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1 GRUPO I – CLASSE VII – Plenário TC 026.384/2015-9. Natureza: Representação. Entidade: Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ. Interessada: Estrada Brasil Transportadora Ltda. (10.429.502/0001-96). Representação legal: não há. SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES EM PREGÃO ELETRÔNICO. OITIVA. ESCLARECIMENTOS INSUFICIENTES PARA ELIDIR AS IRREGULARIDADES SUSCITADAS. PROCEDÊNCIA. DETERMINAÇÃO. ANULAÇÃO DA LICITAÇÃO. CIÊNCIA. ARQUIVAMENTO. RELATÓRIO Trata-se de representação versando sobre possíveis irregularidades ocorridas na Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, relacionadas ao Pregão Eletrônico 4/2015, cujo objeto é a “contratação de serviços de locação de veículos, incluindo motorista devidamente habilitado, para o transporte de pessoas a serviço do INSS, bem como para o transporte de materiais, documentos e pequenas cargas”. 2. Adoto, como parte integrante deste relatório, a bem elaborada instrução produzida no âmbito da Secex-RJ, pelo Auditor José Augusto Porto Neto, vazada nos seguintes termos: INTRODUÇÃO 1. Cuidam os autos de representação a respeito de possíveis irregularidades ocorridas na Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, relacionadas ao Pregão Eletrônico 4/2015, cujo objeto é a contratação de serviços de locação de veículos, incluindo motorista devidamente habilitado, para o transporte de pessoas a serviço do INSS - Parâmetro "A", bem como para o transporte de materiais, documentos e pequenas cargas - Parâmetro "B", atendendo, dessa forma, à demanda da Gerência Executiva Campos dos Goytacazes/RJ e demais unidades de sua abrangência.

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GRUPO I – CLASSE VII – Plenário TC 026.384/2015-9. Natureza: Representação. Entidade: Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ. Interessada: Estrada Brasil Transportadora Ltda. (10.429.502/0001-96). Representação legal: não há.

SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES EM PREGÃO ELETRÔNICO. OITIVA. ESCLARECIMENTOS INSUFICIENTES PARA ELIDIR AS IRREGULARIDADES SUSCITADAS. PROCEDÊNCIA. DETERMINAÇÃO. ANULAÇÃO DA LICITAÇÃO. CIÊNCIA. ARQUIVAMENTO.

RELATÓRIO

Trata-se de representação versando sobre possíveis irregularidades ocorridas na Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, relacionadas ao Pregão Eletrônico 4/2015, cujo objeto é a “contratação de serviços de locação de veículos, incluindo motorista devidamente habilitado, para o transporte de pessoas a serviço do INSS, bem como para o transporte de materiais, documentos e pequenas cargas”.

2. Adoto, como parte integrante deste relatório, a bem elaborada instrução produzida no âmbito da Secex-RJ, pelo Auditor José Augusto Porto Neto, vazada nos seguintes termos:

INTRODUÇÃO

1. Cuidam os autos de representação a respeito de possíveis irregularidades ocorridas na Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, relacionadas ao Pregão Eletrônico 4/2015, cujo objeto é a contratação de serviços de locação de veículos, incluindo motorista devidamente habilitado, para o transporte de pessoas a serviço do INSS - Parâmetro "A", bem como para o transporte de materiais, documentos e pequenas cargas - Parâmetro "B", atendendo, dessa forma, à demanda da Gerência Executiva Campos dos Goytacazes/RJ e demais unidades de sua abrangência.

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EXAME DE ADMISSIBILIDADE

2. Inicialmente, cabe registrar que o documento original foi intitulado de denúncia. Todavia, a representação preenche os requisitos de admissibilidade constantes no art. 235 do Regimento Interno do TCU c/com os arts. 237, VII, do Regimento Interno, e 113, § 1º, da Lei 8.666/93, haja vista a matéria ser de competência do Tribunal, referir-se à responsável sujeito à sua jurisdição, estar redigida em linguagem clara e objetiva, conter nome legível, qualificação e endereço do representante, bem como encontrar-se acompanhada do indício concernente à irregularidade ou ilegalidade atinente especificamente a licitação pública. 3. Ainda em sede de juízo de admissibilidade, necessário verificar, consoante orientação veiculada no Memorando-Circular n. 25/2013-Segecex, se a representante não está se valendo do TCU para obter a tutela de interesse próprio, ao que não se presta a atividade jurisdicional desta Corte de Contas. Em relação a isso, cabe ressaltar a alteração recente do artigo do Regimento Interno do TCU disciplinador das medidas cautelares, art. 276, pela qual se substituiu a expressão “direito alheio” por “interesse público”, como forma de explicitar que o TCU não se constitui em foro adequado para a busca, por terceiros, de seus direitos. 4. É inegável que a representante busca satisfazer interesse próprio por intermédio de sua representação, já que almeja reverter decisão que definiu outra licitante como vencedora do certame, conforme se verá adiante, motivação essa explicitada na defesa que fez da necessidade movida “de salvaguardar seus interesses no processo licitatório” (peça 1, p. 4). 5. Por outro lado, é indubitável que a representação cuida de matéria de interesse público, pois contempla alegações de que a condução do certame em questão afrontaria os princípios basilares da licitação, como o da vinculação ao instrumento convocatório e da legalidade. 6. Satisfeitos assim os requisitos de admissibilidade, a representação poderá ser apurada, para fins de comprovar a sua procedência, nos termos do art. 234, § 2º, segunda parte, do Regimento Interno do TCU, aplicável às representações de acordo com o parágrafo único do art. 237 do mesmo RI/TCU.

SITUAÇÃO ATUAL

7. O quadro a seguir demonstra os principais marcos e a situação atual do pregão eletrônico regido pelo Edital 4/2015:

8. Uasg: 512082

9. Processo Administrativo: 35308.000675/2014-92

10. Valor de Referência: R$ 254.629,56

11. Pregoeiro Oficial: Ronald Eduardo Ribeiro Soares.

12. Responsável pela Unidade: Geisa Marcia Barcellos de Siqueira.

13. Data da Sessão Pública: 17/9/2015.

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14. Vencedora do Pregão Eletrônico 4/2015: Mar & Mar Veículos Ltda.

15. Data da adjudicação: 29/9/2015

Menores Lances Apresentados na Sessão Pública de 17.9.2015

16. No decorrer da sessão pública de 17/9/2015, as 11 licitantes participantes do Pregão Eletrônico 4/2015 apresentaram os seguintes menores lances, os quais determinaram o quadro classificatório a seguir:

EMPRESA LICITANTE CNPJ VALOR CLASS.

VALOR GLOBAL ESTIMADO (12XR$ 21.219,13)

R$ 254.629,56

Mar & Mar Veículos Ltda. - ME 06.697.330/0001-64

R$ 247.890,00 1º

Estrada Brasil Transportadora Ltda. – ME

10.429.502/0001-96

R$ 248.200,00

Mundial Serviços Ltda. - ME 11.907.591/0001-00

R$ 248.650,00

I Master Serviços Ltda. - ME 19.048.341/0001-65

R$ 249.300,00

Multibem Transportes Ltda. - EPP 00.929.581/0001-40

R$ 254.629,56 5º

Sibelly Transportes Ltda. 40.217.234/0001-00

R$ 255.000,00

Braga & Novaes Locadora de Veículos Ltda. – EPP

09.323.210/0001-95

R$ 270.000,00

Ricarte Rebouças Locação de Veículos Ltda. – EPP

10.383.428/0001-14

R$ 291.892,00 8º

Locadora Martins e Oliveira Eireli – ME

02.994.717/0001-21

R$ 300.000,00

GVP Autolocadora & Serviços Ltda. – ME

08.466.488/0001-59

R$ 300.000,00

PP Rent a Car e Transportes Ltda. – EPP

11.023.327/0001-03

R$ 300.000,00

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Fonte: www.comprasgovernamentais.gov.br

17. Conforme o demonstrado no quadro anterior, onze licitantes participaram do certame licitatório. Na disputa de preços ocorrida na Sessão Pública de 17/9/2015, a empresa Mar & Mar Veículos Ltda. - ME ofertou o preço de R$ 247.890,00, valor 2,64% mais baixo que o valor de referência do certame (R$ 254.629,56), 17,32% menor que a colocada em último lugar (R$ 300.000,00) e 0,1% inferior à segunda colocada (R$ 248.200,00).

EXAME TÉCNICO

18. A representante aponta na exordial (peça 1) indícios de impropriedades na condução do Pregão Eletrônico 4/2015. De acordo com a representante, a empresa vencedora do certame, Mar & Mar Veículos Ltda. - ME, na elaboração de sua planilha de custos e, por conseguinte, de sua proposta de preços, teria usufruído dos benefícios oferecidos pelo regime de tributação do Simples Nacional, do qual é optante, o que resultou na redução dos custos e gastos ante a taxação de impostos diferenciada e favorável que tal regime dispensa às microempresas e empresas de pequeno porte.

19. Segundo a representante, ao assim proceder, a Gerência Executiva do INSS/Campos dos Goytacazes teria beneficiado a empresa vencedora ao permitir que sua proposta de preço se baseasse no regime do Simples Nacional, podendo apresentar planilha com custos e despesas abaixo das demais empresas participantes do certame:

Muito embora o instrumento convocatório assegure a garantia de participação de empresas pertencentes ao Simples, a manutenção das exigências postas atenta contra os princípios basilares que regem a licitação pública, restringindo a igualdade e a ampla competitividade, uma vez que ao apresentar sua planilha de custos a empresa vencedora se baseou no regime tributário ao qual é participante, gerando custos e despesas abaixo dos demais licitantes, isso sem mencionar a necessidade de mudança de tributação que deverá adotar quando da contratação, o que pode gerar riscos e prejuízos futuros a administração pública no aceite da referida proposta, já que não foi feita com tributação a que estará sujeita a empresa quando da contratação. (peça 1, p. 2)

20. Insurgiu-se ainda a representante contra “o fato do pregoeiro rejeitar o direito de intenção de recorrer apresentado tempestivamente, não esclarecendo/fundamentando sua decisão, ferindo o exercício do direito ao contraditório e da ampla defesa da denunciante” (peça 1, p. 2).

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21. Diante de tais indícios de irregularidades, a impetrante solicitou a ação de controle deste tribunal para apuração dos atos tidos como contrários aos princípios que regem a licitação pública e que os tornariam “nulos ante a afronta à legislação aplicável”, bem como a aplicação sanções pertinentes aos responsáveis. (peça 1, p. 2)

22. Consoante o art. 276 do Regimento Interno/TCU, o Relator poderá, em caso de urgência, de fundado receio de grave lesão ao Erário, ao interesse público, ou de risco de ineficácia da decisão de mérito, de ofício ou mediante provocação, adotar medida cautelar, determinando a suspensão do procedimento impugnado, até que o Tribunal julgue o mérito da questão. Tal providência deverá ser adotada quando presentes os pressupostos do fumus boni iuris e do periculum in mora.

Informações Preliminares Solicitadas à Unidade

23. Nos termos do Memorando-Segecex 16/2012, foi encaminhada mensagem eletrônica àquela unidade (peça 2) solicitando esclarecimentos e informações básicas a respeito do certame, expediente atendido pelo Gerência Executiva do INSS, em 7/10/2015 (peça 3).

24. Por meio da referida mensagem arguiu-se o pregoeiro, a respeito dos seguintes questionamentos:

a) a empresa vencedora do certame, Mar & Mar Veículos Ltda. – ME, teria feito uso de benefícios oferecidos pelo regime de tributação ao qual aderiu (Simples Nacional) vedados pelo edital para a elaboração de sua proposta, o que teria permitido reduzir significativamente os custos e formulação de proposta em valor abaixo do devido (itens 6 e 10 do edital);

b) no recurso interposto contra a decisão de aceitação da proposta vencedora, o pregoeiro teria deixado de considerar o exame comparativo entre as planilhas de custos apresentadas pelas empresas Mar & Mar Veículos Ltda. – ME e Estrada Brasil Transportadora Ltda., 1ª e 2ª colocadas respectivamente;

c) não teria sido considerado pelo pregoeiro que, por ocasião da contratação, poderia ser necessária a alteração no regime de tributação, elevando o preço global do instrumento contratual, com riscos de prejuízos futuros à administração pública no aceite da referida proposta, já que a proposta global apresentada pela Mar & Mar Veículos Ltda. – ME, e, consequentemente, sua planilha de custos, não teriam sido elaboradas com base na tributação a que estará sujeita a empresa quando da assinatura do respectivo contrato;

d) ainda segundo a representante, a Comissão de Licitação, contrariamente

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ao disposto no edital e na própria resposta concedida à impugnação interposta pela empresa Estrada Brasil Transportadora Ltda., aceitou a inclusão dos benefícios advindos do Simples Nacional na composição dos custos relativos à mão de obra, sobre a qual a empresa Mar e Mar Veículos Ltda. – ME teria se beneficiado em relação às demais licitantes, por não cotar itens do grupo A na planilha de custos.

25. Por meio de mensagem encaminhada a este tribunal (peça 3), o Sr. Pregoeiro:

a) respondeu que o edital referente ao Pregão Eletrônico 4/2015 não vedava a participação de microempresas e de empresas de pequeno porte, conforme o disposto nos itens 6.1.2.1, 6.1.4 e 6.1.5 do ato convocatório;

b) informou que a intenção de recurso interposta pela representante, Estrada Brasil Transportadora Ltda., foi rejeitada pelo Pregoeiro “uma vez que o questionamento da licitante fundamentava-se exclusivamente no fato de que a licitante vencedora beneficiou-se do enquadramento diferenciado de tributação por ser optante pelo simples nacional, quando da elaboração das Planilhas.” Tal situação está claramente esclarecida no item 6.1.4 do Edital (peça 3, p.1);

c) informou o Pregoeiro que, mesmo com a possibilidade de mudança do regime de tributação aplicável à empresa vencedora do certame durante a celebração do contrato para a prestação dos serviços previstos no Pregão Eletrônico 4/2015, com a exclusão do Simples Nacional, “nenhum custo adicional será repassado à administração, conforme deixa claro o item 6.3 do edital”;

d) esclareceu que independentemente de o fato da licitante vencedora ter ofertado o menor preço do certame ao considerar em seus custos o regime tributário diferenciado, simplificado e favorecido do Simples Nacional, “se futuramente excluída do regime diferenciado de tributação, deverá arcar com ônus da nova tributação, não repassando qualquer custo adicional ao INSS” (peça 3);

26. Levando em conta os informes trazidos aos autos pelo condutor do Pregão Eletrônico 4/2015, fica patente que o edital referente ao certame aqui apreciado permitiu, de forma regular, a participação das microempresas e das empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional.

27. Ao julgar improcedente a impugnação ao subitem 10.3.2 do edital interposta pela representante, ainda na fase inicial do procedimento licitatório, o Sr. Pregoeiro apresentou parecer no sentido de que o objeto do Pregão Eletrônico 4/2015, locação de veículo com motorista, por envolver

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cessão de mão de obra, estaria a exigir a exclusão do Simples Nacional por parte das licitantes participantes do certame:

Na situação em vertente, deve-se ter em vista a disposição do § 3º do artigo 31 da Lei 8.212/91, verbis: § 3º Para os fins desta Lei, entende-se como cessão de mão-de-obra a colocação à disposição do contratante, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados que realizem serviços contínuos, relacionados ou não com a atividade-fim da empresa, quaisquer que sejam a natureza e a forma de contratação. (Redação dada pela Lei 9.711, de 1998). Como já aduzido, estando o motorista inteiramente à disposição do INSS, inclusive utilizando as instalações da unidade da autarquia, forçoso concluir que o contrato envolve objeto misto, cessão de mão de obra e locação de bem móvel, de sorte a exigir a exclusão do Simples, conforme determinado no edital. Nesse mesmo sentido, cabe destacar que mesmo a consulta interna da SRFB colacionada pelo impugnante já excepciona as situações em que a forma de prestação de serviços se enquadra no dispositivo acima colacionado (fls. 370). Assim, somos conduzidos à conclusão de que o fornecimento de mão de obra mencionado nas consultas internas 02/2012 e 64/2012 da SRFB é aquele no qual não o empregado cedido não fica à inteira disposição do tomador, exegese que melhor se adéqua às leis de regência. Conclui-se, portanto, que não assiste razão à impugnante. (peça 1, p. 8 e 9)

28. Assim, tendo por referencial as disposições contidas no subitem 10.3.2 do edital, o comando passado às licitantes, por intermédio da apreciação da mencionada impugnação, teria sido o de que, por envolver o Pregão Eletrônico 4/2015 objeto alegadamente misto, cessão de mão de obra e locação de veículo, incidiria sobre as microempresas e empresas de pequeno porte participantes a vedação contida no art. 17, inciso XII da Lei Complementar 123/2006:

Art. 17. Não poderão recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte: XII - que realize cessão ou locação de mão-de-obra.

29. O regime de tributação a ser considerado na formulação das propostas de preços pelas licitantes, bem como por ocasião da celebração do contrato, foi abordado no edital de forma pouco clara. Isso porque, no subitem 10.3.2, foi informado que, se a vencedora do certame optante do Simples Nacional viesse a ser contratada para a prestação de serviços mediante a cessão de mão de obra, não poderia ser beneficiada pela sua condição de optante do Simples Nacional. Ora, essa é a regra geral aplicável a tal situação. Tanto que, nesse mesmo subitem 10.3.2, de modo específico, fez ressalva no sentido de que tal fato somente poderia ocorrer se a

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contratação fosse alvo da exceção prevista no art. 18, § 4º, inciso V, da Lei Complementar 123/2006, ou seja, a locação de bens móveis.

30. Trata o art. 18, § 4º, inciso V, da Lei Complementar 123/2006 justamente das microempresas e empresas de pequeno porte optantes do Simples Nacional prestadoras dos serviços de locação de bens móveis e da forma como serão tributadas:

Art. 18. O valor devido mensalmente pela microempresa ou empresa de pequeno porte, optante pelo Simples Nacional, será determinado mediante aplicação das alíquotas constantes das tabelas dos Anexos I a VI desta Lei Complementar sobre a base de cálculo de que trata o § 3o deste artigo, observado o disposto no § 15 do art. 3º

(...)

§ 4º O contribuinte deverá considerar, destacadamente, para fim de pagamento, as receitas decorrentes da:

(...)

V - locação de bens móveis, que serão tributadas na forma do Anexo III desta Lei Complementar, deduzida a parcela correspondente ao ISS.

Análise

31. Uma vez que o universo das licitantes participantes do Pregão Eletrônico 4/2015 envolve empresas classificadas como microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP), optantes ou não do Simples Nacional, cabe discorrer, inicialmente, em apertada síntese, a respeito do funcionamento dessas empresas.

32. O Simples Nacional é um regime tributário diferenciado, simplificado e favorecido, previsto na Lei Complementar 123, de 14/12/2006, aplicável às microempresas e às empresas de pequeno porte a partir de 1/7/2007.

33. Nem toda microempresa ou empresa de pequeno porte é optante do Simples Nacional, mas toda empresa optante do Simples Nacional é microempresa ou empresa de pequeno porte. O que define o enquadramento de uma empresa como microempresa ou empresa de pequeno porte é o volume de seu faturamento, no caso, receita bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 para a microempresa e faturamento igual ou inferior a R$ 3.600.000,00 para as empresas de pequeno porte, valores esses passíveis de atualização periódica. Já a opção da microempresa e da empresa de pequeno porte pelo Simples Nacional irá depender do tipo de atividade que explorem. A Lei Complementar 123/2006, alterada pela Lei

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Complementar 147/2014, excepciona as microempresas e empresas de pequeno porte que não podem optar pelo Simples Nacional, em razão das atividades que exercem.

34. A questão apresentada neste processo, em essência, resume-se às seguintes questões: podem as microempresas e as empresas de pequeno porte fornecedoras de serviços de locação de veículos com motorista ser optantes do Simples Nacional? Podem essas empresas participarem de licitações ou, de modo específico, de pregões eletrônicos cujo o objeto seja a locação de veículos com motorista? E ainda, podem tais empresas, caso vencedoras do certame, permanecerem no Simples Nacional ou teriam que abdicar desse regime diferenciado e adotar o regime tributário comum inerente às empresas não optantes do Simples Nacional?

35. Como sabemos, as planilhas de custos e despesas elaboradas com as vantagens de que dispõem as empresas optantes do Simples Nacional, dada a exclusão de itens tais como os permitidos pelo art. 13, § 3º, da Lei Complementar 123/2006 (Sesi, Sesc, Senai, Senac, Incra e salário educação) contribuem de forma sensível para que essas empresas beneficiadas tenham a possibilidade de oferecer bens ou serviços a seus clientes ou contratantes por valores indubitavelmente menores que aquelas empresas não contempladas com os benefícios do Simples Nacional. Mantidas todas as demais variáveis constantes, em tese, o valor global da locação de veículos com motorista, como é o caso aqui apresentado, ao considerar na composição de seus custos o regime de tributação pelo Simples Nacional, ceteris paribus, é bom enfatizar, será consideravelmente menor que àquela composição de custos e despesas que leva em conta a carga tributária inerente ao regime comum de tributação.

36. Assim, como regra geral, é pacífico o entendimento de que é possível a participação de microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional em licitações para contratação de serviços contemplados com cessão ou locação de mão de obra, mesmo que vedados pelo art. 17, inciso XII, da Lei Complementar 123/2006, desde que comprovada a não utilização dos benefícios tributários do regime tributário diferenciado na proposta de preços e que, caso venha a ser contratada, faça a comunicação ao órgão fazendário competente, para fins de exclusão do regime diferenciado, para que passe a recolher os tributos pelo regime comum.

37. Inúmeros são os entendimentos nesse sentido, como por exemplo, o decisum deste tribunal manifestado nos autos do TC 019.311/2012-5:

As microempresas, ao prestarem serviços que envolvam cessão de mão

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de obra, não podem valer-se dos benefícios tributários inerentes ao Simples Nacional, em razão da vedação contida no inciso XII do art. 17 da Lei Complementar nº 123/2006.” (Acórdão 1914/2012-Plenário)

38. Tratando, de modo específico, do caso apresentado nos presentes autos, se considerarmos os serviços de locação de mão de obra com motorista como aqueles em que há típica cessão de mão de obra, então a empresa optante do Simples Nacional, caso vencedora do certame, teria sim que abrir mão dessa condição, solicitar à Receita Federal sua exclusão dessa opção diferenciada, simplificada e favorecida de tributação e celebrar o contrato sob a égide de um regime comum de tributação.

39. Observa-se dos autos que, na resposta à impugnação efetuada sobre o item 10.3.2 do edital, descrita no item 27 desta instrução, foi dada interpretação de que a locação de veículo com motorista, por envolver cessão de mão de obra, constituiria objeto “misto”, que demandaria a exclusão do Simples Nacional por parte das licitantes participantes do certame. Na fundamentação desse entendimento, disseminado aos participantes, foram tecidas considerações pelo parecerista que aludiram a suposta necessidade de redução de riscos trabalhistas e previdenciários devido à existência de parcela de pagamentos atinentes à cessão de mão de obra.

40. Ocorre que a submissão ou não da empresa ao regime do Simples Nacional é questão de natureza tributária federal e, por consequência, da competência da Receita Federal.

41. Desde 2007, sem alterar seu posicionamento, a Receita Federal vem mantendo o entendimento de que “é assegurado à pessoa jurídica devotada a locar bens móveis, independentemente do fornecimento concomitante da mão de obra necessária à sua utilização, o direito de optar pelo sistema simplificado de pagamento de tributos denominado Simples Nacional, desde que ela não se enquadre em nenhuma hipótese legal de vedação da opção”. (Solução de Consulta 64 – Cosit):

Parecer Data Descrição da Conclusão do Parecer

Solução de Divergência

Cosit 7/2007

30/4/2007

Pode optar pelo Simples a pessoa jurídica que explore contrato de locação de veículos, independentemente do fornecimento concomitante de mão-de-obra de motorista, uma vez que não fica caracterizada a locação de mão-de-obra, e desde que não se enquadre em qualquer das demais vedações legais a tal opção.

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Ato Declaratóri

o

RFB 5/2007

4/5/2007

Pode optar pelo Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (Simples), de que trata a Lei nº 9.317, de 5 de dezembro de 1996, a pessoa jurídica que explore contrato de locação de veículos, independentemente do fornecimento concomitante de mão-de-obra de motorista, desde que não se enquadre em qualquer das demais vedações legais a tal opção.

Solução de Consulta

Cosit 40/2009

27/4/2009

Pode optar pelo Simples Nacional a pessoa jurídica que explora contrato de locação de veículos, independentemente do fornecimento concomitante de mão-de-obra de motorista, uma vez que, para este fim, não fica caracterizada a locação de mão-de-obra, e desde que não se enquadre em qualquer das demais vedações legais a tal opção.

Solução de Consulta

Cosit 61/2010

5/7/2010

As microempresas e empresas de pequeno porte que explorem contrato de locação de veículos, independentemente do fornecimento concomitante de mão-de-obra de motorista, podem optar pelo Simples Nacional, desde que não se enquadrem em qualquer das demais vedações legais a tal opção.

Solução de Consulta

Cosit 88/2011

25/8/2011

A pessoa jurídica optante pelo Simples Nacional que realize a atividade de locação de veículos com fornecimento de mão-de-obra de motorista não se sujeita à retenção da contribuição previdenciária de 11% sobre o valor bruto da nota fiscal, fatura ou recibo de prestação de serviços, a que se refere o art. 112 da IN RFB nº 971, de 2009.

Consulta Interna 1/2011

Pode optar, pelo Simples Nacional a pessoa jurídica que explore contrato de locação de bens móveis, independentemente do fornecimento concomitante de mão-de-obra necessária à sua utilização, desde que não se enquadre em nenhuma das vedações legais à opção.

Solução de Consulta

Cosit 2/2012

27/1/2012

Pode optar, pelo Simples Nacional a pessoa jurídica que explore contrato de locação de bens móveis, independentemente do fornecimento concomitante de mão-de-obra necessária à sua utilização, desde que não se enquadre em nenhuma das vedações legais à opção.

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Solução de Consulta

Cosit 312/2012

12/3/2012

As microempresas e empresas de pequeno porte que explorem contrato de locação de veículos, independentemente do fornecimento concomitante do motorista, podem optar pelo Simples Nacional”. Isso porque “o objeto contratual constitui, em essência, locação de veículo com motorista para transporte de pessoas e mercadorias”, o que não justifica sua classificação como locação de mão de obra (art. 17, XII, da referida lei).

Solução de Consulta

Cosit 27/2013

13/9/2013

Pode optar pelo Simples Nacional a pessoa jurídica que explore contrato de locação de veículos, independentemente do fornecimento concomitante de mão-de-obra necessária à sua utilização, desde que não se enquadre em nenhuma das vedações legais à opção.

Solução de Consulta

Cosit 64/2013

30/12/2013

É assegurado à pessoa jurídica devotada a locar bens móveis, independentemente do fornecimento concomitante da mão de obra necessária à sua utilização, o direito de optar pelo sistema simplificado de pagamento de tributos denominado Simples Nacional, desde que ela não se enquadre em nenhuma hipótese legal de vedação da opção.

42. Na Solução de Consulta 64-Cosit, de 30/12/2013 a Receita Federal reconhece que, no caso da locação de veículos com motorista, “a cessão de mão-de-obra é meramente incidental, não se revestindo em fundamento razoável para obstar a adesão ao Simples Nacional das empresas que se dedicam à locação desses bens”.

43. O próprio Tribunal de Contas da União, em brilhante voto apresentado pela relatoria, ao apreciar os autos do TC 004.111/2013-3, Acórdão 1349/2013-TCU-Plenário, questão semelhante à tratada nos presentes autos, afastou a possibilidade de que a licitante optante do Simples Nacional tivesse que mudar, por ocasião da celebração do contrato, caso vencedora do certame, o seu regime de tributação para o de lucro real ou presumido inerente às empresas não optantes daquele regime diferenciado, simplificado e favorecido, aplicável somente às microempresas e às empresas de pequeno porte, conforme o previsto na Lei Complementar 123/2006:

Cuidam os autos de representação interposta pela empresa Milhas Turismo Ltda. - EPP (CNPJ 13.637/797/0001-84) acerca de supostas irregularidades ocorridas no Pregão 02/2012, realizado pelo Núcleo Estadual do Ministério da Saúde em Minas Gerais, com o objetivo de

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contratar empresa para prestação do serviço de transporte de pessoas e documentos, por meio de veículos de médio porte, incluindo o fornecimento de motorista, combustível, seguro total e obrigatório, equipamento de GPS e sistema de rastreamento de veículos, bem como outros encargos necessários à execução dos serviços.

2. Em apertada síntese, a autora da representação aduz que a empresa vencedora do certame, Ribal Locadora de Veículos Ltda. (CNPJ 07.605.506/0001-73), não preenchia os requisitos legais para participar da licitação e prestar os serviços licitados, porquanto era optante do regime tributário Simples Nacional e, nos termos do art. 17 da Lei Complementar 123/2006 c/c o Anexo I da Resolução-CGSN 6, de 18/6/2007, a inclusão ao referido regime era vedada à empresa que prestasse serviço de transporte intermunicipal e interestadual de passageiros.

3. Por esse motivo, requereu a suspensão do certame em caráter de urgência, a oitiva dos membros da Comissão de Licitação e do Diretor Jurídico do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde em Minas Gerais, além da ciência do Ministério Público junto a este Tribunal.

4. A Secex/MG, conforme a análise técnica transcrita no relatório precedente, entendeu que a legislação aplicável a matéria não vedava à participação em licitações, mas à manutenção da opção pelo Simples, caso a empresa fosse selecionada para prestar os serviços. Por esse motivo, propôs que fosse realizada a oitiva dos interessados, previamente à decisão de conceder ou não a medida cautelar.

5. Acerca do assunto, divirjo do entendimento esposado pela unidade técnica. A inclusão da empresa Ribal Locadora de Veículos Ltda. no Sistema Simples, se de fato fosse indevida, deveria ter constado dos registros cadastrais da empresa no Sistema Sicaf ou, então, das certidões apresentadas por ocasião da licitação, uma vez que a violação ao art. 17 da Lei Complementar 123/2006 implicaria inevitavelmente situação de irregularidade fiscal da licitante, a ensejar sua inabilitação.

6. Todavia, conforme os documentos que minha assessoria fez juntar aos autos (certidão negativa de débito e situação de regularidade fiscal no Sicaf), observo que a situação fiscal da empresa Ribal Locadora de Veículos Ltda. (CNPJ 07.605.506/0001-73) perante a Secretaria da Receita Federal do Brasil é absolutamente regular, não havendo, portanto, razão para se impugnar o Pregão 02/2012 e o contrato dele decorrente.

7. Poder-se-ia cogitar, nesse ponto, que a empresa estaria incidindo em

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violação à legislação tributária, a qual ainda não havia sido identificada pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.

8. Entretanto, compulsando o comprovante de inscrição e de situação cadastral da empresa juntado aos autos, observo que a sua atividade econômica principal é o "serviço de transporte de passageiros - locação de automóveis com motorista", o qual, segundo entendimento esposado pela própria Receita Federal, não impede o enquadramento das empresas que o prestam no regime Simples Nacional.

9. Dessa forma, considerando que o objeto contratual constitui, em essência, locação de veículo com motorista para transporte de pessoas e mercadorias, entendo que os fatos noticiados pela empresa Milhas Turismo Ltda. - EPP não configuram irregularidade, sendo indevida, portanto, a concessão de medida cautelar. (Acórdão 1349/2013-TCU-Plenário)

44. Com relação ao Pregão Eletrônico 4/2015, cumpre informar que, do universo das onze licitantes participantes, dez foram microempresas (ME) ou empresas de pequeno porte (EPP), tendo como atividade primária ou secundária a locação de automóveis com motorista, Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) 49.23-0-02, sendo sete empresas optantes do Simples Nacional, inclusive a vencedora do certame e a representante (2ª colocada), conforme o demonstrado no quadro a seguir:

Empresa Licitante Simples Nacional Atividade (CNAE)

Situação

Data PRIMÁRIA SECUNDÁRIA

Mar & Mar Veículos Ltda. - ME

Optante 1/7/2007 77.11-0-00* 49.23-0-02**

Estrada Brasil Transportadora Ltda. - ME

Optante 1/1/2015 77.11-0-00 49.23-0-02

Mundial Serviços Ltda. - ME Optante 1/1/2014 49.23-0-02 Outros****

Multibem Transportes Ltda. - EPP

Optante 1/1/2011 49.23-0-02 Outros

I Master Serviços Ltda. - ME Não Optante

- 49.23-0-02 Outros

Sibelly Transportes Ltda. Não Optante

- 49.29-9-01 49.23-0-02

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Braga & Novaes Locadora de Veículos Ltda. - EPP

Optante 1/1/2015 77.11-0-00 49.23-0-02

Ricarte Rebouças Locação de Veículos Ltda. - EPP

Optante 1/1/2009 77.11-0-00 49.23-0-02

Locadora Martins e Oliveira Eireli - ME

Optante 1/1/2013 77.11-0-00 49.23-0-02

GVP Autolocadora & Serviços Ltda. - ME

Não Optante

- 77.11-0-00 49.23-0-02

PP Rent a Car e Transportes Ltda. - EPP

Não Optante

- 77.11-0-00 Outros

Fontes: Cadastro da Receita Federal, Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (Sicaf) e Cadastro da Receita Federal - Simples Nacional

* Locação de automóveis sem condutor

** Locação de automóveis com motorista

*** Transporte rodoviário coletivo de passageiros, sob regime de fretamento, municipal

**** Outros diferentes de locação de veículos com motorista

Dos Pressupostos de Cautelar e da Possibilidade de Proposição de Deliberação de Mérito

45. A empresa representante não expressou pedido formal de adoção de medida cautelar para atendimento de sua pretensão. Em que pese tal constatação, à vista da situação tratada na representação, entende-se pertinente proceder à análise da existência dos pressupostos necessários à adoção eventual da medida.

46. A respeito da questão referente ao recurso apresentado pela representante contra o resultado do pregão, cumpre-nos esclarecer, como informado pelo pregoeiro, que não houve exatamente uma recusa quanto à apreciação, mas um esclarecimento no sentido de que a situação apresentada já estava explanada no subitem 6.1.4 do edital. Todavia, consoante a jurisprudência do Tribunal, após a manifestação, imediata e motivada, do licitante da intenção de recorrer em um pregão, a apreciação inicial dos argumentos apresentados é de incumbência do Pregoeiro, o qual pode negar seguimento ao expediente, por falta do atendimento dos requisitos estabelecidos na norma aplicável. Ou seja, em sede de pregão eletrônico ou presencial, o juízo de admissibilidade das intenções de recurso deve avaliar tão somente a presença dos pressupostos recursais

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(sucumbência, tempestividade, legitimidade, interesse e motivação), evitando-se a denegação fundada em exame prévio de questão relacionada ao mérito do recurso (Acórdãos 2.564/2009, 339/2010, 1.462/2010, 600/2011, 2627/2013 e 694/2014, todos do Plenário, dentre outros). Sobre tal ponto, em que pese ter o efeito de indicar prejuízo à competição, de forma similar à análise equivocada da impugnação, propõe-se que seja dada ciência à unidade jurisdicionada do procedimento preconizado.

47. No que toca à questão da obrigatoriedade de apresentação de propostas sem previsão das vantagens proporcionadas pelo regime do Simples Nacional, embora integralmente corretos os subitens 6.1.2.1, 6.1.6 e 10.3.2 do edital, por tratarem não exatamente do caso específico da locação de veículos com motoristas, mas do caso geral da cessão ou locação de mão de obra, a análise da impugnação do subitem 10.3.2 do edital interposta pela representante, a empresa Estrada Brasil Transportadora Ltda., ao considerar o serviço de locação de veículo com motorista como um “misto” de locação de bem móvel e cessão de mão de obra, acabou por expressar orientação às participantes do Pregão Eletrônico 4/2015 no sentido da necessidade da “exclusão do Simples” (peça 1, p. 8), quando da celebração do respectivo contrato, em contrariedade ao entendimento aplicado à hipótese pelo órgão tributário competente e já acatado em apreciação adotada em precedente análogo por este Tribunal.

48. A inexistência de informação precisa acerca do modo como as licitantes deveriam apresentar suas propostas de preço pode ter concorrido para que uma ou mais empresas optantes pelo Simples Nacional tivessem oferecido seus lances com base no regime favorecido do Simples Nacional e outras não, com risco de prejuízo à competitividade do processo licitatório. A constatação tem o poder de configurar fumus bonis iuris.

49. No que toca ao periculum in mora, consta informação da unidade jurisdicionada de que o pregão foi adjudicado à empresa Mar & Mar Veículos Ltda., aguardando, no entanto, a homologação pela autoridade competente (peça 3, p. 1). Em mensagem complementar, a ordenadora de despesa informou que a unidade aguardaria deliberação do Tribunal a respeito (peça 5). Tal informação afasta o periculum in mora, requisito essencial à eventual concessão, de ofício, de medida cautelar.

50. Ademais, quanto à existência de periculum in mora ao reverso, informou a unidade, preliminarmente, que eventual determinação de paralisação do procedimento causaria prejuízo aos serviços administrativos, uma vez que não dispõe a unidade de outro contrato vigente ou de veículos próprios para apoio ao deslocamento de servidores ou transporte de materiais em serviço (peça 3, p. 2).

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Elementos Novos

51. Cumpre-nos informar da edição do Decreto 8.540/2015, que estabeleceu medidas de racionalização do gasto público nas contratações para aquisição de bens e prestação de serviços para a administração pública federal direta, autárquica e fundacional.

52. Dentre as medidas anunciadas consta aquela referente à necessidade de avaliação da essencialidade e relevante interesse público de novas contratações para a aquisição de bens e serviços, tendo por objetivo a redução do gasto público:

Art. 2º Os órgãos e as entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional deverão avaliar os contratos e os instrumentos congêneres relativos à aquisição de bens e à prestação de serviços relacionados no Anexo, com o objetivo de reduzir o gasto público, observado o disposto nos art. 58, art. 65, art. 78, caput, inciso XII, e art. 79, caput, inciso I, da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993.

Parágrafo único. A avaliação de que trata o caput tem como meta a redução de vinte por cento sobre o valor total dos contratos e instrumentos congêneres.

Art. 3º A decisão pela prorrogação ou pela celebração de novos contratos e instrumentos congêneres, no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional, deverá sempre observar a essencialidade de seu objeto e o relevante interesse público.

53. No inciso IV do anexo referenciado no art. 2º do referido decreto consta o item locação de veículos, como um dos objetos contemplados pelo normativo com necessidade de avaliação para fins de redução de gastos, item correspondente exatamente ao objeto do Pregão 4/2015.

54. Em função disso, foi realizado contato telefônico e por correio eletrônico com a Gerente Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes, Sra. Geisa Márcia Barcellos de Siqueira, para que demonstrasse a este tribunal o impacto das novas medidas oriundas do Decreto 8.540/2015 sobre o procedimento licitatório tratado nos presentes autos.

55. A Sra. Gerente antecipou, por telefone, forte possibilidade de revogação do Pregão Eletrônico 4/2015, em função do advento de tais medidas, com provável realização de novo procedimento licitatório de forma regionalizada, para contratação da parcela de serviços a ser avaliada como mais necessários pela administração do INSS.

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56. Diante disso e considerando a existência de empresa indicada como vencedora do certame, no caso a Mar & Mar Veículos Ltda., foi proposta a oitiva prévia da unidade jurisdicionada e da referida licitante, procedimento autorizado pela relatoria deste processo. (peça 8)

Da Oitiva Prévia

57. Conforme o disposto no Despacho exarado pelo Exmo.Sr. Ministro Relator (peça 8), do exame da matéria tratada neste processo, restou caracterizado o fumus boni iuris, tendo sido afastado o periculum in

mora, fato que tornou despicienda a concessão da medida cautelar prevista no art. 276 do Regimento Interno deste Tribunal, à vista das seguintes razões:

13. Referida orientação pode ter comprometido o modo como as licitantes apresentaram suas propostas de preço, umas considerando a manutenção no sistema Simples Nacional, quando da futura celebração contratual, e outras considerando a eventual necessidade de alteração do seu regime de tributação, com risco de prejuízo à competitividade do processo licitatório. Tal fato caracterizaria o fumus boni iuris.

14. Por outro lado, consoante informação trazida pela própria Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, de que a continuidade do mencionado pregão deverá aguardar a decisão que esta Corte de Contas vier a adotar nesta representação (peça 5), ausente está o periculum in mora, o que afasta a concessão, de ofício, da medida cautelar prevista no art. 276 do RITCU.

58. Diante disso, em consonância com a proposição emanada desta unidade técnica, a relatoria destes autos determinou, nos termos do art. 250, inciso V, do RITCU, a oitiva da Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ e da empresa Mar & Mar Veículos Ltda., CNPJ 06.697.330/0001-64, para, no prazo quinze dias, manifestarem-se sobre os fatos apontados na representação formulada pela empresa Estrada Brasil Transportadora Ltda., CNPJ 10.429.502/0001-96 (peça 8).

59. Em cumprimento à mencionada determinação foram expedidos o Ofício 3211/2015-TCU/SECEX (peça 9) e o Ofício 3212/2015-TCU/SECEX (peça 10) e endereçados à Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ (peça 12), bem como à empresa Mar & Mar Veículos Ltda. (peça 11).

60. Conforme informação proveniente do parecer (peça 14) do Serviço de Administração de Processos desta secretaria (SAProc-Secex RJ) a Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ deixou de atender à oitiva empreendida por este Tribunal, sendo que a empresa Mar

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& Mar Veículos Ltda., em atendimento à mencionada oitiva, trouxe aos presentes autos as informações contidas na peça 13, a respeito das quais passamos a analisar.

Resposta da Empresa Mar & Mar Veículos Ltda. à Oitiva

61. Do exame das informações trazidas aos autos pela vencedora do certame, a empresa Mar & Mar Veículos Ltda., temos a exata confirmação de que tal licitante efetivou sua oferta de preço e confeccionou sua planilha de custos utilizando-se dos benefícios inerentes às empresas optantes do Simples Nacional:

2. Antes do mais é necessário frisar que a signatária, de fato, sob regime tributário do Simples Nacional, condição aceita e reconhecida pela Receita Federal do Brasil, consoante já esposado na solução de Consulta 64-Cosit, de 30/12/2013.

3. O edital do pregão eletrônico 4/2015 não vedou a participação de microempresas ou empresa de pequeno porte (v. itens 6.1.2.1, 6.1.4 e 6.1.5 do edital).

4. Nestas condições a signatária apresentou proposta de preço considerando, no cálculo de seus custos, o regime tributário que integra, vale dizer, o Simples Nacional. (peça 13)

62. Reconheceu também que o Parecer da Procuradoria Federal - INSS de Campos dos Goytacazes-RJ “não tem o condão de modificar o edital, nem de suplantar as decisões da Receita Federal e do próprio Tribunal de Contas da União” (peça 13).

63. Em função disso, e considerando a inexistência expressa “no sentido de que as empresas optantes do regime tributário Simples Nacional desconsiderassem esta condição quando da apresentação de propostas no Pregão Eletrônico 4/2015” (peça 13) é que a licitante veio aos autos para requerer que a representação formulada pela empresa Estrada Brasil Transportadora Ltda. seja julgada improcedente.

[...]

75. A inexistência de informação precisa acerca do modo como as licitantes deveriam apresentar suas propostas de preço pode ter concorrido para que umas empresas optantes pelo Simples Nacional tivessem oferecido seus lances com base no regime favorecido do Simples Nacional e outras não, inviabilizando o processo licitatório e, como observado pela representante, ferindo “princípios constitucionais basilares que regem a licitação pública, uma vez que restringe a igualdade de condições entre os licitante,

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estabelecendo distinções e preferências, comprometendo a competitividade, o que torna nula qualquer disposição que venha a contrariar a legislação aplicável.” (peça 1, p. 2)

Da Ausência de Resposta à Oitiva da Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ

76. Por intermédio do Ofício 3211/2015-TCU/SECEX-RJ (peça 9) foi efetivada a oitiva da Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes, na pessoa do Sr. José Almir Pessanha da Silva, Gerente Executivo de Recursos Humanos, para que, no prazo de até 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da presente comunicação, com fundamento no art. 250, inciso V do Regimento Interno do TCU, se pronunciasse quanto aos fatos apontados na representação formulada pela empresa Estrada Brasil Transportadora Ltda.

77. Decorrido o prazo regimental não ocorreu qualquer manifestação da Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes ou de seu representante legal, caracterizando a revelia nos termos do art. 12, § 3º da LO/TCU, estando apto o processo para seguimento.

78. À vista das informações já prestadas pela unidade (peça 3), em atendimento à solicitação deste Tribunal (peça 2), itens já examinados nos parágrafos 23 a 26 anteriores, a revelia aqui caracterizada não compromete a análise dos autos, na medida em que, em função das medidas conjunturais de racionalização dos gastos públicos e de contingenciamento orçamentário levadas a efeito pelo Governo Federal, mediante a edição do Decreto 8.540/2015 e do Decreto 8.580/2015, já havia sido demonstrada pela Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes a intenção de alteração na condução da contratação aqui tratada.

79. Além disso, foi do atendimento da outra oitiva, a endereçada à empresa Mar & Mar Veículos Ltda., que se obteve a informação que faltava para o deslinde do cerne da questão aqui tratada. Conforme o analisado no item anterior, da informação obtida junto à mencionada licitante no sentido de que ofereceu seus preços com base no regime de tributação simplificado e favorecido do Simples Nacional e considerando que a representante, a empresa Estrada Brasil Transportadora Ltda., de forma diferenciada, teria apresentado seus preços a partir do regime de tributação comum, em tese, mais elevados que o outro, resta patente que, no mínimo, o princípio da isonomia teria sido afrontado no desenvolvimento do Pregão Eletrônico 4/2015.

Da Racionalização dos Gastos Públicos e do Contingenciamento do Orçamento

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80. Ponto importante também a considerar no exame da presente representação, como já informado nos parágrafos 50 a 62 desta instrução, é a intenção anunciada pela Gerência Executiva INSS em Campos dos Goytacazes/RJ quanto à revogação do Pregão Eletrônico 4/2015, em função de medidas de racionalização do gasto público estabelecidas pelo Decreto 8.540/2015. Segundo a dirigente daquela unidade, a Superintendência Regional do INSS no Estado do Rio de Janeiro estaria reavaliando, sob a ótica dos custos e benefícios, uma provável realização de novo procedimento licitatório para contratação do objeto do certame aqui analisado, agora, de forma regionalizada, e, também diante das novas medidas de cortes nos gastos públicos, estaria priorizando apenas os serviços mais relevantes e imprescindíveis ao funcionamento do referido ente público.

81. Cabe enfatizar que, além do Decreto 8.540/2015, o governo federal editou ainda o Decreto 8.580/2015, publicado no Diário Oficial da União de 30/11/2015, estabelecendo um contingenciamento adicional do orçamento público no valor equivalente a R$ 10.7 bilhões, já perfazendo no presente exercício um corte total de gastos discricionários do Poder Executivo equivalente a R$ 89,1 bilhões.

82. Considerados tais fatos e à vista de que o Pregão Eletrônico 4/2015 ainda não foi efetivamente revogado ou anulado, conforme informações obtidas junto ao site www.comprasgovernamentais.gov.br, entendemos como pertinente dar-se ciência à Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, com base nas disposições contidas no Acórdão 1.349/2013-TCU-Plenário deste Tribunal e na Solução de Consulta 64-Cosit, de 30/12/2013, da Receita Federal, que, no caso da retomada do processo de contratação de serviços de locação de veículos, incluindo motorista devidamente habilitado, para o transporte de pessoas a serviço do INSS - Parâmetro "A", bem como para o transporte de materiais, documentos e pequenas cargas - Parâmetro "B", objeto do Pregão Eletrônico 4/2015, a ausência dos necessários esclarecimentos no edital, de modo a tornar clara e objetiva a forma de participação na licitação das microempresas e empresas de pequeno porte optantes do Simples Nacional no que tange, de forma precípua, à apresentação de suas planilhas de custos e despesas, bem como o regime tributário a ser considerado por ocasião da apresentação dos lances e da contratação dos serviços de locação de veículos com motorista, poderá caracterizar afronta aos princípios basilares da licitação dispostos no art. 3º da Lei 8.666/1993 e ao art. 4º, inciso III, da Lei 10.520/2002.

83. E, ainda, caso venha a retomar a referida contratação de serviços de locação de veículos com motoristas, com fulcro no art. 71, inciso IX, da

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Constituição Federal de 1988, c/c art. 45, caput, da Lei 8.443/1992, que a Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ adote as providências necessárias no sentido de anular a fase de lances do Pregão Eletrônico 4/2015, bem como todos os atos subsequentes, e reinicie o procedimento licitatório a partir do ato convocatório reformulado, conforme os ajustes mencionados no item anterior, em razão da identificação de vício na condução do certame, também em total afronta aos princípios basilares da licitação dispostos no art. 3 da Lei 8.666/1993 e ao art. 4º, inciso III, da Lei 10.520/2002.

84. Por último, nos termos do art. 276, § 6º, do Regimento Interno deste Tribunal, cabe mencionar que atendidas as oitivas pelos responsáveis “deverá a unidade técnica submeter à apreciação do relator análise e proposta tão somente quanto aos fundamentos e à manutenção da cautelar, salvo quando o estado do processo permitir a formulação imediata da proposta de mérito.”

85. O presente caso parece preencher todos os requisitos para a formulação desde logo de proposta conclusiva de mérito, na medida em que restou afastado o periculum in mora e, por conseguinte, despicienda a adoção de medida cautelar, como observado nos parágrafos 49 e 57.

CONCLUSÃO

86. O documento constante da peça 1 deve ser conhecido como representação, por preencher os requisitos previstos nos arts. 235 e 237 do Regimento Interno/TCU c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993.

87. Entende-se que reste afastada a hipótese de eventual determinação, de ofício, de paralisação cautelar do certame, considerando que, em que pese configurado o fumus bonis iuris, não se identifica como presente nos autos o requisito do periculum in mora e sim, o do chamado periculum in mora em reverso.

88. Entretanto, face às medidas estipuladas pelo Decreto 8.540/2015 e voltadas para a racionalização do gasto público nas contratações para aquisição de bens e prestação de serviços, bem como ao elevado contingenciamento do orçamento da união estabelecido pelo Decreto 8.580/2015, mesmo a contratação de serviços como os aqui tratados, independentemente de sua premência para unidade, teriam que ter seus custos e benefícios reavaliadas pela administração, conforme informação prestada pela titular da Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, fato que passaria a ser sopesado em função do mencionado periculum in mora em reverso.

PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

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89. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:

a) conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts. 235 e 237, inciso VII do Regimento Interno deste Tribunal c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, para, no mérito, considera-la procedente;

b) considerar revel, para todos os efeitos, a Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, em razão do não atendimento à oitiva promovida por meio do Ofício 3211/2015-TCU/SECEX-RJ (peça 9), dando-se prosseguimento ao processo, com fundamento no art. 12, §2º, da Lei nº 8.443/1992;

c) com fulcro no art. 71, inciso IX, da Constituição Federal de 1988, c/c art. 45, caput, da Lei 8.443/1992, assinar prazo de 15 (quinze) dias para que a Gerência Executiva INSS em Campos dos Goytacazes/RJ adote as providências necessárias no sentido de anular a fase de lances do Pregão Eletrônico 4/2015, bem como os atos subsequentes, e reinicie o procedimento licitatório, se for o caso, a partir do ato convocatório reformulado, conforme os ajustes mencionados no item seguinte, em razão da identificação de vício na condução do certame, em total afronta aos princípios basilares da licitação, de forma precípua, os da isonomia, vantajosidade e competitividade, conforme disposições contidas no art. 3 da Lei 8.666/1993 e ao art. 4º, inciso III, da Lei 10.520/2002;

d) dar ciência à Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ que, no caso de retomada do Pregão Eletrônico 4/2015, a depender da necessária avaliação decorrente das medidas de racionalização dos gastos públicos e de contingenciamento orçamentário levadas a efeito pelo Governo Federal, mediante a edição do Decreto 8.540/2015 e do Decreto 8.580/2015, a ausência dos necessários ajustes no edital, de modo a tornar clara e objetiva a forma de participação na licitação das microempresas e empresas de pequeno porte optantes do Simples Nacional no que tange, de forma precípua, à apresentação de suas planilhas de custos e despesas, bem como o regime tributário a ser considerado por ocasião da apresentação dos lances e da contratação dos serviços de locação de veículos com motorista, com base nas disposições contidas no Acórdão 1.349/2013-TCU-Plenário deste Tribunal e na Solução de Consulta 64-Cosit, de 30/12/2013, da Receita Federal, poderá caracterizar afronta aos princípios basilares do procedimento licitatório dispostos no art. 3 da Lei 8.666/1993 e ao art. 4º, inciso III, da Lei 10.520/2002, bem como ensejar a multa prevista no art. 268, inciso VII, do Regimento Interno do TCU;

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e) dar ciência à Gerência Executiva INSS em Campos dos Goytacazes/RJ que no juízo de admissibilidade das intenções de recurso a que se referem o art. 4º, inciso XVIII, da Lei 10.520/2002, o art. 11, inciso XVII, do Decreto 3.555/2000 e o art. 26, caput, do Decreto 5.450/2005, deve ser avaliada pelo pregoeiro tão somente a presença dos pressupostos recursais (sucumbência, tempestividade, legitimidade, interesse e motivação), constituindo afronta à jurisprudência do TCU, consoante Acórdãos 2.564/2009-TCU, 339/2010-TCU, 1.462/2010-TCU, 600/2011-TCU, 2.627/2013-TCU e 694/2014-TCU, todos do Plenário, a denegação de intenções de recurso fundada em exame prévio em que se avaliem questões relacionadas ao mérito do pedido, sob pena da cominação da multa prevista no art. 268, inciso VII, do Regimento Interno do TCU;

f) comunicar à Gerência Executiva INSS em Campos dos Goytacazes/RJ e ao representante a decisão que vier a ser adotada nestes autos;

g) arquivar os presentes autos, nos termos do art. 237, parágrafo único, c/c o art. 250, inciso I, do Regimento Interno do TCU.

3. O dirigente da Secex-RJ manifestou-se de acordo com a instrução.

É o relatório.

VOTO

Trata-se de representação versando sobre possíveis irregularidades ocorridas na Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, relacionadas ao Pregão Eletrônico 4/2015, cujo objeto é a “contratação de serviços de locação de veículos, incluindo motorista devidamente habilitado, para o transporte de pessoas a serviço do INSS, bem como para o transporte de materiais, documentos e pequenas cargas”.

2. De acordo com a representante, a empresa vencedora do certame, Mar & Mar Veículos Ltda. - ME, na elaboração de sua planilha de custos e, por conseguinte, de sua proposta de preços, teria usufruído dos benefícios oferecidos pelo regime de tributação do Simples Nacional, do qual é optante, o que resultou na redução dos seus custos ante a taxação diferenciada e favorável que tal regime dispensa às microempresas e empresas de pequeno porte.

3. Nesta oportunidade, examinam-se os esclarecimentos/informações prestados em resposta à oitiva promovida com fundamento no art. 250, V, do Regimento Interno do TCU.

4. Manifesto-me, desde já, de acordo com os fundamentos expendidos na bem elaborada instrução produzida pela Secex-RJ, adotando-os como minhas razões de decidir, sem prejuízo de aduzir as considerações que se seguem.

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5. Ao confirmar a informação de que apresentou sua oferta de preço lastreada nos benefícios advindos do regime tributário Simples Nacional, a empresa Mar & Mar Veículos Ltda. contribui, na realidade, para ratificar a principal tese levantada neste processo, qual seja, a imprecisão do instrumento convocatório criou uma situação em que empresas com características semelhantes, no caso microempresas e empresas de pequeno porte optantes do Simples Nacional, apresentassem suas planilhas de custos de modos diferentes, por interpretações distintas do disposto no edital.

6. A título de exemplificação, enquanto a empresa Mar & Mar Veículos Ltda. “apresentou proposta de preço considerando, no cálculo de seus custos, o regime tributário que integra, vale dizer, o Simples Nacional” (peça 13), a empresa Estrada Brasil Transportadora Ltda. (representante) teria apresentado sua proposta “adequada ao regime comum que adotou a tributação baseada no lucro presumido” (peça 1, p. 2). Segundo a própria representante, caso se valesse dos benefícios do Simples Nacional na confecção de sua planilha de custos, “qualquer licitante com benefícios do Simples Nacional poderia ofertar preços mais competitivos”. (peça 1, p. 2)

7. De fato, não consta do edital qualquer orientação precisa para as empresas optantes do Simples Nacional quanto à possibilidade de considerar, ou não, em suas planilhas de custos os benefícios oriundos dessa condição favorável de tributação, o que obviamente poderia resultar em vantagem comparativa em relação àquelas empresas – também optantes do Simples – que não considerassem tal benefício.

8. O cerne da discussão reside justamente na ausência de indicação precisa quanto à forma de apresentação das planilhas de custos por parte das empresas optantes pelo Simples Nacional. Mais do que isso, a orientação repassada às empresas optantes do Simples Nacional, em função da impugnação a itens do edital empreendida pela representante, pode ter concorrido para a ofensa aos princípios da isonomia e da competitividade, como bem retrata o trecho da instrução da Secex-RJ abaixo reproduzido.

27. Ao julgar improcedente a impugnação ao subitem 10.3.2 do edital interposta pela representante, ainda na fase inicial do procedimento licitatório, o Sr. Pregoeiro apresentou parecer no sentido de que o objeto do Pregão Eletrônico 4/2015, locação de veículo com motorista, por envolver cessão de mão de obra, estaria a exigir a exclusão do Simples Nacional por parte das licitantes participantes do certame:

Na situação em vertente, deve-se ter em vista a disposição do § 3º do artigo 31 da Lei 8.212/91, verbis: § 3º Para os fins desta Lei, entende-se como cessão de mão-de-obra a colocação à disposição do contratante, em suas dependências ou nas de terceiros, de segurados que realizem serviços contínuos, relacionados ou não com a atividade-fim da empresa, quaisquer que sejam a natureza e a forma de contratação. (Redação dada pela Lei 9.711, de 1998). Como já aduzido, estando o motorista inteiramente à disposição do INSS, inclusive utilizando as instalações da unidade da autarquia, forçoso concluir que o contrato envolve objeto misto, cessão de mão de obra e locação de bem móvel, de sorte a exigir a exclusão do Simples, conforme determinado

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no edital. Nesse mesmo sentido, cabe destacar que mesmo a consulta interna da SRFB colacionada pelo impugnante já excepciona as situações em que a forma de prestação de serviços se enquadra no dispositivo acima colacionado (fls. 370). Assim, somos conduzidos à conclusão de que o fornecimento de mão de obra mencionado nas consultas internas 02/2012 e 64/2012 da SRFB é aquele no qual não o empregado cedido não fica à inteira disposição do tomador, exegese que melhor se adéqua às leis de regência. Conclui-se, portanto, que não assiste razão à impugnante. (peça 1, p. 8 e 9)

28. Assim, tendo por referencial as disposições contidas no subitem 10.3.2 do edital, o comando passado às licitantes, por intermédio da apreciação da mencionada impugnação, teria sido o de que, por envolver o Pregão Eletrônico 4/2015 objeto alegadamente misto, cessão de mão de obra e locação de veículo, incidiria sobre as microempresas e empresas de pequeno porte participantes a vedação contida no art. 17, inciso XII, da Lei Complementar 123/2006:

Art. 17. Não poderão recolher os impostos e contribuições na forma do Simples Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte: XII - que realize cessão ou locação de mão-de-obra. [grifos no original]

9. O edital do Pregão Eletrônico 4/2015, na forma como foi apresentado às licitantes, bem como em função da orientação resultante do exame da impugnação ao mencionado instrumento convocatório formulada pela representante, trouxe insegurança ao universo de empresas optantes do Simples Nacional no que tange ao seguinte: se teriam que abdicar da condição de optantes do Simples Nacional por ocasião da contratação, deveriam então oferecer seus preços, ainda na fase de disputa na sessão pública, lastreados ou não na condição favorecida do mencionado regime simplificado de tributação?

10. Quanto a isso, há farta jurisprudência deste Tribunal acerca da possibilidade de que as microempresas e empresas de pequeno participem de licitações públicas cujo objeto envolva cessão de mão de obra, desde que, caso vencedoras do certame, sejam excluídas do Simples Nacional por ocasião da celebração do respectivo contrato e passem, por conseguinte, a adotar o regime comum de tributação, à vista do disposto no art. 17, XII, da Lei Complementar 123/2006.

11. Nesse diapasão, urge destacar o seguinte trecho da instrução da unidade técnica:

36. Assim, como regra geral, é pacífico o entendimento de que é possível a participação de microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional em licitações para contratação de serviços contemplados com cessão ou locação de mão de obra, mesmo que vedados pelo art. 17, inciso XII, da Lei Complementar 123/2006, desde que

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comprovada a não utilização dos benefícios tributários do regime tributário diferenciado na proposta de preços e que, caso venha a ser contratada, faça a comunicação ao órgão fazendário competente, para fins de exclusão do regime diferenciado, para que passe a recolher os tributos pelo regime comum.

12. Acontece que, no caso específico aqui tratado, com base no Acórdão 1.349/2013-TCU-1ª Câmara e na Solução de Consulta 64-Cosit, de 30/12/2013, da Receita Federal, não resta dúvida de que, na contratação de serviços de locação de veículos com motoristas, as microempresas e empresas de pequeno porte optantes do Simples Nacional não apenas podem apresentar suas propostas de preços contemplando os benefícios desse regime de tributação, como também podem celebrar o respectivo contrato de prestação de serviços sem terem que abdicar da condição de optantes do Simples Nacional. Por oportuno, transcrevo abaixo o teor da sobredita solução de consulta.

SOLUÇÃO DE CONSULTA COSIT 64/2013

É assegurado à pessoa jurídica devotada a locar bens móveis, independentemente do fornecimento concomitante da mão de obra necessária à sua utilização, o direito de optar pelo sistema simplificado de pagamento de tributos denominado Simples Nacional, desde que ela não se enquadre em nenhuma hipótese legal de vedação da opção.

13. A lógica que permeia esse entendimento é a de que se a microempresa ou a empresa de pequeno porte foi aceita pela Receita Federal como optante do Simples Nacional, já considerada a condição de prestadora de serviços de locação de veículo com motorista, seja como atividade primária ou secundária, portadora do CNAE 49.23-0-02, como demonstrado no quadro apresentado no parágrafo 44 da instrução da Secex-RJ, então essa mesma empresa estaria autorizada a apresentar seus preços ou planilha de custos com base no Simples Nacional e celebrar o respectivo contrato permanecendo nesse mesmo regime de tributação.

14. Nesse caso, a mão de obra é apenas acessória, não a aquisição principal, mas sua presença é condição essencial para a prestação dos serviços de transporte de passageiros ou de carga, podendo ser considerada até como incidental, nos termos mencionados na Consulta 64-Cosit, de 30/12/2013, da Receita Federal. Urge frisar que outras consultas submetidas à Receita Federal foram respondidas nesse mesmo sentido, a exemplo da Consulta 40-Cosit, de 27/4/2009, nos seguintes termos:

SOLUÇÃO DE CONSULTA COSIT 40/2009

Pode optar pelo Simples Nacional a pessoa jurídica que explora contrato de locação de veículos, independentemente do fornecimento concomitante de mão-de-obra de motorista, uma vez que, para este fim, não fica caracterizada a locação de mão-de-obra, e desde que não se enquadre em qualquer das demais vedações legais a tal opção.

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15. Embora integralmente corretos os subitens 6.1.2.1 e 10.3.2 do edital, a seguir transcritos, por tratarem não exatamente do caso específico da locação de veículos com motoristas, mas do caso geral da cessão de mão de obra, seus conteúdos poderiam ocasionar interpretações distorcidas por parte das licitantes enquadradas no regime do Simples Nacional.

6.1.2.1. A optante pelo Simples Nacional, contratada para execução de objeto contratual que acarrete sua vedação à permanência no regime especial de arrecadação, deverá comunicar sua exclusão à Receita Federal do Brasil tempestivamente.

[...]

10.3.2. Microempresa ou Empresa de Pequeno Porte, que venha a ser contratada para a prestação de serviços mediante cessão de mão de obra não poderá beneficiar-se da condição de optante pelo Simples Nacional, salvo as exceções previstas no § 4°, inciso V (locação de bens móveis), e no § 5º-C do art. 18 da Lei Complementar n° 123, de 14 de dezembro de 2006.

16. Na esteira da conclusão da Secex-RJ, a inexistência de informação precisa acerca do modo como as licitantes deveriam oferecer suas propostas de preço pode ter concorrido para que empresas optantes pelo Simples Nacional tivessem apresentado sua planilha com base no regime favorecido do Simples Nacional, e outras não, ferindo assim, como assinalado pela própria representante, “princípios constitucionais basilares que regem a licitação pública, uma vez que restringe a igualdade de condições entre os licitantes, estabelecendo distinções e preferências, comprometendo a competitividade.”. Foi justamente por essa razão que a unidade técnica concluiu pela presença nos autos do fumus boni iuris.

17. A corroborar o acima exposto, julgo oportuno trazer à colação o seguinte excerto da instrução da Secex-RJ, verbis:

79. Além disso, foi do atendimento da outra oitiva, a endereçada à empresa Mar & Mar Veículos Ltda., que se obteve a informação que faltava para o deslinde do cerne da questão aqui tratada. Conforme o analisado no item anterior, da informação obtida junto à mencionada licitante no sentido de que ofereceu seus preços com base no regime de tributação simplificado e favorecido do Simples Nacional e considerando que a representante, a empresa Estrada Brasil Transportadora Ltda., de forma diferenciada, teria apresentado seus preços a partir do regime de tributação comum, em tese, mais elevados que o outro, resta patente que, no mínimo, o princípio da isonomia teria sido afrontado no desenvolvimento do Pregão Eletrônico 4/2015.

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18. Questão importante também a considerar no exame da presente representação, conforme informado nos parágrafos 50 a 62 da instrução da Secex-RJ, é a possibilidade anunciada pela Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ acerca da revogação do Pregão Eletrônico 4/2015, em função de medidas de racionalização do gasto público estabelecidas pelo Decreto 8.540/2015. Segundo a dirigente daquela unidade, a Superintendência Regional do INSS no Estado do Rio de Janeiro estaria reavaliando, sob a ótica dos custos e benefícios, uma provável realização de novo procedimento licitatório para contratação do objeto do certame aqui analisado, agora de forma regionalizada, e, também diante das novas medidas de cortes nos gastos públicos, estaria priorizando apenas os serviços mais relevantes e imprescindíveis ao funcionamento do aludido ente público. Restou afastado, portanto, o periculum in mora ao reverso.

19. Considerados tais fatos e à vista de que o Pregão Eletrônico 4/2015 ainda não foi efetivamente revogado, conforme informações obtidas junto ao site ‘www.comprasgovernamentais.gov.br’, julgo pertinente, com fulcro no art. 71, IX, da Constituição Federal de 1988, c/c o art. 45, caput, da Lei 8.443/92, determinar à Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ que adote as providências necessárias à anulação do Pregão Eletrônico 4/2015.

20. Adicionalmente, deve ser determinado à Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, com base no Acórdão 1.349/2013-TCU-1ª Câmara e nas Soluções de Consulta 40/2009 e 64/2013, ambas da Receita Federal, que, no caso de retomada do processo de contratação dos serviços objeto do Pregão Eletrônico 4/2015, inclua os necessários esclarecimentos no edital, de modo a tornar clara e objetiva a forma de participação das microempresas e empresas de pequeno porte optantes do Simples Nacional no que concerne, de forma precípua, ao regime tributário a ser considerado por ocasião da apresentação de sua planilha de custos na licitação e também quando da efetiva contratação dos referidos serviços.

21. Por derradeiro, a respeito da questão referente ao recurso interposto pela representante contra o resultado do pregão, entendo que não houve exatamente uma recusa do pregoeiro quanto à sua apreciação, mas apenas um esclarecimento no sentido de que a situação apresentada já estava explanada no subitem 6.1.4 do edital.

22. Todavia, consoante a jurisprudência do Tribunal, após a manifestação, imediata e motivada, do licitante da intenção de recorrer em um pregão, a apreciação inicial dos argumentos apresentados é de incumbência do pregoeiro, o qual pode negar seguimento ao expediente, por falta do atendimento dos requisitos estabelecidos na norma aplicável. Ou seja, em sede de pregão eletrônico ou presencial, o juízo de admissibilidade das intenções de recurso deve avaliar tão somente a presença dos pressupostos recursais (sucumbência, tempestividade, legitimidade, interesse e motivação), evitando-se a denegação fundada em exame prévio de questão relacionada ao mérito do recurso (Acórdãos 2.564/2009, 339/2010, 1.462/2010, 600/2011, 2627/2013 e 694/2014, todos do Plenário, entre outros). Sobre tal ponto, proponho que seja dada ciência à unidade jurisdicionada do procedimento preconizado.

Ante o exposto, VOTO por que seja adotada a deliberação que ora submeto à apreciação deste Plenário.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 9 de março de 2016.

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Ministro VITAL DO RÊGO

Relator

ACÓRDÃO Nº 554/2016 – TCU – Plenário

1. Processo nº TC 026.384/2015-9. 2. Grupo I – Classe de Assunto: VII - Representação. 3. Interessada: Estrada Brasil Transportadora Ltda. (10.429.502/0001-96). 4. Entidade: Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ. 5. Relator: Ministro Vital do Rêgo. 6. Representante do Ministério Público: não atuou. 7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Rio de Janeiro (SECEX-RJ). 8. Representação legal: não há. 9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação versando sobre possíveis irregularidades ocorridas na Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ, relacionadas ao Pregão Eletrônico 4/2015, cujo objeto é a “contratação de serviços de locação de veículos, incluindo motorista devidamente habilitado, para o transporte de pessoas a serviço do INSS, bem como para o transporte de materiais, documentos e pequenas cargas”.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. conhecer do expediente encaminhado pela Estrada Brasil Transportadora Ltda. como representação, porquanto atendidos os requisitos de admissibilidade previstos no art. 237, VII e parágrafo único, do Regimento Interno deste Tribunal, c/c o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/93;

9.2. considerar procedente a representação; 9.3. determinar à Gerência Executiva do INSS em Campos dos

Goytacazes/RJ que: 9.3.1. com base no art. 71, IX, da Constituição Federal, c/c o art. 45, caput,

da Lei 8.443/92, que adote, no prazo de 15 (quinze) dias a contar da ciência, as providências necessárias à anulação do Pregão Eletrônico 4/2015, encaminhando ao Tribunal, no mesmo prazo, documentação que comprove o cumprimento desta determinação;

9.3.2. com base no Acórdão 1.349/2013-TCU-1ª Câmara e nas Soluções de Consulta 40/2009 e 64/2013, ambas da Receita Federal, que, no caso de retomada do

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processo de contratação dos serviços objeto do Pregão Eletrônico 4/2015, inclua os necessários esclarecimentos no edital, de modo a tornar clara e objetiva a forma de participação das microempresas e empresas de pequeno porte optantes do Simples Nacional no que concerne, de forma precípua, ao regime tributário a ser considerado por ocasião da apresentação de sua planilha de custos na licitação e também quando da efetiva contratação dos referidos serviços;

9.3.3. caso decida realizar novo processo licitatório com vistas à contratação de serviços de locação de veículos, incluindo motorista, para o transporte de pessoas a serviço do INSS, bem como para o transporte de materiais, documentos e pequenas cargas, dê conhecimento ao Tribunal imediatamente após a publicação do edital;

9.4. dar ciência à Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ que, no juízo de admissibilidade das intenções de recurso a que se referem o art. 4º, XVIII, da Lei 10.520/2002, e o art. 26, caput, do Decreto 5.450/2005, deve ser avaliada pelo pregoeiro tão somente a presença dos pressupostos recursais (sucumbência, tempestividade, legitimidade, interesse e motivação), constituindo afronta à jurisprudência do TCU, a exemplo dos Acórdãos 2.564/2009, 339/2010, 1.462/2010, 600/2011, 2.627/2013 e 694/2014, todos do Plenário, a denegação de intenções de recurso fundada em exame prévio em que se avaliem questões relacionadas ao mérito do pedido;

9.5. determinar à Secex-RJ que promova o acompanhamento dos atos vierem a ser praticados no âmbito da Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ em cumprimento ao presente acórdão, representando a este Tribunal em caso de irregularidade;

9.6. encaminhar cópia deste acórdão, bem como do relatório e do voto que o fundamentam, à representante e à Gerência Executiva do INSS em Campos dos Goytacazes/RJ;

9.7. autorizar o arquivamento deste processo após as devidas comunicações.

10. Ata n° 7/2016 – Plenário.

11. Data da Sessão: 9/3/2016 – Ordinária.

12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-0554-07/16-P.

13. Especificação do quorum:

13.1. Ministros presentes: Aroldo Cedraz (Presidente), Benjamin Zymler, Raimundo Carreiro, José Múcio Monteiro e Vital do Rêgo (Relator).

13.2. Ministros-Substitutos convocados: Augusto Sherman Cavalcanti e Marcos Bemquerer Costa.

13.3. Ministros-Substitutos presentes: André Luís de Carvalho e Weder de Oliveira.

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(Assinado Eletronicamente)

AROLDO CEDRAZ

(Assinado Eletronicamente)

VITAL DO RÊGO

Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)

PAULO SOARES BUGARIN

Procurador-Geral