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_________________________________________ISSN 1983-4209 – Volume 09 – Número 04 – 2013 ESTUDO COMPARATIVO SOBRE O USO DE PLANTAS MEDICINAIS EM DUAS CIDADES PARAIBANAS PERTENCENTES ÀS MESORREGIÕES DO SERTÃO E DO CURIMATAÚ OCIDENTAL Danielly da Silva Lucena 1 . Clécio Maynard Batista da Fonsêca 2 . Maria das Graças Veloso Marinho 3 . Pierre Farias de Souza 4 RESUMO - A etnobotânica como ciência estuda as interações entre pessoas e plantas em sistemas dinâmicos. Este trabalho tem como objetivo realizar um estudo comparativo sobre o uso de Plantas Medicinais em duas cidades paraibanas pertencentes ás mesorregiões do Sertão (Cajazeiras) e do Curimataú Ocidental (Remígio). O município de Cajazeiras tem como vegetação predominante à caatinga, apresenta clima quente e seco. O município de Remígio apresenta clima tropical úmido e sua vegetação é constituída de brejos de altitude e caatinga. Esta pesquisa foi realizada através de visita às residências dos informantes e aplicação de um questionário semiestruturado, que abordava o grau de escolaridade dos entrevistados, e o conhecimento dos mesmos sobre plantas medicinais. Para este estudo 40 pessoas foram entrevistadas, 20 em cada município. A faixa etária dos entrevistados está entre 20 e 85 anos e as mulheres representam 65% dos informantes em cada área estudada. Os entrevistados citaram um total de 35 espécies medicinais, pertencentes a 33 Gêneros e 21 famílias. As famílias mais representativas foram Asteraceae e Lamiaceae com quatro espécies e Fabaceae com três espécies. No município de Remígio as indicações de uso mais citadas foram: analgésico, digestivo, reumatismo, antiinflamatório, calmante, asma e problemas intestinais, para o município de Cajazeiras pouco diferiram, analgésico, digestivo, antiinflamatório, calmante, cicatrizante, reumatismo e expectorante. A variedade de uso das plantas medicinais nessas áreas evidenciam o potencial medicinal das espécies da região. Esta peaquisa assim como outras da mesma área vem com o intuito de resgatar o conhecimento tradicional sobre o uso dos fitoterápicos. Unitermos: Etnobotânica, Conhecimento popular, Flora. COMPARATIVE STUDY ON THE USE OF MEDICINAL PLANTS IN TWO CITIES PARAIBANAS BELONGING TO MESOREGIONS OF SERTÃO AND OF WESTERN CURIMATAU ABSTRACT - The ethnobotany as a science, links to botany and anthropology, and studies the interactions between people and plants in dynamic systems. This research aims to conduct a comparative study on the use of medicinal plants in two cities paraibanas mesoregions belonging of Sertão (Cajazeiras) and Western Curimataú (Remígio). The municipality shows Cajazeiras as predominant vegetation to savanna, has hot and dry climate. The municipality of Remigio shows a humid tropical climate and lush vegetation consists of wet forests and savanna. This research was conducted through visits to the residences of the informants and application of a semi-structured questionnaire that addressed the educational level of the interviewees, and knowledge of them on _______________________________________________________________________________ 1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Centro de Ciências Biológicas, Recife, Pernambuco, Brasil: [email protected] 2 Mestre em Ciências Florestais, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, Patos, Paraíba, Brasil: [email protected] 3 Professora Drª, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Unidade Acadêmica de Ciências Biológicas, Patos, Paraíba, Brasil: [email protected] 4 Doutorando em Ciências Florestais, Universidade de Brasília (UnB), Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais, Brasília, Distrito Federal, Brasil: [email protected]

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_________________________________________ISSN 1983-4209 – Volume 09 – Número 04 – 2013

ESTUDO COMPARATIVO SOBRE O USO DE PLANTAS MEDICINAIS EM DUAS

CIDADES PARAIBANAS PERTENCENTES ÀS MESORREGIÕES DO SERTÃO E DO

CURIMATAÚ OCIDENTAL

Danielly da Silva Lucena1. Clécio Maynard Batista da Fonsêca

2. Maria das Graças Veloso

Marinho3. Pierre Farias de Souza

4

RESUMO - A etnobotânica como ciência estuda as interações entre pessoas e plantas em sistemas

dinâmicos. Este trabalho tem como objetivo realizar um estudo comparativo sobre o uso de Plantas

Medicinais em duas cidades paraibanas pertencentes ás mesorregiões do Sertão (Cajazeiras) e do

Curimataú Ocidental (Remígio). O município de Cajazeiras tem como vegetação predominante à

caatinga, apresenta clima quente e seco. O município de Remígio apresenta clima tropical úmido e

sua vegetação é constituída de brejos de altitude e caatinga. Esta pesquisa foi realizada através de

visita às residências dos informantes e aplicação de um questionário semiestruturado, que abordava

o grau de escolaridade dos entrevistados, e o conhecimento dos mesmos sobre plantas medicinais.

Para este estudo 40 pessoas foram entrevistadas, 20 em cada município. A faixa etária dos

entrevistados está entre 20 e 85 anos e as mulheres representam 65% dos informantes em cada área

estudada. Os entrevistados citaram um total de 35 espécies medicinais, pertencentes a 33 Gêneros e

21 famílias. As famílias mais representativas foram Asteraceae e Lamiaceae com quatro espécies e

Fabaceae com três espécies. No município de Remígio as indicações de uso mais citadas foram:

analgésico, digestivo, reumatismo, antiinflamatório, calmante, asma e problemas intestinais, para o

município de Cajazeiras pouco diferiram, analgésico, digestivo, antiinflamatório, calmante,

cicatrizante, reumatismo e expectorante. A variedade de uso das plantas medicinais nessas áreas

evidenciam o potencial medicinal das espécies da região. Esta peaquisa assim como outras da

mesma área vem com o intuito de resgatar o conhecimento tradicional sobre o uso dos fitoterápicos.

Unitermos: Etnobotânica, Conhecimento popular, Flora.

COMPARATIVE STUDY ON THE USE OF MEDICINAL PLANTS IN TWO CITIES

PARAIBANAS BELONGING TO MESOREGIONS OF SERTÃO AND OF WESTERN

CURIMATAU

ABSTRACT - The ethnobotany as a science, links to botany and anthropology, and studies the

interactions between people and plants in dynamic systems. This research aims to conduct a

comparative study on the use of medicinal plants in two cities paraibanas mesoregions belonging of

Sertão (Cajazeiras) and Western Curimataú (Remígio). The municipality shows Cajazeiras as

predominant vegetation to savanna, has hot and dry climate. The municipality of Remigio shows a

humid tropical climate and lush vegetation consists of wet forests and savanna. This research was

conducted through visits to the residences of the informants and application of a semi-structured

questionnaire that addressed the educational level of the interviewees, and knowledge of them on

_______________________________________________________________________________ 1 Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),

Centro de Ciências Biológicas, Recife, Pernambuco, Brasil: [email protected] 2 Mestre em Ciências Florestais,

Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, Patos, Paraíba,

Brasil: [email protected] 3 Professora Drª, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Unidade

Acadêmica de Ciências Biológicas, Patos, Paraíba, Brasil: [email protected] 4 Doutorando em Ciências

Florestais, Universidade de Brasília (UnB), Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais, Brasília, Distrito

Federal, Brasil: [email protected]

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medicinal plants. For this study, 40 people were interviewed, 20 in each municipality. The age

range of the interviewees is between 20 and 85 years and women represent 65% of respondents in

each study area. Respondents cited a total of 35 medicinal species belonging to 33 genera and 21

families. The most representative families were Asteraceae and Lamiaceae with four species and

Fabaceae with three species. Municipality of Remígio indications use most cited were: analgesic,

digestive, rheumatisn, anti-inflammatory, soothing, asthma and intestinal problems for the

municipality of Cajazeiras differ little, analgesic, digestive, anti-inflammatory, soothing, healing,

rheumatisn and expectorant. The variety of use of medicinal plants in these areas evidence the

medicinal potential of the species. This research as well as others in the same area comes with the

intention of rescuing traditional knowledge about the use of phytotherapics.

Uniterms: Ethnobotany, Knowledge popular, Flora.

INTRODUÇÃO

A utilização dos recursos vegetais com fins terapêuticos remonta ao início da civilização

humana, confundindo-se com a própria origem do homem, e consiste na busca da cura das doenças

através do uso das plantas medicinais.

As informações sobre o uso e as virtudes terapêuticas das plantas medicinais foram sendo

acumuladas através dos séculos e a utilização de suas propriedades representa uma forma de

tratamento e cura das doenças (Dantas & Guimarães, 2007), principalmente por populações urbanas

de origem rural, onde a utilização dos recursos naturais é orientada por um conjunto de

conhecimentos resultantes da relação com o ambiente natural na qual estavam inseridas bem como

pelas relações sociais em que estão imersas no meio urbano (Oliveira. Oliveira. Andrade, 2010).

Contudo urbanização das cidades e a migração da população rural para a área urbana muitas

vezes levam à perda do conhecimento sobre as plantas medicinais. Seja em função do

distanciamento das plantas ou da falta de interesse no aprendizado de suas propriedades, as novas

gerações parecem estar perdendo este conhecimento, acumulado pelos seus antepassados (Veiga

Junior, 2008).

Desta forma estudos relacionados com a medicina popular têm merecido cada vez mais

atenção devido a gama de informações e esclarecimentos que fornecem à sociedade contemporânea.

Pois ainda é notável o crescente número de pessoas interessadas no conhecimento de plantas

medicinais principalmente pela consciência dos males causados pelo excesso de remédios químicos

(Parente, 2001).

A Etnobotânica apresenta como característica básica de estudo o contato direto com as

populações tradicionais, procurando uma aproximação e vivência que permitam conquistar a

confiança destas comunidades, resgatando, assim, todo conhecimento possível sobre a relação de

afinidade entre o homem e as plantas de uma comunidade. Portanto, o estudo etnobotânico é o

primeiro passo para um trabalho multidisciplinar envolvendo botânicos, engenheiros florestais,

engenheiros agrônomos, antropólogos, médicos, químicos, entre outros, para se estabelecer quais

são as espécies vegetais promissoras para pesquisas agropecuárias e florestais, justificando assim

seu uso e sua conservação (Rodrigues & Carvalho, 2001).

O consumo de espécies medicinais é uma prática que tem sido cada vez mais disseminada

pelas comunidades pertencentes a região Nordeste, segundo Mosca & Loiola (2009), apesar da

grande influência dos meios de comunicação e do número crescente de farmácias na região

Nordeste, a mesma destaca-se por apresentar frequência na utilização das plantas medicinais tanto

na zona rural como no meio urbano, neste último uma das principais formas de propagação do uso

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das plantas e suas utilidades é realizada por raizeiros encontrados em pontos estratégicos de

algumas cidades.

Para o estado da Paraíba existem cerca de 50 trabalhos abordando o tema plantas medicinais,

contudo para a cidade de Remígio não há registros de trabalhos com o tema, não sendo, conhecidas

as espécies medicinais utilizadas pela população desta cidade, para a cidade paraibana de Cajazeiras

existe registro de apenas um trabalho enfatizando o tema plantas medicinais, o mesmo foi

desenvolvido em área de assentamento, na zona rural deste município, por (Araujo, 2009). Diante

do exposto é objetivo deste trabalho conhecer as espécies medicinais utilizadas nessas duas cidades

paraibanas localizadas nas mesorregiões do sertão e do e do Curimataú Ocidental, fazendo assim

uma análise comparativa entre as indicações de uso, as partes utilizadas, as espécies medicinais

consumidas e as formas de utilização das plantas medicinais.

METODOLOGIA

Área de Estudo

Esta pesquisa foi desenvolvida nos municípios de Cajazeiras e Remígio, localizados

respectivamente nas mesorregiões do Sertão e do Curimataú Ocidental no estado da Paraíba (Figura

1).

Fonte: (IBGE, 2013; Mapas Brasil, 2013).

Figura 1. Localização das áreas de estudo, municípios de Cajazeiras - PB e Remígio - PB.

O município de Remígio está localizado na microrregião do Curimataú Ocidental, com

altitude variando de 500 e 550 metros. O clima predominante, segundo a classificação de Koppen

(1948), é do tipo Asi: áreas com clima tropical úmido apresentando verão seco. O período seco está

compreendido entre setembro e fevereiro. O suporte econômico de Remígio é a lavoura,

destacando a agricultura de sequeiro que prevalece com as culturas de subsistência como cana-de-

açúcar, mandioca, feijão, milho, algodão, banana, laranja e outros.

A vegetação é composta pela floresta latifoliada de brejos de altitude e vegetação de

caatinga, as famílias mais freqüentes são: Euphorbiaceae, Fabaceae, Rubiaceae, Anacardiaceae, e

Myrtaceae. Entre as espécies arbóreas destacam-se o pau d’arco amarelo (Tabebuia serratifolia

(Vahl) G. Nichols.), canafístula (Senna spectabilis (DC.) Irwin & Barneby). Também apresenta

espécies de caatinga, onde predominam as espécies pertencentes a família Fabaceae: Catingueira

(Poincianella pyramidalis (Tul.) L.P.Queiroz), Pau-ferro (Libidibia ferrea (Mart. ex Tul)

L.P.Queiroz) e Feijão Bravo (Capparis flexuosa (L.) L.) da família Capparaceae (Pereira et al.,

2002). Esta é uma área que está localizada entre mesoregiões como o Cariri e microrregiões como o

38˚34’ 35˚46’

6˚53’

6˚56’

Figura modificada

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brejo paraibano, sendo considerada uma área em transição, e uma região importante para a cultura

de plantas medicinais.

Já o município de Cajazeiras, inserido na extremidade ocidental do estado possui clima,

segundo a classificação de Koppen (1948), do tipo BSh. A estação seca ocorre nos meses de

setembro a dezembro e a chuvosa restringe-se a um período de 3 a 4 meses por ano.

O suporte econômico de Cajazeiras tem destaque na área de prestação de serviços, seguido

das atividades de pecuária e agricultura de subsistência, com cultivo de feijão, milho, arroz e outros.

A vegetação é caatinga arbustiva arbórea, classificada, segundo (Veloso. Rangel Filho.

Lima, 1991), como savana estépica, com ocorrência de cactáceas, arbustos e árvores de pequeno,

médio e de grande porte. O regime pluviométrico é baixo e irregular com médias anuais de

880,6 mm/ano.

Coleta de Dados

A pesquisa foi realizada através de visita a residência dos informantes e aplicação de questionários

semiestruturados nas duas comunidades (Anexo 1), o mesmo continha questões sobre o perfil social

dos entrevistados (idade e nível de escolaridade), espécies de plantas medicinais utilizadas por

estes, partes da planta utilizadas (folhas, flores, raízes, casca, frutos, sementes e parte aérea da

planta) e finalidade de uso. Para que a entrevista pudesse ser realizada, o entrevistado tinha que

demonstrar interesse em contribuir com o trabalho e ser maior de 18 anos. Um checklist foi

elaborado contendo nomes científicos, nomes populares e família botânica de cada espécie, bem

como as finalidades terapêuticas do uso dessas plantas e as parte(s) utilizada(s). Nas duas

mesorregiões estudadas foram entrevistadas 40 pessoas, 20 pessoas em cada cidade.

A identificação das espécies citadas pelos entrevistados em ambos os municípios foi

realizada no momento das entrevistas com o acompanhamento dos informantes, nas próprias

residências ou em locais indicados por estes, através de consulta a bibliografias especializadas.

Quando o reconhecimento não foi possível no momento das entrevistas, o material botânico foi

coletado e comparado com exsicatas existentes no Herbário CSTR da Universidade Federal de

Campina Grande campus de Patos, Paraíba.

Análise dos Dados

Os resultados obtidos em cada cidade, foram correlacionados, quanto as espécies utilizadas,

a forma de uso e suas indicações. Esses parametros auxiliarão na avaliação da utilização das

espécies citadas nos diferentes municípios e microrregiões paraibanas.

A indicação problemas intestinais refere-se neste trabalho a diarréia, cólicas intestinais e

carminativo.

A indicação de mal estar refere-se a enjôo, dor de cabeça e sensação de desequilíbrio.

Planta inteira considerada neste trabalho refere-se à utilização de toda a parte aérea da planta

medicinal.

As recomendações referentes à finalidade de uso das plantas medicinais foram

contabilizadas, podendo uma ou mais espécies medicinais apresentarem as mesmas indicações de

uso, e essas serem citadas por mais de um entrevistado.

Para este estudo as espécies de plantas medicinais citadas, foram classificadas quanto à

origem, se nativo ou exótico e quanto ao hábito, se arbustivo, subarbustivo, herbáceo ou arbóreo.

Para a análise dos dados foi utilizando o programa Microsoft Excel 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Os entrevistados das áreas de estudo citaram um total de 35 espécies, pertencentes a 33

Gêneros e 21 famílias botânicas. Resultados semelhantes foram encontrados por (Medeiros.

Fonseca. Andreata, 2004), em um estudo realizado com os sitiantes da Reserva Rio das Pedras,

Mangaratiba- RJ, onde o número de espécies encontados foi 36, sendo essas pertencentes 34

gêneros e 25 famílias.

As famílias mais representativas em relação ao número de espécies citadas foram Asteraceae

e Lamiaceae com quatro espécies cada família e Fabaceae com tres espécies, estas famílias também

foram mais representativas em outros estudos desenvolvidos por (Lucena et al., 2013; Cunha &

Bortolotto, 2011). Analizando os dados separadamente temos para o município de Cajazeiras a

ocorrência de 15 espécies e para o município de Remígio foram registradas 30 espécies, sendo que

10 espécies são comuns nos dois municípios: Chenopodium ambrosoides L., Cymbopogon citrates

(DC.) Stapf., Lippia alba (Mill.) N. E. Br., Mentha x villosa Huds., Peumus boldus Molina.,

Phyllantus niruri L., Pimpinella anisum L., Punica granatum L., Rosmarinus officinalis L. e Ruta

graveolens L. (Tabela 1). O município de Remígio apresentou um maior número de espécies

utilizadas na medicina popular.

No município de Cajazeiras a família Lamiaceae é a mais representativa em número de

espécies. As espécies mais citadas neste município foram: Chenopodium ambrosoides L.,

Cymbopogon citrates (DC.) Stapf., Lippia alba (Mill.) N. E. Br., Mentha x villosa Huds. e

Pimpinella anisum L..

Para o município de Remígio as famílias Asteraceae (tres espécies), e Lamiaceae (cinco

ssp), foram as mais representativas em número de espécies. As espécies mais citadas pelos

entrevistados desta cidade foram: Aloe vera (L.) Burm. F., Cymbopogon citrates (DC.) Stapf.,

Lippia alba (Mill.) N. E. Br., Pimpinella anisum L., Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.,

Plectranthus barbatus Andrews e Vernonia condensata Baker.

Dados próximos aos encontrados nos dois municípios foram obtidos por Soares, et al.

(2009), em uma pesquisa realizada com a população de Gurinhém-PB, dentre as espécies de plantas

medicinais utilizadas as mais mencionadas foram: capim-santo (Cymbopogon citratus Stapf.);

hortelã-da-folha-miúda (Mentha x villosa Huds.); erva cidreira (Lippia alba (Mill.) N.E. Brown e

arruda (Ruta graveolens L.).

Quanto a origem das plantas medicinais usadas pelas comunidades estudadas, 51% das

espécies são de origem exótica e 49% é nativa do Brasil (Tabela 1). Lucena et al. (2013), obteve

resultados semelhantes em uma pesquisa realizada na comunidade urbana de Lagoa, sertão

paraibano, nesta pesquisa 50% das espécies utilizadas na medicina popular eram de origem nativa.

Observa-se também que o hábito predominante entre as especies citadas foi o herbáceo (32,35%),

seguido pelo arbóreo (29,41%), subarbustivo (26,47%) e arbustivo (11,76%) (Tabela 1).

Tabela 1: Plantas medicinais utilizadas pelas comunidades estudadas, Família botânica, nome

científico e popular, origem das espécies citadas e hábito, classificadas em ordem alfabética de

família.

Família/Espécie Nome

Popular Origem Hábito

Adoxaceae

Sambucus australis Cham. & Schltdl.* Sabugueiro Nativa Arbustivo

Amaranthaceae

Chenopodium ambrosoides L.*** Mastruz Nativa Herbáceo

Anacardiaceae

Anacardium occidentale L.* Cajueiro Roxo Nativa Arbórea

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Myracrodruon urundeuva Allemão** Aroeira Nativa Arbórea

Apiaceae

Pimpinella anisum L.*** Erva doce Exótica Herbáceo

Anethum graveolens L.* Endro Exótica Herbáceo

Asteraceae

Achillea millefolium L.* Anador Exótica Herbáceo

Egletes viscosa (L.) Less.** Macela Nativa Herbáceo

Solidago chilensis Meyen* Arnica Nativa Subarbustivo

Vernonia condensata Baker * Boldo Nativa Arbustivo

Brassicaceae

Nasturtium officinale R. Br.** Agrião Exótica Herbáceo

Crassulaceae

Bryophyllum Pinnatum (Lam.) Oken* Saião Exótica Subarbustivo

Fabaceae

Stryphnodendron adstringen (Mart.) Cov.* Babatenon Nativa Arbórea

Hymenaea courbaril L.* Jatobá Nativa Arbórea

Amburana cearensis (Allemão)A.C.Sm.** Cumarú Nativa Arbórea

Lamiaceae

Rosmarinus officinalis L.*** Alecrim Exótica Subarbustivo

Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.* Hortelã

Grosso

Exótica Subarbustivo

Mentha x villosa Huds.*** Hortelã Miúdo Exótica Herbáceo

Mentha pulegium L.* Poejo Exótica Herbáceo

Plectranthus barbatus Andrews* Sete-dores Exótica Subarbustivo

Lauraceae

Persea americana Mill.* Abacate Nativa Arbórea

Laurus nobilis L.* Louro Exótica Arbórea

Lythraceae

Punica granatum L.*** Romã Exótica Arbustivo

Monimiaceae

Peumus boldus Molina. *** Boldo do

Chile

Exótica Subarbustivo

Myrtaceae

Eucalyptus globulus Labill.* Eucalipto Exótica Arbórea

Eugenia uniflora L.* Pitanga Nativa Arbustivo

Phyllantaceae

Phyllantus niruri L.*** Quebra-pedra Nativa Herbáceo

Poaceae

Cymbopogon citrates (DC.) Stapf.*** Capim-santo Nativa Herbáceo

Rutaceae

Ruta graveolens L.*** Arruda Exótica Subarbustivo

Citrus aurantium L.* Laranjeira Exótica Arbórea

Sapotaceae

Sideroxylon obtusifolium (Roem.&

Schult.) T.D.Penn. *

Quixabeira Nativa Arbórea

Urticaceae

Urtica dioica L.* Urtiga Branca Nativa Subarbustivo

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Verbenaceae

Lippia alba (Mill.) N. E. Br.*** Erva cidreira Nativa Subarbustivo

Xanthorrhoeaceae

Aloe vera (L.) Burm. F.* Babosa Exótica Erva suculenta

Zingiberaceae

Zingiber officinalis Roscoe.** Gengibre Exótica Subarbustivo *Espécies encontradas somente no município de Remígio, **Espécies encontradas somente no município de Cajazeiras,

***Espécies encontradas nos dois municípios.

O hábito herbáceo também foi predominante no trabalho desenvolvido em Caicó – RN,

(Roque. Rocha. Loiola, 2008), esses autores afirmam que o elevado número de citações de

herbáceas pode está ligado a diversos fatores: facilidade de coleta das plantas com esse hábito,

maior disponibilidade no curto período das chuvas (geralmente janeiro-março), o que coincide

também com o surgimento de diversas doenças respiratórias e algumas espécies herbáceas são

infestantes de lavouras, e por conter uso específico são toleradas pelos agricultores.

A faixa etária dos entrevistados está entre 20 e 85 anos. No município de Cajazeiras não

foram registrados indivíduos com idade acima de 70 anos, sendo que 50% dos entrevistados nesta

cidade apresentaram idade superior a 50 anos, para o município de Remígio a idade mínima dos

entrevistados foi de 27 anos, e 80% destes, estão acima dos 50 anos de idade.

Calábria et al. (2008), durante a realização do levantamento etnobotânico e etnofarmacológico de

plantas medicinais em Indianópolis-MG, encontrou como faixa etária mais frequente entre os

entrevistados 61-70 anos (26,3%), seguida por 51-60 anos (23,7%). Em outros estudos, a idade

média encontrada é de 46,2 anos (Ming & Amaral Junior, 2003) e de 56-72 anos (Rodrigues &

Carvalho, 2001).

Quanto ao sexo dos entrevistados, as mulheres foram maioria nas duas áreas abordadas,

estando representadas por 65% dos entrevistados, e os homens estando representados por 35% dos

entrevistados. Resultados semelhantes foram registrados para o estado do Rio Grande do Norte, em

um estudo realizado por Mosca & Loiola, 2009, nesta pesquisa a porcentagem de mulheres foi de

76% e por Marinho, Silva, Andrade, 2011.

Quanto ao grau de escolaridade dos entrevistados, na cidade de Remígio 70% das pessoas

possuem o primeiro grau incompleto, 10% são analfabetos, 10% possuem segundo grau completo e

10% possuem segundo grau incompleto. Em Cajazeiras 45% das pessoas possuem o primeiro grau

completo, 30% possuem primeiro grau incompleto e 25% são pessoas analfabetas.

A transmissão dos conhecimentos sobre plantas medicinais pelos entrevistados da cidade de

Remígio é realizada através dos pais (55%), avós (20%), e também por outros meios de

comunicação como livros, revistas e programas áudio-visuais (25%). Os entrevistados da cidade de

Cajazeiras também citaram os pais (20%), os avós (75%), livros, revistas e programas áudio-visuais

(05%), como forma de aquisição dos conhecimentos sobre espécies vegetais de uso medicinal.

Pode-se observar nos dois municípios que a tradição familiar ainda é uma das formas mais comuns

de transmissão dos conhecimentos sobre utilização dos recursos vegetais, para combater ou tratar de

doenças. Resultados semelhantes foram observados também por (Oliveira. Oliveira. Andrade,

2010).

As plantas medicinais são utilizadas para as mais diversas finalidades nas duas áreas

estudadas (Tabela 2), no município de Remígio as indicações mais freqüentes de uso dos

fitoterápicos foram: analgésico, digestivo, reumatismo, antiinflamatório, calmante, asma, e

problemas intestinais, para o município de Cajazeiras pouco diferiram, sendo as indicações mais

frequentes, analgésico, digestivo, antiinflamatório, calmante, cicatrizante, reumatismo e

expectorante (Figura 1).

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Guerra et al. (2010) obteve como indicações terapêuticas mais citadas pela comunidade

Moacir Lucena em Apodi – RN, cicatrização de ferimentos, antiinflamatórios, dores de cabeça,

intestinais e musculares, calmante, transtornos digestivos e sintomas gripais. Todas as indicações

encontradas por (Guerra et al., 2010) também foram citadas pelas comunidades entrevistadas.

As indicações de uso mencionadas abaixo, foram citadas no máximo cinco vezes pelas

pessoas entrevistadas nas duas comunidades, são estas: amidalite, antiamenorréica,

antiespasmódica, bexiga, controle do sistema nervoso, diurético, estimulantes, faringite, fígado,

fortificante do estômago, furúnculo, gripe, insônia, laringite, mal estar e rouquidão, sendo citadas

para a comunidade de Cajazeiras. Para a comunidade de Remígio foram citadas: amidalite,

antiamenorréica, antimicrobiana, antiespasmódica, antiplasmódicas, anti-séptico, bexiga, controle

do sistema nervoso, diurético, dor de cabeça, faringite, febre, fígado, frieira, fortificante do

estômago, gripe, laringite, hemorróidas, infecção, queimaduras, sudorífero, tratamento de diabetes,

tosse, úlceras e vermífugo, sendo 17 e 25 indicações de uso, respectivamente para as comunidades

de Cajazeiras e Remígio (Tabela 2).

Tabela 2: Plantas medicinais utilizadas pelas comunidades de Cajazeiras e Remígio, parte utilizada

e indicações de uso distribuídas em ordem alfabética de espécies

Nome

Científico

CAJAZEIRAS REMÍGIO

Parte

Utilizada Indicações

Parte

Utilizada Indicações

A. millefolium - - Folhas Dor de cabeça

A. cearensis Casca Gripe - -

A. graveolens - - Flor Analgésicas

A. occidentale - - Entrecasca Antiinflamatório, diarréia,

Asma

A. vera - - Folhas

Cicatrizante,

queimaduras, úlceras e

hemorróidas

C. ambrosoides Folhas e

sementes

Pneumonia,

rouquidão e cálculo

renal

Toda a planta Pneumonia, Vermífugo

C. aurantium - - Flor Antiplasmódica, controle

do sistema nervoso

C. citrates - - Folhas Febre

E. viscose Sementes

Controle do sistema

nervoso, mal estar,

insônia.

- -

E. globules - - Folhas Anti-séptico, Asma,

digestivo

E. uniflora - - Fruto Diarréia

H. courbaril - - Casca Anti-séptico

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L. nobilis - - Folha Reumatismo

L. Alba - - Folhas

Digestivo, reumatismo,

calmante, sudorífero,

Febre

M. urundeuva Casca Feridas, furúnculo,

reumatismo - -

N. officinale Folhas e

talos Expectorante - -

M. villosa Folhas

Antiespasmódica,

carminativo, dores

estomacais,

estimulantes

Folha Diarréia, corrimento

varginal

M. pulegium - - Folha

Tosse, dores estomacais,

cólicas intestinais,

carminativo

P. Americana - - Folha Reumatismo, rins, bexiga

e fígado

P. boldus Folhas Asma Folhas Asma

P. niruri Folhas

Diurético, fortificante

do estômago,

analgésica

Folhas

Cálculos renais,

Diurético, fortificante do

estômago, analgésica

P. anisum Folhas Expectorante,

digestivo Flor Expectorante, digestivo

P. amboinicus - - Folha Gripe

P. barbatus

Folhas, flores Dor de cabeça

R. officinalis Folha, flor, raiz Analgésico e

antiinflamatório Folha, flor, raiz Analgésico

P. granatum

Casca do fruto

e Sementes

Antiinflamatório,

amidalite, faringite,

laringite

Casca do fruto e Sementes

Antiinflamatório, amidalite,

faringite, laringite

R. graveolens Folhas Antiamenorréica,

calmante Folhas

antiamenorréica, vermífuga,

calmante

S. australis - - Flor Diurético, Antiinflamatório,

Gripes

S. chilensis - - Folha, flor e raiz Feridas

S. obtusifolium - - Entrecasca Antiinflamatório, tratamento de

diabetes

S. adstringen - - Casca Infecção, Feridas

U. dióica - - Folhas Frieira

V. condensate - - Folhas Digestivo

Z. officinalis Raiz Amidalite, faringite -

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Figura 1. Indicações de uso dos fitoterápicos pelas comunidades estudadas

De acordo com Teixeira (2006), as plantas medicinais adquiridas e cultivadas com maior

frequencia para o uso pelas populações, são aquelas empregadas como analgésicos e para

transtornos digestivos.

Lima, Magalhães, Santos (2011) ao realizarem Levantamento Etnobotânico de Plantas

Medicinais Utilizadas na Cidade de Vilhena, Rondônia, observaram que as doenças mais citadas

pelos moradores foram àquelas relacionadas com as do aparelho respiratório (gripe, febre, tosse,

resfriados e bronquite), seguidos pelas dores (barriga, cabeça, fígado, estômago, renais, dente,

garganta e ouvido), vermes, infecções e cicatrizantes.

Os entrevistados justificaram que fazem uso de plantas para tratar suas enfermidades, porque

já é tradição familiar, pela eficácia que as plantas medicinais apresentam tanto quanto remédios

farmacêuticos e também por ser economicamente viável, pois os fármacos muitas vezes apresentam

valor de aquisição alto, tornando-se inviáveis para comunidades de baixa renda.

Contudo os informantes dos dois municípios que apresentaram faixa etária de idade entre 20

a 39 anos afirmaram que utilizam plantas medicinais em uma frequencia muito baixa, e alegaram

que preferem não utilizar as plantas medicinais ou utilizar esporadicamente, por não terem certeza

da forma de preparo, quantidade utilizada e tempo de uso dessas plantas. Os mesmos só fazem uso

das plantas medicinais quando recomendadas pela pessoa mais antiga da família (avós, pais, tios).

Esses resultados mostram que a cultura do uso de espécies vegetais como alternativa para

tratamento de doenças está se extinguindo entre as comunidades mais jovens, um dos motivos, a

distribuição gratuita de remédios nos centros de saúde e a vivência nos centros urbanos, o que tem

distanciado os indivíduos das florestas, os resultados obtidos quanto a origem dos entrevistados nas

áreas estudadas comprovam essa afirmativa, nos municípios de Cajazeiras e Remígio 70% e 90%

respectivamente das pessoas que utilizam plantas medicinais são oriundos da Zona Rural. De

acordo com Veiga Junior (2008) as comunidades rurais estão intimamente ligadas aos usos de

planas medicinais, por estas serem, na maioria das vezes, o único recurso disponível para o

tratamento de doenças na região.

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Nos dois municípios estudados as folhas foram citadas como a parte da planta mais utilizada

no preparo de remédios a base de plantas, sendo também citadas, as cascas, raízes, flores e outras

(planta inteira) (Figura 2). Sendo as folhas, mais utilizadas, devido a facilidade de colheita.

Castellucci et al. (2000) e Jacoby et al. (2002), obtiveram os mesmos resultados em pesquisas

desenvolvidas no município de Luís Antonio – SP e na comunidade rural de Guamirim, Município

de Irati, PR, respectivamente.

De acordo com Guerra et al. (2010), as folhas são as partes mais citadas devido a sua

disponibilidade na planta a maior parte do ano e por apresentar maiores quantidades de princípios

ativos que causam a cura de enfermidades.

Figura 2. Partes das plantas medicinais utilizadas nas duas comunidades estudadas

A forma de uso dos fitoterápicos predominante nos dois municípios foi o chá, sendo mais

representativo no município de Remígio (68,6%), em relação a Cajazeiras (44,9%), outras formas

de usos das plantas medicinais também foram diagnosticadas (Figura 3). O Chá também foi a forma

de uso mais citada em trabalhos desenvolvidos por (Marinho, 2006; Lucena et al., 2013).

Pasa, Soares, Guarim Neto (2004), desenvolvendo pesquisa em uma comunidade em

Conceição-Açu no Mato Grosso do Sul também obtiveram o chá como forma de uso mais

expressiva entre os entrevistados, neste estudo outras formas também foram relatadas entres essas

estão a infusão e a maceração.

Figura 3. Forma de uso das plantas medicinais utilizadas pelos entrevistados nas duas áreas

estudadas

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Na cidade de Remígio 10% dos entrevistados comercializam plantas medicinais, cultivam e

participam de oficinas etnobotânicas com comunidades de outros municípios da Paraíba e do Rio

Grande do Norte, para Cajazeiras não foi registrado comércio de espécies vegetais entre os

entrevistados, nem cultivo de espécies medicinais.

De acordo com Azevedo & Kruel (2007), o uso e o comércio de plantas vêm sendo

estimulados, nas últimas décadas, pela necessidade crescente da população que busca uma maior

diversidade e quantidade de plantas para serem utilizadas no cuidado da saúde e também aplicadas

em tradições religiosas.

CONCLUSÃO

O uso das plantas medicinais nas áreas de estudo, evidencia o potencial medicinal das

espécies. No entanto, este tipo de cultura esta se extinguindo ao longo dos anos, estando presente

apenas na memoria das pessoas mais antigas.

Este trabalho vem com o intuito de resgatar o conhecimento tradicional sobre o uso dos

fitoterápicos, auxiliando como base de apoio a ciência, que tem buscado mais conhecimento das

propriedades terapêuticas das plantas medicinais e inserir esse uso das plantas no cotidiano das

comunidades.

A disseminação da informação sobre as plantas medicinais, nos espaços residenciais,

espaços públicos de feiras livres é de fundamental importância para a permanencia do uso das

mesmas. A preservação dessa herança cultural fortalece a disseminação das quais precisa ser

mantida por gerações, através de fontes formal ou informal acessível.

AGRADECIMENTOS

Às comunidades pertencentes aos municípios de Cajazeiras e Remígio, Paraíba, pelos

conhecimentos prestados para a elaboração deste trabalho científico etnobotânico.

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