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INTERAÇÕES Revista Internacional de Desenvolvimento Local Universidade Catlica Dom Bosco Instituiªo Salesiana de Educaªo Superior V. 8 N. 1 Maro 2007

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Universidade Católica Dom BoscoInstituição Salesiana de Educação Superior

V. 8 N. 1 Março 2007

Page 2: INTERAÇÕES - UCDB

ReitorPe. José Marinoni

Pró-Reitor AcadêmicoPe. Jair Marques de Araújo

Editora UCDBAv. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário79117-900 Campo Grande-MSFone/Fax: (67) 3312-3373e-mail: [email protected] www.ucdb.br/editora

U n i v e r s i d a d e C a t ó l i c a D o m B o s c o

Conselho EditorialAdyr Balastreri Rodrigues (USP)

Alberto Palombo (Florida Atlantic University)Alicia Rivero (SERCAL)

Amália Ines Geraiges de Lemos (USP)Antonio Elizalde Hevia (Universidad Bolivariana de Chile-UBC)

Cezar Augusto Benevides (UFMS)Doris Morales Alarcón (Pontificia Universidad Javeriana)

Emiko Kawakami Rezende (EMBRAPA)Everson Alves Miranda (UNICAMP)

José Arocena (Universidad Catolica del Uruguay - UCU)José Carpio Martín (Universidad Complutense de Madrid)

Leila Christina Dias (UFSC)Marcel Bursztyn (UNB)

Maria Adélia Aparecida de Souza (UNICAMP)Maria do Carmo Zinato (Florida Center for Environmental Studies)

Maria Helena Vallon (Fund. João Pinheiro)Maria Encarnação Beltrão Sposito (UNESP)

Marília Luiza Peluso (UNB)Marisa Bittar (UFSCar)

Maurides Batista de Macedo Filha Oliveira (UCG)Michel Rochefort (IFU - Université de Paris VIII)

Miguel Ángel Troitiño Vinuesa (Univ. Complutense de Madrid)Paulo TarsoVilela de Resende (Fund. Dom Cabral)

Rafael Ojeda Suarez (Universidad Agraria de la Habana - Cuba - UAH)Ricardo Méndez Gutiérrez del Valle (Univ. Complutense de Madrid)

Rosa Esther Rossini (USP)Tito Carlos Machado de Oliveira (UFMS)

Conselheiros fundadores Milton Santos (in memoriam)

Nilo Odália (in memoriam)

II I I I I ÇÕ I IRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Conselho de RedaçãoCleonice Alexandre Le BourlegatMaria Augusta de CastilhoOlivier Francois Vilpoux

Editora ResponsávelMaria Augusta Castilho

Coordenação de EditoraçãoEreni dos Santos Benvenuti

Editoração EletrônicaGlauciene da Silva Lima Souza

AbstractsOs próprios autores

ResúmenesMari Neli Dória

ResuméCleonice Alexandre Le Bourlegat

TradutorJuliano Hipólito Ferreira

Revisão de TextoOs próprios autores

CapaProjeto: Marcelo MarinhoFoto: Osvaldo dos Santos / ago. 2006Escultura símbolo e guardiã do Museu José AntônioPereira – fundador de Campo Grande-MS.

Tiragem: 1.000 exemplares

Distribuição: Bibliotecas universitárias

Cecília LunaBibliotecária - CRB n. 1/1.201

Interações. Revista Internacional de Desenvolvimento Local,n. 1 (Março 2007). Campo Grande: UCDB, 2007.146 p. V. 8ISSN 1518-7012Semestral1. Desenvolvimento Local.

Publicação do Programa Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco.Indexada em:

Latindex, Directorio de publicaciones cientificas seriadas de America Latina, El Caribe, España y Portugal(www.latindex.org)

GeoDados, Indexador de Geografia e Ciências Sociais. Universidade Estadual de Maringá(www.dge.uem.br/geodados)

Dursi, Sistema d�informació per a la identificació i avaluació de revistes, Catalunha(www10.gencat.net/dursi/ca/re/aval_rec_sist_siar_economia_multidisciplinar.htm)

Clase, Base de datos bibliográfica en ciencias sociales y humanidades(www.dgb.unam.mx/clase.html)

IAIPK, Instituto Ibero Americano do Patrimônio Prussiano(http://www.iai.spk-berlin.de)

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A Interações � Revista Internacionalde Desenvolvimento Local � n.14, contemplaartigos de autores nacionais e internacionais,pertencentes a instituições renomadas.

Esta publicação destaca artigos queabordam o meio ambiente, ecologia política,recursos hídricos e o protocolo de Kyoto,objetivando uma reflexão sobre essa temáticaque tem preocupado muitos os cientistas doplaneta terra. Nesse contexto, estão os arti-gos de Lemuel Dourado Guerra, Deolindade Souza Ramalho, Jairo Bezerra Silva eCláudio Ruy Portela de Vasconcelos � Ecolo-gia política da construção da crise ambientalglobal e do modelo do desenvolvimento susten-tável; Valéria Cristina Palmeira Zago � Avaloração econômica da água: uma reflexão so-bre a legislação de gestão dos recursos hídricosdo Mato Grosso do Sul; Luiz AugustoMeneguello e Marcus César Avezum Alvesde Castro � O protocolo de Kyoto e a geraçãode energia elétrica pela biomassa da cana-de-açúcar como mecanismo de desenvolvimento lim-po; Cássia S. Camillo, Lidiamar Barbosa deAlbuquerque e Elaine Aparecida dos AnjosAquino � Análise crítica do estudo ambientalpreliminar do projeto urbanístico Reviva LagoaItatiaia, em Campo Grande–MS.

Em outro aporte estão os artigos vol-tados para os assentamentos rurais e ageopolítica das cidades: Liliane Lacerda,Lidiamar Barbosa de Albuquerque, SinéiaMara Zattoni Milano e Márcia Brambilla �Agroindustrialização de alimentos nos assenta-mentos rurais do entorno do Paruqe Nacionalda Serra da Bodoquena e sua inserção no mer-cado turístico, Bonito–MS; Lúcia de FátimaCorreia de Castro e Jaíra Maria AlcobaçaGomes - Atividades agrícolas no Assentamen-to Iracema (PI) e suas repercussões sobre o meioambiente; Rosemarly Fernandes Mendes

Editorial

Candil, Eduardo José Arruda e AndréaHaruko Arakaki � O Cumbaru (dipteryx alataVog), o desenvolvimento local e a susten-tabilidade biológica no Assentamento Andalucia,Nioaque-MS; José Rogério Lopes � Cidade,subjetividade e território: representações demoradores de favelas; Felipe De Alba �Geopolítica del água em México: la oposión en-tre la hidropolítica y el conflicto sociopolítico.Los nuevos rostros de las “luchas” sociales.

Na seção final intitulada � Dissertaçõese resumos foram inseridos os resumos dasdissertações apresentadas no Programa dePós-graduação em Desenvolvimento Local� Mestrado Acadêmico da UniversidadeCatólica Dom Bosco, abrangendo o períodode 2002 a 2006, enfocando o fruto dos tra-balhos de pesquisa realizado pelos mestran-dos sob a orientação de um professor vincu-lado ao referido programa. Dessa forma oleitor poderá ter uma idéia mais acuradasobre as pesquisas desenvolvidas pelos mes-trandos durante o curso que freqüentaram.

Agradeço aos autores, colaboradores,revisores, Conselho de Redação, ConselhoEditorial e em especial a Dulcília Silva(revisora), Juliano Hipólito Ferreira (tradutor)e Glauciene da Silva Lima Souza (editoração),pela agilidade em atender as solicitações paraelaboração deste número da revista.

Espero que esta publicação abra espa-ço para debates e reflexões sobre o desenvol-vimento local, por meio de processo interati-vo e cooperativo, na busca de soluções sus-tentáveis para os problemas, necessidades easpirações coletivas, de ordem social, econô-mica, cultural, política e do ambiente natural.

Maria Augusta CastilhoEditora

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Sumário

Artigos

Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo do desenvolvimento sustentável ......... 9Political Ecology of the building of the global environmental crisis and on the SustainableDevelopment Model .............................................................................................................................................. 9Ecología política de la construcción de la crise ambiental y el modelo de desarollo sostenibel .................... 9Écologie politique de la construction de la crise ambiental global ; développement soutenable ................................ 9

GUERRA, L.D.; RAMALHO, D.S., SILVA, J.B.; VASCONCELOS, C.R.P.

A valoração econômica da água - uma reflexão sobre a legislação de gestão dos recursos hídricosdo Mato Grosso do Sul ....................................................................................................................................... 27The economic valuation of the water - a reflection on the legislation of management of the hídricosresources of the Mato Grosso do Sul ................................................................................................................. 27La valorisation de l´eau - une reflexion sûr la legislation de la gestion des resouces hydiques du MatoGrosso do Sul ........................................................................................................................................................ 27La valoración econômica del água - uma refléxion sobre la legislación de la géstion de los recursos hídricosde Mato Grosso do Sul. .......................................................................................................................................... 27

ZAGO, V.C.P.

O Protocolo de Kyoto e a geração de energia elétrica pela biomassa da cana-de-açúcar comomecanismo de desenvolvimento limpo .......................................................................................................... 33The Kyoto Protocol and the electric power generation for sugar-cane biomass as clean developmentmechanism ........................................................................................................................................................... 33Le Protocole de Kyoto et l´engendrement de l´energie électrique pour la biomasse de la canne à sucrecomment mécanisme de développement net. .................................................................................................... 33El Protocolo de Kyoto y la generación de energía eléctrica por la biomasa del caña de azúcar como el mecanismode desarrollo limpio ................................................................................................................................................ 33

MENEGUELLO, L.A.; CASTRO, M.C.A.A.

Análise crítica do Estudo Ambiental Preliminar do projeto urbanístico �Reviva Lagoa Itatiaia�,em Campo Grande/MS ..................................................................................................................................... 45Critical analysis of the Estudo Ambiental Preliminar of the urbanistic project �Reviva LagoaItatiaia�, in Campo Grande, Mato Grosso do Sul State, Brazil ...................................................................... 45Analyse critique d´ètude Ambiental Préliminaire du Projet “ Lagoa Itatiaia ’’, em Campo Grande/MS ...... 45Análisis crítica del Estúdio Preliminar del proyecto urbanístique “Reviva Lagoa Itatiaia “ em Campo Grande /MS . 45

CAMILLO, C.S.; ANJOS-AQUINO, E.A.C.; ALBUQUERQUE, L.B.

Agroindustrialização de Alimentos nos Assentamentos Rurais do Entorno do Parque Nacional daSerra da Bodoquena e sua Inserção no Mercado Turístico, Bonito/MS ...................................................... 55Agroindustrialization of Victuals in the Rural Establishments surround of the Parque Nacional daSerra da Bodoquena and your Insertion in the Tourist Market, Bonito, MS ................................................ 55Agroindustrialisation des Aliments dans les Places Rurals à l´entour du Parc National de la Momtagnede Bodoquena et son Insertion au Marché Touristique Bonito/MS ................................................................... 55Agroindustrialización de los Alimentos em los Sítios Rurales al entorno del Parque Nacional da Serra daBodquena y su inserción em el Mercado Turístico, Bonito/MS .............................................................................. 55

LACERDA, L.; ALBUQUERQUE, L.B.; MILANO, S.M.Z.; BRAMBILLA, M.

Atividades Agrícolas no Assentamento Iracema (PI) e suas repercussões sobre o Meio Ambiente ....... 65Agricultural activities in Assentamento Iracema (PI) and its repercussions on the Environment ............ 65Activités Agrícoles em le Place Iracema (PI) et leurs répercussions sûr Le Moyen Environment ............... 65Actividades Agrícolas em el Sítio Iracema ( PI) y sus repercusiónes sobre el Médio Ambiente ............................... 65

CASTRO, L.F.C.; GOMES, J.M.A.

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O Cumbaru (Dipteryx alata Vog.), o desenvolvimento local e a sustentabilidade biológica noassentamento Andalucia, Nioaque/MS .......................................................................................................... 75Tonkabean (Dipteryx alata Vog.), Local Development and the Biological Sustainability in theAndalucia Settling, Nioaque/MS ..................................................................................................................... 75Le Cumbaru (Dipteryx alata Vog.), le développement local et la soutenabilité biolgique au PlaceAndalucia, Nioaque/MS....................................................................................................................................... 75El Cumbaru (Dipteryx alata Vog.) el desarrollo local y la sostenibilidad biológica em el Sítio Andalucia,Nioaque/MS ........................................................................................................................................................... 75

CANDIL, R.F.M.; ARRUDA, E.J.; ARAKAKI, A.H.

Cidade, subjetividade e território: representações de moradores de favelas ........................................... 81City, subjectivity and territory: representations of the impoverished subjects ............................................. 81Ville, subjectivité et territoire: représentation des de habitants de périphérie .............................................. 81Ciudad, subjectividad, y território: representaciónes de los habitantes de arrabaldes ............................................ 81

LOPES, J.R.

Geopolítica del agua en México: La oposición entre la hidropolítica y el conflicto sociopolítico.Los nuevos rostros de las �luchas� sociales ................................................................................................... 95Geopolitic of water in México: The opposition between the hydropolicy and the social politic strife.The new faces of the social �fightings� ............................................................................................................ 95Geopolitique de l´eau em Méxique: L´oppositon parmis l´hydropolitique et lê conflict social et politique.Lês nouveaus visages de lês “disputes” sociaux ................................................................................................. 95Geopolítica da água no México: A oposição entre a hidropolítica e o conflito sóciopolítico: Os novos rostos das“lutas” sociais ........................................................................................................................................................ 95

ALBA, F.

Dissertações e Resumos

Dissertações apresentadas por acadêmicos do Programa de Pós-Graduação em DesenvolvimentoLocal � Mestrado Acadêmico - Universidade Católica Dom Bosco � Campo Grande-MS (2002-2006) .. 115

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Artigos

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Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo dodesenvolvimento sustentável

Political Ecology of the building of the Global Environmental Crisis and on theSustainable Development Model

Ecología política de la construcción de la crise ambiental y el modelo de desarollosostenibel

Écologie politique de la construction de la crise ambiental global ; développement soutenable.

Lemuel Dourado Guerra *

Deolinda de Sousa Ramalho*

Jairo Bezerra Silva**

Recebido em 28/7/2006; revisado e aprovado em 31/10/2006; aceito em 26/1/2007.

Resumo: Neste trabalho discutimos o debate sobre a crise ambiental e o modelo do desenvolvimento sustentável comocampo de lutas no qual se articulam interesses políticos e econômicos. Defendemos a idéia de que as direções tomadaspela discussão sobre as questões ambientais em nível mundial apontam para o apagamento das variáveis clássicas dainterpretação sociológica dos fenômenos sociais, tais como as de ideologia, dominação e conflito, apresentando umaproposta de redirecionamento da discussão mencionada, a ser feita em termos da teoria da ecologia política. No finalindicamos algumas sugestões específicas para a pesquisa sobre a denominada crise hídrica mundial.Palavras-chave: Ecologia; crise ambiental global; desenvolvimento sustentável.Abstract: In this work we discuss the debate on the environmental crisis and on the sustainable development model as a field offights in which are articulated political and economic interests. We argue here that the discussion on those themes indicate thesuppression of classic sociological categories as those of ideology, domination and conflict, presenting afterwards a purpose ofreshaping of the mentioned discussion, which must be done in terms of the Political Ecology Theory. We finalize the articleindicating some points to a research agenda on the global water resources crisis.Key words: Ecology; global environmental crisis; sustainable development.

Résumé: Em ce travail nous discutons le debat sûr la crise ambiental et le modele de développement soutenabelcomment plaine de luttes dans lequel s´articulent intérêts plitiques e t économiques. Nous défendons l´idée de queles directions prises por la discution sûr les questions ambientaux en niveau mondial indiquent pour l´extinctiondes variales clássiques de l´interprétation socilogique des phénoménes sociaux tels comment les d´ideologie,domination et conflit, avec la présentation d´une propose de reprise de la discution menttionée, pour éter fait emtermes de la théorie de l´écologie politique. Au final nous avons indique quelques suggestions specífiques por larecheche sur la nommée crise hydrique mondiale.Mots-clé: Écologie; crise ambiental; développement soutenable.Resumen: Defendemos la idea de que las decisiónes tomadas por la dscusíon sobre las cuestiónes ambientales emnível mundial apuntan para el apagamineto de las variábles clásicas de la interpretación sociológica de los fenômenossociales. como los que están relacionados à la ideología, dominación y conflicto, presentando uma propuesta deredireccionamineto de la discusión mencionada a ser hecha em termos de la teoria de la ecología política. Em el finalindicamos algunas sugeréncias específcas para la búsqueda sonre la denominada crise hídrica mundial.Palabras clave: Ecología; crise ambiental global; desarrollo sotenible.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 09-25, Mar. 2007.

* Professores do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Campina Grande-PB.([email protected]).** Professor do CESAC (Centro de Ensino Superior de Santa Cruz do Capibaribe-PE) e bolsista do CEDRUS (Cursode Especialização em Desenvolvimento Rural Sustentável), com trabalhos publicados na área da Sociologia dosrecursos hídricos. ([email protected] ou [email protected]).*** Professor do Departamento de Ciências Básicas e Sociais, da Universidade Federal da Paraíba, na área de Gestão Ambiental.

Introdução

O processo pelo qual o meio ambienteemerge como uma preocupação relevanteem muitas sociedades contemporâneas é oresultado da conjunção de vários elementose da ação de instituições sociais e forças va-

riadas. Há pelo menos três décadas atrás, arelação dos homens com a natureza, no quese referia à exploração dos recursos naturais,era um tema incapaz de gerar polêmica.Naquele momento, eram centrais as questõesreferentes às formas de organização socialda produção, existindo como pólos opostos

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10 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

dominando o debate, de um lado, as pro-postas socialistas/comunistas e, do outro, omodelo capitalista. Com a crise da maioriadas experiências de socialismo na Europa, ahegemonização do capitalismo em quasetodas as economias mundiais, a polarizaçãomencionada deixa de existir, abrindo-se es-paço para que novos eixos de preocupaçãosócio-político-cultural emirjam.

É nessa conjuntura que assistimos, des-de o último quartel do século passado, a umasignificativa hipertrofia do debate sobre vi-sões de iminentes catástrofes ecológicas, quecolocariam em risco a vida do homem noplaneta. É nesse contexto que surgem as pro-postas de salvação da Terra, as quais inclu-em, entre outros pontos, a necessidade deimplementar, mundialmente, um modelo deDesenvolvimento Sustentável.

Sem pretender fazer uma abordagemaprofundada do conceito mais geral de desen-volvimento, defendemos neste artigo: (1) aidéia de que o modelo de DesenvolvimentoSustentável, de certa maneira, é um retornode práticas �desenvolvimentistas� semelhan-tes ao que na sociologia do desenvolvimentoficou conhecido como o �terceiro-mundis-mo�, um modelo assumido por países do capi-talismo central, basicamente, pelos EstadosUnidos, que consistia no oferecimento de�ajuda� aos países subdesenvolvidos e �emdesenvolvimento�, na direção da promoçãodas condições necessárias à chegada dos paí-ses do Sul ao modelo dos países industrializa-dos do Norte; (2) a necessidade da construçãode uma abordagem propriamente sociológi-ca das questões ambientais, informada pelosautores da corrente denominada de EcologiaPolítica, de forma a interpretar a construçãosocial dos fenômenos relativos aos moldes deapropriação humana dos recursos naturaisdo planeta e das propostas apresentadascomo alternativas à Crise Ambiental, à luz decategorias clássicas da análise sociológica, taiscomo poder, ideologia, exploração, sistemasde hierarquia e outras dessa natureza.

Desenvolvimento Sustentável oucrescimento sem fronteiras?

Depois do período em que o �desenvol-vimento� se constituiu num tema de grandeimportância no cenário internacional � que

vai do final da II Guerra Mundial até mea-dos da década de 70 do século passado �,com o fim de experiências de socialismo realno Leste europeu e a derrocada a União So-viética, o discurso e a prática de �ajuda� aospaíses do Terceiro Mundo, os quais tinhamcomo um dos principais objetivos implícitosa luta ideológica contra um possível opositorao sistema econômico dominante, perdem aforça. É justamente na década de 80, que éformulada a proposição do �ajuste estrutu-ral�, já um reflexo da perda de espaço dadiscussão sobre o �desenvolvimento� paraa temática da globalização, que passa a sero mote para uma série de articulações nosentido do estabelecimento definitivo de umaeconomia mundial de rede, agora com to-das as condições objetivas a ela necessárias,em termos de tecnologia da informação.

Todavia, a história do �desenvolvimen-to�, intimamente ligada ao desenrolar do sis-tema capitalista ocidental, não seria tão facil-mente descartada. Depois de passar por umperíodo de �esquecimento�, a temática daecologia, anteriormente lateral, cria as condi-ções objetivas para a volta da reflexão a res-peito das questões ligadas ao desenvolvimen-to. A ligação dos problemas ecológicos comos níveis de pobreza dos países do Sul, con-duziu rapidamente ao reconhecimento deque, apesar das políticas desenvolvimentistasbaseadas na �ajuda� dos países capitalistascentrais, especialmente aquela fornecida pe-los Estados Unidos � e mesmo em decorrên-cia delas � os problemas enfrentados por pa-íses desta área tinham crescido e piorado. Eranecessário, por conseguinte, e agora possível,que o �desenvolvimento� retornasse firmeatravés da moda ocidental da ecologia.

A retomada começou na década de 80,com a realização de conferências mundiaissobre o tema do Meio Ambiente, e teve comomomento marcante o ano de 1983, quando aAssembléia Geral das Nações Unidas pediu aoseu secretário geral que indicasse uma �Co-missão Mundial do Meio Ambiente e do De-senvolvimento� para realizar um relatório arespeito do desenvolvimento e do Meio Ambi-ente, em termos mundiais, cuja presidência foiconfiada à senhora Gro Harlem Brundtland,então Primeira Ministra da Noruega.

As condições eram bastante favoráveispara a realização de um relatório original e

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11Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo dodesenvolvimento sustentável

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bem informado, já que havia uma previsãode consulta internacional aos gruposambientalistas e ONGs envolvidas com otema, no sentido de construir uma visão omais abrangente possível e, acima de tudo,antenada com as expectativas dos países doNorte e do Sul. O trabalho foi concluído emmarço de 1987, e foi publicado no ano se-guinte, sob o título de Nosso Futuro Comum,contendo, entre outras coisas, uma exaustivalista de ameaças ao equilíbrio do meio ambi-ente planetário: o desflorestamento; a erosãodo solo; o efeito-estufa; o buraco na camadade ozônio; a questão da demografia; a cadeiaalimentar; os recursos hídricos; a energia;aspectos ligados aos processos de urbaniza-ção; a extinção de espécies animais; o arma-zenamento de armas; a proteção dos oceanose do espaço. Em vistas do apresentado, osgovernos não poderiam mais ignorar os mui-tos perigos ecológicos que deveriam ser, se nãoeliminados, pelo menos controlados, atravésde uma legislação ambiental rigorosa.

Uma diferença básica no que se refereà discussão ambiental anterior e o tema a serenfrentado pela Comissão Brundtland, foi ofato de que esta teve que considerar de ma-neira conjunta o Meio Ambiente e o �desen-volvimento�. Esse foi uma ponto crucial,porque produziu uma ênfase nas maneiraspelas quais tanto as sociedades ricas quantoas pobres destruíram o meio ambiente, claroque considerando sua diferentes razões. Issotambém significou a reconciliação de doisconceitos opostos: de um lado, estava preci-samente a atividade humana � especialmenteaquela baseada no modo de produção indus-trial, sinônimo de �desenvolvimento� � queestava por trás da deterioração do meio am-biente; do outro lado, a concepção de queera impossível não pensar na necessidade deacelerar o desenvolvimento de povos que nãotinham tido ainda acesso a condições decen-tes de vida.

Para dar uma resposta que integrasseesses dois pólos da questão, a Comissão pro-pôs o modelo do Desenvolvimento Susten-tável. Embora parecesse ser um dos pontoscentrais do relatório, sobre o qual se espera-va que fossem apresentadas propostas deoperacionalização capazes de funcionarcomo um guia o mais claro possível para aspolíticas a serem adotadas pelos diversos

governos, o que se encontra é um texto sin-gularmente dúbio em seu conteúdo. Sempretender fazer uma análise completa, men-cionaremos alguns aspectos críticos essenci-ais a respeito da passagem da página 29 daversão espanhola e na página 8 da versãoem inglês, que, por questão de espaço nãocitamos na íntegra:a) No texto há uma pressuposição implíci-

ta da existência de um sujeito coletivo (ahumanidade) dotado de reflexão e devontade1, que não pode, todavia, ser cla-ramente definido. Como colocado, o De-senvolvimento Sustentável depende detodos, o que pode significar que não de-pende de ninguém;

b) O relatório também defende que é preci-so atender as necessidades presentes semprejudicar o atendimento das necessida-des das gerações futuras. A questão quese coloca é a respeito da maneira pelaqual as necessidades serão identificadase quem estabelece quais são �básicas� equais são �supérfluas�. Outra dificulda-de é aquela ligada à impossibilidade con-creta de definir as necessidades corren-tes da humanidade, e muito mais aque-las das gerações futuras2;

c) A �atividade humana�, que, obviamente,tem efeitos sobre a biosfera, é citada, masos prejuízos decorrentes do modelo in-dustrial � ue são mostrados como sendoo principal problema na maior seção dorelatório � não recebe nenhuma mençãoneste ponto, como se a presença huma-na na terra não fosse condicionada pe-los modos de produção adotados.

d) Na visão da Comissão, �a pobreza não émais inevitável�. Uma abordagem maisinteressante seria uma que considerasseos mecanismos pelas quais a pobreza temsido socialmente construída nas últimasdécadas no nível internacional. Sem dú-vida isto levaria a denunciar os mecanis-mos de exclusão praticados pelos moldesdo crescimento econômico adotados;

e) �A Pobreza é um mal em si mesmo�. Emum quadro de referência baseado emuma dicotomia moral, o desenvolvimen-to é visto como um bem nele mesmo.Outras leituras têm conduzido a conclu-sões diametralmente opostas, segundo asquais, do ponto de vista da proteção do

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12 Lemuel Dourado Guerra; Deolinda de Sousa Ramalho; Jairo Bezerra Silva;Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

meio ambiente, o desenvolvimento é queé o �mal� nele mesmo.

Outra objeção importante em relaçãoaos resultados do Relatório é aquela referenteao valor de denunciar o fato de que � a eco-nomia e a ecologia podem interagir de ma-neira destrutiva e irem para o desastre�, seao mesmo tempo é reafirmado que �o que épreciso agora é uma nova era de crescimentoeconômico � crescimento que seja vigoroso eao mesmo tempo socialmente e ambiental-mente sustentável�. Mesmo considerando ajusteza dessa aspiração, o problema é que oRelatório não diz muito a respeito de �como�atingi-la3;

Ainda outra fragilidade do Relatórioem sua tarefa de propor uma contribuiçãopara a construção de modelos de desenvol-vimento sustentável é que há uma confusãoimplícita entre a perspectiva referente aosrecursos naturais não-renováveis e os recur-sos naturais renováveis, o que conduz a pen-sar dinâmicas de sociedades com diversosníveis de industrialização e com diversasbases econômicas sejam consideradas comoequivalentes. Ao ignorar essa diferença bá-sica dos potenciais e estilos de crescimentonas duas situações, o Relatório Brundtlandfalha em colocar com clareza a problemáticada �sustentabilidade�4.

Em vistas do apresentado, pode-se porem questão a propagada independência daComissão. Dado que um dos pontos centraisda discussão do Relatório Brundtland era aquestão do modo de vida dos ricos, tanto noNorte quanto no Sul, e embora seja dito que�escolhas dolorosas precisariam ser feitas�,a Comissão não propõe que os países indus-triais façam mudanças básicas em seus mo-delos de consumo. Pelo contrário, as propos-tas de aplicação de modelos de Desenvolvi-mento Sustentável consistem em garantirque, em áreas estratégicas de países do Sul,definidas como fundamentais para o �equi-líbrio do planeta�, sejam mantidas as formas�atrasadas� e �tradicionais� de produção,em outros tempo consideradas obstáculos aodesenvolvimento e, portanto, à erradicaçãoda pobreza5.

Ao optar por fazer uma crítica dosmodelos de desenvolvimento que desconsi-derou os seus determinantes sócio-político-econômicos, privilegiando uma visão

ecocêntrica � o que vai se refletir no modelode Desenvolvimento Sustentável que ela su-gere � a tarefa da Comissão Brundtland deredefinir a relação entre meio ambiente e�desenvolvimento� e propor �um programaglobal de mudança� ficou comprometida.Para a produção de uma análise mais con-seqüente, pelo menos três pontos de partidadeveriam ser adotados. O primeiro deles, acompreensão das formas pelas quais as pes-soas e as sociedades realmente se relacionamcom seu meio ambiente, de forma a estabe-lecer, de maneira mais razoável, a respon-sabilidade diferenciada pela produção dacrise ecológica mundial e as tarefas corres-pondentes necessárias a sua solução; o se-gundo, a adoção de uma visão desafiadorados modelos simplistas de análise das rela-ções entre meio ambiente e a esfera econô-mica, inclusive considerando a contradiçãointerna à proposta de adequação do ritmodo crescimento que o modelo capitalista-in-dustrial implica ao ritmo do ecossistema; e oterceiro, a localização histórico-cultural doconceito de desenvolvimento, o que conduzao reconhecimento do seu caráter ocidentale dos mecanismos de enriquecimento e deexclusão que o mesmo historicamente envol-veu. Tendo falhado em considerar esses trêspontos básicos, o Relatório Brundtland po-deria somente registrar os desequilíbrios queameaçam a sobrevivência humana, mas nãocontribuir para uma solução genuína.

A opção ecocêntrica do conceito e domodelo de Desenvolvimento Sustentável, emdetrimento de uma visão mais sociológica daquestão do desenvolvimento e da crise eco-lógica, revela uma prática social, embutidana formulação teórica, que tem como des-dobramento a utilização de categorias ana-líticas que comprometem, inclusive a própriaaplicabilidade das propostas de organizaçãodas novas estratégias de desenvolvimento.O caráter planetário da crise, o apelo ao nos-so �futuro comum�, todas essas metáforasde inclusão de todos na responsabilidadepela crise ambiental e na solução da mesma,se constroem de forma a diluir as diferençasentre nações, povos, classes e grupos étnicos,operando com uma idéia de totalidade ondenão há lugar para uma reflexão a respeitodas contradições e dos conflitos de interessesenvolvidos. Como conseqüências básicas

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13Ecologia política da construção da crise ambiental global e do modelo dodesenvolvimento sustentável

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

dessa orientação dos formuladores do con-ceito e dos modelos de DesenvolvimentoSustentável, podemos citar:1. A legitimação da prática dos países

hegemônicos no sentido de construir po-líticas ambientais referentes a espaçosgeográficos para além de suas fronteiras,já que os �interesses do planeta� depen-dem de uma ação em áreas escolhidascomo alvos da intervenção internacional;

2. A definição de instituições supranacio-nais vinculadas aos países do capitalis-mo central como gerenciadoras da polí-tica ambiental global, tais como a ONU,o Grupo dos 7, o Banco Mundial e aNASA. Da ação conjunta dessas institui-ções emergiram os principais diagnósti-cos mundiais e os contornos da políticaambiental para os países do Sul. A Con-ferência do Rio e a formulação da Agen-da 21 Global são exemplos da suapotencialidade de mobilização interna-cional;

3. A execução de políticas interventivas,traduzidas em projetos realizados empequenas comunidades, cuja formulaçãocontempla, prioritariamente os interessesdos financiadores internacionais, de umcorpo de especialistas locais e, como vere-mos a seguir, a garantia da manutençãodos ritmos de crescimento dos países de-senvolvidos e dos privilégios de determi-nados grupos sociais das camadas abas-tadas da população.

Esses aspectos problemáticos do con-ceito de Desenvolvimento Sustentável acimaapresentados justificam o questionamento arespeito do porquê de sua tão ampla aceita-ção, no Brasil e fora dele, demonstrada tantoem termos do volume de literatura que temoriginado, quanto pelo número de grupos deestudos, inclusão em programas de pós-gra-duação como linha de pesquisa e, finalmen-te, pelo privilegia mento por parte dosfinanciadores, de projetos que o tenhamcomo objeto. De acordo com Sachs (1992) eRist(1997), é graças ao caráter ambíguo desua formulação que o conceito de Desenvol-vimento Sustentável tem conseguido mobi-lizar um público de tamanha envergadura.

Efeitos e interesses da ambigüidade doconceito de DesenvolvimentoSustentável

O conceito de Desenvolvimento Sus-tentável tem originado pelo menos dois con-juntos de interpretações principais, sendoessa sua abertura enquanto significante,além das condições sociais e políticas queatravessamos, um dos fatores mais responsá-veis pelo seu sucesso. Os ecologistas o en-tendem como uma proposta de limitação dodesenvolvimento ao ritmo que o ecossistemapode suportar, o que pode, por conseguinte,garantir sua manutenção a longo prazo. Deacordo com essa compreensão, o modelo deDesenvolvimento Sustentável implica no re-conhecimento de que a capacidade de repro-dução dos recursos determina o volume daprodução, e de que a �sustentabilidade� sig-nifica que o processo pode ser mantido uni-camente sob certas condições dadas, tantoem referência aos padrões de produção econsumo das sociedades humanas, quantono que diz respeito ao ritmo de reposição dosrecursos naturais renováveis e do ritmo deexploração dos não-renováveis.

A outra interpretação que prevalece éa dos defensores do desenvolvimentismo, queentendem o Desenvolvimento Sustentávelcomo uma estratégia para manter o �desen-volvimento�, isto é, o ritmo do crescimentoeconômico. De acordo com essa visão, o �de-senvolvimento� é universal e inexorável,devendo ser prolongado tanto quanto forpossível. Em outras palavras, já que o �de-senvolvimento� é visto como naturalmentepositivo, deve-se evitar que ele seja asfixia-do. O Desenvolvimento Sustentável, então,significa que o �desenvolvimento deve avan-çar num ritmo o mais �sustentável� possívelaté que ele se torne irreversível.

De acordo com os defensores do De-senvolvimento Sustentável como uma estra-tégia para garantir um alargamento dasobrevida do modelo de crescimento econô-mico iniciado com a Revolução Industrial, oproblema com os países do sul é que eles es-tariam realizando um �desenvolvimentonão-sustentável�, marcado por avanços erecuos desenvolvimentistas, constantementedeterminados ao sabor da implementação depolíticas efêmeras de crescimento. Para os

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partidários dessa interpretação, então, a�sustentabilidade� é entendida no sentidotrivial de �durabilidade�: não é a sobrevivên-cia do ecossistema que coloca os limites parao �desenvolvimento, mas o �desenvolvimen-to� que determina a sobrevivência das socie-dades. Como o desenvolvimento é ao mesmotempo uma necessidade e uma oportunida-de, a conclusão é perfeitamente óbvia � queseja tão longo quanto possa durar!

Essas duas interpretações são tanto le-gítimas quanto contraditórias, já que os doissignificados antinômicos correspondem aomesmo significante. A interpretação dos eco-logistas, aparentemente superior em termosde ética, já que defende o respeito à nature-za, a preservação da �saúde do planeta�,mascara, na verdade, uma posição tão con-servadora quanto a dos capitalistas �semcoração�, prontos a defender seus interes-ses imediatos contra qualquer coisa, já quesua abordagem freqüentemente opera coma secundarização das variáveis referentes àsrelações humanas, em seus efeitos sobre asformas de apropriação da natureza, preo-cupando-se em garantir o equilíbrio doecossistema, em detrimento da consideraçãodos efeitos das ações interventivas com vis-tas à produção da sustentabilidade ecológi-ca sobre a vida dos indivíduos envolvidos.

O conceito e os modelos de Desenvol-vimento Sustentável implicam numa duplaênfase que contém elementos contraditóri-os: por um lado seus defensores investem nosavisos a respeito dos limites do meio ambi-ente e acerca dos perigos de não respeitá-los, e, por outro, enfatizam as exortações aoavanço determinado em direção da �novaera de crescimento econômico�. O RelatórioBrundtland não opta por nenhuma dessasdireções. Ele é um texto que pertence ao quealguns chamam de �diplomacia pela termi-nologia�, na medida em que não significacolocar em cheque nem a posição dos ecolo-gistas, nem a posição dos que defendem ainalterabilidade dos modelos de produção,de consumo e do ritmo de crescimento eco-nômico. Esse seu caráter dúbio favorece suautilização no sentido de encobrir práticasquestionáveis, oferecendo, sob a aparênciade uma política de preservação do meio am-biente, o álibi de que necessitam as opera-ções interessadas de agentes econômicos,

buscando sempre o controle de novas árease de novas oportunidades de negócios, alémde proteger de qualquer possibilidade de al-teração o modelo de produção e consumodominante.

Neste texto temos o objetivo de sugerirpontos para uma análise sociológica da criseecológica e de algumas das propostas parao seu equacionamento, mais especificamente,a do modelo de Desenvolvimento Sustentá-vel. No caso deste, dois pontos nos desper-tam a curiosidade e a necessidade de proble-matização sociológica: o primeiro, a extre-mamente rápida aceitação e disseminaçãodo conceito e das propostas de intervençõesconcretas na Amazônia brasileira e em ou-tras áreas do país, delas resultantes, tantopor parte da tecnocracia governamental,quanto por parte dos intelectuais, ONGs eoutras entidades da sociedade civil; o segun-do, o fantasma da ineficácia que ronda osprojetos que têm sido anunciados como des-tinados à construção do novo tipo de desen-volvimento proposto.

A sua capacidade de se estabelecerrapidamente enquanto um discurso consen-sual, quase único, nos estimula a concentraresforços de reflexão de caráter sociológico arespeito dos aspectos ideológicos do discur-so eco-ambientalista, e do modelo de Desen-volvimento Sustentável, ambos capazes dearticular símbolos, significados e conceitos,de forma a favorecer interesses de algumasforças e de secundarizar os de outras. Paraa construção de uma abordagem sociológicada temática e do modelo mencionados, par-timos de um levantamento das condiçõeshistóricas em que surge o discurso ecológi-co, constrói-se a plausibilidade da idéia decrise ecológica mundial e em que se dissemi-na a proposta de um Desenvolvimento Sus-tentável.

Esse inventário do contemporâneo,configura-se como uma tarefa de enormeamplitude. Nos deparamos com uma áreade produção intelectual extremamente farta,em que novos trabalhos, tanto no que se re-fere aos livros, bem como aos artigos, relató-rios e publicações especiais, aparecem emritmo notavelmente veloz. Isto, aliado ao re-conhecimento dos inúmeros fatores envol-vidos, logo evidenciou que não seria possíveldar conta de todas as variáveis e aspectos

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envolvidos na �invenção� da preocupaçãoecológica., sendo nosso propósito aqui levan-tar pontos significativos relativos aos contor-nos do debate da temática e do modelocitados.

O cenário em que emergem a criseecológica global e o modelo doDesenvolvimento Sustentável

Um dos principais componentes dessecenário em que emerge o debate a respeitoda crise ecológica, de suas conseqüências eda alternativa do modelo de Desenvolvimen-to Sustentável, é a derrota estrondosa deuma determinada ideologia, que competiuquase duzentos anos com o modo dominantede organizar as relações econômicas e sociaisnas sociedades ocidentais. É na esteira do fimde experiências de socialismo real como osexistentes tanto na antiga União Soviética,quanto na Alemanha Oriental, só para citardois exemplos, que toma corpo a preocupa-ção ecológica (cf. LATOUR, 1994).

O prevalecimento do capitalismo so-bre a alternativa socialista evoluiu no senti-do da constituição de uma rede econômicainternacional, com o suporte tecnológico darevolução da informática, possibilitando umfluxo crescentemente veloz de informações,capaz de criar condições para que se execu-tem operações financeiras à distância, con-figurando uma conjuntura de atividadeseconômicas gradualmente exercidas no cam-po da virtualidade. Devido ao consenso emtorno do modo de produção dominante, e,ao menos aparentemente, triunfante, o tem-po presente se caracteriza por um imaginárioe espaço social concreto nos quais avançamos elementos e mecanismos da lógica domercado.

Esse cenário, cujos contornos foramanunciados acima, é facilmente observadono mundo real, podendo ser, alternativa-mente, lido positivamente ou negativamente.Pode-se falar mesmo da constituição pro-gressiva de um debate internacional referentea conceitos como globalização, economiavirtual, neoliberalismo, todos esses termosligados ao reconhecimento da falência do so-cialismo e da inexorabilidade do capitalismo.

É nesse contexto, caracterizado pelaglobalização da economia e pelo fim dos

embates econômico-políticos do capitalismocom experiências significativas de socialis-mo, que a sociedade capitalista industrialtem condições de construir a problemáticaecológica, à medida em que se livra da preo-cupação com um eventual enfrentamentocom outro modelo econômico, e que semundializa o escopo em que é consideradoo campo de sua ação e de sua influência.

Dois desdobramentos desse cenárioassociam-se mais diretamente com a emer-gência da questão ecológica no cenário mun-dial: o primeiro, o fato de que o capitalismotriunfante não pode deixar de tomar medi-das para que sejam mantidas e expandidasas taxas de lucro; o segundo, a expansão docampo em que as ações econômicas e políti-cas passam a ser pensadas e operacionali-zadas.

Isso se relaciona com a emergência doambientalismo e com a formulação e propo-sição do modelo de Desenvolvimento Susten-tável pelo fato de que, se, no passado, a buscade taxas crescentes de lucro, traduzida navalorização das vantagens comparativas,guiou o movimento de capitais no sentidoda periferia do modelo, atraído pelos bene-fícios advindos da maior proximidade damatéria prima e dos salários baixos regionais,uma das questões agora colocadas ao siste-ma dominante de apropriação e transforma-ção da natureza, é, justamente, a garantiade uma acessibilidade máxima aos recursosnaturais, renováveis e não renováveis. Se,antes, o âmbito em que competiam as forçaseconômicas pelo acesso e disponibilizaçãodesses recursos eram as fronteiras nacionais,a mundialização dos mercados coloca agoracomo novidade inescapável a ampliação doespaço no qual se enfrentam essas forças pelocontrole do �capital natural�, configurando-se um momento em que a idéia de crise eco-lógica planetária e a proposta do Desenvol-vimento Sustentável, poderiam se transfor-mar em estratégias funcionalizadas no sen-tido de criar condições para uma gestão in-ternacionalizada dos recursos naturais, pen-sada de forma a favorecer os interesses dasforças político-econômicas dominantes.

Com o objetivo de possibilitar a essasforças o acesso e a disponibilização imedia-ta ou futura dos estoques de recursos natu-rais de áreas consideradas nichos ecológicos

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planetários, começou a emergir o debate so-bre a crise ecológica mundial e um conjuntode políticas ambientais internacionalizadas,no âmbito das quais se destaca o modelo deDesenvolvimento Sustentável.

Para entender a plausibilização da dis-cussão ecológica como um problema mun-dial, com seus tons ao mesmo tempo catas-tróficos e utópico-românticos, bem como daspropostas para o seu enfrentamento, é pre-ciso adicionar à descrição do cenário econô-mico e político alguns dados referentes àprática dos cientistas. Lyotard (1982) já men-ciona, em seu relatório sobre o estado doconhecimento científico no mundo, elabora-do no final da década de 70 do século pas-sado, o aprofundamento das relações entrea ciência e as demandas do mercado. É emreferência a essa descrição que podemos en-tender como são mobilizados conceitos, teo-rias e discursos de intelectuais no sentido dedar suporte a uma preocupação coletiva arespeito do meio ambiente, bem como à disse-minação, em termos de mídia de massa, mastambém no nível acadêmico, da alternativado Desenvolvimento Sustentável.

Em termos da contribuição da ciênciapara a emergência da questão ecológica, caberessaltar uma marca fundamental, a saber,o resgate, no nível teórico/metodológico, dospressupostos do paradigma sistêmico. Estescompõem a matriz principal da formulaçãodo debate sobre a crise ecológica, desdobran-do-se na noção de interdisciplinaridade, ser-vindo de fundamento para a mobilização devárias metáforas inclusivistas, utilizadaspara a formulação de uma mística do pla-neta, descrito como, por exemplo, a �naveTerra�. O sistemismo também fundamentaa �invenção� de uma responsabilidade �detodos� pelo enfrentamento dos problemasatuais do ecossistema planetário e dos pre-vistos para um futuro próximo, se não foremtomadas as providências propostas e acorda-das nos pactos ambientalistas internacionais.

Em termos de prática científica, parti-cularmente no que se refere às ciências soci-ais, a intensificação das ligações entre pro-dução intelectual e as demandas do merca-do se reflete, basicamente, na reduçãoprogressiva do espaço da reflexão crítica, quedá lugar à hipertrofia das categorias�limpas�6, nas quais se apagam as variáveis

ligadas à consideração dos aspectos da rela-ções sociais tradicionalmente associados àatividade de análise da interação social hu-mana7. Como dissemos, é como se a ascen-são da importância de satisfazer as deman-das do mercado em termos de produção in-telectual produzisse o silêncio da teoria arespeito de uma realidade sócio-econômicaque demanda, talvez mais urgentemente doque nunca, uma atividade capaz de desven-dar os mecanismos de funcionamento e deestruturação dos arranjos sociais nos quaisse inscrevem as relações sociais.

Num momento histórico como esse, emque as sociedades são marcadas pelareflexividade8, a construção da idéia de umasituação limite do ecossistema mundial so-mente tem sido possível graças ao forneci-mento de uma base de caráter científico. Aplausibilização da catástrofe ecológica imi-nente, mediatizada pelo aporte dos relatóri-os �científicos�, portanto, dá suporte à for-mulação de duas estratégias, diferentes, masinterrelacionadas, no sentido do enfrenta-mento da crise ambiental planetária: uma, aDivisão Ecológica Internacional9, que prevê,inclusive, um mapeamento mundial, em ter-mos de recursos naturais, e uma conseqüen-te atribuição de responsabilidades, no quese refere a uma divisão do �trabalho ecoló-gico� necessário ao equilíbrio do ecossistemada Terra entre as diversas áreas geo-políti-cas do planeta; a outra, o modelo de Desen-volvimento Sustentável, que traz, como prin-cipal trunfo teórico, a proposta de que cres-cimento econômico e a preservação dosecossistemas podem existir simultaneamente.

A Divisão Ecológica Internacionalapresenta uma série de contradições, e inte-resses não confessados, que uma análise so-ciológica conseqüente pode facilmente detec-tar. Essa proposta de divisão internacionaldo �trabalho ecológico�, associa uma maiorresponsabilidade, na atuação no sentido daresolução da crise ambiental global, às árease países que consomem volumes menores etambém poluem menos do que aqueles quesão os maiores consumidores de capital na-tural e mais poluentes10. O que observamosé que essa Divisão Ecológica Internacional(DEI) prevê, na prática, a manutenção dospadrões de produção e de consumoexercidos nos países capitalistas desenvolvi-

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dos, enquanto propõe, aos países pobres eem Desenvolvimento, o modelo de Desen-volvimento Sustentável, que implica, emgrande medida, na revisão dos modelos deprodução e de consumo de recursos naturaisnas áreas definidas como nichos ecológicosmundiais11.

Sendo a proposta da Divisão Ecológi-ca Internacional uma formulação originadanos países do Norte, e estando o modelo deDesenvolvimento Sustentável a ela associa-do, não admira que seja construído no sen-tido de garantir o privilegiamento dos inte-resses desses países, em detrimento dos da-queles incluídos nas áreas das quais se exi-gem modificações mais significativas, no quese refere às estratégias e ritmos de apropria-ção dos recursos naturais, necessários à ma-nutenção dos padrões de produção e consu-mo neles existentes.

Essa proposta de Divisão EcológicaInternacional articula-se com o modelo deDesenvolvimento Sustentável, na medida emque este tem destinatários específicos, a sa-ber as áreas geográficas consideradas comoreservatórios de biodiversidade e de recur-sos naturais não-renováveis, localizáveis apartir da nova cartografia mundial, formu-lada através dos critérios da distribuição dos�trabalhos ecológicos� a serem desempenha-dos no sentido de evitar � de acordo com osformuladores das políticas ambientais inter-nacionais � a exaustão iminente do ecossis-tema do planeta.

Nossa análise da Divisão EcológicaInternacional, bem como de muitas das ex-periências anunciadas como de construçãodo Desenvolvimento Sustentável, apresenta-das, inclusive como exemplos para repli-cação, indicou algumas pontos principaispara eventuais questionamentos, que podemser, sinteticamente, assim apresentados:� Os eixos nos quais se baseia o conceito

de Desenvolvimento Sustentável não sãoigualmente enfatizados nas experiênci-as de implementação do modelo em vá-rias áreas do Brasil e especificamente naAmazônia brasileira. O que observamosna análise de várias propostas atuais depolíticas ambientalistas, é a hipertrofiados aspectos ligados à preservaçãoambiental e a secundarização daquelesligados à produção da eqüidade social e

da eficiência econômica, não sendo asmesmas avaliadas em termos das conse-qüências que têm sobre a vida de milhõesde pessoas para as quais o meio ambien-te é menos uma questão de qualidade devida, do que de sobrevivência. Para aspopulações pobres, as noções de conser-vação e proteção ambiental, completa-mente aceitáveis em países desenvolvi-dos, são altamente contestáveis. Nossaanálise da literatura sobre sustentabili-dade e crise ecológica, mesmo a produ-zida pelos cientistas sociais, tem revela-do que enquanto a pobreza e a degrada-ção ambiental são amplamente relacio-nadas, o papel das políticas ambientalis-tas para a construção do Desenvolvimen-to Sustentável na diminuição do acessodas populações pobres aos recursos na-turais é muito raramente discutido.;

� O privilegiamento dos aspectos ligados aoecossistema, corresponde a dois elemen-tos presentes na formulação original domodelo e também recorrentes em grandeparte da produção a respeito da crise eco-lógica mundial, a saber: o primeiro deles,o biocentrismo, que produz o apagamen-to das relações sociais e das preocupaçõesa elas referentes; o segundo, a intençãode formular, na verdade, uma políticaracional de gestão de recursos naturais emáreas consideradas ecologicamente privi-legiadas, visando, inclusive sua disponi-bilização para uso internacional, possibi-litado, por sua vez, pela disponibilizaçãode estoques biogenéticos e de recursos não-renováveis para a compra e venda nomercado de capitais naturais.

Argumentamos, com Banerjee (2001),que, a despeito de ser anunciado como umamudança de paradigma, o modelo do Desen-volvimento Sustentável baseia-se efetiva-mente numa racionalidade econômica e nãoecológica. O discurso do DesenvolvimentoSustentável reforça uma visão da naturezacomo apresentada pelo pensamento econô-mico moderno, sendo uma das suas conse-qüências a transformação da �natureza� em�meio ambiente�, o que tem importantes im-plicações sobre as noções de como o desen-volvimento deve ser promovido e realizado.

A gestão �racional� dos recursos, em-butida nos documentos em que o discurso

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sobre a sustentabilidade é construído, é fun-damental para a economia ocidental e suaimposição para países �em desenvolvimen-to� é problemática, sendo necessário discu-tir as implicações desse �regime de verda-de� aos países do III Mundo, em referência,particularmente à biotecnologia, à biodiver-sidade e aos direitos de propriedade intelec-tual12. Todos esses aspectos envolvidos nadisseminação impositiva do modelo de De-senvolvimento Sustentável precisam ser vis-tos como ameaças de neocolonização de es-paços ecologicamente privilegiados, localiza-dos no Sul, que devem ser agora tornados�eficientes�, graças à capitalização da na-tureza13.

Embora nas várias definições de De-senvolvimento Sustentável seja possível iden-tificar muitos temas tais como os referentes:(1) ao desenvolvimento humano; (2) àintegração ecológica, econômica, política,tecnológica e de sistemas sociais; (3) à cone-xão entre objetivos sócio-políticos, econômi-cos e ambientais; (4) à eqüidade, como umadistribuição justa de recursos e da proprie-dade dos direitos sobre os recursos naturais;(5)à prudência ecológica; e (6) à segurança,traduzida em níveis seguros de saúde e dequalidade de vida14, a linguagem do capitalé que prevalece na fundamentação das es-tratégias de produção e efetivação de políti-cas ambientais para o atingimento do De-senvolvimento Sustentável.

A ênfase na �constância do estoque decapital natural� como condição necessáriaà sustentabilidade, defendida por Pearce etal. (1989), é um exemplo disso. De acordocom esse autor, as mudanças no estoquemencionado deveriam ser �não-negativas�,e o capital criado pelo homem (produtos eserviços, como definidos pela economia econtabilidade tradicionais), não deveria seexpandir às expensas do capital natural.Assim, termos como �custos sustentáveis�,�capital natural�, �capital sustentável�,�produção sustentável�, indicam que o tra-dicional léxico do capital, da renda e do cres-cimento continuam a informar esse �novo�paradigma do Desenvolvimento Sustentável.

A relação da proposição do modelo deDesenvolvimento Sustentável com a lógicade expansão do capital é também mostradapor Hart (1997, p.67), para quem o desafio

implícito daquele é �desenvolver uma eco-nomia global sustentável: uma economia queo planeta possa suportar indefinidamente�.Também nessa direção, para Beder (1994),os objetivos não anunciados do Desenvolvi-mento Sustentável seriam os de encontrarnovas tecnologias e expandir o papel domercado na alocação de recursos naturais,escudados no pressuposto de que a únicamaneira de proteger o meio ambiente natu-ral seria colocar preço nele, tornando suadegradação menos rentável.

Assim, ao invés de transformar o mer-cado e os processos de produção, com o ob-jetivo de torná-los adequados à lógica doecossistema, o modelo do DesenvolvimentoSustentável usa a lógica do capital e da acu-mulação capitalista para determinar o futu-ro da natureza e, por conseguinte, das pos-sibilidades de acesso e uso dos recursos na-turais das várias populações ao redor domundo (cf. SHIVA, 1991).

Sobre esse aspecto pouco crítico domodelo de Desenvolvimento Sustentável, emrelação ao tipo de apropriação da naturezapraticado há mais ou menos dois séculospelas sociedade ocidentais, Banerjee (1998)e Visvanathan (1991), afirmam que não épossível encontrar naquele um desafio con-seqüente à noção moderno-industrial de pro-gresso, observando-se que a racionalidadeeconômica implícita no modelo menciona-do continua a privilegiar o consumismo, re-afirmando-se a necessidade de crescimentoeconômico, à qual apenas se adicionam ter-mos tais como �prevenção da poluição�,�reciclagem�, gestão ambiental, dentre ou-tros.

A análise de várias das experiênciasapresentadas como sendo capazes de pro-duzir o Desenvolvimento Sustentável, pelapossibilidade de harmonização do cresci-mento econômico com as medidas na dire-ção da melhoria da qualidade de vida paraas comunidades envolvidas e a preservaçãoambiental, demonstra uma realidade ondeé possível observar um distanciamento sig-nificativo do que é oficialmente enunciado.Essas experiências são realmente eficazes éna adoção de restrições ao uso dos recursosnaturais pelas populações locais e na suafuncionalização enquanto mobilizadoras deuma fala única, livre de resistências e

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questionamento, a respeito da gestão do ca-pital natural das diversas regiões15.

Essa eficácia é demonstrada pelaabrangência das estruturas governamentaisgeradas pela ingerência do capital externonas regiões definidas como nichos ecológicos,materializada pelo estilo de financiamentointernacional de projetos, que tem exigido,como contrapartida estatal, a montagem deinstituições para gerir a política ambientaldestinadas a instalar os mecanismos de ges-tão racional dos recursos naturais nas áreas-alvos. Outro indicativo do sucesso dessasexperiências como catalisadoras de umamentalidade e discursos unificados em de-fesa da natureza16 é a montagem de redesde projetos em regiões ricas em biodiversi-dade e recursos naturais, como a Amazônia,e em outras áreas-alvos, definidas como ni-chos ecológicos mundiais, capazes de, atra-vés da articulação de ONGs, Sindicatos Ru-rais, Cooperativas e outros tipos de entida-des, minar, nestas, a antiga tarefa de funcio-nar como mediadores da interlocução como Estado, no que se refere à reivindicação depolíticas públicas capazes de solucionar osproblemas sociais e, por conseguinte, influ-enciar os níveis de degradação ambientalassociados às populações pobres da região.

O discurso ecológico, e sua operacio-nalização em termos da formulação implíci-ta de uma Política Racional de Gestão dosRecursos Naturais Internacionalizada, apre-sentada como uma proposta de Desenvolvi-mento Sustentável e disseminada graças aooferecimento da �ajuda� internacional emtemos de financiamento das ações localiza-das, têm transformado as pautas dos movi-mentos sociais, das instituições públicas depesquisa, de maneira a produzir o apaga-mento dos conteúdos ligados ao questiona-mento do Estado e de suas políticas sociais.

Assim, gradualmente as entidades dasociedade civil se direcionam à reflexão econscientização a respeito da necessidade depreservar o meio ambiente, definido da ma-neira mais prejudicial possível à luta pelamelhoria de condições de vida das camadaspobres da população urbana e rural das re-giões eleitas como alvos da intervenção embusca da �sustentabilidade�: como seestivesse desligado do arranjo das relaçõessociais sob o qual se definem, inclusive, o

estilo e o ritmo de apropriação da natureza,bem como as estratégias mais gerais de or-ganização da produção econômica, objeti-vando o crescimento econômico efetivo.

A vantagem de reconhecer no modelode Desenvolvimento Sustentável não um efe-tivo novo estilo de desenvolvimento, masuma articulação teórico e prática no sentidode, inclusive, abrir as fronteiras das regiõesclassificadas como nichos ecológicos mundiais� como por exemplo, a Amazônia �, à inge-rência internacional, através da capacidadede impulsionar uma política de gestão dosrecursos naturais para as mesmas, é a possi-bilidade que isso abre no sentido da análisede como são beneficiadas as forças envol-vidas.

A partir do dado de que o financia-mento externo das experiência anunciadascomo produtoras de Desenvolvimento Sus-tentável não tem, efetivamente, a intençãode promover o desenvolvimento sócio-eco-nômico da região, mas o de fornecer proto-colos oficiais de acesso a uma região defini-da como possuidora de estoques de capitalnatural incomensuráveis, é possível suspei-tar dos interesses dos �doadores� envolvidos.Instala-se, assim, uma outra lógica de análi-se, impossível de ser adotada se o pressupos-to de que as ações interventivas realizadasna área produziriam um desenvolvimentocapaz de harmonizar a eficiência econômi-ca, a preservação ecológica e a eqüidade so-cial, sendo respeitados os interesses das co-munidades locais e alcançadas as metas dodesenvolvimento regional.

O desvendamento do funcionamentoideológico do discurso ecológico, bem comodos interesses efetivos implícitos na propos-ta de Desenvolvimento Sustentável abre asportas para uma análise sociológica que con-sidere, diferentemente do que vem sendorealizado tendencialmente na atualidade, asquestões ligadas às formas pelas quais sedarão o acesso e a disponibilização do capi-tal natural da região, o que envolve umapostura crítica de propostas em discussão taiscomo, por exemplo, as referentes aos trata-dos de biodiversidade e a da internaciona-lização da região amazônica. Isso poderátrazer de volta ao debate as categoriassociológicas tradicionais ligadas à discussãodas relações de forças, dos conflitos de

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interesses e a abordagem que coloca sobquestão os arranjos sociais sob os quais vi-vem os homens, tanto os do Norte, quantoos Sul, chamados tantas vezes de �povos semhistória�, sem que esbocemos, enquanto ci-entistas sociais, ações capazes de transfor-mar essa classificação apenas numa versãoequivocada, etnocêntrica da nossa realida-de. Na próxima seção apresentamos algu-mas reflexões a respeito das tendências prin-cipais da abordagem da questão ecológicafeita por cientistas sociais no Brasil, propon-do finalmente alguns eixos de uma propos-ta de reformulação sociologizadora do debate.

O papel dos cientistas sociais nadiscussão sobre a crise ambiental globale sobre o modelo do DesenvolvimentoSustentável

Com o objetivo de levantar alguns as-pectos da contribuição dos cientistas sociaispara o estabelecimento dos contornos dodebate a respeito da questão ambiental con-temporânea, especialmente em seu aspectode globalismo ecológico, para finalmenteapresentar uma proposta de questões a en-frentar para uma abordagem mais estrita-mente �sociológica�, apresentamos, inicial-mente, uma breve caracterização dos eixostemáticos principais adotados, que têm sidomarcados pelo prevalecimento de uma ori-entação para a �despolitização� da discus-são, o que pode contribuir para o agrava-mento das situações de pobreza, de depen-dência e exploração às quais amplos setoresda população nacional estão submetidos jáhá tão grande período de tempo.

A tendência hegemônica, em termosda maneira pela qual a maioria dos traba-lhos na área das ciências sociais tem focali-zado o debate sobre a crise ecológica mun-dial, tem sido a adoção de estratégias de abor-dagens que dificultam a construção de umavisão propriamente sociológica da questão.Freqüentemente a atuação dos profissionaisdas ciências sociais tem se reduzido ao pa-pel de meros classificadores de áreas e demapeadores de identidades culturais em pro-cessos avaliativos dos impactos ambientaisde projetos de intervenção localizada17.

Na maioria dos casos, os sociólogos eantropólogos têm sido convidados a prestar

serviços na área de classificação de terras,no levantamento de impactos sociais de im-plantação de novas tecnologias em áreassubdesenvolvidas, no levantamento de da-dos e organização de informações em cadas-tros de comunidades, atividades que envol-vem uma ação mais técnica, tanto em ter-mos de trabalho científico de equaciona-mento de problemas e de formulação de ques-tões, quanto em referência à elaboração depropostas de intervenções e na efetivaçãodas mesmas.

Enquanto como protagonistas dasações interventivas, os cientistas da área daschamadas �ciências exatas�, capazes de mediras condições biofísicas das áreas escolhidascomo objeto de intervenção, atuam elaboran-do modelos matemáticos com o objetivo de�prever para prevenir�, os cientistas da cul-tura terminam por executar apenas o traba-lho de mobilizar as populações para a �par-ticipação� nos processos de implantação dastransformações na direção da construção da�sustentabilidade�, na maioria das vezesfornecendo um discurso legitimador da ên-fase na lógica preservacionista � freqüen-temente privilegiada, em detrimento das pre-ocupações com a construção da eqüidadesocial e do desenvolvimento econômico �,que subjaz aos projetos de �desenvolvimen-to sustentável� financiados pelo capital in-ternacional.

Esse papel que tem cabido aos cientis-tas sociais é fruto da maneira pela qual opróprio debate a respeito da crise ambientalse constitui, tendo como pressuposto explí-cito a necessidade de uma abordagemsistêmica. Essa abordagem, por sua vez, im-plicaria na imposição da interdisciplinari-dade como maneira privilegiada de produ-zir conhecimento e orientar processos inter-ventivos na direção do enfrentamento dacrise ambiental planetária.

No caso específico do objeto da criseambiental, os cientistas sociais que têm sidoseduzidos pelas propostas de estratégias decooperação interdisciplinar não têm conse-guido evitar a hegemonização das ciênciasbio-físico-químicas nas experiências realiza-das, tanto na formulação de projetos, quan-to nas experiências de sua implementação,que se desdobra no apagamento da contri-buição das ciências sociais em geral, e, espe-

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cificamente, da sociologia, que vai, então, as-sumindo um papel periférico nos processos.

O privilegiamento das variáveis ligadasao mundo bio-químico-físico é, ele mesmo, umresultado da maneira pela qual o debate sobrea crise ambiental emerge historicamente.Como veremos posteriormente, as linhas ge-rais da discussão a respeito da problemáticaambiental são marcadas pela luta de interes-ses e pela intenção de proteger privilégios edeterminadas maneiras de estruturação dasrelações de poder ao nível internacional, o que,ao nível da teoria, tem se traduzido na secun-darização da reflexão a respeito das relaçõessociais e dos modelos de sociedade nas quaisas mesmas se estabelecem. É significativo oabandono de categorias sociológicas clássicasusadas pelo menos até o fim do terceiro quar-tel do século XX.

O problema aqui é justamente o assen-timento de antropólogos e sociólogos emparticipar desses processos dessa maneira,aceitando o papel de figuração no cenárioda discussão teórica e da implementação depropostas visando ao equacionamento doque se tem definido como o problema daexaustão dos recursos naturais no planeta,o que tem significado a perda do status dasciências sociais enquanto aquela que dá sen-tido à história, a partir de uma prática ca-racterizada pelo seu caráter crítico. O quepodemos encontrar como tendência da pro-dução dos cientistas sociais a respeito da criseambiental em geral e do DesenvolvimentoSustentável é a aceitação acrítica do concei-to � que tem, inclusive, criado as condiçõespara seu estabelecimento como um discursoúnico �, corroborada por toda uma políticade financiamentos executada pelos organis-mos internacionais e ratificada na prolifera-ção reflexiva de institutos, grupos de pesqui-sa, cursos de pós-graduação e de órgãos go-vernamentais dedicados ao estudo dessatemática.

Isso aponta para o surgimento e esta-belecimento de um conjunto de especialistasno assunto, que vão, gradualmente, aban-donando as questões ligadas aos conflitos deterra, à análise dos problemas causados pelaestrutura agrária nacional, marcada pelasdistorções da preponderância de minifúndiose latifúndios, dentre outros temas tradicio-nais em termos de sociologia rural, promo-

vendo e disseminando o(s) modelo(s) deDesenvolvimento Sustentável, que passa aser tanto hiper-citado quanto transformadonuma linha de pesquisa �quente�, principal-mente em termos de capacidade de capta-ção de recursos financeiros.

Uma outra tendência observada naprodução dos cientistas sociais sobre a ques-tão ambiental e especificamente sobre o De-senvolvimento Sustentável é o enfoquemicro-localizado. Muitas coletâneas lança-das no Brasil, referentes ao estudo do mode-lo de desenvolvimento acima citado e dasalternativas de enfrentamento da criseambiental, dedicam-se à apresentação deresultados de ações interventivas implemen-tadas em pequenas comunidades rurais,secundarizando a perspectiva macrossocial� o que resulta na desatenção dada a pro-blemas que somente um visão maistotalizadora permite�, em favor da demons-tração dos resultados dos projetos locais es-pecíficos, em tentativas desesperadas de pro-var a efetividade da proposta, em termos daprodução dos três eixos do conceito, quaissejam: o da eqüidade social; o do preserva-cionismo e o da eficiência econômica.

Vistas essas tendências do debate arespeito do Meio Ambiente em geral, e dasustentabilidade especificamente, realizadono âmbito das ciências sociais no Brasil, pro-pomos na próxima seção um conjunto depontos a serem considerados num projeto deconstrução de uma abordagem mais ade-quada às ciências da sociedade a respeito datemática da Crise Ecológica em suas relaçõescom a questão do desenvolvimento.

Pontos sugeridos para uma agenda depesquisa da sociologia e da ecologiapolítica de questões ambientais

No sentido da construção de umaabordagem mais genuinamente sociológicada crise ambiental e do DesenvolvimentoSustentável, sugerimos algumas estratégiasfundamentais que precisam ser adotadas naanálise das temáticas mencionadas, e cujonegligenciamento tem determinado, inclusi-ve, uma contribuição tímida e poucopreocupada com os aspectos estritamentesociológicos, a saber:(1) Encarar o modelo do Desenvolvimento

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como um discurso com funções ideológi-cas, capaz de articular conceitos e sím-bolos com o objetivo de mascarar o privi-legiamento de interesses particulares apartir de uma retórica marcada pelasmetáforas da inclusão de todos;

(2) Analisar o modelo de DesenvolvimentoSustentável como uma proposta de ges-tão racional dos recursos hídricos, queimplica numa abordagem que permita avisualização clara dos grupos em favordos quais um determinado modelo deacessibilidade e de uso dos mesmos re-cursos funciona;

(3) Focalizar as contradições dos modelos de�participação� propostos nos projetos deintervenção localizada com o objetivo daprodução da sustentabilidade;

(4) Estudar a articulação entre os interesseslocais e os dos países e grupos financia-dores dos projetos, que inclui, inclusivea necessidade de analisar a constituiçãode uma rede de projetos e de ações quedesmobilizam uma fala da comunidadelocal � inclusive através de ONGs apa-rentemente �populares� �, dificultandoa articulação e a interlocução da socie-dade civil com o Estado, dificultando olevantamento da discussão dos proble-mas sociais e a adoção de estratégias po-líticas de defesa dos interesses das popu-lações locais;

(5) Abordar os eventuais efeitos do discursoque defende o globalismo ecológico, ouda constituição da crise ambiental en-quanto um fenômeno planetário, em ter-mos da construção da licença políticapara a intervenção de países capitalistasdesenvolvidos em áreas internas de paí-ses subdesenvolvidos e �em desenvolvi-mento�, desde que classificadas comopatrimônio mundial, devido à atribuiçãoque lhes é feita de uma papel significati-vo na �salvação do planeta�;

(6) Focalizar a questão dos interesses relacio-nados com a biodiversidade de áreascomo a da Amazônia, que envolve a ava-liação dos interesses econômicos interna-cionais embutidos no discurso da�ecologização� da região;

(7) Trabalhar para tornar explícita a in-coerência de uma Divisão EcológicaInternacional18 que, embora aparente-

mente respaldada num discurso científi-co de avaliação da iminente exaustão dosrecursos naturais e dos níveis de polui-ção produzidos pelos modelos de produ-ção e de consumo praticados mais inten-samente por países desenvolvidos capi-talistas, estabelece uma relação inversaentre a responsabilização pela produçãoda crise e a responsabilidade de pagarpor ela, contribuindo para sua solução;

(8) Discutir a intocabilidade dos modelos deprodução e de consumo praticados nospaíses do Norte, aliada à proposta de in-tervenção e de conservadorismo, feita àsregiões eleitas como significativas para apreservação do planeta.

Especificamente em relação à ecologiapolítica dos Recursos Hídricos

A reflexão inspirada nas contribuiçõesteóricas da análise sociológica e da EcologiaPolítica sobre as questões ambientais referi-das especificamente ao campo dos recursoshídricos precisa focalizar o que chamareiaqui do irresistível encanto das micro-ações eda participação popular. Assim como em ou-tros setores, os discursos de sustentabilidadeambiental hídrica mobilizam símbolos e ima-ginários referidos ao micro-espaço, sendo defundamental importância pesquisar as trans-formações no cenários, nos atores, nas açõesrelativas ao enfrentamento de problemasrelativos ao acesso e uso de água nas socie-dades contemporâneas.

Questões importantes a serem enfren-tadas podem ser, dentre outras, as que apon-tamos a seguir:� Como é possível a atual configuração das

políticas para o enfrentamento de questõesligadas ao abastecimento de água?

� Quais os significados ideológicos da Pro-posta de Gestão Racional de RecursosHídricos, atualmente em discussão emmuitos países?

� Como se dá a evolução das políticas públi-cas, da ação coletiva e dos atores envolvi-dos nas ações de enfrentamento das ques-tões relativas à escassez de água?

� De que maneira elementos relacionados àconstrução histórica das políticas públicase da ação coletiva relacionadas com oenfrentamento da escassez de água � tais

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como o clientelismo, a utilização política,o privilegiamento de elites � se transfor-mam com a passagem do paradigma doEstado Forte para o Estado Neoliberal?

� Em que medida e como as mudanças doparadigma da Modernidade para oParadigma da Sustentabilidade se refletemsobre a evolução das políticas públicas eda ação coletiva relacionadas ao enfren-tamento dos problemas de abastecimentode água nas sociedades contemporâneas?

� Quais as implicações da crescente merca-dorização da água, em termos de disponi-bilização e acesso ao recurso por parte dosdiversos estratos sociais?

� Que conflitos emergem nos processos departicipação popular previstos nos Comi-tês de Bacias?

� Como se dão as lutas de interesses entrecorporações, governos e grupos popula-cionais pelo controle das águas em nívelmundial?

Conclusão

Não pretendemos fechar posição emtorno de uma crítica inteiramente negativado conceito e do(s) modelo(s) de Desenvol-vimento Sustentável e das propostas deleresultantes em várias áreas que emergemcomo objetos da preocupação ambientalista.Nosso objetivo é o de contribuir para provo-car um debate a respeito das abordagens queas ciências sociais têm construído a respeitoda crise ambiental e das propostas elabora-das para o seu enfrentamento. Nossa pers-pectiva representa a constituição de umapossibilidade de quebra do consenso que cir-cunda os discursos construídos em torno daquestão ambiental e das estratégias deenfrentamento dos problemas ecológicosdetectados, que representa, na maioria doscasos, o distanciamento da construção deuma reflexão científica mais produtiva, ca-paz de fornecer à sociedade como um todo,e não apenas aos grupos dominantes, res-postas às questões cruciais tais como a dapobreza em que vivem amplos setores dapopulação mundial, a do subdesenvolvimen-to, a do acesso a níveis dignos de qualidadede vida, todas referidas à coletividade doplaneta, mas incapazes de mobilizar os es-forços coletivos para seu enfrentamento.

No caso, trata-se de examinar umnovo modelo de desenvolvimento, e algumaspropostas de construção da sustentabilidadeecológica em várias áreas, originadas a par-tir de lugares específicos de poder e de privi-légios, com conseqüências de amplo alcancesocial. Da nossa capacidade de desvendaros interesses implícitos nesse processo e deproduzir dele um entendimento o mais cla-ro possível, depende a construção da nossaprópria significância enquanto cientistas dasociedade. Nesse sentido, chamamos a aten-ção dos estudiosos da questão ambiental paraas condições sócio-históricas em que emergeesse debate sobre o Desenvolvimento Susten-tável e sobre as condições necessárias a suaconsolidação enquanto perspectiva orien-tadora das políticas para o meio ambiente.

Vale a pena relembrar o significadolegitimador atribuído ao modelo de desen-volvimento aqui focalizado por centros, ins-titutos, grupos e programas de pesquisa dasuniversidades brasileiras sobre a temática,bem como pela constituição de um corpo deespecialistas no tema, absorvendo-o e o rea-firmando como um novo projeto social, ge-ralmente de maneira acrítica, curiosamenteeliminando das análises produzidas justa-mente o que é inaceitável eliminar: as ques-tões relativas aos jogos de poder e de inte-resses, que determinam significativamente aspráticas efetivas no mundo real.

Enquanto se alega que a teoria e omodelo de Desenvolvimento Sustentável,bem como as alternativas de enfrentamentodas questões ambientais deles decorrentesestão em construção19, as estratégias e políti-cas apresentadas como desdobramentos dareflexão que eles provocam vêm manifestan-do um alto poder de concretização sobre rea-lidades sociais, sem que se alcancem modifi-cações efetivas nos níveis de desenvolvimen-to econômico, social ou humano. O argumen-to da provisoriedade e da inconclusão teóri-co-conceitual do paradigma da sustentabi-lidade oculta tanto a fragilidade teórica econceptual dessa noção quanto suas fortesimplicações políticas. Com essa observação,afirma-se sua ênfase normativa e interven-cionista e sua capacidade de alavancar pro-cessos, o que coloca mais um ponto a seranalisado por aqueles cientistas sociaisinteressados em desvendar os meandros do

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debate acima mencionado, a saber, o âmbi-to das autoridades responsáveis pelas deci-sões supra-nacionais, nacionais, subnacio-nais e globais e sua força de atuação sobrepessoas, grupos e instituições, sobre os quaistomam decisões, canalizando e interiorizan-do o modelo e estratégias formuladas sob orótulo do Desenvolvimento Sustentável20.

Notas1 Por exemplo: �está nas mãos da humanidade fazer

com que o desenvolvimento seja sustentável�(Nuestro Futuro Común, 1987, p.29, tradução nossa).

2 A própria idéia de �necessidades presentes� é difícilde precisar, já que estas variam de acordo com a re-gião, com a classe social, só para mencionar algumasdas possíveis variáveis influenciadoras neste ponto.

3 Conforme Rist (1997): �As sugestões são limitadas auma série de esperanças (por exemplo, de uma maiorassistência internacional para projetos de preserva-ção do Meio Ambiente, ou mais recursos para orga-nizações que tratam com problemas ecológicos), oua apelos solenes por um gerenciamento mais eficientedos recursos disponíveis. A despeito de suas afirma-ções de que os problemas precisam ser atacados emsua raiz, a Comissão faz pouco mais do que distribuirrecomendações para todos: agências internacionais,governos, ONGs e indivíduos. Todos seus membrosestão indubitavelmente preocupados com os proble-mas, e eles repetem que algo precisa ser feito, mas oque eles sugerem são medidas mais paliativas (reci-clagem e racionalização) do que mudanças radicais�.

4 Nas sociedades cuja base econômica é industrial, odesenvolvimento torna possível aumentar a produçãopelo uso das reservas num ritmo que não dependedo tempo necessário para sua reposição, mas do esta-do de desenvolvimento tecnológico. Naquelas ondea economia é baseada, principalmente, nas florestas,nas plantas e nos animais, as coisas são completa-mente diferentes. Para estas, a produção somente éincrementada se for respeitado o ritmo de sua recu-peração, havendo pouca ou nenhuma possibilidadede armazenamento.

5 Como bem colocou Rist (1997): �A principal contra-dição do Relatório de Brundtland, portanto, é que apolítica de crescimento proposta como uma formade reduzir a pobreza e estabilizar o ecossistema difi-cilmente difere da política que historicamente abriuo hiato entre ricos e pobres e que colocou o meioambiente em perigo (por causa dos diferentes ritmosde crescimento que podem ser atingidos, dependendodo uso de recursos renováveis ou não renováveis)�.

6 Conforme Fernandes (2001).7 Essa tendência é particularmente observada no que

se refere à análise da maior parte da produção doscientistas sociais a respeito da questão ecológica e domodelo de Desenvolvimento Sustentável.

8 De acordo com Giddens (1991), a reflexividade comomecanismo estruturante da sociedade determinariaque a mesma seria crescentemente moldada pelapossibilidade de circulação de informações atravésda totalidade do tecido social.

9 Conceito desenvolvido por Fernandes (2000).10 Essa DEI é um exemplo de como embora os proble-

mas ambientais, tais como o da poluição, não respei-tem fronteiras nacionais ou regionais, as soluções�globais�, defendidas pelos países desenvolvidos,perpetuam as relações colonialistas de dependência.As imagens das cidades poluídas do Terceiro Mundo �se raciocinarmos em termos de países �, abundam namídia, sem que se propague e reconheça a responsa-bilidade dos países do Primeiro Mundo, que conso-mem 80% do alumínio, do papel do ferro e do aço domundo; 75% da energia mundial; 75% dos peixes;61% da carne mundialmente produzida, além de se-rem responsáveis por 70% da destruição da camadade ozônio através de CFCs (cf. RENNER, 1997). Em-bora estejamos analisando o nível de comparaçãoentre países, o raciocínio é o mesmo, quando são pro-pagadas imagens da periferia das cidades em termosde populações distribuídas espacialmente em termosde poder aquisitivo, nas campanhas de �educaçãoambiental�, em argumentações a respeito da relaçãoentre a degradação ambiental e a pobreza, e nos dis-cursos ideológicos destinados a produzir a adesãodos indivíduos a campanhas de racionamento do usode recursos naturais, a exemplo da água, por exemplo,onde os sacrifícios são apresentados como sendo se-melhantes para todos.

11 Chega a ser irônica a proposição de que os paísespobres (ou os indivíduos pobres) do mundo preci-sem ser �austeros� em seu uso dos recursos naturais,enquanto as nações ricas (e os indivíduos ricos) con-tinuem a desfrutar de altos padrões de vida, inclusivesomente possibilitados pelas austeridade das naçõespobres (ou dos indivíduos pobres).

12 Embora não possamos discutir neste trabalho essestrês elementos e sua relação com as tendênciasneocolonizadoras presentes em muito das políticasambientais mundiais atualmente em processo deimplementação, recomendamos o excelente artigode Banerjee (2001), intitulado Who Sustains WhoseDevelopment? Sustainable Development and the Reiventionof Nature, sobre o tema.

13 Nesse sentido, Mies & Shiva (1993) comentam osriscos de que o ambientalismo tenha efeitos simila-res aos do �desenvolvimentismo�: ao invés de forta-lecer as populações camponesas, indígenas, geral-mente parcelas pobres da população em todo o mun-do, as políticas ambientais conservacionistas transfe-rem o controle dos direitos e dos recursos para insti-tuições nacionais e internacionais de financiamento.

14 Conforme Gladwin et al. (1995), apud Banerjee (2001,p.7)

15 É possível encontrar projetos dos mais variados tipos,anunciados como sendo �de Desenvolvimento Sus-tentável�. Desde um Projeto de Beneficiamento deBabaçu � atingindo 14 famílias, num total de 300 resi-dentes na comunidade atingida �, passando por outrode Alfabetização de Adultos, bem como um de cons-trução de 1 milhão de cisternas em estados do Nordes-te do Brasil. Para uma análise perspicaz de como qua-se tudo pode ser incluído como projeto de Desenvol-vimento Sustentável, sem que se observe efetivamenteos sinais do que é definido como desenvolvimento noâmbito desse conceito, ver a tese de Fernandes (2001),que teve como corpus de estudo empírico uma signifi-

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cativa área da Amazônia Brasileira.16 Como se a realidade nessa área não fosse também

determinada pelos fatores econômicos, políticos esociais, que mereceriam atenção, pelo menos, equi-valente, e eram objeto de mobilização popular nosperíodos anteriores à emergência avassaladora dapreocupação ambiental na região.

17 Redclift (1995) já menciona uma certa forma deintegração dos cientistas sociais nos projetos de avalia-ção e gestão ambiental muito próxima da atividadedos assistentes sociais, que, embora não deva ser des-valorizada, significa uma redução da abrangência dopapel a ser desempenhado pelos cientistas sociais noenfrentamento das questões envolvidas na relaçãoentre sociedade e meio ambiente.

18 Conforme FERNANDES (2001).19 Isso sempre que é objeto de quaisquer críticas.20 Dois exemplos disso seriam, em primeiro lugar, a

transferência do Tratado de Cooperação Amazônica,de Manaus para Brasília, dentro da proposta de forta-lecimento institucional do PPG7; em segundo, o re-conhecimento do fato de que agências supra-nacio-nais operam e formulam programas de cooperação ede formação, sob o rótulo do Desenvolvimento Sus-tentável, utilizando como critério de aprovação dosprojetos o compromisso e a relação discursiva comeste modelo.

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A valoração econômica da água - uma reflexão sobre a legislação de gestão dosrecursos hídricos do Mato Grosso do Sul

The economic valuation of the water - a reflection on the legislation of managementof the hídricos resources of the Mato Grosso do Sul

La valorisation de l´eau - une reflexion sûr la legislation de la gestion des resouceshydiques du Mato Grosso do Sul

La valoración econômica del água - uma refléxion sobre la legislación de la géstion de losrecursos hídricos de Mato Grosso do Sul.

Valéria Cristina Palmeira Zago

Recebido em 6/9/2006; revisado e aprovado em 30/11/2006; aceito em 2/2/2007.

Resumo: O valor econômico da água ainda não foi devidamente compreendido pela sociedade, especialmente emregiões que, aparentemente, não há restrições quantitativas. Para que a cobrança seja vista como um instrumento degestão, em benefício da sociedade, deverá haver um amplo processo de conscientização, com posterior mobilizaçãopopular, fazendo-se representar, os diversos setores desta, em organismos de bacia, para as discussões sobre a gestãodos recursos hídricos.Palavras-chave: Cobrança; recursos hídricos; Mato Grosso do Sul.Abstract: The economical value of water has not been understood yet by society, mainly where quantitative restrictionsdo not exist. Thus, in order to make the water use fee an instrument of environmental management, bringing benefitsto all society, there must be an extensive process of elucidation, with popular mobilization through its diferent sectorsorganized in basin comittees to discuss the management of hydric resources.Key words: Water use fees; hydric resources; mobilization.Résumé: Le valeur économique de l´eau n´a pás encore dûment compris por la societé, spécialement em régionsque, apparement, il n´y a pás de restrictions quantitatifs. Pour que le recouvrement soit vu comment um instrumentde géstion, em bénéfice de la societé, on devra avoir um ample proc´rss dr conscientisation, avec postérieurmobilisation populaire, à trav´res de la réprésentations des plusieurs sectuers de la societé, em organismes debassin, por les discutions sûr la géstion des resources hydiques.Mots-clé: Recouvrement; resources hydiques; Mato Grosso do Sul.Resumen: El valor econômico del água aún no fue adecuadamnet compreendido por la sociedad, especialmenteem régiones que, aparentementte, no hay restriciones cuantitativas. Para que el pagamiento sea visto cómo uninstrumento de géstion, em benefício de la sociedad debrá haber uma conscientización, com posterior mobilizaciónde la población, haciendose por representar, los diversos sectores de esta, en organismos de bacia, para lasdiscusiónes sobre la gestión de los recursos hídricos.Palabras clave: Pagamiento; recursos hídricos; Mato Grosso do Sul.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 27-32, Mar. 2007.

Engenheira Agrônoma. Profa. Dra. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFMS.

Introdução

O termo �racionalização� tem-se tor-nado bastante corrente em nossa sociedadenas últimas décadas. Os problemasvivenciados pelos brasileiros como a escas-sez de água no Nordeste e Norte ou as inun-dações no Sul do país, são reflexos ou mes-mo conseqüências, dos progressivos dese-quilíbrios ambientais, dados pela intensa uti-lização dos recursos naturais, como meiosde produção ou pela degradação destes, ge-radas pela poluição.

No entanto, a sociedade, pela sua com-plexidade política, econômica e social, adiaa discussão sobre o impasse do modelo eco-

nômico vigente, que prenuncia perspectivasnada animadoras, caso não sejam revistosos padrões de desenvolvimento. É óbvio quesem a preservação e recuperação do meioambiente, não há adequada condição devida no planeta, porém, ainda prevalece a�ilusão da abundância ou da inesgotabi-lidade�.

No Brasil supõe-se que a água jamaisserá problema. Ledo engano. Atualmente jáo é. O país tem as maiores reservas de águadoce do mundo, só proporcionais às suastaxas de desperdício: 40% na rede pública.Mas a distribuição geográfica irregular e aurbanização crescente pressionam o abaste-cimento deficiente. O mau uso também pres-

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siona as reservas: há crescente contamina-ção de agrotóxicos, mercúrio dos garimpose lixo. No Brasil, rio é sinônimo de lixo: 63 %dos 12 mil depósitos de lixo são corposd�água. E como a água não é tratada, 63 %das internações pediátricas e 30 % das mor-tes infantis com menos de um ano devem-seà falta de saneamento básico. Um problemaleva a outro: poluição das águas, morte dosrios, morte das pessoas (LIMA, 2002).

A capacidade de autodepuração danatureza é limitada e só ocorrerá, caso oecossistema possa ser preservado da contí-nua degradação ambiental. Contudo, o quetem ocorrido é justamente o contrário, ouseja, a saturação máxima do sistema, tor-nando-o insustentável, desconsiderando-seas múltiplas inter-relações bióticas e abióticasexistentes.

As medidas mitigadoras da degrada-ção dos recursos naturais, que alguns paísesvêm adotando são diversificadas, principal-mente, frente às diferentes realidades em queestão inseridos. Muitas experiências têm sidopositivas, outras nem tanto, porém cada si-tuação é única e tem suas inerentes comple-xidades a serem avaliadas. Entretanto, avaloração da água tem sido quase uma una-nimidade entre os países que já a adotaramou estão em processo de, já que a mesma temsido cercada de muita polêmica dentre osdiversos setores econômicos utilizadores des-te recurso.

1 Valoração econômica do uso dosrecursos hídricos

Todos os processos produtivos são de-pendentes dos recursos naturais, em maiorou menor expressão. Com o aumentodemográfico e maior expectativa de vida, autilização e a degradação dos recursosambientais intensificaram-se no último sécu-lo. Segundo VIANNA et al. (1994), são asdistintas formas de se relacionar economi-camente com o ambiente, que caracterizama transformação da natureza em recursosnaturais.

Um dos recursos que tem recebidomaior impacto é a água. As pressões sobreos recursos hídricos estão diretamente rela-cionadas ao modelo de desenvolvimento eco-nômico, que se expressa pelo nível de con-

sumo da sociedade e pela predominânciaregional de atividades econômicas distintas.À medida que a água bruta torna-se um re-curso hídrico, devido à demanda de ativi-dades antrópicas, também cresce o conflitoem torno de sua apropriação e uso, adqui-rindo valor, pois se torna um bem econômico(BORBA & MERCANTE, 2001).

Dados atuais mostram que o consumoper capita de água é desigual entre as econo-mias mundiais, no Brasil, que possui a mai-or disponibilidade hídrica do planeta � 13,8% do deflúvio mundial � considerando a di-versidade de predominância das atividadeseconômicas, a derivação social da água estádistribuída em 61,2 % do consumo pelo se-tor agropecuário, 20,8 % por uso domésticoe 18 % para uso industrial (FREITAS & SAN-TOS, 1999).

Diante da constatação de que o uso in-tenso dos recursos naturais nas atividades deprodução e consumo nos países industria-lizados estava ocasionando a degradaçãodesses recursos, sem que houvesse a corres-pondente contabilização da perda coletiva porisso, no sistema de preços, o princípiopoluidor-pagador começou a ser adotadopelos países-membros da OCDE (Organiza-ção de Cooperação e Desenvolvimento Eco-nômico), no início da década de 70 (CORDEI-RO NETTO, 1999, citado por BROCH, 2001).

O modelo francês de gestão de recur-sos hídricos tem sido a principal referênciapara a construção do arcabouço da legisla-ção brasileira. A cobrança tem sido o instru-mento de gestão de regulamentação maisconturbada.

Uma das alegações contrárias à co-brança do uso da água é a sua categorizaçãocomo mais um imposto. Mas, na realidade,a cobrança difere do tributo � imposto nalegislação brasileira por vários princípios, en-tre eles, o da não vinculação da receita. Oimposto, como uma forma de tributo previs-ta na Constituição Federal, não pode terdestinação pré-definida, fazendo parte dasreceitas derivadas do Estado. A cobrançapelo uso dos recursos hídricos, conforme dis-posição legal, deverá ser aplicada nos pla-nos e programas aprovados no Plano deRecursos Hídricos pelo respectivo Comitê daBacia Hidrográfica, onde foram arrecadadosos recursos (PAIVA, 2001).

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Conforme a Lei n. 9.433/97, os recur-sos arrecadados com a cobrança devem seraplicados, prioritariamente, na bacia hidro-gráfica em que foram gerados, e deverão serutilizados para: financiamento de estudos,programas, projetos e obras incluídos nosPlanos de Recursos Hídricos; implantação ecusteio administrativo dos órgãos e entidadesintegrantes do Sistema Nacional de Geren-ciamento de Recursos Hídricos (para estasdespesas, só poderão ser utilizados até sete emeio por cento) e; em projetos e obras quealterem, de modo considerado benéfico àcoletividade, a qualidade, a quantidade e oregime de vazão de um corpo d�água.

Em muitos países, como no Brasil, aságuas públicas são consideradas bem inalie-náveis, outorgando apenas o direito de uso.Cobra-se, geralmente, a remuneração dosserviços ligados a seu fornecimento, como aadução, o transporte, a distribuição ou regu-larização. Por esse motivo, o que é visado nãoé o valor material do bem econômico, mas odo direito à sua utilização (BROCH, 2001).

Ainda deve ser ressaltado, de forma aevitar confusões, o real objeto dessa cobran-ça. Ele consiste na cobrança de valores mone-tários em função da utilização dos recursoshídricos por quem é detentor da outorga nosdireitos de uso. A cobrança não será efetuadacontra o consumidor da prestação de servi-ços de tratamento, de abastecimento, de cole-ta e esgotamento de dejetos (rede de esgotos),mas daqueles que utilizam os recursos hídri-cos por meio de captação direta dos corposd�água, incluindo em sua atividade econômi-ca, ou daqueles que os utilizam em sua ati-vidade econômica para, posteriormente,esgotá-lo diretamente no corpo d�água (exem-plos: produtores rurais, companhias de abas-tecimento, empresas geradoras de energia elé-trica, indústrias, etc.) (VETORATTO, 2004).

2 Retrospectiva histórica das discussõessobre a política estadual de recursoshídricos

O principal setor econômico do Estadode Mato Grosso do Sul é a agropecuária. Nosúltimos anos, as culturas agrícolas irrigadastêm crescido, aumentando de 55.600 ha(1996) para 61.400 ha (1998), onde os méto-dos mais utilizados têm sido aqueles alta-

mente consumidores de água, como o pivôcentral e a irrigação por inundação(CRISTOFIDIS, 1999 citado por BROCH,2001).

Já o setor industrial engloba 13 % dapopulação ativa e, de acordo com as caracte-rísticas vocacionais do Estado, as agroin-dústrias sobressaem entre as demais ativida-des industriais implantadas: matadouros,frigoríficos, abatedouros de aves, graxarias,farinheiras, fecularias, laticínios, curtumes,fabricação de bebidas, usinas de açúcar eálcool (BROCH, 2001).

Sabe-se que a atividade econômica quemais consome água é a irrigação de culturasagrícolas, graças às elevadas perdas provo-cadas pela evapotranspiração. Em termosmundiais, a agricultura utiliza 69% da águadisponível, a indústria consome 23% e asresidências 8%. Em países em desenvolvimen-to, a utilização de água pela agricultura che-ga a atingir 80% (BANCO MUNDIAL,1994). Na irrigação, o uso consuntivo é ele-vado, alcançando até 90%; além de carrearagrotóxicos e fertilizantes, poluindo águassuperficiais e subterrâneas (BORSOL &TORRES,1997).

Segundo Martins et al. (2001), sendoum dos parâmetros para a cobrança do usoda água, a quantidade demandada e a quali-dade dos efluentes lançados pelos usuários, aagricultura � principal depositária de efluentesquímicos e orgânicos sobre corpos d�água emtodo o mundo e principal captadora de re-cursos hídricos � será, portanto, um dos seto-res mais afetados por essa nova estratégia deracionalização do recurso, razão pela qual tallegislação tem suscitado intranqüilidade parao conjunto dos agricultores.

Nas experiências internacionais devaloração dos recursos hídricos, os usuáriosagrícolas têm se destacado como os princi-pais opositores à criação de legislação queregulamente a cobrança. O lobby político dosagricultores � principalmente nos países eu-ropeus � transformou-se muitas vezes emimpasse político, requerendo então negocia-ções setoriais que resultaram na criação dediversas alternativas de subsídios (WORLDBANK WATER DEMAND RESEARCHTEAM, 1993).

Da mesma forma, nos Estados brasi-leiros, a discussão em torno da cobrança tam-

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bém tem refletido os interesses econômicosdos setores dominantes e fortemente repre-sentados politicamente.

O Mato Grosso do Sul foi um dos últi-mos Estados a sancionar a lei de RecursosHídricos. O processo de discussão foi iniciadoem novembro de 1998, quando a Secretariade Estado do Meio Ambiente (SEMA) pro-pôs, em caráter de urgência, um projeto deLei instituindo a Política Estadual de Recur-sos Hídricos. Nessa ocasião, houve uma au-diência pública tratando sobre os dispositi-vos constantes no referido Projeto de Lei.

A audiência pública foi confusa, polê-mica e, as informações referentes à gestãodos recursos hídricos estaduais foram insu-ficientes. Vários interesses da iniciativa pri-vada e pública foram engendrados no pro-cesso da discussão do projeto de lei, gerandovárias contraposições, principalmente, porparte do setor agropecuário do Estado, quese opôs radicalmente contra a �cobrança daágua� (BROCH et al., 2001).

A SEMA reformulou a proposta apósreavaliação do projeto de lei anterior, pormeio de amplo trabalho técnico e contrata-ção de consultoria especializada, com recur-sos do projeto ALTO PARAGUAI (SRH/GEF/PNUMA/OEA), subprojeto 6.1 �Desenvolvimento de um programa de informa-ção pública na Bacia do Alto Paraguai. Propu-seram � se atividades que tinham por objeti-vo incrementar a participação das comuni-dades municipais no gerenciamento ambi-ental da BAP, através da informação econscientização dos usuários.

Estas ações foram iniciadas em maiode 2000, com a apresentação da nova minu-ta de lei em audiência pública na AssembléiaLegislativa � Campo Grande/MS e no mu-nicípio de Porto Murtinho, no dia 20 do mes-mo mês. Dentre os setores da sociedade,aquele que se mostrou mais organizado euníssono sobre o assunto foi o setor agrope-cuário. No entanto, devido à paralisaçãotemporária das atividades do Projeto GEFAlto Paraguai, houve uma interrupção dasações de divulgação e mobilização popularnos municípios da BAP, programadas nosub-projeto 6.1.

Estas ações incluíam a apresentação depalestras e distribuição de material informa-tivo, tais como cópias da minuta da lei esta-dual, folders e cartilhas onde seriam apre-

sentados dados relativos à importânciaambiental, social e econômica da água(BORBA, 2005, comunicação pessoal).

Após dois anos de discussões e trâmi-te na Assembléia Legislativa, a Política Esta-dual de Recursos Hídricos, foi aprovada pelaLei n. 2.406, em 29 de janeiro de 2002. A leiestadual procurou seguir como modelo, aestrutura da Lei Federal n. 9.433/97, respei-tando-se as finalidades, os princípios, as di-retrizes e os instrumentos. Todavia, diferen-temente das leis estaduais de RecursosHídricos existentes até então, as seções quetratam sobre a outorga e a cobrança ficaramem vários aspectos em desacordo com a le-gislação federal.

A Lei n. 9.433/97 estabelece que �o re-gime de outorga de direito ao uso dos recursoshídricos tem por objetivo assegurar o controlequantitativo e qualitativo dos usos das águase o efetivo exercício dos direitos de acesso àágua�. Estão sujeitos à outorga, dentre ou-tros, �a derivação ou captação de parcela daágua existente em um corpo de água paraconsumo final, inclusive abastecimento Públi-co ou insumo de processo produtivo�.

O artigo 20, da lei federal, vincula acobrança à outorga: �Serão cobrados os usosde recursos hídricos sujeitos a outorga�, alémdo que, �Independe de outorga, dentre ou-tras, as derivações, captações e lançamentosconsiderados insignificantes�, e deixa clarono artigo 38 que, �Compete aos Comitês deBacia Hidrográfica, no âmbito de sua áreade atuação, propor ao Conselho Nacional eaos Conselhos Estaduais de RecursosHídricos as acumulações, derivações e lan-çamentos de pouca expressão, para efeito deisenção da obrigatoriedade de outorga dedireito de uso de recursos hídricos, de acordocom os domínios destes.�

A lei estadual no 2.406/02, ao mesmotempo em que preconiza a importância dacobrança como instrumento de gestão e tra-ça como objetivos, reconhecer a água comobem econômico e dar ao usuário uma indi-cação de seu real valor; incentivar a racio-nalização do uso da água, dentre outros deigual importância; considera como insigni-ficantes e serão isentos da cobrança pelo di-reito de uso da água as capacitações e deri-vações empregadas em processo produtivoagropecuário (art. 19 e 20).

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Para que não haja dúvidas quanto ànecessidade de isenção do setor agropecuá-rio empresarial, a lei reitera nos artigos 23 e24, respectivamente: �As agroindústrias quedispuserem de sistemas próprio de captação,tratamento e reciclagem de água, com pro-jetos aprovados pela Secretaria de Estado doMeio Ambiente, Cultura e Turismo, serãoisentos da cobrança pelo direito de uso daágua� e �Os produtores rurais que mantive-rem sistema de irrigação de lavouras, esta-rão isentos da cobrança pelo direito do usoda água, desde que comprovado o aumentoda produtividade agrícola do beneficiado ea não poluição da água�.

Um dos maiores problemas nestas emen-das apresentadas ao projeto de lei e sanciona-das pela Assembléia Legislativa, constituindoagora o escopo da Política Estadual de Recur-sos Hídricos, é o enfraquecimento dos Comitêsde Bacias Hidrográficas, fórum dos municípi-os e seus setores representativos. Os comitêsdevem, conforme disposto na legislação fede-ral, elaborar o plano de gestão dos recursoshídricos da bacia, onde constaram todas asdiretrizes que nortearam o uso dos demais ins-trumentos, como outorga e cobrança.

Até o presente momento, para as açõesrelacionadas à gestão de recursos hídricos,o Mato Grosso do Sul conta apenas com aparticipação de um comitê de bacia hidro-gráfica (Comitê de Bacia do Rio Miranda) eum consórcio intermunicipal, que represen-tam embriões para a implantação do Siste-ma Estadual de Recursos Hídricos. Recente-mente, foi regulamentado o Conselho Esta-dual dos Recursos Hídricos (decreto 11.621de 1° de junho de 2004), composto por di-versos segmentos da sociedade civil.

Espera-se que, com a representaçãodemocrática no Conselho Estadual, haja umdebate mais aprofundado sobre estes aspectoscontraditórios da lei estadual. Surpreendenão haver, até então, um posicionamento dosórgãos jurídicos do Estado quanto às diver-gências da lei estadual frente à lei federal. Deacordo com os preceitos jurídicos, a legislaçãodos Estados � Membros devem independen-temente do assunto a que se refere, atentar asdiretrizes federais, podendo quando necessá-rio, ser mais restritiva que aquela.

O reconhecimento do valor econômi-co da água é o principal indutor ao uso raci-

onal desse recurso natural, servindo de basepara a instituição da cobrança pela utilizaçãodos recursos hídricos, levando ao equilíbrioentre a oferta e a demanda. O modelo degestão brasileira possibilitará, como já ocor-re em outros países, a adoção ou busca detecnologias mais limpas e que proporcionem,conseqüentemente, maior sustentabilidadedos processos produtivos. Especificamente,no caso dos irrigantes, poder-se-ia, mudar omanejo da água, modificar as técnicas deirrigação, etc, diminuindo desta forma, osimpactos ambientais da atividade, conduzin-do a melhorias para toda a sociedade.

Infelizmente, a deformação conceitualinserida na organização sócio-política bra-sileira distancia o cidadão de uma atitudede responsabilidade perante o processo deelaboração de políticas públicas e da legisla-ção que as regulamentam (AGUIAR, 1994).Este fato faz com que aqueles setores, emgeral, organizados segundo os fortes interes-ses políticos � econômicos tenham oportuni-dade de exporem e fazerem valer suas opi-niões e ainda, formando opiniões nos demaissetores, muitas vezes em detrimentos de ou-tras visões, que realmente, os beneficiariam.

Contudo, à medida que os usuáriostêm a oportunidade de ampliar o nível deinformação e a consciência do impacto dasações públicas em sua vida, aumenta a per-cepção do sentido de eficácia política e o re-conhecimento de alternativas possíveis, alémde ampliar a identificação de sujeitos seme-lhantes, promovendo a formação de grupos,nos quais aumenta a possibilidade de orga-nização e fortalecimento sócio-político (LAPALOMBARA , 1982).

Segundo Borba & MERCANTE (2001),a participação social é, ao mesmo tempo, metae meio, pois, em acordo com os pressupostosadotados para as ações educativas, o proces-so é tão importante quanto o resultado. Ouseja, a aprendizagem da participação é umdos maiores incentivos à capacidade huma-na de gerar e viabilizar análises e soluções,contribuindo para, efetivamente, construirum espaço democrático, como se pretendeque seja o Comitê de Bacias Hidrográficas.

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Conclusões

A restrição do conhecimento aos inte-riores dos muros acadêmicos, a manipula-ção da mídia (em sua maioria, principaldivulgadora dos jargões políticos dos setoreseconomicamente mais fortes), a cooptaçãodo paradigma do �desenvolvimento susten-tável� nos discursos e programas políticos,sem efetivá-los no projeto e planejamento dedesenvolvimento do país, fazem com que asalternativas já existentes para a maioria dosproblemas ambientais, fiquem esquecidos.

Portanto, é muito difícil para a nossasociedade, assumir o valor econômico dadegradação provocada pelas atividadesantrópicas. No entanto, só através de açõesde educação ambiental, que socialize as in-formações existentes, conduzindo a consci-entização, possibilitará a intervenção efeti-va da sociedade civil, quanto ao que real-mente deseja para si e sua comunidade.

Referências

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BORSOL, Z.M.F & TORRES, S.D.A. A política de recursoshídricos no Brasil. Revista BNDES, n. 8, 1997. Disponívelem: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/

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PAIVA, M.de F. A. A cobrança pelo uso da água comoincentivo à redução dos níveis de poluição hídrica. In:IV CONGRESSO NACIONAL DE RECURSOSHÍDRICOS. Anais... Foz do Iguaçu-PR, 2001.

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VIANNA, et al. Educação ambiental: uma abordagempedagógica dos temas da atualidade. 2.ed. rev. e ampl.Rio de Janeiro: Centro de Documentação e Informação� CEDI, 1994 (WORLD BANK WATER DEMANDRESEARCH TEAM, The demand for water in rural areas: determinants and policy implications. ResearchObserver 8 (1), 1993).

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O Protocolo de Kyoto e a geração de energia elétrica pela biomassa da cana-de-açúcar como mecanismo de desenvolvimento limpo

The Kyoto Protocol and the electric power generation for sugar-cane biomass asclean development mechanism

Le Protocole de Kyoto et l´engendrement de l´energie électrique pour la biomasse dela canne à sucre comment mécanisme de développement net.

El Protocolo de Kyoto y la generación de energía eléctrica por la biomasa del caña de azúcarcomo el mecanismo de desarrollo limpio

Luiz Augusto Meneguello*

Marcus Cesar Avezum Alves de Castro**

Recebido em 30/7/2006; revisado e aprovado em 16/11/2007; aceito em 26/1/2007.

Resumo: Este artigo faz uma breve explanação sobre as causas do aquecimento global e suas conseqüências para oclima na Terra e apresenta as exigências necessárias às usinas de açúcar e álcool para a apresentação de projetos comvistas a sua classificação como Mecanismos de Desenvolvimento Limpo conforme estabelecido pelo protocolo deKyoto. Também faz uma análise das possibilidades de aumento da mitigação dos gases do efeito estufa através damodernização dos processos de produção nas empresas do setor sucroalcooleiro.Palavras-chave: Biomassa; energia; Protocolo de Kyoto.Abstract: This article makes an short explanation on the causes for global heating and their consequences for theclimate in the Earth and it presents the necessary demands to the sugar and alcohol mills for the presentation projectswith views its classification as Clean Development Mechanisms accordingly established for Kyoto Protocol. It alsomakes an analysis of the possibilities to increase the mitigation of the greenhouse gases through the modernization ofthe production processes in the sugar and alcohol mills.Key Words: Biomass; energy; Kyoto Protocol.

Résumé: Ce article fait une bréve éxplanation sûr les causes du chauffage global et sés consequénces pour le climatdans la Terre et se presente les exigences nécessaires à les usines de sucre et álcool pour la présentation de projetavec vues a as classification comment mécanisme de développement net selon établi pour le protocole de Kyoto.Aussi il fait une anlyse des possibiltés d´augment des mitigations des gazes d´efct étuve a travérs de la modernisationdes proccéss de production dans les entreprises du secteur sucrealcoolique.Mots-clé: Biomasse; energie; Protocole de Kyoto.Resumen: Este artículo hace una explicación corta en las causas para el calintamiento global y sus consecuenciaspara el clima en la Tierra y presenta las demandas necesarias para la industria del azúcar y alcohol presentar susproyectos a fin de obtener su clasificación como Mecanismos de Desarrollo Limpios establecidos por el Protocolo deKyoto. También hace un análisis de las posibilidades de aumentar la mitigación de los gases de el efecto estufa pormedio de la modernización de los procesos de producción en la industria del azúcar y alcohol.Palabras clave: Biomasa; energía; Protocolo de Kyoto.

IIIIIIÇÕIIRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 33-43, Mar. 2007.

* Mestrando do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente do CentroUniversitário de Araraquara � UNIARA. ([email protected]).** Professor Doutor do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente do CentroUniversitário de Araraquara � UNIARA. ([email protected]).

Introdução

A produção de energia é uma ativida-de normalmente agressiva ao ambiente. Ospaíses que não possuem recursos hídricos, eoutras fontes renováveis de energia como asexistentes no Brasil, geralmente obtêm a ener-gia para o conforto das populações e para odesenvolvimento de suas atividades econô-micas por meio da queima de combustíveisfósseis, que provocam o aumento de dióxidode carbono (CO2) na atmosfera.

Segundo Pearce (2002), a queima doscombustíveis fósseis se intensificou após a re-volução industrial e atingiu níveis ainda mai-ores, depois da década de 1970, fazendo comque a concentração de dióxido de carbono naatmosfera passasse de 270 ppm (partes pormilhão) na época anterior à revolução indus-trial, para 370 ppm nos dias atuais. Esta con-centração juntamente com outros gases temintensificado o fenômeno conhecido comoefeito estufa. De acordo com o autor o efeitoestufa é um fenômeno natural provocado

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34 Luiz Augusto Meneguello; Marcus Cesar Avezum Alves de Castro

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

pelos gases conhecidos como �Gases do Efei-to Estufa � GHG (Green House Gas)�, que en-volvem a Terra e fazem com que parte docalor emitido pelo Sol que chega à superfícieterrestre seja retido na atmosfera e mante-nham o planeta aquecido. Sem este efeito, aTerra congelaria, porém o problema que seenfrenta atualmente é conseqüência da inten-sificação deste fenômeno provocada pelo au-mento descontrolado dos Gases do Efeito Es-tufa na atmosfera, com um conseqüente au-mento da temperatura global. O autor relataainda que este aquecimento global tem provo-cado mudanças climáticas cada vez mais in-tensas causando sérios riscos às populaçõesdevido a fenômenos como derretimento degeleiras seguido do aumento do nível dosoceanos, tempestades cada vez mais inten-sas, desertificações em áreas antes produtivase um maior número de descargas atmosféri-cas em determinadas regiões da Terra.

Para Scarpinella (2002), o efeito estufaé um fenômeno natural que possibilita a vidana Terra. Este efeito torna a Terra um pla-neta habitável para a humanidade com umamédia de temperatura de 15ºC. Se não hou-vesse essa camada de gases, a superfície ter-restre poderia sofrer grandes variações, difi-cultando a sobrevivência de muitas formasde vida. O autor relata que os principais ga-ses causadores do efeito estufa e suas por-centagens na atmosfera são conforme o in-dicado na Tabela 1.

Tabela 1 - Gases do Efeito Estufa � GHG(SCARPINELLA, 2002).

Ainda segundo Scarpinella (2002),existem outros gases que provocam o efeitoestufa, porém com concentração bem menorna atmosfera, são eles o hidrofluorcarbono(HFC), perfluorcabono (PFC) e o hexa-fluoreto de enxofre (SF6). O autor afirma quea principal atividade humana geradora dosGases do Efeito Estufa é a produção de ener-gia com 57 % das emissões.

Pearce (2002), relata que a humanida-de vem a cada dia aumentando sua preocu-pação com os fenômenos ligados às altera-ções climáticas e um dos primeiros esforços,em nível mundial, para tentar barrar estasmudanças ocorreu em 1992 no Rio de Janeiroquando se realizou a Convenção das NaçõesUnidas sobre Mudança Climática, patroci-nada pela �Organização das Nações Unidas� ONU�. Naquela convenção as nações in-dustrializadas concordaram em estabilizarsuas emissões de poluentes nos níveis de 1990durante dez anos. Porém, segundo o autor,muitas nações não cumpriram a meta.

Rocha (2003), relata que em 1997 ocor-reu um encontro em Kyoto no Japão, tam-bém patrocinado pela ONU, onde se elabo-rou um documento conhecido como Proto-colo de Kyoto em que os 20 países industriali-zados mais poluidores se comprometiam areduzir seus níveis de emissão de Gases doEfeito Estufa em 5,2%, em média em relaçãoaos níveis de emissão observados em 1990,no período entre 2008 e 2012 (definido comoprimeiro período do compromisso). O autorrelata que para que os países industrializa-dos consigam atingir suas cotas de reduçãode Gases do Efeito Estufa criou-se um dispo-sitivo chamado de �Mecanismo de Desen-volvimento Limpo � MDL�, pelo qual os pa-íses em desenvolvimento implantam ativida-des que subtraem carbono da atmosfera eem troca recebem �Certificados de EmissõesReduzidas � CER� conhecidos como créditosde carbono que então devem ser comerciali-zados com os países industrializados nummercado internacional, conhecido como�Mercado de Carbono�. O autor destacaque, os Mecanismos de DesenvolvimentoLimpo, têm um objetivo duplo: a redução dasemissões de Gases do Efeito Estufa e/ou se-qüestro de carbono e promover o desenvol-vimento sustentável do país hospedeiro doprojeto e podem ser divididos nas seguintesmodalidades:� Fontes renováveis e alternativas de ener-

gia. Como as usinas à biomassa;� Eficiência / conservação de energia. Como

os projetos de modernização;� Reflorestamento e estabelecimento de no-

vas florestas. Sendo nesta modalidade queestá à maioria dos projetos de seqüestro decarbono.

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35O Protocolo de Kyoto e a geração de energia elétrica pela biomassa da cana-de-açúcar comomecanismo de desenvolvimento limpo

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

Os empreendedores que desejaremclassificar seus projetos como Mecanismos deDesenvolvimento Limpo precisam cadastrá-los e receber a aprovação junto à �UnitedNations Framework Convention on ClimateChange � UNFCCC�, que é a convenção per-manente na ONU, encarregada dos estudosreferentes à mudança do clima.

Para Villanueva (2002), o Mecanismode Desenvolvimento Limpo, é de extremaimportância para os países em desenvolvi-mento, uma vez que é a principal forma deinserção destes países no emergente merca-do de Certificados de Emissões Reduzidas deGases do Efeito Estufa e a única no âmbitodos mecanismos do Protocolo de Kyoto.

Segundo A UNFCCC (2005), existematualmente no Brasil vários projetoscredenciados, ou em fase de credenciamento,para receberem a classificação de Mecanis-mos de Desenvolvimento Limpo, como: usi-nas termoelétricas a biomassa de arroz, ma-deira, cana-de-açúcar ou bio-gás, projetos dereflorestamento, usinas de energia eólica epequenas centrais hidroelétricas entre outros.

Junqueira (2006), destaca que atual-mente o Brasil é líder em projetos de créditosde carbono registrados na ONU, sendo quea grande maioria dos programas brasileirosde redução das emissões de carbono envol-ve projetos de geração de energia elétrica apartir do bagaço da cana-de-açúcar.

Também Orsolon (2006), informa queo Brasil é o país que tem o maior número deprojetos registrados na ONU, sendo que gran-de parte deles é de energia renovável. O au-tor acrescenta que para gerar créditos umprojeto deve atender a alguns requisitos bá-sicos. Um dos principais é que a ação deveser voluntária, ela tem de contribuir para odesenvolvimento sustentável e ao mesmotempo, reduzir a emissão de Gases do EfeitoEstufa em relação ao que ocorreria na suaausência. Esta característica é chamada deadicionalidade.

Especialistas não são unânimes naaprovação ao Protocolo de Kyoto ou ao mer-cado de créditos de carbono, Khalili (2002)afirma que o carbono não pode ser encaradocomo uma commodity ambiental, pois umacommodity visa o lucro imediato, algo con-trário ao ambiente e mais precisamente a suaconservação. Na verdade, o mercado de car-

bono encara a preservação ambiental de umaforma capitalista e o autor questiona: �Omundo todo já tomou o rumo da degradaçãoseguindo este sistema. Há exclusão social efome por toda parte. Se o mercado financei-ro internacional está falido, porque devemoscontinuar acreditando neste modelo?�

1 As usinas de cana-de-açúcar e suaparticipação no mercado de créditos decarbono

Para que possam pleitear a participa-ção no mercado de carbono estabelecido peloProtocolo de Kyoto e receber os Certificadosde Emissões Reduzidas, conhecidos comocréditos de carbono, as usinas termoelétricasa biomassa de cana-de-açúcar precisam ca-dastrar seus projetos e receber a aprovaçãojunto à UNFCCC. Esta aprovação é obtidapelo envio de seus projetos para serem ana-lisados e aprovados fazendo com que as usi-nas sejam classificadas como Mecanismo deDesenvolvimento Limpo. Desta forma, cadausina precisa elaborar e apresentar um pro-jeto mostrando seus dados e evidenciando oquanto estará contribuindo para diminuir aemissão dos Gases de Efeito Estufa, naatmosfera.

Macedo (2004), destaca que no casodas usinas de geração de energia elétrica abiomassa de cana-de-açúcar, apesar de seremitido carbono na fase da queima do com-bustível, ocorre o seqüestro do carbono dafase do crescimento da cana, assim o balançodas emissões é nulo e os créditos de carbonosão obtidos devido às emissões que são evi-tadas pela geração de energia elétrica nestasusinas em substituição às usinas térmicas agás natural ou a óleo combustível, que pos-suem um balanço de emissões desfavorável.

A metodologia que está sendo utiliza-da pela United Nations Framework Conventionon Climate Change , para a análise dos proje-tos das usinas termoelétricas a biomassa decana-de-açúcar é chamada de �BaselineMethodology� (Metodologia da Linha deBase) que é demonstrada, de formasimplificada, na Figura 1, a seguir:

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

� A linha superior (contínua e tracejada)representa as emissões de Gases do EfeitoEstufa, devido à produção e consumo deenergia elétrica, considerando que estaenergia é gerada a partir da queima decombustíveis fósseis e sem a implantaçãodo projeto de geração de energia elétricaavaliado. A linha decresce porque é pre-visto que no futuro, com as novas tecnolo-gias mais eficientes já desenvolvidas, aquantidade de carbono emitido irá dimi-nuir, para a mesma quantidade de ener-gia elétrica gerada.

� A linha traço-ponto representa a previsãodas emissões futuras sem a implantação doprojeto de geração de energia elétrica ava-liado e considerando, além das tecnologiasatuais, as novas tecnologias que serão de-senvolvidas e deverão diminuir ainda maisas emissões dos Gases do Efeito Estufa. Estaé a chamada �Linha de Base� consideradapara o projeto.

� A linha pontilhada representa as emissõesdos Gases do Efeito Estufa, após a implan-tação do projeto de geração de energia elé-trica avaliado. A diferença entre as linhastraço-ponto e pontilhada determina aquantidade de Certificados de EmissõesReduzidas, a que a usina terá direito casoseu projeto seja aprovado.

A metodologia prevê também que pararecebimento dos Certificados de EmissõesReduzidas, o projeto de geração de energia

elétrica seja continuamente monitorado paraverificar se as especificações iniciais perma-necem sendo atendidas durante todo o tem-po de sua vida útil.

2 Metodologia da Linha de Base paraavaliação de um projeto de geração deenergia de energia elétrica a partir dabiomassa da cana-de-açúcar

Esta metodologia baseia-se principal-mente em dois documentos:� Approved baseline methodology - AM0015 /

Version 01, “Bagasse-based cogenerationconnected to an electricity grid� (UNFCCC(1),2004). Esta metodologia para verificaçãoe monitoração da Linha de Base, foi prepa-rada pela empresa Econergy InternationalCorporation, com base no projeto de gera-ção de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar da usina Vale do Rosário da ci-dade de Morro Agudo / SP.

� Toll for the demonstration and assessment ofadditionality (UNFCCC(2), 2004), que apre-senta as ferramentas necessárias para de-senvolvimento do projeto.

Para aplicação desta metodologia oprojeto de geração de energia deve atenderàs seguintes condições:- O bagaço utilizado deve ser fornecido pela

mesma usina onde o projeto de geração deenergia está sendo implantado;

Figura 1 - Metodologia da Linha de Base.

Fonte: Açúcar Guarani (2005).

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37O Protocolo de Kyoto e a geração de energia elétrica pela biomassa da cana-de-açúcar comomecanismo de desenvolvimento limpo

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

- Deve existir documentação comprovandoque o projeto não seria implantado pelosetor público, ou que o setor público nãoseja dele participante, apesar dos progra-mas de promoção de energias renováveisexistentes;

- Com a implementação do projeto não deveocorrer aumento da produção de bagaçona usina;

- O bagaço utilizado na geração de energianão deve ser estocado por mais de um ano.

Deve-se observar que a metodologiaem questão não faz menção ao aumento daprodução de energia em função do aprovei-tamento da palha da cana-de-açúcar quehoje, em sua grande maioria, é queimada nalavoura. Prática que no estado de São Paulojá possui legislação para sua eliminação.

Segundo a UNFCCC(1) (2004), paradefinição da Linha de Base do projeto deveser comprovado que sua implantação irá con-tribuir para a diminuição das emissões deGases do Efeito Estufa, a partir da queimade combustíveis fósseis, isto é, no sistema elé-trico interligado no qual será despachada aenergia elétrica gerada no projeto devemexistir usinas baseadas em combustíveis fós-seis que terão sua geração reduzida com aintrodução da energia gerada pelo projetoem análise. Segundo a metodologia o projetonão deve levar em conta as potenciais emis-sões de metano geradas na armazenagem dobagaço devido o tempo de armazenagem nãoser muito longo (menor que um ano), ou asemissões de CO2 geradas pelo seu transporte,por representarem valores muito pequenosque podem ser desprezados. Outras emissõescomo metano ou óxidos nitrosos gerados pelaqueima de combustíveis fósseis nos processosda usina, também devem ser desprezados.

A aplicação da metodologia prevê ocumprimento de uma série de etapas queserão descritas a seguir:a - Justificativa da escolha da metodologia:

Devem ser apresentados os argumentosque comprovem que o projeto atende ascondições descritas para aplicação dametodologia.

b - Descrição da aplicação da metodologiaao projeto: Apresentação de como o pro-jeto se enquadra dentro das opções pre-vistas na metodologia para a determina-ção das emissões evitadas.

c - Aplicação das ferramentas previstas nodocumento �Toll for the demonstration andassessment of additionality” (UNFCCC(2),2004) para determinação das condiçõesde elaboração do projeto em relação àsexigências da UNFCCC. Esta etapa pre-vê os seguintes passos para análise:

� Triagem inicial baseada na data de iní-cio do projeto. O projeto deve ter sido ini-ciado após 01 de janeiro de 2000.

� Identificação das alternativas à imple-mentação do projeto. Quais as opçõespara a usina de cana-de-açúcar em seusegmento de negócios se comparadas coma implementação do projeto.

� O projeto deve estar de acordo com ocumprimento às leis e normas aplicáveisdo país de origem.

� O projeto deve contar com uma análiseeconômica do investimento.

� Devem ser identificadas e analisadas asprincipais barreiras que possam dificul-tar a implementação do projeto proposto.

� Deve também ser feita uma análise com-parativa com empreendimentos simila-res que objetivem serem classificadoscomo Mecanismo de DesenvolvimentoLimpo.

� Devem ser descritos os impactos positi-vos que serão obtidos com a aprovaçãodo projeto.

d - Definição das mudanças físicas na usinapara implementação do projeto. Devemser descritas quais as mudanças tecnoló-gicas serão implementadas para oaumento da energia elétrica adicional aser despachada no sistema elétrico. Quaisequipamentos (caldeiras e geradores) se-rão trocados ou implementados, comoserá feita a interligação ao sistema de dis-tribuição de energia elétrica local, quaisserão as mudanças efetuadas no proces-so produtivo. Estas mudanças devem terem vista as condições técnicas para clas-sificação do projeto que são, a produçãolocal do bagaço, o não aumento do baga-ço gerado para a produção adicional deenergia elétrica e o tempo de estocagemdo bagaço menor que um ano.

e - Cálculo das emissões reduzidas. O proje-to deve conter os cálculos que demons-trem os valores previstos das reduções deemissões de dióxido de carbono (CO2)

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

durante sua vida útil de operação, bemcomo uma descrição dos dados para aobtenção destes valores como, quantida-de de energia elétrica gerada e quanti-dade de dióxido de carbono evitado (nãoemitida) por MWh (mega watt hora) ge-rado.

f - Monitoramento dos valores previstos.Também deve ser incluído no projetouma descrição de como os valores pre-vistos de energia elétrica gerada e de re-duções de emissões de dióxido de carbo-no (CO2) serão monitorados, armazena-dos e controlados. Desta forma o projetopoderá ser objeto de auditorias para ve-rificação do cumprimento das metas pre-vistas.

g - O projeto também deve contar com osdados institucionais da usina como: loca-lização, histórico, identificação, pessoasde contato e responsáveis pela elabora-ção e implementação do projeto.

A partir do cumprimento destas con-dições o projeto é submetido à análise e co-mentários. Sendo aprovado, o mesmo é clas-sificado como Mecanismo de Desenvolvimen-to Limpo e a empresa que o implantou pas-sa a receber os Certificados de Emissão Redu-zida, e pode negociá-los no mercado inter-nacional.

Em consulta ao site da UNFCCC(www.unfccc.int/Projects/Validation), ob-serva-se que até junho de 2006 existem 46usinas no Brasil com projetos registrados(aprovados ou em aprovação) com objetivode obter a classificação como Mecanismo deDesenvolvimento Limpo, para a participa-ção no mercado de créditos de carbono.

3 O balanço das emissões dos Gases doEfeito Estufa na produção e utilização dacana-de-açúcar

Segundo Macedo et al (2004), aagroindústria canavieira é apontada comoimportante atividade na produção de ener-gia e para a mitigação de Gases do EfeitoEstufa, devido a seus produtos energéticosserem utilizados em substituição aos com-bustíveis fósseis (derivados de petróleo e car-vão) e ao gás natural. Além da produção deálcool o processamento da cana-de-açúcarpara a produção de álcool e de açúcar resul-

ta na geração do bagaço, esse resíduo tam-bém representa um diferencial ambientalpositivo na medida em que vem sendo apro-veitado pelas usinas como fonte de energiapara a produção de calor industrial e deenergia elétrica substituindo o uso de deri-vados de petróleo e incrementando o poten-cial de redução da emissão de Gases do Efei-to Estufa. Porém, segundo o autor no plan-tio, na colheita, no transporte, noprocessamento e no uso dos produtos dacana-de-açúcar são consumidas grandesquantidades de energia e gerados Gases doEfeito Estufa, portanto é necessário um es-tudo comparativo para que se conheça obalanço energético e a real situação da emis-são e seqüestro destes gases.

Os dados seguintes baseiam-se em es-tudo elaborado por Macedo et all (2004), paraa Secretaria do Meio Ambiente do Estado deSão Paulo e apresentam uma comparaçãoentre a energia consumida na produção decana-de-açúcar e etanol, versus a energiagerada pelo etanol e pelo bagaço excedente.São apresentadas três tabelas: a Tabela 2 trazos valores da energia consumida na produ-ção de cana-de-açúcar, a Tabela 3 mostra aenergia consumida na produção do etanol ea Tabela 4 apresenta a comparação entre osdados das duas primeiras tabelas, confron-tados com a energia produzida pelo etanole pelo bagaço da cana-de-açúcar. Os dadossão válidos para os processos atualmenteutilizados em São Paulo.

Não foram incluídos na análise os da-dos de consumo de energia na produção deaçúcar devido a este ser um produto alimen-tício e não energético.

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Tabela 2 - Consumo de energia na produção de cana-de-açúcar.

Fonte: Macedo et al, 2004.

(1) kcal/TC = kilo caloria / Tonelada de Cana-de-açúcar.(2) A coluna �Média� é baseada nas médias de consumo de energia e insumos. A coluna �Melhor Valor�

é baseada nos melhores valores praticados (valor mínimo de consumo com o uso da melhor tecnologiapraticada).

Tabela 3 - Consumo de energia na produção de etanol.

Fonte: Macedo et al, 2004.

(1) kcal/TC = kilo caloria / Tonelada de Cana-de-açúcar.(2) A coluna �Média� é baseada nas médias de consumo de energia e insumos. A coluna �Melhor Valor�

é baseada nos melhores valores praticados (valor mínimo de consumo com o uso da melhor tecnologiapraticada).

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Os dados apresentados por Macedo etal (2004), mostram uma relação favorávelentre a energia produzida e a consumida noprocesso de produção do etanol. Como mos-trado no item 5, esta relação poderia ser ain-da melhor caso a cana-de-açúcar estivessesendo colhida sem a queima no campo (oucom queima apenas parcial) e a biomassaexcedente estivesse sendo utilizada para ge-ração de energia elétrica. Os autores consi-deram que, para análise do fluxo de Gasesdo Efeito Estufa, na produção e utilizaçãoda cana-de-açúcar e seus derivados, as emis-sões devem ser divididas em 04 grupos:- Grupo 1: Emissões associadas à fixação de

carbono atmosférico por fotossíntese e àsua liberação gradual por oxidação den-tro do ciclo de produção e utilização dosprodutos da cana-de-açúcar. SegundoMacedo et al (2004) este conjunto de flu-xos é praticamente neutro, pois se admiteque todo o carbono fixado é liberado nova-mente dentro do ciclo de produção dacana-de-açúcar e na utilização final doetanol e do bagaço.

- Grupo 2: Fluxos associados aos usos decombustíveis fósseis na produção de todosos insumos agrícolas e industriais para a

produção de cana e etanol; e também naprodução de equipamentos (agrícolas eindustriais) e construção de prédios e ins-talações. Segundo os autores esses fluxossão negativos, pois contribuem para o au-mento das emissões.

- Grupo 3: Fluxos não associados ao uso decombustíveis fósseis, são principalmente oóxido nitroso (N2O) e o metano (CH4). Paraos autores esses fluxos também são negati-vos, pois contribuem para o aumento dasemissões.

- Grupo 4: Fluxos chamados virtuais, quecorrespondem às emissões de Gases doEfeito Estufa que ocorreriam, na ausênciade etanol e do bagaço excedente em substi-tuição à gasolina automotiva e ao óleo com-bustível. Esses fluxos são positivos.

Considerando esses quatro grupos deemissões, o balanço dos de �Gases do EfeitoEstufa � GHG�, na produção e utilização dacana-de-açúcar é mostrado na Tabela 5:

Tabela 4 - Balanço de energia na produção e utilização de cana-de-açúcar e etanol.

Fonte: Macedo et al, 2004.

(1) kcal/TC = kilo caloria / Tonelada de Cana-de-açúcar.(2) A coluna �Média� é baseada nas médias dos valores encontrados para o consumo (de energia e

insumos) e para a produção de energia. A coluna �Melhor Valor� é baseada nos melhores valorespraticados (valor mínimo de consumo e valor máximo de energia produzida com o uso da melhortecnologia praticada).

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

Nos dados acima se observa que aagroindústria canavieira não contribui parao seqüestro de carbono da atmosfera, poistodo o carbono retirado da atmosfera duran-te a fase de crescimento da planta é depoisdevolvido à atmosfera na fase de utilizaçãodos produtos da cana-de-açúcar, porém con-tribui para a redução dos Gases do Efeito Es-tufa, através das emissões evitadas, pois osprodutos energéticos da cana-de-açúcar(etanol e bagaço excedente) substituem com-bustíveis fósseis e gás natural, que são emis-sores destes gases impedindo que novas emis-sões ocorram na atmosfera.

4 Possibilidades de aumento namitigação dos Gases do Efeito Estufapela agroindústria canavieira

Nos últimos anos a agroindústriacanavieira vem promovendo investimentosem seu parque industrial e com isso aumen-tando sua participação na mitigação dosGases do Efeito Estufa. Essa participação vemocorrendo basicamente de três formas:

� Aumento da produção de etanol, via au-mento da área plantada e das indústrias.Existem hoje 30 projetos em fase de im-plantação no Brasil (ProCana, 2005).

� Aumento da Biomassa disponível parasubstituição de combustíveis fósseis. Paraatender a esta possibilidade, além do au-mento da área plantada, a outra medida éa redução da queima da cana na colheitacom utilização da palha como biomassapara geração de energia elétrica nas usi-nas. No estado de São Paulo esta práticaesta determinada por Lei Estadual quedetermina a eliminação gradual das quei-madas.

� Aumento na eficiência das usinas gerado-ras de energia elétrica a biomassa atravésda implementação de equipamentos maismodernos e eficientes como as caldeiras dealta pressão em ciclo combinado e gerado-res de melhor rendimento.

Destas possibilidades a que trariamaior impacto ambiental positivo, seria o au-mento da biomassa através da eliminação daqueima da cana-de-açúcar na colheita. Esta

Tabela 5 - Balanço dos Gases do Efeito Estufa � GHG, na produção e utilização dos produtosenergéticos da cana-de-açúcar.

Fonte: Macedo et al, 2004.

(1) kg CO2eq/TC = kilograma de CO2 equivalente por Tonelada de Cana.(2) A coluna “Média” é baseada nas médias dos valores encontrados para as emissões e para as emissões evitadas.

A coluna “Melhor Valor” é baseada nos melhores valores encontrados (valor mínimo de emissões e valormáximo de emissões evitadas).

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

prática, no entanto, apesar de já instituídapor lei exige um investimento na aquisiçãode equipamentos (colheitadeiras) que sãonecessários para a colheita da cana crua.

Campos (2003), comparando os ma-nejos da cana-de-açúcar com e sem queimaconcluiu que em um período de 3 anos noLatossolo Vermelho ocorreu uma mitigaçãodas emissões dos gases do efeito estufa decerca de 5 Mg C-CO2 há-1 ano-1. Desta for-ma pode-se concluir que o sistema de mane-jo de colheita sem a queima prévia do cana-vial, atua de maneira significativa no seqües-tro de carbono, aumentando a eficiência doagronegócio da cana-de-açúcar.

de créditos de carbono pode ser considera-do grande, pois o número de projetosregistrados na UNFCCC ultrapassa 13 %das usinas existentes no país.

O mercado de créditos de carbonopode ser uma instituição que virá a contri-buir em muito para o setor sucroalcooleirono Brasil, não só pela possibilidade de maisuma fonte de renda para o setor, obtida coma venda dos Certificados de Emissões Redu-zidas, como também na melhora de sua ima-gem perante a opinião pública, pois se os

Em Macedo (2000), foi elaborado estudoconsiderando que 55% da cana-de-açúcarplantada no estado de São Paulo, seria colhidacrua, esta porcentagem pode variar de regiãopara região, porém esta estimativa éconsiderada como possível de se obter. Duasprincipais hipóteses foram estudadas para acolheita da cana crua visando analisar amitigação dos Gases do Efeito Estufa.

� 1 � Corte da cana picada e transporte de100% da palha;

� 2 � Corte da cana picada e transporte de50% da palha, sendo o restante deixadono campo como cobertura vegetal.

Os resultados dos casos estudados es-tão mostrados na Tabela 6.

Tabela 6 - Variação total nas Emissões de CO2 com o uso da palha da cana-de-açúcar comocombustível (considerando 55% da área plantada colhida sem queima).

Fonte: Macedo, 2000.(1) kg CO2eq/TC = kilograma de CO2 equivalente por Tonelada de Cana.(2) T CO2/ano = Tonelada de CO2 por ano.

Conclusões

Pela metodologia apresentada, a mai-oria das usinas de cana-de-açúcar no Brasilpoderia obter a classificação de Mecanismode Desenvolvimento Limpo, pois esta maio-ria ainda queima o bagaço produzido nacultura da cana-de-açúcar de forma poucoeficiente, existindo ainda muito potencialenergético a ser explorado neste resíduo.

O interesse dos produtores das usinasde cana-de-açúcar do Brasil pelo mercado

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

produtores passarem a diminuir a queimada cana-de-açúcar no campo para aprovei-tar a palha da cana-de-açúcar na geraçãoda energia, ocorrerá uma significativa con-tribuição para a melhoria das condiçõesambientais nas regiões da cultura da cana.

Além da possibilidade de contribuiçãopara a redução dos Gases do Efeito Estufa, osetor sucroalcooleiro pode também contribuirpara a diversificação e descentralização damatriz energética brasileira, pois o potencialenergético disponível com o aproveitamentoda biomassa é significativo e pode tornar-seo terceiro segmento de negócios para as usi-nas de cana-de-açúcar.

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Análise crítica do Estudo Ambiental Preliminar do projeto urbanístico �RevivaLagoa Itatiaia�, em Campo Grande/MS

Critical analysis of the �Estudo Ambiental Preliminar� of the urbanistic project�Reviva Lagoa Itatiaia�, in Campo Grande, Mato Grosso do Sul State, Brazil

Analyse critique d´ètude Ambiental Préliminaire du Projet “ Lagoa Itatiaia ’’, emCampo Grande/MS

Análisis crítica del Estúdio Preliminar del proyecto urbanístique “Reviva Lagoa Itatiaia “ emCampo Grande/MS

Cássia S. Camillo*Elaine, A. C. Anjos-Aquino**Lidiamar B. Albuquerque**

Recebido em 10/5/2006; revisado e aprovado em 11/7/2006; aceito em 20/8/2006.

Resumo: Impactos ambientais são alterações no ecossistema, causadas por atividades humanas. Este estudoobjetivou analisar o estudo ambiental preliminar (eap) do projeto �reviva lagoa itatiaia�. Para tanto, comparou-seeste com a legislação vigente e literatura afim e entrevistaram-se os responsáveis por sua elaboração. Conclui-se queo eap não possui a abrangência ambiental do ecossistema a ser alterado devido à inexistência de discussãomultidisciplinar. Palavras-chave: Estudo de impactos ambientais; Lagoa Itatiaia; projeto urbanístico.Abstract: Environmental impacts are disturbances in the ecosystem, caused by human activities. The objective of thisstudy was to analyse the preliminary environmental study (eap) of the project �reviva lagoa itatiaia�. For that, it wascompared the effective legislation and related literature and the responsible team for its preparation was interviewed.We conclude that the eap does not have the environmental covering of the ecosystem that is going to be disturbed dueto the lack of multidisciplinary discussion.Key words: Environmental impact assessment; Lagoa Itatiaia; urbanistic project.

Résumé: Impacts ambientauz sonnt changements a l écossystème, causes por activités humaines. Ce étude a eucomment objectif analyser l´étude ambiental préliminaire (eap) du projet � Reviva Lagoa Itatiaia �. Pour cela, on aété fait une comparation de ce étude vec avec la legislation em vigeur et literature sembale et les resposábles ont étéinterviewés. On sínfere que l´eap ne posséde pa le contenu ambiental du écossystème pour être changé a cause del´inexistence de discution multidisciplinaire.Mots-clé: Étude des imacts ambientaux; Lagoa Itatiaia; projet urbanístique.Resumen: Impactos ambientales son câmbios por activdades humanas. Este estúdio ambiental preliminar (eap)del proyecto � Reviva Lagoa Itatiaia ��. Para tanto se há hecho uma analogia de esete com la legislación em vigor yliteatura afin y los resposábles por su elaboracción fueron entrevistados. Llegase à la conlusión que el eap no tienela abrangência ambiental del ecosistema a ser cambiado debido a inexisténcia de discusión multidisciplinar.Palabras clave: Estúdio de impactos ambientales; Lagoa Itatiaia; proyecto urbanistico.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 45-53, Mar. 2007.

* Acadêmica do curso de Biologia da Universidade Católica Dom Bosco-UCDB. ([email protected]).** Professoras do Curso de Biologia da Universidade Católica Dom Bosco-UCDB. ([email protected]).

Introdução

O presente estudo objetivou realizaruma análise crítica do Estudo AmbientalPreliminar do projeto �Reviva LagoaItatiaia�, baseada nas normas para elabora-ção de EIA/RIMA, de modo a salientar pon-tos positivos do mesmo, bem como, suas pos-síveis limitações. Pretende-se, com este estu-do, contribuir para a elaboração de futurosestudos de impactos ambientais, minimi-

zando tais limitações e valorizando os pon-tos positivos realizados.

Desta forma, acredita-se que este estu-do possa contribuir para que um dia alcan-cemos o tão almejado desenvolvimento sus-tentável, visto que, conforme afirmamAb�Saber e Muller-Plantenberg (1994) a corre-ta análise de impactos ambientais é o únicoinstrumento pelo qual poderá limitar as agres-sões ao meio ambiente, associados às reestru-turações da conjuntura econômica dos países.

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46 Cássia S. Camillo; Elaine, A. C. Anjos-Aquino; Lidiamar B. Albuquerque

IIIIIIÇÕIIRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

1 Avaliação de Impactos Ambientais

Diferentes impactos ambientais podem sercausados nos ecossistemas devido a atividadeshumanas. A preocupação mundial, e tambémnacional, com esse fato permitiu a criação em31 de agosto de 1981 do Conselho Nacional doMeio Ambiente (CONAMA) por meio da Lei nº6.938.Este importante órgão possui a função de�assistir o Presidente da República naformulação de diretrizes da Política Nacionaldo Meio Ambiente� (BRASIL, 1981, art.6º, I).

Entre as competências do CONAMAdispostas pelo artigo 8º da lei 6.938, inclui-se: �determinar, quando julgar necessário,a realização de estudos das alternativas e daspossíveis conseqüências ambientais de pro-jetos públicos ou privados (...) (II); estabele-cer normas, critérios e padrões relativos aocontrole e à manutenção da qualidade domeio ambiente, com vistas ao uso racionaldos recursos ambientais, principalmente oshídricos (VII)� (BRASIL, 1981).

Assim, o CONAMA estabeleceu, pormeio da Resolução 001 de 23/01/1986, �asdefinições das responsabilidades, os critériosbásicos e as diretrizes gerais para uso e im-plementação de Avaliação de ImpactoAmbiental como um dos instrumentos daPolítica Nacional do Meio Ambiente� (BRA-SIL, 1986). Em seu artigo 1º a citada Resolu-ção define impacto ambiental como �qual-quer alteração das propriedades físicas, quí-micas e biológicas do meio ambiente, causa-da por qualquer forma de matéria ou ener-gia resultante das atividades humanas [...]�(BRASIL, 1986).

2 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) erespectivo Relatório de ImpactoAmbiental (RIMA)

A Avaliação das alterações do meioambiente como conseqüência de uma ativi-dade antrópica, ou seja, dos ImpactosAmbientais, segundo São Paulo (1989),Rohde (1990), Macedo (1995) e Bastos eAlmeida (1999) é um instrumento de políti-ca ambiental formado pelo Estudo de Im-pacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Re-latório de Impacto Ambiental (RIMA), sen-do um componente integrado no desenvol-vimento de projetos.

O EIA é uma atividade analítica am-pla que busca identificar e interpretar todosos efeitos ambientais e sociais relevantes deuma proposta de desenvolvimento (BAS-TOS; ALMEIDA, 1999; CALLISTO, 2000;MACEDO, 1995; ROHDE, 1990; SÃO PAU-LO, 1989).

Portanto, sua obrigatoriedade passoua ser prevista em 1988 pelo artigo 225 § 1º,IV da Constituição Federal Brasileira, queexige a elaboração de Estudo Prévio de Im-pacto Ambiental para �instalação de obraou atividade potencialmente causadora designificativa degradação do meio ambiente�(BRASIL, 1988).

3 Estudo Ambiental Preliminar

De acordo com o inciso I do artigo 5ºdo Decreto n. 7884, da legislação municipalde Campo Grande, o EIA é um �conjuntode informações sistemáticas e analíticas, exi-gido para o licenciamento prévio de ativida-des e ou empreendimentos de significativopotencial de impactos ambientais, tais comoos constantes do art. 2º da ResoluçãoCONAMA n. 001/86 (...)�. Já o inciso III de-fine EAP como um �conjunto organizado deinformações requeridas através do respectivoTermo de Referência, que subsidia a análisedo licenciamento prévio de atividades ouempreendimentos com significativo poten-cial de impactos ambientais e dispensadosda apresentação do EIA/RIMA (...)� (CAM-PO GRANDE, 1999).

Para o licenciamento da obra derevitalização da Lagoa Itatiaia foi exigido eelaborado um Estudo Ambiental Preliminar(EAP) em 2002 (CAMPO GRANDE, 2002).

4 Lagoa Itatiaia e sua revitalização

Em Campo Grande-MS, o InstitutoMunicipal de Planejamento Urbano e deMeio Ambiente � PLANURB, deu início, noano de 1997, a um projeto chamado �RevivaLagoa Itatiaia�, que tinha por finalidade arevitalização e urbanização da referida la-goa (CAMPO GRANDE, 2003).

As intervenções na Lagoa foram inicia-das em agosto de 2002 e concluídas em de-zembro de 2003, quando a obra foi inaugu-rada e entregue à população.

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A Lagoa Itatiaia é um ecossistema aqu-ático caracterizado por comunidades deplantas aquáticas, insetos, peixes, moluscos,aves, entre outras (CAMPO GRANDE, 2003;CAMPO GRANDE, 2002; CAMPO GRAN-DE, 2001). Localiza-se no perímetro urbanode Campo Grande, Mato Grosso do Sul, nascoordenadas S20°28 e W54°34. Com umaárea total de 9ha (CAMPO GRANDE, 2003)e profundidade média de 1m (CAMPOGRANDE, 2002), a Lagoa está sob influên-cia das microbacias Bandeira e Lageado.

Segundo estudo hidrológico e geológi-co, a Lagoa Itatiaia é uma depressão natu-ral do relevo, atualmente abastecida somen-te pela água pluviométrica, por meio da in-filtração (CAMPO GRANDE, 2000). Trata-se, portanto, de um ecossistema influencia-do pelo regime das chuvas, sendo caracteri-zado por períodos de cheias e de vazantes.

Antes das obras de revitalização, aLagoa Itatiaia apresentava grande quanti-dade de matéria orgânica morta em suspen-são e depositada no fundo, além de grandequantidade de materiais (latas, troncos, tá-buas, peças, tijolos, vidros, etc) localizadosde forma esparsa e pontual. Devido à ocor-rência de depósitos dessa matéria orgânicaassociada à argila e silte, a lagoa encontra-va-se em processo de colmatação (CAMPOGRANDE, 2000).

Por todas essas peculiaridades talecossistema foi declarado Área Especial deInteresse Ambiental, pela Lei Complemen-tar nº 05, de 22 de novembro de 1995, queinstituiu o Plano Diretor de Campo Grande.O artigo 13 desta lei divide o território mu-nicipal para fins de planejamento, e dentreas divisões inclui as Áreas Especiais de Inte-resse Ambiental, sendo que o inciso VI de-termina que dessas áreas �será exigido apro-veitamento adequado nos termos da Cons-tituição Federal� (CAMPO GRANDE, 1995).

O Termo de Referência do projeto urba-nístico �Reviva Lagoa Itatiaia� não apresentajustificativas para a exigência de um EstudoAmbiental Preliminar (EAP) em detrimento doEIA/RIMA. De acordo com funcionários daSecretaria Municipal de Meio Ambiente e De-senvolvimento Sustentável � SEMADES � oporte da obra justifica tal exigência.

No entanto, o inciso XV do artigo 2ºda Resolução CONAMA 001/86 institui ser

obrigatória a elaboração de Estudo de Im-pacto Ambiental e respectivo Relatório deImpacto Ambiental (EIA/RIMA) para olicenciamento de �projeto urbanístico acimade 100ha (100 hectares) ou em áreas consi-deradas de relevante interesse ambiental (...)(BRASIL, 1986)

Portanto, acredita-se que para olicenciamento do projeto urbanístico �RevivaLagoa Itatiaia� deveria ter sido exigida a ela-boração de um EIA/RIMA.

5 Procedimentos metodológicos

Esse estudo, que constitui uma análisecrítica do EAP, foi realizado em duas etapas:

A primeira etapa foi desenvolvidamediante: 1) a leitura detalhada do EAP daLagoa Itatiaia; 2) sua comparação com a le-gislação ambiental federal vigente e com in-terpretações das mesmas presentes na lite-ratura.

A segunda etapa constituiu-se de: 1)entrevistas com os profissionais integrantesda equipe multidisciplinar responsável pelaelaboração do EAP; 2) consultas aos docu-mentos presentes nos órgãos municipais in-teressados, a saber, Instituto de PlanejamentoMunicipal e de Meio Ambiente � PLANURB,Secretaria Municipal de Controle Ambientale Urbanístico � SEMUR e Secretaria Munici-pal de Meio Ambiente e DesenvolvimentoSustentável - SEMADES.

6 Resultados e Discussão

6.1 Equipe multidisciplinar

O art. 7º da Resolução CONAMA001/86 prevê que o Estudo de ImpactoAmbiental deve ser realizado por equipemultidisciplinar habilitada (BRASIL, 1986).Este artigo foi revogado pela ResoluçãoCONAMA 237/97, no entanto Fiorillo(2001) acredita que a necessidade de umaequipe multidisciplinar foi mantida pelo art.11 da citada Resolução que afirma: �os es-tudos necessários para o processo de licen-ciamento deverão ser realizados por profis-sionais legalmente habilitados (...)�, acrescen-tando ainda em seu parágrafo único que �oempreendedor e os profissionais que subs-crevem os estudos (...) serão responsáveis

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pelas informações apresentadas, sujeitando-se as sanções administrativas, civis e penais�(BRASIL, 1997). Machado (2003), por suavez, acredita que com a revogação do art. 7ºda Resolução CONAMA 001/86, leva-se emconsideração o decreto 99.274 de 06/06/1990, que prevê em seu art. 17 § 2º que oEIA �será realizado por técnicos habilitados(...)� (BRASIL, 1990).

Entende-se por equipe multidisciplinarequipes compostas por profissionais de di-versas áreas, que, portanto, podem enrique-cer e complementar o estudo um do outrode modo a produzir um trabalho que tenhaa abrangência de todo o ecossistema estu-dado, incluindo aspectos bióticos e abióticose sociais.

Apesar do estudo apresentar trabalhosde profissionais de diferentes áreas do co-nhecimento: geólogos, biólogos e engenhei-ro agrônomo, não houve uma discussãomultidisciplinar na elaboração do Estudo,como será discutido mais adiante. Além dis-so, deve-se ponderar que, para a realizaçãodo EAP deveriam ter sido contratados alémde geólogos, biólogos e engenheiros agrôno-mos, que estão habilitados a realizar os es-tudos de caracterização dos meios físico ebiológico, respectivamente, tambémgeógrafos, psicólogos, assistentes sociais,entre outros, habilitados a caracterizar omeio sócio-econômico.

6.2 Elaboração do EAP

O EAP foi elaborado segundo as nor-mas contidas no artigo 6º da resoluçãoCONAMA n. 001 de 23/01/86 (BRASIL,1986). Dessa forma, ele apresenta a caracte-rização dos empreendimentos, o diagnósti-co ambiental da área de influência, a análi-se dos impactos ambientais, as medidasmitigadoras e compensatórias e o plano demonitoramento.

6.2.1 Caracterização do empreendimento

A caracterização do empreendimentoapresenta um breve histórico sobre a LagoaItatiaia, justificando a importância darevitalização tanto para a preservação doecossistema quanto para melhora da quali-dade de vida da população do entorno.

Este item detalha ainda as intervençõesa serem realizadas durante o projeto derevitalização: desapropriação de áreas, lim-peza da lagoa, microdrenagem, construçãodo passeio público e guia, revestimento pri-mário das ruas laterais, arborização e recu-peração das margens e iluminação.

No entanto, foram realizadas interven-ções não previstas, a saber: a construção deuma barreira de contenção, que margeia todoo entorno da lagoa, e o alteamento das mar-gens.

A barreira de contenção está localiza-da em uma posição proposital de modo quenos meses de janeiro e fevereiro, final da es-tação chuvosa, a água da lagoa chegue atéa barreira.

Além disso, o projeto analisado no EAPprevia a manutenção de uma área que per-maneceria inalterada, sendo denominadacomo �área de preservação biológica�, masao contrário do previsto, foram retiradas asplantas de porte arbustivo-herbáceo da área,tendo sido a mesma aterrada e sendo plan-tada grama esmeralda e algumas árvoresexóticas.

Machado (2003) atenta para esse pro-blema observado no caso da Lagoa Itatiaiaao afirmar que o EIA depende do projetoapresentado, de forma que, sendo modifica-do, o EIA deverá também conter a modifi-cação. No entanto, tal fato não foi observa-do no caso do EAP da Lagoa Itatiaia, vistoque não foram realizados novos estudos di-ante das modificações do projeto inicial.

6.2.2 Diagnóstico ambiental

O diagnóstico ambiental contempla ascaracterísticas do meio físico, biológico e só-cio-econômico da área de influência, sendoesta, primeiramente, definida.

a) Aspectos físicos

Os aspectos físicos analisados foram:caracterização climática, pedologia, geolo-gia e hidrogeologia.

Na caracterização climática foramapresentados dados do estado de Mato Gros-so do Sul sobre o tipo climático, precipitação,temperaturas médias e circulação atmosféri-ca. No entanto, não foi citada qualquer refe-rência bibliográfica ou fonte de procedência

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dos mesmos, nem mesmo informaçõescoletadas in loco.

A ausência de fontes ou citações sobrea procedência dos dados é observada tam-bém nos casos da caracterização pedológica,que contém informações sobre os tipos desolos e condições de relevo na região da la-goa; e na caracterização detalhada da geo-logia e hidrogeologia do município de Cam-po Grande.

Por outro lado, foi realizado um estu-do detalhado sobre a geologia e hidrogeo-logia da Lagoa Itatiaia, com levantamentobibliográfico, serviços de sondagem, investi-gações geológicas locais e implantação depiezômetros, tendo sido obtidos dados sobreo nível da água da lagoa e do lençol freático,o tipo de material que compõe o fundo, in-clusive o responsável pela colmatação, alémda determinação do coeficiente de permea-bilidade e de transmissividade. A partir des-tes dados foi possível detalhar o substratoda lagoa e seu entorno, bem como as áreasde recarga e descarga e as característicasmorfométricas e geomorfológicas da região.

No item sobre a qualidade da água estáapenas mencionado que este deveria ser rea-lizado �por ocasião da solicitação da licençade instalação�.

b) Aspectos bióticos

Dentro dos aspectos bióticos foram rea-lizados estudos para a caracterização dafauna e flora do local.

A caracterização da fauna foi compos-ta exclusivamente pela caracterização daavifauna e da ictiofauna. Não foram reali-zados estudos sobre as demais classes devertebrados, cuja citação se reduz a merassuposições baseadas em animais do cerradoque geralmente estão associados a regiõesurbanas, ou sobre a fauna de invertebrados.Estudos independentes realizados após asobras de revitalização, demonstraram impac-tos nas populações de moluscos do gêneroPomacea, presentes na Lagoa (CAMILLO etal., 2004). Tais moluscos são importantes con-troles biológicos de espécies do gêneroBiomphalaria, transmissor da esquistossomosemansônica (BEZERRA, 2000; IGLESIAS,1997). Assim como as pomáceas outros inver-tebrados presentes na Lagoa podem ser im-portantes para a manutenção do ecossistema

e para a saúde pública e, portanto, deveriamtambém ter sido considerados no Estudo.

A caracterização da avifauna foi rea-lizada por meio de observações esporádicasnos meses de novembro e dezembro de 2000e janeiro de 2001, com auxílio de binóculos,vocalizações e vestígios como penas, ninhose fezes, ou seja, apenas durante a estaçãochuvosa. Isso não permite observar a rique-za da avifauna da Lagoa Itatiaia, mas sim-plesmente de aves presentes neste períodona Lagoa. Enquanto que a metodologia paraa determinação da ictiofauna nem mesmofoi detalhada.

A flora, por sua vez, foi caracterizadapor meio de caminhadas ao longo do perí-metro da lagoa, incluindo incursões na água.Além disso, foram coletadas amostras dasespécies não identificadas no local paracomparações em herbário e consultabibliográfica.

c) Aspectos sócio-econômicos

Na descrição dos aspectos sócio-eco-nômicos foi realizado um levantamento doprocesso de ocupação do município de Cam-po Grande e da região onde está localizadaa lagoa, incluindo dados do IBGE de 1996do total de habitantes da região do entornoda lagoa, divididos em grupos de idade e porsexo. Outros dados apresentados, como adensidade demográfica da região, o total dedomicílios particulares e o número de habi-tantes por domicílio, encontram-se sem ci-tação da fonte ou da época da coleta de da-dos. A renda dos moradores, por sua vez,não é informada com dados precisos, se li-mitando a uma afirmação de que �as famíli-as, na sua grande maioria de baixa renda,(...)� (CAMPO GRANDE, 2002).

Conforme consta no EAP, antes de suaelaboração, houve a desapropriação de oitolotes. O EAP afirma ainda que tais desapro-priações foram realizadas de acordo com odecreto nº 8.256 de 11 de junho de 2001.

Na análise do EAP, observa-se que osfatores foram analisados isoladamente, nãosendo descritas as interações entre eles. Talobservação foi, em seguida, corroborada pormeio de entrevistas com a equipe técnica res-ponsável, pois grande parte dela afirma tersido contratada para realizar caracterizaçõesisoladas de um dos fatores ambientais (físico

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e biológico � fauna e flora) e não o EAP comoum todo. Na realidade, por meio das entre-vistas, confirmou-se que o EAP foi realizadopor alguns membros da equipe técnica res-ponsável, tendo os demais realizado estudosà parte, inclusive sem estabelecer contatocom o restante da equipe. Além de corrobo-rada pelas entrevistas, essa conclusão tam-bém pode ser deduzida pelo fato de que oestudo não foi assinado por nenhum dosmembros da equipe.

Assim, o EAP atendeu somente parteda exigência da Resolução CONAMA 001/86, que em seu art. 6º, I, afirma que o EIAdesenvolverá �diagnóstico ambiental da áreade influência do projeto, completa descriçãoe análise dos recursos ambientais e suasinterações (...)� (BRASIL, 1986).

Macedo (1995) define bem essa ques-tão ao afirmar que as propriedades de umdado ecossistema são caracterizadas pelasrelações ambientais dos fatores que o com-põem. Dessa forma, o estudo de um fatorisolado não tem significado ambiental(Macedo, 1995). Seguindo o mesmo raciocí-nio, Milaré (2001) complementa que o diag-nóstico ambiental é na realidade uma des-crição das inter-relações entre os fatores am-bientais (físico, biológico e sócio-econômico)e o ecossistema a ser afetado.

6.2.3 Avaliação dos Impactos Ambientais

A avaliação dos impactos ambientaisfoi feita segundo as normas da ResoluçãoCONAMA 001/86, tendo os impactos sidocaracterizados quanto à �natureza (positivoou negativo), ao prazo de ocorrência (a cur-to, médio ou longo prazo), a área de inci-dência (localizado ou disperso), a forma deinterferência (ocasiona ou aumenta), a du-ração (temporário ou permanente), a magni-tude (pequena, média ou grande), ao graude resolução das medidas mitigadoras pro-postas para reduzir ou potencializar um da-do impacto (baixo, médio ou alto) e ao graude relevância, tendo em vista a magnitudedo impacto e o grau de resolução das medi-das propostas (baixa, média ou alta)�(CAMPO GRANDE, 2002).

O EAP apresenta após o detalhamentodos impactos provenientes de cada uma dasações modificadoras do meio ambiente, um

quadro sintético com os impactos gerados emcada meio, suas características e as medidasmitigadoras e compensatórias previstas.

Milaré (2001), em sua interpretaçãodas normas para a elaboração de estudos deimpactos ambientais contidas nas Resoluçõesdo CONAMA, afirma que o método utiliza-do para a análise dos fatores ambientaisdeve sempre ser indicado. A análise do EAPpermite ressaltar que não há detalhamentode muitas das metodologias utilizadas, ouàs vezes, não há qualquer descrição da mes-ma, de forma que o leitor não sabe se o estu-do foi realizado pelo técnico responsável ouse é um levantamento bibliográfico. Do mes-mo modo, os levantamentos bibliográficosrealizados não apresentam referências bi-bliográficas.

Outra observação importante é o fatode que os estudos foram realizados somenteem uma determinada época do ano, nãoenglobando as estações. Dessa forma, even-tos ou espécies que só ocorrem em uma dasestações podem não ter sido contemplados.

O artigo 6º, II da Resolução CONAMA001/86 determina que o EIA desenvolverá�análise dos impactos ambientais do projetoe de suas alternativas, através de identifica-ção, previsão de magnitude e interpretaçãoda importância dos prováveis impactos rele-vantes (...)� (BRASIL, 1986). O manual deorientação para a elaboração de EIA/RIMAda Secretaria Estadual de Meio Ambiente deSão Paulo (SÃO PAULO, 1989) interpreta ocitado inciso afirmando ser necessário à apli-cação de métodos de identificação dos im-pactos e de técnicas de previsão de magni-tude. Tais métodos e técnicas devem ser men-cionados no EIA, juntamente com os critériosadotados para a interpretação e análise desuas interações no ecossistema a ser alterado,ou seja, sua importância. Da mesma forma,Machado (2003) conclui que o EIA além deincluir levantamento bibliográfico, deve con-ter também trabalhos técnicos, inclusive comvisitas in loco e análises de laboratório.

O que se percebe na análise do EAP éque, embora o item de análise dos impactosambientais contenha todos os requisitos de-terminados pela citada Resolução, esta foirealizada, na maioria das vezes, por meiodo conhecimento teórico e prático dosprofissionais responsáveis, pois não estão

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mencionadas metodologias desenvolvidaspara a identificação precisa dos impactos,tanto os positivos quanto os negativos, o quefacilitaria sua análise e interpretação de suaimportância.

Como afirma Machado (2003), alémda identificação e análise dos impactos po-sitivos e negativos do empreendimento, oEIA deve indicar também medidas mitiga-doras. Tal determinação está presente noartigo 6º, III da Resolução CONAMA 001/86, segundo a qual o EIA deve conter �defi-nição das medidas mitigadoras dos impac-tos negativos, entre elas, os equipamentos decontrole e sistemas de tratamento de despe-jos, avaliando a eficiência de cada uma de-las� (BRASIL, 1986). Ressalta-se o final docitado inciso, que determina a avaliação daeficiência das medidas mitigadoras. Paracumprir tal determinação se faz necessáriaà aplicação de métodos para testar as medi-das propostas. Machado (2003) em sua in-terpretação deste inciso aliada ao seu conhe-cimento da legislação brasileira afirma quemais do que mitigar o impacto, a equipemultidisciplinar deve propor e estudar me-didas que tentem evitar o impacto negativo,ou caso isso não seja possível, devem propormedidas que procurem corrigi-los, de modoa recuperar o ambiente.

No EAP não se observa a realizaçãode estudos para testar as medidas mitigado-ras, mesmo porque, como já mencionadoanteriormente, não foram realizados estudospara a identificação da maioria dos impac-tos, o que conseqüentemente dificulta a ela-boração das medidas mitigadoras.

No final dos estudos de caracterizaçãodos fatores ambientais, sobretudo da flora,observa-se a proposição pelos profissionaisresponsáveis, de algumas medidas mitigado-ras, que, todavia, não foram consideradasde muita importância pelos profissionais queelaboraram o EAP a partir dos estudos isola-dos, visto que essas não se encontram men-cionadas junto com as demais medidas pro-postas.

6.2.4 Plano de monitoramento

Ao final do Estudo de impacto ambi-ental foram estabelecidas ações e atividadesa serem monitoradas para acompanhar a

evolução dos serviços de revitalização dalagoa e verificação da implementação dasmedidas mitigadoras. Este plano incluía umprograma de educação ambiental voltadopara os trabalhadores do projeto e morado-res dos bairros próximos à lagoa, um progra-ma de monitoramento da implantação daarborização e das condições de tráfego nasruas de acesso a lagoa, avaliação das áreasde depósito do material resultante da limpe-za, entre outras atividades, com a elabora-ção de relatórios periódicos de acompanha-mento e avaliação. Além disso, incluía umprograma de monitoramento da qualidadeda água, e um programa de controle do usoe ocupação do solo nos bairros onde se en-contra a área de recarga da lagoa, por meioda criação de estímulos à preservação e àformação de áreas verdes nessa região.

Deste extenso plano tem sido realiza-do, periodicamente desde a finalização dasobras, o monitoramento do nível da água daLagoa e do lençol freático, com a elaboraçãode relatórios anuais (CAMPO GRANDE,2004). Além disso, foram realizados estudosindependentes, resultado de trabalhos deconclusão de curso da Universidade para oDesenvolvimento do Estado e da Região doPantanal�UNIDERP, como o estudo sobre aimportância de macrófitas aquáticas para acomunidade de peixes da Lagoa (GORSKI,2004), a avaliação da qualidade da água esua balneabilidade (REIS, 2004), o estudo dacomunidade macroinvertebrados bentônicoscomo biondicadores para a qualidade daágua da Lagoa (SILVA, 2004), bem comoprojetos do Programa Institucional de Bolsasde Iniciação Científica da Universidade Ca-tólica Dom Bosco (PIBIC/UCDB), como oestudo de impactos físicos (CAMILLO et al.,2005) e biológicos (ZAGO &ALBUQUERQUE, 2005) provenientes doprojeto urbanístico e as caracterizações daavifauna (GUIBU et al., 2005; MARTINS &ANJOS-AQUINO, 2005) e da comunidadede macrófitas aquáticas (SANTANA & AN-JOS-AQUINO, 2005).

Por fim, o artigo 6º da ResoluçãoCONAMA 001/86, IV prevê a �elaboraçãode um programa de acompanhamento emonitoramento dos impactos positivos e ne-gativos, indicando os fatores e parâmetros aserem considerados� (BRASIL, 1986).

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Machado (2003) ressalta que a equipemultidisciplinar será responsável pela elabo-ração dos programas de monitoramento,mas não pela sua execução, visto que esta serealizará após o licenciamento.

A equipe responsável pela elaboraçãodo programa de monitoramento dos impac-tos o fez com excelência, incluindo progra-mas de educação ambiental, de controle deuso e ocupação do solo, bem como, progra-mas de acompanhamento e avaliação de al-guns fatores ambientais, como qualidade daágua. Resta apenas, esperar que tal progra-ma seja efetivado pelos órgãos e instituiçõesresponsáveis.

Conclusões

Os estudos realizados pelo EAP foram,de modo geral, bem elaborados. No entanto,o principal problema foi à ausência damultidisciplinaridade, pois embora os estu-dos que compõem EAP tenham sido elabora-dos por uma equipe que reunia profissionaisde diferentes áreas, não houve uma discus-são multidisciplinar dos impactos passíveisde serem gerados e das medidas necessáriaspara mitigá-los. Desta forma a multidiscipli-naridade se limitou aos estudos de caracteri-zação da área.

Essa é uma realidade brasileira ressal-tada por Rohde (1990) quando afirma que éa inexistência de trabalho em equipemultidisciplinar ou a falta de integração damesma, que gera um documento sem aabrangência ambiental total do ecossistemaa ser alterado. Essa integração é de sumaimportância para que a legislação ambientalbrasileira que na teoria já é um bom aparatolegal para a preservação do meio ambientee da saúde e do bem-estar das populaçõeshumanas (MILARÉ, 2001; CUSTÓDIO,1995; ROHDE, 1990), o seja também na prá-tica. Além disso, a discussão multidisci-plinar, alcançada somente pela integraçãoda equipe de profissionais de diferentesáreas, é importante também para que, defato, se possa viabilizar uma real interpreta-ção dos impactos passíveis de serem gerados,possibilitando mitigá-los ou minimizá-los.

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53Análise crítica do Estudo Ambiental Preliminar do projeto urbanístico �Reviva LagoaItatiaia�, em Campo Grande/MS

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Agroindustrialização de Alimentos nos Assentamentos Rurais do Entorno do ParqueNacional da Serra da Bodoquena e sua Inserção no Mercado Turístico, Bonito/MS

Agroindustrialization of Victuals in the Rural Establishments surround of the ParqueNacional da Serra da Bodoquena and your Insertion in the Tourist Market, Bonito, MSAgroindustrialisation des Aliments dans les Places Rurals à l´entour du Parc National

de la Momtagne de Bodoquena et son Insertion au Marché Touristique Bonito/MSAgroindustrialización de los Alimentos em los Sítios Rurales al entorno del Parque Nacional da

Serra da Bodquena y su inserción em el Mercado Turístico, Bonito/MS

Liliane Lacerda*

Lidiamar Barbosa de Albuquerque**

Sinéia Mara Zattoni Milano*

Márcia Brambilla*

Recebido em 10/11/2006; revisado e aprovado em 20/2/2007; aceito em 22/2/2007.

Resumo: Os projetos de assentamentos rurais possibilitam o acesso a terra, entretanto as famílias assentadas aindaenfrentam dificuldades ao tentar tirar dela o seu sustento. Uma das alternativas para minimizar o problema eviabilizar a sua permanência no campo tem sido a transformação do excedente da produção familiar em produtosagroindustrializados. Assim, o objetivo deste trabalho foi capacitar pequenos produtores rurais dos AssentamentosGuaicurus e Santa Lúcia, localizados no entorno do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, Bonito/MS, para aagroindustrialização de frutas e hortaliças, cultivados em bases agroecológicas. Desde sua implantação, foramproduzidos 2.682 potes de conservas (2.000 vendidos e 682 consignados). Esta comercialização tem gerado ganhossocioeconômicos para os assentados ao mesmo tempo em que se propõe um modelo produtivo ambientalmente maisadequado, diminuindo a pressão sobre o Parque. Palavras-chave: Assentamentos rurais; agroindustrialização; turismo; Bonito/MS.Abstract: The projects of rural establishments make possible the access of land; however the families seated still havedifficulties when trying to remove your support from the land. One of the alternatives to minimize this problem and tomake possible your permanence in the countryside has been the transformation of the surplus of the family productionin products agroindustrialized. Inside of this context, the objectives of this work were to qualify small rural producersto do the agroindustrialization of the victuals in the rural establishments Guaicurus and Santa Lúcia, located surroundof the Parque Nacional da Serra da Bodoquena, Bonito/MS, and to insert the women in this process of improvement ofthese products. This works was done in the period between April, 2004 and February, 2005. In that period 2682 potswere produced, of those 2000 they were sold and 682 are consigned at craft stores, restaurants, supermarkets, hotels andgas station. That commercialization has been generating socio-economics won and at the same time generates a productivemodel more appropriate for the environmental that reducing the pressure on the Park.Key words: Rural establishments; agroindustrialization; tourism; Bonito/MS.Résumé: Les projets de places agrairies rendent possible l,access à la tèrre, cependant lês familles placées confrontentdifficultés por essayer ôter de la téere leur subsistance. Une des alternatives pour diminuer lê probléme et possibiliterla permanence à la campagne a éte´la transformation de l´excedánt de la production familier en produitsagroindustrialisés. Ainsi, l´objectif de ce travail a été qualifier modestes producteurs agrairies dans les PlacesGuaigurus et Santa Lúcia, placés a léntor du Parc National de la Montagne de Bodoquena, Bonito / MS, pourl´agoindustrialisation de fruits e plantes potagéres, cultivés em bases agroecologiques.. Depuis son implantation,2.682 pots de conserve (2.000 et 682 consignés ) ont été produits. Cette comercialisation a engendré profits sociauxet economiques pour les familles placées au même temps que propose um modele productif ambientalllement plusapproprié, avec la dininution de la préssion sûr le Parc.Mots-clé: Places agrairies; agroindustrialisation; tourisme; Bonito/MS.Resumen: Los proyectos de sítios rurales hacen la posiblidad del accesso à la tierra, todavia las famílias que vivenem los sítios aún tienen difculdades em la tentativa de sacar la tierra su subsistência. Uma de las alternativas paraminimizar el problema y hacer posible su permanência en el campo tiene sido el cámbio del excedente de laproducción familar em produtcos agroindustrializados. Así, el obyectivo de este trabajo fue capacitar pequeñosproductores rurales em los Sítios Guaicurus y Santa Lúcia, ubicados em el entorno del Parque Nacional da Serra daBodoquena, Bonito / MS, para la agroindustrialización de frutas y vegetales, cultivados em basies agroecloógicas.Desde su implantación, fueron producidos 2.682 potes de conserva ( 2.000 vendidos y 682 consignados). Estacomercialización tiene gernerado gaños socioeconômicos para los sitiados al mismo tiempo em que se propone ummodelo productivo ambientalmente más apropiado, haciendo la diminuición de la présion sobre el Parque.Palabras clave: S´tios rurales; agroindustrialización; turismo; Bonito/MS.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 55-64, Mar. 2007.

* Fundação Neotrópica do Brasil. ([email protected]; [email protected];www.fundacaoneotropica.org.br).** Professora do Curso de Biologia da Universidade Católica Dom Bosco. ([email protected]).

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1 Introdução

A concentração de terras no Brasil temsuas origens na época do descobrimento. Amá distribuição da propriedade da terra é otraço mais marcante, e ao mesmo tempo aprincipal distorção da estruturação fundiá-ria no Brasil. Para minimizar os efeitos destemodelo surgiram as políticas públicas de re-forma agrária. Segundo Sparovek (2003),�reforma agrária é um termo utilizado paradescrever distintos processos que procuramdar acesso à posse da terra e aos meios deprodução para os trabalhadores rurais quenão a possuem ou possuem apenas em pe-quena quantidade, constituindo-se em umagente transformador e ao mesmo tempocriador de espaços diferenciados�. Inseridosnesse processo de transformação, os assenta-mentos são considerados uma importantealternativa de trabalho e inserção social por-que vêm possibilitar o acesso à propriedadeda terra para uma população que, princi-palmente nesses últimos 50 anos de históriado Brasil, vem sendo excluída dos benefíciossociais.

Entretanto, �o grande desafio da refor-ma agrária é ser transformada em instru-mento efetivo de desenvolvimento local�(BUAINAIN, 2003). Desamparados por umapolítica agrária que beneficia o grande pro-dutor, com vistas à exportação em larga es-cala, os pequenos produtores, sem condiçõescompetitivas de mercado, abandonam suaspequenas propriedades e migram para aperiferia das grandes cidades, em busca deoutro meio de vida. O resultado é o agrava-mento dos problemas sociais urbanos, au-mento da miséria, da fome, da margina-lidade, do desemprego e dos problemasambientais.

1.1 Agroindustrialização do excedente daprodução familiar como alternativaprodutiva para o pequeno produtorrural do município de Bonito/MS

Produzir na pequena propriedade ru-ral tem sido possível, mesmo em condiçõesadversas. Entretanto, um dos grandes entra-ves para o produtor de pequena escala é acomercialização do excedente de sua produ-ção. Uma das soluções encontradas para

minimizar o problema tem sido a verticali-zação desta produção. �Entende-se porverticalização no campo a transformação doproduto in natura em um produto agroindus-trializado� (HOMEM DE CARVALHO,2003). A verticalização agrega valor ao pro-duto quando o transforma, e tira-o da con-dição de perecível quando permite ao produ-tor aguardar a hora adequada para comer-cialização, sem a necessidade de venda ime-diata após a colheita. Essa proposta de tra-balho tem transformado o espaço rural bra-sileiro ocupado pelos pequenos produtores,em uma nova possibilidade de aumento desua renda.

O processo crescente de urbanizaçãoda sociedade brasileira tem aumentado ademanda por produtos agroindustrializa-dos, e, associado a isso, cresce a valorizaçãode produtos genuinamente regionais, prin-cipalmente aqueles comercializados em re-giões com apelo turístico.

Na região de Bonito/MS, os recursosnaturais, tanto reais quanto potenciais, fun-cionam como elementos atrativos para o tu-rismo. Frente a essas e muitas outras peculi-aridades do município, a região é conside-rada como um espaço privilegiado para acomercialização de produtos agroindustria-lizados. A dificuldade de comercializaçãoencontrada pelos pequenos produtores, quejá foi um dos maiores desestímulos à produ-ção agrícola regional, atualmente encontrano comércio turístico local e na Feira do Pro-dutor Rural, recentemente criada no muni-cípio, uma oportunidade de negócio.

No sentido de oferecer uma alternativapara minimizar os problemas impostos peloatual modelo econômico, levando em contao potencial ecoturístico regional e a necessi-dade de conservação do entorno do ParqueNacional da Serra da Bodoquena, a Funda-ção Neotrópica do Brasil, uma organizaçãonão-governamental ambientalista, idealizouo projeto �Qualificação e Diversificação daProdução de Alimentos pelas Mulheres dosAssentamentos Rurais do Entorno do ParqueNacional da Serra da Bodoquena�. Este tra-balho de capacitação foi elaborado comocomplementação das ações de outro projetodesenvolvido pela mesma fundação, o �Pro-jeto Ecodesenvolvimento no Entorno do Par-que Nacional da Serra da Bodoquena�.

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Dentre as diversas atividades do ProjetoEcodesenvolvimento, um dos componentesé incentivar e apoiar práticas agroflorestaisde produção, em bases agroecológicas, nosassentamentos rurais localizados no entor-no do Parque. O projeto de capacitação paraa agroindustrialização do excedente dessaprodução, tem por objetivos fortalecer e com-plementar esta atividade, fazendo uso dopotencial do mercado turístico regional.Desta forma, a ação da Fundação Neotrópi-ca nos assentamentos, pretende dar ao as-sentado rural e sua família condições de pro-duzir, industrializar e comercializar seusprodutos, garantindo-lhes emprego, rendae vida digna, ao mesmo tempo em que dimi-nui a pressão exercida pela ocupação huma-na sobre a área do Parque Nacional da Serrada Bodoquena.

Dentro deste contexto, o presente tra-balho tem por objetivo fazer a agroindustria-lização dos alimentos nos assentamentosrurais Guaicurus e Santa Lúcia, situados noentorno do Parque Nacional da Serra daBodoquena, em Bonito/MS , inserindo asmulheres no beneficiamento desses produ-tos. Para alcançar esse objetivo geral, o pro-jeto teve como objetivos específicos: (a) Ofe-recer qualificação de mão-de-obra para aagroindustrialização de frutas e hortaliçasem geral; (b) Agregar valor aos produtos dosassentamentos, a partir do cultivo com ba-ses agroecológicas, transformando a produ-ção in natura em produtos agroindustriali-zados; (c) Contribuir para a conservação doParque Nacional da Serra da Bodoquena; (d)Fortalecer a �Feira dos Pequenos Produto-res�, diversificando a oferta e melhorando aapresentação dos produtos comercializados;(e) Contribuir para a inserção dos produtosagroindustrializados no crescente mercadoturístico do município de Bonito; (f) Melho-rar a qualidade de vida das comunidadesenvolvidas.

2 Procedimentos metodológicos

2.1 Caracterização da área de abrangência

Este trabalho foi realizado nos projetosde assentamentos rurais Santa Lúcia eGuaicurus, situados no entorno do ParqueNacional da Serra da Bodoquena, Bonito/MS.

2.1.1 O Parque Nacional da Serra daBodoquena

O Parque Nacional da Serra daBodoquena foi criado em 21/09/2000. �Suaárea possui um imenso patrimônio natural,em boas condições de preservação, abrigan-do a maior extensão de florestas naturais doestado de Mato Grosso do Sul. O Parque éformado por duas áreas bem próximas umada outra, somando 76.481 ha. A área Norte,com 27.797 ha, engloba parte da Bacia doRio Salobra, e a Sul, com 48.684 ha, parteda Bacia do Rio Perdido. Sua área de influên-cia abrange os municípios de Bonito,Bodoquena, Porto Murtinho e Jardim, locali-zados no sudoeste do Estado, na região Cen-tro-Oeste brasileira� (FUNDAÇÃO NEO-TRÓPICA DO BRASIL, 2004).

O Parque é caracterizado por um ma-ciço rochoso elevado com altitudes que va-riam de 450 a 650 metros onde se encontraum dos últimos remanescentes da florestaestacional semi-decidual. Nas áreas elevadasinfiltram as águas pluviais que abastecem osrios que cortam a Serra da Bodoquena. �Amanutenção das condições ambientais destaparte da serra se tornou indispensável nãoapenas do ponto de vista ecológico, mas tam-bém social, econômico e político, ainda maisque entre as 87 áreas prioritárias para a con-servação da biodiversidade no bioma Cerra-do e no Pantanal, a Serra da Bodoquena foiconsiderada de elevada importância, devidoà riqueza de espécies e os endemismos� (FUN-DAÇÃO NEOTRÓPICA DO BRASIL, 2004).

2.1.2 O município de Bonito

A colonização de Bonito data de mea-dos do século XIX, �quando as primeirashabitações foram edificadas na outrora Fa-zenda Rincão Bonito. Sua fundação foi ofi-cializada pelo decreto do governador de 14/06/1927. Bonito passaria à categoria demunicípio somente em 02/10/1948� (DIAS,1998). O Município de Bonito (21º 07� 16"S e56º 28� 55"W) possui uma área total de 4.934km2, correspondendo a 1,40% das terras doEstado, faz limite com os municípios deBodoquena (N e NO), Miranda (N),Anastácio (NE), Nioaque (L), Guia Lopes daLaguna (SE), Jardim (S) e Porto Murtinho

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(SO e O). De acordo com o Anuário Estatís-tico de Mato Grosso do Sul � 1993 � SEPLAN-MS, o município de Bonito abriga uma po-pulação de 17.948 habitantes, dos quais8.344 residentes na zona urbana e 9.604 nazona rural.

Apesar da longa distância dos gran-des centros urbanos do país, Bonito destaca-se, regionalmente, como uma área promis-sora dentro do Estado, em função de suabeleza cênica. �Bonito aparece no cenáriosul-mato-grossense como uma região de ex-pressão, especialmente pela fama propicia-da pelo turismo, além das reservas de recur-sos minerais, principalmente calcários emármores, ou pelo desenvolvimento da ati-vidade pecuária na região há muitos anos�(DIAS, 1998).

2.1.3 Assentamento Guaicurus

Criado oficialmente em 1986, o assen-tamento Guaicurus tem 2.722 ha de área ecomporta atualmente, 120 famílias e aproxi-madamente 500 pessoas. O assentamentoestá a Sudoeste da porção Norte do parque.Para acessá-lo a partir de Bonito é necessá-rio passar por entre as duas partes que com-põem o parque. Suas terras estão localizadasentre a área do Parque e a Terra IndígenaKadiwéu.

A característica do solo é de regiõesmontanhosas com afloramentos rochososnotáveis. Também tem escassez de água, oque dificulta ainda mais a agricultura. �Ape-nas 1% de suas terras é cultivada com agri-cultura de subsistência e o restante é ocu-pado com pastagens� (FUNDAÇÃONEOTRÓPICA DO BRASIL, 2004).

De acordo com Milano (2002), o �as-sentamento possui duas reservas legais bas-tante degradadas e segundo informações dealguns moradores, ainda se retira madeiradessas áreas para utilização em algumaspropriedades, uma vez que muitas não pos-suem madeira para o próprio consumo,comprovando a existência do extrativismoirregular�.

2.1.4 Assentamento Santa Lúcia

Em 1998, o Governo Federal, atravésdo INCRA, �desapropriou 1.026,74 ha de

terras da Fazenda Santa Lúcia, no municí-pio de Bonito, dando início ao projeto deassentamento de 37 famílias, somando apro-ximadamente 100 pessoas� (IDATERRA,2001). Suas divisas estão próximas ao ladoleste da porção sul do parque, em sentido aPorto Murtinho pela MS-178.

Os solos, onde hoje está o Santa Lúcia,são aptos à prática agrícola desde quecorrigida sua acidez. A pecuária é desenvol-vida em menor ou maior grau por todos osassentados, apresentando um potencial parao incremento da bovinocultura de leite e cul-turas anuais,. Paralelamente à bovinocul-tura, ocorre, em menor escala, a suinoculturae a criação de galinha caipira. �Para àque-les produtores que seguem as orientaçõestécnicas, a produtividade tem sido satisfató-ria, tanto da agricultura como da pecuária�(MILANO, 2002).

De acordo com Milano (2002), o �as-sentamento possui duas áreas de preserva-ção permanente. Uma compreendida em216,52 ha de várzea, em região de nascen-tes do Rio da Prata, cujas águas drenam parao Rio Miranda que por sua vez é afluente doRio Paraguai e outra, uma área de reservalegal, com 205,88 ha de vegetação naturalem estágio avançado de regeneração. Estaúltima tem sido utilizada irregularmente, poralguns moradores, como área de pastagem�.

2.2 Projeto Pé-da-Serra

O projeto �Qualificação e diversifica-ção da produção de alimentos pelas mulhe-res dos Assentamentos Guaicurus e SantaLúcia, localizados no entorno do ParqueNacional da Serra da Bodoquena� contacom o apoio financeiro do Programa de Pe-quenos Projetos (PPP), Fundo para o MeioAmbiente Mundial (GEF) e Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD), aprovado em setembro de 2003,com duração de 18 meses. Os dados apre-sentados neste trabalho são referentes aosmeses de abril de 2004 a fevereiro de 2005.

Considerando o papel fundamental damulher na transmissão de conhecimentosdentro da família e na comunidade em ge-ral, optou-se por investir na capacitação dogênero feminino, ou seja, das produtorasrurais dos assentamentos Santa Lúcia e

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Guaicurus, valorizando suas capacidadesprodutivas e inserindo-as diretamente noprocesso de geração de renda familiar.

Este projeto foi desenvolvimento em 7etapas:

2.2.1 Assinatura do termo de adesão

Em Agosto de 2003, para a elabora-ção do projeto, foram realizadas visitas téc-nicas aos assentamentos para conhecer oespaço, a sua realidade socioeconômica eavaliar a sua capacidade produtiva.

Em janeiro de 2004, foram organiza-das reuniões nas comunidades para discus-são coletiva sobre alternativas de produçãoque fossem ao mesmo tempo lucrativas eambientalmente mais adequadas em relaçãoas tradicionais formas de produção até en-tão desenvolvidas na região.

O passo seguinte, após consenso sobreas ações a serem implementadas pelo proje-to, os interessados em participar das ativi-dades assinaram um �Termo de Adesão aoProjeto� o qual foi anexado à proposta detrabalho apresentada ao órgão financiador.

2.2.2 Adequação da estrutura das sedesdos assentamentos para a criação decozinhas comunitárias.

Para iniciar o processo de capacitaçãoe industrialização dos produtos, foi necessá-ria a criação de cozinhas comunitárias nosdois assentamentos, obedecendo a normasda Secretária de Saúde/Vigilância Sanitária.Para a criação das cozinhas, foram realiza-das reuniões com os presidentes das associ-ações de moradores dos Assentamentos San-ta Lúcia e do Guaicurus, além de membrosdas comunidades, para serem autorizadasobras de reformas para adequações das es-truturas das sedes desses assentamentos emcozinhas comunitárias. Para a execução des-sas obras, foi estabelecida parceria com aPrefeitura Municipal de Bonito, que cedeuarquiteto e materiais de construção para asua realização. As obras foram iniciadas emagosto e terminaram em setembro de 2004,em ambos os assentamentos.

2.2.3 Organização de cursos

Dando início às atividades do projeto,propriamente ditas, foram planejados cur-sos de capacitação. Para esta atividade, fir-mou-se parceria com o Serviço Nacional deAprendizagem Rural/SENAR que se res-ponsabilizou pela realização da maioria doscursos planejados. Todo o planejamento foielaborado para diversificar e qualificar amão-de-obra das mulheres dos assentamen-tos rurais para a agroindustrialização doexcedente de sua produção. Foram agenda-dos 02 (dois) cursos de processamento dealimentos para o ano de 2004: �Processa-mento de Frutas e Hortaliças em ConservasDoces e Salgadas e Produção Caseira dosDerivados da Mandioca�, ambos realizadosrespectivamente, em junho e novembro.

2.2.4. Criação da marca, compra de emba-lagens, elaboração e compra derótulos e etiquetas e criação do mate-rial de divulgação.

Uma tarefa importante foi à criação deuma marca que identificasse o projeto e pu-desse abrigar todos os produtos. O paço se-guinte incluiu a criação de rótulos, etiquetase material de divulgação. Os rótulos obede-ceram às normas básicas da Secretaria Na-cional de Vigilância Sanitária, com a impres-são de informações sobre o produto e com ocarimbo de autorização para a comerciali-zação. A elaboração de etiquetas mereceuuma atenção especial. Elas serviriam paraacompanhar cada um dos produtos, comoum �Certificado de Origem�.

2.2.5 Organização da produção

Com a estrutura da cozinha montadae os detalhes das embalagens prontos, deu-se início a produção dos doces e conservas.A produção foi iniciada com a normatizaçãodo uso das cozinhas comunitárias e de seusutensílios, bem como com a organização dautilização de embalagens, rótulos e etiquetas.Elegeu-se uma coordenadora para cadaassenamento.

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2.2.6 Comercialização

Para a inserção dos produtos agroin-dustrializados no mercado de Bonito, foi or-ganizado um lançamento formal na Feira doProdutor, com baile animado por músicosmoradores dos assentamentos e palestrassobre o projeto, nos quais compareceram ascomunidades dos assentamentos, autorida-des locais e a população da cidade em geral.

O projeto também capacitou as mulhe-res para a venda de seus produtos. Para ocumprimento desta meta, pelo menos umapessoa da comunidade produtora acompa-nhou um dos coordenadores da FundaçãoNeotrópica nas visitas aos estabelecimentoscomerciais. No primeiro contato com osrevendedores, explicou-se os objetivos doprojeto e solicitou-lhes a cooperação e a par-ceria.

O resultado da venda foi repassadopara cada um dos grupos produtores. An-tes, porém, fez-se a dedução do valor daembalagem, do rótulo e da etiqueta, inicial-mente adquiridos com recursos do projeto,para garantir a sustentabilidade do processo.

2.2.7 Avaliação dos produtos

Como forma de se avaliar a aceitaçãodos produtos no mercado, foram criadas ta-belas para o controle de venda e consigna-ção. Dessas tabelas foram retirados dados,tais como: produtos mais vendidos, quanti-dade total vendida, total de pontos de ven-da e em qual categoria se inserem (restau-rantes, hotéis, pousadas, supermercados,lojas de artesanato, dentre outras).

Periodicamente, visitam-se os estabe-lecimentos do comércio onde estão expostosos produtos para avaliar se sua aparênciacontinua a mesma, ou seja, se apresentamdescoloração ou qualquer outro indicativode contaminação. Em caso positivo, provi-dencia-se a substituição imediata do mesmo.

3 Resultados e Discussões

Através da assinatura do termo deadesão, 17 pessoas do assentamento SantaLúcia e 36 pessoas do Guaicurus confirma-ram sua participação no projeto. Entretanto,como participantes efetivos foram conside-

rados os que fizeram os cursos de capacitaçãoe os que produziam frutas e legumes em suashortas e pomares.

Para cumprir exigências da VigilânciaSanitária e iniciar o processo de capacitaçãoe industrialização, foram implantadas ascozinhas comunitárias, uma em cada assen-tamento para o processo de beneficiamento,pois a vigilância exige que se tenha um localapropriado, obedecendo as normas básicasde instalação. Essas �cozinhas comunitári-as� foram equipadas, com recursos do pro-jeto, com (1) um fogão semi-industrial, (1)um freezer doméstico tamanho médio, pa-nelas de diversos tamanhos e outros equipa-mentos básicos.

Antes dessa adequação, ocorreram 02cursos de capacitação em 2004. O primeiro,em julho, de �Conserva de Frutas e Hortali-ças� com a participação de 12 mulheres noassentamento Santa Lúcia e 12 no Guaicu-rus. O segundo, em novembro, �Produçãocaseira dos Derivados da Mandioca�, com aparticipação de 15 alunas no Santa Lúcia e12 no Guaicurus.

A diferenciação e originalidade dosprodutos da pequena agroindústria têm sidoapontadas como uma importante estratégiapara a inserção e ampliação de espaço nomercado. Esta diferenciação, entretanto, nãoé suficiente. Segundo Araújo (2005) é neces-sária a promoção de uma nova relação, maisestreita da pequena agroindústria com osconsumidores, com base em um �conceitoreferencial� de qualidade, com uma catego-rização dos produtos, constituindo e forta-lecendo marcas locais dos assentamentos,associadas à sua cultura e à sua realidade�.

Essa premissa embasou a escolha damarca �Pé-da-Serra�, por ser um indicativoda localização geográfica dos assentamentos,bem como a criação das etiquetas como um�certificado de origem�, indicando o produ-tor, o local de produção, as característicasbásicas do produto, a história e os objetivosdo projeto. Assim, os produtos são diferencia-dos dos demais por representar uma marcaregional, além de se tornarem competitivostambém pelo seu processo de produção e suascaracterísticas intrínsecas. De acordo com oPronaf (2005), �um conjunto de característi-cas podem ser incorporadas aos alimentos e,assim, materializar a diferenciação dos pro-

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dutos da pequena agroindústria, numa asso-ciação com o local de sua produção e com osaber-fazer dos agricultores, conferindo-lhessabor peculiar, apreciado por um percentualcada vez maior da população�.

Após a etapa de criação da marca, foielaborado um layout para rótulos, etiquetase outros materiais de divulgação. Foram con-feccionados 15 (quinze) banners medindo60x90 cm, expostos em diversos pontos devenda e 02 (dois) banners medindo1,80x1,00 m, que acompanham a exposiçãodo projeto em diversos eventos. Também, fo-ram providenciadas toalhas de mesa e uni-formes com a marca Pé-da-Serra. Esse mate-rial é utilizado pelas produtoras na Feira doProdutor, local de venda direta dos produtosPé-da-Serra e em outros eventos de demons-tração dos produtos. Para a legalização dacomercialização dos produtos, providenciou-se a documentação necessária ao cadastra-mento junto à Secretaria Municipal de Vigi-lância Sanitária do município, onde se obte-ve o registro n. 13/04 da inspeção sanitária.

Com a estrutura da cozinha montadae os detalhes das embalagens prontos, a pro-dução dos doces e conservas Pé-da-Serra foiiniciada após a organização da produção porparte da Fundação Neotrópica do Brasil.Para tal, foram realizadas reuniões com asmulheres interessadas em participar do pro-jeto, nas quais se decidiram normas básicaspara utilização da cozinha. Também foi deci-dido a escolha de uma coordenadora geralda cozinha para cada assentamento, a qualfoi incumbida de controlar os dias e a quanti-dade de produção, estoque de potes (emba-lagens), organização e limpeza das cozinhas,rotulagem e etiquetagem dos produtos, den-tre outras atividades.

As mulheres também decidiram se or-ganizar em grupos de produção. Em ambosos assentamentos, Santa Lúcia e Guaicurus,foram montados 03 (três) grupos, totali-zando 10 mulheres em cada um. Dessa for-ma, em outubro, elas começaram a produ-ção dos doces e conservas de legumes exis-tentes nos seus lotes (Tabela 1).

Tabela 1 � Relação dos produtos Pé-da-Serra produzidos nos assentamentos Santa Lúcia eGuaicurus, Bonito, MS.

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Para a inserção dos produtos Pé-da-Serra no mercado de Bonito, foi realizadoum lançamento na Feira do Produtor, comum baile e palestra sobre o projeto, para asquais foram convidadas todas as comunida-des dos assentamentos e a população emgeral da cidade. No período de novembro

de 2004 a março de 2005, foram produzidos2682 potes (Tabela 2). Com o sucesso do lan-çamento, a inserção dos produtos nas lojasde Bonito foi facilitada, em função da apre-sentação do produto em embalagens atra-entes e do carimbo do serviço de inspeçãosanitária.

Tabela 2 - Total de produção, venda, consignação e estoque dos produtos Pé-da-Serra, pro-duzidos nos assentamentos Santa Lúcia e Guaicurus, Bonito, MS.

�Com a expansão da produção, cres-ce naturalmente a necessidade de ampliaros pontos de venda que viabilizem acomercialização dos produtos� (Homem deCarvalho, 2003). E, por Bonito ser uma ci-dade turística e apresentar um grande po-tencial de mercado a tudo que se relaciona aprodutos rurais, tem-se atualmente 18 pon-

tos de venda das compotas e conservas Pé-da-Serra no município (Figura 1). O sucessoque os produtos Pé-da-Serra vêm alcançan-do é em função de serem genuinamente re-gionais, associado a isso tem o fato de seremproduzidos em uma cidade turística e, nãopossuírem adição de produtos químicos.

Figura 1 � Pontos de venda dos produtos Pé-da-Serra, produzidos nos assentamentos SantaLúcia e Guaicurus, Bonito, MS.

Além desses fatores, percebe-se emBonito uma transformação no próprio com-portamento populacional, após a aberturado seu espaço para o turismo. De acordo comDias (1998), �a necessidade de uma adequa-ção a um setor econômico ligado, diretamen-te, à satisfação de grupos sociais destinadosao lazer, implica, necessariamente, na ado-

ção de conceitos e comportamentos refina-dos pela sociedade local�. Percebeu-se issoatravés da grande aceitação dos produtosPé-da-Serra pela população local e turista, oque tem propiciado a inserção dos produtosem outros municípios como Campo Grande,com 4 pontos de venda, Jardim, 1, Miranda,1 e Nioaque, 1 (Figura 2 e Tabela 1).

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De novembro de 2004 até fevereiro de2005, foram vendidos 1545 potes (Tabela 2)e 591 estão atualmente consignados nas lojasde artesanato, restaurantes, supermercados,hotéis/ pousadas e postos de combustível dosmunicípios citados acima.

Entretanto, por ser uma atividade com-plexa, não se pode conceber que a agroindus-trialização seja a solução única e imediata-mente aplicável para a geração de renda eagregação de valor à produção dos assenta-dos. Apesar do impacto econômico se darde uma forma significativamente positiva,com a dinamização da economia local, asprodutoras do projeto queriam que o retornofinanceiro fosse mais rápido. Mas, o fatura-mento líquido por cada assentamento foi emmédia de R$ 206,00 por semana, desta for-ma a movimentação financeira foi em tornode R$ 824,00 por mês. Tendo em vista que,muitas mulheres não tinham renda mensalou quando possuíam era resultado da vendade produtos in natura na Feira do Produtor,esse dinheiro veio complementar a rendafamiliar. Segundo Homem de Carvalho(2003), �é favorecido um modelo de desen-volvimento local sustentável, onde o estímulopara a melhoria da economia está condicio-nado ao surgimento de iniciativas que favo-reçam o aumento, a permanência e a(re)aplicação da renda no próprio municípioe arredores. Uma conseqüência imediata é osurgimento e/ou fortalecimento do comér-cio local, estimulado pelo aumento do consu-mo de alimentos, de vestuário, calçados, deeletrodomésticos, de equipamentos, ferra-mentas e materiais de construção, e outrosinsumos usados na produção e industrializa-ção agropecuária�.

Com a aceitação e comercializaçãocada vez maior dos produtos, houve umavanço no que se refere a ganhos sócio-eco-nômicos. Mesmo nos casos em que as pro-dutoras se mostraram insatisfeitas com a ren-da, foi possível identificar lucros, que foi rein-vestido no negócio. Isto levou ao entendi-mento de que a agroindústria, no caso estu-dado, além de representar fonte de rendacomplementar tem servido como instrumen-to de mudança da postura do trabalhadorrural diante do mundo dos negócios. Obser-va-se que algumas mulheres, começam a fa-zer o controle das despesas e receitas, de-monstrando maior discernimento sobre osmecanismos de mercado e capacidade degestão de seus negócios. Está havendo, semdúvidas, a assimilação de elementos que atéentão não faziam parte de sua realidade.

A verticalização dos produtos agrícolasem pequena escala, no próprio ambiente ru-ral apresentou-se como a melhor alternativapara a capitalização dos assentamentos San-ta Lúcia e Guaicurus, precisamente por per-mitir a ocupação da mão-de-obra familiar naatividade produtiva e a agregação de valoraos produtos. Por outro lado, deu uma novamotivação para as comunidades, que não ti-nham muitas opções de geração de renda.Segundo Brasil (2005), �a implantação deagroindústrias é uma das alternativas econô-micas para a permanência dos agricultoresfamiliares no meio rural. Oportuniza a inclu-são social especialmente de segmentos menosprivilegiados como, por exemplo, as mulheres,os idosos e os jovens. Para essas pessoas poderepresentar o (re)início da construção de cida-dania, bem como uma oportunidade de res-gate de valores sociais e culturais. É uma

Figura 2 � Pontos de venda dos produtos Pé-da-Serra nos municípios de Campo Grande,Jardim, Miranda e Nioaque, MS.

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importante alternativa para promover a par-ticipação dos assentamentos no processo pro-dutivo e no mercado�.

Pode-se citar, também, como fator po-sitivo deste trabalho, o fato de ter tirado daclandestinidade algumas produtoras casei-ras que produziam sem inspeção sanitária,oferecendo-lhes oportunidades e condiçõespara produzir com qualidade e de acordocom as exigências legais do mercado. Essasmulheres começaram a ofertar e consumiralimentos de qualidade, livres de aditivosquímicos e supriram suas dificuldades emmanter estoque mínimo de matéria-prima,para garantir a freqüência necessária deabastecimento do mercado.

Considerações Finais

O sucesso que os produtos Pé-da-Serravêm alcançando pode ser creditado a diver-sos fatores, entre os quais o fato de ser genu-inamente regional, de boa qualidade e apre-sentação, produzidos artesanalmente commatéria prima cultivada em bases agroeco-lógica e sem adição de produtos artificiais.Todos esses fatores, agregados ao potencialde um mercado turístico em expansão, fazemdos produtos Pé-da-Serra uma alternativaviável e criativa de desenvolvimento local.Segundo Homem de Carvalho (2003), �é fa-vorecido um modelo de desenvolvimento lo-cal sustentável, onde o estímulo para amelhoria da economia está condicionado aosurgimento de iniciativas que favoreçam oaumento, a permanência e a (re)aplicação darenda no próprio município e arredores. Umaconseqüência imediata é o surgimento e/oufortalecimento do comércio local, estimuladopelo aumento do consumo de alimentos, devestuário, calçados, de eletrodomésticos, deequipamentos, ferramentas e materiais deconstrução, e outros insumos usados na pro-dução e industrialização agropecuária�.

Com este trabalho concluiu-se que comdeterminação e investimento, por parte da

Fundação Neotrópica do Brasil, e força devontade, por parte dos assentados, pôde-sefazer a inclusão sócio-econômica dessas co-munidades através de trabalho digno e pro-missor. Aliado a este fato, tem-se o ganhoambiental com a diminuição da pressãoextrativista sobre o Parque Nacional da Ser-ra da Bodoquena.

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Atividades Agrícolas no Assentamento Iracema (PI) e suas repercussões sobre oMeio Ambiente

Agricultural activities in Assentamento Iracema (PI) and its repercussions on theEnvironment

Activités Agrícoles em le Place Iracema (PI) et leurs répercussions sûr Le MoyenEnvironment

Actividades Agrícolas em el Sítio Iracema ( PI) y sus repercusiónes sobre el Médio Ambiente

Lúcia de Fátima Correia de Castro*

Jaíra Maria Alcobaça Gomes**

Recebido em 17/8/2006; revisado e aprovado em 15/12/2006; aceito em 10/2/2007.

Resumo: Os assentamentos rurais no Brasil têm incorporado preocupações com a sustentabilidade econômica epreservação ambiental. Analisam-se as atividades agrícolas e suas repercussões sobre o meio ambiente no AssentamentoIracema, localizado no município de Buriti dos Lopes (PI), através de pesquisa direta realizada em maio de 2004. Asustentabilidade ambiental depende da capacitação das famílias assentadas em técnicas agrícolas, que conservem osrecursos naturais, no que diz respeito à não utilização da área de reserva permanente.Palavras-chave: Reforma agrária; assentamentos rurais; políticas de desenvolvimento e sustentabilidade.Abstract: The agricultural nestings in Brazil have incorporated concerns with the economic sustentabilidade andambient preservation. The agricultural activities and its repercussions are analyzed on the environment in the IracemaNesting, located in the city of Buriti of Lopes (PI), through carried through direct research in May of 2004. The ambientsustentabilidade depends on the qualification of the families seated in agricultural techniques, that conserve thenatural resources, in that says respect to not the use of the area of permanent reserve.Key Words: The agrarian reformation; agricultural nestings; politics of development and sustentable.

Résumé: Les places agrícoles em Brésil sonnt em train d´incorporer préoccupations avec la soutenabilité économiqueet la préservation ambiental. Les activités agrícoles sonnt analysées et leurs répercussions sûr le moyen environmentau Place Iracema à la ville de Buriti dos Lopes (PI), a travérs de la recherche directe realisé en mai de 2.004. Lasoutenabilité ambiental dépend de la capacitation des familles placées em techniques agrícoles que conservent lesresources naturaux, sûr qu ´il s´agit à non utilisation de la surface de réserve permanete.Mots-clé: Reforme Agraire; places agrícoles; politiques de développement et soutenabilité.Resumen: Los sítios rurales em Brasil tienen incorporado preocupaciónes com la sostenibilidad econômica ypreservación ambiental. Analisanse las actividades agrícolas y sus repercusiónes sobre el médio ambiente em elSítio Iracema, ubicado em la ciudad de Buriti dos Lopes (PI) através de la búsqueda directa realizada em mayo de2.004. La sostenibilidad ambiental está relacionada com la capacitación de las famílias concentradas em técnicasagrícolas, que conserven los recursos naturales, em lo que dice à respecto à no utilización de la área de reservapermanente.Palabras clave: Reforma agrária; sítios rurales; políticas de desarrollo y sostenibilidad.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 65-73, Mar. 2007.

* Mestranda PRODEMA/TROPEN/UFPI ([email protected]).** Professora do Depto. de Economia e PRODEMA/TROPEN/UFPI ([email protected]).

Introdução

O objeto de análise deste artigo são asatividades agrícolas desenvolvidas no Assen-tamento Iracema e suas repercussões sobreo meio ambiente. O Assentamento, situadono Município de Buriti dos Lopes, é resultadoda ação do Governo Federal segundo as nor-mas do Plano Nacional de Reforma Agrária(PNRA) e do Programa de Reforma Agrá-ria, via desapropriação por interesse social,executado pelo Instituto Nacional de Coloni-zação e Reforma Agrária (INCRA).

A área do Assentamento é indicada emseu Plano de Desenvolvimento Sustentável

como possuidora de potencialidades paragarantir sustentabilidade econômica e am-biental, assegurando melhores condições devida para as famílias. Nesta perspectiva, ana-lisar as atividades agrícolas e buscar compre-ender a situação de trabalho dos assentadose seus efeitos no meio ambiente, como umaestratégia de sobrevivência. A análise apre-sentada resulta de uma pesquisa direta reali-zada no Assentamento em maio de 2004.

Discute-se a Política de Assentamentono Brasil como modelo de reforma agrária,origem e classificação dos assentamentos edificuldades de gestão, potencialidadeseconômicas, sociais e ambientais do

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assentamento Iracema, as atividades agrí-colas e suas repercussões sobre o meio ambi-ente.

1 Reforma agrária: a política deassentamento no Brasil

A questão da concentração de terrasempre esteve presente na história do Brasil.Desde a colonização, a ocupação e uso dosolo forjaram disputas envolvendo diferen-tes atores sociais por territórios para os maisdiferentes fins. Nesta trajetória, a interven-ção através de modelos de reforma agráriaacompanhou o desenvolvimento do país,encontrando, ainda no Império, sua primeirainterferência legal.

Somente em 1946, surge novo aparatolegal com o Decreto lei n 9.760 de 1946, queregulamenta a discriminação de terras, pro-curando reordenar a complexa situaçãofundiária existente.

No período de 1961-1964, foi aprova-do, no governo Castelo Branco, a Lei 4.504,de 30 de novembro de 1964, conhecida comoEstatuto da Terra: um conjunto de medidascujo objetivo era definir políticas agrícolas ede reforma agrária assegurando a proprie-dade da terra a todos que desejassem cultivá-la de modo a cumprir a função social estabe-lecida pelo próprio Estatuto.

Com a relativa abertura política doBrasil em 1978, retoma-se o debate sobre areforma agrária. Surgia a polaridade de opi-niões, de um lado os trabalhadores rurais,os movimentos sociais e igreja do outro aTradição, Família e Propriedade (TFP).

Em março de 1979, assume a Presidên-cia da República o General João BatistaFigueiredo, apontando em seu programa degoverno prioridades à agricultura como res-posta às instabilidades da década de seten-ta, marcada como o período onde houve umaumento do grau de concentração fundiária,seja de posse, seja da propriedade da terra.Em maio do mesmo ano, em Brasília, acon-tece o III Congresso Nacional de Trabalha-dores Rurais, quando a Confederação Nacio-nal dos Trabalhadores Rurais (CONTAG) le-vanta a bandeira da reforma agrária, nãoapenas como motivação política, mas tam-bém como execução da legislação vigente,mantendo a chama da luta dos trabalhado-

res brasileiros contra o monopólio da terra.Um marco importante na modificação

do modelo de reforma agrária aconteceu em1982, com surgimento dos Planos Estaduaisde Terras Públicas e de Regularização Pos-sessória, decorrente das eleições diretas paraos governos estaduais, quando houve fortemobilização popular. Em 1986 surge o Pro-grama de Reforma Agrária via desapropria-ção por interesse social com base no Estatutoda Terra.

O Governo Federal, no mandato doPresidente José Sarney, em 1986, como for-ma de resolver os problemas agrários, criouo I Programa Nacional de Reforma Agrária(PNRA), constituindo-se de um conjunto depolíticas públicas visando beneficiar famíliasrurais em todo o país.

No Governo de Collor de Melo, inicia-do em 1992, foi criado o Programa Emer-gencial de Reforma Agrária. Itamar Franco,1993, viabilizou o Programa, regulamentan-do a Lei Ordinária, vetando partes que pode-riam viabilizar a execução do Programa con-forme planejado, limitando-se, no geral, auma administração marcada tão somentepor grandes desapropriações.

Os anos de gestão do PresidenteFernando Henrique Cardoso, a partir de1994, iniciaram vários programas voltadosà questão da reforma agrária, dentre eles oNovo Mundo Rural, Banco da Terra, ProjetoCasulo, Programa de Geração de Empregoe Renda Rural, Programa Nacional de Agri-cultura Familiar. Alguns desses programaspermanecem no atual Governo do PresidenteLuiz Inácio da Silva Lula.

Da trajetória conflituosa entre concen-tração de terras e reforma agrária no Paísresulta uma constatação pouco animadorafrente às intervenções: os índices gerais deconcentração não vêm sofrendo alteraçõesque indiquem que o acesso por parte dos tra-balhadores rurais tenha sido facilitado deforma global. Pelo contrário, parece ser unâ-nime, na literatura especializada, a percep-ção de que a relação entre a população ruralbrasileira e o tipo de estrutura agrária do paísconsiste em uma acentuada concentração dapropriedade fundiária.

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1.1 Origem e classificação dos assentamentos

O termo �assentamento�, em nossopaís, aparece inicialmente no âmbito da buro-cracia como política governamental, resul-tante de pressões exercidas pelos movimen-tos sociais frente às demandas por terra, refe-rindo-se às diversas etapas da ação do Gover-no Federal, ordenando e reordenando os re-cursos fundiários em beneficio de trabalha-dores rurais sem terra ou com pouca terra.

Os assentamentos remetem ao proces-so de fixação dos trabalhadores rurais à terra,com disponibilidade de condições adequadaspara o uso do solo e o incentivo à organiza-ção comunitária. Esta estrutura, que resultada intervenção do governo federal, pode serdefinida como uma nova unidade de pro-dução agrícola, em que os conteúdos produ-tivos e organizacionais são, em última instân-cia, próprios das instituições onde foi formu-lada. As ações desencadeadas são definidaspreviamente e os critérios estabelecidos segui-dos por ordem técnica objetivando a alocaçãode trabalhadores como forma de resolverproblemas sócio-econômicos (Bergamasco eNorder, 2001).

O processo de implantação de assen-tamento no país avançou significativamen-te nas últimas décadas. Conforme se consta-ta, o número de assentamentos cresceu528,53% entre 1985 e 2001, ampliando em353,60 % as famílias beneficiárias. Predomi-nam as intervenções no Nordeste, represen-tando, em 2001, cerca de 45,32% do núme-ro de projetos de assentamentos. Neste con-texto, no Piauí, entre 1985-2001 foram im-plantados 120 projetos beneficiando 7.347famílias. Cabe ressaltar que do total de PA´s,108 foram implantados no período 1995-2001, beneficiando 6.251 famílias.

Os assentamentos resultam da ação doGoverno Federal, segundo Bergamasco eNoder (2001), estas experiências podem serclassificadas em cinco tipos diferentes desdea sua implantação no Brasil, a partir de 1970:projetos de colonização ou colonizaçãodirigida; reassentamento de populaçõesatingidas por barragens de usinas hidrelé-tricas; Planos Estaduais de valorização deterras públicas e de regularização possessó-ria; programa de reforma agrária, via desa-propriação por interesse social e ocupação

das reservas extrativistas para seringueirosda região amazônica.

1.2 As dificuldades de gestão dos assenta-mentos

No Brasil, em todas as experiências deassentamento, o Governo Federal foi e con-tinua sendo até hoje o gestor, através doINCRA que é o responsável, como institui-ção federal, pela implantação dos PA´s con-siderando todas etapas necessárias a suasustentabilidade. O processo parte do PlanoNacional de Reforma Agrária (PNRA), quenorteia todas as ações da Política de Refor-ma Agrária, que impõe, em qualquer que sejaa forma de obtenção da terra, a obrigato-riedade de estudos de viabilidade econômi-ca e dos recursos naturais do local, de modoa garantir que as famílias sejam assentadasem áreas que tenham condições de produ-zir e gerar renda a partir de seu trabalho.

Nos assentamentos de responsabilida-de do INCRA, os procedimentos operacio-nais parecem indicar uma relação de totaldependência dos assentados, e a gestão ter-mina por ser implementada pelos técnicosdo Instituto. Quando o PA é consideradoemancipado, a gestão torna-se um grandeproblema. Para os assentados a posse da ter-ra representa uma vitória da sobrevivênciasocial, e para tal fim, precisam de orienta-ções, através da capacitação contratada peloINCRA, que propõe em sua metodologia ele-mentos de caráter empresarial e competiti-vo. Os assentados, entretanto, possuem umatradição cultural e são acostumados a exe-cutar ordens e tarefas, assim, na hora deadministrar o lote como uma empresa, ocorreuma inversão de papéis, pois passam deempregados a dono, e terão que planejar,executar e controlar seus negócios.

Outra dificuldade está associada à ges-tão financeira. Os beneficiários ao chegaremaos assentamentos, ou mesmo aqueles queali já se encontravam, não têm recursos fi-nanceiros e nem bens ventáveis para con-verter em recursos de investimento, pois suasatividades anteriores não eram suficientespara acumular capital. Poucos possuem umaexperiência de relação de troca com os mer-cados locais e regionais. Portanto, não hácondição para um trabalho que leve em conta

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a quantidade e a qualidade dos produtos,passando estes a servirem apenas para sobre-vivência familiar.

Os assentados, no geral, não possuemconhecimentos suficientes para gerenciar odinheiro, para investir; não sabem planejare nunca assumiram compromissos contra-tuais com bancos; muitos são analfabetos ouanalfabetos funcionais Tudo isso precisa serconsiderado para análise da viabilidade dosPA´s, seguindo o modelo estruturado peloINCRA, que aponta a falta de uma posturaempresarial como impedimento a produçãocom rentabilidade.

2 Potencialidades econômicas, sociais eambientais do assentamento Iracema

Em março de 1917, a família deMariano Mendes de Sousa inicia a históriada comunidade São Pedro, situada no entor-no da fazenda Iracema. Mariano foi seguidopor muitas outras famílias que buscavamtrabalho e melhores condições de vida nafazenda. Acreditavam haver maiores opor-tunidades pela existência de duas lagoas,Salgado e Bonita, limitantes ao rio Longá.

No dia 04 de outubro de 1999, a áreafoi considerada pelo INCRA como um imóvelcom um número significativo de meeiros eestaria, portanto, cumprindo sua função so-cial, sendo desapropriada e declarada deinteresse social para fins de reforma agrária.Surgia assim, o Assentamento Iracema comtitulação coletiva, área total de 2.251 ha eárea média por família de 17,5 ha. O totalde famílias assentadas foi de 104.

Segundo o Plano de DesenvolvimentoSustentável (2001), o assentamento possuiinfra-estrutura básica oriunda da antiga Fa-zenda Iracema, o que inclui uma rede elétri-ca de alta tensão (13,8 KV) e uma rede mono-fásica; um dique circulando a lagoa de12.500 metros; 1.200 metros de linha de bai-xa tensão; um transformador de 112,5 kw eum outro de 45kw; bolsão receptor de água;duas lajes de cimento para secagem de arroz;barracões para os trabalhadores; 10.500metros de cerca de arame farpado; um tra-tor completo e um motor com três bombaspara irrigação.

Iracema conta ainda com uma estradainterna sem revestimento, com largura de 4

m e 1.755 Km de extensão. A casa da Fazen-da possui cisterna com capacidade para 2,27m3, curral, aprisco, reservatório de acumu-lação de água, estação de bombeamento epoço �cacimbão� com profundidade de 12metros e diâmetro de 2 metros revestido comalvenaria.

Os tipos de solos encontrados, no ge-ral, favorecem a agricultura e encontram-seem duas áreas, a alta e a baixa. Na área bai-xa há predominância de relevo plano a sua-vemente ondulado e não pedregoso, permi-tindo o uso de maquinas agrícolas. Contu-do, esta área é próxima às lagoas, existindoum fator limitante à produção, que é o riscode inundação no período chuvoso. Mesmoassim, apresentam aptidão para a explora-ção de culturas de ciclo curto como hortali-ças, melancia, melão, milho, feijão e arroz.

Encontram-se também na área baixa,solos salinos, planos e baixos que servemapenas para a pastagem de animais em bus-ca de mineral natural. Esta faixa territorialnão é extensa, e a vegetação é constituídapor carnaúba, crioli, capim rasteiro e remelade macaco. Não possui nenhum potencialagrícola, ficando totalmente submersa noperíodo chuvoso. Os solos que ficam às mar-gens das lagoas são do tipo argilosos aluvio-nais, e contam com 400 hectares, dos quais100 ha favorecem o cultivo de arroz e feijão.

Na área alta encontram-se as chapa-das com dois tipos de solos, o argiloso-are-noso e a chapada densa de barro duro. Estessolos apresentam excelentes propriedadesfísicas para a agricultura, contudo apresen-tam limitações decorrentes da baixa fertili-dade natural e acidez elevada que podemser corrigidos com a incorporação de calcárioe uso de fertilizantes (em padrões aceitáveis).Nos argilosos, a vegetação é composta porpereira, amburana, aroeira, relame, men-trasto, mocó, pau-d�arco e sabiá. Na chapadadensa de barro duro, altos e planos, sua ve-getação é composta de pau-pombo, folha-dura, murici, pitanga, ata-brava, pau-terra,favela, pitomba-de-leite, jacarandá etuturubá. Nos dois tipos de solos da área altasão cultivados feijão, milho e mandioca emroça de sequeiro, em pequena escala, em áreade apenas 30 ha.

O Assentamento possui condições fa-voráveis para dinamizar a produtividade e

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cultivos existentes, bem como para implan-tar novas atividades produtivas. Exemplossão as lagoas que possuem potencial paraturismo rural e para pesca do camarão deágua doce e diversos peixes. Favorece estaspossibilidades a existência de via de acessofácil para escoamento da produção em rela-ção mercados consumidores próximos comoParnaíba, Teresina, Fortaleza e São Luis.

2.1 Educação, Saúde e Organização Social

No Assentamento não existe unidadeescolar, a estrutura educacional está locali-zada em uma comunidade próxima, SãoPedro, que fica a 3 Km da Agrovila dos as-sentados atendendo a 174 alunos com ida-de de 2 a 60 anos, segundo pesquisa do PDA(2001) e pertencente à rede municipal deeducação de Buriti dos Lopes.

Dentre as famílias assentadas, 31 sãobeneficiadas do Programa Bolsa Escola em2001, hoje denominado Bolsa Família, aten-dendo a 77 alunos, sendo no máximo 03(três) cadastrados por família. O índice anal-fabetismo foi de 39,37%, em 2001 um per-centual abaixo dos padrões educacionais.

Iracema não possui posto de saúde, omais próximo fica a 3 km da Agrovila dos as-sentados. O saneamento básico não existe, olixo é jogado a céu aberto indiscriminada-mente, amontoa-se nos quintais ou terreirosdas casas favorecendo a contaminação dosanimais e das pessoas, principalmente das cri-anças. A água consumida na Agrovila é for-necida através de um chafariz, sem nenhumcontrole de vigilância sanitária, favorecendoa contaminação no deslocamento e uso.

No Assentamento apenas 23 pessoassão associadas ao Sindicato dos Trabalha-dores Rurais de Buriti dos Lopes. Este Sindi-cato passou muito tempo sem uma atuaçãoefetiva na região, o que se credita um fracopoder de mobilização dos trabalhadores. Aprincipal forma de organização é a Associa-ção dos Trabalhadores da Fazenda Iracema� ATFI, fundada em março de 2000.

A Associação encontra-se regulariza-da e estruturada. Sua finalidade, de acordocom o Estatuto, é prestar serviço e represen-tar juridicamente seus associados.

2.2 Atividades Agropecuárias e Progra-mas e Créditos de Investimentos

No Assentamento há apenas dois tiposde atividades econômicas, a pecuária e agri-cultura. A pecuária é de autoconsumo e ati-vidade agrícola destina-se a subsistência. Oplantio consiste em dois sistemas: vazante eroça.

Na vazante é cultivado arroz, feijão emilho. A produção de arroz representa, se-gundo os trabalhadores, a fonte de rendamais importante O cultivo de feijão apresen-ta um rendimento de 1.200 kg/ha e 36 tone-ladas por safra. A vazante concentra-se nasáreas que margeiam as lagoas, onde é proi-bida, por lei, esse tipo de atividade agrícola.

Para o cultivo em roça de sequeiro, ostrabalhadores desmatam todo ano locais di-ferentes, fazendo em média 3 linhas (1/2 ha)por família. Cerca de 30% dos assentadoscultivam nessas terras. Os produtos cultiva-dos são feijão, milho e mandioca. No geral,a produção é baixa e tem como fator pre-ponderante, segundo os assentados, a irre-gularidade das chuvas na região.

Os primeiros créditos que os assenta-dos receberam foram de implantação, fo-mento e alimentação, para assegurar mini-mamente condições para a permanência dasfamílias no assentamento, e foram adquiri-dos um trator e três bombas para irrigaçãopara o cultivo do arroz.

Os programas escolhidos como prio-ritários no PDS foram: o Programa deCapacitação, Preservação e Conservação doMeio Ambiente e o de Fortalecimento Insti-tucional e Apoio ao Beneficiamento e Comer-cialização que ainda não foram executados.Nos demais, apenas alguns projetos foram im-plantados como, por exemplo, a construçãode armazém e pedra de secagem (ProgramaDesenvolvimento da Agricultura e Pecuária);a construção da Agrovila, instalação de ener-gia elétrica e um chafariz (Programa Cida-dania e Desenvolvimento Social). Cabe res-saltar que os recursos destinados à execuçãodos projetos do Programa Cidadania e Desen-volvimento Social são oriundos de outras fon-tes financiadoras parceiras, comumente arti-culadas para o suporte ao Assentamento.

Muitas foram as dificuldades para exe-cução dos projetos, como por exemplo a

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construção da Agrovila. Iniciada a constru-ção das casas, as obras ficaram, por diversasvezes, paralisadas por falta de material(telhas, portas e acabamento externo) eabandono da construtora contratada peloINCRA, após ter recebido duas parcelas dofinanciamento. Porém os problemas foramsolucionados, liberando-se a terceira e últimaparcela dos recursos diretamente aos assen-tados que adquiriram o material necessário(especialmente cimento) e concluíram as re-sidências, utilizando a própria mão-de-obra.

3 Produção agrícola e meio ambiente noAssentamento Iracema

A pesquisa tomou como referência oscadastros das famílias realizados peloINCRA em 1999, à época da desapropria-ção. Assim, o nosso levantamento estatísti-co é composto por 104 famílias, de onde par-timos para delimitar a amostra da pesquisa.Para tanto foram considerados que as famí-lias assentadas possuíam duas origens:1. As que tinham domicílio na comunida-

de São Pedro, totalizando 92 famílias,cujos processos de assentamento foramhomologados em 2000;

2. As que tinham domicílio dentro da áreaque foi desapropriada, sendo beneficiá-rias cinco famílias em 2001 e sete famíliasem 2004.

Inicialmente foram aplicados questio-nários com as 12 famílias que foram assenta-das em 2001 e 2004, e num segundo momen-to 28 famílias, das assentadas em 2000,totalizando 40 questionários aplicados aoschefes das famílias. O questionário era com-posto por três seções. A primeira reunia da-dos referentes à produção e à renda. A se-gunda sobre a comercialização da produção,e a terceira, dados sobre os efeitos das práti-cas agrícolas sobre o meio ambiente comocondições de domicilio, saúde e educação.

O objetivo dos questionamentos eraapreender o processo de implantação e de-senvolvimento do PA considerando as rela-ções entre as atividades agrícolas e uso dosrecursos naturais. Sobre a produção agríco-la, visava perceber a existência de aumentode produção, de área plantada e de produ-tividade. Com a dimensão renda, buscava-se a regularidade e o destino dos créditos e

como repercutiu nos nível de renda das famí-lias. Os questionamentos relativos à comer-cialização visavam saber se os assentadoshaviam mudado a forma de vender os seusprodutos e se havia alguma inserção no mer-cado local. No que diz respeito ao MeioAmbiente, o objetivo foi analisar o uso ade-quado dos recursos naturais de acordo coma legislação (Lei 6938 � 31.08.81).

Foram utilizadas, ainda, entrevistascom roteiro semi-estruturado composto dequatro perguntas sobre o PA. Foram entre-vistados o Presidente do Sindicato dos Tra-balhadores Rurais de Buriti dos Lopes e oPresidente da Associação dos Trabalhadoresda Fazenda Iracema buscando perceber asopiniões sobre a produção, renda, comercia-lização e uso dos recursos naturais no Assen-tamento. Entrevistaram-se, também, técnicosdas instituições vinculadas ao processo deimplantação do PA, do INCRA e IBAMA.

Com os técnicos do INCRA objetivava-se obter informações sobre o processo denegociação da terra e laudo de vistoria. OInstituto forneceu, ainda, o mapa do Assen-tamento e da agrovila, cadastro dos assen-tados no processo de implantação do Projetoe Plano de Desenvolvimento Sustentável(PDS), bem como informações relativas a li-beração dos créditos com seus respectivosvalores. No IBAMA a entrevista foi realizadacom o técnico responsável pela fiscalizaçãoe autuação na região do Assentamento.

3.1 Caracterização das Atividades Agrícolas

Assegurar condições para o desenvol-vimento de produção e renda sem compro-meter o meio ambiente constitui o principaldesafio no Assentamento Iracema. A cons-tatação resulta da pesquisa direta realizadano PA, segundo a qual esta preocupaçãoencontra-se presente no cotidiano da comu-nidade, sendo reconhecida como legítima enecessária em função da natureza da área,embora, na prática, o manejo da terra pelosassentados indique dificuldades de concreti-zação. As limitações sobre o processo pare-cem indicar o comprometimento de susten-tabilidade, uma vez que com reduzida utili-zação de recursos financeiros, em cada sa-fra, uma diminuição na produção. Paramelhor caracterização tomamos, inicialmen-

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te, como referência a produção predominan-te, a agrícola.

O cultivo não está diretamente volta-do ao mercado, portanto, apresenta-se, ain-da, como eminentemente de subsistência. Aagricultura corresponde a 98% da atividadeeconômica predominante entre os assenta-dos, sendo pouco diversificada, limitando-se ao plantio de arroz, feijão, milho e man-dioca.

A área plantada, desde que foi implan-tado o Assentamento, corresponde pratica-mente ao cultivo de vazantes, às margensdas lagoas, sendo esta área de preservaçãopermanente onde é vedado, por lei, o exer-cício de atividades econômicas. Nas chama-das áreas altas, pratica-se a roça de sequeiroou como os assentados denominam roça detoco. Nestas roças plantam-se, em 30 ha, fei-jão, milho e mandioca, sendo que cada fa-mília cultiva no máximo 3 linhas, o equiva-lente a 1\2 ha.

O cultivo baseia-se exclusivamente namão-de-obra das famílias dos assentadoscom o emprego de tecnologias simples. Otrabalho desenvolvido procura adaptar-se àscondições apresentadas pelas áreas cultiva-das. Nas vazantes, por exemplo, os trabalha-dores costumam fazer o plantio e replantiode arroz utilizando as mãos, não sendo raroencontra-se assentados sem o polegar direi-to, em decorrência do desgaste provocadopelas muitas horas de atividades agrícolasmanuais.

Considerando a dimensão renda, cons-tata-se que no assentamento houve um in-cremento nos rendimentos familiares, embo-ra estes não estejam diretamente relaciona-dos à produção desenvolvida pelo fato daprodução não ter aumentado de 2001 até2004.

Em 2004, considerando o universopesquisado para este trabalho, 40 famílias,constatou-se uma elevação significativa nonível de renda máximo auferido pelas famí-lias do Assentamento, passando deR$ 320,00 (trezentos e vinte reais) em 2001para R$ 520, 00 (quinhentos e vinte reais).

A elevação do nível de renda está as-sociada a diversas variáveis: ao crédito deimplantação do PA que corresponde a fo-mento e alimentação que foram entreguesdiretamente às famílias; aos créditos de ha-

bitação e investimentos que permitiram acontratação de mão-de-obra das famíliaspara a construção da Agrovila, do armazém,da pedra de secagem de arroz e da barra-gem; ao Programa Bolsa Escola, aposenta-dorias e outros rendimentos, como por exem-plo, o recebimento de doações de parentes,especialmente residentes no Centro-Sul.

3.2 As repercussões sobre o meio ambiente

O Assentamento Iracema possui ofi-cialmente as áreas de reserva permanente elegal. A área de reserva permanente1 dista50 metros do leito do rio Longá, e 100 metrosao redor das lagoas, constituindo terras dedomínio federal. A vegetação encontrada étípica destes leitos, como cabeça-branca,canastro, capa-bode, alecrim, melancia-da-praia, rabo-de-macaco e jangada (SILVA,1999).

A área de reserva legal2 é constituídapor 450 hectares, localizados na área alta,no Morro da Má Hora. A região é rica emvariedades de vegetação nativa: amburana,pau-d´arco, aroeira, pereira, frei-jorge,marmeleiro preto, marmeleiro branco,piquiá, mororo, catingueira, sabiá, ameixa,mirindiba, farinha seca, marfim, quebra bu-cho, amora, catanduva, folha dura, murici,ata brava, maria-preta, pau pombo, pau-ter-ra, tuturubá, favela, jacarandá, pitomba deleite, canastro, rabo-de-macaco, calumbi,carnaúba, jiquiri, capim cortador, maliça,melancia-de-praia, jitirana, pipoca, crioli,mandacaru, cajuí, capa-bode e orelha-de-onça (SILVA, 1999).

As famílias assentadas praticam, pre-dominantemente, a agricultura na área dereserva permanente e utilizam agrotóxicosna produção de arroz, comprometendo aslagoas e o rio.

A questão dos agrotóxicos merece des-taque por afetar diretamente todo o agroe-cosistema, provocando uma toxicidadeaguda e crônica, havendo a contaminaçãode material e produtos de colheita, dos solos,da água, do ar, além da fauna, da flora e dohomem. Outras práticas são desenvolvidase tornam-se danosas ao meio ambiente,como a erosão provocada pela barragemconstruída a cada ano separando o rio daslagoas para permitir o plantio de arroz, e as

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

queimadas, de costume secular e uso cons-tante no meio rural. As queimadas são pra-ticadas por quase totalidade das famílias(93%)s para limpar as roças de sequeiro.Outro agravante ambiental foi o desmata-mento indiscriminado para a construção dascasas sem que houvesse a preservação dasarvores de grande porte.

Os resultados dos danos causados anatureza já são percebidos no Assentamento,com a redução da produção apontada comodecorrente do desgaste da área, indicando,se não houver mudanças na prática, umaprevisão em nada animadora para colheitasfuturas.

Os cuidados com o meio ambiente sãocomprometidos, também, pela ausência decondições mínimas de saneamento e destinode lixo. As casas foram construídas com ba-nheiros internos, porém sem as fossas, Quan-to ao destino do lixo, 82% das famílias indi-cam queimar e 10% apenas o depositam acéu aberto, na frente da casa ou no quintal.

Constata-se, portanto, que o Assenta-mento necessita de um acompanhamentopara tornar-se sustentável econômica eambientalmente.

Considerações Finais

Para assegurar condições dignas devida, o Assentamento precisa ser sustentá-vel do ponto de vista econômico e ambientale, para que isso aconteça, implica, na prática,mudanças de comportamento no plano pes-soal, e no cuidado do meio ambiente.

No Assentamento a produção agrícoladestina-se basicamente à subsistência. Trans-formar essa situação significa dar condiçõesmínimas e oferecer oportunidades concretaspara que os assentados possam ter rentabili-dade e competitividade para atingir objeti-vos concretos como a melhoria da qualidadedos produtos colhidos e reduzir ao mínimoos custos unitários de produção, com umaperspectiva multidimensional que envolva aesfera econômica e social, em que a eleva-ção da renda deve estar intimamente ligadaàs condições de vida, e incluam além de umaestrutura domiciliar favorável, aspectos ou-tros como acesso à educação e saúde.

Informação e capacitação devem virantes de qualquer atividade produtiva. A

sustentabilidade econômica para ter sucessodepende diretamente de conhecimento bá-sico, ou até profundo, sobre determinadaatividade, que envolva a esfera ecológica epolítica ao mesmo tempo com o aproveita-mento dos vegetais, animais e outros recur-sos naturais existentes que dependem daconsciência dos assentados, no sentido depreservar e conservar pastagens, recursosnaturais existentes na reserva legal, dandoum maior isolamento para os animais silves-tres da região.

Esses conhecimentos só poderão seraprimorados através de atividades de capa-citação com a intervenção do Estado, ou seja,da articulação da Associação do Assenta-mento com o Sindicato de TrabalhadoresRurais de Buriti dos Lopes, o Município e asinstituições envolvidas com processo de im-plantação do Assentamento. Esta integraçãoé indispensável para transformar o PA emárea que proporcione uma maior produçãode alimentos (aumento na produção) consu-midos, uma complementação da renda fami-liar através do aproveitamento dos recursosnaturais, a aquisição de equipamentos agrí-colas que garantam maior agilidade no pre-paro das áreas de plantio, equipamentos debeneficiamento, secagem e armazenamentodos produtos, visando um maior aproveita-mento da área existente e conseqüentemen-te a melhoria da qualidade de vida.

Assim, certamente haverá um aumen-to significativo na produção que poderá serdestinada à comercialização, como tambémna diversidade dos produtos cultivados pe-las famílias assentadas, gerando uma preo-cupação com a comercialização e com obeneficiamento, justificando-se, desta forma,um programa de apoio ao beneficiamento ecomercialização organizada da produção ecapacitação em gestão comercial, ou seja,capacitando os assentados para melhorar acomercialização, estabelecendo contatos comagentes de mercado, oferecendo produtos demelhor qualidade, buscando parcerias como poder público e instituições diversas ouvisitando outros assentamentos que desen-volvem experiências de comercialização deprodutos agrícolas para atingir maior par-cela do mercado local e de outros municípios.

Como se vê, pode-se introduzir estasmudanças no Assentamento com um pro-

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pósito de formar um novo cidadão. Não so-mente é necessário e possível como é especial-mente urgente fazê-lo. Enquanto não se faça,as medidas convencionais que os governosadotam em prol do Assentamento, continua-rão produzindo resultados muito modestose desperdiçando em grande parte os escassosrecursos oficiais e que são caros. Isto porqueos assentados não estarão tecnicamente pre-parados para beneficiar-se deles, nem assu-mir com responsabilidade pelo seu própriodesenvolvimento.

A sustentabilidade ambiental doAssentamento depende da capacitação dasfamílias em técnicas agrícolas que preservemos recursos naturais, especialmente, no quediz respeito a não utilização da área de reser-va permanente, que são as áreas das lagoasSalgado e Bonita.

Notas1 A Lei 6.938 � 31/08/81 determina as Áreas de Preser-

vação Permanente como Reservas Ecológicas. São flo-restas e demais formas de vegetação natural situa-das: ao longo dos rios ou de qualquer curso d�água

desde o seu nível mais alto em faixa marginal comlargura mínima de 30 a 600 metros, ao redor das la-goas, em regra, é vedado por lei o exercício de ativi-dades econômicas, em virtude da especial importân-cia da manutenção de sua cobertura vegetal, decor-rente da fragilidade dos ecossistemas naturais e dasformações geomorfológicas e paisagísticas em quese inserem (CARNEIRO, 2001. p.120).

2 Pode ser compreendido, nos termos do art. 60 do có-digo florestal, como a área de cada propriedade ruralafetada necessariamente à preservação da coberturavegetal natural, em faixas percentuais variáveis deacordo com a fisionomia ou a região do País, ondenão e permitido o corte raso e nem a alteração do usodo solo ou a exploração com fins comerciais (CAR-NEIRO, 2001. p.122).

Referências

BERGAMASCO, Sônia M.; NORDER, Luis A. Cabello.O que são assentamentos rurais. São Paulo: Brasiliense,2001.

CARNEIRO, N.I. Política florestal. Curitiba: FUPEF, 2001.

INCRA. Plano de Desenvolvimento Sustentavel doAssentamento Iracema Município de Buriti dos Lopes-PI,2001.

SILVA, José Onofre. Laudo de avaliação imóvel Iracema -Buriti dos Lopes. Teresina: Instituto Nacional de ReformaAgrária � INCRA, 1999.

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O Cumbaru( Dipteryx alata Vog.), o desenvolvimento local e a sustentabilidadebiológica no assentamento Andalucia, Nioaque/MS

Tonkabean (Dipteryx alata Vog.), Local Development and the Biological Sustainabilityin the Andalucia Settling, Nioaque/MS

Le Cumbaru (Dipteryx alata Vog.), le développement local et la soutenabilitébiolgique au Place Andalucia, Nioaque/MS

El Cumbaru (Dipteryx alata Vog.) el desarrollo local y la sostenibilidad biológica em el SítioAndalucia, Nioaque/MS

Rosemarly Fernandes Mendes Candil*Eduardo José de Arruda*Andréa Haruko Arakaki**

Recebido em 8/8/2006; revisado e aprovado em 10/11/2006; aceito em 30/1/2007.

Resumo: Este artigo contextualiza a importância da sustentabilidade biológica do Cumbaru (Dipteryx alata Vog.) eo aproveitamento das potencialidades da comunidade para o desenvolvimento local do assentamento Andalucia. Odesenvolvimento em bases locais é hoje uma das alternativas mais fecundas, como caminho para a resolução dosgraves problemas com os quais se defrontam os trabalhadores rurais e os municípios de predominância rural.Palavras-chave: Assentamento; desenvolvimento local; sustentabilidade.Abstract: This article contextualizes the importance of the biological sustainability of Tonkabean (Cumbaru) (Dipteryxalata Vog.) as well the utilization of the community�s potential for the local development of the Andalucia settling.Development local-based is today one of the best alternative as a way of solving serious problems, which ruralworkers and municipalities face.Key words: Settling; local development; sustainability.Résumé: Ce article contxtualise l´importance de la soutenabilité biologique du Cumbaru (Dipteryx alata Vog) etl´utilité des potencialités de la communité por le développement local du place Andalucia. Le développement embases locaux est aujourd´hui une des alternatives plus productifs comment le chemin por la résoution des gravesproblémers que les travailleurs ruraux s´affrontent et les villes de prédominance rural.Mots-clé: Place; développement local; soutenabilité.Resumen: Este artículo contextaliza la importáncia de la sotenibilidad biológica del Cumbaru (Dipteryx alata Vog)y el aprovechamiento de las potencialidades de la cominidad para el desarrollo local del sítio Andalucia. El desarrolloem bases locales es hoy uma de las alternativas más adecuadas cómo camino para la solución de los gravesproblemas com los trabajadores rurales y las localidades de predomináncia rural.Palabras clave: Sítio; desarrollo local; sostenibildad.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 75-80, Mar. 2007.

* Universidade Católica Dom Bosco-UCDB. ([email protected]).** Universidade Federal do Paraná-UFPR.

1 O Cumbaru e o desenvolvimento local

O Cumbaru é um fruto do Cerrado,no entanto o Cerrado é um bioma de impor-tância fundamental para a conservação dabiodiversidade mundial, e cobre aproxima-damente 22% do território nacional - áreaenorme de quase dois milhões de km2, aindaé uma das 25 áreas mundiais consideradascríticas para a conservação da diversidade,devido à enorme riqueza biológica e alta pres-são antrópica a que vem sendo submetidopor décadas (SILVA et al., 2001).

Afirma esta assertiva Novaes (2004, p.2), quando cita:

Essa ocupação descuidada, devastadora doCerrado está tendo e terá conseqüências muitograves, até mesmo e principalmente para aprópria agropecuária. O Cerrado do centro-oeste é o berço das águas brasileiras [...]. Todasas bacias hidrográficas estão em processoacelerado de degradação, por causa da forteerosão nas culturas de grãos, da poluição poragrotóxicos e de efluentes de criações [...]. Maisespantoso ainda é lembrar os estudos daEmbrapa, segundo os quais se poderiam dobrar,até triplicar, a produtividade nas lavouras doCerrado, com o uso de tecnologias maismodernas.

Essa formação vegetal tem sido explo-rada ao longo do tempo produzindo efeitospredatórios sem preocupação com sistemas

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76 Rosemarly Fernandes Mendes Candil; Eduardo José de Arruda;Andréa Haruko Arakaki

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

de utilização racional que permitam a pro-dução sustentada, em virtude dasmonoculturas de soja, milho, arroz e feijão,pastagens e utilização de pesticidas eagrotóxicos. A produção mecanizada nãoconsidera o valor da diversidade, apenas estáfundamentada na exploração contínua e noslucros auferidos.

Todavia, o desconhecimento do poten-cial de uso dos recursos naturais, o desres-peito às leis de proteção ambiental, as quei-madas e a intensidade de exploração agrí-cola têm provocado prejuízos incalculáveisao solo, à fauna, à flora e aos recursoshídricos, comprometendo a sustentabilidadedesse ecossistema e colocando muitas espé-cies animais e vegetais em risco de extinção,principalmente no tocante às espécies fru-teiras nativas (SILVA et al., 2001).

Partindo do princípio de que oCumbaru é uma fruta do Cerrado e comer-cialmente viável para as comunidades regio-nais, e os recursos naturais disponibilizadosservem de estímulo para o desenvolvimentolocal e para a sustentabilidade da diversida-de, reforça este contexto Ávila et al. (2001),afirmando que o desenvolvimento local é umprocesso dinamizador da comunidade a fimde que a mesma reative a respectiva econo-mia e todo o seu progresso de qualidade devida sócio-cultural e meio ambiental.

O objetivo é formular e executar açõesque, levando em conta as vocações locais,permitam a construção de processos de de-senvolvimento cujos resultados beneficiem amaioria da população.

Moradores do assentamento Andalucia,hoje mais conscientes, trabalham ajudandoa conservar e a recuperar áreas degradadasda região, fazendo inclusive extrativismovegetal sustentável, onde os recursos destesauxiliam as famílias a melhorar sua condi-ção de vida.

A combinação da ética, democracia edesenvolvimento são essenciais quando sepensa em políticas públicas e práticas sociaiscentradas na pessoa e em melhor qualidadede vida para a sociedade (MÁRTIN, 2001).

2 Desenvolvimento local esustentabilidade humana e biológica

O desenvolvimento local se apóia naidéia e nos pressupostos de que a localidadedispõe de recursos econômicos, humanos,institucionais, ambientais e culturais; alémde economias de escala não exploradas, queconstituem seu potencial de desenvolvimen-to. A existência de um sistema produtivocapaz de gerar rendimentos crescentes, me-diante a utilização dos recursos disponíveise a introdução de inovações, garante a cria-ção de riquezas e a melhora do bem estar dapopulação.

No caso do Andalucia foi desenvolvi-do através dos anseios da comunidade ocurso de tecelagem que se tornou uma im-portante meta do projeto da ECOA (ONGEcologia e Ação), com produção de peçasutilizando os recursos do Cerrado, além dea exploração de alguns frutos como o jatobáfazendo farinhas, biscoitos e bolos, o pequifazendo licor e o Cumbaru com a torra desuas sementes, gerando renda, com umaprodução sustentável.

Mendez (2001), destaca que a inova-ção é um instrumento que pode melhorar ofuncionamento das atividades econômicas,elevar sua capacidade competitiva e dos ter-ritórios que fazem parte, melhorar a qualida-de do emprego e sustentabilidade ambiental.

É oportuno observar que em iniciati-vas desta natureza, é essencial buscar a maiorarticulação institucional possível para a exe-cução dos projetos e ações pública e priva-da, nesses espaços, com atores locais e seusrecursos disponibilizados, pois desde o finalda década de 1980, a direção do MST, per-cebeu que a luta pela terra se desdobra ne-cessariamente pela luta pela viabilizaçãoeconômica dos assentados. Acredita-se queas dificuldades dos assentados provêm desua pouca capitalização que cerca sua ativi-dade na terra: não há suficiente acesso àstecnologias, aos insumos e às máquinas quepermitem aumentar a produtividade.

A esse respeito Silveira (2001, p. 33),em seu artigo sobre ações integradas e desen-volvimento local: oportunidades e caminhos,afirma que:

A avaliação de iniciativas sob o desenvol-vimento local deve ter como referência a relação

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77O Cumbaru( Dipteryx alata Vog.), o desenvolvimento local e asustentabilidade biológica no assentamento Andalucia, Nioaque/MS

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entre o espaço local e novos arranjos sóciosprodutivos e inovações institucionais queunifiquem estrategicamente e potencializem asações para o desenvolvimento, com acento nadimensão endógena.

Este contexto tem a ver com o efetivointeresse, disposição e disponibilidade daspessoas pelo enfrentamento dos problemasnuma perspectiva coletiva e não individua-lista, depende das potencialidades locais, éum processo de desabrochamento que fazcom que a comunidade encontre seus objeti-vos, é um desenvolvimento centrado.

O desenvolvimento local pode ser visto comoum foco de intervenção no contexto da crise dodesenvolvimento em condições de desigual-dade e pobreza, visando a reconstrução daspolíticas e das ações a partir das potencialidadesendógenas e das brechas do local, além de secaracterizar no território, em torno de trêsdimensões interligadas: a formação do capitalhumano, o desenvolvimento produtivo doterritório e a concentração participativa paragestão do desenvolvimento (SILVEIRA et alii.,2001, p. 26).

Na busca de um novo modelo de de-senvolvimento descentralizado e democrá-tico, que tenha o ser humano como centro eque privilegie a realização da reforma pró-pria com a implantação e fortalecimento daagricultura familiar, os processos de partici-pação nas decisões, responsabilidades eações, são essenciais para garantir a pereni-dade dos projetos e a construção cotidianada cidadania.

A cooperação é uma forma de relaçãosocial, onde quanto mais as pessoas se en-volvem em relação de cooperação, mais sedesenvolvem moral e intelectualmente, esta-belecendo mais relações cooperativas entresi, melhorando ainda mais as relações.

Putnan (1996) informa que as regrassociais transferem para cada participante odireito de controlar as ações porque elas têmexternalidades (conseqüências positivas ounegativas) sobre cada um deles. As regrasseriam incutidas por meio de condicionamen-to e socialização, como também de sanções;já a reciprocidade seria uma das regras soci-ais mais importantes da cooperação: eu teajudo na expectativa de que me ajudarásfuturamente.

Durston (1999, p. 116),Sugere medidas para desenvolver o capitalsocial comunitário rural, dentre elas ressalta-se: a) realizar uma busca de normas e práticassobre confiança, reciprocidade e cooperação em

grupos locais de ascendência em culturas ruraisaparentemente dominadas pelo individua-lismo e familiarismo; b) analisar e aproveitarcondições favoráveis para o ressurgimento docapital social, criada pela debilidade do cliente-lismo autoritário; c) oferecer oportunidades decriação de laços familiares e cooperação emnível comunitário; d) desenvolver uma rápidacapacidade de resposta nos projetos e progra-mas, para combater as ações dos atores cliente-listas nos processos de transição; e) fomentar odesenvolvimento da capacidade de negociaçãoestratégica dos dirigentes camponeses; f)outorgar prioridade ao fomento do sentido demissão entre os funcionários de um projeto,orientado ao desenvolvimento de capital socialautônomo; g) tomar medidas para assegurarque o capital social cívico das comunidadesofereça benefícios materiais em curto prazo e,contribua para a habilitação no terreno político.

O Movimento dos Sem Terra (MST),desenvolveu formas de cooperação que per-mitem aos agricultores assentados superarem conjunto as dificuldades próprias querecaem sobre os produtores quando atuamisoladamente, desta forma encontram for-mas de adquirir equipamentos, tecnologia epreços de produtos mais favoráveis. Portan-to, a cooperação entre os assentados trazmais vantagens que o isolamento.

O capital social é um recurso que abrecaminhos para estabelecer novas relaçõesentre os habitantes de uma comunidade. Aesse respeito Jara (1999, p. 4), em seu artigosobre a construção de redes de confiança esolidariedade afirma que:

A transição para uma sociedade sustentável seráum processo possível quando sejam valorizadoscertos elementos estratégicos invisíveis, comoo capital humano e o capital social, a participa-ção social e o empoderamento das pessoas eorganizações. [...] A insustentabilidade é conse-qüência de nossos próprios atos, ou seja, nossavisão de mundo. Precisamos de novas fontesde poder, uma consciência radical fundamen-tada em sentimentos de confiança e necessidadescompartilhadas.

O Movimento dos Sem Terra (MST)desenvolveu metodologias destinadas a al-terar a mentalidade e diminuir a resistênciados assentados às práticas da economia soli-dária, voltou-se a pesquisa no campo da edu-cação, vinculando-a ao desenvolvimento dascondições intelectuais, individuais necessá-rias à sobrevivência econômica dos assenta-dos. Desta forma aumenta-se o empodera-mento dos assentados e desenvolve-se a con-fiança e solidariedade do grupo e aumentaa credibilidade do movimento.

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

Kliksberg (1999) relata que o desenvol-vimento cultural das sociedades é um fim emsi mesmo, e avançar neste campo significaenriquecer espiritual e historicamente umasociedade e seus indivíduos. A cultura dospobres é estigmatizada, gerando a baixaauto-estima, enfraquecendo sua identidadee conclui que uma auto-estima fortalecidapode ser um potente motor de construção ecriatividade individual, com repercussãogrupal.

A transição para uma sociedade sus-tentável é um problema de consciência dogrupo que começa na mudança interna daspessoas, nos sentimentos de solidariedade,no compromisso do ser humano com os de-mais e com a natureza.

O desenvolvimento e a integração, denovas informações, a formulação de novosconceitos e o aumento das colaboraçõesinterdisciplinares é essencial para o desen-volvimento e a adoção das técnicas emergen-tes para a sustentabilidade do agroecos-sistema (BORGES, 2003).

A exploração predatória do Cerradofaz com que a população brasileira sofra di-reta e indiretamente com a perda de quali-dade de vida. A perspectiva de unir equilí-brio ambiental a benefícios econômicos apon-ta uma tendência que pode garantir o sus-tento das comunidades rurais ou urbanas.

As oportunidades locais de desenvol-vimento dependem de cada localidade es-pecífica, pois depende de variáveis sociais enaturais internas e de variáveis de outraslocalidades e da globalidade, por efeito deescalas mais amplas como Municipal, Esta-dual e Nacional. O desenvolvimento localcontribui com novas formas de produzir,dividir riquezas, materializar a cidadania, ademocracia e a sustentabilidade da comuni-dade para que ela tenha �de que viver� e�razões para viver�.

Costa (apud Marques e Martin, 2002,p.157), informam que:

Em Mato Grosso do Sul, nas áreas de Cerrado, aagricultura mecanizada e a criação extensivade gado contribuíram significativamente parao aumento da produtividade média das culturasanuais e da pecuária de corte em anos recentes,porém, observam-se evidências ambientais queindicam que a presente forma de desenvol-vimento agrícola é insustentável, favorecendoa degradação ambiental acelerada.

3 O Capital social como fator estimulantepara o desenvolvimento local dacomunidade do assentamento Andalucia

Para Durston (1999, p.104),O capital social é um conjunto de normasinstitucionais e organizacionais que promovema confiança e a cooperação entre as pessoas, nascomunidades e na sociedade em seu conjunto, esendo ele comunitário, englobando o conteúdoinformal das instituições que tem por finalidadecontribuir para o bem comum, sabe-se que emtodos os grupos pequenos, em todas as partes,há normas e práticas de reciprocidade. Aconfiança, a cooperação, a identidade e areciprocidade criadas na comunidade podemreproduzir-se entre os dirigentes, a fim detransformar o capital social de pequenascomunidades em um plano microrregional.

Para haver em uma comunidade oDesenvolvimento Local, é importante a con-fiança a cooperação a solidariedade entre aspessoas, o despertar de suas capacidades ea valorização das potencialidades locais bemcomo a responsabilidade da comunidade nasustentabilidade biológica local.

Conforme estudo feito por Candil(2004), no assentamento Andalucia, a gran-de maioria (83%) dos assentados afirmamque existe confiança entre os assentados,sendo este um dado relevante para o traba-lho de cooperação, pois segundo Jara (1999),a confiança fala da consciência de se sentirseguro, acreditar no outro, esperar com cer-teza e firmeza uma determinada resposta,depositar um senso de credibilidade e sinto-nia com a palavra do outro, o reconhecimen-to da lealdade do outro.

Ainda sobre este aspecto, Mendez(2001), afirma que a confiança mútua é re-quisito importante na existência de uma cul-tura de cooperação, baseada em certa práti-ca compartilhadas e muitas vezes distintasa cultura estritamente econômica (fins cul-turais, políticos, sindicais, religiosos..), juntoa presença de algum tipo de associação, sãocondicionantes que favorecem o estabeleci-meto de relações onde a confiança é impor-tante frente ao individualismo imperante nasrelações de mercado.

Candil (2004) informa ainda que65,22% da comunidade do Andalucia fazemparte de associações e 34,78% não fazemparte. Entende-se por associação o ato ouefeito de associar-se, combinação, união,sociedade, agrupamento de seres que vivem

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

em estado gregário, grupo de indivíduos quevivem por vontade própria sob normas co-muns, comunidade (FERREIRA, 2001).

Para Kliksberg (1999), a existência deassociações em uma sociedade indica queesta tem capacidades para atuar em formade cooperativa, armando redes, com siner-gias de toda ordem. Cita que o capital socialcontribui de forma importante a estimular asolidariedade e a superar as falhas do mer-cado através de ações coletivas e de uso co-munitário de recursos.

Conforme o Plano de Consolidação doassentamento Andalucia (INCRA, 2002), oassentamento possui seis associações formaise duas informais, todas foram criadas semfins lucrativos, com objetivos a prestação dequaisquer serviços que possam contribuirpara o fomento e racionalização das ativida-des agropecuárias e a defesa das atividadeseconômicas, sociais e culturais de seus asso-ciados.

Afirmam 83% dos assentados do as-sentamento Andalucia que existe coopera-ção entre o grupo (CANDIL, 2004). A esterespeito Jara (1999), informa que coopera-ção diz respeito a um processo de união en-tre as pessoas para conseguir um benefíciocomum, trabalhar junto com outros paraconstruir um mesmo objetivo, afirma aindaque os relacionamentos de confiança, coope-ração e reciprocidade facilitam a construçãode processos de mudança social e desenvol-vimento humano gerando sustentabilidade,enriquecendo o tecido social.

Desenvolver formas de cooperação nosassentamentos permite aos agricultores supe-rar em conjunto as dificuldades que recaemsobre os produtores quando atuam isolada-mente (POKER, 2003).

Diagnou-se também nesta comunida-de segundo Candil (2004), que a grandemaioria, 88% dos assentados aceitam novasidéias, sendo que somente 9% não aceitam.A importância dos assentados aceitaremsugestões, e participarem de programas de-senvolvidos para a e com a comunidade faz,com que o desenvolvimento endógeno sejaestimulado, com conseqüente fortalecimen-to do conhecimento, da confiança mútua eda solidariedade. Estes são o sustentáculo epressupostos básicos para a ocorrência dodesenvolvimento local e da sustentabilidade.

Mendez (2001) relata que a inovação é uminstrumento que pode melhorar o funciona-mento das atividades econômicas locais, ele-varem sua capacidade competitiva nos ter-ritórios que fazem parte, melhorar a qualida-de do emprego e sustentabilidade ambiental.

É oportuno observar que em iniciati-vas desta natureza, é essencial buscar umamaior articulação institucional que tornepossível para a execução de projetos comdiferentes níveis de amplitude, por meio daimplementação de ações públicas e privadasnos espaços com seus recursos disponibili-zados junto aos atores locais.

Considerações Finais

O desenvolvimento sustentável podesurgir da organização solidária da comuni-dade Andalucia em torno de uma estratégiaadequada e sustentável para preservar avida humana e a biodiversidade. A partir dosdados coletados em nosso estudo pode-seconcluir, apesar de certa organização local(associações), que a comunidade ainda estávulnerável em relação a esta questão. Pode-se observar que a organização precisa serfortalecida, infra-estruturas (fomentar insu-mos agrícolas, maquinários, financiamentos)estabelecidas e estratégias implementadaspara que a sensibilização dos assentadosrurais reflita em trabalhos desenvolvidoscom vistas ao fortalecimento das relaçõesinterpessoais e interinstitucionais, dos negó-cios e da orientação da produção local.

Nota-se que é importante o desenvol-vimento de produtos alimentícios de frutosdo Cerrado como o Cumbaru, que pode con-tribuir para a sustentabilidade de comuni-dades locais e também para a recomposiçãoda paisagem natural e ao turismo, agregandovalores ao turismo local, valorizando a ca-racterização de produtos típicos, como ocor-re em outras regiões com suas comidas típi-cas e de custos acessíveis às camadas demenor faixa de renda da população é umgrande estímulo ao estudo das leguminosas,e para a exploração racional deste produtopor comunidades dos Cerrados, podendo seruma opção de sustentabilidade da naturezae das comunidades que interagem com ela.

No entanto, sabe-se que o desconheci-mento do uso adequado dos recursos

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naturais e a exploração predatória dosbarueiros, com desrespeito as leis ambientaisprovocam prejuízos incalculáveis comprome-tendo a sustentabilidade deste ecossistemajá fragmentado, pois a freqüência da explo-ração de sua madeira é normalmente em vir-tude do rápido retorno financeiro e da gran-de demanda. Mas os resultados obtidos pelosnossos estudos retratam que a comunidadeestá se preocupando mais com o futuro ecom a sustentabilidade do bioma.

Portanto, em função das dinâmicas doassentamento e da constante busca de alter-nativas de sustentabilidade por parte da co-munidade, alguns indicadores podem serpercebidos de que a localidade poderá alcan-çar níveis mais consistentes de renda e qua-lidade de vida, a partir do enfrentamento eresolução de seus problemas, mais urgentes,num viés de desenvolvimento com renda equalidade de vida, praticado de modo soli-dário e igualitário e em harmonia com o meioambiente, visando explorar o Cumbaru deforma racional e orientada.

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Cidade, subjetividade e território: representações de moradores de favelasCity, subjectivity and territory: representations of the impoverished subjects

Ville, subjectivité et territoire: représentation des de habitants de périphérieCiudad, subjectividad, y território: representaciónes de los habitantes de arrabaldes

José Rogério Lopes

Recebido em 10/6/2006; revisado e aprovado em 23/10/2006; aceito em 19/1/2007.

Resumo: O artigo apresenta uma análise das relações entre espaço, subjetividade e conhecimento, tendo por baseum estudo etnográfico desenvolvido em uma favela da cidade de Ubatuba, SP. A análise centra-se na discussão determos que definem percepções sócio-espaciais, entre sujeitos pobres, analisando o conteúdo social que impregnao uso destes termos e que possibilitam caracterizar distinções à análise das relações sócio-espaciais, marcadas peladesigualdade social.Palavras-chave: Espaço; lugar; subjetividade.Abstract: The article presents an analysis of the relation between space, subjectivity and knowledge based on anethnographic study developed in a slum pertaining to the town of Ubatuba, in the state of São Paulo, Brazil. Theanalysis is centered on the discussion of terms that define social-spatial perceptions among impoverished subjects,analyzing the social content that permeates the use of such terms and that makes it possible to characterize distinctionsto the analysis of social-spatial relations that are marked by social inequality.Key words: Space; place; subjectivity.

Résumé: L´article présente une analyze des rélations parmis espace, subjectivité et conaissance, a travérs d´un étudeethnographique développé dans une périphérie de la ville de Ubatuba, SP. L´analyse es centrée dans la discution determes que defini perceptions sociaux et spatiaux, parmis sujets pauvres, avec l´analyse du contenu social queimprégne l´usage de ces termes et que rendent possible caractériser distintion à l´analyse des rélations sociaux etspaciaux, distingues por l´inegalité social.Mots-clé: Espace; place; subjectivité.Resumen: El artículo presenta uma análisis de las relaciones minetras espacio. subjectividad, y conocimiento, tenedopor base um estúdio etnográfico desarrolldado em um arrabalde de la ciudad de Ubatuba, SP. La análisis estácentrado em la discusíon de los termos que definen percepciones sociales y espaciales mientras sujetos pobres,analisando el contenido social que impregna el uso de estes termos y que posibilitan caracterizar distinciónes àanálisis de las relaciones sociales y espaciales, marcadas por la desigualdad social.Palabras clave: Espacio; sítio; subjectividad.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 81-94, Mar. 2007.

1 Professor Titular do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Unisinos, RS, Brasil.

Introdução

Neste texto, descrevo dados de umapesquisa que coordenei em espaços urbanosda região do Vale do Paraíba, SP, e, sobreeles, retomo algumas discussões anteriorespara analisar algumas representações pro-duzidas nas relações sócio-espaciais queocorrem no cotidiano dos sujeitos pobres, emsociedade.

A pesquisa foi realizada com morado-res de 6 cidades da região, comparando asrepresentações de crescimento urbano e qua-lidade de vida, entre sujeitos de classes mé-dias e moradores de áreas de concentraçãode pobreza (LOPES, 2001). Os dados da pes-quisa apontam para a idéia de que o substratocomum das representações de cidade desen-volvida e qualidade de vida, entre os sujeitosdas classes médias, é atingir o exercício de

uma liberdade de escolha, como estratégiade apropriação da cidade. Já entre a popu-lação residente em áreas de exclusão, essamesma concepção de apropriação aparecede forma ambígua nas representações dossujeitos.

Buscando analisar essa ambigüidadee alguns de seus desdobramentos nas repre-sentações das relações sócio-espaciais, discu-tirei três dados produzidos no quadro de umdos sub-projetos da pesquisa, que buscoucaracterizar a população residente em áreasde concentração de pobreza nas cidades deUbatuba (litoral norte do Estado de SãoPaulo) e Campos do Jordão (localizado naSerra da Mantiqueira), identificando indica-dores de suas demandas sócio-econômicas,como também representações produzidasacerca de suas condições de vida nessasáreas.

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Inicialmente, apresento os dados geraissistematizados sobre as respostas que osmoradores forneceram a um questionárioaplicado na pesquisa, devido à convergên-cia que os mesmos apresentaram, em tornode alguns indicadores sobre privação sociale representações de cidadania, recortadospelo binômio integração/exclusão urbana.Após, discuto algumas representações dasrelações sócio-espaciais que esses sujeitosproduzem, com base em referências etnográ-ficas dos ambientes que caracterizam as áre-as pesquisadas.

Exclusão social e representaçõesespaciais

Os dados aqui apresentados advêm daanálise das respostas dos moradores das áre-as às seguintes perguntas1:� O que poderia ser feito para a melhoria do

local onde mora?� O que poderia ser feito para a melhoria da

cidade?� Você acha que seu direito como cidadão é

respeitado? Por quê?As respostas à primeira questão con-

centraram-se majoritariamente nas ações de:� infra-estrutura e urbanização (74.6%), as-

sim distribuídas:esgoto 25.2%asfalto/calçamento das ruas 23.7%água e luz 13.9%canalização de rios 8.8%construção de praças de lazer 3.0%

Estas respostas são seguidas de:� serviços urbanos 12.3%� ações públicas ligadas a creches,

mutirões, regularização de casase terrenos, e aterros 9.0%

� outras indicações gerais 4.0%.1.0% não soube responder e 1.0% afir-

mou que o local está bom.As respostas à segunda questão con-

centram-se em dois indicadores importantes:� em ações públicas, 29.5% indicaram que é

necessário mais emprego e incentivo àsatividades produtivas nas cidades;

� nas indicações gerais, 13.8% indicaram queé preciso mudar os governos ou governantes.

Dos indicadores gerais, tem-se a se-guinte distribuição:

� serviços urbanos 16.8%� infra-estrutura e urbanismo 15.2%

13.0% não sabem ou não responderame para 3.8% as cidades estão boas do jeitoque se configuram hoje.

Evidencio alguns elementos da análi-se comparativa entre tais indicadores. Pri-meiramente, a distinção clara entre açõespara a melhoria: a melhoria do local é avali-ada pelas condições de infra-estrutura eurbanismo, enquanto a melhoria da cidadeé avaliada pela oferta de empregos e peloseu governo. Esta distinção aponta para pro-cessos de produção e apropriação da cidadeque se complementam em ações micro emacro-estruturais.

O índice de 1.0% de sujeitos que nãosouberam responder a primeira questão e ode 13.0% que não souberam responder a se-gunda mostram que as ações micro-estrutu-rais são mais perceptivas e objetivas, mastambém mostram que a condição de exclu-são interfere na produção de representaçõessobre o conjunto da cidade.

Somente 32.0% dos pesquisados ava-liaram a melhoria da cidade pelas mesmascondições que avaliaram a melhoria do localonde moram. Este índice, inclusive, deve sercomplementado com outro dado da produ-ção da cidade, nos contextos aqui em pauta:o de que se trata de duas cidades predomi-nantemente turísticas.

E, embora não haja dados gerais sobrea ocupação urbana em Campos do Jordão,os dados de Ubatuba, coletados do Censo1991, do IBGE, permitem verificar as dimen-sões como se objetivam os processos de exclu-são territorial: para uma população de 45.681habitantes, em 1991, havia 32.471 casas nomunicípio; destas, 31.92% eram casas ocu-padas por moradores locais e 68.07% eramcasas de turistas. Considerando-se que a áreamédia de construção das casas de turistas ébem maior que a das casas dos habitantesda cidade, tem-se que o percentual de nú-mero de casas dos habitantes é maior que ataxa de ocupação territorial urbana pelosmesmos.

No Caso de Ubatuba (e também emCampos do Jordão, por observações empíri-cas), isso se desdobra em uma distribuiçãoterritorial que concentra a população pobreem bairros periféricos e favelas, espalhados

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em áreas precárias e de risco, escondidas dosespaços por onde os turistas transitam. Nes-sa perspectiva, instala-se e se reproduz umconflito permanente entre as percepções queos sujeitos pobres elaboram no cotidiano,nessas áreas, e aquelas que eles elaboram nasrelações que estabelecem com outras áreasda cidade, em seu conjunto.

Nestas condições, não é de se estranharque a melhoria da cidade seja percebida eavaliada pelas representações dadas anteri-ormente. O sentido de apropriação da cida-de, em áreas de exclusão, reproduz a limita-ção do conhecimento da cidade pelo tipo deocupação dos sujeitos nela inseridos, comoveremos adiante.

Os processos multidimensionais pelose nos quais os sujeitos pobres perdem o sen-tido de pertencimento ao espaço urbano, nasáreas de exclusão, fragmentam a imagem dacidade e reproduzem valores focalizadosterritorialmente. A cidade coloca-se para es-ses sujeitos como um espaço distante, na me-dida em que estão excluídos de participaremdas relações urbanas.

As respostas que os pesquisados deramà terceira questão citada anteriormente au-xiliam a compreender essa fragmentação eessa focalização produzidas na exclusão.Entre os pesquisados, cerca de 40% conside-ram que seus direitos são respeitados e 60%consideram que não são. As justificativas sãoas seguintes:

São respeitados como cidadãos, por-que:� não tem problemas;� tem dignidade e liberdade;� não prejudica ninguém, é sempre respei-

tado;� não passa fome;� o cidadão tem que ser respeitado por tudo;� porque reclama seus direitos;� seus recursos são respeitados;� ninguém abusa da família, mas não tem

noção das coisas;� tem saúde e educação;� pelas autoridades sim, pois se precisam

elas vêm até aqui;� tem o básico, o que precisa;� tem educação(mesmo que ruim), nada falta

na escola;� tem creche perto, água e luz;� não é mal tratado/é tratado com

dignidade;� é bem atendido aonde vai;� é respeitado por todos, menos pelo prefeito.

Não são respeitados como cidadãos,porque:� são marginalizados pela moradia;� os vizinhos brigam muito com eles;� têm condição precária de vida;� ninguém respeita ninguém;� não são oferecidas assistência social e

saúde;� os aposentados têm salário baixo;� pobre não tem direito à nada;� com o pobre não há respeito, é sempre hu-

milhado;� tem direito ao estudo, mas não há escola,

não há vaga;� o governo promete e não cumpre;� Deus dá e o governo tira dos pobres;� o prefeito não ajuda em nada;� professores e médicos não respeitam;� crianças e idosos são desvalorizados;� polícia não protege por sermos pobres/ela

é bandida;� quando precisa de algo é difícil conseguir;� faltam muitas coisas: educação de quali-

dade, lazer, remédio, comida, emprego, se-gurança e lazer;

� há tráfico de drogas;� ao trabalhador não é dado o devido valor.

O dado de 40% dos moradores dessasáreas considerarem-se respeitados em seusdireitos como cidadão torna-se preocupante,pela limitação das concepções de direitos ecidadania que justificam suas respostas. Poroutro lado, as concepções de direitos e cida-dania entre aqueles que não se consideramatendidos como cidadãos são diversificadase focalizadas, na sua grande maioria. Essesdados, todavia, guardam alguns condicio-nantes importantes para a localização dossujeitos, em suas relações com o conjunto dacidade: a idéia de direito está condicionadanegativamente pelas representações demarginalização, precarização da vida, po-breza, falta de serviços públicos e desvalori-zação do trabalhador; positivamente, estácondicionada pelas representações de digni-dade, respeito, atendimento das necessida-des básicas, valorização dos recursos locaise reivindicações.

Por tratar-se de áreas de exclusão, ondese confundem a concentração de pobreza,

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de desempregados, a ausência de serviçospúblicos, a precarização das moradias e aperiferização com relação ao conjunto dacidade, as representações de direitos e cida-dania não possuem uma unidade. Em con-seqüência, a imagem da cidade emerge auma �distância próxima�, formando umalógica dialética de percepções geográficas esociais, e suas relações com o conjunto têmsempre um fundo de desconfiança, descré-dito ou desapego.

Esta trajetória de análise mostra que,nas cidades pesquisadas, criam-se mecanis-mos de exclusão territorial, reproduzindo asestratégias de idealização da urbanidade ede vinculação do sujeito à urbe � ou a umaparte dela � através da ocupação exercidapelo mesmo. Se tal ocupação permite umexercício de visualização da cidade, estavisualização mostra-se fragmentada e foca-lizada, dificultando uma representação con-sistente de direito à cidade e de cidadania.

Nessa concepção, e considerando acondição de exclusão em que vive boa parce-la da população das cidades, a reproduçãodesse modelo de idealidade e de vinculaçãodos sujeitos à urbe torna-se mais acintosa,chegando a constituir-se em uma verdadei-ra violência simbólica. Esses sujeitos excluí-dos da produção da cidade, territorial e sim-bolicamente, perdem progressivamenteaquela capacidade de visualização e de cri-ação de estratégias de apropriação da cida-de, que garante a liberdade de escolha.

Porém, mesmo submersos em �áreasde sombras�2 (LEDRUT, 1968) do modelourbano hegemônico, esses sujeitos procuramproduzir outras estratégias de superação daexclusão, no próprio cotidiano. Na represen-tação difusa de cidade que esses sujeitosexplicitam, evidencia-se a concepção de ÍtaloCalvino, de que �uma cidade pode ser aqui-lo que dela se vê ou se entende� (apudAMARAL, 1992).

E aqui, algumas referências etnográ-ficas dos ambientes que caracterizam asáreas pesquisadas tornam-se importantes.

A área pesquisada em Campos doJordão denomina-se Favela Acampamentodos Pumas e localiza-se na periferia nortedo município, entre um conjunto habitacio-nal popular e uma área de proteção ambi-ental, distante cerca de 3 km do centro da

região de Abernéssia. O local é atendido porluz e água, com acesso a ônibus urbano naredondeza. A área da favela não possui ruas,mas caminhos abertos entre as moradias (ge-ralmente separadas por algum limite natu-ral ou construído) com acesso para carros, eestá delimitado por um ribeirão, na direçãoda cidade (para onde escorre o esgoto do lo-cal), e um morro, na direção da área de pro-teção ambiental, estando sujeito a inunda-ções regulares. As moradias são construídasde madeira ou material misto e sua popula-ção é constituída, na maioria, de migrantesda região sul do país, que trabalham sazo-nalmente na indústria de construção civil ouno turismo. A relativa distância com o cen-tro da cidade, a rede de serviços urbanosexistentes nas redondezas e o acesso aotransporte urbano regular fazem com que apopulação esteja cotidianamente envolvidacom o movimento da vida social da cidade.

As áreas de Ubatuba possuem carac-terísticas distintas. Uma, o Jardim Guarany(assim denominada pelos moradores, masconhecida na cidade como favela Anchieta,nome da escola municipal que se localizanuma rua lateral à favela), está localizada àmargem da Avenida Rio Grande do Sul, queé uma das mais importantes da cidade, li-gando a semiperiferia do centro da cidadeàs praias da região sul do município. Locali-zada bem ao fundo da pista do pequeno ae-roporto da cidade, a favela está situada en-tre a avenida, um ribeirão (para onde tam-bém escorre o esgoto das casas da favela edos bairros que a circundam), a BR 101 �que corta Ubatuba e liga as cidades de San-tos e do Rio de Janeiro � e um bairro de clas-se média baixa, mas está integrada no con-texto da cidade, próxima de escolas, servi-ços e redes de apoio à vida urbana. A popu-lação é formada por uma maioria demigrantes do sul da Bahia e do sul de MinasGerais, que buscam trabalho na construçãocivil e em serviços turísticos. A maioria dascasas da área está em processo de transfor-mação, das de madeira para alvenaria, e seusespaços externos são demarcados por mu-ros ou cercas.

A segunda área é a Favela Sertão doSesmarias, localizada a 7 km do centro dacidade e situada nas encostas de morros quefazem limites com o Parque Estadual da Ser-

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ra do Mar. A área, cercada de Mata Atlânti-ca, está bem isolada da cidade e é ligada aosbairros periféricos Estufa II e Sesmaria poruma estrada de terra precária, por onde pas-sa uma linha de ônibus duas vezes ao dia.Da entrada da favela até o final da rua cen-tral que a corta longitudinalmente, as casasde alvenaria (poucas) vão cedendo vistas napaisagem para casas de material misto e, emsua grande maioria, as casas de madeira. Agrande maioria das casas não possui limitesdemarcados de terrenos entre elas. Compostapor migrantes do sul da Bahia, em maioria,a população da área vive dividida entre umaminoria de homens que saem diariamentepara trabalhar na construção civil, na cida-de e em cidades vizinhas, uma grande partede homens adultos e jovens que coletamlatinhas de alumínio nas praias do municí-pio, e de mulheres adultas e jovens, além dascrianças, que vivem seu cotidiano na favela,com poucos contatos com a cidade. A entra-da da favela é atendida por água e luz, sen-do que o restante da área possui luz forne-cida por rede pública, mas capta água deum ribeirão que corre ao largo da favela,para onde escorre o esgoto das casas.

Essas diferenças de composição e in-serção das favelas nos territórios dos muni-cípios, assim como as diferenças de recursospara a interação dos seus moradores nas re-lações com a dinâmica da vida na cidade,produzem representações da vida urbanaque relativizam os indicadores gerais ante-riormente descritos. Trata-se de perceber queas apropriações que os sujeitos excluídos fa-zem da produção da cidade, desde sua lo-calização em áreas de exclusão, variam deacordo com a compreensão elaborada pelosmesmos acerca dos movimentos contraditó-rios em que estão inseridos. Em geral, os su-jeitos moradores dessas áreas explicitaramuma valorização das relações de vizinhança,justificadas pela solidariedade vicinal (tradi-cional, ou mecânica, marcada pelas relaçõesde necessidade) e a proximidade que identificaos sujeitos em condições semelhantes � narazão das relações que Paugam (2003) de-nomina de pobreza integrada � mas que nãoexclui o reconhecimento de conflitos entreos sujeitos. Entretanto, essa valorização pa-rece variar inversamente à desvalorização �na razão do que Paugam denomina de

desqualificação � que os sujeitos sentem oureproduzem, quando reconhecem a distânciamarcada entre eles e o conjunto da cidade.

Interfere decisivamente, para essa va-riação, a representação da condição perifé-rica de inserção dos sujeitos. Assim, as no-ções de proximidade e vizinhança encerramcaracterísticas que podem mostrá-las comodistintas, por mais que sejam utilizadas comoequivalentes por esses sujeitos, enquantonoções que explicitam a apropriação da per-cepção espacial.

Um dos elementos que auxiliam apretensa equivalência dessas noções usadaspelos sujeitos é o fato de constantemente se-rem as mesmas aplicadas a situações quepretendem especificar uma condição deexclusão geográfica através de sua utiliza-ção. Ou seja, tais noções são geralmente�conjugadas� numa ação que desconsiderasuas características essenciais em proveitodas mais superficiais.

Tudo se passa como se aquilo que sepode considerar como próximo encerrassesomente uma simples verificação de sua pre-sença na vizinhança do sujeito, no espaçoimediato à sua volta, como um estímulo queo atinge e que, por isso, torna-se presente emsua percepção.

Poder-se-ia pensar que essa noção pu-desse ocorrer em uma sociedade �primitiva�,onde os sujeitos que constroem �essas socieda-des estão, igualmente, em certo sentido, emcontato direto com a natureza, por ausência enão por excesso, porque não possuem osmeios de se apoderarem de um certo núme-ro de determinismos naturais� (LÉVI-STRAUSS e CHARBONNIER, 1989, p.128),mas é difícil supor que o mesmo pode serconsiderado como correto quando se passaà análise das sociedades urbanas e, mais es-pecificamente, quando se discute essas no-ções e seus significados para os sujeitos doscentros urbanos contemporâneos, onde ocontato direto com a natureza não se estabeleceem condições de igualdade, pelo excesso deobjetos e situações que propiciam, a todomomento, a necessidade de uma apropria-ção crescente de condicionamentos materiais- nos dois casos, porém, não convém esquecerque a �representação da realidade implicauma afeição para com ela� (CAMPA, 1985,p.56).

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Assim é que, nas favelas Acampamen-to dos Pumas e Jardim Guarany os limitesentre as moradias e, entre essas, as ruas e oscaminhos, são demarcados socialmente, dealguma maneira. Resta aqui, mesmo quefragmentariamente, uma distinção entre es-paços públicos e privados. Na favela Sertãodo Sesmarias, espaços públicos e privados(domésticos) se misturam no cotidiano. Namaioria dos lugares, não há muros, cercasou arames a demarcar propriedades. Os ba-res são entradas ou fachadas das casas, e ossujeitos ultrapassam os limites simbólicosentre uns e outras segundo a familiaridadecom os moradores. Se há limites, esses sãodemarcados pelos varais que estendem asroupas ou pelas antenas parabólicas, quetrazem a ilusão do conhecimento à distância.

Assim, pode-se perguntar: Sem limites,além das paredes de alvenaria ou madeira,o que é intimidade? O quintal acaba na ruae na mata, ou são a mata e a rua que aca-bam no quintal? O que se vê de fora ou dedentro?

Entre os moradores da favela Sertãodo Sesmarias, diferente dos demais pesqui-sados, os limites físicos entre as casas, o quin-tal e a rua, assim como entre o bairro e aMata Atlântica que cerca quase toda a áreado local, são inexistentes. As representaçõessociais acerca da mata, assim como a suautilização para alguma atividade, é que de-finem as fronteiras aos padrões sociais deação dos moradores. Nesse contexto, as pró-prias casas se integram à mata, muitas vezes,em uma simbiose entre moradia e naturezaque, entretanto, é geralmente descrita comonegativa pela população. Essa negatividadedo ambiente local está condicionada peloslimites da ocupação, que estão relacionadoshistoricamente com a interdição das casasque estão próximas de áreas de preservaçãoambiental, pelos fiscais da prefeitura local.Premidos em uma clareira no meio da mata,os moradores produzem uma paisagem in-terna que contrasta com a externa, sobretu-do pela precariedade de recursos urbanos.

Ora, porque o homem urbano não éregular e igualmente afetado por esses condi-cionamentos naturais, os objetos que pode-ria considerar propriamente como próximos,porque lhe são presentes, sofreram em boamedida os efeitos da reprodução dos condi-

cionamentos materiais. Tal reprodução, porsua vez, gera um distanciamento do fato deque �o homem é imediatamente ser natural[...] como ser natural, vivo, está [...] dotadode forças naturais [...] É um ser natural ati-vo� (MARX, 1978, p.40). Daí, a afirmaçãode Goldmann (1967, p.131) de que �o de-senvolvimento da produção capitalista [...]fechou progressivamente a compreensão doshomens aos elementos qualitativos e sensí-veis do mundo natural�.

Por outro lado, o distanciamento comrelação às suas forças naturais, entre os su-jeitos da favela Sertão do Sesmarias, érelativizado pela sua condição de exclusãodo mercado formal de trabalho. Nas condi-ções de exclusão, os sujeitos desenvolvematividades ocupacionais (como estratégias degeração de renda) que permitem imprimirminimamente uma marca de pessoalidadeao produto de seu trabalho, como descrevemLopes e Saboya (1993, p.127), ao analisar acondição do artesão:

[...] por estar à margem da vida econômicaformal, o artesão tem o privilégio do resguardoda sensibilidade na sua relação com o mundo.Já um operário de linha de montagem participade modo impessoal de uma fração do processode produção. Seu trabalho é desprovido designificação pessoal e até de concretude, ele nãose reconhece no produto final.

Assim, começa a tornar-se clara a dis-tinção que se busca, como também as pro-priedades mais essenciais da noção de pro-ximidade, que a separa da noção de vizi-nhança. Tal distinção se opera pela �medi-da� mais ou menos igualitária de apropria-ção dos condicionamentos naturais e mate-riais que afetam os sujeitos, na dinâmica dassuas interações e relações sociais. Os objetose os outros sujeitos lhes são próximos nãosomente porque estão presentes na vizinhan-ça, mas porque encerram condições objeti-vas de imprimirem um sentido a suas ações,como sujeitos.

Muitos exemplos poderiam somar-seaos utilizados aqui, mas é preferívelempregá-los em situações mais concretas,onde se pode analisar de forma mais claraas características que reforçam a idéia de que�o espaço constitui, desde o início da refle-xão ocidental, a jaula do homem, a gradeatravés da qual ele elabora a reflexão sobresua realidade� (CAMPA, 1985, p.182).

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Para tanto, pretende-se afunilar a dis-cussão em três direções básicas: o mundovivido (o espaço próprio, por excelência), omundo conhecido (e seu espaço antitético: odesconhecido) e o mundo distante.

O mundo vivido

O espaço que encerra a perspectiva davivência e da convivência, entre os morado-res do Sertão de Sesmarias, pode ser defini-do como o espaço por excelência das rela-ções de proximidade, em contraposição àmata. A casa, o boteco, a escola, as ruas, oribeirão (onde se lavam as roupas ou se captaágua para consumo), as igrejas, os camposde futebol, etc, constituem locais onde regu-larmente os sujeitos manifestam expressõesde proximidade. Contudo, pode-se questio-nar se são os locais em si, definidos espacial-mente, que condicionam essas expressões, ouse, ao contrário, esses locais somente favore-cem-nas, em relação com outros elementosatuantes em sua determinação.

Qual seria a relação e a expressão deproximidade que se pode criar a partir davivência no espaço restrito da casa, porexemplo? E mais, como a casa refere-se cons-tantemente à idéia da presença familiar, deoutros sujeitos atuantes no mesmo espaço,com tendência a manifestarem ações quevisam à reivindicação ou transformação deespaços próprios de cada um, no universoespacial que a casa constitui como imaginar-se que seria a casa um espaço de proximida-de em manifestação? Da Matta (1985), aoanalisar as oposições estabelecidas entre osespaços d�A casa e a Rua, seja pela definiçãodos papéis sexuais ou dos papéis sociais maisamplos referenciados no conjunto de açõesde uma coletividade, já mostrou como a regu-laridade das manifestações e as prescriçõessociais estabelecidas em função do uso oupermanência de sujeitos em espaços comple-mentares e/ou opostos, exercem pressão deforma diferenciada sobre a percepção e aexpressão que os sujeitos possam elaborarsobre o espaço comum.

A noção de mundo vivido encerra, as-sim, uma questão mais complexa que a sim-ples idéia de uma proximidade espacial(BETANINI, 1982). Uma casa pode abrigarreferenciais diversos � pessoas, objetos, sen-

sações � que condicionem conflitos e distan-ciem as expressões de uma percepção de queali estaria um objeto próximo aos sujeitos quenela residem. No entanto, esta presença co-tidiana do local, das pessoas, dos objetos edas sensações pode favorecer uma condiçãode propriedade sobre as relações em que osujeito se insere. Nessa situação, pode-sedenominar esses espaços de próprios, naconcepção elaborada por Certeau (1994)3.

O domínio, ou propriedade, das rela-ções dadas em um determinado local condi-cionam, dessa forma, a percepção e a apre-ensão simbólica que os sujeitos realizam doespaço. E como não se vive num espaço abs-trato, são os espaços de relação que se tor-nam espaços vividos, próprios. São essesespaços que favorecem ao homem, inclusi-ve, criar uma imagem de si e de suas pos-sibilidades, mesmo quando o conflito estejaaí presente, já que ele faz parte da convi-vência.

A influência dos espaços vividos sobreas imagens que os sujeitos constroem a res-peito de si mesmos está presente na literatu-ra sócio-antropológica, desde as análises dassociedades primitivas até os estudos a res-peito da memória4 e da modernidade. Ortizafirma, por exemplo, a respeito das reformasefetuadas por Hausmann, em Paris do sécu-lo XIX, que

Haussmann traça ruas, avenidas, pontes, praçasinterligando pontos nevrálgicos da cidade. Umeixo norte-sul, leste-oeste comunica o centro ea periferia, e as grandes vias convergem paraas estações de trem. Um sistema de circulaçãose implanta. [...] A cidade é vista como umorganismo vivo, os orgãos comunicando-seentre si (ORTIZ, 1991, p. 203).

para, adiante, constatar queos homens deste meado do século intuem quecertas noções, tradicionalmente enraizadas emsuas mentes, tornam-se agora fluidas, fugidias.Dentro da nova ordem o espaço social érepresentado como algo que começa a sedesagregar. Ele é suprimido, ou como diziamalguns, a província torna-se uma extensão dasruas parisienses (Idem, p. 222).

Vê-se que o mundo vivido configura-se, em última instância, como o espaço queauxilia a formação do sujeito, imprimindo-lhe uma série de sensações que podem mani-festar-se, posteriormente, como lembranças,fragmentos do universo da memória5, oumesmo como reações a ambientes que sepode considerar como desagradáveis. Aliás,

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muitas vezes sentem-se essas sensações aoadentrar em certos ambientes, sem motivosaparentes.

A formação do sujeito, segundo a im-portância atribuída a locais próprios paracertas manifestações, pode imprimir-lhe sen-sações profundas de gosto por esse ou aqueletipo de local, de acordo com o que se preten-de manifestar. Esse tipo de sensação pareceestar presente em Rubem Alves, quando es-creve as memórias do ambiente da casapaterna:

[...] a filosofia da sala de visitas era sempre amesma: mostrar o mínimo, elegantemente. Oresto da casa tem que ficar protegido. Mas háoutro lugar onde as visitas não entravam, lugardos amigos: a cozinha. Ali as pessoas seassentavam à roda do fogão e o corpo selibertava de regras de etiqueta. Espaço mágicopresidido pelo fogo, o corpo livre do controledo espelho, ali aflora uma outra verdade(ALVES, 1990, p.40).

Ainda, tais espaços de formação, por-que impõem regras e normas de conduta,podem resultar em comportamentos que re-produzem simbolicamente um traço cultu-ral, como o que descreve Brandão, ao anali-sar as regras de convivência de uma comu-nidade camponesa no Estado de São Paulo:

Pasto, mangueira e terras de lavoura são espa-ços masculinos não apenas porque são lugarespreferenciais de trabalho dos homens. Por ex-tensão, esses são lugares simbolica e existen-cialmente masculinos. Meninos e meninaspodem ir lenhar com as mães nas beiras de mata.Mas só os meninos podem brincar ali com seusamigos. Os filhos homens que lidam com alavoura e o gado vêem esses locais de trabalhoprodutivo como seus ambientes próprios eapropriados (BRANDÃO, 1990, p. 92).

O que ambos os exemplos guardam decomum é justamente essa propriedade queos sujeitos manifestam sobre as relações vi-vidas em determinados espaços. Proprieda-de esta construída sobre sucessivas experiên-cias e classificações das possibilidades e con-dições de realização de seus interesses nadiversidade de espaços em que convivemcotidianamente. A importância de tais clas-sificações é tão forte que, muitas vezes, che-ga a impor-se como critério à seleção deamizades, atividades, ofícios e profissões,entre outros.

O mundo vivido, dessa forma, cons-tróe-se sobre a trama de relações que se tecementre diversos espaços, não necessariamen-te situada na vizinhança da casa, eixo de

uma convivência cotidiana. E, embora esteeixo tenha sido definido a partir de umreferencial teórico arbitrário6, dado pela su-posição de que as relações extra-familiaresreferem-se, em última instância, àquele es-paço de formação, para diversos segmentossociais este eixo poderia ser pensado comoconstituído a partir de outros locais, segun-do a importância que assumem na vida dossujeitos.

Uma leitura de alguns estudos etnográ-ficos sobre as relações sociais entre o cam-pesinato brasileiro tradicional, como o deBrandão citado anteriormente, pode mostrarclaramente como mesmo as relações que seconstroem à vizinhança da casa são diame-tralmente diferenciadas, quando compara-das aos modelos de vizinhança existentes nascidades.

A propriedade que se estabelece narelação entre sujeito e espaço, assim, confi-gura-se numa abstração da noção de proxi-midade, que faz com que o sujeito aproprie-se das características dos espaços em que seinsere, de maneira hierárquica.

O mundo conhecido (e o desconhecido)

A experiência de vivenciar espaços quefogem ao domínio das relações aí construí-das, mas que proporcionam um determina-do referencial para futuras relações, ou me-lhor, para futuras incursões em sua tessiturade interação social, pode ser pensada e en-tendida como uma experiência de conheci-mento.

Mesmo as relações travadas em espa-ços circundantes ao eixo de convivência co-tidiana � que Augras (1981) denomina es-paços de coexistência7 � podem apresentartais estímulos ao sujeito, desde que não se-jam referenciados pelo mesmo com algumadistinção que os aproxime. Um bar próximoa casa ou ao local de trabalho, onde sujeitosregularmente se reconhecem, até estabelece-rem relações, ou mesmo a feira aos finais desemana, o supermercado, uma praça e locaissimilares, podem guardar impressões quevão desde um interesse por espaços ruidososaté situações de inquietação frente à exube-rância de um meio ambiente determinado.

Locais que marcam referenciais de co-nhecimento são muito comuns entre a juven-

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tude, que costuma encontrar-se em locais deproximidade e dali sair para �paquerar� emuma série de espaços outros de que guardamsinais de antigos encontros, ou a arriscarnovos. Em uma pesquisa sobre sexualidadeque realizei com adolescentes do sexo femi-nino, no Vale do Paraíba8, ficou clara a in-fluência de espaços sociais �da moda� � umbar, �cruzeiros� em morros próximos à ci-dade, traillers de lanches, etc � como locaisde encontro que, porém, servem somentecomo espaços de iniciação aos relacionamen-tos. Nas falas das próprias adolescentes, éexplícita a intenção de atrair os novos na-morados para os espaços próprios a elas,favorecendo um domínio maior do relacio-namento, depois de estabelecido uma conti-nuidade do mesmo.

Parece estar presente na intenção dasjovens, em reconhecer estes espaços de en-contro como locais provisórios, a idéia de queum relacionamento mais contínuo deve sub-meter-se aos mesmos controles que elas exer-cem sobre seus espaços próprios. Neste sen-tido, nos espaços de conhecimento seus rela-cionamentos estão sujeitos à mesma ordemde acasos que as aproximaram de seus novosnamorados. São espaços abertos e movimen-tados, em geral, onde a �paquera� com ou-tras meninas às vezes não pode ser sequerpercebida por elas.

Embora situações como as que envol-vem grupos sociais, como os grupos de jovens,não sejam incomuns, em geral as relações quefornecem referenciais de conhecimento aossujeitos são de dois tipos, que, mesmocontrastantes, unificam-se sob a égide de umapremissa básica. Os primeiros acontecem noentorno de seus espaços de domínio interacio-nal, uma vez que eles possibilitam uma ex-pansão dos referenciais de propriedade domundo vivido. Um bom exemplo dessas rela-ções são as constantes manifestações cotidia-nas que ocorrem em cidades do interior, quevivem uma trama de informações sobre asocorrências de vida das pessoas, em todos osespaços das mesmas. Quem já não ouviu aexpressão �em cidade pequena, em todos oslugares as pessoas se conhecem e conhecema vida das pessoas�, geralmente associada pe-jorativamente à ociosidade das pessoas dointerior, em contraposição com a privacida-de reservada da vida atribulada das capitais

e grandes cidades. Razões antitéticas que ma-nifestam uma diferenciação simbólica entreas características do mundo conhecido e domundo desconhecido: a relação público-pri-vado.

Com efeito, essa ampliação dos refe-renciais de conhecimento do mundo parauma relação de proximidade e domínio, noespaço das cidades do interior, parece maisafeita a enquadrar-se na simbologia do es-paço público que, nelas, é totalmente dife-renciado. É a perspectiva de ampliação � ouextrapolação � dos espaços de formação, queaprisionam a reflexão do sujeito, que o fazemver e vivenciar os espaços vizinhos como es-paços a serem �conquistados�.

Se essas relações realmente não existemnas grandes cidades é uma questão a ser dis-cutida. Quando se observa o cotidiano de re-lações dos sujeitos que vivem na periferia des-sas grandes cidades, ou em seus bairros maistradicionais, onde as mudanças do entornofísico são lentas, o quadro que se cria pareceser o oposto: o espaço do bairro, em si, encer-ra uma série de características que podem seramplamente reconhecidas pelos membros dacoletividade9 já que �o grupo urbano não tema impressão de mudar enquanto o aspecto dasruas e dos edifícios permanece idêntico�(HALBWACHS, 1990, p. 134).

Há um segundo tipo de relações entresujeitos e espaços conhecidos e desconheci-dos, que também sintetiza a diferenciaçãosimbólica entre público e privado, mas emníveis desiguais. Se o primeiro tipo assenta-se sobre uma �necessária� representação eaproximação dos espaços vizinhos conheci-dos, o segundo assenta-se na necessidade deatualização sobre os conhecimentos que en-volvem os sujeitos como contemporâneos deuma sociedade globalizada, com envolvi-mentos intra e internacionais. Tais relaçõessurgem em variadas situações: desde inte-resses conjecturais e causados por questõesque se generalizam num dado momento,onde os sujeitos são informados regularmen-te sobre a configuração de certos espaços,que se tornam o focus de observação de umaou várias sociedades10, até situações de inte-resse particular por espaços determinados,em que poucos sujeitos se especializam noentendimento da configuração dos mes-mos11. Nos dois casos citados, contudo, como

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nos demais que se enquadrem nesse segundotipo de relações, vale reconhecer que a neces-sidade de atualização dos sujeitos refere-seestritamente a uma condição temporária �em certos casos mais, em outros menos tem-po � em que os mesmos procuram somar omaior número de informações possíveis edisponíveis para a configuração do espaçoem pauta e as relações aí estabelecidas. Dife-rentemente das relações do primeiro tipo,onde as pessoas utilizam-se de seus espaçospróprios para referenciar, entender e apro-priar-se dos espaços vizinhos que lhes interes-sam, as relações do segundo tipo procuramsimbolizar a diferenciação entre público eprivado sob a ótica dos envolvimentos sócio-espaciais dos locais que observam, seja por-que são informados via uma interpretaçãopré-estabelecida, ou porque necessitam agirassim para melhor compreender o que pro-curam conhecer.

Aqui, estão em jogo as distinções ope-radas socialmente para a definição da rela-ção público/privado, que se conjugam, se-gundo Jovchelovitch (2000, p.47) por

[...] distinções claras entre o que deve ser ocultoe o que deve ser visível, o que deve serparticular e o que deve ser comum, o que deveser aberto e portanto distribuído a todos, e oque deve ser secreto, reservado e portantosubtraído da esfera aberta a todos. Estas são asquestões que constituem o significadofundamental das esferas pública e privada. Elasindicam que existem coisas que devem serprivadas e outras coisas que devem serapresentadas publicamente (res publica), poissomente assim é que elas podem existir.

Parece que são relações deste tipo asque se estabelecem, atualmente, entre algu-mas categorias de profissionais urbanos, li-gados a determinadas ciências, e determina-dos grupos étnicos detentores do saber acer-ca da biodiversidade de nossas florestas tro-picais. Nesta relação, porém, a questão pos-ta em causa, sobre as dimensões públicas eprivadas oriundas de tais contatos, tem a vercom uma problemática que extrapola emmuito os limites desta análise.

Poder-se-ia questionar, no entanto, sea mudança de atitudes em relação aossujeitos e à biodiversidade existentes nestesespaços de florestas que se constata atual-mente, não seria equivalente à discutida porThomas (1989) sobre as relações entre �Ohomem e o mundo natural�.

Aqui, porém, procuro delimitar que asrazões antitéticas que se aplicam à análisedas relações público/privado, entre sujeitose espaços conhecidos e desconhecidos aosmoradores do Sertão do Sesmarias, são tam-bém diferenciadas. A primeira antítese épercebida no movimento que impulsiona osujeito a conhecer espaços vizinhos aos seusespaços próprios, ou a conhecer espaços lon-gínquos, configurando-se-lhes suas princi-pais características. A segunda antítese épercebida na distinção dos instrumentos econdições que os sujeitos utilizam para co-nhecer os espaços longínquos, indo das situa-ções genéricas que o envolvem (como nasatividades ocupacionais na construção civil,ou como coletores de latinhas, nas praias)até as situações particulares construídas poreles próprios.

Isso é o que explica o fato de boa partedos moradores do Sertão do Sesmarias pos-suírem antenas parabólicas. E também aquiparece que se pode encontrar uma razãoúltima que é de origem hierárquica. Não ahierarquia que surge da classificação dosinteresses de tais sujeitos, mas a hierarquiaque resulta da estratificação sócio-espacial �como representação derivada das desigual-dades sócio-territoriais � que impõe condi-ções mais ou menos favoráveis para o aces-so ao conhecimento que se busca alcançar,entre os diversos sujeitos da sociedade.

O mundo distante: interesse ouexpropriação?

Em um seminário realizado no Progra-ma de Pós-graduação em Ciências Sociais daPUC-SP, em 1994, que discutia a questão daviolência simbólica, a professora CarmemJunqueira fez um interessante comentáriosobre o debate atual da questão nos segmen-tos civis dos países escandinavos. Dizia elade sua surpresa ao ler um relatório de pes-quisa, onde se afirmava que os sujeitos da-queles países sentiam-se violentados, sobre-tudo por não poderem conhecer outros paí-ses que os atraíam por diversos motivos,devido ao custo que isso acarretava, além deoutros empecilhos. Quando se buscava fa-zer uma analogia dessa situação com a ques-tão da violência no Brasil, centrada basica-mente na incapacidade de garantir os direitos

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básicos de sobrevivência da grande maioriada população, criava-se um hiato enorme.Para além da frustração, todavia, restam si-nais para se pensar a questão da simbologiado distante, nas relações sócio-espaciais dosmoradores do Sertão do Sesmarias.

Embora seja possível supor que a sim-bologia do mundo distante é também pro-duto de uma relação de interesses entre ossujeitos e os espaços, dados na escala hierár-quica que os mesmos dimensionam cotidia-namente, as perspectivas da grande maioriada população brasileira tornariam um arti-fício pecaminoso querer ampliar essa análisepara todos os segmentos da sociedade.

Pode-se, porém, estabelecer um outrotipo de categorias que enquadrem essas re-lações dos sujeitos com espaços e mundosdistantes, quando, ao estudar os trabalhosantropológicos em sociedades indígenas,depara-se com espaços que se tornam proi-bidos, por motivos religiosos, políticos oumitológicos. Sejam espaços que se distanciempelo rigor ritual, pela presença de chefes oupela crença em seu aspecto diferenciado, elesestão muitas vezes presentes nas relaçõescotidianas da grande maioria das pessoasque, se não podem utilizá-los em ocasiõesprofanas, podem ao menos vivenciá-los napaisagem, na tradição e até � ou somente �nos sonhos e transes.

As indicações sobre tais variações en-tre a permissão ou proibição ao uso de de-terminados espaços são constantes naetnologia. Um espaço de uso coletivo aosmembros de um grupo indígena pode serproibido às mulheres, durante a realizaçãode um �potlatch� no mesmo. Os Balanta, deGuiné-Bissau, realizam rituais propiciatóriosnos espaços de plantação de arroz12, consi-derando-os locais ordenados pelos própriosrituais, não admitindo, por conseguinte, suadesorganização pela ação humana. A de-pendência criada em relação à posse degado, entre os Nuer, gerava um reconheci-mento de que �as necessidades humanas têmde se subordinar às necessidades do gado�(Evans-Pritchard, 1978, p.32), o que incluíaas divisões entre espaço para plantação eespaço para pastagem. Douglas (1976, p.87)descreve como os bosquímanos estudados porMarshal Thomas dividem o espaço do lar emduas regiões - masculina e feminina � a par-

tir de um bastão que a esposa enfia no solopara marcar onde colocará o seu fogo.

Diferentes em gênero e grau, os espa-ços distantes que existem nas sociedades oci-dentais, e principalmente os que existem paraas sociedades do terceiro mundo e suas clas-ses pobres são proibidos por outros motivos,quais sejam: os econômicos. E, se eles semostram regularmente através de cartazes,filmes e comerciais de TV, mais que provo-car o êxtase do transe que elevava o indíge-na ao seu �paraíso�, provocam nos sujeitospobres um desejo sempre renovado deintegração e a reafirmação de sua distância:a distância da expropriação social cotidianae segregacionista.

Apesar de eles ressentirem muito fortemente adistância que separa seu desejo de igualdade desuas desigualdades reais, essas são muitodispersas para reunificar sua experiência e paraproduzir uma mobilização contra uma condiçãojulgada intolerável (DUBET, 2003, p. 50).

Assim, a distância de suas condiçõesobjetivas com relação à cidade ritualizam-se e se reproduzem também nas suas condi-ções subjetivas. As representações dos sujei-tos do Sertão do Sesmarias mostram-se frag-mentadas e orientadas pelas percepções deum cotidiano que, regularmente, torna asrelações desses sujeitos com o conjunto dacidade impessoais, sendo necessário estabe-lecer um princípio de proximidade que per-mita unificar os elementos em conflito. Nes-se sentido, Simmel (1983, p.160), afirma que:

Os significados bem diversos relacionados como símbolo �distância� têm muita afinidadepsicológica entre si. Por exemplo, uma imagemde objeto representada de algum modo como�distante� parece ter quase sempre um efeito maisimpessoal. Se, acompanhada de tal represen-tação, a reação individual seguinte à proximi-dade imediata e ao toque é menos aguda, temimediatamente um caráter menos subjetivo edesse modo pode ser o mesmo para um númeromaior de indivíduos. O conceito geral queabrange uma pluralidade de pormenores é tantomais abstrato (isto é, mais distante de cada umdeles), quanto mais numerosos e diferentes unsdos outros forem estes pormenores. Assim, umponto de unificação social a uma distância maiordos elementos a serem unificados (tanto nosentido espacial quanto no figurado) parece domesmo modo ter efeitos especificamenteunificadores e abrangentes. A unificação decor-rente de um perigo mais crônico do que agudo,decorrente de um conflito sempre latente masnunca detonado, será mais efetiva quando oproblema é a unificação duradoura deelementos algo divergentes.

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No caso dos moradores do Sertão doSesmarias, são as atividades ocupacionais eas relações que estabelecem no espaço localque definem o ponto de unificação social dosespaços cotidianos e relacionais. Essa unifica-ção dirige-se para o conjunto da cidade, mes-mo que distante, em contraposição à mata queos cerca. Assim, mais importante que enfati-zar a fragmentação das suas concepções decidade e cidadania, é reconhecer que essessujeitos buscam unificar os elementos diver-sos e divergentes decorrentes de suas condi-ções sociais, de forma a humanizarem-se di-ante da exclusão social. As representaçõesque buscam o sentido de proximidade, entreos moradores da área, relativizam o sentidode exclusão da esfera pública, a que são sub-metidos, assim como a naturalização dos pro-cessos de exclusão, arrastados que foram paraáreas limítrofes da urbanidade e da nature-za. Como afirma Jovchelovitch (2000, p.47),

[...] o fato de que as pessoas compartilham umespaço comum e estão ligadas umas às outrasatravés do convívio social não é o que asdistingue de outros animais. O convívio socialnão pode ser considerado uma condição humanafundamental. Viver com outras pessoas não ésuficiente: ao contrário, é uma necessidade quenos é imposta pelo ciclo biológico da vida queinclui tudo que compartilhamos com outrasespécies � comer, dormir, reproduzir, etc. Vivercom outros de forma humana pressupõe acapacidade de escapar ao domínio danecessidade pura e entrar para um domíniocompletamente diferente � o domínio da ação,ou da política, onde as pessoas desenvolvemsuas capacidades para o discurso e a ação.

Assim, as estratégias dos sujeitos doSesmarias, na medida em que buscam unificarprincípios de ação e formas de sociabilidadeque distinguem situações condicionadas orapela materialidade da vida urbana, ora pelas�forças naturais�, orientam-se pela definiçãode uma proximidade que os humaniza, e hu-maniza o lugar em que vivem. Trata-se, assim,de estratégias que visam superar o domínioda necessidade, em proveito de um domíniode liberdade que se enuncia: a cidade, como�espaço público da palavra e da ação�.

Espaços e proximidades: o lugar comoestratégia de apropriação

Sem querer reduzir a análise antropo-lógica à determinação de condicionanteseconômicos que possibilitem uma construção

às relações sócio-espaciais, a idéia de que asnoções de proximidade e vizinhança, nocaso estudado, guardam representações dassituações de expropriação e segregação quesão elaboradas na sociedade, traz à análiseuma contribuição importante: a simbologiadas relações sócio-espaciais e suas conse-qüentes percepções de domínio, conheci-mento e distância são determinadas pelascondições de acesso às experiências sensivel-mente possíveis nas diversas classes sociais.

No horizonte de toda a discussão, ocontraste entre as concepções de espaço pú-blico e espaço privado assumem, então, maisque uma simples representação dicotômicade pólos diferenciados. Tornam-se percep-ções ideologizadas, segundo a direção(unilinear ou circular) e a constância de suautilização e expressão, nos diversos segmen-tos sociais.

Em casos mais extremos, esta presen-ça ideológica arrasta, numa mesma percep-ção, visões diferenciadas de mundo, dadascomo novos condicionamentos sociais que seimpõem aos sujeitos, desde a produção doespaço urbano, na forma de ordenamentosterritoriais que se desdobram do modelo con-temporâneo de organização social.

A diversificação e a aceleração de taisordenamentos, produzidas e reproduzidasno processo de globalização, manifestam-seassim na fragmentação do próprio territó-rio, tornando complexas as formas de apro-priação sócio-espaciais operadas pelos sujei-tos. Da produção do território, como lugar(que, na concepção de Yázigi [2001], forma-se da combinação de elementos presenciaisou não, permanentes e transitórios que com-põem uma paisagem) às modulações do ur-bano, como modos de produção, as cidadestornam-se contextos que comportam a diver-sidade, o hibridismo e a multiplicidade desentidos. Logo, a formação identitária dosujeito urbano diferencia e distancia esse su-jeito do urbanita (aquele que simplesmentevive nas cidades).

Afetado pelos condicionamentos doespaço urbano e formando-se em um jogode estratégias de apropriação, frente à ex-clusão, o sujeito pobre busca constituir lu-gares próprios, recortados por dimensõesvalorativas e hierarquizadas, que realizama mediações entre o citadino e o cidadão.

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93Cidade, subjetividade e território: representações de moradores de favelas

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Elaborando a questão de outra forma:entre o processo de produção do espaço ur-bano e o da produção das urbanidades, osujeito pobre �opera� a configuração de lu-gares, como contextos que sintetizamobjetivações e subjetivações relativas às suascondições próprias de vida, mas que visama integração à cidade, como idealização.

Daí que o lugar é sempre um lugarpróprio aos sujeitos, de onde eles visualizamo mundo: o lugar é estratégico e é, ele pró-prio, estratégia. O lugar compõe a mundi-vidência dos sujeitos, incorporando identida-des, mas abrindo-se sempre às transforma-ções vividas ou esperadas nas condições devida dos sujeitos e nas suas relações sociais.

Notas1 A equipe de pesquisadores do projeto aplicou um

questionário às famílias residentes nas áreas, respon-dido pelo membro que se apresentava como respon-sável pela casa. O questionário levantava informa-ções para a caracterização sócio-econômica da popu-lação e as demandas sociais locais. Os dados coletadosforam tabulados considerando-se as categorias degênero, cor e renda. Foram pesquisadas seis áreasem três cidades: Taubaté, Campos do Jordão eUbatuba, num total de 261 questionários. Para a aná-lise aqui apresentada, foram considerados os dadosde 165 questionários, referentes a três áreas, duas lo-calizadas em Ubatuba e uma em Campos do Jordão.

2 Veja-se Raymond Ledrut, Sociologie urbaine. Paris: PUF,1968.

3 Michel de Certeau define como estratégicos os espa-ços próprios dos sujeitos, pois é a partir deles que ossujeitos operam práticas segundo um �cálculo dasrelações de forças que se torna possível a partir domomento em que um sujeito de querer e poder éisolável de um �ambiente�. Ela [estratégia] postulaum lugar capaz de ser circunscrito como um próprioe portanto capaz de servir de base a uma gestão desuas relações com uma exterioridade distinta�(Certeau, 1994, p. 46).

4 Conferir, por exemplo, a análise desenvolvida porMaurice Halbwachs (1990), sobretudo em seu capítuloIV, A Memória e o espaço.

5 O próprio Halbwachs (1990, p.133) afirma que �asimagens espaciais desempenham um papel na me-mória coletiva. O lugar ocupado por um grupo não écomo um quadro negro sobre o qual escrevemos,depois apagamos os números e as figuras�.

6 Não tão arbitrário, porém, conforme as análises de-senvolvidas no livro já citado de Roberto Da Matta(1985).

7 A noção de espaço de coexistência é assim definidapor Augras (1981, p. 34): �no espaço de coexistência,os homens tecem redes que os aproximam e os afas-tam, organizando o mundo de maneira a asseguraráreas recíprocas de movimentação�.

8 �A orientação literária do imaginário feminino-ju-venil sobre a sexualidade�, projeto realizado junto

ao Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas de PráxisContemporâneas da Universidade de Taubaté, noperíodo de 2003-2005.

9 Esse reconhecimento podia ser verificado pelas ima-gens de um quadro do programa �Domingão doFaustão�, que vai ao ar aos domingos. O quadro era o�Seu vizinho é uma mina�, que apresentava o interiorde uma casa, num bairro de uma cidade � geralmentemédia ou grande � e que premiava o dono da casa comuma quantia em dinheiro, caso nenhum dos vizinhosda rua se apresentasse para reivindicar o prêmio, re-conhecendo a casa pelas imagens apresentadas. Nãose informava o nome da cidade ou do bairro e nem semostrava os rostos das pessoas da família que ali resi-diam. O reconhecimento era tão somente do espaçointerior da casa e de alguns �flashs� da rua, jardins,etc, através de frestas das janelas. Em várias ocasiões,via-se o vizinho ganhando o prêmio.

10 O episódio da guerra no Golfo Pérsico, em 91,enfatizou esse tipo de relações. Os telespectadores,de quaisquer emissoras, eram constantemente �bom-bardeados� com informações sobre as causas da guer-ra, os espaços estratégicos da luta, os espaços civis eos espaços neutros, dentro dos diversos e regulares�flashs� jornalísticos ou programas especialmentepreparados para atualizar os assistentes sobre os di-versos espaços que configuravam o conflito.

11 A formação acadêmica, como a experiência detrabalho de Arqueólogos, Geólogos, Geógrafos, Arqui-tetos e profissionais afins são um bom exemplo destetipo de relações.12 Os rituais propiciatórios realizados pelos Balantadividem-se em três momentos específicos: são os jovensentre 16 e 17 anos que semeiam � plantam as sementesno viveiro � devido à idéia de fecundidade, já que elesestão no limiar de sua forma física. Após nascida aplanta, em cerca de três semanas, é a mulher que atransplanta para o solo, realizando um ritual querepresenta a simbiose mulher e terra, enquanto oselementos que acolhem a semente para a sua gestação.Quando da época da colheita, a participação é geral, naaldeia (DELIZOICOV, 1981).

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Geopolítica del agua en México: La oposición entre la hidropolítica y el conflictosociopolítico. Los nuevos rostros de las �luchas� sociales

Geopolitic of water in México: The opposition between the hydropolicy and the socialpolitic strife. The new faces of the social �fightings�

Geopolitique de l´eau em Méxique: L´oppositon parmis l´hydropolitique et lê conflictsocial et politique. Lês nouveaus visages de lês “disputes” sociaux

Geopolítica da água no México: A oposição entre a hidropolítica e o conflito sóciopolítico: Osnovos rostos das “lutas” sociais

Felipe de Alba

Recebido em 28/5/2006; revisado e aprovado em 22/11/2006; aceito em 1/2/2007.

Resumen: Después de los cambios poblaciones vividos en las últimas décadas en la metrópoli de México, y de loscambios en el régimen político mexicano de los años 1990, el deterioro de las condiciones de vida y de la calidad de losservicios públicos se ha acentuado. La metrópoli de México es hoy un laboratorio geopolítico que parece marcar eldebate sobre la agenda política nacional. Una nueva modalidad de protestas sociales aparece progresivamente en lametrópoli y, en particular, protestas ligadas a la problemática del agua. Estas protestas, diferentes en su género, estáncambiando el tejido social, la forma urbana y las relaciones políticas. En su conjunto, son muestra de nuevos actorespolíticos en escena que fracturan antiguas hegemonías y generan nuevos espacios clientelares. En este trabajo sediscute la gestión conflictiva del agua que  constituyen una coyuntura paradigmática de salidas múltiples: entre lagobernabilidad metropolitana, la forma misma del conflicto o de una  verdadera catástrofe en las próximas décadas. Elautor sostiene un modelo explicativo de estas tendencias principales del conflicto en la metrópoli más grande deAmérica Latina.Palabras clave: Hidropolítica; lo político del agua; crisis decisional; metrópoli de México.Resumo: Depois das mudanças das populações vividas na últimas décadas na Cidade do México, e das mudançasno regime político mexicano dos anos 1990, a deterioração das condições de vida e da qualidade dos serviços públicostem aumentado. A Cidade do México é hoje um laboratório geopolítico que parece Marcar o debate da agendapolítica nacional. Uma nova forma de protestos sociais aparece progressivamente na metrópole e, em particular,protestos ligados à problemática da água. Estes protestos, diferentes em sua modalidade, estão modificando aestrutura social, a forma urbana e as relações políticas. Em seu conjunto, são amostras de novos atores políticos emcena que rompem antigas hegemonias e geram novos espaços clientelares. Neste trabalho se discute a gestão conflitivada água que constitui uma conjuntura paradigmática de saídas múltiplas: Entre a governabilidade metropolitana, aforma mesma do conflito ou de uma verdadeira catástrofe ns próximas décadas. O autor sustenta um modeloexplicativo destas tendências principais do conflito na maior metrópole da América Latina.Palavras-chave: Hidropolítica; o político da água; crise decisional; Metrópole do México.Abstract: After the populations changemnet that were alived in the last decades in México City, and the changemnetin Mexican politic adiministration of the years 1990, the decadence of the life conditions and of public services hásincreased. Mexico Metroplis is nowadays a geopolitc laboratory that seems to stamp the discussion about the nationalpolitic engagement book. A new modality of social prtotests appears progressively in the metroplis, and privately,prtoestes that have a relation with the problem of the water. These protests, differents in their modality, are changingthe social structure, the urban form and the politic relations. In its all, they are showings of new politics actors in scene,that breaka acient hegemonies and generate neuws customers spaces. In this work, it discusses the conflictiveadministrtion about the water that constitutes a pragmatic conjuncture of several sllies: between the metropolitangovernance, the same form of the conflict or about a true catastrophe in the next decades. The author sustians naexplicative model of these principal tendencies about the conflict in the bigggest metroplis of Latin América.Key words: Hydropolicy; the politic of water; decisive crisis; México Metropolis.Résumé: Resume: Aprés les changemens dês populations qui ont s´arrivé dans lês derniéres décades à la Metrópoledu Méxique ́ et dês changemnets du régime politique mexicain dês années 1990, la détéroration dês condoitions de vieet de la qualité dês services publiques a augmneté. La Métrople ddu Mexique est aujuourd�hui um laboratoiregeopolitique que parai^t fixer lê débat sur l´agenda politique national. Une nouvelle modalité de protêts sociaux sepresente progressivement à la méttropole et, particulierement, protêts qui ont relation à la problematique de l´eau.Ces protêts, differents dans leurs genre, changent la structure social, la forme urbaine et lês rélations politiques. Dansleurs joint, ils sont échantillons des nouveaus acteurs politiques em scene que interromprent anciennes hégemonies etengendrent nouveaus spaces des clients. Dans ce travail on se discute la gestion conflictif de l´eau que constitue uneconjuncture paradigmatique des alternatifs multiples: parmis la gouvernabilité metropolitaine, la même forme duconflict u d´une vraie catastrophe dns lês prochaînes décades. L´aucteur soutien une modele explicatif de cestendences principaux du conflict dans la métroplole plus grande de Amérique Latinaine.Mots-clé: Hydropolitique; le politique de l´eau; crise decisional; Métropole du Mexique.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 95-112, Mar. 2007.

* Universidad de Montreal. ([email protected])

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Presentación

A la hora de la mundialización, lasmetrópolis son el núcleo de las luchas quenos refieren la transformación de los roles,del lugar del Estado nacional y de toda clasede relaciones sociales, políticas y económicas1.De cierta manera, las metrópolis sonespacios potenciales de la contestación polí-tica, a la disposición de un nuevo tipo demovimientos2 y de actores que luchan por unanueva identidad más allá de lo local, lejosde lo nacional. Como un espacio en disputa,las metrópolis son también el lugar de losmovimientos identitarios y de búsqueda dereconocimiento simbólico: el lugar de lasluchas sociales con reivindicaciones cada vezmás políticas, antes concentradas en el pla-no económico (sindicalismo, colectivismo),que ahora luchan por bienes colectivos(asociaciones de barrios, grupos dedemandantes, etc.) o por nuevas modalida-des de gestión dada la suficiencia y el deteri-oro de la calidad de los servicios públicos.

En dicho sentido, además de lamúltiple problemática que vive la metrópolide México (Ver el interesantísimo texto deGARZA 2000), en materia de agua ésta con-centra graves problemas de infraestructura,de deterioro en la calidad de los servicios, deaumento en los costos ambientales de los sis-temas de agua, entre otros. En la última dé-cada, se han incrementado los conflictos deorden institucional, político y social entre losdiferentes actores metropolitanos (PERLO &GONZALEZ 2006). En ese orden, pareceprefigurarse una tendencia al aumento depugnas y la poca disposición a lacolaboración interinstitucional. En suma,una serie de protestas sociales tienen lugaren la escena metropolitana. Estosmovimientos de contestación política no hanopacado las luchas por cambios en laestructura del poder y en el imaginario socialnacional.

En este trabajo, proponemos unanálisis de algunas de nuestras hipótesis deinvestigación sobre México y su metrópoli,la más grande de América Latina y la se-gunda más grande del mundo(PARNREITER 2002). En este artículo nosconcentramos en analizar los impactos enla articulación de nuevos modos de la

gobernabilidad metropolitana, sus paralelis-mos con un fuerte proceso de cambios polí-ticos nacionales, y la crisis de toma dedecisiones en la gestión del agua.

Según varios autores, el interés por elestudio de esta problemática de lo políticometropolitano en América Latina es relativa-mente nuevo, y coincide con la importanciacreciente de las metrópolis en relación a lospoderes tradicionales (Gobiernos federales yprovinciales, principalmente) (STREN,2000), lo que hace aun interesante ladinámica de reajuste del aparato del Estado(BORJA & CASTELLS 1997) .

En el caso de México, diversos estudiosasignan importancia a las nuevas�condiciones de la gobernabilidad� de lasmetrópolis (RODRÍGUEZ et al 1997), esdecir, a la forma en que los gobiernos y actoreslocales (y por tanto, de las ciudades y de lasmetrópolis) llegan a acuerdos y administranlos conflictos3.

Los estudios desarrollados hasta ahorasugieren que los actores de las metrópolisagitan y movilizan sus huestes para pasar,sin ninguna reticencia, del tradicionalcentralismo (ORBAN, 1990), hacia ladelocalización del Estado en su forma moder-na. De acuerdo con esa reflexión, B. Jouvedestaca: « en los Estados unitarios, losgobiernos centrales siempre han tenidoreticencias para dotar de su capital nacionalen la vía de construir instituciones metropo-litanas firmes, esto, por evidentes razonespolíticas y económicas� (JOUVE 2003, p.8).Al mismo tiempo, todo ello ha permitido dis-cutir los nuevos roles del gobierno central -en un nuevo contexto de federalismo real(FRANCO, 2003) así como ha servido sobretodo para analizar las iniciativas que hanampliado el espacio de acción de los podereslocales, en particular en las metrópolis.

En este contexto, los gobiernos de di-versas ciudades latinoamericanas, presio-nados por sus ciudadanos que participan yexigen que las acciones de los primeros seaneficaces, han tenido que hacer prueba deinnovación en sus proposiciones4. Pero so-bre todo, han tenido que imaginar otrasestrategias de gestión publica local(LLORENS, ALBURQUERQUE, et al. 2001).En ese sentido, según G. Cabrero,

En los gobiernos federales, se observan

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�espacios indefinidos� en la atribución de lastareas definidas por el poder central. Por lo quese refiere al nivel municipal, las proyeccionesson aún más significativas.

En este ultimo nivel, se encuentra unfuerte proceso de expansión de las políticasaplicadas. Cada vez es más frecuente laobservación de nuevos estilos de dirección yde nuevos esquemas de cogestión Gobierno-ciudadano en los programas y políticaslocales.

Del mismo modo, podemos encontrarcasos donde la incorporación de nuevos sis-temas de gestión permitió mejorar la acciónde algunos gobiernos municipales sin espe-rar el apoyo del gobierno federal o del podercentral (CABRERO, 2004, p.92).

Desde nuestro punto de vista, estosgobiernos muestran con frecuencia dos tiposde comportamiento: a) Sea que evidencianclaras señales de incapacidad en la gestiónpolítica y estratégica de los recursos; b) seaque los poderes locales se enfrentan �ahora�a los poderes federales (CASTILLO,ZICCARDI, et al. 1995), bajo nuevas formas.En nuestro análisis, las autoridades de lametrópolis de México enfrentan entonces unasuerte de �competición gubernamental� enel manejo del conflicto metropolitano(SCHTEINGART, 2001).

Así entonces, se hacen evidentesverdaderos �nudos problemáticos�(CASTILLO, REYES, et al. 1997), como unade las características de la acción pública enlas metrópolis, generando una serie de pro-testas sociales. El planteamiento anterior,nos permitiría reflexionar hasta que puntolas metrópolis del Tercer Mundo, aun cuandoparticipan de la economía mundial, sus ha-bitantes no cuentan hasta ahora con unacceso igualitario a los recursos mundiales.En suma, desde hace algunas décadas, losgobiernos y los actores de las grandesmetrópolis latinoamericanas crean y ocupanun nuevo espacio político metropolitano,imponiendo así, un �nuevo ritmo a las rela-ciones dentro del aparato del Estado�(CABRERO, 2004). De ahí la pertinencia denuestro análisis, como lo veremos en estetrabajo.

Hipótesis

En este articulo sostenemos lahipótesis según la cual las tensiones y las dis-putas sociales, surgidas del proceso demetropolización de México, no han dejadode acentuarse y tampoco han encontradouna respuesta eficaz � de parte las autorida-des y de las instituciones. En un apunte es-pecífico, se trata de definir los conflictos porel agua � como un recurso en disputa –, cadavez más escaso y estratégico5. La estrategiade respuesta a dicha hipótesis se fundamen-te en dos ejes principales de análisis, que semencionan enseguida.

En un primer término, se analizan losconflictos con un carácter sociopolítico, es decir,aquéllos que han producido algún tipo deprotesta por el agua. Se trata de casoscuando los ciudadanos confrontan al Estado,generan protestas aisladas � sin una baseorganizativa � pero directamente ligadas ala deficiente dotación del servicio. Se tratade estudiar las luchas reivindicativas de losgrupos urbanos respecto a las propuestas�novedosas� del Estado, así como la relaciónde las posibilidades de apropiación delservicio con las formas básicas y temporalesde gestión colectiva.

En segundo aspecto, se analizan losconflictos socioinstitucionales, cuya caracterís-tica principal es la no inclusión de grupos socialesurbanos ni de acciones sociales de protesta. Setrataría de conflictos derivados de laausencia de políticas de gestión del agua ode los cambios que presentan las mismas, asícomo los casos de usos políticos del recurso(en el plano electoral, por ejemplo). En esesentido, suponemos que las disputas por elcontrol del agua serían el móvil de una fuentede poder local. En este tipo de conflictosparticiparían no sólo el Estado, losciudadanos o los grupos de las metrópolis,sino también otros actores como los parti-dos políticos y los grupos de campesinos.

Finalmente, el análisis de estosconflictos nos permitirá discutirlos, como seha avanzado en trabajos (DE ALBA 2005a,DE ALBA 2005b, DE ALBA 2005c), comouna de las consecuencias de la metropoli-zación que confronta a los gobiernos enMéxico dada la falta de instituciones metro-politanas eficaces .

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1 La conflictividad política metropolitana

En América Latina, la metropolizaciónadquiere varias formas fenomenológicas: lafuerte concentración de carencias sociales,las luchas de los pobladores por tener accesoal suelo, a la vivienda y a los servicios urba-nos, así como los conflictos derivados por lagestión del agua potable, particularmente(DE ALBA & JOUVE 2005b), son algunasde ellas. Las raíces de ello se encuentran en

la desigualdad misma de las sociedadeslatinoamericanas (CANO 2000).

La irregularidad en el acceso al suelo(invasión de terrenos o el poblamiento deriesgo, poblamientos acelerados), laprecariedad de la vivienda (autocons-trucción y uso de materiales de baja calidad)o la participación social en la introducciónde servicios, son sólo algunos de las causasque acentúan la problemática de los espaciosurbanos en la región.

A SITUAR Gráfico 1. Crecimiento poblacional Distrito Federal y el Estado de México 1900-2010 (Porcentajes respecto al total nacional)

NOTA: Los datos de los años 2005 y 2010 son estimaciones.FUENTE: Elaboración propia con datos de México social. Cifras seleccionadas 1996.1998.Banamex.

La metropolización es concebidaentonces como un proceso netamente políti-co (NÉGRIER 2003), como una nuevamodalidad estatal de creación de relacionesclientelares de diversa índole (DE ALBA2005), con el fin de manejar/controlar tan-to la presión social o la contestación social,como su legitimación. De hecho, el análisisde la metropolización como proceso políticodestaca uno de nuestros elementos detrabajo: el rol de la intermediación política(STONE 1995). En este proceso deintermediación, los lideres o representantesde grupos urbanos se muestran cada vezmás dispuestos a afinar dicho control, que se

concretiza en la conversión de la influenciapolítica, en un proceso claramenteinstitucionalizado. Tal como es el caso de laspracticas de clientelismo electoral.

Dichos actores-líder, a cambio de pre-servar su liderazgo, por ejemplo, buscaransatisfacer las demandas de su base social o almenos, �incluirlas en el proceso de atención�institucional. En el caso de los conflictos porel servicio del agua, dichos gruposdesprovistos de servicios serán la base socialde aquéllos lideres capaces de intermediar lademanda frente al Estado (SÁNCHEZ 2001).

Como parte de un círculo delegitimación del régimen político mexicano,

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dichos liderazgos se fundaron tradicional-mente en el manejo (corporativismo,clientelismo, utilitarismo, control y represión)de las acciones sociales. Tales mecanismostuvieron, paralelamente al fenómeno de lametropolización del país entre los añoscuarenta y sesenta del siglo XX, una graneficacia política en el régimen mexicano (DEALBA & JOUVE, 2005b). En su mayoría,dicho manejo era ejercido de diversasmaneras, entre otras: las prácticas políticas(autoritarias o no y democráticas o no, segúnlos casos); la limitación de la participacióncolectiva en la toma de decisiones, o lasnegociaciones desarrolladas -sin consultarcon sus bases de apoyo- entre dichos lideresy las autoridades (NUÑEZ, 1990).

No obstante, estos mecanismos sedeteriorarían a partir de los años 1970,cuando comenzó a presentarse una ola degrupos reivindicando una progresivaseparación del control del Estado. Lo cualfue un claro reflejo de los viejos y nuevosconflictos de las ciudades mexicanas (Nuñez1990) y del deterioro del régimen políticoque, en su conjunto, encontrara en dichasprotestas sociales nuevas fuentes para sulegitimación política6.

1.1 El deterioro de liderazgos y el cambiopolítico

El cambio de régimen político en Mé-xico, como efecto del nacimiento de protes-tas sociales fuera del corporativismo, ocurrióprogresivamente. Nosotros lo explicaremossegún tres momentos históricos. En unprimer momento, cuando los dirigentes ur-banos, afín de mantener su poder e influen-cia, �complejizaron� los procesos deregularización del suelo y la dotación deservicios. En un segundo momento, estoprovocó la formación de cacicazgos metro-politanos que, en ciertos casos, semanifestaron con un incremento de lacorrupción y de la violencia contra los gru-pos sometidos a su control (MONTAÑO,1976)7.

Un tercer momento, cuando los gru-pos que encabezaron estas luchas sociales nolograban articularse bajo formas alternati-vas al corporativismo del régimen políticomexicano. Lo que propició que sufrieran una

creciente dispersión de sus demandas yacciones colectivas. Estas ultimas siempresujetas a sus necesidades inmediatas: la tenenciade la tierra, la falta de vivienda y la deficien-te dotación de servicios urbanos (DUHAU,1995). La razón de esta dispersión en lasdemandas y luchas habría ocurrido porque,en su mayoría, estos grupos fueronfuertemente combatidos por el Estado Me-xicano, sea por su poca representación o porsu escaso número.

Por todo ello y por su posicióngeopolítica, el caso de la metrópoli de Méxi-co ha sido el caso mejor estudiado por losinvestigadores, al menos en lo que se refiereal desarrollo de protestas sociales. Lamagnitud de sus problemas (Martín 1980) yel surgimiento de organizaciones urbanasfuera del aparato corporativo, son solo dosde los ejes de estudio que la convierten enuna metrópoli en constante discusión8.

Por el contrario, los estudios sobre losactores, los movimientos o las luchas socialespor el servicio del agua en México son aúnescasos. Pero algunos de ellos, contemplanuna vinculación indirecta con los cambiospolíticos vividos en México, en las últimasdécadas. En nuestra hipótesis, la progresivaarticulación de estas protestas en el caso dela metrópolis de México, habría estado liga-da a formas de gobernabilidad urbana articu-ladas con la transformación del régimenpolítico. Ejemplo de ello, es la experienciaque aportaron las luchas por la regulari�zación del suelo, de la vivienda o, de losservicios públicos en las ultimas décadas (DEALBA, 2005a).

Como veremos, los habitantes de estametrópoli fueron organizándose progresiva�mente y en este proceso, cambiaron sus for-mas de liderazgos, sus organizaciones y for-mas de agregarse; cambiaron el rostro y enlo profundo el corporativismo por nuevasformas de agregación a los cuales se lesincluia el aditamento de las luchas por lademocracia. En su mayoría, tratándose deuna población fuertemente desfavorecida yviviendo en la periferia metropolitana, ellosse han unido y luchado en coyunturas espe-cíficas (V. gr. Los sismos de 1985, loselecciones de 1988, etc.). Haciendo uso detodas las fuerzas y recursos a su disposición,los habitantes han exigido al Estado la

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dotación y la adecuada distribución del vi-tal líquido (ARAU, 1987). Estas coyunturaspolíticas, aunque escasas también,mostrarían la tendencias de articulación en-tre los dos fenómenos mencionados. Protes-tas por el agua y el cambio de régimen.Ahora veremos como esto es posible.

2 Les instrumentos del análisis

En este marco, diversos son los instru-mentos de orden teórico que pueden ser útilespara nuestra discusión. Uno de ellos, comoinstrumento para el tratamiento de losconflictos por el agua, es el concepto dehidropolítica (DE ALBA, 2005c). El otro, esel referente espacial de los conflictos por elagua, que no permitirán identificar u locali-zar las diversas modalidades que hoyadquiere el territorio, sea territorio político,institucional o, clásicamente, el territoriogeográfico.

2.1 El concepto de hidropolítica

Este concepto nos permite situar el con-junto de condiciones de una disputa por elagua entendiéndola como recurso geopolítico.Es decir, estos conflictos adquieren tonali-dades �políticas�, en el sentido que la gestiónmetropolitana evoluciona según los maticesy los ritmos de los cambios políticos tanto anivel nacional como dentro de los limites dela metrópoli de México (EZCURRA &NETLIBRARY, Inc 1999). Como herramien-ta de análisis, P. Avila utiliza el término�hidropolítica� para describir estosfenómenos. Ella afirma:

The urban conflictiveness of the 1980sand 1990s in Mexico is associated with thechange in the relationship between the Stateand the urban poor (the crisis of politicalclientilism and the ascendance of urbanmovements), new tendencies en urbaniza-tion (the growth of medium-sized cities andpopular urbanization), the processes ofdemocratization (the incorporation ofcitizens� demands in urban movements), andchanges in urban and environmental politics(the privatization of urban services and newregulations). At the same time, urbanconflictiveness is a result of several factors,including: local history, the logic of

urbanization, political culture, socialmovements and the urban-environmentalproblems of each city. Local specificities,however, old the form in which conflictsdevelop are managed: from the type ofactors involved and their objectives anddemands, to their methods and strategies ofstruggle (ÁVILA, 2001, p.15)

De esta forma podemos separar lasutilidades de este concepto. En primer ter-mino, con él definimos las coyunturasvinculatorias generadas cuando los procesossociales o institucionales interactúan con losconflictos del agua provocando coyunturasde cambio político (DE ALBA, 2005c). Porejemplo, en el marco de una campañaelectoral, este fenómeno se observa en la�aceptación� de los candidatos partidarioscuando hacen propuestas �pragmáticas�(BENNET, 1997; AGUILAR, 1988) en uncontexto metropolitano de ineficaciainstitucional. Por su eficacia inmediata, es-tas prácticas parecen mejor a los ojos de lapoblación que las acciones de equipos de es-pecialistas gubernamentales. Estos últimosque sugieren soluciones �en el largo plazo�(CASTILLO, ZICCARDI, et al. 1995;COULOMB & DUHAU, 1993).

En segundo lugar, el concepto dehidropolítica nos es útil para construir unentramado conceptual que refiere el papel delos recursos naturales como factor que defi-ne el poder de una nación frente a otra(GLEICK, 1994). Aunque no es el caso de lametrópoli de México, varios estudios hanseñalado la importancia de estos conflictospor el agua en zonas fronterizas.

En tercer lugar, este concepto nos per-mite resaltar el carácter geoestratégico de losconflictos por el agua, como un factor derivalidad no desdeñable. Entre otros, puedenmencionarse casos concretos derivados delfenómeno �técnico� de la escasez de agua;del carácter transfronterizo del recurso, en-tre regiones o países o de las desigualdadesentre los actores o entidades que compartenel recurso; y de los límites del abastecimientoa partir de fuentes alternativas.

Por último, el concepto de hidropolíticapermite también definir el conjunto de reali-dades críticas derivadas de la falta de políti-cas operativas en la gestión del agua, o porlos cambios que éstas registran (MAURY,

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2001). En este caso, el concepto permiteenfocarse sobre el desarrollo de tensiones de-rivadas del uso, del control y de la distribucióndel agua, así como por el deterioro en sucalidad y cantidad9. Como veremos, este as-pecto es el que principalmente nos interesa.

En suma, para nosotros, los conflictospor el agua son netamente fenómenos políticos.El control del agua expresa formas deejercicio de poder y de dominación política,sea entre grupos y/o territorios. Dichocontrol es también una disputa que, -por lainclusión de actores sociales o institucionales,o por la inclusión de objetivos públicos o deintereses en disputa-, ocurre en el campo delo político, y es entonces cuando lo denomi-namos lo político del agua. Aun más, segúnP. Ávila, podemos considerar como parte deesta noción de lo político del agua, lastensiones que surgen entre dos o más actoressociales según diferentes aspectos, es decirpor: a) el control de un recurso escaso; b) elacceso y la distribución desigual; c) el cam-bio de valores y percepciones sobre lanaturaleza de su escasez; y c) laincompatibilidad de intereses ante loscambios en las políticas del agua y sus for-mas de gestión (AVILA, 2006).

2.2 Los planos del análisis: local, regional ynacional

El estudio de los conflictos por el aguarequiere de referentes sobre el lugar o espaciodonde la acción social o política tiene lugar.Con esta consideración, el análisis de cadaconflicto supone un grado de especificidad enel estudio de las relaciones y procesossociopolíticos y socioinstitucionales que sedesarrollan en cada caso. Los niveles queconsideramos aqui son el local, el urbano yel regional, aunque como sabemos, existenotros10.

Un primer nivel de posicionamiento delas luchas por el agua es el nivel de lo local. Elplano del interior de la metrópoli, en parti-cular, se refiere a los acontecimientosregistrados en las colonias (barrios), comounidad mínima de nuestro análisis. En esteplano es donde observamos la acción de gru-pos y es también el ambiente donde segeneran las protestas. En este plano, los li-deres, como intermediarios políticos,

desarrollan estructuras de apoyo social oredes clientelares básicas, según el caso, parasostener la relación de los primeros con elEstado. En dicho sentido, se puede concluircon P. Ávila, el agua �es un recurso políticoque sirve para ejercer el poder sobre unterritorio� (AVILA, 2006, p.35).

De esta forma, en este nivel se puedenlocalizar las disputas por el acceso al serviciode agua (ARAU, 1987); (BENNET, 1997). Ennuestra hipótesis, de una vinculación de es-tas luchas con los cambios en el régimenpolítico, puede afirmarse que varias de estasluchas han sido encabezadas por grupossociales que buscaron fracturar lasestructuras clientelares y de poder existen-tes.

Como parte de ello, los grupos socialesque encabezaron las tensiones, producidasen el plano local, entre el Estado y los gobiernosmunicipales o de estos con gruposdemandantes, por ejemplo, reclamaban nosólo la dotación del servicio, sino también lagestión (y el control) social de un recursoestratégico. En el nivel del Estado, impedirestas formas innovadoras de gestión socialdel agua, habría sido de importancia vitalpara contrarrestar todos los intentos deautonomía al corporativismo imperante,impedir cualquier poder e influencia en elterritorio político donde estos grupos sociales�funcionaban�.

Un segundo nivel, de nuestro análisises el nivel de lo urbano. Se trata de disputaspolíticas por el agua localizadas en lasciudades o en la metrópoli. Esta ultima comoun espacio de la acción política que nos permi-te situar tensiones entre diferentes actoressociales (industriales, comerciantes,empresarios inmobiliarios, grupos económi-cos; o bien, la población según sus diferen-tes nivel de ingreso) que expresan, cada unoa su manera, usos diferentes y formas deabastecimiento y distribución desigual delrecurso.

En el espacio urbano confluyen unagran diversidad de intereses y valores, quepueden expresarse en diferentes proyectospolíticos de ciudad; se expresan contrastesentre grupos sociales por la gestión (públi-ca, privada y social) de un recurso estratégi-co como el agua. En dicho sentido, el espaciourbano se transforma en el territorio de las

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luchas por un control diferencial del agua(control de acceso, diferencias de consumo,calidad del servicio), entre uno o más gru-pos sociales, como otra formas de poder ydominación política sobre el resto de lapoblación.

Un tercer nivel de nuestro análisis esel nivel de la región, cuando los conflictospor el agua surgen por el control de lasfuentes de abastecimiento. En el marco deuna relación de dominio de la metrópolissobre el campo, por ejemplo, las comunida-des rurales son subordinadas a los interesesmetropolitanos, �restando así su autonomíay capacidad de negarse a que alguna fuentede agua sea aprovechada� localmente(AVILA, 2006). De esta forma, el conflictosurge por las oposiciones rurales cuando lasfuentes son aprovechadas por la metrópoli.

Otro ejemplo de conflictos en el nivelregional es cuando la metrópoli o susindustrias vierten sus desechos a los ríos ocuerpos de agua. Lo que deteriora la calidaddel agua que anteriormente se utilizaba parafines de riego y pesca. En dicho sentido, lastensiones surgen entre indígenas, campe-sinos, pescadores, o grupos ecologistas yaquellos grupos industriales asi como conautoridades locales o estatales.

En todos los casos, deben subrayarsedos características de los conflictos queanalizamos. De un lado, estos conflictosinvolucran actores sociales o políticos cuyorol es �multidimensional�, es decir, no son,generalmente, exclusivos de éstos. Así, el rolde los partidos políticos en los conflictos porel agua es generalmente lateral, mientras que,el de los grupos de campesinos, aunque elconflicto por el agua puede ser estratégico,no representa el centro de sus demandas(TURNER, 1974). Por otro lado, estosconflictos reflejan una superposición otraslape tanto de intereses como de actoresparticipantes. En este aspecto ultimo, segúnP. Avila, cuando �los canales de resoluciónde otros conflictos (como los étnicos, religio-sos, políticos, electorales, urbano-rurales)están cerrados, pueden traslaparse con losconflictos por el agua� (AVILA, 2006, p.38).Esto es, las luchas por el agua reflejan usospolíticos, porque, se imbrican con otros usosdiferentes o porque se convierten en un reflejo,proyección o consecuencia de otros conflictos.

Finalmente, podemos decir que las di-ferentes escalas territoriales adoptadas, seimpliquen entre ellas, en la medida que lasdiferentes lógicas de acción de los actoressociales pueden articularse con lasinstituciones y producir tanto los conflictoscomo sus soluciones eventuales, en los dife-rentes niveles políticos institucionales. Estees el caso de la unidad territorial mínima denuestro análisis: el barrio, la colonia. Endicho sentido, aunque en su seno ocurrenlógicas reivindicativas, es decir, lo político delagua, este nivel no esta aislado del todo me-tropolitano.

2.3 Los tipos de conflictos y el principio deno exclusividad

Para efectos de nuestro análisis, noscentraremos en el nivel de lo local de losconflictos por el agua: es decir, en el nivel dela delegación política o el municipio, lacolonia o bien el asentamiento popular. Estonos lleva a estudiar la metrópoli desde elcampo de lo político del agua, campo en elcual participan diversos actores como el Es-tado (en el caso de gobiernos locales), los di-rigentes sociales, los pobladores, los partidospolíticos y los grupos urbanos que presentanobjetivos e intereses diferentes en torno alrecurso hídrico.

En este caso, seguimos las ideas deMelucci (1987), quien sostiene que lasacciones colectivas no podrían tratarse comoefectos de precondiciones estructurales ocomo la expresión de valores o creencias,sino como nuevas inversiones que redefinen,en términos cognitivos, una nueva identidadcolectiva (MELUCCI, 1997), sea coyunturalo de largo plazo. En dicho sentido, identifi-camos dos tipos de conflictos según laexistencia o no de acciones colectivas. Antesde detallarlos, debemos aclarar que, paranuestro análisis, la hidropolítica juega unpapel determinante tanto en el desarrollocomo en el manejo de los conflictos.

En primer termino, los conflictos decarácter sociopolítico incluyen accionescolectivas e identifican al Estado como opo-nente. Según P. Avila, este tipo de conflictosbusca resolver demandas sociales (dotacióny acceso a los servicios), políticas (controlsocial de los recursos) o culturales

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(participación en la toma de decisiones ygestión social del agua) (AVILA, 2001) .Dicho de otra manera, este tipo de conflictosse inicia a partir de la aparicion de un factorde cohesión social de grupo (la demanda)dando lugar a la construcción de un espaciopolítico de contestación (la movilizacion) de losgrupos sociales. Estos últimos, a pesar de laheterogeneidad social y de las divergenciasinternas que presentan regularmente, seconfrontan con el Estado buscando que susacciones colectivas sean resueltas.

En segundo aspecto, analizamos losconflictos socioinstitucionales cuya característi-ca principal es generalmente, la no inclusión deacciones sociales de protesta. Estos conflictosincluyen las tensiones y disputas que surgenen el interior de las colonias, delegaciones oasentamientos populares. Su origen es diver-so: sea porque son un resultado de ladebilidad de la regulación política y deacuerdos, o por la ausencia de estos últimos;sea también por los �vacíos institucionales�y las deficiencias (técnicas, administrativas)en torno a la gestión del agua. En este orden,cabrían también las luchas entre faccionespolíticas (grupos sindicales o de funcionarios)por el control político-administrativo delagua, o las protestas que demandan un au-mento en la disposición del recurso, ante laexpansión de la mancha urbana. Dichastensiones provocan o hacen aflorar ladiversidad y la fragmentación de las luchasurbanas y de las características de losconflictos por el agua, influyendo en ladispersión de los grupos demandantes delservicio.

Por otra parte, y en consecuencia, elanálisis de las estrategias de lucha de estosconflictos nos lleva a definir el principio dela no exclusividad de los actores sociales vin-culados con los conflictos sociales. Así, elprincipio de la no exclusividad tiene dos as-pectos posibles de tratar en nuestro análisis.En primer lugar, estos conflictos abiertos, esdecir, sus actores participan de otras luchaso conflictos sea por razones de pertenencia(religión, partidos, instituciones), sea porrazones de coyuntura (demandas generalesdel barrio, de la delegación). En segundo lu-gar, son conflictos vinculantes, es decir, porcuanto los grupos que participan en ellostienden a hacer alianzas con otros grupos

para fortalecer su presencia política (parti-dos políticos, campesinos) y adoptenposiciones políticas en ese campo de fuerzasy arenas de lucha.

Lateralmente, podemos señalar al nohaber canales definidos en la resolución delos conflictos, la posibilidad de soluciones sereduce. Entonces, tal como lo señala P. Avila,�la violencia se convierte en un camino, ex-tremo y poco idóneo, para satisfacer unanecesidad vital como el agua�. No obstante,delimita la autora, �por el carácter dispersoy puntual de estos conflictos, [se] han sidoconsiderado como microconflictos o dispu-tas locales por el agua� (AVILA, 2006,p.35)11.

3 Hacia una tipología de las luchas por elagua?

Desde cualquier ángulo de análisis,una serie de precondiciones son necesariaspara el surgimiento de la acción de protesta(MELUCCI, 1997) por el agua. Ahora men-cionaremos algunas. En primer termino, den-tro de las condiciones concretas podemoscitar: el acceso diferencial al recurso; laexistencia de un grupo capaz de represen-tar la conciencia colectiva, es decir, un gru-po demandante, una organización social queincluye en su programa de acción la luchapor el agua.

En segundo término, en relación conlas condiciones simbólicas: la necesidad deuna organización o grupo de distanciamien-to respecto al status quo. Por tanto, unanecesidad de movilización o exigencia departicipar en la toma de decisiones enmateria de agua. Es decir, la necesidad políti-ca de constitución de un grupo urbano de pro-testa para la acción colectiva. Por ejemplo, P.Avila los identifica como los �pobres urba-nos�:

Así los y las pobres urbanos/asconstruyen una identidad colectiva alreconocerse y ser reconocido/as como actoressociales �es decir, se definen a sí mismos comoactor social y en nombre del cual actúan; yhace un auto-reconocimiento de un�nosotros� que los diferencia de los �otros�;presentan una oposición por participar enun campo de fuerzas donde hay adversarios(Estado, intermediarios políticos) y aliados

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(partidos políticos de oposición,organizaciones sociales); y defienden comototalidad un proyecto alternativo de gestiónurbana del agua (AVILA, 2006, p.42).

Aunque nosotros nos enfocamos alanálisis de protestas por el agua en lametrópoli de México, algunos ejemplos enotras entidades del país, estudiados por au-tores varios, nos servirán para identificar 4elementos en la vía de establecer unatipología de dichas acciones que caracterizandichos conflictos12.a) Las luchas defensivas por el agua. Implican

reacciones espontáneas de los habitan-tes de la metrópoli frente a problemascomo la desigual distribución del agua.En estos casos, la población no logra for-mar una estructura organizativa perma-nente. Algunos casos son ejemplares: lasprotestas urbanas realizadas enMonterrey durante los años setenta yochenta del siglo pasado como resultadodel racionamiento de agua en la ciudad(BENNET, 1997).

b) Las luchas reivindicativas por el agua.- Sonencabezadas por grupos organizadosque plantean demandas específicas dedotación y prestación del servicio deagua. No se proponen grandesmodificaciones o grandes causas ni su-perar sus condiciones económicas o po-líticas. P. ej. la lucha por la dotación delagua que emprendieron los �Pueblos yColonias del Sur� de la ciudad de Méxi-co en los años setenta (ARAU, 1987); yla lucha por la reducción de las tarifasde agua que emprendió el �MovimientoCiudadano� de Celaya (Guanajuato) enlos años noventa (TREVIÑO, 1999).

La visión de estos dos tipos de protes-tas es, desde esta lógica, concentrarse enseñalar que el problema del agua es dedeficiencias en la dotación del servicio públi-co. Este elemento distingue a los otros dostipos de luchas que se han identificado:c) Las luchas políticas por el agua. Estas son

encabezadas por grupos organizadosque demandan la solución a problemasrelacionados directamente con la gestióndel servicio de agua. Pero la característi-ca particular es que exigen participaciónen ella y en la toma de decisiones. Son losgrupos sociales que reflejan, más clara-

mente, nuestra hipótesis de la crisisdecisional en la metrópoli de México(ÁVILA, 1999).

d) Las luchas de transformación de la gestióndel agua. Son encabezadas por distintosactores de la metrópoli. Evidencian unalto grado de desarrollo y presencia po-lítica, así como objetivos y prácticas rela-tivamente autónomas. Proponendirectamente modificaciones en las for-mas de gestión del agua en la ciudad, yaque demandan el control social del re-curso. En este caso también, se trata degrupos sociales o institucionales quesirven para explicar nuestra hipótesis decrisis decisional en la metrópoli.

En general, estos cuatro tipos de luchaspor el agua han sido tratados por autoresdiferentes que refieren casos y modalidadesde conflictos en México, aun cuando seanaun escasos los estudios en número y calidad,en materia de su documentación, tal comoveremos enseguida.

3.1 La falta de estudios específicos

Si partimos de la revisión de la litera-tura existente en México sobre conflictos ur-banos por el agua, la mayor parte de auto-res ha referido casos de luchas por el aguadel primer y segundo tipo, según la tipologíamencionada en el apartado anterior(ARAU,1987; BENNET, 1997; TREVIÑO, 1999). Esdecir, hasta ahora, se encuentran documen-tadas aquellas luchas que no llegan a tenerinfluencia en la toma de decisiones nimodifican las formas de gestión del agua enlas ciudades (AVILA, 2006).

Rosalinda Arau (1987), por ejemplo,en su trabajo no tiene como objetivo elestudio de los conflictos por el agua, sinorecrear la historia de una organización ur-bana. Ella documenta los conflictos urbanosen Mexico que surgieron a principios de losaños 1970 por la expropiación y regulari-zación del suelo. Mas tarde, la autora refierelos conflictos, ocurridos a finales de los años1970 por la insuficiente dotación ydistribución desigual del agua, así comodevinieron una causa de unión entre diver-sos grupos. Su aportación es mostrar el pa-pel de las luchas por el agua como la basepara el desarrollo de ciertas luchas sociales

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en la ciudad de México, usando el ejemplodel �Movimiento Popular de Pueblos yColonias del Sur� (Xochimilco).

Por su parte, V. Bennet (1997) docu-menta una serie de protestas y conflictos porel agua que surgieron en los años 1970 y 1980en Monterrey (Nuevo Leon). Ella describeque dichas luchas iniciaron como accionesespontáneas por la falta de agua y describesu transformación y extensión por toda laciudad, particularmente en asentamientospopulares. Asume que el logro de estas pro-testas fue presionar al Estado y entonces, elmejoramiento en la prestación del servicio.

En el caso del análisis de A. H. Treviño(1999), ella documenta los conflictos quesurgieron a principios de los años 1990 porel aumento de tarifas de agua en la ciudadde Celaya (Guanajuato), en un contexto dealternancia política municipal.

Se trata de un ejemplo que bien puedeser vinculado a nuestro trabajo, porque laautora evidencia parcialmente, el rol quejuegan los partidos en el desarrollo de lasluchas por el agua. Además, la autoramuestra que, bajo un contexto de politi-zación, la organización denominada�Movimiento Ciudadano� se convirtió enuna instancia permanente de gestión urbana.

En cualquier caso, ambos estudios(ARAU, 1987 y TREVIÑO, 1999) reflejan unángulo de nuestro interés: las luchas por elagua contribuyen a la ampliación de lasluchas urbanas y en un caso a demostrar,de las luchas metropolitanas.

Desde el angulo de estos estudios, sepuede comprender que los conflictos por elagua, en ciertos casos, se convierten en unelemento unificador y motor para la protestacolectiva. A ese respecto P. Avila (2006), unavez mas, sugiere, �cuando la demanda seamplía e incluye� otros grupos urbanos, lasposibilidades de solución es mayor, y portanto estos conflictos �contribuyen alfortalecimiento de las organizaciones urba-nas� (AVILA, 2006, p.45).

Antes de pasar a dicho análisis,debemos constatar que este resultado nosobliga a preguntarnos si los otros tipos deconflictos, los que están mejor vinculadoscon nuestra investigación, son pertinentes.Enseguida lo descubriremos. En lo querespecta a los conflictos con un carácter

netamente político (tipo c) y las luchas detransformación de la gestión del agua (tipod), ambos tienen implicaciones políticas yculturales en las transformaciones de unaciudad o metrópoli. Según nuestrainformacion recopilada hasta el momento(MARS, 2006), los trabajos específicos sobreeste tipo de conflictos, son prácticamenteinexistentes. Esto se debe, quizás, a que lamayor parte de autores aun no establecende manera suficiente que los grupos quedirigen la protesta, visualizan el agua almismo tiempo, como un servicio público yun recurso político.

En dicho sentido, P. Avila (2006), tra-ta un tipo de protestas políticas, poniendocomo ejemplo las movilizaciones queencabezó la organización �Colonias Unidasdel Sur� (CUS) de Morelia (Michoacán), quemostró las nuevas formas de conflicto en losasentamientos populares, durante los años1990.

Usando este ultimo ejemplo, P. Avilasostiene que la protesta política por el agua esparte del periodo inicial de un movimiento, esdecir, cuando los grupos demandan laintroducción del servicio y plantean alEstado un proyecto alternativo de abasteci-miento.

Utilizando el mismo ejemplo, la auto-ra sugiere que, en el caso de las luchas detransformación de la gestión del agua, (que elladenomina �movimientos reivindicativos�)(Avila 2006) éstas son características de laetapa posterior a la introducción del servicio,ya que la organización urbana �plantea �eincluso lleva a cabo- un proyecto gestión pa-ralela con el fin de tener un control social delagua y evitar la estatización del servicio paragarantizar el abastecimiento a la población�(ÁVILA, 2006, p.45).

Recapitulando, puede sostenerse quelos grupos que encabezaron las protestas porel agua fueron evolucionando en sus deman-das, lo que hizo evidente su grado demaduración política. En su fase inicial (laprotesta politica), las demandas no llegarona tener una influencia en la gestión urbana,sólo plantearon resolver un problema urba-no puntual � la dotación de agua � sin mayortrascendencia. Más tarde, estos grupos seconcretaron a desarrollar acciones decarácter general y reivindicativas, con lo que

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la organización social planteó formas dife-rentes de relación con el Estado (luchas de latransformación de la gestión del agua), a tra-vés de, la gestión relativamente autónomadel servicio, de una mayor participación enla toma de decisiones y, en ciertos casos, deuna mayor intervención en la agenda socialen su manejo, por ejemplo.

Todo ello implicó que las protestastrascendieran el campo de lo socialtransformándose en protestas con verda-deras demandas políticas y culturales. Dichode otra manera, en lo social, la dotación deagua originó una mayor participación soci-al en el manejo del agua provocando asímismo, una mayor participación en la tomade decisiones y los procesos de defensa delagua como recurso escaso.

En el marco general de las transfor-maciones que vivió el país, esto puedeentenderse como un proceso progresivo deconcesión de poder a la sociedad (AVILA,2006). Esta ultima que ha sido limitada y nosin trastornos, como veremos.

Al margen de todo ello, debemosresaltar que el régimen político mexicano,garante de una gobernabilidad poco flexible(DE ALBA y JOUVE, 2006), no permitió sinohasta los años 1990, una notableparticipación social en el manejo del aguaque cambiaria paulatinamente. Dichatransformación de la gobernabilidad mexica-na en materia de apertura en los serviciospublicos, podria sintetizarse en tres procesosprincipales: a) de procesos de descentra-lización gubernamental delegandoautoridad del ámbito federal al municipal;b) de cambios en el abastecimiento del aguaa nivel regional; y c) del progresivo cambionormativo para el otorgamiento deconcesiones al sector privado y social (DEALBA et al, 2005). Para fines de este analisis,solo el último punto es de nuestro interés.

En dicho sentido, con los cambios enla legislación del agua que, según diversosautores, buscaron la paulatina privatizacióndel servicio (BARKIN, 1999; BENDICK,1993), los espacios de participación a travésde la cogestión pública y social del serviciode agua se abrieron. Así, en materia deadministración general del recurso hídrico,el régimen político mexicano registromovimientos de apertura. Sin embargo, esta

tendencia se concretaría � como parte de lastradiciones autoritarias del régimen político�, a otorgar el agua de forma discrecional,sin una cesión de poder aparente, a gruposafines políticamente (AVILA, 2006). Es decir,el Estado mexicano promovió la gestióneconómica sin otorgar la autonomía políticaen el servicio de agua. Como tendencia ge-neral, si en ciertos estudios se sostiene queestas medidas lograron una mayor eficaciaen la gestion del recurso (CAZORLA-CLARISÓ, 2003; CIRELLI & MELVILLE,2000; CNA, 2001; DE ALBA, 2005b), losconflictos por el agua, en sus aspectos políti-cos, parecen aun con una fuerte presenciaen la escena metropolitana de Mexico. Esees, justamente, el punto que vamos ahora ademostrar.

3.2 Las tensiones políticas por el agua

La eficiencia en la gestión del agua noes un tema estrictamente �técnico� degestion y de operación de grandes infraes-tructuras, incluyen también una serie deprocesos de operación política y manejo deconflictos. De esta forma, cuando el agua esdisputada por facciones y grupos en el planolocal y no existe una gestión institucio-nalizada y eficaz del servicio de agua, el aguase convierte en un factor generador detensiones sociales urbanas.

Es decir, el conflicto social o políticoaparece cuando no hay un marco legal einstitucional en torno a la gestión del agua,sino sólo regulaciones y acuerdos sociales �de tipo informal- que son susceptibles deviolarse al haber interés de algún grupo ofacción por el control del recurso.

Igualmente, puede decirse que elsurgimiento de conflictos sociales por el aguano se manifiesta necesariamente comoacciones o movilizaciones sociales. Se tratade disputas � de carácter local �, que surgeninicialmente, entre los pobladores urbanos (declases y orígenes sociales o culturales dife-rentes) con otros actores sociales y políticos(instituciones, empresas, partidos políticos,campesinos, etc.).

Estas tensiones, que tienen por móvil elcontrol del agua, pueden concebirse comouna forma del ejercicio de la dominaciónsobre una población o sobre un territorio

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específico (PRÉTECEILLE, 1999). En estesentido, dichas tensiones son una expresiónde lo que definimos antes como lahidropolítica, es decir, cuando el manejo delagua observa usos políticos y tensiones en elmanejo del poder local. Como hemos adver-tido anteriormente, dichas tensiones rebasanlos límites locales y se llegan a imbricar conotros niveles de la acción colectiva. Enrelación con los usos políticos del agua, estospueden expresarse en distintos modos y pla-nos. Ahora veremos cinco ejemplos.

En primer lugar, cuando el agua es usa-da como una bandera política o como unaexpresión de las disputas electorales entrepartidos nacionales. A ese respecto, lascampañas políticas en las eleccionespresidenciales de 2006 en México, muestranclaramente dicho elemento de oportunidadpolítica de los partidos, al incorporar el de-bate del agua a su lista de promesas. En elcaso del candidato del PRI, RobertoMadrazo, proponía desde enero (2006) crearuna �secretaria del agua�, quizá influido porla eficacia mediática que obtuvo el gobiernodel Estado de México en la gestión del agua13.Por su parte, el candidato del PAN, FelipeCalderón, , inicio una serie de spots, sobretodo después del debate del 25 de abril paraincluir dentro de sus promesas laconstrucción del �Acuaférico�, una granobra de infraestructura, para abastecer deagua a la metrópoli de México. (Reforma, 25/04/2006). Por su parte, y paradójicamente,el candidato del PRD �que fue titular delGobierno del Distrito Federal�, no tenía unapropuesta visible sobre el manejo del recur-so, o al menos que fuera utilizada en la mismadimensión.

En segundo lugar, el agua también esusada como un medio para buscar otros objeti-vos, sea corporativizar o debilitar a lasorganizaciones urbanas independientes(principio de cooptación política); sea paranegociar o intercambiar obras sociales poragua o para impulsar la carrera política defuncionarios o dirigentes sociales (principiode usos político). Con el control ejercido porciertos líderes, sus movimientos tienden apersonalizarse, al no haber un marco legal einstitucional o mecanismos sociales para elmanejo y resolución de los conflictos. De unlado, pueden mencionarse la serie de diri-

gentes sociales que fueron electos a laAsamblea Legislativa del Distrito Federal(ALDF) y que entre otros elementos,provocarian un impasse de las moviliza-ciones de contestación política en la capitaldel país (DE ALBA & JOUVE 2005b). Deotro lado, existirían otras tensiones que nogiran solo en función de la obtención de lasrepresentaciones políticas (diputaciones osenadurías) o cargos en el gobierno, sinotambién surgen entre los viejos y nuevos gru-pos metropolitanos, los fraccionadores, loscampesinos. Estas tensiones, por la falta decanales institucionales, a veces generan eluso de la violencia, como otra expresión dela resolución de conflictos.

En tercer lugar, las tensiones politicaspor el agua se han agudizado como unaconsecuencia directa de la explosión demográfica(IRACHETA 2004), lo que, en un contextode imprevisión gubernamental (Eibenschutz1999) ha modificado sustancialmente las re-laciones del régimen político en la metrópoli,en su estabilidad y en su gobernabilidad. Sinos sujetamos a la presencia y frecuencia deciertos fenómenos políticos como las pro-testas sociales (CAMPA CIPRIÁN, 1994;DAVIS, 1998; NUÑEZ, 1990; PERLÓ &SCHTEINGART, 1984; PRADILLA, 2000).En dicho caso, P. Avila sostiene, un dato almenos curioso: que en las organizacionessociales que protestan por el agua, seobservan distinciones jerárquicas por la�antigüedad� que tiene en las protestas, loque, según la autora, favorece conflictos en-tre ellas. En general, estas tensiones surgendesde el momento en que no hay unaintervención del Estado (o esta es ineficaz) enla dotación y gestión del servicio del agua,lo que generará que algunos actores o gru-pos busquen, en sus zonas de influencia,tener el control de un recurso escaso y estra-tégico como el agua

En quinto lugar, el punto ineludible delas tensiones generadas por las disputas porel agua es que, en su mayoría, están ligadasal carácter limitado del recurso. De hecho,este punto nos traslada a un círculo vicioso,donde los conflictos dejaran de producirseen tanto este aspecto no sea resuelto. Variosde las fuentes consultadas y algunos especi-alistas coinciden sobre los limites de ladisposición del agua en la metrópoli y que la

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disponibilidad actual no alcanza parasatisfacer la demanda (CNA, 2002;MARTÍNEZ, 2004; RODRÍGUEZ, 2003). Deesta forma, los grupos sociales que seconfrontan por el control del recurso, tiendena desarrollar actitudes partimonialistas(IRACHETA et al, 1988) porque, después deconstruir, por ejemplo, una obra para elabastecimiento del barrio o asentamientopopular, se resisten a negociar la �entrega�al Estado de las obras (cisternas, pozos, etc.)o evitan compartir el agua con los nuevoscolonos u otros asentamientos irregulares(AVILA, 2006).

En general, estos aspectos, como otrosantes mencionados, nos permiten recordaraquí los paralelos y los vínculos entre laspracticas patrimonialistas tradicionales delrégimen mexicano (DE ALBA & JOUVE,2005a) con el origen de los conflictos por elagua. Y con en ello, la razón misma de laformación histórica de la metrópoli de Méxi-co (Borja et al 2004, Iracheta 2000, Iracheta1997).

Conclusiones

Siguiendo nuestra hipótesis acerca deuna vinculación de las tensiones políticas porel servicio del agua, y de estas con el conflictometropolitano y la génesis del régimen polí-tico en México, en este articulo nospreguntamos sobre cual es la pertinencia delempleo de conceptos como la hidropolítica yla gobernabilidad de servicios públicos o delagua en el tratamiento de dicha hipótesis?.

En primer lugar, esta hipótesis nos haservido para definir el campo de lo político delagua como un campo de análisis multifacético,o bien, multidisciplinario. Aunque pudosostenerse que la explosión demográfica esun vector importante de los análisis del fu-turo de la metrópoli, en este artículo sesugiere que dichos análisis deberántrascender las fronteras de lo social, de loeconómico y evidentemente, de lo político.

En segundo lugar, este eje problemáti-co nos precisa a desarrollar nuevos ángulosde análisis de la geopolítica del conflicto me-tropolitano en América Latina. Lasmetrópolis son un vector de ángulos nuevosen tanto que la sinergia de sus interrelacionessustituyen y, en cierto sentido, se oponen �

vía la masificación- y alteran �vía los procesospolítico electorales-, a las prácticasautoritarias del viejo régimen.

Este es el caso de la metrópoli de Mé-xico. Por la índole de sus transformacionessocioinstitucionales y sociopolíticas que afectantodos los actores sociales, los conflictos y lastensiones de la metrópoli son un factor derenovación e impulso de prácticas democráti-cas. Lo cual exige de la transparencia y de larendición de cuentas (accountability), asícomo la transformación sustancial de laparticipación ciudadana. Aunque ello noexcluya retornos autoritarios, la metrópoli esun �factor� de la modernidad política de lolocal. Esta �modernidad metropolitana� seexplicará a partir de las prácticasneocapitalistas de un mundo all on line y unmundo del usufructo del conflicto en la agen-da política de los nuevos actores en disputa.

En tercer lugar, la metrópoli devieneun territorio en tensión permanente, el espacioen cuestión, que ahora será sujeto a procesosmultirrelacionales, que nos sugiere laobsolescencia de los análisis y decisiones decorto plazo, o de la visión de una sociedadbipolar; igualmente, de iniquidad de losenfoques donde la práctica científica se ajus-ta a una especialidad. Al mismo tiempo, lametrópoli de México es campo de referenciasde lo político: por un lado, en la consolidacióny en la transformación del régimen, comoun nuevo �centro� de la de-localización delviejo Welfare state. Por otro lado, en elfenómeno de la fragmentación social -opolarización del conflicto- se vuelve un sig-no del decline y de la recomposición de losactores políticos tanto a nivel nacional, perosobre todo, a nivel local.

En cuarto lugar, las protestas socialesque disputan desde décadas atrás su espacioy modo de expresión en la metrópoli de Mé-xico tienen � después de las reformasinstitucionales de los años noventa �, unanueva coyuntura histórica, que nos proporci-ona nuevos elementos de la geopolítica delconflicto. Parecía que el fenómeno del arribode partidos de oposición disminuiría los gra-dos de conflictividad. Aunque ello sea partede un lastre histórico, muchas evidenciassugieren lo contrario: un proceso deagudización de la polarización social y polí-tica tiene lugar.

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Entonces, ¿Qué dirección tienen losconflictos sociopolíticos y socioinstitucionalesen la metrópoli de México, en torno al agua?En los últimos años, y en el caso particularde los conflictos por el agua, lasorganizaciones se radicalizan, las demandastienen un hilo conector con los procesoselectorales y con el cambio de autoridades.Se trata de un tipo de conflicto social quetrasciende su espacio natural para ocuparotro en la agenda de la política y de lo políti-co, creando lo que hemos llamado el campode lo político del agua.

Debido a la extrema carencia del agua,los escenarios de futuro en la metrópoli sonpoco optimistas. No parece viable que en elcorto plazo estas protestas observen unreflujo, mas bien al contrario, el problema seagudizará tanto como el �desastre ecológi-co� que anuncian los especialistas para laspróximas dos décadas (PERLÓ, 2001). Y estecuadro sombrío puede establecerse aún conmayor amplitud si la conflictiva seinterrelaciona con otros fenómenos talescomo una mayor fragmentación política, ladescomposición social que se evidencie conla incapacidad histórica para tomaracuerdos de orden metropolitano; o bien, conconflictos por los servicios y las condicionesde vida que, en conjunto, acusan un cons-tante deterioro de los niveles de vida en vidametrópolitana de México.

Notas:1 En este trabajo no consideramos pertinente incluir

una discusión de los conceptos tales como mundiali-zación o, mas corrientemente la globalización,concepto que nos parece mejor aplicable paranosotros. Sin embargo, solo en un plano general,podemos recuperar la definición de Schugurenski,según la cual la globalización es una �dinámica conramificaciones culturales, económicas, políticas,sociales, que implican la intensificación de flujostransnacionales de la información, de materias, y delcapital alrededor del globo (que eliminan las barrerastécnicas, políticas o legales), el desarrollo de bloquesde negocios, y la consolidación de cuerpossupranacionales de gobierno y de poderes militares(traducción libre) (SCHUGURENSKI, 1999, p.285). Porsu parte, Isaac Perez afirma: �El proceso deglobalización en gran media ha sido impulsado porel modo de desarrollo informacional basado en latecnología del conocimiento y la información, den-tro del cual existe una conexión estrecha entre espírituy materia, lo cual nos muestra como expectativa elsurgimiento histórico de nuevas formas deinteracción, control y cambios sociales. Dentro de

estos últimos, la estructuración del fenómeno urba-no comienza a presentarse con tendencia a lainterconexión, a la interdependencia y a laintercomunicación con sus obvios ingredientes desubordinación, dependencia y dominación� (ISAACEnríquez Pérez �Los procesos de globalización y lapolítica pública como instrumento reestructuradordel espacio urbano en México. Las Ciudades mexica-nas y sus respuestas frente a la �Era de laInformación�).

2 En este trabajo se evita flagrantemente la utilizacióndel termino �movimientos sociales�, por noincluirnos en una polémica adicional al propósitocentral que de hecho, discute la �tradicionalidad� deeste concepto, en tanto nos proponemos el conceptode �grupos de contestación política�, como veremos.El tema de los movimientos sociales en México eslargamente tratado por diferentes autores. A manerade ejemplo, podemos citar los trabajos siguientes:Jorge Durand y Jorge Alonso �Teorizaciones sobremovimientos sociales; En La formación de la accióncolectiva en el nuevo modelo de desarrollo; Francis-co Zapata Pluralismo teórico y metodologías combi-nadas para el análisis de la acción colectiva; JuanManuel Ramírez Saíz. El pensamiento social y losactores colectivos en el fin de siglo mexicano; SergioZermeño Diez preguntas sobre los movimientossociales; Emilio Duhau, El concepto de movimientossociales: un balance inicial sobre su empleo en Méxi-co (1970-1996), entre muchos otros.

3 En dicho sentido, un análisis de las desigualdades deacceso al servicio del agua, por ejemplo, nospermitiría, por un lado, observarlas como un ciertoreforzamiento a los procesos de segregación socialde poblaciones desfavorecidas. Al mismo tiempo,como parte de los diferentes niveles de urbanizaciónde la metrópoli en su conjunto.

4 Según nos aclara Mario Matus, este proceso puede sersimilar en la experiencia de varios paíseslatinoamericanos (MATUS, 2000), o al menos es coin-cidente en la importancia que adquirieron losgobiernos locales en este periodo, en todo el conti-nente (NICKSON, 1996) .

5 Un ejemplo de todo ello puede notarse en la dotaciónde servicios. En el caso del agua, la dotación mediapor habitante es menor a los. 50 litros

diarios en los barrios pobres de la metrópoli de Méxi-co mientras que en las zonas residenciales, la dotaciónde agua alcanza los 500 litros diarios Rodríguez E,Gustavo. 2003. El agua en la Zona Metropolitana delValle de México. In Diagnóstico para la Actualizacióndel Programa de Ordenación de la Zona Metropoli-tana del Valle de México, ed. PUEC/UNAM/SEDESOL. México

6 Las razones del deterioro político del régimen hansido explicadas por diversos autores, en el pasado.Varios autores han hechos muy importantes trabajosal respecto Castillo J, Patiño E, (Coords). 1990. Cultu-ra Política de las Organizaciones y MovimientosSociales. México: Ed. La Jornada Iracheta AX, VillarC, coord. 1988. Política y movimientos sociales en laciudad de México. México: P y V editores. 196 pp.Perló C, Schteingart K, Marta. 1984. Movimientossociales urbanos en México. Revista Mexicana deSociología. n.46, p. 120.

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7 Si embargo, algunos autores han resaltado tambiénla aparición de grupos con liderazgos que noparecieron apoyarse en relaciones de clientelismopolítico, porque habrían introducido �formasinnovadoras de participación social ydemocratización en la toma de decisiones�. Avila G,Patricia. 2006. Movimiento urbano y conflictos porel agua. In: La Gota de la Vida. Hacia una gestiónsustentable y democrática del agua. México:Fundación Heinrich Böll., p.27; véase también NuñezO. 1990. Innovaciones democrático-culturales delmovimiento urbano-popular. México: UAM.

8 No obstante también se documentaron las luchassociales en otras ciudades del país como Chihuahua

(Orozco 1976), Monterrey (Montaño 1976), Durango(Mesa 1984), Cuernavaca y Guadalajara (Regalado 1986), entre otros (Castillo et al 1990).9 R. Maury aclara que no debe confundirse la

hidropolítica con la política del agua, ya que ésta úl-tima se refiere al quehacer del Estado en materia deagua (desde legislaciones hasta proyectos dedesarrollo).

10 Otro nivel podría ser el nivel internacional de losconflictos por el agua. Por los objetivos de este trabajo,no lo hemos abordado, no sin reconocer que en elpueden encontrarse elementos de alta importanciapara la geopolítica del agua en el mundo.

11 La autora abunda, �Por ejemplo, en algunas coloniasde Morelia (estado de Michoacán), se han registradoenfrentamientos por el agua que desencadenaron enla muerte de un colono (Tenencia Morelos, 1992) ointentos de homicidio (Loma de Santa María, 1993)(Á Bennet V. 1997. The politics of water: urban protest,gender and power in Monterrey. Mexico. Pittsburg,EUA: University of Pittsburg Pressvila, 2006, p.35).En ningún caso ella señala casos de este tipo en lametrópoli de México. De hecho, según nuestras pes-quisas, esos casos no existen hasta ahora.

12 La parte siguiente se inspiro parcialmente de unaclasificación que desarrolla Patricia Ávila, 2006. Op.Cit. p. 43 quien parece ser que es la persona con unamayor cantidad de trabajos tiene sobre los conflictosdel agua en México. Sin embargo, el texto de la auto-ra se limita a enumerar estos grupos, A diferencia deella, nosotros buscamos establecer los vínculos deestos grupos de contestación social con los cambiosde régimen político. Esta vinculación entre uno y otrofenómeno la hemos evidenciado en otros de nuestrostrabajos anteriores (Cf. bibliografía).

13 El gobierno del estado de México, dirigido porArturo Montiel (1998-2004) fue el primero en el paísen crear una �Secretaria del Agua�. Este gobernador,al finalizar su mandato participo en la competenciainterna de su partido, el PRI, para obtener la candida-tura a la presidencia. Paradójicamente, algunos me-ses antes fue envuelto en un escándalo de corrupciónque trascendió a nivel nacional y que habría sido unade las razones que hicieron perder al candidato de supartido, Roberto Madrazo, en julio 2006.

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112 Felipe de Alba

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Dissertações � Resumos

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DISSERTAÇÕES APRESENTADAS POR ACADÊMICOS DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL � MESTRADO ACADÊMICO -

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO � CAMPO GRANDE-MS(2002-2006)*

Desde 1998, o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local � Mestrado Acadêmico da Univer-sidade Católica Dom Bosco, vem se destacando em relação a outros programas de mestrado no país, por se tratarde um programa multidisciplinar, em que a interação entre as várias atividades desenvolvidas na vida profissio-nal dos mestrandos, aliada ao conhecimento adquirido academicamente, resulta no despertar para o desenvolvi-mento local endógeno, ou seja, de dentro para fora, brotando no seio da comunidade de forma a buscar oprotagonismo e consequentemente o seu desenvolvimento sustentável.

Ao todo são 88 dissertações concluídas e apresentadas no período de 2002 a 2006, as quais constituemtrabalhos intimamente relacionados, direta ou indiretamente, ao desenvolvimento local de pequenas comunida-des. As linhas de pesquisa do programa contemplam por um lado, reflexões sobre a dimensão cultural (materiale simbólica) dos sistemas territoriais locais nas suas relações com o desenvolvimento local, dando-se ênfase àsidentidades locais (inclusive religiosas), aos processos de interculturalidade, ao etnodesenvolvimento e às popu-lações tradicionais (com ênfase em territórios indígenas). Já em outro aporte, contempla o estudo a respeito dadinâmica territorial, na compreensão das formas de solidariedade sócio-comunitária e do uso sustentável dosrecursos naturais, para a formulação e gestão de iniciativas estratégicas para o desenvolvimento local.

A relação que segue foi organizada em ordem cronológica de apresentação das dissertações, seguidas donome do autor(a), do orientador(a) e data de apresentação da dissertação. Todos os trabalhos, sem exceção estãodisponíveis na Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local e na Biblioteca Felix Zavataro,no campus da Universidade Católica Dom Bosco-UCDB, na cidade de Campo Grande-MS e a partir de 2006 asdissertações começaram a ser inseridas no site do Programa: www.ucdb.br/mestrados/desenvolvimentolocal .

2002

1 - TÍTULO: INDICADORES POTENCIAIS DAS UNIDADES BÁSICAS DE NEGÓCIOS DA CADEIA PRODUTIVA DOCOURO, COMO ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO PARA MATO GROSSO DO SULNOME: Celso Flud JúniorORIENTADOR: Regina Sueiro de FigueiredoDATA DA APRESENTAÇÃO: 27/09/2002

RESUMO: Mato Grosso do Sul desponta no cenário nacional como o estado detentor do maior rebanho bovino do país.Entretanto, ocupa a segunda posição em abate, e a quinta na produção de couros brasileiros. O processamento da pelebovina atinge apenas o primeiro estágio de curtimento, obtendo-se como resultando o couro wet-blue, cuja transformação emsemi-acabado e acabado ocorre fora do Estado, deixando de agregar valores à economia estadual, também prejudicada pelacomercialização do couro wet-blue, que, em decorrência de sua qualidade inferior, realiza-se a preços menores, em relaçãoaos praticados com couros de melhor qualidade. O presente trabalho tem como objetivo geral investigar indicadores poten-ciais quantitativos e qualitativos das unidades básicas de negócios � produtores rurais, transportadoras, frigoríficos ecurtumes � como alternativas de desenvolvimento para Mato Grosso do Sul. As fontes da pesquisa foram as publicaçõespertinentes ao assunto, as instituições detentoras de dados a respeito e a aplicação de questionários e entrevistas nasunidades básicas de negócios. A pesquisa possibilitou o conhecimento quantitativo e qualitativo, histórico e atual, no âmbitoestadual, e, em determinados tópicos, no plano nacional e mundial, das relações entre a produção do gado bovino, seutransporte e abate, e o processamento da pele bovina. Permitiu, também, verificar os fatores condicionantes da má qualidadedo couro e suas causas. A correlação dos dados quantitativos de produção e de comercialização permite o dimensionamentodas capacidades utilizadas e dos incrementos possíveis, além das perdas financeiras na comercialização do couro, emfunção de sua qualificação em categorias inferiores. A classificação do couro wet-blue comercializado apresenta umaconcentração de 86% nas quinta, sexta e sétima categorias, cujas principais causas estão nas imperfeições apresentadas nocampo, em virtude da ação do homem e dos ectoparasitos. Em termos econômicos, a diferença de preços do couro wet-blue,entre os praticados e os possíveis, no caso de melhoria da qualidade, representa R$ 600 mil a menos de faturamento por dia,ou R$ 15 milhões mensais, ou, ainda, R$ 180 milhões anuais. Os subprodutos do processamento da pele são vendidos paraoutros Estados, quando poderiam ser industrializados no Estado para a fabricação de diversos produtos, gerando renda eempregos. O número de empregos diretos, proporcionados pelos produtores rurais, frigoríficos e curtume, atinge cerca de143 mil, podendo ser alavancado com um melhor aproveitamento das áreas utilizadas na criação do gado e das capacidadesinstaladas nos frigoríficos e curtumes. Espera-se que os dados e resultados apurados no presente trabalho possam promoverpesquisas especificas, subsidiar estudos e sensibilizar os agentes e atores envolvidos quanto à importância da cadeiaprodutiva do couro no desenvolvimento do Estado.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, p. 115-142, Mar. 2007.

* Pesquisa elaborada pelos mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local: Leila Cristina Gonçalvesde Oliveira (graduada em Ciências Econômicas) e Rodrigo Mota Fernandes (graduado em Marketing e Comércio Exterior).Ambos são bolsistas da CAPES.

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

2 - TÍTULO: TV UCDB: UM INSTRUMENTAL DE MARKETING PARA DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Rosane Aparecida FerreiraORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 18/11/2002RESUMO: O objetivo da dissertação foi pesquisar e analisar o marketing da televisão universitária da Universidade CatólicaDom Bosco TV UCDB, na expectativa de que esta mídia seja um instrumental de marketing e contribua diretamente para queo Desenvolvimento Local ocorra. O trabalho foi realizado em vários bairros na cidade de Campo Grande-MS. Seiscentos esessenta e dois questionários da pesquisa foram aplicados a pessoas que tinham TV a cabo. A análise dos dados aponta paravárias conclusões interessantes. Em primeiro lugar, a TV-UCDB é um veículo de comunicação pouco conhecido e por ser aCabo atinge um público restrito. Em segundo lugar, foi detectado que dentre as três Televisões Universitárias que compõemo Canal Universitário em Campo Grande, a TV UCDB detém o primeiro lugar no mercado. A mensuração de sua audiênciae a identificação de seu público-alvo são dificultadas pelo fato de ser uma mídia técnica. E ,finalmente, concluiu-se que a TVUCDB em sua peculiar atribuição que é disponibilizar para a sociedade os questionamentos e conhecimentos gerados nainstituição acadêmica, universalizando o saber, também é um poderoso instrumental de marketing e contribui significativa-mente para o exercício da cidadania, todavia está sub-utilizada por falta de um plano de marketing.

3 - TÍTULO: RURALIDADE E POTENCIALIDADES EM DESENVOLVIMENTO LOCAL DE SÃO GABRIEL DO OESTE/MSNOME: Robinson Jorge PaulistchORIENTADOR: Vicente Fidelis de ÁvilaDATA DA APRESENTAÇÃO: 22/11/2002RESUMO: O objetivo da pesquisa foi o de estudar as manifestações, explícitas ou implícitas, de potencialidades básicas parao desenvolvimento, de caráter endógeno, na dimensão comunitário-local do setor rural do município de São Gabriel do Oeste,Mato Grosso do Sul. A identificação e análise de potencialidades básicas para o irrompimento do desenvolvimento comuni-tário local, em São Gabriel do Oeste, tratada no âmbito do Desenvolvimento Local, teve como linha mestra, além do núcleoconceitual do Programa em Desenvolvimento Local, os aspectos referenciais de formação educacional nessa área de estudo.A metodologia adotada para realização deste trabalho foi embasada na pesquisa descritivo-qualitativa, utilizando astécnicas de entrevista semi-estruturada e de observação. O trabalho foi dividido em Introdução, cinco capítulos intermedi-ários: 1 - Referenciais Metodológicos e Conceituais, 2 - O Meio Rural Contemporâneo, 3 - Aspectos Pluridimensionais doMunicípio de São Gabriel do Oeste, 4 - A Comunidade de São Gabriel do Oeste Face ao seu Processo de DesenvolvimentoLocal, 5 - Potencialidades Relevantes; Conclusão do pesquisador sobre o trabalho desenvolvido em São Gabriel do Oeste,Bibliografia, na qual constam as referências citadas e utilizadas diretamente na pesquisa, e os Anexos (A, B e C). Aspotencialidades detectadas foram separadas em dois grandes grupos: explícitas e implícitas. Por explícita considerou-seaquela potencialidade verbalizada pelos entrevistados, ou escrita pelos participantes da oficina municipal, além da realiza-da por intermédio da consulta Delfos. Implícita, a que pode ser percebida tanto na fala dos entrevistados quanto pelaobservação do pesquisador. As potencialidades detectadas referem-se tanto ao viés do desenvolvimento rural quanto aocaráter geral do referencial teórico do Desenvolvimento Local.

4 - TÍTULO: SÃO GABRIEL DO OESTE: CONDICIONANTES TERRITORIAIS DE UM MEIO DINÂMICO EM MATOGROSSO DO SULNOME: Marcelo Ramão da Silveira BarbosaORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le Bourlegat.DATA DA APRESENTAÇÃO: 22/11/2002RESUMO: A questão central do presente trabalho foi identificar os fatores que se combinaram, no território de São Gabriel doOeste, para dar-lhe o caráter dinâmico e de renovação constante de suas combinações, diante dos momentos de crise queafetaram o sistema produtivo local durante o período estudado. Buscou-se analisar o papel de cada elemento da combinaçãoe seu peso nas articulações que implantavam no território. Utilizando-se da abordagem multi-escalar e da visão sistêmica darealidade, foi possível identificar os fatores que desencadearam as transformações que o meio e no meio foram postas e queao se combinarem tornaram o meio dinâmico. Analisou-se o papel dos fatores físicos, humanos e biológicos das combinaçõese o peso de cada uma dessas variáveis ao longo do tempo. Identificou-se a relação do meio com o sistema econômicointernacional e sua sensibilidade a qualquer transformação que nele ocorra.

5 - TÍTULO: DIAGNÓSTICO SÓCIO-ECONÔMICO DE ASSENTAMENTOS RURAIS NA REGIÃO DE PONTA PORÃ EAS PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Marco Aurélio Perroni PiresORIENTADOR: Reginaldo Brito da Costa.DATA DA APRESENTAÇÃO: 25/11/2002RESUMO: Procurou-se mostrar a realidade dos assentamentos rurais do município de Ponta Porã Estado de Mato Grosso doSul, através do diagnóstico sócioeconômico. O objetivo foi verificar se está havendo desenvolvimento local sustentável nosassentamentos rurais do município estudado. Os estudos tiveram início com a caracterização dos assentamentos em suatrajetória desde o acampamento até a sua instalação e situação atual, por meio da coleta de informações nos órgãos oficiaisgovernamentais e com a aplicação de um questionário aos assentados �in loco�. Em seguida realizou-se uma análise dosdados coletados por meio de questionamento realizado nos assentamentos. Visualiza-se a situação atual dos assentamentosem relação às ações realizadas nas localidades estudadas, inclusive a dificuldade que os técnicos encontram em prestar umserviço de Assistência técnica. Levantou-se também a perspectiva dos assentados em relação aos projetos de desenvolvimentodos assentamentos pesquisados, com as expectativas, anseios e desejos explícitos como possibilidades efetivas de realmenteestar alcançando o seu objetivo: melhora da qualidade de vida através do seu trabalho, identificando-se com o local edelimitando o seu território através do estabelecimento das redes de cooperação e integração. Concluiu-se que os assenta-mentos pesquisados demonstram a sua realidade e situações efetivas de que precisa haver melhora no processo dos mesmos,

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

por diversas circunstâncias como atitudes inadequadas, podem e devem ser revistas para elaborar novas ações capazes depromover o desenvolvimento local e sustentável desses assentamentos, uma vez que o modelo proposto encontra-se distantedo ideal, mas se tomadas às providências devidas, o desenvolvimento local sustentável será uma realidade.

6 - TÍTULO: A RÁDIO COMUNITÁRIA COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Cláudia Mara Stapani RuasORIENTADOR: Mariluce BittarDATA DA APRESENTAÇÃO: 25/11/2002RESUMO: Esta dissertação teve como objetivo geral analisar até que ponto a radiodifusão comunitária pode ser consideradacomo fator de desenvolvimento local. Investigou-se também o tipo de programação veiculada, o grau de influência da gradede programação e sua importância no cotidiano dos ouvintes, bem como as características das comunidades pesquisadas:Bairro Guanandi e Bairro José Abrão. Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se por pesquisa qualitativa e questioná-rios semi-estruturados, aplicados aos presidentes das associações comunitárias e aos ouvintes das emissoras locais, escolhi-das para esta investigação: Rádio Comunitária Nova Maracanã e Rádio Comunitária Metropoly. Com base nas conceituaçõesteóricas de radiodifusão e nas abordagens orientadas pela perspectiva do desenvolvimento local, constatou-se que os doisprocessos assemelham-se em sua essência, principalmente porque devem ser geridos pela e para a comunidade. Apesar detodas limitações, tanto de ordem interna quanto externa, a radiodifusão possui o poder, seja em que localidade for inserida,de construir cultura democrática, indivíduo cidadão em direção à sociedade que considere o ser humano como forçamotivadora, propulsora e receptora dos benefícios do relacionamento entre a radiodifusão local e desenvolvimento comuni-tário. Concluiu-se que, a radiodifusão comunitária pode ser considerada como fator de desenvolvimento local ou não,dependendo de como a própria comunidade se apropria dela como instrumento de cidadania.

7 - TÍTULO: A RÁDIO FM UCDB: UMA ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Valter DemirdjianORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 29/11/2002RESUMO: Esta dissertação visa mostrar que, a Rádio FM UCDB é uma alternativa para conscientizar a população ouvinte,dos atributos necessários para que o Desenvolvimento Local ocorra. Para tanto foi necessário inteirar-se do histórico daFundação Dom Bosco, para detectar sua filosofia, além de conhecer a sua estrutura. O referencial teórico aliado à grade deprogramação e a pesquisa de campo propiciaram a interação entre a Rádio FM UCDB e o Desenvolvimento Local, mostrandodefinitivamente que os meios justificam os fins.

8 - TÍTULO: O TURISMO NO ESPAÇO RURAL DO PANTANAL SUL-MATO-GROSSENSENOME: Noslin de Paula AlmeidaORIENTADOR: Adyr Balestreri RodriguesDATA DA APRESENTAÇÃO: 30/11/2002RESUMO: Esta pesquisa que adota o turismo no espaço rural como tema principal, tem como objetivo conhecer e analisar aimportância deste fenômeno na região do Pantanal, especificamente no Estado do Mato Grosso do Sul. A atividade turísticaocupou um espaço de destaque na economia local com o desenvolvimento de diferentes segmentos como o turismo rural,ecoturismo, agroturismo e turismo ecológico. Em diferentes regiões do interior do Estado as comunidades autóctones foraminseridas em um cenário que vislumbrava o turismo como uma nova e promissora fonte de renda, e ainda com a possibilidadede ter o meio ambiente preservado em favor de uma atividade dita como sustentável. A trajetória do turismo no espaço ruralem Mato Grosso do Sul possui características próprias de outras regiões do país onde já se desenvolveu. Porém, a forma deexploração da atividade turística, que coloca o meio ambiente e a população local como atores principais do processo, nemsempre lhes proporciona a melhoria desejada na qualidade de vida, assim como a preservação ambiental necessária. Oreconhecimento do Pantanal como um destino eminentemente ecológico, leva-nos a uma observação e reflexão críticasnecessárias sobre os aspectos culturais do homem pantaneiro, muitas vezes prejudicado na oferta do produto turístico. Porfim, o turismo rural e o ecoturismo vêm como um segmento que busca agregar valor ao produto turístico com a inserção eo enaltecimento da cultura do homem pantaneiro, objetivando a busca de um desenvolvimento sustentável com base local.

9 - TÍTULO: IMPLANTAÇÃO, AVANÇOS E CONQUISTAS DO ASSENTAMENTO CAPÃO BONITO EM SIDROLÂNDIANOME: Célia Regina Pirolo dos ReisORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 09/12/2002RESUMO: Os conflitos de terra no Brasil têm seu eixo embrionário a partir da chegada dos portugueses. Em 1534, o territórioBrasileiro foi dividido em capitanias hereditárias e posteriormente o modelo econômico da produção pautada na monoculturade cana-de-açúcar, voltada para exportação e a aprovação da Lei de Terras em 1850, acentuou ainda mais a concentração deterras nas mãos de poucos, formando assim os grandes latifúndios. Na estrutura fundiária de Sidrolândia sempre predominaramas grandes propriedades, dentre elas a fazenda Capão Bonito. Visando à possibilidade de criação de um assentamento nessaárea, o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Sidrolândia visitou a Superintendência Regional do INCRA para viabilizar aimplantação de um assentamento. Em 14 de dezembro de 1988, o Instituto Nacional de Reforma Agrária apresentou a propostade criação do assentamento e o mesmo foi implantado em uma área de 2,705 mil hectares e beneficiou 133 famílias oriundas dediversas cidades de Mato Grosso do Sul. Após doze anos de implantação é possível fazer uma análise das conquistas e dosavanços alcançados. Em 1990 verificou-se que 85% da área do assentamento apresentava solo com baixa fertilidade, inviabilizandoassim a produção agrícola. Na busca de soluções para este problema a Empaer orientou os parceleiros a buscarem na produçãodo leite e na avicultura uma alternativa econômica para se manterem na terra. O assentamento foi beneficiado também com umaescola dotada por três etapas da Educação Básica, um posto de saúde onde funciona o Programa de Saúde da Família, umorelhão e uma linha de transporte diária. No dizer dos assentados, �agora sim está se efetivando a verdadeira reforma agrária�.

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10 - TÍTULO: INICIATIVA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL NO SETOR DO VESTUÁRIO EM MATO GROSSO DOSUL: O CONSÓRCIO DE EXPORTAÇÃO COMO ALTERNATIVANOME: Milton Brás Portocarreiro NaveiraORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le BourlegatDATA DA APRESENTAÇÃO: 18/12/2002RESUMO: Os novos processos de comunicação vêm colocando os empreendedores em contato com os diversos nichos docomércio internacional em praticamente todos os setores econômicos, ampliando oportunidades para micro e pequenasempresas. Estas, para se tornarem competitivas diante de grandes organizações procuram inserir-se em redes relacionais decooperação. O �consórcio de exportação� vem se apresentando como uma alternativa importante nesse sentido.Em MatoGrosso do Sul, o setor de vestuário foi o primeiro a se mobilizar para organizar um consórcio de exportação, com sede emCampo Grande. A pesquisa concentrou-se na busca de responder se esse setor reunia capacidades endógenas para sercompetitivo no mercado internacional por meio do consórcio de exportação como alternativa de desenvolvimento.O objetivofoi o de avaliar essa iniciativa, do ponto de vista das empresas participantes e do próprio consórcio em si, como forma decooperação empresarial, analisando sua situação de competitividade em termos de articulação interna e local e de capacida-de de inovação e gestão de seu negócio. O método de abordagem foi sistêmico, com análise ampliada (técnicas quali-quantitativas) e multiescalar (ambientes meta, macro, meso e micro) dos dados coletados direta e indiretamente. Observou-se que o grupo de sete empresas consorciadas já obteve respostas positivas junto ao mercado alemão e italiano, ainda quenecessite avançar na articulação e funcionalização dos empreendimentos dentro do consórcio e a aglomeração do setor aindanão tem sido suficiente para atrair e articular os outros elementos da cadeia produtiva dentro do Estado propiciando aotimização do desempenho desse setor.

11 - TÍTULO: ALTERNATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL DA REGIÃO DE TRÊS BARRAS NO MUNICÍ-PIO DE CAMPO GRANDE-MSNOME: Carlos José de OliveiraORIENTADOR: Luis Carlos Vinhas ÍtavoDATA DA APRESENTAÇÃO: 20/12/2002RESUMO: O objetivo desta pesquisa foi identificar alternativas para o desenvolvimento rural da região de Três Barras,localizada na região sudeste do Município de Campo Grande � MS, contextualizando fundamentos teórico - metodológicosde Desenvolvimento Local, indicando caminhos para que os pequenos proprietários rurais descubram seus potenciaisendógenos e despertem para iniciativas coletivas próprias, visando à construção de uma melhor qualidade de vida para suascomunidades. O presente trabalho poderá contribuir para subsidiar conhecimentos para aplicação de políticas públicas paraa região-objeto de estudo ou outras que apresentem um perfil semelhante. Para a realização deste estudo, consultamosdocumentos como atas, ofícios, relatos, pareceres técnicos, legislação e entrevistamos, como complementação das informa-ções, os atores sociais direta e indiretamente ligados à região-objeto de estudo. Este estudo indicou a existência de importan-tes alternativas para o fortalecimento das pequenas propriedades rurais na região de Três Barras, com base no interesse dosatores sociais locais em agenciar mudanças que contemplem o interesse coletivo, entre elas o fortalecimento da instituiçãoassociativista, a luta para a criação de um Laticínio - Escola, beneficiando alunos e produtores de leite, bem como aindustrialização da produção local, por meio da agroindústria rural de pequeno porte.

12 - TÍTULO: COMUNIDADE, ESCOLA E DESENVOLVIMENTO LOCAL: ESTUDO NO ÂMBITO DA COMUNIDADEURBANA E DO ENTORNO DO DISTRITO DE ANHANDUÍ, MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE-MSNOME: Izaura Maria Moura CamposORIENTADOR: Vicente Fideles de ÁvilaDATA DA APRESENTAÇÃO: 20/12/2002RESUMO: O objetivo deste trabalho foi o de estudar a comunidade urbana e a do entorno do Distrito de Anhanduí,município de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, para caracterizar as potencialidades que ela detém para co-participar depossível processo de concepção e gestão de sua instituição escolar como pólo estratégico de formação e irradiação da culturade desenvolvimento local endógeno em toda a comunidade. Estudos preliminares foram realizados para se conseguir oembasamento teórico dos quais resultou o livro: �Formação educacional em Desenvolvimento Local: relato de estudo emgrupo e análise de conceitos� (ÁVILA et al., 2000). Posteriormente, implementaram-se as sessões de observação no local e acoleta de materiais por meio de entrevistas semi-estruturadas, tendo sido ouvidas várias pessoas, inclusive algumas indire-tamente ligadas ao Distrito, tais como executivos e outras autoridades do âmbito municipal e a comunidade local, suaslideranças e demais pessoas comuns. Essa parte do trabalho de campo, no Distrito de Anhanduí, aconteceu em doismomentos. No primeiro momento ouviram-se as lideranças formais do Distrito, como: representante do Conselho Regionalde Anhanduí, Presidente da Associação de Moradores, dono do Cartório de Registro Civil, representantes das igrejas(católica e evangélica), comerciantes, professores e alunos. Como todas essas entrevistas ocorreram no ano 2000 e para seobter um trabalho mais atualizado, pois nesse período houve mudanças no Distrito, é que esta pesquisadora resolveuretornar ao local e entrevistar cinco pessoas da comunidade: comerciantes, empresários e o representante do ConselhoRegional do Distrito de Anhanduí. Nessas entrevistas realizadas foram detectadas várias potencialidades latentes, algumasaté implícitas: a solidariedade, o espírito participativo, a cooperação e união das pessoas que sentem a necessidade dageração de empregos e de se obter maior investimento na educação. Vêem a escola como pólo estratégico de formação decultura, pois é o centro de tudo, e a educação como prioridade para o desenvolvimento do Distrito. Sentimos que acomunidade tem uma visão de futuro bastante ousada, como demonstraram participantes da comunidade durante a oficinarealizada para elaboração do Plano Regional de Desenvolvimento para a Região de Campo Grande e entorno.

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. V. 8, N. 1, Mar. 2007.

13 - TÍTULO: TURISMO E TERRITORIALIDADE: O MESTICISMO COMO MANIFESTAÇÃO EM BOA SORTE-MSNOME: Waldir LeonelORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 20/12/2002RESUMO: A presente pesquisa, visa analisar a importância do turismo místico na localidade de Boa Sorte e suas implicaçõesno desenvolvimento local. O turismo como viés do desenvolvimento, para as comunidades do território, traz discussões acercadas potencialidades encontradas na área estudada. A localidade possui forte manifestação mística, dada aos atrativos encon-trados no local, apresentando grande poder de atração de turistas, indivíduos e grupos que interferem, de alguma maneira, nasatividades da população. Assim sendo, analisou-se a influência da ufologia, como fenômeno, e a sua manifestação napopulação turística e local. Fenômenos estes, originados de dois empreendimentos turísticos, os quais denotam um espaçosacralizado. Foram realizados trabalhos de campo, com aplicação de questionários, entrevista, documentação oral e fotográfica.Identificou-se durante o processo, quem é o consumidor destes espaços, pelo perfil do visitante. Diante dos resultados,consideramos os seguintes pontos: o tipo de desenvolvimento que ocorre é exógeno e a comunidade está alheia ao processo. Oterritório analisado, não se restringe apenas ao município de Corguinho, visto que o processo avança também para o municípiovizinho. Faz necessário, portanto, traçar estratégias junto à comunidade, para que busquem as vias do desenvolvimento.

2003

14 - TÍTULO: DESENVOLVIMENTO LOCAL EM ÁREA DE CONFLITO INTERÉTNICONOME: Maria Christina Sollberger PaccaORIENTADOR: Antonio Jacob BrandDATA DA APRESENTAÇÃO: 13/02/2003RESUMO: A implementação de ações de Desenvolvimento Local em áreas de conflito interétnico, entre Índios Kaiowá ecolonos assentados no Sul de Mato Grosso Sul, pode auxiliar na solução de dilemas comuns no território, buscando, nocotidiano da convivência, a criação e o desenvolvimento de capital social para fazer emergir possibilidades locais e capacida-des de efetivações coletivas. Ações voltadas ao estímulo do diálogo e da reflexão sobre as necessidades imediatas dos atores,intermediadas pelo Estado, gerador do conflito, podem permitir a construção de entendimentos capazes de unir os doisgrupos na busca de uma solução para o próprio conflito de fundo: a questão do direito à terra. Nesse sentido, desenvolveu-se um trabalho de reflexão, observando contradições históricas, étnicas e cotidianas, e interações possíveis de solidariedadee confiança mútua no contexto da territorialidade.

15 - TÍTULO: CADEIA PRODUTIVA DA CARNE DE FRANGO EM MATO GROSSO DO SUL: RELAÇÕES ORGANIZA-CIONAIS, INSTITUCIONAIS E ENTRE SEUS ELOS, COMO CONSEQÜÊNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Mara Huebra de Oliveira GordimORIENTADOR: Tito Carlos Machado de OliveiraDATA DA APRESENTAÇÃO: 26/02/2003RESUMO: Qualquer intervenção econômica, seja ela pública ou privada, não pode ter seus efeitos completamente medidose compreendidos, se não a entendermos como parte de um sistema composto por vários elos, com complexas relações entreas unidades e agentes que a compõem e, principalmente, se não a inserirmos em um mundo globalizado, onde a interdependênciaé a característica fundamental das unidades responsáveis pelos fluxos do mercado mundial. Desta forma, a análise dacadeia produtiva da carne de frango em Mato Grosso do Sul, objeto desta dissertação, se constitui principalmente, naobservação não só das relações existentes entre seus elos e na relação da própria cadeia com a sociedade sul-mato-grossense,mas como estas relações interferem no desenvolvimento local, segundo os sistemas territoriais identificados por DenisMaillat. Para isto, a metodologia utilizada foi a entrevista semi-estruturada, com análise ampliada � técnicas quanti-qualitativas � com dados coletados direta e indiretamente no campo da economia positiva, e posteriormente da economianormativa. Esta análise permitiu a elaboração de sugestões para o governo estadual no sentido de tornar o setor maiscompetitivo, harmônico e justo, tanto econômica quanto socialmente.

16 - TÍTULO: CIDADES SÃO CENÁRIOS DE ENCONTROS: GESTÃO URBANA E DEMOCRACIA E DESENVOLVI-MENTO LOCAL EM CAMPO GRANDE-MSNOME: Sérgio Seiko YonamineORIENTADOR: Tito Carlos Machado de OliveiraDATA DA APRESENTAÇÃO: 27/02/2003RESUMO: Nesta dissertação, debruço-me sobre as cidades. Olho para Campo Grande e nesta enxergo todas as outras. Deixode lado estudos específicos sobre seu território, e me dirijo, fascinado, ao exame das diferenças que existem na constituiçãofísica, de cidade para cidade, e das relações dos moradores de cada uma com o lugar onde se fixaram. Descarto como pontofocal o exame das forças sociais locais, os antagonismos e as convergências que se criam entre elas e suas relações com ocotidiano das comunidades. Quero fazer outra reflexão. Em um exercício de abstração, busco o âmago, a razão de existircidades. E encontro uma resposta: as cidades existem, porque os homens querem ser livres. Seria temerário afirmar que ascidades, e somente estas, propiciam a liberdade, mas é certo que a liberdade, apenas ela, justifica a cidade. Tendo como panode fundo a análise crítica dos processos de gestão da cidade de Campo Grande, a partir de sua elevação à condição de capitaldo novo Estado de Mato Grosso do Sul em 1977 e, principalmente, do período inaugurado com a Constituição de 1988, atéa edição da lei 10257, em julho de 2001, que institui o Estatuto da Cidade, na dissertação faço um passeio teórico pelos temasque, na verdade, interessam-me, a liberdade, a democracia, o desenvolvimento e a condição urbana. Nesta análise, volto-meespecialmente às experiências de planejamento participativo, iniciadas em meados da década de 1980, às mudançasinstitucionais e a consolidação da gestão democrática, bem como às articulações entre o ordenamento territorial e a organização

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política com suas implicações nos processos de desenvolvimento acontecidos. Concluo com uma análise dos riscos que oprocesso em curso pode correr e proponho passos a serem implantados para sua continuidade. Na dissertação procuroenxergar com o olhar dos viajantes, querendo ver todo do percurso das caminhadas e ao mesmo tempo conseguir percebertodos os detalhes do cotidiano dos lugares visitados. Como um viajante, oscilo entre a isenção de observador passante e apaixão e a insistência de quem vislumbra no dia a dia de cada cidade visitada, momentos de sua própria vida.

17 - TÍTULO: CULTURA MATERIAL E PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL: A CERÂMICA KADIWÉUNOME: Vlademir SennaORIENTADOR: Emilia Mariko KashimotoDATA DA APRESENTAÇÃO: 27/02/2003RESUMO: A cerâmica indígena Kadiwéu foi o objeto de estudo desta pesquisa, com intuito de analisar sua potencialidadepara se constituir a base material de uma proposta de desenvolvimento local, considerados seu valor etnocultural, suascaracterísticas originais e as mudanças geradas, a partir do contato com a civilização branca, além do caráter laboral queperpassa sua produção, ao longo do tempo e no contexto da realidade atual. O primeiro capítulo, consta de um breve painelhistórico desde a grande nação Guaicuru até a junção dos Guaicuru do Sul com os Mbaya do Norte, da qual resultaram osatuais índios Kadiwéu, com destaque para a questão da arte ceramista. No segundo capítulo, foram analisados os meios dedistribuição da cerâmica Kadiwéu produzida para o comércio turístico, face ao valor que lhe é atribuído dentro do contextocultural indígena, por meio de entrevistas nos pontos de venda nas principais cidades sul-mato-grossenses que a comercializam.No terceiro capítulo, foi feito um estudo comparativo entre as características das peças Kadiwéu do acervo da UCDB,oriundas da aldeia Alves de Barros, e aquelas dos registros de Boggiani (1897), ao tempo em que foram analisados osdepoimentos de algumas artesãs ceramistas a respeito dos traços característicos de sua produção, colhidos em entrevistasrealizadas por Siqueira Jr (1993). No quarto capítulo, procurou-se estudar a correlação entre a arte indígena e a proposta dodesenvolvimento local, como uma possibilidade de preservação e manutenção da cultura Kadiwéu.

18 - TÍTULO: AS AÇÕES DA COMISSÃO DE CONSERVAÇÃO AMBIENTAL DE SÃO GABRIEL DO OESTE: UMAALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Gislene Garcia de Souza FerreiraORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 28/02/2003RESUMO: O resgate histórico das ações da Comissão de Conservação Ambiental de São Gabriel do Oeste, com detalhes dospersonagens que se destacaram, das leis criadas, da conscientização da população e sua inserção no contexto do Desenvol-vimento Local são os pilares desta pesquisa que traz informações relevantes como o projeto inicial e o perfil do município,para que pudéssemos vislumbrar as mudanças ocorridas em âmbito municipal e em seus habitantes, atitudes estas obser-vadas até os dias de hoje, fruto do esforço de pessoas comuns que foram os líderes deste movimento. A capacidade deorganização destes atores locais que orientaram as ações da Comissão de Conservação Ambiental de São Gabriel do Oeste,promovendo o desenvolvimento local de forma equilibrada, com gestão dos recursos locais e principalmente visando aodesenvolvimento sustentável, com mudanças harmônicas, crescimento econômico, alternativas de bem estar do ser humano,e conservação dos recursos naturais. A força da comunidade no desenvolvimento de seu município, valorizando a terra,implantando projetos, buscando recursos federais, estaduais, municipais e privados, enfim, a união na conquista dosobjetivos comuns e o reflexo destas ações inclusive no cenário internacional.

19 - TÍTULO: PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL DOS PEQUENOS PRODUTORES DE LEITE DOMUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE- MS � (AGOSTO 2001 � AGOSTO 2002)NOME: Rosirene Reggiori Pereira CaldasORIENTADOR: Antonia Railda RoelDATA DA APRESENTAÇÃO: 06/03/2003RESUMO: A atividade leiteira no Brasil possui enorme representatividade decorrente de seu aspecto econômico, social e emteor nutritivo dos alimentos, no entanto, do ponto de vista organizacional, tecnológico e gerencial é muito frágil e apresentareduzida competitividade e lucratividade. O presente trabalho teve como principal objetivo diagnosticar a pequena produ-ção primária leiteira do município de Campo Grande-MS, da produção à comercialização, em face da regulamentação denovas normas para a captação, armazenamento, transporte e industrialização do produto sob o enfoque do desenvolvimentolocal. O trabalho consistiu na análise de dados de uma pesquisa desenvolvida na área rural do Município pela SecretariaMunicipal de Desenvolvimento Econômico (SEDEC), em parceria com o Sindicato Rural de Campo Grande e a Universidadepara o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (UNIDERP), durante o período de agosto de 2001 a agosto de2002. O diagnóstico demonstra que a atividade leiteira para os pequenos produtores do Município é de extrema importânciana composição da renda mensal, mesmo apresentando uma reduzida produtividade, qualidade e baixo poder de negocia-ção. Na interação entre o perfil do pequeno produtor de leite e a nova legislação regulamentada pelo governo, constatou-seque o segmento não dispõe de condições estruturais e financeiras propícias à adoção das inovações tecnológicas propostas.A proposição de inovações para o aumento da competitividade e lucratividade do setor não surtirá o efeito desejado,enquanto não houver uma adequação entre a realidade e as especificidades das comunidades locais em que se projetam. Agarantia a pesquisas e assistência técnica local, a difusão de informações, a capacitação da mão-de-obra, o acesso a linhasde crédito diferenciadas, o controle e a garantia de preços mínimos dos produtos, o incentivo à pequena indústria rural e, oestímulo às organizações sociais cooperativistas e associativistas são sugeridos como mecanismos e estratégias para aviabilização do desenvolvimento rural sustentável. Para isto, torna-se necessária uma redefinição da atuação governamentale da sociedade na formulação de políticas públicas.

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20 - TÍTULO: A DINÂMICA DAS EMPRESAS FAMILIARES NAS REGIÕES DE DOURADOS E TRÊS LAGOAS E SEUSREFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Sheila Madrid SaadORIENTADOR: Regina Sueiro de FigueiredoDATA DA APRESENTAÇÃO: 08/03/2003RESUMO: As empresas familiares são definidas mundialmente como uma forma de unidade de negócio que, por suanatureza atípica, ou seja, vinculada à cultura e aos valores estabelecidos pela família, devem ser estudadas e analisadas deuma maneira particular. É preciso lembrar que, para uma empresa se tornar-se profissional, o primeiro passo não é contrataradministradores profissionais que não pertençam à família; o fundamental é a atitude que a família assume diante daprofissionalização. Muitos executivos contratados por estas empresas queixam-se de problemas como falta de clareza naorientação que a família pretende imprimir à empresa e das dificuldades de conseguir resultados onde há muitas situaçõesquestionáveis. Para a maior parte das pessoas, as duas coisas mais importantes em suas vidas são suas famílias e seutrabalho. É fácil compreender o poder das organizações que combinam ambas as coisas. Estar em uma empresa familiar éalgo que afeta todos os participantes. Como as empresas familiares construídas sob a égide da família e como a família é abase da sociedade, a cada momento de crise dessas organizações, entram em crise também a localidade, que precisa definiruma nova dinâmica para equilibrar o território. Estudar os fatores que envolvem as organizações familiares é permitir queexista uma análise correlata de uma importante força que impulsiona o desenvolvimento local.

21 - TÍTULO: A ENERGIA E O DESENVOLVIMENTO LOCAL NO AMBIENTENOME: Elizeu Pereira VicenteORIENTADOR: Regina Sueiro de FigueiredoDATA DA APRESENTAÇÃO: 08/03/2003RESUMO: A pesquisa da relação entre o uso da eletricidade no ambiente rural e a modernização produtiva procura mostrar arelevância deste insumo para o desenvolvimento do setor primário, principal vetor da economia no Estado de Mato Grosso doSul. No final da década passada, foi implementado em todo o país o Programa �Luz no Campo�, pelo Governo Federal,objetivando a intensificação das atividades rurais pela agregação tecnológica ao produto originário do campo com a eletrifica-ção rural. Mais recentemente, foi instalada a política de �Universalização do Atendimento de Energia Elétrica� no país, uminstrumento ainda mais intenso para levar a energia elétrica aos cidadãos, ainda não atendidos, tanto no meio rural quantourbano. Neste estudo, procura-se analisar potenciais, diretrizes capazes de articular soluções para a dotação de infra-estruturade energia elétrica às propriedades ainda não atendidas no ambiente rural, aproveitando-se estas iniciativas, considerandocomo laboratório de experiência a região central de Mato Grosso do Sul que envolve os municípios de Campo Grande, Ribas doRio Pardo e Sidrolândia. A necessidade de delimitar-se um espaço geográfico levou-nos à escolha destes três municípios, pelarepresentatividade da amostra e diversidade de características no contexto regional. A significativa distinção das característicasde atendimento entre o meio rural e urbano, aliada aos objetivos de análise da influência das inovações técnicas produzidas pelautilização da energia na produtividade do campo, objetivou a dedicação específica do estudo focado no ambiente rural. Foramrealizadas pesquisas de campo semi-estruturadas nos três municípios, tratadas em conjunto com pesquisas bibliográficas,direcionadas à análise da perspectiva de aumento da produtividade e conseqüente qualidade de vida do produtor rural, a partirda utilização da energia elétrica nos processos de produção. A proposta de uma solução híbrida, dispondo-se de um roldiferenciado de fontes energéticas, apesar de ser complexa em termos de concepção técnica, pode ser adequada à realidadeeconômica e ambiental de cada aplicação, tratando o problema menos pela ótica da eletrificação rural, e mais pela energia rural,para a qual a composição de fontes primárias e secundárias poderá se constituir na melhor alternativa. Estas alternativas paratratar a oferta de energia para cada solução pesquisada deve ser coerente com as necessidades próprias de cada utilização, eesta sim é uma característica peculiar de cada propriedade e proprietário rural. Pensando no setor de infra-estrutura comoelemento genérico para instrumentalização dos estudos, e no tema energético como foco mais específico em análise, é queinserimos o tema no contexto do Programa de Desenvolvimento Local.

22 - TÍTULO: A ENERSUL NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO DA INFRA-ESTRUTURA DE ENERGIA-ELÉTRICAEM MATO GROSSO DO SUL DE 1979 A 1999NOME: Lúcio Kaiti KawanoORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 12/03/2003RESUMO: Esta pesquisa teve como objetivo identificar o grau de benefício em relação às intenções, investimentos e serviçospropostos e realizados pela ENERSUL para a sociedade sul-mato-grossense. Tais serviços referem-se à adoção da gestãopela qualidade total como forma de gerenciamento, na utilização das mais recentes tecnologias, na capacitação de seusfuncionários para poderem operar com os mais recentes equipamentos tecnológicos, operação de diversas redes, combinandoserviços em novos produtos, desenvolvendo produtos avançados e novos negócios com a utilização das sinergias com o seucore business. A pesquisa caracteriza-se pela investigação exploratória, descritiva e explicativa.

23 - TÍTULO: VOUCHER ÚNICO: UM MODELO DE GESTÃO DA ATIVIDADE TURÍSTICA EM BONITO-MSNOME: João Francisco Leite VieiraORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 13/03/2003RESUMO: A relação entre turismo e território converge para o processo de transformação, com a apropriação e consumo deespaços na produção de territórios turísticos, na construção do capital social em Bonito-Mato Grosso do Sul. Sob a ótica daterritorialidade e do desenvolvimento local, o conhecimento histórico é de fundamental importância para a compreensão dosfatores que contribuíram para a consolidação de práticas sustentáveis para o meio ambiente. As variáveis do desenvolvimen-to local estabelecem influência direta. Com relação ao homem, o meio ambiente e as comunidades primeiras, coloca-se comocondição, na análise do surgimento espontâneo de um instrumento de gestão, o Voucher Único, criado por um membro dacomunidade e em torno do qual se estabeleceu um pacto de adoção e utilização, por todos os atores da atividade turística

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local. O Voucher passou a ser comercializado nas agências em Bonito, sem, contudo a Prefeitura abdicar do controle dafreqüência; a partir daí baseado na constituição de uma rede de cooperação voltada a exploração sustentável dos recursosturísticos do município, envolvendo o poder público e o trade turístico.

24 - TÍTULO: CONDIÇÕES SÓCIOECONÔMICAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL NO ASSENTAMENTO PARAÍSOEM MATO GROSSO DO SULNOME: José Leonel RibeiroORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le BourlegatDATA DA APRESENTAÇÃO: 26/03/2003RESUMO: Esta dissertação analisa a melhoria das condições socioeconômicas das famílias de trabalhadores sem terra, comvistas no Assentamento Paraíso de Terenos-MS, após terem sido assentados pelo Programa Nacional de Reforma Agrária eadquirido a condição de pequenos proprietários rurais. A grande preocupação foi com relação aos tipos de resultados maisconcretos que possam estar sendo obtidos pelos esforços, tanto em nível das unidades familiares quanto da coletividade deassentados, no sentido da melhoria de sua condição socioeconômica e do desencadeamento de um processo de desenvolvi-mento local. O objetivo do trabalho foi o de investigar a estrutura, organização e funcionamento da dimensão socioeconômicadas famílias envolvidas no Projeto de Assentamento de Reforma Agrária Paraíso, no município de Terenos-MS, tanto noâmbito da unidade da parcela, quanto do assentamento, comparando essas condições com aquelas vivenciadas anterior-mente, de modo a observar nesse estudo de caso, em que medida o projeto contribuiu para sua melhoria. Abordou-se amelhoria das condições socioeconômicas a partir da percepção dos atores do processo, ou seja, das famílias do assentamentoParaíso, assim como de condições concretamente constatadas. Foram utilizadas como fontes da investigação, pesquisadocumental e bibliográfica, levantamento de campo com aplicação de questionários aos titulares e filhos maiores de 14 anose entrevista com o presidente da associação de assentados. Na análise dos dados coletados, foi utilizado o método da análiseampliada, combinando-se técnicas quantitativas e qualitativas. Para as famílias de origem rural, embora as condiçõessocioeconômicas ainda sejam inadequadas, houve melhoria, se consideradas sua condição anterior ao assentamento. Quantoàs famílias de origem urbana, houve perda de qualidade dos serviços sociais e de infra-estrutura. Embora a variação médiada renda das famílias de origem rural tenha apresentado uma melhor performance que a das famílias de origem urbana, arenda das primeiras continua menor que a das segundas. Observa-se que 53 % das famílias encontram-se abaixo da linha depobreza. Percebe-se que o objetivo maior para o ingresso no Programa Nacional de Reforma Agrária foi o desejo de produzirna própria terra, ficando em segundo e terceiro lugar, respectivamente, deixar de ser empregado e aumento de renda. Quantoaos filhos dos titulares, se não houver melhoria da renda familiar, 73% deles pretendem retornar às cidades. Conclui-se queos assentados não possuem condições suficientes para conduzir, de forma autônoma, um processo de desenvolvimento naescala humana.

25 - TÍTULO: PENSAMENTO DE AGENTES EXTERNOS E INTERNOS ACERCA DE PERSPECTIVAS DE DESENVOLVI-MENTO LOCAL NA COMUNIDADE DISTRITAL DE ANHANDUÍNOME: Maria Wilma Casanova RosaORIENTADOR: Vicente Fideles ÁvilaDATA DA APRESENTAÇÃO: 27/03/2003RESUMO: Partindo-se da evidência de que o desenvolvimento local tem sido um processo de impulso para ultrapassagemde barreiras, no que se refere ao desenvolvimento das comunidades, buscou-se, com esta dissertação, conhecer o pensamentodos diversos agentes em relação à comunidade distrital do Anhanduí em Campo Grande - Mato Grosso do Sul, e detectarcomo esta participa do processo de desenvolvimento das potencialidades reais e latentes que se fazem presentes na concepçãoe gestão de seu cotidiano. A comunidade distrital há muito tempo roga pela sua emancipação político-administrativa,porém, por causa da distância de cinqüenta quilômetros que a separa da capital, sente-se isolada e carente de muitosserviços. A metodologia aplicada partiu do princípio descritivo, com ênfase na análise para uma abordagem qualitativa doconteúdo, subsidiada nas considerações teóricas dos conceitos estudados e discutidos durante os trabalhos. Na ocasião,procurou-se fazer uma análise dos pontos de vista dos diversos agentes capazes de auxiliar no desenvolvimento dospotenciais: os agentes externos, representantes do legislativo, do executivo e de outras instituições, cuja relação com acomunidade distrital é ativa; os agentes internos, divididos em lideranças oficiais e agentes locais, sendo esses, o cerne daanálise. Procurou-se verificar quais desses pontos de vista apresentavam perspectivas de desenvolvimento local tendo emvista a capacidade de ver e descobrir as reais forças latentes. Em primeiro momento, um contato direto com os agentesexternos e internos da comunidade, por meio de entrevistas semi-estruturadas e observação in loco pôde concluir-se que acomunidade distrital é vista pelos agentes externos como uma fonte potencial, pela sua vontade de participar das açõeslocais. No que diz respeito aos agentes internos, fica demonstrada uma posição de ansiedade por melhorias que a levem aoreconhecimento de sua identidade e ao despertar para o aproveitamento de suas potencialidades, que considera comosuficiente e natural - a sua riqueza agropecuária.

26 � TÍTULO: POTENCIALIDADES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL DA COMUNIDADE DE SÃO GABRIEL DOOESTE EM TERMOS DE OCUPAÇÃONOME: Regina de Fátima Freitas Carvalho FerroDATA DA DEFESA: 28/03/2003Resumo: Com o objetivo de proceder ao levantamento das potencialidades locais que proporcionem o desenvolvimentoendógeno da comunidade de São Gabriel do Oeste em termos de emprego, foi percorrido o caminho da pesquisa qualitativacom uma abordagem fenomenológica, utilizando-se de: revisão bibliográfica sobre o tema; levantamento de dados estatísticosdo local estudado para proporcionar um conhecimento da realidade socioeconômica; entrevistas semi-estruturadas envol-vendo empregados e empregadores; e, a observação dos fenômenos que viessem a completar os dados levantados nasentrevistas. Desta feita, partindo da correlação traçada entre emprego e potencialidades existentes no município, foram feitasanálises, com uma apreciação comportamental da estrutura produtiva e da força de trabalho por setores, como também, dasparticularidades que caracterizam a vida econômica do município. Ainda no mesmo estudo, foram examinadas as distribuições

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estáticas da mão-de-obra; a taxa da atividade demográfica e da participação do contingente feminino; bem como, ascaracterísticas sociais que fundamentam uma subseqüente interpretação dos atuais índices de subemprego. A remuneraçãodos trabalhadores e, de modo particular, o seu preparo educacional e qualificação da força de trabalho foram estudados,como subsídio às análises relativas ao emprego. Depois de trilhado esse caminho, foi possível detectar e apontar algumaspotencialidades que podem alavancar o desenvolvimento local endógeno em São Gabriel do Oeste, considerando que seuaproveitamento significa também respeito, para que seja possível tirar proveito, despertá-las, desenvolvê-las, sem com issoagredir o lugar. Portanto, o município apresenta potencial de viabilidade para desencadeá-lo do processo desenvolvimentistana linha aqui apresentada, que venha lastrear a sustentabilidade, criando emprego e gerando renda, considerando o perfil dapopulação que compõe esse local e as riquezas naturais que contempla toda a área municipal.

27 - TÍTULO: A INTRODUÇÃO DO VITELO ORGÂNICO DO PANTANAL COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVI-MENTO LOCAL SUSTENTÁVELNOME: Nilson Paulo Ricartes de OliveiraORIENTADOR: Luis Carlos Vinhas ÍtavoDATA DA APRESENTAÇÃO: 28/03/2003RESUMO: Objetivou-se avaliar a eficiência de criação e abate do Vitelo Orgânico do Pantanal como alternativa sustentávelao pecuarista pantaneiro, por meio da pecuária sustentável respeitando usos e costumes locais, pois trata-se de atender asnecessidades básicas do pantaneiro, que contribuirá para melhorar a vida e a sustentabilidade do local. Foram utilizados 54animais da raça Nelore destinados ao abate, sendo 27 fêmeas e 27 machos com idades entre 8 e 10 meses, com peso médiode 198,20 kg. Os animais eram oriundos de cinco fazendas cadastradas no programa Vitelo Orgânico do Pantanal, todassituadas na sub-região de Nhecolândia. Os bezerros avaliados foram provenientes da estação de nascimento entre os mesesagosto e novembro de 2001. Os animais foram distribuídos em esquema fatorial 3x3x2 (três tipos de pastagens, três idadesde abate e dois sexos), com três repetições por tratamento. As pastagens utilizadas foram: nativa, composta por Capimmimoso, Capim rabo de burro e capim carona; pastagem cultivada, composta por Brachiaria decumbens e B. humidicola; emista, composta por capins nativos e pastagem cultivada. Todos os animais permaneceram nos piquetes, em um sistema depastejo contínuo, recebendo suplementação mineral até atingirem a idade de abate (oito, nove e dez meses de idade). A taxade lotação utilizada para as pastagens foi 0,3 UA/hectare para a pastagem nativa, 0,5 UA/hectare para pastagens mistase 1,0 UA/hectare para a pastagem cultivada, onde os animais permaneceram em regime de pastejo contínuo e taxa delotação fixa. Os animais foram abatidos em lotes, em função da fazenda, idade e sexo. Os parâmetros avaliados foram pesode abate, peso de carcaça quente (somatória das carcaças esquerda e direita antes do resfriamento) e rendimento de carcaça.Os dados foram analisados por meio de análise de variância e regressão. Houve interação significativa (P<0,05) entre idadede abate e tipo de pastagem em que os animais foram mantidos até o abate, juntamente com suas matrizes. Os animaiscriados em pastagens mistas apresentaram melhor desempenho (P<0,05), para as idades de abate aos oito e dez meses,determinando assim um maior peso ao abate, comparado aos animais criados em pastagens nativas e/ou cultivadas (B.decumbens e B. humidicola), sendo que estas não diferiram entre si (P>0,05). Quando se avaliou em função da idade, apenaso resultado de peso de abate dos animais criados em pastagem nativa não sofreu efeito da idade, apresentando média iguala 181,52 kg. Entretanto, os resultados de peso de abate dos animais criados em pastagem mista e cultivada apresentaramcomportamento linear positivo. Não houve diferença significativa para as equações de regressão linear obtidas para aspastagens mista e cultivada, verificada pela técnica de identidade de modelos de regressão. Observou-se que os animaismantidos em pastagem nativa apresentaram melhores resultados de peso de abate, peso de carcaça quente e rendimento decarcaça, sendo numericamente superiores aos animais abatidos com idades superiores (9 e 10 meses), criados na mesmapastagem, porém, sem diferir entre si (P>0,05), sendo a média igual a 181,52 kg, 91,12 kg e 50,17%. Todavia, tal fato nãoocorreu com os resultados das outras pastagens em que os resultados de peso de abate e peso de carcaça quente foraminfluenciados pela idade de abate, apresentando comportamento linear positivo com o aumento da idade de abate, comexceção do rendimento de carcaça que não foi influenciado pela idade de abate, apresentando média de 52,68 e 52,24%respectivamente para as pastagens mista e cultivada. Os resultados obtidos para os animais mantidos em pastagem mistae cultivada foram superiores aos demais resultados para as pastagens nativa. O peso de carcaça quente e o rendimento decarcaça não diferiram de acordo com o sexo dos animais. A criação de bezerros machos e fêmeas, para produção de vitelos,em pastagens mistas (nativa e cultivada) abatidos entre o oitavo e o décimo mês, proporcionariam o mesmo rendimentofinanceiro, já que apresentaram resultados similares quanto ao desempenho, avaliado através do peso de abate e dorendimento de carcaça. O Vitelo Orgânico do Pantanal apresenta resultados favoráveis à sua criação e poderia fornecersubsídios favoráveis para aqueles produtores cadastrados no programa a fim de obterem recursos financeiros para mantera sustentabilidade da pecuária pantaneira, desta forma, os valores mantidos pelo programa garantiriam a produtividadedas propriedades e o bem estar da comunidade pantaneira.

28 - TÍTULO: CIDADE SAUDÁVEL � ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL EM CAMPO GRANDENOME: Crhistinne Cavalheiro Maymone GonçalvesORIENTADOR: Regina Sueiro de FigueiredoDATA DA APRESENTAÇÃO: 28/03/2003RESUMO: Esta dissertação analisa alguns dispositivos legais de políticas públicas da saúde, no município de CampoGrande-MS e sua relação com o movimento por Cidades Saudáveis. Esse movimento é um projeto que se originou doprograma emanado da Organização Mundial de Saúde, voltado à melhoria da qualidade de vida, por meio da execução depolíticas públicas saudáveis, como o fortalecimento e o encorajamento da participação social e a intersetorialidade de ações.O método de análise do estudo teve abordagem qualitativa e quantitativa e constituiu-se em extrair dados, de documentosoficiais, que permitissem a caracterização do território selecionado, a identificação da participação e atuação dos conselhei-ros em atas, a legislação, e ainda outros dados, oriundos de depoimentos de 18 atores sociais que compõem a amostra, sendoeles 16 conselheiros municipais de saúde e 2 gestores secretários. As entrevistas aplicadas possibilitaram a identificação doentendimento dos conselheiros quanto aos conceitos de qualidade de vida e a filosofia Cidade Saudável e também, aidentificação das formas de participação social frente às políticas públicas de saúde. O suporte teórico utilizado, a partir dos

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estudiosos como Westphal, Mendes e Ferraz entre outros possibilitou estudar a evolução histórica conceitual do tema.Identificou-se que as Leis municipais 3413 e 3871, publicadas nos anos 1997 e 2001, respectivamente, estão voltadas àpolítica de viabilizar em Campo Grande diretrizes e ações sobre Cidade Saudável. O Relatório final da III ConferênciaMunicipal de Saúde também expressa essa realidade de implantação. Os resultados da pesquisa evidenciaram que apenasum conselheiro expressou ter ciência dessa deliberação no Relatório final. A participação social é legitimada pelo poderpúblico. Mas, ainda apresenta fragilidade em seu processo de informação, educação e conhecimento sinalizando a dificulda-de na mobilização pela defesa da qualidade de vida e à promoção do desenvolvimento local da cidade.

29 - TÍTULO: SISTEMA DE INFORMAÇÕES COMO FERRAMENTAS DE APOIO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL NOÂMBITO DO PROGRAMA KAIOWÁ/GUARANINOME: Giane Saraiva Sampaio VargasORIENTADOR: Antonio Jacob BrandDATA DA APRESENTAÇÃO: 03/04/2003RESUMO: O objetivo desse trabalho foi analisar a relevância de um sistema de informação, tendo como base as experiênciasdesenvolvidas no âmbito do Programa Kaiowá/Guarani considerando, especialmente, o fato de que o programa em questãoé de caráter interdisciplinar e institucional, mantendo ações conjuntas com órgãos públicos, prefeituras, ONGs, Universida-des e comunidade local. Nesse contexto, é fundamental disponibilizar informações do Programa Kaiowá/Guarani quepossam ser acessadas com maior rapidez e facilidade. A presente proposta de estudo encerra uma pesquisa qualitativaapoiada em pesquisas bibliográficas, nos arquivos do programa Kaiowá/Guarani, nos currículos lattes e entrevistas com ospesquisadores, bolsistas, funcionários do programa e em discussões coletivas da equipe envolvida na iniciativa. Durante acoleta de dados, principalmente nas entrevistas, percebeu-se que a maioria das informações estão muito dispersas. Porestarem em papel e em arquivos acabam não ficando centralizadas e, com isto, dificultando o acesso às mesmas. Existe,portanto, uma necessidade de se realizar o armazenamento de uma série de informações que não se encontram efetivamenteisoladas umas das outras, ou seja, existe uma ampla gama de dados que se referem a relacionamentos existentes entre asinformações a serem manipuladas. Concluiu-se que ao permitir o cruzamento e a organização de dados gerados pelasdistintas áreas do conhecimento, o sistema de informação contribui para a produção de um conhecimento tambéminterdisciplinar, oferecendo, portanto, inúmeras novas possibilidades a programas voltados para o desenvolvimento decomunidades locais.

30 - TÍTULO: PLANEJANDO O DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO UTILIZANDO REDES SOCIAIS DE INFORMAÇÃONOME: Maurício Nagem Jorge SaadORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 04/04/2003RESUMO: Durante o período em que cursei as disciplinas previstas no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local,sem exceção, ficou patente a preocupação de se reconhecer o caráter endógeno próprio de cada local a ser investigado e anecessidade de se respeitar e planejar o desenvolvimento focando as potencialidades e características da geografia dacomunidade em questão; procedimentos que atendem aos princípios do próprio programa que, sem dúvida, encerram aprincipal questão desse objeto de estudo � o desenvolvimento local. Paradoxalmente passei a comparar a sistemática davisão empreendida, com a progressiva tendência de interpretação correlacionada em rede, em que ao se ampliar o foco, ouseja, escolhido como local, inevitavelmente se remete a uma geografia global, as atividades e ações de caráter intrínseco, porforça da indiscutível capacidade de informação e comunicação, impõem o conceito de contexto globalizado, sob pena de, emcurto prazo, o planejamento e objetivos das iniciativas propostas ficarem limitados em sua origem, ou até mesmo compro-metidos do ponto de vista estratégico de inserção desejado da expectativa natural de ampliação e crescimento de oportuni-dades. A presente proposta não tem a pretensão de se impor como inédita na interpretação das diferentes visões deplanejamento, mas de simplesmente evidenciar a atual tendência de nas ações investigativas, se utilizar as ilimitadas fontesde informações gerencias disponibilizadas, para garantir que o desenvolvimento local ocorra em uma escala ampliada, comorealmente já vem acontecendo em outras atividades, obedecendo a uma rede social, entre outras, sem jamais desrespeitar osprincípios originalmente propostos, considerando, dentro dos limites deste novo foco, uma abordagem intersetorial e descen-tralizada do território, sem esquecer os aspectos culturais, infra-estrutura e as necessidades específicas de cada região queagora o compõe. É necessário ampliar nossa investigação e agregar conhecimentos, para se dar conta dessa realidade. Paratanto, é imprescindível visualizar o espaço em questão, articulando mapas, serviços, informações e políticas, aprofundandoo conhecimento da realidade local, as relações com a população, suas necessidades, sempre remetidas a esta nova visão deampliação do foco, assegurando relações fundamentais entre cada sujeito, que deve ser compreendido como um ser total,detentor de direitos sociais, civis, políticos que devem ser defendidos. Para garantir que o planejamento contemple estecompartilhamento em um contexto maior, proponho que o desenvolvimento endógeno seja elaborado com base nas redessociais de informação, com a necessária abrangência exigida nesse novo contexto globalizado, o que torna esta geografia umterritório processo, espaço em permanente construção, produto de uma dinâmica social que não deve ser ignorada, poisinterage permanentemente, em um território que nunca está acabado, ao contrário, está em constante reconstrução. Estaconcepção transcende sua redução a uma superfície-solo e suas características geofísicas, para instituir-se como território devida pulsante, de conflitos de interesses, de projetos e de sonhos. É, portanto, mais que um território-solo, um territórioeconômico, político, cultural e sanitário que se complementam.

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31 - TÍTULO: CONDICIONANTES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL DOS ASSENTAMENTOS RURAIS EM MATOGROSSO DO SUL: O CASO DE CAPÃO BONITO II, EM SIDROLÂNDIA.NOME: Marivam Marcos Paiva RibasORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le BoulergatDATA DA APRESENTAÇÃO: 23/04/2003RESUMO: O objetivo dessa pesquisa foi o de selecionar um assentamento rural ainda não emancipado, de Mato Grosso doSul, Capão Bonito II, como estudo de caso, para verificar as variáveis internas e externas (endógenas e exógenas), de diversosníveis do território (nacional, regional e local) que convergiram e combinaram para lhe dar origem, definir sua estrutura efuncionamento, com foco especial na avaliação da capacidade interna de organização e de processos interativos de aprendi-zagem. A meta da pesquisa foi a de se conhecer as forças ambientais, em diversas escalas e dimensões, capazes de seremconjugadas na concretização e sucesso do assentamento. A investigação realizada apresenta resultados de várias formas decoleta, mas principalmente de diagnóstico participativo para conhecimento da realidade social e econômica de projeto. Pôde-se verificar que as forças condicionantes de caráter exógeno (os movimentos sociais na luta pela Reforma Agrária, o Estadoe o mercado do entorno) têm tido maior peso na definição e concretização do assentamento que as forças conjugadasinternamente. Entretanto, a consolidação não se fez só em relação à dimensão física desse território institucionalizado peloEstado, mas também no fortalecimento das unidades econômicas familiares. Em realidade, observou-se, que os cinco anosde vivência no assentamento ainda não foram suficientes para que as famílias pudessem construir sobre si um sentimento deidentidade comunitária (dimensão social do território), o que dificulta também a construção da identidade de pertença aolugar (dimensão cultural). Essas dimensões são consideradas fundamentais para a construção, valorização e apropriação doterritório. O processo de desenvolvimento territorial, ou da territorialidade, é condição fundamental para se obter sinergias deforças emergentes do assentamento, para atribuir maior sucesso ao projeto de desenvolvimento local, com sustentabilidadesocial, econômica, cultural, política e ecológica, com base em uma visão sistêmica e integrada da realidade.

32 - TÍTULO: INOVAÇÃO NA GESTÃO PÚBLICA ESTADUAL E O DESENVOLVIMENTO LOCAL: PROCESSO DECOMPRAS ELETRÔNICASNOME: Gilberto Tadeu VicenteORIENTADOR: Regina Sueiro de FigueiredoDATA DA APRESENTAÇÃO: 15/05/2003RESUMO: A pesquisa analisa a iniciativa do gestor público estadual que busca uma estratégia de inovação para o processode aquisição eletrônica de bens e serviços em que oportuniza a participação social, expressa pelos agentes socioeconômicos,como fator de desenvolvimento local. Também foram entrevistados doze agentes socioeconômicos (atores) que compõem asredes de relações sociais. O estudo foi realizado, no período de 1998 a 2002, quando foramexaminados dispositivos legais,notadamente de âmbito federal, como a legislação pública combinada com a medida provisória que disciplina a licitações namodalidade de pregão para aquisição de mercadorias e serviços. Igualmente, procurou conhecer a literatura sobre estratégiasde inovação processual e gerenciamento que impulsionasse iniciativas de participação social nas ações de gestão local,utilizando-se de estrutura tecnológica e mudanças de posturas na tomada de decisão frente ao sistema convencional decompras. A investigação trouxe contribuição no sentido de rever e inserir incisos, parágrafos e artigos que contemplassem ainovação processual com utilização de recursos tecnológicos e que permitisse a compra de bens e serviços. Isso acarretoumudanças de postura na gestão pública local e avanços nas políticas públicas, com a criação de leis e decreto, no que tangea licitação para leilão com pregão eletrônico. Para a esfera estadual a Lei n. 2.152 de outubro de 2000 que foi regulamentadapelo Decreto n. 10.163 de dezembro de 2000, Lei 2.532 de novembro de 2002 (do pagamento a fornecedores). Para a esferafederal a publicação da Lei n. 10.191 de fevereiro de 2001(área da saúde) e n. 10.520 de julho de 2002. Outra contribuição foia disseminação de conhecimentos para outros estados sobre processualística legal que mostrou o desafio pela modernizaçãoe eficiência da gestão pública do Estado de Mato Grosso do Sul, junto a Secretaria de Estado de Gestão de Pessoal e Gastosna Superintendência de Compras e Suprimentos.

33 - TÍTULO: ARRANJO PRODUTIVO DO SETOR MOVELEIRO DE DOURADOS E DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Eliane Arruda do NascimentoORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le BourlegatDATA DA APRESENTAÇÃO: 23/05/2003RESUMO: Este estudo teve como objetivo investigar se existe interdependência, articulação e consistência de vínculos entreos componentes do setor moveleiro de Dourados entre si e com outros órgãos complementares, capazes de gerarcompetitividade empresarial. Procurou-se verificar possíveis formações de vínculos de identidade no setor e no território,assim como se existe um compartilhamento de visões e valores entre empresas do mesmo território, a ponto de constituirfonte de dinamismo local, e avaliar o grau de interação das empresas do setor moveleiro com outros atores econômicos,políticos e sociais de Dourados e se existiam processos de compartilhamento e socialização de conhecimento no ambienteempresarial. A metodologia foi a de análise ampliada, com a combinação de técnicas quantitativas e qualitativas, o métodode abordagem sistêmico, buscando compreender a inter-relação e interdependência entre um conjunto de variáveis queconcorrem para dar origem aos ambientes, nas diferentes escalas do território, verificando-se as condições favoráveis oulimitantes, assim como as interferências de uma escala sobre outra. Partiu-se de uma revisão teórica sobre arranjos produ-tivos e conceitos correlatos, inclusive de definições de desenvolvimento territorial e local que pudessem ser correlacionados,assim como de uma literatura específica a respeito do setor moveleiro e de sua situação em várias escalas territoriais até a deDourados. A coleta de dados estatísticos e documentais relativos ao setor foi realizada junto aos empresários do setormoveleiro de Dourados, por meio de trabalhos do SEBRAE em parceria com o Município e por observações in loco. Osresultados permitiram visualizar que há, ainda, a necessidade de se sensibilizar o setor moveleiro de Dourados, para quesurjam lideranças, no sentido de conduzir seus integrantes a construírem o capital social e humano, favorecendo o desenvol-vimento de projetos estratégicos comuns, para se deflagrar iniciativas endógenas, de modo a se criar externalidades, tornan-do o setor mais competitivo no mercado local, nacional e, quem sabe, internacional, a médio e longo prazo, constituindo-se,então, em um Arranjo Produtivo Local e, posteriormente, em um Sistema Produtivo Local.

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34 - TÍTULO: NÚCLEO INDUSTRIAL DE CAMPO GRANDE-MS: A SEGURANÇA COMO FATOR DE DESENVOLVI-MENTO LOCAL EM AMBIENTE DE RISCO TECNOLOGICONOME: Adonir Venuzino Rocha BothORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le BourlegatDATA DA APRESENTAÇÃO: 30/06/2003RESUMO: A modernidade passou a gerar várias situações de risco, criadas no ambiente fabricado pela sociedade. O riscotecnológico tem origem nos ambientes onde predominam a evolução do processo técnico-científico, resultante da racionalidadeinstrumental. A intensidade dos efeitos sobre a população depende da vulnerabilidade social e institucional do ambiente noqual ela se insere. A questão da pesquisa foi saber até que ponto o ambiente tecnológico do Núcleo Industrial de CampoGrande representa ameaças à integridade física de seus moradores. Parte-se da hipótese de que o Núcleo Industrial deCampo Grande possa se constituir em um ambiente potencialmente perigoso para seus moradores e de que estes estejam emsituação de vulnerabilidade aos impactos causados por essa situação, sem que os mesmos tenham percepção efetiva dosperigos a que estão sujeitos, motivos pelos quais não se mobilizaram até o presente momento para melhorar suas condiçõesde segurança. O objetivo geral foi o de analisar o estado de segurança dos moradores do Bairro Núcleo Industrial de CampoGrande � MS, diante da situação de risco tecnológico gerado pelas indústrias locais e, em específico, investigar no ambienteconstruído do Núcleo Industrial, as condições de periculosidade oferecidas pelas formas de tecnologia utilizadas pelasindústrias e meios de transporte, verificar o grau de vulnerabilidade dos moradores e das instituições responsáveis pelagarantia da segurança social. A metodologia utilizada passou-se em uma visão sistêmica do desenvolvimento territorial. Apesquisa, exploratória, seguiu os seguintes procedimentos: revisão de literatura; amostra qualitativa; coleta de dados emfontes primárias e secundárias; organização e tabulação das informações; análises ampliadas, combinando-se técnicasquantitativas e qualitativas. Os resultados obtidos confirmaram a hipótese. O Núcleo Industrial de Campo Grande é umambiente construído que oferece riscos tecnológicos ainda não passíveis de percepção pelos moradores e lideranças, colocando-os em situação de vulnerabilidade. O baixo padrão de vida desses moradores, a frágil organização social, e a informaçãodeficiente sobre as condições de perigo, somada às instituições públicas que ainda necessitam de aperfeiçoamento daestrutura e agilidade no cumprimento da defesa civil, concorrem para ampliar essa condição de vulnerabilidade dos moradorespara se protegerem de possíveis acidentes.

35 - TÍTULO: A IMPORTÂNCIA DO SISTEMA DE TRANSPORTE COLETIVO PARA O DESENVOLVIMENTO DOMUNICIPIO DE CAMPO GRANDE-MSNOME: Jairo Garay Ribeiro de OliveiraORIENTADOR: Maria Helena Rossi VallonDATA DA APRESENTAÇÃO: 07/06/2003RESUMO: A dinâmica de algumas disciplinas cursadas no programa de mestrado em desenvolvimento local, fez-mecompreender com nítida perfeição que o espaço é o lugar do acontecer solidário, é nele que todos os fenômenos se sobressaeme despontam para a interação das pessoas e da vida em comum na busca de atender suas múltiplas necessidades. Da mesmaforma que os fatos se sucedem, o homem conclui ser necessário pensar globalmente, planificar nacionalmente, agir localmentee sentir a responsabilidade pessoalmente. Assim, é indiscutível ignorar as potencialidades e características geográficas queenvolvem o próprio lugar, pois a ele se remetem todas as forças econômicas e sociais que o homem não pode prescindir emsua luta constante de transformação e mudanças que o coloca na condição de responsável pelo crescimento e desenvolvimen-to do lugar em que habita. Nessa seqüência de fatos torna-se soberano reconhecer que a dispersão de atividades temaumentado constantemente nas cidades modernas e, em virtude disso, o urbanista vê-se cada vez mais dependente dosmeios de transporte para realizar as funções essenciais de que tanto necessita. É neste contexto que se focaliza a intençãodeste trabalho, sem, no entanto, querer ter a pretensão de se impor como solução aos prováveis problemas que dele surgem,mas sobretudo, de realçar sua importância, na medida em que o mesmo torna-se indispensável para a garantia do desenvol-vimento urbano. Garantias essas que se realizam por meio de viagens intra-urbanas, com características específicas dehorário, velocidade; de vias; dos meios de locomoção e com diferentes itinerários; sem, no entanto, desprezar, os aspectosculturais, econômicos e de infraestrutura do próprio local. É imprescindível assinalar que as investigações sobre o tema sãoextremamente profundas e envolvem inúmeras variáveis ao longo do tempo, além de empregar grande variedade de tecnologiasutilizadas para atender as necessidades do público usuário em seu ato de deslocamento. Em virtude destes fatos, cabe aquiobservar que a tendência mundial é priorizar o transporte público, uma vez que o mesmo será ainda mais econômico do queo ato de construir vias e estacionamentos para atender as necessidades de pequenos meios de transporte.

36 - TÍTULO: COMITÊ DE BACIA HIDROGRÁFICA: INSTRUMENTO DE PODER E DE DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Abadio Queiroz BairdORIENTADOR: Sérgio Ricardo Oliveira MartinsDATA DA APRESENTAÇÃO: 16/06/2003RESUMO: Toda política voltada para a gestão dos Recursos Hídricos deve estar consubstanciada em normas jurídicas, planose programas que revelem o conjunto de intenções, decisões, recomendações e determinações de governo quanto à gestão dessesrecursos, com propósito firme de proteger os recursos naturais, zelando pelo seu uso racional e respeitando uma justificada eacertada legislação pertinente. É dentro dessa realidade e perspectiva que este trabalho foi concebido. Espera-se que o conteúdoaqui consignado possa levar os leitores a uma real compreensão e entendimento de que o comitê de bacia hidrográfica podetornar-se em uma verdadeira ferramenta de articulação entre os interessados de uma determinada bacia hidrográfica, transfor-mando-se em um instrumento de poder e desenvolvimento local. Para tanto, basta extrair da legislação os mecanismos maisjustos e necessários para criação, implantação e funcionamento de comitês de bacias hidrográficas, procurando conciliar ocrescimento econômico e a conservação ambiental, sabendo, desde logo, que deverá haver uma mudança de comportamentopessoal e social, além da necessária transformação nos processos de produção e consumo. Se com essa contribuição, puder ficardemonstrado que temos que disciplinar o domínio, o uso, o aproveitamento, a preservação e a defesa da água de uma baciahidrográfica, criando para isso comitês de gestão, fico feliz porque pude contribuir ao menos com um pouco daquilo que vivie continuo sonhando: todos temos que cuidar da água nossa de cada dia.

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37 - TÍTULO: PERCEPÇÃO SOBRE PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS E O DESENVOLVIMENTO LOCAL NA BACIADO CÓRREGO GUARIROBA EM CAMPO GRANDE-MSNOME: Luiz Eduardo de Rezende ValleORIENTADOR: Reginaldo Brito da CostaDATA DA APRESENTAÇÃO: 30/06/2003RESUMO: As atividades econômicas do ser humano sempre ocasionaram impactos no meio ambiente, sendo que o progressotecnológico, ao longo da civilização, aumentou essa interferência. Como conseqüência da imposição de povos consideradosmais desenvolvidos sobre culturas autóctones, algumas comunidades foram cerceadas em sua trajetória de crescimento,levando-as a buscar padrões de desenvolvimento desconsiderando suas condições locais. Em Campo Grande, Estado deMato Grasso do Sul, a ação localizada de produtores rurais, acarretou interferência no meio ambiente, capaz de prejudicara população dessa cidade, ao interferir na bacia de captação de água da Capital. Este trabalho, no entanto, verificou quealterações na percepção desses produtores está ocasionando mudanças de atitude em relação à produção e a adoção depráticas conservacionistas em suas propriedades rurais. Essa mudança está propiciando o desenvolvimento local da região,a partir da recuperação das condições ambientais, da melhoria das condições para a produção agropecuária e da anutençãoda qualidade e quantidade dos recursos hídricos para fornecimento de água à comunidade urbana, localizada na Capital.

38 - TÍTULO: AVALIAÇÃO DE POSSÍVEIS CONSEQÜÊNCIAS DA CRIAÇÃO DE UMA UNIDADE DE CONSERVA-ÇÃO EM RELAÇÃO A COBERTURA VEGETAL E QUALIDADE DE VIDA DAS PESSOAS DO LOCAL: ESTUDO DECASO DA FAZENDA RIO NEGRONOME: Mariza Corrêa da SilvaORIENTADOR: Adriana Odália RímoliDATA DA APRESENTAÇÃO: 01/07/2003RESUMO: A Fazenda Rio Negro localiza-se no Pantanal, Município de Aquidauana, região da Nhecolândia e é formada por7.700ha. Em maio de 1999 a Fazenda foi adquirida pelo Instituto Conservation International do Brasil (CI-Brasil), quetransformou 7.000ha da área em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). O objetivo desta pesquisa foi fazer umaanálise comparativa multi-temporal da cobertura vegetal da RPPN Fazenda Rio Negro com base em imagens de satélite deJunho de 1994 e junho de 2002. As imagens utilizadas foram Landsat 5 (TM) e Landsat 7 (ETM). Através da análise einterpretação destas imagens foi possível gerar índices de cobertura vegetal da área da RPPN Fazenda Rio Negro quepropõem uma discussão sobre as alternativas econômicas da pecuária no passado e do ecoturismo desenvolvido atualmen-te, como possibilidade de propiciar o desenvolvimento da comunidade local. Os resultados mostraram diferenças poucoconsideráveis em termos de índices de cobertura vegetal da área. Com respeito, a relação do homem pantaneiro com o meioambiente, entrevistas revelaram maior satisfação da comunidade local com as atividades de turismo (em relação à pecuária),que culminaram em incremento na média da renda familiar e nível cultural.

39 - TÍTULO: VARIABILIDADE CLIMÁTICA E PREVISÕES: APLICABILIDADE DESATÉLITES DE OBSERVAÇÕESAMBIENTAIS COM O INSTRUMENTO DE PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Paulo Shiguenori KanazawaORIENTADOR: Willian Tse Horng LiuDATA DA APRESENTAÇÃO: 31/07/2003RESUMO: Este estudo explora a aplicabilidade de dados e informações obtidos de satélites como NOAA (AdministraçãoNacional Oceânica e Atmosférica) e Landsat, como instrumento de planejamento para um desenvolvimento local sustentá-vel. O desenvolvimento local sugerido segue as linhas básicas apresentadas pela Agenda 21 (PNUD, Rio 92), adotando osprincípios propostos por Ignacy Sachs (1997): �colocando em prática o eco-desenvolvimento, por meio da recriação doplanejamento�. A variação inter anual de taxa de desmatamento e parâmetros climáticos, incluindo temperatura médiaanual e precipitação total no Município de Terenos, foi analisada para o período de 1981 a 2000. Foram utilizadas aerofotosde 1966, fornecidas pelo DSG (Diretoria de Serviço Geográfico) e imagens de Landsat de 1985, 1996 e 2000 para calcular ataxa de desmatamento, usando o método de classificação de imagem e análise do software SPRING, desenvolvido pelo INPE(Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), disponível na internet. Os dados cumulativos anuais do NDVI (Índice de Vegeta-ção da Diferença Normalizada) foram utilizados para correlacionar as taxas de desmatamentos calculadas dos dados doNOAA AVHRR (Radiômetro Avançado de Altíssima Resolução), GAC (Cobertura de Área Global), no período de 1981 a2000, fornecidos pelo GSFC/NASA (Centro Espacial de Vôo Goddard /Administração Nacional Aeroespacial). Os resultadosmostraram que a temperatura média anual aumentou de 22.5º para 24.6º C e a precipitação total anual diminuiu de 1500para 1250 mm e o NDVI cumulativo anual diminuiu de 7.3 para 6.8 (durante o período de 1981 a 2000). A cobertura vegetalnatural do Município de Terenos apresentou-se reduzida de 68%, em 1966; 35%, em 1985; 32%, em 1996; e 27%, em 2000,indicando que o desmatamento afetou o clima regional. Foi obtido um valor de coeficiente de correlação de 0.91 entre NDVIe a taxa de desmatamento, demonstrando que a redução do índice do verde da superfície analisada coincidiu com a reduçãode vegetação nativa. Conclui-se que os satélites ambientais geraram informações importantes, tornando-se uma ferramentaútil para monitorar a variabilidade climática anual e melhorar os parâmetros para o planejamento de desenvolvimento localde forma sustentável. Para estudo adicional, sugere-se a aplicação de modelo de SIG (Sistemas de Informações Geográficas),baseado na utilização combinada de mapas digitais de uso de terra, aero-fotogrametria e imagens digitais de satélite, comvalidação de dados de campo, para se obter uma estratégia adequada de recuperação de terras degradadas para um planode desenvolvimento sustentável regional satisfatório para o Município de Terenos, no estado de Mato Grosso do Sul.

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40 - TÍTULO: INICIATIVAS METODOLÓGICAS DE ENSINO ESCOLAR NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTOLOCAL NA CIDADE DE PORTO MURTINHO-MSNOME: Carlos Alberto HeynORIENTADOR: Vicente Fideles de AvilaDATA DA APRESENTAÇÃO: 02/10/2003RESUMO: Este estudo se refere à experiência da implementação de iniciativas metodológicas com professores de escolaspúblicas municipais e estaduais de Porto Murtinho, pela qual se pretendeu desenvolver um trabalho, a partir de 2001,visando a envolver os professores do ensino fundamental, a fim de interfaciar ensino escolar e desenvolvimento local, combase no enfoque teórico da publicação �Formação Educacional em desenvolvimento local: relato de estudo em grupo eanálise de conceitos�, de Ávila et al. (2000).A presente dissertação tem por objeto de estudo a investigação de como seprocessa a implantação de um projeto piloto de educação, utilizando como ferramenta a aplicação de iniciativas metodológicasde ensino escolar na perspectiva do Desenvolvimento Local, envolvendo o município de Porto Murtinho-MS, em processoautoformativo de investigação/experimentação de iniciativas metodológicas que, aproveitando e/ou considerando as carac-terísticas, condições e potencialidades locais, dinamizem quantitativo-qualitativamente a atividade de educação e desenvol-vimento local e, ao mesmo tempo, reflitam a melhoria da qualidade de vida da comunidade-localidade.

41 - TÍTULO: REDE DE CONHECIMENTO: INTEGRAÇÃO E COOPERAÇÃO NO ÂMBITO DO COINTANOME: Gilmara Saraiva SampaioORIENTADOR: Sérgio Ricardo de Oliveira MartinsDATA DA APRESENTAÇÃO: 30/06/2003RESUMO: A pesquisa apresentada tem por finalidade sugerir a construção de uma rede de conhecimento, disponibilizandoum site, por meio da Internet, possibilitando o acesso as informações das ações desenvolvidas pelo COINTA � ConsórcioIntermunicipal da Bacia do Rio Taquari, objetivando a integração e cooperação entre os municípios participantes facilitandoa formação do capital social. Esta rede de conhecimento proporciona um ambiente de forma politicamente democrático emque todos os municípios que compõem o consórcio participem ativamente e opinem, imediatamente sobre definições edecisões de forma articulada, auxiliando o desenvolvimento local sustentável. A metodologia utilizada para a realizaçãodesta pesquisa foi documental, onde analizou-se as atas, relatórios, memorandos, entre outros documentos elaborados eutilizados pelo COINTA. Durante a coleta de dados percebeu-se que as informações estão muito dispersas, por estarem empapéis e em arquivos não centralizados, com isto, dificultando o acesso as mesmas. Conclui-se que ao disponibilizar a redede conhecimento entre os municípios, esta contribui com o consórcio, permitindo um ambiente dinâmico e interativo, capazde promover a confiança, a solidariedade e a cooperação entre seus membros.

2004

42 - TÍTULO: A UTILIZAÇÃO DO GÁS NATURAL COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL: UMESTUDO DE CASO NA CERÂMICA CAMPO GRANDE�MSNOME: Cristiane de Castilho MerighiORIENTADOR: Eduardo José de ArrudaDATA DA APRESENTAÇÃO: 13/02/2004RESUMO: A presente pesquisa visa a manter os pressupostos do Mestrado em Desenvolvimento Local na indústria Cerâmi-ca Campo Grande - MS, com a utilização do gás natural, como matriz energética, no processo de produção de tijolos de oitofuros. A empresa está situada, na cidade de Campo Grande, no estado de Mato Grosso do Sul. Para tanto, o estudo foibaseado no aporte bibliográfico sobre o tema, tais como: livros, revistas e diversos arquivos especializados da área, bem comoa coleta de dados realizada in loco, para poder dimensionar a pesquisa dentro de uma realidade local concreta. O trabalhose caracteriza como um estudo de caso. A população estudada foi composta por proprietários, funcionários, clientes,pesquisadores, técnicos, ceramistas de diversas indústrias no país, por meio de entrevistas e observações pessoais, baseadasem questões chave sobre o referido assunto, dificuldades encontradas e resultados obtidos. Da análise dos dados coletados,constatou-se que os procedimentos utilizados pelo empresário após a interlocução do pesquisador podem ser modificados,para a melhoria do produto, visando à qualidade de vida de funcionários e moradores da cidade de Campo Grande. Porém,se for dado um caráter dinamizador às ações organizacionais, visando à consecução de objetivos, a empresa poderá melhoraro padrão de qualidade em diversos aspectos. Ao final, são apresentadas sugestões de Desenvolvimento Local, de forma atorná-lo um processo mais relevante na organização.

43 - TÍTULO: PREVISÃO DE CHEIAS VIA SATÉLITE PARA O PLANEJAMENTO AMBIENTAL DO PANTANAL:SUBSÍDIOS PARA AS ATIVIDADES HUMANAS NO BIOMANOME: Fábio Martins AyresORIENTADOR: Willian Tse H. LiuDATA DA APRESENTAÇÃO: 05/07/2004RESUMO: As condições hidrológicas da Bacia do Alto Paraguai foram estudadas por meio de toda a bacia bem como suasseis sub-bacias de acordo com os dados hidrometeorológicos disponíveis. As sub-bacias foram nomeadas de acordo com aestação hidrometeorológica que monitora a área de drenagem da sub-bacia incluindo: Cuiabá, Cáceres, São Francisco,Ladário, Porto Esperança e Porto Murtinho. Dados de Cota mensal, Precipitação e NDVI para o período de 1981 a 1993foram utilizados para construção do modelo de COTA utilizando a abordagem de regressão linear e o período de 1995 a2000 foi utilizado para validação do modelo de COTA. As correlações entre COTA e Precipitação (PCP) e entre COTA eNDVI foram feitas com o objetivo de selecionar as variáveis dependentes satisfatórias para a construção do modelo. Osresultados dos modelos revelaram os valores de R 0.757, 0.600, 0.865, 0.747, 0.758, 0.748 e 0.575 obtidos respectivamente

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nos modelos da BAP, Cuiabá, Cáceres, São Francisco, Ladário, Porto Esperança e Porto Murtinho respectivamente. Pelomodelo de validação, os erros absolutos médios de 16.85%, 102.16%, 15.36%, 7.67%, 14.34%, 20.0% e 29.02% foram obtidospela BAP, Cuiabá, Cáceres, São Francisco, Ladário, Porto Esperança e Porto Murtinho respectivamente. Observa-se que omodelo apresentou eficácia com exceção do modelo de Porto Murtinho que apresentou erros de previsão causados por umavariabilidade inter-anual de COTA mais elevada. Conclui-se que o modelo de previsão de COTA baseado em abordagensestatísticas apresentadas neste estudo pode oferecer uma ferramenta útil para prever COTA e, conseqüentemente, paraprevenir estragos em períodos de COTA elevada, assim como para prever o controle do tráfico fluvial, evitando desta formaerosões da barranca dos rios durante as COTA reduzidas. Para estudos futuros, será necessário um adequado modelo desimulação hidrológica baseado no modelo numérico do terreno de grande acurácia e um sistema de previsão de chuvas comoos sistemas de radar para atender uma previsão avançada de inundação em tempo real e definição de medidas de mitigação.

44 - TÍTULO: ESTUDO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIDERP � CAMPUS IV � RIO VERDE DE MATOGROSSO/MS FACE AOS REFERÊNCIAIS TEÓRICOS DO DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Abel Henrique Miranda SáORIENTADOR: Vicente Fideles de AvilaDATA DA APRESENTAÇÃO: 09/08/2004RESUMO: Estudo do curso de administração da UNIDERP � Campus IV / Rio Verde do Mato Grosso/MS face aosreferenciais teóricos do Desenvolvimento Local, é uma pesquisa e dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduaçãoem Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, apresen-tada em 2004 por Abel Henrique Miranda Sá, sob orientação do Prof. Dr. Vicente Fideles Ávila. Objetivo geral da pesquisa:verificar se há ou não convergência entre teorias e práticas curriculares do curso de administração da UNIDERP � CampusIV e sinalizações teóricas sobre administração e gestão no âmbito da conceituação de Desenvolvimento Local. Metodologia:estudo descritivo, bibliográfico e de campo, com análise de conteúdo e comparativo. Realizaram-se oitenta e cinco entrevistascom participantes do processo de formação acadêmica e das práticas profissionais dos egressos. Resultados finais revelaramafinidades na proposta institucional (atendimento de demandas local e regional, missão, concepção, objetivos, perfil doegresso, estrutura curricular); nas vivências acadêmicas (locais de nascimento, de moradia e de trabalho dos acadêmicos,conteúdos programáticos favoráveis de algumas disciplinas, opiniões de docentes, acadêmicos e egressos em relação atópicos da teoria); nas práticas profissionais (migração interna dos egressos e sua atuação no campo da administração,opinião dos egressos quanto ao conhecimento e utilização de tópicos da teoria, opiniões favoráveis de autoridades universi-tárias, representantes das comunidades e do poder público municipal). Foram também encontradas não-afinidades naproposta institucional (o paradigma do Desenvolvimento Local não se constitui em diretriz assumida); nas vivênciasacadêmicas (ausência curricular da disciplina antropologia, reduzida presença de conteúdos programáticos em algumasdisciplinas, pouco envolvimento de docentes em reflexões e práticas sobre Desenvolvimento Local, inexpressivo uso datemática nos trabalhos de conclusão de curso); nas práticas profissionais (não identificação dos egressos pelos representantesdas comunidades e do poder público municipal, ausência percebida de perfil de egressos favoráveis ao DesenvolvimentoLocal, falta de clareza quanto às funções da Universidade no processo de Desenvolvimento Local, demandas por ampliaçãodo trabalho universitário nas comunidades). O autor sugere o estudo da inclusão curricular na UNIDERP, Campus IV,especialmente no curso de administração, de componentes teórico-práticos de Desenvolvimento Local, como novo paradigma,além do fortalecimento das afinidades identificadas.

45 - TÍTULO: CULTURA, TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: POTENCIALIDADES E PERSPECTIVAS NACOMUNIDADE DE FURNAS DO DIONÍSIONOME: Anelize Martins de OliveiraORIENTADOR: Marcelo MarinhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 09/08/2004RESUMO: Fundada por volta de 1890 por Dionísio Antônio Vieira, Furnas do Dionísio é uma comunidade negra que vemsobrevivendo às dificuldades impostas pela vida moderna, de modo a manter seu patrimônio sociocultural como alternativapara a preservação de sua cultura e hábitos de vida, além do próprio desenvolvimento. Em virtude de o trabalho caracterizar-se como um estudo de caso, contemplando atividades de campo, por se tratar de um estudo intensivo das manifestaçõespresentes na comunidade, partiu-se de métodos indutivos, qualitativos e quantitativos para se chegar à análise dos núcleosconceituais que discutem as relações intrínsecas entre cultura, turismo e desenvolvimento local. Para tanto, podem serobservados no decorrer do estudo os significados da cultura para o turismo, analisada como produto da atividade turística;bem como seu significado para o processo de desenvolvimento local, ao considerá-la como ferramenta eficaz que podepropiciar benfeitorias locais. Assim, identificaram-se as manifestações culturais da comunidade, não apenas como forma depreservação de seu legado e fortalecimento da identidade territorial. A busca por alternativas e possibilidades de inovação,aporta para atividades que possam gerar benfeitorias locais, nas quais a prática social do turismo pode possibilitar melhoriaseconômicas e sociais, desde que esteja efetivamente relacionada à gestão participativa dos recursos disponíveis. Considerandoa cultura como maior potencial de desenvolvimento social, humano e econômico, demonstra-se que o protagonismo dacomunidade gradativamente vem ressurgindo como força implícita ao fundamentar a importância de sua herança histórico-cultural para gerações futuras e como alternativa de desenvolvimento sustentável e territorial a partir de melhorias quepodem ser imputadas pelo processo de desenvolvimento local.

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46 - TÍTULO: CUMBARU (DIPTERYX ALATA VOG) � UMA FORMA ALIMENTAR E DE RENDA À COMUNIDADE DOASSENTAMENTO ANDALÚCIA � NIOAQUE/MSNOME: Rosemarly Fernandes Mendes CandilORIENTADOR: Eduardo José de ArrudaDATA DA APRESENTAÇÃO: 09/08/2004RESUMO: Esta dissertação teve como objetivo o aproveitamento dos recursos do Cerrado sul-mato-grossense, gerandocomo opção para a comunidade do assentamento Andalucia, uma exploração bioextrativa e orientada do Cumbaru (Dipteyxalata Vog.), agregando maior valor a este fruto, disponível no assentamento, como fonte alimentar com alternativas deconsumo e/ou comercialização. Investigou-se e desenvolveu-se também receitas à base de Cumbaru. Para o desenvolvimentodeste estudo optou-se por uma pesquisa qualiquantitativa, com questionários semi-estruturados aplicados aos titulares ecônjuges, entrevistas, curso de capacitação com aulas teórico-práticas ministradas à comunidade do assentamento Andalucia,Nioaque/MS. Este estudo mostrou o aproveitamento dos recursos do Cerrado e ressaltou o uso do Cumbaru com agregaçãode valores. A partir da análise térmica das sementes deste fruto, pode-se propor um processamento de torra com e sem acasca a partir de 150ºC no intervalo de 30 a 45 minutos, respectivamente, como a temperatura adequada para início dostrabalhos de prospecção da temperatura ótima de preparação das amêndoas. Com base nas conceituações teóricas doCumbaru e nas abordagens orientadas pela perspectiva de desenvolver uma fonte alimentar e de renda para a comunidade,constatou-se que os protagonistas ficaram sensibilizados para explorar o fruto de forma racional, na alimentação ecomercialização, com a responsabilidade da conservação da espécie e do bioma Cerrado. Notou-se que apesar de todas aslimitações detectadas no assentamento a expectativa da utilização do Cumbaru, surgiu como uma força propulsora,motivadora para a melhoria da qualidade de vida da comunidade, principalmente, porque na perspectiva do desenvolvi-mento local, as atividades devem ser geridas pela e para a comunidade.

47 - TÍTULO: A FORMAÇÃO PROFISSIONAL COMO INSTRUMENTO IRRADIADOR DE DESENVOLVIMENTO LO-CAL � A EXPERIÊNCIA DO SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL - SENAC-MSNOME: Eloine Marques de Carvalho dos SantosORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 16/08/2004RESUMO: Esta dissertação teve por objetivo geral analisar se a formação do adolescente aprendiz profissional do SistemaNacional de Aprendizagem Comercial - SENAC/MS constitui um instrumento irradiador de desenvolvimento local, buscandoidentificar se o ensino-aprendizagem colabora para a formação de capital social e verificar a influência da educação profissio-nal do adolescente, no contexto da sociedade, com ênfase no desenvolvimento local. O referencial teórico aportado apresentacomo está estruturada legalmente a relação do adolescente com o mundo do trabalho, aborda alguns sentidos do trabalho,demonstra o conteúdo da Lei de Aprendizagem, discorre sobre a educação profissional no Brasil desde a chegada dosportugueses até os dias atuais, diferencia a educação profissional da formação profissional e registra os conceitos fundamentaisde desenvolvimento local, pertinentes à temática. Ao final, detalha a experiência da turma de aprendiz profissional do anode 2002, do SENAC/MS, em Campo Grande. Optou-se pela utilização de metodologia quali-quantitativa, revelada pormeio da estatística realizada sobre entrevistas que tiveram por base roteiros estruturados, que possibilitaram apreenderfenômenos quantificáveis e aprofundar-se nos significados das ações e relações humanas. Constatou-se que para se constituirem um instrumento irradiador de desenvolvimento local, a formação profissional precisa ultrapassar a etapa de merotreinamento de técnicas e alcançar a educação profissional, passando a utilizá-la como ferramenta para a ação transformadora.

48 - TÍTULO: REDE DE GESTÃO COMPARTILHADA COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO PARA A RE-GIÃO TURÍSTICA DA COSTA LESTE DE MATO GROSSO DO SUL (RTCL/MS)NOME: Geancarlo de Lima MerigueORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le BourlegatDATA DA APRESENTAÇÃO: 19/08/2004RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo, à luz da concepção teórica existente sobre �arranjo produtivo local�,realizar um diagnóstico sistematizado sobre as origens, atores envolvidos, formas de organização e funcionamento daestrutura turística existente e liderada por diferentes Municípios associados da UNIPAR, na constituição da Região Turísticada Costa Leste do Mato Grosso Sul (RTCL/MS), incentivado por uma política de regionalização turística. Especificamente,buscou-se avaliar a origem e trajetória da rede de atores e instituições envolvidos, o tipo de interação e papéis exercidosrespectivamente, assim como a identificação de produtos e mercados existentes e a dinâmica do arranjo, em termos degovernança, aprendizagem interativa e capacidade inovativa. A abordagem foi sistêmica, em uma tentativa de análise einterpretação do complexo, interdisciplinar e multidimensional, privilegiando o método do jogo dialógico das variáveiscontidas dentro de uma realidade contextualizada. A pesquisa demonstrou que a RTCL/ MS configura-se como um arranjoainda incipiente, mas que apresenta potencialidades endógenas, especialmente relacionadas com a governança e enraizamentoterritorial dos empreendimentos, além de recursos locais naturais e construídos, capazes de se transformarem em forçaslocais e sistêmicas de desenvolvimento, como resposta à atual e significativa interveniência de variáveis do alto e externas,nesse sentido.

49 - TÍTULO: PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO DE CORUMBÁ: UM OLHAR SOBRE A ARQUITETURA MODERNANA PERSPECTIVA DA MEMÓRIA E DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: João Bosco Urt DelvizioORIENTADOR: Emília Mariko KashimotoDATA DA APRESENTAÇÃO: 20/08/2004RESUMO: A memória do ambiente construído de uma cidade tem no potencial histórico do seu patrimônio arquitetônico,um dos elementos fundamentais para o processo de sua formação. Os diversos estilos arquitetônicos, que representam opensamento e o comportamento de uma época, são uma das bases da memória social de um povo. Relacionar patrimônio,memória e desenvolvimento local, focando o patrimônio arquitetônico de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, por meio de

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expressões da Arquitetura Moderna, é o que compreende este trabalho.Optou-se por, inicialmente, expor alguns conceitos, tais como, desenvolvimento local, patrimônio, memória, lugar e território,com base em abordagens teóricas fundamentada nas obras de diversos autores. Em seguida, procedeu-se a uma apresenta-ção da cidade através de aspectos relacionados à sua história, à evolução urbana e principalmente ao patrimônio arquitetônicotombado e não tombado, analisando-se potencialidades que esta história ainda mantém em aberto para o desenvolvimentoatual e futuro. Tendo como base os dados levantados em pesquisa de campo, investiu-se em uma reflexão acerca damemória cultural de Corumbá, sob a ótica das expressões da Arquitetura Moderna, apontando alguns possíveis encaminha-mentos para subsidiar o desenvolvimento ligado ao patrimônio tangível, estendendo seu envolvimento com a realidade e acomunidade local. Embora a arquitetura apresentada, produzida entre as décadas de 40 a 60 do século passado, nãopertença à época economicamente áurea da cidade, tem fortes ligações com um período áureo para a arquitetura � aArquitetura Moderna - e, para a cidade, ainda que não sob o ponto de vista econômico. Por fim, esta pesquisa procura inserir-se em uma linha de investigação da produção arquitetônica e da memória, ao mesmo tempo, contribui para o debate acercado patrimônio arquitetônico de Corumbá, na medida em que analisa o potencial histórico das suas áreas urbanas.

50 - TÍTULO: CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E RELAÇÃO COM MEIO AMBIENTE DOS MORADORES DOASSENTAMENTO NOVA QUERÊNCIA: POTENCIALIDADES DE DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Edílson Soares da SilveiraORIENTADOR: Adriana Odália RímoliDATA DA APRESENTAÇÃO: 25/08/2004RESUMO: Esta dissertação analisa as condições socioeconômicas, físicas e ambientais das famílias assentadas no assentamen-to Nova Querência, no município de Terenos � MS. O objetivo da pesquisa foi investigar as estruturas sociais, físicas, econômi-cas e ambientais e também, as potencialidades de desenvolvimento local, cujo período de análise foi de janeiro de 2001 a agostode 2004. Foram utilizadas várias fontes de investigação, pesquisas documental e bibliográfica, levantamento de dados compesquisa de campo com os assentados, presidente da associação de assentados e com técnicos extensionistas do IDATERRA(Instituto de Desenvolvimento Agrário, Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul). Foram levan-tadas questões de âmbitos social, econômico e ambiental, que impedem um desenvolvimento local duradouro para a comuni-dade local. Um dos principais problemas enfrentados pelos assentado é a falta de união entre eles para a criação de umacooperativa agrícola, que segundo os próprios assentados, poderia propiciar uma melhoria na qualidade de vida da maioriadas famílias do assentamento Nova Querência. As relações dos assentados rurais com o meio ambiente geram problemas dedegradação ambiental bem evidentes, o que implica a promoção do desenvolvimento sustentável no local.

51 � TÍTULO: COMUNIDADE SÃO BENEDITO, CAMPO GRANDE/MS: PATRIMÔNIO CULTURAL, TURISMO EDESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Eliane de MatosORIENTADOR: Emília Mariko KashimotoDATA DA APRESENTAÇÃO: 27/08/2004RESUMO: Os homens em comunidade em seu território constroem ao longo de sua própria história sentimentos que sãocompartilhados e apropriados pelos membros deste grupo. Ao compartilhar emoções e vivências ocorre a manifestaçãocultural deste grupo em que a cultura pode ser interpretada também com o modo de pensamento, de agir, de vestir, deexpressão de determinado grupo humano, em suas relações intra e intergrupais. Esta pesquisa analisa a comunidade SãoBenedito, uma comunidade formada pela vinda de uma negra, de nome Eva Maria de Jesus, da cidade de Mineiros/GO, parase estabelecer na cidade de Campo Grande/MS, por volta de 1904. Cumprindo uma promessa, construiu a igrejinha de SãoBenedito. A fundadora desta comunidade morreu em 1926 e antes de morrer pediu a seus descendentes que não deixassemde rezar ao seu santo. E essa promessa continua a ser cumprida pelos seus descendentes até hoje. A igreja é tombada em nívelestadual e municipal. De 1998, quando foi realizada uma primeira pesquisa na comunidade, localizada no bairro SãoFrancisco, neste município, até o ano de 2003, algumas mudanças ocorreram tais como, a pavimentação de sua rua principal,a construção de uma escola e creche, reforma do salão da associação dos descendentes e lombada eletrônica. A presentepesquisa abrangeu a realização de entrevistas em que se buscou analisar se o desenvolvimento ocorrido se deu a partir daidentidade de valores culturais relativos a sua religiosidade, tentando relacionar turismo cultural e perspectiva de desenvol-vimento local a partir do conhecimento das manifestações culturais existentes. Os moradores da comunidade observaramcomo positivas as mudanças materiais ocorridas, porém, que ainda se faz necessária mais união entre seus membros paraque, juntos, possam firmar a identidade afro-brasileira, segundo palavras de muitos entrevistados. Os dados apontados emdecorrência da pesquisa mostram que a maioria dos entrevistados soube apontar fatos relativos à chegada de Tia Eva emCampo Grande, vêem a Igreja de São Benedito como testemunho da história do local; entendem o patrimônio histórico comosendo uma herança cultural e que essa Igreja é prova ao turista que chega na localidade. No entanto, sabem que para que oturismo ocorra de modo organizado e estruturado, precisam estar preparados e aprimorados no que diz respeito os traçosculturais afro definidos como identidade do grupo. A comunidade observou que espera que o turismo divulgue sua história,valorizando-os perante toda a sociedade e o presente trabalho analisa esse entendimento sob a perspectiva do turismocultural voltado para o desenvolvimento local.

52 - TÍTULO: CAPACITAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: A EXPERIÊNCIA DO PROJETO MUDANDO PARAMELHOR BURITI-LAGOA, CAMPO GRANDE-MSNOME: Ordylette Gomes PenqueORIENTADOR: Sérgio Ricardo Oliveira MartinsDATA DA APRESENTAÇÃO: 30/08/2004RESUMO: A presente dissertação é resultado de estudos desenvolvidos com o objetivo de analisar as ações de capacitação eresponder em que medida a capacitação da pessoa contribui para a promoção de seu próprio desenvolvimento e o dacomunidade local, e possibilita ampliar o processo de participação. O público alvo da pesquisa é formado por pessoas de baixarenda, residentes em comunidades urbanas e que estavam passando por processo de capacitação em seu contexto territorial,

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observando-se assim o enfoque de desenvolvimento local. Nesse sentido, optou-se por acompanhar, por meio de um estudo decaso, os resultados das capacitações realizadas durante o decorrer do projeto da Prefeitura Municipal de Campo Grande (MS),Mudando para Melhor Buriti Lagoa, executado pela Empresa Municipal de Habitação (EMHA). Com essa intenção, foirealizada pesquisa de campo, pela qual foram coletados dados acerca da identificação dos moradores, avaliação da antiga eda nova moradia, já que ocorreu remanejamento das famílias que moravam em área de risco, e avaliação dos cursos decapacitação, com levantamento da situação de trabalho e renda antes e depois dos cursos. A abordagem do trabalho foiqualitativa, com base no método dialético, podendo ser classificada, quanto à finalidade, como pesquisa descritiva e explicativa.No estudo de caso foram utilizadas técnicas de observação direta, complementada por pesquisa documental e bibliográfica,esta última envolvendo e acompanhando todo o processo. Dos resultados da pesquisa, concluiu-se que as ações de capacitaçãoali realizadas não atingiram o principal desejo dos moradores que era a pretensão de melhorar suas condições de trabalho erenda, mas uma maior sociabilização pessoal, com a família e na comunidade foi atingida.

53 - TÍTULO: ANÁLISE DA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO DO MUNICÍPIO DECAMPO GRANDE SOB A ÓTICA DO DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Darlene Maria Gonçalves Batista CavalcanteORIENTADOR: Sérgio Ricardo de Oliveira MartinsDATA DA APRESENTAÇÃO: 30/08/2004RESUMO: O presente trabalho aborda a questão da participação popular na elaboração dos orçamentos públicos municipaisno Brasil, em particular no município de Campo Grande, capital do estado de Mato Grosso do Sul, sob dois enfoques. Oprimeiro relata e analisa esta experiência em Campo Grande e o segundo reflete sobre a participação popular neste processo,na ótica do Desenvolvimento Local. Subsidiando o trabalho, no que diz respeito ao orçamento público, apresenta-se umaretrospectiva sobre a sua origem e evolução, abordando não só a sua história como também, as mudanças técnicas eoperacionais ocorridas no Brasil a partir de 1964. Neste passeio, chega-se ao orçamento participativo, suas fases e, ainda, asua prática nos municípios brasileiros. No entanto, para analisar a questão da participação popular na elaboração dosorçamentos públicos no Brasil, não basta apenas pesquisar e relatar o seu processo evolutivo, é preciso que se tenha clarezasobre o que seja a participação. Deste modo, para melhor compreensão, são apresentadas concepções, conceitos e reflexõesde estudiosos sobre a participação e o Desenvolvimento Local. Partindo do referencial teórico que subsidiou o trabalho, apesquisa é realizada junto aos Conselhos Regionais, ao Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano e aos AgentesPolíticos responsáveis pelo processo de planejamento e orçamento no município de Campo Grande. Com base nos levanta-mentos, são criadas categorias de análise para verificar a questão da participação da sociedade campo-grandense naelaboração do orçamento do município. E, finalmente, após verificar como ela ocorre na prática, é apresentada uma reflexãode como seria a participação no contexto do Desenvolvimento Local.

54 - TÍTULO: ANÁLISE SOCIAL E AMBIENTAL DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPN):UMA ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL NO MATO GROSSO DO SULNOME: Julia Correa BoockORIENTADOR: Adriana Odália RímoliDATA DA APRESENTAÇÃO: 30/08/2004RESUMO: A relação do homem com o meio ambiente vem sendo discutida ao longo dos anos. A criação de áreas naturaisprivadas, especialmente protegidas, denominadas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), surge como umaalternativa de conservação ambiental e utilização racional e sustentável dos recursos naturais. Esta pesquisa teve comoobjetivo geral, avaliar a qualidade ambiental de oito RPPNs no estado do Mato Grosso do Sul e sua contribuição para odesenvolvimento local de seus municípios, sendo quatro com atividades de ecoturismo e quatro sem ecoturismo. Foramentrevistados oito proprietários e/ou administradores das RPPNs e foi aplicada uma tábua de avaliação da qualidadeambiental nessas áreas. Dos resultados obtidos por meio do índice de variação geral da qualidade ambiental das unidadesde conservação (D Quc), utilizado para a pontuação nos cálculos do ICMS (Impostos de Circulação de Mercadorias eServiços) Ecológico de Mato Grosso do Sul, foi observado que as RPPNs com ecoturismo ocupam os primeiros lugares neste�ranking�. Quando analisados o �D Quc� separadamente, ou seja, apenas o índice de qualidade dos aspectos legais,planejamento e gestão, observou-se que as RPPNs com ecoturismo ainda continuavam nos primeiros lugares, mas que umadas RPPNs (Fazenda da Barra) passou do quarto para o segundo lugar. Quando analisado apenas o índice de qualidade dascaracterísticas ambientais, uma das RPPNs sem atividade de turismo (Reserva Ecológica Vale do Bugio), ascendeu para oprimeiro lugar. Por último, foi analisado o índice de qualidade relacionado à comunidade local, onde as unidades comecoturismo ficaram apenas com os dois primeiros lugares. Contudo, foi observado que atividades de ecoturismo em RPPNssão propulsoras do desenvolvimento local no estado de Mato Grosso do Sul e que aquelas RPPNs que visam apenas aconservação ambiental e pesquisa científica, quando executam atividades de educação ambiental, possuem grande potencialde desenvolvimento e também propiciam a melhoria na qualidade de vida das populações locais.

55 - TÍTULO: A IMPLEMENTAÇÃO DO PARQUE ESTADUAL MATAS DO SEGREDO COMO OPORTUNIDADE DEDESENVOLVIMENTO LOCAL PARA AS COMUNIDADES CIRCUNVIZINHASNOME: Leonardo Tostes PalmasORIENTADOR: Adriana Odália RímoliDATA DA APRESENTAÇÃO: 31/08/2004RESUMO: As Unidades de Conservação são espaços protegidos pelo poder público. A criação dessas unidades iniciou noano de 1872, quando o Governo dos Estados Unidos criou o Parque Nacional de Yellowstone. O Parque Estadual Matas doSegredo, localizado na área urbana de Campo Grande, foi criado a partir da mobilização dos moradores vizinhos ao parque.O modo pelo qual foi conduzida a implantação dessa unidade apresentou iniciativas de desenvolvimento local. Este trabalhoteve como objetivo identificar as iniciativas de desenvolvimento local decorrentes da implantação deste parque, de modo acontribuir com a comunidade vizinha em futuras ações de implementação. Para tanto, foram realizadas entrevistas estruturadascom a população local e um Diagnóstico Participativo em Unidades de Conservação (DiPUC) elaborados pelo Instituto de

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Florestas de Minas Gerais. Foram entrevistadas 115 pessoas vizinhas ao parque. Do DiPUC, participaram 600 moradores,que elaboraram um mapa da área, um calendário de atividades no parque, um diagrama de fluxo e um diagrama de relaçõesobjetivando verificar a percepção ambiental dos moradores e o nível de envolvimento da população, além de um resgate dalinha histórica da criação da unidade. Percebeu-se que a comunidade local foi fundamental no processo de criação do parque.Essa mobilização popular caracterizou o que é chamado de capital social, um dos indicadores de desenvolvimento local. Aanálise dos resultados mostrou que os moradores consideraram que a proteção da mata trouxe resultados positivos: aproteção contra marginais, à pavimentação do local e à melhoria da qualidade ambiental. Foi citado o Projeto Florestinhacriado a partir de iniciativas da própria comunidade com o objetivo de proteger as Matas do Segredo anteriormente à criaçãodo parque. Essas e outras iniciativas apresentadas neste trabalho demonstraram que há desenvolvimento local e, se valori-zada esta potencialidade, o parque poderá ser implantado sem maiores obstáculos.

56 - TÍTULO: VIOLÊNCIA E DESENVOLVIMENTO LOCAL � UMA ANÁLISE DO CAPITAL SOCIAL EM DUASCOMUNIDADES DE CAMPO GRANDE-MSNOME: Carlos Alberto PereiraORIENTADOR: Aparecido Francisco dos ReisDATA DA APRESENTAÇÃO: 31/08/2004RESUMO: A presente dissertação trata da teoria do capital social, que tem sido objeto de constantes estudos e adquireconsistência teórica e sistematização tornando possível a elaboração de estratégias para a identificação de sua presença econseqüências no Desenvolvimento Local das comunidades. Assim a pesquisa é uma reflexão da presença do capital socialcomo mitigador da violência social, reflexão possível a partir da comparação dos níveis de violência e indicadores dapresença do capital social em duas comunidades de Campo Grande-MS. Foi realizada inicialmente uma abordagem deconceitos e definições de capital social, desenvolvimento local e violência social, resultando em uma análise de dados colhidospor meio de um instrumento especificamente elaborado, com vistas a identificar o nível de capital social e a sua influência naviolência social, fenômeno cada vez mais presente nas comunidades, acarretando transtornos de toda ordem, inclusive, emprejuízo ao Desenvolvimento Local.

57 - TÍTULO: ALUNOS DE ENSINO MÉDIO DO COLÉGIO DOM BOSCO E MENTALIDADE DE DESENVOLVIMENTOLOCAL � ESTUDO DE CASONOME: Fortunato Lopes BennetORIENTADOR: Vicente Fideles de AvilaDATA DA APRESENTAÇÃO: 01/09/2004RESUMO: Pela investigação documentada nesta dissertação, verificou-se em 2004, se o fato de o Ensino Médio do ColégioDom Bosco estar inserido em contexto de ideais e princípios religiosos proporcionava ou poderia proporcionar influênciasdiferenciadas na formação de pessoas solidárias para a promoção do Desenvolvimento Local de natureza genuinamenteendógena. Este propósito implicou as seguintes vertentes investigatórias: a primeira, de cunho teórico, foi dedicada àcompreensão e explicitação dos fundamentos básicos do Desenvolvimento Local, enfocando principalmente o �para quê�adotar essa perspectiva de desenvolvimento e o �como� desencadeá-la; a segunda, também de cunho teórico, refere-se àcompreensão sobre a importância da religiosidade e como a mesma se revela em forma de identidade no âmbito do ColégioDom Bosco; a terceira, sob a forma de trabalho de campo, abordou os alunos para verificação do objetivo acima; a quarta,também sob a forma de trabalho de campo, consistiu na avaliação e, ao mesmo tempo, na iniciativa relacionada aoDesenvolvimento Local (DL) junto a alunos do Colégio Dom Bosco (CDB); a quinta investigação assemelha-se à terceira,porém voltada exclusivamente aos alunos que fazem parte de grupos religiosos dentro do CDB. Como conclusão, foramapresentadas reflexões pessoais do pesquisador a respeito de toda a investigação levada a termo.

58 - TÍTULO: DESENVOLVIMENTO LOCAL NA PERSPECTIVA TERENA DE CACHOEIRINHA, MIRANDA-MSNOME: Jorge Luiz Gonzaga VieiraORIENTADOR: Antonio Jacob BrandDATA DA APRESENTAÇÃO: 02/09/2004RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo identificar e demonstrar a partir da perspectiva Terena de Cachoeirinha,localizada no município de Miranda, estado de Mato Grosso do Sul, as suas condições e potencialidades de desenvolvimento.Para isso fez-se o levantamento da trajetória histórica Terena, do Chaco à ocupação na região do Pantanal sul-mato-grossense, participação na guerra contra o Paraguai (1865-1870) e o período posterior caracterizado pela perda dos territó-rios. Destaca-se nesse processo, portanto, a dispersão da população por fazendas e cidades da região e sua capacidade desocialização na relação com a sociedade brasileira. A partir dessa realidade, os Terena, com a sua mão de obra, desenvolvempapel relevante, do ponto de vista dos interesses brasileiros, no serviço militar, especialmente na defesa de suas fronteiras eno desenvolvimento da economia regional. Nesse contexto, os Terena demonstram sua capacidade de apropriação e constru-ção de instrumentos de outras sociedades, utilizando-os no fortalecimento e afirmação da identidade étnica e de suasorganizações. Com isso, em 1904, com uma população de 2.800 pessoas, conquistaram a Reserva de Cachoeirinha, com 2630hectares, e, em 1918, foi instalado o posto do Serviço de Proteção ao Índio � SPI. O espaço de Cachoeirinha tornou-se base ereferencial de realização do ethos Terena. Por isso, do ponto de vista da população de Cachoeirinha atual, com cerca de 8000,habitantes o desenvolvimento está condicionado, fundamentalmente, à recuperação do território, à formação sobre osdireitos à educação específica e diferenciada, saúde e agricultura, fundamentados em projetos de etnodesenvolvimento quegaranta a autonomia do povo Terena.

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59 - TÍTULO: POTENCIALIDADES DO CUMBARU (DIPTERYX ALATA VOG.) PARA O DESENVOLVIMENTO RURALEM FRAGMENTOS DO CERRADO NO ASSENTAMENTO ANDALÚCIA-MSNOME: Andréa Haruko ArakakiORIENTADOR: Reginaldo Brito da CostaDATA DA APRESENTAÇÃO: 02/09/2004RESUMO: As potencialidades, especialmente para o extrativismo no domínio morfoclimático do Cerrado apontam alterna-tivas sustentáveis de desenvolvimento, como um caminho para a solução dos graves problemas, com os quais se defrontamos trabalhadores rurais e a falta de amparo do estado. O presente estudo ateve-se a pesquisar as potencialidades e viabili-dades de utilização do cumbaru (Dipteryx alata Vog.), como alternativa de desenvolvimento local, presente em uma área defragmento florestal no domínio morfoclimático do cerrado em Mato grosso do Sul, onde se encontra estabelecido o Assenta-mento Rural Andalucia. Dessa forma, com base em referenciais teóricos e conceituais, o primeiro capítulo apresenta ascaracterísticas e potencialidades da espécie em fragmentos do Cerrado. No segundo capítulo, abordam-se os aspectos deprocedimentos metodológicos da pesquisa bibliográfica e documental; a escolha do município e da comunidade; a descriçãoda área e caracterização climática do Assentamento; a espécie em estudo e suas características; as pessoas a serem entrevis-tadas; bem como a pesquisa de campo. No capítulo três discorre-se sobre a comunidade local, com ênfase nas respostasobtidas por meio do questionário aplicado, envolvendo, particularmente, o conhecimento e utilização do cumbaru. E,finalmente, no capítulo quatro apresentam-se e discutem-se alternativas de desenvolvimento a partir das potencialidades dolocal. Nessa perspectiva, a questão do desenvolvimento local em áreas de fragmentos Florestais no estado de Mato grosso doSul passa, necessariamente, pela valorização das espécies nativas ainda presentes na região. Isto foi demonstrado ao longodeste estudo e o cumbaru emerge como uma das alternativas na construção da sustentabilidade local. O que se abstraiu aolongo do Assentamento Andalucia, no que se refere à união, cooperação e interesse em buscar no cultivo do cumbaru e dosseus produtos, uma forma de aumentar a renda familiar, propiciando uma melhor qualidade de vida e, consequentemente,o aumento da auto-estima e do bem estar social. É importante lembrar que já existe um capital social latente na comunidadee que os primórdios das redes de relações e cooperações mútuas estão acontecendo, em uma clara demonstração de que asdiferenças entre os atores deixam de existir e a união é fortalecida, permitindo acontecer, paulatinamente, a tão sonhadainclusão social.

60 - TÍTULO: O CONHECIMENTO TRADICIONAL DOS KAIOWA-GUARANI E O PROCESSO DE ETNODESENVOL-VIMENTO NA RESERVA INDÍGENA DE CAARAPÓ-MSNOME: Luiz Augusto Candido BenattiORIENTADOR: Reginaldo Brito da CostaDATA DA APRESENTAÇÃO: 03/09/2004RESUMO: A drástica diminuição da diversidade biológica imposta pela lógica capitalista da sociedade envolvente temocasionado a perda de parte importante da cosmologia e vida religiosa da comunidade indígena Kaiowá e Guarani deCaarapó, MS. Na raiz dos problemas por que passa essa etnia, está o processo de �confinamento� em diminutos territórios,o que tem se agravado com aumento do contingente populacional. Buscou-se representar na percepção dos Kaiowá eGuarani subsídios que possibilitem a construção de alternativas de sustentabilidade junto a esta comunidade indígena, comênfase na implantação de Sistemas Agroflorestais. Os dados obtidos durante o presente trabalho basearam-se nas técnicascomumente utilizadas hoje nas ciências sociais como: observações de campo, coleta de informações com informantes chaves(roteiros semi-estruturados) e oficinas temáticas. As informações levantadas demonstram que o manejo dos recursosnaturais e as práticas agroflorestais dos Kaiowá e Guarani estão relacionadas, sobretudo, com a organização socioculturaldeste grupo indígena. A reintrodução do componente arbóreo em consonância com o conhecimento local das comunidadesenvolvidas quer seja na forma de SAF�s ou associadas às roças e quintais, deverá assumir importante papel no sentido deassegurar melhores condições ecológicas e socioeconômicas, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vidadaquelas comunidades.

61 - TÍTULO: O MUNICÍPIO DE BODOQUENA-MS: UMA ANÁLISE DO TURISMO COMO INSTRUMENTO PARA ODESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Fany Oliveira MenezesORIENTADOR: Aparecido Francisco dos ReisDATA DA APRESENTAÇÃO: 16/09/2004RESUMO: O território sul-mato-grossense revela uma vocação natural para a exploração da atividade turística. Um dosdestaques é a Serra da Bodoquena, localizada na porção centro sul do estado, na borda do Pantanal de Nabileque e onde selocaliza o município de Bodoquena. O advento do turismo em Bonito, há uns dez anos, fez com que os municípioslocalizados na Serra da Bodoquena também despertassem para este �fenômeno� e buscassem revitalizar a economia de seusmunicípios seguindo os passos de sua nobre vizinha. Em decorrência da franca expansão do turismo na região, procurou-seaqui estudar o município de Bodoquena � MS que faz parte deste contexto, buscando uma reflexão sobre a construção desseespaço, considerado como produto em permanente processo de formação, a partir das especificidades ali encontradas, emque o turismo, como fenômeno e atividade, gera esta dinâmica. Considerou-se a importância dos recursos naturais, e docapital social como recursos turísticos e elementos fundamentais a serem utilizados como instrumentos no processo dedesenvolvimento local da região da Serra da Bodoquena.

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62 - TÍTULO: AS OPORTUNIDADES PARA O DESENVOLVIMENTO DO TURISMO SUSTENTÁVEL NO PARQUEESTADUAL DO PROSA CAMPO GRANDE-MSNOME: Daniela Vieira CaçãoORIENTADOR: José RimoliDATA DA APRESENTAÇÃO: 17/09/2004RESUMO: A pesquisa sobre o uso público no Parque Estadual do Prosa foi realizada de acordo com a aplicação deentrevistas e questionários com a gerência, funcionários / estagiários e visitantes (turistas e a comunidade local de CampoGrande�MS). O trabalho apresenta um breve histórico do desenvolvimento do turismo em Unidades de Conservação,relatando a origem do turismo e lazer nos parques, explanando o papel do ecoturismo e da educação ambiental e a relaçãoentre o turismo sustentável e o desenvolvimento local. Um estudo detalhado do parque é feito e são apresentados desde seuhistórico, localização, plano de manejo e zoneamento até seus aspectos biofísicos e infra-estrutura e serviços de atendimentoaos visitantes. É demonstrada, nesta pesquisa, como a visitação está acontecendo no parque; qual o perfil do visitante; aclassificação das instalações (atrativos) para o atendimento ao visitante e as alternativas de nova infra-estrutura para oparque. Para concluir, foi feita uma proposta de algumas diretrizes para o desenvolvimento do turismo sustentável noParque Estadual do Prosa.

63 - TÍTULO: AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DA ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA�COAAMS NO DESENVOLVIMENTODE COMUNIDADES RURAISNOME: Claudir José RubenichORIENTADOR: Antonia Railda RoelDATA DA APRESENTAÇÃO: 27/09/2004RESUMO: Objetivou-se realizar uma análise dos fenômenos envolvidos no meio em que vivem jovens que estudam ouestudaram na EFA - COAAMS identificando, assim, se os objetivos da escola estão se cumprindo, na perspectiva dos pais,por meio de observações locais e aplicação de questionários. O programa de reforma agrária brasileiro enfrenta problemasdiversos, entre eles a falta de capacitação no sentido de viabilizar a transformação do assentado em agricultores familiares.O sistema de educação de alternância, EFA (Pedagogia de Alternância dos CEFFA�s, Centros Familiares de Formação emAlternância) tem como objetivo capacitar os jovens na atividade agrícola apropriada e assim formar multiplicadores e inseri-los efetivamente nas atividades agrícolas, exercendo, assim, a extensão rural em suas comunidades de origem. Os jovens sãooriginários de famílias assentadas no Estado de Mato Grosso do Sul, permanecendo por um período de quinze dias na escolae outros quinze dias junto às suas famílias. O estudo indicou que a FEA � COAAMS vem contribuindo para fixação essesjovens no meio rural, onde mais de 90% dos egressos estão exercendo atividades na Agricultura Familiar no Estado de MatoGrosso do Sul como agricultores nas suas propriedades ou técnicos em empresas do estado.

64 - TÍTULO: AS PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL ENTRE OS TERENA, NA ALDEIA URBANAMARÇAL DE SOUZA, EM CAMPO GRANDE-MS, PELO ETNOTURISMONOME: Munier Abrão LacerdaORIENTADOR: Antonio Jacob BrandDATA DA APRESENTAÇÃO: 30/11/2004RESUMO: Os Terena são povos indígenas originários dos Aruak, que habitaram diversas regiões da América do Sul, assimcomo regiões limítrofes do então Estado de Mato Grosso, conhecidas como Chaco Boliviano e Chaco Paraguaio. Devido aatritos interétnicos, este povo deslocou-se até o atual Mato Grosso do Sul e se fixou nas proximidades das cidades deMiranda e Aquidauana, vindo a se espalhar por outros estados, inclusive em Mato Grosso e São Paulo, posteriormente. NaGuerra da Tríplice Aliança, contra o Paraguai, os Terena aliaram-se ao Brasil e contribuíram muito para a vitória, no entanto,perderam muito de suas terras para as famílias dos militares e fazendeiros que se instalaram na mesma região, após aguerra. Com pouco espaço nas aldeias e condições cada vez mais difíceis de sobrevivência, muitos saíram em busca deoportunidades nas cidades, nas quais, atualmente, vivem em bairros próprios como é o caso do Bairro Marçal de Souza, emCampo Grande-MS, foco da nossa pesquisa. O desenvolvimento local, nesse panorama, é conceituado e analisado sobdiversos aspectos, principalmente no que se refere ao território, territorialidade e ao etnodesenvolvimento dos Terena nobairro em questão, procurando verificar as possibilidades e perspectivas representadas pelo turismo, que já acontece no local.Analisando diferentes nichos de mercado do turismo, encontram-se diversas nomenclaturas para designá-lo em áreasindígenas, que tratam da valorização da cultura e desenvolvimento destas sociedades. Assim, há o turismo cultural, oturismo indígena, o ecoturismo, o etnoturismo, entre outros. Nesse aspecto, o mercado de turismo está repleto de opções econvites para a sua prática voltada aos povos indígenas. Mas, o que acontece é que esta temática está ainda em discussão,pois há pessoas que são a favor, mesmo sem saber o seu real significado e implicações. Não há, portanto, um etnoturismoestabelecido comercialmente e adequado. Encontramos, porém, a ocorrência do turismo na aldeia urbana, em CampoGrande, bem como em áreas indígenas da Austrália, onde há um comitê que regula o turismo indígena e, também, naAmazônia brasileira, onde apesar de algumas aldeias não permitirem, há hotéis se instalando no local. Quanto a FUNAI,órgão brasileiro, proíbe o turismo em área indígena, apesar de ele acontecer em diversos locais. A questão central refere-se àpergunta, até onde o etnoturismo, no caso da aldeia urbana � Marçal de Souza, em Campo Grande � MS, pode representarum apoio ao seu desenvolvimento, na perspectiva do desenvolvimento local. Levando-se em consideração a bibliografiaconsultada e a própria realidade, entendemos que há possibilidades de que isto possa acontecer, desde que haja umplanejamento específico para tal e que seja de acordo com a vontade e o protagonismo da comunidade envolvida. Até omomento, o turismo, como uma iniciativa da sociedade ocidental entre os não-índios, tem servido aos seus propósitos, e osTerena, povo indígena analisado, têm interagido com este fenômeno, aprendendo rapidamente os princípios pertinentes e pormeio de artesanato e outras manifestações culturais têm demonstrado capacidade de empreendedorismo, buscando novasalternativas para se manterem neste mercado que pode tornar-se uma nova e promissora forma de sobrevivência nestemundo globalizado.

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65 - TÍTULO: PRODETUR � PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DO TURISMO � SERRA DA BODOQUENA � UMESTUDO SOBRE A PARTICIPAÇÃO POPULAR - não oficial 28/01/2005NOME: Osana de LuccaORIENTADOR: Sérgio Ricardo de Oliveira MartinsDATA DA APRESENTAÇÃO: 17/12/2004RESUMO: Este trabalho objetiva analisar a participação popular no âmbito do Programa de desenvolvimento do Turismoem Bodoquena � MS focalizando a estrutura e instrumentos utilizados pelo Poder Público para a convocação à participaçãoda sociedade civil organizada envolvida no desenvolvimento do turismo local na região. Na pesquisa foi utilizada a metodologiaqualitativa de caráter exploratório, descritivo e analítico por enfatizar a compreensão da singularidade e a contextualizaçãodos fatos e eventos encontrados. As estratégias delineadas no âmbito do PRODETUR/SUL foram concebidos para incentivaro turismo com foco na dinamização e fortalecimento do município e da participação social, visando, ainda, ao desenvolvi-mento regional tendo em vista a conquista da sustentabilidade e reais benefícios para a população das áreas turísticas,mediante a implementação de novas estratégias baseadas na participação popular e fortalecimento da gestão local. No quetange à participação popular, observamos que a comunicação horizontalizada não vem correndo como o esperado, porém,a sociedade organizada articula-se para que a serra da Bodoquena inclua-se como um pólo de destaque no turismo nacional.

66 - TÍTULO: A ALDEIA INDÍGENA DE LIMÃO VERDE: ESCOLA, COMUNIDADE E DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Wanderley Dias CardosoORIENTADOR: Antonio Jacó BrandDATA DA DEFESA: 15/12/2004Resumo: Este trabalho procura analisar a comunidade Terena da aldeia Limão Verde, localizada no município de Aquidauana,em relação ao papel da Escola Lutuma Dias - instalada dentro da aldeia e que oferece a Educação Básica - frente aoetnodesenvolvimento. Busca saber se a escola tem capacitado a comunidade para a formulação de projetos próprios dedesenvolvimento. Ele parte da análise de textos etnográficos que narram comportamento e ações dos Terena, bem como aspolíticas implantadas nessa comunidade. Mostra a trajetória Aruak-Guaná-Terena, como um povo que, onde valha a idéiade ter havido mudanças culturais ao longo de sua história, na assimilação dos valores que estão em torno destes, têmconsciência de que é um Povo que precisa manter o que o identifica como Terena. Aponta o desafio de construir a escolaindígena terena de Limão Verde, apoiado na trajetória do Povo Terena, na luta pela ampliação do território e voltada aofortalecimento da comunidade local.

2005

67 � TÍTULO: PLANEJAMENTO E MANEJO DO PARQUE ESTADUAL DAS NASCENTES DO RIO TAQUARINOME: Sylvia TorrecilhaORIENTADOR: Willian Tse H. LiuDATA DA APRESENTAÇÃO: 14/03/2005RESUMO: Este trabalho desenvolveu métodos adequados de planejamento, manejo e monitoramento do Parque Estadualdas Nascentes do Taquari, aplicáveis às demais categorias de proteção integral do Sistema Estadual de Unidades deConservação. Em uma primeira etapa foram aplicadas técnicas de geoprocessamento e sensoriamento remoto para caracte-rizar e analisar a estrutura da paisagem da unidade, incluindo os aspectos físicos, biológicos e culturais em modelo deSistema de Informação Geográfica. A análise integrada da paisagem e seus elementos possibilitou a elaboração do zoneamentoambiental do Parque Estadual das Nascentes do Rio Taquari de bases para o seu manejo. Este banco de dados foi elaboradocom os mesmos parâmetros cartográficos o que permite o estabelecimento de critérios de monitoramento ambiental. Em umasegunda etapa analisaram-se as bases conceituais e de gestão do ICMS ecológico nos seus quatro anos de existência, tantodos aspectos quantitativos quanto qualitativos, tomando como base, principalmente, os municípios de abrangência daunidade, isto é, Alcinópolis e Costa-Rica. Avaliou-se a importância desta ferramenta, como principal indutor a criação dasunidades de conservação no MS, enfocando também necessidade de rever os critérios qualitativos, tanto no seu modo deaplicação quanto nos cálculos do índice. E em uma terceira etapa estabelecem-se critérios para avaliar sistematicamente aefetividade do manejo das unidades de proteção integral ajustando o método aos critérios qualitativos do ICMS ecológico.

68 - TÍTULO: MANIFESTAÇÃO DO SAGRADO NO FORTE COIMBRA: IDENTIDADES POLÍTICA, MILITAR ERELIGIOSA NA TERRITORIALIDADE DE FRONTEIRANOME: Marlei TeixeiraORIENTADOR: Dr(a). Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 24/10/2005RESUMO: O presente trabalho diz respeito à devoção a nossa Senhora do Carmo, Padroeira do Forte Coimbra, que teve suaorigem com a fundação do Forte e perpetua até os dias atuais. Para analisar essa devoção na territorialidade de fronteiratornou-se necessário abordar o conceito de Sagrado, aspectos culturais, políticos e militares a fim de oferecer ao leitor possívelentendimento sobre esta relação entre homem e sagrado bem como os efeitos desta religiosidade.

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69 � TÍTULO: COLÔNIA SÃO LUÍS: PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO LOCAL NA PERCEPÇÃOSOCIOAMBIENTAL DE UMA COMUNIDADE NO PANTANALNOME: Eliane Crisóstomo Dias RibeiroORIENTADOR: Aparecido Francisco dos ReisDATA DA APRESENTAÇÃO: 20/12/2005RESUMO: A Colônia São Luís está localizada no município de Rio Verde de Mato Grosso, no Estado de Mato Grosso do Sul.Popularmente conhecida como Coloninha, sua comunidade está situada às margens da Rodovia MS 427, distante 62Km dacidade de Rio Verde de Mato Grosso e 42Km da cidade de Rio Negro. Está localizada à margem direita do Rio Negro edelimitada, de um lado, pela Serra de Maracaju, e, do outro, pelo início da planície pantaneira. Sua colonização teve início hácerca de 40 anos e tem mantido constante a sua população, que é de aproximadamente 25 famílias. O projeto de pesquisafoi desenvolvido, nesta área, com o objetivo de analisar a relação que esses moradores têm com a terra; os modos com quetratam os recursos naturais e o grau de harmonia entre a população e o ambiente. A metodologia aplicada é do tipodescritiva, consistindo de registro, análise e interpretação dos fatos para explicar os fenômenos sociais. Ao aprofundar-se nadescrição dos fenômenos sociais, destaca-se a interpretação da realidade sob uma óptica qualitativa. Para o levantamento dedados e informações, foram contemplados os principais aspectos do meio natural, físico e sociocultural. A pesquisa foirealizada em duas etapas descritas a saber: coleta de dados de fontes primárias e pesquisa de campo. A comunidadecaracteriza-se por uma população tradicional que enfrenta fatores ambientais limitantes, mas apresenta elevada potencialidadede capital social para o desenvolvimento local.

70 - TÍTULO: ARTESANATO REGIONAL: CASA DO MASSA BARRONOME: Rosângela Carla de Oliveira MüllerORIENTADOR: Dr(a). Aparecido Francisco dos ReisDATA DA APRESENTAÇÃO: 20/12/2005RESUMO: A Casa do Massa Barro é uma associação localizada na cidade de Corumbá-MS, fundada em outubro de 1982 (há23 anos). É formada por voluntários (Diretoria e associados). Trata-se de uma associação artesanal, sem fins lucrativos quefoi formada com crianças e rapazes da região de Cervejaria. A associação é destinada principalmente a trabalhos emcerâmica, não excluídas, porém, outras atividades correlatas, sob a orientação das senhoras Ida Sanches Monaco e JosephinaPor Deus da Silva. O objetivo principal é despertar e estimular nas crianças e rapazes carentes da região, o gosto pelacerâmica e ao artesanato em geral. Tem um �aspecto de inclusão social�, à medida que o artesanato é proporcionado àscrianças, de uma maneira geral, estas abandonam as ruas e a marginalidade, colaborando assim com a comunidade. Coma argila as crianças e adolescentes, artesãos na entidade, modelam exemplares com riqueza de detalhes: são figuras detuiuiús, garças brancas, jacarés, capivaras, araras, tucanos e onça-pintada. As peças são difundidas e valorizadas no Brasile na Europa. Tem também a imagem de São Francisco estilizada e a imagem de Nossa Senhora do Pantanal. O aspecto socialdo artesanato, por possibilitar ao artesão, melhores condições de vida e atuar contra o desemprego, pode ser consideradoelemento de inclusão social. O artesão também desempenha um papel relevante na comunidade e sua arte é fator deprestígio. O artesanato abrange, entre outros, os valores social, artístico, pedagógico, cultural e psicológico.

71 - TÍTULO: O VOLUNTARIADO EM COMUNIDADE COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL: OCASO VILA PILOTONOME: Juscyo Mário Barbosa MartinsORIENTADOR: Dr(a). Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 20/12/2005RESUMO: A presente pesquisa visa a manter os pressupostos do mestrado em Desenvolvimento Local inseridos na comu-nidade da Vila Piloto no Município de Três Lagoas-MS, tendo em vista as prioridades e as necessidades que a própriacomunidade local deseja para ter uma melhor qualidade de vida. Um trabalho de base comunitária deve ocorrer de formacooperada, procurar alternativas de Desenvolvimento Local. A formação de grupos de voluntariado pode ser um caminhopara resolver os problemas de ordem social tão visíveis na comunidade da Vila Piloto. Atualmente, essa realidade vem sendopercebida por meio de manifestações que muitas vezes alteram a convivência da sociedade daquele local. Um trabalho sériocom o objetivo de construir um futuro melhor, com justiça social é o caminho para a comunidade da Vila Piloto.

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72 - TÍTULO: O MERCADO CONSUMIDOR DE PRODUTOS ORGÂNICOS EM CAMPO GRANDE-MS: UMA ALTERNA-TIVA PARA O DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Cristiane Maria Vendramini MomessoORIENTADOR: Antonia Railda RoelDATA DA APRESENTAÇÃO: 22/02/2006RESUMO: O alimento é fundamental para prevenção e auxílio ao tratamento de doenças, portanto é inconcebível queprovoque danos à saúde do homem. Felizmente, cada dia que passa aumenta a preocupação dos órgãos competentes coma ingestão dos alimentos. O sistema de produção orgânico não só resguarda o ambiente de agressões, como produzalimentos sem resíduos nocivos à saúde. É ainda alternativa para pequenos produtores visando ao desenvolvimento local eà sustentabilidade. A demanda de produtos orgânicos vem crescendo no Brasil e no mundo. Em Campo Grande-MS, muitosprodutores estão interessados em trabalhar neste tipo de cultivo, no entanto, falta a informação sobre o potencial de mercadolocal. Objetivou-se, assim, avaliar o potencial de mercado consumidor de produtos orgânicos, o conhecimento da populaçãoda capital do Estado sobre o assunto, bem como a disponibilidade em pagar mais e ir a um lugar específico para adquiri-los.Optou-se por uma pesquisa exploratória com abordagem quantitativa que teve como meios de investigação a bibliografia e

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a pesquisa de campo. Para realizar este estudo foi aplicado um questionário em uma amostra de mulheres residentes nacidade de Campo Grande, em bairros de alta renda familiar. Concluiu-se que, de maneira geral, a maioria das mulheresentrevistadas afirmou conhecer o produto orgânico, porém, apenas aproximadamente a metade realmente sabia seu signifi-cado. No entanto, todas as entrevistadas afirmaram que comprariam alimento orgânico, parte delas pagaria mais caro(51,95%) e ainda estaria disposta a procurar local próprio de comercialização (66,23%). Após esclarecimentos, ou seja, umabreve explicação sobre os benefícios do produto orgânico, quase a totalidade (99,35%) optaria por estes produtos, denotandoa não utilização do produto por falta de divulgação adequada.

73 - TÍTULO: AS AÇÕES DOS CATÓLICOS CARISMÁTICOS NA TERRITORIALIDADE DA PARÓQUIA DE SÃOFRANCISCO EM CAMPO GRANDE�MS: A CULTURA IMATERIAL (MÍSTICA) COMO ALTERNATIVA DE DESENVOL-VIMENTO LOCALNOME: Magali Luzio FerreiraORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 24/02/2006RESUMO: A presente pesquisa investiga os pressupostos do Mestrado em Desenvolvimento Local no Bairro São Francisco,em Campo Grande � MS, com enfoque no Movimento de Renovação Carismática da Paróquia de São Francisco. Para tanto,o estudo foi baseado no aporte bibliográfico sobre o tema, tais como: livros, sites e apostilas e na coleta de dados realizadain loco, para se poder dimensionar a pesquisa dentro de uma realidade local e concreta. A população estudada foi compostapor carismáticos do local pesquisado e fora deste, por moradores do bairro e por mendigos, utilizando de entrevistas eobservações pessoais, baseadas em questões chaves sobre o referido assunto, dificuldades encontradas e resultados obtidos.Quanto à análise dos dados coletados, constatou-se que os procedimentos utilizados pelos carismáticos, após a interlocuçãodo pesquisador podem ser modificados, como por exemplo, esclarecer para a população local quais são os princípios daRenovação Carismática. Por outro lado, identificou-se que o crescimento, tanto individual quanto coletivo, interferiu direta-mente nas ações comunitárias, com aspectos voltados ao Desenvolvimento Local.

74 - TÍTULO: AVALIAÇÃO QUÍMICA E TÉRMICA DE ERVA-MATE: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A SUSTENTA-BILIDADE NA RESERVA INDÍGENA KAIOWÁ E GUARANI, CAARAPÓ, EM MATO GROSSO DO SULNOME: Gessiel Newton ScheidtORIENTADOR: Reginaldo Brito da CostaDATA DA APRESENTAÇÃO: 03/03/2006RESUMO: O presente trabalho objetivou a avaliação térmica (TG/DTG e DSC), quantificação dos elementos minerais porabsorção atômica e teor de cafeína das progênies nativas de erva-mate (Ilex paraguariensis St. Hil.), para permitir omonitoramento e complementar à avaliação genética dessas progênies em campo, a fim de permitir a seleção do materialgenético mais produtiva e adequada aos propósitos da exploração sustentável do recurso natural pela comunidade indígena.Os resultados, a partir da análise termogravimétrica, permitem sugerir a técnica como uma ferramenta importante para ainvestigação da variabilidade genética, observando que as progênies com maior concentração de minerais são 5, 6, 4, 2, 3, 1e 7 respectivamente. A concentração do teor de cafeína variou na faixa de 6,566 mg/g a 13,630 mg/g, com destaque para osblocos I e IV. Não houve desvio significativo da linearidade entre os tratamentos, encontrando-se r= 0,9945 entre 0,002 a0,007 mg/ g., o que valoriza o potencial energético da espécie. Os resultados experimentais, realizados em triplicata,permitem sugerir, que as disposições das diferentes progênies distribuídas nos blocos ao acaso, resultam em variaçõesapreciáveis nos teores de minerais e cafeína obtidos das diferentes progênies nativas. A comunidade indígena kaiowá eGuarani apresenta diversas potencialidades, muito delas ainda latentes, por causa de sua resistência sociocultural. Porémcabe ressaltar, o envolvimento de novas alternativas sustentáveis, como a determinação do teor energético de cafeína dasprogênies nativas de erva-mate amplia o leque de opções e agregação de novos conhecimentos ao uso e manufatura da erva-mate. Esse conhecimento gerado pode vir a ser divulgado, permitindo a revitalização cultural e proporcionando bem-estar atoda comunidade.

75 - TÍTULO: CREME DENTAL COM ÓLEO DE NIM (Azadirachta indica A. de Jussieu): UMA INOVAÇÃO COMOALTERNATIVA DE DESENVOLIMENTO LOCAL EM ASSENTAMENTOS RURAISNOME: Augusto Rodrigues da SilvaORIENTADOR: Eduardo José de ArrudaDATA DA APRESENTAÇÃO: 03/03/2006RESUMO: Organizada em oito capítulos, esta dissertação propõe o Desenvolvimento Local e sua evolução pelo do uso do óleode nim como constituinte de inovação de produto de higiene bucal (creme dental experimental), no Assentamento FazendaSanta Mônica,Município de Terenos em Mato Grosso do Sul. O vegetal nim (Azadirachta indica A. de Jussie), até então erautilizado como defensivo agrícola, biodefensivo, na gleba vizinha: Assentamento Nova Querência. O produto, ora disponibilizadocomo dentifrício, foi formulado devido à solicitação destas comunidades por melhorias na saúde bucal. Os objetivos dapesquisa calcaram-se nos conhecimentos tradicionais (etnobotânicos) acerca da utilização da planta. Daí, realizamos amplosestudos bibliográficos sobre as investigações mundiais a respeito do vegetal: propriedades odonto-farmacológicas, princípiosativos, uso industrial, efeitos colaterais, toxicidade, estrutura molecular, estágio atual das utilizações medicinais da planta.Das qualidades investigadas úteis à odontologia, autores de renome internacionais citam: ação bactericida, bacteriostática,antifúngica, antiinflamatória, analgésica, cicatrizante, dentre outras. Após as pesquisas, realizamos exaustivos ensaiosatualizados, formulando receitas próprias de dentifrícios, substâncias catalisadoras, acrescidas do óleo de nim, o nossodiferencial de inovação tecnológica e produto alternativo. Composto simultaneamente às análises físicoquímicas de cremesdentais comerciais nacionais e importados. Aviamos, assim, receita base de fórmula destinada aos cuidados bucais, balancean-do nosso produto segundo as Boas Práticas de Fabricação e Controle (BPF/C). Das averiguações físico-químico-analíticaslevantamos: teor de voláteis, sólidos totais, tensão superficial, detergente, pH (os dados mostraram que a maioria das fórmulascomerciais têm equivalência em constituintes e teores). Temos hoje, um dentifrício equivalente às melhores marcas comerciais.Tal produto experimental obteve nos testes de aceitabilidade positiva, a maioria dentre os julgadores. Na etapa dos exames

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clínicos aferiremos: controle químico da placa bacteriana , inibição, crescimento e proliferação dos microorganismos na microbiotabucal. Esperamos promover saúde bucal, qualidade de vida, cidadania, economia solidária e participativa. Disseminando aspotencialidades do nim e industrializando o território da reforma gerando: matérias primas, insumos e inovações, a partir daprodução de creme dental, incrementando vetorialmente o Desenvolvimento Local.

76 - TÍTULO: ESTRUTURA E DESEMPENHO TERRITORIAL DO APL CERÂMICO �TERRA COZIDA DO PANTANAL�DE RIO VERDE E COXIM/MS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Vanessa de Gouveia LeiteORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le BourlegatDATA DA APRESENTAÇÃO: 06/03/2006RESUMO: O objeto de estudo é o Arranjo Produtivo Local �Terra Cozida do Pantanal� e a questão que norteou a pesquisafoi a compreensão da origem dessa aglomeração empresarial, assim como a natureza dos vínculos estabelecidos entre seusintegrantes, capazes de atribuir competências para a manutenção de uma dinâmica de inovação que se reverta em desenvol-vimento local, com especial atenção aos processos de aprendizagem interativa, capacidade inovativa e enraizamento doconhecimento produzido. O método de abordagem foi sistêmico e a metodologia da análise ampliada (técnicas quantitativase qualitativas), por meio de revisão bibliográfica, fontes documentais e dados coletados junto aos atores. O APL, que seoriginou em um contexto agropecuário, de baixa densidade demográfica e renda per capita, aparece como o mais dinâmicodentre os outros arranjos cerâmicos do Estado, no que toca a processos inovativos, tendo sido o único a avançar para osprodutos de revestimento. Está se submetendo a um novo processo de modernização tecnológica e reestruturação produtiva,na busca de novos produtos e mercados, por meio de articulação dos ceramistas, com apoio de organizações sociais, o queimplica inovação de estratégia competitiva e formas de aprendizagem, com a manutenção do espírito de coesão solidária,para propiciar as forças endógenas do desenvolvimento.

77 - TÍTULO: ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DA SOJA EM CHAPADÃO DO SULNOME: Alessandra Cristina ConforteORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le BourlegatDATA DA APRESENTAÇÃO: 06/03/2006RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo principal a realização de um diagnóstico a respeito do Arranjo ProdutivoLocal de Soja em Chapadão do Sul-MS, observando-se a transferência de conhecimento e aprendizado gerados no cultivo dasoja, com a identificação do conjunto articulado de atores econômicos e organizações de apoio e a relação desse processo como desenvolvimento local. A abordagem foi sistêmica, privilegiando o método do jogo dialógico das variáveis contidas de umarealidade territorial e o método de pesquisa foi qualiquantitativo. Pôde-se constatar que o APL de soja originou-se deiniciativa particular de colonização de agricultores sulistas em áreas de cerrados, junto a um dos corredores agrícolas doCentro-Oeste, caracterizando-se por organizar no território apenas a fase de cultivo da cadeia produtiva da soja. Apresentasignificativo desempenho inovativo em todas as etapas produtivas, com melhoria de qualidade, redução de custos e logísticade abastecimento e distribuição. Essas inovações têm se originado de uma dinâmica de aprendizagem coletiva dos atoreslocais entre si (redes sociais informais), com as organizações de apoio (centros de pesquisa espacialmente) nas várias escalasde organização territorial e também com os fornecedores de insumos e equipamentos locais, regionais e nacionais. Trata-sede um tipo de combinação interativa territorial favorecedora de um processo de melhoria do padrão de desenvolvimentosocioeconômico da população envolvida. A resposta endógena e territorial do APL apóia-se muito mais nos recursosenraizados e imateriais, difíceis de serem transferidos do lugar e que foram ali acumulados ao longo do tempo: o conhecimentotácito e a capacidade de fazer parcerias. Entretanto, os atores locais mostram-se ainda passivos na inovação dos processosde comercialização, que permanecem nas mãos de três grandes empresas multinacionais.

78 - TÍTULO: O GÊNERO ILEX: ALTERNATIVAS DE SUSTENTABILIDADE NO USO DE ETNOESPÉCIES PELOSKAIOWÁ E GUARANI EM MATO GROSSO DO SULNOME: Adriana Zanirato ContiniORIENTADOR: Reginaldo Brito da CostaDATA DA APRESENTAÇÃO: 10/03/2006RESUMO: O presente trabalho objetiva investigar o papel etnobotânico de espécies do gênero Ilex no cotidiano dos índiosKaiowá e Guarani da Reserva Indígena de Caarapó, Mato Grosso do Sul. Pontuar os sinais indicativos de desenvolvimentoao longo de sua história, embasarão as sinalizações para desencadeamento do processo de desenvolvimento local dessespovos, a partir do material botânico nativo em foco, também objetivo desta pesquisa. No primeiro capítulo, realizou-se umacontextualização histórica da Ilex paraguariensis St. Hil., a ervamate, a espécie mais utilizada do gênero pelos Kaiowá eGuarani; buscou-se, assim, delinear o papel desta espécie nos processos ocorridos, inclusive no concernente à colonização dosul do Estado. O segundo capítulo traz uma descrição física - clima, solo, relevo, vegetação - da área estudada, de modo acriar o cenário necessário para a contextualização das outras etapas deste trabalho. No terceiro capítulo, é discutida ametodologia utilizada para a obtenção e análise dos dados. Os métodos para a escolha dos informantes, as técnicas deentrevista, registro e análise são abordados, de modo a expô-los ao julgamento e justificar aqueles que serão empregados. Oquarto capítulo se destina à discussão dos resultados, de fato. Pretendese analisá-los sob a ótica do desenvolvimento local,buscando apontar indicações que levrm à reflexão das possibilidades de utilização da espécie vegetal enfocada, na melhoriada qualidade de vida daquela população.

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79 - TÍTULO: FRAGMENTOS DE VEGETAÇÃO NATURAL E O EXTRATIVISMO COMO ALTERNATIVA DESUSTENTABILIDADE EM ÁREA KAIOWÁ E GUARANI, CAARAPÓ, MSNOME: Flávio Luiz Hilário RegoORIENTADOR: Reginaldo Brito da CostaDATA DA APRESENTAÇÃO: 10/03/2006RESUMO: O processo compulsório de confinamento imposto aos Kaiowá e Guarani trouxe mudanças marcantes em suaestrutura social e econômica e uma drástica redução de recursos naturais. A reversão deste quadro se dará pela disponibilizaçãode novas áreas a serem recuperadas e revegetadas e pela percepção, especialmente dos mais novos, de que diversos produtosoriundos da vegetação, poderão ser utilizados. Após anos de esforços para reverter os avanços da fragmentação florestal naReserva Indígena de Caarapó, tem ocorrido de forma lenta, porém consistente, a recuperação da vegetação remanescente, istodevido à participação dos moradores locais e órgãos parceiros. Os Kaiowá e Guarani reconhecem a importância da conser-vação ambiental e da necessidade de transmitir esta preocupação aos mais jovens, que são instruídos nas escolas indígenasacerca das mais diversas utilidades que as espécies vegetais podem ter. Na riqueza dos relatos confirma-se o pressuposto deum imenso acervo de conhecimentos tradicionais, contendo formas de utilização, modelos de manejo e gestão ambiental, queapontam para uma situação melhor e de possível sustentabilidade a partir dos recursos naturais ainda presentes e a suautilização de forma racional.

80 � TÍTULO: A ATIVIDADE TURÍSTICA E O PERFIL DO PROFISSIONAL NO MUNICÍPIO DE BONITO/MS COMALTERNATIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Marta Maria Lopes SollerORIENTADORA: Maria Augusta de CastilhoDATA DA DEFESA: 13/03/2006RESUMO: A presente pesquisa tem como objetivo de estudo o turismo em Bonito � MS e tem por finalidade estudar oturismo, analisando, simultaneamente, a atividade turística no município e quem é o profissional que trabalha com ofenômeno na localidade, justificado pelo crescimento desta atividade na localidade, decorrente do seu potencial natural ediversidade de ecossistemas. Esta pesquisa é a extensão de estudos realizados anteriormente, cerca de uma década, nestaregião o que fomenta na pesquisadora cada vez mais o interesse em discutir as dificuldades decorrentes da exploração daatividade turística, bem como suas alternativas e propostas, buscando relatar fatos presentes, para que se possa entendertodo esse processo no futuro. A região da Serra da Bodoquena vem se desenvolvendo, através da implantação do turismo,em virtude de seu potencial histórico-cultural e, principalmente natural. A relação existente entre turismo e natureza éindiscutível, ainda mais nesta localidade, onde os proprietários de atrativos naturais preparam seu produto, e os colocam nomercado, muitas vezes sem planejamento algum, esquecendo-se que esta é uma região formada por ambientes frágeis, ondeo cuidado carece de atenção redobrada. A ligação entre desenvolvimento e meio ambiente é colidente, pois pode causar danosconsideráveis ao patrimônio natural, então, são necessários projetos mais racionais, com a minimização dos impactos,fundamentado na realidade de cada localidade. Desta forma, considera-se de relevante importância o estudo aqui sugerido,para avaliar o modo como o turismo é fator de inclusão social no município de Bonito, gerando empregos e sendo uminstrumento no processo de Desenvolvimento Local com responsabilidade social.

81 � TÍTULO: DESENVOLVIMENTO LOCAL E ACESSO A INFORMAÇÃO: O SOFTWARE LIVRE COMO UMA ALTER-NATIVA DE INCLUSÃO DIGITALNOME: Elaine Cristina Souza OliveiraORIENTADOR: Luis Carlos Vinhas ÍtavoDATA DA DEFESA: 13/03/2006RESUMO - O foco principal desta pesquisa foi a análise do desenvolvimento local desencadeado através do acesso ainformação permitido por uma ação de inclusão digital às tecnologias de informação e comunicação, utilizando-se desoftware livre como estratégia para viabilização do mesmo. Foi abordada a experiência do Telecentro instalado no bairro dasMoreninhas, o primeiro desta natureza no Estado de Mato Grosso do Sul. Buscou-se, além disso, compreender os mecanis-mos da chamada �inclusão digital�, sua ligação com o desenvolvimento e meios para promovê-la, como por exemplo, o usode software livre. Verificou-se a importância e impacto que a instalação do Telecentrou causou naquele ambiente proporcio-nando àquelas pessoas um espaço para pesquisa e contato com um universo de informação inacessível para sua condiçãosocial, bem como, a expectativa e possibilidade de obtenção de um empregou, ou melhoria do atual.

82 - TÍTULO: HOTELARIA E ENDOGENEIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL EM CORUMBÁ-MSNOME: Roosiley dos Santos SouzaORIENTADOR: Dr(a). Vicente Fideles de ÁvilaDATA DA APRESENTAÇÃO: 31/03/2006RESUMO: Considerado um dos principais pólos de atração turística de Mato Grosso do Sul, o município de Corumbáproporciona o desenvolvimento de várias modalidades do turismo que são capazes de movimentar variados setores eserviços da economia. Atualmente, a atividade turística (uma das vocações que o município possui) é considerada promis-sora por oferecer grandes oportunidades para a geração de emprego e renda. Dessa forma surgiu a necessidade de sabermoscomo essa atividade poderia influenciar no desenvolvimento econômico, social, cultural e no próprio desenvolvimento local.Portanto, o referido estudo foi centrado nos serviços de hospedagem. Face ao exposto, o objeto da presente pesquisapretendeu investigar o grau de contribuição dos meios de hospedagem, em especial a do tipo hotel urbano, e se estesacrescentam valores à atividade turística e ao local. O problema era conhecer até que ponto essa atividade contribui para aendogeneização do desenvolvimento no âmbito das comunidades locais corumbaenses. O objetivo do trabalho era detectaros empreendimentos hoteleiros da área urbana da cidade de Corumbá e assim observarmos as suas características do pontode vista da origem, estrutura e funcionamento, bem como do apoio político e institucional recebido, no sentido de quepudéssemos verificar as potencialidades, facilidades e dificuldades que essa atividade apresenta para o desenvolvimento.Obtivemos, como resultados, dados que comprovaram que há potencialidades e dificuldades para que ocorra essa relação

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efetiva da rede hoteleira com a comunidade-localidade, bem como dados que influenciam a atividade turística no tocante a�deslanchar� como uma vocação do próprio município. A comunidade ainda não �desabrochou� para as suas reaispotencialidades, habilidades e conhecimentos, para que efetivamente parta dela o desejo de que seja instalado o desenvolvi-mento local endógeno com a ajuda da rede hoteleira, assim como agentes externos, a fim de que as concernentes comunidadescriem e implementem a auto-sustentação e associações de apoio ao turismo, envolvendo desde a produção hortifrutigranjeiraaté o lazer-entretenimento alheio e próprio.

83 � TÍTULO: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, ECOTURISMO E TERRITORIALIDADES LOCAIS NA PERSPECTIVADO DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Joaquim Rodrigues DE Melo NettoORIENTADORA: Cleonice Alexandre Le BourlegatDATA DE DEFESA: 18/04/2006RESUMO: O presente trabalho é fruto de reflexão desenvolvida, com base em um estudo comparativo, a respeito dediferentes iniciativas em unidades de conservação associadas ao ecoturismo, procurando-se observar até que ponto asterritorialidades construídas por regras de estratégia conservacionista, associadas à prática de serviços ecoturísticos em umamesma propriedade, quando sobrepostos a territórios locais tradicionais favorecem o desenvolvimento local. Partiu-se daanálise de três modelos contidos na lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação e dos princípios do ecoturismo,para então analisá-los em realidades brasileiras distintas e por diferentes formas de gestão, à luz do conceito de desenvolvi-mento local. O estudo permitiu verificar os modelos de unidades de conservação que mais facilitam ou dificultam asconexões e coerência lógica entre as diferentes territorialidades superpostas que possam garantir a sustentabilidade sistêmicae holística dos diferentes sistemas territoriais locais.

84 - TÍTULO: COMUNIDADE URBANA E DESENVOLVIMENTO LOCAL EM ÁREA DE INVASÃO: BAIRROTAQUARUSSU CAMPO GRANDE-MSNOME: Edson José Pessoa Sandes ([email protected])ORIENTADOR: Maria Augusta de CastilhoDATA DA APRESENTAÇÃO: 06/04/2006RESUMO: O objetivo deste trabalho foi demarcar e estudar a �Comunidade Urbana do Taquarussu�, delimitada pelas ruasTuriassu, Patriarca, Yporã e São Roque, situada no espaço geográfico da quadra n. 28 do Bairro Taquarussu, do entorno davia �Norte-Sul�, ladeado pelos bairros Jacy, Guanandy e parte do Aero Rancho, na Cidade de Campo Grande, Mato Grossodo Sul; pesquisar a invasão urbana e suas conseqüências; elucidar e caracterizar o processo meramente físico da ��urbaniza-ção� a que essas áreas do entorno da �Via Norte-Sul� foram submetidas. Se houve elaboração de laudos e vistorias detécnicos municipais, gestores urbanistas, sociólogos, psicólogos e assistentes sociais na implantação da urbanização local.Verificar as transferências ocorridas, para os Conjuntos Canguru e Mário Covas, que receberam e acolheram os moradorestransferidos do Bairro do Taquarussu. Estudos preliminares foram realizados para fortalecer o embasamento teórico, com ointuito de se comprovar os efetivos e fortes laços de estreitamentos e de relacionamentos, se com preponderância para os�primários�, quais os ideais e conflitos comuns, a importância do �lugar� e do �território�, principalmente na área origináriado Bairro Taquarussu, bem como nas áreas assentadas, buscando e apontando, por meio dos indicadores de escolaridade,educação, faixa etária e renda, e de que benefícios dispunham, tais como: habitação, saneamento, saúde e educação, entreoutros. Se as evidências e comprovações, configuram esta �Comunidade Urbana� pelos princípios norteadores de suadefinição, conceituação e aplicabilidade, e a sua confrontação com a realidade dos programas existentes, das PolíticasHabitacional e Urbana, se aplicadas no ou para o �Local�. Posteriormente, foram implementadas ainda, as sessões deobservação no local e a coleta de materiais por meio de entrevistas semi-estruturadas junto à população envolvida. Averificação de em que escala e grau de importância se revestem os diversos projetos e, notadamente, esse localizado e focadono presente trabalho, no que tange à problemática sociológica da ocupação irregular, às mudanças e aos assentamentos, suaconcordância ou discordância; e, até mesmo, recomendar, sugerir, com uma visão maior, que é a do grande e esperadoobjetivo social, da cidadania, da qualidade de vida, saúde, e da satisfação do ser humano, e a promoção do desenvolvimentohabitacional, urbano, com a competente proteção ao meio ambiente. Concluída a pesquisa, ficaram evidenciados pequenoslaços de estreitamento entre os ocupantes dos lotes, pertencentes à Comunidade do Taquarussu. A participação e o interessede um pequeno grupo na solução das necessidades e de regularização da área. Possibilidades de motivação dos demaisocupantes para implantação de DL.

85 - TÍTULO: GESTÃO AMBIENTAL INTEGRADA NA PERSPECTIVA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL PARA OMUNICÍPIO DE CORUMBÁ-MSNOME: Nelson de Almeida JúniorORIENTADOR: Sérgio Ricardo de Oliveira MartinsDATA DA APRESENTAÇÃO: 17/04/2006RESUMO: O presente trabalho investiga as relações da Gestão Ambiental Integrada na perspectiva do DesenvolvimentoLocal, apresentando o caso de Corumbá, no qual se implantou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMATUR) econseqüentemente uma gestão ambiental pautada no processo participativo da comunidade local. No primeiro capítulo,discorremos sobre as bases conceituais para a Gestão Ambiental Integrada e Compartilhada, a Participação Popular, aResponsabilidade Social, do Desenvolvimento Local e finalmente a Sustentabilidade. Em um segundo momento, o trabalhoaborda os processos de instalação da Gestão Ambiental Local, apresentando todas as etapas desde a criação da Lei e DecretoRegulamentadores, os procedimentos de Licenciamento Ambiental, o sistema de Banco de Dados e o processo de formaçãodo Conselho Municipal de Meio Ambiente (CMMA) e sua evolução ao longo do tempo. Como terceiro e último capítulo,abordamos a Gestão Ambiental Local de Corumbá/MS na perspectiva do Desenvolvimento local, Responsabilidade Sociale Sustentabilidade, na qual se estabeleceram os principais obstáculos para consolidação do sistema de gestão ambiental.Desta forma, concluímos que o grande desafio é despertar o interesse da comunidade local no processo de tomada de decisão

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da Gestão Ambiental Local, possibilitando que essa comunidade desabroche para suas potencialidade no processo deDesenvolvimento Local, e consequentemente estabelecer uma ética ambiental responsável e comprometida com os recursosnaturais e a coletividade.

86 - TÍTULO: A DINÂMICA DO CONHECIMENTO ENTRE OS PRODUTORES DA AGRICULTURA FAMILIAR NOARRANJO PRODUTIVO LOCAL DA MANDIOCA NO VALE DO IVINHEMANOME: Paulo Cezar Santos do ValeORIENTADOR: Cleonice Alexandre Le BourlegatDATA DA APRESENTAÇÃO: 29/04/2006RESUMO: A grande questão que norteou a pesquisa foram às mudanças inovativas capazes de gerar um conhecimentoterritorial tão especializado e competitivo em tão pouco tempo, relacionado ao cultivo de mandioca no Arranjo Produtivo Localdo Vale do Ivinhema. O objetivo foi correlacionar e estabelecer o peso dos diferentes atores econômicos e organizações de apoioque convergem e se combinam no ambiente organizacional desse APL, para criar situações coletivas de aprendizagem, identi-ficando como as diversas formas de conhecimento são mobilizadas e combinadas. Os resultados agrupados e tabulados foramcorrelacionados com as informações de natureza bibliográfica e documental, com apoio do referencial teórico. Pôde-se verificaro peso das competências construídas historicamente pelos atores econômicos (conhecimento tácito), atuando como pré-condi-ção territorial na retro-alimentação da aprendizagem coletiva do APL. Na dinâmica interativa foi possível identificar asdiferentes formas de produção e conversão do conhecimento coletivo (internalização, explicitação, combinação e socialização),assim como suas formas de enraizamento territorial nos indivíduos e organizações. Nessa dinâmica pode-se destacar o papeldas redes sociais, construídas entre os produtores de mandioca, na socialização do conhecimento produzido; do SEBRAE-MScomo órgão de articulação das organizações de apoio aos produtores de mandioca, criando espaços coletivos de aprendizagemde modo a proporcionar a internalização e externalização do conhecimento; da EMBRAPA na produção e combinação deconhecimento codificado em interação ou complementaridade a outras unidades de pesquisa; do IDATERRA com órgãodecodificador em processos de conversão do conhecimento científico para tácito (internalização) e de tácito para científico(explicitação); além de outras organizações que atuam na capacitação tecnológica e organizacional dos produtores de mandioca,a exemplo do SENAR e OCB. Essa dinâmica permite constatar que a ciência por si só não é portadora de certezas definitivas noplano teórico e que o conhecimento local se constrói com base na interação dessas certezas com outras certezas relacionadas aomundo empírico. São esses conhecimentos mobilizados por processos interativos que se enraízam no território, aqueles quepermitem sua especialização e as ações de iniciativa local que se voltam para o desenvolvimento coletivo, no atendimento dasprincipais necessidades humanas de subsistência, participação, entendimento e criação.

87 - TÍTULO: ASSOCIAÇÃO TRÊS-LAGOENSE DE ARTESANATO: A COMUNIDADE E SUAS POTENCIALIDADESPARA O TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCALNOME: Luciana Correia DiettrichORIENTADOR: Dr(a). Sérgio Ricardo Oliveira MartinsDATA DA APRESENTAÇÃO: 25/05/2006RESUMO: O presente estudo teve como objetivo verificar se a Associação Três-Lagoense de Artesanato configura-se comouma comunidade na perspectiva do Desenvolvimento Local e analisar sua relação com a atividade turística no município deTrês Lagoas - MS. Este trabalho foi desenvolvido em três capítulos, os quais apresentam a teoria relacionando-a aos dadoscoletados por meio da pesquisa de campo. Iniciou-se este estudo abordando-se conceitos de Comunidade e Desenvolvimen-to Local e discutindo-se seus pontos convergentes; em seguida buscou-se aprofundamento quanto às questões que abran-gem as características desta associação, finalizando-se com as relações que envolvem a Associação Três-Lagoense deArtesanato, as atividades desenvolvidas por esta e o turismo no município de Três Lagoas. Os instrumentos de coleta dedados foram entrevista e questionário semi-estruturado, os quais foram aplicados com a presidenta da associação emestudo e com os demais componentes do grupo, sendo que as respostas obtidas foram apresentadas e analisadas no decorrerdo trabalho. Observou-se, de acordo com as informações obtidas, que a Associação Três-Lagoense de Artesanato configura-se como uma comunidade, que possui potencialidades para o exercício do desenvolvimento local, que o município de TrêsLagoas possui grande potencial para o desenvolvimento da atividade turística e, finalmente, que há uma relação estreitaentre o artesanato em geral e o turismo bem como entre a associação investigada e a atividade turística em Três Lagoas.

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Critérios para publicação

avanço das reflexões na área do DesenvolvimentoLocal.

Art. 6 - A entrega dos originais para a Revista deveráobedecer aos seguintes critérios:

I - Os artigos deverão conter obrigatoriamente:a) título em português, inglês, espanhol e francês;b) nome do(s) autor(es), identificando-se em rodapé

dados relativos à produção do artigo, ao(s) seu(s)autor(es) e respectivas instituições, bem como aauxílios institucionais e endereços eletrônicos;

c) resumo em português, inglês, espanhol e francês com,no máximo seis linhas ou 400 caracteres, rigorosa-mente corrigidos e revisados, acompanhados, res-pectivamente, de palavras-chave, todas em númerode três, para efeito de indexação do periódico;

d) texto com as devidas remissões bibliográficas nocorpo do próprio texto;

e) notas finais, eliminando-se os recursos das notas derodapé;

f) referências bibliográficas.II - Os trabalhos devem ser encaminhados dentro da

seguinte formatação:a) uma cópia em disquete no padrão Microsoft Word

6.0;b) três cópias impressas, sendo uma delas sem

identificação de autoria e outra acompanhada deautorização para publicação, impressa e on-line,devidamente assinada pelo(s) autor(es);

c) O texto deverá ter entre 10 e 18 páginas redigidasem espaço 1,5;

d) caso o artigo traga gráficos, tabelas ou fotografias, onúmero de toques deverá ser reduzido em funçãodo espaço ocupado por aqueles;

e) a fonte utilizada deve ser a Times New Roman,tamanho 12;

f) os caracteres itálicos serão reservados exclusiva-mente a títulos de publicações e a palavras em idiomadistinto daquele usado no texto, eliminando-se,igualmente, o recurso a caracteres sublinhados, emnegrito, ou em caixa alta; todavia, os subtítulos doartigo virão em negrito;

III - Todos os trabalhos devem ser elaborados emqualquer língua e encaminhados em três vias, comtexto rigorosamente corrigido e revisado.

IV - Eventuais ilustrações e tabelas com respectivaslegendas devem ser contrastadas e apresentadasseparadamente, com indicação, no texto, do lugaronde serão inseridas. Todo material fotográfico será,preferencialmente, em preto e branco.

V - As referências bibliográficas e remissões deverãoser elaboradas de acordo com as normas dereferência da Associação Brasileira de NormasTécnicas (ABNT - 6023).

VI- As opiniões e conceitos emitidos pelos autores dosartigos são de sua exclusiva responsabilidade.

VII - Os limites estabelecidos para os diversos trabalhossomente poderão ser excedidos em casos realmenteexcepcionais, por sugestão do Conselho EditorialInternacional e a critério do Conselho de Redação.

Art. 1 - Interações, Revista Internacional do Programade Desenvolvimento Local da Universidade CatólicaDom Bosco, destina-se à publicação de matérias que,pelo seu conteúdo, possam contribuir para aformação de pesquisadores e para o desenvolvi-mento científico, além de permitir a constanteatualização de conhecimentos na área específica doDesenvolvimento Local.

Art. 2 - A periodicidade da Revista será, inicialmente,semestral, podendo alterar-se de acordo com asnecessidades e exigências do Programa; o calendáriode publicação da Revista, bem como a data defechamento de cada edição, serão, igualmente,definidos por essas necessidades.

Art. 3 - A publicação dos trabalhos deverá passar pelasupervisão de um Conselho de Redação compostopor cinco professores do Programa de Desenvolvi-mento Local da UCDB, escolhidos pelos seus pares.

Art. 4 - Ao Conselho Editorial Internacional caberá aavaliação de trabalhos para publicação.

Parágrafo 1º - Os membros do Conselho Editorial Inter-nacional serão indicados pelo corpo de professoresdo Programa de Mestrado em DesenvolvimentoLocal, com exercício válido para o prazo de dois anos,entre autoridades com reconhecida produçãocientífica em âmbito nacional e internacional.

Parágrafo 2º - A publicação de artigos é condicionada aparecer positivo, devidamente circunstanciado,exarado por membro do Conselho EditorialInternacional.

Parágrafo 3º - O Conselho Editorial Internacional, senecessário, submeterá os artigos a consultoresexternos, para apreciação e parecer, em decorrênciade especificidades das áreas de conhecimento.

Parágrafo 4º - O Conselho Editorial Internacional poderápropor ao Conselho de Redação a adequação dosprocedimentos de apresentação dos trabalhos,segundo as especificidades de cada área.

Art. 5 - A Revista publicará trabalhos da seguintenatureza:

I - Artigos originais, de revisão ou de atualização, queenvolvam, sob forma de estudos conclusivos,abordagens teóricas ou práticas referentes à pesquisaem Desenvolvimento Local, e que apresentemcontribuição relevante à temática em questão.

II - Traduções de textos fundamentais, isto, é daquelestextos clássicos não disponíveis em língua portu-guesa ou espanhola, que constituam fundamentosda área específica da Revista e que, por essa razão,contribuam para dar sustentação e densidade àreflexão acadêmica, com a devida autorização doautor do texto original.

III - Entrevistas com autoridades reconhecidas na áreado Desenvolvimento Local, que vêm apresentandotrabalhos inéditos, de relevância nacional einternacional, com o propósito de manter o caráterde atualidade do Periódico.

IV - Resenhas de obras inéditas e relevantes que possammanter a comunidade acadêmica informada sobre o

I N T E R A Ç Õ E SRevista Internacional de Desenvolvimento Local

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Art. 7 - Não serão aceitos textos que não obedecerem,rigorosamente, os critérios estabelecidos. Os textosrecusados serão devolvidos para os autores acom-panhados de justificativa.

Art. 8 - Ao autor de trabalho aprovado e publicadoserão fornecidos, gratuitamente, dois exemplares donúmero correspondente da Revista.

Art. 9 - Uma vez publicados os trabalhos, a Revistareserva-se todos os direitos autorais, inclusive os detradução, permitindo, entretanto, a sua posteriorreprodução como transcrição, e com a devida citaçãoda fonte.

Para fins de apresentação do artigo, considerem-se osseguintes exemplos (as aspas delimitando os exemplosforam intencionalmente suprimidas):

a) Remissão bibliográfica após citações:

In extenso: O pesquisador afirma: �a sub-espécie Callithrixargentata, após várias tentativas de aproximação,revelou-se avessa ao contato com o ser humano�(SOARES, 1998, p.35).Paráfrase: como afirma Soares (1998), a sub-espécieCallithrix argentata tem se mostrado �avessa ao contatocom o ser humano�...

b) Referências bibliográficas:

JACOBY, Russell. Os últimos intelectuais: a culturaamericana na era da academia. Trad. Magda Lopes.São Paulo: Trajetória/Edusp, 1990.SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo,razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.______. A redefinição do lugar. In: ENCONTRONACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA, 1995, Aracaju. Anais...Recife: Associação Nacional de Pós-Graduação emGeografia, 1996, p. 45-67.______. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.SOJA, Edward. Geografias pós-modernas: a reafirmaçãodo espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: JorgeZahar, 1993.SOUZA, Marcelo L. Algumas notas sobre a importânciado espaço para o desenvolvimento social. In: RevistaTerritório (3), p.14-35, 1997.WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade: o uso humanode seres humanos. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1993.

c) Emprego de caracteres em tipo itálico: os programasde pós-graduação stricto sensu da universidade emquestão...; a sub-espécie Callithrix argentata tem semostrado...

Endereço para correspondência e envio de artigos:Universidade Católica Dom Bosco

Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Local � Mestrado AcadêmicoINTERAÇÕES � Revista Internacional de Desenvolvimento Local

Av. Tamandaré, 6000 � Jardim SeminárioCEP 79117-900 Campo Grande-MS

Fone: (67) 3312-3594e-mails: [email protected] / [email protected]

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCOCENTRO DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCALMESTRADO ACADÊMICO

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