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56 ____________________________ISSN 1983-4209 – Volume 08 – Número 02 – 2012 AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL EM LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA: ESTUDO DE CASO DA HERPETOFAUNA. Francisca Vitória Amaral Nobrega 1 ; Marcos Antonio Nobrega de Sousa 2 RESUMO - Existem metodologias para a realização da gestão ambiental em linhas de transmissão de energia elétrica. No entanto, elas não atingem todos os objetivos de uma completa análise do meio biótico, principalmente em relação à fauna. A metodologia utilizada neste trabalho, pesquisa qualitativa de estudo de caso, foi aplicada ao trabalho desenvolvido na elaboração de um levantamento de herpetofauna componente do relatório ambiental simplificado (RAS) da Linha de transmissão 230 Kv entre as subestações Goianinha, PE e Mussuré, PB, circuito 3 com o objetivo de comparar o referencial metodológico existente para análise de impacto ambiental em sistema de linhas de transmissão de energia com as práticas e ações do referido estudo de caso no meio biótico. Constata-se que apenas a observação do local de estudo utilizando matrizes, questionários ou através de registros visuais não garante uma análise completa dos impactos ambientais no meio biótico, nem um EIA/RIMA satisfatório. É necessário realizar uma coleta de dados completa, como demonstra o trabalho realizado em Goianinha – Mussuré, com levantamento de fauna e captura de espécies tanto na época chuvosa e quanto na seca, de modo a analisar o impacto do eletromagnetismo na fauna terrestre e propor medidas mitigadoras. Mesmo sabendo que o investimento das empresas para avaliação de impacto ambiental geralmente é escasso, é necessário ter um equilíbrio entre rapidez e qualidade do resultado, fato observado na metodologia aqui proposta. Unitermos: Linhas de Transmissão, Avaliação de Impacto Ambiental, Meio Biótico. ENVIRONMENTAL IMPACT ASSESSMENT IN TRANSMISSION LINES OF ELECTRIC POWER: A CASE STUDY OF THE HERPETOFAUNA. ABSTRAT - There are methodologies for the environmental management in transmission lines of electricity. However, they do not reach all the goals of a comprehensive analysis of the biota, especially in relation to wildlife. The methodology used in this study, qualitative research case study was applied to the work done in preparing a survey of herpetofauna component of simplified environmental report (SAR) of the 230 kV transmission line between substations Goianinha, and Mussuré PE, PB, 3 circuit in order to compare the existing methodological framework for environmental impact assessment system for power transmission lines with the practices and actions of this case study in biota. It appears that only the observation of the study site using matrices, questionnaires or through visual records does not warrant a full analysis of environmental impacts in the biota, or an EIS / EIR satisfactory. You must perform a complete data collection, as demonstrated by the work done in Goianinha - Mussuré, with survey and capture wildlife species both in the rainy season and the dry seasons, in order to analyze the impact of electromagnetism in the terrestrial fauna and propose measures mitigation. Even though business investment for environmental impact assessment is usually scarce, you need a balance between speed and quality of the result, which was observed in the methodology proposed here. 1 Bióloga pela Universidade Estadual da Paraíba e Especialista em Gestão Ambiental. [email protected] 2 Biólogo, Prof. Dr. do Departamento de Ciências Animais – DCAN, UFERSA, [email protected] . Av. Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN CEP: 59.625-900. Recebido em 10/07/2012 Aceito para publicação em 17/09/2012

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____________________________ISSN 1983-4209 – Volume 08 – Número 02 – 2012

AVALIAÇÃO DE IMPACTO AMBIENTAL EM LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA: ESTUDO DE CASO DA HERPETOFAUNA.

Francisca Vitória Amaral Nobrega1; Marcos Antonio Nobrega de Sousa2

RESUMO - Existem metodologias para a realização da gestão ambiental em linhas de transmissão de energia elétrica. No entanto, elas não atingem todos os objetivos de uma completa análise do meio biótico, principalmente em relação à fauna. A metodologia utilizada neste trabalho, pesquisa qualitativa de estudo de caso, foi aplicada ao trabalho desenvolvido na elaboração de um levantamento de herpetofauna componente do relatório ambiental simplificado (RAS) da Linha de transmissão 230 Kv entre as subestações Goianinha, PE e Mussuré, PB, circuito 3 com o objetivo de comparar o referencial metodológico existente para análise de impacto ambiental em sistema de linhas de transmissão de energia com as práticas e ações do referido estudo de caso no meio biótico. Constata-se que apenas a observação do local de estudo utilizando matrizes, questionários ou através de registros visuais não garante uma análise completa dos impactos ambientais no meio biótico, nem um EIA/RIMA satisfatório. É necessário realizar uma coleta de dados completa, como demonstra o trabalho realizado em Goianinha – Mussuré, com levantamento de fauna e captura de espécies tanto na época chuvosa e quanto na seca, de modo a analisar o impacto do eletromagnetismo na fauna terrestre e propor medidas mitigadoras. Mesmo sabendo que o investimento das empresas para avaliação de impacto ambiental geralmente é escasso, é necessário ter um equilíbrio entre rapidez e qualidade do resultado, fato observado na metodologia aqui proposta.

Unitermos: Linhas de Transmissão, Avaliação de Impacto Ambiental, Meio Biótico.

ENVIRONMENTAL IMPACT ASSESSMENT IN TRANSMISSION LINES OF ELECTRIC

POWER: A CASE STUDY OF THE HERPETOFAUNA.

ABSTRAT - There are methodologies for the environmental management in transmission lines of electricity. However, they do not reach all the goals of a comprehensive analysis of the biota, especially in relation to wildlife. The methodology used in this study, qualitative research case study was applied to the work done in preparing a survey of herpetofauna component of simplified environmental report (SAR) of the 230 kV transmission line between substations Goianinha, and Mussuré PE, PB, 3 circuit in order to compare the existing methodological framework for environmental impact assessment system for power transmission lines with the practices and actions of this case study in biota. It appears that only the observation of the study site using matrices, questionnaires or through visual records does not warrant a full analysis of environmental impacts in the biota, or an EIS / EIR satisfactory. You must perform a complete data collection, as demonstrated by the work done in Goianinha - Mussuré, with survey and capture wildlife species both in the rainy season and the dry seasons, in order to analyze the impact of electromagnetism in the terrestrial fauna and propose measures mitigation. Even though business investment for environmental impact assessment is usually scarce, you need a balance between speed and quality of the result, which was observed in the methodology proposed here.

1 Bióloga pela Universidade Estadual da Paraíba e Especialista em Gestão Ambiental. [email protected] 2 Biólogo, Prof. Dr. do Departamento de Ciências Animais – DCAN, UFERSA, [email protected]. Av. Francisco Mota, 572, Bairro Costa e Silva, Mossoró-RN CEP: 59.625-900. Recebido em 10/07/2012 Aceito para publicação em 17/09/2012

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Uniterms: Transmission Lines, Environmental Impact Assessment, Biotic Environment. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do setor energético demanda grande disponibilidade de energia elétrica. A geração de energia elétrica, realizada nas usinas hidrelétricas ou em outras fontes de energia, deve ser transmitida, por meio de linhas de transmissão (LT), do local de geração de energia até os locais de uso. As LT constituem empreendimentos lineares com características de interferência ambiental. Seus impactos ambientais se distribuem em centenas ou milhares de quilômetros, ou podem se manifestar em longo prazo, como é o caso dos possíveis impactos biológicos associados à exposição aos campos eletromagnéticos, o que dificulta seu equacionamento e mascara sua relevância (Pires, 2005).

De acordo com o Art. 1º da resolução do Conama 1/86 de 23 de janeiro de 1986, Impacto Ambiental é: "qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: A saúde, a segurança, o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias ambientais; e a qualidade dos recursos ambientais".

Os sistemas de transmissão (linhas e subestações) causam impactos que podem ser agrupados em três grandes formas de interferência: impactos causados pela ocupação do solo; impactos causados pela exposição aos campos eletromagnéticos; impactos visuais relacionados à sua integração com a paisagem. Os efeitos causados pela exposição aos campos eletromagnéticos podem ser percebidos pela indução de corrente e tensão em objetos metálicos, instalações e veículos, sensações desagradáveis ou mesmo pequenas fibrilações ou contrações musculares, interferência nos sinais de rádio e de televisão e por ruídos de faixa ampla, usualmente, descritos como sons de zumbido ou estalido. A interferência na paisagem é outro tipo de impacto causado pelas linhas de transmissão. Com o aumento da demanda de energia e consequente aumento da quantidade de linhas de alta tensão, elas começam a interferir com a paisagem, modificando-a. O impacto visual de uma linha de transmissão é originado principalmente pela repetição contínua de torres e condutores através da linha de visão, tornando-se uma imposição visual que resulta em impacto negativo. A importância desse impacto tem a ver, não somente com sua aparência visual, mas com o conteúdo que evoca, ou seja, seu simbolismo. (Eletrobrás/CPTA/GA-004, 1990a).

A Eletrobrás (1990b) identifica ainda os seguintes impactos ambientais provocados pela implantação de sistemas de transmissão de energia elétrica: a) - possível empobrecimento do solo devido à retirada da cobertura vegetal natural; b) - perda de biodiversidade; c) - interferência no equilíbrio do ecossistema; d) - ocupação espontânea pelo homem de áreas de floresta; e e) - interferência em comunidades indígenas.

As linhas de transmissão são projetadas com base na premissa de que as pessoas e as benfeitorias serão erradicadas da faixa de segurança. Embaixo dos condutores há riscos de descargas elétricas, queda de condutores e estruturas, e existência de campos eletromagnéticos intensos, embora os critérios técnicos procurem reduzir ao máximo esses riscos. Os efeitos causados pela exposição aos campos eletromagnéticos podem ser percebidos pela indução de corrente e tensão em objetos metálicos, instalações e veículos, sensações desagradáveis ou mesmo pequenas fibrilações ou contrações musculares, interferência nos sinais de rádio e de televisão e por ruídos de faixa ampla, descritos como sons de zumbido ou estalido (Eletrobrás/CPTA/GA-005, 1990c).

As linhas de transmissão são projetadas para serem instaladas em faixas de segurança ou servidão. A largura dessas faixas é determinada por critérios de normas técnicas e de segurança, e estão sujeitas a restrições de uso (LTP-AA1.039/2010).

Os impactos sobre o uso do solo surgem antes mesmo da construção, no processo de desapropriação, ou de servidão administrativa para desobstrução da faixa, podendo até haver

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necessidade de remanejamento de população e/ou infraestrutura. Durante a construção, os impactos são motivados pela limpeza da faixa, pelas escavações para as fundações das torres, pela montagem das estruturas, pelo lançamento dos cabos e condutores, ocasionando aumento do tráfego de máquinas e equipamentos, supressão da cobertura vegetal, interferência nos equipamentos sociais e áreas comunitárias, locais de interesse histórico e cultural.

A supressão da vegetação ao longo da faixa de servidão desenha corredores necessários ao desenvolvimento da rede de transmissão de energia elétrica. A introdução desses corredores forma bordas laterais abruptas em ecossistemas florestais. Segundo Netto (1992), o efeito de borda, é o conceito clássico relacionado aos efeitos que se propagam a partir das bordas abruptas criadas pelo desmatamento da floresta e que induzem a uma decadência progressiva do ecossistema, afetando a dinâmica das inter-relações e interdependências entre as espécies de plantas, insetos, pássaros e mamíferos. A diminuição da mata faz com que muitas espécies tornem-se vulneráveis às mudanças da paisagem natural, podendo provocar diminuições nas populações ou o desaparecimento de espécies de habitats específicos.

As Linhas de Transmissão (LT), antes de 1986, eram instaladas sem um estudo prévio de viabilidade ambiental. A resolução do Conama 1/86 de 23 de janeiro de 1986, estabeleceu as definições, responsabilidades, critérios básicos e as diretrizes gerais para o uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental com um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente.

De acordo com a resolução Conama 237/97, que altera a resolução 1/86 e a resolução Conama 279/2001, as linhas de transmissão necessitam passar por processo de licenciamento e elaboração de planos que identifiquem os impactos gerados na implantação e operação, definam os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada, analisam os impactos ambientais e proponham medidas mitigadoras dos impactos negativos. Para o licenciamento ambiental dos empreendimentos com impacto ambiental de pequeno porte, como sistemas de transmissão de energia elétrica (linhas de transmissão e subestações) é utilizado o Relatório Ambiental Simplificado (RAS) juntamente com o Relatório de Detalhamento dos Programas Ambientais (RDPA) para detalhamento de todas as medidas de controle e os programas ambientais propostos no Relatório Ambiental Simplificado (RAS), devendo ser apresentado juntamente com a comprovação do atendimento das condicionantes da Licença Prévia, ao IBAMA, no requerimento da Licença de Instalação.

Alguns autores propõem metodologias para a realização da gestão ambiental em linhas de transmissão de energia. O trabalho consiste de levantamento de informações visuais sobre a flora e a fauna, através de caminhadas no entorno do traçado da futura linha de transmissão por 10 dias consecutivos. Os grupos de animais a serem observados deverão ser: aves, anfíbios, répteis e mamíferos. As espécies registradas serão classificadas de acordo com os seguintes parâmetros: tipo de registro (visual e/ou auditivo), hábito alimentar, ambiente, sensibilidade a distúrbios antrópicos e status de conservação (endemismos, categorias de ameaça e de raridade). (Araújo, et al, 2001; Araújo e Andrade, 2008; Pires, 2005; Carvalho, 2005 e Menezes et al, 2005).

No entanto, estas metodologias não atingem todos os objetivos para uma completa análise do meio biótico, principalmente em relação à fauna, pois não são completamente informativas. Pretende-se comparar o referencial metodológico existente para análise de impacto ambiental em sistema de linhas de transmissão de energia com as práticas e ações do estudo de caso apresentado neste trabalho. Nele foi realizado um inventário de fauna, que fornece uma maneira direta de obter informações sobre a diversidade animal de uma determinada localidade (Silveira, et al, 2010). Esperamos extrapolações futuras para consolidação deste modelo de avaliação de impacto ambiental no meio biótico ser aplicado à implantação de outros sistemas de transmissão de energia no Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

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Área de estudo O estudo de caso refere-se ao trabalho desenvolvido na elaboração do relatório ambiental

simplificado (RAS), da Linha de transmissão 230 Kv, Goianinha, PE / Mussuré, PB, circuito 3 que interliga as subestações de Goianinha, em Condado, PE e Mussuré, em João Pessoa – PB na análise da herpetofauna. A LT de propriedade inicial da Companhia Goiana Transmissora de Energia S.A. (Getesa) atualmente a proprietária das ações da Getesa é a empresa Transmissora Sudeste Nordeste S.A. (TSN).

Nos seus 52 km de extensão, esta linha de transmissão corta remanescentes de Mata Atlântica e áreas de vegetação secundária. A formação vegetal nesta área distribui-se por 4,1% em manchas descontinuas, indicando um alto grau de impacto antrópico. No ambiente de vegetação secundária, predominam gramíneas, com pouca presença de árvores, geralmente, cajueiros. Esta LT tem como área de influência direta do eletromagnetismo para o meio biótico: uma faixa de servidão com 40 metros de largura (Figura 1), onde as intervenções do empreendimento ocorreram de forma mais intensa e direta e uma á área de influência indireta distante aproximadamente 150 metros da primeira, com praticamente nenhum efeito antrópico.

a b Figura 1. a Linha de transmissão em trecho de mata atlântica e b em trecho de tabuleiro (seta: faixa

de servidão). Fonte: Marcos A. N. de Sousa. Esforço amostral A amostragem foi realizada pelo emprego de 40 armadilhas de queda (pitfall-trap) (Figura 2)

na forma de baldes de 20 litros enterrados ao nível do solo e 38 cercas de lona de 50 cm de altura e 4 metros de comprimento (Corn, 1994), dispostos em duas linhas de armadilhas. Uma colocada na faixa de servidão (linha A, área de influência direta) e outra distante cerca de 150 metros da mesma (linha B, área de influência indireta). As linhas foram revisadas duas vezes ao dia (manhã e tarde) durante as duas coletas com seis dias de captura cada, uma no período seco (abril) e uma no chuvoso (junho).

a b

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Figura 2. Linhas de armadilhas de queda. a) linha A e b) linha B. (Seta: balde e lona plástica). Fonte: Marcos A. N. de Sousa.

Esforço e Sucesso de captura

O esforço de captura (armadilhas-dias) foi calculado pela seguinte fórmula: EC = (N° de armadilhas x N° de dias em que elas ficaram armadas)

O sucesso de captura foi calculado a partir da seguinte fórmula:

SC = (N° de espécimes / EC X 100) Cada espécime capturado foi acondicionado em saco plástico, onde foi anotada a data da

captura. As capturas dos indivíduos foram feitas de acordo com a licença Nº. 0652003-CGFAU / LIC fornecida pelo IBAMA. Dados adicionais foram conseguidos através da procura ativa e coleta manual de espécimes que foram realizadas durante o dia e principalmente à noite. Os exemplares capturados foram taxidermizados pelos métodos usuais (Auricchio e Salomão, 2002).

A identificação foi realizada através da comparação com exemplares de coleções, com o uso de chaves de identificação, comparação com a literatura científica e consulta a especialistas. Os espécimes-testemunhas foram depositados na coleção científica do DSE (Departamento de Sistemática e Ecologia) da Universidade Federal da Paraíba.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para os anfíbios durante o período de coleta não foram observadas diferenças entre as espécies coletadas no período seco ou chuvoso. Foram registradas 11 espécies de anfíbios, organizadas de acordo com a taxonomia de (Frost, 2012) (Tabela 1).

Tabela 1. Lista de espécies registradas de anuros.

Ordem Família Espécie Nome popular Bufonidae Rhinella schneideri Sapo cururu Hypsiboas albomarginatus Perereca Dendropsophus melanargyreus Perereca Hylidae Dendropsophus minutus Perereca Scinax rostratus Perereca Anura Phyllomedusa hypochondrialis Rã Brachycephalidae Ischnocnema ramagii Rã-da-mata Leptodactylus troglodytes Gia-pimenta Leptodactylidae Leptodactylus ocellatus Gia-pimenta Leptodactylus labyrinthicus Gia-pimenta Leiuperidae Physalaemus cuvieri Rã-chorona

Nenhuma espécie consta na lista da IUCN 2011. Para os répteis com o mesmo esforço de captura foram registradas 13 espécies de anfíbios,

organizadas de acordo com a taxonomia de (Frost, 2012) Neste grupo foram observadas diferenças entre as coletas; no período seco foram capturadas sete espécies de lacertílios: Tropidurus torquatus, Cercosaura ocellata, Micrablepharus maximiliani, Iguana iguana, Mabuya nigropunctata, Coleodactylus meridionalis, Cnemidophorus ocellifer e três serpentes: Chironius flavolineatus, Tantilla melanocephala e Taeniophalus occiptalis e no período chuvoso dois lacertílios: Amphisbaenia alba, Ameiva ameiva e uma serpente: Sibinomorphus mikanii (Tabela 2).

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Tabela 2. Lista de espécies registradas de répteis.

Ordem Família Espécie Nome popular Amphibaenidae Amphisbaenia alba Cobra de duas cabeças Tropiduridae Tropidurus torquatus Lagartixa Gymnophythalmidae Cercosaura ocellata Calanguinho Micrablepharus maximiliani Calanguinho Iguanidae Iguana iguana Camaleão Scincidae Mabuya nigropunctata Calanguinho Squamata Sphaerodactylidae Coleodactylus meridionalis. Calanguinho Ameiva ameiva Calango Teiidae Cnemidophorus ocellifer Calanguinho Tupinambis teguixin Teju, téiu Colubridae Chironius flavolineatus Cobra-cipó Tantilla melanocephala Cobra Sibnomorphus mikanii Cobra Dipsadidae Taeniophalus occiptalis Cobra

Nenhuma espécie consta na lista da IUCN 2011.

Sucesso de captura Comparando as duas linhas de armadilhas, a linha A (área de influência direta) e linha B

(área de influência indireta), observa-se que a linha B obteve um sucesso de captura maior do que a Linha A (Tabela 3). Este resultado é esperado, visto que a linha B se encontra distante da faixa de servidão e da influência da linha de transmissão. De Paula et al, (2010) em estudo sobre anurofauna de serrapilheira na área de influência da LT Guarulhos-Anhanguera, no interior do Parque Estadual da Cantareira, em trechos de floresta e em áreas onde houve o corte da vegetação para a instalação de torres de transmissão foram encontradas 8 espécies de anuros, na área de mata e nenhuma nas áreas onde foram instaladas as torres devido à supressão da floresta e consequente destruição do habitat para essa comunidade.

No entanto, em estudo com mamíferos, Sousa e Gonçalves (2004) encontraram resultado inverso, maior sucesso de captura na área de influência direta que na indireta, o que justifica ser necessário adotar estudos em diversos grupos faunísticos neste tipo de avaliação de impacto ambiental.

Tabela 3. Sucesso de captura da herpetofauna nos ambientes estudados.

Linha A Linha B Total de animais coletados 29 36 EC =Total de armadilhas-dia 240 240 SC = Sucesso de captura 12% 15%

Impactos no Meio Biótico

Para minimizar os problemas citados acima têm sido propostas algumas medidas mitigadoras, como: a política de adoção de corredores, ou seja, faixas de ligação entre os hábitats, que possibilitam a locomoção dos animais entre as áreas, impedindo o isolamento ou confinamento dos mesmos; outra política é a concentração das obras de infraestrutura ao longo de trechos preferenciais, como rodovias. No entanto, esta medida pode gerar barreiras de difícil transposição para a fauna ao colocar lado-a-lado rodovias, linhas de transmissão e ferrovias.

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Observa-se que esta metodologia é eficaz tanto para pequenos mamíferos terrestres quanto para répteis e anfíbios. Os mamíferos de médio e grande porte serão alvo de levantamentos não sistemáticos, através de evidências diretas, visualizações e ou fotografias, e indiretas, rastros e fezes. Os animais obtidos vivos deverão ser fotografados, sempre que possível. Alguns indivíduos identificados em campo de maneira inequívoca poderão ser soltos no local de coleta após a verificação do seu estado geral de integridade física.

O método utilizado por (Araújo e Andrade, 2008) com uma matriz para levantamento de fauna apenas através de registros visuais e/ou auditivos pode apresentar falhas, quanto ao correto registro e identificação dos animais. Já que os vertebrados nos trópicos apresentam características crípticas, com hábitos largamente crepusculares e noturnos. Além disso, os animais de hábitos diurnos, muitas vezes, possuem hábitos arredios ou são de difícil visualização, apresentando camuflagem. Por isso, apenas o registro visual e ou auditivos podem não ser suficiente para o estudo das populações.

Outro problema é que esses levantamentos são realizados apenas antes da instalação das linhas de transmissão não ocorrendo nenhum estudo depois da instalação, nem oferece nenhum indício se está ocorrendo impacto devido à interferência da radiação eletromagnética provocada pelas linhas de transmissão em ambiente natural.

CONCLUSÃO

A metodologia no meio biótico realizada através de registros visuais e/ou auditivos, apresenta falhas, pois somente observando o local de estudo utilizando matrizes ou questionários, não garante uma análise completa sobre o meio biótico, nem um EIA/RIMA satisfatório.

É necessária uma coleta de dados mais completa, com levantamento de fauna, captura de espécies, tanto no local das linhas de transmissão quanto próximo a elas, para analisar o grau de impacto do eletromagnetismo na fauna terrestre e propor medidas mitigadoras, caso ocorram impactos ambientais negativos.

É preciso realizar o estudo de avaliação de impacto ambiental num período que englobe o tempo antes e depois da instalação e também analisar os efeitos do clima sobre a fauna, com coletas na época chuvosa e seca, com duração mínima do trabalho de quatro meses, dois meses no período seco e dois no chuvoso.

Para o sucesso no estudo de impacto ambiental realizado em função do RAS e RDPA é necessário à contratação de uma equipe multidisciplinar competente e de reconhecido saber na área de ciências ambientais que irá utilizar na condução dos estudos, métodos e técnicas de acordo com os objetivos e funções de cada atividade realizada durante a execução da obra, nos meios físico, biótico e socioeconômico.

REFERÊNCIAS

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