ilmari book

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Entertainment & Humor


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A crônica de Ilmari

Prefácio

Os acontecimentos narrados nessas páginas, são relatos que contam a crônica do herói Ilmari e como ele se sacrificou para cumprir a sua promessa de derrotar Perkele, o dragão da tempestade. Os capítulos são divididos em runas, assim como foram em tempos passados.

Tive como inspiração para a criação de meu conto, a cultura finlandesa, em especial o épico Kalevala, e o conto de J.R.R. Tolkien, Os Filhos de Húrin, que por sua vez também tiveram grande influência da mitologia finlandesa, assim como de aspectos do jogo Dungeons and Dragons¹, no que diz respeito a caracterização do cenário e do personagem. O herói Ilmari, traz traços de personagens² da cultura poética finlandesa, inclusive traços aproveitados por Tolkien na criação de sua história, que é a trágica vida amorosa e a sua existência amaldiçoada, fadada a um terrível desfecho. A ligação da música do personagem com a magia também foi algo explorado dos finlandeses, que acreditavam que alguns tinham o dom de usar o som para manipular a realidade. O nome do personagem, significa em finlandês “ar”, e é o diminutivo de Ilmarinen, um dos heróis do Kalevala, seu título, Laullu-Synkkä (lau-lu Sun-ka), pode tanto significar som da tristeza, e se referir a dor que o acompanhou por ter perdido a sua noiva, quanto som da escuridão, referente ao eclipse que ele invocou durante sua ultima batalha.

¹Referência 1 – Bardo (D&D)Herói que usa do seu carisma para controlar a realidade a sua volta;Referência 2 – Druida (D&D)Herói com forte ligação com a natureza, podendo influenciar plantas e animais a seu favor;Referência 3 – Lirista Folchulcano (D&D)Aventureiros que combinam os poderes de bardo com os poderes da natureza;

²Referência 1 – Vainamoinen (Kalevala)Herói shamanista com poder mágico provindo do som e da música;Referência 2 – Ilmarinen (Kalevala)Artífice mágico;Referância 3 – Túrin (Os Filhos de Húrin)Vida amaldiçoada;

Runas

I. De Ilmari e Helmiänen(ou Henkianen/Valtamerinen/Meri?)II. Do dragão da tempestade e da destruição de ValtamerianörIII. Da última canção de IlmariIV. Da Floresta do Lamento e da descoberta da bibliotecaV. Da viagem para o reino dos mortosVI. Do Gigante enterrado e das sinfonias de poderVII. Da caçada por Perkele e da batalha final

De Ilmari e Helmiänen

Runa I

Ilmari era um jovem menestrel, amado e conhecido por todo reino de Valtamerianör. Não só dotado nas artes líricas e dono de uma sublime voz, que diziam ter o poder de encantar todos a sua volta, também era considerado um habilidoso espadachim. Não havia em sua vida espaço para tristeza, e diz-se que seu espírito era tão nobre que quando se apresentava fazia qualquer um esquecer-se dos próprios problemas por um instante. Também Imari estava apaixonado, a princesa Helmiänen, conhecida pela sua bondade e beleza, era sua noiva, e esperavam o solstício de verão para proferir suas preces na presença dos deuses. Para o rei Usko foi grande a felicidade quando Ilmari pediu a mão de sua filha, pois o amava como a um filho.

Do dragão da tempestadee da destruição de Valtamerianör

Runa II

Próximo ao solstício de verão, um terrível clima caiu sobre Valtamerianör, intempéries que não podiam ser oriundas dos deuses. Alguns acreditavam que a serpente alada da tempestade havia novamente acordado, mas mensagem de lugar algum acerca deste terror surgira.Até que por final, um dia, de longe do oceano, a criatura veio cortando o vento com toda sua ira e atacou os portões da cidade. Essa besta colossal trazia consigo a fúria selvagem da natureza, envolta em trovões e ventos uivantes. Foram chamados todos os guerreiros para defender a cidade do ataque, e todos velhos, crianças e mulheres foram instruídos a evacuar a cidade com urgência. Porém, nem todos conseguiram evacuar o reino, Helmiänen aflita pelo perigo que seu amado corria, fugiu do grupo que deixava o lugar para procura-lo e pedir que abandonasse a missão já perdida de defender a cidade contra a tirania da natureza. As muralhas já estavam em chamas e muitos guerreiros já haviam caído quando Ilmari viu por meio da fumaça a sua noiva, correndo pelo campo de batalha a seu encontro. Foi nesse exato momento que a horrenda criatura se interpôs entre os dois amantes e em sua campanha de devastação acertou Helmiänen com a sua cauda, jogando-a longe contra os escombros. Aos olhos de Ilmari a cena parecia não ter fim, era como se o tempo tivesse desacelerado para aumentar a sua dor. Quando finalmente chegou ao corpo de sua princesa, ela já não estava mais viva, em fúria Ilmari se jogou contra o dragão que roubara sua amada e lhe perfurou o olho com seu sabre, mas foi aí que a dor tomou o corpo do guerreiro, como se sua alma estivesse sendo atacada por milhares de relâmpagos e a luz deixou os seus olhos.

Da última canção de Ilmari

Runa III

Era o dia do solstício de verão, enfim, quando Ilmari recobrou a consciência. Junto dele estava o rei, e ambos não estavam mais em Valtamerianör, pois essa havia sido tomada pelo dragão, estavam na fortaleza do irmão de Usko, junto com todos os sobreviventes, algum dos homens o tinham encontrado desmaiado e o trouxeram para cá ao abandonarem Valtamerianör. Foi grande a dor quando Ilmari se lembrou do ocorrido, e triste a ironia ao lembrar-se que era esse o dia em que se casaria com Helmiänen, não o dia que a veria ser enterrada. Quando rei e Ilmari foram visitar o túmulo da donzela, estavam vários presentes para oferecerem suas preces, mas Ilmari não parecia mais ligar e ao ver sua amada, cantou por ela uma música triste de despedida, mas ninguém soube dizer de quem era a despedida, de Helmiänen ou de Ilmari, jurou junto à letra que a morte dela seria vingada, e que ele iria encontrar uma forma de provar que nem mesmo deuses são imortais. Essa foi a ultima vez que Ilmari cantou. Ilmari tornou-se recluso, e nem mesmo o rei conseguia fazê-lo falar. No seu tempo de solidão se dedicou a criar um novo instrumento, que chamou de Kântele, algo próximo da Lira, que uma vez havia sido um de seus instrumentos favoritos, só que com notas mais melancólicas. Da mesma forma que antes, suas composições ainda tinham efeito sobre os que as ouviam, assim como na natureza a sua volta, mas já não traziam paz e felicidade como outrora.

Da Floresta do Lamento e da descoberta da biblioteca

Runa IV

Logo que se recuperou dos ferimentos adquiridos na batalha, decidiu partir. Partir para a floresta, pois acreditava que somente com controle sobre a natureza iria poder enfrentar a criatura, que era uma deformação demoníaca da mesma. Ilmari aprendeu a se comunicar com as árvores e com os animais, assim como comandá-los e modificá-los, ele descobriu como fazer a natureza responder ao som de seu kantele. Uma vez Ilmari caminhava pela floresta em busca de compreensão, quando viu, no centro de uma clareira, um lobo maior do que qualquer um que já havia visto antes, estranhamente, ele sente nessa criatura o espírito de sua amada Helmiänen. O lobo parecia fazer menção de que ele deveria segui-lo, e foi o que ele fez, por horas e horas. Logo eles chegaram à parte mais antiga da floresta, onde ele jamais havia ido. Lá o lobo o levou a um local marcado por runas usadas na criação de magias, chamadas luottaas. As luottaas acendem na presença do herói e revelam uma passagem para o subterrâneo. Ilmari entra no local, acompanhado do lobo, e descobre que o local se trata de uma antiga biblioteca, usada por estudantes, tanto das artes da música quanto da natureza, e lá ele ficou e estudou.

Da viagem para o reino dos mortos

Runa V

Com conhecimento adquirido entre as estantes da biblioteca da floresta, muito Ilmari progrediu nas artes da magia. Mas nada que o permitisse acabar com o dragão Perkele até então. Porém, entre tomos e pergaminhos, Ilmari descobriu uma forma de chegar a Tuonela, o reino dos mortos, onde apenas os mais aptos xamãs eram capazes de ir, em busca dos conhecimentos mais ocultos e visões do futuro. Nesse período o seu lobo ganha o nome de Henki, que significa espírito, pois Ilmari acreditava que o espírito de Helmiänen podia ver através dos olhos dele, e a ligação existente entre eles é tão forte que eles aprenderam a partilhar ideias, sentimentos e inclusive as suas magias, sendo que um fica mais forte na presença do outro. Ilmari e o lobo partem para o submundo, atrás da magia capaz de cumprir a sua vingança. Lá, ilmari é recepcionado por seus entes perdidos e pela sua falecida noiva e pela primeira vez em anos ele volta a falar, declarando o seu amor por ela e o quanto sente a sua falta. Ela responde que um dia estarão juntos novamente e que enquanto esse dia não chegasse, ela sempre cuidaria dele, pois Henki foi enviada por ela para ser o seu protetor mas que agora deveriam encontrar o gigante enterrado, protetor do conhecimento profundo e da magia. Somente assim o mundo estaria livre do temperamento doentio de Perkele.

Do gigante enterrado e d’as sinfonias de poder

Runa VI

Ao encontrar o local de descanso do gigante, Ilmari o convoca pedindo auxílio em sua missão. O gigante, então, lê o coração do herói para ver se suas intenções são verdadeiramente nobres. Por fim Ilmari passa no seu teste e o gigante decide que Ilmari é digno de partilhar dos seus segredos. É-lhe revelado, então, que o ponto fraco da criatura também é o seu ponto mais forte, pois o seu único momento de vulnerabilidade é durante o eclipse, que também é o momento em que a natureza está mais agressiva. O gigante também conta que segundo uma antiga profecia, alguém seria capaz de domar a natureza mais formidavelmente que a própria natureza e retornaria toda a sua ira contra ela própria, tornando-a novamente pura. O gigante indica duas tábulas repletas de luottaas, quase tão grandes quanto ele, e diz que ali está o conhecimento necessário para acabar com a criatura, mas que ele encontra-se incompleto, que falta algum reagente para tornar os encantamentos possíveis. Se o herói fosse capaz de completar o encantamento, ele poderia enfrentar a ira da natureza e talvez domá-la. Ilmari senta-se no chão e começa a tocar o seu kantele enquanto lê as tábulas. Quando o gigante ouve o som que sai daquele estranho instrumento, imediatamente descobre que o som do kantele serviria como o reagente que faltava para completar as tabulas e começa a trabalhar no que ele irá chamar de sinfonias do poder.

Ilmari passa anos no submundo tocando sem parar, enquanto o gigante escreve as luottaas que faltavam. Por fim duas sinfonias são criadas, uma capaz de conjurar um eclipse que seguirá o conjurador durante horas e outra capaz de redirecionar a energia bruta dos elementos da natureza contra qualquer alvo. Ilmari recebe esse conhecimento e imbui Henki com o poder de convocar o eclipse, e o kentele com as runas capazes de redirecionar a ira da natureza.

Da caçada por Perkele e d’a batalha final

Runa VII

De volta ao plano dos mortais, vinte anos depois do ataque de Perkele, Ilmari e Henki se dirigem para a ruína da antiga Valtamerianör para o que será a catarse de seus destinos. Como transcorreu a batalha contra Perkele, pouco é lembrado ao certo, existindo vários relatos diferentes dos que de longe assistiram ao terrível espetáculo. Diz-se que nesse momento o mundo inteiro sofria violentamente com tempestades e as regiões perto de Valtamerianör sofreram com todos os tipos de fenômenos naturais. Em Valtamerianör, onde os inimigos se enfrentavam, dizem que a batalha foi travada por horas, no céu, na terra, no mar e na mente dos dois que se enfrentavam. Que o único som capaz de ser ouvido mais alto do que os ventos era o som vindo dos trovões que a criatura soltava e do kantele com suas sinfonias mágicas alterando a realidade do campo de batalha a cada nota. Em meio à batalha um uivo também foi ouvido, quando a lua tapou o sol, inesperadamente. Nesse momento, o clima já terrível só se intensificou, criando ondas gigantes, ciclones e chuvas de meteoros em volta de Valtamerianör, mas em nenhum momento o kantele foi silenciado. O dragão transformava aos poucos a paisagem em um monte de detritos irreconhecíveis, e o herói se esquivava de seus golpes com auxilio da parte natureza que ele tinha sob controle. Até que fogo, eletricidade, gelo e ar, tudo foi sugado em um raio de mil metros, por alguns segundos permaneceram comprimidos, até serem libertados em direção da besta colossal que chicoteava o ar com a sua monstruosa cauda. Tamanho foi o poder dessa rajada de energia, que a criatura que podia ser vista a mais de quilômetros, foi reduzida a pó. Nesse momento o clima de todo mundo se acalmou, e uma suave chuva desceu, como se os deuses chorassem pelo herói que não mais tocava seu kantele. Mais tarde O rei Usko mandou homens para Valtamerianör que encontraram o corpo de Ilmari sem vida, apoiado com as costas contra um muro que ainda estava de pé. Henki guardava o corpo do desfalecido herói, mas quando chegaram os guerreiros de Usko, ele correu para a floresta. O túmulo de Ilmari foi erguido ao lado do de Helmiänen, e a felicidade voltou ao coração de todos homens naquele momento, pois sabiam que o herói e sua amada estavam juntos novamente. Quanto a Henki, alguns dizem tê-lo visto em dias de eclipse, uivando na mesma clareira que o bardo Ilmari Laulu-Synkka uma vez o encontrou.

“Helmianen, Helmianen, minha querida Aqui estou junto a ti, banhado em prantoSe nao posso mais ter-te nesta vida,

Quero jurar-te amor eterno com meu canto. Vou cantar, minha bela, em meu lamento,Tua coragem, tua beleza, tua bondade

E após tanta tragédia e sofrimento,Serás minha e serei teu na eternidade.

Juro por fim, Helmianen, luz dos meus olhos,Que com a ajuda dos deuses e da sorte,

Lutarei sempre por ti, minha doce amadaE com coragem, vingarei tua morte.”

(Estrofe retirada da canção de despedida, composta por Ilmari)

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