grupo i – classe vii – plenário

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Page 1: GRUPO I – CLASSE VII – Plenário

GRUPO I – CLASSE VII – PlenárioTC-002.887/2007-2.

Natureza: Representação.Unidade: Coordenação-Geral de Logística do

Ministério da Justiça.Representante: Eridata Teleinformática Ltda.

SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO DE EMPRESA LICITANTE. EXIGÊNCIA DE REQUISITOS RESTRITIVOS AO COMPETITÓRIO. ANULAÇÃO DO CERTAME PELA UNIDADE. PERDA DE OBJETO. ARQUIVAMENTO.

A exigência, no ato convocatório, que as empresas licitantes e/ou contratadas apresentem declaração, emitida pelo fabricante do bem ou serviço licitado, de que possuem plenas condições técnicas para executar os serviços, são representantes legais e estão autorizadas a comercializar os produtos e serviços objeto do termo de referência, restringe o caráter competitivo do certame licitatório e contraria os arts. 3º, § 1º, inciso I, e 30 da Lei n. 8.666/1993.

RELATÓRIO

Cuidam os autos da Representação formulada pela empresa Eridata Teleinformática Ltda. (fls. 01/09), noticiando possíveis irregularidades constantes do edital do Pregão Eletrônico n. 005/2007, promovido pela Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça – GGL/MJ, tendo por objeto a “prestação de serviços técnicos de operação e manutenção preventiva e corretiva em Central Telefônica, PABX, CPA (Central por Programa Armazenado), CPCT (Central Privada de Comutação Telefônica), Digital, da Marca Ericsson, Modelo MD 110, Versão BC 12” (fls. 11/26).2. A principal ocorrência relatada pelo Representante diz respeito à exigência indevida contida no subitem 16.5 do anexo I do edital (Termo de Referência), consubstanciada na necessidade de os licitantes apresentarem “declaração do fabricante dos equipamentos instalados no MJ de que a empresa tem plenas condições técnicas para executar os serviços, bem como é representante legal e está autorizado a comercializar os produtos e serviços objeto deste termo de referência”. Diante disso, solicitou a suspensão cautelar da abertura do Pregão, o impedimento à adjudicação/homologação, caso já tenha sido aberto, o impedimento da assinatura de futuro contrato ou a suspensão de eventual contrato já existente (fl. 08).3. Ao instruir o feito, a 6ª Secex apurou que tal exigência somente seria imposta à empresa vencedora, com o intuito de assegurar a qualidade da prestação dos serviços e os melhores resultados para a Administração, dada a elevada complexidade e técnica requeridas (fls. 90/95). Outrossim, constatou-se alteração no Termo de Referência do edital, o qual passou a fazer idêntica exigência à acima descrita no

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subitem 11.1 (fl. 81). Na mesma oportunidade, teceu as seguintes considerações meritórias acerca da questão em tela:

“2.1 Relativamente ao subitem 16.5 [do anexo I do edital], objeto da representação, observa-se que está sendo exigida uma declaração do fabricante, informando que a empresa licitante: (i) tem condições técnicas para executar os serviços; (ii) é representante legal do fabricante; e (iii) está autorizada a comercializar os produtos e serviços objeto da licitação. Em análise preliminar, entende-se que a exigência é excessiva, violando o caráter competitivo do certame, pelas seguintes razões:

(i) já está sendo exigida, sob a forma de atestado de capacidade técnica, no subitem 8.1.1 do edital (fl. 72), a comprovação de que a empresa tem condições técnicas para executar os serviços (essa condição é prevista no art. 30, § 1º, inciso I da Lei n. 8.666/93). Assim, a exigência de que o fabricante declare essa capacidade técnica é excessiva e ultrapassa o permitido em Lei, contrariando a parte final do inciso XXI do art. 37 da Constituição Federal;(ii) os representantes legais são pessoas aptas a representar a pessoa jurídica de acordo com o ato constitutivo correspondente. Para cumprir essa exigência, as empresas deveriam constar do estatuto ou contrato social do fabricante. Dessa forma, a obrigação mostra-se injustificada, além de não constar do rol de documentos previstos no art. 30 da Lei n. 8.666/93;(iii) o requisito de autorização mostra-se restritivo ao caráter competitivo porque afasta do certame o mercado potencial de empresas que não sejam autorizadas pelos fabricantes, além de deixar ao arbítrio desses fabricantes indicar quais representantes poderão participar da licitação. Como forma de assegurar o cumprimento e qualidade das obrigações pactuadas, requisito alegado pela pregoeira no subitem 1.9 desta instrução, poderia ser exigida a prestação de garantia contratual, prevista no art. 56 da Lei n. 8.666/93.

2.2 Assim, os parâmetros que podem ser estabelecidos no edital para atestar a capacidade técnica do licitante são, exclusivamente, aqueles previstos no art. 30 da Lei n. 8.666/1993. Como essa declaração do fabricante não faz parte do exaustivo rol de documentos do citado dispositivo, sua cobrança não encontra amparo legal. 2.3 Em relação ao novo edital publicado (fls. 71/89), que passou a exigir a declaração do fabricante da empresa vencedora, houve apenas alteração do momento da exigência. De acordo com a nova redação, as empresas não precisam da declaração do fabricante para concorrer, porém, a vencedora do certame deverá apresentá-la no ato da contratação. Ora, da mesma forma, somente participarão do certame aquelas que têm condições de cumprir a exigência. Verifica-se, portanto, a permanência de restrição à competitividade. 2.4 Cabe registrar que, em licitações envolvendo bens e serviços de informática não é raro a exigência de apresentação da chamada ‘carta de solidariedade’ ou ‘carta de responsabilidade’ do fabricante, porém, apenas como critério de pontuação. Em geral, essa carta tem como finalidade garantir que a assistência técnica e a manutenção dos equipamentos sejam realizados de acordo com os padrões mínimos estipulados pelos próprios fabricantes (Acórdãos TCU ns. 1.670/2003 e 223/2006, ambos do Plenário). 2.5 Observa-se que a declaração questionada tem características similares à ‘carta de solidariedade’, pois exige do potencial licitante um vínculo com o fabricante.

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2.6 Ora, no caso em comento, não se trata de licitação de bens ou serviços de informática, do tipo técnica e preço, onde poderia haver critério de pontuação. Trata-se de licitação de serviços comuns – manutenção de central telefônica –, do tipo menor preço. Por essa razão, não procede a justificativa apresentada para a manutenção da exigência na resposta à impugnação de que o pregão trata de serviços de alta complexidade, bem como de técnica que envolve alta especialização. 2.7 Além disso, a declaração do fabricante, embora exigida apenas do licitante vencedor, tem características de critério de habilitação, conforme observado no subitem 2.3 anterior. O trecho do Acórdão TCU n. 223/2006 reforça a sua impertinência:

‘12. O edital do Pregão n. 05/2005, item 5.2.4, prevê a exigência de ‘Carta de Responsabilidade do Fabricante, se comprometendo com a licitante, quanto à entrega dos equipamentos dentro do prazo estabelecido’. O assunto já foi tratado pelo Tribunal na Decisão n. 486/2000 – Plenário, que determinou que os órgãos licitantes:8.5.12. não incluam a exigência, como condição de habilitação, de declaração de co-responsabilidade do fabricante do produto ofertado, por falta de amparo legal, além de constituir uma cláusula restritiva do caráter competitivo das licitações, por não ser, em princípio, uma condição indispensável à garantia do cumprimento das obrigações advindas dos contratos a serem celebrados (cf. art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei n. 8.666/93, e art. 37, inciso XXI, parte final, da Constituição Federal;’

2.8 Assim, entende-se que a exigência de declaração do fabricante contida no subitem 16.5 do anexo I do edital implica restrição ao caráter competitivo do certame, violando o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei n. 8.666/93 e o art. 9º, inciso I do Decreto n. 5.450/2005, além de não se enquadrar na documentação prevista no art. 30 da Lei de Licitações como documentação relativa à qualificação técnica”.

4. Além dessa irregularidade, a unidade instrutiva constatou a existência de outra cláusula restritiva ao competitório, contida no subitem 16.1 do anexo I do edital, a qual impõe que a “empresa deverá possuir em seu quadro permanente de pessoal técnicos devidamente registrados no CREA, com nível superior: engenheiro elétrico, eletrônico ou de telecomunicações”. Todavia, após discorrer sobre a inadequação desse requisito à luz da jurisprudência do TCU e da Lei n. 8.666/1993, a 6ª Secex ressalta que essa questão encontra-se superada, porquanto publicada alteração do edital no Diário Oficial da União de 08/02/2007, a qual passou a aceitar, além de profissional de nível superior, outro devidamente reconhecido por entidade competente (fl. 72).5. Em conclusão, foi proposta preliminarmente a oitiva do responsável pela Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça acerca da restrição mencionada no item 3 acima, providência acatada por este Relator, consoante Despacho de fl. 97.6. Recebidas as justificativas da GGL/MJ, a unidade técnica assim as resume e examina (fls. 126/128):

“2. PRONUNCIAMENTO DO ÓRGÃO2.1 O Coordenador-Geral de Logística afirma que é inverídica a representação apresentada pela empresa Eridata de que a exigência em questão extrapolaria o contido no art. 30 da Lei n. 8.666/93, quanto à qualificação técnica dos licitantes. 2.2 Isso porque a exigência questionada não diz respeito à fase de habilitação, como dispõe o citado artigo, mas sim quanto à documentação a ser exigida da licitante que se sagrar vencedora do certame.

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2.3 Nessa linha de raciocínio, cita o TC 015.190/1997-8 (Decisão TCU n. 134/1998 – Plenário), em que esta Corte de Contas entendeu que a exigência de declaração do licitante de que possui capacidade mensal de produção instalada somente tem pertinência em relação ao licitante vencedor. Afirma que o julgado se aplica ao caso em questão, pois, embora o objeto seja distinto, o sentido seria o mesmo, ou seja, o de não exceder os limites fixados pela Lei para habilitação, sem, contudo deixar de preocupar-se em contratar empresa que tenha capacidade operativa.2.4 Continua alegando que, sendo o objeto de elevada complexidade e alta especialização, a Administração não pode descuidar-se quanto à futura contratação, assegurando-se por todos os meios permitidos pela legislação vigente e pelos ensinamentos desta Corte de Contas como o referido anteriormente.2.5 Cita ainda o Acórdão TCU n. 1.917/2003 – Plenário em que esta Corte posicionou-se no sentido de que ‘a comprovação de capacidade técnico-operacional possa ser feita mediante atestados, desde que a exigência guarde proporção com a dimensão e complexidade da obra e dos serviços a serem prestados’.2.6 Para corroborar que o objeto licitado é de alta complexidade e alta especialização informa que apenas cinco empresas retiraram o edital e apenas a ora denunciante propôs impugnação do edital. Por fim, informa que o julgamento da impugnação esclareceu que a declaração seria exigida apenas do vencedor da licitação e não na fase de habilitação. 3. ANÁLISE3.1 Como já analisado no item 2.3 da instrução inicial (fl. 92), o argumento trazido pela Coordenação-Geral de Logística, relacionado à fase processual em que a declaração será apresentada, não pode ser considerado válido, na medida em que, efetivamente, só poderá ser contratada a empresa que atenda a exigência indevida. Assim, a permanência da condição, mesmo exigida em momento posterior, acarreta restrição à competitividade. 3.2 Com relação ao TC 015.190/1997-8, citado pela representada, observa-se que não se aplica ao caso em análise, uma vez que são situações completamente distintas. Naquele caso, cujo objeto trata de obras de engenharia, a empresa pode alcançar o requisito necessário à contratação apenas por ações a seu cargo. No caso em tela, fica ao alvedrio do fabricante conceder ou não a declaração exigida. Não há qualquer providência a ser adotada, caso o fabricante, por sua estratégia de mercado, opte por fornecer essa declaração a apenas um prestador de assistência técnica, independentemente da eventual capacidade técnica de outras empresas. 3.3 Também não procede a alegação de que, com a exigência em questão, a Administração visa a assegurar-se por todos os meios permitidos pela legislação vigente e pelos ensinamentos desta Corte quanto à futura contratação, uma vez que a obrigação exigida não tem previsão na Lei de Licitações, nem em julgados desta Corte. 3.4 A Constituição Federal, no art. 37, XXI, ao tratar da licitação pública, veda exigências de qualificação técnica e econômica que não sejam indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações pelo contratado. A Lei n. 8.666/93, nos artigos 30 e 31, ao regulamentar o comando constitucional, fixa os requisitos máximos, de qualificação técnica e econômico-financeira, que podem ser exigidos pela Administração ao promover o certame licitatório. Assim, exigências de qualificação que ultrapassem os limites legais e constitucionais mencionados, como a que se comenta, justificam e ensejam a anulação do ato, ou do procedimento administrativo viciado.

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3.5 O Acórdão TCU n. 1.917/2003 – Plenário, também citado pela representada, aborda a exigência de atestados referentes à fase de habilitação, que guardem proporção com a dimensão e complexidade dos serviços a serem prestados. Ora, tendo afirmado a representada que ‘a exigência atacada não diz respeito à fase de habilitação...’, o argumento utilizado também não procede. 3.6 Registre-se que o edital em tela já faz exigência de atestado de capacidade técnica, no subitem 8.1.1 do edital (fl. 72), condição prevista no art. 30, parágrafo 1º, inciso I da Lei n. 8.666/93.3.7 O argumento utilizado pela CGL/MJ para corroborar a alta complexidade e alta especialização do objeto do certame (o fato de que apenas cinco empresas retiraram o edital) não pode ser acatado. A participação no certame de poucas licitantes não implica, necessariamente, que o objeto licitado é de alta complexidade e alta especialização”.

7. Ao final, após consignar a existência de outros pregões promovidos por órgãos e entidades públicos com objetos similares ao ora pretendido, nos quais não foi observada a restrição em comento, a 6ª Secex, em pareceres uniformes, propõe ao Tribunal que (fl. 129):

7.1 – conheça da representação, com fulcro no art. 113, § 1°, da Lei n. 8.666/1993, c/c o art. 237, inciso VII, do RI/TCU, para, no mérito, considerá-la procedente;

7.2 – fixe o prazo de 15 dias, com fundamento no art. 71, inciso IX, da Constituição Federal, para que a Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça adote as providências necessárias para a anulação do Pregão n. 005/2007 e suspenda qualquer ato decorrente do certame;

7.3 – determine à Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça que, caso entenda necessário promover nova licitação para contratação dos serviços objeto do Pregão n. 005/2007, abstenha-se de exigir, no ato convocatório, que as empresas licitantes e/ou contratadas apresentem declaração, emitida pelo fabricante do bem ou serviço licitado, de que possuem plenas condições técnicas para executar os serviços, são representantes legais e estão autorizadas a comercializar os produtos e serviços objeto do termo de referência, uma vez que essa exigência restringe o caráter competitivo do certame e contraria o art. 3º, § 1º, inciso I, da Lei n. 8.666/1993;

7.4 – encaminhe cópia desta deliberação ao órgão Representado e informe a Representante sobre as providências adotadas. 8. Estando os autos em meu Gabinete para apreciação, ingressou expediente da empresa Eridata Teleinformática Ltda. solicitando a suspensão, em caráter cautelar, do certame, e no mérito, a declaração de sua nulidade (fls. 131/133).

É o Relatório.

PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO

A presente Representação formulada pela empresa Eridata Teleinformática Ltda., dando notícia de irregularidades na realização do Pregão n. 005/2007, promovido pela Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça, merece ser conhecida, porquanto encontra amparo nos arts. 113, § 1°, da Lei n. 8.666/1993 e 237, inciso VII, do Regimento Interno/TCU.2. Preliminarmente, registro que o Pregão em tela foi anulado pelo Ministério da Justiça na data de 19/03/2007, consoante informação contida no Ofício n. 410/2007-CGL/SPOA/SE/MJ, de 20/03/2007, entregue ao meu Gabinete, e publicação no Diário

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Oficial da União de hoje (21/03/2007), Seção 3, fl. 49, o que impõe o reconhecimento da perda de objeto do processo.3. Ainda em sede de preliminar, cumpre consignar que, mediante contato telefônico mantido entre minha assessoria e o setor encarregado do Ministério da Justiça pela licitação em questão, verificou-se que o Pregão n. 005/2007 encontrava-se suspenso até decisão desta Corte de Contas nestes autos, razão pela qual deixei de apreciar o pedido cautelar em caráter monocrático, eis que não mais subsistiria o periculum in mora.4. Outrossim, estando o feito em condições de ter o seu mérito apreciado em definitivo, entendi, por questões de economia processual, que seria mais adequada a sua célere inclusão em pauta, para julgamento pelo Colegiado competente, em sede de cognição exauriente.5. No mérito, em que pese a anulação do certame e o conseqüente prejuízo à apreciação de procedência ou improcedência da Representação, reputo necessários alguns comentários sobre o caso. A propósito, observo que a única irregularidade remanescente consistiria, basicamente, na inserção no edital do Pregão n. 005/2007 de exigência restritiva à ampla competitividade, materializada pela imposição à vencedora de apresentar “declaração do fabricante dos equipamentos instalados no MJ de que a empresa tem plenas condições técnicas para executar os serviços, bem como é representante legal e está autorizado a comercializar os produtos e serviços objeto deste termo de referência”, consoante subitem 16.5 do edital inicial e 11.1 do edital retificado e republicado.6. Com relação ao tema, reputo relevante trazer a baila algumas considerações que fiz por ocasião do julgamento do TC 004.260/2006-7, que versaram sobre a possibilidade de exigências de qualidade técnica em procedimentos licitatórios (Acórdão n. 877/2006 – Plenário):

“8. Acerca do assunto, vale tecer algumas considerações à luz da doutrina, da jurisprudência e dos dispositivos constitucionais e legais pertinentes. O Prof. Marçal Justen Filho apresenta a definição de que qualificação técnica ‘em termos sumários, consiste no domínio de conhecimentos e habilidades teóricas e práticas para execução do objeto a ser contratado.’ (in Comentário à Lei de Licitação e Contratos, 10 Ed., p. 316). Depreende-se do conceito retro que os requisitos técnicos, que podem ser exigidos para habilitação de interessados, visam a garantir a condição destes de executar o objeto licitado, em face das circunstâncias e peculiaridades do interesse público.9. Essas exigências situam-se na órbita da conveniência e da oportunidade de a Administração impor requisitos mínimos para melhor selecionar os potenciais interessados para futura avença. Ainda que seja de todo impossível à Administração evitar o risco de o contratado vir a se revelar incapaz tecnicamente de executar a prestação devida, o estabelecimento de certas qualificações permite a redução desse risco.10. Dessarte, esse procedimento, quando adotado dentro do princípio da razoabilidade, encontra amparo no ordenamento jurídico, não configurando restrições ao caráter competitivo do certame licitatório. Com efeito, mister se faz trazer à baila o Enunciado de Decisão n. 351, desta Corte de Contas: ‘A proibição de cláusulas ou condições restritivas do caráter competitivo da licitação não constitui óbice a que a Administração estabeleça os requisitos mínimos para participação no certame considerados necessários à garantia da execução do contrato, à segurança e perfeição da obra ou do serviço, à regularidade do

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fornecimento ou ao atendimento de qualquer outro interesse público (fundamentação legal, art. 3º, § 1º, inciso I, Lei n. 8.666/1993)’.11. Por outro lado, é cediço que o princípio da isonomia, com assento no caput do art. 5º, como também no art. 37, inciso XXI, ambos da Carta Política, deve nortear todos os procedimentos administrativos no âmbito da Administração Pública. No mesmo sentido, a legislação infraconstitucional impõe a necessidade de garantir tratamento equânime aos interessados em contratar com a Administração, uma vez que o art. 3º, caput e § 1º, incisos I e II, da Lei n. 8.666/1993, fazem menção ao aludido princípio, além de vedarem expressamente condutas discriminatórias, assim como, o § 2º do mesmo dispositivo reafirma a idéia de igualdade.12. Impende frisar que a verificação de qualificação técnica não ofende o princípio da isonomia. Tanto é que o próprio art. 37, inciso XXI, da CF, que estabelece a obrigatoriedade ao Poder Público de licitar quando contrata, autoriza o estabelecimento de requisitos de qualificação técnica e econômica, desde que indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações. No entanto, o ato convocatório há que estabelecer as regras para a seleção da proposta mais vantajosa para administração, sem impor cláusulas desnecessárias ou inadequadas que restrinjam o caráter competitivo do certame.13. Por outras palavras, pode-se afirmar que fixar requisitos excessivos ou desarrazoados iria de encontro à própria sistemática constitucional acerca da universalidade de participação em licitações, porquanto a Constituição Federal determinou apenas a admissibilidade de exigências mínimas possíveis. Dessarte, se a Administração, em seu poder discricionário, tiver avaliado indevidamente a qualificação técnica dos interessados em contratar, reputando como indispensável um quesito tecnicamente prescindível, seu ato não pode prosperar, sob pena de ofender a Carta Maior e a Lei de Licitações e Contratos.14. Nesse mesmo norte, já decidiu o STJ (MS 7814/DF, Rel. Min. Francisco Falcão, 1ª Seção, Julgamento 28/08/2002, Publicação DJ 21/10/2002, p. 267), conforme abaixo:

‘O interesse público reclama o maior número possível de concorrentes, configurando ilegalidade a exigência desfiliada da lei básica de regência e com interpretação de cláusulas editalícias impondo condição excessiva para a habilitação. Mandado de segurança denegado.’

15. Por fim, esclareço que a Administração, ao interpretar a legislação infraconstitucional – Lei n. 8.666/1993, especificadamente os dispositivos que se referem à qualificação técnica –, deve utilizar-se da técnica da ‘interpretação conforme’, buscando um desempenho que se revele compatível ao texto constitucional (inciso XXI do art. 37). É o que ensina Alexandre de Moraes em sua obra Direito Constitucional (14ª ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 45), de acordo com o excerto que se segue:

‘A supremacia das normas constitucionais no ordenamento jurídico e a presunção de constitucionalidade das leis e atos normativos editados pelo poder público competente exigem que, na função hermenêutica de interpretação do ordenamento jurídico, seja sempre concedida preferência ao sentido da norma que seja adequado à Constituição Federal. Assim sendo, no caso de normas com várias significações possíveis, deverá ser encontrada a significação que apresente conformidade com as normas constitucionais, evitando sua declaração de inconstitucionalidade e

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conseqüente retirada do ordenamento jurídico.’ (grifo não consta do original)”.

7. Retornando ao caso concreto, considero desarrazoada a exigência de declaração do fabricante dos equipamentos instalados no MJ de que a empresa vencedora do Pregão tem plenas condições técnicas para executar os serviços, bem como é representante legal e está autorizada a comercializar os produtos e serviços objeto do termo de referência, porquanto tal imposição não se mostra compatível com o mandamento constitucional que veda a exigência de qualificações técnicas e econômicas não-indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações do contrato (art. 37, XXI, da CF).8. Com efeito, essa condição contrapõe-se ao disposto no art. 3°, § 1°, inciso I, da Lei n. 8.666/1993, haja vista ser vedada a inclusão de cláusulas ou condições que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu caráter competitivo e estabeleçam preferências ou distinções em razão de qualquer outra circunstância impertinente ou irrelevante para o específico objeto do contrato.9. Consoante bem ressaltou a unidade técnica, a exigência em tela não consta do rol de documentos previsto no art. 30 da Lei de Licitações, podendo, portanto, ser taxada de impertinente, subsumindo-se ao descrito no art. 3° acima mencionado.10. Demais disso, ela confere poder demasiado e irrestrito ao fabricante dos equipamentos, o qual poderia, por questões mercadológicas, comerciais ou outras quaisquer, simplesmente deixar de “habilitar” algumas empresas tecnicamente aptas para a prestação dos serviços ou, ainda, escolher determinados “parceiros” que considere mais adequados para representá-la e comercializar seus produtos e serviços, em detrimento de outras empresas com iguais capacidades técnicas.11. Portanto, tem-se por vulnerado, nessa situação, o princípio da isonomia, bem como o da ampla competitividade, eis que a exigência em comento limita a participação no certame às empresas “credenciadas” pela fabricante dos equipamentos instalados no Ministério da Justiça, sem qualquer respaldo legal para tanto. 12. Não obstante a anulação do competitório, creio pertinente determinar à Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça que, caso entenda necessário promover nova licitação para contratação dos serviços objeto do Pregão n. 005/2007, abstenha-se de exigir, no ato convocatório, que as empresas licitantes e/ou contratadas apresentem declaração, emitida pelo fabricante do bem ou serviço licitado, de que possuem plenas condições técnicas para executar os serviços, são representantes legais e estão autorizadas a comercializar os produtos e serviços objeto do termo de referência, uma vez que essa exigência restringe o caráter competitivo do certame e contraria os arts. 3º, § 1º, inciso I, e 30 da Lei n. 8.666/1993.

Ante o exposto, manifesto-me por que seja adotada a deliberação que ora submeto a esse colegiado.

T.C.U., Sala das Sessões, em 21 de março de 2007.

MARCOS BEMQUERER COSTARelator

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ACÓRDÃO Nº 423/2007 - TCU - PLENÁRIO

1. Processo n.º TC - 002.887/2007-2.2. Grupo I; Classe de Assunto: VII – Representação.3. Representante: Eridata Teleinformática Ltda.4. Unidade: Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça.5. Relator: Auditor Marcos Bemquerer Costa.6. Representante do Ministério Público: não atuou.7. Unidade Técnica: 6ª Secex.8. Advogados constituídos nos autos: Drs. Eduardo Han, OAB/DF n. 11.714; Arthur Octávio Bellens Porto Marcial, OAB/DF n. 20.600; Carlos Roberto Guimarães Marcial, OAB/DF n. 1.330/A; Marco Antonio Meneghetti, OAB/DF n. 3.373; Maurício Maranhão de Oliveira, OAB/DF n. 11.400; Marília de Almeida Maciel Cabral, OAB/DF n. 11.166; Celi Depine Mariz Delduque, OAB/DF n. 11.975; Jonas Cecílio, OAB/DF n. 14.344; André de Sá Braga, OAB/DF n. 11.657; Márcio Herley Trigo de Loureiro, OAB/DF n. 11.712; e Carolina Pieroni, OAB/DF n. 17.512.

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos da Representação formulada pela

empresa Eridata Teleinformática Ltda., noticiando possíveis irregularidades constantes do edital do Pregão Eletrônico n. 005/2007, promovido pela Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça, tendo por objeto a “prestação de serviços técnicos de operação e manutenção preventiva e corretiva em Central Telefônica, PABX, CPA (Central por Programa Armazenado), CPCT (Central Privada de Comutação Telefônica), Digital, da Marca Ericsson, Modelo MD 110, Versão BC 12”.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. com fundamento nos arts. 113, § 1°, da Lei n. 8.666/1993 e 237, inciso VII, Regimento Interno/TCU, conhecer da presente Representação, para considerá-la prejudicada ante a perda do objeto;

9.2. determinar à Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça, com fundamento no inciso I do art. 43 da Lei 8.443/1992, c/c inciso II do art. 250 do Regimento Interno/TCU, que, caso entenda necessário promover nova licitação para contratação dos serviços objeto do Pregão n. 005/2007, abstenha-se de exigir, no ato convocatório, que as empresas licitantes e/ou contratadas apresentem declaração, emitida pelo fabricante do bem ou serviço licitado, de que possuem plenas condições técnicas para executar os serviços, são representantes legais e estão autorizadas a comercializar os produtos e serviços objeto do termo de referência, uma vez que essa exigência restringe o caráter competitivo do certame e contraria os arts. 3º, § 1º, inciso I, e 30 da Lei n. 8.666/1993;

9.3. encaminhar cópia deste Acórdão, acompanhado do Relatório e da Proposta de Deliberação que o fundamentam, à Coordenação-Geral de Logística do Ministério da Justiça e informar à representante Eridata Teleinformática Ltda. sobre as providências adotadas por este Tribunal;

9.4. arquivar os autos.

10. Ata n° 11/2007 – Plenário

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Page 10: GRUPO I – CLASSE VII – Plenário

11. Data da Sessão: 21/3/2007 – Ordinária12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-0423-11/07-P13. Especificação do quórum:13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Marcos Vinicios Vilaça, Valmir Campelo, Guilherme Palmeira, Ubiratan Aguiar, Augusto Nardes, Aroldo Cedraz e Raimundo Carreiro.

13.2. Auditor convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.13.3. Auditor presente: Marcos Bemquerer Costa.

WALTON ALENCAR RODRIGUES MARCOS BEMQUERER COSTAPresidente Relator

Fui presente:

LUCAS ROCHA FURTADOProcurador-Geral

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