conhecimento etnobotÂnico dos alunos de uma...

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_________________________________________ISSN 1983-4209 – Volume 09 – Número 03 – 2013 1 CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DOS ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA NO MUNÍCIPIO DE VITÓRIA DA CONQUISTA/BA SOBRE PLANTAS MEDICINAIS Thalana Souza Santos Silva 1 e Gabriele Marisco 2 RESUMO: O presente estudo objetivou investigar o conhecimento etnobotânico dos alunos do Colégio Estadual Kleber Pacheco de Oliveira, localizado em Vitória da Conquista - Bahia sobre plantas medicinais, bem como discutir a importância da escola na disseminação de informações a comunidade escolar acerca do uso de plantas medicinais. Para a realização do presente estudo foi empregada uma abordagem qualitativa e quantitativa. Os dados foram coletados no segundo semestre de 2011 com a aplicação de um questionário para 67 alunos da modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). O estudo revelou que os alunos possuem um amplo nível de informações acerca das plantas medicinais, com 262 citações, demonstrando que se este tema fosse abordado apresentaria uma alta aceitação dos estudantes, já que os mesmos (74,6%) reconhecem a importância da valorização de seus conhecimentos sobre plantas medicinais para sua formação escolar. Dessa forma, o papel da escola é ressaltado como ambiente de disseminação de informações acerca do uso correto das plantas medicinais com comprovação científica. Unitermos: Ensino de biologia, Etnobiologia, fitoterapia. ETHNOBOTANICAL KNOWLEDGE OF STUDENTS OF A PUBLIC SCHOOL IN THE MUNICIPALITY OF VITÓRIA DA CONQUISTA / BA ON MEDICINAL PLANTS ABSTRACT: This study aimed to investigate the ethnobotanical knowledge of some students of the Kleber Pacheco de Oliveira State School, located in Vitória da Conquista - Bahia about medicinal plants, as well as discussing the importance of the school in the dissemination of information to school community about the use of medicinal plants. For the realization of this study, it was employed a qualitative and quantitative approach. The data were collected in the second semester of 2011 with the application of a questionnaire to 67 students of the EJA (Educação de Jovens e Adultos). The study revealed that students have a broad level of information about medicinal plants, with 262 citations, demonstrating that if this topic was discussed, it would present a high acceptance of the students, whereas the same (74.6%) recognize the importance of valuing their knowledge of medicinal plants for their school formation. Thus, the role of the school is emphasized as dissemination environment of information about the correct use of medicinal plants with scientific evidence. Uniterms: Teaching biology, Ethnobiology, Phytotherapy. INTRODUÇÃO Por meio da experiência e da observação, durante longos períodos da história o ser humano aprendeu a fazer uso da flora para a cura de seus males (Moraes et al., 2010). Mesmo com os avanços da medicina, para uma grande parte da população, o tratamento com plantas medicinais 1 Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB, Departamento de Ciências Naturais, Vitória da Conquista- Ba-Brasil ([email protected]); 2 Bióloga, mestre em Genética e Biologia Molecular, professora orientadora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB, Departamento de Ciências Naturais, Vitória da Conquista- Ba-Brasil ([email protected]) Recebido em 12/11/2012

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_________________________________________ISSN 1983-4209 – Volume 09 – Número 03 – 2013

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CONHECIMENTO ETNOBOTÂNICO DOS ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA NO

MUNÍCIPIO DE VITÓRIA DA CONQUISTA/BA SOBRE PLANTAS MEDICINAIS

Thalana Souza Santos Silva1 e Gabriele Marisco

2

RESUMO: O presente estudo objetivou investigar o conhecimento etnobotânico dos alunos do

Colégio Estadual Kleber Pacheco de Oliveira, localizado em Vitória da Conquista - Bahia sobre

plantas medicinais, bem como discutir a importância da escola na disseminação de informações a

comunidade escolar acerca do uso de plantas medicinais. Para a realização do presente estudo foi

empregada uma abordagem qualitativa e quantitativa. Os dados foram coletados no segundo

semestre de 2011 com a aplicação de um questionário para 67 alunos da modalidade EJA

(Educação de Jovens e Adultos). O estudo revelou que os alunos possuem um amplo nível de

informações acerca das plantas medicinais, com 262 citações, demonstrando que se este tema fosse

abordado apresentaria uma alta aceitação dos estudantes, já que os mesmos (74,6%) reconhecem a

importância da valorização de seus conhecimentos sobre plantas medicinais para sua formação

escolar. Dessa forma, o papel da escola é ressaltado como ambiente de disseminação de

informações acerca do uso correto das plantas medicinais com comprovação científica.

Unitermos: Ensino de biologia, Etnobiologia, fitoterapia.

ETHNOBOTANICAL KNOWLEDGE OF STUDENTS OF A PUBLIC SCHOOL IN THE

MUNICIPALITY OF VITÓRIA DA CONQUISTA / BA ON MEDICINAL PLANTS

ABSTRACT: This study aimed to investigate the ethnobotanical knowledge of some students of

the Kleber Pacheco de Oliveira State School, located in Vitória da Conquista - Bahia about

medicinal plants, as well as discussing the importance of the school in the dissemination of

information to school community about the use of medicinal plants. For the realization of this study,

it was employed a qualitative and quantitative approach. The data were collected in the second

semester of 2011 with the application of a questionnaire to 67 students of the EJA (Educação de

Jovens e Adultos). The study revealed that students have a broad level of information about

medicinal plants, with 262 citations, demonstrating that if this topic was discussed, it would present

a high acceptance of the students, whereas the same (74.6%) recognize the importance of valuing

their knowledge of medicinal plants for their school formation. Thus, the role of the school is

emphasized as dissemination environment of information about the correct use of medicinal plants

with scientific evidence.

Uniterms: Teaching biology, Ethnobiology, Phytotherapy.

INTRODUÇÃO

Por meio da experiência e da observação, durante longos períodos da história o ser humano

aprendeu a fazer uso da flora para a cura de seus males (Moraes et al., 2010). Mesmo com os

avanços da medicina, para uma grande parte da população, o tratamento com plantas medicinais

1 Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Departamento de

Ciências Naturais, Vitória da Conquista- Ba-Brasil ([email protected]); 2 Bióloga, mestre em Genética e

Biologia Molecular, professora orientadora do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da

Bahia – UESB, Departamento de Ciências Naturais, Vitória da Conquista- Ba-Brasil ([email protected]) Recebido em 12/11/2012

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ainda constitui a principal alternativa para o tratamento de diversas doenças, simbolizando para

algumas comunidades o único recurso terapêutico existente (Maciel; Pinto; Veiga Junior, 2002).

O emprego de plantas medicinais, como medicamento, ainda é de grande importância em

todo o mundo, segundo dados da Organização mundial da Saúde (OMS) 80% da população mundial

utiliza-se de práticas tradicionais na atenção primária, e desse total, 85% usa plantas medicinais ou

preparações destas (Oliveira, 2010).

Nesta perspectiva, as plantas medicinais segundo Oliveira & Coutinho (2006) constituem

um importante tema não só pelo patrimônio natural e cultural, como também pode fornecer

orientações a população para um maior aproveitamento dos recursos terapêuticos de origem natural,

alertando a mesma sobre os problemas oriundos do uso indiscriminado de plantas medicinais e das

plantas com efeitos tóxicos comprovados.

Por acreditar que as plantas são naturais e incapazes de trazer malefícios, o uso

indiscriminado é recorrente. Oliveira & Gonçalves (2006) afirmam que essa crença de inocuidade

das plantas medicinais pode acarretar sérias consequências, sendo necessária uma implementação

de medidas de educação e informação que colabore para seu uso racional.

Diante dessa demanda a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos,

implementada (PNPMF) por meio do Decreto nº 5.813, em 2006, estabelece ações voltadas à

garantia do acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil. As

diretrizes da PNPMF relacionadas aos recursos humanos, propõem junto ao MEC a inserção do

tema Plantas Medicinais no ensino formal em todos os níveis (Brasil, 2006).

Apesar do uso de plantas medicinais ter sua propagação associada ao conhecimento

popular empírico, paulatinamente vem sendo reconhecido e incorporado ao saber científico, sendo a

etnobotânica um dos principais ramos da ciência que tem contribuído para a difusão da utilização

terapêutica das plantas medicinais (Dantas & Guimarães, 2007).

Costa (2008) afirma que uma didática que estabeleça um vínculo entre o conhecimento

etnobotânico com o conhecimento científico abordado na formação escolar, constitui uma das

maneiras de reduzir a distância entre o popular e o científico, favorecendo o processo de ensino-

aprendizagem, pois possibilita o envolvimento do aluno no processo de construção do

conhecimento.

Neste sentido o presente estudo teve como objetivo investigar o conhecimento etnobotânico

dos alunos sobre plantas medicinais, bem como discutir a importância da escola na disseminação de

informações a comunidade escolar acerca do uso de plantas medicinais.

Material e métodos

Esta pesquisa foi realizada em 2011, no Colégio Estadual Kleber Pacheco de Oliveira,

Vitória da conquista – Bahia, os sujeitos do presente trabalho foram alunos que estavam cursando a

disciplina biologia oferecida no eixo VII da modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos). A

determinação do tamanho da amostra foi através da utilização da fórmula estatística de Santos

(2011).

Para o levantamento dos dados foi utilizado um questionário contendo questões sobre dados

socioeconômicos, conhecimentos sobre plantas medicinais e contribuição do conhecimento sobre

plantas medicinais no ensino de Biologia. Os questionários foram respondidos pelos próprios

discentes na escola após os esclarecimentos dos objetivos da pesquisa, sendo mantido o anonimato

dos alunos.

No que se refere aos conhecimentos sobre plantas medicinais, não foi realizado a coleta das

plantas e identificação botânica, dessa forma apenas os nomes populares das plantas foram citadas.

A abordagem empregada foi qualitativa e quantitativa, e as questões foram analisadas pelo método

descritivo, com auxílio do programa software Microsoft EXCEL® 2007.

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Resultados e discussão

No presente estudo participaram um total de 67 alunos, sendo 57% do sexo feminino e 43%

do sexo masculino (Figura 1A), a faixa etária variou de 18 a 55 anos (Figura 1B), em relação ao

estado civil, 52,2% dos alunos são solteiros e 46,3% são casados (Figura 1C), e 45 alunos possuem

de 1 a 4 filhos (Figura 1D).

Figura 1: Perfil dos alunos entrevistadas quanto ao gênero dos alunos (A); idade (B); estado civil

(C); número de filhos (D).

Os resultados do presente estudo mostram que 74,6% dos alunos utilizam plantas medicinais

para o tratamento de doenças, corroborando com os resultados encontrados por Santos, Dias,

Martins (1995) e Barros (2011) demonstrando que a medicina alternativa é conhecida e utilizada

pela amostra estudada.

Foi verificado que 58% dos alunos que utilizam plantas medicinais são mulheres. O

conhecimento das mulheres acerca das plantas medicinais foi mais elaborado, pois além de citar o

maior número de plantas, detalharam mais aspectos quanto ao modo de preparo e se atentaram a

relatar a limpeza das plantas antes do preparo. Enquanto que os homens citaram plantas mais

comuns e de forma menos detalhada.

De acordo com Melis & Vieira (2007) a maior prevalência observada entre as mulheres deve

decorrer provavelmente do papel culturalmente atribuído e desempenhado pelo gênero feminino nas

atividades domésticas e na saúde da família, pois elas são as principais responsáveis pelo tratamento

caseiro das doenças mais simples através de plantas.

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Em relação as plantas medicinais citadas pelos alunos, foram obtidas um total de 262

citações referentes a 56 plantas diferentes. A relação dos nomes populares das plantas medicinais

citadas pelos alunos, bem como as indicações terapêuticas e partes utilizadas nas preparações estão

listadas na tabela 1.

Tabela 1: Relação das plantas medicinais citadas pelos alunos no questionário.

Plantas citadas Indicação Nº de

citações

Parte utilizada

Erva cidreira Calmante, gripe, dor de

cabeça, dores, mal estar,

cólicas, gases

36 Folhas, talos, flores

Erva doce Gases, calmante, dor no

pé da barriga, prisão de

ventre

32 Sementes

Hortelã Gripe, resfriado 25 Folhas

Capim santo Dor de cabeça 18 Folhas

Boldo Dor no estomago 18 Folhas

Capim da lapa Estômago, calmante,

gripe

16 Folhas

Mastruz Cicatrizar ferimentos,

inchaços

14 Folhas

Camomila Calmante, insônia 10 Flores

Barbatimão Cicatrização, dor de

estomago, mal estar

9 Casca

Quebra-pedra Rins 7 Raízes

Alecrim Gripe 6 Folhas

Babosa Câncer, cicatrizante 5 Folhas

Romã Garganta 4 Fruto

Cont.

Sabugueira Sarampo, gripe 4 Folhas e flores

Aroeira Inflamação 3 Folhas

Arruda Mal-olhado 3 Galhos

Poejo Gripe 3 Folhas

Umburana,

umburana

macho

Estômago 3 Semente

Agrião Tosse, bronquite, asma 3 Folhas e talos

Alfavaca Infecção urinária 2 Folhas

Bucha paulista Inflamação 2 Frutos

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Espinheira santa Gastrite 2 Folhas

Pitangueira Diarréia 2 Folhas

Transsagem Anti-inflamatório 2 Folhas

Pau ferro Gripe, asma 2 Casca e folhas

Água de colônia Pressão alta 1 Folhas

Anador Dor de cabeça. 1 Folhas

Andiroba Anti-inflamatório 1 Sementes

Angélica

africana

Calmante, gripe 1 Flores

Bananeira Disenteria 1 Caule

Caatinga de

porco

Indigestão 1 Casca

Canela Gripe, aromática 1 Casca

Contra erva Gripe 1 Folhas

Favaca grossa Inflamação, gripe 1 Folhas

Fedegoso Gripe 1 Folhas

Folha de abacate Diurético 1 Folhas

Hortelãzinha

pequeno

Calmante 1 Folhas

Insulina Diabete 1 Folhas

Noz moscada Cólicas, dores

musculares

1 Semente

Pata-de-vaca Diabete 1 Folhas

Pau de macaco Infecções urinárias 1 Folhas

Cont.

Pinhão roxo Cicatrizante 1 Fruto

Sena Laxativo 1 Folhas

Tioiô Gripe, febre, dor de

cabeça

1 Folhas

Folha de laranja Gripe 1 Folhas

Gengibre Garganta 1 Raiz

Casca de jatobá Dor de barriga 1 Casca

Manjericão Depressão 1 Folhas

Guaco Bronquite 1 Folhas

Jurema preta Cicatrizante 1 Casca

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Valeriana Insônia 1 Raiz

Mulungu Ansiedade e depressão 1 Raiz e folhas

Carqueja Estômago 1 Folhas

Pra-tudo Febre 1 Folhas

Marcela Problemas estomacais 1 Folhas

Eucalipto Asma 1 Folhas

Sendo as formas de obtenção mais frequente dessas plantas o cultivo em hortas e jardins

47,6%, seguido de 25,4% que compram as plantas em feiras livres e farmácias, 23,8% obtém

plantas com vizinhos e parentes, e 3,2% utilizam plantas que crescem espontaneamente (Fig. 2).

Esses resultados corroboram com estudos etnobotânicos de Almeida et al. (2009) e Bernardes,

Silva, Moleiro (2011) que observaram que os entrevistados obtém as plantas do cultivo próprio.

Figura 2: Formas de obtenção das plantas medicinais pelos alunos.

No presente estudo foi observado que o conhecimento sobre plantas medicinais é

transmitido através dos familiares (avós, pais), como relatado por cerca de 83,5% dos alunos,

resultados similares foram encontrados por Nunes & Dantas Moura (2007) e Barros (2011).

Segundo Brasileiro et al. (2008) o consumo de plantas medicinais tem base na tradição familiar,

sendo a comunicação oral o principal meio de transmissão deste conhecimento, a difusão do saber

entre os membros da família é contínua quanto aos hábitos e cuidados de saúde com a utilização de

plantas medicinais (Ceolin et al., 2011).

A decocção (método em que as partes das plantas são fervidas junto com a água) foi a

principal forma de preparo citada entre os alunos. Em diversas partes do Brasil é comum a prática

dos chás feitos pela decocção não só para as partes duras ou secas do vegetal, mas também a fervura

das folhas frescas. Este procedimento não é indicado para qualquer parte da planta, pois pode

degradar ou eliminar princípios ativos das mesmas, inativando o efeito terapêutico do chá ou

tornando-o perigoso à saúde (Albertasse; Thomaz; Andrade, 2010).

A parte da planta mais comumente empregada pelos alunos nas preparações foram as folhas,

corroborando com estudos de levantamentos de plantas medicinais que frequentemente citam as

folhas como a parte mais usada (Almeida et al., 2009; Jacoby et al., 2002). As folhas são

tradicionalmente as partes mais utilizadas para tratamento medicinal popular, provavelmente por

causa da facilidade de coleta e por estar presente na planta durante a maior parte do ano (Alves et

al., 2008).

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Ainda são necessários diversos esclarecimentos sobre o uso de plantas medicinais. A

população deve saber, por exemplo, qual parte da planta deve ser utilizada em cada caso e a

dosagem correta. Há também a dificuldade na identificação das plantas medicinais, uma vez que

essas plantas podem ser confundidas com outras que possuem características semelhantes, assim, o

espaço escolar torna-se um ambiente favorável para propor discussões com os alunos sobre estudos

que abordem a eficácia das plantas utilizadas pelos mesmos (Pereira & Defani, 2002).

A maioria dos alunos (74,6%) consideram que o seu conhecimento sobre plantas medicinais

pode contribuir em sua formação escolar. Esse resultado demonstra que os próprios alunos

reconhecem a importância da utilização desse conhecimento para o processo de ensino

aprendizagem, além de demonstrarem relevante interesse acerca do conteúdo plantas medicinais.

Em relação ao entendimento dos alunos sobre plantas medicinais, foi observado que de um

total de 67 respostas, apenas 4,5% se aproximaram do conceito proposto pela OMS (2000) que

definem as plantas medicinais como todas aquelas, silvestres ou cultivadas, que se utilizam como

recurso para prevenir, aliviar, curar ou modificar um processo fisiológico normal ou patológico, ou

como fonte de fármacos e de seus precursores.

A maioria dos alunos, 49,2% associou o conceito de plantas medicinais com o tratamento e

cura de enfermidades, se aproximando parcialmente do conceito proposto pela OMS, 11,4% dos

alunos entendem que plantas medicinais estão relacionadas com a produção de remédios ou que

possuem substâncias que são ponto de partida para os remédios sintéticos, esse resultado é

confirmado por Simões & Schenkel (2002) que citam as plantas e os extratos vegetais como de

grande relevância na área farmacêutica. E 35% das respostas dadas pelos alunos não contemplaram

nem parcialmente o conceito da OMS.

Quanto ao estudo de plantas medicinais nas aulas de biologia, 42% dos alunos apontaram

que os professores poderiam informar sobre a toxicologia ou plantas tóxicas usadas como

medicinais. Isto se mostra relevante visto que no Brasil, a população consome plantas medicinais

que apresentam pouca ou nenhuma comprovação dos componentes farmacológicos. A toxidade

dessas plantas acarreta efeitos adversos, e constitui um problema de saúde pública (Veiga Junior;

Pinto; Maciel, 2005).

Para 36% dos alunos, as aulas poderiam ser desenvolvidas a partir das plantas medicinais

conhecidas por eles, na abordagem dos conteúdos de botânica (morfologia, biodiversidade,

taxonomia etc.). Neta et al. (2010) consideram que o ensino de botânica é, em geral, tradicional e

centralizado em conteúdos extensos, onde há a necessidade expressiva da memorização de

conceitos e nomes científicos, tornando-se um conteúdo maçante e monótono.

Ainda em relação a abordagem do conhecimento sobre plantas medicinais nas aulas, 22%

dos alunos indicaram o desenvolvimento de aulas práticas a partir do cultivo de uma horta, ou de

plantas trazidas por eles. Vários estudos têm demonstrado que a construção de hortas e canteiros de

plantas medicinais constitui uma proposta pedagógica eficiente na aprendizagem significativa no

ensino de biologia (Ferreira et al., 2011; Barros, 2011; Nunes & Dantas, 2007).

Siqueira (2004) propõe que a etnobotânica deve permear o currículo escolar a fim de dar

significados às aulas. Costa (2008) sugere que os conhecimentos prévios dos alunos sejam

utilizados como uma ferramenta de mobilização cognitiva e afetiva do aluno, através do conflito e

da reflexão das concepções prévias, proporcionando uma apropriação do conhecimento científico

que lhe é apresentado na escola.

Diversas questões devem ser consideradas no desenvolvimento de um trabalho mais

apropriado as características dos alunos, isto porque a tendência predominante das propostas

curriculares é a da fragmentação do conhecimento, o que dificulta o estabelecimento de diálogos

entre as experiências vividas, os saberes anteriormente tecidos pelos educandos e os conteúdos

escolares. Em uma perspectiva inovadora os objetivos pedagógicos devem incorporar propostas que

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contribuam para melhoria da qualidade de vida desses estudantes, atendendo as suas necessidades

reais (Oliveira, 2007).

Cruz, Furlan, Joaquim (2009) em estudo realizado com cinco escolas, verificaram que existe

uma cautela por parte dos professores para inserção de conteúdos referentes às plantas medicinais, o

que justifica a necessidade de romper as barreiras que dificultam reflexões interdisciplinares mais

contundentes sobre o processo de ensino e aprendizagem dessas plantas, uma vez que esse tipo de

estudo é importante para advertir sobre os perigos que estas exercem se forem utilizadas de forma

incorreta.

Porém é importante ressaltar que ensinar, nesta perspectiva, demanda respeito aos saberes

que os estudantes já possuem e exige que se cumpra o papel da escola em informar esses alunos

sobre questões pertinentes acerca do uso correto das plantas medicinais, tendo em vista o difícil

acesso da população a estudos científicos que abordem a comprovação e eficácia de determinadas

plantas medicinais.

Conclusão

Neste estudo foi possível observar que as mulheres, são as maiores detentores de

informações acerca do uso das plantas, demonstrado pelo número considerável de plantas

medicinais citadas. A principal forma de preparo é através da decocção, utilizando-se as folhas das

plantas, sendo esse conhecimento transmitido pelos pais e avós.

Com relação ao conhecimento etnobotânico dos alunos, percebeu-se que se esse tema fosse

abordado em sala de aula, apresentaria uma alta aceitação dos estudantes devido ao conhecimento

prévio destes sobre o assunto. Sendo assim o tema plantas medicinais pode constituir uma

ferramenta eficaz no processo de ensino aprendizagem em Biologia. Não somente por possibilitar

várias abordagens nos conteúdos dessa área de ensino, mas, por considerar os conhecimentos

prévios dos alunos, promovendo assim uma aprendizagem significativa, no qual os conteúdos

abordados na escola apresentem sentido no cotidiano do aluno.

Faz-se necessário oferecer subsídios a qualificação dos professores acerca da temática

plantas medicinais, já que este profissional constitui o elo entre o conhecimento científico e o

conhecimento popular do aluno, podendo assim atuar na disseminação de informações que

contribuam para a melhora da qualidade de vida dos alunos.

Neste sentido o ambiente escolar torna-se um local propício para a realização de pesquisas

que visam a investigação etnobotânica, fornecendo subsídios para a implantação de programas que

integrem o conhecimento popular com o saber científico. Sendo assim ressalta-se a importância que

novos estudos sejam feitos sobre etnobotânica, uma vez que essas informações podem contribuir

para a manutenção do saber popular de plantas medicinais, e podem ser contextualizadas no ensino

de disciplinas ligadas ao meio ambiente, como biologia, ecologia e geografia.

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ANEXO 1

_________________________________________ISSN 1983-4209 – Volume 09 – Número 03 – 2013

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QUESTIONÁRIO

Nº: Data de aplicação:

PARTE A: DADOS SOCIOECONÔMICOS

1-Sexo: Feminino ( ) masculino ( )

2-Idade:

3- Estado Civil:

( ) Solteiro (a) ( ) Casado (a) ( ) Viúvo (a)

4- Numero de filhos:

5- Profissão:

6- No momento está trabalhando?

7- Naturalidade:_________________________ 8- Bairro onde mora:

PARTE B: CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS

1- O que você entende por plantas medicinais?

2- Você faz uso de plantas medicinais?

( ) Sim ( ) Não

3- De onde vem o seu conhecimento sobre o uso de plantas medicinais?

( ) De conhecimento tradicional familiar ( mãe, Pai, avós, etc.)

( ) De conhecimento oriundo da mídia (internet, televisão, radio)

( ) De contatos com técnicos (médicos, enfermeiros, biólogos, professores, etc).

( ) Outros: __________________________________________________________

4- Quando você precisa utilizar alguma planta medicinal, você consegue de que forma?

Cultivo próprio ( ) Compra (feiras, farmácia) ( ) vizinhos e parentes ( ) locais abertos ( )

Outros:

5- Você já se sentiu mal com o uso de alguma planta medicinal? Qual foi a planta, e o que você

sentiu?

6- Que planta você conhece:

- Partes usadas:

- Usa para que:

- Como você prepara:

_________________________________________ISSN 1983-4209 – Volume 09 – Número 03 – 2013

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- Que planta você conhece:

- Partes usadas:

- Usa para que:

- Como você prepara:

PARTE C: CONTRIBUIÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PLANTAS MEDICINAIS

1- Você acha que o seu conhecimento sobre plantas medicinais pode contribuir para a sua formação

escolar? Sim ( ) ( Vá para questão 2) Não ( ) (Vá para questão 3)

2- De que forma você acha que o seu conhecimento sobre plantas medicinais poderia ser utilizado

nas aulas de Biologia?

( ) A partir das plantas medicinais conhecidas pelos alunos o professor poderia abordar conteúdos

da botânica (morfologia das plantas, biodiversidade, taxonomia etc.).

( ) Os professores poderiam informar sobre os cuidados no uso de plantas medicinais.

( ) Aulas praticas a partir do cultivo de uma horta, ou de plantas medicinais trazidas pelos alunos.

( ) Outros:

3-Nas aulas de Biologia de que maneira o conhecimento sobre plantas medicinais já foi abordado?