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Antonio Albuquerque da Costa Paulo Sérgio Cunha Farias Formação Territorial do Brasil DISCIPLINA A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização do colonizador português no Brasil (as feitorias) Autores aula 03 Fo_Te_A03_ML_080710.indd Capa1 Fo_Te_A03_ML_080710.indd Capa1 08/07/10 11:43 08/07/10 11:43

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Antonio Albuquerque da Costa

Paulo Sérgio Cunha Farias

Formação Territorial do BrasilD I S C I P L I N A

A chegada dos portugueses ao continente americano:

do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização do colonizador português no Brasil (as feitorias)

Autores

aula

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Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a Distância – SEEDCarlos Eduardo Bielschowsky

Coordenador de EdiçãoAry Sergio Braga Olinisky(UFRN)

Projeto Gráfi coIvana Lima (UFRN)

Revisoras Tipográfi casAdriana Rodrigues Gomes (UFRN)

Margareth Pereira Dias (UFRN)Nouraide Queiroz (UFRN)

Arte e IlustraçãoAdauto Harley (UFRN)Carolina Costa (UFRN)

Heinkel Hugenin (UFRN)Leonardo Feitoza (UFRN)

DiagramadoresIvana Lima (UFRN)Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)José Antonio Bezerra Junior (UFRN)Mariana Araújo de Brito (UFRN)Vitor Gomes Pimentel (UFRN)

Revisora de Estrutura e LinguagemRossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)

Revisora de Língua PortuguesaMaria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitoraÂngela Maria Paiva Cruz

Secretária de Educação a DistânciaVera Lúcia do Amaral

Universidade Estadual da Paraíba

ReitoraMarlene Alves Sousa Luna

Vice-ReitorAldo Bezerra Maciel

Coordenadora Institucional de Programas Especiais – CIPEEliane de Moura Silva

Ficha catalográfi ca elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

910.9

C837f Costa, Antônio Albuquerque da.

Formação Territorial do Brasil/ Antônio Albuquerque da Costa; Paulo Sérgio Cunha

Farias. – Campina Grande: EdUEP, 2009.

385 p.: il.

ISBN: 978-85-7879-050-9

1. Geografi a - Brasil. 2. Geografi a – Estudo e Ensino. I. Farias, Paulo Sérgio Cunha.

II. Titulo.

21. ed. CDD

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS) – UFRN

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

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Aula 03 Formação Territorial do Brasil 1

Apresentação

Apesar da visão crítica que condena os estudos sobre o Brasil a partir da chegada dos portugueses ao continente americano, por ser uma visão do colonizador, temos que admitir que o Brasil só começa a existir a partir da apropriação do que hoje é parte

do seu território pelos portugueses. Não podemos concordar com a idéia de um território brasileiro antes dos portugueses, o que havia até então eram os territórios dos diversos povos nativos, que depois se constituíram no território colonial e, posteriormente, no arcabouço do território brasileiro.

Como veremos, em seguida, a chegada dos colonizadores europeus ao continente americano, com a introdução dos seus modos de vida, e a apropriação por eles dos territórios dos nativos, consubstanciaram-se, portanto, numa ruptura dos processos socioespaciais de vários povos que habitavam as Américas. Com a porção desse continente anteriormente defi nida pelo Tratado de Tordesilhas como área pertencente aos portugueses, não foi diferente. A chegada da expedição de Pedro Álvares Cabral em 1500 inicia um processo (des) territorializador, que culminou na quebra ou na destruição dos modos de vida e das formas de relações sociedade/natureza de vários povos nativos que habitavam esta porção do continente americano.

Na presente aula focalizaremos a chegada da expedição de Cabral em 1500. Contudo, salientaremos que o território “descoberto” não se constituía em um espaço vazio, já que era ocupado por várias nações indígenas. Nesse sentido, abordaremos, sucintamente, as formas de relação sociedade/natureza desses povos antes da chegada do colonizador. Finalmente, teceremos considerações sobre as primeiras formas de territorialização do colonizador português – o estabelecimento das feitorias como suporte logístico para o escambo realizado entre portugueses e indígenas, que durou de 1500 a 1530.

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ObjetivosCom esta aula, esperamos que você:

Associe o “descobrimento” do Brasil à expansão do mercantilismo lusitano.

Compreenda que o território “descoberto” pelos portugueses já era ocupado por várias nações indígenas, que nele construíram diversas formas de relações com a natureza.

Entenda que as feitorias, estabelecidas no território descoberto para a prática do escambo com os indígenas, constituíram-se como uma territorialidade frágil do colonizador português.

O alargamento dos contextos geográfi cos do mercantilismo português: o “descobrimento” do Brasil

Como já salientamos em nossas aulas anteriores, a “descoberta” do Brasil por Pedro Álvares Cabral em 1500 representou um dos capítulos da expansão marítima comercial européia, especialmente da portuguesa. Os portugueses, no seu afã de alargar os

contextos territoriais do seu comércio – busca das ricas especiarias do Oriente, impedidos de o fazer através do Mar Mediterrâneo, lançaram-se ao Oceano Atlântico. Nessa epopéia, realizaram sucessivos “descobrimentos” neste oceano e na Costa da África, como o de Cabo Verde em 1445, o da Ilha da Madeira em 1460, o do Cabo da Boa Esperança em 1488 e, fi nalmente, a chegada de Vasco da Gama às Índias em 1498.

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Aula 03 Formação Territorial do Brasil 3

Escambo

Troca direta entre partes, de bens ou de serviços, sem que haja um equivalente na forma de dinheiro.

Portanto, a chegada de Pedro Álvares Cabral à baía, hoje chamada Cabrália, em sua homenagem, no dia 22 de abril de 1500, não foi obra do acaso, mas conseqüência de uma política de expansão comercial desenvolvida desde o início do século XV, pelos países europeus, liderados por Portugal e Espanha. Na verdade, ao chegar ao Brasil, Cabral já sabia que pisava em terras juridicamente pertencentes a Portugal, em face do Tratado de Tordesilhas, assinado por seu país e pela Espanha em 1494 (ANDRADE, 2003, p. 21).

Não obstante, Cabral e sua expedição formada por 13 embarcações, navegavam para as Índias, com o intuito de consolidar e afi rmar o feito de Vasco da Gama que, dois anos antes, tinha descoberto o chamado caminho marítimo para as Índias. A intenção da esquadra de Cabral era, portanto, garantir o monopólio português sobre o comércio da pimenta, produto de elevado valor e que representava grande fonte de renda para Portugal (ANDRADE, op. cit., p. 21).

Segundo os relatos de vários historiadores da formação territorial do Brasil, Cabral não deu muita importância as terras “descobertas” e pouco demorou nelas. Sua estada nas novas plagas “descobertas” durou nove dias, tempo esse necessário para tomar posse delas, implantando um marco, fazendo celebrar uma missa (o que denota o forte conteúdo ideológico do catolicismo como fator justifi cador da expansão e das conquistas portuguesas) e deixar dois degredados, que seriam os posteriores interlocutores entre os portugueses e os índios. Após realizar essas ações, Cabral se deslocou rumo às Índias, verdadeiro ponto fi nal do seu itinerário.

Apesar de todos os elogios feitos por Pero Vaz de Caminha em sua carta ao rei, enviada a Lisboa em nau, dando notícia da descoberta da Terra de Santa Cruz, e mesmo apresentando vantagens comparativas em relação às ilhas do Atlântico (maior extensão territorial e diversidade ecossistêmica) e às Índias (posição e proximidade geográfi cas em relação à Europa), não houve grande interesse de Portugal em colonizar o Brasil nas três primeiras décadas após 1500. Os interesses portugueses estavam no comércio das especiarias e na busca de metais preciosos (não encontrados nas terras descobertas na América como ocorrera com os espanhóis), o que levaram-nos a se interessar mais pela formação de colônias no Oriente do que ocupar defi nitivamente o território recém “descoberto”. Destarte, como veremos logo adiante, a prática esporádica do escambo com os nativos das famosas bugigangas com os produtos da terra, marcou os primeiros anos após a “descoberta”.

Vale salientar que as terras “descobertas” na América pelos portugueses não se constituíam em espaços vazios. Nelas, diversos povos indígenas viviam suas dinâmicas socioespaciais próprias, que refl etiam suas formas de interagir com a natureza. Como veremos no item seguinte.

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Atividade 1su

a re

spos

taDepois dessa nossa rápida conversa sobre o descobrimento do Brasil, o que você responde ao interlocutor que lhe fi zer a seguinte indagação:

“... os ‘culpados’ pelo suposto desvio de rota que teria empurrado a esquadra de Cabral em direção ao oeste são, em geral, dois: uma tempestade ou seu exato oposto - a ausência de ventos [...] a descoberta [do Brasil], afi nal, foi intencional ou casual?”

(Fragmento de texto retirado de http://epoca.globo.com/especiais/ 500anos/20000327.htm. Acessado em 12 de dezembro de 2008.

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Idade da Pedra Polida

Refere-se ao período da Pré-história conhecido como Neolítico, que se inicia há aproximadamente 8.000 anos a.c., e tem como características principais o surgimento da agricultura e a sedentarização humana. É nesse período que se inicia a domesticação de alguns animais e o surgimento das primeiras aldeias.

Vamos conversar mais um pouco sobre estas terras

que ainda não era Brasil!

As territorialidades pretéritas dos habitantes da Terra de Santa Cruz e as novas territorialidades frágeis das feitorias

Até aqui vimos que era intenção dos portugueses estabelecerem comércio com outras partes do mundo, daí sua aventura pelos mares. Porém, as terras brasileiras não se constituíram em uma alternativa pra tal propósito, pois, aqui encontraram povos que

apresentavam estágio civilizatório ainda muito primitivo.

Conforme afi rma Manuel Correia de Andrade (1982, p. 13), os indígenas que habitavam as terras recém “descobertas” pelos portugueses estavam na idade da Pedra Polida e o espaço era indiferenciado, pois predominavam as paisagens naturais sem a intervenção das ações humanas.

As três primeiras décadas após a expedição de Pedro Álvares Cabral ter alcançado o Novo Mundo e ter tomado posse da terra em nome do rei de Portugal, são marcadas pela fraca atenção que a Coroa Portuguesa dá a essa parte do mundo. Fato que se explica em função do contexto histórico da época em discussão.

Para entender esse relativo descaso, vamos mergulhar um pouco nas características de Portugal no referido período. Primeiro, é preciso refl etir que Portugal não era um país tão populoso. Segundo Andrade (1982, p.24), este país tinha aproximadamente um milhão de habitantes. Além desse aspecto populacional, as pessoas não se dispunham a vir para uma terra distante, isolada e onde as capacidades de lucro e de sobrevivência eram incertas.

A empreitada portuguesa para alcançar o caminho das índias havia consumido recursos e ceifado vidas. Portanto, Portugal se ressentia de um contingente populacional disponível e da capacidade fi nanceira para investir na Terra de Santa Cruz.

Desta forma, Portugal tomou posse da terra descoberta, mas era mais lucrativo e seguro investir nas feitorias da Costa da África e nas Índias, onde já haviam organizações sociais bem estruturadas e onde o Império Árabe, que se encontrava desmembrado e decadente, já estabelecera forte relação de comércio, havendo, portanto, uma base para prosseguir com o intercâmbio mercantilista.

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Nas terras que depois passaram a ser chamadas de Brasil, a população, embora fosse composta de povos diferentes (ver mapa das territorialidades indígenas no Brasil) , tinha uma economia de subsistência da caça e da pesca, abundantes em todos os territórios indígenas, os quais não haviam desenvolvido atividades de troca entre si. Daí, Manuel Correia de Andrade (1982, p.24), denominar o Brasil de 1500, de “espaço indiferenciado”, visto que não havia qualquer sistema de objetos culturais, a não ser as trilhas, que esses povos utilizavam para o deslocamento no meio da vegetação, quando da coleta ou da caça, ou nos deslocamentos sazonais feitos pelas tribos nômades.

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Diante desse quadro de natureza quase intocada e habitada por povos “selvagens” e supostamente antropófagos, nenhum português se dispunha a tentar a sorte em tal espaço tão hostil, a não ser contra a própria vontade, como ocorreu com os dois degredados deixados por Cabral para servir de intermediadores entre os nativos e os portugueses que aqui chegassem. É nesse contexto que podermos entender o imediato desinteresse do reino português por sua posse americana. Mesmo assim, na tentativa de manter o controle sobre os territórios descobertos, já em 1501, Dom Manuel I enviava a primeira expedição exploradora à costa brasileira, compostas por três embarcações, com o objetivo de identifi car os recursos que poderiam ser explorados.

Esta primeira expedição, comandada por Gaspar Lemos, tinha como tripulante o navegador fl orentino Américo Vespúcio, que ao contrário de Pero Vaz de Caminha, não teve o mesmo deslumbramento pela terra descoberta, só via como produto valioso da costa brasileira, o pau-brasil, o qual, se tornou mercadoria valiosa e que, em 1503, já era monopólio de exploração da Coroa Portuguesa. Porém, a falta de recursos e de mão-de-obra em Portugal, obrigou o governo português a incentivar empresas privadas nessa empreitada, cuja saída mais viável foi o arrendamento da exploração do pau-brasil a um consórcio de comerciantes portugueses e italianos, que era chefi ado por um cristão novo chamado Fernão de Noronha.

Em função desse acordo, que permitia aos comerciantes extrair o pau-brasil, mediante o pagamento de tributos à Coroa Portuguesa, Portugal organizou no ano de 1503 a segunda expedição composta de seis navios. Participou dessa expedição comandada por Gonçalo Coelho, o navegador Américo Vespúcio. No ano seguinte, o rico comerciante Fernão de Noronha recebeu do rei de Portugal a doação do arquipélago de São João, que depois recebeu o seu nome. Em troca Fernão de Noronha se comprometia a enviar seis navios anualmente ao Brasil para explorar até trezentas léguas do seu litoral e construir feitorias destinadas à proteção do mesmo, mantendo-as pelo prazo de três anos.

Portugal baseava-se na sua experiência em colonizar ilhas desertas do Atlântico como Madeira, Açores e cabo Verde, onde havia implantado a cultura canavieira. Com o arquipélago de Fernando de Noronha o resultado não foi o mesmo, em razão do clima bastante seco e da pequena extensão das ilhas, dessa forma, o arquipélago prestou-se apenas como ponto de pouso às embarcações que se encaminhavam à costa brasileira.

Para viabilizar o escambo que passou a ocorrer entre portugueses e índios, diminuindo o tempo de permanência das embarcações nos porto e defi nir uma territorialidade, o governo português passou a organizar feitorias na costa brasileira, feitorias estas, que não passavam de galpões nos quais a madeira era depositada para aguardar as embarcações que a conduziria para a Europa.

Nessas feitorias, eram deixados degredados, os quais tiveram que se adaptar aos costumes indígenas e aprender as línguas nativas para sobreviver. Tais homens tiveram papel fundamental para estabelecer o intercâmbio econômico entre portugueses e indígenas e são a gênese da formação cultural do povo brasileiro ao incorporarem hábitos, crenças, alimentos e

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Aculturação

Processo pelo qual culturas distintas são

absorvidas entre si, formando uma nova

cultura.

palavras das línguas indígenas em seu processo de aculturação, elementos da cultura indígena que foram introduzidos na população européia que aqui foi sendo fi xada.

Nessas primeiras décadas que se seguiram ao “descobrimento” podemos observar que a prática do escambo, na qual, os portugueses trocavam bugigangas pelo trabalho dos índios, na coleta de produtos das terras, se dava de forma harmoniosa e não criava a necessidade de escravização dos habitantes nativos. Depois, os portugueses partiram para o trabalho compulsório, obrigando os índios a abastecerem seus navios, através do amedrontamento. A tentativa de escravização do indígena só passou a ocorrer de fato quando os portugueses, realmente, iniciaram o “povoamento”.

As feitorias de Itamaracá, Santa Cruz e Cabo Frio, que os portugueses implantaram, respectivamente em Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, representavam uma territorialidade ainda muito frágil, com o objetivo de combater a pirataria e conquistar a ajuda dos nativos. Essa territorialidade portuguesa no “solo brasileiro” era tão frágil que Andrade (1982, p.26), observa ser nessa época difícil saber “se a terra descoberta por Cabral terminaria colonizada pelos franceses ou pelos portugueses”. Pois, se excetuando as feitorias portuguesas, as práticas de escambo adotadas por franceses e lusitanos com os nativos eram exatamente as mesmas.

Ao observarmos que o pau-brasil se espalhava pela imensidão da Mata Atlântica e, que se esgotava rapidamente com o corte indiscriminado, podemos deduzir que sua exploração em nada serviu para fi xar núcleos de povoamento e que as feitorias que tinham caráter também militar, não apresentavam grande longevidade, pelas características da itinerância da atividade e pela impossibilidade de, a partir dessas feitorias fi xas, fi scalizar tão extensa costa.

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Atividade 2

De posse desse cartograma é correto afirmar que o Brasil antes da chegada dos portugueses era um território Tupi-guarani e que a nossa língua oficial, em respeito à predominância desse grupo lingüístico majoritário, deveria ser o tupi-guarani? Justifi que.

Vamos dar uma pequena pausa para refl etir um pouco sobre a nossa leitura?

Observe com atenção o mapa abaixo. Ele é o mesmo que apresentamos anteriormente, nele está representada a distribuição dos grupos indígenas conforme se encontrava na época da chegada dos portugueses e de acordo com a classifi cação lingüística.

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sua

resp

osta

Ao termino desta nossa conversa, esperamos ter despertado em você a curiosidade para prosseguir e aprofundar seus conhecimentos sobre esse assunto tão instigante, que é a formação do nosso território. Na próxima aula daremos continuidade a mais uma etapa desse processo, quando discutiremos as estratégias portuguesas para garantir a posse das terras brasileiras e torná-las em bem de produção rentável. Não esqueça de tirar suas dúvidas e até o próximo encontro.

Leituras complementaresPara um maior aprofundamento sobre o assunto estudado é importante a leitura de outros

artigos, aqui sugerimos alguns textos que poderão lhe ajudar, mas você pode escolher outros, o mais importante é que você amplie seus conhecimentos.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

O livro é um dos clássicos sobre a formação do território brasileiro, entendido a partir de um prisma econômico. Interessa particularmente a essa nossa aula o Capítulo 3 “Primeiras atividades. A extração do pau-brasil”, que fala das primeiras feitorias e da contribuição dos índios na exploração da preciosa madeira.

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Resumo

ANDRADE, Manuel Correia de. Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003.

Utiliza uma linguagem clara e direta, porém rica em informações, como é peculiar em todas as obras desse renomado geógrafo pernambucano. Para o aprofundamento dessa nossa aula destacamos os capítulos 1 “O Brasil como espaço indiferenciado” e o capítulo 3 “O reconhecimento da costa e a exploração do pau-brasil.

Com esta aula esperamos que você tenha apreendido algumas questões que são de fundamental importância para desconstruirmos fatos de nossa história e para desvendarmos elementos do processo de nossa formação territorial, tais como:

1) O que se convencionou chamar de “descobrimento” do Brasil, não é obra do acaso, foi um feito intencional que faz parte do processo de expansão marítimo comercial européia.

2) Os portugueses não encontraram um território vazio (motivo pelo qual o termo descobrimento é tão questionável), mas várias territorialidades, de povos culturalmente diversifi cados, dos quais alguns ainda eram nômades.

3) O processo civilizatório dos vários povos que habitavam as terras que hoje são brasileiras encontrava-se em um estágio ainda muito primitivo, motivo pelo qual o espaço se apresentava indiferenciado, sem grandes obras culturais em suas paisagens. O que não despertou muito interesse nos portugueses

4) Os primeiros contatos entre nativos e estrangeiros, foram pacífi cos e de cooperação, pois embora os portugueses tenham tomado posse das novas terras em nome de um rei de além mar, não estabeleceu de imediato um processo de territorialização/desterritorialização que ameaçassem a liberdade e a existência dos primeiros donos desses territórios.

5) Nos primeiros anos que se seguiram ao “descobrimento” não podemos, ainda, falar de um território português, pois as territorialidades que surgiram através das feitorias eram frágeis e não garantiam um total controle de Portugal sobre essas novas terras.

6) As feitorias, embora representassem uma territorialidade frágil da Coroa Portuguesa, foi a base sobre a qual Portugal conseguiu estabelecer o escambo dos produtos tropicais, mas também, a gênese da cultura genuinamente brasileira, proporcionada pelos homens que nelas se aculturaram em contato com os povos indígenas.

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Autoavaliação Vamos refl etir um pouco sobre o nosso aprendizado com essa aula.

Considerando que o espaço que se constitui hoje no território brasileiro já era habitado por diversos povos e que, antes da chegada de Pedro Álvares Cabral, em 1500, já haviam passado pelo litoral “brasileiro” Diego de Lepe (que em dezembro de 1499 alcançou, provavelmente, o Cabo de Santo Agostinho em Pernambuco), Vicente Yañez Pinzón (que em janeiro de 1500 chegou a foz do rio Mucuripe, no Ceará) e Alonso de Ojeda (que teria alcançado a foz do rio Açu no Rio Grande do Norte em julho de 1499):

a) Podemos de fato admitir o “nascimento” do Brasil em 22 de abril de 1500? Justifi que.

b) Com base nas informações anunciadas acima, e diante do que foi discutido nessa aula, questione a ofi cialização do termo “descobrimento”, para a chegada dos portugueses ao Brasil.

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c) Ao observarmos que todos os antecessores de Cabral que aqui chegaram estavam a serviço da Espanha, como podemos justifi car que estes não tomaram posse da terra em nome da Coroa Espanhola?

Apesar do alto investimento português para chegar às Américas, fi cou claro imediato desinteresse da Coroa Portuguesa pelas terras que haviam sido ofi cializadas em seu nome e em nome de Cristo.Que motivos teve o governo português para agir dessa forma?

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3Embora de territorialidades frágeis as feitorias portuguesas foram importantes elementos de ligação entre Portugal e as novas terras a serem exploradas.

a) Por que Portugal resolveu instalar as feitorias no Brasil?

b) Por que as feitorias não foram capazes de fi xar populações e fracassaram?

c) Qual foi a importância dessas feitorias para os portugueses?

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Anotações

Referências ANDRADE, Manuel Correia de. O reconhecimento da costa e a exploração do pau-brasil In: ______, História econômica e administrativa do Brasil. São Paulo: Atlas, 1982, p. 25 -28.

______, A questão do território no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1995.

______, Formação territorial e econômica do Brasil. Recife: FJN/Editora Massagana, 2003.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 22ª ed. São Paulo: Editora Nacional, 1987.

PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

PEREGALLI, Enrique, Como o Brasil fi cou assim?: formação das fronteiras e tratados dos limites. São Paulo: Global Ed., 1982. (História popular; 9)

SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. Rio de Janeiro:Editora Bertrand Brasil,1990.

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EMENTA

> Antonio Albuquerque da Costa

> Paulo Sérgio Cunha Farias

Formação territorial e econômica; federalismo e fragmentação territorial; desenvolvimento das forças produtivas e dinâmica

territorial; o brasil no contexto da economia globalizada e a divisão territorial do trabalho.

Formação Territorial do Brasil – GEOGRAFIA

AUTORES

AULAS

01 Sobre o território brasileiro: como teorizar a sua formação à luz dos conceitos da Geografi a

02 A territorialização ibérica do mundo e a expansão do capitalismo na sua fase embrionária

03 A chegada dos portugueses ao continente americano: do “descobrimento” às primeiras formas de territorialização do colonizador português no Brasil (as feitorias)

04 A territorialização de fato do colonizador português: as capitanias hereditárias e a plantation açucareira

05 A penetração da colonização para o interior: entradas e bandeiras alargam o território colonial e transformam o Tratado de Tordesilhas em “letra morta”

06 A ocupação do Sertão nordestino e da Amazônia

07 A mineração e agricultura alimentar na ocupação do Brasil central

08 A ocupação antiga do Brasil meridional

09 A ocupação moderna e defi nitiva do sul

10 O “arquipélago” de “ilhas” econômicas do Império e da Primeira República

11 A Primeira República e a consolidação das fronteiras

12 Do arquipélago de “ilhas” econômicas à integração do território

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