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Página|51 ISSN 1983-4209 - Volume 03 – Número 01 – 2009 CONDIÇÕES DE VIDA X SAÚDE: O LIXO COMO FONTE DE SOBREVIVÊNCIA Michele silva Trindade Gonçalves 1 ; José Avelino Freire 2 RESUMO Através de uma analise quanti-qualitativa, este trabalho propôs-se diagnosticar e analisar as condições de vida dos catadores de resíduos recicláveis e moradores de ruas próximas ao “Lixão do Mutirão”, Bairro do Mutirão do Serrotão. Esta pesquisa foi realizada em caráter exploratório semi- estruturado, ouvindo pessoas sobre seu cotidiano e as percepções acerca de suas condições de vida, trabalho, saúde. Um total de 63 pessoas foram ouvidas em 4 visitas que ocorreram em Novembro de 2008. Dentre os resultados obtidos pode-se destacar 80,9% dos moradores, sentem-se insatisfeitos em conviver próximo ao “lixão”, 70,5% apresenta problemas de saúde, provocado pelo mau cheiro, presença de animais nocivos como: mosquitos, baratas e roedores. Contudo, as condições de vida apontam para a elevada insalubridade e periculosidade dessa atividade, inclusive no que se refere aos locais de moradia, contribuindo para um elevado risco de saúde. Palavras chaves: “lixão”, desconforto, Mutirão CONDITIONS OF LIFE X HEALTH: THE WASTE AS SOURCE OF SURVIVAL ABSTRACT Trough a qualitative-quantitative, this work intended to diagnose and analyze the living conditions of the colletors of recyclable waste and residents or nearby streets to "Lixão do Mutirão", Mutirão Serrotão. This research was conducted in an exploratory semi-strutured character, work and health. A total of 63 people were heard on 4 visits that ocurred in November 2008. Among the results can be highlighted 80,9% of residents feel unhappy at living next to the "lixão", 70,5% have health problems caused by the odor, presence of pests such as mosquitoes, cockraches and rodents. Then, the life conditions link to the high unsanitary and dangerous from this activity, regarding to local housing, contributing to high health risk. Keywords: "Lixão", disconfort, Mutirão. 1 INTRODUÇÃO O senso comum entende que lixo é qualquer objeto sem valor ou utilidade, ou dendrito oriundo de trabalhos domésticos, industriais etc., ou que se joga fora, escória. (HOUAISS, 2001). Uma conceituação mais elaborada expressa o lixo como resíduos sólidos urbanos produzidos individual ou coletivamente, pela ação humana, animal ou por fenômenos naturais, nocivos à saúde, ao meio ambiente e ao bem estar da população urbana, não enquadrada como resíduos especiais. (KAPAZ, 2001). Sob a percepção de Faria (2002), lixo é todo e qualquer resíduo resultante das atividades diárias do homem na sociedade. Estes são na maior parte das vezes, restos alimentares, papéis e papelões, plásticos, trapos, couros, madeiras, latas, vidros, lamas, gases e vapores, poeiras, sabões e detergentes, bem como outras substâncias descartadas de forma consciente. Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), constatou que a população brasileira, que corresponde a aproximadamente 170 milhões de habitantes, produz diariamente 126 mil toneladas de resíduos sólidos. Quanto à destinação final, o mesmo estudo identificou que 63,6% dos municípios brasileiros depositam seus resíduos sólidos em “lixões”, 18,4% dispõem tais resíduos em aterros controlados e que apenas 13,8% utilizam aterros sanitários. 1 Bióloga, UEPB, [email protected] 2 Prof. Dr., UFCG, [email protected]

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ISSN 1983-4209 - Volume 03 – Número 01 – 2009

CONDIÇÕES DE VIDA X SAÚDE: O LIXO COMO FONTE DE SOBREVIVÊNCIA

Michele silva Trindade Gonçalves1; José Avelino Freire2 RESUMO Através de uma analise quanti-qualitativa, este trabalho propôs-se diagnosticar e analisar as condições de vida dos catadores de resíduos recicláveis e moradores de ruas próximas ao “Lixão do Mutirão”, Bairro do Mutirão do Serrotão. Esta pesquisa foi realizada em caráter exploratório semi-estruturado, ouvindo pessoas sobre seu cotidiano e as percepções acerca de suas condições de vida, trabalho, saúde. Um total de 63 pessoas foram ouvidas em 4 visitas que ocorreram em Novembro de 2008. Dentre os resultados obtidos pode-se destacar 80,9% dos moradores, sentem-se insatisfeitos em conviver próximo ao “lixão”, 70,5% apresenta problemas de saúde, provocado pelo mau cheiro, presença de animais nocivos como: mosquitos, baratas e roedores. Contudo, as condições de vida apontam para a elevada insalubridade e periculosidade dessa atividade, inclusive no que se refere aos locais de moradia, contribuindo para um elevado risco de saúde. Palavras chaves: “lixão”, desconforto, Mutirão

CONDITIONS OF LIFE X HEALTH: THE WASTE AS SOURCE OF SURVIVAL

ABSTRACT Trough a qualitative-quantitative, this work intended to diagnose and analyze the living conditions of the colletors of recyclable waste and residents or nearby streets to "Lixão do Mutirão", Mutirão Serrotão. This research was conducted in an exploratory semi-strutured character, work and health. A total of 63 people were heard on 4 visits that ocurred in November 2008. Among the results can be highlighted 80,9% of residents feel unhappy at living next to the "lixão", 70,5% have health problems caused by the odor, presence of pests such as mosquitoes, cockraches and rodents. Then, the life conditions link to the high unsanitary and dangerous from this activity, regarding to local housing, contributing to high health risk. Keywords: "Lixão", disconfort, Mutirão. 1 INTRODUÇÃO

O senso comum entende que lixo é qualquer objeto sem valor ou utilidade, ou dendrito oriundo de trabalhos domésticos, industriais etc., ou que se joga fora, escória. (HOUAISS, 2001). Uma conceituação mais elaborada expressa o lixo como resíduos sólidos urbanos produzidos individual ou coletivamente, pela ação humana, animal ou por fenômenos naturais, nocivos à saúde, ao meio ambiente e ao bem estar da população urbana, não enquadrada como resíduos especiais. (KAPAZ, 2001).

Sob a percepção de Faria (2002), lixo é todo e qualquer resíduo resultante das atividades diárias do homem na sociedade. Estes são na maior parte das vezes, restos alimentares, papéis e papelões, plásticos, trapos, couros, madeiras, latas, vidros, lamas, gases e vapores, poeiras, sabões e detergentes, bem como outras substâncias descartadas de forma consciente.

Pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), constatou que a população brasileira, que corresponde a aproximadamente 170 milhões de habitantes, produz diariamente 126 mil toneladas de resíduos sólidos. Quanto à destinação final, o mesmo estudo identificou que 63,6% dos municípios brasileiros depositam seus resíduos sólidos em “lixões”, 18,4% dispõem tais resíduos em aterros controlados e que apenas 13,8% utilizam aterros sanitários. 1 Bióloga, UEPB, [email protected] 2 Prof. Dr., UFCG, [email protected]

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A destinação final dos resíduos sólidos é, portanto, um problema que a maioria dos municípios brasileiros enfrenta sem a adequada solução. A cidade de Campina Grande – PB está incluída nesse percentual, pois todos os resíduos sólidos urbanos recolhidos têm como destino final um lixão a céu aberto no bairro do Mutirão (OLIVEIRA, et.al., 2007).

No bairro Mutirão está concentrado todo o lixo produzido pelos habitantes (restos de alimentos, plásticos, latas, papel, embalagens descartáveis e outros). As indústrias, o comércio, os setores da saúde como: laboratórios, hospitais e farmácias, e também a população da cidade, que deposita todo o seu lixo naquele local. Em todas as ruas e calçadas são coletados diariamente 300 toneladas de lixo, todo esse material é recolhido por funcionários da prefeitura ou por empresas contratadas, onde despeja todo resíduo sólido urbano no lixão. Não há coletas seletivas feitas com a participação da comunidade, e os lixos caseiros, hospitalares e radioativos se misturam com os outros e assim, contaminam o solo daquele respectivo lugar. Concentra-se muita sujeira, mau cheiro, insetos e animais que se alimentam desta composição principalmente os urubus que sobrevoam o local e muitos invadem a área do aeroporto podendo causar algum tipo de acidente no pouso ou decolagem das aeronaves. (ALBERTON, 2008).

Segundo Pereira (2008), no lixão de Campina Grande encontram-se pessoas, catadores de materiais recicláveis, que sobrevivem através da revenda desses materiais que são encontrados em meio ao amontoado de resíduos. Neste local, não existe nenhum tipo de controle prévio do que é descarregado, não havendo nenhuma preocupação no tocante à saúde pública, em principal, para com a população que termina se instalando no interior do próprio lixão.

Os catadores retiram os resíduos que eles julgam reaproveitáveis e aqueles materiais que não serão reutilizados são descartados a partir da sua queima. A fumaça proveniente da queimada que ocorre no “Lixão” cerca a comunidade do Mutirão causando sérios problemas ambientais e de saúde à população que vive mais próxima do “Lixão”. Além disso, essas pessoas vivem em meio à constante mau cheiro e com a presença de animais nocivos como mosquitos, baratas e roedores.

Em razão desses fatos, a presente pesquisa buscou apurar o grau de incômodo desta população em relação à situação atual do “Lixão”, a fim de incentivar medidas que possam melhorar a qualidade de vida dos moradores dessa comunidade, sem prejudicar aqueles que ainda dependem dos resíduos sólidos despojados no “Lixão” para sobreviver.

2 METODOLOGIA A pesquisa foi realizada com a população do bairro do Mutirão do Serrotão que vive mais

próxima ao “Lixão do Mutirão”, localizado na BR 230, na Zona Oeste da Cidade de Campina Grande – Paraíba. Os dados populacionais do Mutirão do Serrotão são contabilizados juntos com o do Bairro do Serrotão, sendo uma população de 6.384 habitantes.

Tratou-se de uma pesquisa de caráter exploratório a qual foi aplicado um questionário de perguntas objetivas aos moradores das ruas mais próximas ao “Lixão do Mutirão”.

Um total de 63 questionários foram aplicados em 4 visitas que ocorreram em Novembro de 2008.

Os dados foram analisados de forma quantitativa para que pudessem ser construídos gráficos que revelassem os dados coletados na pesquisa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados se mostram expressivos em relação ao grau de desconforto dos moradores por causa da presença do “lixão” próximo as residências.

Foram feitos 63 questionários com pessoas que moram nas ruas mais próximas ao local que é feito o despejo dos resíduos sólidos da população campinense. Os moradores foram questionados se morar perto do “Lixão” lhe trazia desconforto. Dos 63 questionários feitos, 51 responderam que sim, o que é equivalente a 80,9 % das pessoas que responderam os questionários. Apenas 12 (19%) disseram não se incomodar com a presença do “Lixão”. Esses dados estão representados na Figura 1.

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Incomodados

Não seincomodam

80,9%

19%

Figura 1 - Porcentagem de moradores que se sentem incomodados com a presença do “lixão”. Quanto à classificação do desconforto que o “Lixão” causa na comunidade, dentre os 51

moradores que expressaram desconforto, segue o resultado segundo a Figura 2, que mostra que um total de 31 pessoas (60%) diz-se muitíssimo incomodada, 13 (25,4%) responderam sentir-se muito incomodada, 1 (1,9%) pessoa respondeu que a presença do “Lixão” incomoda razoavelmente e 5 (9,8%) disseram sentir-se pouco incomodada.

Muitíssimo

Muito

Razoável

Pouco60%

25,4%

1,9% 9,8%

Figura 2 – Porcentagem do grau de desconforto dos moradores em relação ao “Lixão”. Os moradores também foram questionados sobre o tipo de desconforto que assola a

comunidade, segundo eles foram obtidos os seguintes resultados demonstrados na tabela abaixo. Tabela 1: Tipos de desconforto sentidos por uma parcela de moradores do Mutirão.

DESCONFORTO F¹ %²

Fumaça 51 100

Mau cheiro 44 86,2

Mau aspecto 43 84,3

Presença de animais nocivos 42 82,3 1 – Freqüência que o tipo de desconforto foi citado 2 – Percentual de citações dos desconfortos É possível observar que a população do Mutirão apresenta-se muito incomodada com a

fumaça constante que, segundo eles, é proveniente da queima de resíduos que não são reaproveitados pelos catadores. Também se faz relevante a inquietação dos moradores em relação ao mau cheiro, ao mau aspecto e a presença de animais nocivos a saúde.

Foi constatado pelo trabalho realizado por Lopes (2000), que a exposição de resíduos sólidos à céu aberto, faz com que resíduos leves como plásticos e papéis sejam conduzidos pelo

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vento por uma longa distância. Isto modifica a paisagem produzindo um aspecto horrível em toda área próxima ao “lixão”.

Foto: Michele Figura 3 – Rua próxima ao “lixão” com presença de muitos resíduos trazidos pelo vento do “lixão”. Ainda de acordo com Lopes (2000), o “lixão” produz aproximadamente 4370 m³ de biogás

por dia, que são lançados diretamente na atmosfera. Considerando-se que o biogás possa atingir 55% de metano, são lançados diariamente na atmosfera em torno de 2404 m³ desse gás que é um dos principais gases que contribui para o efeito estufa. Além do biogás também é lançado na atmosfera pelo “lixão” uma grande quantidade de fumaça proveniente da queima de resíduos no local. A queima é realizada por algumas indústrias no momento do lançamento de seus resíduos e o fogo acaba espalhando-se pelos demais resíduos.

Foto: Michele Figura 4 – Fumaça que invade o Mutirão proveniente do “lixão.”

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Apesar desta demonstração expressiva de incômodo em relação a presença do “lixão” perto das suas casas, do total de pessoas consultadas que se incomodam com a fumaça e mau cheiro, 31 dizem não tomar nenhuma atitude em relação à fumaça e ao mau cheiro que invade a sua residência, que equivale a 60,7 %; 16 alegam fechar portas e janelas para diminuir a penetração de fumaça e mau cheiro, que é equivalente a 31,3 %; e 4 dizem manter em dia a limpeza da casa com produtos de limpeza de cheiro forte para mascarar os odores provenientes do “Lixão”, que equivale a um total de 7,8 %, como podemos observar na Figura 5.

Não toma

nenhuma

atitude

Fechar portas e

janelas

Limpeza

constante da

residência

60,7%

31,3%7,8%

Figura 5 – Atitudes tomadas pelos moradores do Mutirão para amenizar o desconforto causado pelo “lixão”.

A saúde da comunidade também está prejudicada por causa, principalmente, da fumaça proveniente da queima de materiais no “Lixão”. Dentre a amostragem, 36 possuem pelo menos um familiar que apresenta problemas de saúde, representando um total de 70,5%; e apenas 15, apesar de se sentirem incomodados, nunca apresentaram nem possuem parentes que tenham algum problema de saúde por causa da fumaça, representando um total de 29,4 %, conforme mostra a Figura 6.

Apresentam ou

têm familiares

com algum

problema de

Não apresentam

nem possuem

familiares com

problemas de70,5%

29,4%

Figura 6 – Porcentagem de moradores que apresentam ou possuem familiares com algum problema de saúde devido a fumaça proveniente do “lixão”.

Dentre os problemas de saúde citados estão: tosse, cansaço, gripe, cefaléia, coceiras,

irritação na garganta e nos olhos. A tabela 2 mostra a freqüência em que tais problemas foram mencionados. Tabela 2: Problemas de saúde citados por uma parcela de moradores do Mutirão devido à fumaça proveniente do “lixão”.

PROBLEMAS DE SAÚDE F¹ %²

Cansaço 25 69,9

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Tosse 10 27,7

Gripe 5 13,8

Irritação na garganta 4 11,1

Coceiras 3 8,3

Irritação nos olhos 2 5,5

Cefaléia 1 2,7

1 – Freqüência que o tipo de desconforto foi citado 2 – Percentual de citações dos desconfortos

Está claro que o cansaço foi o problema de saúde mais mencionado pelos moradores. Muitas patologias e diferentes agentes causadores podem está relacionados com o surgimento do mesmo, mas analisando o ambiente em que a população do Mutirão está inserida, é possível perceber que este problema está relacionado a uma classificação de asma chamada asma extrínseca, onde agentes do meio externo desencadeiam o processo patológico.

Podemos relacionar o cansaço citado por estes moradores com o que diz Lopes (2006): “A asma ocupacional é asma causada pelo ambiente de trabalho. O afastamento do paciente desse ambiente melhora a crise”.

A amostragem também foi questionada em relação ao desejo de mudança em relação ao “lixão” e o resultado mostrado na Figura 7, também mostrou-se expressivo, pois 49, que representa um total de 96 %, disseram almejar que sejam tomadas medidas para solucionar o problema do “Lixão”; e apenas 2, que representa um total de 4 %, disseram não desejar mudanças, pois pode prejudicar as pessoas que vivem de catar materiais.

Moradores que

almejam

mudanças

Moradores que

não almejam

mudanças96%

4%

Figura 7 – Desejo de mudança dos moradores do Mutirão em relação ao “lixão”. Também foram pedidas sugestões sobre que medidas poderiam ser tomadas e o resultado

está apresentado na Tabela 3.

Tabela 3: Sugestões dos moradores para a problemática do “lixão”. SUGESTÕES F¹ %

Retirar o lixão para outro lugar 20 40,8

Construção de aterro sanitário 10 20,4

Fazer reciclagem dos resíduos reaproveitáveis 3 6,1

Medidas que não prejudiquem os catadores 3 6,1

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Construção de cooperativa para os catadores 2 4

Trabalho de coleta seletiva 1 2

Não souberam opinar 12 24,4

1 – Freqüência que o tipo de desconforto foi citado 2 – Percentual de citações dos desconfortos

A sugestão mais citada foi a retirada do “lixão” para outro lugar, mostrando a falta de

consciência ambiental da maioria dos moradores, uma vez que outra região nos arredores da cidade também iria sofrer impactos ambientais devido a presença do “lixão”. Em relação ao fato de alguns moradores terem mencionado a construção de um aterro sanitário, demonstrou também falta de informação por parte dos mesmos, pois os participantes da pesquisa disseram sugerir esta medida porque tal medida foi citada por políticos.

Durante o acontecimento da pesquisa foi possível perceber que apesar de ainda haver pessoas que vivem de catar materiais no “lixão”, grande parte da população que reside no Mutirão não depende mais diretamente de tais resíduos. O bairro apresenta muitos comércios com açougues, mercados, padarias, entre outros. As ruas mais próximas ao “lixão”, que apresentam o maior número de catadores, apresentam-se realmente como a parte com menos qualidade de vida. Diferente das ruas mais distantes, que já se mostram com condições melhores de moradia, apesar de ainda serem afetadas pela fumaça e pelo mau cheiro.

Foto: Michele Figura 8 – Rua próxima ao “lixão”.

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Foto: Michele

Figura 9 – Rua distante do “lixão”. Com as duas figuras acima pode-se fazer um comparativo da diferença social que existe no

bairro do Mutirão do Serrotão.

4 CONCLUSÃO De acordo com os dados obtidos nesta pesquisa pode-se observar que: • Os moradores que residem no Mutirão do Serrotão realmente sentem-se incomodados

com a presença do “lixão”, já que no geral 80,9% da amostragem manifestaram tal desconforto;

• A comunidade do Mutirão tem a sua qualidade de vida afetada devido principalmente a fumaça proveniente do “lixão”. Uma porcentagem de 70,5% apresenta ou tem pelo menos um familiar com problemas de saúde.

• Foi possível observar que o problema de saúde mais freqüente foi asma causada por agentes externos, pois o cansaço citado por 69,9% dos moradores é atribuído à fumaça.

• Apesar de mostrar certo grau de desinformação sobre questões ambientais, a população que reside no Mutirão demonstrou almejar mudanças em relação a presente situação. Tal desejo foi expresso por uma porcentagem de 96% dos moradores.

5 REFERÊNCIAS

ALBERTON, Cláudia Regina; VIRGINÍO, Luciana Fernandes. Os Impactos Negativos Causados Pelo Lixão do Mutirão Aos Catadores de Lixo de Campina Grande – Pb. Revista Sustentabilidade, agosto de 2008.

BRAGA, Benedito; HESPANHOL, Ivanildo; CONEJO, João G. Lotufo; et. al. Introdução à Engenharia Ambiental – O Desafio do Desenvolvimento Sustentável. Editora Pearson Prentice Hall: São Paulo, 2005. 2º ed. p 149 – 153.

FARIA, F. S. (2002). Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos Urbanos. Engenharia Civil. Rio de Janeiro, UFRJ. HOUAISS, A. (2001). Dicionário de Língua Portuguesa, Editora Objetiva Ltda. IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico – Limpeza urbana e coleta de lixo, 2000. KAPAZ, E. (2001). “Política Nacional de Resíduos – Relatório Preliminar”. LOPES, Antônio Carlos. Tratado de Clínica Médica. São Paulo: Roca, 2006. volume 3. Capítulo 349. LOPES, W. S; LEITE, V. D. Avaliação Dos Impactos Ambientais Causados Por Lixões: Um Estudo De Caso. XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. 2000.

PEREIRA, Suellen Silva; MELO, Josandra Araújo Barreto de. Gestão de Resíduos Sólidos em Campina Grande/PB e Seus Reflexos Socioeconômicos. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 4, n. 4, set-dez/2008, p. 193-217.