direitos fundamentais no estado democrático de direito

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  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

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    DIREITOS FUNDAMENTAIS NO ESTADO

    CONSTITUCIONAL DEMOCRTICO

    Para a relao entre direitos do homem, direitos

    fundamentais, democracia e jurisdio constitucional

    ROBERT ALEXY*

    Tradutor: Dr. Lus Afonso Heck

    Prof. na UFRGS e ULBRA

    I Os trs problemas dos direitos do homem.

    /.

    Os problemas epistemo-

    lgicos.

    2.

    Os problemas substanciais.

    3.

    Os problemas institucionais. 11

    O conceito de direito do homem. /. Direitos universais. 2. Direitos morais.

    3 Direitos preferenciais. 4 Direitos fundamentais.

    5

    Direitos abstratos.

    111 Direitos fundamentais democracia e jurisdio constitucional.

    /

    Quatro extremos.

    2.

    Trs modelos.

    3.

    Representao poltica e argumen-

    tativa.

    Passaram-se, hoje quase no dia, exatamente 50 anos desde que a Assemblia

    Geral das Naes Unidas votou a Declarao Universal dos Direitos do Homem em

    10

    de dezembro de 1948. Nisto, no se tratou de alguma das numerosas resolues

    das Naes Unidas. Norberto Bobbio qualificou acertadamente a Declarao Uni

    versal dos Direitos do Homem como a at agora maior prova histrica para o

    'consensus omnium gentium' com respeito a um sistema de valores determinado

    Que se tratava de um consenso sobre valores fundamentais de significado eminente

    estava claro ao 48 Estados ento representados na Assemblia Geral.

    O prembulo

    exprime isso impressionantemente pelo fato de qualificar os direitos do homem

    como o ideal comum a ser alcanado por todos os povos e naes . Com isso,

    esto claramente duas qualidades fundamentais dos direitos do homem desde o incio

    diante dos olhos: os direitos do homem so um ideal universal.

    I

    Norberto Bobbio, Das Zeitalter der Menchenrechte, Berlin 1998, S 9

    Palestra inaugural da comemorao dos cem anos da Faculdade de Direito da UFRGS, proferida

    no dia 9 de dezembro de 1998 no Salo Nobre da Faculdade de Direito da UFRGS.

    R

    Dir. Adm., Rio de Janeiro, 217: 55-66,

    jul./set. 1999

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    I Os trs problemas dos direitos do homem

    Uma apresentao to pretenciosa como

    um

    ideal universal deve suscitar. for

    osamente, de modo direto, numerosas questes e a literatura, desmesurada para os

    direitos do homem, mostra que isso de nenhuma maneira somente uma suposio.

    Os problemas que esto unidos com os direitos do homem deixam-se dividir em trs

    grupos.

    I Os problemas epistemolgicos

    Ao primeiro grupo pertencem os problemas epistemolgicos. Neles, trata-se da

    questo se e como os direitos do homem podem ser conhecidos ou fundamentados.

    Podem os direitos do homem, em verdade, ser conhecidos objetivamente ou o

    consenso de

    10

    de dezembro de 1948 foi somente uma concordncia contingente.

    condicionada pelos horrores de ambas

    as

    guerras, de opinies subjetivas, o que iria

    significar que aquele consenso, com a mudana dessas opinies, perderia todo

    significado? Este

    o lugar da objeo de Alasdair MacIntyres citada com freqncia:

    There are no such rights, and belief in them is one with belief in witches and in

    unicorns:

    2

    Com isto, o primeiro problema est diante dos olhos: podem, em verdade,

    qualquer direitos do homem ser justificados ou fundamentados racionalmente? Ape

    sar de seu carter filosfico esse problema tem, de todo, significado prtico. Assim

    que o consenso em questes de direitos do homem vacila, a possibilidade de alegar

    fundamentos para elas ganha em significado. Enquanto todos acreditam firmemente

    nos direitos do homem a sua fundamentao

    um

    problema meramente terico; ele

    se torna tanto mais prtico quanto mais forte cresce

    advida fundamental.

    2 Os problemas substanciais

    Os problemas do segundo grupo nascem assim que se pe de acordo sobre isto,

    que direitos do homem devem ser reconhecidos. Surge ento a questo, que direitos

    so direitos do homem. Este

    o problema substancial dos direitos do homem. A

    Declarao Universal dos Direitos do Homem contm nos artigos I at 20 os direitos

    de liberdade e igualdade clssicos como eles, no Virginia BilI o Rights de

    12

    de

    junho de 1776, no primeiro catlogo de direitos fundamentais amplo, so indicados.

    O artigo

    21

    regula a participao na formao da vontade poltica. Tambm isso est

    na tradio liberal e democrtica do Virginia Bill o Rights. Mas ento comea um

    novo captulo. O artigo 22 promete segurana social e direitos econmicos,

    sociais e culturais , o artigo 23 normaliza um direito ao trabalho, a condies de

    trabalho apropriadas e satisfatrias assim como

    proteo

    contra desemprego , o

    2 Alasdair Maclntyre, After Virtue, 2 Aufl., London 1985, S 69.

    56

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    artigo 24 concede um direito ao descanso e tempo livre . o artigo

    25

    d a cada

    homem um direito a um nvel de vida que garanta sade e' bem-estar seu e de sua

    famlia, inclusive a alimentao, vesturio, moradia, a assistncia mdica e

    as

    pres

    taes necessrias da assistncia social , o artigo 26 estabelece o direito educao

    e o artigo 27 coroa tudo isso com o

    direito

    de participar livremente na vida cultural

    da comunidade, de alegrar-se com as artes e de ter parte no progresso cientfico e

    do seu benefcio . Com isso, os direitos do homem sociais - muitas vezes, tambm,

    chamados direitos do homem de segunda gerao - encontraram aceitao plena

    mente na Declarao Universal dos Direitos do Homem. Esto eles, todavia, tambm

    fundamentados em medida igual como os direitos liberais da primeira gerao? Tem

    eles a mesma fora? Sobre isso existe discusso. Muito mais discusso existe sobre

    a questo se aos direitos de primeira e segunda deve ser adicionada ainda uma famlia

    de direitos de terceira gerao. So considerados como tais, sobretudo, direitos de

    Estados, povos ou grupos ao fomento do desenvolvimento.

    3

    Finalmente, existe a

    possibilidade de pr em jogo aspectos ecolgicos. Poder-se-ia assim, se no se quer

    embrulhar todo o novo sem classificar, chegar a uma quarta gerao ou dimenso.

    A discusso, ademais, no s trata do que deve ser includo na lista dos direitos do

    homem. Ela desencadea-se, sobretudo, em volta da questo de como devem ser

    ponderados

    as

    diferentes geraes ou dimenses. Um exemplo para uma tal discusso

    a polmica durante toda a guerra fria entre o Oeste e o Leste sobre isto, se o

    primado corresponde aos direitos do homem liberais ou sociais. As linhas de frente

    removeram-se hoje mas a estrutura lgica da polmica permaneceu igual.

    3

    Os problemas institucionais

    O terceiro problema principal dos direitos do homem o da sua institucionali-

    zao Tambm aqui vale a pena a leitura da Declarao Universal dos Direitos do

    Homem. O artigo 28 , primeira vista, uma prescrio peculiar. Ele diz que todo

    o homem tem um direito a uma ordem social e internacional na qual os direitos e

    liberdades mencionados na presente declarao podem ser realizados . Isso pode

    ser compreendido como direito institucionalizao. Como mera declarao, um

    catlogo de direitos do homem permanece sem efeito. Os direitos do homem devem

    ser transformados

    em

    direito positivo para que seu cumprimento esteja garantido. O

    prembulo manifesta isto claramente quando ele diz que essencial proteger os

    direitos do homem pelo domnio do direito . Existem dois planos principais

    da

    institucionalizao, o nacional e o internacional. Ambos podem, dentro de si, ser

    divididos, novamente, muitas vezes. Assim, existe em um sistema federal nacional

    dois planos. Ademais, o plano nacional e o internacional esto hoje estreitamente

    entrelaados um com o outro, o que se mostra, por exemplo, no fato de que o Pacto

    3

    Comparar

    K J

    Partsch, Das Recht

    auf

    intemationale Solidaritt - ein neues Menchenrecht

    der dritten Generation ?, in: Europaische Grundrechte-Zeitschrift 1980,

    S 511

    f.;

    E

    Riedel,

    Menchenrechte der dritten Generation, in: Europaische Grundrechte-Zeitschrift 1989, S

    12

    ff

    57

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    lnlernacional sobre Direitos Civis e Polticos, de 19 de dezembro de 1966, foi

    transformado em direito intra-estatal por numerosos Estados.

    impossvel atravessar todos os trs crculos de problemas, aqui, tambm,

    somente uma parte vastamente. Eu irei concentrar-me. por conseguinte, no problema

    institucional e, com isso. limitar-me ao quadro nacional. O significado da proteo

    aos direitos do homem internacional no pode, sem dvida, ser sobrestimado. Sem

    a concretizao dos direitos do homem por meio dos Estados particulares, o ideal

    do qual fala o prembulo. todavia. jamais pode tornar-se realidade. Tambm nisso

    vale o princpio da subsidiariedade.

    A concentrao sobre a institucionalizao em Estados particulares , sem

    dvida, no mais do que a possibilidade ou facilidade de

    um

    primeiro passo. de

    todo indiferente onde

    se

    comea nos direitos do homem, sempre se chega a todos

    os problemas. Assim, a soluo da questo institucional est unida estreitamente

    com a da substancial. Quem reconhece catlogos amplos com direitos de todas as

    geraes ser muito aplaudido em certas discusses. Para isso, ele precisa aceitar

    problemas na institucionalizao, porque vale a tese de que os direitos do homem

    so to mais difceis de concretizar quanto mais eles prometem. Mesmo entre o plano

    epistemolgico e o institucional existem conexes mais estreitas. Quanto melhor

    direitos do homem so fundamentados, tanto mais legtima a sua concretizao

    internacional por fora. Os direitos do homem formam, assim, com todos os seus

    problemas, um sistema.

    Para chegar a este sistema, do lado institucional, deve ser efetuado, primeiro,

    uma determinao do conceito de direito do homem. Nisso, a necessidade de sua

    transformao em direitos fundamentais jurdico-positivamente vigentes ir resultar

    como que por

    si

    mesmo. Em um segundo passo eu quero, ento, mostrar quais

    problemas nascem disto para o princpio democrtico. No fim, eu espero poder

    mostrar uma soluo que impea uma autodestruio da idia dos direitos do homem

    por meio de uma contradio interna.

    11

    O conceito de direito do homem

    Os direitos do homem distinguem-se de outros direitos

    4

    pela combinao de

    cinco marcas. Eles so direitos

    I)

    universais, 2) morais, 3) fundamentais, 4)

    preferenciais e 5) abstratos.

    1

    ireitos universais

    Da universalidade j se tratava na caracterizao dos direitos do homem como

    ideal universal. Agora, este conceito deve ser determinado mais pormenorizadamen-

    4 Para o conceito do direito subjetivo), comparar

    R

    Alexy, Theorie der Grundrechte, 3. Autl.,

    Frankfurt a.M. 1996,

    S

    171 ff

    58

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    te. Um primeiro aspeclO da universalidade

    a universalidade dos titulares e desti

    natrios. Aqui, deve ser lanado somente um olhar sobre os titulares.'

    A universalidade da titularidade consiste nisto, que direitos do homem so

    direitos que cabem a todos os homens. A determinao do crculo dos titulares causa

    vrios problemas, dos quais dois devem aqui interessar. O primeiro resulta do

    emprego do conceito de homem. A delimitao mais clara se obtm quando se define

    este conceito biologicamente. Ao contrrio. objetado que isso uma especificidade

    que se aproxima do racismo.

    6

    Essa objeo no v, todavia, que no emprego do

    conceito biolgico do homem para a delimitao do crculo de titulares se trata

    somente do conceito de direito do homem, no, porm, de sua fundamentao. Se

    os fundamentos melhores falassem a favor disto, de conceder determinados direitos,

    por exemplo, vida, a animais em igual proporo como aos homens,

    ento

    o direito

    vida, como direito do homem estaria caduco e deveria ser criado novamente, por

    exemplo,

    como

    direito da criatura com crculo de titulares alargado.

    O segundo problema nasce disto, que ento, quando se considera o conceito

    biolgico

    do

    homem, somente homens

    como

    indivduos podem ser titulares de

    direitos do

    homem.

    Contra isso poder-se-ia objetar que existem, todavia, bons

    fundamentos para isto, de atribuir tambm a grupos, comunidades e Estados deter

    minados direitos, por exemplo, direitos existncia, identidade ou desenvolvimento.

    Novamente deve ser acentuado que aqui no se trata

    da

    fundamentao de quaisquer

    direitos, seno somoote de uma formao de conceito adequada. Grupos, comunida

    des e Estados compem-se, sem dvida, de homens mas no so homens. O que

    concerne ao conceito de direito do homem, assim, no causa problemas, de um direito

    do homem do particular falar depois que seu grupo, sua comunidade ou seu Estado

    protegido na existncia, na identidade ou no desenvolvimento. O titular de tais

    direitos, que tm a integrao do particular em sua comunidade como objeto e

    fundamento, permanece o homem particular. Trata-se, em tais direitos, de um alar

    gamento dos direitos individuais

    existncia e desenvolvimento da personalidade

    na dimenso

    da

    comunidade. As coisas, porm, modificam-se quando,

    como

    titulares

    desses direitos, aparecem o grupo, a comunidade ou o Estado. Podem existir bons

    fundamentos para tais direitos, mas eles deveriam ser qualificados

    como

    o que so,

    ou seja, como direitos

    de

    grupo , de

    comunidade ou

    de Estado . Isso tem, sem

    dvida, a desvantagem de que, para os defensores de tais direitos, se perde o som

    bonito

    da

    expresso

    direitos do homem . Mas,

    para

    isso, nasce clareza. Ademais,

    permanece possvel fundamentar direitos de coletividades como meio para a reali

    zao de direitos do homem. Tudo isso agua a vista para isto, que direitos coletivos

    no degenerem em direitos de funcionrio.

    Por

    fim, trata-se disto, de, com todo o

    estar relacionado comunidade e o estar vinculado

    comunidade ,7 ater-se

    5

    Para a universalidade dos destinatrios, comparar R. Alexy, Die Institutionalisierung der Mens

    chenrechte im demokratischen Verfassungsstaat, in: Stefan GesepathlGeorg Lohmann (Hg.), Phi

    losophie der Menschenrechte, Frankfurt a.M. 1998,

    S

    248.

    6 Comparar C. S Nino, The Ethics of Human Rights, Oxford 1991. S 35.

    7 BVerfGE 4, 7 (\ 5 f.).

    59

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    proteo

    do

    particular como

    inteno

    original dos direitos do homem.

    Isso

    no exclui

    cimentar na constituio direitos coletivos - como, por exemplo, tambm a proteo

    de

    bens

    coletivos

    .

    Todos

    os direitos

    do

    homem merecem.

    como

    ainda

    dever

    ser

    mostrado, proteo jurdico-constitucional,

    mas no tudo que

    merece

    proteo

    jur

    dico-constitucional deve ser um direito do homem. Basta que ele, para falar

    como

    Rawls, faa parte do constitutional essentials .x Com o

    auxlio

    deste conceito o

    uso inflacionrio

    da

    expresso

    direito do

    homem pode

    ser

    limitado. que no faz

    bem matria dos direitos do homem.

    2 ireitos morais

    A segunda

    qualidade

    essencial para os direitos do

    homem

    que eles so direitos

    morais. O

    conceito

    de direito moral ambguo. Aqui ele

    deve ser empregado

    como

    conceito

    contrrio

    para o conceito

    de

    direito jurdico-positivo. Direitos

    jurdico-po

    sitivos

    nascem

    - como todas as

    normas

    do direito positivo - por atos

    de

    disposio,

    por exemplo, por

    contrato,

    poder

    constituinte, lei

    aprovada ou uma

    prtica judicial

    ou social e

    dependem

    em

    sua

    existncia - novamente como todas as normas do

    direito positivo

    - disto, se

    eles

    obtm e

    mantm

    um mnimo de

    eficcia

    ou

    opor

    tunidade de eficcia

    social.

    9

    Direitos morais

    podem,

    simultaneamente, ser

    direitos

    jurdico-positivos,

    sua validez, porm,

    no

    pressupe uma positivao.

    Para

    a validez

    ou existncia de um direito moral

    basta

    que a norma,

    que

    est

    na sua

    base, valha

    moralmente.

    Uma

    norma

    vale moralmente

    quando

    ela, perante cada um que aceita

    uma fundamentao racional, pode ser justificada. 1 Direitos do homem existem,

    com isso,

    exatamente ento

    quando eles,

    no

    sentido apresentado, podem

    ser

    justifi

    cados perante cada

    um.

    universalidade da estrutura

    dos direitos do homem, que

    consiste nisto, que eles so, fundamentalmente, direitos de todos contra todos, cabe,

    com isso, uma universalidade de validez que definida

    por

    sua fundamentabilidade

    perante cada um que aceita uma fundamentao racional.

    3 ireitos preferenciais

    Apesar

    de

    seu

    carter

    moral, direitos

    do homem esto

    em

    uma

    relao ntima

    com

    o direito. Se existe um direito moral, portanto, fundamentvel perante cada um,

    por exemplo,

    vida,

    ento tambm deve existir

    um direito,

    fundamentvel

    perante

    cada um,

    concretizao

    daquele direito. Se se

    quer evitar

    guerra civil entra

    em

    questo, como instncia de concretizao, somente o Estado. O direito moral vida

    implica, portanto,

    um

    direito moral

    proteo por direito

    positivo

    estatal.

    Nesse

    8

    Comparar

    J

    Rawls, Political Liberalism, New York 1993,

    S

    227 ff

    9 Comparar para isso, R Alexy, Begriff und Geltung des Rechts, 2 Aufl., FreiburglMnchen

    1994, S 147 f

    1 Comparar para isso, R Alexy, Diskurstheorie und Menchenrechte, in: ders., Recht, Vemunft,

    Diskurs. Studien zur Rechtsphilosophie, Frankfurt a.M. 1995. S 127 ff

    60

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    7/26

    sentido existe

    um

    direito ao Estado. mais sucintamente. um direito moral ao direito

    positivo. A Declarao Universal dos Direitos do Homem manifesta isto. como

    observado. muito bem em seu prembulo e no artigo 28.

    O direito do homem ao direito positivo no

    um

    direito do homem ao direito

    positivo de qualquer contedo seno a um direito positivo que respeita protege e

    fomenta os direitos do homem. porque exatamente o asseguramento dos direitos

    do homem que fundamenta o direito do homem ao direito positivo. A observao

    aos direitos do homem uma condio necessria para a legitimidade do direito

    positivo. Nisto que o direito positivo deve respeitar proteger e fomentar os direitos

    do homem para ser legtimo portanto ser suficiente

    sua pretenso

    exatido

    manifesta-se a prioridade dos direitos do homem. Direitos do homem esto com

    isso em uma relao necessria com o direito positivo que est caracterizada pela

    prioridade dos direitos

    do

    homem. Essa prioridade necessria a terceira marca

    definidora dos direitos do homem.

    4 Direitos fundamentais

    A relao interna definida pela prioridade necessria entre direitos do homem

    como direitos morais e o direito positivo desempenha na questo quais contedos

    tm direitos do homem

    um

    papel decisivo. Nos objetos dos direitos do homem deve

    tratar-se de interesses e carncias para os quais valem coisas distintas. Deve tratar-se

    em primeiro lugar de interesses e carncias que em geral podem e devem ser

    protegidos e fomentados por direito. Assim muitos homens tm uma carncia

    fundamental de amor. No deve haver poucos aos quais mais importante ser amado

    do que participar em demonstraes polticas. Contudo no existe um direito do

    homem ao amor porque amor no se deixa forar pelo direito. A segunda condio

    que o interesse ou a carncia seja to fundamental que a necessidade de seu respeito

    sua proteo ou seu fomento se deixe fundamentar pelo direito. A fundamentabili

    dade fundamenta assim a prioridade sobre todos os escales do sistema jurdico

    portanto tambm perante o legislador. Um interesse ou uma carncia nesse sentido

    fundamental quando sua violao ou no-satisfao significa ou a morte ou sofri

    mento grave ou toca no ncleo essencial da autonomia. Daqui so compreendidos

    no s os direitos de defesa liberais clssicos seno por exemplo tambm direitos

    sociais que visam ao asseguramento de um mnimo existencial. No so direitos do

    homem segundo esse critrio da fundamentabilidade pelo contrrio por exemplo

    o direito garantido no artigo 7 VIII da Constituio brasileira a um 3 ordenado

    mensal ou a garantia l escrita no artigo 230 2

    2

    do livre aproveitamento dos

    meios de transporte urbanos pblicos para os maiores de 65 anos.

    5

    Direitos abstratos

    A quinta marca caracterstica para direitos do homem que neles se trata de

    direitos abstratos. Isso se mostra mais claramente na necessidade de sua restrio

    6

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    8/26

    ou limitao que. por direitos de outros e pelo mandamento da conservao e fomento

    de bens coletivos como. por exemplo da proteo do meio ambiente. exigida. Qual

    restrio admissvel pode. no fundo ser determinado apenas por ponderao. A

    aplicao dos direitos do homem em casos concretos pressupe. com isso pondera

    es. Sobre ponderaes. porm pode-se discutir longamente. Se a discusso no

    deve perdurar eternamente. o que iria pr em perigo a realizao dos direitos do

    homem devem ser criadas instncias que esto autorizadas a decises de ponderao

    juridicamente obrigatrias. O Estado . portanto necessrio no s como instncia

    de concretizao mas tambm como instncia de deciso para a realizao dos

    direitos do homem. Acresce que a realizao de numerosos direitos do homem no

    possvel sem organizao. Nem a proteo diante de atos de violncia de outros

    cidados nem o cuidado pelo mnimo existencial podem ficar a cargo de ao

    espontnea

    s

    se tratar de uma garantia. Os direitos do homem conduzem portanto

    por trs fundamentos para a necessidade do Estado e do direito: por causa da

    necessidade de sua concretizao se for necessrio tambm com coao da neces

    sidade de no s discutir sobre questes de interpretao e ponderao mas tambm

    decidi-Ias e por causa da necessidade de organizar o cumprimento de direitos

    o

    homem. A passagem dos direitos do homem como direitos morais para o direito

    positivo no significa. decerto. sua despedida. O contrrio exato porque a parte

    essencial dessa passagem a transformao dos direitos do homem em direitos

    fundamentais de contedo igual. Os direitos do homem no perdem nessa transfor

    mao em validez moral. ganham porm adicionalmente uma jurdico-positiva. A

    espada torna-se afiada. Primeiro com isso est efetuado definitivamente o passo do

    imprio das idias para o imprio da histria.

    111 Direitos fundamentais democracia e jurisdio constitucional

    Poder-se-ia achar que com a codificao dos direitos do homem por uma

    constituio portanto com sua transformao em direitos fundamentais o problema

    de sua institucionalizao esteja resolvido. Isso no todavia o caso. Muitos

    problemas dos direitos do homem agora somente tornam-se visveis em toda sua

    dimenso e novos acrescem

    por

    seu carter obrigatrio agora existente.

    I Quatro extremos

    As fontes das dificuldades que se manifestam com a institucionalizao so

    quatro extremos que caracterizam direitos fundamentais completamente formados.

    O primeiro extremo o escalo hierrquico supremo na ordem escalonada do direito

    intra-estatal. Resulta do mero fato de que direitos fundamentais so direitos com

    hierarquia constitucional. O escalo hierrquico supremo seria sem interesse se no

    acrescesse o segundo a

    fora de concretizao suprema

    Dela dispem direitos

    6

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    9/26

    fundamentais quando eles primeiro vinculam todos os trs poderes portanto tambm

    o legislador e quando essa vinculao controlada judicialmente portanto justi

    civel. Se se excetuasse o legislador dessa vinculao ou se se declarasse alguns

    direitos fundamentais como no-justiciveis ento desapareceriam sem dvida

    muitos problemas. O preo para isso seria todavia alto. Ele residiria em uma

    renncia a uma institucionalizao completa ou autntica. Uma tal renncia porm

    seria uma infrao contra direitos do homem. Constituies modernas do aos

    direitos fundamentais em geral por conseguinte a fora

    de

    concretizao suprema

    e quando elas no o fazem deveriam ou ser interpretadas neste sentido ou quando

    isso no fosse possvel modificadas.

    Tambm a unio entre escalo hierrquico supremo e fora de concretizao

    suprema iriam significar pouco

    se

    os direitos fundamentais regulassem questes

    especiais sem importncia. Exatamente o contrrio porm o caso. Com a garantia

    da propriedade da liberdade

    de

    profisso e da liberdade de contratar toma-se a

    deciso para uma economia de mercado. A garantia

    da

    liberdade de opinio imprensa

    e da liberdade de radiodifuso e televisiva pe os pilares de um sistema de comu

    nicao social. Outros direitos fundamentais precisam ser apenas mencionados para

    conhecer seu signficado fundamental assim a garantia do casamento e famlia e a

    do direito de sucesso a liberdade de religio e a proteo da vida e integridade

    corporal.

    Convertem-se em

    um

    verdadeiro problema os trs extremos tratados at agora

    o escalo hierrquico supremo a fora de concretizao suprema e os objetos

    sumamente importantes primeiro pelo enlace com um quarto problema a medida

    mxima de necessidade de interpretao. Na maioria das constituies isso

    j

    resulta da redao concisa e lapidar de seu catlogo de direitos fundamentais. Mas

    tambm l onde uma redao mais exata dos direitos fundamentais tentada as

    coisas no so muito diferentes. Assim os direitos de liberdade e igualdade

    clssicos so regulados no artigo

    da Constituio brasileira em 74 nmeros e os

    direitos sociais no artigo 7 em 34 nmeros assim como em muitas outras prescri

    es do ttulo oitavo sobre a ordem social. Os problemas de interpretao jurdico

    fundamentais que aparecem em toda a parte so por meio dessa regulao relati

    vamente detalhada abafados em parte ampla mas no eliminados; em alguns casos

    nascem at novos. Assim o artigo 5 IV declara a manifestao dos pensamentos

    como livre. Isso quer dizer que todas as manifestaes de opinio so permitidas

    tambm tais que violam a honra de outros e tais com contedo racista? Isso

    prestar-se-ia mal ao artigo 5 X que protege a honra e ao artigo 5 XLII que

    prev uma pena s prticas racistas. Em contrapartida nem toda a manifestao de

    opinio que de alguma maneira ofenda um concidado ou membro de uma deter

    minada raa pode ser proibida se a liberdade de manifestao de opinio no deve

    atrofiar. Isso mostra que uma fixao de limite com auxlio de uma ponderao

    necessria. A ponderao como parte de um exame de proporcionalidade porm

    o problema nuclear da dogmtica dos direitos fundamentais e a razo principal

    para a abertura dos catlogos de direitos fundamentais. Em alguns casos esse

    6

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    10/26

    problema salta diretamente aos olhos. por exemplo. quando o artigo 5 XXII.

    garante a propriedade e ento. imediatamente adicionado no inciso XXIII que a

    propriedade deve servir

    sua funo social. Em outros casos a necessidade de um

    exame de proporcionalidade fica clara primeiro no olhar mais de perto por

    exemplo quando o artigo 5 XI admite a entrada na casa de dia em virtude de

    ordem judicial. Isso no pode significar que tribunais

    por

    qualquer fundamento.

    devam admitir uma penetrao na

    casa. A penetrao deve ser proporcional. Coisa

    semelhante vale para os direitos de igualdade. Quando o artigo 52 fixa a frmula

    clssica que todos os homens so iguais diante da lei para o Brasil ento isso no

    significa que no deva ser diferenciado. Essa prescrio no prescreve por exem

    plo que pobres e ricos devam pagar impostos no mesmo nvel. Isso mostra que

    diferenciaes so permitidas se para elas existem fundamentos razoveis. Discus

    so especial domina em vrios Estados sobre a frmula que se encontra no artigo

    52

    I que homens e mulheres tm os mesmos direitos. Isso exclui discriminao

    inversa a favor de mulheres ele a admite ou ela at exigida? Problemas anlogos

    existem em muitos direitos fundamentais sociais. Tome-se somente o direito

    sade regulado no artigo 196. Ele deve ser garantido por medidas de poltica social

    e econmica. Sem ponderao no pode ser verificado o contedo exato desse

    direito.

    Interpretado deve ser em muitos setores. A fora rompante da interpretao

    constitucional resulta dos trs extremos primeiro citados do escalo hierrquico

    supremo da fora de concretizao suprema e do contedo sumamente importante.

    Quem tiver xito o tribunal que decide ao fim e ao cabo sobre a constituciona

    lidade e com isso - independente de sua designao - desempenha a tarefa de

    um tribunal constitucional de convencer de sua concepo sobre a interpretao

    dos direitos fundamentais alcanou o que no processo poltico ordinrio inalcan

    vel: ele tornou sua concepo sobre coisas sociais e polticas sumamente impor

    tantes praticamente partes integrantes da constituio e com isso tomou da ordem

    do dia poltica. Uma maioria parlamentar simples no pode ento fazer mais nada.

    Somente o tribunal constitucional mesmo ou a respectiva maioria qualificada

    exigida para modificaes constitucionais podem ento ainda modificar a situa

    o. Tudo isso demonstra porque em todos os Estados dotados com catlogo de

    direitos fundamentais e jurisdio constitucional sobre a interpretao dos direitos

    fundamentais no s refletido com calma mas tambm discutido na arena poltica.

    Pode-se falar de uma luta pela interpretao dos direitos fundamentais. rbitro

    nessa luta porm no o povo seno o tribunal constitucional respectivo. Isso

    compatvel com o princpio democrtico. cujo cerne no artigo I pargrafo nico

    da Constituio brasileira assim como no artigo 20 alnea 2 frase I da Lei

    Fundamental expressado com a frmula clssica: .. Todo o poder estatal origina

    se do povo ? Os direitos do homem parecem converter-se em um problema para

    a democracia quando eles so levados a srio e de um mero ideal tornados em algo

    real. exata essa impresso? o ideal do qual se trata no prembulo da Declara

    o

    Universal dos Direitos

    do

    Homem uma quimera que leva rebentao uma

    contradio entre direitos fundamentais e democracia?

    64

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    11/26

    2

    Trs modelos

    Para responder essa questo devem ser diferenciados trs modos de viso da

    relao entre direitos fundamentais e democracia: um ingnuo, um idealista e um

    realista. Segundo o modo de viso ingnuo entre direitos fundamentais e democracia

    j

    por isso no pode existir contlito, porque tanto direitos fundamentais como

    democracia so algo bom. Como devem colidir duas coisas boas? A concepo

    ingnua acha, por isso, que

    se

    pode ter ambos juntos ilimitadamente. Essa viso de

    mundo muito bonita para ser verdadeira. Seu ponto de partida, que somente existem

    contlitos entre o bom e o mau, no, porm. no interior do bom, falso. Quem quer

    impugnar que prosperidade e pleno emprego, que assentam sobre crescimento eco

    nmico, so algo bom em

    si

    e quem quer desmentir que a proteo e a conservao

    do meio ambiente algo bom? Contudo, existe entre esses bens, de fundamentos

    bem conhecidos, no nosso mundo caracterizado por finitude e escassez, um contlito.

    O modo de viso idealista admite isso.

    Sua

    reconciliao entre direitos fundamentais

    e democracia, por conseguinte, - dito exageradamente - tambm de modo nenhum

    primeiro tem lugar neste mundo, seno no ideal de uma sociedade politicamente

    perfeita. Nela, o povo e seus representantes polticos de modo nenhum esto inte

    ressados nisto, de violar os direitos fundamentais de algum cidado por decises de

    maioria parlamentares, portanto, leis, ao contrrio. A defesa dos direitos fundamen

    tais um motivo poltico eficaz para todos. O catlogo de direitos fundamentais tem

    nesse modelo rousseauniano somente ainda um significado simblico. Ele formula

    somente ainda aquilo que todos, alas, acreditam e querem. Como ideal, que pode

    ser oposto realidade poltica e ao qual dever-se-ia acercar, tem esse modelo

    absolutamente seu valor. Todavia, pode-se saber que esse ideal in

    alcanvel. Por

    conseguinte, para aquele que quer institucionalizar os direitos do homem no mundo

    como ele , somente o modo de viso realista exato. Segundo ele, a relao entre

    direitos fundamentais e democracia caracterizada por duas compreenses em

    sentido contrrio e, com isso, na realidade, por uma contradio. A primeira soa:

    I)

    Direitos fundamentais so democrticos,

    a segunda:

    2) Direitos fundamentais so ademocrticos.

    Direitos fundamentais so democrticos por isso, porque eles, com a garantia

    dos direitos de liberdade e igualdade, asseguram o desenvolvimento e existncia de

    pessoas que, em geral, so capazes de manter o processo democrtico

    na

    vida e

    porque eles, com a garantia da liberdade de opinio, imprensa, radiodifuso, reunio

    e associao, assim como com o direito eleitoral e com s outras liberdades polticas

    asseguram as condies funcionais do processo democrtico. Ademocrticos so os

    direitos fundamentais, pelo contrrio, porque eles desconfiam do processo democr

    tico. Com a vinculao tambm do legislador eles subtraem da maioria parlamen

    tarmente legitimada poderes de deciso. Em muitos Estados este jogo deve ser

    observado: a oposio perde primeiro no processo democrtico e ganha, ento, diante.

    do tribunal constitucional. Tambm a Constituio brasileira conhece essa possibi-

    65

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    12/26

    lidade ao ela conceder. no artigo 103. VII. aos partidos polticos representados no

    congresso. o direito a uma ao por causa de inconstitucionalidade diante o tribunal

    constitucional.

    Esse carter duplo dos direitos fundamentais deve ser antiptico a defensores

    de uma doutrina pura. Esses espreitam em ambos os lados do problema. H tanto

    adeptos de um processo democrtico ilimitado quanto ao contedo (em geral, eles

    so idealistas rousseaunianos dissimulados ou abertos) como cticos democrticos,

    para os quais existe uma ordem dada das coisas que pelo processo democrtico

    somente posta em desordem e, por isso, deveria ser protegida ainda muito mais

    intensamente por direitos fundamentais e outros princpios constitucionais do que

    isso hoje, em geral, ocorre. Nem um nem outro pode aqui ser seguido. A questo

    deve. antes, rezar

    se a contradio pode ser resolvida pelo fato de ser encontrado

    um caminho entre essas posies extremas.

    3 epresentao poltica e argumentativa

    A chave para a resoluo a distino entre a representao poltica e a

    argumentativa do cidado. O princpio fundamental:

    Todo

    o poder estatal origina-se

    do

    povo exige compreender no s o parlamento mas tambm o tribunal constitu

    cional como representao do povo. A representao ocorre, decerto, de modo

    diferente. O parlamento representa o cidado politicamente, o tribunal constitucional

    argumentativamente. Com isso, deve ser dito que a representao do povo pelo

    tribunal constitucional tem um carter mais idealstico do que aquela pelo parlamen

    to. A vida cotidiana do funcionamento parlamentar oculta o perigo que maiorias se

    imponham desconsideradamente, emoes determinem o acontecimento, dinheiro e

    relaes de poder dominem e simplesmente sejam cometidas faltas graves. Um

    tribunal constitucional que se dirige contra tal no se dirige contra o povo seno.

    em nome do povo, contra seus representantes polticos. Ele no s faz valer nega-

    tivamente

    que o processo poltico, segundo critrios jurdico-humanos e jurdico

    fundamentais, fracassou mas tambm exige positivamente que os cidados aprovem

    os argumentos do tribunal se eles aceitarem um discurso jurdico-constitucional

    racional. A representao argumentativa d certo quando o tribunal constitucional

    aceito como instncia de reflexo do processo poltico. Isso o caso, quando os

    argumentos do tribunal encontram um eco na coletividade e nas instituies polticas,

    conduzem a reflexes e discusses que resultam em convencimentos examinados.

    Se um processo de reflexo entre coletividade, legislador e tribunal constitucional

    se estabiliza duradouramente pode ser falado de uma institucionalizao que deu

    certo dos direitos do homem no estado constitucional democrtico. Direitos funda

    mentais e democracia esto ento reconciliados. Com isso est assegurado, como

    resultado, que o ideal, do qual fala a Declarao Universal dos Direitos do Homem,

    pode ser realizado e no precisa fracassar em uma contradio interna entre direitos

    fundamentais e democracia.

    66

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    13/26

    COLISO

    DE

    DIREITOS FUNDAMENTAIS E REALIZAO DE DIREITOS

    FUNDAMENTAIS NO ESTADO DE

    DIREITO

    DEMOCRTICO*

    ROSERT ALEXY

    I O fenmeno

    da

    coliso de direitos fundamentais. I. Colises de direitos

    fundamentais em sentido estrito. a Colises de direitos fundamentais de

    direitos fundamentais idnticos. b Coliso de direitos fundamentais de

    direitos fundamentais diferentes. 2. Colises de direitos fundamentais em

    sentido amplo. 11 A soluo do problema da coliso.

    I

    fora vinculativa

    dos direitos fundamentais.

    2

    Regras e princpios. a A distino. b

    s

    opes da teoria das regras. c

    O

    caminho

    da

    teoria dos princpios. d

    Vinculao e flexibilidade.

    Os direitos fundamentais so, por um lado, elementos essenciais da ordem

    jurdica nacional respectiva. Por outro, porm, eles indicam alm do sistema nacional.

    Nessa passagem

    do

    nacional deixam-se distinguir dois aspectos: um substancial e

    um sistemtico. Os direitos fundamentais rompem, por razes substanciais, o quadro

    nacional, porque eles, se querem satisfazer os requisistos que lhes podem ser postos,

    devem incluir os direitos do homem. Os direitos do homem tm, porm, inde

    pendentemente de sua positivao, validez universaL Eles pem, por conseguinte,

    exigncias a

    cada

    ordem jurdica.

    Uma

    contribuio importante para a sua concre

    tizao internacional forneceu e fornece a Declarao Universal dos Direitos do

    Homem, de 10 de dezembro de 1948. Os direitos do homem tornaram-se vinculativos

    jurdico-positivamente no plano internacional pelo Pacto Internacional sobre Direitos

    Civis e Polticos, de

    19

    de dezembro de 1966.

    Uma

    pea paralela a

    ele

    o Pacto

    Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais, do mesmo dia, que,

    naturalmente, est dotado com muito menor fora de concretizao. Ao lado deles

    e de outros pactos delineados internacionalmente colocam-se convenes regionais.

    Tudo isso cria comunidades substanciais.

    s comunidades substanciais correspondem as sistemticas. Em toda a parte

    onde direitos fundamentais existirem, colocam-se os mesmos ou semelhantes pro

    blemas. Apenas

    para

    mencionar alguns: que diferenas estruturais existem entre

    direitos de defesa liberais, direitos

    proteo, direitos fundamentais sociais e direitos

    de cooperao poltica? Quem

    o destinatrio, quem o titular de direitos fundamen

    tais? Sob quais pressupostos formais e materiais direitos fundamentais podem ser

    limitados?

    Com que

    intensidade pode um tribunal constitucional controlar o legis

    lador sem que sejam violados o princpio democrtico e o princpio da separao de

    poderes? A comunidade de semelhantes questes sobre a estrutura de direitos fun

    damentais e jurisdio constitucional abre, diante do fundo das comunidades subs-

    I

    Comparar R Alexy, Diskurstheorie und Menschenrechte, in: ders., Recht, Vernunft, Diskurs,

    Frankfurt a.M. 1995,

    S

    144

    f

    Palestra proferida na sede

    da

    Escola Superior

    da

    Magistratura Federal (ESMAFE) no dia 7

    de

    dezembro

    de

    1998.

    67

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    14/26

    tanciais. a possibilidade de uma cincia dos direitos fundamentais transcendente s

    ordens jurdicas particulares. a qual muito mais que uma mera comparao de

    direito. a cincia dos direitos fundamentais ampla O objetivo da cincia dos

    direitos fundamentais ampla no , de nenhum modo. a nivelao das ordens dos

    direitos fundamentais. Ao contrrio, as diferenas lhe do estmulos e tarefas. Seu

    intento vale, antes. revelao das estruturas dogmticas e ao destacamento dos

    princpios e valores que esto atrs das codificaes e da jurisprudncia. O intrincado

    e complicado pode, assim, converter-se em uma multiplicidade sistematicamente

    preenchida e, com isso. entendida no melhor sentido que, dessa forma, compreen

    de-se, simultaneamente, como unidade.

    I O fenmeno da coliso de direitos fundamentais

    A maioria das constituies contm hoje catlogo de direitos fundamentais

    escritos. A primeira tarefa da cincia dos direitos fundamentais, como uma disciplina

    jurdica, a interpretao desses catlogos. Nisso, valem as regras tradicionais da

    interpretao jurdica. Estas, todavia, na interpretao dos direitos fundamentais.

    chocam-se logo com limites. Uma razo essencial para isso a coliso de direitos

    fundamentais.

    O conceito de coliso de direitos fundamentais pode ser compreendido estrita

    ou amplamente. Se ele compreendido estritamente, ento so exclusivamente

    colises nas quais direitos fundamentais tomam parte coliso de direitos fundamen

    tais. Pode-se falar aqui de colises de direitos fundamentais em sentido estrito. Em

    uma compreenso ampla so. pelo contrrio. tambm colises de direitos fundamen

    tais com quaisquer normas ou princpios, que tm como objeto bens coletivos.

    colises de direitos fundamentais. Isso o conceito de coliso de direitos fundamen

    tais em sentido amplo. Ambos os tipos de coliso so temas centrais da dogmtica

    dos direitos fundamentais. Sua anlise conduz a quase todos os problemas dessa

    disciplina. Todavia, antes de iniciar essa anlise, deve, primeiro, o fenmeno a ser

    analisado ser considerado mais de perto.

    No existe catlogo de direitos fundamentais sem coliso de direitos fundamen

    tais e tambm um tal no pode existir. Isso vale tanto para colises de direitos

    fundamentais em sentido estrito como tambm para tais em sentido amplo.

    I Colises de direitos fundamentais em sentido estrito

    Colises de direitos fundamentais em sentido estrito nascem sempre ento,

    quando o exerccio ou a realizao do direito fundamental de um titular de direitos

    fundamentais tem conseqncias negativas sobre direitos fundamentais de outros

    2 Comparar

    P

    Haberle, Verfassungsentwicklung in Osteuropa - aus der Sicht der Rechtsphilo

    sophie und der Verfassungslehre, in: AOR 117

    \

    992),

    S

    170

    ff

    68

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    15/26

    titulares de direitos fundamentais. Nos direitos fundamentais colidentes pode tratar

    se

    ou dos mesmos ou de direitos fundamentais diversos.

    a olises de direitos fundamentais idnticos

    Deixam-se distinguir quatro tipos de colises de direitos fundamentais idnticos.

    No primeiro tipo est, em ambos os lados, afetado o mesmo direito fundamental

    como direito de defesa liberal. Uma tal coliso existe, por exemplo, ento, quando

    dois grupos polticos hostis, por

    um

    motivo atual, querem demonstrar-se, ao mesmo

    tempo, no centro de uma cidade e h o perigo de choques. No

    segundo

    tipo trata-se

    do mesmo direito fundamental, uma vez como direito de defesa liberal de

    um

    e.

    outra, como direito de proteo do outro. Um tal caso existe, por exemplo, quando

    atirado em

    um

    detentor de refm para salvar a vida de seu refm. Nisto, contudo,

    deve ser acentuado que com a coliso entre o direito vida, de um lado, do detentor

    do refm, e, de outro, do refm. somente compreendida uma parte do problema

    total.

    freqentemente possvel salvar a vida do refm pelo fato de simplesmente

    atender

    s

    exigncias do detentor do refm. Vem, ento, como terceiro elemento da

    coliso total uma obrigao de proteo ... diante da totalidade dos cidados 3 em

    jogo, que pede do Estado no fazer nada que possa dar estmulo a outras tomadas

    de refns. O objeto imediato desse dever de proteo

    um

    bem coletivo: a segurana

    pblica. Isso torna claro que muitas colises so complexas. Exatamente para com

    preender adequadamente colises complexas, porm, necessrio identificar clara

    mente os elementos fundamentais dos quais elas so compostas. O

    terceiro

    tipo de

    coliso de direitos fundamentais iguais resulta disto, que muitos direitos fundamen

    tais tm

    um

    lado negativo e um positivo. Isso especialmente claro na liberdade de

    crena. Ela compreende tanto o direito de ter e de praticar uma crena. como tambm

    o direito de no ter uma crena e de ser poupado da prtica de uma crena. Quais

    problemas podem resultar disso mostra a resoluo-crucifixo, uma das decises mais

    discutidas do Tribunal Constitucional Federal alemo,4 com toda a clareza. Nesta

    deciso trata-se da questo se o Estado pode ordenar que nas salas de aula de escolas

    pblicas deve ser colocada uma cruz. Aqui colide a liberdade de crena negativa dos

    no-cristos que, assim o Tribunal Constitucional Federal,

    em

    classe, por ordem

    do Estado e sem possibilidade de evitar, so confrontados com esse smbolo e so

    obrigados a aprender

    'sob

    a cruz'

    5

    com a liberdade de crena positiva dos cristos,

    de praticarem sua convio de crena no quadro das instituies estatais .

    6

    O

    tribunal dissolve

    essa

    relao de tenso entre liberdade religiosa negativa e positi-

    3 BVerfGE 46, 16 (165).

    4 Comparar, para isso, Winfried BruggerlStefan Huster (Hg.), Der Streit

    um

    das Kreuz in der

    Schule, Baden-Baden 1998.

    5

    BVerfGE 93, 1 (18).

    6

    BVerfGE 93, 1 (24).

    69

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    16/26

    va

    q

    ao ele proibir a

    colocao

    de cruzes ou crucifixos em espaos escolares pblicos.

    em que, para a fundamentao, outros pontos de vista so aduzidos, especialmente

    aquele da neutralidade religioso-poltica.

    x

    A quarta variante de colises dos mesmos

    direitos fundamentais de titulares diferentes resulta quando se acrescenta ao lado

    jurdico de um

    direito

    fundamental um ftico. Como exemplo, seja considerada a

    jurisprudncia do Tribunal Constitucional Federal

    alemo

    sobre auxlio de

    custas

    processuais. Se se parte da igualdade jurdica.

    ento

    pobres e ricos so tratados

    igualmente

    quando

    nenhum deles recebe apoio estatal para o financiamento de custas

    judiciais e honorrios

    de

    advogado. Sob o

    ponto

    de vista da igualdade ftica,

    porm,

    isso um tratamento desigual, porque do pobre. com isso. as oportunidades de

    concretizar seu

    direito

    so tomadas ou

    e s t r e i t a d a s . ~

    Se se fomenta, porm, o pobre,

    ento trata-se os ricos

    juridicamente

    de

    outra

    forma

    como

    os pobres, portanto,

    desigualmente, porque:

    Fomentar

    determinados grupos significa

    j

    tratar outros

    desigualmente. 111 Se se estende o princpio da igualdade tanto igualdade jurdica

    como ftica, ento

    topa-se

    forosamente com esse paradoxo da igualdade. O

    paradoxo

    da

    igualdade

    uma

    coliso que se apresenta tanto mais intensamente

    quanto

    mais realizado em Estado social. No , portanto, acaso que o Tribunal Constitu

    cional Federal alemo

    enlaa

    a idia da igualdade ftica

    com

    o princpio

    do

    Estado

    sociaL

    b) oliso de direitos fimdamentais de direitos fundamentais diferentes

    Sob

    as

    colises entre

    direitos fundamentais

    diferentes

    de titulares de direitos

    fundamentais diferentes, a coliso da liberdade de manifestao de opinio com

    direitos fundamentais

    do

    afetado negativamente pela manifestao de opinio toma

    uma posio especial.

    essa

    a problemtica que. em 1958. deu motivo ao Tribunal

    Constitucional Federal com sua

    s e n t e n a - L t h l ~

    uma

    das

    sentenas mais significa

    tivas da jurisdio constitucional alem, de

    colocar

    os trilhos bsicos para a

    sua

    jurisprudncia da ordem de valores que conduz a duas

    conseqncias

    fundamentais

    para os direitos fundamentais: primeiro, irradiao dos direitos fundamentais sobre

    o sistema

    jurdico

    total e, segundo, onipresena da ponderao. Um efeito tardio

    dessa sentena

    a

    resoluo

    soldados-so-assassinos,

    na

    qual a

    condenao

    de

    pacifistas, que qualificaram soldados de assassinos, por ofensa foi classificada como

    inconstitucional. Aqui colide a liberdade de manifestao de opinio artigo

    51l.

    alnea

    I, frase I, da Lei

    Fundamental)

    dos pacifistas

    com

    o direito de personalidade geral

    7 BVerfGE 93, I 22).

    8 Ebd

    9

    BVerfGE 56, 139 144).

    1 BVerfGE 12,354 367).

    I BVerfGE 12,354 367); 56,139 143).

    12 BVerfGE 7,198.

    70

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    17/26

    (artigo 2. alnea I em unio com o artigo I alnea

    I

    da Lei Fundamental) dos

    soldados. que inclui a proteo da honra.

    1.

    O debate exacerbado. que essa sentena

    promoveu, mostra que material explosivo colises de direitos fundamentais podem

    ocultar.

    Na resoluo soldados-so-assassinos trata-se de uma coliso de direitos de

    liberdade diferentes de titulares de direitos fundamentais diferentes. Colises de

    direitos fundamentais diferentes de titulares de direitos fundamentais diferentes

    existem no s no mbito dos direitos de liberdade. Elas so possveis entre direitos

    fundamentais de qualquer tipo. Especialmente importante aquela entre direitos de

    liberdade e igualdade. Se se aplica a proibio de discriminao ordem jurdica

    total, portanto, tambm ao direito privado. ento colises entre a autonomia privada

    do empregador e o direito ao tratamento igual do empregado so inevitveis.

    2 Colises de direitos fundamentais em sentido amplo

    At agora tratou-se de colises de direitos fundamentais em sentido estrito,

    portanto, de colises entre direitos fundamentais iguais e diferentes de titulares de

    direitos fundamentais diferentes. No menos significativas so as colises de direitos

    fundamentais em sentido amplo, portanto, as colises de direitos fundamentais com

    bens coletivos. Um exemplo para isso oferece a resoluo da dragagem do Tribunal

    Constitucional Federal alemo. Nela tratou-se da questo se em qual proporo e

    como o legislador pode proibir ao proprietrio aproveitamentos de seu terreno que

    prejudicam a gua subterrnea.

    4

    A qualidade da gua um bem coletivo clssico.

    A viso, que se

    toma

    sempre mais penetrante, sobre problemas ecolgicos, eleva

    sempre mais colises desta natureza de bens coletivos ecolgicos com o direito

    fundamental propriedade luz.

    Bens coletivos no so s, naturalmente, adversrios de direitos individuais.

    Eles tambm podem ser pressuposto ou meio de seu cumprimento ou fomento.

    s

    Assim, o dever legal da indstria de tabacos de colocar advertncias sobre prejuzos

    sade em seus produtos uma interveno na liberdade de exerccio profissional

    dos produtores de tabaco, portanto, em um direito fundamental. A justificao direta

    dessa interveno reside na proteo da populao diante de riscos sade , 16

    portanto,

    em

    um bem coletivo. Indiretamente, trata-se, nisso, de algo

    que

    tambm

    por direitos individuais protegido, ou seja, da vida e da sade do particular. O mais

    claro o carter ambivalente no bem coletivo clssico da segurana interna ou

    pblica. O dever do Estado de proteger os direitos de seus cidados obriga-o a

    produzir uma medida to ampla quanto possvel deste bem. Isso, porm, no

    3

    BVerfGE 93, 266 (290).

    14

    BVerfGE 58, 300 (318 ff.).

    15

    Comparar, para isso, R. A1exy lndividuelle Rechte und kollektive Gter,

    in:

    Recht, Vernunft,

    Diskurs, Frankfurt a.M. 1995,

    S.

    243 ff.

    16

    BVerfGE 95, 173 (185).

    7

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    18/26

    possvel sem intervir na liberdade daqueles que prejudicam ou ameaam a segurana

    pblica.

    A segurana interna

    um

    bem coletivo central do Estado de direito liberal. A

    proteo do meio ambiente define sua variante mais nova: o Estado de direito

    ecolgico. Visto historicamente, entre ambos est o Estado de direito social. O

    cumprimento dos postulados do Estado de direito social apresenta poucos problemas

    quando um equilbrio econmico cuida disto, que todos os cidados mesmos ou por

    sua famlia estejam dotados suficientemente. Quanto menos isso o caso, tanto mais

    os direitos fundamentais sociais pedem redistribuio. Disto existem duas formas

    bsicas. A primeira ocorre quando o Estado, por impostos ou outras contribuies,

    consegue o dinheiro que necessrio para atender ao mnimo existencial dos pobres.

    O dever de pagar impostos, porm, intervm em direitos fundamentais. Duvidoso

    somente quais so eles: o direito de propriedade ou a liberdade de ao geral. 7 Como

    o Estado nunca cobra impostos somente para a finalidade do cumprimento de

    postulados estatal-sociais, no conveniente aduzir diretamente os direitos funda

    mentais sociais para a justificao dessa interveno. Antes, a cobrana de impostos

    serve diretamente s produo da capacidade de ao financeira do Estado. A

    capacidade de ao financeira do Estado , em termos genricos, um pressuposto de

    sua capacidade de ao. O Estado social pede que ela seja consideravelmente am

    pliada.

    A segunda forma da redistribuio estatal-social no sucede pelo errio pblico,

    que enchido de antemo por impostos ou outras contribuies, seno diretamente

    de um para outro cidado. Assim, trata-se de uma redistribuio direta de

    um

    cidado

    para outro cidado quando o legislador, para a proteo do locatrio, promulga

    prescries que dificultam o aviso de sada ou limitam as possibilidades do aumento

    de aluguel.

    8

    O artigo 7

    2

    da Constituio brasileira de 5 de outubro de 1988 utiliza

    intensamente uma redistribuio direta desta natureza ao, por exemplo, o inciso I

    prescrever uma proteo contra despedida, o inciso IV um salrio mnimo, o inciso

    XIII um horrio de trabalho mximo e o inciso XVII frias anuais remuneradas. O

    problema de tais direitos fundamentais sociais custa de terceiros, ou seja, do

    empregador, que,

    no

    fundo, o mercado decide sobre isto,

    se

    eles so efetivos. Para

    aquele que no encontra emprego esses direitos correm no vazio. Aqui deve interessar

    somente que nesses direitos se trata de uma situao de coliso complexa. Do lado

    do empregador o assunto ainda

    simples. Sua liberdade empresarial limitada. Um

    direito no est diretamente diante daquele

    do

    lado do empregado, mas somente

    um

    direito a isto, que ele ento, quando achar

    um

    empregador que o empregue, obtenha

    um salrio mnimo. Isso um direito social condicional. Diretamente pelo artigo 7

    somente criado

    um

    bem coletivo, ou seja, um estado da economia no qual - se essa

    prescrio for observada - existem somente empregos com salrio mnimo, em que

    a questo sobre sua distribuio ainda permanece totalmente aberta.

    7

    BVerfGE 93,

    2

    137 f.).

    18

    Comparar BVerfGE

    68 361

    367); 89, 1 5 ff.).

    7

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    19/26

    U

    A soluo do problema da coliso

    o olhar sobre o fenmeno da coliso de direitos fundamentais deu luz cons

    telaes altamente diferentes que. porm, tm algo em comum: todas as colises

    podem somente ento ser solucionadas

    se

    ou de um lado ou de ambos, de alguma

    maneira. limitaes so efetuadas ou sacrifcios so feitos. A questo como isso

    deve ocorrer.

    Na

    resposta a esta questo devem ser tomadas decises fundamentais

    sobre a estrutura fundamental da dogmtica dos direitos fundamentais.

    I

    A fora vinculativa dos direitos fundamentais

    A questo mais importante para cada catlogo de direitos fundamentais se nos

    direitos fundamentais se trata de normas juridicamente vinculativas ou no. O con

    ceito da vinculao jurdica determinado diferentemente na teoria geral do direito.

    Em um sistema jurdico que conhece a separao dos poderes e, com isso, o poder

    judicial

    como

    terceiro poder, tudo fala a favor disto, de qualificar

    como

    juridica

    mente vinculativas somente aquelas normas de direitos fundamentais cuja violao,

    seja em que procedimento for, possa ser verificada por um tribunal, que so, portanto,

    justiciveis ideal, quando esta verificao, em ltima instncia, deixada a cargo

    de um tribunal constitucional, porm, tambm possvel que ela caiba somente na

    competncia dos tribunais profissionais. Normas de direitos fundamentais, cuja

    violao no pode ser verificada por nenhum tribunal tm, pelo contrrio, um carter

    no-justicivel e so, nisso, vinculativas no juridicamente, seno, talvez, moral ou

    politicamente. Elas so meras normas programticas ou, se se quer formular pole

    micamente, mera lrica constitucional.

    O problema da coliso iria,

    como

    problema jurdico, desaparecer

    j

    totalmente

    se se declara todas as normas de direitos fundamentais como no-vinculativas. As

    colises seriam, ento, problemas polticos ou morais e no caberiam, como tais, na

    competncia dos tribunais. Na Alemanha, essa soluo excluda pelo artigo 1

    2

    alnea 3, da Lei Fundamental, que vincula todos os trs poderes aos direitos funda

    mentais como direito diretamente vigente. Tambm no Brasil o caminho de uma

    declarao de no-vinculao de todos os direitos fundamentais deveria ser intran

    sitvel, porque o artigo 52 alnea I declara, pelo menos, as prescries de direitos

    fundamentais desse artigo

    como

    diretamente aplicveis. Mas tambm independente

    de ordens de vinculao jurdico-positivas desta natureza a justiciabilidade dos

    direitos fundamentais deve ser exigida. Direitos fundamentais so essencialmente

    direitos do homem transformados em direito positivo.1

    9

    Direitos do homem insistem

    em sua institucionalizao. Assim, existe no somente um direito do homem vida,

    seno tambm um direito do homem a isto, que exista um Estado que concretize tais

    direitos.

    2u

    A institucionalizao inclui necessariamente justicializao.

    19

    R. Alexy, in: Lexikon der Philosophie, hg. v. Hans Jrg Sandkhler, Hamburg 1999 (im Druck).

    20

    Ders., Die lnstitutionalizierung der Menchenrechte

    im

    demokratischen Verfassungsstaat, in:

    Stefan Gosepath/Georg Lohmamm (Hg.), Philosophie der Menschenrechte, Frankfurt a.M. 1998,

    S. 254 ff.

    73

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    20/26

    Poder-se-ia achar agora que a justiciabilidade no precisa ser total ou ampla.

    Assim. por exemplo. a clusula de vinculao do artigo 5. pargrafo

    I

    Q

    da Consti

    tuio brasileira. est nos direitos de defesa clssicos e no nos direitos fundamentais

    sociais. Tal poderia ser entendido como convite a isto. declarar os direitos funda

    mentais sociais como no-justiciveis. A no-justiciabilidade nisso poderia esten

    der-se a todos os direitos fundamentais sociais ou a alguns da respectiva constituio.

    O problema da coliso com isso sem dvida no estaria totalmente solucionado

    porque h como mostrado numerosas colises entre direitos fundamentais de tra

    dio liberal. mas ele seria desagravado consideravelmente. Colises estatal-sociais

    restam possveis sem dvida conforme o objeto

    se

    maioria parlamentar por si

    portanto sem estar obrigado a isso pela constituio. fica ativa no campo da redis

    tribuio estatal-social. O social porm teria diante do liberal pouca fora porque

    ele no poderia apoiar-se em princpios jurdicos. Ademais. colises estatal-sociais

    no teriam lugar totalmente se o legislador renunciasse completamente a atividades

    sociais. Onde no existe dever jurdico nada pode colidir juridicamente. Anlogo

    vale para o lado ecolgico da constituio.

    A todas as tentativas de desagravar o problema da coliso pela eliminao da

    justiciabilidade deve opor-se com energia. Elas no so outra coisa seno a soluo

    de problemas jurdico-constitucionais pela abolio de direito constitucional. Se

    algumas normas da constituio no so levadas a srio dificil fundamentar por

    que outras normas tambm ento devem ser levadas a srio

    se

    isso uma vez causa

    dificuldades. Ameaa a dissoluo da constituio. A primeira deciso fundamental

    para os direitos fundamentais por conseguinte aquela para a sua fora vinculativa

    jurdica ampla em forma de justiciabilidade.

    2 Regras e princpios

    A segunda deciso fundamental

    se

    direitos fundamentais tm o carter de

    regras ou o de princpios. Na primeira deciso fundamental tratava-se disto: se

    direitos fundamentais so direitos; objeto da segunda o que eles so como direito.

    No s a soluo do problema da coliso seno tambm as respostas a quase todas

    as questes da dogmtica dos direitos fundamentais geral dependem desta deciso

    fundamental. Isso esclarece a intensidade e a amplitude da discusso. Aqui devem

    bastar algumas observaes

    tese que a teoria dos princpios dos direitos fundamen

    tais oferece a melhor soluo do problema da coliso.

    a A distino

    Segundo a definio standard da teoria dos princpios 21 princpios so normas

    que ordenam que algo seja realizado em uma medida to ampla quanto possvel

    relativamente a possibilidades fticas ou jurdicas. Princpios so portanto

    manda

    21 R Alexy. Theorie der Grundrechte 3. Aufl. Frankfurt a.M. 1996 S

    75

    f

    74

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    21/26

    mellfos de

    otimizaoY Como tais, eles podem ser preenchidos em graus distintos.

    A medida ordenada do cumprimento depende no s das possibilidades fticas, seno

    tambm das jurdicas. Estas so determinadas,

    ao

    lado, por regras, essencialmente

    por princpios opostos.

    As

    colises de direitos fundamentais supra delineadas devem,

    segundo a teoria dos princpios, ser qualificadas de colises de princpios. O proce

    dimento para a soluo de colises de princpios a ponderao. Princpios e

    ponderaes so dois lados do mesmo objeto. Um do tipo terico-normativo, o

    outro, metodolgico. Quem efetua ponderaes no direito pressupe que as normas,

    entre as quais ponderado, tm a estrutura de princpios e quem classifica normas

    como princpios deve chegar a ponderaes. A discusso sobre a teoria dos princpios

    , com isso, essencialmente, uma discusso sobre a ponderao.

    Bem diferente esto as coisas nas regras. Regras so normas que, sempre, ou

    s podem ser cumpridas ou no cumpridas. Se uma regra vale, ordenado fazer

    exatamente aquilo que ela pede, no mais e no menos. Regras contm, com isso,

    determinaes no quadro do fatica e juridicamente possvel. Elas so, portanto,

    mandamentos definitivos A forma de aplicao de regras no a ponderao, seno

    a subsuno.

    A teoria dos princpios no diz que catlogos de direitos fundamentais no

    contm absolutamente regras, portanto, absolutamente determinaes. Ela acentua

    no s que catlogos de direitos fundamentais, na medida em que efetuam determi

    naes definitivas, tm uma estrutura de regras, seno salienta tambm que o plano

    das regras precede prima facie o plano dos princpiosY Seu ponto decisivo que

    atrs e ao lado das regras esto princpios. A parte correspondente de uma teoria dos

    princpios , por conseguinte, no uma teoria que aceita que catlogos de direitos

    fundamentais

    tambm

    contm regras, seno uma teoria que afirma que catlogos de

    direitos fundamentais somente

    consistem de regras. Exclusivamente tais teorias

    devem aqui ser qualificadas de teoria das regras .

    b s opes da teoria das regras

    teoria das regras dos direitos fundamentais esto abertos trs caminhos para

    a soluo de coliso de direitos fundamentais: primeiro, a declarao, pelo menos,

    de uma das normas colidentes como invlida ou juridicamente no-vinculativa,

    segundo, a declarao, pelo menos, de uma das normas como no-aplicvel ou

    correspondente e, terceiro, a insero livre de ponderao de uma exceo em uma

    de ambas as normas.

    O

    primeiro

    caminho j foi declarado como no-transitvel, visto que se trata,

    nas normas de direitos fundamentais, de normas com hierarquia constitucional e

    22 Um aperfeioamento

    que

    replica a crticos dessa definio encontra-se em

    R

    Alexy, Zur Struktur

    der

    Rechtsprinzipien, conferncia no simpsio sobre regras, princpios e elementos no sistema do

    direito, Graz 1997 (no prelo).

    23 R. Alexy, Theorie der Grundrechte (nota 21), S. 121 f

    75

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    22/26

    constituies devem ser levadas a srio. Poder-se-ia. talvez. pensar nisto. de renunciar

    a contedos jurdico-fundamentais que foram ganhos por interpretao. Assim, po

    deria-se eliminar, por exemplo, a coliso no caso jurdico dos pobres mencionado

    pelo fato de se interpretar excluindo

    c d

    elemento da igualdade ftica do princpio

    da igualdade. Contra isso falam, todavia, razes fortes. De resto. o problema da

    coliso no estaria solucionado

    com

    isso, porque existem colises suficientes que

    no podem ser eliminadas desta forma.

    O

    segundo

    caminho seguido quando se reconhece a norma de direito funda

    mental, tambm aquela ganha por interpretao, como tal, interpretando esta, ento,

    porm, estritamente. Assim, poder-se-ia no caso-soldados-so-assassinos pensar nis

    to, de negar

    afirmao de que soldados so assassinos, o carter de uma manifes

    tao de opinio. A manifestao dos pacifistas ento no mais caberia no mbito

    de proteo da liberdade de manifestao de opinio. A coliso desapareceria. Porm,

    como se deveria fundamentar que a manifestao duvidosa no

    um

    manifestao

    de opinio? O texto e o sentido e finalidade da liberdade de manifestao de opinio

    falam a favor de uma qualificao

    como

    manifestao de opinio. O pacifista efetua

    uma

    tom d

    de posio avaliadora para com a profisso de soldado e todos -

    sobretudo os soldados - percebem isso assim. Poder-se-ia dizer, no mximo, que

    uma manifestao de opinio protegida jurdico-fundamentalmente no existe, por

    que a manifestao uma ofensa. Porm, com isso, a coliso entra novamente em

    jogo. A proteo da honra aduzida como fundamento a isto, que no concedida

    nenhuma proteo jurdico-fundamental definitiva. Isso, porm, deveria ser cons

    trudo sobre uma ponderao aberta e no por uma compreenso estrita do mbito

    de proteo. Isso vale para todas as tentativas de contornar colises

    por

    construes

    de mbitos de proteo estritas.

    24

    A terceir opo da teoria das regras dos direitos fundamentais consiste na

    insero livre de ponderao de uma exceo no direito fundamental. Tome-se, por

    exemplo. o caso supra mencionado das advertncias sobre prejuzos sade nas

    embalagens de mercadorias de tabaco. Poderia ser dito que a melhor soluo reside

    nisto, de prover a liberdade do exerccio da profisso com uma exceo, o que,

    aproximadamente, deixa-se formular como segue: cada um tem o direito de deter

    minar livremente a maneira de seu exerccio da profisso, a no ser que se trate de

    advertncias sobre prejuzos sade nas embalagens de mercadorias de tabaco. Isso

    uma concepo algo bizarra de

    um

    exceo, porque se se qualifica tal como

    exceo, c d direito fundamental cercado de uma srie quase infinita de excees.

    A isso serve m io conceito de exceo. Aqui, isso, porm, no deve importar. A

    questo , pelo contrrio, se a .. exceo mencionada antes pode ser fundamentada

    livre de ponderao. O texto

    d

    parte

    d

    formulao do direito fundamental que

    concede ao cidado a liberdade do exerccio da profisso para isso nada d. Isso vale

    tanto para o artigo 12, alnea I, frase 2, da Lei Fundamental,

    como

    tambm para o

    artigo

    51 ,

    inciso XIII, da Constituio brasileira. Poder-se-ia, porm, achar que o

    caso se deixa subsumir livre de ponderao sob a clusula de limitao. Aqui

    24 Comparar. para isso, R. Alexy, Theorie der Grundrechte (Rota

    21

    l

    S.

    278 ff

    76

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    23/26

    considerado somente o artigo 12. alnea I. frase 2. da Lei Fundamental. L diz que

    o exerccio da profisso pode ser regulado por lei ou com base em uma lei . Se se

    subsume sob esta formulao, ento pode-se. de fato, rapidamente e sem qualquer

    problema

    verificar livre de ponderao que o dever de colocao de advertncias

    em

    produtos de tabaco

    uma

    regulao

    com

    base em

    uma

    lei.

    2

    Com

    isso o problema

    da

    coliso est solucionado? A teoria das regras venceu?

    Deve-se olhar somente sobre as conseqncias de um tal procedimento para

    reconhecer que isso no o caso. Doces. cucas e tortas so. segundo convico

    propagada, menos sadios

    para os

    dentes do que po. Suponha-se que um partido de

    fanticos de sade

    ganha

    a maioria no parlamento. Ele probe aos padeiros e todos

    os outros a produo de doces. cucas e tortas. Mais tarde. tambm proibido o po

    branco e somente ainda admitido po preto. Isso , sem dvida. uma interveno na

    liberdade do exerccio da profisso dos padeiros.

    porm, tambm, sem dvida,

    uma interveno que sucede por lei . Se isso devesse bastar

    para

    a justificao

    da

    interveno, o direito fundamental perderia, diante do legislador, toda fora. O direito

    fundamental correria. nisso, no vazio. O dever do po preto seria constitucional.

    c caminho d teoria dos princpios

    a grande vantagem da teoria dos princpios que ela pode evitar um tal correr

    no vazio dos oireitos fundamentais sem conduzir ao entorpecimento. Segundo ela.

    a questo de que uma interveno em direitos fundamentais esteja justificada deve

    ser respondida por uma ponderao. O mandamento da ponderao corresponde ao

    terceiro princpio parcial do princpio

    da

    proporcionalidade do direito constitucional

    alemo. O primeiro o princpio da idoneidade do meio

    empregado

    para o alcance

    do

    resultado com ele pretendido, o segundo, o da necessidade desse meio. Um meio

    no

    necessrio se existe um meio mais ameno, menos interventor.

    um dos argumentos mais fortes tanto para a fora terica como tambm para

    a prtica da teoria dos princpios que todos os trs princpios parciais do princpio

    da

    proporcionalidade resultam logicamente da estrutura de princpios das normas

    dos direitos fundamentais e essas, novamente, do princpio

    da p r o p o r c i o n a l i d a d e 2 ~

    Isso, todavia, no pode aqui

    ser

    seguido. Deve ser lanado somente um olhar sobre

    o terceiro princpio parcial, o princpio da proporcionalidade

    em

    sentido estrito

    ou

    da

    proporcionalidade. porque ele o meio para a soluo das colises de direitos

    fundamentais.

    O princpio da proporcionalidade em sentido estrito deixa-se formular como

    uma

    lei de ponderao,

    cuja

    forma mais simples relacionada a direitos fundamentais

    27

    soa:

    25 Comparar BVerfGE 95, 173 (174).

    26

    R. Alexy, Theorie der Grundrechte (nota 21),

    S

    100 ff

    27 Para uma formulao geral relacionada a princpios, comparar R Alexy, Theorie der Grun

    drechte (nota 21), S 146.

    77

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    24/26

    Quanto mais intensiva uma interveno em um direito fundamental tanto mais

    graves devem ser as razes que a justificam.

    Segundo a lei da ponderao, a ponderao deve suceder em trs fases. Na

    primeira fase deve ser determinada a intensidade da interveno. Na segunda fase

    se trata, ento, da importncia das razes que justificam a interveno. Somente na

    terceira fase sucede, ento, a ponderao no sentido estrito e prprio.

    Muitos acham que a ponderao no um procedimento racional. A possibili

    dade do exame de trs fases mostra que o ceticismo acerca da ponderao injus

    tificado. Seja, para isso, lanado mais uma vez um olhar sobre o caso-tabaco e o

    caso-padeiro. No caso-tabaco, a interveno na liberdade de profisso tem somente

    uma intensidade muito pequena. A indstria de tabacos pode ainda ser ativa, tambm

    por propaganda. Ao fumante tornado,

    como

    o tribunal muito bem diz,

    consciente

    somente um fundamento de considerao que deveria, segundo o nvel de conheci

    mento mdico atual, ser universalmente consciente .28 As razes que justificam a

    interveno, a conteno dos prejuzos relativos sade causados pelo fumo que,

    muitas vezes, tm como conseqncia a morte, pelo contrrio, so mais graves. A

    ponderao conduz, portanto, quase obrigatoriamente

    soluo da coliso: a inter

    veno na liberdade da profisso constitucional. No caso-padeiro as coisas esto

    ao contrrio. A proibio de produzir doces, cucas e tortas intervm muito intensi

    vamente na liberdade de profisso do padeiro. Isso ainda reforado quando acresce

    a proibio do po branco. A sade , como mostra o caso-tabaco, sem dvida, um

    bem de alta hierarquia, mas deve ser diferenciado. Aqui, trata-se, sobretudo, de

    adoecimentos dos dentes pelo consumo de comidas doces e macias. Impedir isso

    no insignificante, contudo, talvez, de peso mediano. Com isso, tambm no caso

    padeiro o resultado est fixado: a regulao que est em questo seria inconstitucio

    nal. Pois bem, ambos os casos so muito simples. Existem numerosas colises cuja

    soluo no to simples, seno prepara grandes dificuldades. Casos dessa natureza

    existem, por exemplo, ento, quando tanto a interveno muito intensiva

    como

    tambm as razes que a justificam so muito graves. O caso-tomadas de refm supra

    mencionado desse tipo. Tornam-se ento necessrios outros argumentos e bem

    possvel que no se possa acordar sobre a soluo. Isso, todavia, no uma objeo

    contra a ponderao, seno uma qualidade universal de problemas prticos ou nor

    mativos.

    d) inculao e flexibilidade

    A teoria dos princpios

    capaz no s de estruturar racionalmente a soluo de

    colises de direitos fundamentais. Ela tem ainda uma outra qualidade que, para os

    problemas terico-constitucionais que devem aqui ser considerados, de grande

    significado. Ela pfl ihilita um meio- termo entre vinculao e flexibilidade. A teoria

    28 BVerfGE 95,173 (187).

    78

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    25/26

    das regras conhece somente a alternativa: validez ou no-validez. Em uma consti

    tuio como a brasileira. que conhece numerosos direitos fundamentais sociais

    generosamente formulados, nasce sobre esta base uma forte presso de declarar todas

    as normas que no se deixam cumprir completamente simplesmente como no-vin

    culativas, portanto, como meros princpios programticos. A teoria dos princpios

    pode, pelo contrrio, levar a srio a constituio sem exigir o impossvel. Ela declara

    s normas que no se deixam cumprir de todo como princpios que, contra outros

    princpios, devem ser ponderados e. assim. so dependentes de uma reserva do

    possvel no sentido daquilo que o particular pode exigir razoavelmente da socieda

    de

    .29

    Com isso, a teoria dos princpios oferece no s uma soluo do problema da

    coliso, seno tambm uma do problema da vinculao.

    29 BVerfGE 33, 303 (333).

    79

  • 7/25/2019 Direitos fundamentais no estado democrtico de direito

    26/26

    Aspectos Modernos do

    Direito Societrio

    Nelson Eizirik

    Esta obra rene parte dos estudos e

    pareceres

    de

    Direito

    Societrio

    e mercado de capitais escritos

    nos

    ltimos quatro anos pelo autor quase todos indi

    tos. A eventual modernidade da

    obra

    dada

    pelos

    temas

    que

    a

    compem

    - ainda pouco analisados

    na doutrina nacional - e pela abordagem utilizada

    na qual os institutos jurdicos so estudados tendo

    em

    vista

    sua funo econmica.

    Ref 0038

    Form 14x21

    Brochura

    1992

    238

    pgs

    As

    Sociedades

    Cooperativas

    e a sua DisciplinaJurdica

    Waldirio ulgarelli

    Nesta obra o

    autor tem

    o

    intuito de

    esclarecer

    de

    um lado a situao jurdica das sociedades coope

    rativas

    no

    Brasil e

    de outro alm

    das lies

    da

    doutrina cooperativista tambm os problemas que

    as assoberbam

    necessitando

    constantemente de se

    guidos esclarecimentos.

    Ref 0186

    Form 14x21

    Brochura

    1998

    392 pgs