boraginaceae sensu lato da Área de proteÇÃo...

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1 BORAGINACEAE SENSU LATO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DAS ONÇAS, SÃO JOÃO DO TIGRE, PARAÍBA José Iranildo Miranda de Melo 1 , 2* ; Fernanda Kelly Gomes da Silva 1 ; Maria Betânia Ribeiro Gonçalves 1 ; Elimar Alves de Lima 1 ; Leidson Allan Ferreira de Lucena 1 ; Hermes de Oliveira Machado Filho 1 RESUMO - Este estudo engloba o levantamento florístico-taxonômico de Boraginaceae sensu lato na Área de Proteção Ambiental (APA) das Onças, Paraíba, Nordeste do Brasil. Espécimes foram obtidos em campo e processados de acordo com os métodos usuais em taxonomia vegetal. Foram encontrados três gêneros e cinco espécies: Euploca procumbens (Mill.) Diane & Hilger, Heliotropium angiospermum Murray, H. elongatum (Lehm.) I.M. Johnst., Varronia leucocephala (Moric.) J.S. Mill. e V. globosa Jacq. São apresentadas chaves para reconhecimento de gêneros e espécies, além de descrições, ilustrações e dados de distribuição geográfica das espécies. As espécies registradas apresentam-se amplamente distribuídas. Unitermos: Caatinga, florística, taxonomia, Unidades de Conservação. BORAGINACEAE SENSU LATO IN THE AREA OF ENVIRONMENTAL PROTECTION (APA) OF THE ONÇAS, SÃO JOÃO DO TIGRE, PARAÍBA STATE ABSTRACT - This study includes the floristic-taxonomic survey of the family Boraginaceae sensu lato in the Area of Environmental Protection (APA) of the Onças, Paraíba State, Brazilian Northeast. Specimens were obtained in field and processed according to usual methods in plant taxonomy. Three genera and five species were found: Euploca procumbens (Mill.) Diane & Hilger, Heliotropium angiospermum Murray, H. elongatum (Lehm.) I.M. Johnst., Varronia leucocephala (Moric.) J.S. Mill. and V. globosa Jacq. Keys for the recognition of genera and species, descriptions, illustrations and data about geographic distribution of its species are presented. The species registered are widely distributed. Uniterms: caatinga vegetation, floristics, protected areas, taxonomy. INTRODUÇÃO A região Nordeste representa um caso muito peculiar e particular dentro do território brasileiro no que se refere à configuração de sua cobertura vegetal. Isso ocorre, porque, ao contrário das demais regiões do país, o Nordeste apresenta uma variedade de ecossistemas em sua extensão territorial; desde fragmentos da Mata Atlântica até encraves de Cerrado. Uma formação vegetal particular, que segundo o MMA (2010) cobre cerca de 11% do território nacional (com uma área 1.037.517,8 Km²) e 70% do território nordestino, é a Caatinga. Segundo Andrade-Lima (1972), a Caatinga ocupa a maior parte do nordeste brasileiro e é um bioma pouco explorado e que detém grande variabilidade de habitats com função ecológica fundamental para desenvolver expressiva diversidade florística. Nesse sentido, Nascimento & Rodal (2002) reforçam que esse domínio é um centro de vital importância de biodiversidade do planeta, exclusivo do território brasileiro. Neste cenário, várias famílias de Angiospermas se destacam pelo expressivo número de táxons genéricos e específicos, dentre as quais pode ser mencionada Boraginaceae sensu lato por englobar, no bioma Caatinga, seis gêneros e 38 espécies (Melo et al., 2010). ____________________________________ 1 Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Biologia, 58429-500, Campina Grande, PB, Brasil. 2 Programa de Pós-Graduação em Ecologia & Conservação, Universidade Estadual da Paraíba, 58429-500, Campina Grande, PB, Brasil. *Autor para correspondência: [email protected].

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BORAGINACEAE SENSU LATO DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DAS ONÇAS, SÃO JOÃO DO TIGRE, PARAÍBA

José Iranildo Miranda de Melo1,2*; Fernanda Kelly Gomes da Silva

1; Maria Betânia Ribeiro

Gonçalves1; Elimar Alves de Lima

1; Leidson Allan Ferreira de Lucena

1; Hermes de Oliveira

Machado Filho1

RESUMO - Este estudo engloba o levantamento florístico-taxonômico de Boraginaceae sensu lato

na Área de Proteção Ambiental (APA) das Onças, Paraíba, Nordeste do Brasil. Espécimes foram obtidos em campo e processados de acordo com os métodos usuais em taxonomia vegetal. Foram encontrados três gêneros e cinco espécies: Euploca procumbens (Mill.) Diane & Hilger, Heliotropium angiospermum Murray, H. elongatum (Lehm.) I.M. Johnst., Varronia leucocephala (Moric.) J.S. Mill. e V. globosa Jacq. São apresentadas chaves para reconhecimento de gêneros e espécies, além de descrições, ilustrações e dados de distribuição geográfica das espécies. As espécies registradas apresentam-se amplamente distribuídas.

Unitermos: Caatinga, florística, taxonomia, Unidades de Conservação.

BORAGINACEAE SENSU LATO IN THE AREA OF ENVIRONMENTAL PROTECTION (APA) OF THE ONÇAS, SÃO JOÃO DO TIGRE, PARAÍBA STATE

ABSTRACT - This study includes the floristic-taxonomic survey of the family Boraginaceae sensu

lato in the Area of Environmental Protection (APA) of the Onças, Paraíba State, Brazilian Northeast. Specimens were obtained in field and processed according to usual methods in plant taxonomy. Three genera and five species were found: Euploca procumbens (Mill.) Diane & Hilger, Heliotropium angiospermum Murray, H. elongatum (Lehm.) I.M. Johnst., Varronia leucocephala (Moric.) J.S. Mill. and V. globosa Jacq. Keys for the recognition of genera and species, descriptions, illustrations and data about geographic distribution of its species are presented. The species registered are widely distributed. Uniterms: caatinga vegetation, floristics, protected areas, taxonomy.

INTRODUÇÃO

A região Nordeste representa um caso muito peculiar e particular dentro do território brasileiro no que se refere à configuração de sua cobertura vegetal. Isso ocorre, porque, ao contrário das demais regiões do país, o Nordeste apresenta uma variedade de ecossistemas em sua extensão territorial; desde fragmentos da Mata Atlântica até encraves de Cerrado. Uma formação vegetal particular, que segundo o MMA (2010) cobre cerca de 11% do território nacional (com uma área 1.037.517,8 Km²) e 70% do território nordestino, é a Caatinga. Segundo Andrade-Lima (1972), a Caatinga ocupa a maior parte do nordeste brasileiro e é um bioma pouco explorado e que detém grande variabilidade de habitats com função ecológica fundamental para desenvolver expressiva diversidade florística. Nesse sentido, Nascimento & Rodal (2002) reforçam que esse domínio é um centro de vital importância de biodiversidade do planeta, exclusivo do território brasileiro.

Neste cenário, várias famílias de Angiospermas se destacam pelo expressivo número de táxons genéricos e específicos, dentre as quais pode ser mencionada Boraginaceae sensu lato por englobar, no bioma Caatinga, seis gêneros e 38 espécies (Melo et al., 2010).

____________________________________

1Universidade Estadual da Paraíba, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamento de Biologia, 58429-500, Campina Grande, PB, Brasil. 2Programa de Pós-Graduação em Ecologia & Conservação, Universidade Estadual da Paraíba, 58429-500, Campina Grande, PB, Brasil.

*Autor para correspondência: [email protected].

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Esta família inclui desde pequenas ervas a grandes árvores (Barroso et al., 1991). As folhas são simples, alternas, espiraladas ou não, subopostas ou menos comumente opostas ou verticiladas. Suas flores são gamopétalas, diclamídeas, pentâmeras, agregadas em inflorescências paucifloras ou multifloras ou raramente solitárias, na região axilar ou supra-axilar. O fruto é drupáceo, com um ou dois pirênios, ou esquizocárpico, com duas ou quatro núculas, e constitui um importante caráter para delimitação de gêneros e espécies (Melo & Andrade, 2007).

Apesar da representatividade, em consonância com o amplo espectro de distribuição e habitats dos seus táxons, estudos sobre a taxonomia de Boraginaceae em áreas de Caatinga no Nordeste brasileiro, especialmente no Estado da Paraíba, são ainda incipientes.

O presente trabalho representa a primeira contribuição acerca do conhecimento sobre a diversidade e taxonomia de Boraginaceae sensu lato para a Paraíba, visando reconhecer e caracterizar taxonomicamente as espécies desta família em uma Área de Proteção Ambiental (APA) encravada no semiárido do Estado.

MATERIAIS E MÉTODOS Área de Estudo - O município de São João do Tigre está assentado na Serra da Borborema, distando 243 km de João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, a 577 m em sua cota altitudinal máxima, estendendo-se sob as coordenadas geográficas 08°4'53"S - 36°50'41"W. Está inserido predominantemente na unidade geoambiental de Depressão Sertaneja, com relevo principalmente suave-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas. A vegetação é do tipo Caatinga hiperxerófila, com trechos de Floresta caducifólia. O clima é Tropical Semi-Árido, com chuvas de verão. O período chuvoso se inicia em novembro com término em abril e a precipitação média anual é de 431,8 mm (CPRM, 2005). Sua população foi estimada em 4.726 habitantes para o ano de 2009 (IBGE, 2000).

A Área de Proteção Ambiental (APA) das Onças pertence ao município de São João do Tigre (Figura 1). Ocupa uma área de 400 mil ha constituindo Unidade de Conservação de jurisdição estadual, gerenciada pela Superintendência de Administração do Meio Ambiente (SUDEMA), e apresenta diferentes fitofisionomias (Figura 2A-B). Ainda inexplorada como roteiro turístico ecológico, abriga importantes sítios arqueológicos e paleontológicos onde aproximadamente 30 deles já foram encontrados e catalogados por pesquisadores incluindo inscrições rupestres, peças líticas e cemitérios indígenas. Procedimentos de campo e de laboratório - Foram estabelecidos três pontos de coletas sob as coordenadas geográficas: 1) 08°06’31’’S - 36°48’51”W; 2) 08°07’41’’S - 36°48’26’’W”; 3) 08°05’47’’S - 36°47’19’’W (Figura 1), onde foram obtidos espécimes vegetais em estádio reprodutivo (com flores e ou frutos).

As amostras obtidas foram encaminhadas ao Laboratório de Botânica do Departamento de Biologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Campus I, para secagem em estufa a 50ºC e, posteriormente incorporadas às coleções do Herbário Manuel Arruda Câmara (ACAM). As análises morfológicas culminaram na identificação taxonômica e elaboração de descrições estas baseadas nas terminologias propostas por Harris & Harris (1994) e Gonçalves & Lorenzi (2007), complementadas pelos trabalhos de Melo & Sales (2005), Melo & Andrade (2007), Melo et al. (2009) e Melo & Semir (2008, 2010). Foram confeccionadas chaves para separação de gêneros e espécies bem como estampas contendo os principais caracteres para o reconhecimento das espécies. Também são apresentados dados de distribuição geográfica, floração e frutificação. A distribuição das espécies foi baseada em bibliografia especializada (Frohlich, 1981; Miller, 1988; Melo & Semir, 2008 e 2010; Melo et al., 2010). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na área de estudo, Boraginaceae sensu lato se encontra representada por três gêneros e cinco espécies: Euploca procumbens (Mill.) Diane & Hilger, Heliotropium angiospermum Murray, H.

elongatum (Lehm.) I.M. Johnst., Varronia globosa Jacq. e V. leucocephala (Moric.) J.S. Mill., tratadas a seguir.

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Chave para os gêneros 1. Inflorescências glomérulo-globosas; estiletes bífidos; estigmas bifurcados; fruto drupáceo

................................................................................................................................ Varronia. 1. Inflorescências escorpióides; estilete indiviso; estigma 1, inteiro ou levemente dividido no

ápice; fruto esquizocárpico. 2. Esquizocarpo com 2 núculas....................................................................... Heliotropium. 2. Esquizocarpo com 4 núculas................................................................................ Euploca.

Chave para as espécies 1. Inflorescências glomérulo-globosas. 2. Cálice com lacínios de ápice cirroso; corola 2,5-3,5 mm............................ 4. V. globosa. 2. Cálice com lacínios de ápice agudo; corola 13-34 mm....................... 5. V. leucocephala. 1. Inflorescências escorpióides. 3. Esquizocarpo com 2 núculas. 4.Corola obcampanulada; estigma umbraculiforme; frutos depresso-globosos,

verruculosos..... .................................................................................... 2. H. angiospermum.

4.Corola tubular-salverforme; estigma clavado; frutos mitriformes, híspidos........................................................................................................ 3. H. elongatum.

3. Esquizocarpo com 4 núculas................................................................. 1. E. procumbens.

1. Euploca procumbens (Mill.) Diane & Hilger, Bot. Jahrb. Syst. 125(1): 48. 2003.

Heliotropium procumbens Mill., Gard. Dict. 8: 10. 1768.

Figuras 2C; 3A-B.

Erva, ereta ou prostrada, 50 cm; ramos cilíndricos, verde-cinéreos. Folhas alternas, pecioladas; pecíolo 0,4 cm, subcilíndrico; lâmina 1-7,5x0,3-2,4 cm, subcarnosa, estreitamente elíptica a oblongo-elíptica, ápice agudo, mucronado, base atenuada, margem inteira, serícea em ambas as faces; venação broquidódroma. Inflorescência 1-5 cm, terminal e axilar, inteira ou bifurcada, 1-4 partindo de um mesmo ponto; pedúnculo 0,8-1 cm, seríceo. Flores cerca de 2 mm, subsésseis; cálice profundamente lobado, ligeiramente menor que o tubo da corola, lacínios 1-1,3 mm, ovados a ovado-lanceolados; corola 1,5-2 mm, tubular, branca, fauce amarela, tubo 1-1,4 mm, cilíndrico, lobos cerca de 0,3 mm, obovados, patentes. Estames subsésseis, filetes inseridos cerca de 1/3 da base do tubo, anteras 0,5-0,7 mm, ovadas a ovado-lanceoladas, ápice caudado. Ovário cerca de 0,3 mm, subgloboso; estilete obsoleto, recoberto pelo estigma; estigma cerca de 0,3 mm, cônico, pubescente, disco estigmático cerca de 0,4 mm. Esquizocarpo cerca de 1 mm diâmetro, núculas-4, subgloboso, seríceo. Sementes 1 mm.

Material examinado: BRASIL. Paraíba: São João do Tigre, APA das Onças, J.I.M. Melo et al. 1003, fl., fr. (ACAM).

Distribuição geográfica: Sul dos Estados Unidos até Argentina, inclusive nas Antilhas e, no Brasil, onde é encontrada nas regiões Norte (RR, PA, TO, AC, RO), Nordeste (MA, PI, CE, RN, PB, PE, BA, AL, SE), Centro-Oeste (GO, MT, MS), Sudeste (MG, SP) e Sul (SC, RS) (Melo & Semir, 2010; Melo et al., 2010).

Floração/frutificação: Encontrada florida e frutificada em maio.

Comentários: É espécie facilmente reconhecida por apresentar ramos verde-cinéreos, tubo da corola de comprimento igual ou ligeiramente menor que o do cálice, lacínios da corola obovados e estigma cônico, pubescente.

2. Heliotropium angiospermum Murray, Prodr. stirp. götting.: 217. 1770. Figuras 2D; 3C-E.

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Subarbusto, ereto, cerca de 50 cm; ramos difusos, fistulosos, esverdeados, estrigosos a escabros. Folhas alternas a subopostas; lâmina 5,3- 3,1 x 2- 1,2 cm, membranácea, discolor, elíptica a ovada, ápice agudo, margem inteira, ciliada, base atenuada, face adaxial escabrosa, face abaxial pubescente; pecíolo 0,4-0,9 cm, atenuado, hirsuto; venação eucamptódroma. Inflorescência 5-7 cm, falsamente terminal e axilar, laxa; pedúnculo 1,2-4,6 cm. Flores 2,8-4 mm, sésseis; cálice 2-2,5×0,4-0,6 mm, externamente seríceo, internamente pubescente a seríceo, lacínios 1,8–2×0,4–0,6 mm, elípticos a estreitamente elípticos, ápice agudo; corola 3x1 mm, obcampanulada, alva, fauce arroxeada, lobos 1,3-2×1,2-1,8 mm, eretos, orbiculares, margem ondulada, ápice acuminado. Estames subsésseis, livres; anteras 1-1,4 mm, ovais, ápice apiculado, base levemente cordada. Ovário cerca de 0,5 mm, subgloboso; estigma 0,5-0,8 mm, largamente cônico, séssil. Esquizocarpo cerca de 2 mm, núculas-2, depresso-globoso. Sementes 1-1,5 mm.

Material examinado: BRASIL. Paraíba: São João do Tigre, APA das Onças, J.I.M. Melo et al. 987, fl., fr. (ACAM).

Distribuição geográfica: Sul dos Estados Unidos, Antilhas, Chile, Argentina (Frohlich, 1981) e, no Brasil, nas regiões Nordeste (PI, CE, RN, PB, PE, BA, AL, SE) e Sudeste (MG, RJ) (Melo et al., 2010).

Floração/frutificação: Encontrada florida e frutificada em maio.

Comentários: Pode ser prontamente reconhecida pelos ramos estrigosos a escabros, folhas alternas a subopostas, corola obcampanulada, estigma largamente cônico e fruto depresso-globoso.

3. Heliotropium elongatum (Lehm.) I.M. Johnst., Contr. Gray Herb. Harv. Univ. 81: 18. 1928.

Erva, ereta, cerca de 40 cm; ramos angulosos, fistulosos, escabrosos ou hirsutos. Folhas alternas a subopostas; lâmina 8,4- 3,9 x 4,7- 2,4 cm, ovada a rômbica, membranácea, bolada, ápice acuminado, margem inteira, base oblíqua, face adaxial pubescente, tricomas aciculiformes, esparsos, entremeados por tricomas menores, face abaxial estrigosa; pecíolo 0,7-1,4 cm, parcialmente alado; venação eucamptódroma. Inflorescência 6,4x0,7 cm, falsamente terminal e axilar, congesta; pedúnculo 2,2-4,6 cm, hirsuto. Flores 4x1 mm, sésseis; cálice 2-3×0,4-0,5 mm, pubescente a estrigoso externa e internamente, lacínios 1,6-2,3×0,2-0,5 mm, elípticos, estreitamente elípticos a lanceolados ou mais raramente ovados; corola 3,3-7,8 mm, tubular-salverforme, alva, fauce arroxeada, híspida, tricomas maiores aciculiformes entremeados por tricomas menores, lobos 1,5-1,7×1,2-1,5 mm, patentes, suborbiculares a orbiculares. Estames livres; anteras 1-1,2 mm, oblongas. Ovário cerca de 0,5 mm, subgloboso; estilete cerca de 0,5 mm; estigma ca. 0,4 mm, clavado, com disco espessado na base. Esquizocarpo 3,7-4,5 mm, núculas-2, mitriforme, híspido; núculas costadas, justapostas. Sementes cerca de 3 mm.

Material examinado: BRASIL. Paraíba: São João do Tigre, APA das Onças, H.O. Machado-Filho

et al. s/n, fl., fr. (ACAM).

Distribuição geográfica: Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai (Frohlich, 1981) e, no Brasil, onde foi registrada nas regiões Norte (PA, TO), Nordeste (MA, PI, CE, RN, PB, PE, BA, AL, SE), Centro-Oeste (GO, MT, MS), Sudeste (MG, SP, RJ) e Sul (RS) (Melo et al., 2010).

Floração/frutificação: Coletada com flores e frutos em maio.

Comentários: H. elongatum é reconhecível pelo pecíolo parcialmente alado, lâmina foliar bolada na face adaxial, estigma clavado e, principalmente, pelo fruto mitriforme com núculas costadas e justapostas.

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4. Varronia globosa Jacq. Enum. Syst. Pl.: 14. 1760. Figuras 2E; 3F-H.

Cordia globosa (Jacq.) Kunth, in Humb., Bonpl. & Kunth, Nov. Gen. et Sp. 3: 76. 1819.

Arbusto, ereto, cerca de 1,3 m; ramos estrigosos a escabrosos. Folhas alternas dísticas; lâmina 4,5- 2,8 x 2,3- 1,4 cm, membranácea, lanceolada, ovada a ovado-lanceolada, ápice obtuso a agudo, margem serreada, base aguda a truncada, face adaxial estrigosa, face abaxial tomentosa; pecíolo 0,2-1 cm, hirsuto; venação semicraspedódroma. Inflorescência 1,7x1,6, terminal e internodal, glomérulo-globosa, congesta; pedúnculo 0,7-2,8 cm, hirsuto. Flores 9,5 x3 mm; cálice 3-3,5 mm, campanulado, lacínios 11,5×1,5 mm, largamente obovados, ápice cirroso; corola 2,5-3,5 mm, infundibuliforme, alva, lobos 1,5×0,8-1 mm, truncados. Estames sésseis; anteras 1-2 mm, oblongas a lanceoladas. Ovário cerca de 1,5 mm, piriforme; estilete 2,7-3,5 mm; estigmas cerca de 0,5 mm, clavados. Drupa cerca de 1,5 mm diâm., globosa. Semente-1.

Material examinado: BRASIL. Paraíba: São João do Tigre, APA das Onças, J.I.M. Melo et al. 1011, fl., fr. (ACAM).

Distribuição geográfica: Sudeste da Flórida e México, nordeste da América do Sul e Antilhas (Miller, 1988) e, no Brasil, onde está associada a ambientes de Caatinga nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia e Alagoas (Melo et al., 2010).

Floração/frutificação: Encontrada florida e frutificada em maio.

Comentários: Segundo Melo & Andrade (2007) a espécie é morfologicamente semelhante a V.

leucocephala, da qual se distingue pelo disco nectarífero espessado na base do ovário e pelo tamanho da corola (13-34 mm em V. leucocephala e 2,5-3,5 mm em V. globosa).

5. Varronia leucocephala (Moric.) J.S. Mill., Novon 17(3): 374. 2007. Figura 2F.

Cordia leucocephala Moric., Pl. Nouv. d´Americ. 148: 88. 1846.

Arbusto, ereto, cerca de 2 m; ramos velutinos entremeados por indumento híspido com longos tricomas ferrugíneos, lenticelas esbranquiçadas. Folhas alternas dísticas; lâmina 4,5- 2 x 1,8–0,8 cm, membranácea, ovada a obovada, ápice agudo, margem serreada, base assimétrica, face adaxial estrigosa, face abaxial tomentosa; pecíolo 5-8 mm, estrigoso; venação craspedódroma. Inflorescência 1,4x1,3 cm, terminal, glomérulo-globosa; pedúnculo 1,6-3,6 cm. Flores 1,1x0,9 mm; cálice 2-6 mm, campanulado, lacínios até 6 mm, denteados, puberulentos, ápice agudo; corola 1,3-3,4 cm, infundibuliforme, alva, lobos suborbiculares. Estames com filetes de 1,5 mm nas flores longistilas; anteras 1,8-2 mm, oblongas. Ovário cerca de 2 mm, subgloboso; estilete cerca de 1,2 mm nas flores longistilas; ramos estigmáticos cerca de 1 mm, estigmas cerca de 1,5-2 mm, foliáceos. Drupa não observada.

Material examinado: BRASIL. Paraíba: São João do Tigre, APA das Onças, J.I.M. Melo et al. 998, fl., fr. (ACAM).

Distribuição geográfica: Ocorre apenas no Brasil, em áreas da Caatinga nos estados do Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia (Melo et al., 2010) e em restinga, na região Sudeste (Taroda et al., no prelo).

Floração/frutificação: Coletada com flores em maio.

Comentários: V. leucocephala apresenta folhas ovadas a obovadas, assimétricas na base, e caule com lenticelas esbranquiçadas. As inflorescências glomérulo-globosas, com flores de cálice

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campanulado e corola infundibuliforme são compartilhadas com V. globosa da qual é distinta pelo cálice de lacínios agudos no ápice e corola com 13-34 mm (Melo & Andrade, 2007).

CONCLUSÃO - Os gêneros e espécies registrados neste estudo podem ser separados entre si, principalmente, pelos tipos de inflorescências associados ao número de ramos estigmáticos e, conseguintemente, de estigmas, tipos de frutos e número de unidades de dispersão bem como pela forma dos lacínios do cálice, forma e tamanho da corola e forma dos estigmas e dos frutos. As espécies encontradas, excetuando-se Varronia leucocephala (Moric.) J.S. Mill, apresentam-se amplamente distribuídas inclusive no domínio das caatingas, onde se encontra inserida a área estudada.

REFERÊNCIAS Andrade-Lima, D. 1972. Um pouco de ecologia para o Nordeste. Recife: Centro de Ensino de Ciências do Nordeste/Universidade Federal de Pernambuco. Barroso, G.M.; Peixoto, A.L.; Costa, C.G.; Ichaso, C.L.F.; Guimarães, E.F.; Lima, H.C. 1991. Sistemática de Angiospermas do Brasil. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa/Imprensa Universitária, v. 3. CPRM - Serviço Geológico do Brasil Projeto cadastro de fontes de abastecimento por água subterrânea. 2005. Diagnóstico do município de São João do Tigre, Estado da Paraíba. Organizado [por] Mascarenhas, J.C.; Beltrão, B.A.; Souza-Junior, L.C.; Morais, F.; Mendes, V.A.; Miranda, J.L.F. Recife: CPRM/PRODEEM.

Frohlich, M.W. 1981. Heliotropium. In: Nash, D.L.; Moreno, N.P. (eds.). Flora de Veracruz: Boraginaceae. Xalapa: Instituto Nacional de Investigaciones sobre Recursos Bióticos, v. 18, p. 70-104.

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Melo, J.I.M.; Andrade, W.M. 2007. Boraginaceae s.l. A. Juss. em uma área de Caatinga da ESEC Raso da Catarina, BA, Brasil. Acta Bot. Bras. 21:369-378.

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7

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Figura 1 - Mapa do Estado da Paraíba, destacando os pontos de coleta na região de estudo (APA das Onças, São João do Tigre, PB).

João Pessoa

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A B

C D

E F Figura 2 - A-B. Fitofisionomias da APA das Onças, São João do Tigre, PB. C. Euploca

procumbens (Mill.) Diane & Hilger. D. Heliotropium angiospermum Murray. E. Varronia

globosa Jacq. F. Varronia leucocephala (Moric.) J.S. Mill.

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A B

C

D

E

F

H

G

Figura 3 - A-B. Euploca procumbens: A. Ramo reprodutivo; B. Corola rebatida, evidenciando androceu; C-E. Heliotropium angiospermum: C. Ramo reprodutivo; D. Corola rebatida, evidenciando androceu; E. Fruto; F-H. Varronia globosa: F. Ramo reprodutivo; G. Flor; H. Fruto.

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