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Autores aula 05 DISCIPLINA 2ª Edição Franklin Nelson da Cruz Gilvan Luiz Borba Luiz Roberto Diz de Abreu Bioma Caatinga – recursos hídricos Ciências da Natureza e Realidade CI_NAT_A05_RAAR_250510.indd S11 CI_NAT_A05_RAAR_250510.indd S11 25/05/10 10:11 25/05/10 10:11

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Autores

aula

05

D I S C I P L I N A2ª Edição

Franklin Nelson da Cruz

Gilvan Luiz Borba

Luiz Roberto Diz de Abreu

Bioma Caatinga –recursos hídricos

Ciências da Natureza e Realidade

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Copyright © 2007 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Divisão de Serviços Técnicos

Catalogação da publicação na Fonte. UFRN/Biblioteca Central “Zila Mamede”

Coordenadora da Produção dos Materiais

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Projeto Gráfi co

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Revisores de Estrutura e Linguagem

Eugenio Tavares Borges

Marcos Aurélio Felipe

Pedro Daniel Meirelles Ferreira

Tatyana Mabel Nobre Barbosa

Revisoras de Língua Portuguesa

Janaina Tomaz Capistrano

Sandra Cristinne Xavier da Câmara

Ilustradora

Carolina Costa

Editoração de Imagens

Adauto Harley

Carolina Costa

Diagramadores

Bruno Cruz de Oliveira

Maurício da Silva Oliveira Júnior

Mariana Araújo Brito

Thaisa Maria Simplício Lemos

Imagens Utilizadas

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Governo Federal

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação a DistânciaRonaldo Motta

ReitorJosé Ivonildo do Rêgo

Vice-ReitorNilsen Carvalho Fernandes de Oliveira Filho

Secretária de Educação a DistânciaVera Lucia do Amaral

Secretaria de Educação a Distância (SEDIS)

Cruz, Franklin Nelson da.

Ciências da natureza e realidade: interdisciplinar/ Franklin Nelson, Gilvan Luiz Borba, Luiz Roberto Diz de Abreu. – Natal, RN: EDUFRN Editora da UFRN, 2005.

348 p.

ISBN 85-7273-285-3

1. Meio Ambiente. 2. Terra. 3. Universo. 4. Natureza. 5. Seca. I. Borba, Gilvan Luiz. II. Abreu, Luiz Roberto Diz de. III. Título.

CDD 574.5RN/UF/BCZM 2005/45 CDU 504

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12ª Edição Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade

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caracterizar o Bioma Caatinga, focalizando seus recursos hídricos, suas águas superfi ciais, subterrâneas e a sua capacidade energética;

entender o problema da seca em um contexto mais amplo do que apenas a escassez de recursos hídricos;

contextualizar o semi-árido nordestino em um contexto global no qual o conceito de semi-árido aparece em outros países com características semelhantes a ele.

Apresentação

Euclides da Cunha, em Os Sertões, sintetiza de uma forma emblemática o drama da seca para o homem nordestino do semi-árido (Bioma Caatinga).

O homem sertanejo é acima de tudo um forte, um herói frente às condições adversas do ambiente em que vive. “A seca não o apavora (ao sertanejo). É um complemento à sua vida tormentosa, emoldurando-a em cenários tremendos. Enfrenta-a estóico. Apesar das dolorosas tradições que conhece através de um sem número de terríveis episódios, alimenta a todo o transe esperanças de uma resistência impossível” (CUNHA, 2005).

Nesta aula, traçaremos um perfi l da situação da água no mundo para então caracterizarmos o semi-árido nordestino em relação a seus recursos hídricos e à escassez de água no período entre os chamados “invernos”, quando ocorrem as chuvas. Com esse enfoque, concluiremos a caracterização dos fatores abióticos desse ambiente, iniciada na aula passada com o estudo do solo e dos recursos minerais.

Objetivos

Após estudar esta aula, você deverá ser capaz de:

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2 Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

A água em nosso planeta

Como você deve estar lembrado da aula 2 de nosso curso, estima-se que exista 1 bilhão e 600 milhões de km3 de água em nosso planeta. Subtraindo a água cristalizada quimicamente e a associada às rochas, o volume que resta é em torno de 1 bilhão

e 370 milhões de km3. No entanto, cerca de 97,2% desse volume corresponde à água do mar que, como você sabe, é salgada e não serve para a maioria dos usos que fazemos dela.

Dos 2,8% restantes, quando subtraímos a água presa nas calotas e nas geleiras polares e a que existe na forma de vapor d’água na atmosfera, que são indisponíveis para o nosso uso, restarão apenas 8 milhões e 200 mil km3 de água doce na fase líquida. Esse valor representa apenas 0,6% do total! Por isso, a água doce disponível é considerada um bem indispensável e primordial para a sobrevivência dos seres vivos, devendo ser utilizada de forma racional e parcimoniosa.

Algo que impressiona ainda mais é o fato de que os recursos hídricos superfi ciais correspondem a apenas cerca de 2% de nossas reservas, ou seja 164 mil Km3, dos 8 milhões e 200 mil km3 da água doce! Ela está distribuída nos rios, lagos, barragens e açudes. Os restantes 98%, ou um pouco mais desse volume, está “escondido” no subsolo, representando o que se denomina de “água subterrânea”.

Existem registros indicando que desde os longínquos tempos, antes da era cristã, o homem já utilizava essas águas. Inicialmente em nascentes e lençóis freáticos rasos, através de escavações simples, a água era obtida para uso doméstico. Essa metodologia evoluiu para cacimbas revestidas de pedra e posteriormente de tijolos. Novas formas de perfuração hoje em dia consistem em sistemas mecanizados, possibilitando a construção de poços a profundidades maiores e com maior vazão.

A partir de meados de 50 do século XX, reservatórios hídricos subterrâneos em todo o mundo têm sido muito utilizados em regiões áridas e semi-áridas, como o Nordeste do Brasil, Israel e Austrália; e em regiões desérticas, como a Líbia, visando ao abastecimento de cidades e de projetos de irrigação.

Nas três últimas décadas, segundo dados da UNESCO (United Nations Educational, Scientifi c and Cultural Organization – http://www.un.org/), foram perfurados mais de 300 milhões de poços no mundo. A utilização da água subterrânea varia entre os países. A Europa, por exemplo, é responsável por 75% da água utilizada pela população (podendo esse percentual atingir 90% em países como Suécia, Holanda e Bélgica).

Tendo em vista que os reservatórios subterrâneos são alimentados em grande parte por águas da superfície, esse crescimento acelerado na utilização das águas subterrâneas pode levar a problemas nos aqüíferos em várias partes do planeta. Além do que, em diversas regiões, principalmente do litoral, o esgotamento dos aqüíferos permite a infi ltração, em

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32ª Edição Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade

Atividade 1

direção ao continente, de águas do mar, contribuindo para a degradação da qualidade desses reservatórios. Podemos acrescentar a esse quadro a informação de que existem no mundo cerca de 270 milhões de hectares irrigados com água subterrânea, sendo 13 milhões destes nos Estados Unidos da América e 31 milhões na Índia, e que parte dessa água pode retornar ao subsolo contaminada por produtos químicos típicos da atividade agrícola. Isso sugere a necessidade de estudarmos esse assunto tentando seguir uma das recomendações da Carta da água, ou seja: “10 - A água é um patrimônio comum, cujo valor deve ser reconhecido por todos. Cada pessoa tem o dever de economizá-la e usá-la com cuidado”.

A Carta da água é um documento assinado pelos principais países do mundo, visando à preservação e ao uso racional desse inestimável recurso. Ela é composta por 12 itens. Realize uma pesquisa e escreva todos os itens dessa carta, fazendo uma breve interpretação de cada um.

As águas superfi ciais do Nordeste brasileiro

Entendemos por águas superfi ciais as reservas de água doce depositadas na crosta do planeta que compõem os reservatórios na forma de rios, lagos, açudes e outros.

Entre outros fatores, a qualidade das águas superfi ciais está relacionada com a natureza da rocha, o tipo de solo e com o seu modo de acomodação. Por exemplo, o tipo de solo e do subsolo são dois dos principais fatores que explicam as variações de qualidade das águas dos riachos. O Brasil tem nove bacias hidrográfi cas, as quais estão representadas no mapa a seguir.

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4 Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

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Figura 1 – Bacias do Brasil: Bacia 01 - Rio Amazonas; 02 - Rio Tocantins/Araguaia; 03 - Atlântico Norte/Nordeste;

04 - São Francisco; 05 - Atlântico Leste; 06 - Rio Paraná; 07 - Rio Uruguai; 08 - Atlântico Sul;

09 - Rio Paraguai.

A Região Nordeste é permeada por partes de três bacias, e apenas a do São Francisco é grande o sufi ciente para fazer parte desse macro-conjunto de bacias hidrográfi cas, como se percebe na Figura 1. Mesmo assim, no Nordeste brasileiro, de acordo com a disponibilidade das águas superfi ciais, foi feita uma classifi cação das várias bacias hidrográfi cas, todas relacionadas com os principais rios da região, destacando-se a Bacia do São Francisco e a Bacia do Parnaíba.

A Bacia do rio São Francisco é a terceira bacia hidrográfi ca do Brasil. Drena uma área de 640.000 km² e ocupa 8% do território nacional. Cerca de 83% dessa bacia encontra-se nos estados de Minas Gerais e Bahia, 16% em Pernambuco, Sergipe e Alagoas e 1% em Goiás e Distrito Federal. Entre as cabeceiras (na Serra da Canastra, em Minas Gerais) e a foz (no oceano Atlântico, localizada entre os estados de Sergipe e Alagoas), o rio São Francisco percorre cerca de 2.700 km. Entre outras coisas, o São Francisco é um rio com características que o tornam apto para a produção de hidroeletricidade, além disso é navegável em um longo trecho dos estados de Minas Gerais e Bahia. A fi gura a seguir mostra um mapa da Bacia do São Francisco.

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52ª Edição Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade

Atividade 2

Figura 2 – Mapa da bacia do São Francisco. (*mapa ampliado na página 20)

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• Sobradinho• Juazeiro

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Paulo Afonso

Maceió

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Rio de Janeiro

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Rio Parano

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Faça uma redação sobre a importância do “Velho Chico” abordando suas características econômicas como fonte de energia elétrica e como hidrovia. Discuta também aspectos culturais nordestinos relacionados a esse rio, como, por exemplo, as carrancas do São Francisco.

A segunda bacia hidrográfi ca nordestina é a do Rio Parnaíba, a qual apresenta uma área de aproximadamente 327.107 km², banhando os Estados do Maranhão e Piauí. O Rio Parnaíba tem um curso total de aproximadamente 1.334 km, sendo navegável em dois trechos, o primeiro deles vai desde sua foz até a Barragem de Boa Esperança, a aproximadamente 749 km; o segundo parte dessa barragem e vai até a cidade de Santa Filomena em um percurso de mais 491 km, sendo assim navegável em 1.240 km.

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6 Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

Atividade 3

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Figura 3 – Mapa da bacia do Parnaíba e do São Francisco. Veja que a do São Francisco é muito maior que a do

Parnaíba e que ambos desaguam no Oceano Atlântico.

Faça uma redação sobre a importância do Rio Parnaíba abordando suas características econômicas como fonte de energia elétrica, de turismo e como hidrovia. Discuta também aspectos culturais nordestinos relacionados a esse rio.

A água subterrânea no Nordeste brasileiro

Como já falamos, as águas dos lençóis subterrêneos compõem um volume muito maior de água do que as de superfície (rios e açudes, ainda que, para estes últimos observe-se uma grande diversidade de comportamento), o que justifi ca a grande demanda por

esses mananciais existentes sob a superfi cie.

Na região Nordeste, perfuram-se poços desde o século XIX, mas apenas a partir da década de 60 do século passado, com a criação da SUDENE (Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste – www.sudene.gov.br), a água subterrânea começou a ser tratada com mais seriedade.

Nesse período, a SUDENE promoveu um levantamento hidrogeológico da região Nordeste que deu origem ao “Inventário Hidrogeológico Básico do Nordeste”, cujas informações ainda

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72ª Edição Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade

são referências até hoje. Esses estudos, que abriram as portas para uma visualização da potencialidade hidrogeológica da região, foram paralisados no início da década de 70 em função da desmobilização da SUDENE como órgão executor.

A utilização da água subterrânea no Nordeste aumentou vertiginosamente no abastecimento público e para usos diversos, tal como na pecuária e agricultura irrigada. Estima-se hoje que existam nessa região por volta de 150.000 poços tubulares, sendo somente cerca de 21.600 regularmente cadastrados. Além disso, os escassos registros encontram-se dispersos e/ou inacessíveis. Outro grande problema é que não existem dados concretos com relação à produtividade e qualidade da água dos poços perfurados. No entanto, sabe-se que existe uma grande quantidade deles improdutiva ou salinizada.

Um dos problemas com o aumento do uso da água subterrânea é que não houve planejamento técnico para sua utilização, sendo resultado de consecutivos programas emergenciais de combate aos efeitos da seca e de esforços isolados de companhias de saneamento.

Tratando-se de uma região semi-árida, a água subterrânea do Bioma Caatinga torna-se um recurso estratégico para o desenvolvimento dessa região. Assim, visando classifi car esse recurso em função das características geológicas de suas águas subterrâneas, o Nordeste do Brasil foi dividido em quatro províncias hidrogeológicas: Escudo Oriental Nordeste, São Francisco, Parnaíba e Costeira, cujas características são descritas a seguir.

1) Província do Escudo Oriental Nordeste – Predominam rochas cristalinas e apresenta, em geral, um potencial hidrogeológico muito fraco. Essa defi ciência está relacionada com características do clima semi-árido que provocam taxas elevadas de salinidade nas águas. Mesmo assim, a ocorrência de água subterrânea nessas pequenas bacias é muito importante devido à escassez dos recursos hídricos.

2) Província do São Francisco – Predominam aqüíferos com potencialidade baixa e média. Os aqüíferos tornam-se mais amplos quando ocorrem associados com rochas porosas por ação do intemperismo ou, em caso dos calcários ou dolomitos, onde a dissolução cáustica atuou amplamente.

3) Província do Parnaíba – É representada pela bacia sedimentar do Parnaíba e constitui o maior potencial de água subterrânea do Nordeste. Os principais sistemas aqüíferos, ordenados conforme sua importância de produção, são: Cabeças, Serra Grande e Poti-Piauí. Outros aqüíferos menos produtivos correspondem às Formações Motuca, Corda e Itapecuru.

4) Província Costeira – Corresponde à extensa faixa litorânea do país, estendendo-se desde o Amapá até o Rio Grande do Sul. É formada de nove subprovíncias, das quais sete ocorrem na região Nordeste: Barreirinhas, Ceará e Piauí; Potiguar; Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte; Alagoas e Sergipe; Tucano, Recôncavo e Jatobá; e Litoral da Bahia. Em alguns trechos, a província apresenta-se com penetrações para o interior, como se observa nas áreas das subprovíncias Potiguar e Recôncavo-Tucano-Jatobá.

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8 Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

Atividade 4Tente identifi car em qual das províncias hidrogeológicas citadas no texto o seu município está inserido. Quais os principais rios que cortam sua cidade? Eles são perenes? Sua cidade é abastecida por açudes, poços, por ambos, ou por rios?

Açudes no Nordeste brasileiro

Em 1992, foram catalogados 70 mil açudes com mais de mil metros quadrados e, além disso, entre 1200 a 1500, outros com capacidade superior a 100 mil m3 (sendo 450 destes com capacidade superior a 1 milhão de m3). Os estados que apresentaram maior

número foram: o Ceará, a Paraíba e o Rio Grande do Norte. A distribuição espacial desses açudes é refl exo da dinâmica da urbanização dos estados. Mas, apesar desses números, aparentemente muito altos, existem alguns fatores que podem afetar a capacidade e a qualidade dos açudes do Nordeste, dos quais podemos destacar:

açudes que secam açudes;

construção de açudes hidricamente sinérgicos e com alta perda evaporativa;

perfuração de poços tubulares de baixa relação benefício-custo pela pouca ou má qualidade da água;

construção de cisternas inefi cientes.

Isso explica em parte o motivo pelo qual as secas continuam a afetar tanto a vida do nordestino.

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92ª Edição Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade

Seca

Leia a seguir um fragmento do poema “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Mello Neto.

Não desejo emaranhar o fi o de minha linha nem que se enrede no pêlohirsuto desta caatinga.

Pensei que seguindo o rioeu jamais me perderia:

ele é o caminho mais certo,de todos o melhor guia.

Mas como segui-lo agora que interrompeu a descida?

(MELLO NETO, 2005)

Podemos entender a seca como uma situação extrema em que encontramos carência de recursos hídricos. Como no auto (box), quando o retirante deixa de ter o rio como um guia para o seu caminho, o autor refere-se também à sua vida, à sua existência. Sem água tudo fenece, tudo é muito triste. A seca encerra em si todas as agruras e signifi ca o terror para os seres vivos que subsistem sob ela, devastando as plantações, e levando as pessoas a abandonarem suas terras, ou mesmo à morte.

O suprimento hídrico para o homem e os seres vivos na Caatinga está baseado em águas subterrâneas de baixa e média profundidade, represadas em barreiros e açudes, e nas pequenas reservas de água armazenadas no corpo de algumas plantas. Águas disponíveis nos aluviões que constituem os fundos dos vales no Bioma (leitos secos e áreas adjacentes aos cursos de água temporários) são extremamente insufi cientes.

Como sabemos, na região Nordeste do Brasil, a quantidade de chuva anual está relacionada à quantidade de meses sem chuva, levando à carência de água para o consumo humano e animal, assim como, também refl etindo na cobertura vegetal da região.

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10 Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

Atividade 5

Em fevereiro de 2005, o texto contido no box a seguir foi noticiado durante o Jornal Nacional da Rede Globo. O redator conseguiu com poucas palavras narrar uma situação de seca que vem ocorrendo nas regiões semi-áridas do Nordeste brasileiro.

Leia o texto e assinale os elementos que você identifi ca como representativos em um quadro de seca. Em seguida, com uma linguagem simples e direta, descreva sua região em relação aos períodos secos e chuvosos.

Seca castiga Pernambuco

Seca deixa quarenta e dois municípios pernambucanos em estado de emergência. Com leitos de rios secos, as famílias apelam a cacimbas e chafarizes para não passar sede. No agreste de Pernambuco carcaças de animais estão pelo caminho. Parte do rebanho não resiste à sina de ir longe atrás de água e comida. O pasto desapareceu. Até a palma, que costuma resistir à estiagem está murchando. Em um sítio, o agricultor teve que vender seis bois para não deixar o restante da criação morrer de fome. “Sinto muita coisa ruim. O cabra ter o que é dele e não ser dono mais e ir se acabando tudo”, lamenta o agricultor Paulo de Moraes.

Na terra seca, Maria da Conceição gasta a aposentadoria para manter o rebanho: “Vai levando até quando Deus quiser”.

Nos povoados, fi las de latas, de baldes, de todo tipo de vasilhame. A água é cada vez mais rara.

No leito do Rio Seco, uma cacimba é como um tesouro para as famílias. No buraco, Eva consegue a água para matar a sede dos três fi lhos e cozinhar.

“Ela é salgada, bastante salgada”, diz ela.

A água com gosto de sal serve para tudo no povoado. O rio seco é a salvação.

“Se não fosse ele eu não sei o que seria de nós”, diz a dona de casa Cicera Moraes.

A luta pela água não termina nem quando o sol vai embora.

O chafariz é a única fonte para abastecer 94 famílias da comunidade de Barro Vermelho. Lá, o movimento não pára quando o dia termina. Sem o calor sufocante do sol começa uma nova jornada, ainda mais concorrida.

Os carros de boi começam a se juntar. Aos poucos, um congestionamento se forma em frente ao chafariz. Há muitos tonéis para encher. Depois do dia inteiro de trabalho, o sertanejo ainda tem disposição para buscar água. A brisa da noite serve de recompensa.

O sacrifício do sertanejo tem a duração da seca. Enquanto não chover, a maratona nas noites vai continuar.

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112ª Edição Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade

Atividade 6

Como curiosidade, conta-se que a seca que ocorreu entre os anos 1877-79, chamada dos “três setes”, é considerada a pior de todos os tempos, isso porque, somado à estiagem, houve um grande surto de varíola, tifo e cólera, que levou à morte cerca de meio milhão de sertanejos.

No século XX, foram registradas secas nos anos de: 1900, 1915, 1932, 1942, 1951-53, 1970 e 1979-83. A grande seca que ocorreu entre os anos de 1979-83, apesar de sua intensidade, não culminou com uma calamidade pública devido a melhorias nos meios de transporte que facilitaram o êxodo das populações do interior para a periferia das capitais nordestinas. Esse fenômeno social diferiu dos anteriores registrados nesse século, que devido à crise econômica as pessoas não migraram como antes para as capitais do sudeste e sul do Brasil.

Outro aspecto importante em relação à escassez de água diz respeito à irregularidade das precipitações durante o ano. As chuvas além de serem poucas, fi cam concentradas em determinados meses, e grande quantidade delas cai em somente um dia. Como, por exemplo, no Açude de São Gonçalo do município de Souza, na Paraíba, em março de 1941, choveu 45% da chuva anual, sendo que no dia seis de março, choveu o equivalente a 40% do mês. Essa irregularidade traz sérios problemas para a agricultura, pecuária, seres humanos e meio ambiente.

A partir de documentos de época ou na tradição oral que as registrou, Euclides da Cunha em Os Sertões listou as maiores secas de que se tem notícia desde o século XVIII até meados do século XX. Consulte o referido livro e complete a tabela a seguir.

Século XVIII 1710-11 1736-37 1777-78

Século XIX 1824-25 1877-79

Agora que você preencheu a tabela, verifi que que ela apresenta periodicidades. Quais são essas periodicidades?

A escassez de água é um problema que ocorre periodicamente no Bioma Caatinga há muitos séculos. Por outro lado, não é um fenômeno que afeta exclusivamente o Nordeste brasileiro, ocorre no Sul do Brasil, Argentina, Chile, México, Estados Unidos da América, Espanha e em muitos países da África, Ásia e Oriente Médio. Mas, no nosso caso, temos essa ocorrência em uma região densamente populosa se comparada com as outras regiões do globo sujeitas a secas.

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12 Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

Atividade 7Entreviste pessoas “mais velhas” e peça para contarem sobre as grandes secas que assolaram sua região. Faça perguntas como: quando ocorreram, quais as principais conseqüências, como as pessoas conseguiam sobreviver, entre outras. Anote as informações colhidas e escreva um texto em forma de reportagem (semelhante ao do Jornal Nacional), apresentando os resultados de seu trabalho.

Problemáticas da Caatinga

A Caatinga enfrenta dois importantes problemas, o primeiro diz respeito ao processo de salinização da água disponível e o segundo, à desertifi cação. Ambos podem causar sérios danos ao meio ambiente com impactos sobre os seres vivos que habitam a região. Vejamos cada um deles.

1) SalinizaçãoUm problema no semi-árido nordestino é a crescente salinização de suas águas. Esse fato

deve-se principalmente a três fenômenos: dissolução ou intemperização (hidrólise hidratação, solução, oxidação e carbonatação) dos minerais primários existentes nas rochas e no solo, tornando-os mais solúveis; concentração dos sais pela ação do clima (nesse caso, pela taxa de evaporação ser maior do que a precipitação pluviométrica); e através do fenômeno do endorreísmo que não facilita a drenagem do solo.

Temos na região uma precipitação média anual entre 400 e 800 mm e uma evaporação média anual de 1.500 a 2.200 mm! Como conseqüência, ocorre um aumento no teor de sal das águas e do solo, fenômeno este denominado de salinização. Esses números refl etem uma situação extremamente grave, que exige das autoridades competentes providências no sentido de minimizar os danos causados pelo homem ao meio ambiente.

A taxa de evaporação no Semi-árido nordestino atinge patamares médios anuais da ordem de 2000 mm. Isso signifi ca que diariamente são evaporados em torno de 6,0 mm de água.

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Atividade 8

Supondo que a taxa de evaporação diária no Nordeste é de 6,0 mm, determine quanto de água evapora em três meses.

Se levarmos em consideração os efeitos da evaporação em um pequeno açude, iremos chegar à seguinte conclusão ao fi nal de um ano: a concentração salina pode chegar a 25%. Isso é fácil de entender porquanto, na evaporação, o que é subtraído do açude é a água, aumentando, portanto, paulatinamente a concentração dos sais. Esse, por sinal, é um exemplo bem característico da região, não sendo difícil serem observados, em períodos secos, leitos de açudes completamente desprovidos de água, com a lama endurecida, rachada e tendo em sua parte mais profunda uma mancha branca, que nada mais é do que a deposição dos sais da água naquele local (MOLLE; CADIER, 1992).

– Efeitos dos sais nos organismos vivos

Concentrações salinas altas podem causar distúrbios nos seres vivos. Segundo Laraque (1991), as conseqüências causadas pela ingestão de concentrações salinas em diversos níveis (considerar 640 mg/l de sais = CE 1000 usiemens/cm), nos organismos de animais (rebanho e aves), podem ter as implicações a seguir.

Concentração (mg/l) Efeito

< 1000 Teor de sal relativamente fraco. Excelente para todas as categorias de rebanho e aves.

1000 – 3000 Muito bom para todas as categorias. Mas, pode ocasionar uma diarréia temporária e leve nos animais, que não estão habituados a essa quantidade, e fezes aquosas em aves.

3000 – 5000Muito bom para os rebanhos, mas pode causar diarréia temporária naqueles animais que não estão habituados ou ser rejeitada por estes no começo. Medíocre para aves, originando evacuações líquidas e uma grande mortalidade, principalmente nos perus.

5000 – 7000Razoavelmente segura para os rebanhos leiteiros e de corte, carneiros, porcos e cavalos. Evitar a ingestão por animais gestantes ou para aqueles que estão amamentando. Não aceitável pelas aves.

7000 – 10000

Impróprias para aves e provavelmente para o porco. Risco considerável se for utilizada por vacas, jumentos ou ovelhas gestantes ou que estão amamentando, ou mesmo por seus fi lhotes. Em geral, é preciso evitar sua utilização pelos ruminantes e monogástricos. Os riscos ligados à utilização dessas águas muito salgadas são tão consideráveis que torna-se impossível a sua utilização para quaisquer que sejam as circunstâncias.

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14 Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

Figura 4

Para o consumo humano, águas com mais de 200 ppm (aproximadamente 200 mg/l) de cloreto têm o gosto desagradável. Águas com teor de cloreto acima de 1000 ppm (partes por milhão), quando bebidas em demasia, poderão levar a distúrbios no estômago. O Serviço de Saúde Pública dos EUA recomenda aos sistemas municipais que o conteúdo de cloreto não ultrapasse 250 ppm. Na fi gura seguinte, verifi camos a deposição de sais no leito seco de um açude no Nordeste.

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Como você estudou nas aulas passadas, a disponibilidade de água de determinada região é dependente do índice pluviométrico dessa região. Se considerarmos uma área de 800 mil Km2 com precipitação média anual de 600mm, teremos um volume anual total de precipitação de 48 milhões de mm3. Desse valor, teremos uma perda em cerca de 88% (42.240 mm3) por evaporação ou evapotranspiração; 8,5% (4.128 mm3) por escoamento superfi cial e 3,3% (1.632mm3) por escoamento subterrâneo. Esse alto valor de evaporação e evapotranspiração pode chegar em certas situações a 90%. Verifi camos dessa forma uma enorme perda nesses processos da água precipitada com a chuva, restando apenas cerca de 0,2% (96 mm3).

Além disso, outros fatores comprometem a água disponível para o consumo humano, a pecuária e agricultura, entre eles: drenagem defi ciente, má qualidade da água, características físico-químicas do solo, manejo inadequado da irrigação, e erosão do solo e assoreamento dos rios, causados pelo desmatamento das matas ciliares.

2) Desertifi caçãoEsse fenômeno é resultado da remoção da cobertura vegetal da região, assoreamento dos

rios e baixo índice pluviométrico anual. Estudos importantes vêm sendo realizados quanto à crescente desertifi cação de locais da região Nordeste, e também de outros estados brasileiros, como no Rio Grande do Sul. No caso nordestino, esse problema é muito mais dramático pela própria sensibilidade do Bioma Caatinga.

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Atividade 9

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Atividades como a produção de carvão e lenha para abastecer padarias e olarias da região têm contribuído fortemente para destruir a fl ora local e com ela a fauna. Também tem contribuído para o empobrecimento dos solos, visto que os tijolos e telhas fabricados em larga escala por inúmeras pequenas fábricas de cerâmicas são feitos a partir do barro, um bem inestimável para a fl ora nordestina.

Transposição das águas do rio São Francisco

Uma alternativa para a seca no semi-árido do Nordeste é a transposição das águas do rio São Francisco, chamado de Projeto São Francisco. Atualmente, ocorre uma ampla discussão entre os diversos seguimentos da sociedade sobre a viabilidade e os

benefícios que irá trazer. Esse projeto prevê a transposição para áreas carentes dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

A ênfase é principalmente para a solução dos problemas de abastecimento urbano, agroindústria e indústria mínero-metalúrgica. Tal projeto prevê dois pontos de captação de água na jusante da Barragem de Sobradinho.

No entanto, existem muitas críticas em relação à viabilidade e ao custo desse projeto. De acordo com os críticos, formas alternativas para o armazenamento de água poderiam ser

Pesquise sobre iniciativas que estão em andamento para minimizar o problema da desertifi cação e anote algumas que tenha considerado particularmente importantes.

Uma alternativa para enfrentar a falta de água no Nordeste é o programa “Associação Programa 1 Milhão de Cisternas – AP1MC” (criado em 2001), que tem como objetivo mobilizar e capacitar um milhão de familias para conviver com o Semi-Árido. Realize uma pesquisa sobre esse programa e descubra como se constrói uma cisterna, fazendo no espaço indicado a seguir a planta (desenho) de uma cisterna.

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Atividade 10

Resumo

incentivadas, como o programa de cisternas, com custo bem inferior aos altos investimentos que aquele exige; e, ainda, que essa água será insufi ciente e que benefi ciará somente aos grandes produtores de frutas, pecuaristas e criadores de camarão, não trazendo benefícios diretos ao sertanejo, que é pequeno produtor. Outro problema diz respeito ao aporte de água necessário para o funcionamento das hidrelétricas que fi cam no médio e baixo vale do Rio São Francisco, Paulo Afonso, Itaparica e Xingó, que produzem energia para todo o Nordeste.

Será que, uma vez desviada, haverá, principalmente nos meses de seca, água sufi ciente para as hidrelétricas e transposição? E o fator evaporação, será que não levará a uma redução drástica nos volumes de água, assim como o impacto sobre a dinâmica climática do semi-árido? Outro fator é o custo energético, já que são necessárias várias elevações de nível de água. Por último, não devemos esquecer do impacto ambiental que um projeto dessa envergadura pode ocasionar.

Pesquise em fontes como jornais, revistas ou mesmo em conversa com pessoas sobre as principais vantagens e desvantagens da transposição do São Francisco. Faça uma tabela colocando de um lado as vantagens e de outro as desvantagens e, fi nalmente, apresente em um breve texto sua opinião.

Nesta aula, você estudou a presença e distribuição da água no mundo e no Nordeste brasileiro, na superfície e no subsolo. Além disso, enfocamos também, os problemas da seca e os impactos causados pelo clima semi-árido: desertifi cação e salinização das águas.

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Auto-avaliaçãoTrace um perfi l do Bioma Caatinga em relação aos seus recursos hídricos, desde suas províncias hidrológicas até suas águas subterrâneas.

Identifi que a problemática da desertifi cação e da salinização das águas.

Fale sobre os recursos energéticos da região Nordeste.

Fale sobre o projeto de transposição das águas do rio São Francisco.

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18 Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade 2ª Edição

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192ª Edição Aula 05 Ciências da Natureza e Realidade

Anotações

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Januária •

São Romão •

• Bom Jesus da Lapa

• Ibotirama

Rio Corrente

• Xique Xique

• Sobradinho

• Juazeiro

• Itaparica

Lago deSobradinho •

Barra •

• PiraporaRio paracatu

• Tres Marias

Belo Horizonte

Salvador

Aracajú

Penedo

Paulo Afonso

Vitória

Oceano Atlântico

Rio de Janeiro

Rio Paranoaba

• BarreirasRio Grande

Petr olina

Maceió

Rio Vaza Barris

Mapa da bacia do São Francisco

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EMENTA

> Franklin Nelson da Cruz

> Gilvan Luiz Borba

> Luiz Roberto Diz de Abreu

A Ciência e seus métodos, levantamento da realidade local, o Universo, o Sistema Solar e a Terra, a atmosfera e o clima, a biosfera, a hidrografi a, a fl ora e a fauna, a interferência humana no meio ambiente, uma primeira identifi cação de problemas ambientais.

CIÊNCIAS DA NATUREZA E REALIDADE – INTERDISCIPLINAR

AUTORES

AULAS

01 Situando a Ciência no Espaço e no Tempo

02 A Terra – litosfera e hidrosfera

03 A Terra – atmosfera

04 Bioma Caatinga – recursos minerais

05 Bioma Caatinga – recursos hídricos

06 Bioma Caatinga – recursos fl orestais e fauna

07 Interação Sol – Terra: fl uxos de Energia

08 Clima e tempo

09 O Homem – origens

10 A Hipótese Gaia

11 Poluição

12 Ciência e ética

13 Ciência, Tecnologia e Sociedade

14 Universo: uma breve apresentação

15 O Nordeste, o Homem e a Seca: natureza de uma realidade

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