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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES I. ASPECTOS INICIAIS 1. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Conceito Direito das Obrigações ou Direito Obrigacional é o ramo do Direito Civil que estuda as espécies obrigacionais, suas características, efeitos e extinção. A importância dos direitos das obrigações compreende as relações jurídicas que constituem as mais desenvoltas projeções da autonomia privada na esfera patrimonial. Dotado de grande influência na vida econômica, regula as relações da infra-estrutura social de relevância política, as de produção e as de troca. Também é nos direitos das obrigações que percebemos as limitações impostas à liberdade de ação dos particulares retratando a estrutura econômica da sociedade. 2. OBRIGAÇÃO Sinônimos A palavra obrigação, lato sensu, comporta vários sentidos: a) norma; b) compromisso (bilateralidade); c) dever 1 . No sentido estrito, a obrigação é o vínculo de direito pelo qual alguém (sujeito passivo) se propõe a dar, fazer ou não fazer coisa (objeto), em favor de outrem (sujeito ativo). Relação Jurídica Destaca-se que a obrigação é sempre uma relação jurídica entre o credor e o 1 Atente: Direito Obrigacional > Dever > Obrigação.

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

I. ASPECTOS INICIAIS

1. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

Conceito

Direito das Obrigações ou Direito Obrigacional é o ramo do Direito Civil que estuda

as espécies obrigacionais, suas características, efeitos e extinção.

A importância dos direitos das obrigações compreende as relações jurídicas que

constituem as mais desenvoltas projeções da autonomia privada na esfera patrimonial.

Dotado de grande influência na vida econômica, regula as relações da infra-estrutura

social de relevância política, as de produção e as de troca. Também é nos direitos das

obrigações que percebemos as limitações impostas à liberdade de ação dos particulares

retratando a estrutura econômica da sociedade.

2. OBRIGAÇÃO

Sinônimos

A palavra obrigação, lato sensu, comporta vários sentidos:

a) norma;

b) compromisso (bilateralidade);

c) dever1.

No sentido estrito, a obrigação é o vínculo de direito pelo qual alguém (sujeito

passivo) se propõe a dar, fazer ou não fazer coisa (objeto), em favor de outrem (sujeito

ativo).

Relação Jurídica

Destaca-se que a obrigação é sempre uma relação jurídica entre o credor e o

1 Atente: Direito Obrigacional > Dever > Obrigação.

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devedor caracterizada pelo vínculo jurídico, destacando o conteúdo como uma prestação

(de dar, de fazer ou de não-fazer).

Definição

Obrigação é a relação jurídica pela qual uma pessoa fica adstrita a outra com o

propósito de realizar uma prestação.

Conceito

Deve-se analisar o conceito de obrigação através de uma dupla perspectiva.

Perspectiva Simples – Estática

2

Objeto:

a) Objeto Direto: é o

tipo de prestação

a que uma das

partes está adstrita;

b) Objeto Indireto: é o objeto em si da relação jurídica, enquanto tal.

II. FONTES DAS OBRIGAÇÕES

2 Exemplo1 – compra e venda de uma casa:a) Objeto Direto: dar;b) Objeto Indireto: casa.Exemplo2 – contratação de serviços de pintura:a) Objeto Direto: fazer (pintar);b) Objeto Indireto: pintura.

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1. INTRODUÇÃO

Fato Jurídico

Fato Jurídico é todo acontecimento, natural ou humano, e suscetível de produzir

efeitos jurídicos. Os fatos Jurídicos constituem gênero que inclui eventos puramente

naturais (fatos jurídicos em sentido restrito) e atos humanos de que derivam efeitos

jurídicos, quais sejam, atos jurídicos e atos ilícitos.

São os (1) fatos que possuem (2) previsão normativa, fazendo com que haja –

desta feita – a juridicização.

1.2. Funções das Fontes das Obrigações

As fontes obrigacionais têm as seguintes funções:

a) fazer nascer uma relação obrigacional;

b) determinar o regime jurídico aplicável à relação obrigacional.

2. FONTES NORMATIVAS

Constituição

A aplicação da Constituição sobre as relações obrigacionais pode se dar das

seguintes formas:

a) aplicação de normas da Constituição sobre o Direito das Obrigações3;

b) aplicação dos direitos fundamentais sobre o Direito das Obrigações4.

b1) Teoria da Aplicação Direta/Imediata: aplica-se diretamente às relações

obrigacionais; entendimento do STF, em alguns casos;

b2) Teoria da Aplicação Indireta/Mediata: aplica-se os direitos fundamentais por

meio ou da interpretação ou de clausulas gerais (por meio de dispositivos

amplos, suporte fático abrangente); entendimento majoritário dentro os

doutrinadores brasileiros.

3 Era o caso, por exemplo, da limitação constitucional da taxa de juros em 12% ao ano.4 Nas relações interpessoais, sempre há tensão entre direitos fundamentais, visto que ambas as

partes são detentoras dos mesmos direitos (pois o sujeito passivo dos direitos fundamentais é o Estado).

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Leis

Leis Gerais

As leis gerais são aplicáveis a uma ampla gama de relações obrigacionais.

Código Civil – Lei 10.406/02

Em princípio, aplica-se sempre o Código Civil, uma vez que este diploma contém

os conceitos e os fundamentos das relações obrigacionais.

No CC há uma igualdade formal entre as partes.

Destacam-se as seguintes partes do Diploma Civilista como sendo fontes do Direito

Obrigacional:

a) Parte Geral;

b) Parte Especial – Livro I;

c) Parte Especial – Livro II.

2.2.1.2. Código de Defesa do Consumidor – Lei 8.078/90

No CDC há uma desigualdade formal entre as partes, pois se presume que há uma

desigualdade material entre consumidor e fornecedor5.

O que faz com que uma determinada relação seja de consumo, isto é, seja

especificamente regulada pelo CDC?

Relação de consumo é toda relação em que de um lado há consumidor e de outro

lado há fornecedor.

a) Consumidor:

a1) Art. 2º, CDC Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou

utiliza produto6 ou serviço como destinatário final. – destinatário final;

a2) Art. 2º, Parágrafo único, CDC. Equipara-se a consumidor a coletividade de

pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de

consumo. – ente coletivo;

a3) Art. 17, CDC. Para os efeitos desta Seção (Da Responsabilidade pelo Fato

5 Igualdade material: C < F; Igualdade formal: C > F; Resultado: C = F.6 Bem de consumo: destinatário final – aplica-se o CDC; Bem de insumo: processo produtivo – aplica-se o CC.

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do Produto e do Serviço, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do

evento. – vítima;

a4) Art. 29, CDC. Para os fins deste Capítulo (Das Práticas Comerciais) e do

seguinte (Da Proteção Contratual), equiparam-se aos consumidores todas as

pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. – pessoa

exposta a determinadas práticas.

b) Fornecedor:

b1) Art. 3°, CDC. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou

privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que

desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção,

transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de

produtos ou prestação de serviços. – atividade.

2.2.2. Leis Específicas

As leis gerais específicas são normas que tratam tão-somente de uma única

matéria, especificamente.

A título de exemplo, cita-se:

a) Lei de Locações dos Imóveis Urbanos – Lei 8.245/91;

b) Lei do Parcelamento do Solo Urbano – Lei 6.766/79;

c) Lei do Compromisso de Compra e Venda – DL. 58/37;

d) Lei da Usura – Dec. 22.626/33;

e) Lei dos Registros Públicos – 6.015/73.

2.3. Princípios

Sendo os princípios a base do ordenamento jurídico, o alicerce de qualquer ramo

do direito, os admite-se como fontes do direito das obrigações.

Os mais importantes princípios, neste sentido, são os seguintes:

a) Princípio da autonomia privada;

b) Princípio da boa-fé objetiva;

c) Princípio da função social;

d) Princípio do equilíbrio.

3. FONTES FÁTICAS

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3.1. Fontes Negociais

Fontes negociais são as relações jurídicas obrigacionais que perpassam o plano da

validade.

3.1.1. Negócios Jurídicos Unilaterais

Nestes negócios, há manifestação única de vontade.

Exemplos: testamento e promessa de recompensa.

3.1.2. Negócios Jurídicos Bilaterais

Há, nestes negócios, dupla manifestação de vontades.

Exemplos: doação7 e compra e venda.

3.2. Fontes Extra-Negociais

As fontes não-negociais não passam pelo plano da validade.

3.2.1. Danos Injustos

Os danos injustos são passiveis de indenização/reparação, o que se verifica no

ramo do Direito denominado Responsabilidade Civil.

Pressupostos da Responsabilidade Civil:

a) Dano8 (patrimonial, extrapatrimonial ou estético);

b) Conduta do agente;

c) Nexo da causalidade entre o dano e o ato;

d) Fator de imputação:

d1) culpa9 (negligência, imprudência, imperícia): a conduta do agente é culposa

– Responsabilidade Civil Subjetiva;

7 O contrato de doação é unilateral, mas o negócio jurídico é bilateral.8 Não pressupõe a ilicitude do ato.9 Pretende-se censurar alguém por uma determinada conduta culposa.

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d2) risco10: toda vez que o agente gerar risco social terá o dever de indenizar

eventos danosos, mesmo que não haja culpa por parte dele – Responsabilidade

Civil Objetiva11.

3.2.2. Enriquecimento Sem Causa

O enriquecimento sem causa é passível de restituição, o que se verifica no ramo do

Direito denominado Direito Restituitório12 (enriquecimento sem causa, pagamento

indevido13, gestão de negócios14).

Tal instituto jurídico deixou de ser fonte autônoma obrigacional no Código de

Napoleão, razão pela qual também não foi expressamente codificado no Código

Bevilaqua, uma vez que se entendia que tal instituto restava presente, como uma espécie

de sombra, no ordenamento jurídico como um todo; deram-se conta, contudo, diante de

um caso prático15, que era fundamental a sua positivação.

Pressupostos para aplicação do Enriquecimento Sem Causa:

a) Enriquecimento: acréscimo do ativo ou diminuição do passivo, real ou potencial;

b) Fundado em pessoa ou bem alheio;

c) Sem causa jurídica para a atribuição patrimonial;

d) Inexistência de regra que vede a aplicação do enriquecimento sem causa16;

e) Caráter subsidiário: a aplicação dá-se subsidiariamente a outras regras17.

10 Pretende-se remediar um evento danoso.11 Exemplos:Art. 927, CC. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,

nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Art. 12, CDC. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

12 Livro: MICHELON JR., Claudio. Direito Restituitório. São Paulo: RT, 2006.13 Restitui-se o valor pago indevidamente quando houver erro para a pessoa a quem se pagou,

erro quanto ao valor (a mais) pago ou erro quanto ao modo de pagamento.14 Restituem-se os valores quando aquele que gestiona interesses alheios sem mandato sofrer

algum gasto.15 O sujeito A teria arrendado terras ao sujeito B, que adquiriu adubos na empresa C. Insolvente,

o B devolve a terra adubada ao A, que teve acréscimo patrimonial sem causa. A empresa C entra com ação a fim de minorar seus prejuízos contra o arrendante. Julgada procedente no Tribunal Superior, aplicando-se justamente o enriquecimento sem causa como motivo obrigacional da restituição.

16 Vedam a incidência do enriquecimento sem causa o usucapião, a prescrição da pretensão, entre outros.

17 Exemplo: utilização indevida da imagem de alguém famoso – direito a danos morais, que foram fixados em 300 salários mínimos; direito a restituição por acréscimo patrimonial, que

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Diferenças entre Enriquecimento Sem Causa e Responsabilidade Civil:

Responsabilidade Civil Enriquecimento Sem CausaDano imprescindível desnecessárioDireito indenizatório restituitórioLiquidação extensão do dano tamanho do enriquecimento

Qual o valor a ser restituído caso não haja enriquecimento? Para responder esta

pergunta, há de se levar em consideração que o enriquecimento, neste caso, é potencial.

Diante disso, averigua-se qual o valor pago se houvesse uma atribuição jurídica, ou seja,

no caso de restituição por majoração em vendas de revistas devido ao uso de imagem, o

valor seria o valor contratual que geralmente se pagaria por este tipo de direito.

III. REGIME JURÍDICO

1. PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO OBRIGACIONAL

1.1. Definição de Princípio

Segundo Ronald Dworkin, as normas, que são juízos de dever-ser, ou são regras

ou são princípios.

Uma regra afasta a aplicação de outra regra, no caso

concreto; ao passo que um princípio age conjuntamente

com outros princípios, um não necessariamente afasta o

outro, aplicando-se, ao caso concreto, os dois, na medida

do possível.

1.2. Princípios Gerais

Princípios gerais são valores juridicizados aplicáveis a todas as obrigações

independendo da fonte que a gerou.

Dentre os princípios gerais, destacam-se dois:

a) Princípio da Autonomia Privada;

b) Princípio da Boa-Fé Objetiva;

ficou provado que houve um aumento de vendagem na ordem de 500 salários mínimos – o valor total devido será dos 300 mais a diferença do acréscimo patrimonial menos o valor dos danos, isto é, mais 200 salários mínimos, totalizando um montante de 500 salários mínimos.

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Há de mencionar outros dois princípios gerais, pela relevância:

c) Princípio do Equilíbrio;

d) Princípio da Função Social.

1.2.1. Princípio da Autonomia Privada18

Autonomia privada é mais do que autonomia da vontade. Esta se relaciona ao agir

livre do sujeito, ligando-se à vontade interna, psíquica (decisão interna do sujeito19). Já a

autonomia privada diz respeito ao poder de criar normas para si. O acento é posto, assim,

na possibilidade de decisões individuais com força normativa.

Ela não se restringe à atividade negocial, mas permeia todos os ramos do direito

civil, do direito de família ao obrigacional. Neste é apenas maior e mais nítida.

A própria noção de “culpa” vincula-se à autonomia privada. A responsabilidade pela

conduta danosa é atribuída àquele que age de modo censurável, vale dizer, na esfera de

sua autonomia, mas com culpa.

A função e o sentido da autonomia privada têm de ser buscados na Constituição

Federal, notadamente no artigo 1º, II, que trata da dignidade da pessoa humana, e no

artigo 170, que funda a ordem econômica.

Conforme o art. 1º, é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil a

dignidade da pessoa humana, cujo corolário é a proteção do livre desenvolvimento da

personalidade. Nesse contexto, afastar a autonomia privada, ou limitá-la a extremos, é

contrário a esses critérios constitucionais, na medida em que priva o particular de se auto-

regrar, tornando-o uma espécie de autômato. De outra parte, o art. 170 funda a ordem

econômica brasileira também sobre a livre iniciativa, o que inegavelmente assegura à

autonomia privada um papel central no domínio econômico. 20

18 Sobre o tema, vide: AMARAL, Francisco. Direito Civil Introdução. Ed. Renovar.19 Tenho a liberdade de trocar de sexo, por exemplo.20 Disponível em: <http://www.tex.pro.br/wwwroot/05de2003/principiosdedireitodasobrigacoes. htm>. Acesso em:

25/ago/08.

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Fundamentos Jurídico-ConstitucionaisArt. 1º, III, CF Dignidade da Pessoa

Humana

Dentro desse princípio,

há a idéia de livre

desenvolvimento da

personalidade, que diz

respeito a elementos

não-econômicos21.Art. 170, CF Ordem Econômica Há a liberdade para

praticar atos

econômicos desde que

respeitados os

regramentos

específicos.

O conceito de Autonomia Privada modifica-se ao longo da História:

a) Dogma da Vontade: a partir do Código Civil Francês, entende-se que as

pessoas são responsáveis por suas escolhas;

b) Intervenção Estatal na Economia: após a abolição da escravatura no Brasil, do

fim da II Guerra Mundial, tem-se um intervencionismo estatal bastante

acentuado;

c) Neoliberalismo e Autonomia Solidária: com a escolha de Margareth Thatcher

como Primeira Ministra do Reino Unido, dá-se o avanço do Neoliberalismo, com

o que o Estado deixa de interferir na Economia; dentro dessa fase Neoliberal,

destaca-se a Constitucionalização do Direito Civil, passando a ser uma

Autonomia Solidária.

Observação: o ponto de partida, no que diz respeito ao princípio da vontade, pode

ser (1) ou pró-libertate (2) ou pró-societate; há uma tendência, no Brasil, de in dubio pro

societate.

1.2.2. Princípio da Boa-Fé Objetiva21 Exemplos: posso casar ou não, ter ou não ter filhos.

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A boa-fé pode ser entendida como o agir correto, leal e confiável, conforme os

padrões culturais de uma dada época e local.

A boa-fé subjetiva diz respeito à intenção (pensamento) de uma das partes numa

determinada relação jurídica; ao passo que a boa-fé objetiva concerne ao fato de que

determinada atitude seja exigível (padrão).

Veja algumas diferenças entre boa-fé subjetiva e boa-fé objetiva:

Boa-Fé Subjetiva Boa-Fé ObjetivaDiferença

Estrutural

elemento de um suporte

fático22

norma ou princípio

Diferença

Funcional

Serve para conseqüências

jurídicas de outros institutos

jurídicos

Impõe um padrão de

conduta próprio baseado nas

idéias de lealdade e

confiançaInstituto Conceito jurídico Princípio jurídico

1.2.2.1. Conseqüências Jurídicas da Boa-Fé Objetiva

I. Moldagem do Vínculo

A limitação ao exercício de direitos subjetivos traz a noção central de confiança23,

com o que se veda, por meio do princípio da boa-fé objetiva, práticas que contrariem

esses parâmetros, tais como:

a) Venire contra factum proprium (vedação de comportamento contraditório): é a

22 Exemplos baseados na proposição “Se A é, então B deve ser”:a) Benfeitoria: se benfeitoria útil + boa-fé subjetiva, então direito de retenção;b) Usucapião: se posse + tempo + boa-fé subjetiva, então aquisição da propriedade em

menos tempo.23 Não se perdem direitos, mas se limita o exercício de tais direitos, o que enseja modificações

nas relações jurídicas, a partir de uma relação de confiança.

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alteração de conduta que frustra legítima expectativa da outra parte24;

b) Supressio (supressão): é a perda de uma faculdade jurídica, em razão de

conduta anterior25;

c) Surrectio: acarreta o nascimento de uma faculdade jurídica, em razão de

conduta anterior26;

d) Tu quoque (até tu): pessoa que ordinariamente descumpre determinada regra

não pode se valer dessa regra27.

II. Nascimento de deveres Laterais/Anexos/Secundários/Conduta

Deveres laterais são todos aqueles deveres decorrentes do fato jurídico

obrigacional cujo escopo não seja, diretamente, a realização ou a substituição da

prestação.

Os deveres de conduta variam de acordo com o caso concreto, conforme as

circunstâncias envolvidas.

Classificação dos Deveres Laterais:

a) Deveres de Proteção: é a idéia de que existem deveres incluídos na relação

obrigacional que tenderiam à proteção do patrimônio e da pessoa da outra parte

e de seus próximos, além de terceiros;

b) Deveres de Cooperação: são aqueles que estabelecem que ambas as partes

têm o dever de auxiliar a realização das atividades prévias necessárias à

consecução dos fins do contrato, assim como de afastar todas as dificuldades

para tal consecução, estando este afastamento ao alcance das partes;

c) Deveres de Informação: são aqueles que obrigam as partes a se informarem

mutuamente de todos os aspectos atinentes ao vínculo, de ocorrências que,

com ele tenham certa relação e, ainda, de todos os efeitos que, da execução,

24 Exemplo: Caso dos Tomates – a Cica, empresa de massa de tomate, reiteradamente, por anos, vinha distribuindo sementes de tomates a determinados produtores rurais e, feita a colheita, comprava tais tomates; certo ano, no entanto, doou as sementes, mas não adquiriu os produtos. Levado a juízo pelos produtores, o TJRS condenou a empresa requerida a pagar indenização aos produtores, uma vez que aquela frustrou expectativa legítima destes.

25 Exemplo: Art. 330, CC. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.

26 Exemplo: o inadimplemento antecipado (que não se confunde com o vencimento antecipado), caracterizado por circunstâncias que deixam claro que, no vencimento, não haverá pagamento, abre imediato ensejo à demanda de resolução do contrato.

27 Exemplo: a alegação que determinado ato não fora realizado conforme previsto em contrato, sendo que tal pessoa, da mesma forma, não cumpria tal regra, deve ser declarada nula.

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possam advir; pode ser um dever positivo (informar28) ou um dever negativo

(omitir29).

Distinções entre Deveres de Prestação e Deveres Laterais:

Deveres de Prestação Deveres LateraisFonte

normativa

leis;

contratos

boa-fé objetiva30

Fonte fática

contrato;

dano;

enriquecimento sem causa

contrato/conduta

Subjetivaçãodevedor devedor;

credorNascimento fonte fática da obrigação contato31

Duraçãoaté o adimplemento da

prestação

culpa in contrahendo32;

culpa pos pactum finitum33

Relação com

a invalidade

não nascem (nulidade);

extinguem-se (anulabilidade)

independem da validade do

negócio jurídico

III. Função Interpretativa

A boa-fé objetiva tem a função interpretativa, na medida em que o art. 11334 do

Diploma Civilista nos informa que a interpretação tem que ser conforme a que mais se

aproximar da lealdade e da confiança.

No plano hermenêutico, a boa-fé pode se manifestar de duas formas:

a) como meio de interpretar: conforme a lealdade e confiança;

b) como objeto de interpretação: interpretar os fatos para determinar a conduta.

28 Dever Positivo de Informar: informar como se utiliza determinado bem – manual, ou alertar – placa de chão úmido.

29 Dever Negativo de Informar: para instalação de software, empresa colhe dados, os quais não podem ser passados adiante.

30 Para a existência do dever lateral, não precisa estar disposto em lei ou em contrato; se houver contrato, este disporá o alcance de tais deveres.

31 O direito lateral nasce no exato momento em que se inicia o contato entre as partes.32 Responsabilidade pré-contratual: uma vez que o dever lateral nasce com o contato, o que se

dá antes mesmo do contrato, há a responsabilidade pré-contratual, no que tange os direitos anexos, como é o caso do piso molhado do xópim.

33 Como exemplo, podemos citar o advogado que mesmo tendo o contrato de prestação de seus serviços integralmente adimplido resta o dever de sigilo das informações pertinentes ao caso.

34 Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

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1.2.3. Princípio do Equilíbrio

O princípio do equilíbrio unifica uma série de institutos, destinados a impedir que

relações obrigacionais sejam pontes para injustiça comutativa.

Na constituição e manutenção do vínculo, deve haver o equilíbrio subjetivo e o

objetivo.

Pressupostos de admissão do Princípio do Equilíbrio:

a) rompimento com a idéia geral de absoluta igualdade formal entre as partes;

b) rompimento com a idéia de que a vontade é uma fonte absoluta de obrigações.

Aplicações legais do Princípio do Equilíbrio:

a) Equilíbrio Subjetivo – partes: coloca ou mantêm as partes em situação de

equivalência.

a1) Leis: CDC, Lei de Locações, Lei da Usura, Estatuto da Terra, etc.;

a2) Interpretação: contratos de adesão35.

b) Equilíbrio Objetivo – prestacional: coloca ou mantêm a obrigação em situação

de equivalência.

b1) Contratos: lesão (necessidade ou inexperiência + desproporção36); revisão

judicial (motivo imprevisível + desproporção37); resolução por onerosidade

excessiva (acontecimento extraordinário + desequilíbrio38);

b2) Responsabilidade Civil: redução da indenização39; dano moral40.

1.2.4. Princípio da Função Social

35 Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente

36 Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

37 Art. 317. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação.

38 Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

39 Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.

40 STJ: equilíbrio dos valores das indenizações.

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À função social se atribui a especial virtude de incluir, como elemento de

necessária atenção jurídica, preocupações com terceiros.

Logo no primeiro artigo dedicado aos contratos, o art. 42141, o Código Civil vincula

o exercício da liberdade de contratar à função social. No mesmo diapasão, o art. 92742, o

primeiro dispositivo diretamente regulador da responsabilidade civil, dispõe sobre a

responsabilidade por ato ilícito, assim considerado, entre outras hipóteses, o exercício de

direito que exceda os seus fins sociais e econômicos.

A função social é o fundamento da relação jurídica, além de possuir eficácia própria

decorrente da idéia de efeitos emanados das relações obrigacionais.

1.2.4.1. Teoria da Tutela Externa do Crédito

O professor Antonio Junqueira de Azevedo, em parecer, defende a idéia de que os

contratos possuem uma função social, com o que decorre o dever dos terceiros em não

darem motivos para o inadimplemento da obrigação.

Temos, em geral, que os efeitos do contrato são relativos, isto é, vincula as partes

celebrantes. No entanto, caso a relação seja de conhecimento geral, todos – inclusive

terceiros – devem respeitar a existência de tal contrato43.

Há de se salientar que não devemos conceder a esta teoria um caráter absoluto,

sob pena de imobilizarmos, com isso, a economia; porem, caso não respeitemos as

relações obrigacionais de terceiros, teremos uma situação caótica.

Por fim, cabe esclarecer que a Tutela Externa do Crédito vincula-se à Função

Social na medida em que com os contratos temos a troca de bens e serviços entre os

cidadãos, o que se mostra fundamental dentro de uma sociedade como a nossa.

Aplicação: o STJ e – em conseqüência – os Tribunais Estaduais – aplicam tal teoria

quando o contrato possui finalidade social (versa sobre habitação, saúde, educação),

restringindo a autonomia privada.

2. CLASSIFICAÇÃO DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS

41 Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.

42 Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

43 Caso Zeca Pagodinho:garoto-propaganda da Brahma, depois da Schinacariol e, por conta do assédio da concorrente, volta a ser da Brahma. Neste caso, caberia ação de perdas e danos da Schincariol contra a Brahma.

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2.1. Modalidades Reguladas pelo Código Civil

2.1.1. Classificadas pelo Objeto (prestação)

2.1.1.1 Obrigação de Dar

Obrigação de dar é aquela cuja prestação é a entrega de uma coisa móvel ou

imóvel44.

Pouco importa se a entrega do bem se dá em caráter definitivo ou temporário, para

caracterização da obrigação de dar.

Em se tratando de obrigação de dar em caráter temporário, no entanto, a entrega

da coisa ao credor acarreta-lhe a assunção da obrigação de restituição do bem.

O devedor pode ser compelido a entregar coisa certa (determinada) ou incerta,

conforme ajustado. Para tanto, o credor deverá se valer da execução da obrigação de dar

coisa certa, prevista na legislação processual civil vigente, bastando que disponha de um

título executivo judicial (sentença ou acórdão) ou extrajudicial (como os títulos de crédito,

por exemplo).

Quando se tornar impossível o cumprimento da obrigação, caberá a sua conversão

em perdas e danos.45

Em suma: toda vez que há a transferência (por tradição ou por registro) da

propriedade ou da posse há a obrigação de dar.

a) propriedade: feixe de direitos (usar, gozar e fruir) acerca de um determinado

bem;

b) posse: exercício fático de um dos direitos (fruir) que compõem a propriedade.

Espécies de Dar:

I. Obrigação de dar coisa certa46

A obrigação de dar coisa certa consiste na entrega de bem determinado e

44 Exemplos: compra e venda, prestação de alimentos, indenização.45 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: obrigações e responsabilidade civil. 3. ed.

rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2004. p. 188-189.46 Vide arts. 233 ao 237 do Código Civil.

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individualizado, com existência, portanto, distinta dos demais. É possível, entretanto, que

a obrigação de dar não seja específica, porem genérica, se o objeto for a entrega de um

bem indeterminado sobre a qualidade, como, por exemplo, açúcar, vinho ou café.

A obrigação de dar pode ou não transferir o domínio da coisa. Na hipótese em que

se recebe o bem a título temporário, caberá ao devedor a obrigação de restituir,

consistente na devolução do objeto ao seu titular.47

A. Objeto

Coisa certa:

A pessoa é obrigada a entregar a coisa ajustada, e não outra, podendo o credor

recusar o recebimento de outro bem, ainda que mais valioso.

Coisa certa – principal + acessórios:

A obrigação de dar coisa certa abrange o acessório48, salvo convenção em sentido

contrário ou quando as circunstâncias do caso levarem o julgador a uma conclusão

diversa.

Acréscimos posteriores à assunção da obrigação:

Os melhoramentos ou acréscimo após a assunção da obrigação e antes da data de

seu vencimento pertencem ao devedor, a menos que outra solução tenha sido

estabelecida pelas partes.

Se o acréscimo posterior à assunção da relação obrigacional for:

a) sem trabalho/dinheiro do atual proprietário (devedor)49: art. 23750;

b) com trabalho/dinheiro do atual proprietário (devedor)51:

b1) boa-fé subjetiva: art. 1.21952;47 Ibid, ibidem.48 Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados,

salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.49 Naturalmente: aluvião, por exemplo.50 Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e

acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.

51 Benfeitorias (art. 96):a) necessárias: são necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore;b) úteis: são úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem;c) voluptuárias: são voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem.

52 Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o

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b2) má-fé: art. 1.22053;

c) frutos: art. 237, parágrafo único54.

B. Consequência do Inadimplemento

Impossibilidade de realizar a prestação – momento:

a) originária/genética55: obrigação nula (art. 16656);

b) superveniente: extinção da obrigação (art 23457).

Impossibilidade de realizar a prestação – culpa58:

a) sem culpa: extinção da obrigação59;

b) com culpa: equivalente mais perdas e danos60.

Impossibilidade de realizar a prestação – extensão:

a) total: sem culpa – extinção da obrigação; com culpa – equivalente mais perdas

e danos;

b) parcial (deterioração): ou resolve-se a obrigação, ou aceita-se a prestação (com

culpa – abatimento mais perdas e danos; sem culpa – abatimento).

Impossibilidade de realizar a prestação – natureza:

puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.

53 Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

54 Art. 237. Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.

55 Negócio jurídico: agente capaz, objeto lícito e possível, forma prescrita em lei.56 Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II -

for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

57 Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.

58 A culpa aqui é do devedor; quando a culpa for do credor, de terceiro ou ocorrer caso fortuito ou força maior, não haverá culpa, nestes termos.

59 O credor pode aceitar a coisa deteriorada sem culpa do devedor no estado em que se encontra, obtendo o abatimento respectivo do preço, sob pena de extinção da obrigação.

60 Havendo culpa do devedor, o credor poderá: exigir o equivalente ou aceitar a coisa no estado em que se encontra, sem prejuízo da indenização por perdas e danos (indenização correspondente àquilo que o credor deixou de lucrar).

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a) física;

b) jurídica.

Impossibilidade de realizar a prestação – relação:

a) objetiva: diz respeito à impossibilidade do objeto – recai ao credor e ao devedor;

b) subjetiva: diz respeito à impossibilidade do sujeito (devedor) – recai somente ao

devedor.

II. Obrigação de restituir61

À obrigação de restituir aplicam-se as mesmas regras da obrigação de dar.

Caracterizam-se pela devolução. É o que sucede, por exemplo, na locação de coisa,

tendo o locatário que devolver o bem ao término do prazo contratual; no comodato,

incumbindo ao comodatário a restituição de bem infungível que lhe foi gratuitamente

emprestado; e assim por diante.

A diferença entre a obrigação de restituir e a obrigação de dar possui reflexos no

processo civil, admitindo-se a busca e apreensão de bem tão somente para o caso de

violação do cumprimento da obrigação de restituir.62

Credor é o proprietário ou detentor de outro direito real e tem a posse indireta63 do

bem.

A. Objeto

Coisa a restituir:

A pessoa é obrigada a restituir (devolver) a coisa ajustada, mais as benfeitorias e

os frutos (naturais e civis).

Acréscimos anteriores à restituição da coisa:

Há duas hipóteses, para este caso, quais sejam:

a) sem trabalho/dinheiro do devedor: art. 24164;

61 Vide arts. 238 ao 242 do Código Civil.62 Ibid., p. 189-190.63 A posse é indireta quando o seu titular, afastando de si, por sua própria vontade, a detenção da

coisa, continua a exercê-lo mediatamente, após haver transferido a outrem a posse direta.64 Art. 241. Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa

ou trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização.

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b) com trabalho/dinheiro do devedor65:

b1) boa-fé: art. 1.21966;

b2) má-fé: art. 1.22067;

c) frutos: art. 242, parágrafo único68:

c1) boa-fé: frutos percebidos – possuidor69; frutos pendentes – restituídos70;

c2) má-fé: art. 1.21671.

B. Consequência do Inadimplemento

Regra geral dos riscos: res perit domino (a coisa perece para o proprietário), isto é,

sofre o credor.

Exceção: res perit debitoris (a coisa perece para o devedor), nos casos de

alienação fiduciária, por exemplo.

Impossibilidade de realizar a prestação – culpa72:

a) sem culpa: extinção da obrigação, com ônus ao credor;

b) com culpa: equivalente mais perdas e danos.

Impossibilidade de realizar a prestação – extensão:

a) total: sem culpa – extinção da obrigação; com culpa – equivalente mais perdas

e danos;

65 Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé.

66 Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.

67 Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

68 Art. Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé.

Art. 237. Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.69 Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos.70 Art. 1.214. Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser

restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.

71 Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio.

72 A culpa aqui é do devedor; quando a culpa for do credor, de terceiro ou ocorrer caso fortuito ou força maior, não haverá culpa, nestes termos.

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b) parcial (deterioração): sem culpa – recebe assim o credor sem indenização73;

com culpa – equivalente mais perdas e danos.

III. Obrigação de dar coisa incerta/genérica74

A obrigação de dar coisa incerta consiste na entrega de bem determinável, ao

menos, pelo gênero e pela quantidade.

Trata-se de obrigação cuja prestação é relativamente indeterminada até que se dê

a escolha do bem. É, portanto, prestação de indeterminação transitória, daí porque se fala

que o bem é determinável.

O devedor da obrigação de dar coisa incerta somente pode ser compelido a

entregar o bem após a concentração ou indicação.75

Em suma: bem fungível + tradição.

A. Objeto

Coisa incerta:

O objeto da prestação é incerto até o momento da escolha, tornando-se, então,

coisa certa.

Indicação ou concentração é fenômeno por meio do qual se procede à escolha76 da

coisa que o devedor tem de entregar ao credor, isto é, é a transformação de algo genérico

em algo específico.

Direito de escolha:

O devedor escolhe o bem a ser por ele entregue77, salvo convenção em contrário

(podendo ser o credor ou terceiro).

Não se poderá dar coisa pior, nem ser obrigado a prestar a melhor78.

73 Art. 240. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.

74 Vide arts. 243 a 246 do Código Civil.75 Ibid;. p. 192-193.76 Dentro da Teoria do Fato Jurídico, trata-se, pois, de ato jurídico em sentido estrito (conteúdo

volitivo unilateral).77 Art. 244. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao

devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.

78 A segunda parte do art. 244 é regra dispositiva, sem efeito obrigatório, com o que se deveria escolher de acordo com o padrão-médio.

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Cientificação do credor:

Realizada a escolha, opera-se a concentração, devendo o credor ser cientificado79

a respeito e regendo-se a relação jurídica em questão pelas normas da obrigação de dar

coisa certa80.

B. Consequência do Inadimplemento

Impossibilidade de realizar a prestação – momento81:

a) antes da escolha: o devedor não poderá alegar a perda ou a deterioração do

bem82;

b) depois da escolha: rege-se pelas regras da coisa certa.

Impossibilidade de realizar a prestação – natureza:

a) física: raramente poderá ser alegada, uma vez que o gênero não perece;

b) jurídica: proibição de comercialização do objeto da prestação83.

Impossibilidade de realizar a prestação – relação:

a) objetiva: poder-se-ia alegar;

b) subjetiva: resta afastada, uma vez que se houver tal inviabilidade cabe ao

devedor adquirir o objeto noutro lugar, se preciso for84.

IV. Obrigação pecuniária85

A dívida em dinheiro (pecúnia) deve ser paga em moeda, segundo determina o

princípio do nominalismo, adotado pelo nosso sistema jurídico, ressalvadas as exceções

legais.

Trata-se de obrigação pecuniária, cuja obrigação é de soma de valor nominal da

moeda. Não se leva em consideração, pois, o valor intrínseco da moeda e nem o seu

79 A notificação depende do reconhecimento da outra parte, uma vez que se trata de ato jurídico lato sensu receptício.

80 Art. 245. Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente.81 Art. 246. Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda

que por força maior ou caso fortuito.82 Brocardo: genus non perit- o gênero não perece.83 Proibição da comercialização de animais silvestres.84 Exemplo: problema na safra de soja.85 Vide “Adimplemento e Extinções das Obrigações”, de Jorge Cesa.

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valor aquisitivo, na dívida em dinheiro.

A. Objeto

Dinheiro:

A obrigação pecuniária é uma espécie de obrigação de dar coisa genérica, difere-

se desta, pois não há escolha quanto ao objeto em si.

Do pagamento:

O pagamento em dinheiro se dará em moeda corrente no local do cumprimento da

obrigação e segundo o valor nominal ou real da moeda, tornando-se em princípio proibida

a sua fixação em ouro ou moeda estrangeira, salvo as exceções admitidas pelo sistema

jurídico86.

Regra geral:

Paga-se o valor nominal.

O Plano Real (Lei 10.192/01) fixou o princípio do nominalismo, entre nós, segundo

o qual há a possibilidade de indexar87 as prestações a um determinado índice somente a

cada 12 meses.

Exceções88:

a) Período superior a doze meses (art. 316) – indexação89;

b) Obrigações financeiras: são aquelas obrigações em que uma das partes é uma

financeira e o objetivo da relação obrigacional é financias uma atividade ou um

86 Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes.

87 Indexação: vinculação de uma prestação a um índice (IPG-M, dólar, valor de ouro etc.).88 Explicações complementares:

a) Principal: valor da prestação;b) Correção monetária: evita a perda do valor da prestação atrelando-se, para tanto, a prestação a um índice;c) Juros: frutos civis aplicados a dívidas genéricas/pecuniárias;c1) Juros moratórios (art. 407): dá-se quando incorre o devedor em inadimplemento da obrigação;c2) Juros compensatórios: dá-se pela remuneração ao dinheiro devido.d) Cláusula penal (art. 408): a multa visa que o devedor não descumpra o contrato, podendo ser fixada quando houver atraso ou outros critérios.

89 Vedação à indexação (art. 318):a) Ouro (Lei 10.192/01 – Plano Real);b) Moeda estrangeira/Dólar (Decreto-lei 857/69).

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ato – valor nominal + juros90 + taxas;

c) Dívidas de valor91: é aquela que consiste na entrega de uma importância

correspondente à obrigação, levando-se em conta a atualização monetária a ser

aplicada, isto é, é dívida que, ao ser paga, procura fornecer ao credor a

possibilidade de poder adquirir os bens que ele poderia comprar na época em

que foi constituída, isto é, representa determinado valor em dinheiro – valor

nominal + correção monetária (se no momento do pagamento há de se atualizar

o valor, está-se diante de dívida de valor).

2.1.1.2. Obrigação de Fazer92

Obrigação de fazer é aquela que consiste em uma conduta positiva ou comissiva

do devedor, que cumpre com a prestação em prol do credor ou de terceiro.

A obrigação de fazer diferencia-se da obrigação de dar, uma vez que a última diz

respeito a um bem corpóreo (propriedade e posse), enquanto a primeira trata de um fazer,

de um agir.

Entretanto, deve-se anotar que a obrigação de dar é realizada mediante uma

prestação de coisa, enquanto a obrigação de fazer é adimplida através de uma prestação

de fato.

O adimplemento da obrigação de dar ocorre por meio da tradição, o que não se

verifica na obrigação de fazer.

A. Objeto

Facere:

O objeto da obrigação de fazer por ser qualquer ‘fazer’, com exceção aos que são

impossíveis de se realizar originariamente ou pela ilicitude.

Classificação:

a) Subjetivamente fungível: quando a prestação puder ser realizada por terceiro;

b) Subjetivamente infungível: quando a prestação não puder ser realizada por

terceiro, porque geralmente advém de qualidades pessoais do devedor ou de 90 Parcela de dívida com juros: principal (correção monetária ou indexação) + juros (moratórios

e/ou compensatórios/remuneratórios).91 Fontes: lei (obrigação de indenizar, débitos resultantes de decisão judicial, dívidas de mora do

devedor) e jurisprudência (restituição pelo enriquecimento sem causa).92 Vide arts. 247 a 249 do Código Civil.

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critérios predispostos pelo credor; possui, assim, natureza personalíssima.

Corporificação da declaração de vontade - pré-contratos:

Nos pré-contratos, resta declarada a vontade em celebrar contrato, que só não é

realizado na hora por não haver alguns dos requisitos para a perfectibilização do negócio

jurídico.

Neste sentido, a declaração de contratar no futuro resta como obrigação de fazer

(de contratar).

Declaração de vontade:

Caso o promitente não cumpra com a vontade declarada, nos termos do pré-

contrato, a sentença substitui a vontade não-declarada93.

B. Conseqüência do Inadimplemento

Fazer fungível:

a) O seu descumprimento se dá pela conduta positiva ou comissiva do devedor ou

por terceiro;

b) Havendo recusa ou demora no cumprimento da obrigação, o credor poderá

mandar que outra pessoa a execute, sem prejuízo de exercer o seu direito de

regresso por eventuais danos causados94;

c) A mesma regra se presta para os casos de urgência95, tornando-se

desnecessário que o credor obtenha autorização judicial para tomar as

providências adequadas ao cumprimento da obrigação por conta de terceiro96;

d) O descumprimento da obrigação de fazer fungível e exeqüível acarreta a sua

execução específica ou, sucessivamente, o pagamento de indenização por

perdas e danos97;

93 Art. 466-A, CPC. Condenado o devedor a emitir declaração de vontade, a sentença, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida.

94 Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.

95 Caso não haja urgência, faz-se necessária autorização judicial, nos termos do art. 632 do CPC:

Art. 632. Quando o objeto da execução for obrigação de fazer, o devedor será citado para satisfazê-la no prazo que o juiz Ihe assinar, se outro não estiver determinado no título executivo.

96 Art. 249. Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido.

97 Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível.

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e) A impossibilidade da prestação, sem culpa do devedor, acarreta a extinção da

obrigação98;

f) A impossibilidade da prestação por culpa do devedor possibilita que o credor

possa exigir dele o pagamento de indenização por perdas e danos99.

Fazer infungível:

a) É vetada a realização da atividade por meio de terceiro;

b) Na obrigação infungível, somente haverá indenização, no caso de prejuízo

causado ao credor;

c) A impossibilidade da prestação, sem culpa do devedor, acarreta a extinção da

obrigação (art. 248, primeira parte);

d) A impossibilidade da prestação por culpa do devedor possibilita que o credor

possa exigir dele o pagamento de indenização por perdas e danos (art. 248,

parte final).

2.1.1.3. Obrigação de Não-Fazer100

A. Objeto

Abstenção:

Obrigação de não-fazer é aquela que consiste na abstenção de determinado

comportamento pelo qual o devedor se torna responsável, caso venha a se verificar.

Extinção101:

Extingue-se a obrigação de não-fazer pela impossibilidade não culposa de seu

cumprimento, isto é, a abstenção do ato, como sucede quando da ocorrência de força

maior ou de caso fortuito.

B. Consequência do Inadimplemento

a) A prática do ato cuja abstenção se exigiu propicia o seu desfazimento forçado,

98 Art. 248. Primeira parte. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; (...).

99 Art. 248. Segunda parte. (...) se por culpa dele, responderá por perdas e danos.100 Vide arts. 250 e 251 do Código Civil.101 Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne

impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.

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sob pena de indenização por perdas e danos;

b) Nada impede que o credor desfaça, às suas próprias expensas, o ato praticado

pelo devedor, hipótese na qual aquele poderá exigir deste o ressarcimento

pelas despesas efetuadas, bem como indenização por perdas e danos;

c) Tornam-se cabíveis as astreintes, como forma de compelir o devedor ao

cumprimento da obrigação, preferindo-se tal solução ao invés da conversão da

obrigação em indenização por perdas e danos;

d) No caso de urgência, poderá o credor mandar que o devedor desfaça o ato e,

no caso de sua recusa, o próprio credor poderá mandar desfazê-lo,

independentemente de autorização judicial102.

Impossibilidade de realizar a prestação-abstenção – culpa:

a) sem culpa: extinção da obrigação;

b) com culpa: perdas e danos.

OBSERVAÇÃO. Astreintes

Conceito:

Etimologicamente, a origem do termo multa vem do latim ‘mulcta’ ou ‘multa’ e, no

seu sentido originário, significa multiplicação, aumento, implicando uma pena pecuniária.

Numa ótica mais ampla ou dilatada pode ser vista como uma sanção imposta à pessoa,

por infringência à regra ou ao princípio de lei ou ao contrato em virtude do qual fica

obrigado a pagar certa importância em dinheiro.

Segundo a natureza do ato ou fato jurídico motivador, a multa toma várias

denominações: compensativa, moratória, cominatória, fiscal, penal ou penitencial.103

102 Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos. Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.

103 Expliquemos cada uma delas:I) As multas compensativas correspondem àquelas que são estipuladas em caso de total

inadimplemento de obrigação. Servindo-se elas como espécie substitutiva da obrigação pactuada e não cumprida;

II) Já a multa moratória destina-se a garantir o cumprimento de alguma cláusula contratual específica ou, simplesmente, evitar a mora;

III) A pena cominatória ou a título de astreintes é caracterizada pelo meio coativo do cumprimento de comando legal, contrato ou ordem judicial, propondo-se, pois, a defender os contratos celebrados e a proporcionar segurança à ordem jurídica;

IV) As multas fiscais são imposições pecuniárias devidas pela pessoa por decisão de autoridade do fisco, em face de infração às regras de direito tributário;

V) As multas penais são obrigações de pagar soma de dinheiro, quando derivada de imposição de

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Instituto de origem francesa, as astreintes possuem a função de obrigar o devedor

a prestar a obrigação pactuada sem invadir direitos essenciais, mas também de evitar o

descumprimento e a subseqüente faculdade em princípio inexistente ao devedor de

escolher resolvê-la através de perdas e danos, sobretudo em se tratando de obrigação

personalíssima, afora questões procedimentais protelatórias vinculadas.

Neste sentido, pode-se dizer que as astreintes buscam a concretização das

obrigações; em sentido técnico, buscam a satisfação das obrigações, uma vez que se

trata de multa (pecuniária) periódica (normalmente diárias, mas podendo ser mensal,

anual, por hora, etc.) para coagir o devedor a cumprir a obrigação

Aplicação:

Aplicam-se as astreintes às obrigações de fazer, às de não-fazer e às de dar

(exceto às pecuniárias).

Finalidade:

Tenta-se, ao aplicar as astreintes, seja por requerimento do credor ou de ofício,

coagir o devedor a cumprir a prestação; o que não se confunde com multa de caráter

indenizatório.

Duração:

As astreintes perduram até o cumprimento da obrigação, a menos que haja a

impossibilidade da prestação (seja com ou sem culpa).

Características:

a) o quantum devido, a título de multa, é indeterminado, a priori;

b) impossibilidade de realizar uma taxação do valor da multa, uma vez que o valor

da multa é o necessário para coagir o devedor;

c) podem ser fixadas em contrato ou pelo juiz (em liminar, em sentença ou na

execução);

d) as astreintes são mutáveis, pelo juiz, mesmo quando fazem parte da sentença,

pois não fazem coisa julgada, o que equivale dizer que o juiz da execução

poderá altera-la; e, quando fixadas em contrato, o juiz poderá revisá-las, a

menor, a partir de determinado momento (efeito ex nunc).

pena criminal;VI) As multas penitenciais ou arras são estabelecidas para punir aquele que desiste da celebração

de contrato, tendo previsão no art. 1.095 do Código Civil.

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Regramento:

a) Art. 287, CPC. Se o autor pedir que seja imposta ao réu a abstenção da prática

de algum ato, tolerar alguma atividade, prestar ato ou entregar coisa, poderá

requerer cominação104 de pena pecuniária para o caso de descumprimento da

sentença ou da decisão antecipatória de tutela (arts. 461, § 4o, e 461-A).

b) Art. 461, CPC. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de

fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se

procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado

prático equivalente ao do adimplemento. § 4o O juiz poderá, na hipótese do

parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu,

independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a

obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito.

c) Art. 461-A, CPC. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao

conceder a tutela específica, fixará o prazo para o cumprimento da obrigação. §

3o Aplica-se à ação prevista neste artigo o disposto nos §§ 1o a 6o do art. 461.

d) Art. 644, CPC. A sentença relativa a obrigação de fazer ou não fazer cumpre-se

de acordo com o art. 461, observando-se, subsidiariamente, o disposto neste

Capítulo.

e) Art. 645, CPC. Na execução de obrigação de fazer ou não fazer, fundada em

título extrajudicial, o juiz, ao despachar a inicial, fixará multa por dia de atraso

no cumprimento da obrigação e a data a partir da qual será devida.

f) Art. 84, CDC. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de

fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou

determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do

adimplemento. § 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor

multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou

compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do

preceito.

2.1.1.4. Obrigação Alternativa105

A. Objeto

104 Por isso, tal pedido de fixação de astreintes é conhecido como ação cominatória ou pedido cominatório.

105 Vide arts. 252 a 256 do Código Civil.

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Conceito:

Obrigação alternativa ou disjuntiva é aquela que possibilita ao devedor a liberação

do vínculo obrigacional, mediante o cumprimento de uma das condutas devidas.

Nesse caso, há mais de uma prestação fixada voluntariamente pelas partes,

podendo-se eleger aquela que deverá ser cumprida. Com a sua realização, exonera-se o

devedor do cumprimento da obrigação não escolhida.

Escolha:

Efetuada a concentração pelo devedor, ou seja, a escolha da obrigação a ser

realizada, passa ela a ter validade mediante a aplicação da teoria da declaração, quando

for expedida a concentração para o conhecimento do credor a opção adotada pelo

devedor.

Realizada a escolha – que cabe ao devedor, salvo convenção em contrário –,

passa-se a ter uma obrigação de dar, de fazer ou de não-fazer.

B. Consequência do Inadimplemento

Impossibilidade de realizar uma prestação – momento106:

a) originária: torna-se obrigação simples;

b) superveniente: torna-se obrigação simples.

Impossibilidade de realizar uma prestação – culpa:

a) sem culpa: subsiste a outra;

b) com culpa: subsiste a outra ou equivalente + perdas e danos, se a escolha

cabia ao credor.

Impossibilidade de realizar as prestações – culpa:

a) sem culpa: resolve-se a obrigação;

b) com culpa: o valor de qualquer delas + perdas e danos.

2.1.2. Classificadas pelo Sujeito (partes)

2.1.2.1. Obrigação Solidária106 Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada

inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra.

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Trata-se, aqui, de obrigação coletiva, que é aquela que possui pluralidade em um

ou em ambos os pólos.

A. Sujeito

Obrigação solidária ativa:

São aquelas em eu cada credor possui direito sobre o conteúdo integral da

obrigação.

Obrigação solidária passiva:

São aquelas em que cada devedor responde pelo conteúdo integral da obrigação.

Obrigação solidária mista:

2.1.2.2. Obrigação Divisível ou Indivisível

2.2. Modalidades Não-Reguladas pelo Código Civil