entre escadas e cervejas

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Matéria sobre a sessão Curtas nas Escadarias em frente ao Tutti Giorni publicada no caderno Panorama do Jornal do Comércio - Porto Alegre.

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Page 1: Entre escadas e cervejas

anoramaPCINEMA

Porto Alegre, quarta-feira, 28 de março de 2012 - Nº 169

Por Mariana Amaro, especial JC

Na noite do dia 20 de março o passeio Outono do Viaduto Otávio Rocha, perto da

Terreira da Tribo, recebeu uma visita uma tanto inusitada. A 8ª edição do Festival de verão de cinema internacional encerrou suas atividades com a sessão Curta nas escadarias, exibindo sete curtas da cineasta belga Agnès Varda em uma tela em frente ao bar Tutti Giorni. Senta-dos nas cadeiras de plástico em frente à tela, nas escadarias ou simplesmente em pé, os espec-tadores viveram um clima bem diferente das sessões de cinema na tradicional sala escura. Ares de festa particular permeavam um evento completamente públi-co no coração da Capital.

Em um ambiente descontraí-do, jovens porto-alegrenses com óculos de aros grossos e cami-setas bacanas transformam a paisagem daquela ponte no meio do Centro histórico, con-centrando-se na tela, na cerve-ja, nos amigos ou neles mesmo. As estudantes de arquitetura Jéssica Kichler, 24 anos, e Re-nata Lui, 23 anos, após assisti-rem aos três primeiros filmes, cedem seus degraus a outros espectadores para poderem conversar e absorver o astral. Na calçada, devidamente equi-pada com seu copo de cerveja, Jéssica elogia: “Estou achando muito legal o clima, a gente passa aqui a pé e não imagina as possibilidades do lugar. Tu te surpreendes. É pegar um lugar conhecido e transformar em algo completamente diferente”. As meninas admitem ser um pouco desconfortável sentar nas escadarias, mas empolgam--se com as possibilidades de projeções na Cidade Baixa, em parques e em outros lugares do Centro, que possam acomodar mais pessoas.

Com olhar atento à tela, Caroline Cantelli faz parte de um grupo compacto que não conseguiu um cantinho nos de-graus - e muito menos uma das raras cadeiras bem em frente à pequena tela - e por isso se es-premem no alto das escadarias para ver a exibição de Agnès Varda. Estudante de Artes Plásticas na Ufrgs, a jovem de 22 anos afirma ser a primeira vez que assiste a uma sessão como essa na Capital, mas já ti-nha participado de eventos pa-

Entre escadas e cervejas

bom que as sessões virassem um pouco de tendência em Porto Alegre, é um evento muito democrático. A gente tem um retorno muito mais honesto quando o cinema é na rua, o es-

pectador não pensa duas vezes antes de levantar e ir embora. Às vezes, quando esfria à noite, a pessoa resiste porque se in-teressa pelo filme. É um astral muito legal”, completa.

Novidade na Capital, sessão de cinema reúne 200

pessoas no Viaduto Otávio Rocha

Iniciativa exibiu sete curtas de

Agnès Varda

recidos na Serra gaúcha. “Não estou conseguindo acompanhar direito, mas acho muito legal a atividade, essa proposta de arte gratuita, o pessoal em volta”, diz. Caroline, assim como Jéssi-ca, também afirma que gostaria de ver atividades similares em parques como a Redenção, pelo espaço mais amplo e pelo verde do local. Ignorando o tráfego, o barulho e as risadas atrás de si, ela volta a mergulhar na tela apoiada na mureta do viadu-to, equilibrando-se para não esbarrar nas três garrafas de cerveja enfileiradas ao lado dos seus pés.

A exibição nas escadarias foi uma das cinco sessões ao ar livre que ocorreram somen-te no mês de março, ao lado da estreia de Xingú na Casa de Cultura Mário Quintana, Comer, rezar e amar no Shop-ping Paseo Zona Sul e outras duas exibições ocorridas sábado passado em virtude do aniver-sário de Porto Alegre. Acostu-mado não só a participar, mas a produzir sessões a céu aberto, o

produtor Giovani Borba analisa que a proposta do Curta nas escadarias tem um diferencial por ser em frente a um bar e à noite. Em outros lugares “as pessoas têm mais costume de levar chimarrão, uma cadeira, tem gente que leva pipoca, comida neste tipo de exibição”, conta ele.

A sua produtora, chamada Livre Associação, é responsável pela execução do Cine Sesc, programa que leva projetores e telas de 10m de largura para o Interior do Estado para pro-mover acesso ao cinema para população em parques e praças. Com custo que varia entre R$ 5 mil e R$ 10 mil, a empresa percorre o Brasil inteiro com uma equipe especializada em eventos culturais. Questionado se está surgindo uma febre deste tipo de exibição entre os jovens da cidade, Borba diz que é comum que eventos pontuais aconteçam na mesma época e, por isso, se crie a impressão de que existe uma tendência. O produtor ressalta que “seria

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