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DIREITO E BIOÉTICA EM FOCO Uma Análise Multidisciplinar

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CAPA: http://pixabay.com/static/uploads/photo/2013/07/18/10/55/microbiology-

163470_640.jpg

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Juliana Rui Fernandes dos Reis Gonçalves (Organizadora)

DIREITO E BIOÉTICA EM FOCO Uma Análise Multidisciplinar

Autores: Agatha Yuri Sonohara - Allana Marieli Mazaro Zarelli

Andressa Satie Ito Fujiwara - Caio Fábio Camargo

Dayze Camila Peres - Elian Sobreira - Fernanda Andrade Ré

Fernanda Caraçato Vettorazzo - Fernanda Trevisan

Giovana Primon - Gislaine Kremer do Couto

Helber Ribeiro Araújo - Jéssica Rodrigues Cardoso

Karoliny Pavesi - Kríssley Ribeiro dos Santos

Lais Caroline Moreira - Leliane Krauspenhar

Maiana Kelmer Araújo - Mariuci Roberta Barrreto da Costa

Paula Barbosa Biasão - Patrícia Bastos

Rafael Walsh Crestani - Ricardo Baccaro

Simara Cristina de Souza Molina - Simone Cristina de Sá

Soeli Alves Brito - Veridiane Merlos

Sob a Orientação da:

Profa. Ms. Juliana Rui Fernandes dos Reis Gonçalves

II Edição

Editora Vivens

O Conhecimento a serviço da Vida!

Maringá – PR

2014

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Copyright 2014 by Humanitas Vivens Ltda

EDITORES:

Daniela Valentini

José Francisco de Assis Dias

CONSELHO EDITORIAL:

Prof. Dr. Daniel Eduardo dos Santos [UNICESUMAR]

Prof. Dr. José Beluci Caporalini [UEM-Maringá]

Prof. Dra. Lorella Congiunti [PUU-Roma]

REVISÃO ORTOGRÁFICA:

Prof. Antonio Eduardo Gabriel

CAPA, DIAGRAMAÇÃO E DESIGN:

Rogerio Dimas Grejanim

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

Ivani Baptista –Bibliotecária CRB-9/331

Todos os direitos reservados com exclusividade para o

território nacional. Nenhuma parte desta obra pode ser

reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou

quaisquer meios ou arquivada em qualquer sistema ou banco

de dados sem permissão escrita da Editora.

Editora Vivens, O conhecimento a serviço da Vida!

Rua Sebastião Alves, nº 232-B – Jardim Paris III

Maringá – PR – CEP: 87083-450; Fone: (44) 3046-4667

http://www.vivens.com.br; e-mail: [email protected]

Direito e bioética em foco: uma análise D598 multidisciplinar / Juliana Rui Fernandes

dos Reis Gonçalves, organizadora. --

2 ed. Maringá, PR : Vivens, 2014.

161p.

ISBN 978-85-8401-021-9

Disponível em: www.vens.com.br

1. Direito – Bioética. 2. Eutanásia – Direito. 3. Pedofilia. 4. Aborto.

CDD-DIR 4.ed.

341.27

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Sumário

Prefácio .................................................................................

CAPÍTULO I:

ANÁLISE SOBRE A DISCUSSÃO

ACERCA DA EUTANÁSIA..................................................

1 Introdução.........................................................................

2 Bioética.............................................................................

2.1 Origem e Conceito de Bioética.....................................

2.2 Princípios da Bioética..................................................

2.2.1 Princípio da Autonomia.......................................

2.2.2 Princípio da Beneficência ....................................

2.2.3 Princípio da não-maleficência...............................

2.2.4 Princípio da Justiça..............................................

3 Considerações históricas.....................................................

4 Eutanásia no Brasil.............................................................

5 Eutanásia, Mistanásia, Distanásia e Ortotanásia ...................

6 Países que permitem a prática da Eutanásia.........................

7 Eutanásia, Religião e divergências.......................................

7.1 Religião Católica..........................................................

7.2 Religião Judaica............................................................

7.3 Religião Islâmica..........................................................

7.4 Religião Hindu..............................................................

7.5 Religião Budista...........................................................

7.6 Religiões Novas............................................................

7.7 Instituições defensoras da Eutanásia..............................

8 Conclusão...........................................................................

9 Referências.........................................................................

CAPÍTULO II:

COBAIAS HUMANAS..........................................................

1 Introdução............................. ..............................................

2 Breve histórico da Bioética.................................................

3 Bioética: conceito e princípios............................................

4 Conceito de Cobaias Humanas.............................................

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5 As Cobaias Humanas: sua análise frente

aos princípios bioéticos e da dignidade

da pessoa humana.............................. ...............................

6 Termo de consentimento informado e

protocolo de pesquisa.............................................................

7 Conclusão............................................................................

8 Referências.........................................................................

CAPÍTULO III:

ABORTO ANENCEFÁLICO.................................................

1 Introdução..........................................................................

2 Aborto................................................................................

2.1 Aspectos históricos......................................................

3 Países que autorizam o aborto de anencéfalos......................

4 Princípios Constitucionais relacionados ao tema..................

4.1 Princípio da dignidade da pessoa humana......................

4.2 Princípio da Harmonização dos bens jurídicos ..............

5 Anencefalia........................................................................

5.1 Conceito de feto anencefálico......................................

5.2 Prognósticos................................................................

5.3 Prevenção....................................................................

6 Aborto por anencefalia.......................................................

6.1 Prós e contras do aborto anencefálico...........................

7 Como têm decidido os juízes no caso do

aborto anencefálico............................................................

7.1 ADPF 54.......................................................................

8 Conclusão...........................................................................

9 Referências.........................................................................

CAPÍTULO IV:

PEDOFILIA NA INTERNET:

UM CRIME CARENTE DE PUNIÇÃO............................... ..

1 Introdução..........................................................................

2 Conceitos...........................................................................

3 Panorama histórico da pedofilia..........................................

4 Pedofilia na Internet...........................................................

5 Bioética e Biodireito relacionado com a pedofilia ................

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6 Pedofilia na legislação brasileira.........................................

6.1 Comissão Parlamentar de Inquérito da Pedofilia............

7 Conclusão...........................................................................

8 Referências.........................................................................

CAPÍTULO V:

PEDOFILIA: OS DOIS LADOS DO TRAUMA....................

1 Introdução.........................................................................

2 Pedofilia............................................................................

2.1 Conceitos e considerações gerais..................................

2.2 Soluções da Medicina...................................................

3 Pedófilo..............................................................................

3.1 Os abusadores usuais.....................................................

3.2 Transtornos..................................................................

3.3 Justificativas.................................................................

4 Vítimas..............................................................................

4.1 Quem são as vítimas.....................................................

4.2 Tipos de abusos............................................................

4.3 Consequências nas vítimas dos pedófilos......................

5 Enfoque contemporâneo sobre a pedofilia

e o que a lei traz sobre o assunto.............................................

6 Conclusão...........................................................................

7 Referências...................................................... ...................

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PREFÁCIO

É possível que se questione ao ler o índice desta obra o

porque tratamos de temas tão diferenciados em um único livro.

Contudo, apesar de diferentes, todos os assuntos tratados são

de igual importância quando se fala em dignidade da pessoa

humana. Tendo como base o estudo deste assunto, desenvolve-

se na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR –

Câmpus Maringá, mais especificamente na disciplina

intitulada Filosofia Jurídica, o estudo de vários temas ligados

ao Direito e a Bioética, tendo-se como enfoque principal a

análise da dignidade da pessoa humana, protegida pela

Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1°, inciso III.

Cabe ressaltar que o estudo de tema tão relevante a

seara jurídica é de suma importância face aos vários

acontecimentos que tem violado esse direito, buscando-se

demonstrar nesta que, apesar das situações tratadas serem

muito diferenciadas, sempre tem em comum a violação a este

princípio básico a todo ser humano.

Ressalta-se ainda a importância de cada tema em sua

singularidade, posto que cada um dos assuntos, traz em si

várias controvérsias que inquietam e preocupam os operadores

do Direito e, porque não dizer, a sociedade como um todo,

posto que todos são de grande relevância e interesse social.

Não deixando de tratar da Bioética, destaca-se que a

mesma é aqui trazida, posto que esta, mesmo que inicialmente

tenha sido criada para analisar as questões referentes ao

equilíbrio e a preservação das relações humanas com o

ecossistema e tudo que o envolve, foi tomando contornos

voltados ao estudo sistemático da conduta humana no campo

das ciências da vida e da saúde, quando estas se voltam a

realizar essa análise sob a ótica dos valores e princípios

morais1, acrescentando que, seus estudiosos, cada vez mais,

tem estendido sua análise a temas que envolvam o bem estar e

1 Encyclopedia of bioethics , New York, Macmillan Ed. Reich, 1995, v.

1.

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o futuro da humanidade, preocupando-se dessa forma, com a

qualidade de vida destes, o que está diretamente ligado à

dignidade da pessoa humana.

Como se acredita que a discussão pode despertar

mudanças, traz-se uma singela colaboração acerca dos temas

aqui tratados, realizada por estudantes de Direito da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná – PUCPR – Câmpus Maringá,

os quais, sendo despertados ao interesse pelo estudo dos temas

em questão, buscaram refletir sobre as necessidades atuais de

mudanças legislativas e sociais, para que realmente se

implemente o principio da dignidade da pessoa humana.

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CAPÍTULO I:

ANÁLISE SOBRE A DISCUSSÃO

ACERCA DA EUTANÁSIA

Allana Marieli Mazaro Zarelli

Andressa Satie Ito Fujiwara

Dayze Camila Peres

Fernanda Trevisan

Lais Caroline Moreira

Ricardo Baccaro2

Resumo

A presente pesquisa tem como fim analisar a prática da

eutanásia, fazendo um paralelo entre os conceitos de

distanásia, mistanásia e ortotanásia, traçando para tanto um

parâmetro histórico acerca da evolução do entendimento da

primeira e abordando-a em conjunto com os princípios da

bioética, os quais são denominados de princípio da

autonomia, da beneficência, da não-maleficência e da justiça.

Buscar-se-á, ainda, versar sobre os diversos vieses religiosos

acerca do tema e, também, sobre o posicionamento legal em

diferentes lugares que aderem ou não a tal prática.

Palavras-chave: Eutanásia. Bioética. Dignidade da pessoa

humana.

2 Acadêmicos do quinto período do Curso de Direito da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná – Campus Maringá.

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1 INTRODUÇÃO

Levando em consideração a base principiológica que

envolve a bioética e os preceitos constantes no ordenamento

jurídico pátrio, percebe-se uma grande discussão no tocante a

prática da eutanásia como ato legal ou não, questionando ainda

o fato de esta ser considerada uma conduta ética e se está ou

não preservando a dignidade daquele que é sujeito passivo de

tal prática.

Na antiguidade, a prática da eutanásia era considerada

algo natural e era aplicada com o intuito de eliminar aqueles

que para eles eram tidos como “desnecessário”, posto que

tanto os idosos como as crianças que nasciam com problemas

genéticos não contribuíam para o desenvolvimento das

cidades, podendo também ser precursores de prole defeituosa.

Dessa forma, nesse período nem se cogitava analisar os

direitos daquelas pessoas.

Atualmente, com a evolução da sociedade, da ciência e

dos valores éticos e morais, este tema passou a ser muito

discutido, justamente, porque o princípio que prepondera é o

da dignidade da pessoa humana.

Em alguns países esta prática é tolerada, todavia, não é

legalizada. Enquanto que no Brasil, por exemplo, o

entendimento é taxativo no sentido da inaplicabilidade da

eutanásia, sendo aquele que a pratica responsabilizado por

homicídio qualificado.

2 BIOÉTICA

Este tópico propõe-se a resgatar, por meio da revisão

bibliográfica, a origem, o conceito e os princípios da bioética.

2.1 ORIGEM E CONCEITO DE BIOÉTICA

A palavra bioética foi utilizada pela primeira vem em

1927, em um artigo publicado no periódico alemão Kosmos,

por Fritz Jahr, que a caracterizou como “o reconhecimento de

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obrigações éticas, não apenas em relação ao ser humano, mas

para com todos os seres vivos”. Mas, foi somente em 1970,

que Van Rensselaer Potter a descreveu como a “ciência da

sobrevivência”, visando com o seu estudo estabelecer uma

interface entre as ciências e as humanidades 3.

A expressão bioética, de origem grega (bios, vida, e

ethos, ética), é formada pela junção de “bio”, que significa o

conhecimento biológico, a ciência dos sistemas vivos,

enquanto “ética” representa o conhecimento dos valores

humanos4.

O conteúdo do que hoje se entende como bioética vem

sendo desenvolvido desde as primeiras décadas do século XX,

uma vez que os princípios da bioética, como a beneficência e

não-maleficência buscam sua fonte em Hipócrates, refletindo

também o repúdio aos abusos cometidos por profissionais da

saúde durante a Segunda Guerra Mundial 5.

Mas, devem-se ao oncologista americano Van

Renseelaer Potter as primeiras noções de bioética 6, posto que

este a entendia como uma combinação de conhecimento

científico e filosófico, o que posteriormente denominou de

“bioética global”, com o qual tinha a pretensão de que se

tornasse um conhecimento voltado a estabelecer os padrões

éticos necessários à própria subsistência do homem e não

apenas um ramo da ética aplicada à medicina. Dessa forma, em

1998, afirmou: A teoria original da bioética era a intuição da

sobrevivência da espécie humana, numa

forma decente e sustentável de civilização,

exigindo o desenvolvimento e manutenção de

um sistema de ética. Tal sistema [...] é a

3 GOLDIM, José Roberto. Bioética: origens e complexidade. Revista

HCPA, v. 26, n. 2, p. 86-92, 2006. p. 86. 4 PESSINI, Leo. Bioética: das origens à prospecção de alguns desafios

contemporâneos. O Mundo da Saúde , v. 29, n. 3, p. 305-324, jul./set.

2005. p. 308. 5 FROEHLICH, Charles Andrade. Bioética e direitos além de “humanos”:

um enfoque filosófico jurídico contemporâneo. Revista Brasileira de

Bioética, v. 2, n. 1, p. 87-106, 2006. p. 90. 6 Ibid.

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bioética global, fundamentada em

instituições e reflexões fundamentadas no

conhecimento empírico proveniente de todas

as ciências, em especial, porém, do

conhecimento biológico. [...] Na atualidade,

este sistema ético proposto segue sendo o

núcleo da bioética, ponte com sua extensão

para a bioética global, o que exigiu o

encontro da ética médica com a ética do

meio ambiente para preservar a

sobrevivência humana7.

Explica Heloísa Helena Barboza que após Potter ter

colocado em circulação como uma nova disciplina, esse termo

se difundiu rapidamente, adquirindo o significado específico e

científico de nova dimensão da pesquisa no campo dos estudos

acadêmicos, surgindo, em menos de uma década, como

disciplina autônoma na Universidade Católica do Sagrado

Coração, em Roma, assim como institutos dedicados a sua

investigação8.

2.2 PRINCÍPIOS DA BIOÉTICA

O aparecimento da bioética concretiza a aspiração

secular de estabelecimento de uma ética global para as

ciências biomédicas e da promoção de uma racionalidade

abrangente voltada para a criação de uma consciência

ambiental9.

Os princípios da bioética foram estabelecidos a partir da

criação pelo Congresso dos Estados Unidos, de uma Comissão

Nacional que se encarregou de identificar os princípios éticos

básicos que deveriam guiar a investigação em seres humanos

7 PESSINI, Leo. Bioética: das origens à prospecção de alguns desafios

contemporâneos. O Mundo da Saúde , Op. cit., 2005. p. 309. 8 BARBOZA, Heloísa Helena. Princípios da bioética e do biodireito.

Revista de Bioética e Ética Médica publicada pelo Conselho Federal

de Medicina , v. 8, n. 2, p. 209-216, 2000. p. 209-210. 9 HECK, José. Principialismo bioético: a posição de R. Dworkin sobre

aborto e eutanásia. Ethic@, v. 6, n. 2, p. 217-237, dez. 2007. p. 218.

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realizado pelas ciências do comportamento e pela

Biomedicina. Os trabalhos tiveram início em 1974 e, quatro

anos depois, foi publicado o Relatório Belmonte, contendo três

princípios: a) da autonomia ou do respeito às pessoas por suas

opiniões e escolhas, segundo valores e crenças pessoais; b) da

beneficência, que se traduz na obrigação de não causar dano e

de extremar os benefícios e minimizar os riscos; c) o da justiça

ou imparcialidade na distribuição dos riscos e dos benefícios,

não podendo uma pessoa ser tratada de maneira distinta de

outra, salvo haja entre ambas alguma diferença relevante 10.

A esta proposta, Beauchamp e James Childress

acrescentaram, em 1979, o princípio da não maleficência,

segundo o qual não se deve causar mal a outro11.

2.2.1 Princípio da autonomia

O princípio bioético da autonomia da bioética foi

desenvolvido de forma diferente da noção kantiana de

autonomia, ressaltando o livre-arbítrio como expressão da

capacidade humana adquirida para deliberar e exercer escolha

de ações e separar a congruência estabelecida por Kant entre

moralidade e autonomia12.

Na abordagem da bioética, uma conduta deve ser vista

como autônoma quando é submetida ao consentimento livre,

ou seja, autonomia consiste em discernir acerca de seu próprio

bem e tomar decisões isentas de paternalismo, amparadas pelo

consentimento informado. Em outras palavras, a autonomia

principialista limita-se a incorporar na bioética o direito moral

do paciente de tomar suas próprias decisões, mesmo que com

isto o indivíduo neutralize orientações benéficas prescritas

pelo médico13.

O princípio da autonomia tem por base os pressupostos

de que a sociedade democrática e a igualdade de condições

10 BARBOZA, Heloísa Helena. Op. cit., 2000. p. 211. 11 DINIZ, Débora; GUILHEMM, Dirce. O que é bioética . São Paulo:

Brasiliense, 2002. p. 38. 12 HECK, José. Op. cit., 2007. p. 219. 13 Id

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entre os indivíduos constituem pré-requisitos para a

coexistência das diferentes morais. Assim, a existência da

noção moral de respeito à autonomia significa que a

autodeterminação do agente moral só pode ser considerada se

não ocasionar danos ou sofrimentos a outros indivíduos14.

Por outro lado, é indispensável diferenciar a autonomia

do respeito à autonomia dos indivíduos. As pessoas que são

consideradas dependentes e/ou vulneráveis, como por

exemplo, as crianças, os deficientes mentais, os idosos e

pacientes dentro de uma hierarquia rígida e de estruturas

fechadas dos serviços de saúde, devem ter sua integridade e

desejos protegidos, embora não sejam capazes de exercer

plenamente a autonomia15.

Em consequência, tornou-se imprescindível encontrar

uma solução eticamente aceitável para que os indivíduos

social e fisicamente vulneráveis fossem respeitados em suas

escolhas morais. No entanto, apenas uma tênue linha separa a

proteção da autoridade, uma vez que em nome dessa proteção

de vulneráveis é possível justificar o silenciamento de certas

opções discordantes, por exemplo. Assim, a incapacidade,

temporária ou permanente, justificava a sobreposição entre

autoridade médica e autoridade ética. A saída formal

encontrada foi a introdução de consentimento informado para

que se pudesse garantir os interesses e a proteção dos

pacientes em situação de pesquisa e de atendimento clínico 16.

Mas, ainda assim, o consentimento livre e esclarecido

para ter validade requeria que o indivíduo demonstrasse

competência para decidir, domínio de informações detalhadas

a respeito do seu caso e das diferentes possibilidades

terapêuticas a ele relacionadas, capacidade para compreender

as informações recebidas para que tivessem condições de

embasar o processo de tomada de decisões e oportunidade de

escolher livre e voluntariamente a opção mais adequada ao seu

caso, sem submeter-se à coerção de outras pessoas ou

14 DINIZ, Débora; GUILHEMM, Dirce. O que é bioética . São Paulo:

Brasiliense, 2002. p. 45. 15 Ibid. 2002, p. 46. 16 Ibid. 2002, p. 47.

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19

instituições. Assim, tem-se que os pré-requisitos que validam

um consentimento livre e esclarecido não são para todos,

atingindo apenas uma reduzida parcela de indivíduos que se

enquadram como socialmente privilegiados 17.

2.2.2 Princípio da beneficência

A beneficência encontra-se associada a excelência

profissional desde a medicina praticada na Grécia Antiga,

estando expressa no Juramento de Hipócrates: “Usarei o

tratamento para ajudar os doentes, de acordo com minha

habilidade e julgamento e nunca o utilizarei para prejudicá -

los”18.

Este princípio significa, em termos práticos, que se tem

a obrigação moral de agir para o benefício do outro, obrigando

o profissional de saúde a ir além da não-maleficência, ou seja,

de não causar danos intencionalmente, e exige que ele

contribua para o bem-estar dos pacientes, promovendo ações

para prevenir e remover o mal que se configura como a doença

e incapacidade, e para fazer o bem entendido como saúde

física, emocional e mental19.

2.2.3 Princípio da não-maleficência

Este princípio configura-se como herdeiro da tradição

deontológica hipocrática e se associa à máxima “acima de

tudo, não cause danos” 20. Este preceito, “mais conhecido em

sua versão para o latim, primum non nocere”, é utilizado como

uma exigência moral da profissão médica. Portanto, trata-se de

um dever profissional que, se não cumprido, coloca o

profissional de saúde em uma situação de má-prática ou

17 DINIZ, Débora; GUILHEMM, Dirce. Op. cit., 2002, p. 47. 18 LOCH, Jussara de Azambuja. Princípios da bioética . Disponível em:

<http://www.pucrs.br/ bioetica/conr/joao/principiosdebioetica.pdf> .

Acesso em: 3 mar. 2010. p. 3. 19 Id. 20 DINIZ, Débora; GUILHEMM, Dirce. Op. cit., 2002, p. 49.

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20

prática negligente da medicina ou demais profissões das áreas

da saúde21.

O princípio adquire relevância pelo fato de que, muitas

vezes, o risco de causar danos é inseparável de uma ação ou

procedimento que é moralmente indicado. Deve-se observar

que no exercício da medicina este é um fato comum,

considerando que quase toda intervenção diagnóstica ou

terapêutica envolve algum risco de dano, mas, do ponto de

vista ético, este dano se justifica se o benefício esperado com

o resultado do exame ou do método terapêutico empregado for

maior que o risco da doença22.

2.2.4 Princípio da justiça

Diferentemente dos princípios mencionados

anteriormente, o princípio da justiça está associado,

preferencialmente, com as relações entre os grupos sociais,

preocupando-se com a eqüidade na distribuição de bens e

recursos considerados comuns, como uma tentativa de igualar

as oportunidades de acesso a estes bens 23.

Esta teoria dos quatro princípios, segundo Volnei

Garrafa, apesar de sua reconhecida praticidade e utilidade para

a análise de situações clínicas e em pesquisa, é ainda

insuficiente para se realizar uma análise contextualizada de

conflitos que exijam flexibilidade para uma determinada

adequação cultural, assim como para enfrentar problemas

bioéticos persistentes encontrados por grande parte da

população de países com índices de exclusão social como o

Brasil e outros da América Latina e Caribe 24.

21 LOCH, Jussara de Azambuja. op. cit. p. 2. 22 Id. 23 Ibid., p. 5. 24 GARRAFA, Volnei. De uma bioética de princípios a uma bioética

interventiva, crítica e socialmente comprometida. Revista Argentina de

Cirurgia Cardiovascular , 2005. Disponível em:

<http://www.anvisa.gov.br>. Acesso em: 3 mar. 2010. p. 7.

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3 CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS

Na Grécia Antiga, já se discutia a questão da Eutanásia

englobando valores sociais, religiosos e culturais. A partir

desta discussão surgiram correntes de pensadores que

adotaram uma posição a favor da eutanásia, bem como uma

corrente contrariando esta linha de pensamento.

Alguns estudiosos como Platão, Sócrates, Epicuro, por

exemplo, entendiam que o sofrimento como conseqüência de

uma doença dolorosa era uma justificativa ao suicídio. Esse

pensamento era convergente ao entendimento de Thomas

Morus, na obra “Utopia”, na qual apoiava o homicídio dos

idosos, dos incuráveis e dos enfermos com a finalidade de

conscientizar os educadores a transmitir a ideia de suicídio a

essa categoria de pessoas. Esses pensadores entendiam que

aquelas pessoas que se mostrassem infrutíferas a sociedade

deveriam autodestruir-se25.

Em contrapartida, outros filósofos, tais como

Aristóteles, Pitágoras e Hipócrates , mostravam-se contrários a

idéia do suicídio. Observa-se isso, quando Hipócrates disse em

seu juramento que não daria qualquer droga fatal a uma pessoa

e não sugeriria o uso de qualquer uma daquele tipo. Com isso,

a escola hipocrática já se posicionava contra o que atualmente,

são denominados eutanásia e suicídio assistido26.

A prática da eutanásia foi muito usual anteriormente,

entre vários povos e sob diversas modalidades, dentre eles, na

Índia, havia o costume de se atirar as pessoas doentes ao Rio

Ganges. Enquanto que em Esparta, a prática se configurava

por meio do arremesso de crianças, menos saudáveis, de cima

do monte “Taigeto”. A justificativa utilizada pelos espartanos

era o fato de evitar que tais crianças sofressem e se tornassem

um “problema” aos respectivos familiares e também ao

25 BIZATTO, José Ildefonso. Eutanásia e responsabilidade médica . 2.

ed. rev. au. Atual. São Paulo: Direito, 2000. p. 44. 26 GOLDIM, José Roberto. Bioética. Disponível

em:<http://www.bioetica.ufrgs.br/euthist.htm> Acesso em: 1 de mar. de

2010.

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Estado.27 Para eles o homicídio não era tido como crime, desde

que o praticasse em honra aos deuses. Enquanto que, a

eliminação dos idosos, pedido muitas vezes por eles mesmos,

era uma atitude de piedade filial28.

Ao passo que os romanos não eram tão rudes, com

relação àqueles que eram condenados à crucificação, estes

recebiam uma bebida que acarretava em sono profundo,

eliminando, assim, as dores dos castigos. 29

Na realidade, as pessoas tidas como inúteis, doentes e

velhas não contribuíam em nada, tanto para a sociedade quanto

para os olhos da divindade. De forma análoga a eutanásia era

praticada pelos Celtas, os quais além de matarem as crianças

com problemas genéticos eliminavam também os idosos por

reputá-los desnecessários a sociedade30.

A partir disso, sedimentou-se a idéia de que a prática da

eutanásia fosse aplicada nos casos de dores insuportáveis,

doenças incuráveis, ônus econômico e pesares sociais

resultantes de moléstia, sendo, portanto, nesses casos,

plenamente aceita.

A questão da eutanásia foi muito discutida no decorrer

da história, mas o seu auge ocorreu em 1895, na Prússia,

durante um debate sobre o plano nacional de saúde, em que foi

decidido que o Estado fomentasse meios para a prática da

eutanásia às pessoas que não tinham condições de solicitá -la.31

Na Europa, em meados do século XX, a eutanásia foi

discutida relacionada com a eugenia, entendendo-se esta como

o conjunto de métodos que visam melhorar o patrimônio

genético de grupos humanos.32 Por isto, o objetivo da

eutanásia eugênica seria preservar a raça humana dos

problemas biológicos, levando em consideração que o

27 BIZATTO, op. cit., 2000, p. 43. 28 Ibid.,2000, p.51. 29 BIZATTO, op. cit., 2000, p.50. 30 Ibid.,2000, p.46 31 GOLDIM, José Roberto. Bioética. op., cit. 32DICIONÁRIO priberam da língua portuguesa. Disponível em:

<http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=eugenia > Acesso em: 1

mar. de 2010.

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suprimento dos seres mórbidos incuráveis iria propor mais paz

social minimizando a miséria e o desespero de lares

deformados.33

Nestes casos, a eutanásia justificava-se por reputar um

instrumento de “higienização social”, com o objetivo

aperfeiçoar uma determinada “raça”, desprendendo da idéia de

suprir a vida por compaixão ou piedade. 34

Em 1931, na Inglaterra, foi proposta uma lei para a

legalização da eutanásia voluntária, a qual foi discutida por

cinco anos, mas foi rejeitada pela Câmara dos Lordes. Tal

proposta foi utilizada como base para o modelo holandês. 35

Em 1934, o Uruguai implantou a possibilidade da

prática da eutanásia em seu Código Penal, utilizando o tipo

penal “homicídio piedoso”. Esse fato, possivelmente, deu

início a regulamentação nacional sobre o assunto. 36

Em, 1956, a posição da Igreja Católica mostrou-se de

maneira antagônica a realização da eutanásia, uma vez que

esta feria as leis divinas. Todavia, em 1957, o Papa Pio XII se

conformou com a possibilidade da abreviação da vida como

efeito secundário a utilização de drogas para atenuar o

sofrimento as pessoas que sofriam com dores insuportáveis,

por exemplo. Com isto, surgiu o Princípio do Duplo Efeito,

cuja intenção era aliviar a dor, todavia, o efeito, sem nexo

causal, poderia ser a morte do paciente. 37

Em 1968, a Associação Mundial de Medicina adotou

uma resolução contrária a eutanásia38.

No Brasil, em 1996, o Senado Federal iniciou uma

proposta permitindo a prática de procedimentos para a

realização da eutanásia, contudo esse projeto (Lei 125/96)

demonstrou-se infrutífero.39

33 GOLDIM, José Roberto. Bioética. op.,cit. 34 Id. 35 Id. 36 GOLDIM, José Roberto. Bioética. Op. cit. 37 Id. 38 Id. 39 Id..

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4 EUTANÁSIA NO BRASIL

Para que se entenda melhor o posicionamento do Direito

Brasileiro em relação à eutanásia, é necessário criar um

parâmetro desta com os Direitos Fundamentais do homem.

A Constituição Federal estabelece em seu artigo 5º

caput, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.” 40

Os direitos fundamentais têm como escopo uma

convivência social, digna e livre de privações, ou seja, tem a

finalidade de assegurar prerrogativas importantes e

fundamentais entre todos os seres humanos.

O Brasil adota a linha de pensamento a qual defende

que o direito à vida é um direito supremo e inviolável,

inerente à pessoa humana e que ninguém pode se privar dele.

Portanto, de acordo com o ordenamento jurídico brasileiro e

seus princípios, a eutanásia é configurada como a antecipação

do contraposto da vida, a morte, e isso se caracteriza como um

ato ilícito e inconstitucional.

Diante desse contexto, a eutanásia é considerada como

crime de homicídio, para o ordenamento jurídico. Porém, gera

muita discussão e controvérsias observando correntes em

relação à religião, à sociedade e a opiniões médicas.

A eutanásia, além de configurar ilícito penal, contraria

também os princípios médicos éticos. O Código de Ética

Médica resguarda que o médico deve atuar sempre em

benefício do paciente, contudo, há que se falar no que

realmente seria esse beneficio, em relação à estado vegetativo

e coma irreversível, por exemplo.

Há grande discussão em face do que seria melhor para

aquele, para atenuar o sofrimento do mesmo e dos familiares,

visto que essa situação poderá ser por tempo indeterminado e

sem a mínima perspectiva de progresso.

40PRESIDÊNCIA da república federativa do Brasil. Disponível em: <

http://www.presidencia.gov.br/legislacao/ > Acesso em: 22 de mar. 2010

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Há um projeto de lei elaborado desde 1995, que está

tramitando no Senado Federal, tendo como critério “a morte

sem dor”, a qual é conhecida como lei 125/96.

Esse é o único projeto de lei acerca do assunto, o qual

prevê que o próprio paciente com sofrimento físico ou

psíquico, pode solicitar o desligamento dos aparelhos.

Se por algum motivo o paciente for considerado

impedido de realizar a solicitação, essa função ficaria à cargo

da família, ou seja, a mesma teria que autorizar o

desligamento dos aparelhos.

Para que isso aconteça, é necessária a autorização de

uma comissão envolvendo cinco médicos, sendo dois deles

especialistas no problema do paciente. Essa junta médica tem

o encargo de atestar a inutilidade do sofrimento do doente,

caso a mesma não seja revelada, não se teria a autorização.

A grande falha desse projeto é referente a algumas

lacunas que propiciou em relação ao tempo que o paciente tem

para tomar sua decisão, o critério para escolha do médico

responsável, entre outros aspectos.

Além deste projeto de lei, está tramitando o anteprojeto

de Lei que altera os dispositivos do Código Penal e promove

outras providências, legislando sobre a questão da eutanásia

em dois itens do artigo 121. Supostamente, esse dispositivo

ficaria da seguinte forma:

Homicídio

Art. 121. Matar alguém:

Pena - Reclusão, de seis a vinte anos.

...

Eutanásia

Parágrafo 3o. Se o autor do crime agiu por

compaixão, a pedido da vítima, imputável e

maior, para abreviar-lhe o sofrimento físico

insuportável, em razão de doença grave:

Pena - Reclusão, de três a seis anos.

Exclusão de Ilicitude

Parágrafo 4o. Não constitui crime deixar de

manter a vida de alguém por meio artificial,

se previamente atestada por dois médicos, a

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morte como iminente e inevitável, e desde

que haja consentimento do paciente, ou na

sua impossibilidade, de ascendente,

descendente, cônjuge, companheiro ou

irmão. 41

No entanto, no início desse ano, foi eticamente liberado

para os médicos a prática da ortotanásia, a qual permite que os

profissionais evitem tratamentos desnecessários, já que o

paciente está em estado terminal, se utilizando de cuidados

paliativos, os quais reduzem o sofrimento do doente. 42

A inclusão da redação dessa prática no Código de Ética

Médica, foi bastante cuidadosa para que a ortotanásia não seja

confundida com nenhuma outra prática. 43

5 EUTANÁSIA, MISTANÁSIA, DISTANÁSIA E

ORTOTANÁSIA

Eutanásia é uma palavra que vem do grego, tendo como

tradução “boa” morte ou até mesmo morte “feliz”. No entanto

eutanásia atualmente significa produção e aceleração

intencional da morte44.

Na discussão sobre eutanásia, geralmente o que une as

pessoas é a preocupação de defender a dignidade da vida

humana em sua fase terminal. Um fator que complica o debate

sobre a prática ou não da eutanásia é a confusão terminológica

que, muitas vezes, não deixa claro aquilo que se condena

aquilo e aquilo que se aprova, pois muitos tratam eutanásia,

41GOLDIM, José Roberto. Eutanásia no Brasil. Disponível em:

http://www.ufrgs.br/bioetica/eutanbra.htm. Acesso e m: 22 de mar. 2010. 42Disponível em:

http://jc.uol.com.br/canal/cotidiano/saude/noticia/2010/04/12/novo -

codigo-de-etica-medica-libera-ortotanasia-218995.php. Acesso em: 31 de

maio, 2010. 43Disponível em: http://routenews.com.br/index/?p=1777. Acesso em: 31

de maio, 2010. 44 HOLLAND, Stephen. Bioética: Enfoque Filosófico. São Paulo: Loyola.

2009.p 120.

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distanásia, mistanásia e ortotanásia como se fossem o mesmo

procedimento e tivessem a mesma finalidade45.

Inaceitável é que se confunda mistanásia com eutanásia,

pois temos que entender eutanásia como um método que tem

como finalidade proporcionar o fim da dor com a morte

prematura do portador de doença terminal, diferente da prática

da mistanásia que consiste na ceifa da vida para fins sociais e

mesquinhos.

Portanto enquanto a primeira tem como grande

preocupação acabar com a dor e o sofrimento através da morte,

segundo seus defensores, a segunda também conhecida,

erroneamente, como eutanásia social tem em vista eliminar o

sobre peso do sistema de saúde com a eliminação precoce,

cruel, de doentes, deficientes, vítimas de erro médico que não

correm risco de vida, mas apenas necessitam de cuidados

paliativos, sendo ela uma categoria que demonstra com

lealdade o fenômeno da maldade humana. 46

Tratando-se da distanásia não há uma preocupação

restrita a morte, mas com todas as conseqüências que

acompanham a mesma, como as fortes dores sem o sofrimento

psíquico e espiritual. A diferença existente entre distanásia e

eutanásia é que enquanto a distanásia se dedica a prolongar o

máximo à quantidade de vida humana, combatendo a morte

como o grande e último inimigo, já a eutanásia elimina a vida

como o único modo de acabar como sofrimento do doente.

Portanto, tem-se dois métodos distintos de enfrentar o

momento morte, um pecando ao ceifar a vida antes do tempo e

o outro usando todos os métodos terapêuticos para evitar o

alcance do descanso, esquecendo, no entanto, que prolongar a

vida torna-se inútil e sacrificante para o próprio ser humano.

A última vertente que liga com o evento morte,

procurando lidar da melhor maneira com as suas

conseqüências é a ortotanásia que diferente das demais

vertentes dispensa a medicina predominantemente curativa

para dedicar-se a promoção do bem estar do doente crônico e

45 PESSINI, Leo. Eutanásia: Por que abreviar a vida? São Paulo: Centro

Universitário São Camilo. 2004.p 201. 46 Ibid., 2004.p 210 et seq.

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terminal, desenvolvendo a arte de bem morrer, que não adere à

política da mistanásia, mas não se deixa envolver nas questões

obscuras tanto da eutanásia como da distanásia. A prática da

ortotanásia integra o conhecimento científico com a habilidade

técnica e a sensibilidade ética, deixando a perspectiva de

morte como uma doença a ser curada e passando a lidar com

ela como algo que faz parte da vida, passando a trabalhar a

distinção entre curar e cuidar, mantendo a vida, mas também

permitindo que a pessoa morra quando a hora chegou,

permitindo ao paciente e suas familiares enfrentarem a morte

da melhor maneira possível.47

Na ortotanásia48 respeita-se a autonomia do paciente

terminal respeitando seu direito de saber, o direito de não se

ver abandonado, o direito de ter seu sofrimento e sua dor

amenizados através de tratamentos paliativos, e o direito de

não ser tratado como objeto tendo sua vida encurtada ou

prolongada segundo a consciência e conveniência de suas

familiares e da equipe médica. Desta maneira a ortotanás ia

nada mais é que proporcionar ao doente uma morte tranqüila,

cercada de amor e carinho49.

6 PAÍSES QUE PERMITEM A PRÁTICA DA

EUTANÁSIA

Somente alguns países permitem a prática da eutanásia

sem considerá-la como crime, são eles: a Holanda, alguns

estados dos Estados Unidos da América e a Colômbia.

Na Holanda a eutanásia é legalizada. Essa questão da

eutanásia vem sendo debatida desde a década de 1970,

ganhando destaque em 1973 com o caso conhecido como

Postma, onde uma médica geral, Dra. Geertruida Postma, foi

julgada por eutanásia, praticada em sua mãe, com uma dose

47 PESSINI, Leo. Eutanásia: Por que abreviar a vida? Op. cit., 2004, p

218 et seq. 48GODIM, José Roberto. Eutanásia . Disponível em: <

HTTP://www.ufrgs.br/bioetica/eutanasia.htm>. Acesso em: 22 mar. 2010 49 PESSINI, Leo. Eutanásia: Por que abreviar a vida? Op. cit., 2004.p

224 et seq.

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letal de morfina. Foi em 1990 que o Ministério da Justiça e a

Real Associação Médica Holandesa (RDMA) concordaram em

um procedimento de notificação de eutanásia, onde, o médico

ficaria imune de ser acusado, apesar de ter realizado um ato

ilegal.

Os cinco critérios estabelecidos pela Corte de

Rotterdam, em 1981, para a ajuda à morte não penalizável, por

um médico, são os seguintes:

1) A solicitação para morrer deve ser uma decisão

voluntária feita por um paciente informado;

2) A solicitação deve ser bem considerada por uma

pessoa que tenha uma compreensão clara e correta de sua

condição e de outras possibilidades. A pessoa deve ser capaz

de ponderar estas opções, e deve ter feito tal ponderação;

3) O desejo de morrer deve ter alguma duração;

4) Deve haver sofrimento físico ou mental que seja

inaceitável ou insuportável;

5) A consultoria com um colega é obrigatória. 50

O acordo entre o Ministério da Justiça e a Real

Associação Médica da Holanda, estabelece 3 elementos para

notificação:

I) O médico que realizar a eutanásia ou suicídio

assistido não deve dar um atestado de óbito por morte natural.

Ele deve informar a autoridade médica local utilizando um

extenso questionário;

II) A autoridade médica local relatará a morte ao

promotor do distrito;

III) O promotor do distrito decidirá se haverá ou não

acusação contra o médico. 51

Se o médico seguir as 5 recomendações o promotor não

fará a acusação.

Em 11 de abril de 2001, por 46 votos a favor e 28 contra, o

Senado aprovou a lei que permitirá aos médicos abreviar a vida de

doentes terminais. Do lado de fora do parlamento, com sede em Haia,

50GOLDIM, José Roberto. Eutanásia na Holanda . Disponível em:

<http://www.ufrgs.br/bioetica/eutanhol.htm >. Acesso em: 01 de

mar.2010. 51 Id.

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cerca de 10 mil manifestantes protestaram contra a aprovação da lei,

que já havia passado pela Câmara dos Deputados em novembro de

2000. Eles cantavam hinos religiosos e liam passagens da Bíblia.

Apesar dos protestos, pesquisas indicam que cerca de 90% dos

holandeses apóiam a eutanásia. A nova legislação, que deverá entrar

em vigor em meados do ano, formalizará uma prática que já vinha

sendo adotada há décadas em hospitais holandeses. Os médicos terão

que obedecer regras rigorosas para praticar a eutanásia. O caso

também deve ser submetido ao controle de comissões regionais

encarregadas de fiscalizar se os requisitos foram cumpridos. As

comissões serão integradas por um médico, um jurista e um

especialista em ética.

Os menores de idade, entre 12 e 16 anos, também poderão

recorrer à eutanásia, desde que tenham o consentimento de seus pais.

Segundo a nova lei, a prática só poderá ser realizada por médicos que

acompanhem de perto, e há muito tempo, a saúde de seus pacientes.

A nova lei também permite que pacientes deixem um pedido

por escrito. Isso dará aos médicos o direito de usar seus próprios

critérios quando seus pacientes não puderem mais decidir por eles

mesmos por conta de doenças.

O texto da lei foi aprovado oficialmente dia 11 de abril de

2001, mas, na prática, a eutanásia já era tolerada sob condições

especiais desde 1997. A eutanásia será permitida na Holanda se forem

cumpridos os seguintes requisitos: Quando o paciente tiver uma

doença incurável e estiver com dores insuportáveis; o paciente deve

ter pedido, voluntariamente, para morrer; depois que um segundo

médico tiver emitido sua opinião sobre o caso. 52

Na Colômbia somente é permitida a prática da

Eutanásia em casos de doentes terminais e com o

consentimento prévio do envolvido. A noticia acerca da

matéria foi publicada no jornal “A Folha de São Paulo” em

22.05.97, ressaltando que mesmo sendo permitida a eutanásia,

ainda não esta legalizada a sua prática. 53

52GOLDIM, José Roberto. Holanda legaliza a eutanásia . Disponível em:

<http://www.ufrgs.br/bioetica/eut2001.htm>. Acesso em: 22 mar. 2010 53 CARNEIRO, Antonio Soares et al. Eutanásia e distanásia, a

problemática da bioética . Disponível em:

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Nos Estados Unidos, o Estado de Oregon é o único que

permite a prática da eutanásia, ou seja é permitido que o

médico receite uma dose letal de drogas a pedido do paciente

com doença terminal. Entretanto, este medicamento em

nenhuma hipótese, poderá ser aplicado pelo médico, sendo que

a expectativa de vida do paciente tem que ser inferior a seis

meses. Isso porque em 1994 foi elaborado um plebiscito, no

qual a eutanásia foi aprovado, porem somente em 1996 é que

houve a sua regulamentação.54

No território do norte da Austrália, por um curto

período de tempo, (1 de julho de 1996 a 24 de março de 1997),

foi legalizada, a prática da Eutanásia. 55

Além desses países e estados citados, é importante

registrar que a Bélgica em 28 de maio de 2002 promulgou sua

lei da eutanásia. Segunda esta lei, o médico que executa uma

eutanásia não está praticando um ato ilegal se tiver assegurado

que (...) o paciente é adulto ou menor

emancipado e tem plena capacidade e

consciência na época de seu pedido; o pedido

é feito voluntariamente, é ponderado e

reiterado e não resulta de pressão externa; o

paciente se encontra numa condição médica

irremediável e se queixa de sofrimento físico

ou mental constante e insuportável que não

pode ser minorado e que resulta de uma

condição acidental ou patológica grave e

incurável.56

Ademais, não há legislação que apóie ou aceite a

eutanásia nos demais países, senda a prática proibida na

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1862&p=2 >. Acesso em: 22

mar. 2010. 54Id. 55ROBERTI, Maura. Eutanásia e Direito penal. Disponível em:

<http://www.ibap.org/defensoriapublica/penal/doutrina/mr -

eutanasia.htm>. acesso em: 18 mar. 2010. 56 PESSINI, Leo. Eutanásia: Por que abreviar a vida? Op. cit., 2004,

p.125.

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32

maioria deles.

7 EUTANÁSIA, RELIGIÃO E DIVERGÊNCIAS

A morte não é um mero evento técnico-científico, sendo

por tido um acontecimento, moral e religioso. As diferentes

visões da morte nos dão uma compreensão e também apontam

para comportamentos e compromissos, posto que reside neste

pluralismo as controvérsias em torno da morte e do processo

do morrer.

Diferentes comunidades morais, religiões ou culturas

têm diferentes critérios da morte, diferentes visões do que

constitui uma boa vida, e estes referenciais influenciam na

forma como a morte é compreendida e vivida. Como pode-se

notar, o mundo é irrigado por diversas religiões, que pregam

as suas normas e princípios em relação a morte.57

7.1 RELIGIÃO CATÓLICA

A posição da Igreja Católica em relação à eutanásia têm

sido expressa, mostrando-se desde os primórdios com o

surgimento dos dez mandamentos "não matarás", e com os

pronunciamentos feitos diretamente por Papas, como na

situação a seguir do Papa Pio XII, em 1956:

Toda forma de eutanásia direta, isto é, a

subministração de narcóticos para

provocarem ou causarem a morte, é ilícita

porque se pretende dispor diretamente da

vida. Um dos princípios fundamentais da

moral natural e cristã é que o homem não é

senhor e proprietário, mas apenas

usufrutuário de disposição direta que visa à

abreviação da vida como fim e como meio.

Nas hipóteses que vou considerar, trata-se

57PESSINI, Léo. A Eutanásia na Visão das Grandes Religiões

Mundiais. Disponível em:

<http://boards4.melodysoft.com/app?ID=vetuycorresponsales&msg=2&D

OC=21>. Acesso em: 26 abr. 2010.

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unicamente de evitar ao paciente dores

insuportáveis, por exemplo, no caso de

câncer inoperável ou doenças semelhantes.

Se entre o narcótico e a abreviação da vida

não existe nenhum nexo causal direto, e se

ao contrário a administração de narcóticos

ocasiona dois efeitos distintos: de um lado

aliviando as dores e de outro abreviando a

vida, serão lícitos. Precisamos, porém,

verificar se entre os dois efeitos há uma

proporção razoável, e se as vantagens de um

compensam as desvantagens do outro.

Precisamos, também, primeiramente verificar

se o estado atual da ciência não permite

obter o mesmo resultado com o uso de outros

meios, não podendo ultrapassar, no uso dos

narcóticos, os limites do que for estr itamente

necessário.58

O Papa Paulo VI, também se mostra contra a pratica da

eutanásia como pode-se notar pela frase utilizada por ele: “A

vida humana deve ser absolutamente respeitada: como no

aborto, eutanásia e homicídio.”59

Segundo o Padre Paulo Dione Quintão, Pároco da Igreja

Nossa Senhora da Piedade, na concepção da Igreja, o Estado

não pode atribuir o direito de legalizar a eutanásia, porque

como prega a igreja a vida é um bem que prevalece sobre o

poder. A eutanásia é um crime contra a vida humana e a lei

divina.60

Pode-se observar,portanto que a posição da Igreja

Católica é de que o dever de um médico é tratar do paciente,

58 CARNEIRO, Antonio Soares Carneiro et al. Eutanásia e Distanásia. A

problemática da Bioética. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=1862&p=3 > .Acesso: 26

abr. 2010. 59 Id. 60QUINTÃO. Paulo Dione.A Igreja Católica x Eutanásia .2009.

Disponível em: <http://jornale.com.br/wicca/?p=338> . Acesso em: 20

abr. 2010.

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aliviando a dor e o sofrimento e acima de tudo respeitando sua

dignidade como pessoa humana.61

7.2 RELIGIÃO JUDAICA

Na visão do judaísmo, o homem não é dono de si, nem

mesmo do seu próprio corpo, ele pertence a Deus. A vida é

considerada um dom de valor infinito e indivisível, onde o

direito de morrer não é reconhecido.62

A tradição legal hebraica é contrária à eutanásia. O

médico é como um instrumento de Deus, assim não cabe a ele

decidir entre a vida e a morte. A morte não é apenas um

evento cientifico, mas é uma questão ética e legal, da mesma

forma que a fixação do tempo do óbito é questão moral e

teológico. Porem a uma diferença entre o prolongamento da

vida do paciente, que é obrigatório, e o prolongamento da

agonia, que não o é. Assim, se o estado da pessoa for terminal,

o medico não é obrigado a prolongar a vida em sofrimento,

mais também não pode ter o seu fim apresado, mesmo quando

isto evitaria a dor. O argumento freqüentemente utilizado é

que o moribundo é, de qualquer maneira, uma pessoa viva, e

deve ser tratado com a mesma consideração de qualquer outra

pessoa viva.mesmo diante de uma pessoa com muita dor,

sofrimento e solicitando o fim de tudo isso, o medico ou

qualquer outro que agir dessa maneira é considerado

assassino.63

7.3 RELIGIÃO ISLÂMICA

É ilícita a eutanásia, para a unanimidade das quatro

grandes escolas islâmicas, respectivamente fundadas por Abou

Hassifa, Malek, Chaffei e Ahmed Ibm Handibal. Que

61CARNEIRO, Op. cit. 62CARNEIRO, Op. cit. 63PESSINI, Léo. A Eutanásia na Visão das Grandes Religiões

Mundiais. Op. cit.

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consideram como função dos médicos a melhoria da vida e não

o trajeto da morte, mesmo quando solicitada.64

7.4 RELIGIÃO HINDU

A Escritura Hindu não faz nenhuma referência expressa

à eutanásia, contudo pode-se extrair de seus textos a proibição

da eutanásia, pois seus ensinamentos pregam que a alma deve

sustentar todos os prazeres e dores do corpo em que reside,

embora na índia antiga tenha ocorrido a aplicação de

medicamentos para cessar a dor de pessoas com doenças

incuráveis.65

7.5 RELIGIÃO BUDISTA

A nossa personalidade, para o budismo, deriva da

interação de cinco atividades: a atividade corporal, as

sensações, as percepções, a vontade e a consciência. De todas,

a vontade é a mais importante, porquanto representa a

capacidade de escolha, de orientar a consciência: a morte de

alguém, assim, ocorre quando alguém não mais possa exercer

uma vontade consciente, quando seu encéfalo perdeu

definitivamente a capacidade de viver, quando o último traço

de atividade elétrica o abandonou. 66

O sofrimento tem grande importância no pensamento de

Buda: as Quatro Verdades Nobres para obter a Iluminação são

sua verdadeira causa. A eutanásia ativa e a passiva podem ser

aplicadas em numerosos casos, admitindo o budismo que a

vida vegetativa seja abreviada ou facilitada. Assunto atual e

inerente a condição de ser humano na medida em que o direito

a vida, ou a morte, se põe sob a ótica de bens indisponíveis. 67

64 Id. 65 CARNEIRO, Antonio Soares Carneiro et al.. Op. cit. 66 CARNEIRO, Antonio Soares Carneiro et al.. Op. cit. 67 Id.

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36

7.6 RELIGIÕES NOVAS

Na Igreja Adventista do Sétimo Dia em um consenso

informal, coloca-se a favor da eutanásia passiva (deixar

morrer), mas em relação a eutanásia ativa é contra qualquer

prática que levaria uma pessoa a morte.68

A Igreja Batista defende o direito do indivíduo tomar

providencias e decisões em relação a medidas que prolonguem

a vida, porém a eutanásia é vista como uma violação da

santidade da vida humana.69

Para os Testemunhas de Jeová quando a morte é

inevitável, esta igreja, não exige que sejam utilizados meios

onerosos para prolongar o processo de morrer, mais provocar a

morte em qualquer situação é considerado assassinato. 70

As Igrejas Luteranas aprovam a descontinuação de

medicamentos extraordinários ou heróicos que prolongam a

vida, e permitem a administração de medicamentos contra a

dor, mesmo que estes ofereçam risco a vida. Porem a eutanásia

é sinônimo de morte piedosa, que envolve suicídio ou

assassinato, e é contrária à Lei de Deus. 71

7.7 INSTITUIÇÕES DEFENSORAS DA EUTANÁSIA

A Organização não-governamental (ONG) Católicas

pelo Direito de Decidir (CDD), é oriunda da Igreja Católica e

formada por militantes feministas cristãs. Em 2008, ano em

que a campanha da fraternidade da Conferência Nacional dos

Bispos do Brasil (CNBB) falou sobre a eutanásia e o aborto,

esta ONG elaborou um manifesto, questionando: “É possível

afirmar a defesa da vida e condenar as pessoas a sofrer

indefinidamente num leito de morte, condenando o acesso

68 Conselho Executivo da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo

Dia.Assistência aos Moribundo 1992. Disponível em: <

http://www.adventistas.org.pt/Artigos.asp?ID=31> Acesso em: 20 abr.

2010. 69CARNEIRO, Antonio Soares Carneiro et al.. Op. cit. 70 Id. 71 CARNEIRO, Antonio Soares Carneiro et al.. Op. cit..

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37

livre e consentido a uma morte digna, pelo recurso à

eutanásia?”.72

8 CONCLUSÃO

Diante do exposto acima se observa que a questão da

eutanásia encontra-se fundamentada em vários princípios

importantes, haja vista que o que prepondera é o princípio da

dignidade humana, o qual visa garantir o direito à vida e o

direito de permanecer vivo. Partindo dessa premissa a

eutanásia, que em suma é a abreviação da vida, torna-se uma

retaliação ao referido princípio, sendo incoerente com a vida

em sociedade.

Fazendo um retrocesso observa-se que no tempo em que

tal prática era usual, tendo como justificativa a enfermidade

dos indivíduos considerados infrutíferos à sociedade, tais

princípios se quer eram levados em consideração.

Analisando essa questão no contexto do ordenamento

brasileiro, esta conduta é reprovável, uma vez que aquele que

antecede a morte de outrem é reputado como assassino.

Embora, muitas pessoas entendam que em casos excepcionais,

para aliviar o sofrimento do paciente, seja cabível a

abreviação da vida, tal fato não é legalizado.

Diante das opiniões abordadas de diversas religiões e

ordenamento jurídico de diferentes países, percebe-se que a

maioria das religiões tradicionais demonstram uma postura

totalmente contrária à prática da eutanásia, com exceção da

Religião Budista que admite sua prática para abreviação da

vida.

Ao passo que as religiões contemporâneas estão

aceitando a prática da ortotanásia no sentido de aceitar a

prática de atos que passam a trabalhar a distinção entre curar e

cuidar, entre manter a vida quando é leal ao ser humano e

permitir que a pessoa morra quando sua hora chegou,

72VEJA.Eutanásia.2009.Disponível em:

<http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/perguntas_respostas/eutanasia/

morte-pacientes-etica-religiao-ortotanasia.shtml>. Acesso em: 21 abr.

2010.

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38

permitindo ao paciente e a aqueles que o cercam enfrentar a

morte com certa tranqüilidade.

Já que preponderando todas as vertentes religiosas,

sociais, políticas e legais conclui-se que a eutanásia, apesar de

condenada pela sociedade, é vista ainda como uma

possibilidade, mesmo que remota, para aqueles em sofrimento

extremo.

Com o progresso da medicina, a eutanásia como mero

alivio de sofrimento, não pode ser admissível, já que existem

métodos eficazes para promover o fim de uma vida digna sem

ser necessária a abreviação da mesma.

Destarte, destaca-se que assim como o ordenamento se

reflete , entende-se, pois que a prática da abreviação da vida

ou melhor dizendo antecipação da morte é reputada como uma

conduta inadmissível, tendo em vista que tal atitude diverge

dos valores morais, éticos e dos princípios valorados pela

sociedade brasileira.

Ademais, o Estado não pode atribuir o direito de

legalizar a eutanásia, porque como prega a igreja, a vida é um

bem que prevalece sobre o poder. Ademais, no caso concreto

deve se atentar ao princípio da dignididade humana e ao

princípio da autonomia, uma vez que a autonomia

principialista limita-se a incorporar na bioética o direito moral

do paciente de tomar suas próprias decisões, mesmo que com

isto o indivíduo neutralize orientações benéficas prescritas

pelo médico, isso significa que a autodeterminação do agente

moral só pode ser considerada se não ocasionar danos ou

sofrimentos a outros indivíduos, pois ninguém tem o direito de

antecipar a morte de outrem.

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Distanásia. A problemática da Bioética. Disponível em:

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3> .Acesso em: 26 abr. 2010.

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CAPÍTULO II:

COBAIAS HUMANAS

Elian Sobreira

Giovana Primon

Karoliny Pavesi

Paula Barbosa Biasão

Patrícia Bastos

Veridiane Merlos73

RESUMO

Esse artigo abrange assuntos relacionados às grandes

mudanças ocorridas nas áreas sociais, científicas e políticas

referentes à experimentos feitos em seres humanos, neste ato

chamados de cobaias humanas, focado na vulnerabilidade de

países em desenvolvimento e nos abusos cometidos com

pessoas das camadas inferiores da população mundial. Cita a

importância do surgimento da bioética, que traz uma nova

imagem da ética médico-científica, seu histórico, seu conceito

e os princípios relacionados ao uso de seres humanos em

pesquisas, além de seus direitos e garantias frente ao

princípio da dignidade da pessoa humana. Por fim, apresenta-

se o conceito de cobaias humanas, sua legalidade de acordo

com o consentimento informado e o protocolo de pesquisa,

apontando os documentos necessários para tal e

exemplificando com um caso ocorrido na sociedade.

Palavras-chave: Cobaias Humanas – Bioética – Princípios –

Consentimento Informado.

73 Acadêmicas do 5º período do curso de Direito da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná – Campus Maringá.

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1 INTRODUÇÃO

Nas ciências biomédicas, a observação e o experimento

são os canais fundamentais para o conhecimento. Com a

evolução da ciência e da tecnologia biomédica surgiram novos

conflitos na sociedade, fazendo com que a população se

confrontasse com novos problemas éticos, principalmente no

que tange ao objeto de estudo do presente artigo: as cobaias

humanas.

A sociedade recebeu bem todo o processo científico que

foi iniciado nos laboratórios, os quais, para serem

clinicamente úteis, precisam ser testados em seres humanos.

Apesar de serem experimentos cuidadosos, tais pesquisas

acarretam algum grau de risco para os participantes, o qual se

justifica pela contribuição que o resultado trará ao

conhecimento humano ou ao prolongamento da vida.

Após a Segunda Guerra Mundial, com os experimentos

insensatos realizados por médicos nazistas, houve a

necessidade de se regulamentar esse campo, surgindo, assim, o

"Código de Nuremberg" (1946), um documento para limitar as

experimentações médicas em seres humanos. Desde então, a

sociedade vem tentando se adaptar ao progresso nas ciências

biomédicas, buscando um equilíbrio, entre a pesquisa

biomédica e o beneficio para seus participantes e a sociedade.

Tais questões serão abordadas com maior clareza no decorrer

deste artigo, assim como o histórico da bioética, seu conceito

e seus princípios, o conceito de cobaias humanas, as cobaias

humanas frente aos princípios bioéticos e da dignidade da

pessoa humana, além da utilização do termo de consentimento

informado e do protocolo de pesquisa, trazendo por fim uma

exemplificação por meio de um caso concreto.

2 BREVE HISTÓRICO DA BIOÉTICA

A nova realidade tem demonstrado que grandes

mudanças vêm ocorrendo na área social, científica e política,

acompanhadas das outras matérias em si, de forma que uma

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onda ética avança sobre os países74, buscando estabelecer uma

convivência menos conflituosa entre as nações, entre a ciência

e a sociedade.

A ética tem sido colocada em posição privilegiada, no

qual abre vários caminhos em meio à esta construção

sociocultural e na reconquista da saúde, de modo que faz parte

integrante da formação humanística dos profissionais da saúde

em suas decisões75.

A Bioética tem por volta de trinta anos de sucesso,

tendo inicio na década de 60, iniciada pelos pioneiros Van

Resselaer Potter, oncololista norte-americano, da Universidade

de Wisconsin e Andre Hellegers, pesquisador do Instituto

Kennedy de Bioética em Washington, nos célebres

acontecimentos relacionados ao inicio da hemodiálise nos

Estados Unidos. Na década de 70, existem opiniões

discordantes e complementares76, afirmando que seu

nascimento foi com a promulgação do Código de Nuremberg

(1948), após a Segunda Guerra Mundial, o qual seria a

certidão de nascimento da bioética, porém a base sólida

continua sendo a iniciada com Potter.

Cabe acrescentar que a Bioética se estabeleceu nos

Estados Unidos na década de 70, na Europa na década de 80,

no inicio dos anos 90 na Ásia e em meados da década de 90

nos outros países em desenvolvimento77. Nasceu nos meios de

pesquisa, em laboratórios experimentais, com cientistas se

perguntando sobre a viabilidade ética de determinados

procedimentos tecnocientíficos.

74 OLIVEIRA, Fátima. Bioética: uma face da cidadania. 2 .São Paulo:

Moderna, 1997. p.6. 75 SPINSANTI, Sandro. Ética Biomédica. Trad. Benôni Lemos. rev. vol.

2. São Paulo: Paulinas, 1990. p. 8. 76 BARCHIFONTAINE, Christian de Paul. PESSINI, Leo. Problemas

atuais de Bioética . 5. rev. e amp. São Paulo: Loyola, 2000. p. 11. 77 Ibidem.

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3 BIOÉTICA: CONCEITO E PRINCÍPIOS

Foi inicialmente definida por Van Rensselder Potter

como sendo uma ciência da sobrevivência humana,

promovendo e defendendo a dignidade humana dentro das

possíveis qualidades de vida. Trata-se de um novo estudo, de

uma nova reflexão, de um nova perfil de pesquisa, em

evolução acelerada, em processo constante de descoberta de

novos métodos e em afrontamento contínuo com problemas

inesperados. A bioética seria uma resposta da ética às novas

situações oriundas da ciência no âmbito da saúde, ocupando-se

não só aos problemas éticos, mas também aos problemas

provocados pelas tecnociencias biomédicas e alusivos ao

início da vida humana.

Já nos dias atuais, a discussão está em torno de seu

estatuto estudado profundamente, qual sua abrangência, sua

fundamentação e seus princípios.

Ao se falar nestes, a bioética se pauta em quatro

princípios básicos78 enaltecedores da pessoa humana, estando

eles consignados no Belmont Report, publicado em 1978 pela

Comissão Nacional para a Proteção dos Seres Humanos em

Pesquisa Biomédica e Comportamental , constituída pelo

governo norte-americano.

Tais princípios refletem a racionalização dos valores e

das necessidades individuais da pessoa humana:

Pelo princípio da autonomia , o profissional da saúde

deve respeitar a vontade do paciente ou seu representante,

levando em conta seus valores morais e crenças religiosas, isto

é, em certa medida.

Já o princípio da beneficência79, requer o atendimento

por parte do médico ou do geneticista às partes envolvidas nas

práticas biomédicas ou médicas para que promovam o bem-

estar, evitando, na medida do possível, quaisquer danos. Só

poderá ser usado o tratamento para o bem do enfermo,

78 DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito . 2. aum. e

atual.São Paulo: Saraiva, 2002, p. 14. 79 Ibid, 2002, p. 15 .

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45

segundo a sua capacidade e justiça, de modo a não fazer o mal

ou praticar a injustiça.

O princípio da não-maleficência80 é um desdobramento

do da beneficência, o qual prega a obrigação de não acarretar

dano intencional e deriva da máxima da ética médica.

O princípio da justiça81 presa que todo cuidado e todo

sistema de saúde sejam justos, ou seja, deve haver

imparcialidade na distribuição dos riscos e benefícios

referente à pratica médica pelos profissionais de saúde.

Tais princípios foram sendo aprimorados e outros mais

atuais foram agregados, de acordo com Christian de Paul

Barchifontaine e Léo Pessini82.

O princípio da defesa da vida física , como o próprio

nome já diz, refere-se ao respeito pela vida, isto é, respeito à

vida promovendo sua defesa e promoção, de modo que

representa o primeiro imperativo ético do homem para consigo

mesmo e para com os outros.

O princípio da liberdade e da responsabilidade prega

que a vida deve ser condição indispensável para o exercício da

liberdade, no qual há uma necessidade da colaboração do

paciente, dentro de sua autonomia, exercer a sua

responsabilidade, dando ou não seu consentimento, sempre

indispensável.

O princípio da totalidade ou princípio terapêutico rege

toda liceidade e obrigatoriedade da terapia médica e cirúrgica,

levando-se em conta não apenas a integridade física do

paciente, mas também seu valor pessoal integral, ou seja,

espiritual e moral da pessoa.

De acordo com os princípios da sociabilidade e da

subsidiariedade, o primeiro compromete cada pessoa a realizar

a si mesma na participação da realização do bem dos próprios

semelhantes, enquanto o segundo está ligado ao primeiro,

porém impele a comunidade a ajudar os mais necessitados e a

garantir as livres iniciativas.

80 Ibid., 2002, p. 16. 81 Id. 82 BARCHIFONTAINE, Christian de Paul. PESSINI, Leo. op. cit., 2000,

p. 43.

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46

O paradigma da “ética dos princípios”83 é o mais

empregado para resolver os problemas de justiça, da qual a

modernidade se mostra mais sensível, ajudando enormemente

na solução dos problemas-fronteira das novas tecnologias

biomédicas que pressupõe experiências, intuição e

sensibilidade moral.

4 CONCEITO DE COBAIAS HUMANAS

Pode-se dizer que foi através de pesquisas feitas no

mundo animal e vegetal, incluindo seres humanos que o

mundo teve a chave para o desenvolvimento da maioria dos

remédios e outros produtos importantes que trazem tantos

benefícios à humanidade84.

O termo “pesquisa” significa neste meio, uma classe de

atividades que têm por objetivo desenvolver ou contribuir para

o conhecimento generalizável, que por sua vez, cons iste em

teorias, princípios ou relações, ou ainda, no acúmulo de

informações sobre os quais estão baseados 85.

A pesquisa em si inclui estudos médicos e

comportamentais relacionados à saúde humana, buscando

entender o progresso na assistência médica e na prevenção de

doenças, além de trazer uma compreensão dos processos

fisiológicos e patológicos, o que em algum momento exigirá

maiores pesquisas, desta vez envolvendo seres humanos. 86

A experimentação em humanos é uma prática muito

antiga que ajudou muito o desenvolver da medicina na

sociedade, sendo muito utilizada até os dias atuais. Abdicar

das experimentações humanas pode acarretar ricos

incalculáveis, pois nem sempre o que funciona in vitro,

funcionará como o esperado in vivo87. Para se por em prática

83 DINIZ, op. cit., 2002, p. 17. 84 OLIVEIRA, op. cit., 1997. p.88. 85 BARCHIFONTAINE, Christian de Paul. PESSINI, Leo. op. cit., 2000.

p. 139. 86. BARCHIFONTAINE, Christian de Paul. PESSINI, Leo. op. cit., 2000,

p. 140. 87 OLIVEIRA, op. cit., 1997. p.89.

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as diversas maneiras de se trabalhar com pesquisas em seres

humanos, é necessário que haja um prévio planejamento de

caráter social, educacional e técnico, de forma que se

proporcione uma busca de alternativas ao padrão de pesquisa

convencional88.

Nos dias atuais, embora haja muitas pesquisas em

diversas áreas do conhecimento aplicado, há uma falta de

maior segurança no que se trata de matéria de metodologia,

onde os países em desenvolvimento acabam sendo alvo

destinado a tais pesquisas. Estimativas mundiais revelam que

pelo menos um quarto da população em tais países sobrevive

com menos de um dólar ao dia89. No Brasil, vinte por cento da

população vivem em extrema pobreza, havendo uma maior

probabilidade de essas pessoas serem incluídas em pesquisas

de ensaio clínico, genéticas ou não.

Em qualquer país, incluindo o Brasil, a inclusão de

qualquer pessoa em projetos de pesquisa depende de uma

consulta esclarecedora seguida de aceitação livre, consciente e

autônoma, permitida através de um documento específico,

denominado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE).

Através do Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

(CONEP)90, o pesquisador deve informar para o sujeito de

pesquisa sobre o direito de escolha, os possíveis desconfortos,

os riscos e benefícios à pesquisa e todas as informações

pertinentes à pesquisa.

É através da CONEP que há o ato ilícito do pagamento,

portanto o sujeito não poderá pagar para que participe da

pesquisa. “No entanto, poderá haver ressarcimento de despesas

88 BARTILOTTI, Márcia Mirra Barone et al. A ética na saúde.São Paulo:

Thomson Pioneira, 2002, p. 40. 89 GARRAFA, Volnei. PESSINI, Leo. Bioética: poder e injustiça . São

Paulo: Loyola, 2006. p.323. 90 ARTIGO de Opinião/opinion article. Ética e pesquisa médica:

princípios, diretrizes e regulamentações. Revista da Sociedade

Brasileira de medicina Tropical , São Paulo, jul-ago, 2005. p. 346

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ou de interrupção de ganhos advindos do trabalho. Estas

questões têm que estar claramente delineadas.” 91

Para a maioria das famílias pobres, a percepção de estar

doente e o limiar da decisão de procurar ajuda de um médico

diferem, fundamentalmente, daquelas entre os que possuem

uma posição social melhor.

Assim, quando atingem o nível cultural de percepção de

estar doente, a busca por tratamento médico inclui muitas

barreiras a serem enfrentadas, desde recurso para o transporte

até reserva financeira para a compra dos remédios 92.

Nesta situação, quando o paciente consegue

atendimento médico que lhe proporcione além de

acompanhamento médico, exames laboratoriais regulares e

gratuitos, além de remédios de graça, ainda que só por um

tempo, a racionalidade do paciente submete-se pelas

facilidades oferecidas, onde qualquer explicação adicional

torna-se irrelevante93.

Assim, de modo geral, qualquer oferta que no momento

lhe facilite sua sobrevivência, tem prioridade absoluta de

aceitação, de modo que para o paciente pobre, necessidades

vitais não podem esperar e, para o médico-pesquisador, o

conflito ético é óbvio, pois nele o princípio da beneficência

adquire um sentido truncado, e o princípio da justiça torna-se

ampliado.

5 AS COBAIAS HUMANAS: SUA ANÁLISE

FRENTE AOS PRINCÍPIOS BIOÉTICOS E DA

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

Com os progressos da ciência e tecnologia biomédicas e

sua aplicação na prática da medicina, várias inquietações na

população fazem com que a sociedade se confronte com vários

problemas éticos, assim vários documentos e diret rizes foram

criados para proteger a integridade dessas pessoas. 94

91 ARTIGO de Opinião/opinion article. op. cit., 2005, p. 346. 92 GARRAFA, op. cit., 2006, p. 325. 93 Ibid., 2006, p. 32. 94 GARRAFA, op. cit., 2006, p. 142.

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49

O primeiro documento internacional foi o Código de

Nuremberg, promulgado em 1947, seguido da Declaração de

Helsinque em 1964 e, em seguida para conferir força legal e

moral à Declaração Universal dos Direitos do Homem, em

1966 o artigo 7 do Acordo Internacional sobre Direitos Civis e

Políticos declara que “Ninguém será submetido a tortura ou a

tratamento ou punição cruel, desumana e ou degradante. Em

particular ninguém será submetido sem seu livre

consentimento, a experiências médicas ou científicas”. 95

Em 1982 a publicação da Proposta de diretrizes

internacionais para pesquisas biomédicas envolvendo seres

humanos foi um desdobramento lógico da Declaração de

Helsinque, o propósito dessas diretrizes era que toda pesquisa

envolvendo seres humanos deve ser conduzida frente aos

princípios éticos básicos96, sendo três:

Princípio da Autonomia que requer o respeito sobre as

escolhas pessoais dos pacientes ou dos seus representantes por

sua capacidade de autodeterminação.

Princípio da Beneficência refere–se à obrigação ética de

maximizar os benefícios e minimizar danos ou prejuízos, isto

é, os riscos da pesquisa devem ser razoáveis à luz dos

benefícios esperados. Alguns autores defendem um

desdobramento deste, sendo o Princípio da não-maleficência,

por conter a obrigação de não acarretar dano intencional e

derivar da máxima da ética médica: primum non nocere.

Princípio da Justiça, refere-se à obrigação ética de tratar

cada pessoa de acordo com o que é moralmente certo e

adequado, de dar a cada pessoa o que lhe é devido, sendo ma

expressão da justiça distributiva.

Diante do exposto, os bioeticistas além dos princípios

éticos básicos devem ter como paradigma o respeito à

dignidade da pessoa humana97, que por sua vez é fundamento

do Estado Democrático de Direito, estando cravado no artigo

95 Ibid., 2006, p. 141. 96 Ibid., 2006, p. 142. 97 DINIZ, op. cit., 2002, p. 17.

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50

1°, III, da Constituição Federal de 1988, sendo o cerne de todo

ordenamento jurídico98.

A pessoa humana e sua dignidade prevaleceram sobre

qualquer tipo de avanço científico e tecnológico, de modo que

a bioética e o biodireito não poderão admitir conduta que

reduza à pessoa humana a condição de coisa, logo, nem tudo o

que é cientificamente possível é moral e juridicamente

admissível99.

Pode-se dizer que todos esses princípios, inclusive o

Princípio da Dignidade da Pessoa Humana impõe limites à

moderna medicina, reconhecendo que o respeito ao ser

humano em todas as suas fases evolutivas só é alcançado se

estiver atento a dignidade humana.

Ao reconhecer e respeitar a dignidade humana, a

bioética e o biodireito passam a ter um sentido humanista100,

estabelecendo um vínculo com a justiça, sendo que se em

alguma lugar houver qualquer ato que não assegure a

dignidade humana, este deverá ser repudiado e punido, por

contrariar as exigências ético-jurídicas dos direitos humanos.

Pode-se dizer que todos os seres humanos, os

aplicadores do direito e em especial os médicos, os biólogos,

os geneticistas e os bioeticistas devem intensificar sua luta em

favor do respeito à dignidade humana para que haja

efetividade dos direitos humanos, pois a consciência destes é

uma grande conquista da humanidade, por ser o único caminho

para uma era de justiça, solidariedade e respeito pela liberdade

e dignidade de todos os seres humanos. A bioética e o

biodireito estão inseridos nessa conquista, sendo instrumentos

valiosos para recuperação dos valores humanos101.

98 DINIZ, op. cit., 2002, p. 17. 99 Ibid., 2002, p. 19. 100 Id. 101 Ibid., 2002, p. 20.

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51

6 TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO E

PROTOCOLO DE PESQUISA

Para a evolução da sociedade é necessário que as

técnicas médicas se aperfeiçoem, para isso necessário a

pesquisa. Desse modo, elas se iniciam com a construção de

uma hipótese, sendo posteriormente testadas em laboratórios,

mais especificamente com técnicas in vitro, passando – se para

testes em animais finalizando com o teste em seres humanos

sendo este, portanto, indispensável para que se saiba

exatamente os resultados do item pesquisado102.

O Conselho para Organizações Internacionais de

Ciências Médicas (CIOMS) publicou já em 1982, uma

proposta de diretrizes internacionais para pesquisas

biomédicas envolvendo seres humanos, as quais foram

distribuídas para o Ministério da Saúde dos países, conselhos

de pesquisa médica, faculdades de medicina, organização-não

governamentais, companhias farmacêuticas e revistas

médicas103.

Mesmo com as diretrizes apresentadas, a necessidade de

realizar testes de vacinas e medicamentos trouxe a luz novas

questões éticas que não haviam sido previstas quando o

Conselho para Organizações Internacionais de Ciências

Médicas publicou aquelas diretrizes. Sendo assim, em 1993, a

OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Conselho para

Organizações Internacionais de Ciências Médicas, revisaram

as Diretrizes visando bem–estar aos participantes desse tipo de

pesquisas, publicando novos parâmetros éticos internacionais

para as pesquisas biomédicas envolvendo seres humanos.

Contudo, mesmo assim certas áreas de pesquisa, como a

pesquisa genética humana, a pesquisa em fetos e embriões e a

pesquisa em tecidos fetais, não receberam atenção especial

nessas diretrizes o que tem gerado diversos problemas, posto

que esses estão evoluindo rapidamente gerando controvérsias

em muitos aspectos.

102 BARCHIFONTAINE, Christian de Paul. PESSINI, Leo. op. cit., 2000,

p. 137-138. 103 Id.

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52

De acordo com os autores anteriormente citados essa

nova diretriz é composta por uma declaração de Princípios

Éticos Gerais, um preâmbulo e 15 diretrizes, onde determina-

se que para iniciar uma pesquisa, faz-se necessário o protocolo

de pesquisa e o termo de consentimento informado 104.

O protocolo de pesquisa é o conjunto de documentos

que o pesquisador prepara como parte do processo de

elaboração de seu projeto de pesquisa, onde organiza a

proposta de trabalho o que permite que o Comitê de Ética

desempenhe seu papel de controle social, posto que tem a seu

dispor um texto e um conjunto de documentos claros,

organizados e avaliáveis. Apesar de burocrático esse

procedimento é legitimado quando está a serviço da

cientificidade e da eticidade da pesquisa.

Cada pesquisa deve ser formulada num protocolo de

pesquisa e submetida a um Comitê de Ética. Não importa o

nível da pesquisa podendo variar desde trabalhos de conclusão

de graduação até pesquisas em seres humanos de interesse

acadêmico ou operacional. Todas estas requerem a elaboração

de um protocolo de pesquisa, como medida de proteção para

os seres humanos.

Para se fazer um protocolo de pesquisa, é necessário

seguir alguns itens indispensáveis, os quais são:

Primeiramente, a folha de rosto que deve conter a

identificação do projeto, identificação do pesquisador

responsável, da instituição onde se realizará o projeto, do

patrocinador e do Comitê de Ética responsável pela avaliação

do protocolo, incluindo ainda o termo de compromisso do

pesquisador e da instituição em cumprir a Resolução 196/96

do Conselho Nacional de Saúde (esse termo de compromisso é

essencial para compor o banco de dados dos projetos);

Em segundo lugar apresenta-se o Projeto de Pesquisa, o

qual deve ser feito em língua portuguesa descrevendo

propósitos e hipóteses a serem testadas, e apresentando

antecedentes científicos e dados que justifiquem a pesquisa. E

104 Ibid, 2000, p. 139.

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através disso que será feita a avaliação da proposta pelos

membros do Comitê de Ética.

O Projeto de Pesquisa deverá conter descrição detalhada

do projeto (material e métodos, casuística, resultados

esperados, bibliografia), análise crítica de riscos e benefícios,

cronograma, explicitação das responsabilidades do

pesquisador, da instituição, do promotor e do patrocinador,

explicitação dos critérios de suspender ou encerrar a pesquisa,

local e detalhamento das instalações de onde se realizará cada

etapa da pesquisa, demonstrativo da existência de infra-

estrutura necessária ao desenvolvimento da pesquisa e para

atender eventuais problemas dela resultantes, orçamento

financeiro detalhado (recursos, fontes e destinação, forma e

valor da remuneração do pesquisador) a apresentação do

orçamento permite transparência e justiça no uso de recursos,

explicitação de acordo preexistente quanto à propriedade das

informações geradas, declaração da existência de seguros,

declaração de que os resultados serão tornados públicos,

declaração sobre o uso e destinação do material e/ou dados

coletados105.

Além das descrições já detalhadas, no Projeto de

Pesquisa será necessário algumas informações relativas ao

sujeito da pesquisa, tais como: caracterizar a população alvo

(tamanho da amostra, faixa etária, sexo, e outras

características necessárias), expor as razões para a utilização

de grupos vulneráveis, descrever os métodos que afetem

diretamente os sujeitos da pesquisa, identificar as fontes de

materiais de pesquisa (registros, dados), descrever planos de

recrutamento, fornecer critérios de inclusão e de exclusão,

descrever medidas de proteção ou minimização de riscos,

apresentar previsão de ressarcimento de gastos aos sujeitos da

pesquisa (esta importância não deve ser de tal monta que possa

interferir na autonomia da decisão do indivíduo ou seu

responsável em participar da pesquisa).

105 BARCHIFONTAINE, Christian de Paul. PESSINI, Leo. op. cit., 2000.

p. 143-148.

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54

Das descrições dos sujeitos ainda será necessário

apresentar qualificação dos pesquisadores com o Curriculum

vitae do pesquisador responsável e demais participantes.

O terceiro e último item é o Termo de Consentimento

Informado. Este representa uma manifestação voluntária e

expressa da autonomia da vontade de uma pessoa, a qual deve

ser capaz e estar ciente do processo informativo e deliberativo

visando à aceitação de tratamento específico ou

experimentação, sabendo a natureza do mesmo, das suas

conseqüências e dos seus riscos106. É de suma importância a

fundamentação ética da pesquisa nesse documento, posto que

o mesmo é um dever legal do médico que deve apresentá -lo o

mesmo de forma minuciosa para evitar maiores discussões

acerca do fato de ter sido ou não consentido e explicado e se

esta foi de modo suficiente ou não.

O exercício do consentimento informado efetiva-se após

a junção da autonomia, capacidade, voluntariedade,

informação, esclarecimento (onde o médico clínico ou

cirurgião deve indicar as vantagens e os inconvenientes, ou os

riscos do tratamento ou da intervenção) e o próprio

consentimento. Entre os elementos de validade do

consentimento informado talvez a informação seja um dos

mais importantes, e por isso deve ser clara, objetiva e em

linguagem compatível com o entendimento individual de cada

paciente107.

A capacidade esta ligada com a voluntariedade, sendo

que a primeira é para entender e decidir, não tem uma

dependência direta com a idade da pessoa. A voluntariedade é

a possibilidade que a pessoa tem de tomar decisões sem ser

constrangida ou até mesmo coagida para que decida se irá ou

não participar da pesquisa. Esta situação coercitiva pode estar

presente em grupos onde existe uma clara dependência

hierárquica, como em militares, funcionários, membros de

organizações religiosas, estudantes, ou com outros tipos de

106 SAUNDERS, Jr WL. Principles of health care ethics . New York:

John Wiley & Sons, 1994. p. 457-70. 107 DICKENS BM, Cook RJ. Dimensions of informed consent to

treatment. Int J Gyneacol Obstet. 2004, p. 309-14.

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55

vulnerabilidade, tipo a verificada em pacientes, comunidades

carentes e presidiários108.

A autonomia é utilizada quando o indivíduo pode

perguntar e obter respostas às suas dúvidas, dando a

autorização com base na sua vontade individual.

O consentimento propriamente dito ocorre quando o

participante ou paciente toma a decisão por uma das

alternativas apresentadas (aderindo ou não a participar da

pesquisa). A assinatura do Termo de Consentimento é a última

etapa do processo, quando a pessoa documenta a sua

autorização para a realização dos procedimentos propostos.

Assim sendo, o consentimento informado é um elemento

necessário ao atual exercício da medicina, posto que é um

direito de saber do paciente e um dever de explanação do

médico.

O termo permite que uma pessoa possa tomar decisões

sobre os procedimentos propostos a ela, através de um

documento assinado, consentindo ao médico/pesquisador a

realização de determinado procedimento, após o recebimento

das informações pertinentes. A informação deve ser a mais

minuciosa possível, com linguagem acessível e informação

adequada ao indivíduo, o qual deve estar ciente da finalidade e

do método da pesquisa, sua duração, benefícios esperados e

possíveis riscos, além dos tratamentos alternativos, do grau de

confidencialidade quanto ao anonimato, e da responsabilidade

do pesquisador. Ademais deverá ser propiciado ao individuo

que esta de “cobaia” a possibilidade de terapia gratuita no

caso de danos ou resultados negativos, tipo de compensação,

ainda, a liberdade de deixar a pesquisa109. Ressalta-se que se

for necessário o uso de alguma imagem do participante, deverá

ser requisitado a sua autorização.

108 GOLDIM, José Roberto. Simpósio sobre ética: o consentimento

informado numa perspectiva além da autonomia. Porto Alegre: Revista

Amrigs, 2000. p. 110. 109 Council for International Organizations of Medical Sciences (CIOMS),

World Health Organization (WHO). International ethical guidelines for

biomedical research involving human subjects. Genebra: CIOMS,

OMS. 1993.

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56

Contudo mesmo com todos esses requisitos ainda não se

pode ter a certeza de que está realmente completo, posto que

para ser realmente ético, o protocolo deverá conter o máximo

de informações, de modo a permitir decisão livre de coerção.

A forma de apresentar esse consentimento é variável,

podendo ser oral ou escrito, sendo o mais importante levar em

consideração a diversidade dos indivíduos, quanto ao grau de

entendimento, para se ter certeza de que todas as informações

contidas naquele documento foram absorvidas pelas pessoas.

Cabe ressaltar que todos esses itens acima mencionados ainda

passam por uma aprovação de um Comitê de Ética, pois eles

fazem parte de uma lista de diretrizes, no total de 15, que

devem ser cumpridas, estando o Comitê de Ética enquadrando

na diretriz de número 14.

Dentro dessas 15 diretrizes, há algumas específicas,

como em caso de pesquisas envolvendo pessoas com distúrbios

comportamentais ou mentais, crianças e prisioneiros. Nesses

casos, deve-se observar alguns requisitos:

- Segundo a diretriz 5, que é a que trata da pesquisa

envolvendo crianças, elas só podem ser envolvidas em

pesquisa se não puder desenvolve-las em adultos e se as

informações que serão coletadas vão ser relevantes as

necessidades infantis, devendo para tanto, buscar o

consentimento livre e informado dos pais e da própria criança

(cada uma segundo a sua capacidade);

- Assim como em crianças, as pesquisas não poderão ser

desenvolvidas em pessoas com distúrbios mentais e

comportamentais, de acordo com o disposto na diretriz 6, se

elas puderem ser desenvolvidas em pessoas sem esses

distúrbios, sendo também aqui necessário o consentimento

livre e informado obtido de cada um de acordo com a sua

capacidade mental, destacando-se no tocante essas pessoas,

necessariamente deverá haver benefícios para os mesmos com

essa pesquisa;

- Em prisioneiros, de acordo com a diretriz 7, os que

possuem doenças graves ou em risco de adquiri -las, não devem

ter arbitrariamente negado seu acesso a drogas, vacinas ou

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outros agentes em investigação que mostrem promessa de

benefício terapêutico ou preventivo;

- Na diretriz 11 que as gestantes não devem participar

de pesquisas não clínicas (é aquela desenvolvida em pacientes

ou outros participantes, ou com dados relativos a eles, apenas

para contribuir para o conhecimento generalizável), a não ser

que elas representem riscos mínimos para seus fetos, e que

tenham o cunho de obter novos conhecimentos sobre a

gravidez ou lactação.

- De acordo com a diretriz 13, os participantes que

sofreram danos físicos resultantes de sua participação, terão

que ter direito a assistência financeira ou de qualquer outro

tipo que precisar, podendo ser temporária ou permanente.

Essa é uma das principais regras da norma ética

aplicado ao profissional da medicina, sendo garantido ao

paciente o direito de decidir em relação ao que lhe é colocado

como forma de tratamento e respeitando a sua capacidade de

autodeterminação.

O termo de Consentimento não existe apenas para a

experimentação de pesquisas médicas nas pessoas,

enquadradas como “cobaias humanas”, mas existe para muitos

tipos de tratamento hospitalares, nos quais os procedimentos

de autorização serão praticamente os mesmos. Dessa forma

permite-se que o paciente possa tomar decisões sobre os

tratamentos e procedimentos propostos de forma consciente e

com total segurança da decisão tomada. Para isso, o médico

assistente ou cirurgião-dentista deve fornecer ao seu paciente

todas as orientações pertinentes.

Cabe acrescentar que além das diretrizes gerais e

específicas já notadas, na última é determinado o país que irá

patrocinar a pesquisa devendo submeter o protocolo de

pesquisa a revisão ética e científica, de acordo com os padrões

do seu país de origem, enquanto o país hospedeiro é onde a

pesquisa irá ser realizada, deverá verificar se ela atende as

suas próprias exigências ético-legais.

No Brasil, o Conselho Nacional de Saúde tem diretrizes

e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres

humanos, que estão na Resolução 196/96 e no Código de Ética

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Médica4. Tais regramentos, quando realizadas pesquisas em

seres humanos, deverão ser respeitados. Contudo, na prática,

nem sempre todos os seus requisitos são necessariamente

preenchidos, e muitas pessoas, desconhecendo essas

informações complementares, se submetem a situações ilegais

e constrangedoras.

Podemos citar como explicativo, os testes de

medicamentos e esterilização forçados praticados em países

pobres, a partir de alguns fatos levantados sobre a utilização

de cobaias humanas em experimentos e incursões da indústria

farmacêutica dos Estados Unidos, pela América Latina e em

outras partes do mundo.

Qualquer iniciativa que necessita de seres humanos para

pesquisas científicas e medicamentos incorre em graves

infrações aos direitos universais da pessoa humana, e somente

se mantém por interesses econômicos escusos.

Conforme relatado por Sonia Shah, em 1998, as

pesquisas realizadas com seres humanos nos países de terceiro

mundo, de forma irregular, não são conhecidas nem no próprio

país. O relatório do Conselho Nacional de Segurança dos EUA

relata - 110A assistência para o controle populacional deve ser

empregada principalmente nos países em desenvolvimento de

maior e mais rápido crescimento onde os EUA têm interesses

políticos e estratégicos especiais. A forma como são

empregados os testes não tem nenhuma importância para os

Estados Unidos, apenas interessa o resultado a ser alcançado.

O relatório dos EUA fala claramente que é preciso criar

um controle populacional no Brasil e em outros países em

desenvolvimento, para isso fomentou a criação nestes países

de fundações, com o objetivo de assistir e medicar mulheres

pobres, mas com o verdadeiro intuito de esterilizá-las sem sua

autorização.

Um exemplo deste caso é a Associação Bem Estar

Familiar (BEMFAM), implantada no Brasil e mantida

principalmente com doações americana, cuja única função é a

110 http://www.providaanapolis.org.br/kissinger.htm

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esterilização de mulheres entre 15 e 49 anos. O processo

utilizado é muito simples, o medicamento é aplicado na veia

como um anticoncepcional, mas lentamente a paciente vai

ficando estéril. Procedimento similar foi realizado no Peru

com maios de 320 mil camponesas, na década de 80.

O medicamento mais utilizado é o Deprovera, fabricado

pelo laboratório Norplante, que foi motivo de vários

escândalos nas décadas de 70/80 por provocar câncer e

esterilização de mulheres. Na Europa, este medicamento não

pode mais ser comercializado, em virtude da comprovação de

danos irreversíveis à saúde da mulher.

Como exemplo, temos o caso de Wilson, um jovem

mecânico, que ao se propor voluntário em um experimento

com uma nova droga para a evolução das pesquisas da

leucemia, acabou ficando 16 dias em coma e teve parte da sua

mão amputada111.

Quando pessoas são vistas como simples cobaias,

coloca-se em risco o respeito e a própria liberdade do ser

humano, que são direitos inalienáveis, em nome da falsa

pesquisa, da ambição e da ganância das grandes corporações.

7 CONCLUSÃO

Após a realização deste trabalho chegou-se à conclusão

de que devido as grandes mudanças que têm ocorrido na

sociedade com relação na área social, científica e política, uma

onda ética avança sobre os países, buscando estabelecer uma

convivência menos conflituosa entre as nações, entre a ciência

e a sociedade.

A grande problemática ocorrida na sociedade se deu

com o término da Segunda Guerra Mundial, a qual revelou ao

mundo a matança de milhares de seres humanos na Alemanha,

os quais foram sacrificados e serviram de cobaias para

experimentos científicos, que deram origem ao Código de

Nuremberg em 1948.

111 Revista Super Interessante , Edição 278, Maio de 2010.

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Isto ocorreu em vista da necessidade de aplicar os

conhecimentos obtidos em pesquisas científicas para obter a

aplicabilidade desses resultados científicos em seres humanos.

Assim, surge a Bioética, que antes de tornar-se uma disciplina

na década de l980, já era um movimento que tentava responder

aos conflitos éticos relacionados com o avanço tecnológico no

campo da biomedicina.

Sendo assim, ela é um pólo de luta pelos direitos

humanos e tem como objetivo regulamentar, promover e

defender a dignidade humana dentro das possíveis qualidades

de vida, delegando responsabilidade e poder à sociedade para

direcionar o caminho que interessa para si e para as gerações

futuras, relacionando as manipulações genéticas, aos temas do

direito reprodutivo, dentre outras questões relativas à Saúde

Pública, as Cobaias Humanas, que foi o tema do presente

estudo.

Surge então uma questão, por que usar pessoas para

entender doenças e testar remédios cujos efeitos nem se

conhecem ou tem ciência de que são seguros?

Apesar de cada vez mais avançada, nossa tecnologia

ainda não é suficiente, por isso, usam-se, além de animais,

pessoas, pois os testes existentes ainda são incapazes de dizer

com precisão como agirá uma droga no corpo humano. Dessa

forma, somente sabe- se um remédio tem eficácia ou não e

quais seus efeitos colaterais, depois de testá-lo em centenas de

animais e seres humanos. E aí está o grande problema, garantir

saúde a essas pessoas.

Sendo assim, é de fundamental importância à

participação de cobaias humanas no desenvolvimento de

pesquisas, desde que respeitados os direitos dispostos pela

Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), entre eles:

decidir se quer participar; receber informações sobre os

objetivos, métodos e riscos da pesquisa e dos tratamentos

alternativos; manter sua privacidade e anonimato; abandonar a

pesquisa quando quiser; tratamento gratuito caso surjam

complicações de saúde por causa da pesquisa; receber o

melhor tratamento já existente para sua doença ou o novo

tratamento em teste, que deve ter potencial para se tornar o

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61

melhor existente; comunicar-se facilmente com os

pesquisadores; receber informações que surgirem no estudo,

como problemas ocorridos com outros voluntários;

indenização, caso a pesquisa cause alguma dano;

exclusividade nas informações que prestar e nas amostras

retiradas de seu corpo e depois de terminada a pesquisa,

continuar recebendo o tratamento em pesquisa que tiver

experimentado, se o considerar benéfico.

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63

CAPÍTULO III:

ABORTO ANENCEFÁLICO

Agatha Yuri Sonohara

Fernanda Andrade Ré

Fernanda Caraçato Vettorazzo

Leliane Krauspenhar

Maiana Kelmer Araújo

Mariuci Roberta Barrreto da Costa 112

RESUMO O presente artigo visa analisar brevemente o tema aborto anencefálico, analisando desde os fatores que podem gerar uma gravidez de feto anencefálico até a apresentação de opiniões divergentes acerca da possibilidade de se permitir ou não, em lei, o aborto nesses casos. Tratar-se-á ainda, de seus prognósticos, de como realizar a prevenção para se evitar a formação de fetos anencéfalos pelo tratamento com Ácido Fólico, e casos reais.

Palavras-chave: Aborto, Legalização, Princípios

Constitucionais, Anencefalia, Ácido Fólico, Aborto por

Anencefalia.

112 Acadêmicas do 5º período do curso de Direito d a Pontifícia

Universidade Católica do Paraná – Campus Maringá.

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo descrever e passar

conhecimento sobre aborto de fetos anencéfalos, sob a ótica do

ordenamento jurídico, tomando como partida os conceitos de

aborto, anencefalia e aborto por anencefalia, adentrando ainda,

estas questões relacionadas aos princípios constitucionais,

alem de relacionar essas questões em países que autorizam o

aborto, os prós e contra do aborto anencefálico e o

posicionamento de magistrados em relação ao tema.

O aborto de anencéfalo é um tema muito discutido no

Brasil, pelo fato de divergentes opiniões sobre o assunto serem

formadas por várias áreas de estudos, como as religiões, os

tribunais, a medicina. A lei brasileira autoriza apenas dois

tipos de aborto, o aborto necessário e o aborto sentimental,

fazendo assim com que os outros tipos de aborto sejam

considerados crime, portanto, não permitidos no País.

O relacionado tema ofende vários princípios dispostos

na Constituição Federal de 1988, sendo o principal, o

Princípio da Dignidade Humana, que defende o direito a vida,

independente dos fatores físicos e psíquicos do feto, gerando

discussões a cerca da dignidade deste e da gestante.

Todas essas questões serão devidamente ponderadas ao

longo deste estudo, levando dúvidas sobre a legalização do

aborto anencefálico no Brasil.

2 ABORTO

O aborto é um delito de conceito uniforme entre os

doutrinadores, pois a grande maioria entende que, é um ato

provocado pela própria mãe ou terceiro que interrompe a

gravidez, causando morte do feto, independente de sua

expulsão. Isso devido ao fato de que o embrião em formação

poderá ser destruído pelo próprio organismo da mãe.

Portanto, para a consumação delitiva é necessário que

haja a morte do produto da concepção, mesmo sendo ela

posterior as condutas abortivas, como pode ocorrer que o feto

não tenha óbito dentro do organismo da mãe, mas fora, sendo

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que a causas que causou sua morte foram as condutas

praticadas para o fim de abortar.

Tem –se assim que “o aborto é a interrupção da

gravidez com a conseqüente morte do feto (produto da

concepção)”113, sendo este um conceito básico e direto do que

é o aborto. Porém pode ser conceituado de forma mais

completa, como sendo:

Aborto a interrupção da gravidez, com a

conseqüente destruição do produto da

concepção. Consiste na eliminação da vida

intra-uterina. Não faz parte do conceito de

aborto a posterior expulsão do feto, pois

pode ocorrer que o embrião seja dissolvido e

depois reabsorvido pelo organismo materno

em virtude de um processo de autólise, ou

então pode suceder que ele sofra processo de

mumificação ou maceração, de modo que

continue no útero materno.114

Para tipificar a prática do crime de aborto a lei não diz

qual é o período de gestação que o feto tem que estar, ou seja,

este pode estar em qualquer período de sua formação, podendo

estar no primeiro mês ou no último, que em ambos os casos

vão ser aborto. Desde que, ressaltando, a morte do feto seja

causada pelas práticas realizadas para obter resultado morte

deste.

Este crime fere a vida humana e encontra-se tipificado

no Código Penal Brasileiro, estando junto com o crime de

homicídio, como exemplo, por ser crime contra a vida. Este

Código traz cinco artigos, sendo o artigo 124 até o artigo 128,

os que relatam os possíveis agentes ativos, que pode ser a

própria mãe ou terceiro, que poderá provocar o aborto com o

consentimento ou sem esse, sendo que quando praticado por

terceiro este pode ser responsabilizado pela forma qualificada ,

113 JESUS, Damásio de. Direito Penal: parte especial. 30. ed. São Paulo:

Saraiva, 2010, v.2. p. 151. 114 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. 3. ed. rev.

e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p.108.

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quando resultar lesão grave ou morte da mãe, e ainda traz as

possibilidades de aborto legal.

Concluindo assim que “o aborto é o crime consistente

na dolosa interrupção, vedada pela lei, da vida intra-uterina

normal, em qualquer de suas fases evolutivas, haja ou não

expulsão do produto da concepção do ventre materno.” 115

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

O aborto foi muito praticado entre os povos,

principalmente entre gregos e romanos, pois estes acreditavam

que o feto era parte integrante da mãe, integrando o seu corpo,

podendo assim, dispor. Como o passar de alguns anos o aborto

foi considerado, quando praticado por mulher casada uma

ofensa o marido, ferindo o direito de ser pai e dar

continuidade a família. Quando praticado por mulher solteira,

esta prática era liberada.

A reprovação ao ato de abortar foi dada com o

surgimento do cristianismo, de modo que:

O aborto surgiu pela primeira vez na

Constitutio Bamberguensis de 1507 e na

Constitutio Criminalis Carolina de 1532,

que distinguiam entra a morte do feto

animado e inanimado, punindo a primeira

com a pena capital e a segunda com um

castigo aplicado segundo o arbítrio dos

peritos versados em direito.”116 Aqui, neste

período o aborto foi igualado ao homicídio.

No século XVIII, foi abolida a pena capital,

substituindo-a pela pena de prisão ou multa. Em pleno século

XXI, há duas situações, tendo em vista aqueles tem como idéia

a continuidade do aborto como crime, punindo rigorosamente

a pessoa que pratica, principalmente a mãe, e aqueles que são

115 DINIZ, Maria Helena. O Estado atual do direito. 2. ed. aum. e atual.

São Paulo: Saraiva, 2002. p. 41. 116 DINIZ, Maria Helena. Op. cit., 2002. p. 36.

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a favor do aborto, com fundamento na vontade da mãe de ter

um filho, podendo ela escolher o destino de uma vida.

São várias as espécies de aborto de acordo com o

disposto na legislação penal:

A) Auto-aborto: está previsto no artigo 124, primeira

parte, “provocar aborto em si mesma”. Tratando-se, portanto

de crime especial, podendo ser praticado apenas pela mãe. “É

a própria mãe que quem executa a ação material do crime, ou

seja, ela própria emprega os meios ou manobras abortivas em

si mesma.”117 Assim, é um delito que a própria mãe,

dolosamente, e sozinha comete.

B) Aborto consentido: aquele em que terceiro pratica,

mas que a mãe permite que o faça. “No caso a gestante não

pratica aborto em si mesma, mas consente que o agente o

realize”. 118 Esse terceiro que pratica o aborto vai responder

pelo artigo 124, segunda parte do Código Penal.

C) Aborto provocado por terceiro: disposto nos artigos

125 e 126 do Código Penal, cujo primeiro está relacionado

com o aborto sem o consentimento da gestante, e o segundo do

aborto com o consentimento da gestante. “Em se tratando de

aborto provocado sem o consentimento da gestante, o agente

emprega a força física, a ameaça ou a fraude para a realização

das manobras abortivas.”119 Neste tipo não só o feto é vítima,

mas a mãe também. E no aborto provocado por terceiro com o

consentimento da gestante é aquele que a mãe autoriza que

aquele realize condutas com a finalidade de abortar. Mas este

consentimento tem que ser válido, isto é, a grávida tem que ter

discernimento mental, não podendo ela ser menor de quatorze

anos de idade, alienada ou débil, e se o consentimento foi

obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

117 CAPEZ, Fernando. Op. cit., 2004. p. 115. 118 FABBRINI, Renato N. MIRABETE, Julio Fabbr ini. Manual de

Direito Penal: parte especial. 25. ed. ver. e atual. São Paulo: Atlas,

2008. p. 65. 119 PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 7. ed. atual e

ampli.São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v. 2. p. 112.

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D) Aborto qualificado pelo resultado: quando em razão

das condutas abortivas a mãe sofre lesão corporal grave ou a

morte, sendo em ambos os casos as penas aumentadas. “É

evidente que o resultado mais grave (lesão corporal grave ou

morte), condição de maior punibilidade, não deve ter sido

querido, nem mesmo eventualmente, pelo agente, pois nesses

casos deverá ele responder pelos crimes de lesão corporal

grave ou homicídio, e concurso com o aborto.”120

E) Aborto necessário: pode ocorrer em duas

possibilidades. A primeira quando a vida da grávida esta em

risco, e a segunda quando a gravidez foi resultado de estupro.

“Em síntese, parte-se de uma esquema de regra-exceção: a

regra é a punição do aborto; a exceção, permitir o aborto em

determinadas hipóteses expressamente previstas (indicações),

além das eximentes comuns de responsabilidade disciplinadas

pelo Código Penal.”121 É um tipo permitido pela lei, dando

mais importância para as vontades da gestantes do que a vida

humana, que está sendo formada.

F) Aborto sentimental: que também pode ser chamado

de humanitário e ético, é aquele realizado por médico, quando

a gravidez foi resultado de estupro, sendo assim um aborto

legal, como está disposto no artigo 128, inciso II, do Código

Penal Brasileiro. Sendo que para a realização desta prática o

estupro precisa ser provado e ter o consentimento expresso da

vontade da gestante, não precisando de autorização judicial.

G) Aborto econômico: é aquele praticado geralmente em

famílias numerosas e com dificuldades financeiras, sendo que

o nascimento de mais uma pessoa nesta família acarretaria

maiores crises econômicas. Esta conduta não é permitida pela

legislação nacional.

H) Aborto eugenésico: este "permite o aborto quando

existam riscos fundados de que o embrião ou o feto sejam

portadores de graves anomalias ou o feto sejam portadores de

graves anomalias genéticas de qualquer natureza ou de outros

120 FABBRINI, Renato N. MIRABETE, Julio Fabbrini. Op. cit. 2008, p.

67. 121 PRADO, Luiz Regis. Op. cit., 2008, p.114.

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defeitos físicos ou psíquicos decorrentes da gravidez”. 122 Para

a legislação atual esta prática é considerada crime, embora o

Poder Judiciário tem autorizado a prática quando houver prova

legítima de que o feto fora do útero materno não tiver meios

de sobreviver.

3 PAÍSES QUE AUTORIZAM O ABORTO DE

ANECÉFALOS

Enquanto o Brasil discute a permissão para o aborto de fetos

anencéfalos, quase metade dos países membros da Organização das

Nações Unidas (ONU) reconhecem a interrupção da gravidez nesses

casos como um direito da mulher. O levantamento, realizado pela

professora Débora Diniz da Universidade de Brasília, revela que das

192 nações, 94 permitem o aborto de fetos com ausência parcial ou

total do cérebro, ressaltando ainda que a pesquisa indica uma

tendência mundial na permissão desse tipo de aborto.123

É o caso de Austrália, Estados Unidos, Alemanha, Bélgica,

Canadá, África do Sul, França e de mais 87 países, inclusive

democráticos e majoritariamente católicos, como México, Portugal e

Itália.

A América Latina fica isolada no mapa de legislações

favoráveis a interrupção da gestação de anencéfalos, posto que nesta

apenas a Guiana e a Colômbia reconhecem esse direito.124

Para Débora Diniz, o Brasil ainda não autoriza esse tipo de

aborto porque a influência católica está atrelada à estrutura legal do

país. “Muito embora a população portuguesa se declare

majoritariamente católica, essa moral não está imbricada na estrutura

de poder como acontece no Brasil”, afirma Débora, que desenvolveu a

pesquisa pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero

122 PRADO, Luiz Regis. Op. cit., 2008, p. 117. 123METADE DOS PAÍSES AUTORIZAM ABORTO DE ANENCÉFALOS.

Disponível

em<http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/ metade-dos-

paises-autorizam-aborto-de-anencefalos>. Acesso em: 11 de junho de

2010. 124Id.

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70

(Anis), organização não-governamental dedicada à pesquisa em

Bioética. 125

Caso a autorização de aborto de fetos anencéfalos siga um

fluxo contínuo nas legislações internacionais, o Brasil pode despontar,

ainda este ano, como um dos únicos países latinoamericano a

reconhecer esse direito em função de uma ação movida pela

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), que se

arrasta desde 2004 no Supremo Tribunal Federal, sob forte embate

entre religiosos e movimentos sociais. Recentemente, a Advocacia-

Geral da União (AGU) concedeu parecer favorável ao Supremo

Tribunal Federal para o caso, o que expressa a posição oficial do

governo brasileiro na matéria. O relator da ação, ministro Marco

Aurélio Mello, deve levar ainda neste semestre seu voto sobre aborto

de fetos anencéfalos. 126

Um dos motivos de o Brasil não autorizar o aborto de

anencéfalos pode ser explicado pelo surgimento “tardio” de

movimentos sociais defensores da causa, posto que em comparação a

outros países, a mobilização feminista no Brasil é jovem, iniciando-se

por volta dos anos 70, enquanto outras localidades já existe há mais

tempo.127

Por um lado, o constitucionalista Ronaldo Poletti, professor da

Faculdade de Direito da UnB, dá outra explicação para o fenômeno,

afirmando que no país, além de criminal, o aborto também está em

matéria constitucional e em legislações do Direito Civil., surgindo em

função disso a argumentação jurídica contrária.128

Como assevera o professor, nos direitos fundamentais, a

Constituição estabelece o direito à vida, e no código civil brasileiro,

125 Id. 126 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em:<

http://www.stf.jus.br >. DJ 02/08/2004 PP-00064 RTJ VOL-00200-03 PP-

01399. 127 Como afirma a professora Soraya Fleisher, do Departamento de

Antropologia da UnB: “Aqui começou após a ditadura, por volta dos anos

70. Na Europa e nos Estados Unidos, essa luta já dura décadas”.

Referencia disponível em: METADE DOS PAÍSES AUTORIZAM

ABORTO DE ANENCÉFALOS. Op. cit. 128 METADE DOS PAÍSES AUTORIZAM ABORTO DE

ANENCÉFALOS. Op. cit.

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diz que os direitos do nascituro são protegidos desde a concepção,

ensejando muitas discussões a cerca do tema.

O direito à vida, no entanto, não pode ser atribuído ao caso de

fetos anencéfalos, defende Luís Roberto Barroso129, advogado que

representa a ação da CNTS. De acordo com ele, o aborto pressupõe a

potencialidade de vida do feto, o que não ocorre nesses casos.130

Por outro lado, o Presidente da Associação Nacional Pró-Vida

e Pró-Família, Humberto Leal Vieira contesta o argumento do

advogado, afirmando que o bebê anencéfalo tem vida e que, fazer o

aborto nesse caso é antecipar a morte de um ser humano.131

No mesmo sentido, Cláudio Bernardo Pedrosa de Freitas,

médico e professor da Faculdade de Medicina da UnB, diz que o não-

nascido não deve ser discriminado, uma vez que mesmo dentro do

útero materno, já pertence à comunidade dos seres humanos. Segundo

ele, o argumento de que o aborto de anencéfalos deve ser um direito

da mulher é distorcivo, uma vez que o feto e ela são dois indivíduos

diferentes.132

4 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

RELACIONADOS AO TEMA

4.1 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA

HUMANA

O direito à vida é a fonte primária de todos os outros

bens jurídicos e em seu conteúdo está presente o direito à

dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos da

129 “Há certeza médica de que ele irá morrer ou no útero ou muito pouco

tempo após o parto. Além disso, jamais chegará a ter vida cerebral”,

explica. “ Como o critério para definir a morte no direito brasileiro é a

morte encefálica, o feto anencéfalo, tragicamente, não chega a ser uma

vida”. Referencia disponível em : METADE DOS PAÍSES AUTORIZAM

ABORTO DE ANENCÉFALOS. Op. cit. 130 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Op. cit. 131 METADE DOS PAÍSES AUTORIZAM ABORTO DE

ANENCÉFALOS. Op. cit. 132 METADE DOS PAÍSES AUTORIZAM ABORTO DE

ANENCÉFALOS. Op. cit.

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República Federativa do Brasil, que se expressa por meio das

condições econômicas, sociais e culturais dignas de existência.

Segundo Alexandre de Moraes o Princípio da dignidade

humana se conceitua da seguinte forma:

A dignidade da pessoa humana é um valor

espiritual e moral inerente à pessoa, que se

manifesta singularmente na

autodeterminação consciente e responsável

da própria vida e que traz consigo a

pretensão ao respeito por parte das demais

pessoas, constituindo-se em um mínimo

invulnerável que todo estatuto jurídico deve

assegurar, de modo que apenas

excepcionalmente possam ser feitas

limitações ao exercício dos direitos

fundamentais, mas sempre sem menosprezar

a necessária estima que merecem todas as

pessoas enquanto seres humanos.133

A dignidade da pessoa humana, valor fundamental e

expressão do direito à vida, estaria sendo violada quando da

submissão da gestante a sofrimento prolongado, durante toda a

gestação, ocasionado pela certeza de que esta se

desenvolvendo em seu ventre ser que natural e inevitavelmente

morrerá logo após o parto.

4.2 PRINCÍPIO DA HARMONIZAÇÃO DOS BENS

JURÍDICOS

O Princípio da Harmonização impõe a coordenação e

combinação dos bens jurídicos, quando verificado conflito ou

concorrência entre eles, de forma a evitar o sacrifício total de

uns em relação aos outros. Fundamenta-se na idéia de

igualdade de valor dos bens constitucionais que, no caso de

conflito, impede como solução, a aniquilação de uns pela

133 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e

Legislação Constitucional. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 128.

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aplicação de outros, e impõe o estabelecimento de limites e

condicionamentos recíprocos de forma a conseguir uma

harmonização ou concordância prática entre esses dispositivos.

Assim, no caso de feto anencefálico, há duas normas

aparentemente conflitantes, ou seja, os tipos penais que punem

o aborto e a dignidade da pessoa humana tratada na Carta

Magna. Em outras palavras, há a gestante, a qual teoricamente

deverá levar a gravidez até o final, suportando toda a dor e

sofrimento que este estado lhe causara com a inevitável morte

do feto que esta gerando, o que fere sua dignidade, e de outro

lado, a vida intrauterina protegida especificamente nos arts.

124 e 126 do Código Penal, e também no caput do art. 5º da

CF/88 e no art. 2º do CC/02.134

5 ANENCEFALIA

5.1 CONCEITO DE FETO ANENCEFÁLICO

Conforme Santos135, os defeitos do fechamento do tubo

neural (DFTN) são malformações que ocorrem na fase inicial

do desenvolvimento fetal, entre a terceira e a quinta semana de

gestação, envolvendo a estrutura primitiva que dará origem ao

cérebro e à medula espinhal, tendo sido constatado que os

casos de anencefalia e espinha bífida respondem por cerca de

90% de todos os casos de defeitos do tubo neural, enquanto os

casos restantes (10%) consistem principalmente em

encefalocele136. Ou seja, os defeitos do fechamento do tubo

134LOUREIRO, Ythalo Frota. Princípios da hierarquia e da disciplina aplicados às

instituições militares: uma abordagem hermenêutica. Jus Navigandi, Teresina, ano

8, n. 470, 20 out. 2004. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5867>. Acesso em: 04 out. 2010. 135 SANTOS, Leonor Maria Pacheco. PEREIRA, Michelle Zanon. Efeito

da Fortificação com ácido fólico na redução dos defeitos do tubo neural.

Cadernos de Saúde Pública . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102 -

311X2007000100003&lang=pt>. Acesso em: 19 de maio de 2010. 136 Encefalocele é um defeito congênito do osso do crânio e da dura -máter

com hérnia extracranial de qualquer estrutura intracraniana. Pode ser

encontrada com uma variação geográfica e com diferentes oc orrências. A

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neural (DFTN) são malformações congênitas freqüentes que

ocorrem devido a uma falha no fechamento adequado do tubo

neural embrionário137.

Quando o feto sofre de anencefalia há ausência

completa ou parcial do cérebro e do crânio. E a espinha bífida

é um defeito de fechamento ósseo posterior da coluna

vertebral138. A gestação de feto anencefálico em geral resulta

em aborto e os que nascem vivos morrem poucas horas, ou

dias, após o parto139.

5.2 PROGNÓSTICOS

As causas dos defeitos do tubo neural140 não são

completamente conhecidas, mas as evidencias indicam que,

pelo menos em parte, se devem à nutrição deficiente,

particularmente de ácido fólico, por causas genéticas ou uso

de drogas. Certos medicamentos (como alguns usados para

controlar convulsões) podem também causar defeitos de tubo

neural141. Outros fatores de risco maternos para esta anomalia

dura-máter é uma membrana constituída por tecido conjuntivo denso.

MINOTTO, Ivanete et al. Basal encephalocele associated with mornig

glory syndrome: case report. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. Disponível

em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-

282X2007000600013&lang=pt>. Acesso em: 09 de junho de 2010. 137 AGUIAR, Marcos J. B. et al. Defeito de fechamento do tubo neural e

fatores associados em recém-nascidos vivos e natimortos. Jornal de

Pediatria. Disponível em: <

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021 -

75572003000200007&lang=pt >. Acesso em: 19 de maio de 2010. 138 Id. 139 SANTOS. Leonor Maria Pacheco. PEREIRA. Michelle Zanon. Op. cit.. 140 Os defeitos do fechamento do tubo neural (DFTN) são malformaçõ es

congênitas resultantes do fechamento incorreto ou incompleto do tubo

neural entre a terceira e quarta semana do desenvolvimento embrionário e

englobam a anencefalia, encefalocele e espinha bífida. PACHECO.

Sâmya Silva. et al. Efeito da fortificação alimentar com ácido fólico na

prevenção de defeitos do tubo neural. Revista de Saúde Pública .

Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex t&pid=S0034-

89102009000400001&lang=pt>. Acesso em 21 de maio de 2010. 141 Ibidem

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75

é ter diabetes mellitus142, uso de ácido valpróico143 durante a

gestação, obesidade materna, hipertemia144, dieta inadequada,

hemodiluição fisiológica gestacional e influências

hormonais145, entre outros.

Devido à gravidade dos DFTN e sua alta

morbimortalidade, tornam-se muito importantes o

aconselhamento genético, a suplementação dietética com ácido

fólico e o diagnóstico pré-natal das malformações do tubo

neural146. A ultra-sonografia é a modalidade primeira de

avaliação do feto de imagem por causa de sua ampla

disponibilidade. Pode ser determinado o tamanho da placenta e

do feto, os nascimentos múltiplos, as anormalidades da forma

da placenta e as apresentações anormais147. Este pode ser feito

através do ultra-som durante a gestação e dosagem de alfa-feto

proteína, no líquido amniótico, cujos valores estarão

142 Diabetes mellitus gestacional (DMG) é definido como qualquer nível

de intolerância a carboidratos, resultando em hiperglicemia de gravidade

variável, com início ou diagnóstico durante a gestação. Sua fisiopatologia

é explicada pela elevação de hormônios contra -reguladores da insulina,

pelo estresse fisiológico imposto pela gravidez e a fatores

predeterminantes (genéticos ou ambientais). MIRANDA PAC, Reis R.

Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Diabetes mellitus

gestacional. Revista da Associação Médica Brasileira. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104 -

42302008000600006&lang=pt>. Acesso em: 05 de junho de 2010. 143 O ácido valpróico representa uma das principais drogas no tratamento

da epilepsia, sendo eficaz tanto para crises generalizadas como parciais.

Além disto, vem tendo crescente utilização em outras afecções,

principalmente transtornos psiquiátricos. TURCATO. Marlene d e Fátima.

et al. Hiperamonemia secundária ao uso terapêutico de ácido valpróico:

relato de caso. Arquivos de Nero-Psiquiatria. Disponível em: <

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004 -

282X2005000200034&lang=pt >. Acesso em: 05 de junho de 2010. 144 PACHECO. Sâmya Silva. et al. Efeito da fortificação alimentar com

ácido fólico na prevenção de defeitos do tubo neural. Revista de Saúde

Pública. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034 -

89102009000400001&lang=pt>. Acesso em 21 de maio de 2010. 145 SANTOS. Leonor Maria Pacheco. PEREIRA. Michelle Zanon. Op. cit. 146 AGUIAR. Marcos J. B. et al. Op. cit. 147 MOORE. Keith L. Embriologia Básica. 5 ed., Ed Guanabara Koogan.

Rio de Janeiro, 2000. p.103.

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76

aumentados, através da amniocentese, entre a 14ª e 16ª

semanas de gestação148.

5.3 PREVENÇÃO

O ácido fólico é o mais importante fator de risco para os

defeitos do tubo neural identificado até hoje149, apesar do seu

mecanismo de autuação ainda ser pouco compreendido 150. Há

estudos que comprovam a redução, em torno de 50% a 70%, na

ocorrência de tais defeitos congênitos, após a suplementação a

ocorrência de tais defeitos congênitos periconcepcional deste

nutriente, várias organizações de saúde passaram a recomendar

a sua utilização151.

O ácido fólico tem um papel fundamental no processo

da multiplicação celular, sendo, portanto, imprescindível

durante a gravidez. O folato interfere com o aumento dos

eritócitos, o alargamento do útero e o crescimento da placenta

e do feto. O ácido fólico é requisito para o crescimento

normal, na fase reprodutiva (gestação e lactação) e na

formação de anticorpos152. O Institute of Medicine of the

National Academies, nos Estados Unidos estabeleceu a dose de

0,4 mg/dia para mulheres adultas não gestantes e 0,6 mg/dia

para gestantes. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância

Sanitária (Anvisa) em sua publicação mais recente elevou as

recomendações nutricionais de ingestão diária de ácido fólico

conforme o proposto pelo Institute of Medicine of the

National Academies153.

Para garantir a ampla cobertura da estratégia de

suplementação de ácido fólico à população de gestantes de 40

países instituíram a medida da fortificação de alimentos

consumidos em larga escala com ácido fólico para a prevenção

da ocorrência de DFTN. Em pesquisa realizada em 45 estados

148 Op. cit. 149 SANTOS. Leonor Maria Pacheco. PEREIRA. Michelle Zanon. Op. cit. 150 PACHECO. Sâmya Silva. et al. Op. cit. 151 Id. 152 SANTOS. Leonor Maria Pacheco. PEREIRA. Michelle Zanon. Op. cit. 153 PACHECO. Sâmya Silva. et al. Op. cit.

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77

dos Estados Unidos, incluindo ainda a capital estadunidense,

ou seja, a cidade de Washington constatou-se redução de 19%

na ocorrência de defeitos de fechamento do tubo neural após a

implantação dessa medida154.

6 ABORTO POR ANENCEFALIA

6.1 PRÓS E CONTRAS DO ABORTO

ANENCEFÁLICO

Antes de posicionar-se a favor ou contra o aborto de

fetos anencéfalos, devem-se analisar os pontos positivos e

negativos dessa prática, sendo esta muito discutida no meio

social, posto que envolve questões filosóficas, morais, éticas,

religiosas, científicas e inclusive jurídicas, dificultando assim

a tomada de uma postura a respeito do tema. Em face do

disposto, apresentar-se-ão alguns posicionamentos a seguir.

154 Id.

O que é o ácido fólico? O ácido fólico, também conhecido como vitamina

B9 ou vitamina M, é uma vitamina hidrossolúvel pertencente ao

complexo B necessária para a formação de proteínas estrutura is e

hemoglobinas. Ela tem como benefícios ser efetivo no tratamento de

certas anemias, mantém os espermatozóides saudáveis, é indispensável

para uma gravidez saudável, reduz o risco de mal de Alzheimer, evita

certos tipos de doenças e derrames e pode ajudar a controlar a

hipertensão. Esse componente pode ser encontrado em vísceras de

animais, verduras de folhas verdes, legumes, frutos secos, grãos integrais,

leveduras de cerveja e no cogumelo shitake. Contudo, o mesmo se perde

nos alimentos conservados em temperatura ambiente e durante o

cozimento. Ao contrário de outras vitaminas hidrossolúveis, é

armazenado no fígado e sua ingestão diária não é necessária. Sua

insuficiência nos seres humanos é muito rara. No Brasil, há uma lei que

determina que a farinha de trigo seja enriquecida com ferro e ácido fólico

(e produtos derivados, como pão) para diminuir a ocorrência de anemia

principalmente em crianças. Ademais, o mesmo é distribuído para as

gestantes nos postos de saúde da rede pública. Se a mulher tem ácido

fólico suficiente durante gravidez, essa vitamina pode prevenir defeitos

de nascença no cérebro e na coluna vertebral do bebê, como a espinha

bífida, posto que o mesmo é importantíssimo para a formação do tubo

neural do feto. Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/anencefalia. Acesso em: 11 de maio de 2010.

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78

Para os adeptos da teoria que o feto anencéfalo

equipara-se a morte cerebral, a acrania, apesar de permitir

algumas atividades motoras, não pode ser considerado como

uma deformação qualquer onde continuava a existir um feto

com vida, posto que para estes:

Anencefalia, ou ausência de cérebro,

equivale à morte cerebral, situação que

permite não só o desligamento de aparelhos

médicos, como a própria doação de órgãos.

Não se trata, neste caso, de interrupção de

vida por defeito de formação, ou para

prevenirem sofrimentos, refere-se o caso à

interrupção da gravidez de concepto sem

vida.155

Tal pensamento apesar de parecer correto apresenta um

pequeno erro, mas que gera uma terrível conseqüência, posto

que a Lei 9.434/97 (Lei de Doação de Órgãos) instituiu o

conceito legal de morte em seu artigo 3º como sendo a

ausência de atividade encefálica: “A retirada post mortem de

tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a

transplante ou tratamento deverão ser precedidos de

diagnóstico de morte encefálica [...]” 156 (grifou-se).

Seguindo nesse raciocínio, os critérios para a

constatação de morte encefálica foram definidos pela Portaria

1.480/97 do Conselho Federal de Medicina: “Art. 4º. Os

parâmetros clínicos a serem observados para constatação de

morte encefálica são: coma aperceptivo com ausência de

atividade motora supra-espinal e apnéia.” 157 (grifou-se).

155 REZENDE, Poliana Guimarães. Anencefalia: estudo sobre a

legalização do aborto e a doação de órgãos . Jus Navigandi , Teresina,

ano 13, n. 2119, 20 abr. 2009. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12651>. Acesso em: 27

mar. 2010. 156 Ibidem. (grifou-se). 157 RESOLUÇÃO CFM nº 1.480/97. Disponível em:

<http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1997/1480_1997.htm>.

Acesso em: 03de junho de 2010.

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79

Ainda em seu art. 6º dispõe que:

Os exames complementares a serem

observados para constatação de morte

encefálica deverão demonstrar de forma

inequívoca:

a) ausência de atividade elétrica cerebral ou,

b) ausência de atividade metabólica cerebral

ou,

c) ausência de perfusão sangüínea

cerebral.158

Agora com uma visão profissional do assunto tem-se

como anencefalia, pelos doutores Carlos Gherardi e Isabel

Kurlat:

Anencefalia é uma das alterações na

formação do cérebro, resultante da falha nos

estágios iniciais do desenvolvimento

embrionário do mecanismo de fechamento do

tubo neural chamado de indução dorsal. A

gravidade na anencefalia é caracterizada pela

falta de ossos cranianos (frontal, occipital e

parietal), do hemisfério e do córtex cerebral.

O tronco cerebral e a medula espinhal são

frequentemente conservados embora em

defeitos em anencefalia seja acompanhado

pelo fechamento da coluna vertebral . [...].

Em anencefalia, a ausência de estruturas

cerebrais (hemisférios e córtex) com a

simples presença do tronco cerebral, causado

pela ausência de todas as funções superiores

do sistema nervoso central, que para com a

existência da consciência e da cognição que

envolve a vida relacionamento, comunicação,

afeto, emoção com a preservação apenas, e

as funções motoras dependentes da medula

espinhal. [...]. Anencefalia é o equivalente

do PVS em crianças e em ambos os casos

158Id.

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não satisfaçam as condições de morte

cerebral por falta de prejuízo para o sistema

de ativação reticular do tronco cerebral. 159(tradução livre)

Por fim, Eduardo Gomes de Queiroz constata que:

O feto anencefálico possui atividade

motora supra-espinal, uma vez que, apesar

de não possuir o cérebro, possui tronco

cerebral, de maneira que há a preservação

das funções vegetativas que controlam

parcialmente a respiração, as funções

vasomotoras e as dependentes da medula

espinal. 160 (grifo do autor)

Assim, o feto anencefálico possui atividade encefálica,

não estando incluso nos termos dos artigos 4º e 6º da portaria

1.480/97.

O feto não está morto quando nasce e mesmo diante do

fato de que ele viverá apenas alguns minutos, horas, dias

(muito raramente passam de um ano161), é fato que nasce vivo,

159 QUEIROZ, Eduardo Gomes de. Abortamento de feto anencefálico e a

inexigibilidade de conduta diversa. A influência das circunstâncias

concomitantes no comportamento humano. Jus Navigandi , Teresina, a.

10, n. 943, 2006. (grifo do autor). Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7770>. Acesso em: 03 jun.

2010. 160Id. 161 Marcela de Jesus Ferreira, filha de Dionísio Justino Ferreira e Cacilda

Galante Ferreira nasceu no dia 20 de novembro de 2006, em Patrocínio

Paulista, interior de São Paulo, no hospital Santa Casa de Misericórdia de

Patrocínio Paulista. Respirava normalmente, quase não dependendo do

concentrador de oxigênio, muito risonha. CID PEREIRA. Anencéfalos.

Disponível em: <

http://www.anencefalos.com.br/RelacaoAnencefalos.html>. Acesso em:

02de junho. 2010. O bebê anencéfalo, superou as expectativas dos

médicos porque deveria viver

algumas horas e sobreviveu por um ano, oito meses e doze dias, e veio a

falecer no dia 1º de agosto de 2008. Disponível em:

<http://www.tudoagora.com.br/noticia/4667/Com-1-ano-e-8-meses-

morre-menina-sem-cerebro.html>.

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sendo objeto de proteção do direito. Viverá pouco tempo, da

mesma maneira que vive um paciente em estado terminal, mas

ainda assim, no Brasil não se permite a eutanásia.

Para aqueles que consideram que deve haver a

possibilidade de se fazer o aborto quando constatado a

anencefalia, aquele seria terapêutico, porque teria a função de

salvar a vida da mãe. Contudo para muitos a denominação

“terapêutico” tem sido muito banalizada, usando -a como se

tivesse qualquer relação simples com saúde, posto que a

gravidez de feto anencéfalo pode ou não ser de risco como

qualquer gravidez de feto ‘normal’ , sendo certo que as

complicações poderão ser diminuídas com um bom

acompanhamento do pré-natal, não sendo as complicações,

portanto, colocadas como risco a vida da mãe. 162

Sobre isso diz o prof. Humberto Vieira, que a gestação

de feto anencéfalo não trás risco algum a mãe:

Além dos riscos normais de uma gravidez de

feto sem anomalias. Essa é uma afirmação de

ginecologistas, de associações médicas e de

especialistas. Pelo contrário, todo aborto traz

seqüelas físicas e psicológicas para a mulher.

Afirma o Dr. Dernival da Silva Brandão,

Especialista em Ginecologia, gineco-

obstetra, laureado pela Academia Fluminense

de Medicina: O polidrâmnio é uma

intercorrência em várias patologias da

gestação e o tratamento preconizado é a

amniocentese a retirada do excesso de

líquido, amniótico, procedimento

rotineiramente realizado com os devidos

cuidados. A hipertensão arterial é uma

intercorrência muito comum em obstetrícia.

A doença hipertensiva específica da gestação

(DHEG) não é exclusiva da anencefalia, tem

tratamento próprio como muitas outras

intercorrências obstétricas. Vasculopatia

periférica de estase é outra intercorrência

162 REZENDE, Poliana Guimarães. Op., cit., 2009.

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que pode ocorrer em qualquer gestação, com

certa freqüência, e tem tratamento

preconizado. As dificuldades obstétricas e

complicações no desfecho do parto de

anencéfalos de termo podem ocorrer, não são

de grande monta e como em qualquer

dificuldade pode-se optar pela cesariana, sem

maiores problemas. 163

Outra linha de pensamento próxima a essa é de que no

caso não ocorreria o aborto, mas sim a interrupção antecipada

do parto. Esta utiliza-se de palavras que trazem eufemismo ao

tema para que essa prática não seja vista de maneira ruim,

como uma interrupção da vida. Diante do exposto Sérgio

Habib esclarece:

A supressão da vida do feto que apresenta

anencefalia é, não se pode negar abortamento

e não antecipação de parto. Na figura do

abortamento, interrompe-se a gravidez,

atingindo-se o ser em sua fase embrionária

ou fetal. Na aceleração de parto, o que

significa interferir no processo de gestação,

o ser nasce com vida, isto é, vem ao mundo

exterior com capacidade de viver, isto é, de

ter vida extra-uterina. 164

Segundo os adeptos da idéia de que a gestante deve ter

autonomia reprodutiva ou liberdade de escolha, defende-se o

exercício do direito à liberdade, que é garantia constitucional,

posto que limita a liberdade e autonomia da vontade, impor a

mulher que carregue por nove meses um feto que sabe que não

163 VIEIRA, Humberto. Presidente da Associação Pró-Vida e Pró-

Família comenta decisão judicial no Brasil que permite aborto em

caso de anencefalia fetal. Disponível em:

<http://www.portaldafamilia.org.br/scnews/news039.shtml >. Acesso em:

03de junho 2010. 164 HABIB, Sérgio. Aborto por anencefalia e a cassação da liminar do

Ministro Marco Aurélio. Revista Jurídica Consulex , v. 8, nº 188, Nov.

2004. p. 7-10. p. 9

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sobreviverá. Tal corrente pretende garantir a autonomia das

pessoas para deliberar sobre suas próprias vidas. 165

No entanto, muitos doutrinadores defendem que essa

liberdade deve ser exercida de modo que não atinja os direitos

de terceiros, pois o feto é um ser individualizado, com carga

genética própria. Sendo que na gravidez o agente ativo é o

feto, e o passivo é a mãe:

Numa demonstração de vigor fisiológico

interrompe o ciclo menstrual de sua mãe,

desenvolve uma placenta e um envoltório

protetor com o líquido amniótico, não

constituindo essas, portanto, parcelas do

organismo materno. Determina,

unilateralmente, a data de seu nascimento,

sente dor, pressão externa, frio e percebe

som e luz.166

Ainda, o direito de liberdade concedido à gestante é

anterior a concepção, ela pode decidir por ficar ou não

grávida, pois após a concepção o direito fundamental

preservado é a vida.167

Dessa forma, a doutrinadora Maria Helena Diniz

questiona como poderia a gestante “reivindicar o direito de

dispor do que não é seu? Pois a mulher pode ser tida como

dona do próprio corpo, mas não da sua vida e muito menos da

do nascituro”. 168

Com isso, para a corrente contrária a prática do aborto

de uma forma geral, aceitá-lo seria uma violência a um ser

humano indefeso, em favor de outro mais forte.

Por outro lado, Sérgio Habib trás que se o nascimento

do feto trouxer sofrimento para a gestante (assim por ela

considerado), o Estado não tem o direito de impor-lhe tal

165 REZENDE, Poliana Guimarães. Op. cit. 2009. 166 DINIZ, Maria Helena. Op. cit., 2002, p. 57. 167 REZENDE, Poliana Guimarães. Op. cit., 2009. 168 DINIZ, Maria Helena. Op. cit. , 2002, p. 59.

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sofrimento, porque estará sendo algoz, inquisidor, insensível e

moralista.169

Ainda, trata de uma incongruência que diz existir no

Direito brasileiro:

[...] Aqueles que dizem que são contra o

abortamento em casos de anencefalia, em

nome da vida, na verdade, defendem que

esses fetos possam morrer [...] o Direito

Pátrio permite o abortamento quando a

gravidez resultar de estupro e não permite

quando se trata de anencéfalo. Na primeira

hipótese, a interrupção da gravidez se dará

em relação a um ser com todas as condições

de vida, legitimada por uma gestação não

desejada. Na segunda hipótese, mesmo que a

gravidez não seja desejada, obriga-se a

mulher a dar à luz a um ser despessoado, sem

caracteres humanos, sem a mínima condição

de sobreviver, mas se faz isso em nome da

vida. 170

Trata-se de dois direitos fundamentais inerentes a todo

ser humano, o direito à vida, e o direito à liberdade. Mas

diante de tal circunstância qual deve prevalecer? Uma

pergunta que se encontra em discussão, sem uma resposta

concreta.

Há ainda quem alegue que não se pode exigir que a

mulher persista numa gravidez em que o feto não sobreviverá

causando-lhe dor, angústia e frustração, posto que isto importa

à violação de ambas as vertentes de sua dignidade humana,

sendo evidentes os danos psicológicos e morais, como a

ameaça a sua integridade física. Assim, “parte da doutrina e

jurisprudência tem classificado o aborto de anencéfalo como

caso de inexigibilidade de conduta diversa, dada a evidente

169 HABIB, Sérgio. Op cit., 2004, p. 8. 170 Id.

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angústia da mãe e, no que tange ao médico, ao fato de que não

se pode abster de ampará-la”.171

Apesar de todos esses argumentos que acatam o aborto

anencefálico, existe ainda uma parcela da população que não

aceita esse fato, que luta pelo direito inerente e indisponível

que é a vida humana, tanto intra como extra-uterina.

Têm-se ainda dados que mostram o abalo psicológico de

mulheres que abortaram em relação a outras que não optaram

por essa prática. Em uma pesquisa - relatada por Wilma Lúcia

Castro Diniz Cardoso - realizada com 239 universitárias, de

idade entre 18 a 23 anos, encontraram-se quinze casos de

abortamento (não especificamente de fetos anencéfalos), então

se relacionou estes com outros quinze de mulheres que não

realizaram aborto. Foi aplicado a elas três tipos de testes

psicológicos: no “Z-Test” evidenciou-se a depressão, foram 15

casos do grupo que realizou o aborto, contra 5 do grupo que

não o fez; teste “Karen Machover” a psicossomatização ficou

evidente em 13 casos do grupo que abortou, contra 2 do outro

grupo; além desses sinais de condição psicológica, outros

foram constatados, como: imaturidade sexual, desequilíbrio

emocional, egocentrismo, auto-estima rebaixada, tristeza,

flutuações de humor, introversão, entre outras. 172

Além dessas conseqüências há também os riscos para a

saúde física da gestante, muitas delas não sabem dos perigos a

que se submetem, pois não têm e não procuram ter uma

orientação a esse respeito, entre os riscos do aborto poderá

ocorrer: infecção crônica e traumatismo, que resultam em

obstruções nas trompas; problemas no útero causados por

hemorragia, infecção ou endometriose, podendo acarretar a sua

perda, a esterilidade ou até a morte; incompetência istmo-

cervical, dificultando uma nova gravidez; grave infecção

vaginal; morte por embolia (se o líquido amniótico, pedaços

de tecidos e coágulos entrarem em seu aparelho circulatório ou

pulmões, ocasionando o efeito letal); aderência da placenta à

171 REZENDE, Poliana Guimarães. Op. cit., 2009. 172 CARDOSO, Wilma Lúcia Castro Diniz. Abortamento Provocado:

aspectos psicológicos. Caesura: revista crítica de ciências sociais e

humanas. Canoas, n. 1, julho/dezembro, 1992. p. 77-80.

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parede do útero; surgimento de pólipos; tétano; anemia;

irregularidade nos períodos menstruais, acompanhados de

fortes cólicas; processos cancerígenos; inflamação nos

ovários; entre outros.173

As conseqüências físicas podem ocorrer em qualquer

tipo de aborto, pois os meios utilizados para a sua realização

são os mesmos. Já o psicológico não se sabe ao certo dizer,

pois como exposto a cima, a pesquisa foi realizada com

mulheres que realizaram o aborto de fetos normais, não

especificamente de anencéfalos. Sendo que, por saber que o

bebê nascerá e logo morrerá talvez as conseqüências

psicológicas sejam diferentes e menos graves, mas

provavelmente ainda existirão, posto que enquanto está

grávida, a mãe tem uma interação muito grande com o feto,

para aqueles que são contrários a interrupção da gravidez, com

base em pesquisas com mulheres que fizeram o abortamento

de forma geral como a citada, os danos psicológicos causados

pela gravidez ainda são menores do que aqueles causados pelo

abortamento, o qual já se viu, deixa sequelas tanto físicas

quanto psicológicas, o que com a vivência da gravidez,

nascimento e morte, há possibilidade de ser trabalhado

psicologicamente, restando a mãe lembranças boas de seu filho

o que a auxilia a lidar com o luto, da mesma forma como

quando falece um parente, tem seu momento doloroso, mas

depois restarão lembranças doces de sua passagem.

Por outro lado, deve-se também esclarecer que só

realmente quem vive uma situação como essa, de estar

gestando um feto anencéfalo é que pode dizer como se sente.

“O feto adquire valor a partir do amor e do interesse que a mãe

e as pessoas mais próximas lhe dispensam.” 174

Opina-se, portanto, que o Estado deveria deixar a

critério da mãe se enfrentará a gravidez para ver o seu bebê

nascer, sabendo que ele não resistirá por muito tempo ou

preferirá acabar com toda a expectativa e esperança de um

nascimento, optando pelo aborto.

173 DINIZ, Maria Helena. Op. cit., 2002, p. 65. 174 AZAMBUJA, Maria Regina Fay de. O aborto sob a perspectiva da

bioética. Revista dos Tribunais. v.807, janeiro 2003, p. 473-485. p. 481.

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7 COMO TÊM DECIDIDO OS JUÍZES NO CASO

DO ABORTO ANENCEFÁLICO

Há muito tempo vem repercutindo a problemática no

âmbito jurídico e suscitando questionamentos éticos na

sociedade brasileira sobre a interrupção voluntária de gravidez

de feto anencefálico. Mesmo o aborto sendo proibido no Brasil

e constituindo crime, assim previsto nos artigos 124 e 126 do

Código Penal, nos últimos anos surgiram várias autorizações

de aborto para esses casos.

O primeiro caso de autorização judicial para a prática

de interrupção de feto anencefálico ocorreu em 1991, no Mato

Grosso do Sul.

Os profissionais de saúde, por intermédio da

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS),

aliada ao Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gêneros,

propôs em 17 de junho de 2004, uma Argüição de

Descumprimento de Preceito Fundamental de número 54,

(ADPF 54), na qual na petição inicial aponta-se os

dispositivos que prevêem o crime de aborto com o

consentimento da gestante e suas excludentes de ilicitude

como violadores dos seguintes preceitos fundamentais da

Constituição da República do Brasil: dignidade da pessoa

humana; princípio da legalidade, liberdade e autonomia da

vontade; e o direito à saúde.175

Em 1º de Julho de 2004, o ministro Marco Aurélio

Mello, concedeu liminar176, autorizando que mulheres grávidas

de fetos anencefálicos fizessem a interrupção da gravidez, sem

que médicos obtivessem a autorização da justiça para a

realização de tal procedimento. Tal decisão permaneceu

175 ALBUQUERQUE, Aline. SupremoTribunal Federal do Brasil e o

aborto do anencéfalo . Revista de Bioética , v. 13, nº 13, 2005. P. 79-92. 176 A LIMINAR DO MINISTRO MARCO AURÉLIO QUE PERMITIU O

ABORTO DE FETOS ANENCEFÁLICOS. Jus Navigandi, Teresina, ano

8, n. 413, 24 ago. 2004. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/pecas/texto.asp?id=605>. Acesso em: 25 maio

2010.

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vigente por muito tempo, pois em Outubro do mesmo ano o

STF cassou a liminar.

Os magistrados, em sua grande maioria, têm autorizado

a interrupção da gravidez, invocando para tanto a excludente

da culpabilidade, a inexigibilidade de conduta diversa, ou

mesmo a atipicidade da conduta, quando não equiparam ao

aborto necessário e desde que observados os seguintes

pressupostos:

a) Somente as anomalias que inviabilizarem a

vida extra-uterina poderão motivar a

autorização;

b) Deve à anomalia estar devidamente

atestada por perícia médica;

c) E que haja prova do dano psicológico da

gestante.177

Em Goiás, no dia 9/9/2009, o juiz Silvio José Rabuske,

que é titular da primeira vara Criminal de Aparecida de

Goiânia, concedeu liminar em favor de uma dona de casa e de

seu companheiro, autorizando a interrupção da gravidez. Na

época, a dona de casa estava grávida de sete meses e

protocolou seu pedido no final de agosto, depois de saber que

o feto apresentava anencefalia. Além da chance de vida da

criança ser mínima, a continuidade da gestação poderia gerar

danos à saúde da mãe.

Mesmo que o caso em questão não se enquadre nas

situações em que o aborto é previsto legalmente, ou seja, não é

resultante de estupro nem oferece risco à vida da gestante, o

juiz levou em conta que obrigar a dona de casa a continuar

gerando feto anencefálico afronta substancialmente o Principio

da Dignidade Humana. Segundo o magistrado citado:

Os inconvenientes inerentes a este tipo de

gravidez afetam não só a mãe

177BEZERRA, Marcelle Andrízia. Aborto anencefálico e o ordenamento

jurídico brasileiro. Revista de Direito. v. 12, nº 15, 2009. Disponível em:

<http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/rdire/article/viewFile/901/62

8>. Acesso em: 24 de maio 2010.

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desesperançosa, como também o pai, que, da

mesma forma, postula a autorização para o

parto antecipado, as famílias envolvidas e

todos aqueles que esperam o nascimento de

uma criança com vida, o que,

comprovadamente, não vai ocorrer.178

Em outra decisão, mas agora no TJ/RS, uma liminar

também foi concedida para que os médicos que acompanhavam

a mãe pudessem fazer a interrupção da gravidez.

Neste caso o Desembargador Marcel Esquivel Hoppe

afirma:

A mulher, em casos de gravidez de

anencéfalos, não carrega a vida, mas a morte,

por inviabilidade do feto como pessoa O

anencéfalo, conforme conceito do Conselho

Federal de Medicina é um natimorto e, como

a Lei dos transplantes autoriza a extração

dos órgãos de pessoas com morte encefálica

inexistir possibilidade de vida, não haveria

diferença jurídica com o feto anencéfalo que

comprovadamente é incompatível com a vida

pós-parto.179

Há também aqueles que negam a liminar, versando

sobre aspectos religiosos, pessoais ou pelo fato de não haver

previsão legal no Ordenamento Jurídico.

Em geral os processos brasileiros que negaram os

pedidos de autorização de aborto por anomalia fetal

incompatível com a vida amparam-se em três argumentos:

a) O aborto voluntário no Brasil é crime e os

permissivos legais do Código Penal não conhecem a

178 LIMINAR AUTORIZA ABORTO DE FETO ANENCÉFALO.

Disponível em:< http://www.tjgo.jus.br/bw/?p=18969>. Acesso em: 08 de

junho de 2010. 179 Id.

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90

anomalia fetal incompatível com a vida como

excludente de penalidade;

b) O reconhecimento do status moral do feto

humano como pessoa e, conseqüentemente, a

inalienabilidade do direito à vida;

c) A classificação do aborto por anomalia fetal

incompatível com a vida uma forma de Aborto

Eugênio.180

Religiosos, como o Padre Luiz Antonio Bento, da

Comissão de Bioética da CNBB, defende o início da vida na

concepção e o direito à dignidade humana do feto anencéfalo.

Argumenta-se que “a criança, mesmo com anencefalia, não

perde a sua dignidade, é um ser humano, é como se fosse um

paciente que precisa de cuidados,” acrescentando ainda que,

sobre a previsão dos cientistas de que crianças que sofrem

dessa doença têm uma expectativa mínima de vida, o padre

salientou que “não significa que ela deva ser assassinada antes

do tempo”.181

7.1 ADPF 54

A Argüição de Descumprimento de Preceito

Fundamental 54182, de autoria do advogado Luis Roberto

Barroso, foi proposta em 17/06/2004, pela Confederação

Nacional dos Trabalhadores na Saúde, visando exatamente

abreviar o processo de autorização para a antecipação de parto

de feto anencefálico.

O pedido é para que seja declarada a

inconstitucionalidade com eficácia erga omnes e efeitos

180 DINIZ, Débora. Aborto Anencefálico e o Ordenamento Brasileiro .

Disponível em:

<http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/rdire/article/viewFile/901/62

8>. Acesso em: 25 de maio 2010. 181 LIMINAR AUTORIZA ABORTO DE FETO ANENCÉFALO. Op. cit. 182ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO

FUNDAMENTAL. Disponível em:

<http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=TP&docID=33909

1>. Acesso em: 7 de junho 2010.

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91

vinculantes da interpretação dos dispositivos do CP como

impeditivos da antecipação do parto nesses casos,

diagnosticados por médico habilitado, reconhecendo-se o

direito subjetivo da gestante de se submeter a tal

procedimento sem a necessidade de apresentação prévia de

autorização judicial ou qualquer forma de permissão especifica

do Estado.183

Os argumentos defendidos na ADPF 54 são:

a) A permanência do feto anômalo no útero da mãe é

potencialmente perigosa, podendo gerar danos à saúde

da gestante e até perigo de vida;

b) A antecipação do parto neste caso não concretiza

aborto, uma vez que a morte deve ser resultado direto

dos meios abortivos e a morte do anencefálico é

decorrente da má-formação congênita, sendo certa e

inevitável ainda que decorridos dos nove meses de

gestação.184

8 CONCLUSÃO

De acordo com o exposto e sustentado nos itens

anteriores resultam as seguintes conclusões: a anencefalia

pode ser detectada de modo precoce, em virtude do

desenvolvimento tecnológico das ciências biomédicas e no

exame pré-natal.

A anencefalia é em altíssimo percentual, incompatível

com os estágios mais avançados da vida intra-uterina e de total

incompatibilidade com a vida extra-uterina. Não se aplica à

anencefalia o critério da morte cerebral ou encefálica porque o

feto anencéfalo não dispõe do equipamento cerebral necessário

a dar suporte a esse critério.

183 BEZERRA, Marcelle Andrízia. Aborto anencefálico e o ordenamento

jurídico brasileiro. Revista de Direito . v. 12, nº 15, 2009. Disponível em:

<http://sare.unianhanguera.edu.br/ index.php/rdire/article/viewFile/901/62

8>. Acesso em: 24 de maio 2010. 184 Id.

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92

O anencéfalo constitui um projeto embriológico falido,

não sendo um processo de vida, mas um processo de morte,

contudo não tem como considerá-lo tecnicamente vivo, pois

ele é carente de toda capacidade biológica para concretização

de uma vida humana viável.

Outro ponto relevante apresentado neste artigo é a

utilização do ácido fólico antes e durante a gravidez,

reduzindo assim o número de grávidas com estes problemas de

fetos anencéfalos. O ácido fólico tem um papel fundamental

no processo de multiplicação celular, sendo assim

recomendado pelas organizações de saúde.

Destarte, fica evidente que o grande dilema acerca do

assunto em pauta é a diferenciação médica e jurídica em

relação aos conceitos de aborto por anencefalia, fazendo

referência a incapacidade do ordenamento jurídico em

acompanhar as mudanças na sociedade e os avanços

científicos.

Ressalta-se que o Código Penal Brasileiro é de 1940 e

no decorrer das décadas é possível perceber que ocorreram

mudanças na sociedade e nos pensamentos, fato em que se

torna oportuno levantar tal discussão, pois já existem

discussões e jurisprudências no sentido de dar tutela a casos

específicos, e assim acompanhar os avanços da medicina atual,

pois o direito não pode ser inerte e sim adequar-se a realidade.

9 REFERÊNCIAS

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97

CAPÍTULO IV:

PEDOFILIA NA INTERNET: UM CRIME

CARENTE DE PUNIÇÃO

Helber Ribeiro Araújo

Kríssley Ribeiro dos Santos

Rafael Walsh Crestani

Simara Cristina de Souza Molina

Soeli Alves Brito185

RESUMO

O presente trabalho tem por escopo analisar os casos de

exploração sexual, cometidos contra crianças e adolescentes,

apresentando o meio mais utilizado, nos dias atuais – a

Internet – para se chegar ao fim precípuo da prática pedófila.

Mostrando, também, a ausência de tipificação penal no

tocante aos crimes cometidos por meio da rede mundial de

computadores. Expondo, a relação da pedofilia com a bioética

e o biodireito. Para tal, será utilizado o método dedutivo, por

meio da coleta de dados retirados de artigos da Internet, de

jornais, livros e legislação.

Palavras-chave: Pedofilia. Internet. Crianças. Legislação.

185 Acadêmicos do 8º período do curso de Direito da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná – Campus Maringá.

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Pirulito, carrinho, boneca, foto com a cara

suja de chocolate. Isso lembra criança.

Prostituição infantil, foto de meninos e

meninas nus em posições eróticas ou fazendo

sexo com adultos e outras crianças. Isso é

crime. A questão é que esse crime é difícil

de ser punido quando o cenário é a

Internet186.

Os sites de conteúdo pornográfico são os que

têm o maior público na web, e neles estão

incluídos os sites onde se cometem crimes

sexuais contra crianças. A web facilita a

prática do crime de pedofilia, já que é um

espaço onde pessoas das mais diversas

nacionalidades trocam informações sem que

haja uma legislação específica em vigor para

regulamentar essas trocas. Assim, acabam

prevalecendo as leis específicas de cada

nação, o que gera conflito e impunidade 187.

186 REVISTA Terceiro Setor. Pedofilia na Internet – um crime grotesco,

de autores quase invisíveis. Disponível em:

<http://www.denunciar.org.br/twiki/bin/view/SaferNet/Noticia200101191

93123>. Acesso em: 2 jul. 2008. 187 Ibidem.

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99

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo externar um problema

que persiste em existir desde os primórdios da humanidade e

que ao invés de ser dilacerado do mundo contemporâneo, vem

expandindo com muita veemência. Este problema utiliza-se de

meios ilícitos, escusos e se beneficiam das facilidades

tecnológicas e dos meios de comunicações, os quais os tornam

cada vez mais fortes. Mas este vilão não se vale somente dos

meios de comunicação ou tecnológicos para se perpetuar no

seio social, mas também da confiança da vítima e de seus

familiares. Esses são os pedófilos que, geralmente, possuem

estreita consangüinidade com a vítima, e na maioria das vezes

são pessoas do meio familiar.

A pedofilia, do ponto de vista da ciência é tida como

uma doença, pois o pedófilo sente atração ou desejos sexuais

por indivíduos com idade até treze anos. Este mal se encontra

presente em todos os níveis sociais, dos ateus aos religiosos,

deixando um rastro de espanto e horror por seu caminho.

Atualmente, a pedofilia esta saindo da obscuridade e

dos padrões conservadores da sociedade, abrindo espaço para

que se possa buscar o esclarecimento e a solução para este

problema que até então era um tabu.

O caso de abusos sexuais com crianças causa repulsa

pela forma violenta aplicada contra seres tão indefesos e

frágeis que muitas vezes são mortas com alto requinte de

crueldade. O que traz mais indignação é a impunidade dos

autores, que, por ineficácia na aplicação das normas ou por

influência financeira do réu, continuam livres para praticar

novos atos.

O Brasil vem apresentando significativo progresso no

combate a pedofilia, como tratados assinados com países

estrangeiros, os quais buscam a garantia dos direitos das

crianças e dos adolescentes elencados no artigo 227 da CF/88,

que busca a proteção total à criança e ao adolescente; na

abertura de site de relacionamento para a apreciação da

justiça, na facilitação da investigação dos casos de pedofilia

pela Internet; e ainda, com o disposto no ECA (Estatuto da

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100

Criança e do Adolescente), que reza nos seus artigos 240 e

241-E a proibição de divulgação e publicação de imagens

pornográficas que envolvam infantes, além disso nos arts. 244 -

A e 244-B que estipulam como crime a exposição da criança

ou adolescente a prostituição ou a exploração sexual, e a

corrupção e indução de menor quanto aos meios eletrônicos,

inclusive salas de bate-papo, respectivamente.

Tudo isso é uma tentativa de combater o lucrativo

mercado da pornografia infantil, pois por existir lacunas na lei

é que se possibilita a posse desses materiais, tornando as

medidas de combate tão difíceis devido aos meios ardilosos e

das pessoas que se envolvem nesses crimes. Contudo, em

março/2008 foi criada uma Comissão Parlamentar de Inquérito

com o escopo de apurar esses crimes que estão se proliferando

rapidamente na rede mundial de computadores. Por meio desta

já se originou duas Leis (Leis 11.829/2008 e 12.015/2009) que

modificam artigos que previam crimes sexuais contra criança.

E também houve diversas diligências, prisões e processos

instaurados, no entanto, esta ainda não teve suas atividades

finalizadas.

2 CONCEITOS

A pedofilia possui diversos conceitos conforme a área

de estudo. Contudo, no presente trabalho, será abordado o

conceito usual para a psiquiatria e para o direito (medicina

legal), sendo necessária, em um primeiro momento, a análise

etimológica da palavra.

Tal termo tem origem greco-latina, sendo esta junção do

vocábulo “filo” (oriundo do grego philo, phílos) – amigo, e de

“pedo” (do latim científico paedo, proveniente do grego paido,

de pâis, paidós) – criança; ou seja, o significado de pedofilia é

aquele que gosta de crianças188. Devido a isto, surgem

questionamentos sobre o uso correto da expressão, como

188 FURLANETO NETO, Mário. Pedofilia: das bases etimológicas,

médico-legal e psiquiátrica aos reflexos no direito penal. Boletim

IBCCRIM. São Paulo, v. 12, n. 145, p. 6 -7, dez. 2004.

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101

identificador de um ilícito cometido contra crianças, ao dizer

que:

Pedofilia é a “qualidade ou sentimento de

quem é pedófilo”, e este adjetivo designa a

pessoa que “gosta de crianças”. Assim, todo

pai, toda mãe, os avós, os tios e quantos mais

gostem de crianças são pedófilos, mas não

são criminosos. Porém, o substantivo

pedofilia e o adjetivo pedófilo, por uso

irregular dos meios de comunicação, vêm se

tornando costumeiros na acepção de

infrações penais contra crianças,

particularmente, ligadas a questões de sexo e

outros abusos nessa área189.

Todavia, com uma interpretação menos literal da

expressão, conclui-se, a existência de diversas palavras

finalizadas com o prefixo filia, que a etimologia, atribui

relação à atração sexual, amiúde compulsiva e doentia,

estando pedofilia inclusa nestas190.

Portanto, o ato de gostar, sentir afeição por crianças,

não é ilícito, tornando-se assim, somente, no caso de exceder,

transgredir os limites plausíveis de comportamentos. Neste

instante, estende-se o assunto aos conceitos do direito

(medicina legal) e da psiquiatria191. Para o direito, pedofilia

seria uma perversão sexual que se mostra como uma

preferência erótica por crianças, podendo envolver desde atos

obscenos até o exercício de manifestações libidinosas,

ocasionando sérios comprometimentos psíquicos e morais para

quem a pratica192.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), na

Classificação Internacional de Doenças (CID-10, item F65.4),

189 MORAES, Bismael B. Pedofilia não é crime . Boletim IBCCRIM. São

Paulo, v. 12, n. 143, p. 3, out. 2004. 190

ALMEIDA, Marco Aurélio C. de. Sobre o significado de pedofilia .

Disponível em: http://www.ibccrim.org.br . Acesso em: 25 abr. 2005. 191 FURLANETO NETO, Mário, Op. cit. p. 6 -7. 192 Id.

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conceitua tal doença como: “preferência sexual por crianças,

quer se trate de meninos, meninas ou de crianças de um ou do

outro sexo, geralmente pré-púberes ou não”193.

No entanto, o Diagnostic and Statistical Manual of

Mental Disorders, 4 th edition (DIM-IV), feito pela

Associação de Psiquiatras Americanos, estabelece três

requisitos para considerar alguém pedófilo, sendo eles 194:

- apresentar, por no mínimo, seis meses impetuosa

atração ou atitudes sexuais relacionadas a indivíduos com no

máximo treze anos de idade;

- esta atração, atitude ou desejo devem provocar

estresse, anormalidades intra e/ou interpessoais, ou se

concretizarem;

- por último, este necessita possuir no mínimo dezesseis

anos de idade, e ser ao menos cinco anos mais velho que a

vítima (excluem-se os relacionamentos entre adolescentes

entrando na puberdade com pessoas entre dezessete e vinte

anos, uma vez que o envolvimento entre adolescentes e jovens

não é visto como pedofilia).

Uma observação faz-se necessária, a definição da idade

de limite entre a infância e a adolescência, modifica -se em

casos individuais, entre os países e os aspectos analisados 195.

A pedofilia é uma espécie do gênero parafilia. No que

se refere ao direito esta espécie é a mais usual, entretanto,

observa-se a presença de mais de uma parafilia, em regra, nos

indivíduos, sendo dominante no sexo masculino196. A pedofilia

pode apresentar-se como: exclusiva (atração somente por

infantes), e não-exclusiva (além da atração por infantes, este

tem também por adultos). Via de regra, esta surge na

adolescência, diversificando conforme o estresse psicossocial,

contudo, de forma ampla, é crônica197.

193 PEDOFILIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org./wiki/Pedofilia>.

Acesso em: 24 abr. 2008. 194 Id. 195 Id. 196 FURLANETO NETO, Mário, Op. cit. p. 6 -7. 197 Id.

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103

3 PANORAMA HISTÓRICO DA PEDOFILIA

A pedofilia se demonstra por meio de condutas e

comportamentos manifestados por uma espécie de transgressão

sexual, na qual alguns adultos passam a manifestar desejo

sexual em relação a crianças na pré-puberdade.

Etimologicamente a palavra pedofilia causa certa confusão em

relação a seu entendimento. Segundo o dicionário, “o pedófilo

é aquele que é amigo de criança”. Mas o que será tratado é o

que a pedofilia representa para a sociedade no decorrer da

história da humanidade198.

Esta transgressão sexual não é uma prática

contemporânea, ela acompanha a sociedade ao longo dos

séculos, tendo sido esse impulso sexual codificado como um

tabu que reprime esta ação considerada inadmissível em

relação às regras impostas pelo seio social. A pedofilia ao

longo de sua história, nunca estabeleceu preconceitos sócio -

culturais, pois ela esta disseminada por todos os meios sociais,

ou seja, pode ser encontrado junto a pessoas abastadas, pobres,

religiosos ou não199.

Para o ponto de vista histórico, a prática da pedofilia

está intimamente relacionada com o incesto e, o sistema de

parentesco.

O lugar da criança foi estabelecido, em

tempos passados, por sua incorporação a um

sistema de parentesco baseado na proibição

do incesto, princípio que constitui a base da

ordem da cultura. A proibição de relações

sexuais entre pessoas com uma estreita

consangüinidade ou da mesma “classe”, no

sentido antropológico estrutural, forma a

identidade da criança dentro de uma

estrutura rigorosamente codificada – e assim,

pode-se dizer, representar o começo de um

198 DUNAIGRE, Patrice. O ato pedófilo na história da sexualidade

humana. In: Inocência em perigo: abuso sexual de crianças, pornografia

infantil e pedofilia na internet. Rio de Janeiro: Garamond, 1999. p . 9. 199 Ibid., p. 9-15.

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104

direito de status social específico da

criança200.

A codificação de regras, isto é, a formulação de tabus,

passou a ter o escopo de reprimir as transgressões incestuosas,

ou seja, fez nascer um fato social absoluto, que ritualiza

normas muito severas, com fim de disciplinar a relação entre

indivíduo para com o grupo social em que está inserido. Estes

conjuntos de proibição têm a função de impedir a repetição de

atos declarados pela sociedade como proibidos e antiéticos.

Nesta perspectiva, o sistema de parentesco exerce relevante

contribuição, no que diz respeito à preservação do tabu do

incesto como uma lei que não pode ser transgredida 201.

A pedofilia sob o ponto de vista contemporâneo, deixa

de ser um tema apenas inserido na obscuridade, aos porões de

uma sociedade conservadora, passando a ser analisado com

maior afinco por parte dos entes sociais. Isto foi possível,

principalmente após a expansão da modernidade, com a

massificação da mídia, posto que os veículos de comunicação

passaram a debater, com freqüência, sobre este problema que

esta cravado no coração da sociedade desde os primórdios da

humanidade202.

A partir da codificação de tabus, e a conseqüente

proibição do incesto, do fortalecimento do sistema de

parentesco, e principalmente com a modernização da mídia

que possibilitou um freqüente debate sobre a prática de

pedofilia, se fez possível dentro de sociedade colocar a criança

como centro do debate social203.

A criança torna-se “naturalmente” o foco de

qualquer análise das questões no debate

social, incluindo não apenas a crise na

autoridade dos pais, a transmissão de

conhecimento, famílias reconstituídas,

200 Ibid., p.10. 201 Ibid., p. 10-12. 202 DUNAIGRE, Patrice. Op. cit., p. 9-12. 203 Ibid., p. 12.

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105

“novos casais”, temores em torno de técnicas

de procriação assistida por médicos,

reconhecimento da homossexualidade como

elemento social aceito e direito ao aborto,

mas também a possibilidade das crianças

terem acesso a educação sexual e à

informação sobre a propagação da AIDS.

Estas questões que, fazendo da criança seu

foco central, exacerbam os debates que

afetam especificamente as crianças204.

Com o impulso da modernidade, passaram a surgir

dúvidas de como se figura a pessoa que pratica atos de

pedofilia, ou seja, o pedófilo. Por essa pessoa ser uma espécie

de catalisador do medo social, surge sempre à incerteza a

respeito de quem ou de que exatamente se está falando. É

certo, que com o intenso debate sobre a pedofilia e da pessoa

de quem a pratica fez surgir o entendimento que o pedófilo

pode estar presente em todo o meio social. “Diz que o pedófilo

seria do tipo que não tem namorada, podendo estar oculto no

instrutor dos escoteiros ou no professor de educação física.”205

Contudo constatou-se que na verdade, o pedófilo e a

pedofilia sempre existiram em todo tipo de sociedade, sendo

esta transgressão, no decorrer da história, tolerada ou ignorada

pela maioria dos países e de suas respectivas legislações. Por

outro lado, a história da sociedade humana, permite que sejam

catalogados alguns períodos em que relação sexual entre

adultos e crianças eram considerados normais206.

Tivemos os efebos do amor grego, de

vocação homossexual, e as tolerâncias

sumeriana e judaica, onde há permissão para

o casamento de homens adultos com

meninas. Isto, sem levarmos em conta nossas

ninfetas e lolitas, bem mais modernas,

204 Ibid., p. 12-13. 205 CRUZ, Anselmo Firmo de Oliveira. Pedofilia: até onde está o crime?

Disponível em: <http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 29 jun. 2002. 206 Id.

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estereotipadas pela literatura na obra do

russo Vladimir Nabakov, em meados do

século passado207.

Como já foi dito, a prática de pedofilia está presente em

todo meio social, e a classe religiosa não foge a esta regra. A

Igreja Católica, por exemplo, durante a sua longa história se

manteve inerte em relação às constantes acusações e, os

sucessivos escândalos que envolvem supostos padres

“abusadores” de crianças e adolescentes. Porém, a partir de

múltiplas denúncias por parte da sociedade e da mídia, fez

com que essa Instituição se posicionasse e, combatesse este

fantasma que assombra os corredores do Vaticano208.

O intenso debate sobre a pedofilia, fez com que a

comunidade internacional, intensificasse o combate a esta

transgressão sexual, com a aprovação de tratados

internacionais, sobre direitos da criança. Em 1989, a ONU

(Organização das Nações Unidas) aprovou a criação da

Convenção Internacional sobre direitos da criança. A qual

expressa em seu artigo 1º a imposição aos Estados de medidas

de proteção a infância e a adolescência do abuso, ameaça ou

lesão a sua integridade sexual209.

O combate à prática da pedofilia não ficou restrito a

essa ação, e sua qualificação como crime, tendo sido o tema

recepcionado também pela ciência. A Organização Mundial de

Saúde passou a catalogar a pedofilia como uma doença, um

transtorno mental e comportamental210.

O Brasil, no decorrer de sua história não ficou isento de

práticas de pedofilia, por parte de abusadores de crianças e

adolescentes. O caso mais famoso de abuso sexual contra

criança foi o da menina Araceli, que no dia 18 de maio de

207 CRUZ, Anselmo Firmo de Oliveira. Op. cit.. 208 FERRARI, Dalka Chaves de Almeida. Pedofilia: uma das faces da

violência sexual contra a criança. Revista Brasileira de Psicodrama ,

São Paulo, v. 12, n. 2, p. 59-84, 2004. 209 PEDOFILIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org./wiki/Pedofilia>.

Acesso em: 24 abr. 2008. 210 Id.

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1973, na cidade de Vitória, Espírito Santo, foi espancada,

estuprada e morta por dois homens. A autoria deste crime foi

atribuída a Brito Micheline e Paulo Constarteen Helal, ambos

de famílias abastadas. Eles foram julgados e absolvidos, não

por não serem culpados, mas sim pela forte influência que

possuíam no Estado211.

O caso Araceli até hoje é uma ferida que nunca

cicatrizou por completo, pois o assunto ainda desperta revolta,

medo e incredulidade na cidade de Vitória. Este triste

acontecimento fez surgir no Brasil, o Dia Nacional de

Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e

Adolescentes, cuja data é 18 de maio, dia em que a menina

desapareceu212.

211 ARGEMIRO, Pedro. Araceli: símbolo da violência. Disponível em:

<http://orbita.starmedia.com/~dossiepedofilia/abusomain.htm>. Acesso

em: 26 abr. 2008. 212 CASO ARACELI – Dante de Brito Michelini e Paulo Constanteen

Helal, costumavam se divertir rondando colégios na cidade de Vitória no

Espírito Santo, provavelmente em busca de alguma vítima.

Apostando na impunidade que o dinheiro de suas famílias poderia

comprar, Dantinho e Paulinho Helal, como eram chamados, elaboravam

festas para promover orgias, regadas a LSD, cocaína e álcool, onde

drogavam e violentavam crianças e adolescentes do sexo feminino.

Araceli Cabrera Crespo, uma menina de apenas oito anos, que vivia com

o pai Gabriel Sanches Crespo, com a mãe Lola e com o irmão Carlinhos,

fazia parte de uma família simples do porto de Vitória. Ela estudava perto

de sua casa e mantinha uma rotina dificilmente quebrada (saia de escola e

ia para um ponto de ônibus ali perto, para voltar para casa), até o dia 18

de maio de 1973, em que Araceli saiu mais cedo da escola, a mando de

Lola – sua mãe, e foi levar um envelope no Edifício Apoio, no centro de

Vitória. A menina não sabia, mas o envelope continha drogas e seria

entregue em um dos apartamentos onde Paulinho Helal e Dantinho se

drogavam.

Alguns dias depois, o corpo da menina foi encontrado em um terreno

baldio, localizado atrás do Hospital Menino Jesus, na praia Comprida.

Araceli havia sido espancada, estuprada, drogada e morta; sua vagina, seu

peito e sua barriga tinham marcas de dentes; seu queixo foi deslocado

com um golpe; e finalmente o seu rosto, principalmente, foi desfigurado

com ácido.

O superintendente da polícia civil do Espírito Santo, Gilberto Barros

Faria, dois meses, aproximadamente, após o trágico acontecimento,

anunciou que no dia seguinte revelaria os nomes dos criminosos. Porém,

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O ordenamento jurídico brasileiro, não tipifica nenhuma

espécie de crime, intitulado pedofilia, sendo considerado

crime pela legislação nacional, apenas os atos e as

conseqüências praticadas pelos pedófilos. 213

Portanto, estes podem ser enquadrados pela prática de

estupro de vulnerável, satisfação da lascívia mediante

presença de criança e adolescente e favorecimento da

prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável

(previstas, respectivamente, no Código Penal em seus artigos

217-A, 218, 218-A e 218-B, sendo que estes foram criados

pela Lei 12.015/2009 que modificou o Capítulo II do CP),

definidos, simultaneamente, como: ter conjunção carnal ou

praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos; induzir

alguém menor de 14 anos a satisfazer a lascívia de outrem;

praticar na presença de menor de 14 anos; ou induzir a

presenciar conjunção carnal ou ato libidinoso, afim de

satisfazer a lascívia própria ou de outrem; e submeter, induzir

ou atrair a prostituição ou outra forma de exploração sexual

alguém menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou

deficiência mental, não tenha o necessário discernimento para

a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a

abandone.214

depois de um encontro com Dante Michelini, pai de Dantinho, Barros

Faria, mudou de opinião, apontando como assassino um senhor negro que

tinha problema mental, que perambulava pela Praia do Suá. Desse fato em

diante começou a escalada de medo e suborno, pelo menos treze pessoas

morreram de formas misteriosas por se envolverem com o assunto.

Dantinho e Paulinho Helal chegaram a serem presos no ano de 1977, mas

foram liberados aproximadamente dois meses depois. Em 1980, foram

julgados e condenados, porém a sentença foi anulada. No ano de 1991,

em novo julgamento os réus foram absolvidos. O crime já prescreveu,

mas o caso Araceli é uma ferida que nunca cicatrizou completamente.

Mexer no assunto em Vitória ainda desperta medo, revolta e

incredulidade (ARGEMIRO, Pedro., op. cit.) 213 PEDOFILIA. Disponível em:

<http://www.mscontraapedofilia.ufms.br/índex.php?inside=1&comp=&sh

ow=62>. Acesso em: 24 abr. 2008. 214 PINHEIRO, Lucas Corrêa Abrantes. Breves reflexões sobre a Lei nº

12.015/2009. Disponível em: <

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=13358>. Acesso em: 10 abr. 2010.

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Portanto, mesmo o Brasil não tendo uma norma penal

que tipifique a palavra pedofilia, há no país, como já foi dito,

algumas normas que incriminam os atos e conseqüências

praticadas pelos pedófilos. Além das condutas anteriormente

especificadas, o Estatuto da Criança e do Adolescente, que tem

por escopo a proteção do menor tipifica outras que visam o

bem estar das crianças e adolescentes. Todavia, mesmo com

tais dispositivos, há a necessidade de uma norma específica

para agilizar o processo de investigação e denúncia dos

pedófilos, principalmente, na internet onde se torna ainda mais

difícil a punição a estes criminosos.215

4 PEDOFILIA NA INTERNET

Com o avanço da tecnologia, a Internet tornou-se um

dos principais meios de informação e comunicação existente

na sociedade, atraindo cada vez mais a atenção dos infantes,

no entanto, seus protetores não conseguem acompanhar esse

avanço, 216 surgindo assim, um novo grupo de criminosos,

denominados “cibercriminosos”. Tais indivíduos trouxeram

para a rede mundial de computadores um ato repugnante, mas

já praticado na comunidade, a pedofilia via internet 217.

Segundo Sandro D’Amato Nogueira: “A Internet está

sendo utilizada pelos pedófilos para realizarem suas fantasias

sexuais, trocarem e comercializarem fotos, filmes, cd-rom,

entre outros”218.

Todavia, neste ambiente a luta contra a pedofilia torna-

se ainda mais árdua devido à disparidade entre o virtual e o

215 PEDOFILIA. op. cit. 216 COMO proteger nossas crianças. Disponível em:

<http://www.pedofilia-nao.inf.br/pedofilia.html>. Acesso em: 26 abr.

2008. 217 SILVA, Anna Paula Costa e. Pedofilia na Internet – inocência

roubada virtualmente. Disponível em:

<http://www.direitonet.com.br/artigos/x/16/38/1638>. Acesso em: 1 jul.

2008. 218

NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Pedofilia e o tráfico de menores pela

internet: o lado negro da web. Disponível em:

<http://www.ibccrim.org.br>. Acesso em: 29 set. 2001.

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real, porém, as conversas que os praticantes desse crime têm

em salas de bate papo passaram a ser ilegais com a edição da

Lei 12015 de 7 de agosto de 2009.219 Ademais, quem pratica

estes atos, ainda consideram-se injustiçados quando igualados

a delinqüentes violentos, ou senão, acusam as vítimas de

instigarem o ato sexual com suas brincadeiras220.

Os infantes estão em constante perigo, real e imediato,

de sofrer assédio por meio da internet, ou ainda, de serem

seqüestrados para contracenar em filmes, que usarão suas

dores, angústias e sofrimento pelo abuso sexual do qual est ão

sendo vítimas, abuso este que muitos adultos não agüentariam

passar, como diversão para determinados grupos.

Isso ocorre devido à existência de “Clubes de

Pedofilia”, onde pedófilos do mundo se unem, para mais

facilmente ter acesso a fotos ou vídeos mostrando pornografia

infantil. Além desse tipo de serviço, tais clubes oferecem

ainda, formas de obter crianças para a prática de abuso sexual,

turismo sexual, ou então, agilizar o tráfico de menores, sendo

estes os responsáveis pelo desaparecimento de crianças em

todo o mundo.221

A pedofilia na rede mundial de computadores é um

acontecimento grave e complexo que demanda uma ação de

toda a sociedade para solucioná-la. Especialmente a de

autoridades brasileiras, visto que para fazer uma oposição

forte contra estes abusos, é necessário paciência, vontade e

determinação, pois as redes de pedofilia disseminam seu teor

lesivo pela internet, mudando de site em site. A Senadora

Patrícia Saboya do Ceará afirma que, os abusadores estão

219 PINHEIRO, op. cit. 220 MAXIMIANO, Ana. Pedofilia na internet: números no Brasil são

assustadores. Disponível em:

<http://diganaoaerotizacaoinfantil.com/2007/08/11/pedofilia -na-internet-

numeros-no-brasil-são-assustadores/>. Acesso em: 2 jul. 2008. 221

MIRANDA, Anderson; MIRANDA, Roseane. Campanha Nacional de

combate à pedofilia na Internet. Disponível em:

<http://www.censura.com.br>. Acesso em: 2 jul. 2008.

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111

procurando tornar tal crime banal, sendo o resultado desses

atos que:222

Imagens e mensagens de violência e sexo

pedagogicamente não recomendadas às

faixas etárias mais baixas chegam às crianças

e adolescentes descontextualizadas e em

qualquer horário. Muitas vezes fora de casa,

longe do olhar e da orientação dos pais e

movidos pela curiosidade natural à idade,

eles acessam sites, lêem e-mails, alimentam

perfis no Orkut, recebem e enviam

fotografias, inclusive deles mesmos 223.

A rede mundial de computadores, atualmente, já é vista

como a maior responsável pelo comércio, divulgação e

exploração sexual de infantes pelo mundo 224. Este é um ramo

de lucros exorbitantes, planejado por organizações, que

possuem home pages acessíveis o tempo todo aos seus

clientes, e estes, por sua vez, são os grandes incentivadores a

continuidade dos trabalhos. O material para manter esses sites

é obtido através de crianças que são iludidas ou forçadas a

praticar sexo, e as imagens, podem ainda ser capturadas sem

que as vítimas percebam. Após isso, o conteúdo é distribu ído,

trocado ou vendido na rede. E as fotos são utilizadas também

como forma de forçar a criança a consentir com novas fotos,

através de chantagem.225

A pedofilia, antes da proliferação da Internet, era

dificultada devido a maiores empecilhos em obter o material

capaz de satisfazer seus desejos. Contudo, isso se tornou mais

rápido com a internet, uma vez que através dessa, o contato do

pedófilo com o infante é simplificado pelo fato de ele ter o

222 SABOYA, Patrícia. Opinião: Pedofilia na Internet. Disponível em:

<http://www.denunciar.org.br/twiki/Bin/view/SaferNet/Noticia200608122

02510>. Acesso em: 2 jul. 2008. 223 Id. 224 NOGUEIRA, Sandro D’Amato, Op. cit. 225 SABOYA, Patrícia, Op. cit.

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poder de se esconder através de uma personalidade e

linguagem falsa, mais condizente com a da vítima.226

Em função disto os pais, professores e familiares devem

dar orientações às crianças e estar atentos para possíveis

investidas desses criminosos, inclusive acompanhando e

monitorando as ações das crianças na frente de um

computador. Alguns procedimentos por parte dos responsáveis

podem ser feitos para evitar tal assédio, tais como: manter uma

boa relação com a criança para que esta lhe mantenha

informada sobre os sites que entra e as amizades que mantém

nesse meio; deixar o computador em um local comum onde ela

não esteja sozinha na utilização; averiguar o e-mail da criança,

quando possível; ou seja, desenvolver um ambiente seguro

para estes utilizarem a internet e as informarem sobre os riscos

que correm, até mesmo explicando lhes sobre o que é pedofilia

e o mal causado por pessoas más intencionadas neste

espaço.227

Os meios mais empregados pelos pedófilos para ter

acesso às vítimas são: os mensageiros instantâneos (programas

pelos quais é possível comunicar-se por meio de texto ou voz,

de maneira rápida e individual), chat (ambiente onde se

conversa com pessoas desconhecidas), blog ou fotolog (um

diário virtual), e-mail (correio eletrônico) e redes de

relacionamento (ambiente destinado a reunião de pessoas com

interesses em comum).228

A Associação Italiana de Defesa da Infância fez uma

pesquisa e descobriu que o Brasil está no quarto lugar na lista

de sites relacionados à pornografia infantil 229, isto demonstra a

226 CAMPANHA MS contra a pedofilia. Pedofilia na Internet .

Disponível em:

<http://www.mscontraapedofilia.ufms.br/index.php?inside=1&tp=3&com

p=&show=64>. Acesso em: 2 jul. 2008. 227 CAMPANHA MS contra a pedofilia. Pedofilia na Internet , Op. cit. 228 Id. 229 CAMPANHA MS contra a pedofilia. Dados alarmantes . Disponível

em:

<http://www.mscontraapedofilia.ufms.br/index.php?inside=1&tp=3&com

p=&show=66>. Acesso em: 2 jul. 2008.

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ausência de uma punição rígida, comprometendo o combate a

esse crime230.

Portanto, revela-se importantíssimo a mudança na

legislação penal existente que regula tal ato e a elaboração de

uma lei sobre crimes cibernéticos, para desse modo, agilizar e

tornar mais eficaz o trabalho da justiça, e assim as

investigações poderiam alcançar todos os responsáveis pelo

delito, posto que com a tipificação penal adequada os

provedores seriam punidos como co-autores do crime231. É

fundamental destacar que a penalidade alcance a todos os

envolvidos e os que tornam esse delito possível. 232 Enfim, é

imprescindível a existência de uma nova lei que possa dominar

essa liberdade sem limites no ciberespaço, fazendo, dessa

forma, com que a distância entre a sociedade e o direito torne-

se menor233.

Contudo, a edição da Lei 12015 de 2008, originada na

CPI da pedofilia, veio a contribuir para a punição das práticas

de crimes sexuais praticadas contra menores. Com a aprovação

desta e com as modificações trazidas ao Estatuto da Criança e

do Adolescente (ECA), as autoridades policiais e o judiciário

passaram a possuir melhores meios de confrontar a ocorrência

desse delito na rede mundial de computadores 234; porém,

devido a dinâmica tecnológica poderá surgir novos problemas,

pois há dificuldade da legislação em acompanhar os avanços

ocorridos na tecnologia empenhada para tornar esse crime

possível.235

230 SILVA, Anna Paula Costa e. Pedofilia na Internet – inocência

roubada virtualmente. Disponível em:

<http://www.direitonet.com.br/artigos/x/16/38/1638>. Acesso em: 1 jul.

2008. 231 SILVA, Anna Paula Costa e. Op. cit. 232 SABOYA, Patrícia. Opinião: Pedofilia na Internet. Disponível em:

<http://www.denunciar.org.br/twiki/Bin/view/SaferNet/Noticia200608122

02510>. Acesso em: 2 jul. 2008. 233 SILVA, Anna Paula Costa e, Op. Cit. 234 CPI já elaborou leis e firmou acordos inéditos. Disponível em: <

http://www.magnomalta.com/site/index.php?option=com_content&task=v

iew&id=994&Itemid=39>. Acesso em: 10 abr. 2010. 235 SABOYA, Patrícia. Op. cit.

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Entretanto, as dificuldades não se limitam a este

impasse, haja vista que outro empecilho é a territorialidade,

pois para haver punição é necessário descobrir de onde se

origina o crime236, e neste aspecto, “o que mais preocupa são

os sites chamados ‘ponto.com’, já que seu domínio está

registrado no órgão oficial internacional da Internet, sem

associação a nenhum país de origem, o que dificulta a ação da

policia”237.

Enfim, além da necessidade de lei específica para

regular o assunto, será fundamental o investimento em agentes

treinados e especializados, que deverão ter um profundo

conhecimento em informática, com equipamentos da melhor

qualidade e tecnologia avançada, para que seja possível o

rastreamento e localização de maneira rápida. Ou seja,

demanda-se tempo, recurso e pessoal capacitado, para que

tenha a capacidade de realizar um trabalho investigativo

rígido238.

5 BIOÉTICA E BIODIREITO RELACIONADO

COM A PEDOFILIA

Partindo de fatos como o crescente avanço da biologia

molecular e da biotecnologia aplicada à medicina, das

denúncias dos abusos efetuados pela experimentação

biomédica em seres humanos e das declarações das

instituições religiosas sobre temas relativamente importantes

para a humanidade, nasceu a bioética, que busca o sentido

ético das novas biotecnologias. Ela se ocupa do que é bom ou

correto e do que é mau ou incorreto no agir humano. 239

236 NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Op. cit. 237 REVISTA Terceiro Setor. Pedofilia na Internet – um crime grotesco,

de autores quase invisíveis. Disponível em:

<http://www.denunciar.org.br/twiki/bin/view/SaferNet/Noticia200101191

93123>. Acesso em: 2 jul. 2008. 238 NOGUEIRA, Sandro D’Amato. Op. cit. 239 CLOTET, Joaquim. Bioética: uma aproximação. Porto Alegre:

EDIPUCRS, 2003. p. 103-106.

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(...) com a bioética busca-se um consenso,

ainda que transitório, para determinadas

questões polêmicas discutidas pelos

tradicionalistas e pelos vanguardistas. No

centro da discussão está o ser humano, a

vida, a saúde. Com esta integração objetiva-

se o equilíbrio, embora cada caso possa

comportar uma solução.240

A bioética possui um caráter reflexivo, pois as novas

questões relacionadas a saúde, a vida e as novas

biotecnologias, vem carregadas de dúvidas que devem ser

solucionadas através do estudo conjunto de diversas ciências.

Devendo, contudo, respeitar a dignidade da pessoa humana, ou

seja, em cada situação vivenciada, o bioeticista deve buscar

soluções mais justas e adequadas para os problemas,

praticando sempre o respeito ao ser humano. 241

Os avanços científicos, portanto, devem estar pautados

nos limites éticos para que os seres humanos não passem a ser

meras mercadorias para os estudos avançados das ciências e

tecnologias, devendo, os biocientistas, respeitarem a vida e a

dignidade da pessoa humana. 242

O homem, porém, vem se tornando um objeto diante de

uma espécie de comércio, que foge dos padrões convencionais,

pois, neste o que está sendo comercializado é o corpo humano,

onde se obtém elevadíssimos lucros, colocando a disposição

das pessoas interessadas em obter órgãos para fins libidinosos. 243 E, quando uma criança e/ou adolescente é abusado

sexualmente, está sendo ferido um de seus direitos

fundamentais garantidos pela Constituição Federal (artigo 1º,

III), que é a dignidade da pessoa humana. Assim sendo, a

prática de atos pedófilos devem ser punidos,

independentemente de quem seja o abusador, ou qual o meio

240 VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética: temas atuais e seus aspectos

jurídicos. Brasília: Consulex, 2006. p. 32. 241 Ibid., p. 17-19. 242 IACOMINI, Vanessa. Biodireitos X Direitos humanos. O Estado do

Paraná, Curitiba, 6 jul. 2008. Direito e Justiça, caderno p. 4. 243 CLOTET, Joaquim. Op. cit., p. 197-199.

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utilizado por este para chegar à finalidade precípua de abusar

de um infante. 244

Estudos apontam que a maioria dos casos de

abuso sexual denunciados ocorre entre

pessoas próximas e com vínculo de confiança

que não foi respeitado. Atualmente, a mídia

tem trazido à tona os casos de abuso sexual

que extrapolam as relações familiares, como

as denúncias contra padres e médicos.

Considerando que a principal violência deste

tipo de abuso sexual é justamente a

perversão das funções institucionais na

relação, e esta é cabível tanto nas relações

familiares como nas relações profissionais.

Foram denominadas “incesto polimorfo” as

situações de abuso sexual extra familiares

ocorridas em relações nas quais a assimetria

de funções é utilizada, consciente ou

inconscientemente, para este fim.

Entendemos que o que torna o indivíduo

humano e ético é justamente lidar com as

pulsões e os desejos presentes em todos,

confrontando-os com a realidade. A

impossibilidade de ser ético pode ser

conseqüência de uma falha na estruturação

mental do indivíduo, que não percebe a

importância do respeito às funções sociais. 245

Os infantes que são expostos a atos libidinosos, podem

vir a sofrer transtornos psicológicos, passando a se considerar

inferior as demais crianças e/ ou adolescentes. Esta situação

fará com, que eles passem para a fase adulta frustrados e até

244 VIEIRA, Tereza Rodrigues. Pedofilia: Atentado contra a dignidade da

criança. Revista Jurídica Consulex , Brasília, n. 187, ano VIII, p. 17, 31

out. 2004. 245 COHEN, Cláudio; GOBBETTI, Gisele J. Bioética e incesto polimorfo.

In: GARRAFA, Volnei (org); PESSINI, Leo (org). VI Congres so Mundial

de Bioética. Brasília: Loyola, 2003. p. 517.

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mesmo com transtornos sexuais, o que os fará praticar atos tão

cruéis quanto os que sofreram. 246

O pedófilo, por sua vez, é aquele que sofre de uma

parafilia, que pode ter sido causada por atos libidinosos a que

foram expostos na infância. Porém, isso não é um fator

preponderante, tendo em vista que há muitos pedófilos que

nunca sofreram abuso algum. Neste sentido, afirma a

psicóloga e professora adjunta do Instituto Multidisciplinar da

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Leila Ribeiro:

O adulto que tem atração sexual por crianças

não necessariamente viveu um situação de

envolvimento sexual com um adulto na

criança. Sendo assim, o que leva um adulto a

ter este desejo deve ser buscado não só em

sua história, mas também no contento social,

familiar ou individual em que ele vive e na

relação que mantém com a criança, pois

ambos estão envolvidos. 247

O pedófilo, portanto, por sentirem-se inseguros com

mulheres adultas, praticam atos sexuais e adolescentes,

geralmente para provarem a sua potencia sexual. 248

o ministério da justiça registra, por ano,

cerca de 50 mil casos de violência sexual

contra crianças e adolescentes. A associação

brasileira multiprofissional de proteção a

infância e adolescência (ABRAPIA) afirma

que, a cada hora, no país, sete crianças ou

adolescentes sofrem abuso sexual. Diante

dos números, a “castração química” passa a

ser discutida como uma possível solução

para o problema. O tratamento a base de

246 CLOTET, Joaquim. Op. Cit. P. 129-130. 247 AGÊNCIA Notisa de Jornalismo Científico. Pedofilia: monstro ou

doente? Revista Ciência e vida: Psique, São Paulo, ano III, n. 27, p. 32 -

39, data da publicação. 248 Vieira, Tereza Rodrigues. Bioética: temas atuais e seus aspectos

jurídicos. Brasília: Consulex, 2006. p. 59 -61.

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118

hormônios femininos que levariam à

diminuição do desejo sexual em pessoas com

histórico de pedofilia, hoje muito discutido

na Europa, especialmente na Itália, onde é

uma alternativa à prisão ou desconto da

pena, começa a ser alvo de polêmica no

Brasil. 249

A castração química, portanto, é uma forma temporária

de inibição do desejo sexual, sendo assim, têm efeitos

reversíveis. Este tratamento pode ser usado para ajudar os

pedófilos que querem se livrar desse mal, do qual não

conseguirão sozinhos, ou até mesmo como medida de punição

aos indivíduos que cometeram crimes sexuais contra infantes. 250

Há um projeto sendo analisado pela Comissão de

Direitos Humanos do Senado que prevê este tipo de castração

química para pedófilos condenados pela justiça, mas a

aplicação só poderia ser feita mediante anuência do criminoso,

sendo indicado apenas nos casos em que o médico dissesse que

não existe outra opção. Em troca ele teria redução de um terço

da pena.251Posição esta que entra em choque com o

entendimento da OAB:

(...) A nossa posição é contrária, apesar de

reconhecermos a gravidade desse ilícito

penal que envolve a pedofilia, envolve

pessoas inocentes, indefesas, que são vítimas

desse crime. Apesar desse quadro, nós

entendemos que o melhor tratamento jurídico

e o tratamento punitivo não é o da castração

249 CASTRAÇÂO química em pedófilos gera polêmicas entre

especialistas. Disponível em: http://diganaoaerotizacaoinfantil -

wordpress.com/2008/04/08/castracao-quimica-de-pedofilos-gera-

polemica-entre-especialista/...31/07. Acesso em: 4 ago. 2008. 250Id. 251 Vai dar o que falar: projeto de castração de pedófilos. Disponível em:

< http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL1550885 -16022,00-

VAI+DAR+O+QUE+FALAR+PROJETO+DE+CASTRACAO+DE+PEDO

FILOS.html>. Acesso em: 10 abr. 2010.

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119

química. Nós estamos num estágio do direito

muito mais avançado e o que mais a

sociedade reclama é a efetividade da justiça,

a certeza da pena. Muito mais importante do

que ficarmos editando novas leis, prevendo

novos tipos penais, novas modalidades de

punição, é importante que tenhamos a

certeza de que aquele infrator será

efetivamente punido”, defende Alberto de

Paula Machado, vice-presidente da OAB252.

A contrario sensu, o Senador Gerson Camata, autor do

projeto defende que:

O principal argumento de defesa é, primeiro:

ele foi apresentado em 2007. Se já tivesse

sido aprovado, quantas crianças não teriam

passado por essa humilhação? Quantos

pedófilos já teriam sido recuperados?

Entretanto, não foram. Eu tirei o projeto de

uma lei francesa, que tem em vigor na

Inglaterra e também na Itália que são

democracias berço dos direitos humanos no

mundo. Depois que apresentei meu projeto,

ele foi aprovado no Canadá, aprovado na

República Tcheca por plebiscito, inclusive

aquele que é reincidente é castração

cirúrgica. Depois na província de Barcelona

e em oito estados norte-americanos. Esses

países que respeitam os direitos humanos,

todos tem esse tipo de punição para

recuperar o pedófilo (...)253

Com a presença crescente de novos temas, como a

“castração química” se faz necessário a regulamentação de

normas morais, para que não haja excesso no uso das novas

biociências.254 O campo que regula estes novos temas é o

252 Id. 253 Vai dar o que falar: projeto de castração de pedófilos. Op. cit... 254 IACOMINI, Vanessa. Op. cit., p. 4.

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120

biodireito que é o estudo sistemático das novas biociências e

tem a vida como objeto principal.255 O direito, portanto, possui

uma posição primordial na contribuição com a bioética, pois,

enquanto esta examina as possibilidades, as respostas morais

para os questionamentos, o direito, quando for o caso, faz a

tradução dos temas examinados para as normas jurídicas, por

serem estas gerais e de obrigatório cumprimento. 256

6 PEDOFILIA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Até meados de 1989, não havia em nenhum Estado,

legislação que visasse à proteção de crianças e adolescentes.

Porém, com o transcorrer do tempo isso foi modificado através

da aprovação de vários tratados internacionais, assim como, a

aprovação pela ONU, da Convenção Internacional sobre os

Direitos das Crianças e dos Adolescentes, em que impõem aos

Estados a elaboração de leis para a proteção destes contra

qualquer espécie de lesão sexual. 257

A lei brasileira, no entanto, apesar de ter adotado na

Constituição em seu art. 227, a proteção integral da criança e

do adolescente258, não possui em sua legislação, o tipo penal

“pedofilia” 259, tendo os operadores do direito, na ocorrência

deste tipo de crime, enquadrá-lo nos tipos penais descritos nos

artigos 217 (estupro de vulnerável), 218 (indução), 218-A

(satisfação da lascívia mediante presença de criança ou

adolescente), e 218-B (favorecimento da prostituição ou outra

255 VIEIRA, Tereza Rodrigues. O chamado biodireito. Revista Jurídica

Consulex, Brasília, n. 197, ano IX, p. 14, 31 mar. 2005. 256 VIEIRA, Tereza Rodrigues. Bioética: temas atuais e seus as pectos

jurídicos. Op. cit., p. 29-32. 257 PEDOFILIA. Disponível em: http://www.mscontrapedofilia.usms.br .

Acesso em: 15 jun. 2008. 258 BARBOSA, Hélia. Abuso e exploração sexual de crianças: origens,

causas, prevenção e atendimento no Brasil. In: Inocência em perigo :

abuso sexual de crianças, pornografia infantil e pedofilia na internet, Rio

de Janeiro: Garamond, 1999. p. 24-41. 259 JESUS, Damásio Evangelista de. Pedofilia na legislação brasileira.

Revista jurídica Consulex. Brasília, ano XI, n. 240, p. 28-29, 15 jan.

2007.

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121

forma de exploração sexual de vulnerável), contudo,

anteriormente a 2009 aplicava-se os artigos: 213 (estupro) e

214 (atentado violento ao pudor), que foram, revogados pela

Lei 12.015/2009260.

Procurando adaptar suas leis para amparar de maneira

mais coerente as crianças e os adolescentes, vítimas de abuso

sexual, o Brasil elaborou o Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA (lei nº 8069/90) - que em seus artigos 240

a 241-E, incriminam qualquer exposição do menor a prática de

atos sexuais ou pornografia envolvendo infantes, por exemplo,

fotografias, vídeos ou qualquer outro registro; além destes, os

artigos 244-A e 244-B, imputam como crime a submissão ou

corrupção do menor a praticar a prostituição ou exploração

sexual261.

A redação dos artigos 240, §§ 1º e 2º, inciso I e II e

artigo 241 foi determinada pela Lei 11.829/2008, sendo que

esta, ainda, acrescentou o inciso III do § 2º do artigo 241, 241 -

A a 241-E; e o artigo 244-B foi acrescentado ao Estatuto pela

Lei 12.015/2009. Pois anteriormente a estas Leis o estatuto

incriminava, somente, a divulgação e publicação de fotografias

ou imagens pornográficas, bem como, o sexo explícito

envolvendo infantes, artigos 240 e 241 262.

Todavia, com o avanço da informática, o “mercado

pedófilo” se tornou ainda mais avassalador. Pois com a

facilidade de informações rápidas de negociação de produtos

pela web, e ainda a possibilidade de atrair crianças e

adolescentes através de sites de bate papo, com o direito

inclusive a bloqueio de suas páginas - o que dificulta ainda

mais a ação policial no combate a pedofilia - tem o comércio

desta natureza se transformado em uma ação cada vez mais

lucrativa e devastadora. 263

260 PINHEIRO. op. cit. 261 Id. 262 Id. 263 Revista brasileira de psicodrama. Disponível em:

http://www.febrap.org.br/produtos/revista/revista_atual.php. >. Acesso

em: 2 jul. 2008.

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122

Portanto, ainda há muito que fazer para acabar com a

pedofilia no Brasil, ou ao menos amenizar a atuação destes

criminosos, através da atribuição de penas aos mesmos, e é

com esse intuito que o Congresso Nacional está trabalhando. 264

6.1 COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO DA

PEDOFILIA

O terrível cenário de abuso sexual sofrido por crianças e

adolescentes foi agravado com o avanço da internet, pois este

é o meio mais rápido e “seguro” para esses criminosos

cibernéticos atraírem suas vítimas265. Para tentar combater

esses crimes, foram criados sites como o Safernet, que

fiscaliza crimes na rede mundial de computadores.266

A internet se tornou o meio mais atraente para a prática

de crimes de pedofilia, porque, além de ser um espaço onde

pessoas de várias nacionalidades trocam informações, não há

legislação vigente que regulamente essa espécie de crime,

tornando os atos praticados pela web, impunes267. Por esses

motivos, todo ano são expostas milhares de crianças indefesas

a abusos sexuais que nem mesmo um adulto suportaria 268.

Além do mais, no dia 04 de março de 2008, através do

requerimento de nº 200, foi criada pelo Senado, tendo por

Presidente da Comissão o Senador Magno Malta, uma

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com o objetivo de

264 BRASIL, Senado Federal. Disponível em:

<http://www.senado.gov.br/sf/>. Acesso em: 2 jul. 2008. 265 MIRANDA, Anderson; MIRANDA, Roseane. Campanha Nacional de

combate à pedofilia na Internet. Disponível em:

<http://www.censura.com.br>. Acesso em: 2 jul. 2008. 266 MAIA, Felipe. CPI aprova quebra de sigilo de 18 mil páginas no

Orkut. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u418514.shtml>.

Acesso em: 2 jul. 2008. 267 REVISTA Terceiro Setor. Pedofilia na Internet – um crime grotesco,

de autores quase invisíveis. Disponível em:

<http://www.denunciar.org.br/twiki/bin/view/SaferNet/Noticia200101191

93123>. Acesso em: 2 jul. 2008. 268 MIRANDA, Anderson; MIRANDA, Rosane. Op. Cit.

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123

apurar fatos relacionados à utilização da Internet para prática

de ilícitos contra crianças e adolescentes, assim como, a

relação deste com o crime organizado. Desde que esta CPI foi

instalada, houve grandes avanços no combate à pedofilia na

Internet, tendo os Senadores, inclusive conseguido uma

autorização judicial para que várias páginas do site de

relacionamentos “Orkut” fossem abertas.269

Segundo a ONG Safernet:

O site de relacionamentos é utilizado por

pedófilos porque permite compartilhar fotos

de pornografia infantil sem serem

identificados por outros usuários e pelas

autoridades – uma vez que as fotos são

protegidas por um sistema de privacidade do

Orkut onde os usuários podem “trancar” seu

álbum e a página de recados, deixando o

acesso restrito a amigos adicionados no

perfil270.

Assim sendo, foi garantido à empresa Google a

imunidade civil e criminal, nos casos em que houver erro no

envio de provas, ou ainda, no caso de serem enviadas as

autoridades judiciais informações falsas (salvo comprovada

má-fé), Para que esta assinasse um termo de responsabilidade

com o Ministério Público. 271

No dia 02 de julho de 2008, o Google Brasil assinou

junto ao Ministério Público Federal, o Termo de Ajustamento

de Conduta (TAC), se comprometendo a controlar o sistema,

com o objetivo de combater a pedofilia na internet. De acordo

com o TAC, o Google deverá desenvolver tecnologia eficiente

para filtrar e impedir a publicação de pornografia infantil no

269 BRASIL, Senado Federal. Disponível em:

http://www.senado.gov.br/sf/ Acesso em: 2 jul. 2008 270 GUERREIRO, Gabriela. CPI da Pedofilia recebe em DVDs perfis

“lacrados” do Orkut. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u39651 2.shtml>.

Acesso em: 2 jul. 2008. 271 MAIA, Felipe. Op. Cit.

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124

site de relacionamentos Orkut. Além de ter como obrigação, a

retirada de conteúdos ilícitos de comunidades virtuais, a

preservação de dados necessários para a identificação dos

autores e conteúdos, e a distribuição de cartilhas que versem

sobre como usar a internet com segurança. Se a empresa

descumprir qualquer cláusula do acordo estará sujeita ao

pagamento de uma multa diária de vinte e cinco mil reais 272.

A Safernet, somente no primeiro semestre de 2008,

recebeu em média 92,8% a mais de denúncias com relação ao

mesmo período de 2007. Este aumento tão significativo nas

denúncias colaborou para que a CPI da pedofilia aprovasse um

projeto, onde exigia a quebra do sigilo de mais de 18 mil

páginas diferentes do Orkut273. Devido a isto, “O google

encaminhou a CPI da pedofilia sete DVD’s com os dados

referentes a 3.261 álbuns privados do Orkut que podem reunir

conteúdos e imagens de pornografia infantil” 274. Os referidos

álbuns tiveram o sigilo quebrado e foram analisados por

técnicos do Senado, peritos da Polícia Federal e integrantes do

Ministério Público Federal.275

Por meio dos trabalhos da CPI, obteve-se a aprovação

das Leis 11.829/2008 e 12.015/2009, anteriormente

explicitadas:

Foi gerado na CPI o texto da Lei 11.829/08, que

aumentou de seis para oito anos a pena máxima de

crimes de pornografia infantil na internet. A lei é

considerada pelo presidente da ONG Safernet

Brasil, Thiago Tavares, uma das mais avançadas

do mundo. Além de aumentar a punição, tornou

crime comprar, manter ou divulgar material

pornográfico.

272 GIRALDI, Renata. Google e Ministério Público assinam acordo para

combater a pedofilia no Orkut. Disponível em:

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u418420.shtml>.

Acesso em: 2 jul. 2008. 273 MAIA, Felipe. Op. Cit. 274 GUERREIRO, Gabriela. Op. Cit. 275 Id.

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125

Já a Lei 12.015/08, originada na CPI,

fixa punições maiores para crimes sexuais

como pedofilia, assédio sexual contra

menores e estupro seguido de morte. A pena

para qualquer crime sexual que resulte em

gravidez terá aumento de 50%. A nova lei

considera crime todo ato libidinoso contra

menores de 14 anos e portadores de

deficiência. Estuprar jovens entre 14 e 18

anos passou a valer até 12 anos de reclusão.

O estupro seguido de morte, hoje punido

com até 25 anos de prisão, passou para até

30 anos.276

Apesar do grande progresso no combate a pedofilia,

ainda há muito que fazer, pois apesar de a Constituição

Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a

Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança , já

darem uma base jurídica para que haja punição quando houver

violação da lei, “o desafio seguinte, provavelmente mais

complexo, será atualizar a legislação na mesma velocidade

permitida pela tecnologia usada por esses criminosos

cibernéticos”.277

7 CONCLUSÃO

A pedofilia é um distúrbio na conduta humana, que é

expressada pelo desejo compulsivo de um adulto por uma

criança ou um adolescente. Esta pode ter caráter tanto

heterossexual, quanto homossexual.

A internet tem sido um ambiente extremamente

favorável à proliferação da pedofilia, pois os pedófilos

utilizam-se desse meio de comunicação em massa, para trocar

ou vender imagens pornográficas envolvendo infantes. Tais

criminosos, também, utilizam a internet para atrair crianças e

276 CPI já elaborou leis e firmou acordos inéditos. Disponível em: <

http://www.magnomalta.com/site/index.php?option=com_content&task=v

iew&id=994&Itemid=39>. Acesso em: 10 abr. 2010. 277 SABOYA, Patrícia. Op. Cit.

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adolescentes, com o intuito de chegar ao fim libidinoso de

abusar sexualmente deles.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº.

8.069/90), em seus artigos 240 a 241-E, 244-A e 244-B,

incriminam qualquer exposição de imagens pornográficas ou

atos sexuais envolvendo infantes. Contudo, na legislação

brasileira não há tipificação penal específica para os crimes de

pedofilia, tendo os operadores do Direito, na ocorrência de tais

casos, que recorrerem aos princípios da hermenêutica.

Para tentar combater os crimes de pedofilia,

especialmente na internet, foram criados vários sites de

investigação, que buscam fiscalizar os crimes de pedofilia na

rede mundial de computadores, como é o caso da safernet.com.

Também, foi instalado uma Comissão Parlamentar de Inquérito

da pedofilia, que conseguiu a aprovação de leis que protegem

as crianças e os adolescentes e, punem os criminosos que

abusarem destes.

Contudo, é necessário que os pais não abandonem seus

filhos em frente a um computador, e explique a eles o que é

correto e o que é errado entre pessoas de faixas etárias

diferentes, pois uma criança bem informada não dará espaço

para abusos.

Está em discussão uma possível solução para os casos

de pedofilia, a Castração Química, ou seja, um tratamento a

base de hormônios femininos que levariam à diminuição do

desejo sexual. Este tratamento poderia ser utilizado para

ajudar aqueles que quisessem se livrar do distúrbio que

possuem, e que muitas vezes os fazem sofrer.

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133

CAPÍTULO V:

PEDOFILIA: OS DOIS LADOS DO

TRAUMA

Caio Fábio Camargo

Gislaine Kremer do Couto

Jéssica Rodrigues Cardoso

Simone Cristina de Sá278

RESUMO

Os pedófilos podem apresentar transtorno de personalidade,

de conduta, orgânicos ou psicóticos, sendo estes atos

avaliados a todo o momento por especialistas de todas as

áreas - criminais, terapêuticas e médicas - para que juntos

possam chegar a um consenso do que provoca esses distúrbios

e de que forma devem ser tratados.

Palavras-chave: Pedofilia. Abuso sexual. Transtornos. Vítimas.

278 Acadêmicos do 8º período do Curso de Direito da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná – Campus Maringá

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1 INTRODUÇÃO

A sociedade deve ser estudada para que se possa

acompanhar seu desenvolvimento e modificações, e garantir o

aperfeiçoamento das leis partindo desses estudos. Tendo em

vista essa necessidade de entender o todo para resolver os

problemas, chega-se a conclusão que só após entender a mente

do pedófilo, ou os transtornos causados em seu organismo, é

que se pode partir para a tentativa de solucionar este

problema, que afeta cada vez mais a sociedade.

Para facilitar o desenvolvimento deste artigo, procurou-

se entender a vida do pedófilo desde a infância, seus traumas

psicológicos, físicos e dramas que enfrentou após a descoberta

de seu desvio de conduta e, até as justificativas encontradas,

algumas que partiram de uma convicção de estarem praticando

um ato bom e, outras, usadas como subterfúgios para encobrir

sua culpa e evitar maiores sofrimentos no tocante aos seus

atos.

Com a pesquisa, tem-se a intenção de delinear uma

breve análise do perfil do pedófilo, a fim de definir o que vem

a provocar esses distúrbios para que a lei possa criar normas

para tratar e evitar a incidência dos mesmos.

Ademais, diante da grande mobilização da sociedade no

sentido de evitar que esses atos venham a se repetir, foi

instaurada uma CPI da pedofilia a qual, buscar-se-á também

realizar a análise neste artigo.

2 PEDOFILIA

2.1 CONCEITO E CONSIDERAÇÕES GERAIS

Considerada como uma perversão, a pedofilia é

basicamente a atração de adultos por crianças pré-púberes, ou

seja, crianças com idade inferior a 12 anos. Segundo

estatísticas realizadas sobre o tema pedofilia, a maior parte

dos agressores são homens. Os pedófilos, na maioria das

vezes, são pessoas conhecidas das vítimas e até mesmo dos

pais da criança, podendo ser um vizinho, um amigo, ou até

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135

mesmo um parente, onde, grande parte dos casos conhecidos e

relatados são de abusadores da própria família, inclusive o pai

da criança (nesses casos é considerado como incesto) 279.

Com relação ao perfil psicológico do pedófilo, via de

regra, ele possui dupla personalidade; se constitui,

basicamente de homens adultos entre trinta e setenta anos,

casados, os quais podem até ter filhos e ainda estar, de certa

forma, “acima de qualquer suspeita”, ou seja, ao contrário do

que muitos pensam, nem sempre são homossexuais. Portanto,

um comportamento um pouco estranho se comparado à

personalidade de uma pessoa normal. Mas é claro que nada

justifica um ato de tamanha crueldade diante da sociedade,

sendo um crime inadmissível280.

Outra característica interessante e repugnante dessas

pessoas, é que embora muitos acreditem que não estão fazendo

mal para a criança, querem garantir que a vítima não irá contar

para os seus pais ou para quem quer que seja, tentando, em

alguns momentos, molestar ou comprar as crianças dando-lhes,

doces e brinquedos ou dinheiro281.

O abuso, na maior parte das vezes, perdura até que a

vítima consiga se libertar deles ao atingir sua fase adulta, mas

mesmo assim lhes trazem muitos danos os quais causarão

conseqüências psicológicas sérias, quase que irreversíveis,

podendo causar ilusão à criança no sentido de que ela pode

confundir a realidade com o que é mera ficção psicológica282.

279 VIAGEM A UMA MENTE DOENTE. Disponível em:

<http://wwwto.blogs.sapo.pt/45150.html> Acesso em: 16 ago 2008. 280 MIRACELLY, Karenine. Agressor é lobo em pele de cordeiro .

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<http://www.folhadaregiao.com.br/hotsites/abusose xual/reportagem6.htm

l> Acesso em: 16 ago 2008. 281 COSTA, Fernando Gomes da. Abuso sexual infantil (pedofilia) .

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Acesso em: 16 ago 2008.

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136

A pedofilia em si é uma anomalia da sexualidade do

indivíduo, e de acordo com o CID 10, é caracterizada como

transtorno, um desvio psicológico, onde a preferência sexual

do indivíduo se desvirtua do caminho natural, passando a

sentir interesse por crianças que podem ser tanto do sexo

masculino quanto feminino283. Portanto, o portador do

transtorno da pedofilia é considerado um doente e não um

criminoso passível de pena284.

2.2 SOLUÇÕES DA MEDICINA

A medicina legal tem estudado uma forma de inibir a

atuação desses doentes, que é a chamada castração química,

que consiste em um tratamento com uso de inibidores de

libido, para o qual seria aplicado nos pedófilos, injeções de

antiandrógeno, que têm a função de inibir a produção de

testosterona nos testículos do indivíduo, o que causaria a

perda da agressividade, e conseqüentemente diminuiriam os

ataques sexuais285.

Embora os estudos ainda estejam em andamento, há

profissionais que admitem que já fizeram uso desses métodos,

como é o caso do professor de psiquiatria da Faculdade de

Medicina do ABC (Grande São Paulo), e doutor da USP,

Danilo Baltieri, que chegou a declarar ao jornal “Estado do

Paraná”, que em casos de consentimento por escrito da

família, ele fazia uso de tratamentos com hormônios, e o

procedia sob o seguinte argumento:“Tenho de fazer isso para

283 ROLIM, Marcos. Pedofilia: até onde está o crime? Disponível em:

<http://www.rolim.com.br/2002/modules.php?name=News&file=print&s i

d=234> Acesso em: 16 ago 2008. 284 FELD, Eduardo. Pedofilia: crime, pecado e doença . Disponível em:

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Acesso em: 16 ago 2008. 285 CASTRAÇÃO QUÍMICA É TEMA DE PESQUISA E PROJETO DE

LEI. Disponível em:

<http://www.maracaju.news.com.br/SAUDE/view.htm?id=98860&ca_id=

25> Acesso em: 16 ago 2008.

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137

evitar que os pacientes voltem a fazer sexo com crianças” 286.

Essa decisão resultou em muitas criticas e discussões sobre

esse tipo de procedimento, tendo em vista que o mesmo ainda

não possui uma regulamentação legal287.

As soluções apresentadas pela medicina e sua efetiva

aplicação em outros paises, como a França, impulsionou o

deputado federal, Mendonça Prado, a apresentação de um

projeto de lei que abarcasse esses métodos, no qual fazia uso

dos seguintes argumentos para a defesa do mesmo288:

Entendo que esse crime hediondo, deve ser

repelido e punido com toda a energia do

direito. Assim, gostaria de modernizar a

penalidade, objetivando rechaçar

categoricamente o delito. Estuprador é um

cafajeste, canalha, que deve ser punido sem

clemência289.

Porém, seu ímpeto de renovação do ordenamento não

chegou muito longe, sendo barrado pela consultoria jurídica da

Câmara dos Deputados, tendo em vista a colisão com as

normas constitucionais que impedem a instituição de pena

cruel no país290. A pedofilia, ainda é algo que intriga os ramos

da Medicina, da Psicologia e do Direito, pois não se chega a

um resultado preciso e concreto para tratar o problema em

razão da complexidade da mente de um doente como o

pedófilo291.

286 PEDOFILIA: CASTRAÇÃO QUÍMICA COMO SOLUÇÃO. Disponível

em: <http://palavrassussurradas.wordpress.com/2008/04/02/pedofilia -

castracao-quimica-como-solucao/> Acesso em 16 ago 2008. 287 PEDOFILIA: CASTRAÇÃO QUÍMICA COMO SOLUÇÃO. Op. cit. 288 MENDONÇA PRADO PROPÕE CASDATRAÇÃO QUÍMICA PARA

ESTUPRADORES NO BRASIL. Disponível em:

<http://brasilcontraapedofilia.wordpress.com/2007/09/11/mendonca-prado-propoe-

castracao-quimica-para-estupradores-no-brasil/> Acesso em 16 ago 2008. 289 Id. 290 Id. 291 Id.

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138

3 PEDÓFILO

3.1 OS ABUSADORES USUAIS

Médicos e psicólogos afirmam que não é possível

reconhecer um pedófilo no meio da multidão, posto que,

geralmente, são pessoas que estão sempre em convívio com as

crianças.

Os abusadores, podem ser quaisquer pessoas, as quais

tenham a possibilidade de ter um contato maior com as

crianças, sem despertar maiores desconfianças, podendo ser

médicos, professores, babás, colegas de escolas, amigos da

família e vizinhos292. Segundo pesquisa realizada pela

Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), a

partir de dados recolhidos no IML entre os anos de 1994 a

2004, revelou-se que o próprio pai é responsável por 45% dos

casos e, o padrasto, o responsável, por 6% dos abusos; e

quando os abusadores são do exterior da família, em 65% dos

casos o abuso é cometido por uma pessoa conhecida

daquela293. Normalmente, as vítimas são abusadas por um

longo período de tempo, e só denunciam a pessoa envolvida

quando já são adultas.

O jornal The Irish Times, em 1993, trouxe diversas

matérias sobre chamado Kilkenny Incest Case, o caso em que o

pai morava com sua filha em uma fazenda e a violentou

durante 16 anos – dos 11 aos 26 anos – o que resultou na

gravidez de um filho com seu próprio pai, e na perda da visão

de um olho decorrente de agressões praticadas pelo mesmo 294.

Em São Paulo, há relatos de um caso em que o pai

confessou ter engravidado a própria filha de apenas 13 anos,

292 ABUSO SEXUAL MITOS E REALIDADE. Disponível em:

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139

tendo sido o mesmo preso pela Polícia Militar após esta ter

recebido a denúncia da mãe295.

No tocante aos clientes das produções de filmes e fotos

de crianças sendo violentadas, os maiores índices estão entre

os solteiros, com mais ou menos 40 anos, os quais, geralmente

são profissionais liberais296.

Os homossexuais também têm um destaque muito

grande nos abusos e buscam a normatização legal de suas

atitudes, participando de organizações mundiais com esse fim.

No entanto, se faz necessário deixar claro que essas ligações

afetivas entre pedofilia e homossexualismo não são

conseqüentes, ou seja, nem todo homossexual é pedófilo ou

vice-versa, apesar dessas práticas estarem, por várias vezes,

intimamente ligadas297.

3.2 TRANSTORNOS

Os pedófilos podem apresentar transtorno de

personalidade, de conduta, orgânicos ou psicóticos 298. Os

transtornos de personalidade decorrem de uma falha provocada

durante o desenvolvimento da sexualidade dos pedófilos, que

mesmo depois de adultos, buscam o prazer na figura ingênua e

passiva de uma criança, sem conseguir se satisfazer com um

indivíduo que não possua essas características299. Sua

sexualidade é caracterizada como infantil e desenvolvida, na

295 HOMEM CONFESSA NA TEVÊ TER ENGRAVIDADO FILHA DE 13 ANOS.

Disponível em: <www.oglobo.com> Acesso em: 16 ago 2008. 296 CAMPANHA MS CONTRA A PEDOFILIA. Disponível em:

<http://www.mscontraapedofilia.ufms.br/> Acesso em: 16 ago 2008. 297 YOURK, Frank; KNIGHT, Robert H. Comportamento homossexual

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em: 16 ago 2008. 298 BARBOSA, Hélia. Perspectiva familiar, social e econômica .

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Acesso em: 16 ago 2008. 299 FONTES, Leandro. Crime sem castigo. Cartacapital. Ano XIV. n.

488. 26 mar 2008.

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140

maioria das vezes, como jogos infantis, sem necessariamente

ocorrer o ato sexual com penetração300. Há vários estudos que

apontam que crianças que sofreram abusos, quando adultos,

passaram a ser abusadores, devido a sua sexualidade e

fantasias sexuais terem sido desenvolvidas precocemente;

ficam, assim, presas a prática sexual infantil, mesmo após

atingirem a vida adulta301.

Há vários fatores ligados ao relacionamento do

pedófilo, que no decorrer de sua vida tornam-se determinantes

no seu desvio de conduta, como a dificuldade de

relacionamento social e interpessoal, a impulsividade,

dificuldades acadêmicas, violência na família, bullying na

escola (que seriam atos de violência física ou psíquica com

intuito de agredir ou intimidar o indivíduo)302.

Crianças que viveram em um ambiente familiar sem

estrutura, promíscuo, e que foram vítimas de violência e

autoritarismo, também podem se tornar futuros abusadores,

por não saberem a forma adequada de tratar as pessoas, não

conseguindo discernir o certo do errado 303.

Alguns homens buscam a realização dos seus desejos

em crianças, por não conseguirem ter um relacionamento

adequado com adultos, com os quais se sentem inibidos,

inseguros na relação sexual ou até frustrados e, em

decorrência desses fatores, acabam por encontrar nas crianças

a confiança, pelo poder de controle que exercem sobre elas,

pelo medo provocado ou pela própria vergonha de se

manifestarem e reclamarem de suas atitudes304. Essas

características são dos pedófilos abusadores.

Contudo, há uma outra categoria de pedófilos,

conhecidos como molestadores, os quais são perversos, tem

total consciência do mal que causam as suas vítimas, se

utilizam de instrumentos de tortura, violência e a intensidade

300 ABUSO SEXUAL MITOS E REALIDADE, op. cit. 301 Id. 302 MONSTRO OU DOENTE? Psique ciência&vida . p. 37. 303 Ibid., p. 35. 304 FELIPE, Jane. Afinal quem é mesmo pedófilo? Disponível em:

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141

de suas agressões tendem a aumentar e ter uma freqüência

cada vez maior e, em geral, não se arrependem de suas

atitudes.

Cabe ressaltar que, os abusadores em função das suas

atitudes, desencadeiam problemas de depressão, alcoolismo,

sofrimento e debilidade no âmbito social. Por outro lado os

molestadores, não possuem qualquer remorso e suas condutas

podem ser despertadas por alcoolismo, drogas, situações de

estresse, sensação de abandono, rejeição, retardo mental, entre

outros305.

Alguns indivíduos possuem desejos incontroláveis,

fantasias e manifestações incomuns que são geralmente

acompanhadas de outros transtornos como:

a) travestismo fetichista (heterosexual que

para obter maior satisfação sexual vestem

roupas femininas durante suas relações);

b) fetichismo (uso de objetos inanimados

durante a relação sexual);

c) voyerismo (observação de pessoas

despindo-se ou em relação sexual sem o

consentimento, seguido de masturbação);

d) exibicionismo (heterosexual que expõe

sua genitália à estranhos);

e) sadomasoquismo (a realização sexual

diante de sofrimento, dor ou humilhação sua

ou da vítima);

f) zoofilia (atração por animais);

g) necrofilia (atração por cadáveres); e

frotteorismo (tocar ou esfregar-se em uma

pessoa sem seu consentimento)306.

Dentre várias possibilidades estão as diferenças nos

próprios organismos dos pedófilos. Para alguns estudiosos da

área médica, o nível elevado de hormônios masculinos

androgênicos, seriam os responsáveis pelo aumento da

agressividade, como a testosterona; para outros, a menor

305 MONSTRO OU DOENTE. op. cit. p. 35. 306 Ibid., p. 37.

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quantidade de substância branca no cérebro acarretaria a

desconexão de algumas partes cerebrais que se relacionam

com a sexualidade, impossibilitando o discernimento entre

objetos apropriados ou não307.

Segundo relatos de um neurologista da Universidade de

Virginia, um homem de 40 anos, após desenvolver um tumor

cerebral, apresentou obsessão por crianças e somente após a

retirada do mesmo é que esse distúrbio comportamental

desapareceu308.

Para Antonio de Pádua Serafim, os estímulos externos,

são responsáveis pelos estímulos cerebrais, sendo assim, o

cérebro só se desenvolve nas partes estimuladas no decorrer da

vida309.

Muitas são as tentativas de encontrar os transtornos que

causam esse tipo de atitude, tão lastimável, porém, nenhuma

delas pode ser tida como precisa.

3.3 JUSTIFICATIVAS

A história de violência sexual contra crianças está longe

de ser um mal do século XXI. Analisando os costumes de

povos antigos como os Incas, vê-se que estes primavam pela

raça pura, e por meio de casamentos entre irmãos mantiveram

seus costumes por 14 gerações310; entre os gregos e romanos

era como comum à prática sexual com crianças e, ainda, a

utilização pelos “marquesans” na Polinésia, de crianças em

rituais sexuais, demonstra que, nem sempre, o incesto ou

abuso sexual, na história da humanidade, foi visto como um

ultraje ao pudor311.

307 Ibid., p. 38. 308 VIEIRA, Tereza Rodrigues. Pedofilia atentado contra a dignidade da

criança. Revista Jurídica Consulex . Ano VIII. n. 187. 31 out 2004. 309 MONSTRO OU DOENTE. op. cit. p. 37. 310 VIEIRA, Tereza Rodrigues. op. cit. 311 CAPELETTO, Raquel Emília. Pedofilia no Brasil – doença ou

crime. 2005. p. 8.

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143

Para os habitantes da ilha de Pitcairn, a prática de sexo

com crianças é considerado um fato natural, inerente aos

costumes sem ter nenhuma relação com violência 312.

Baseados em fatos históricos e culturais, foi que muitas

organizações, visando à legitimação da pedofilia, foram

criadas no mundo todo, estando dentre elas o grupo “Enclave

Kring” criado em 1950 pelo neozelandês Frits Bernard; outras

organizações, também de origem neozelandesa, são os grupos

MARTIJM e NVSH. Há ainda o grupo dinamarquês DPA, o

inglês PIE, o americano NAMBLA e o alemão KRUMME 13 313, todos defensores de que haja permissão legal para a prática

da pedofilia.

Essas organizações são formadas por ativistas

homossexuais que caminham o mundo defendendo suas idéias,

defendendo a abolição de idades estipuladas em lei para a

prática do sexo e que as crianças devem ter o direito de

escolherem se desejam entrar em uma relação sexual precoce e

aprender com esses relacionamentos e, ainda, que o incesto é a

melhor maneira para essa iniciação, pois a criança se sentiria

mais confortável, na relação com os pais 314.

O Instituto Internacional dos Homofílicos (organização

homossexual que produz biografias homossexuais e materiais

eróticos) em 1982, apoiou a idade de consenso para o início da

sexualidade, sendo para as meninas na primeira menstruação e,

meninos, na primeira ejaculação315.

Os defensores da pedofilia justificam que a não

liberação é fruto de constrangimento sofrido por crianças

vindas de uma sociedade patriarcal. Para eles, isso não passa

de opressão, afirmando que as crianças são ensinadas mentiras

destrutivas a respeito de sexo e que elas merecem expressar o

que desejam, pois as mesmas são naturalmente sexuais, sendo

a defesa desses direitos a mais alta prova de amor. Dessa

312 VIEIRA, Tereza Rodrigues. op. cit. 313 PEDOFILIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedofilia>

Acesso em: 17 ago 2008. 314 PEDOFILIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedofilia>

Acesso em: 17 ago 2008. 315 YOURK, Frank; KNIGHT, Robert H. op. cit.

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144

forma, a pedofilia não deve ser vista como um desvio sexual,

mas como uma orientação; alegam que as crianças desejam

isso, que pedem por que tem curiosidade, que isso não é um

desejo só do adulto. Essas pessoas acreditam que eles estão

sendo muito melhores para as crianças que os pais, e que os

mesmos deveriam ficar tranqüilos nos casos de atração sexual,

o qual não estaria produzindo nenhum dano316.

Para os defensores, não cabe a sociedade definir o que a

criança deve desejar, dizendo que a erotização está evidente,

em propagandas, músicas e programas de televisão, e que as

crianças já procuram ser desejadas imitando cantores e atrizes

que são símbolos sexuais (procurando parecem com elas), e

porque não se falar em intimidade, amizade, respeito,

admiração, carinho, atenção, compartilhamento, paixão e amor

nessas relações317.

Fora do contexto dos homossexuais, o incesto para

alguns pais é encarado como algo normal, que o pai, por ser o

chefe da família, tem direito sobre as “crias” como se fossem

suas propriedades318. Outros colocam a culpa toda nas

crianças, dizem que elas que provocam, ou ainda, que elas

gostam, que eles não estão fazendo mal algum a elas. Esse tipo

de argumento é utilizado, muitas vezes, como subterfúgio para

diminuir a culpa que eles mesmos sentem após a prática.

Nesse sentido, relata-se a história de um pedófilo. A

seguir: A juventude precisa discutir mais sobre

pedofilia, escreveu Brian Oliver, Ph.D em

Criminologia e Justiça Penal pela

Universidade de Missouri, em seu artigo

“Pensamentos para combater a pedofilia em

316 SEVERO, Julio. Padres, pedofilia e homossexualismo : a verdade que

ainda não saiu do armário. Disponível em

<juliosevero.blogspot.com/2006/04/padres-pedofilia-e-

homossexualismo.html> Acesso em: 17 ago 2008. 317 LOPES, Denílson. Amando garotos: pedofilia e a intolerância

contemporânea. Disponível em:

<http://www.paroutudo.com/colunas/denilson/041208_denilson_amandog

arotos_22.htm> Acesso em 17 ago 2008. 318 FELIPE, Jane. op. cit. p. 211.

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145

adolescentes não criminosos”, endereçado ao

editor da revista Archives of Sexual

Behavior, em 2005. No texto Oliver diz não

saber por que virou pedófilo. Entre as

possíveis causas, estão baixa auto-estima,

bullying na escola (atos de violência física

ou psicológicas intencionais e repetitivos

praticado por um grupo ou indivíduo, com o

objetivo de intimidar ou agredir outro,

incapaz de se defender) e o fato de quase não

ter amigos.

“Comecei a me masturbar freqüentemente

como mecanismo de fuga. Fantasiava

pensando em um garoto de 6 anos que

morava na rua atrás da minha. Não estou

certo porque minhas fantasias era ligadas a

ele, mas acredito que era por ser a pessoa

menos ameaçadora que eu conhecia. Apesar

de eu ter 12 anos, não tinha a menor noção

de que havia qualquer coisa errada em me

sentir atraído sexualmente por um menino. A

masturbação fazia bem, era tudo que

importava”, escreve.

Com o desenrolar da puberdade o problema

se agravou e fez com que Brian Oliver

suspeitasse que era gay. Aos 15, percebeu

que era diferente de outros homossexuais.

“Eu me sentia sexualmente atraído por

meninos bem mais jovens que eu. Depois de

verificar que meu comportamento

enquadrava-se em um termo utilizado em um

livro do ensino médio, percebi que, de fato,

era um pedófilo”, lembra. Depois da

constatação Oliver ficou aflito por não

conseguir mais por fim às fantasias. “Queria

desesperadamente ajuda, porém não tinha

idéia de onde ir para conseguir auxíl io”,

conta. Procurou a professora de educação

sexual da escola – o que não ajudou muito.

“A reação inicial dela foi de total

atordoamento. Assim como a maioria dos

adultos da época (1986), ela não sabia o que

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146

fazer com a ‘confissão’. Recomendou a

minha mãe que eu passasse a freqüentar a

Growing American Youth, que oferece

suporte a adolescentes gays e lésbicas,

porém esta orientação não me ensinou como

poderia viver sem molestar crianças”, diz.

Entretanto, a parte mais efetiva do

tratamento, segundo Oliver, foi a criação de

empatia pelas vítimas e a compreensão da

dor que havia causado. Para ele, o

adolescente de hoje tem mais chances de se

recuperar devido à Internet e a maior

abertura sexual, mas ainda é necessário

investir em informação. “Existem centenas

de panfletos e livros disponíveis que falam

sobre vício em drogas, alcoolismo, divórcio,

depressão, orientação sexual, porém não há

praticamente fontes para quem luta contra a

pedofilia. Tê-las disponíveis daria a estes

jovens a certeza de que não são ruins por

terem pensamentos sexuais não-apropriados,

que o contato sexual com as crianças não é

legal, que há ajuda disponível e que não é

bom manter o problema em segredo” 319.

Como se pode notar no depoimento retro, os argumentos

dos pedófilos nem sempre são direcionados a permissão da

prática, mas também a criação de meios e tratamentos

adequados aos que lutam contra ela.

4 VÍTIMAS

4.1 QUEM SÃO AS VÍTIMAS

As vítimas são as crianças entre 0 e 18 anos, porém as

mais atingidas são as meninas320. Hoje em dia, o número de

319 MONSTRO OU DOENTE. op. cit. p. 39. 320 SALTER, Anna. O que é a pedofilia . Disponível em:

<http://agostinhocosta.blogspot.com/2007/11/o -que-pedofilia.html>

Acesso em 17 ago 2008.

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147

meninos agredidos também cresceu muito e a faixa etária

atingida pelos pedófilos também diminuiu, havendo possíveis

casos de bebês de 30 dias que se tornaram alvos de

pedófilos321.

Segundo os dados do Centro Regional de Atenção aos

Maus-Tratos na Infância de Campinas, SP, afirma-se acerca da

matéria que:

Estimam que, 1251 crianças atendidas no

Instituto Médico Legal de Campinas, foram

vítimas de abuso sexual 67,3% entre 7 e 14

anos; 31,7% entre 2 e 7 anos e 1% abaixo de

2 anos de idade; 14,4% dos adolescentes

atendidos no Serviço de Assistência Integral

a Adolescência (SAIA) de São Paulo

demonstraram ter sido alvo de vitimização

sexual; estudo no ABC paulista registrou que

90% das gestações em jovens com até 14

anos foram fruto de incesto, sendo o autor na

sua maioria o pai, o tio ou o padastro.

Em cada 100 denúncias de maus-tratos

contra a criança e o adolescente feitas à

ABRAPIA, 9 são de abuso sexual. A vítima é

do sexo feminino em 80% dos casos, sendo

que 49% tem entre 2 e 5 anos e 33% entre 6

e 10 anos.

Pesquisas nos EUA indicam que:

1 criança é sexualmente abusada a cada 4

segundos.

1 em cada 3 garotas e 1 em cada 4 garotos

são abusados sexualmente antes dos 18 anos.

90% das vítimas são abusadas por pessoas

que elas conhecem, confiam e amam.

Somente 1 em 4 garotas e 1 em

cada 100 garotos tem o abuso sexual sofrido

denunciado.

321 GOMES, Vagner. CPI da Pedofilia determina prisão de dois

suspeitos. Disponível em:

<http://oglobo.globo.com/sp/mat/2008/06/12/cpi_da_pedofilia_determina

_prisao_de_dois_suspeitos-546780396.asp> Acesso em: 17 ago 2008.

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148

50% das vítimas se tornam abusadores.

Durante uma vida, um pedófilo ativo em

média abusa de 260 crianças ou

adolescentes.

Apesar das diferenças sexuais e econômicas,

da maior ou menor sensibilização,

informação e mobilização da sociedade para

o tema (e para denunciar), na maior ou

menor eficiência e eficácia das ações

governamentais e não governamentais,

visando a proteção das vítimas e a punição

dos agressores, é possível afirmar que a

situação no Brasil não difere das outras

sociedades ocidentais.

Outras pesquisas feitas nos EUA demonstram

que 1% da população infanto-juvenil

americana é vítima de violência doméstica

todos os anos e que cerca de 10% das

denúncias correspondem a abuso sexual, por

analogia, podemos afirmar que: no Brasil,

165 crianças ou adolescentes sofrem abuso

sexual por dia ou 7 a cada hora322.

As crianças que sofrem o abuso geralmente têm medo

de denunciar seus abusadores, podem sentir culpa ou vergonha

entre outros fatores que levam a criança a não denunciar, até

mesmo porque, quando acontece dentro de casa, por incrível

que pareça, a família, muitas vezes, duvida da criança, e não

acredita tendo que chegar ao ponto de ver o que ocorre para

acreditar323.

Alguns depoimentos das vítimas:

O banho me faz sentir mais aliviada, tenho

nojo toda vez que me lembro do que

aconteceu. (A. 17 anos).

Por que foi comigo que aconteceu isso?

Minha mãe sabia e não fez nada para me

proteger, chegou até a me bater quando eu

322 ABUSO SEXUAL MITOS E REALIDADE, op. cit. 323 Id.

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disse o que ele fazia comigo. Me sinto muito

sozinha. (A. 17 anos).

Mamãe, eu tenho uma coisa nojenta para te

falar. O papai mandou eu pegar no piru dele.

(C. 4 anos).

Meu pai é um doente. É como se ele fosse

dependente de drogas. Ele abusou da minha

irmã e vai continuar abusando de outras. (P.

18 anos, irmão de uma menina abusada

sexualmente pelo pai)324.

Em face dessa descrença da família é que, em boa parte

dos casos, as vítimas acabam sendo abusadas por um longo

período de tempo, somente vindo a relatar tais atos, quando já

se encontram na vida adulta e com grandes traumas que as

perseguirão pela vida toda.

4.2 TIPOS DE ABUSOS

Atualmente existem diversos casos em que o sinônimo

do abuso sexual cometido com crianças é a pedofilia, dentre

esses casos, os mais comuns são a nível familiar, comunitário

e internacional.

Cabe ressaltar que o abuso pode ser definido como uma

situação em que uma criança ou adolescente é usado para:

Gratificação sexual de um adulto ou mesmo

de um adolescente mais velho, baseada em

uma situação de poder, que inclui desde

carícias, manipulação da genitália, mama,

ânus, o voyeurismo, o exibicionismo, e até o

ato sexual (com ou sem penetração, com ou

sem violência)325.

324 Id. 325 KOSHIMA, Karin. Violência sexual contra crianças e adolescentes:

Danos Secundários, Caminhos.br, Disponível em

<http://www.caminhos.ufms.br/publicacoes/view.htm?a=1133>. Acesso

em 04 set .2008. p. 3.

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150

Diante do exposto, constata-se que são varias as

maneiras de agressões utilizadas contras as crianças, não

sendo necessário a conjunção canal para que seja considerado

um ato de pedofilia.

4.3 CONSEQÜÊNCIAS NAS VÍTIMAS DOS

PEDÓFILOS

Indubitavelmente, existem conseqüências nas vítimas de

pedofilia que perduram ao longo de suas vidas.

Seqüelas que podem ser vistas pelas atitudes das

vítimas, já que uma vez não foram tratadas. A maioria das

seqüelas é psicológica, assim, os prejuízos físicos

conseqüentes do abuso sexual, são muito raros. O que se deve

considerar é que cada tipo de conseqüência sucede do tipo de

abuso sofrido, bem como da intensidade deste e também da

personalidade de cada vítima326.

Pelos fatores psicológicos, a criança que sofreu abuso

poderá desenvolver transtornos como: dificuldades de

socialização, dificuldade de aprendizagem327, aversão ao sexo

oposto, sentimentos de traição, desconfiança, sensação de

vergonha, culpa, auto-desvalorização e baixa auto-estima328.

Porém a Dr. Olga Tessari afirma que se a criança for

acompanhada psicologicamente, terá condições de ter uma

vida social e sexual normal; ela diz que a criança pode ir

superando o trauma e se desvinculando das lembranças do

passado329.

326 CONSEQÜÊNCIAS PSICOFÍSICAS DO ABUSO SEXUAL NA

CRIANÇA. Disponível em:

<http://luxuriante.wordpress.com/2008/02/14/blogagem-coletiva-contra-

a-pedofilia/> Acesso em: 15 set 2008. 327 Cf. BERTOLINO, Pedro. A pedofilia e suas conseqüências. Disponível

em: <http://existencialismosartreano.blogspot.com/2008/ 08/pedofilia-e-

suas-conseqncias.html> Acesso em: 15 set 2008. 328 Cf. CONSEQÜÊNCIAS PSICOFÍSICAS DO ABUSO SEXUAL NA

CRIANÇA. op. cit. 329 Cf. PEDOFILIA AGRIDE SER HUMANO. Disponível em:

<http://ajudaemocional.tripod.com/rep/id103.html> Acesso em: 15 set

2008.

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151

5 ENFOQUE CONTEMPORÂNEO SOBRE

PEDOFILIA E O QUE A LEI TRAZ SOBRE O

ASSUNTO

As estatísticas mostram que, só do começo do ano de

2008 até o presente momento, constatou-se 30 mil novos casos

de pedofilia330.

O que a lei diz sobre esses casos é que seria um estupro

(art. 213 do Código Penal) ou atentado violento ao pudor (art.

214 do Código Penal) e, no art. 241 do Estatuto da Criança e

do Adolescente (ECA), dispõe que é crime a divulgação de

fotos pornográficas de crianças, cabendo por analogia, as

mesmas sansões, para exposição das mesmas na internet.

Entretanto, a maioria dos agressores ou aqueles que

comercializam materiais de pornografia infantil, acabam por

não serem presos, pelo fato de haver uma lacuna no

ordenamento jurídico que não considera a pedofilia um crime,

(como pode ser visto nas tabelas abaixo).

Leis que protegem a criança e o adolescente:

Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988

Art. 277. É dever da família, da sociedade e

do Estado assegurar à criança e ao

adolescente, com absoluta prioridade, o

direito à vida, à saúde, à alimentação, à

educação, ao lazer, à profissionalização, à

cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade

e à convivência familiar e comunitária, além

de colocá-los a salvo de toda forma de

negligência, discriminação, exploração,

violência, crueldade e opressão.

§ 4º - A lei punirá severamente o abuso, a

violência e a exploração sexual da criança e

do adolescente.

330 Cf. CPI. Jornal hoje . Disponível em:

<http://video.globo.com/Videos/Player/Notic ias/0,,GIM850834-7823-

CHAMADA+JORNAL+HOJE,00.html> Acesso em 17 ago 2008.

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152

Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção

integral à criança e ao adolescente.

Art. 4º É dever da família, da comunidade,

da sociedade em geral e do poder público

assegurar, com absoluta prioridade, a

efetivação dos direitos referentes à vida, à

saúde, à alimentação, à educação, ao esporte,

ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, à liberdade e à

convivência familiar e comunitária.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será

objeto de qualquer forma de negligência,

discriminação, exploração, violência,

crueldade e opressão, punido na forma da lei

qualquer atentado, por ação ou omissão, aos

seus direitos fundamentais.

Art. 240. Produzir ou dirigir representação

teatral, televisiva, cinematográfica, atividade

fotográfica ou qualquer outro meio visual,

utilizando-se de criança ou adolescente em

cena pornográfica de sexo explícito ou

vexatória. (Mudanças introduzidas em 2003

pela Lei nº 10.764).

Art. 241. Apresentar, produzir, vender,

fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer

meio de comunicação, inclusive rede

mundial de computadores ou internet,

fotografias ou imagens com pornografia ou

cenas de sexo explícito envolvendo criança

ou adolescente.

Art. 244-A. A submeter criança ou

adolescente à prostituição ou à exploração

sexual. (Artigo acrescentado pela Lei nº

9.975/00.

Lei nº 8.072 de 25 de Julho de 1990

Dispõe sobre crimes hediondos

Art. 1º São considerados hediondos os

crimes

V – estupro

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153

Código Penal

Art. 61. São circunstâncias que sempre

agravam a pena, quando não constituem ou

qualificam o crime:

h) contra criança, velho, enfermo ou mulher

grávida. (Redação determinada pela lei nº

9.318 de Dezembro de 1996).

Porém, segundo o Dr. Michael de Andrade (Presidente

da Comissão de Direito Eletrônico da OAB-MS), a pedofilia já

está inserida no rol de crimes hediondos, por isso alguns

abusadores tentam se esquivar de seus desejos para não serem

presos, porque, como sabemos, os próprios presos abominam

esse tipo de conduta e fariam a “justiça dos internos” 331.

Pesquisas também mostram que, o Brasil, está em

primeiro lugar no ranking dos países com maior índice de

pornografia infantil na internet. Por este motivo, é que se há

de considerar que o Brasil não possui estrutura, ainda, para o

combate a pedofilia e a investigação de pornografia infantil

pela internet.

Segundo a advogada Ana Maria Rota, o portal que

pretendia combater esses crimes pela internet, após três meses,

teve de ser fechado por falta de compromisso do governo que

não manteve os 160 mil reais anuais para o funcionamento 332.

Dentro do círculo de pornografia na internet, o site de

relacionamentos ORKUT lidera com 90% de denúncias feitas

ao Safernet (ONG que promove e defende os direitos humanos

na internet brasileira) e, destas, 39,65% são de pornografia

infantil. Calcula-se que, mais de 40 mil imagens de crianças e

331 PROJETOS CONTRA PEDOFILIA NA INTERNET E CÓDIGO PARA

“LAN HOUSES” SÃO ENTREGUES À CÂMARA DA CAPITAL

PELA CODE-OAB/MS. Disponível em:

<http://brasilcontraapedofilia.wordpress.com/2007/09/06/projetos -contra-

pedofilia-na-internet-e-codigo-para-%E2%80%9Clan-

houses%E2%80%9D-sao-entregues-a-camara-da-capital-pela-code-

oabms/> Acesso em: 17 ago 2008. 332 PEDOFILIA NA INTERNET NO BRASIL. Disponível em:

<http://www.safernet.org.br/twiki/bin/view/SaferNet/Noticia2006030820

5944> Acesso em: 17 ago 2008.

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154

pedófilos foram divulgadas desde o começo deste ano, no

site333.

Devido ao número crescente de abusos de crianças, em

2008, o Congresso instalou uma CPI, cujo presidente é o

Senador Magno Malta, que procura investigar os abusadores e

crime organizado (redes de pedofilia na internet).

Também com essa CPI, busca-se preencher a lacuna

deixada pelas leis com uma pena mais severa para os

abusadores e a tipificação de pedofilia como crime e, ainda,

buscar junto a Polícia Federal e Ministério Público a

investigação já realizada para combater a pedofilia no país 334.

A CPI acatou ao pedido do Ministério Público de São

Paulo, para quebrar o sigilo de mais de 3 mil álbuns do site

ORKUT, para a investigação de pedófilos na rede. O site

também deverá desenvolver novas tecnologias para filtrar a

postagem de pornografia infantil e deverá comunicar as

autoridades competentes quando estas forem encontradas 335.

Pelo poder de investigação da CPI, foram presos:

Márcio Aurélio Toledo (pai de santo que mantinha uma rede

de pedofilia na internet e tinha uma sala de bate-papo com o

nome de “incesto” no site da UOL), o qual é apontado como

mentor de uma rede de pedofilia; em conjunto com ele foram

presos David Melero Junior e Valter José Ferreira 336; Lidiane

do Nascimento Foo (acusada de chefiar a suposta rede de

333 ORKUT LIDERA DENÚNCIAS RECEBIDAS POR ONG. Disponível

em:

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20485.shtml >

Acesso em: 17 ago 2008. 334 NACIONAL: CPI DA PEDOFILIA COMEÇOU MAL, CRITICA

ESPECIALISTA. Disponível em:

<http://www.diariopopular.com.br/30_03_08/p34%20e%2035.html >

Acesso em: 17 ago 2008. 335 ROCHA, Murilo; LOPES, Flávia. CPI da pedofilia exige quebra de

sigilo em álbuns do Orkut. Disponível em: <

http://www.safernet.org.br/twiki/bin/view/SaferNet/Noticia200804100615

09> Acesso em: 17 ago 2008. 336 CPI DA PEDOFILIA PRENDE DOIS SUSPEITOS DE PARTICIPAR

DE REDE. Disponível em: <http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/junho -

2008/cpi-da-pedofilia-prende-dois-suspeitos-de-participar-de-rede/>

Acesso em 16 set 2008.

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155

pedofilia em Roraima), Givanildo Santos Castro (marido de

Lidiane) e Bárbara do Nascimento Foo (irmã de Lidiane) e

esposa de Raimundo Ferreira Gomes (major da Polícia Militar

que também participava da rede); Luciano Alves de Queiroz

(ex-procurador), Jackson Ferreira (empresário), Hebron Silva

Vilhena (funcionário do TRE)337.

Todos os esforços giram em torno da não divulgação

desses materiais na Internet, procurando suprimir todas as

tentativas que venham fazer apologia a pedofilia.

6 CONCLUSÃO

Em análise de um contesto histórico e social, chega-se a

um quadro cada vez mais preocupante, tendo em vista o

crescente aumento de casos de pedofilia em todo o mundo e

poucos meios eficazes para resolver os problemas causados

por eles.

Enquanto se faz CPIs para procurar os criadores de

redes de pedofilia, se tem esquecido das vítimas que depois de

abusadas não possuem apoio social para voltarem a viver

tranquilamente.

Os pedófilos são os filhos de uma sociedade capitalista,

que deixa para traz os valores sociais e, investem em uma área

altamente rentável financeiramente, para delas se

beneficiarem.

As estatísticas são alarmantes, e o mais triste é saber

que elas não englobam nem a metade dos casos, pois a maioria

das vítimas, fica presa em seus sentimentos de vergonha e

descrença na justiça feita pelo nosso país.

Há vários estudos na área de pedofilia, é verdade,

porém a grande verdade é que na maioria das vezes esses

estudos não são colocados em prática, pois na ânsia de criar

leis para satisfazer o clamor social, aplicam as mesmas penas

para situações tão singulares.

337 ALICIADORA CONFIRMA ESQUEMA E CONFRONTA OS DEMAIS

ACUSADOS. Disponível em:

<http://www.magnomalta.com/site/index.php?option=com_content&t ask=

view&id=154&Itemid=1> Acesso em 16 set 2008.

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156

A busca de soluções, em massa, dos problemas trazidos

pela pedofilia, tornam-se cada vez mais ineficazes, e por sua

vez, aumenta o sofrimento das vítimas e também de seus

agressores, que não tem um apoio psicológico necessário para

o tratamento de transtornos e, nem clínico se o mais indicado.

Os legisladores se esquecem de que os envolvidos são

seres humanos, e como tais complexos demais para serem

analisados superficialmente, que aqueles que não se

preocupam em entender realmente o funcionamento da

sociedade, jamais alcançarão seus anseios e estarão fadados ao

fracasso.

7 REFERÊNCIAS

ABUSO SEXUAL MITOS E REALIDADE. Disponível em:

<http://www.observatoriodainfancia.com.br/> Acesso em: 16

ago 2008.

ABUSO SEXUAL: PAI É O PRINCIPAL AGRESSOR DE

MENORES NO SEIO DA FAMÍLIA. Disponível em:

<http://quiosque.aeiou.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=a

e.stories/10039>. Acesso em 16 ago 2008.

ALICIADORA CONFIRMA ESQUEMA E CONFRONTA OS

DEMAIS ACUSADOS. Disponível em:

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A ORGANIZADORA:

Juliana Rui Fernandes dos

Reis Gonçalves, brasileira,

casada, advogada;

atualmente é professora

universitária da Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná - PUCPR.

Tem experiência na área da

Bioética e do Direito, com

ênfase em Direito de

Família e Sucessões,

Biodireito, Direitos Difusos,

Filosofia Jurídica, Ética na

Advocacia, Sociologia e

Antropologia Jurídica,

Ciência Política e Teoria Geral do Direito.

2003 – 2005: Mestrado em Direito; Universidade

Estadual de Maringá, UEM, Brasil.

Título: O Direito à vida e o direito de um viver melhor

um conflito de direitos fundamentais, Ano de

Obtenção: 2005.

Orientador: Wanderlei de Paula Barreto.

Bolsista da: Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior.

Palavras-chave: vida humana; embriões excedentes;

células-tronco; qualidade de vida; direito à vida.

Grande área: Ciências Sociais Aplicadas / Área:

Direito / Subárea: Direito Privado / Especialidade:

Direito Civil.

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Grande área: Ciências Sociais Aplicadas / Área:

Direito / Subárea: Direito Privado / Especialidade:

Biodireito.

Grande área: Ciências Sociais Aplicadas / Área:

Direito / Subárea: Direito Público.

Setores de atividade: Educação superior.

2006 – 2007: Especialização em Bioética.

na Universidade Estadual de Londrina, UEL, Brasil.

Título: Uma visão bioética das pesquisas com células-

tronco.

Orientador: Dr. Lourenço Zancanaro.

2000 – 2000: Especialização em Direito Tributário.

(Carga Horária: 440h); no Instituto de Ciências

Sociais do Paraná - IBEJ Cursos Jurídicos Ltda.

1999 – 1999: Especialização em Direito. (Carga

Horária: 882h); na Escola da Magistratura do Paraná -

Coordenadoria de Maringá.

1998 – 1998: Especialização em Direito. (Carga

Horária: 640h); na Fundação Escola Superior do

Ministério Público do Estado do Paraná.

1994 – 1998: Graduação em Bacharelado em Direito;

na Universidade Estadual de Maringá, UEM, Brasil.

PUBLICOU TAMBÉM: Direito à Vida e Direito a Viver Melhor, Um Conflito de

Direitos Fundamentais, Humanitas Vivens: Sarandi (PR),

2010, 438 p. ISBN: 978-85-61837-23-5

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