada mais justo. Afinal, nosso país tem proporções continen-tais, é um dos mais populosos do mundo e uma das maiores economias também. Ser uma das melhores faculdades nesse país não é pouca coisa.

Ou, pelo menos deveria ser assim, se nós não estivéssemos em 88º lugar no ranking mundial da educação elaborado pela Unesco. Nós ficamos atrás de países como Azerbaijão, Peru e Armênia. Mas esse não é o objetivo desse artigo. Pois, muitos outros países, “sub-desenvolvidos” ou não, passam por dificulda-des em seus sistemas de ensino. A questão que se coloca aqui é: quais as medidas que são tomadas frente a isso?

Nosso sistema educacional passa hoje por uma crise. Na educação básica, a falta de estrutura é evidente. Basta imaginar os efei-tos de 60 alunos dentro de uma sala de aula. Além disso, a figura do professor que reclama do salário e critica o seu plano de carreira já é lugar comum no imaginário popular.

Na rede de ensino superior, não é diferen-te. Soma-se a isso um agravante: está em plena implementação o projeto de expansão chama-do Reuni, que é alvo de críticas por parte de diversos setores. Só para se ter uma ideia, o repasse de verbas às instituições está atrelado ao cumprimento das metas de cada etapa de aplicação do programa. Uma dessas metas é o aumento da relação de alunos por professor.

Ora, é de se esperar então que se bus-

Incentivo e rankeamentoquem alternativas para que se corrijam, ou pelo menos se atenuem essas diferenças. Mas isso não ocorre – muito pelo contrário. O mais crítico por trás dessa crise, e talvez o fa-tor que mais evidencie um possível interesse perverso, é a política de premiação e bonifi-cação das instituições. E aí entra o problema decorrente do rankeamento.

A política dos últimos governos foi, atra-vés de diversos mecanismos de avaliação das instituições de ensino (principalmente Prova Brasil, para o ensino fundamental, e Enade, para o superior), destinar mais recursos para os melhores avaliados. Isso acaba por pres-sionar o afastamento dos polos avaliados. Ou seja, uma vez que a escola melhor avaliada recebe mais recursos, e a pior avaliada, me-nos, é claro que, cada vez mais, a disparidade entre elas deverá aumentar.

Isso não quer dizer que a avaliação não deva ser realizada. O que não deve ser feito é esse tipo de priorização que não contribui para o fortalecimento do sistema como um todo, e sim, para a formação de centros de excelência, em detrimento do restante. E não preciso nem falar o quanto isso é interessante para a iniciati-va privada, uma vez que cria nichos para serem explorados comercialmente – vide o boom das instituições particulares de ensino superior.

É compreensível que, em relação às po-líticas de expansão e em torno dos caminhos de desenvolvimento que o nosso sistema vem tomando, haja controvérsias e polêmicas. É natural que haja disputa em relação a isso. Mas também é natural que todos busquem o crescimento geral. A avaliação deve, sim, ser feita. Mas a política tirada a partir disso não deve ser meritocrática ou punitiva. Essas ava-liações deveriam servir para o mapeamento das dificuldades e auxiliar a busca pela supe-ração das mesmas. por Fram Moraes

Editorial

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Romerito Pontes

O Jornal de Estudo chega à terceira edição do ano, agora comandado pela segunda turma do Mergulhão de Impresso 2012. Terminada a greve, voltamos a todo

vapor e procuramos abordar temas variados em nossas matérias, para atrair e beneficiar o maior número possível de leitores com nosso trabalho.

Abrimos o jornal com as notícias da UFJF. Aproveitamos o espaço para discutir a nova forma de administração do Hospital Universitário e para questionar se a nova lei do Governo federal, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, acarretará mudanças no sistema de cotas da Universidade. Na editoria Cidade, apresentamos uma reportagem sobre o destaque que Juiz de Fora vem ganhando no setor de negócios, recebendo importantes feiras ao longo do ano e atraindo novidades, como a Expohot, primeira feira erótica realizada no município.

Fomos às ruas e investigamos um problema enfrentado por muitos juiz-foranos: o barulho durante a noite e a madrugada, causado por bares, casas noturnas e carros que circulam com som no volume máximo. Outro assunto polêmico desta edição é o projeto de construção de uma usina de triagem de materiais recicláveis na divisa entre os bairros Poço Rico e Santa Teresa.

Na saúde, uma iniciativa que vem gerando bons resultados chamou a atenção de nossa equipe, que conheceu de perto o funcionamento da Agência de Cooperação Intermunicipal em Saúde Pé da Serra, a Acispes. Também elaboramos uma reportagem especial sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, uma doença que exige cuidados especiais principalmente na fase escolar e que terá tratamento diferenciado no Enem.

O ano de 2012 foi marcado pela 14ª edição dos Jogos Paralímpicos, em Londres. Instigados pela competição, preparamos uma matéria sobre a prática de esportes entre pessoas com deficiência e inclusão social em Juiz de Fora.

Você já ouviu falar em experiências de quase morte? Professores e bolsistas do Núcleo de Espiritualidade e Saúde da UFJF estão desenvolvendo uma pesquisa interessante sobre o assunto. Conversamos com participantes do projeto e com uma pessoa que afirma já ter passado por essa situação, a fim de saber o que aconteceu e qual é a sensação de sentir-se fora do próprio corpo.

Para fechar o Jornal de Estudo, muita cultura: você vai saber mais sobre o documentário desenvolvido a partir de uma tese de doutorado, que analisa o universo hip-hop na cidade. Trazemos ainda um panorama sobre a vida dos artistas de teatro locais: saímos em busca dos desafios que esses profissionais encontram, incluindo a preparação e a dificuldade de ser reconhecido no mercado, além da instabilidade da carreira. Por falar em desafios, mergulhamos no mundo dos mochileiros para desvendar as vantagens e os perigos que essa modalidade de turismo oferece. Ficou interessado? Então embarque conosco no Jornal de Estudo e boa viagem!

trabalho, é preciso que o conteúdo dessas gravuras seja desconhecido até mesmo pelos pesquisadores.

Em Juiz de Fora, o estudo é realizado em duas UTIs: na Santa Casa de Misericórdia e no Monte Sinai. Nas unidades, ficam a ficha de avaliação das paradas cardíacas e as prateleiras com as gravuras. “Nós nos dividimos, seguindo

uma escala para visitar todos os dias esses dois hospitais. Chegan-do lá, indagamos à equipe do CTI se houve, ou não, alguma parada cardiorrespiratória. Caso tenha havido, preenchemos uma ficha com dados sobre o paciente, sobre a ressuscitação, drogas utilizadas, etc. Esses dados são tabulados por um dos membros da equipe. Se não houve casos no dia, nós ape-nas nos comunicamos via e-mail

campus3outubro 2012

Professores pesquisam experiências de quase morte

A morte sempre foi uma in-cógnita para diversas áreas do saber, suscitando não

apenas discussões religiosas, mas atraindo, principalmente, o olhar da ciência. O Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da UFJF desenvolve um estudo sobre as Experiências de Quase Morte (EQM). O projeto, que está na fase de coleta de dados, começou há aproximadamente um ano. A equi-pe é composta por três médicos, um psicólogo e seis alunos bolsistas, sendo cinco da medicina e um da psicologia.

Segundo o coordenador da pesquisa, o cardiologista Leonardo Miana, acima dos leitos das Unida-des de Tratamento Intensivo (UTIs), são colocadas prateleiras, onde fi-cam desenhos de algum objeto que não tenha relação com o hospital. Se um paciente vítima de parada cardíaca for reanimado e relatar ter visto a figura, seria uma evidência de que ele estaria fora do corpo físi-co durante o procedimento de reani-mação. Para garantir a seriedade do

para deixar todos os membros a par”, explica Bernardo Moraes, estudante de medicina e bolsista da pesquisa.

Os médicos e psicólogos ava-liam as informações coletadas pe-los estudantes. Leonardo Miana destaca que é importante a equipe ser cuidadosa na hora da reanima-ção. “Nós sabemos que, quanto melhor você reanima o paciente, maior a chance de ele não ter lesão cerebral. E, se o cérebro perma-necer mais ativo, nós acreditamos que há maior possibilidade de ele relatar uma experiência de quase morte”, esclarece o médico.

Miana destaca ainda que, no momento em que o coração para, a pessoa já não tem atividade cere-bral suficiente para criar um pensa-mento e ter uma vivência, como a de presenciar o que está ocorrendo no momento. “A quantidade de sangue que vai para o cérebro é considerada, medicamente, incapaz de gerar consciência para o pacien-te ver uma figura, ainda mais aque-la que está na prateleira. Quando a pessoa conta ter saído do corpo ao dormir, por exemplo, isso pode ser um delírio. Mas, numa parada car-

Aline Faria Daniele Xavier

A protética Maria das Graças de Souza, de 62 anos, afirma ter passado pela experiência de quase morte. Durante uma cirur-gia à qual foi submetida, após ter tido um aborto, há 36 anos. “O que eu lembro é que, quando eu estava sendo operada, senti que saí do

meu corpo e eu ficava por cima vendo minha cirurgia sendo feita. Vi o pessoal que estava me operando e depois eu comecei a sentir como se estivesse sendo sugada pela escuridão. Eu entrei num redemoinho e tinha uma luz. Mas eu não senti medo nem dor. Era tranquilizador“, relembra.

“Senti que saí do meu corpo”

O projeto de extensão Fisioterapia no Doente Renal Crônico avalia

os benefícios de exercícios fisioterá-picos durante sessões de hemodiálise. O estudo, desenvolvido na UFJF, em parceria entre as Faculdades de Fisio-terapia e Medicina, desde 2004, é pio-neiro no país e busca melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças renais crônicas.

Participam do projeto dois alunos da pós-graduação e oito da graduação, que são acompanhados por quatro professo-res. A pesquisa estimula a prática de exercícios aeróbicos pelos pacientes. O programa de treinamento tem du-ração média de uma hora e é dividido em três etapas – aquecimento, condi-cionamento e resfriamento –, sendo realizado nas duas horas iniciais da hemodiálise. Para as atividades, é uti-lizado um aparelho semelhante a uma bicicleta ergométrica.

A fim de garantir a saúde dos pacientes, todos são submetidos a avaliação cardiológica e fisioterápi-ca antes da inclusão no programa. O objetivo é verificar se há algum risco ou contra-indicação. “A reali-zação de exercício aeróbico duran-te a sessão de hemodiálise é uma prática bem aceita pelos pacientes,

segura e sem com-plicações. Contribui para a redução da pressão arterial, para o aumento da capa-cidade funcional e da qualidade de vida dos pacientes” explica o fisioterapeuta e pro-

fessor da Faculdade de Medicina, Maycon Reboredo.

O tratamento de hemodiálise afeta tanto o corpo quanto a mente, levando os pacientes ao sedentaris-mo, além de depressão. O programa de exercícios quebra a monotonia das sessões, que duram em média quatro horas, trazendo mais dinamicidade e bem- estar aos renais crônicos, garan-tem os pesquisadores.

Fisioterapia auxilia tratamento de pacientes com doenças renaisHenrique Oliveira

Núcleo de Pesquisa em Espiritualidade e Saúde investiga a relação entre mente e cérebro em vítimas de parada cardíaca

díaca, isso não pode ser alucinação, porque o cérebro não está funcio-nando”, detalha. Segundo o car-diologista, para que o paciente veja a figura da prateleira, é necessário haver um desdobramento, ou seja, separação da mente e do cérebro. “A mente seria a parte não material e teria a capacidade de fazer essa experiência fora do corpo”.

O psiquiatra e coordenador do Nupes, Alexander Moreira, explica

que a psiquiatria é importante para a pesquisa por ajudar a avaliar o esta-do mental do paciente, verificando se ele está em condições de fazer o relato. “O que interessa diretamen-te à psiquiatria é como a mente se relaciona com o cérebro, ou seja, será que o cérebro produz a mente? Será que a mente é capaz de existir e funcionar enquanto o cérebro não está funcionando?”, justifica, desta-cando o objetivo do estudo.

Projeto de Ciências Biológicas busca melhoramento de plantasEstudos são aplicados em espécies usadas em diversos tratamentos

Fabricio Delamare

Estudar o comportamento de plantas usadas em tratamentos

medicinais é o objetivo das pes-quisas realizadas pelo professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB / UFJF), José Marcello Salla-bert de Campos, no Laboratório de Genética e Biotecnologia. Em quatro anos nesse projeto, ele con-

ta com parcerias das universidades federais de Lavras e de Viçosa.

Uma das frentes de pesquisa investiga as consequências e os efeitos da exposição de plantas a diferentes meios. “Com o conhe-cimento gerado pelos estudos, inúmeras aplicações para a socie-dade podem ser alcançadas, como a descoberta de substâncias com propriedades medicinais”, desta-

ca. Sallabert explica que uma das experiências em andamento avalia o líquen, decorrência de uma alte-ração nas cascas de algumas árvo-res. Ele é retirado e misturado em um meio aquoso. “Observamos que seu extrato parece ter o mes-mo efeito de muitos medicamentos usados como quimioterápicos, que impedem a divisão celular e são, portanto, utilizados nos tratamen-tos de câncer.” As pesquisas visam, segundo ele, a avaliar o crescimen-to na quantidade e qualidade das espécies. “O objetivo é a obtenção de plantas com estruturas maiores, medicinais, que possuem aumento na produção de princípios ativos.”

Embora os estudos não te-nham sido concluídos, Sallabert defende que essa linha de pes-quisa está próxima da população. “Nesse tempo [quatro anos], os professores e os alunos percebe-ram que o consumidor precisa dos produtos resultantes dessas pes-quisas”.

O professor José Marcello mostra algumas plantas pesquisadas no ICB

Foto: Fabrício Delamare

“A prática é bem aceita

pelos pacientes, segura e sem

complicações”

campus 4

Programa de reestruturação do novo Hospital Universitário preocupa funcionários e alunos da instituição em Juiz de ForaCom as obras, hospital se tornará o maior da Zona da Mata, porém receio por uma possível privatização ainda causa discussões na comunidade acadêmicaGlória BaltazarMari Sequeto

As obras do novo Hospi-tal Universitário (HU) da UFJF estão previstas para

terem início em 2013, com um in-vestimento de R$ 160 milhões. O empreendimento é um dos mais esperados na área de saúde públi-ca não só em Juiz de Fora, mas em toda a região. A unidade terá 350 leitos de internação destinados ex-clusivamente aos pacientes do SUS e ainda serviços inexistentes na rede pública local, como um centro para tratamento de queimaduras. A instituição terá também um setor de maternidade, com um centro de parto normal, e uma área específi-ca para atendimento oncológico. O novo HU vai ser construído no Bairro Dom Bosco, em uma área de 44 mil metros quadrados, ao lado do prédio já existente. Apesar de todas estas definições e avanços já divulgados, um ponto polêmico do empreendimento é a sua gestão. Mesmo antes do início das obras, já há discordância em relação à forma como o novo HU será gerido. En-tre os servidores da UFJF, o temor é pela privatização e consequente perda da autonomia por parte da Universidade.

A previsão inicial é de que o HU seja gerido pela Empresa Bra-sileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), criada em 2011 pelo Governo federal, como alternati-

va para administrar todos os HUs do Brasil. A empresa é vinculada ao Ministério da Educação e con-trolada pela União, respeitando a autonomia universitária. De acor-do com o diretor financeiro da unidade, Alexandre Magno, não se pode falar em privatização. Ele compreende a insegurança do fun-cionalismo, mas explica que não há definições. Para Alexandre, o caminho deve ser o da administra-ção via EBSERH. Esta teria sido a saída encontrada pela União dian-te das crises dos HUs brasileiros e do déficit de recursos humanos e financeiros. “Nós temos hoje nos hospitais universitários uma de-ficiência muito grande de mão de obra em função, principalmente, da expansão dos HUs ao longo do tempo, ficando deficitário na parte estrutural.” Magno ressalta que “a empresa criada é pública, de natureza privada, mas com capital 100% público. A forma de contra-tação será por meio de concurso público,” esclareceu o diretor fi-nanceiro, comparando a possível futura gestão a de empresas, como a Petrobras e os Correios.

Apesar disso, ele também se mostra preocupado com a situa-ção, lembrando que o sindicato dos servidores “bate firme” diante deste cenário porque a categoria perde mobilização, já que os atu-ais servidores concursados do HU seriam cedidos para a futura gesto-ra da unidade. Já os que hoje são

terceirizados teriam que passar por novo concurso, correndo o risco de serem demitidos. Fato é que “as regras ainda não estão claras”, como o próprio Alexandre afirma, ressaltando porém que, em todo o país, dos 46 hospitais universitários federais, 20 já fizeram a pré-adesão à nova gestora.

ProtestosA situação do hospital vem

sendo debatida com frequência nos setores internos da UFJF. Parte dos servidores, insatisfeitos com os rumos da nova gestão, criou o comitê em defesa do HU, formado

pelo Sindicato dos Trabalhadores Técnico-administrativos em Edu-cação das Instituições Federais (Sintufejuf), pela Associação dos Professores de Ensino Superior de Juiz de Fora (Apes) e por membros do Diretório Central dos Estudan-tes (DCE). O comitê reivindica que o Conselho Superior (Consu) da UFJF vote contra o convênio com a empresa de direito privado. No entanto, em algumas instituições federais que já adotaram a nova gestão de HU, não foi necessária a aprovação deste órgão. A expecta-tiva local, porém, é de que a defi-nição só saia após o Consu “bater o

martelo”. Esta teria sido uma pro-messa do próprio reitor, Henrique Duque.

Há uma preocupação geral en-tre servidores e estudantes quanto à possibilidade de as vagas do SUS serem destinadas a convênios e também quanto às garantias de que os novos funcionários serão mes-mo concursados com todos os di-reitos do funcionalismo público. O diretor financeiro do HU nega es-sas possibilidades. Mas integrantes do DCE, como Fernando Linhares, por exemplo, consideram que a situação pode trazer desvantagens também para os alunos. “Hoje a

Desafogamento da saúde públicaA construção do novo hospital universitário e a abertura de novas vagas criadas para o SUS, prome-tem ajudar a desafogar a saúde no município, que é referência para mais de 162 cidades da região para procedimentos de diagnose, exames de média e alta comple-xidade, internações, além de aten-dimentos de urgência e emergên-cia. É o caso da aposentada Maria Carolina Ferreira, 61, de Lima Duarte, que vem ao hospital pela quarta vez fazer o exame anual de mamografia. “O atendimento é ótimo, a consulta é bem rápida, o que demora é o tempo de espera do encaminhamento”, afirma.

Solucionar o problema da longa espera para internações, ci-rurgias e consultas da população é

a esperança de todos com a cons-trução do novo prédio do HU. “O hospital vai aumentar de forma significativa o número de aten-dimentos aos que dependem do

SUS, além disso, nós vamos po-der realizar procedimentos que até então nós não tínhamos na cidade, como o caso do centro de queima-dos”, esclarece a subsecretária de regulação da Secretária de Saúde Municipal, Débora Lammez.

Atual HU localizado no Bairro Dom Bosco atende tanto a comunidade local quanto os acadêmicos

Apesar de a Prefeitura não ter participado diretamente das discussões sobre a construção do novo HU, Débora reafirma a importância do empreendimento. “A estrutura deles já não com-portava mais a demanda e nós trabalhamos junto com o HU e com os outros hospitais da cida-de, fazendo um acompanhamen-to para saber as necessidades do município”.

Segundo a assessoria de co-municação do HU só esse ano, no período de janeiro a agosto, foram realizadas um total de 2.331 ci-rurgias de médio e grande porte. Com o novo prédio, esse número pode triplicar. Além disso, com os novos leitos, o hospital vai se tor-nar o maior da Zona da Mata.

Novo HU Ampliação para 50 mil consultas por mês44 mil metros quadrados de área construída

350 novos leitos192 leitos de internação

11 leitos para transplantesCentro Cirúrgico:10 salas para cirurgias de alta complexidade+3 salas para atendimentos de pequeno e médio porte

Caps:6 leitos

11 consultóriosoficinas

refeitórios

Centro de Queimados:6 leitos Berçários:

10 leitos para UTI10 leitos para atendimento intermediário

Centro de Parto Normal

em números

Foto: Mariane Sequeto

Eduardo Magrone, pró-reitor de Graduação da UFJF, fala sobre as mudanças no sistema de cotas

campus5outubro 2012

Programa de reestruturação do novo Hospital Universitário preocupa funcionários e alunos da instituição em Juiz de ForaCom as obras, hospital se tornará o maior da Zona da Mata, porém receio por uma possível privatização ainda causa discussões na comunidade acadêmica

gente reconhece isso como um grande prejuízo para os acadêmicos também, porque ali é o laboratório da UFJF, e que, se não for mais controlado pela Universidade, as vagas hoje exclusivas dos estudan-tes também podem ser transferidas para outras instituições.” Com rela-ção ao ensino, Alexandre garante que, pelo contrário, haverá ganho para os discentes. “Hoje os alunos da medicina precisam fazer as dis-ciplinas voltadas para a obstetrícia em hospitais conveniados. Com o novo HU, haverá ganho”.

Coordenadora da área de saú-de do Sintufejuf, Janemar Melan-dre, que é funcionária da área de radiologia do hospital, também está temerosa com as possíveis mudan-ças e não está convencida de que o modelo não possa ser chamado de privatização. “Privatizar é vender o ensino, a pesquisa e a extensão, porque a lei é bem clara, pode-se contratar perfis congêneres, ou seja, posso ir a faculdades particulares pegar os estudantes de lá e colocar aqui, assim como os projetos de pesquisa da UFJF podem ser colo-cados onde ela quiser.”

O comitê procura, em todas as reuniões, demonstrar como “a pri-vatização” deve afetar a comunida-de acadêmica. Janemar ainda opina que os servidores também perdem com a contratação da nova empresa, principalmente no que diz respeito à carga horária. “Para o funcionário, muda tudo. Hoje nós fazemos seis

horas diárias, não só no HU, isso foi um ganho político. Vindo a em-presa, a primeira coisa que retorna são oito horas, o que é uma perda, inclusive porque a maioria tem ou-tro emprego, então vai mexer com o bolso de muita gente.”

InvestimentoNo início de 2012, o Ministé-

rio da Saúde anunciou que cerca de R$ 62 milhões seriam destinados a melhorias e reestruturação de 46 hospitais universitários de todo o país. Os recursos fazem parte do Programa de Expansão e Reestru-turação dos Hospitais Universitá-rios Federais (REHUF) e seriam empregados na aquisição de equi-pamentos, reformas e na ampliação do atendimento à população. Mes-mo com o investimento, as condi-ções para atender à demanda do SUS ainda são complicadas.

Janemar Melandre afirma que o dinheiro é pouco e que não adianta apenas contratar a EBSERH como gestora. “Aos trancos e barrancos, hoje nós estamos com 100% de ocupação no hospital e tudo que pode ser feito é feito. Mas a empre-sa não vai resolver os problemas. O que resolveria é a construção do novo HU e o aumento do número de leitos. Nós temos um corpo clí-nico dos melhores da cidade, temos uma equipe de residência também muito bom, muito competente, o que precisa é mais investimento no hospital”.

Desafogamento da saúde pública

O atual sistema de cotas da UFJF sofrerá pequenas mudanças no

processo seletivo de 2013. No entan-to, para os próximos anos, ele terá que sofrer alterações maiores, diante da lei federal, sancionada em agos-to pela presidente Dilma Rousseff, que vai afetar todas as universidades federais do país. “Todos os candida-tos se prepararam até agora para o modelo de cotas vigente e não para o modelo aprovado no Congresso em agosto” justifica o pró-reitor de Graduação, Eduardo Magrone, res-saltando que representantes da Uni-versidade ainda irão se reunir para definir como será a implantação.

O sistema local prevê hoje que 50% das vagas sejam direcionadas para negros advindos de escola pú-blica e para estudantes que tenham passado os últimos sete anos em co-

légios públicos. Já a legislação fe-deral, apesar de destinar metade das vagas para cotas, faz uma divisão diferenciada da adotada pela UFJF. Pela nova lei, as vagas terão que ser divididas entre negros, pardos, índios e alunos com renda familiar igual ou menor a 1,5 salário míni-mo (atualmente R$ 933) per capita. Todos os beneficiados deverão ter cursado o ensino médio em escolas públicas. As instituições federais te-rão quatro anos para se adequar.

AvaliaçãoMagrone explica que hoje há

um déficit no preenchimento das vagas destinadas às cotas. A UFJF oferece cadeiras para os cotistas. No entanto, parte delas acaba sen-do destinada a concorrentes que disputam o processo seletivo sem o benefício. Segundo o pró-reitor de Graduação, isso acontece devido ao baixo índice de alunos por grupos.

“Como os candidatos cotistas não preenchem todas as vagas de seus grupos, temos menos do que 50% de alunos cotistas na Universidade.”

Quanto à situação de avalia-ção de renda, Magrone diz que o modelo estava sendo estudado para ser implantado daqui a alguns anos. “Chegamos a cogitar a possibilidade de adotar as cotas sociais, mediante levantamento da situação socioeco-nômica dos candidatos. A nova lei atropelou este debate. Considero o padrão de renda até alto para a na-tureza da estratificação social bra-sileira, se levarmos em conta que é uma renda familiar per capita. Este sistema terá que ser adotado, mas, por ora, a regulamentação da lei não definiu quando e como.”

Com relação ao Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism), Ma-grone afirma que o sistema terá pe-quenas mudanças em relação à apli-cação das porcentagens de cotas.

UFJF se adequa à nova Lei de Cotas

Glória BaltazarMari Sequeto

Ampliação para 50 mil consultas por mês44 mil metros quadrados de área construída

350 novos leitos192 leitos de internação

11 leitos para transplantes

10 salas para cirurgias de alta complexidade+3 salas para atendimentos de pequeno e médio porte

Maternidade:8 leitos

3 salas de parto cesário1 sala de curetagem

Berçários:10 leitos para UTI

10 leitos para atendimento intermediário

Centro de Parto NormalArte: Cíntia Charlene e Luigi Gomes Foto: Mari Sequeto

Foto: Mariane Sequeto

Pism também terá alterações para 2013As cotas para o próximo processo seletivo não sofrerão alterações, mas os alunos que farão o Pism vão enfrentar uma mudança. As provas, geralmente realizadas em dezem-bro nos anos anteriores, vão ocorrer em janeiro de 2013. A data precisou ser modificada por causa da maior greve da história da instituição, que durou 114 dias.

A modificação provoca discus-sões nas salas de aula dos cursinhos preparatórios. De acordo com o novo calendário, o Pism será reali-zado entre os dias 20 e 22 de janeiro do próximo ano. Os três módulos acontecerão simultaneamente. Esta é outra mudança, já que, até então, a primeira e a segunda fase ocorriam juntas, mas a última etapa coincidia com o vestibular. Como o proces-so tradicional foi substituído pelo Enem, agora os três módulos sem-pre serão simultâneos.

O alunos do Colégio de Apli-cação João XXIII e do Instituto Federal de Educação (IF-Sudeste) foram muito prejudicados com a greve, pois ficaram quase quatro meses sem aulas. Estudante do IF-Sudeste Rodrigo Ramos Soares, 16

anos, irá tentar o Pism II e ressalta a preocupação dos colegas: “Estamos tendo aula aos sábados, mas o con-teúdo perdido foi muito grande, fica tudo corrido, e isso nos deixa em desvantagem com relação aos alu-nos que estudaram o ano inteiro.”

ReaçãoPara o diretor de ensino do

Cave, Nelson Ragazzi, qualquer alteração em datas de provas deci-sivas, como o Pism, é desgastante, mas o que preocupa são as aulas serem proibidas no primeiro mês do ano, por ser período de férias. “Os alunos não podem ter aulas em janeiro. Isso só mudaria com uma revisão sindical e um acordo entre todos os professores. Infelizmente, no fim das contas, é o estudante que vai sair em desvantagem.”

Já Magrone defende que a mudança das datas não prejudica-rá os estudantes. “Todo adiamento é ruim, pois frustra expectativas pessoais e familiares em relação às férias e a outros eventos. Porém não vejo maiores prejuízos para a preparação dos candidatos. Sob certo ponto de vista, terão algum tempo para se preparar mais.”

Foto: Divulgação

cidade 6

Moradores da região central de JF denunciam transtornos em ruas perto de bares e boates

A presença de boates e bares em regiões resi-denciais é controversa.

Apesar de gerar movimento e ser uma opção de lazer para os mo-radores, esses estabelecimentos acabam provocando transtornos. Som alto até de madrugada, usu-ários de drogas, brigas e pessoas que transformam a rua em ba-nheiro são apenas algumas das reclamações.

No Bairro Mariano Procó-pio, vizinhos da Rua Senador Feliciano Pena questionam o som alto de uma casa noturna na Avenida Brasil. Elisabeth Rodri-gues mora na rua há 50 anos. Ela conta que, perto de algumas ca-sas, o barulho é muito alto e vai até às 6h, sendo impossível dor-mir nos fins de semana. Maria Lúcia, 60 anos, engrossa o coro de reclamações e diz que o trân-sito intenso de veículos durante a madrugada é outro transtorno.

Um baile realizado em uma escola de samba no Bairro La-deira, às sextas-feiras, também gera insatisfação. Mas, segundo Carlos Alberto, morador da Ave-nida Maria Perpétua há 15 anos,

o problema já foi bem maior. O som alto hoje não é o principal incômodo e sim a violência: “Já houve ocasiões em que ouvimos até tiros”, desabafa Carlos.

Impasse resolvidoOs problemas foram supe-

rados no Manoel Honório. Dona Carminha Moreira mora em um prédio da Praça Alfredo Lage há oito anos e diz que atualmente o clima entre comerciantes e vizi-nhança é pacífico, mas antes era diferente. “Havia aqui um bar que colocava a música ao vivo

de famílias inibe o uso de dro-gas”, argumenta.

Giovane, gerente do bar, ressalta que, para um bom rela-cionamento com a vizinhança, é necessário respeito mútuo, já que alguns moradores do entorno são frequentadores. “Além de encer-rar a cozinha cedo, o som dentro do bar é ambiente, e nós não co-locamos caixas externas”.

até tarde. Era ponto de encontro de gangues, tinha muita briga. Foi feito um abaixo-assinado para que ele fosse fechado, mas não surtiu efeito”, relembra.

O único bar em funciona-mento na praça hoje não causa transtornos aos moradores. Se-gundo Dona Carminha, o gar-çom Humberto, também conhe-cido como “Seu Peru”, ajuda a colocar ordem na praça e fisca-liza o barulho após determinado horário. “Eu aqui sou conhecido como xerife”, brinca. Ele diz que costuma apartar brigas na praça

e que até já tirou garrafas das mãos de pessoas para evitar que ocorrências mais graves aconte-cessem.

No entanto, o uso de drogas ainda é um problema no local. Nem a presença da PM inibe os usuários. “Quando a gente tira as mesas, onde se sentaria uma família para se divertir, chega um usuário, porque a presença

Bar do Manoel Honório que adaptou seu funcionamento à vizinhança

Alice BettencourtFlávio Christo

Foto: Flávio Christo

Medidas buscam diminuir problemas

Turismo de negócios cresce na cidadeFeiras em diversos segmentos aquecem o setor na cidadeAlice BettencourtLuiza Bravo

Visitantes conferem novidades do mercado erótico na feira ExpohotFoto: Luiza Bravo

A assessoria da casa noturna na Avenida Brasil afirmou que ape-nas uma reclamação foi oficiali-zada. A medição de decibéis foi feita na residência do reclaman-te, sendo constatada a poluição sonora. De acordo com a asses-soria da Secretaria de Atividades Urbanas, o estabelecimento foi autuado e está tomando as provi-dências para diminuir os ruídos.

Segundo o tenente Marcelo Alves, assessor de comunicação do 2º BPM, não é de responsabi-lidade da polícia monitorar casas de shows. Sobre a Praça Alfredo Lage, a PM afirma que não há registro de ocorrências de uso e venda de drogas e que é feito po-liciamento preventivo.

O tenente explica que, para

a polícia tomar providências, é preciso que a pessoa incomoda-da pelo barulho registre a recla-mação pelo 190.

O presidente da Escola de Samba Unidos do Ladeira, Mar-cos Valério, diz que o estabeleci-mento tem procurado minimizar os transtornos à população. Nos últimos meses, mudou a entrada da casa para diminuir o movi-mento na Avenida Maria Perpé-tua. As outras medidas foram o pagamento da taxa de seguran-ça pública, o que obriga a PM a manter uma viatura no estabe-lecimento em dias de festas, e a colocação de ar-condicionado no local, para diminuir a saída de som.

Juiz de Fora está entre as cidades mineiras com grande potencial

para o turismo de negócios. A conclusão é de um levantamento da Secretaria Estadual de Turis-mo. Segundo a supervisora do Nú-cleo de Turismo da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do município, Tatyana Hill, Juiz de Fora está investindo neste ramo e apoia a realização de eventos nesta área, como as feiras.

Na Zona da Mata, a cida-de se destaca por abrigar even-tos dessa natureza durante todo o ano, em diversos segmentos, como móveis, artigos de deco-ração, roupas e alimentos. Entre as mais conhecidas, está a feira organizada pelo Instituto de La-ticínios Cândido Tostes, a maior do gênero na América Latina, que

acontece anualmente em julho. Mais recentemente, novida-

des como a Expohot vêm movi-mentando o setor. A feira erótica, que já passou pelas principais capitais do Brasil, desembarcou em Juiz de Fora, objetivando es-pecialmente a faixa etária entre 20 e 30 anos. A ideia do evento, que recebeu cerca de 12 mil visi-tantes durante quatro dias de rea-lização, surgiu em Amsterdã, na Holanda, e foi adaptada para ser bem recebida pelos brasileiros. Segundo Jéssica Félix, membro da organização da Expohot, as mulheres são responsáveis por grande parte dos R$ 3 bilhões que o mercado erótico movimen-ta anualmente. “Elas gastam mui-to mais dinheiro que os homens, gostam de experimentar as no-vidades. Já eles participam mais das atrações da feira, o que acaba equilibrando o público”, analisa.

Guest FashionDesde 2008, nos meses de

março, setembro e dezembro, Juiz de Fora sedia o Guest Fashion, feira que reúne 80 lojas em seis andares e sete salões de um hotel. Cerca de 40 mil pessoas compa-recem em cada edição do evento, que atrai moradores de cidades vi-zinhas pelos preços convidativos de roupas, sapatos e acessórios. Para Hellen Katherine, assesso-ra de comunicação da empresa responsável pela organização do Guest Fashion, Juiz de Fora tem um potencial visível para abrigar as feiras: “O perfil universitário da cidade, além de sua localiza-ção, entre as principais capitais do país, facilita a formação de profissionais e novos talentos no segmento e atrai investimentos”.

As feiras costumam gerar empregos temporários. Déborah Travassos, proprietária de uma

das lojas participantes do Guest Fashion, chega a contratar 23 fun-cionários para o evento. A lojista afirma que a participação ajuda na promoção da marca. Para Polyana Matozinhos, sócia-proprietária de um estúdio de criação que parti-cipa das feiras Inova Noivas e É Festa, a divulgação é o principal: “Nas feiras de evento, o retorno

financeiro vem depois, mas a ima-gem é importante. Conseguimos fazer a marca ser vista por cerca de mil pessoas, e distribuímos, em média, 700 catálogos, que agora estão circulando pela cidade.” Ou-tra vantagem é o estímulo a vários setores da economia, em especial, o de serviços, como hotelaria, gastronomia, transporte e mídia.

Som alto e presença de usuários de drogas são as principais reclamações de quem vive nas proximidades

cidade7outubro 2012

É difícil passar pela Avenida Presidente Itamar Franco e

não reparar no imponente prédio da Agência de Cooperação Inter-municipal em Saúde Pé de Serra (Acispes). Apesar da construção chamar a atenção de motoristas e pedestres, muitos juiz-foranos não sabem o que funciona no local. Trata-se da sede de um consórcio de saúde que visa ao atendimento médico especializa-do através da cooperação entre seus profissionais e médicos do Sistema Único de Saúde (SUS). Foi criado em 1996, a partir da iniciativa de 24 prefeituras das microrregiões de Juiz de Fora e Santos Dumont, incluindo os municípios de Levy Gasparian e Sapucaia, no Estado do Rio de Janeiro.

De acordo com o diretor exe-cutivo da agência, Sidnei Scalioni, o objetivo é “solucionar deman-das específicas da saúde que não poderiam ser resolvidas separa-damente”. Scalioni afirma ainda que o projeto deve-se ao melhor aproveitamento de recursos fi-nanceiros, humanos, equipamen-tos e instalações físicas. Segundo ele, esta política possibilita a cria-ção de centros de especialização e evita a concentração do fluxo de pacientes e de recursos do SUS em uma única cidade.

Atualmente, a Acispes é um dos 183 consórcios intermunici-pais de saúde no Brasil e um dos 68 instalados em Minas Gerais. A localização de Juiz de Fora foi o principal motivo para a instalação da sede na cidade, pois facilita a locomoção de pacientes vindos de outros locais. O consórcio conta com 17 micro-ônibus que transportam gratuitamente os usuários dos municípios partici-pantes para Juiz de Fora e vice-versa. Durante o dia, os pacientes podem descansar em dormitórios e fazer até duas refeições – café da manhã e almoço – entre uma consulta e outra.

O projeto prioriza o atendi-mento de pessoas encaminhadas pelas Unidades de Atenção Primá-

ria à Saúde (Uaps) e não realiza atendimentos de urgência e emer-gência. Scalioni ressalta, no en-tanto, que o relacionamento com os médicos das Uaps precisa ser fortalecido, uma vez que muitos pacientes chegam com demandas de exames desnecessários. “Tive-mos um caso de uma senhora de cem anos que chegou à Acispes com um pedido de ultrassonogra-fia pélvica. O exame foi realiza-do, obviamente, mas sem a menor necessidade”, conta.

Sidney Costa, 36 anos, faz acompanhamento com um en-docrinologista e revela satisfação com os resultados. “Eu tenho um problema de tireoide e aqui eu recebi um bom tratamento, rápi-do e de qualidade”, afirma. Sid-ney também elogia o transporte: “Saem diariamente de Levy Gas-parian dois ônibus gratuitos, um às 6h30 e outro ao meio-dia, para ninguém ter desculpa que não pode vir se tratar”, brinca.

Também morador de Levy Gasparian, Marcos Roberto acom-panha a mãe, que fez cirurgia de catarata através do consórcio. Ele elogia o serviço: “Conseguimos a liberação para a cirurgia bem rá-pido. Não tivemos tanto problema com burocracia, como normal-mente acontece”, ressalta.

Centro para idososDesde 2008, quando inau-

guradas, as novas instalações da Acispes abrigam o Centro Mais Vida, uma iniciativa do Governo Estadual que oferece atendimento especializado e apoio psicossocial aos pacientes da terceira idade de toda a Macrorregião Sudeste de Minas Gerais.

No centro, o idoso passa por avaliação funcional completa. O diagnóstico é encaminhado à Uaps para para que o médico local possa acompanhar o paciente seguindo as recomendações propostas.

Eva Maria Dias, de 64 anos, sofre com artrose e artrite. Ela es-perou menos de uma hora para ser atendida no setor de fisioterapia. “Todos me falaram que o atendi-mento aqui é muito bom. Espero que consiga resolver meu problema e parar de sentir dor.”

População de 24 cidades busca atendimento médico em Juiz de ForaConsultas especializadas são oferecidas por meio de consórcio intermunicipalFlávio ChristoLuiza Bravo

De acordo com o Demlurb, 90% dos bairros da cidade são atendidos pelo serviço de coleta seletiva, o que resulta em um total de quase 13 toneladas de materiais reaproveitáveis recolhi-dos diariamente. Os resíduos têm como destino final a Usina de Reciclagem, que conta com o trabalho de cerca de 40 catadores credenciados na Ascajuf, desde 2008.

No entanto, mesmo com a iniciativa da PJF de construir uma sede própria para a Ascajuf, a realidade mostra que a chamada “coleta seletiva” realizada em Juiz de Fora ainda deixa muito a desejar. A máxima separação feita é entre o lixo orgânico (úmido) e o seco. Segundo o consul-tor ambiental Frederico Neves, este processo representa uma etapa importante da reciclagem de materiais, mas não é o ideal: “A comunidade deveria separar vidro, papel, plástico e metal. Infelizmente, ainda não temos esta cultura no Brasil”, lamenta.

Por conta desta deficiência, a triagem fica a cargo dos catadores, o que diminui a eficácia do processo. “Não adianta o poder público se mobilizar se a comunidade não fizer sua parte”, defende Frederico. O consultor revela ainda um aspecto importante da coleta seletiva do qual poucas pessoas se lembram: “Quanto menos material for mandado para o aterro sanitário de Juiz de Fora, maior será sua vida útil. Se este ritmo continuar, teremos que construir um novo aterro dentro de, no máximo, 15 anos”, alerta.

Coleta seletiva é precária em Juiz de Fora

Construção de centro de reciclagem gera polêmicaAna Lúcia PittaLuiza Bravo

Projeto em área residencial é questionado pela comunidade

Terreno entre os bairros Poço Rico e Santa Tereza é alvo de disputa entre moradores e prefeituraFoto: Ana Lúcia Pitta

Moradores dos bairros Santa Tereza e Poço Rico estão se organi-

zando contra a construção de uma usina de triagem de materiais re-cicláveis na Rua Coronel Delfino Nonato Ferreira. Já foram reali-zados quatro abaixo-assinados contra o projeto, mas a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) não cedeu, e tudo indica que o centro será mesmo construído.

O projeto, que é uma par-ceria da PJF, da Fundação Ban-co do Brasil e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), visa a beneficiar trabalhadores da Associação Municipal dos Cata-dores de Materiais Recicláveis e Reaproveitáveis, a Ascajuf. Atu-almente, a associação não pos-sui um centro próprio, e realiza

a triagem de materiais em um galpão alugado na Avenida Bra-sil, próximo ao Bairro Vitorino Braga.

O líder comunitário André Durães está à frente do movimen-to contra o projeto. Durães afir-ma que os moradores não foram consultados quanto à escolha do local. “Fomos pegos de surpresa, não falaram com a comunidade em momento algum e já chega-ram aqui com tudo pronto.”

O vereador Flávio Cheker, do PT, esteve envolvido com a idealização do projeto. De acor-do com Durães, os moradores se encontraram com o políti-co e pediram que o plano não fosse levado adiante, mas a so-licitação não surtiu efeito. Em resposta ao Jornal de Estudo, Cheker admitiu que a decisão foi “infeliz”, mas que “o res-ponsável agora é a Secretaria de

Assistência Social (SAS)”.Segundo a assessoria da

SAS, o projeto já foi idealizado pela Faculdade de Engenharia da UFJF. Para os habitantes, a ins-talação do centro de triagem irá aumentar ainda mais o número de moradores de rua na região. Além disso, parte do terreno es-colhido para a construção englo-ba um campo de futebol, que é utilizado pela ONG Craques do Futuro, que atualmente atende cerca de 300 jovens.

Abaixo-assinadoQuestionado sobre o abaixo-

assinado que André Durães disse ter entregue ao vereador Carlos Bonifácio (PRB), presidente da Câmara Municipal, a assessoria reafirmou que nenhuma oposição formal chegou à secretaria e que só tomou conhecimento do pro-blema por meio da imprensa.

especial 8

Distúrbio começa a ser reconhecido e pessoas já diagnosticadas são beneficiadas por leis. Pela primeira vez, prova nacional terá recursos específicos para candidatos com a doença. Em JF, grupos de apoio dão suporte aos portadores e seus familiares

Ana Luiza McaucharLaís MirandaNatália Corrêa

Portadores de déficit de atenção e hiperatividade receberão tratamento diferenciado no Enem

É no ambiente de aprendiza-gem que o portador de TDAH vai apresentar as maiores difi-culdades, tanto de absorção de conteúdo quanto de convívio social. A participação da esco-la e a conscientização dos pro-fessores é fundamental para o tratamento do distúrbio. Peque-nas adaptações, como colocar palavras-chave em negrito, ofe-recer ambientes menos barulhen-tos e com meno-res possibilidades de distrações em uma prova, podem fazer toda a diferença.

Mãe de um adolescente com o distúrbio, a coordena-dora pedagógica Márcia Nas-cimento Neves tem muito para contar sobre o que vivenciou desde que descobriu a doença de seu filho, aos 5 anos. Hoje, ele tem 16 e consegue lidar melhor com as dificuldades. Mas, até chegar a este ponto, a mãe diz que o filho foi alvo de

vários preconceitos, inclusive por parte dos professores. “De um modo geral, as instituições de ensino não estão preparadas para acolher, de forma devida, este tipo de aluno.”

Ela afirma que lidar com esta situação sendo coordena-dora do colégio que o filho estudava não foi fácil. Segun-

do ela, o proce-dimento com o filho era o mes-mo que sempre teve com todos os alunos, “mas muitas pessoas

não pensavam desta forma”. Por isso, ela considera que a cobrança em cima dele acon-tecia de “forma velada e até mesmo cruel”. “É muito mais fácil rotular e ignorar do que acolher e amar”, completa.

Márcia afirma, porém, que não pode desconsiderar o es-forço de professores que estive-ram com seu filho, pois muitos, após conhecer o TDAH, passa-ram a ter um olhar diferente.

As pessoas que sofrem do Transtorno do Dé-ficit de Atenção e Hi-

peratividade (TDAH) puderam optar por receber tratamento di-ferenciado no Enem já a partir desta edição de 2012. A con-quista foi um grande passo para os portadores e para aqueles que lidam diariamente com a doença. A nova medida propi-cia condições mais adequadas para as provas. Os interessados devem indicar os recursos que necessitam na inscrição, de acordo com as opções do edi-tal, como letras e figuras am-pliadas, guia intérprete, auxílio para transcrição, entre outros. É necessário possuir um atestado médico, podendo o Instituto Nacional de Estudos e Pesqui-sas Educacionais Anísio Tei-xeira (Inep) exigir a qualquer momento a comprovação.

O TDAH é um distúrbio caracterizado pela desatenção de uma forma inadequada para a idade da pessoa. O transtorno é pouco conhecido, invisível, e

atinge de 5% a 6% das crianças do mundo. Com uma grande frequência, o TDAH ocorre também em um dos pais ou pa-rentes próximos, sendo assim, uma doença genética. Por ve-zes, as causas podem estar rela-cionadas a alterações no período pré-natal, uma vez que é com-provada a correlação ao uso de álcool ou fumo na gestação.

Thiago Henrique Miranda, 27, portador de TDAH, reali-zou a prova do Enem este ano e considera que o tratamento diferenciado “pode ajudá-lo a manter o foco e realizar me-lhor a prova”. Ele já repetiu o exame cinco vezes, sem êxito, e considera que sua dificulda-de de concentração é um dos fatores que o atrapalham em exames. “Quando dá uma hora de prova, eu já quero levantar, dar uma volta, para continuar depois. Após duas horas, não consigo mais focar em nada, quero levantar e ir embora.” No entanto, ele afirma que, durante as duas primeiras horas, parece ter uma espécie de “hiperfoco”, que acaba o ajudando a conse-guir notas relativamente boas.

Necessidade de adaptações no ambiente escolar

Familiares e pessoas que possuem o distúrbio participam de debate em Grupo de Apoio de Juiz de Fora. Eles discutem sobre as dificuldades do dia a dia de quem lida com a doença

Sobre o TDAH

> Doença crônicacom cura aindadesconhecida pelamedicina. Quandodiagnosticado etratado corretamente,pode ser controlado,aumentando aqualidade de vida doportador.

Pode serdividido em trêssubmodalidades:

> TDAh compredomínio de Sintomasde Desatenção;

> TdaH compredomínio de sintomasde hiperatividade/impulsividade;

> TDAH combinadocom ambos os sintomas.

Fonte: Valéria Modesto

especial9outubro 2012

Distúrbio começa a ser reconhecido e pessoas já diagnosticadas são beneficiadas por leis. Pela primeira vez, prova nacional terá recursos específicos para candidatos com a doença. Em JF, grupos de apoio dão suporte aos portadores e seus familiares

Portadores de déficit de atenção e hiperatividade receberão tratamento diferenciado no Enem

Para garantir que os sistemas de ensino ofereçam aos pro-fessores da educação básica cursos sobre o diagnóstico e o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e da dislexia, foi criado o Projeto de Lei Federal nº 7.081/2010, que tramita na Câmara dos Deputados. O projeto prevê também que os estudantes dos primeiros anos de educa-ção escolar, portadores deste distúrbio, tenham acesso aos recursos didáticos adequados a sua aprendizagem.

“Tal projeto corrige altera-ções no desenvolvimento que afetam a quali-dade de vida e a saúde mental dos estudan-tes”, defende o advogado Ro-drigo Melo, 35, especialista em direito digital e criador da página Direito e TDAH no Facebook. Ele também é portador e reconhece que a identificação precoce, o diag-nóstico adequado e o direito ao atendimento educacional especializado, são funda-mentais para a promoção da aprendizagem e inclusão so-cial desse grupo.

O advogado defende o tra-tamento integral como único meio eficaz contra o TDAH. “O método visa a aplicação de uma multidisciplinaridade profissional, somando conhe-cimentos de medicina, coa-ching e terapias cognitivas comportamentais, tudo volta-do a desenvolver habilidades, competências e potencialida-des no portador, deixando-o preparado para enfrentar os desafios da vida”, comenta.

Na cidade do Rio de Ja-

neiro, já existe uma lei que garante encaminhamento para diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos alunos da rede de ensino fundamen-tal portadores de TDA (que apresentem ou não caracterís-ticas de hiperatividade). San-cionada em maio de 2012, a Lei nº 710/2010 prevê, entre outros aspectos, que educa-dores recebam orientações sobre a doença para que sai-bam lidar com os desafios dos alunos. Além disso, a lei defende o encaminhamento dos possíveis casos de TDA, pela diretoria da escola, para diagnóstico e tratamento no

Sistema Único de Saúde (SUS). Outro ponto im-portante, tam-bém previsto, é a conscientiza-

ção e o amplo fornecimento de informações aos envol-vidos com o universo do portador. Em Juiz de Fora, ainda não existem projetos de leis voltados para a cau-sa do TDAH. Nem mesmo nos cursos de licenciatura e pedagogia da Universida-de Federal de Juiz de Fora (UFJF) há uma capacitação para que esses futuros pro-fissionais aprendam a lidar com portadores do distúrbio. O coordenador do curso de pedagogia da UFJF, Paulo Dias, argumenta que criar disciplinas específicas não seria possível, porque só o curso não teria como tratar das inúmeras demandas que os alunos poderão encontrar. Para ele, o interessante seria que todas as disciplinas tra-balhassem em conjunto, for-mando um pedagogo apto a lidar com as adversidades.

Direitos assegurados aos estudantes através de leis

Participação e apoio da família são fundamentaisEm Juiz de Fora, por iniciativa da neurologista infantil espe-cializada em TDAH, Valéria Modesto, e da educadora e mestre em Família e Desen-volvimento Humano, Luciana Fiel, foi elaborado um trata-mento pioneiro, o Programa Mente Confiante. O projeto consiste em lidar com a doença de forma integrada, reconhe-cendo a importância da família e aliando medicação ao desen-volvimento de competências, aumentando a autoconfiança do portador.

Luciana, que trabalha com

o coaching para amenizar os sintomas, diz que os “familia-res ficam sobrecarregados e podem até adoecer, por isso é preciso acompanhá-los”. Algu-mas vezes, eles acabam subes-timando o portador de TDAH, impondo limitações ao seu processo de desenvolvimento e criando preconceitos. A função do coaching é tentar reverter esse quadro.

Também faz parte do pro-jeto um grupo de apoio, com reuniões mensais para discutir o TDAH e dar a oportunidade de as famílias compartilharem

suas histórias. Integrante do Programa, a família de Rosi-meire (que prefere não divul-gar o sobrenome) passou a li-dar melhor com a filha, Renata, hoje com 14 anos. Rosimeire conta que o diagnóstico inicial da filha foi de déficit de aten-ção. Seis anos depois, quando o desempenho escolar de Renata estava em queda, um neurolo-gista foi procurado e detectou o TDAH. Hoje o tratamento alia medicação a sessões do programa. O resultado é visto no desempenho escolar e na elevação da autoestima.

> Não presta atençãoem detalhes oucomete erros pordescuido;

> Agita as mãos ouos pés/se mexe nacadeira sem parar;

> Tem dificuldadepara manter aatenção;

> Não conseguepermanecer muitotempo sentado;

> Parece não escutarquando lhe dirigem apalavra;

> Dificuldadeem se envolversilenciosamente ematividades de lazer;

> Não segueinstruções e nãotermina suasatividades;

> Está sempreagitado;

> Dificuldade paraorganizar tarefas;

> Evita envolver-seem tarefas comgrande esforçomental;

> Fala emdemasia;

> Respondeprecipitadamente àquestionamentos,apresentandodificuldadespara aguardarsua vez;

> Perde coisas comfrequência;

> Interrompe ouse intromete emassuntos alheios;

> Esquecimento detarefas diárias.

Muitas pessoas descobrem o TDAH de forma tardia

Saiba reconhecer os principais sintomas do distúrbio na idade adulta:

esporte 10

Jornal de Estudos: Como se iniciou sua carreira na arbitragem e como surgiu a oportunidade de trabalhar nos últimos Jogos Paralímpicos?Alvaro Quelhas: Sou licenciado em Educação Física e sempre tive muita afinidade com o jogo de futebol. Durante a graduação, me aproximei da arbitragem de futebol, e isso, posteriormente, se transformou em outra atividade profissional que desenvolvi por 23 anos. Em 2007, fui convidado a participar dos torneios nos Jogos Panamericanos do Rio, coordenando a Arbitragem do Futebol 7, que é uma modalidade disputada por portadores de sequelas da paralisia cerebral. Depois deste primeiro contato, tenho realizado arbitragens e coordenação nos Campeonatos Brasileiros de modalidade paralímpica. Graças a essas experiências, fui indicado para arbitrar nas Paralimpíadas de Londres 2012. Além disso, tenho contato com a Crispa, uma entidade mundial que organiza o Futebol 7.

JE: Quais jogos você arbitrou nas Paralimpíadas?AQ: Eu arbitrei 3 partidas: Grã-Bretanha X Ucrânia; Grã-Bretanha X EUA e Holanda X Argentina e assisti a todos os jogos do torneio de Futebol 7.

JE: Como foi a experiência de estar num evento tão grande como esse?AQ: Foi uma experiência extraordinária. Do ponto de vista esportivo, as Paralímpiadas são uma competição enorme. Estavam presentes os maiores atletas e equipes paralímpicos do mundo e o nível das competições é bastante elevado. Do ponto de vista pessoal e humano, foi uma experiência muito gratificante, pois pude observar o grande poder de superação de limitações físicas, preconceitos

e descasos que os atletas demonstram. Foi uma grandiosa e verdadeira lição de vida para quem não tem essas limitações. Uma lição de persistência e esforço espetacular. Acredito que muitas pessoas precisam de uma vivência como esta, para combater sua arrogância e falta de sensibilidade com as dificuldades alheias.

JE: Qual a sensação de saber que as Paralimpíadas trouxeram ao Brasil mais medalhas que as Olimpíadas?AQ: Considero de extrema importância esse resultado, pois os atletas paralímpicos recebem um apoio muito menor que o dos atletas olímpicos, que em grande parte já são atletas profissionais.

JE: Na sua opinião, como é a infraestrutura da cidade para os esportes adaptados?AQ: Em algumas modalidades, as instalações são as mesmas do esporte olímpico. Em outros casos, são necessárias instalações e equipamentos específicos. Não vejo uma política clara de incentivo e apoio para o esporte paralímpico na cidade.

JE: Você acredita que o resultado tão positivo do Brasil nas Paralimpíadas estimula e aumenta a busca por esportes adaptados na cidade?AQ: Acredito que isso seja relativo. Apesar dos resultados positivos do esporte paralímpico brasileiro, ele não tem o mesmo retorno midiático do esporte olímpico e profissional. Por esse motivo, acredito eu, a administração pública e os patrocinadores da cidade preferem investir no esporte olímpico e profissional, mantendo um tratamento marginalizado para o esporte paralímpico na cidade.

“Lição espetacular de persistência e esforço”

Professor Álvaro durante os Jogos Paralímpicos em Londres

Foto :Arquivo pessoal

Álvaro Quelhas, professor da Faculdade de Educação da UFJF e ex-árbitro pela FIFA e CBF, fala sobre a experiência de arbitrar nos Jogos Paralímpicos de Londres e as dificuldades do esporte adaptado em Juiz de Fora.

Esportes adaptados: para-atletas despontam no cenário da cidade

Fram MoraesHelena Tallmann

Supervisão de Esportes Adaptados oferece opções de atividades para pessoas com deficiência, visando a inclusão social na cidade

Atletas dos projetos Visão do Esporte (acima) e Superação Aquática (abaixo)Foto: Fram Moraes

Foto: Fram Moraes

Em setembro desse ano, o Brasil acompanhou com orgulho o desempenho de

seus atletas nas Paralimpíadas de Londres. No total, o país trouxe 43 medalhas: 21 de ouro, 14 de prata e 8 de bronze. Esse grande feito é motivo de inspiração para diversos para-atletas de Juiz de Fora que se preparam para encarar as próximas competições. Na cidade, os atletas contam com o apoio da Supervisão de Esporte Adaptado, seção da Se-cretaria de Esporte e Lazer. O pro-grama oferece diversas modalida-des com objetivos diferentes.

Segundo Wellison Ferigatto, supervisor de esportes adaptados, as atividades destinadas a pessoas com deficiência se dividem em dois modelos: “Temos um formato mais voltado para competição, onde há a formação de atletas e equipes prati-cando várias modalidades e temos um modelo de participação e inclu-são, que são as atividades para as pessoas que não querem competir ou participar de campeonatos.”

Ainda de acordo com Wellison, os esportes são gratuitos: “Nenhum atleta tem gastos com as atividades. Nós temos parceria com clubes da cidade e nosso quadro tem oito pro-fessores capacitados e com dedica-ção exclusiva.”

No atletismo, o projeto Visão no Esporte trabalha em conjunto com a Associação dos Cegos. O programa conta com o apoio de guias, voluntários que se identifi-cam com a proposta e acompanham os atletas com limitações visuais.

Marcelo Montenegro é empre-sário e guia voluntário há dois anos. No mês de julho, acompanhou três atletas para competir no Circuito Caixa, em Brasília. Segundo ele, a experiência é única e enriquecedo-ra: “Eles precisam de nós para se locomover, para ajudar na alimen-tação, mas, quando eles estão no lo-cal da prova, você não vê diferença para um atleta olímpico”.

Leo Lima coordena desde 2008 as atividades de atletismo e futebol e explica que as regras do esporte são, de maneira geral, as mesmas: “O que vai ter de dife-rente são as adaptações. O treina-mento é o mesmo, mas a maneira de passar os exercícios e orientar é diferente”.

O professor destaca ainda os benefícios na prática dos esportes adaptados: “O primeiro diferencial é que os atletas melhoram seu co-nhecimento corporal e coordenação motora, porque a maioria só come-ça a praticar esportes muito tarde, já que não tem essa vivência de correr e brincar quando crianças. A autoestima dos participantes é outro fator importante, porque o deficien-te, às vezes, é visto como limitado, mas participando do projeto, muitos atletas revelaram grande potencial e acabam se sentindo mais seguros, não só com relação ao esporte, mas na vida”.

além de formar novos profissionais capacitados na área de pesquisa na cidade, por isso a parceria com a Universidade, que, no futuro, deve envolver alunos e professores de vários cursos, oferecendo o suporte necessário aos atletas.

Karla Belgo, também profes-sora do projeto, destaca o desenvol-vimento dos alunos nesse tempo de treinamento: “Desde o ano passado, estamos participando de competi-ções, apesar de ser um trabalho di-ário de conscientização dos alunos sobre a importância do comprome-timento com os treinos.”

Segundo ela, um dos atletas de maior destaque e motivação é An-dré Gustavo de Melo Silvério. “Ele é um incentivo muito forte para os demais alunos, que querem nadar junto com ele e conquistar meda-lhas também.” André nasceu com um braço, metade do outro e sem a articulação das duas pernas. O atleta já conquistou prêmios em diversas competições, como o Campeonato Regional Centro-Leste, em maio deste ano, em Brasília, onde levou para casa três medalhas de primei-ro lugar, duas de segundo e uma de terceiro.

Karla defende o projeto como forma de incentivar os atletas, além de dar maior visibilidade e mostrar que são capazes de su-perar seus limites: “Espero que, com mais tempo de projeto, con-sigamos cada vez mais atletas”, declara. Já para Gerson Moreira, o projeto Superação Aquática pode trazer destaque para o esporte na cidade, tanto paralímpico quanto convencional, atraindo apoio da população e recursos para o desen-volvimento da estrutura local para abrigar e incentivar a prática da na-tação competitiva.

Olhando para o futuro, Leo Lima fala sobre os próximos de-safios dos atletas: “Em setembro, nos Jogos de Minas, batemos nosso recorde: foram 29 medalhas. Agora vamos nos preparar pras corridas rústicas e para o Ranking Brasileiro do ano que vem”.

Superação AquáticaO projeto Superação Aquática

é pioneiro na cidade. Com foco na natação competitiva, a turma con-ta com cerca de 15 alunos, entre pessoas com deficiências físicas e intelectuais. Gerson Moreira, um dos professores, é treinador há 28 anos, mas há 50 tem experiência na piscina. Ele explica que o pro-jeto nasceu visando a treinar para-atletas para as Olimpíadas de 2016,

esporte11outubro 2012

Especialistas recomendam exercícios para gravidez prazerosaPesquisa aponta que os exercícios aquáticos estão entre os mais indicados. Mulheres que não se exercitavam antes da gestação devem procurar orientação

Viviane: aposta na hidroginástica para se manter saudável na gravidez

Foto: Arquivo pessoal

Aumenta o número de praticantes de xadrez em JF

No xadrez, tanto crianças quanto adultos disputam em pé de igualdade

Destaque para as estudantes mineiras

Nos dias 21, 22 e 23 de setembro, aconteceu em Juiz de Fora o Cam-peonato Brasileiro de Xadrez Escolar. Foram quase 400 estudantes de 11 estados, competindo do primeiro ano do en-sino fundamental ao ter-ceiro do ensino médio.

O campeonato pre-miou com troféu os ven-cedores de cada cate-goria, as cinco melhores escolas e a instituição com maior delegação. No estado, foram sete campeões ao todo, com destaque para as jovens competidoras mineiras, que levaram cinco des-tes troféus. É a primeira vez que o evento é reali-zado fora das capitais.

Maria Thereza FialhoRomerito Pontes

Com grande participação no esporte, cidade sedia campeonato brasileiro escolar, atraindo enxadristas de todo o país

Helena TallmannRomerito Pontes

Não há dúvida entre os es-pecialistas: a prática regu-lar de exercícios faz bem

à saúde de homens e mulheres em qualquer idade. Médicos e pre-paradores físicos recomendam as atividades inclusive para grávidas. Ainda assim, uma pesquisa da Se-cretaria de Estado da Saúde de São Paulo apontou que 65% das gestan-tes não praticam o tempo mínimo de exercícios recomendado pela OMS, que é de 30 minutos diários. O levantamento apontou, ainda, que o número de grávidas fisica-mente ativas diminui à medida que a gestação avança. No início, as mulheres participantes do estudo se exercitavam por, pelo menos, meia hora de forma contínua. O nível de atividades caiu 34% no segundo trimestre da gravidez. No terceiro, a redução foi de 41%. Entre as justi-ficativas está o receio de complica-ções devido aos exercícios.

Apesar dos inúmeros bene-fícios, não é indicado o início das atividades físicas juntamente com a gravidez. Segundo especialistas, quando a mulher já pratica ativi-dades regularmente, durante a ges-tação não haverá problema, caso

a gestação seja tranquila. Para ini-ciantes, é necessária uma avaliação prévia do médico, e normalmente a grávida é recomendada a começar as atividades após o terceiro mês de gravidez.

A ginecologista Natália Ma-chado alerta que, nos casos em que há possibilidade de parto prematu-ro, as práticas esportivas podem au-mentar os riscos. Porém, feita essa ressalva, o esporte é sim aconselha-do para gestantes. “Pacientes obe-sas ou com diabetes também po-dem praticar”, completa. Para ela, a prática de exercícios faz bem para a saúde não só da gestante, como do feto. No entanto, deve-se optar por exercícios não muito puxados, como hidroginástica e caminhada. Exercícios de impacto, como lutas, são muito arriscados. A profissional comenta ainda que a gestante pode se exercitar todos os dias, desde que em um ritmo moderado, as ativida-des serão benéficas para manter a resistência corporal, bem como aju-dar a voltar ao peso original após o parto.

Aquáticos são os favoritosUma outra pesquisa realiza-

da pela Universidade Estadual Paulista aponta que os exercícios aquáticos estão entre os mais re-

comendados para gestantes. “A boa condição física e o controle da respiração, com boa ventilação pulmonar e melhor oxigenação do sangue, constituem condições de se ter um parto facilitado. Desta forma, a prática de atividade física é recomendada. Com a preparação aquática, o corpo todo se desenvol-ve harmoniosamente, tornando os músculos elásticos e mantendo a boa forma”, indica o estudo. Além disso, a pressão da água reduz im-pactos e facilita a movimentação.

Esses foram motivos pelos quais a empresária Viviane Masse-na procurou a hidroginástica. “Eu sempre gostei de praticar esportes. Corria, fazia academia e spinning. Mas, com a gravidez, tive que me adaptar às restrições.” Embora não tenha recebido indicação direta, Viviane procurou um obstetra que recomendou o esporte. “Ele me disse que essa seria uma atividade muito completa. Como eu tenho que regular o batimento cardíaco, não poderia realizar nada de cunho aeróbico muito acelerado.” Vivia-ne afirma também que, segundo seu professor, ela poderia fazer hidroginástica até na véspera do parto.

Mônica Dutra é formada em educação física, trabalha numa

academia especializada em espor-tes aquáticos e comprovou pesso-almente os benefícios desse tipo de atividades durante a gestação. Ela afirma que só parou os exer-cícios no dia do parto. “Primeiro de tudo é o prazer, o bem-estar de praticar atividades, além das me-lhorias na saúde e no controle de peso, o importante é não ficar pa-rada.” Mônica explica ainda que, para gestações mais sensíveis, a hidroterapia é uma opção, “é uma

fisioterapia dentro da água”.Fernanda Silveira, instrutora

de musculação de uma academia da cidade, explica que a procura de atividades por parte das ges-tantes ainda é pequena. Segundo ela, todos os tipos de exercícios podem ser praticados pelas grá-vidas, “pode ser hidroginástica, musculação, desde que não pe-gue muito peso, natação, e até mesmo pilates, que está muito em alta”, finaliza.

Homens e mulheres de todas as idades interagindo em pé

de igualdade. Em alguns casos, a resposta vem rápida e o ritmo é intenso. Em outros, as coisas se arrastam por horas. Crianças de 9 anos vencem senhores de mais de 50. Só mesmo um jogo milenar, como o xadrez, para conseguir tal feito. Isso porque as qualida-des exigidas são basicamente o raciocínio lógico, estratégico e a memorização.

Hoje a prática do esporte é popular em todo o Brasil e já con-ta com várias competições. Uma delas é a Liga X em Juiz de Fora, que reúne, em cada uma de suas sete etapas anuais, cerca de 150 pessoas. A liga foi criada há qua-tro anos pelo professor de edu-cação física Haroldo Carvalhido. “Havia poucos torneios na cidade.

E eu sentia que meus alunos pre-cisavam de atividades extraclasse. Só estudar e não ter competição é uma coisa que acaba com o tem-po”.

Além da Liga X, também há em Juiz de Fora a Associação Juiz-forana de Xadrez (Ajux). Antônio Alberto Moreira, vice-presidente da Ajux, explica que

a Associação surgiu da necessi-dade dos pais de enxadristas em criar mais espaços na cidade para a prática do esporte. “A gente precisava misturar mais, meninos contra meninas, crianças contra adultos. Então nós montamos esse clube para prover isso. Para beneficiar nossos filhos”, diz.

Uma preocupação justifica-

da dos pais pelos benefícios que o esporte traz para as crianças. Marco de Luca conta a experiên-cia de seu filho de 9 anos. “Meu menino começou a jogar com 6 anos. Ele já era bom na escola, hoje ele está melhor ainda, par-ticularmente, em matemática e português. Obviamente, o xadrez não faz milagre, mas auxilia na memorização e no raciocínio ló-gico.”

JF em destaqueGraças a essas atividades,

Juiz de Fora é hoje uma cidade de destaque no cenário estadual e na-cional. Haroldo exemplifica que os campeonatos em Belo Horizon-te, por exemplo, reúnem cerca de 80 pessoas por evento, metade da média registrada em competições em Juiz de Fora. “Isso contribui não só para a prática do esporte, mas para fortalecê-lo, inclusive, economicamente”.

que eu não pude estar presente quando a premiação aconteceu; o festival trocou a data e coincidiu que, na época da realização, eu estava dando aula em Cuba e não pude deixar meus alunos, então pedi ao Cristiano Rodrigues, que é professor da Facom e produtor do filme, que fosse para apresen-tar o documentário, só que ele não pode ficar para a premiação. Por sorte, a Mariana Musse, tam-bém formada na Facom e que trabalhou com a gente no filme, ficou até o final do festival e re-cebeu o prêmio. Mas, quando eu soube, fiquei louco, foi uma ex-trema felicidade.

- Você se formou lá e agora é professor na Escola de Cinema de Cuba. Como é a experiência de estudar documentário fora do Brasil?- É fantástico. Em Cuba, foi uma imersão total, é um lugar onde

- Jornal de Estudo: Na época que você estudou na Faculdade de Comunicação também cur-sava Psicologia no CES. Por que essas duas faculdades?- Marcos Pimentel: Na época do meu vestibular, tive muita dúvida do que eu ia fazer da vida, come-cei cursando direito e psicologia. Depois de dois meses, deixei o primeiro curso e fiquei só na psi-cologia, mas ainda com algumas dúvidas. Foi aí que resolvi fazer comunicação também. Eu me sen-ti atraído pelo documentário desde o primeiro contato. Foi mais ou menos na metade da faculdade de Comunicação, que coincidiu com a metade do curso de psicologia. Eu já sabia que não seria psicólo-go, mas resolvi ir até o final por-que achei que poderia me ajudar de alguma maneira. Depois fiz especialização dentro do que tinha escolhido, foi quando tive certeza de que queria fazer documentá-rio e percebi que era disso que eu gostava: contar histórias com per-sonagens reais, construir um filme com gente de carne e osso. O que vi na faculdade era muito pouco, era o embrião, e eu tinha que regar isso de alguma forma.

- Você acha que sua formação jornalística te direcionou a tra-balhar com documentários? - Na verdade não. Durante a faculda-de, trabalhei na produção de filmes de ficção e, inclusive, dirigi um que foi meu trabalho de conclusão para os dois cursos, um filme sobre lou-cura. Eu acho até que a psicologia me levou mais para o documentário, porque sempre tive uma curiosida-de muito grande pelo comporta-mento do homem e como a gente experimenta a sensação de pas-sagem de tempo. Acho que por isso estudei psicolo-gia, para tentar en-tender um pouco o comportamento humano, e isso me aproximou mais do cinema documentário do que a própria comunicação.

- Você trabalha principalmen-te com curta-metragens. É uma preferência estética, financeira, de planejamento?

entrevista 12

wMarcos PiMEntEl

Professor na Escuela Internacional de Cine y Televisión e diretor do filme “A poeira e o ven-to”, vencedor do prêmio de Melhor Curta no festival É Tudo Verdade, Marcos Pimentel fala sobre sua trajetória da Facom a Cuba.

A vontade de contar uma históriaFram Moraes

“Eu sempre acho que a vontade de fazer um filme nasce da vontade de contar

uma história”

“Percebi o que eu gostava: contar histórias reais,

construir um filme com gente de carne e osso, de verdade”

Formado na Facom, Marcos Pimentel conquistou fama nacional como diretor e hoje é professor de cinema em Cuba

Foto: Arquivo Pessoal

“Eu sempre me sinto atraído

por algo e acabo fazendo um filme

para aprender mais sobre aquilo”

- Eu sempre respeito a duração da história. Claro que a gente come-ça fazendo curta-metragens por-que é mais barato, mas minhas histórias foram crescendo grada-tivamente. No momento, estou fazendo dois longa-metragens mas ainda faço curtas e acredi-to que não vou parar. Eu sempre acho que a vontade de fazer um filme nasce da vontade de contar uma história e essa história pode ter uma duração maior ou menor, mas procuro não espichá-la para ficar longa, nem mutilá-la para

ficar curta.

- O seu docu-mentário “A poeira e o ven-to” ganhou o prêmio de melhor curta no festival in-ternacional É Tudo Verdade. Qual o impacto

desse prêmio na sua vida?- Esse é o maior festival de do-cumentários da América Latina, então foi muito gratificante. E abre muitas portas: eu passei o ano de 2011 na estrada por causa deste projeto. Ao mesmo tempo, foi uma coisa muito maluca por-

você respira cinema 24 horas por dia: você mora dentro da escola, que é isolada, não está dentro de uma cidade. Lá você fica o tem-po inteiro concentrado no estudo, então foi um momento de apren-dizado muito grande. Quatro me-ses depois, fui para a Alemanha, uma experiência completamente diferente – o oposto da vida de Cuba, eu diria – e igualmente rica. Eu acho que esses momen-tos funcionam como um exílio voluntário, você está longe de tudo e acaba ten-do mais contato consigo mesmo. Foi o momen-to em que pude descobrir quais temas me inte-ressavam realmente e que tipo de história eu queria contar. Foi quando comecei a desenvolver minha forma particular de nar-rar os filmes. Acho que esse meu sotaque cinematográfico nasceu nesses momentos de exílio nos dois países.

- Você gravou documentários com focos muito diversos... Como é a escolha dos temas de

seus filmes?- Acho que cada filme nasce de um jeito diferente – às vezes é coisa que eu sonho, coisa que eu vi na rua, mas sempre é uma von-tade de conhecer mais sobre de-terminado lugar, situação ou per-sonagem... Eu sempre me sinto atraído por alguma coisa e acabo fazendo um filme para aprender mais sobre aquilo. Acho que não existe fórmula: cada processo nasce de um jeito. Quando che-ga o momento, a vontade acaba saltando para fora e não tenho muita escolha: tenho que fazer o filme e buscar recursos para ele. Então eu prefiro deixar tudo fluir de forma espontânea.

- Muitos alunos da Facom pen-sam em um dia trabalhar nes-sa área do audiovisual. Tem alguma dica que você daria a eles?- Quando disse que ia fazer a ha-bilitação de Produção em Rádio e TV [antiga habilitação do cur-so de Comunicação], teve muita gente tentando me dissuadir, fa-lavam que meu diploma não iria valer nada (como se um pedaço de papel fosse garantir alguma coisa). Não estou dizendo que não precisa estudar, inclusive o que mais me serviu da faculda-de foram as disciplinas teóricas, porque a prática se aprende de-pois. E eu não me arrependo de ter seguido este caminho, hoje eu sei o que quero fazer e sou extre-mamente realizado, respiro do-cumentário 24 horas por dia, sou muito feliz assim e só consegui porque insisti muito. Acho que

se você quer mesmo, então “mete as caras” e busca estudar, porque a for-mação é fun-damental. Tem que ter pensa-mento crítico, porque hoje em dia o acesso aos

equipamentos é muito fácil, mui-tos alunos já têm câmera e uma ilha de edição no próprio com-putador. A gente vê um monte de produção, mas a qualidade não acompanha a quantidade, às ve-zes, porque os criadores por trás das câmeras não foram tão bem preparados como deveriam ser. Então as pessoas devem buscar a formação para desenvolver um trabalho mais consistente.

comportamento13outubro 2012

A vontade de contar uma história

Coaching e orientação vocacionalDiferentemente da orientação

vocacional, recurso procurado por estudantes que estão no período de vestibular e que precisam decidir qual carreira profissional seguir, o coaching tem como meta prepará-los também para realizar ativida-des com as quais não tenham afi-nidade.

O programa de coaching che-gou a Juiz de Fora por meio de uma parceria entre a coach Joana Darc Silva, diretora de desenvolvimento da Vérter Assessoria, e a Aiesec, organização internacional forma-da por jovens universitários para promover intercâmbios e experi-

mudança que notou foi em relação à concentração e à segurança na realização de tarefas tanto na fa-culdade quanto no trabalho. “Eu aprendi a ficar mais centrada, ob-servar mais coisas ao meu redor e me comunicar (no trabalho) so-mente quando solicitada.”

Maria Cláudia ainda con-ta que as atividades do coaching complementam o conteúdo passa-do no curso de administração. “A faculdade me dá informação e co-nhecimento, mas a parte de com-portamento não. A organização e responsabilidade que o mercado de trabalho exige eu pratico aqui (no programa de coaching)”.

Ter conhecimento técnico, estudar em uma boa fa-culdade e dominar uma

língua estrangeira não garantem uma posição de destaque no mer-cado de trabalho. Atualmente, as empresas também procuram por profissionais que tenham controle de suas emoções, além de capaci-dade para cumprir tarefas dentro de prazos e trabalhar em equipe. Diante dessas exigências, muitos estudantes em busca de cresci-mento profissional não sabem a quem recorrer para aperfeiçoar habilidades como concentração, gestão de tempo e técnicas de confiança – áreas trabalhadas nos programas de assessoria pessoal conhecidos como coaching.

A estudante de administra-ção Maria Cláudia de Paiva Sou-za ficou sabendo do programa de coaching por meio de uma amiga e logo se interessou. Ela se con-siderava muito tímida e iniciou o programa há quatro meses, estan-do ainda em processo. A principal

Programa auxilia universitários a alcançarem objetivos profissionais

Mochila nas costas e pé na estrada

Ana Luiza McaucharEduardo Moreira

Ana Luiza McaucharLaís MirandaNatália Corrêa

ências de liderança. “O objetivo é ajudar a pessoa a buscar dentro de si recursos para que possa fazer suas atividades com mais facilida-de, principalmente porque muitas vezes ela se depara com situações com as quais não se identifica tan-to, e nem sempre fazemos só o que queremos”, diz Joana.

O ponto-chave do programa é fazer com que os participantes pas-sem a enxergar novas possibilida-des. “Isso caracteriza o alto desem-penho, encarar problemas como desafios e aproveitá-los de novas formas”, afirma Joana. Segundo a coach, durante o treinamento, os estudantes ganham maturidade

para desenvolver muitas caracte-rísticas exigidas pelo mercado de trabalho, como, resiliência, res-ponsabilidade e comunicação as-sertiva.

Mudanças que dão resultadosA estudante de psicologia Fer-

nanda Medeiros Viglioni participa do programa de coaching há quatro meses e também percebeu diferen-ças na vida profissional e pessoal. “As mudanças aconteceram de uma forma sutil, melhorando algu-mas habilidades que eu já possuía, como concentração e memória”, conta Fernanda.

A cada mês é realizado um encontro no qual os participan-tes trocam experiências e contam como têm aplicado as técnicas em suas atividades. Além da pre-sença de Joana, a pedagoga Rita de Cássia Ramos também par-ticipa das reuniões. “É preciso adaptar as técnicas do coaching à realidade dos estudantes para que o processo fique mais fácil para eles e o resultado possa fluir de maneira natural. A gente faz coaching a vida inteira, mas sem perceber”, diz Rita.

A metodologia coaching ajuda a enfrentar desafios e a desenvolver aspectos como concentração e capacidade de organização

As vantagens e os desafios de se fazer uma viagem independente

Entenda o Coaching

A palavra de origem inglesa surgiu no ano de 1500 para denominar aquele que conduz uma carruagem, mas foi a partir do século XIX que ela passou a ter relação com métodos educacionais, nomeando tutores que ajudavam os estudantes da Inglaterra a se prepara-rem para exames. Cem anos mais tarde, em 1950, a palavra tomou a forma que tem hoje, usada para designar uma assessoria pessoal e profissional que tem como objetivo elevar a performance do cliente, potencializando seus resultados positivos. O processo de coa-ching ocorre por meio de uma parceria entre o coach (profissional) e o coachee (cliente), buscando o aperfeiçoamento e o aprimoramento de sua qualidade de vida - tanto pessoal quanto profissional - por meio das técnicas e ferramentas do coaching. O processo leva o cliente a buscar novos entendimentos e alternativas que façam com que ele se torne capaz de lidar mais facilmente com desafios e amplie suas conquistas e realizações.

Mochileiro é o nome dado ao viajante in-dependente, que orga-

niza roteiros sozinho, traça seu próprio percurso e geralmen-te conhece muitos lugares que passam despercebidos a pessoas que seguem destinos prontos de agências de viagem.

O estudante de medicina Marcelo Arcuri, que já “mo-chilou” pela Grécia, outros pa-íses da Europa e pela América do Sul, afirma que há grandes vantagens nessa escolha. “No mochilão, você pode fugir dos programas turísticos mais man-jados e até mudar o roteiro ao longo da viagem. É possível ter mais e melhores experiências em um mês de viagem do que muita gente tem em um ano de vida. Isso muda seu jeito de pensar quando você volta para casa.”

Um desafio para quem de-

cide fazer este tipo de turismo é o fato de que todos os detalhes da viagem são de responsabili-dade do viajante. Porém, para auxiliar nesse processo existem livros e sites para troca de in-formações com pessoas que já foram ou que pretendem ir para o mesmo lugar.

Quem é mochileiro de pri-meira viagem e ainda não se sente seguro para planejar tudo sozinho consegue encontrar agências que podem dar um su-porte, por exemplo, na compra de passagens e no seguro. De acordo com o sócio-diretor da agência Central de Intercâmbio, Ramon Rodrigues, fazer tudo sem orientação é arriscado. “É importante lembrar que se você compra produtos separadamen-te, pela internet ou telefone, não existe prestação de serviço, sem informações de utilização, regras ou reembolso. Dessa forma, é necessário procurar fontes seguras, já que qualquer erro pode resultar numa perda total da viagem.”

“Mochilar” no BrasilSempre que se fala em mo-

chilão, associa-se a uma viagem ao exterior. No entanto, a prática é cada vez mais adotada no próprio Brasil. O estudante Rafael Darrouy costuma “mochilar” pelos estados brasileiros e diz que a maior moti-vação é o fato de o país ser muito grande. “Tem muita coisa para ver em terras brasileiras, muita cultura diferente. Na serra capixaba, por exemplo, tem cidades que só falam o idioma pomerano, de uma região da Alemanha”. Rafael prefere o mochilão pela flexibilidade de ho-rários e independência de roteiros, mas avalia algumas dificuldades. “O maior problema dos turismo no Brasil é o preço pouco acessível das passagens aéreas.”

Destinos e desafiosSegundo Ramon, a Europa é o

destino mais procurado pelos bra-sileiros que desejam ir ao exterior. Uma das razões é a proximidade entre os países e, principalmente, a facilidade para viajar dentro do continente. “O transporte barato e

avançado, diversos tipos de hos-pedagem e a variedade de atrati-vos fazem com que todos tenham vontade de viajar”, explica. Mar-celo conta que o transporte foi, de fato, um dos maiores facilitadores em suas experiências. Na Europa, existem companhias aéreas com valores de passagens acessíveis, pacotes de viagens para uso ilimi-tado de trens e diversas balsas nas

cidades costeiras. A procura tam-bém tem sido significativa para os países da América do Sul. Neste caso, porém, um problema enfren-tado pelos mochileiros é a dificul-dade de encontrar transporte públi-co ágil. Marcelo diz que, mesmo assim, a viagem vale a pena. “Os valores são bem inferiores aos eu-ropeus e os locais para visitar são muito bonitos”.

Marcelo Arcuri escolheu o Deserto do Atacama como um de seus destinos de mochilão

Foto: Arquivo Pessoal

arte e lazer 14

Atores juiz-foranos revelam as dificuldades da profissão Projeção na carreira

Cíntia CharleneRamon Freitas

Ser ator, principalmente de televisão, é o sonho de muitos jovens hoje. Numa

sociedade que valoriza a ima-gem, aparecer no palco ou nas telas é uma realização. No en-tanto, o trabalho requer cada vez mais preparação e estudo, além de dedicação, e nem sempre há o reconhecimento financeiro. Essa realidade é enfrentada por várias companhias de teatro em Juiz de Fora, nas quais os atores di-ficilmente conseguem sobreviver apenas de sua arte.

Exemplo disso é o do ator da Companhia de Atores Academia, Ronan Lobo, que trabalha pro-fissionalmente com o teatro há sete anos, mas precisa realizar atividades paralelas para conse-guir se manter financeiramente. “Em Juiz de Fora, o ator deve se desdobrar em muitos para so-breviver. Uma das coisas mais frequentes é ter outra profissão, por isso dou aulas de filosofia e sociologia.”

Embora alguns pensem que a vida de artista é de glamour e brilho, o cenário é bem dife-rente. Nos bastidores, existem profissionais que nem sempre são valorizados e que, por outro lado, são cada vez mais exigidos. Para obter sucesso nos palcos, o ator precisa estar em constante estudo e inteirado com outros campos de conhecimento.

A atriz Carú Rezende afirma que toda forma de aprendizado é válida, nos palcos. “Qualquer in-teiração com outras artes melhor para sua formação. A matéria do artista é o ser humano. Sa-ber cantar, dançar, sapatear, bem como ter formação em qualquer outro campo, auxilia nessa forma de arte.”

A diretora do Forum da Cul-tura, Márcia Falabella, que faz parte do Grupo Divulgação há 26 anos, acredita que o teatro local se mantém pela paixão do ator. “Acho que o nosso teatro sobrevive do idealismo de nos-sos artistas que, acima de tudo, amam o que fazem”.

Muitos atores que aqui se formam vão para os grandes centros, em busca de oportuni-dades, já que a cidade não dá condições de os artistas sobrevi-verem da arte.

A atriz Monalisa Vasconce-los sempre quis cursar artes cêni-cas e, pela falta do curso em Juiz de Fora e de investimento para morar fora, formou-se em Comu-nicação Social e depois foi para São Paulo, onde pôde investir na carreira que sempre sonhou. Após estudar três semestres na Escola de Teatro Wolf Maia, Mo-nalisa voltou para Juiz de Fora e tirou seu registro profissional na Delegacia Regional do Trabalho (DRT), por meio de uma banca examinadora de Belo Horizon-te. A atriz voltou para a capital paulista e lá trabalha atualmen-te, com espetáculos, redação de

roteiros, comerciais e pesquisas teatrais. “Não há outro caminho se não sair de Juiz de Fora”, la-menta a atriz.

Carú, que também é res-ponsável pelo Departamento de Cultura da Fundação Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), declara que o apoio aos artistas da cidade se dá de diversas formas. “Existe o recurso anual destinado à Lei Murilo Mendes, que beneficia grupos de teatro e dança, e tam-bém o Festival Nacional de Tea-tro e o Festival de Cenas Curtas. Com essas iniciativas, os artistas podem se inscrever e divulgar seus trabalhos, ganhando visibi-

lidade.” Para o ator Ronan Lobo, os

recursos destinados às artes cê-nicas ainda não são suficientes. “Não há investimento na cidade, temos pequenas contribuições e muitos só podem contar com a Lei Murilo Mendes. Não há uma cultura de patrocinadores na ci-dade. Não há um investimento por parte da Prefeitura para o te-atro - fazer um festival de teatro é muito legal, campanha de po-pularização também, mas, o que ninguém sabe é que os grupos de teatro só ganham experiên-cia, pois o dinheiro que recebem, quando recebem, é humilhante”.

O presidente da Associação dos Produtores de Artes Cêni-cas (Apac), Cristiano Fernan-des, acredita que Juiz de Fora já deu os primeiros passos para a criação de um escola profis-sionalizante de teatro, mas a caminhada está só começando. “Precisa de boa vontade polí-tica, profissionais interessados e um trabalho conjunto entre as partes envolvidas, para esse avanço.”

Fernandes ainda declara que a falta de um espaço espe-cializado na formação de atores ,na cidade, acaba por fazer com que Juiz de Fora perca grandes profissionais, com currículos excelentes, para grandes me-trópoles, onde são oferecidas oportunidades, tanto no período de formação, quanto após essa fase.

Boa formação Para a diretora do Forum

da Cultura, um curso de gradu-ação em artes cênicas, que pos-sa oferecer ao ator condições necessárias para uma boa for-mação na carreira, sempre foi um objetivo. “Foi nosso sonho durante muitos anos. Mas o José Luiz Ribeiro sempre teve um certo pudor de começarmos um curso de graduação ‘capen-ga’, sem as devidas condições humanas e espaciais para o cur-so acontecer. E, por questões políticas, acabamos perdendo a chance de realizar esse curso em nível de graduação. Daí, o caminho que encontramos foi elaborar um curso de especia-lização - Comunicação e Arte do Ator, que está finalizando sua primeira turma. A maioria dos alunos está envolvida de alguma forma com a produção teatral da cidade. Já foi um passo.”

Movidos pela paixãoObstáculos e desafios à par-

te, o teatro em Juiz de Fora tem se reinventado a cada dia, a fim de chamar a atenção do públi-co para o espetáculo. Apesar da dificuldades, o que move essa grande indústria do espetáculos é a paixão desses atores em não deixar as cortinas se fecharem.

Alunos da Cia de Atores Academia praticam exercícios corporais e passam os textos duas vezes por semana

A atriz Márcia Falabella (à esquerda) ensaia o espetáculo “Sob nova direção”, com os atores do Grupo Divulgação

Reivindicação por maior apoio às artes cênicas

Para se profissionalizar e fugir do amadorismo, é preciso sair da cidade em busca de oportunidadesFoto: Cíntia Charlene

Foto: Cíntia Charlene

arte e lazer15outubro 2012

Tecnologias a serviço da fotografiaA introdução de recursos tecnológicos nas produções fotográficas faz com que artistas tenham novas possibilidades de criação

Tese de doutorado dá origem a documentário sobre hip-hop em JF

Eduardo Moreira

Eduardo Moreira

A popularização dos equi-pamentos digitais fez com que um maior número de

pessoas passasse a se interessar pela fotografia. Fazer, editar e com-partilhar imagens tem se tornado cada vez mais fácil, com o uso de softwares sofisticados, porém de uso acessível, mesmo para os não profissionais. Seja na produção de fotografias que tenham um conteú-do mais “realístico”, como no caso dos fotojornalistas, ou na busca por uma imagem mais conceitual, que tenha elementos presentes em obras de arte, as técnicas de mani-pulação digital permitem os mais diversos resultados.

Um artista que utiliza recur-sos tecnológicos em fotografias é o juiz-forano Gustavo Machado, de 24 anos. Recentemente, ele produziu uma série de imagens de antenas de comunicação que

passou por manipulação digital posterior. “Escolhi fotografar an-tenas por considerar as formas arredondadas interessantes e pela possibilidade de trabalhá-las digi-talmente no computador”.

Embora não trabalhe direta-mente com a fotografia, o artista plástico José Augusto Petrillo considera positiva a interferência tecnológica em vários tipos de arte. Petrillo acredita que os recur-sos disponíveis podem ampliar a abrangência dos produtos. “Caso o artista tenha o domínio da ideia que ele queira passar, não vejo problemas em ter uma segunda pessoa na execução do trabalho, contanto que não haja perdas no valor do projeto.”

Para o fotojornalista Leonar-do Costa, que atua na profissão há cinco anos, o limite da inter-ferência digital na fotografia é o do bom senso, não passando do ponto em que as imagens mani-

puladas distorçam a realidade. “Todas as minhas fotografias passam por um processamento digital com editores de imagem, como o Photoshop. Mas o que é feito são somente retoques de cor ou melhoramentos da técnica do produto, não do conteúdo que está sendo mostrado ali”.

Essa é uma das características que diferenciam a fotografia jor-nalística (documental) da artística. Enquanto a vertente ligada à docu-mentação apresenta um valor de registro social, a produção ligada às artes possibilita ao autor maior experimentação, tanto em relação aos motivos retratados quanto à técnica utilizada ao fotografar.

A estudante de artes e design da UFJF Ana Luísa Affonso, de 23 anos, estuda a influência do aparelho fotográfico durante a captura das imagens, e como o re-sultado é percebido pelas pessoas. Em 2010, ela produziu a série de imagens “Instantes”, que chamou a atenção do público pelo modo como foi feita, retratando detalhes das ruas de Juiz de Fora que, mui-tas vezes, passam despercebidos.

Neste ano, ela apresentou uma série exposta na mostra “Sobres-sidade”, composta por imagens de prédios do Centro, fotografa-dos de uma maneira inusitada: embora não altere posteriormente as imagens, o modo como ela fo-tografou os objetos modificou o resultado final da produção. Ela fez as imagens a partir dos refle-xos vistos em outras construções, despertando o interesse das pes-soas, que paravam para identificar quais eram os prédios refletidos. “A minha intenção com essas fo-tografias é observar a percepção do olhar do espectador, tentando ativar e sensibilizar esse olhar, que, muitas vezes, é desatento”.

Fotografia de Ana Luísa Affonso que integrou a mostra “Sobressidade”

Equipe grava cenas durante evento realizado na Praça da Baleia, no Bairu

A inovação na criação de obras de arte provoca discussões

O movimento hip-hop em Juiz de Fora e a relação dos jovens

com as redes sociais é tema de um documentário realizado a partir de uma parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Faculdade Estácio de Sá. O projeto nasceu da pesquisa de Doutorado em Ciências Sociais que a jornalista Tâmara Lis Reis Umbelino desen-volve na UFJF, cujo foco é analisar como os jovens negros de periferia da cidade utilizam as redes sociais.

Intitulada “Redes Sociais como Espaço de Construção da Identida-de para Jovens Negros, Moradores da Periferia de Juiz de Fora”, a pes-quisa deu origem ao documentário a partir do diretor do Centro de Pes-quisas Sociais da UFJF e orienta-dor da doutoran-da, Paulo Reis Fraga. Paulo convidou o professor Pedro Simo-nard, da Universidade de Laval, no Canadá, a dirigir o documentário em função de sua experiência na re-alização de filmes etnográficos. “Eu assisti a alguns vídeos dele de bas-tante qualidade e, em função de ele ser antropólogo e estar no Brasil, eu fiz o convite para ele conduzir o projeto”.

Apesar de já ter trabalhado com movimentos sociais e com comunidades quilombolas, esta é a primeira vez que Pedro tem contato com a cultura hip-hop. “Toda pes-

Pesquisa de jornalista aborda a utilização das redes sociais pelos jovens da periferia

quisa que faço resulta em dois pro-dutos: um material acadêmico e um visual, seja a fotografia ou o vídeo. Quando a produção resulta em um documentário, geralmente faço có-pias e distribuo para a comunidade porque, na verdade, os direitos au-torais daquela obra são deles”.

Tâmara acompanha a juven-tude negra juiz-forana desde sua dissertação de Mestrado, publi-cada em 2008, quando pesquisou jovens da periferia da cidade que buscavam na religião e no rap uma forma de construir uma identida-de. No Doutorado ela aprofunda o tema e inclui as redes sociais nesse processo. “Fiquei muito satisfeita com o interesse do professor Pe-

dro pelo tema porque tenho a chance de re-ver meu estu-do com outros olhos, de quem ainda não teve o contato com a cultura hip-hop.

Certamente, a contribuição dele vai enriquecer muito o nosso tra-balho e dar uma nova roupagem ao documentário”.

Com o título provisório de “Quinto elemento: Hip-Hop na rede”, o documentário reúne en-trevistas tanto de jovens que fazem parte da cultura, como os integran-tes do grupo “Encontro de Mc’s”, como o depoimento de Erê dos Palmares, B-boy responsável pela fortificação do hip-hop na cidade e que hoje dá oficinas voltadas para crianças e adolescentes.

De acordo com Petrillo, o artista precisa acompanhar as transformações de seu tempo, mantendo-se inserido no con-texto em que vive, principal-mente em função das rápidas mudanças nas áreas das ciên-cias e da tecnologia. Com a criação e comercialização de telefones celulares com câme-ras fotográficas, foram desen-volvidos também programas que atendem às novas necessi-dades dos consumidores.

Dentre eles, um que se des-taca é o Instagram, aplicativo de compartilhamento de fotos que oferece o diferencial de aplicar filtros que dão diversos efeitos às fotografias, como um aspecto envelhecido ou bordas que lembram as das fo-tografias feitas com as câmeras Polaroid.

Ainda que o preço desses aparelhos seja alto, em compa-ração aos modelos tradicionais, há um aumento na procura por

celulares que executem diversas funções, fazendo com que a cir-culação dessas imagens estiliza-das seja cada vez maior.

“O recurso de poder ter uma câmera digital no bolso, junto com um celular, é válido. Mas a manipulação e veiculação de imagens que ocorre no Instagram por pessoas que, às vezes, não possuem um conhecimento mais teórico sobre a imagem, pode fa-zer com que o valor da fotografia se banalize”, analisa Gustavo.

Foto: Ana Luísa Affonso

Foto: Eduardo Moreira

“Geralmente faço cópias e distribuo para a comu-nidade porque, na ver-dade, os direitos autorais daquela obra são deles”

Fotos: 1) Glória Baltazar, 2) Daniele Xavier, 3) Natália Corrêa, 4) Eduardo Moreira, 5) Helena Tallmann, 6) Ana Luiza Mcauchar, (fundo) Romerito Pontes.

CAMPUS UNIVERSITÁRIO

Ao chegar ao cam-pus, não há quem não se surpreenda com a beleza presente em cada canto. Seja na natureza ou apenas na movimentação de pessoas caminhan-do, o cenário encan-ta. Mas quem circula diariamente pelo es-paço, acaba se acos-tumando com o local e ele se torna parte da rotina. O objetivo desse en-saio fotográfico é justamente mostrar esses pequenos de-talhes, que passam despercebidos aos olhares acostuma-dos. Não somente veja, mas tenha “Ou-tros Olhares Sobre o Campus”.

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