educacao e transdisciplinariedade

Upload: weth1

Post on 03-Apr-2018

222 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    1/211

    Educao

    II

    auto res :

    Agus t N i co lau Co l lBasa rab N ico lescu

    Mar t in E . RosenbergMiche l RandomPasca l Ga lvan i

    Pa t r i ck Pau l

    organ izado res :

    Amr i co Sommerman

    Mar ia F. de Mel loV i t r ia M. de Bar rosT

    ransd

    isciplinarid

    adee

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    2/211

    Educao e

    Transdisciplinaridade

    II

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    3/211

    Educao e

    Transdisciplinaridade

    II

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    4/211

    Direitos para a lngua portuguesa reservados aTRIOM Centro de Estudos Marina e Martin Harvey Editorial e Comercial Ltda.

    Rua Araari, 218 01453-020 So Paulo SP BrasilTel.: (11) 3168-8380 / Fax: (11) 3078-6966

    E-mail: [email protected] www.triom.com.br

    Traduo: Judith Vero, Amrico Sommerman,Maria Mercs Rocha Leite e Lucia Pereira de Souza

    Reviso tcnica: Amrico SommermanReviso: Vitoria Mendona de Barros, Maria F. de Mello e Ruth Cunha Cintra

    Capa, diagramao e fotolitos: Casa de Tipos Bureau e Editora Ltda.

    Conselho Editorial da UNESCO no BrasilJorge Werthein, Cecilia Braslavsky, Juan Carlos Tedesco,

    Adama Ouane e Clio da CunhaOrganizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura

    Representao no BrasilSAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6, Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, 9 andar

    70070-914 Braslia DF BrasilTel.: (55 61) 321-3525 / Fax: (55 61) 322-4261

    E-mail: [email protected]

    USP Reitor: Prof. Dr. Adolpho Jos MelfiVice-Reitor: Prof. Dr. Hlio Nogueira da Cruz

    Pr-Reitor de Pesquisa: Prof. Dr. Luiz Nunes de OliveiraCoordenador Cientfico da Escola do Futuro: Prof. Dr. Fredric M. Litto

    Edio patrocinada por Revista Primeira Leitura e UNESCO

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    ndices para catlogo sistemtico:1. Educao e transdisciplinaridade 370.12. Transdisciplinaridade e educao 370.1

    Encontro Catalisador do Projeto A Evoluo Transdisciplinar na Educao (2. :2000 : Guaruj, SP)

    Educao e transdisciplinaridade, II / coordenao executiva do CETRANS. SoPaulo : TRIOM, 2002.

    Vrios palestrantes.Vrios tradutores.Bibliografia.

    ISBN 85-85-464-50-X

    1. Educao Finalidade e objetivos 2. Interdisciplinaridade e conhecimento I.

    Ttulo. II. Ttulo: Educao e transdisciplinaridade, II.02-3658 CDD 370.1

    mailto:[email protected]://www.triom.com.br/mailto:[email protected]:[email protected]://www.triom.com.br/mailto:[email protected]
  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    5/211

    Sumrio

    PREFCIO .............................................................................................................................................................................. 7

    INTRODUO .............................................................................................................................................................. 9

    O TERRITRIO DO OLHAR Michel Random ..................................................................................................................................................... 27

    FUNDAMENTOS METODOLGICOS PARA OESTUDO TRANSCULTURAL E TRANSRELIGIOSO

    Basarab Nicolescu ........................................................................................................................................... 45

    AS CULTURAS NO SO DISCIPLINAS:EXISTE O TRANSCULTURAL?

    Agust Nicolau Coll ........................................................................................................................................ 73

    A AUTOFORMAO, UMA PERSPECTIVATRANSPESSOAL, TRANSDISCIPLINAR E TRANSCULTURAL

    Pascal Galvani ......................................................................................................................................................... 93

    A IMAGINAO COMO OBJETO DO CONHECIMENTO Patrick Paul ................................................................................................................................................................... 123

    O RIZOMA DO XADREZ E O ESPAO DE FASES:

    MAPEANDO A TEORIA DA METFORANA TEORIA DO HIPERTEXTO

    Martin E. Rosenberg .................................................................................................................................... 157

    ANEXOS ..................................................................................................................................................................................... 187

    BIBLIOGRAFIA GERAL.......................................................... 212

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    6/211

    Prefcio

    Fredric M. LittoCoordenador de Pesquisa Cientfica

    Escola do Futuro da Universidade de So Paulo

    Durante os mais de trinta anos em que ministrei um cursode ps-graduao em procedimentos de pesquisa na Escola deComunicaes e Artes da USP, levei at os alunos a idia de umdos historiadores mais importantes dos Estados Unidos no

    sculo XX, Allan Nevins: todo historiador deveria estudar umassunto afastado no tempo e um outro mais contemporneo; eainda um afastado no espao e outro bem perto de onde mora.O distanciamento dos assuntos afastados em tempo e espaodaro uma perspectiva diferente sobre os fenmenos presentese o estudo dos assuntos da vizinhana criar um lao importan-te com a comunidade em que se vive.

    Alm disso, nunca me esqueci da mensagem que Williard

    Libby, qumico laureado recentemente com o Prmio Nobel,transmitiu numa entrevista para o jornal dos estudantes (do qualeu era o crtico de msica e teatro e, de vez em quando, restau-rantes) no ltimo ano do meu curso de graduao na Universi-dade da Califrnia, Los Angeles, 1959-60, quando a instituio ocontratou como novo docente. O jornalista perguntou ao novoprofessor que disciplinas ele ministraria e, se minha memria

    no falha, ele respondeu: Um seminrio de ps-graduao emquestes avanadas de qumica e Qumica 101 (101 sempreo curso introdutrio a qualquer rea de conhecimento em uni-

    versidades norte-americanas, destinado aos calouros). O jorna-lista, estupefato, perguntou: Mas por que o senhor se rebaixa-

    Educao e Transdisciplinaridade II

    7

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    7/211

    ria para ministrar um curso to elementar? A nova resposta deLibby foi: Porque no Qumica 101 os alunos fazem perguntassobre os assuntos mais amplos e mais importantes da qumica,

    os quais eu, em minha pesquisa em torno de um assunto alta-mente especfico, j esqueci. Quero voltar a ter contato comestas grandes questes.

    O CETRANS, grupo de estudos da Escola do Futuro daUSP, atua nesta mesma linha de investigao, fazendo as gran-des perguntas, a fim de nos ajudar a situar o homem e a mu-lher contemporneos no seu mundo. No apenas atravs de

    encontros que renem especialistas de reas de conhecimentodiversas, que aceitam o desafio de expor suas idias no neces-sariamente convencionais num ambiente transdisciplinar, mas,mais difcil ainda, trabalhando para inserir esses conceitos ino-

    vadores na prtica de aprendizagem de alunos brasileiros emescolas pblicas e privadas. Investigao, divulgao dos resul-tados e aplicao desses mesmos resultados em experinciasfactveis e reais em prol do avano da educao brasileira so

    atividades do CETRANS que tm sido bem sucedidas e repre-sentam uma contribuio muito importante para todos os pes-quisadores da Escola do Futuro. O presente volume umexemplo claro da divulgao de vrios trabalhos de pesquisa-dores que se reuniram recentemente para adicionar mais blo-cos de conhecimento ao edifcio de sabedoria transdiscipli-nar. A esperana de todos, autores, editora, entidades patroci-nadoras do encontro e da Escola do Futuro da USP, que as

    idias aqui expressas sejam ponderadas, debatidas e, quandoapropriado, colocadas em prtica em atividades intelectuais eeducacionais no pas e afora.

    So Paulo, 23 de fevereiro de 2002

    Educao e Transdisciplinaridade II

    8

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    8/211

    Introduo

    Maria F. de MelloVitria Mendona de Barros

    Amrico SommermanCoordenadores do CETRANS

    Centro de Educao Transdisciplinar da Escola do Futuro da USP

    Transitude

    Entre, atravs e almo longe e o perto, o sem-Onde,

    ontem e amanh, o instante perene,

    o movimento e o eixo, a dana.

    Entre, atravs e alm

    o vidro e o ar, a transparncia,

    slaba e respirao, o sabor;

    o dito e o tu, a presena.

    Entre, atravs e alm

    vazio e cheio, cumplicidade,a nfora e a argila, uma mo,

    o ser e o nada, o sentido.

    Jean Bis

    1. Transdisciplinaridade e Conhecimento

    A Transdisciplinaridade uma teoria do conhecimento, umacompreenso de processos, um dilogo entre as diferentesreas do saber e uma aventura do esprito. A Transdisciplinari-dade uma nova atitude, a assimilao de uma cultura, uma

    Educao e Transdisciplinaridade II

    9

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    9/211

    arte, no sentido da capacidade de articular a multirreferenciali-dade e a multidimensionalidade do ser humano e do mundo.Ela implica numa postura sensvel, intelectual e transcendental

    perante si mesmo e perante o mundo. Implica, tambm, emaprendermos a decodificar as informaes provenientes dosdiferentes nveis que compem o ser humano e como elesrepercutem uns nos outros. A transdisciplinaridade transformanosso olhar sobre o individual, o cultural e o social, remetendopara a reflexo respeitosa e aberta sobre as culturas do presen-te e do passado, do Ocidente e do Oriente, buscando contribuir

    para a sustentabilidade do ser humano e da sociedade.Etimologicamente, trans o que est ao mesmo tempo entreasdisciplinas, atravsdas diferentes disciplinas e almde todas asdisciplinas, remetendo tambm idia de transcendncia. Osenso comum intui que todas essas inter-relaes ocorrem nomundo e na vida. No entanto, uma vez que sempre seremosprincipiantes na compreenso, na incorporao e na imple-

    mentao dessas inter-relaes, devido sua imensa complexi-dade, como lev-las educao e pesquisa? para respondera essa pergunta que, aps revisitar, com respeito, rigore inclu-soas epistemologias, os mtodos, as noes de valor, de sen-tido, o conceito de cincia, de pesquisa, de competncia, oscontextos, as estruturas e dados e percepes a respeito dasdimenses internas do ser humano, a Transdisciplinaridade trazsua prpria contribuio integradora.

    A partir do I Congresso Mundial da Transdisciplinaridade, reali-zado em Arrbida, Portugal, 1994, e do I Congresso Internacio-nal, realizado em Locarno, Suia, 1997, ambos organizados peloCIRET Centre International de Recherches et Etudes Transdisci-plianairesde Paris e pela UNESCO, foram definidos os trs pila-res da metodologia transdiscipilnar: a Complexidade, a Lgica

    do Terceiro Includo e os Nveis de Realidade.

    O olhar transdisciplinar nos remete a um todo significativo queemerge de um dilogo constante entre a parte e o todo, e os trspilares da transdisciplinaridade permitem que a transdisciplina-

    Educao e Transdisciplinaridade II

    10

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    10/211

    ridade tambm encontre seu lugar na pesquisa e na aplicao.O olhar transdisciplinar busca encontrar os princpios conver-gentes entre todas as culturas, para que uma viso e um dilo-

    go transcultural, transnacional e transreligioso possam emergir,o que leva tambm relativizao radical de cada olhar, massem cair no relativismo, uma vez que a transdisciplinaridade nospermite encontrar o mundo comum, a concordia mundis, e oterceiro includo entre cada par de contraditrios.

    2. Documentos da TransdisciplinaridadeEm 1986 foi elaborado o primeiro documento internacional quefaz referncias explicitas Transdisciplinaridade: A Declaraode Veneza, comunicado final do Colquio A Cincia Diantedas Fronteiras do Conhecimento organizado pela UNESCO,em Veneza (vide anexo 1). Em 1991 realizou-se o primeiro con-gresso internacional que traz no ttulo a palavra Transdisciplina-

    ridade: Cincia e Tradio: Perspectivas Transdisciplinarespara o Sculo XXI, organizado pela UNESCO, em Paris, que deuorigem a um comunicado final que indica explicitamente anecessidade de uma nova abordagem cientfica e cultural: aTransdisciplinaridade (anexo 2). Em 1994, no I Congresso Mun-dial da Transdisciplinaridade, foi formulada a Carta da Trans-disciplinaridade, com 14 artigos (anexo 3).

    Em 1996 foi publicado o Relatrio para a UNESCO da ComissoInternacional sobre Educao para o Sculo XXI, elaborado por

    Jacques Delors, com a definio dos 4 pilares para a educaodo sculo XXI (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprendera viver juntos, aprender a ser) que, acrescidos dos dois pilarescomplementares (aprender a participar e aprender a antecipar)formulados em documento elaborado por um grupo de partici-

    pantes da conferncia internacional de transdisciplinaridade:Joint Problem Solving among Science, Technology and Society,Zurique 2000 (anexo 4), tambm se constituem em elementosnorteadores para o exerccio efetivo da Transdisciplinaridade.

    Introduo

    11

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    11/211

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    12/211

    Na Transdisciplinaridade no existe um piloto automtico, poisno h algoritmos, modelos prontos, nem um conhecimentodogmtico. Os modelos esto numa remodelao permanente

    diante de cada campo de reflexo e de cada campo de aplica-o. Somos todos transnautas, explorando, criando e aplicandoo imaginrio transdisciplinar na complexidade dos diferentesterritrios, nos diferentes nveis de realidade, incluindo a intui-o racional, do corao, intelectiva e essencial, e tambm lgi-cas no clssicas, com nfase na lgica do terceiro includo, pos-sibilitando, assim, a emergncia de novos cenrios.

    Esta tarefa ao mesmo tempo solitria e solidria e florescerna medida em que nos dispusermos a dar a nossa contribuio,trabalhando voluntariamente juntos, mas nos deixando recipro-camente livres.

    3. O Projeto do CETRANS

    O Projeto Matricial e os Projetos-Piloto

    Em 1998 apresentamos ao Prof. Fredric Michael Litto, coordena-dor cientfico da Escola do Futuro da USP, o projeto transdisci-plinar que elaboramos nos dois anos anteriores e que intitula-mos A Evoluo Transdisciplinar na Educao. O Prof. Littoacreditou na nossa proposta e acolheu imediatamente o projeto.

    Nesse mesmo ano, foi criado o Centro de Educao Transdisci-plinar CETRANS, coordenado por ns e abrigado na Escola doFuturo da Universidade de So Paulo, com a finalidade de im-plementar o Projeto Matricial A Evoluo Transdisciplinar naEducao Contribuindo para o Desenvolvimento Sustentvel da

    Sociedade e do Ser Humano. Este Projeto Matricial, previsto ini-cialmente para trs anos, logo foi ampliado para cinco anos

    (1998-2002), constituindo-se na primeira etapa da ao doCETRANS (anexo 5). O objetivo desse Projeto Matricial formar40 formadores transdisciplinares, que devem criar e implemen-tar projetos-piloto, permeados pela viso, atitude e metodolo-gia transdisciplinares.

    Introduo

    13

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    13/211

    3.1 Os membros do CETRANS

    Em 1997, 1998 e incio de 1999 entramos em contato com apro-

    ximadamente 200 pessoas, das mais diferentes reas do conhe-cimento, buscando encontrar o grupo inicial dos 40 formadoresdo projeto. Algumas pessoas no se interessaram pela propos-ta veiculada nele, outras se interessaram mas a consideraramprematura ou utpica, e aquelas que aderiram o fizeram ou por-que nela encontraram ressonncia com as atividades que jdesenvolviam e para as quais careciam de fundamentao epis-

    temolgica, ou porque estavam conscientes da necessidade deuma nova abordagem formativa e educacional. A seleo dosmembros seguiu, basicamente, dois critrios: 1) ter afinidade ecomprometimento com o projeto e 2) pertencer a campos aindano preenchidos por membros j inscritos, uma vez que preten-damos formar um grupo o mais diversificado possvel. No in-cio de 1999, o grupo inicial se constitui (anexo 6).

    Inicialmente, tambm constitumos um grupo de 8 conselhei-ros, igualmente das reas mais diversas. Durante a elaboraodo Projeto e no incio da ao do CETRANS, esse grupo de con-selheiros foi muito importante, pois foram excelentes interlocu-tores para os trs coordenadores. No entanto, no final do ano2000, foi proposta a modificao do statusdesse grupo, quepassou a ser o grupo de colaboradores. Nessa mesma poca,alguns membros do CETRANS propuseram outras duas modifi-caes da mesma natureza: que os at ento denominados 40formadores passassem a ser chamados pesquisadores-formado-res e que, os at ento chamados expertsestrangeiros, passas-sem a ser chamados pesquisadores-formadores estrangeiros.

    Aps sugerida, essa mudana foi aceita por todos, inclusivepelos estrangeiros. Esse mudana foi significativa para aproxi-mar e aprofundar a relao entre todos.

    Portanto, em 1998, os membros do CETRANS se estruturavam damaneira seguinte: 3 coordenadores executivos, 8 conselheiros,40 formadores. No ano 2000, 3 formadores deixaram o projeto e5 novos entraram, de modo que o Projeto passou a ser constitu-

    Educao e Transdisciplinaridade II

    14

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    14/211

    do por: 3 coordenadores executivos, 8 colaboradores e 42 pes-quisadores-formadores. Alm disso, contamos com o apoiologstico da secretaria da Escola do Futuro e de cinco volunt-

    rios, que nos auxiliaram nas reas de designgrfico, secretaria,assistncia administrativa e manuteno do site.

    3.2 Patrocnio

    De 1998 a 2002, o Projeto Matricial contou com o patrocnio daCESP (Cia. Energtica de So Paulo), da UNESCO, do Ministrio

    da Educao, da Mercedes-Benz e da Editora Triom para a pro-moo de trs eventos internacionais, que denominamosencontros catalisadores.

    3.3 Objetivos

    O Projeto Matricial se prope a criar espaos de dilogo trans-disciplinar, oferecer cursos presenciais e a distncia, produzir,traduzir e publicar artigos e livros para a reflexo, orientar acriao, a coordenao e implementao de projetos-piloto per-meados pela transdisciplinaridade, desenvolver instrumentos deinvestigao que possam comunicar a proposta transdisciplinarem sua abrangncia multirrefencial e multidimensional.

    At o presente momento, as etapas previstas pelo Projeto Matri-cial foram cumpridas com sucesso, apesar das dificuldades

    financeiras e dos enormes desafios que tiveram de ser enfrenta-dos, tais como: imprimir, nas relaes entre os participantes, umdilogo de natureza transdisciplinar; criar pontes entre teoria eprtica de forma a garantir que os projetos-piloto refletissem ametodologia transdisciplinar nos seus vrios estgios de imple-mentao; e iniciar a elaborao de uma avaliao processual decarter transdisciplinar.

    3.4 Fundamentao terica

    O CETRANS, o Projeto Matricial e os projetos-piloto pautamtodas as suas aes nos pressupostos dos itens 1 e 2 enuncia-dos acima.

    Introduo

    15

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    15/211

    As palavras-chave do Projeto Matricial so: Transdisciplinari-dade; Metodologia Transdisciplinar: Complexidade, Nveis de

    Realidade, Lgica do Terceiro Includo; Formao de Forma-

    dores; Criao de Pontes entre Teoria e Prtica; PublicaoTransdisciplinar; Transdisciplinaridade e Espao Ciberntico.

    4. O trajeto do Projeto Matricial de janeirode 1998 a julho de 2002

    4.1 Encontros catalisadoresEm seu documento inicial, o projeto A Evoluo Transdisci-plinar na Educaose propunha a realizar trs encontros inter-nacionais, chamados encontros catalisadores, a fim de trazerao Brasil alguns pensadores transdisciplinares estrangeiros ca-pazes de contribuir para a reflexo dos aproximadamente 50membros do CETRANS. O I Encontro ocorreu em 1999, o II En-

    contro, cujo contedo apresentamos neste livro, ocorreu em2000 e, em 2001, realizamos o III Encontro. Os dois primeirosforam realizados fora de So Paulo, em lugares de grande bele-za. O terceiro ocorreu em So Paulo, na prpria USP. Deles par-ticiparam apenas os membros do CETRANS, a fim de que elespudessem conviver em tempo integral, entre si e com os con-ferencistas internacionais, durante os quatro dias. A carga hor-ria total dos trs encontros somados foi de 98 horas.

    As conferncias do I Encontro Catalisador realizado em Itatiba,de 16 a 18 de abril de 1999, a respeito de temas definidos porns, foram as seguintes: A prtica da transdisciplinaridade, porBasarab Nicolescu; Um novo tipo de conhecimento a transdis-ciplinaridade, por Basarab Nicolescu; O sentido do sentido, porGaston Pineau; A tica universal e a noo de valor, por Paul

    Taylor; Cognio e transdisciplinaridade, por HumbertoMaturana; O Belo, por Michel Random. A carga horria total doI Encontro foi de 31 horas.

    As conferncias do II Encontro Catalisador realizado no Guaru-

    Educao e Transdisciplinaridade II

    16

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    16/211

    j, de 8 a 11 de junho de 2000, tambm sobre temas definidospor ns, foram as seguintes: Fundamentos metodolgicos parao estudo transcultural e transreligioso, por Basarab Nicolescu;

    Poincar, Bergson e Duchamp e a emergncia da complexida-de, por Martin Rosenberg; As culturas no so disciplinas:Existe o transcultual?, por Agust Nicolau Coll; Revelao e revo-luo: buscando uma histria das religies, por Steven Wasser-strom; A autoformao: uma perspectiva transpessoal, transdis-ciplinar e transcultural, por Pascal Galvani; Teoria da metfo-ra na teoria do hipertexto, por Martin Rosemberg; O imagin-

    rio e a transdisciplinaridade, por Patrick Paul. A carga horriatotal do II Encontro foi de 38 horas.

    Os temas das 27 conferncias do III Encontro Catalisador (ane-xo 7) realizado em So Paulo, no campus da USP, de 18 a 21 demaio de 2001, foram definidos pelos prprios conferencistas, 26deles membros do CETRANS. A carga horria total do III En-contro foi de 29 horas. Vrias dessas conferncias sero publi-

    cadas dentro de um ou dois anos no livro Educao eTransdisciplinaridade III.

    4.2 Reunies presenciais mensais

    No I Encontro Catalisador os 40 pesquisadores-formadores doCETRANS solicitaram aos trs coordenadores a realizao dereunies presenciais para que a compreenso das palestras e a

    reflexo transdisciplinar sobre os seus contedos fosse apro-fundada, uma vez que estas tinham sido extremamente densas.

    As reunies presenciais sobre temas centrais do pensamentotransdisciplinar passaram a fazer parte do Projeto Matricial doCETRANS e realizaram-se por todo o ano de 1999, 2000 e 2001.Nesses trs anos, ocorreram 21 reunies presenciais, somandouma carga horria total de 78 horas.

    4.2.1 Em 1999 foram realizadas as seguintes reuniespresenciais:

    1.) Tema: O Pensamento Complexo. Palestrantes: prof. Nelson

    Introduo

    17

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    17/211

    Fiedler Ferrara Fsica/USP e prof. Laerthe Abreu Junior Edu-cao Univ. So Francisco. Data: 19 de maio. Carga horria: 3h.

    2.) Tema: A Lgica do Terceiro Includo. Palestrante: prof. Amn-cio Friaa Astrofsica/USP. Data: 26 de julho. Carga horria: 3h.

    3.) Tema: Os Diferente Nveis de Realidade. Palestrante: prof.Marcio Lupion Arquitetura/Mackenzie. Data: 18 de agosto.Carga horria: 3h.

    4.) Tema: Cibercultura e Transdisciplinaridade. Palestrante:profa. Brasilina Passarelli Comunicaes/USP. Data: 08 desetembro. Carga horria: 3h.

    5.) Tema: Tempo e transtemporalidade. Palestrante: prof. PatrickPaul Medicina e Cincias da Educao/Univ. Franois Rabelaisde Tours Frana. Data: 18 de outubro. Carga horria: 4h30.

    6.) Tema: a) Relatrio dos projetos-piloto, b) Discusso sobre aimplementao dos projetos-piloto, c) Avaliao das atividadesdo CETRANS em 1999, d) Sugestes para as atividades de 2000.Data: 10 de novembro. Carga horria: 3h.

    4.2.2 No ano 2000 foram realizadas as seguintes reuniespresenciais:

    7.) Tema: Apresentao de trs dos projetos-piloto do CE-TRANS. Palestrantes: Profa. Ondalva Serrano Engenharia Am-biental/Instituto Florestal de So Paulo; Yara Boaventura da Silvae Josinete Aparecida da Silva Enfermagem Hospital do Cn-cer; profa. Silvia Fichmann Educao/Escola do Futuro da USP.Data: 21 de maro. Carga horria: 3h.

    8.) Tema: Psicanlise e Transdisciplinaridade. Palestrante: Igna-cio Gerber Psicanlise e Engenharia/USP e Sociedade Brasi-leira de Psicanlise. Data: 24 de abril. Carga horria: 3h.

    9.) Tema: Gdel e a Transdisciplinaridade. Palestrante: prof.

    Educao e Transdisciplinaridade II

    18

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    18/211

    Ubiratan dAmbrosio Matemtica/USP e UNICAMP. Data: 15de maio. Carga horria: 3h.

    10.) Tema: Avaliao do II Encontro Catalisador. Palestrante:todos os membros do CETRANS que estiveram presentes (14).Data: 15 de agosto. Carga horria: 3h.

    11.) Tema: Avaliao do II Encontro Catalisador. Palestrante:todos os membros do CETRANS que estiveram presentes (13).Data: 31 de setembro. Carga horria: 3h.

    12.) Tema: Quem sou eu? Palestrante: todos os membros doCETRANS que estiveram presentes (24). Data: 8 de outubro.Carga horria: 4h.

    13.) Tema: Quem somos ns? Qual a Cultura do CETRANS?Palestrante: todos os membros do CETRANS que estiveram pre-sentes (14). Data: 26 de novembro. Carga horria: 7h.

    4.2.3 No ano 2001 foram realizadas as seguintes reu-nies presenciais:

    14.) Tema: Reflexo sobre duas conferncias do II Encontro Ca-talisador: a) Fundamentos metodolgicos para uma abordagemtransreligiosa e transcultural, b) A imaginao como objeto doconhecimento. Palestrante: todos os membros do CETRANS que

    estiveram presentes (17). Data: 01 de fevereiro. Carga horria: 7h.

    15.) Tema: reflexo sobre outra conferncia do II Encontro Ca-talisador; reflexo sobre essas duas palestras do II Encontro Ca-talisador: A autoformao, uma perspectiva transpessoal, trans-disciplinar e transcultural. Palestrante: todos os membros doCETRANS que estiveram presentes (18). Data: 15 de maro.

    Carga horria: 3h.

    16.) Tema: A lgica clssica, as lgicas no-clssicas e a lgicaparaconsistente. Palestrante: Prof. Newton C. A. da Costa Fi-losofia/USP. Data: 19 de abril. Carga horria: 3h.

    Introduo

    19

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    19/211

    17.) Tema: Metodologia de pesquisa e transdisciplinaridade (I).Palestrante: Profa. Brasilina Passareli Comunicaes/USP emembro do CETRANS; Prof. Nelson Fiedler-Ferrara Fsica/USP

    e membro do CETRANS; Prof. Derli Barbosa Educao/UNI-FIEO. Data: 28 de junho. Carga horria: 3h.

    18.) Tema: Metodologia de pesquisa e transdisciplinaridade (II).Palestrante: Profa. Mariana Lacombe Filosofia/UNIFIEO emembro do CETRANS; Prof. Luiz Prigenzi Medicina e Biolo-gia/UNICAMP e UNESP e membro do CETRANS; Prof. Daniel

    Jos da Silva Eng. Abiental/UFSC. Data: 19 de julho. Cargahorria: 3h.

    19.) Tema: Avaliao do III Encontro Catalisador (I). Palestran-te: todos os membros do CETRANS que estiveram presentes (7).Data: 23 de agosto. Carga horria: 3h.

    20.) Tema: Auto, htero e ecoavaliao do III Encontro Cata-

    lisador (II). Paletrante: todos os membros do CETRANS que esti-veram presentes (6). Data: 18 de setembro. Carga horria: 3h.

    21.) Tema: Auto, htero e ecoavaliao do III Encontro Cata-lisador (III). Paletrante: todos os membros do CETRANS queestiveram presentes (9). Data: 19 de outubro. Carga horria: 3h.

    5. Osite do CETRANS

    Em 1998, no terceiro ms de existncia do CETRANS, comea-mos a criar o sitedo CETRANS: , que foi ao ar em novembro desse mesmo ano. Desde oincio, estava claro para ns que um siteseria uma ferramentamuito eficaz tanto para auxiliar na formao dos nossos 40 pes-

    quisadores-formadores, como para divulgar as nossas ativida-des e o pensamento transdisciplinar para o restante da socieda-de. Para este fim, traduzimos e escrevemos inmeros artigossobre temas e conceitos-chave do pensamento transdisciplinarpara o sitee realizamos vrias atualizaes do mesmo.

    Educao e Transdisciplinaridade II

    20

    http://www.cetrans.futuro.usp.br/http://www.cetrans.futuro.usp.br/http://www.cetrans.futuro.usp.br/http://www.cetrans.futuro.usp.br/
  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    20/211

    6. Os livros traduzidos e publicados peloCETRANS

    Juntamente com a criao do site, comeamos a pensar na pu-blicao de alguns livros que pudessem se constituir numabibliografia transdisciplinar bsica em portugus, tanto para darsubsdios aos 40 pesquisadores-formadores do CETRANS, comopara outros pesquisadores brasileiros. Para isso, contamos coma parceria da UNESCO e da Editora Triom, que criou uma cole-o transdisciplinar.

    6.1 Publicaes que fizemos em 1999 e 2000:

    O Manifesto da Transdisciplinaridade, Basarab Nicolescu.So Paulo: Triom, 1999. Texto bsico de referncia para o pen-samento transdisciplinar, no qual o autor, fsico terico do CNRS,Universidade Paris 6, e presidente do Centro de Pesquisas e Es-tudos Transdisciplinares (CIRET) desenvolve o histrico do apa-

    recimento do pensamento transdisciplinar, define o conceito, aepistemologia, os trs pilares da metodologia transdisciplinar.

    O Pensamento Transdisciplinar e o Real, Michel Random. SoPaulo: Triom, 2000. Entrevistas realizadas por Michel Randomdurante o I Congresso Mundial da Transdisciplinaridade em Por-tugal, em 1994, com grandes nomes de vrias reas do conheci-mento (Edgar Morin, Basarab Nicolescu, Gilbert Durand, entreoutros), nas quais os entrevistados falam, a partir de seus cam-pos, sobre o olhar transdisciplinar e sua contribuio para solu-cionar alguns dos grandes impasses da sociedade atual. Estelivro aprofunda a reflexo sobre a epistemologia e a metodolo-gia transdisciplinares.

    Educao e Transdisciplinaridade I, Maria F. Mello, Vitria

    M. Barros e Amrico Sommerman (orgs.). Braslia: UNESCO,2000. Contm o texto das seis conferncias do I EncontroCatalisador organizado pelo CETRANS da Escola do Futuro daUSP em 1999.

    Introduo

    21

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    21/211

    6.2 Livros publicados em 2001:

    Stphane Lupasco: O Homem e a Obra, B. Nicolescu e H.

    Badescu (orgs.). So Paulo: Triom, 2001. Esta obra, que renetestemunhos e estudos assinados por dezenove pesquisadores

    vindos de diferentes campos, fruto do colquio realizado em1998 no Institut de Franceem homenagem a Lupasco, fsico efilsofo romeno que elaborou, a partir dos dados paradoxais dacincia contempornea, uma lgica quntica, no-clssica, ter-nria, que um dos pilares da epistemologia transdisciplinar e

    tem exercido uma influncia significativa, muitas vezes demaneira marginal, no pensamento ocidental destas ltimasdcadas. Este livro d subsdios para a reflexo sobre a lgica,em especial a do terceiro includo, e para sua aplicao.

    O Manifesto da Transdisciplinaridade, Basarab Nicolescu. 2edio. So Paulo: Triom.

    O Caminho do Sbio, Jean Bis. So Paulo: Triom, 2001. Apartir de 12 entrevistas com expoentes de diferentes culturas ereligies, que falam sobre a busca de sentido, o autor descortinaum magnfico panorama de um dilogo transcultural e transreli-gioso, pedra angular da transdisciplinaridade. Este livro mostra,de forma clara, a possibilidade do dilogo transcultural e trans-religioso e pode servir de subsdio para a reflexo sobre dois dosQuatro Pilares da Educao propostos no Relatrio para a UNES-

    CO da Comisso Internacional sobre a Educao para o SculoXXI: aprender a viver em conjunto e aprender a ser.

    6.3 Livros publicados em 2002:

    Educao e Transdisciplinaridade II, Amrico Sommerman,Maria F. de Mello e Vitria M. de Barros (orgs.). So Paulo:Triom/UNESCO, 2002. Textos das conferncias do II Encontro

    Catalisador organizado pelo CETRANS da Escola do Futuro daUSP em 2000.

    O Homem do FuturoUm Ser em Construo. So Paulo:Triom, 2002. Contm artigos de membros do CIRET (Centro

    Educao e Transdisciplinaridade II

    22

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    22/211

    Internacional de Pesquisas e Estudos Transdisciplinares Paris):Adonis, Basarab Nicolescu, Michel Camus, Michel Random,Patrick Paul, Ren Barbier e outros, sobre suas perspectivas no

    que diz respeito sociedade e ao homem do sculo XXI.

    6.4 Livros a serem publicados em 2003:

    A Religio Aps a Religio, Steven M. Wasserstrom. SoPaulo: Triom.

    O Esprito da Poltica Homem Poltico, Raimond Panikkar.

    So Paulo: Triom. Temporalidade e Formao, Gaston Pineau. So Paulo:Triom.

    Cincia do Homem e Tradio: O Novo Esprito Antropolgi-co, Gilbert Durand. So Paulo: Triom.

    Prticas Mdicas, Formaes e Transdisciplinaridade,Patrick Paul. So Paulo: Triom.

    6.5 Livros a serem publicados em 2004:

    The View from Within First Person Aproaches to the Studyof Consciousness, Editado por Francisco Varela e JonathanShear, Imprint Academic, Londres, 1999.

    Stphane Lupasco, Le Principe dantagonisme et la logique de

    l'energie, ditions Le Rocher, Monte Carlo, 1987.Interviews with a Mathematician, Gregory Chaitin. Singapo-re: Springer, 2001.

    7. A questo da avaliao transdisciplinar

    Alguns meses antes do II Encontro Catalisador, que ocorreu emjunho de 2000, comeamos a refletir mais intensamente sobre aquesto da avaliao: o que seria uma avaliao transdisciplinar?Como um dos projetos-piloto estava comeando a trabalhar umtema correlato, pedimos que as suas coordenadoras Silvana

    Introduo

    23

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    23/211

    Cappanari e Marise Rayel nos ajudassem a desenvolver umprocesso de avaliao do II Encontro. Tivemos vrias reuniescom elas e elaboramos juntos algumas formas de alcanar esse

    fim: uma avaliao permeada pela transdisciplinaridade.

    Durante o II Encontro, as avaliaes planejadas sofreram algunsajustes e modificaes, devido s tenses que foram emergindo.Uma das modificaes ocorreu quando, numa das avaliaesprevistas para o Encontro, alguns membros de um dos quatrogrupos nos quais foram divididos todos os presentes, manifes-taram sua insatisfao com o pouco tempo, segundo a sua opi-

    nio, para os pesquisadores-formadores se expressarem e o tem-po excessivo para as conferncias dos convidados estrangeiros.

    Um dos temas centrais da reflexo do CETRANS em 2002 aavaliao transdisciplinar. Vrios outros instrumentos foram esero criados e testados para a avaliao dos dois cursos sobreo pensamento transdisciplinar que esto em andamento. Embreve, pretendemos publicar um artigo especfico sobre este

    tema e ele tambm estar disponvel no site.

    8. Aes futuras

    8.1 Em 2002

    a) Concluso dos dois cursos em andamento: O PensamentoTransdisciplinar e Tpicos Avanados em Transdisciplina-

    ridade: a teoria de Charles S. Peirce e o pensamento contem-porneo;

    b) Reformulao e atualizao do site;c) Seqncia do desenvolvimento dos projetos em andamento.

    8.2 Em 2003

    a) Repetio dos dois cursos realizados em 2002, com os apri-

    moramentos que se mostrarem necessrios;b) Atualizao do site;c) Publicao de mais alguns ttulos da coleo transdisciplinar

    fruto da parceria entre a Editora Triom e o CETRANS.

    Educao e Transdisciplinaridade II

    24

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    24/211

    8.3 Em 2004

    a) Realizao de um evento internacional para fazer avanar a

    pesquisa sobre a metodologia transdisciplinar e para a divul-gao das aes transdisciplinares em andamento no mundob) Repetio dos dois cursos realizados nos dois anos anterio-

    res, com os aprimoramentos que se mostrarem necessrios;c) Atualizao do site;d) Publicao de mais alguns ttulos da coleo transdisciplinar

    fruto da perceria entre o CETRANS e a Editora Triom.

    Maria F. de MelloVitoria M. de Barros

    Amrico Sommerman

    So Paulo, 27 de junho de 2002

    Referncias da Introduo

    COLL, A. N. As Culturas no so Disciplinas: Existe o Transcul-tural?In: Educao e Transdisciplinaridade II. So Paulo: Triom/Unesco, 2002.

    NICOLESCU, B. O Manifesto da Transdisciplinaridade. 2 ed.So Paulo: Triom, 2001.

    PINEAU, G. A Autoformao no Decurso da Vida. Disponvelem: . Acesso em: 27 de junhode 2002.

    Introduo

    25

    http://www.cetrans.futuro.usp.br/http://www.cetrans.futuro.usp.br/
  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    25/211

    Palestra proferida por Michel Random por ocasio do

    lanamento de seu livroO Pensamento Transdisciplinare o Real, Editora Triom, So Paulo, 2000, evento este que

    fez parte do II Encontro Catalisador do CETRANS da Escola doFuturo da USP

    Michel Random escritor, cineasta, fotgrafo e filsofo. Nestacondio participou de inmeros colquios internacionais orga-nizados pela UNESCO e Naes Unidas: Tsukuba (Japo, 1985),

    Veneza (1986) no qual redigiu a apresentao na La Science faceaus confins de la connaissance (1987), Vancouver (1989), SoPaulo (1993), Arrabida (Portugal, 1994) e Tquio (1995) do qualfoi o Relator. signatrio da Declarao de Veneza, daDeclarao de Vancouver e da Mensagem de Tquio.Em 1976, durante a realizao do filme LArt Visionnaire, foicriado o movimento dos Gravadores e pintores visionrios, aoqual ele dedicou duas obras importantes: LArt VisionnairetomoI, 1979, e tomo II, 1991.

    Em 1982, Michel Random estimula os 12 primeiros nmeros darevista Troisime Millnaire onde se manifesta um pensamen-to Transdisciplinar antecipado.De 1983 a 1989 criou e estimulou as edies du Flin, na qualpublicou livros dedicados s cincias, aos smbolos e sTradies. autor de uns quinze livros e de vinte e cinco horas de filmespara a televiso francesa, assim como de uma obra fotogrfica

    importante que foi objeto de inmeras exposies.

    26

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    26/211

    O Territrio do Olhar- Michel Random

    O Territrio do Olhar

    Quem teria imaginado, por volta de 1900,que em cinquenta anos saberamos muitomais e compreenderamos muito menos?

    Einstein, por volta de 1954

    1. Qual o territrio de nosso olhar?

    Est nosso olhar limitado a nossos sentidos, a nossas ava-liaes, a nossa subjetividade? Um olhar que, infinitamente, serefletiria em seu prprio espelho.

    possvel perceber o real alm do espelho? Um real glo-bal, csmico e subquntico, integrando, a cada bilionsimo desegundo, a parte e o Todo? Mas, neste caso, em que nvel se

    situa aquilo que chamamos de realidade objetiva? Ela inde-pendente do observador ou, ao contrrio, esta viso da unida-de no realiza a travessia do espelho em si mesma?

    Por que o territrio de nossos pensamentos, nossas aqui-sies culturais, determinam em grande parte os fenmenos denossa vida? Em que somos dependentes ou independentes dosfenmenos?

    Como resistir ou mudar o modelo mecanicista de produ-

    o, consumo, poluio, que arrasta o planeta para o desastre? possvel mudar nosso territrio cultural, para ns e para osoutros? Se a resposta afirmativa, partindo de quais conceitos?

    A descoberta da ponte entre cincia e tradio, modernidade esabedorias antigas, entre Oriente e Ocidente possvel?

    Nosso olhar sobre a realidade determina a prpria realida-de. Mas a evoluo do olhar, dos conceitos, das crenas extre-

    mamente lenta, ao passo que a situao planetria experimen-ta, em todos os setores da tecnologia e da cincia, mas tambmna deteriorao da vida planetria, uma acelerao exponencial.

    Avanamos ou regredimos neste ltimo meio sculo? Per-cebemos que, a despeito de todos os perigos colocados como

    27

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    27/211

    epgrafes pelos inmeros pensadores e sbios, existe uma situa-o de fato, em que a destruio planetria se amplifica e a po-breza cresce sem que surja a mnima alterao nos conceitos,

    em nossa maneira de administrar nossas realidades. A crenacega nos poderes da tecnologia apenas se refora. O pensa-mento mecanicista do sculo XIX construiu a mundo tal comoele . Fundamentalmente, um sculo depois do aparecimentoda viso quntica, a causalidade mais rgida determina conti-nuamente nossa organizao econmica e social e pouco ouquase nada foi mudado no ensino.

    Podemos nos perguntar que nova forma de pensamentopoderia mudar nossa realidade.

    Como agir, como aprender a aprender? Mas, como mudaro que quer que seja se no adquirimos estatura ou interiorida-de suficiente para questionar o prprio territrio de nossospensamentos? Agimos individualmente e coletivamente emrelao ao sentido que atribumos aos conceitos que formamnossa realidade. Mas, no estamos confinados em um territrio

    limitado? Somos capazes de enriquecer-nos com o sentido emsi, trazido pela cincia, pelas tradies e pelas grandes sabedo-rias. Enriquecer-se de sentido no enriquecer-se de vida?

    O territrio do sentido em si uma disciplina que nos levaa olhar, a investigar o sentido, mas tambm nossa maneira de

    ver, de interpretar o prprio sentido. Imaginando que pudsse-mos abrir nosso crebro e mostrar seus conceitos, sua enormegeografia, seramos capazes de ver suas possibilidades, suas

    belezas e seus limites? Poderamos olhar e ver como somosfisiologicamente, mentalmente e espiritualmente constitudos?Que tipo de ser somos ns, a que espcie espiritual pertence-mos, que bem ou que mal somos capazes de cometer por nse pelos outros? Somos meros instrumentos ou seres conscientese atuantes na Terra e no cosmo? Este tipo de dvida pode pare-cer estranho. Mas, como progredir, ser apaixonadamente vivo,

    se instauramos em ns uma rotina cultural e espiritual, talvezconfortvel, mas repetitiva, ineficaz e enfadonha?E o prprio cosmo, por que nos criou como somos?Qual o sentido de nossa vida, de nosso destino, para que

    serve o homem, a natureza, o prprio cosmo e qual sua fina-

    Educao e Transdisciplinaridade II

    28

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    28/211

    O Territrio do Olhar- Michel Random

    lidade? Colocar tais questes, parece, a priori, absurdo, poiselas constituem o prprio territrio de nossa realidade. Mastambm podemos pensar, acreditar e imaginar que tudo est

    ligado no cosmo, que tudo tem sentido, que sendo as coisas oque so, a imagem da ganga que contm o fruto ou asemente e que o sentido oculto esta semente que almeja, comtodas as suas foras, crescer e aparecer.

    quase impossvel vislumbrar at que ponto nada estseparado na ordem orgnica e csmica, em que o real umainterao instantnea entre o local e o global, o subjetivo e oobjetivo, o infinitamente pequeno e o infinitamente grande.Mas, o ser humano tem o privilgio de ter um crebro e ummental que tem o privilgio de separar, de dividir, de criar infi-nitas disciplinas, infinitas maneiras de olhar os seres e as coisase de criar tantos conceitos e realidades quanto possa imaginar.

    portanto intil tentar criar um distanciamento, olhar comserenidade quem somos, de um ponto mais alto e mais distan-te. Ter um recuo com qualquer tipo de bagagem cultural e espi-

    ritual, usar de qualquer forma nosso crebro para ver se eleno formado, como uma colcha de retalhos heterclita, demovimentos que o definem, de fascinaes que o obcecam.Olhar nosso crebro como um territrio. Coloco esta questopara esclarecer todos os aspectos objetivos ou subjetivos quedefinem normalmente tal exame. Mas, ser isso completamen-te utpico? No temos o privilgio de sermos conscientes denossa conscincia. E nossa conscincia ordinria no tem

    vrios graus ou nveis de conscincia? Talvez no existanenhum territrio neste mundo para descansar a cabea, mastalvez exista um local sereno, uma zona do sentido em quepodemos, por um instante, ter um recuo, nos desligar do dom-nio das idias, dos seres, das coisas e, principalmente, de ns.

    Em ltima anlise, podemos nos recusar o enriquecimentode sentido? Descobrir-nos um lugar, um espao interno onde os

    conceitos, as idias, as crenas ou os paradigmas j no soaceitos sem discriminao? A partir deste lugar podemos obser-var se a aquisio um territrio fortemente ancorado e indes-trutvel. Se no h nada a retirar, a acrescentar ou a modificar.Talvez, nos melhores momentos assim como nos piores, possa-

    29

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    29/211

    mos viver confortavelmente sem este tipo de questionamento.Mas o tempo da modernidade no tem equivalente na histria,pois vivemos um tempo diferente, o da grande acelerao. No

    dirigimos diariamente pacficas charretes puxadas por cavalos,mas blidos a toda velocidade nas estradas. Definitivamenteexiste uma relao entre a acelerao do tempo e a aceleraodo sentido. Participamos potencialmente de riquezas de infor-mao quase ilimitadas, mas o sentido procede de uma alquimiainterna que precisa de tempo, de espao e, acima de tudo, derespiro. As riquezas do sentido esto aqui, elas tambm, abun-dantes, a nosso alcance. Mas precisamos, a despeito da acelera-o do tempo, reaprender a dar tempo ao tempo, para lucrar-mos com as inmeras riquezas do sentido e transport-las paranosso territrio.

    2. Para que serve o conhecimento?

    Conhecer nossa relao com ns mesmos, com os outros?

    Compreender o incognocvel? O sentido e o objetivo da vida eda energia csmica? Chegar a nveis de realidade cada vez maissutis e indescritveis? Ou simplesmente concretizar o desenvol-

    vimento do ser, a harmonia, o crescimento fsico e espiritual,preservar a sade, viver bastante?

    3. As varives veladas do ser

    Se eliminarmos o conjunto dos fatores que determinamquem somos, a hereditariedade, a cultura, a afetividade, a pocaem que nascemos, os modelos religiosos e sociais, qual a parteobjetiva do ser que no estaria sujeita ao conjunto destes mode-los? Para a maioria dos seres humanos esta porcentagem deobjetividade nfima, quando no nula.

    E, no entanto, existe um campo infinito no fundo de ns

    mesmos, que encontramos nos sonhos, em uma emoo inten-sa, em raros e misteriosos momentos de nossa vida. Um fsicoo chamaria talvez de campo das variveis veladas, um mstico,o sentimento da unidade infinita, o continuumfora do tempo,a unidade perceptvel do invisvel dentro do visvel.

    Educao e Transdisciplinaridade II

    30

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    30/211

    O Territrio do Olhar- Michel Random

    4. O salto quntico e mais alm

    Somos livres para perceber o universo como uma mecni-

    ca, para nos imaginar o centro e a conscincia pensante do uni-verso, para ver todas as coisas somente pela viso da cincia.Somos livres tambm para perceber que o universo antes aexpresso de um grande pensamento do que de uma grandemquina, como j dizia o filsofo William James, em 1930.Podemos constatar que a observao, a anlise, nos tranquili-zam e nos impedem de perceber o todo aleatrio da realidade,

    sua riqueza, sua complexidade e tambm sua imprevisibilidadetotal. O que traduzimos pelo Todo diferente das partes.

    5. Quando a conscincia olha a conscincia

    O que diferencia o homem do chimpanz que tanto ochimpanz como o homem se olha no espelho, mas o homempossui uma dupla conscincia, consciente da conscincia de

    se olhar no espelho. Atrs deste primeiro nvel de conscinciaconsciente, insinua-se uma infinidade de outras que s vezespercebemos nos sonhos ou em estados especiais. Algumas dis-ciplinas sufis tm como nico objetivo despertar e fazer comque o indivduo perceba nveis de conscincia cada vez maissutis. Assim como, medida que avanamos numa paisagem,mais alteradas ficam suas aparncias. Portanto, aqui tambmexiste uma infinidade de enfoques possveis dependendo dolugar e da distncia de onde olhamos.

    6. Conhecimento e desconhecimento.

    Mais de 90% das energias do universo, que chamamos ma-tria negra, continuam totalmente desconhecidas. O mesmo sed com o crebro, com o cosmo ou o DNA. Nossos conheci-

    mentos, por mais extensos que aparentemente paream, aindaso uma frgil balsa num oceano ilimitado de desconhecimento.Neste universo de desconhecimento, o homem manipula a

    vida atravs dos genes, a energia atravs das partculas e conce-de a si mesmo a iluso de dominar o incognoscvel, a inacredi-

    31

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    31/211

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    32/211

    O Territrio do Olhar- Michel Random

    si s, o sentido desaparece, quando no at se transforma eminimigo. O pensamento causal detesta o sentido, porque ele mltiplo, complexo e desvenda processos no convencionais.

    A informao torna-se um dogma que prima sobre o sentido.O porqu e o como introduzem nveis de realidade que

    questionam. O sentido escapa do territrio. At o momento emque o buscador de sentido, o filsofo ou o poeta sejam trans-formados em diabos, todo buscador de sentido um suspeitode heresia.

    A questo reside na separao entre a cincia, o laborat-rio e o sentido. Ora, os aspectos sutis e qualitativos no so nemobservveis nem constantes. Pode-se observar a atividade do c-rebro quando ele pensa, age ou sonha, no se pode observarnem o pensamento em si, nem a conscincia, nem as emoes.O que vem a ser 90% de nossa realidade. Reduzir o sentido e oqualitativo caminhar com uma perna s e tambm privilegiaro mecanismo do pensamento, da causalidade racional, sem con-siderar a complexidade do mundo vivo. Decises envolvendo os

    indivduos, a economia, a sade, so tomadas e, quando a rea-lidade resiste, quando o ponto de vista mecanicista desaba, opreo a pagar exponencial, como acaba de ser constatado emrelao aos ruminantes alimentados com protenas animais. Esteexemplo, entre tantos outros, introduz a idia que muitas deci-ses que se esquivam da complexidade do ser vivo so tomadascom o risco de um fim total ou parcial da vida planetria.

    Se os dogmas e os sistemas no datam de hoje, os dogmas

    modernos confirmam-se como mais ameaadores que mil bom-bas atmicas. Se recusamos uma atitude fatalista ou passiva, urgente perguntar como mudar o olhar antes que o pior engu-la o planeta. Talvez, em algum lugar, tenham escrito que o Oci-dente tem a misso de dominar todo o planeta com sua visomecanicista para fazer com que o cu desabe melhor sobre suacabea. Mas, talvez, ainda haja tempo para aprender a aprender

    e escapar do desastre.

    9. O sentido e os sentidos

    Uma escala de grandeza infinitamente grande ou pequena

    33

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    33/211

    tem sentido? O que no for representvel no esprito humanono tem sentido. , por exemplo, uma espantosa informaosaber que o big banginicial calculado na escala de 10 eleva-

    do a -35 por segundo, ou seja, quando o universo tinha o tama-nho de um milsimo de bilionsimo de bilionsimo de bilion-simo de centmetro (10 elevado a -30).

    Uma dimenso muito infinitesimal real ou virtual? Damesma forma, uma partcula, cujo rastro fotogrfico detecta-do em uma cmara de Wilson, virtual ou real? E se o conjun-to da matria existente no universo for determinado pela velo-cidade das partculas, o universo real ou virtual?

    indiscutvel que, se podemos com a tecnologia aumen-tar e refinar o mundo de nossos cinco sentidos, todas as coisasdevem reintegrar o crebro humano. Ora, sendo o que somos,a questo reside menos no inconcebvel do que nas faculdadesque temos de conceber. Ora, impossvel ver o que no con-cebvel.

    Einstein inmeras vezes evocou o salto conceitual impos-

    to pelas novas teorias ou descobertas da fsica. Um salto quefica maior ainda quando se trata de abordar o mundo subqun-tico que instaura uma viso, no das propriedades de partcu-las, mas a partir do universo das partculas: H muito tempome convenci que no se poder encontrar esta subestrutura pormeio de uma via construtiva partindo do comportamento dascoisas fsicas conhecidas empiricamente, pois o salto conceitualnecessrio ultrapassaria as foras humanas.

    Existem provavelmente seres excepcionais que tm facul-dades mais desenvolvidas que outros. Mas uma mera constata-o diria que no podemos ser nem melhores nem piores doque somos. Isso quer dizer que o homem possui um campo de

    viso, olhos abertos numa certa medida e que no poder iralm disso? Ou seja, no podemos ver, definitivamente, senoo que nosso territrio mental ou conceitual permite que veja-

    mos. A questo : determinados nosso territrio, nossas facul-dades mentais e nossos sentidos, a natureza exprime umainteno, um limite cuja ultrapassagem fica implicitamenteproibida?

    Educao e Transdisciplinaridade II

    34

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    34/211

    O Territrio do Olhar- Michel Random

    10. Como ver de outra forma?

    possvel sonhar e conceber que um dia haver uma dis-

    ciplina ensinando como ver de outra forma. Imagino que sejapossvel escolher um conceito ou uma palavra e, assim comoaconteceu com a roda e seu encaixe no eixo, modificar os raiosdo olhar at que eles dem uma volta completa. Suponhamos aescolha da palavra energia tendo em vista todos os enfoquesmodernos, cientficos e culturais que a caracterizam, depoisaquelas legadas pela China, Japo ou ilhas do Pacfico. Veramos

    como os diferentes aspectos e nveis de realidade desta palavrapodem variar, mas perceberamos tambm como esta palavrapode assumir aspectos insuspeitos, at mesmo incompreensveispara ns, de outras tradies. Por exemplo a palavra Qi, quequer dizer tambm energia em japons, provocou uma situaoterrvel no Colquio Internacional de Tsukuba, em 1984. Foi oprimeiro Colquio Oriente-Ocidente e reuniu 40 participantes.Os japoneses usavam a todo momento esta palavra Qi, que soa-

    va estranhamente ou como algo esotrico aos ouvidos dos cien-tistas ocidentais, a ponto de no terceiro dia pedirem a suspen-so do Colquio. Este incidente, que no teve consequnciasimediatas, cavou um abismo de incompreenso e de conse-quncias que perdura at nossos dias. O que quer dizer queuma nica palavra pode ser igual ao que diz o provrbio Umnico gro de areia como mil Budas e pode refletir o Todo.

    O territrio do sentido no , portanto, andino: ele fo-menta discrdias, muitas vezes ferrenhas, entre os homens. Ohomem sempre olhou a realidade atravs de diferentes perspec-tivas. Exceto quando se tratava de pensamentos provenientes desabedorias e de tradies milenares possuidoras de uma estabi-lidade que permitia a traduo dos conceitos na vida espiritual,social, econmica e cultural. O pensamento moderno passoupelas mutaes, pela acelerao do tempo, e os paradigmas ou

    dogmas, ou at mesmo as modas da atualidade, substituem opensamento e so, provisoriamente, o palco de violentos con-frontos. Pude perceb-lo ao longo dos vrios colquios interna-cionais dos quais participei. Os paradigmas so construesarbitrrias nas quais acreditamos at que desmoronem, mas,

    35

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    35/211

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    36/211

    O Territrio do Olhar- Michel Random

    de imaginao, porque nossa educao refletia a idia que,como a cincia trazia respostas exatas e inevitveis, tudo o queestivesse alm delas s podia ser utopia. O imaginrio era, por-

    tanto, um inimigo do esprito.Atualmente o imaginrio tolerado como criador de novos

    conceitos, idias que podem materialmente nos enriquecer numpiscar de olhos. Mas, quem nos seguiria se definssemos a rea-lidade como um imaginrio criador que oferece um campo infi-nito de Possibilidades? Um campo que podemos percorrer comoum jogo com casas perigosas onde podemos a cada instante cairna armadilha. Estas casas poderiam ser chamadas de identifica-o, inflexibilidade mental, paradigma, etc. Aquele que previuas armadilhas chega ao fim do percurso so e salvo. A recom-pensa? Um novo jogo do imaginrio ainda mais complexo.

    O cosmo possui um imaginrio to infinito e desconcer-tante que, em troca, nos torna conscientes dos limites de nossoprprio imaginrio. O desafio csmico cheio de humor: eled ao homem a aparncia de um universo material e coerente,

    como um belo palcio que no tem nenhum alicerce. Ocuparo palcio assumir o risco de v-lo desabar em cima de simesmo. Os antigos sbios avaliavam o grau de entropia quereside em toda ao. Eles ensinavam a ver de longe, a manterdistncia, a deixar o campo vibratrio das foras se decantar,portanto, a evitar toda ao precipitada, admitindo a possibili-dade de agir com extrema rapidez na hora certa. O cosmo incognocvel mas paradoxal. Ele ao mesmo tempo ordem,

    caos e aleatrio, associando o contnuo e o descontnuo. Oimaginrio situa-se entre estes dois aspectos, como a articula-o vibratria que liga os mundos.

    O imaginrio a asa que surge quando a causalidadedemasiadamente opressora da dogmtica mental tenta imporuma realidade dirigista. um espao onde a poesia, a criativi-dade, a expanso interior assumem seus direitos. Quando o

    imaginrio se deixa penetrar pela inspirao, ele se transformaem viso. o exemplo de Turner, dominado pela beleza da luz,em que a pincelada de cor vibra tambm como uma luz. Existeum estado de percepo, de fuso sutil entre o estado vibrat-rio da luz e a vibrao do ser que se traduz sobre a tela. tam-

    37

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    37/211

    bm a atitude dos antigos pintores chineses que podiam con-templar uma paisagem durante dias e reproduzi-la em seu ate-lier. Como se o imaginrio derradeiro recriando a paisagem

    refletisse a essncia pura da paisagem, reimaginada no interiorde si mesmo. Assim, o imaginrio reveste o espao interno doser e, depois de ter sido aquele joguete das circunstncias queabre todas as possibilidade, faz experimentar a harmonia sutilda pura unidade.

    12. Os novos conceitos que mudaram o sculo

    Da famosa Declarao de Veneza que foi a base da Trans-disciplinaridade, em 1986, gostaria de reter esta frase: O estudosimultneo da natureza e do imaginrio, do universo e do ho-mem, poderia assim nos aproximar mais do real e permitir queenfrentemos melhor os diferentes desafios de nossa poca.

    Frase que tambm poderia ser Os desafios de nossapoca se medem pelas capacidades que nosso imaginrio po-

    der colocar em ao para associar o universo e o homem.A fsica quntica abriu um imaginrio inconcebvel, semprecedente, na histria da cincia. Quando Max Planck desco-briu em 1900 que a partcula , ao mesmo tempo, corpsculoe onda, esta realidade com dois lados o perturbou. O mesmo sedeu com Einstein, posto diante das perspectivas fantsticas quedecorriam do famoso Paradoxo de Einstein, Podolsky, Rosen-berg (dois sistemas que interagiram ou que vo interagir, no

    so separveis, mesmo que entre eles no exista nenhuma co-nexo presente). Mas, como conceber que uma informaopossa instantaneamente se transmitir no espao-tempo, se ne-nhum observador vem perturbar a observao? Como imaginarque uma informao possa ir do passado ao futuro e do futuropara o passado? Nos anos 30, quando o esprito positivista do-minava, o imaginrio dos fsicos no podia conceber que todas

    as leis da fsica clssica pudessem ser violadas a tal ponto. Jem 1935, Schrdinger dizia que aceitar o Paradoxo era magia.De forma que em 1949, o prprio Einstein retrocedeu e refutousua teoria.

    Em 1958, Louis de Broglie, voltou carga denunciando

    Educao e Transdisciplinaridade II

    38

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    38/211

    O Territrio do Olhar- Michel Random

    sua incompatibilidade com o espao-tempo. Em suma, todos osgrandes homens de cincia se uniram para colocar o paradoxoinoportuno na geladeira. Ele vinha perturbar toda a racionalida-

    de de um mundo lgico observvel e quantificvel, abrindo oterritrio de um imaginrio fantstico demais para admiti-lo.Ser preciso esperar 1983, para que um fsico, Alain Aspect,prove pela experimentao que Einstein estava certo: a no-separabilidade est confirmada. Se minhas teorias sobre o uni-

    verso estiverem certas, dizia Einstein, as pessoas precisaro defaculdades com quatro dimenses para viver neste universo.

    E poderamos multiplicar os exemplos. O nvel subqunti-co continua apresentando surpresas para os fsicos. Citemos ateoria do Bootstrap do fsico americano J. F. Chew, de ondesurgiu o conceito de autoconsistncia csmica: o fato que acada bilionsimo de segundo cada partcula no universo existelevando em considerao a existncia de todas as outras part-culas ao mesmo tempo.

    Questo: As partculas so uma forma de pensamento

    csmico?A fsica subquntica inaugura outros imaginrios insond-veis que poderiam ser objeto de longas exposies.

    Convm lembrar outros nveis de realidade: a realidadeimplcita e explcita de David Bohm, semelhante ao bootstrap,pois existe coerncia entre as energias ou as ressonncias, entreo invisvel (implicado) e o visvel. No se pode, efetivamente,estudar o que quer que seja, por exemplo, a adaptao ou o

    desaparecimento das espcies, sem considerar estes dois fato-res. A lgica das aparncias vem sempre recoberta por fatoresimprevisveis em que, como to bem explica o neurobiologistaamericano Karl Pribrani: o Todo diferente das partes.

    Karl Pribrani descobriu a estrutura hologrfica do neurnio.Cada neurnio contm tambm a informao do Todo. O queexplica porque, mesmo com uma parte amputada, o crebro

    pode parcialmente se readaptar. Isso quer dizer que, no que dizrespeito ao neurnio ou clula, o territrio local sempre res-ponsvel, para o melhor ou para o pior, pelo Todo do organis-mo. Por isso, cada caso , definitivamente, sempre nico.

    39

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    39/211

    13. Cincia e tradio

    O Ocidente, ainda determinista e causal, est longe de ter

    integrado uma viso holstica do real em que a anlise objetivaintegre plenamente os nveis mais subjetivos ou misteriosos doser. O que faz mais espontaneamente a cultura oriental, quecontinuou holstica desde suas origens xamnicas nas quais ohomem no estava separado da natureza e desenvolveu umasensibilidade e uma inteligncia muitas vezes admiravelmenteadaptadas inteligncia e ao imaginrio das energias naturais.

    A autoconsistncia do cosmo significa que nada est sepa-rado no universo e que cada ser, cada tomo faz parte destaunidade misteriosa. Procuramos muitas vezes um territrio queligue cincia e Tradies, Oriente e Ocidente, passado e pre-sente e que seja tambm um territrio do futuro, aquele daGrande Mutao, que em 1995, a Mensagem de Tquio lem-brava, quando falava de uma era de luzes. Esta viso da unida-de csmica criadora a pedra angular que une melhor e vai

    alm de todo conceito ou paradigma. Einstein, que tinha umaclara conscincia disso, dizia: Um ser humano uma parte dotodo que chamamos Universo, uma parte limitada pelo espa-o e pelo tempo. Ele mesmo observa seus pensamentos e seussentimentos como algo separado do resto uma espcie de ilu-so de tica da conscincia.

    O homem e o universo resumindo-se numa s coisa: umadeclarao aprovada doravante pelos maiores nomes da fsicae que efetivamente une cincia e tradio, Oriente e Ocidente.

    As bases de um novo territrio, fonte de uma futura unio dopensamento planetrio, so erguidas.

    Um obstculo considervel permanece quanto aos fatos: aparticularidade da cincia querer observar os fatos, sem ten-tar, obrigatoriamente, lhes dar sentido. Um fato observvel econstante cientfico, o sentido varivel e aleatrio no , por-

    tanto, nem observvel, nem cientfico. Terrvel dicotomia igualquela de um esprito mecanicista que separa o real do senti-do. Esta separao to desintegradora quanto uma bomba at-mica o maior choque dos tempos modernos.

    Durante milnios o homem viveu com a rvore do sentido.

    Educao e Transdisciplinaridade II

    40

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    40/211

    O Territrio do Olhar- Michel Random

    Existia um continuumabsoluto entre o Cu e a Terra. Todos osseus atos, gestos e pensamentos, sua relao com o visvel e oinvisvel tinham um sentido, uma coerncia, um valor sagrado.

    A perda do sentido, a dessacralizao, a ruptura entre o Cu e aTerra, entre o homem e o cosmo, faz do homem moderno umser desintegrado, sem parmetros, sem unidade. Um homemfragmentado, dizia o socilogo Georges Friedman.

    Isso nos leva a falar outra vez do Colquio Internacionalde Veneza de 1986, que pela primeira vez tinha exatamenteescolhido como tema Cincias e Tradies. O assunto eraento, revolucionrio. Eu manteria esta frase da Declarao de

    Veneza: O encontro inesperado e enriquecedor da cincia edas diferentes tradies do mundo nos permite pensar no sur-gimento de uma nova viso da humanidade.

    A expresso uma nova viso da humanidade introduz umaespcie de sonho. Imaginemos que um dia os homens parem deter idias a respeito da natureza e tentem realmente entender ainteligncia da natureza. Imaginemos que j no exista Oriente

    nem Ocidente mas um nico planeta do sentido. Imaginemosencontrar seres suficientemente apaixonados e competentespara procurar o sentido exatamente onde ele esteja, na cincia,nas tradies milenares, nas antigas sabedorias. Temo que estesonho ainda seja acessvel apenas a uma pequena minoria.

    Gostaria de dar um exemplo a respeito do Japo. Um pro-fessor e escritor japons, Tadao Umesao, costumava dizer queos japoneses eram to difceis de entender como os marcianos.

    E inmeras vezes, durante as vrias viagens que fiz ao Japo,pude ver como ele tinha razo. Tinha exatamente feito umfilme sobre a religio xint do Japo. Se abrirmos um dicion-rio, a definio do xint : religio animista. Mas se tentarmosentender o xint, podemos descobrir uma extraordinria inteli-gncia da natureza e das energias csmicas. O que faz do xintuma religio sempre moderna, mas inexportvel, porque um

    ocidental no est nem um pouco preparado para entender suariqueza e complexidade. E como o territrio do sentido todiferente, preciso um tempo de adaptao.

    O que significa que, no que concerne tradio, a buscado sentido rdua se no quisermos nos deixar levar pelas

    41

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    41/211

    aparncias e por nossos cdigos culturais de adaptao e detraduo. Se, por exemplo, escolho a palavra Kami, que teori-camente deveria ser traduzida por deus ou esprito, eu adapto,

    na verdade a palavra Kami nossa cultura. Se tentar realmentedefini-la, precisaramos de muitas pginas para faz-lo e preci-saramos ainda recorrer a vrios graus e nveis de conhecimen-to. Por isso nunca nenhum japons se arriscou a explic-la.

    E este exemplo vlido para muitas outras tradies. Oque significa que o territrio do sentido , apesar das aparn-cias, de uma complexidade extraordinria. De mais a mais,qualquer tentativa de forar a compreenso do sentido, criarum absurdo e a iluso de se ter entendido. Henri Corbin eMircea Eliade, a quem coloquei esta dificuldade, tinham amesma opinio. E ouvindo J. E. Chew tentar fazer-me entendero que um acontecimento discreto em fsica, sou forado areconhecer que, mesmo em fsica quntica, o territrio do sen-tido protegido por mil drages.

    Devemos, ento, perder a esperana de uma nova viso da

    humanidade como a queriam os pensadores dos Colquios deVeneza ou de Tquio? Creio que este futuro territrio do senti-do, o da unio entre cincia e Tradies, entre Oriente eOcidente uma idia, uma fora em movimento, visto que mui-tos cientistas, filsofos, artistas e poetas manifestaram inmeras

    vezes esta aspirao, ao longo deste ltimo meio sculo. Existeum imenso trabalho a ser feito. O planeta precisa viver, nomorrer, e com esta conscincia, com esta viso unitria que rein-

    tegra o homem ao sentido e unidade visvel e invisvel, resideuma energia csmica que uma razo de se ter esperana.

    Precisamos tambm construir novas cincias, entre asquais aquela de aprender a aprender, que consiste em desen-

    volver serenamente a paisagem do sentido. Aquela da escutaque integra, na vida cotidiana, os tesouros do sutil, os aspectosqunticos e vibratrios do ser vivo. Um homem espiritual me

    dizia um grande mestre do xint, Yamakague , entre ns,aquele que tem uma influncia profunda sobre a realidade.

    Educao e Transdisciplinaridade II

    42

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    42/211

    Conferncia proferida no II Encontro Catalisador doCETRANS da Escola do Futuro da USP, realizado no Guaruj,So Paulo, de 8 a 11 de junho de 2000

    Basarab Nicolescu Fsico terico do Centro Nacional de Pes-quisa Cientfica da Frana (C.N.R.S.). Fundador e Presidente doCentro Internacional de Pesquisas e Estudos Transdisciplinares(CIRET). Autor de vrias obras fundadoras do pensamentotransdisciplinar, entre as quais: O Manifesto da Transdisciplina-ridade, 2 ed., So Paulo, Ed. Triom, 2001; Cincia, Sentido eEvoluo, So Paulo, Ed. Attar, 1998; Nous, la particule et lemonde, Paris, ed. Le Mail, 1985.

    Educao e Transdisciplinaridade II

    44

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    43/211

    Fundamentos Metodolgicospara o Estudo Transcultural

    e Transreligioso

    1. Introduo:

    Em minha palestra do ano passado1, analisei a metodolo-gia da transdisciplinaridade, que foi expressa mediante trspostulados2:

    1. H, na Natureza e no nosso conhecimento daNatureza, diferentes nveis de Realidade e,correspondentemente, diferentes nveis de percepo.

    2. A passagem de um nvel de Realidade para outro

    assegurada pela lgica do terceiro includo.

    3. A estrutura da totalidade dos nveis de Realidade oupercepo uma estrutura complexa: cada nvel o que porque todos os nveis existem ao mesmo tempo.

    No ano passado descrevi as bases histricas destes trspostulados. Os dois primeiros tiram sua evidncia experimen-

    tal da fsica quntica, enquanto o ltimo tem sua fundamenta-o no s no campo da fsica quntica, mas tambm em uma

    variedade de cincias exatas e humanas. interessante notar que os trs postulados da transdiscipli-

    naridade so o equivalente dos trs postulados da fsica moder-na como formulados por Galileu Galilei:

    1. H leis universais, de carter matemtico.

    45

    1 Basarab Nicolescu, Um Novo Tipo de Conhecimento Transdisciplinaridade, em Educao e Transdisci-plinaridade, Braslia, UNESCO, 2000, e em http://www.cetrans.futuro. usp.br/palestra_basarab.htm2 Basarab Nicolescu, La Transdisciplinarit, Manifeste, Le Rocher, Monaco, coll. Transdisciplinarit, 1996;(O Manifesto da Transdisciplinaridade, Ed. Triom, So Paulo, 2 edio, 2001).

    http://www.cetrans.futuro/http://www.cetrans.futuro/
  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    44/211

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    45/211

    2. A abordagem transdisciplinar da Natureza edo conhecimento

    A abordagem transdisciplinar da Natureza e do conheci-mento pode ser descrita pelo diagrama mostrado na Figura 1.

    Figura 1: O Objeto transdisciplinar: o Sujeito transdisciplinar e o termo de

    interao.

    Na parte esquerda esto desenhados, simbolicamente, os

    nveis de Realidade:{ NRn, , NR2, NR1, NR0, NR-1, NR-2, , NR-n }

    O ndice npode ser finito ou infinito

    Fundamentos Metodolgicos para o Estudo Transcultural e Transreligioso Basarab Nicolescu

    47

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    46/211

    Aqui, o significado que damos para a palavra realidade ,ao mesmo tempo, pragmtica e ontolgica.

    Entendemos por Realidade (com R maisculo) primeira-

    mente aquilo que resiste s nossas experincias, representaes,descries, imagens e mesmo s formulaes matemticas.

    Considerando que a Natureza participa no ser do mundo,temos que dar uma dimenso ontolgica ao conceito de Rea-lidade. Realidade no uma mera construo social, o consen-so de uma coletividade ou algum acordo intersubjetivo. Tam-bm tem uma dimenso trans-subjetiva. Exemplo: dados expe-rimentais podem arruinar a mais bela teoria cientfica.

    Claro que temos de distinguir as palavras Real e Realida-de. Real designa aquilo que , enquanto Realidadediz respei-to resistncia na nossa experincia humana. Por definio, oReal est velado para sempre; enquanto a Realidade aces-svel ao nosso conhecimento.

    Por nvel de Realidade noo que introduzi pela primei-ra vez em minha obra Nous, la particule et le monde3 e depois

    desenvolvi em vrios artigos4

    designo um conjunto de siste-mas que so invariveis sob certas leis: por exemplo, as entida-des qunticas esto subordinadas s leis qunticas, que soradicalmente diferentes das leis do mundo fsico. Isto , doisnveis de Realidade so diferentes quando, ao se passar de umpara o outro, h uma quebra nas leis e uma quebra nos concei-tos fundamentais (como, por exemplo, a causalidade).

    Os nveis de Realidade so radicalmente distintos dos n-

    veis de organizao como estes foram definidos nas aborda-gens sistmicas. Os nveis de organizao no pressupem umaquebra dos conceitos fundamentais: vrios nveis de organiza-o podem aparecer em um nico nvel de Realidade. Os nveis

    Educao e Transdisciplinaridade II

    48

    3 Basarab Nicolescu, Nous, la particule et le monde, Paris, Le Mail, 1985.4 Basarab Nicolescu, Levels of Complexity and Levels of Reality, em The Emergence of Complexity in Mathe-matics, Physics, Chemistry, and Biology, Atas das Sesso Plenria da Academia Pontifcia de Cincias, 27-31 de outubro de 1992, Casina Pio IV, Vaticano, Ed. Pontifcia Academia Scientiarum, Cidade do Vaticano,

    1996 (distribudo por Princeton University Press); Basarab Nicolescu, Gdelian Aspects of Nature andKnowledge, em Systems New Paradigms for the Human Sciences, Walter de Gruyter, Berlin-New York,Ed. Gabriel Altmann and Wlater A. Koch, 1998 (Aspectos gdelianos da natureza e do conhecimento, em

    www.cetrans. futuro.usp.br); Michel Camus, Thierry Magnin, Basarab Nicolescu and Karen-Claire Voss,Levels of Representation and Levels of Representations and Levels of Reality: Towards an Ontology of Science,em The Concept of Nature in Science and Theology (part II), Genve, Labor et Fides, 1998, pp. 94-103;Basarab Nicolescu, Hylemorphism, Quantum Physics and Levels of Reality, em Aristole and ContemporaryScience, Vol. I, New York, Peter Lang, 2000, pp. 173-184.

    http://www.cetrans/http://www.cetrans/
  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    47/211

    Fundamentos Metodolgicos para o Estudo Transcultural e Transreligioso Basarab Nicolescu

    de organizao correspondem a diferentes estruturas das mes-mas leis fundamentais. Por exemplo, a economia marxista e afsica clssica pertencem ao mesmo nvel de Realidade.

    O surgimento de no mnimo trs diferentes nveis deRealidade no estudo dos sistemas naturais o nvel macrofsi-co, o nvel microfsico e o espao-tempo ciberntico umevento maior na historia do conhecimento. Isso pode nos levara reconsiderar nossa vida individual e social, a dar uma novainterpretao ao conhecimento antigo, a explorar o conheci-mento de ns mesmos de maneira diferente, aqui e agora.

    A existncia de diferentes nveis de Realidade tem sidoafirmada por diferentes tradies e civilizaes, porm essa afir-mao estava fundamentada no dogma religioso ou na explo-rao do nosso universo interior.

    No nosso sculo, num esforo para questionar os funda-mentos da cincia, Edmund Husserl5 e outros estudiosos detec-taram a existncia de diferentes nveis de percepo da Reali-dade a partir do sujeito-observador. Contudo, esses pensadores

    foram marginalizados pelos filsofos acadmicos e mal com-preendidos pelos fsicos, com cada rea tendo sido apreendidana sua respectiva especializao. Na verdade, esses novos pen-sadores foram pioneiros na explorao de uma realidade mul-tidimensional e multirreferencial, na qual o ser humano capazde recuperar seu lugar e sua verticalidade.

    A perspectiva que estou apresentando aqui est totalmen-te de acordo com aquela dos fundadores da mecnica qunti-

    ca: Werner Heisenberg, Wolfgang Pauli e Niels Bohr.Na verdade, Werner Heisenberg chegou muito perto, em

    seus escritos filosficos, do conceito de nvel de Realidade. Emseu famoso Manuscript of the year 1942(publicado somente em1984) Heisenberg, que conhecia bem Husserl, introduz a idiade trs regies de realidade, capaz de dar acesso ao prprioconceito de realidade: a primeira regio aquela da fsica cls-

    sica; a segunda, da fsica quntica, da biolgica e dos fenme-nos psquicos; e a terceira, da religio e das experincias filos-ficas e artsticas 6. Essa classificao tem um fundamento sutil: a

    49

    5 Edmund Husserl, Mditations cartsiennes, Paris, Vrin, 1966.6 Idem, ibidem.

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    48/211

    conectividade cada vez maior entre o Sujeito e o Objeto.O ponto de vista transdisciplinar nos permite considerar

    uma realidade multidimensional, estruturada por mltiplos n-

    veis, ao invs do nvel nico, da realidade unidimensional dopensamento clssico

    Conforme a abordagem transdisciplinar, a Realidade es-truturada em diferentes nveis. E o fato de o nmero deles serfinito ou infinito no uma questo fundamental para as con-sideraes que farei a seguir. Para a clareza da exposio, supo-nhamos que esse nmero seja infinito (ou seja, tomamos n na Figura 1).

    Dois nveis adjacentes na Fig. 1 (digamos, NR0 e NR1) es-to conectados pela lgica do terceiro includo, uma lgica no-

    va se comparada lgica clssica.A lgica clssica est fundamentada em trs axiomas:

    1. O axioma da identidade:A A.

    2. O axioma da no-contradio:A no no-A.

    3. O axioma do terceiro excludo: no existe um terceirotermo T (T de terceiro) que ao mesmo tempo A eno-A.

    Como expliquei no ano passado, chega-se imediatamente concluso de que os pares de contraditrios mostrados pela fsi-ca quntica so mutuamente exclusivos, pois ningum podeafirmar a validade de uma assero e de seu oposto ao mesmo

    tempo: A e no-A.A maior parte das lgicas qunticas7 modificou o segundo

    axioma da lgica clssica o axioma da no-contradio intro-duzindo a no-contradio com vrios valores de verdade no lu-gar do par binrio (A e no-A). A histria dar crdito a Stpha-ne Lupasco (1900-1988) por ter mostrado que a lgica do tercei-ro includo uma lgica verdadeira, formalizvel e formalizada,

    polivalente (com trs valores: A, no-A e T) e no contraditria

    8

    .Nossa compreenso do axioma do terceiro includo exis-

    Educao e Transdisciplinaridade II

    50

    7 T. A. Brody, On Quantum Logic, em Foundation of Physics, vol. 15 n 5, 1984, pp. 409-430.8 Stphane Lupasco, Le Principe dantagonisme et la logique de lnergie, Le Rocher, Paris, 1987 (2 edio),prefcio de Basarab Nicolescu; Stphane Lupasco Lhomme et loeuvre, coll. Transdisciplinarit, LeRocher, Mnaco, 1999 (Stphane Lupasco O Homem e a Obra, Ed. Triom, So Paulo, 2001).

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    49/211

    te um terceiro termo que ao mesmo tempo A e no-A completamente clareada quando a noo de nveis de Rea-lidade introduzida.

    Para podermos obter uma imagem clara do significado doterceiro includo, representamos na Fig. 2 os trs termos da no-

    va lgica A, no-A e T e representamos a dinmica associa-da a eles por um tringulo no qual um vrtice est situado emum nvel de Realidade e os dois outros em outro nvel deRealidade. O meio includo de fato um terceiro includo. Sepermanecemos em um nico nvel de Realidade, toda a mani-festao parece uma luta entre dois elementos contraditrios. Aterceira dinmica, aquela do estado-T, exercida em um outronvel de Realidade, onde aquilo que percebemos como desuni-do est de fato unido e aquilo que parece contraditrio per-cebido como no contraditrio.

    Figura 2: Representao simblica da ao da lgica do 3 includo

    a projeo do estado-T num mesmo nvel de Realidadeque produz a aparncia de pares antagnicos mutuamenteexclusivos (A e no-A). Um mesmo nvel de Realidade s podeproduzir oposies antagnicas. Isso inerentemente autodes-trutivo se for completamente separado de todos os outrosnveis de Realidade. Um terceiro termo situado no mesmo nvelde Realidade que os opostos A e no-A, no pode efetuar suareconciliao.

    O estado-T1 presente no nvel NR1 (ver Fig. 1) est conec-

    T

    A no-A

    NR2

    NR1

    Fundamentos Metodolgicos para o Estudo Transcultural e Transreligioso Basarab Nicolescu

    51

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    50/211

    tado a um par de contraditrios (A0 e no-A0) num nvel ime-diatamente adjacente. O estado-T1 permite a unificao doscontraditrios A0 e no-A0, mas essa unificao ocorre num

    nvel diferente do NR0 no qual A0 e no-A0 esto situados. Comisso, o axioma da no-contradio respeitado.

    Certamente h uma coerncia entre os diferentes nveis deRealidade, ao menos no mundo natural. Na verdade, parece queuma imensa autoconsistncia um bootstrapcsmico gover-na a evoluo do universo, do infinitamente pequeno at o infi-nitamente grande, do infinitamente breve ao infinitamentelongo. Um fluxo de informaes transmitido de forma coeren-te de um nvel de Realidade ao outro em nosso universo fsico.

    A lgica do terceiro includo capaz de descrever estacoerncia entre esses nveis de Realidade, atravs de um pro-cesso interativo definido pelos seguintes estgios: (1) um parde contraditrios (A0, no-A0) situados em um certo nvel NR0da Realidade unificado por um estado-T1 num nvel contguoNR1 da Realidade; (2) esse estado-T1 est ligado, por sua vez,

    a um par de contraditrios (A1, no-A1) situados em seu pr-prio nvel; (3) este par de contraditrios (A0, no-A0) , por suavez, unificado por um estado-T2 situado num terceiro nvel deRealidade NR2 imediatamente contguo ao nvel NR1 no qual oternrio (A1, no-A1, T1) se encontra. O processo interativocontinua assim indefinidamente at que todos os nveis deRealidade, conhecidos ou concebveis, sejam esgotados.

    Em outras palavras, a ao da lgica do terceiro includo nos

    diferentes nveis de Realidade induz a uma estrutura aberta daunidade dos nveis de Realidade. Essa estrutura tem consequn-cias considerveis para a teoria do conhecimento, pois implica naimpossibilidade de uma teoria completa e auto-referente.

    Com efeito, de acordo com o axioma da no-contradio,o estado-T1 realiza a unificao de um par de contraditrios (A0e no-A0), mas est associado, ao mesmo tempo, a um outro

    par de contraditrios (A1 e no-A1). Isto significa que, se come-armos com um certo nmero de pares mutuamente exclusi-vos, podemos construir uma teoria nova que elimina as contra-dies num certo nvel de Realidade, mas essa teoria sem con-tradies temporria, pois conduz inevitavelmente, sob a

    Educao e Transdisciplinaridade II

    52

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    51/211

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    52/211

    crever a passagem de um nvel para o outro e, a fortiori, paradescrever a unidade dos nveis de Realidade.

    Se tal unidade existe, este elo entre todos os nveis de

    Realidade dever ser necessariamente uma unidade aberta.Para termos certeza, h uma coerncia da unidade dos

    nveis de Realidade, mas esta coerncia est orientada numacerta direo: como j dissemos anteriormente, existe uma fle-cha associada transmisso de qualquer informao de umnvel ao outro. Consequentemente, se a coerncia for limitadaapenas a certos nveis de Realidade, ela se interrompe tanto nonvel mais alto quanto no mais baixo. Se quisermos sugerir aidia de uma coerncia que continue para alm destes doisnveis limtrofes, de modo que haja uma unidade aberta, temosde conceber a unidade dos nveis de Realidade como uma uni-dade que se estende a uma zona de no resistncias nossasexperincias, representaes, descries, imagens e formula-es matemticas. Essa zona de no resistncia corresponde aovu ao qual Bernard dEspagnant se referiu como sendo o vu

    do Real.10

    Tanto o nvel mais alto quanto o mais baixo datotalidade dos nveis de Realidade esto unidos por uma zonade transparncia absoluta. Porm, esses dois nveis so diferen-tes e, portanto, do ponto de vista de nossas experincias, repre-sentaes, descries, imagens e formulaes matemticas, atransparncia absoluta funciona como um vu. De fato, a uni-dade aberta do mundo implica que aquilo que est embaixo o mesmo que o que est em cima. As correspondncias entre

    em cima e embaixo so estabelecida pela zona de no resis-tncia. Nessa zona no h nveis de Realidade.

    A no resistncia dessa zona de transparncia absoluta devida, simplesmente, s limitaes dos nossos corpos e dosnossos rgos sensoriais limitaes que se aplicam indiferen-temente das ferramentas de medio que utilizamos para esten-der esses rgos sensoriais. A zona de no resistncia corres-

    ponde ao sagrado quilo que no se submete a nenhuma ra-cionalizao. importante notar que os trs loopsde coerncia da Fig.

    1 no esto situados apenas na zona em que os nveis de

    Educao e Transdisciplinaridade II

    54

    10 Bernard dEspagnat, Le Rel voil Analyse des concepts quantiques, Paris, Fayard, 1994.

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    53/211

    Realidade esto ausentes, mas tambm entre os nveis deRealidade: a zona de no resistncia do sagrado penetra e cruzaos nveis de Realidade. Em ouras palavras, a abordagem trans-

    disciplinar da Natureza e do conhecimento oferece uma ligaoentre o Real e a Realidade.

    A unidade dos nveis de Realidade e sua zona complemen-tar de no resistncia constituem o que chamamos de Objetotransdisciplinar.

    Um novo Princpio de Relatividade emerge da coexistn-cia entre a pluralidade complexa e a unidade aberta: nenhumnvel de Realidade um lugar privilegiado a partir do qual sepossa compreender todos os outros nveis de Realidade. Umnvel de Realidade o que porque todos os outros nveisexistem ao mesmo tempo. Esse princpio de Relatividade oque origina uma nova perspectiva na religio, na poltica, naarte, na educao e na vida social. E quando a nossa perspec-tiva sobre o mundo muda, o mundo muda. Na viso transdisci-plinar, a Realidade no s multidimensional, tambm mul-

    tirreferencial.Os diferentes nveis de Realidade so acessveis ao conhe-cimento humano graas existncia de diferentes nveis de per-cepo, descritos diagramaticamente direita da Fig. 1. Eles seencontram em uma relao de correspondncia com os nveis deRealidade. Estes nveis de percepo:

    { NPn, , NP2, NP1, NP0, NP-1, NP-2, , NP-n }

    permitem uma viso cada vez mais geral e unificadora daRealidade, sem jamais esgot-la inteiramente.

    Como no caso dos nveis de Realidade, a coerncia dosnveis de percepo pressupe uma zona de no resistncia percepo. Nessa zona no h nveis de percepo.

    A unidade dos nveis de percepo e sua zona comple-mentar de no resistncia constituem o que chamamos de

    Sujeito transdisciplinar.Para que o Sujeito e Objeto transdisciplinares se comuni-quem, as zonas de no resistncia de ambos devero ser idnti-cas. O fluxo de conscincia que passa coerentemente atravsdos diferentes nveis de percepo deve corresponder ao fluxo

    Fundamentos Metodolgicos para o Estudo Transcultural e Transreligioso Basarab Nicolescu

    55

  • 7/28/2019 Educacao e Transdisciplinariedade

    54/211

    de informaes que atravessa coerentemente os diferentes nveisde Realidade. Os dois fluxos esto interligados porque compar-tilham a mesma zona de no resistncia.

    O Conhecimento no nem exterior nem interior: simul-taneamente exterior e interior. Os estudos do universo e do serhumano se sustentam um ao outro. A zona de no resistnciatem o papel do terceiro secretamente includo que permite aunificao do Sujeito transdisciplinar e do Objeto transdiscipli-nar, preservando, ao mesmo tempo, sua diferena.

    A unidade aberta entre o Objeto e Sujeito transdisciplinar dada pela orientao coerente do fluxo de informao, descri-to pelos trs loopsorientados da Fig. 1, que atravessam os nveisde Realidade, e pelo fluxo de conscincia, descrito pelos trsloopsorientados que atravessam os nveis de percepo.

    Esta orientao coerente d um sentido novo e mais pro-fundo ao fato simples da verticalidade humana no mundo. Aoinvs da verticalidade humana individual regida pela lei univer-sal da gravidade, o ponto-de-vista transdisciplinar prope uma

    verticalidade consciente e csmica, atravessando os diferentesnveis de Realidade e de percepo. Na viso transdisciplinar, essa verticalidade csmica que constitui a base de qualquerprojeto social vivel.

    Os arcos de informao e conscincia tm de se encontrarao menos num pontoX, a fim de assegurar a transmisso coe-rente de informao e conscincia por toda parte das regies

    visveis e invisveis do Universo. De certo modo, o pont