aulas de direito das obrigações

53
1 DIREITO DAS OBRIGAÇÕES NA SALA DE AULA CAPÍTULO I 1.1 Do sistema fechado ao semiaberto. 1.2 Cláusulas gerais. 1.3 Conceitos legais indeterminados. 1.4 Princípio da socialidade. 1.5 Princípio da eticidade. 1.6 Princípio da operabilidade 1.7 Conclusão. 1.1DO SISTEMA FECHADO AO SEMIABERTO Até pouco antes de alvorecer a metade do século passado, a fórmula casuística de legislar, denominada de regulação por fatispécie, foi fartamente utilizada nos textos normativos. Essa fase, conhecida como a Era da Codificação, propiciou na França, em 1804, o surgimento do Códe Napoléon, sistema fechado em que a atividade do interprete resumia-se a isolar o fato e identificá-lo à norma aplicável. Tudo se resolvia pela casuística: a subsunção do fato à lei. Em torno dos códigos inaugurou-se a Escola da Exegese 1 , que debatia a respeito da literalidade dos textos legais, pautando a ideia de que nos códigos estariam as soluções para todos os fatos que o Direito propunha-se a regular. Ao juiz o código. E servindo-se do código o juiz infalivelmente resolveria o caso concreto. Do código o juiz não podia afastar-se, pois ele era la bouche de la loi. 1 A Escola da Exegese revelou significativos estudiosos do Direito, como Demolombe, Troplong, Laurent e Marcadé. O posicionamento fundamental da Escola é o de que o Direito revela-se pelas leis. Portanto, para os seus pensadores a interpretação parte unicamente do direito positivo, desnecessária a utilização de elementos que lhe são extrínsecos, como exposto no texto acima. Foi uma fase de inovações na ciência jurídica, como em matéria de sucessão a supressão do direito de primogenitura, no direito de família a admissão do divórcio em caso de adultério, no direito das coisas a abolição dos direitos feudais ainda remanescentes. Por isso, serviu de modelo para as legislações de diversos países, a começar pela Europa, depois América Latina e em seguida Ásia e África. Ver Henrique Garbellini Carnio et alt., Curso de sociologia jurídica, São Paulo: RT, 2011, p. 89 a 91. 2 Foi no curso de tal panorama jurídico que foram concebidos o primeiro Código Civil de Portugal de 1867, o primeiro Código Civil da Itália de 1895, o Código Civil da Alemanha, de 1900, o Código Civil e das Obrigações da Suíça de 1904, o primeiro Código Civil brasileiro de 1916, e tantos outros, pois o Código Civil francês era modelo a inspirá-los. Com o fim da última Guerra Mundial, o mundo experimentou expressivo processo de transformações e incertezas, quando os juristas passaram a conceber a ideia de que a técnica da perfeição da lei já estava ultrapassada. A sociedade deixou de ter uma estrutura simples em que podia ler em tábuas o que pode e não pode, o que é justo e injusto, o que é lícito e ilícito. A atual sociedade é altamente complexa, aberta e de célere transformação, de modo que a prévia previsão dos fatos criando leis que os regulamentam, torna-se tarefa legislativa impossível. É o oportuno ensinamento do lusitano Paulo Otero: A alternativa subjacente a um cenário contrário, procurando encontrar na lei a resposta exacta para cada problema concreto, isto num quadro idílico da mais completa vinculação decorrente de um modelo silogístico-subsuntivo da aplicação da lei pela administração e pelos tribunais, revelaria ainda uma muito maior imperfeição da lei, observando-se que o cristalizador das previsões normativas conduziria à sua rápida desactualização e a uma visível formulação lacunar da norma legal, tal como uma estatuição fechada não responderia à multiplicidade de situações diferentes e mostraria a incapacidade de adaptação da lei ao imprevisto. Em vez de um Direito sujeito a um rápido processo de envelhecimento, a existência de normas elásticas, permite que a lei respire a atmosfera social que a envolve, adaptando-se melhor à vida através da imperfeição resultante da mobilidade do seu conteúdo. 2 2 Apud MAIA, Lauro Augusto Moreira. Novos paradigmas do direito civil. Curitiba: Juruá Editora, 2007, p. 63 e 64.

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Page 1: Aulas de Direito das Obrigações

1

DIR

EIT

O D

AS

OB

RIG

ÕE

S N

A S

AL

A D

E A

UL

A

C

AP

ÍTU

LO

I

1.

1 D

o si

stem

a fe

chad

o ao

sem

iabe

rto.

1.

2 C

láus

ulas

ge

rais

. 1.

3 C

once

itos

lega

is i

ndet

erm

inad

os.

1.4

Prin

cípi

o da

so

cial

idad

e. 1

.5 P

rinc

ípio

da

etic

idad

e.

1.6

Prin

cípi

o da

op

erab

ilid

ade

1.7

Con

clus

ão.

1.

1 DO

SIS

TE

MA

FE

CH

AD

O A

O S

EM

IAB

ER

TO

A

té p

ouco

ant

es d

e al

vore

cer

a m

etad

e do

séc

ulo

pass

ado,

a f

órm

ula

casu

ístic

a de

leg

isla

r, d

enom

inad

a de

reg

ulaç

ão p

or f

atis

péci

e, f

oi f

arta

men

te

utili

zada

no

s te

xtos

no

rmat

ivos

. E

ssa

fase

, co

nhec

ida

com

o a

Era

da

Cod

ific

ação

, pr

opic

iou

na F

ranç

a, e

m 1

804,

o s

urgi

men

to d

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óde

Nap

oléo

n,

sist

ema

fech

ado

em q

ue a

ati

vida

de d

o in

terp

rete

res

umia

-se

a is

olar

o f

ato

e

iden

tifi

cá-l

o à

norm

a ap

licá

vel.

Tud

o se

res

olvi

a pe

la c

asuí

stic

a: a

sub

sunç

ão d

o

fato

à le

i.

E

m t

orno

dos

cód

igos

ina

ugur

ou-s

e a

Esc

ola

da E

xege

se1 ,

que

deba

tia a

resp

eito

da

liter

alid

ade

dos

text

os l

egai

s, p

auta

ndo

a id

eia

de q

ue n

os c

ódig

os

esta

riam

as

solu

ções

par

a to

dos

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atos

que

o D

irei

to p

ropu

nha-

se a

reg

ular

. Ao

juiz

o c

ódig

o. E

ser

vind

o-se

do

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go o

jui

z in

faliv

elm

ente

res

olve

ria

o ca

so

conc

reto

. Do

códi

go o

juiz

não

pod

ia a

fast

ar-s

e, p

ois

ele

era

la b

ouch

e de

la lo

i.

1 A

Esc

ola

da E

xege

se r

evel

ou s

igni

fica

tivo

s es

tudi

osos

do

Dir

eito

, co

mo

Dem

olom

be,

Tro

plon

g, L

aure

nt e

M

arca

dé.

O p

osic

iona

men

to f

unda

men

tal

da E

scol

a é

o de

que

o D

irei

to r

evel

a-se

pel

as l

eis.

Por

tant

o, p

ara

os

seus

pen

sado

res

a in

terp

reta

ção

part

e un

icam

ente

do

dire

ito

posi

tivo

, des

nece

ssár

ia a

uti

liza

ção

de e

lem

ento

s qu

e lh

e sã

o ex

trín

seco

s, c

omo

expo

sto

no t

exto

aci

ma.

Foi

um

a fa

se d

e in

ovaç

ões

na c

iênc

ia j

uríd

ica,

com

o em

m

atér

ia d

e su

cess

ão a

sup

ress

ão d

o di

reit

o de

pri

mog

enit

ura,

no

dire

ito

de f

amíl

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adm

issã

o do

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órci

o em

ca

so d

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ulté

rio,

no

dire

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das

cois

as a

abo

liçã

o do

s di

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os f

euda

is a

inda

rem

anes

cent

es.

Por

iss

o, s

ervi

u de

m

odel

o pa

ra a

s le

gisl

açõe

s de

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erso

s pa

íses

, a c

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ar p

ela

Eur

opa,

dep

ois

Am

éric

a L

atin

a e

em s

egui

da Á

sia

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fric

a. V

er H

enri

que

Gar

belli

ni C

arni

o et

alt

., C

urso

de

soci

olog

ia ju

rídi

ca, S

ão P

aulo

: RT

, 201

1, p

. 89

a 91

.

2

Fo

i no

cur

so d

e ta

l pa

nora

ma

jurí

dico

que

for

am c

once

bido

s o

prim

eiro

Cód

igo

Civ

il d

e Po

rtug

al d

e 18

67,

o pr

imei

ro C

ódig

o C

ivil

da

Itál

ia d

e 18

95,

o

Cód

igo

Civ

il d

a A

lem

anha

, de

190

0, o

Cód

igo

Civ

il e

das

Obr

igaç

ões

da S

uíça

de 1

904,

o p

rim

eiro

Cód

igo

Civ

il b

rasi

leir

o de

191

6, e

tan

tos

outr

os,

pois

o

Cód

igo

Civ

il fr

ancê

s er

a m

odel

o a

insp

irá-

los.

C

om o

fim

da

últim

a G

uerr

a M

undi

al, o

mun

do e

xper

imen

tou

expr

essi

vo

proc

esso

de

tran

sfor

maç

ões

e in

cert

ezas

, qua

ndo

os j

uris

tas

pass

aram

a c

once

ber

a id

eia

de q

ue a

téc

nica

da

perf

eiçã

o da

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esta

va u

ltrap

assa

da.

A s

ocie

dade

deix

ou d

e te

r um

a es

trut

ura

sim

ples

em

que

pod

ia le

r em

tábu

as o

que

pod

e e

não

pode

, o q

ue é

just

o e

inju

sto,

o q

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líci

to e

ilíc

ito.

A

atua

l so

cied

ade

é

alta

men

te c

ompl

exa,

abe

rta

e de

cél

ere

tran

sfor

maç

ão,

de m

odo

que

a pr

évia

prev

isão

dos

fat

os c

rian

do l

eis

que

os r

egul

amen

tam

, to

rna-

se t

aref

a le

gisl

ativ

a

impo

ssív

el. É

o o

port

uno

ensi

nam

ento

do

lusi

tano

Pau

lo O

tero

:

A a

ltern

ativ

a su

bjac

ente

a u

m c

enár

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ontr

ário

, pr

ocur

ando

en

cont

rar

na

lei

a re

spos

ta

exac

ta

para

ca

da

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lem

a co

ncre

to,

isto

nu

m

quad

ro

idíli

co

da

mai

s co

mpl

eta

vinc

ulaç

ão d

ecor

rent

e de

um

mod

elo

silo

gíst

ico-

subs

untiv

o da

apl

icaç

ão d

a le

i pe

la a

dmin

istr

ação

e p

elos

tri

buna

is,

reve

lari

a ai

nda

uma

mui

to

mai

or

impe

rfei

ção

da

lei,

obse

rvan

do-s

e qu

e o

cris

taliz

ador

das

pre

visõ

es n

orm

ativ

as

cond

uzir

ia à

sua

ráp

ida

desa

ctua

lizaç

ão e

a u

ma

visí

vel

form

ulaç

ão l

acun

ar d

a no

rma

lega

l, ta

l co

mo

uma

esta

tuiç

ão

fech

ada

não

resp

onde

ria

à m

ultip

lici

dade

de

si

tuaç

ões

dife

rent

es e

mos

trar

ia a

inc

apac

idad

e de

ada

ptaç

ão d

a le

i ao

im

prev

isto

. E

m

vez

de

um

Dir

eito

su

jeito

a

um

rápi

do

proc

esso

de

en

velh

ecim

ento

, a

exis

tênc

ia

de

norm

as

elás

ticas

, pe

rmit

e qu

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resp

ire

a at

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fera

soc

ial

que

a en

volv

e, a

dapt

ando

-se

mel

hor

à vi

da a

trav

és d

a im

perf

eiçã

o re

sulta

nte

da m

obili

dade

do

seu

cont

eúdo

.2

2 A

pud

MA

IA, L

auro

Aug

usto

Mor

eira

. Nov

os p

arad

igm

as d

o di

reit

o ci

vil.

Cur

itib

a: J

uruá

Edi

tora

, 200

7, p

. 63

e 64

.

Page 2: Aulas de Direito das Obrigações

3

D

entr

o de

ssa

pers

pect

iva

pós-

mod

erna

é q

ue f

oi c

once

bido

o s

egun

do

Cód

igo

Civ

il b

rasi

leir

o, L

ei n

º 10

.406

, de

10

de j

anei

ro d

e 20

02.

O s

iste

ma

pass

ou d

e fe

chad

o pa

ra s

emi-

aber

to.

Ao

lado

das

nor

mas

cas

uíst

icas

out

ras

fora

m i

ntro

duzi

das,

per

mit

indo

mai

or l

iber

dade

ao

julg

ador

na

busc

a da

jus

tiça

acor

dada

na

real

idad

e so

cial

. Sã

o as

clá

usul

as g

erai

s e

os c

once

itos

lega

is

inde

term

inad

os.

1.2

USU

LA

S G

ER

AIS

A

s cl

áusu

las

gera

is,

são

norm

as e

lást

icas

, ap

rese

ntam

con

ceit

os c

ujos

vocá

bulo

s em

preg

ados

pe

lo

legi

slad

or

têm

de

nsid

ade

sem

ântic

a

inte

ncio

nalm

ente

vag

a e

aber

ta,

perm

itin

do a

o ju

iz p

reen

chê-

las

com

val

ores

a

sere

m e

mpr

egad

os n

o ju

lgam

ento

de

cada

cas

o si

ngul

ar. N

ão o

fere

ce a

sol

ução

a

ser

dada

, is

to é

, nã

o pr

evê

a co

nseq

uênc

ia j

uríd

ica,

con

sent

indo

ao

juiz

cri

ar

solu

ções

, val

e di

zer,

abr

e-lh

e à

funç

ão c

riad

ora.

o ex

empl

os d

e m

aior

int

eres

se a

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s, o

art

. 42

1

que

disp

õe s

obre

a f

unçã

o so

cial

do

cont

rato

, se

m e

xpli

cita

r o

que

é fu

nção

soci

al; a

ssim

o a

rt. 4

22 a

o re

feri

r-se

a b

oa-f

é ob

jeti

va e

a p

robi

dade

; o a

rt. 1

.228

,

§ 1º

, qu

e ad

ere

ao d

irei

to d

e pr

opri

edad

e o

exer

cíci

o em

con

sonâ

ncia

com

as

fina

lida

des

econ

ômic

as e

soc

iais

etc

.

1.3

CO

NC

EIT

OS

LE

GA

IS I

ND

ET

ER

MIN

AD

OS

O

s co

ncei

tos

lega

is in

dete

rmin

ados

, com

sig

nifi

cado

par

alel

o às

clá

usul

as

gera

is,

são

tam

bém

no

rmas

el

ásti

cas,

na

s qu

ais

são

intr

oduz

idos

co

ncei

tos

prop

osita

dam

ente

vag

os e

abe

rtos

, pr

opor

cion

ando

ao

juiz

pre

ench

ê-lo

s co

m

valo

res

a se

rem

em

preg

ados

no

ju

lgam

ento

de

ca

da

caso

si

ngul

ar,

com

a

dife

renç

a de

pre

vere

m a

con

sequ

ênci

a ju

rídi

ca,

isto

é,

com

o qu

e aq

uele

cas

o

deva

ser

sol

ucio

nado

. A

tiça

a fu

nção

cri

ador

a do

jui

z, c

onqu

anto

com

men

or

4

ênfa

se,

pois

cab

e a

ele

a es

colh

a de

val

ores

soc

iais

que

irã

o pr

esid

ir o

cas

o em

julg

amen

to.

A

ssim

, o

art.

122

ao d

ispo

r so

bre

a li

ceid

ade

das

cond

içõe

s qu

e nã

o

cont

rari

am a

ord

em p

úbli

ca e

os

bons

cos

tum

es;

o ar

t. 18

8, I

I, a

o di

spor

que

não

cons

titu

em a

tos

ilíci

tos

os p

ratic

ados

par

a re

mov

er p

erig

o im

inen

te;

art.

927,

pará

graf

o ún

ico,

qu

e pr

evej

a as

at

ivid

ades

de

ri

sco

que

cond

uzem

à

resp

onsa

bilid

ade

civi

l obj

etiv

a, d

entr

e ou

tros

.

E

mbo

ra n

em t

odos

civ

ilist

as f

açam

a d

istin

ção

entr

e es

sas

duas

fig

uras

,

pref

erin

do a

den

omin

ação

gen

éric

a de

clá

usul

as g

erai

s, c

umpr

e a

aten

ta l

ição

do

casa

l Nel

son

e R

osa

Ner

y:

[...]

à

prim

eira

vi

sta

pode

ria

have

r co

nfus

ão

entr

e as

cl

áusu

las

gera

is

e os

co

ncei

tos

lega

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inde

term

inad

os.

Oco

rre

que

em a

mbo

s há

a e

xtre

ma

vagu

eza

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nera

lidad

e,

que

tem

de

ser

pree

nchi

da c

om v

alor

es p

elo

juiz

. Q

uand

o a

norm

a já

pr

evê

a co

nseq

uênc

ia,

houv

e de

term

inaç

ão

de

conc

eito

leg

al i

ndet

erm

inad

o: a

sol

ução

a s

er d

ada

pelo

jui

z é

aque

la

prev

ista

pr

evia

men

te

na

norm

a.

Ao

cont

rári

o,

quan

do a

nor

ma

não

prev

ê a

cons

equê

ncia

, da

ndo

ao j

uiz

a op

ortu

nida

de d

e cr

iar

a so

luçã

o, d

á-se

oca

sião

de

apli

caçã

o da

clá

usul

a ge

ral:

a co

nseq

uênc

ia n

ão e

stav

a pr

evis

ta n

a no

rma

e fo

i cr

iada

pel

o ju

iz p

ara

o ca

so c

oncr

eto.

O j

uiz

pode

dar

um

a so

luçã

o em

um

det

erm

inad

o ca

so,

e ou

tra

solu

ção

dife

rent

e em

out

ro c

aso,

apl

ican

do a

mes

ma

cláu

sula

ge

ral.3

No

enta

nto,

de s

e no

tar

que

toda

s es

tas

expr

essõ

es (

stan

dard

s do

Dir

eito

ing

lês)

, qu

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mpõ

em a

nor

ma,

têm

com

o pr

inci

pal

cara

cter

ístic

a a

impo

ssib

ilida

de d

e el

ucid

ação

de

seus

con

ceit

os s

em o

rec

urso

aos

mai

s va

riad

os

parâ

met

ros

de v

alor

ação

étic

o-so

cial

ou

do c

ostu

me.

3 N

ER

Y J

UN

IOR

, N

elso

n et

al.

Cód

igo

civi

l an

otad

o e

legi

slaç

ão e

xtra

vaga

nte,

2 e

d. S

ão P

aulo

: R

T,

2003

, p.

14

1.

Page 3: Aulas de Direito das Obrigações

5

D

e fa

to é

ass

im, p

ois

esta

s du

as f

igur

as m

itig

am a

s re

gras

mai

s rí

gida

s ao

dar

mai

or m

obili

dade

ao

Cód

igo

Civ

il, im

pedi

ndo

o se

u en

velh

ecim

ento

pre

coce

em u

ma

soci

edad

e tã

o di

nâm

ica

com

o a

atua

l. N

em p

or i

sso

evita

m a

s cr

ítica

s,

pois

tra

zem

cer

to g

rau

de i

ncer

teza

ant

e a

cara

cter

ístic

a de

sua

fle

xibi

lidad

e, d

e

sort

e ou

torg

am

ao

juiz

gr

ande

m

arge

m

disc

rici

onár

ia

ao

pree

nche

r o

seu

cont

eúdo

com

val

ores

.4 Há

de c

onvi

r, t

odav

ia,

que

a lib

erda

de j

udic

ial

não

é

plen

a,

pois

os

va

lore

s nã

o sã

o aq

uele

s pr

ópri

os

da

conv

icçã

o pe

ssoa

l do

mag

istr

ado,

mas

sim

os

prev

alen

tes

na c

onsc

iênc

ia s

ocia

l, qu

e im

plic

am n

o de

ver

étic

o de

leal

dade

e c

oope

raçã

o na

s re

laçõ

es i

nter

subj

etiv

as. O

u co

nfor

me

pref

ere

Cla

udio

Luz

zati,

a a

plic

ação

de

tais

con

ceito

s ex

ige

a co

ncre

ção

da r

egra

éti

ca e

de c

ostu

me

pree

xist

ente

, nã

o si

gnif

ican

do u

m a

rbítr

io à

s op

iniõ

es p

esso

ais

do

julg

ador

.5 Tai

s va

lore

s, p

orta

nto,

dev

em s

er e

xtra

ídos

dia

nte

do c

aso

conc

reto

na

crite

rios

a an

ális

e de

sua

s ci

rcun

stân

cias

fát

icas

e ju

rídi

cas,

par

a qu

e se

enc

ontr

e a

solu

ção

mai

s co

nven

ient

e so

b a

ótic

a da

just

iça

soci

al.6

E

que

não

se

olvi

de,

o D

irei

to P

riva

do e

o D

irei

to P

úblic

o es

tão

sem

pre

subm

etid

os a

os v

alor

es e

pri

ncíp

ios

cons

titu

cion

ais.

É a

Con

stitu

ição

Fed

eral

que

ofer

ta a

vis

ão u

nitá

ria

e co

eren

te d

o D

irei

to, e

que

ele

va e

ssa

visã

o do

int

erpr

ete

para

o t

elos

do

conj

unto

sis

tem

átic

o de

nor

mas

. É

diz

er,

a lu

z qu

e ilu

min

a a

4 N

ER

Y J

UN

IOR

, N

elso

n et

al.

Cód

igo

civi

l an

otad

o e

legi

slaç

ão e

xtra

vaga

nte,

2 e

d. S

ão P

aulo

: R

T,

2003

, p.

14

3.

5 LU

ZZ

AT

I, C

laud

io.

La v

aghe

zza

dell

e no

rme,

un’

anal

isi

del

ling

uagg

io g

iuri

dico

. M

ilano

: G

iuff

rè,

1990

, p

. 32

1.

6 Jor

ge T

osta

, ar

riba

do e

m H

umbe

rto

The

odor

o Jú

nior

e T

eres

a A

rrud

a A

lvim

Wam

ber,

ass

inal

a: “

Ass

im,

a at

ivid

ade

do ju

iz n

ão p

ode

se c

entr

ar n

a su

a pr

ópri

a id

eolo

gia,

na

sua

próp

ria

conc

epçã

o de

vid

a, n

as s

uas

cren

ças

pess

oais

. Seu

dev

er é

, seg

undo

Ben

jam

in C

ardo

so, ‘

conf

orm

ar a

os s

tand

ards

ace

itos

da c

omun

idad

e os

mor

es d

a ép

oca.

’ E

ess

es p

arâm

etro

s se

rvem

, nã

o pa

ra c

riar

, pa

ra o

cas

o co

ncre

to,

norm

as d

ifer

ente

s da

que

se

enco

ntra

ab

stra

tam

ente

con

tida

na

lei,

mas

par

a bu

scar

, den

tro

do o

rden

amen

to ju

rídi

co, e

gra

ças

à té

cnic

a in

terp

reta

tiva

, a

regr

a ap

licá

vel

a um

a si

tuaç

ão c

oncr

eta.

” P

ara

em s

egui

da c

ompl

etar

: “n

a co

ncre

ção

judi

cial

[en

tend

a-se

: na

in

terp

reta

ção-

inte

grat

iva

e na

apl

icaç

ão]

de n

orm

a ab

erta

s, c

arac

teri

zada

s po

r te

rmos

vag

os o

u in

dete

rmin

ados

e

na a

plic

ação

de

norm

as d

e ti

po a

bert

o em

sen

tido

lat

o, c

arac

teri

zada

s po

r ju

ízos

de

opor

tuni

dade

, ine

xist

e pl

ena

libe

rdad

e ju

dici

al.

O s

iste

ma

jurí

dico

com

o um

tod

o co

ntém

sta

ndar

ds e

P

rinc

ípio

s ge

rais

de

Dir

eito

que

or

ient

am e

sse

pode

r-de

ver

exer

cido

pel

o ju

iz,

a fi

m d

e en

cont

rar-

se o

res

ulta

do q

ue m

elho

r re

solv

a o

conf

lito

subm

etid

o à

apre

ciaç

ão j

udic

ial.”

(M

anua

l de

int

erpr

etaç

ão d

o có

digo

civ

il:

as n

orm

as d

o ti

po a

bert

o e

os

pode

res

do ju

iz. R

io d

e Ja

neir

o: E

lsev

ier,

200

8, p

. 92

e 93

).

6

inte

rpre

taçã

o da

s no

rmas

ab

erta

s de

ve

ser

sem

pre

a co

nstit

ucio

nal,

valo

res

outo

rgad

os e

não

esc

olhi

dos

pelo

apl

icad

or d

a le

i.

Se

ndo

assi

m,

na i

nter

pret

ação

des

sas

norm

as a

bert

as a

jur

ispr

udên

cia

é

de g

rand

e va

lia n

a fu

nção

de

esta

bele

cer

o se

u al

canc

e e

cont

eúdo

, al

ém d

e

ofer

ecer

no

corr

er d

o te

mpo

cer

ta s

egur

ança

jur

ídic

a. É

o q

ue a

sseg

ura

Judi

th

Mar

tins-

Cos

ta:

“não

pre

tend

em a

s cl

áusu

las

gera

is d

ar r

espo

sta,

pre

viam

ente

, a

todo

s os

pr

oble

mas

da

re

alid

ade,

um

a ve

z qu

e es

tas

resp

osta

s sã

o

prog

ress

ivam

ente

con

stru

ídas

pel

a ju

risp

rudê

ncia

.”7

V

alen

do-s

e,

pois

, da

s cl

áusu

las

gera

is

e do

s co

ncei

tos

lega

is

inde

term

inad

os f

oram

int

rodu

zido

s tr

ês p

rinc

ípio

s qu

e M

igue

l R

eale

cha

ma-

os

de f

unda

ntes

, e

em p

rofi

ssão

de

fé a

dver

te “

não

por

um v

ício

de

amar

o t

rino

”,

que

são:

o d

a so

cial

idad

e, o

da

etic

idad

e e

o da

ope

rabi

lidad

e.

O

s pr

incí

pios

são

dir

etri

zes

mai

ores

do

orde

nam

ento

jurí

dico

, ofe

rece

ndo

às n

orm

as s

eu r

eal

sent

ido

e al

canc

e. I

mpõ

em a

rea

liza

ção

de v

alor

es e

sua

cara

cter

ístic

a es

senc

ial

é a

inde

fini

ção

em r

elaç

ão à

situ

ação

fát

ica,

pod

endo

aplic

ar-s

e a

um n

úmer

o in

dete

rmin

ado

de c

asos

con

cret

os.

Atu

am c

omo

elos

de

ligaç

ão e

ntre

as

norm

as c

om o

que

gar

ante

m o

ord

enam

ento

jur

ídic

o co

mo

um

bloc

o si

stem

átic

o ha

rmon

ioso

, co

nsen

tindo

a

sua

reno

vaçã

o di

ante

da

s

tran

sfor

maç

ões

soci

ais.

1.4

PR

INC

ÍPIO

DA

SO

CIA

LID

AD

E

O

pri

ncíp

io d

a so

cial

idad

e le

va a

o en

tend

imen

to d

e qu

e os

int

eres

ses

indi

vidu

ais,

em

bora

si

gnif

icat

ivos

pa

ra

o or

dena

men

to

jurí

dico

, nã

o po

dem

sobr

elev

ar o

s in

tere

sses

soc

iais

, po

r se

rem

est

es i

nfor

mat

ivos

da

cons

ciên

cia

cole

tiva.

É a

liçã

o de

Cri

stia

no C

have

s Fa

rias

e N

elso

n R

osen

vald

:

7 M

AR

TIN

S-C

OS

TA

, Jud

ith.

A b

oa-f

é no

dir

eito

pri

vado

. São

Pau

lo: R

T, 1

999,

p. 2

99.

Page 4: Aulas de Direito das Obrigações

7

O

orde

nam

ento

ju

rídi

co

conc

ede

a al

guém

um

di

reito

su

bjet

ivo

para

que

sat

isfa

ça u

m in

tere

sse

próp

rio,

mas

com

a

cond

ição

de

qu

e a

sati

sfaç

ão

indi

vidu

al

não

lese

as

ex

pect

ativ

as c

olet

ivas

que

lhe

rod

eiam

. T

odo

dire

ito d

e ag

ir

é co

nced

ido

à pe

ssoa

, par

a qu

e se

ja r

ealiz

ada

uma

fina

lida

de

soci

al;

caso

co

ntrá

rio,

a

ativ

idad

e in

divi

dual

fal

ecer

á de

le

giti

mid

ade

e o

intu

ito d

o tit

ular

do

dire

ito s

erá

recu

sado

pe

lo o

rden

amen

to.8

B

usca

sup

lant

ar,

dess

a fo

rma,

o i

ndiv

idua

lism

o co

nden

ável

sem

cai

r no

cole

tivis

mo,

cuj

o en

gano

é d

espe

rson

aliz

ar u

m e

m f

avor

do

todo

.

Po

nder

a N

orbe

rto

Bob

bio:

indi

vidu

alis

mo

e in

divi

dual

ism

o. H

á in

divi

dual

ism

o de

tr

adiç

ão

liber

al-l

iber

tari

a e

o in

divi

dual

ism

o de

tr

adiç

ão

dem

ocrá

tica.

O

pr

imei

ro

arra

nca

o in

diví

duo

do

corp

o or

gâni

co d

a so

cied

ade

e o

faz

vive

r fo

ra d

o re

gaço

mat

erno

, la

nçan

do-o

ao

mun

do d

esco

nhec

ido

e ch

eio

de p

erig

os d

a lu

ta p

ela

sobr

eviv

ênci

a, o

nde

cada

um

dev

e se

cui

dar

de s

i m

esm

o, e

m l

uta

perp

étua

, ex

empl

ific

ada

pelo

hob

besi

ano

bellu

m o

min

ium

con

tra

omne

s. O

seg

undo

agr

upa-

o a

outr

os

indi

vídu

os

sem

elha

ntes

a

ele,

qu

e co

nsid

era

seus

se

mel

hant

es,

para

que

da

sua

uniã

o a

soci

edad

e ve

nha

a se

co

mpo

r nã

o m

ais

com

o um

tod

o or

gâni

co d

o qu

al s

aiu,

mas

co

mo

uma

asso

ciaç

ão

de

indi

vídu

os

livre

s.

O

prim

eiro

re

ivin

dica

a l

iber

dade

do

indi

vídu

o em

rel

ação

à s

ocie

dade

. O

se

gund

o re

conc

ilia-

o co

m

a so

cied

ade

faze

ndo

da

soci

edad

e o

resu

ltado

de

um

ac

ordo

en

tre

indi

vídu

os

inte

ligen

tes.

O p

rim

eiro

faz

do

indi

vídu

o um

pro

tago

nist

a ab

solu

to,

fora

de

qual

quer

vín

culo

soc

ial.

O s

egun

do f

az

dele

pro

tago

nist

a de

um

a no

va s

ocie

dade

que

sur

ge d

as

cinz

as d

a so

cied

ade

antig

a, n

a qu

al a

s de

cisõ

es c

olet

ivas

são

to

mad

as

pelo

s pr

ópri

os

indi

vídu

os

ou

por

seus

re

pres

enta

ntes

.9

8 F

AR

IAS

, Cri

stia

no C

have

s et

al.

Dir

eito

das

obr

igaç

ões,

4 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: L

umen

Jur

is, 2

009,

p. 1

03.

9 B

OB

BIO

, N

orbe

rto.

T

eori

a ge

ral

da

polí

tica

, tr

aduç

ão

de

Dan

iela

B

ecca

ccia

V

ersi

ani,

orga

niza

dor

Mic

hela

ngel

o B

over

o. R

io d

e Ja

neir

o: C

ampo

s, 2

000,

p.

381.

Est

e te

xto

dist

ingu

e co

m c

lare

za a

que

stão

do

indi

vidu

alis

mo,

em

bora

sof

ra a

crí

tica

de

que

a so

cied

ade

é m

ais

do q

ue a

som

a do

liv

re a

cord

o de

ind

ivíd

uos

inte

lige

ntes

.

8

D

aí a

ass

ertiv

a de

Mig

uel

Rea

le:

“Se

não

houv

e a

vitó

ria

do s

ocia

lism

o,

houv

e o

triu

nfo

da s

ocia

lidad

e.”

E p

ross

egue

com

um

a ad

vert

ênci

a, o

atu

al

Cód

igo

Civ

il di

stin

gue-

se p

or m

aior

ade

rênc

ia à

rea

lidad

e co

ntem

porâ

nea,

o q

ue

leva

a r

epen

sar,

den

tro

dest

a ót

ica,

os

dire

itos

e de

vere

s do

s ci

nco

prin

cipa

is

pers

onag

ens

do D

irei

to P

riva

do: o

pro

prie

tári

o, o

con

trat

ante

, o e

mpr

esár

io, o

pai

de f

amíl

ia e

o te

stad

or.10

O

Cód

igo

Civ

il re

fere

-se

ao s

ocia

l ex

plic

itam

ente

em

vár

ios

disp

osit

ivos

.

Pinç

am-s

e al

guns

del

es a

feto

s à

área

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões:

a)

ao c

onsi

dera

r

abus

ivo

o ex

ercí

cio

de u

m d

irei

to (

art.

187)

b)

ao f

alar

dir

etam

ente

na

funç

ão

soci

al d

o co

ntra

to (

art.

421)

; c)

ao p

reve

r a

prob

idad

e e

a bo

a-fé

(ar

t. 42

2); d

) ao

esta

bele

cer

a fi

xaçã

o de

ind

eniz

ação

raz

oáve

l pe

la i

nter

rupç

ão d

a em

prei

tada

(art

. 62

3);

e) a

o di

spor

que

o g

esto

r de

neg

ócio

res

pond

e pe

los

dano

s ca

usad

os

por

caso

for

tuito

, qu

ando

rea

lizar

ope

raçõ

es a

rris

cada

s (a

rt.

868)

; f)

ao

inov

ar

com

a r

espo

nsab

ilida

de c

ivil

obje

tiva

deco

rren

te d

a at

ivid

ade

de r

isco

(ar

t. 92

6,

pará

graf

o ún

ico)

, g)

ao

exig

ir q

ue a

pro

prie

dade

dev

a se

r ex

erci

da c

onfo

rme

as

fina

lida

des

econ

ômic

as e

soc

iais

(ar

t. 1.

228,

§ 1

º) e

tc.

Na

verd

ade,

a f

inal

idad

e so

cial

int

egra

a p

rópr

ia n

atur

eza

do D

irei

to.

Fora

da

soci

edad

e nã

o há

Dir

eito

. V

em d

esde

os

rom

anos

o a

pote

gma:

ubi

soci

etas

, ib

i iu

s: o

nde

está

a s

ocie

dade

, aí

est

á o

Dir

eito

. Q

ualq

uer

hom

em

isol

ado,

o a

scet

a e

o er

mit

ão p

odem

ter

pro

blem

a m

oral

na

rela

ção

cons

igo

mes

mo,

ou

prob

lem

a re

ligi

oso

na r

elaç

ão c

om D

eus,

mas

não

pro

blem

a ju

rídi

co.

Da

obra

de

Dan

iel

Def

oe s

ai o

exe

mpl

o de

Rob

ison

Cru

soé,

que

viv

eu i

sola

do

em u

ma

ilha

do

Car

ibe,

não

tin

ha p

robl

ema

jurí

dico

, en

quan

to n

ão e

ncon

trou

o

10

RE

AL

E,

Mig

uel.

O p

roje

to d

o no

vo c

ódig

o ci

vil:

sit

uaçã

o ap

ões

apro

vaçã

o pe

lo S

enad

o F

eder

al,

2ª e

d. S

ão

Pau

lo:

Sar

aiva

, 199

9, p

. 7. E

ain

da a

dver

te M

igue

l R

eale

: “Q

uand

o en

trar

em

vig

or o

nov

o C

ódig

o C

ivil

, a 1

0 de

ja

neir

o de

200

3, p

erce

ber-

se-á

log

o a

dife

renç

a en

tre

o có

digo

atu

al, e

labo

rado

par

a um

Paí

s pr

edom

inan

tem

ente

ru

ral,

e o

que

foi

proj

etad

o pa

ra u

ma

soci

edad

e, n

a qu

al p

reva

lece

o s

enti

do d

a vi

da u

rban

a. H

aver

á um

a pa

ssag

em d

o in

divi

dual

ism

o e

do f

orm

alis

mo

do p

rim

eiro

par

a o

sent

ido

soci

aliz

ante

do

segu

ndo,

mai

s at

ento

às

mud

ança

s so

ciai

s, n

uma

com

posi

ção

equi

tati

va d

e li

berd

ade

e ig

uald

ade.

” (S

enti

do d

o no

vo C

ódig

o C

ivil

, di

spon

ível

em

HT

TP

://w

ww

.mig

uel-

real

e.co

m.b

r/.

Page 5: Aulas de Direito das Obrigações

9

nativ

o S

exta

Fei

ra, a

o re

laci

onar

-se

com

ele

pas

sou

a te

r. É

nes

te c

onte

xto

que

o

prin

cípi

o da

soc

ialid

ade,

com

o va

lor,

cen

tra

as s

uas

aten

ções

no

inte

ress

e do

soci

al, e

nten

dend

o o

inte

ress

e in

divi

dual

com

o re

ferê

ncia

rel

ativ

a, m

as, r

epit

a-se

,

não

sem

lhe

dar

reco

nhec

ida

impo

rtân

cia.

A

brol

ha a

que

stão

: o

prin

cípi

o da

soc

ieda

de p

ode

colid

ir c

om o

s di

reit

os

fund

amen

tais

(C

F ar

t. 5º

) e

os d

irei

tos

da p

erso

nalid

ade

(CC

art

. 11

a 21

)?

A

pr

incí

pio

a re

spos

ta

é ne

gativ

a.

O

prin

cípi

o da

so

cial

idad

e

com

prom

ete-

se c

om a

ina

diáv

el b

usca

de

se c

onst

ruir

um

a so

cied

ade

livre

, ju

sta

e so

lidár

ia,

pela

err

adic

ação

da

pobr

eza

e da

mar

gina

liza

ção,

red

uzin

do a

s

desi

gual

dade

s so

ciai

s e

regi

onai

s (C

F, a

rt.

3º,

III)

, pl

asm

adas

na

dign

idad

e da

pess

oa h

uman

a (C

F a

rt.1

º, II

I),

impo

ndo

rigo

roso

rec

onhe

cim

ento

dos

dir

eito

s

fund

amen

tais

e

dos

dire

itos

da

pers

onal

idad

e,

o qu

e se

co

nstit

ui

polít

ica

hum

anis

ta e

hum

aniz

ador

a. M

aria

Cel

ina

Bod

in d

e M

orae

s as

segu

ra q

ue a

soli

dari

edad

e “é

a e

xpre

ssão

mai

s pr

ofun

da d

e so

ciab

ilid

ade

que

cara

cter

iza

a

pess

oa h

uman

a.”

E p

ross

egue

que

na

atua

lida

de a

Car

ta M

agna

exi

ge “

que

nos

ajud

emos

, m

utua

men

te,

a co

nser

var

noss

a hu

man

idad

e, p

orqu

e a

cons

truç

ão d

e

uma

soci

edad

e liv

re, j

usta

e s

olid

ária

cab

e a

todo

s e

a ca

da u

m d

e nó

s”.11

D

o ex

post

o su

rge

uma

conc

lusã

o ló

gica

, o

prin

cípi

o da

sol

idar

ieda

de

com

põe

uma

orde

m d

e co

mpl

emen

tari

dade

com

o i

ndiv

idua

lism

o de

moc

rátic

o,

enco

ntra

ndo

vast

o es

tuár

io n

os d

irei

tos

fund

amen

tais

e n

os d

a pe

rson

alid

ade,

porq

uant

o o

que

ele

pret

ende

é e

xpur

gar

o in

divi

dual

ism

o pe

rver

so,

jam

ais

desp

erso

nali

zar

o in

diví

duo

em f

avor

do

todo

.

E

m

um

prim

eiro

en

foqu

e é

lídim

o as

segu

rar,

se

no

ca

so

conc

reto

esta

bele

cer-

se a

col

isão

pro

post

a, p

reva

lece

m o

s pr

incí

pios

im

anen

tes

do s

iste

ma

e do

blo

co d

e co

nstit

ucio

nalid

ade,

até

por

que

o ce

ntro

do

Dir

eito

é a

dig

nida

de

da p

esso

a hu

man

a e

os v

alor

es q

ue l

he s

ão i

ntrí

nsec

os. N

ão h

á co

mo

arre

dá-l

os.

11

MO

RA

ES

, Mar

ia C

elin

a B

odin

. O p

rinc

ípio

da

soli

dari

edad

e p.

178

10

É a

“pr

eval

ênci

a do

s di

reit

os h

uman

os”

impo

siçã

o ex

pres

sa d

a C

arta

Mag

na (

art.

4º, I

I).

T

odav

ia,

nada

no

dire

ito é

abs

olut

o, c

umpr

e, a

ssim

, ou

tra

orde

m d

e

cons

ider

ação

, qu

e é

o de

ver

de p

rote

ção

em f

ace

da c

olet

ivid

ade.

No

Est

ado

Dem

ocrá

tico

de D

irei

to,

os d

irei

tos

fund

amen

tais

e o

s di

reito

s da

per

sona

lidad

e

não

pode

m s

er v

isto

s pe

lo e

stre

ito e

nfoq

ue i

ndiv

idua

l, se

m a

ind

ispe

nsáv

el

prot

eção

dos

dir

eito

s in

tegr

ante

s da

soc

ieda

de. S

e el

es p

reva

lece

rem

, em

toda

s as

circ

unst

ânci

as,

será

dan

oso

à or

dem

púb

lica

e à

s lib

erda

des

alhe

ias.

Afi

rma

com

luci

dez

Ern

ani

Men

ezes

Vilh

ena

Júni

or:

“Pri

vile

giar

o d

irei

to f

unda

men

tal

do

indi

vídu

o co

m g

rave

pre

juíz

o ao

s di

reito

s fu

ndam

enta

is d

a so

cied

ade

impl

ica

inex

oráv

el o

fens

a a

valo

res

asse

gura

dos

a to

dos.

E

scor

ado

no c

omen

to d

e D

ayse

de

Vas

conc

elos

May

er,

o ci

tado

aut

or

pros

segu

e en

umer

ando

as

segu

inte

s e

aper

tada

s ci

rcun

stân

cias

:

a) q

uand

o ne

cess

ário

ass

egur

ar a

pró

pria

con

tinu

idad

e e

sobr

eviv

ênci

a da

orde

m ju

rídi

ca;

b) s

e es

tive

r em

gra

ve r

isco

um

bem

jur

ídic

o qu

e so

men

te p

ode

ser

pres

erva

do p

ela

res

triç

ão d

a lib

erda

de;

c)

quan

do

todo

s e

não

algu

ns

seja

m

abra

ngid

os

por

med

idas

de

exce

pcio

nalid

ade

adot

adas

pel

o E

stad

o;

d) n

as s

itua

ções

exc

epci

onai

s e

tran

sitó

rias

, is

to é

, qu

ando

dur

e ap

enas

enqu

anto

per

man

ecer

a s

ituaç

ão d

e pe

rigo

imin

ente

.12

Pa

ra

tant

o do

is

prin

cípi

os

são

indi

cado

s os

da

ra

zoab

ilida

de

e da

prop

orci

onal

idad

e. S

em d

úvid

a, s

eus

conc

eito

s sã

o re

lativ

os p

or e

xcel

ênci

a,

deve

ndo

ser

infe

rido

s a

part

ir d

o se

nso

com

um o

u pa

drão

méd

io d

os i

ndiv

íduo

s.

É r

azoá

vel

e pr

opor

cion

al t

udo

o qu

e o

corp

o so

cial

adm

ite c

omo

solu

ção

12

VIL

HE

NA

NIO

R,

Ern

ani

de M

enez

es.

Dir

eito

s fu

ndam

enta

is d

a so

cied

ade.

Rev

ista

Jur

ídic

a da

Esc

ola

Sup

erio

r do

Min

isté

rio

Púb

lico

, vol

ume

1. S

ão P

aulo

: ES

MP

, 201

2, p

. 93

e 88

res

pect

ivam

ente

.

Page 6: Aulas de Direito das Obrigações

11

equâ

nim

e pa

ra d

eter

min

ada

situ

ação

con

cret

a, p

or e

star

de

conf

orm

idad

e co

m o

inte

ress

e pú

blic

o.13

1.5

PR

INC

ÍPIO

DA

ET

ICID

AD

E

A

gir

com

eti

cida

de s

igni

fica

ele

var-

se c

omo

pess

oa h

uman

a, p

roce

dend

o

de m

anei

ra p

roba

e l

eal

na c

onsi

dera

ção

de v

alor

es q

ue e

xige

m o

res

peit

o e

o

apre

ço a

os in

tere

sses

e d

irei

tos

alhe

ios.

E

vide

nte

que

a et

icid

ade

evoc

a a

étic

a, e

est

a si

gnif

ica

o “e

u” r

econ

hece

r,

resp

eita

r e

reve

renc

iar

o “o

utro

”, a

ssim

ent

ende

ndo:

“o

outr

o so

u eu

mes

mo”

,

são

pala

vras

do

Apó

stol

o P

aulo

: “[

...]

cada

um

de

nós

som

os m

embr

os u

m d

o

outr

o” (

Rom

anos

12,

5).

Mac

hado

de

Ass

is,

no c

onto

“O

Esp

elho

”, u

m e

sboç

o

de u

ma

nova

teor

ia d

a al

ma

hum

ana,

col

oca

na b

oca

do ta

citu

rno

Jaco

bina

, que

o

hom

em,

met

afis

icam

ente

fal

ando

, é

uma

lara

nja,

que

m p

erde

um

a da

s m

etad

es,

perd

e m

etad

e da

sua

exi

stên

cia,

ou

seja

, um

a m

etad

e é

o “e

u” e

a o

utra

met

ade

é

o “o

utro

”.

A

eti

cida

de, c

ontu

do, n

ão s

e al

arga

ao

pont

o de

o D

irei

to c

onsa

grar

tud

o

que

é m

oral

, por

com

port

ar n

orm

as a

mor

ais,

ass

im a

s qu

e se

ref

erem

ao

trân

sito

com

o, p

or e

xem

plo,

ao

esta

bele

cer

uma

rua

de m

ão ú

nica

ou

dire

cion

á-la

do

cent

ro p

ara

o ba

irro

. Mas

o D

irei

to n

ega

e re

jeita

a im

oral

idad

e.

Po

de-s

e af

irm

ar,

poré

m,

que

os f

unda

men

tos

da e

tici

dade

per

mei

am o

orde

nam

ento

ju

rídi

co,

incu

tindo

-lhe

os

va

lore

s de

ju

stiç

a,

solid

arie

dade

e

dign

idad

e da

pes

soa

hum

ana.

De

efei

to,

a et

icid

ade

é va

lor

que

abro

lha

do

prin

cípi

o da

dig

nida

de h

uman

a. P

rinc

ípio

abr

igad

o pr

atic

amen

te e

m t

odas

as

legi

slaç

ões

dos

país

es

ocid

enta

is,

com

o na

s C

onst

ituiç

ões

de

Port

ugal

e

Ale

man

ha.14

13

PA

ZZ

AG

LIN

I F

ILH

O, M

arin

o. P

rinc

ípio

s co

nsti

tuci

onai

s re

gula

dore

s da

adm

inis

traç

ão p

úbli

ca. S

ão P

aulo

: A

tlas

, 200

0, p

. 5.

12

o ex

empl

os q

ue t

ocam

os

dire

itos

obri

gaci

onai

s: a

) ar

t. 50

: em

cas

o de

abus

o da

per

sona

lida

de j

uríd

ica,

o ju

iz p

oder

á de

spre

zá-l

a e

sanc

iona

r os

sóc

ios

abus

ivos

(fa

lta

de e

tici

dade

); b

) ar

t. 11

0: p

une-

se a

res

erva

leg

al (

falt

a de

etic

idad

e) n

a m

anif

esta

ção

da v

onta

de q

uand

o da

rea

lizaç

ão d

o ne

góci

o ju

rídi

co;

c) a

rt.

113:

os

negó

cios

jur

ídic

os d

evem

ser

int

erpr

etad

os c

onfo

rme

a bo

a-fé

(etic

idad

e);

d) a

rt.

167

capu

t: é

nul

o o

negó

cio

jurí

dico

sim

ulad

o (f

alta

de

etic

idad

e),

mas

são

res

salv

ados

os

dire

itos

de t

erce

iro

de b

oa-f

é (e

ticid

ade)

, ar

t.

167,

§ 2

º; e

) ar

t. 18

7: c

onsi

dera

-se

ato

ilíci

to o

exe

rcíc

io a

busi

vo d

e um

dir

eito

(fal

ta d

e et

icid

ade)

; f)

art

. 421

: a

liber

dade

de

cont

rata

r se

rá e

xerc

ida

em r

azão

e

nos

limit

es d

a fu

nção

soc

ial

do c

ontr

ato

(eti

cida

de);

g)

art.

422:

os

cont

rata

ntes

são

obri

gado

s a

guar

dar

os p

rinc

ípio

s da

pro

bida

de e

da

boa-

fé (

etic

idad

e);

h)

art.

589,

V:

é in

efic

az o

mút

uo f

eito

a m

enor

, sa

lvo

se e

le o

btev

e o

empr

ésti

mo

mal

icio

sam

ente

(fa

lta d

e et

icid

ade)

; i)

art

. 89

6: p

rote

ge o

por

tado

r de

boa

-fé

(etic

idad

e) c

ontr

a a

reiv

indi

caçã

o de

títu

lo d

e cr

édito

; j)

art

. 1.

258

e pa

rágr

afo

únic

o: a

quel

e qu

e co

nstr

ói e

m s

eu s

olo

e in

vade

par

cial

men

te s

olo

alhe

io, s

e ag

iu

de b

oa-f

é (e

tici

dade

) ad

quir

e a

part

e do

sol

o in

vadi

do,

inde

niza

ndo

o va

lor

da

14 M

AIA

, L

auro

Aug

usto

Mor

eira

. N

ovos

par

adig

mas

do

dire

ito

civi

l. C

urit

iba:

Jur

uá,

2007

, p.

34

e 35

. A

inda

ne

sta

obra

o a

utor

ofe

rece

o c

once

ito

de d

igni

dade

hum

ana:

“P

ico

Del

la M

iran

dola

tev

e o

mér

ito

de,

aind

a no

culo

XV

, co

nstr

uir

uma

noçã

o de

dig

nida

de h

uman

a qu

e nã

o es

tava

cen

trad

a em

sua

for

tuna

, su

a po

siçã

o so

cial

, su

a es

tatu

ra f

unci

onal

. A

dig

nida

de,

o H

omem

a t

inha

por

ser

dot

ado

de r

azão

, co

nstr

utor

do

seu

futu

ro,

com

o se

r qu

e, c

om l

iber

dade

, po

de o

ptar

ent

re d

ecis

ões

poss

ívei

s e

cons

titu

ir-s

e nu

m p

rópr

io s

er d

ivin

o.”

Ing

o S

arle

t, na

sua

obr

a D

igni

dade

da

pess

oa h

uman

a e

dire

itos

fun

dam

enta

is n

a C

onst

itui

ção

Fed

eral

, Por

to A

legr

e:

Liv

rari

a do

Adv

ogad

o, 2

001,

def

ine

dign

idad

e hu

man

a: “

tem

os p

or d

igni

dade

da

pess

oa h

uman

a a

qual

idad

e in

trín

seca

e d

isti

ntiv

a de

cad

a se

r hu

man

o qu

e o

faz

mer

eced

or d

o m

esm

o re

spei

to e

con

side

raçã

o po

r pa

rte

do

Est

ado

e da

com

unid

ade,

im

plic

ando

, ne

sse

sent

ido,

um

com

plex

o de

dir

eito

s e

deve

res

fund

amen

tais

que

as

segu

rem

a p

esso

a ta

nto

cont

ra t

odo

e qu

alqu

er a

to d

e cu

nho

degr

adan

te o

u de

sum

ano,

com

o ve

nham

a l

he

gara

ntir

as

co

ndiç

ões

exis

tenc

iais

m

ínim

as

para

um

a vi

da

saud

ável

, al

ém

de

prop

icia

r e

prom

over

su

a pa

rtic

ipaç

ão a

tiva

e c

ores

pons

ável

nos

des

tino

s da

pró

pria

exi

stên

cia

e da

vid

a em

com

unhã

o co

m o

s de

mai

s se

res

hum

anos

.” D

isse

rtan

do s

obre

a d

igni

dade

hum

ana

na o

brig

ação

, C

rist

iano

Cha

ves

de F

aria

e N

elso

n R

osen

vald

afi

rmam

: “O

brig

ação

e r

elaç

ão o

brig

acio

nal.

Est

rutu

ra e

fun

ção.

Aut

onom

ia p

riva

da,

boa-

fé e

fun

ção

soci

al.

Indi

vídu

o e

pess

oa.

Pat

rim

ônio

e e

xist

ênci

a. S

olid

ão e

sol

idar

ieda

de.

A d

igni

dade

da

pess

oa h

uman

a se

co

loca

em

tod

os e

sses

mom

ento

s. E

m s

eu p

erfi

l at

ivo,

con

vida

os

indi

vídu

os i

sola

dos

ao c

ontr

ato

soci

al e

ao

enta

bula

men

to d

a ob

riga

ção,

gar

anti

ndo

cond

içõe

s pa

ra o

ple

no d

esen

volv

imen

to d

a li

berd

ade

hum

ana.

A

dig

nida

de,

poré

m,

age

em o

utra

ver

tent

e. O

hom

em s

e co

nver

te e

m p

esso

a no

mun

do s

olid

ário

das

rel

açõe

s ob

riga

cion

ais.

Qua

lque

r so

cied

ade

só s

e af

irm

a em

coo

pera

ção,

tra

duzi

da e

sta

pela

boa

-fé

e fu

nção

soc

ial

no

rein

o do

s ne

góci

os ju

rídi

cos”

(D

irei

tos

das

obri

gaçõ

es, 4

ed.

Rio

de

Jane

iro:

Lum

en J

uris

, 200

9, p

. 8).

Page 7: Aulas de Direito das Obrigações

13

área

per

dida

e a

des

valo

riza

ção

da á

rea

rem

anes

cent

e, m

as s

e ag

iu d

e m

á-fé

(fal

ta d

e et

icid

ade)

a in

deni

zaçã

o se

rá e

m d

écup

lo e

tc.

D

os

exem

plos

co

laci

onad

os

mui

tos

são

com

uns

aos

prin

cípi

os

da

soci

alid

ade

e da

etic

idad

e qu

e se

ent

rela

çam

, um

com

plet

ando

o o

utro

, de

mod

o

são

duas

ver

edas

apl

aina

das

por

valo

res

sim

ilar

es.

Tan

to a

ssim

, qu

e o

prin

cípi

o

da s

ocia

lidad

e na

sce

de u

m d

ever

étic

o, q

ue o

brig

a o

titul

ar d

e um

dir

eito

subj

etiv

o ha

rmon

izar

o

seu

inte

ress

e ao

in

tere

sse

soci

al.

De

outr

a fa

ce,

a

etic

idad

e, t

endo

por

pro

post

a o

com

prom

etim

ento

do

Dir

eito

com

ide

ais

de a

lta

esti

ma

de u

ma

com

unid

ade,

est

á in

tim

amen

te l

igad

a ao

par

adig

ma

soci

alid

ade,

pois

som

ente

ass

im p

oder

á te

r um

sig

nifi

cado

rea

lmen

te e

difi

cant

e.15

O

cer

to é

que

ess

es d

ois

prin

cípi

os t

roux

eram

ao

Cód

igo

Civ

il u

ma

nova

dinâ

mic

a, o

u se

con

stitu

em e

m p

arad

igm

as q

ue r

ompe

m c

om o

for

mal

ism

o

técn

ico-

jurí

dico

pró

prio

do

indi

vidu

alis

mo

que

ante

cede

a m

etad

e do

séc

ulo

pass

ado,

am

plia

ndo

as n

orm

as i

nscr

itas

na L

ei d

e In

trod

ução

às

Nor

mas

do

Dir

eito

Bra

sile

iro

(até

201

0 ch

amad

a L

ei d

e In

trod

ução

do

Cód

igo

Civ

il).

O a

rt.

4º a

o at

ribu

ir m

aior

val

oraç

ão à

ana

logi

a, a

os c

ostu

mes

e a

os p

rinc

ípio

s ge

rais

do

Dir

eito

. E

o a

rt. 5

º em

que

o j

uiz

deve

rá a

tend

er a

os f

ins

soci

ais

e às

exi

gênc

ias

do b

em c

omum

. D

e ef

eito

, ao

jui

z é

asse

gura

da a

nec

essá

ria

liber

dade

de

dist

ribu

ir, e

m c

ada

caso

sin

gula

r, o

jul

gam

ento

mai

s eq

uâni

me,

o q

ue c

ondu

z ao

just

o an

seio

dos

juri

sdic

iona

dos.

C

abe

uma

ress

alva

, o

Cód

igo

Civ

il d

e

Rea

le a

cres

cent

ou,

ao C

ódig

o C

ivil

de B

evila

qua,

nov

os a

rtig

os,

nos

quai

s da

boa-

fé o

u da

má-

fé d

ecor

rem

con

sequ

ênci

as ju

rídi

cas,

am

plia

ndo

e m

elho

rand

o o

prin

cípi

o da

eti

cida

de,

logo

não

lhe

é e

xclu

sivo

. D

e ef

eito

, sã

o ex

empl

os d

e

etic

idad

e no

Cód

igo

Civ

il r

evog

ado,

den

tre

outr

os,

os a

rtig

os 5

10,

513

a 51

5,

15

MA

IA, L

auro

Aug

usto

Mor

eira

;Nov

os p

arad

igm

as d

o di

reito

civ

il. C

urit

iba:

Jur

uá, 2

007,

p. 3

0

14

550,

551

, 612

, 613

, 616

, 933

, par

ágra

fo ú

nico

, 968

, 1.0

02, 1

.072

, 1.0

73, 1

.318

e

1;32

1, 1

.443

.16

1.6

PR

INC

ÍPIO

DA

OP

ER

AB

ILID

AD

E

O

pri

ncíp

io d

a op

erab

ilida

de f

oi i

nspi

rado

no

Dir

eito

ale

mão

, e

segu

ndo

Mig

uel R

eale

: “o

Dir

eito

é f

eito

par

a se

r ex

ecut

ado;

Dir

eito

que

não

se

exec

uta

já d

izia

Jhe

ring

na

sua

imag

inaç

ão c

riad

ora

– é

cham

a qu

e nã

o aq

uece

, lu

z qu

e

não

ilum

ina.

”17 L

embr

a a

pará

bola

da

lâm

pada

: “Po

r ac

aso

tom

a-se

um

a la

nter

na

para

col

ocar

deb

aixo

do

alqu

eire

ou

do l

eito

? P

or a

caso

não

é p

ara

colo

car

sobr

e

o ca

ndel

abro

” (M

c. 8

, 21

). E

xpli

ca N

orbe

rto

Bob

bio:

“Fi

nalm

ente

, de

scen

do d

o

plan

o id

eal

ao p

lano

rea

l, um

a co

isa

é fa

lar

dos

dire

itos

do h

omem

, di

reito

s

sem

pre

novo

s e

cada

ve

z m

ais

exte

nsos

, e

just

ific

á-lo

s co

m

argu

men

tos

conv

ince

ntes

; ou

tra

cois

a é

gara

ntir

-lhe

s um

a pr

oteç

ão

efet

iva.

”18

Pr

oteç

ão

efet

iva

sign

ific

a qu

e as

no

vas

norm

as

têm

m

ais

clar

eza

reda

cion

al, t

orna

ndo-

as d

e m

ais

fáci

l op

erab

ilida

de n

o ca

so c

oncr

eto,

de

mod

o a

esta

bele

cer

solu

ções

nor

mat

ivas

que

fac

ilite

m s

ua in

terp

reta

ção

pelo

ope

rado

r do

Dir

eito

, is

to é

, o

aces

so d

a vi

da d

os t

exto

s pa

ra a

vid

a pr

átic

a. P

ara

tant

o, o

Cód

igo

vige

nte

aban

dono

u a

reda

ção

esm

erad

a, a

té c

láss

ica

do C

ódig

o re

voga

do,

mor

men

te d

epoi

s da

rev

isão

de

Rui

Bar

bosa

. Sua

ling

uage

m é

men

os r

ebus

cada

,

mai

s in

telig

ível

, ao

alc

ance

do

juri

sdic

iona

do e

de

tal

mod

o de

vem

ser

dir

igid

as

as

deci

sões

ju

dici

ais.

.

Su

pera

tam

bém

as

dúvi

das

rem

anes

cent

es d

o si

stem

a pa

ssad

o, p

or m

eio

de m

etód

ica

anál

ise

da ju

risp

rudê

ncia

. Exe

mpl

o m

arca

nte

é o

art.

330

do C

ódig

o

Civ

il, q

ue a

braç

ou a

jur

ispr

udên

cia

(R

T 6

47/1

46)

ao i

ntro

duzi

-la

em p

rece

ito

16

ME

ND

ON

ÇA

, Jac

y de

Sou

za e

t al.

Inov

açõe

s ao

nov

o có

digo

civ

il. S

ão P

aulo

: Qua

rtie

r L

atin

, 200

4, p

. 25.

17

RE

AL

E,

Mig

uel.

O p

roje

to d

o no

vo c

ódig

o ci

vil:

sit

uaçã

o ap

ós a

apr

ovaç

ão p

elo

Sena

do F

eder

al,

2 ed

. Sã

o P

aulo

: Sar

aiva

, 199

9, p

. 10.

18

BO

BB

IO, N

orbe

rto.

A e

ra d

os d

irei

tos,

trad

ução

de

Nel

son

Cou

tinh

o. R

io d

e Ja

neir

o: C

ampu

s, 1

992,

p. 6

3.

Page 8: Aulas de Direito das Obrigações

15

escr

ito.19

O

mes

mo

se d

eu c

om a

pre

scri

ção

e a

deca

dênc

ia.

Afa

star

am a

s dú

vida

s

susc

itad

as p

elas

teo

rias

est

érei

s qu

e at

é en

tão

prol

ifer

aram

, po

uco

escl

arec

endo

.

Fico

u ní

tida

a di

fere

nça

entr

e am

bas.

A o

rien

taçã

o ge

ral é

a s

egui

nte:

os

caso

s de

pres

criç

ão e

stão

con

tido

s no

s ar

ts.

205

e 20

6, d

a Pa

rte

Ger

al.

Em

tod

os o

s

dem

ais

caso

s, e

m r

egra

, o p

razo

ext

inti

vo é

dec

aden

cial

.

A

dem

ais,

cab

e um

a no

va l

eitu

ra d

o di

reito

pro

cess

ual.

de c

onvi

r, o

dire

ito

mat

eria

l so

brel

eva

o in

stru

men

tal.

Que

m

ingr

essa

em

ju

ízo

visa

à

efet

ivaç

ão,

por

mei

o do

dir

eito

sub

jeti

vo,

o qu

e lh

e co

nfer

e o

dire

ito o

bjet

ivo,

não

para

dis

cuti

r no

rmas

pur

amen

te p

roce

ssua

is.

São

cad

a ve

z m

ais

arca

icas

e

odio

sas

as d

ecis

ões

priv

ileg

iada

men

te p

roce

ssua

is,

quan

do a

for

ma

supe

ra o

cont

eúdo

. D

irei

to M

ater

ial

e D

irei

to I

nstr

umen

tal

deve

m m

ante

r um

diá

logo

perm

anen

te d

e m

anei

ra q

ue o

seg

undo

fac

ilite

, co

m n

orm

as c

lara

s e

de f

ácil

oper

abili

dade

, o

segu

ndo,

inc

lusi

ve p

reoc

upan

do-s

e co

m a

s de

cisõ

es e

m t

empo

útil,

des

buro

crat

izan

do o

pro

cess

o qu

e de

ve c

onte

mpl

ar a

ver

dade

mat

eria

l.

1.7

CO

NC

LU

SÃO

De

todo

o e

xpen

dido

qua

nto

aos

três

pri

ncíp

ios

a co

nclu

são

é du

al.

A

uma,

indi

ca q

ue o

Liv

ro d

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s e

os d

emai

s L

ivro

s do

Cód

igo

Civ

il de

vem

ser

lid

os n

a co

nsid

eraç

ão d

os t

rês

prin

cípi

os e

xpos

tos,

par

a a

boa

e

caba

l in

terp

reta

ção

de s

uas

norm

as d

entr

o de

nov

os p

arad

igm

as q

ue o

s af

etam

dire

tam

ente

, to

rnan

do-o

s at

uais

e e

fetiv

os,

em u

ma

soci

edad

e qu

e ex

peri

men

ta

mud

ança

s co

nsta

ntes

ant

e o

dina

mis

mo

que

cara

cter

iza

a vi

da c

onte

mpo

râne

a. A

19 É

a s

egui

nte

juri

spru

dênc

ia r

efer

ida:

“A

pesa

r de

ter

em a

s pa

rtes

pac

tuad

o se

r a

dívi

da p

ortá

vel,

se o

sen

hori

o te

m o

cos

tum

e de

pro

cura

r o

inqu

ilin

o pa

ra r

eceb

er a

s pr

esta

ções

, a

dívi

da e

m q

uesí

vel,

exig

indo

-se

ao d

eved

or

apen

as a

pro

ntid

ão p

ara

paga

r, s

em q

ue t

enha

a o

brig

ação

de

ofer

ecer

. Fi

ca a

ssim

ple

nam

ente

jus

tifi

cáve

l a

cons

igna

tóri

a po

r in

aniç

ão d

o cr

edor

, o q

ue c

onfi

gura

a im

poss

ibil

itaç

ão d

o pa

gam

ento

.” (

RT

647

/146

). C

onfi

ra o

“A

rt.

330

: O

pag

amen

to r

eite

rada

men

te f

eito

em

out

ro l

ocal

faz

pre

sum

ir r

enún

cia

do c

redo

r re

lati

vam

ente

ao

prev

isto

no

cont

rato

”.

16

duas

, as

dec

isõe

s ju

dici

ais

não

pode

m m

ais

se c

onte

ntar

com

a v

erda

de f

orm

al,

cham

ada

por

algu

ns d

e se

gura

nça

jurí

dica

, a n

ova

leit

ura

está

a e

xigi

r a

busc

a da

verd

ade

mat

eria

l, po

is s

ó as

sim

se

rest

abel

ece

a pa

z so

cial

que

brad

a pe

lo c

onfl

ito

de i

nter

esse

s. É

um

bas

ta à

per

fídi

a “d

o fa

z de

con

ta”

de q

ue a

jus

tiça

foi

dist

ribu

ída,

faz

endo

cre

r qu

e o

Pode

r Ju

dici

ário

ape

nas

diri

me

conf

litos

de

inte

ress

es.

.

Po

is b

em,

assi

m e

nten

dend

o há

de

se a

dmit

ir, o

Cód

igo

Civ

il de

Rea

le é

prin

cipi

ológ

ico,

um

sis

tem

a se

mia

bert

o, p

ois

ao l

ado

das

norm

as c

asuí

stic

as

perf

ilam

as

cl

áusu

las

gera

is

e os

co

ncei

tos

lega

is

inde

term

inad

os,

dano

flex

ibili

dade

ao

sist

ema.

RE

SUM

O

Sist

emas

de

codi

fica

ção:

1) S

iste

ma

fech

ado:

é a

cas

uíst

ica,

res

olve

-se

pela

fat

ispé

cie:

a s

ubsu

nção

do

fato

à

lei.

O ju

iz n

ão p

ode

afas

tar-

se d

o te

xto

lega

l. S

iste

ma

pugn

ado

pela

s E

scol

as d

a E

xege

se e

dos

Pan

dect

as. P

erde

u im

port

ânci

a, e

spec

ialm

ente

a p

arti

r da

s dé

cada

s in

icia

is o

séc

ulo

XX

.

2)

Sist

ema

sem

iabe

rto:

al

ém

da

casu

ísti

ca,

figu

ram

as

cl

áusu

las

gera

is

e co

ncei

tos

lega

is in

dete

rmin

ados

.

As

cláu

sula

s ge

rais

e

os

conc

eito

s le

gais

in

dete

rmin

ados

o no

rmas

pr

opos

itada

men

te v

agas

e a

bert

as,

que

se a

just

am a

o ca

so c

oncr

eto

med

iant

e va

lora

ção,

pe

rmit

indo

m

obili

dade

ao

si

stem

a,

evita

ndo

o se

u pr

ecoc

e en

velh

ecim

ento

dia

nte

de u

ma

soci

edad

e di

nâm

ica,

em

con

stan

te m

udan

ça.

As

prim

eira

s nã

o pr

evee

m a

con

sequ

ênci

a ju

rídi

ca; a

s se

gund

as, s

im. O

fert

am m

aior

el

asti

cida

des

às d

ecis

ões

judi

ciai

s, s

empr

e na

bus

ca d

e se

faz

er j

ustiç

a no

cas

o co

ncre

to.

3) P

rinc

ípio

s: s

ão d

iret

rize

s m

aior

es d

o or

dena

men

to j

uríd

ico

e of

erec

em à

s no

rmas

se

u re

al

sent

ido

e al

canc

e.

Pode

m

ser

aplic

ados

a

um

núm

ero

inde

term

inad

o de

cas

os.

Dão

uni

dade

ao

orde

nam

ento

jur

ídic

o e

tam

bém

lhe

pe

rmit

em c

onst

ante

ren

ovaç

ão d

iant

e da

s tr

ansf

orm

açõe

s so

ciai

s.

Page 9: Aulas de Direito das Obrigações

17

a) P

rinc

ípio

da

soci

alid

ade:

ênfa

se a

o in

tere

sse

soci

al,

pois

o D

irei

to,

send

o um

a fo

rma

real

ista

, nã

o po

de s

er c

once

bido

sem

que

se

cons

ider

e a

soci

edad

e qu

e el

e de

ve r

egul

ar,

cont

udo

dand

o a

reco

nhec

ida

impo

rtân

cia

aos

dire

itos

in

divi

duai

s. N

ão d

eve

nem

pod

e co

lidir

com

os

dire

itos

fun

dam

enta

is p

revi

stos

na

Con

stitu

ição

Fed

eral

, ou

com

os

dire

itos

da p

erso

nalid

ade

prev

isto

s no

C

ódig

o C

ivil.

b) P

rinc

ípio

da

etic

idad

e: a

éti

ca d

eve

info

rmar

o D

irei

to,

isto

é,

o D

irei

to é

, so

bret

udo,

étic

o. E

Étic

a é

ente

nder

o o

utro

com

o se

fos

se o

pró

prio

eu.

O

Dir

eito

não

con

sagr

a tu

do q

ue é

mor

al,

mas

o D

irei

to n

ão s

e co

mpa

dece

com

a

imor

alid

ade.

Est

á em

con

stan

te d

iálo

go c

om o

pri

ncíp

io d

a so

cial

idad

e.

c) P

rinc

ípio

da

oper

abil

idad

e: a

lei

dev

e se

r cl

ara,

par

a qu

e to

dos

poss

am

ente

ndê-

la e

par

a qu

e op

ere

a su

a tr

ansf

erên

cia

da v

ida

do t

exto

par

a a

vida

pr

átic

a, a

fast

adas

inte

rpre

taçõ

es m

eram

ente

pro

tela

tóri

as, q

ue tr

azem

mor

osid

ade

à di

stri

buiç

ão d

a ju

stiç

a. D

irei

to C

ivil

e D

irei

to P

roce

ssua

l C

ivil

deve

m m

ante

r um

diá

logo

pro

fícu

o, s

endo

que

o s

egun

do é

ins

trum

ento

do

prim

eiro

, de

vend

o fa

cili

tar

o re

conh

ecim

ento

dos

dir

eito

s de

que

m p

rocu

ra a

jus

tiça,

esp

ecia

lmen

te

edita

ndo

norm

as q

ue p

ossi

bilit

em d

ecis

ões

em te

mpo

háb

il.

C

AP

ÍTU

LO

II

2.1

Top

ogra

fia

no C

ódig

o C

ivil:

Liv

ro I

da

P

arte

E

spec

ial.

2.2

Con

ceito

de

D

irei

to d

as O

brig

açõe

s. 2

.3 A

cepç

ão d

a pa

lavr

a ob

riga

ção.

2.

4 A

cepç

ões

de

deve

r ju

rídi

co, ô

nus

e su

jeiç

ão.

2.

1 T

OP

OG

RA

FIA

D

A

TE

OR

IA

GE

RA

L

DA

S O

BR

IGA

ÇÕ

ES

NO

CO

DIG

O C

IVIL

O C

ódig

o C

ivil

de B

evil

aqua

é u

m m

onum

ento

do

Dir

eito

,

nega

r se

us

extr

aord

inár

ios

mér

itos

é in

conc

ebív

el,

porq

uant

o o

seu

text

o

repr

esen

ta u

m p

atri

môn

io j

uríd

ico

de v

alor

ine

stim

ável

. So

b a

sua

vigê

ncia

fora

m

escu

lpid

as

dout

rina

e

juri

spru

dênc

ia

hoje

m

uito

ap

rove

itáve

is,

cons

titu

indo

um

ace

rvo

obri

gató

rio

de c

onsu

lta

e pe

squi

sa.

Con

tudo

, é

frut

o de

18

sua

époc

a o

Est

ado

Lib

eral

e d

e um

a so

cied

ade

pred

omin

ante

men

te a

grár

ia.20

Era

, po

is,

uma

soci

edad

e es

táve

l e

cons

erva

dora

, re

cém

lib

erta

da

mác

ula

da

escr

avid

ão.

Nel

e o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

está

ins

erid

o no

Liv

ro I

II d

a Pa

rte

Esp

ecia

l, a

inov

ação

do

Cód

igo

Civ

il de

Rea

le f

oi d

eslo

cá-l

o pa

ra o

Liv

ro I

,

imed

iata

men

te d

epoi

s da

Par

te G

eral

, an

tece

dend

o o

Dir

eito

de

Em

pres

a (L

ivro

II),

o D

irei

to d

as C

oisa

s (L

ivro

III

), o

Dir

eito

de

Fam

ília

(L

ivro

IV

) e

o D

irei

to

das

Suce

ssõe

s (L

ivro

V).

É

a s

equê

ncia

do

Cód

igo

Civ

il da

Ale

man

ha d

e 19

00, s

egui

da p

elo

Cód

igo

Civ

il de

Por

tuga

l de

1966

. Dis

posi

ção

mai

s di

dátic

a, p

orqu

anto

os

dem

ais

Liv

ros

da P

arte

Esp

ecia

l co

ntêm

mat

éria

rel

acio

nada

às

obri

gaçõ

es o

que

, po

r ló

gico

raci

ocín

io,

torn

a-se

mai

s fá

cil

ente

ndê-

los

depo

is d

e co

nhec

er o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Con

side

ra-s

e ai

nda

que

a so

cied

ade

atua

l é m

arca

dam

ente

urb

ana,

alé

m d

e

cont

amin

ada

pelo

pro

blem

a ec

onôm

ico

em q

ue, d

e m

odo

gera

l, a

pess

oa c

ontr

ata

ante

s de

torn

ar-s

e tit

ular

de

algu

m d

irei

to r

eal,

isto

é, a

ntes

de

ser

prop

riet

ário

de

algu

ma

cois

a, t

ambé

m s

e ob

riga

ant

es d

e co

nsti

tuir

fam

ília

pel

o ca

sam

ento

, ou

mes

mo

de

adqu

irir

pa

trim

ônio

po

r su

cess

ão.21

P

or s

ua v

ez,

a Pa

rte

Ger

al d

o C

ódig

o C

ivil

dis

põe

mat

éria

s qu

e se

rão

impr

esci

ndív

eis

ao e

stud

o do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões,

des

taca

ndo

entr

e ou

tras

no

Liv

ro I

a p

esso

a na

tura

l e a

jurí

dica

que

pro

tago

niza

m o

Dir

eito

, poi

s sã

o ca

paze

s

de d

irei

tos

e de

vere

s na

órb

ita c

ivil

(CC

art

. 1º)

. Com

ênf

ase

espe

cial

aos

dir

eito

s

da p

erso

nalid

ade

(CC

art

s. 1

1 a

21),

mat

éria

de

há m

uito

con

tem

plad

a pe

la

Con

stitu

ição

Fed

eral

, sis

tem

atiz

ada

pela

pri

mei

ra v

ez n

o D

irei

to P

riva

do p

assa

a

20

RE

AL

E,

Mig

uel.

O p

roje

to d

o no

vo c

ódig

o ci

vil:

sit

uaçã

o ap

ós a

apr

ovaç

ão p

elo

Sen

ado

Fed

eral

, 2ª

ed.

São

P

aulo

: Sar

aiva

, 199

9, p

. 4.

21 F

IÚZ

A, R

icar

do. N

ovo

Cód

igo

Civ

il: e

stru

tura

do

proj

eto

e et

apas

de

elab

oraç

ão, i

n R

evis

ta J

uríd

ica,

vol

. 292

, fe

vere

iro

de 2

002

– D

outr

ina

Civ

il, p

. 28

a 31

.

Page 10: Aulas de Direito das Obrigações

19

ser

de e

spec

ial

cons

ider

ação

na

inte

rpre

taçã

o e

na a

plic

ação

prá

tica

das

norm

as

do D

irei

to d

as O

brig

açõe

s.

O

Liv

ro I

I da

Par

te G

eral

abo

rda

os b

ens

móv

eis

e im

óvei

s, f

ungí

veis

e

cons

umív

eis,

div

isív

eis

e in

divi

síve

is, s

ingu

lare

s e

cole

tivos

(C

C a

rts.

79

a 10

3),

os q

uais

são

de

sign

ific

ativ

a im

port

ânci

a pa

ra a

Teo

ria

Ger

al d

as O

brig

açõe

s ao

estu

dar

mor

men

te a

s ob

riga

ções

de

dar.

Q

uant

o ao

Liv

ro I

II, o

mai

s ex

tens

o do

s tr

ês q

ue c

ompõ

em a

Par

te G

eral

,

prep

onde

ra a

nec

essi

dade

de

se r

emem

orar

o n

egóc

io j

uríd

ico

(CC

art

s. 1

04 a

114)

, po

is a

obr

igaç

ão é

um

neg

ócio

jur

ídic

o, é

um

a re

laçã

o en

tre

pess

oas,

som

ente

a p

esso

a na

tura

l e

a ju

rídi

ca t

êm p

erso

nalid

ade,

ape

nas

elas

são

cap

azes

de e

xerc

er d

irei

tos

e de

ass

umir

obr

igaç

ões,

com

o re

gra

gera

l, o

que

não

excl

ui

uma

ou o

utra

exc

eção

ao

trat

ar d

os e

ntes

des

pers

onal

izad

os.

A

lém

do

mai

s, o

s ef

eito

s do

neg

ócio

jur

ídic

o, e

xist

ênci

a, v

alid

ade

e

efic

ácia

, bem

ain

da o

s ví

cios

de

cons

entim

ento

: err

o ou

igno

rânc

ia, d

olo,

coa

ção,

esta

do

de

peri

go,

lesã

o e

frau

de

cont

ra

cred

ores

o ap

lica

dos

ao

dire

ito

obri

gaci

onal

(C

C a

rts.

138

a 1

65).

Ent

ram

nes

se c

onte

xto

as a

nula

bilid

ades

e a

s

nulid

ades

(C

C a

rts.

166

a 1

84).

Ver

-se-

á ta

mbé

m q

ue a

con

diçã

o, o

ter

mo

e o

enca

rgo

corr

espo

ndem

mod

alid

ades

de

obri

gaçã

o (C

C a

rts.

121

a 1

37).

E

m

segu

ida

outr

a m

atér

ia

de

vita

l co

nsid

eraç

ão

para

o

estu

do

das

obri

gaçõ

es é

ato

ilíc

ito,

o ab

solu

to p

revi

sto

no a

rt.

186

e o

do a

rt.

187

ao

conc

eitu

ar o

abu

so d

e di

reit

o.

A

Par

te G

eral

est

uda

aind

a a

pres

criç

ão e

a d

ecad

ênci

a, q

ue é

a e

xtin

ção

da

pret

ensã

o do

dir

eito

de

ação

ou

a pe

rda

do p

rópr

io d

irei

to p

elo

decu

rso

de te

mpo

,

o qu

e se

apl

ica

ao n

egóc

io ju

rídi

co o

brig

acio

nal (

CC

art

s. 1

89 a

211

).

B

em p

or i

sso,

a P

arte

Ger

al,

que

inco

rpor

ou n

o se

u te

xto

prin

cípi

os

cons

titu

cion

ais,

co

nsti

tui

o pó

rtic

o de

en

trad

a do

C

ódig

o C

ivil,

se

ndo

20

indi

spen

sáve

l o s

eu c

onhe

cim

ento

par

a qu

e se

ent

enda

os

dem

ais

Liv

ros

da P

arte

Esp

ecia

l.

Eis

o L

ivro

I d

a Pa

rte

Esp

ecia

l do

Cód

igo

Civ

il:

PA

RT

E E

SPE

CIA

L

Liv

ro I

Do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

Bif

urca

-se

na T

eori

a G

eral

das

Obr

igaç

ões

e no

s co

ntra

tos

em e

spéc

ies.

Tít

ulo

I

Das

Mod

alid

ades

das

Obr

igaç

ões

(art

s. 2

33 a

285

)

Abo

rda

as m

odal

idad

es d

e ob

riga

ções

, co

m d

esta

que

para

as

três

bás

icas

:

as o

brig

açõe

s de

dar

, faz

er e

não

faz

er.

Tít

ulo

II

Da

Tra

nsm

issã

o da

s O

brig

açõe

s (a

rts.

286

a 3

03)

As

obri

gaçõ

es p

odem

ser

tran

smit

idas

de

um d

eved

or p

ara

outr

o, o

u de

um

cred

or p

ara

outr

o.

Tít

ulo

III

Do

Adi

mpl

emen

to e

Ext

inçã

o da

s O

brig

açõe

s (a

rts.

304

a

388)

Dem

onst

ra q

ue o

pag

amen

to d

iret

o ou

ind

iret

o ex

ting

ue a

obr

igaç

ão,

alfo

rria

ndo

o de

vedo

r de

sua

pre

staç

ão p

or s

atis

faze

r o

dire

ito d

o cr

edor

.

Tít

ulo

IV

Do

Inad

impl

emen

to d

as O

brig

açõe

s (a

rts.

389

a 4

20)

Tra

ta d

a ob

riga

ção

não

cum

prid

a pe

lo d

eved

or e

as

suas

con

sequ

ênci

as,

espe

cial

men

te o

dir

eito

do

cred

or d

e in

vest

ir c

ontr

a o

patr

imôn

io d

o de

vedo

r at

é

que

se v

eja

pago

e s

atis

feit

o.

Page 11: Aulas de Direito das Obrigações

21

Os

Tít

ulos

V a

XII

I (a

rts.

421

926

)

Dis

cipl

ina

os c

ontr

atos

em

ger

al e

sua

s vá

rias

esp

écie

s, o

s de

nom

inad

os

típic

os o

u no

min

ados

, os

atos

uni

late

rais

e o

s tít

ulos

de

créd

ito.

Tít

ulo

IX

Da

Res

pons

abili

dade

Civ

il (a

rts.

927

a 9

54)

Par

a se

exi

gir

o cu

mpr

imen

to d

a ob

riga

ção,

em

erge

m d

uas

espé

cies

de

tute

la a

esp

ecíf

ica

em q

ue o

adi

mpl

emen

to é

per

segu

ido

conf

orm

e a

obri

gaçã

o

foi

cont

rata

da, e

a g

enér

ica

pela

s pe

rdas

e d

anos

, nes

ta ú

ltim

a en

tra

no c

enár

io a

resp

onsa

bilid

ade

civi

l.

Tít

ulo

X

Das

Pre

ferê

ncia

s e

Pri

vilé

gios

Cre

dití

cios

Pre

veja

a

inso

lvên

cia

civi

l e

dist

ingu

e os

cr

édito

s en

tre

os

de

igua

l

pref

erên

cia

e os

que

goz

am d

e pr

ivilé

gio

em g

eral

sob

re o

s be

ns d

o de

vedo

r.

2.2

CO

NC

EIT

O D

E D

IRE

ITO

DA

S O

BR

IGA

ÇÕ

ES

Des

de a

s m

ais

vetu

stas

era

s a

pess

oa h

uman

a vi

ve e

m c

omum

uni

ão

(com

unhã

o),

por

impe

rati

vo

de

sua

próp

ria

natu

reza

. D

o cl

ã pr

imit

ivo

à

cibe

rnét

ica,

a h

uman

idad

e es

crev

e a

sua

hist

ória

tim

brad

a pe

la s

ocia

bilid

ade.

Nes

se a

mbi

ente

com

part

ilhad

o, c

rian

do c

om s

ua c

apac

idad

e in

vent

iva

mei

os

hábe

is

e id

ôneo

s,

a pe

ssoa

hu

man

a co

nseg

ue

satis

faze

r su

as

nece

ssid

ades

mat

eria

is e

imat

eria

is, t

anto

as

essê

ncia

s co

mo

as s

upér

flua

s. E

a s

ocie

dade

exi

ge

orde

nam

ento

, cab

endo

ao

Dir

eito

, com

sua

s re

gras

, dis

cipl

inar

as

rela

ções

soc

iais

que

se e

stab

elec

em c

ada

vez

mai

s in

trig

ante

s e

com

plex

as.

A

vida

hu

man

a tr

ata-

se,

por

cons

egui

nte,

de

in

cess

ante

in

tera

ção

inte

rsub

jetiv

a es

tabe

lece

ndo

rela

ções

ju

rídi

cas,

al

gum

as

dela

s de

ca

ráte

r

patr

imon

ial,

porq

uant

o cr

ia u

m v

íncu

lo e

ntre

pes

soas

, lim

itan

do s

ua li

berd

ade,

de

22

sort

e ob

riga

um

a pe

ssoa

, ch

amad

a de

vedo

r, a

for

nece

r de

term

inad

a pr

esta

ção

à

outr

a pe

ssoa

, cha

mad

a cr

edor

.

P

ode-

se, a

ssim

, con

ceitu

ar o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões:

é o

ram

o do

D

irei

to

Civ

il qu

e co

njug

a as

no

rmas

qu

e di

scip

lina

m

as

rela

ções

ju

rídi

cas

patr

imon

iais

, te

ndo

por

obje

to a

pre

staç

ão d

e um

suj

eito

em

pro

veit

o de

out

ro.

O D

irei

to d

as O

brig

açõe

s re

ge,

dess

a fo

rma,

as

rela

ções

jur

ídic

as e

ntre

o

débi

to e

o c

rédi

to, r

egul

amen

tand

o as

rel

açõe

s in

terp

esso

ais

em q

ue u

ma

pess

oa,

ou m

ais,

enc

ontr

a-se

na

situ

ação

de

débi

to, e

out

ra p

esso

a, o

u m

ais,

com

o d

irei

to

de r

eceb

er u

m c

rédi

to.

É o

ram

o do

Dir

eito

Civ

il q

ue d

isci

plin

a as

rel

açõe

s

jurí

dica

s de

car

áter

eco

nôm

ico.

Des

sa

inte

raçã

o en

tre

deve

dor

(deb

itor)

e

cred

or

(cre

dito

r)

surg

e a

obri

gaçã

o (o

brig

atio

), o

u re

laçã

o ju

rídi

ca o

brig

acio

nal,

que

obri

ga o

dev

edor

a

cum

prir

a p

rest

ação

deb

itóri

a, e

arm

a o

cred

or c

om o

dir

eito

de

exig

ir e

rec

eber

essa

mes

ma

pres

taçã

o, p

ara

ele

cred

itóri

a. L

ogo,

a f

inal

idad

e da

rel

ação

jur

ídic

a

obri

gaci

onal

é a

sat

isfa

ção

de u

m i

nter

esse

legí

tim

o do

cre

dor.

Int

eres

se le

gíti

mo

é to

do in

tere

sse

útil

e sé

rio

sob

o po

nto

de v

ista

do

orde

nam

ento

jurí

dico

.

Dem

ais

diss

o, é

o r

amo

do D

irei

to e

m q

ue o

her

men

euta

, di

z C

aio

Már

io

da S

ilva

Pere

ira,

dev

e re

port

ar-s

e m

ais

do q

ue e

m o

utro

s se

tore

s ao

Dir

eito

Rom

ano.

E c

ompl

eta:

É c

erto

que

fat

ores

dif

eren

tes

têm

atu

ado

na s

ua e

tiolo

gia,

se

m

cont

udo

alte

rar-

lhe

a es

sênc

ia.

Se

foca

lizar

mos

o

exce

ssiv

o ri

gor

indi

vidu

alis

ta d

o D

irei

to R

oman

o, o

not

ório

pe

ndor

es

piri

tual

ista

m

edie

val,

ou

a in

fluê

ncia

so

cial

ista

m

arca

nte

do d

irei

to m

oder

no,

e an

alis

arm

os,

às r

espe

ctiv

as

Page 12: Aulas de Direito das Obrigações

23

luze

s,

a es

trut

uraç

ão

dogm

átic

a da

ob

riga

ção,

o en

cont

ram

os d

iver

sida

de e

ssen

cial

.22

Em

ou

tras

pa

lavr

as,

o D

irei

to

das

Obr

igaç

ões

tem

in

ício

no

D

irei

to

Rom

ano

e gu

arda

as

suas

raí

zes

hist

óric

as,

assi

m p

orqu

e, m

esm

o ap

egad

os a

o

exag

erad

o fo

rmal

ism

o at

é re

lega

ndo

o co

nteú

do,

os j

uris

cons

ulto

s ro

man

os

dese

nvol

vera

m,

luci

dam

ente

, os

fun

dam

ento

s es

senc

iais

das

rel

açõe

s ju

rídi

cas

obri

gaci

onai

s, d

essa

for

ma

as d

iver

sas

alte

raçõ

es s

ofri

das

tiver

am p

or o

bjet

ivo

a

adap

taçã

o às

rea

lidad

es s

ocia

is q

ue s

e su

cede

ram

. O

Dir

eito

não

é e

stát

ico,

é

dinâ

mic

o, s

empr

e ex

peri

men

ta m

udan

ça,

acom

panh

ando

as

mud

ança

s do

mei

o

soci

al q

ue e

le s

e di

spõe

reg

ulam

enta

r.

E

na

pós-

mod

erni

dade

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s ca

min

ha n

a di

reçã

o de

mel

hor

real

izar

o

equi

líbri

o so

cial

, se

ndo

que

não

se

dire

cion

a ap

enas

na

preo

cupa

ção

mor

al d

e im

pedi

r a

expl

oraç

ão d

o fr

aco

pelo

for

te,

com

o ai

nda

de

sobr

elev

ar o

int

eres

se c

olet

ivo,

arr

edan

do o

s in

tere

sses

ind

ivid

uais

de

cunh

o

depl

orav

elm

ente

ego

ísti

co.

C

orri

ge a

s in

just

iças

a q

ue f

oi c

ondu

zido

qua

ndo

vigi

a, n

a ór

bita

pol

ític

a e

econ

ômic

a, o

lib

eral

ism

o. S

eu c

onte

údo

é m

ais

hum

ano,

soc

ial

e ét

ico.

Enf

im,

tend

e pa

ra a

eti

cida

de e

a s

ocia

lidad

e na

con

form

idad

e da

s co

nvic

ções

a e

sse

resp

eito

dom

inan

tes.

23

2.3

AC

EP

ÇÕ

ES

DA

PA

LA

VR

A O

BR

IGA

ÇÃ

O

N

a li

ngua

gem

com

um, a

pal

avra

obr

igaç

ão é

em

pres

tada

par

a de

sign

ar, d

e

mod

o in

disc

rim

inad

o,

todo

s os

de

vere

s e

ônus

de

na

ture

za

jurí

dica

ou

extr

ajur

ídic

a. N

a pr

imei

ra a

cepç

ão, a

jurí

dica

, se

diz

que

o ve

nded

or é

obr

igad

o a

entr

egar

a c

oisa

ven

dida

, e

o co

mpr

ador

a p

agar

o p

reço

cor

resp

onde

nte.

Na

22

PE

RE

IRA

, C

aio

Már

io d

a S

ilva

. In

stit

uiçõ

es d

e di

reit

o ci

vil,

v. 2

: T

eori

a ge

ral

das

obri

gaçõ

es,

22 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se, 2

009,

p. 3

e 4

, 23

GO

ME

S, O

rlan

do. T

rans

form

açõe

s ge

rais

do

dire

ito

das

obri

gaçõ

es. S

ão P

aulo

: RT

, 196

7, p

. 1 e

2.

24

segu

nda,

a e

xtra

jurí

dica

, po

de r

efer

ir-s

e a

deve

r re

ligio

so:

todo

cre

nte

tem

a

obri

gaçã

o de

am

ar a

Deu

s; o

u a

deve

r m

oral

: to

dos

têm

a o

brig

ação

de

resp

eito

para

com

o o

utro

; ou

a de

ver

de c

orte

sia:

o m

ais

jove

m te

m a

obr

igaç

ão d

e ce

der

o se

u lu

gar

ao m

ais

idos

o, o

u o

hom

em à

mul

her

etc.

N

esse

sen

tido

ampl

o, o

voc

ábul

o ob

riga

ção

é si

nôni

mo

de d

ever

. Dev

eres

jurí

dico

s e

não

jurí

dico

s sã

o de

sign

ados

or

dina

riam

ente

de

ob

riga

ção.

S

ão

com

uns

expr

essõ

es c

omo:

tod

os s

ão o

brig

ados

a r

espe

itar

a vi

da,

a in

tegr

idad

e

físi

ca e

mor

al d

as d

emai

s pe

ssoa

s; t

odos

são

obr

igad

os a

res

peita

r a

prop

ried

ade

alhe

ia.

Tam

bém

gua

rda

sino

ním

ia c

om ô

nus.

Da

mes

ma

form

a ou

ve-s

e: q

uem

aleg

a é

obri

gado

a p

rova

r; q

uem

tem

esc

ritu

ra p

úblic

a é

obri

gado

a r

egis

trá-

la

para

se

torn

ar p

ropr

ietá

rio

de u

m b

em im

óvel

. E p

or v

ezes

, a p

alav

ra o

brig

ação

é

empr

egad

a no

sen

tido

de s

ujei

ção.

São

sen

tidos

ou

sign

ific

ados

im

próp

rios

pel

a

falt

a de

pre

cisã

o té

cnic

o-ju

rídi

ca.

O

sen

tido

ou

sign

ific

ado

técn

ico-

jurí

dico

, qu

e in

tere

ssa,

é m

uito

mai

s

estr

eito

. O

brig

ação

se

pr

esta

pa

ra

sign

ific

ar

a re

gula

men

taçã

o do

ncul

o

jurí

dico

est

abel

ecid

o en

tre

deve

dor

e cr

edor

, se

ja e

m v

irtu

de d

a le

i (e

x le

gis)

ou

do c

ontr

ato

(ex

cont

ract

us),

tend

o po

r ob

jeto

det

erm

inad

a pr

esta

ção.

2.4

AC

EP

ÇÕ

ES

DE

DE

VE

R J

UR

ÍDIC

O, Ô

NU

S E

SU

JEIÇ

ÃO

Cab

e re

cord

ar o

que

são

dir

eito

s ob

jetiv

o e

subj

etiv

o. D

irei

to o

bjet

ivo

é o

conj

unto

de

norm

as j

uríd

icas

que

reg

e a

cond

uta

hum

ana

na v

ida

em s

ocie

dade

,

pres

crev

endo

um

a sa

nção

dir

eta

ou in

dire

ta n

o ca

so d

e su

a tr

ansg

ress

ão. É

nor

ma

de a

gir

dota

da d

e sa

nção

. Est

á no

s có

digo

s, n

os m

icro

ssis

tem

as, n

as l

eis.

Val

e a

clás

sica

máx

ima

rom

ana:

jus

est

nor

ma

agen

di.

Daí

, o

deve

r ju

rídi

co t

rata

de

uma

impo

siçã

o do

dir

eito

obj

etiv

o di

rigi

da a

tod

os i

ndis

tint

amen

te, a

fim

de

que

Page 13: Aulas de Direito das Obrigações

25

seja

ado

tado

det

erm

inad

o co

mpo

rtam

ento

coe

rent

e co

m a

vid

a em

soc

ieda

de, s

ob

pena

de,

vio

land

o-o,

sub

met

er-s

e à

sanç

ão p

resc

rita

.

Tom

a-se

o

dire

ito

de

prop

ried

ade

que

outo

rga

ao

prop

riet

ário

as

prer

roga

tivas

de

usar

, goz

ar, d

ispo

r e

reiv

indi

car

os s

eus

bens

. Se

algu

ém a

tent

ar

cont

ra

essa

s pr

erro

gativ

as,

a le

i im

põe

ao

tran

sgre

ssor

um

a sa

nção

. O

utro

exem

plo,

o d

ever

jur

ídic

o de

res

peita

r a

vida

e a

int

egri

dade

fís

ica

e m

oral

das

pess

oas,

se

algu

ém m

atar

a l

ei i

mpõ

e um

a sa

nção

, nã

o ap

enas

pen

al (

CP

art.

121)

, m

as t

ambé

m c

ível

, po

is o

art

. 94

8 do

Cód

igo

Civ

il d

ispõ

e qu

e no

cas

o de

hom

icíd

io a

ind

eniz

ação

con

sist

e no

pag

amen

to d

e al

imen

tos

às p

esso

as a

que

m

o m

orto

os

devi

a, a

lém

de

outr

as v

erba

s. N

o ca

so d

e le

são

corp

oral

(C

P ar

t. 12

9)

o ar

t. 94

9 do

Cód

igo

Civ

il i

mpõ

e ao

ofe

nsor

ind

eniz

ar o

ofe

ndid

o da

s de

spes

as

de t

rata

men

to e

dos

luc

ros

cess

ante

s at

é fi

nal

conv

ales

cênc

ia.

São

impo

siçõ

es

coge

ntes

qu

e a

todo

s ca

bem

cu

mpr

i-la

s.

O

desr

espe

ito

ao

deve

r ju

rídi

co

corr

espo

nde

a su

bmet

er à

san

ção

pres

crita

. N

ota-

se,

pois

, o

cum

prim

ento

do

deve

r ju

rídi

co s

atis

faz

um d

irei

to s

ubje

tivo

alhe

io.

P

or s

ua v

ez,

o di

reito

sub

jetiv

o é

o po

der

de a

ção

cont

ido

na n

orm

a, a

facu

ldad

e de

exe

rcer

o d

irei

to o

bjet

ivo.

Ou

o po

der

atri

buíd

o à

vont

ade

da p

esso

a

de e

xigi

r o

que

lhe

é de

feri

do p

elo

dire

ito o

bjet

ivo,

res

peit

ados

os

seus

lim

ites

. É

o af

oris

mo

repe

tido

secu

larm

ente

: jus

est

facu

ltas

age

ndi.

No

exem

plo

das

lesõ

es

corp

orai

s, p

ode

o of

endi

do r

esig

nar-

se, c

omo

pode

insu

rgir

-se

cont

ra o

ofe

nsor

; é

uma

facu

ldad

e qu

e lh

e é

dada

e n

essa

fac

ulda

de e

ncon

tra-

se o

dir

eito

sub

jetiv

o.

O ô

nus

tam

bém

im

plic

a na

nec

essi

dade

de

se c

ondu

zir

de c

erta

for

ma

no

exer

cíci

o do

dir

eito

sub

jetiv

o, n

ão p

or i

mpo

siçã

o di

reta

do

dire

ito

obje

tivo,

nem

para

sat

isfa

zer

dire

ito

de o

utre

m, p

elo

cont

rári

o, v

olta

-se

no r

esgu

ardo

ou

defe

sa

de u

m d

irei

to p

rópr

io.

Por

não

ser

impo

siçã

o do

dir

eito

obj

etiv

o, n

ão g

era

sanç

ão.

Supo

nha-

se q

ue u

ma

pess

oa i

nven

te d

eter

min

ada

cois

a, e

la s

ó te

rá a

titul

arid

ade

de s

eu in

vent

o se

tira

r pa

tent

e. O

dir

eito

obj

etiv

o of

erec

e a

facu

ldad

e

26

ao d

esco

brid

or p

ara

que

se p

aten

teie

, não

o o

brig

a. P

or c

onse

guin

te, o

ônu

s é

um

mei

o de

se

ob

ter

uma

vant

agem

ou

, pe

lo

men

os,

de

se

impe

dir

uma

desv

anta

gem

, po

r is

so t

rata

-se

de u

m d

ever

liv

re,

na e

xpre

ssão

de

Ant

unes

Var

ela.

24 O

utra

s ve

zes,

o ô

nus

pode

rec

air

sobr

e um

bem

, é

o ôn

us r

eal

com

o a

cláu

sula

de

inal

iena

bilid

ade,

que

não

per

mit

e, c

omo

se d

eduz

, a

alie

naçã

o do

bem

cla

usul

ado,

o q

ue s

erá

obje

to d

e es

tudo

do

Dir

eito

das

Coi

sas.

Su

jeiç

ão é

o c

ontr

apól

o do

dir

eito

pot

esta

tivo,

aqu

ele

que

depe

nde

de u

ma

vont

ade.

25

Na

suje

ição

a

rela

ção

jurí

dica

se

ca

ract

eriz

a po

r um

a pa

rte

enco

ntra

r-se

em

pos

ição

de

pote

stad

e, e

m s

itua

ção

de p

oder

em

rel

ação

à o

utra

,

que

assi

m e

stá

em s

itua

ção

de s

ubm

issã

o ou

suj

eiçã

o. O

con

trat

o de

seg

uro

de

pess

oa,

que

já f

oi d

enom

inad

o de

con

trat

o de

seg

uro

de v

ida,

con

juga

trê

s

pers

onag

ens:

o s

egur

ado,

a s

egur

ador

a e

o be

nefi

ciár

io.

O s

egur

ado

nom

eia,

na

apól

ice

de

segu

ro,

por

exem

plo,

co

mo

bene

fici

ária

a

sua

espo

sa.

Dep

ois,

entr

etan

to,

pref

ere

que

os

bene

fici

ário

s se

jam

os

fi

lhos

. C

onsi

dera

ndo

sim

ples

men

te a

sua

úni

ca v

onta

de,

o se

gura

do s

ubst

itui

a es

posa

pel

os f

ilho

s.

Dep

ende

som

ente

de

sua

vont

ade,

é u

m d

irei

to p

otes

tativ

o. A

esp

osa

por

esta

r

em s

itua

ção

de s

ujei

ção

não

pode

opo

r-se

. O

utra

pas

sage

m t

ambé

m s

e pr

esta

:

quem

out

orga

um

a pr

ocur

ação

pod

e a

qual

quer

mom

ento

rev

ogá-

la,

depe

nde

de

uma

únic

a vo

ntad

e, a

do

outo

rgan

te, d

ispe

nsan

do o

con

sent

imen

to d

a ou

tra

part

e,

a do

out

orga

do.

Dev

er j

uríd

ico,

ônu

s e

suje

ição

, ex

pres

sões

com

sig

nifi

cado

s di

fere

ntes

,

tam

bém

não

gua

rdam

sin

oním

ia c

om o

brig

ação

.

24

VA

RE

LA

, Ant

unes

. Das

obr

igaç

ões

em g

eral

, vol

. I, 1

0 ed

. Coi

mbr

a: A

lmed

ina,

p. 5

8.

25 V

AR

EL

A,

Ant

unes

. D

as o

brig

açõe

s em

ger

al,

vol.

I, 1

0 ed

. C

oim

bra:

Alm

edin

a, p

. 55

, no

ta 1

de

roda

pé:

“Cha

ma-

se d

irei

to p

otes

tati

vo (

gest

altu

ngsr

echt

ou

Kan

nret

cht,

na te

rmin

olog

ia d

os a

utor

es a

lem

ães

– Z

itel

man

n,

Enn

ecer

us,

Hel

lwig

e S

ecke

l –

que

fora

m o

s cr

iado

res

e pr

imei

ros

defe

nsor

es d

o co

ncei

to)

o po

der

conf

erid

o a

dete

rmin

adas

pe

ssoa

s de

in

trod

uzir

em

uma

mod

ific

ação

na

es

fera

ju

rídi

ca

de

outr

as

pess

oas

(cri

ando

, m

odif

ican

do o

u ex

ting

uind

o di

reit

os),

sem

a c

oope

raçã

o de

stas

.”

Page 14: Aulas de Direito das Obrigações

27

Com

o já

di

to

e va

le

refo

rçar

, a

obri

gaçã

o é

uma

rela

ção

jurí

dica

esta

bele

cida

ent

re d

ois

polo

s co

ntra

post

os, d

e um

lad

o o

deve

dor

(pol

o pa

ssiv

o),

aque

le a

que

m c

abe

adim

plir

a p

rest

ação

, e

de o

utro

lad

o o

cred

or (

polo

ati

vo),

aque

le q

ue t

em o

dir

eito

de

exig

ir e

rec

eber

ess

a pr

esta

ção.

Sem

pre

pres

supõ

e

esse

bin

ômio

: de

vedo

r e

cred

or.

Cum

prid

a a

pres

taçã

o ex

aure

-se

a ob

riga

ção.

O

alun

o qu

e cu

rsa

uma

esco

la t

em a

obr

igaç

ão d

e pa

gar

a m

ensa

lidad

e, p

or s

eu

turn

o, a

esc

ola

tem

a o

brig

ação

de

min

istr

ar a

ulas

e d

emai

s at

ivid

ades

did

átic

o-

peda

gógi

cas

iner

ente

s ao

cur

so;

o lo

cado

r te

m a

obr

igaç

ão d

e en

treg

ar a

coi

sa

loca

da a

o lo

catá

rio,

e e

ste

a ob

riga

ção

de p

agar

o a

lugu

el à

quel

e.

A o

brig

ação

sem

pre

conj

uga

três

ele

men

tos:

o e

lem

ento

sub

jeti

vo: d

eved

or

e cr

edor

; o

elem

ento

obj

etiv

o: a

pre

staç

ão p

ropr

iam

ente

dita

; e

o el

emen

to

espi

ritu

al,

tam

bém

cha

mad

o de

vín

culo

jur

ídic

o qu

e é

a di

scip

lina

que

une

o

deve

dor

ao c

redo

r e

obri

ga a

o cu

mpr

imen

to d

a pr

esta

ção

aven

çada

, co

mo

será

abor

dado

log

o ad

iant

e. P

ara

Orl

ando

Gom

es,

com

mui

to a

cert

o, a

obr

igaç

ão é

uma

espé

cie

do g

êner

o de

ver

jurí

dico

,26 d

e so

rte

o de

ver

jurí

dico

é m

uito

mai

s

ampl

o po

rque

tam

bém

se

refe

re a

rel

ação

jurí

dica

não

pat

rim

onia

l, co

mo

o de

ver

dos

cônj

uges

de

mút

ua a

ssis

tênc

ia,

enqu

anto

que

a o

brig

ação

é s

empr

e um

a

rela

ção

jurí

dica

pat

rim

onia

l.

RE

SUM

O

1)

O D

irei

to d

as O

brig

açõe

s es

tá i

nser

ido

no L

ivro

I,

da P

arte

Esp

ecia

l, do

C

ódig

o C

ivil,

art

s. 2

33 a

965

. C

onta

min

a os

div

erso

s liv

ros

do C

ódig

o C

ivil,

que

lhe

são

pos

teri

ores

, e

é ba

feja

do p

or in

úmer

os in

stitu

tos

da P

arte

Ger

al, o

s qu

ais

mer

ecem

rev

isão

. 2)

Con

ceit

o de

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões:

é o

ram

o do

Dir

eito

Civ

il qu

e co

njug

a as

no

rmas

que

dis

cipl

inam

as

rela

ções

jur

ídic

as p

atri

mon

iais

, te

ndo

por

obje

to a

pr

esta

ção

de u

m s

ujei

to e

m p

rove

ito d

e ou

tro.

26

GO

ME

S, O

rlan

do. O

brig

açõe

s, 1

7 ed

., at

ual.

por

Edv

aldo

Bri

to. R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se, 2

008,

p. 1

7 e

18.

28

3) A

cepç

ões

de o

brig

ação

, dev

er ju

rídi

co, ô

nus

e su

jeiç

ão

a)

Obr

igaç

ão,

no

sent

ido

técn

ico-

jurí

dico

, pr

esta

-se

para

si

gnif

icar

a

regu

lam

enta

ção

do v

íncu

lo e

stab

elec

ido

entr

e de

vedo

r e

cred

or,

seja

em

vir

tude

da

lei o

u do

con

trat

o, te

ndo

por

obje

to d

eter

min

ada

pres

taçã

o.

b)

Dev

er

jurí

dico

é

uma

impo

siçã

o do

di

reit

o ob

jetiv

o di

rigi

da

a to

dos

indi

stin

tam

ente

, a f

im d

e qu

e se

ja a

dota

do d

eter

min

ado

com

port

amen

to c

oere

nte

com

a

vida

em

so

cied

ade,

so

b pe

na

de,

viol

ando

-o,

subm

eter

-se

à sa

nção

pr

escr

ita.

O c

umpr

imen

to d

o de

ver

jurí

dico

sat

isfa

z um

dir

eito

sub

jetiv

o de

ou

trem

. c)

Ônu

s é

um m

eio

de s

e ob

ter

uma

vant

agem

ou,

pel

o m

enos

, ev

itar

um

a de

svan

tage

m, t

rata

ndo-

se d

e um

dev

er l

ivre

. Vol

ta-s

e no

res

guar

do o

u de

fesa

de

um d

irei

to p

rópr

io. N

ão g

era

sanç

ão.

d) S

ujei

ção

é a

rela

ção

jurí

dica

que

se

cara

cter

iza

por

uma

part

e en

cont

rar-

se e

m

posi

ção

de p

oder

em

rel

ação

à o

utra

, que

ass

im e

stá

em s

itua

ção

de s

ubm

issã

o ou

su

jeiç

ão.

C

AP

ÍTU

LO

III

3.1

Con

ceito

de

obri

gaçã

o. 3

.2 E

lem

ento

s es

trut

urai

s da

s ob

riga

ções

: su

bjet

ivo,

ob

jetiv

o e

vínc

ulo

jurí

dico

. 3.3

Fon

tes

das

obri

gaçõ

es: i

med

iata

e m

edia

tas.

3.1

CO

NC

EIT

O D

E O

BR

IGA

ÇÃ

O

C

once

itua

r é

tare

fa d

a do

utri

na, n

ão d

a le

i. E

m r

egra

, o le

gisl

ador

som

ente

conc

eitu

a qu

ando

a

enun

ciaç

ão d

o co

ncei

to

abst

rato

tor

na-s

e ne

cess

ária

ou

conv

enie

nte

ao c

onhe

cim

ento

e a

plic

ação

fie

l da

s no

rmas

prá

ticas

.27 O

con

ceito

de o

brig

ação

não

fog

e à

regr

a, é

dad

o pe

la d

outr

ina.

27

NO

NA

TO

, O

rosi

mbo

. C

urso

de

obri

gaçõ

es:

gene

rali

dade

s –

espé

cies

, vo

l. I,

1 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se,

1959

, p.6

3.

Page 15: Aulas de Direito das Obrigações

29

O

con

ceito

mod

erno

, ain

da q

ue m

ais

deta

lhad

o, te

m o

seu

pon

to d

e pa

rtid

a

nas

Inst

itut

as, q

ue é

a c

onso

lidaç

ão d

as l

eis

de J

ustin

iano

, a d

enom

inad

a C

orpu

s

Juri

s C

ivili

s do

Dir

eito

Rom

ano,

dat

ada

de 5

29 d

. C.,28

que

dis

põe:

obl

igat

io e

st

juri

s vi

ncul

um q

uo n

eces

sita

te a

dstr

ingi

mur

, al

icui

us s

olve

ndae

rei

, se

cund

um

nost

rae

civi

tatis

ju

ra

(obr

igaç

ão

é um

ncul

o ju

rídi

co,

pelo

qu

al

som

os

cons

tran

gido

s a

paga

r a

algu

ém q

ualq

uer

cois

a, s

egun

do a

s le

is d

a ci

dade

). E

sta

últi

ma

fras

e se

gund

o as

lei

s da

cid

ade

está

rel

acio

nada

à s

ituaç

ão p

artic

ular

dos

rom

anos

, dev

endo

ser

arr

edad

a do

con

ceito

atu

aliz

ado,

que

fic

a as

sim

res

umid

o:

obri

gaçã

o é

um v

íncu

lo j

uríd

ico,

pel

o qu

al s

omos

con

stra

ngid

os a

pag

ar a

algu

ém q

ualq

uer

cois

a.

W

ashi

ngto

n de

Bar

ros

Mon

teir

o, c

om a

luci

dez

que

lhe

é pe

culia

r, f

orm

ula

conc

eito

mai

s ex

plic

ativ

o, n

o en

tant

o nã

o di

fere

nte

na e

ssên

cia,

sen

ão a

o qu

e se

refe

re a

gar

antia

ofe

rtad

a pe

lo p

atri

môn

io d

o de

vedo

r:

é a

rela

ção

jurí

dica

, de

ca

ráte

r tr

ansi

tóri

o,

esta

bele

cida

en

tre

deve

dor

e cr

edor

e c

ujo

obje

to c

onsi

ste

num

a pr

esta

ção

pess

oal

econ

ômic

a,

posi

tiva

ou

nega

tiva,

de

vida

pe

lo

prim

eiro

ao

se

gund

o,

gara

ntin

do-l

he

o ad

impl

emen

to

atra

vés

de

seu

patr

imôn

io.29

D

etal

hand

o o

conc

eito

.

a) A

obr

igaç

ão é

um

a re

laçã

o ju

rídi

ca.

Rel

ação

jur

ídic

a é

o ví

ncul

o ex

iste

nte

entr

e pe

ssoa

s, e

m v

irtu

de d

a le

i ou

do c

ontr

ato,

que

cri

a di

reito

s e

deve

res.

Pre

ssup

õe a

man

ifes

taçã

o da

von

tade

livre

de

quai

sque

r ví

cios

, pa

ra q

ue o

pere

sua

val

idad

e e

efic

ácia

. L

ogo,

é t

oda

rela

ção

prev

ista

e r

egul

ada

pelo

dir

eito

que

as

pess

oas

esta

bele

cem

na

vida

em

28

Sub

indo

ao

tron

o de

Rom

a, J

usti

nian

o no

meo

u, e

m 5

28 d

.C.,

uma

com

issã

o de

dez

not

ávei

s ju

risc

onsu

ltos

, sob

a

pres

idên

cia

de T

ribo

nian

o, p

ara

com

pila

r as

con

stit

uiçõ

es im

peri

ais

vige

ntes

, daí

sur

gira

m a

s In

stitu

tas,

logo

no

ano

segu

inte

(ve

r Jo

sé C

arlo

s M

orei

ra A

lves

, Dir

eito

Rom

ano,

vol

. I, 1

3 ed

. Rio

de

Jane

iro:

For

ense

, 200

3, p

. 46)

. 29

MO

NT

EIR

O, W

ashi

ngto

n de

Bar

ros.

Cur

so d

e di

reit

o ci

vil,

v. 4

, 32

ed. a

tual

. por

Car

los

Alb

erto

Dab

us M

aluf

. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

3, p

. 8.

30

soci

edad

e. E

m r

egra

, é i

nstr

umen

to d

a au

tono

mia

pri

vada

, ist

o é,

da

vont

ade

das

part

es q

ue s

e ob

riga

m,

disc

ipli

nand

o os

seu

s in

tere

sses

e c

rian

do c

ondi

ções

de

real

izá-

los.

E

xclu

em-s

e da

rel

ação

jur

ídic

a os

dev

eres

alh

eios

ao

Dir

eito

, co

mo

os

relig

ioso

s, m

orai

s, f

ilan

tróp

icos

, soc

iais

, den

tre

outr

os.

b) A

obr

igaç

ão é

de

cará

ter

tran

sitó

rio.

E

xtra

em-s

e do

ca

ncio

neir

o po

pula

r ve

rsos

qu

e be

m

se

empr

egam

à

obri

gaçã

o: “

é nu

vem

pas

sage

ira

que

com

o v

ento

se

vai,

é co

mo

cris

tal

boni

to

que

se q

uebr

a qu

ando

cai

”; d

e fa

to, a

obr

igaç

ão é

pas

sage

ira,

efê

mer

a, v

inga

por

cert

o ar

co d

e te

mpo

.

À

obr

igaç

ão s

e co

ntra

põe

o pa

gam

ento

. C

eleb

rada

a o

brig

ação

ent

re

deve

dor

e cr

edor

, co

m o

pag

amen

to e

la s

e ex

ting

ue,

alfo

rria

ndo

o de

vedo

r e

exau

rind

o o

dire

ito d

o cr

edor

. Se

a ob

riga

ção

liga,

ata

, une

; o p

agam

ento

des

liga,

desa

ta, d

esun

e.

N

o m

omen

to d

a co

ntra

taçã

o, a

obr

igaç

ão a

brol

ha p

ara

o m

undo

jur

ídic

o

por

dete

rmin

ado

praz

o, é

o t

rans

curs

o de

sua

exi

stên

cia

jurí

dica

par

a, p

or f

im,

extin

guir

-se

norm

alm

ente

pel

o pa

gam

ento

: um

dar

, faz

er o

u nã

o fa

zer.

S

egun

do F

lávi

o A

ugus

to M

onte

iro

de B

arro

s o

elem

ento

tra

nsit

orie

dade

ocor

re c

omum

ente

, mas

não

de

man

eira

obr

igat

ória

, por

iss

o nã

o de

ve c

ompo

r o

conc

eito

de

obri

gaçã

o, e

xem

plif

ica

com

a o

brig

ação

de

não

faze

r, a

ssim

gua

rdar

um s

egre

do.30

A

mai

oria

dos

civ

ilist

as d

isco

rda.

Was

hing

ton

de B

arro

s M

onte

iro

eluc

ida

que

mes

mo

quan

do a

obr

igaç

ão i

ncid

a em

ato

s co

ntín

uos,

out

ros

prol

onga

dos,

cuja

per

sist

ênci

a fo

sse

inde

term

inad

a, c

omo

na l

ocaç

ão d

e se

rviç

os,

sem

pre

30

BA

RR

OS

, Flá

vio

Aug

usto

Mon

teir

o. M

anua

l de

dire

ito

civi

l, v.

2: d

irei

to d

as o

brig

açõe

s e

cont

rato

s. S

ão

Pau

lo: M

étod

o, 2

005,

p. 2

9.

Page 16: Aulas de Direito das Obrigações

31

have

rá u

m l

imit

e de

dur

ação

.31 C

once

bida

com

o um

pro

cess

o, n

a li

ção

de C

outo

e Si

lva,

32 n

ão h

á co

mo

nega

r a

sua

tran

sito

ried

ade,

poi

s o

proc

esso

não

é e

stát

ico,

mas

impl

ica

em m

ovim

ento

na

busc

a do

fim

col

imad

o, q

ue a

ting

ido

exau

re-s

e.

c) A

obr

igaç

ão é

um

a re

laçã

o es

tabe

leci

da e

ntre

dev

edor

e c

redo

r.

D

eved

or e

cre

dor

serã

o se

mpr

e pe

ssoa

nat

ural

ou

jurí

dica

. So

men

te a

s

pess

oas

têm

pe

rson

alid

ade,

so

men

te

elas

po

dem

ex

erce

r di

reito

s e

cont

rair

obri

gaçõ

es.

Exc

epci

onal

men

te,

adm

item

-se

ente

s de

sper

sona

lizad

os

com

o o

espó

lio,

a m

assa

fal

ida,

o c

ondo

mín

io.

Tod

a re

laçã

o ju

rídi

ca

obri

gaci

onal

é

com

post

a po

r es

se

inev

itáv

el

binô

mio

: de

vedo

r e

cred

or.

Sem

um

ou

outr

o nã

o há

obr

igaç

ão.

São

polo

s

cont

rapo

stos

, m

as n

ão a

ntag

ônic

os:

o de

vedo

r no

pol

o pa

ssiv

o, o

cre

dor

no p

olo

ativ

o. D

aí a

afi

rmaç

ão d

e di

reito

rel

ativ

o, s

urte

efe

itos

apen

as e

ntre

pes

soas

dete

rmin

adas

, dad

o a

sua

efic

ácia

ent

re a

s pa

rtes

(in

ter

part

es).

O c

redo

r te

m d

e

busc

ar o

seu

dir

eito

em

fac

e do

dev

edor

.

Ess

a re

lativ

idad

e, n

o en

tant

o, n

ão i

mpe

de q

ue a

obr

igaç

ão p

ossa

sur

tir

efei

tos

jurí

dico

s em

rel

ação

a t

erce

iro.

Ter

ceir

o, a

qui,

é to

da p

esso

a es

tran

ha à

obri

gaçã

o, e

quid

ista

nte

do d

eved

or e

do

cred

or. E

xem

plo

típic

o é

mai

s um

a ve

z o

cont

rato

de

segu

ro d

e pe

ssoa

(C

C a

rt.

789)

, no

qua

l se

vis

lum

bram

os

três

pers

onag

ens

já r

efer

idos

. O

s do

is p

rim

eiro

s sã

o os

con

trat

ante

s, a

quel

es q

ue s

e

obri

gam

: se

gura

do e

seg

urad

ora;

ter

ceir

o é

o be

nefi

ciár

io,

quem

rec

eber

á a

alea

tóri

a in

deni

zaçã

o em

bora

não

tenh

a co

ntra

tado

. Ain

da d

essa

for

ma

no s

egur

o

de r

espo

nsab

ilida

de c

ivil

(C

C a

rt. 7

87)

em q

ue a

seg

urad

ora

gara

nte

o pa

gam

ento

das

perd

as e

dan

os d

evid

os p

elo

segu

rado

a te

rcei

ro, v

ítim

a do

pre

juíz

o, q

ue n

ada

cont

rato

u.

31

MO

NT

EIR

O, W

ashi

ngto

n de

Bar

ros.

Cur

so d

e di

reit

o ci

vil,

v. 4

, 32

ed. a

tual

. por

Car

los

Alb

erto

Dab

us M

aluf

. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

3, p

. 9.

32 S

ILV

A, C

lovi

s V

erís

sim

o do

Cou

to e

. A o

brig

ação

com

o pr

oces

so. S

ão P

aulo

: Bus

hats

ky, 1

976,

p. 7

1 e

sgte

s.

32

P

ossí

vel

aind

a su

rtir

con

sequ

ênci

as j

uríd

icas

com

rel

ação

a t

erce

iro

pela

suce

ssão

her

edit

ária

. Se

mor

to o

cre

dor,

seu

s he

rdei

ros

suce

dem

-no

nos

créd

itos

exis

tent

es. S

e m

orto

o d

eved

or, o

s he

rdei

ros

resp

onde

m p

elas

dív

idas

, mas

com

a

cláu

sula

do

bene

fíci

o do

inv

entá

rio,

poi

s nã

o m

ais

do q

ue a

quo

ta r

eceb

ida

na

hera

nça,

é a

rez

a do

art

. 1.7

92: “

O h

erde

iro

não

resp

onde

por

enc

argo

s su

peri

ores

às f

orça

s da

her

ança

...”.

d) O

obj

eto

da o

brig

ação

con

sist

e nu

ma

pres

taçã

o pe

ssoa

l ec

onôm

ica,

pos

itiv

a

ou n

egat

iva.

O

obj

eto

da p

rest

ação

é d

e na

ture

za p

esso

al;

só o

brig

a a

pess

oa v

incu

lada

na r

elaç

ão o

brig

acio

nal,

impo

ndo-

lhe

adim

plir

o p

rom

etid

o, r

esga

tar

a pa

lavr

a

empe

nhad

a, q

ue é

, ad

emai

s, d

e ca

ráte

r ec

onôm

ico,

por

ser

nec

essá

rio

que

a

pres

taçã

o po

sitiv

a (d

ar

ou

faze

r)

ou

nega

tiva

(n

ão

faze

r)

seja

po

ssív

el

de

valo

raçã

o m

onet

ária

.

C

onvé

m m

edit

ar a

res

peito

de

que

o ob

jeto

da

pres

taçã

o te

nha

sem

pre

cará

ter

econ

ômic

o, a

nte

a di

verg

ênci

a es

tabe

leci

da p

or c

erto

s ci

vili

stas

, não

sem

razã

o. H

á ca

sos

em q

ue o

inte

ress

e da

pre

staç

ão é

mer

amen

te m

oral

, mas

mes

mo

assi

m d

eve

ser

susc

etív

el d

e af

eriç

ão m

onet

ária

.

A

pa

trim

onia

lidad

e do

ob

jeto

da

pr

esta

ção

assi

m

ente

ndid

a co

nstit

ui

cará

ter

espe

cífi

co d

a ob

riga

ção,

dis

tingu

e-se

de

outr

os d

ever

es j

uríd

icos

de

natu

reza

div

ersa

, a

exem

plo

do d

ever

de

fide

lidad

e en

tre

os c

ônju

ges;

dos

pai

s

zela

rem

pel

a gu

arda

e e

duca

ção

dos

filh

os; d

e as

par

tes

agir

em c

om le

alda

de n

as

rela

ções

pro

cess

uais

.

N

o co

ntra

to d

e co

mpr

a e

vend

a, o

ven

dedo

r de

um

bem

est

á in

tere

ssad

o na

cont

rapr

esta

ção

em d

inhe

iro,

o c

ompr

ador

mat

uta

no v

alor

eco

nôm

ico

do b

em

que

está

adq

uiri

ndo.

No

cont

rato

de

trab

alho

, out

ro e

xem

plo,

o e

mpr

egad

or v

isa

o be

nefí

cio

econ

ômic

o do

tra

balh

o pa

ra s

ua e

mpr

esa

e o

empr

egad

o, o

sal

ário

Page 17: Aulas de Direito das Obrigações

33

retr

ibui

ção.

Que

m p

ropõ

e aç

ão d

e re

para

ção

de d

ano

mat

eria

l, po

r te

r so

frid

o a

perd

a ou

det

erio

raçã

o de

um

bem

móv

el o

u im

óvel

, pre

tend

e a

reco

mpo

siçã

o de

seu

patr

imôn

io n

o es

tado

ant

erio

r ao

dan

o.

N

ão h

á ne

gar,

con

tudo

, qu

e de

term

inad

os i

nter

esse

s nã

o se

rev

este

m,

prim

ordi

alm

ente

, de

car

áter

eco

nôm

ico.

No

dom

ínio

das

obr

igaç

ões

nego

ciai

s é

o ca

so d

e qu

em a

dere

com

o só

cio

de u

m c

lube

rec

reat

ivo;

ou

adqu

ire

um b

ilhe

te

para

ass

isti

r um

eve

nto

cultu

ral;

ass

im a

inda

o d

oent

e qu

e pr

ocur

a as

sist

ênci

a

méd

ica;

tam

bém

o d

oado

r de

um

bem

à p

esso

a qu

erid

a; o

u qu

em c

ontr

ata

a

conf

ecçã

o de

um

bu

sto

para

en

alte

cer

a m

emór

ia

de

ante

pass

ado.

Est

es

exem

plos

mos

tram

-se

isen

tos

de p

reoc

upaç

ão e

conô

mic

a.

No

dom

ínio

da

resp

onsa

bili

dade

civ

il t

ambé

m s

ão e

ncon

trad

as d

ifer

ente

s

pres

taçõ

es s

em v

alor

eco

nôm

ico,

com

o no

cas

o da

obr

igaç

ão d

e re

trat

ação

públ

ica

pela

vei

cula

ção

de n

otíc

ia d

esac

erta

da c

om a

rea

lidad

e, q

uand

o nã

o a

com

pens

ação

de

um d

ano

pura

men

te m

oral

.

A

cont

ece

o m

esm

o na

aná

lise

de

cert

as o

brig

açõe

s le

gais

, co

mo

nos

dire

itos

de

vizi

nhan

ça.

A o

brig

ação

de

não

imit

ir i

nter

ferê

ncia

s pr

ejud

icia

is à

segu

ranç

a, a

o so

sseg

o e

à sa

úde

de p

ropr

ieda

de

vici

nal

tem

a

anim

á-la

a

nece

ssid

ade

de c

onvi

vênc

ia,

do r

espe

ito a

o di

reito

de

outr

em d

e nã

o pr

oduz

ir

incô

mod

os e

vitá

veis

. E

vide

nte,

poi

s, q

ue o

cre

dor

não

tem

int

eres

se e

conô

mic

o

(CC

art

. 1.2

77).

Em

to

das

esta

s re

laçõ

es

jurí

dica

s en

cont

ram

-se

obri

gaçõ

es,

cuja

s

pres

taçõ

es n

ão s

e re

vest

em d

e in

tere

sse

econ

ômic

o. H

á, s

im, i

nter

esse

s de

laz

er,

soci

al,

inte

lect

ual,

cívi

co o

u de

res

guar

do d

os d

irei

tos

da p

erso

nali

dade

. N

o

enta

nto,

cas

o ha

ja in

adim

plem

ento

da

pres

taçã

o ob

riga

cion

al, p

oder

á o

obje

to d

a

pres

taçã

o, m

esm

o qu

e de

spro

vido

de

valo

r ec

onôm

ico

prop

riam

ente

dito

, se

r

repr

esen

tado

por

inde

niza

ção

pecu

niár

ia. É

o q

ue im

port

a.

34

Cai

a f

ivel

eta

a li

ção

do d

irei

to c

ompa

rado

. O

Cód

igo

Civ

il po

rtug

uês

prev

eja

regr

a m

odel

ar n

o ar

t. 39

8º,

2: “

A p

rest

ação

não

nec

essi

ta t

er v

alor

pecu

niár

io,

mas

dev

e co

rres

pond

er a

um

int

eres

se d

o cr

edor

, di

gno

de p

rote

ção

lega

l”. M

ais

espe

cífi

co é

o a

rt. 1

.174

, do

Cód

igo

Civ

il it

alia

no: “

A p

rest

ação

que

cons

titu

i ob

jeto

da

pres

taçã

o de

ve s

er s

usce

tível

de

valo

raçã

o ec

onôm

ica

e de

ve

corr

espo

nder

a u

m in

tere

sse,

ain

da q

ue n

ão s

eja

patr

imon

ial d

o cr

edor

”.

Aco

ntec

e o

mes

mo

no D

irei

to d

as C

oisa

s. N

ada

impe

de q

ue o

dir

eito

de

prop

ried

ade

reca

ia s

obre

ben

s ou

coi

sas

de g

enuí

no v

alor

afe

tivo.

O f

ilho

que

guar

da o

cha

péu

usad

o pe

lo s

eu p

ai,

os ó

culo

s qu

e fo

ram

de

sua

mãe

. N

ingu

ém

cont

esta

o s

eu d

irei

to d

e pr

opri

etár

io s

obre

ess

as c

oisa

s. O

utro

s ex

empl

os p

odem

ser

cola

cion

ados

: as

foto

graf

ias

de f

amíl

ia, c

arta

s e

outr

os d

ocum

ento

s. L

eona

rdo

Bof

f em

um

a de

sua

s ob

ras

cont

a, c

om a

dent

rada

sen

sibi

lidad

e, o

fat

o de

a

cane

ca d

e al

umín

io q

ue f

icav

a ex

post

a so

bre

o po

te d

e ág

ua,

dela

se

serv

indo

toda

fam

ília

. O

ra,

perd

ida

ou d

eter

iora

da q

ualq

uer

uma

dest

as c

oisa

s no

mea

das,

pode

rá l

he s

er a

trib

uída

cer

ta i

mpo

rtân

cia

mon

etár

ia a

tít

ulo

de s

atis

façã

o, d

e

ress

arci

men

to p

or d

ano

mor

al.

Por

tant

o, a

o af

irm

ar q

ue a

pat

rim

onia

lidad

e é

uma

cara

cter

ístic

a in

eren

te

às o

brig

açõe

s, e

stá

se r

efer

indo

que

a s

oluç

ão o

brig

acio

nal

pode

rá s

er r

esol

vida

em p

erda

s e

dano

s, q

ue é

um

a in

deni

zaçã

o em

din

heir

o.33

e) O

adi

mpl

emen

to d

a pr

esta

ção

é ga

rant

ido

pelo

pat

rim

ônio

do

deve

dor.

Não

adi

mpl

ida

a ob

riga

ção,

sus

cita

a r

espo

nsab

ilida

de p

atri

mon

ial

do

deve

dor

conf

orm

e pr

ovid

enci

a o

art.

391:

“P

elo

inad

impl

emen

to d

as o

brig

açõe

s

33

Ess

a co

nclu

são

é en

cont

rada

na

liçã

o de

Már

io J

úlio

de

Alm

eida

Cos

ta n

o co

men

to d

o ar

t. 39

8º,

2, e

m

conf

ront

o co

m o

art

. 49

6º,

1: “

[...]

em

qua

lque

r do

s ca

sos,

o c

redo

r po

deri

a ob

ter

a re

para

ção

pecu

niár

ia d

os

dano

s nã

o pa

trim

onia

is c

ausa

dos

pela

ine

xecu

ção

do c

ontr

ato,

con

tant

o qu

e el

es,

pela

sua

gra

vida

de,

mer

eçam

a

tute

la d

o di

reit

o.”

(in

Dir

eito

das

obr

igaç

ões,

7 e

d. C

oim

bra:

Alm

edin

a, 1

998,

p. 6

26).

CC

por

tugu

ês, a

rt. 4

96º,

1:

“Na

fixa

ção

da i

ndem

niza

ção

deve

ate

nder

-se

aos

dano

s nã

o pa

trim

onia

is q

ue,

pela

sua

gra

vida

de,

mer

eçam

a

tute

la d

o di

reit

o.”

Page 18: Aulas de Direito das Obrigações

35

resp

onde

m t

odos

os

bens

do

deve

dor”

. R

egra

que

adm

ite

rest

riçõ

es d

isse

rtad

as

no c

apítu

lo s

egui

nte.

R

espo

nsab

ilida

de p

atri

mon

ial

que

atua

em

dua

s fr

ente

s e

com

fun

ções

dive

rsas

. A u

ma,

é a

pró

pria

gar

antia

con

tra

even

tual

des

cum

prim

ento

da

rela

ção

jurí

dica

obr

igac

iona

l. A

dua

s, é

o c

arát

er p

sico

lógi

co-c

oerc

itivo

, poi

s co

nstr

ange

o de

vedo

r a

satis

faze

r vo

lunt

aria

men

te a

pre

staç

ão.

H

á de

se

adve

rtir

, po

r fi

m,

que

a ne

utra

lidad

e e

a as

seps

ia d

os c

once

itos,

de u

m m

odo

gera

l, ne

m s

empr

e ap

rese

ntam

a d

imen

são

valo

rativ

a do

s in

stitu

tos

jurí

dico

s, u

ma

vez

que

eles

dev

em s

er i

nter

pret

ados

na

cons

ider

ação

dos

val

ores

a qu

e se

ref

erem

.

3.2

EL

EM

EN

TO

S D

A E

STR

UT

UR

A D

AS

OB

RIG

ÕE

S

D

o co

ncei

to d

e ob

riga

ções

são

ret

irad

os o

s el

emen

tos

de s

ua e

stru

tura

.

a)

Ele

men

to s

ubje

tivo

ou

pess

oal:

dupl

o su

jeito

dev

edor

e c

redo

r.

b) E

lem

ento

obj

etiv

o ou

mat

eria

l: bi

part

e-se

em

obj

etiv

o im

edia

to o

u

pres

taçã

o

d

ebitó

ria

e ob

jeto

med

iato

ou

obje

to d

a pr

esta

ção.

c)

Ele

men

to

espi

ritu

al

ou

vínc

ulo

jurí

dico

: bi

furc

a-se

em

bito

e

resp

onsa

bilid

ade.

3.2.

1 E

lem

ento

sub

jeti

vo o

u pe

ssoa

l

O

elem

ento

su

bjet

ivo,

tam

bém

de

nom

inad

o de

pe

ssoa

l, co

ncer

ne

aos

suje

itos.

Tra

ta-s

e do

suj

eito

pas

sivo

, o

deve

dor,

e d

o su

jeito

ati

vo,

o cr

edor

.

Rea

firm

a-se

, pod

e se

r pe

ssoa

nat

ural

ou

pess

oa ju

rídi

ca, p

ois

som

ente

as

pess

oas

são

capa

zes

de d

irei

tos

e de

vere

s na

ord

em c

ivil

(CC

art

. 1º)

.

O

abs

olut

amen

te in

capa

z ob

riga

-se

por

mei

o de

rep

rese

ntaç

ão (

CC

art

. 3º)

,

se n

ão r

epre

sent

ado

por

seu

resp

onsá

vel

torn

a a

obri

gaçã

o nu

la (

CC

art

. 166

, I)

;

36

o re

lativ

amen

te in

capa

z po

r m

eio

de a

ssis

tênc

ia (

CC

art

. 4º)

, se

não

assi

stid

o po

r

seu

resp

onsá

vel t

orna

a o

brig

ação

anu

láve

l (C

C a

rt. 1

71, I

).

A

pes

soa

jurí

dic

a p

od

e se

r re

gu

lar,

irr

egu

lar

e d

e fa

to.

Reg

ula

r

é a

qu

e te

m o

seu

ato

de

con

stit

uiç

ão i

nsc

rito

no

Reg

istr

o P

úb

lico

.

Se

soci

edad

e o

seu

co

ntr

ato

so

cial

na

Jun

ta C

om

erci

al,

se a

sso

ciaç

ão

o

seu

es

tatu

o

no

C

artó

rio

d

e R

egis

tro

d

e Im

óv

eis

(CC

ar

t.

98

5).

Irre

gu

lar

é aq

uel

a cu

jo a

to c

on

stit

uti

vo

não

est

á in

scri

to n

o R

egis

tro

bli

co,

ou

est

á d

e fo

rma

inad

equ

ada.

Po

de

ser

ain

da

um

a so

cied

ade

de

fato

a q

ue

não

po

ssu

i n

em m

esm

o c

on

trat

o s

oci

al o

u e

stat

uto

. A

irre

gu

lar

e a

de

fato

co

mp

õem

a c

ateg

ori

a d

e so

cied

ade

em c

om

um

(CC

art

. 9

86

). A

ssim

en

ten

de

o E

nu

nci

ado

20

9,

do

Cen

tro

de

Est

ud

os

Jud

iciá

rio

s d

o

Co

nse

lho

d

e Ju

stiç

a F

eder

al:

“o

art

. 9

86

d

eve

ser

inte

rpre

tad

o e

m s

into

nia

co

m o

s a

rts.

98

5 e

1.1

50

, d

e m

od

o a

ser

con

sid

era

da

em

co

mu

m

a

soci

eda

de

qu

e n

ão

te

nh

a

seu

a

to

con

stit

uti

vo i

nsc

rito

no

reg

istr

o p

róp

rio

ou

em

des

aco

rdo

co

m a

s

no

rma

s le

ga

is

pre

vist

as

pa

ra

esse

re

gis

tro

(C

C

art

. 1

.15

0),

ress

alv

ad

as

as

hip

óte

ses

de

reg

istr

os

efet

ua

do

s d

e b

oa

-fé.

” E

xem

plo

da

de

fato

é a

co

mis

são

de

form

atu

ra,

qu

e co

ntr

ata

com

ter

ceir

os

os

even

tos

rela

cio

nad

os

à co

laçã

o d

e g

rau

.

O

dig

o d

e P

roce

sso

Civ

il n

o a

rt.1

2,

§ 2

º, é

cat

egó

rico

ao

dis

po

r q

ue

a so

cied

ade

sem

per

son

alid

ade

jurí

dic

a n

ão p

od

e ar

ticu

lar

em s

ua

def

esa

irre

gu

lari

dad

e n

a su

a co

nst

itu

ição

.

T

amb

ém,

rep

ita-

se,

os

ente

s p

rop

riam

ente

d

esp

erso

nal

izad

os

po

dem

fig

ura

r em

um

do

s p

olo

s d

a o

bri

gaç

ão.

Page 19: Aulas de Direito das Obrigações

37

P

ara

algu

ns

civi

list

as,

com

o Sc

avon

e Jú

nior

, o

deve

dor

é se

mpr

e

dete

rmin

ado,

par

a M

aria

Hel

ena

Din

iz, p

ode

ser

dete

rmin

ado

ou d

eter

min

ável

.34

Põe

o ex

empl

o do

art

. 1.3

27 d

o C

ódig

o C

ivil,

que

é o

con

dom

ínio

por

mea

ção

de

mur

o ou

par

ede

divi

sóri

a, o

qua

l r

espo

nde

prop

orci

onal

men

te p

elas

des

pesa

s de

cons

erva

ção,

m

as

essa

re

spon

sabi

lidad

e su

bsis

te

apen

as

enqu

anto

el

e fo

r

prop

riet

ário

. Se

vend

er o

im

óvel

em

que

se

enco

ntra

o m

uro

ou p

ared

e di

visó

ria,

a ob

riga

ção

tran

sfer

irá

ao a

dqui

rent

e qu

e, e

ntão

, pa

ssar

á a

ter

a ob

riga

ção

de

aten

der

a de

spes

a pa

ra a

sua

man

uten

ção.

Par

a a

prof

esso

ra d

a P

UC

/SP,

nes

te

caso

, o

suje

ito

pass

ivo

não

é de

term

inad

o,

mas

de

term

ináv

el,

porq

uant

o

tran

seun

te, v

ariá

vel,

poré

m, e

m d

ado

mom

ento

, ind

ivid

ualiz

a-se

, det

erm

ina-

se.

O

suj

eito

ativ

o da

obr

igaç

ão é

det

erm

inad

o ou

det

erm

ináv

el e

aqu

i nã

o

cabe

dis

sens

ão. N

a co

mpr

a e

vend

a de

term

ina-

se, d

e pr

onto

, que

m é

o d

eved

or e

quem

é

o cr

edor

. M

as

na

prom

essa

de

re

com

pens

a, n

ão.

Val

e a

segu

inte

pass

agem

: um

a ca

sa c

omer

cial

ofe

rece

prê

mio

par

a o

freg

uês

sort

eado

. Enq

uant

o

não

acon

tece

r o

sort

eio,

o c

redo

r do

prê

mio

é d

eter

min

ável

, nã

o de

term

inad

o.

Out

ro e

xem

plo

é o

cheq

ue a

o po

rtad

or,

o cr

edor

é q

ualq

uer

pess

oa q

ue o

apre

sent

a na

boc

a do

cai

xa p

ara

resg

ate.

A i

ndet

erm

inaç

ão p

erse

vera

até

o

mom

ento

do

paga

men

to; o

pag

amen

to s

ó é

poss

ível

a p

esso

a de

term

inad

a.

N

ota-

se,

dete

rmin

ável

não

se

conf

unde

com

ind

eter

min

ado.

Se

de u

m d

os

suje

itos

da o

brig

ação

for

ind

eter

min

ado,

por

for

ça d

o ar

t. 16

6, i

nc.

II,

terc

eira

figu

ra, o

neg

ócio

jur

ídic

o é

nulo

de

plen

o di

reito

, um

a ve

z qu

e im

poss

ível

a s

ua

dete

rmin

ação

.

N

o es

tági

o at

ual

do D

irei

to,

deve

m s

er l

embr

adas

as

obri

gaçõ

es e

m q

ue

surg

em d

a vi

olaç

ão d

os d

irei

tos

difu

sos,

o q

ue l

eva

a fa

lar

de t

itula

rida

de

múl

tipl

a di

fusa

do

créd

ito. C

redo

ra é

toda

a c

olet

ivid

ade,

por

exe

mpl

o, n

os c

asos

34

SC

AV

ON

E J

UN

IOR

, Lui

z A

nton

io. O

brig

açõe

s: a

bord

agem

did

átic

a, 4

ed.

São

Pau

lo:

Ed.

Jua

rez

de O

live

ira,

20

06, p

. 10.

DIN

IZ, M

aria

Hel

ena.

Cur

so d

e di

reit

o ci

vil

bras

ilei

ro, v

olum

e 2:

teor

ia g

eral

das

obr

igaç

ões,

24

ed.

São

Pau

lo: S

arai

va, 2

009,

p. 3

2.

38

em q

ue i

mpl

ica

a pr

eser

vaçã

o do

mei

o am

bien

te,

com

o ai

nda

os v

azam

ento

s de

subs

tânc

ias

alta

men

te r

adio

ativ

as e

m a

cide

ntes

nas

usi

nas

nucl

eare

s.

E

m q

ualq

uer

um d

os p

olos

o s

ujei

to p

ode

ser

únic

o: u

m ú

nico

cre

dor

e um

únic

o de

vedo

r, o

u po

de s

er p

lura

l: d

ois

ou m

ais

deve

dore

s ou

doi

s ou

mai

s

cred

ores

e a

té u

ma

cole

tivid

ade.

Em

cas

o de

plu

ralid

ade

os c

odev

edor

es o

u

cocr

edor

es p

odem

ser

sim

ples

ou

solid

ário

s. S

impl

es c

ada

um d

eles

res

pond

e

pela

sua

quo

ta-p

arte

; so

lidár

ios

cada

qua

l re

spon

de p

elo

paga

men

to i

nteg

ral,

ou

cada

um

tem

o d

irei

to d

e re

cebe

r o

paga

men

to i

nteg

ral.

Paga

ndo

ou r

eceb

endo

inte

gral

men

te,

depo

is r

eceb

e ou

pag

a ao

out

ro a

sua

quo

ta-p

arte

. E

sta

mat

éria

será

dis

sert

ada

em p

orm

enor

es n

a cl

assi

fica

ção

das

obri

gaçõ

es.

3.2.

2 E

lem

ento

obj

etiv

o ou

mat

eria

l

O e

lem

ento

obj

etiv

o ou

mat

eria

l é

a pr

esta

ção

prop

riam

ente

dita

, pod

e se

r

um

dar,

fa

zer,

ou

não

fa

zer.

R

epit

a-se

, as

du

as p

rim

eira

s da

r e

faze

r sã

o

posi

tivas

; a ú

ltim

a ne

gativ

a, n

ão f

azer

.

D

istin

gue-

se o

bjet

o im

edia

to,

tam

bém

cha

mad

o de

pre

staç

ão d

ebitó

ria,

e

obje

to m

edia

to, t

ambé

m c

ham

ado

de o

bjet

o da

pre

staç

ão.

O

obj

eto

imed

iato

é a

con

duta

hum

ana,

sem

pre.

Na

obri

gaçã

o de

dar

a

entr

ega

da c

oisa

. N

a ob

riga

ção

de f

azer

a r

ealiz

ação

de

um a

to o

u se

rviç

o. N

a

obri

gaçã

o de

não

faz

er a

abs

tenç

ão o

u to

lerâ

ncia

de

cert

a co

ndut

a qu

e o

deve

dor

pode

ria

real

izá-

la s

enão

tiv

esse

se

obri

gado

. O

obj

eto

med

iato

é d

esve

ndad

o na

resp

osta

à s

egui

nte

perg

unta

: da

r, f

azer

ou

não

faze

r o

que?

Um

exe

mpl

o pa

ra

clar

ific

ar:

na v

enda

de

um l

ivro

o o

bjet

o im

edia

to é

a c

ondu

ta d

o de

vedo

r de

entr

egar

o l

ivro

ao

cred

or,

e o

obje

to m

edia

to é

o p

rópr

io l

ivro

, o

bem

da

vida

.

Dar

o q

ue?

O li

vro.

A

dis

tinçã

o nã

o é

tão

nítid

a na

s ob

riga

ções

de

faze

r e

não

faze

r, e

m q

ue a

ativ

idad

e do

dev

edor

e o

res

ulta

do p

odem

ser

con

fund

idos

. M

as m

esm

o as

sim

Page 20: Aulas de Direito das Obrigações

39

poss

ível

dis

ting

ui-l

os. N

a ca

rpa

de u

m q

uint

al, o

obj

eto

imed

iato

é o

ser

viço

de

o

deve

dor

no c

arpi

r; o

med

iato

é o

res

ulta

do p

rátic

o: o

qui

ntal

car

pido

. No

caso

de

não

abri

r ja

nela

a m

enos

de

um m

etro

e m

eio

do t

erre

no v

icin

al (

CC

art

. 1.3

01),

o ob

jeto

im

edia

to é

a a

bste

nção

e o

obj

eto

med

iato

é o

res

ulta

do p

ráti

co:

pres

erva

r a

priv

acid

ade

do v

izin

ho (

CF

art.

5º, X

; CC

art

. 21)

.

O

obj

eto

da p

rest

ação

seg

ue a

reg

ra d

o ar

t. 10

4 do

Cód

igo

Civ

il, d

eve

ser

líci

to, p

ossí

vel,

dete

rmin

ado

ou d

eter

min

ável

.

P

rest

ação

líc

ita

é es

tar

conf

orm

e à

lei,

à or

dem

púb

lica

, à

mor

al e

aos

bons

cos

tum

es. O

u se

ja, t

oda

cond

uta

rece

pcio

nada

pel

o or

dena

men

to ju

rídi

co. É

ilíci

ta a

ven

da d

e be

ns c

ontr

aban

dead

os, o

u a

vend

a de

rem

édio

s nã

o au

tori

zado

s

pela

AN

VIS

A,

ou a

exp

lora

ção

de j

ogos

de

azar

, po

rque

pro

ibid

os.

Bas

ta

veri

fica

r, a

ven

da d

e ta

baco

é l

ícit

a, m

as d

e m

acon

ha n

ão o

é;

é lic

ita a

expl

oraç

ão d

e um

mot

el, m

as d

e um

alc

oice

não

o é

. Con

clui

-se,

qua

ndo

o ob

jeto

é ilí

cito

torn

a a

obri

gaçã

o ju

ridi

cam

ente

impo

ssív

el.

A

pre

staç

ão d

eve

ser

poss

ível

. D

istin

guem

-se

a po

ssib

ilida

de f

ísic

a e

a

jurí

dica

. Pos

sibi

lida

de f

ísic

a é

o qu

e es

tá d

entr

o da

s fo

rças

hum

anas

e d

as f

orça

s

da n

atur

eza.

Ser

á se

mpr

e im

poss

ível

qua

lque

r pr

esta

ção

que

extr

apol

e es

sas

forç

as.

Os

exem

plos

são

inu

mer

ávei

s: u

ma

pres

taçã

o qu

e im

põe

ao d

eved

or

prev

enir

e e

vita

r a

inci

dênc

ia d

e ra

ios

ou a

for

maç

ão d

e fu

racõ

es. S

ão e

feito

s da

natu

reza

ain

da n

ão d

omin

ados

pel

o es

tági

o at

ual

da c

iênc

ia h

uman

a, p

or i

sso

inev

itáve

is e

irr

esis

tívei

s. U

m t

erre

no n

esta

cid

ade

é ob

jeto

pos

síve

l, um

ter

reno

na lu

a nã

o o

é.

P

ossi

bili

dade

jur

ídic

a é

esta

r de

aco

rdo

com

o o

rden

amen

to j

uríd

ico,

assi

m n

ão p

ode

ser

obje

to d

a ob

riga

ção

a he

ranç

a de

pes

soa

viva

(C

C a

rt. 4

26),

a

vend

a de

be

ns

de

asce

nden

te

a de

scen

dent

e,

sem

a

anuê

ncia

do

s de

mai

s

desc

ende

ntes

e d

o cô

njug

e do

ali

enan

te (

CC

art

. 496

). S

ão p

ossí

veis

, de

tal

arte

,

as

cois

as

que

estiv

erem

no

co

mér

cio,

ou

se

ja,

aque

les

susc

eptív

eis

de

ser

40

nego

ciad

as.

Log

o,

se

o ob

jeto

da

pr

esta

ção

for

impo

ssív

el

físi

ca

ou

juri

dica

men

te, a

obr

igaç

ão é

nul

a, m

as s

e pa

rcia

lmen

te im

poss

ível

não

a n

ulif

ica,

de s

orte

a p

arte

pos

síve

l po

de s

er ú

til

ao c

redo

r, n

ada

impe

dind

o a

form

ação

do

vínc

ulo

obri

gaci

onal

. É

bom

esc

lare

cer

que

a im

poss

ibili

dade

fís

ica

ou j

uríd

ica

jam

ais

se id

enti

fica

com

a m

era

difi

culd

ade.

Por

out

ro t

urno

, a

pres

taçã

o de

ve s

er d

eter

min

ada

ou d

eter

min

ável

. A

com

pra

e ve

nda

de u

ma

casa

de

mor

ada

situ

ada

na R

ua d

os I

ncon

fide

ntes

,

núm

ero

21, n

esta

cid

ade,

det

erm

ina

o ob

jeto

da

pres

taçã

o, d

esde

a c

eleb

raçã

o da

obri

gaçã

o.

A

coi

sa d

eter

min

ável

ser

á in

dica

da a

o m

enos

pel

o gê

nero

e q

uant

idad

e,

conf

orm

e a

reda

ção

do a

rt. 2

43 d

o C

ódig

o C

ivil

.

Á

lvar

o V

illaç

a A

zeve

do p

onde

ra q

ue m

elho

r tiv

esse

dito

o l

egis

lado

r

espé

cie

e qu

anti

dade

, co

nsid

eran

do q

ue a

pal

avra

gên

ero

tem

sen

tido

mui

to

ampl

o. C

hego

u a

suge

rir

mud

ança

de

reda

ção

ness

e se

ntid

o. S

e al

guém

se

obri

gass

e a

entr

egar

um

a sa

ca d

e ce

real

, po

r nã

o sa

ber

qual

a s

ua e

spéc

ie,

a

obri

gaçã

o se

ria

nula

pel

a im

poss

ibili

dade

de

cum

prim

ento

.

W

ashi

ngto

n de

Bar

ros

Mon

teir

o, R

enan

Lot

ufo,

Arn

aldo

Riz

zard

o op

õem

-

se à

alt

eraç

ão,

lem

bran

do q

ue o

ter

mo

gêne

ro é

da

trad

ição

, as

sim

con

sagr

ado

desd

e o

Dir

eito

Rom

ano,

est

á na

s O

rden

açõe

s do

Rei

no e

no

Proj

eto

de A

ugus

to

Tei

xeir

a de

Fr

eita

s.35

A

liás

, es

ses

reno

mad

os

civi

list

as

repe

tem

O

rosi

mbo

Non

ato,

par

a qu

em a

lin

guag

em j

uríd

ica

nem

sem

pre

é pa

relh

a co

m a

téc

nica

, o

gêne

ro

refe

rido

no

art

igo

em

ques

tão

é o

próx

imo

não

o re

mot

o,

que

na

lingu

agem

técn

ica

sign

ific

a es

péci

e.

O g

êner

o a

que

alud

e a

lei

[...]

é a

esp

écie

da

lingu

agem

ci

entíf

ica

e a

inde

term

inaç

ão r

elat

iva

perm

itid

a em

dir

eito

no

toc

ante

ao

obje

to d

a ob

riga

ção

excl

ui o

“gê

nero

rem

oto”

35

Apu

d F

IUZ

A, R

icar

do. O

nov

o C

ódig

o C

ivil

e a

s pr

opos

tas

de a

perf

eiço

amen

to. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

4, p

. 65

.

Page 21: Aulas de Direito das Obrigações

41

para

in

clui

r ap

enas

o

“gên

ero

próx

imo.

E

ste,

o

gêne

ro

próx

imo

(esp

écie

) co

nsis

te e

m u

ma

clas

se d

e ob

jeto

s qu

e of

erec

e ca

ract

eres

di

fere

ncia

is

– ca

valo

, tr

igo,

úcar

. V

aled

ia n

ão f

ora

– po

r in

tole

ráve

l fa

lta

de d

eter

min

ação

no

obje

to

– a

estip

ulaç

ão

de

entr

egar

an

imai

s,

gêne

ros

alim

entí

cios

, etc

(gê

nero

rem

oto)

.36

O

port

uno

exem

plif

icar

: gê

nero

rem

oto:

fru

to;

gêne

ro p

róxi

mo

ou e

spéc

ie:

lara

nja;

qua

lida

de:

lima,

bai

ana,

pêr

a et

c.,

fina

lmen

te q

uant

idad

e. N

os c

ontr

atos

norm

alm

ente

são

esp

ecif

icad

os o

gên

ero

próx

imo

ou a

esp

écie

, a

qual

idad

e e

a

quan

tidad

e.

D

o qu

e fo

i di

to,

se

o ob

jeto

da

pr

esta

ção

for

ilíci

to,

impo

ssív

el

ou

inde

term

inad

o o

negó

cio

jurí

dico

é n

ulo,

por

dis

posi

ção

do a

rt.

166,

inc

. II

, do

Cód

igo

Civ

il.

3.2.

3 E

lem

ento

esp

irit

ual o

u ví

ncul

o ju

rídi

co

Fin

alm

ente

, a e

stru

tura

da

obri

gaçã

o co

mpl

eta-

se p

elo

terc

eiro

ele

men

to, o

espi

ritu

al,

send

o m

ais

empr

egad

a a

expr

essã

o ví

ncul

o ju

rídi

co.

Para

Álv

aro

Vil

laça

Aze

vedo

é e

lo q

ue u

ne,

ata,

lig

a o

suje

ito a

tivo

ao s

ujei

to p

assi

vo,

poss

ibili

tand

o qu

e o

cred

or p

ossa

exi

gir

do d

eved

or o

cum

prim

ento

da

pres

taçã

o.

É o

ele

men

to i

mat

eria

l, qu

e re

trat

a a

coer

cibi

lida

de,

a ju

risd

icid

ade

da r

elaç

ão

obri

gaci

onal

.37 É

, ass

im, “

a re

laçã

o ju

rídi

ca e

xist

ente

ent

re c

redo

r e

deve

dor”

.38

No

mai

s da

s ve

zes,

a o

brig

ação

é c

umpr

ida

espo

ntan

eam

ente

, tod

avia

se

o

deve

dor

não

adim

plir

a p

rest

ação

, o v

íncu

lo j

uríd

ico

arm

a o

cred

or d

o di

reito

de

exig

i-la

, in

vest

indo

sob

re o

pat

rim

ônio

daq

uele

, po

r m

eio

de a

ção

próp

ria

junt

o

ao P

oder

Jud

iciá

rio.

36

NO

NA

TO

, Oro

sim

bo. C

urso

de

obri

gaçõ

es: g

ener

alid

ades

– e

spéc

ies,

1 e

d.,

vol.

I, R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se,

1959

, p. 2

71.

37 A

ZE

VE

DO

, Á

lvar

o V

illa

ça.

Teo

ria

gera

l da

s ob

riga

ções

e r

espo

nsab

ilid

ade

civi

l, 11

ed.

São

Pau

lo:

Atl

as,

2008

, p. 1

6.

38 S

EN

ISE

LIS

BO

A, R

ober

to. M

anua

l de

dire

ito

civi

l, v.

2: d

irei

to d

as o

brig

açõe

s e

resp

onsa

bili

dade

civ

il. 4

ed.

S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

9, p

. 41.

42

O

cre

dor

pode

exi

gir

a pr

esta

ção

tal

qual

con

trat

ada,

é a

tut

ela

espe

cífi

ca;

mas

tam

bém

pod

e va

ler-

se d

a tu

tela

gen

éric

a re

pres

enta

da p

elas

per

das

e da

nos.

Supo

nha-

se q

ue a

lgué

m a

dqui

ra u

m c

ompu

tado

r em

um

a ca

sa c

omer

cial

que

,

depo

is, n

ega-

se a

cum

prir

o c

ontr

atad

o en

treg

ando

o b

em. O

cre

dor

pode

rec

orre

r

ao E

stad

o-ju

iz,

exig

indo

que

o b

em l

he s

eja

entr

egue

tal

qua

l co

ntra

tado

. É

a

deno

min

ada

tute

la e

spec

ífic

a. S

upon

ha-s

e, d

outr

a fe

ita,

que

a no

iva

proc

ure

a

cost

urei

ra p

ara

a co

nfec

ção

de s

eu v

estid

o de

cas

amen

to.

E o

ves

tido

não

é

conf

ecci

onad

o. D

epoi

s do

cas

amen

to e

le p

erde

a u

tilid

ade,

a c

redo

ra n

ão t

em

mai

s in

tere

sse

no v

esti

do. P

ode,

ent

ão, r

esol

ver

pela

tut

ela

gené

rica

das

per

das

e

dano

s, i

sto

é, c

erta

qua

ntia

em

din

heir

o pa

ra c

ompe

nsar

o d

ano

mor

al p

or e

la

sofr

ido.

O o

bjet

o m

edia

to d

a ob

riga

ção

conv

ola-

se e

m d

inhe

iro.

O

vín

culo

jur

ídic

o é,

poi

s, q

ue g

aran

te, e

m q

ualq

uer

espé

cie

de o

brig

ação

,

o se

u cu

mpr

imen

to.

P

orém

, se

o d

eved

or n

ão a

dim

plir

a p

rest

ação

e n

ão t

iver

pat

rim

ônio

par

a

resp

onde

r pe

la in

deni

zaçã

o, o

cré

dito

per

man

ece

ínte

gro

até

a pr

escr

ição

, qua

ndo

entã

o po

r fa

lta

de g

aran

tia

real

o c

redo

r ab

sorv

e o

prej

uízo

. É

o p

atri

môn

io d

o

deve

dor

que

gara

nte

o di

reit

o do

cre

dor,

se

o de

vedo

r fo

r de

spid

o de

pat

rim

ônio

não

há c

omo

exig

ir. O

cre

dor

tem

de

se r

esig

nar

no p

reju

ízo.

Bem

por

isso

, com

o

será

vis

to, e

xist

em o

brig

açõe

s de

gar

anti

a, p

ara

o ef

etiv

o re

sgua

rdo

do c

rédi

to.

O

vín

culo

jurí

dico

, res

ta d

izer

, des

dobr

a-se

em

doi

s m

omen

tos

o dé

bito

e a

resp

onsa

bilid

ade.

O

bito

é

o de

ver

jurí

dico

or

igin

ário

ou

pr

imár

io

e a

resp

onsa

bili

dade

é o

dev

er ju

rídi

co s

uces

sivo

ou

secu

ndár

io.

O

Cód

igo

Civ

il n

o ar

t. 38

9 fa

z es

sa d

istin

ção:

não

cum

prid

a a

obri

gaçã

o,

deve

r ju

rídi

co o

rigi

nári

o, r

espo

nde

o de

vedo

r po

r pe

rdas

e d

anos

, de

ver

jurí

dico

suce

ssiv

o. A

d ex

empl

um:

dete

rmin

ado

bufê

foi

con

trat

ado

para

um

a fe

sta

de

aniv

ersá

rio,

aqu

i o

débi

to,

terá

de

ofer

ecer

a r

efei

ção

no d

ia a

praz

ado.

Tra

ta-s

e

de p

rest

ação

de

serv

iços

pro

fiss

iona

is,

deve

r ju

rídi

co o

rigi

nári

o, e

m f

avor

do

Page 22: Aulas de Direito das Obrigações

43

aniv

ersa

rian

te q

ue i

rá r

eceb

er o

s se

us f

amil

iare

s e

amig

os.

No

enta

nto,

o b

ufê

não

cum

pre

a su

a ob

riga

ção,

tra

nsgr

ide

o de

ver

jurí

dico

que

vol

unta

riam

ente

assu

miu

. Su

rge,

en

tão,

po

r di

spos

ição

le

gal

outr

o de

ver

jurí

dico

, po

rtan

to

suce

ssiv

o,

com

por

o pr

ejuí

zo

expe

rim

enta

do

pelo

an

iver

sari

ante

. A

qui

a

resp

onsa

bilid

ade.

O d

ever

jur

ídic

o su

cess

ivo

(res

pons

abil

idad

e) t

oma

o lu

gar

do

deve

r ju

rídi

co o

rigi

nári

o (d

ébito

não

adi

mpl

ido)

. Se

rve

tam

bém

de

exem

plo

o

caso

do

vest

ido

de n

oiva

sus

cita

do lo

go a

cim

a.

N

ota-

se,

o de

ver

jurí

dico

or

igin

ário

na

sce

pela

vo

ntad

e da

s pa

rtes

,

enqu

anto

o d

ever

jur

ídic

o su

cess

ivo

é a

resp

osta

do

orde

nam

ento

jur

ídic

o an

te o

inad

impl

emen

to d

a re

laçã

o ju

rídi

ca o

brig

acio

nal.

E

ssa

teor

ia d

uali

sta

surg

e na

Ale

man

ha,

com

a E

scol

a do

s Pa

ndec

tas,

39

send

o da

aut

oria

de

Alo

is B

rinz

.40 P

ara

ele

o dé

bito

, qu

e o

cham

a de

shu

ld,

é o

paga

men

to e

spon

tâne

o pe

la r

eali

zaçã

o da

pre

staç

ão. C

ompr

eend

e o

dia

em q

ue a

obri

gaçã

o fo

i co

nclu

ída

até

o di

a do

ven

cim

ento

, qu

ando

o c

redo

r te

m m

era

expe

ctat

iva

de e

xigi

r o

seu

créd

ito,

pode

ndo

adot

ar a

pena

s m

edid

as p

reve

ntiv

as

para

pre

serv

á-lo

. Na

obri

gaçã

o de

dar

é a

ent

rega

da

cois

a, n

a ob

riga

ção

de f

azer

é a

pres

taçã

o do

ato

ou

serv

iço,

na

obri

gaçã

o de

não

faz

er é

a a

bste

nção

ou

tole

rânc

ia d

e de

term

inad

o at

o ou

fat

o. J

á a

resp

onsa

bilid

ade,

que

ele

a c

ham

a de

haft

ung,

ini

cia-

se n

o di

a se

guin

te a

o do

ven

cim

ento

, é

o di

reito

do

cred

or d

e

exig

ir a

pre

staç

ão p

ela

tute

la e

spec

ífic

a ou

gen

éric

a, o

u se

ja,

o pa

gam

ento

forç

ado

com

o s

ocor

ro d

o Po

der

Judi

ciár

io.

De

volta

às

raíz

es n

o D

irei

to

Rom

ano

são

tam

bém

usa

das

as e

xpre

ssõe

s de

bitu

m e

obl

igat

io,

corr

espo

nden

do

débi

to e

res

pons

abili

dade

.

39

Esc

ola

dos

Pan

dect

as

40 W

AL

D, A

rnol

do. O

brig

açõe

s e

cont

rato

s, 1

6 ed

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

004,

p. 8

.

44

Em

re

sum

o,

a re

laçã

o ju

rídi

ca

obri

gaci

onal

, co

nsid

eran

do

o ví

ncul

o

jurí

dico

, ap

rese

nta

dois

mom

ento

s be

m d

istin

tos:

se

o de

vedo

r nã

o pa

gar

a

pres

taçã

o es

pont

anea

men

te

tal

qual

co

ntra

tado

(d

ever

ju

rídi

co

orig

inár

io

=

débi

to),

sur

ge, e

m r

azão

des

se i

nadi

mpl

emen

to e

com

o re

spos

ta d

o or

dena

men

to

jurí

dico

, o

dire

ito

de o

cre

dor

de p

rom

over

açã

o co

ntra

os

bens

do

deve

dor

(dev

er ju

rídi

co s

uces

sivo

= r

espo

nsab

ilid

ade)

.

Pos

teri

orm

ente

, os

aut

ores

ale

mãe

s K

arl

Von

Am

ira

e O

tto

Von

Gie

rke

dem

onst

rara

m

tam

bém

a

exis

tênc

ia

de

débi

to

sem

re

spon

sabi

lidad

e e

de

resp

onsa

bilid

ade

sem

déb

ito.

A

ntes

o

débi

to

sem

re

spon

sabi

lidad

e.

Na

dívi

da

de

jogo

pr

oibi

do

a

obri

gaçã

o é

impe

rfei

ta,

tam

bém

de

nom

inad

a na

tura

l, po

is

desp

rovi

da

do

mom

ento

suc

essi

vo d

a re

spon

sabi

lida

de. É

um

a ob

riga

ção

inex

igív

el.

Ao

cred

or

não

pago

não

é d

efer

ido

o di

reit

o de

inv

estir

con

tra

o pa

trim

ônio

do

cred

or

(con

dict

io

inde

biti

).

Res

igna

r-se

dian

te

do

inad

impl

emen

to.

Poré

m,

se

o

deve

dor

paga

r es

pont

anea

men

te é

pag

amen

to,

com

dir

eito

de

rete

nção

(so

luti

rete

ntio

), i

sto

é, o

dev

edor

não

pod

erá

pedi

r a

devo

luçã

o, c

ham

ada

tecn

icam

ente

de r

epet

ição

do

indé

bito

(re

peti

tio

inde

biti

). O

utro

exe

mpl

o sã

o as

obr

igaç

ões

pres

crit

as, t

ambé

m d

espr

ovid

as d

e re

spon

sabi

lidad

e, p

or is

so in

exig

ívei

s.

P

ode

acon

tece

r a

resp

onsa

bilid

ade

sem

déb

ito.

Alg

uém

ser

res

pons

ável

a

paga

r o

cred

or e

mbo

ra n

ão s

eja

deve

dor.

A f

ianç

a pr

esta

-se

com

o ex

empl

o. O

fiad

or n

ão é

dev

edor

, é

o ga

rant

e do

dev

edor

. Se

est

e nã

o pa

ga a

quel

e te

rá d

e

fazê

-lo.

Po

rtan

to,

fiad

or

tem

re

spon

sabi

lidad

e m

esm

o nã

o se

ndo

deve

dor:

resp

onsa

bilid

ade

sem

déb

ito.

Page 23: Aulas de Direito das Obrigações

45

3.3

FO

NT

ES

DA

S O

BR

IGA

ÇÕ

ES

E

tim

olog

icam

ente

, fo

nte

sign

ific

a o

loca

l on

de n

asce

a á

gua.

São

os

fato

s

que

faze

m n

asce

r a

obri

gaçã

o, o

u co

mo

diz

com

ele

gânc

ia S

ílvi

o R

odri

gues

são

os a

tos

ou f

atos

por

mei

o do

s qu

ais

as o

brig

açõe

s en

cont

ram

nas

cedo

uro.

41

No

Dir

eito

Rom

ano

clás

sico

, as

Inst

ituta

s de

Gai

o bi

part

iram

as

font

es d

as

obri

gaçõ

es e

m c

ontr

actu

s e

deli

cto.

No

Dir

eito

Rom

ano

pós-

clas

sico

com

Jus

tini

ano,

o C

orpu

s Ju

ris

Civ

ilis

as

quad

ripl

icou

: em

con

trac

tus,

qua

si c

ontr

actu

s, d

elic

to e

qua

si d

elic

to.

Lei

a-se

:

cont

rato

: ne

góci

o ju

rídi

co b

ilat

eral

; qu

ase

cont

rato

: ne

góci

o ju

rídi

co u

nila

tera

l;

delit

o: a

to il

ícito

dol

oso;

qua

se d

elito

: ato

ilíc

ito c

ulpo

so.

Pot

hier

acr

esce

ntou

a le

i com

o qu

inta

fon

te. E

just

ific

a:

A

lei

nat

ural

é c

ausa

, pe

lo m

enos

med

iata

, de

tod

as a

s ob

riga

ções

: po

is,

se o

s co

ntra

tos,

del

itos

e qu

ase

delit

os

prod

uzem

obr

igaç

ões,

é p

orqu

e a

prio

ri a

lei

nat

ural

ord

ena

que

cada

um

cum

pra

o qu

e pr

omet

e e

repa

re o

dan

o ca

usad

o po

r su

a fa

lta.

.. É

ta

mbé

m

essa

m

esm

a le

i qu

e to

rna

obri

gató

rios

os

atos

dos

qua

is r

esul

ta a

lgum

a ob

riga

ção,

e

que,

com

o já

not

amos

, po

r es

se e

feit

o sã

o ch

amad

os d

e qu

ase-

cont

rato

s. H

á ob

riga

ções

que

pos

suem

com

o ca

usa,

ún

ica

e im

edia

ta,

a le

i. Po

r ex

empl

o, n

ão é

em

vir

tude

de

algu

m

cont

rato

ou

quas

e-co

ntra

to q

ue o

s fi

lhos

, qu

ando

te

nham

con

diçõ

es, e

stej

am o

brig

ados

a f

orne

cer

alim

ento

s a

seus

pa

is

quan

do

este

s es

tiver

em

na

indi

gênc

ia;

esta

ob

riga

ção,

a pr

oduz

a le

i nat

ural

.42

O

Cód

igo

Civ

il al

emão

823

e se

guin

tes)

ass

inal

a o

negó

cio

jurí

dico

e a

lei.

O it

alia

no (

art.

1.17

3) d

efin

e ex

plic

itam

ente

as

font

es e

m c

ontr

ato,

fat

o ilí

cito

e ou

tros

eve

ntos

ind

icad

os p

elo

orde

nam

ento

. Já

o p

ortu

guês

(ar

t. 47

3º)

em

cont

rato

s, n

egóc

ios

unila

tera

is,

gest

ão d

e ne

góci

os,

enri

quec

imen

to s

em c

ausa

e

41

RO

DR

IGU

ES,

Síl

vio.

Dir

eito

civ

il, v

. 2, P

arte

ger

al d

as o

brig

açõe

s, 3

0 ed

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

002,

p. 8

. 42

PO

TH

IER

, Rob

ert J

osep

h. T

rata

do d

as o

brig

açõe

s, tr

aduç

ão d

e A

dria

n S

oter

o D

e W

itt B

atis

ta e

Dou

glas

Dia

s F

erre

ira.

Cam

pina

s: S

evan

da, 2

001,

p. 1

16.

46

resp

onsa

bilid

ade

civi

l. N

o D

irei

to p

átri

o, o

s C

ódig

os C

ivis

rev

ogad

o e

o at

ual

não

indi

cam

qua

is s

eria

m a

s fo

ntes

das

obr

igaç

ões.

Na

verd

ade,

o e

stud

o da

s fo

ntes

das

obr

igaç

ões

perd

eu i

mpo

rtân

cia

na

atua

lidad

e, n

a m

edid

a em

que

a t

endê

ncia

mod

erna

pri

vile

gia

o es

tudo

das

obri

gaçõ

es c

onsi

dera

ndo

a pr

ópri

a na

ture

za q

ue a

s en

volv

e e

não

mai

s as

sua

s

orig

ens.

43

Ade

mai

s,

o es

tudo

da

s fo

ntes

da

s ob

riga

ções

tr

az

sens

ívei

s

disc

ordâ

ncia

s en

tre

os c

ivili

stas

e a

pres

enta

pou

ca r

elev

ânci

a pr

átic

a.

Álv

aro

Vill

aça

Aze

vedo

, M

aria

Hel

ena

Din

iz,

Silv

io d

e S

alvo

Ven

osa,

dent

re

outr

os,

acol

hem

P

othi

er,

ao

ente

nder

em

que

a fo

nte

imed

iata

da

s

obri

gaçõ

es é

a v

onta

de d

o E

stad

o, t

radu

zida

na

lei.44

São

aqu

elas

obr

igaç

ões

que

surg

em d

iret

amen

te d

o or

dena

men

to ju

rídi

co p

ositi

vo. S

egue

o C

ódig

o C

ivil

fran

cês

no s

eu a

rt.

1.37

0, a

o di

spor

que

“ce

rtos

com

prom

isso

s [.

..] r

esul

tam

[...

]

excl

usiv

amen

te

da

auto

rida

de

da

lei.”

D

ecor

rem

da

le

i a

obri

gaçã

o de

o

prop

riet

ário

ou

poss

uido

r de

um

pré

dio

não

emit

ir i

nter

ferê

ncia

s pr

ejud

icia

is à

segu

ranç

a, a

o so

sseg

o e

à sa

úde

dos

que

habi

tam

a p

ropr

ieda

de v

izin

ha (

CC

art

.

1.27

7);

a ob

riga

ção

aos

alim

ento

s (C

C a

rt.

1.69

6);

a cr

iaçã

o de

um

tri

buto

mun

icip

al, e

stad

ual o

u fe

dera

l. Ju

stif

ica

Álv

aro

Vill

aça

Aze

vedo

que

a le

i é f

onte

prim

eira

das

obr

igaç

ões,

poi

s el

a é

font

e im

edia

ta d

a pr

ópri

a C

iênc

ia d

o D

irei

to.

Esc

utad

os n

a liç

ão d

e O

rlan

do G

omes

, Pau

lo L

uiz

Net

to L

ôbo

e Fe

rnan

do

Nor

onha

ent

ende

m q

ue a

lei

não

pode

ser

tida

com

o fo

nte

da o

brig

ação

, de

sort

e

som

ente

cri

aria

um

a ob

riga

ção

se a

com

panh

ada

de u

m f

ato

jurí

dico

.45 N

ão

43

AZ

EV

ED

O, Á

lvar

o V

illa

ça. T

eori

a ge

ral d

as o

brig

açõe

s e

resp

onsa

bili

dade

civ

il, 1

1 ed

. São

Pau

lo: A

tlas

, 20

08, p

. 22.

44

AZ

EV

ED

O, Á

lvar

o V

illa

ça. T

eori

a ge

ral d

as o

brig

açõe

s e

resp

onsa

bili

dade

civ

il, 1

1 ed

. São

Pau

lo: A

tlas

, 20

08, p

. 24.

DIN

IZ, M

aria

Hel

elen

a. C

urso

de

dire

ito

civi

l bra

sile

iro,

vol

ume

2: te

oria

ger

al d

as o

brig

açõe

s, 2

4 ed

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

009,

p. 4

1. V

EN

OS

A, S

ílvi

o de

Sal

vo. D

irei

to c

ivil:

teor

ia g

eral

das

obr

igaç

ões

e te

oria

ge

ral d

os c

ontr

atos

, 11

ed. S

ão P

aulo

: Atl

as, 2

001,

p. 5

0.

45 G

OM

ES,

Orl

ando

. Obr

igaç

ões,

17

ed.,

atua

liza

da p

or E

dval

do B

rito

. Rio

de

Jane

iro:

For

ense

, 200

8, p

. 33

e 34

. P

aulo

Lui

z N

etto

Lôb

o. T

eori

a ge

ral d

as o

brig

açõe

s. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 200

5, p

. 46.

Fer

nand

o N

oron

ha. D

irei

to

das

obri

gaçõ

es: f

unda

men

tos

ao d

irei

to d

as o

brig

açõe

s: in

trod

ução

à r

espo

nsab

ilida

de c

ivil

. São

Pau

lo: S

arai

va,

2003

, p. 3

43 e

344

.

Page 24: Aulas de Direito das Obrigações

47

care

cem

arg

umen

tos

para

as

duas

int

erpr

etaç

ões,

con

tudo

não

cab

e ap

rofu

ndar

em a

ssun

to c

ompl

exo

e de

qua

se n

enhu

m e

feit

o pr

átic

o.

Impe

ra u

nani

mid

ade,

o c

ontr

ato

é a

prin

cipa

l fo

nte

das

obri

gaçõ

es.

É a

vont

ade

das

part

es q

ue c

ria

obri

gaçõ

es.

Que

m c

ontr

ata

a pr

esta

ção

de u

m

serv

iço,

tem

a a

nim

ar e

sse

cont

rato

um

a ob

riga

ção

de f

azer

. Se

o c

ontr

ato

é

guar

dar

segr

edo,

a o

brig

ação

é d

e nã

o fa

zer,

con

sist

e em

um

a ab

sten

ção.

Se

for

de p

erm

uta,

a o

brig

ação

é d

e da

r, im

plic

a na

ent

rega

de

uma

cois

a po

r ou

tra.

Nos

con

trat

os a

s ob

riga

ções

são

qua

se s

empr

e si

nala

gmát

icas

, as

qua

is s

e

cara

cter

izam

pel

as p

arte

s se

rem

, na

mes

ma

obri

gaçã

o, c

redo

ra e

dev

edor

a en

tre

si.

Na

com

pra

e ve

nda,

o c

ompr

ador

é c

redo

r da

coi

sa e

dev

edor

do

preç

o, o

vend

edor

é c

redo

r do

pre

ço e

dev

edor

da

cois

a. N

a pr

esta

ção

de s

ervi

ço,

o

serv

içal

é d

eved

or d

o se

rviç

o e

cred

or d

o sa

lári

o, e

a q

uem

o s

ervi

ço é

pre

stad

o

cred

or d

o se

rviç

o e

deve

dor

do s

alár

io.

pres

taçã

o e

cont

rapr

esta

ção

ou

pres

taçõ

es b

ilate

rais

, aqu

i res

ide

a si

nalá

gma.

Exi

stem

con

trat

os c

om o

brig

açõe

s un

ilate

rais

, qu

ando

a p

rest

ação

cab

e

apen

as a

um

dos

pol

os d

a ob

riga

ção,

é o

cas

o do

com

odat

o, q

ue é

o e

mpr

ésti

mo

grat

uito

de

cois

a in

fung

ível

. Tam

bém

ass

im n

a do

ação

pur

a e

sim

ples

, em

que

o

doad

or e

ntre

ga g

ratu

itam

ente

um

a co

isa

ao d

onat

ário

.

Tam

bém

é f

onte

de

obri

gaçã

o a

decl

araç

ão u

nila

tera

l da

von

tade

na

med

ida

em q

ue v

incu

la o

com

port

amen

to d

e um

a pe

ssoa

à s

ua p

alav

ra.

Pel

o

Cód

igo

Civ

il r

evog

ado

esta

vam

ins

erid

os n

esta

fig

ura

os t

ítulo

s ao

por

tado

r e

a

prom

essa

de

re

com

pens

a.

Rel

embr

ando

, o

atua

l pr

evej

a a

prom

essa

de

reco

mpe

nsa,

a g

estã

o de

neg

ócio

s, o

pag

amen

to i

ndev

ido

e o

enri

quec

imen

to

sem

ca

usa

(Títu

lo

VII

, ar

ts.

854

a 88

6,

sob

a de

nom

inaç

ão

“Dos

at

os

unila

tera

is”)

.

Com

o ex

empl

o ba

sta

se la

nce

rápi

do o

lhar

par

a as

pub

lici

dade

s. É

com

um,

mor

men

te o

s gr

ande

s m

agaz

ines

ofe

rece

rem

rec

ompe

nsa

para

os

seus

fre

gues

es,

48

med

iant

e so

rtei

o. A

ent

rega

da

reco

mpe

nsa

prom

etid

a é

uma

obri

gaçã

o co

m to

da

forç

a qu

e a

lei

lhe

empr

esta

. D

ecid

iu o

Tri

buna

l de

Jus

tiça

do

Est

ado

de S

ão

Paul

o:

A o

fert

a de

prê

mio

s m

edia

nte

sort

eio

conf

igur

a pr

omes

sa d

e re

com

pens

a,

a qu

al,

efet

uada

pu

blic

amen

te,

vinc

ula

o pr

omit

ente

(2ª

Câm

. de

Fér

ias,

rel

. D

es.

Wal

ter

Mor

aes,

j.

20.8

.93,

JT

J L

ex 1

50/8

3).

C

om o

adv

ento

do

atua

l C

ódig

o C

ivil,

o a

to i

lícito

dev

e se

r su

bstit

uído

pela

res

pons

abili

dade

civ

il, p

ois

nasc

e ob

riga

ção

de i

nden

izar

tan

to p

elo

dano

caus

ado

pelo

ato

ilíc

ito q

ue d

epen

de d

e cu

lpa

(res

pons

abil

idad

e ci

vil s

ubje

tiva

ou

com

cul

pa,

arts

. 18

6 e

926

capu

t),

com

o pe

lo a

buso

de

dire

ito,

ato

ilíci

to q

ue

inde

pend

e de

cul

pa (

resp

onsa

bili

dade

civ

il o

bjet

iva

ou s

em c

ulpa

, ar

t. 92

6,

pará

graf

o ún

ico)

.

.

Para

ser

mai

s ex

plic

ativ

o, d

esta

cam

-se

no a

to i

líci

to d

uas

figu

ras:

o a

to

ilíc

ito

abso

luto

e o

abu

so d

e di

reito

. O

ato

ilí

cito

abs

olut

o do

art

. 18

6 tr

az a

obri

gaçã

o de

ind

eniz

ar o

dan

o ca

usad

o a

outr

em,

tend

o po

r su

bstr

ato

a co

ndut

a

culp

osa.

Ass

im, o

mot

oris

ta n

eglig

ente

ou

impr

uden

te q

ue e

mba

te s

eu v

eícu

lo n

a

tras

eira

do

auto

móv

el q

ue p

erco

rre

o m

esm

o tr

ajet

o lo

go n

a su

a fr

ente

. A

cond

uta

já n

asce

cul

posa

. Q

uant

o ao

abu

so d

e di

reito

o a

rt.

187

disp

õe q

ue

tam

bém

co

met

e at

o il

ícit

o o

titul

ar

do

dire

ito

que,

ao

ex

ercê

-lo,

ex

cede

man

ifes

tam

ente

os

limit

es i

mpo

stos

pel

o se

u fi

m e

conô

mic

o ou

soc

ial,

pela

boa

-

fé o

u pe

los

bons

cos

tum

es.

A c

ondu

ta n

asce

líc

ita e

pel

o ab

uso

torn

a-se

ilíc

ita.

Con

jetu

rar-

se o

dir

eito

de

grev

e qu

e so

men

te p

ode

ser

exer

cido

com

o p

ropó

sito

de b

enef

icia

r os

trab

alha

dore

s, s

e o

seu

intu

ito d

esvi

rtua

r e

caus

ar d

ano

deco

rre

o

deve

r de

ind

eniz

ar,

pois

se

a gr

eve

é um

exe

rcíc

io r

egul

ar d

e di

reit

o, o

seu

desv

irtu

amen

to é

abu

so.

É a

let

ra d

o E

nunc

iado

37

do C

entr

o de

Est

udos

Judi

ciár

ios

do C

onse

lho

da J

usti

ça F

eder

al:

“A r

espo

nsab

ilid

ade

civi

l de

corr

ente

Page 25: Aulas de Direito das Obrigações

49

do a

buso

de

dire

ito

inde

pend

e de

cul

pa,

e fu

ndam

enta

-se

som

ente

no

crit

ério

obje

tivo

-fin

alís

tico

.”

A

dem

ais,

que

m e

xerc

e at

ivid

ade

lícit

a, m

as q

ue i

mpl

ica

em r

isco

, se

prod

uzir

dan

o a

outr

em,

é ob

riga

do a

ind

eniz

ar,

é di

zer,

nas

ce o

brig

ação

do

ato

líci

to l

esiv

o (C

C a

rt.

927,

par

ágra

fo ú

nico

). U

m e

xem

plo

escl

arec

e a

ques

tão.

Supo

nha-

se a

pro

spec

ção

de p

etró

leo

em a

lto m

ar p

ela

Petr

obrá

s, a

to l

ícito

,

incl

usiv

e a

empr

esa

é de

vida

men

te a

utor

izad

a pa

ra t

anto

. Po

r um

fat

o es

tran

ho,

inde

term

inad

o, o

u m

esm

o um

fat

o in

evit

ável

da

natu

reza

, pro

pici

e o

rom

pim

ento

do

oleo

duto

po

luin

do

as

água

s,

com

da

nos

ecol

ógic

os

e ao

s pe

scad

ores

prof

issi

onai

s.

A

Pet

robr

ás

terá

qu

e co

mpo

r o

prej

uízo

, m

esm

o nã

o te

ndo

prat

icad

o at

o ilí

cito

.

Do

expe

ndid

o, s

urge

cer

teir

a se

nten

ça r

oman

ista

: “o

mni

s ob

liga

tio

vel

ex

deli

cto

vel

ex

cont

ratu

s”:

as o

brig

açõe

s or

a na

scem

por

im

posi

ção

da l

ei,

ora

pela

von

tade

das

par

tes.

R

ESU

MO

1 C

once

ito

de o

brig

ação

: é

a re

laçã

o ju

rídi

ca, d

e ca

ráte

r tr

ansi

tóri

o, e

stab

elec

ida

entr

e de

vedo

r e

cred

or e

cuj

o ob

jeto

con

sist

e nu

ma

pres

taçã

o pe

ssoa

l eco

nôm

ica,

po

sitiv

a ou

ne

gativ

a,

devi

da

pelo

pr

imei

ro

ao

segu

ndo,

ga

rant

indo

-lhe

o

adim

plem

ento

atr

avés

de

seu

patr

imôn

io.

2 E

lem

ento

s da

es

trut

ura

das

obri

gaçõ

es:

são

retir

ados

da

pr

ópri

a co

ncei

tuaç

ão. S

ão c

onsi

dera

dos

esse

ncia

is.

a)

Ele

men

to s

ubje

tiva

, ta

mbé

m c

ham

ado

de p

esso

al,

são

os p

erso

nage

ns q

ue

ence

nam

a o

brig

ação

. De

um l

ado,

o d

eved

or q

uem

tem

de

cum

prir

a p

rest

ação

; do

out

ro l

ado,

o c

redo

r aq

uele

que

tem

o d

irei

to d

e ex

igir

e r

eceb

er e

ssa

mes

ma

pres

taçã

o.

Pode

m

ser

a pe

ssoa

na

tura

l, a

pess

oa

jurí

dica

e

até

ente

s de

sper

sona

liza

dos.

Ain

da,

pode

se

r de

term

inad

o ou

de

term

ináv

el,

únic

o ou

pl

ural

, sim

ples

ou

soli

dári

o.

50

b)

Ele

men

to

obje

tivo,

ta

mbé

m

deno

min

ado

de

mat

eria

l, é

a pr

esta

ção

prop

riam

ente

dita

, po

de s

er u

m d

ar,

faze

r ou

não

faz

er.

A p

rest

ação

dev

e se

r lí

cita

, po

ssív

el,

dete

rmin

ada

ou d

eter

min

ável

. D

isti

ngue

m-s

e o

obje

to i

med

iato

ou

pre

staç

ão d

ebitó

ria,

do

obje

to m

edia

to o

u ob

jeto

da

pres

taçã

o. O

obj

eto

imed

iato

é a

con

duta

do

deve

dor,

e o

obj

eto

med

iato

é o

bem

da

vida

, é

desv

enda

do p

ela

resp

osta

a s

egui

nte

perg

unta

: dar

, faz

er o

u nã

o fa

zer

o qu

e?

c)

Ele

men

to

espi

ritu

al,

mai

s co

nhec

ido

por

vínc

ulo

jurí

dico

, re

trat

a a

coer

cibi

lidad

e da

rel

ação

jur

ídic

a ob

riga

cion

al.

Poss

ibili

ta a

o cr

edor

exi

gir

o cu

mpr

imen

to

da

pres

taçã

o ob

riga

cion

al.

à ob

riga

ção

a ju

risd

icid

ade.

D

ecom

põe-

se e

m d

ébito

, qu

e é

paga

men

to v

olun

tári

o ta

l qu

al c

ontr

atad

o, e

a

resp

onsa

bilid

ade:

que

é o

pag

amen

to f

orça

do p

or m

eio

do P

oder

Jud

iciá

rio;

é

uma

inde

niza

ção

em d

inhe

iro.

3)

Fon

tes

das

obri

gaçõ

es: s

ão o

s fa

tos

que

faze

m n

asce

r a

obri

gaçã

o.

a) F

onte

imed

iato

: a le

i im

post

a pe

la v

onta

de d

o E

stad

o.

b) F

onte

s m

edia

tas:

o c

ontr

ato

e a

decl

araç

ão u

nila

tera

l da

von

tade

cri

am

obri

gaçõ

es p

ela

vont

ade

das

part

es; e

a r

espo

nsab

ilida

de c

ivil

de

sort

e ta

nto

o at

o ilí

cito

com

o o

ato

líci

to p

odem

ger

ar o

brig

açõe

s.

C

AP

ÍTU

LO

IV

4.

1 Im

port

ânci

a da

m

atér

ia;

4.2

Dis

tinç

ão e

ntre

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

e D

irei

tos

da P

erso

nalid

ade

e o

Dir

eito

da

s C

oisa

s; 4

.3 O

brig

ação

pro

per

rem

.

4.1

IMP

OR

NC

IA D

A M

AT

ÉR

IA

A

o di

scip

linar

o d

irei

to p

atri

mon

ial

em d

ébit

o e

créd

ito,

o D

irei

to d

as

Obr

igaç

ões

se f

az p

rese

nte

nas

rela

ções

cor

riqu

eira

s do

cot

idia

no,

a pa

rtir

de

quan

do a

pes

soa

exer

ce t

aref

as d

as m

ais

triv

iais

com

o a

com

pra

pela

man

hã d

o

pão

e do

leit

e; to

mar

o ô

nibu

s pa

ra s

e lo

com

over

até

ao

trab

alho

; ir

ao c

inem

a, a

o

teat

ro, a

o ca

mpo

de

fute

bol n

o go

zo d

e la

zer.

T

ambé

m s

e fa

z pr

esen

te n

as

rela

ções

mai

s on

eros

as,

com

o a

aqui

siçã

o de

ben

s im

óvei

s ou

móv

eis

de a

lto

Page 26: Aulas de Direito das Obrigações

51

valo

r. O

u na

con

trat

ação

de

serv

iços

dis

pend

ioso

s co

mo

a ce

lebr

ação

de

cont

rato

de e

mpr

eita

da p

ara

a co

nstr

ução

de

um g

rand

e ed

ifíc

io,

ou n

a co

ntra

taçã

o de

mão

de

obra

alt

amen

te e

spec

ializ

ada,

e d

emai

s co

ntra

tos

em g

eral

nom

inad

os o

u

típic

os a

quel

es p

revi

stos

em

lei

(C

C a

rts.

481

a 8

53),

bem

ass

im n

os c

ontr

atos

regu

lado

s po

r le

is e

spec

iais

ou

em m

icro

ssis

tem

as,

pode

ndo

dest

acar

den

tre

outr

os a

Lei

das

Soc

ieda

des

Anô

nim

as,

o C

ódig

o de

Def

esa

do C

onsu

mid

or e

o

Est

atut

o do

Ido

so.

Ain

da n

asce

m o

brig

açõe

s po

r m

eio

dos

cont

rato

s in

omin

ados

ou

atíp

icos

,

aque

les

não

prev

isto

s em

le

i po

rqua

nto,

co

mo

será

ex

post

o,

o di

reito

obri

gaci

onal

é

num

eros

ap

erto

s, a

s pa

rtes

pod

em

cria

r no

vos

cont

rato

s no

exer

cíci

o da

libe

rdad

e co

ntra

tual

.

Em

tod

o es

se v

asto

cam

po d

e op

ortu

nida

des

bast

a qu

e a

pres

taçã

o se

ja

pess

oal

econ

ômic

a. E

ntão

se

pode

afi

rmar

, o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

cont

amin

a

todo

s os

liv

ros

do C

ódig

o C

ivil,

mic

ross

iste

mas

e u

m u

nive

rso

de l

eis

espe

ciai

s,

forn

ecen

do a

bund

ante

s co

ncei

tos

e in

form

açõe

s, o

que

lev

a a

cons

ider

ar a

reg

ra

segu

nda

a qu

al a

s no

rmas

de

alca

nce

mai

s am

plo

deve

m p

rece

der

as d

emai

s. I

sto

sign

ific

a qu

e, n

a pr

átic

a, a

o se

dep

arar

com

um

cas

o co

ncre

to,

por

exem

plo,

o

inad

impl

emen

to d

e um

con

trat

o de

tra

nspo

rte

de p

esso

as o

u co

isas

não

se

deve

inve

stig

ar a

sol

ução

ape

nas

nas

norm

as r

elat

ivas

a s

ua d

isci

plin

a es

pecí

fica

(C

C

arts

. 74

3 e

segt

es).

A s

oluç

ão p

oder

á es

tar

prov

avel

men

te n

as n

orm

as r

elat

ivas

ao

adim

plem

ento

e

extin

ção

das

obri

gaçõ

es

(CC

ar

ts.

304

e ss

.),

ou

no

inad

impl

emen

to d

as o

brig

açõe

s (C

C a

rts.

386

e s

s.),

qua

ndo

não

nos

prec

eito

s

lega

is

rela

cion

ados

ao

ne

góci

o ju

rídi

co

onde

se

lo

caliz

am,

entr

e ou

tras

, a

cond

ição

, te

rmo

ou e

ncar

go (

CC

art

s. 1

21 e

ss.

), e

mat

éria

s da

im

port

ânci

a da

s

nulid

ades

e a

nula

bilid

ades

(C

C a

rts.

166

e 1

71),

da

pres

criç

ão e

da

deca

dênc

ia

(CC

art

s. 1

89 e

207

).

52

D

emai

s di

sso,

a p

artir

do

mom

ento

em

que

se

dom

ina

a T

eori

a G

eral

das

Obr

igaç

ões

é po

ssív

el m

elho

r en

tend

er o

s de

mai

s se

tore

s es

peci

aliz

ados

do

Dir

eito

Civ

il, o

s liv

ros

que

lhe

são

post

erio

res

dent

ro d

a Pa

rte

Esp

ecia

l.

D

e ef

eito

, no

Dir

eito

das

Coi

sas

há u

ma

rela

ção

obri

gaci

onal

cau

sal,

ante

s

do r

egis

tro

de b

ens

imóv

eis

(CC

art

.1.2

45)

e an

tes

da t

radi

ção

de b

ens

móv

eis

(CC

art

. 1.2

67);

som

ente

dep

ois

se t

ipif

icam

as

hipó

tese

s pr

evis

tas

no a

rt. 1

.225

,

com

a o

utor

ga d

o di

reito

de

prop

ried

ade.

Não

bas

tass

e, o

s ar

ts. 1

.419

e 1

.510

que

prev

ejam

o p

enho

r, a

hip

otec

a e

a an

ticr

ese

são

dire

itos

reai

s qu

e ga

rant

em o

adim

plem

ento

de

obri

gaçõ

es;

cabe

diz

er,

esta

s tr

ês f

igur

as,

inse

rida

s no

Dir

eito

das

Coi

sas,

são

tam

bém

mod

alid

ades

de

obri

gaçõ

es.

O

Dir

eito

de

fam

ília

pat

rim

onia

l, ar

ts.

1.63

9 e

1.69

4 a

1.71

0, r

egul

a o

regi

me

de b

ens

e os

ali

men

tos

entr

e cô

njug

es, p

aren

tes

e so

brev

iven

tes,

impo

ndo

verd

adei

ras

rela

ções

obr

igac

iona

is e

x le

gis.

O

D

irei

to

das

Suce

ssõe

s,

ao

disc

iplin

ar

o te

stam

ento

co

mo

negó

cio

jurí

dico

uni

late

ral

e gr

atui

to,

é fo

nte

de o

brig

açõe

s co

m e

ficá

cia

post

mor

tem

;

assi

m o

s ar

ts.

1.92

3 e

segu

inte

s re

port

am-s

e à

obri

gaçã

o de

cum

prir

leg

ados

inst

ituíd

os e

m t

esta

men

to.

Ain

da s

ão c

onst

ituíd

as o

brig

açõe

s no

s ar

ts.

1.99

7 e

segu

inte

s qu

e re

gula

men

tam

o a

dim

plem

ento

de

dívi

das

da h

eran

ça,

que

são

as

deix

adas

pel

o fa

leci

do.

O

Cód

igo

Civ

il em

vig

or a

cres

cent

ou m

aior

im

port

ânci

a ao

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

ao u

nifi

car

as o

brig

açõe

s ci

vis

e co

mer

ciai

s, t

al q

ual

o C

ódig

o C

ivil

ital

iano

, em

194

2. C

oloc

ou t

erm

o à

dupl

icid

ade

de c

ódig

os c

om s

iste

mas

de

norm

as c

onco

rren

tes

entr

e si

, po

r co

nseg

uint

e, o

s co

ntra

tos

civi

s e

com

erci

ais

pass

aram

a s

egui

r a

mes

ma

disc

iplin

a ju

rídi

ca.

Na

verd

ade,

o D

irei

to E

mpr

esar

ial

nasc

eu p

ara

tute

lar

dire

itos

que

não

eram

dev

idam

ente

con

side

rado

s pe

lo d

irei

to o

brig

acio

nal.

Esp

ecia

lmen

te a

par

tir

do

fina

l do

culo

X

VII

, co

m

a as

cens

ão

de

nova

cl

asse

so

cial

, a

dos

Page 27: Aulas de Direito das Obrigações

53

com

erci

ante

s,

que

exig

ia

a no

rmat

izaç

ão

de

tran

saçõ

es

com

erci

ais

que

faci

lita

ssem

os

negó

cios

e a

rea

liza

ção

de l

ucro

s pr

opor

cion

ados

por

ele

s, o

que

,

por

si s

ó, j

ustif

ica

o at

ual

Cód

igo

Civ

il di

scip

liná-

lo n

o L

ivro

II,

da

Part

e

Esp

ecia

l. P

erse

vera

, co

ntud

o,

a su

a au

tono

mia

po

r ex

pres

sa

disp

osiç

ão

cons

titu

cion

al (

art.

22,

I).

Adv

erte

Mig

uel

Rea

le q

ue o

nov

o C

ódig

o C

ivil

não

tent

ou u

nifi

car

o D

irei

to P

riva

do,

mas

con

solid

ou e

ape

rfei

çoou

o q

ue e

stav

a

send

o se

guid

o pe

la d

outr

ina

e pe

la j

uris

prud

ênci

a, a

uni

dade

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

(CC

art

. 2.0

45).

46

A

ide

olog

ia l

iber

al,

eleg

endo

a m

áxim

a: “

o co

ntra

tado

é j

usto

”, c

om a

conc

epçã

o fo

rmal

ista

de

ig

uald

ade,

su

bmet

ia

os

hipo

ssuf

icie

ntes

a

acei

tar

cont

rato

s de

sequ

ilibr

ados

, co

m

mai

ores

va

ntag

ens

a um

a da

s pa

rtes

em

detr

imen

to d

a ou

tra.

Sur

giu,

ent

ão,

em f

ins

do s

écul

o X

IX,

na A

lem

anha

, o

delin

eam

ento

do

Dir

eito

do

Tra

balh

o, q

ue s

e co

nsol

idou

a p

artir

da

Pri

mei

ra

Gue

rra

Mun

dial

, ob

jetiv

ando

da

r pr

oteç

ão

jurí

dica

à

clas

se

soci

al

dos

trab

alha

dore

s as

sala

riad

os.

No

Bra

sil,

em 1

943,

vei

o a

lum

e o

Dec

reto

-lei

5.45

2, q

ue a

prov

ou a

Con

solid

ação

das

Lei

s do

Tra

balh

o, d

essa

for

ma,

as

rela

ções

do

trab

alho

for

am d

esta

cada

s do

con

trat

o de

loc

ação

de

serv

iços

, ist

o é,

do D

irei

to d

as O

brig

açõe

s.

D

epoi

s da

pri

mei

ra m

etad

e do

séc

ulo

pass

ado,

o D

irei

to d

o C

onsu

mid

or

pass

ou a

gan

har

auto

nom

ia, t

ambé

m n

a de

fesa

de

outr

a cl

asse

soc

ial c

onsi

dera

da

mai

s fr

aca,

cuj

o nú

cleo

ess

enci

al é

o c

ontr

ato

cele

brad

o en

tre

forn

eced

or e

cons

umid

or.

Port

anto

as

rela

ções

obr

igac

iona

is,

que

visa

m o

fert

as d

e se

rviç

os e

prod

utos

, não

pas

sam

de

obri

gaçõ

es d

e fa

zer

(no

caso

dos

ser

viço

s) e

de

dar

(no

caso

dos

pro

duto

s),

com

dis

cipl

ina

espe

cífi

ca e

m r

elaç

ão à

res

pons

abili

dade

pelo

s ví

cios

de

serv

iços

e p

rodu

tos,

pen

aliz

ando

as

cláu

sula

s ab

usiv

as. É

, ass

im,

46

RE

AL

E, M

igue

l. O

pro

jeto

do

novo

cód

igo

civi

l: s

itua

ção

após

a a

prov

ação

pel

o S

enad

o Fe

dera

l, 2

ed. S

ão

Pau

lo: S

arai

va, 1

999,

p. 5

.

54

um m

icro

ssis

tem

a qu

e ta

mbé

m s

e de

sdob

rou

do D

irei

to d

as O

brig

açõe

s e

ao

mes

mo

tem

po d

o D

irei

to d

e E

mpr

esa.

C

onsi

dera

-se

assi

m,

que

o D

irei

to

das

Obr

igaç

ões

está

em

di

álog

o

perm

anen

te c

om o

s D

irei

tos

de E

mpr

esa,

do

Tra

balh

o e

do C

onsu

mid

or,

pois

estã

o em

um

a re

laçã

o de

dir

eito

com

um p

ara

dire

itos

espe

ciai

s, e

são

apl

icáv

eis

aos

dire

itos

espe

ciai

s os

pri

ncíp

ios

gera

is e

as

norm

as r

egul

ador

as d

o di

reito

com

um. N

a re

flex

ão d

o pr

incí

pio

de q

ue a

reg

ra e

spec

ial

derr

oga

a ge

ral,

tem

-se

que

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s é

subs

idia

riam

ente

apl

icáv

el a

ess

es r

amos

do

Dir

eito

(E

mpr

esar

ial,

Tra

balh

ista

e C

onsu

mer

ista

), p

ois

sem

pre

em q

ue n

eles

exis

tire

m l

acun

as q

ue n

ão p

ossa

m s

er c

olm

atad

as c

om a

apl

icaç

ão a

naló

gica

,

aplic

am-s

e os

pri

ncíp

ios

e as

nor

mas

reg

ulad

oras

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

É o

que

se c

ham

a de

diá

logo

das

fon

tes

pelo

s ju

rist

as ou

int

erco

mpl

emen

tari

dade

pelo

s pe

dago

gos.

Nes

se s

enti

do p

rovi

denc

ia o

art

. 7º

do

Cód

igo

de D

efes

a do

Con

sum

idor

, bas

ta c

onfe

rir.

M

ais

aind

a. O

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

exer

ce p

onde

ráve

l in

fluê

ncia

em

dois

ram

os d

o D

irei

to P

úbli

co: o

Dir

eito

Adm

inis

trat

ivo

e o

Dir

eito

Tri

butá

rio.

A

pesa

r de

sua

s pe

culi

arid

ades

, o

cont

rato

adm

inis

trat

ivo

é re

grad

o pe

la

Teo

ria

Ger

al d

as O

brig

açõe

s. A

Adm

inis

traç

ão c

ontr

atan

te é

um

a pa

rte

ordi

nári

a,

desp

ida

do

fait

du

pr

ince

, da

su

a so

bera

nia,

de

so

rte

ligad

a co

m

o se

u

coco

ntra

tant

e pr

ivad

o pe

la c

onve

nção

res

ulta

nte

do a

cord

o de

von

tade

s. O

dir

eito

aplic

ável

na

cele

braç

ão e

exe

cuçã

o do

con

trat

o ad

min

istr

ativ

o nã

o di

fere

qua

nto

ao f

undo

daq

uele

apl

icad

o no

con

trat

o ci

vil.

É a

liç

ão d

e O

swal

do A

ranh

a

Ban

deir

a de

Mel

lo a

o as

segu

rar

que

os c

ontr

atos

ent

re a

Adm

inis

traç

ão P

úbli

ca e

os p

arti

cula

res

são

equi

pará

veis

aos

con

trat

os d

o D

irei

to P

riva

do, r

essa

lvad

as a

s

suas

pec

ulia

rida

des.

47

47

ME

LL

O, O

swal

do A

ranh

a B

ande

ira

de. P

rinc

ípio

s ge

rais

de

dire

ito

adm

inis

trat

ivo,

vol

ume

1. R

io d

e Ja

neir

o:

For

ense

, 196

9, p

. 605

.

Page 28: Aulas de Direito das Obrigações

55

O

la

nçam

ento

de

um

tr

ibut

o,

por

sua

vez,

co

rres

pond

e à

verd

adei

ra

obri

gaçã

o pr

evis

ta

dire

tam

ente

em

le

i, qu

e te

m

por

obje

to

uma

pres

taçã

o

pecu

niár

ia e

xigí

vel

pela

Faz

enda

Pub

lica

com

o cr

edor

a e

o co

ntri

buin

te c

omo

deve

dor,

res

peita

da a

sua

cap

acid

ade

cont

ribu

tiva.

D

emai

s di

sso,

lei

s es

peci

ais

cont

êm m

atér

ia r

espe

itant

e ao

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Res

salt

a-se

a L

ei n

º 9.

610,

de

19 d

e fe

vere

iro

de 1

998,

que

trat

a do

s

dire

itos

aut

orai

s, e

spec

ialm

ente

na

part

e do

s di

reito

s pa

trim

onia

is d

o au

tor,

asse

gura

ndo-

lhe

utili

zar,

fru

ir e

dis

por

de o

bra

lite

rári

a, a

rtís

tica

ou c

ient

ífic

a.

Out

ra q

ue p

ode

ser

cita

da é

a L

ei d

o In

quili

nato

(L

ei n

º 8.

245/

91).

E t

ambé

m a

Lei

das

Soc

ieda

des

Anô

nim

as (

Lei

6.40

4/76

). O

Est

atut

o do

Ido

so,

Lei

10.7

41/2

003,

que

deu

rou

page

m n

ova

ao c

ontr

ato.

O

C

ódig

o de

P

roce

sso

Civ

il

cont

ém

inúm

eras

di

spos

içõe

s so

bre

obri

gaçõ

es,

de m

anei

ra p

arti

cula

r ao

dis

cipl

inar

as

exec

uçõe

s da

s ob

riga

ções

de

dar,

faz

er e

não

faz

er, a

rts.

461

, 461

-A, 6

21 a

645

.

Enf

im, p

ode-

se i

mag

inar

um

a pe

ssoa

que

não

nec

essi

te c

onhe

cer

o D

irei

to

das

Suce

ssõe

s, b

asta

que

não

rec

eba

hera

nça

ou l

egad

o. P

ode-

se i

mag

inar

um

a

pess

oa q

ue d

esco

nheç

a gr

ande

par

te d

o D

irei

to d

e Fa

míl

ia, p

or e

xem

plo,

aqu

ele

que

não

se c

asa

com

rel

ação

aos

reg

imes

de

bens

, ain

da a

quel

e qu

e nã

o se

obr

iga

a pr

esta

r al

imen

tos.

Ou

mes

mo

imag

inar

um

a pe

ssoa

que

nun

ca t

erá

alca

nce

do

Dir

eito

das

Coi

sas,

cas

o nã

o se

ja p

ropr

ietá

rio

ou p

ossu

idor

. Con

tudo

, im

poss

ível

imag

inar

al

guém

qu

e du

rant

e su

a vi

da

não

cele

bre

rela

ções

ju

rídi

cas

obri

gaci

onai

s, t

ão v

asto

o s

eu â

mbi

to d

e ap

licaç

ão s

e a

sing

ela

com

pra

de

pequ

eno

bem

é u

ma

obri

gaçã

o.

Daí

em

Fra

nça,

Jac

ques

Flo

ur e

Jea

n-L

uc A

uber

t ass

egur

arem

que

se

pode

ser

com

erci

alis

ta o

u ad

min

istr

ativ

ista

sem

con

hece

r to

do D

irei

to C

ivil,

mas

nenh

um ju

rist

a, q

ualq

uer

que

seja

a s

ua e

spec

ialid

ade,

pod

e ig

nora

r o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Na

Itál

ia,

Pola

co a

dver

te q

ue o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

é “q

ual

56

plan

ta v

iços

a qu

e es

tend

e as

sua

s ra

ízes

a t

odas

as

outr

as z

onas

do

Dir

eito

Civ

il.”48

Mar

ia H

elen

a D

iniz

, ci

tand

o Jo

sser

and,

obs

erva

que

o D

irei

to d

as

Obr

igaç

ões

cons

titu

i a b

ase

não

só d

o D

irei

to C

ivil,

mas

de

todo

Dir

eito

, por

ser

seu

arca

bouç

o e

subs

trat

o, v

isto

que

tod

os o

s ra

mos

jur

ídic

os f

unci

onam

à b

ase

de r

elaç

ões

obri

gaci

onai

s.49

S

ão p

alav

ras

de e

stim

ulo

ao e

stud

o do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

4.2

DIS

TIN

ÇÃ

O E

NT

RE

O D

IRE

ITO

DA

S O

BR

IGA

ÇÕ

ES,

DIR

EIT

OS

DA

PE

RSO

NA

LID

AD

E E

DIR

EIT

O D

AS

CO

ISA

S

Opo

rtun

o, n

esse

ent

reta

nto,

rel

atar

as

prin

cipa

is d

isti

nçõe

s en

tre

os d

irei

tos

obri

gaci

onai

s, o

s di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade

e os

dir

eito

s re

ais.

O

Dir

eito

mod

erno

ela

boro

u o

conc

eito

de

obri

gaçã

o at

ende

ndo

à na

ture

za

jurí

dica

do

di

reit

o e

ao

cont

eúdo

da

pr

esta

ção.

D

esse

m

odo

a se

guin

te

clas

sifi

caçã

o:

1 D

irei

tos

pess

oais

: 1.

1 di

reito

s da

per

sona

lidad

e;

1.2

dire

itos

obri

gaci

onai

s.

2 D

irei

tos

patr

imon

iais

: 2.

1 di

reito

s re

ais;

2.

2 di

reito

obr

igac

iona

is.

3 D

irei

tos

abso

luto

s:

3.1

dire

itos

da p

erso

nalid

ade;

3.

2 di

reito

s re

ais.

4

Dir

eito

s re

lati

vos:

4.

1 di

reito

s ob

riga

cion

ais.

48

PO

LA

CO

, V. L

e ob

blii

gazi

one

nel d

irit

to c

ivil

e it

alia

no. R

oman

a, 1

915,

p. 1

9: “

qual

e pi

anta

rig

ogli

osa

che

este

nde

le s

ue r

adic

e in

ogn

i alt

ra z

ona

del d

irit

to c

ivil

e”.

49 D

INIZ

, M

aria

Hel

ena.

Cur

so d

e di

reit

o ci

vil

bras

ilei

ro,

volu

me

2: t

eori

a ge

ral

das

obri

gaçõ

es,

24 e

d. S

ão

Pau

lo: S

arai

va, 2

009,

p. 5

.

Page 29: Aulas de Direito das Obrigações

57

4.2.

1 D

irei

tos

das

Obr

igaç

ões

e di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade

A

exp

ress

ão d

irei

tos

pess

oais

des

igna

tan

to o

s di

reito

s da

per

sona

lida

de

com

o o

dire

itos

obri

gaci

onai

s. C

ontu

do,

os d

irei

tos

da p

erso

nalid

ade

se i

nser

em

no g

rupo

dos

dir

eito

s su

bjet

ivos

rel

acio

nado

s à

tute

la d

os a

trib

utos

fun

dam

enta

is

do s

er h

uman

o, e

nqua

nto

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s di

spõe

sob

re a

s re

laçõ

es

jurí

dica

s pa

trim

onia

is e

ntre

doi

s po

los

cont

rapo

stos

, dev

edor

e c

redo

r, t

endo

por

fim

um

a pr

esta

ção

que

o pr

imei

ro d

eve

cum

prir

em

pro

veito

do

segu

ndo,

ten

do

este

o d

irei

to d

e ex

igi-

la.

O

s di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade

visa

m r

esgu

arda

r a

pess

oa d

e le

sões

que

poss

am

mac

ular

os

se

us

elem

ento

s in

tern

os

e es

senc

iais

po

r co

nstit

uíre

m

cate

gori

a pr

ópri

a de

dir

eito

s se

gund

o a

qual

a p

esso

a é

cons

ider

a em

si

mes

ma

(iur

a in

re

ipsa

). A

pes

soa

não

é co

nsid

erad

a em

mei

o às

rel

açõe

s co

m a

fam

ília

(est

ado

fam

ilia

r),

ou c

om a

soc

ieda

de (

esta

do c

ivil)

, ou

com

a p

rofi

ssão

(es

tado

prof

issi

onal

), o

u co

m o

Est

ado

(est

ado

polít

ico)

, m

as p

elo

fato

de

ser

pess

oa

hum

ana.

Q

ualq

uer

pess

oa

mer

ece

o m

esm

o re

spei

to,

desd

e a

pess

oa

mai

s

virt

uosa

até

a m

ais

vena

l, po

is in

depe

nde

do e

stad

o; b

asta

ser

pes

soa

para

tê-l

os e

mer

ecer

pro

teçã

o.

C

omo

Lim

ongi

Fra

nça,

fil

iand

o-se

ent

re o

s na

tura

list

as,

Car

los

Alb

erto

Bitt

ar e

nten

de q

ue s

ão d

irei

tos

com

uns

da e

xist

ênci

a, c

aben

do a

o E

stad

o ap

enas

reco

nhec

ê-lo

s e

sanc

ioná

-los

, or

a na

ór

bita

co

nstit

ucio

nal

ora

na

orbi

ta

da

legi

slaç

ão o

rdin

ária

, ex

istin

do a

ntes

e i

ndep

ende

ntem

ente

do

dire

ito

posi

tivo,

com

o in

eren

tes

à pr

ópri

a pe

ssoa

hu

man

a,

cons

ider

ada

em

si

e na

s su

as

man

ifes

taçõ

es;50

par

a qu

e po

ssa

defe

ndê-

los:

50

BIT

TA

R,

Car

los

Alb

erto

. O

s di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade,

6 e

d.,

atua

liza

da p

or E

duar

do C

arlo

s B

ianc

a B

itta

r.

Rio

de

Jane

iro:

For

ense

Uni

vers

itár

ia, 2

003,

p. 7

a 1

0.

58

a)

na s

ua i

nteg

rida

de f

ísic

a: a

vid

a, o

pró

prio

cor

po v

ivo

ou m

orto

, ou

part

e de

le, o

cor

po a

lhei

o vi

vo o

u m

orto

, os

alim

ento

s ne

cess

ário

s a

sua

subs

istê

ncia

.

b) n

a su

a in

tegr

idad

e in

tele

ctua

l: a

lib

erda

de d

e pe

nsam

ento

, a

auto

ria

cien

tífic

a, a

rtís

tica

e lit

erár

ia;

c)

na s

ua i

nteg

rida

de m

oral

: a

honr

a, a

boa

fam

a, a

im

agem

, o

nom

e, a

vida

pri

vada

, a in

tim

idad

e.

Em

sín

tese

, re

pres

enta

m a

con

cret

izaç

ão d

o pr

incí

pio

cons

tituc

iona

l da

dign

idad

e hu

man

a no

Dir

eito

Pri

vado

, m

as a

o m

esm

o te

mpo

pre

cede

m a

o

próp

rio

Dir

eito

. M

esm

o se

a l

ei n

ão o

s ou

torg

asse

, el

es e

xist

iria

m p

or s

i só

, de

sort

e pe

rten

cem

ao

hom

em p

elo

sim

ples

fat

o de

ser

pes

soa

hum

ana.

E

stes

dir

eito

s tê

m a

s se

guin

tes

cara

cter

ístic

as:

a)

São

inat

os,

pois

não

dep

ende

m d

a le

i pa

ra o

utor

gá-l

os,

o qu

e pe

rmit

e

iden

tifi

cá-l

os

com

o pr

eced

ente

s at

é ao

Est

ado,

aca

utel

ando

o s

er h

uman

o

desd

e a

sua

conc

epçã

o.

b) s

ão o

poní

veis

con

tra

todo

s, u

ma

vez

que

à pe

ssoa

é p

erm

itid

o de

fend

er

os s

eus

atri

buto

s es

senc

iais

per

ante

toda

com

unid

ade;

c)

são

vita

líci

os,

daí

a su

a im

pres

crit

ibil

idad

e; a

com

panh

am a

pes

soa

em

toda

a s

ua t

raje

tóri

a e

não

se t

rans

mit

em p

or s

uces

são,

sal

vo r

aras

exce

ções

;

d) s

ão d

e re

lativ

a di

spon

ibili

dade

, de

sort

e so

men

te e

m c

asos

exc

epci

onai

s

a le

i fa

culta

a s

ua c

essã

o, c

omo

no c

aso

de t

rans

plan

te t

erap

êuti

co d

e

órgã

os o

u a

lice

nça

para

o u

so d

a im

agem

e d

o no

me.

P

or s

eu t

urno

os

dire

itos

obri

gaci

onai

s po

dem

ser

ent

endi

dos

com

o se

segu

e: a)

o re

lativ

os,

opon

ívei

s àq

uele

que

fig

ura

no p

olo

cont

rapo

sto

da

rela

ção

jurí

dica

;

Page 30: Aulas de Direito das Obrigações

59

b) s

ão t

rans

mis

síve

is,

porq

ue p

assí

veis

de

aqui

siçã

o in

ter

vivo

s e

mor

tis

caus

a;

c)

são

patr

imon

ializ

ados

, pos

to q

ue s

ujei

tos

à ex

ecuç

ão s

e in

adim

plid

os;

d) s

ão t

rans

itóri

os o

u te

mpo

rári

os,

reso

lvem

pel

o ad

impl

emen

to,

ou p

ela

próp

ria

pres

criç

ão;

e)

São

ilim

itad

os,

perm

itin

do

a cr

iaçã

o de

no

vas

figu

ras

pela

li

vre

conv

ençã

o da

s pa

rtes

.

Nad

a im

pede

, no

ent

anto

, qu

e a

expr

essã

o pa

trim

onia

l de

um

dir

eito

da

pers

onal

idad

e se

ja o

bjet

o do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões,

ass

im s

e um

a at

riz

cede

o

seu

dire

ito d

e im

agem

à p

ublic

idad

e de

det

erm

inad

o pr

odut

o, o

u m

esm

o o

seu

nom

e pa

ra d

esig

nar

um e

mpr

eend

imen

to.

4.

2.2

Dir

eito

s da

s O

brig

açõe

s e

Dir

eito

s da

s C

oisa

s

O

s di

reit

os p

atri

mon

iais

div

idem

-se

em D

irei

tos

das

Obr

igaç

ões

e D

irei

to

das

Coi

sas,

tam

bém

den

omin

ados

Dir

eito

s R

eais

. E

stas

cat

egor

ias

rem

onta

m a

antig

a or

igem

, po

is

Gai

o,

sécu

lo

II

d.C

., cl

assi

fico

u as

ões

em

reai

s e

obri

gaci

onai

s, d

isti

nção

de

que,

mui

to t

empo

dep

ois,

se

serv

iu S

avig

ny p

ara

subs

titui

r a

pala

vra

açõe

s po

r di

reit

os.

Est

a cl

assi

fica

ção

estr

utur

al é

a b

ase

da

arqu

itetu

ra d

o C

ódig

o C

ivil,

dad

o qu

e de

dica

o L

ivro

I d

a P

arte

Esp

ecia

l ao

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões,

O L

ivro

II

ao D

irei

to E

mpr

esar

ial

e o

Liv

ro I

II,

ao

Dir

eito

das

Coi

sas.

Tod

avia

, vi

slum

bra-

se a

cor

rent

e do

s ne

gativ

ista

s, a

quel

es

que

nega

m u

ma

dife

renç

a fu

ndam

enta

l ent

re e

sses

doi

s ra

mos

.

O

pri

ncip

al e

lem

ento

dif

eren

cial

est

á na

car

acte

riza

ção

do s

ujei

to p

assi

vo:

o di

reito

obr

igac

iona

l im

plic

a na

rel

ação

ent

re o

suj

eito

ati

vo e

o s

ujei

to p

assi

vo,

cria

ndo

a fa

culd

ade

de o

pri

mei

ro e

xigi

r do

seg

undo

um

a pr

esta

ção

posi

tiva

ou

nega

tiva,

por

tant

o o

cred

or s

ó po

de e

xigi

r a

pres

taçã

o do

dev

edor

. A

o re

vés,

os

Dir

eito

s R

eais

, co

m u

m s

ujei

to a

tivo

dete

rmin

ado

(pro

prie

tári

o ou

pos

suid

or),

60

têm

po

r su

jeito

pa

ssiv

o a

gene

ralid

ade

anôn

ima

dos

indi

vídu

os,

toda

cole

tivid

ade.

O D

irei

to d

as O

brig

açõe

s re

aliz

a-se

na

exig

ibili

dade

de

um f

ato,

a

que

o de

vedo

r é

obri

gado

; o

Dir

eito

das

Coi

sas

efet

iva-

se m

edia

nte

a im

posi

ção

de u

ma

abst

ençã

o di

rigi

da a

tod

os q

ue a

ela

dev

em s

e su

bord

inar

. O

obj

eto

da

rela

ção

obri

gaci

onal

é, p

ois,

um

fat

o; o

da

rela

ção

real

um

a co

isa.

A

ssim

se

dedu

z a

dess

emel

hanç

a, o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

é re

lativ

o, o

cred

or s

ó po

de b

usca

r su

a pr

esta

ção

em f

ace

do d

eved

or. J

á o

Dir

eito

das

Coi

sas

é ab

solu

to,

por

opon

ível

con

tra

todo

s, p

ois

há n

ele

sem

pre

uma

obri

gaçã

o

nega

tiva

de n

ão o

fend

er o

dir

eito

de

um s

ujei

to s

obre

um

bem

. Daí

a a

sser

tiva

: o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

tem

por

obj

eto

uma

pres

taçã

o re

aliz

ada

pelo

dev

edor

em

favo

r do

cre

dor;

o D

irei

to d

as C

oisa

s at

inge

o b

em d

a vi

da d

iret

amen

te.

P

or c

onse

guin

te a

rel

ação

jurí

dica

é u

m v

íncu

lo e

ntre

pes

soas

, enq

uant

o no

Dir

eito

das

Coi

sas

subs

iste

um

vín

culo

jur

ídic

o so

cial

, de

natu

reza

dif

usa,

com

o

luci

dam

ente

adv

erte

Rob

erto

Sen

ise

Lis

boa.

51 O

bser

va-s

e qu

e o

cred

or d

e um

a

obri

gaçã

o so

men

te g

oza

de s

eu d

irei

to c

om a

int

erve

nção

do

deve

dor,

é d

izer

,

não

usuf

rui

dire

tam

ente

de

seu

dire

ito;

ao c

ontr

ário

nos

dir

eito

s re

ais,

em

que

se

dá o

exe

rcíc

io d

iret

o pe

lo t

itula

r do

dir

eito

sob

re o

bem

da

vida

, de

le p

oden

do

usar

e g

ozar

, dis

por

e re

ivin

dica

r, s

em i

nter

med

iári

o, d

iret

amen

te, o

bser

vado

s os

parâ

met

ros

esta

bele

cido

s pe

lo o

rden

amen

to ju

rídi

co.

O

utra

dis

tinçã

o é

que

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s é

ilim

itad

o, p

orqu

anto

ving

a a

auto

nom

ia p

riva

da,

perm

itin

do a

cri

ação

de

nova

s fi

gura

s de

leg

e

fere

nda,

que

são

os

deno

min

ados

con

trat

os i

nom

inad

os o

u at

ípic

os,

aque

les

não

prev

isto

s em

lei

. É, p

ois,

num

erus

ape

rtus

. Ao

cont

rári

o dá

-se

com

o D

irei

to d

as

Coi

sas

que,

não

pod

endo

ser

obj

eto

de l

ivre

con

venç

ão,

está

lim

itad

o no

s ca

sos

de l

ege

lata

, da

do q

ue s

ão t

ipos

, ex

aust

ivam

ente

, pr

evis

tos

em l

ei.

É,

dess

a

51

SE

NIS

E L

ISB

OA

, Rob

erto

. Man

ual d

e di

reit

o ci

vil,

vol.

2: d

irei

to d

as o

brig

açõe

s e

resp

onsa

bili

dade

civ

il, 4

ed

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

009,

p. 2

5.

Page 31: Aulas de Direito das Obrigações

61

form

a, n

umer

us c

laus

us.

Est

ão p

revi

a e

exau

stiv

amen

te e

stab

elec

idos

no

art.

1.22

5 do

Cód

igo

Civ

il.

P

ossí

vel

aind

a di

stin

gui-

los

quan

to à

dur

ação

, os

dir

eito

s ob

riga

cion

ais

têm

ca

ráte

r tr

ansi

tóri

o,

pois

te

ndem

a

desa

pare

cer

com

o

cum

prim

ento

da

obri

gaçã

o,

ao

pass

o qu

e os

di

reito

s re

ais

são

perp

étuo

s,

perm

anen

tes,

su

a

tend

ênci

a é

dura

r in

defi

nida

men

te.

D

eduz

, poi

s, q

ue o

Dir

eito

das

Coi

sas

tem

as

segu

inte

s ca

ract

erís

tica

s:

a) s

ão d

irei

tos

abso

luto

s, o

poní

veis

erg

a on

mis

;

b) s

ão t

rans

mis

síve

is,

porq

ue p

assí

veis

de

tran

smis

são

inte

r vi

vos

e

mor

tis

caus

a;

c)

são

patr

imon

iali

zado

s,

post

o qu

e su

jeito

s à

exec

ução

se

inad

impl

idos

;

d) s

ão v

italíc

ios,

aco

mpa

nham

o s

eu p

ropr

ietá

rio

enqu

anto

del

es n

ão

disp

or;

e)

são

lim

itad

os, p

revi

amen

te p

revi

stos

em

lei.

Pod

e, c

omo

no c

aso

dos

dire

itos

da p

erso

nalid

ade,

um

dir

eito

rea

l ge

rar

outr

o ob

riga

cion

al, c

omo

por

exem

plo,

no

cond

omín

io e

m q

ue c

ada

cond

ômin

o é

obri

gado

a u

ma

pres

taçã

o pa

ra c

onse

rvaç

ão d

as á

reas

de

uso

com

um,

ou o

prop

riet

ário

de

imóv

el o

brig

ado

ao p

agam

ento

do

impo

sto

corr

espo

nden

te, o

que

corr

espo

nde

a um

a es

péci

e de

obr

igaç

ão h

ibri

da, q

ue p

assa

a s

er c

onsi

dera

da.

4.3

OB

RIG

ÃO

PR

OP

TE

R R

EM

Ape

sar

das

dess

emel

hanç

as p

ersi

ste

uma

zona

de

cris

e ou

fro

ntei

riça

ent

re

esse

s do

is r

amos

do

dire

ito p

atri

mon

ial,

é o

que

se d

enom

ina

de o

brig

ação

prop

ter

rem

, um

a ca

tego

ria

inte

rmed

iári

a en

tre

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s e

dos

Dir

eito

s da

s C

oisa

s,

por

cons

egui

nte,

um

a fi

gura

brid

a,

cons

titu

indo

na

apar

ênci

a um

mis

to d

e ob

riga

ção

e di

reito

s re

ais.

62

A e

xpre

ssão

lat

ina

prop

ter

rem

sig

nifi

ca e

m r

azão

da

cois

a, s

endo

ass

im a

obri

gaçã

o pr

opte

r re

m m

anif

esta

-se

quan

do a

lgué

m é

pos

suid

or o

u pr

opri

etár

io

de u

m b

em,

cons

tran

gend

o o

seu

titu

lar

a at

ende

r ce

rta

pres

taçã

o ob

riga

cion

al.

Em

out

ras

pala

vras

, o d

eved

or p

or e

star

inve

stid

o de

um

dir

eito

rea

l (pr

opri

etár

io

ou p

ossu

idor

) é

cons

tran

gido

a a

tend

er u

ma

pres

taçã

o de

dir

eito

obr

igac

iona

l

(eco

nôm

ica

pess

oal)

.

São

inú

mer

os o

s ex

empl

os,

a co

meç

ar p

ela

Súm

ula

326,

do

Supr

emo

Tri

buna

l F

eder

al:

“é l

egíti

ma

a in

cidê

ncia

do

impo

sto

de t

rans

mis

são

inte

r vi

vos

sobr

e a

tran

sfer

ênci

a do

dom

ínio

útil

.” O

utro

exe

mpl

o, o

art

. 17

, do

Dec

reto

-lei

núm

ero

25/1

937,

que

im

põe

ao p

ropr

ietá

rio

de b

ens

inco

rpor

ados

ao

patr

imôn

io

hist

óric

o e

artís

tico

naci

onal

de

não

dest

ruí-

los

ou d

e nã

o re

aliz

ar o

bras

que

lhe

s

mod

ifiq

uem

a a

parê

ncia

. O

s ar

ts.

1.27

7 a

1.31

3 do

Cód

igo

Civ

il qu

e di

spõe

m

sobr

e os

dir

eito

s de

viz

inha

nça,

com

o po

r ex

empl

o, o

pro

prie

tári

o ou

pos

suid

or

de u

m p

rédi

o a

não

usá-

lo d

e m

odo

anor

mal

ou

peri

goso

à s

egur

ança

, ao

soss

ego

e à

saúd

e do

s vi

zinh

os.

Um

exe

mpl

o em

blem

átic

o é

a pr

eser

vaçã

o do

mei

o am

bien

te. O

art

. 1.2

28

capu

t do

Cód

igo

Civ

il o

utor

ga a

o pr

opri

etár

io d

e te

rren

o ur

bano

ou

rura

l am

pla

facu

ldad

e de

usa

r, g

ozar

e d

ispo

r da

coi

sa e

o d

irei

to d

e re

avê-

la d

e qu

em

inju

stam

ente

a p

ossu

a ou

det

enha

. Por

sua

vez

, o

§ 1º

im

põe

limit

es a

o ap

ront

ar

que

a pr

opri

edad

e de

ve s

er e

xerc

ida

em c

onso

nânc

ia c

om a

s su

as a

tivid

ades

econ

ômic

as

e so

ciai

s,

pres

erva

ndo

a fl

ora

e a

faun

a,

de

acor

do

com

o

esta

bele

cido

em

lei

esp

ecia

l. O

ra,

a pr

eser

vaçã

o da

flo

ra e

da

faun

a é

obri

gaçã

o

prop

ter

rem

im

post

a em

raz

ão d

a pr

opri

edad

e. A

liás,

est

e pr

ecei

to d

o C

ódig

o

Civ

il é

cons

ectá

rio

lógi

co

das

disp

osiç

ões

cons

tituc

iona

is

acer

ca

do

mei

o

ambi

ente

, esp

ecia

lmen

te o

inc.

VII

, do

§ 1º

, do

art.

225.

Page 32: Aulas de Direito das Obrigações

63

Em

tod

os e

stes

exe

mpl

os,

apar

ece

a ob

riga

ção

prop

ter

rem

. E

qua

ndo

algu

ém d

eixa

de

ser

prop

riet

ário

da

cois

a (d

irei

to r

eal)

não

tem

mai

s a

obri

gaçã

o

de a

dim

plir

a p

rest

ação

(di

reito

obr

igac

iona

l).

Ess

a m

odal

idad

e de

obr

igaç

ão é

assi

m tr

anse

unte

, pas

sa p

ara

o no

vo p

ropr

ietá

rio.

4.4

OB

RIG

ÃO

CO

M E

FIC

ÁC

IA R

EA

L

A

obr

igaç

ão c

om e

ficá

cia

real

tam

bém

se

situ

a no

ter

reno

fro

ntei

riço

dos

dire

itos

obr

igac

iona

is e

rea

is e

não

se

conf

unde

com

a o

brig

ação

pro

pter

rem

. É

quan

do t

erce

iro

a ad

quir

e em

raz

ão d

o re

gist

ro p

úbli

co,

gera

ndo

efic

ácia

erg

a

omin

es, c

ontr

a to

dos.

N

a L

ei n

º 8.

245,

de

18 d

e ou

tubr

o de

199

1 (L

ei d

o In

quili

nato

) no

s se

us

artig

os 2

7 a

34 o

utor

ga o

dir

eito

de

pref

erên

cia

ao l

ocat

ário

na

aqui

siçã

o do

imóv

el l

ocad

o, n

o ca

so e

m q

ue o

loc

ador

pre

tend

a al

iena

r no

cur

so d

o co

ntra

to

de l

ocaç

ão.

Se o

loc

ador

ali

ená-

lo a

ter

ceir

o, s

em a

ntes

not

ific

ar o

loc

ador

par

a

exer

cer

sua

pref

erên

cia,

pod

erá

este

, dep

osit

ando

judi

cial

men

te o

pre

ço ta

nto

por

tant

o, d

entr

o do

pra

zo d

ecad

enci

al d

e no

vent

a di

as,

adqu

irir

o b

em,

nos

term

os

expr

esso

s do

art

. 33

da l

ei c

itad

a. D

ispo

siçã

o a

resp

eito

tam

bém

est

á no

art

. 576

do C

ódig

o C

ivil,

sen

do r

equi

sito

a a

verb

ação

do

cont

rato

de

loca

ção,

em

Títu

los

de D

ocum

ento

s do

dom

icíl

io d

o lo

cado

r.

D

a m

esm

a fo

rma

os a

rts.

1.4

17 e

141

8 do

Cód

igo

Civ

il d

ão p

refe

rênc

ia a

o

prom

iten

te c

ompr

ador

, m

edia

nte

prom

essa

de

com

pra

e ve

nda

em q

ue n

ão s

e

pact

uou

arre

pend

imen

to.

Se o

bem

for

alie

nado

a

terc

eiro

, de

sres

peita

da a

pref

erên

cia

do p

rom

iten

te c

ompr

ador

, es

tá e

ste

arm

ado

do d

irei

to d

e ex

igir

a

escr

itura

de

fini

tiva

de

com

pra

e ve

nda,

co

nfor

me

os

term

os

disp

osto

s no

inst

rum

ento

pre

lim

inar

, e

have

ndo

recu

sa,

requ

erer

ao

juiz

a a

djud

icaç

ão d

o

imóv

el.

64

RE

SUM

O

1

Impo

rtân

cia

da m

atér

ia:

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s re

perc

ute

em t

odos

os

Liv

ros

da P

arte

Esp

ecia

l do

Cód

igo

Civ

il, a

ssim

no

Dir

eito

de

Em

pres

a, D

irei

to

das

Coi

sas,

Dir

eito

de

Fam

ília

e D

irei

to d

as S

uces

sões

. T

ambé

m r

eper

cute

em

ou

tros

ram

os d

o D

irei

to,

de m

anei

ra e

spec

ial

no D

irei

to d

o C

onsu

mid

or.

O s

eu

estu

do é

ess

enci

al p

ara

o bo

m e

nten

dim

ento

des

sas

mat

éria

s. E

tal

inf

luên

cia

fico

u m

ais

acen

tuad

a co

m a

uni

fica

ção

parc

ial d

o D

irei

to P

riva

do.

2 D

isti

nçõe

s en

tre

os

dire

itos

obr

igac

iona

is,

dir

eito

s da

per

sona

lida

de e

rea

is

(VID

E E

SQU

EM

A P

ÁG

INA

SE

GU

INT

E):

D

irei

tos

da p

erso

nalid

ade:

a)

são

inat

os;

b) o

poní

veis

con

tra

todo

s; c

) vi

talí

cios

; d)

em

reg

ra in

disp

onív

eis.

D

irei

tos

das

Coi

sas:

a)

são

abso

luto

s, o

poní

veis

con

tra

gene

rali

dade

anô

nim

a do

s in

diví

duos

; b)

obj

eto

inci

de s

obre

um

a co

isa;

c)

são

tran

smis

síve

is d

) sã

o pa

trim

onia

lizad

os e

) vi

talí

cios

; f)

são

lim

itad

os (

num

eros

cla

usus

), s

omen

te

aque

les

prev

isto

s em

lei.

Dir

eito

s da

s O

brig

açõe

s: a

) sã

o re

lati

vos

opon

ívei

s ap

enas

con

tra

àque

le q

ue

figu

ra n

o co

ntra

post

o da

rel

ação

jur

ídic

a; b

) ob

jeto

é u

ma

pres

taçã

o pe

ssoa

l ec

onôm

ica;

c)

são

tran

smis

síve

is; d

) sã

o pa

trim

onia

liza

dos;

e)

são

tran

sitó

rios

; f)

são

ilim

itad

os (

num

erus

ape

rtus

) pe

la e

xist

ênci

a de

con

trat

os i

nom

inad

os o

u at

ípic

os.

3) O

brig

açõe

s pr

opte

r re

m:

figu

ra h

ibri

da, m

isto

de

Dir

eito

das

Coi

sas

e D

irei

to

das

Obr

igaç

ões.

Man

ifes

tam

-se

quan

do a

lgué

m é

pro

prie

tári

o ou

pos

suid

or d

e um

bem

e, p

or is

so, c

onst

rang

ido

a at

ende

r um

a pr

esta

ção

obri

gaci

onal

. 4)

Obr

igaç

ões

com

efi

cáci

a re

al: t

ambé

m f

igur

a hi

brid

a, q

ue o

utor

ga p

refe

rênc

ia

a de

term

inad

a pe

ssoa

, so

bre

um b

em,

em r

azão

do

regi

stro

púb

lico

, o

que

as

dist

ingu

em d

as o

brig

açõe

s pr

opte

r re

m.

Page 33: Aulas de Direito das Obrigações

65

66

CA

PÍT

UL

O V

O

s P

rinc

ípio

s G

erai

s do

D

irei

to

das

Obr

igaç

ões:

5.

1 E

xato

ad

impl

emen

to;

5.2

Aut

onom

ia

priv

ada.

5.

3 Fu

nção

so

cial

; 5.

4 B

oa-f

é ob

jetiv

a.

5.

5 R

espo

nsab

ilida

de p

atri

mon

ial.

o pr

incí

pios

ger

ais

do D

irei

to d

as O

brig

açõe

s: o

exa

to a

dim

plem

ento

, a

auto

nom

ia p

riva

da,

a fu

nção

soc

ial,

a bo

a-fé

obj

etiv

a e

a re

spon

sabi

lida

de

patr

imon

ial.

5.1

PR

INC

ÍPIO

DO

EX

AT

O A

DIM

PL

EM

EN

TO

A

obr

igaç

ão d

eve

ser

cum

prid

a no

tem

po,

luga

r e

mod

o pr

evia

men

te

acor

dado

s (C

C a

rt. 3

94, ú

ltim

a pa

rte)

, ist

o é,

o d

eved

or d

eve

ofer

ecer

ao

cred

or a

pres

taçã

o ob

riga

cion

al t

al q

ual

conv

enci

onad

a; é

a m

ilen

ar p

arêm

ia p

acta

sun

t

serv

anda

(o

cont

rato

dev

e se

r cu

mpr

ido)

.

D

ispõ

e o

art.

313

do C

ódig

o C

ivil:

“O

cre

dor

não

é ob

riga

do a

rec

eber

pres

taçã

o di

vers

a da

que

lhe

é d

evid

a, a

inda

que

mai

s va

lios

a.”

De

sua

leit

ura

ison

ômic

a se

gue

que

a re

gra

tem

con

sequ

ênci

a bi

part

ida.

A u

ma,

con

sist

e na

gara

ntia

de

se a

tend

er a

jus

ta e

xpec

tativ

a do

cre

dor

em r

eceb

er o

seu

cré

dito

. A

duas

, é u

ma

cond

uta

de m

oder

ação

do

próp

rio

cred

or, q

ue n

ão p

oder

á ex

igir

alg

o

dife

rent

e do

con

trat

ado,

tam

pouc

o ex

acer

bar

o dé

bito

.

D

e ou

tro

lado

, o

deve

dor

com

prom

ete

part

e de

sua

lib

erda

de,

uma

vez

que

pass

a a

ter

o de

ver

jurí

dico

de

com

patib

iliza

r a

sua

cond

uta

ao a

dim

plem

ento

da p

rest

ação

a q

ue s

e ob

rigo

u. N

ão p

ode

ter

o m

esm

o co

mpo

rtam

ento

de

ante

s,

deve

pau

tar

dora

vant

e os

par

âmet

ros

exig

idos

à o

bten

ção

do a

dim

plem

ento

. Se

a

dívi

da é

em

din

heir

o e

o re

ndim

ento

do

deve

dor

perm

anec

e o

mes

mo,

dev

erá

abdi

car-

se d

e de

spes

as. É

o q

ue s

e ag

uard

a po

r pa

rte

de q

uem

pre

tend

e re

sgat

ar a

Page 34: Aulas de Direito das Obrigações

67

pala

vra

empe

nhad

a, o

hom

em h

ones

to.

Con

jetu

ra a

boa

-fé

obje

tiva,

a c

ondu

ta

acer

tada

com

o f

ato.

Po

r su

a ve

z, o

art

. 31

4 do

Cód

igo

Civ

il e

stab

elec

e, c

omo

regr

a ge

ral,

o

impe

dim

ento

de

o de

vedo

r ef

etua

r o

paga

men

to p

arce

lado

se

assi

m n

ão s

e

ajus

tou,

ist

o é,

se

o co

nven

cion

ado

foi

o pa

gam

ento

de

uma

só v

ez, d

essa

for

ma

deve

rá s

er f

eito

, não

cab

e a

pret

ensã

o de

pag

ar p

or p

arte

s, o

que

ser

á tr

atad

o m

ais

min

ucio

sam

ente

qua

ndo

da f

orm

a de

pag

amen

to,

pois

exi

ste

nuan

ças

prev

ista

s

na l

ei m

ater

ial

e pr

oces

sual

, ta

l qu

al o

art

. 74

5-A

do

Cód

igo

de P

roce

sso

Civ

il,

quan

do já

afo

rada

a e

xecu

ção.

A

tent

a-se

tam

bém

que

dev

edor

e c

redo

r po

dem

aco

rdar

em

pag

ar e

rece

ber

pres

taçã

o di

vers

a do

pac

tuad

o, s

e as

sim

for

de

conv

eniê

ncia

rec

ípro

ca, é

a ch

amad

a fi

gura

da

daçã

o em

pag

amen

to (

CC

art

. 35

6),

que

tam

bém

ser

á

abor

dada

opo

rtun

amen

te.

O q

ue a

lei

não

rec

epci

ona

é a

pret

ensã

o un

ilat

eral

de

mud

ança

da

form

a de

pag

amen

to,

pois

as

part

es s

ão t

rata

das

pari

tari

amen

te.

de te

r o

cons

enso

das

par

tes.

O

exa

to a

dim

plem

ento

con

duz

aind

a a

outr

a co

nclu

são:

o d

irei

to d

e o

deve

dor

se a

lfor

riar

da

obri

gaçã

o pe

lo p

agam

ento

. O

cre

dor

não

pode

dif

icul

tar

esse

di

reit

o do

dev

edor

. T

anto

que

o

art.

334

do

Cód

igo

Civ

il pr

evej

a o

paga

men

to e

m c

onsi

gnaç

ão. O

ext

into

Tri

buna

l de

Alç

ada

Civ

il do

Est

ado

de

São

Paul

o de

cidi

u:

Tra

nspa

rece

ndo,

pel

o co

mpo

rtam

ento

do

cred

or,

sua

inju

sta

recu

sa e

m r

eceb

er s

eu c

rédi

to, l

egiti

mad

o es

tá o

dev

edor

em

pr

omov

er a

sua

con

sign

ação

jud

icia

l, no

s te

rmos

do

art.

890

do C

ódig

o de

Pro

cess

o C

ivil

(ap.

746

.668

-00/

4, j.

3.0

9.20

02,

rel.

Juiz

Pa

ulo

Ayr

osa)

.

.

A

con

sign

ação

é o

dep

ósito

jud

icia

l ou

ban

cári

o da

pre

staç

ão,

ante

a

recu

sa in

just

a do

cre

dor

em r

eceb

ê-la

.

68

A

ssim

con

side

rand

o, o

pag

amen

to é

dir

eito

do

cred

or e

m r

eceb

er o

que

lhe

é de

vido

, o

seu

créd

ito.

A r

elaç

ão j

uríd

ica

obri

gaci

onal

com

o pr

oces

so

cam

inha

par

a es

te d

esat

e, s

ua f

inal

idad

e pr

imár

ia:

o cu

mpr

imen

to d

o dé

bito

com

o re

spec

tivo

rece

bim

ento

do

créd

ito c

onfo

rme

o ex

ato

mod

o co

nven

cion

ado

pela

s pa

rtes

. E

, ao

mes

mo

tem

po,

é di

reito

do

deve

dor,

par

a qu

e po

ssa

honr

ar o

com

prom

isso

ass

umid

o e

recu

pera

r pa

rte

da li

berd

ade

com

prom

etid

a.

5.2

PR

INC

ÍPIO

DA

AU

TO

NO

MIA

PR

IVA

DA

O

voc

ábul

o au

tono

mia

der

iva

do g

rego

, au

to s

igni

fica

pró

prio

, em

si

mes

mo,

en

quan

to

nom

os

desi

gna

regr

a;

auto

nom

ia

é,

assi

m,

o po

der

de

esta

bele

cer

norm

as p

rópr

ias.

É o

esc

ólio

de

Ros

a M

aria

de

And

rade

Ner

y ao

afir

mar

que

a a

uton

omia

pri

vada

é p

rinc

ípio

esp

ecíf

ico

de D

irei

to P

riva

do e

est

á

ligad

o “à

ide

ia d

e po

der

o su

jeito

de

Dir

eito

cri

ar n

orm

as j

uríd

icas

par

ticu

lare

s

que

rege

rão

seus

ato

s.”52

D

e ef

eito

, o

dire

ito

obje

tivo

, co

m s

uas

regr

as g

erai

s ab

stra

tas

que

se

aplic

am in

dist

inta

men

te a

toda

s as

pes

soas

, per

mit

e qu

e el

as e

stab

eleç

am e

ntre

si

a fo

rma

que

deve

m

agir

, em

pres

tand

o fo

rça

espe

cial

a

esse

ac

ordo

. Po

r

cons

egui

nte,

a

auto

nom

ia

priv

ada

reve

la

o va

lor

da

liber

dade

in

divi

dual

,

poss

ibili

tand

o qu

e os

coo

brig

ados

ext

erio

rize

m c

onfo

rme

a su

a vo

ntad

e o

teor

do

cont

rato

e c

omo

viab

iliza

r a

sua

exec

ução

. É u

m p

ostu

lado

dem

ocrá

tico,

por

isso

mes

mo

inar

redá

vel d

o ne

góci

o ju

rídi

co.

E

sse

prin

cípi

o, t

odav

ia,

foi

ener

gica

men

te m

odif

icad

o no

tre

pida

r do

tem

po, m

erec

endo

aju

ste

na s

ua c

once

pção

.

N

o E

stad

o L

iber

al e

ra v

edad

o ao

Pod

er P

úbli

co i

nter

feri

r na

s at

ivid

ades

jurí

dica

s do

s pa

rtic

ular

es.

A l

ivre

exp

ress

ão d

a vo

ntad

e hu

man

a, c

omo

cria

dora

52

NE

RY

, Ros

a M

aria

de

And

rade

. Noç

ões

prel

imin

ares

de

dire

ito

civi

l. Sã

o P

aulo

: RT

, 200

2, p

. 116

.

Page 35: Aulas de Direito das Obrigações

69

excl

usiv

a de

dir

eito

, nã

o po

dia

sofr

er i

nter

venç

ão a

utor

itári

a de

stin

ada

a li

mit

á-

la, a

sser

tiva

já e

xpen

dida

ao

diss

erta

r so

bre

o si

stem

a se

mia

bert

o.

A

o D

irei

to n

ão c

abia

com

peli

r ou

im

pedi

r al

guém

de

cont

rata

r, n

em c

om

quem

con

trat

ar,

nem

o q

ue c

ontr

atar

. Pr

edom

inav

a a

dout

rina

do

lais

sez

fair

e

lais

sez

pass

er,

a ló

gica

do

m

erca

do

regu

lava

as

re

laçõ

es

inte

rsub

jetiv

as.

Acr

edit

ava-

se q

ue a

mão

inv

isív

el d

o m

erca

do,

no c

ontr

ole

do p

reço

e d

a li

vre

conc

orrê

ncia

, er

a fo

nte

harm

onio

sa n

atur

al e

tod

a in

terv

ençã

o es

tata

l po

deri

a

redu

ndar

em

fal

seam

ento

do

cont

rato

, le

i en

tre

as p

arte

s.53

Era

o t

empo

do

indi

vidu

alis

mo

cate

góri

co:

o co

ntra

to é

jus

to,

tão

apre

goad

o pe

la E

scol

a do

s

Pand

ecta

s,54

na

Ale

man

ha d

o sé

culo

XIX

, pug

nand

o pe

la o

nipo

tênc

ia d

a vo

ntad

e

indi

vidu

al, p

or e

nten

dê-l

a co

mo

inex

pugn

ável

dog

ma.

K

ant

cheg

ou a

afi

rmar

que

se

algu

ém d

ecid

e de

alg

uma

cois

a a

resp

eito

de o

utro

, é

sem

pre

poss

ível

que

se

faça

alg

uma

inju

stiç

a, m

as t

oda

inju

stiç

a é

impo

ssív

el

quan

do

ele

deci

de

por

si

próp

rio.

55

Vig

orav

a a

plen

itude

da

inci

dênc

ia d

o br

ocar

do p

acta

sun

t se

rvan

da (

os c

ontr

atos

dev

em s

er c

umpr

idos

),

nada

jus

tifi

cand

o a

inci

dênc

ia d

e ou

tro

broc

ardo

reb

us s

ic s

tant

ibus

(de

sde

que

as c

oisa

s pe

rman

eçam

com

o es

tão)

.

O a

dven

to d

a re

volu

ção

indu

stri

al d

emon

stro

u qu

e es

se v

olun

tari

smo,

impo

sto

pelo

ind

ivid

ualis

mo

burg

uês,

que

Nor

bert

o B

obbi

o ch

ama-

o de

lib

eral

liber

tári

o, e

ra f

orm

a de

exp

lora

ção

do m

ais

fort

e em

det

rim

ento

do

mai

s fr

aco,

esva

zian

do a

igu

alda

de d

e to

dos

que

era

apen

as f

orm

al,

o qu

e re

dund

ava

na

conc

entr

ação

da

riqu

eza

em m

ãos

cada

vez

mai

s re

stri

tas.

53

LO

UR

EIR

O, L

uiz

Gui

lher

me.

Teo

ria

gera

l dos

con

trat

os n

o no

vo c

ódig

o ci

vil.

São

Pau

lo: M

étod

o, 2

002,

p. 2

. 54

A E

scol

a P

ande

ctis

ta é

a v

ersã

o al

emã

da E

scol

a da

Exe

gese

, que

ena

ltec

ia a

lei

e o

s có

digo

s. T

eve

à fr

ente

os

pand

ecti

stas

do

sécu

lo X

IX,

a ex

empl

o de

Win

disc

heid

, B

rinz

e G

lück

, pa

rtin

do d

as f

onte

s ro

man

as,

cult

ivou

a

hist

ória

do

Dir

eito

Rom

ano

e a

inte

rpre

taçã

o do

s te

xtos

da

com

pila

ção

just

inia

na,

com

o f

im d

e ap

licá

-los

com

o fo

nte

dire

ta d

o D

irei

to a

lem

ão. O

s pa

ndec

tista

s de

sem

boca

ram

em

um

sis

tem

a rí

gido

de

feti

chis

mo

pelo

s te

xtos

e

cons

truç

ão s

iste

mát

ica,

apr

egoa

ndo

o us

o do

mét

odo

dedu

tivo

, ex

igin

do a

apl

icaç

ão d

as l

eis

de a

cord

o co

m u

m

proc

esso

sil

ogís

tico

, cuj

o ar

gum

ento

con

sist

e em

três

pro

posi

ções

: pre

mis

sa m

aior

, pre

mis

sa m

enor

e c

oncl

usão

. 55

Apu

d R

IPE

RT

, Geo

rges

. A r

egra

mor

al n

as o

brig

açõe

s ci

vis.

Cam

pina

s: B

rook

sell

er, 2

000,

p. 5

4.

70

G

eorg

es R

iper

t co

ntri

buiu

sob

rem

anei

ra a

o ac

usar

que

a d

outr

ina

da

auto

nom

ia d

a vo

ntad

e er

a co

ncom

itan

tem

ente

o r

econ

heci

men

to e

o e

xage

ro d

o

pode

r ab

solu

to d

o co

ntra

to. E

ntre

out

ras

ques

tões

leva

ntou

as

segu

inte

s:

A v

onta

de s

ober

ana

faze

ndo

leis

! M

as q

uem

con

fere

ao

hom

em

esta

aut

orid

ade

que

é o

apan

ágio

da

sobe

rani

a?

Perm

ite-

lhe

a lib

erda

de li

gar-

se s

obre

um

obj

eto

ou p

ara

fim

im

oral

, e

o co

nsen

timen

to d

um c

úmpl

ice

ou d

uma

víti

ma

torn

a, p

orve

ntur

a, a

imor

alid

ade

mai

s pe

rdoá

vel?

Sup

ondo

a

conv

ençã

o ir

repr

eens

ível

pel

o se

u ob

jeto

e p

elo

seu

fim

, es

tão

as d

uas

part

es e

m p

é de

igu

alda

de e

não

ser

á a

sua

desi

gual

dade

jus

tam

ente

daq

uela

s qu

e a

lei

se d

eve

esfo

rçar

po

r co

rrig

ir,

send

o co

mo

é a

mãe

da

in

just

iça?

S

erá

perm

itid

o ex

plor

ar a

fra

quez

a fí

sica

e m

oral

do

próx

imo,

a

nece

ssid

ade

em

que

ele

está

de

co

nclu

ir,

a pe

rver

são

tem

porá

ria

da s

ua i

ntel

igên

cia

e da

sua

von

tade

? Po

de o

co

ntra

to,

inst

rum

ento

da

troc

a de

riq

ueza

s e

dos

serv

iços

, se

rvir

par

a a

expl

oraç

ão d

o ho

mem

pel

o ho

mem

, co

nsag

rar

o en

riqu

ecim

ento

inju

sto

dum

dos

con

trat

ante

s co

m p

reju

ízo

do

outr

o?

Não

é

nece

ssár

io,

pelo

co

ntrá

rio,

m

ante

r ao

m

esm

o te

mpo

a i

gual

dade

das

par

tes

cont

rata

ntes

e a

das

pr

esta

ções

pa

ra

satis

faze

r um

id

eal

de

just

iça

que

nós

ence

rram

os q

uase

sem

pre

num

a co

ncep

ção

de ig

uald

ade?

56

C

omba

tida

de t

odos

os

lado

s, a

aut

onom

ia d

a vo

ntad

e en

colh

eu-s

e pa

ra

que

nova

s id

eias

inc

orpo

rass

em o

seu

con

ceito

, po

is a

His

tóri

a do

Dir

eito

denu

ncio

u qu

e ne

m s

empr

e a

libe

rdad

e e

a ig

uald

ade

form

ais

gara

ntem

o

cont

rato

just

o ne

m a

liv

re e

con

scie

nte

man

ifes

taçã

o da

von

tade

das

par

tes

ou d

e

uma

das

part

es.

Ultr

apas

sado

tal

mit

o lib

eral

, no

atu

al c

onte

xto

de s

ocia

lidad

e e

etic

idad

e ju

rídi

ca m

ais

que

prot

eger

a v

onta

de o

u co

nsen

so d

as p

arte

s, v

olta

-se

a

aten

ção

para

o

mom

ento

da

ex

ecuç

ão

do

cont

rato

.

56

RIP

ER

T, G

eorg

es. A

reg

ra m

oral

nas

obr

igaç

ões

civi

s. C

ampi

nas:

Bro

okse

ller

, 200

0, p

. 54

e 55

.

Page 36: Aulas de Direito das Obrigações

71

C

onsi

dera

m-s

e, h

oje,

a p

rim

azia

do

soci

al s

obre

o i

ndiv

idua

l (s

ocia

lidad

e),

a co

nden

ação

do

ac

úmul

o de

ri

quez

as

priv

ilegi

ando

a

men

or

parc

ela

da

popu

laçã

o qu

e, m

uita

s ve

zes,

val

e-se

do

cont

rato

des

equi

libr

ado

(eti

cida

de).

Enf

im,

rest

ou c

laro

que

a i

gual

dade

for

mal

con

duz

a co

ntra

taçõ

es i

njus

tas,

poi

s

os n

egóc

ios

jurí

dico

s de

ixar

am d

e se

r de

pes

soa

a pe

ssoa

e p

assa

ram

a s

er d

e

pess

oas

a gr

ande

s co

rpor

açõe

s, c

resc

ente

men

te p

oder

osas

com

mai

or p

oder

de

impo

r a

sua

vont

ade,

de

smis

tifi

cand

o o

abso

lutis

mo

da

cons

ensu

alid

ade.

E

xem

plo

mar

cant

e é

o co

ntra

to d

e ad

esão

, em

que

a li

berd

ade

de c

ontr

atar

do a

dere

nte

está

ads

trita

no

rece

pcio

nar

as c

láus

ulas

pre

viam

ente

est

abel

ecid

as

pela

out

ra p

arte

. E

sta

espé

cie

de c

ontr

ato,

ass

egur

a Jo

sser

and,

é p

reva

lent

e no

s

cont

rato

s de

tran

spor

te, d

e se

guro

s, d

os g

rand

es m

agaz

ines

etc

., pa

ra c

oncl

uir:

“a

técn

ica

da

form

ação

do

co

ntra

to

se

enco

ntra

de

sse

mod

o gr

avem

ente

mod

ific

ada”

,57 a

o fa

zer

a co

mpa

raçã

o co

m o

con

trat

o pa

ritá

rio,

no

qual

as

part

es

disc

utem

as

cláu

sula

s e

cond

içõe

s em

de ig

uald

ade.

Con

trat

o de

ade

são.

Con

vêni

o m

édic

o-ho

spita

lar.

Lib

erda

de

ampl

a de

con

trat

ar.

Igua

ldad

e en

tre

as p

arte

s. I

noco

rrên

cia,

Se

rviç

o ne

cess

ário

à s

aúde

. R

elat

iva

liber

dade

. R

ecur

so n

ão

prov

ido.

O

pr

incí

pio

da a

uton

omia

da

vont

ade

part

e do

pr

essu

post

o de

que

os

cont

rata

ntes

se

enco

ntra

m e

m p

é de

ig

uald

ade,

e q

ue, p

orta

nto,

são

livr

es d

e ac

eita

r ou

rej

eita

r os

te

rmos

do

cont

rato

. Mas

iss

o ne

m s

empr

e é

verd

adei

ro, p

ois

a ig

uald

ade

que

rein

a no

con

trat

o é

pura

men

te t

eóri

ca,

e vi

a de

reg

ra,

enqu

anto

o c

ontr

atan

te m

ais

frac

o no

s m

ais

das

veze

s nã

o po

de

fugi

r à

nece

ssid

ade

de

cont

rata

r,

o co

ntra

tant

e m

ais

fort

e le

va

uma

sens

ível

va

ntag

em

no

negó

cio,

poi

s é

ele

que

dita

as

cond

içõe

s do

aju

ste

(TJS

P,

57

JO

SS

ER

AN

D,

Lou

is.

Der

echo

Civ

il,

tom

o II

do

vol.

I, r

ev.

e at

ual.

por

And

ré B

run,

tra

duçã

o de

San

tiag

o C

unch

illo

s y

Man

tero

la.

Bue

nos

Air

es:

Bos

ch y

Cia

. E

dito

res,

195

0, p

. 31

: “P

erte

nece

n a

esta

cat

egor

ía l

a in

men

sa m

ayor

ía d

e lo

s co

ntra

tos

de t

rans

port

e: n

o se

dis

cute

el

prec

io d

e un

a ex

pedi

ción

de

mer

canc

ías

o de

un

bill

ete

de f

erro

carr

il;

los

cont

rato

s de

seg

uro,

las

com

pras

efe

ctua

das

en g

rand

es a

lmac

enes

que

tie

nen

prec

ios

fijo

s, e

stab

leci

dos

ne v

arie

tur;

las

dif

eren

tes

empr

esas

, ad

min

istr

acio

nes

de f

erro

carr

iles

, co

mpa

ñías

de

segu

ros,

gr

ande

s al

mac

enes

est

án e

n co

ndic

ione

s de

ofe

rtas

per

man

ente

s e

irre

duct

ible

s al

púb

lico

, al

que

pres

enta

n cl

isés

de

fini

tivo

s: l

a té

cnic

a de

la f

orm

ació

n de

l con

trat

o se

enc

uent

ra d

e es

e m

odo

grav

emen

te m

odif

icad

a.”

72

Ac.

232

.777

-2-S

ão P

aulo

, re

l. D

es.

Gild

o do

s Sa

ntos

, j.

19.5

.199

4).

B

em p

or is

so, a

aut

onom

ia d

a vo

ntad

e co

nvol

a-se

em

aut

onom

ia p

riva

da.

A a

uton

omia

da

vont

ade

é en

tend

ida

por

part

icul

ariz

ar a

am

pla

liber

dade

de

cont

rata

r, o

utor

gand

o às

par

tes

o di

reito

de

regu

lar,

ela

s pr

ópri

as,

toda

s as

cond

içõe

s e

ajus

tes,

ex

tens

ão

e co

nteú

do

de

suas

co

nven

ções

, af

asta

da

a

inte

rven

ção

esta

tal.

a au

tono

mia

pr

ivad

a é

ente

ndid

a co

mo

aque

la

que

pres

erva

a l

iber

dade

de

cont

rata

r, e

ntre

tant

o es

sa l

iber

dade

é b

aliz

ada

pelo

s

lim

ites

est

abel

ecid

os p

revi

amen

te e

m l

ei,

visa

ndo

resg

uard

ar v

alor

es i

mpo

stos

pelo

s fi

ns e

conô

mic

os e

soc

iais

, pel

a bo

a-fé

e p

elos

bon

s co

stum

es (

CC

art

. 187

).

Pi

etro

Per

lingi

eri

sint

etiz

a a

ques

tão:

“O

ato

de

auto

nom

ia p

riva

da n

ão é

um v

alor

em

si;

pod

e sê

-lo,

e e

m c

erto

s lim

ites

, se

e e

nqua

nto

resp

onde

r a

um

inte

ress

e di

gno

de p

rote

ção

por

part

e do

ord

enam

ento

.”58

.

D

aí q

ue,

send

o um

pos

tula

do d

o di

reito

de

natu

reza

dem

ocrá

tica,

a

auto

nom

ia p

riva

da p

erse

vera

com

o um

dos

pri

ncíp

ios

espe

cífi

co d

o D

irei

to d

as

Obr

igaç

ões,

mas

sof

re q

uatr

o te

mpe

ram

ento

s em

dif

eren

tes

disp

ositi

vos,

com

o

fito

de

não

inte

rfer

ir a

pon

to d

e de

sequ

ilib

rar

as p

rest

açõe

s re

cípr

ocas

em

um

a

mes

ma

obri

gaçã

o.

a) E

stad

o de

per

igo

O

pri

mei

ro t

empe

ram

ento

é o

est

ado

de p

erig

o (C

C a

rt.

156)

. A

par

te

obri

ga-s

e de

man

eira

exc

essi

vam

ente

one

rosa

med

iant

e ur

gent

e ne

cess

idad

e de

salv

ar-s

e ou

sal

var

algu

ém d

e su

a fa

míl

ia d

e im

inen

te d

ano.

Pas

sage

m d

a ob

ra

shak

espe

aria

na p

rest

a-se

no

exem

plif

icar

com

a e

xpre

ssão

“m

eu r

eino

por

um

cava

lo”,

bra

dada

pel

o re

i E

duar

do I

II,

quan

do d

erro

tado

em

bat

alha

se

viu

desm

onta

do, s

em c

ondi

ção

de f

uga

das

mão

s in

imig

as.

Rec

orre

nte

é o

exem

plo

58

PE

RL

IGIE

RI,

Pie

tro.

Per

fis

de D

irei

to C

ivil

, 2 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: R

enov

ar, 2

002,

p. 2

79.

Page 37: Aulas de Direito das Obrigações

73

de a

lgué

m q

ue p

rete

nda

inte

rnar

-se

ou p

esso

a de

sua

fam

ília

, em

gra

ve e

stad

o de

saúd

e, e

o h

ospi

tal

exig

e pa

ra o

ate

ndim

ento

em

erge

ncia

l ga

rant

ia f

idej

ussó

ria,

com

a e

mis

são

de c

hequ

e co

ntem

plan

do c

erta

qua

ntia

.

Não

pr

oced

e a

cobr

ança

de

de

spes

as

hosp

itala

res

e de

in

tern

ação

em

uni

dade

de

tera

pia

inte

nsiv

a se

o c

ontr

ato

de

pres

taçã

o de

se

rviç

os

foi

firm

ado

por

pess

oa

abal

ada

emoc

iona

lmen

te,

uma

vez

que

a m

anif

esta

ção

de v

onta

de

ofer

tada

por

que

m s

e en

cont

ra e

m e

stad

o de

per

igo

não

pode

se

r vi

ncul

ada

ao n

egóc

io j

uríd

ico

(Rev

ista

Jur

ispr

udên

cia

Min

eira

181

/189

, mai

oria

).

E

stão

pr

esen

tes

dois

el

emen

tos,

um

de

or

dem

su

bjet

iva:

a

suje

ição

caus

ada

pela

urg

ente

nec

essi

dade

(a

man

ifes

taçã

o da

von

tade

não

é l

ivre

) e

o

conh

ecim

ento

del

a pe

la o

utra

par

te,

que

opor

tuni

za o

dol

o de

apr

ovei

tam

ento

,

cabe

diz

er, o

apr

ovei

tam

ento

de

um p

elo

outr

o de

nota

ndo

a fa

lta d

e ét

ica

que

não

pode

ser

aco

lhid

a pe

lo D

irei

to. E

out

ro d

e or

dem

obj

etiv

a: p

elo

víci

o de

von

tade

dá-s

e a

assu

nção

de

obri

gaçã

o ex

cess

ivam

ente

one

rosa

. Po

rtan

to,

desd

e a

fase

da f

orm

ação

do

negó

cio

jurí

dico

a ch

ocan

te d

espr

opor

ção

(exp

ress

ão r

etir

ada

do §

138

do

Cód

igo

Civ

il al

emão

) en

tre

as p

rest

açõe

s. P

or a

carr

etar

a r

uptu

ra d

o

equi

líbri

o da

s pr

esta

ções

, tr

ansg

ride

o c

ontr

ato

com

utat

ivo,

que

é a

quel

e de

pres

taçõ

es c

erta

s e

dete

rmin

adas

, qu

e se

equ

ival

em,

pres

taçõ

es,

pois

, m

ais

ou

men

os d

o m

esm

o va

lor,

não

em

um

cál

culo

nec

essa

riam

ente

ari

tmét

ico,

mas

que

não

seja

m t

ão d

íspa

res,

de

desp

ropo

rção

man

ifes

ta,

indu

vido

sa e

exa

gera

da.

N

ão s

e co

nsid

era

o fa

to s

uper

veni

ente

, que

ens

eja

a te

oria

da

impr

evis

ão

ou a

res

oluç

ão p

or o

nero

sida

de e

xces

siva

com

o pr

ovid

enci

am o

s ar

ts. 3

17 e

478

do C

ódig

o C

ivil,

mat

éria

s ab

orda

das

logo

aba

ixo.

.

A

con

sequ

ênci

a é

a an

ulaç

ão d

a ob

riga

ção.

Pod

er-s

e-ia

sup

or q

ue a

lei

pret

ende

u im

por

uma

sanç

ão p

elo

abus

o de

dir

eito

, poi

s se

o s

ervi

ço ti

vess

e si

do

74

pres

tado

fic

aria

sem

rem

uner

ação

. Ou

que

o pr

esta

dor

do s

ervi

ço, n

ão s

e tr

atan

do

de s

ançã

o, d

eves

se i

ngre

ssar

com

açã

o de

enr

ique

cim

ento

sem

cau

sa p

ara

have

r

o pa

gam

ento

. N

o en

tant

o, é

mai

s se

nsat

o en

tend

er q

ue o

ser

viço

, se

pre

stad

o,

deve

sse

ser

pago

pel

o pr

eço

prat

icad

o no

mer

cado

. B

em p

or i

sso

o E

nunc

iado

148

do C

entr

o de

Est

udos

Jud

iciá

rios

do

Con

selh

o da

Jus

tiça

Fed

eral

: “A

o es

tado

de p

erig

o (a

rt.

156)

apl

ica-

se,

por

anal

ogia

o d

ispo

sto

no §

do a

rt.

157”

,

port

anto

se

a pa

rte

favo

reci

da c

onco

rdar

com

a r

eduç

ão d

o pr

ovei

to,

não

se

decr

etar

á a

anul

ação

. O

enu

ncia

do é

ple

nam

ente

raz

oáve

l, co

mpa

tibili

za-s

e co

m

o es

píri

to d

o C

ódig

o C

ivil

de

cons

erva

r o

negó

cio

jurí

dico

em

cas

o de

rev

isão

cont

ratu

al, e

ele

ge o

pri

ncíp

io d

a op

erab

ilida

de.

b) L

esão

O

seg

undo

tem

pera

men

to é

o d

a le

são

(CC

art

. 157

) qu

e, c

omo

no e

stad

o

de p

erig

o, a

carr

eta

rupt

ura

do e

quilí

brio

das

pre

staç

ões

desd

e a

fase

de

form

ação

do n

egóc

io j

uríd

ico,

e d

a m

esm

a fo

rma

aten

ta c

ontr

a o

cont

rato

com

utat

ivo.

A

lesã

o ta

mbé

m

conj

uga

dois

el

emen

tos,

o

elem

ento

su

bjet

ivo

intu

i ví

cio

de

cons

enti

men

to “

quan

do u

ma

pess

oa o

brig

a-se

, so

b pr

emen

te n

eces

sida

de (

a

man

ifes

taçã

o da

von

tade

não

é l

ivre

), o

u po

r in

expe

riên

cia

(a m

anif

esta

ção

da

vont

ade

não

é co

nsci

ente

). P

rem

ente

nec

essi

dade

e i

nexp

eriê

ncia

que

não

se

pres

umem

, de

vem

ser

dev

idam

ente

pro

vada

s.59

O e

lem

ento

obj

etiv

o di

z re

spei

to

ao

obje

to

do

negó

cio

jurí

dico

, é

exat

amen

te

o re

sult

ado

cond

uzid

o pe

lo

cons

tran

gim

ento

da

vont

ade,

com

o na

hip

ótes

e de

alg

uém

que

se

obri

ga “

a

pres

taçã

o m

anif

esta

men

te d

espr

opor

cion

al a

o va

lor

da p

rest

ação

opo

sta”

. A s

ua

men

sura

ção

deve

se

r “s

egun

do

os

valo

res

vige

ntes

ao

te

mpo

em

qu

e fo

i

59

Enu

ncia

do 2

90 d

o C

entr

o de

Est

udos

Jud

iciá

rio

do C

onse

lho

da J

usti

ça F

eder

al:

“A le

são

acar

reta

rá a

anu

laçã

o do

ne

góci

o ju

rídi

co

quan

do

veri

fica

da,

na

form

ação

de

ste,

a

desp

ropo

rção

m

anif

esta

en

tre

as

pres

taçõ

es

assu

mid

as p

elas

par

tes,

não

se

pres

umin

do a

pre

men

te n

eces

sida

de o

u a

inex

peri

ênci

a do

lesa

do.”

Page 38: Aulas de Direito das Obrigações

75

cele

brad

o o

negó

cio

jurí

dico

” (C

C a

rt. 1

57,

§ 1º

). A

rred

a-se

, por

con

segu

inte

, a

poss

ibili

dade

de

invo

car

qual

quer

fat

o su

perv

enie

nte.

Les

ão.

Ces

são

de d

irei

tos

here

ditá

rios

. E

ngan

o. D

olo

do

cess

ioná

rio.

Víc

io d

e co

nsen

tim

ento

. Dis

tinçã

o en

tre

lesã

o e

víci

o da

man

ifes

taçã

o da

von

tade

. P

resc

riçã

o qu

adri

enal

. C

aso

em

que

os

irm

ãos

anal

fabe

tos

fora

m

indu

zido

s à

cele

braç

ão

de

negó

cio

jurí

dico

at

ravé

s de

m

aqui

naçõ

es,

expe

dien

tes

astu

cios

os,

enge

ndra

dos

pelo

in

vent

aria

nte-

cess

ioná

rio.

M

anob

ras

insi

dios

as

leva

ram

a

enga

no

os

irm

ãos

cede

ntes

qu

e nã

o ti

nham

, de

qu

alqu

er

form

a,

com

pree

nsão

do

valo

r da

coi

sa. O

corr

ênci

a de

dol

o, v

ício

de

cons

enti

men

to.

Tra

ta-s

e de

ne

góci

o ju

rídi

co

anul

ável

, o

laps

o da

pre

scri

ção

é qu

adri

enal

(ar

t. 17

8, §

9º,

inc.

V, b

, do

Cód

igo

Civ

il).

Rec

urso

Esp

ecia

l nã

o co

nhec

ido

(ST

J, +

+ T

urm

a, r

el. M

in. B

arro

s M

onte

iro,

DJ

04.0

2.20

02, p

. 364

).

T

anto

no

esta

do d

e pe

rigo

com

o na

les

ão a

víti

ma

age

em e

stad

o de

nece

ssid

ade.

A d

istin

ção

entr

e am

bas

está

que

no

prim

eiro

é i

mpr

esci

ndív

el o

conh

ecim

ento

de

que

a co

ntra

part

e se

obr

iga

em s

itua

ção

de g

rave

per

igo,

tra

ta-

se d

e um

abu

so d

a si

tuaç

ão, p

rese

nte

o do

lo d

o ap

rove

itam

ento

, e p

ode

ocas

iona

r

dano

fís

ico

ou p

esso

al.

E n

o se

gund

o, o

est

ado

de p

rem

ente

nec

essi

dade

ou

de

inex

peri

ênci

a nã

o é

de

nece

ssár

io

conh

ecim

ento

da

co

ntra

part

e,

disp

ensa

,

embo

ra p

ossa

hav

er, o

dol

o de

apr

ovei

tam

ento

; o d

ano

é so

men

te p

atri

mon

ial.

c) T

eori

a da

impr

evis

ão.

O

ter

ceir

o te

mpe

ram

ento

rel

acio

na-s

e à

teor

ia d

a im

prev

isão

pre

vist

a no

art.

317

do

Cód

igo

Civ

il

que

disp

õe:

“qua

ndo,

po

r m

otiv

os

impr

evis

ívei

s,

sobr

evie

r de

spro

porç

ão m

anif

esta

ent

re o

val

or d

a pr

esta

ção

devi

da e

o d

o

mom

ento

de

sua

exec

ução

”, a

seu

tur

no,

“pod

erá

o ju

iz c

orri

gi-l

o, a

ped

ido

da

part

e”.

Ao

mag

istr

ado

não

é da

do a

gir

de o

fíci

o, e

sim

pro

voca

do p

ela

part

e, e

76

conc

lui:

“de

mod

o qu

e as

segu

re,

quan

to p

ossí

vel,

o re

al v

alor

da

pres

taçã

o”,

aqui

res

ide

a ra

zão

onto

lógi

ca,

a m

ens

legi

s. C

onte

mpl

a a

cláu

sula

reb

us s

ic

stan

tibu

s, p

ela

qual

, na

s ob

riga

ções

de

trat

o su

cess

ivo

ou d

ifer

ido

(qua

ndo

as

part

es r

ealiz

am u

m n

egóc

io m

edia

nte

paga

men

to f

utur

o), o

vín

culo

obr

igac

iona

l

ente

nde-

se s

ubor

dina

do à

con

tinua

ção

do e

stad

o de

fat

o vi

gent

e ao

tem

po d

a su

a

estip

ulaç

ão (

rebu

s si

c st

anti

bus)

, pe

rmit

indo

a s

ua r

evis

ão e

m c

aso

de h

aver

desi

gual

dade

su

perv

enie

nte

por

mot

ivos

im

prev

isív

eis.

O

s m

otiv

os i

mpr

evis

ívei

s de

vem

ser

int

erpr

etad

os c

onfo

rme

acon

selh

a o

Cen

tro

de E

stud

os J

udic

iári

os d

o C

onse

lho

de J

usti

ça F

eder

al n

o E

nunc

iado

17:

“A i

nter

pret

ação

da

expr

essã

o ‘m

otiv

os i

mpr

evis

ívei

s’,

cons

oant

e o

art.

317

do

novo

Cód

igo

Civ

il, d

eve

abar

car

tant

o ca

usas

de

desp

ropo

rção

não

pre

visí

veis

,

com

o ta

mbé

m c

ausa

s pr

evis

ívei

s m

as d

e re

sulta

dos

impr

evis

ívei

s.”

E n

ão p

ode

ser

atri

buíd

o à

part

e pr

ejud

icad

a.

E

m r

esum

o, s

e um

fat

o po

ster

ior

à ce

lebr

ação

da

obri

gaçã

o to

rna

a

pres

taçã

o de

tal f

orm

a de

spro

porc

iona

l, qu

e um

a da

s pa

rtes

é c

oloc

ada

em e

stad

o

de

iniq

üida

de,

é po

ssív

el

a su

a re

visã

o pa

ra

rest

abel

ecer

o

equi

líbr

io.

Po

r co

nseg

uint

e, n

a te

oria

da

impr

evis

ão i

ncid

e, i

nvar

iave

lmen

te,

um

acon

teci

men

to s

uper

veni

ente

e i

mpr

evis

ível

, di

fere

nte

do e

stad

o de

per

igo

e da

lesã

o qu

e nã

o ad

mit

em e

sse

pres

supo

sto,

poi

s ne

stas

, re

pita

-se,

a d

espr

opor

ção

entr

e as

pr

esta

ções

é

veri

fica

da

na

form

ação

do

co

ntra

to,

ou

seja

,

conc

omit

ante

men

te

à ce

lebr

ação

da

ob

riga

ção.

A

mat

éria

ser

á re

tom

ada,

com

mai

s de

talh

es,

no e

stud

o do

obj

eto

do

paga

men

to e

sua

pro

va.

Page 39: Aulas de Direito das Obrigações

77

d) O

nero

sida

de e

xces

siva

O

qu

arto

te

mpe

ram

ento

é

a re

solu

ção

do

cont

rato

po

r on

eros

idad

e

exce

ssiv

a (C

C a

rts.

478

a 4

80),

que

se

apli

ca t

ambé

m n

os c

ontr

atos

de

trat

o

suce

ssiv

o ou

di

feri

do,

e da

m

esm

a fo

rma

repo

rta-

se

à cl

áusu

la

rebu

s si

c

stan

tibu

s. “

se a

pre

staç

ão d

e um

a da

s pa

rtes

se

torn

ar e

xces

siva

men

te o

nero

sa,

com

ex

trem

a va

ntag

em

para

a

outr

a,

em

virt

ude

de

acon

teci

men

tos

extr

aord

inár

ios

e im

prev

isív

eis”

(C

C a

rt.

478)

. É

diz

er,

em s

e tr

atan

do d

e

cont

rato

s co

mut

ativ

os,

se h

ouve

r su

bsta

ncia

l m

odif

icaç

ão d

a co

njun

tura

, em

funç

ão d

e fa

tore

s ex

tern

os e

inco

ntro

láve

is p

elas

par

tes,

que

pro

voca

m b

enef

ício

desm

edid

o e

imot

ivad

o pa

ra u

ma

dela

s e

oner

osid

ade

desc

abid

a pa

ra a

out

ra,

adm

ite-

se a

res

oluç

ão d

o co

ntra

to.

E a

ssim

é p

orqu

e se

a p

arte

sou

bess

e qu

e a

obri

gaçã

o as

sum

ida

se t

orna

ria

exce

ssiv

a qu

ando

do

cum

prim

ento

, nã

o a

teri

a

cont

rata

do.

D

ecid

iu o

Sup

erio

r T

ribu

nal d

e Ju

stiç

a:

Os

requ

isito

s pa

ra c

arac

teri

zaçã

o da

one

rosi

dade

exc

essi

va

são:

o

cont

rato

de

ex

ecuç

ão

cont

inua

da

ou

dife

rida

, va

ntag

em

extr

ema

de

outr

a pa

rte

e ac

onte

cim

ento

ex

trao

rdin

ário

e im

prev

isív

el, c

aben

do a

o ju

iz, n

as in

stân

cias

or

diná

rias

, e

dian

te

do

caso

co

ncre

to,

a av

erig

uaçã

o da

ex

istê

ncia

de

prej

uízo

que

exc

eda

a ál

ea n

orm

al d

o co

ntra

to,

com

co

nseq

uent

e re

solu

ção

do

cont

rato

di

ante

do

re

conh

ecim

ento

de

cl

áusu

las

abus

ivas

e

exce

ssiv

amen

te

oner

osas

par

a a

pres

taçã

o do

dev

edor

(ST

J, 4

ª T

., R

Esp

. 1.

034.

702-

ES,

re

l. M

in.

João

O

távi

o de

N

oron

ha,

j. 15

.4.2

008,

DJ

5.5.

2008

).

78

O

ac

onte

cim

ento

ex

trao

rdin

ário

e

impr

evis

ível

, co

mo

na

teor

ia

da

impr

evis

ão,

não

pode

ser

im

puta

do à

par

te p

reju

dica

da,

por

mot

ivo

óbvi

o. P

ois

se f

oi e

la a

cau

sado

ra d

o de

sequ

ilíbr

io n

ão é

equ

ânim

e qu

e se

apr

ovei

te d

a

próp

ria

desí

dia.

.

À

s pa

rtes

é

poss

ibili

tada

a

com

posi

ção

cons

ensu

al,

desd

e qu

e a

favo

reci

da m

odif

ique

equ

itativ

amen

te a

s co

ndiç

ões

do c

ontr

ato

(CC

art

. 47

9).

Alé

m d

o qu

e, e

m c

aso

de a

ção

judi

cial

, ca

be a

o ju

iz c

ondu

zir,

sem

pre

que

poss

ível

, à r

evis

ão j

udic

ial

do c

ontr

ato

e nã

o a

sua

reso

luçã

o, e

m o

bser

vânc

ia a

o

prin

cípi

o da

con

serv

ação

dos

neg

ócio

s ju

rídi

cos,

ass

im d

ispo

ndo

os E

nunc

iado

s

176

e 36

7 do

Cen

tro

de E

stud

os J

udic

iári

os d

o C

onse

lho

de J

ustiç

a Fe

dera

l.60

A

ndou

bem

o le

gisl

ador

no

esta

bele

cim

ento

des

tes

dois

últi

mos

inst

ituto

s

(teo

ria

da im

prev

isão

e o

nero

sida

de e

xces

siva

), c

onje

ctur

ando

um

e o

utro

, poi

s a

teor

ia

da

impr

evis

ão

prev

eja

a re

visã

o do

co

ntra

to,

corr

igin

do

uma

das

pres

taçõ

es p

ara

guar

dar

equi

polê

ncia

par

a co

m a

out

ra, n

ão a

res

oluç

ão, p

ois

esta

é pr

ópri

a ap

enas

da

oner

osid

ade

exce

ssiv

a. O

utra

dis

tinç

ão e

stá

na o

port

una

lição

de Á

lvar

o V

illaç

a A

zeve

do a

o af

irm

ar q

ue a

teor

ia d

a im

prev

isão

não

se

aplic

a à

infl

ação

, co

nfor

me

já d

ecid

ira

o Su

prem

o T

ribu

nal

Fed

eral

,61 m

as p

ode

ser

aplic

ada

na o

nero

sida

de e

xces

siva

, qu

ando

a i

nfla

ção

dim

ana,

por

exe

mpl

o, d

a

desv

alor

izaç

ão d

a m

oeda

nac

iona

l, co

mo

ente

ndeu

o T

ribu

nal

de J

usti

ça d

o

Est

ado

do R

io d

e Ja

neir

o:

60

Enu

ncia

do 1

76: “

Em

ate

nção

ao

prin

cípi

o da

con

serv

ação

dos

neg

ócio

s ju

rídi

cos,

o a

rt. 4

78 d

o C

ódig

o C

ivil

de

2002

dev

erá

cond

uzir

, se

mpr

e qu

e po

ssív

el,

à re

visã

o ju

dici

al d

os c

ontr

atos

e n

ão à

res

oluç

ão c

ontr

atua

l.”

Enu

ncia

do 3

67:

“Em

obs

ervâ

ncia

ao

prin

cípi

o da

con

serv

ação

do

cont

rato

, na

s aç

ões

que

tenh

am p

or o

bjet

o a

reso

luçã

o do

pac

to p

or e

xces

siva

one

rosi

dade

, pod

e o

juiz

mod

ific

á-lo

equ

itat

ivam

ente

, des

de q

ue o

uvid

a a

part

e au

tora

, res

peit

ada

a su

a vo

ntad

e e

obse

rvad

o o

cont

radi

tóri

o.”

61 A

ZE

VE

DO

, Á

lvar

o V

illa

ça.

Teo

ria

gera

l da

s ob

riga

ções

e r

espo

nsab

ilid

ade

civi

l, 11

ed.

São

Pau

lo:

Atl

as,

2008

, p 1

28 e

129

: jur

ispr

udên

cia

refe

rida

: JST

F-L

ex 6

1/13

2. N

o m

esm

o se

ntid

o: R

T 6

69/1

75; 6

64/1

27; 6

59/1

41;

655/

151;

654

/157

; 63

5/22

6; 6

19/8

7. M

ais

rece

ntem

ente

: S

TJ,

T.,

RE

sp. 7

44.4

46, r

el. M

in. H

umbe

rto

Mar

tins

, j.

17.4

.08,

in T

heot

onio

Neg

rão:

CC

e le

gisl

ação

em

vig

or, 3

0 ed

. p. 2

04.

Page 40: Aulas de Direito das Obrigações

79

[...]

É

di

reito

do

co

nsum

idor

a

revi

são

das

cláu

sula

s co

ntra

tuai

s to

rnad

as

exce

ssiv

amen

te

oner

osas

po

r fa

to

supe

rven

ient

e,

assi

m

pode

ndo

com

pree

nder

a

súbi

ta

e in

espe

rada

alt

eraç

ão d

a po

lític

a m

onet

ária

e c

ambi

al,

com

el

evaç

ão d

o dó

lar

nort

e-am

eric

ano,

e o

s re

flex

os c

ausa

dos

no c

ontr

ato

de l

easi

ng a

just

ados

com

clá

usul

a de

var

iaçã

o ca

mbi

al.

Rec

urso

pr

ovid

o.

(CPA

) V

enci

do

o D

es.

Nas

cim

ento

Pov

oas

Vaz

. (T

JRJ,

18ª

Câm

., re

l. D

es.

Jorg

e L

uiz

Hab

ib, j

. 29.

2.20

00).

N

o m

esm

o se

ntid

o o

Sup

erio

r T

ribu

nal d

e Ju

stiç

a:

[...]

O d

eved

or,

inad

impl

ente

em

vir

tude

de

oner

osid

ade

exce

ssiv

a,

seja

po

r de

sequ

ilíbr

io

resu

ltant

e da

de

sval

oriz

ação

da

moe

da o

u de

cri

téri

os p

ara

atua

lizaç

ão d

as

pres

taçõ

es,

pode

ple

itear

a r

esci

são

do c

ontr

ato.

Maj

oraç

ão

da

rete

nção

, te

ndo

em

vist

a pe

culia

rida

des

da

espé

cie.

R

ecur

so p

arci

alm

ente

con

heci

do e

, ne

ssa

exte

nsão

, pr

ovid

o (S

TJ,

T

, R

Esp

. 50

8.83

1-M

G,

rel.

Min

. C

ésar

A

sfor

R

ocha

, j. 4

.11.

2003

, DJU

20.

3.20

06).

O

art

. 6º

do

Cód

igo

de D

efes

a do

Con

sum

idor

, qu

e re

ge a

s ob

riga

ções

cons

umer

ista

s, n

o in

c. V

, pr

ovid

ênci

a na

pri

mei

ra p

arte

: “a

mod

ific

ação

das

cláu

sula

s co

ntra

tuai

s qu

e es

tabe

lece

m p

rest

açõe

s de

spro

porc

iona

is”,

sug

erin

do

desd

e o

mom

ento

em

que

se

conc

lui

a ob

riga

ção,

ref

ere-

se,

assi

m,

à le

são.

E n

a

segu

nda

part

e: “

ou s

ua r

evis

ão e

m r

azão

de

fato

s su

perv

enie

ntes

que

as

torn

em

oner

osas

”, c

omo

os f

atos

são

pos

teri

ores

a s

ua c

eleb

raçã

o, s

uger

e a

teor

ia d

a

impr

evis

ão. D

uas

dife

renç

as c

om r

elaç

ão a

o C

ódig

o C

ivil.

Pri

mei

ra, n

ão f

ala

em

reso

luçã

o, m

as e

m m

odif

icaç

ão d

e cl

áusu

las;

seg

unda

, nã

o ex

ige

que

os f

atos

supe

rven

ient

es

seja

m

impr

evis

ívei

s.

.

E

nfim

, em

se

trat

ando

de

auto

nom

ia p

riva

da, v

ale

as p

alav

ras

de G

iorg

io

Del

Vec

chio

, ao

enfo

car

a lib

erda

de d

e co

ntra

tar,

con

sign

ando

que

ess

a li

berd

ade

deri

va,

logi

cam

ente

, do

pod

er q

ue t

odo

indi

vídu

o te

m s

obre

si

e é

até

uma

das

supr

emas

exp

ress

ões

dess

e po

der;

mas

é c

laro

, qu

e o

seu

exer

cíci

o pa

ra s

er

80

válid

o e

efic

az,

tem

com

o co

nseq

uênc

ia u

ma

rest

riçã

o do

arb

ítri

o in

divi

dual

.62

A

mai

s im

port

ante

res

triç

ão à

aut

onom

ia p

riva

da é

col

ocar

as

part

es e

m

pata

mar

es d

ifer

ente

s co

m n

ítid

a de

spro

porç

ão e

ntre

as

pres

taçõ

es,

de m

odo

que

uma

part

e pr

eval

eça

sobr

e a

outr

a. H

á se

mpr

e de

se

exig

ir a

equ

ipol

ênci

a en

tre

as

pres

taçõ

es,

o qu

e já

era

car

o ao

Dir

eito

Rom

ano

desd

e a

Man

cipa

tio,

cita

da n

a

Lei

das

XII

Táb

uas

(450

a.C

.), q

uand

o as

obr

igaç

ões

assu

mid

as e

ram

pes

adas

em

praç

a pú

blic

a, a

test

ando

a e

quiv

alên

cia

das

pres

taçõ

es a

ssum

idas

pel

as p

arte

s

cont

rata

ntes

. T

anto

que

Cel

so c

once

ituou

o D

irei

to c

omo

ius

est

ars

boni

et

aequ

i (a

art

e do

bem

e d

a eq

uida

de).

A q

uebr

a de

ssa

equi

dade

não

pod

e

prev

alec

er

em

nom

e da

C

iênc

ia

Mor

al,

que

bafe

ja

dire

tam

ente

o

Dir

eito

.

A

lém

das

pre

visõ

es d

a on

eros

idad

e ex

cess

iva

e da

teo

ria

da i

mpr

evis

ão,

exem

plo

escl

arec

edor

no

atua

l C

ódig

o C

ivil

é o

par

ágra

fo ú

nico

do

art.

944:

“Se

houv

er e

xces

siva

des

prop

orçã

o en

tre

a gr

avid

ade

da c

ulpa

e o

dan

o, p

oder

á o

juiz

re

duzi

r,

equi

tati

vam

ente

, a

inde

niza

ção.

” Su

ponh

a-se

um

ac

iden

te

de

trân

sito

por

cul

pa le

víss

ima

de u

m d

os c

ondu

tore

s, p

ai d

e fa

míl

ia d

e cl

asse

méd

ia

baix

a,

que

abal

roa

outr

o ve

ícul

o de

al

tíssi

mo

preç

o,

prod

uzin

do

dano

s

cons

ider

ávei

s. A

tend

er a

ind

eniz

ação

pel

a ex

tens

ão d

o da

no,

com

o pr

opõe

a

cabe

ça d

este

art

igo,

ser

ia d

e gr

aves

con

sequ

ênci

as e

conô

mic

as p

ara

toda

fam

ília

,

leva

ndo-

a a

difi

culd

ades

par

a su

prir

até

mes

mo

as n

eces

sida

des

bási

cas

de v

ida

dign

a.

62

DE

L V

EC

CH

IO, G

iorg

io. P

rinc

ípio

s ge

rais

do

dire

ito,

trad

ução

de

Fern

ando

de

Bra

ganç

a. B

elo

Hor

izon

te:

Líd

er, 2

003,

p. 5

1;

Page 41: Aulas de Direito das Obrigações

81

5.3

PR

INC

ÍPIO

DA

FU

ÃO

SO

CIA

L

Pa

ra F

ábio

Kon

der

Com

para

to a

noç

ão d

e fu

nção

rep

rese

nta

o po

der

de

dar

ao o

bjet

o da

pro

prie

dade

det

erm

inad

o de

stin

o, d

e vi

ncul

á-lo

a c

erto

obj

etiv

o,

e o

adje

tivo

soc

ial c

ondu

z a

ente

nder

que

ess

e ob

jetiv

o de

ve a

tend

er a

o in

tere

sse

cole

tivo

no s

enti

do d

e su

a ha

rmon

izaç

ão c

om o

inte

ress

e in

divi

dual

.63

Mai

s um

a ve

z vo

lta-

se a

o di

álog

o do

Cód

igo

Civ

il c

om a

Con

stit

uiçã

o

Fede

ral,

de s

orte

a f

unçã

o so

cial

, ta

l qu

al o

pri

ncíp

io d

a so

cial

idad

e, p

lasm

a-se

na L

ei M

aior

, co

mo

já a

firm

ado,

ao

esta

bele

cer

no s

eu p

rólo

go q

ue a

Rep

úbli

ca

Fede

rativ

a do

Bra

sil,

cons

titu

ída

em E

stad

o D

emoc

ráti

co d

e D

irei

to,

coli

ma

real

izar

os

valo

res

fund

amen

tais

da

dign

idad

e da

pes

soa

hum

ana,

do

trab

alho

, da

livre

ini

ciat

iva,

da

solid

arie

dade

e d

a fu

nção

soc

ial

da p

ropr

ieda

de,

a fi

m d

e

cons

trui

r um

a so

cied

ade

livre

, ju

sta

e so

lidá

ria,

gar

anti

ndo

o de

senv

olvi

men

to

soci

al e

, pa

ra t

anto

, er

radi

cand

o a

pobr

eza

e a

mar

gina

lidad

e pe

la r

eduç

ão d

as

desi

gual

dade

s so

ciai

s e

regi

onai

s (a

rts.

e 3º

). V

alor

es r

eafi

rmad

os n

o ar

t. 17

0,

ao t

rata

r da

ord

em e

conô

mic

a. D

e ef

eito

, há

na

dout

rina

um

con

sens

o em

tor

no

da c

onex

ão e

ntre

o p

rinc

ípio

con

stitu

cion

al d

a so

lidar

ieda

de e

a f

unçã

o so

cial

do

cont

rato

.64

C

uida

-se

ente

nder

, qu

e im

preg

na a

o D

irei

to a

fun

ção

soci

al,

sem

a q

ual

os v

alor

es e

nunc

iado

s nã

o se

efe

tiva

m.

Pro

pici

ou a

rup

tura

do

Est

ado

até

entã

o

mer

o ob

serv

ador

das

re

laçõ

es

inte

rpes

soai

s (E

stad

o L

iber

al)

para

o

Est

ado

inte

rven

cion

ista

(E

stad

o do

Bem

-Est

ar S

ocia

l),

tend

o po

r ob

jetiv

o a

real

izaç

ão

da ju

stiç

a so

cial

gar

antid

a pe

la o

rdem

púb

lica.

63

CO

MP

AR

AT

O, F

ábio

Kon

der.

Dir

eito

em

pres

aria

l: e

stud

os e

par

ecer

es. S

ão P

aulo

: Sar

aiva

, 199

0, p

. 32.

64

RE

NT

ER

ÍA,

Pab

lo.

Con

side

raçõ

es a

cerc

a do

atu

al d

ebat

e so

bre

o pr

incí

pio

da f

unçã

o so

cial

do

cont

rato

, in

P

rinc

ípio

s do

dir

eito

civ

il c

onte

mpo

râne

o, M

aria

Cel

ina

Bod

in d

e M

orai

s, c

oord

enad

ora.

Rio

de

Jane

iro:

R

enov

ar, 2

006,

p. 2

84.

82

C

omo

toda

rup

tura

exi

ge r

econ

stru

ção,

con

trib

ui o

Cód

igo

Civ

il n

o ar

t.

421,

ao

dest

acar

exp

ress

amen

te a

fun

ção

soci

al c

omo

mot

ivo

e li

mit

e pa

ra o

exer

cíci

o da

lib

erda

de

de

cont

rata

r.

Por

esse

di

spos

itivo

, al

ém

da

funç

ão

indi

vidu

al c

láss

ica

do c

ontr

ato,

int

eres

sa a

o D

irei

to t

ambé

m a

s in

terf

erên

cias

prov

ocad

as n

o am

bien

te s

ocia

l, m

orm

ente

ao

se tr

atar

de

cont

rato

s m

assi

fica

dos,

com

o os

de

cons

umo

e de

ade

são.

“O

con

trat

o nã

o de

ve s

er m

eio

para

alc

ança

r o

inte

ress

e da

s pa

rtes

ap

enas

, m

as

deve

se

r vi

sto,

pr

inci

palm

ente

, co

mo

um

inst

rum

ento

de

co

nvív

io

soci

al

e de

pr

eser

vaçã

o do

s in

tere

sses

da

cole

tivid

ade”

.65 N

ota-

se a

iden

tifi

caçã

o co

m o

pri

ncíp

io d

a so

cial

idad

e.

O

con

trat

o pa

ritá

rio,

é b

om r

epet

ir,

deix

ou d

e se

r a

regr

a no

âm

bito

nego

cial

, é

o co

ntra

to d

e qu

em a

dqui

re u

m a

utom

óvel

usa

do o

u lo

ca u

m i

móv

el

dire

tam

ente

com

o p

ropr

ietá

rio,

tam

bém

que

m a

dqui

re m

erca

dori

as n

o pe

quen

o

com

érci

o va

reji

sta.

Hoj

e pr

eval

ece

os c

ontr

atos

de

cons

umo

e de

ade

são,

até

mes

mo

quan

do s

e aj

usta

um

a fe

sta

de a

nive

rsár

io, d

ado

que

o pe

quen

o pr

esta

dor

de s

ervi

ço in

sere

-se

no r

amo

empr

esar

ial,

aind

a qu

e se

ja c

omo

mic

roem

pres

a.

Se

não

se

prot

ege

o co

nsum

idor

e o

ade

rent

e, s

e nã

o se

ele

ge a

fun

ção

soci

al d

o co

ntra

to,

as c

onse

quên

cias

ser

ão d

elet

éria

s pa

ra a

eco

nom

ia n

acio

nal,

com

uns

pre

vale

cend

o co

ntra

os

outr

os, e

est

es c

omo

mai

oria

abs

olut

a.

Po

ntif

ica

Fern

ando

Nor

onha

:

O

inte

ress

e ge

ral,

o be

m

com

um,

cons

titu

i lim

ite

à re

aliz

ação

dos

int

eres

ses

indi

vidu

ais

e su

bjet

ivos

, do

cred

or.

Que

m s

e ar

roga

a c

ondi

ção

de c

redo

r te

m n

eces

sari

amen

te

um q

ualq

uer

inte

ress

e em

que

o d

eved

or r

ealiz

e a

pres

taçã

o,

mas

, ev

iden

tem

ente

, o

dire

ito n

ão p

oder

á tu

tela

r in

tere

sses

qu

e po

rven

tura

sej

am f

útei

s, o

u po

r ou

tra

form

a es

tran

ho a

o

65

BO

. Pau

lo L

uiz

Net

to, C

ódig

o C

ivil

ano

tado

, coo

rden

ador

Rod

rigo

da

Cun

ha P

erei

ra. P

orto

Ale

gre:

Sín

tese

, 20

04, p

. 197

.

Page 42: Aulas de Direito das Obrigações

83

bem

co

mum

. Pa

ra

além

do

s in

tere

sses

do

cr

edor

e

do

deve

dor,

est

ão v

alor

es m

aior

es d

a so

cied

ade,

que

não

pod

em

ser

afet

ados

.66

Po

r co

nseg

uint

e, o

int

eres

se q

ue e

nvol

ve a

obr

igaç

ão d

eve

ser

volta

do

para

a ó

tica

soci

al c

omo

dign

o de

pro

teçã

o, p

ara

dess

a fo

rma

abri

gar

a re

laçã

o

jurí

dica

daí

dec

orre

nte

com

o vá

lida

e ef

icaz

.

E

m s

ínte

se,

funç

ão é

uso

, ut

ilida

de;

soci

al é

o q

ue i

nter

essa

à s

ocie

dade

.

A f

unçã

o so

cial

do

cont

rato

det

erm

ina,

poi

s, q

ue o

s in

tere

sses

ind

ivid

uais

dos

cont

rata

ntes

dev

am s

er u

sado

s em

con

sonâ

ncia

com

os

inte

ress

es d

a so

cied

ade

à

man

eira

que

est

es s

e fa

çam

pre

sent

es.

Port

anto

, el

a de

ve s

er e

nten

dida

com

o

razã

o e

limit

e pa

ra o

exe

rcíc

io d

a lib

erda

de d

e co

ntra

tar,

no

enta

nto

razã

o e

lim

ite

que

não

elim

ina

a au

tono

mia

pri

vada

. Seg

ue n

este

sen

tido

o E

nunc

iado

23

do

Cen

tro

de E

stud

os

Judi

ciár

ios

da

Just

iça

Fed

eral

: “A

fu

nção

so

cial

do

cont

rato

pre

vist

a no

art

. 42

1 do

nov

o C

ódig

o C

ivil

não

elim

ina

o pr

incí

pio

da

auto

nom

ia c

ontr

atua

l, m

as a

tenu

a ou

red

uz o

alc

ance

des

se p

rinc

ípio

, qu

ando

pres

ente

s in

tere

sses

met

aind

ivid

uais

ou

inte

ress

e re

lativ

o à

dign

idad

e da

pes

soa

hum

ana.

5.4

PR

INC

ÍPIO

DA

BO

A-F

É O

BJE

TIV

A

Com

o já

con

sign

ado,

a r

elaç

ão j

uríd

ica

obri

gaci

onal

é u

m p

roce

sso,

não

é um

esq

uem

a es

tátic

o. E

pro

cess

o su

gere

mov

imen

to,

fase

s um

a ap

ós o

utra

,

conc

aten

adas

, di

rigi

das

para

um

fim

col

imad

o: s

empr

e um

a pr

esta

ção

de d

ar,

faze

r ou

não

faz

er c

omo

form

a de

atin

gir

a su

a fi

nalid

ade

prim

ária

, qu

e é

a

sati

sfaç

ão d

o in

tere

sse

do c

redo

r. C

lóvi

s do

Cou

to e

Silv

a le

cion

a:

66

NO

RO

NH

A, F

eran

do. D

irei

to d

as o

brig

açõe

s: f

unda

men

tos

do d

irei

to d

as o

brig

açõe

s: in

trod

ução

à

resp

onsa

bilid

ade

civi

l, vo

lum

e 1.

São

Pau

lo: S

arai

va, 2

003,

p. 2

7.

84

Os

atos

re

aliz

ados

pe

lo

deve

dor,

be

m

assi

m

com

o os

re

aliz

ados

pel

o cr

edor

, re

perc

utem

no

mun

do j

uríd

ico,

nel

e in

gres

sam

e

são

disp

osto

s e

clas

sifi

cado

s se

gund

o um

a or

dem

, ate

nden

do-s

e ao

s co

ncei

tos

elab

orad

os p

ela

teor

ia d

o di

reito

. E

sses

ato

s, e

vide

ntem

ente

, te

ndem

a u

m f

im.

E é

pr

ecis

amen

te a

fin

alid

ade

que

dete

rmin

a a

conc

epçã

o da

ob

riga

ção

com

o pr

oces

so.67

A

ntes

de

se o

brig

ar a

s pa

rtes

ent

ram

em

um

a fa

se p

ré-c

ontr

atua

l, sã

o

enta

bula

das

trat

ativ

as p

ara

que

cheg

uem

a u

m a

cord

o. A

cord

adas

as

part

es,

a

obri

gaçã

o é

cont

rata

da,

é a

fase

da

conc

lusã

o ou

con

stitu

ição

do

cont

rato

,

mom

ento

em

que

ela

nas

ce p

ara

o m

undo

jur

ídic

o. N

o m

ais

das

veze

s a

obri

gaçã

o te

m u

ma

vida

jur

ídic

a, d

esen

volv

e-se

por

det

erm

inad

o ar

co d

e te

mpo

,

é a

fase

da

exec

ução

do

cont

rato

. Por

fim

, ext

ingu

e-se

com

o a

dim

plem

ento

, é a

fase

da

exti

nção

do

cont

rato

, e

aind

a po

dem

per

seve

rar

deve

res

aces

sóri

os p

ós-

cont

ratu

al.

A

cont

ece,

des

sa f

orm

a, c

om o

con

trat

o de

loc

ação

, de

com

pra

e ve

nda

a

praz

o, d

e em

prés

tim

o, d

e pr

esta

ção

de s

ervi

ços

etc.

Não

se

loca

um

bem

ant

es d

e

visi

tá-l

o se

im

óvel

, de

exam

iná-

lo s

e m

óvel

, ant

es d

e ac

orda

r o

alug

uel,

a fo

rma

de p

agam

ento

, o

praz

o de

vig

ênci

a. L

ocad

o o

bem

pag

a-se

o a

lugu

el,

até

que

a

loca

ção

cheg

a ao

seu

ter

mo

fina

l co

m a

res

titu

ição

do

bem

ao

prop

riet

ário

. S

ão

as

vári

as

fase

s de

um

m

esm

o co

ntra

to.

E

m t

odas

as

fase

s in

cide

a r

egra

no

art.

422

do C

ódig

o C

ivil,

em

bora

disp

onha

que

os

cont

rata

ntes

são

obr

igad

os a

gua

rdar

, “a

ssim

na

conc

lusã

o do

cont

rato

, com

o em

sua

exe

cuçã

o” o

s pr

incí

pios

da

prob

idad

e e

da b

oa-f

é. N

o qu

e

67

SIL

VA

, C

lóvi

s V

erís

sim

o do

Cou

to e

Sil

va.

A o

brig

ação

com

o pr

oces

so.

São

Pau

lo:

Bus

hats

ky,

1976

, p.

10.

P

roce

ssus

, de

proc

eder

e, te

m o

rige

m c

anôn

ica

e in

dica

um

a sé

rie

de a

tos

rela

cion

ados

ent

re s

i, co

ndic

iona

dos

um

ao o

utro

e in

terd

epen

dent

es.

Page 43: Aulas de Direito das Obrigações

85

é cr

itic

ado

pela

est

reite

za r

edac

iona

l, da

do q

ue n

ão c

onsi

gna

as f

ases

pré

e p

ós-

cont

ratu

al.68

É

exe

mpl

o di

dáti

co d

e qu

ando

o l

egis

lado

r fa

la m

enos

do

que

pret

endi

a,

mas

lem

bran

do M

igue

l R

eale

a l

ei n

ão é

a s

ua l

etra

, m

as o

seu

esp

írito

. N

este

sent

ido

o E

nunc

iado

25

do C

entr

o de

Est

udos

Jud

iciá

rios

do

Con

selh

o da

Jus

tiça

Fede

ral:

“O a

rt. 4

22 d

o C

ódig

o C

ivil

não

inv

iabi

liza

a a

plic

ação

, pel

o ju

lgad

or,

do

prin

cípi

o da

bo

a-fé

na

s fa

ses

pré

e pó

s-co

ntra

tual

”.

E

sse

artig

o, u

ma

cláu

sula

ger

al,

trat

a da

boa

-fé

obje

tiva

, qu

e nã

o se

conf

unde

co

m

a bo

a-fé

su

bjet

iva.

E

sta,

ta

mbé

m

cham

ada

de

conc

epçã

o

psic

ológ

ica

da b

oa-f

é, é

est

ado

de e

spír

ito,

a p

esso

a pr

atic

a um

ato

com

issi

vo o

u

omis

sivo

con

vict

o de

que

age

con

form

e a

lei.

É a

cre

nça

errô

nea

da e

xist

ênci

a de

um d

irei

to o

u da

val

idad

e de

um

neg

ócio

jur

ídic

o; u

ma

igno

rânc

ia d

escu

lpáv

el,

porq

uant

o au

sent

e o

prop

ósit

o de

pre

judi

car

dire

itos

alhe

ios.

É a

boa

-fé

pres

ente

no C

ódig

o C

ivil

revo

gado

e a

inda

no

atua

l qu

ando

, po

r ex

empl

o, r

efer

e-se

aos

efei

tos

da p

osse

qua

nto

à pe

rcep

ção

de f

ruto

s (C

C a

rt. 1

.214

), o

u na

aqu

isiç

ão d

a

prop

ried

ade

pela

usu

capi

ão o

rdin

ária

(C

C a

rt.

1.24

2).

.

A

boa

-fé

obje

tiva

, tam

bém

cha

mad

a de

con

cepç

ão é

tica

da

boa-

fé, é

um

padr

ão d

e co

ndut

a so

cial

, ve

rdad

eiro

arq

uétip

o ju

rídi

co o

u re

gra

de c

ondu

ta,

cara

cter

izad

o po

r um

a at

uaçã

o de

con

form

idad

e co

m a

hon

estid

ade,

a l

eald

ade

e

a co

rreç

ão,

de t

al s

orte

a n

ão b

alda

r a

conf

ianç

a da

out

ra p

arte

con

subs

tanc

iada

nas

suas

mai

s le

gítim

as e

xpec

tati

vas.

É e

xam

inad

a ex

tern

amen

te,

uma

vez

que

não

se d

eve

anal

isar

a c

onvi

cção

de

quem

atu

a, o

sen

tim

ento

que

o a

nim

a (b

oa-f

é

subj

etiv

a),

mas

a

conf

orm

idad

e de

su

a co

ndut

a co

m

o ca

so

conc

reto

,

harm

oniz

ando

-se

com

o

que

se

espe

ra

do

hom

em

prob

o na

co

nviv

ênci

a

com

unitá

ria,

sen

do,

pois

, pr

incí

pio

de o

rdem

púb

lica.

É a

esp

écie

de

boa-

fé q

ue

68

O C

ódig

o C

ivil

ital

iano

de

1942

tem

dis

posi

tivo

sim

ilar

: “A

rt. 1

.337

: le

par

ti, n

ello

svo

lgim

ento

del

le t

ratt

ativ

e e

nell

a fo

rmaz

ione

del

con

trat

o, d

evon

o co

mpo

rtar

si s

ecun

do b

uona

fed

e.”

86

inte

ress

a ao

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Con

juga

-se

com

o p

rinc

ípio

da

etic

idad

e,

entr

e el

es h

á ín

tim

a ite

raçã

o.

Epi

sódi

o re

itera

dam

ente

ci

tado

es

clar

ece

a

ques

tão

que

dife

renc

ia a

s du

as e

spéc

ies

de b

oa-f

é. O

pop

ular

sam

bist

a Z

eca

Pago

dinh

o ro

mpe

u co

ntra

to c

om c

onhe

cida

mar

ca d

e be

bida

e s

e vi

ncul

ou a

outr

a em

pres

a co

ncor

rent

e. E

m s

ua d

efes

a o

mús

ico

aleg

ou d

esco

nhec

imen

to d

o

seu

com

prom

isso

de

exc

lusi

vida

de.

Ape

sar

da e

vent

ual

pres

ença

da

boa-

subj

etiv

a (e

stad

o de

esp

írit

o ou

cre

nça)

, po

r ob

vio,

hou

ve f

lagr

ante

afr

onta

ao

prin

cípi

o da

boa

-fé

obje

tiva

(con

duta

des

ajus

tada

com

o c

aso

sing

ular

, co

m a

real

idad

e ne

goci

al).

.

Po

is b

em,

dist

inta

a b

oa-f

é ob

jetiv

a da

sub

jetiv

a, c

umpr

e di

zer

que

o

legi

slad

or p

átri

o in

spir

ou-s

e no

§ 2

42 C

ódig

o C

ivil

ale

mão

, art

. 1.3

75 d

o C

ódig

o

Civ

il it

alia

no.

A s

ua i

ntro

duçã

o no

Dir

eito

bra

sile

iro

é m

érit

o do

Cód

igo

de

Def

esa

do C

onsu

mid

or p

ara

torn

ar e

fetiv

o o

seu

art.

4º:

“A P

olít

ica

Nac

iona

l de

Rel

açõe

s de

Con

sum

o te

m p

or o

bjet

ivo

o at

endi

men

to d

as n

eces

sida

des

dos

cons

umid

ores

, o

resp

eito

a s

ua d

igni

dade

, sa

úde

e se

gura

nça,

a p

rote

ção

dos

inte

ress

es e

conô

mic

os,

a m

elho

ria

da s

ua q

uali

dade

de

vida

, be

m c

omo

a

tran

spar

ênci

a e

harm

onia

das

rel

açõe

s de

con

sum

o, a

tend

idos

os

segu

inte

s

prin

cípi

os:

... I

II –

har

mon

izaç

ão d

os i

nter

esse

s do

s pa

rtic

ipan

tes

das

rela

ções

de c

onsu

mo

e co

mpa

tibi

liza

ção

da p

rote

ção

do c

onsu

mid

or c

om a

nec

essi

dade

de d

esen

volv

imen

to e

conô

mic

o e

tecn

ológ

ico,

de

mod

o a

viab

iliz

ar o

s pr

incí

pios

nos

quai

s se

fun

da a

ord

em e

conô

mic

a (a

rt.

170,

da

Con

stit

uiçã

o F

eder

al),

sem

pre

com

bas

e na

boa

-fé

e eq

uilí

brio

nas

rel

açõe

s en

tre

cons

umid

ores

e

forn

eced

ores

.

R

essa

lte-

se, q

ue C

lovi

s do

Cou

to e

Sil

va já

pro

pugn

ava

a ad

oção

da

boa-

fé o

bjet

iva

com

a s

egui

nte

ensi

nanç

a:

Page 44: Aulas de Direito das Obrigações

87

Con

tudo

, a

inex

istê

ncia

, no

C

ódig

o C

ivil,

de

ar

tigo

sem

elha

nte

ao §

242

do

BG

B n

ão i

mpe

de q

ue o

pri

ncíp

io

tenh

a vi

gênc

ia e

m n

osso

dir

eito

das

obr

igaç

ões,

poi

s se

tra

ta

de p

ropo

siçã

o ju

rídi

ca, c

om s

igni

fica

do d

e re

gra

de c

ondu

ta.

O m

anda

men

to d

e co

ndut

a en

glob

a to

dos

os q

ue p

artic

ipam

do

vín

culo

obr

igac

iona

l e

esta

bele

ce,

entr

e el

es,

um e

lo d

e co

oper

ação

, em

fac

e do

fim

obj

etiv

o a

que

visa

m.

E

lo

go

em

segu

ida

com

plet

a:

“ O

pr

incí

pio

da

boa-

oper

a,

aqui

,

sign

ific

ativ

amen

te,

com

o m

anda

men

to

de

cons

ider

ação

.”69

E

vide

nte,

de

cons

ider

ação

de

um c

ontr

atan

te p

ara

com

o o

utro

.

D

e in

ício

, a

boa-

obje

tiva

tem

a

funç

ão

inte

rpre

tati

va,

é re

gra

de

inte

rpre

taçã

o do

s ne

góci

os j

uríd

icos

, as

sim

dis

pond

o o

art.

113:

“O

s ne

góci

os

jurí

dico

s de

vem

ser

int

erpr

etad

os c

onfo

rme

a bo

a-fé

e o

s us

os d

o lu

gar

da

cele

braç

ão.”

Tem

ain

da a

fun

ção

inte

grat

iva

com

o fo

nte

de d

ever

es a

nexo

s, o

u se

ja,

deve

dor

e cr

edor

dev

em p

ratic

ar a

boa

-fé

obje

tiva

não

apen

as n

os d

ever

es

prin

cipa

is:

o de

vedo

r pa

gar

e o

cred

or t

er o

dir

eito

de

exig

ir e

rec

eber

a

pres

taçã

o. A

bran

ge ta

mbé

m o

s de

vere

s co

late

rais

, ou

com

o de

nom

ina

com

mui

ta

prop

ried

ade

a do

utri

na p

ortu

gues

a de

vere

s an

exos

de

cond

uta,

um

a ve

z qu

e es

sa

mod

alid

ade

de b

oa-f

é há

de

ser

ente

ndid

a co

mo

regr

a de

vid

a, a

ssim

os

deve

res

de a

s pa

rtes

atu

arem

no

sent

ido

da t

rans

parê

ncia

que

im

plic

a na

boa

inf

orm

ação

ou a

cons

elha

men

to,

na c

oope

raçã

o m

útua

, no

cui

dado

obj

etiv

o em

abs

ter-

se d

e

expe

dien

tes

desn

eces

sári

os o

u m

eram

ente

pro

tela

tóri

os e

tc.

69

SIL

VA

, Clo

vis

Ver

íssi

mo

do C

outo

e. A

obr

igaç

ão c

omo

proc

esso

. São

Pau

lo: B

usha

tsky

, 197

6, p

. 30.

88

a) N

a fa

se p

ré-c

ontr

atua

l

N

a fa

se p

ré-c

ontr

atua

l, ta

mbé

m c

ham

ada

de p

ré-n

egoc

ial,

sobr

elev

a o

deve

r de

tr

ansp

arên

cia,

co

nsub

stan

ciad

o na

bo

a in

form

ação

e

no

corr

eto

acon

selh

amen

to.

A i

nfor

maç

ão é

a a

pres

enta

ção

dos

fato

s co

mo

são

de m

odo

a

eluc

idar

a c

ontr

apar

te, p

ara

que

man

ifes

te o

seu

con

sent

imen

to l

ivre

de

qual

quer

emba

raço

. A s

ituaç

ão, a

lém

de

acar

reta

r a

lesã

o, r

emet

e ao

víc

io r

edib

itóri

o. S

e o

alie

nant

e co

nhec

ia o

víc

io o

culto

e d

e m

á-fé

não

o i

nfor

mou

ao

adqu

iren

te,

rest

ituir

á o

que

rece

beu

com

per

das

e da

nos.

Se

não

o co

nhec

ia,

tão

som

ente

rest

ituir

á o

valo

r re

cebi

do m

ais

as d

espe

sas

do c

ontr

ato,

con

form

e o

text

o do

art

.

443

do C

ódig

o C

ivil.

A

córd

ão d

o T

ribu

nal

de J

ustiç

a do

Est

ado

do R

io d

e Ja

neir

o co

ntem

pla

a

prim

eira

hi

póte

se,

no

caso

em

qu

e o

vend

edor

oc

ulto

u,

mal

icio

sam

ente

,

vaza

men

to d

e ág

ua n

o im

óvel

que

ven

dia.

De

cert

o qu

e o

inad

impl

emen

to c

ontr

atua

l, po

r si

só,

não

co

ntém

pot

enci

al o

fens

ivo

à pe

rson

alid

ade

do c

ontr

atan

te,

mui

to m

enos

o v

ício

red

ibitó

rio,

qua

ndo

desc

onhe

cido

por

am

bas

as p

arte

s. N

ão o

bsta

nte,

se

a in

adim

plên

cia

ou o

víc

io

ocor

rem

der

ivad

os d

a m

á-fé

, em

que

se

tem

pra

ticad

o pe

lo

réu

ato

cons

cien

te t

ende

nte

a ca

muf

lar

situ

ação

ou

cond

ição

do

im

óvel

que

se

conh

ecid

a pe

lo a

utor

o n

egóc

io n

ão s

eria

ce

lebr

ado,

o d

ano

gera

do,

além

dos

mat

eria

is e

vide

ncia

dos,

te

m r

efle

xo n

a pe

rson

alid

ade

do a

utor

, po

sto

que

traí

do n

a su

a co

nfia

nça

[dan

o m

oral

] (T

JRJ,

Câm

. C

ível

, re

l. D

es.

Ron

aldo

Roc

ha P

asso

s, j.

18.

4.20

03, R

J 31

0/10

4)

A

teo

ria

do v

ício

red

ibitó

rio

cond

uz i

gual

men

te à

cau

tela

que

as

part

es

deve

m g

uard

ar,

proc

uran

do c

ada

cont

rata

nte,

de

si m

esm

o, a

s in

form

açõe

s

notó

rias

, o

cham

ado

cuid

ado

obje

tivo

, di

ligên

cia

indi

spen

sáve

l de

mod

o qu

e

Page 45: Aulas de Direito das Obrigações

89

send

o o

víci

o de

fác

il co

nsta

taçã

o pr

esum

e-se

que

hou

ve d

esíd

ia d

o ad

quir

ente

quan

do d

a co

nstit

uiçã

o do

con

trat

o.

Res

pons

abili

dade

ci

vil

– C

ompr

a e

vend

a –

Açã

o in

deni

zató

ria

– R

epar

ação

de

dano

s –

Aqu

isiç

ão d

e im

óvei

s qu

e, a

pós

um a

no d

a ce

lebr

ação

do

negó

cio,

foi

inv

adid

o po

r en

chen

te –

Com

prad

or q

ue a

lega

aus

ênci

a de

boa

-fé

obje

tiva

do v

ende

dor,

ao

ocul

tar

o fa

to d

e a

área

em

que

lo

cali

zado

o

bem

es

tar

suje

ita

a in

unda

ção

– In

adm

issi

bilid

ade

– C

asa

adqu

irid

a qu

e os

tent

ava

obra

s de

stin

adas

à c

onte

nção

de

água

de

chuv

a –

Fato

que

dev

eria

te

r de

sper

tado

a a

tenç

ão d

o ad

quir

ente

– V

erba

ind

evid

a.

Em

enta

Ofi

cial

: [.

..] C

asa

cerc

ada

por

sole

iras

de

conc

reto

, qu

e de

veri

am t

er d

espe

rtad

o a

aten

ção

do a

dqui

rent

e. F

ato

com

um

nas

resi

dênc

ias

situ

adas

ne

sta

rua,

qu

ando

as

ch

uvas

são

mui

to f

orte

s (T

JRJ,

Câm

. C

ív.,

j. 21

.5.2

008,

re

l. D

es. C

arlo

s C

. Lav

igne

de

Lem

os, R

T 8

76/3

45).

O

ra, o

adq

uire

nte

negl

igen

te q

ue p

oste

rior

men

te in

voca

o v

ício

, inc

ide

no

abus

o de

dir

eito

, pa

uta

o ve

nire

con

tra

fact

um p

ropr

ium

na

med

ida

em q

ue o

exer

cíci

o de

sse

dire

ito r

ecla

mad

o é

inco

mpa

tível

com

a s

ua c

ondu

ta o

rigi

nári

a.70

O

Cód

igo

de D

efes

a do

Con

sum

idor

foi

o q

ue m

ais

evol

uiu

nest

e te

ma.

Tan

to q

ue n

o ar

t. 31

ass

egur

a ao

con

sum

idor

inf

orm

açõe

s co

rret

as,

clar

as e

prec

isas

, os

tens

ivas

e e

m l

íngu

a po

rtug

uesa

, al

ém d

o pr

eço,

gar

antia

, pr

azo

de

valid

ade

e a

orig

em,

de m

odo

incl

usiv

o es

clar

ecim

ento

s so

bre

o ri

sco

que

o

prod

uto

apre

sent

a à

saúd

e e

à se

gura

nça.

A

at

uali

dade

ca

ract

eriz

a-se

pe

la

ofer

ta

de

uma

gam

a in

find

ável

de

prod

utos

e s

ervi

ços.

Alg

uns

sim

ples

, co

mo

a co

mpr

a e

vend

a de

um

a pe

ça d

e

roup

a, o

utro

s de

req

uint

ado

conh

ecim

ento

téc

nico

, as

sim

a

aqui

siçã

o ou

o

70

RO

SE

NV

AL

D, N

elso

n. C

ódig

o C

ivil

com

enta

do, c

oord

enaç

ão d

e C

ezar

Pel

uzo.

Bar

ueri

, SP

: Man

ole,

200

7, p

. 33

5.

90

cons

erto

de

um c

ompu

tado

r ou

mes

mo

de u

m a

utom

óvel

. Aqu

i o

adqu

iren

te, e

m

regr

a, n

ão p

ossu

i co

nhec

imen

to e

spec

ífic

o do

pro

duto

ou

do s

ervi

ço.

Surg

e a

info

rmaç

ão c

om to

da a

for

ça q

ue lh

e em

pres

ta a

teor

ia d

os d

ever

es a

cess

ório

s de

cond

uta.

O

utro

asp

ecto

da

info

rmaç

ão m

erec

e m

edita

ção.

Vár

ias

empr

esas

de

prod

utos

alim

entí

cios

aum

enta

ram

dis

sim

ulad

amen

te o

pre

ço d

e se

us p

rodu

tos,

utili

zand

o ex

pedi

ente

que

fru

stra

va o

dev

er d

e in

form

ar.

Ess

es p

rodu

tos

ante

s

cont

inha

m

cert

a qu

antid

ade,

po

r ex

empl

o,

trez

ento

s gr

amas

e

pass

aram

a

duze

ntos

e c

inqu

enta

gra

mas

com

ide

ntif

icaç

ão e

m l

etra

s m

iúda

s, d

e m

odo

que

os c

onsu

mid

ores

pou

co d

istin

guia

m,

pois

man

tida

a m

esm

a em

bala

gem

com

a

mes

ma

apre

sent

ação

.

Tod

a m

udan

ça q

ue a

carr

eta

aum

ento

de

preç

o, o

u qu

e se

rel

acio

na à

qual

idad

e e

quan

tidad

e, c

ompo

siçã

o do

pro

duto

e a

fins

, de

ve s

er d

esta

cada

par

a

que

poss

a se

r pe

rceb

ida

clar

amen

te.

Ass

im d

eter

min

a a

info

rmaç

ão s

ufic

ient

e,

aque

la q

ue p

ode

ser

cons

tata

da à

pri

mei

ra v

ista

. Já

ultr

apas

sada

a f

ase

em q

ue e

ra

com

um a

om

issã

o, a

pre

cari

edad

e ou

a a

usên

cia

de i

nfor

maç

ões

rela

tivam

ente

a

dado

s qu

e el

ucid

asse

m o

con

heci

men

to d

o pr

odut

o ou

do

serv

iço

ofer

tado

s.

Ali

ás, a

aus

ênci

a de

info

rmaç

ão s

ufic

ient

e er

a, n

o m

ais

das

veze

s, p

ropo

sita

da.

Fo

i o

acon

teci

do

com

a

indú

stri

a ta

bagi

sta,

des

taca

ndo

adve

rtên

cias

acer

ca d

os d

anos

à s

aúde

, be

m a

inda

edi

tand

o le

is q

ue p

roíb

em o

fum

o em

luga

res

fech

ados

. É o

que

não

aco

ntec

e co

m a

indú

stri

a de

beb

idas

alc

oólic

as, e

m

que

sobr

elev

a o

pode

r ec

onôm

ico

em d

etri

men

to d

o in

tere

sse

soci

al, p

ois

a le

ve

adve

rtên

cia

na s

ua p

ublic

idad

e nã

o co

ndiz

com

as

cons

equê

ncia

s de

sagr

adáv

eis

de s

eu u

so f

requ

ente

. M

orm

ente

as

cons

equê

ncia

s ne

fast

as q

uand

o es

sa e

spéc

ie

de b

ebid

a é

asso

ciad

a à

dire

ção

de v

eícu

los,

con

form

e de

mon

stra

m d

e m

anei

ra

irre

frag

ável

as

esta

tíst

icas

. T

anto

ass

im,

as e

diçõ

es d

a L

ei n

º 11

.705

e D

ecre

tos

nºs

6.48

8 e

6.48

9, t

odos

de

19 d

e ju

lho

de 2

008,

e r

ecen

tem

ente

a L

ei n

°

Page 46: Aulas de Direito das Obrigações

91

12.7

60/1

2,

disp

ondo

sob

re r

estr

içõe

s à

com

erci

aliz

ação

de

bebi

das

alco

ólic

as.

Tod

avia

, se

per

mit

e a

publ

icid

ade

exag

erad

a de

cer

veja

com

men

sage

ns s

ub-

rept

ícia

s de

alt

o te

or p

sico

lógi

co,

colo

cand

o-a

com

o in

gred

ient

e co

stum

eiro

que

traz

sat

isfa

ção

na c

onve

rsa

desp

reoc

upad

a, n

a al

egri

a em

enc

ontr

os d

a ju

vent

ude,

onde

jov

ens

saud

ávei

s de

cor

po a

tlét

ico

apar

ecem

com

um

fra

sco

nas

mão

s,

faze

ndo

esqu

ecer

a b

arri

ga p

roem

inen

te q

ue a

dvém

ao

cons

umid

or c

ontu

maz

.

Com

a p

alav

ra o

legi

slad

or q

ue te

m s

e m

ostr

ado

omis

so.

O

aco

nsel

ham

ento

é a

lgo

mai

s. P

rópr

io d

o té

cnic

o, d

o es

peci

alis

ta.

O

advo

gado

con

sult

ado

pelo

clie

nte

acon

selh

a-o,

poi

s se

ndo

espe

cial

ista

sob

re a

mat

éria

em

apr

eço

deve

tec

er o

s ar

gum

ento

s fa

vorá

veis

e c

ontr

ário

s, a

lert

ando

o

clie

nte

dos

perc

alço

s qu

e po

derá

enf

rent

ar n

o cu

rso

da d

eman

da.

É m

ais

que

info

rmaç

ão.

E

m s

uma,

a o

mis

são

de i

nfor

maç

ão o

u de

aco

nsel

ham

ento

con

stitu

i o

dolo

por

om

issã

o co

mo

prov

iden

cia

o ar

t. 14

7 do

Cód

igo

Civ

il: “

Nos

neg

ócio

s

jurí

dico

s bi

late

rais

, o

silê

ncio

int

enci

onal

de

uma

das

part

es a

res

peit

o de

fat

o

ou

qual

idad

e qu

e a

outr

a pa

rte

haja

ig

nora

do,

cons

titu

i om

issã

o do

losa

,

prov

ando

-se

que

sem

ela

o n

egóc

io n

ão s

e te

ria

cele

brad

o.”

b) F

ase

de c

oncl

usão

do

cont

rato

N

a fa

se d

a co

nclu

são

ou c

onst

itui

ção

do c

ontr

ato

a bo

a-fé

obj

etiv

a

sign

ific

a o

deve

r de

neg

ocia

r qu

e lim

ita

a lib

erda

de d

e nã

o co

ntra

tar,

ou

seja

, a

recu

sa d

e m

á-fé

de

honr

ar a

ofe

rta

esta

mpa

da n

a fa

se p

ré-c

ontr

atua

l.

A

em

pres

a C

ica,

pr

odut

ora

de

mas

sa

de

tom

ates

, co

mo

nos

anos

ante

rior

es,

dist

ribu

iu g

ratu

itam

ente

aos

peq

ueno

s ag

ricu

ltor

es d

o R

io G

rand

e do

Sul

sem

ente

s de

tom

ates

. F

eita

a c

olhe

ita n

egou

-se

a co

mpr

ar a

pro

duçã

o,

aleg

ando

já p

ossu

ir o

fru

to e

m q

uant

idad

e su

fici

ente

par

a a

sua

dem

anda

. Ant

e o

prej

uízo

so

frid

o po

r nã

o co

nseg

uir

mer

cado

co

nsum

idor

, os

ag

ricu

ltore

s

92

ingr

essa

ram

co

m

açõe

s de

pe

rdas

e

dano

s,

quan

do

aleg

aram

ru

ptur

a da

s

nego

ciaç

ões

e a

cons

eque

nte

frus

traç

ão d

e su

as l

egíti

mas

exp

ecta

tivas

bas

eada

s

na c

onfi

ança

da

real

izaç

ão d

o ne

góci

o co

mo

acon

teci

do n

os a

nos

prec

eden

tes.

As

açõe

s fo

ram

jul

gada

s pr

oced

ente

s, t

endo

por

fun

dam

ento

o p

rinc

ípio

da

boa-

obje

tiva

(TJR

S,

apel

açõe

s 59

1.02

7.81

8;

591.

028.

725;

59

1.02

8.74

1;

591.

028.

790)

.

O

C

ódig

o C

ivil

port

uguê

s te

m

mod

elar

di

spos

itivo

. N

o ar

t. 22

prov

iden

cia:

“Q

uem

neg

ocia

com

out

rem

par

a co

nclu

são

de u

m c

ontr

ato

deve

,

tant

o no

s pr

elim

inar

es c

omo

na f

orm

ação

del

e, p

roce

der

segu

ndo

as r

egra

s da

boa-

fé,

sob

pena

de

resp

onde

r pe

los

dano

s qu

e cu

lpos

amen

te c

ausa

r à

outr

a

part

e.”

A

firm

a-se

com

Ant

unes

Var

ela,

o s

impl

es i

níci

o de

neg

ocia

is c

ria

entr

e

as p

arte

s os

dev

eres

ace

ssór

ios

de p

robi

dade

e d

e le

alda

de,

dign

os d

e tu

tela

jurí

dica

. Con

tudo

, por

mai

s ce

nsur

ável

que

sej

a a

rupt

ura

das

nego

ciaç

ões

ness

a

fase

pré

-con

trat

ual,

não

se c

hega

ao

extr

emo

de o

brig

ar a

cel

ebra

ção

do c

ontr

ato,

mas

im

põe

a in

deni

zaçã

o pa

ra c

obri

r as

des

pesa

s fe

itas

pela

par

te p

reju

dica

da

ante

a f

rust

raçã

o in

just

ific

ada

do n

egóc

io.71

Sol

ução

abr

açad

a pe

lo o

rden

amen

to

jurí

dico

pát

rio,

em

bora

não

ost

ente

de

form

a di

reta

um

art

igo

de le

i nes

se te

or.

c) F

ase

de e

xecu

ção

do c

ontr

ato

N

a fa

se

de

exec

ução

do

co

ntra

to

enfa

tiza

-se

o de

ver

aces

sóri

o de

coop

eraç

ão e

ntre

as

part

es.

O d

eved

or c

oope

ra c

om o

cre

dor

ao p

roce

der

de

form

a co

eren

te p

ara

o ad

impl

emen

to d

e su

a pr

esta

ção

obri

gaci

onal

, pa

utan

do a

prob

idad

e ex

igid

a em

ca

da

caso

co

ncre

to.

Pre

vale

ce

a m

áxim

a pa

cta

sunt

serv

anda

; ca

be a

o de

vedo

r en

vida

r es

forç

os a

fim

de

sati

sfaz

er o

dir

eito

do

cred

or n

o lu

gar,

no

tem

po e

no

mod

o av

ença

dos.

71

VA

RE

LA

, Ant

unes

. Das

obr

igaç

ões

em g

eral

, vol

. I, 1

0 ed

. Coi

mbr

a: A

lmed

ina,

200

0, p

. 270

e 2

71.

Page 47: Aulas de Direito das Obrigações

93

O

cre

dor,

por

sua

vez

, ta

mbé

m d

eve

paut

ar a

pro

bida

de,

cola

bora

ndo

de

man

eira

esp

ecia

l em

não

dif

icul

tar

a ex

ecuç

ão d

a pr

esta

ção

obri

gaci

onal

e n

ão

agra

var

a ob

riga

ção

do

deve

dor,

ex

igin

do

mai

s do

qu

e o

cons

entid

o pe

la

equi

dade

ou

pelo

sen

so d

e ju

stiç

a. E

nsin

a a

resp

eito

Pie

tro

Perl

ingi

eri:

A o

brig

ação

não

se

iden

tific

a no

dir

eito

ou

nos

dire

itos

do

cred

or;

ela

conf

igur

a-se

cad

a ve

z m

ais

com

o um

a re

laçã

o de

co

oper

ação

. Is

so

impl

ica

uma

mud

ança

ra

dica

l de

pe

rspe

ctiv

a de

le

itura

da

di

scip

lina

das

obri

gaçõ

es:

esta

úl

tim

a nã

o de

ve

ser

cons

ider

ada

o es

tatu

to

cred

or;

a co

oper

ação

, e

um d

eter

min

ado

mod

o de

se

r, s

ubst

itui

a su

bord

inaç

ão

e o

cred

or

se

torn

a tit

ular

de

ob

riga

ções

ge

néri

cas

ou e

spec

ífic

as d

e co

oper

ação

ao

adim

plem

ento

do

deve

dor.

72

É c

omo

disp

õe a

liçã

o do

s tr

ibun

ais:

O

dev

er d

e as

sist

ênci

a, d

e co

oper

ação

ent

re o

s co

ntra

tant

es

deco

rre

do p

rinc

ípio

da

boa-

fé e

vis

a à

gara

ntia

da

étic

a à

rela

ção

obri

gaci

onal

, be

m c

omo

o co

rret

o ad

impl

emen

to d

a ob

riga

ção

(TR

F –

4ª R

egiã

o, 4

ª T

., j.

20.8

.200

3, r

el.

Des

. Fe

dera

l Val

dem

ar C

apel

etti,

RT

819

/379

).

Dia

nte

dess

e en

tend

imen

to a

obr

igaç

ão n

ão p

ode

ser

redu

zida

ape

nas

sob

o po

nto

de v

ista

neg

ativ

o, a

quel

e qu

e ex

ige

de a

s pa

rtes

abs

tere

m-s

e de

qua

lque

r

cond

uta

que

colo

que

em r

isco

ou

difi

culte

o c

umpr

imen

to d

o co

ntra

to. S

eria

um

a

redu

ção

inco

mpa

tível

co

m

o se

u su

peri

or

sign

ific

ado.

E

la

está

co

met

ida,

tam

bém

, de

um

a co

nota

ção

subs

tant

iva,

um

a pa

rte

deve

ag

ir

de

form

a a

cont

ribu

ir

para

co

m

a ou

tra

na

exec

ução

da

ob

riga

ção.

A

porq

ue o

se

u

fund

amen

to m

aior

é o

pri

ncíp

io c

onst

ituci

onal

da

soli

dari

edad

e (C

F a

rt.

3º,

inc.

I).

“Tal

o e

nten

dim

ento

que

dev

e no

rtea

r o

estu

do d

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s,

72

PE

RL

ING

IER

I, P

ietr

o. P

erfis

de

dire

ito

civi

l. T

radu

ção

de M

aria

Cri

stin

a D

e C

icco

. Rio

de

Jane

iro:

Ren

ovar

, 20

02, p

. 212

.

94

anal

isan

do

em

uma

pers

pect

iva

dinâ

mic

a e

func

iona

l, em

qu

e av

ulta

a

nece

ssid

ade

de c

oope

raçã

o pe

rman

ente

ent

re o

s ce

ntro

s de

int

eres

se d

a re

laçã

o

obri

gaci

onal

, à lu

z da

sol

idar

ieda

de c

onst

ituci

onal

.”73

V

on T

uhr

põe

a liç

ão: “

O c

redo

r se

con

stitu

i tam

bém

em

mor

a qu

ando

se

nega

a r

eali

zar

os a

tos

prep

arat

ório

s qu

e co

ncor

ram

a s

eu c

argo

, e s

em o

s qu

ais

o

deve

dor

não

pode

cum

prir

a p

rest

ação

obr

igac

iona

l qu

e lh

e in

cum

be”.

74 S

ão

exem

plos

as

obri

gaçõ

es d

e da

r co

isa

ince

rta

e as

alt

erna

tiva

s no

cas

o em

que

a

esco

lha

coub

er a

o cr

edor

; se

ele

não

a f

izer

o d

eved

or n

ão t

em c

omo

adim

plir

a

pres

taçã

o. I

gual

men

te, n

as o

brig

açõe

s em

que

o p

agam

ento

dev

e se

r re

aliz

ado

no

dom

icíl

io d

o de

vedo

r, c

umpr

indo

ao

cred

or i

r bu

scá-

lo.

É o

teo

r do

Enu

ncia

do

168

do C

entr

o de

Est

udos

Jud

iciá

rio

da J

usti

ça F

eder

al:

“O p

rinc

ípio

da

boa-

obje

tiva

im

port

a o

reco

nhec

imen

to d

e um

dir

eito

a c

umpr

ir a

fav

or d

o ti

tula

r

pass

ivo

da o

brig

ação

.”

Po

rtan

to,

no d

ever

ace

ssór

io d

e co

ndut

a de

nom

inad

o de

coo

pera

ção

deve

dor

e cr

edor

as

soci

am-s

e,

um

com

o

outr

o,

para

al

canç

ar

bene

fíci

os

recí

proc

os n

a re

part

ição

de

deve

res

recí

proc

os.

É a

pon

dera

ção

de L

uiz

Otá

vio

de O

livei

ra A

mar

al: “

na c

oope

raçã

o, o

vet

or é

o s

entim

ento

de

solid

arie

dade

dos

hom

ens.

”75

d) F

ase

pós-

cont

ratu

al

N

a fa

se p

ós-c

ontr

atua

l, se

gund

o a

regr

a ge

ral,

a ex

ecuç

ão d

o co

ntra

to

alfo

rria

as

part

es;

find

o o

negó

cio

jurí

dico

as

rela

ções

del

e or

iund

as e

xtin

guem

-

se. T

odav

ia, e

m d

eter

min

adas

sit

uaçõ

es p

erse

vera

m c

erto

s de

vere

s ac

essó

rios

de

73

TE

PE

DIN

O e

t alt

. Cód

igo

Civ

il in

terp

reta

do c

onfo

rme

a C

onst

itui

ção

Fed

eral

. Rio

de

Jane

iro:

Ren

ovar

, 200

4,

p. 4

94.

74 T

UH

R,

Von

. Tr

atad

o de

las

obl

igac

ione

s, p

rim

eira

edi

cion

, tr

aduz

ido

do a

lem

ão p

or W

. R

oces

. M

adri

d:

Edi

tori

al R

éus,

tom

o II

, p. 6

3, tr

aduç

ão li

vre

do s

egui

nte

text

o: “

El a

cree

dor

se c

onti

tuye

tam

bien

en

mor

a cu

ando

se

nie

gue

a re

aliz

ar l

os a

tos

prep

arat

orio

s qu

e co

rran

a c

argo

suy

o y

sin

los

cual

es e

l de

udor

no

pued

e cu

mpl

ir l

a pr

esta

ción

que

le in

cum

be.”

75

AM

AR

AL

, Lui

z O

távi

o de

Oli

veir

a. T

eori

a G

eral

do

Dir

eito

. Rio

de

Jane

iro:

For

ense

, 200

6, p

. 18.

Page 48: Aulas de Direito das Obrigações

95

cond

uta

entr

e as

par

tes.

É a

des

igna

da r

espo

nsab

ilid

ade

post

fac

tum

fin

itum

ou

sim

ples

men

te p

ós-c

ontr

atua

l.

O

s m

agaz

ines

mai

s so

fist

icad

os o

fere

cem

pro

duto

s da

mod

a fe

min

ina,

por

exem

plo,

rou

pas

de g

rife

com

o ex

clus

ivas

. Div

ulga

m q

ue c

ada

vest

ido,

blu

sa

ou o

utra

peç

a da

ves

tim

enta

, é

prod

uzid

a em

ape

nas

uma

unid

ade

por

mod

elo.

Não

pod

e de

pois

ofe

rece

r a

mes

ma

peça

a o

utro

s cl

ient

es.

A l

iter

atur

a ju

rídi

ca

põe

o ex

empl

o: a

can

tora

e a

triz

Mad

ona

adqu

iriu

com

o ún

ica

a jó

ia q

ue u

sou

na

fest

a de

seu

cas

amen

to.

Apó

s, a

rel

ojoa

ria

prod

uziu

jói

as i

dênt

icas

e a

s co

loco

u

no m

erca

do. P

aten

te a

fal

ta d

e bo

a-fé

obj

etiv

a po

st fa

ctum

fini

tum

.

A

ntôn

io J

unqu

eira

de

Aze

vedo

ret

ira

do l

usit

ano

Men

ezes

Jun

quei

ra t

rês

situ

açõe

s, u

ma

dela

s é

a se

guin

te:

o pr

opri

etár

io d

e um

pré

dio

de h

otel

pro

curo

u

o m

elho

r e

mai

s ba

rato

tip

o de

car

pete

. E

scol

heu

a fo

rnec

edor

a qu

e of

erec

eu o

men

or p

reço

, m

as c

omo

a em

pres

a nã

o fa

zia

a co

loca

ção,

ind

icou

um

a pe

ssoa

com

prá

tica

para

tan

to.

Dei

xou,

con

tudo

, de

inf

orm

ar q

ue o

car

pete

era

de

um

tipo

novo

, di

fere

nte.

O c

oloc

ador

de

carp

ete

usou

col

a in

adeq

uada

e,

sem

anas

depo

is,

todo

car

pete

est

ava

estr

agad

o. A

for

nece

dora

arg

uiu

que

cum

priu

o

cont

rato

, en

treg

ando

o c

arpe

te a

dqui

rido

e a

inda

fez

o f

avor

de

reco

men

dar

o

colo

cado

r.76

N

o en

tant

o, p

ela

regr

a da

boa

-fé

obje

tiva

a fo

rnec

edor

a ne

glig

enci

ou,

deve

ria

ao m

enos

ter

adv

erti

do a

pro

pósi

to d

o no

vo t

ipo

de c

arpe

te,

espé

cie

do

deve

r de

info

rmar

. O e

pisó

dio

dem

onst

ra q

ue a

des

ídia

, na

fase

pré

-con

trat

ual

de

info

rmar

, con

duz

a re

spon

sabi

lida

de p

ós-c

ontr

atua

l.

O

utro

dev

er a

cess

ório

de

cond

uta,

com

um n

o po

st f

actu

m f

init

um, é

o d

e

man

ter

sigi

lo s

obre

alg

uma

cois

a ou

alg

um f

ato

que

um d

os c

ontr

atan

tes

tom

a

76

AZ

EV

ED

O, A

ntôn

io J

unqu

eira

. Est

udos

e p

arec

eres

de

dire

itos

pri

vado

. São

Pau

lo: S

arai

va, 2

004,

p.1

51 e

15

2.

96

conh

ecim

ento

da

outr

a pa

rte,

co

nstit

uind

o-se

em

mai

s um

exe

mpl

o do

dev

er

nega

tivo:

obr

igaç

ão d

e nã

o fa

zer.

A

ter

ceir

a fu

nção

da

boa-

fé o

bjet

iva

é a

de c

ontr

ole

com

o li

mit

e ao

exer

cíci

o do

s di

reit

os s

ubje

tivos

, co

mo

prov

iden

cia

o ar

t. 18

7 do

Cód

igo

Civ

il.

Tra

ta-s

e do

abu

so d

e di

reito

, qua

ndo

se e

xtra

pola

m o

s li

mit

es i

mpo

stos

pel

o fi

m

econ

ômic

o e

soci

al,

pela

boa

-fé

e pe

los

bons

cos

tum

es.

Avu

ltam

as

figu

ras

do

veni

re c

ontr

a fa

ctum

pro

priu

m e

do

tu q

uoqu

e, p

oden

do a

cres

cent

ar a

aem

ulat

io.

e) V

enir

e co

ntra

fact

um p

ropr

ium

E

mbo

ra j

á re

feri

do v

ale

deta

lhar

. O

ven

ire

cont

ra f

actu

m p

ropr

ium

dei

ta

orig

em n

o D

irei

to C

anôn

ico,

que

ina

dmit

e a

adoç

ão d

e co

ndut

as c

ontr

aditó

rias

.

É r

egra

de

coer

ênci

a. V

eda

que

algu

ém a

ja e

m d

eter

min

ado

mom

ento

de

cert

a

man

eira

par

a, e

m m

omen

to p

oste

rior

, ag

ir d

e fo

rma

cont

rári

a in

do c

ontr

a o

com

port

amen

to t

omad

o em

pri

mei

ro l

ugar

. Im

agin

a-se

um

con

trat

o de

loc

ação

em q

ue é

pro

ibid

a a

subl

ocaç

ão c

om a

qua

l, no

ent

anto

, o

loca

dor

cons

inta

taci

tam

ente

. Em

mom

ento

pos

teri

or, e

le n

ão p

oder

á re

quer

des

pejo

pel

a vi

olaç

ão

dess

a cl

áusu

la. S

eria

vir

con

tra

os s

eus

próp

rios

pas

sos.

Segu

ro S

aúde

. Clá

usul

a de

lim

itaç

ão d

e re

embo

lso.

Neg

ativ

a de

ree

mbo

lso

inte

gral

de

desp

esas

com

hon

orár

ios

méd

icos

ba

sead

a em

eq

uaçã

o de

su

post

a di

fíci

l co

mpr

eens

ão.

Con

trat

o co

mpl

emen

tado

po

r m

anua

l do

us

uári

o e

por

com

port

amen

to

conc

lude

nte

das

part

es,

que

por

ano

util

izar

am

do

reem

bols

o pa

rcia

l. B

oa-f

é ob

jeti

va.

Ven

ire

cont

ra

fact

um

prop

rium

. Im

poss

ibili

dade

de

co

ndut

a co

ntra

ditó

ria,

par

a fi

ns d

e qu

estio

nar

supo

sta

com

plex

idad

e da

clá

usul

a so

men

te q

uand

o ac

omet

ida

de g

rave

doe

nça,

co

m

reem

bols

o qu

e ob

edec

eu

os

mes

mos

pa

râm

etro

s an

teri

orm

ente

ace

itos

pala

s pa

rtes

. R

efor

ma

da s

ente

nça,

le

vand

o em

con

ta a

s ci

rcun

stân

cias

do

caso

con

cret

o (T

JSP,

C

âm.

de

Dir

. Pr

ivad

o,

Ape

laçã

o nº

02

2069

2-

Page 49: Aulas de Direito das Obrigações

97

86.2

007.

8.26

.010

0,

rel.

Des

. Fr

anci

sco

Lou

reir

o,

j. 24

.2.2

011)

.

N

este

sen

tido

o E

nunc

iado

362

do

Cen

tro

de E

stud

os J

udic

iári

o da

Just

iça

Fede

ral:

“A v

edaç

ão d

o co

mpo

rtam

ento

con

trad

itór

io (

veni

re c

ontr

a

fact

um p

ropr

im)

fund

a-se

na

prot

eção

da

conf

ianç

a, t

al c

omo

se e

xtra

i do

s ar

ts.

187

e 42

2 do

Cód

igo

Civ

il.”

Por

con

segu

inte

, a c

onfi

ança

pod

e se

r fr

ustr

ada

por

ato

com

issi

vo,

no c

aso

de s

e ag

uard

ar q

ue d

eter

min

ada

cond

uta

será

ado

tada

,

com

o po

r at

o om

issi

vo n

o ca

so d

e qu

e na

da s

erá

feit

o co

mo

no e

xem

plo

acim

a

da lo

caçã

o.77

f) T

u qu

oque

O

tu

quoq

ue g

uard

a al

usão

a c

eleb

re f

rase

do

impe

rado

r ro

man

o Jú

lio

Ces

ar q

uand

o di

stin

gue

seu

filh

o ad

otiv

o M

arco

Bru

to,

entr

e os

seu

s al

goze

s, a

sign

ific

ar “

até

você

”? S

e na

exe

cuçã

o de

um

con

trat

o al

guém

vio

la u

ma

norm

a

jurí

dica

, nã

o po

de

post

erio

rmen

te

tent

ar

tira

r pr

ovei

to

da

situ

ação

em

se

u

bene

fíci

o. É

a a

lega

ção

da p

rópr

ia t

orpe

za,

veda

da p

elo

dire

ito:

nem

o au

ditu

r

prop

rium

tu

rpit

udin

em.

O

art.

1.81

4,

inc.

II

I,

do

Cód

igo

Civ

il é

hipó

tese

mar

cant

e: s

e o

herd

eiro

ou

lega

tári

o, p

or v

iolê

ncia

ou

mei

os f

raud

ulen

tos,

ini

be

ou o

bsta

o a

utor

da

hera

nça

a di

spor

liv

rem

ente

de

seus

ben

s po

r at

o de

últi

ma

vont

ade,

não

pod

erá,

dep

ois,

par

ticip

ar d

a he

ranç

a. T

ambé

m q

uem

pos

sui

um

bem

de

má-

fé (

sabe

que

sua

pos

se é

vio

lent

a, c

land

estin

a ou

pre

cári

a),

não

tem

dire

ito

de r

eten

ção

da i

mpo

rtân

cia

das

benf

eito

rias

nec

essá

rias

, ne

m p

oder

á

leva

ntar

as

volu

ptuá

rias

(C

C a

rt.

1.22

0).

Nos

doi

s ex

empl

os a

con

duta

ini

cial

é

ilíci

ta, e

del

a nã

o po

de ti

rar

prov

eito

pró

prio

em

mom

ento

pos

teri

or.78

77

DU

AR

TE

, R

onni

e P

reus

s. B

oa-f

é, a

buso

de

dire

ito

e o

novo

cód

igo

civi

l br

asil

eiro

. R

T 8

17,

nove

mbr

o de

20

03, p

. 72.

78

Par

a A

ntôn

io J

unqu

eira

de

Aze

vedo

apl

ica-

se o

tu

quoq

ue n

a ex

ceçã

o do

con

trat

o nã

o cu

mpr

ido

(Est

udos

e

pare

cere

s de

dir

eito

pri

vado

. Sã

o P

aulo

: S

arai

va,

2004

, p.

169

). É

est

e en

tend

imen

to d

e T

eres

a N

egre

iros

(P

rinc

ípio

s do

dir

eito

civ

il c

onte

mpo

râne

o, c

oord

enaç

ão d

e M

aria

Cel

ina

Bod

in d

e M

orae

s. R

io d

e Ja

neir

o:

Ren

ovar

, 200

6, p

. 236

). P

ara

Ron

nie

Pre

uss

Dua

rte

esta

s du

as f

igur

as n

ão s

e co

nfun

dem

, poi

s en

quan

to a

exc

eção

98

Em

con

trat

o de

em

prés

tim

o ba

ncár

io,

que

por

ato

atri

buíd

o à

próp

ria

inst

ituiç

ão n

ão f

oi i

nfor

mad

a a

cond

ição

de

func

ioná

rio

públ

ico

efet

ivo,

o b

anco

pret

ende

u m

odif

icar

a p

rátic

a de

cob

ranç

a de

jur

os a

nter

iorm

ente

con

trat

ada,

deci

diu

o T

ribu

nal d

e Ju

stiç

a do

Est

ado

de M

inas

Ger

ais:

Se a

con

diçã

o de

ser

fun

cion

ário

púb

lico

efe

tivo

não

esta

ex

pres

sa n

o co

nvên

io e

não

é i

nfor

mad

a pr

evia

men

te p

elo

banc

o ao

con

trat

ante

, nã

o po

de a

ins

titui

ção

fina

ncei

ra s

e be

nefi

ciar

de

sta

sua

omis

são

para

, ap

ós

forn

ecer

o

empr

ésti

mo,

pra

tica

r ta

xas

mai

ores

em

vir

tude

da

dist

inçã

o en

tre

efet

ivos

e

cont

rata

dos.

V

edaç

ão

ao

tu

quoq

ue.

A

rest

riçã

o de

cr

édito

do

de

vedo

r,

deco

rren

te

do

desc

onhe

cim

ento

con

trat

ual

pelo

pró

prio

cre

dor,

que

apl

ica

taxa

s su

peri

ores

àqu

elas

ant

erio

rmen

te o

fere

cida

s, a

busa

de

dire

ito e

não

enc

ontr

a ar

rim

o na

esc

usa

do e

xerc

ício

reg

ular

de

um

dir

eito

. D

ano

mor

al e

xist

ente

(T

JMG

, 11

ª C

âm.,

Ape

laçã

o C

ível

1.06

1.07

.050

484-

8/00

1, r

el. D

es. M

arce

lo

Rod

rigu

es, j

. 21.

5.20

08).

H

ouve

, no

caso

, a v

iola

ção

do d

ever

ane

xo d

e in

form

ação

suf

icie

nte,

que

cabi

a ao

ban

co,

não

pode

ria,

poi

s, e

m m

omen

to p

oste

rior

val

er-s

e da

pró

pria

omis

são,

tira

ndo

prov

eito

em

seu

ben

efíc

io.

g)

Aem

ulat

io

A

ae

mul

atio

, no

ve

rnác

ulo

emul

ação

, es

tabe

leci

da

desd

e o

Dir

eito

Rom

ano,

sur

ge s

empr

e qu

e o

exer

cíci

o re

gula

r de

um

dir

eito

tem

por

esc

opo

não

a sa

tisf

ação

de

uma

nece

ssid

ade

de

seu

titul

ar,

com

o fo

rma

de l

he

traz

er

dete

rmin

ada

vant

agem

, m

as o

fir

me

prop

ósito

de

caus

ar d

ano

a ou

trem

. É

a

riva

lida

de m

aldo

sa, a

von

tade

dol

osa

de p

reju

dica

r. O

dir

eito

pro

cess

ual

civi

l dá

o ex

empl

o na

litig

ânci

a de

má-

fé, c

onsi

sten

te d

o in

gres

so e

m j

uízo

sem

que

haj

a

qual

quer

fun

dam

ento

jur

ídic

o,

apen

as

com

a i

nten

ção

delib

erad

a de

cau

sar

do c

ontr

ato

não

cum

prid

o ex

ige

a si

nalá

gma,

o t

u qu

oque

ind

epen

de d

e pr

esta

ções

cor

resp

ecti

vas

(Boa

-fé,

abu

so

de d

irei

to e

o n

ovo

CC

bra

sile

iro,

in R

T 8

17/7

3 e

74).

Page 50: Aulas de Direito das Obrigações

99

prej

uízo

alh

eio.

No

Dir

eito

Em

pres

aria

l a

conc

orrê

ncia

des

leal

. No

Dir

eito

Pen

al

a de

nunc

iaçã

o ca

luni

osa,

que

no

Dir

eito

Civ

il d

á en

sanc

has

à re

para

ção

por

dano

mor

al.

Res

pons

abil

idad

e ci

vil

– A

ção

de r

epar

ação

de

dano

mor

al.

1 –

A r

epre

sent

ação

cri

min

al f

unda

da n

a al

egaç

ão d

e “c

rim

e de

am

eaça

”, q

uand

o in

tent

a co

m t

emer

idad

e, d

olo

ou m

á-fé

, as

sim

com

o de

spro

vida

de

pres

supo

stos

leg

ais

e fá

tico

s, a

o co

nstr

ange

r o

repr

esen

tado

a

resp

onde

r po

r in

quér

ito

polic

ial,

post

erio

rmen

te a

rqui

vado

por

sen

tenç

a, a

figu

ra-s

e co

mo

lesi

va a

o pa

trim

ônio

mor

al e

jurí

dico

do

repr

esen

tado

. II

– O

corr

ênci

a, n

a hi

póte

se, d

e ev

ento

dan

oso,

cul

pa e

nex

o de

cau

salid

ade

entr

e a

cond

uta

do a

gent

e e

a of

ensa

à e

sfer

a ju

rídi

ca e

mor

al d

a pe

ssoa

do

repr

esen

tado

, a

ense

jar,

por

co

nseg

uint

e, o

dev

er d

e in

deni

zar

[...]

(T

JCE

, 2ª C

âm. C

ível

, re

l. D

es.

José

M

auri

M

oura

R

ocha

, j.

10.1

1.19

99,

RJ

268/

116)

.

A

em

ulaç

ão r

esid

e ex

atam

ente

na

vont

ade

delib

erad

a de

pre

judi

car

o

repr

esen

tado

por

um

cri

me

sabi

dam

ente

que

ele

não

o c

omet

eu, t

endo

por

esc

opo

apen

as

prej

udic

á-lo

. T

anto

qu

e é

dire

ito

de

qual

quer

ci

dadã

o le

var

ao

conh

ecim

ento

da

auto

rida

de p

olic

ial

a oc

orrê

ncia

de

um f

ato

tipif

icad

o co

mo

crim

e. A

not

itia

cri

min

is,

se d

esti

tuíd

a de

má-

fé,

não

gera

les

ão n

a pe

ssoa

indi

cada

(R

T 8

18/2

73).

5.5

PR

INC

ÍPIO

DA

RE

SPO

NSA

BIL

IDA

DE

PA

TR

IMO

NIA

L

N

o D

irei

to

Rom

ano,

am

estr

a Jo

Car

los

Mor

eira

A

lves

, o

vínc

ulo

exis

tent

e en

tre

o su

jeito

pas

sivo

e o

suj

eito

ativ

o er

a pu

ram

ente

pes

soal

, que

ele

o

cham

a de

mat

eria

l, po

is a

pes

soa

do d

eved

or e

ra s

ubm

etid

a à

vont

ade

do c

redo

r,

send

o qu

e pe

la m

anus

inj

ecti

o pe

rdia

o s

tatu

s li

bert

atis

, ch

egan

do à

cap

itis

dem

inut

io m

axim

a, o

dev

edor

dei

xava

de

ser

cons

ider

ado

pess

oa (

pers

onae

),

torn

ava-

se j

urid

icam

ente

coi

sa (

res)

. É

que

o c

redo

r tin

ha a

act

io i

n pe

rson

am

10

0

cont

ra o

dev

edor

, co

nfor

me

disp

osto

na

Lei

das

XII

Táb

uas.

Mai

s ta

rde,

com

a

ediç

ão d

a L

ex P

oete

lia

Pap

iria

, 32

6 a.

C.,

pass

ou a

ser

um

vín

culo

jur

ídic

o, o

u

um v

íncu

lo r

eal,

que

Mor

eira

Alv

es o

cha

ma

de i

mat

eria

l, re

spon

dend

o pe

lo

débi

to n

ão m

ais

o co

rpo

do d

eved

or,

mas

o s

eu p

atri

môn

io.79

É a

tra

nsiç

ão d

a

pess

oalid

ade

para

a p

atri

mon

ialid

ade

da o

brig

ação

.

O

D

irei

to

med

ieva

l, co

nser

vand

o a

conc

epçã

o ob

riga

cion

al

da

époc

a

clás

sica

, in

trod

uziu

no

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

mai

or t

eor

de e

spir

itual

idad

e,

conf

undi

ndo

mes

mo

com

a id

eia

de p

ecad

o a

falt

a de

exe

cuçã

o da

obr

igaç

ão, q

ue

era

equi

para

da à

men

tira

, co

nden

ada

toda

que

bra

de f

é ju

rada

. Pe

lo a

mor

a

pala

vra

empe

nhad

a,

os

teól

ogos

e

os

cano

nist

as

inst

ituír

am

o re

spei

to

aos

com

prom

isso

s,

a ch

amad

a pa

cta

sunt

se

rvan

da,

que

lhe

inst

ilara

m

mai

or

cont

eúdo

de

m

oral

idad

e co

m

a in

vest

igaç

ão

da

caus

a,

refo

rçan

do

a

patr

imon

ialid

ade.

80

O D

irei

to m

oder

no n

ão a

band

onou

a n

oção

rom

anis

ta.

O C

ódig

o de

Nap

oleã

o (C

ódig

o C

ivil

fran

cês

de

1804

ai

nda

em

vigo

r),

insp

irad

or

das

codi

fica

ções

do

culo

X

IX

e in

ício

do

culo

X

X,

firm

ou

a po

siçã

o de

patr

imon

ialid

ade

das

obri

gaçõ

es a

o es

tabe

lece

r no

art

. 2.

093

que

os b

ens

do

deve

dor

são

a ga

rant

ia d

e se

us c

redo

res.

H

odie

rnam

ente

per

seve

ra a

exe

cuçã

o re

al p

or r

ecai

r so

bre

o pa

trim

ônio

do

deve

dor.

Con

tudo

rem

anes

ce r

esqu

ício

sob

re a

exe

cuçã

o pe

ssoa

l ap

enas

em

um

caso

no

art.

5º,

inc.

LX

VII

, da

Con

stitu

ição

Fed

eral

, qu

ando

da

recu

sa d

e

alim

ento

s,81

de

sort

e a

alus

ão a

o de

posi

tári

o in

fiel

, po

r nã

o co

nsta

r do

Pac

to d

e

São

José

da

Cos

ta R

ica,

não

mai

s su

bsis

te d

epoi

s da

Em

enda

Con

stitu

cion

al 4

5.

79

AL

VE

S, J

osé

Car

los

Mor

eira

. Dir

eito

rom

ano,

vol

ume

1, 6

ed.

Rio

de

Jane

iro:

For

ense

, 200

3, p

. 121

e v

olum

e 2,

p. 1

0.

80 P

ER

EIR

A,

Cai

o M

ário

da

Silv

a. I

nsti

tuiç

ão d

e di

reit

o ci

vil:

vol

ume

II:

Teo

ria

gera

l da

s ob

riga

ções

, 22

ed.

, at

ual.

por

Gui

lher

me

Cal

mon

Nog

ueir

a da

Gam

a. R

io d

e Ja

neir

o: F

oren

se, 2

009,

p. 1

1.

81 S

úmul

a 30

9 do

ST

J: “

O d

ébito

ali

men

tar

que

auto

riza

a p

risã

o ci

vil

do a

lim

enta

nte

é o

que

com

pree

nde

as tr

ês

pres

taçõ

es a

nter

iore

s à

cita

ção

e as

que

ven

cere

m n

o cu

rso

do p

roce

sso”

.

Page 51: Aulas de Direito das Obrigações

10

1

C

omo

cons

igna

do,

prev

eja

o ar

t. 39

1 do

C

ódig

o C

ivil:

“P

elo

adim

plem

ento

da

s ob

riga

ções

re

spon

dem

to

dos

os

bens

do

de

vedo

r.”

A

inte

rpre

taçã

o de

ste

disp

ositi

vo

não

deve

se

r le

vada

no

se

ntid

o dr

acon

iano

.

Em

bora

a

men

ção

de

que

todo

s os

be

ns

do

deve

dor

resp

onde

m

pelo

inad

impl

emen

to, n

a ve

rdad

e, a

lei

est

abel

ece

lim

ites

. A r

igor

, nem

tod

os o

s be

ns

são

alca

nçad

os. A

qui s

e ve

rifi

ca o

diá

logo

das

fon

tes

(int

ecom

plem

enta

rida

de):

o

Dir

eito

Civ

il de

ve s

er in

terp

reta

do e

m c

onju

nto

com

o D

irei

to P

roce

ssua

l C

ivil

e

com

a le

i esp

ecia

l.

N

ão s

ão a

lcan

çado

s os

ben

s de

scri

tos

no a

rt.

649

do C

ódig

o de

Pro

cess

o

Civ

il, a

inda

os

bens

de

fam

ília

ass

im c

onsi

dera

dos

pela

Lei

n.

8.00

9, d

e 29

de

mar

ço d

e 19

90,

bem

com

o aq

uele

s pr

evis

tos

a pa

rtir

do

art.

1.71

1 do

Cód

igo

Civ

il, p

ois

um te

rço

do p

atri

môn

io lí

quid

o po

de s

er r

eser

vado

, med

iant

e es

critu

ra

públ

ica

ou t

esta

men

to,

com

o be

m d

e fa

míli

a, m

antid

a a

impe

nhor

abili

dade

do

imóv

el q

ue s

e pr

esta

com

o do

mic

ílio

fam

ilia

r.

R

ecen

tem

ente

, o

Supe

rior

Tri

buna

l de

Jus

tiça

ente

ndeu

que

em

cas

o de

inad

impl

emen

to d

e dí

vida

ali

men

tar

não

prev

alec

e a

rese

rva

de b

em d

e fa

míl

ia.

N

ão h

á de

sur

pree

nder

, é ju

sta

e eq

uâni

me,

de

mod

o qu

e en

tre

dire

itos

em

colis

ão,

pref

eriu

o E

grég

io C

oleg

iado

op

tar

por

aque

le q

ue

mai

s at

ende

a

dign

idad

e hu

man

a,

não

deix

ar q

uem

ne

cess

ita

de

alim

ento

s ao

de

sam

paro

,

mor

men

te c

onsi

dera

ndo

que

alim

ento

s sã

o es

sênc

ias

à pr

ópri

a su

bsis

tênc

ia d

o

alim

enta

ndo.

N

esse

ent

reta

nto

cum

pre

tran

scre

ver

lúci

da l

ição

de

Cri

stia

no C

have

s de

Fari

as e

Nel

son

Ros

enva

ld:

A

hum

aniz

ação

da

exec

ução

se

apli

ca e

m p

rol

de a

mbo

s os

pa

rcei

ros

obri

gaci

onai

s e

o or

dena

men

to j

uríd

ico

não

pode

, so

b o

pali

o da

tut

ela

à di

gnid

ade

do d

eved

or,

exag

erar

na

tute

la d

o ex

ecut

ado

a po

nto

de f

rust

rar

a le

gíti

ma

expe

ctat

iva

10

2

de c

onfi

ança

do

titu

lar

do c

rédi

to a

cerc

a do

adi

mpl

emen

to.

O m

ínim

o ex

iste

ncia

l rem

ete

à pr

oteç

ão d

o ne

cess

ário

à v

ida

dign

a,

jam

ais

à m

anut

ençã

o de

um

pa

drão

de

vi

da

do

deve

dor

às e

xpen

sas

do s

acri

fíci

o da

pos

ição

jur

ídic

a do

cr

edor

e d

e su

as n

eces

sida

des

econ

ômic

as.82

B

em

por

isso

, es

tes

dois

ci

vili

stas

, lo

go

acim

a da

li

ção

tran

scri

ta,

asse

gura

m q

ue u

ma

inte

rpre

taçã

o do

art

. 391

do

Cód

igo

de P

roce

sso

Civ

il, à

luz

da

herm

enêu

tica

cons

tituc

iona

l, de

man

da

uma

rele

itura

ne

stes

te

rmos

: pe

lo

inad

impl

emen

to d

as o

brig

açõe

s re

spon

dem

tod

os o

s be

ns d

o de

vedo

r qu

e nã

o

alca

ncem

o s

eu p

atri

môn

io m

ínim

o.

5.6

CO

NC

EIT

OS

DE

P

AT

RIM

ON

IAL

IDA

DE

DE

SPA

TR

IMO

NIA

LID

AD

E E

RE

PE

RSO

NA

LID

AD

E

Por

tod

o o

expo

sto,

esp

ecia

lmen

te n

o ap

reço

dos

pri

ncíp

ios

diss

erta

dos,

o

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões

pós-

mod

erno

tra

z co

nsub

stan

cial

mud

ança

. Pe

rsis

te n

a

idei

a de

pat

rim

onia

lida

de é

o p

atri

môn

io d

o de

vedo

r qu

e ga

rant

e o

cred

or,

e

inov

a co

m a

des

patr

imon

iali

zaçã

o es

tabe

lece

ndo

a su

a re

pers

onal

izaç

ão.

A

des

patr

imon

iali

zaçã

o de

ve s

er e

nten

dida

no

sent

ido

de q

ue o

pat

rim

ônio

não

é o

mot

ivo

da r

elaç

ão j

uríd

ica

obri

gaci

onal

. O

vín

culo

de

dire

ito e

xist

e po

r

caus

a da

s pe

ssoa

s e

dos

seus

int

eres

ses

em c

onst

ituir

, m

odif

icar

ou

extin

guir

dire

itos

, é

o qu

e se

de

nom

ina

de

repe

rson

aliz

ação

da

re

laçã

o ju

rídi

ca

obri

gaci

onal

, qu

e el

ege

a pe

ssoa

com

o m

otiv

o pr

imei

ro d

a tu

tela

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.

Na

lição

de

Fran

cisc

o A

mar

al,

não

o su

jeito

abs

trat

o do

lib

eral

ism

o

econ

ômic

o, “

mas

o h

omem

con

cret

o da

soc

ieda

de c

onte

mpo

râne

a, n

a bu

sca

de

um h

uman

ism

o so

cial

men

te c

ompr

omet

ido”

, par

a co

mpl

etar

sec

unda

ndo

Lar

enz:

82

FA

RIA

S, C

rist

iano

Cha

ves

e R

OS

EN

VA

LD

, Nel

son.

Dir

eito

das

obr

igaç

ões,

4 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: L

umen

Ju

ris,

200

9, p

. 7.

Page 52: Aulas de Direito das Obrigações

10

3

“res

taur

ar o

pri

mad

o do

hom

em é

o p

rim

eiro

dev

er d

e um

a te

oria

ger

al d

o

dire

ito”

.83

É

a a

firm

ação

de

Mar

ia C

elin

a B

odin

de

Mor

aes

ao d

isse

rtar

sob

re o

impe

rati

vo c

ateg

óric

o de

Kan

t:

Com

põe

o im

pera

tivo

cat

egór

ico

a ex

igên

cia

de q

ue o

ser

hu

man

o ja

mai

s se

ja v

isto

, ou

usa

do,

com

o um

mei

o pa

ra

atin

gir

outr

as

fina

lidad

es,

mas

se

mpr

e se

ja

cons

ider

ado

com

o um

fim

em

si

mes

mo.

Iss

o si

gnif

ica

que

toda

s as

no

rmas

de

corr

ente

s da

vo

ntad

e le

gisl

ador

a do

s ho

men

s pr

ecis

am t

er c

omo

fina

lidad

e o

hom

em,

a es

péci

e hu

man

a co

mo

tal.84

A

des

patr

imon

iali

zaçã

o e

a re

pers

onal

izaç

ão r

epre

sent

am,

de t

al a

rte,

mud

ança

de

eixo

do

patr

imôn

io p

ara

a pe

ssoa

, poi

s a

pess

oa é

val

oriz

ada

com

o o

cent

ro d

o D

irei

to, c

omo

sua

prin

cipa

l des

tinat

ária

e n

ão q

ualq

uer

outr

o va

lor

que

poss

a su

bstit

uí-l

a e

supe

rá-l

a, o

u se

ja, a

pes

soa

é se

mpr

e o

fim

últ

imo

do D

irei

to.

Con

side

rand

o es

sa p

rovi

denc

ial

mud

ança

de

para

digm

a im

puls

iona

da p

or

prin

cípi

os t

ão n

obre

s, a

pre

staç

ão n

ão p

ode

ser

exig

ida

a qu

alqu

er c

usto

, de

ssa

man

eira

o c

redo

r de

ve s

er s

atis

feito

sem

pre

juíz

o do

s di

reito

s da

per

sona

lida

de

do d

eved

or,

mor

men

te a

quel

es d

e na

ture

za c

onst

ituci

onal

. O

cre

dor

cont

inua

,

sim

, as

segu

rado

no

seu

legí

tim

o di

reito

de

a pr

esta

ção

ser

adim

plid

a co

mo

cont

rata

da, t

odav

ia c

aso

exis

ta u

m c

onfr

onto

ent

re o

s di

reit

os d

a pe

rson

alid

ade

e

os d

irei

tos

mer

amen

te e

conô

mic

os, p

reva

lece

m o

s pr

imei

ros.

Aca

utel

a-se

o d

eved

or c

om a

nec

essi

dade

de

lhe

rese

rvar

um

pat

rim

ônio

mín

imo,

não

lhe

reti

rand

o os

ben

s in

disp

ensá

veis

à m

anut

ençã

o da

s ne

cess

idad

es

prim

ária

s do

ser

hum

ano.

Ess

e ju

ízo

de r

azoa

bilid

ade

não

deix

a de

des

falc

ar

dent

ro d

e ce

rta

med

ida

o pa

trim

ônio

do

deve

dor,

dad

o qu

e a

dim

inui

ção

da

83

AM

AR

AL

, Fra

ncis

co. D

irei

to c

ivil

: int

rodu

ção,

5 e

d. R

io d

e Ja

neir

o: R

enov

ar, 2

003,

p. 1

69.

84 M

OR

AE

S,

Mar

ia C

elin

a B

odin

de.

Pri

ncíp

ios

de d

irei

to c

ivil

con

tem

porâ

neo.

Rio

de

Jane

iro:

Ren

ovar

, 20

06,

p. 1

2.

10

4

cond

ição

eco

nôm

ica

é na

tura

l pa

ra q

uem

se

prop

õe p

agar

os

seus

déb

itos,

até

porq

ue

ente

ndim

ento

co

ntrá

rio

ince

ntiv

aria

o

mau

pa

gado

r e

frag

iliza

ria

a

conf

ianç

a na

s re

laçõ

es j

uríd

icas

. Fi

ca a

ssim

pre

stig

iado

o d

irei

to p

rim

ordi

al d

a

obri

gaçã

o qu

e é

o se

u cu

mpr

imen

to t

al q

ual

conv

enci

onad

o, p

ara

aten

der

o

dire

ito

do c

redo

r, s

em b

ulir

com

o p

rinc

ípio

con

stit

ucio

nal

da d

igni

dade

da

pess

oa h

uman

a, p

ois

com

o le

cion

a L

uiz

Eds

on F

achi

n “n

ão h

á pe

cúni

a ne

m

patr

imôn

io q

ue m

ensu

rem

a d

igni

dade

, est

a se

mpr

e é

imen

surá

vel”

.85

Ess

e fe

liz

ente

ndim

ento

de

Fach

in f

unda

men

ta-s

e na

Dec

lara

ção

Uni

vers

al

dos

Dir

eito

s do

Hom

em,

apro

vada

pel

a A

ssem

blei

a G

eral

da

Org

aniz

ação

das

Naç

ões

Uni

das

(ON

U),

em

194

8, q

ue a

sseg

ura

um m

ínim

o ex

iste

ncia

l pa

ra a

pess

oa h

uman

a, d

e co

nfor

mid

ade

com

a d

ispo

siçã

o no

rmat

iva

do s

eu a

rt.

25:

“Tod

a pe

ssoa

tem

dir

eito

a u

m n

ível

de

vida

suf

icie

nte

para

ass

egur

ar a

sua

saúd

e, o

seu

bem

est

ar e

o d

e su

a fa

míl

ia,

espe

cial

men

te p

ara

a al

imen

taçã

o, o

vest

uári

o, a

mor

adia

, a a

ssis

tênc

ia m

édic

a e

para

os

serv

iços

soc

iais

nec

essá

rios

.”

Evi

dent

e qu

e en

tre

os

serv

iços

so

ciai

s ne

cess

ário

s es

incl

uída

a

educ

ação

, po

is a

Con

stitu

ição

Fed

eral

, no

art

. 20

8 di

spõe

: “O

dev

er d

o E

stad

o

com

a e

duca

ção

será

efe

tiva

do m

edia

nte

a ga

rant

ia d

e: I

– e

nsin

o fu

ndam

enta

l,

obri

gató

rio

e gr

atui

to,

asse

gura

da,

incl

usiv

e, s

ua o

fert

a gr

atui

ta a

tod

os o

s qu

e

a el

e nã

o ti

vera

m a

cess

o na

idad

e pr

ópri

a.”

No

dire

ito c

ompa

rado

a t

utel

a de

um

mín

imo

exis

tenc

ial

está

pre

vist

a na

Lei

Fun

dam

enta

l da

Ale

man

ha,

§ 1.

1, q

ue e

stab

elec

e um

a pr

oteç

ão e

feti

va e

m

rela

ção

à so

brev

ivên

cia

de p

esso

a hu

man

a, t

anto

que

naq

uele

paí

s pa

ssou

-se

a

não

adm

itir

que

o i

ndiv

íduo

ven

ha a

ser

des

poja

do d

e se

us b

ens

ou d

os r

ecur

sos

nece

ssár

ios

a su

a ex

istê

ncia

dig

na.

No

exam

e de

ale

gaçã

o de

inc

onst

ituci

onal

idad

e da

pen

hora

sob

re p

ensã

o

em a

ção

de e

xecu

ção,

o T

ribu

nal

Con

stitu

cion

al d

e P

ortu

gal

deci

diu:

“pe

rant

e

85

FA

CH

IN, L

uiz

Eds

on. E

stat

uto

do p

atri

môn

io m

ínim

o, p

. 311

.

Page 53: Aulas de Direito das Obrigações

10

5

conf

lito

ent

re o

dir

eito

do

pens

ioni

sta

a re

cebe

r pe

nsão

con

dign

a e

o di

reito

do

cred

or,

deve

o l

egis

lado

r, p

ara

tute

la d

o va

lor

supr

emo

da d

igni

dade

da

pess

oa

hum

ana,

sac

rifi

car

o di

reito

do

cred

or n

a m

edid

a do

nec

essá

rio

e, s

e ta

nto

for

prec

iso,

tota

lmen

te”

(Acó

rdão

349

/91)

.

RE

SUM

O

1)

Pri

ncíp

ios

gera

is d

o D

irei

to d

as O

brig

açõe

s: e

xato

adi

mpl

emen

to, a

uton

omia

pr

ivad

a, f

unçã

o so

cial

, boa

-fé

obje

tiva

e re

spon

sabi

lidad

e pa

trim

onia

l. a)

Pri

ncíp

io d

o ex

ato

adim

plem

ento

: a

obri

gaçã

o de

ve s

er c

umpr

ida

no t

empo

, no

luga

r e

mod

o co

ntra

tado

s, é

a r

egra

: pac

ta s

unt s

erva

nda.

Ass

im, o

cre

dor

não

é ob

riga

do a

rec

eber

pre

staç

ão d

iver

sa d

a co

ntra

tada

, ai

nda

que

mai

s va

liosa

, ne

m p

ode

exig

ir o

utra

, ai

nda

que

men

os v

alio

sa.

Tam

bém

é i

nter

dita

do a

o de

vedo

r pa

gar

em p

rest

açõe

s o

que

foi

conv

enci

onad

o pa

gar

de u

ma

só v

ez.

O

exat

o ad

impl

emen

to é

a f

inal

idad

e pr

imár

ia d

a ob

riga

ção.

É,

de o

utro

lad

o,

dire

ito

do d

eved

or p

ara

read

quir

ir s

ua p

lena

libe

rdad

e ec

onôm

ica.

b)

Pri

ncíp

io d

a au

tono

mia

pri

vada

: é

prim

ado

do E

stad

o D

emoc

rátic

o, p

or

reve

lar

o va

lor

da

liber

dade

in

divi

dual

, po

ssib

ilita

ndo

que

os

obri

gado

s ex

teri

oriz

em, c

onfo

rme

a su

a vo

ntad

e, o

teor

do

cont

rato

e c

omo

viab

iliza

r a

sua

exec

ução

. Pr

incí

pio,

no

enta

nto,

bal

izad

o pe

lo i

nter

esse

soc

ial,

que

não

perm

ite

ao m

ais

fort

e su

bjug

ar o

mai

s fr

aco.

Dev

em p

reva

lece

r os

lim

ites

leg

ais

que

resg

uard

em o

s va

lore

s im

post

os p

elos

fin

s ec

onôm

icos

e s

ocia

is,

pela

boa

-fé

e bo

ns c

ostu

mes

. Po

r is

so,

sofr

e os

tem

pera

men

tos

da e

stad

o de

per

igo,

da

lesã

o,

da te

oria

da

impr

evis

ão e

da

oner

osid

ade

exce

ssiv

a.

c) P

rinc

ípio

da

funç

ão s

ocia

l: p

lasm

ado

na C

onst

ituiç

ão F

eder

al q

ue c

onst

itui

o E

stad

o D

emoc

ráti

co d

e D

irei

to, o

qua

l ob

jetiv

a re

aliz

ar o

s va

lore

s fu

ndam

enta

is

da

dign

idad

e da

pe

ssoa

hu

man

a,

do

trab

alho

, da

liv

re

inic

iativ

a,

e da

so

lida

ried

ade,

gar

antin

do o

des

envo

lvim

ento

soc

ial

na e

rrad

icaç

ão d

a po

brez

a e

da m

argi

nalid

ade

pela

red

ução

das

des

igua

ldad

es s

ocia

is e

reg

iona

is. A

fun

ção

é us

o, u

tilid

ade;

soc

ial

é o

que

inte

ress

a à

soci

edad

e. L

ogo,

a f

unçã

o so

cial

é

ente

ndid

a co

mo

razã

o e

lim

ite

para

o e

xerc

ício

da

libe

rdad

e de

con

trat

ar,

sem

, co

ntud

o, e

limin

ar a

aut

onom

ia p

riva

da. C

omba

te, e

fetiv

amen

te, o

indi

vidu

alis

mo

10

6

egoí

stic

o. O

int

eres

se g

eral

, o

bem

com

um,

cons

titui

o l

imit

e à

real

izaç

ão d

os

inte

ress

es in

divi

duai

s e

subj

etiv

os.

d) B

oa-f

é ob

jeti

va,

tam

bém

den

omin

ada

de c

once

pção

éti

ca d

a bo

a-fé

, é

padr

ão

de c

ondu

ta s

ocia

l, ca

ract

eriz

ada

por

uma

atua

ção

conf

orm

e a

hone

stid

ade,

a

leal

dade

e

a co

rreç

ão,

de

mod

o a

não

bald

ar

a co

nfia

nça

da

outr

a pa

rte

cons

ubst

anci

ada

nas

mai

s le

gíti

mas

ex

pect

ativ

as.

Baf

eja

toda

s as

fa

ses

da

obri

gaçã

o, d

esde

a f

ase

pré-

cont

ratu

al a

té a

fas

e pó

s-co

ntra

tual

. Nel

a es

tá ín

sito

o

prin

cípi

o da

eti

cida

de.

Na

fase

pré

-con

trat

ual

man

ifes

ta-s

e na

inf

orm

ação

e n

o ac

onse

lham

ento

. Na

fase

de

conc

lusã

o do

con

trat

o si

gnif

ica

o de

ver

de n

egoc

iar

que

lim

ita

a lib

erda

de d

e nã

o co

ntra

tar,

a r

ecus

a de

má-

fé d

e ho

nrar

a o

fert

a es

tam

pada

na

fase

pré

-con

trat

ual.

Na

fase

da

exec

ução

do

cont

rato

enf

atiz

a o

deve

r ac

essó

rio

de c

ondu

ta d

e co

oper

ação

ent

re a

s pa

rtes

, qu

e se

obr

igam

. N

a fa

se

pós-

cont

ratu

al

diz

resp

eito

, ta

mbé

m,

aos

deve

res

aces

sóri

os,

são

dete

rmin

adas

situ

açõe

s qu

e pe

rdur

am m

esm

o de

pois

de

adim

plid

a a

obri

gaçã

o,

pode

ndo

ser

uma

cond

uta

posi

tiva

ou n

egat

iva,

exi

gida

tan

to d

o de

vedo

r co

mo

do c

redo

r. N

ota-

se, q

ue a

boa

-fé

obje

tiva

tem

trê

s fu

nçõe

s: f

unçã

o in

terp

reta

tiva

é

regr

a de

inte

rpre

taçã

o do

s ne

góci

os ju

rídi

cos;

funç

ão in

tegr

ativ

a co

mo

font

e de

de

vere

s ac

essó

rios

de

cond

uta;

e fu

nção

de

cont

role

com

o li

mit

e de

exe

rcíc

io d

os

dire

itos

sub

jetiv

os,

avul

tand

o tr

ês f

igur

as:

o ve

nire

con

tra

fact

um p

ropr

ium

a

inad

mis

são

de c

ondu

tas

cont

radi

tóri

as;

o tu

quo

que

que

é o

vale

r-se

da

próp

ria

torp

eza;

e a

aem

ulat

io q

uand

o do

exe

rcíc

io r

egul

ar d

e um

dir

eito

a i

nten

ção

não

é de

sat

isfa

zer

uma

nece

ssid

ade,

mas

o p

ropó

sito

de

caus

ar d

ano

a ou

trem

. e)

Pri

ncíp

io d

a re

spon

sabi

lida

de p

atri

mon

ial.

No

Dir

eito

Rom

ano

prim

itiv

o pe

la

man

us i

njec

tio e

ra a

pes

soa

do d

eved

or,

com

seu

pró

prio

cor

po,

que

resp

ondi

a pe

lo

inad

impl

emen

to

da

obri

gaçã

o,

pode

ndo

ser

cond

uzid

o a

cond

ição

de

es

crav

o do

cre

dor.

Pel

a L

ex P

oete

lia

Pap

ira

pass

ou a

ser

o p

atri

môn

io d

o de

vedo

r qu

e re

spon

de p

elo

não

cum

prim

ento

da

obri

gaçã

o, o

que

per

seve

ra a

hoje

. É

a r

egra

do

art.

391

do C

ódig

o C

ivil,

ao

prec

eitu

ar q

ue t

odos

os

bens

do

deve

dor

resp

onde

m

pelo

ad

impl

emen

to

da

obri

gaçã

o,

exce

tuan

do

aque

les

disp

osto

s no

art

. 1.

711

do m

esm

o co

dex,

no

art.

649

do C

ódig

o de

Pro

cess

o C

ivil,

e n

a L

ei 8

009,

de

29 d

e m

arço

de

1990

. No

Dir

eito

pós

-mod

erno

deu

-se

a de

spat

rim

onia

liza

ção,

que

dev

e se

r en

tend

ida

no s

entid

o de

que

o p

atri

môn

io n

ão

é o

mot

ivo

da r

elaç

ão p

atri

mon

ial.

O v

íncu

lo d

e di

reito

exi

ste

por

caus

a da

s pe

ssoa

s e

dos

seus

int

eres

ses

em c

onst

ituir

, m

odif

icar

ou

exti

ngui

r di

reito

s, é

o

que

se d

enom

ina

de r

eper

sona

lizaç

ão d

a re

laçã

o ju

rídi

ca o

brig

acio

nal,

que

eleg

e a

pess

oa c

omo

mot

ivo

prim

ordi

al d

a tu

tela

do

Dir

eito

das

Obr

igaç

ões.