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PARECER/CONSULTA TC-007/2016 - PLENÁRIO PROCESSO - TC-11024/2014 JURISDICIONADO - DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DO ESPÍRITO SANTO ASSUNTO - CONSULTA CONSULENTE - CARLOS AUGUSTO LOPES EMENTA SOMENTE SE ADMITE A DISPENSA DE REPOSIÇÃO AO ERÁRIO DE PAGAMENTOS INDEVIDOS FEITOS A SERVIDOR PÚBLICO SE PRESENTES, CONCOMITANTEMENTE, OS REQUISITOS RECONHECIDOS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NO MANDADO DE SEGURANÇA 25.641/DF – NOS CASOS DE PAGAMENTOS INDEVIDOS DECORRENTES DE ERRO DE CÁLCULO OU DE ERRO OPERACIONAL DA ADMINISTRAÇÃO, AINDA QUE PERCEBIDOS DE BOA-FÉ, NÃO ESTÃO SUJEITOS AO PRAZO DECADENCIAL PREVISTO NO ART. 54 DA LEI 9.784/99, PODENDO SER REVISTO A QUALQUER TEMPO E ENSEJAM O DEVER DE REPOSIÇÃO PELO SERVIDOR, SOB PENA DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO, RESPEITADO O PRAZO DE PRESCRIÇÃO QUINQUENAL PARA FINS DE RESTITUIÇÃO DOS PAGAMENTOS INDEVIDOS EFETUADOS PELA ADMINISTRAÇÃO, NOS TERMOS ART. 1º DO DECRETO 20.910/32, APLICÁVEL EM RAZÃO DO PRINCÍPIO DA ISONOMIA – QUANDO A REPARAÇÃO DO DANO Documento assinado digitalmente. Conferência em http://www.tce.es.gov.br/ Identificador:60F68-CFEB6-89437

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PARECER/CONSULTA TC-007/2016 - PLENÁRIO

PROCESSO - TC-11024/2014

JURISDICIONADO - DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DO ESPÍRITO

SANTO

ASSUNTO - CONSULTA

CONSULENTE - CARLOS AUGUSTO LOPES

EMENTA

SOMENTE SE ADMITE A DISPENSA DE REPOSIÇÃO AO

ERÁRIO DE PAGAMENTOS INDEVIDOS FEITOS A

SERVIDOR PÚBLICO SE PRESENTES,

CONCOMITANTEMENTE, OS REQUISITOS

RECONHECIDOS PELO SUPREMO TRIBUNAL

FEDERAL NO MANDADO DE SEGURANÇA 25.641/DF –

NOS CASOS DE PAGAMENTOS INDEVIDOS

DECORRENTES DE ERRO DE CÁLCULO OU DE ERRO

OPERACIONAL DA ADMINISTRAÇÃO, AINDA QUE

PERCEBIDOS DE BOA-FÉ, NÃO ESTÃO SUJEITOS AO

PRAZO DECADENCIAL PREVISTO NO ART. 54 DA LEI

9.784/99, PODENDO SER REVISTO A QUALQUER

TEMPO E ENSEJAM O DEVER DE REPOSIÇÃO PELO

SERVIDOR, SOB PENA DE ENRIQUECIMENTO ILÍCITO,

RESPEITADO O PRAZO DE PRESCRIÇÃO

QUINQUENAL PARA FINS DE RESTITUIÇÃO DOS

PAGAMENTOS INDEVIDOS EFETUADOS PELA

ADMINISTRAÇÃO, NOS TERMOS ART. 1º DO DECRETO

20.910/32, APLICÁVEL EM RAZÃO DO PRINCÍPIO DA

ISONOMIA – QUANDO A REPARAÇÃO DO DANO

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T203611
Caixa de texto
DOEL-TCEES 01.08.2016 – Ed. nº 702, p. 23.
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PARECER/CONSULTA TC-007/2016

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DECORRENTE DE PAGAMENTOS INDEVIDOS NÃO

PUDER SER IMPUTADA AO SERVIDOR, SEJA PELA

CONJUGAÇÃO DOS REQUISITOS PARA DISPENSÁ-LA

OU PELO DECURSO DO PRAZO DECADENCIAL PARA

A ANULAÇÃO DO ATO, SERÁ NECESSÁRIO, A

QUALQUER TEMPO, AFERIR A RESPONSABILIDADE

DAQUELE QUE CONCEDEU OU CALCULOU

ILEGALMENTE AS PARCELAS, SOBRE QUEM DEVE

RECAIR O DEVER DE REPOSIÇÃO REFERENTE AO

PERÍODO EM QUE A ANULAÇÃO DO ATO PODERIA

TER OCORRIDO.

Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo TC-11024/2014, em que o então

Diretor Geral do Departamento de Trânsito do Espírito Santo – DETRAN/ES, Senhor

Carlos Augusto Lopes, formula consulta a este Tribunal sobre a possibilidade de

correção dos adicionais dos servidores, uma vez que decorrido o prazo de cinco anos

previsto no artigo 54 da lei 9784/99.

Considerando que é da competência deste Tribunal decidir sobre consulta que lhe

seja formulada na forma estabelecida pelo Regimento Interno, conforme artigo 1º,

inciso XXIV, da Lei Complementar Estadual nº 621/12:

O EXMO. SR. CONSELHEIRO SÉRGIO MANOEL NADER BORGES:

Trata-se de voto consolidador elaborado em resposta a Consulta formulada pelo Sr.

Carlos Augusto Lopes, então Diretor Geral do Detran-ES, solicitando a manifestação

desta Corte de Contas sobre a possibilidade da Administração rever e corrigir seus atos,

em especial, os adicionais de tempo de serviço e assiduidade, após o transcurso do

prazo decadencial de 05 anos, previsto no art. 54 da Lei 9784/99.

Tendo em vista o amplo debate do tema em sessão plenária, bem como os vários

pedidos de vista com posicionamentos complementares ao voto deste conselheiro

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relator, é imperiosa a necessidade de elaborar este voto que consolida as informações

carreadas nos autos com o intuito de facilitar ao consulente o entendimento do

posicionamento desta corte sobre o tema proposto, conforme decidido na 12ª Sessão

Ordinária, do dia 19 de abril de 2016, de acordo com as notas taquigráficas de fls.

161/164.

Sendo assim, no debate ocorrido na 8ª Sessão Ordinária, do dia 22 de março

de 2016, encampei integralmente o voto do Conselheiro Domingos Augusto

Taufner que será o voto condutor em resposta à consulta em apreço.

Insta registrar que o voto do Conselheiro Domingos Augusto Taufner, de igual

modo, foi acompanhado pelo Conselheiro Sebastião Carlos Ranna de Macedo,

conforme se verifica nas notas taquigráficas de fls. 161/164, referente a 12ª

Sessão Ordinária, do dia 19 de abril de 2016.

Sobreveio manifestação do Conselheiro Substituto João Luiz Cotta Lovatti cujos

argumentos convergem com o mérito do voto adotado como condutor, bem como

acrescenta considerações acerca do tema em análise.

Nesse contexto, segue a transcrição do voto condutor:

Processo TC: 11.024/2014 Assunto: Consulta Jurisdicionado: Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo – DETRAN Consulente: Carlos Augusto Lopes

VOTO VISTA Exmo. Senhor Presidente Exmos. Senhores Conselheiros, Exmo. Senhor Representante do Ministério Público de Contas RELATÓRIO Tratam os autos de Consulta formulada pelo então Diretor Geral do Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo – DETRAN/ES, Sr. Carlos Augusto Lopes, solicitando a manifestação desta Corte de Contas sobre a possibilidade da Administração rever e corrigir seus atos, em especial, os

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adicionais de tempo de serviço e assiduidade, após o transcurso do prazo decadencial de 05 (cinco) anos previsto no art. 54 da Lei 9784/99, in verbis:

O DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DO ESPÍRITO SANTO - DETRAN/ES - em cumprimento a Decisão 4686/2012 instaurou Tomada de Contas Especial para apurar a pratica de ato irregular na concessão e pagamento de vantagens pessoais aos servidores da autarquia. Em Relatório final, a Comissão de Tomada de Contas detectou, quanto ao adicional de assiduidade e adicional de tempo de serviço, servidores recebendo valores corretamente, bem como servidores recebendo a mais e a menos do que o devido. Dessa forma, com o objetivo de sanar as irregularidades, a autarquia encaminhará notificação aos servidores com os cálculos realizados pela Comissão de Tomadas de Contas, a fim de informar sobre a correção das vantagens e garantir o direito constitucional do contraditório e ampla defesa. Contudo, tendo em vista que o Jurídico desta autarquia (parecer em anexo), em processo onde se pretendia reduzir os adicionais percebidos por uma servidora, entendeu pela impossibilidade de fazê-lo, em razão da decadência do direito da Administração Pública de rever seus próprios atos, necessária se faz a presente consulta. (negritei)

Após, o processo fora enviado para manifestação da 8ª Secretaria de Controle Externo, que nos termos da MTC 89/2014, fls. 30, verificou-se que como o despacho do relator ocorreu em data posterior à Emenda Regimental nº 03 de 07 de outubro de 2014, que deu nova redação ao art. 445 do Regimento Interno desta Corte, o processo fosse encaminhado ao Núcleo de Jurisprudência e Súmula para fins de análise quanto à existência no âmbito deste Tribunal acerca de deliberações sobre o tema tratado nesses autos. Por sua vez, o Núcleo de Jurisprudência e Súmula – NJS, fls. 31/32, informou inexistir no âmbito desta E. Corte deliberações sobre o tema objeto da presente consulta, devolvendo os autos a 8ª Secretaria de Controle Externo para realização de orientação técnica. A 8ª Secretaria de Controle Externo, nos termos da Orientação Técnica OT-C nº 02/2015, fls. 34-42, se manifestou pelo conhecimento da Consulta, entendendo preenchido os requisitos de admissibilidade, opinando pelo seu conhecimento e no mérito fosse respondida:

Considerando a aplicabilidade da Lei Federal nº 9.784/1999 no âmbito do Estado do Espírito Santo ante a ausência de normativo próprio, tem-se que a Administração Pública Estadual não pode exercer o seu poder-dever de autotutela para corrigir adicionais equivocadamente pagos a servidores que o receberam de boa-fé após o transcurso do prazo quinquenal previsto no artigo 54 daquele diploma legal. (...) eventual erro na concessão ou no cálculo de parcelas de natureza remuneratória não pode ser imputado ao servidor que laborou de boa-fé por mais de cinco anos, que é o prazo decadencial para que a Administração Pública exerça o seu poder de autotutela, e, portanto, deve ser incorporado ao patrimônio do servidor, em respeito aos

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princípios da segurança jurídica e da confiança nos atos administrativos. Ressalte-se, contudo, que ante a inocorrência do prazo decadencial, deve a Administração proceder à abertura de processo administrativo para rever seus atos, oportunizando ao servidor o direito ao contraditório e à ampla defesa, para fins de promover o sobrestamento das parcelas supostamente devidas após a conclusão do referido procedimento, cujo resultado seja desfavorável ao agente público.

Em seguida os autos foram encaminhados ao Ministério Público de Contas, que através do parecer exarado pelo Ilmo. Procurador de Contas, Dr. Luís Henrique Anastácio da Silva, fls. 46/47, anuindo a proposta da área técnica, acrescentou apenas, que, embora eventual erro na concessão ou no cálculo da parcela de natureza remuneratória não possa ser imputado ao servidor que laborou de boa-fé, se faz necessária a aferição de responsabilidade daquele que concedeu ou calculou ilegalmente as parcelas, incluindo o dever de ressarcimento, referente ao período em que a anulação do ato poderia ter ocorrido. Ato contínuo, os autos seguiram para o Gabinete do Conselheiro Relator, Dr. Sérgio Manoel Nader Borges onde elaborou seu Voto encampando o entendimento da Área Técnica e do Ministério Público de Contas exarado no Parecer PPJC 3874/2015. Contudo, quando o processo fora submetido a julgamento pelo Plenário, o Conselheiro Substituto, Dr. João Luiz Cotta Lovatti, pediu vista dos autos, entendendo que em razão do mérito da consulta estar relacionada ao deslinde da Tomada de Contas Especial (TC 6538/2012), que tem por objeto a apuração de irregularidades na concessão e pagamento de vantagens pessoais a servidores do DETRAN-ES, ainda em trâmite nesta Corte, não se encontra preenchido o requisito de admissibilidade para propositura da Consulta, que dentre seus requisitos veda seja a mesma formulada para atendimento apenas de caso em concreto. Sendo assim, proferiu voto no sentido de que:

À luz do exposto, de acordo com os relatos acima descritos e com base no art. 123 da Lei Complementar 621/2012, c/c art. 237, II da Resolução 261/2013, VOTO pelo não conhecimento da presente consulta, por não ter sido satisfeito o requisito de admissibilidade previsto no artigo 122, § 1º, inciso IV da Lei Complementar nº 621/2012, devendo ser arquivado o processo e expedida comunicação ao consulente.

Com a discussão inaugurada a respeito dessa preliminar decidiu o Plenário deste Tribunal, por maioria, conhecer a presente consulta, vencido o Conselheiro Substituto convocado João Luiz Cotta Lovatti, que votou pelo não conhecimento da Consulta, entendendo não satisfeito o requisito constante no inciso IV, do §1º do artigo 122 da Lei Orgânica desta Corte. Passando a análise propriamente de mérito, o Ilmo. Procurador de Contas, Dr. Luciano Vieira, requereu vista dos autos às fls. 74-82 para uma análise mais cautelosa acerca do tema, opinando fosse a consulta respondida consoante a seguinte conclusão:

Ante o exposto, o Ministério Público de Contas oficia para que a consulta seja respondida nos exatos termos da OT-C 2/2015 e da

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manifestação ministerial de fls. 46/47, caso preenchidos os requisitos dispostos no MS n. 25.641/DF1, ambas argumentações já acolhidas no voto do Exmº Conselheiro-Relator, com o indispensável acréscimo de que não se aplica o instituto da decadência administrativa, disposto no art. 54 da Lei n. 9.784/99, se evidenciado erro operacional da administração, o que gera, consequentemente, nesta hipótese, o dever de correção dos erros constatados pela Administração Pública e de restituição das quantias indevidamente percebidas.

A fim de analisar melhor o tema ora abordado, pedi vista dos autos. É o relatório. Passo a fundamentar. FUNDAMENTAÇÃO Superada a questão preliminar quanto ao requisito de admissibilidade, adentremos ao mérito, cuja discussão cinge-se até que ponto pode a Administração pautada no princípio da autotutela rever e/ou corrigir seus atos, mais especificamente, se a correção de pagamentos relativos a adicionais de tempo de serviço e assiduidade estaria sujeita ao prazo quinquenal do art. 54 da Lei 9784/99. E quanto ao erro de cálculo e/ou erro operacional se estaria sujeito a esse mesmo prazo decadencial. Essa é a controvérsia. Como visto anteriormente, o Relator aderindo ao entendimento da Área Técnica e da Procuradoria Especial de Contas entendeu não ser possível a Administração no exercício da autotutela corrigir adicionais equivocadamente pagos a servidores que o receberam de boa-fé após o transcurso do prazo previsto no artigo 54 da Lei 9784/99. Entende ainda, que eventual erro na concessão ou no cálculo de parcelas remuneratórias devem ser incorporados ao patrimônio jurídico do servidor em respeito ao princípio da segurança jurídica e da confiança dos atos administrativos, sendo devidas as correções das vantagens pessoais somente se anteriores ao transcurso do prazo decadencial . Vejamos: (...) Trata-se do princípio da autotutela, pelo qual a Administração Pública exerce o controle sobre seus próprios atos, podendo apreciá-lo quanto à legalidade bem como quanto ao mérito. Ocorre que a autotutela administrativa não pode ser aplicada de forma absoluta sempre que a Administração se deparar com um ato ilegal ou inconveniente, pois no que tange a invalidação de seus atos, e em respeito ao princípio da segurança jurídica, a Administração está adstrita a limites de ordem subjetiva, como a boa-fé dos destinatários, bem como aos de ordem objetiva, como o decurso do tempo. Desse modo, se por um lado a atuação do administrador público está devidamente respaldada pela legitimidade e legalidade ante o exercício da autotutela, por outro, os destinatários dos seus atos, quando demonstrada a boa-fé destes e após o transcurso do interregno mínimo quinquenal, estão sob

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a égide dos princípios da segurança jurídica e da confiança dos atos administrativos. A consagração desses limites à autotutela administrativa encontra-se na redação do artigo 54 da Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, senão vejamos:

Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1o No caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2o Considera-se exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.

Verifica-se que o legislador entendeu ser o lapso temporal de cinco anos razoável à estabilização das situações jurídicas constituídas entre a Administração Pública Federal e os seus administrados, sendo que o Superior Tribunal de Justiça tem aplicado, por analogia, o prazo decadencial do normativo supra aos atos praticados pelos Estados, conforme se depreende da ementa do acórdão a seguir transcrito:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL. PENSÃO POR MORTE. REVISÃO DO VALOR. IMPOSSIBILIDADE. DECADÊNCIA ADMINISTRATIVA EM FACE DO DECURSO DO PRAZO DE CINCO ANOS APÓS A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N. 9.784/99, POR ANALOGIA INTEGRATIVA. 1. Nos termos da Súmula 473/STF, a Administração, com fundamento no seu poder de autotutela, pode anular seus próprios atos, de modo a adquá-lo aos preceitos legais. 2. Com vistas nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, este Superior Tribunal de Justiça tem admitido a aplicação, por analogia integrativa, da Lei Federal n. 9.784/1999, que disciplina a decadência quinquenal para revisão de atos administrativos no âmbito da administração pública federal, aos Estados e Municípios, quando ausente norma específica, não obstante a autonomia legislativa destes para regular a matéria em seus territórios. Colheu-se tal entendimento tendo em consideração que não se mostra razoável e nem proporcional que a Administração deixe transcorrer mais de cinco anos para providenciar a revisão e correção de atos administrativos viciados, com evidente surpresa e prejuízo ao servidor beneficiário. Precedentes. 3. Recurso especial conhecido e provido. (Resp 1251769/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Segunda Turma, julgado em 06/09/2011, DJe 14/09/2011) [grifo nosso]

Superada a possibilidade de aplicação da lei federal em comento no âmbito da Administração Pública Estadual, em consonância com o posicionamento adotado pelo STJ, há que se verificar a possibilidade de correção de adicional concedido a servidor, uma vez decorrido o prazo decadencial previsto no artigo 54 da Lei nº 9.784/1999. Os adicionais de assiduidade e por tempo de serviço constituem vantagens pecuniárias que serão incorporadas ao vencimento ou provento do servidor, conforme indicação legal.

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Ainda que o pagamento das parcelas a título de adicionais se renove mes a mes (sic), o prazo decadencial se inicia com a percepção do primeiro pagamento, conforme preconiza o §1º do artigo 54 da Lei nº 9.784/1999, por se tratar de parcelas de efeitos patrimoniais contínuos. Destarte, é inconteste que o pagamento das referidas parcelas por mais de cinco anos ininterruptos gera efeitos favoráveis aos seus destinatários devendo, uma vez rechaçada a má-fé, incorporar ao patrimônio destes, em respeito aos princípios da segurança jurídica e da confiança dos atos administrativos tutelados no ordenamento jurídico pátrio. Isso porque eventual erro na concessão de adicional não pode ser imputado ao servidor que laborou de boa-fé, percebendo a gratificação por mais de cinco anos, que é o prazo decadencial estabelecido para a Administração rever seus atos. Conquanto, inicialmente, tenha o Parquet de Contas anuído ao posicionamento da área técnica no sentido de que a autotutela deve ser exercida se anterior ao prazo decadencial de 05 (cinco) anos, em pedido de vista para uma acurada análise de mérito, o Procurador de Contas, Dr. Luciano Vieira, em manifestação de fls. 74-82, enfatizou que o entendimento acima mencionado somente deve ser aplicado caso o erro no pagamento da remuneração tenha ocorrido por erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade ou por parte de autoridade legalmente investida em função de orientação e supervisão, o qual me uno, consoante dispõe a Súmula 249 do TCU, vejamos:

Súmula 249 - TCU É dispensada a reposição de importâncias indevidamente percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas, em virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade, ou por parte de autoridade legalmente investida em função de orientação e supervisão, à vista da presunção de legalidade do ato administrativo e do caráter alimentar das parcelas salariais.

Ainda no tocante a reposição de valores, cita precedente do Supremo Tribunal Federal que detalha de forma minuciosa os requisitos a serem observados cumulativamente para que se tenha afastada a devolução de valores indevidamente percebidos, posição a qual me filio, conforme reconhecido no bojo do MS 25.641/DF, consoante excerto abaixo:

“EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. (...) TOMADA DE CONTAS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. LEI N. 8.443/92. (…) IMPOSTO DE RENDA SOBRE JUROS DE MORA DECORRENTES DE ATRASO NO PAGAMENTO DE VENCIMENTOS. (...) DÚVIDA QUANTO À INTERPRETAÇÃO DOS PRECEITOS ATINENTES À MATÉRIA. SEGURANÇA CONCEDIDA. (…) 2. O processo de tomada de contas instaurado perante o TCU é regido pela Lei n. 8.443/92, que consubstancia norma especial em relação à Lei n. 9.784/99. Daí porque não se opera, no caso, a decadência administrativa. 3. A reposição, ao erário, dos valores percebidos pelos servidores torna-se desnecessária, nos termos do ato impugnado, quando concomitantes os seguintes requisitos: "i] presença de boa-fé do servidor; ii] ausência, por parte do servidor, de influência ou interferência para a concessão da vantagem impugnada; iii]

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existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida, no momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada; iv] interpretação razoável, embora errônea, da lei pela Administração." 4. A dúvida na interpretação dos preceitos que impõem a incidência do imposto de renda sobre valores percebidos pelos impetrantes a título de juros de mora decorrentes de atraso no pagamento de vencimentos é plausível. (...) Ordem concedida”. DJe 22.2.2008 (grifos e negritos nossos).

Como se percebe do precedente acima transcrito, a dispensa a restituição dos valores indevidamente percebidos pelo servidor somente teria lugar se presentes, concomitantemente, todos os quatro requisitos dispostos. No mesmo sentido se posicionou o Egrégio Tribunal de Justiça do Espírito Santo:

DIREITO ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. DESCONTO EM PROVENTOS DE SERVIDOR PÚBLICO. EXISTÊNCIA DE PRÉVIO PROCESSO ADMINISTRATIVO. DOCUMENTOS NÃO COLACIONADOS AOS AUTOS EM SUA INTEGRALIDADE. FUMUS BONI IURIS NÃO DEMONSTRADO. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. I. O recebimento indevido de verbas remuneratórias, pelo Servidor, não será passível de restituição ao erário, quando, cumulativamente, forem verificados os seguintes requisitos: (I) presença de boa-fé do Servidor; (II) ausência, por parte do Servidor, de influência ou interferência para a concessão da vantagem impugnada; (III) existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida, no momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada; (IV) e interpretação razoável da Lei, embora errônea, pela Administração. II. Os descontos nos vencimentos⁄subsídios ou nos proventos de servidores públicos deve ser precedido de regular Processo Administrativo, em observância ao princípio do contraditório, ampla defesa e da não-surpresa. III. Na hipótese em tela, malgrado o Recorrente alegar em sua exordial que o processo administrativo em que resultou a determinação de reposição estatutária não teria respeitado o contraditório e a ampla defesa, não cuidou por fazer a juntada integral da respectiva documentação, resultando impossível a verificação do fumus boni iuris alegado. VI. Recurso conhecido e improvido. ACORDA a Egrégia Segunda Câmara Cível, em conformidade da Ata e Notas Taquigráficas da Sessão, que integram este julgado, por unanimidade dos votos, conhecer e negar provimento ao recurso interposto, nos termos do Voto do Eminente Desembargador Relator. (TJES, Classe: Agravo de Instrumento, 24159003227, Relator: NAMYR CARLOS DE SOUZA FILHO - Relator Substituto : FABIO BRASIL NERY, Órgão julgador: SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Data de Julgamento: 21/07/2015, Data da Publicação no Diário: 28/07/2015)

De qualquer sorte, não se tratando a concessão de vantagens pessoais em pagamento indevido de importâncias em virtude de dúvida plausível de interpretação de lei/erro de interpretação escusável de lei, conforme previsão trazida pela Súmula 249 TCU, não há falar em dispensa da reposição dos valores indevidamente percebidos pelo servidor, ainda que os tenham sido recebidos de boa-fé.

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Sendo assim, nos casos de vantagens pessoais irregularmente concedidas derivarem exclusivamente de erro operacional da administração se mostra cabível a reposição de valores indevidamente percebidos, não sendo aplicável o instituto da decadência administrativa, prevista no art. 54 da Lei 9784/99, por se tratar de ato nulo praticado pela Administração sem qualquer suporte legal que ampare os pagamentos irregularmente realizados. Esse também foi o entendimento do Parquet de Contas, confira-se:

Noutro giro, se revelado que os adicionais indevidamente concedidos derivaram exclusivamente de erro operacional da administração, torna-se inaplicável o instituto da decadência administrativa, previsto no art. 54 da Lei n. 9.784/99, por inexistir qualquer suporte legal para os dispêndios efetuados. Nesta linha de entendimento, cabe destacar recente julgado do Tribunal Regional Federal da 2ª Região que trata o assunto de maneira contundente, o qual demonstra que a Administração Pública tem o poder-dever de corrigir situações irregulares, sob pena de violação aos Princípios da Legalidade e Moralidade, senão vejamos: ADMINISTRATIVO - SERVIDORA PÚBLICA - PAGAMENTO INDEVIDO EFETUADO NOS VENCIMENTOS DA SERVIDORA POR ERRO DA ADMINISTRAÇÃO - INEXISTÊNCIA DE DÚVIDA PLAUSÍVEL SOBRE A INTERPRETAÇÃO, VALIDADE OU INCIDÊNCIA DA NORMA INFRINGIDA POSSIBILIDADE DE REPOSIÇÃO AO ERÁRIO DOS VALORES PAGOS A MAIOR, AINDA QUE TENHA HAVIDO BOA-FÉ - COMUNICAÇÃO PRÉVIA DO DESCONTO - NECESSIDADE - REMESSA NECESSÁRIA E RECURSO PROVIDOS. 1 - A hipótese é de mandado de segurança no qual se pretende provimento que determine a abstenção de descontos efetuados nos vencimentos da Impetrante a título de reposição ao erário. 2 – A Administração, por equívoco, efetuou pagamentos à Impetrante referentes ao cargo de Professor Adjunto, quando deveriam ser referentes ao cargo de Professor Assistente. 3 - O art. 54 da Lei 9.784/99 prevê o instituto da decadência em relação à anulação dos atos praticados pela Administração. Esta Corte, entretanto, tem adotado o entendimento de que a decadência administrativa somente se aplicaria em relação aos atos anuláveis, e não aos nulos. Isto porque não se poderia admitir que a Administração fosse tolhida de seu dever de rever atos eivados de ilegalidade, conforme determina o art. 114 da Lei nº 8.112/90, sob pena de ofensa aos princípios constitucionais da moralidade e da legalidade. Sendo assim, não seria possível o reconhecimento da decadência, no presente caso, uma vez que os pagamentos indevidos foram efetuados sem qualquer previsão legal. 4 - Convém consignar que, nos termos da jurisprudência do E. STJ, descabe a reposição de valores recebidos de boa-fé por servidor público, quando decorrentes de errônea interpretação ou má aplicação da lei pela Administração (REsp nº 1.306.161/RO - Segunda Turma - Rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES - DJe 24-06-2013). 5 - A existência de boa-fé do servidor público não é capaz, por si só, de tornar indevida a restituição aos cofres públicos de

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valores pagos indevidamente por erro da Administração Pública. 6 - O C. STF reconheceu que a reposição, ao erário, dos valores percebidos apenas não se impõe quando presentes, de modo concomitante, os seguintes requisitos: 1) presença de boa-fé do servidor ou beneficiário; 2) ausência, por parte do servidor, de influência ou interferência para a concessão da vantagem impugnada; 3) existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida, no momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada; 4) interpretação razoável, embora errônea, da lei pela Administração (MS nº 25.641 - Tribunal Pleno - Rel. Min. EROS GRAU - DJe 22-02-2008). 7 - Ainda que seja possível, na hipótese, cogitar a presença de boa-fé por parte da servidora e da ausência de influência ou de interferência no pagamento indevido, não se vislumbra, no caso em tela, a existência de erro escusável por parte da Administração Pública, ou seja, de dúvida plausível em relação à interpretação da norma, uma vez que o pagamento valor maior que o devido foi efetuado por erro operacional da Administração. Precedentes desta Corte: REOAC nº 201251010411203 - Oitava Turma Especializada - Rel. Des. Fed. VERA LÚCIA LIMA - e-DJF2R 11-12-2014; APELREEX nº 2012.51.02.000017-0 - Sétima Turma Especializada - Rel. Des. Fed. JOSÉ ANTÔNIO NEIVA - e- DJF2R 03-07-2013; APELREEX nº 2008.51.02.001279-0 - Sétima Turma Especializada - Rel. Des. Fed. LUIZ PAULO DA SILVA ARAÚJO FILHO - e-DJF2R 18-09-2012. (...) Assim, se constatado que a falha decorreu de erro operacional da administração resta cabível a correção da situação irregular, devendo, ainda, serem restituídas as quantias indevidamente recebidas, mesmo diante da existência da boa-fé do servidor público, conforme se extrai de julgado do Tribunal Regional Federal da 2ª Região: SERVIDOR PÚBLICO APOSENTADO. PAGAMENTO INDEVIDO DE GRATIFICAÇÕES. PROVENTOS PROPORCIONAIS. ERRO OPERACIONAL DA ADMINISTRAÇÃO. BOA-FÉ. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. POSSIBILIDADE. R ECURSO REPETITIVO. 1. Trata-se de pedido de declaração de nulidade do ato administrativo que determinou a restituição ao erário de valores recebidos pela parte autora, de boa-fé, relativamente ao pagamento das gratificações GESST, GDASST e a VPI (Lei nº 10.698/2003), conforme Ofícios anexados, tendo em vista que, embora fossem aposentados com proventos proporcionais, receberam as referidas gratificações integralmente. 2. A Administração Pública tem o poder-dever de corrigir situações irregulares. 3. Os servidores alegam o descabimento da restituição ao erário dos valores relativos às gratificações mencionadas em razão de tê-los recebido de boa-fé, durante o período de janeiro/2004 a março/2008, cujo pagamento decorreu de erro imputável unicamente à Administração. 4. O Superior Tribunal de Justiça, em Recurso Especial Representativo da Controvérsia (Recurso Repetitivo 1244182/PB), firmou entendimento no sentido de que não é devida a restituição ao erário de valores pagos erroneamente

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pela Administração em decorrência de interpretação equivocada de lei, quando recebidos de boa-fé pelo servidor público. O entendimento consolidado pelo STJ se respalda em decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Mandado de Segurança 25641, da lavra do Ministro Eros Grau, que adota como requisitos necessários à desautorização do ressarcimento ao erário, além da boa-fé do servidor e da interpretação equivocada de lei, a ausência de interferência do funcionário beneficiado para a concessão da vantagem e a existência de dúvida plausível sobre a interpretação, a validade ou a incidência da norma infringida. 5. No presente caso, houve equívoco da Administração sim, mas não se trata de hipótese de errônea interpretação da lei, e sim de simples falha operacional, uma vez que os autores foram aposentados com proventos proporcionais e percebiam as gratificações GESST, G DASST e a VPI (Lei nº 10.698/2003) integralmente. 6. Em que pese o recebimento de boa-fé das referidas verbas, os valores indevidamente pagos aos servidores devem ser restituídos à Administração, sob pena de enriquecimento ilícito, visto que a falha ocorreu por erro operacional e não por equivocada interpretação de lei. 7 . Apelação e remessa necessária conhecidas e providas. (TRF2, APELREEX n° 2014.50.01.003628-9 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Fed. José Antonio Lisbôa Neiva, Data da Decisão: 14/10/2015).

Deste modo, a priori, indispensável aferir se o erro cometido pela Administração se deu com base em erro escusável de interpretação de lei ou se decorreu de erro operacional para só depois se perquirir se a devolução dos valores será passível de restituição, eis que diante da ocorrência de percepção de vantagens indevidas por erro operacional o ato administrativo praticado é nulo, incapaz de originar qualquer direito o que afasta a aplicação do prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei 9784/99 e da Súmula 249 do TCU. Por conseguinte, a Administração estaria apta ao exercício da autotutela para corrigir as situações irregulares e a devolução se faz imperiosa (reposição ao erário) em que pese tenha o servidor recebido as vantagens pecuniárias de boa-fé. Vejamos também o entendimento do TCU, em assunto semelhante, no excerto jurisprudencial abaixo:

ADMINISTRATIVO. AJUSTE DE CONTAS DECORRENTE DA LICENÇA DO SERVIÇO ATIVO DA MARINHA. PAGAMENTO EM DUPLICIDADE. ERRO OPERACIONAL DA ADMINISTRAÇÃO. REPOSIÇÃO AO ERÁRIO. NECESSIDADE. 1. Hipótese em que a União pretende seja o réu condenado no pagamento da quantia de R$38.903,08 (trinta e oito mil, novecentos e três reais e oito centavos), em virtude de recebimento de valores indevidos, a título de ajuste de contas decorrente da licença do Serviço Ativo da Marinha. 2. A propósito, confira-se o teor da Súmula nº. 473 do STF: "A administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial".

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3. Na reposição ao erário de parcelas remuneratórias irregularmente percebidas, em razão de equívoco da Administração, deve-se perquirir, em cada caso, se o erro do qual decorreu o pagamento indevido foi uma falha operacional ou se ocorreu em função de errônea ou má interpretação da lei, na medida em que o erro operacional, em nenhuma hipótese, afasta o dever de restituir o que foi indevidamente pago, conforme atual entendimento do TCU. 4. Os valores foram pagos ao réu de forma equivocada, por mero erro operacional da Administração, que, mesmo após a parte ré ter sido licenciada do Serviço Ativo da Marinha e já ter recebido a indenização pecuniária devida, continuou efetuando o pagamento referente ao ajuste de contas decorrente da licença do Serviço Ativo da Marinha, nos meses de julho, agosto e setembro de 2010. 5. Considerando que o pagamento indevido decorreu por erro operacional da Administração, é obrigatória a reposição ao erário, independentemente de estar ou não caracterizada a boa-fé da parte ré no recebimento dos referidos valores. 6. Apelação a que se nega provimento. TRF5 - Ac 74883020124058400, Rel. Desembargador Federal Francisco Cavalcanti, Primeira Turma, julgado em 15/08/2013. Publicado em 22/08/2013.

Além das jurisprudências acima colecionadas firmadas no julgamento de processos tramitados no TRF, esse também é o atual entendimento firmado pelo TCU:

Número Interno do Documento: AC-3364-51/15-P Colegiado: Plenário Relator: JOSÉ JORGE Processo: 015.772/2012-8 Sumário: ADMINISTRATIVO. RECURSO AO PLENÁRIO CONTRA DECISÃO DO PRESIDENTE DO TCU. COBRANÇA DE VALORES PAGOS INDEVIDAMENTE ACIMA DO TETO CONSTITUCIONAL, EM VIRTUDE DE ERRO OPERACIONAL DA ADMINISTRAÇÃO. CONHECIMENTO. NÃO PROVIMENTO. CIÊNCIA Assunto: Recurso (Administrativo) Número do acórdão: 3364 Ano do acórdão: 2015 Número da ata: 51/2015 VOTO Cuidam os autos de processo administrativo que trata da restituição dos valores pagos indevidamente ao servidor Alexander Pinheiro Paschoal pela Administração, quando em substituição de função comissionada, que ultrapassaram o teto constitucional. Tais pagamentos decorreram de erro operacional, identificados e corrigidos

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posteriormente. 2. Aprecia-se, nesta oportunidade, Recurso ao Plenário interposto pelo referido servidor contra os termos da decisão do Presidente desta Casa, que indeferiu recurso hierárquico interposto contra decisão do Secretário-Geral de Administração que negou provimento a pedido de reconsideração, em face da decisão que determinou a cobrança dos valores pagos de forma indevida. 3. De início, registro que o Recurso preenche os requisitos de admissibilidade previstos nos arts. 107, inciso I, e 108 da Lei nº 8.112/1990, podendo, pois, ser conhecido. 4. Quanto ao mérito, assiste razão aos pareceres, no sentido de que os argumentos apresentados são insuficientes para alterar os termos da decisão proferida pelo Presidente desta Corte. 5. Com efeito, é pacífico o entendimento do TCU, consubstanciado no Enunciado 249 da Súmula de Jurisprudência, de que os servidores beneficiários de importâncias recebidas indevidamente, ainda que de boa fé, só estão dispensados de devolução das respectivas quantias na hipótese de o recebimento ser decorrente de erro escusável de interpretação de lei pela Administração. No caso em exame, não houve interpretação errônea ou equivocada da lei, mas tão somente erro operacional da Divisão de Pagamentos, que não aplicou aos vencimentos dos substitutos dos ocupantes de funções comissionadas o limite referente ao teto constitucional. 6. A propósito, recentemente, o TC-019.100/2009-4, relativo a Relatório de Auditoria no Senado Federal e mencionado pelo recorrente, foi apreciado pelo Tribunal, tendo prevalecido o entendimento do Ministro Revisor, Ministro Walton Alencar Rodrigues, quanto à necessidade de restituição dos valores pagos indevidamente acima do teto constitucional, nos termos do recente Acórdão 2.602/2013-Plenário. Na ocasião foi consignado no Voto do Revisor o seguinte: "Rendendo, mais uma vez, vênias ao E. Relator, as remunerações pagas pelo Senado Federal, em patamares muito acima do teto constitucional, não se enquadram na hipótese de dispensa de devolução, prevista na Súmula 249 do TCU. O enunciado da súmula é expresso no sentido de que é preciso que se verifique a ocorrência de erro escusável de interpretação de lei, absolutamente inexistente na hipótese. Eis, a propósito, a redação da súmula: "É dispensada a reposição de importâncias indevidamente percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas, em virtude de erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade, ou por parte de autoridade legalmente investida em função de orientação e supervisão, à vista da presunção de legalidade do ato administrativo e do caráter alimentar das parcelas salariais". (...)

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Ainda no caso concreto, não verifico a existência de boa-fé ou de errônea interpretação da lei, requisitos necessários para a dispensa de reposição das parcelas recebidas, uma vez que não existe dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma constitucional, no momento da edição dos atos remuneratórios impugnados. Houve, ao longo de mais de uma década, evidentes e indevidos benefícios, concedidos em prol dos servidores do Senado Federal, em detrimento dos cofres públicos federais. (...) A obrigatoriedade da devolução das parcelas indevidamente recebidas pelos servidores do Senado Federal independe da boa ou má-fé, com que eles receberam os recursos, porquanto houve na prática enriquecimento ilícito". 7. (...) Ante o exposto, acolho integralmente o teor dos pareceres emanados da Consultoria Jurídica e VOTO por que seja adotado o Acórdão que ora submeto a este Colegiado. TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 12 de fevereiro de 2014. JOSÉ JORGE Relator Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Recurso ao Plenário, em processo administrativo, interposto pelo servidor Alexander Pinheiro Paschoal contra os termos da decisão do Exmo. Presidente do TCU, que indeferiu recurso hierárquico interposto contra decisão do Secretário-Geral de Administração que negou provimento a pedido de reconsideração, em face da decisão que determinou a cobrança dos valores pagos indevidamente acima do teto constitucional, em virtude de erro operacional da Administração. ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão Plenária, ante as razões expostas pelo Relator, em: 9.1. conhecer, com fulcro nos arts. 107, inciso I, e 108 da Lei nº 8.112/1990, do Recurso ao Plenário interposto por Alexander Pinheiro Paschoal, para, no mérito, negar-lhe provimento; 9.2. dar ciência do presente acórdão, bem como do Relatório e Voto que o fundamentam, ao interessado; 9.3. arquivar os presentes autos Entidade: Órgão: Tribunal de Contas da União Número Interno do Documento: AC-2317-33/13-P Colegiado: Plenário Relator: JOSÉ MÚCIO MONTEIRO

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Processo: 022.871/2009-6 Sumário: PEDIDO DE REEXAME. MONITORAMENTO DE DELIBERAÇÃO DO TRIBUNAL. PAGAMENTO INDEVIDO DE VANTAGENS ATINENTES A PLANOS ECONÔMICOS. DESCUMPRIMENTO DE DELIBERAÇÃO DO TRIBUNAL. FALTA DE SUSPENSÃO DO PAGAMENTO DA VANTAGEM INDEVIDA. DETERMINAÇÃO PARA DEVOLUÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS A PARTIR DO MÊS DE OUTUBRO DE 2009. CONHECIMENTO. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA ALTERAR O JUÍZO. NÃO PROVIMENTO. NOTIFICAÇÃO DA RECORRENTE. CIÊNCIA À ANATEL Assunto: Pedido de Reexame (em Monitoramento) Número do acórdão: 2317 Ano do acórdão: 2013 (...) Análise: 9. Como se vê, a recorrente concorda que seja suspenso o pagamento da vantagem impugnada pelo Tribunal. Insurge-se tão somente no tocante ao ressarcimento dos valores pagos a partir de outubro de 2009, na forma determinada no item d.3 do Acórdão recorrido. Em suma, advoga que recebeu os valores impugnados de boa-fé e que só tomou conhecimento após a prolação do Acórdão recorrido de que a parcela é indevida. 9.1. Não procedem as alegações da recorrente, tendo em vista que a boa-fé, por si só, não é suficiente para a dispensa de recursos recebidos indevidamente por servidor público. Nesse sentido, cabe trazer o seguinte excerto de voto apresentado pelo Exmo. Ministro Walton Alencar Rodrigues que embasa o Acórdão 704/2012 - TCU - Plenário: "Mesmo com a presença de boa-fé da pensionista e a ausência de influência ou interferência de sua parte para a concessão da vantagem impugnada, duas das condições para dispensa de reposição ao erário, estipuladas no Acórdão 1.909/2003 - TCU - Plenário, em resposta à consulta formulada pelo Ministério dos Transportes, não se observa "existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida" nem "interpretação razoável, embora errônea, da lei pela Administração", duas outras condições cumulativas do acórdão citado. Nos termos da Súmula 249 deste Tribunal, a dispensa de reposição aos cofres públicos de importâncias recebidas indevidamente somente se admite se o respectivo pagamento houver sido originado de erro escusável de interpretação de lei, o que não é o caso de que se trata, no qual o pagamento indevido decorreu de erro operacional da Administração. Tanto o órgão pagador como a recorrente concordam que o pagamento da parcela complementar de subsídio de julho de 2009 a junho de 2011 era irregular.

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Tratando-se de erro operacional e não de equivocada interpretação de lei, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal é uniforme no sentido de que pode e deve a Administração suspender o pagamento indevido e proceder ao desconto de tais valores na remuneração do servidor ou nos proventos do aposentado ou pensionista, conforme demonstrado no relatório que acompanha este voto." (...) Voto: VOTO (...) 2. A recorrente, em resumo, faz as seguintes alegações no seu pedido de reexame: "nada se opõe à paralisação dos pagamentos, mas, no tocante aos R$ 10.385,02, os quais a Anatel pretende reaver, não pode deixar de protestar já que sempre agiu de boa-fé com a Administração Pública; no ano de 2009 não recebeu nenhuma comunicação de seus superiores ou mesmo do TCU informando que os pagamentos deveriam ser suspensos, sendo que tomou ciência somente em 2012; não deu causa direta e nem mesmo indireta aos pagamentos ilegais, dessa forma, segundo ampla maioria da jurisprudência das mais altas cortes do país não deve pagar/restituir nada ao erário; não há que se falar em descontos ou estornos de valores por parte da servidora pública, já que ela ingressou com uma ação judicial que foi legitimamente julgada por órgão competente, que determinou o pagamento das parcelas de R$ 273,29 e jamais reiterou o pedido para manutenção do pagamento após o ano de 2009, seja por mecanismo judicial ou por mecanismo administrativo, permanecendo tal rubrica em seu contracheque por única e exclusiva responsabilidade do setor de recursos humanos da Anatel; portanto, a servidora recebeu os valores depois do ano de 2009, mas os recebeu de boa-fé e os gastou com o seu sustento e de sua família; a forma de desconto imposta pelo órgão não pode ser suportada pela servidora, que atualmente arca com despesas de financiamento de veículos, escola de menores, plano de saúde e outros." 3. O recurso foi analisado pela Serur, nos termos do parecer que consta do relatório precedente, no qual a unidade técnica especializada concluiu que ele deve ser conhecido para, no mérito, ser-lhe negado provimento. 4. Estou de acordo com a análise e a conclusão da Serur, cabendo tecer, tão somente, as considerações que se seguem. 5. A boa-fé, arguida pela recorrente, é elemento volitivo que, no presente caso, até poderia mostrar-se necessário mas nunca suficiente para balizar um provável reexame da decisão do Tribunal. 6. A jurisprudência desta Corte é pacífica no que concerne à reposição ao erário de importâncias recebidas indevidamente. 7. A título de exemplo, que bem se amolda ao que se discute

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nestes autos, reproduzo os seguintes trechos do voto condutor do Acórdão 704/2012 - Plenário: "Nos termos da Súmula 249 deste Tribunal, a dispensa de reposição aos cofres públicos de importâncias recebidas indevidamente somente se admite se o respectivo pagamento houver sido originado de erro escusável de interpretação de lei, o que não é o caso de que se trata, no qual o pagamento indevido decorreu de erro operacional da Administração. Tanto o órgão pagador como a recorrente concordam que o pagamento da parcela complementar de subsídio de julho de 2009 a junho de 2011 era irregular. Tratando-se de erro operacional e não de equivocada interpretação de lei, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal é uniforme no sentido de que pode e deve a Administração suspender o pagamento indevido e proceder ao desconto de tais valores na remuneração do servidor (...)." 8. Também é irrelevante, na lide em questão, a alegação da servidora pública de que supostamente só foi comunicada sobre a necessidade de suspensão e devolução dos pagamentos em 2012. Não obstante, embora os pagamentos tenham sido considerados indevidos desde outubro de 2009, os acórdãos que reiteraram o comando para que as verbas fossem reavidas são do ano de 2012 (Acórdãos 181/2012 - Plenário e 2440/2012 - Plenário). 9. Igualmente, são despiciendos os argumentos da recorrente sobre o destino que teria dado aos valores recebidos (sustento da família) ou acerca do impacto que sua exclusão atualmente teria no seu orçamento pessoal. 10. Note-se que as liminares e decisões favoráveis, em primeira instância, foram revistas posteriormente, prevalecendo-se a posição do TCU, que reconheceu a irregularidade do pagamento da parcela recebida pela recorrente (URP - 26,05%). Portanto, a precaução exigiria que os valores auferidos por força de decisões precárias e monocráticas fossem preservados, a exemplo daqueles em litígio que são depositados em juízo. 11. Por oportuno, e para que a questão que já está bem sedimentada seja mais uma vez esclarecida, transcrevo a seguir o sumário do Acórdão 2685/2004 - 1ª Câmara, exarado nos autos do TC 800.049/1998-5, em sede de recurso de reconsideração: "Incorporação aos proventos de percentual decorrente do plano econômico, concedido por sentença judicial. Ilegalidade. O reconhecimento do direito à incorporação de verbas, alegadamente amparado por decisão judicial, não prescinde da verificação da precisa extensão da sentença concreta, concessiva da parcela. Ausência, na hipótese dos autos, de expressa determinação da sentença, no sentido de que a incorporação da antecipação salarial, resultante do plano econômico, deva extrapolar a data-base, expressamente fixada em lei, para abranger a totalidade da relação temporal do servidor com a Administração. A sentença judicial, que faz lei entre as partes, se interpreta em coerência com a legislação em vigor, a não ser que, de forma expressa, esteja a sentença a derrogar, para o caso concreto, as

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normas legais positivas em que deveria supostamente se fundamentar. Inexistência de ofensa à coisa julgada. Enunciado 322 da Súmula de Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho. A continuidade do pagamento das diferenças de URP e Plano Collor após a data-base, sem expresso mandamento judicial, representa afronta à decisão judicial, pois transbordante dos seus limites. Conhecimento. Negativa de provimento." Ante o exposto, acolho o parecer da Serur e voto no sentido de que o Tribunal adote a deliberação que ora submeto a este Colegiado. TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 28 de agosto de 2013. JOSÉ MÚCIO MONTEIRO Relator Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos, em fase de pedido de reexame interposto pela Edila Neile Pires da Silva ao Acórdão 2.440/2012 - Plenário. ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator e com fundamento no art. 48 da Lei 8.443/1992, em: 9.1. conhecer do pedido de reexame para, no mérito, negar-lhe provimento; 9.2. notificar a recorrente; 9.3. dar ciência do inteiro teor desta deliberação à Anatel Quórum: 13.1. Ministros presentes: Augusto Nardes (Presidente), Walton Alencar Rodrigues, Benjamin Zymler, Aroldo Cedraz, Raimundo Carreiro, José Jorge, José Múcio Monteiro (Relator) e Ana Arraes. 13.2. Ministro-Substituto presente: Augusto Sherman Cavalcanti Relator da deliberação recorrida: AUGUSTO SHERMAN Data da sessão: 28/08/2013

Destarte, não há duvida de que no modus operandi a Administração pode falhar, pois sua atuação se dá por meio de seus agentes, servidores públicos sujeitos a falibilidade humana que todos nós estamos passíveis de cometer no dia a dia, não sendo possível cogitar que um erro ou equívoco na realização dessas atividades teria o condão de conferir direito adquirido à vantagem indevidamente percebida, motivo pelo qual nos casos de percepção de vantagem indevida decorrente de erro operacional cabe ao servidor restituir o erário os valores recebidos sem amparo legal, sob pena de enriquecimento ilícito.

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Vale lembrar que no Direito Civil existe o princípio da proibição do enriquecimento sem causa, ficando quem recebeu algo indevido com a obrigação de restituir, nos termos dos artigos 884 a 886 do Código Civil Brasileiro. Exemplo disso é quando uma instituição financeira deposita por engano uma quantia na conta bancária de alguém. O erro da referida instituição não transfere a propriedade do dinheiro para o correntista e este tem a obrigação de devolver. Essa citação foi apenas para exemplificar que o direito privado também trabalha com a hipótese de que o erro operacional não convalida automaticamente determinada operação. Mas voltando à esfera do direito público há de se dizer ainda, que independente do pagamento dos valores indevidos ter se dado por erro operacional ou não, mesmo que cogitássemos a possibilidade de tal equívoco ter ocorrido em virtude de erro escusável de interpretação de lei, a boa-fé, por si só, não se afiguraria suficiente para obstar o ressarcimento ao erário em que a dispensa de reposição exige o cumprimento cumulativo de outros requisitos como visto acima na ementa do julgamento do MS 25.641/DF pelo Supremo Tribunal Federal. Entretanto, há outro ponto a ponderar que é a situação em que ocorre um erro operacional provocando pagamentos indevidos descobertos após o transcurso de cinco anos. Como não ocorre a decadência, caberia devolução de todo o valor recebido? Conquanto não seja aplicável o instituto da decadência administrativa nos casos de erro operacional, assegurando a Administração exercer o poder da autotutela corrigindo os atos nulos desprovidos de legalidade, de se destacar que carece observar, contudo, a prescrição quinquenal quanto aos efeitos já produzidos pelo ato nulo, vez que os pagamentos indevidos foram realizados e o prazo para cobrança dos créditos de natureza administrativa relativos aos valores indevidamente percebidos devem observar o prazo prescricional de 05 (cinco) anos, no termos do art. 1º do Decreto 20.910/32. No tocante à prescrição quinquenal de valores recebidos indevidamente por erro da administração, decidiu o TRF da 2ª Região:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. PAGAMENTO INDEVIDO EFETUADO AO SERVIDOR POR ERRO DA ADMINISTRAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE DÚVIDA PLAUSÍVEL SOBRE A INTERPRETAÇÃO, VALIDADE OU INCIDÊNCIA DA NORMA INFRINGIDA. POSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO DOS VALORES, AINDA QUE TENHA HAVIDO BOA-FÉ DO SERVIDOR. NECESSIDADE DE COMUNICAÇÃO PRÉVIA DO DESCONTO. ART. 46 DA LEI 8.112/90. DECADÊNCIA. ART. 54 DA LEI 9.784/99. INAPLICABILIDADE EM RELAÇÃO AOS ATOS NULOS. PRESCRIÇÃO DOS VALORES PAGOS APÓS O PRAZO DE 05 (CINCO) ANOS. ART. 1º DO DECRETO Nº 20.910/32. 1. A controvérsia dos autos cinge-se à possibilidade de a Administração Pública efetuar descontos na folha de pagamento de servidor público que recebeu valores de boa-fé por força de erro da administração. 2. A análise dessa questão deve ser feita à luz dos parâmetros fixados pelo Colendo Supremo Tribunal Federal, no julgamento do Mandado de Segurança nº 25.641-9/DF (Relator: Ministro Eros Grau. Órgão julgador: Tribunal Pleno. DJ 22/02/2000), no sentido de que a restituição de valores ao erário é indevida quando

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verificada no caso a presença concomitante: (i) de boa-fé do servidor; (ii) da ausência, por parte do servidor, de influência ou interferência para a concessão da vantagem impugnada; (iii) da existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida, no momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada; e (iv) da interpretação razoável, embora errônea, da lei pela Administração Pública. 3. Verifica-se, no presente caso, a inexistência de erro escusável por parte da Administração Pública, ou seja, de dúvida plausível em relação à interpretação da norma, no ato de pagamentos dos valores indevidos, de modo que seria cabível sua restituição. 4. No que se refere à legalidade dos descontos em folha de pagamento, para fins de ressarcimento ao erário, o artigo 46, da Lei nº 8.112/90, exige apenas a prévia comunicação ao servidor da realização dos descontos, o que não significa a necessidade de aquiescência do servidor com o desconto em folha ou de instauração de um prévio procedimento administrativo. 5. O art. 54, da Lei 9.784/99, prevê o instituto da decadência em relação à anulação dos atos praticados pela Administração. Este Tribunal Regional Federal, entretanto, tem adotado o entendimento de que a decadência administrativa somente se aplicaria em relação aos atos anuláveis, e não aos nulos. Isto porque não se poderia admitir que a Administração fosse tolhida de seu dever de rever atos eivados de ilegalidade, conforme determina o art. 114 da Lei nº 8.112/90, sob pena de ofensa aos princípios constitucionais da moralidade e da legalidade. 1 Sendo assim, não seria possível o reconhecimento da decadência, no presente caso, uma vez que os pagamentos indevidos foram efetuados sem qualquer previsão legal. 6. Em relação à prescrição, no entanto, esta E. Corte tem se posicionado no sentido de que, mesmo em relação aos atos nulos, teria de ser reconhecida a prescrição quanto aos efeitos já produzidos por aqueles atos viciados, os quais seriam, no caso dos autos, os pagamentos indevidos efetuados pela Administração. 7. O prazo prescricional para a cobrança, pela União Federal, de créditos de natureza administrativa é de 05 (cinco) anos, nos termos do artigo 1º, do Decreto nº 20.910/32, em razão do princípio da isonomia. 8. Deve ser dado parcial provimento à remessa necessária, para que seja afastada a decadência pronunciada na sentença, sendo reconhecida a ocorrência de prescrição em relação aos valores recebidos antes de 22/12/2004. 9. Apelação da autora não provida e remessa necessária parcialmente provida. (TRF2, APELREEX n° 2010.51.02.004520-0– Vice – Presidência – Rel. Des. Fed. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes, Data da Decisão: 28/01/2015). ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PÚBLICO - PAGAMENTO INDEVIDO EM VIRTUDE DE REENQUADRAMENTO EQUIVOCADO - INEXISTÊNCIA DE DÚVIDA PLAUSÍVEL SOBRE A INTERPRETAÇÃO, VALIDADE OU INCIDÊNCIA DA NORMA INFRINGIDA - POSSIBILIDADE DE REPOSIÇÃO AO ERÁRIO - COMUNICAÇÃO PRÉVIA DO DESCONTO - DECADÊNCIA - ART. 54 DA LEI 9.784/99 - INAPLICABILIDADE EM RELAÇÃO AOS ATOS NULOS - PRESCRIÇÃO DOS VALORES PAGOS APÓS O PRAZO DE 05 (CINCO) ANOS - ART. 1º DO DECRETO Nº 20.910/32. I - O art. 54 da Lei 9.784/99 prevê o instituto da decadência em relação à anulação dos atos praticados pela Administração. Esta Corte, entretanto, tem adotado o entendimento de que a decadência administrativa somente se aplicaria em relação aos atos anuláveis, e não aos nulos. Isto porque não se poderia admitir que a Administração

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fosse tolhida de seu dever de rever atos eivados de ilegalidade, conforme determina o art. 114 da Lei nº 8.112/90, sob pena de ofensa aos princípios constitucionais da moralidade e da legalidade. Sendo assim, não seria possível o reconhecimento da decadência, no presente caso, uma vez que os pagamentos indevidos foram efetuados sem qualquer previsão legal. II - Ainda que seja possível, na hipótese, cogitar a presença de boa-fé por parte do servidor e da ausência de influência ou de interferência no pagamento indevido, não se vislumbra, no caso em tela, a existência de erro escusável por parte da Administração Pública, ou seja, de dúvida plausível em relação à interpretação da norma, uma vez que o pagamento indevido foi efetuado por erro operacional da Administração. III - Cumpre ressaltar que a Administração Pública observou a norma e comunicou ao autor sobre o desconto em seus proventos a título de ressarcimento, tendo sido concedido prazo para defesa, na forma da lei. IV - No que diz respeito à prescrição, esta E. Corte tem entendido que, mesmo em relação aos atos nulos, teria de ser reconhecida a prescrição quanto aos efeitos já produzidos por aqueles atos viciados, os quais seriam, na hipótese, os pagamentos indevidos efetuados pela Administração. V - Recursos e remessa necessária desprovidos. (TRF2, APEL n° 2013.51.02.000994-3 – Vice-Presidência – Rel. Des. Fed. Sergio Schwaitzer Reis Friede, Data da Decisão: 11/03/2015).

Sendo assim, divirjo parcialmente da manifestação da Área Técnica encampado no voto do Conselheiro Relator e acompanho a ressalva aduzida pelo Parquet de Contas de fls. 74-82, cujo entendimento firmado se deu no sentido de que tratando-se de pagamento indevido decorrente de erro operacional a correção de valores não estaria sujeita ao prazo decadencial da Lei 9784/99 e a dispensa de reposição ao erário apenas se impõe se cumpridos todos os requisitos reconhecidos pelo C. STF, visto que a boa-fé, isoladamente, não teria o condão de afastar a restituição dos valores irregularmente percebidos gerando enriquecimento ilícito em prejuízo da Administração. Entretanto, a restituição a ser feita de quem recebeu quantias decorrentes de erro operacional deverá obedecer ao prazo quinquenal. DECISÃO Por todo o exposto, após análise jurídica dos presentes autos VOTO divergindo parcialmente do Relator e acompanhando o entendimento do Procurador de Contas Dr. Luciano Vieira de que a dispensa de reposição ao erário apenas se impõe se cumpridos todos os quatro requisitos reconhecidos pelo STF e citados neste voto, visto que a boa-fé, isoladamente, não teria o condão de afastar a restituição dos valores irregularmente percebidos gerando enriquecimento ilícito em prejuízo da Administração. Também acompanho o referido procurador no sentido da inaplicabilidade do prazo decadencial disposto no art. 54 da Lei 9784/99 nos casos em que a correção de parcelas irregularmente concedidas pela Administração se derem em virtude de erro operacional, gerando, por essa razão, o dever de restituição ao erário público. Acrescento que, neste último caso, deverá ser observado o prazo quinquenal para fins de restituição de valores indevidamente pagos.

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Vitória/ES, 22 de março de 2016. DOMINGOS AUGUSTO TAUFNER Conselheiro

Em complemento ao voto condutor, vale reiterar que, na sessão do dia 19 de abril de

2016, o Conselheiro Sebastião Carlos Ranna de Macedo acompanhou as observações do

voto do Conselheiro Domingos Augusto Taufner, com considerações. Em seguida juntou

o voto-vista cuja parte final segue transcrita:

Entendimento deste voto-vista: Percebo que o Conselheiro trouxe para seu voto os argumentos sempre bem tecidos no parecer do Procurador Luciano Vieira, no que tange ao conteúdo da Súmula do TCU. Pois bem, em relação à síntese jurisprudencial do TCU não há nenhum reparo a fazer quanto à sua pertinência com o debate vertido nos autos. Na verdade, a súmula, por outro caminho, afirma o entendimento que consta da jurisprudência trazida no voto do Conselheiro Sérgio Borges, qual seja: havendo erro de interpretação, não cabe a devolução das parcelas recebidas de boa-fé, sem excluir que, não se tratando de erro de interpretação, cabe sim a reposição dos valores indevidamente percebidos. Por isso ser indispensável, como anota o Conselheiro Domingos em seu voto, “aferir se o erro cometido pela Administração se deu com base em erro escusável de interpretação de lei ou se decorreu de erro operacional para só depois se perquirir se a devolução dos valores será passível de restituição”. É justamente nessa linha de orientação jurídica que caminhou o julgado adiante, atribuído pelo Conselheiro Domingos Taufner ao TCU. Vejamos mais uma vez. 3. Na reposição ao erário de parcelas remuneratórias irregularmente percebidas, em razão de equívoco da Administração, deve-se perquirir, em cada caso, se o erro do qual decorreu o pagamento indevido foi uma falha operacional ou se ocorreu em função de errônea ou má interpretação da lei, na medida em que o erro operacional, em nenhuma hipótese, afasta o dever de restituir o que foi indevidamente pago, conforme atual entendimento do TCU. Notem que essa decisão, além de reafirmar que não cabe devolução de valores pagos em caso de errônea interpretação e que devem ser devolvidas parcelas recebidas quando houver erro operacional, faz a importante ressalva de que é impositivo perquirir, investigar e comprovar, em cada caso, se a hipótese é de erro de interpretação ou de falha operacional. Não há dúvida de que, para que seja justificável a dispensa da devolução de valores recebidos, é necessário verificar a conjugação dos seguintes requisitos: a boa-fé do beneficiário das parcelas pagas, a ausência de influência ou interferência de sua parte para a concessão da vantagem ou parcela impugnada, além da "existência de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida”. A hipótese do erro operacional, além de ser menos comum na práxis administrativa, de regra, quando ocorre, apresenta traços definidores muito objetivos, bem diferentes das situações em que o vício se dá por errônea interpretação da norma. É o que demonstram de modo definitivo os exemplos

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trazidos nos julgados referidos pelo Procurador de Contas Luciano Vieira e pelo Conselheiro Domingos Taufner. Vejamos. Trouxe o parecer ministerial: 2 – A Administração, por equívoco, efetuou pagamentos à Impetrante referentes ao cargo de Professor Adjunto, quando deveriam ser referentes ao cargo de Professor Assistente. Precedentes desta Corte: REOAC nº 201251010411203 - Oitava Turma Especializada - Rel. Des. Fed. VERA LÚCIA LIMA - e-DJF2R 11-12-2014; APELREEX nº 2012.51.02.000017-0 - Sétima Turma Especializada - Rel. Des. Fed. JOSÉ ANTÔNIO NEIVA - e- DJF2R 03-07-2013; APELREEX nº 2008.51.02.001279-0 - Sétima Turma Especializada - Rel. Des. Fed. LUIZ PAULO DA SILVA ARAÚJO FILHO - e-DJF2R 18-09-2012. 5. No presente caso, houve equívoco da Administração sim, mas não se trata de hipótese de errônea interpretação da lei, e sim de simples falha operacional, uma vez que os autores foram aposentados com proventos proporcionais e percebiam as gratificações GESST, G DASST e a VPI (Lei nº 10.698/2003) integralmente. 7 . Apelação e remessa necessária conhecidas e providas. (TRF2, APELREEX n° 2014.50.01.003628-9 – 7ª Turma Especializada – Rel. Des. Fed. José Antonio Lisbôa Neiva, Data da Decisão: 14/10/2015). Ora, parece cristalino que os dois exemplos colacionados não comportam qualquer dúvida de interpretação e em relação a nenhum deles sequer cabe cogitar de ser hipótese de anulação ou nulidade, pois os pagamentos foram realizados com base em atos inexistentes. No primeiro caso, os pagamentos foram realizados com base em cargo para o qual o beneficiário não foi nomeado. Ocupava o servidor o cargo de Professor Assistente e recebia remuneração do cargo de Professor Adjunto. Que dúvida de interpretação haveria nessa situação? A resposta é nenhuma. No segundo exemplo, o servidor tinha em seu favor um ato de aposentadoria proporcional, mas recebia como se decisão houvesse lhe concedido aposentadoria integral. Mais uma vez, na situação descrita foram realizados pagamentos com base em ato inexistente. Nunca houve um ato decretando a aposentadoria com verbas integrais. Havia sim uma decisão concedendo benefícios decorrentes de uma aposentadoria proporcional. De sua vez o Conselheiro anotou o seguinte precedente de características similares aos daqueles destacados pelo Parquet de Contas, conforme se vê da síntese que segue. PAGAMENTO INDEVIDO EM VIRTUDE DE REENQUADRAMENTO EQUIVOCADO - INEXISTÊNCIA DE DÚVIDA PLAUSÍVEL SOBRE A INTERPRETAÇÃO, VALIDADE OU INCIDÊNCIA DA NORMA INFRINGIDA - POSSIBILIDADE DE REPOSIÇÃO AO ERÁRIO Também nesse caso são nítidos os traços objetivos da situação, de modo a não permitir que prosperasse o argumento de que a situação poderia constituir hipótese de interpretação errônea de norma ou ato, pois o enquadramento e a progressão nos planos de carreira devem obedecer regras e critérios objetivos previstos em lei ou em norma regulamentar. Também merece destaque no voto do Conselheiro Domingos a seguinte assertiva e comando que constam do precedente de TRF2 (APEL n° 2013.51.02.000994-3 – Vice-Presidência – Rel. Des. Fed. Sergio Schwaitzer Reis Friede, Data da Decisão: 11/03/2015). IV - No que diz respeito à prescrição, esta E. Corte tem entendido que, mesmo em relação aos atos nulos, teria de ser reconhecida a prescrição quanto aos efeitos já produzidos por aqueles atos viciados, os quais seriam, na hipótese, os pagamentos indevidos efetuados pela Administração.

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Assim, observadas as anotações e argumentos até aqui postos por este Conselheiro, acompanho o entendimento do Conselheiro Domingos Augusto Taufner. III – DISPOSITIVO Assim, obedecidos todos os trâmites processuais e legais, decidido que estão presentes os requisitos de admissibilidade, acolhendo a manifestação da área técnica e do Ministério Público de Contas, VOTO para que o Plenário responda a presente Consulta segundo o entendimento do Relator, Conselheiro Sérgio Manoel Nader Borges, e nos termos propostos pelo Conselheiro Domingos Augusto Taufner, observados os argumentos e anotações que constam da fundamentação de meu voto. Feitas as comunicações de praxe e esgotado o prazo recursal, arquivem-se os presentes autos. Vitória, 19 de abril de 2016. SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO Conselheiro

No que tange a extensão da aplicabilidade do art. 54 da Lei Federal 9.784/99, o

Conselheiro Substituto João Luiz Cotta Lovatti, em seu voto-vista, apontou ressalva

acerca da inaplicabilidade da decadência no caso de ocorrer má-fé do servidor. Eis o

acréscimo jurisprudencial colacionado:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDORA PÚBLICA. CONVERSÃO DA LICENÇA -PRÊMIO NÃO GOZADA EM PECÚNIA. REVISÃO DO ATO PELA ADMINISTRAÇÃO. DECADÊNCIA ADMINISTRATIVA CONFIGURADA. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. No caso, o ato de concessão da licença-prêmio, datado de 9.10.1996, foi revisto em 10.7.2009, após esgotamento do prazo decadencial quinquenal previsto no art. 54 da Lei9.784/99, portanto. 2. O simples fato de a servidora ter ciência da situação fática em que foi concedida a licença prêmio não é suficiente para configuração da má-fé de sua parte, uma vez que, conforme entendimento jurisprudencial do STJ, a interpretação errônea de determinada norma pela Administração, que resulta em vantagem indevida para o servidor, dá origem a uma falsa expectativa de legalidade e definitividade quanto ao direito reconhecido. Precedente: REsp. 1.244.182/PB, Rel. Min. BENEDITO GONÇALVES, DJe 19.10.2012. 3. Agravo Regimental do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL desprovido.(AgRg no RMS 32.455/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/10/2015, DJe 03/11/2015)(GRIFO NOSSO)

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. PAGAMENTOS EFETUADOS DE FORMA INDEVIDA PELA ADMINISTRAÇÃO. ART. 54 DA LEI N. 9.784/99. PRESCRIÇÃO.INEXISTÊNCIA. TRATO SUCESSIVO. PRESCRIÇÃO QUINQUENAL. 1. Cuida-se, na origem, de "ação declaratória condenatória", com pedido de antecipação da tutela, movida pela agravante contra os ora agravados, pleiteando a suspensão dos descontos que estavam sendo efetuados em seu contracheque a título de restituição ao erário, bem como o reconhecimento do

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seu direito ao recebimento da Vantagem Patrimonial Rubrica Complementação 1142 ou 1256 (Código 1472). 2. No caso, a recorrente percebeu a gratificação em discussão amparada por decisão judicial, posteriormente revogada. O trânsito em julgado ocorreu em 17/2/2004; todavia, a Administração somente cessou os pagamentos em 2010. O Tribunal de origem assegura aos ora recorridos a possibilidade de reaver o que foi pago indevidamente à agravante, porém limitando os descontos ao quinquênio que antecede o processo administrativo instaurado com o objetivo de reaver os valores pagos. 3. O cerne da controvérsia é saber se a Administração decaiu do seu poder-dever de cobrar administrativamente verbas que foram pagas indevidamente à recorrente. A resposta que exsurge é negativa, pois, constatado o erro, a Administração tem o poder-dever de cessar o pagamento, e, ainda, cobrar o que foi pago indevidamente, limitando aos cinco anos anteriores à suspensão do ato, como corretamente decidiu o Tribunal de origem. 4. Destaque-se que, neste caso, não há que se falar em prescrição do direito de cobrança, com arrimo no art. 54 da Lei n. 9.784/99, porquanto se trata de pagamentos de trato sucessivo, razão pela qual a devolução deve restringir-se ao quinquênio anterior à notificação do processo administrativo, como assentado no acórdão recorrido. Agravo regimental improvido. (AgRg no REsp 1464798/SC, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/12/2015, DJe 05/02/2016)

Dito isso, segue transcrita a parte final do voto-vista do Conselheiro Substituto João

Luiz Cotta Lovatti:

De todo o exposto, voto no sentido de responder a consulta formulada pelo Diretor Geral do Detran Espírito Santo nos seguintes termos: 1.Na inteligência extraída da manifestação do Superior Tribunal de Justiça se entende que na ausência de normas locais que regulem o processo administrativo, por analogia integrativa aplicam-se aquelas constantes na lei Federal nº 9784/1999 (Resp 1251769/SC, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, Segunda Turma, julgado em 06/09/2011, DJe 14/09/2011). 2.O instituto da decadência previsto no art. 54 da Lei Federal nº 9784/1999 será aplicado nas revisões de atos administrativos quando concomitantes os seguintes requisitos: a) presença de boa-fé do servidor; b) ausência, por parte do servidor, de influência ou interferência para a concessão da vantagem impugnada; c) existência de dúvida plausível sobre interpretação, validade ou incidência da norma infringida, no momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada; d) interpretação razoável, emborra errônea, da lei pela Administração (MS 25641, Relator(a): Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 22/11/2007, DJe-031 DIVULG 21-02-2008 PUBLIC 22-02-2008). 3.A impugnação do ato ou declaração da decadência deve ser precedida de procedimento administrativo destinado a aferir os requisitos mencionados no MS STF 25641 e identificação da possível existência de medida prévia da administração capaz de afastar a alegação de decadência administrativa no transcorrer do prazo decadencial. Em 13 de outubro de 2015. João Luiz Cotta Lovatti Auditor/Conselheiro em Substituição

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Ressalte-se que o Conselheiro Substituto João Luiz Cotta Lovatti assinalou a

necessidade de aferir se a Administração adotou medida para impedir a consumação da

decadência. Afinal, não basta a identificação de pagamentos indevidos decorrentes de

erro em interpretação de lei, uma vez que é imperioso que a Administração adote

providências para impedir o transcurso do prazo quinquenal do art. 54 da Lei Federal

9.784/99.

Nesse sentido, segue o trecho do parecer ministerial (que já foi acolhido por este

relator, bem como pelo Conselheiro Rodrigo Flávio Freire Farias Chamoun,

conforme se verifica nas notas taquigráficas de fls. 161/164, referentes a 12ª

Sessão Ordinária, no dia 19/04/2016) acerca da aferição da responsabilidade pelo

ato ilegal de concessão ou cálculo de parcelas indevidas, senão vejamos:

Não obstante, cabe acrescentar que, embora “eventual erro na concessão ou no cálculo de parcelas de natureza remuneratória não possa ser imputado ao servidor que laborou de boa-fé”, é necessário aferir a responsabilidade daquele que concedeu ou calculou ilegalmente as parcelas, incluído o dever de ressarcimento, referente ao período em que a anulação do ato poderia ter ocorrido. Não há que se falar em responsabilização a partir do advento do prazo decadencial. Afinal, após ocorrida a decadência do dever de anular o ato, não há razão em responsabilizar quem o manteve; caso contrário, até que todos os servidores que tenham sido beneficiados pela ilegalidade encerrem seus vínculos com o ente, todos aqueles que um dia venham a ser responsáveis pelo pagamento terão que ressarcir o Erário por este fato. Isto posto, o Ministério Público de Contas anui à proposta da área técnica constante na OT-C 2/2015, pugnando, outrossim, que conste no Parecer-consulta a necessidade de se aferir a responsabilidade pelo ato ilegal de concessão ou cálculo de parcelas de natureza remuneratória, incluído o dever de ressarcimento, referente ao período em que a anulação do ato poderia ter ocorrido.

Por todo o exposto, VOTO pelo CONHECIMENTO da Consulta para respondê-la

conclusivamente nos seguintes termos:

Somente se admite a dispensa de reposição ao erário de pagamentos indevidos feitos

a servidor público, se presentes concomitantemente os seguintes requisitos, conforme

já reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal no Mandado de Segurança 25.641/DF:

I) presença de boa-fé do servidor; II) ausência, por parte do servidor, de influência ou

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interferência para a concessão da vantagem impugnada; III) existência de dúvida

plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida, no

momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada; e IV)

interpretação razoável, embora errônea, da lei pela Administração.

Nos casos de pagamentos indevidos decorrentes de erro de cálculo ou de erro

operacional da Administração, ainda que percebidos de boa-fé, não estão sujeitos ao

prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei 9.784/99, podendo ser revisto a qualquer

tempo e ensejam o dever de reposição pelo servidor, sob pena de enriquecimento

ilícito, respeitado o prazo de prescrição quinquenal para fins de restituição dos

pagamentos indevidos efetuados pela Administração, nos termos art. 1º do Decreto

20.910/32, aplicável em razão do princípio da isonomia.

Quando a reparação do dano decorrente de pagamentos indevidos não puder ser

imputada ao servidor, seja pela conjugação dos requisitos para dispensá-la ou pelo

decurso do prazo decadencial para a anulação do ato, será necessário, a qualquer

tempo, aferir a responsabilidade daquele que concedeu ou calculou ilegalmente as

parcelas, sobre quem deve recair o dever de reposição referente ao período em que a

anulação do ato poderia ter ocorrido.

PARECER CONSULTA

RESOLVEM os Srs. Conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo,

em sessão plenária realizada no dia vinte e quatro de maio de dois mil e dezesseis, à

unanimidade, acolhendo o voto consolidador do Relator, Conselheiro Sérgio Manoel

Nader Borges, responder a presente Consulta nos seguintes termos:

1. Somente se admite a dispensa de reposição ao erário de pagamentos indevidos

feitos a servidor público, se presentes concomitantemente os seguintes requisitos,

conforme já reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal no Mandado de Segurança

25.641/DF: I) presença de boa-fé do servidor; II) ausência, por parte do servidor, de

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influência ou interferência para a concessão da vantagem impugnada; III) existência

de dúvida plausível sobre a interpretação, validade ou incidência da norma infringida,

no momento da edição do ato que autorizou o pagamento da vantagem impugnada; e

IV) interpretação razoável, embora errônea, da lei pela Administração;

2. Nos casos de pagamentos indevidos decorrentes de erro de cálculo ou de erro

operacional da Administração, ainda que percebidos de boa-fé, não estão sujeitos ao

prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei 9.784/99, podendo ser revisto a qualquer

tempo e ensejam o dever de reposição pelo servidor, sob pena de enriquecimento

ilícito, respeitado o prazo de prescrição quinquenal para fins de restituição dos

pagamentos indevidos efetuados pela Administração, nos termos art. 1º do Decreto

20.910/32, aplicável em razão do princípio da isonomia;

3. Quando a reparação do dano decorrente de pagamentos indevidos não puder ser

imputada ao servidor, seja pela conjugação dos requisitos para dispensá-la ou pelo

decurso do prazo decadencial para a anulação do ato, será necessário, a qualquer

tempo, aferir a responsabilidade daquele que concedeu ou calculou ilegalmente as

parcelas, sobre quem deve recair o dever de reposição referente ao período em que a

anulação do ato poderia ter ocorrido.

Composição Plenária

Presentes à sessão plenária de deliberação os Senhores Conselheiros Sérgio

Aboudib Ferreira Pinto, Presidente, Sérgio Manoel Nader Borges, Relator, Sebastião

Carlos Ranna de Macedo, Domingos Augusto Taufner, Rodrigo Flávio Freire Farias

Chamoun, Conselheira em substituição Márcia Jaccoud e o Conselheiro convocado

João Luiz Cotta Lovatti. Presente, ainda, o Dr. Luciano Vieira, Procurador-Geral do

Ministério Público Especial de Contas.

Sala das Sessões, 24 de maio de 2016.

CONSELHEIRO SÉRGIO ABOUDIB FERREIRA PINTO

Presidente

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CONSELHEIRO SÉRGIO MANOEL NADER BORGES

Relator

CONSELHEIRO SEBASTIÃO CARLOS RANNA DE MACEDO

CONSELHEIRO DOMINGOS AUGUSTO TAUFNER

CONSELHEIRO RODRIGO FLÁVIO FREIRE FARIAS CHAMOUN

CONSELHEIRA MÁRCIA JACCOUD FREITAS

Em substituição

CONSELHEIRO JOÃO LUIZ COTTA LOVATTI

Convocado

Fui Presente:

DR. LUCIANO VIEIRA

Procurador-Geral do Ministério Público Especial de Contas

ODILSON SOUZA BARBOSA JUNIOR

Secretário-Geral das Sessões

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Texto
Este texto não substitui o publicado no DOEL-TCEES 01.08.2016