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Revista Jurídica UNIGRAN. Dourados, MS | v. 2 | n. 4 | jul./dez. 2000. 93

ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. CIDADANIA E OS DIREITOS

HUMANOS. PROBLEMÁTICA DO PLENO EXERCÍCIO DO ESTADO DE

DIREITO, DA CIDADANIA E DA DEMOCRACIA NO BRASIL ATUAL

Carlos Cunha *

INTRODUÇÃO

Estado Democrático de Direito, Cidadania e os Direitos Humanos,abrem espaço para uma perspectiva infinita - são temas abertos em dire-ção a um ponto longínquo, que aportará num estágio de convivênciaharmônica entre os homens, meta programática irrealizável, sob o prismamíope das agruras vivenciadas sem fronteiras, nos dias de hoje.

Acreditar no potencial humano, no seu ideal incessante de buscade um mundo melhor, eis o primeiro passo. Mas não basta acreditar, épreciso lutar. E as lutas contra as mazelas que dominam o homemcontemporâneo vêm de longe, travadas há séculos. Tempos novos,problemas antigos: desrespeito para com o outro, ambição, falta desolidariedade, ânsia de dominação, egocentrismo. São chamas que acendemas violações aos Direitos Humanos, latu sensu.

Descortinamos, a seguir, nuanças que têm raiz nuclear no íntimodo próprio homem, mas ganham tonalidades as mais diversas, vertendoem problemas que tornam os postulados constitucionais um dilema e umaprática conflituosa, em que o contexto destoa do texto.

1. NOÇÕES PRELIMINARES.

1.1. Balançar de olhos na dimensão do tempoO Estado moderno não é o berço histórico dos direitos

fundamentais do homem. As raízes guardam correspondência com umpassado mais remoto: civilizações antigas, apoiadas em costumes e na

* Professor da UEMS e mestrando em Direito Constituicional da UNIGRAN/UnB

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religiosidade, vivenciavam princípios de proteção aos valores humanos.1Segundo JOÃO BAPTISTA HERKENHOFF 2, há autores que

sustentam que a história dos Direitos Humanos tem início com a autolimi-tação do poder do Estado pela lei, ótica que não é correta, porqueobscurece a contribuição histórica dos povos que enalteceram, na suavivência, a primazia pelo respeito aos valores da pessoa humana.

Na modalidade antiga de organização do Estado, o indivíduo nãoera detentor de direitos, oponíveis ao poder estatal. A Constituição de Athe-nas (Athenaton politeia), formulada por Aristóteles, v.g., símbolo históricoda estruturação formal do Estado, reflete, segundo indica JOSÉALFREDO DE OLIVEIRA BARACHO 3, análise da forma e moldurado governo de Atenas, da polis, sem alcançar a esfera legal de proteçãoaos direitos humanos, que permaneciam à mercê do reconhecimento dosgovernantes.

Aos ventos da dimensão temporal, as sociedades rudimentaresforam tecendo, aos poucos, no curso da história, o que reflete o Estadohoje, enquanto regulador de suas próprias forças, limitador de seuspróprios direitos frente aos direitos dos cidadãos.

Premissas cristãs impulsionaram culturas diversas, sob preceitosmais variados: o valor do homem, diante de Deus não está na cor da pele,no sexo, grau social ou riqueza que possui; afirmações bíblicas de igualdadeentre as pessoas; direito de asilo ao estrangeiro; direito ao alimento;proteção dos instrumentos de trabalho; solidariedade para com o órfão ea viúva; condenação à usura; a fraternidade; a paz; solidariedade universal,encerram primados que são vetores dos direitos humanos. No islamismo,encontramos a inviolabilidade da casa, liberdade religiosa, direito à edu-cação e à fraternidade. Os gérmens dos direitos humanos estão, de igual

1 Não há ruptura entre o passado o presente e o futuro. As lutas e conquistas obedecem a dinâmicada sucessão dos fatos que vão sendo gravados nos anais da história, donde se capta a marchaevolutiva constante, marcada por estágios de avanços e retrocessos, pelo que se depreende emDORNELES, João Ricardo W. O que são Direitos Humanos. Coleção Primeiros Passos. São Paulo:Brasiliense, 1989, p. 14.2 Curso de Direitos Humanos. Gênese dos Direitos Humanos. São Paulo: Editora Acadêmica, 1994, v. 1.p. 523 Teoria geral do constitucionalismo. In Revista de Informação Legislativa. julho/setembro-1986. Brasília:Senado Federal, 1991. v. 91. p. 7; Ângulo convergente é encontrado em HERKENHOFF, JOÃOBAPTISTA. ob. cit. p. 51/52

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modo, no budismo, v.g., no ensino da fraternidade e da generosidade. 4

Acresça-se, ainda, a prática dos direitos humanos por parte decivilizações indígenas, na América Latina, como é o caso dos astecas edos incas. Aqueles ensinavam o respeito ao próximo, cultuavam a bondadee a justiça, o reconhecimento da dignidade humana. Mais evoluídos, ainda,os incas, por não conhecerem a escravidão e com a visão da propriedadecomo direito de todos, visão socialista do trabalho, socorro aos quesofressem prejuízos em suas lavouras, mediante guarda de provisões e,ainda, o amor à cultura.

Malgrado as contradições próprias do seu grau de desenvolvimento,as civilizações antigas demarcaram - seja pela tradição ou por influênciareligiosa - os passos que impulsionaram a dinâmica da evolução dahumanidade ao estágio de adiantamento posterior.

1.2. Declarações de Direitos. Relação dialética entre o podere o sujeito.

Na espiral do tempo, até o início do século XIII, marcou época asupremacia do senhorio sobre os súditos, com poderes de vida e mortesobre estes. No núcleo do poder monárquico dos reinados havia umarelação de dominação, subserviência, desigualdade formal e substancial.

O marco simbólico de vazão do sistema é a Magna Carta, firmadaem 1215, pacto escrito através do qual o Rei João Sem Terra se com-promete a reconhecer os barões como homens livres do reino.5 Ocompromisso significou a quebra da higidez do sistema monárquico, poisas concessões significaram limitação dos poderes absolutos do rei.

4 É despiciendo tecer considerações amplas em torno das premissas cristãs, porque não pretendemosquestioná-las. A menção basta, para atender o propósito perseguido neste texto e,concomitantemente, situar o intérprete. Para maiores informes e mesmo para catalogaçãobibliográfica, dentre outros, apontamos HERKENHOFF, João Baptista. ob. cit. p. 42/46.5 Os constitucionalistas moldam uniformemente esta versão histórica, como v.g., sedimentou LOPEZ,Mário Justo. Manual de Derecho Político. 2ª ed. Buenos Aires: Ediciones Delpalma, 1994, p. 374;Encontramos em DALARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 11ª ed. São Paulo:Saraiva, 1985, p. 183, destaque quanto à importância capital o art. 39 da Magna Carta, pois estedispositivo traz em seu bojo expressiva afirmação de direitos, donde se colhe do seu texto: “Nenhumhomem livre poderá ser detido ou mantido preso, privado de seus bens, posto fora da lei ou banido, ou de qualquermaneira molestado, e não procederemos contra ele nem o faremos vir, a menos que por julgamento legítimo de seuspares e pela lei da terra.”

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No decurso do tempo, a aspiração de liberdade e igualdadeveiculadas pela Magna Carta passou a ser invocada pelos não pactuantese mais adiante, ainda, foram criados mecanismos contra as prisõesarbitrárias (Habeas Corpus (1679) e “Bill of Rights” (1688).6

O elenco dos direitos veiculados em tais antecedentes normativosnão enunciam direitos humanos e muito menos surgiram com a pretensãode serem guindados à condição de cartas de liberdade, mas como atos deconcessão, traduzindo compromisso de respeito a alguns direitos pessoais.7

O século XVIII encerra o apogeu da luta contra o regimeabsolutista, em que se travou embates na esfera política e ideológica,preparatórias para as grandes transformações que marcaram época dahumanidade, especialmente em face das declarações de direitos, que setornaram paradigma universal na luta contra os regimes antigos e nas lutasde independência das colônias americanas.8

A primeira declaração de direitos surgiu na América. A colônia deVirgínia, em 1776, anunciava direitos de liberdade, independência e direitoà propriedade, como pressupostos da busca da felicidade e segurança,preceitos estes que formaram a base do constitucionalismo americano ese materializaram na primeira Constituição de 1787 escrita do mundo edaquele país.9

A Assembléia Nacional francesa editou a sua Declaração dosDireitos do Homem e do Cidadão, em 1789, exprimindo direitos deliberdade, insculpidos como “ ‘direitos naturais, inalienáveis e sagrados’, direitostidos também por imprescritíveis, abraçando a liberdade, a propriedade, a segurançae a resistência à opressão.”10 A Declaração francesa atingiu, como destinatário,o gênero humano, enunciando direitos fundamentais de liberdade,igualdade e fraternidade. Influenciou sobremaneira o Constitucionalis-

6 Cf. PINAUD, João Luiz Duboc. Direito Humano ao Desenvolvimento. in Anais da XV ConferênciaNacional da Ordem dos Advogados do Brasil. Ética Democracia e Justiça, 04 a 08 de setembro de1994. São Paulo: JBA Comunicações, 1995. p. 335.7 A consolidação dos direitos iniciais decorreu, por certo, de uma acomodação de forças entre apreservação do poder e da insatisfação que grassava no âmbito social, um pacto de compromisso,conforme encontramos em LOPEZ, Mário Justo. Manual de Derecho Político. 2ª ed. Buenos Aires:Ediciones Delpalma, 1994, p. 387.8 Neste sentido, apure-se, em DORNELES, João Ricardo W. Ob. cit. p. 20.9 Em ritmo cadenciado com os tratadistas, DALARI, Dalmo de Abreu. Ob. cit. p. 184.10 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 10ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 516.

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mo, de acordo com DALMO DE ABREU DALARI 11 e representou umavanço histórico de sustentação dos direitos da pessoa.

Sob a inspiração da Declaração francesa, foi inaugurada a fase deinstitucionalização de postulados dogmáticos na ordem jurídica formal,que a doutrina distingue como uma seqüência temporal de direitos - deprimeira, segunda, terceira e quarta geração. Os de primeira geração, osdireitos individuais, como atributos da pessoa, oponíveis ao Estado; osde segunda geração, inaugurados na fase do constitucionalismo social, apartir do século XX, são os direitos sociais e direitos coletivos; os deterceira geração, identificados como o direito à paz, ao meio ambiente, àinfância, ao desenvolvimento e o direito de comunicação (tambémchamados de direitos de solidariedade); os direitos da quarta geração, comoo direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo.12

Segundo PAULO BONAVIDES 13, os direitos de segunda e terceirageração “formam a pirâmide cujo ápice é o direito à democracia”, por serem in-fra-estruturais. Assevera, ainda, que estes, somados aos da quarta geração,são direitos que não se interpretam, mas concretizam-se, antevendo comvisão agudíssima que “os direitos de quarta geração compendiam o futuro dacidadania e o porvir da liberdade de todos os povos.”

Vale ressaltar que sob a égide dos direitos de primeira geraçãosurgiu o Estado liberal, passivo e simples conservador de direitos - sob ainspiração da igualdade meramente formal, abstrata, o paradigma do Estadode Direito fundamentou as práticas de maior exploração do homem pelohomem, como bem assinala MENELICK CARVALHO NETO 14, dondeo acúmulo de capital se concentrou de forma jamais visto.

A falta de efetivação dos direitos sociais, a desigualdade brutallevada a efeito pelos embalos do neoliberalismo, a busca de assegurar umnível de vida razoável aos trabalhadores e os conflitos internacionais quedesaguaram em duas grandes Guerras Mundiais sedimentaram um climasuscetível de conjunção de forças por parte dos Estados, no sentido deformar uma base jurídica em defesa da paz mundial - surge a Declaração11 Op. cit. p. 185.12 Sobre o tema, merece consulta BONAVIDES, Paulo, . Ob. cit. p. 517/525.13 Op. cit. p. 525/526.14 A Hermenêutica constitucional sob o paradigma do Estado Democrático de Direito. In Revista Notícia doDireito Brasileiro. nº 6 (jul/dez-1998). Brasília: UnB, Faculdade de Direito, 2000. p. 233/250.

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Universal dos Direitos do Homem, com metas de declarar direitosfundamentais, inerentes à natureza humana, incapazes de serem des-conhecidos por Estados e governos.15

Trata-se de importantíssimo vetor programático que persegue arealização de direitos econômicos, sociais e culturais, indispensáveis àdignidade humana e ao desenvolvimento de sua personalidade. Não setrata de um documento de conteúdo abstrato, idealístico, mas de umabula que se caracteriza pela certeza dos direitos, vedando restrições,afirmando-se como instrumento de segurança jurídica, alinhando o primorpelo respeito aos direitos fundamentais, em qualquer circunstância. Surgiucom a meta de concretização de tais direitos, cuja fruição deve serassegurada a todos, máxime para atingir os que vive em condições deexclusão social.16

As Declarações de Direitos ostentam, no âmbito internacional, acondição de diplomas supra legais. Carregam normas jurídicas que devemser observadas pelos Estados signatários, independentemente das leisinternas. Inspiraram o Constitucionalismo e figuram na Lei Suprema damaioria dos Estados, mas ainda assim, muitos agem contra as suas própriasnormas internas, desrespeitando a Constituição, fazendo tábula rasa àsDeclarações. Noticia DALMO DE ABREU DALARI 17 que, sem meiosde impor qualquer sanção eficaz, a Organização das Nações Unidas levao fato a público, ao cenário internacional, mas os efeitos são inócuos,limitados à censura e protesto.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, espécie daConstituição de todos os povos, deve ser homenageada pelos Estados noseu mais alto grau, através de consciência nacional de respeito aos direitosfundamentais e maximização de esforços no sentido de efetivarconcretamente seus postulados, sob pena de se tornar uma “folha de papel”,15 O constitucionalismo espraiado pelos Estados carecia de um vetor comum, de uma Carta deLiberdade sem fronteiras. Marco de união dos povos, a Declaração Universal de Direitos Fundamentaisconsolida, sobretudo, os rumos para o Estado Moderno, conclusão que se chega através das lições deDALARI, Dalmo de Abreu. Ob. cit. p. 187.16 Merece destaque, ainda, a profunda observação de BONAVIDES, PAULO: “A Declaração Universaldos Direitos do Homem é o estatuto de liberdade de todos os povos, a Constituição das Nações Unidas, a cartamagna das minorias oprimidas, o código das nacionalidades, a esperança, enfim, de promover, sem distinção deraça, sexo e religião, o respeito à dignidade do ser humano.” Ob. cit. p. 531.17 Op. cit. p. 188.

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de conteúdo ilusório e abstrato.

1.3. Conceitos nucleares. Estado democrático de direito,cidadania e direitos humanos: temas abertos e polissêmicos

Uma junção poderosíssima, indissolúvel, entrelaça e vincula comgrau de interdependência o Estado Democrático de Direito com a cidada-nia e os direitos humanos. O respeito e a efetividade dos direitos humanosrevela a essência da cidadania e a cidadania é pressuposto medular doEstado Democrático de Direito e este, sob viés contrário é o cenáriocapaz da realização daqueles.18

O Estado Democrático de Direito sucedeu o Estado liberal,abstencionista, que produziu igualdade formal e fomentou odesenvolvimento do capitalismo. Naquele - em sentido lapidar - hápreocupação com o desenvolvimento das potencialidades humanas,apoiado nos princípios da supremacia da vontade popular, preservaçãoda liberdade e igualdade de direitos, culminando num tratamento digno,oportunizando uma divisão mais justa das riquezas19, debelando as misériase a concentração de poder e de renda apenas para uma parcela mínima.20

A cidadania, em sua concepção moderna, é um status de gozo e18 A nossa afirmação foi construída a partir das afirmações de BICUDO, Hélio. Estratégias para aPromoção da Punibilidade das Violações dos Direitos Humanos. In Direitos Humanos no Século XXI.PINHEIRO, Paulo Sérgio, GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (Orgs). [s.I.]: Instituto de Pesquisa deRelações Internacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, quando assevera que “no âmbito dasAméricas e previdentemente da América subdesenvolvida, é consensual que a observância dos direitos humanosse constitui na pedra de toque do Estado de Direito Democrático.” p. 152.19 A divisão justa de riquezas, na esfera do Estado Democrático de Direito é direcionamento-morapregoado por BICUDO, Hélio. Estratégias para a Promoção da Punibilidade das Violações dos DireitosHumanos. In Direitos Humanos no Século XXI. PINHEIRO, Paulo Sérgio, GUIMARÃES, SamuelPinheiro (Orgs). [s.I.]: Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, Fundação Alexandre deGusmão, p. 149.20 A concentração absoluta de renda, nas mãos de uma minoria, em detrimento da parcela maissignificativa da população cerceia o exercício da cidadania, como deflui das idéias de BARRETO,Vicente. O Conceito Moderno de Cidadania. In Revista de Direito Administrativo. abril/junho-1993.Rio de Janeiro: Livraria e Editora Renovar, 1993. p. 36. Consta da fonte, citação importante, deautoria de ELIAS DIAZ, onde afirma este que “A democracia exige participação real das massas e podenesta perspectiva definir-se a sociedade democrática como aquela capaz de instaurar um processo de efetivaincorporação dos homens... mecanismos de controle das decisões, e de real participação dos mesmos nos lucros daprodução.” Em seguida, BARRETO acentua que a “cidadania do estado democrático de direito tem,portanto, uma dupla face: ela se realiza através da participação no poder político, e, também, no sistemaeconômico.” p. 36.

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proteção de direitos, sob a égide de uma ordem constitucional - é sercidadão, titular de direitos sagrados, dentro de um sistema que assegureestes direitos. A envergadura que comporta o termo cidadania, no sentidocontemporâneo, vai além. Cidadania, neste prumo, é uma luta incessante,um exercício de reivindicação. Transcende a postulação do respeito àsconquistas consagradas formalmente, no texto jurídico - cidadania éimperativo de perseverante empenho para a concretização dos direitoshumanos.

Neste rastilho contemporâneo, a cidadania, especialmente nospaíses em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, pressupõe atividadeconstante, uma dinâmica típica de um país em construção, contaminadopor mazelas as mais variadas, tais como o anseio das elites em maximizarvantagens, acúmulo de capital e de poder, trânsito pela pirâmide socialvedado às camadas populares, falta de investimento na educação, únicomeio de potencializar o homem para o exercício refinado dos direitoscivis, políticos e sociais.21

Cidadania é tema que se ata com grau de força imensa, inseparáveldos direitos humanos, porque o exercício daquela depende da existênciadestes. A expressão direitos humanos e direitos fundamentais se equivalem.Trata-se de questão de sinonímia, pois a primeira, segundo PAULOBONAVIDES 22, é utilizada pelos latinos e anglo-americanos e a segundapelos publicistas alemães. Em densidade mais alta, abrange os direitosque o homem possui, pela sua própria natureza e dignidade que lhe é

21 Apreende-se, também, a perspectiva de exercício da cidadania como atividade, no ponto de vistade TORRES, João Carlos Brun. Cidadania: Exercício de Reinvindicação de Direitos. in Anais da XIVConferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil. Cidadania, 20 a 24 de setembro de 1992.São Paulo: [..]: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 1993. p. 347/348. NaConferência Nacional da OAB do ano seguinte, realizada em Foz do Iguaçu, de 04 a 08 de setembrodos idos 1994, a educação foi assunto do dia, como tema jungido ao exercício da cidadania. O entãomembro da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB, Sérgio do Rego Macedoapontava: “A falta de educação é uma desgraça abissal, porque estimula o depredador, o desastrado, oinconseqüente, o incapaz de afeto e de beleza para a vida, os criadores do mundo feio, do planeta maldito. Asdoenças, a fome, a violência, as bestialidades, as covardias, as espertezas daninhas, as desnecessidades, osdesrespeitos, as intolerâncias e os grandes estratos sociais que criam os grandes desconfortos sociais têm seu caldode cultura na falta de cultura e na falta de educação e, principalmente na falta de educação adequada ao preparoda cidadania democrática.” Estado Delinqüente. in Anais da XV Conferência Nacional da Ordem dosAdvogados do Brasil. Ética, Democracia e Justiça. São Paulo: JBA Comunicações, 1995, p. 362.22 Op. cit. p. 514.

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imanente. Necessitam de um reconhecimento por parte do Estado, quetem o dever de admiti-los e de assegura-los.23

Constituem direitos humanos não só aqueles já mencionados notópico antecessor, moldados pela doutrina em fluxos de geração, como osde primeira, segunda, terceira e quarta geração, cujo desafio atual éconcretizá-los, como também outros que serão moldados, com o tempo,a medida em que o Estado evoluir, pois haverá sempre novas metas aserem atingidas, num processo dialético contínuo, onde novas regiões daliberdade se apresentarão, como desafio, a serem atendidos.24

É uma corrente, sem dúvida, porque o Estado, do mesmo modo,está em constante evolução, como reflexo das tensões internas. E estapulsação evolutiva, obedecido o ritmo das conquistas já obtidas - sobpena de recuo sombrio - deve incorporar outras, num ritmo deaperfeiçoamento contínuo e realização constante do bem comum, comobjetivos a atingir, sempre.

2. OS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

2.1. Ser pessoa: pressuposto para a cidadania e efetivaçãodos Direitos Humanos

Antes de ser cidadão, é preciso ser pessoa: ninguém poderá exercercidadania, sem ser pessoa. A essência do existir dignamente, é ser pessoa,numa dimensão que projeta o ser para o político, social, comunitário, enfim

23 Acentua DONELLY, Jack. Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvimento. Trad. Janete FerreiraCarneiro. In Direitos Humanos no Século XXI. PINHEIRO, Paulo Sérgio, GUIMARÃES, SamuelPinheiro (Orgs). [s.I.]: Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, Fundação Alexandre deGusmão, que “os indivíduos são, apropriadamente, sujeitos a um amplo espectro de obrigações sociais epolíticas. Os direitos humanos, porém, especificam um conjunto inalienável de bens, serviços e oportunidadesindividuais que o Estado e a sociedade são, em circunstâncias comuns, chamados a respeitar ou prover. Osdireitos humanos restringem o leque legítimo da autoridade do Estado e estabelecem obrigações que o Estado devea cada e todo cidadão, independente de outras considerações.” p. 176.24 De acordo com a ótica de HERKENHOFF, João Baptista, “A História é movimento dialético, aampliação de direitos não se esgota. Novos direitos estão sendo reclamados, minorias tomamconsciência de sua dignidade.” Ob. cit. p. 63. Encontramos, em sintonia com este alinhamento,BONAVIDES, Paulo, . Ob. cit. p. 523.

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exercer a cidadania.25

Os que não têm o que comer, onde morar, os analfabetos, queestão à margem do trabalho e do emprego, no subemprego, à margem daparticipação política, do presente e do futuro, à margem da esperança,são párias da sociedade - não ostentam a condição de ser pessoa e, destafeita, não têm cidadania.

Só conhecem o lado horripilante, inverso da cidadania, pois sãovítimas constantes da repressão policial e carregam o estigma de seremvadios, alcoólatras, suspeitos e ladrões. Num país gigantesco, de solo fértil,como o nosso, é inimaginável que a exclusão social urbana atinjaproporções colossais, vistas à toda hora no cotidiano: em semáforos,crianças pedintes; pessoas morando embaixo de viadutos; pessoasmaltrapilhas, nas calçadas; vivendo amontoados em favelas sem as míni-mas condições de higiene ou à cata de alimentos, nos lixões imundos,disputando restos com animais e aves de rapina ou entre si os bagulhosdescartados pelas residências-cidadãs.

São termômetros da cidadania inversa, o não ser pessoa. SegundoIGNACY SACHS 26 , vivemos a fase do “desenvolvimento às avessas”, pois ouso da tecnologia impulsionou o crescimento mundial da economia,entretanto a má distribuição de renda no âmbito interno dos países, aliadoà esterilização dos recursos, pelo sistema capitalista, tem gerado odesemprego em massa, subemprego, exclusão social, enfim. Segundo ele,no nosso planeta, um bilhão de habitantes vive na prosperidade, enquantooutro bilhão vive à margem, na miséria absoluta; quatro bilhões de pes-soas têm renda que proporciona o mínimo para a sobrevivência. Constataque a divisão eqüitativa do produto mundial asseguraria uma vidaconfortável para a população do globo.

Os párias estão na via oposta do sistema. Encontram-se na linha

25 A expressão ser pessoa, foi destacada em itálico, por dois motivos: a)- Ser pessoa é pressuposto decidadania e, b)- respeito à fonte de onde se extraiu o assunto, remodelado segundo a nosso recortee perspectiva. Confira-se, pois, HERKENHOFF, João Baptista. Cidadania como dimensão do ‘serpessoa’. In Anais da XIV Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil. Cidadania, 20 a24 de setembro de 1992. Brasília: Quantum, Assessoria Editorial. p. 430.26 Desenvolvimento, Direitos Humanos e Cidadania. In Direitos Humanos no Século XXI. PINHEIRO,Paulo Sérgio, GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (Orgs). [s.I.]: Instituto de Pesquisa de RelaçõesInternacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, v. 1. p. 155.

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de opressão e sequer estão inseridos formalmente no Estado Democráticode Direito, cuja pedra-de-toque é a dignidade humana - “valor-fonte de todosos valores ou o valor fundante da experiência ética” 27, fio indutor que dimanano ser pessoa, na existência do ser portador de condições mínimas desobrevivência, conforme os indicativos de justiça social (art. 1º, inciso IIIda CF).

Este cenário reflete a exclusão social em sua faceta intensamentemacabra, o lado execrável, porque nestas condições, o homem é um animal:não alcança a condição de ser pessoa e ao menos se posiciona na retaguardada luta pelo exercício da cidadania.

2.2. Direitos Humanos: descompasso formal e materialA positivação dos direitos humanos na Constituição brasileira não

ensejou, por si só, eficácia material. Está em aberto o desafio de retirá-losdo campo formal e consagrá-los inteiramente, no cotidiano. 28

Através da Constituição de 1988 foi restabelecido o EstadoDemocrático de Direito e um feixe de direitos foi guindado para o texto.Malgrado isso, o desafio que se apresenta é a quebra da cultura arraigadapelo largo período de tradição de práticas autoritárias, cultivadas ao longoda história brasileira.29

Não se combate mais as oposições políticas com violência, comono passado nevoento do regime militar, mas assim como sucedeu em todaa história, os pobres, negros, moradores da periferia, homossexuais, índios,crianças e adolescentes, continuam sendo alvo da opressão, violência eda criminalidade.30

As notícias torrenciais, dia-a-dia, revelam uma escalada deviolência de todos os gêneros: violências policiais, assacadas do crime

27 COELHO, Inocêncio Mártires. Interpretação Constitucional. Porto Alegre: Sérgio Antonio FabrisEditor, 1997, p. 84.28 O nosso enunciado encontra ressonância em BARRETO, Vicente. Universalismo, Multiculturalismoe Direitos Humanos. In Direitos Humanos no Século XXI. PINHEIRO, Paulo Sérgio, GUIMARÃES,Samuel Pinheiro (Orgs). [s.I.]: Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, Fundação Alexandrede Gusmão, v. 1. p. 381.29 Este alerta é lançado, dentre outros, por PINHEIRO, Paulo Sérgio. O Passado não está morto: nempassado é ainda. Este artigo foi incluído como prefácio In Democracia em Pedaços. Direitos humanosno Brasil. DIMENSTEIN, Gilberto. São Paulo: Companhia das Letras [s.d]30 Sob este enfoque, vale conferir, PINHEIRO, Paulo Sérgio. Ob. cit. p. 8.

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organizado, chacinas, impunidade generalizada, corrupção em alta escala.Somado a isto, o quadro se agrava pela prática da violência ilegal, v.g,tortura de suspeitos e de criminosos, nas delegacias; maus-tratos aprisioneiros e menores internos em instituições de recuperação; execuçõespor parte de policiais; grupos de extermínio, com participação de policiais.31

A omissão e a incapacidade governamental de por a cobro os casoscontroláveis e acabar com a impunidade, fragiliza as garantias constitu-cionais, fomenta a espiral da violência e verte a descrença quanto acapacidade do Estado em promover a cidadania.

A positivação dos direitos humanos na Constituição Federalsignificou um avanço notável, mas as violações destes direitos é umaprática habitual. Não há sintonia entre a constituição formal e material.Entretanto, os problemas de infrigência aos direitos humanos transcendemfronteiras, demonstrando uma necessidade permanente de luta para queeles possam ser guindados da “folha de papel” e incorporados aocotidiano.32

É de se levar em conta que se trata de uma etapa evolutiva a sersuperada. O reconhecimento constitucional dos direitos humanos repre-senta avanço significativo. Cotejo do presente com o passado serve comoreferencial comparativo de melhoria substancial. O nível de consciênciae a mobilização da sociedade civil se ampliou. As organizações não-governamentais de defesa de direitos humanos têm desempenhado papelrelevante no despertar da consciência ao respeito e efetivação dos di-reitos humanos. Embora não tenhamos alcançado um estágio razoável doEstado de direito, a situação hoje é melhor do que ontem e será melhoramanhã, se cristalizar uma consciência culmine na ação concreta deefetivação dos direitos humanos.

2.3. Violência política: violência estrutural e violênciainstitucionalizada.

A violência política na acepção que ora se imprime possui cargapolissêmica transcendental, projetando-se além da violência direta, física,

31 Constatação recuperada, a partir de PINHEIRO, Paulo Sérgio. Ob. cit. p. 7/9.32 A emolduramento de garantias constitucionais num texto não basta, é preciso concretizá-los,como se mede em BARRETO, Vicente. Ob. cit. p. 381.

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ganhando uma tonalidade mais sofisticada e sutil, pois agrega valores,conteúdo, prioridades com o escopo de revestir o ser pessoa, culminandoem sua cidadania, para a realização da dignidade humana, no espaço quelhe é destinado dentro do Estado Democrático de Direito.

Violência política, neste condão semântico construído, apanha asomissões do Estado, incapaz de assegurar aos tutelados as garantias edireitos positivados na ordem jurídica, dirigidos ao alcance do bem estarda coletividade. Afina-se com o propósito conceitual, por exemplo, apobreza, que é uma espécie de violência política.

JORGE TÁPIA VALDÉS 33 escalona a violência política em duassubespécies: violência estrutural e violência institucionalizada, divisãoesta observada parcialmente por outros estudiosos como PAULOSÉRGIO PINHEIRO34 e MILTON SANTOS.35 A primeira guarda relaçãocom a brutal desigualdade social, que coloca em risco a subsistência doser e a segunda prende-se às características do ser ou refere-se à moldagemdo ser, segundo certas regras de dominação. Ambas são cruéis e nefastas- comprometem a cidadania e a realização do Estado de direito.

Violência estrutural tem como base as desigualdades vertiginosasem nosso país - a privação social é uma fonte geradora múltipla de violên-cia. Inobstante o avanço da medicina, 14 milhões de crianças morremdiariamente, antes do quinto ano de vida. O desemprego é crônico. Apobreza avança.36

Os contrastes entre o nível econômico com o estado de pobreza,causam espécie: o Brasil é a décima economia do mundo, convivendocom a segunda pior distribuição de renda do globo, conforme dadosapresentados por PAULO SÉRGIO PINHEIRO 37 , relativos a 1991/1992.

Dentro desta perspectiva de concentração de renda nas mãos depoucos e do resultado da produção convertido em moeda para pagamento

33 Um estudo mais aprofundado do tema feito pelo autor pode ser alcançado em La relegitimacion dela violencia politica. In Nueva Sociedade. Caracas:[...] 1987. p. 37/38.34 Op. cit. p. 22.35 Por uma outra Globalização. Rio de Janeiro-São Paulo: Record, 2000, p. 55. Com semânticavariante, este autor usa a expressão violência sistêmica, sem a divisão formulada por Valdés.36 Dados colhidos a partir de SANTOS, Milton. Ob. cit. p. 59.37 Op. cit. p. 22-24.

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de juros escorchantes da dívida externa, dívida esta contraída em partesubstancial durante o regime autoritário38, milhões de pessoas são«coisificadas» 39, dentro do nosso sistema neoliberal, na condição de forçaativa que contribui para a geração de riquezas ou à margem, como párias(vítimas).

Não fosse apenas o pagamento dos juros da dívida externa comofator que provoca uma violação maciça dos direitos humanos40, o fenôme-no da Globalização está contribuindo para o agravamento do problema, amedida em que, segundo MILTON SANTOS41, o desemprego está cadavez mais crônico, a qualidade de vida das classes médias se deteriora, ossalários tendem a baixar, a mortalidade infantil se mantém, em razão daperversa competividade internacional.

Estes condicionantes das péssimas condições de vida tecem otorvelinho da mortalidade, violência, criminalidade e violação de direitoshumanos. Aviva, mais intensamente, a convicção de que as circunstânciassócio-econômicas (desemprego, analfabetismo, ambiente familiardesfavorável) resultam no envolvimento com os conflitos violentos.

Estes indicativos obstaculizam o exercício da cidadania. Aperpetuação desta situação calamitosa revela a incapacidade dasdemocracias representativas em dar respostas adequadas ao quadro deprofunda desigualdade social, dando azo ao permanente desrespeito aosdireitos humanos. Enquanto prevalecer a manutenção dos privilégiosacentuados para uma minoria que se enriquece, cada dia mais, com aoutra ponta sobrevivendo com o mínimo ou sob a névoa cinzenta daexclusão, a igualdade tende a ser formal, no papel.

A violência institucionalizada, por sua vez, é a que se estabelecepor meio de padrões de conduta. Assim, a discriminação racial instituciona-

38 Informação colhida em HERKENHOFF, João Baptista. Ob. cit. p. 432.39 O termo é utilizado em espanhol, por VALDÉS, Jorge Tápia. Ob. cit. p. 36.40 CATALANO, Pierangelo. Direitos Humanos e a Dívida Externa. Trad. Myriam Benarrós. AcentuaCATALANO que “no alvorecer do Terceiro Milênio assistimos a uma violação maciça dos direitos humanosdevida ao pagamento de ‘dívidas por parte dos Países do chamado Terceiro Mundo isto é, indiretamente, ao exercíciode um poder financeiro ‘global’ que não tem limites nem jurídicos nem religiosos.” In Direitos Humanos noSéculo XXI. PINHEIRO, Paulo Sérgio, GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (Orgs). [s.I.]: Instituto dePesquisa de Relações Internacionais, Fundação Alexandre de Gusmão, v. 1. p. 357.41 Op. cit. p. 19/20.

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lizada de forma sutil, no meio social, o cárcere, o asilo, o hospital (meiosde segregar os “anormais”), são exemplos típicos da modalidade.42

É sabido que os negros, por exemplo, sofrem discriminação racialconstante no meio social, especialmente pela polícia, que os vê comosuspeitos em potencial da prática de crimes e de vadiagem e tambémsofrem a exclusão do mercado de trabalho, em razão da cor. Nos filmes enovelas, mesmo na literatura ou no livro escolar, estão estigmatizadoscomo serviçais e inferiores e a ascensão social lhes é barrada. Pesa-lhessobre os ombros a dureza da história dos seus antepassados, os anosduradouros de sofrimento, na condição de escravos43.

Outra modalidade de violência institucionalizada, ao rastilho dopensamento de VALDÉS 44, é a que se manifesta pelo condicionamentode condutas prescritas segundo os interesses dos detentores do poder edominadores dos meios de comunicação45. Através da mídiapoderosíssima, as condutas são pautadas - o carro da moda, roupa damoda, o brinquedo do desenho infantil do momento, alimentando a voraci-dade pelo consumo e inundando os lares com uma realidade fantasiosa,que não permite a reflexão, com nítida intenção de transportar o telespec-tador para outra esfera, extravasadora dos instintos sexuais e de ter,consumir desenfreadamente.

Trata-se de violência da espécie, ademais, o papel da mídia quandonão informa corretamente, confunde ou distorce as notícias, anestesi-ando a população, principalmente pela cobertura e ênfase dos graus de

42 A proposição é encontrada em VALDÉS, Jorge Tápia. Ob. cit. p. 41.43 Para aprofundamento dos temas, serve de referencial importante, v.g., LOURDES, Maria de,NOSELLA, Chagas Deiró. As Belas Mentiras. a ideologia subjacente aos textos didáticos. 8ª ed. SãoPaulo: Editora Moraes, 1981. p. 198; FARIA, Ana Lúcia. Ideologia no Livro Didático. 8ª ed. ColeçãoPolêmicas do Nosso Tempo. v. 7. São Paulo: Cortez Editora, 1989. p. 71/72.44 Diz VALDÉS, Jorge Tápia: “Esa técnica puede también consistir em no informar, o ensenar, lo que sedeberia. En otras palabras, la violencia institucionalizada puede manifestarse tambiém a través de determinadosmecanismos de socialización, no mediante el uso de la violencia, sino por medio del condicionamento de la conductaa pautas que hacen innecesaria la violencia. Ob. cit. p. 45.45 BORDENAVE, Juan E. Díaz, O que é Comunicação, enumera o papel distorcido dos meios deinformação, distinguindo categorias, das quais sintetizamos a essência: Comunicação dirigida(manipulação da linguagem e imposição de certos conteúdos); Comunicação limitada (manutençãodas massas na ignorância, através de códigos restritos); Comunicação constrangida (controle daopinião pública, através de veiculação matérias com o fito de manter os interesses da classe e poderdominante). Coleção Primeiros Passos. v. 67. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 98.

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criminalidade, ocultando os fatores que geram a sua ocorrência, numpropositado intento de servir a manutenção do sistema, ao podereconômico que lhes dá sustentação, mediante a paga de generosas quantiasdas transações publicitárias.46

2.4. Violação aos Direitos Humanos: ótica social denormalidade obtusa

Há uma premissa falsa em torno dos direitos humanos, muitodifundida e ideologicamente radicada no espírito de muitos. Quando abandeira da defesa dos direitos humanos e o exercício da cidadania sãolevantados alguém acentua que se trata de estímulo ao crime e de fomentarprivilégios aos bandidos, dando-lhes uma “boa vida”.47

As entidades de defesa de direitos humanos são identificadas, pois,neste palmo curto, como defensoras de bandidos, como se estivessemligadas ao crime, pois estariam a dar atenção ao criminoso, ao invés de sepreocuparem com as vítimas. JOÃO RICARDO DORNELES48 afirmaque os adeptos desta linhagem de pensamento, questionam: “E os direitoshumanos das vítimas? “

O ângulo é muito mais agudo - não se trata de desmerecer a vítima,credora da atenção e solidariedade das entidades de defesa dos direitoshumanos e principalmente do Estado. Sucede que o agressor é, quasesempre, vítima do sistema, pois a criminalidade tem raízes socio-econômicas e tende a crescer a medida em que aumenta a concentraçãode renda, eclodindo na intensificação das desigualdades sociais.

Forma-se, consegüintemente, um processo de realimentaçãocontínua ao revés, mediante o anseio e até mesmo a adoção de medidasmais represssoras, como é o caso do aumento do efetivo policial e do

46 As nossas conclusões foram extraídas a partir da leitura do artigo Direitos Humanos e a Violênciacontra a Cidadania. In Anais da XIV Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil.Cidadania, 20 a 24 de setembro de 1992. Brasília: Quantum, Assessoria Editorial. p. 224. Nesteartigo o tema é mais genérico, mas permite a abertura ao intérprete, para considerar um modo deviolência particular aquela fluente do distorcido papel assumido pela mídia, quando deixa deinformar ou manipula as notícias ou modela comportamentos e dita o consumo. O assunto étratado com mais abertura crítica por GARCIA, Nelson Jahr. O que é Propaganda Ideológica. 8ª ed.Coleção Primeiros Passos. v. 77. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989.47 Neste sentido, vale conferir DORNELES, João Ricardo W. Ob. cit. p. 58.48 Ibidem p. 58.

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armamento, tornando o aparelho repressivo mais duro, sem atacar ascausas.49

As ações violentas da polícia e dos grupos de extermínio são vistas,por muitos, como normalidade, um mal necessário para fazer cessar aonda de violência, num cenário com imagem distorcida50, separado emdois mundos - o da ordem, bons costumes, vida regrada e religiosa e deoutro lado o da exclusão, mundo do caos, da maldade, promiscuidade,violência e da bandidagem que “infesta e suja as ruas de nossas cidades”.51

Há um sentimento de indiferença social contra o amplo segmentodos excluídos, marginais na acepção dupla: estão à margem e carimbadospelo selo da marginalidade. A violência e os maus tratos, que lhes éimprimida por policiais e não policiais, são práticas que, pela constância,tornaram-se “normais” e alcançaram um estágio de apatia52, espécie deracionalização de que é melhor não se envolver.

2.5. Estado delinqüente: rendição do aparelho estatal àviolência disseminada

Exercer o monopólio da violência em condições de legalidade,como guardião da ordem pública e das liberdades - eis o grande desafio

49 A concepção dos grupos sociais em torno do tema violência é fechada. A repressão, o uso da forçaé tida como solução, ignorando-se a complexidade das questões, como a exclusão social e a falta deoportunidades aos que não têm alternativas e se enveredam pela via única que lhes apresenta - omundo do crime, da violência. Neste sentido, VELHO, Gilberto. O Grupo e seus Limites. [s.I.:s.n] p.112.50 Sob a pseuda visão de muitos é preciso estancar, à força, sob as malhas dos maus tratos ou doextermínio, a porção menor da sociedade (meninos de rua, criminosos, vadios, prostitutas,delinqüentes e pervertidos sexuais). Tal ângulo é inteiramente distorcido, porque as “soluções de forçasão, quase que inevitavelmente, falsas soluções, pois a solução real ou aparente de cada problema significa acriação de muitos outros, numa sucessão interminável” e não se trata, segundo o mesmo DALARI, dosacrifício de destacada parcela, em prol da coletividade, pois, “os valores fundamentais de cada homemsão valores de toda a humanidade, não sendo admissível, nessa área, uma consideração meramente quantitativa.”(DALARI, Dalmo de Abreu. O Renascer do Direito. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 1980. p. 2451 DORNELES, João Ricardo W. Ob. cit. p. 57.52 No permeio do tema menor Direitos Humanos e a Violência contra a Cidadania, inserido na discussãodo tema central Cidadania, In Anais da XIV Conferência Nacional da Ordem dos Advogados doBrasil. Cidadania, 20 a 24 de setembro de 1992, encontramos a racionalização, o pano de fundo deque convivemos “ com a indiferença da população, para a qual contra o marginal tudo se pode: brutalizar,torturar, e mesmo assassinar.” São Paulo: [..]: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil,1993. p. 225.

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enfrentado pelo Estado Democrático de Direito, na transição atual, pósautoritarismo derrocado.

O restabelecimento formal da democracia não implica a suaexistência, desde logo. A Constituição brasileira de 1988, possui uma tessi-tura textual que guarnece os direitos fundamentais, reconhecendo-os,largamente. O desafio que se apresenta atualmente, como dantes, é sintoniamaterial da forma com a realidade. Estamos em fase de transição,aprendizado, mas sob os resquícios do autoritarismo que perdurou anos edeixou seqüelas. São visíveis as marcas da cultura política do pretérito,malgrado a democracia restaurada. Há, dessarte, de certa forma, ritmonovo, cadenciado, em contraste com práticas incompatíveis com o novotempo.53

Os aparelhos do Estado, incumbidos de zelar pela ordem esegurança, mediante atos de coerção dosada54, se enveredaram por umcírculo vicioso tal que ninguém mais duvida que a violência é um recursoutilizado largamente pela polícia, no exercício do seu mister.55

A segurança pública cultivada pelas corporações perpetua aspráticas atentatórias contra os direitos básicos: direito à vida, liberdade esegurança; direito de não ser submetido à tortura e de não ser presoarbitrariamente. PAULO SÉRGIO PINHEIRO56 afirma que “nas novasdemocracias, os principais responsáveis pelas violações dentro desse ‘triângulo fatal’são os operadores do Estado, as polícias.

Braços do Estado autoritário, a polícia militarizada, espécie deexército estadual e a polícia sem farda, juntas, enraigaram a filosofia decombate ao inimigo interno, ideológico, em detrimento da política de

53 A persistência de práticas autoritárias antigas no estágio da democracia é tema veiculado porPINHEIRO, Paulo Sérgio. Autoritarismo e Transição. Revista da USP, mar-abr-mai/1991. São Paulo:[s.e.]. p. 47.54 Aporta-se, neste campo, PINHEIRO, Paulo Sérgio. O Controle do Arbítrio do Estado e o DireitoInternacional dos Direitos Humanos. In Direitos Humanos no Século XXI. PINHEIRO, Paulo Sérgio,GUIMARÃES, Samuel Pinheiro (Orgs). [s.I.]: Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais,Fundação Alexandre de Gusmão, v. 1. p. 333.55 A violência policial é destacada, ainda, por STRAUS, Flávio Augusto Saraiva. Proposta de uma NovaPolítica de Segurança Penitenciária. In Anais da XV Conferência Nacional da Ordem dos Advogados doBrasil. Ética Democracia e Justiça, 04 a 08 de setembro de 1994. São Paulo: JBA Comunicações,1995. p. 372.56 Op. cit. p. 339/340.

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segurança pública ou luta contra a criminalidade. Os conflitos da espécienão existem mais, mas os métodos de repressão, a “pedagogia do medo” 57 semantêm instalados, após o resgate da democracia.

As práticas de tortura no interior das presídios ou distritospoliciais58 ou no corpo a corpo das batidas de rua, os envolvimentos costu-meiros em tiroteios injustificáveis, o uso da força brutal desmedida,convertida em maus tratos (tapas, socos, pontapés, cassetetadas),eliminação sumária de suspeitos e de criminosos, são ocorrências que setornaram habituais, como métodos de combate à criminalidade.

Os vulneráveis em potencial, destinatários das violações dosdireitos humanos, por força policial, em escala mais elevada, se encontramnas camadas mais pobres, como os favelados, os sem teto, negros,prostitutas, meninos de rua e os homossexuais, “confirmando assim a noçãode que a polícia primordialmente visa a controlar os pobres.” 59

A impunidade no meio policial tende à preservação dos métodosilegais, pois os excessos e mortes são justificados formalmente, no âmbitodos inquéritos, independentemente das circunstâncias. Supostosconfrontos, resistência à autoridade policial, constam dos papéis, passandoculpabilidade à vítima. Acresça-se isto ao temor das testemunhas, a apatiado Ministério Público, que “raramente recolhe como peça instrutiva de materialde denúncia o teor do depoimento do interrogado-vítima” 60, com agravante dodescaso da população - são contributos que encobertam as práticas

57 PINHEIRO, Paulo Sérgio. Autoritarismo e Transição. Revista da USP, mar-abr-mai/1991. SãoPaulo: [s.e.]. p. 45.58 As Comissões de Direitos Humanos e as OABs, Brasil afora, recebem denúncias sucessivas deviolência policial, consistentes em “sessões de espancamento, asfixia em meio líquido, asfixia com materiaisplásticos, pancadas com as mãos espalmadas nos ouvidos, o chamado ‘telefone’, que pode provocar o rompimentodos tímpanos e surdez irreversível, ‘pau-de-arara’ e outros métodos medievais são os mais conhecidos meios desuplício utilizados em larga escala pela polícia na repressão à atividade criminosa.” Direitos Humanos e aViolência contra a Cidadania, inserido na discussão do tema central Cidadania, In Anais da XIVConferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil. Cidadania, 20 a 24 de setembro de 1992.São Paulo: [..]: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 1993. p. 224.59 PINHEIRO, Paulo Sérgio. O Controle do Arbítrio do Estado e o Direito Internacional dos DireitosHumanos. Ob. cit. p. 341.60 Direitos Humanos e a Violência contra a Cidadania, inserido na discussão do tema central Cidadania,In Anais da XIV Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil. Cidadania, 20 a 24 desetembro de 1992. São Paulo: [..]: Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, 1993. p.225.

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violentas, realimentando-as, pela via da impunidade.Os governantes repudiam - no discurso - as práticas violentas,

mas não conseguem imprimir ações concretas, porque há um “autoritarismosocialmente implantado” 61, nos microorganismos de poder, medianteatividades que se mantêm inalteradas, desde a mentalidade do agente doEstado ao grau de tolerância social, da indiferença. Dentro deste círculovicioso, as ações do Estado delinqüente se projetam no tempo.

CONCLUSÃOEm torno de temas em aberto, inesgotáveis, não há fecho.É simples: Direitos Humanos e Cidadania, no Estado Democrático

de Direito, como afirmou PAULO BONAVIDES com ótica aguda, nãose interpretam, se concretizam. E a busca desta concretização se faz não sópelo reconhecimento de direitos, na órbita da Constituição, mas também- e principalmente - por meio de um esforço coeso de irradiá-los da “folhade papel” ao contexto onde se inserem.

Este horizonte abre-se, aos poucos, para um despertar em rumoao infinito. A semente está lançada - a busca da felicidade coletiva sesustenta no ordenamento jurídico do Estado Democrático de Direito, oque já possuimos. Resta-nos lutar pelo ideal de felicidade coletiva, queserá obtida quando alcançarmos um estágio em que cada um se conscientizee modifique as suas ações, adotando a prática da solidariedade, cultivandomais amor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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61 PINHEIRO, Paulo Sérgio. Autoritarismo e Transição. Revista da USP, mar-abr-mai/1991. SãoPaulo: [s.e.]. p. 55/56.

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