interaÇÕes - site.ucdb.br · reitor pe. josé marinoni pró-reitor acadêmico pe. jair marques de...

196
INTERAÇÕES Revista Internacional de Desenvolvimento Local Universidade Católica Dom Bosco Instituição Salesiana de Educação Superior V. 7 N. 12 Março 2006

Upload: vodan

Post on 21-Jan-2019

287 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Universidade Católica Dom BoscoInstituição Salesiana de Educação Superior

V. 7 N. 12 Março 2006

Page 2: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

ReitorPe. José Marinoni

Pró-Reitor AcadêmicoPe. Jair Marques de Araújo

Editora UCDBAv. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário79117-900 Campo Grande-MSFone/Fax: (67) 3312-3373e-mail: [email protected] www.ucdb.br/editora

U n i v e r s i d a d e C a t ó l i c a D o m B o s c o

Conselho EditorialAdyr Balastreri Rodrigues (USP)

Alberto Palombo (Florida Atlantic University)Alicia Rivero (SERCAL)

Amália Ines Geraiges de Lemos (USP)Aurora García Ballesteros (Universidad Complutense de Madrid)

Cezar Augusto Benevides (UFMS)Doris Morales Alarcón (Pontificia Universidad Javeriana)

Dorivaldo Walmor Poletto (PUCRS)Emiko Kawakami Rezende (EMBRAPA)

Evaldo Gaeta Espíndola (USP)Everson Alves Miranda (UNICAMP)

Javier Gutiérrez Puebla (Universidad Complutense de Madrid)José Carpio Martín (Universidad Complutense de Madrid)

Leila Christina Dias (UFSC)Marcel Bursztyn (UNB)

Maria Adélia Aparecida de Souza (UNICAMP)Maria do Carmo Zinato (Florida Center for Environmental Studies)

Maria Helena Vallon (Fund. João Pinheiro)Maria Encarnação Beltrão Sposito (UNESP)

Marília Luiza Peluso (UNB)Mário Cézar Leite (UFMT)

Marisa Bittar (UFSCar)Maurides Batista de Macedo Filha Oliveira (UCG)

Michel Rochefort (IFU - Université de Paris VIII)Miguel Ángel Troitiño Vinuesa (Univ. Complutense de Madrid)Miguel Panadero Moya (Universidad de Castilla - La Mancha)

Paulo TarsoVilela de Resende (Fund. Dom Cabral)Ricardo Méndez Gutiérrez del Valle (Univ. Complutense de Madrid)

Rosa Esther Rossini (USP)Sérgio Granemann (UCB)

Tito Carlos Machado de Oliveira (UFMS)

Conselheiros fundadores Milton Santos (in memoriam)

Nilo Odália (in memoriam)

I N T E R A Ç Õ E SRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Conselho de RedaçãoAparecido Francisco dos ReisCleonice Alexandre Le Bourle!gatEduardo José de ArrudaOlivier Francois Vilpoux

Editor ResponsávelAparecido Francisco dos Reis

Coordenação de EditoraçãoEreni dos Santos Benvenuti

Editoração EletrônicaGlauciene da Silva Lima Souza

AbstractsOs próprios autores

ResúmenesMari Neli Dória

ResuméOlivier Francois Vilpoux

Revisão de TextoOs próprios autores

CapaProjeto: Marcelo MarinhoFoto: Rosângela Carla de Oliveira Müller“Nossa Senhora do Pantanal”, criada no ProjetoMassa Barro, Corumbá-MS

Tiragem: 1.000 exemplares

Distribuição: Bibliotecas universitárias

Cecília LunaBibliotecária - CRB n. 1/1.201

Interações. Revista Internacional de Desenvolvimento Local,n. 12 (Março 2006). Campo Grande: UCDB, 2006.196 p. V. 7ISSN 1518-7012Semestral1. Desenvolvimento Local.

Publicação do Programa Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco.Indexada em:

Latindex, Directorio de publicaciones cientificas seriadas de America Latina, El Caribe, España y Portugal(www.latindex.org)

GeoDados, Indexador de Geografia e Ciências Sociais. Universidade Estadual de Maringá(www.dge.uem.br/geodados)

Dursi, Sistema d’informació per a la identificació i avaluació de revistes, Catalunha(www10.gencat.net/dursi/ca/re/aval_rec_sist_siar_economia_multidisciplinar.htm)

Clase, Base de datos bibliográfica en ciencias sociales y humanidades(www.dgb.unam.mx/clase.html)

IAIPK, Instituto Ibero Americano do Patrimônio Prussiano(http://www.iai.spk-berlin.de)

Page 3: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

A partir deste número, Interações,Revista Internacional de DesenvolvimentoLocal, visando a ampliação do debate sobreo desenvolvimento local, publica textosoriginais em francês e inglês. A língua fran-cesa é valorizada aqui em função dosignificativo envolvimento das comunidadesacadêmicas de países como França e Cana-dá com a temática da revista. De outro lado,sabe-se que a universalização da discussãoda temática central do periódico não podedesconsiderar o imenso público de línguainglesa, abrindo assim, o seu conteúdo paraa aldeia global.

Nesse sentido, Interações publica o ar-tigo do pesquisador holandês de A. H. J. BertHelmsing, Innovative local and regionaleconomic development initiatives in LatinAmerica: a review. Neste, o autor faz umaanálise sobre As políticas de desenvolvimen-to local e regional (DEL) nos últimos 15 anosna América Latina.

Os trabalhos sobre Fatores locais e es-truturais na dinâmica setorial dos municípioslindeiros ao lago das hidrelétricas de SaltoCaxias e Itaipu de Jandir Ferreira Lima e ou-tros autores e Contas sociais alfa (csα) – Umametodologia de cálculo ascendente para a confi-guração macro-estrutural de economias locaisde Francisco Costa, discutem as relaçõesentre o desenvolvimento, os métodos econô-micos e o papel da energia na configuraçãodas comunidades locais. De Portugal, há acontribuição de Francisco Diniz com o textoa respeito da integração local de comunida-des rurais. Aqui mesmo, no local, CampoGrande, Roel e Caldas escrevem sobre asperspectivas de desenvolvimento local compequenos produtores de leite do Município.

Nos textos seguintes, Biorregionalismo:desenvolvimento rural respeitando as diferen-ças; O resgate da identidade cultural: Meio parauma sustentabilidade local; Enlaces entre cultu-ra e turismo: uma abordagem sobre concepçõese modos de ntervenção do estado na área da cul-

Editorial

tura (Bahia - 1995-2002) e O consumo e as es-tratégias de caça utilizadas pelas populações tra-dicionais da reserva extrativista Chico Mendes,há excelentes discussões sobre o papel dacultura e das possibilidades do aproveita-mento dos conhecimentos e saberes comomeios para afirmação das identidades locaise do aproveitamento sustentável dos recur-sos naturais em diversas regiões do Brasil.

A água, as cidades e as perspectivasde desenvolvimento sustentável local, sãotemas dos artigos: Estrategias de desarrollolocal en el espacio hortícola de General DanierlCerri, Bahía Blanca, Argentina; Hortas Comu-nitárias de Teresina na perspectiva do desen-volvimento local sustentável; As concepções daescassez de recursos hídricos no Brasil e nomundo: a saída é a cobrança?; ¿Son gobernableslas metrópolis? Nuevo paradigma social y Las“luchas” sociales por los servicios en Méxicocomo una redefinición del espacio político e Lepériurbain face au défit de l’intégration sociale.Estes trabalhos trazem uma contribuiçãopara quem pensa o desenvolvimento localno contexto das transformações e das crisesatuais sobre a água, alimentação e a vivênciano espaço das grandes metrópoles ou ao seuentorno.

Por fim, na seção relatos, Interaçõesfecha esta edição com o texto Co-operationand conflict between firms, communities, newsocial movements and the role of governmentthe Cerro de San Pedro case. No texto o autorfaz um relato das relações de cooperação econflito entre uma companhia de mineraçãoe as comunidades envolvidas, os novos mo-vimentos sociais e os três níveis de Governo.

Segundo Hernández, A companhiade mineração iniciou suas operações a par-tir de uma mina a céu aberto de ouro e pra-to apoiado por autoridades dos Governoslocal, estadual e federal. Os habitantes des-sas comunidades, apoiados por gruposambientais e ONG argumentam que o pro-jeto vai poluir os recursos naturais de água

Page 4: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

além de ameaçar o meio ambiente e a ecolo-gia da região.

Assim, Interações confirma sua missãode divulgação e debate do desenvolvimento lo-cal em escala internacional, apresenta, nestenúmero, trabalhos de diferentes países como

Holanda, Canadá, México, Argentina, Portugale França, além, de textos de autores brasileirosoriundos do Acre, Paraíba, Piauí, Bahia, Paraná,Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. Esperoque todos possam aproveitar o seu conteúdo.

Boa leitura.

Aparecido Francisco dos Reis - Editor

Page 5: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Sumário

Artigos

Innovative local and regional economic development initiatives in Latin America: a review ................................. 9Iniciativas inovativas de desenvolvimento local e regional na América-Latina: revisão ........................................... 9Initiative de développementv local e régional em Amérique-Latine: révision .............................................................. 9Iniciativas innovadoras de desarrollo local y regional en América Latina: revisión .................................................................... 9

HELMSING, A.H.J.B.

Fatores locais e estruturais na dinâmica setorial dos municípios lindeiros ao lago das hidrelétricas de SaltoCaxias e Itaipu ......................................................................................................................................................................... 25Local and structural factors in the local dynamics of the municipal districts of Salto Caxias and Itaipuregions, in the Southwest and West of Paraná’s State ...................................................................................................... 25Facteurs locaux et structurels dans la dynamique sectorielle des villes de Salto Caxias et Itaipu, auSud-ouest et ouest de l’État du Paraná .............................................................................................................................. 25Factores locales y estructurales en la dinámica sectorial de los municipios linderos al lago de las hidroeléctricas de SaltoCaxias e Itaipú ............................................................................................................................................................................ 25

LIMA, J.F.; ALVES, L.R.; PIFFER, M.; PIACENTI, C.A.

Contas sociais alfa (csααααα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuração macro-estruturalde economias locais ................................................................................................................................................................ 37Ascending social accounting (csααααα) – A Methodological approach to macro-structural configuration of local economies ....... 37Comptes sociaux alfa (csααααα) – Une Méthodologie de calcul pour la configuration macro-structurelle deséconomies locales .................................................................................................................................................................... 37Cuenta sociales alfa (csα) – Una metodología de cálculo ascendiente para la configuración macro estructural deeconomías locales ........................................................................................................................................................................ 37

COSTA, F.A.

A integração local dos agregados familiares de seis pequenas e médias cidades portuguesas sedeadasem meio rural: Resultados de um estudo empírico ......................................................................................................... 69Household local integration in six small and medium Portuguese sized towns rural towns: Results of anempirical study ........................................................................................................................................................................ 69L’intégration locale des aggrégats familiaux de six petites et moyennes Municipalités portuguseslocalisées en milieu rural: résultats d’une recherche empirique ....................................................................................... 69La integración local de los agregados familiares de seis pequeñas y medianas ciudades portuguesas localizadas en mediorural: Resultados de un estudio empírico .................................................................................................................................... 69

DINIZ, F.

Perspectivas de desenvolvimento local dos pequenos produtores de leite do município de CampoGrande-MS (ago/2001 - ago/2002) ........................................................................................................................................ 81Local development perspectives for milk small producers in Campo Grande City, Mato Grosso do SulState – Brazil (Aug. 2001 - Aug. 2002) .................................................................................................................................. 81Perspectives de développement local pour les petits producteurs de lait de la ville de Campo Grande,État du Mato Grosso do Sul – Brésil ................................................................................................................................... 81Perspectivas de desarrollo local de los pequeños productores de leche del município de Campo Grande-MS (ago/2001 -ago/2002) .................................................................................................................................................................................... 81

CALDAS, R.R.P.; ROEL, A.R.

Biorregionalismo: desenvolvimento rural respeitando as diferenças ......................................................................... 93Bioregionalism: rural development respecting the differences ..................................................................................... 93Biorégionalisme: développement rural respectant les différences .................................................................................. 93Biorregionalismo: desarrollo rural respetando las diferencias .................................................................................................... 93

BORSATTO, R.S.; OTTMANN, M.M.A.; FONTE, N.N.

O resgate da identidade cultural: Meio para uma sustentabilidade local .................................................................. 101Restoration of cultural identity: a way for a local sustainability ................................................................................. 101Récupération de l’identité culturelle, moyen d’atteindre la sustentabilité au niveau local ................................... 101El rescate de la identidad cultural, medio para una sustentación local .................................................................................... 101

LEME, F.B.M.; TREVIZAN, S.D.P.

Page 6: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Enlaces entre cultura e turismo: uma abordagem sobre concepções e modos de intervenção do Estadona área da cultura (Bahia – 1995-2002) ............................................................................................................................... 111Links between culture and tourism: an approach of the conceptions and ways of intervention in theState, in the culture department (Bahia State, Brazil, 1995 – 2002) ............................................................................... 111Relations entre la culture et le tourisme: une approche sur les concepts e moyens d’intervention del’État dans le domaine de la culture (État de Bahia, Brésil, 1995-2002) ..................................................................... 111Enlaces entre cultura y turismo: un enfoque sobre concepciones y modos de intervención del estado en el áreade la cultura (Bahía - 1995-2002) ............................................................................................................................................. 111

VIEIRA, M.P.

O consumo e as estratégias de caça utilizadas pelas populações tradicionais da Reserva ExtrativistaChico Mendes ........................................................................................................................................................................ 121Consumption and hunting strategies used by traditional populations from the Extractive Reserve“Chico Mendes” .................................................................................................................................................................... 121La consommation et les stratégies de chasse utilisées par les populations traditionnelles de la RéserveExtractiviste “Chico Mendes” ............................................................................................................................................. 121El consumo y las estrategias de caza utilizadas por las poblaciones tradicionales de la Reserva Extractivista Chico Mendes ...... 121

MEDEIROS, M.F.S.T.; GARCIA, L.

Estrategias de desarrollo local en el espacio hortícola de General Danierl Cerri, Bahía Blanca, Argentina ...................... 135Local development strategies in the horticulture space of General Danierl Cerro, Bahía Blanca, Argentine ..................... 135Stratégies de développement local dans l’espace horticole de Général Danierl Cerri, Bahía Branca, Argentine ............... 135Estratégias de desenvolvimento local no espaço hortícola de General Danierl Cerri, Bahía Blanca, Argentina ..................................... 135

LORDA, M.A.

Hortas Comunitárias de Teresina na perspectiva do desenvolvimento local sustentável ..................................... 143Community garden of Teresine, Piauí State – Brazil, looking for a sustainable local development .................... 143Jardins potagers communautaires à Téresine, État du Piaui – Brésil, dans la perspective d’un développementlocal sustentable .................................................................................................................................................................... 143Huertas Comunitarias de Teresina en la perspectiva del desarrollo local sustentable ............................................................ 143

MONTEIRO, J.P.R.; MONTEIRO, M.S.L.

As concepções da escassez de recursos hídricos no Brasil e no mundo: a saída é a cobrança? ............................... 153The conceptions of scarcity of water resources in Brazil and all over the World: the solution is in theinstallation of a paying service? ......................................................................................................................................... 153Les concepts de rareté des ressources hydriques au Brésil et dans le monde: l’installation d’un servicepayant comme solution ? .................................................................................................................................................... 153Las concepciones de la escasez de recursos hídricos en brasil y en el mundo: ¿la solución es exigir? ................................... 153

SILVA, J.B., RAMALHO, D.S.; GUERRA, L.D.; VASCONCELOS, C.R.P.

¿Son gobernables las metrópolis? Nuevo paradigma social y Las “luchas” sociales por los serviciosen México como una redefinición del espacio político ................................................................................................. 165Are the metropolis governable? New social paradigm and the “social fights” for the public servicesin Mexico as a redefinition of the political space ............................................................................................................ 165Les métropoles sont-elles gouvernables ? Nouveau paradigme social et « luttes » sociales pour les servicesà Mexico comme redéfinition du politique ....................................................................................................................... 165São governáveis as metrópoles? Novo paradigma social e as “lutas” sociais pelos serviços no México como umaredefinição do espaço político .................................................................................................................................................... 165

ALBA, F.

Le périurbain face au défit de l’intégration sociale ........................................................................................................ 177When rurban spaces face social integration challenge ................................................................................................... 177O periurbano frente ao desafio da integração social ..................................................................................................... 177El periurbano frente a lo deshizo de la integración social ......................................................................................................... 177

BREVARD, L.

RelatoS: entre a práxis e os conceitos

Co-operation and conflict between firms, communities, new social movements and the role ofgovernment the Cerro de San Pedro case .......................................................................................................................... 185Cooperação e conflitos entre empresas, comunidades, novos movimentos sociais e o papel do Governo:o caso de Cerro de San Pedro. ............................................................................................................................................. 185Coopération et conflits entre entreprises, nouveaux mouvements sociaux et le rôle du Gouvernement: lacas de Cerro de San Pedro. ................................................................................................................................................... 185Cooperación y conflictos entre empresas, comunidades, nuevos movimientos sociales y el papel del Gobierno: el casodel Cerro de San Pedro ............................................................................................................................................................. 185

VARGAS-HERNÁNDEZ, J.G.

Page 7: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Artigos

Page 8: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS
Page 9: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Innovative local and regional economic development initiatives in LatinAmerica: a review

Iniciativas inovativas de desenvolvimento local e regional na América-Latina: revisãoInitiative de développementv local e régional em Amérique-Latine: révision

Iniciativas innovadoras de desarrollo local y regional en América Latina: revisión

A. H. J. Bert Helmsing*

Recebido em 09/09/2005; revisado e aprovado em 15/12/2005; aceito em 07/02/2006

Abstract: In the past fifteen years local regional development (LRD) policies have changed considerably in focus andcontent. New actors came to be involved or involved themselves in such policies. Currently, we find ourselves in a thirdgeneration of LRD policies. Central tenets of these policies are: i) meso-institutions; ii) interventions focusing onenterprise development, communities and localities; iii) actors and networking; and iv) learning processes. Thepurpose of this article is to review a series of innovative programmes in order to examine to what extent they sharesome of these common tenets.Key words: local economic development; local economic governance; local institutions.Resumo: As políticas de desenvolvimento local e regional (DEL) mudaram bastante o enfoque e conteúdo nosúltimos 15 anos. Novos atores foram envolvidos ou se envolveram com estas políticas. Atualmente, encontramosuma “terceira geração” de políticas DEL. As características centrais destas políticas são: i) a criação de instituiçõesde nível meso; ii) ações focadas para o desenvolvimento de empresas, de comunidades e de localidades; iii) atores eredes; e, iv) distintos processos de apredizagem. O propósito deste artigo e revisar uma série de programas inovativosDEL na América Latina para poder estabelecer as características comuns entre eles.Palavras-chaves: Desenvolvimento econômico local; governança do desenvolvimento econômico local; instituições locais.Resumen: Las politicas del desarrollo local y regional cambiaron bastante en enfoque y contenido en los ultimos 15agnos. Nuevos actors fueron involucrados o se involucracon en estas politicas. Hoy en dia nos encontramos en una‘tercere generacion’ de politicas DEL. Las caracteristicas centrales de estas politicas son: i) la creacion de institucionesdel nivel meso; ii)acciones enfocadas hacia del desarrollo de empresas; de comunidades y de las localidades; iii) actorsy redes; y, iv) distontos procesos de aprendizaje. El proposito de este articulo es revisar una serie de programas DELinovativas latinoamericans para poder establecer en que medida comparten estas caracteristicas.Palabras claves: desarrollo economico local; gobernanza del desarrollo economico local; instituciones locales.Résumé: Les politiques de développement local et regional (DEL) ont beaucoup changé d’objectifs et de contenu dansles quinze dernières années. De nouveaux acteurs ont été impliqués ou se sont impliqués dans ces politiques. Aujourd’hui,nous rencontrons une troisième génération de politiqes DEL. Les caractéristiques centrales de ces politiques sont : i) lacréation d’institutions au niveau méso ; ii) actions focalisées sur le développement des entreprises, des communautés etdes localités ; iii) acteurs et réseaux ; iv) procédés d’apprentissage. L’objectif de cet article est la révision d’une série deprogrammes innovant DEL en Amérique Latine, pour examiner en quelle mesure ils divident ses caractéristiques.Mots-clefs : Développement économique local; gouvernance économique locales; institutions locales.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 09-24, Mar. 2006.

* Professor of Local & Regional Development - Institute of Social Studies, Kortenaerkade 12 2518 AX, P.O. Box29776, 2502 LT, Haya (The Hague), Holanda (The Netherlands). Phone: +31 (0)70 4260460. Fax: +31 (0)70 4260799.www.iss.nl ([email protected]).

Introduction

Regional development policyperspectives have changed considerably inthe past 25 years. One can distinguish threegenerations of theories informing policypractices. The first generation of regionalpolicy emerged in the 50s and 60s. A funda-mental point of departure was the fact thateconomic growth did not occursimultaneously throughout a territory butthat it was selective and uneven. Thecumulative character of regional growth wasgenerally accepted but debate centred onquestions concerning its internal or externalorigin, its structural permanence and theprocesses of its reproduction. There were

considerable differences in interpretation asto whether this unevenness would increaseor decrease over time. Centre-peripherytheories argued that structural factors wouldreproduce and intensify inequalities. Otherswere more optimistic and predicted that re-gional inequalities would decline over time.Regional policies were mostly framed in theoptimistic variant and were derived fromneo-classical theories of optimal resourceallocation. Policies aimed at reducingimpediments to mobility and at removingmonopolistic elements that would keepprices from competitive level (Maillat, 1998).The national government was the centralactor in first generation policies. Through itsregulatory powers and through financial

Page 10: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

10 A. H. J. Bert Helmsing

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

incentives it could influence the location offirms. The provision of infrastructure wasconsidered an important instrument tostimulate local demand and at the same timeovercome regional disadvantage. Regionalinequalities were a central issue in theoriesand policies of regional development. Canregional policies alter such structural patternsand reduce regional inequalities?

In the late 70s and early 80sconsiderable scepticism emerged about theeffectiveness of conventional regional policyinstruments, and a debate raged aboutwhether policies were really ineffective oractually never put to a real test in LatinAmerica (Boisier et.al. 1982). A number ofauthors rejected the predominant paradigmand searched for regional developmentalternatives. Already in the late seventies,several regional development analysts werelooking for alternatives for the then dominantregional development paradigm. Walter Stohradvocated selective spatial closure (Stohr &Fraser Taylor, 1981) and John Friedmann theagropolitan approach (Friedmann &Douglass, 1978). Although there areconsiderable differences between the two,they have in common the search forendogenous development alternatives based onlocal actors, resources and capacities.

Since then the national andinternational context of regional policy hasdrastically changed. Shifts in nationaleconomic policies, the opening up of nationaleconomies and processes of economicrestructuring and internationalisation ofproduction during the 1980s, have re-shapedregional economic landscapes. Existing coreregions have been seriously affected byrestructuring At the same time new growthregions emerged outside the established coreareas, which became known as industrialdistricts, and which were successfullycompeting internationally. These experiencesgave rise to a new local and regionaldevelopment alternative and demonstratedthe potential strength of endogenous regio-nal industrial development. Flexiblespecialisation and industrial districts re-defined the frame of reference for regionalpolicies and gave rise to a second generation oflocal regional industrial policies. Research onindustrial district in Latin America has

contributed to this generation of policies,notably districts in Brasil and Mexico (cfSchmitz, 1995). Central to these endogenousregional development policies is the notion “toincrease the developmental capacities of aregion – to challenge internationalcompetition and technologies by mobilisingor developing its specific resources and itsown innovative abilities” (Maillat, 1998, p. 7).An important difference with the firstgeneration policies is that government is notat the centre stage of policy. Insteadendogenous development emphasises the ro-les of inter-firm co-operation, of businessassociations, of unions, and of governmentto develop, in interaction with each other,specific skills, resources and ‘rules of thegame’. Public policy remains important butin a different capacity.

The 1990s brought about substantialre-alignment of the relationships betweenstate and society, which manifested itself ina wave of democratisation anddecentralization reforms, notably in Chile,Bolivia, Uruguay, Brasil, Colombia, Mexicoand to a lesser extent in Central America.Decentralisation within the public sectorgave local and regional governments moreroom for manoeuvre and at the same time,local governments in view of their ownfinancial and other limitations began toinvolve other actors (private sector andNGOs). This contributed to create favourableconditions for local and regionaldevelopment initiatives.

Currently a third generation of regio-nal policies is born in practice. These thirdgeneration policies are, on the one hand, aresponse to the further study and evaluationof endogenous regional development andpolicies. On the other hand, they result fromthe recognition that globalisation, whichdeepened in the 90s, makes territorialproduction systems and not just firms com-pete with each other. This means that newpolicies cannot be exclusively local but musttake into account the position and thepositioning of territorial production systemswithin a global context. Furthermore, recentexperiences tell us that policies cannot beexclusively local or regional, to the point ofexcluding sectoral and (inter)national poli-cies and contexts. Horizontal co-ordination

Page 11: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

11Innovative local and regional economic development initiatives in Latin America: a review

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

among a range of actors needs to becomplemented by vertical co-ordinationbetween levels. The third generation polici-es are premised on the recognition that newpolicies need not necessarily require moreresources but seek to enhance ‘system’s orsystemic rationality’ in the use of existinglocal and extra-local resources andprogrammes. Third generation policiessupersede the opposition between exogenousand endogenous development policies.

Local economic development (LED)may be defined, in this context, as a processin which partnerships between localgovernments, community-based groups andthe private sector are established to manageexisting resources, to create jobs andstimulate the economy of a well-definedterritory. It emphasises local control, usingthe potentials of local human, institutionaland physical capabilities. Local economicdevelopment initiatives mobilise actors,organisations and resources, develop newinstitutions and local systems through dia-logue and strategic actions.

Some 20 years ago, Sergio Boisierquestioned the then prevailing regionaldevelopment paradigm framed by polarizedregional growth as a ‘theory in search of apractice’ in Latin America (Boisier, 1982).When considering the current situation, Iwould suggest turning this question around:what theory is evolving out of the newpractices of local and regional developmentpromotion found in Latin America? Arecently published series of studies allow usto begin to answer this question. In mid-90sthe UN Commission for Latin America andthe Caribbean in association with theGerman Technical Cooperation Agency(GTZ) commissioned a series of case studies

on decentralization and local economicdevelopment. The late Gabriel Aghóndirected this project. In total more than 22reports were published, most of which werecase studies reports. The studies are allavailable on the website of CEPAL. Fromthese I have selected 12 for a meta analysison the changing practices of local and regi-onal development in Latin America. The casestudies span the entire Spanish speaking partof the continent, as they cover regions fromthe south of Chile to a Mexican states, whichshares borders with the USA. In view of thelimited space available I will not elaboratein detail on all 12 case studies. The reader isreferred to the CEPAL website. In stead I willexamine overall trends emerging from thesecase studies, note commonalities anddifferences. In this analysis I will focus onthe central messages of new LED theorynamely the importance of interaction amongpublic and private actors, the creation of newinstitutions for LED and different processesof learning (Helmsing, 1998, 1999, 2000).

Innovative local development practicesin Latin America: evidence from casestudies

Introducing the case studies

The twelve case studies range fromsmall peripheral communities in a mineralmining region/enclave in Chile and ruralperipheral regions in Colombia, Chile andin Peru and intermediate regional towns inChile and Argentina to large metropolitancities regions such as Cordoba, Argentina,Medellin, and Bucaramanga in Colombiaand Guadelajara (Jalisco State) andChihuahua (Chihuahua State) in Mexico1.

Page 12: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

12 A. H. J. Bert Helmsing

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Guillermo Marianacci (2000) reportedon the local initiatives undertaken inCordoba. The new local administrationbegan to develop the local space for‘concertación’ on the direction of economicdevelopment. The changing national andinternational economic conditions called fora restructuring of the cities economy. At thesame time the MercoSur created newopportunities in terms of a developmentcorridor in which Cordoba could acquire astrategic position. Pablo Costamagna (2000)examined the city of Rafaela, which has beenon an historical trajectory of a regional agro-and manufacturing industry centre.‘Apertura’ and internationalisation posednew demands on the competitiveness of theregional economy. The author detailed thegrowth in ‘institutional thickness’ (Amin &Thift, 1994) in order to strengthen the localcapabilities for key economic activities andfor LED policy. Osvaldo Bernales (2000)looked at the creation of a network of muni-cipal strategic management teams as ameans to increase the local capacity throughcooperation and to promote local economicdevelopment in Araucania in the South ofChile. The provincia de Loa in Autofagasta

in the North of Chile is a quite different caseof a region already firmly established in theinternational economy as a mineral miningenclave. The mineral exploitation wascausing environmental damage anddrawing on a scarce resource, water. Boththreatened to undermine further thelivelihood of local rural people. Jorge Sali-nas (2000) examined this case, focussing onhow the local resource conflict is handledand he outlined the initiatives to improvelivelihood of local people. Carlos Muñoz(2000) looked at the case of Rancagua, anintermediate city south of Santiago wheresuccessive mayors have stimulated localgovernment to become more entrepreneurial.A city marketing campaign, initiallydesigned for limited objectives of attractingprivate investment, induces government todeepen the process of change. Private sectorconcessions are introduced to finance urbanrenewal. Luis Cáceres and Noelia Figueroa(2000) elaborated a case of rural small scalefarming restructuring in Ranquil in the 8th

region of Bio-Bio in Chile. A localdevelopment fund, set up with the assistanceof a national agency, becomes a stimulus forconvergence on public and private

Figure 1. Overview of case studies

Page 13: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

13Innovative local and regional economic development initiatives in Latin America: a review

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

investment priorities and initiatives. CarlosLondoño (2000) took a new look at theregion of Antioquia and the city of Medellin,Colombia. Public-private cooperation in thiswell known case of regional industrialisationhas a much longer tradition than elsewhere.The author documented the initiativesundertaken since the mid-90s. Cesar Vargasand Roberto Prieto (2000) examined the caseof the intermediate city of Bucaramanga.The authors reported how the IndustrialUniversity of Santander and otheruniversities and research institutes becamemore involved in the local economy. Thisincreasing role of academic institutions inlocal development together with increasingpublic-private dialogue on local competitiveadvantage led to the emergence of an‘innovative milieu’. Alberto Maldonado(2000) examined the emergence of a newindustry of small-scale manufacture of designfurniture in the rural municipality ofPensilvania, Caldas, Colombia. A local NGO,which had developed into a local economicdevelopment agency played a pivotal role inthis rural diversification initiative.Guadelajara is the centre of Jalisco state inMexico. It is an important industrial centreand has attracted a considerable volume of‘maquila’ investment. Clemente Ruiz (2000a)elaborated on the efforts of the new stategovernment to increase the local spin-of ofthese external investments and at the sametime spread new investment geographicallyto selected municipalities in the state. Thesecond Mexican case, elaborated by the sameauthor, also documented efforts of the newstate government of Chihuahua to take astrategic approach to economic development,putting greater emphasis on strengtheninglocal industries and geographicallydeconcentrating its expansion (Ruiz, 2000a).Finally Maricela Benavides (2000) looked athow an initial narrowly defined and supplydriven project on better informal sectorregulation broadens out to a broad based lo-cal economic development initiative in themunicipality of Ilo, Peru.

Conditions and triggering mechanisms

The overall political and macroeconomic conditions of the countries

concerned also varied quite considerably. Interms of the political conditions it is importantto mention the Chile and Colombia hadcarried out important decentralizationreforms in the early nineties. The processesin these two countries are quite distinct butin both cases contributed to creating newspaces for local regional initiatives. In Mexicothe coming into power of opposition parties,which followed the demise of the PRI innational elections, also gave new impulsesto regional development. In contrast, Peruin the same period went through a period ofmayor political instability. Argentina on theother hand found itself in an intermediateposition. There was in this period a relativepolitical stability and no mayordecentralization reforms.

Globalisation and economicrestructuring was an important factortriggering new initiatives,but this cannot besaid for all cases. Clearly the MercoSur andNAFTA played a role in the cases ofCordoba, Chihuahua and Jalisco. Also inColombia, policies of ‘apertura’ induced lo-cal actors to examine the consequences andopportunities for their local regionaleconomies (Medellin and Bucaramanga). Inother instances, however, the influence ofeconomic restructuring and globalisation isless immediate and evident (Rafaela,Auracania and Ilo). Other particular factors,both positive and negative, can bepinpointed without these being an exclusivecause, such as, disease and pests inagriculture (indigenous wines – Ranquil),local unexploited resource opportunities(Pensilvania) or the negative environmentalconsequences of mining (Autofagasta).

It is also important to mention that inseveral instances the local regionaldevelopminitiatives are characterised by fargreater ‘continuity with change’ than oftenrecognised. Medellin and Bucaramangaexperiences have evolved in homegrownendogenous processes that span more thande decade.

Creation of meso institutions

One of the key features of ‘third generation’regional development policy is the central roleof meso-institutions i.e. institutions at the level

Page 14: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

14 A. H. J. Bert Helmsing

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

of sector and region (Helmsing, 1999). This co-mes, partly, in the wake of strategic conceptionsof competitiveness (Porter, 1980 and Best,1990). That is to say, the competitiveness of afirm not only depends on its own efforts tocontinuously improve methods, processes andproducts, but also depends on its suppliers andon the local business environment in which itoperates. Suppliers can be a source of innovationand the local business environment can help orhinder firms in their efforts. With regard to thelatter one may distinguish between ‘help orhindrances in the form of physicalinfrastructures or lack of it (industrial land, portsand transport and logistic terminals, electricity,etc), in human resource development andtraining and in enterprise support systems.Firms that are located in places well-endowedwith specialised infrastructures and institutions

to assist them in their restructuring, may havea decisive edge over firms located in adverse lo-cal business environments.

The institutional and infrastructuralendowments of the local businessenvironment are created over time throughinter-firm cooperation (e.g. with the help ofbusiness associations) and through publicpolicy. In order to plan for these, public-private interaction is essential. This has givenrise to the creation of a second type of meso-institutions, which facilitate such public-private interaction: institutions for policyand planning (Helmsing, 2001).

What institutions have been created inour case studies on new Latin AmericanLRED policy practices? Figure 2 gives anoverview.

Figure 2. Meso-institutions

Page 15: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

15Innovative local and regional economic development initiatives in Latin America: a review

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

From the above it may be concludedthat in nine out of twelve cases thedevelopment of new meso-institutions hasplayed a central role. In most cases thecreation of policy and planning institutionspreceded development of specialisedinstitutions for the local regional economy.The new policy and planning institutionsserved in most instances to facilitate public-private interaction. There was a noticeabletrend to establish such bodies outside publiclaw (as a mixed non-profit body). The latteris an important feature as it places theseinstitutions outside the realm of politics andparties.

The economic meso-institutions centredon supporting enterprise developmentthrough incubators, business developmentservices (notably technological innovation)and cluster and group based programmesand on institutions serving the labourmarket. While micro enterprises receivedsupport in a number of cases, there is a ge-neral awareness that the strengthening of thelocal regional economy depends on small,medium and large companies.

Noteworthy is also that organisationaldevelopment within the respective local, re-gional and state government was a crucialingredient in the process. That is to say, newlocal economic development units (e.g. inRancagua, Rafaela and Bucaramanga),departments or ministries (e.g. ‘Gobernación’of Antioquia and of Santander and the ‘Se-cretaria’ of economic development in stategovernment of Chihuahua) were createdinside the government units. These unitsplayed a central role in initiating public-private dialogue, which in turn led to aninstitutionalisation of public privateinteraction through the creation of newinstitutions of policy and planning. Thesebodies helped to identify the need for newmeso-economic institutions.

Nature, scale and type of LED initiatives

In order to classify the LED initiatives Iuse a broad based classification drawn fromBlakely, (1989) and earlier work (cf Helmsing,1999, 2001b). A distinction is made betweenthree main categories of local economicdevelopment initiatives. The first set refers toactions that may be broadly described ascommunity based economic development.Community based economic developmentmay be applied to both rural and urbansettings, though a number of characteristicswould necessarily be different. The essenceof community economic development is tofacilitate household diversification ofeconomic activity as the principal way toimprove livelihood and reduce poverty andvulnerability. The second category refers tobusiness or enterprise development. Thisbroad category consists of initiatives thatdirectly target and involve (cluster(s) of)enterprises. In contrast to communityeconomic development, this category ispremised on specialisation and overcomingobstacles towards specialisation in a marketcontext. Enterprise or business developmentis normally closely associated with the existingeconomic base of the locality or region or withdeveloping a new industry in order todiversify the existing economic base. Anumber of the principles of enterprisedevelopment policies apply differentially tosmall, medium and larger enterprises.Survival based micro enterprise activity isexamined under the first mentioned category.The creation of industry specific meso-economic and enterprise support institutionsplays a central role. The third category refersto locality development. This iscomplementary to the previous two and refersto overall planning and management ofeconomic and physical development of thearea concerned. The latter includes but isbroader than policy and planning of the lo-cal business environment.

Figure 3 gives an overview of the typesof LED initiatives in the twelve case studies.

Page 16: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

16 A. H. J. Bert Helmsing

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

In terms of concrete initiatives thatwere launched there is a general tendencyfor (small) enterprise developmentprogrammes to predominate. Theseprogrammes in most instances refer tobusiness development services, especiallytechnology and innovation. Enterprisefinance is (surprisingly) much less prevalentthan expected and if it occurred it wasrelated to venture capital for new technologyfirms (Bucaramanga and Chihuahua).

In larger economic units clusterdevelopment programmes constitute animportant programme component, notablyin Mexico and Colombia. As one moves fromlarge economic units (state regions andmetropolitan cities) to rural and municipalinitiatives, small and micro-enterprisedevelopment programmes become moreimportant.

In several instances, notable inMexican and Colombian cases, there have

been concerted efforts to create a local‘innovative milieu’ (Maillat, 1995, 1998).Capello (1999) considers an innovativemilieu as the highest form of collectivelearning, in which universities, public agen-cies and firms undertake concerted actionto actively create new local competitiveadvantages.

Locality development concentrates oninfrastructure and property (re)development and on city marketing. It isimportant to note that in three cases,Cordoba, Argentina, in Rancagua, Chile andin Bucaramanga, Colombia urban renewaland property development played animportant role. The physical re-shaping ofcities plays very much part of new localeconomic development initiatives.

Improving the functioning of the localurban labour market takes place viainformation and intermediation. HRD isimportant in those instances where national

Figure 3. Tupes of LED programme initiatives

Page 17: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

17Innovative local and regional economic development initiatives in Latin America: a review

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

policies provide incentives (Chile), though thereis one case where a metropolitan authorityprovided training subsidies (Cordoba).

Actors, partnerships and networks

As part of overall macro-economicreforms, central governments haveconsiderably reduced their responsibility forregional development and for placeprosperity. Localities and regions have beenthrown onto themselves to take responsibilityfor their own development. Mostly by defaultand occasionally by design (decentralizationand local government reforms), local actorshave been given the room to developedthemselves the full range of processes to doso. This has made that one of the key featuresof third generation local and regionaldevelopment is the involvement of multiplelocal actors. The range of actors has increased,including governments, communities andtheir organisations, non-governmentalorganisations and now also privateenterprises and their associations.

Local producers and their associationsare key actors in enterprise and local businessdevelopment. Inter-firm cooperation and jointaction plays a central role. However, localproducers are very often individualistic andfind it difficult to combine competition withcooperation. Several commentators haveindicated that joint action and inter-firm co-operation, of the kind enumerated above, doesnot come easily. Some argue that suchcollaboration requires a kind of externalcatalyst or brokerage role (Meyer-Stamer,1998, Barzelay, 1991, Helmsing, 2001a). Themultiple roles of business associations ineconomic development are increasinglyrecognized and they may take a variety offorms (Levistky, 1993). Traditionally, theyrepresent their members in their dealings withgovernment. They often negotiate with tradeunions. Their other traditional function is asocial one. An association provides areference group for individual entrepreneurs.More recently, the emphasis shifted to twoother functions, the provision of businessdevelopment services and what some havecalled ‘private interest governance’ (e.g.establishing codes of conducts for an industry,settling disputes, etc.).

Several factors have contributed to amore prominent role for local governmentin local economic development. First of all,there has been a generalised and persistenttrend towards decentralization in the publicsector, which has complex and multiple cau-ses. Public responsibilities have beentransferred to local governments, but veryoften without adequate transfer of resources.The need to generate more local revenues hasforced the local governments to take moreinterest in the economic development of theirarea of jurisdiction. It is worth adding thatthe concern for local economic developmentdoes not only derive from the need to raiserevenue but is also a genuine response to thelocal demands of people and enterprises.Secondly, in a number of countries newlegislation has facilitated local governmentsto enter in public-private partnerships (e.g.Colombia, Chile and Bolivia). Thirdly,changing perceptions on poverty reductionhave made local government more active inpursuing local employment creation.Fourthly, in a number of countries, nationalor state governments have launched supportprograms to enable local and regionalgovernments to become more active in localeconomic development (Chile’s regionaldevelopment fund). Finally, in somecountries, there have been genuineregionalist pressures which stem frompolitical demands in response to past neglect(Mexico), but which also may arise from thebuild up of local initiatives in associationwith successful processes of local andregional specialisation (Colombia).

Much in contrast to past practices atnational level, local governments generallyrealise that they are but one of many playersinvolved in local economic development.Most local authorities spend a minor fractionof their budgets on direct economicdevelopment support. More important,however, are the manner in which theydischarge their main functions and realisetheir economic significance as a) a source ofeconomic opportunity and b) a serviceenhancing or inhibiting enterprisedevelopment and competitiveness. Insteadof self-contained, hierarchical bureaucraticprocesses, mediated by more or lessdemocratically elected politicians, ‘third

Page 18: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

18 A. H. J. Bert Helmsing

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

generation’ local governments seek toinvolve other local actors in the formulationand/or implementation of government po-licies and programmes. They actively pursuethe formation of local policy and supportnetworks. These were denominate horizon-tal networks and networking.

It is important to stress here that LEDdoes not refer only to local institutions butalso to decentralized sector and nationalagencies. The participation of externalstakeholders may be critical. First of all,specialised sector agencies can providecritical resources and services, such astraining, finance. Secondly, national sector

agencies mediate between the local and theglobal and provide windows through whichlocal firms can better understand globalchanges and participate in internationalmarkets. Especially when local institutionsare weak on the ground, national agenciescan play important complementary andenabling roles. Horizontal networking needstherefore to be complemented with verticalnetworking to access national institutionsand resources.

Figure 3 gives an overview of actorsand patterns of networking in the twelvecase studies.

Figure 4. Actors: horizontal and vertical cooperation and networking

When examining our twelve casestudies in terms of actors, partnerships andnetworks, it is noteworthy that in all cases,except one there is horizontal cooperationbetween public and private actors. In mostcases the private sector takes part viarepresentative bodies such as chambers of

commerce and industry and sector businessassociations. In some instances the presenceand influence of large firms and enterprisegroups is visible (e.g. Bucaramanga,Chihuahua)

NGOs are less frequently involved thaninitially expected. Notably in Chile and in

Page 19: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

19Innovative local and regional economic development initiatives in Latin America: a review

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Colombia, NGOs are active in communityeconomic development through micro-enterpise and training programmes. A ratherexceptional example if the local Dario MayaFoundation in Pensilvania, Caldas, Colombiawhich as a ‘vertically integrated’ supportagency, played a pivotal role in virtually allaspects of the local development initiative2.

In the majority of cases there are alsoclear indications of vertical cooperation andnetworking. That is to say, sector or higherlevels of government play a central role in thelocal development initiatives. In the case ofChile it is the regional governments and inColombia the Departmental Governments.The National Vocational training Agency(SENA) plays a supportive role in all threeColombia cases. In Chile the FOSIS, a socialfund/development agency plays a similar role.

In addition it should be added thatfrequently national policies provideimportant resources and opportunities forlocal development initiatives. This is mostclearly evidenced by the Colombian NationalSmall Enterprise Policy formulated in themid-80s, which put forward the creation ofCentres for Productive Development (CDPS)and gave SENA a supporting role in these.Even though this policy did not have a largeimplementation coverage in terms of thenumber of created CPDs, all our cases-studies incorporated CPDs in theirinitiatives. Also the role of FOSIS and itsregionally defined small and micro enterpriseprojects has provided a window ofopportunity for local development initiatives.

Learning processes

Learning is rapidly gaining ground asa central concept in third generation localand regional development. Learning takesplace at the level of the firms, at the level ofclusters of firms and at the level of the localityor region itself.

In the competence theory of the firm, afirm is defined as a repository of productiveknowledge (rather than a nexus of contracts).Learning is central to maintaining andrenewing competencies. ‘Core competenciesare the collective learning in the organization,especially how to coordinate diverseproduction skills and integrate multiple

technologies… Core competencies do notdiminish with use but are enhanced by it’(Lawson, 1999). In this view, product marketcompetition is merely a superficial expressionof a deeper competition over competencies.Conceiving the firm as core competenciessuggests that inter-firm competition, asopposed to inter-product competition isessentially concerned with the acquisition ofknowledge and skills (ibid).

By being part of an agglomeration orcluster a firm can greatly expand its capacityto learn. A cluster can help to reduceuncertainty. It contributes, organizes andcan facilitate exchanges of information. Itprovides additional signalling and articulatesneeds of firms and facilitates co-ordinationof actions. Learning at the level of cluster cantake place via supply chain linkages (i.e.supplier and customer relations), via mobilityof skilled labour between the firms in thearea, and, last but not least, via spin-offactivity (creation of new start-ups). It alsoinvolves i) imitation and reverse engineering.ii) informal knowledge exchange via‘cafeteria effects’, and, iii) specialist services.In short, a cluster enables collective learning(Camagni, 1991, Lawson, 1999).

As markets become liberalized andfirms get exposed to international and ‘new’competition, firms need to develop a dynamiccapability to renew, augment or adapt theircompetencies in order to maintain economicperformance. Innovation and learning arecentral and involve combining diversetechnological, organizational and marketknowledge. Firms have a limited capacity toundertake a range of activities. Choices mustbe made. Thus, when firms want to invest innew products or processes, in response to newcompetition, they encounter problemsbecause they lack the knowledge to efficientlyundertake the complementary activitiesneeded to produce and market them. Or afirm may be able to produce cheaply but lackthe competence to design its products to thelatest fads and fashions. Inter-firmcooperation becomes a key to address thisissue. In regions where this complementaryknowledge is available, firms have a betterchance to learn and develop new routinesand competencies. Skilled labour, specialistservices and inter-firm cooperation create a

Page 20: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

20 A. H. J. Bert Helmsing

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

capability in a region or cluster to renew andaugment the competencies of firms. Thisrequires a social context, and a commonlanguage and culture to facilitate exchange,and the region may provide these.

Local actors are best placed to assesstheir own situation and learn by comparingwith other experiences. Learning at the re-gional level involves institutional andorganizational processes. The form oflearning takes place through interactionamong local actors, i.e. firms, governments,NGOS and community organisations. Thisis what Lawson (1999) conceptualised as anew (third generation) local or regionalcompetence. It requires an ability to spotsigns of change; to create awareness andcommunicate it to other actors so that allunderstand the implications; and lastly, itrequires a responsiveness to mobilizeresources to address emerging problems.Essentially this is a case of collective learning,but now at local governance level. A localregional innovation system (LRIS) is a systemin which universities, research training andtechnology agencies interact withgovernment and local industry. Thiscontributes to greater systemic rationality atthe level of the local regional economy, andis capable of generating substantialefficiencies in the enterprise support system,by reducing policy mismatches and bycreating greater convergence incomplementary investment and supportprograms. The LRIS, if properly structured,can contribute to collective learning, now atthe level of local and regional policy making.It can assist in a social and economic

intelligence function by contributing to threefeedback loops (Cooke and Morgan, 1998):a) assessing the extent to which theeconomic trajectory of a region isappropriate; b) comparing the regions’performance with other and ‘peer’ systems;and c) working out the implications forchanges in the system in order to prevent alock-in (for example, in the orientation of andpriorities for the enterprise support, trainingand human resource development).

Based on the above one can distinguishfive different types of learning processes. Thefirst is learning through education i.e.knowledge transfer through HRD andtraining activity. A second fiorm isorganisational learning, e.g. in the firm inorder to become or stay competitive and inthe relevant public bodies in order to learnabout economic development of the territory.A third form of learning is what Hilhorst(1990) called planning as a social learningprocess. That is to say, developing amonglocal actors a common understanding of thelocal development problems, identifyingrationalised choices and generatingagreements about development priorities andstrategic plan initiatives. A fourth form,collective learning, would be cluster andgroup based learning among local firms asoutlined above. Lastly, there is learningthrough institutionalised local regionalinnovation systems in which universities andresearch institutes play an active role(innovative milieu).

Figure 4 summarises the differentlearning processes are they have been takingplace in the twelve case studies.

Page 21: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

21Innovative local and regional economic development initiatives in Latin America: a review

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Figure 5. Learning processes

In all twelve case studies we findinstances of learning by educating. That is tosay, through training and transfer ofknowledge e.g. as happened in Centres ofProductive Development, Techinology &Innovation Centres and the like). ExistingHRD and training institutions (e.g. SENA)provide skill training programmes, frequentlyoriented towards micro and small enterprise.

Common in almost all cases isorganisational learning in the relevant publicbodies about economic development andabout how to engage other actors. As we sawabove, new local economic developmentunits, departments or ministries (secretari-as) were created inside key government agen-cies. Many case studies signal the importanceof organisational learning within these newunits, often associated with the employmentof new young professionals. No, doubt thereis also organisational learning within indi-vidual firms but this is not reported on.

The most pervasive form of learning isthat of social learning in policy and planningin relation to LED initiatives. The newgeneration of Latin American local and re-gional development practices is associatedwith a new style of planning: lessgovernment and public sector centred andmore strategic planning, seeking tounderstand the likely direction of localeconomic development and seeking broadbased consensus on a long term vision aboutdesirable local development.

A fourth process is cluster and groupbased collective learning among firms. Thecreation of group or cluster based learningprocesses has been object of local economicdevelopment initiatives in less than half ofthe cases. These are oriented towardsmedium and larger enterprises and most ofthem, though not all, take place in the largerterritorial units (e.g. in Medellin, State ofChihuahua).

Page 22: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

22 A. H. J. Bert Helmsing

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Finally, there are a few instances,notably in Bucaramanga, Colombia wherelocal economic development initiatives aresystematically seeking to develop an‘innovative milieu’ in which universities,government, private sector cooperate todevelop a stronger competence for LEDpolicy and are undertaking concerted actionsto develop local technological competitiveadvantage in selected local industries.

Concluding observations

The twelve case studies examined inthis paper cannot provide conclusiveevidence about new trends in the practiceof local and regional planning in LatinAmerica. Nevertheless, they provideindications of an emerging third generation‘new institutionalism’. Central is the positionand positioning of local economies in large(national) and international economiccontexts. National economic restructuringand globalisation have created necessity tobe concerned about this and decentralisationhas given the opportunity for local initiative.The new practices seek to give shape to newforms of public-private cooperation, in bothhorizontal and vertical networking. Public-private cooperation centres on the creationof meso-institutions at the level of territoryand industry. They involve a variety of pro-cesses of learning, which in some cases ismore restricted but in other cases reaches thestage of an ‘innovative milieu’. The concreteinitiatives focus predominantly on enterpriseor business development and in some caseson the physical re-development of cities.

The case studies also generate questionsabout the new practices of the local and re-gional development. How inclusive are thesenew practices? While the broadening of thebase of public decision-making on localeconomic development priorities certainly isa desirable feature of these new practices,do they also create a better distribution of(the means to take up) economicopportunities? Do they contribute tobroaden the base of the local economy?Unfortunately the case studies do not permitus to answer this question. Though in onecase, the Pensilvania case study, thecontribution is clearly very marginal.

Last but not least last, there is a questionof a methodological nature. Do the newpractices of local and regional developmentpromotion actually make a difference? Thiswould require research that examinesoutcomes and relate these to local efforts. Inother words, one would select localities andregions, which have demonstrated a dynamiceconomic performance and examine to whatextent, if at all, this performance can beattributed to new practices of local and regi-onal development promotion. Only a few ofthe twelve case studies explicitly raise thisquestion.

Notas1 Unless otherwise specified, all data interpretations

presented in the figures 1 through 5 are based on thetwelve CEPAL case studies.

2 This NGO was established by a leading and (very)large landowner, whose family controls most forestresources in the municipality and owns 2 large sawmills, which provide a mayor source of localemployment.

References

AMIN, A. An institutionalist perspective on regionaleconomic development. International Journal of Urbanand Regional Research, 23, 2, p. 365-378, 1999.

AMIN, A & THRIFT, N. Globalization, institutions andregional development in Europe. Oxford University Press:Oxford. 1994.

BARZELAY, M. Managing local development. Lessonsfrom Spain. Policy Sciences, 24, 3, p. 271-290, 1991.

BENAVIDES, M. Estudio de caso a nivel local: el programamunicipal de desarrollo empresarial (PROMDE) y laexperiencia de la municipalidad de Ilo, Peru. Santiago:CEPAL, 2000.

BERNALES RIVAS, O. El programa red de equipomunicipals de gestión estratégica (EMGES): una experienciade asociatividad para el desarrollo de las comunas deAngol, Renaico, Collipulli y Ercilla, IX Región de laAraucanía, Chile. Santiago: CEPAL, 2000.

BEST, M.H. The new competition. Institutions of industrialrestructuring. Cambridge: Polity Press, 1990.

BLAKELY, E. J. Planning local economic development.Theory and practice. Sage, Newbury Park, 1989.

BOISIER, S., Hilhorst, J. G. M., Uribe-Echavarria, F. (eds).Experiencias de planificacion regional en America Latina:una teoria en busca de una practica. Santiago: EditorialSIAP – CEPAL.

CÁCERES, L and Figueroa Burdiles, N. SistematizaciónRanquil, Chile: una experiencia sobre la generación decondiciones para el desarrollo económico local.CEPAL, Santiago: CEPAL, 2000.

CAMAGNI, R. Local milieu, uncertainty and innovationnetworks: towards a new dynamic theory of economic

Page 23: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

23Innovative local and regional economic development initiatives in Latin America: a review

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

space. In: Camagni, R. ed. 1991. Innovation networks. Spatialperspectives, p. 121-145, London: Belhaven Press, 1991.

CAPELLO, R. Spatial transfer of knowledge in hightechnology milieux: learning versus collective learningprocesses. Regional Studies, 33, 4, p. 353-365.

COOKE, P & MORGAN, K. The associational economy:firms, regions and innovation. Oxford: Oxford UniversityPress, 1998.

COSTAMAGNA, P. La articulación y las interacciones entreinstituciones: la iniciativa de desarrollo económico localde Rafaela, Argentina. Santiago: CEPAL, 2000.

FRIEDMANN, J. and WEAVER, C. Territory and function.The evolution of regional planning. London: EdwardArnold, 1979.

FRIEDMANN, J. and DOUGLASS, M. Agropolitandevelopment: towards a new strategy for regionalplanning in Asia. In: Lo, F. C. and Salih, K. (eds.). Growthpole strategy and regional development policy. Oxford:Pergamon Press, 1978. p. 163-192.

HELMSING, A. H. J. Teorias de desarrollo industrialregional y políticas de segunda y tercera generación.Revista Latinoamericana de Estudios Urbano Regionales(EURE), 25, 75, p. 5-39, 1999.

_____. Externalities, Learning and Governance.Perspectives on local economic development.Development and Change, 32,2, P. 277-308. 2001a.

HELMSING, A. H. J. Local economic development in low andmiddle income countries. New generations of actors, policiesand instruments. Paper presented at the Conference onDecentralisation and Local Governance, organised byUNCDF, Cape Town, South Africa, 26-30 March, 2001.

HILHORST, J. G. M. Regional studies and ruraldevelopment. Avebury, Aldershot.

LAWSON, C. (1999) Towards a competence theory of theregion. Cambridge Journal of Economics, 23, p. 151-166, 1990.

LEVITSKY, J. Private sector organisations and supportfor small and micro enterprises. In: Helmsing, A. H. J.& Kolstee, Th. Eds. Small enterprises and changing policies.London: Intermediate Technology Publications, 1993.

LONDOÑO YEPES, C. A. La gestión del desarrollo enAntioquia, Colombia. Santiago: CEPAL, 2000.

MAILLAT, D. Territorial dynamic, innovative milieusand regional policy. Entrepreneurship & RegionalDevelopment, 7, p. 157-165, 1995.

_____. Innovative milieux and new generations ofregional policies. Entrepreneurship & RegionalDevelopment, 10, p. 1-16, 1998.

MALDONADO, A. L. A experiencia de desarrollo económicolocal en el municipio de Pensilvania (Colombia). Santiago:CEPAL, 2000.

MARIANACCI, G. Descentralización y desarrollo económicolocal: estudio de caso de la ciudad de Córdoba,Argentina. Santiago: CEPAL, 2000.

MEYER-STAMER, J. Path dependence in regionaldevelopment: persistence and change in three industrialclusters in Santa Catarina, Brazil. World Development,26, 8, p. 1495-1511, 1998.

MUÑOZ VILLALOB OS, C. La experiencia de desarrolloeconómico local en el municipio de Rancagua: ProgrammeRancagua Emprende, 6ta Region , Chile. Santiago:CEPAL, 2000.

PORTER, M. Competitive advantage. New York: The FreePress, 1985.

_____. The competitive advantage of nations. New York:The Free Press, 1990.

RACO, M. Competition, collaboration and the newindustrial districts: examining the institutional turn inlocal economic development. Urban studies, 36, 5/6, p.951-968, 1999.

RUIZ DURAN, C. Esquema de regionalización ydesarrollo local en Jalisco, Mexico: el paradigma deuna descentralización fundamentada en elfortalecimiento productivo. Santiago: CEPAL, 2000a.

RUIZ DURAN, C. El paradigma de desarrollo regional basadoen la cooperación público-privado: el case de Chihuahua,Mexico. Santiago: CEPAL, 2000b.

SALINAS, J. Concertación de actors territoriales para elimpulso del desarollo productivo de la Provincia del Loa, Regiónde Autofagasta, Chile. Santiago: CEPAL, 2000.

STOHR, W. and TAYLOR, F. Development from above orbelow? The dialectics of regional planning indeveloping countries. London: Wiley, 1981.

STREECK, W. and SCHMITTER, P. C. (eds.). Privateinterest governance. London: Sage, 1985.

VARGAS VERA, C. and PRIETO LADINO, R. Alianzadel sector público, sector privado y academia para eldesarrollo productivo y la competitividad deBucaramanga, Colombia. Santiago: CEPAL, 2000.

Page 24: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS
Page 25: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Fatores locais e estruturais na dinâmica setorial dos municípios lindeiros aolago das hidrelétricas de Salto Caxias e Itaipu*

Local and structural factors in the local dynamics of the municipal districts ofSalto Caxias and Itaipu regions, in the Southwest and West of Paraná’s State

Facteurs locaux et structurels dans la dynamique sectorielle des villes de SaltoCaxias et Itaipu, au Sud-ouest et ouest de l’État du Paraná

Factores locales y estructurales en la dinámica sectorial de los municipios linderos al lagode las hidroeléctricas de Salto Caxias e Itaipú

Jandir Ferrera de Lima**

Lucir Reinaldo Alves***

Moacir Piffer****

Carlos Alberto Piacenti*****

Recebido em 10/09/2005; revisado e aprovado em 09/12/2005; aceito em 31/01/2006

Resumo: Este artigo analisa os fatores locais e estruturais na dinâmica local dos municípios das regiões de SaltoCaxias e Itaipu, no Sudoeste e Oeste paranaense. Os resultados apontaram que os fatores locais são os maisimportantes no crescimento do consumo de energia das regiões analisadas, apresentando-se como mais significativosno conjunto dos municípios estudados. No entanto, o setor terciário tem sua dinâmica estimulada pelos fatoresestruturais.Palavras-chaves: Desenvolvimento local; economia regional; dinâmica local.

Abstract: This article analyzes the local and structural factors in the local dynamics of the municipal districts of SaltoCaxias and Itaipu regions, in the Southwest and West of Paraná’s State. The results pointed that the factors local arethe most important in the growth of the consumption of energy of the analyzed regions, coming as more significant inthe group of the studied municipal districts. However, the tertiary section has his dynamics stimulated by thestructural factors.Key words: Local development; regional economy; local dynamics.

Résumé: Cet article analyse les facteurs locaux et structurels dans la dynamique locale des villes des régions de SaltoCaxias et Itaipu, dans le Sud-ouest et Ouest de l’État du Paraná, au Brésil. Les résultats indiquent que les facteurslocaux sont les plus importants dans la croissance de la consommation d’énergie des régions analysées. Cependant,le secteur tertiaire possède une dynamique stimulée par les facteurs structurels.Mots-clés: Développement local; économie régional; dynamique locale.

Resumen: Este artículo analiza los factores locales y estructurales en la dinámica local de los municipios de lasregiones de Salto Caxias e Itaipú, al Sudoeste y Oeste paranaense. Los resultados apuntaron que los factores localesson los más importantes en el crecimiento del consumo de energía de las regiones analizadas, presentando como mássignificativo en los conjuntos de los municipios estudiados. Sin embargo, el sector terciario tiene su dinámica estimuladapor los factores estructurales.Palabras claves: Desarrollo local; economía regional; dinámica local.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 25-36, Mar. 2006.

* Uma parte deste artigo é baseada em dois relatórios de pesquisa (612 e 3706), que estudam o impacto do reservatórioda Hidrelétrica de Itaipu no crescimento econômico regional. Ambos tiveram finaciamento da Fundação Araucária.O projeto 612 já foi concluído e o 3706 está atualmente sendo executado na UNIOESTE/Campus de Toledo.** Ph.D. em Desenvolvimento Regional pela Université du Québec (UQAC)- Canadá. Professor Adjunto do Mestradoem Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campusde Toledo. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC).Pesquisador Associado do GRIR-UQAC. Endereço: Rua da Faculdade, 645, Jd. La Salle, CEP.: 85903-000, Toledo-PR,Fone: (45) 3379-700 ([email protected]; [email protected]).*** Mestrando em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bacharel emCiências Econômicas pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo. Membrodo Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC) da UNIOESTE/Campusde Toledo ([email protected]).**** Doutorando em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). ProfessorAssistente do Colegiado de Economia na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus deToledo. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC)([email protected]).***** Doutorando em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Professor Assistente doColegiado de Economia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo. Pesquisadordo Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC) ([email protected]).

Page 26: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

26 Jandir F. de Lima; Lucir R. Alves; Moacir Piffer; Carlos Alberto Piacenti

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

1 Introdução

Este artigo analisa a dinâmica estru-tural-diferencial setorial dos municípios atin-gidos pelas barragens hidroelétricas das Usi-nas de Salto Caxias e Itaipu Binacional, apartir do consumo de energia. A dinâmicadiferencial refere-se aos fatores locais, res-ponsáveis pelo crescimento da economiaregional e, conseqüentemente, pela expan-são do consumo de energia. A dinâmica es-trutural refere-se aos fatores exógenos à eco-nomia regional.

As regiões de Salto Caxias e Itaipu, noSudoeste e Oeste paranaense, são regiõesadequadas para a análise dos fatores dife-renciais e estruturais. Essas regiões apresen-tam poucas diferenças no tocante ao proces-so histórico de povoamento e colonização.No início do século XX, ambas tiveram suasterras exploradas pelo extrativismo da ma-deira e erva-mate. Já na metade do séculoXX, a diferença entre as duas regiões se dána forma de ocupação. Na região alagadapelo reservatório de Itaipu a colonização foifeita através de companhias colonizadoras.Na região atingida pela Usina de SaltoCaxias o povoamento e posse das terras foiatravés dos posseiros, desencadeando con-flitos armados (PIFFER, 1997; PIACENTI etal., 2003). A forma ordenada de coloniza-ção da região de Itaipu fez com que predo-minasse a etnia européia, advinda do Sul doBrasil. Em Salto Caxias, pela questão de po-voamento aleatório, a predominância devárias etnias originou uma populaçãomiscigenada (PIACENTI et al., 2002;LAZIER, 1986).

Outro fator importante e distinto en-tre as duas regiões é a influência do relevosobre a ocupação e a produtividade das ter-ras. Na região de Itaipu, com solos mais pla-nos, a mecanização se acentuou rapidamen-te e a expansão da cultura da soja formouuma base de exportação que alavancou ocrescimento regional. Em Salto Caxias osdeclives no relevo atrasaram a mecanizaçãoe a população ocupou-se de outras culturaspara seu desenvolvimento. A região de Sal-to Caxias ficou atrasada em termos deganhos de produtividade agropecuária emrelação ao Oeste do Paraná (LAZIER, 1986;PIACENTI et al., 2002).

Nesse contexto, a análise diferencial-estrutural proporcionará o conhecimento dopadrão de comportamento das atividadesprodutivas dessas duas regiões, auxiliandona compreensão da dinâmica setorial, aoindicar os setores responsáveis por essa di-nâmica. Por isso, torna-se uma ferramentano planejamento regional. A aplicação des-se método, na análise estatística-descritivada dinâmica setorial desses municípios pro-porcionará também uma visão das perspec-tivas de crescimento regional. Essas perspec-tivas se tornam mais patentes pelareorientação da economia local, decorrentedas novas tendências produtivas com o con-sumo de energia e o perfil da polarizaçãoregional.

Por fim, antes de avançar na apresen-tação do modelo de análise e resultados ediscussões, vale justificar o porque da análi-se comparativa dessas duas regiões: em pri-meiro lugar, essa análise apresenta parte dosresultados de uma pesquisa mais ampla fi-nanciada pela Fundação Araucária e reali-zada pelos autores sobre o desenvolvimentoeconômico microrregional de áreas atingidaspelos reservatórios de hidroelétricas. Alémdisso, essa análise servirá como uma inter-pretação diferenciada das áreas atingidaspor reservatórios. De certa forma, ela é umareferência para futuros estudos sobre a di-nâmica diferenciada das economias locais,que tiveram o impacto de grandes obras deinfra-estrutura hidroelétrica.

2 O modelo diferencial-estrutural

Como mencionado, a área de estudodesta análise compreende os municípios atin-gidos pelos reservatórios das Usinas de SaltoCaxias e de Itaipu, no Estado do Paraná,conforme demonstra Mapa 1. Salienta-se queos municípios atingidos pela Usina de SaltoCaxias, pertencentes à região Sudoeste são:Boa Esperança do Iguaçu, Cruzeiro doIguaçu, Nova Prata do Iguaçu, Salto doLontra e São Jorge do Oeste. Localizados naregião Oeste, na mesma Usina, pela margemdireita, têm-se Boa Vista da Aparecida, Ca-pitão Leônidas Marques, Quedas do Iguaçue Três Barras do Paraná. Os municípioslindeiros ao lago da Hidroelétrica de Itaipu,na região Oeste, são: Diamante do Oeste,

Page 27: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

27Fatores locais e estruturais na dinâmica setorial dos municípios lindeiros ao lago dashidrelétricas de Salto Caxias e Itaipu

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Entre Rios do Oeste, Foz do Iguaçu, Guaíra,Itaipulândia, Marechal Cândido Rondon,Medianeira, Mercedes, Missal, Pato Bragado,

Santa Helena, Santa Terezinha de Itaipu, SãoJosé das Palmeiras, São Miguel do Iguaçu eTerra Roxa.

Utilizou-se como método de análise omodelo diferencial-estrutural, onde a variá-vel é o consumo de energia elétrica. Deve-sesalientar que o modelo de análise estrutu-ral-diferencial, conforme Piacenti e Ferrerade Lima (2002), é útil para conhecer o pa-drão do crescimento econômico da região esuas sub-regiões. Essa medida proporciona-rá um quadro de análise dos municípios emrelação ao Estado do Paraná. Tradicional-mente, este modelo utiliza a mão-de-obraocupada por setores de atividade. No entan-to, dada a confiabilidade dos dados de con-sumo de energia e a atualização dessas in-formações, optou-se pela substituição dosdados sobre a mão-de-obra. Essa substitui-ção não causa prejuízos na análise, haja vis-

ta, que o dinamismo e o crescimento das ati-vidades produtivas exigem um maior con-sumo de energia por setor ao longo do tem-po. Da mesma maneira, o aumento no con-sumo residencial reflete a modernização dopadrão de vida e a melhoria na renda, tor-nando-se um suporte e um reflexo do cresci-mento econômico local.

Definida a variável utilizada, os seto-res foram agrupados de acordo com aclassificação utilizada pela CompanhiaParanaense de Energia Elétrica - COPEL, daseguinte forma: residencial, secundário,terciário, rural e setor público (empresaspúblicas e iluminação pública). Tomou-secomo referência os anos de 1993 e 2003, e omodelo será melhor descrito a seguir. Para o

Mapa 1. Municípios regiões de Itaipu e Salto Caxias, Paraná, Brasil

Page 28: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

28 Jandir F. de Lima; Lucir R. Alves; Moacir Piffer; Carlos Alberto Piacenti

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

cálculo foram organizadas as informaçõesem uma matriz, que relaciona a distribuiçãosetorial-espacial do consumo de energia elé-trica por setor. As colunas mostram a distri-buição do consumo de energia entre os muni-cípios, e as linhas mostram o consumo deenergia por setor de cada um dos muni-cípios. Assim, definiram-se as seguintesequações:

= Consumo de energia elétrica no setor i (1)

do município j;

= Consumo de energia elétrica no setor (2)

i do Estado;

= Consumo de energia elétrica em todos (3)

os setores do município j;

= Consumo de energia elétrica total (4)

do Estado.

Vale lembrar que o modelo de análisediferencial-estrutural vai demonstrar o pa-drão do crescimento econômico dos municí-pios em relação ao Estado do Paraná. Assim,é necessário analisar a variação e o desloca-mento do consumo de energia elétrica noperíodo estudado entre os setores. Deve-seressaltar que na análise diferencial-estrutu-ral será utilizada uma variante do modeloshift-share compilado de El Bekri (2000) eLamarche, Srinath e Ray (2003). Assim, uti-lizando-se a matriz da distribuição espacialdo consumo de energia elétrica setorial, che-ga-se à equação à seguir:

(5)

onde:VLT = Variação Liquida Total do E.Ano 1 = 1993Ano 2 = 2003E = Consumo de energia elétrica por setor.

A VLT indicará a diferença entre ovalor real do consumo de energia elétricaentre o início (1993), e no fim do período(2003). Quando seu valor for positivo, signi-fica que houve um incremento relativo doconsumo municipal de energia elétrica faceà ocupação estadual. Ao contrário, quandoo valor da VLT for negativo, representa umaperda de posição relativa. Com isso, a

magnitude do valor positivo demonstra o“peso” significativo do setor na dinâmica doconsumo de energia dos municípios. Nessesentido, os valores positivos demonstramganhos e expansões nos desdobramentos doconsumo de energia. Por isso, os valores posi-tivos demonstram um crescimento desse se-tor. Vale lembrar que a VLT é a diferençaentre a parcela regional com a parcela estru-tural. A primeira refere-se aos fatores dife-renciais, ou seja, aos elementos locais da di-nâmica econômica. Esses elementos locaisrefletem a especialização regional de um de-terminado setor (endógeno). A segunda, re-presenta os fatores estruturais, refletindo acomposição regional da ocupação (exógenos).Assim, essa diferença entre a composiçãoregional e a estrutural recebe o nome de efei-to total, ou seja, variação líquida total. Dadaessa característica, o modelo diferencial-estrutural apresenta o padrão e a fonte docrescimento setorial local ou regional.

A parcela regional e a parcela estrutu-ral, ou seja, os fatores endógenos e exógenossupracitados, podem ser calculados separa-damente a partir da decomposição da VLTem duas parcelas. Essas parcelas recebem onome de variação líquida diferencial, ou re-gional (VLD), e variação líquida estrutural(VLE).

Segundo El Bekri (2000) o efeito dife-rencial (VLD) reflete o dinamismo que cadasetor possui dentro do município. A VLDparte da constatação de que existem algunssetores que se expandem mais rapidamenteque a média estadual do setor. A VLD estárepresentada pela equação 6.

(6)

onde:VLD = Variação Liquida Diferencial da E.Ano 1 = 1993Ano 2 = 2003E = Consumo de energia elétrica por setor.

Assim, a VLD positiva indica os seto-res mais especializados de cada município.Essa especialização é explicada pela existên-cia de economias de aglomeração de cadamunicípio, resultante de um conjunto de ele-mentos que favorecem o crescimento muni-cipal, ou seja, possuem vantagens locacionais

Page 29: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

29Fatores locais e estruturais na dinâmica setorial dos municípios lindeiros ao lago dashidrelétricas de Salto Caxias e Itaipu

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

com respeito a cada setor (PIACENTI eFERRERA DE LIMA, 2002).

Já, o efeito estrutural (VLE) reflete acomposição regional da ocupação, concentra-da em setores economicamente dinâmicos. AVLE está representada pela equação 7.

(7)

onde:VLE = Variação Liquida Estrutural da E.Ano 1 = 1993Ano 2 = 2003E = Consumo de energia elétrica por setor.

Dessa forma, uma VLE positiva indi-ca uma concentração da estrutura de con-sumo de energia do município em setores dealto dinamismo, enquanto a VLE negativa

indica uma economia baseada em setoresnão-dinâmicos (LAMARCHE, SRINATH eRAY, 2003).

3 Aplicação Do Método Estrutural-Diferencial para os municípios da regiãode Salto Caxias no sudoeste do Paraná

Conforme exposto na metodologia, omodelo diferencial-estrutural é uma méto-do estatístico-descritivo e auxilia na compre-ensão da dinâmica setorial, ao indicar os se-tores responsáveis por essa dinâmica. NaFigura 1 são apresentados os índices de Va-riação Líquida Total (VLT) que mostram adiferença entre o crescimento real do consu-mo de energia dos municípios e aquele queeles teriam se crescessem na mesma propor-ção do Estado.

Figura 1. Variação Liquida Total (VLT) positiva dos municípios da região de Salto Caxias nosudoeste do Paraná - 1993/2003

Page 30: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

30 Jandir F. de Lima; Lucir R. Alves; Moacir Piffer; Carlos Alberto Piacenti

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Pela Figura 1 verificou-se que o setorsecundário foi significativo em todos os mu-nicípios da região de Salto Caxias, com des-taque para os municípios de Quedas doIguaçu e Capitão Leônidas Marques, poisapresentaram os maiores valores. São essesmunicípios que concentram a maior parcelado consumo de energia da região. Semcontar que no saldo dos efeitos estruturais ediferenciais estes dois municípios saemganhando. Em particular, Capitão LeônidasMarques tem sua dinâmica setorial mais“equilibrada”. Tanto que os setores resi-dencial, terciário e secundário possuem umamagnitude semelhante na VLT. O mesmoacontece em Boa Esperança do Iguaçu, mascom uma magnitude menor. O perfil totalda dinâmica setorial desses municípios ocor-

re de forma bem associada. A expansão doconsumo de um setor, em função do seu cres-cimento, gera encadeamentos que estimulamoutros setores. Em segundo e terceiro lugarna VLT vem o setor rural, com destaque paraos municípios de Salto do Lontra e Cruzeirodo Iguaçu, respectivamente. Vale salientarque a variação liquida total apresenta o re-sultado final dos fatores locais e estruturais.Por isso, resta analisar ambos de formadesagregada para traçar um perfil mais pre-ciso da dinâmica de cada município.

Essa informação é complementadacom alguns dados sobre a estruturaocupacional e o dinamismo setorial dos mu-nicípios da região, que pode ser observadona Variação Líquida Estrutural (VLE).

Figura 2. Variação Liquida Estrutural (VLE) positiva dos municípios da região de SaltoCaxias no sudoeste do Paraná - 1993/2003

Page 31: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

31Fatores locais e estruturais na dinâmica setorial dos municípios lindeiros ao lago dashidrelétricas de Salto Caxias e Itaipu

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Pela Figura 2 verifica-se que os setoresmais dinâmicos no consumo de energia elé-trica da região de Salto Caxias foram somen-te os setores terciário e rural. Eles foram osúnicos que apresentaram valores positivosno período de 1993 a 2003.

Num contexto geral, não há uma con-centração significativa do consumo de energiaem setores de alto dinamismo que dependemda economia regional como um todo. Apenas

os setores rural e terciário demonstraram umamagnitude na VLE. No entanto, essa magni-tude é homogênea em toda região, com valo-res pouco significativos. No contexto dos efei-tos estruturais, a região de Salto Caxias nãoapresenta municípios de destaque. Assim,aparentemente, são os fatores locais que im-pulsionam a região de Salto Caxias. Para com-provar essa possibilidade a Figura 3 mostraos resultados da variação líquida diferencial.

Figura 3. Variação Liquida Diferencial (VLD) positiva dos municípios da região de SaltoCaxias no sudoeste do Paraná - 1993/2003

Pela Figura 3 notou-se que os setoresmais especializados de cada município, ouseja, os setores que se expandiram mais ra-pidamente que a média estadual, em fun-ção de fatores locais, foram o secundário, orural e o setor público. Vale salientar que ossetores secundário e público foram maisespecializados no município de Quedas do

Iguaçu. Dessa forma esses resultados de-monstram a posição estratégica desse muni-cípio junto a sua periferia, principalmenteno fornecimento de alguns serviços bancá-rios e públicos localizados na sua sede e oporte de alguns investimentos industriais,como a industrialização de celulose e papel.As atividades industriais têm um papel

Page 32: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

32 Jandir F. de Lima; Lucir R. Alves; Moacir Piffer; Carlos Alberto Piacenti

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

importante no município e causam um im-pacto no seu entorno.

O município de Capitão LeônidasMarques apresentou uma transferência noconsumo da energia para outros setores,como o residencial e o terciário (comércio).Geralmente, as economias que estão em pro-cesso de crescimento tendem a aumentar aparticipação do setor terciário no decorrerdo tempo. Esse processo começa com umaalta participação da agricultura, que é subs-tituída pela indústria e depois pelo comércioe serviços, marcando uma ruptura estruturalque dinamiza as economias locais. Esse fatoé um elemento predominante em toda a re-gião e indica também uma certa moderni-zação da economia local. Nesse sentido, BoaEsperança do Iguaçu, Cruzeiro do Iguaçu,Salto do Lontra e Três Barras do Paraná ain-da tem na agricultura um peso altamenteimportante, mas “caminham” para umaruptura estrutural na sua base produtiva.

Portanto, no contexto geral, os municí-pios da região de Salto Caxias são dinamiza-dos por fatores locais. As exceções ficam porconta de Nova Prata do Iguaçu e Boa Espe-rança do Iguaçu cuja magnitude do VLD eVLE encontram-se num patamar equivalente.Essas economias são dinamizadas tanto porfatores locais como pelo movimento da econo-mia regional, ou seja, por fatores estruturais.

4 Aplicação do Método de AnáliseEstrutural-Diferencial para os municípiosda região de Itaipu no oeste do Paraná

A seguir, são apresentados os resulta-dos da análise diferencial-estrutural para osmunicípios lindeiros ao lago da Hidroelétricade Itaipu. Na Figura 4 os resultados da Va-riação Liquida Total (VLT) para esses muni-cípios apontam o “peso” significativo dosmunicípios de Marechal Cândido Rondon,Medianeira, Santa Terezinha de Itaipu eItaipulândia na economia regional.

Figura 4. Variação Liquida Total (VLT) positiva dos municípios da região de Itaipu no oestedo Paraná - 1993/2003

Page 33: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

33Fatores locais e estruturais na dinâmica setorial dos municípios lindeiros ao lago dashidrelétricas de Salto Caxias e Itaipu

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Observou-se pela VLT, que o municí-pio que apresentou valores positivos em to-dos os setores foi Itaipulândia, ou seja, apre-sentou um crescimento no consumo de ener-gia bem acima da média do Paraná. Ao con-trário, o município que não conseguiu acom-panhar a média de consumo do Estado, ouseja, não apresentou nenhum valor positivo,foi Foz do Iguaçu. Nesse aspecto, Foz doIguaçu apresenta-se como um enclave, ouseja, sua dinâmica diferencia-se dos municí-pios do seu entorno. Essa particularidade deFoz do Iguaçu já foi demonstrada em outrosestudos setoriais de Ferrera de Lima et al.(2005, 2005a). A economia local de Foz doIguaçu distinguisse do Oeste paranaense emfunção das atividades terciárias e da produ-ção de energia. Esse município possui umadinâmica autônoma e diferenciada no con-texto regional.

O setor que apresentou maior númerode valores negativos foi o setor rural. Umfator contribuinte para estes índicesnegativos foi a perda de população na área

rural e a melhoria nos setores secundário eterciário, no que toca a participação no PIB(PIACENTI et al., 2002). Tanto que o setorresidencial mostra-se mais expressivo que osetor rural, o que demonstra o avanço daurbanização regional. Vale destacar no setorrural a mecanização das áreas agricultáveise a utilização de combustíveis fósseis, o queimpacta no consumo de energia elétrica.

Os setores que tiveram o maior núme-ro de índices positivos foram o setor secun-dário e o setor público. O setor secundárioobteve com os maiores valores na maioriados municípios, em especial Itaipulândia,Santa Terezinha de Itaipu, Marechal Cân-dido Rondon, Medianeira, Santa Helena eGuaíra. Nesses municípios a VLT foi maissignificativa, ou seja, a concentração do con-sumo de energia industrial se localiza, prin-cipalmente, nesses municípios.

No entanto, apesar da melhoria geraldo setor secundário, estruturalmente ele ain-da não é o setor dinamizador da economialocal. Isso pode ser observado pela Figura 5.

Figura 5. Variação Líquida Estrutural (VLE) positiva dos municípios da região de Itaipu nooeste do Paraná - 1993/2003

Page 34: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

34 Jandir F. de Lima; Lucir R. Alves; Moacir Piffer; Carlos Alberto Piacenti

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Somente os setores terciário e rural apre-sentaram índices positivos no tocante ao as-pecto estrutural, ou seja, tiveram um consu-mo de energia acima da média do Paraná. Aoconfrontar-se a Figura 5 com a Figura 4, nota-se que os fatores estruturais tornaram o setorterciário bastante expressivo nos municípiosdessa região. Isso reflete uma mudança estru-tural da economia, característica das regiõesque começam a atingir a maturidade econô-mica, onde o setor terciário (comércio), passaa ter uma participação cada vez mais impor-tante na geração de emprego e renda em detri-mentos das atividades primárias. No caso daVLE positiva, isso significa que apesar da trans-ferência de energia de um para o outro os seto-res terciário e rural acompanham a dinâmicada economia regional. Além disso, no caso dosmunicípios de Terra Roxa, Mercedes, PatoBragado, Entre Rios do Oeste, Santa Helena,Missal, Itaipulândia, Diamante do Oeste e SãoJosé das Palmeiras a dinâmica da VLE nessessetores (terciário e rural) são equivalentes.Dentre os municípios, se destacam nesse setor(terciário), Foz do Iguaçu, Medianeira, Guaírae São Miguel do Iguaçu. Já, o setor primário(rural) ainda possui participação significativa

na economia local desses municípios, poisapresentou valores positivos para toda região.

Os setores residencial e secundárioapresentaram somente valores negativos. Osvalores negativos indicam que as manufatu-ras locais não têm um perfil de crescimentorápido. No caso do setor secundário, esse re-sultado reflete o perfil do parque agroin-dustrial da região instalado recentemente emalguns municípios, cujos efeitos se fazem sen-tir num horizonte de cinco a dez anos. Mes-mo assim, ele não deixa de ser responsávelpela melhoria de outros setores, que se dina-mizam com a renda gerada no setor secun-dário. Da mesma forma, a falta de dinamis-mo no setor secundário tem impacto no setorresidencial, ou seja, no consumo das famílias.Os setores mais dinâmicos, geralmente se be-neficiam de fatores essencialmente locais,como a melhoria na remuneração da mão-de-obra, na localização geográfica, namelhoria da exploração dos recursos naturais,etc. Assim, o consumo de energia em ambosos setores estão fortemente correlacionados.

O cálculo da Variação Líquida Dife-rencial (VLD), na Figura 6 auxilia na com-preensão dessa característica.

Figura 6. Variação Líquida Diferencial (VLD) positiva dos municípios da região de Itaipu nooeste do Paraná - 1993/2003

Fonte: Resultados da Pesquisa

Page 35: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

35Fatores locais e estruturais na dinâmica setorial dos municípios lindeiros ao lago dashidrelétricas de Salto Caxias e Itaipu

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Pela figura nota-se que Mercedes e SãoMiguel do Iguaçu possuem característicashomogêneas no tocante a dinamização dasua economia local. Destarte, tanto a regiãode Itaipu, quanto Salto Caxias possuem umelemento comum: os fatores diferenciais oulocais são os mais importantes no crescimentodos seus municípios. Observou-se queItaipulândia apresentou índices positivospara todos os setores. Isso demonstra umavanço na estrutura produtiva desse muni-cípio acarretado por fatores locais.Itaipulândia, Santa Terezinha de Itaipu,Marechal Cândido Rondon, Medianeira eGuaíra apresentaram os maiores valorespara a VLD, ou seja, esses municípios apre-sentam um grau de especialização local maisintenso em setores específicos se compara-dos aos demais.

Conclusão

Este artigo analisou, através do méto-do de análise estrutural-diferencial, o com-portamento do consumo de energia elétricasetorial dos municípios atingidos pelos reser-vatórios das hidroelétricas de Salto Caxias eItaipu. Nesse sentido, foram identificadosquais os fatores responsáveis pela dinâmicados municípios que compõem essas regiões.No caso dessa análise, esses fatores são locaisou estruturais.

Na região de Salto Caxias está ocorren-do uma concentração do consumo de ener-gia nas atividades produtivas localizados nosextremos da região. A dinâmica mais signifi-cativa foi para os municípios de CapitãoLeônidas Marques e Quedas do Iguaçu. Ape-sar de todos os setores estarem em crescimen-to, o setor secundário foi o que apresentoumaior dinamismo no período de análise. Naregião dos municípios lindeiros ao lago dahidroelétrica de Itaipu a dinâmica setorial éum pouco mais espacializada. No entanto,cinco dos quinze municípios analisados con-centram mais significativamente o consumode energia setorial. Assim, o crescimento eco-nômico dos últimos anos, confirmado pelaexpansão do consumo de energia elétrica, estáreforçando a economia dos municípios loca-lizados na “borda” do espaço regional.

Os resultados da análise estatístico-descritiva confirmaram que os fatores locais

ou diferenciais são os mais importantes nocrescimento do consumo de energia nas re-giões analisadas. No caso da região de Itaipu,os municípios de Itaipulândia e SantaTerezinha de Itaipu apresentam uma estru-tura mais diversificada estimuladas pelosfatores locais. Enquanto nos municípios deGuaíra, Terra Roxa, Marechal CândidoRondon, Medianeira, Pato Bragado e Missalo setor secundário é o “carro chefe” da eco-nomia local. Ns outros municípios dessa re-gião o setor mais significativo é o terciário.

Da mesma forma, na região de SaltoCaxias os fatores locais têm um peso signifi-cativo na dinâmica do setor secundário domunicípio de Quedas do Iguaçu, que possuiuma estrutura produtiva mais especializada.No município de Capitão Leônidas Marquesa estrutura produtiva é mais diversificada.Esses dois municípios são os mais dinâmicosna região e localizam-se nos seus extremos.

Deve-se salientar que os resultados daanálise apontaram uma correlação expressi-va do consumo de energia no setor residen-cial e secundário. Essa correlação é explicadapelos encadeamentos produtivos setoriaisgerados pelo processo de crescimento eco-nômico. A dinâmica da industrialização temum impacto direto sobre a renda das famíliasque, por sua vez, a transfere em consumopara outros setores, no caso o terciário. Nogeral, a melhoria na renda é acompanhadade um aumento na propensão a consumir,como os bens duráveis e semi-duráveis, o queexplica o aumento no consumo de energiaresidencial.

Portanto, a análise proposta nesse ar-tigo possibilitou o conhecimento dos fatoresresponsáveis pela dinâmica do consumo deenergia elétrica setorial. Da mesma forma,essa análise forneceu elementos importan-tes para a compreensão do padrão de locali-zação do crescimento do consumo de ener-gia elétrica das regiões de estudo. Nesse pa-drão de localização, os fatores locais foramos mais significativos na dinâmica regional.Esse resultado vem reforçar o papel das po-líticas de desenvolvimento local. Como osfatores locais estão atrelados a dinâmicaparticular de um setor, que cresce indiferen-te a dinâmica do seu entorno, os resultadosdessa análise abre interrogações sobre os ra-mos de atividade responsáveis pela expansão

Page 36: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

36 Jandir F. de Lima; Lucir R. Alves; Moacir Piffer; Carlos Alberto Piacenti

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

dos municípios estudados e formas de ace-lerar seu dinamismo. Uma outra particula-ridade é a forma espacial da dinâmica dasregiões de estudo. Em ambas, os fatores lo-cais favorecem os municípios localizados nosextremos da região, enquanto os municípioslocalizados no centro continuam com umpadrão de crescimento aquém do esperado.Os municípios localizados no centro deambas as regiões são drenados, o que deman-da políticas públicas particulares de estímu-lo, tais como a diversificação da infra-estru-tura de transporte, educação e de serviçospúblicos; programas diferenciados de estí-mulo a instalação de novos empreendimen-tos; programas específicos de formação pro-fissional; e estudos mais detalhados so-bre a economia local.

Referências

EL BEKRI, Fethi. Disparités régionales et développementen Tunisie. In : Revue d’Économie Urbaine et Régionale(RERU), v. 5, p. 877-914, 2000.

FERRERA DE LIMA, J. et al. A produção agropecuárianos municípios lindeiros ao lago de Itaipu: notas depesquisa. In: Perspectiva. Erechim, v. 29, n. 106, p. 103-113, jun. 2005.

_____. O continuum setorial regional dos municípiosda mesorregião Oeste paranaense. In: CONGRESSOBRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL(SOBER), Ribeirão Preto, Anais... Ribeirão Preto: SOBER,

2005a. 1 CD-ROM.

HADDAD, J. H. (Org.). Economia regional: teoria emétodos de análise. Fortaleza: BNB/ETIENE, 1989.

LAMARCHE, R. H.; SRINATH, K. P.; RAY, D. M. Correctpartitioning of regional growth rates: improvementsin shift-sh, are theory. In: Canadian Journal of RegionalScience. XXVI, 1, p. 121-141, Spring, 2003.

LAZIER, H. Análise histórica da posse de terra no Sudoesteparanaense. Curitiba: SECE/BPP. 18 ed. 1986.

PIACENTI, C. A.; FERRERA DE LIMA, J. (Coord.).Análise do impacto dos reservatórios das hidroelétricas nodesenvolvimento econômico microrregional. Toledo:UNIOESTE/Campus de Toledo/CCSA/Curso deCiências Econômicas. maio/2001 /maio/2002. 266 p.(UNIOESTE/Campus de Toledo/Fundação Araucária.Projeto 612.) Projeto concluído.

PIACENTI, C. A. et al. Apontamentos Sobre a Economiados Municípios Atingidos Pelas Hidrelétricas de SaltoCaxias e Itaipu Binacional. In: Revista Paranaense deDesenvolvimento. n. 104, jan./jun. 2003.

PIACENTI, C. A. et al. Notes sur la dualité dansl´agriculture de la région de Salto Caxias dans l´Ouestdu Paraná au Sud du Brésil. Actas du 38o. Colloque del´Association de Science Régional de la Langue Française(ASRDLF), Trois Rivières, Québec (Canadá), ASRDLF,2002. Disponível em: <http://asrdlf.montesquieu.u-bordeaux.fr/>. Acesso em: 28 jul. 2002.

PIFFER, M. A Dinâmica do Oeste Paranaense: sua inserçãona economia nacional. Curitiba, 1997. 200 f. Dissertação(Mestrado em Desenvolvimento Econômico) -Universidade Estadual do Paraná.

Page 37: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Contas sociais alfa (csααααα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para aconfiguração macro-estrutural de economias locais

Ascending social accounting (csα) – A Methodological approach to macro-structural configuration of local economies

Comptes sociaux alfa (csααααα) – Une Méthodologie de calcul pour la configurationmacro-structurelle des économies locales

Cuenta sociales alfa (csα) – Una metodología de cálculo ascendiente para la configuraciónmacro estructural de economías locales

Francisco de Assis Costa*

Recebido em 11/08/2005; revisado e aprovado em 31/01/2006; aceito em 07/02/2006

Resumo: O artigo apresenta uma metodologia de cálculo direto e ascendente de matrizes de insumo-produto deLeontief e a aplica para 16 municípios polarizados por Marabá, no Sudeste Paraense por diversas trajetórias deagregação, orientadas tanto em função de delimitações geográficas (microrregião, município, conjunto de municípiosagrupados por qualquer critério, etc.), quanto em decorrência da consideração de atributos estruturais da produçãocomo formas de produção. Utilizando indexadores produzidos a partir das estatísticas da pam fornecidas peloIBGE, faz uma atualização das contas até 2000. Os resultados obtidos permitem avaliar a extensão e peso dadinâmica da economia de base agrária em Marabá, demonstrando seus fundamentos e dificuldades. Ressaltam-seuma análise de dinâmica espacial – que reflete o caráter extensivo no uso de terras e recursos naturais – e uma análiseparcial dos multiplicadores da economia que refletem sua dinamicidade limitada e sua baixa capacidade de internalizarlocalmente seus efeitos.Palavras-Chave: Amazônia; economia regional; contas sociais regionais; economias locais; economias agrárias.

Abstract: The article presents a methodology of direct and ascending input-output accounting of Leontief’s matricesand applies it for 16 municipal districts polarized by Marabá city, in the Sudwest of Pará. Several aggregation weremade, guided by geographical areas and by structural attributes of the production like production forms as well.Using index produced from the statistics of PAM supplied by the IBGE were bilded time series up to year 2000. Theobtained results allow to evaluate the extension and weight of the agrarian economy polarized by Marabá and itsdynamics, demonstrating besides its foundations and difficulties. It is remarkable a spacial - that reflects theextensive character in the use of lands and natural resources - and a multipliers analysis of the economy that reflectsits limited dynamic and low capacity to retain locally the effects of a growth.Key words: Amazon Region; regional economics; regional social accounting; local economies; agrarian aconomies.

Résumé: cet article présente une méthodologie de calcul directe et ascendante de matrices intrants-produits deleontief et l’applique à 16 municipalités polarisées autour de marabá, dans le sud-est de l’état du pará – brésil, pourdifférentes trajectoires d’agrégation, orientées tant en fonction des limites géographiques (microrégion, municipalités,groupements de municipalités, etc.), qu’en fonction d’attributs structurels de production comme formes de production.a partir de l’utilisation d’indexeurs produits à partir de statistiques fournis par l’ibge, la recherche fait une actualisationdes comptes jusqu’à 2000. les résultats obtenus permettent l’évaluation de l’étendue et du poids de la dynamique del’économie de base agricole à marabá, démontrant ses fondements et difficultés. il en ressort une analyse de ladynamique spatiale – qui reflète le caractère extensif de l’utilisation des terres et ressources naturelles – e une analysepartielle des multiplicateurs de l’économie qui reflètent son dynamisme limité et as faible capacité d’internaliserlocalement ses effets.Mots-clefs: Amazonie; économie régional; comptes sociaux régionaux; économies locales; économies rurales.

Resumen: El artículo presenta una metodología de cálculo directo y ascendiente de matrices de insumo, producto deLeontief y la aplica a 16 municipios polarizados por Marabá, en sudeste paraense por diversas trayectorias deagregación, orientadas tanto en función de delimitaciones geográficas (microrregión, municipio, conjunto de municipiosagrupados por cualquier criterio, etc.), como en decurrencia de la consideración de atributos estructurales de laproducción como formas de producción. Utilizando indexadores producidos a partir de las estadísticas de la PAMsuministradas por IBGE hace una actualización de las cuentas hasta 2000. Los resultados logrados permiten evaluarla extensión y peso de la dinámica de la economía de base agraria en Marabá, demostrando sus fundamentos ydificultades. Se resaltan un análisis de dinámica espacial que refleja el carácter extensivamente en el uso de tierras yrecursos naturales y un análisis parcial de los multiplicadores de la economía que reflejan su dinamismo limitada ysu baja capacidad de injerir localmente sus efectos.Palabras claves: Amazonia; economía regional; cuentas sociales regionales; economías locales; economías agrarias.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 37-68, Mar. 2006.

* Doutor em Economia pela Frei Universität Berlin – Alemanha, Professor e Pesquisador do Núcleo de AltosEstudos Amazônicos – NAEA da Universidade Federal do Pará – UFPa .Campus Universitário do Guamá -Setor Profissional. Rua Augusto Corrêa, n. 1 CEP: 66.075-900 - Belém-PA. Tel: 9132017237([email protected]).

Page 38: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

38 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

1 Introdução

A visualização macroeconômica daseconomias locais tem sido um problema nagestão pública para o desenvolvimento. Quecontribuição traz, por exemplo, a produçãorural de um dado pólo sub-regional para arenda social local e extra-local – estadual enacional? Qual o Valor Bruto da Produção(VBP), o Produto Regional Bruto (PRB) ou oValor Adicionado Bruto (VAB) da respecti-va produção de base agrária (α) – i.e. queenvolve a obtenção, a comercialização e oprocessamento da produção rural? Qual acontribuição particular das estruturas pro-dutivas com presença relevante naquela re-gião na formação desse Produto ou ValorAdicionado? Quais as participações dos di-versos atores que atuam nessa economia naapropriação dessas grandezas? Quais as ten-dências verificáveis na composição dessasvariáveis? Quais as estruturas de interme-diação na formação dessas grandezas? O quese exporta, o que se retém na economia local?O que se forma de capital?

Estas são perguntas próprias à discus-são em geral do desenvolvimento, com gran-de significado para a pespectiva regional elocal desse processo desde as formulaçõespós-keynesianas de Hirschman (1964),Perroux (1965), Myrdal (1957) e Isard (1956e 1996). Mais recentemente, elas retomam ovigor a partir das abordagens que afirmama necessidade de arranjos institucionais degovernança consolidada em bases locais(Schmitz, H., 2005; Suzigan, Garcia, Furtado,2003). Esta tem sido uma perspectiva cadavez mais aceita, por argumentos que provêmtanto de autores associados às abordagensdo desenvolvimento endógeno, comoKrugman (1998, 1996, 1991) e Arthur (1994),que se mantêm associados ao individualismometodológico próprio da escola neoclássica,como também de autores de orientaçãoestruturalista, em particular os ligados àEscola Francesa da Regulação, como Benkoe Lipietz (1995) e Gilly e Pecquer (1995). Háuma convergência, nesse campo, bem ilus-trada na obra de Porter (1998), para a qualmuito tem contribuído desde o instituciona-lismo de Williamson (1985), até o cultu-ralismo político de Coleman (1990) ePuttman (1996).

Confluente a isso, vertentes neoschum-peterianas vêm apontando para a dimensãoespacial e sistêmica do desenvolvimento,enfatizando seus componentes cognitivos eculturais associados aos arranjos e sistemasprodutivos locais - às interações sistêmicasentre as redes horizontais e verticais que seformam entre agentes econômicos einstitucionais na obtenção dos elementos dareprodução social (Cassiolado e Lastres,2003; Lastres, Cassiolado, Arroio, 2005;Costa, 2004).

Em termos práticas, observam-se hoje,no Brasil, rearranjos nas formas como os ór-gãos de desenvolvimento vêm organizandosuas ações. A busca de aproximação e diá-logo com os diversos atores que fazem asociedade e a economia locais que vem sen-do conduzida pelo Banco da Amazônia S.A.(BASA), sobretudo na gestão do FundoConstitucional de Desenvolvimento do Norte(FNO), e pelo Banco do Nordeste do BrasilS.A. (BNB) – este com uma metodologia pró-prio sistematizada no Programa Farol doDesenvolvimento -, além dos ensaios doPrograma Nacional de Agricultura Familiar(PRONAF), e, nas suas inserções sociais, dopróprio Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES), orientam açõesimportantes com o mesmo escopo. Merecedestaque, ainda aqui, o processo que estágerando um inovador programa de créditocom consideração fundamental às questõesambientais, o PROAMBIENTE, bem como oempenho do SEBRAE em promoção deArranjos Produtivos (Caparoli e Volker,2004). Trata-se de uma construção que in-corpora desde o início, tanto a necessidadede valorização de sistemas produtivos commaior esperança de sustentabilidade, quan-to a orientação a necessidades definidas lo-calmente, quanto, ainda, a integração insti-tucional tanto na configuração estratégica,quanto no acompanhamento e controle doPrograma. Mencione-se, ademais, os esfor-ços do Agência de Desenvolvimento daAmazônia (ADA) em estabelecer relaçõessistemáticas com arranjos produtivos locaise conduzir pactos territoriais de desenvolvi-mento (Costa, 2004; Costa, 2005a).

Essas menções ilustram uma mudan-ça mais ampla no padrão das relações entreas instituições do Estado e, no interior deste,

Page 39: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

39Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

entre as suas instâncias federal, estadual emunicipal, e a sociedade civil, em andamen-to desde a promulgação da ConstituiçãoFederal de 1988. Ensejou-se, com a nova Car-ta Magna, um processo que atribui às ins-tâncias locais crescente responsabilidade eautonomia de gestão na alocação dos recur-sos tributários com vistas ao desenvolvimentoregional. Em tais contextos, torna-se pre-mente uma leitura de conjunto das diversasposições dos atores e dos resultados sociais(é dizer, globais, agregados) de suas açõespara que decisões para o desenvolvimento,de alcance transcendente, possam ser toma-das. Fortalece-se, assim, cada vez mais, anecessidade de indicadores atualizados so-bre a realidade sócio-econômica regional.

Não obstante, respostas para aquelasque seriam indagações primárias na orien-tação do desenvolvimento de uma regiãoqualquer não estão normalmente disponí-veis. Os resultados obtidos pelo InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),a partir da produção, desde 1999, das suasContas Regionais do Brasil, e mesma as maisrecentes Contas Municipais não permitemesses cálculos, visto que baseiam-se em umametodologia que consegue apenas chegar aestimativas de VBP, VAB e PIB(des)agregados por unidades federativas, oumunicípio, sem ensejar qualquer delimitaçãoestrutural interna (IBGE, 2001 e 2004). Ade-mais, privilegiando as bases de dados quepermitam compatibilização em nível nacio-nal, as Contas Regionais do IBGE tem seustart point nos censos econômicos de 1985,não absorvendo as informações estruturaisdo Censo Agropecuário de 1995-96. Para asregiões caracterizadas por forte ritmo demudanças substantivas, como é o caso devastas áreas do Estado do Pará, muito parti-cularmente a área que adiante se delimitarácomo Pólo Marabá, tal procedimento trazperdas irreparáveis para o conhecimento darealidade econômica e social.

Por seu turno, tanto os ensaios patro-cinados pelo IPEA (Vergolino e Monteiro,1996) quanto a proposta de Grocomo eGuilhoto (1998), com vistas a uma projeçãomicrorregional do PIB, uma vez que “rateio”pelas microrregiões dos valores agregados emnível estadual, com base em pesos estabele-cidos a partir de um conjunto limitado de

variáveis (e na forma de estabelecimentodestes pesos dá-se a diferença entre as pro-postas), não permitem ilações estatísticas dasua relação com variáveis estruturais queexpressem as especificidades locais. Comoindicam Considera et alii (1997, p. 7), paraque tais procedimentos de cálculo descen-dente sejam legítimos é necessário que asregiões sejam bastante homogêneas, “(...) deforma a se obterem funções de produçãocompatíveis com a realida econômica emtela”. Não sendo este o caso, tais números,para as realidades locais, são uma abstraçãode poucos fundamentos – uma pálida indi-cação das tendências apontadas pelas estima-ções conjunturais do IBGE, como aquelas dasérie Produção Agrícola Municipal (PAM).

Enfim, nenhum desses modelos permi-te resposta dinâmica a uma questão recor-rente quando se trata de ações de desenvol-vimento, sobretudo daquelas associadas aagentes difusos e arranjos produtivos locais,como é o caso dos Fundos Constitucionaisde desenvolvimento regional em geral, e pro-gramas como o PROAMBIENTE e PRONAFem particular: que tipo de impacto aquelaação produziu nas variáveis macroeco-nômicas, no Valor Agregado, no ProdutoInterno Bruto, no Valor Bruto da Produçãode um município, de uma região, de um Es-tado? O que se pode dizer a respeito dos seusefeitos, também nesse nível, ao longo do tem-po? Eles tendem a ampliar-se? Eles tendema refluir? Eles produzem um ciclo? Qual aextensão temporal deste?

A metodologia que se apresentará per-mite resposta a essas questões, com flexibili-dade suficiente para focar com relativa faci-lidade conjuntos de agentes específicos emsubdivisões e agregações regionais a delimi-tar. Para isso, encara de frente os problemasde uma contabilidade social ascendente noque se refere à produção de base rural ou agrá-ria: isto é, aquela produção que engloba, alémda produção rural propriamente dita, as ativi-dades na indústria e nos serviços urbanos cujoobjeto provém do setor de produção animal evegetal. Trata-se de um modelo de cálculoda renda e do produto social de base agrá-ria que pode produzir séries temporaisatualizadas das variáveis Valor Bruto daProdução de Base Agrária (VBPα), ValorAgregado Bruto de Base Agrária (VABα) e

Page 40: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

40 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Produto Regional Bruto1 de Base Agrária(PRBα), além das matrizes das interrelaçõesintersetoriais que as fundamentam, por umametodologia que, maximizando a utilizaçãodos dados do IBGE, tanto os do CensoAgropecuário de 1995-96, quanto os da Pro-dução Agrícola Municipal (PAM), e associ-ando-os a dados de pesquisa primária, tri-lha o caminho inverso ao dos autores acimacitados permitindo, assim, agregações asmais variadas, orientadas tanto por atribu-tos geográficos, quanto por atributos estru-turais do setor.

As ferramentas principais para obten-ção destas grandezas são matrizes deinsumo-produto de tipo Leontief (1951a).Incorpora-se, também as contribuições deIsard (1951) para considerar diferentes sis-temas geograficamente delimitados. Sobreisso discorreremos sumariamente na seção2 do artigo.O leitor notará, nesse ponto, queo interesse é maior de dar uma demonstra-ção do poder da metodologia, do que fazeras discussões substantivas que aqueles resul-tados suscitam.

2 O Modelo das Contas Sociais Alfa -CSααααα

Os Esquemas de Leontief (Leontief,1971; Figueiredo, 1975; Haddad, Ferreira eBoisier, 1989) permitem visualizar de formaestruturada as conexões de uma economiade k produtos e m agentes ou setores emdada unidade político-administrava ou geo-gráfica. Eles se aplicam para observar as rela-ções que se produzem na formação de Y glo-bal, ou da parcela de Y derivada de um únicoproduto, de modo que permitem a estru-turação da contabilidade social de uma eco-nomia operada como o resultado da agre-gação da formação da oferta e geração derenda associada a cada um dos k produtosque a compõem.

Em qualquer dos casos, para a estru-turação de contas o modelo opera a partirda inter-relação entre cinco tipos de matri-zes: a matriz de relações intermediárias oude demanda endógena do sistema produti-vo (Xij), um vetor-coluna de demanda finalou autônoma (Xi), um vetor-coluna de Va-lor Bruto da Produção (Yi), tal queYi = Xi + ∑Xij, variando j de 1 ao número de

setores do sistema produtivo. Um vetor-li-nha Valor Adicionado (VAj) e outro vetor-linha de Renda Bruta (Yj), tal queYj = VAj + ∑Xij, i variando de 1 ao númerode setores do sistema produtivo.

Cada Xij é resultado do produto daquantidade q transacionada entre o agenteou setor i com o agente ou setor j e do preçop verificado nas intermediações respectivas.De modo que

ijijij pqX .= (1)Ademais, cada linha i registra os valores dasvendas do agente i para todos os outrosagentes produtivos e para os consumidoresfinais; cada coluna j registra as compras dosetor ou agente j, sendo seu somatório o va-lor dos insumos por ele requeridos. Isto pos-to, é possível calcular os demais elementos domodelo, dados os valores Xij e Xi. Pois, vistoser

∑=

+=n

jii XijXY

1(2)

então

∑=

−=n

iijij XXVA

1(3)

j

n

iijj VAXY +=∑

=1(4)

∑∑∑== =

+=n

ii

n

i

n

jiij XXX

11 1(5)

∑∑ ∑= = =

+=n

j

n

i

n

jjVAXijY

1 1 1(6)

tal que X = Y, sendo X o Valor Bruto da Pro-dução Total, Y a Renda Bruta Total.

O modelo para n agentes em uma eco-nomia pode ser igualmente aplicado paraagregados desses agentes por atributos geo-gráficos (regiões) ou estruturais (setores). Sedemonstra igualmente a possibilidade dedesagregação tanto da Demanda Final (do-méstica e resto do mundo, por exemplo)quanto do Valor Agregado (salários, lucrose renda) (Leontief, 1951b, 1963 e 1995; Isard,1951; Guilhoto, Sonis e Hewings, 1996;Crocomo e Guilhoto,1998; Haddad, 1989a,p. 338-340).

Page 41: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

41Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

2.1 Um modelo empírico para acontabilidade de economias regionaise locais de base agrária

Pelo exposto, obter-se-ia toda a conta-bilidade social de uma economia de k pro-dutos cujos fluxos fazem-se por n agentesagrupados em m+1 posições no sistema pro-dutivo e distributivo, em que a m+1-ésimaposição é a do Demanda Final, pela equação

∑∑∑=

+

= =

=m

i

m

j

k

vijvijvij pqX

1

1

1 1

. (7)

em que v é o produto, j o setor que ocompra e i o setor que o vende.

E, se se faz vigorar g atributos geográ-ficos e e atributos estruturais, a equação (7)seria, então, resultado da agregação de umnúmero g.e de sub-matrizes, cada uma delascomposta por

∑∑∑∑∑= = =

+

= =

=g

s

e

r

m

i

m

j

k

vsrijvsrijvsrij pqX

1 1 1

1

1 1

. (8)

em que r seria o atributo estrutural(camponeses, fazendas e empresas, porexemplo) e s o atributo geográfico (SudesteParaense subdivido em Pólo Marabá e Extra-Pólo Marabá, por exemplo, ou subdivididopor isopotenciais ou, ainda, por município).

Os elementos das matrizes de totali-zação para os atributos geográficos seriam

∑∑∑∑= =

+

= =

=g

s

m

i

m

j

e

rrijsij XX

1 1

1

1 1(9)

e, para os atributos estruturais, seriam

∑∑∑∑= =

+

= =

=e

r

m

i

m

j

g

ssijrij XX

1 1

1

1 1(10)

culminando-se com uma matriztotalizadora do conjunto, cujos elementosseriam

∑∑∑∑∑∑=

+

= ==

+

= =

==m

i

m

j

e

ssij

m

i

m

j

g

rrijij XXX

1

1

1 11

1

1 1 (11)

Estas são as equações básicas do mo-delo empírico CSα. A partir delas, as gran-dezas descritas nas equações (2) a (6) podemser encontradas para cada totalização par-

cial por atributos e para o total dos atributos.

2.2 O Algoritmo computacional

Obtem-se os valores das matrizes des-critas pela equação (7) por um modelo queopera cinco tipos de matrizes empíricas: asque contêm os atributos geográficos e estru-turais dos casos; as que contêm os dados deprodução e preço pago ao produtor, por pro-duto; as que contêm os dados que descre-vem as relações insumo-transações-produto,por produto; as que descrevem a estruturade formação dos preços na matriz deinsumo-transações-produto, por produto; eas que contêm os dados conjunturais queinformam as tendências de produção e pre-ços, por produto.

Para construir essas matrizes e operá-las (pelo sistema de computação Netz, de-senvolvido no Núcleo de Altos Estudos Ama-zônicos entre 1995 e 2000 – conf. Costa,2002), contudo, resolveram-se problemasconceituais e operacionais relativos, no pri-meiro caso, aos atributos espaciais e estru-turais com os quais o modelo deverá operar;no segundo caso, aos algoritmos que resol-vam problemas de obtenção das variáveis dequantidade e preço e sua distribuição funci-onal e sua evolução temporal. São, portan-to, as questões seguintes que nos ocuparãonos próximos segmentos.a) Obtenção dos atributos “s”: os atributos

geográficos aos quais o modelo se refere(municípios, conjuntos de municípios, etc.).

b) Obtenção dos atributos “r”: os atributosestruturais (características dos modos deprodução, características dos sistemas,etc.) que fundamentam a estrutura pro-dutiva da economia.

c) Obtenção das quantidades básicas q:quanto do produto v foi transacionadopor agentes assentados em s sob condi-ção estrutural r?

d) Obtenção dos preços básicos p: a que pre-ço a quantidade q foi transacionadospelos agentes assentados em s sob condi-ção estrutural r – qual é a probabilidadeda distribuição dessa produção pelos di-versos pontos do sistemas econômico?

e) Obtenção da distribuição de q pelas posi-ções ij: que proporção de q foi transacio-nada pelos agentes ij?

Page 42: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

42 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

f) Obtenção das ocorrências de p pelas po-sições ij: a que preço cada q ij foitransacionado?

g) Obtenção dos valores dos inputs indus-triais;

h) Indexação, no tempo, dos valores dequantidade e preço.

2.2.1 A delimitação das aglomerações –especificação dos atributos “s” dasCSα

A referência geográfica das CSα podeser um município ou um agregado de muni-cípios. O município é o limite, dado ser amenor unidade espacial acessível nos dadosdipsonibilizados pelo IBGE. É possível deli-mitar, contudo, agregados de municípios pordiferentes critérios: ou por fronteiras estabe-lecidos políticamente – uma região adminis-trativa de governo, ou pela abrangência deuma certa organização sindical, ou pela es-fera de gestão de uma política pública, ouuma área de associação de municípios, etc, -ou, ainda, por análise econômica de confi-guração dos aglomerados. Esta última cons-tituiu a orientação utilizada para este artigo.

É fato empírico de notável recorrênciaque, tal como tem ocorrido nas sociedadescontemporâneas, o desenvolvimento é umprocesso que produz agrupamentos multi-cêntricos. Economistas regionais e geógrafos(Reilly, 1929 e Stewart, 1948) há tempos su-gerem uma descrição dessa multi-polarida-de através da relação entre duas únicas va-riáveis: a população dos lugares e a distân-cia entre eles. Por analogia à lei da gravitaçãouniversal, sugerem que os lugares se confor-mam em centros hierarquizados na razãodireta de suas populações, as quais tratamcomo as “massas” de um sistema gravita-cional, e inversa das respectivas distâncias2.Tal fórmula legitimou-se por oferecer umaleitura, por parcial que fosse, das configura-ções espaciais enquanto potencial hierárquicointuído na concentração da população, avariável a priori da existência social.

Aqui, utilizamos o resultado de umaanálise gravitacional feita para a região emestudo, utilizando como “massas” do campode forças os resultado de uma análise fatorial,cujo componente principal com maior poderexplicativo expressou a máxima convergên-

cia das variâncias dos indicadores empíricosdo capital produtivo, do valor da produçãoe da renda, do estágio da divisão do trabalho,do nível de capital humano, e do capital so-cial e do grau de desenvolvimento da urbani-dade de cada município (conf. Costa, 2005).

Apoiados naquela análise, chamamosaqui de Pólo Marabá ao todo articulado dosmunicípios de Parauapebas, São João doAraguaia, Itupiranga, São Domingos doAraguaia, Jacundá, Bom Jesus do Tocantins,Eldorado dos Carajás, Curionópolis, Rondondo Pará, São Geraldo do Araguaia, Tucuruí,Abel Figueiredo, Dom Eliseu, Brejo Grande,Xinguara, Goianésia do Pará e Breu Brancocom o município de Marabá e sua sede.

2.3 Os fundamentos estruturais queconformam as bases agrárias daeconomia em estudos - os atributos“r” nas CSα

As CSα trabalham com qualquer deli-mitação estrutural nas bases agrárias que sepossam estabelecer a partir das informaçõescensitárias que se dispõe. Para este artigo,explicitaram-se as três principais formas deprodução presentes no agrário da região,estabelecendo com isso uma distinção dosetor da produção rural de grande relevânciapara a compreensão dos fundamentos deúltima instância na dinâmica estruturadorada economia local do Pólo.

A produção rural na economia localem questão explica-se a partir do movimentointerno e das interações competitivas e coo-perativas entre três estruturas básicas e osatores que as gerem: a unidade de produçãocamponesa, a fazenda e a grande empresa lati-fundiária (Costa, 2000).

A unidade de produção camponesa carac-teriza-se por ter na família seu parâmetrodecisivo: seja como definidora das necessida-des reprodutivas, que estabelecem a extensãoe a intensidade do uso da capacidade de tra-balho de que dispõe, seja como determinanteno processo de apropriação de terras nassagas de fronteira. São camponesas aquelasfamílias que tendo acessa à terra e aos re-cursos naturais que esta suporta, resolvemseus problemas reprodutivos a partir da pro-dução rural – extrativa, agrícola e não-agrí-cola – desenvolvida de tal modo que não se

Page 43: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

43Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

diferencia o universo dos que decidem sobrea alocação do trabalho, dos que sobrevivemcom o resultado dessa alocação. Esta unida-de estrutural move-se por critérios orientadosdominantemente pela eficiência reprodutivado conjunto familiar, conforme noção já ex-planada antes em diversos momentos (sobre-tudo em Costa, 1995; Costa, 2000; Costa,2002). Sinteticamente, eficiência reprodutivaseria uma expressão formal da eficiência daunidade camponesa enquanto um micro-sis-tema orientado por uma racionalidade queprocura garantir um padrão de consumo,cultural e historicamente estabelecido, como mínimo de risco e o menor esforço possível.Associada a eficiência reprodutiva, como seuinverso, está a tensão reprodutiva – oorientador do investimento camponês. Se aeficiência reprodutiva cai, como resultadode um elevação relativa do esforço frente aoconsumo como resultado da elevação do ris-co (variação crescente no padrão de consu-mo), a razão decisória camponesa tende aexigir esforços para a mudança: adaptativae incremental, se a tensão é baixa e o siste-ma está próximo do equilíbrio (eficiênciareprodutiva tende a 1); radical, se a tensão éalta e o sistema está longe do equilíbrio (efi-ciência reprodutiva é muito baixa). Taiscaracterísticas fazem o sistema da produçãocamponesa evoluir por lógica própria, cujaspeculiaridades são teórica e praticamenterelevantes. Em geral, mas particularmentena Amazônia, tais especificidades resultamna diversidade das formas como o sistemase estabelece concretamente - os diferentesestados como se apresenta mediante especifi-cidades locacionais e culturais, refletindo asdisponibilidades tangíveis (elementos danatureza e infraestruturais) e intangíveis(institucionais e culturais) a isso associadas.Por outra parte, observando tais estados iso-ladamente, é peculiar, também, a diversida-de de componentes que os configuram.

O grande latifúndio empresarial3é umestabelecimento rural orientado por processodecisório no qual podem ser aplicados a ple-nitude dos critérios empresariais e capitalistapara a alocação eficiente, nessa perspectiva,das disponibilidades. O uso ou não uso da terrae dos recursos naturais sob sua égide, porexemplo, resulta de decisões que ponderam,com plena ou grande fluidez, a rentabilidademédia e o custo de oportunidade de aplica-ção do capital equivalente, do que faz partea análise sistemática entre possibilidadesatuais e futuras. Aqui, a propriedade ruralnada mais é que um item de portfolio, umativo que não se distingue, em essência, dosdemais componentes da carteira que orga-niza a reprodução de uma parcela de capi-tal. Os estabelecimentos com essas caracte-rísticas empregam exclusivamente força detrabalho assalariada, são basicamente geri-dos por administradores profissionais epodem buscar uma consistência intertem-poral de aplicação de ativos com horizonteslongos de tempo.

Este último ponto é o que mais profun-damente distingue o latifúndio empresarial dafazenda4, apesar de diferirem também quantoa freqüência com que ocorre a gestão famili-ar: quase sempre nesta, raramente naquela.A gestão do tempo, na decisão quanto aouso ou não das disponibilidades visando aacumulação de capital, em particular a ges-tão dos itens fortemente marcada pelas con-dições naturais – onde condições de irrever-sibilidade estão mais presentes - é uma ques-tão chave aqui. E as diferenças decisórias emrelação a isso resultam das importantes dife-renças sociológicas, informacionais e cogniti-vas com as quais, os agentes associados acada estrutura, sondam o futuro.

Operamos tais distinções, para efeitode visualização integrada ao contexto macroda economia local, a partir das relações so-ciais, tal como se demonstra no Box 1.

Page 44: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

44 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Box 1. Método de retabulação dos dados do Censo Agropecuário 1995-96 e de classificaçãodas formas de produção.

O meio eletrônico de publicação dos dados censitários tem permitido uma utilização bem mais amplae flexível das informações censitárias do que a publicação em papel, não apenas pela velocidade de acesso, mas,sobretudo, pelo fato de permitir que se obtenham todas as tabelas padrão que apresentam os resultados doCenso, anteriormente só disponíveis para a unidade federativa, para todos os demais níveis regionais deagregação – para as mesorregiões, para as microrregiões e para o município. Não obstante o fato de que aestrutura tabelar mantém um elevado grau de rigidez, essa forma de publicação permite trabalhar com graustanto maiores de flexibilidade, quanto mais se manejem os dados em esferas espaciais mais elementares. Issoporque, em qualquer dessas esferas, será possível ter todas as variáveis constantes das tabelas básicas para todosos 15 “estratos de área total” usuais do Censo. E, no âmbito geográfico em que se esteja trabalhando, semprese poderão considerar as médias de uma variável para um estrato como relativa à unidade produtiva médiarespectiva e, assim tratado, o estrato ganha a condição de um “caso” em um novo banco de dados passível deretabulação e processamento, tendo a freqüência do estrato como um dos seus campos. Trabalhamos, aqui,com uma desagregação em âmbito de município, para toda mesorregião Sudeste Paraense. Desse modo,manejamos um banco de dados de 510 “casos” (34 municípios multiplicadas por quinze estratos de área), noqual se separaram os municípios do Pólo Marabá já acima listados.

No Banco de Dados resultante fez-se uma distinção rigorosa entre as formas de produção, se campo-nesa (familiar), se de fazenda e se empresarial, com base no tipo de força de trabalho utilizada. Desse modo,para cada um dos 510 casos do BD –- estratos de área x para a município y – calculou-se a força de trabalhototal pela soma de a) a força de trabalho familiar total – o total da categoria “membros não remunerados dafamília maiores de 14 anos” somado com a metade dos “membros não remunerados da família menores de 14anos” – e b) a força de trabalho não familiar total – a soma dos gastos com salários, com empreitas e outroscontratos de prestação de serviço dividida pelo valor médio da diária prevalecente multiplicada por 300 diasmédios de trabalho por ano. Ademais, considerou-se “familiar” o estabelecimento médio, cuja participaçãorelativa da força de trabalho de terceiros total estimada no total da força de trabalho não ultrapassasse 1/2, aempresarial a que o assalariamente é igual ou superio a 90% e de fazendas o estabelecimento médio com forçade trabalho de terceiros acima de 50% e menor que 90% da força de trabalho total.

quisados no Censo Agropecuário na delimi-tação geográfica em questão (o PóloMarabá). Para cada um dos casos da tabelade referências estruturais obtiveram-se para104 produtos a quantidade produzida total,seu valor monetário e as quantidadesautoconsumidas e vendidas com os respecti-vos valores da produção. As CSα trabalham,portanto, até aqui, com duas matrizesempíricas: numa matriz estão os dados deprodução e preço; noutra, os atributos geo-gráficos (município, microrregião, etc.) e es-truturais (forma de produção, nível tecno-lógico, etc.). Ambas as tabelas têm suas li-nhas identificadas pela relação “estrato deárea”/”município”, constituindo esta iden-tidade a variável chave na comunicação en-tre as duas. Observe-se, contudo, que a ma-triz onde se dispõe dos dados estruturais doCenso, por motivos óbvios, tem um númerode linhas diferente do número de linhas da-quela que dispõe dos dados de produção. Demodo que a relação entre as duas não é

2.4 As estruturas de alocação dasquantidades produzidas e de formaçãode preços – da intermediação mercantile industrial ao consumo final

O cálculo das CSα assenta-se em célu-las de informações de transação que, porsuposto, envolve uma quantidade de certoproduto e seu preço, num intervalo de tempocorrespondente a uma safra, num preciso“ponto” do sistema econômico e num preciso“lugar” do espaço geográfico. Obtém-se asquantidades e os preços básicos a partir de umamatriz de produção construída também comos dados extraídos do Censo Agropecuário1995-1996. Esta tabela tem estrutura distin-ta daquela cuja construção se descreveu noBox 1, mas com ela se comunica pela inter-face da variável que associa estrato de áreacom município (o número do caso). A cons-trução dessa tabela para as CSα exige diver-sos procedimentos descritos por Pires (2002)para, ao final, trazer todos os produtos pes-

Page 45: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

45Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

biunívoca: atributos encontradas na primei-ra podem ser atribuídos à segunda, permi-tindo que todas as indicações estruturaispossíveis a partir dos dados do Censo sejamimputáveis ou relacionáveis com cada linhada matriz de produção5. Mas o contrárionão é verdadeiro: atributos que se obtenhama partir da matriz de produção não são im-putáveis à matriz de dados estruturais.

Estas duas tabelas são o hard core dobanco de dados BDSudesteParaense, no qualobtêm-se os valores q pelo somatório da va-riável “quantidade vendida” do produto vem uma seleção de casos em BD que atende àrestrição geográfica s e à condição estrutu-ral r; e os valores de p são resultados da divi-são entre o somatório da variável “valor daprodução vendida”, obtido para as mesmasrestrições, dividido pelos q respectivos.

2.5 Estrutura da distribuição dasquantidades e atribuição de preçospor conexão

Uma vez encontrado q e p de umamercadoria v – quantidade posta pelo pro-dutor em circulação e preço pago ao pro-dutor do produto v – há que se indicar oscaminhos percorridos por v e os diferentespreços que assume até atingir o consumofinal. Para tanto contróem-se matrizes quedescrevam a probabilidade da distribuição dasquantidades q e de atribuição dos preços a partirde p nas relações entre os agentes e, uma vezdeterminadas suas posições estruturais, entre ossetores.

O modelo CSα opera matrizes descriti-vas dos fluxos quantitativos, Qv

ij , e da for-mação dos preços, Pv

ij. Os elementos da pri-meira matriz são as proporções da quanti-dade produzida de v que transita pela posi-ção ij, isto é, que se constiuiu objeto de tran-sação entre os agentes ou setores ij. Os ele-mentos da segunda matriz são os fatores queincrementam o preço médio pago aos pro-dutores de v na posição ij, isto é, nastransções entre os agentes ou setores ij.

Assim, os valores q e p são obtidos paracada posição ij de modo que

vijsrvsrijv Qqq = (12)

ev

ijsrvsrijv Ppp = (13)

em que vijQ é a matriz dos coeficientes de

intermediação e vijP é a matriz de formação

de preço das relações entre os setores i e j,em relação ao produto v.

As matrizes dessa natureza são obti-das a partir de pesquisa primária por nósconduzidas para os produtos do Pólo.

Exemplo: Obtenção de Matrizes Q e P parao produto Gado em Pé em Marabá, no anode 2000

Obteve-se matrizes dos fluxos da pro-dução e distribuição de gado em pé por pes-quisa primária. Postados em Marabá,reconstituiu-se as cadeias a montante e ajusante de cada uma das transações referen-tes a 71.362 cabeças ao longo do ano de 2000.Isso eqüivale a 35% das 204 mil cabeçastransacionadas no ano do Censo. Essa quanti-dade de cabeças bovinas correspondeu a19.990.459 kg tranasacionados. Para cadatransação, marcou-se o tipo de agente de vendae o tipo de agente de compra de modo que, cru-zados, os agentes nas suas respectivas posi-ções de vendores e compradores produziram-se a Tabela , para as quantidades transaciona-das, e a Tabela , para os respectivos valores.A divisão dos valores pelas quantidades nasposições equivalentes leva aos preços implíci-tos em cada posição ij. Se dividirmos cadaquantidade ij pelo total da produção (o totalvendido pelos produtores, sejam eles campo-neses, sejam eles fazendeiros: a soma dos to-tais das duas primeiras linhas) obtém-se a

matriz GadoEmPéijQ – Tabela ; se dividirmos cada

preço ij pela média dos preços pagos aos pro-dutores, obteremos a matriz dos coeficientes

de intermediação GadoEmPéijP – Tabela. Em am-

bos os casos, para os diversos tipos de agentesque fazem a cadeia produtiva do gado em pé.

Page 46: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

46 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Tabela 1. Gado em Pé - Fluxos trasacionados pelas diversas categorias de agentes a partir doPólo Marabá, em 1.000 Kg, janeiro a dezembro de 2000

Tabela 2. Gado em Pé - Valor tranasacionado pelos diversos agentes a partir do Pólo Marabáem R$ 1.000 correntes, janeiro a dezembro de 2000

Sistema Local Sistema Estadual Sistema Nacional

Mata

douro

-A

çougue

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Corr

eto

r

Açougue

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

(Benef)

Fábrica

de

Sabão

Mata

-douro

-F

rigorí

fico

(Tra

nsf)

Frigorí

fico

(atc

adis

ta)

Marc

hant

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Cort

um

e

Marc

hant

Consum

idor

Total

Campones 288 - - 1.651 - - - - - - - - - - - 1.939

Fazendeiro 144 - 16.606 1.301 - - - - - - - - - - - 18.051

Matadouro-Açougue

- 92 - - 340 - - - - - - - - - - 432

Matadouro-Frigorífico

- - - - - - 288 - 1.080 - - - 180 - - 1.548

Corretor - - - - - 9.143 - 2.567 - 2.948 - 57 - 1.891 - 16.606Sis

tem

aLocal

Açougue - 1.456 - - 1.497 - - - - - - - - - - 2.953

Mat-Frigorífico –Beneficia

- - - - - - - - - - 9.143 - - - - 9.143

Fábrica deSabão

- - - - - - - - - - 288 - - - - 288

Mat-Frigorífico -Transforma

- - - - - - - - - - 2.567 - - - - 2.567

Frigorífico –Atacado

- - - - - - - - - - 1.080 - - - - 1.080

Marchant - - - - - - - - - - 2.948 - - - - 2.948

Sis

tem

aE

sta

dual

Mat.Frigorífico -Beneficia

- - - - - - - - - - - - - - 57 57

Cortume - - - - - - - - - - - - - - 180 180SistemaNacional Marchant - - - - - - - - - - - - - - 1.891 1.891

Total de compras 432 1.548 16.606 2.953 1.837 9.143 288 2.567 1.080 2.948 16.026 57 180 1.891 2.128 59.682

Fonte: Pesquisa de campo.

Sistema Local Sistema Estadual Sistema Nacional

Mata

douro

-A

çougue

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Corr

eto

r

Açougue

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

(Benef)

Fábrica

de

Sabão

Mata

-douro

-

Frigorí

fico

(Tra

nsf)

Frigorí

fico

(atc

adis

ta)

Marc

hant

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Cort

um

e

Marc

hant

Consum

idor

Total

Campones 278 - - 1.578 - - - - - - - - - - - 1.857

Fazendeiro 137 - 17.237 775 - - - - - - - - - - - 18.149

Matadouro-Açougue

- 36 - - 442 - - - - - - - - - - 478

Matadouro-Frigorífico

- - - - - - 86 - 432 - - - 360 - - 879

Corretor - - - - -10.237

- 2.906 - 3.329 - 64 - 2.070 - 18.606Sis

tem

aLocal

Açougue - 260 - - 3.181 - - - - - - - - - - 3.441

Mat-Frigorífico –Beneficia

- - - - - - - - - - 14.043 - - - - 14.043

Fábrica deSabão

- - - - - - - - - - 86 - - - - 86

Mat-Frigorífico -Transforma

- - - - - - - - - - 4.177 - - - - 4.177

Frigorífico –Atacado

- - - - - - - - - - 756 - - - - 756

Marchant - - - - - - - - - - 4.468 - - - - 4.468

Sis

tem

aE

sta

dual

Mat.Frigorífico -Beneficia

- - - - - - - - - - - - - - 92 92

Cortume - - - - - - - - - - - - - - 562 562SistemaNacional Marchant - - - - - - - - - - - - - - 3.078 3.078

Total de compras 415 295 17.237 2.354 3.623 10.237 86 2.906 432 3.329 23.531 64 360 2.070 3.731 70.671

Fonte: Pesquisa de campo.

Page 47: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

47Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Tabela 3. Gado em pé - Preços implícitos nas transações entre os diversos agentes no ano de2000, em R$ correntes por kg

Tabela 4. Matriz GadoEmPéijQ Estrutura da cadeia produtiva de bovino em pé, para i sendo o

agente vendedor e j o agente comprador (em % do total produzido)

Sistema Local Sistema Estadual Sistema Nacional

Mata

douro

-

Açougue

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Corr

eto

r

Açougue

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

(Benef)

Fábrica

de

S.a

bão

Mata

-douro

-

Frigorí

fico

(Tra

nsf)

Frigorí

fico

(atc

adis

ta)

Marc

hant

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Cort

um

e

Marc

hant

Consum

idor

Total

Campones 0,97 - - 0,96 - - - - - - - - - - - 0,96

Fazendeiro 0,95 - 1,04 0,60 - - - - - - - - - - - 1,01

Matadouro-Açougue

- 0,39 - - 1,30 - - - - - - - - - - 1,11

Matadouro-Frigorífico

- - - - - - 0,30 - 0,40 - - - 2,00 - - 0,57

Corretor - - - - - 1,12 - 1,13 - 1,13 - 1,13 - 1,09 - 1,12Sis

tem

aLocal

Açougue - 0,18 - - 2,13 - - - - - - - - - - 1,17MatFrigorífico-Beneficia

- - - - - - - - - - 1,54 - - - - 1,54

Fábrica deSabão

- - - - - - - - - - 0,30 - - - - 0,30

MatFrigorífico-Transforma

- - - - - - - - - - 1,63 - - - - 1,63

Frigorífico -Atacado

- - - - - - - - - - 0,70 - - - - 0,70

Marchant - - - - - - - - - - 1,52 - - - - 1,52Sis

tem

aE

sta

dual

MatFrigorífico-Beneficia

- - - - - - - - - - - - - - 1,63 1,63

Cortume - - - - - - - - - - - - - - 3,12 3,12SistemaNacional Marchant - - - - - - - - - - - - - - 1,63 1,63

Total de compras 0,96 0,19 1,04 0,80 1,97 1,12 0,30 1,13 0,40 1,13 1,47 1,13 2,00 1,09 1,75 1,18

Fonte: Pesquisa de campo.

Sistema Local Sistema Estadual Sistema Nacional

Agente vendedor i

Agente

com

pra

do

rj

Mata

douro

-

Açougue

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Corr

eto

r

Açougue

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

(Benef)

Fábrica

de

Sabão

Mata

-douro

-

Frigorí

fico

(Tra

nsf)

Frigorí

fico

(atc

adis

ta)

Marc

hant

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Cort

um

e

Marc

hant

Consum

idor

Total

Campones 1,4 - - 8,3 - - - - - - - - - - - 9,7

Fazendeiro 0,7 - 83,1 6,5 - - - - - - - - - - - 90,3Matadouro-Açougue

- 0,5 - - 1,7 - - - - - - - - - - 2,2

Matadouro-Frigorífico

- - - - - - 1,4 - 5,4 - - - 0,9 - - 7,8

Corretor - - - - - 45,7 - 12,8 - 14,7 - 0,3 - 9,5 - 83,1Sis

tem

aLocal

Açougue - 7,3 - - 7,5 - - - - - - - - - - 14,8

MatFrigorífico-Beneficia

- - - - - - - - - - 45,7 - - - - 45,7

Fábrica deSabão

- - - - - - - - - - 1,4 - - - - 1,4

MatFrigorífico-Transforma

- - - - - - - - - - 12,8 - - - - 12,8

Frigorífico –Atacado

- - - - - - - - - - 5,4 - - - - 5,4

Marchant - - - - - - - - - - 14,7 - - - - 14,7Sis

tem

aE

sta

dual

MatFrigorífico-Beneficia

- - - - - - - - - - - - - - 0,3 0,3

Cortume - - - - - - - - - - - - - - 0,9 0,9SistemaNacional Marchant - - - - - - - - - - - - - - 9,5 9,5

Total de compras 2,2 7,8 83,1 14,8 9,2 45,7 1,4 12,8 5,4 14,7 80,2 0,3 0,9 9,5 10,6 298,6

Fonte: Pesquisa de campo.

Page 48: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

48 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Tabela 5. Matriz Formação dos preços na cadeia produtiva de bovino em pé, para i

sendo o agente vendedor e o agente comprador (em % do preço médio pago aos produtores)

As matrizes obtidas dessa maneiraapresentam interesse próprio, dado que des-crevem as condições particulares de estru-turação dos fluxos de um dado produto e arespectiva formação de preços:• Elas permitem uma leitura da posição e

importância dos (tipos de) agentes na ca-deia produtiva, dado que as colunas apre-sentam as estruturas de compras e as li-nhas as estruturas de vendas respectivas.Assim, se tomarmos, por exemplo, osagentes do tipo “Corretor” (comercian-tes que compram gado no atacado no sis-tema local para pô-lo em mercados maisamplos), veremos que eles compram83,1% do total da produção de Gado emPé, compram exclusivamente de fazendei-ros, vendem, disso, em torno de 83 pontospercentuais no mercado paraense: 45,7pontos percentuais para Matadouros-Fri-goríficos com capacidade, apenas parabeneficiar, 12,8 pontos para Matadouros-Frigoríficos capazes de fazer a transfor-mação do produto, 14,7 pontos vão dire-tos para Marchants, que atuam no varejo.

Em torno de 10 pontos percentuais sãopostos no mercado nacional, praticamen-te tudo para o varejo. Os Matadouros-Frigoríficos locais (em Marabá) adquirem7,8% do Gado em Pé de açougues e ma-tadouros e os vende 1,4 pontos para fábri-ca de sabão, 5,4 pontos para outros frigo-ríficos no mercado estadual e 0,9 pontospara cortumes do mercado nacional. Etc.

• Elas permitem, também, uma observaçãoparalela do preço médio praticado emcada posição: o preço praticado pelo“Corretor” é equivalente a 104% do preçomédio recebido pelos produtores; o preçomédio praticado por esse agente com os“Matadouros-Frigoríficos” beneficiadoresno Pará é 112% do preço médio recebidopelos produtores, etc.

Muito ensina sobre a economia local eseus arranjos produtivos, pois, a leitura des-sas tabelas. Contudo, para as CSα, é impor-tante que se ajustem tais fluxos a uma estru-tura setorial de modo a compatibilizá-los naconfiguração de uma economia de base agrá-ria que considera uma única região. Nesses

Sistema Local Sistema Estadual Sistema Nacional

Mata

douro

-A

çougue

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Corr

eto

r

Açougue

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

(Benef)

Fábrica

de

Sabão

Mata

-douro

-

Frigorí

fico

(Tra

nsf)

Frigorí

fico

(atc

adis

ta)

Marc

hant

Consum

idor

Mata

douro

-

Frigorí

fico

Cort

um

e

Marc

hant

Consum

idor

Total

Campones 97 - - 95 - - - - - - - - - - - 96

Fazendeiro 95 - 104 60 - - - - - - - - - - - 100Matadouro-Açougue

- 39 - - 130 - - - - - - - - - - 111

Matadouro-Frigorífico

- - - - - - 30 - 40 - - - 200 - - 57

Corretor - - - - - 112 - 113 - 113 - 113 - 109 - 112Sis

tem

aLocal

Açougue - 18 - - 212 - - - - - - - - - - 116

MatFrigorífico-Beneficia

- - - - - - - - - - 153 - - - - 153

Fábrica deSabão

- - - - - - - - - - 30 - - - - 30

MatFrigorífico -Transforma

0 - - - - - - - - - 163 - - - - 163

Frigorífico –Atacado

- - - - - - - - - - 70 - - - - 70

Marchant - - - - - - - - - - 151 - - - - 151Sis

tem

aE

sta

dual

MatFrigorífico -Beneficia

- - - - - - - - - - - - - - 162 162

Cortume - - - - - - - - - - - - - - 312 312SistemaNacional Marchant - - - - - - - - - - - - - - 163 163

Total de compras 96% 19 104 80 197 112 30 113 40 113 147 113 200 109 175 118

Fonte: Pesquisa de campo.

Page 49: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

49Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

casos, como ensinam Considera et alii (1997,p. 7), “(...) consideram-se as informações es-tatísticas da região, de tal forma que suastransações externas sejam limitadas ao restodo mundo e ao conjunto de outras regiões,ou seja o resto do País, sem detalhar asregiões consumidoras e fornecedoras de bense serviços”.

Para este trabalho, ajustando a abran-gência para níveis nacional e estadual,alocamos os agentes nos seguintes setores:

Para produção e transações interme-diárias:1. Produção: Produtores rurais2. Varejo Rural: Setor de intermediação

entre a produção e os setores urbanos decomércio e indústria.

3. Indústria de Beneficiamento Local: Indús-tria urbana situada no centro do Pólo queapenas beneficia o produto – beneficia-mento de arroz, corte e resfriamento decarne, etc.

4. Indústria de Transformação Local : In-dústria situada no centro do Pólo que pro-cessa o produto – produz farinha dearroz, produz imbutidos, no caso da car-ne, etc.

5. Atacado Local: Instância situada no cen-tro do Pólo, de comércio por atacado.

6. Varejo Urbano Local: Instância situadano centro do Pólo, de comércio por ata-cado – supermercados, etc..

7. Indústria de Beneficiamento Extra-Local-Estadual: Indústria urbana situada forado Pólo, mas no interior do Estado que oabriga, que apenas beneficia o produto.

8. Indústria de Transformação Extra-Local-Estadual: Indústria urbana situada forado Pólo, mas no interior do Estado que oabriga, que processa o produto.

9. Atacado Extra-Loca-Estadual: Instância situ-ada fora do Pólo, mas no interior do Estadoque o abriga, de comércio por atacado.

10. Varejo Urbano Extra-Local-Estadual:Instância situada fora do Pólo, mas nointerior do Estado que o abriga, de co-mércio varejista – supermercados, etc..

11. Indústria de Beneficiamento Extra-Lo-cal-Nacional: Indústria situada fora doEstado que abriga o Pólo, que apenas be-neficia o produto.

12. Indústria de Transformação Extra-Lo-cal-Nacional: Indústria situada fora doEstado que abriga o Pólo, que processaprodutos. Aqui incluem-se produtos in-dustriais que entram na economia agrá-ria como insumos.

13. Atacado Extra-Local-Nacional: Instân-cia de comércio atacado situada fora doEstado que abriga o Pólo.

14. Varejo Urbano Extra-Local-Nacional:Instância de comércio de varejo situadafora do Estado que abriga o Pólo.

Para o Consumo Final:

15. Consumo Final Local: consumo no Pólode sua própria produção.

16. Consumo Final Extra-Local-Estadual:comsumo no Estado da produção oriun-da do Pólo.

17. Consumo Final Extra-Local-Nacional:consumo no mercado nacional da pro-dução uriunda do Pólo.

Assim, obtiveram-se tabelas Q paratodos os produtos com estruturas fixadas demodo que as linhas i e colunas j são os 14setores da produção e das transações inter-mediárias e mais três segmentos de consumofinal. Para o produto Gado em Pé, do nossoexemplo, chegou-se à Tabela 6 e à Tabela 7.

Page 50: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

50 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Tabela 6. Matriz Estrutura da cadeia produtiva de Gado em Pé, para i sendo o

setor vendedor e o setor comprador (em % do total produzido)

Tabela 7. Matriz Formação dos preços na cadeia produtiva de bovino em pé, para i

sendo o Setor vendedor e o Setor comprador (em % do preço médio pago aos produtores)

Sistema Local Sistema Estadual Sistema Nacional

Indústria Indústria Indústria

Setor vendedor i

Seto

rcom

pra

dor

j

Pro

dução

Vare

joR

ura

l

Beneficia

mento

Tra

nsfo

rmação

Ata

cado

Vare

joU

rbano

Consum

oF

inal

Beneficia

mento

Tra

nsfo

rmação

Ata

cado

Vare

joU

rbano

Consum

oF

inal

Beneficia

mento

Tra

nsfo

rmação

Ata

cado

Vare

joU

rbano

Consum

oF

inal

Total

Produção 2,2 83,1 14,8 100,0

Varejo Rural 0,0

Ind. Benef. 0,5 1,7 1,4 5,4 0,9 9,9

Ind. Transf. 0,0

Atacado 0,8 45,7 12,8 14,7 0,3 9,5 83,9Sis

tem

aLocal

VarejoUrbano 7,3 7,5 14,8

Ind. Benef. 45,7 45,7

Ind. Transf. 14,3 14,3

Atacado 19,3 19,3

Sis

tem

aE

sta

dual

VarejoUrbano 0,0

Ind. Benef. 0,3 0,3

Ind. Transf. 0,9 0,9

Atacado 9,5 9,5

Sis

tem

aN

acio

nal

Varejo rbano 0,0

Total 0,0 9,9 83,1 14,8 1 45,7 14,3 20,1 79,3 0,3 0,9 9,5 10,6

Fonte: Pesquisa de campo.

Sistema Local Sistema Estadual Sistema Nacional

Indústria Indústria Indústria

Setor vendedor i

Seto

rcom

pra

dor

j

Pro

dução

Vare

joR

ura

l

Beneficia

mento

Tra

nsfo

rmação

Ata

cado

Vare

joU

rbano

Consum

oF

inal

Beneficia

mento

Tra

nsfo

rmação

Ata

cado

Vare

joU

rbano

Consum

oF

inal

Beneficia

mento

Tra

nsfo

rmação

Ata

cado

Vare

joU

rbano

Consum

oF

inal

Total

Produção - - 96 - 104 80 - - - - - - - - - - - 100

Varejo Rural - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Ind. Benef. - - 39 - - - 130 - 30 40 - - - 200 - - - 68

Ind. Transf. - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Atacado - - - - - - 96 112 113 113 - - 113 - 114 - - 112Sis

tem

aLocal

VarejoUrbano - - 18 - - - 212 - - - - - - - - - - 116

Ind. Benef. - - - - - - - - - - - 153 - - - - - 153

Ind. Transf. - - - - - - - - - - - 149 - - - - - 149

Atacado - - - - - - - - - - - 131 - - - - - 131

Sis

tem

a

Esta

dual

VarejoUrbano - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Ind. Benef. - - - - - - - - - - - - - - - - 162 162

Ind. Transf. - - - - - - - - - - - - - - - - 312 312

Atacado - - - - - - - - - - - - - - - - 163 163

Sis

tem

a

Nacio

nal

Varejo rbano - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Fonte: Pesquisa de campo.

Page 51: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

51Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Para a descrição da distribuição dasquantidades e da formação dos preços pelossetores, produziram-se, por pesquisa primá-ria por nós feita, matrizes de coeficientes paraas relações entre 14 setores e para o consu-mo final de 25 dos principais produtos doPólo (para metodologia de construção des-sas matrizes, ver Costa et alii, 2002b). Ou-tras três matrizes foram construídas a partirde resultados de pesquisas primárias produ-zidas por terceiros. Juntos, os 28 produtosassim tratados representam acima de 90%do valor bruto da produção rural do Pólo.

Para os demais produtos, utilizaram-se matrizes-padrão. As matrizes-padrão sãoas que resultam de descrição dos fluxos dosprodutos por de hipóteses razoáveis ou al-tamente prováveis.

Nesse caso encontram-se os hortigran-jeiros: são poucas as informações sobre asrelações associadas a esses produtos no PóloMarabá e não fizemos pesquisa primáriasobre eles. É razoável, contudo, pressuporque suas cadeias são muito simples, prova-velmente constituindo fluxo direto entre ospróprios produtores e os consumidores finais.Nesses casos estruturamos uma matriz-pa-drão em que 100% do produto é transacio-nado do produtor ao consumidor.

Para certos produtos, como pinto deum dia, entendemos razoável a suposição deque, mesmo quando o dado de base indicavendas, e não autoconsumo, o fluxo se deupara outros produtores que, com elevadaprobabilidade, estiveram entre os recensea-dos. Para esses casos, construiu-se a matriz-padrão produtor-produtor.

Matrizes-padrão são aplicadas, tam-bém, a todos os produtos no que se refereàquelas parcelas da produção claramenteindicadas pelo Censo como não levadas amercado. Quando se trata de retenção noestabelecimento para autoconsumo interme-diário (produtivo), como o caso do milho, dassementes etc., considera-se que essas parce-las obedecem ao fluxo da matriz-padrão pro-dutor-produtor; quando se trata de produtoscom destinação final de consumo, como, porexemplo, animais abatidos ou frutas, consi-derou-se a matriz-padrão produtor-consu-midor. Esta mesma matriz foi utilizada quan-do a destinação final é claramente para aformação de capital, como é o caso todos osanimas de trabalho e das matrizes bovinas.

Ao final, dispusemos de matrizes Q eP para os 108 produtos levantados pelo Cen-so, cuja lista encontra-se na Tabela A-1, noAnexo.

2.4 Obtenção dos valores dos inputsindustriais

Dado que a matriz com os dados deprodução utilizada pelo modelo não dispõede informações das despesas associadas aosprodutos e que estas informações estão dis-poníveis apenas na tabela dos atributos geo-gráficos e estruturais, a obtenção do valordo cruzamento X12,1 (Indústria de Transfor-mação Extra-Local-Nacional com Produção)só é possível (e portanto incorporado) paraas matrizes de insumo-transação-produtofinais agregadas para os atributos geográfi-cos e estruturais. Assim, dada uma matiz deinsumo-produto já calculada para todos osprodutos e todos os produtores de uma umaregião s, que contemple a produção do atri-buto estrutural r

∑=

=13

1),(1,12

irsixX

(14)

em que i seriam os valores em R$ observa-dos para o conjunto dos produtores com ascaracterísticas r em s, dos gastos totais nosseguintes itens: 1) Energia, 2) Adubos quí-micos, 3) Custo com máquinas (aluguel), 4)Combustíveis, 5) Corretivos, 6) Medicamen-tos veterinários, 7) Outros itens industriais,8) Rações 9) Embalagens, 10) Sal.

2.5 O Programa Netz – o cálculo damatrizes da CSα

A produção das matrizes da CSα en-volve um grande número de cúlculos. Paratanto desenvolveu-se o programa Netz emlinguagem Visual Basic com 6 módulosprincipais:1) Administração da matriz dos atributos

estruturais e geográficos;2) Administração da matriz de produção;3) Administração das informações sobres as

estruturas das cadeias insumo-transação-produto e da formação de preços;

4) Administração de indexadores;

Page 52: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

52 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

5) Administração das interfaces entre todasas matrizes;

6) Processamento dos cálculos previstos namatemática do modelo CSα.

O Programa Netz, após designada umabase de dados na estrutura por ele requerida,oferece todas as possibilidades existentes nobanco de estabelecer uma área de abrangên-cia para os cálculos que se pretende e estabe-lecer que estruturas organizarão os sub-totaisda matriz de insumo-produto global para aárea escolhida. De posse dessas indicações, oprograma busca cada um dos casos que cum-prem as restrições estruturais e espaciais, exa-mina para cada ítem da produção afeta àque-le caso, seus dados de quantidade e preçoimplícito, procura as estruturas dos fluxos físi-cos e de formação de preços mais adequadas,aplicando-as aos dados empíricos já exami-nados. Da somatória de cada caso o progra-ma gera as matrizes de sub-totais – atributosestruturais – e a matriz total.

2.6 Modelo para estimativas de VBP∝

VAB∝ e PRB∝ para anos diferentesdaquele em que se realizou o Censo

A metodologia permite, ademais, atu-alização para os anos seguintes da Contabi-lidade Social da Produção de Base Agrária(CS∝ ) obtida com os dados do Censo de 1995-96. Para tanto se produzem indexadores dequantidade e preço baseados nas séries mu-nicipais da PAM. Há dois tipos de situação:aquela em que o produto em questão é le-vantado sistematicamente e faz parte daPAM e aquela em que o produto em tela nãoé levantado pela PAM.

Na primeira situação os indexadoresde quantidade são os números índices dototal das quantidades do produto v para oconjunto dos municípios que atendem à res-trição s, tendo 1995 como ano base; e osindexadores de preço os números índices dopreço médio do produto v para os municípi-os que atendem a restrição geográfica s, ten-do 1995 como ano base. Assim, os númerosíndices são:

1995sv

svaQsva q

qI =

(15)

e

1995sv

svaPsva p

pI = (16)

Se o produto não for levantado pela PAMentão ele será indexado pela evolução do conjuntoda produção em uma certa delimitaçãogeográfica. A evolução do conjunto da produçãoé observada pelos números índices da evoluçãodo produto real e dos preços implícitos para arestrição geográfica s.

O Produto Real, num ano a no espaço s,de um conjunto de produtos é a soma dosresultados da multiplicação das quantidades decada produto no ano a pelo preço em um anoescolhido para fornecer o vetor de preços, nonosso caso, o ano de 1995.

O Preço Implícito, no ano a e atendendoà mesma restrição geográfica s, é a soma doproduto dos preços de cada produto no ano apela quantidade do mesmo produto no anoescolhido para fornecer o vetor de quantidade,no nosso caso, o ano de 1995.

De modo que os números índices para asduas grandezas são os seguintes:

∑∑

∑ ∑ ∑

= =

= = == g

s

k

vvsvs

g

s a

k

vvssav

Qsa

pq

pqI

1 119951995

1

2000

1995 11995

.

.

(17)

e

∑∑

∑ ∑ ∑

= =

= = == g

s

k

vvsvs

g

s a

k

vsavvs

Psa

pq

pqI

1 119951995

1

2000

1995 11995

.

.

(18)

sendo IQsa a série de números índices da Pro-

duto Real para cada ano do período de 1995a 2000, com 1995 = 100 e IP

sa a série equiva-lente para os Preços Implícitos.

Além desse método – que chamamosaqui de direto, ou contábil – utiliza-se umoutro método: o tendencial. A obtenção dastaxas de incremento por estimação da tendência

Page 53: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

53Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

se faz a partir das regressões lineares paraas funções

( ) 1995

1995 .−= aQe

svaQsv

Qsva III (19)

e

( ) 1995

1995 .−= aPe

svaPsv

Psva III (20)

ou

( ) 1995

1995 .−= aQe

saQs

Qsa III (21)

e

( ) 1995

1995.−= aPe

saPs

Psa III (22)

então o cologaritmo do coeficiente angularda regressão linear obtida para (a-1995) ope-rando como variável independente e ologaritmo de IQ

sva como variável dependenteé o indexador de quantidade para o interva-lo entre o ano a e 1995, para o produto v ems. Da mesma forma se obtém o indexador depreços quando a variável independente é ologaritmo de IP

sva. E, operando as equações(25) e (26) obtém-se indexadores de quanti-

dade e preço derivados do conjunto de pro-dutos (levantados pela PAM) de um atribu-to geográfico.

Finalmente, para a estimação das con-tas em qualquer ano no período 1995 a 2000aplicam-se indexadores obtidos ou pelas fór-mulas (15) e (16) ou (17) e (18); ou pelas fór-mulas (23) e (24) ou (25) e (26) à fórmula(9). Os valores Xij são, assim, obtidos comosegue:

logaritimizadas. De modo que sendo

( ) ( ) Qesva

Qsva

Qesva

Qsv

Qsva IaIIaII log.1995loglog.1995loglog 1995 −=∴−+= (23)

e

( ) ( ) Pesva

Psva

Pesva

Psv

Psva IaIIaII log.1995loglog.1995loglog 1995 −=∴−+= (24)

ou

( ) ( ) Qesa

Qsa

Qesa

Qs

Qsa IaIIaII log.1995loglog.1995loglog 1995 −=∴−+= (25)

e

( ) ( ) Pesa

Psa

Pesa

Ps

Psa IaIIaII log.1995loglog.1995loglog 1995 −=∴−+= (26)

Pelo método direto ou contábil por

( )( )∑ ∑∑∑∑∑= = = =

+

= =

=2000

1995 1 1 1

1

1 1

...a

g

s

e

r

m

i

m

j

k

vasrijv

Pavsasrijv

Qavsasrij pIqIX (27)

ou, se o produto v não consta da PAM, por

( )( )∑ ∑∑∑∑∑= = = =

+

= =

=2000

1995 1 1 1

1

1 1

...a

g

s

e

r

m

i

m

j

k

vasrijv

Pasasrijv

Qasasrij pIqIX (28)

Pelo método tendencial, por

( )( )∑ ∑∑∑∑∑= = = =

+

= =

=2000

1995 1 1 1

1

1 1

...a

g

s

e

r

m

i

m

j

k

vasrijv

Peavsasrijv

Qeavsasrij pIqIX (29)

Page 54: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

54 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

ou, se o produto v não consta da PAM, por

(30)

corte, pecuária de leite, etc.).Os resultados básicos são apresentados

em forma de Matrizes de Insumo-Produto. AsTabelas 1 e 2 expõe os valores para, respecti-vamente, 1995 e 2000 (por economia de espa-ço não se apresentarão aqui os demais anos).Destacam-se três conjuntos de resultados:• A forte dinâmica da economia de base

agrária do Pólo medida pelo crescimentodo VBP e VA.

• A evolução claudicante dos multipli-cadores da economia.

• A reconfiguração da distribuição do va-lor adicionado.

3.1 A dinâmica da economia de baseagrária do Pólo – Evolução do VBPα edo VABα

A preços correntes, o VBPα do PóloMarabá calculado pelo método tendencial al-cançou em 2000 o montante de R$ 1.481,7(R$ 2.337 pelo método contábil)6 e um VABα

de R$ 695,3 milhões (R$ 750, pelo métodocontábil)7. Em 1995, esses valores foram deR$ 626 e R$ 279 milhões, respectivamente.Corrigidos para preços constantes de 2000,a variação no VBPα e no VABα ocorreu a umataxa média muito elevada, em torno de 15%a.a. Esse crescimento não é homogêneo aolongo da série. No primeiro ano observa-setaxa negativa, nos anos seguintes taxas rela-tivamente modestas e uma explosão no finalda série (ver Gráfico 1 e Tabela 1 e Tabela 2).

As totalizações seguem, a partir daí, oque prescrevem as equações (9), (10) e (11).No caso da célula especial Xas12,1 , conside-rou-se que as despesas industriais crescemimpulsionadas pelo ritmo da produção daeconomia agrária do atributo geográfico emquestão e pela elevação dos preços em geral.Desse modo, seus valores são incrementadospelos indexadores de quantidade IQ

as ou IQeas ,

conforme se utilize o método direto outendencial, para o atributo geográfico s noano a – e pelo índice geral de preços.

3 Resultados da aplicação do modelo:Exemplo do Pólo Marabá

A Contabilidade Social da Produçãode Base Agrária (CSα) no Pólo Marabá foiinicialmente feita para cada ano do período1995-2000, a projeção no tempo se fazendopelos indexadores dinâmicos obtidos pelosmétodos direto e tendencial obedecendo auma restrição geográfica principal (perten-cer a um dos 16 municípios do Pólo) e outrasecundária (a que agrega os municípios porcurvas de isopotências, as quais chamamosaqui de anéis do pólo); num primeiroprocessamento, considerou-se a condiçãoestrutural da forma de produção (campone-sa, empresarial ou fazenda); e num segundoprocessamento, uma tipologia da produçãoorientada pelas formas de uso da base natu-ral da região – as atividades (culturas tem-porárias, culturas permanentes, pecuária de

Gráfico 1. Evolução do VBPα e VABα do Pólo Marabá – Preços Coreente – Método Tendencial

Page 55: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

55C

ontas sociais alfa (csα) – U

ma m

etodologia d

e cálculo ascendente para a configuração

macro-estrutural d

e economias locais

INTE

RA

ÇÕ

ES

Revista Internacional d

e Desenvolvim

ento Local. V

ol. 7, N. 12, M

ar. 2006.

Tabela 8. Formação do Valor Bruto da Produção de Base Agrária (VBPα), Matriz de Insumo-Transação-Produto do Pólo Marabá, 1995, em R$1.000.000, a preços correntes (método tendencial)

Fonte: Dados básicos do IBGE, Censo Agropecuário de 1995-96; IBGE – Produção Agrícola Municipal, 1995 a 2000. Pesquisa de campo. Processamento do autor, sistema Netz.Notas: 1 Casos em que a força de trabalho assalariada não ultrapassa 50% do total de força de trabalho aplicada. 2 Casos em que a força de trabalho assalariado é superior a 50%e inferior a 90% do total aplicado. 3 Casos em que a força de trabalho assalariada e superior a 90% do total aplicado. 4 Resultado da diferença entre Valor Vendido e ValorComprado. Inclui portanto salários, lucros e despesas comerciais e administrativas, além da depreciação. 5 Inclui exportações para o resto do mundo.

Page 56: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

56Francisco d

e Assis C

osta

INTE

RA

ÇÕ

ES

Revista Internacional d

e Desenvolvim

ento Local. V

ol. 7, N. 12, M

ar. 2006.

Tabela 9. Formação do Valor Bruto da Produção de Base Agrária (VBPα), Matriz de Insumo-Transação-Produto do Pólo Marabá, 2000, em R$1.000.000, a preços correntes (método tendencial)

Fonte: Dados básicos do IBGE, Censo Agropecuário de 1995-96; IBGE – Produção Agrícola Municipal, 1995 a 2000. Pesquisa de campo. processamento do autor, sistema Netz.Notas: 1 Casos em que a força de trabalho assalariada não ultrapassa 50% do total de força de trabalho aplicada. 2 Casos em que a força de trabalho assalariado é superior a 50%e inferior a 90% do total aplicado. 3 Casos em que a força de trabalho assalariada e superior a 90% do total aplicado. 4 Resultado da diferença entre Valor Vendido e ValorComprado. Inclui portanto salários, lucros e despesas comerciais e administrativas, além da depreciação. 5 Inclui exportações para o resto do mundo.

Page 57: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

57Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

3.2 Os multiplicadores globais e setoriais

Calcularam-se as matrizes inversas deLeontief para três situações diferentes quantoà Demanda Final.1. Na primeira, considerou-se toda Deman-

da Final exógena. Nesse caso, os valoresda matriz inversa de Leontief significamos efeitos diretos e indiretos de uma varia-ção qualquer da Demanda Final sobre oValor Bruto da Produção dos setores. Nes-sa matriz obtém-se multiplicadoressetoriais como a soma dos multiplicadoresparciais que compõem a coluna de cadasetor. Adicionalmente, uma vez conhecidauma certa distribuição do Valor Agregado(Renda) e aplicando-a à matriz de Leontief,se obtém os efeitos diretos e indiretos sobreas parcelas desagregadas da renda. (conf.Haddad, Ferreira, Boisier, Andrade, 1989,p. 303-317. Ver resultados nas Tabelas 10e 11 para os anos de 1995 e 2000).

2. Esse procedimento não gera, porém, ummultiplicador da renda, dado que os valo-res não incorporariam, além daquelesefeitos diretos e indiretos, os efeitos indu-zidos de uma variação na DemandaFinal. Estes só são captados se tornarmosparte da Demanda Final endógena ao

modelo (conf. Tosta, Lirio, Silveira, 2004,p. 252-254; Santana, 2005, p. 163-182).As Tabela 12 e 13 apresentam os multi-plicadores de impacto da variação daDemanda Final considerando exógenaapenas a parcela referente ao mercadonacional nos anos de, respectivamente,1995 e 2000.

3. Por fim, apresentam-se nas Tabelas 14 e15 os multiplicadores de impacto da va-riação da Demanda Final considerandoexógenas as parcelas referentes ao mer-cado estadual extra-local e ao mercadonacional nos mesmoa anos.

Destacam-se, de um modo geral, osbaixos valores dos multiplicadores setoriaise de renda. Ademais, os resultados indicamque o forte crescimento da economia de baseagrária no Pólo Marabá se fez acompanharpor movimentos declinantes nos multiplica-dores setoriais e de renda. Os multiplicado-res setoriais da economia local caíram todos,a partir de 1997, com exceção do varejo ru-ral. Por seu turno, os multiplicadores de ren-da para variações da demanda nacional oudas demandas extra-local exógenas, emqualquer dos caso apresentou um elevaçãoconsiderável até 1997, caindo sistematica-mente a partir daí. (ver Gráfico 3 e 4).

Gráfico 2. Evolução dos Multiplicadores setoriais para variações na demanda final , toda elaconsiderada exógena, Pólo Marabá, 1995-2000

Page 58: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

58 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Gráfico 3. Evolução do Multiplicador de Renda para demanda estadual e nacional exógena,Pólo Marabá, 1995-2000

3.3 Reconfiguração na estrutura de geração edistribuição de Valor Agregado do Pólo

Constata-se, uma reconfiguração naestrutura de geração e distribuição de ValorAgregado do Pólo como resultado do parti-cipação diferenciada das atividades na suaexpansão8. A Tabela 16 apresenta a evolu-ção da distribuição do VABα pelos diversossetores e agentes no período em tela.

Ressalte-se o seguinte:• A participação do Sistema Local elevou-

se em 10 pontos de percentagem. Essa ele-vação deveu-se à elevação da participa-ção do segmento da produção, que cres-

ceu 23 pontos. Essa variação sofreu, con-tudo, forte influência dos preços do gadono período, apresentando assim um ca-ráter conjuntural que não pode ser per-dido de vista.

• O varejo rural e a indústria de beneficia-mento tiveram fortes reduções.

• O atacado e o varejo urbano tiveram ele-vações importantes.

• A indústria de transformação, com umaparticipação em torno de 1%, não alterousua posição.

• A formação de Valor Agregado no Siste-ma Estadual reduziu de 12 para 9% e noSistema Nacional de 20 para 9%.

Gráfico 4. Evolução do Multiplicador de Renda para demanda nacional exógena, PóloMarabá, 1995-2000

Page 59: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

59Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Tab

ela

10. M

atri

z d

e L

eont

ief,

índ

ices

de

efei

tos

dir

etos

e i

ndir

etos

da

expa

nsão

da

dem

and

a fi

nal

e m

ulti

plic

ador

es s

etor

iais

da

econ

omia

de

base

agr

ária

do

Pólo

Mar

abá

- 19

95

Fon

te: T

abel

a 8.

Page 60: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

60Francisco d

e Assis C

osta

INTE

RA

ÇÕ

ES

Revista Internacional d

e Desenvolvim

ento Local. V

ol. 7, N. 12, M

ar. 2006.

Tabela 11. Matriz de Leontief, índices de efeitos diretos e indiretos da expansão da demanda final e multiplicadores setoriais da economia debase agrária do Pólo Marabá - 2000

Fonte: Tabela 9.

Page 61: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

61C

ontas sociais alfa (csα) – U

ma m

etodologia d

e cálculo ascendente para a configuração

macro-estrutural d

e economias locais

INTE

RA

ÇÕ

ES

Revista Internacional d

e Desenvolvim

ento Local. V

ol. 7, N. 12, M

ar. 2006.

Tabela 12. Matriz de Leontief, efeitos diretos, indiretos e induzidos e multiplicadores da renda resultante da expansão da demanda final dosistema nacional da economia de base agrária do Pólo Marabá - 1995

Fonte: Tabela 8.

Page 62: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

62Francisco d

e Assis C

osta

INTE

RA

ÇÕ

ES

Revista Internacional d

e Desenvolvim

ento Local. V

ol. 7, N. 12, M

ar. 2006.

Tabela 13. Matriz de Leontief, efeitos diretos, indiretos e induzidos e multiplicadores da renda resultante da expansão da demanda final dosistema nacional da economia de base agrária do Pólo Marabá - 2000

Fonte: Tabela 9.

Page 63: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

63C

ontas sociais alfa (csα) – U

ma m

etodologia d

e cálculo ascendente para a configuração

macro-estrutural d

e economias locais

INTE

RA

ÇÕ

ES

Revista Internacional d

e Desenvolvim

ento Local. V

ol. 7, N. 12, M

ar. 2006.

Tabela 14. Matriz de Leontief, efeitos diretos, indiretos e induzidos e multiplicadores da renda resultante da expansão da demanda final dossistemas estadual nacional da economia de base agrária do Pólo Marabá - 1995

Fonte: Tabela 8.

Page 64: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

64Francisco d

e Assis C

osta

INTE

RA

ÇÕ

ES

Revista Internacional d

e Desenvolvim

ento Local. V

ol. 7, N. 12, M

ar. 2006.

Tabela 15. Matriz de Leontief, efeitos diretos, indiretos e induzidos e multiplicadores da renda resultante da expansão da demanda final dosistema nacional da economia de base agrária do Pólo Marabá - 2000

Fonte: Tabela 9.

Tabela 16. Evolução da Distribuição do Valor Agregado Bruto de Base Agrária (VABa) do Pólo Marabá, 2000

Fonte: Dados básicos do IBGE, Censo Agropecuário de 1995-96; IBGE – Produção Agrícola Municipal, 1995 a 2000. Pesquisa de campo. Processamento do autor.

Page 65: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

65Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

4 Considerações Finais

Apresentamos uma metodologia decálculo direto e ascendente das contas sociaispara economias de base local e agrária. Tra-ta-se de processo que permite diversas traje-tórias de agregação, orientadas tanto emfunção de delimitações geográficas (micror-região, município, conjunto de municípiosagrupados por qualquer critério, etc.), quan-to em decorrência da consideração de atri-butos estruturais da produção: formas deprodução, tipo de atividade, níveistecnológicos, sistemas de produção, Arran-jos Produtivos Locais, etc. Os dados são obti-dos dos CD-ROM do IBGE para o CensoAgropecuário 1995-96, reorganizados, con-tudo, em um banco de dados próprio. Ade-mais, recorreu-se a pesquisa primária paraobtenção das estruturas dos fluxos de pro-dutos e da formação de preços. Utilizandoindexadores produzidos a partir das estatís-ticas da PAM fornecidas pelo IBGE, ametodologia permite a atualização das Con-tas até 2000, último ano para o qual aquelasérie encontrava-se completa por ocasião darealização do trabalho.

As matrizes são obtidas no formatobásico das matrizes de Insumo-Produto deLeontief. Com os valores assim estruturadosfez-se, como ilustração das possibilidades dométodo, uma pequena demonstração daevolução da economia de base agrária do“Pólo Marabá” de que fez parte uma da evo-lução de alguns multiplicadores associadosa hipóteses de variação autônoma da DemandaFinal. Demonstrou-se que nessas análises sepode observar a posição de grupos de agentesespecíficos. No exemplo, trabalhou-se coma divisão por forma de produção, se familiar,se empresarial, se de fazendas. Poder-se-ia,entretanto, fazer outras delimitações (porsistemas de produção, por exemplo), de-monstrando-se que o método pode acompa-nhar processos particulares, a posição rela-tiva neles de agentes específicos em delimi-tações regionais a definir.

Notas1 Por sugestão de Considera et alii (1997) o PRB seria o

equivalente regional do PIB. Isto posto, o VRB a preçosde mercado seria igual ao VAB em nível regionalsubtraído das intermediações financeiras e adicionadodos impostos livres de subsídiso (ver IBGE, 2001).

2 A população constitui, nessa perspectiva, massa deatração porque se supõe que quanto maiores osaglomerados humanos maior deverá ser a comutaçãoentre eles. Por outro lado, pressupõe-se que o custo eo sacrifício de deslocamento no espaço reduz aquelacomutação na razão direta da distância entre osaglomerados (Ferreira, 1989, p. 528).

3 Em outros trabalhos chamei este grupo de grandesempresas latifundiárias (Costa, 1992a, 1992b e 1996a). Adesignação excluía, entretanto, os estabelecimentosque são grandes extensões de terras improdutivas,cuja ociosidade, todavia, resulta de critériosempresariais. Quero chamar a atenção, aqui, para umainversão na perspectiva de que latifundioimprodutivo está necessariamente associado aagentes por definição anacrônicos.

4 Que não se confundam estas noções com o conceitode “empresário rural” estabelecido pelo Estatuto daTerra de 1974.

5 A possibilidade de articular essas duas matrizespermite obter facilmente os elementos para calculara formação de capital. Isto, todavia, não foi feito parao caso que se apresenta, estando os algoritmos sendopreparado para breve aplicação.

6 As diferenças nos valores obtidos pelos dois métodosdevem-se a que o método tendencial absorve, numataxa tendencial, as flutuações. Quanto mais explosivasestas flutuações, tanto maiores as diferenças. O usoalternado dos métodos deve seguir à conveniência eaos propósitos da análise: análises conjunturaisdevem enfatizar os resultados contábeis; análise demaior alcance devem enfatizar as tendências.

7 O PRBα gira em torno deste último valor, conforme jáexplicitado na Nota de Rodapé 3.

8 Dadas as cadeias básicas e as estruturas de formaçãode preço para os produtos, o ritmo diferenciado deexpansão produz uma ponderação diferente dessasestruturas na formação do VABα da região. São asvariações resultantes desses diferentes pesos que aise manifestam.

Referências

Arthur, W. B. (2000). Incresasing Returns and PathDependence in the Economy. Michigan, The Universityof Michigan Press.

BENKO, G; LIPIETZ, A. (1995) De la régulation desespaces aux espaces de régulation. In: BOYER, Robert,SAILLARD, Yves (dirs.). Théorie de la régulation: l’étatdes savoirs. Paris: La Découverte, 1995, p. 293-303.

CASSIOLATO, J. E., LASTRES, H. M. M. (2003). O Focoem Arranjos Produtivos Locais de Micro e PequenasEmpresas. In: In: LASTRES, H.M.M., CASSIOLATO, J.E., MACIEL, M. L. (Orgs.). Pequena Empresa: Cooperaçãoe desenvolvimento local. Rio de Janeiro, Relume-Dumará. p. 21-34.

COLEMAN, J. (1990) Foundations of Social Theory.Cambridge, Mass: Harvard University, 1990.

CONSIDERA, C. M.; RAMOS, R. L. O.; FILGUEIRAS, H.V., SOBRAL, C. B. (1997). Matrizes de Insumo-ProdutoRegionais (1985 e 1992) – Metodologia e resultados. Riode Janeiro, IPEA.

COSTA, F. A. (2000a). Formação agropecuária da Amazônia:

Page 66: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

66 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

os desafios do desenvolvimento sustentável. Belém:NAEA.

COSTA, F. A. (1997). Padrões de Reprodução e Dinâmicade Mudança de Camponeses na Amazônia: Os Casosde Capitão Poço e Irituia, no Pará. In: Revista Econômicado Nordeste, v. 28, n. 3, p. 239-366.

COSTA, F. A. Investimento Camponês: consideraçõesteóricas. In: Revista de Economia Política, v. 15, n. 1, p. 83-100, jan.-mar, 1995.

COSTA, F. A. (2004) Arranjos e Sistemas Produtivos eInovativos Locais – As Possibilidades do Conceito naConstituição de um Sistema de Planejamento para aAmazônia. In: Anais do Seminário Perspectivas e Políticaspara Arranjos e Sistemas de Inovação e Aprendizado naAmérica Latina, realizado pela RedeSist de 22 a 24 desetembro de 2004, no Rio de Janeiro. Disponível em<www.ufrj.ie/redesist>.

COSTA, F.A. (2005a). Polaridades e desenvolvimentoendógeno no sudeste paraense. In: Interações – RevistaInternacional de Desenvolvimento Local. CampoGrande: Editora UCDB, v. 6, n. 10, p. 29-54, mar. 2005.

COSTA, F. de A. (2005b). Questão Agrária eMacropolíticas na Amazônia: Novos momentosgrandes desafios. In: Revista do Centro de EstudosAvançados. São Paulo: USP, n. 53, jan.-mar. 2005. .

COSTA, F. A., SAMPAIO, A. M. , LOPES, A., INHETVIN,T. (2002a). Conformação e Dinâmica da Economia de BaseAgrária do “Pólo Marabá; Uma abordagem baseada emsistemas de produção e aglomerações. Relatório deConsultoria para o PDA/MMA.

CHIANG, A. C. (1982). Matemática para Economistas. SãoPaulo: MakronBooks/Edusp.

SANTANA, A. C. e AMIN, M. (2002). Cadeias Produtivasna Amazônia. No Prelo.

CROCOMO, F.; GUILHOTO, J. Relações inter-regionaise intersetoriais na economia brasileira: uma aplicaçãode insumo produto. In: Economia Aplicada. v. 2, n. 4, out-dez, 1998.

FIGUEIREDO, F. O. Introdução à Contabilidade Nacional.Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1975.

FONSECA, M. G., LU, M. Uma metodologia para aconstrução de matrizes de relações interindustriais. ANPEC:Encontro Nacional. Anais... Atibaia: ANPEC, 1979.

GHOSH, A. input-output analysis with substantiallyindependent groups of industries. In: Econometrica, n28, 1960.

GILLY, J., PECQUEUR, B. (1995). La dimension localede la régulation. In: BOYER, Robert; SAILLARD, Yves(dirs.). Théorie de la régulation: l’état des savoirs. Paris:La Découverte, 1995. p. 304-312.

GUILHOTO, J.; SONIS, M.; HEWINGS, G. J. D. Linkagesand Multipliers in a Multirregional Framework:integrations of alternative approaches. University ofIllinois, Regional Economics Applications Laboratory.1997. (Discussion Paper, 97-T-2).

HADDAD, P. R. (1999). A concepção dedesenvolvimento regional: A Competitividade doAgronegócio, Estudos de Clusters. In: HADDAD, P. R.(Org.). A Competitividade do Agronegócio e o

Desenvolvimento Regional no Brasil: Estudos de clusters.Brasília: Embrapa/CNPq. p. 9-36.

HADDAD, P. R.; FERREIRA, C. M. C. F.; BOISIER, S.;ANDRADE, T. A. (1989). Economia Regional: Teorias eMétodos de Análise. Fortaleza: BNB-ETENE.

HADLEY, G. Linear Algebra. New York: Addison-Wesley, 1965.

HOEL, Paul. Introduction to Mathematical Statistics. NewYork: John Wiley & Sons, 1962.

HOFFMANN, Rodolfo. Estatística para Economistas. SãoPaulo: BPCS, 1991.

IBGE (1998). Censo Agropecuário 1996-96. CD-ROM.

IBGE. Produção Agrícola Municipal, vários anos.

IBGE (2001). Contas Regionais do Brasil. CD-ROM.

IEL/SEBRAE (2000). Estudo Sobre a Eficiência Econômica eCompetitividade da Cadeia Agroindustrial da Pecuária deCorte no Brasil. Brasília: IEL/SEBRAE.

INHETVIN, T. Produção Camponesa e RedesMercantis. In: COSTA, F. A. Agricultura Familiar emTransformação no Nordeste Paraense: O Caso de CapitãoPoço. Belém: NAEA, 2000.

IPEA/ANPEC. Opções Estratégicas do Banco da AmazôniaS.A – Relatório Final, 2001.

ISARD, W. Interregional and regional input-outputanalysis: a model of a space – economy. In: Review ofEconomics and Statistics, n. 33, 1951.

ISARD, W. (1956). Location and Space-Economy: ageneral theory relating to spacial location, market areas, landuse, trade and urban structure. Cambridge: M.I.T.

ISARD, W. (1996). Methods of Regional Analysis.Cambridge: Mass, cap. XI.

JOHANSEN, L. A Multi-Sectoral Study of EconomicGrowth. New York: North-Holland, 1974.

Krugman, P. Development, Geography, and EconomicTheory. Cambridge: Teh MIT Press, 1995.

_____. Geography and Trade. Cambridge: The MITPress,1991

_____. The Self-Organizing Economy. Oxford,Blackwell, 1998.

LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. E., MACIEL, M. L.Sistemas de inovação e desenvolvimento: mitos erealidades da economia do conhecimento global. In:LASTRES, H. M. M., CASSIOLATO, J. E., MACIEL, M. L.(Orgs.). Pequena Empresa: Cooperação eDesenvolvimento Local. Rio de Janeiro: Relume-Dumará. p. 17-50.

LEONTIEF, W (1951a). A economia de insumo-produto.In: LEONTIEF, W. A Economia do Insumo-Produto. SãoPaulo: Abril Cultural, 1983.

_____. (1951b). A estrutura da economia norte-americana. In: LEONTIEF, W. A Economia do Insumo-Produto. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

_____. (1963). Análise multirregional de insumo-produto. In: LEONTIEF, W. A Economia do Insumo-Produto. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

_____.(1965). A análise de insumo-produto. In:

Page 67: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

67Contas sociais alfa (csα) – Uma metodologia de cálculo ascendente para a configuraçãomacro-estrutural de economias locais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

LEONTIEF, W. A Economia do Insumo-Produto. São Paulo:Abril Cultural, 1983.

Lins, H. N. (sd). Regulação Local e Desenvolvimento:Problemática, Escopo e Possibilidades. Mimeo.

LIMA, J. F., PITAGUARI, S. O (2005). As idéiaskeynesianas e o crescimento do produto nas economiaslocais. In: Interações – Revista Internacional deDesenvolvimento Local. Campo Grande: EditoraUCDB, v. 6, n. 10, mar. 2005, p. 11-20.

MIERNYK, William H. The Elements of Input-OutputAnalysis. New York: Random House, 1965.

MONASTÉRIO, L. M. (sd). Capital Social e Grupos deInteresse: Uma reflexão no Âmbito da EconomiaRegional. Mimeo, SL.

MONTEIRO, M. A. Carvoejamento, Desmatamento eConcentração Fundiária: repercussões da siderurgiano agrário regional. In: Homma, A. K. O. Amazônia:meio ambiente e desenvolvimento agrícola. Embrapa,1998. p. 187-219.

Porter, M. E. A Vantagem Competitiva das Nações. Rio deJaneiro, Campus, 1989.

PUTMAN, R. ; HELLIWELL, J. Economic growth andsocial capital in Italy. In: Eastern Economic Journal, v. 21,n. 3, 1995.

PUTNAM, R. Comunidade e democracia: a experiência daItália moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1996.

RICHARDSON, H. Input-Output and Regional Economics.London: World University, 1972.

SCHMITZ, H. (2005). Aglomerações Produtivas Locaise Cadeias de Valor: como a organização das relaçõesentre empresas influencia o aprimoramento produtivo.In: LASTRES, H. M. M.; CASSIOLATO, J. E.; ARROIO,A. Conhecimento, Sistemas de Inovação e Desenvolvimento.Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ/Contraponto. p. 321-346.

SUZIGAN, W.; GARCIA, R.; FURTADO, J. Governançade sistemas produtivos locais de micro, pequenas emédias empresas . In: LASTRES, H.M.M.; CASSIOLATO,J. E.; MACIEL, M. L. (Orgs.). Pequena Empresa:Cooperação e Desenvolvimento Local. Rio de Janeiro:Relume-Dumará. p. 69-84, 2003.

SANTANA, A. C. Elementos de Economia, Agronegócio eDesenvolvimento Local. Belém: UFPA, 2005.

SYDSAETER, K.; HAMMOND, P. J. Mathematics forEconomic Analysis. New Jersey: Prentice Hall, 1995.

TOSTA, M. C. R.; LIRIO, V. S. L. ; SILVEIRA, F. R.Matrizes de Insumo-Produto: construção, uso eaplicações. In: SANTOS, M. L.; VIEIRA, W. C. MétodosQuantitativos em Economia. Viçosa: Ed. UFV, 2004.

VERÍSSIMO, A ; BARRETO, P. ;MATTOS, M.; TARIFA,R.; UHL, C. Logging Impacts and Prospects forsustainable forest management in na old AmazonianFrontier: de case of Paragominas. In: Forest Ecology andManagement, v. 55, p. 169-199, 1992.

VERÍSSIMO, A ; BARRETO; TARIFA, R.;UHL, C.Extraction of high-value natural resource in Amazonia:the case of mahagony. In: Forest ecology and Management,v. 72, p. 39-60, 1995.

UHL, C.; VERÍSSIMO, A ; BARRETO, P. MATTOS, M.M.; BRANDINO, Z.; VIEIRA, I. C. G. Social, economicand ecological consequences of selective logging in anAmazon frontier: the case of Tailândia. In: Forest Ecologyand Management, v. 46, p. 243-273, 1991.

VERGOLINO, J. R. de O. e MONTEIRO, A. A hipóteseda convergência da renda: um teste para o nordeste doBrasil com dados microrregionais, 1970-1993. In: RevistaEconômica do Nordeste. v. 27, n. 4, p. 701-724, out-dez1996.

WILLIAMSON, Oliver. The economic institutions ofcapitalism. New York: Free Press, 1985.

WOODS, J. E. Mathematical Economics: topics in multi-sectoral economics. London: Longman, 1978.

Page 68: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

68 Francisco de Assis Costa

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Tabela A-1. Produtos considerados nos cálculos e indicação do fundamento das suas matri-zes de coeficientes dos fluxos de quantidade e formação de preços

Page 69: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

A integração local dos agregados familiares de seis pequenas e médias cidadesportuguesas sedeadas em meio rural: Resultados de um estudo empírico

Household local integration in six small and medium Portuguese sized towns ruraltowns: Results of an empirical study

L’intégration locale des aggrégats familiaux de six petites et moyennes Municipalitésportuguses localisées en milieu rural: résultats d’une recherche empirique

La integración local de los agregados familiares de seis pequeñas y medianas ciudadesportuguesas localizadas en medio rural: Resultados de un estudio empírico

Francisco Diniz*

Recebido em 12/11/2005; revisado e aprovado em 15/12/2005; aceito em 31/01/2006.

Resumo: O futuro dos espaços rurais está cada vez mais ligado ao desenvolvimento das cidades. A criação de novasdinâmicas de integração económica mundial, bem distribuídas pelo espaço da UE, constituídas por áreasmetropolitanas interligadas e de fácil acesso internacional, articuladas em torno de cidades e espaços rurais dediferentes dimensões, desempenhando um papel importante na melhoria de um equilíbrio territorial da Europa é umdos caminhos a seguir.Palavras-chave: Pequenas e médias cidades; desenvolvimento regional; integração local.Abstract: The future of rural spaces is becoming more and more related to the development of towns. It depends onthe creation of new economic integration dynamics at a global level, well distributed within the European Union andconsisting of interrelated metropolitan areas easily accessed from abroad and articulated around towns and ruralspaces of different dimensions. Those areas will play an important role in helping improving European Unions’territorial balance.Key words: Small and medium sized towns; regional development; local integration.

Résumé: Le futur des espaces ruraux est de plus en plus lié au développement des villes. La création de nouvellesdynamiques d’intégration économique mondiale, bien distribuée dans l’espace de l’UE, constituées de zonesmétropolitaines inter-reliées et d’accès international facile, articulées autour de villes et espaces ruraux de différentesdimensions, jouant un rôle important dans l’amélioration d’un équilibre territorial de l’Europe et l’un des chemins àsuivre.Mots-clefs: Petites et moyennes municipalités; développement régional; intégration locale.Resumen: El porvenir de los espacios rurales está cada vez más relacionado al desarrollo de las ciudades. La creaciónde nuevas dinámicas de integración económica mundial, bien distribuidas por el espacio de la UE, constituidas poráreas metropolitanas interconectadas y de fácil acceso internacional, articuladas en torno a ciudades y espaciosrurales de diferentes dimensiones, desempeñando un papel importante en la mejoría de un equilibrio territorial deEuropa, es uno de los caminos a seguir.Palabras claves: Pequeñas y medianas ciudades; desarrollo regional; integración local.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 69-80, Mar. 2006.

* Av. Almeida Lucena 1 – 5000-660 – Vila Real – Portugal – Tel: 00 351 259302200/00 351 59302210 – Fax: 00 351259302249 - Departamento de Economia, Sociologia e Gestão, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,CETRAD ([email protected]).O objectivo deste trabalho é apresentar os resultados de um projecto de investigação financiado pela ComissãoEuropeia, The Role of Small and Medium-sized Towns in Rural Development [EU RTD Project QLRT-2000-01923],é coordenado pela Universidade de Reading e Plymouth. A equipa portuguesa é coordenada por F. Diniz e écomposta por A. Poeta, C. Silva, L. Pinto, P. António e S. Abreu, relativos a inquéritos realizados a agregadosfamiliares de 6 pequenas e médias cidades de Portugal com vista a analisar o nível de integração das compras etecer consideração sobre a centralidade dessas cidades em relação ao meio rural envolvente.Este artigo foi apresentado ao XI Congresso da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional, Faro, 16 a 18 deSetembro de 2005.

1 Introdução

Este artigo procura sintetizar os resul-tados obtidos com uma inquirição feita noestudo piloto do projecto de investigaçãocomunitário denominado “O papel das pe-quenas e médias cidades no desenvolvimen-to rural”- MARKETOWNS1.Os objectivos do estudo são os seguintes:

(i) Medir os fluxos de bens, serviços e traba-lho entre as empresas e os agregadosnuma amostra de pequenas e médias ci-dades rurais, bem como a paisagem queas rodeia, seleccionadas para o efeito, demodo a estabelecer a natureza e a dimen-são da sua integração na economia local;

(ii) Comparar o grau de integração na econo-mia local dos diferentes tipos e dimensões

Page 70: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

70 Francisco Diniz

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

das cidades, empresas e agregados en-contrados nas áreas selcecionadas;

(iii) Tirar conclusões e fazer recomendaçõesa todos os que, a nível regional, nacionale europeu procuram estimular ativida-des económicas e oportunidades de em-prego mais diversificadas em áreasrurais; e,

(iv) Fornecer uma fonte acessível de dadosmicroeconómicos espacialmente referen-ciados a todos os que trabalham paramodelar o impacto de futuras políticasda União Europeia na economia rural.

De forma a atingir estes objectivos,admitiu-se como pressupostos que: (1) osagentes económicos relevantes para a análi-se são as famílias, as empresas e as explora-ções agrícolas; (2) que os fluxos económicosdas famílias são feitos maioritariamente comas empresas e explorações agrícolas e queestas captam as influências sócio-eco-nómicas das dinâmicas rurais; (3) as áreasde influência das cidades podem serdistinguidas ao nível das freguesias urbanas,rurais e freguesias exteriores ao concelho, queencerra a cidade seleccionada; (4) é possívelcomparar os fluxos económicos que ocorremnuma área metropolitana com os que ocor-rem entre as pequenas e médias cidades e assuas áreas de influência.

Em concordância com a metodologiado projecto MARKETOWNS, foram escolhi-das seis pequenas e médias cidades para fa-zer parte da área em estudo:

De facto, a tradicional dicotomia urba-no/rural surge actualmente na União Euro-peia como parte de um tema mais geral desustentabilidade urbana. A Comissão Europeiaconsidera que o equilíbrio ambiental e a efici-ência territorial das áreas rurais dependem dosucesso da produção urbana. Assim, osobjectivos desta investigação, embora primor-dialmente focalizados numa preocupação deintervenção da política ao nível das áreas ru-rais, não deixam de transparecer a necessida-de de considerar a envolvente territorial comofactor fundamental para a sobrevivência daspequenas cidades mais ou menos urbanizadasno contexto de desenvolvimento regional.

Após a análise de cerca de 150 inqué-ritos realizados a agregados familiares nãoagrícolas, 30 a agregados familiares agrícolasno caso de Tavira, Silves, Lixa e Esposende ecerca de 70 no caso de Mirandela e Vila Real,obteve-se informação relevante para umaanálise descritiva das compras mensais dosreferidos agentes económicos com a áreaurbana do concelho e a área rural do mesmoe com as demais regiões do país.

O número de questionários válidos uti-lizados na análise dos resultados consta doquadro 1.

Quadro 1. Número de inquéritos considerados válidos

Page 71: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

71A integração local dos agregados familiares de seis pequenas e médias cidadesportuguesas sedeadas em meio rural: Resultados de um estudo empírico

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

O papel das pequenas e médias cidadesna criação de uma economia rural mais diver-sificada é cada vez mais uma preocupação daUnião Europeia. O presente artigo, de formaexploratória, discute o conceito de rede urbanae insere-o na evidência empírica desta investi-gação, analisando a integração dos agregadosfamiliares na economia local e na economialocal alargada aos concelhos limítrofes.

2 As pequenas e médias cidades e oconceito de rede urbana

Com o processo de globalização veri-fica-se a tentação de se pensar que as popu-lações das cidades, mesmo as mais pequenas,vêem o acesso aos mercados como algo defácil e rápido com deslocações permanentesaos grandes centros urbanos nacionais ou atémesmo internacionais. Nesta lógica as bar-reiras de espaço parecem ser praticamenteinexistentes. Os progressos tecnológicos nasformas de transporte e nas comunicaçõesefectivamente permitiram que, independen-temente da dimensão das cidades, todas pu-dessem ter acesso não só a um conjunto vastode bens como ainda à possibilidade de osproduzir localmente com matéria-prima pro-veniente dos mais diversos locais do mundo.

Do ponto de vista da oferta a máximado “pensar globalmente e agir localmente”parece ter um forte impacto nas pequenas emédias cidades. Esta análise é contudo maisrestrita do ponto de vista da procura, em par-ticular relativamente aos consumidores finaisque são as famílias. O comportamento dasfamílias, ainda que influenciadas pelo com-portamento das empresas e logo pela sua ca-pacidade de inter-acção com outras cidades,reveste-se, contudo, de um carácter de menormobilidade e portanto mais dependentes dacapacidade atrativa do seu espaço de “mer-cado” que é a cidade e a sua área envolvente.

As pequenas e médias cidades em áre-as cuja envolvente é fundamentalmente ruralcomeçaram a ser objecto de análise por parteda Comissão Europeia, particularmente como EDEC, produzido em 1999. A ligação dasdiferentes cidades europeias em rede, inde-pendentemente da sua dimensão é uma preo-cupação da política de desenvolvimento daUnião Europeia, que pretende ver uma me-lhoria no equilíbrio territorial do seu espaço.

Esta posição é de resto uma evoluçãodas concepções de análise do território emgeral e da formação dos sistemas urbanosem particular. Os trabalhos desenvolvidospor Lösch e Christäller que deram origem àteoria dos lugares centrais, por exemplo, con-sideravam as cidades como constituindo áre-as mais ou menos estanques em que a mobili-dade dos factores produtivos e dos consumi-dores era praticamente inexistente. Refira-seque a dimensão das cidades neste contextoadquiria particular relevância dado que, porrazões de economias de aglomeração, a ofer-ta localizava-se junto da procura alargando-se a uma área designada por “região comple-mentar”, mas não ainda uma rede urbana.

Na análise da teoria dos lugares cen-trais duas condições mostram-se de funda-mental relevância: a contiguidade e a dimen-são. A condição de contiguidade exigia quea rede urbana fosse composta por centrosurbanos fisicamente próximos por forma agarantir a viabilidade das atividades econó-micas. A dimensão destes centros era condi-ção essencial para o seu dinamismo e a suaexpansão económica.

A actual forte mobilidade dos factoresde produção e dos bens e serviços libertouas cidades, e em especial as pequenas e mé-dias, destas exigências de contiguidade e dedimensão como factores limitativos da suaafirmação num contexto de desenvolvimentolocal e regional. Nesta dissociação e na suaconvivência com as muitas formas de organi-zação tradicional, reside o principal elemen-to explicativo das novas recomposições urba-nas que vemos acontecer, em que as hierar-quias se estabelecem entre espaços não con-tíguos, não necessariamente pertencentes aomesmo país, o que, se outras razões não exis-tissem, seria suficiente para tornar indispen-sável uma abordagem das redes urbanasnuma perspectiva, também, supra-nacionale internacional (Alves, 2002).

O objectivo deste estudo ainda que nãopreconize a análise das redes urbanas masespecificamente o papel que as pequenas emédias cidades têm no desenvolvimento dasáreas rurais onde se inserem, acaba por sin-tetizar as relações que estas cidades têm comas demais áreas geográficas do país, Europae o resto do mundo. Estas relações acabampor se inserir no actual conceito de redeurbana (Alves, 2002).

Page 72: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

72 Francisco Diniz

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Esta nova visão de rede urbana nãosignifica, contudo, que se deixe de ver a áreade influência da cidade como condição deproximidade, de resto uma característicainteressante ao seu desenvolvimento.Efectivamente a capacidade que as cidadestêm de escoar os seus produtos e atrair popu-lações vizinhas para a sua oferta de serviçose de emprego cria nas cidades atractivos deuma rede urbana dinâmica. Mas esta novavisão significa necessariamente um trade-offentre a satisfação dos consumidores locais ea especialização funcional das cidades queconstituem a rede urbana. Não se trata ne-cessariamente de uma hierarquização de ci-dades que compõem a rede urbana, mas simda existência de relações de interdepen-dência que no seu todo significam a manu-tenção do valor acrescentado das produçõesno interior da rede.

3 Resultados obtidos

Em termos das respostas obtidas dosrespondentes, em todas as cidades estuda-das, as famílias não agrícolas podem serdescritas, de acordo com o valor de cada umadas características mais frequente, do seguin-te modo:• É o dono da habitação onde reside, que

sempre viveu na localidade e há pelo me-nos mais de 5 anos, que possui um veículoautomóvel e que trabalha a tempo inteiro,que responde ao questionário;

• O número de pessoas que constituem oagregado familiar é de três. Duas excepções,as cidades agrícolas de Mirandela e VilaReal onde este valor sobe para quatro e acidade de Tavira (pequena – turismo) emque número de pessoa do agregado familiarnão agrícola desce para dois;

• A família não agrícola típica é constituídapor adultos em idade de trabalhar;

• Em termos de classe social dominam asocupações com profissão. Em Tavira, sãoas ocupações qualificadas e parcialmentequalificadas que são maioritárias e emMirandela (pequena – agrícola) são asparcialmente qualificadas;

• O rendimento anual mais frequente é queestá entre 10000 a 15000 • . Somente nacidade de Tavira o rendimento mais fre-quente está situado entre 15001 e 20000 • .

As famílias agrícolas podem ser des-critas, de acordo com o valor de cada umadas características mais frequente, do seguin-te modo:

• E dono da exploração agrícola que sem-pre viveu na localidade e há pelo menosmais de 5 anos, que possui um veículoautomóvel e trabalha a tempo inteiro, queresponde ao questionário;

• O número de pessoas que constituem oagregado familiar é de dois. Duasexcepções, as cidades de Silves (média –turismo) e Mirandela (pequena – agrícola)onde este valor sobe para três e quatro,respectivamente;

• A família agrícola típica é constituída poradultos em idade de trabalhar;

• Em termos de classe social dominam as ocu-pações técnicas e de gestão. Tal fica a dever-se ao facto dos inquiridos desempenharemessa funções na exploração agrícola;

• O rendimento anual mais frequente é queestá entre 6001 a 10000 • .

O Indicador de Integração Local (IIL) éuma medida descritiva simples que indica aproporção de uma actividade em particular(compras, vendas, etc.), de um grupo de enti-dades económicas em particular (todas asempresas, empresas de grande dimensão, daindústria transformadora, etc.) afectado àeconomia local. Por exemplo, as empresas lo-calizadas na cidade X podem obter 25% dassuas compras (em termos de valor) de outrasempresas existentes na localidade, 50% dequalquer outro lugar dentro do país, 5% dequalquer outro lugar situado na U E. e 20%de outros países fora da U.E. Neste caso, oIILcompras desta cidade é de 0,25. Também po-dem vender apenas 10% da sua produção aempresas existentes na localidade, circunstân-cia em que o IILvendas da cidade é de 0.1. Asempresas da cidade podem obter apenas 40%do seu emprego (medido em número de tra-balhadores a tempo inteiro equivalente) deagregados familiares da localidade. Nestecaso, o IILemprego da cidade será de 0,4. Emconjunto, e calculadas para uma cidade emparticular, estes indicadores mostram, deimediato, em que medida as compras dosagregados familiares ou o emprego estão maisintegradas na localidade, do que propriamen-te na economia nacional, européia ou globalCOURTNEY, P; ERRIGTON, A. J (2000).

Page 73: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

73A integração local dos agregados familiares de seis pequenas e médias cidadesportuguesas sedeadas em meio rural: Resultados de um estudo empírico

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

As famílias agrícolas e não agrícolastêm um elevado grau de integração nas eco-nomias locais. Quando se analisa o compor-tamento nas compras de elevado valor e debaixo valor o grau de integração sobe para

as compras de baixo valor, excepto emTavira para o caso das famílias agrícolas.

O emprego das famílias agrícolas e nãoagrícolas conhece um elevado nível de inte-gração local com valores do IIL entre 0,9 a 1.

Quadro 2. Integração local das compras dos agregados familiares não agrícolas

Quadro 3. Integração local das compras dos agregados familiares agrícolas

Quadro 4. Emprego a tempo inteiro equivalente para os agregados familiares não-agrícolas

Page 74: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

74 Francisco Diniz

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Ao contrário do que acontecia com aanálise dos resultados económicos, nestecaso, os valores absolutos das transacçõesnão estão incorporados nas variáveis. A aná-lise baseia-se diretamente na proporção dasvendas e das compras de cada região.

As variáveis independentes derivamdas já incorporadas na análise descritiva, re-lacionadas, por exemplo, com a dimensão enúmero de anos na localidade, ao nível derendimento, à dimensão do agregado e à lo-calização do emprego para citar alguns.Pode utilizar-se a análise bi-variada paracomparar diferentes tipos de famílias relati-vamente a, cada uma das característicasanteriormente referidas.

A análise envolve a comparação dasmédias das respectivas variáveis dependen-tes para cada uma das características dasvariáveis independentes e terá de ser feitaem duas etapas:– Em primeiro lugar, deve calcular-se a

média e o desvio padrão para cada uma

das comparações;– Embora a comparação independente de

médias seja feita, normalmente, com re-curso ao teste t de Student, é provável queas variáveis dependentes não confirmemos pressupostos da distribuição normal eda igualdade de variâncias (Tal baseia-seem experiências anteriores com dadosdesta natureza. Caso os dados o permitam,será preferível usar o teste t de Student);nesse caso, a utilização do teste de ManWhitney U para duas amostras indepen-dentes e o de Kruskal-Wallis para mais doque duas amostras permitirá a obtençãode resultados mais consistentes. Isto cons-titui um equivalente não-paramétrico aoteste t de Student e implica a substituiçãode hierarquias para os valores reais. Dinizet al (2003).

Os resultados são apresentados nosquadros 6 e 7 para as famílias não agrícolase agrícolas, respectivamente.

Quadro 5. Emprego a tempo Inteiro equivalente para os agregados familiares agrícolas

Page 75: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

75A integração local dos agregados familiares de seis pequenas e médias cidadesportuguesas sedeadas em meio rural: Resultados de um estudo empírico

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Sobre a influência que algumas variá-veis têm no grau de integração local das com-pras das famílias não agrícolas a análise bi-variada permite-nos dizer o seguinte:– As variáveis que têm a ver com a dimen-

são do agregado e a localização do em-prego quase não influenciam o grau deintegração das famílias não agrícolas;

– O estatuto social e o tipo de compras (bai-xo/elevado valor) influenciam a integra-ção local das compras deste tipo de famí-lias, em todas as cidades;

– O facto das famílias terem ou não terem

filhos só influencia o nível de integraçãolocal das compras das famílias não agrí-colas residentes em ambas as cidades peri-urbanas;

– A origem do agregado só em Mirandelatem influência;

– O nível de rendimentos ó não tem influ-ência em Tavira;

– Para as famílias não agrícolas de Vila Real,Tavira e Lixa é que o facto de terem ounão veículo automóvel não tem influên-cia na integração local das suas compras;

– O número de anos a residirem na localida-

Quadro 6. Resultados da análise bi-variada para os agregados familiares não-agrícolas

Page 76: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

76 Francisco Diniz

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

de não tem qualquer influência em ambasas cidades peri-urbanas e na pequenacidade agrícola de Mirandela;

– Finalmente, relativamente ao tipo de com-pras ser em bens ou em serviços tem a suainfluência em todas as cidades excepto emduas pequenas, uma turística, Tavira e,outra peri-urbana, a Lixa.

A derradeira série de comentários dizrespeito à influência, exercida ou não pelomesmo leque de variáveis anteriormente ana-lisadas, no nível de integração local das com-pras dos agregados familiares agrícolas:

– A localização do emprego, o estatuto so-cial, o tipo de compras em bens ou emserviços, o ciclo familiar o facto de teremou não veículos automóveis não tem qua-se nenhuma influência no grau deintegração local das compras das famíli-as agrícola em todas as cidades estudadas;

– O rendimento anual tem influência tantoem Tavira e Silves pequena e média cida-de onde a actividade turística é relevantee na Lixa pequena cidade peri-urbana,mas só quando os concelhos limítrofes sãotidos em consideração. Em todas as ou-

tras cidades não influencia em nada onível de integração local das compras dosagregados familiares agrícolas;

– A origem do agregado e o número de anosna localidade tem um papel relevante emTavira quando quer o concelho ou os con-celhos limítrofes são tidos em considera-ção. Quando se considera a zonaalargada aos concelhos limítrofes o nú-mero de anos residências em Tavira e aorigem do agregado em Vila Real são tam-bém relevantes. A consideração somentedo concelho faz com que a origem doagregado passe, de igual modo, a ser de-terminante em Tavira, Silves e Esposende;

– O número de elementos da família temimportância em ambas as cidades agríco-las quando o concelho é tido em conside-ração. Quando se alarga esta zona aosconcelhos limítrofes esta variável torna-se importante só para o caso da cidadede Tavira;

– Finalmente, só na pequena cidade agrí-cola de Mirandela é que o tipo de com-pras em bens ou em serviços exerce a suainfluência na integração local das com-pras das famílias agrícolas.

Page 77: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

77A integração local dos agregados familiares de seis pequenas e médias cidadesportuguesas sedeadas em meio rural: Resultados de um estudo empírico

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Quadro 7. Resultados da análise bi-variada para os agregados familiares agrícolas

Page 78: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

78 Francisco Diniz

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

4 Considerações Finais

Uma visão integrada da rede urbanadas pequenas e médias cidades depende deuma complexa teia de processos, que articuleo núcleo urbano com a dinâmica dos espaçosrurais, num contexto de complementaridadepor forma, a equacionar fraquezas e poten-cialidades endógenas e exógenas. Isto é, se porum lado a dimensão e contiguidade não sãofatores determinantes na constituição de umarede dinâmica, já o papel do espaço rural, emparticular para as pequenas e médias cidades,não pode ser negligenciado no contexto dosprocessos de desenvolvimento económico.

Neste sentido, a inquirição feita permi-tiu fazer uma análise preliminar das relaçõesentre as freguesias rurais e as freguesias urba-nas deste concelho, por um lado e do conce-lho com as restantes áreas do país por outro.

Uma análise das transacções das famí-lias pelo tipo de bens que consomem é reve-ladora da importância que área urbana doconcelho tem. De facto, quer se trate de bense serviços de ordem elevada (i.e. de menorfrequência de consumo) ou de baixa ordem(i.e. maior frequência de consumo) estes sãoadquiridos primordialmente na cidade. Azona rural envolvendo as cidades adquirealguma importância para as famílias agrí-colas (i.e. famílias que têm uma exploraçãoagrícola), sendo esta tendência mais signifi-cativa no que concerne as compras de baixaordem. A isto não é com certeza alheio a “re-sistência” às deslocações por parte dos agre-gados familiares.

Verifica-se claramente um maior nú-mero de deslocações das famílias que resi-dem nas zonas urbanas aos locais de abas-tecimento. Do mesmo modo, a dispersão es-pacial dos locais de fornecimento de bens eserviços é menor para as famílias que resi-dem nas zonas rurais. Efectivamente, estassatisfazem a quase totalidade das suas neces-sidades no concelho e nalguns concelhoslimítrofes (ver Quadro 8).

Efectivamente parece existir uma dis-tribuição policêntrica do espaço, perspecti-va de resto defendida pelo EDEC como aactual evolução do espaço da UniãoEuropeia. Aliada a esta visão de um espaçopolicêntrico o EDEC afirma ainda a presen-ça de uma nova parceria entre o espaço ru-ral e o espaço urbano, onde é privilegiado odesenvolvimento de uma região funcional-mente integrada em detrimento da tradicio-nal dicotomia urbano vs rural. Esta novaforma de perspectivar o espaço europeu pre-vê uma capacidade de desenvolvimentoglobalizadora das pequenas e médias cida-des e da sua envolvente rural. A rede urba-na neste contexto surge como o espaço deinteracção de uma cidade com outras (inde-pendentemente da proximidade) mas tam-bém com a sua envolvente rural contígua.A esta nova perspectiva não é obviamentealheia a questão da melhoria de acessibili-dades e a procura de regiões e áreas eficien-tes que propagam o desenvolvimento paraas áreas rurais até agora muitas vezes des-curadas e em declínio populacional e funcio-nal crescente.

Quadro 8. Frequência mensal de compras

Page 79: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

79A integração local dos agregados familiares de seis pequenas e médias cidadesportuguesas sedeadas em meio rural: Resultados de um estudo empírico

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

A contestação a esta visão do espaçorural europeu, particularmente no que serefere aos países do sul da Europa, não tar-dou em se sentir das mais diversas formas.Hadjimichalis (2000, por exemplo, afirmaque “In this powerful imaginary of spatiallyintegrated Europe, rural space is conceivedas a shrinking entity crossed by even fastercommunication infrastructure. (…) Concernsin the ESDP about “pump” effects and“tunnel” effects are only a pretext. Andcontrary to highly optimistic reports, newtelecommunications and informationtechnology illustrate how new trends caninclude and exclude places and people andthis raises a more general issue of hoe pro-cesses of marginalization and exclusionoperate in rural areas” e, ainda que “the newurban-rural partnership is an attempt to dealwith the criticism of urban bias (…) but theprincipal focus is on large urban areas and“their” needs.”

O papel policêntrico pretendido paraas pequenas e médias cidades, nomeada-mente as que se localizam perto de meios,predominantemente, rurais pode ter diferen-tes leituras quando se analisam a intensida-de da integração local dos diversos agenteseconómicos.

As famílias ligadas ao sector agrícolaestão mais ligados a economia local do queos que desenvolvem a sua actividadeeconómica fora do sector primário.

Tendo em linha de conta que os agen-tes que se encontram fora da agriculturadesempenham um papel verdadeiramenterelevante na diversificação das economiaslocais sediadas em meio rural verificamos quenem tudo o que luz é ouro.

Nota1 The Role of Small and Medium-sized Towns in Rural

Development [EU RTD Project QLRT-2000-01923], écoordenado pela Universidade de Reading ePlymouth. A equipe portuguesa é coordenada por F.Diniz e é composta por A. Poeta, C. Silva, L. Pinto, P.António e S. Abreu.

5 Referências

ALVES, B. A formação dos sistemas urbanos: Compêndiode Economia Regional. Coimbra: Colecção APDR, 2002.

CHRISTALLER, W. Die Zentralen Orte in Süddeutschland.Fena, 1933.

COMISSÃO EUROPEIA. Esquema de Desenvolvimento doEspaço Comunitário – Para um desenvolvimento equilibrado esustentável do território da EU. Luxemburgo: Serviço dePublicações Oficiais das Comunidades Europeias, 1999.

COURTNEY, P. and Errigton A. Small towns as ‘sub-poles’ in European Rural Development: Policy, theoryand methodology. In: AGRICULTURAL ECONOMICSSOCIETY ANNUAL CONFERENCE, University ofPlymouth, 11-14 Abril, 2003.

_____. The role of small towns in the local economyand some implications for development policy. In: LocalEconom, n. 15, 2000.

DINIZ, F.; Poeta, A.; Silva, C.; António, P.; Ribeiro, L.;Abreu, S. Portuguese Report on Pilot Survey: Peso daRégua. Vila Real: UTAD, 2002.

_____. National Report for Portugal – Deliverable Twelve.Vila Real: Marketowns, 2003.

HADJIMICHALIS, C. Imagining rurality in the newEurope and dilemmas for spatial policy. Actas do VIIIENCONTRO NACIONAL DA APDR. Desenvolvimentoe Ruralidades no Espaço Europeu, 1, Coimbra, 2000.

Keane, M.J. Rural and Local Development in Ireland:exploring the Theory-Practise Interface In: RegionalStudies, n. 31, 1997.

LÖSCH, A. Die Raumliche Ordnungder Wirtschaft. Fena,1940.

PARR, J.B. Growth-pole Strategies in Regional EconomicPlanning: A retrospective View. Part 1. Origins andAdvocacy. In: Urban Studies, n. 36, v. 8, 1999.

PERROUX, F. Note sur la notion de pole de croissance.In: Economie Appliquee, n. 8, 1955.

WILLIAMS, C.C. Consumer Services and EconomicDevelopment, London: Routledge, 1997.

Page 80: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS
Page 81: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Perspectivas de desenvolvimento local dos pequenos produtores de leite domunicípio de Campo Grande-MS (ago/2001 - ago/2002)

Local development perspectives for milk small producers in Campo Grande City,Mato Grosso do Sul State – Brazil (Aug. 2001 - Aug. 2002)

Perspectives de développement local pour les petits producteurs de lait de la ville deCampo Grande, État du Mato Grosso do Sul – Brésil

Perspectivas de desarrollo local de los pequeños productores de leche del município de CampoGrande-MS (ago/2001 - ago/2002)

Rosirene Reggiori Pereira Caldas*

Antonia Railda Roel**

Recebido em 14/06/2005; revisado e aprovado em 19/08/2005; aceito em 31/01/2006.

Resumo: O presente trabalho teve como principal objetivo diagnosticar a pequena produção primária leiteira domunicípio de Campo Grande, MS, da produção à comercialização, em face da regulamentação de novas normas paraa captação, armazenamento, transporte e industrialização do produto sob o enfoque do desenvolvimento local.Consistiu na análise de dados de uma pesquisa desenvolvida na área rural do Município pela Secretaria Municipal deDesenvolvimento Econômico (SEDEC), durante o período de agosto de 2001 a agosto de 2002. O diagnósticodemonstra que a atividade leiteira para os pequenos produtores do Município é de extrema importância na composi-ção da renda mensal, mesmo apresentando uma reduzida produtividade, qualidade e baixo poder de negociação. Nainteração entre o perfil do pequeno produtor de leite e a nova legislação regulamentada pelo governo, constatou-seque, o segmento não dispõe de condições estruturais e financeiras propícias à adoção das inovações tecnológicaspropostas.Palavras-chave: Pequeno produtor de leite, legislação leiteira, desenvolvimento local.Abstract: The main objective of this work is to diagnosis the milk small primary production at the city of CampoGrande, MS, from the production to the commercialization, in face of the regulation of new rules for capitation,storage, transport and industrialization of the product, under the approach of the local development. It’s based on theresearch analysis of data, developed in the agricultural area of the City for the Municipal Department of EconomicDevelopment (SEDEC), during the period of August, 2001 to August, 2002. The diagnosis demonstrates that themilk activity for the small producers of the City is very important in the composition of the monthly income, in spiteof the reduced productivity, quality and low power of negotiation. In the interaction between the profile of the smallmilk producer, and the new legislation regulated for the government, it is evideny that the segment does not make useof propitious structural and financial conditions to the adoption of the technological innovations proposals.Key words: Small milk producer, milk legislation, local development.Resumé: Le travail presenté dans cet article a pour objectif principal la réalisation d’un diagnostic sur la peiteproduction laitère de la ville de Campo Grande, MS, en partant de la production jusqu’à la commercialisation, enfonction des nouvelles normes pour la collecte, stockage, transport e industrialisation du produit, sous la vision dudéveloppement local. La recherche a été réalisée à partir de données obtenues para le Secrétariat Municipal deDéveloppement Economique (SEDEC), durant la période d’août 2001 à août 2002. Le diagnostique démontre, pourles petits producteurs de la ville, l’activité laitière est d’une très grande importante dans la formation de leurs revenusmensuels, même si la productivité et la qualité sont très faibles. L’interaction entre le profil du producteur laitier et lesnouvelles normes adoptées par le Gouvernement, il a été constate que le segment ne dispose pas des conditionsstructurelles et financières suffisantes pour l’adoption des nouvelles technologies proposées.Mots-clés: Petit producteur laitier; législation laitière; législation brésilienne; développement local.Resumen: El presente trabajo tuvo como principal objetivo diagnosticar la pequeña producción primaria lechera delmunicipio de Campo Grande, MS, de la producción a la comercialización, en faz de la reglamentación de nuevasnormas para la captación, acopiamiento, transporte e industrialización del producto bajo el enfoque del desarrollolocal. Consistió del análisis de datos de una pesquisa desarrollada en el área rural del Municipio, por la SecretaríaMunicipal de Desarrollo Económico (SEDEC), durante el período de agosto de 2001 a agosto de 2002. El diagnósticodemuestra que la actividad lechera para los pequeños productores del Municipio es de extrema importancia en lacomposición de la renta mensual, aún presentando una reducida productividad, calidad y bajo poder de negociación.En la interacción entre el perfil del pequeño productor de leche y la nueva legislación reglamentada por el gobierno, seconstató que, el segmento no dispone de condiciones estructurales y financieras propicias a la adopción de lasinnovaciones tecnológicas propuestas.Palabras-claves: Pequeño productor de leche; legislación Lechera; desarrollo local.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 81-92, Mar. 2006.

* Mestre em Desenvolvimento Local. ([email protected])** Doutora em Engenharia Agronômica, Professora do Mestrado em Desenvolvimento Local da UniversidadeCatólica Dom Bosco. Av. Tamandaré 6000, CEP 79117900, Tel.: 673312-3596. Campo Grande-MS. ([email protected]).

Page 82: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

82 Rosirene R. P. Caldas; Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

No Brasil a política de modernizaçãoda agricultura, que teve seu auge na décadade 1970, esteve associada à implantação eexpansão do complexo agro-industrial favo-recendo no aumento da produção e da pro-dutividade agrícola, porém, o uso inadequa-do da mecanização e dos insumos químicose biotecnológicos aliados à má distribuiçãodo crédito rural provocaram impactos nega-tivos tanto ao meio ambiente quanto à socie-dade e, principalmente, à pequena proprie-dade familiar. Dessa forma, a produção e aprodutividade do setor agrícola passaram aapresentar desigualdades regionais, sendoque, no caso do setor produtivo leiteiro, ob-serva-se que a atividade concentrou-se naspropriedades especializadas das regiões Sule Sudeste do país.

Dados recentes da pecuária brasileirademonstram a eficácia econômica do agro-negócio do leite no ano de 2000, que medidapelo valor bruto da produção pecuária cor-respondeu a 19%, ficando atrás somente dovalor da produção da carne bovina. Alémdisso, destacam-se outros fatores relaciona-dos à grande importância da atividade leitei-ra e seus derivados como o aspecto social de-corrente da geração de emprego e renda,principalmente, aos agricultores familiarese o valor nutricional do alimento. Entretanto,do ponto de vista organizacional, tecnológi-co e gerencial, a pecuária de leite, no Brasil,ainda é muito frágil, apresentando reduzi-da competitividade e lucratividade da pro-dução primária.

Conforme dados do FIBGE (1999), oestado de Mato Grosso do Sul possui 433.524cabeças de vacas e produz 409 milhões delitros de leite/ano, sendo que as três maio-res bacias leiteiras em volume de produçãosão: Bolsão, Campo Grande e Glória de Dou-rados. A produção média de litros/vaca/anonestas bacias leiteiras perfaz 970,23 litros/vaca/ano, enquanto que as demais cincoregiões de Mato Grosso do Sul somam 914,57litros/vaca/ano.

Uma pesquisa realizada pelaEMPAER/MS (2000), constatou que quase50% da produção de leite sob inspeção noEstado é exportada, principalmente, para osestados de São Paulo e Paraná de forma innatura, ou seja, sem passar por processos in-dustriais que angariariam lucros e rentabili-dade ao segmento produtivo.

Além disso, os produtos industrializa-dos derivados do leite consumidos no Esta-do são em grande parte oriundos de outrosmercados produtores vizinhos, isto, devidoà insuficiente competitividade da produçãoindustrial que não possui capacidade paraatender o mercado interno e exportar. Masas indústrias de lácteos em Mato Grosso doSul exportam, principalmente, queijos paraoutros Estados (DFA/MS, 2001).

Particularmente, o município de Cam-po Grande apresenta-se como a segundamaior bacia leiteira em volume de produçãoe a quinta em produtividade de litro/vaca/ano (FIBGE/1999). Segundo dados daEMPAER/MS (2000), a produção in naturaou industrializada está voltada a suprir, ba-sicamente, as necessidades de abastecimen-to interno do Município, sendo que nos pe-ríodos de seca responde por 89,64% do totalcomercializado e, nos períodos das águas,corresponde a 87,89%.

Entretanto, vale ressaltar que, obser-va-se que os preços pagos pelas indústriasde laticínios à produção local são baixos, oque leva muitos produtores a praticarem ocomércio clandestino ou “de canequinha”como forma de obtenção de maiores lucrose alternativa de se manterem na atividade.

Neste sentido, a partir do início da dé-cada de 1990, o segmento da cadeia produti-va do leite, no Brasil, vem passando portransformações com o propósito de desenvol-ver um ambiente competitivo frente à con-corrência externa e interna, e foram estimula-das pela liberação do preço do leite em 1991,abertura comercial ao mercado internacio-nal e ao Mercosul, estabilidade da economiacom o Plano Real, aumento da demanda dosmercados por produtos de alta qualidade emudança do ponto de referência do preçodo leite para o leite longa vida (UHT).

Frente às atuais condições mercadoló-gicas e ao fato do recente avanço da ativida-de leiteira para o Centro-Oeste, o estado deMato Grosso do Sul apresenta-se como umaregião de considerável potencial de desenvol-vimento da cadeia produtiva do leite, neces-sitando de uma reestruturação do setor comenfoque nas características e cultura dos seg-mentos de produtores visando tornar a ati-vidade atrativa economicamente e em pa-drão de qualidade dos produtos lácteos.

Page 83: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

83Perspectivas de desenvolvimento local dos pequenos produtores de leite domunicípio de Campo Grande-MS (ago/2001 - ago/2002)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

A baixa competitividade apresentadapela produção leiteira de Campo Grande ea necessidade de adequação do setor ao Pro-grama Nacional de Melhoria da Qualidadedo leite - PNMQL, que prevê novas normaspara captação, armazenamento, transportee industrialização do produto, torna-se alvode discussão dos órgãos competentes em tor-no dos obstáculos para a modernização dosetor.

Desta forma, ao longo do texto, preten-de-se diagnosticar a pequena produção pri-mária leiteira do município de Campo Gran-de-MS, da produção à comercialização, emface da nova legislação sob o enfoque do de-senvolvimento local. Diante dos dados cole-tados, objetiva-se localizar os empecilhosbem como as potencialidades da comunida-de local propondo alternativas de soluçãoaos problemas específicos dos pequenos pro-dutores com vistas a ampliar a capacidadeprodutiva do rebanho leiteiro e a lucrativi-dade da produção a partir do aproveitamen-to dos recursos disponíveis possibilitando apermanência do homem no campo e o de-sencadeamento de ações inovadoras em bus-ca do desenvolvimento do meio rural.

Desenvolvimento local

A necessidade de novas formas de or-ganização do planejamento para o desenvol-vimento econômico frente ao novo cenáriomundial, que clama pela necessidade de au-mento da remuneração do produto, orien-ta-se por uma descentralização político-ad-ministrativa e busca por meio da cooperaçãoentre o setor público e a sociedade civil desen-volver meios alternativos inovadores para apromoção do desenvolvimento territorial.

Segundo Albuquerque (1998), somen-te a partir dos anos setenta e oitenta, na Eu-ropa, com a crise do modelo de desenvolvi-mento fordista foi que se intensificou a bus-ca de informações referentes às iniciativasdo processo de desenvolvimento econômicolocal. No caso brasileiro, a história é maisrecente e data a partir da última década.

Porém, é fato que das definições, até omomento, delineadas para o desenvolvimen-to local constata-se a convergência num úni-co objetivo que é o da melhoria nos níveis debem-estar social e de qualidade de vida por

intervenção da mobilização e valorização dosrecursos endógenos (humano, institucional,econômico, ambiental e cultural).

O processo de desenvolvimento localde forma antagônica aos modelos de desen-volvimento, até então, propostos baseia-sepelo mecanismo de democracia participati-va celebrada entre o setor público, o setorprivado e a comunidade para a identifica-ção dos problemas e das potencialidades lo-cais, bem como, no planejamento e execu-ção das atividades.

Franco (1999, p.183) argumenta quena ausência de interação e consenso porparte da sociedade o desenvolvimento localse inviabiliza e desconstitui:

O desenvolvimento local integrado e sustentá-vel pressupõe a combinação de esforçosexógenos e endógenos, governamentais e não-governamentais, públicos e privados. Não ha-verá desenvolvimento local integrado e sus-tentável sem a participação da sociedade. Semessa participação, o próprio conceito sedesconstitui.

O acesso ao conhecimento por intermé-dio da educação, capacitação e informaçãoconstitui-se num fator estratégico para o al-cance do desenvolvimento local na medidaem que promove o desenvolvimento do capi-tal humano. A fragilidade e a incipiência dosatores locais, públicos e privados, em relaçãoà sua articulação e ao planejamento, execu-ção e acompanhamento das iniciativas paraa criação de atividades produtivas inovado-ras carece da atuação de um agente externoque atue como agenciador/intermediador daformação e educação da comunidade comvistas ao desenvolvimento.

Agricultura familiar e desenvolvimentorural

Segundo Abramovay (1997), a agri-cultura familiar refere-se àquela em que agestão, a propriedade e a maior parte do tra-balho são oriundos de indivíduos que man-têm entre si laços de sangue ou de casamen-to. Nos estabelecimentos familiares as deci-sões sobre o que e como produzir não sãodeterminadas apenas pela lógica do merca-do, mas, também, por outras lógicas, que vi-sam atender as variadas necessidades e obje-tivos da família, nem todas vinculadas à ren-da da unidade produtiva (PASSINI, 1999).

Page 84: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

84 Rosirene R. P. Caldas; Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

No cenário econômico nacional, veri-fica-se que o Brasil apostou exclusivamenteno desenvolvimento baseado nas capacida-des produtivas de exploração individual ena concentração dos meios de produção daagricultura patronal, não vislumbrando aimportância e as vantagens da agriculturafamiliar na produção agropecuária pela suaacentuada diversificação e flexibilidade doprocesso decisório.

Soares (2001), em seu trabalho sobre amultifuncionalidade da agricultura familiar,destaca a importância do segmento na pro-dução de alimentos, distribuição de renda egeração de empregos para a garantia da se-gurança alimentar. Com base nos dados doCenso de 1995/96 (FIBGE) demonstra queos agricultores familiares produzem 24% doValor Bruto da Produção Agropecuária Na-cional (VPB) da pecuária de corte, 54% dapecuária de leite, 58% dos suínos, 40% dasaves e ovos, 33% do algodão, 72% da cebo-la, 67% do feijão, 97% do fumo, 84% damandioca, 49% do milho, 32% da soja, 46%do trigo, 58% da banana e 25% do café.

Entretanto, ressalta que grande parteda insegurança alimentar do Brasil decorreda inviabilização da agricultura familiarpela falta de linhas de crédito adequadas,falta de infra-estrutura de produção e comer-cialização e, inexistência de políticas públi-cas de saúde e educação o que vem provo-cando o empobrecimento e a expulsão dosagricultores familiares do campo.

Segundo Paschoal (1994), com o pas-sar do tempo e o evoluir da crise econômicamundial, os custos da produção agrícola tor-naram-se impraticáveis, diminuindo a mar-gem de lucro dos produtores e elevando ex-cessivamente o preço dos alimentos aos con-sumidores, comprovando que o modelo deagricultura industrializada é ecológica, so-cial e economicamente inviável. Neste mode-lo industrializado da agricultura, a distribui-ção da renda agrícola se processa de manei-ra desigual, na qual 66% dos lucros são paraas indústrias de insumos e máquinas, 19%para o comércio e somente 11% dos lucrosdestinam-se aos produtores rurais, de acor-do com Ari de David citado por Roel (2002).

Desta forma, coloca-se a importânciada elaboração de um plano de desenvolvi-mento rural ajustado às vocações econômi-

cas, sociais, culturais e ambientais específi-cas das distintas regiões e propriedades.

O processo de desenvolvimento susten-tável deve partir do potencial ambiental,cultural, econômico e social local. Para isto,a mobilização, a organização e o comprome-timento dos indivíduos da agricultura fami-liar em articulação com a esfera governa-mental e entidades não governamentais afinsé imprescindível para a formulação, imple-mentação, efetivação e continuidade de po-líticas de desenvolvimento rural, pois estesegmento apresenta uma identificação como território a que pertence e possui caracte-rísticas, problemas e aspirações comuns quese asseguradas propiciarão o desenvolvimen-to do conjunto da população.

Neste sentido Dowbor (1995), argu-menta que é necessário desenvolver a pro-dutividade social promovendo o uso racio-nal dos recursos de uma determinada comu-nidade, que na ótica do desenvolvimentolocal refere-se à melhora da produtividadeconjunta. Para isso, são necessárias açõesarticuladas entre as classes sociais dos seg-mentos econômicos urbanos e rurais.

Cooperativismo e associativismo

O cooperativismo e o associativismosão formas de organização social diferenci-adas que tem como objetivo principal a me-lhoria na qualidade de vida da coletividade,a partir do engajamento e participação dosindivíduos associados.

No meio rural as diversas associaçõesde produtores rurais são organizadas paraa realização de trabalhos de produção e co-mercialização de mercadorias, enquanto queas cooperativas de produtores rurais orga-nizam-se em busca do aperfeiçoamento doprocesso de produção e da maior rentabili-dade do produto pela venda direta ao con-sumidor (SEBRAE, 1997).

Estes instrumentos de integração eparceria, desde que bem geridos, são apon-tados aos produtores rurais da agriculturafamiliar como formas de organização admi-nistrativa para obterem poder representati-vo de participação em conselhos, comissões,comitês, entre outros, e de reivindicação jun-to aos mercados para vencerem dificulda-des que não conseguiriam isoladamente.

Page 85: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

85Perspectivas de desenvolvimento local dos pequenos produtores de leite domunicípio de Campo Grande-MS (ago/2001 - ago/2002)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Mudanças na legislação da pecuárialeiteira

O Ministério da Agricultura e doAbastecimento com vistas à “modernizaçãoda atividade leiteira” propõe a implantaçãodo Programa Nacional de Melhoria da Qua-lidade do Leite – PNMQL, através da Porta-ria n° 56 de 07 de dezembro de 1999, queprevê mudanças nas normas de coleta,armazenamento, transporte e industrializa-ção da produção; a capacitação da mão-de-obra e a disponibilização de recursos deinfra-estrutura e financeiros com prazos ejuros compatíveis com a atividade.

As principais inovações e mudançaspropostas pela Portaria referem-se a obriga-toriedade do resfriamento do leite nas pro-priedades, o transporte a granel até a plata-forma da indústria de laticínios e o estabeleci-mento de novos critérios para o controle daqualidade a partir da realização de testes dealizarol, crioscopia, microorganismos, teormínimo de proteínas, contagem padrão emplacas e contagem de células somáticas.

A nova legislação visa, também, agradativa substituição do leite tipo C, querepresenta 95% da produção nacional, pelochamado leite cru refrigerado, quando noestado de cru, e leite pasteurizado quandoenvasado após tratamento térmico o qualterá as mesmas exigências do atual leite tipoB. Assim sendo, haverá uma redução natipificação do leite pela fusão do leite pas-teurizado com o leite tipo B.

Conforme definido pela Instrução Nor-mativa n° 51 de 18 de setembro de 2002, essanova legislação deverá vigorar a partir dejulho de 2005, nas regiões Sul, Sudeste e Cen-tro-Oeste, e em julho de 2007, nas regiõesNordeste e Norte, o que representará ummarco a todos os elos da cadeia produtiva.

Entretanto, a referida Portaria n° 56não vem ao encontro às diretrizes do desen-volvimento local, pois assim como as políti-cas públicas, até então, vigentes, esta é maisuma lei imposta de cima para baixo a todo osegmento, sem respeitar as características es-pecíficas das distintas regiões e propriedades.

As novas exigências previstas e os pra-zos para a sua adoção ameaçam a exclusãodos produtores familiares do mercado, emface da inexistência de medidas e recursos

condizentes ao perfil do segmento para aadequação às novas normas, e favorece ex-clusivamente aos grandes empreendimentosprodutores e agroindustriais relacionados àcadeia produtiva do leite.

Metodologia

Definido que a comunidade alvo seriaos pequenos produtores de leite do municí-pio de Campo Grande e apoiando-se numapesquisa executada em parceria pela Secreta-ria Municipal de Desenvolvimento Econômi-co/PMCG, Sindicato Rural de Campo Gran-de e Universidade para o Desenvolvimentodo Estado e da Região do Pantanal –UNIDERP, na área rural do Município, aqual utilizou-se de um formulário estrutura-do que apurou informações referentes à iden-tificação do produtor e do entrevistado, iden-tificação da propriedade, caracterização daprodução e comercialização de leite, alimen-tação do gado leiteiro, rebanho e manejo,composição da propriedade, atividades exer-cidas na propriedade, caracterização da pe-cuária, estrutura física da propriedade, ex-pectativas e dificuldades em relação à ativi-dade e perfil do entrevistado, foram separa-dos os dados referentes à produção total deleite, e, destes, foram classificadas e extraídasas propriedades e produtores alvo de acor-do com a sua produção média diária na épo-ca das águas. Para a separação dos 771 (se-tecentos e setenta e um) pequenos produto-res utilizou-se a classificação segundo Silva(1996, p.8), que os agrupa entre os produto-res de leite com produção média diária até55 (cinqüenta e cinco) litros/dia; os médiosprodutores de 56 (cinqüenta e seis) a 270(duzentos e setenta) litros/dia e os grandesprodutores com média diária de extraçãoacima de 270 (duzentos e setenta) litros/dia.

Os dados foram separados e analisa-dos em função de produção e produtivida-de, tipo de alimentação e mineralização, uti-lização de vacinas e tratamento sanitário deendo e ectoparasitas, grau de informação eassistência técnica e comercialização.

Desta forma, foram delineadas infor-mações que possibilitaram o confrontamentoda situação geral dos pequenos produtoresde leite do Município em relação ao enfoqueteórico do desenvolvimento local frente à

Page 86: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

86 Rosirene R. P. Caldas; Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

implantação da nova legislação, tendo emvista a apresentação de empecilhos, poten-cialidades e oportunidades da comunidade-localidade.

Caracterização geral dos estabelecimentosprodutores de leite de Campo Grande

Segundo dados do levantamento omunicípio de Campo Grande possui 954 pro-priedades produtoras de leite, o que equivalea 56,72% do total dos estabelecimentos en-trevistados. Observa-se que no período daságuas a produção média de litros de leite/dia é maior se comparado ao período de seca,isto, em função da melhoria das pastagensnaturais e artificiais ocasionada pelos fatoresclimáticos favoráveis da época chuvosa. Con-siderando-se a metodologia de Silva e o to-tal da produção média diária na época daságuas, constatou-se que os produtores de lei-te se classificam como médios produtores emrazão da média diária verificada de 64,32litros.

Os estabelecimentos são geridos porpessoas, normalmente um capataz,desqualificadas e sem treinamento adequa-do para a tomada de decisões que visem oaumento da produtividade dos animais, pois60,23% dos proprietários não residem emsuas propriedades rurais.

As pastagens artificiais como aBrachiaria decumbens, a B. humidicola e a B.brizantha são predominantes (73,60%) e, so-mente em 1,08% da área se verifica a pre-sença de pastagens naturais com o capimjaraguá e a grama mato grosso. O cultivo decapineiras como a cana-de-açúcar e o napieré reduzido e representa 1,06% da área totaldas propriedades.

O rebanho leiteiro é composto de ani-mais cruzados ou enraçados (96,17%), e asprincipais raças verificadas no cruzamentoforam a holandesa, gir, caracu, nelore,simental, pardo suíço e Jersey. Os animaisenraçados caracterizam-se pela maior resis-tência as mudanças climáticas, menor custode alimentação animal e garantia no abas-tecimento de carne e leite.

No geral, as propriedades não dis-põem de instalações físicas adequadas parao manejo adequado do gado leiteiro e nãoempregam a segunda ordenha e nem a or-

denha mecânica para aumento da produti-vidade do leite.

Quanto a mão-de-obra empregada,observa-se que o trabalho remunerado repre-senta 64,94% do total, entretanto, constata-se que a utilização da mão-de-obra familiarnas atividades rurais, principalmente, pelospequenos estabelecimentos, complementa eaté mesmo substitui a assalariada. Dessa for-ma, e referindo-se a definição de Abramovay(1997) a respeito da agricultura familiar, ouseja, aquela em que se utiliza a força de tra-balho de indivíduos que possuem laços desangue ou de casamento, conclui-se que ospequenos produtores de leite do Municípioclassificam-se como produtores familiares.

O baixo acesso a crédito bancário tam-bém foi apontado pelos estabelecimentosentrevistados, o que conforme Burke eMolina Filho (1988) é característico da uni-dade produtiva camponesa.

Situação geral dos pequenos produtoresde leite de Campo Grande

Ao procedermos a separação dos da-dos referentes aos pequenos produtores deleite procurou-se identificar, quantitativa equalitativamente, as características peculia-res à produção no intuito de se traçar umperfil geral para este segmento.

Conforme o levantamento, o montan-te de vacas leiteiras dos pequenos produto-res é de 15.241 cabeças e equivale a 78,70%do total apresentado por todas as proprie-dades que exploram a pecuária de leite, atin-gindo um volume médio de produção, naseca e nas águas, de 11.729 litros/dia. Ossetores que apresentam maior produção di-ária de litros de leite são: o setor 1 localizadoentre as rodovias BR 163 e MS 010, o setor 2entre a MS 010 e CG 040, e o setor 7 referen-te às propriedades que se localizam entre aBR 163 e BR 262, setores estes que ficam pró-ximos do centro consumidor.

A produtividade animal média é infe-rior a 1 litro de leite/vaca/dia. Isto permite-nos comprovar que o maior volume de leiteproduzido no Município dá-se com o mane-jo de gado de baixo grau de especialização eenfatiza a necessidade de cursos de capaci-tação de órgãos de extensão rural e de aces-so a financiamentos adequados.

Page 87: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

87Perspectivas de desenvolvimento local dos pequenos produtores de leite domunicípio de Campo Grande-MS (ago/2001 - ago/2002)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Alimentação e suplementação do rebanho

Com relação à alimentação do gadoleiteiro os pequenos produtores adotam umadieta durante o ano todo à base de pasta-gem/campo. O suplemento concentradomineral aparece como um segundo item dadieta alimentar animal, sendo empregadapor 96,61% dos estabelecimentos. Duranteo período da seca verifica-se o emprego devolumosos e concentrados no cocho comosuplementação à dieta alimentar.

Dentre os volumosos, a forragem ver-de que se refere às variadas espécies capinei-ras e, especialmente, a cana-de-açúcar e onapier, foram apontadas como a principalforma de suplementação implementada nasfazendas, sendo seguida, em menor propor-ção pela silagem e o feno.

A adoção de outros concentrados naalimentação suplementar dos animais é pou-co relevante e baseia-se no sal comum, nasrações formuladas no comércio e nas raçõescom fórmulas especiais preparadas nas pro-priedades leiteiras.

Observa-se que os cuidados para oabastecimento de suplementação mineral noscochos não atende às exigências nutricionaisdos animais e, que em aproximadamente S!(um terço) das propriedades a freqüência nareposição é semanal.

Os métodos alimentares praticados namaioria dos estabelecimentos (68,97%) foramescolhidos pelos próprios proprietários quejustificaram terem conhecimentos e ou vivên-cia na área rural para a adoção de iniciativas.

Vacinas e tratos sanitários do rebanho

Considerando que o sistema de cria-ção de gado no município de Campo Gran-de é, predominantemente, o extensivo, asmedidas de precaução sanitária e higiênicado rebanho leiteiro foram apuradas com vis-tas a avaliarmos a incidência da utilizaçãode produtos químicos e utensílios adequa-dos para a extração do leite.

Os resultados obtidos quanto à vaci-nação contra a febre aftosa e o carbúnculodemonstram que a maioria dos pequenosprodutores adota estas práticas, e que, tam-bém, realizam testes para o diagnóstico dabrucelose.

Conforme os dados a prevenção daaftosa é realizada por 99,48% dos proprietá-rios, a do carbúnculo por 75,59% destes, e, oíndice na adoção de testes para diagnósticoda brucelose foi de 60,05%. Além das vaci-nações contra a aftosa e o carbúnculo foi ve-rificado que o controle da raiva herbívora épraticado em 33,03% dos estabelecimentos.

A vermifugação e o controle de ectopa-rasitas como o carrapato, o berne e a moscado chifre são práticas de sanidade animalpredominante nas fazendas leiteiras, confor-me disposto.

Verifica-se que a técnica da vermifuga-ção é adotada por 89,40% dos estabelecimen-tos e vem sendo realizada na maioria doscasos duas vezes ao ano. O controle de car-rapato e berne é quase que absoluto (97,65%)nas propriedades, assim como, a prevençãocontra a mosca do chifre (97,52%).

Também, em se tratando de saúde ani-mal do rebanho leiteiro, o registro de casosde mastite não foi apontado entre as vacasleiteiras, no qual 74,74% dos proprietários afir-maram nunca terem sofrido com o problema.

Nas fazendas dos pequenos produto-res de leite foi constatado que ao menos ummétodo de prevenção higiênica é adotado naordenha. Entretanto, revela que as práticasde higiene mais comuns são insatisfatórias.

Em relação aos utensílios utilizadospara a coadura do leite tem-se que a peneiraé empregada em 55,50% dos estabelecimen-tos, enquanto que, em 51,70% é utilizado opano como filtro. A limpeza do úbere davaca na hora da ordenha é verificada emapenas 41,75% das fazendas e, a limpezaadequada dos utensílios envolvidos na ex-tração de leite, antes e após serem utiliza-dos, é realizada por 62,30% dos produtores.

Resumidamente, os dados referentes àprevenção sanitária do rebanho leiteiro dospequenos produtores apresentam índicesgerais satisfatórios, enquanto que os resul-tados da adoção de métodos para a higienena ordenha ainda são precários.

Assistência técnica

Dispondo o Município de órgãos, go-vernamentais e não-governamentais, relaci-onados às atividades rurais e que prestamassistência técnica, observou-se que, os ser-

Page 88: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

88 Rosirene R. P. Caldas; Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

viços são insuficientes e não atingem a maio-ria dos produtores de leite.

Os dados demonstram que o acompa-nhamento da sanidade animal do rebanhoé realizado pelos próprios proprietários ouempregados em 61,20% das fazendas; a as-sistência técnica privada é disponibilizadapor 30,67% dos proprietários e, somente8,13% dos entrevistados utilizam a assistên-cia técnica governamental.

Dentre as entidades governamentaisque disponibilizam assistência técnica aosentrevistados as mais atuantes a nível esta-dual foram o IAGRO e o IDATERRA, e, anível municipal a SEDEC.

Comercialização do leite

A atividade leiteira, no Brasil, semprerepresentou uma fonte de renda segura aospequenos produtores que comercializam suaprodução. Entretanto, a prática comercial doleite produzido nas fazendas leiteiras deCampo Grande demonstra um baixo índice.

Conforme os resultados, a grande mai-oria dos pequenos produtores, ou seja, oequivalente a 64,07% do total, não vende oleite extraído em suas fazendas e, daquelesque praticam o comércio da produção veri-fica-se que 93,50% entregam o leite na suaforma in natura ou cru.

Os baixos níveis verificados na adoçãode mecanismos para a agregação de valorao comércio do leite in natura, como oresfriamento e a pasteurização, limitam oaumento da rentabilidade ao produtor quenão pode armazenar o produto por não pos-suir equipamentos adequados de tratamen-to térmico para a sua conservação.

Entretanto, verifica-se que a maiorparte dos produtores emprega o leite na fa-bricação de produtos derivados que apresen-tam maior resistência aos fatores climáticose maiores preços para a comercialização,dentre os quais o queijo possui produção emlarga escala (95,82%).

Os potenciais compradores do leite innatura comercializado pelos pequenos pro-dutores foram apontados como sendo as in-dústrias de laticínios e os consumidores do-miciliares.

Face ao exposto, se as regras para aprodução do leite forem alteradas e manti-

das conforme o estipulado pela Portaria 56,os pequenos produtores tenderão a desapa-recer, pois suas condições de competir nomercado são limitadas.

Empecilhos, potencialidades eoportunidades

A pecuária leiteira para os agriculto-res familiares é uma atividade que sempreesteve presente em seu contexto histórico,nunca deixando de existir, mesmo com asadversidades das propostas de políticas agrí-colas de desenvolvimento que lhe conferiramuma interpretação de estratégia econômicadeclinante. Isto se justifica porque os peque-nos produtores de base familiar exploramsuas culturas não apenas com vistas à ob-tenção de lucros, mas, também, e principal-mente, pela necessidade de suprir as distin-tas carências para a subsistência da família.

Do ponto de vista do desenvolvimen-to local, conforme assinalado por Dowbor(1993), as decisões que se tomam longe docidadão correspondem muito pouco às suasnecessidades e aspirações. Neste estudo, seobserva o mencionado acima, quando con-sideramos que a imposição da nova legisla-ção à pecuária leiteira não foi pautada nosinteresses coletivos dos diferentes segmentosde produtores e das diversas regiões do país.O Programa Nacional de Melhoria e Quali-dade do Leite - PNMQL foi elaborado e re-digido, particularmente, sob a ótica dos gran-des empreendimentos produtores e industri-ais relacionados à cadeia produtiva do leitenão prevendo medidas ajustadas ao perfildos pequenos produtores consistindo numfator de exclusão econômica e social destesegmento.

Desta forma, serão apresentados, ini-cialmente, os obstáculos para o desenvolvi-mento da comunidade-localidade alvo des-te estudo, conforme o exposto abaixo:! Observa-se que a Portaria 56 não prevê a

disponibilização de linhas de crédito es-pecíficas aos pequenos produtores, comjuros e prazos de carência favoráveis,para que os mesmos possam investir ecustear as tecnologias que tornem com-petitivos os seus sistemas de produção.

! Outra questão da nova lei que reforça anecessidade de financiamentos adequa-

Page 89: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

89Perspectivas de desenvolvimento local dos pequenos produtores de leite domunicípio de Campo Grande-MS (ago/2001 - ago/2002)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

dos às especificidades do pequeno produ-tor local, para a adequação da atividadeaos padrões de qualidade e competitivida-de, é a exigência da adoção de equipa-mento para acondicionamento térmico doleite nas fazendas. A proibição impostaao armazenamento da produção em tan-ques de expansão comunitários se estabe-lece como um impedimento ao desenvol-vimento local, pois restringe a aptidão pa-ra iniciativas associativas/cooperativistase aumenta a tendência de exclusão eco-nômica e social dos pequenos produtoresque terão poucas condições de competirno mercado.

! A reduzida exploração da atividade lei-teira pelos estabelecimentos rurais que selocalizam em áreas longínquas do centrourbano do Município devido à dificulda-de no escoamento da produção.

! O baixo nível de qualificação da mão-de-obra disponível nos estabelecimentos depequena produção leiteira do municípiocompromete as iniciativas para a evolu-ção da localidade na medida em que ostrabalhadores desconhecem e não estãocapacitados para fazerem um bom em-prego das inovações que lhes estão sendoestabelecidas visando a garantia da me-lhoria da qualidade do produto.

! A insuficiente oferta de trabalhos efetivose adequados de extensão rural, de pes-quisas e assistência técnica de órgãos go-vernamentais locais, acarretada pela de-sativação do órgão de pesquisa e exten-são rural (EMPAER-MS) e inexistência deuma secretaria municipal de agriculturae pecuária. Atualmente, o pequeno pro-dutor rural do Município dispõe apenasde dois órgãos que prestam assistênciatécnica governamental: o IDATERRA (es-tadual) e a SEDEC (municipal), atravésdo departamento de agropecuária.

! A falta de informações mercadológicasfavorecendo a produção voltada apenaspara a subsistência e a comercializaçãode maneira pouco satisfatória do exce-dente.

! A inexistência de pontos de venda da pro-dução in natura e industrializadaartesanalmente pela pequena proprieda-de em centros consumidores de outras lo-calidades, estimulando a competitivida-

de dos mercados e possibilitando maiorpoder de negociação e remuneração aosprodutores.

! Baixa qualificação e aplicabilidade de mé-todos higiênicos corriqueiros na ordenhadas vacas leiteiras, comprometendo a qua-lidade da produção.

! A escassa tradição associativista existen-te na área rural de Campo Grande soma-da às dificuldades na formação de gesto-res e à dinamização dos associados sãoevidentes limitadores de iniciativas que te-nham sua centralidade no âmbito exclu-sivamente local.

A partir do levantamento dos dados ecom base no referencial teórico, foram iden-tificadas, também, as potencialidades e opor-tunidades para o desenvolvimento local dospequenos produtores de leite que sãosugeridas a seguir:! Capital social – o fomento ao fortaleci-

mento do capital social responsável pelapequena produção de leite antes de sepromover o crescimento da atividade dapecuária leiteira; ou seja, dotar as popu-lações rurais das prerrogativas necessári-as a que sejam elas os protagonistas cen-trais da construção do desenvolvimentolocal sustentável.

! Sistema integrado de produção –o predo-mínio do sistema extensivo de criação apasto e a utilização de gado mestiço sãofatores que determinam a interação naprodução de carne e leite dos estabeleci-mentos familiares do município e propor-cionam a competitividade da atividadesob o ponto de vista de custo e qualidade.A ênfase para a exploração de gado dedupla aptidão (leite e corte) aliada a ou-tras atividades agropecuárias como aagricultura, horticultura, avicultura, den-tre outras, implicando na diversificaçãoprodutiva de criação de animais e alimen-tos de qualidade pelos pequenos produ-tores e na garantia da segurança alimen-tar da sociedade local.

! Tecnologias de baixo custo – a difusão doemprego de estratégias de natureza técni-ca de baixo custo, como, por exemplo, amelhoria dos sistemas de produção de for-ragens para a solvência da sazonalidadena produção de leite na época seca do ano,conforme averiguado pelo levantamento.

Page 90: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

90 Rosirene R. P. Caldas; Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

! Vacinas e tratamento de endo e ecto para-sitas – a conscientização do pequeno pro-dutor em relação à adoção de métodospara a garantia do controle da sanidadeanimal, devido à constatação de elevadaaplicabilidade de vacinas e tratamentos

! Pequena indústria rural – o estímulo aosempreendimentos industriais artesanaisde pequeno porte existentes e a maiormobilização dos atores locais na agrega-ção de valor à produção primária do leitena fabricação de derivados lácteos comoqueijos, doces, rapaduras, entre outros,podem se constituir em fatores de dinami-zação do desenvolvimento econômico esocial dos pequenos produtores possibili-tando uma melhor remuneração pela co-mercialização de produtos diferenciadosde qualidade e a prestação de serviços nomercado formal.

! Associativismo e cooperativismo – o forta-lecimento da livre organização associativaou comunitária existente visando a otimi-zação dos lucros provenientes da comprade insumos e da comercialização da pro-dução de maneira coletiva. Dessa forma,os pequenos produtores poderão aprimo-rar e/ou organizar novos sistemascondominiais de coleta e transporte de lei-te resfriado que garantirá a redução docusto do frete e, cooperativas de produ-tores e associações comunitárias ou deprodutores possibilitando maior poder dereivindicação para a obtenção de servi-ços públicos e privados, para a melhoriados preços na comercialização da produ-ção e a formação de nichos de mercado.

! Associação do trabalho e da gestão – aênfase na interação entre o trabalho e agestão administrativa por membros da fa-mília nos estabelecimentos rurais de pe-quena produção de leite possibilitando amaior flexibilidade nas decisões do pro-cesso produtivo, o que é característico daempresa familiar.

! Demanda por produtos lácteos – a pro-dução de leite e de derivados lácteos dospequenos produtores possui uma procu-ra constante por empresas de laticínios,intermediários e consumidores via diretano âmbito do Município. Promovendo amelhoria na qualidade da produção esti-mula-se a possibilidade de conquista denovos mercados.

Neste sentido, para que estas potencia-lidades sejam efetivadas é imprescindíveluma redefinição da atuação governamentale dos órgãos competentes envolvidos pelanova legislação referente à melhoria da qua-lidade do leite, contemplando as reais neces-sidades e aspirações dos pequenos produto-res com relação ao acesso a linhas de créditodiferenciadas, capacitação do trabalhadorrural, difusão de informações, garantia àpesquisa agropecuária e assistência técnicalocal, controle e garantia de preços mínimosdos produtos e estímulo à pequena agroin-dústria rural tendo em vista à manutençãodo homem no campo e à melhoria na quali-dade de vida e bem-estar da sociedade.

Também, coloca-se que a coibição nacomercialização dos produtos lácteos quenão atenderem as especificações de qualida-de e sanidade previstas pela Portaria 56, so-mente ocorrerá desde que não se estabeleçauma maior organização e articulação dosprodutores em associações e cooperativasvisando a obtenção de poder reivindicatóriopara tornarem seus sistemas de produção ecomercialização competitivos e, assim, ven-cerem dificuldades que não conseguiriamisoladamente.

Desde que sejam asseguradas essasoportunidades, as condições favoráveis dapequena produção primária de leite serãoestimuladas e promoverão ganhos na pro-dutividade do leite, aumento da rentabilida-de na atividade, menores riscos e maioresopções de negócios.

Considerações finais

O território rural brasileiro, no decor-rer dos últimos anos, vem sofrendo o impac-to das políticas de desenvolvimento a partirda inserção de inovações tecnológicas queobjetivam o aumento da eficiência e compe-titividade das atividades agrícolas e pecuá-rias frente ao mercado globalizado.

Nesse processo de modernização os pe-quenos produtores de base familiar foram, econtinuam sendo, os menos favorecidos e osmaiores prejudicados porque não contaramcom o apoio político e financeiro das insti-tuições governamentais e de crédito. Entre-tanto, mesmo tendo sido observada umaconsiderável expulsão social e econômica de

Page 91: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

91Perspectivas de desenvolvimento local dos pequenos produtores de leite domunicípio de Campo Grande-MS (ago/2001 - ago/2002)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

pequenos produtores rurais do campo paraa cidade, muitos ainda sobrevive em condi-ções de extrema pobreza e precariedade.

O apontamento das potencialidadesassociadas às características da comunida-de-localidade e a proposição de oportunida-des intentaram subsidiar a orientação paraa atuação da esfera governamental e dosatores sociais na elaboração de políticas pú-blicas que favoreçam o desencadeamento dodesenvolvimento sustentado do território.

Neste sentido, observou-se a necessi-dade de mudanças no tratamento das limi-tações do setor e que deverão ser tomadaspelos órgãos competentes visando proporci-onar aos pequenos produtores de leite doMunicípio condições e apoio para tornaremseus sistemas de produção e seus produtoscompetitivos. Entre as alterações está o acessoa linhas de crédito diferenciadas, com jurose prazos compatíveis ao setor; o controle e agarantia de preços mínimos dos produtos; agarantia de pesquisa e assistência técnica; adifusão de informações; a capacitação dotrabalhador rural; o estímulo à pequenaagroindústria rural e o fortalecimento da li-vre organização social.

Referências

ABRAMOVAY, R. Uma nova extensão para a agricul-tura familiar. In: Seminário nacional de assistência técnicae extensão rural. Brasília: PNUD, 1997. 222 p.

ALBUQUERQUE, F. Desenvolvimento econômico local eredistribuição do progresso técnico: uma resposta às exi-gências do ajuste estrutural. Traduzido por AntonioRubens Pompeu Braga. Fortaleza: BNB, 1998. 151 p.

BNDES. Mudanças estruturais nas atividades agrárias: umaanálise das relações intersetoriais no complexo agro-industrial brasileiro. Rio de Janeiro; BNDES, 1988.

BURKE, Thomas Joseph, MOLINA FILHO, José. Fun-damentos teóricos e instrumentos para a assistência técnica aagricultura. 2. ed. Piracicaba: ESALQ/USP, 1988. 88 p.

ÁVILA, Vicente Fideles. Pressupostos para formaçãoeducacional em desenvolvimento local. Interações. Re-vista Internacional de Desenvolvimento Local, Campo Gran-de, (1), p.63-76, setembro 2000.

______. Formação educacional em desenvolvimento local: re-lato de estudo em grupo e análise de conceitos. Cam-po Grande: UCDB, 2000. 100 p.

AZEVEDO, Israel Belo de. O prazer da produção científi-ca: diretrizes para a elaboração de trabalhos acadêmi-cos. 7. ed. Piracicaba: Unimep, 1999. 208 p.

CAMPOS, J. M. Nogueira de. Preços crescem na com-pra e descem na venda. DBO Rural – Anuário de Pecuáriade Corte, São Paulo, (256), p. 88-90, março de 2002.

CERRI, Cláudio. Eficiência sem preço; quando mais ésinal de menos. Revista Globo Rural, São Paulo, (196), p.35-39, fevereiro de 2002.

Demonstrativo da produção de leite e derivados. Ministérioda Agricultura e do Abastecimento – DFA. CampoGrande, 2001.

DOWBOR, L. Governabilidade e descentralização. In: http://www.ppbr.com.br. Agosto 1994.

______. O que é poder local. In: http://www.ppbr.com.br.Versão julho 1993.

______. Requisitos para um projeto de desenvolvimento lo-cal. In: http://www.federativo.bndes.gov.br/dicas/D053. 1995

FRANCO, Augusto. A participação do poder local emprocessos de desenvolvimento local integrado e sus-tentável. In: DEGENZAJN, Raquel Raichelis; RICO,Elizabeth de Melo (Orgs.). Gestão social: uma questãode debate. São Paulo: EDUC/IEE, 1999. p. 175-190.

FELLET, Vanessa Kraide. Breve histórico da pecuárialeiteira nacional. Boletim do leite, São Paulo, (85), p. 1-2,abril de 2001.

FIBGE. Censo demográfico 2000. In: http://www.ibge.gov.br.

______. Produção da pecuária municipal. Rio de Janeiro:[s.n.], 2000, p. 7-9. v. 28.

FONSECA, Luís Fernando Laranja da. Balanço parcial dosetor lácteo em 2001. In: http://www.milkpoint.com.br/artigo. [05/02/02]

FORTES, Gitâneo. “Efeito gangorra” volta a ameaçarlácteos. DBO Rural – Anuário de Pecuária de Corte, SãoPaulo, (256), p. 78-80, março de 2002.

______. Disputa com outras bebidas segue acirrada.DBO Rural – Anuário de Pecuária de Corte, São Paulo,(256), p. 84-86, março de 2002.

GOMES, Sebastião Teixeira. Diagnóstico e perspecti-vas da produção de leite no Brasil. In: VILELA, Duarte;BRESSAN, Matheus, CUNHA, Aércio S. (Eds.). Cadeiade lácteos no Brasil: restrições ao seu desenvolvimento.Brasília: MCT/CNPq; Juiz de Fora: Embrapa Gado deLeite, 2001. p 21-37.

GONZÁLEZ, Román Rodríguez. La escala dedesarrollo: definición y aspectos teóricos. In: Revista deDesenvolvimento Econômico, Salvador, (1), p. 5-15, no-vembro de 1998.

MARTINS, Gabriela Isla Villar; MARTINS, Cid IsidoroDemarco. Desenvolvimento local: da teoria à prática.In: MARQUES, Heitor Romero; RICCA, Domingos;FIGUEIREDO, Gilberto Porto de; CARPIO MARTÍN,José (orgs.). Desenvolvimento local em Mato Grosso do Sul:reflexões e perspectivas. Campo Grande: UCDB, 2001.p.153-180.

MARTINS, Paulo do Carmo; GUILHOTO, Joaquim JoséMartins. Emprego e renda no sistema agroindustrialdo leite no Brasil. Boletim do leite, São Paulo, (86), p. 1-2,maio de 2001.

Ministério da Agricultura e reforma Agrária – FAO/PNUD. Principais indicadores sócio-econômicos dos assen-tamentos de reforma agrária. Projeto BRA 87/022, janeirode 1992.

Page 92: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

92 Rosirene R. P. Caldas; Antonia Railda Roel

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Ministério de Estado da Agricultura, Pecuária eAbastecimento. Instrução normativa n° 51. Disponívelem: http://www.leitebrasil.org.br/normas.htm[25/08/02]

______. Leite tipo C será extinto. Disponível em: http://www.portalrural.com.br/ agroartigos/news.html[12/08/02]

______. Leite brasileiro terá padrão de qualidade internacio-nal, diz Pratini de Moraes. Disponível em: http://www.extranet.agricultura.gov.br/pls/pubacs_cons[13/09/02]

______. Portaria n° 56. Disponível em: http://www.milknet.com.br/downloads/

Portaria56.doc [13/07/02]

PASSINI, João José. Geração e comunicação de inovaçõestecnológicas para a agricultura familiar. 1999. Dissertação(Mestrado) – Centro Federal de Educação Tecnológicado Paraná - CEFET, Curitiba.

PLANURB, Instituto Municipal de Planejamento Ur-bano e de Meio Ambiente. Perfil Sócio Econômico de CampoGrande. 9. ed. Campo Grande, 2002. 150 p.

Rios Estudos e Projetos. O consumo de leite informal noBrasil, fev. 2000. Disponível em: http://www.bebaleite.com.br/materias/tecnica/2000/leiteinformal. [08/10/01]

SANTOS, Geraldo Tadeu dos; VILELA, Duarte. Produ-ção leiteira – analisando o passado, entendendo o pre-sente e planejando o futuro. XXXVII Reunião Anual daSBZ, Viçosa, p. 231- 249, 24 a 27 de julho de 2000.

SEBRAE, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pe-quenas Empresas. In: Cooperativismo e associativismo –instrumentos de integração, parceria e realização. BeloHorizonte: SEBRAE/MG, 1997. 84 p.

SILVA, Sebastião. Relatório de pesquisa no complexoprodutivo de bacias leiteiras do estado de Mato Gros-so do Sul. Projeto Novas Fronteiras do Cooperativismo.Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Re-forma Agrária – MAARA. Brasília, 1996, 49 p.

SOARES, Adriano Campolina. A multifuncionalidade daagricultura familiar, dez/fev de 2000/2001. Disponívelem: http://www. grupochorlavi. org/ php/ doc/ do-cumentos/multifuncionalidad.pdf. [10/01/03]

VILELA, Duarte; BRESSAN, Matheus; CUNHA, AércioS. (Eds.). Cadeia de lácteos no Brasil: restrições ao seudesenvolvimento. Brasília: MCT/CNPq; Juiz de Fora:Embrapa Gado de Leite, 2001. p 9-14.

XAVIER, Antônio José. Modernização do setor produ-tivo de leite e derivados. Boletim do leite, São Paulo,(65), p. 1-2, agosto de 1999.

ZOCCAL, Rosangela; FERNANDES, Elizabeth N. Mu-danças na pecuária de leite. Informe Econômico do Leite,Juiz de Fora, (1), 4 p., dezembro de 2001.

Page 93: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Biorregionalismo: desenvolvimento rural respeitando as diferençasBioregionalism: rural development respecting the differences

Biorégionalisme: développement rural respectant les différences Biorregionalismo: desarrollo rural respetando las diferencias

Ricardo Serra Borsatto*

Michelle Melissa Althaus Ottmann**

Nilce Nazareno da Fonte***

Recebido em 17/11/2005; revisado e aprovado em 28/11/2005; aceito em 31/01/2006.

Resumo: Este artigo é um ensaio que objetiva a realização de reflexões e questionamentos, para que se possamencontrar caminhos mais sustentáveis para o meio rural brasileiro, que propiciem efeitos econômicos, sociais eecológicos positivos em longo prazo. Para tanto foi analisada a política agrícola européia e constatou-se que estasegue por caminhos contrastantes do modelo brasileiro. Foi utilizada como base para as reflexões a teoria dacomplexidade e proposto o biorregionalismo como um possível caminho a ser seguido.Palavras chave: Biorregionalismo; complexidade; sustentabilidade.Abstract: This article is an essay aiming reflections about the Brazilian rural development model, looking for sustainablepaths for its future providing economic, social and ecological positives effects in long term. European Common AgriculturePolicy was analyzed and realized that it is following different paths compared to the Brazilian model. As a base for thereflections was used the complexity theory and was purposed the bioregionalism as a possible way to follow.Key words: Bioregionalism; complexity theory; sustainability.Résumé: Cet article a pour objectif la mise en place de réflexions et questions destinées à l’identification de voiesviables pour le milieu rural brésilien, qui permettent des effets économiques, sociaux et écologiques positifs sur le longterme. Pour cela, la Politique Agricole Commune Européenne a été analysée et il a été conclu que ce model est différentde celui suivi par le Brésil. Comme base à la réflexion, la théorie de la complexité a été utilisée et le biorégionalisme aété proposé comme une voie possible a suivre.Mots clés: Biorégionalisme; complexité; sustentabilité.Resumen: Este artículo es un ensayo que objetiva la realización de ponderaciones y cuestionamientos, para que sepuedan encontrar caminos más sustentables para el medio rural brasileño, que propicien efectos económicos, socialesy ecológicos positivos en: biorregionalismo, complejidad, sustentación a largo plazo. Para tanto fue analizada lapolítica agrícola europea y se constató que ésta sigue por caminos contrastantes del modelo brasileño. Fue utilizadacomo base para las ponderaciones la teoría de la complejidad y propuesto el biorregionalismo como un posiblecamino a ser seguido.Palabras claves: Biorregionalismo; complejidad; sustentación.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 93-100, Mar. 2006.

* Eng. Agrônomo, Mestrando em Agronomia - Produção Vegetal, Depto. Fitotecnia e Fitossanitarismo, UniversidadeFederal do Paraná. ([email protected]).** Eng. Florestal, Mestranda em Agronomia - Produção Vegetal, Depto. Fitotecnia e Fitossanitarismo, UniversidadeFederal do Paraná. ([email protected]).*** Profa. Dra., Curso de Pós-Graduação em Produção Vegetal, Depto. Fitotecnia e Fitossanitarismo, UniversidadeFederal do Paraná, UFPR, Caixa Postal 19061, 80035-05 - Curitiba-PR ([email protected]).

1. Introdução

Nos últimos anos o agronegócio brasi-leiro vem chamando a atenção tanto da socie-dade brasileira quanto dos demais países domundo. Este crescimento em importância de-ve-se a diversos fatores, tais como; aumentode produtividade, importância na balançacomercial, aumento da área cultivada, desen-volvimento tecnológico e competitividade in-ternacional. Atualmente o Brasil se encontraentre os maiores produtores e exportadoresmundiais de algumas das mais importantes“commodities” agrícolas consumidas, como:

soja, café, carnes, laranjas, açúcar e tabaco.O agronegócio brasileiro é responsável

por 33% do Produto Interno Bruto (PIB), 42%das exportações totais e 37% dos empregosbrasileiros. O PIB do setor chegou a US$180,2 bilhões em 2004, contra US$ 165,5 bi-lhões alcançados no ano de 2003. Entre 1998e 2003, a taxa de crescimento do PIBagropecuário foi de 4,67% ao ano. Em 2004,as vendas externas de produtos agropecuá-rios renderam ao Brasil US$ 36 bilhões, comsuperávit de US$ 25,8 bilhões (MAPA, 2004).

Sem dúvida é impressionante o desem-penho do agronegócio brasileiro nos últimos

Page 94: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

94 Ricardo S. Borsatto; Michelle M. A. Ottmann; Nilce N. da Fonte

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

anos, porém analisá-lo somente pelo seu as-pecto econômico pode levar ao cometimen-to de erros de grandes proporções.

Faz-se necessária a busca de novos ca-minhos para o desenvolvimento do meio ru-ral brasileiro, caminhos estes que deveriamabordar, também, de forma integrada, ques-tões como os impactos sociais e ecológicos, enão somente o âmbito econômico. Um doscaminhos possíveis, que aborda e integra to-das estas questões, é o Biorregionalismo, mo-vimento iniciado na década de 1970, nosEUA, o qual prega o conhecimento e respeitoregional, valorizando as características in-trínsecas de cada região, sua história, suastradições e a partir disto busca o desenvolvi-mento do potencial local. A não considera-ção da importância dos aspectos antropoló-gicos, sociais e ecológicos presentes no setoragrário, acarreta em um sério desequilíbrio,com dimensões ecológicas, demográficas,econômicas e sociais.

O meio agrário brasileiro é extrema-mente complexo, onde é possível verificar acoexistência de diversas realidades diferen-tes e interdependentes, que interferem e sãointerferidas por fatores econômicos, políti-cos, sociológicos, psicológicos, naturais, eco-lógicos, antropológicos, entre outros.

Morin (2001b), o grande preconizadorda teoria do pensamento complexo, alertapara a importância de se ter uma visão econsciência mais holística e totalizadora dosacontecimentos e não somente uma visãosimplista que não consegue enxergar as dife-renças nem as conseqüências das atitudestomadas.

Para o real desenvolvimento da meiorural brasileiro, temas como poluição, biodi-versidade, exploração de recursos naturaise efeitos climáticos, devem ser relacionados,tanto para análise quanto para a implemen-tação de soluções ao desemprego, pobreza eriqueza, inovações tecnológicas, valores cul-turais, organização política e organizaçãosocial. Ou seja, as dimensões do social e doecológico estão imbricadas de tal forma, queo modo de apreensão desses eventos é defundamental importância (CAPRA, 1997).

Portanto, este trabalho objetiva a rea-lização de reflexões e questionamentos, paraque se possam encontrar caminhos para odesenvolvimento rural brasileiro que propi-

ciem efeitos econômicos, sociais e ecológicospositivos em longo prazo.

2. Teoria da complexidade como “panode fundo”

Devido ao grande desenvolvimentoeconômico do agronegócio nos últimos anos,predomina atualmente no meio rural brasi-leiro o “mito do progresso”, no qual por meioda ciência e da técnica o homem consegueaumentar o seu controle sobre a natureza esociedade, parecendo válido pensar que umaação cada vez mais eficaz leve o desenvolvi-mento na direção de um mundo cada vezmelhor (ARANHA E MARTINS, 1993). Ouseja, o progresso justifica as ações humanas.Porém é necessário atentar para as suas con-seqüências nocivas que começam a se reve-lar, de forma contundente: as monoculturasexpurgam os pequenos produtores do meiorural, levando-os a morar em favelas nasgrandes cidades; a utilização de agrotóxicospolui os solos, as águas; a especulação imo-biliária destrói a natureza; a forte mecani-zação da agricultura compacta os solos, criaerosão, destrói os mananciais; a opulêncianão expulsa a miséria, mas convive com elalado a lado.

Concordamos com Edgar Morin(2001a), o grande preconizador da teoria dacomplexidade, quando este coloca que vive-mos no “paradigma da simplificação” em queimperam os princípios de disjunção, de redu-ção e de abstração. No qual, como afirmamAlmeida e Carvalho (2002), a tradição dopensamento que forma o nosso ideário orde-na, que se reduza o complexo ao simples, quese separe o que esta ligado, que se unifique oque é múltiplo, que se elimine tudo que trazdesordens ou contradições para o nosso en-tendimento. A inteligência, que só sabe sepa-rar, rompe o caráter complexo do mundo emfragmentos desunidos, fraciona os problemase unidimensionaliza o multidimensional.

A teoria da complexidade/pensamen-to complexo não é algo concreto ou palpável,não traz uma fórmula e muito menos pro-põe uma técnica. Fonte (2004) cita que o pen-samento complexo trata-se de um processomental, um modo de pensar que nos leva auma tomada de consciência e conseqüente-mente a modos de ver e sentir diferentes.

Page 95: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

95Biorregionalismo: desenvolvimento rural respeitando as diferenças

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

A palavra complexus significa o queestá tecido junto, deste modo há complexi-dade quando elementos diferentes sãoinseparáveis constitutivos do todo (MORIN,2001a). O pensamento complexo tenta darconta daquilo que o pensamentosimplificador desfaz ou é incapaz. Como bemcoloca Pascal (1976) Apud Morin (2001c) éimpossível conhecer o todo sem conhecer aspartes, tampouco não se conhece as partesse não conhecer o todo.

Utilizaremos um ecossistema localpara exemplificar a importância de umaabordagem complexa. Na química aprende-mos que este é composto por carbono e ni-trogênio e mais alguns átomos, que se ligame desligam incessantemente, e que estes áto-mos possuem ciclos como os do nitrogênio,do fósforo, do potássio, da água, do carbo-no, mas pouco se sabe do ciclo do magnésio,constituinte da estrutura elementar para arealização da fotossíntese, fonte de toda avida. Para a biologia os constituintes vivosdo ecossistema são amontoados de célulasespecializadas, que devido à configuração docódigo genético, nascem, se diferenciam emorrem, mas também pouco se sabe como,milhões de microorganismos diferentes, con-vivem e se relacionam em cada centímetroquadrado de solo. Para a física o ecossistemapode ser compreendido pelo fluxo de ener-gia e suas relações tróficas. Para a economiaum ecossistema é considerado como um pro-vedor de recursos naturais intangíveis e tan-gíveis, necessários para a sobrevivência daespécie humana. Sem contar que a impor-tância cultural e social de um ecossistema édiferente para quem mora na cidade e paraquem mora no campo.

Na verdade um ecossistema é tudo istoe muito mais, ele é, ao mesmo tempo, prove-dor dos insumos que proporcionam a nossaexistência, e também o lugar onde habitamos.Nossas vidas são interferidas por ele ao mes-mo tempo em que interferimos nele, e istoocorre quimicamente, biologicamente, eco-nomicamente, socialmente, psicologicamen-te, miticamente, ou seja, em todas as dimen-sões ao mesmo tempo! Como pode então serpossível entender um ecossistema analisandoseparadamente suas partes, se ele é compostopor um número infinito de partes, que estãoem dimensões diferentes, que mudam e se

modificam a cada segundo e que possuemuma percepção diferente por cada pessoa?

Morin (2001c) propõe que, para a for-mulação de propostas que utilizem a teoriada complexidade como um novo paradig-ma, se faz necessário evidenciar algumasdimensões que possam gerar informações esoluções mais próximas da realidade e quepossuam veracidade, coerência e maiorsustentabilidade, tais como:

Compreender o contexto – o conheci-mento das informações ou dos dados isoladosé insuficiente para a compreensão da realida-de. É preponderante situar as informações edados em seu contexto para que eles ganhemsignificado e acrescentem conhecimento.

Entender as relações globais (entre otodo e as partes) - a dimensão global é maiorque a contextual, ela é composta pelo con-junto das diversas partes ligadas a ele demodo inter-retroativo ou organizacional. Écomo a comunidade em que vivemos, queao mesmo tempo em que nos modela tam-bém é modelada por nós. O todo tem quali-dades ou propriedades que não são encon-tradas nas partes se estas estiverem isoladasumas das outras. Ao mesmo tempo certaspropriedades podem ser inibidas pelas res-trições provenientes do todo.

Ter uma abordagem multidimensional- unidades complexas como o ser humano,a natureza ou a sociedade são multidimensio-nais: desta forma o ser humano é ao mesmotempo biológico, psíquico, social, afetivo eracional. E estas dimensões se inter-relacio-nam permanentemente modificando-seconstantemente.

Entender a complexidade - onde todosos fatores constituintes e constituídos peloestudo possuem grande relevância, influen-ciando de maneira significativa o seu suces-so ou fracasso em longo prazo.

Por isso se faz necessária uma aborda-gem mais complexa e integrada do meio ru-ral, abrindo espaço para a formulação denovas propostas de desenvolvimento para osegmento. Propostas estas que sejam maisabertas, racionais, críticas, reflexivas,autocríticas e aptas a se auto-reformarem.

Compreender o meio rural brasileiroutilizando como “pano de fundo” a teoriada complexidade é fundamental para quese encontrem caminhos que nos levem ao seudesenvolvimento no mais amplo sentido da

Page 96: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

96 Ricardo S. Borsatto; Michelle M. A. Ottmann; Nilce N. da Fonte

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

palavra, e que este desenvolvimento tragaresultados positivos para a sociedade local,regional, nacional e mundial.

3. Biorregionalismo: um caminho possível

Dentre as diversas abordagens quebuscam um desenvolvimento rural mais sus-tentável, o biorregionalismo desponta comouma alternativa, que respeita a complexida-de existente no meio rural brasileiro, poden-do ajudar no processo de mitigação de suasdesigualdades sociais.

O Movimento Biorregionalista valori-za o respeito às características e potenciaisregionais, considerando que as regiões sãodefinidas pelas barreiras naturais da vege-tação, clima e água. É um culto ao sítio, ouao lugar onde se vive, promovendo assimuma cidadania ecológica, na qual os indiví-duos aprendem a respeitar a zona ecológicae optam por um estilo de vida ecológico (RE-VISTA MEXICANA DE ESTUDOS CANA-DENSES, 2004).

Para o biorregionalismo, o espaço geo-gráfico se entende como uma força produti-va estratégica que não apenas inclui o espa-ço geográfico, mas também o espaço social(NUNEZ, 2005). O atual modelo de cresci-mento econômico foi criado sem consideraras restrições ecológicas e as diferenças cultu-rais e naturais presentes em nosso planeta,atuando como se este fosse ilimitado e uni-forme, propiciando conforto e uma vida sau-dável somente a uma minoria que dispõe derecursos financeiros (EVANOFF, 1999).Quanto mais o mundo desenvolve uma su-perestrutura tecnológica, tão logo a huma-nidade se afasta de suas raízes. E por isso ospilares do biorregionalismo sustentam-se noconhecimento do local onde se vive, conhe-cimento das tradições, desenvolvimento dopotencial local e individual (SALE, 1991).

Segundo Gonçalves (2005) biorregio-nalismo é uma atividade humana político-cultural onde confluem temas práticos comoa ecologia científica, biogeografia, descentra-lismo, ecodesenvolvimento, agroecologia,permacultura, ecotecnologia, medicina pre-ventiva, eco-defesa, reivindicação dos direi-tos dos povos indígenas e outras minorias,assim como a ecologia profunda, teoria dossistemas, teoria crítica, modelo holístico de

saúde, pensamento e mitologia dos índios,eco-feminismo entre outros, com a noçãocentral de biorregião, usando esta comomarco para a organização política.

O movimento biorregionalista nasceuno início dos anos 1970 no oeste dos EstadosUnidos. Os primeiros defensores do concei-to foram o escritor Peter Berg e o ecólogoRaymond Dasmann, que trabalhavam paraa organização Planet Drum (Tambor do Pla-neta). Basicamente o biorregionalismo se de-senvolveu pelo interesse popular sobre comose pode efetuar uma troca social que resulteem ações locais para proteger e restaurar omeio ambiente e sua diversidade. A diversi-dade da vida na Terra esta contida nas maisdiversas e distintas formas de viver e na bio-diversidade de cada uma das biorregiões domundo. Todos dependem desta diversidadepara sobreviver (WHAL, 2005).

Sale (1991) estabeleceu uma compara-ção entre o paradigma capitalista e o para-digma biorregionalista no campo econômi-co, político e social:

1. Na economia: enquanto o paradig-ma capitalista promove a exploração, pro-gresso, economia globalizada e competição,o paradigma biorregionalista promove a con-servação dos recursos naturais, estabilidadeeconômica, auto-suficiência das economiaslocais e cooperação entre os povos;

2. Na política: para o capitalismo sãoimportantes pilares, a centralização, a hie-rarquia e a uniformidade, já para obiorregionalismo são importantes a descen-tralização e a diversidade;

3. Na sociedade: o capitalismo ocasio-na a polarização, o crescimento acompanha-do de violência e monoculturas, já obiorregionalismo ocasiona simbioses, evolu-ção e policulturas.

Sale (1991) frisa ainda, que nestes cam-pos sob a luz da visão biorregionalista existeuma grande complexidade, com inúmerasinterconexões e ligações entre os mesmos, nãopodendo nunca serem separados.

O cuidado com o meio ambiente é umadas características mais eminentes do para-digma biorregionalista. Para isto, os proje-tos biorregionalistas se baseiam na integri-dade natural (água, oceanos, flora, fauna eecossistemas) e nas unidades sócio-culturais(culturas nativas, história da região).

Page 97: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

97Biorregionalismo: desenvolvimento rural respeitando as diferenças

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Já existem grandes projetos com carac-terísticas biorregionalistas em funcionamen-to, por exemplo, a PAC (Política AgrícolaComum Européia), a qual será discutida maisdetalhadamente no próximo item, e o proje-to Cascadia, localizado na costa do Pacíficoentre os Estados Unidos e Canadá, que nas-ceu de uma coalizão de governos, organiza-ções empresariais, associações de negócios eONGs, dedicadas ao desenvolvimentotransfronteiriço, visando favorecer as estra-tégias de sustentabilidade nas diversas co-munidades, estudar os fenômenos de mobi-lidade fronteiriça e melhorar o transporteregional, assim como também promover ocomércio e turismo. O movimento biorregio-nalista se preocupa, no projeto Cascadia,com a postura ambiental e política, afirman-do a necessidade do cuidado com a nature-za, com a paisagem local, com a vida selva-gem, e uma harmonia permanente com asatividades humanas. A natureza é o eixo deanálise, seu cuidado e proteção se voltampara o centro das decisões políticas de de-senvolvimento (REVISTA MEXICANA DEESTUDOS CANADENDES, 2004).

No Brasil projetos com uma perspecti-va biorregionalista poderiam ser muito úteis,onde o modelo vigente de desenvolvimentoagrícola só trouxe mais pobreza e miséria,especialmente às regiões essencialmente agrí-colas e com baixo IDH-M (Índice de Desen-volvimento Humano), as quais poderiamcaminhar para um desenvolvimento local,buscando e resgatando suas tradições cul-turais, os modos de produção agrícola deseus antepassados, hábitos alimentares dosseus antepassados, artesanato e principal-mente reconhecimento do potencial naturalde cada região.

Como exemplo pode-se citar a regiãodo Vale do Ribeira Paranaense, região maispobre do estado do Paraná, e que também seencontra entre as regiões mais pobres do país.Onde, durante a década de 1970, tentou-seimplementar o modelo de desenvolvimentoagrícola preconizado pelo “pacote tecno-lógico” da Revolução Verde, baseado emmonoculturas, mecanização e utilização deagrotóxicos, mas a região não era “adequa-da” ao pacote e como resultado prático au-mentou-se a miséria e a desigualdade. Desdeentão, a região entrou num processo de mar-

ginalização, tornando-se isolada. Seus indi-cadores econômicos e sociais vêm piorandocom o decorrer do tempo, evidenciando asprecárias condições em que vivem as comu-nidades desses municípios (SILVA, 2003).

A situação atual do Vale do RibeiraParanaense reflete a visão fragmentada nabusca de soluções para o desenvolvimentoda região. Na ótica do biorregionalismo, umprojeto que se proponha a melhorar as con-dições de vida da população, deverá levarem conta o potencial natural da região, bemcomo as tradições culturais e históricas dolocal e das comunidades que ali vivem, paraque não haja uma exploração e deteriora-ção ambiental e piore a condição social des-tas comunidades. Nos últimos anos o mode-lo de desenvolvimento agrícola baseado emmonocultura (produção de Pinus) encontrouum caminho para adentrar no Vale do Ri-beira Paranaense, que é caracterizado pelaalta declividade de suas terras. Porém estemodelo de desenvolvimento tem aumenta-do ainda mais a desigualdade social da re-gião, além de degradar de forma contunden-te os seus recursos naturais.

É preciso adaptar a maneira como sevive, produz, constrói e trabalha às condiçõesespeciais da região local onde se vive, do seuclima, da sua geologia, de seus ecossistemas.Somente assim será possível aproveitar osrecursos naturais de uma região concreta-mente, e ao mesmo tempo resguardar suabiodiversidade e proteger o equilíbrio dinâ-mico dos ecossistemas (WHAL, 2005).

Os habitantes do Vale do Ribeira deve-riam inspirar-se nos habitantes da região daCascadia, que já estão conscientes e de acor-do com a necessidade de alianças estratégi-cas, pois na Cascadia o cuidado com o sal-mão, a flora, os ursos e a água serão converti-dos na chave de suas economias (REVISTAMEXICANA DE ESTUDOS CANADENSES,2004).

O biorregionalismo não é apenas umateoria, mas um movimento com um plano deação muito prático, o qual propõe uma estra-tégia bem simples para efetuar a transforma-ção cultural: deve ser mantida a comunicação,o intercâmbio de conhecimento e a coopera-ção entre comunidades, enfocando a prote-ção e restauração de ecossistemas locais e dabiodiversidade autóctone das regiões. As

Page 98: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

98 Ricardo S. Borsatto; Michelle M. A. Ottmann; Nilce N. da Fonte

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

biorregiões precisam satisfazer suas própriasnecessidades com recursos locais erenováveis. Deve-se promover a economiaregional bem diversificada, o que irá reduzira dependência de recursos importados. Asredes de troca e de desenvolvimento de meiosde intercâmbios econômicos regionais são fer-ramentas muito importantes para a criaçãodas economias biorregionais (WHAL, 2005).

A agenda biorregional propõe a cria-ção de novas formas de sobrevivência adap-tadas às riquezas, limitações e ciclos dasbiorregiões. Isto significa a descentralizaçãodas economias nacionais e o renascimentodas economias regionais. A dinâmica queimpulsiona a economia regional provém daautogestão, democracia de base e uma polí-tica fiscal consistente que reinvista localmen-te (GONÇALVES, 2005).

O biorregionalismo se transforma emmovimento político quando os habitantes dasregiões tomam consciência de sua histórialocal, celebrando uma nova afiliação de as-cendência geográfica com as comunidadeshumanas que as antecederam. Também es-tudam e revalorizam os detalhes ecológicosdo lugar, como os ciclos do clima, vegetação,animais e como viver e alimentar-se dentrodas limitações locais (GONÇALVES, 2005).

4. PAC – Valorizando o biorregionalismoeuropeu

Segundo dados publicados pelaEuropean Comission (2004) percebe-se que odesenvolvimento rural europeu segue porrumos diferentes dos seguidos pelo Brasil,buscando enaltecer e respeitar as caracterís-ticas intrínsecas de cada região.

Inicialmente, a Política Agrícola Co-mum Européia (PAC), concebida na déca-da de 1950, foi um mecanismo criado pelospaíses da Europa ocidental que ofereciamsubsídios e preços garantidos, com o objeti-vo principal de aumentar a produtividadedos agricultores e garantir para a sociedadealimentos a preços estáveis e acessíveis.

Durante a década de 1990, a PACampliou o campo de visão do projeto inicial,promovendo importantes mudanças com oobjetivo de atender as novas demandas dasociedade européia como um todo. Estasmudanças enfatizaram um novo elemento –

a política de desenvolvimento rural regional- a qual incentiva os produtores a diversifi-car sua produção, realizar o marketing deseus produtos, reestruturando o seu negó-cio visando o respeito ao meio ambiente, se-gurança alimentar e bem estar animal.

A nova PAC leva em consideração quea Europa é constituída por diversas regiõesdiferentes, variando desde a cultura até con-dições edafoclimáticas. Considera ainda, queas diferentes regiões têm métodos de produ-ção específicos e tradições culinárias únicas.

Ao perceber que os consumidores aoredor do mundo estão cada vez mais dispos-tos a pagar por produtos com garantias deprocedência e qualidade, desde que recebamum valor agregado como retorno, a PACdisponibiliza pagamentos de incentivos aprodutores que aderirem a programas quevisem o aumento da qualidade e conseqüen-temente do valor agregado dos seus produ-tos, como exemplo os selos de “proteção dedesignação de origem” e de “indicação geo-gráfica protegida”. Estes selos garantem queum determinado produto procede de certaregião com características únicas como, porexemplo: Queijo Serra da Estrella, ShetlandLamb ou Dortmunder Bier. Em outras pala-vras queijo proveniente da região da Serrada Estrella em Portugal, carneiro das ilhasShetland na Grã-Bretanha e cerveja deDortmund na Alemanha. Outro selo criadoe incentivado pela PAC é o “garantia de es-pecialidade tradicional” que é conferido aprodutos que possuem características distin-tas e são produzido utilizando unicamenteingredientes e/ou métodos tradicionais.(EUROPEAN COMISSION, 2004)

A PAC também oferece incentivos pa-ra produtores que adotem o manejo orgâni-co de produção. Após o estabelecimento des-te tipo de subsídio, no ano de 2002, a áreadestinada à produção orgânica dentro daUnião Européia já tinha atingindo 4,4 mi-lhões de hectares (3,3% da área agricultável)e mais de 150.000 propriedades.

Programas agro-ambientais são subsi-diados pela União Européia, quedisponibilizam ajuda financeira a produto-res que aderem voluntariamente a estes pro-gramas. Estes programas encorajam os pro-dutores a prover serviços ao meio ambienteque vão além das boas práticas de manejo e

Page 99: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

99Biorregionalismo: desenvolvimento rural respeitando as diferenças

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

das normas legais. A União Européia tentaajudar o meio ambiente provendo incenti-vos financeiros a produtores que, por exem-plo, diminuírem a quantidade de animaiscriados por hectare, deixarem as bordas desuas propriedades sem cultivar além de aju-dar nos custos da conservação da natureza.

A reforma da PAC em 2003 fortaleceua política de desenvolvimento rural regional,reduzindo os incentivos pagos aos grandesprodutores e transferindo fundos para me-didas de desenvolvimento rural local.

5. Considerações finais

O último século produziu enormesavanços em todas as áreas do conhecimentocientífico, assim como em todos os camposda técnica, mas concomitantemente produ-ziu uma gigantesca cegueira para os proble-mas globais, fundamentais e complexos, fatoeste que leva a sociedade a cometer inúmeroserros e perseguir algumas grandes ilusões.

Existe na história da agricultura, umnúmero muito grande de ações tomadas apriori como benéficas, que por não respeita-rem a complexidade existente em nosso pla-neta, produziram e produzem grandes con-seqüências negativas para a sociedade, den-tre elas, os custos sociais, ambientais e econô-micos. Desta forma, a sociedade afetada pe-los prejuízos, e na posição de consumidora,deveria ser estimulada a entrar em estadode alerta, no sentido de quebrar paradigmasvigentes e impostos pelo poder econômico.

Vide o caso dos agrotóxicos desenvolvi-dos para solucionar os problemas fitossanitá-rios. Segundo Sartori (2003), Sanhueza (1997)e Friguetto (1997), estes produtos podem,pelos impactos físicos, químicos e/ou biológi-cos, interferir no ecossistema, por ações dire-ta e indireta, sobre as populações de organis-mos existentes não só no local de aplicaçãodo agrotóxico como também em populaçõesa centenas de quilômetros de distância.

Também existem casos clássicos na his-tória nacional, onde a sociedade e a classepolítica levando em consideração somenteos aspectos econômicos, desconsiderando ascaracterísticas e potenciais regionais, quan-do analisavam e definiam as políticas refe-rentes à agropecuária brasileira, seguirampor caminhos que levaram a situações de

grandes crises sociais. Como exemplo pode-se citar a política da borracha no início doséculo XX, onde o foco exclusivo na produ-ção e exportação da borracha levou ao declí-nio socioeconômico de toda a região Nortedo Brasil (MACIEL, 2003). Outro exemplo,que demonstra a falta de uma análise maiscomplexa e regionalizada, foi a política agrí-cola para o café durante o início da décadade 1930, focada exclusivamente em produ-ção e exportação, que, após a quebra da bol-sa de Nova York e com somatória de outrosfatores internos, fez o preço do café despen-car e acabou causando uma enorme crise naeconomia nacional, causando inclusive umarevolução política no país (LAPA, 1998).

A continuidade da abordagem doagronegócio brasileiro somente pela óticatécnico-econômica conduzirá este a um pon-to insustentável no sentido original da pala-vra, a qual se constitui no âmbito sócio-cul-tural, político-econômico e ecológico(ALTIERI, 1994). Portanto, se faz necessá-rio uma visão mais ampla e complexa, quecompreenda a diversidade do meio ruralbrasileiro, superando as barreiras do níveleconômico, atingindo dimensões da cogni-ção do afetivo e moral.

A Europa, com a revisão da PAC, vemtentando encontrar um caminho que não sejatão fragmentado para definir o futuro de suapopulação rural. Busca caminhos que con-siderem e valorizem toda a complexidade decada região produtora.

A discussão suscitada por este artigo,leva a compreensão que o enaltecimento econtinuação somente da visão fragmentadana formulação das políticas agrícolas e agrá-rias, e a conseqüente não consideração detoda a agrocomplexidade brasileira, inclu-indo a valorização de suas biorregiões, esta-rá suscetibilizando a agropecuária nacionalao abalo das suas próprias fundações.

Pode-se de forma metafórica compa-rar o agronegócio brasileiro a uma máqui-na, como um motor de um carro, que é for-mado por elementos sem flexibilidade, ca-paz de entrar em colapso na falha de qual-quer um dos seus componentes, exatamentecomo ocorre neste momento, onde somenteum animal contaminado pelo vírus causa-dor da febre aftosa pode prejudicar toda aeconomia nacional.

Page 100: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

100 Ricardo S. Borsatto; Michelle M. A. Ottmann; Nilce N. da Fonte

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Referências

ALMEIDA, M. C.; CARVALHO, E. A. (Org.). Educação ecomplexidade: os sete saberes e outros ensaios. São Pau-lo: Cortez, 2002. 104p.

ALTIERI, M.A. Sustainable agriculture. In: Encyclopediaof agricultural science. Berkeley: Academic Press, v. 4, p.239-247, 1994.

ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando:introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993.395p.

CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão cien-tífica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1997. 256p.

EUROPEAN COMISSION. The common agricultural policyexplained. Germany. 2004. 33p. Disponível em:<http://europa.eu.int/comm/agriculture/publi/cap_en.pdf>. Acesso em 19 jan. 2005.

EVANOFF, R. A Bioregional Perspective on GlobalEthics. Eubios Journal of Asian and International Bioethics9 (1999), p. 60-62. Disponível em: <http://www2.unescobkk.org/eubios/EJ92/ej92r.htm>. Aces-so em: 10 de out. 2005.

FONTE, N.N. A complexidade das plantas medicinais: al-gumas questões de sua produção e comercialização.2004. 183p. Tese (Doutorado em Agronomia) – Setorde Ciências Agrárias, Universidade Federal do Para-ná, Curitiba.

FRIGHETTO, R.T.S. Impacto ambiental decorrente douso de pesticidas agrícolas. In: MELO, I.S.; AZEVEDO,J.L. de (eds.). Microbiologia ambiental. Jaguariúna:Embrapa CNPMA, 1997. 440 p.

GONÇALVES, L. C. C. Biorregionalismo... Que novoISMO é esse? Jornal Cultura Permanente, 11a ed., p.11, 2005.

LAPA, J.R.do A. A economia cafeeira. 6. ed. São Paulo:Brasiliense, 1998. 120p.

LA REGIÓN de Cascadia: Homogeneidad Ambiental?Revista Mexicana de Estudos Canadenses, Dez, 2004. Dispo-nível em: <http://revista.amec.com.mx/num_7_2004/Alfie_Miriam2.htm> Acesso em: 10 de out. 2005.

MACIEL, R.C.G. Ilhas de alta produtividade: Inovação es-sencial para a manutenção dos seringueiros nas reservas

extrativistas. 2003. 88p. Dissertação (Mestrado em De-senvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente)– Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

MINISTÉRIO da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.Agronegócio brasileiro: uma oportunidade de investimen-tos (Mapa). Disponível em: <www.agricultura.gov.br>.Acesso em 19 jan. 2005.

MORIN, E. Ciência com consciência. 5. ed. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 2001a. 344p.

______. Introdução ao pensamento complexo. 3. ed. Lisboa:Instituto Piaget, 2001b. 177 p.

______. Os sete saberes necessários à educação do futuro. 4.ed. São Paulo: Cortez; Brasília-DF: UNESCO, 2001c.116p.

NUNES, S.R. Biorregionalismo: una discusión desde eldesarrollo territorial sustentable. 2005. Monografía.Universidad de Los Lagos. Osorno, Chile. Disponívelem: <http://www.monografias.com/trabajos16/biorregionalismo/biorregionalismo.shtml> Acessoem: 10 de out. 2005.

SALE, K. Dwellers in the land – The Bioregional Vision.[S.l.]: New Society Publishers, 1991. 216p.

SANHUEZA, R.M.V. Efeito de pesticidas sobre amicroflora da parte aérea de plantas. In: MELO, I.S.;AZEVEDO, J.L. de (eds.). Microbiologia ambiental.Jaguariúna: Embrapa CNPMA, 1997. 440 p.

SARTORI, V.C. Dinâmica das populações de fungosendofíticos e epifíticos, impacto ecológico em diferentes siste-mas de produção de macieira (Malus domestica) e seu poten-cial biotecnológico. 2003. 109p. Tese (Doutorado em Pro-cessos Biotecnológicos – Setor de Tecnologias) – Uni-versidade Federal do Paraná, Curitiba.

SILVA, J. M. Vale do Ribeira no Estado do Paraná: a impor-tância da infra-estrutura para o seu desenvolvimento.2003. Monografia (apresentada ao Curso de Economia)– Universidade Federal do Paraná.

WHAL, D. Biorregionalismo, ecohabitar nuestras co-marcas de una manera sostenible. Revista Ecohabitar.Disponível em: <http://www.ecohabitar.org/articulos/permacultura/temas_permacultura.html>.Acesso em: 10 de out. 2005.

Page 101: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

O resgate da identidade cultural: Meio para uma sustentabilidade localRestoration of cultural identity: a way for a local sustainability

Récupération de l’identité culturelle, moyen d’atteindre la sustentabilité auniveau local

El rescate de la identidad cultural, medio para una sustentación local

Fernanda Beraldo Maciel Leme*

Salvador D. P. Trevizan**

Recebido em 15-04/2005; revisado e aprovado 03-05/2005; aceito em 31/01/2006.

Resumo: Analisa-se a importância do resgate da identidade cultural para o desenvolvimento social, econômico ecultural de grupos étnicos. Utiliza-se da técnica do estudo de caso, focalizando grupos indígenas. As observaçõesempíricas não permitem refutar a hipótese inicial. Argumenta-se que essa possibilidade se concretiza porque, atravésdo resgate da identidade, o grupo minoritário e excluído expressa os desejos e anseios específicos de uma comunidadelocal. Essa mesma abordagem poderia ser aplicada para o estudo de outros grupos sociais minoritários e excluídos.Palavras chave: Identidade; grupos étnicos; sustentabilidade.Abstract: This paper aims to analyze the importance of restoring the cultural identity of specific ethnic groups fortheir social, economic and cultural development. The case study technique is used, focusing on ethnical minoritiessuch as indigenous groups. Based on empirical observations, one cannot refuse the initial hypothesis. One can arguethat such a possibility becomes a reality because of the minority social group can express desires of the localcommunity through their identity. That same approach can work to the analysis of other minority and dispossessedsocial groups as well.Key words: Identity; ethnic groups; sustainable.Résumé: Est faite l’analyse de l’importance de la récupération de l’identité culturelle pour le développement social,économique e culturel des groupes ethniques. Pour ce travail sont utilisées des études de cas, en se concentrant sur lesgroupes indigènes. Les observations empiriques ne permettent pas de repousser l’hypothèse de départ. Le travailconclu que cette possibilité se concrétise parce que, au travers de la récupération de l’identité, le groupe minoritaire etexclu exprime les désirs et anxiétés spécifiques d’une communauté locale. Cette même approche pourrait êtreappliquée à l’étude d’autres groupes sociaux minoritaires et exclus.Mots-clés: Identité, groupes ethniques, sustentabilité.Resumen: Se analiza la importancia del rescate de la identidad cultural para el desarrollo social, económico y culturalde grupos étnicos. Se utiliza de la técnica de estudio de caso, enfocando grupos indígenas. Las observacionesempíricas no permiten refutar la hipótesis inicial. Se argumenta que esa posibilidad se concreta porque, a través delrescate de la identidad, el grupo minoritario y excluido expresa los deseos y anhelos específicos de una comunidadlocal. Ese mismo enfoque podría ser aplicado al estudio de otros grupos sociales minoritarios y excluidos.Palabras claves: Identidad; grupos étnicos; sustentación.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 101-110, Mar. 2006.

* Turismóloga pela PUC-Campinas, especialista em Educação pelo SENAC – SP e mestranda em Cultura e Turismo,Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA. ([email protected]).** Sociólogo, Ph.D., professor pesquisador da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, BA, nos programasde Mestrado em Cultura & Turismo – programa UESC/UFBA e em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente- PRODEMA, e no curso de graduação em Geografia. Rodovia Ilhéus-Itabuna, Km 16, Salobrinho, Ilhéus – BA.([email protected]).

Introdução

Analisa-se como a identidade culturale, em especial, o resgate desta, pode tornar-se um importante meio para se chegar àsustentabilidade de uma comunidade local.

O termo sustentabilidade, aqui utiliza-do, se refere ao plano de atender às necessida-des e anseios da geração atual sem compro-meter a possibilidade de gerações futurastambém terem condições de saciar as suas.Já o conceito de identidade cultural e a açãode resgate desta entrariam como ferramen-

tas para se chegar a uma sustentabilidadelocal pelo fato de que, ao se ter uma preocu-pação em traçar as características específi-cas de um grupo através de sua cultura (en-globando sua história, os valores, os modosde produção, os costumes e as dificuldadesdaquela comunidade) poder-se-ia ter o emer-gir das necessidades e anseios específicosdaquele grupo, facilitando aos planejadorese tomadores de decisão uma melhorvisualização das metas específicas orienta-das para propostas de sustentabilidade. Oresgate cultural também proporcionaria aos

Page 102: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

102 Fernanda B. M. Leme; Salvador D. P. Trevizan

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

integrantes do grupo, o sentimento de uniãoatravés de uma identidade em comum e fa-zendo com que junte forças para reivindi-car melhorias para a geração atual e para asfuturas. As gerações futuras, por sua vez,poderiam perpetuar essa identidade, man-tendo a diferença cultural, tão importanteem uma época em que, com a globalização,tudo tende à homogeneização.

Para melhor entendimento do papel daidentidade cultural para a sustentabilidadede uma comunidade culturalmente defini-da e espacialmente localizada, relacionaram-se seis argumentos que orientarão as discus-sões e observações de campo: 1) O resgateda identidade seria um meio pelo qual a co-munidade pode conhecer a história de seupovo, seus costumes, sua crença, sua ideolo-gia e avaliar o que mudou através dos tem-pos; 2) Forma-se, então, o sentimento depertencimento àquela cultura e a comuni-dade se torna, assim, mais unida, podendodesenvolver bases de poder comunitário pa-ralelo aos poderes políticos da região; 3) Coma firmação da identidade, os tomadores dedecisão poderão ajustar seus projetos às es-pecificidades do grupo; 4) Movimentosidentitários podem manifestar-se, onde acomunidade, ciente de sua cultura, passa arejeitar ou aceitar o que vem da cultura dooutro; 5) Com o resgate cultural, a comuni-dade também passa a reivindicar seu espa-ço físico e passa a defende-lo de interessesprejudiciais a seus membros; 6) Com o espa-ço físico respeitado, o grupo pode difundirsuas técnicas e habilidades para outras cul-turas e assim apresentar soluções alternati-vas de exploração ambiental.

O estudo desenvolvido por Sales(2000), entre índios Tembé, do Alto Rio Gua-má (PA), relatou que a tentativa de órgãosgovernamentais em organizar a ocupaçãodos índios no território impôs que diversosgrupos familiares de distintas aldeias fossemcomprimidas em “Postos”, impedindo tam-bém a criação de novas aldeias. No entanto,os índios resistiram a essa forma de concen-tração, por não condizer à prática culturaldo grupo que acabaram ficando em áreasadjacentes à Reserva. O movimento de re-sistência expressou-se objetivamente atra-vés do recrutamento de parentes que migra-ram para as cidades adjacentes de Capitão

Poço, Ourém e Belém, de renominação dasaldeias, que passaram a receber designaçõesda língua tupy como substitutos às da lín-gua portuguesa; da reinstitucionalização daschefias, com a retomada da tradição e cria-ção de novas funções de comando; e final-mente do desalojamento dos invasores.

Hernandez (1981), em seu estudo so-bre os índios Mapuche, no Chile, narra a tra-jetória de como um programa com base tam-bém na afirmação da identidade cultural des-se grupo reivindicou um sistema de ensinoadequado às necessidades sentidas. Os méto-dos de ensino praticados desconheciam, atéentão, a realidade étnica do povo indígena eestavam longe de compreender as necessi-dades do educando as formas de manifesta-ções culturais eram menosprezadas e repri-midas constantemente. Criou-se então o Pro-grama de Mobilização do Povo Mapuche em1972 que tinha como base e meta primordi-al, as mudanças na educação dada ao seupovo e a formação de base necessária paraque outras metas fossem atingidas, como:luta contra a degradação étnica, redefiniçãoda consciência social e da cultura do grupo,conhecimento e tomada de consciência dasituação dos seus membros, resolução de suacrise de lealdade para com a sociedade na-cional e auto-afirmação socializada da per-sonalidade étnica do povo indígena. Com otrabalho de cronograma baseado em metasespecíficas para que a mudança ocorresse,foi possível desenvolver uma educação ade-quada, válida e imprescindível.

Além de estimular a capacidade paradefinir sua própria organização social e espa-cial, como observado entre os índios Tembé,no Pará, e de desenvolver a capacidade dereivindicar políticas públicas que respeitemas diferenças e atendam as necessidades eanseios sentidos pelo grupo, outras conquis-tas podem ser obtidas através do resgate daidentidade étnica, como as embutidas nos seisargumentos acima relacionados.

A análise dos movimentos identitáriosse justifica porque contribui para a realiza-ção do que Sachs (1993) define como o “ou-tro desenvolvimento” que, segundo ele, te-ria cinco características: deve ser endógeno,contar com suas próprias forças, levar emconta a lógica das necessidades, promover asimbiose entre as sociedades humanas e a

Page 103: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

103O resgate da identidade cultural: Meio para uma sustentabilidade local

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

natureza, permanecer aberto à mudançainstitucional.

Para verificação empírica do objeto emestudo, utiliza-se da técnica do estudo decaso, tomando-se, para isso, a comunidadedos índios Tupinambá de Olivença, municí-pio de Ilhéus (BA), que se vêm fortalecendoatravés do movimento de resgate da suaidentidade cultural como grupo indígena, eo movimento dos Pataxó, de Coroa Verme-lha, Porto Seguro (BA). Analisa-se como omovimento de um grupo étnico, suas difi-culdades e conquistas estariam compatíveisou não com os seis argumentos acima rela-cionados sobre o papel do resgate da identi-dade de um grupo minoritário e socialmen-te excluído, no seu desenvolvimento social,econômico e cultural e, conseqüentemente,do desenvolvimento sustentável de uma co-munidade espacialmente localizada. Nocaso dos Tupinambá, entrevistou-se a caci-que Jamopoty de Olivença em junho de 2005.Entre os Pataxó, entrevistou-se o índioTaquari (agora integrante do movimentotupinambá) e a índia Jandaia, presidente daAssociação Pataxó de Ecoturismo(ASPECTUR), também em junho de 2005.

A identidade em questão ou questão deidentidade? Reflexões na atualidade

Uma análise do que vem a ser a iden-tidade de uma cultura requer que se leve emconsideração as atuais discussões em tornodesse assunto. Autores como Hall (2004)questionam a concepção de uma cultura na-cional que anula e subordina a diferençacultural existente dentro de um mesmo país.Sabe-se que a maioria das nações são com-postas de diferentes culturas, de diferentesgrupos étnicos, muitas vezes unificados porum longo processo de conquista violenta.Sendo assim, ao invés de se pensar as cultu-ras nacionais como unificadas, deve-se pensá-las como atravessadas por profundas divi-sões e diferenças internas, “unificadas” ape-nas através do exercício de diferentes formasde poder.

Outra forma de identidade discutidaatualmente é o regionalismo. SegundoMarkusen (1981), diferenças regionais atu-am na construção de identidades própriasque passam a ser forças culturais atuantes.

Mas, segundo Oliven (1992), assim como onacionalismo, o regionalismo também abar-ca diferentes facetas, expressando freqüen-temente posições de grupos bastante distin-tos, contendo desde reivindicações popula-res até os interesses disfarçados das classesdominantes.

Já que tanto a idéia de identidade na-cional quanto a de identidade regional es-conde grandes diferenças “costuradas”,deve-se então minimizar o foco e tentar en-tender como a identidade é construída e qualsua importância em grupos minoritários, emespecial os étnicos.

A ligação étnica, como mencionado porRex (1987), diferente da ligação racial que sebaseia em características físicas, se constituinas formas de comportamento culturalmen-te moldadas e parece ser a mais adequadapara estudos sobre como o resgate e afirmação dessa identidade podem contribuirpara a sustentabilidade de um grupo. Isso,partindo do princípio de que, nesse tipo deidentidade, há maior possibilidade de que asnecessidades e os anseios do grupo sejam cor-respondentes aos da maioria dos membros,ao contrário do que ocorre nas identidadesnacional e regional. Segundo Poutignat eStreiff-Fernart (1998), os vínculos étnicos, atu-almente também são percebidos como fontespotenciais de lealdade que chegam a concor-rer em suas lutas com as de vínculo de classe,ou seja, as que englobam indivíduos defini-dos por sua posição em comum dentro do cir-cuito de produção. Segundo eles, as comuni-dades étnicas parecem tão importantes parase entenderem os fenômenos atuais, quantoas categorias de classe foram para o séculoXIX. A comunidade étnica seria uma formaalternativa da organização social de classe ea etnicidade uma forma de identificação al-ternativa da consciência de classe.

A identidade pode assim ser vistacomo meio para atingir um objetivo. O indi-víduo, enquanto ator social, é provido decerta margem de manobra social e, em fun-ção de sua avaliação, ele utiliza seus recur-sos de identidade de maneira estratégica.Assim, “[...] na medida em que a identidadeé um motivo de lutas sociais de classificaçãoque buscam a reprodução ou a reviravoltadas relações de dominação, a identidade seconstrói através das estratégias dos atores

Page 104: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

104 Fernanda B. M. Leme; Salvador D. P. Trevizan

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

sociais” (CUCHE, 2002, p.196). Daí tambéma dimensão mutável da identidade.

Ao enfatizar o caráter estratégico daidentidade, pode-se ultrapassar, segundoCuche o falso problema da veracidade cientí-fica das afirmações de identidade. O autordá o exemplo do movimento dos anos 1960na América do Sul, do “despertar do índio”que não pode ser considerado como a ressur-reição pura e simples de uma identidade queteria ficado escondida e permanecida inva-riável. Trata-se da reinvenção estratégica deuma identidade coletiva em um contexto doaumento dos movimentos de reivindicaçãodas minorias étnicas nos Estados-Nação con-temporâneos. Neste pensamento não teriamaior relevância saber quem são verdadeira-mente os Tupinambá, por exemplo, mas simo que significa recorrer à identificação Tupi-nambá. Admitindo-se que a identidade éuma construção social, a única questão per-tinente seria para “como, por que e por quem,em que momento e em que contexto e é pro-duzida, mantida ou questionada certa iden-tidade particular?” (CUCHE, 2002, p.202).

O caso Tupinambá, quando o resgatecultural vem para o resgate de todos

A Nação tupinambá de Olivença sesitua a 15 quilômetros de Ilhéus e tem cercade 4.300 índios em 23 comunidades. Segun-do Gerlic (2002), a luta dessa Nação come-çou desde 1560 com a Batalha dos Nadado-res onde, numa disputa entre índios e não-índios, foi quase que dizimada a populaçãoindígena, principalmente os homens guer-reiros. Essa batalha comandada pelo entãogovernador intendente da Bahia, Mem de Sá,transformou a região numa missão jesuíticacom o propósito de catequização e escravi-zação dos índios, que acabaram por fugirpara a mata ou tiveram que se subordinar àmudança cultural imposta pelos colonizado-res da área, além de perderem aos poucos aterra que a eles pertencia.

Em 1922, o chamado cabocloMarcelino deu início à articulação de ummovimento contrário aos interesses do gran-des coronéis de cacau estabelecidos emOlivença que, por sua vez, decidiram perse-gui-lo. Veio então a batalha dos índios paraque não construíssem a ponte do rio

Cururupi, que facilitaria a chegada de maisbrancos a Olivença e, mais uma vez, os índi-os foram massacrados. Marcelino, após serpreso diversas vezes, em 1938 teve sua vidatirada por seus inimigos. O Olivença era tãovisada pelos coronéis em função do desejodestes de construir suas casas de veraneioem uma área de grande beleza natural.Oimpacto causado pode ser percebido, hoje,no desabafo da cacique Jamopoty:

[...] sofreram demais as famílias por aqui, tive-ram que fugir para não morrer por problemasde terra por que diziam que aqui era a galinhados ovos de ouro, porque era a coisa mais lindaaqui... e aqui então eles achavam que tinha quefazer uma zona urbana mesmo para as casas deveraneio dos coronéis. E foi assim que fizeram...fizeram várias casas e aí foi afastando, inclusi-ve a minha mãe mora na casa de Olivença queera da minha bisavó, para a minha mãe morarhoje lá na praça a minha bisavó teve que dizer“daqui ninguém me tira!”. Quando eles chega-ram aqui eles disseram: “olhe, de hoje em dian-te aqui não se faz mais casa de barro e palha, sótijolo e telha” mas mesmo assim ninguém ti-nha condição, quem não tinha foi saindo, foisaindo e ela disse: daqui eu não saio!

Com a vinda do comércio na aldeia,foi oferecido produtos aos quais os índios,que então tinham que se autodenominarcaboclos, não estavam habituados, como abebida alcoólica. Estes acabaram por contra-ir dívidas e tinham suas terras tiradas parao pagamento destas. A falta de documentostambém constituía um entrave para que osíndios defendessem suas propriedades.

Em 1985, segundo Jamopoty, dois in-tegrantes da comunidade de Olivença foramaté o Rio de Janeiro,na FUNAI, até então SPI,a convite de Mário Juruna, com o intuito defazer relatos sobre a comunidade. Mesmopassando necessidades por falta de recursospara a viagem, conseguiram alguns medi-camentos e novas idéias para as famílias in-dígenas de Olivença. Quando retornaram,no entanto, suas famílias haviam sido mas-sacradas e estes foram torturados para quenão levassem em frente o movimento. Em1999, como relatado por Jamopoty, come-çou o processo de alfabetização de jovens eadultos pela Pastoral da Criança e com elehouve um agrupamento dos membros. Nes-ta mesma circunstância, vieram representan-tes dos índios Pataxó que incentivaram acriação de um movimento dos Tupinambá,como estes já haviam feito.

Page 105: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

105O resgate da identidade cultural: Meio para uma sustentabilidade local

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Uma das primeiras ações do movimen-to foi a mudança da denominação do grupode caboclos para índios Tupinambá. Inde-pendente do enunciado: “somos tupinam-bá”, estes já eram Tupinambá por sua culturae parentesco em comum, antes mesmo queo discurso formado para que a sociedade to-masse maior conhecimento fosse utilizado.Mas criou-se, a partir desse enunciado, umapalavra de ordem: “somos Tupinambá e te-mos que reivindicar nossos direitos”. A pala-vra de ordem, como sugerido por Deleuze(1997), expressa uma transformação incor-pórea que está ocorrendo naquela sociedade,como no caso, a consciência do que é ser umTupinambá, ato este que transcende cadacorpo (físico, mental, moral) daquele grupo,mas que é atribuído a todos eles por algunsindivíduos, e acaba por ecoar por todo o gru-po. A partir dessa palavra de ordem, aindase potencializaram as transformações naque-le grupo. Como descreve Deleuze (1997,p.21), “[...] a instantaneidade da palavra deordem, sua imediatidade lhe confere umapotência de variação em relação aos corposaos quais se atribui a transformação”.

A situação relacional em que se encon-tram os índios Tupinambá de Olivença, hojefaz com que se identifiquem pelo parentes-co, pelo passado em comum e pelo desejo deterem seus direitos reconhecidos e problemassolucionados, e não mais por característicasfísicas. O que ocorreu, no entanto, é que oenunciado “somos Tupinambá” ecoou tam-bém para o resto da sociedade e esta, quetinha como referencial para designar ummembro indígena uma pessoa portadora decaracterísticas físicas específicas da etnia in-dígena, não aceitou de imediato como legíti-mo que se denominassem índios Tupinambámembros quem não tivessem característicasfísicas daquela etnia.

A sociedade não estava, portanto, pre-parada para o fato de que, mesmo sendo umenunciado, tratava-se de uma enunciação,pois o termo “tupinambá”, assim como suacultura, não deve ser designado dentro deum processo de enunciado concluído, masde enunciação, já que a cultura, assim comoas características de seu grupo, são dinâmi-cas. Cuche (2002, p.183) prefere o termo“identificação”, quando a identidade resultade um processo que se dá “no interior de uma

situação relacional”, e na medida em que po-de evoluir “se a situação relacional mudar”.

Assim, parece se que deveria mudarda idéia de enunciado para a idéia deenunciação, e de identidade para identifica-ção. Segundo Bhabha (1998, p. 64), o pro-cesso enunciativo introduz

...uma quebra entre a exigência culturalista tra-dicional de um modelo, uma tradição, umacomunidade, um sistema estável de referência,e a negação necessária da certeza na articulaçãode novas exigências, significados e estratégiasculturais no presente político como prática dedominação ou resistência.

Na história dos Tupinambá de Oliven-ça, essa enunciação do grupo como índios,tentou ser barrada por alguns membros dasociedade como os coronéis, como menciona-do anteriormente, pois sabiam que tal enun-ciação poderia trazer palavras de ordem rei-vindicando direitos e terras, como de fato aca-bou acontecendo. Como descrito por Cuche(2002), a identidade é o que está em jogo naslutas sociais, mas nem todos os grupos têm omesmo poder de identificação ou podem ex-primir essa identificação, pois esse poder de-pende, muitas vezes, da posição que se ocu-pa no sistema de relações que liga os grupos.Assim, todo o esforço principal dos Tupinam-bá consistiu em se reapropriar dos meios dedefinir sua identidade, segundo seus própri-os critérios, e não apenas em reaver uma iden-tidade, concedida pelo grupo dominante.

Identidade e união

No início do movimento Tupinambá,é possível sustentar a hipótese de que, o res-gate da identidade foi o meio pelo qual acomunidade pode conhecer a história de seupovo, seus costumes, sua crença, sua ideolo-gia, analisar o que mudou através dos tem-pos e assim avaliar o quão benéfica ou malé-fica foram as transformações (argumento 1).

No extenso trabalho de resgate da his-tória do povo Tupinambá, foram levantadashistórias e relatos como a do caboclo Marceli-no, pioneiro na luta de sua comunidade e ado antigo proprietário da piscina naturalTororomba, um índio que teve que deixarsuas terras por pressão e ir morar emSantana, a 30 quilômetros de onde residia.Essas histórias fizeram com que os descen-dentes refletissem sobre as transformações

Page 106: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

106 Fernanda B. M. Leme; Salvador D. P. Trevizan

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

vindas com os não-índios, em sua busca porum bom local para seu turismo de veraneio,como a expulsão, por exemplo, dos até en-tão denominados “caboclos” de suas terras.Também começou-se a analisar, além dastransformações sociais, as transformações dehábitos introduzidas pelos brancos como ouso de sal em sua alimentação e de meios deprodução, como o extrativismo exagerado namata da região, o que acabou comprome-tendo várias espécies antes utilizadas pelosíndios em sua medicina, como o buraem.

Os rituais também foram resgatadospor via da memória oral dos mais antigosdo grupo, e neles agregados característicasde rituais de outras tribos. O Porancim, porexemplo, é para os membros da comunida-de, como descrito por Jamopoty, um ritualem que as pessoas se assumem na práticacomo índios, um ritual de dança que acredi-tam fortalecer o grupo, enquanto povo e espi-ritualmente. Segundo Siqueira (2000), os ri-tuais têm sua eficácia simbólica pois seus ges-tos e ditos são carregados de significados deforma cadenciada, ordenada e ritmada. Seo que ocorre nos rituais tem sempre seu mo-mento obrigatório, e estes são respeitados, éporque o indivíduo que o está praticando temo outro em mente, estabelecendo relações ecumprindo expectativas de reciprocidade.Esse comprometimento, essa preocupaçãocom o outro é que faz dos rituais um impor-tante elemento da cultura étnica, pois forta-lece os laços de união e de identidade de seusmembros, como acontece no caso dosTupinambá de Olivença.

Assim, o resgate dos relatos do passa-do e as lembranças, puderam ser trabalha-dos de forma a focalizar o presente. Esse res-gate da memória permitiu a construção deum sentimento coletivo de busca por umacondição melhor. Nessa busca coletiva, aprincipal motivação foi esse resgate que ge-rou nos moradores da comunidade o senti-mento de união por uma identidade em co-mum (como defendido no argumento 2), deuma história em comum, e de sofrimentosigualmente vivenciados. Como relatado porJamopoty, em relação ao sentimento deunião que se formou a partir deste:

[...] isso tudo é você nascer de novo, mas comvontade de crescer, de poder ter uma terra edizer que é uma aldeia, que aqui mora índio enós vamos reivindicar nossos direitos. A gente

junta nossos parentes que nos ajudam muitonessa nova história porque eu acho que é umanova história para nós, porque é um novo povo,embora descendente de um povo guerreiro, umpovo que morreu consciente de que alguém hojeia lutar por essa terra de novo. Eu acho que éisso que nos valoriza e nos fortalece aindamais... esse resgate, essa vontade de se afirmar.[...] hoje é um grupo grande que se assume, quevai lá, que briga, que está junto. E eu como caci-que, eu vejo isso nos meus parentes, que não sóeu puxo a caminhada, a frente, mas que elestambém estão junto comigo para me proteger,e isso para a gente é bom porque tá todo mun-do junto na mesma briga.

Isso também confirma que o resgate daidentidade de um grupo também se tornaum importante meio para se desenvolverbases de poder comunitário paralelos aospoderes políticos da região. Os tupinambánomearam uma cacique para a comunida-de, caso raro onde uma mulher ocupa estecargo. Frente ao poder público, a comuni-dade com sua cacique já conquistou espaçona Secretaria Municipal de Saúde, do MeioAmbiente, além de terem podido exercerpressão para a instauração de uma lei mu-nicipal que afirma a existência de índiostupinambá em Olivença. Mas paraJamopoty (2005), a principal conquista é:

Não é o ressurgimento que eu falo não, é essavolta que a gente deu, esses massacres que teve,essa discriminação e que hoje a gente se assumecomo etnia, com nome, com conhecimento, euacho que isso tudo é uma conquista da gente.

Os Tupinambá, assim como os índiosMapuche do Chile, reivindicam uma escolaapropriada à sua cultura. Jamopoty faz re-ferências também à saúde. Pelo seu depoi-mento, ainda há muito que ser adequado àsexigências específicas do grupo Tupinambá.

Quando você vai brigar pela saúde diferencia-da você sente na pele porque ninguém sabe quala diferença. Não sabe que tem que valorizar acultura dos índios, o pessoal que benze os índi-os, as ervas, tudo isso tem que ser valorizado eninguém valoriza. Querem trazer aqui ummédico só para dar a receita e dizer se você tácom dor de barriga, para tomar tal remédio.

A intenção do grupo, com a implanta-ção da escola indígena já conquistada e queserá entregue brevemente à comunidade, éfirmar território e, a partir disso, realizarnovas conquistas como a da saúde adequa-da, com o apoio dos planejadores sociais.Mas como os planejadores estão vendo osmovimentos identitários? Eis uma questão aser discutida.

Page 107: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

107O resgate da identidade cultural: Meio para uma sustentabilidade local

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Planejadores: planos para quem? O casoPataxó de Coroa Vermelha

Seguindo a lógica de que, se o resgatee a firmação da identidade do grupo levouseus membros a identificar suas necessida-des específicas e reivindicá-las, os planejado-res também poderiam perceber as especifi-cidades do grupo e adequar seu planejamen-to (argumento 3). No entanto, tal não se ob-servou no caso dos índios Tupinambá ePataxós de Coroa Vermelha, em Porto Se-guro (BA).

O projeto Jaqueira implantado na gle-ba B da terra indígena de Coroa Vermelhafoi proposto pela Associação Pataxó deEcoturismo, uma associação comunitáriasem fins lucrativos, com o principal objetivode desenvolver atividades de ecoturismo,turismo cultural e educação ambiental naReserva Jaqueira. O projeto visa, assim, for-necer meios necessários para a geração sus-tentável de renda e preservação permanen-te da mata. Com o relato do índio Pataxó,Taquari, nascido em Coroa Vermelha, nota-se que o projeto alcançou, em muitos aspec-tos, os objetivos propostos:

o índio que vive na Jaqueira, ele não precisaficar na praia vendendo arco e flecha, lança, elenão precisa não... Porque o turista que chegaaté eles, o turista é obrigado a comprar na mãodeles por obrigação... aquele passeio é obriga-tório no pacote, então ele não precisa ficar di-zendo – compra aqui meu amigo – e o cara di-zer ‘não’... se humilhando na praia, vendendocolar para poder comprar comida.

No entanto, Taquari afirma que os queelaboraram o projeto e seus gestores não le-varam em conta uma questão primordial nacultura indígena atual: a solidariedade paracom os outros “parentes” que são os mem-bros das comunidades vizinhas. Se nos tem-pos anteriores à colonização do Brasil tribosindígenas entravam em conflitos e disputas,hoje estas criaram forte vínculo entre si, poistodas em maior ou menor grau ainda estãoem processo de reivindicação de espaço nasociedade que se formou até então. Para mui-tos Pataxós, a inclusão no projeto de apenasalgumas famílias é um erro grave que acar-retou em brigas entre os próprios índios.

Neste resgate de nossa cultura, todos nós te-mos que participar e deixar os outros de fora,não; porque nós estamos juntos na história, nósestamos juntos na luta. [...] se eu puder viver

bem, eu quero que todos vivam bem. Se eu vira minha comunidade sofrendo, eu também vousofrer junto. Se eu tiver que dividir um pãopara não ver meu povo dormir com fome, ouse tiver um pão e não der para todo mundo, euvou dormir com fome com eles.

Com a implantação do Projeto Jaquei-ra, mesmo sendo uma proposta para os ín-dios e pelos índios, Taquari afirma que nareserva de Coroa Vermelha ficou o sentimen-to de incômodo pelas diferenças de oportu-nidades geradas. De forma semelhante, nocaso dos Tupinambá de Olivença, tambémocorreu, com os programas de ONG´s obeneficiamento de algumas famílias e outrasnão. Segundo relato de Jamopoty, uma or-ganização não governamental disponibilizourecursos financeiros à comunidade. OsTupinambá, entusiasmados com a propos-ta, começaram planejar o uso dos recursos:

[...] então bora sonhar e botamo no papel o queé que agente queria com a ONG, já que tinhaesse dinheiro disponível, né?! Fez um trabalhono fim do mês 1, no fim do mês 2 e no fim domês 3 e deixou lá o trabalho que não terminou,que não concluiu certo. Aí deixou famílias, tudofamília, brigando porque beneficiou uma famí-lia e não beneficiou outra. Quer dizer, entãonão veio para todo mundo, né?! Não veio parabeneficiar os índios tupinambá, porque teriaque beneficiar uma comunidade, aí, todo mun-do tá beneficiado: dali tirava a produção, a me-tade seria para doar para outra comunidade.Esse era o projeto e nada aconteceu na prática.

Os Tupinambá também relatam expe-riências mal sucedidas com planejadores naárea de educação, onde a ONG, que muitoajudou no início do movimento, hoje, por di-vergências de objetivos, acabou sendo des-vinculada da comunidade. Essa rejeição porparte da comunidade a alguns planejadoresse deve principalmente ao fato de que hojeesse grupo étnico tenta focalizar suas açõese apoios para o benefício da comunidadecomo um todo. Jamopoty argumenta que

[...] às vezes, a gente fala que o governo é res-ponsável por essa comunidade indígena, entãoo governo tem que fazer: tem que capacitar aspessoas para que elas saibam como trabalharcom a gente, não é chegar e impor. Não. Nósvamos dizer para eles que nós não queremosdesse jeito e que queremos daquele.

Essas experiências mostram que, emmuitos casos, os planejadores não atentampara as especificidades da comunidade emquestão, mas fortalecem o argumento 4, re-ferente à identidade como meio pelo qual acomunidade pode reivindicar mais espaço e

Page 108: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

108 Fernanda B. M. Leme; Salvador D. P. Trevizan

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

tempo, mais especificamente: espaço socialpara que as necessidades de acordo com suacomunidade sejam atendidas; e tempo deescolha para que a comunidade, ciente desua cultura, possa rejeitar ou aceitar o quevem da cultura do outro. Segundo Jamopoty,essa atitude de saber o que quer, de estar ci-ente de sua condição, é fruto dessa afirma-ção enquanto grupo.

Eu sempre digo: aqui na nossa comunidade nãotem analfabeto, tem gente de capacidade. Temíndio por aí com poder para assumir a adminis-tração até regional. O que eu vejo aqui, na co-munidade de Olivença, é que existem muitaspessoas capacitadas que podem ocupar o lugarde um não-índio que está ocupando um espaçonessa comunidade. Aqui mesmo tem pessoasque não são índios e que trabalham aqui paraos brancos e não vem olhar o lado do índio.Ora, se o governo está pagando ele para traba-lhar com índio, ele tem que ver os interesses doíndio.

O apoio de grupos de fora da comuni-dade é de grande validade em alguns casos,mas a autogestão da comunidade parece sera melhor maneira de se ter um efetivo al-cance de metas, sem ferir a ideologia do gru-po, já que muitos planejadores não atentampara este aspecto.

O meio cultural e o cultivo do meio

Com a evolução de um movimentoidentitário, o que se percebe é que, estabele-cida a união do grupo e a luta por melhoriasespecíficas, o passo seguinte é a reivindica-ção do grupo por seu espaço, e a defesa des-te de interesses prejudiciais a seus membros(argumento 5).

Essa reivindicação surgiu no movimen-to Tupinambá desde o momento em que ogrupo, fazendo uma retrospectiva histórica,percebeu que a expropriação dos Tupinam-bá se deu por pressão de grupos majoritári-os, como a dos antigos coronéis de cacau.Posteriormente, a necessidade de ter a terrareconhecida como aldeamento indígenamostrou-se fundamental para que o grupode membros remanescentes pudesse dar con-tinuidade a seus projetos de melhoria social.Jamopoty reclama que:

Antes do povo ser reconhecido, falavam quenão podia fazer isso, não podia construir, nãopodia fazer saneamento básico, porque os índi-os não eram reconhecidos. Aí, agora falam quenão pode construir nada, que casa não pode

melhorar, nem a condição de vida dos parentesporque os índios não têm a terra reconhecida.

Atualmente, com a escola que está emfase de construção, em uma terra cedida aum dos índios por indenização, e que tem aproposta de melhorar a educação indígena,Jamopoty acredita que as autoridades irãoperceber o quanto o espaço físico representaum espaço social para a comunidade.

Referente à identidade como meio peloqual a comunidade pode difundir suas téc-nicas e habilidades para outras culturas e,assim, apresentar soluções alternativas deexploração ambiental (argumento 6), deve-se considerar a condição de que a comuni-dade tenha seu espaço físico respeitado. Sales(2000), em seu estudo sobre os índios Tembé,conclui que os movimentos de reivindicaçãode terra pelos grupos minoritários devem serlegitimados pelo fato de que um grupo quepossui uma identidade em comum, e umacultura diferente das que o cercam, deve tera chance de reprodução social sobre a baseterritorial para a reafirmação de sua identi-dade. Com seu espaço respeitado, tal grupoteria a chance de reproduzir suas formasespecíficas de manejo desenvolvidas pelainter-relação entre cultura e meio ambiente.

Segundo Viertler (1999), a culturaexerce um papel fundamental no modocomo se dá essa dinâmica entre o ser huma-no e a natureza. Através de sua cultura, oser humano cria, em parte, seu ambiente. Porsua vez, o meio físico força os habitantes adesenvolver meios para sobreviver. Forma-se então um forte vínculo entre cultura emeio ambiente. Esses modos de produçãodesenvolvidos para a sobrevivência do gru-po nem sempre, são feito de forma que esterespeite os ciclos da fauna e flora local, masa partir do momento em que o grupo vivaem contato direto com os ciclos, ele faz comque as técnicas de produção estejam de acor-do com aquele meio ambiente com maiorsucesso do que se fossem desenvolvidas poroutra cultura. Assim, é necessário estudar arelação homem - natureza, nas suas trans-formações através do tempo e lugar.

Para os Tupinambá, sua relação como meio ambiente está nas ervas medicinaiscomo o buraem, na culinária onde utilizammandioca para fazer farinha, chimanca (bo-lacha), beju (doce e salgado) e puba (mingaue pamonha). Está também na palha para

Page 109: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

109O resgate da identidade cultural: Meio para uma sustentabilidade local

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

fazer artesanatos, na manipuêra para fazerpreparados para combater formigas e car-rapatos, na piaçava (tipo de palmeira) parafazer vassouras e cabanas. O seu manejocom o meio ambiente também é diferencia-do com a utilização de ganhos e cipós amar-rados, formando o chamado suru, uma es-pécie de armadilha para a pesca de peixes.Existe também a pesca com cevas, um tipode isca feito com mandioca que atrai os pei-xes. A relação com os animais de estimaçãotambém é dada com respeito à liberdade doanimal, tendo muitas vezes pássaros que nãovivem em gaiolas, mas que “visitam” as ca-sas em busca de alimento e companhia. En-quanto isto, na região, são as moto-serras eredes utilizadas pelos não-índios.

Essas técnicas e habilidades dos tupi-nambá poderiam ser difundidas para outrasculturas, como ocorre no Projeto Jaqueira,em Porto Seguro, para os turistas. Ali, se-gundo Jandaia, os índios fazem passeios deeducação ambiental e, conseqüentemente,difundem como sua cultura percebe o meioambiente de forma harmônica. Além disso,as trilhas existentes na reserva têm váriospontos de interpretação e parada, onde sãocontadas histórias do povo Pataxó, são mos-tradas as plantas medicinais utilizadas eapresentados exemplos de armadilhas usa-das pelos antepassados para caça. É umexemplo nesse aspecto, de como o turismopode funcionar em terras indígenas, em ter-mos de valorização cultural e ambiental.

Atualmente o turismo pode melhorarseu papel de intercambiar culturas, atravésda tendência dos turistas em se interessarmais sobre outras culturas, como ocorre comos chamados “turistas cosmopolitas”, termoque Hannerz (1999) utiliza para definir pes-soas que, acima de tudo, se orientam a fimde saciar sua vontade de se envolver com ooutro. A maioria dos turistas, particularmen-te os que praticam o chamado “turismo demassa”, em locais já bastante exploradospela atividade e onde terá preços reduzidos,não tem ainda uma visão tão ampla de quãointeressante pode ser a cultura do outro,como tem os cosmopolitas. No entanto, háindícios de que isto já está mudando. Teste-munha disso são os passeios do ProjetoJaqueira onde os turistas, em um destinoonde é realizado o turismo de massa (Porto

Seguro), pagam uma quantia não tão peque-na para entrar na reserva indígena, mesmoque, segundo Jandaia, 90% sejam estrangei-ros. Essa visitação acaba por provocar tam-bém o sentimento de orgulho nos índios pelointeresse do outro em sua cultura e gera ren-da para manter o movimento. “[…] A gentetrabalha com o turista, pois para a gentechegar aos nossos objetivos que é a preser-vação da cultura e do meio ambiente, a gen-te resolveu abrir para a visita e o turista es-tar ajudando a gente”, diz Jandaia. Se bemplanejado, o turismo poderia ser uma opor-tunidade de se culminar no processo de res-gate cultural de uma etnia indígena, atravésdo contato e intercâmbio com o outro, con-tato este que outrora sufocou e adormeceuuma identidade e que agora pode ajudar afortalecê-la.

Conclusão

O estudo dos movimentos e lutas dascomunidades indígenas Tupinambá, emOlivença, Ilhéus, BA, e Pataxós, em PortoSeguro, BA, permite sustentar, quase sem-pre, o argumento de que o resgate da suaidentidade étnica exerce relevante papelpara desencadear um processo de desenvol-vimento social, econômico e cultural e, porextensão, de desenvolvimento sustentável nacomunidade local, como já se registrou en-tre índios Tembé no Pará, e Mapuche noChile. Não se observou, entretanto, o queseria desejável, o reconhecimento das espe-cificidades culturais do grupo étnico, porparte de agentes externos ao grupo, confor-me previsto no argumento 3.

O processo de resgate da identidadeétnica dos grupos estudados revela uma tra-jetória com perfil bem definido. Primeirovem o conhecimento da própria história quepermite ao grupo avaliar-se em termos dasmudanças ocorridas através do tempo (per-das e ganhos, avanços e recuos). A partirdesse conhecimento, tem início a construçãode um sentimento de unidade, fundamentoindispensável para se definirem mecanismosde força e de poder. Sentir-se diferente, comnecessidades e anseios específicos fortalecema unidade e atuam para nortear a definiçãode rumos, objetivos e metas do grupo. Àmedida em que a sensação de força se mani-

Page 110: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

110 Fernanda B. M. Leme; Salvador D. P. Trevizan

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

festa, começa a se delinear o sentimento depoder fazer frente a outras forças, no caso,as forças sociais dominantes. Este enfrenta-mento se expressa na reivindicação e con-quista de espaços físico, temporal, social ecultural que, por sua vez, abrem possibili-dades para o grupo viver dignamente suasdiferenças, ou seja, desencadearendogenamente o ‘outro desenvolvimento’,para usar a expressão de Sachs.

Há de se considerar ainda que a idéiade sustentabilidade, como o atendimento dasnecessidades e dos anseios da geração atualsem comprometer os das gerações futuras,passa atualmente por um questionamentopelo fato de que, ao se estudar as culturas,percebe-se que o que é necessidade num de-terminado momento ou contexto, pode serapenas desejo ou supérfluo noutro. Isso éagravado pelo fato de que a modernidade ea globalização parecem dinamizar aindamais essas mudanças culturais, fazendo comque se acelere também as mudanças do quesão necessidades e anseios das sociedades.Diante dessa realidade, Marques (1999, p.45)faz a seguinte pergunta: “Como fazer entãopara planejar a satisfação de necessidadesfuturas, quando os parâmetros do passadosão absolutamente inseguros e quando sevive um presente da mais absolutafugacidade?”

Ao que parece, dever-se-á ter sempreos olhos, mente e questionamentos dirigidospara a cultura. Se observada a cultura comoa teia de significados em que o homem tecee na qual ele mesmo se amarra, como defen-dida por Max Weber e seguidores (ApudGEERTZ, 1989), estar-se-ia também obser-vando as necessidades e anseios latentes nes-sa teia, sempre em construção, ora desman-chada, ora complementada. O resgate e aafirmação cultural aparece como meio paraa sustentabilidade de minorias socialmenteexcluídas, para que o grupo saiba o que ne-cessita, o que anseia, o que já não é mais fun-damental, o que se tornou fundamental, oque é ser de uma cultura e o que é não ser deuma cultura e o que é preciso ter, como con-dições, voz, para poder continuar sendo. Nocaso das minorias indígenas, ao que tudo

indica, para que continuem sendo portado-res de uma cultura específica, é fundamen-tal ter. Ter espaço social, ter respeito da so-ciedade em relação a como o grupo se per-cebe, ter meios de se unir e de reivindicar.

Referências

BHABHA, H. O local da cultura. Belo Horizonte: UFMG,1998.

CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais.Bauru: EDUSC, 2002.

DELEUZE, Gilles; GUATARRI, Félix. Mil platôs – capi-talismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: 34 editora, 1997.Vol 2.

GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio dejaneiro: Guanabara Koogan, 1989.

GERLIC, Sebastian. Índio na visão dos índios. Salvador:Thidêwá, 2002.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.Rio de Janeiro: DP & A, 2004.

HANNEZ, Ulf. Cosmopolitas e locais na cultura glo-bal. In: Cultura global – nacionalismo, globalização e moder-nidade. Petrópolis: Vozes, 1999.

HERNANDEZ, Isabel. Educação e sociedade indígena - umaaplicação do método Paulo Freire. São Paulo: Cortez, 1981.

MARQUES, José Geraldo W. Dinâmica Cultural e pla-nejamento ambiental: sustentar não é congelar. In:Jenner Filho; Nádia F. M. Amorim e Vinícius NobreLages (Org.). Cultura e desenvolvimento – a sustentabili-dade cultural em questão. Maceió: UFPE, 1999.

MARKUSEN, A R. Região e regionalismo: um enfo-que marxista. In: Espaço e debates, p.83, 1981.

OLIVEN, Ruben G. A parte e o todo: a diversidade cultu-ral no Brasil-Nação. Petrópolis: Vozes, 1992.

POUTIGNAT, Philippe & STREIFF-FERNART, Jocelyne.Teorias da etnicidade – seguido de grupos étnicos e suasfronteiras de Fredrik Barth. São Paulo: UNESP, 1998.

REX, Jonh. Raça e etnia. Lisboa: Estampa, 1997.

SACHS, Ignacy. Ecodesenvolvimento. Crescer sem des-truir. São Paulo: Vértice, 1986.

SALES, Noêmia P. Pressão e resistência – os índiostembé-tenetehara do Alto Rio Guamá e a relação como território. Belém: UNAMA, 2000.

SIQUEIRA, Euler. O homem total na sociologia deManuel Mauss. Revista Humanas, Londrina, v. 2, n. 1,2000.

VIERTLER, Renate B. A idéia de “sustentabilidade cul-tural”: algumas considerações críticas a partir da an-tropologia. In: Jenner Filho; Nádia F. M. Amorim eVinícius Nobre Lages (Org.). Cultura e desenvolvimento– a sustentabilidade cultural em questão. Maceió: UFPE,1999.

Page 111: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Enlaces entre cultura e turismo: uma abordagem sobre concepções e modos deintervenção do Estado na área da cultura (Bahia - 1995-2002)*

Links between culture and tourism: an approach of the conceptions and ways ofintervention in the State, in the culture department (Bahia State, Brazil, 1995 – 2002)

Relations entre la culture et le tourisme: une approche sur les concepts e moyensd’intervention de l’État dans le domaine de la culture (État de Bahia, Brésil, 1995-2002)

Enlaces entre cultura y turismo: un enfoque sobre concepciones y modos de intervención delestado en el área de la cultura (Bahía - 1995-2002)

Mariella Pitombo Vieira**

Recebido em 02/05/2005; revisado e aprovado em 01/06/2005; aceito em 31/01/2006.

Resumo: O texto pretende analisar, num primeiro momento, as principais concepções que vêm norteando o modo deintervenção do governo estadual baiano na área da cultura desde o ano de 1995, momento em que é criada aSecretaria da Cultura e Turismo do Estado. Em seguida, à luz do debate contemporâneo sobre políticas culturais,especula sobre o papel do Estado na conformação do campo cultural, tomando como heurístico o exemplo domodelo de gestão adotado do executivo baiano.Palavras-chave: Cultura; turismo; políticas públicas.Abstract: This paper intends to analyze, in a first moment, the main conceptions that inform the intervention of theBahia government in the culture area since the year of 1995, period in wich it is created the General office of the Cultureand Tourism. Afterwards, to the light of the contemporary debate on cultural policies, the paper speculates on the roleof the State in the configuration of the cultural field, taking as heuristic the example of the administration modeladopted by the Bahia government.Key Words: Culture; tourism; public policies.

Résumé: L’article prétend analyser, dans un premier temps, les principaux concepts qui accompagnent les interventionsdu Gouvernement de l’État de Bahia dans le domaine culturel depuis 1995, année de la création du Secrétariat de laCulture et du Tourisme. Ensuite, à la lumière du débat contemporain sur les politiques culturelles, l’article spéculesur le rôle de l’Etat dans la conformation de l’espace culturel, en prenant comme heuristique l’exemple du modèled’administration adopté par le pouvoir exécutif de l’Etat de Bahia.Mots-clés: Culture; tourisme; politiques publiques.Resumen: El texto pretende analizar, primeramente, las principales concepciones que vienen norteando el modo deintervención del gobierno estadual baiano en el área de la cultura desde el año de 1995, momento en que es creada laSecretaría de Cultura y Turismo del Estado. Enseguida, a la luz del debate contemporáneo sobre políticas culturales,se especula sobre el papel del Estado en la conformación del campo cultural, tomando como heurístico el ejemplo delmodelo de gestión adoptado del ejecutivo baiano.Palabras claves: Cultura; turismo; políticas públicas.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 111-120, Mar. 2006.

* Esse artigo é fruto da dissertação “Política cultural na Bahia: o caso do Fazcultura” defendida por mim em 2004,no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas (Faculdade de Comunicação/Universidade Federal da Bahia).** Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas/UFBA). Pesquisadora do grupo “Memória, Cultura e Desenvolvimento” (FFCH/UFBA) e do “Centro de EstudosMultidisciplinares em Cultura – CULT” (FACOM/UFBA). Rua Barão de Geremoabo s/nº Campus de Ondina, CEP40170-290, Salvador-BA.

Desde o início da década de 1990,quando mais uma vez se conforma um perío-do de hegemonia política liderado por Anto-nio Carlos Magalhães, momento em que as-sume pela terceira vez o cargo de governadordo estado (1991-1994), a Bahia vai conhecerum novo ciclo de administração pública mar-cado, sobretudo, pela desregulamentaçãodas funções do Estado e uma concomitanteabertura para o mercado internacional, emque o processo de modernização cultural e

turística passa a ser uma das agendas dedestaque da gestão que ora se reiniciava. Oentrecruzamento das elites políticas tradicio-nais com novos grupos sociais emergentesatuantes nos setores imobiliário, de entreteni-mento e comunicação vai contribuir para aênfase no desenvolvimento de políticas vol-tadas para as atividades ligadas ao consu-mo cultural e turístico, estratégia que vai fa-vorecer o delineamento de uma imagemda Bahia como lugar de entretenimento e

Page 112: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

112 Mariella Pitombo Vieira

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

turismo. O remapeamento do espaço urba-no de Salvador engendrado por este gover-no no início da década de 1990, tendo narestauração do Parque Histórico do Pelouri-nho seu marco principal, sinaliza para astransformações imputadas pelo poder localà paisagem da cidade com fins de conceder-lhe uma imagem consensual (apesar dassonantes desigualdades que compõem o te-cido sócio-urbano), típica de um projeto po-lítico hegemônico.

No bojo da tendência contemporâneada busca pela afirmação das identidades lo-cais em meio ao trânsito incessante de sig-nos e imagens que marcam o ambiente daglobalidade, o governo estadual baiano, sin-tonizado a esta corrente, passa a atrelar aimplementação de suas políticas culturais eturísticas a uma estratégia que lança mão daapropriação de elementos simbólicos da cul-tura baiana. Desse modo, tradições e identi-dades coletivas são potencializadas e“reinventadas” de modo a tornar a Bahiaum “produto” diferenciado em meio à ho-mogeneidade da cultura “internacional-po-pular”, para usar uma expressão de RenatoOrtiz (2000), que transita pelo elástico mer-cado global de bens e serviços da informa-ção e da cultura. Nesse sentido, cultura eturismo são, por excelência, a saída rumo àinserção do Estado no mercado nacional etambém internacional de bens simbólicos. Eé por este caminho que reside a aposta dasúltimas gestões do executivo baiano, lidera-do por Antonio Carlos Magalhães – um ci-clo político iniciado no começo da décadade noventa e em vigência até os dias atuais.

Política estadual de cultura: uma tramade concepções

O advento da criação da Secretaria deCultura e Turismo do Estado – SCT, em1995, é o momento de expressão máxima daconsolidação institucional de uma política demodernização turística e também culturalque vinha sendo adotada por este mesmogrupo desde a década de 19701. Em uma açãoinédita no país, cultura e turismo, os princi-pais setores de promoção e divulgação doEstado em nível nacional e internacional, sãoamalgamados em uma única secretaria reve-lando-se aí a estratégia e o modo de condução

peculiar para a gestão da cultura. Este lon-go ciclo de hegemonia política, liderado pelafrente carlista, torna-se significativo, poisconcentra em seu lapso notáveis transforma-ções no modo de condução das políticas pú-blicas voltadas para a cultura e o turismo, jáque as referidas agendas serão compreendi-das como vetores de desenvolvimento parao Estado, num processo em que a tônica dasações governamentais para estes setores vol-ta-se para a dimensão econômica.

Após a análise de fontes documentaistais como: programas de governo, relatóri-os, leis e decretos referentes aos dois últimosciclos de gestão da Secretaria de Cultura eTurismo, sob o comando de Paulo Gaudenzi2

(1995-1998/1999-2002), foi possível identi-ficar algumas temas constitutivos do mosai-co de idéias do governo que orientou o seumodo de intervenção na cultura. Seleciona-mos aqui, dois dos seus principais eixos:

a) Cultura e desenvolvimento:A orientação da política estadual de

cultura vai estar pautada num discurso queenfatiza um “novo modelo” de gestão cul-tural, no qual a cultura será entendida comoum importante vetor para o desenvolvimen-to do Estado. Nessa narrativa, explicitamenteamparada em princípios da agenda interna-cional para o desenvolvimento, encampadapor organismos internacionais como aUnesco, o modelo de intervenção defendidoestabelece entre suas prioridades aliar a cul-tura ao desenvolvimento.

Essa linha de pensamento está orien-tada pelas transformações ocorridas maisintensamente desde a década de 80, sobre oenfoque do papel da cultura para o desen-volvimento global das sociedades. Essa te-mática ganhou relevância e passou a ser focode interesse privilegiado para diversos Esta-dos e organismos intergovernamentais – des-taque-se a Unesco – fato que promoveu a re-alização de numerosos fóruns, congressos eestudos sobre política cultural, elevando-a auma categoria de assunto estratégico naagenda internacional do desenvolvimentodas sociedades.

Aos moldes das narrativas internacio-nais em torno da importância da culturapara o desenvolvimento, no nível local, es-tratégias discursivas semelhantes são utili-

Page 113: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

113Enlaces entre cultura e turismo: uma abordagem sobre concepções e modos deintervenção do Estado na área da cultura (Bahia - 1995-2002)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

zadas pelo governo estadual baiano – inclu-sive com citações expressas de documentosda Unesco – para justificar sua aposta nofomento aos processos de criação cultural,bem como para definir seu papel diante dessenovo contexto. Esse fato aponta para a ten-dência contemporânea de tal apropriaçãoconstar freqüentemente nos discursos polí-ticos como forma de legitimidade de sua in-tervenção, pois, nessa direção, valores mais“nobres”, como a diversidade cultural ou ainclusão social passam a ser priorizados emdetrimento de uma concepção economicistaque orientou por décadas o desenvolvimen-to das sociedades. Vale a pena reproduzirum trecho de um documento programáticooficial que exprime o conceito de cultura do“pensamento governamental”, refletindo oalinhamento aos pressupostos da agendainternacional do desenvolvimento, aponta-dos acima. Vejamos:

A cultura é que dá identidade e sentido à vidade um povo, formando simbólica e material-mente, as características que o diferenciam deoutros povos, de outros agentes, de outras na-ções(...) A atividade cultural permeia tudo: tu-rismo, educação, economia, o meio ambiente.É, portanto, importante agente para o desen-volvimento econômico e social de um povo (...)O enfoque da política de desenvolvimento deveconsiderar, por conseguinte, o setor culturalcomo um sistema que requer uma ação especí-fica do Estado como base ou marco referencial,com interface com todos os demais setores daatividade humana (BAHIA, 2003, p.7).

b) Cultura e economia

O ideário em voga movido pelas cifrasastronômicas que movimentam setores espe-cíficos da produção cultural (a portentosaindústria cultural é o mito maior) compare-ce como pressuposto que justifica a apostana dimensão econômica da atividade cultu-ral. Desse modo, o governo estadual tomacomo um dos seus objetivos impulsionar aatividade cultural rumo à sua “auto-sustenta-bilidade”. A cultura passa a ser entendidacomo um “fato econômico”, constituindo-senuma atividade capaz de gerar dividendos,“enquanto importante vetor na geração detrabalho, emprego e renda” (GAUDENZI,2000, p.15). Podemos supor que, colocadadessa forma, essa relevância responde, à sig-nificativa influência que hoje alguns meca-nismos institucionais, inerentes à sociedade

de consumidores(as indústrias do lúdico,sobremodo), exercem na condição social con-temporânea.

Ressaltar a expressividade econômicada atividade cultural, talvez seja, hoje, umadas bases de sustentação mais evidentes paraas justificativas oficias dos governos ao in-vestir o erário público em atividades maisvoltadas ao “engrandecimento do espírito”e que não têm apelo direto às necessidadesmais essenciais da população como educa-ção, saúde, previdência social etc. Nessesentido, a máxima proferida pelo ex-minis-tro da Cultura, Francisco Weffort – “Cultu-ra é um bom negócio” – sintoniza-se perfei-tamente com essa interpretação sobre o pa-pel da cultura na contemporaneidade. Nãoé à toa que hoje os números e estatísticas queenvolvem a economia da cultura passarama ser tão alardeados e se tornaram uma ricafonte de convencimento para aqueles maisresistentes e céticos em relação à premênciade estímulo à cultura – considerada uma ati-vidade de natureza predominantemente “de-sinteressada”. Mesmo que se ressalte os be-nefícios sociais que a atividade cultural podegerar, não restam dúvidas de que são as ci-fras vigorosas que movimentam o mercadocultural (seja no que se refere aos númerosde empregos gerados, seja em torno da mo-vimentação financeira decorrente de suaprodução, circulação e consumo) o grandetrunfo dos governos para justificar os gastospúblicos nesse setor.

A notável produtividade do setor cul-tural na contemporaneidade constitui-se emuma espécie de esteio que ampara e dá su-porte à tendência atual de os Estados condu-zirem um modelo de gestão que tem comopremissa o afastamento gradual de sua inter-venção e a constante ênfase de um discursoque comemora a auto-sustentabilidade dacultura – uma área cada vez mais produtivae menos “desinteressada”. Apesar de o Mi-nistério da Cultura ser a pasta contempladacom o menor orçamento da Federação – ir-risórios 0,26% dos R$ 400 bilhões do orça-mento total da União (HERNANDES, 2003)– hoje, no Brasil, a produção cultural giraem torno de 1% do PIB e gera meio milhãode empregos (BRASIL, 1998).

Page 114: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

114 Mariella Pitombo Vieira

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Remanejamentos na gestão e organizaçãodo campo cultural: um novo papel para oEstado?

Após especular acerca dos pressupos-tos conceituais que urdiram a formulaçãodos princípios que orientam a intervençãodo governo estadual baiano na área da cul-tura, pode-se concluir que não é num vácuopolítico no plano nacional, e mesmotransnacional, que o poder local começa aajustar seus esforços e a definir sua atuaçãoem relação ao fomento da atividade cultu-ral no Estado. No rastro da consolidação deum mercado de bens culturais, e pavimen-tando-se na história pretérita da Bahia comocenário de movimentos culturais vigorosos,o poder local assumiu em seus programastomar a cultura como área prioritária parao desenvolvimento global do Estado. Assim,entendendo a atividade cultural como um“fato econômico”, o governo estadual baia-no cunha sua modalidade de intervenção,denominado-a de um “novo marco” – “umprocesso contemporâneo que se caracterizapor um conceito inovador de sustentabilida-de e popularização, e vincula a cultura aoprocesso de desenvolvimento do Estado”(GAUDENZI, 2000, p.37) – por pretender,justamente, exortar uma faceta mais identi-ficada com a possibilidade de tornar o seg-mento cultural como uma atividade quepode gerar recursos e dividendos, rumo à suasustentabilidade econômica e maior indepen-dência do clássico paternalismo estatal. É sobessa óptica que se permite entrever, portan-to, o papel que o executivo baiano arrogapara si no modo de conduzir a política decultura do Estado. Vejamos:

(...) ao Estado cabe, fundamentalmente, os pa-péis de agente facilitador e indutor de desenvolvi-mento; de promotor das condições básicas ne-cessárias à abertura de canais de participação eoportunidades que estimulem os procedimen-tos produtivos e as relações de convivência ede mercado (GAUDENZI, 2000, p. 19-20) (grifoda autora).

Neste sentido, a atuação que o gover-no estadual delineia e toma como meta a serperseguida parece estar bem próxima da dis-cussão que Canclini propõe ao analisar opapel da intervenção do Estado contempo-râneo na esfera da cultura. Diz o autor: “Adiferencia de la oposición realizada en otro

tiempo entre el estado y las empresas, hoyconcebimos al Estado como lugar dearticulación de los gobiernos con las iniciati-vas empresariales y con las de otros sectoresde la sociedad civil” (CANCLINI, 1999,p.189). Essa situação exprime uma tendên-cia que parece ser já irreversível: a interse-ção entre organismos estatais e os conglo-merados econômicos como manifestação donovo ordenamento da esfera cultural, indi-cando no interior das suas práticas airrupção de um fenômeno que lhe é decor-rente, qual seja: a redistribuição de poder nalinha de comando da gestão do campo dacultura, fato que propicia um gradual afas-tamento do Estado em áreas em foi tradicio-nalmente provedor ao passo que adensa eestende a atuação da iniciativa privada noâmbito da esfera cultural.

No Brasil, a gestão e organização docampo cultural ficaram sob guarda quaseque exclusiva do Estado por um longo perío-do, sendo inclusive considerada como áreapoliticamente estratégica, principalmente pe-los governos autoritários (destaque-se a eraVargas e o período da ditadura militar), porconstituir-se como o locus privilegiado paraa promoção e deslanche do projeto hegemô-nico de construção da nação e da afirmaçãoda identidade nacional. No entanto, numaépoca em que parece ter sido decretada acrise de legitimidade e soberania dos Esta-dos-nação em meio ao delineamento de umanova cartografia do mundo, agora essencial-mente pós-nacional, o papel do Estado é re-definido, sua natureza e suas esferas de ope-ração se alteram. Agora, cabe aos Estadosmuito mais uma atuação revestida de um ca-ráter eminentemente empresarial, enquantoagente articulador, regulador e indutor dedesenvolvimento – já que entraram definiti-vamente numa era de delegação, privatiza-ção e desregulamentação – do que o clássicopapel de provedor e interventor principal dasvárias esferas da vida social. Aliás, esse é umpapel previsto no texto da própria Constitui-ção de 1988. Diante da crise de governabili-dade que o governo brasileiro enfrentou nofim da década de 80, em meio à explosão dedemandas da sociedade civil não atendidaspelo poder local, a Carta Magna estabeleceutrês atuações distintas do Estado na ordemeconômica nacional, a saber: o de fiscaliza-

Page 115: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

115Enlaces entre cultura e turismo: uma abordagem sobre concepções e modos deintervenção do Estado na área da cultura (Bahia - 1995-2002)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

dor, de incentivador e planejador. Delineia-se, desse modo, um modelo baseado na livreiniciativa, em que suas funções voltam-separa o incentivo à iniciativa privada, demodo que o Estado comparece muito maisnum plano da multilateralidade do que daunilateralidade que marcou, por exemplo, ostempos do Estado totalitário (CESNIK, 2003).

No rastro dessas transformações, essemodelo de intervenção estatal é perseguidomuito particularmente pelo poder local, des-de que a liderança do grupo carlista assumea hegemonia no início da década de 1990 –mesmo considerando que na Bahia o setorpúblico ainda seja o principal agente dinami-zador da economia. A Secretaria da Cultu-ra e Turismo talvez seja uma das instânciasmais emblemáticas desse novo modo de atu-ação que pouco a pouco o governo de cor-rente carlsita vem requerendo para si.

Desse modo, a gestão da cultura e doturismo passou a ser orientada por essa lógi-ca de caráter empresarial, em que a tendên-cia à desregulamentação das funções do Esta-do e a gradativa privatização dessas ativida-des econômicas deram o tom desse ciclo ad-ministrativo. No setor turístico o mais exem-plar, como foi dito, foi o Programa Prodetur3,já na área da cultura, o Programa Fazcultu-ra4 é sua síntese mais notória. Cabe mencio-nar ainda projetos como o Cluster de Entre-tenimento5, que embora ainda não tenha sidoimplementado, vem a ser um das propostasque melhor espelha a atual concepção quenorteia a administração púbica sobre o pa-pel a desempenhar na sociedade.

Por outro lado, na área mais específi-ca da produção e difusão cultural, em quepese a orientação dessa conduta que começaa prevalecer nos moldes da gestão públicaatual, cabe reconhecer que a presença doexecutivo baiano ainda é muito forte, consti-tuindo-se como um dos principais agentesque dinamizam o campo cultural na Bahia.Embora a produção musical tenha sido o seg-mento artístico que mais ganhou projeçãona cena cultural baiana na última década,em virtude da eclosão do fenômeno da axémusic e com o advento do empresariamentodo carnaval, as demais atividades culturaisacabaram por estabelecer uma vinculaçãomuito forte com o governo do Estado paraque pudessem ser efetivamente realizadas.

Hoje, direta ou indiretamente, boa parte doseventos culturais realizados em Salvador,inscritos principalmente fora do eixo das in-dústrias culturais, é beneficiada com algumapoio do Estado. Esse apoio se materializaseja pela ocupação nos principais equipa-mentos culturais da cidade, seja pelo subsí-dio direto através de financiamento à pro-dução e circulação dos bens culturais, ouindireto através da isenção de impostos àiniciativa privada, viabilizada através da leiestadual de incentivo à cultura ou aindapelas ações de preservação do patrimôniohistórico-arquitetônico.

Não se pode negar que a longevidadeda administração estadual na área da cul-tura sob o signo do carlismo proporcionouuma maior consolidação do mercado de benssimbólicos na Bahia, bem como garantiu ofortalecimento do campo cultural baiano,conferindo-lhe uma maior dinamicidade6.No entanto, ao analisarmos o perfil da polí-tica cultural implementada nesse período,pode-se perceber que a linha que orienta aingerência do Estado na cultura está pauta-da em um modelo tradicional de interven-ção, por assim dizer, aos moldes do scriptque vem sendo adotado em nível federal aolongo da história da relação entre Estado ecultura no Brasil. Qual seja: incentivar açõesora voltadas para aquele circuito mais iden-tificado com o que comumente tem se cha-mado de “cultura de elite”, fomentando pro-duções voltadas para linguagens artísticasmais restritas como o teatro, a dança e asartes plásticas, ou então através do incenti-vo à produções de cunho mais popular, vol-tados à preservação do patrimônio materiale imaterial como o folclore, festas e tradiçõespopulares. Como indicador dessa tendênciatem-se o fato de que grande parte dos recur-sos investidos pela Secretaria da Cultura eTurismo do Estado se concentraram no se-tor de preservação patrimonial – ainda que,em grande medida, esses recursos advenhamde fontes internacionais de financiamento.Contexto que favorece a corroboração daprevalência do caráter ‘preservacionista’ daspolíticas culturais ao longo da trajetória daintervenção do Estado no domínio da pro-dução cultural brasileira.

Ainda que o perfil da política culturalimplementada pelo governo estadual baiano

Page 116: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

116 Mariella Pitombo Vieira

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

conserve esse teor tradicional, sua especifi-cidade reside precisamente no fato de conju-gar essa sua intervenção mais “clássica”, aotempo em que a potencializa, aos mecanis-mos institucionais da sociedade de consu-midores – o turismo e as indústrias de lazer ede diversão são os instrumentos privilegiados–, como que buscando se alinhar à lógica queconcede lugar de destaque à esfera culturalno ordenamento social contemporâneo.

Diante desse panorama, ao analisar osprincipais aspectos que conformam o perfilda política estadual de cultura, somos leva-dos a formular a hipótese de que aquela di-mensão antropológica exortada nos docu-mentos da Unesco, sustentada na reivindi-cação de um conceito mais amplo de cultu-ra, “que abarca, além das artes e das letras,os modos de vida, os sistemas de valores”(BRANT, 2003, p.3), parece não estar total-mente contemplada nos programas oficiaisimplementados pelo governo baiano. Apro-priando-se aqui de duas categorias trabalha-das por Botelho (2004), a partir da formula-ção proposta pelo sociólogo chileno JoséJoaquín Brunner — a dimensão antropoló-gica e a dimensão sociológica da cultura —,procuraremos fundamentar a hipótese oralevantada. Começando pela dimensão an-tropológica a autora formula:

A cultura se produz através da interação socialdos indivíduos, que elaboram seus modos depensar e sentir, constroem seus valores, mane-jam suas identidades e diferenças e estabele-cem suas rotinas. Desta forma, cada indivíduoergue à sua volta, e em função de determina-ções de tipo diverso, pequenos mundos de sen-tido que lhe permitem uma relativa estabilida-de (BOTELHO, 2004, p.2).

Mesmo considerando que os modos devida, os sabres e fazeres, as tradições e cren-ças, comuns à cultura baiana sejam indireta-mente suscitados, no plano do discurso, pe-los programas de ação do governo do Estado,em sua práxis a efetividade dessas ações privi-legia apenas determinadas práticas e gruposespecíficos, não implicando na abrangênciapolítica que reside na acepção antropológicada cultura. A apropriação e reformulação do“texto identitário” da baianidade pelo discur-so oficial talvez seja uma das estratégias quepossam ser utilizadas como justificativa paraa atenção que é dedicada pelo poder local aosmodos de vida e ao jeito baiano de ser. Noentanto, ele é acionado como moeda simbóli-

ca que confere gradientes de poder aos dife-rentes agentes que transitam no circuito daprodução cultural baiana, implicando assimtanto a sua integração à aludida rede de ne-gociações quanto a sua exclusão. Portanto, éuma estratégia de intervenção que se estabe-lece num universo institucionalizado. Nestesentido, a política cultural implementada pelogoverno tem maior abrangência sobre a di-mensão sociológica da cultura, em detrimen-to da dimensão antropológica.

Essa é uma assertiva que se sustentana tese proposta por Botelho, ao considerarque as políticas culturais, via de regra, privi-legiam em sua prática a dimensão sociológi-ca da cultura, enquanto que a dimensãoantropológica acaba por ser uma recorrênciaque ganha terreno apenas no nível do dis-curso. Para melhor compreensão do argu-mento vejamos como a autora define a di-mensão sociológica da cultura: “Ela compõeum universo que gere (ou interfere em) umcircuito organizacional, cuja complexidadefaz dela, geralmente, o foco de atenção daspolíticas culturais, deixando o plano antro-pológico relegado simplesmente aodiscurso”(BOTELHO, 2004, p.4).

Decerto, por se constituir enquantouma instância socialmente institucionaliza-da, a dimensão sociológica da cultura, porser mais palpável, acaba sendo o espectroque mais efetivamente sofre ações concretasdas políticas culturais oficiais. Por outro lado,a implementação de ações que contemplema dimensão antropológica da cultura, naprática, parece ser um projeto de difícil rea-lização, isso porque reside nessa opção depolítica cultural uma certa radicalidade po-lítica, em seu sentido mais abrangente, querompe estruturas de poder fortemente arrai-gadas e cristalizadas. Embora sejam alarde-ados nos programas oficiais de ação para aárea da cultura – nas instâncias federal, es-tadual ou municipal –, as políticas públicasparecem não ter conseguido efetivar em seusprojetos tal orientação conceitual, que abar-quem ações que promovam a redução dasdesigualdades e dos direitos humanos.

Já pode ser considerado um truísmo ofato de que ao Estado não cabe mais a fun-ção outrora desempenhada como ente oni-presente e único na definição de políticas cul-turais, como assim se comportou em perío-

Page 117: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

117Enlaces entre cultura e turismo: uma abordagem sobre concepções e modos deintervenção do Estado na área da cultura (Bahia - 1995-2002)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

dos autoritários na história recente dessepaís. No entanto, o que os agentes (intelec-tuais, artistas, intermediários) implicados nocircuito da produção cultural agora recla-mam é uma atuação estatal mais patente natarefa de regular, sobretudo, a hegemoniaalcançada pela lógica mercantilista que pre-valece na dinâmica da produção, dissemina-ção e consumo dos bens simbólicos ao tem-po em que reivindicam para o Estado o pa-pel de principal agente na missão de demo-cratizar a cultura e garantir a diversidadeda sua produção em tempos de aceleradoprocesso de globalização. A reflexão do atorSérgio Mamberti, agora burocrata do apare-lho da administração da cultura em nível fe-deral, ilustra essa corrente de pensamento:

Redefinir formas de convívio social, explodiras matrizes do pensamento excludente eembrutecedor que sedimenta o secular pactodas elites no Brasil, garantir direitos constituci-onais, criar novos direitos e eliminar privilégi-os são compromissos essenciais para uma ges-tão democrática da cultura, assumindo o cida-dão como prioridade. É necessário refundar asbases das relações de troca e criação, provocá-las, dar-lhes condições de existência concreta.Contra a implantação de programas unilate-rais de cultura, propõe-se dar caminho à pro-dução cultural do cidadão em todas as suas for-mas, em todo o país, sem confundi-la com prá-ticas corporativistas. Redescobrir o sentido daação coletiva, o sentimento de pertencimento eparticipação (MAMBERTI, 2003, p.16).

Ora, como se vê, essas são reivindica-ções que colocam no centro da discussão opapel das políticas culturais na atualidade.Em seu teor, tais proposições reclamam umacompreensão mais abrangente do papel daspolíticas públicas de cultura, de modo a es-capar às limitações que até então têm sidoencapsuladas, qual seja, a de enquadrá-lascomo meros programas voltados prioritaria-mente para o fomento de atividades de ca-ráter mais artístico constrangendo, assim, adimensão política latente na sua complexi-dade. De acordo com a categorização queCanclini (1987) propôs para refletir sobre asconcepções e os modelos que organizam aspolíticas culturais na América Latina, essemodo de intervenção, hoje reivindicado poragentes diretamente envolvidos no cenárioda produção cultural brasileira, parece con-fluir para a categoria que o sociólogo argen-tino cunhou de “democratização participa-tiva”. Segundo sua definição:

Esta concepción defiende la coexistencia demúltiples culturas en una misma sociedad, pro-picia su desarrollo autónomo y relacionesigualitarias de participación de cada individuoen cada cultura y de cada cultura respecto de lasdemás. Puesto que no hay una sola cultura legí-tima, la política cultural no debe dedicarse adifundir sólo la hegemonía sino a promover eldesarrollo de todas as que sean representativasde los grupos que componen una sociedad (...)no se limita a acciones puntuales, sino que seocupa de la acción cultural con un sentido con-tinuo (a través de toda la vida y en todos losespacios sociales), y no reduce la cultura a lodiscursivo o lo estético, pues busca estimular laacción colectiva a través de un participaciónorganizada, autogestionaria reunindo las ini-ciativas más diversas (de todos los grupos, enlo político, lo social, lo recreativo, etc.). Ademásde transmitir conocimientos y desarrollar lasensibilidad, procurar mejorar las condicionessociales para desenvolver la creatividadcolectiva. Se intenta que los propios sujetosproduzcan el arte y a cultura necesarios pararesolver sus problemas y afirmar o renovar suidentidad (CANCLINI, 1987, p.50-51).

Conforme ainda anota o autor, esse éum projeto que nasce, sobretudo, em meioaos movimentos e à irrupção de grupos al-ternativos na cena política da América Lati-na pós-ditadura, que descobrem o significa-do da potencialidade política das pequenasredes de solidariedade. Reconhecendo queesses movimentos lograram o êxito de socia-lizar a ideologia democrática entre as clas-ses populares, Canclini (p.53) conclui que,por outro lado, esses grupos não consegui-ram “construir alternativas culturales, nimesmo formular políticas, a escala dasociedad global, para disputar efectivamentela hegemonia a los grupos dominantes”. Seanalisada sinteticamente, tal concepção depolítica cultural reveste-se de um certo ca-ráter utópico, enquanto projeto ainda a serconquistado, porém, é necessário admitir,difícil de ser realizado na prática, dada acomplexa contextura política, econômica esocial que reveste a realidade brasileira.

Assumimos aqui o risco de considerarque raras foram as iniciativas estatais queconseguiram realizar tal façanha. É claro queexperiências inovadoras brotam aqui e ali,nos diferentes quadrantes desse país conti-nental. No entanto, numa perspectiva maisampla e generalista, a concepção e a práticacomum às políticas culturais hoje em vigorno país não se amoldam a esses projetos maisvisionários. Mesmo porque esses empreendi-

Page 118: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

118 Mariella Pitombo Vieira

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

mentos de caráter mais inovador, por essên-cia, desafiam o poder institucionalizado, ashierarquias cristalizadas, e conseqüentemen-te, a hegemonia dos grupos dominantes.

Na história da gestão pública brasilei-ra, uma das experiências que talvez tenhase aproximado desses propósitos — mas quemalogrou em curto espaço de tempo frenteaos conflitos de interesses políticos que comu-mente rondam projetos de teor mais revolu-cionário — foi a lendária gestão de AloísioMagalhães à frente do Centro Nacional deReferência Cultural (CNRC), em meados dadécada de 19707. Após essa experiência, noplano da gestão pública para a área da cul-tura, são raros os programas propostos porministérios e secretarias que contemplem emseu espectro um conceito mais amplo de cul-tura, que extrapole a implementação de po-líticas de caráter preservacionista ou volta-das ao estímulo de linguagens artísticas cir-cunscritas no circuito da produção restrita.

Dessa forma, o que se tem constatadoem termos do papel das políticas oficiais decultura é uma espécie de regularidade domodelo de atuação do Estado na esfera cul-tural, desde que essas políticas passaram aser objeto de sistematização pelos governosainda no regime getulista. Pode mesmo pare-cer redutora tal assertiva. Mesmo conside-rando as vicissitudes das diferentes gestõesna área cultural, que envolviam outros cená-rios e outras motivações políticas, sociais eeconômicas, o que se percebe, em essência, éuma intervenção do Estado – seja ela nos pla-nos federal, estadual ou municipal – muitosimilar ao que já tem sido praticado no de-correr da história recente do país. Ou seja: apresença do Estado na área da cultura dedi-ca-se prioritariamente a políticas de teormais “conservacionista”, voltadas à preser-vação do patrimônio cultural – seja ele mate-rial ou imaterial –, ou ao fomento de ativida-des artístico-culturais que têm dificuldade demanter-se de forma autônoma na dinâmicado mercado, sem o subsídio direto do Estado.

Para efeitos de comparação, cabe,aqui, tomar uma citação extraída de um textodo sociólogo Sérgio Miceli enquanto se dedi-cava à análise das políticas culturais vigen-tes na década de 1970, durante o regime mi-litar. Diz o autor: “o fato de a intervençãodo Estado ocorrer precisamente naquelas ati-

vidades culturais que vêm encontrando di-ficuldades crescentes de sobrevivência emfunção de critérios estritos de mercado (pú-blico, rentabilidade, etc.) contribui para a tô-nica marcadamente ‘conservacionista’ dapolítica cultural oficial (MICELI, 1984,p.100). Como se vê, é uma tese ainda bas-tante atual e que cabe como lente de análisepara a averiguação do papel, sobretudo,defensivo que o Estado vem assumindo des-de há muito na área cultural.

No entanto, diferentemente daqueleperíodo, o que hoje se revela emblemático éa presença cada vez mais intensa da iniciati-va privada no setor cultural, não somentepara a exploração de atividades vinculadasao setor mais lucrativo das indústrias cultu-rais, mas também através do seu sistemáticoapoio, em sua grande maioria subsidiada porincentivos fiscais governamentais, às ativida-des que tradicionalmente o Estado vinhaapoiando quase que exclusivamente como,por exemplo, ações voltadas para a preserva-ção patrimonial, fomento a linguagens artís-ticas identificadas com a “cultura de elite”.

Pode-se concluir, então, que as priori-dades das políticas públicas na área cultu-ral praticamente não se modificam. O quesofre remanejamento é precisamente o modode conduzi-las. Se antes as intervenções doEstado na seara da cultura eram motivadaspela construção de projetos políticos hege-mônicos, no encalço de uma identidadeabrangente para o país, a partir da décadade 1980 o élan que move o poder público afomentar a cultura se referenda na sua di-mensão econômica e mercadológica. Umatendência exacerbada ao longo das décadasseguintes e que chega à década de 1990 emsua versão mais acirrada, porque, mais doque qualquer outro momento, o Estado tam-bém orienta suas políticas culturais pela ló-gica mercantilista que sustenta a poderosaindústria do entretenimento.

Tomando-se como referência o quadroidiossincrático engendrado pela prevalênciadas leis de incentivo fiscal na conformaçãodo cenário da produção cultural nacional, épossível inferir que a prática de tal modelode política cultural se apresenta como heurís-tica para se pensar a reformulação que o Es-tado vem sofrendo em suas funções. Em últi-ma instância, ao estimular uma política de

Page 119: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

119Enlaces entre cultura e turismo: uma abordagem sobre concepções e modos deintervenção do Estado na área da cultura (Bahia - 1995-2002)

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

renúncia fiscal, o Estado acaba por abdicarde uma clássico pressuposto que lhe coubeno processo de unificação territorial e, porconseqüência na conquista do seu status deinstância soberana, qual seja: a instauraçãode um sistema de fisco (BOURDIEU, 1996).Ao tomar como prerrogativa a cobrança deimpostos como fonte de financiamento dasdespesas públicas, o aparelho estatal durantelongo período garantiu a legitimidade do sis-tema fiscal como justificativa de uma condi-ção que lhe era inerente, a saber: a promoçãodo bem público, de interesse coletivo. No en-tanto, quando se toma por referência o alcan-ce que a produção cultural viabilizada pelapolítica de estímulos fiscais propicia, benefi-ciando um espectro bastante reduzido de umpúblico consumidor desses bens, o que se co-loca em suspeição é justamente a possibili-dade de se ainda pensar o Estado comoagente promotor por excelência da virtudepública no contexto social contemporâneo.

Ora, as especificidades que caracteri-zam a atual configuração da esfera culturalno Brasil evidenciam os sintomas dessas me-tamorfoses institucionais, chamando a aten-ção para os remanejamentos no equilíbrio deforças que se estabelece entre os conglomera-dos econômicos e o Estado na definição domodo de organização e gestão do campo cul-tural. Este cenário revela o papel central quea iniciativa privada vem adquirindo na ofer-ta de bens culturais na contraface à crescen-te desregulamentação das funções do Esta-do no trato com os ‘negócios’ da cultura.Uma tendência que parece desde já inevitá-vel frente ao reordenamento social provoca-do pelos atravessamentos de fluxos globaisde capital, de informação e bens culturais,processo esse que restabelece hierarquias eredefine os papéis dos diversos agentes impli-cados na dinâmica do circuito da produçãode bens simbólicos e que, no Brasil, ganhacontornos reveladores através da especifici-dade do mecanismo das leis de incentivo àcultura.

Considerações finais

Após a análise das práticas e dos dis-cursos encampados pela Secretaria da Cul-tura e Turismo foi possível perceber que oexecutivo baiano compareceu como agente

fundamental na dinamização e organizaçãodo campo cultural na última década. Noentanto, essa sua atuação vem se dando deforma paradoxal, a saber: simultaneamen-te, ao tempo em que o governo assume umlugar crucial nessa dinâmica, é também omomento no qual se efetiva de forma signi-ficativa o processo de desregulamentação desuas funções, quando assume, sobretudo, umpapel de negociador, de gerente ocupado emcatalisar investimentos de outras fontes derecursos (internacionais, sobretudo), paraserem repassados à sociedade.

Vimos que a diminuição da interven-ção estatal é um sintoma contemporâneo,reflexo das profundas transformações polí-ticas econômicas e sociais que o fenômenoda globalização vem provocando no atualarranjo societal. Essa reconfiguração afetoua autonomia dos Estados, exigindo-lhes umnovo modo de ingerência nas diferentes es-feras da vida social, sendo a cultura umadelas. E esse é o perfil de atuação que o go-verno estadual baiano vem avocando parasi quando declara em seus programas deação a intenção de constituir-se em agente“facilitador” e “indutor” dos processos deprodução cultural. Nesse sentido, a respon-sabilidade que ele se incumbe está circuns-crita ao seu papel de intermediador, enquan-to ator que promove condições necessárias(principalmente relativas à infra-estrutura)para que o setor cultural se torne uma ativi-dade produtiva auto-sustentável, não exclu-sivamente dependente do mecenato da má-quina pública.

Notas:1 As relações entre turismo e cultura configuradas como

áreas afins, no que se refere à formulação de políti-cas, vem desde há muito tempo na história políticada Bahia. Desde os anos 1970, quando Antonio Car-los Magalhães assume pela primeira vez o cargo degovernador do Estado para o quadriênio 1971-1975,medidas emblemáticas foram tomadas no sentido deconceder a Salvador um delineamento de lugar deentretenimento e turismo. A saber: fortalecimentoda malha institucional voltada para a gestão do tu-rismo (criação e reestruturação de órgãos públicos),fomento à indústria de serviços, atraindo investido-res nacionais e estrangeiros para a construção de equi-pamentos do ramo hoteleiro de alto luxo, ampliaçãoda malha rodoviária e aeroviária e o desenvolvimen-to, desde então, de uma agressiva estratégia de di-vulgação dos “dotes” turísticos e culturais do Estado.

2 Paulo Gaudenzi é secretário de Cultura e Turismo do

Page 120: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

120 Mariella Pitombo Vieira

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Estado desde que foi criada a pasta, em 1995. Homempúblico, atuante na gestão do turismo, é ligado aogrupo carlista desde a década de 1970.

3 O Programa de Desenvolvimento Turístico da Bahia– Prodetur-Ba começou a ser implantado na Bahiaem 1992, como parte integrante de um programa maisabrangente (Prodetur-Nordeste) que começava a ga-nhar consistência à época, voltado o para desenvol-vimento turístico da região Nordeste do país. A Bahia,foi o Estado mais beneficiado com os recursosvultuosos que envolviam o seu financiamento – emtorno de 35%. Seus investimentos destinam-se prio-ritariamente à capacitação de recursos humanos,marketing e melhoria de infra-estrutura (saneamen-to básico, rede rodoviária, construção de aeroportos,comunicação, recuperação do patrimônio históricoetc.) da capital e de localidades do Estado com poten-cialidades turísticas. O Prodetur, tornou-se o princi-pal suporte financeiro que permitiu o governo doEstado realizar o vigoroso plano de modernizaçãoturística para o Estado da Bahia.

4 Lei estadual de incentivo à cultura, em vigor desde1997. Esse instrumento de política cultural foi umdos alvos de minha análise quando da pesquisa rea-lizada durante o curso de mestrado. Ver: Vieira, 2004.

5 O Cluster de Entretenimento foi concebido para seconstituir num novo modelo de gestão para a ativida-de turística, tendo nas atividades de lazer e cultura osprincipais diferenciais para potencializar a competiti-vidade do turismo na Bahia e atrair turistas de maiorpoder aquisitivo. O projeto, apesar de ainda não tersido posto plenamente em execução, já indica de qual-quer sorte, uma tendência que parece ser irreversívele que o governo estadual vem assumindo paulatina-mente: a de abrir espaço para uma maior interven-ção da iniciativa privada e gradualmente restringirsuas iniciativas nas atividades econômicas de modoa constituir-se cada vez mais como instância regula-dora e de articulação entre os vários agentes no de-senvolvimento dos setores produtivos da economia.

6 Em quase 15 anos de governo, é factível reconhecerque uma diversidade de ações foi implementada peloexecutivo local, tendo a política pública de cultura sedesenvolvido amparada no seguinte tripé: “Equipa-mentos/Infra-estrutura”, “Preservação” e “Dinamiza-ção”. A expressividade dos números não nega a atua-ção sistemática por parte do governo nessa área. Se-gundo dados da Secretaria da Cultura e Turismo, en-tre 1995 e 1999 foram investidos R$ 211, 6 milhões nadinamização do setor cultural no Estado. Desse mon-tante, R$ 171,8 milhões foram provenientes da SCT(cabe destacar aqui que parte majoritária desses recur-sos foi aplicada em ações de preservação patrimoni-al, tendo como fonte principal o Programa Prodetur),R$ 32,8 milhões referem-se à cota e renúncia fiscaldestinada pelo governo ao Programa Fazcultura notriênio 1997-1999 e os R$ 7 milhões restantes origi-nam-se na contrapartida da iniciativa privada ao pa-trocinar projetos culturais aprovados pelo Fazculturano período referido (GAUDENZI, 2000).

7 O Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC)foi criado em 1975 e se constituiu numa espécie deembrião para uma nova política patrimonial que orase deslindava em meio às transformações institucio-nais e conceituais da vertente patrimonial, de caráter

mais conservador, que até então predominava naspolíticas de preservação do MEC. Sob a batuta deAloísio Magalhães, as ações do CNRC foramembasadas em doutrinas inovadoras sobre a concep-ção de cultura brasileira. Iluminada pela propostainicial de Mário de Andrade sobre a questão do pa-trimônio cultural, elaborada durante o governo deGetúlio Vargas, a equipe do CNRC passou a centrarsuas atenções no imenso acervo de atividades econô-micas, artesanais e manufatureiras, representante depráticas e grupos sociais que até então não tinhamsido alvo de intervenção por parte das políticas pú-blicas oficiais (Fonseca, 1997).

Referências

BAHIA (Estado). Secretaria da Cultura e Turismo. Polí-tica Cultural. Salvador, 2003, (mimeografado).

BOURDIEU, Pierre. Razões práticas. São Paulo: Papirus,1996.

BOTELHO, Isaura. As dimensões da cultura e o lugar daspolíticas públicas. Disponível em <http://www.cultura.gov.br>. Acesso em: 06 de março de 2004.

BRANT, Leonardo. Diversidade cultural e desenvolvi-mento social. In: BRANT, Leonardo(org.). Políticas cul-turais. São Paulo: Manole, [s.d.]. v . I, p. 3-14.

BRASIL. Diagnóstico dos investimentos em cultura no Bra-sil. Belo Horizonte: MinC/Fundação João Pinheiro,1998. v. 3.

CANCLINI, Nestor Garcia. La globalización imaginada.Buenos Aires: Paidós, 1999.

______. Polítcas culturales y crisis de desarrollo: unbalance latinoamericano. In: CANCLINI, Néstor Garcia(org.). Políticas culturales en América Latina. México: Edi-torial Grijalbo, 1987. p. 13-59.

CESNIK, Fábio Sá. Incentivo público à cultura. In:BRANT, Leonardo (org.). Políticas culturais. São Paulo:Manole, [s.d.]. v . I, p. 99-102.

FONSECA, Maria Cecília. O patrimônio em processo. Tra-jetória da política federal de preservação no Brasil. Riode Janeiro: UFRJ/IPHAN, 1997.

GAUDENZI, Paulo. Cultura, de neófito a operário. Salva-dor: Omar G Editora, 2000.

HERNANDEZ, Assunção. É hora de ver a cultura comopetróleo renovável. Disponível em:<www.culturaemercado.com.br/opinao.htm.> Acessoem: 17 de out. de 2003.

MAMBERTI, Sérgio. Por uma cultura democrática. In:BRANT, Leonardo (org.). Políticas culturais. São Paulo:Manole, [s.d.]. v. I, p. 15-18.

MICELI, Sérgio. Teoria e prática da política culturaloficial no Brasil. In: MICELI, Sérgio (org.). Estado e cul-tura no Brasil. São Paulo: Difel, 1984b. p.97-112.

ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. 4. reimpr da 1.ed. de 1994. Paulo: Brasiliense, 2000.

VIEIRA, Mariella Pitombo. Política cultural na Bahia:o caso do Fazcultura. 2004. 240f. Dissertação (Mestradoem Comunicação e Cultura Contemporâneas) – Salva-dor, FACOM/UFBA.

Page 121: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

O consumo e as estratégias de caça utilizadas pelas populações tradicionais daReserva Extrativista Chico Mendes

Consumption and hunting strategies used by traditional populations from theExtractive Reserve “Chico Mendes”

La consommation et les stratégies de chasse utilisées par les populationstraditionnelles de la Réserve Extractiviste “Chico Mendes”

El consumo y las estrategias de caza utilizadas por las poblaciones tradicionales de la ReservaExtractivista Chico Mendes

Magaly da Fonseca e Silva Taveira Medeiros*

Loreley Garcia**

Recebido em 31/07/2005; revisado e aprovado em 05/12/2005; aceito em 31/01/2006.

Resumo: A caça de subsistência e as estratégias usadas nas caçadas pelos extrativistas são informações valiosas quecontribuem para a definição de medidas a serem implementadas para o manejo comunitário do recurso fauna,inserido em um processo de auto-gestão. O presente estudo buscou caracterizar o uso da caça de subsistência dealgumas espécies de mamíferos e aves com 54 famílias extrativistas, relacionando a obtenção de fonte de proteínaanimal e a influência de tabus, crenças e costumes, entre outros parâmetros, sendo realizado em 10 seringais daReserva Extrativista Chico Mendes, Município de Xapuri, no Estado do Acre.Palavras chaves: Caça de subsistência; reserva extrativista; tabu alimentar.Abstract: The present study evaluates the social and economic aspects of hunting strategies of some mammals andbirds. The research includes 10 “seringais”, on the Chico Mendes Extractive Reserve, located in Xapuri County, in theState of Acre at the Amazonian Jungle in Brazil.The paper is the result of interviews with 54 extractive families, whosesource of protein are hunted animals, and the influence of taboos, beliefs, and culture, among other parametersKey Words: Hunting strategies, conservation area, food taboos.

Résumé: La chasse pour la survie et les stratégies utilisées lors de la chasse par les groupes extractivistes sont desinformations de grande valeur qui contribuent pour la définition de mesures a être implantées pour l’organisationcommunautaire des ressources de la faune, en insertion dans un projet d’autogestion. Cette étude cherche à caractériserl’utilisation de la chasse de subsistance, au travers de l’entretien avec 54 familles d’extractivistes et met en relationl’obtention de source de protéine animale et l’influence de tabous, croyances et coutumes, entre autres. L’étude a étéréalisée dans 10 plantations de caoutchouc (seringais) de la réserve extractiviste Chico Mendes, dans la ville de Xapuri,dans l’État de l’Acre - Brésil.Mots clés: Chasse de subsistance; réserve extractiviste, tabou alimentaire.

Resumen: La caza de subsistencia y las estrategias usadas en las cacerías por los extractivistas son informacionesvaliosas que aportan para la definición de medidas a ser implementadas para el manejo comunitario del recursofauna, inserto en un proceso de auto-gestión. El presente estudio buscó caracterizar el uso de la caza de subsistenciade algunas especies de mamíferos y aves, con 54 familias extractivistas, relacionando la obtención de fuente deproteína animal y la influencia de tabúes, creencias y costumbres, entre otros parámetros, siendo realizado en diezplantaciones de caucho de la Reserva Extractivista Chico Mendes, Municipio de Xapuri, en Estado de Acre.Palabras claves: Caza de subsistencia; reserva extractivista; tabú alimentar.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 121-134, Mar. 2006.

* Bióloga, Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento - PRODEMA UFPB. Diretora do Instituto de MeioAmbiente do Acre - IMAC, Rio Branco - Acre.** Doutora em Sociologia - USP; Pós Doutorado Universidade da Califórnia - Berkeley. Coordenadora do Curso dePós-Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento - PRODEMA da Universidade Federal da Paraíba. Centrode Ciências Exatas e da Natureza - Cidade Universitária, CP 5122, CEP 58051970, Joao Pessoa-PB.([email protected]).

Agradecimentos

Aos mateiros pelo compromisso e seri-edade nos trabalhos de campo; às famíliasextrativistas e Associação dos Moradores daReserva Extrativista Chico Mendes que pa-cientemente me acolheram e colaborarampara a realização do estudo. Espero que a

pesquisa contribua para o uso sustentável dorecurso faunístico na Reserva Extrativista; aoInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dosRecursos Naturais Renováveis – IBAMA /CNPT - Centro Nacional das PopulaçõesTradicionais, pela ajuda financeira e apoiologístico para viabilização do estudo.

Page 122: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

122 Magaly da F. e S. T. Medeiros; Loreley Garcia

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

1. Introdução

Na Amazônia, o manejo do estoquenatural, feito por índios e extrativistas utili-zando-se de alguns tabus e rituais na caçapara subsistência, têm contribuído para aconservação do habitat, diferentemente doprocesso de ocupação por milhares de colo-nos que realizam desmatamentos e fragmen-tação do habitat, com reflexos na perda dabiodiversidade.

O consumo da caça para subsistênciaestá diretamente vinculado à densidade dasespécies caçadas, disponibilidade de fonte deproteína, diferentes estratégias utilizadas nascaçadas, tabus alimentares e alterações am-bientais (Redford & Robinson, 1987). A dis-ponibilidade da proteína animal já foi, inclu-sive, debatida entre pesquisadores como sen-do um fator limitante na distribuição demo-gráfica na Amazônia (Lathrap, 1968;Chagnon & Hames, 1979; Hill & Hawkes,1983).

Hoje, discutem-se os efeitos indiretoscausados pelo aumento da exploração flo-restal e do crescimento da população huma-na, em comparação às atividades chamadasde sustentáveis, como a extração da borra-cha, na qual a caça de subsistência é consi-derada um subsídio da natureza servindocomo uma importantíssima fonte de nutri-ção para estes habitantes da floresta(Redford, 1992). Há um interesse crescenteem dimensionar a sustentabilidade da caça.Esta questão tem sido tratada com rigor cres-cente do ponto de vista técnico, teórico epolítico, dentro do debate acadêmico comum acúmulo considerável de dadosempíricos, após o desenvolvimento susten-tável haver sido considerado uma alternati-va viável para as graves questões ambien-tais e sido incluído na Agenda 21 como umobjetivo a ser alcançado (Rebelo, 1999).

A caça deve ser compreendida nasavaliações de sustentabilidade dos recursos,como tem sido feito através da etnobiologia1

e dos estudos etnozoológicos, revelando so-fisticadas relações entre animais, seus habitatse outras associações ecológicas já que a soci-edade de caçadores, geralmente, conhecebastante sobre anatomia animal e dão aten-ção especial aos ingredientes encontrados noestômago (Posey, 1996). Posey (1987) acres-

centa ainda que, os índios observam todosos aspectos do comportamento animal:acasalamento, nidificação, alimentação,caça, relacionamento presa/predador, há-bitos diurnos e noturnos e, transmitem essesensinamentos às novas gerações, criandobichos de estimação nas aldeias e, para isso,a criança é estimulada a aprender os padrõesde comportamento e de dieta de cada espé-cie, até mesmo de um indivíduo em particu-lar. Conhecem, também, detalhes importan-tes a respeito do comportamento dos ani-mais, dentre os quais seus urros, os alimen-tos de que preferencialmente se nutrem ca-racterísticas de excrementos, marcas de den-tes nas frutas (McDonald, 1977; Ross, 1978;Balée, 1984).

Castro (1992) acrescenta que as rela-ções com a natureza devem ser considera-das como relações sociais e pressupõem dis-positivos simbólicos específicos, isto é, ins-trumentos conceituais de “apropriação doreal”. E ainda, de acordo com Porto-Gon-çalves (1996), toda sociedade cria, inventa,institui uma determinada idéia do que sejaa natureza, através da qual erguem as suasrelações sociais, sua produção material e es-piritual, enfim, a sua cultura.

Segundo Sahlins (1990), a sociedadeocidental não pode escapar dessa constitui-ção cultural e tratar a produção como umsistema lógico dos objetos e relações sociais,sedimentada na lógica objetiva de suas situ-ações materiais (consumo, utilitário, merca-do). O autor reforça que há uma explicaçãocultural da produção visto que a utilidade éuma significação que os homens lhe atribu-em, pois, se analisarmos a preferência decomida e tabus nos animais, acomestibilidade entre categorias de carnemais e menos preferida está inversamenterelacionada com a humanidade, ou seja, di-visível em (1) status de objeto para os sujei-tos humanos, vivendo suas vidas à parte (oboi e o porco) ou como instrumento de tra-balho das atividades humanas (o burro e ocavalo) e (2) condições de sujeito com nomepróprio, recebendo afeto, enfim, mais próxi-mos do homem (animais de estimação).

Leach (1983) considera que algunsanimais são focos de atitudes rituais, outrosnão. A intensidade do envolvimento ritualde certas espécies individuais varia ampla-

Page 123: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

123O consumo e as estratégias de caça utilizadas pelas populações tradicionais daReserva Extrativista Chico Mendes

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

mente e está ligado, de modo ainda indeter-minado, com os tabus e as regras relativas àmatança e consumo destes e de outros ani-mais. O autor classifica a parte comestívelem três categorias principais: (1) substânci-as comestíveis que são reconhecidas comoalimento e consumidas como parte da dietaanimal; (2) substâncias comestíveis que sãoreconhecidas como alimentos possíveis, masque são proibidas ou então que se permitecomer somente em condições especiais (ri-tuais) e.; (3) substâncias comestíveis que, porcultura e linguagem, não são reconhecidasde modo algum como alimento, ou seja, nãopor serem consideradas sujas e sim “pode-rosas”. Para o autor, as regras de uma dietase relacionam por rituais de separação, asquais estão aliadas a fatores como digestãoe mesmo manutenção da espécie, enquantoque os tabus alimentares estão relacionadoscom o puro/impuro, sujo/limpo, abominá-vel/saboroso, considera como objetos liga-dos a crenças religiosas com a discrimina-ção entre os vivos e os mortos, santidade dossobrenaturais.

Para Douglas (1966), por mais ilógicase absurdas que possam parecer, as interdi-ções podem demonstrar um papel de meca-nismo social regulador do consumo de ali-mentos ou ainda, a manutenção do equilí-brio ecológico. A autora observa ainda quetodas as interpretações alinham-se em umde dois grupos, ou seja, (i) as leis religiosasnegativas determinam os objetivos e propó-sitos educacionais, como a proibição de co-mer carne de certos animais, classificadoscomo impuros. Se ser santo é ser total, uno;santidade é unidade, integridade, perfeiçãodo indivíduo e da espécie; alguns animaispodem ter sido proibidos por sua aparênciarepulsiva ou hábitos sujos, outros por moti-vos sanitários.

Nas Reservas Extrativistas2 determina-dos animais são largamente utilizados pelosextrativistas para consumo familiar e fazema distribuição da caça segundo padrões so-ciais de parentesco e vizinhança (Moran,1977). As regras para uso deste recurso es-tão estabelecidas em um Plano de Utiliza-ção, elaborado com a participação de mui-tos moradores, onde estão registradas as re-gras de uso dos recursos naturais, os direi-tos e os deveres de todos os que nela e dela

vivem (BRASIL/MMA, 1995). Essas regrasmanifestam ao IBAMA o compromisso dosmoradores de respeito à legislação ambientale, ao mesmo tempo, oferecem ao órgão uminstrumento de verificação do cumprimen-to das normas aceitas por todos, servindo deguia para que os moradores exerçam suasatividades dentro dos limites estabelecidos(UICN, 1995).

2. Materiais e métodos

2.1 Localização e características da área

A caracterização do consumo e estra-tégias da caça utilizada na Reserva Extrati-vista Chico Mendes, Município de Xapuri,compreendeu os Seringais Nazaré, SãoPedro, Palmarizinho, Floresta, São João doIracema, São José, Dois Irmãos, Boa Vista,Venezuela e Filipinas. Esta Unidade de Con-servação de Uso Sustentável foi criada atra-vés do Decreto nº 99.144, em 12 de marçode 1990, compreendida entre as coordena-das 10º 04’ 46" a 10º 58’ 30" latitude sul e67º 56’ 22" a 69º 08’ 25" de longitude ao Oestede Greenwich, abrangendo os municípios deAssis Brasil (1,82%), Brasiléia (14,49%),Xapuri (34,37%), Sena Madureira (22,31%),Capixaba (0,63%) e Rio Branco (26,65%),com uma área de 931.639 ha.

A região apresenta clima quente eúmido, com temperatura média anual emtorno de 24,5ºC, precipitação média anualde, aproximadamente, 1.800 mm., altitudevariando de 100 a 200m. e duas estações,seca e chuvosa. A estação seca estende-se demaio a outubro e a chuvosa caracteriza-sepor chuvas constantes no período de novem-bro a abril (ACRE, 2000). Na estação secasão comuns as “friagens”3 com queda de tem-peratura até 10 C. O relevo da área, segun-do a classificação do RADAMBRASIL, é dotipo planalto rebaixado da Amazônia oci-dental e depressão Rio Acre e Rio Javari,caracterizada por uma plataforma regularsem nenhuma formação rochosa como mon-tanhas e/ou serras.

No Município de Xapuri a vegetação éde floresta tropical aberta, com ocorrênciade três tipos de Sub-bosques diferenciados:Floresta Aberta com Bambu Dominante, Flo-resta Aberta com Bambu + Floresta Aberta

Page 124: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

124 Magaly da F. e S. T. Medeiros; Loreley Garcia

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

com Palmeira, Floresta Aberta com Palmei-ra em Áreas Aluviais, sendo o seringal S.Pedro, dentre os seringais estudados, o úni-co que apresenta todas as tipologias flores-tais. As vias de acesso para chegar às áreasselecionadas variam de acordo com a esta-ção seca e chuvosa.

2.2 Material e métodos

O período de coleta de dados estendeu-se de abril de 1997 a março de 1998. A ca-racterização familiar foi realizada no ano de1997 e envolveu 54 famílias nas entrevistasrealizadas, cerca de 10% das famílias decada seringal selecionado. Os questionáriosestruturados tiveram como base modelos deoutros estudos já realizados por Martins(1992) e Calouro (1995). As entrevistas tive-ram como finalidade obter informações so-bre as famílias que vivem na RESEX, as ati-vidades praticadas e a relação com o ambi-ente, o consumo de caça e as estratégias uti-lizadas no uso da fauna silvestre para sub-sistência. Foram levantados dados de núme-ro de pessoas por família, escolaridade, tem-po residente na localidade, tamanho da lo-calidade e as atividades desenvolvidas.Quanto às espécies, foram levantados osnomes dos animais utilizados para consu-mo e a preferência alimentar, os tipos decaçadas realizadas, a quantidade de cartu-chos utilizados, as zonas preferenciais decaça e os tabus alimentares.

O consumo da fauna silvestre parasubsistência foi levantado no ano de 1998por 54 famílias, através de pesquisa partici-pante. Foi utilizado um instrumento educa-tivo denominado “Calendário da Floresta”(Medeiros, 1997) contendo um formuláriodestacável com desenhos das 18 espéciesmais consumidas e das estratégias de caça-das utilizadas, além de informações diver-sas sobre meio ambiente e saúde, utilizan-do-se uma linguagem popular e desenhos empictogramas para facilitar a compreensão damensagem, devido ao alto índice de analfa-betismo e da maioria das crianças se encon-trarem em fase de alfabetização. Os dadosde biomassa da fauna retirada para consu-mo foram obtidos com a multiplicação damédia do peso corporal de cada espécie coma quantidade dos animais consumidos/ano.

Os calendários foram distribuídos emreuniões realizadas nas comunidades,convocadas anteriormente pela Diretoria daAssociação dos Moradores da ReservaExtrativista, especificamente, nos seringaisS. Pedro, Floresta, Filipinas, Dois Irmãos ePalmari, sendo o trabalho apresentado a to-dos para aceitação e tomada de decisão quan-to à participação. Os extrativistas participan-tes do trabalho ficaram responsáveis de as-sinalar as caças que foram obtidas e o tipode caçada utilizada, obtendo-se estes dadosnos seringais selecionados mensalmente. Os“Professores-Seringueiros” os “Paraflores-tais” foram envolvidos nas atividades de ori-entação e acompanhamento às famílias desua comunidade para o uso do calendário.Para tanto, foram capacitados durante osCursos de Formação realizados pelo Centrode Trabalhadores da Amazônia – CTA so-bre “Conservação e Manejo de Fauna de Usopor Populações Tradicionais”, distribuídosem três módulos. Para a capacitação destes,foi elaborado um “Manual do Professor” eimplementado um Jogo educativo denomi-nado “Jogo da Caça” (Medeiros, 1997), parao repasse dos conceitos do manejo. Além departiciparem no acompanhamento do pre-enchimento do calendário, alguns professo-res abordaram o tema em forma de redaçãoe, na matemática. Houve também uma rela-ção direta com as famílias dos alunos, pro-piciando uma mudança de atitudes.

Para o levantamento de ocorrência eabundância de aves e mamíferos usados parasubsistência foi selecionado o Seringal S.Pedro, a partir do mapa de vegetação – es-cala 1:1.000.000, tendo como critérios ado-tados para a seleção desta área a presençadas três tipologias florestais, característicascomuns a outros seringais, acesso no inver-no e verão, e apoio logístico das famílias re-sidentes. O número de animais passíveis decaça, distribuídos entre mamíferos (ungula-dos, roedores e edentados), aves e répteisforam obtidos por observações noturnas ediurnas realizadas no período entre 1997 e1998, percorrendo-se três transectos, de2.500 m de extensão e 10 m de largura decada, com marcação de 50 em 50 m, em pe-ríodo de lua nova, no inverno e verão, comesforço de 2.500 mx 10 dias. Os dadoscoletados foram transformados em formato

Page 125: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

125O consumo e as estratégias de caça utilizadas pelas populações tradicionais daReserva Extrativista Chico Mendes

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

ordenando-os por período de registro (inver-no/verão), data e ocorrência, de forma aobter escala de tempo e número de indiví-duos para cada área de ocorrência.

3. Resultados

3.1 Caracterização familiar e organizaçãocomunitária

A Reserva Extrativista – RESEX ChicoMendes é caracterizada por extrativistas comfamília constituída, em média, por 06 indi-víduos, dos quais 70% encontram-se na fai-xa etária entre 0 e 60 anos, representada por53,2% de homens e 46,8% de mulheres. Adistribuição dos indivíduos apresentou umaalta taxa de natalidade, indicando uma po-pulação jovem com predominância entre 0– 30 anos, a população ativa é alta apresen-tando 57% dos indivíduos com idade entre16 anos e 60 anos e uma taxa de mortalida-de baixa, evidenciando que, após a implan-tação da Resex, houve uma melhoria na qua-lidade de vida da população em relação aopadrão existente anteriormente. Estudo re-alizado por Rueda (1995) demonstra a den-sidade demográfica de 1,2 habitante por km2na Reserva e, número de casais superior aonúmero de solteiros e viúvos. Do total de in-divíduos entrevistados, 44% nasceram nomunicípio de Xapuri e 56% são de origemde outros municípios do Estado do Acre, nãotendo sido constatados migrantes de outrosestados. O tempo de permanência destasfamílias nas colocações visitadas variou de02 meses a 46 anos. O índice de analfabetis-mo é alto, apresentando somente 53% alfa-betizados, entendendo-se por alfabetizadoquem lê e escreve. Destes, apenas 1% con-cluiu o 1º grau e fazem parte do quadro deprofessores-leigos da Reserva.

Cada colocação4 o tem em média 672ha e as estradas de seringa têm aproxima-damente 100 ha com cerca de 100 a 150 se-ringueiras e, totalizam, aproximadamente,13 estradas5. A colocação abrange tambéma casa, um pequeno roçado de 1 ha/ano a 3ha/ano em sistema de produção familiar,onde se cultiva principalmente a “macaxei-ra” para a produção de farinha artesanal eoutros produtos como feijão, milho e arroz,para consumo próprio, além de um pomar

com variedade de fruteiras. Os principaisanimais de criação são: galinha (95%), por-co (71%), vaca (55%) e, em algumas coloca-ções há criação de pato, ovelha, cabra.

As principais atividades são extrativis-tas e contribuem com 62% da receita, segui-das da agricultura e agropecuária com 29%e 9% da receita respectivamente. A produ-ção familiar extrativista é prioritariamentea castanha (coleta do ouriço da castanha),praticada por 74% das famílias, com produ-ção média de 132 latas/ano/família, e a bor-racha (extração do látex da seringueira) pra-ticada por 57% das famílias, com produçãomédia de 379 kg/ano/família. A importân-cia destas atividades é confirmada por Caste-lo (1999) como as principais na área da reser-va, contribuindo a castanha com 52% e aborracha com 86% da renda familiar, esteúltimo mais acentuado devido ao subsídioda borracha pelo Governo do Estado no ano2000.

A comercialização e o abastecimentosão problemáticos devido às distâncias e con-dições de acesso até as colocações (UICN,1995). A produção geralmente é vendida àvista, podendo ser a dinheiro ou pelo sistemade troca por produtos de primeira necessida-de e, é comercializada (88%) na Cooperati-va Agroextrativista de Xapuri - CAEX, pe-los seringueiros que, também, fazem parteda Associação dos Moradores da ReservaExtrativista Chico Mendes – AMOREX e doSindicato dos Trabalhadores de Xapuri –STR/X. A agricultura praticada é de subsis-tência, embora o excedente das culturas pro-duzidas no roçado, também faça parte doorçamento familiar, em uma porcentagemínfima.

A mão de obra empregada nas unida-des de produção dos entrevistados é famili-ar, envolvendo homem, mulher e crianças.Os equipamentos são rudimentares e a utili-zação de tecnologias limitada. Há uma uniãoem torno de mulheres e crianças para ga-rantir a sobrevivência da família e uma in-tensa cooperação entre homens e mulheres,resultando em uma parceria matrimonial nocotidiano, afirmado por Rueda (1995) que aorganização familiar é importante e deter-minante para a divisão social do trabalho.

Page 126: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

126 Magaly da F. e S. T. Medeiros; Loreley Garcia

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

3.2 Caracterização do uso da fauna silvestre

A principal atividade de subsistênciaé a caça, seguida pela pesca. O esforço decaça leva de 30 minutos até 12 horas, sendoo tempo médio de 3,6 horas, de acordo comos depoimentos. Muitas vezes a carne é di-vidida entre os parentes e vizinhos, estabe-lecendo relação de confiança e parceria nes-se ato e, em diversas outras atividades reali-zadas em mutirão. As mulheres não partici-pam das caçadas, contudo a participaçãofeminina e das crianças ocorrem na pesca-ria realizada em família. De acordo com asentrevistas realizadas, a zona de caça dosextrativistas situa-se entre 10 minutos até 01hora de distância da moradia do caçador ediferentes estratégias são realizadas paraobter uma caça.

Os animais caçados que revelaramuma maior contribuição nas refeições foramo porquinho (11,6%), o veado (11,6%) e apaca (10,1%). Embora, a guariba (ou cape-lão), o jacu, o quatipuru, o queixada, o vea-do, o jabuti, a cutiara, o macaco prego, omutum, o macaco cairara, o macacoparauacu, o jacamin e os Tinamídeos tam-bém tenham contribuído. Das entrevistasrealizadas 40% dos caçadores não caçarampor motivos diversos como saída para cida-de, doença entre outros fatores.

As caçadas são realizadas em diferen-tes tipos de vegetação, sendo adotado umsistema de classificação da vegetação distin-to baseado na inundação ou não da floresta,densidade de sub-bosque e presença de tabo-ca (Martins, 1992). A restinga foi o único ha-bitat onde ocorreram todas as estratégias decaçada sendo as mais utilizadas a caçada aponto, também chamada a curso, seguidada caçada de espera. O habitat que apresen-tou maior diversidade de animais foi a “res-tinga”6 ocorrendo porquinho, veado, paca,guariba, cutiara, jacu, quatipuru, inhambu,coati, tamanduá bandeira, comparando-secom os demais habitats. Estudo realizado porMartins (1992) reforça que isto se deve pelamaior distância de detecção visual nestatipologia e maior facilidade de locomoção.Nos habitats tabocal7, taboca+cipoal8, várzea9

a estratégia usada foi, principalmente, à pon-to, enquanto que, no roçado10, o caçador rea-liza a caçada de espera.

Determinadas espécies animais comoMacaco preto (Ateles chamek), Anta (Tapirusterrestris), Mutum (Crax mitu), Queixada(Tayassu pecari), Veado roxo (Mazama goua-zoubira), Inhambu azul (Tinamus tao), Tatucanastra (Priodontes maximus), Gato maraca-já (Felis pardalis) não foram avistados ouocorreram somente em áreas de baixa densi-dade demográfica e de baixa perturbação doambiente, podendo ser consideradas em de-clínio na RESEX Chico Mendes. O macacopreto não foi avistado por nenhum mora-dor nos últimos anos atrás, embora os mo-radores mais antigos tenham afirmado suaocorrência no passado, em áreas sem per-turbação. Os moradores confirmaram aocorrência de antas (12) e mutuns (2), emáreas específicas, de baixa densidade demo-gráfica e de ambiente menos perturbado. Osqueixadas foram avistados e caçados no anode 1997, mas não ocorria com freqüência. Oveado roxo, nambu azul e tatu canastra tam-bém não foram avistados com freqüência naRESEX Chico Mendes, apesar de não seremanimais muito apreciados pelos extrativistas,por restrições alimentares. Quanto ao gatomaracajá, ocorre em áreas específicas, pró-ximo às áreas de fazenda com criação degado, pela oferta de alimentos.

3.3 O consumo de caça e as estratégiasutilizadas

O consumo da caça, de acordo com asanotações do “Calendário da Floresta”,totalizou 1092 animais/ano. Das espéciesconsideradas comestíveis as principais espé-cies consumidas foram a paca (18%), o jabuti(13%), o porquinho (12%) e o veado (12%).As estratégias comumente utilizadas são acaçada a ponto (ou a curso), de espera, comcachorro, com armadilha.

A caçada a ponto, é uma estratégiaoportunista, caracterizada por caminhadasdiurnas na mata em sua colocação à procu-ra de uma caça, através da identificação depegadas, fezes, vestígios deixados ou mes-mo sons que são emitidos pelos animais. Ocaçador normalmente leva uma espingarda,atirando em caso de avistamento de umacaça de sua preferência alimentar. Na mai-oria das vezes é efetuada solitariamente pelocaçador podendo, eventualmente, ter a com-

Page 127: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

127O consumo e as estratégias de caça utilizadas pelas populações tradicionais daReserva Extrativista Chico Mendes

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

panhia de um parente, vizinho ou filho.A caçada com cachorro consiste no

auxílio de cães para farejar a caça e perse-guir até seu esconderijo, comumente chama-do pelos caçadores de “acuar” a caça. Oslatidos servem para indicar ao caçador o sen-tido para onde a caça está fugindo, permi-tindo a preparação para o tiro. Esta estraté-gia não é bem vista pelos seringueiros, quecostumam dizer que os latidos “espantam acaça”, ou seja, alertam a caça e estas aca-bam se afastando para locais mais distan-tes. Necessariamente o caçador não sai comseus cachorros para caçar, os cães muitasvezes acompanham seus donos durante acoleta de borracha ou trabalho no roçado,alertando a presença de algum outro animale desencadeando a caçada (Calouro, 1995).

A caçada de espera não envolve gran-de locomoção, está baseada na ocorrênciade frutos na floresta que servem de alimentopara as caças, na presença de “barreiros”,locais lamacentos que alguns animais fre-qüentam em busca de sal e, na disponibili-dade de alimentos no roçado, atraindo prin-cipalmente as pacas e as cutias. A escolhade uma espera é feita durante o dia quandoo caçador detecta sinais recentes das espéci-es caçadas, geralmente rastros, embaixo deárvores em frutificação ou em barreiros. Ocaçador normalmente escolhe um ponto auma altura onde possa amarrar sua rede ouconstruir um assento e aguardar a chegadada presa, quando foca a lanterna para ce-gar o animal e atirar com espingarda.

A caçada com armadilha é praticadageralmente à noite, a escolha do local é defi-nida quando um animal deixa um caminhocom rastros durante o dia. O caçador exa-mina diariamente os sinais de uso nas tri-lhas mais próximas de sua moradia, se hou-ve atividade nas noites anteriores e a qualanimal está andando no local. As espingar-das são ajustadas na altura dos animaisapoiada em duas forquilhas com uma linhacruzando a “vereda”, trilha dos animais, li-gada ao gatilho. O animal ao passar estica alinha e a arma dispara.

A caçada à ponto respondeu por 55%das estratégias utilizadas, seguida pela ca-çada de espera com 40%. A caçada com ca-chorro foi pouco utilizada (4%) e a caçadacom armadilha respondeu por apenas 1% .A caçada a ponto é a estratégia que apre-senta maior diversidade de espécies e maiorabundância de animais abatidos, principal-mente para guariba, jabuti, porquinho einhambu. Na espera os principais animaisabatidos foram a paca, o veado, a cutia e oporquinho. Os principais animais abatidosutilizando o cachorro nas caçadas foram apaca e o quatipuru e, a armadilha foi a maisseletiva das estratégias, obtendo somente apaca e o tatu.

Analisando as estratégias de caçada aolongo do ano, percebem-se variações entreinverno (chuva) e verão (seca). A caçada aponto ocorre ao longo do ano, com predo-minância no início e final das chuvas (setem-bro e maio). Já a caçada de espera ocorre noverão com o pico entre abril e junho. A ca-çada com cachorro e com armadilha se deuno verão, nos meses de abril a julho.

Da caça consumida na RESEX ChicoMendes, de acordo com as categoriastaxonômicas dos animais, os roedores (33%)foram os grupos de animais mais consumi-dos seguidos pelos ungulados (25%). Porém,a principal contribuição para a dieta protéicaé do grupo dos ungulados, especificamente,o porquinho, a anta e o veado, com maiorênfase para o porquinho de todos os animaiscom a contribuição de 2211 kg/ano. É im-portante ressaltar que o consumo da anta sedeu somente em um seringal dos 10 serin-gais estudados, sendo uma área de difícilacesso, baixa densidade demográfica e semgrandes perturbações do habitat.

A preferência alimentar verificada apartir do consumo de paca e capivara entreos roedores, também influencia na biomassaretirada. Entre as espécies consideradas co-mestíveis, particularmente são apreciadas anambu e o porquinho, devido à semelhançado sabor e na aparência com os animais do-mésticos.

Page 128: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

128 Magaly da F. e S. T. Medeiros; Loreley Garcia

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

3.4 Ocorrência e abundância de espéciesde uso para subsistência do extrativista

A ocorrência de espécies passíveis decaça, mamíferos e aves, obtidos por obser-vações noturnas e diurnas, detectou seme-lhanças para as 03 trilhas instaladas. As es-pécies avistadas nas trilhas foram as nambus(Tinamídeos); jacu (Penelope jacquacu); papa-gaio (Amazona sp.); guariba (Alouattaseniculus); macaco da noite (Aotus sp.); ma-caco zogue (Callicebus moloch); macacocairara (Cebus albifrons); macaco prego(Cebus apella); soin da costa vermelha(Saguinus fuscicolor); soin bigodeiro (Saguinusimperator); macaco parauacu (Pithecia sp.);tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus);aracuã (Ortalis motmot); jacamin (Psophialeucoptera); tucano (Ramphastus sp.); veadovermelho (Mazama americana), porquinho

(Tayassu tajacu); quati (Nasua nasua); cutia(Dasyprocta sp.), cutiara (Myoprocta sp.),quatipuru (Sciurus sp); paca (Agouti paca),com exceção dos jabutis (Geochelonedenticulata) que ocorreu somente na trilha 2.Em relação à abundância das espécies, ospequenos primatas e aves foram os grupostaxonômicos com maior freqüência em to-das as trilhas, havendo uma predominânciasignificativa de pequenos primatas e aves natrilha 1 em relação às trilhas 2 e 3.

3.5 A influência da cultura no uso dafauna silvestre

O consumo de caça está relacionadocom a preferência alimentar na dieta do ex-trativista, bem como os tabus alimentares erestrições alimentares a determinados tiposde carne. Os animais considerados comestí-

Tabela 1: Números de mamíferos e aves caçados e biomassa retirada na Reserva ExtrativistaChico Mendes/AC, de acordo com as anotações do calendário, em 1997.

Page 129: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

129O consumo e as estratégias de caça utilizadas pelas populações tradicionais daReserva Extrativista Chico Mendes

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

veis são aqueles reconhecidos como alimentoe consumidos como fazendo parte da dietanormal. Se analisarmos a comestibilidade esua preferência conforme significações atri-buídas por Sahlins (1990), ou seja, na lógicade sujeito e objeto, podemos observar queaves, como nambu e jacu, têm sabor e seme-lhança à galinha e que mamíferos, como por-quinho e queixada, se assemelham ao porcodoméstico, sendo considerados objetos vi-vendo vida à parte para servir de alimentoaos sujeitos humanos. Os extrativistas estabe-lecem critérios de classificação quanto às res-trições e tabus alimentares (Martins, 1992),sendo eles:• repugnância - espécies que causam nojo,seja devido ao cheiro, gosto ou dieta;• panema - espécies que dão azar ao caça-dor, seja para atividade de caça ou para suafamília.• reimoso - carnes que são facilitadoras do sur-gimento de outras doenças quando ingeridas.• embiara - espécies de pouco peso que nãocompensam pelo rendimento da carne;

Os animais considerados não comestí-veis ou com restrições alimentares pelos ex-trativistas são o boto vermelho, o boto tucu-xi, a paca de rabo, o quatipuru roxo, o jaca-ré, o macaco prego, o gato açu, o gato mara-cajá, a onça pintada, a onça vermelha, o ta-manduá bandeira, o mambira, a preguiça, otatu canastra, o macaco parauacu, o macacoda noite, o macaco de cheiro, o rato coro, ocoendu, o macaco leãozinho, o soim bigo-deiro, o soim da costa vermelha, o soim pre-to, o macaco cairara, o tatu rabo de couro.

Analisando a não comestibilidade e apreferência entre categorias de carne pelacondição de sujeito ou afetividade (Sahlins,1990) temos os macacos pequenos que sãoconsiderados “embiaras” e, alguns, criadoscomo animais de estimação. A carne de al-guns macacos como o parauacu, o macacoda noite e o macaco de cheiro não é aprecia-da por ser considerada “doce”. Há que seconsiderar que esses animais têm o compor-tamento observado e copiado pelos homens,que aprendem muito com eles, adquirem co-nhecimentos sobre o meio ambiente em quevivem, na pratica da observação. O quati-puru roxo, não está relacionado como co-mestível porque, além de ser muito peque-no, é considerado reimoso, de acordo com a

classificação dos caçadores. Já o jabuti, o ve-ado roxo e a nambu azul são consideradosanimais comestíveis, mas com restrições ali-mentares: as mulheres não comem por te-mer inflamações no útero, os caçadores e ascrianças não comem quando têm alguma fe-rida ou machucado.

Os tabus alimentares estão relacionadosao puro/impuro, sujo/limpo, abominável/saboroso. São considerados repugnantes (impu-ro, abominável), os felinos (gato açu, gato ma-racajá, onça pintada, onça vermelha), referin-do-se a estes animais com as palavras como“fedorento”, “come imundície”, “não é comi-da de gente”. Outros animais como a pacade rabo, o mambira, a preguiça, também sãoclassificados como repugnantes e, referem-sea eles, como “bicho feio”, ou seja, criaturasabomináveis e, portanto, não é considerada“comida de gente”. Animais como o mambira,a preguiça e o coendu, além de muito feios,são também, bichos que “fedem” e, a pacade rabo “tem pus nos olhos”. Quanto ao jaca-ré, é considerado impuro para o consumo porser um animal carnívoro e aquático “comeoutros bichos, vive na água e não é conside-rado um peixe”. Já o tatu rabo de couro é umanimal impuro porque “come defunto”. Sãointerpretações que Douglas (1966) alinhacomo não comestíveis por aparência repulsi-va, hábitos sujos e motivos sanitários.

Os animais não comestíveis podem serclassificados também como poderosos, con-forme classificação referida por Leach (1964),ou seja, animais com poder ou superstição,ligado ao mítico, à santidade, ao sobrenatu-ral. Na classificação dos extrativistas estãorelacionados o tatu canastra porque é omaior de todos os animais e não tem cami-nho certo, se o caçador matá-lo fica abertopara acontecimentos ruins na família; o ta-manduá bandeira porque é o “dono de to-dos os animais”, sendo considerado como obicho mais poderoso da floresta, o único queenfrenta onça e, portanto, não pode servirde alimento; o jabuti de 14 malhas pois é umbicho que dá sorte nas caçadas; o boto é umexemplo de santidade porque “parece gen-te”, é o significado de integridade, perfeiçãodo indivíduo e da espécie, onde existe cren-ça em torno do animal que na noite de luacheia ele vira ser humano, um homem queenfeitiça as mulheres.

Page 130: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

130 Magaly da F. e S. T. Medeiros; Loreley Garcia

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Discussões

O consumo de caça na ReservaExtrativista Chico Mendes é alto (1092 es-pécies/ano) e os extrativistas utilizam deter-minado tempo do dia para exercer a ativi-dade de caça para a sua própria sobrevivên-cia. Além da munição que ele necessita com-prar para poder caçar, o uso e as estratégiasde caça utilizadas para sua obtenção con-trapõem-se a uma série de outras atividadesque ele poderia estar se dedicando para amelhoria de sua fonte de renda, ou mesmona produção de modo a fazer uso dos ani-mais e culturas por ele desenvolvidas.

O processo migratório natural de umseringal para outro, dentro da Reserva(Rueda, 1995), geralmente ocorre pela pro-cura de melhores condições de vida, sendoum dos fatores a escassez da caça, além deoutros como a baixa produtividade das se-ringueiras, conflitos com vizinhos, familia-res, fazendeiros e marreteiros, morte de umfamiliar e/ou a mudança de um membro dafamília para outro seringal. É evidente, po-rém, uma maior concentração de populaçãopróxima ao Município de Xapuri, bem como,a tendência a expansão agrícola e pequenapecuária, com impactos diretos e indiretospara a ocorrência e abundância de animaissilvestres.

A organização social, as diferenças emcondições do habitat e o impacto diferencialdas populações humanas sobre o ambientecomo densidade demográfica, duração deocupação, estratégia de caçada, degradaçãoambiental, influenciam na disponibilidadede biomassa animal (Vickers, 1984). ParaRedford (1992), determinadas atividades hu-manas com impactos diretos e indiretos naredução da fauna em relação aos ecossiste-mas florestais não estão sendo avaliadas e,implicam na diminuição da caça, que é afonte de proteína para populações que ha-bitam as florestas neotropicais e que exer-cem atividades sustentáveis, como a extra-ção da borracha. Segundo Reboratti (1995)estudos realizados sobre a produção alimen-tar “campesina” indicam um risco funda-mental de multiplicação de produtos e luga-res e essa taxa de crescimento demográficopode determinar o impacto da populaçãosobre o meio ambiente. Os efeitos do cresci-

mento demográfico para a conservação dosecossistemas e a oferta de alimento (caça desubsistência) é evidente, apresentando umarelação direta com o tempo utilizado nascaçadas realizadas e escassez de animais degrande porte. Setz (1989) relaciona o tempocurto à oferta de alimentos em maior abun-dância e, à medida que o indivíduo aumen-ta seu ganho de energia por unidade de tem-po tem êxito para outras aptidões.

Muitos pesquisadores observaram queantigas áreas de plantio são mais favoráveisà caça e estes locais, onde antigas capoeirassão manejadas, a população de animais sil-vestres pode, certamente, ser maior em nú-mero e diversidades (Posey, 1996). Essa teo-ria contraria pensamentos estabelecidos quecaracterizam povos tradicionais como des-truidores natos de populações de animaissilvestre. Existem alguns exemplos, como aReserva Comunal de Tamshiyacu-Tahuayo(RCTT) e a Reserva Comunal de Tamshiyacu-Tahuayo (RCTT) na Amazônia peruana,onde a conversão da caça excessiva foi subs-tituída por um sistema mais sustentável atra-vés do manejo comunitário (Bodmer &PENN, 1997). Entretanto, para usar susten-tavelmente a fauna silvestre, a populaçãorural deve reconhecer a importância daszonas completamente protegidas como fon-tes de fauna silvestre para as áreas com pres-são de caça (Bodmer Y Ayres, 1991).

Calouro (1995) observou em outrasáreas do Acre que, muitas, vezes as caçadassão realizadas nos próprios roçados e, por-tanto, o aparecimento de espécies como o por-quinho, o veado (ungulados), a cutia e a paca(roedores), pode estar sendo influenciado pe-la maior oferta de alimentos com a produçãode milho e mandioca nos roçados. O incenti-vo à criação de animais domésticos, culturasno roçado, hortas e pomares pode ser umaalternativa para o aumento e diversificaçãoda dieta alimentar embora poucosextrativistas desenvolvam estas atividades.

Os extrativistas da RESEX Chico Men-des, em entrevista realizada, confirmaramuma maior abundância de caça em áreas deplantio, como também, a diminuição em áre-as onde ocorrem queimadas ou desmata-mento para implantação de pasto para gado.

Em relação à ocorrência de ungulados,a anta não é avistada nas áreas de fácil aces-

Page 131: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

131O consumo e as estratégias de caça utilizadas pelas populações tradicionais daReserva Extrativista Chico Mendes

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

so e de maior densidade demográfica, con-firmando os resultados obtidos com as en-trevistas realizadas, onde foi registrada suapresença em seringais mais distantes. Asantas são importantes predadores de semen-tes, principalmente de palmeiras e, prova-velmente, são elementos importantes na com-posição e estrutura da floresta (Bodmer,1989). As fêmeas apresentam baixa taxareprodutiva, com cria a cada dois anos, suagestação leva de 385 à 412 dias e os filhotesatingem a maturidade sexual a partir de 3 a4 anos (Leeuwenberg, 1998). Já os queixa-das (Tayassu pecari) foram observados emdiferentes seringais, principalmente no anode 1997, em bandos de 60 a 100 animais.São animais que andam em grandes gruposisolados e necessitam de grandes áreas devida, sendo dizimados quando encontrados(Vickers, 1991; Peres, 1996) por andar emgrupo, mas, de forma geral tendem a res-ponder melhor à pressão de caça pelo fatode apresentarem taxas intrínsecas de cresci-mento maiores (Bodmer et al, 1988).

Em relação aos mutuns, aves disperso-ras de sementes, apresentam uma reprodu-ção lenta, sendo necessário no mínimo 06anos para substituição de cada indivíduo napopulação (Silva & Strahl, 1991). Os resul-tados obtidos de ocorrência de anta (12) emutum (2) em área de baixa densidade de-mográfica e ambiente menos alterado, con-trapõem-se a abundância de apenas peque-nos roedores nas áreas de concentração hu-mana, comparando-se com outros estudosrealizados no Estado do Acre, onde o con-sumo da caça no Rio Iaco, RESEX do AltoJuruá e Floresta Estadual do Antimari - FEA,em que os grupos mais consumidos foramos roedores (32,7%, 33% e 25,9%) seguidosde aves (26,3%, 31% e 28,5%) respectivamen-te e, semelhante aos resultados obtidos emSão Luís do Remanso em que os grupos maisconsumidos foram os roedores (29%) segui-dos de ungulados (23%).

O macaco preto não foi avistado pornenhum morador nos últimos anos, emboraos moradores mais antigos tenham afirma-do sua ocorrência no passado, em áreas debaixa densidade demográfica e em ambien-te sem perturbação. O provável desapareci-mento do macaco preto, avistado pela últi-ma vez em 1991, deve-se às alterações do

habitat aliado ao complexo comportamentosocial deste grupo e baixa taxa reprodutiva(Peres, 1990). Von Roosmalen (1985), alertaque estes animais são os únicos agentesdispersores de sementes para algumas espé-cies de árvores e que na ausência destesprimatas, muitas espécies de plantas podemter seu padrão de dispersão de sementes pro-fundamente alterado. Peres (1990) ressaltaainda que, os macacos pretos são animaismuito visados pelos caçadores e rapidamenteeliminados da floresta.

Já a baixa densidade do gato maracajápode estar relacionada com a pressão de caçacomercial para comércio de pele no passa-do, cuja exploração foi intensa e, a conse-qüente redução da espécie.

A seletividade de espécies ocorre dife-rentemente para cada estratégia de caçada.Na caçada à ponto, o caçador persegue apresa que pode ser de pequeno ou grandeporte, sendo analisados pelo extrativista aquantidade de munição e o rendimento decarne na hora de atirar em animais juntamen-te com o esforço (tempo) utilizado para ob-ter determinada espécie-alvo de forma quepossa garantir a refeição da família, enquan-to que, a caçada de espera é mais seletiva,uma vez que o extrativista aguarda o apare-cimento ou não de animais de maior porte,identificados pelo rastro deixado na árvoreem frutificação. Apesar da capivara ser umaespécie de maior porte, a paca é normalmen-te a carne preferida pelos extrativistas repre-sentando uma maior proporção de biomassaretirada.

Segundo Moran (1990) a questão dabiomassa animal e produtividade da caçanos ecossistemas amazônicos ainda é poucoconhecida, apesar da importância da faunacomo fonte de recurso alimentar. Os caça-dores preferem mamíferos e aves grandes,sendo os animais mais comumente caçados,ou seja, os animais mais visados geralmentesão os maiores de cada grupo e, embora re-presentados por poucas espécies são os mai-ores contribuintes da totalidade da biomassa(Redford, 1997).

Redford & Robinson (1987) alegamque vários fatores influenciam no consumode determinadas espécies tais como, densi-dade das espécies caçadas, disponibilidadede fonte de proteína, alterações ambientais

Page 132: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

132 Magaly da F. e S. T. Medeiros; Loreley Garcia

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

e tabus alimentares. Há de se ressaltar que apreferência da carne na dieta alimentar des-sas populações e o uso de diferentes técnicasna busca de proteína animal estão relaciona-dos a comportamentos sócio-culturais que di-zem respeito à condição de sujeito ou afetivi-dade (Sahlins, 1990), à repugnância (Dou-glas, 1966) ou mesmo por superstição ousantidade (Leach, 1964). Portanto, o históri-co da ocupação das colocações, a densidadedemográfica no seringal e a forma de uso daterra, aliadas à comestibilidade, devem es-tar privilegiando determinadas espécies.

Schimink (1995) enfatiza que propos-tas promissoras do manejo de recursos na-turais capazes de conservar a biodiversida-de merecem um esforço sério no sentido deenfrentar desafios, pois existe um grandeperigo de desmoralização e fracasso em tra-balhos que excluem o contexto social e polí-tico. Considera, ainda, a situação no Acreum exemplo propício da complexidade depropostas para um desenvolvimento susten-tável baseadas nas práticas tradicionais daspopulações locais, especificamente, nas Re-servas Extrativistas onde os seringueiros cul-turalmente nos últimos cem anos construí-ram uma cultura acreana, combinação detradições européias, negras e indígenas e queguardam mais semelhança com a culturanordestina, porém, adaptada ao meio ambi-ente da região amazônica.

Uma aproximação de desenvolvimen-to sustentável talvez seja alcançada se foremcombinados usos da terra que contemplemdesde sua utilização intensiva até zonas to-talmente protegidas. Para isso, (1) avaliar ouso sustentável da fauna silvestre com in-formações sobre a biologia das populaçõesanimais, os requisitos de habitat dos animaise a influência no uso da fauna silvestre pelacomunidade; (2) definir as zonas de caçapela comunidade e a área para refúgio dacaça; (3) ter o envolvimento comunitário emtodo o processo do manejo para as tomadasde decisão devem ser as bases para a imple-mentação do manejo de caça.

Os principais argumentos a favor domanejo de caça é relatado por Rebelo &Gallati (1995) ressaltando que (1) gera ren-da e/ou produz alimento sem destruir a flo-resta; (2) pode até começar a aumentar emnúmero de indivíduos e; (3) com a legaliza-

ção da atividade saberemos o que está acon-tecendo com as populações de animais decaça considerados polêmicos, uma vez quefavorece a normatização e monitoramento,para se ter um acompanhamento sistemáti-co do manejo da fauna, com calendáriospara a caça de cada espécie, limitação donúmero de animais caçados de cada espéciepor caçador e por época. Entretanto, oextrativista deve reconhecer a importânciadas zonas completamente protegidas comofontes de fauna silvestre para as áreas compressão de caça (Bodmer & Ayres, 1991).

A implementação do instrumento edu-cativo “Calendário da Floresta”, pelosParaflorestais e pelos “Professores – Serin-gueiros” nas comunidades envolvidas e es-colas da RESEX Chico Mendes foi fundamen-tal para os resultados obtidos e demonstroua viabilidade de um Programa de EducaçãoAmbiental para a implementação do Planode Manejo de Fauna.

Stapp (1974) considera que o empregode estratégias influencia nos valores e podefavorecer “a formação de cidadãos com umavisão global do meio ambiente e seus proble-mas, tornando-os conscientes, capacitadosem como se envolver na busca da soluçãopara esses problemas e se motivar a trabalharpara a sua solução”. Para Pádua (1997) áreasnaturais como parques e reservas oferecemuma oportunidade de aprendizado com umacombinação de técnicas formais e informais,e tem sido considerada eficaz para conscien-tizar indivíduos para a importância da con-servação e da qualidade do meio ambiente(Swan, 1974; Iozzi, 1989; Ramsey &Hungerford, 1989; Hungerford & Volk, 1990).

Conclusão

A implementação do Plano de Mane-jo na Reserva Extrativista Chico Mendes re-quer a integração de informações sobre abiologia das espécies de caça e a economiado uso sustentável com as aspirações dascomunidades locais. Portanto, fortes víncu-los devem ser criados entre cientistas,extensionistas, representantes da comunida-de local, para se implantar um verdadeirosistema sustentável.

Os extrativistas estão cientes de que asnormas de gestão da fauna definidas no Pla-

Page 133: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

133O consumo e as estratégias de caça utilizadas pelas populações tradicionais daReserva Extrativista Chico Mendes

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

no de Utilização da RESEX Chico Mendes eo Plano de Desenvolvimento poderão garan-tir a viabilidade de sobrevivência à longo pra-zo das principais espécies caçadas, se hou-ver a construção de conhecimentos de for-ma conjunta, pesquisadores e comunidade.

O Plano de Manejo deverá consideraros tabus alimentares. A origem das restriçõesalimentares deve ser avaliada, diferencian-do-se na questão de gênero, pois estudo des-se tipo pode conter elementos importantespara o manejo de caça. No que concerne àcriação de animais silvestres, a comestibili-dade também deverá ser avaliada.

Um Programa de Educação Ambientaldeverá ser considerado no Plano de Manejode Fauna, bem como nas políticas públicasdo estado, estando a sociedade civil à frentedo processo para que não haja descontinui-dade das ações estratégicas.

Animais considerados em declínio naReserva ou que não ocorrem há alguns anosmerecem maiores estudos sobre as espécies,especificamente, quanto ao seu status, tama-nho necessário da área de vida, produtivi-dade e história natural nesta área.

A caça comercial necessita ser contro-lada de forma que a caça de subsistência nãoseja tida como a responsável pelo ônus pro-veniente desta atividade ilegal. Conhecimen-to, tecnologia e ação social deverão estarapoiados numa metodologia de trabalho emrelação à atividades predatórias e ao mauuso dos recursos naturais.

Considerando-se que a pressão de caçainfluencia na densidade das espécies, a parti-cipação do grupo dos ungulados na dieta dosextrativistas merece um estudo da taxa dedesfrute por serem espécies de grande porteque apresentam uma baixa densidade em re-lação aos outros grupos. Especificamente, oconsumo do Tapirus terrestris (anta) naRESEX Chico Mendes deixa dúvidas quantoao nível positivo de biomassa desta espécie.

Notas1 Estudo do conhecimento e das conceituações desen-

volvidas por qualquer sociedade a respeito da biolo-gia, do papel da natureza no sistema de crenças e deadaptação do homem a determinados ambientes(Posey, 1996).

2 As Reservas Extrativistas foram criadas no âmbitoda Política Nacional do Meio Ambiente, sendo regula-mentadas através do Decreto Nº 98.897, de 30 de janei-

ro de 1990, tendo como instituição responsável o Ins-tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais Renováveis – IBAMA (BRASIL/MMA, 1995).

3 Friagens são massas de ar frio que vem do sul do paíse chega até o Acre, ocorrendo a queda brusca de tem-peratura.

4 Espaço de ocupação do extrativista onde se locali-zam as áreas de exploração, local de moradia e pe-quena produção familiar (ZEE, 2000).

5 Caminhos em forma de “rosa” onde o extrativistapercorre extraindo o látex da seringueira.

6 Floresta densa com vegetação de sub-bosque ralo eocorrência de taboca (bambus) rara ou tufos esparsos.

7 Florestas que possuem alta densidade de taboca (bam-bu), sub-bosque fechado e raramente são inundados.

8 Florestas que possuem alta densidade de taboca (bam-bu), sub-bosque fechado e raramente são inundadose ocorrência de cipós.

9 Florestas inundadas pelo rio.10 Área utilizada para a agricultura familiar

Referências

BALÉE, William. The Persistence of Ka’apor Culture. 1984.Ph.D. dissertation. Columbia University. Ann Arbor:Microfilms International.

BODMER R. E. et al. Primates and Ungulates: acomparison in susceptibility to hunting. In: PrimateConservation, 9:79-83, 1988.

BODMER, R. E. & AYRES, J. M. SustainableDevelopment and Species Diversity in AmazonianForest. In: Species 16: 22-24, 1991.

BODMER, R.E. Managing wildlife with localcommunities in the Peruvian Amazon: the case of theReserva Comunal Tamshyacu-Tahuayo. In: NaturalConnections: perspectives, in community-basedconservation, 1994.

BODMER, R.E. & J.W. Penn Jr. Manejo da vida silvestreem comunidades na Amazônia In: Manejo e Conserva-ção de Vida Silvestre no Brasil. Brasília-DF: CNPq/Be-lém-PA: Sociedade Civil Mamirauá, 1997.

CALOURO, A. M. A Caça de subsistência: sustentabilida-de e padrões de uso entre seringueiros ribeirinhos enão-ribeirinhos do estado do Acre. 1995. 82p. Disserta-ção (Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília.

CASTELO, C.E.F. Avaliação econômica de produçãofamiliar na Reserva Extrativista Chico Mendes no Es-tado do Acre. Porto Velho-RO: UNIR. In: ZoneamentoEcológico Econômico do Acre, 1999.

CASTRO, E. V. Sociedades Indígenas e Natureza naAmazônia. In: Tempo e Presença, Rio de Janeiro:Koinonia, n.216, ano 14, 1992.

CHAGNON N. & HAMES, R. Protein deficiency andtribal warfare in Amazônia: New data. In: Science. 203(4383): 910013, 1979.

DOUGLAS, M. Pureza e perigo. São Paulo: Perspectiva,1966.

GOVERNO DO ESTADO DO ACRE. Programa Estadualde Zoneamento Ecológico Econômico do Estado do Acre. RioBranco: SECTMA, 2000. vol. 1.

Page 134: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

134 Magaly da F. e S. T. Medeiros; Loreley Garcia

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

HILL K. & HAWES K. Neotropical hunting among theAche of eastern Paraguay. In: Adaptative Responses ofnative Amazonians. New York: Academic Press, 139-188, 1983.

HUNGERFORD H. e VOLK T. Changing learnerbehavior through environmental education. Journal ofEnvironmental Education, 21(3):8-21, 1990.

IOZZI, L.A. What research says to educator:Environmental Education and the affective domain.Journal of Environmental Education, 20(3): 3-9, 1989.

IUCN. Red List of Threatened Animals. Washington, DC.International Union for Conservation of Nature andNatural Resources, 1995, 448 p.

LATHRAP, D. W. “The ‘hunting’ economies of the tro-pical forest zone of South America: an attempt athistorical perspective”. In: LEE, R. B. & DE VORE, I.(orgs.). Man the Hunter. Chicago: Aldine PublishingCompany, 1968. p. 23-9.

LEACH, E. Aspectos antropológicos da linguagem:categorias animais e insulto verbal. In: DA MATTA(org). Leach. São Paulo: Ática, 1983. (Coleção GrandesCientistas Sociais).

LEEUWENBERG, F. Manejo de fauna cinegética naReserva Indígena Xavante de Pimentel Barbosa, MatoGrosso. In: Manejo e Conservação de Vida Silvestre no Bra-sil. Brasília: CNPq/Belém-PA, 1997. p.233-238.

MARTINS, E. S. A caça de subsistência de extrativistas naAmazônia: sustentabilidade, Biodiversidade e extinção de es-pécies. 1992. 116p. Dissertação (Mestrado em Ecologia)– Universidade de Brasília, Brasília.

MCDONALD, David R. Food Taboos: A PrimitiveEnvironmental Protection Agency (South America).Anthropos 72:734-748, 1977.

MEDEIROS, M. F. S. T. Instrumentos educativos: estra-tégia de educação ambiental para o manejo sustentá-vel da fauna silvestre por populações tradicionais emReserva Extrativista. In: Educação ambiental: caminhostrilhados no Brasil. Brasília: IPÊ, 1997. p. 157-169.

MORAN, E. F. A ecologia humana das populações da Ama-zônia. Petrópolis: Vozes, 1990.

PÁDUA, Maria T. Jorge. Sistema brasileiro unidadesde conservação: de onde viemos e para onde vamos?In: IAP (Instituto Ambiental do Paraná) & UNILIVRE(Universidade Livre do Meio Ambiente) (eds.): Anaisdo Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação.15 a 23 de novembro de 1997. Vol. I: Conferências,palestras, resumos, relatórios, workshops e moçõesaprovadas. Curitiba (IAP / UNILIVRE), p. 214-236, 1997.

PERES, C. A. Effects of hunting on western Amazonianprimates communities. Biological Conservation, 54: 47-59 p., 1990.

______. Population status of white-lipped Tayassupeccari and collared peccaries T. tajacu in hunted andunhunted amazonian forests. Biological Conservation, 77:115-123 p., 1996.

PORTO-GONÇALVES, C. W. Os (des)caminhos do meioambiente. São Paulo: Contexto, 1996.

POSEY, D. A. Etnobiologia: teoria e prática. In: RIBEI-RO, D. (ed.). Suma etnológica brasileira. Petrópolis: Vo-zes/Finep, 1987. vol. 1., p. 15-25.

______. Os povos tradicionais e a conservação da bio-diversidade. In: Uma estratégia Latino-Americana para aAmazônia. São Paulo: Unesp, 1996.

RAMSEY, R. & H. HUNGERFORD. So... you want toteach issues? In: Contemporary Education, 60(3): 137-142,1989.

REBELO, G. & GALLATI, U. Manejo de fauna em ReservasExtrativistas. Rio Branco: Poronga, 1995.

REBORATTI, C. & SCHIMINK, M. Poblacion,biodiversidad y uso de la tierra en Argentina In: Aborda-gens interdisciplinares para a conservação da biodiversidadee dinâmica do uso da terra no novo mundo. [S.l.]: Universi-dade Federal de Minas Gerais/University of Florida/Conservation International do Brasil, 1995.

REDFORD, K.H. A Floresta Vazia. In: C. VALLARES-PÁDUA & BODMER, R.E. (Eds.). Manejo e conservação devida silvestre no Brasil. Belém: MCT/CNPq/SociedadeCivil Mamirauá, 1997. p. 1-22.

REDFORD, K. H. The Empty Forest. BioScience, 42(6):412-422, 1992.

REDFORD, K. H. & ROBINSON, J.G. The Game ofChoice: Patterns of Indian and Colonist Hunting inthe Neotropics. In: American Anthropologist, 89(3) : 650-667, 1987.

ROSS, E. B. “Food Taboos, Diet, and Hunting Strategy:the adaptation to animals in Amazon cultural ecology”.Current Anthropology. 19 (1): 1 - 36, 1978.

RUEDA, R. P. Evolução histórica do extrativismo. In:Reservas Extrativistas, União Mundial para a Conserva-ção – UICN, 1995.

SAHLINS, M. Cultura e razão prática. Rio de Janeiro:Zahar, 1990.

SETZ, E.Z.F. Estratégias de forrageio em populações indíge-nas de florestas neotropicais. Belém: Museu Emílio Goeldi,1989. (Coleção Eduardo Galvão).

STAPP, W. Historical setting of EnvironmentalEducation. In: Environmental Education: Strategies Towarda livable future. Beverly Hills: Sage Publications, 1974.

SWAM, J. Some human objectives for EnvironmentalEducation. In: Environmental Education: Strategies Towarda livable future. Beverly Hills: Sage Publications, 1974.

UICN. Reservas Extrativistas. MURRIETA, J.R. & RUEDA,R.P. (ed.). Gland, Suíça e Cambridge, Reino Unido, 1995.

VICKERS, W. T. The faunal components of low landSouth American hunting kills. Interciencia, Caracas, 9:366-376, 1984.

______. Hunting Yields and Game Composition OverTen Years in an Amazon Indian Territory. In:ROBINSON, J.G.; REDFORD, K.H. (editors). NeotropicalWildlife Use and Conservation, 1991.

VON ROOSMALEN, M.G.M. Fruits of the guianan flora.Utrecht: Institute of Systematic Botany, UtrechtUniversity, 1985.

Page 135: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Estrategias de desarrollo local en el espacio hortícola de General Danierl Cerri,Bahía Blanca, Argentina

Local development strategies in the horticulture space of General Danierl Cerro,Bahía Blanca, Argentine

Stratégies de développement local dans l’espace horticole de Général Danierl Cerri,Bahía Branca, Argentine

Estratégias de desenvolvimento local no espaço hortícola de General Danierl Cerri, BahíaBlanca, Argentina

María Amalia Lorda*

Recebido em 25/11/2005; revisado e aprovado em 20/01/2006; aceito em 31/01/2006.

Resumen: La horticultura atraviesa una serie de problemas, los cuales se manifiestan a través de una recesióncreciente, degradación de los recursos y a una disminución de la calidad de vida de los productores. Diferentesexperiencias intentan revertir la situación de debilidad de los pequeños productores, las cuales se transforman eninstancias de aprendizaje necesarias para el fortalecimiento de una sociedad local que busca un espacio concreto derealización.Palabras claves: Agricultura periurbana; desarrollo local; investigación-acción.Abstract: The horticulture crosses a series of problems, which are manifested through a growing recession, degradationof the resources and to a decrease of the quality of life of the producers. Different experiences try to revert the situationof weakness of the small producers, which become necessary learning instances for the invigoration of a local societythat looks for a concrete space of realization.Key Words: Periurbana agriculture; local development; investigation-action.Résumé: L’horticulture traverse une série de problèmes, lesquels se manifestent au travers d’une récession croissante,dégradation des ressources et diminution de la qualité de vie des producteurs. Différentes expériences tentent inverserla situation de fragilité des petits producteurs, lesquels se transforment en instance d’apprentissage nécessaires pourle renforcement da société locale qui recherche un espace concret de réalisations.Mots-clefs: Agriculture péri-urbaine; dévelopement rural; recherche-action.Resumo: A horticultura atravessa uma série de problemas, os quais se manifestam através de uma recessão crescente,degradação dos recursos e a uma diminuição da qualidade de vida dos produtores. Diferentes experiências tentamreverter a situação de debilidade dos pequenos produtores, as quais se transformam em instâncias de aprendizagemnecessárias para o fortalecimento de uma sociedade local que busca um espaço concreto de realização.Palavras chaves: Agricultura periurbana; desenvolvimento local; investigação-ação.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 135-142, Mar. 2006.

* Departamento de Geografía y Turismo - Universidad Nacional del Sur, Calle 12 de Octubre y San Juan, 8.000 - 4ºpiso– Bahía Blanca – Argentina ([email protected]).

1. Introducción

En la interpretación de las transforma-ciones de los espacios rurales la atención dela investigación se ha centrado principal-mente en lo macro o lo global, dejando delado las transformaciones a las escalas deacción de los actores concernidos de estosespacios. Los procesos de retirada del Esta-do del plano del desarrollo, sin embargo,otorgan una gran importancia a laposibilidad de articular la acción pública yla planificación sobre estas capacidadeslocales de acción. Estos temas cobran mayorrelevancia todavía en los espacios periur-banos donde la ciudad parece imponer susdinámicas y donde, sin embargo, los actoreslocales inventan continuamente formas de

vida y de trabajo contingentes más o menosbien articuladas con estas dinámicas.

En una situación contextual, en la queel enfoque de “modernización” enfatiza elmodelo de urbanización e industrialización,que trae como consecuencia el aumento dela brecha económica y social entre el mundourbano y rural, el escenario del espacioperiurbano de la ciudad Bahía Blancaconstituye una oportunidad para analizarla esencia de los problemas del desarrollo.Sujeto a una marcada transformación, elperiurbano materializa procesos complejosen función de las distintas lógicas socioeco-nómicas, cuyos emergentes (visibles y novisibles), son el resultado de diversasinstancias que interactúan en esta área ca-racterizada por una gran heterogeneidad.

Page 136: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

136 María Amalia Lorda

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

En conjunto, originan un territoriofragmentado, con profundos desequilibriosen la relación sociedad-naturaleza, con untejido social debilitado, en donde se manifies-ta la desarticulación entre las áreas hortíco-las y el espacio urbano. Frente a una situacióncontextual adversa cabe preguntarse: Existenposibilidades para estos espacios desde laconcepción del desarrollo local?

Desde esta realidad, signada porfuertes contrastes e incertidumbres, es nece-sario indagar sobre la posibilidad de recons-truir un nuevo territorio. Y en el mismo sen-tido, en qué aspectos esta situación podríaarticularse con las nuevas modalidades deacción pública de desarrollo, de modo deacompañar una relación sociedad-natura-leza con mayor grado de equidad.

Esta problemática planteada es posibleestudiarla a través de una situación especí-fica en la localidad de General Daniel Cerriy el área hortícola de la cuenca inferior delrío Sauce Chico, porque constituye unespacio referencial para abordar estascuestiones. Cerri es una localidad que for-ma parte del espacio periurbano de BahíaBlanca, por lo tanto el análisis de la nuevaarticulación posible entre ambas, a través delas transformaciones espaciales y sociales,permitirá explicar la factibilidad deldesarrollo de una agricultura en proximidada la metrópoli regional.

El presente trabajo analiza una seriede intervenciones y prácticas sociales entreactores diferentes resultado de una inmersiónen el terreno realizada desde el año 1999hasta la actualidad. Las mismas sonpresentadas en Febrero del año 2005 en eldocumento final de tesis doctoral “El desar-rollo local, estrategia de gestión ambientalde la actividad agrícola en espacios próxi-mos a la ciudad de Bahía Blanca”, reciente-mente sometida a defensa oral en laUniversidad Nacional del Sur (1/7/2005).

2. Una situación contextual compleja

Pueden identificarse dos premisas quesintetizarían la situación contextual queatraviesa el lugar donde ocurre la experien-cia. Una de ellas es la expansión de lasciudades sobre espacios anteriormente con-siderados rurales de manera conjunta conuna generalización espacial de un modelourbano de gestión ambiental. Sobre este con-texto, se plantea la cuestión de cómo incor-porar a la actividad agropecuaria. La otra,es la crisis del modelo de ocupación de losespacios rurales, debido a un modelo de “mo-dernización” que provoca un despobla-miento, una concentración de las tierras, untraslado de las personas además de losdecisores a las ciudades, la desaparición delas explotaciones agropecuarias familiares,y provoca una crisis de la acción del Estadoen el desarrollo agropecuario el cual apare-ce como diferente del desarrollo rural, e in-clusive en numerosas ocasiones comocontradictorio con éste.

Desde esta perspectiva, es convenienterevisar los criterios de planificación tradicio-nal puesto que una mirada innovadora y en-riquecida debe ir acompañada de unadinámica participativa que permita llevar ala práctica diferentes estrategias de creci-miento armónico a partir del enfoque deldesarrollo local (Teisserenc, 1994; García Del-gado, 1997; Coraggio, 1999; Madoery, 1997).Este abordaje permitiría rearticular el “viejo”con el “nuevo” territorio, como un procesode re-territorialización (Raffestin, 1977, 1982).

La problemática planteada permite serabordada en la localidad de General DanielCerri. Ubicada en el área del Gran BahíaBlanca en el suroeste bonaerense (Figura 1),distante a 15 km aproximadamente del cen-tro de Bahía Blanca, es uno de los tres núcle-os urbanos que integra el partido de BahíaBlanca y tiene una población de 5.789 habi-tantes, según datos censales de 1991.

Page 137: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

137Estrategias de desarrollo local en el espacio hortícola de General Danierl Cerri,Bahía Blanca, Argentina

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Surgida en 1876 como un avance dela frontera agrícola en las tierras aborígenes,desempeña la función de constituir una líneade avanzada como fortín y comienza a or-ganizar un espacio inmediato en el cual des-de el año 1879 las actividades hortícolas yaestán presentes a partir de la actividad deinmigrantes italianos.

Hasta hace unos diez años los tres pi-lares sobre los cuales la localidad de GeneralCerri sustenta su economía eran el frigorífi-co, la lanera y la actividad hortícola. Sinembargo, ante la situación hiperinflacionariade la década de 1980, la pérdida de valor dela lana en el mercado mundial y los proble-mas administrativos del frigorífico, las dosfábricas interrumpen su actividad, lo cualprovoca una crisis económica y social sinprecedentes en la evolución de la misma.

Esta situación se agrava aún más, amediados de la década de 1990, cuando la

modernización irrumpe en el territorio, a tra-vés de la llegada de los Hipermercados, laproducción bajo invernáculos en otras cuen-cas de producción. La organización socialde ese momento, lograda por los horticulto-res en una sociedad bahiense también orga-nizada se desvanece. Se produce, entonces,el quiebre del “viejo territorio”.

La transformación profunda y vertigi-nosa del sistema agrícola quiebra las relaci-ones con anterioridad establecidas, el siste-ma corporativista se ve invadido por nuevasformas comerciales, con diferentes lógicasterritoriales. En este ámbito, sin embargo,existen diferentes reacciones que constituyenla esencia de las “innovaciones discretas”(Albaladejo, 2001, 2002), donde a pesar dela inercia que genera el nuevo modelo, des-de el interior del espacio local-rural seproducen determinadas sinergias que, amodo de reacciones individuales, muy

Figura 1: Área de quintas de la cuenca del río Sauce

Fuente: M.A. Lorda, sobre la base de las cartas topográficas 1:100.000 y 1:50.000

Page 138: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

138 María Amalia Lorda

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

frágiles, y recientes, inventan nuevas formasde vivir y morar en el ámbito rural en uncontexto socioeconómico adverso.

En el marco de las nuevas reglas de laeconomía global, los horticultores agudizanla crisis que atraviesan desde las últimas dé-cadas. A su vez, a nivel nacional el desarrolloagrícola afronta una situación de debilidadpuesto que desde, 1990 disminuyeron engran medida los recursos destinados al INTA(Instituto Nacional de Tecnología Agrope-cuaria), instituto que se dedica a la investiga-ción agronómica e impulsa programas na-cionales de desarrollo, apoyados financiera-mente por organismos internacionales(Duvernoy y Albaladejo, 2003).

En la actualidad, la horticultura atra-viesa una serie de problemas, los cuales semanifiestan a través de una recesión cre-ciente, escaso nivel de inserción en el merca-do local, regional y en el exterior, que conlle-van, en numerosos casos, un abandono pau-latino de la actividad, a la degradación delos recursos y a una disminución de lacalidad de vida de los productores.

Sin embargo, en los últimos años sehan puesto en marcha diferentes experien-cias que intentan revertir la situación dedebilidad de los pequeños productores, lascuales se transforman en instancias deaprendizaje necesarias para el fortalecimien-to de una sociedad local que busca un es-pacio concreto de realización. Estas accionesprovocan pequeñas transformaciones en elterritorio, donde nuevas prácticas e identi-dades desde los productores y agentes dedesarrollo se ensayan.

3. Un programa que aumenta a laproducción y el aprendizaje: el Programade Apoyo Mecanizado (PAM)

Una propuesta positiva de formaciónde grupos movilizada a partir de los técni-cos del Programa de Promoción y Desarrollodel Cinturón Hortícola, fue la concreción ennoviembre de 2001, del Programa de ApoyoMecanizado (PAM). El mismo, tiene comofinalidad agrupar a pequeños productorescon escasos recursos, y aprender compartirel uso de maquinarias hortícolas. Esteproyecto nació dentro del marco del progra-ma hortícola municipal, con el apoyo econó-mico del PSA/PROINDER. Los beneficiarios

son diecinueve productores, seleccionadossegún el criterio de los organismos antesmencionados, que consistía en que el grupofamiliar tuviera alguna necesidad básicainsatisfecha (Lorda y Gaído, 2003 b).

El funcionamiento del grupo atravesódiferentes momentos, cuya evolución es posi-ble analizarla a través de cuatro instancias:conformación del grupo de productores;adquisición del equipamiento necesario pararealizar las labores; capacitación; dinámicade grupo.

El planteo inicial fue colaborar en for-ma activa con los productores, no sólo a tra-vés de la información-formación sobre mane-jos hortícolas actuales, sino mediante instru-mentos que les permitiera obtener los mediosnecesarios para trabajar. Por lo tanto se ela-boró un proyecto orientado a la adquisiciónde herramientas y un tractor, para uso com-partido entre los horticultores, base a partirde la cual se cimienta la introducción deprácticas ambientalmente sustentables.

Aprobada la propuesta, se otorgó unsubsidio para la compra del equipo de labo-reo, situación que permitió avanzar a la ins-tancia siguiente, a través de la convocatoriaa todos los productores de la región que po-dían reunir las condiciones del “perfil” solici-tado por el PSA (Programa Social Agrope-cuario) / PROINDER, entre los cuales esta-ban: la precariedad en las condiciones devida; la falta de herramientas o posesión deun equipo de labranza en malas condicionesde operatividad.

Sobre el análisis de la situación socio-económica, surgieron los productores queatraviesan una situación de mayor deterio-ro en sus economías familiares, debido a quesus rendimientos productivos son bajos enunos casos, mientras que en otros directa-mente no pueden cultivar. La característicacomún que los agrupó fue la falta de herra-mientas, concretamente de tractor.

Es importante resaltar la escasa movili-zación de los productores ante la convoca-toria, que tiene las siguientes posibles cau-sas: no asumirse en una situación tan críticao sentir cierta incomodidad al reconocerseentre los productores que viven en situa-ciones de gran precariedad; desconfianza deque el proyecto llegara a funcionar, por lasuspensión del envío del subsidio; las compli-caciones de actuar como grupo.

Page 139: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

139Estrategias de desarrollo local en el espacio hortícola de General Danierl Cerri,Bahía Blanca, Argentina

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

A esta situación, se agregó la conjun-ción de las dos poblaciones con orígenes étni-cos distintos, “los unos y los otros”: los des-cendientes de Italianos, antiguos pobladoresde la zona, y la nueva migración provenien-te del Norte argentino y Bolivia, llegados másrecientemente. Entre ambos, se perciben pro-fundas diferencias culturales que despiertanrivalidades, manifestadas a lo largo deltrabajo de entrevistas. Por lo tanto en lasprimeras reuniones la desconfianza entre susmiembros, así como la escasa participaciónfueron las características sobresalientes.

La ejecución del proyecto se coordinadesde el equipo técnico del Programa dePromoción y Desarrollo del CinturónHortícola, donde se inicia verdaderamenteuna etapa de aprendizaje como grupo. Sediagraman las diversas tareas que debe rea-lizar el tractor, empiezan a resolverse losprimeros problemas relacionales y depositanpaulatinamente mayor seguridad en el gru-po. Del mismo modo, reconocen las nuevasposibilidades y beneficios que obtienen a par-tir del servicio de laboreo del suelo. Comocontraprestación, una vez por semana estosproductores deben entregar productosobtenidos en la quinta para ser destinadosen distintos comedores escolares del área.

A partir de este momento se interrum-pió la coordinación del grupo, con la finali-dad de beneficiar la emergencia de produc-tores con actitudes de liderazgo. Esto favore-cería en el mediano y largo plazo un procesode autogestión, a partir del reconocimientode las capacidades individuales para eltrabajo grupal con expectativas de iniciarnuevos proyectos.

Es importante destacar que, en este pe-ríodo, esta modalidad particular de “tomardistancia”, involucra un compás de esperapara que los horticultores tengan la oportu-nidad de desarrollar cierto compromiso conla organización del proyecto en todos susaspectos, atentos a la situación de evitar lainstalación de una relación de dependenciaque no les permita desarrollar sus propiascapacidades. Sin embargo, surgió un cam-bio en la conducta de los integrantes del gru-po, quienes demostraron mayor intoleranciaa partir del desacuerdo en las funcionesdesarrolladas por cada uno de sus miembros.

Lamentablemente, durante ese lapso,se evidenció escasa voluntad de dirigencia,

quizás porque entre pares aún no reconocenla posibilidad de ejercer esta facultad. De estemodo, resulta más cómodo y seguro al inte-rior del grupo, adoptar la coordinación exter-na, de alguien ya legitimado social e institu-cionalmente. Por este motivo, se cambió laactitud y se retomó nuevamente la orienta-ción del grupo desde el equipo técnico delPrograma.

En el mismo sentido, cabe una refle-xión relacionada con la forma de trabajo. Lostiempos de aprendizaje al interior de un gru-po, como miembros y ante la posibilidad deadquirir un rol directivo, son distintos a lostiempos exigidos por organismos que finan-cian este tipo de proyectos. Además, persisteaún cierta inercia en las expectativas de losproductores, acerca de la antigua funciónque el Estado benefactor cumplía. La conse-cuencia de esto, recae en la identificación delPrograma con esa extensión asistencialista,por lo tanto su elaboración insumiría otrostiempos para el aprendizaje de nuevas des-trezas que les permitiera pensarse como“actores” -o sea, con capacidad de “hacer”-en un nuevo modelo de gestión.

Esto permite afirmar que, por el mo-mento, los proyectos necesitan de personasque participen activamente en el mismocomo animadores, particularmente donde laintervención de los actores locales debe sermotivada porque es escasa o está ausente.La orientación, contención y asistencia per-manente de los técnicos, transfieren al gru-po a una postura diferente a la anterior queen la actualidad es prioritaria: aprender atrabajar juntos, valorar el trabajo de cadauno y descubrir que es posible la acción co-lectiva. Sin embargo, en otra instancia, con-viene que lo anterior sea retomado, debido aque constituyen los basamentos fundamen-tales para la continuidad del proyecto y elfuturo de iniciativas autogestionadas.

Los resultados comenzaron a serpercibidos a partir de estos últimos meses.Los miembros del grupo -19 productores-manifestaron un compromiso real; expre-saron el valor que posee la colaboración ytrabajo en equipo; reconocieron un mejora-miento sustancial de sus producciones, a par-tir del incremento de la superficie bajo culti-vo, la modificación en el manejo por laincorporación de tecnología adecuada que,en conjunto, se traducen en un aumento de

Page 140: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

140 María Amalia Lorda

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

los rendimientos obtenidos.Es importante destacar que, si bien las

herramientas fueron adquiridas a la vez, nopudieron ser usadas en forma inmediata de-bido a que no estaban habituados a su uso, eincluso algunas eran totalmente desconoci-das. En el transcurso de los distintos circuitosrealizados por el tractor, comenzó un perío-do de aprendizaje en el uso de las herramien-tas. De este modo, sintieron que un posicio-namiento diferente con respecto a los otrosproductores -los que no pertenecen al PAM-quienes observan con atención el uso de má-quinas novedosas para la zona, como la sem-bradora de bandeja, el surcador, zanjeador,lo cual provocó una situación positiva, enestos productores ya que elevó su autoestimafrente a una situación anterior de extremafragilidad, sintiéndose innovadores.

Entre las lecciones aprendidas puedendestacarse las siguientes:

La fortaleza adquirida les generó entu-siasmo y actitudes positivas, así como unmayor interés para asumir nuevos desafíos.A su vez, contribuyó al aprendizaje de nuevosconceptos relacionados con el manejo de loscultivos, que abren nuevas perspectivas en elmanejo integrado de sus producciones.

! La incorporación de alumnosuniversitarios en una experiencia deinvestigación-acción

En el marco del desarrollo de la investi-gación, la formación es fundamental porqueimplica el “desarrollo personal que consisteen tener aprendizajes, hacer descubrimien-tos, encontrar gente, desarrollar a la vez suscapacidades de razonamiento y también lariqueza de las imágenes que uno tiene delmundo. Es también descubrir sus propias ca-pacidades, sus recursos” (Ferry, G., 1997, 96).

Además, la formación universitariaadolece de prácticas concretas en el terreno.Como sostiene Paulo Freire “El respeto a esossaberes -en referencia a la experiencia vivi-da- se inserta en el horizonte mayor en quese generan, el horizonte del contexto cultu-ral, que no se puede entender fuera de sucorte de clase (...) Así pues, el respeto al sa-ber popular implica necesariamente el respe-to al contexto cultural. La localidad (...) es elpunto de partida para el conocimiento quese van creando del mundo. “Su” mundo, en

última instancia, es el primer e inevitablerostro del mundo mismo” (Freire, 1998, 82).

Desde esta perspectiva, con el objetode lograr una inmersión en el terreno desdeuna problemática concreta, se organiza conalumnos de quinto año de la Licenciaturaen Geografía, con Orientación “RecursosNaturales y Medio Ambiente” (Curso “Ges-tión Ambiental”, período dictado por M.A.Lorda), una experiencia de investigación-acción en la unidad hortícola del río SauceChico. Se trata de alumnos que culminan suetapa universitaria, instancia previa a larealización de la tesina final de grado (Lorda,Campos, Espejo y Bróndolo, 2004).

Una vez entendido el problema deinvestigación, se procede con los alumnos aformular las hipótesis de trabajo en gabine-te, para diseñar tres entrevistas diferentes:• A dos agentes de desarrollo: uno a nivel

provincial (el Ingeniero a cargo de Hidráu-lica de la Provincia de Buenos Aires); y otroa nivel municipal (la Ingeniera Agrónoma,Coordinadora del Programa de Promocióny Desarrollo del Cinturón Hortícola).

• Un productor hortícola, participante de laexperiencia PAM.

A su vez se presencia una reunión delos horticultores con uno de los técnicos delPrograma de Promoción y Desarrollo delCinturón Hortícola, en el marco del PAM,donde se efectúa una “observación partici-pante”, en el Salón de Usos Múltiples deColonia La Merced, situado en el área deexplotación hortícola. En dicha oportunidad,concurren alrededor de 18 productores, unode los técnicos del Programa, y el grupoperteneciente al curso Gestión Ambiental,previa autorización solicitada a las personasantes mencionadas.

Posteriormente, en una nueva etapa degabinete, cada alumno procede a desgrabarlas entrevistas, a reelaborar los distintos mate-riales y percepciones obtenidos, y la produc-ción de un trabajo de síntesis. En conjunto,permiten estructurar los contenidos teóricos,su aplicación a una problemática concreta ylas nuevas perspectivas a partir de los elemen-tos recogidos en el trabajo de campo. En estesentido, el trabajo abordó cuatro ejesprincipales: a) El rol de los técnicos en gene-ral y el de los Geógrafos en particular y suinmersión en problemáticas concretas queafectan a la sociedad. b)La relación Universi-

Page 141: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

141Estrategias de desarrollo local en el espacio hortícola de General Danierl Cerri,Bahía Blanca, Argentina

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

dad-Comunidad y Medio en el que está in-serta. c) Nuevas metodologías de investiga-ción: el desafío de hacer, ser y seguir apren-diendo. d) Nuevas formas de organización ysaberes en relación con la gestión ambientaly a la construcción del territorio.

De esta experiencia realizada resultaenriquecedor transcribir, a modo de leccio-nes aprendidas, algunas expresiones de losestudiantes (hoy graduados), dado que apartir de sus opiniones es posible reconstruirel proceso de internalización generado en untrabajo de campo particular, vivido desdeuno de los problemas que atraviesa a la hor-ticultura en el escenario local:

Pudimos obtener datos relevantes y significati-vos de la problemática abordada; pudimos to-mar contacto directo con los distintos actores, loque nos permitió captar el “sabor” de lasrespuestas, apreciar sus motivaciones yopiniones, y en el caso particular del productorhortícola entrevistado, apreciar su modo de viday algunos aspectos de su entorno más cercano.La entrevista realizada al productor, nos muestrala visión de los mismos respecto a este rol deltécnico, a quienes quieren atribuirle la totalidadde la responsabilidad del proyecto y la guía per-manente de sus acciones. Es sin lugar a dudaseste tema digno de análisis, máxime teniendoen cuenta las nuevas formas de organización quela complejidad ambiental genera. (...) Es precisa-mente en este nuevo ámbito de participación, dediversidad de actores, intereses, recursos y for-mas de ver las cosas, donde el técnico debe actuary transmitir su opinión, sin olvidar que no es elúnico que posee conocimientos, que supreparación le permite establecer hipótesis, peroque las mismas también pueden serperfectamente discutibles y refutables, aceptandola idea de interactuar con los diferentes actoresen busca de estrategias consensuadas (SA, 2002).

Del mismo modo, en otro de los trabajosfinales realizados se expresa:

A través de proyectos como el PAM se imple-menta una visión de futuro que favorezca laconstrucción de un nuevo orden social, guiadopor principios de sustentabilidad ecológica, de-mocracia participativa y racionalidadambiental.(...) Esta participación de loshorticultores de Bahía Blanca, los actores localesde la problemática de desarticulación de susactividades del resto de las actividades de laciudad, demanda el manejo de determinadasmetodologías, que permitan articular laexpresión de estos actores con los demás actores(especialistas, técnicos, gobernantes).

El rol de los técnicos partícipes de este proyectoy el nuestro como actores de la sociedad y comofuturos profesionales, es generar posibilidadesde participación, actividades que lleguen de unamanera más próxima a los actores locales, reales

constructores de la ciudad y su entorno, queapunten al logro de un desarrollo local y a tra-vés de él a la recuperación de la identidad ymejoras en la calidad de vida de los actoresinvolucrados. Lograr la comunicación, comoprofesionales no tener una actitud soberbia anteel otro, sino buscar la comunicación y el aportede los demás actores y saber aprovechar losconocimientos basados en otros saberes, en laexperiencia, e introducirlos como elementosimportantes, porque es a sus poseedores aquienes va dirigido los resultados del procesodel cual estamos formando parte (AMF, 2002).

4. Conclusión y reflexiones finales

Las ciudades adquieren un protago-nismo singular, y es a partir del gobierno lo-cal, el comercio en gran escala y la industria,desde donde parten las nuevas directivas ycrean un escenario desde el cual se configu-ra el territorio.

La construcción de un espacio para elestudio de problemáticas que afectan larealidad es sumamente difícil. Sin embargo,se destaca la necesidad de trabajar en formaconjunta con distintas disciplinas, a fin delograr la comprensión y el tratamiento inte-gral de la realidad, que es tan dinámica ycompleja. Esto permite la incorporación delas distintas percepciones, de acuerdo a lapreparación profesional que cada uno posee,experiencia que a su vez merece ser transfe-rida a los futuros egresados de las carrerasterciarias y universitarias, de modo que unamayor apertura permita construir equiposcon mayor solidez en el terreno de la gestión.

La desarticulación que existe entre laactividad hortícola local con el resto de lasactividades económicas, expresa una falta deconexión entre el sistema urbano, periurbanoy rural, ámbitos por los cuales circulan losactores y los productos de la cadena agroali-mentaria del sistema hortícola. Partir de unconocimiento cabal del escenario de los hor-ticultores y de la actividad hortícola a partirde los saberes locales, resulta de una impor-tancia trascendental donde se considerenambos de manera integral, a través de laidentificación de las redes sociales del siste-ma, así como de la creación de nuevas redes.

Desde las instituciones locales es posi-ble sostener que existe “margen de manio-bra” en este sentido. Las nuevas alianzas quese constatan, las prácticas sociales en el espa-cio hortícola aunque aisladas, constituyen

Page 142: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

142 María Amalia Lorda

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

claros ejemplos de las “innovaciones discre-tas”, que permiten interpretar el territorio demanera distinta, donde los actores no sonrepresentativos de la “región trasera”, en elsentido dado por A. Giddens (1998), desdedonde actuaban en el orden dominante an-terior que aún persiste, sino que forman partede la “región delantera” del nuevo territorioque emerge, y bajo formas diferentes de rea-lizar la horticultura, buscan articularse demanera distinta con la ciudad, desde elnuevo orden territorial (Albaladejo, 2002).

En el escenario analizado cobra singu-lar importancia la interpretación de lasacciones que conforman las “innovacionesdiscretas” desde las prácticas de los distintosactores, tanto los productores, los comerci-antes, los investigadores, los técnicos, comola de los agentes de desarrollo, a partir de laDelegación Municipal de General DanielCerri, porque permiten vislumbrar que exis-te un futuro esperanzador para el desarrollo dela horticultura en proximidad de la ciudad.

Referências

ALBALADEJO Christophe. Les fonctionnaires et ledéveloppement rural en Argentine depuis 1991 : Entre laprofession et le territoire, entre l’Etat et la ville. Autrepart(submitted), 2001.

______. “Una Argentina ‘discreta’... La integración so-cial y territorial de las innovaciones de las familiasrurales en el partido de Saavedra”. En RevistaUniversitaria de Geografía. Volumen 10, Números 1 y 2.Departamento de Geografía. UNS. Bahía Blanca: Ediuns,p. 131-148, 2002.

ALBALADEJO, Christophe., LORDA, María.Amalia yDUVERNOY, Isabelle. “Proximidad a la ciudad y/oproximidad a los mercados: dos contextos de oportu-nidades muy diferentes para la pequeña agricultura.El caso de los horticultores del sw bonaerense, argen-tina”. En Revista Universitaria de Geografía. Volumen 10,Números 1 y 2. Departamento de Geografía. UNS. BahíaBlanca: Ediuns, p. 131-148, 2002.

CORAGGIO, José Luis. Políticas de desarrollo local en Ar-gentina: posibilidades, limitaciones y nuevos enfoques. Ci-clo de Conferencias “La Planificación estratégica, uninstrumento integral e integrador de desarrollo. Planestratégico de Bahía Blanca. Municipalidad de BahíaBlanca, 1999. p. 57-74.

DEMAZIÈRE, Didier y DUBAR, Claude. Analyser lesentretiens biographiques. L’exemple des récit d’insertion.Collecttion Essais&Recherches. Série “SciencesHumaines” dirige par FranÇois de Singly. Paris: EdNathan, 1997. p. 350.

DI MÉO, Guy. Géographie social et territoires. Fac.Géographie. Paris: Nathan Université, 1998. p. 317.

DUBAR, Claude. La crise des identités. Paris: PressesUniversitaires de France, 2000. p. 239.

DUVERNOY, Isabelle y ALBALADEJO, Christophe. “Laréinvention du développement rural par la ville? Lecas de Bahía Blanca et de Pigüé en Argentine”. Économierurale, Nº 276, Juillet-Août, p. 37-52, 2003.

FERRY, Gilles. Pedagogía de la Formación. Formación deFormadores. Serie Los Documentos. UBA. Buenos Aires:Ed. Novedades Educativas, 1997. p. 127.

FREIRE, Paulo. Pedagogía de la esperanza. Un reencuentrocon la pedagogía del oprimido. México: Siglo XXI Editores,1998. p. 226.

GARCÍA DELGADO, Daniel. (Compil) Hacia un nuevomodelo de gestión local. Municipio y sociedad civil enArgentina. FLACSO. Universidad de Buenos Aires.Universidad Católica de Córdoba. Buenos Aires: Ofi-cinas de publicaciones del CBC-UBA., 1997.

GIDDENS, Anthony. La constitución de la sociedad. Basespara la teoría de la estructuración. Avellaneda, Argentina:Amorrortu editores, 1998. p. 412.

KAYSER Bernard. La renaissance rurale. Sociologie descampagnes du monde ocidental. Paris: Armand Colin,1990. p. 316.

LEFF, Enrique (Coord). La complejidad ambiental.México – España: Ed. Siglo XXI – PNUMA, 2000. p. 314.

LORDA, María Amalia. Revalorización del patrimoniocultural y natural en la gestión ambiental urbana. Tesisde Magister Scienteae en Gestión Ambiental del Desar-rollo Urbano. Facultad de Arquitectura, Urbanismo yDiseño. Universidad de Mar del Plata, p. 172, 1998.

LORDA, María Amalia y GAÍDO, Eloísa. “Actores yescenarios posibles en la actividad hortícola en el mar-co del desarrollo local. Cuenca del Sauce Chico”. En 3eras. Jornadas Interdisciplinarias de Estudios Agrarios yAgroindustriales. Facultad de Ciencias Económicas,Universidad de Buenos Aires. ISBN 950-29-0747-7.Ciudad de Buenos Aires, p. 25, 2003 b.

LORDA, María; CAMPOS, Marta; BRÓNDOLO,Margarita y ESPEJO, Natalia. “Procesos e interaccionesen el espacio geográfico. Unidades geoespaciales en elsuroeste bonaerense: escenarios posibles paraexperiencias de enseñanza-aprendizaje”. Aceptado parasu exposición y publicación por el Comité científicodel 10º Encuentro de Geógrafos de América Latina, SanPablo, Brasil, p. 26, 2005.

MADOERY, Oscar. “La gestión estratégica deldesarrollo en el área del Gran Rosario”. En García Del-gado, D. (Compil.), Hacia un nuevo modelo de gestiónlocal. FLACSO. Universidad de Buenos Aires.Universidad Católica de Córdoba. Buenos Aires: Ofi-cinas de publicaciones del CBC-UBA, 1997.

RAFFESTIN, Claude. “Paysage et territorialité”. InCahiers de Géographie de Québec. Vol. 21, nos 53-54,septembre-décembre 1977. p. 123-134, 1977.

______. “Remarques sur les notions d’espace, deterritoire et de territorialité”. In Espaces et Societés, Nº41, juin-décembre. Pp. 167-171, 1982.

ROBIROSA, Mario. La participación en los procesos degestión ambiental. En Proyectación Ambiental. Teoríay Metodología de la Cátedra UNESCO/FLACAM parael Desarrollo Sustentable. Pesci, R. Y Pérez, J. (Comps.),1995. Documentos Ambiente, Nro.2, Serie “DesarrolloSustentable”. LA Plata: Fundación CEPA, 1995.

Page 143: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Hortas Comunitárias de Teresina na perspectiva do desenvolvimento localsustentável

Community garden of Teresine, Piauí State – Brazil, looking for a sustainable localdevelopment

Jardins potagers communautaires à Téresine, État du Piaui – Brésil, dans laperspective d’un développement local sustentable

Huertas Comunitarias de Teresina en la perspectiva del desarrollo local sustentable

Juliana Portela do Rego Monteiro*

Maria do Socorro Lira Monteiro**

Recebido em 07/04/2005; revisado e aprovado em 22/06/2005; aceito em 31/01/2006.

Resumo: A precária situação do trabalhador rural incentiva a migração de grande quantidade de famílias do interiorpara os centros urbanos em busca de melhores condições de vida e trabalho. Assim, esse artigo analisa as HortasComunitárias de Teresina como alternativa de geração de trabalho, renda e de melhoria sócio-econômica, semdegradação ambiental, contribuindo, portanto, para a promoção do desenvolvimento sustentável local.Palavras-chave: Geração de emprego e renda; meio ambiente; desenvolvimento local.Abstract: The precarious situation of the countryside workers incentivates the great number of families migrationfrom the countryside to the urban centers searching for better life and jobs. Then, this article analyses the CommunityGardens of Teresina as alternative source of job, incomes, if can improve the social economical status, not degradatingthe environment around it and contributing, therefore, to the local sustainable development promotion.Key words: Jobs and incomes generation; environment; local developmentRésumé: La situation précaire du travailleur rural incite à la migration d’um grand nombre de familles de l’intérieurdes terres vers les centres urbains, à la recherche de meilleures conditions de vie et de travail. Cet article analysel’implantation de potagers communautaires de Térésine, État du Piauí, Brésil, comme une alternative à la création detravail, revenu e améliorations socio-économiques, sans dégradation de l’environnement e contribuant ainsi à lapromotion du développement sustentable local.Mots-clés: création d’emplois et de revenus; environnement; développement local.Resumen: La precaria situación del trabajador rural incentiva la emigración de gran cantidad de familias del interiorpara los centros urbanos en busca de mejores condiciones de vida y trabajo. Así, ese artículo analiza las HuertasComunitarias de Teresina como una alternativa de crear trabajo, renta y de mejoría socio económico, sin degradaciónambiental, aportando, por lo tanto, para la promoción del desarrollo sostenible local.Palabras claves: Creación de empleo y renta; medio ambiente; desarrollo local.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 143-152, Mar. 2006.

* Graduada em economia pela UFPI e Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente - Rede PRODEMA/TROPEN/UFPI. ([email protected]).** Dra. em Economia Aplicada na área de concentração Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UNICAMPProfessora do departamento de economia da UFPI e do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambien-te (PRODEMA/TROPEN/UFPI). Av. Universitária, 1310. CEP: 64049550. Teresina – PI. ([email protected]).

1. Introdução

O agravamento do êxodo rural noPiauí, assim como em todo o Brasil, condu-ziu à procura de alternativas de ocupaçãopara as famílias recém chegadas à capital,as quais não são absorvidas no mercado detrabalho formal. Sendo assim, faz-se neces-sário a implementação de políticas públicasa fim de reverter o efeito negativo produzi-do pelas altas taxas de crescimento popula-cional, pelo fluxo migratório campo/cidadee pela baixa oferta de trabalho.

Nesse contexto, em Teresina, destacam-

se as Hortas Comunitárias, como uma polí-tica pública da Prefeitura Municipal, objeti-vando gerar trabalho e renda, a melhoria dopadrão alimentar das famílias carentes daperiferia e o aumento da oferta de hortali-ças no município.

Dada a relevância da política pública,este artigo objetiva analisar se o Programade Hortas Comunitárias de Teresina temcontribuído para a melhoria das condiçõessócio-econômicas da população partícipesem danificar ao meio ambiente, em confor-midade com os preceitos do Desenvolvimen-to Sustentável.

Page 144: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

144 Juliana P. do R. Monteiro; Maria do Socorro L. Monteiro

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

2. Desenvolvimento sustentável, agricul-tura orgânica e agricultura familiar

Segundo Brüseke (2001), o conceito dedesenvolvimento sustentável vem sendoconstruído ao longo das diversas conferên-cias mundiais, da elaboração de relatórios,a partir da constituição de equipes de estu-do, tais como o clube de Roma, o Relatóriode Brundtland, a Rio 92, e por fim, a confe-rência de Johannesburgo, ou Rio + 10.

Assim, em conformidade com Merico(2001), faz-se mister reativar o debate emâmbito internacional sobre a construção deum novo tipo de desenvolvimento que nãoseja igualado ao conceito de crescimento esim voltado para o alcance da sustentabili-dade sócioambiental, haja vista não existirainda uma definição precisa entre cientistasou entidades sobre o termo desenvolvimen-to sustentável.

As políticas públicas se constituem,pois, em um importante mecanismo na cons-trução efetiva do desenvolvimento sustentá-vel. Portanto, deve haver sempre uma açãopor parte do Estado, comandando pela de-vida aplicação de leis ambientais, controlan-do, por intermédio da fiscalização e domonitoramento, quando nos programas deeducação ambiental e de certificação, e co-ordenando os processos de elaboração dasAgendas 21 locais.

Deste modo, a sociedade civil, os agen-tes sociais ganham grande relevância no pro-cesso de construção desse desenvolvimento,e, com eles, o ressurgimento da localidade,das parcerias baseadas na situação cultural,econômica, social e ambiental de cada espa-ço. A solução dos problemas ambientais emâmbitos local, nacional ou global poderá virde ações coletivas por parte de indivíduosmotivados, com participação em atividadese projetos organizados para este fim.

Dessa forma, a busca pela construçãodo desenvolvimento sustentável perpassa aadoção de uma agricultura alternativa, isentado uso de agrotóxicos, com mínimo gastoenergético, bem como com a busca dos sa-beres locais, arraigados de forma mais con-sistente na concepção dos agricultores fami-liares, focado na melhoria do bem-estar dapopulação rural (reproduzindo as famíliasdo meio rural e seus sistemas de produção)

e com o estímulo à organização social (fo-mentando iniciativas de associativismo ecooperativismo).

3. Procedimentos metodológicos

Os dados secundários foram coletadosno Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE), na Superintendência de De-senvolvimento Rural de Teresina (SDR), e empesquisas realizadas em bibliotecas e naInternet.

A pesquisa direta foi realizada no mêsde julho de 2004, através da aplicação dequestionários junto aos produtores cadastra-dos no Programa de Hortas Comunitáriasde Teresina, objetivando avaliar a efetivida-de do Programa como gerador de trabalho erenda, a relação dos horticultores com o meioambiente, assim como seu conhecimento so-bre o sistema orgânico de produção. Portan-to, de um universo de 2.430 horticultoresextraiu-se uma amostra aleatória de 10%para a realização da pesquisa nas quarentae três (43) Hortas Convencionais Urbanas doPrograma.

4. Caracterização da área de estudo:Teresina, vilas e favelas

4.1 Condições edafo-climáticas de Teresina

De acordo com o estudo Teresina: as-pectos e características (PREFEITURA MU-NICIPAL DE TERESINA, 1993), o municípiopossui 1.672,50 Km², correspondendo a0,69% da área total do Estado, se localiza àmargem direita do Rio Parnaíba, na micror-região homogênea de Teresina. Ademais,tem clima tropical chuvoso (megatérmico) desavana, com inverno seco e verão chuvoso eprecipitação média anual de 1.339 mm, ca-racterizada por uma distribuição temporalconcentrada e irregular. A temperatura mé-dia anual é de 26,8ºC, podendo chegar a38,7ºC, enquanto que a umidade relativa doar média anual é de 70%.

As características físicas dos principaistipos de solo de Teresina, com a predomi-nância de solos rasos, relevantes para o cul-tivo de plantas de raízes pouco profundas,apresentam condições favoráveis para a rea-lização da horticultura, sendo necessárias

Page 145: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

145Hortas Comunitárias de Teresina na perspectiva do desenvolvimento local sustentável

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

apenas medidas simples de correção do soloe utilização de mecanismos de irrigação.Além disso, a cidade conta com boa precipi-tação média anual, terrenos planos, dois riosperenes e potencial hídrico subterrâneo.

4.2 Estrutura fundiária, utilização dasterras e demografia

De acordo com o Censo Agropecuáriode 1995/1996 em Teresina predomina a pe-quena produção (estabelecimentos de até 10hectares), que representa 86,13% do total dasunidades produtivas. Além disso, de acordocom o referido Censo, a lavoura (permanenteou temporária) destacou-se como atividademais desenvolvida, representando 39,45%do total. Em 1985 existiam 50 estabelecimen-tos desenvolvendo horticultura ou floricul-tura. Já em 1995 o ramo horticultura e pro-dutos de viveiro contava com 840 unidadesprodutivas, evidenciando o grande cresci-mento dessas atividades em Teresina.

A cidade de Teresina, em consonân-cia com o Censo Demográfico de 2000, pos-sui uma população de 715.360 habitantes,sendo que pequena maioria, 53,13%, é dosexo feminino, correspondendo a 380.190mulheres.

De acordo com os Censos Demográfi-cos de 1991 e 2000 e a Contagem da Popula-ção de 1996, Teresina apresenta um progres-sivo processo de urbanização, haja vista que,no período em estudo, a população residen-te na região urbana cresceu 10,30% e a dazona rural decresceu em 5,42%, implicandoem aumento da demanda de políticas públi-cas para setores como educação, habitação,saúde e geração de trabalho e renda.

4.3 Aspectos socioeconômicos

Segundo o Diagnóstico do mercadode trabalho em Teresina (TERESINAAGENDA 2015, 2002), em 1999 existiam566.177 pessoas em idade ativa (81% dapopulação do município) sendo que somen-te 163.231 estavam empregadas formalmen-te. Observa-se, então, que 71,16% do totalde pessoas em idade ativa encontram-se de-sempregados ou na informalidade.

Considerando-se a distribuição porsetores de atividades, constatou-se que qua-

se 85% das pessoas empregadas formalmen-te na capital piauiense permaneciam no se-tor serviços, espelhando a falta de políticasnacional, estadual e municipal destinadas aosetor industrial (o qual concentrava apenas14,23% das ocupações) e ao setor agrícola(que absorvia somente 0,72% dos trabalha-dores formais).

Em relação aos rendimentos auferidos,percebe-se que 51,3% dos empregados for-mais de Teresina recebiam em 2001 de um adois salários mínimos. Por outro lado, somen-te 3,7% do total de 61.991 trabalhadoresauferiam renda acima de 10 salários míni-mos, expressando o baixo nível e alta con-centração de rendimentos na cidade.

Desse modo, evidencia-se, por umlado, a debilidade do município na geraçãode trabalho e renda, e, por outro, nãoobstante o setor de serviços pagar os melho-res rendimentos, estes são baixos. A indús-tria, por seu turno, oferece salários inferio-res ao ramo de serviços, com poucas unida-des locais, que empregam ínfima parcela demão-de-obra.

Nesse sentido, estudam-se as condiçõessócio-econômicas das vilas e favelas da ci-dade, nas quais está a populaçãoempobrecida oriunda tanto do êxodo ruralintenso até a década de 1980, quanto do flu-xo migratório no interior de Teresina, decor-rente da deterioração do poder aquisitivo demuitos habitantes dos bairros do município.

4.4 A favelização da cidade: influência doêxodo rural

O inchaço populacional na capitalpiauiense se comprova na medida em que,em 1991, segundo a Prefeitura Municipal deTeresina, havia 56 vilas e favelas cadastra-das, ao passo que em 1993, ano de realiza-ção do primeiro Censo de Vilas e Favelas,constatou-se a existência de 141 unidades,representando um incremento 151,79%. Jáem 1999, no terceiro Censo de Vilas e Fave-las, a cidade contava com 150 vilas e favelasnas quais residia uma população de 133.857(38.852 famílias), representando assim18,71% da população teresinense.

Além disso, ainda em conformidadecom o Censo de Vilas e Favelas, em 1996,existiam 33.537 pessoas desempregadas, de

Page 146: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

146 Juliana P. do R. Monteiro; Maria do Socorro L. Monteiro

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

um total de 94.617 habitantes. Já em 1999existiam 93.009 trabalhadores sem nenhumtipo de ocupação nas vilas e favelas, equiva-lendo a 69,48% de indivíduos em idade detrabalhar, no entanto apenas 40.848 traba-lhadores desenvolviam algum tipo de ativi-dade remunerada (no setor formal ou infor-mal da economia). Constata-se uma pioranas condições de trabalho dos habitantes daperiferia da capital.

Considerando-se o aspecto renda, em1993, 69,50% das famílias auferiam até umsalário mínimo mensal. Em 1996 essa parce-la se reduz para 42,16%, e em 1999 aumen-ta para 55,97%. Esse valor representa a pre-cariedade das condições de vida da popula-ção habitante da periferia de Teresina.

Estes dados apontam para a falta depolíticas e ações que priorizem a indústria osetor primário locais com vistas à geraçãode emprego e renda – especialmente para apopulação empobrecida residente nas vilase favelas de Teresina. Dessa forma, faz-senecessário a ação do Estado no sentido deconter e minimizar a pobreza urbanateresinense, concentrada, de forma expres-siva na área periférica da cidade.

5. Hortas Comunitárias de Teresina: gera-ção de emprego e renda e meio ambiente

5.1 Antecedentes históricos

As Hortas Comunitárias de Teresina,direcionadas para a produção de hortaliças,surgiram em meados dos anos 80 do séculoXX, como forma de coibir a marginalidadenascente de crianças e adolescentes. Entre-tanto, com o desenvolvimento da atividade,constatou-se o interesse de demais membrosdo núcleo familiar, haja vista o crescimentodo desemprego na capital piauiense. Sendoassim, o Programa mudou de foco, passan-do a envolver as famílias carentes da perife-ria da cidade. Nesse contexto, o bairro Dir-ceu Arcoverde foi a área escolhida para ini-ciar o cultivo de hortaliças, por ser o maiorconjunto habitacional de Teresina, situadoa Sudeste da cidade.

As hortas foram implantadas sob os fiosde alta tensão da Companhia Hidroelétricado São Francisco (CHESF), que atravessamtodo o bairro, impedindo, também, a prolife-ração de casebres neste espaço, já que a áreaé de alto risco para moradia (Figura 1). Osrecursos iniciais para a implantação das hor-tas eram originários da Fundação NacionalPara o Bem Estar do Menor (FUNABEM).Porém, atualmente são fornecidos pelo Pro-jeto Vila-Bairro da Prefeitura de Teresina.

Figura 1 - Horta comunitária sob os fios de alta tensão da CHESF

Fonte: A autora (2004)

Page 147: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

147Hortas Comunitárias de Teresina na perspectiva do desenvolvimento local sustentável

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

A partir da experiência das hortas doDirceu Arcoverde, a Prefeitura Municipalampliou o número de hortas comunitárias eos objetivos, contemplando essencialmentea geração de emprego e renda, melhoria dopadrão alimentar das famílias da periferiada cidade e o aumento da oferta de hortali-ças em Teresina.

Em conformidade com o Manual doHorticultor (PREFEITURA MUNICIPAL DETERESINA, 2004) Teresina conta atualmentecom 50 hortas comunitárias na zona urba-na, totalizando 177,2 hectares, sendo 43hortas do tipo convencional (127,10 hecta-res) – com uso de poços tubulares, irrigaçãomanual e pequenas áreas, tendo como prin-cipais culturas a cebolinha, o coentro, a al-face e a couve – e 7 do tipo campo agrícola(50,1 hectares), caracterizadas por empre-gar águas superficiais de rios e lagoas e porpossuírem um sistema de irrigação maismoderno (com o uso de aspersores). Suasculturas principais são a macaxeira, o fei-jão, o milho, a melancia e a batata doce.Ademais, o município possui dez hortas nazona rural, sendo duas convencionais (trêshectares) e sete do tipo campo agrícola (trintae seis hectares).

5.2 Perfil do horticultor

Do total de horticultores (240) das 43unidades produtivas, 149 são do sexo femi-nino; 65,24% dos horticultores possuem maisde 46 anos de idade, demonstrando a aces-sibilidade da atividade e a baixa adesão dapopulação jovem; 87,61% destes possuemensino fundamental incompleto e 33,33% sãoanalfabetos, assim, o baixo nível escolarmostra-se como uma dificuldade para suainserção no mercado formal, encontrando noPrograma uma opção, mesmo que nainformalidade.

Quanto à renda familiar, 80,42% doshorticultores percebem menos de um salá-rio mínimo, enquanto 46, equivalendo a19,17% e 01, representando 0,41% auferementre dois e três salários mínimos e entre trêse quatro salários mínimos, respectivamente,com o trabalho desenvolvido nas hortas, ex-plicitando que, devido ao baixo rendimentogerado, os produtores demandam outrasfontes de renda para o sustento da família.

Além disso, a atividade se revela pre-ponderantemente familiar, na medida emque 68,37% dos horticultores trabalham prin-cipalmente com filhos e cônjuges, 31,2% de-senvolvem a horticultura sem a contribuiçãoda família e apenas 0,41% estabelece víncu-los empregatícios esporádicos fora do núcleofamiliar. Ademais, do total de 240 horticul-tores, 97, que correspondem a 40,42% jádesenvolviam o trabalho agrícola antes dashortas. Assim sendo, remete-se à importân-cia do prévio conhecimento dos trabalhado-res sobre a agricultura com vistas implemen-tar um desenvolvimento local, baseado noprocesso participativo, na organização soci-al e na agricultura familiar e sustentável.

5.3 Participação em cursos e/ou palestrase organização social

Observou-se, com a investigação, a in-suficiente capacitação dos horticultores, namedida em que 68,33% destes não partici-param de cursos e/ou palestras sobre a ati-vidade hortícola desde sua inserção no Pro-grama. Todavia, dos 76 participantes,81,58% afirmaram que o treinamento dire-cionou-se para o manejo das hortas, princi-palmente no início das atividades, 6,58%para noções sobre associativismo e 11,84%debateram outros temas.

A partir das informações obtidas napesquisa, assevera-se que a Prefeitura, en-quanto órgão gestor, responsabilizou-se por84,21%, seguida pelo SEBRAE, com 10,53%e pela UFPI, com 5,26% do total dos cursose/ou palestras ministradas, essencialmentena Horta Geovane Prado, situada na zonaLeste da cidade.

Observa-se, assim, pouca efetividadedas ações de qualificação dentro do Progra-ma de Hortas Comunitárias de Teresina, sejapela falta de atuação da própria Prefeitura,seja pelo pequeno número de parcerias oupela ineficiência das já existentes com insti-tuições federais e estaduais, privadas e Or-ganizações não governamentais que pode-riam incrementar a realização de cursos epalestras imperativas ao desenvolvimento doconhecimento dos produtores.

Page 148: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

148 Juliana P. do R. Monteiro; Maria do Socorro L. Monteiro

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

5.4 Financiamento da produção ecomercialização dos produtos

Financiamento e comercialização daprodução são dois aspectos importantes quemostram se de fato o trabalho nas Hortasestá gerando emprego e renda, além de as-severar se, a longo prazo, poderá haver umaauto-sustentação dos produtores. Nessaperspectiva, 75,67% dos horticultores utili-zam recursos próprios para efetivar sua pro-dução, denotando a quase inexistência docrédito bancário no plantio.

Identificou-se, outrossim, que 80,83%dos horticultores não participam de associ-ações e/ou cooperativas. Somente ocorremparcerias ou agremiações na efetivação dacompra do estrume (insumo indispensávelà produção), medida em que uma aquisiçãoindividualizada encareceria o produto.

A investigação constatou que 70,08%do total produzido concentra-se em coentro,cebolinha e alface. Donde se infere a poucadiversificação dos cultivos nas Hortas Comu-nitárias Convencionais, muito embora sejamrealizados cursos de manejo e que haja adistribuição de sementes de plantasdiversificadas (cenoura, beterraba, dentreoutras) na implantação de cada horta. En-tão, este contexto manifesta que oshorticultores optam por cultivos que gerammenores rendimentos ao invés de realizaremum plantio com custo de produção mais alto,mas possivelmente com maior retorno finan-ceiro. Tal constatação se explica tanto pelafalta de linhas de financiamento adequados(haja vista que quase a totalidade doshorticultores faz uso de recursos própriospara produzir) como pela escassez de áreasna área para o cultivo de hortaliças maisdesenvolvidas, de maior porte (mais rentá-veis), já que muitas famílias trabalham den-tro de áreas limitadas na zona urbana dacidade.

Além disso, certifica-se que a falta deorganização social dos horticultores tambéminfluencia na comercialização dos produtos,se constituindo, pois, em um grande entra-ve para a sustentação da atividade. Destarte,66% dos horticultores vendem sua produ-ção direto na horta, 13,2% de porta em por-ta e 12,54% em feiras livres e mercados, con-dições que refletem a precariedade das rela-

ções comerciais e a necessidade de imple-mentação de locais adequados (como feirasem diferentes pontos de Teresina) para o es-coamento dos produtos do Programa. Paraos grandes canais de comercialização – su-permercados e CEASA – são destinados ape-nas 1,98% da produção.

Além disso, a pesquisa demonstrou que33,61% dos horticultores não encontram difi-culdades para escoar as hortaliças, enquantoos 66,39% restantes explicitaram que os pro-blemas enfrentados na comercializaçãoadvêm da baixa demanda (19,08%); da fal-ta de estrutura e organização (12,43%); daconcorrência entre os produtores (9,12%); ede outros (25,76%), englobando roubos nashortas, concorrência com produtores dosmunicípios e de diferentes Estados e a faltade recursos para o financiamento do cultivo.

Diante das dificuldades de comercia-lização citadas, é de fundamental importân-cia o fomento ao crédito, a dinamização doscanais de comercialização, a consolidação deorgaizações sociais entre os produtores que,conjugados com uma produção diversificadae voltada para a demanda do mercado con-sumidor local, conduzam à independênciados horticultores, mesmo que a longo pra-zo, em relação à Prefeitura e à melhoria dasua qualidade de vida. Dessa forma, o in-cremento do apoio creditício com vistas adinamizar as Hortas Comunitárias da peri-feria de Teresina na produção e comerciali-zação de produtos saudáveis diversificados,na perspectiva da agricultura familiar (ba-seada nos saberes locais) promovendo, as-sim um incremento na geração de empregoe renda dos beneficiários do Programa.

5.5 Aspectos ambientais

5.5.1 SoloDe um total de 240 horticultores, tem-

se que 69,58% não se preocupam com a con-servação do solo. Dos 30,42% restantes,57,53% utilizam cobertura morta (especial-mente com palha de coco), a qual preserva osolo acrescentando nutrientes ou colaborandona manutenção dos já existentes. Esta técnicaé utilizada em grande escala porque o coentroe a cebolinha (culturas muito desenvolvidasnas Hortas) não sobrevivem se na sua plan-tação não houver algum tipo de proteção.

Page 149: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

149Hortas Comunitárias de Teresina na perspectiva do desenvolvimento local sustentável

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Dessa forma, em 61,07% das unidadesprodutivas predominam a adubação por es-terco de curral (adubação orgânica poucoelaborada); 23,20% usam a adubação quí-mica, cujos principais representantes são oNPK (mistura de Nitrogênio, Fósforo e Po-tássio) e a uréia; 10,4% utilizam adubaçãovegetal, que consiste num composto prepa-rado, em geral, com as ervas daninhas reti-radas da plantação por capina manual e5,69% fazem uso de outros tipos de adubo.

Observa-se que a utilização de adubosou corretivos de origem química é pouco di-fundida, não obstante seja o segundo tipode adubação mais adotado pelos horticulto-res. Fato importante do ponto de vista am-biental, haja vista que, o uso desse tipo deadubo acarreta perda da qualidade da ter-ra, afetando, em conseqüência, as hortaliçasproduzidas, além de outros prejuízos aomeio ambiente, como o carreamento de ma-teriais insolúveis para outros terrenos, pro-vocando prejuízo da sua matéria orgânica.

Portanto, poderia haver melhor apro-veitamento se direcionada à produção decompostos orgânicos mais completos (enri-quecidos com diversos nutrientes), promo-vendo maior produtividade. Sendo assim, autilização de compostos orgânicos em subs-tituição dos demais adubos usados nas Hor-tas, com o abandono dos corretivos quími-cos e dos estercos pouco ricos em nutrientesque são responsáveis por 84,27% dos fertili-zantes empregados pelos produtores, seriao primeiro passo para a mudança do para-digma agrícola e o início da implantação deuma agricultura sustentável, a qual, além degerar retorno financeiro para quem produz,se preocupa com a manutenção da qualida-de ambiental e com o fornecimento, à comu-nidade em geral, de alimentos saudáveis pro-venientes de solos bem nutridos.

5.5.2 Controle de ervas invasoras,pragas e doençasEm conformidade com a pesquisa,

82,99% dos horticultores controlam o plan-tio com capina manual, que consiste em ar-rancar manualmente as ervas invasoras docanteiro. Enquanto 8,3% utilizam produtosquímicos (agrotóxicos) e 7,88% empregamtécnicas naturais de controle de ervas dani-nhas (como a utilização de plantas que difi-

cultem sua proliferação) e somente doishorticultores afirmaram utilizar barreirasmecânicas (com a colocação de sacos plásti-cos ou outros materiais com o intuito debarrar invasões) para dizimar as plantasnocivas ao cultivo.

Destarte, nota-se, por um lado, a rela-tiva facilidade de controle das plantas inva-soras a baixo custo, e, por outro lado, tem-seque o reduzido poder aquisitivo dos produ-tores os impede de fazer uso de controle quí-mico, além do pouco conhecimento sobretécnicas alternativas aproveitadas em cultu-ras orgânicas para exterminar as plantasinvasoras.

Já quanto ao controle de pragas e do-enças, 61% dos horticultores o fazem de for-ma manual, 28,51% com o uso de agrotóxi-cos e somente 8% utilizam algum tipo de téc-nica natural, como: água quente para ma-tar formigas; calda bordalesa, contra doen-ças fúngicas e bacterianas; e o fumo no com-batente de pulgões e grilos.

Dessa forma, o controle químico deervas daninhas, pragas e doenças nas Hor-tas Comunitárias é incipiente (o que se cons-titui em um aspecto positivo). Consta-se, as-sim, a precariedade do cultivo, pois a opçãomajoritária de eliminar os problemas naplantação por intermédio da capina manu-al, se dá mais em virtude de carência técni-ca e financeira do que por preocupaçõesambientais.

Ressalta-se, ainda, que a defesa natu-ral, baseada nos princípios da agriculturaorgânica, é ainda inexpressiva. Logo, faz-seimprescindível a adoção do manejo alterna-tivo (sem o uso de agrotóxicos) de ervas da-ninhas, pragas e doenças na produção comoforma de melhorar as condições de vida doshorticultores e de fornecer produtos de me-lhor qualidade para os consumidores da ca-pital piauiense.

5.5.3 AgrotóxicosDe acordo com Pinheiro (1985), o uso

indiscriminado de agrotóxicos é responsávelpor graves conseqüências ao meio ambientee à saúde humana. Primeiro em decorrênciado contágio das águas superficiais e subter-râneas pelo uso de fertilizantes nitrogenadosde alta solubilidade, responsáveis pela for-mação de compostos cancerígenos e

Page 150: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

150 Juliana P. do R. Monteiro; Maria do Socorro L. Monteiro

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

mutagênicos. A segunda refere-se aos danosao solo, principalmente pela ação dos me-tais pesados – como o cádmio e o mercúrio –resultando problemas sérios de saúde aosseres humanos e animais silvestres, como ocâncer ou alterações nas células nervosas.

Dessa forma, 36,81% dos horticultores,embora em minoria, utilizam agrotóxicoscontra pragas, doenças ou ervas invasoras.Ademais, os horticultores explicitaram queesse uso só não é mais disseminado pela in-suficiência de recursos, denotando o desco-nhecimento das metodologias de proteçãoambiental.

Todavia, 69,18% dos produtores queempregam defensivos químicos revelaramnão terem participado de cursos relativos aomanuseio de equipamentos ou aos danos queestes causam, apesar de 62,26% conhecemas graves conseqüências que o seu uso podetrazer ao meio ambiente, à sua saúde e à doconsumidor. Ainda assim, 60% dos horticul-tores utilizam instrumentos de proteçãoquando realizam a aplicação destes insumosna plantação.

Observa-se, assim, a pouca ciência dosprodutores sobre a forma de manuseio dosagrotóxicos e as possíveis conseqüências lesi-vas advindas do seu uso e mau uso. Sendoassim, no Programa de Hortas Comunitáriasdeve haver uma modernização dos agricul-tores familiares no sentido da implementa-ção de tecnologias e ações que favoreçam aagricultura ambientalmente sustentável co-mo forma de melhoramento da qualidadeambiental, da saúde do produtor e do con-sumidor.

Ressalta-se que o desenvolvimento só-cio-econômico seria alcançado pelo incre-mento nas quantidades vendidas (e conse-qüente aumento da renda do horticultor),haja vista muitos consumidores, nos diasatuais, buscarem alimentos mais saudáveis(cultivados sem o uso de agrotóxicos ou fer-tilizantes químicos).

5.6 Agricultura orgânica como uma novaopção

Com vista a identificar a disposição doshorticultores a pagar por uma mudança dosistema de produção convencional para osistema orgânico, constatou-se que 58,42%

destes já sabiam a existência deste métodode cultivo e revelaram interesse em partici-par de cursos e/ou palestras sobre proces-sos alternativos de produção.

Nesse sentido, identificou-se que, dosduzentos e quarenta, 66% dos horticultoresestão dispostos a investir na produção deorgânicos como forma de contribuir com aproteção ao meio ambiente e para a sua pró-pria segurança alimentar.

A pesquisa demonstrou, ainda, que80% dos produtores têm preferência pelarealização de investimento de até três salá-rios mínimos e somente 1,67% aplicariammais de cinco salários mínimos na mudançade sistema de produção.

Nesse cenário, cabe à Prefeitura e àsinstituições parceiras o avanço no fluxo deinformações sobre os métodos alternativosde agricultura para que as famíliasbeneficiárias do Programa de Hortas Comu-nitárias de Teresina possam adotar a melhortécnica de cultivo, de tal forma que, aliadaao apoio creditício, à melhoria dos níveiseducacionais (básicos, profissionalizantes) eà dinamização das organizações sociais,possa haver a promoção de um desenvolvi-mento local sustentável.

6. Conclusão

O município de Teresina retrata, nosdias atuais, a falta de políticas governamen-tais direcionadas para a zona ruralpiauiense, se constituindo, pois, como umpólo de convergência do fluxo rural-urbanono Piauí. Não obstante essa situação, o in-chaço populacional na capital do estado nãofoi acompanhado de ações adequadas paraeducação, habitação, nem tão pouco na ge-ração de oportunidades de trabalho nos di-versos setores econômicos.

Sendo assim, o Programa de HortasComunitárias de Teresina se estabeleceu naperiferia da cidade como uma alternativa àgeração de trabalho e renda, à melhoria dopadrão alimentar das famílias envolvidas naatividade e à diminuição da necessidade deimportação de hortaliças.

No entanto, identificou-se que, apesarda ocorrência da geração de rendimentospara os horticultores, estes ainda represen-tam muito pouco, servindo menos como fon-

Page 151: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

151Hortas Comunitárias de Teresina na perspectiva do desenvolvimento local sustentável

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

te única e mais como complemento da ren-da. Esse problema é decorrente do baixo ní-vel educacional, da pouca diversidade decultivos, das formas precárias de venda, dainsuficiente qualificação e do reduzido mon-tante de recurso para estimular o crescimentoda produção.

A investigação assevera, também, quea maior parte dos produtores já desenvolvi-am trabalhos no setor agrícola antes da ati-vidade hortícola, denotando a habilidadeinerente neste tipo de atividade, sendo ne-cessária apenas a qualificação sistemáticapor parte da Prefeitura, como órgão gestorda política, em especial com cursos que va-lorizem os saberes locais, a agricultura al-ternativa e familiar, no intuito de promoverum desenvolvimento local sustentável.

Ressalta-se, ainda, que os horticultoresnão interagem de maneira satisfatória comos aspectos ambientais, na medida em queutilizam agrotóxicos para o combate de er-vas daninhas, pragas e doenças (embora empouca quantidade), propiciando prejuízospara a sua própria saúde, para a dos consu-midores e para o meio ambiente. Ademais,estes não dispõem de conhecimento consis-tente sobre métodos de proteção na aplica-ção de defensivos químicos. Ao mesmo tem-po, a grande maioria dos produtores, nãoutiliza técnicas de conservação do solo, es-senciais para a formação de culturasambientalmente sustentáveis.

Observou-se, também, o pouco conhe-cimento dos horticultores de métodos alter-nativos, como a agricultura orgânica, emrelação aos benefícios deste tipo de ativida-de agrícola tanto para o meio ambiente comopara a saúde deles próprios e dos consumi-dores. Cabe, assim, à Prefeitura o provimen-to de cursos e/ou palestras direcionados aoutros tipos de cultivos diferentes do con-vencional, a fim de que se possa, de fato, coma implementação da agricultura orgânica,estimular o desenvolvimento local sustentá-vel nas Hortas Comunitárias de Teresina.

Referências

BRÜSEKE, Franz. Josef. O problema do desenvolvi-mento sustentável. In: CAVALCANTI, C. (org.). De-senvolvimento e natureza: estudos para uma sociedadesustentável. São Paulo: Cortez, 2003. p. 29-40.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍS-TICA – IBGE. Censo agropecuário-1995/96: Piauí. Rio deJaneiro: [IBGE], 1998. 1 CD.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍS-TICA – IBGE. Contagem da população-1996. Rio de Janei-ro: [IBGE], 1997.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍS-TICA – IBGE. Base de informações do censo demográfico2000: resultados da amostra por Município. Rio de Ja-neiro: [IBGE], 2002.

MERICO. Luis. Fernando. Krieger. Políticas públicaspara a sustentabilidade. In: Viana, Gilney (et al). O de-safio da sustentabilidade: um debate socioambiental noBrasil. São Paulo: Perseu Abramo, 2001. p. 251-262.

MURAYAMA, Shizuto. Horticultura. Campinas: Ed.Campinas, Instituto Campineiro de ensino agrícola,1983.

PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. Superinten-dência de Desenvolvimento Rural. Gerência de Pro-gramas Especiais. Manual do horticultor: recomendaçõespara o cultivo orgânico de hortaliças. Teresina: Harley,2004

PINHEIRO, Sebastião. Retornando ao futuro. In: PI-NHEIRO, Sebastião et al. Agropecuária sem veneno. Por-to alegre: L&PM, 1985. p. 9-44.

PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. SecretariaMunicipal de Habitação e Urbanismo. Censo de Vilas eFavelas. Teresina: [s.n.], 1993a.

PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. SecretariaMunicipal de Habitação e Urbanismo. Censo de Vilas eFavelas. Teresina: [s.n.], 1996.

PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. SecretariaMunicipal de Habitação e Urbanismo. Censo de Vilas eFavelas. Teresina, 1999.

PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. SecretariaMunicipal de Planejamento e Coordenação Geral.Teresina: aspectos e características. Teresina: [s.n.], 1993b.

TERESINA AGENDA 2015. Diagnóstico e cenários da si-tuação do trabalho e renda em Teresina. Teresina; [s.n.],2002

Page 152: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS
Page 153: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

As concepções da escassez de recursos hídricos no Brasil e no mundo: a saída é acobrança?

The conceptions of scarcity of water resources in Brazil and all over the World: thesolution is in the installation of a paying service?

Les concepts de rareté des ressources hydriques au Brésil et dans le monde:l’installation d’un service payant comme solution ?

Las concepciones de la escasez de recursos hídricos en brasil y en el mundo: ¿la solución es exigir?

Jairo Bezerra Silva*

Deolinda de Sousa Ramalho**

Lemuel Dourado Guerra***

Cláudio Ruy Portela de Vasconcelos****

Recebido em 28/05/2005; revisado e aprovado em 03/11/2005; aceito em 31/01/2006.

Resumo: Constitui nosso objetivo principal neste artigo analisar a proposta de gerenciamento racional dos recursoshídricos, desmistificando alguns aspectos do discurso construído em torno da escassez dos mesmos no Brasil e nomundo. Para realizar tal tarefa, partimos de uma concepção teórico-crítica que discute a emergência do mercado derecursos hídricos, investigando os pontos obscuros da proposta mencionada.Palavras-chave: Escassez; cobrança; recursos hídricos.Abstract: It constitutes our main objective in this article to analyze the purpose of Rational Water ResourcesManagement, demystifying some aspects of the discourse constructed around the scarcity of them in Brazil andaround the world. To carry on it we adopt a critical theoretic conception, which discuss the formation of a waterresources market, investigating obscure points of the purpose mentioned above.Key-words: Scarcity; collection; water resources.Résumé: L’objectif principal de ce travail est d’analyser une proposition de gestion rationnelle des ressources hydriques,démystifiant certains aspects de discours construits autour de la rareté de ses ressources au Brésil et de part le monde.La réalisation de cet objectif part d’une conception théorique-critique qui analyse l’émergence du marché des ressourceshydriques, s’attachant plus particulièrement aux points noirs de la proposition décrite.Mots-clés: Rareté; collection; ressources hydriques.Resumen: Constituye nuestro objetivo principal en este artículo analizar la propuesta de planteamiento racional delos recursos hídricos, desmitificando algunos aspectos del discurso construido en torno de la escasez de los mismosen Brasil y en el mundo. Para realizar tal tarea, partimos de una concepción teórico-crítica que discute la emergenciadel mercado de recursos hídricos, investigando los puntos obscuros de la propuesta mencionada.Palabras claves: Escasez; cobranza; recursos hídricos.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 153-164, Mar. 2006.

* Professor visitante da Universidade Estadual da Paraíba e do CESAC (Centro de Ensino Superior de Santa Cruzdo Capibaribe-PE), Rua Antonio Bezerra Paz, 80. Bloco-A301, Campina Grande-PB. 58109-230, Bairro: Bodocongó.Tel.: 8333337410. ([email protected] ou [email protected]).** Professora aposentada do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de CampinaGrande.*** Diretor do CH (Centro de Humanidades) e Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia daUniversidade Federal de Campina Grande-PB. ([email protected]).**** Professor do Departamento de Ciências Básicas e Sociais da Universidade Federal da Paraíba CFT/UFPB.

Introdução

O discurso acerca da escassez de re-cursos hídricos, em cuja iminência viveria apopulação mundial, tem como desdobra-mento central a defesa do princípio de queos mesmos devem ser redefinidos enquantomercadoria1, semelhante a outra qualquer,a ser oferecida no mercado para consumodeterminado pelas condições de compra evenda. Esse discurso não tematiza os inúme-

ros conflitos e contradições responsáveis pe-las tensões em torno do acesso aos recursoshídricos no Brasil e no mundo.

Para realizar uma discussão acerca dosmitos, valores e crenças mobilizados na ver-são segundo a qual viveríamos na iminênciada escassez de recursos hídricos, partimosde perspectivas teóricas que examinam aproposta de gestão racional dos recursos hí-dricos através do estabelecimento de preçopara a água.

Page 154: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

154 J. B. Silva; D. de S. Ramalho; L. D. Guerra; C. R. P. de Vasconcelos

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Inicialmente nos concentraremos nareflexão acerca dos limites e ambigüidadesdo discurso construído em torno da profe-cia da escassez de água e na segunda partenos concentraremos na reflexão acerca dosaspectos ideológicos da argumentação pró-mercantilização.

Os elementos constituintes do discursoda escassez

Desde o fim do século passado vem seconstituindo, em termos globais, uma visãosegundo a qual a falta de água se constitui-rá num problema grave para a populaçãomundial, num período próximo. Os relató-rios Global Environment Outlook 2003, do Pro-grama das Nações Unidas para o Meio Am-biente, divulgados em 1999 e 2002, respecti-vamente, indicaram que a falta de água seráum grava problema em 2025.

De acordo com o The United NationsWorld Water Development Report, produzidopor um conjunto de 23 agências da ONU,apresentado em Kyoto, em 2003, a escassezde água atingirá cerca de 2 bilhões de pesso-as, num cálculo otimista, e cerca de 7 bilhões,se confirmada a concepção mais pessimista,em torno de 2050.

A inquietação com a falta de água ga-nha mais consistência quando começam aser apresentadas previsões de falta d’águaem países desenvolvidos, tais como os Esta-dos Unidos, a França, a Itália, dentre outros.É essa cartografia a que passam a se referiras previsões catastróficas referentes ao aces-so à água que pode nos ajudar a entender oporquê da disseminação em nível mundialda preocupação com a gestão dos recursoshídricos na última década, a realização detrês Fóruns Mundiais da Água e a definiçãode 2003, como Ano Internacional da Água.

De acordo com os relatórios e discus-sões científicas, se os países centrais não pro-moverem alterações no estilo de vida de suaspopulações, o que parece cada vez mais di-fícil de ser alcançado, terão de conseguirágua doce em outros países. Não é à toa queum dos temas que mais despertou atençãoem Kyoto foi justamente o comércio da águadoce, sendo os países como Brasil e outrosda América do Sul e da África os quais pos-suem e manterão excedente hídrico (o que

não se verifica em países europeus e nos Es-tados Unidos) alvos da atenção mundial (cf.Ribeiro, 2003:71).

Em consonância com o que coloca Ri-beiro (2003), Udaeta (2005) partilha da idéiade que a questão central na área dos recur-sos hídricos em termos mundiais não é ape-nas a escassez de recursos hídricos no mun-do, mas a ausência de políticas públicas pon-tuais no sentido de universalizar o abasteci-mento de água de boa qualidade, o que sereflete no fato de que mais de dois bilhões depessoas não têm acesso à água potável e emque mais de três bilhões não têm acesso aserviços de saneamento básico no mundo.

Ainda em referência à discussão acer-ca da problemática da escassez de recursoshídricos e das ambigüidades do seu discur-so, Bouguerra (2004) propõe a questão deoutra maneira: há escassez ou má gestão derecursos hídricos no mundo? Vejamos abai-xo, a maneira como o mesmo se pronunciasobre esse tema:

Enquanto isso, durante o Fórum Mundial daÁgua, em março de 2000, em La Haye, o Centrefor Science and Environment de Deli, por suavez, achava que o problema não era a “escassezd’água, mas sim a “má gestão da água”, queprecisava ser resolvida. O jornal israelenseHá’aretz publicou um artigo de NehemyaStrassler, intitulado “Os kibbutzim se compor-tam como se estivessem na Noruega”, no qualsão criticadas as responsabilidades dos políti-cos com relação à carestia d’água em Israel e aimportação d’água da Turquia. Strassler termi-na assim seu artigo:”A carestia d’água que fereIsrael é puramente artificial. Ela é conseqüên-cia de escolhas políticas daqueles que estão nopoder. Por isso, a importação de água turca éuma heresia. A manutenção de um sistemaenviesado de subsídios e de cotas favorecendosetores pouco rentáveis e dispendiosos é a rea-lidade de nossos políticos. Se até agora nenhumprojeto de reforma aconteceu, é porque muitosde nossos políticos têm interesses diretos nes-ses setores subvencionados da agroindústria2

(Bouguerra, 2004, p.121).

Bouguerra (2004) coloca ainda que umdos principais limites acerca do discursoapocalíptico em torno da escassez de recur-sos hídricos no mundo, coordenado em gran-de medida pelos Estados Unidos, não colo-ca o problema da competição existente en-tre os diversos setores da atividade econô-mica pela água naquele país, a exemplo daindústria, da agricultura e do comércio,como sendo um dos principais fatores que

Page 155: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

155As concepções da escassez de recursos hídricos no Brasil e no mundo: a saída é a cobrança?

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

geram situações de escassez de recursos hí-dricos, inevitáveis para alguns consumido-res. Em nível de ilustração, vejamos a ma-neira como o discurso apocalíptico da escas-sez é ambíguo nos Estados Unidos, uma vezque o mesmo não revela as faces ocultas doque acontece, por exemplo, em usinas deChips e Wafers:

(...) Uma usina de médio porte produtora dechips e de Wafers para aparelhos domésticos epara a indústria eletrônica em geral utiliza umaquantidade de água diária capaz de encher 24piscinas, além de se tratar de uma água duasmil vezes mais pura que a água potável. (...) Em1993, existiam 900 usinas desse tipo no mundo-350 delas só nos Estados Unidos. E, desde 1994,24 foram planejadas ou construídas naquele país;enfim, desde 1997, a firma INTEL, por exem-plo, construiu uma dessas unidades de produ-ção a cada nove meses3.(...) Por exemplo, nabacia do Rio Powder, as perfurações vão bom-bear uma quantidade de água comparável à queseria necessária para abastecer Nova Iorquedurante trinta meses. (...) Compreende-se, en-tão, a gravidade dos conflitos entre os fazen-deiros, os agricultores e os ambientalistas deum lado, e as companhias de gás de outro. (...)Alguns condados proibiram desde já as compa-nhias de fazerem perfurações em seus territóri-os, mas essas decisões foram levadas à justiça.A administração Bush, bastante comprometidacom as companhias de gás4, aprovará a perfu-ração recorde de 39.000 poços para extrair gásde quatro milhões de hectares de terras fede-rais. (...) No Chile, o deserto de Atacama é aregião mais seca do mundo, mas a água próxi-ma é desviada do uso doméstico para ativida-des de mineração. Daí a escassez de água, que aseca só faz aumentar: por isso o Chile foi obri-gado, em 1999, a racionar a eletricidade, conta-da duas horas por dia e, não obstante,privatizada. Isso custou cem milhões de dóla-res por mês às empresas5.

É esse lado não mencionado nos discur-sos que se articulam em torno da iminênciade uma crise mundial de recursos hídricos,referente à dinâmica capitalista de apropria-ção de recursos hídricos atualmente em cur-so em várias economias nacionais, que bus-camos colocar em discussão neste trabalho.

Para apontar os limites, desmistificaros discursos que anunciam a crise hídricamundial e a proposta de Gestão Racional dasÁguas levantamos questões que pairamesparsas ao redor da temática discutida, taiscomo as seguintes:a) a do gritante desequilíbrio no acesso aos

recursos hídricos, especificamente, aosindivíduos do baixo estrato social, num

contexto em que ele é abundante, comona América do Sul;

b) a da lógica da cobrança pelo uso dos re-cursos naturais como mecanismo de ade-quação da relação oferta-demanda a mé-dio e longo prazo, a qual tem recebido oapoio estatal nas esferas estadual e fede-ral no Brasil;

c) a do crescente interesse dos grupos decapital privado pelo gerenciamento eapropriação dos recursos hídricos em es-cala mundial, inclusive no Brasil e naAmérica Latina, os quais, (cf. Sader, 2005)estão querendo assumir o controle dosserviços públicos de água, caso a popula-ção não resista à pressão privacionista queestá em processo de expansão no Brasil;

d) a da relação existente entre a ausência depolíticas públicas e escassez de recursoshídricos, a América Latina. Vejamos abai-xo como Ribeiro (2003) se pronunciaacerca dessa discussão:

Na África e na América Latina, a população semacesso à água passou de 293 para 309 milhões ede 86 para 92 milhões, respectivamente (EM QUEPERÍODO?). Esse expressivo contingente popula-cional passou a buscar água em outras áreas docontinente, criando enorme fluxo migratório epressionando os estoques hídricos locais. É curio-sa a falta de água na América Latina, onde háabundância do recurso. Estima-se que juntos ospaíses andinos e o Brasil detenham cerca de1/4do estoque de água doce mundial. A carência deágua só pode ser explicada pela ausência de polí-ticas públicas que permitam a adoção de um sis-tema de coleta, tratamento e distribuição de águapara a população local. Entretanto, a má gestãopública não deve ser encarada como justificativapara a entrada do capital internacional. A recen-te experiência em Cochabamba, na Bolívia, deveser analisada. Na ocasião, houve majoração emcerca de 30% da tarifa pela empresa estrangeiraque ganhou a concessão do serviço de abasteci-mento de água na cidade, o que resultou em mo-vimento contestatório da população local em pa-gar a diferença da tarifa. A empresa processou aBolívia exigindo ressarcimento sobre ganhos fu-turos que acabou não realizando, dado o levantepopulacional. Esse processo continua em trami-tação. O exemplo boliviano indica que a privati-zação pode ser um problema, dado que o capitalinternacional quer remunerar o serviço de acor-do com os preços internacionais, tornando mui-to cara a “mercadoria da água doce” para quemrecebe salários baixos até mesmo para padrõeslatino-americanos (Ribeiro, 2003, p.74).

Para Udaeta (2005), que analisa a pri-vatização da água na Bolívia e a cobrançapelo uso desta como mecanismo de regula-

Page 156: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

156 J. B. Silva; D. de S. Ramalho; L. D. Guerra; C. R. P. de Vasconcelos

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

ção, nos moldes em que está sendo colocadana América do sul, implica no agravamentodas possibilidades de acesso à água de qua-lidade para os consumidores de baixo poderaquisitivo, sendo limitada em resolver o pro-blema da escassez profetizada pelas agênciasmultilaterais e grandes corporações de capi-tal privado internacional, parcialmente par-ceiras em seus instrumentos de ação paracom a finalidade de universalizar o acessosatisfatório aos serviços de água no mundo,uma vez que propõem a privatização comomarca referencial de qualidade.

Segundo os dados disponibilizadospela ONU (Organização das Nações Unidas)e outras instituições a respeito da situaçãohídrica mundial, tanto em referência à pos-se de recursos, quanto em referência ao rit-mo e intensidade de apropriação e uso deágua, o que se tem apresentado como umasituação de iminente catástrofe como umperigo para todos, funcionando, junto comum conjunto de discursos que apelam parao caráter sistêmico e para as metáforas deinclusão, atua como diluidor das avaliaçõesreferentes às responsabilidades diferenciadasno enfrentamento da questão.

Assim, países com a condição na qualo Brasil se encontra no momento, em termosde disponibilidade de recursos hídricos, nãoem situação de vulnerabilidade hídrica, umavez que detemos aproximadamente 12% daágua doce existente no planeta, são colocadosna mesma situação de outros nos quais os esti-los de produção e de apropriação de recursosnaturais em geral e dos hídricos, especifica-mente, são muito mais intensos e depredado-res, resultando em situações locais de estran-gulamento nos sistemas de abastecimento.

É interessante para esses lugares nosquais se observam situações atuais de crisehídrica, construir uma concepção dissemi-nada de que a crise é geral, assim como tam-bém a responsabilidade em enfrentá-la, bemcomo um consenso em torno da Gestão Ra-cional de Águas baseada no mecanismo demercadorização do recurso natural em ques-tão como estratégia única de regulação daoferta e demanda hídrica mundial.

Contrapondo-nos ao discurso apoca-líptico referente à escassez mundial de águanão estamos querendo afirmar aqui que osrecursos hídricos brasileiros devam ser utili-

zados de maneira irracional pelos diferen-tes tipos de consumidores. O que defende-mos é que os mesmos sejam geridos não apartir de uma racionalidade que atenda àsdeterminações do mercado capitalista, mascom base numa racionalidade que contem-ple as possibilidades e os interesses dos dife-rentes estratos sociais no Brasil, sempre comênfase na justiça social e na igualdade.

Petrella (2003) considera que o cami-nho apresentado como viável pelas corpo-rações de capital privado internacional, temvieses de unilateralidade e de impossibilida-de, já que propõem alternativas que se res-tringem especificamente à modificação namaneira de acessar os recursos hídricos pelaregulação da cobrança, colocando os meca-nismos de acesso financeiro, simbolizadosnas contas de água como condição necessá-ria para que haja um prolongamento dosmesmos para as próximas gerações, sem queseja problematizado o fortalecimento cons-tante das corporações envolvidas com pri-vatização e a mercantilização da água emescala global. Vejamos como o autor se ex-pressa sobre o ponto:

Por enquanto, as coisas ainda são bastante “fei-tas em casa”. Todos sabem, por exemplo, queas corporações francesas - em particular as duaschamadas pela mídia de “gigantes da água”, aGénérale des eaux (do grupo Vivendi) e a Suez-Lyonnaise des eaux – são, de longe, as maiorescompanhias distribuidoras de água do mundo.Vivendi é a principal operadora hídrica domundo (com um volume anual de vendas novalor de US$ 7,1 bilhões em 1997) e está envol-vida também em serviços coletivos no setorambiental, de energia, de saneamento urbanoe de transporte público. Embora sendo a se-gunda depois do Vivendi em termos nacionais,com um volume anual de vendas de de 5,1 bi-lhões em 1996, internacionalmente a Lyonnaisedes eaux (agora parte do grupo Suez) é a núme-ro um (US$ 2,9 bilhões em 1997 contra os US$2,20 bilhões da Vivendi) e sua subsidiária, aDegremont, é a líder mundial em engenhariade tratamento de água (Petrella, 2003, P. 101).

Dois elementos podem ser destacadoscomo necessários a uma discussão capaz derevelar os lados ocultos e os aspectos ideoló-gicos do discurso apocalíptico sobre aiminência de uma crise hídrica mundial: oprimeiro deles, o fato de que são mobiliza-dos símbolos, mitos e crenças que têm comoobjetivo construir representações, concep-ções, visões de que estamos todos num mes-mo barco, no que se refere às condições de

Page 157: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

157As concepções da escassez de recursos hídricos no Brasil e no mundo: a saída é a cobrança?

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

apropriação e uso dos recursos hídricos emnível mundial, sendo, portanto, todos igual-mente responsáveis pelas medidas necessá-rias à solução da crise hídrica anunciada.

Como efeitos desse discurso totaliza-dor, unificador, de inclusão internacional,temos a proteção dos atores mais responsá-veis pela poluição das águas mundiais, bemcomo daqueles que se privilegiam de estru-turas desiguais de acesso e uso do recurso,os quais desaparecem, graças às operaçõesmediadas pela articulação das metáforas deinclusão acima mencionadas.

O segundo elemento é a concepção deinescapabilidade forjada pelos propositoresda Gestão Racional de Águas com Base naCobrança, a qual esconde os interesses deum mercado de fornecedores de águacrescentemente competitivo e lucrativo.

Tendo como obstáculo concreto a de-finição da água enquanto recurso comum,objeto de políticas estatais de bem estar soci-al, a potencialização da competição entre osfornecedores de recursos hídricos origina umpoderoso discurso de defesa do mecanismode cobrança, que depende da redefinição daágua enquanto mercadoria, aludindo aomesmo tempo à racionalidade e à eficiênciaregulatória do mercado.

As preocupações alegadas pelos enun-ciadores do discurso apocalíptico da escassezda água em nível mundial, as agências mul-tilaterais e alguns governos de países desen-volvidos, soam hipócritas, na medida em quesilenciam em relação a aspectos tais como:a) os efeitos da crescente privatização do

setor de recursos hídricos no mundo e doconseqüente encarecimento da conta deágua para consumidores que não podemarcar com os novos valores, a exemplo doacontecido na África do Sul, na Argenti-na e na Bolívia6;

b) as conseqüências do acirramento da com-petição entre corporações de capital pri-vado de recursos hídricos7;

c) o estilo de produção que privilegia o usointensivo de água, à revelia dos outrossetores da vida social;

d) os resultados da poluição das águas cau-sada pela atividade industrial ecológica esocialmente irresponsável8.

Ao silenciar sobre esses pontos acimaelencados, o discurso apocalíptico sobre a

iminente crise hídrica mundial precisa ser to-mado não como uma descrição neutra dasituação, em relação à qual as populações egovernos locais precisam reagir com urgênciae presteza colonizadas. Pensamos que a alter-nativa dos países latino-americanos continuasendo a de superar os altos índices de desi-gualdades sociais em vários campos e tam-bém no do acesso à água de qualidade, cons-truindo mecanismos de regulação que resul-tem na racionalização do acesso e uso do re-curso, sem que sejam atingidos as exigênciasde democratização e da justiça social. Nestesentido, um sistema de controle da apropri-ação dos recursos precisa ser colocado emação, de maneira a estabelecer limites clarosde acesso e uso da água, tanto em referênciaàs estruturas distribuição de água de quali-dade a toda a população, sendo controla-das as quantidades disponibilizadas para osdiversos atores sociais envolvidos, quanto àsregras de uso ecologicamente responsável dorecurso, sendo o caminho da privatizaçãodo mesmo o menos indicado possível!

As justificativas para o estabelecimentoda cobrança a partir da privatização dosetor de recursos hídricos

Os argumentos dos que defendem amercadorização da água como mecanismobásico de regulação da relação oferta-de-manda de recursos hídricos protegem doquestionamento o modo de produção capi-talista, como indutor de uma série de incô-modos no acesso aos recursos hídricos paragrande parte da população mundial, aomesmo tempo em que justificam a obtençãodo lucro nessa área, pela transformação danatureza em mercadoria e os seus conse-qüentes impactos sócio-ambientais perversose imprevisíveis para a humanidade. Vejamosa seguir como se articulam os defensores daadoção de mecanismos de mercado comoestratégia para garantir a sustentabilidadedos recursos hídricos mundiais.

Kelman (2003) entende que a introdu-ção da cobrança pelo uso da água no Brasiltem um caráter positivo, por diversos fatores:primeiro, porque tende a proporcionar umuso disciplinado por parte dos usuários, oque contribui para o aumento da oferta e parao afastamento de uma provável crise de es-

Page 158: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

158 J. B. Silva; D. de S. Ramalho; L. D. Guerra; C. R. P. de Vasconcelos

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

cassez de recursos hídricos; segundo, pordesonerar o Estado, que muitas vezes inves-te na execução de serviços desnecessários àsua alçada. O autor comenta também o de-licado tema dos subsídios na área dos RHs:

(...) Nas últimas décadas, expressivos subsídiosforam carreados para as companhias públicasde saneamento. Entretanto, a maior parte dossubsídios serviu para alegrar empreiteiros, di-minuir o custo do serviço para os mais ricos,compensar a ineficiência operativa e dar vanta-gens aos empregados.(...) Teria sido preferívelque os subsídios fossem condicionados à efeti-va prestação de serviços em benefício daquelesque não conseguem pagar o correspondentecusto ou da comunidade como um todo, princi-palmente para coleta e tratamento de esgotos.Isso resultaria em maior eficácia e transparên-cia (Kelman, 2003).

Ainda para Kelman (idem), o Estadobrasileiro está caduco no que concerne àadministração das políticas públicas de re-cursos hídricos pelo fato de ainda não terconseguido universalizar o acesso e o uso dosmesmos dentro de uma lógica protecionista.Por esse motivo, aponta como alternativa atransferência de responsabilidade do geren-ciamento estatal de recursos hídricos para ainiciativa privada com a finalidade de fazercom que possíveis crises de escassez não ve-nham a acontecer, uma vez que os indiví-duos passarão a regular o acesso pela possi-bilidade que terão em pagá-lo.

Um outro ponto presente na discussãosobre a temática do mercado de recursos hí-dricos é apresentado por Tundisi (2003), deacordo com o qual o valor dos recursos hí-dricos é muito baixo, sendo a permanênciade seus preços atuais, configurada como ir-real em termos mercadológicos, configuran-do um processo de escassez dos mesmos paragrande parte da população nos próximosvinte anos, caso a sociedade não instaure umnovo modelo de acessá-los. Assim se pronun-cia o autor citado:

A água doce é muito barata. Os vários proces-sos econômicos associados ao tratamento e dis-tribuição da água, além das economias de esca-la relacionadas ao suprimento da água, fazemcom que todos os custos da água sejam relati-vamente baratos. Águas municipais custammenos de US$ 0,30 por tonelada métrica, en-quanto areia, provavelmente a mercadoria mi-neral mais barata, custa US$ 3, a tonelada; oferro, US$ 30, a tonelada. No Brasil, a águamunicipal, cujo custo varia, está em torno deR$ 0,40 para R$ 35/1.000m³ para uso doméstico(custo do tratamento) (Tundisi, 2003, p.188).

Autores como Rebouças (2003)9,Berbert (2003) e Senra (2003), além deTundisi (2003), colocam 2025 como o anoem que a crise no abastecimento de recursoshídricos terá início para grande parte da hu-manidade, caso a proposta de gestão racio-nal-mercadológica não seja implementadade maneira eficiente.

Os contra-discursos relativos à óticaprivacionista do mercado de recursos hídri-cos são feitos, destacadamente, por Ramos(2003), Felicidade & Martins(2003). Refutan-do a idéia de penalidade (cobrança) pelodesperdício, defendida por Rebouças (2003),Ramos (2003) não aprova o princípio devaloração da água/mercadoria como estra-tégias capazes de solucionar os problemasda escassez, fazendo com que as crises se-jam estendidas ou eliminadas.

A argumentação de Petrella (2003)também vai na direção de Ramos (2003) enos estimula a subverter a ordem do discur-so profético, diante da qual se constroem asidéias de terrorismo da escassez e da segu-rança da privatização. O autor questiona asvantagens da implementação das diretrizesdo mercado de recursos hídricos no Brasil,seguindo o modelo dos Grupos Vivendi, Sueze RWE, apontando alguns dados da evolu-ção da competição entre fornecedores deprodutos hídricos:

Após a privatização da água no Reino Unido,em 1989, as companhias britânicas na área (ini-cialmente oito, mas reduzindo-se a cinco atra-vés de aquisições e fusões) começaram a se in-teressar pelos mercados internacionais, especi-almente a Severn-Trent e a Thames Water. Noentanto, elas ainda estão bem atrás das corpo-rações francesas, assim como as norte-america-nas (tais como a Bechtel), as alemãs e as japone-sas. No momento, a presença mundial daLyonnaise des eaux é única (veja tabela seguin-te), porém, em 1998 e 1999, a Vivendi conquis-tou um grande número de mercados estrangei-ros e agora não está tão atrás da Lyonnaise (...)À medida que mais cidades vão privatizando adistribuição da água, as oportunidades de lu-cro aumentam; daí o crescente interesse do ca-pital privado em tomar conta do subsetor deágua potável. Para tomar apenas o exemplo daLyonnaise des eaux, o número de grandes cida-des que confiaram a essa companhia o geren-ciamento de sua água e/ou do meio ambientevem crescendo a um ritmo rápido. Só em 1997 e1998, as seguintes quatorze cidade tomaram essainiciativa (Petrella, 2003, pp.101-104).

Martins & Felicidade (2003) tambémse posicionam contrários ao princípio da

Page 159: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

159As concepções da escassez de recursos hídricos no Brasil e no mundo: a saída é a cobrança?

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

cobrança e acreditam que a introdução des-se mecanismo mercadológico de regulaçãoda apropriação da água, construída comouma mercadoria rara significa colocar aspolíticas referidas a esse recurso sob os di-versos interesses do mercado. De acordo comesses autores, ao centralizar a análise exclu-sivamente no uso econômico individual dosrecursos naturais, deixa-se de apreender arelação existente entre a sociedade e a natu-reza como processos históricos, dotados dedinâmicas que ultrapassam a ação isoladados agentes econômicos. Esses autores ex-pressam assim sua opinião a respeito damercantilização da água e são cautelososquanto à profecia que preconiza o fim doestoque de recursos hídricos para as próxi-mas gerações:

(...) Submeter o acesso à água a relações lógicasde mercado significa não só privatizar emercantilizar o ciclo hidrológico natural, mastambém criar relações de domínio sobre as pos-sibilidades de reprodução tanto dos novos ex-cluídos do acesso ao recurso quanto de outrasespécies naturais. Desse modo, a criação demercados de direitos de água não é uma formaalternativa de gestão dos recursos hídricos, masuma nova frente para investimentos e acumu-lação de capital, mantendo, evidentemente, to-das as características excludentes que o proces-so resguarda (Martins & Felicidade, 2003, p. 33).

Ao contrário da visão técnico-instru-mental de Rebouças (2003) e Kelman (2003),Martins & Felicidade (2003), continuam ainterpretar como questionável o papel doestabelecimento do mercado de recursos hí-dricos e da introdução da lógica da aborda-gem mercantilista na gestão do acesso e usoda água, afirmando os perigos e as limita-ções dessa abordagem que propõe evitar acatástrofe no que se refere ao acesso aos re-cursos hídricos, nos seguintes termos:

Para ilustrar, diríamos que, encerrando a capa-cidade de interação do homem/empresa com anatureza/recurso em um campo racional mi-nuciosamente calculado para o consumo e olucro, a economia neoclássica despreza, em seuformalismo, elementos relevantes na constitui-ção da vida social-como a diversidade culturale os fundamentos das estruturas sociais de po-der-, os quais são passíveis de determinar pre-ços e influenciar, por exemplo, comportamen-tos do mercado ( Martins & Felicidade, 2003).

Para Ribeiro (2003), é verdade que osrelatórios Global Environment Outlook 2000 e2003, das Nações Unidas, divulgados recen-temente, indicam que a escassez de água será

um grave problema nas próximas décadas.Porém, a “novidade” que Rebouças et al(2003) não mencionam é o conteúdo que osdocumentos revelam, ou seja, a falta de águaem países ricos, como Estados Unidos (naCalifórnia, Novo México, Texas e Flórida),França e Itália, dentre outros, para um perío-do próximo e não nos países pobres10.

Ainda segundo Ribeiro (2003) isso ex-plica a preocupação atual com a gestão derecursos hídricos em escala internacional naúltima década e a pressão exercida sobrepaíses como o Brasil para a intensificação docomércio de Recursos Hídricos com os refe-ridos países nos quais a crise de abastecimen-to já é uma realidade. Nas palavras do au-tor citado:

O elevado excedente hídrico brasileiro, estuda-do por diversos especialistas na obra organiza-da pelo geólogo Aldo Rebouças (2002), permi-te avaliar que, sanados os problemas de abaste-cimento da região semi-árida e de elevadas con-centrações urbanas, como na Grande São Pau-lo, ou mesmo em áreas de intenso usoagropecuário, como o Pontal do Paranapanema,também no Estado de São Paulo, o país podetornar-se fornecedor de água doce para outros,exportando essa substância fundamental à exis-tência humana. Porém, não custa lembrar quede certo modo isso já ocorre por meio da co-mercialização para outros países de produtosagrícolas, os quais utilizam água em seu desen-volvimento. O comércio da água em escala in-ternacional envolve diretamente os grandesgrupos de capital privado, dos quais três se des-tacam: os franceses Vivendi e Suez e o ThamesWater, de origem inglesa, recentemente incor-porado ao grupo RWE, da Alemanha (Ribeiro,2003, pp. 71-72).

Ao quadro acima apresentado se adi-ciona um conjunto de tensões11 em torno daapropriação e distribuição de recursos hídri-cos no mundo, principalmente em lugaresonde o nível de consumo tem uma dinâmicaprogressiva a exemplo dos Estados Unidos.A direção que o debate tem tomado, deter-minada pela influência das grandes corpo-rações do hidronegócio, aponta para umarota de turbulências para os consumidorescuja capacidade de circular no mercado deáguas é restrita.

De acordo com Robert Kurz (2002), ou-tro sociólogo que questiona a inflexão pro-posta pelos enunciadores do discurso apoca-líptico da iminente crise mundial de água,as formas de apropriação desordenadas dosrecursos hídricos por parte da propriedade

Page 160: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

160 J. B. Silva; D. de S. Ramalho; L. D. Guerra; C. R. P. de Vasconcelos

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

privada moderna, tende a obstaculizar cadavez mais o acesso democrático aos mesmos.Vale a pena citar seu comentário a propósi-to da situação em Cochabamba, na Bolívia:

A privatização do abastecimento de água nacidade boliviana de Cochabamba, que, por de-terminação do Banco Mundial, foi vendida auma “empresa de água” norte-americana, mos-tra o que ainda nos espera. Em poucas semanas,os preços foram elevados a tal ponto que mui-tas famílias tiveram de pagar até um terço dosseus rendimentos pela água diária. Juntar águada chuva para beber foi declarado ilegal, e aoprotesto respondeu-se com o envio de tropas.Logo também o sol não brilhará de graça. Equando virá a privatização do ar que se respi-ra? O resultado é previsível: nada funcionarámais, e ninguém poderá pagar. Nesse caso, ocapitalismo terá de fechar tanto a naturezacomo a sociedade humana por “escassez de ren-tabilidade” e abrir uma outra.(Kurz, 2002: Ca-derno Mais, Jornal Folha de São Paulo.)

Analisando a proposta de encarar aágua como uma mercadoria comum e atri-buir-lhe um preço como solução para even-tuais problemas presentes e futuros de abas-tecimento, Veiga (1996) afirma que caso nãoseja efetivada uma mudança na redefiniçãodo consumo orientado pelo mercado, o quepode ocorrer é o melhoramento de um estilode acesso parcial para um pequeno grupo eum estanque na otimização do acesso cole-tivo aos recursos naturais, particularmenteem relação aos recursos hídricos.

Para Machado (2004), um outro autorque discute o equacionamento dos problemasligados à questão dos recursos hídricos pelavia participativa, acreditando que os confli-tos tenderão a ser dirimidos a partir de umconsenso intersubjetivo, o acesso à água dequalidade constitui-se num dos fatores vitaisà sobrevivência de um país no que se refereà saúde pública e à geração de riquezas.Para que esse recurso venha a ser disponibi-lizado de forma eficiente, se faz necessária aimplementação de uma participação integra-da entre os diversos segmentos da socieda-de. Por isso, o autor considera como medidaessencial a ser adotada pelo governo e pelasociedade uma atitude nova frente ao uso dosrecursos hídricos, no espaço em que a baciahidrográfica passa ser a unidade territorialde gestão em substituição às outras unida-des político-administrativas, historicamenteestabelecidas, a partir da tomada de deci-sões centralizada e tecnocrática.

No campo da sociologia brasileira,Sader (2005) é um autor que inova em rela-ção à discussão da temática dos recursos hí-dricos enquanto um bem que passa a ter seuvalor de troca hipertrofiado no mercado. Oreferido autor coloca como condição sine quanon para que se construa um acesso iguali-tário à água de qualidade, a necessidade dasociedade brasileira resistir tenazmente àlógica instrumental do mercado de recursoshídricos em gestação, trabalhando para ado-tar um modelo de gestão que seja diferenci-ado das diretrizes da lógica mercadológicae baseado num princípio solidário. Sader(2005) se pronuncia da seguinte forma emrelação à cobrança pelo uso de recursos hí-dricos no Brasil:

Apesar de campeão mundial dos recursos hí-dricos, grande parte da população do Brasil so-fre com a escassez de água. Apesar do fracassoem diversas regiões, a política de privatizaçãodos serviços segue na ordem do dia. É precisoresistir. (...) De olho na crise da água na Améri-ca Latina, muitas empresas privadas européiasbuscam assumir os serviços de abastecimentopúblico de países da região, incluído o Brasil.Em geral são filiais locais das três principaiscorporações de serviços de água: as empresasfrancesas Suez e Vivendi e alemã RWE-Thames,que juntas fornecem serviços de água correntee saneamento a 300 milhões de clientes em maisde 130 países. (...) Seguindo o Uruguai, seria umbom tema para que os brasileiros se pronunci-em em plebiscito antes que a privatização daágua seja uma realidade universal (Sader, 2005In Agencia Carta Marior).

Esse autor também defende que os ser-viços de gerenciamento e distribuição de re-cursos hídricos no Brasil devem ser executa-dos pelo Estado, justificando que ninguémpode ser privado deste bem e nem mesmoda participação nos canais de negociaçãoque garantem água para todos. Concordan-do com a reflexão do referido autor, defen-demos o princípio de que a transferência deresponsabilidade do controle de abasteci-mento de água estatal para a iniciativa pri-vada longe de funcionar para o bem de to-dos, pode criar condições para que aumen-tem os privilégios já estabelecidos no Brasilem outras áreas12.

Sader (2003) chama ainda a atençãopara o fato de que aceitar a mercadorizaçãoda água significa justificar a ordem instru-mental do mercado de recursos hídricos numcontexto em que um modelo de estratifica-

Page 161: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

161As concepções da escassez de recursos hídricos no Brasil e no mundo: a saída é a cobrança?

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

ção social no qual se observam uma assime-tria muito profunda, o que pode significar ofavorecimento daqueles poucos que podemdesfrutar das vantagens que são oferecidaspela hierarquia construída na sociedade ca-pitalista. Esse argumento é fortalecido naabordagem de Martins & Felicidades (2004,p. 34), como apresentado a seguir:

O impacto que a criação de mercados de águatraz parra o exercício da cidadania precisa serconsiderado urgentemente, sobretudo porqueo cidadão está acima do consumidor no queconcerne às garantias constitucionais de prote-ção dos direitos. Conforme mostra Castro(1998), os direitos sociais, como educação, saú-de, proteção contra indigência, dentre outros,constituem as condições mínimas para a parti-cipação plena de qualquer indivíduo em suacomunidade e assim também para o exercícioefetivo dos direitos e das obrigações da cidada-nia civil e política. Sem os direitos sociais reais(e não somente formais), a população que nãopossui condições de comprar educação, a saúdee- no caso em questão- a água em mercados,fica excluída também da cidadania civil e polí-tica. Nesse sentido, mesmo a simples cobrançapelo uso da água já traz consigo a possibilidadede gerar novos excluídos sociais.

Para entendermos adequadamente aquestão da escassez de recursos hídricos nomundo, é necessário considerar os dadossobre as taxas de consumo associadas a pa-íses, aos setores das atividades econômicas eaos estratos sociais específicos. Vale a penatambém considerar para quem e em quemedida é proposto o uso racional em termosde uso racionado da água como pré-requisi-to capaz de evitar a escassez. O modelo pro-posto pelos Estados Unidos para racionar osrecursos naturais/hídricos, associa-se a umprincípio controverso de acordo com o qualse deve, a todo custo, diminuir o consumode recursos hídricos por parte dos consumi-dores na América Latina, África e Ásia, en-quanto as suas taxas atuais de uso de águadevem ser mantidas e até aumentadas.

Argumentamos no sentido de que,caso não haja uma reversão no modelo degerenciamento de recursos hídricos, passan-do de um que dá ao mercado livre espaço,para outro que implemente um gerenciamen-to estatal, recolocando a esfera da cidada-nia no conjunto de visões e ações a defendernos países nos quais amplos setores da po-pulação se encontram em níveis muito acen-tuados de pobreza, torna-se-á cada vez maispreocupante a desigualdade de acesso aos

recursos hídricos nos países periféricos.Vivemos atualmente, a ausência de um

modelo de gestão que seja capaz de formu-lar um contrato social capaz de possibilitarà sociedade um acesso e uso mais eficiente ehumanista na área dos recursos hídricos.Diante da ausência de um modelo de gestãopública competente de recursos hídricos, fi-camos vulneráveis às concepções teóricasconservadoras que se sobrepõem no momen-to, limitadas em suas proposições de melho-ria de acesso e uso satisfatório de recursoshídricos aos diferentes consumidores, pelofato de desconsiderar o contexto histórico noqual os indivíduos se encontram.

Como principais conclusões a que che-gamos neste trabalho, destacam-se as se-guintes:– A proposta apresentada pelos teóricos de-

fensores da mercadorização, que prevê aescassez hídrica mundial como inevitável,apresentando a transformação dos recur-sos hídricos em mercadoria como mecanis-mo de regulação da relação ente oferta eprocura do recurso, é limitada como ins-trumento capaz de assegurar o acesso e usoaos diferentes estratos sociais em quanti-dade e qualidade num contexto que nãoreferencia a dinâmica da acumulação e daprodução de mercadorias no atual siste-ma capitalista.

Ao nosso ver, a catástrofe que poderáocorrer não se refere à escassez de água emnível mundial, mas advém da ameaça pro-porcionada pela privatização das companhi-as de água, elevando e repassando conside-ravelmente o preço aos consumidores quenão podem pagar e enquadrando o acessode recursos hídricos à lógica instrumental domercado;– Existem ambigüidades nas percepções que

os diferentes atores sociais constróem emrelação aos problemas ambientais em ge-ral e aos observados na área dos recursoshídricos. O discurso apocalíptico a respei-to de uma iminente crise mundial da águamobiliza símbolos, mitos e crenças que searticulam no sentido de proteger interes-ses particulares envolvidos na transforma-ção da água em mercadoria.

– Há, no momento, um avanço considerá-vel em relação aos níveis de desigualdadeno acesso e uso aos recursos hídricos para

Page 162: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

162 J. B. Silva; D. de S. Ramalho; L. D. Guerra; C. R. P. de Vasconcelos

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

os consumidores de baixa renda na Amé-rica Latina, na África e na Ásia;

– Uma abordagem sociológica das questõesenvolvendo o manejo e controle dos recur-sos hídricos em nível mundial se faz maisdo que nunca necessária, para que possa-mos entender o contexto e o porquê daconsensualização em torno da abordagemanti-intervencionista.

– Existe uma timidez por parte dos regula-dores de recursos hídricos no Brasil emassumir um contra-discurso diante da im-posição da abordagem que propõe a co-brança pelo uso dos recursos hídricos, dei-xando os critérios de regulação do setor derecursos hídricos nas mãos dos técnicos enas justificativas impostas pelas agênciasmultilaterais.

Notas:1 Segundo o artigo 19, da Lei nº 9.4333, de 8 de janeiro

de 1997, a cobrança pelo uso de recursos hídricos ob-jetiva: I) reconhecer a água como bem econômico edar ao usuário uma indicação de seu real valor; II)incentivar a racionalização do uso da água; c) obterrecursos financeiros para o financiamento dos pro-gramas e intervenções contemplados nos planos derecursos hídricos.

2 Courrier Internacional, n. 505, julho de 2000, p.30.3 Jan Mazurak. Making microchips: Policy,

globalization and economic restructuring in thesemiconductor industry. MIT Press, 1999.

4 Blaine Harden e Douglas Jehl. “Pumps extract gasand ranchers’anger”. The New York Times, 12-13 deJaneiro de 2003.

5 Gerard Moatti. Lês Echos, 29 de abril de 1999.6 As seis mortes ocorridas em Cochabamba, resultan-

tes dos conflitos entre consumidores e policiais, quan-do a água foi privatizada; as epidemias de cólera naÁfrica geradas em decorrência da privatização daágua que inviabilizou o pagamento das faturas pelosconsumidores.

7 Considerados o grande negócio do século XXI, osserviços de saneamento básico são disputados feroz-mente pelas grandes multinacionais do setor, de olhonum mercado potencial de US$ 400 mil milhões porano. São francesas as duas maiores do mundo – VeoliaEnvironnement (nascida da gigante Vivendi Univer-sal) e Grupo Suez (antiga Lyonnaise des Eaux). Juntasoperam 80% dos serviços em seu país de origem eestão presentes em todos os continentes, inclusiveAmérica do Sul. Em 2004, a Veolia faturou • 24,6 milmilhões; a Suez, • 40,7 mil milhões. Muito mais quecompetência técnica, conforme afirma a propagandadas sofisticadas brochuras distribuídas pelos agentesda privatização, o segredo do êxito está em práticasimpublicáveis. Ou eram assim até o lançamento dolivro Les véritès inavouables de Vivendi (As verda-des inconfessáveis da Vivendi), de autoria do sindi-calista Jean Luc Touly. Também presidente da seção

francesa da Associação pelo Contrato Mundial daÁgua, no início de março, ele esteve no Brasil a con-vite do Governo do Paraná – que disputa o controleda Sanepar com o consórcio liderado pela Vivendi-Veolia – e relatou parte dessas manobras. No dia 8,participou em São Paulo de debate sobre o tema, re-alizado pelo Sintaema (Sindicato dos Trabalhadoresde Água, Esgoto e Meio Ambiente), com apoio doSEESP, IMG (Instituto Maurício Grabois) e outras en-tidades.

8 Sobre esse tema, ver, por exemplo, Bouguerra (2004),segundo o qual a estimativa atual é a de que 40% dosrios estejam poluídos no referido país e que 3,5 mi-lhões de pessoas, corram um alto risco de contrairalgum tipo de câncer nos próximos anos. Um outroponto problemático em relação à contaminação daágua nos Estados Unidos é que o arsenal tecnológicocapaz de operacionalizar a disponibilização de umaágua potável aos consumidores em geral, não estásendo usado, uma vez que a solicitação dos produto-res de cloro e dos industriais de madeira, tidos comoos maiores financiadores da campanha de Bush, foiaceita pela justiça daquele país, impedindo o EPA deimpor uma diminuição nas taxas de poluentes lança-das nos rios que são altamente cancerígenos.

9 Rebouças (2003) apresenta, como outro elemento deuma proposta de gestão de água para que evitemos acrise prevista um exemplo considerado por ele comoeficiente na Europa e que deveria, ao seu ver, seraplicado no Brasil com intuito de fazer com que osrecursos hídricos não se transformem em algo escas-so num futuro próximo: Na Inglaterra e na Europacomo um todo, em geral as perdas por vazamentosou roubos (os chamados ‘gatos’) chegam a no máxi-mo 20%. É que, lá, a concessionária tem poder depolícia e, se detecta um vazamento, autua o respon-sável. Aqui, só é feito um registro. A SABESP é con-cessionária estatal e movimenta muito dinheiro e,com isso, possui um poder político muito forte. Nãoexiste penalidade nenhuma para a ineficiência e odesperdício de água no Brasil (Rebouças, 2003, p. 32).

10 “Entre os 30 primeiros países em disponibilidadehídrica, de um total de 180 analisados no documentode2003, apenas Canadá, Noruega e Nova Zelândiasão considerados de renda elevada. O Brasil aparecena 25ª posição, com 48.314m³ per capta/ano. Ribeiro(2003: 71).

11 “No oriente Médio, a tensão pelo acesso à água en-volve Israel, Palestina, Síria, Jordânia, Egito, Turquiae Iraque” (cf. Ribeiro, 2003:74).

12 Em relação aos perigos da privatização do controledos recursos hídricos vale a pena conhecer o exem-plo apresentado por Petrella (2003), referindo-se àsituação enfrentada em 1997, na cidade de Manilha,atual capital das Filipinas: Essa transferência de res-ponsabilidades foi importante por dois motivos. Emprimeiro lugar, foi a negociação sobre a água demaior vulto que já ocorreu em qualquer parte domundo, envolvendo um investimento de pelo me-nos US$ 7,5 bilhões e reforçando a tendência crescen-te de que a propriedade, a apropriação, o gerencia-mento e a utilização da água em cidades importantesde países subdesenvolvidos passem para o controlede empresas privadas (outros exemplos incluem aCidade do México, Hanói, Buenos Aires, Casablanca

Page 163: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

163As concepções da escassez de recursos hídricos no Brasil e no mundo: a saída é a cobrança?

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

e Moscou). Em segundo lugar, Manilha descobriu queaplicavam a ela o princípio de que o pobre paga pelaágua do rico, pois o primeiro grupo de empresaspropôs-se a cobrar ao leste de Manilha (a parte maisrica da cidade, onde se localiza o distrito comercial)o preço de 7 centavos de dólar por metro cúbico,enquanto que o segundo grupo anunciou que vende-ria a água a 14 centavos de dólar por metro cúbico.Além disso, ambos os preços estavam bastante abai-xo daquele pago anteriormente pelos residentes maisricos de Manilha (aproximadamente 28 centavos dedólar por metro cúbico) (Petrella, 2003, p.29).

Referências

BOUGUERRA, Mohamed Larbi. As batalhas da água –por um bem comum da humanidade. Tradução de JoãoBatista Kreuch. – Petrópolis, RJ: Vozes. 2004.

BERBET, Carlos Oití. O Desafio das Águas. In:MARTINS, Rodrigo set al (orgs.). Uso e gestão dos recur-sos hídricos no Brasil. São Carlos: RiMa pp.81-95. 2003.

KELMAN, Jerson. Uma proposta: cobrar pela águaconfiável. http://www.ana.gov.br. Consultado em:20/10/2003.

KURZ, Roberto. A Privatização do Mundo. CadernoMais da Folha de São Paulo. São Paulo, 14/2. 2002

LEI nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Dispõe sobre aPolítica de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacionalde Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamentao inciso XIX do Art. 21 da Constituição Federal, e alte-ra o Art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, quemodificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

LIMA, Guilherme &. MAUAD, Frederico Fábio Plane-jamento estratégico do sistema de recursos hídricos.In: Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil: desafiosteóricos e políticos-institucionais (orgs.) MARTINS,Rodrigo & FELICIDADE, Norma, São Carlos: RiMa,2003.

MACHADO, Carlos. A questão da água brasileira fren-te à Engenharia Ambiental e à cultura administrativade forte tradição centralizadora e tecnocrática. Dispo-nível em www.sbpcnet.org.br/jc, consultado em 15-10-2004.

MARTINS, Rodrigo & FELICIDADE, Norma. Uso e ges-tão dos Recursos Hídricos no Brasil: desafios teóricos epolítico-institucionais. São Carlos: RiMa, 2003. Volu-me I. 2003.

MARTINS, Rodrigo et al. Uso e gestão dos RecursosHídricos no Brasil II Velhos e novos desafios para a cidada-nia. São Carlos: RiMa, Volume II. 2004.

BELLO, Érika Dal & FELICIDADE, Norma. Impactosda Política de Cobrança dos Recursos Hídricos sobreas Indústrias dos Municípios de São Paulo e Campinas.In: MARTINS, Rodrigo & FELICIDADE, Norma (orgs.).Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil/DesafiosTeóricos e Político-Institucionais. São Carlos: RiMa, volu-me 1, pp. 171-186. 2004.

PETRELLA, Ricardo. O manifesto da água: argumen-tos para um contrato mundial/tradução de Vera LúciaMello Joscelyne, 2ª edição, Petrópolis: Vozes, 2003.

RAMOS, Pedro. Desenvolvimento, Excedente, Desper-dício e Desigualdade: A Insustentabilidade do NossoModo de Vida. In: MARTINS, Rodrigo & FELICIDA-DE, Norma (orgs) Uso e gestão de recursos hídricos/Desafios Teoricos e Político Institucionais. São Carlos:RiMa, volume 1, pp. .35-51. 2003.

RIBEIRO, Wagner Costa. Água doce: conflitos e segu-rança ambiental. In: MARTINS, Rodrigo & FELICIDA-DE, Norma (orgs) Uso e gestão de recursos hídrico. SãoCarlos: RiMa, volume 1, pp. 71-77. 2003.

RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacio-nal. São Paulo: Contexto, 2001.

REBOUÇAS, Aldo et al . Água doce no Brasil: Capital Eco-lógico, uso e conservação. São Paulo: Escrituras Editora,1999.

SADER, Emir. Água de Beber.www.agenciacartamaior.com.br, consultado em 20/03/2005.

SENRA, João Bosco. Água o desafio do terceiro milê-nio. In VIANA et al (orgs). o desafio da sustentabilidade:um debate sócio-ambiental no Brasil. São Paulo: EditoraFundação Perseu Abramo, pp. 133-144.

SETTI, Arnaldo Augusto. A Introdução ao Gerencia-mento de Recursos Hídricos. Brasília: Agência Nacio-nal de Energia Elétrica,-ANNEL: Agência Nacional deÁguas- ANA. 2001.

SILVA, Jairo Bezerra. As transformações do estado esuas implicações sobre as políticas públicas no Brasil:o caso dos recursos hídricos. Dissertação (Mestrado)-UFCG/UFPB, 2003.

TUNDISI, José Galizia. Água no Século XXI: enfrentan-do a escassez. –São Carlos: RiMa. 2003.

VARGAS, Marcelo C & PAULA, Gabriela de. (2003),“Introdução à percepção social da água: estudos de casono interior paulista” In: MARTINS, Rodrigo et al (orgs.).Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil. São Car-los: RiMa, pp.127-147.

UDAETA, Maria Esther. Os Donos da Água. http://resistir.info, contato em 23/06/05 Tradução de Marga-rida Ferreira. 2005.

Page 164: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS
Page 165: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

¿Son gobernables las metrópolis? Nuevo paradigma social y Las “luchas” socialespor los servicios en México como una redefinición del espacio político*

Are the metropolis governable? New social paradigm and the “social fights” for thepublic services in Mexico as a redefinition of the political space

Les métropoles sont-elles gouvernables ? Nouveau paradigme social et « luttes »sociales pour les services à Mexico comme redéfinition du politique

São governáveis as metrópoles? Novo paradigma social e as “lutas” sociais pelos serviços noMéxico como uma redefinição do espaço político

Felipe de Alba**

Recebido em 25/10/2005; revisado e aprovado em 11/11/2005; aceito em 31/01/2006.

Resumen: En las últimas décadas, aparece una nueva polarización del sistema-mundial, que se rige cada vez menospor el Estado, antes concebido como el principal territorio de la regulación económica aparece, dando lugar a lametropolización y el surgimiento de megalópolis a escala planetaria. Así, en este texto discutimos la gobernabilidadde los servicios en México, analizando el nuevo paradigma de las luchas sociales que tiene lugar en su seno, como unode los resultados y efectos de la mundialización, acumulando nuevas tensiones y desigualdades en su espacio socialy político. Palabras clave: Metropolización; México; mundialización; paradigma social; movimientos sociales.Abstract: During the last few decades, a new polarization of the world system appears. This polarization prevailedless and less by the State before conceived as the main space of the economic regulation. In consequence themetropolisation and the sprouting of megalopolis on planetary scale appeared. In this article we discussed thegovernability of the public services in Mexico by analyzing the new paradigm of the social fights as one of the resultsand effects of the globalization which accumulate new tensions and inequalities into its social and political space.Key words: Metropolisation; Mexico City; global process; social paradigm; social struggles; public services.Résumé: Dans les dernières décennies, une nouvelle polarisation du système mondial s’est effectuée, chaque foismoins gérée par l’État, précédemment conçu comme le principal territoire de la régulation économique, et qui a donnélieu à la métropolisation et à l’apparition de mégalopoles à l’échelle planétaire. Dans ce texte nous examinons lagouvernabilité des services à Mexico en analysant le nouveau paradigme des luttes sociales qui ont lieu sur sonterritoire, lesquelles sont les résultats et les effets de la mondialisation, soit l’accumulation de nouvelles tensions etinégalités dans son espace social et politique.Mots clés: Métropolisation ; Mexico;mondialisation; paradigme social luttes sociales; services publics.

Resumo: Nas últimas décadas, aparece uma nova polarização do sistema mundial, regido cada vez menos peloEstado, antes concebido como o principal território da regulação econômica, dando lugar à metropolização e osurgimento de megalópolis à escala planetária. Assim, neste texto discutimos a governabilidade dos serviços noMéxico, analisando o novo paradigma das lutas sociais que tem lugar em seu seio, como um dos resultados e efeitosde mundialização, acumulando novas tensões e desigualdades em seu espaço social e político.Palavras-chaves: Metropolização; México; mundialização; paradigma social; movimentos sociais.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 165-176, Mar. 2006.

* Este texto es resultado parte de una investigación de doctorado sobre la geopolítica y el conflicto por los serviciosen la metrópoli de México.** Grupo de Interdisciplinario de Investigación Latinoamérica Urbana en Montreal - Institut d’Urbanisme Bureau3050, Faculté d’Amenagement 343-61-11 Ext. 3501, Université de Montréal. C.P. 6128 succ. Centre-ville Montréal(Québec) – H3C 3J7. Tél : (514) 343-7294 Fax : (514) 343-2183 – Canadá. ([email protected]).

Una nueva polarización del sistema-mundial, el cual, hoy en día, se rige menospor el Estado, antes concebido como el prin-cipal territorio de la regulación económicaaparece. El mundo vive una redefinición delos lugares centrales en provecho de lasmetrópolis, las cuales logran instaurarse enla cima de una nueva jerarquía urbana. Lametropolización y el surgimiento demegalópolis a escala planetaria constituyenprocesos de gran importancia para las soci-edades contemporáneas, sobre todo en la

segunda mitad del siglo XX, y masrecientemente, como uno de los resultados yefectos de la mundialización, acumulandonuevas tensiones y desigualdades en elespacio social y político de las mismas (DeAlba y Jouve, 2005).

Así, la primera condición paraalcanzar dicho status, es integrarse a losflujos globales que estructuran y fomentanel capitalismo avanzado (finanzas,actividades económicas de intermediación,investigación y desarrollo, etc.). Desde la úl-

Page 166: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

166 Felipe de Alba

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

tima década, antes de que se desarrollara elinterés en las ciudades de los países endesarrollo, esta modificación de nuestrasreferencias geopolíticas y el surgimiento deciudades globales habían sido objeto de im-portantes discusiones principalmente sobrelas ciudades de países desarrollados (Sassen,1991). Hasta hace algún tiempo, era claroque el crecimiento demográfico de éstos úl-timos, permitía atribuirles innegablemente latipología de megalópolis.

Pero, en parte debido a un relativoetnocentrismo que conduce a privilegiar elanálisis de las ciudades del “Norte” (Gugler,2003), la inserción de las ciudades de lospaíses en desarrollo en los flujos globales dela nueva economía era subestimada. Dichasituación ha sufrido cambios profundos.

Siguiendo con ello una fuertetendencia, la integración de las ciudades del“Sur” en la mundialización opera a partirdel debate de las relaciones deinterdependencia que vinculaban estasciudades con su fundamento “natural”: suterritorio nacional. Es el caso particular dela ciudad de México.

La crisis económica que conoció el paísen 1982, condujo a una evidente disminuciónde la actividad industrial en México en laépoca derivado de la incapacidad del Bancocentral mexicano para hacer efectivo el re-embolso de la deuda contraída conacreedores extranjeros. La integración con-tinental y el desplazamiento del núcleo in-dustrial del país hacia la frontera de los Es-tados Unidos, dentro del marco del Tratadode Libre Comercio de América del Norte(TLCAN, por sus siglas en español),aceleraron este proceso. No obstante, la zonametropolitana de México sigue siendo elnúcleo de concentración industrial del país.

Al mismo tiempo, las actividades delsector terciarios y el desarrollo de Méxicocomo un centro bursátil, como vectores dela metropolización e inserción en los flujosfinancieros globales contribuyeron a latransformación del sistema económico me-tropolitano (Parneiter, 2002), entre otros. Lostrabajos más recientes que permiten unaclasificación de las metrópolis en función desu grado de internacionalización, muestranque México forma parte de las ciudadesglobales de segundo nivel, posicionándose

detrás de ciudades como Londres, París,Tokio, Nueva York, Toronto, pero adelantede Boston, Dallas, Ginebra, Berlín.

En los hechos, México participa plena-mente en el proceso de mundialización queconduce a una aceleración y unaintensificación de intercambios entre algunasciudades globales, entre las cuales empero,existe una clara jerarquía (Sassen, 2002).

Este articulo aborda otra realidad deesta dinámica, concentrándose más en lastransformaciones sociopolíticas que, en lascausas de la inclusión de México en lamundialización, Como eje de investigaciónsostenemos que dichas transformacionessociopolíticas condujeron estos últimos añosa un trastorno del aparato político metropo-litano.

En efecto, si nos posicionamos en elextendido fenómeno de la mundialización,la particularidad de las ciudades endesarrollo reside, en gran parte, en el hechode que la mundialización opera dentro delmarco de una transformación inherente a losmecanismos y a las modalidades deregulación entre los Estados-nación y lassociedad civil (Gugler, 2004).

Los Estados-nación no son solamenteactores claves de la internacionalización desus metrópolis, llevadas a cabo por mediode políticas neoliberales cuyas consecuenciassociales son a menudo desastrosas. Los Es-tados-nación deben establecer acuerdos conlos movimientos sociales y las poderosasdinámicas políticas partidarias que ponen endiscusión dicha agenda político nacional.

Este doble proceso, puesto en prácticaen un gran número de paíseslatinoamericanos actualmente, conduce ahacer de estas metrópolis, territoriosfundamentales de la controversia de la agen-da neoliberal. En ellos, se desarrollan las pro-testas urbanas radicales en respuesta a laexclusión social, a la extrema pobrezaprevaleciente en estas ciudades. En este sen-tido, México ocupa un lugar de gran enver-gadura que tiene consecuencias políticaslocales y sobre todo esencialmentenacionales. Llegada al poder en 1997, unanueva elite política progresista fue elegidapor la cabecera de una nueva institución -elGobierno del Distrito Federal- que hasta estemomento, estaba constituida por una

Page 167: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

167¿Son gobernables las metrópolis? Nuevo paradigma social y Las “luchas” sociales porlos servicios en México como una redefinición del espacio político

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

administración controlada directamente porla Presidencia de la República y dirigida porun alto funcionario.

En dicho sentido, la ciudad de Méxicorepresenta actualmente un territorio deexperimentación para la elite política mexi-cana. Aquí suponemos que, sin rechazarcompletamente las prácticas clientelares,características del régimen político mexica-no desde la revolución de 1917, dicha elitepolítica intenta encontrar una “tercera vía”entre la opción de un neoliberalismopracticado desde finales de los años ochentay un Estado benefactor controlado durante70 años por la mano de hierro del PartidoRevolucionario Institucional (PRI).

Nuevos polos del conflicto social ypolítico en las metrópolis

México, la cuarta megalópolis del mun-do, con sus 22 millones de habitantes, sepresenta como un caso de macrocefalia ur-bana típica de los países latinoamericanos(Semmoud, 2001). México cuenta con másdel 20% de la población nacional y conalrededor del 30% del PIB nacional. Tantopor los recursos concentrados en suterritorio, así como por las dinámicas socialesy políticas que actúan en el mismo, Méxicohabía sido el polo estratégico del régimenpolítico mexicano, uno de los más establesde toda América Latina durante el siglo XX:una estabilidad comprendida por algunoscomo una forma de “dictadura perfecta”1.

En gran parte, la ciudad ha sido elprincipal laboratorio de transformación delEstado mexicano durante estos últimosveinte años. Este periodo se ha concretizadopor la aplicación de la agenda neoliberal, lapolémica de la legitimidad funcional de unEstado históricamente muy hábil ante lagestión de algunos acontecimientos catastró-ficos y la manifestación de nuevos actorespolíticos y sociales que modificaronsustancialmente la escena política local ynacional. México es a la vez el crisol y ellaboratorio de estas transformaciones.

México representa un caso típico de laexplosión demográfica que han experimen-tado buen número de metrópolis del Surdurante los cincuenta últimos años. Diver-sas variables históricas y estructurales se

combinaron para conducir a esta dinámicaincitada por la llegada masiva de poblaciónrural e indígena atraída por la imagen delprogreso y de justicia social, con el cual elgobierno federal dotó a la ciudad. En efecto,una de las particularidades régimen políticoreside en el vínculo orgánico entre el Estadofederal, controlado por un partido políticodominante (el Partido Revolucionario Insti-tucional - PRI) y la creación, desde 1928, delDistrito Federal.

El Estado mexicano encuentra suorigen en un movimiento revolucionario,afianzado sobre una amplia base social y enuna atención especial a los intereses de lapoblación rural, uno de sus bases principales(Cosío, 1972). El Estado mexicano gobernódurante 70 años fundado en un solo parti-do, construyendo una relación corporativacon los asalariados, los campesinos y lasorganizaciones populares. Asimismo,recurriendo a distintas estrategias (presiones,concesiones, negociaciones) según los con-textos y las circunstancias del momento. Lacontinuidad del régimen estableció sucontinuidad, de igual manera, sobre unaextensa red de intereses y de corrupción queotorgaba favores y privilegios a cambio delapoyo y de la fidelidad electoral (Garrido,1995), entre otras.

Podemos sostener, sin temor a equivo-carnos, la tesis del isomorfismo perfecto en-tre la estructura del Estado, sus modos deacción y de intervención en la sociedad civil,y el PRI, que al mismo tiempo, tanto a nivellocal y nacional, socavaba la naturaleza fede-ralista del Estado mexicano. El Estado enton-ces dejaba un reducido margen de maniobray de espacios políticos, así como un reducidomargen a la competencia con otras posiblesformaciones políticas. Esta integración de lasdistintos niveles de gobernabilidad fue posiblegracias a la saturación del espacio políticooperada por el PRI.

Dicho funcionamiento, basado en laregulación a través de un partido dominan-te, permitía al gobierno federal conservar elapoyo de las masas populares casi sinconflicto alguno. La ciudad de México, an-tes de las reformas políticas de los años no-venta, era la sede política de la mayor partede esta estructura corporativista (Perló &Schteingart, 1984). No obstante, algunos trá-

Page 168: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

168 Felipe de Alba

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

gicos acontecimientos como la violentarepresión de las manifestacionesestudiantiles en 1968, entre muchos otros,nos permiten no olvidar que dicho apoyorequirió también de evocaciones al carácterrepresivo del régimen.

El ejercicio constante de la dominacióny el recurso a la violencia de Estado, se expli-can en parte, por el hecho de que el DistritoFederal haya sido durante décadas, un ter-ritorio estratégico para el régimen político(Davis, 1998), además de ser la sede de lospoderes federales. Si comparamos la situa-ción con la zona metropolitana en su conjun-to, la ciudad de México, hasta los años seten-ta, se ha beneficiado de inversiones masivasprovenientes del Estado federal2. Dichasinversiones, permitieron a sus habitantesbeneficiarse de un nivel de vida estable ypróspera, así como de una relativa movilidadsocial. Localizadas esencialmente en el Dis-trito Federal, las inversiones industriales del

Estado mexicano fueron progresivamentereorientadas hacia el noroeste de lametrópolis, sobrepasando los límites de laciudad hacia el estado de México.

Al mismo tiempo, las delegaciones delDistrito Federal y los municipios del este ydel sudeste de la metrópolis, recibieron loesencial del éxodo rural proveniente del res-to del país. A partir de los años setenta, lapolítica industrial del Estado destinada a lacapital (el Distrito Federal), conduce a unafuerte polarización socio-espacial que tendríaconsecuencias muy importantes en laorganización política de la metrópolis a par-tir de 1950 hasta nuestros días (Grafico 1).Así, si la década entre 1960-1970 marcaronuna explosión demográfica a escala de lametrópolis, los años ochenta se caracterizanpor una disminución relativa del peso de-mográfico del Distrito Federal respecto alcrecimiento de los municipios periféricos, si-tuados en el estado de México.

Grafico 1. Estratificación socioespacial de la metrópolis de México, por delegaciones ymunicipios

Fuente: Elaboración propia con información de Garza, 2000.

Page 169: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

169¿Son gobernables las metrópolis? Nuevo paradigma social y Las “luchas” sociales porlos servicios en México como una redefinición del espacio político

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Hasta décadas recientes, la ciudad deMéxico fue para Estado el emblema de laestabilidad del régimen político y el ejemplode su eficacia (Davis, 1998; Castillo, Ziccardi,et al 1995). En la ciudad, el modelo dedesarrollo nacional se tradujo por laconstrucción de grandes infraestructuras, eldesarrollo de una red de carreteras muy im-portante, la subvención de numerososservicios públicos por el Estado federal quepermitieron el acceso generalizado a laeducación y a la salud, a la intensidad de suvida cultural y a la difusión de una imagende progreso social (Pradilla 2000).

En el imaginario colectivo mexicano,México ha representado por un largoperiodo, la fuerza del régimen existente y delpartido dominante a través de su capacidad,por una parte, para generar un pacto socialcon los principales actores colectivos de lasociedad civil (sindicatos patronales ytrabajadores) (Icazuriaga, 1992) y por otraparte, para instituir sus principalesrealizaciones económicas y sociales.

Esta es la razón por la cual, antes delas primeras elecciones del Gobierno de Dis-trito Federal en 1997 por sufragio universaldirecto, la ciudad estaba bajo el control ad-ministrativo y político del gobierno federal.El Distrito Federal era entonces dirigido porun alto funcionario de Estado, el Regente,nombrado directamente por el presidente dela República.

El peso de la capital federal en elespacio político nacional explica en granparte, por qué sus distintos gobiernos noaceptaron nunca, antes de 1997, dotar laciudad con estructuras decisionalesautónomas democráticamente elegidas(Székely, 1998). Al mismo tiempo que, a par-tir de 1985, los primeros signos de deteriorodel régimen y de su crisis de legitimidad seanunciaban. Sería necesario esperar los añosnoventa para que esta dinámica institucio-nal fuera concebida.

La conflictividad en un escenario deactores emergentes

Durante los veinte últimos años, laciudad de México atestigua, en sus modosparticulares de gobernabilidad, las principalestransformaciones que se produjeron en el

régimen político. Estas transformacionesfueron la estructuración de un poderosomovimiento de contestación política en laciudad y a veces, a escala metropolitana, almismo tiempo en sus exigencias y situado enla periferia del modo de regulación tradicio-nal fundado en la corrupción, en elcorporativismo y en el clientelismo.

Estas dinámicas sociales se resumieronen sinergias propias del campo político lascuales se concretaron por la erosiónprogresiva de la base electoral del PRI a par-tir de 1980, principalmente, y en la nuevaimportancia de partidos de oposición queoptaron, sea por una lógica de confrontacióndirecta (el caso del Partido RevolucionarioDemocrático -PRD), sea por una lógica denegociación (el caso del Partido de AcciónNacional -PAN) con el aparato de Estado conel fin de acceder al poder.

De esta forma, la ciudad de Méxicofue un terreno de experimentación especial-mente importante en la estrategia que en1997, condujo a la conquista del nuevogobierno del Distrito Federal por el PRD,prefigurando la evicción del PRI delGobierno federal en el 2000 con la elecciónde V. Fox, representante del PAN a laPresidencia de la República.

Las protestas sociales en la metrópolide México han sido numerosas y difíciles decatalogar (De Alba, 2004). Todas ellas tienenen común el haber reposado en fuertes ex-pectativas vinculadas con el inmoderadocrecimiento demográfico de la ciudad y porende de la metrópolis, y con la incapacidaddel aparato gubernamental a administrareste proceso. Asimismo, reflejan al menos doscaracterísticas centrales. Por una parte, enmateria de acceso a los servicios colectivosesenciales (agua, saneamiento, entre otros),alojamiento salubre y oficial, y por otra par-te, en materia de participación política y derefuerzo de la democracia local (Castro,Kloster y Torregrosa, 2004). El giro neoliberalha sido un elemento cristalizador,notablemente a través de un conjunto dedecisiones muy impopulares (eldesmantelamiento de las redes de hospitalespara las personas desamparadas, laliberalización de los precios de base en el con-sumo, la privatización de las empresas pú-blicas, entre otros).

Page 170: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

170 Felipe de Alba

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

En ello, los movimientos sociales urba-nos que se desarrollaron durante el curso delos veinte últimos años en México, son muycercanos en sus pretensiones de los que seobservan durante el mismo período en lasmetrópolis de los países desarrollados y quehacen decir a algunos autores, que estas for-mas de acción colectiva tienen por credo elestablecimiento de un vínculo de causalidadmecánica entre “la democratización de lavida cívica y la generalización de un nivelde vida ‘decente’ para todos los ciudadanos”(Hamel et al., 2000: 16).

Concretamente, estas formas deresistencias en la agenda neoliberal seexpresaron con motivo de algunosacontecimientos clave en los cuales elgobierno federal se mostró incapaz de resol-ver las situaciones de crisis (el sismo de 1985,las inundaciones en el Valle de Chalco, porejemplo) o aun, incapaz de dirigir los pro-gramas de gran envergadura para el futurode la ciudad y con ello el de la metrópolis(construcción de grandes infraestructuras detransporte: la línea B del metro, construcciónde un segundo piso del periférico).

Esta deficiencia del gobierno federalmarcó la vida política de la capital federal, ypor consiguiente el campo político nacional,dando como resultado un régimen políticocuya legitimidad funcional era prácticamen-te inexistente. Generalmente, la multiplica-ción de estas crisis decisionales condujo alcuestionamiento radical de un modo de go-bierno de la ciudad centrado en el controljerárquico directo ejercido por las adminis-traciones federales, sin ninguna estructura

política metropolitana capaz de ejercerpresión en las elecciones colectivas y en lasdecisiones estratégicas (Borja, De Alba, et al.2004).

México ha vivido una verdaderaexplosión del número de grupos de protestasocial que, con el fin de ganar en eficacia,decidieron crear, desde los años 70 un orga-nismo común, el Conamup (Consejo nacio-nal de movimientos urbanos y populares) queestuvo directamente ligado a las políticasurbanas llevadas a cabo por el Regente delDistrito Federal (Perló & Schteingart, 1984).Tradicionalmente, los habitantes de lametrópolis accedían al aparato del Estadopor dos vías: por medio de las estructuraslocales de PRI o a través de lasadministraciones del Estado. Esta forma demediación con el sociedad civil se basaba engran parte en la corrupción (Montaño,1976).

Este modo de articulación, adaptadoa una forma particular del Estado Benefactorque permitía asignar directamente los recur-sos del Estado, iba a resultar, naturalmente,incapaz de establecer los mecanismos deredistribución tras el giro neoliberal tomadoen los años ochenta.

El conjunto del sistema Priista iba a sercuestionado, no pudiendo satisfacer más susapoyos electorales y debiendo hacer frente ala aparición de fuertes exigencias en materiade democratización del régimen, mientrasque se desarrollaban los partidos de oposiciónque supieron captar y canalizar el descon-tento generalizado del electorado (Crespo,1998) (Grafico 2).

Page 171: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

171¿Son gobernables las m

etrópolis? Nuevo parad

igma social y L

as “luchas” sociales porlos servicios en M

éxico como una red

efinición del espacio político

INTE

RA

ÇÕ

ES

Revista Internacional d

e Desenvolvim

ento Local. V

ol. 7, N. 12, M

ar. 2006.

Grafico 2. Fragmentación político-partidaria de las dos entidades que conforman la metrópoli de México, según los resultados de diferentestipos de elección de 1994, 1997, 2000 y 2003. División delegacional y municipal.

Fuentes: Elaboración propia con información del Atlas Electoral, Fundación Rosenblueth, 2000; y de México Electoral. Banamex, 2004.Notas: el color verde representa al PRI, el amarillo al PRD y el azul al PAN. El color rojo en el estado de México es para otros partidos. Asimismo, los mapas de 1994,1997 y 2000 representan resultados totales por partido según cada demarcación (por delegación o municipio) de la elección diputados federal, y en el caso de lasmapas de 2003 se trata de resultados electorales delegaciones y municipales, en cada caso.

Page 172: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

172 Felipe de Alba

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

La aproximación entre estos partidospolíticos que habían hecho de laconfrontación y del conflicto la estrategia deacceso al poder, sobre todo los partidos deizquierda, y sus grupos de protesta socialcondujo a radicalizar la escena política deMéxico, teniendo como eje de inconformidadlas demandas de servicios públicos.

De otro lado, es importante subrayarque, la llegada al poder del PRD en el Distri-to Federal en 1997 y su continuidad hasta lafecha (2005) condujo ampliamente adisminuir la dinámica contestataria llevadaa cabo por los grupos sociales, donde buennúmero de líderes seleccionados en el apa-rato gubernamental favorecieron el fuerteclientelismo de izquierda.

El activismo de estos líderes puedeobservarse de distintas maneras, notable-mente a través del número de manifesta-ciones organizadas en el espacio público me-tropolitano. Un diario publicó que para elaño 1993, el Distrito federal había sido elescenario de 608 manifestaciones organiza-das por grupos sociales urbanos, es decir, unpromedio de 1.7 manifestaciones por día.Solo para el mes de enero 1994, esta cifrahabía pasado a 92, lo que representó 3 mani-festaciones por día, y a 200 en febrero de2004, o sea 7 manifestaciones diarias (La Jor-nada, 09-03-94). La misma fuente destacabaque en 1995, había habido un total de 2 522manifestaciones (marchas, mítines, bloqueosde carreteras y huelgas de hambre), en lascuales habían participado cerca 1 205 000personas (La Jornada, 09-01-96).

Las principales causas de descontentoresidían en cuestiones vinculadas al accesoa la vivienda y a la propiedad de la tierra.Así pues, sobre un total de 608 manifestacio-nes en 1993, 215 se referían al alojamiento y134 se referían al alquiler de terrenos. El res-to de las manifestaciones de 1993 se referíaa conflictos menores. Por el contrario, pruebade la diversificación de expectativas y de laexacerbación de tensiones sociales, a partirde 1995, si un 60% de conflictos eran por lavivienda, otras problemáticas sociales apare-cían al mismo tiempo, el acceso a mercadolaboral, el transporte y los servicios públicoslocales (abastecimiento de agua, colecta dedesechos domésticos, acceso a la redeléctrica). A mediados de 1990, la situación

se deteriora tanto que es claro que las reivin-dicaciones no se refieran únicamente a lascuestiones de carácter social y de redistribu-ción de la riqueza, sino a las problemáticasinmediatas vinculadas a la supervivenciadiaria de un gran número de habitantes.

Esta situación no podía converger sinoen el aumento de la criminalidad, unaradicalización de las acciones emprendidaspor los grupos sociales urbanos y en un im-portante deterioro del clima político de lametrópolis (Székely, 1998).

¿Hacia la constitución de un nuevo para-digma del conflicto social metropolitano?

Aquí sostenemos que los cambiosestructurales y culturales que afectan tantoa la sociedad mexicana, como al modo clásicode relación entre Estado y sociedadsignifican en términos de la acción social, uncambio de paradigma.

Este paradigma puede explicarse en undoble sentido. En primer lugar, la organiza-ción de la acción social y la conformaciónde actores sociales se concretan, novedosa-mente, menos en términos de la posiciónestructural de los individuos o grupos y másen términos de ejes de sentido de dichasacciones.

En segundo lugar, y en consecuencia,estas protestas no están imbricadas en unproyecto social o político único que las ordeneentre sí y fije sus relaciones, prioridades ydeterminaciones. Al contrario, parece que,cada una de estas nuevas protestas son igual-mente relevantes. Tienen su propia dinámicay definen actores que no son necesariamentelos mismos que en las antiguas modalidadesde la protesta social.

Ahora, estas protestas se realizan apartir de una fusión de las diversasorientaciones en los actores sociales y políti-cos, tanto como una extrema fragmentaciónde intereses3. Ello ocurre en un proceso dereforma del Estado, es decir, un proceso deextensión de instituciones democráticas des-de el poder mismo, presionado por lasociedad y por la oposición política.

De esta manera, podemos establecerque en la metrópoli de México aparecennuevos tipos de conflictos relacionados con losservicios públicos (agua, transporte, segu-

Page 173: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

173¿Son gobernables las metrópolis? Nuevo paradigma social y Las “luchas” sociales porlos servicios en México como una redefinición del espacio político

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

ridad, salud). Como lo sostiene BernardoSorj, ello puede explicarse así: “cuando elresponsable del servicio era el Estado elconflicto resultante era político e ideológico”ahora “las reclamaciones pasan a adquirirun carácter político” quizá debido a que “lospoderes públicos evitan responsabilidades,las canalizan hacia las sociedades privadas”(Sorj, 2000:3), característica que se aplica alcaso de la metrópoli de México.

En ese sentido, con el análisis de dichasprotestas advertimos un replanteamiento delas relaciones entre sociedad y poder públi-co. A ello se añade el papel de éste comoadministrador y proveedor principal deservicios, que constituyen una nuevapercepción de las representaciones socialescolectivas respecto del agua.

En dicha orientación, los cambiosculturales y las nuevas reglas del juego polí-tico, ligados a tales factores, se expresan enun relativo aumento de la conciencia de laincertidumbre, que favorecen y fundamentanla protesta social. De nueva cuenta, en estetipo de protestas, la acción individual no esuniforme, como lo han sido las accionescorporativas tradicionales en México.

Al contrario, ahora la acción individu-al obedece a una lógica de optimización en-tre creencias y aspiraciones, como lo sugierenalgunos teóricos del tema (Elster, 1990). Esdecir, se trata de un individuo cuyas decisio-nes obedecen a una forma diferente de racio-nalidad, producto de una construcción so-cial (Villagomez, 2004) y lejos del corpora-tivismo, aunque sin abandonarlo del todo.

En un plano general, se trata de pro-testas sociales caracterizadas por elementosculturales de lealtad, de relaciones de paren-tesco o de pertenencia política o étnica; yabundando, que son situadas en un espaciosimbólico que rebasa la ciudad y quecomprende la metrópoli de México. Dichoanálisis nos parece que resultaría eficaz paratratar de explicar las dinámicas decooperación y de organización social en losúltimos años de la vida metropolitana, enmateria de luchas por servicios.

Conclusiones

La metrópoli de México ha sido un sím-bolo de la evolución del régimen político me-xicano. Durante casi todo el siglo XX, la me-trópoli-capital representó parte de las vanida-des del régimen, su modernidad galopantey la vida social estable fue una verdaderajoya en el sostén del aparato político.

Como orgullo nacional, la metrópolifue un “centro” político, la representaciónde todas las bondades y progresos de lasadministraciones abanderadas por el PRI, elpartido que gobernó el país por más de 70años. Con ello y en paralelo, una enorme olade emigrantes rurales se instaló en su perife-ria, lo que generó el monstruo urbano que alcomienzo del siglo XXI rebasaba ya los 20millones de habitantes, ubicando a Méxicoen el círculo de las metrópolis mundiales.

De otra parte, desde los años ochenta,el país vivió un cambio en sus políticas pú-blicas, con una orientación neoliberal, igualque la mayor parte de los paíseslatinoamericanos. Ello favoreció laaplicación de políticas tendientes a reducirel rol del Estado y, en una parte central, unaprogresiva privatización de los servicios pú-blicos urbanos.

En este articulo sugerimos porqué estosdos elementos tuvieron un efecto directo enel incremento de un tipo de protestas socia-les. En general, esas protestas cuestionaronlas prácticas corporativas tradicionales, sibien han instalado otras igualmenteclientelares, ahora implementadas por lospartidos de oposición y las organizacionessociales,

Estas protestas sociales, vinculadas engeneral con las demandas de servicios,muestran un nuevo tipo de protesta social quearticula un “momento” de crisis decisionalde la metrópoli y de la apertura del régimenpolítico mexicano en su conjunto.

De esa manera, a través de las protes-tas, la sociedad patentiza un voluntad colec-tiva que tiene tres direcciones no excluyentesentre si: primera, las protestas son parte dela inconformidad con orientaciones guber-namentales de privatización o el “arreglo”vertical de los conflictos; segunda, estas pro-testas son parte de la voluntad social departicipación política en las decisiones estra-

Page 174: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

174 Felipe de Alba

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

tégicas de la metrópoli y son parte, igualmen-te, de un proceso de apertura democráticadel régimen; finalmente, tercera, las protes-tas expresan la apertura de una fuerte crisisdecisional en materia de servicios en lametrópoli de México, en tanto muestran laincapacidad del Estado y de los actores paraarreglar las carencias en los usos ydistribución de los servicios.

En todo ello, podemos estar de acuerdoque, sin una política de planificación de losservicios en el largo plazo y en un caso par-ticular el servicio del agua, así como con laprivatización progresiva del mismo, lametrópoli de México podría enfrentar enpocos años un escenario de “guerra del agua”por el desabasto del líquido y las consecuen-cias ecológicas de continuar la extracción delacuífero del subsuelo. En dicho sentido,como podrian ser otros casos de protestaspor los servicios metropolitanos, podemosfinalizar este texto con las palabras de Ma-nuel Perló, un investigador mexicano espe-cialista en la materia: “Los problemas másserios son de política general. No se ha se-guido una política de mediano y largo plazoen la Ciudad de México, no se han tomadomedidas a fondo” (entrevistado en Reforma,19/03/2000).

Notas:1 Mario Vargas Llosa, uno de los escritores de los más

críticos en relación al régimen mexicano, lo hadescrito en los términos siguientes: “la dictaduraperfecta no es ni el comunismo, la Unión soviética oCuba sino México puesto que se trata de unadictadura camuflada. México no se asemeja a unadictadura pero cuenta con todas las características: lareproducción, no de un líder, sino de un partidopolítico inamovible, un partido que autoriza la críticapara aparentar un partido democrático que impide,por todos los medios, incluidos los peores, todaactividad que podría amenazar su reproducción a lacabeza del Estado” (Mario Vargas Llosa, entrevistadopor Proceso, 8 de septiembre de 1990).

2 Antes de ir más lejos, es necesario realizar unadistinción de orden jurídico y político entre la ciudady la zona metropolitana de México. Esta última cubre59 municipalidades situadas en los estados de Méxicoy de Hidalgo, así como las 16 delegaciones del DistritoFederal. En este texto, al hablar de la ciudad deMéxico, nos referimos al Distrito Federal que cuenta“solamente” con 8 millones de habitantes y que es lamédula de las dinámicas políticas y socialesestudiadas aquí.

3 Al respecto, la novedad de las luchas sociales estamarcada por el fin de practicas corporativas que antesahogaban toda protesta social independiente. Quizás

la mas importante son las que podemos llamarprotestas de tipo “ecologista”, un fenómeno que fueencabezado en México por grupos de la clase mediaurbana que contó, en ciertos casos, con apoyoseconómicos empresariales (Grupo Monterrey yFundación Domeq). Estos movimientos, por sulimitación a reproducir el mismo discurso (denunciascontra la contaminación y sobre las diversasproblemáticas ecológicas) pasó desapercibido durantevarios años en México. Estos movimientos incluyerondesde luchas indígenas en los estados de Oaxaca yMichoacán, en defensa de los recursos forestales, hastaluchas campesinas por el agua en Puebla y el estadode México o contra la contaminación por petróleo enTabasco (Pacto Ribereño), contra la contaminación yla deforestación en otros estados del país (CiudadValles), y toma de posiciones de diversos sindicatosurbanos (Nucleares, Pesca, Salubridad) y rurales (Plande Ayala). Véase Ruy Pérez Tamayo. “La patologíade la pobreza”. Revista Nexos número 68, agosto de1983).

Referências

AGUILAR, Díaz Miguel Ángel. Movimientos Urbanosy Psicología Social. IRACHETA & VILLAR, Calvo(coord.) . Politica y movimientos sociales en la ciudadde México. 127-141. México: PyV. Editores, 1988.

AIC, Academia de la Investigación Científica A. C. Elsuministro de agua de la Ciudad de México. Mejorandola Sustentabilidad. Comité de Academias para el Estudiode Suministro de Agua de la Ciudad de México. 1995.

ANTON, Danilo. Ciudades sedientas: agua y ambientesurbanos en América Latina. Ottawa: UNESCO-CIID-Nordan, 1996.

AVILA, Garcia Patricia.Urban poverty and watermanagement in Mexico. Causing conflict: managingwater services in poor urban areas and squattersettlements in Mexico. Centro de Estudios Rurales deEl Colegio de Michoacan, 2001.

AZUELA, de la Cueva Antonio. 1994. En: EncinasRodríguez, Alejandro (comp.) Sociedad y desarrollo.Hacia un nuevo orden del territorio. 191-206 . 1994.México: D.F, H. Cámara de Diputados-LV Legislatura,1994.

BORJA, Jordi; ALBA, Felipe de; et al. El desafiometropolitano. 1er ed. Mexico: PUEC, ALDF, UNAM-IIS,2004.

CABRERO, Mendoza Enrique. L’intergouvernemen-talité en reconstruction : le cas du Mexique. Sociologiedu travail N. 46:pp. 85–98, 2004.

CAMP, Roderic A. 1989. Entrepreneurs and Politics inTwentieth-Century Mexico. New York: OxfordUniversity Press, 1989.

CAPEL, Horacio. El agua como servicio público. RevistaBibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales, no. 218, 2000.

CASTILLO, Héctor; ZICCARDI, Alicia; NAVARRO,Bernardo B.. Ciudad de México retos y propuestas para lacoordinación metropolitana. 1. ed. México, D.F, Xochimilco:Universidad Nacional Autónoma de México/Universidad Autónoma Metropolitana, 1995.

Page 175: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

175¿Son gobernables las metrópolis? Nuevo paradigma social y Las “luchas” sociales porlos servicios en México como una redefinición del espacio político

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

CASTRO, G Cecilia & PERALTA, S. Alicia. 1985. EnPradilla Cobos, Emilio (coord.) Vulnerabilidad, sismos ysociedad en la Ciudad de México. pp. 55-107. 1996. México,D.F: UVYD & DGPC-DDF, 1985.

CASTRO, J E. Water, Power, and Citizenship.Contemporary Social Struggles in the Valley ofMexico: A Long-term Perspective. Oxford, UK.,University of Oxford, Forthcoming.

CASTRO, José Esteban M; KLOSTER Karina;TORREGROSA, María Luisa. 2004. “Ciudadanía ygobernabilidad en México: el caso de la conflictividady la participación social en torno a la gestión del agua”.In: JIMENEZ, Blanca & MARIN, Luis.. El Agua visto desdela Academia. Edit par l’Academia Mexicana de Ciencias,2004.

CCE, Consejo Coordinador Empresarial. Eficiencia yUso Sustentable del Agua en México: Participación delSector Privado. 24 septiembre 2004.

CIRELLI, Claudia & MELVILLE, Roberto. La crisis delagua. Sus dimensiones ecológica, cultural y política.Revista Memoria, no. 134, 2000.

CONNOLLY, Priscilla.Dinámica urbana y procesossociopolíticos. En Coulomb & Duhau (coords.). México:UAM-A / CENVI. 1993.

COSÍO, Villegas Daniel. El sistema político mexicano.Mexico: Joaquín Mortiz, 1972.

COULOMB, Rene & DUHAU, Emilio (cords). Dinámicaurbana y procesos sociopolíticos. Lecturas de actualización sobrela Ciudad de México. Mexico, D. F.: OCIM-UAM-A, 1993.

CRESPO, José Antonio. Tiene Futuro el PRI? : Entre lasupervivencia democrática y la desintegración total. Mexico:Grijalbo, 1998.

CYNETIC. El abasto de agua podría desencadenar unaguerra mundial: dice un especialista. Cynetic. El PeriodicoElectronico de Mexico, 2004.

DAVIS, Diane E. El Leviatán Urbano. La Ciudad de Méxicoen el siglo XX. México: Edit. FCE, 1998.

DE ALBA, Felipe & JOUVE,Bernard. “ Mexico in GlobalFlows, Politic Domination and the Exploration of a‘Third Way’ “. In Jouve, Bernard ( coord.). The Flow andthe Territories. International Geopolitical Observatoryand Raoul Dandurand Chair of Research, 1998. 2005.

DE ALBA, Felipe & KLOSTER, Karina. “PoliticFragmentation and Social Conflicts Through the WaterDivergence on the Metropolis of Mexico”. Mexico.Article proposed to the Canadian journal of the LatinAmerica and Caribbean studies. Canada, 2005. (Inevaluation).

DE ALBA, Felipe, LUZMA; Fabiola Nava; YANICKNoiseux. “ Neoliberalism and Water Privatization inMexico City, Institutional and Economic Actors, OneDecade After the Reforms”. Article proposed to theTRACE Journal of the CEMCA, no 49, Mexico, 2005. (Inevaluation).

DE ALBA, Felipe. «¿La megalópolis de México esmanejable? Cuando la modernidad se transforma endisputa clientelar. Análisis de la “crisis de Texcoco” »Revue Territorios no 13, janvier 2005. Colombie. (souspresse).

DE ALBA, Felipe. La hidropolítica en la crisis decisionalde la metrópoli de México: Coyuntura o síntomas decolapso?. Ciudades , no. 66 . 2005ª.

DE ALBA, Felipe. ¿La megalópolis de México esmanejable? Cuando la modernidad se transforma endisputa clientelar. Análisis de la “crisis de Texcoco”.Territorios , no. 13, 2005b.

EIBENSCHUTZ, Hartman Roberto. Bases para laplaneación del desarrollo urbano en la Ciudad de México.304. Mexico, Porrúa y la UAM. Unidad Xochimilco.1999.

CUENCA, Alberto.”Fustigan descoordinación en lazona metropolitana”. En El Universal, 26/05/2002.

ELSTER, Jon. Desires and opportunities: Tocqueville’spolitical psychology. Netherlands: Van LoghumSlaterus, 1990.

FOX and Herfindahl. Attaintment of efficiency insatisfying demands for water resources. The AmericanEconomic Review, no. 3, 1994.

GARRIDO, Luis Javier. El partido de la RevoluciónInstitucionalizada. Mexique: Siglo XX, 1995.

GARZA, Gustavo. “El carácter metropolitano de laurbanización en México. 1980-1988”. EstudiosDemográficos y Urbanos Vol. 5, no. No. 1, 1990.

GARZA, Gustavo. La ciudad de México en el fin del segundomilenio. Mexico: Colmex y GDF, 2000.

GILLY, Adolfo. La revolución interrumpida. Mexico:Ediciones Era, 1983.

GREFFE, X. Décentraliser pour l’emploi. Paris: Economica,1987.

HAMEL, P., H. Lustiger-Thaler et M. Mayer (sous ladirection de). Urban movements in a globalising world.London: Routledge, 2000.

HIERNAUX, Nicolas Daniel & FRANÇOIS, Tomas.Cambios económicos y periferia de las grandes ciudades elcaso de la Ciudad de México., Colección Ceta Azul. MexicoCity, Coyoacán, D.F: IFAL. Universidad AutónomaMetropolitana, 1994.

ICAZURIAGA, Carmen. La metropolización de la ciudadde México a través de la instalación industrial. 1. ed ed.Tlalpan, México, D.F.: Ediciones de la Casa Chata.CIESAS, 1992.

IRACHETA, Alfonso X & CALVO, Villar (coord). Políticay movimientos sociales en la ciudad de México. México : P yV Editores, 1988.

JORDI Borja; ALBA, Felipe de; et al. El Desafíometropolitano. UNAM, Programa universitario deestudios sobre la ciudad (PUEC), UNAM, febrero de2004. 237 pp.

JOURAVLEV, Andrei. Informe de la reunión sobretemas críticos de la regulación de los servicios de aguapotable y saneamiento en los países de la región. ONU(Organizacion de las Naciones Unidas), Santiago deChile, Chile: 2003.

LE GALES, P. & D. LORRAIN, D. “Gouverner les trèsgrandes métropoles?” Revue françaised’administration publique, n° 107, p. 305-318, 2003.

Page 176: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

176 Felipe de Alba

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

MONNET, Jerôme. Las sorpresas del censo. Nexos, no.154, 1990.

MONSIVAIS, Carlos. Entrada libre, crónicas de la sociedadque se organiza. México: Ed. ERA, 1987.

MONTAÑO, Jorge. Los pobres de la ciudad en losasentamientos espontáneos. Mexico: Siglo XXI, 1976.

MORENO, Sánchez Manuel. “Gobernar y servir a lapoblación La reforma de la Ciudad de México”. EnNexos [179], . 1992. noviembre 1992.

MORICONI-Ebrard, F. De Baylone à Tokyo. Les grandesagglomérations du monde, Paris ; Ophrys, 2001.

ORTIZ Francisco. 2003. “Estrena Edomex Alcaldes:Peleará agua potable”. Reforma, 2003. PERLÓ, Cohen &KAPLAN, Marta Schteingart. Movimientos socialesurbanos en México. Revista Mexicana de Sociología número46:p. 120, 1984.

PERLÓ, Cohen Manuel. Gobierno mediocre: Cárdenasen el DF: promesas incimplidas, pragmatismo, ausenciade proyectos, fracasos. En Etcetera, no. 354. 2001

PRADILLA, Cobos Emilio (coord). La ciudad de Méxicohoy. Bases para un diagnostico. Los límites del desarrollourbano metropolitano. 1a. ed. Mexico: Fideicomiso deEstudios Estratégicos sobre la Ciudad de México. GDF.2000.

PRECIADO, Coronado Jaime. La gobernabilidaddemocrática en el México post-priista. MOST Documentosde debate - No. 60, UNESCO, 2001.

RETORTILLO, Baquer & MARTIN, Sebastián.Descentralización Administrativa y Organización

Política. Revista de Administración Pública,Descentralización, núms. 63-64 :139-156, 1985.

REYGADAS, Robles Gil Luis. 2000. “Desarrollo yglobalización: la Ciudad de México en el modelo decrecimiento exportador”. p. 128. Mexico, D.F.: Gobiernodel Distrito Federal. 2000.

SCHTEINGART, Martha. “The EnvironmentalProblems Associated with Urban Development inMexico City” In: Environment and Urbanization, Vol. 1,Nº 1, abril. 1989.

SCHTEINGARt, Martha. La division social del espacioen las ciudades. Perfiles Latinoamericanos, No. 19, 13-32,2001.

SEMMOUD, B. Introduction à la géographie des trèsgrandes villes, Paris, Editions du Temps, 2001.

SORJ, Bernardo. La figure du consommateur commenouvelle catégorie sociale en Amérique Latine.Rénover et réguler le service public de l’eau. 2000. 2 deabril de 2004.

SZÉKELY, Alberto. Desafío del nuevo escenario políticopara una participación social en la gestión del medio ambienteurbano en México. Mexico, D.F.: UAM-X, 1998.

UNITED Nations Centre for Human Settlements. Citiesin a Globalizing World. Global Report on Human Settlements2001, London: Earthscan Publications, 2001.

VILLAGOMEZ, Velazquez Yanga. Politicahidroagricola y cambio agrario en el Distrito de RiegoN. 19 de Tehuantepec, Oaxaca. Los retos de la gestionde un recurso colectivo. Tesis de doctorat, Paris VIII.France, 2004.

Page 177: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Le périurbain face au défit de l’intégration socialeWhen rurban spaces face social integration challengeO periurbano frente ao desafio da integração socialEl periurbano frente a lo deshizo de la integración social

Lydiane Brevard*

Recebido em 07/11/2005; revisado e aprovado em 15/12/2005; aceito em 07/02/2006.

Résumé: Les villes françaises ont fortement évolué ces dernières années avec notamment le développement desespaces périurbains. De nombreux habitants ont en effet investi ces territoires induisant des transformations spatialeset sociales importantes. La question de l’intégration sociale est particulièrement forte dans les communes périurbaineset aujourd’hui, plusieurs formes de mobilisation et de plusieurs types d’intégration sont identifiables.Mots-clefs: Intégration sociale; périurbanisation; associations; patrimoine.Abstract: These last years french cities strongly evolved with in particular rurban spaces development. Many inhabitantsindeed invested these territories inducing space and social important transformations. The question of social integrationis particularly strong in the outlying cities and today, several forms of mobilisation and several types of integration areidentifiable.Key words: Social integration; rurbanisation, associations, patrimony.Resumo: As cidades francesas evoluíram muito esses últimos anos, com o desenvolvimento dos espaços peri-urbanos. Muitos habitantes entraram nesses territórios, induzindo transformações espaciais e sociais importantes. Aquestão da integração social é particularmente forte nas municipalidades peri-urbanas e hoje, varias formas demobilização e vários tipos de integração podem ser identificados.Palavras chaves: Integração social; peri-urbanização; associações; patrimônio.Resumen: Las ciudades francesas evolucionaron mucho en estos últimos años, con el desarrollo de los espacios peri-urbanos. Muchos habitantes entraron en esos territorios, induciendo transformaciones espaciales y sociales importantes.La cuestión de la integración social es particularmente fuerte en las municipalidades peri-urbanas y hoy, variasformas de movilización y varios tipos de integración pueden ser identificados.Palabras claves: Integración social; peri-urbanización; asociaciones; patrimonio.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 177-182, Mar. 2006.

* Doctoreur en géographie-aménagement, Université Toulouse-Le Mirail, laboratoire CIRUS-Cieu, 5 allée AntonioMachado 31042 Toulouse. Tel : 06.72.21.23.87 ([email protected]).

Le développement de lapériurbanisation est, depuis près d’un quartde siècle, au cœur de l’évolution des villes etde la transformation majeure de l’espaceurbain. L’attrait de ces espaces périurbainstient non seulement aux caractéristiques deleur parc immobilier qui constitue unealternative face aux aménités urbaines, maisau fait qu’ils correspondent à un idéal de vieassocié à la périphérie campagnarde. Lespopulations assimilent alors ce territoire à unlieu favorable pour l’apprentissage de lacitoyenneté, la construction del’appartenance et de la reconnaissancesociale. Ils constitueraient de fait un terraind’expérimentation et d’implication face àune ville de plus en plus dense et perçuecomme de plus en plus anonyme1.

Mais l’extension de la ville a induit denombreuses transformations spatiales etsociales. Et loin d’identifier un seul modèle

de participation et d’intégration, plusieurstypes de rapport à l’espace périurbain ontété révélés. De même qu’avait été reconnudans les années 70 l’archétype de la sociabilitérurale, celui de la commune dortoir a été plustard identifié, constitué par des populationsnouvelles, en majorité venue des villes, dontles relations ne se font pas exclusivementautour de la commune périurbaine investiequi constituait jadis le cœur et le moteur desanciens espaces ruraux.

L’espace périurbain a su répondre àune nouvelle demande sociale. Mais cetteréponse est-elle suffisante à l’affirmationd’une intégration sociale ? Au fur et àmesure de la poursuite du processus depériurbanisation, la figure de la « banlieuedortoir » a-t-elle été reconduite ou, aucontraire, d’autres figures d’intégrationsociale se sont-elles révélées ?

Page 178: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

178 Lydiane Brevard

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Une intégration sociale identifiée dansles années 70 par le biais du politique

Des travaux conduits dès les années 70avaient déjà identifié des modes de vie et despratiques sociales spécifiques aux espacespériurbains2. Le rejet de la ville dense à par-tir duquel se dessine l’attrait pour la maisonindividuelle conduit dès lors à l’identificationdu périurbain comme un lieu privilégiéd’installation des classes moyennes3. Lesanalyses des processus de périurbanisationmettent alors l’accent sur le sens donné à cetespace par ces catégories sociales et sur lerapport d’équilibre engagé entre idéologie etpratiques4.

Les habitants n’hésitent pas à investirla scène locale. L’implication dans desassociations est souvent le gage de cettepremière prise de position5. Cet espaced’expérimentation permet aux populationsd’acquérir une lisibilité locale importante àleurs yeux. L’amélioration des équipementscommunaux constitue souvent l’enjeupremier de cette prise de position quibouscule l’interconnaissance ruraletraditionnelle et œuvre pour l’émergenced’une nouvelle forme de communautévillageoise. Cet apprentissage permet alorsaux populations de se confronter à la sociétérurale mais aussi de répondre à ses propresbesoins et à ses exigences citadines. Larevendication de cet investissement vaprogressivement se déplacer vers la scènepolitique locale : le contrôle de l’espace cons-titue alors un enjeu central tandis que lepouvoir municipal est perçu commedéterminant dans la prise de décisionsrenvoyant aux domaines fonciers et àl’urbanisation6.

Les élections municipales de 1977 puisde 1983 attestent de la modification de lastructure sociale établie jusqu’ici7. Paysanset bourgeois qui régissaient la vie locale sontsupplantés par cette « couche moyenne » quia su imposer une remise en question de laconduite des affaires municipales. Cette prisede pouvoir s’exprime d’une part parl’affirmation d’une nouvelle politiqued’équipement, plus soutenue, et, d’autre part,par de nouvelles stratégies d’urbanisation8.Dans cette perspective une résistance estapportée au processus de développement

communal. Ce basculement implique lareconnaissance du local et la valorisation durôle des élus locaux dans l’animation desterritoires.

L’implication des classes moyennesdans le périurbain à cette époque atteste durôle de cet espace à pouvoir répondre à leursattentes, mais aussi de leur capacité à assurerun ancrage dans le territoire investi9.Pourtant, la permanence de ce modèle posequestion. Les années 90 en particulier ont vuémerger de nouveaux rapports à la localitéavec notamment l’affirmation d’une« désertion » des communs périurbainscorollaires d’une mobilité accrue.

Le modèle prédominant des« communes-dortoir » des années 80-90

Les premiers travaux identifiaient lepériurbain comme un avatar de la villesubissant son étalement tandis que la mobilitéétait envisagée comme une contrainte du faitde la faiblesse des transports et de lamauvaise qualité du réseau routier. Dès lesannées 90, d’autres perspectives sontouvertes autour de la fonction sociale10 deces espaces : la combinaison de plusieursmoyens de transports associée à l’affirmationd’une polycentralité et au nouveau rôle desvilles moyennes conduit à une mobilité mieuxvécue et maîtrisée11. Ces travaux identifientla figure de « la commune dortoir »12.Plusieurs éléments justifient cettedésaffection du périurbain.

Tout d’abord le processus depériurbanisation s’est accompagné d’uneconsommation extensive des territoires etd’une dispersion de l’habitat et des emplois13.L’évolution très forte du taux demotorisation, l’allongement des distancesparcourues et l’accentuation de la pressiondémographique ont été autant de rupturessignificatives.

Ensuite les pratiques ont éclaté entredifférentes localités utilisées pour lesopportunités qu’elles offrent selon unelogique marchande. Les espaces périurbainssont en majorité peuplés d’urbains quitransplantent leurs modes de vie et leurshabitudes autant par leur origine et leurstrajectoires résidentielles que par lalocalisation de leur lieu de travail. La

Page 179: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

179Le périurbain face au défit de l’intégration sociale

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

capitalisation par les ménages de leurshabitudes antérieures leur permet demaintenir des pratiques et des sociabilités ausein des lieux de résidences antérieurs. Ceschéma de fonctionnement participe à laspécialisation des lieux de vie, de travail, deloisirs et d’achats. Dans ce cas, la communepériurbaine est identifiée à un simple lieu depassage, à une « commune dortoir ».

Enfin cette déstructuration de l’espacesocial local participe d’une transformationdes stratégies d’implication des populations.La figure participative identifiée dans lesannées 70 semble disparaître dès la fin desannées 80 au profil d’un « non-lieu »périurbain marqué par des pratiques plusurbaines.

Mais certaines analyses conduitesrécemment ont cerné d’autres rapports aulocal. Elles ont souligné l’émergence dedifférentes stratégies d’implication et dedivers degrés d’intégration à l’espace local.Une diversification sociale des populationss’est opérée (le périurbain n’est plusexclusivement le terrain d’aventure des clas-ses moyennes14 mais aussi des classes plusaisées) et de nouveaux rapports au local sesont engagés.

Près de 30 ans plus tard, qu’en est-ilde la pertinence de l’identification despremières figures d’intégrations sociale ? Lespopulations périurbaines actuellesmanifestent-elles autant d’intérêt pours’investir dans le local ? Ou d’autres figurescomme celle de la commune dortoir ont-ellespris le pas ?

L’identification d’autres rapports àl’espace local périurbain.

La démarche d’implication identifiéedans les années 70 réapparaît pour certainesfractions de populations. Cependant, loind’être homogène, cette figure concerneaujourd’hui aussi bien la scène politique quele monde associatif. Et si le projet collectifétait dans les années 70 au coeur desdémarches d’intégration, les motivations etles ressorts de l’implication dans l’espacepériurbain sont de nos jours bien différentes.

L’investissement dans le projet collectif

Cette figure n’a pas disparu15. Leterritoire périurbain reste alors un espacedynamique porteur d’un véritable projet etde stratégies d’actions affirmées16. Lespopulations n’hésitent pas à s’investir dansle tissu associatif17 ou politique dans le cadred’une assimilation de l’espace local à un lieude vie à part entière. Au vote, se substitueprogressivement d’autres formes departicipation et d’implication en voied’affirmation, diversifiant considérablementles modes d’interaction entre les citoyens,l’espace local, et les modes d’inscriptionlocaux. Les habitants manifestent alors lavolonté de construire simultanément du so-cial et du politique, de renouveler le “contratsocial” au sein d’un territoire.

Les associations patrimoniales parexemple focalisent complètement cette quêted’identité et de reconnaissance18. Car cettevalorisation du patrimoine communal par-ticipe non seulement à la réorganisation d’unespace villageois quelque peu disparate sousle poids de la croissance démographique,mais elle contribue également à la mise enscène des héritages passés et à la valorisationde l’identité des populations périurbaines.Ces actions oeuvrent pour la naissance d’uneconscience identitaire et d’une intégrationlocale.

Cette démarche, guidée par l’utilitésociale, révèle la prégnance, dansl’imaginaire collectif, d’un périurbainpourvoyeur de place à prendre et de visibilitéà acquérir.

Les espoirs portés par les habitantsdans le fonctionnement de la cité, et par cebiais, l’avènement éventuel d’une nouvellecitoyenneté, d’un renouveau de ladémocratie participative n’ont donc pasdisparu. L’accroissement du rôle et du choixdes individus constitue ainsi un des thèmesrécurrents des municipalités qui appellent« à faire la politique autrement. »

Le repli vers une structure communautaire

Cette figure correspond à l’émergenced’une intégration identitaire localisée,réduite à un groupe. Les communes touchéespar les processus de périurbanisation sont

Page 180: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

180 Lydiane Brevard

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

perturbées par les nouvelles logiques quis’imposent. La question de la coexistenced’individus ayant des systèmes de référenceset des modes de fonctionnement, desaspirations différentes se pose clairement.

Les transformations induites par lephénomène périurbain ont en effet généréune révision des formes de cohésion etd’appropriation de ces communes, desrapports à l’espace. La société locale initiales’est trouvée confrontée à la nécessité deréorganiser ou bien d’adapter ses pratiqueslocales. Une intégration sociale réduite à ungroupe clairement identifié (les nouveauxarrivants ou bien les anciens, ou encore laréférence à un groupe social) participe à cerepli vers une organisation semi-communautaire. Cette figure correspondsouvent à des associations fonctionnant envase clos. Ces lieux, initialement vecteurs de« lien social » et de citoyenneté active,abritent au final des communautés coupéesdes autres et du reste de la commune devenules territoires de l’autre. Ces populations, quiinvestissent le cadre associatif, saisissent iciune opportunité de se valoriser et de serendre lisible. C’est le projet individuel quiprédomine par opposition au projet collectif.Cette implication induit surtout une prise deposition dans un réseau social local.

L’organisation de certains repas dequartier révèle de façon acerbe cefonctionnement. Le cadre du lotissementsemble en effet idéal pour trouver des prochesnantis d’un même espace de référence car ilpermet d’éliminer tous ceux qui seraient tropdifférents ; on réunit des semblables,regroupés dans un périmètre défini quicaractérise une localité affirmée. Avec eux, ilest possible de faire territoire : de tenter, entreautres, une institutionnalisation qui, à défautd’être réelle, sera au moins imaginée.

Cette exacerbation marquée desindividualités et des groupes nuit àl’investissement dans le projet collectif. Cesespaces de repli sont le lieu d’une sociabilitéde groupe réduite où l’espace“communautaire” en tant que lieu identitairen’existe pas.

L’investissement en référence à un projetindividuel

A l’opposé de la première figure, elleest le fait de deux types de populations biendistinctes.

Une population modeste qui se situedans un no man’s land périphérique éloignéede la ville qu’elle a quittée, et trop proche duvillage qu’elle ne peut intégrer. Ce sentiment,particulièrement ressenti dans les lotissementsles plus excentrés par rapport au centrevillageois, s’accompagne d’un rapport auterritoire qui est d’emblée problématique. Il semanifeste à travers un rapport marchand àl’espace, dominé par les contrainteséconomiques et un enfermement dans l’espacedomestique ou le voisinage très immédiat.

Ce qui motive leur présence en ces lieuxce n’est pas tant l’attrait de la campagne oudu village que la fuite, dans leur anciennebanlieue. Accéder à la propriété étaitpratiquement le seul moyen pour ceshabitants à la fois d’avoir quelque chose etd’être quelqu’un, quelque part. Etrangers àla commune, socialement isolés, ils sont trèsvite stigmatisés par l’équipe au pouvoir maisaussi, et peut-être surtout, par la population.Ce sont alors des “indésirables” pour quirien n’est vraiment fait. Dans ces zonespériurbaines, la question de l’exclusion pri-me sur toute autre considération. Mais laquestion de l’identité sur ces territoires estfondamentale et se pose dans les mêmestermes. Sur quoi s’appuyer pour reconstruireune nouvelle identité à partir de populationsdifférentes ? Au moment de leur installation,ils n’investissent pas un lieu, mais un“ailleurs”. Or, ignorés, voire rejetés par ceuxqui sont déjà là, ils peuvent difficilementfranchir les barrières de la distance socialequi les séparent des anciens villageois etmême des premiers migrants des années 70.On voit comment des systèmes de résistancepeuvent émerger et induire une perspectiverégressive, des stratégies de repli et defermeture des groupes locaux.

Ensuite une population aisée qui profitede l’environnement, de la « nature » tout engardant des modes de vie et deconsommation urbains. Pouvant garantir unemobilité à l’ensemble du ménage, elle nesouffre pas de l’éloignement de la ville ni

Page 181: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

181Le périurbain face au défit de l’intégration sociale

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

même de l’absence des équipement ouservices dans la commune où elles résident.Leurs pratiques ne s’inscrivent pas à l’échellelocale. Pourtant elles savent se mobiliser autravers de certains mouvements associatifscomme le mouvement NIMBY (venu des Etats– Unis et signifiant « Not In My Back Yard »)afin de s’ériger contre toute transformationsusceptibles de nuire à leur environnement(voies routières, décharge, prison).

Conclusion

L’inscription territoriale et la participationdes habitants dans le périurbains ont fortementévolué au fil du temps et du processus. Pourtant,même si le modèle d’intégration sociale identifiédans les années 70 n’a pas totalement disparu,les espaces périurbains révèlent aujourd’hui desprojets différents. Plusieurs degrés d’intégrationmais aussi différentes formes de mobilisation sefont jour. Ces schémas d’organisation etd’inscription locale qui oscillent encore entre unmodèle identitaire consolidé et l’affirmation dela commune comme non-lieu, interrogentautant la place des acteurs locaux (élus,populations associations…) que leur capacité àaffirmer une identité et une dynamiquecollective. Et bien que ces mutations s’effectuentau détriment des formes de sociabilité rurales“traditionnelles”, elles s’opèrent néanmoins aubénéfice d’une sociabilité d’un autre ordre, peut-être plus variée.

Notes:1 BOURDIN A. (2000), L’objet local, Paris, PUF.2 JALABERT G. JAILLET M-C. (1982), Pratiques et modes

de vie : lotissements et habitat individuel dans lapériphérie toulousaine des années 70 aux années 80,Toulouse, CIEU.

3 COLLECTIF (1983), Les couches moyennes salariées,mosaïque sociologique, Rapport pour le MULT.

4 BIDOU C. (1983), Banlieue et citoyenneté, Paris, PUF.5 BIDOU C. (1984), Les aventuriers du quotidien, Paris,

PUF.6 JALABERT G. (1978), Pouvoir local, structures sociales

et urbanisme dans l’agglomération toulousaine,Toulouse, CIEU.

7 CIEU (1982), La production de l’espace périurbain,Toulouse, CIEU.

8 CAHIERS DE L’OBSERVATION DU CHANGEMENTSOCIAL (1982), Typologie et fonctionnementéconomique, CNRS.

9 CIEU (1995), Processus de dévalorisation-revalorisation des espaces urbains périphériques.L’exemple de l’agglomération toulousaine, Toulouse,CIEU.

10 STEINBERG J. (1991), Les habitants périurbains, Paris.11 BONNET M. DESJEUX D. (2000), Les territoires de la

mobilité, Paris, PUF.12 GARNIER A. (1984), Les nouvelles cités dortoirs.

L’expansion de la maison individuelle périurbaine,Lausanne.

13 LABORIE J-P (1981), Le desserrement dans les espacessuburbains in L’enjeu périurbain, Paris, Ladocumentation Française.

14 JAILLET M-C, ROUGE L. BREVARD L. (2003), “Lepériurbain, terrain d’aventure politique pour lesclasses moyennes ? “Pouvoirs locaux, n°56.

15 BOURDIN A. (2001), “L’étalement urbain, un modede vie“, Etudes foncières, n°94.

16 CHALAS Y. (2000), L’invention de la Villle, Paris,Anthropos

17 MICOUD A. (2001), “Les associations d’habitants à lafrontière du rural et de l’urbain”, Les Annales de laRecherche Urbaine, n° 89.

références

BIDOU C. Banlieue et citoyenneté, Paris: PUF, 1983.

BIDOU C. Les aventuriers du quotidien, Paris: PUF, 1983.

BONNET M. DESJEUX D. Les territoires de la mobilité,Paris: PUF, 2000.

BOURDIN A. L’objet local, Paris, Paris: PUF, 2000.

BOURDIN A. “L’étalement urbain, un mode de vie”,Etudes foncières, n°94, 2001.

CAHIERS DE L’OBSERVATION DU CHANGEMENTSOCIAL (1982), Typologie et fonctionnement économique,CNRS, 1982.

CHALAS Y. L’invention de la Villle, Paris: Anthropos, 2000.

CIEU. La production de l’espace périurbain, Toulouse:CIEU, 1982.

CIEU. Processus de dévalorisation-revalorisation des espacesurbains périphériques. L’exemple de l’agglomérationtoulousaine, Toulouse: CIEU, 1995.

COLLECTIF. Les couches moyennes salariées, mosaïquesociologique, Rapport pour le MULT. 1983.

GARNIER A. Les nouvelles cités dortoirs. L’expansion de lamaison individuelle périurbaine, Lausanne, 1984.

JAILLET M-C, ROUGE L. BREVARD L. “Le périurbain,terrain d’aventure politique pour les classes moyennes? “Pouvoirs locaux, n°56, 2003.

JALABERT G. Pouvoir local, structures sociales eturbanisme dans l’agglomération toulousaine,Toulouse: CIEU, 1978.

JALABERT G. JAILLET M-C. Pratiques et modes de vie :lotissements et habitat individuel dans la périphérie toulousainedes années 70 aux années 80, Toulouse: CIEU, 1982.

LABORIE J-P. Le desserrement dans les espacessuburbains in L’enjeu périurbain, Paris: Ladocumentation Française, 1981.

MICOUD A. “Les associations d’habitants à la frontièredu rural et de l’urbain”, Les Annales de la RechercheUrbaine, n° 89, 2001.

STEINBERG J. Les habitants périurbains, Paris, 1991.

Page 182: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS
Page 183: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Relatos:entre as práxis e os conceitos

Page 184: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS
Page 185: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Co-operation and conflict between firms, communities, new social movements andthe role of government the Cerro de San Pedro case

Cooperação e conflitos entre empresas, comunidades, novos movimentos sociais e opapel do Governo: o caso de Cerro de San Pedro

Coopération et conflits entre entreprises, nouveaux mouvements sociaux et le rôle duGouvernement: la cas de Cerro de San Pedro

Cooperación y conflictos entre empresas, comunidades, nuevos movimientos sociales y el papeldel Gobierno: el caso del Cerro de San Pedro

José G. Vargas-Hernández*

Recebido em 29/09/2005; revisado e aprovado em 15/012/2005; aceito em 31/01/2006.

Abstract: The aim of this paper is to analyze relationships of cooperation and conflict between a mining company andthe involved communities, New Social Movements and the three levels of government. The mining company begunoperations for an open pit mine of gold and silver supported by officials from the local, state and federal government.The inhabitants of these communities supported by environmental groups and NGOs argue that the project willpollute sources of fresh water besides of perturbing the environment and the ecology of the region.Key words: Cerro de San Pedro; community; conflict; environment; firm; government.Resumo: O objetivo deste artigo é a análise das relações de cooperação e conflito entre uma companhia de mineraçãoe as comunidades envolvidas, os novos movimentos sociais e os três níveis de Governo. A companhia de mineraçãoiniciou suas operações a partir de uma mina a céu aberto de ouro e prato apoiado por autoridades dos Governoslocal, estadual e federal. Os habitantes dessas comunidades, apoiados por grupos ambientais e ONG argumentamque o projeto vai poluir os recursos naturais de água além de ameaçar o meio ambiente e a ecologia da região.Palavras chaves: Cerro de San Pedro; comunidade; conflito; meio ambiente; empresa; Governo.

Résumé: L’objectif de ce travail est l’analyse des relations de coopération et conflit entre une entreprise minière et lescommunautés impliquées, les nouveaux mouvements sociaux et les trois niveaux de Gouvernement. La compagnieminière a commencé ses activités à partir d’une mine à ciel ouvert d’or et d’argent appuyée par les autorités desGouvernements local, de l’état e fédéral. Les habitants de ces communautés, appuyés par des groupes de protectionde l’environnement et des ONG, affirment que ce projet va polluer les ressources naturelles d’eau, en plus de menacerl’environnement et l’écologie de la région.Mots-clefs : Cerro de San Pedro; communauté; conflit; environnement; entreprise; Gouvernement.Resumen: El objetivo de este artículo es el análisis de las relaciones de cooperación y conflicto entre una compañía deminería y las comunidades envueltas, los nuevos movimientos sociales y los tres niveles de Gobierno. La compañía deminería inició sus operaciones a partir de una mina a cielo abierto de oro y plata, apoyado por autoridades de losGobiernos local, gubernamental y federal. Los habitantes de esas comunidades, apoyados por grupos ambientales yONG, argumentan que el proyecto va a contaminar los recursos naturales del agua además de amenazar el medioambiente y la ecología de la región.Palabras claves: Cerro de San Pedro; comunidad; conflicto; medio ambiente; empresa; Gobierno.

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, p. 185-194, Mar. 2006.

* M.B.A.; Ph.D. Instituto Tecnologico de Ciudadad Guzman. Avenida Tecnologico, no. 100, Ciudaded Guzman -Jalisco, 49000 Mexico. Telefax: +52 341 41 33116 ([email protected]). ([email protected]).

Introdution

The presence of the mining company(MSX) in Cerro de San Pedro has caused asevere social conflict among the inhabitantsof San Pedro, Soledad y San Luis and hascalled the attention of all who are concernedby historic heritage, cultural andenvironmental issues. At the cente of thecontroversy is the cheap and efficienttechnology. Federal and state. Laws wereviolated. It is quite evident the lack ofsensitivity of foreign mining companies

toward the consequents of their activitiesupon the communities and environment.This case also shows the lack of negotiationbetween firms, communities, new socialmovements and governments. Informationabout externalities and future costs ofcompany activities is crucial but more crucialis formulation and implementation of moresensitive policies to avoid damage of theenvironment, biodiversity and health ofpopulation. Governmental institutions mustbe aware that their decisions may affect thecommunity quality of life of actual and

Page 186: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

186 J. G. Vargas-Hernández

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

future generations only for a small incrementin economic growth and large increase inprivate benefits of a small group of investors.

More informed citizens tend to be moreactive protestors, such as the case of thestudents in San Luis. Contact betweeninformed individuals of diverse groups andorganizations help to exchange experiencesand create public opinion in favor ofmobilizations. Community participation andinvolvement in decision making of communitydevelopment planning is quite limited by thelack of critical information. This fact is criticalwhen the local government cannot providethe right information because there are otherinterests affecting the process.

Geographical localization

Cerro de San Pedro is a semi-abandoned historic mining town located inthe center of Mexico, the State of San LuisPotosi. Cerro de San Pedro is a small village10 miles east of the City of San Luis Potosi,the Capital of the State of San Luis Potosi.Cerro de San Pedro is located in themountains above the valley of San Luis Potosiand is part of the watershed area for thevalley and its major cities. The valley is thesource of 73% of the water for the area.

It is a ghost town containing the ruinsof shops, churches, estates and a hospital.Today there are only about 100 people livingin the Cerro. The Real hamlet covers the hillson both sides of the canyon; large and smallhouses flank the narrow streets (Cordero deEnciso, 1997). The remains of the 400 yearold town are still there, along with an activechurch and municipal office. Cerro de SanPedro sits in the high desert in the heart ofMexico, the kind of place with lots of roadrunners and big cacti. 400 years of miningdid not alter the original appearance of Real,which is irregular and whose center is theparish of San Pedro. The artistic and urbandevelopment that started in the 17th centuryis represented in Cerro de San Pedro. Thereare two structures particularly importantfrom the historical heritage perspective. TheChurch of San Nicolas dates from XVIICentury and San Pedro Apostle which da-tes from the Century XVIII.

Legal background

Since the Prehispanic times in México,mining has played an important role ineconomic and political history. From 1986 to1990 The World Bank granted credits tosupport the structural adjustment economicpolicies. The credit 3359 supported structuraladjustment of the mining sector categorizedas B to eliminate environmental requirementsand public hearings (Border Ecology Project,1994). Under a neoliberal economic policy,amendments to constitutional Article 27, anew Agrarian Law, a Mining Law (1993) anda Foreign Investment Law during the nineties,allow the ejidatarios, originally limited ownersof land rights, to change the ownership.Investors now could associate withejidatarios, exploit land resources withoutbuying it. The North American Free TradeAgreement (NAFTA) offer advantages andopportunities for investors.

The Mining Law (1993) and theRegulation to the Mining Law (1999) openedto foreign capital areas that were reserved fornational investors and defined new rules forthe development of national and foreigninvestments in exploration and exploitationof minerals as activities of public utility. Thegranting process of mining concessions doesnot require public hearings and most of thetimes the affected communities are the lastones to know about the project. There aresome references about considering this andothers “competitive advantages that offerMexico compared to their partners in NAFTA(Bardake, 1993). A mining concession can notbe cancelled for polluting the environmentand only can be fined.

The conflict

At the center of the controversy is thecheap and efficient technology. It is alarmingthe use of cyanide and its impact onwatersheds, the environment and humanhealth. Lixiviation consists in pile up mine-ral mixed with cyanide over a platform insuch a way that gold will be residual.Cyanide is used for the extraction of metalssince 1887 as a chemical reactive to solve goldin water (Logsdon et al, 2003). 20 percent ofglobal production is used in a process of

Page 187: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

187Co-operation and conflict between firms, communities, new social movements and the roleof government the Cerro de San Pedro case

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

lixiviation to get gold. Almost 99% of gold isseparated from a rock and it is profitable tospend one ton of cyanide to extract 6 kilosof gold (Ronco, 2002).

Studies done by Minera San Xavier toevaluate pollution risk to the watershed ofthe valley of San Luis and to quantify theuse of millions of cubic meters of water andits evaporation are insufficient and with atendency. The hydrological card of INEGIthe subterranean waters of San Luis Potosíand Cerro de San Pedro are the same in thegeo hydrological zone. The daily use of 16tons of cyanide and 32, 000 tons of rockmaterial that would require one million ofcubic meters of water per year would haveresiduals of cyanide, heavy metals, toxicmaterial and mercury stem can contaminatethe watershed favored by inclination of landand put at risk population.

The process implies daily 16 tons ofcyanide mixed with 32 millions of litters ofwater. According to the EnvironmentalImpact Manifestation presented by MSX,should be erosion by deforestation, alterationof drainage patterns, cancellation ofproductive activities, pollution caused bydeposits of toxic residuals and severe,irreversible and permanent damages. TheManifestation of the Environmental Impactof the company considers that “the impact issignificant and adverse for the extraction ofwater” (Page 16) 90% of water consumptioncomes from the valley of San Luis which canbe contaminated by the cyanide used in thelixiviation process (Martínez Ramos, 2004).

Excavation for the mine will take placein an area of 67.7 hectares, digging a crater1,150 ft. deep and a half-mile wide to gainaccess to the 90,500 oz. of gold and 2.1million oz. Of silver the mountain could yieldeach year for the next decade. The mountainwill be demolished and in its place will belarge deep pits filled with the residue of themining process. Soil cover will be lost in anarea of approximately 500 hectares.

The pit is only about 600 meters fromthe town square and the tunnels from theold town go under the church and thesquare. If the mine project goes forward, a1,150-ft., halfmile crater would be blasted inthe top of mountain that sits behind the townof Cerro de San Pedro, Mexico. The proposed

mine would destroy the historic remains ofthe old town and destroy the environmentbecause of the cyanide leaching andpotentially poison the water of San LuisPotosi. Greenpeace says cyanide high risk inmining plans by a Canadian firm in theMexican district of Cerro de San Pedro. Thefirm Cambior has been involved in two mostdisastrous cyanide spills in mining history.Millions of liters of water contaminated.

The project would entail moving partof the town and its historic buildings, butthe people don’t want to move. To avoiddamage of the buildings, the company planswould move the municipal buildings and thecenturies old church another 600 metersaway. The company would destroy theenvironment for a yield that would last only6-8 years. MSX only vaguely outlined on theenvironmental-impact report. how it wouldrestore the mountaintop, clean up themassive piles of bulldozed waste, protect rareplants and wildlife like the biznaga cactusand the desert tortoise, and safeguard thetown’s 16thcentury structures. Actual profitfrom the exploitation would be low incomparison to the amount of destructionand permanent ecological damage thatwould result.

Most troubling was the company’sunclear plan for the management anddisposal of the toxins, including cyanide, thatare used in gold mining. The daily use of 13tons of explosives composed of nitrate“Anful” will produce great quantities ofdust which can cause irreversible ills. 640millions of m3 of cyanide materials wouldbe residuals covering a surface of 178 hecta-res which will not allow agricultural or cattleactivities for generations. The potentialpoisoning of the watershed lands alonewould have dramatic consequences for theinhabitants of San Luis Potosi. (Campbell,2004) However, MSX argues that it hasclarified its plans and is implementing the100 changes suggested by a group ofMexican academics who studied theenvironmental-impact report.

In spite of he fact that permits havebeen cancelled, the company have hugetrucks, big tanks and workers on site, andthe land has been cleared for future use inan environmentally protected area, so the

Page 188: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

188 J. G. Vargas-Hernández

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

clearing is obviously illegal. A test drillresulted in the street collapsing because ofthe tunnels under the street and thecompany had “repaired the damage” bydumping a load of gravel. If the project goesforward, MSX would add about 170 jobs toits existing staff of 34 to work on the mine,but the new jobs will require education andtraining that people from Cerro de San Pedrooften lack. Some qualified residents wouldreceive temporary housing a few miles fromtown. Other villagers could choose to stayhere and receive a monthly payment basedon the typical wage here, from MSX thatcould be used to strengthen their houses toprotect them from the blasts.

The Company violated federal andstate laws. Among federal laws:- Presidential Decree of June 2, 1961 which

forbids extraction of water in the valley ofSan Luis Potosi.

- Article 35 of Federal Law of fire arms andexplosives. Store and consumption ofexplosives is only 50 meters from towninstead of at least one kilometer.

- The Agrarian Law establishes the obligationof the agrarian authority to staff and protectthe ejidtarios. The Company leased ejidallands from fake ejidatarios. State Lawsviolated are

- Article 7 of the Environmental Law of SanLuis Potosí which does not give faculty tothe governor to authorize licenses of landuse. The Governor exceeded his authorityto grant authorization of land use in may2000.

- Article 15 of the State Constitution of SanLuis establishes the right of citizens to enjoya healthy environment and to prevent andcombat environmental pollution.

Most recent events of cooperation andconflict relationships between the actors

In a resolution dated September 1st,the TFJFA substantiated a case brought in2000 by the civic union Pro San Luis Ecoló-gico, opposing the authorization granted tothe company the previous year by theNational Institute of Ecology (INE). TheDelegate of the SEMARNAT in San LuisPotosí (2002-2004) created and presidedFoundation of Potosi under the purpose

declared by Minera San Xavier to fulfill theconditions established by National Instituteof Ecology to authorize the Manifest ofEnvironmental.

Impact and to provide thecompensations of ecological costs. The firmneeds more than three years to fulfill only 32of 100 conditions imposed by SEMARNATwhile this Secretary only needed one Monthto accept them. The Court halted operationsat the San Luis de Potosí Gold Project, ownedby Minera San Xavier (MSX), a subsidiary ofthe Canadian company Metallica Resources.

The Federal Court’s resolution was basedon the necessity of ecological preservation ofSan Pedro Hill, where some animal species arein danger of extinction, as well as risks derivedfrom cyanide use in mining, which would putin danger the biodiversity of the area. Inaddition to this point, the TFJFA recalls thatthe responsibility for preservation andregeneration of the environment lies with thefederal authority. It concludes that the permitgranted for the concession did not conform to“applicable laws”.

The opponents to La Minera SanXavier consider that “the project is dead”,since any action that could undermine thefederal justice decision “would implydisrespect and transgression of the law”. Thecompany has retorted that the decision lacksa scientific base and that it will harmCanadian investments in the country.Second District Judge of the Federal JudicialPower dictated suspension of plan as partof the appeal 909/2004, promoted byejidatarios de Cerro de San Pedro, San LuisPotosí, to suspend permit of buying andusing explosives by the company. MSXappealed the ruling and, in September, lostagain. Because the company’s latest appealwas rejected, they are threatening to useNAFTA’s Chapter 11 to sue the Mexicangovernment for potential lost profits.OnSeptember 27, the Broad Opposition Frontasked to the Sub direction of Mining Rightsto order cancellation of concession to Mine-ra San Xavier On October 7, personnel ofthe Secretary of Economy asked theejidatarios to withdraw the land but a judgesuspended the action. Against the ownersof the land, during the first period of theproject, more than 100 hectares of protected

Page 189: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

189Co-operation and conflict between firms, communities, new social movements and the roleof government the Cerro de San Pedro case

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

areas were illegally naked of protectedspecies cutting the flora and expulsing thefauna The municipal President who underpressure granted the permit, confronts a suitfor not obeying the law because the munici-pal permit was suspended on March 16,2004. On February 6 2004, MSX did notacknowledge some of the environmentalcommitments acquired and underestimatingobligations to fulfill conditionings.

The company also committed fraudagainst the three levels of government whogranted respective permits for the miningproject under the assumption that landtenure was not viscid. With a fake contract,MSX took possession of land causingdestruction on old buildings and protectedflora and fauna, a loss to the ecosystem.Thecompany also closed neighborhood roadsthat had been used by inhabitants of LaZapatilla, Cuesta de Campa, Portezuelo yCerro de San Pedro, without any permit.Invaded land of national property wherewas the old track of the train Potosí-Rioverdeand installed a fence of several kilometers toavoid access to inhabitants to municipal land(Montemayor, 2004).

On October 26, the Federal Tribunal ofFiscal and Administrative Justice determinedthat authorization of conditioned land usegranted in 1999 to the project of MSX wasagainst federal norms and not considered theexistence of a protected area plan for the Cer-ro de San Pedro and surroundings. In publicspeech the 28 of October, the Minister ofEnvironment and Natural Resourcesevaluated the resolutions of tribunals as theworst and spoke on favor of the company ashaving fulfilled all the requirements andconsidered as absurd the opposition of theinhabitants. After SEDENA granted permitsfor use of explosives, on November 18, anincident of violation of suspension granted tothe appeal promoted by ejidatarios on August9, was promoted. On the 22 of November,Semarnat promoted a revision against theresolution that cancels the permit ofconditioned operation of the open pit miningto MSX and SEDENA authorized to MSX theuse of explosives. The 29 of November, 2004the Director of Mining in the State of San LuisPotosí declared that in the following days theCompany would have the first blasts to pre-

pare operations. 30 of November, 2004, TheSenate Chamber passed an “obvious andurgent resolution” to stop programmedoperations of MNX On Dec. 1, an AgrarianUnitary Tribunal defended its claim thatMSX’s lease excludes a group of land owners.The Agrarian Unitary Tribunal ordered toobey the sentence derived of an appeal 807/202 which determined the illegality of theleasing contract of land subscribed in March1997 for a period of 15 years by fakeejidatarios that did not have land rights onthe Ejido. (Cruz Martínez, 2004). The Courtcancelled rental contracts subscribed betweenthe company and false ejidatarios.

The ruling freezes MSX’s land rightsalthough the company constructed barbedwired fences around land that the companydoesn’t own. The Agrarian Tribunal (Tribu-nal Unitario Agrario) has nullified the rentalcontracts for the land where important partsof the mine are located – on the grounds thatthe persons renting the ejidal (socially-owned) land to the company were not in factmembers of the ejido, that is to say that theiractions were fraudulent. About the land use,the companydeclared that the ejido leasedis Cerro de San Pedro when belongs to themunicipality of Soledad de GracianoSanchez. The intention is to avoid permitsin area that is legally environmentallyprotected. Also, Ejidatarios of Palma de laCruz leased 136 hectares to Minera SanXavier to be used as shops but the companywas using it as disposal of sulfurous materi-al that is not lixiviable. On the 13 and 14 ofDecember, the company blasted the area ofLa Zapatilla incrementing tension among theinhabitants of the region. On December 14th,it began excavating the mountain.Inhabitants of the town La Zapatilla wererelocated alter the company initiatedoperations. When the INAH knew about theblasting, requested the company to stop ofsuch activities arguing the defense of around115 buildings dated from XVII to XIXCenturies. Since 1998, INAH had warnedover the danger for the historic heritage thatwould represent to activate the mining. Withthe opposition of the National Institute ofAnthropology and History (INAH), and thereluctant permission for using explosives forblasting the mountain, of the Secretary of

Page 190: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

190 J. G. Vargas-Hernández

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Defence (SEDENA) the company has begunits operations.

The company appealed but the judgedid not grant suspension against INAHdecision. On December 18, 2004 intellectuals,artists and around 50 civil, environmentaland Human Rights organizations stronglyrequested President Fox to respect andenforce the law at Cerro de San Pedro andto order Minera San Xavier to suspendactivities based on judicial resolutions andverdicts. The arguments of the organizations,among others,Frente Amplio Opositor, laAsociación Nacional de Abogados Demo-cráticos, la Unión Nacional de TrabajadoresAgrícolas y el Movimiento Agrario Indíge-na Zapatista (Maiz), were in favor to defendthe environmental, cultural and historicheritage and the imminent health risks ofmore than one million people Ejidatarioscontinued with a safety line in front of theentrance to the mine although it wasannounce that the Secretary of Economy ofMexico will grant a permit of temporal landoccupancy in the agrarian nucleus of Cerrode San Pedro in response to an applicationdone by MSX the 28th of June, 2004 (CruzMartinez 2004a). Thus, the Company andgovernment were looking for other optionsof land ownership such as Expropriation ortemporal occupancy. Butexpropriation isonly by cause of public utility.

On the 20 of December, The ThirdDistrict Court received the appeal presentedby the company against the decision of theINAH. The Canadian firm MetallicaResources Incorporated suffered a seconddecrease in the year of 16 percent in valueof shares on December 21, after informingshareholders over the resolutions of UnitaryAgrarian Tribunal which nulls the contractof leasing of 300 hectares in Cerro de SanPedro. Metallica Resources responded withan appeal and skating that would look forother option of land tenancy to have accessto mineral resources The first decrease in ayear, of around 20% occurred in mid 2004.

Members of Christian Science Monitor,were the first Canadians to come and witnessthe damage that has already happened, andthe potential for more harm. On December22, 2004 under strategic action, Mexicocitizen’s group sought halt in the Canadian-

owned mine, in responds to an urgent requestfor Canadian support to challenge legalityand operations.Sedena admitted participationin control and surveillance of blast that thecompany realized, confirming violation ofsuspension dictated by the judge in August,2004 ordaining not liberation of permit to useexplosives (Cruz Martinez, 2004). Anotherround of blasting was scheduled forDecember 31st. On December 18, the Muni-cipal President of Cerro de San Pedroannounced next detonation On the 15 ofNovember, 2003, The Commander of the 12Militar Zone of San Luis Potosí consideredthat authorization of the permit could affectnegatively to SEDENA.

The Secretary of National Defense, the30 of November 2003, agreed to suspend thepermit to use explosives granted to themining company, but on October 12, 2004,against resolutions of judged, signed andgranted permits of use of explosives. TheCommander of the military zone that hadopposed was removed from his position. OnNovember 22, SEDENA authorized to MSXthe use of explosives. However, the 24 ofDecember when authorizations were publicalready, the permits were suspended but notcancelled. The Secretaría de la Defensa Na-cional (Sedena), suspended the permit 3762-San Luis Potosí granted to MSX to buy andconsume explosive material under theargument that the license to the companywas altering the peace, tranquility and publicorder among people living in the region ofCerro de San Pedro, although the inhabitantshave denied alteration of public order (CruzMartinez, and Balboa, 2004).

The National Institute of Anthropologyand History (INAH) suited against directivesof the Transnational for destruction anddemolition of Finca Guadalupe, that datedsince the XVIII Century. The Broad OppositionFront sent a letter to the Canadian Embassyrequesting intervention to halt operations ofthe Canadian company who is blackmailingand pressing inhabitants of Cerro de San Pedrousing as arguments the NAFTA’s framework(Roman, Jose Antonio, 2004). The last twodays of December 2004, the lawyer of thecompany MSX got signatures among fakeejidatarios from Cerro de San Pedro and LaZapatilla, who would agree to use TNT (LaJornada, January 2, 2005).

Page 191: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

191Co-operation and conflict between firms, communities, new social movements and the roleof government the Cerro de San Pedro case

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

The Ministry of the Environment hastaken legal steps to have the previous courtrulings against the company overturned.SEMARNAT had promoted an appeal ofrevision to the resolution of cancelled permitbut had obtained in its favor a suspension toavoid cancellation of the permit. TheCommission of Governance, ConstitutionalIssues and Justice of the Permanent UnionCongress approved an agreement to requestinformation to SEMARNAT about the legalstatus of Minera San Xavier and to acceptthe resolution of the Court that cancels thepermit of operation of the open pit mining.A plural commission traveled to Cerro de SanPedro (La Jornada, January 12).

The destruction of a historic buildingcatalogued as a heritage monument of theXVIII Century in the town of Cerro de SanPedro by Minera San Xavier was reportedby La Jornada San Luis and Triunfo Elizalde(2005). The Finca o Casa de Guadalupe isincluded in the National Catalog ofHistorical Monuments. Access to the Fincawas n the area. On the 17 of January,protesters of AOF demanded INAH forinformation (Enciso, 2005e). The owners ofCasa Guadalupe, a historic real statedemolished by MNX suited the company fordispossession and damages. The building isin the catalog of historic constructions of theInstituto Nacional de Antropología e Historia(INAH). Personnel from INAH ordered tostop demolition on January 15. ThePatronato Pro Defensa del Patrimonio His-tórico y Cultural del Municipio Cerro SanPedro, demanded cancellation of concessionsto MNX for not fulfillment of the Mining Law(Enciso, 2005d).

According to the Secretary ofEnvironment and Natural Resources(SEMARNAT) Minera San Xavier hasfulfilled with 180 conditions established tofavor sustainable development (Enciso,2005c). The 20 of January, 2005, the BroadOpposition Front (AOF) Frente de OposiciónAmplia (FOA) to the Minera San Xavieraddressed an open letter to the ConstitutionalGovernor of the State of San Luis to denouncedamages caused by the blasts and the dangersand risks of planned mining operations.

The argument of the governor statingthat it was “an issue between particulars” is

severely criticized (Annex C.). Minera SanXavier suit for defamation to members of theBroad Opposition Front two ejidatarios ofCerro de San Pedro and the leader of a civilorganization Pro Defensa de Cerro de SanPedro (Cruz Martines, 2005a for thepublication of an article in La Jornada(Masiosare, 29 de Agosto de 2004). TheNational Network of Civil Organizations ofHuman Rights, All the Rights for All (la RedNacional de Organismos Civiles de DerechosHumanos Todos los Derechos Para Todos)started to circulate a setter of support to thethree accused, as an Urgent Action. MineraSan Xavier lost other judicial process when theThird Court of District from State denied anappeal against the National Institute ofAnthropology and History (Instituto Nacionalde Antropología e Historia, INAH), whorequested last December suspension of blastexplosions that damaged the historic heritage(Enciso, 2005b). In a public message, AOFsustained that in a shameful act of cynicismand impunity, Cardenas Jimenez hasrecommended the Minera to go to theTribunals without knowledge of the coursedlegal process (La Jornada, February 13). TheBroad Opposition Front to the MNXannounced in mid February 2005 that wouldpromote a demand of political suit fornegligence against the Minister of theEnvironment and Natural Resources whohave supported the company in a publichearing on the 11 of February (La Jornada,February 14). The Senate approved anagreement requesting SEMARNAT andSEDENA to explain their involvement in theMinera San Xavier case (Cruz Martinez, 2005).

On March 4, 2005 a conference/forumCuarto Concierto Cultural por la Defensa deCerro de San Pedro took place for the defenseof the environment the village and the rightsin Cerro de San Pedro, sponsored byPatronato Pro Defensa Cerro de San Pedro,marking the 413 anniversary of itsfoundation, the 4 of march of 1592. On March17, a KAIROS delegation formed by sevenAnglican, Lutheran, Presbyterian, RomanCatholic and United church leaders went toCerro de San Pedro to investigate a miningoperation owned by Metallica Resources, aCanadian company based on Ottawa thatstands accused of illegal gold mining in

Page 192: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

192 J. G. Vargas-Hernández

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

Mexico. The company threatens to destroyboth the historic town and the surroundingfragile ecology. The Canadians met withKAIROS’ Mexican partners and local peopleto bear witness to their struggle and broughtdetails home to Canada, including video andother documentation. “Foreign mining inMexico is another by-product of NAFTA andthe trade liberalization policies that affect thepoor,” said Lutheran National Bishop RaySchultz, a delegate with the KAIROSprogram. “When our Mexican partners raisedconcerns about this Canadian-owned mine,we felt we had to investigate.” (Kairos, 2004).

Representants of Kairos, formed by agroup of Canadian religious institutionsexpressed concerns over the conflict of theCommunity of Cerro de San Pedro and theCanadian company considering that thepractices of MNX violates Canadian Laws inMexican territory (Munoz, 2005). Previously,a member of the Broad Opposition Front hadtoured and campaigned in Canada lobbyingleaders of opinion and legislators. On March18, 2004, the Auxiliary Bishop Daniel Bohanof Toronto called on a Canadian company toabandon a Mexican gold and silver miningoperation using cyanide that locals fear willpoison their water. With a surge in goldprices, MSX executives want to moveforward and are searching for a legalbreakthrough that will allow MSX to beginexcavation and resume operations by mid-2005 (Campbell, 2004).

Under an irregular procedure, theCanadian Company promoted two appeals,but was denounced by the Pro Ecology Group.On 6 of April, 2005, a Tribunal inAdministrative matters of First Circuitinformed to MNX that had lost the appeal.Canadian legislators and Human andParliamentary Rights Canadian Organizationsformed a follow up and analysis committee toinvestigate actions of Metallica Resources,owner of the project Minera San Xavier. TheHuman Rights Canadian organization hadvisited previously the community of Cerro deSan Pedro (Enciso, 2005a).

The Canadian Ambassador in Mexicomet with the Broad Opposition Front to theMSX on the 4 of May and expressed theconcerns of the Canadian Government forthe conflict between the company and the

Community of Cerro de San Pedro. A groupof 30 environmentalist organizationsaccused the Minister of the Environment andNatural Resources to benefit transnationalcorporations approving projects such as theopen pit mining at Cerro de San Pedroagainst the will of the community anddemanded a change in the environmentalpolicy (Enciso, 2005). The protestors alsodenounced that the Minister has prosecutedenvironmental activists.

Oppositional groups win the judicialcontroversy against MNX after the First Courtof District (Juzgado Primero de Distrito) hasdismissed the appeal 503/2005, which wasthe last resource of the Company’s defense.(La Jornada, 9 de mayo, del 2005). TheGovernor of the State of San Luis Potosíordered to highjack a complete edition of thnewspaper La Jornada San Luis to avoid tobe know the publication of his officialmaneuvering for pressure the decision toinstall the mining company Minera SanXavier (Hernandez Lopez, 2005). 13 of May2005 is reported that after MetallicaResources presented looses in its first reportof the year, the owners of MNX plan towithdraw Cerro de San Pedro’s project andwill suit the NAFTA’s panel of controversiesCruz Martínez, Angeles (2005a).

Final remarks and conclusions

Mining activities are perceived as themain factor of marginal regions anddepressed zones. Mining concessions grantedby Mexican government is centralized, briefand against public hearings, in such a waythat affected groups and communities cannot react immediately and mobilize againstpotential risks and dangers or to negotiaterights and interests.

The Canadian firm Metallica ResourceIncorporated was at the point to destroy partof the environmental, cultural and historicheritage of the country, although there werethree judicial resolutions to halt operationsgranted by different authorities uponrequest of the. Ejidatarios who have rightsto own the land had been dispossessed. Itwas assumed that operations of the firmwere in complicity with the Federal, Stateand local governments.

Page 193: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

193Co-operation and conflict between firms, communities, new social movements and the roleof government the Cerro de San Pedro case

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

The environmental and health riskswould have side effects on more than onemillion people living in the localities of Cer-ro de San Pedro, la Soledad and San LuisPotosi. Norms were violated by thetransnational when it started operationswithout obtaining legal permit ofconstruction and operations andauthorization to manage and to storeexplosives.

Exploitation of gold trough open pitmining and use of cyanide lead todestruction of natural environments andirreversible geomorphologic alterations,distortions of watersheds, reduction on thequality of available water, transportaccidents of dangerous substances and spillover during the exploitation, irreversibledestruction of natural scenic and generationof deposits highly risky pollutant materialswhich have social, cultural andenvironmental impacts at short, medium andlarge terms (Montenegro, 2004).

The negotiation agenda andinternational mobilization around the debateover the concept of sustainable developmentand defense of the environment is a paradigmpresented as a model of cooperation andconsensus where the needs of all areincorporated and the greater have acompromise to support weaker. Interventionof the state and international community tobenefit the public interest and the commongood and to control forces of the state andto achieve more equity among populationstogether with the implementation of moresustainable production and consumerpatterns.

It is quite evident the lack of sensitivityof foreign mining companies toward theconsequents of their activities upon thecommunities and environment. To a certainextent, we disagree with Sánchez-Mejorada(2000) who argues that facts will not convincethe fringe environmental activists, the bestdefense is to address all environmentalconcerns and to have an aggressive communityrelations program that will put the facts beforethe general population that will be affected bythe project. Keeping a low profile will rarelywork when being assaulted by activists on allfronts. But, na aggressive community relationsprogram will escalate the conflict.

This case also shows the lack ofnegotiation between firms, communities,new social movements and governmentsInformation about externalities and futurecosts of company activities is crucial butmore crucial is formulation andimplementation of more sensitive policies toavoid damage of the environment,biodiversity and health of population.

Governmental institutions must beaware that their decisions may affect thecommunity quality of life of actual andfuture generations only for a small incrementin economic growth and large increase inprivate benefits of a small group of investors.More informed citizens tend to be moreactive protestors, such as the case of thestudents in San Luis. Contact betweeninformed individuals of diverse groups andorganizations help to exchange experiencesand create public opinion in favor ofmobilizations. Community participation andinvolvement in decision making ofcommunity development planning is quitelimited by the lack of critical information.This fact is critical when the localgovernment can not provide the rightinformation because there are other interestsaffecting the process. The impact of miningactivities is not part of the national politicaldebate agenda.

References

BORDER Ecology Project (1994). Environmental Protectionwithin the Mexican Mining

Sector and the Impact of World Bank Mining Loan #3359.Draft Report, April 1994.

CAMPBELl, Monica. Mexican town curbs mine giant.In: The Christian Science

Monitor. December 14, 2004 edition.

CORDERO DE ENCISO, Alicia. San Pedro Hill it stillworth a Potosi. In: México en el

Tiempo #. 19 july-august 1997. Mexico desconocidoOnline. 1997.

http://www.mexicodesconocido.com.mx/english/cultura_y_sociedad/

actividades_economicas/detalle.cfm?idsec=17&idsub=83&idpag=689.

CRUZ MARTINES, Angeles. El Senado aprobó unpunto de acuerdo en el que exhorta a las dependenciasa informar. Semarnat y Sedena deben explicar suparticipación con Minera San Xavier. In: La Jornada,Domingo 27 de febrero de 2005.

Page 194: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

194 J. G. Vargas-Hernández

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 7, N. 12, Mar. 2006.

______ . Dueños de Minera San Xavier planean retirarel proyecto, aseguran opositores” La Jornada, Viernes13 de mayo del 2005.

______. Admite Sedena que autorizó uso de explosivosa minera: ejidatarios. In: La Jornada, 24 de diciembre.2004.

________. Intelectuales y ONG exigen a Fox ordene aMinera San Xavier suspender actividades. In: La Jornada,19 de diciembre de 2004.

ANGELES; BALBOA, Juan. Suspende Sedena permisoa Minera San Xavier para manejar explosivos. In: LaJornada, 26 de diciembre de 2004.

ENCISO, Angélica. Ecologistas acusan a AlbertoCárdenas de beneficiar al sector Empresarial. In: LaJornada, 6 de Mayo. 2005.

______. Legisladores y ONG de Canadá decideninvestigar actos de Minera San Javier. In: La Jornada, 18de abril del 2005.

______. L. Niegan amparo a Minera San Xavier. In: LaJornada, 3 de Febrero, 2005.

______. Insiste Semarnat en defender a Minera SanXavier. In: La Jornada, 20 de Enero del 2005.

______. Dueños de la Casa Guadalupe denuncian aMinera San Xavier por daño y despojo,. In: La Jornada,19 de Enero del 2005.

______. Presenta el INAH demanda penal contra laMinera San Xavier. In: La Jornada, 18 de Enero del 2005.

HERNÁNDEZ LÓPEZ, Julio. Astillero. In: La Jornada.lunes 9 de mayo del 2005.

KAIROS. Delegation to Mexico looks at poverty,murder, Canadian miningctices and other free-tradeby-products MEDIA ADVISORY KAIROS—CanadianEcumenical Justice Initiatives. 2004.

LA JORNADa. San Luis and Triunfo Elizalde. MineraSan Xavier destruye un inmueble histórico del sigloXVIII. In: La Jornada, Domingo 16 de enero del 2005.

LOGSDON, Mark J. et. al. El uso del cianuro en la extracciónde oro. Traducido de la publicación en inglés titulada TheManagement of Cyanide in Gold Extraction, de Mark J.Logsdon, MScKaren Hagelstein, PhD, Cihterry I. Mudder,PhD, publicado el miércoles 3 de diciembre del 2003, en:http://www.i lustrados.com/publicaciones/EpZpVpEpkkjxcfwDzo.php16 de nov, 2004.

MARTÍNEZ RAMOs, Mario. Carta a Quien Corresponda.San Luis Potosí S.L.P/México, Setiembre 23 del 2004,en http://www.esquelonline.com/~noalamina/Sanluispotosi.htm, 5 de noviembre.

MONTEMAYOR, Carlos. Minera San Xavier despojóde tierras a habitantes de Cerro de San Pedro. IN: LaJornada, 20 de octubre del 2004. III Parte.

MONTENEGRO, Raul A. Estudio sobre el ImpactoAmbiental y Sanitario de las minas de oro. El caso CordónEsquel, en http://www.funam.org.ar/introduoro.htm,4 de noviembre del 2004.

MUÑOZ, Alma E. Destruye el TLCAN a las familias:grupos religiosos. In: La Jornada, 19 de marzo del 2005.

ROMÁN, José Antonio. Piden a Canadá obligar aMinera San Xavier a respetar ley Mexicana. In: LaJornada, 28 de diciembre del 2004.

RONCO, Jorge. Fundamentos de la Campaña Esquel, Ecositio 2002-2004, en

http://www.eco-sitio.com.ar/fundamentos_de_la_campana2.htm, 15 de nov del 2004.

SÁNCHEZ-MEJORADA, Rodrigo. Mining law inMexico. In: Mineral Resources Engineering, Vol. 9, No. 1,129-139. 2000.

Page 195: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Critérios para publicação

avanço das reflexões na área do DesenvolvimentoLocal.

Art. 6 - A entrega dos originais para a Revista deveráobedecer aos seguintes critérios:

I - Os artigos deverão conter obrigatoriamente:a) título em português, inglês e espanhol;b) nome do(s) autor(es), identificando-se em rodapé

dados relativos à produção do artigo, ao(s) seu(s)autor(es) e respectivas instituições, bem como aauxílios institucionais e endereços eletrônicos;

c) resumo em português e espanhol (máximo de 6linhas, ou 400 caracteres) e abstract fiel ao resumo,acompanhados, respectivamente, de palavras-chavee keywords, ambos em número de 3, para efeito deindexação do periódico;

d) texto com as devidas remissões bibliográficas nocorpo do próprio texto;

e) notas finais, eliminando-se os recursos das notas derodapé;

f) referências bibliográficas.II - Os trabalhos devem ser encaminhados dentro da

seguinte formatação:a) uma cópia em disquete no padrão Microsoft Word

6.0;b) três cópias impressas, sendo uma delas sem

identificação de autoria e outra acompanhada deautorização para publicação devidamente assinadapelo autor;

c) a extensão do texto deverá se situar entre 10 e 18páginas redigidas em espaço duplo;

d) caso o artigo traga gráficos, tabelas ou fotografias, onúmero de toques deverá ser reduzido em funçãodo espaço ocupado por aqueles;

e) a fonte utilizada deve ser a Times New Roman,tamanho 12;

f) os caracteres itálicos serão reservados exclusiva-mente a títulos de publicações e a palavras em idiomadistinto daquele usado no texto, eliminando-se,igualmente, o recurso a caracteres sublinhados, emnegrito, ou em caixa alta; todavia, os subtítulos doartigo virão em negrito;

g) as citações virão entre aspas, em fonte normal (nãoitálica).

III - Todos os trabalhos devem ser elaborados emportuguês ou espanhol, e encaminhados em três vias,com texto rigorosamente corrigido e revisado.

IV - Eventuais ilustrações e tabelas com respectivaslegendas devem ser contrastadas e apresentadasseparadamente, com indicação, no texto, do lugaronde serão inseridas. Todo material fotográfico será,preferencialmente, em preto e branco.

V - As referências bibliográficas e remissões deverãoser elaboradas de acordo com as normas dereferência da Associação Brasileira de NormasTécnicas (ABNT - 6023).

VI - Os limites estabelecidos para os diversos trabalhossomente poderão ser excedidos em casos realmenteexcepcionais, por sugestão do Conselho EditorialInternacional e a critério do Conselho de Redação.

Art. 1 - Interações, Revista Internacional do Programade Desenvolvimento Local da Universidade CatólicaDom Bosco, destina-se à publicação de matérias que,pelo seu conteúdo, possam contribuir para aformação de pesquisadores e para o desenvolvi-mento científico, além de permitir a constanteatualização de conhecimentos na área específica doDesenvolvimento Local.

Art. 2 - A periodicidade da Revista será, inicialmente,semestral, podendo alterar-se de acordo com asnecessidades e exigências do Programa; o calendáriode publicação da Revista, bem como a data defechamento de cada edição, serão, igualmente,definidos por essas necessidades.

Art. 3 - A publicação dos trabalhos deverá passar pelasupervisão de um Conselho de Redação compostopor cinco professores do Programa de Desenvolvi-mento Local da UCDB, escolhidos pelos seus pares.

Art. 4 - Ao Conselho Editorial Internacional caberá aavaliação de trabalhos para publicação.

Parágrafo 1º - Os membros do Conselho Editorial Inter-nacional serão indicados pelo corpo de professoresdo Programa de Mestrado em DesenvolvimentoLocal, com exercício válido para o prazo de dois anos,entre autoridades com reconhecida produçãocientífica em âmbito nacional e internacional.

Parágrafo 2º - A publicação de artigos é condicionada aparecer positivo, devidamente circunstanciado,exarado por membro do Conselho EditorialInternacional.

Parágrafo 3º - O Conselho Editorial Internacional, senecessário, submeterá os artigos a consultoresexternos, para apreciação e parecer, em decorrênciade especificidades das áreas de conhecimento.

Parágrafo 4º - O Conselho Editorial Internacional poderápropor ao Conselho de Redação a adequação dosprocedimentos de apresentação dos trabalhos,segundo as especificidades de cada área.

Art. 5 - A Revista publicará trabalhos da seguintenatureza:

I - Artigos originais, de revisão ou de atualização, queenvolvam, sob forma de estudos conclusivos,abordagens teóricas ou práticas referentes à pesquisaem Desenvolvimento Local, e que apresentemcontribuição relevante à temática em questão.

II - Traduções de textos fundamentais, isto, é daquelestextos clássicos não disponíveis em língua portu-guesa ou espanhola, que constituam fundamentosda área específica da Revista e que, por essa razão,contribuam para dar sustentação e densidade àreflexão acadêmica, com a devida autorização doautor do texto original.

III - Entrevistas com autoridades reconhecidas na áreado Desenvolvimento Local, que vêm apresentandotrabalhos inéditos, de relevância nacional einternacional, com o propósito de manter o caráterde atualidade do Periódico.

IV - Resenhas de obras inéditas e relevantes que possammanter a comunidade acadêmica informada sobre o

I N T E R A Ç Õ E SRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Page 196: INTERAÇÕES - site.ucdb.br · Reitor Pe. José Marinoni Pró-Reitor Acadêmico Pe. Jair Marques de Araújo Editora UCDB Av. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário 79117-900 Campo Grande-MS

Art. 7 - Não serão aceitos textos fora das normasestabelecidas, com exceção dos casos previstos noartigo anterior, e os textos recusados serão devol-vidos para os autores acompanhados de justificativa,no prazo máximo de três meses.

Art. 8 - Ao autor de trabalho aprovado e publicadoserão fornecidos, gratuitamente, dois exemplares donúmero correspondente da Revista.

Art. 9 - Uma vez publicados os trabalhos, a Revistareserva-se todos os direitos autorais, inclusive os detradução, permitindo, entretanto, a sua posteriorreprodução como transcrição, e com a devida citaçãoda fonte.

Para fins de apresentação do artigo, considerem-se osseguintes exemplos (as aspas delimitando os exemplosforam intencionalmente suprimidas):

a) Remissão bibliográfica após citações:

In extenso: O pesquisador afirma: “a sub-espécie Callithrixargentata, após várias tentativas de aproximação,revelou-se avessa ao contato com o ser humano”(SOARES, 1998, p. 35).Paráfrase: como afirma Soares (1998), a sub-espécieCallithrix argentata tem se mostrado “avessa ao contatocom o ser humano”...

b) Referências bibliográficas:

JACOBY, Russell. Os últimos intelectuais: a culturaamericana na era da academia. Trad. Magda Lopes. SãoPaulo: Trajetória/Edusp, 1990.SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo,razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.____. A redefinição do lugar. In: ENCONTRO NACIO-NAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA, 1995, Aracaju. Anais...Recife: Associação Nacional de Pós-Graduação emGeografia, 1996, p. 45-67.____. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.SOJA, Edward. Geografias pós-modernas: a reafirmaçãodo espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: JorgeZahar, 1993.SOUZA, Marcelo L. Algumas notas sobre a importânciado espaço para o desenvolvimento social. In: RevistaTerritório (3), p. 14-35, 1997.WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade: o uso humanode seres humanos. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1993.

c) Emprego de caracteres em tipo itálico: os programasde pós-graduação stricto sensu da universidade emquestão...; a sub-espécie Callithrix argentata tem semostrado...

Endereço para correspondência e permutas:Universidade Católica Dom Bosco

Programa de Desenvolvimento LocalAv. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário

Caixa Postal 100CEP 79117-900 Campo Grande-MS

Fone: (67) 3312-3593e-mail: [email protected]