civil i - obrigações

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Capítulo I Introdução ao Direito das Obrigações 1) Noções Gerais Em sentido técnico-jurídico significa o vínculo existente entre pessoas, pelo qual uma assume uma prestação em favor da outra. Obrigação = relação jurídica transitória, estabelecendo vínculos jurídicos entre 2 partes diferentes (denominadas credor e devedor, respectivamente) cujo objeto é uma prestação pessoal, positiva ou negativa, garantindo o cumprimento, sob pena de coerção judicial. Caracteres principais de uma obrigação: I – caráter transeunte (não existe obrigação perpétua); II – vínculo jurídico entre as partes; III – caráter patrimonial; IV – prestação positiva ou negativa (conduta de dar, fazer ou não fazer). As relações obrigacionais possuem um núcleo imutável que se consubstanciam na: I – determinabilidade dos sujeitos; II – caráter patrimonial da prestação (objeto) e; III – transitoriedade do vínculo. O objeto da relação obrigacional é a prestação, consistente na coisa a ser entregue (obrigação de dar) ou no fato a ser prestado (obrigação de fazer ou não fazer), importando invariavelmente uma ação ou omissão do devedor. Ou seja, ao dever jurídico especial imposto ao sujeito passivo (devedor) corresponderá um direito subjetivo do sujeito ativo (credor). O débito e a responsabilidade nascem simultaneamente, mas, no mundo fático, temos 2 momentos distintos. Primeiro o direito subjetivo ao crédito que se impõe em face do devedor.; segundo a eventual lesão ao direito subjetivo, gerando o nascimento da pretensão de direito material em face do credor. A pretensão consiste no poder de exigibilidade da prestação, que nasce no momento em que o devedor adota um comportamento diferente do esperado, recusando o cumprimento voluntário da prestação. Aqui se permite que o credor ingresse no patrimônio do devedor ou dos demais responsáveis. O meio de prisão para cumprimento da dívida não é resquício de um direito que incide sobre o corpo do devedor, mas sim um instrumento, o mais grave, que serve para coagir o devedor a

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  • Captulo I

    Introduo ao Direito das Obrigaes

    1) Noes Gerais

    Em sentido tcnico-jurdico significa o vnculo existente entre pessoas, pelo qual uma

    assume uma prestao em favor da outra.

    Obrigao = relao jurdica transitria, estabelecendo vnculos jurdicos entre 2 partes

    diferentes (denominadas credor e devedor, respectivamente) cujo objeto uma prestao pessoal,

    positiva ou negativa, garantindo o cumprimento, sob pena de coero judicial.

    Caracteres principais de uma obrigao:

    I carter transeunte (no existe obrigao perptua);

    II vnculo jurdico entre as partes;

    III carter patrimonial;

    IV prestao positiva ou negativa (conduta de dar, fazer ou no fazer).

    As relaes obrigacionais possuem um ncleo imutvel que se consubstanciam na: I

    determinabilidade dos sujeitos; II carter patrimonial da prestao (objeto) e; III transitoriedade

    do vnculo.

    O objeto da relao obrigacional a prestao, consistente na coisa a ser entregue

    (obrigao de dar) ou no fato a ser prestado (obrigao de fazer ou no fazer), importando

    invariavelmente uma ao ou omisso do devedor. Ou seja, ao dever jurdico especial imposto ao

    sujeito passivo (devedor) corresponder um direito subjetivo do sujeito ativo (credor).

    O dbito e a responsabilidade nascem simultaneamente, mas, no mundo ftico, temos 2

    momentos distintos. Primeiro o direito subjetivo ao crdito que se impe em face do devedor.;

    segundo a eventual leso ao direito subjetivo, gerando o nascimento da pretenso de direito material

    em face do credor. A pretenso consiste no poder de exigibilidade da prestao, que nasce no

    momento em que o devedor adota um comportamento diferente do esperado, recusando o

    cumprimento voluntrio da prestao. Aqui se permite que o credor ingresse no patrimnio do

    devedor ou dos demais responsveis.

    O meio de priso para cumprimento da dvida no resqucio de um direito que incide sobre

    o corpo do devedor, mas sim um instrumento, o mais grave, que serve para coagir o devedor a

  • cumprir com sua obrigao (uma vez que, na priso por dvida de alimentos, aquele que deve mais

    de 3 meses, preso por 1 ms e solto logo aps esse perodo, devendo 4 meses de alimentos.

    Obrigao = dbito + responsabilidade. Esta a chamada obrigao civil, ou perfeita.

    Existem situaes especiais que so as seguintes: I existncia de dvida sem

    responsabilidade; II presena de dvida sem responsabilidade prpria; III responsabilidade sem

    dvida atual.

    Excepcionalmente surgem casos de dbito sem responsabilidade, ou seja, hipteses em que

    a relao obrigacional constitui-se validamente no direito material mas cuja pretenso poder ser

    repelida pelo devedor, como no caso das dvidas prescritas. O dbito ainda existe, mas o juiz declara

    improcedente a ao simplesmente por no haver mais responsabilidade quanto ao seu pagamento.

    Mesmo pensamento a respeito das dvidas de jogo.

    As responsabilidades sem dbito ocorrem quando terceiros prestam cauo real, tornando-

    se garantidores de dbitos alheios. O dbito no do fiador, o fiador somente possui a

    responsabilidade de garantir o pagamento do dbito pelo devedor. O fiador no tem qualquer

    obrigao no plano material a dvida no dele mas possui responsabilidade patrimonial,

    sacrificando seus bens em prol do pagamento da dvida do devedor.

    A responsabilidade sem dvida atual aquela em que o credor percebe efetiva reduo do

    patrimnio do devedor, mesmo antes do transcurso do prazo de vencimento da dvida, podendo se

    socorrer de medidas cautelares hbeis a preservar a solvncia do dbito no prazo indicado.

    O fato de a responsabilidade recair sobre os bens do devedor jamais poder implicar se

    afirmar que se estabelecer uma relao jurdica entre o credor e o patrimnio do devedor, ou entre

    dois patrimnios. As relaes jurdicas se estabelecem entre pessoas. Predomina a concepo

    subjetivista das relaes.

    Evoluo Histrica

    Lex Poetelia Papiria = torna possvel eliminar a sano pessoal, substituindo-a pela

    patrimonialidade da sano ao inadimplemento.

    Substitui-se a noo de vnculo pela ideia de relao obrigacional. O devedor no est mais

    submetido pessoa do credor, mas sim subordinado prestao.

    O avano linear e progressivo da humanizao das obrigaes se afere desde os tempos da

    morte e castigos fsicos ao devedor, passando pela sua escravizao e perda da liberdade at

    alcanar, em um primeiro momento, a expropriao da totalidade de seus bens e, hoje, a limitao

    da execuo a determinados bens do devedor.

  • Alocao no Direito Civil

    O direito das obrigaes disciplina essencialmente as relaes de intercmbio de bens entre

    pessoas e de prestao de servios (obrigaes negociais), a reparao de danos que umas pessoas

    causem a outras (responsabilidade civil geral, ou em sentido estrito) e, no caso de benefcios

    indevidamente auferidos com o aproveitamento de bens ou direitos de outras pessoas, a sua

    devoluo ao respectivo titular (enriquecimento sem causa).

    As relaes de consumo baseadas no cdigo de defesa do consumidor so as mesmas da lei

    de obrigaes. Todavia, nesta os sujeitos so simtricos, ao passo que no CDC os sujeitos so

    assimtricos, necessitando de todo um novo ordenamento que possa priorizar o consumidor frente

    ao poder das industrias.

    A opo legislativa para o Cdigo Civil foi pela unificao das obrigaes civis e

    empresariais, porm com excluso de regulao das relaes consumeristas. Isto significa que que o

    CC de 2002 disciplina as relaes intercivis e interempresariais (entre iguais), mas abdica de cuidar

    das relaes entre consumidores e fornecedores (desiguais), incidindo o CDC (cdigo de defesa do

    consumidor).

    2) Elementos constitutivos das obrigaes

    A relao obrigacional se compe de sujeito ativo e passivo (credor e devedor), prestao e

    vnculo jurdico que propicia a exigibilidade. No compem pois o contedo da obrigao o fato

    jurdico (que em verdade fonte da obrigao, por se tratar de aspecto exterior a ela) e a garantia,

    que ao seu turno, permanece em estado potencial, sequer sendo percebida se a obrigao

    adimplida espontneamente.

    As duas partes da relao obrigacional (ativo/credor e passivo/devedor) constituem o

    elemento subjetivo. A prestao devida em favor de uma delas configura o elemento objetivo. E,

    finalmente, a possibilidade de exigibilidade (inclusive judicial, se preciso) da prestao constitui o

    elemento imaterial, abstrato.

    Elemento Subjetivo (o credor e o devedor)

    Os sujeitos da relao jurdica obrigacional podem ser pessoas naturais ou jurdicas,

    independentemente da capacidade (lembre-se que um absolutamente incapaz poder ser credor de

    obrigao alimentcia), lembrando da necessidade de representao ou assistncia. At mesmo

    aqueles entes despidos de personalidade, como os condomnios edilcios, a massa falida e a

    sociedade de fato. Um condomnio credor da taxa de condomnio mensal e devedor de obrigaes

    trabalhistas para com seus funcionrios.

  • O sujeito da obrigao no precisa ser determinado quando da gnese da relao, porm, no

    mnimo, precisa ser determinvel ao tempo do cumprimento da prestao. o caso do credor de um

    cheque ao portador ou mesmo de uma promessa de recompensa.

    Importante frisar que os sujeitos das obrigaes tambm no precisam ser os mesmos at ser

    extinta a obrigao. No se tratando de obrigao personalssima, relevante registrar a

    possibilidade de substituio do sujeito, como a cesso de crdito, a assuno de dvida, dentre

    outras. J as obrigaes intuito personae no admitem modificao do sujeito, eis que so

    constitudas para vincular aquelas pessoas especificamente, como no exemplo do contrato de

    mandato.

    A necessidade de bipolaridade da relao obrigacional tamanha que, eventualmente,

    confundindo-se os sujeitos da obrigao no mesmo polo, implicar sua extino pelo instituto da

    confuso.

    Elemento objetivo (a prestao)

    Trata-se do componente material, fsico, palpvel, da relao jurdica obrigacional

    O objeto se consubstancia na prestao devida, tendo, sempre, contedo econmico ou

    conversibilidade patrimonial. Considera-se objeto, aqui, a prestao, ou aquilo que deve ser feito,

    prestado ou omitido. o fato que o devedor ou obrigado deve prestar, e, assim, qualquer atividade

    humana, desde que prevista em lei ou determinada no contrato.

    Esse objeto pode ser positivo (dar ou fazer) ou negativo (no fazer) e consiste,

    invariavelmente, em uma conduta humana.

    O objeto da obrigao no se confunde com o objeto da prpria prestao. Tome-se como

    exemplo um contrato de compra e venda de um livro. O objeto da obrigao a prestao, ou seja, a

    conduta do adquirente de pagar o livro e do alienante de entregar o livro. Por outro lado, o objeto da

    prestao do alienante propriamente, o livro. A prestao o objeto imediato da relao

    obrigacional, enquanto a coisa o seu objeto mediato (objeto da prestao).

    A prestao, que objeto da obrigao requer algumas caractersticas;

    I licitude = que no atenta contra a lei;

    II impossibilidade fsica e jurdica = (impossibilidade fsica aquela que vai contra as leis

    naturais ou fsicas. J a jurdica aquela que o ordenamento probe que certos negcios jurdicos

    tenham um objeto especfico, como herana de pessoa viva ou um bem pblico). A impossibilidade

    jurdica deve surgir no momento da constituio da obrigao. Se se tratar de impossibilidade

  • superveniente, no haver nulidade, pois ela poder ser cumprida por outrem, desde que no se trate

    de intuitu personae.

    III determinado = que pode vir a ser no momento da execuo do contrato, sendo ento

    indeterminado originariamente ( a indeterminao absoluta caracteriza a nulidade);

    IV economicidade (patrimonialidade) = surge controvrsia se a prestao deve ter valor

    econmico. Em princpio, no esto disciplinadas no direito das obrigaes aquelas prestaes que

    envolvem deveres de fidelidade, lealdade e respeito dos cnjuges. Mesmo isto exposto, o autor do

    livro acredita que o interesse do credor, seja l qual for a prestao, deve ser protegido, sendo os

    interesses valorados sustentando obrigaes vlidas, pois a caracterstica principal da

    patrimonialidade est mais ligada sano do que prestao propriamente dita.

    Elemento Abstrato ou espiritual (o vnculo jurdico)

    O elemento imaterial e cerne da obrigao o vnculo jurdico estabelecido entre os sujeitos.

    Ele une as partes (credor / devedor) possibilitando a um deles exigir do outro o objeto da prestao,

    sob pena de execuo patrimonial.

    o vnculo jurdico que confere a coercibilidade relao obrigacional.

    Todo vnculo jurdico consubstanciado na sujeio credor/devedor marcado pela

    patrimonialidade chamada de obrigao. O parentesco, por exemplo, um vnculo jurdico mas

    no marcado pela patrimonialidade, no sendo portanto uma obrigao.

    Por fora do vnculo jurdico, destarte, a obrigao importa a sujeio do devedor no sentido

    de que, uma vez no cumprida espontaneamente a prestao correspondente ( ou seja, no

    ocorrendo o cumprimento voluntrio), surgir a pretenso (exigibilidade) e poder o credor exigir

    em juzo o esperado adimplemento.

    Algumas obrigaes por fora de determinao legal no possuem o carter coercitivo

    do vnculo jurdico. So as chamadas obrigaes naturais. Em tais obrigaes, existem sujeito,

    objeto e vnculo, porm este desprovido de coercibilidade, no ensejando a execuo forada pelo

    judicirio, na hiptese de no ocorrer o cumprimento voluntrio. Havendo o cumprimento

    voluntrio, ocorre o pagamento, pois, de qualquer maneira, existe o vnculo (ele to somente no

    possui fora coercitiva). Ex mais comum: dvida de jogo ou a dvida prescrita.

    Consequncias do no cumprimento espontneo

    No CC de 1916, uma obrigao no cumprida gerava a faculdade ao credor de requerer a sua

    converso em perdas e danos. Essa conversibilidade no atendia totalmente aos interesses do credor,

    pois ele tinha frustrada sua expectativa de obter o cumprimento da obrigao. Agora, em vez de

  • requerer perdas e danos, o credor poder lanar mo de providncias diversas (no h um rol

    exemplificativo) almejando forar o devedor a cumpri-la ou mesmo obter o adimplemento por

    outras vias. o exemplo da fixao de multa diria (conhecida como astreintes) para forar um

    marceneiro a entregar os mveis que se comprometeu a preparar. Tambm a hiptese da

    expedio de ofcio, pelo prprio juiz, ao cartrio de imveis determinado a transferncia de um

    bem que foi alienado mas que o vendedor se recusa a transcrever o registro. A obrigao, no novo

    CC, s se converte em perdas e danos se a tutela especfica ou a obteno do resultado prtico

    equivalente for impossvel, ou se o credor preferir a converso.

    A atuao do judicirio no pode ser ex officio, devendo esse poder ser provocado pela parte

    interessada. Somente em casos especficos o poder juzo poder agir de ofcio.

    Priso Civil por alimentos

    Justifica-se a priso civil do devedor, pelo prazo mximo de 60 dias, com o propsito de

    assegurar a prpria dignidade e integridade do alimentando. A priso no tem carter de pena, mas

    sim de coao ao pagamento do alimento. Exatamente por isso que que a priso civil por

    alimentos pode ser declarada diretamente pelo juiz.

    Parcela considervel da doutrina e jurisprudncia (O adimplemento na execuo do

    dbito alimentar das trs ltimas prestaes motivo que impede, por hora, a priso civil do

    alienante) vem repudiando a priso civil como meio de coero para compelir o devedor de

    alimentos a adimplir prestaes vencidas h mais de 3 meses. Como a priso uma medida

    excepcional, no seria razovel permitir sua utilizao para coero pessoal das parcelas vencidas

    h mais de 3 meses. Somente as parcelas vencidas nos ltimos 3 meses autorizam o manejo da

    priso civil como meio coercitivo, afastada a sua possibilidade para as parcelas vencidas

    anteriormente. O dbito alimentar que autoriza a priso civil do alienante o que compreende as 3

    prestaes anteriores ao ajuizamento da execuo e as que vencerem no curso do processo.

    Resumindo = a jurisprudncia tem adotado a tese de que somente cabe a priso civil em alimentos

    em caso de existir dvida atual em alimentos. Entende-se dvida atual em alimentos como o perodo

    de 3 meses inadimplidos anteriores ao pedido da execuo alimentar. O valor a ser pago para sair da

    priso sero os 3 meses + os meses que passar na cadeia.

    Direitos Reais

    Nas obrigaes, instala-se relao jurdica entre pessoas determinadas ou, ao menos,

    determinveis (ttulos ao portador, promessa de recompensa), cujo objeto um comportamento do

    devedor, traduzido em um prestao particularizada de dar, fazer ou no fazer. Nos direitos reais

    no se estabelece relao jurdica individualizada, e sim verdadeira situao jurdica de poder do

  • titular do direito real sobre o prprio objeto bem mvel ou imvel impondo-se um dever

    jurdico erga omnes de absteno, incidindo difusamente sobre todas as pessoas no titulares do

    direito, impedindo-as de praticar qualquer ato de lesar tal vinculao. Forma-se uma relao

    jurdica entre o titular do direito real e o sujeito passivo universal, caracterizada pela assuno

    de um dever negativo, geral e latente de absteno, consistente na vedao geral da prtica de

    qualquer conduta que perturbe a situao de poder do titular do direito real sobre o objeto.

    Nos direitos reais, invariavelmente, o titular exercitar poder direto sobre a coisa, com

    atuao imediata sobre o bem, sem o consentimento de terceiros. O titular prescinde (no precisa)

    da colaborao de quem quer que seja para obter as utilidades que anseia. J na relao obrigacional

    o credor no poder atuar imediatamente sobre o objeto desejado (dar, fazer ou no fazer),

    necessitando de uma conduta positiva ou negativa do devedor, pois o adimplemento sempre requer

    a sua colaborao, atravs da satisfao da prestao. Os direitos reais podem ser ofendidos por

    qualquer pessoa; j os direitos obrigacionais, apenas pelo devedor.

    Os direitos reais so dotados dos atributos da sequela, preferncia e tipicidade, sendo

    facultado ao seu titular buscar o bem sobre o qual exerce poderes dominiais, em poder de quem

    quer que o detenha (devido ao carter universal), para prioritariamente pagar-se o dbito,

    impondo-se sobre todas as demais situaes jurdicas com ele incompatveis. Pelo fato de serem

    providos de eficcia universal, os direitos reais so numerus clausus, sendo taxativos (art. 1225 do

    CC).

    J os direitos obrigacional so relativos, pois a prestao da qual o credor titular apenas

    exigvel em face do devedor que se obrigou a cumpri-la, ou de um responsvel. Ex: se um devedor

    prontificou-se a transferir um veculo (obrigao de dar) e culminou por alien-lo a terceira pessoa,

    dever o credor contentar-se com perdas e danos, vedando-se a possibilidade de questionar o

    negcio jurdico ou de agir contra terceiros exceto nos casos de fraude a credores ou fraude

    execuo.

    Todavia, tratando-se de direito real aperfeioado mediante registro do bem imvel ou

    tradio de bem mvel, a sequela da consequente retira a eficcia de eventuais transmisses da

    coisa, sendo desnecessrio o ajuizamento de ao pauliana ou revocatria, posto bastante a adoo

    da ao reivindicatria. O direito real no atingido pela inrcia de seu titular, inexistindo a

    prescrio referente ao no exerccio de poderes e faculdades do titular, enquanto na seara

    obrigacional possvel a ocorrncia da prescrio referente pretenso dele decorrente.

    A grande diferena entre os direitos reais e os obrigacionais que na origem dos direitos

    reais ocorre uma atribuio de bens a pessoas, enquanto nas obrigaes prevalece a nota de uma

    cooperao entre pessoas.

  • Direitos Reais Direitos ObrigacionaisAbsoluto (eficcia erga omnes)

    Atributivo (um s sujeito)Imediatividade

    PermanenteDireito de SequelaNumerus Clausus

    Direito coisaObjeto: A coisa

    Relativo (eficcia inter partes)Cooperativo (conjunto de sujeitos)

    MediatividadeTransitrio

    Apenas o patrimnio do devedor como garantiaNumerus Apertus

    Direito a uma coisaObjeto: A prestao

    Algumas obrigaes se revestem de carter de direito real, como no caso do contrato de

    locao. O registro do contrato no o converte em direito real, mas amplifica a relao obrigacional

    de forma a tutelar o locatrio em face do novo proprietrio, seja para permanecer no imvel aps a

    alterao da titularidade, ou mesmo para invalidar a aquisio que desrespeite a sua prelao.

    Importa pois, a publicidade decorrente do registro do contrato.

    Obrigaes propter rem

    So prestaes impostas ao titular de determinado direito real, pelo simples fato de assumir

    tal condio. A pessoa do devedor individualizada nica e exclusivamente pela titularidade de um

    direito real. A pessoa assume uma prestao de dar, fazer ou no fazer, em razo da aquisio de um

    direito real.

    uma obrigao em que a pessoa do devedor ou do credor individualiza-se no em razo de

    um ato de autonomia privada, mas em funo da titularidade de um direito real. uma obrigao

    imposta, em ateno a certa coisa, a quem for titular desta coisa. A obrigao nasce com o

    direito real e com ele se extingue.

    Como a assuno da obrigao decorre da titularidade da coisa, ao devedor ser concedida,

    em certos casos, a faculdade de se libertar do vnculo, renunciando ao direito real em favor do

    credor. o chamado abandono liberatrio ou renncia liberatria.

    Qualificam-se como propter rem as obrigaes dos condminos de contribuir para a

    preservao da coisa comum e adimplir os impostos alusivos propriedade (IPTU), bem como

    todos os direitos de vizinhana. A natureza jurdica da conveno de condomnio tambm

    obrigao propter rem, posto atribudas automaticamente ao titular do direito real. Nesses exemplos,

    os condminos no subscreveram qualquer contrato em que se obriguem a pagar tais dbitos. Elas

    decorrem da assuno ao direito real da propriedade.

    Diferena entre nus reais X obrigaes reais (proter rem) = nas obrigaes, o titular s se

    vincula s obrigaes contradas no seu tempo. J no nus, o titular se vincula s obrigaes

  • contradas no seu tempo e as pretritas. Os nus reais so ambulatrios, movimentam-se de um

    titular para o outro, no so dvidas do proprietrio, mas sim encargos da prpria coisa.

    Nas obrigaes propter rem o proprietrio devedor responde com todo o seu patrimnio, nos

    nus reais s ser atingido no limite do valor do bem, pois a garantia real implica a responsabilidade

    por uma dvida de terceiros. H a responsabilidade, mas no a dvida. Ora, meu patrimnio no

    pode ficar todo disposio por um dbito que eu no realizei. Por isso que existe a

    responsabilidade, no o dbito.

    I a responsabilidade pelo nus reais limitada ao valor do bem onerado, no respondendo

    o proprietrio alm dos limites do respectivo valor, pois a coisa que se encontra gravada; na

    obrigao propter rem responde o devedor com todos os seus bens;

    II os primeiros desaparecem (nus reais), perecendo o objeto, enquanto os efeitos da

    obrigao proter rem podem permanecer mesmo havendo perecimento da coisa;

    III os nus reais implicam sempre uma prestao positiva, enquanto a obrigao proter

    rem pode surgir com uma prestao negativa.

    Nada obstante, lcito convencionar que obrigaes propter rem sejam solvidas pelo

    possuidor da coisa. lcito o negcio jurdico envolvendo o repasse dos encargos condominiais ao

    locatrio, sem que isto implique transferncia da obrigao real ou alterao de sujeio passiva,

    mas apenas um acordo de vontades restrito aos contratantes. Certamente o referido acordo

    ineficaz relativamente a terceiros. Ex: havendo inadimplemento de cotas condominiais pelo

    locatrio, o prdio responsabilizar o proprietrio, e este, por sua vez, far uso do instrumento

    contratual para obter direito de regresso em face do locatrio.

    A aplicao da teoria das obrigaes proter rem afastada em compromissos de compra e

    venda. Ex: imvel vendido e o adquirente no registra a venda. Eventuais dvidas contradas pelo

    inadimplemento de parcelas condominiais no podero ser cobradas do eventual dono do imvel,

    pois este ainda no foi registrado. Mesmo que o adquirente no tenha providenciado o registro da

    escritura de compra e venda e a consequente transmisso da propriedade -, os dbitos

    condominiais atraem a sua responsabilidade pelos dbitos contrados a partir do exerccio da

    moradia, desde que tenha posse efetiva do bem com o conhecimento do condomnio sobre a

    aquisio.

    Com isto posto, a obrigao proter rem no se prende necessariamente ao registro; este

    apenas se torna imprescindvel para a constituio de nus real.

  • Direitos da personalidade

    So direitos subjetivos que tem por objeto os bens e valores essenciais da pessoa, no seu

    aspecto fsico, moral e intelectual.

    Os direitos da personalidade so erga omnes, vitalcios, imprescritveis e com relativa

    disponibilidade, pois em casos excepcionais a lei faculta a cesso de direitos de personalidade.

    J os direitos obrigacionais so relativos (oponveis apenas queles que figuram no polo

    passivo); transimissveis, bem como passveis por transmisso causa mortis; patrimonializados

    (sujeito o crdito execuo diante do inadimplemento) e por fim, temporrios.

    Obrigao, dever, sujeio e nus

    Dever jurdico = um dever genrico que se impe a todos na sociedade.

    Obrigao = um dever jurdico especfico e individualizado que incide sobre pessoas

    determinadas ou determinveis.

    Dever Alimentar X Obrigao Alimentar = o primeiro um imposio a todos os que exercitem poder de famlia, at que os filhos completem maioridade. Cessando o dever, por razes de equidade ou solidariedade familiar, eventualmente nascer uma obrigao de alimentar se restar evidenciada a necessidade de manuteno econmica e principalmente a impossibilidade de custeio de despesas com ensino superior.

    Sujeio = tem a ver com direitos potestativos. So poderes jurdicos que, por um ato de

    livre vontade, produzem efeitos jurdicos sobre a contraparte sem o seu consentimento. Um das

    partes se encontra em estado de poder potestade e a outra em estado de submisso. Se A, por

    exemplo, deseja anular um negcio jurdico ou resolver um contrato, B no poder evitar o

    exerccio do direito potestativo.

    nus = necessidade de adoo de uma conduta, no pela imposio de norma, mas para a

    defesa de interesse prprio. Seu inadimplemento no gera obrigao alguma e o seu cumprimento

    no satisfaz nenhum direito subjetivo, simplesmente proporciona vantagem ao seu prprio titular.

    Ex: A tem o nus de recorrer de uma sentena desfavorvel; B tem o nus de registrar a

    escritura de compra e venda de um imvel.

    Fonte das Obrigaes

    So os acontecimentos, a situaes reais que so pressupostos da aplicao dos preceitos

    legais, pondo em movimento as consequncias jurdicas previstas nestes. As obrigaes podem

    nascer de qualquer fato jurdico, ou seja, de qualquer acontecimento que implique consequncias

    jurdicas.

  • I - Negcio Jurdico

    Em sentido lato, o fato jurdico importa qualquer acontecimento que provoque o nascimento,

    a modificao ou a extino de um direito.

    Temos pois o ato jurdico em sentido estrito (os no negociais) e o negcio jurdico.

    Enquanto o negcio jurdico domina a Teoria Geral do D. Civil, como inequvoca demonstrao da

    liberdade do indivduo em alcanar os efeitos jurdicos queridos, percebe-se que nos atos jurdicos

    em sentido estrito a manifestao da vontade da pessoa dirige-se a efeitos jurdicos previamente

    desenhados pelo legislador, no havendo espao para a atividade criadora do homem no plano da

    eficcia do ato. Os atos dependem da vontade do sujeito ativo, mas os efeitos so apenas aqueles

    previamente delimitados pelo legislador.

    J o negcio jurdico um ato que possui por essncia a autonomia privada, entendida como

    o poder que o sistema concede a uma pessoa para criar suas prprias normas, nos limites conferidos

    pelo ordenamento jurdico. o poder que a ordem jurdica confere s pessoas de autorregulamentar

    os seus interesses.

    Nada obstante, nos jurdicos lcitos (que no sejam negcios jurdicos) a vontade apenas

    instala os mecanismos anterioremente definidos pela norma. Assim, no reconhecimento de

    paternidade, as consequncias jurdicas so por todos conhecidas.

    II - Responsabilidade civil

    A responsabilidade negocial cuida de reparar os danos decorrentes de inadimplemento de

    um negcio jurdico. A singularidade da responsabilidade negocial consiste na preexistncia de uma

    relao jurdica entre credor e devedor, cujo objeto uma prestao. J a responsabilidade civil

    propriamente dita de natureza extranegocial, eis que ofensor e ofendido no estavam previamente

    ligados por qualquer relao jurdica. O causador do dano violou deveres gerais de respeito a pessoa

    e bens alheios.

    III - Enriquecimento sem causa

    Contrape-se responsabilidade civil, nas medida em que esta tem por funo reparar

    danos, isto , redues ou diminuies registradas no patrimnio, ao passo que o enriquecimento

    sem causa tem por finalidade remover de um patrimnio os acrscimos patrimoniais indevidos

    pois deveriam ter acontecido noutro patrimnio. Enquanto as obrigaes negociais tm como causa

    a prtica de um ato com autonomia privada e a finalidade de seu adimplemento, a causa da

    obrigao de indenizar o dano causado, com a finalidade reparatria. J na obrigao do

    enriquecimento sem causa, a causa reside no acrscimo patrimonial injustificado e a finalidade a

    restituio ao patrimnio de quem empobreceu,

  • A boa-f objetiva como fonte das obrigaes

    o reconhecimento do dever de conduta das partes para atender funo social de um

    relao obrigacional.

    Paradigmas do Cdigo Civil no Direito das Obrigaes

    Princpio da solidariedade = traduz a solidariedade mediante a cooperao dos indivduos

    para a satisfao dos interesses patrimoniais recprocos, sem comprometimento dos direitos da

    personalidade e da dignidade de credor e devedor.

    Princpio da eticidade = concretizado respeitando-se as clusulas gerais de boa-f, funo

    social, abuso do direito, equidade e bons costumes.

    Princpio da operabilidade = determina entender que em cada caso, alm de existir um

    credor e um devedor, existem antes de mais nada, pessoas, que so distintas umas das outras, com

    particularidades que devem ser levadas ao caso concreto.

    A obrigao complexa ( A obrigao como um processo)

    A obrigao vista como um processo (uma srie de atividades exigidas de ambas as pates

    para a consecuo de uma finalidade) cuja finalidade o adimplemento, evitando-se danos de uma

    parte outra nessa trajetria, de forma que o cumprimento faa-se da maneira mais satisfatria ao

    credor e menos onerosa ao devedor. Essa viso resulta na imposio de outros deveres s partes,

    alm daqueles tradicionalmente cunhados pela vontade. A compreenso da obrigao como um

    processo pretende enfatizar a ideia de pluralidade (afastando o carter singular de que a obrigao

    apenas impunha deveres a uma das partes) de movimento. A obrigao deve ser vista como uma

    relao complexa formada por um conjunto de direitos, obrigaes e situaes jurdicas,

    compreendendo uma srie de deveres de prestao, direitos formativos e outras situaes jurdicas.

    Acrescentam-se s obrigaes principais os chamados deveres anexos ou laterais, sendo obrigaes

    de conduta honesta e leal entre as partes, vazadas em deveres de proteo, informao e cooperao.

    No se deve primar pela figura exclusiva do credor, mas sim que a relao jurdica de dois sujeitos

    de igual valor, devedor e credor.

    Os deveres anexos (fruto da boa-f objetiva) antecedem assuno das obrigaes e

    extravasam o adimplemento delas. o que se denomina responsabilidade civil pr e ps-contratual.

  • Captulo 2

    Modalidades de Obrigaes I Classificao quanto ao objeto

    1) Introduo

    Para fins didticos, possvel considerar a classificao das obrigaes da seguinte forma:

    I quanto natureza de seu objeto: dar, fazer e no fazer;

    II quanto ao modo de execuo: simples, cumulativa, alternativa e facultativa;

    III quanto ao tempo do adimplemento: instantnea, execuo continuada ou execuo

    diferida;

    IV quanto ao fim: de meio, de resultado e de garantia;

    V quanto aos elementos acidentais: condicional, modal e a termo;

    VI quanto aos sujeitos: divisvel, indivisvel e solidria;

    VIII quanto liquidez do objeto: lquida e ilquida.

    A obrigao principal decorrente de uma relao jurdica consistir em uma prestao

    positiva ou negativa de dar, fazer ou no fazer. Seja de qual ngulo for pelo qual desejemos

    examinar uma obrigao, toda classificao ser uma variao dessas 3 opes.

    A fim de que o negcio jurdico obrigacional seja validamente constitudo, mister que a

    prestao atenda a determinados requisitos. Trata-se dos mesmos requisitos aplicveis validao

    do objeto de qualquer negcio jurdico, como alude o art. 104 do CC.

    O objeto dever se ater aos requisitos da liceidade (lcito), possibilidade e determinabilidade.

    Em primeiro lugar exige-se a possibilidade fsica e material da prestao. Por

    impossibilidade, entenda-se a originria, pois, se superveniente, ser o caso de resoluo do negcio

    jurdico pela extino do objeto. Uma coisa a venda de um terreno em saturno (impossibilidade

    originria); outra, a alienao de um terreno real e existente, mas que destrudo por um tsunami.

    Trata-se de negcio jurdico vlido, mas de ineficcia superveniente.

    A impossibilidade fsica advm da prpria natureza das coisas, como a obrigao de tirar

    areia do deserto, erguer um navio com os braos ou de realizar qualquer fato irrealizvel.

    A liceidade muito mais que a ilegalidade, pois abrange tambm tudo aquilo que no

    formalmente vedado pela norma, mas ofende preceitos ticos e viola a prpria finalidade do

    ordenamento jurdico. Alis, mesmo que a prestao em si seja lcita e possvel, a sua invalidade

  • poder resultar da prpria ilicitude do motivo determinante comum a ambas as partes. Seria a

    hiptese de que A venda uma arma a B, sabendo ambos que a aquisio destina-se prtica de

    homicdio contra C.

    Alm da licitude e da possibilidade, o objeto da obrigao deve ser determinado ou

    determinvel. Ou seja, pode acontecer de um negcio jurdico comear com um objeto sem estar

    determinado, mas que deve possuir o carter de ser determinado durante a execuo da obrigao.

    A doutrina tradicional exige que a prestao tenha valor econmico, ou seja, pecuniariedade,

    sob pena de no existir qualquer execuo patrimonial sobre o devedor em caso de inadimplemento.

    Porm o autor do livro cr que o contedo da obrigao poder possuir natureza extrapatrimonial

    como quando A obriga-se a suprimir uma publicao nociva aos direitos da personalidade de B,

    sendo o nico interesse de B a retratao de A. O descumprimento poder gerar reparao pelos

    danos extrapatrimoniais. A patrimonialidade portanto est mais ligada noo de sano do que da

    prestao propriamente dita.

    2) Classificao quanto ao objeto

    Obrigao de dar e de restituir

    A obrigao de prestao de coisa vem a ser aquela que tem por objeto mediato uma coisa

    que, por sua vez, pode ser certa ou determinada ou incerta.

    Tanto na obrigao de dar coisa certa como nas obrigaes de dar coisa incerta consistir a

    prestao na entrega de um ou mais bens ao credor; prestao de coisa, pois cumprir ao devedor

    transferir a propriedade do objeto (compra e venda), ceder a sua posse ao credor (locao) ou

    meramente restituir a coisa (depsito).

    Ao contrrio do que ocorre nos sistemas francs e italiano, nos quais o simples consenso

    decorrente da realizao do contrato j transfere a propriedade, o direito brasileiro exige a tradio

    para bens mveis e o registro para bens imveis.

    I obrigao de dar coisa certa

    A coisa certa aquela perfeitamente identificvel e individualizada, suas caractersticas a

    tornam nica. Se a obrigao consiste em dar coisa certa, no poder o credor ser constrangido a

    receber outra, por haver sido originariamente pactuado que receberia bem determinado e

    especializado.

    Com efeito, mesmo que o devedor, no instante da tradio, culmine por oferecer bem ainda

    mais valioso que o avenado, ser lcito ao credor a recusa da prestao substitutiva, em

  • homenagem ao princpio da especificidade. Em sntese, justamente por possuir direito subjetivo a

    uma prestao especializada, no ser o credor obrigado a aceitar uma coisa pela outra. Contudo,

    caso consinta em receber prestao diversa, estar praticando um modo extintivo da obrigao a

    dao em pagamento. (Ex: a obrigao de entregar sacas de soja. Se o devedor no tiver sacas de

    soja mas quiser pagar em dinheiro, equivalente ou at mesmo em valor superior s sacas que ficou

    de entregar, o credor pode recusar o recebimento, em se tratando de contrato para entrega de coisa

    certa == STJ)

    A obrigao de dar coisa certa abarca os seus acessrios. Destarte, frutos, produtos,

    rendimentos, partes componentes e integrantes da coisa e benfeitorias incorporados ao solo sero

    abrangidas pela obrigao de dar coisa certa. Desta feita, se algum vende um imvel sem fazer

    qualquer meno aos armrios embutidos, estaro eles includos no preo, sem possibilidade de

    acrscimo pecunirio.

    Em algumas vezes, o acessrio no deve ser incorporado ao principal. o caso das

    pertenas. Apesar de classificadas como bens mveis, no se incluem no conceito de relao

    obrigacional pois, ao contrrio das benfeitorias, no se incorporam coisa principal. Destinam-se as

    pertenas de modo duradouro ao uso, ao servio, ou aformoseamento do bem principal., mas a ele

    no aderem. Assim, se uma fazenda alienada, sem qualquer meno aos animais que auxiliam na

    produo, tais semoventes no sero includos no negcio jurdico dispositivo, exceto se o contrrio

    resultar de lei, ou da manifestao expressa dos contratantes a famosa venda de porteira

    fechada.

    Teoria dos riscos = envolve diversas solues para os casos de perda ou deteriorao da

    coisa certa, relacionados tradio de bens para fins de posse ou propriedade. Em todas as situaes

    necessrio identificar o momento da perda da coisa e a eventual responsabilidade do devedor pelo

    fato. Partindo do princpio de que as obrigaes emanam de contratos bilaterais, o risco correr por

    conta do vendedor (alienante) e s ser transferido ao adquirente (credor) com a tradio ou

    registro.

    Com efeito, antes da tradio (bens mveis) ou registro (bens imveis) todos os riscos

    quanto perda da coisa sero imputados ao alienante. Se a perda ou destruio do bem se verifica

    no momento posterior transferncia da coisa, todos os riscos recairo na conta do adquirente.

    A primeira parte do art. 234 do CC aborda o fenmeno da impossibilidade superveniente.

    Havendo perda do objeto da prestao antes da tradio ou pendente condio suspensiva que

    protele a eficcia do negcio jurdico -, caso o perecimento ocorra sem culpa do devedor, resolve-se

    a obrigao para ambas as partes, sendo restitudo ao adquirente o montante eventualmente

    antecipado. Se nada foi adiantado, nada restitudo. A evidncia incumbir ao devedor o nus de

  • provar o fato que no lhe foi imputvel e acarretou a impossibilidade superveniente. De fato, se a

    inutilizao da coisa deu-se por circunstncias alheias diligncia do devedor, apenas h de

    reportarem-se os contratantes ao status de antes. Portanto, se A ajustar com B a entrega de um

    veculo para o dia 15 de agosto e na vspera da tradio o carro foi roubado, a soluo ser a

    resoluo contratual pela falta superveniente do objeto, sem nus para o alienante, pois a perda no

    decorreu da quebra do dever de diligncia de guarda da coisa. Contudo, mesmo diante da

    inevitabilidade do evento que caracterizou o fortuito, o devedor se responsabilizar pela perda da

    coisa se expressamente assim convencionar, por meio de clusula de garantia.

    Se a perda da coisa deveu-se conduta maliciosa ou negligente do devedor, ressarcir os

    valores adiantados pelo adquirente, acrescidos de perdas e danos. Entenda-se por perdas e danos

    apenas a expectativa patrimonial frustrada lucros cessantes - , pois os danos emergentes,

    evidentemente, compensam-se na devoluo dos valores pagos. Haver uma presuno de culpa do

    devedor inadimplente, quanto ao fato que gerou a perda, tendo ele o nus probatrio de

    desconstitu-la. Caso A no entregue o veculo a B em razo de um acidente que inutilize o

    bem, provocado por sua embriaguez ao volante, caber a fixao de uma indenizao capaz de

    propiciar a B uma satisfao das legtimas expectativas.

    Nada impede que os contratantes estabeleam regras diversas quanto distribuio dos

    riscos pela perda da coisa, de modo a agravar a situao do devedor no dever de conservao do

    bem no tempo anterior tradio.

    Ainda que se trate de insolvncia do devedor, desde que esta no tenha ocorrido por

    circunstncias a ele imputvel, no estar em mora. Neste caso, no se responsabilizar pelo

    retardamento da prestao, o que implicar a equiparao das consequncias jurdicas da

    insolvncia (impossibilidade relativa) impossibilidade absoluta.

    Deteriorada a coisa, no sendo o devedor culpado, poder o credor resolver a obrigao, ou

    aceitar a coisa, abatido ao seu preo o valor que perdeu. Aqui, a coisa no se perdeu, ela se

    deteriorou. O credor tem o poder de escolhe quanto resolver o negcio ou mantendo viva a

    prestao, adaptando-a em termos de valor realidade derivada da modificao da coisa. Na perda

    da coisa, a resoluo automtica, na deteriorao no!

    O art. 235 do CC trata da deteriorao de coisa certa. O negocio jurdico no perdeu seu

    objeto, somente se deteriorou. Se a deteriorao for consequncia do fortuito ou do fato de terceiro,

    duas possibilidades se aventam: I o credor resolve a obrigao, retornando as partes situao

    originria ou; II o credor poder aceitar o bem deteriorado, com abatimento proporcional no

    preo. Ex: compra-se um cavalo de corrida. Esse cavalo adquire uma molstia grave, impedindo-o

  • de correr. Todavia, ele ainda pode servir como animal reprodutor. O credor poder ento resolver a

    obrigao ou receber o cavalo com um abatimento no preo, pois o semovente ainda tem uso.

    Agora, se o perecimento provocado pelo comportamento culposo do devedor (motorista

    provocou danos aos freios do carro antes da tradio do veculo), ocorrem 2 opes: I recusar a

    coisa e exigir o equivalente; II aceit-lo no estado em que se encontra com perdas e danos.

    Nas obrigaes de dar coisa certa, a mora do devedor exerce papel relevante na teoria dos

    riscos. Se o atraso no cumprimento da prestao for debitado quele a quem incumbia a entrega da

    coisa, mesmo que a sua perda ou destruio resulte de caso fortuito/fora maior, recair contra o

    devedor a condenao em perdas e danos, um fenmeno chamado de perpetuao da obrigao.

    Trata-se de uma hip'tese de aplicao da teoria do risco integral na responsabilidade objetiva, ou da

    chamada responsabilidade objetiva agravada, medida que o devedor no se exonera da obrigao

    de indenizar mesmo que exclua o nexo causal, seja pela verificao de fortuito externo ou fato de

    terceiro. A mora gera uma expanso de responsabilidade do devedor, alcanando mesmo as

    situaes de perda ou deteriorao da coisa alheia aos seus cuidados normais. Se A deveria

    entregar um carro a B no 15 de agosto e no o faz, entra em mora e, se por um acaso perde ou tem

    deteriorado esse bem, a sua responsabilidade ser objetiva, no importa a causa, devendo indenizar

    o credor.

    Excepcionalmente, o devedor poder se isentar da responsabilidade se conseguir provar que,

    mesmo tendo entregado o bem na data certa, o evento lesivo iria ocorrer. O dano ocorreria mesmo

    que o devedor no estivesse em mora. Ex: a intempestiva entrega da casa alienada ao novo dono

    destruda por um terremoto no tempo da mora. Ora, se a entrega tivesse sido tempestivamente, a

    casa seria destruda do mesmo jeito. Tambm no incorre em mora o atraso na entrega de veculo

    devido a um caos no transporte pblico que bloqueou todas as ruas. No havendo fato ou omisso

    imputvel ao devedor, no incorre este em mora.

    At a tradio, pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos

    quais poder exigir aumento no preo; se o credor no anuir, poder o devedor resolver a

    obrigao. Todas as benfeitorias e acesses efetivadas na coisa sero incorporadas ao patrimnio

    do titular, e o devedor poder resolver a obrigao se o credor no pagar pelos melhoramentos. O

    credor portanto no pode exigir a entrega dos acrscimos. Se este se recusar a complementar o

    valor, no poder o devedor obter judicialmente a diferena, restando-lhe somente o direito

    formativo resoluo do negcio jurdico. Ex: comprou-se uma vaca para ser entregue em 15 dias.

    Antes da tradio, ela fica prenha.

  • Durante o desenvolvimento do processo obrigacional no perodo entre o nascimento da

    obrigao e seu adimplemento - , o CC concede ao devedor o acrscimo por melhoramentos e

    acrescidos.

    Os frutos percebidos so do devedor, cabendo ao credor os pendentes.

    Todos os acessrios que j existiam ao tempo da celebrao do negcio jurdico no

    mencionado pelas partes sero de propriedade do credor, sem qualquer acrscimo pecunirio em

    prol do devedor. Todavia, se no interregno que medeia a gnese e o adimplemento da obrigao

    sejam realizadas benfeitorias e acesses, sair de cena o 233 do CC e incidir o 237, forando o

    credor a pagar a diferena se realmente quiser o bem.

    Se a obrigao for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da

    tradio, sofrer o credor a perda, e a obrigao se resolver, ressalvados os seus direitos at o dia

    da perda. Aqui, nesse caso de restituir, o proprietrio da coisa no o devedor, mas sim o credor,

    que anseia pela devoluo da coisa em contratos como de locao, comodato, mtuo e depsito. Ex:

    se A concede um automvel a B em locao e a perda da coisa verifica-se em fora do fortuito,

    no obstante ser B exonerado do dever de indenizar e de pagar o aluguel a partir da data de

    destruio do bem, o credor A poder exigir os encargos locatcios vencidos at a data da perda

    da coisa = art. 238 CC.

    No contrato de depsito temos a regra do 642 = o depositrio no responde pelos casos de

    fora maior, mas, para que lhe valha a escusa, ter de prov-los. Ex: se um incndio ou um

    temporal de grandes propores inutiliza a mercadoria depositada, o depositante assumir o

    prejuzo da perda, cabendo ao depositrio a demonstrao de ter atuado com toda a diligncia.

    Porm, dando-se a perda do bem cedido em face de conduta censurvel do prprio devedor,

    responder este pelo equivalente pecunirio da coisa, acrescido de perdas e danos, compreendendo

    danos emergentes e lucros cessantes.

    Quanto deteriorao parcial do bem objeto de restituio ao proprietrio, dever o credor

    aceit-la em seu estado atual, caso a depreciao no se relacione com a culpa do devedor. Assim,

    se A conceder um automvel a B em locao e o bem mvel vier a ser danificado na parte

    dianteira, em virtude de coliso no provocada por B, restar ao proprietrio A a assuno dos

    prejuzos subsequentes deteriorao, exceto no se incumba B de demonstrar a correo de seu

    comportamento, o que lhe acarretar o dever de indenizar, seja ele acrescido da restituio da coisa

    ou de seu equivalente pecunirio.

    Se, ao tempo da devoluo do bem, sobrevier melhoramento ou acrscimo coisa, sem

    qualquer interveno do possuidor devedor, no ser o credor obrigado a indeniz-lo, pois no se

  • trata de enriquecimento injustificado. Assim, se o terreno cedido ao comodatrio sofrer acesso

    natural em virtude de foras da natureza, a valorizao beneficiar o credor.

    Em sentindo inverso, hiptese anterior, se o melhoramento ou acrscimo resultar das

    despesas ou atividades do devedor, aplicar-se-o as normas relativas realizao de benfeitorias

    necessrias ou teis, conforme a boa-f ou m-f. Na boa-f, tanto far jus o devedor indenizao

    como ao direito de reteno pela efetivao das benfeitorias necessria ou teis, podendo, quanto s

    volupturias, levant-las se isto no causar dano coisa. Se com m-f, somente as benfeitorias

    necessrias sero indenizadas, no havendo direito de reteno. Portanto, se ao tempo em que o

    imvel foi cedido em comodato teve o devedor que cercar o terreno e realizar obras de conteno

    do prdio, ser devidamente indenizado quando da restituio ao credor.

    O CC evidencia o agravamento da responsabilidade do credor pelo fato de incorrer em mora

    quanto ao recebimento do bem. Ela se aperfeioa quando injustificadamente se recusa a receber o

    objeto no tempo, lugar e modo convencionados. O devedor ento no mais responde pela

    integralidade da coisa. Ex: um veculo entregue na oficina, sendo que o proprietrio no vai no dia

    do prazo marcado retirar o veculo, sem dar satisfao. Nesse perodo, o nus acidental da perda da

    coisa (desabamento no veculo) ser-lhe- imposto, sem que possa furtar-se a pagar os servios ali

    prestados.

    Obrigao de dar coisa incerta

    So obrigaes em que somente esto definidas a quantidade e o gnero. Ex: 20 cavalos, 30

    carros, 8 sacas de caf. Mas cavalo de que raa? Que marca de carro? Qual tipo de caf?

    No se admite, por exemplo, a indeterminao absoluta da coisa, como a entrega de 5

    toneladas (de qual espcie) ou a entrega de caf (em qual quantidade?). Estes seriam objetos nulos.

    A coisa incerta pode ser tanto fungvel quanto pode ser infungvel. Uma obrigao de

    entrega de 20 Golf GL modelo 2010 uma obrigao fungvel, pois esses bens tem essa

    caracterstica. Todavia, se se contrata uma escultura de um determinado artista, ela ser uma

    obrigao de dar coisa incerta infungvel, pois o bem se individualizou pela obra nica do artista,

    mesmo no se sabendo qual obra ele ir produzir.

    Distingui-se a coisa incerta da coisa futura. Uma coisa futura seria um imvel que

    comprado na planta. Ele uma coisa certa, e no incerta, mas que no existe atualmente. S ser

    entregue futuramente. Igualmente no se confunde a coisa incerta com a obrigao alternativa, que

    tem por objeto 2 prestaes perfeitamente especificadas e certas e mutuamente excludentes. Ex:

    A entregar a B uma casa X ou um carro Y. A incerteza aqui sobre qual prestao ser

    utilizada. Na entrega de coisa incerta, a incerteza se reflete no bem.

  • No silncio do negcio jurdico, caber a escolha do objeto incerto ao devedor. O credor

    poderia ter se expressado de modo claro, mas o fez, da ento ter que se submeter ao devedor.

    Todavia, o ordenamento jurdico restringe a escolha do devedor a um bem de meio-termo

    qualitativo entre os que o devedor possuir, no podendo ento ele escolher os piores que possui.

    Porm as partes podem de comum acordo convencionar que a entrega se dar pelos melhores ou

    piores bens.

    Poder ocorrer tambm das partes determinarem que a escolha ser do credor, ou mesmo por

    um terceiro eleito para tal.

    No momento da cientificao da escolha pela parte contrria que a obrigao de dar coisa

    incerta convola-se em obrigao de dar coisa certa. No basta a arbitrria escolha da coisa pelo

    obrigado instante em que os bens, at ento fungveis so separados e individualizados -, sem que

    a outra parte o saiba, para a aplicao das regras da obrigao de dar coisa certa. Portanto, se A

    vende um cachorro a B e, logo aps a escolha do animal por A, este culmina por ser atropelado

    enquanto A estava levando a animal a B, no ter este que se responsabilizar pelo risco, pois a

    propriedade no era sua, mesmo que o devedor j tivesse individualizado a coisa.

    Nessas obrigaes, no se admite a discusso acerca da perda da coisa incerta no momento

    anterior exteriorizao da escolha outra parte, mediante a sua cientificao. Se a obrigao

    correspondia entrega de 30 vacas e todas as reses que existiam nas fazendas do devedor morreram

    em virtude de misteriosa doena, tal fortuito no exonerar a necessidade de o devedor buscar

    bovinos em outra localidade, a fim de cumprir a obrigao. Contudo, se j haviam as partes, desde a

    celebrao do negcio jurdico, pactuado pela entrega do touro de nome Bandido, a sua morte

    acidental acarretar a resoluo legal da obrigao.

    luz do princpio da proporcionalidade, o devedor poder ser exonerado se a perda coisa

    incerta no se deu por sua culpa e muito difcil arranjar um equivalente. Como exemplo, vamos

    supor a entrega de um animal raro, que morreu por circunstncias alheias a todo o seu cuidado em

    mant-lo. Em caso de dvida genrica restrita, em que ocorre a restrio do local onde a coisa estar

    (ou seja, peas de automvel situadas no depsito da fbrica Y), o devedor se libera da dvida se

    no sobrou nenhuma do gnero que se prometeu prestar. Do mesmo modo, ocorre a liberao do

    devedor quando este deve X garrafas de vinho da marca Y e o Estado probe a comercializao de

    vinho tinto.

    Nas obrigaes puramente genricas, a relao jurdica admite que o objeto exista

    livremente no planeta e possa ser encontrado em qualquer lugar. Porm, nas obrigaes genricas

    restritas as partes concentram a escolha do bem em um espao fsico delimitado. Seria o caso de

    opo constrita a animais localizados na fazenda X ou peas de automveis localizadas na fbrica Y.

  • Tutela processual das obrigaes de dar coisa certa e incerta

    Na ao que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela especfica,

    fixar o prazo para o cumprimento da obrigao.

    Recusando-se o devedor a atender o mandado de entrega no prazo fixado em deciso, o

    obrigado ser constrangido a uma multa cominatria peridica por atraso. Persistindo a inrcia,

    nova multa aplicada, de carter agora coercitivo, cuja finalidade consiste em inibir o devedor a

    entregar o bem reclamado em sua exata medida, suprindo quaisquer alternativas em seu mbito

    psicolgico de ficar com o bem. Se mesmo assim persistir o descumprimento, expedir-se-

    mandado de imisso na posse ou busca e apreenso, respectivamente na coisa imvel ou mvel.

    Caso A tenha xito em ao reivindicatria proposta contra B, no prprio provimento

    condenatrio, o juiz estipular prazo para devoluo do bem, sob pena de expedio de ordem de

    imisso na posse. Dispensa-se a necessidade de novo processo autnomo de execuo, pois ela ser

    imediata, sem contar qualquer participao do obrigado.

    Obrigao de Fazer

    Pretende o credor, agora, a prestao de um fato, consistente na realizao de uma atividade

    pessoal ou servio pelo devedor ou por um terceiro, de que no resulta imediatamente a

    transferncia de direitos subjetivos. Sobreleva aqui a conduta do devedor, e no o bem que

    eventualmente dela resulte.

    O comportamento dirigido ao devedor nas obrigaes positivas de fazer sempre

    consubstancia uma vantagem para o credor, consistente em um servio de natureza fsica

    (empreitada), intelectual (composio de uma msica), ou mesmo, na prtica de um ato jurdico

    caracterizado por emisso de declarao de vontade, como na outorga de escritura definitiva pelo

    promitente vendedor.

    As obrigaes de fazer podem ser classificadas em duradouras ou instantneas. Nesta

    hiptese, aperfeioam-se em um nico momento (registrar aquisio de um bem); nas duradouras, a

    execuo da obrigao protrai-se no tempo de forma continuada (pintura em tela), ou de modo

    peridico, mediante trato sucessivo (funcionrio encarregado da abertura de salas de aula todas as

    manhs).

    Ao contrrio do que si acontecer com as obrigaes de dar, que invariavelmente podem ser

    cumpridas por terceiros, mediante o pagamento, nas obrigaes de fazer possvel que o

    comportamento desejado pelo credor s possa ser desempenhado por um nico devedor. A

    obrigao ento ser infungvel quando somente puder ser realizada pelo devedor. A infungibilidade

    aferida em cada caso, sendo estes intuitu personae, como um show de msica de um artista,

  • cirurgia por mdico muito habilidoso; ser ainda infungvel caso o credor queira impor natureza

    personalssima a uma obrigao que a princpio seria fungvel. Incorre na obrigao de indenizar

    perdas e danos o devedor que se recusar prestao a ele s imposta (infungvel por conveno) ou

    s por ele exequvel (infungvel por natureza). Todavia, a regra as obrigaes de fazer serem

    normalmente fungveis. Ou seja: mesmo que o devedor se recuse a prestar, poder o credor ordenar

    que seja executada por terceiro, custa do devedor, sem prejuzo de indenizao cabvel.

    A chamada promessa de fato de terceiro quando o devedor no garante ao credor a sua

    prpria prestao de fazer, mas um fazer alheio. Vamos supor que A prometa a B que C ir

    realizar um espetculo teatral em seu proveito econmico. A se comporta como garantidor de um

    fato alheio e dever ser responsabilizado se C se recusar a prestar o espetculo. C no poder

    ser constrangido a prestar o servio. Todavia, nenhuma obrigao haver para quem se

    comprometer por outrem, se este, depois de se ter obrigado, faltar prestao. Ou seja, se C

    tivesse anudo ao contrato, A no seria responsabilizado caso C no prestasse o servio.

    A impossibilidade e o inadimplemento da obrigao de fazer

    A impossibilidade das prestaes se bifurca em impossibilidade inicial e superveniente do

    negcio jurdico, conforme se verifique antes ou depois da celebrao do negcio jurdico. Sendo a

    impossibilidade inicial da obrigao de fazer de carter absoluto (para todos e no somente o

    devedor), a soluo ser a anulao do negcio. Ex: algum se obrigar a dar a volta ao mundo p

    em 01 dia. Tratando-se agora de impossibilidade inicial relativa (apenas do devedor, podendo ser

    cumprida por outro algum), tudo depender da natureza da obrigao: quando personalssima, ser

    objetivamente impossvel o cumprimento; mas se puder ser executada por terceiro, o devedor

    assume o risco de prest-la, ainda que realizada por terceiro.

    Se a prestao do fato tornar-se impossvel sem culpa do devedor, resolver-se- a

    obrigao; se por culpa dele, responder por perdas e danos. = impossibilidade superveniente.

    Na hiptese de descumprimento da obrigao infungvel, sem culpa do devedor, por motivo

    de doena ou falta do material adequado, resolve-se simplesmente o contrato com a liberao do

    devedor.

    Convm lembrar que, encontrando-se o devedor em mora ao tempo da impossibilidade de

    cumprimento, no poder se exonerar de indenizar, mesmo demonstrando a ocorrncia do fortuito.

    Se o fato puder ser executado por terceiro, ser livre ao credor mand-lo executar custa

    do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuzo da indenizao cabvel. Aqui incumbir

    ao devedor inadimplente no s custear o servio realizado pelo terceiro, como tambm indenizar

    os danos causados ao credor.

  • Observa-se que no se autoriza o credor a postular a devoluo do dinheiro pago acrescido

    da condenao do inadimplente ao pagamento de terceiro. O dispositivo apenas autoriza a

    indenizao de outros prejuzos que o inadimplemento lhe cause decorrentes do atraso no

    cumprimento da obrigao de fazer, mas jamais que se enriquea s custas do inadimplente. Se

    fosse assim, haveria enriquecimento se ele recebesse de volta aquilo que pagou e ainda obrigasse o

    inadimplente a pagar ao terceiro o adimplemento da obrigao.

    O CC possibilita deferir-se ao credor a autoexecutoriedade, em caso de urgncia, na

    obteno da obrigao de fazer fungvel. O art. 249 do CC diz que nas obrigaes fungveis ser

    livre ao credor mand-lo executar s custas do devedor. O nus de provar a urgncia se inverte, ou

    seja, quem dever provar que no tinha urgncia o devedor inadimplente. A urgncia para o credor

    presumida. De toda forma, preciso respeitar aqui a proporcionalidade, sob pena do credor ser

    penalizado pelo excesso no abuso de direito. Todavia, a transferncia do nus de prova vai toda para

    o devedor inadimplente.

    O autor entende que, apesar do caput do 249 do CC se referir somente as obrigaes

    fungveis, essa autoexecutoriedade tambm est presente nas obrigao infungveis.

    Obrigao de no fazer

    Contrape-se obrigao de fazer, pois implica absteno, permisso ou tolerncia,

    impedindo que o devedor pratique um determinado ato que normalmente no lhe seria vedado (no

    construir acima de certo gabarito), tolere ato do credor que normalmente no admitiria (permitir

    passagem do proprietrio do prdio vizinho) ou, mesmo, obrigue-se a no praticar um certo ato

    jurdico que em princpio ser-lhe-ia lcito.

    As obrigaes negativas sempre compreendem uma restrio a uma atividade determinada,

    pois ningum pode ser cerceado a um no fazer de carter genrico e sem prazo em razo da

    evidente compresso ao direito fundamental da liberdade. Seria inadmissvel portanto uma

    obrigao cujo contedo implicasse uma proibio ao casamento, ao exerccio de atividades

    econmicas em geral ou de ingresso em locais pblicos.

    Depreende-se sempre possuir a obrigao de no fazer natureza infungvel, personalssima e

    insubstituvel, haja vista que toda omisso uma atitude pessoal e intransfervel do devedor. Difere,

    portanto, da obrigao de fazer que possa comumente ser satisfeita por terceiros, na base da

    fungibilidade.

    Dividem-se as obrigaes negativas em obrigaes de no fazer temporrias e duradouras.

    Assim, a obrigao de no concorrer sempre demanda prazos maiores do que uma obrigao do

    empreiteiro de no laborar em determinados horrios delimitados pelo proprietrio na constncia da

  • obra. O no fazer pode mesmo alcanar ares de vitaliciedade, como na obrigao de no alienar

    certo bem. Em qualquer caso, continuado o cumprimento da obrigao de no fazer. O

    adimplemento ter sempre um carter sucessivo, pois impe-se ao devedor abster-se de um ato em

    todas as ocasies em que o teria de cumprir. A obrigao se renova a cada momento.

    A obrigao de no fazer pode ainda representar um dever secundrio de outras obrigaes.

    Basta pensar no contrato de locao de bem imvel (obrigao de dar coisa certa), na qual o

    locatrio assume uma srie de obrigaes negativas, vinculadas necessidade de preservar a

    integridade do bem. Na verdade no uma obrigao de no fazer, e sim um dever, eis que no

    constituem o objeto principal da obrigao.

    A impossibilidade e o inadimplemento da obrigao de no fazer

    Enquanto as obrigaes de fazer se extinguem com o cumprimento, novao, compensao,

    transao, confuso, remisso, as de no fazer somente se extinguem quando verificadas as

    condies estabelecidas pelas partes em sua relao obrigacional, seja porque vencido o prazo

    durante o qual o devedor se obrigou a no fazer, seja pela perda do objeto da prestao negativa ou

    ainda pelas outras formas naturais de cessao da possibilidade de agir, como nos casos de morte ou

    desaparecimento de uma das partes, pelo perecimento ou alienao do bem sobre o qual incidia a

    obrigao.

    As solues para a frustrao da obrigao negativa variam conforme aferio da conduta

    culposa do devedor ou da impossibilidade de cumprimento em funo de fato que lhe seja estranho.

    Pelo art. 250, extingue-se a obrigao negativa, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne

    impossvel se abster do fato, que se obrigou a no praticar. Ser hiptese de resoluo, em caso de

    impossibilidade objetiva e superveniente de adimplemento de prestao de no fazer por fato que

    no possa ser imputado ao devedor, em razo de sua externalidade e inevitabilidade. A

    impossibilidade originria na obrigao de no fazer, j existente ao tempo da celebrao, implica a

    nulidade do negcio jurdico.

    A classificao mais importante das obrigaes negativas concerne s consequncias do

    inadimplemento. As obrigaes instantneas (transeuntes) so aquelas que quando descumpridas

    uma nica vez, so irreversveis, gerando inadimplemento absoluto (no divulgar segredo de

    empresa), posto impossvel voltar ao estado originrio. Nas obrigaes instantneas no h

    incidncia de mora.

    Em contrapartida, as obrigaes permanentes, ou contnuas, admitem, mesmo aps o

    descumprimento, a opo pela purgao da mora atravs da recomposio do status anterior

    (obrigao de no poluir sanada pela instalao de aparelhos no poluentes).

  • O art. 251 do CC formula a regra de que praticado pelo devedor o ato, a cuja absteno se

    obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaa, sob pena de se desfazer a sua custa, ressarcindo o

    culpado perdas e danos. Nas obrigaes permanentes, ao contrrio das instantneas, o devedor

    poder incorrer em mora, com a possibilidade de purg-la e manter a execuo da obrigao em

    absteno. Basta supor a proibio de despejo de lixo em certo local: violada a absteno, poder o

    devedor retirar o lixo do local, suportando ainda perdas e danos e aceitando a absteno posterior.

    A tutela ressarcitria aquela que naturalmente se adapta ao inadimplemento de uma

    obrigao negativa. A circunstncia de algum se obrigar a um no fazer no significa que o

    obrigado tenha renunciado sua faculdade (ou direito) em favor de outrem, ou mesmo se obrigado

    a renunciar. Se A se compromete perante B a no alienar determinado imvel, porm, vem a

    descumprir a obrigao vendendo para um terceiro, tal negcio jurdico ser vlido e eficaz,

    cabendo a B demandar em face de A as consequncias do inadimplemento. Aquele que se

    obriga a no licitar, por exemplo, no renuncia a esta faculdade.

    Tutela processual das obrigaes de fazer e no fazer

    A tutela especfica poder ser antecipada. Se j se prevem os danos, o juiz poder antecipar

    a tutela. Ex: prestigiado cantor subscreve contrato com empresa A para obteno de exclusividade

    na distribuio de material fonogrfico. H portanto uma obrigao de no fazer. A empresa B

    pretende vender o material. No seria lgico esperar que a empresa B comece e vender para a

    empresa A entrar com um processo, sendo que os danos j estariam sendo produzidos e poderiam

    ser evitados. Caso a empresa B mesmo assim, aps, por exemplo, a aplicao da multa, tenha

    continuado a vender o material, o juiz poder pedir a busca e apreenso dos materiais na gravadora.

    Com isto, afasta-se cada vez mais a tutela substitutiva do processo, baseada na

    responsabilidade puramente patrimonial genrica do devedor, cedendo vez ao fundamental

    cumprimento in natura da obrigao. Torna-se exceo a aplicao das perdas e danos por

    expropriao de bens, sobrevindo assim a tutela ressarcitria em carter residual somente quando

    impraticveis a tutela especfica ou a assecuratria. A obrigao somente se converter em perdas

    e danos se o autor requerer ou se impossvel a tutela especfica ou a obteno do resultado prtico

    correspondente.

  • Captulo 3

    Modalidades da Obrigaes II Classificao quanto aos elementos

    1) Obrigaes Alternativas

    A relao obrigacional poder abranger um nico objeto ou uma pluralidade deles. A mais

    singela das classificaes quanto presena dos elementos obrigacionais concerne s obrigaes

    simples. So assim nomeadas, pois ostentam apenas um credor, um devedor e uma prestao.

    J nas obrigaes cumulativas, a nfase reside na cumulatividade, vinculando-se o devedor a

    prest-las em conjunto, em funo de um nico ttulo e fato jurdico. Porm, a particularidade das

    obrigaes alternativas reside no fato de que, apesar da pluralidade de prestaes possveis e

    distintas, estas se excluem no pressuposto de que apenas uma delas dever ser satisfeita. O devedor

    se liberta da obrigao com o cumprimento de apenas uma das prestaes. fcil perceber a

    obrigao alternativa pelo uso da disjuno ou. Ex: A pagar a dvida de B mediante a

    entrega de 200.000 reais ou de um apartamento nesse valor.

    No pode o credor ser compelido a receber parceladamente a prestao devida

    integralmente. Assim, no pode ser imposto ao credor receber parte de uma prestao e outra parte

    de uma outra prestao, fragmentando o adimplemento obrigacional. Uma seguradora pode

    ressarcir o cliente com um carro novo ou o valor em dinheiro equivalente, mas no pode dividir a

    prestao em parte dinheiro e parte um carro usado e velho.

    Havendo uma unidade de vnculo, mesmo com a pluralidade de prestaes possveis e

    autnomas entre si, ser vedado cogitar de obrigao alternativa quando uma aparente hiptese de

    alternatividade no se relacionar com a incidncia de duas ou mais prestaes independentes. No

    se pode haver como obrigaes alternativas aquelas em que h mltiplos momentos de entrega, ou

    do tipo de transporte a ser usado, ou do modo de pagamento. Essas particularidades no dizem

    respeito ao contedo (que o que precisa ser mltiplo para caracterizar a obrigao alternativa)

    mas, somente, s circunstncias da prestao. Tambm no se mistura com a dao em pagamento,

    que a extino da obrigao simples pela troca do objeto de uma obrigao por outro objeto ao

    tempo do pagamento (devo um carro a B mas, com a anuncia deste, dou uma moto e encerra-se a

    obrigao). Igualmente, quando existem 2 prestaes, mas uma subsidiria da outra, no ocorre a

    obrigao alternativa, pois as prestaes devem ter igual preferncia.

    Apesar da excepcionalidade, pode existir obrigao alternativa sobre dvida de coisa incerta.

    Ex: A e B ajustam que o primeiro entregar ao segundo 3 vacas ou 3 cavalos. Assim teremos

    duas escolhas que ainda possuem objeto mediato incerto.

  • Concentrao

    As obrigaes alternativas possuem uma fase que lhes fundamental: a da concentrao. Tal

    fase caracteriza-se pela converso da obrigao alternativa, originariamente plural, em obrigao

    simples, pela determinao do objeto a ser prestado. Ela poder ser convencionada por vias

    autnomas vontade das partes.

    O direito de escolha atribudo pela conveno ou pela lei um direito potestativo. No

    havendo a estipulao, no silncio, caber a opo ao devedor. Havendo obscuridade nas clusulas,

    tambm resolvida pelo devedor.

    A outro ngulo, com a morte e a passagem das situaes subjetivas patrimoniais, o direito

    potestativo de escolha transfervel aos herdeiros do titular da opo.

    Eleita uma via, no h retorno. Os efeitos da concentrao retroagem data da constituio

    da obrigao, como se simples fosse desde o incio. Em carter expresso, podero, todavia, as partes

    formular uma clusula de retratao, deferindo-se aos contratantes a opo de desconstituir a

    eficcia da escolha anterior.

    Caso a obrigao alternativa deva ser satisfeita de forma peridica (ms em ms, ano a

    ano...), a cada perodo, o titular da opo seja ele credor ou devedor poder exercer uma escolha

    variada. Portanto, se couber ao credor A se defere a escolha mensal entre 1kg de arroz ou 1kg de

    feijo, a cada ms poder pleitear do devedor B a entrega de uma opo nova.

    Credor e devedor podero ainda delegar a opo da prestao a um terceiro, sendo que a

    escolha ser deferida analise de um terceiro na relao. Caso o terceiro se negue, ou lhe seja

    impossvel a tarefa (morte por exemplo), a impossibilidade no acarreta a nulidade da obrigao. As

    partes alcanaram a escolha pela via consensual ou a concentrao ficar a cargo do magistrado.

    A obrigao alternativa como processo

    A inrcia da parte ao execcio do direito de escolha no prazo contratual ou em interpelao

    transmitir a outra parte o direito de escolha. O devedor no perde automaticamente o direito de

    escolha, porm abre-se ao credor a possibilidade de propor uma ao condenatria para realizar o

    direito de escolha por parte do devedor. O devedor ento no se pronunciando em 10 dias, a opo

    de escolha devolvida ao credor. O mesmo processo se repete se, no caso, for o credor que estiver

    se recusando a escolher a opo (se for, claro, caso em que o credor que escolhe, no o devedor).

    Impossibilidade das prestaes

    Na hiptese de impossibilidade originria de qualquer uma das prestaes, a obrigao j

    ser simples em seu momento gentico. A alternatividade se torna meramente aparente. Ser

  • parcialmente nula o negcio jurdico se a prestao viciada no contaminou ou afetou todo o objeto

    do negcio. Se assim for, ele ser inteiramente nulo.

    Tornando-se todas as obrigaes inexequveis por evento no imputvel s partes, extinguir-

    se- a obrigao. Porm, encontrando-se o devedor em mora ao tempo da impossibilidade

    superveniente, no s ser responsabilizado por prejuzos perante o credor durante a mora, como

    tambm incidir a perpetuao da obrigao, arcando com a impossibilidade da prestao mesmo

    que ela tenha decorrido do fortuito externo, exceto se comprovar que o fato danoso ocorreria de

    qualquer forma, mesmo se houvesse cumprida a prestao tempestivamente.

    Se to somente uma das prestaes torna-se materialmente inexequvel, sem culpa do

    devedor e antes do momento da concentrao, o dbito sobejar automaticamente concentrado na

    prestao remanescente. A obrigao passa a ser simples.

    Anote-se, por necessrio, que eventual impossibilidade superveniente de uma das prestaes

    no imputvel s partes ser indiferente, caso a perda do objeto diga respeito prestao que no foi

    a escolhida em momento anterior. A obrigao mantm a sua eficcia. Todavia, se a perda se deu

    aps a escolha, recaindo justamente sobre a prestao eleita, naturalmente ocorrer a resoluo do

    negcio jurdico, tal como ocorreria em uma obrigao simples.

    Caso o negcio jurdico seja validamente constitudo, mas uma das prestaes torne-se

    inexequvel por culpa do devedor, a soluo poder variar conforme a titularidade da escolha, nos

    itens I e II abaixo:

    I se a concentrao couber ao credor, ter este o direito potestativo de optar entre a

    prestao subsistente ou o valor correspondente quela que pereceu, acrescida de perdas de danos.

    Se o credor optar pela outra prestao, no h qualquer prejuzo para as partes.

    II sendo a opo delegada ao devedor, remanesce o dbito sobre a outra prestao

    subsistente, sem qualquer acrscimo pecunirio.

    Se todas as prestaes tornam-se sucessivamente inexequveis por culpa do devedor, tudo

    depender a cargo de qual dos contratantes ficou o direito de escolha. Cabendo ao devedor, este fica

    obrigado a pagar o valor da que por ltimo se impossibilitou, acrescido de perdas e danos. Se as

    prestaes se perdem ao mesmo tempo, o devedor escolhe qual delas ir pagar, com perdas e danos.

    Se a culpa pela impossibilidade de uma das prestaes for do credor e este tinha o direito de

    escolha, o credor ser responsabilizado por perdas e danos, exceto se escolher a prestao que no

    se impossibilitou. Incumbindo-se a escolha ao devedor, realizar a prestao subsistente e exigir

    perdas e danos caso a prestao seja mais onerosa do que aquela que se impossibilitou.

  • Se todas as prestaes se tornam inexequveis por culpa do credor, extingue-se a obrigao,

    podendo o devedor exigir o valor de qualquer uma delas, acrescida de perdas e danos. Se couber ao

    credor escolher as prestaes, ele pode escolher a que for indenizar.

    Se ambas prestaes perecerem, uma por culpa do devedor, outra por culpa do credor, a

    soluo depender da precedncia de culpas.

    2) Obrigaes facultativas

    Consiste na possibilidade conferida ao devedor de substituir o objeto inicialmente prestado

    por outro, de carter subsidirio, mas j especificado na relao obrigacional. A prestao devida

    uma s, incidindo unidade de objeto quanto da celebrao do contrato, pois a obrigao facultativa

    um direito potestativo concedido ao devedor de adimplir o dbito de forma diversa ao

    estabelecido com o credor.

    As obrigaes facultativas so obrigaes simples. Diferem portanto das obrigaes

    alternativas nas quais h uma obrigao complexa, com pluralidade de prestaes, caracterizada por

    uma relativa indeterminao do objeto. Na facultativa no existe a concentrao, fundamental na

    alternativa. Ao contrrio, a facultativa j nasce pronta para ser cumprida, pois h um nico vnculo

    obrigacional e uma s prestao, cujo objeto imediatamente determinado. Ao devedor

    oportunizada a faculdade de, no momento do pagamento, substituir a prestao por outra,

    previamente consignada no contrato. A obrigao substitutiva no poder jamais ser exigida ou

    reclamada pelo credor, pois ela se encontra no mbito jurdico do devedor.

    Ex: A convenciona com B o pagamento da quantia de 3.000 reais em novembro, com a

    obrigao facultativa de transferir uma moto. Com isso, facilita-se o pagamento de A, sem

    depender da aquiescncia do credor.

    Decorre da distino entre as facultativas e as alternativas duas repercusses prticas:

    I se a prestao principal na facultativa padecer de impossibilidade originria, invlida

    sobejar toda a obrigao em face da perda do objeto. Porm, nas alternativas, subsistir a

    obrigao na outra prestao, que no ser atingida;

    II nas alternativas a perda superveniente de uma das coisas concentrar o dbito na

    subsistente. Todavia, ocorrendo a impossibilidade posterior da coisa principal sem culpa do

    devedor, a obrigao facultativa extingue-se, a despeito de subsistir o objeto supletivo, pois o objeto

    nico, no podendo a coisa acessria ser exigida pelo credor. Acresa-se que a perda da coisa

    acessria em nada repercute no cumprimento da obrigao facultativa.

  • Tambm se apartam as facultativas da dao em pagamento pois nesta necessrio a

    anuncia do credor quando da troca do objeto da obrigao e, no tempo da contratao, no h

    qualquer referncia faculdade de se substituir um objeto por outro.

    3) Obrigaes cumulativas

    Tratando-se agora do uso da conjuno aditiva E, caracteriza-se a obrigao conjuntiva

    pela incidncia de duas ou mais prestaes cumulativamente exigveis por um nico ttulo e um

    nico fato jurdico na origem. O devedor apenas se exonerar quando prestar as duas ou mais

    prestaes de forma conjunta, pois, enquanto uma delas no tiver sido adimplida, poder o credor

    exigi-las na totalidade do devedor, sendo-lhe lcita a recusa da oferta parcial. O descumprimento de

    uma das prestaes significa o inadimplemento total.

    Ex: se um marceneiro se obriga a entregar uma mesa, um armrio e uma cmoda no valor de

    10.000 reais a relao obrigacional apenas ser satisfeita com o cumprimento conjuntivo de todas as

    prestaes pactuadas.

    4) Obrigaes fracionrias (conjuntas) = multiplicidade de agentes.

    Havendo pluralidade de credores ou devedores em obrigao de natureza divisvel e

    inexistindo solidariedade legal ou contratual, casa um dos titulares portar-se- de forma autnoma,

    com relao a seus direitos e deveres, fracionando-se a obrigao em partes iguais. Em outras

    palavras, cuida-se de regra que emana da natureza das coisas: cada credor s pede a sua parte e cada

    devedor s se obriga por sua parte.

    Assim, se A,B e C obrigam-se a pagar 90,00 reais a D,E,F, poder A adimplir com o

    simples pagamento de 30 reais, em prol de qualquer dos devedores. Em contrapartida, a D no ser

    lcito exigir mais do que 30 reais dos devedores.

    Desta forma, todos os partcipes da relao jurdica repartem necessariamente os bnus e os

    nus da obrigao. Essa regra excepcionalmente derrogada quando as obrigaes complexas por

    multiplicidade de partes revestem-se de indivisibilidade.

    5) Obrigaes divisveis e indivisveis

    Indivisveis

    Nas obrigaes pautadas pela indivisibilidade da prestao, o credor ter o arbtrio de exigir

    a prestao em sua totalidade, bem como ser proporcionada ao devedor a opo de liberao com o

    adimplemento efetuado apenas perante a totalidade de credores.

  • A indivisibilidade do objeto possvel fisicamente de se dividir pode advir tanto por

    determinao normativa, como pela autonomia das partes. A indivisibilidade, resumindo, resulta da

    razo determinante do negcio jurdico, ou seja, a razo das especificidades do contrato firmado

    perde suas qualidades essenciais se realizado de forma de obrigao fracionada.

    A indivisibilidade e as modalidades de obrigaes

    A obrigao de dar pode ser divisvel ou indivisvel. Ser ela sempre divisvel na

    transmisso dos direitos de propriedade, mas ser indivisvel quando o objeto for um direito real,

    como a servido. A obrigaes genricas de dar coisa incerta podem ser divisveis ou

    indivisveis; no primeiro caso quando tiverem por objeto coisa quantitativamente determinada (1

    tonelada de arroz ou 3 bois de uma raa), no segundo caso, em se tratando de coisa genericamente

    designada (1 cavalo). As obrigaes alternativas so indivisveis, pois no pode o devedor obrigar o

    credor a receber a parte em uma prestao e parte em outra.

    J as obrigaes de restituir so normalmente indivisveis, mesmo porque o credor no

    poder receber nada distinto daquilo que emprestou, conforme o convencionado.

    As obrigaes de fazer tambm so indivisveis, pois a obrigao consistente em um

    comportamento do devedor requer que toda a tarefa seja cumprida.

    A norma, obviamente, no menciona as obrigaes de no fazer, pois, pela sua prpria

    essncia, a absteno indivisvel.

    Efeitos da indivisibilidade das obrigaes

    Obrigao indivisvel com pluralidade de devedores = cada devedor obriga-se pela dvida

    toda, ele no poder solver sua parte, pois ante a impossibilidade de fracionamento a prestao

    exigvel por inteiro ou por qualquer credor. Despiciendo saber se a indivisibilidade resulta da

    natureza do objeto, da lei ou da vontade das partes. Em qualquer caso, o devedor que pagar ficar

    sub-rogado em todos os direitos do credor, assumindo sua posio jurdica em relao aos demais

    coobrigados.

    Caso um dos devedores se torne insolvente, ser lcito ao credor cobrar a integralidade da

    dvida dos demais devedores. J na obrigao divisvel, isso no seria possvel, pois cada um

    somente responde pela sua cota, e nada mais.

    Em sede de interrupo de prescrio, tratando-se de prestao divisvel, a paralisao do

    prazo com relao a um dos devedores em nada influencia a contagem do prazo para o exerccio da

    pretenso do credor comum em relao aos demais devedores. Mas, se a prescrio for objeto de

  • interrupo em face de devedor de prestao de cunho indivisvel, tal fato prejudicar os demais

    devedores, pois a prestao deve ser recebida por inteiro.

    Obrigao indivisvel com pluralidade de credores = cada credor tem o direito de reclamar a

    prestao por inteiro e o devedor desobriga-se pagando a um ou a todos. Adimplindo em favor de

    todos, conjuntamente, exonera-se da responsabilidade. Contudo, pagando somente a um credor,

    deste receber cauo de certificao, que o desobrigar quanto aos demais credores, sendo eficaz

    a quitao. A referida cauo um documento no qual se insere uma garantia de aprovao da

    quitao unilateral por parte dos outros credores. Se no obtiver a cauo, no poder ser compelido

    o devedor a pagar, caracterizando-se como legtima a sua recusa.

    O credor que agiu com celeridade e recebeu o pagamento integral da prestao indivisvel

    ser premiado e ficar com o bem, porm reembolsar os demais. Se houver recusa de alguns dos

    credores, caber quele credor que recebeu promover a ao de consignao em pagamento.

    Caso um dos credores delibere pela remisso do dbito, o perdo no produzir efeitos

    perante os demais credores, podendo qualquer deles exigir do devedor o pagamento, desde que

    abatida do valor total a cota do credor que efetuou a remisso. Ex: o objetivo da obrigao dar um

    cavalo a 3 credores, sendo que um deles remite a dvida. Os outros dois exigem o pagamento que s

    poder ser feito mediante a entrega pelo devedor, do cavalo devido. Se o animal vale 30.000 reais, a

    a quota do credor remitente de 10.000 reais. Os outros dois somente podero exigir a entrega

    daquele animal se pagarem 10.000 reais ao devedor, pois se no o fizerem, estaro se locupletando

    indevidamente.

    Obrigaes Solidrias

    Aqui, cada devedor e cada credor atua como se fosse nico de sua classe.

    Nas obrigaes solidrias, h multiplicidade de protagonistas: seja por concorrncia de

    vrios credores, cada um com direito dvida toda (solidariedade ativa); seja por pluralidade de

    devedores, cada um obrigado a ela por inteiro (solidariedade passiva) ou mesmo pluralidade de

    credores e devedores (pluralidade mista).

    Tal como acontece nas conjuntas, a cada credor ou devedor s compete uma parte da

    prestao. Mas existe, contudo, uma relao acessria entre os vrios cocredores ou codevedores,

    por virtude do qual se explica a possibilidade de o credor solidrio poder exigir a totalidade da

    prestao e o devedor solidrio ser obrigado a satisfaz-la integralmente.

    Ex: quando A,B e C so devedores solidrios da quantia de 90 reais, na verdade o dbito de

    cada um se resume a 30 reais, mas a responsabilidade se expande, ao ponto de cada um vincular seu

    patrimnio pelo 90 reais.

  • A solidariedade compatvel com todo e qualquer gnero de obrigao, positiva, negativa de

    dar, fazer ou de no fazer.

    A solidariedade incompatvel com qualquer relao obrigacional formada por apenas um

    credor ou um devedor. Nas obrigaes simples, prevalecer a indivisibilidade.

    Principais postulados na solidariedade = I) pluralidade subjetiva; II) unidade objetiva

    (mesma obrigao, diferente da obrigao conjunta, onde para cada devedor/credor existe uma

    obrigao).

    Em termos concretos, o pagamento realizado por qualquer devedor ou recebido por

    qualquer devedor, extingue a obrigao.

    A solidariedade no se presume! Ela nasce em virtude de conveno das partes ou imposio

    legal.

    Distines entre a solidariedade e a indivisibilidade

    Antes de mais nada, mister lembrar que ambas re