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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - NOÇÕES GERAIS 1) Conceito de Direito Obrigacional: consiste num complexo de normas que regem relações jurídicas de ordem patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro; trata dos vínculos entre credor e devedor, excluindo de sua órbita relações de uma pessoa para com uma coisa; contemplas as relações jurídicas de natureza pessoal. 2) Direitos reais: são os que atribuem a uma pessoa prerrogativas sobre um bem,como o direito de propriedade (direito sobre uma coisa). 3) Obrigações propter rem: são as que recaem sobre uma pessoa por força de um determinado direito real, permitindo sua liberação pelo abandono do bem; passa a existir quando o titular do direito real é obrigado, devido à sua condição, a satisfazer certa prestação; seus caracteres são: a) vinculação a um direito real, ou seja, a determinada coisa de que o devedor é proprietário ou possuidor; b) possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito real, renunciando o direito sobre a coisa; c) transmissibilidade por meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente. 4) Ônus reais: são obrigações que limitam a fruição e a disposição da propriedade; representam direitos reais sobre coisa alheia e prevalecem erga omnes 5) Obrigações com eficácia real: a obrigação terá eficácia real quando, sem perder seu caráter de direito a uma prestação, se transmite e é oponível

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Page 1: DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - NOÇÕES GERAIS

1) Conceito de Direito Obrigacional: consiste num complexo de normas que regem relações jurídicas de ordem patrimonial, que têm por objeto prestações de um sujeito em proveito de outro; trata dos vínculos entre credor e devedor, excluindo de sua órbita relações de uma pessoa para com uma coisa; contemplas as relações jurídicas de natureza pessoal. 2) Direitos reais: são os que atribuem a uma pessoa prerrogativas sobre um bem,como o direito de propriedade (direito sobre uma coisa). 3) Obrigações propter rem: são as que recaem sobre uma pessoa por força de um determinado direito real, permitindo sua liberação pelo abandono do bem; passa a existir quando o titular do direito real é obrigado, devido à sua condição, a satisfazer certa prestação; seus caracteres são: a) vinculação a um direito real, ou seja, a determinada coisa de que o devedor é proprietário ou possuidor; b) possibilidade de exoneração do devedor pelo abandono do direito real, renunciando o direito sobre a coisa; c) transmissibilidade por meio de negócios jurídicos, caso em que a obrigação recairá sobre o adquirente. 4) Ônus reais: são obrigações que limitam a fruição e a disposição da propriedade; representam direitos reais sobre coisa alheia e prevalecem erga omnes 5) Obrigações com eficácia real: a obrigação terá eficácia real quando, sem perder seu caráter de direito a uma prestação, se transmite e é oponível a terceiro que adquira direito sobre determinado bem. 6) Conceito de obrigação: é o vínculo pessoal de direito existente entre devedores e credores, tendo por objeto uma prestação ou contraprestação de conteúdo econômico; a prestação ou contraprestação deve ser possível, lícita, determinada ou determinável, e traduzível em dinheiro. 8) Classificação das obrigações: classificam-se em: 1) Consideradas em si mesmo:a) em relação ao seu vínculo (obrigação moral, civil e natural); b) quanto à natureza de seu objeto (obrigação de dar, de fazer e de não fazer; positiva ou negativa);c) relativamente à liquidez do objeto (obrigação líquida e ilíquida);

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d) quanto ao modo de execução (obrigações simples e cumulativas, alternativas e facultativas);e) em relação ao tempo de adimplemento (obrigação momentânea ou instantânea; de execução continuada ou periódica);f) quanto aos elementos acidentais (obrigação pura, condicional, modal ou a termo);g) em relação à pluralidade dos sujeitos (obrigação divisível e indivisível; obrigação solidária);h) quanto ao fim (obrigação de meio, de resultado e de garantia).

2) Reciprocamente consideradas: obrigação principal e acessória. II - MODALIDADES DAS OBRIGAÇÕES Obrigações em Relação ao seu Vínculo

9) Obrigação civil: nela há um vínculo que sujeita o devedor à realização de uma prestação positiva ou negativa no interesse do credor, estabelecendo um liame entre os 2 sujeitos, abrangendo o dever da pessoa obrigada (debitum) e sua responsabilidade em caso inadimplemento (obligatio), o que possibilita ao credor recorrer à intervenção estatal para obter a prestação, tendo como garantia o patrimônio do devedor. 10) Obrigação moral: constitui mero dever de consciência, cumprido apenas por questão de princípios; logo, sua execução é, sob o prisma jurídico, mera liberalidade. 11) Obrigação natural: é aquela em que o credor não pode exigir do devedor uma certa prestação, embora, em caso de seu adimplemento espontâneo ou voluntário, possa retê-la a título de pagamento e não de liberalidade. 12) Espécies de prestação de coisa: a obrigação de prestação de coisa vem a ser aquela que tem pos objeto mediato uma coisa que, por sua vez,pode ser certa ou determinada (CC, arts. 863 a 873) ou incerta (874 a 877); será específica se tiver por objeto coisa certa e determinada; será genérica se seu objeto for indeterminado;incluem-se a obrigação de dar, de restituir, de contribuir e de solver dívida em dinheiro. 13) Obrigação de dar: a prestação do obrigado é essencial à constituição ou transferência do direito real sobre a coisa; a entrega da coisa tem por escopo a transferência de domínio e de outros direitos reais; tal obrigação

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surge, por exemplo, por ocasião de um contrato de compra e venda, em que o devedor se compromete a transferir o domínio para o credor do objeto da prestação, tendo este, então, direito à coisa, embora a aquisição do direito fique na dependência da tradição do devedor. 14) Obrigação de restituir: não tem por escopo transferência de propriedade,destinando-se apenas a proporcionar o uso, fruição ou posse direta da coisa,temporariamente; se caracteriza por envolver uma devolução, como,por exemplo, a que incide sobre o locatário, o depositário, etc., uma vez findo o contrato, dado que o devedor deverá devolver a coisa a que o credor já tem direito de propriedade por título anterior à relação obrigacional. 15) Obrigação de contribuir: rege-se pelas normas da obrigação de dar, de que constitui uma modalidade, e pelas disposições legais alusivas às obrigações pecuniárias. 16) Obrigação de dar coisa certa: tem-se quando seu objeto é constituído por um corpo certo e determinado, estabelecendo entre as partes da relação obrigacional um vínculo em que o devedor deverá entregar ao credor uma coisa individuada; se a coisa, sem culpa do devedor, se deteriorar, caberá ao credor escolher se considera extinta a relação obrigacional ou se aceita o bem no estado em que se encontra,abatido no seu preço o valor do estrago (art. 866); perecendo a coisa, por culpa do devedor; ele deverá responder pelo equivalente, isto, pelo valor que coisa tinha no momento em que pereceu, mais as perdas e danos (art. 865), que compreendem a perda efetivamente sofrida pelo credor (dano emergente) e o lucro que deixou de auferir (lucro cessante); deteriorando-se o objeto poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se achar, com direito de reclamar,em um ou em outro caso, indenização de perdas e danos (art. 867). 17) Obrigação de dar coisa incerta: consiste na relação obrigacional em que o objeto, indicado de forma genérica no início da relação, vem a ser determinado mediante um ato de escolha, por ocasião do seu adimplemento; sua prestação é indeterminada, porém suscetível de determinação, pois seu pagamento é precedido de um ato preparatório de escolha que a individualizará , momento em que se transmuda numa obrigação de dar coisa certa; a escolha não pode ser absoluta;deverá ser levado em conta as condições estabelecidas no contrato, bem como as limitações legais, uma vez que a lei, na falta de disposição contratual,

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estabelece um critério, segundo o qual o devedor não poderá dar a coisa pior, nem ser obrigado a prestar melhor (art. 875). 18) Obrigação de solver dívida em dinheiro: abrange prestação, consistente em dinheiro, reparação de danos e pagamento de juros, isto é, dívida pecuniária, dívida de valor e dívida remuneratória; as obrigações que têm por objeto uma prestação de dinheiro, são denominadas obrigações pecuniárias, por visarem proporcionar ao credor o valor que as respectivas espécies possuam como tais. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Noções introdutórias de Direito das Obrigações.

O Direito é ciência social – depende da sociedade para existir, limita a liberdade das pessoas em sociedade para ensejar o convívio harmônico e pacífico. A sociedade depende do direito para o convívio. Ubi societas, ibi ius.

Isoladamente o homem não precisaria do direito, em tese, para regulamentar-lhe a conduta. Observa, no entanto, Venosa, que, sabendo da existência de outros homens no universo, mesmo sozinho há que se preservar os valores e recursos ambientais[1].

O homem vivendo em sociedade depende dos serviços dos outros homens, pois não pode por si só prover todas as necessidades. Sem firmar vínculos com outras pessoas, não é possível buscar o próprio alimento e a água, cuidar da saúde e do lazer, construir a moradia, alcançar os objetos essenciais para a subsistência e o desenvolvimento. Faz-se necessário comprar, vender, alugar, firmar contrato de seguro, emprestar, doar.

Através das obrigações circulam os bens essenciais à sobrevivência e ao desenvolvimento social.

Primeiro veio a troca (escambo). Depois, com a moeda, a compra e venda, e outros contratos, tudo para estabelecer vínculos entre as partes, limitando a liberdade dessas.

As partes livremente se obrigam perante outras, para atenderem às suas próprias necessidades. Ex.: o vendedor se obriga a fornercer o bem, e o comprador se obriga ao pagamento do preço.

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CONCEITO DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES.

O Direito das Obrigações é o conjunto de normas que disciplinam os vínculos jurídicos entre pessoas (originados de vontade, lei ou ato ilícito), estabelecendo regras de cumprimento, de circulação e de extinção de tais vínculos e, ainda, as consequências do inadimplemento de prestações.

DA OBRIGAÇÃO.

CONCEITO DE OBRIGAÇÃO: Obrigação é vínculo jurídico, prestigiado pela lei (a obrigação tem valor social), através do qual o devedor (sujeito passivo) se dispõe a dar, fazer vou não fazer algo em favor do credor (sujeito ativo), sob pena de ser compelido judicialmente a fazê-lo.

Elementos constitutivos:A) Vinculo jurídico – é jurídico porque está disciplinado pela lei, vem

acompanhado de sanção aplicável pelo Estado, através da sua função Judiciária. Se o devedor não paga, o credor pode ir a juízo requerer penhora e praceamento dos seus bens (art. 389, CC/02). No direito romano, até 326 a.C., a pessoa do devedor e não seus bens respondia pela dívida.

Na obrigação há dívida, livremente estabelecida; e responsabilidade. A responsabilidade é a obrigação de reparar pelo ilícito – por descumprimento de lei, de contrato, ou de obrigação decorrente de manifestação unilateral da vontade. A obrigação de reparar não deixa livre o devedor, visto que resulta da prerrogativa do credor, no caso de inadimplência, de executar o patrimônio do devedor, para obter a satisfação do seu crédito.

O ativo patrimonial do devedor responde pela obrigação contraída no âmbito civil. A única hipótese de privação da liberdade por dívida é a do alimentante que, mesmo tendo recursos, não custeia a pensão alimentícia.

Houve época, no Direito Romano, em que o descumprimento da obrigação poderia levar a penas pessoais, convertendo-se em escravo o devedor.

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O devedor cumpre ou não a dívida, mas não pode se esquivar da responsabilidade.

“Dívida” é do direito privado, e “responsabilidade” do direito processual.

B) Sujeitos da relação obrigacional – há duas partes determinadas ou determináveis: sujeito ativo (credor) e sujeito passivo (devedor).

O credor tem expectativa de receber a prestação, e o devedor se incumbe de lhe fornecer a prestação devida, sob pena de ser acionado.

As partes podem ser simples (um devedor e um credor) ou complexas (pluralidade de devedores e/ou pluralidade de credores).

Sendo indeterminável o credor, é cabível a consignação em pagamento, para que o devedor se desincumba da prestação e de seu ônus.

O credor é indeterminado, mas determinável, em casos como o da promessa de recompensa, em que o promitente se dirige ao público em geral. No entanto, assim que preenchidos os requisitos da promessa, estará identificado o credor.

Também são indeterminadas as partes nos contratos com pessoa a declarar.

C) Prestação – dar, fazer, ou não fazer.

São as três modalidades de obrigação, que analisaremos adiante.

O caráter transitório da obrigação é observado na doutrina porque a finalidade da obrigação é naturalmente extinguir-se através do pagamento. Tanto devedor quanto credor esperam o cumprimento da obrigação que leva ao seu desaparecimento.

Existem várias formas de adimplemento obrigacional, seja pela via direta, do pagamento, seja pela via indireta, caso, por exemplo, da consignação em pagamento, da remissão de dívidas, da novação, da imputação em pagamento, da confusão e da compensação.

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Distinção entre direitos pessoais e direitos reais.

Direitos patrimoniais são obrigacionais ou reais.

Direito real: recai diretamente sobre a coisa, vinculando titular do direito e res (coisa) - vale erga omnes. Exemplos: propriedade, usufruto, hipoteca. Aqui não há sujeito passivo e nem prestação.

Direito (obrigação) pessoal: vale entre as partes, depende de prestação do devedor (dar, fazer ou não fazer).

Direito real: relação entre pessoa e coisa.Direito pessoal: relação entre duas pessoas.

No direito real há o direito de sequela, direito de perseguir a coisa até encontrá-la, para retirá-la das mãos de terceiro, quem quer que seja que injustamente a possua. Trata-se de direito oponível erga omnes, em face de qualquer pessoa, inclusive do Estado, obrigado a respeitar as prerrogativas individuais.

O direito real pode perdurar no tempo, sendo a perpetuidade uma das características do direito de propriedade. Já a obrigação é transitória: as partes querem a sua extinção, de preferência pelo pagamento, para que o credor resgate o seu crédito e o devedor possa se desincumbir do ônus.

Das fontes das obrigações:

São os atos ou fatos dos quais nascem as obrigações. Direito romano: Contrato, quase contrato (gestão de negócios e repetição de indébito), delito e quase delito (este entendido como o ilícito culposo, em que há imprudência, imperícia ou negligência, e não dolo). O Código Civil brasileiro traz como fontes diretas (imediatas):

1. Vontade.Manifestada de modo bilateral, por negócio jurídico bilateral (contrato; casamento); ou por declaração unilateral da vontade, como no caso da promessa de recompensa, do pagamento indevido e da gestão de negócios.

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2. Ato ilícito. Culposo ou doloso o ilícito gera a obrigação de indenizar, tornar indene a vítima ou a sua família, em casos específicos. O ato ilícito enseja obrigação desde que preenchidos os pressupostos da responsabilidade civil – ação ou omissão, dano (moral e/ou material), nexo de causalidade e culpa. Obs.: A obrigação de indenizar independentemente de culpa tem como fonte imediata a lei, e não o ato ilícito. A responsabilidade civil objetiva (sem culpa) existe sem ato ilícito, para a proteção da vítima, em função do interesse social.

3. Lei. Algumas obrigações decorrem diretamente da lei. Ex.: obrigação de prestar alimentos; de ceder passagem forçada ao vizinho proprietário de prédio encravado ou de pagar por metade da vala divisória entre as propriedades imóveis (direito de vizinhança); de reparar o prejuízo causado mesmo sem ato ilícito (responsabilidade civil objetiva, pela teoria do risco).

As chamadas obrigações propter rem, que decorrem da titularidade de um direito real e por vezes simplesmente da condição de possuidor, têm como fonte imediata a lei. É o caso dos chamados direitos de vizinhança.

Obs.: é importante ressaltar que indiretamente, como fundamento, a fonte da obrigação é sempre a lei. A lei que determina ser a vontade fonte de obrigação (art. 389, CC); a lei é fonte indireta da responsabilidade civil (obrigação de reparar) por ato ilícito (art. 186 e 927, CC). Por vezes, como nos exemplos acima, a lei é ainda fonte direta da obrigação.

O Direito das Obrigações no Código Civil.O Direito das Obrigações está disciplinado no Código Civil no Livro I da Parte Especial, a partir do art. 233.O posicionamento como primeiro Livro após a Parte Geral se deve ao caráter basilar da matéria. Seu estudo e a verificação das normas que a disciplinam são essenciais para a compreensão e melhor interpretação dos demais Livros da Parte Especial, como Direito das Coisas, Família e Sucessões.

O entendimento do Direito de Família, por exemplo, com as obrigações fundadas diretamente em lei, os ônus decorrentes do poder familiar, do

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casamento, da adoção, depende principalmente da compreensão das regras acerca das obrigações. O Código Civil de 2002 corrigiu neste aspecto o Diploma de 1916, que trazia no Livro I da Parte Especial o Direito de Família.

Das modalidades das obrigações (dar, fazer e não fazer)Modalidades – modos como se apresentam as obrigações.

AS OBRIGAÇÕES PODEM SER DE DAR, FAZER OU NÃO FAZER.

Da obrigação de dar.

Conceito: a obrigação de dar consiste na entrega de algo, na tradição de uma coisa pelo devedor ao credor.

A obrigação de dar pode envolver coisa certa ou incerta.

Coisa certa – na obrigação de dar coisa certa o devedor se compromete a entregar objeto perfeitamente determinado, especificado. Ex.: um cavalo de corrida, uma jóia – só pode dar outra coisa se o credor aceitar. A obrigação abrange os acessórios.

Coisa incerta – na obrigação de dar que tem como objeto coisa incerta determina-se apenas o gênero a que a coisa pertence, e a quantidade. Neste caso há duas peculiaridades: vantagem a credor, já que o gênero não pode perecer; e a escolha no momento da entrega (analisaremos com detalhes adiante).

Obrigação de dar e de restituir.

Na obrigação de dar, o credor não é o dono da coisa. Ocorre que a situação pode ser de restituição, em que o credor é o dono da coisa. Ex.: a obrigação do depositário, do locatário ou do comodatário.

Da transferência do domínio na obrigação de dar.

A transferência da propriedade na obrigação de dar não ocorre com o contrato, mas com a tradição (coisa móvel) ou com o registro do título translativo no Registro Imobiliário (transferência de domínio de coisa imóvel).

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É importante saber o momento da transferência da propriedade porque se aplica a regra de que a coisa perece ou se deteriora para o dono (res perit domino).

Assim podemos examinar o destino da obrigação em face do perecimento ou deterioração da coisa:

a) Se a coisa perece por culpa do devedor: O credor resolve o contrato e exige perdas e danos, além de responder, o devedor, pelo equivalente à coisa.

b) Se a coisa se se deteriora por culpa do devedor:O credor ou resolve o contrato exigindo perdas e danos; ou aceita a coisa no estado em que se encontra, reclamando a composição do prejuízo. A obrigação persiste, alterada por causa da deterioração.

c) Se a coisa perece sem culpa do devedor:A obrigação de dar ou restituir se desfaz.

d) Se a coisa se deteriora sem culpa do devedor:d.1) obrigação de dar – o credor resolve a obrigação, ou aceita a coisa abatido no preço o valor do estrago.d.2) obrigação de restituir - o credor só pode reclamar a coisa deteriorada no estado em que se encontre.

Dos riscos: “ res perit domino”. Risco na obrigação de dar ou restituir frustrada:Perda ou deterioração do objeto antes da tradição, sem culpa do devedor (se houver culpa, há responsabilidade – art. 389, CC).

a) Obrigação de dar; perda da coisa objeto da prestação. Ex.: animal foi morto antes da entrega.As partes retornam ao “status quo”. O vendedor devolve o preço eventualmente pago e sofre o prejuízo. O vendedor é o proprietário (antes da tradição) e sofre o prejuízo.

b) Obrigação de dar; deterioração da coisa:O credor aceita a coisa, abatido do preço o valor que se perdeu; ou o credor desfaz o negócio e recebe de volta o preço que pagou. O dono (devedor) sofre o prejuízo.

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c) Obrigação de restituir; perda da coisa:O credor (dono da coisa) sofre a perda e a obrigação se resolve.

d) Obrigação de restituir; deterioração da coisa: O devedor entrega a coisa no estado em que se encontra e o credor (dono da coisa) sofre o prejuízo, não tem direito a indenização.Sempre: o dono é quem sofre os prejuízos pela perda ou deterioração da coisa – “res perit domino” – a coisa perece para o proprietário.

Os acessórios da coisa na obrigação de dar.

Se a coisa perece ou se deteriora para o dono, é certo que também acresce em favor do dono.O domínio só se transfere com a tradição. Então, antes da tradição, acréscimos são do dono (devedor, na obrigação de dar; credor, se a obrigação for de restituir). Ex.: cria da rês, frutos etc. Melhoramentos e acrescidos são acessórios do principal, seguem-lhe o destino. Assim, o proprietário pode requerer aumento de preço, na obrigação de dar, para entregar também o fruto.

Frutos percebidos são do devedor e pendentes do credor.

O credor é o dono e se beneficia com o melhoramento da coisa mesmo na obrigação de restituir. Deve ser ressarcido o devedor das despesas para o melhoramento.Benfeitorias – aqui é preciso analisar se o possuidor estava de boa fé ou não. Ao restituir a coisa, será o devedor reembolsado das benfeitorias úteis e necessárias se estava de boa-fé; e apenas das necessárias se estava de má-fé.Na execução da obrigação de dar coisa certa, a princípio o credor pode exigir a coisa. Apenas se for impossível exigir a coisa em espécie (ex.: perecimento do animal), exige-se as perdas e danos.

Obrigação de dar coisa incerta: indica-se gênero e quantidade.O objeto é indeterminado, mas determinável. Se não fosse determinável, não poderia ser cumprida a obrigação.

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Na obrigação de dar coisa incerta não se fala em perecimento da coisa, pois o gênero não perece (“genus non perit”). Tal fato representa vantagem para o credor.

A individualização se faz pela escolha, que é o ato de seleção das coisas constantes do gênero, para entrega ao credor. Com a escolha, a obrigação de dar coisa incerta se transforma em obrigação de dar coisa certa, seguindo as regras desta.

Problemas:a) Quem escolhe: as partes estipulam quem escolhe. Mas se não estipularem,

a escolha é prerrogativa do devedor.

b) Como se faz a escolha: o devedor não pode dar o pior e nem é obrigado a dar o melhor. Então, se as partes convencionarem que o credor escolhe, é porque renunciam à prestação de coisa média (nem o melhor e nem o pior). E o credor pode escolher a nata do gênero (o melhor).

Da obrigação de fazer.Conceito: na obrigação de fazer, o devedor se vincula a determinado comportamento, que consiste em praticar um ato, do que decorre vantagem ao credor. Pode ser trabalho físico ou intelectual.

Exs.: professor que deve dar uma aula; empreiteiro que deve construir a casa; escritor que deve fornecer artigos ao jornal; proprietário que se propõe a outorgar contrato definitivo etc.

Diferença entre obrigação de fazer e obrigação de dar:A obrigação de fazer pode envolver entrega de algo, mas não se confundem obrigação de fazer com obrigação de dar.

A obrigação de dar envolve principalmente a entrega de coisa. A obrigação de fazer envolve atividade e tem na entrega uma consequência, um complemento da prestação principal, que é a própria execução da tarefa (física ou intelectual).

A obrigação é de fazer se o dar ou entregar é consequência do fazer (o devedor tem de confeccionar a coisa e depois entregá-la). Se não, a obrigação é de dar.

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Espécies de obrigação de fazer:

1. Obrigação infungível: o negócio se estabelece “intuitu personae”, pois o credor só visa à prestação avençada, se fornecida pelo próprio devedor, que tem qualidades personalíssimas. Ex.: uma atriz, um pintor, certa bailarina, determinado fiador, ou determinado locatário – o credor só aceita aquele.

2. Obrigação fungível: são aquelas em que a pessoa do devedor não figura com relevância. Ex.: credor encomenda a limpeza do seu carro, ou a construção de um galinheiro no seu quintal. O devedor se desincumbe da obrigação realizando a tarefa ou mandando que alguém o faça em seu lugar.

Para que a obrigação seja infungível, as partes devem fazer constar expressamente; ou a natureza da obrigação não aceita interpretação diversa, por conta das circunstâncias que rodeiam o negócio. Ex.: se a contratação é de certo cantor famoso, importante, por suas qualidades personalíssimas, é certo que não se aceitará outra pessoa em seu lugar para o cumprimento da prestação.

Consequências do descumprimento das obrigações de fazer

1. Quando a prestação não é cumprida por culpa do devedor. 2.1.Obrigação infungível: o credor não pode obrigar o devedor a fazer, por causa da liberdade individual. Ex.: a bailarina não pode ser obrigada a dançar, o pintor não pode ser obrigado a pintar etc. Não é possível, então, a execução compulsória da obrigação. Ninguém pode ser compelido a prestar um fato contra a sua vontade. O credor pode requerer perdas e danos.2.2.Obrigação fungível: o credor pode requerer perdas e danos, ou a execução da tarefa por terceiros, à custa do devedor faltoso. Ex.: empreiteiro não executa a obra – o credor requer perdas e danos, ou a execução da obra (por 3º), à custa do devedor faltoso.

Obs.: Nos dois casos o credor deve recorrer às vias judiciais. Não pode o credor mandar terceiro executar a tarefa sem autorização judicial, para que fique comprovada a recusa do devedor e se alcance aprovação da substituição pretendida.

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O art. 249, parágrafo único, CC, estabelece que não é necessária a autorização judicial para que terceiro execute a tarefa ás expensas do devedor em caso de urgência.

2. Sem culpa do devedor: a obrigação se resolve (se extingue). O devedor devolve, se for o caso, o que já recebeu. Ex.: vendedor (devedor) não pode outorgar escritura definitiva de venda e compra porque o prédio for desapropriado; ou o artista (devedor) adoece às vésperas do espetáculo.O prejuízo é atribuído ao caso fortuito ou a força maior (ao acaso).

Da execução da obrigação de fazer.O devedor será citado para cumpri-la no prazo que o juiz lhe assinar, se outro não estiver determinado no título executivo.

O credor pode requerer perdas e danos (indenização) ou o cumprimento da obrigação, como já dissemos.

Para que o credor peça a execução da tarefa por terceiro, deve requerer autorização judicial, salvo hipótese de necessidade e urgência, em que o credor contrata terceiro para o cumprimento da prestação, em lugar e á custa do devedor.

Obs.: a obrigação de fazer infungível, quando não cumprida, resulta apenas em perdas e danos, pois não pode ser forçado o devedor a uma tarefa que não pode ser desempenhada por terceiro.

Da execução direta da obrigação de prestar declaração de vontadeTal espécie de obrigação de fazer, que consiste em prestar declaração de vontade, embora infungível, não constrange a liberdade do devedor quando da sua execução em espécie. Trata-se de uma exceção.A obrigação de fazer é infungível, mas o devedor pode ser obrigado à prestação, sob pena de o juiz suprir, por sentença, a falta da sua declaração de vontade.

Ex.: o vendedor em contrato preliminar de compromisso de venda e compra de bem imóvel se obriga a outorgar contrato definitivo ao comprador (ora credor).

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Em caso de descumprimento, o juiz, através da sentença, substitui a declaração que deixou de ser externada (art. 466-A, CPC, cf. Lei n. 11.232, de 22/12/2005, em vigor desde 23/6/2006).

Obs.: a sentença só substitui a declaração quando transita em julgado.Art. 463 e 464, CC/02: sobre contrato preliminar – direito de exigir o contrato definitivo. O juiz pode suprir por sentença a vontade do réu (devedor da obrigação de fazer infungível).

Da obrigação de não fazer.Conceito: obrigação de não fazer é aquela em que o devedor assume o compromisso de se abster de um fato, que poderia praticar, não fosse o vínculo que o prende. É obrigação negativa (a obrigação de fazer é positiva).

Ex.: obrigação de não fazer barulho após as dez horas da noite; obrigação de não obstruir passagem forçada; obrigação de não vender uma casa, a não ser ao credor; obrigação do empresário que aliena o seu estabelecimento e se compromete a não abrir outro congênere na mesma rua (para não tirar cliente do comprador, para não criar concorrência).

A obrigação de não fazer (a obrigação de fazer também) só é lícita se não envolver restrição à liberdade individual. Desse modo, são ilícitas obrigações de não casar, não se cultuar certa religião etc. Porque a restrição à liberdade individual colide com os fins da sociedade.

Do inadimplemento da obrigação de não fazer.Tal inadimplemento se caracteriza quando o devedor pratica o ato que se obrigou a não fazer.

Hipóteses:a) Se a abstenção (o não fazer) se tornou impossível sem culpa do devedor, a

obrigação se extingue. Ex.: o devedor se obriga a não construir muro no seu terreno e a prefeitura determina tal construção (força maior).

b) Se a obrigação de não fazer se tornou impossível por culpa do devedor; ou se o devedor despreza a obrigação e pratica o ato vedado: o credor pode

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exigir que o devedor desfaça, sob pena de (o credor) o desfazer à custa do devedor, ressarcindo, ainda, o devedor, as perdas e danos.O credor, para desfazer a coisa e requerer que o devedor pague, deve requerer antes autorização judicial. Havendo, no entanto, urgência e necessidade, determina o art. 251, parágrafo único, CC, que não precisa de autorização judicial.

Ex.: devedor constrói um prédio após se obrigar perante o vizinho, a não fazê-lo. O vizinho pode requerer que o devedor desfaça o prédio ou requerer autorização judicial para desfazer à custa do devedor (o próprio vizinho).

Obs.: caso não seja possível desfazer a coisa, tudo se resolve em reparação das perdas e danos.

Ex.: o devedor promete não publicar a notícia no jornal (que prejudica a venda de certo produto) e a publica; o funcionário de certa fábrica promete não revelar segredo de processo de fabricação, durante certo período, e o revela (o vende) a terceiros.

Nos exemplos supra é impossível reparar o mal, voltando ao status quo, e a solução é a reparação do prejuízo (das perdas e danos).

Das obrigações complexas, com multiplicidade de objeto.

Vimos que as obrigações existem em três modalidades: dar, fazer e não fazer.

Obrigações de dar, fazer e não fazer são simples quando envolvem: um sujeito ativo, um sujeito passivo, um objeto.

Chamamos de complexas as obrigações com multiplicidade de sujeito (passivo ou ativo) ou objeto.

Havendo mais de um devedor, mais de um credor ou mais de um objeto será complexa a obrigação.

1. Obrigações com multiplicidade de objeto:

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1.1. Cumulativas ou conjuntivas: há várias prestações e todas devem se cumpridas pelo devedor. Pode envolver conjuntamente prestações de dar e outras de fazer. Ex.: empreitada – entrega do material e execução do serviço.

1.2. Alternativas ou disjuntivas: há duas prestações envolvidas, mas só uma precisa o devedor cumprir, livrando-se da obrigação. Ex.: deve entregar duas sacas de café ou três sacas de algodão.Na obrigação alternativa (ou disjuntiva) o objeto é múltiplo, mas o devedor se exonera satisfazendo uma das prestações. Ex.: segurador em caso de sinistro fornece automóvel novo ou o conserto do carro avariado. Só uma das duas deve ser prestada.

Escolha: deve ocorrer como acontece (também) na obrigação de dar coisa incerta. Detalharemos os aspectos da escolha adiante.

1.3. Facultativas: o devedor tem uma obrigação, mas pode substituí-la por outra, a seu critério.

Ocorre quando se promete, por exemplo, um prêmio, mas resguardando-se o direito, o devedor, de entregar similar.

Muitos autores consideram na realidade simples a obrigação facultativa. Há um objeto e, se perecer, extingue-se a obrigação; mas o devedor por faculdade pode se dispor a entregar outro objeto.

Considerações sobre as obrigações alternativas (disjuntivas):

Da diferença entre obrigação alternativa e obrigação de dar coisa incerta.

Na primeira, há mais de um objeto, mas perecendo todos os objetos envolvidos na obrigação, extingue-se o vínculo. Já na obrigação de dar a coisa incerta, nunca há perecimento do objeto, pois o gênero não se extingue (não perece).

Ex.: obrigação alternativa de dar um entre quatro cavalos – perecendo três, a obrigação recai sobre o que sobrou, mas perecendo os quatro, a obrigação se extingue. Na obrigação de dar coisa incerta, como, por

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exemplo, a obrigação de dar um cavalo de certa raça, perecendo quatro, sempre haverá outro do mesmo gênero.

Diferença entre obrigação alternativa e obrigação com cláusula penal:

A primeira (obrigação alternativa) é complexa, e a segunda (obrigação com cláusula penal) é simples.

A obrigação com cláusula penal só tem um objeto e, diante do inadimplemento, deve ser cumprida a pena, mais onerosa que a prestação em si, justamente para reforçar o vínculo, compelindo o devedor ao seu cumprimento (cláusula penal). O devedor não tem, naturalmente, uma escolha entre a prestação e a multa. Deve cumprir a prestação avençada sob pena de multa.

A obrigação alternativa oferece vantagem para o devedor, que pode escolher dentre vários objetos o menos oneroso; e para o credor, visto que, se perecer uma das coisas, a obrigação ainda pode ser cumprida com os objetos que sobraram.

Comparando a obrigação alternativa em que a escolha é do credor, por convenção das partes, e a obrigação com cláusula penal, a diferença é ainda maior.

O devedor tem a prerrogativa de cumprir com a sua obrigação. Não pode o credor optar pelo valor pactuado em cláusula penal. A alternativa na obrigação com cláusula penal surge apenas após o inadimplemento, aspecto patológico da relação obrigacional.

A escolha e seus efeitos:

A escolha converte em simples a obrigação alternativa, e torna possível a sua execução (transforma a obrigação complexa em obrigação simples).

Direito de escolha. Titularidade.

As partes estipulam quem será o titular do direito de escolha. Pode ser o devedor, o credor ou terceiro.

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No silêncio das partes, a lei supre a falta de manifestação, estabelecendo que a escolha é do devedor.

Do exercício do direito de escolha.Se o devedor escolhe, não pode pagar parte em uma e parte em outra prestação (ex.: saca de café ou R$ 1.000,00 – não pode pagar metade da saca de café mais R$ 500,00; empregador escolhe entre pagar salário do empregado até a aposentadoria ou readmiti-lo – não pode pagar durante 10 anos e depois readmiti-lo – ou paga até a aposentadoria, ou readmite).

Exceção: Se a obrigação envolver prestações periódicas (art. 252, §2º CC), o devedor pode exercer a escolha a cada período. Ex.: ora paga com certa quantidade de arroz, ora com café.

Decadência do direito de escolha por negligência.Se o devedor deve escolher e não cumpre, o credor aciona com pedido alternativo para que seja cumprida uma das duas obrigações em 10 dias. Mas outro prazo pode ser estabelecido. Se o executado em 10 dias não oferecer uma das prestações, o exequente passa a ter o direito de escolha.

Se o credor tem o direito de escolher e não o exerce (escolhe), o devedor o aciona para fazê-lo, sob pena de ter que prestar a obrigação que o devedor escolher.

Da impossibilidade ou inexequibilidade de uma das prestações:Hipóteses:

1. Se a escolha é do devedor: a obrigação recai sobre a prestação remanescente, sendo culpa do devedor ou não o perecimento da primeira prestação (art. 253, CC/02). Obs.: se a escolha é do credor e a coisa escolhida se torna impossível sem culpa do devedor: a prestação recai sobre a outra.

2. Se a escolha é do credor: caso a 1ª prestação se torne impossível por culpa do devedor, o credor pode exigir a prestação que sobrou ou o valor da outra, acrescida das perdas e danos (art. 255, 1ª parte, CC/02).

Da impossibilidade de todas as prestações:Hipóteses:

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a. Sem culpa do devedor: a obrigação se extingue (art. 256, CC/2002).b. O devedor escolhe e por sua culpa se impossibilitam todas as prestações: o

devedor deve pagar o valor da prestação que por último se impossibilitou, acrescido das perdas e danos (art. 254 e 389, CC/02). Quando a primeira prestação perece, a obrigação recai sobre a outra. Perecendo a outra, se obriga o devedor a pagar o seu valor mais perdas e danos.

c. Credor escolhe, culpa do devedor: o credor pode exigir o valor de qualquer uma das prestações, mais perdas e danos (art. 255, 2ª parte, CC/2002).Das obrigações divisíveis e indivisíveis.Obrigações simples: um credor, um devedor, um objeto.Obrigações complexas: multiplicidade de pessoas e/ou de objeto.Multiplicidade de objeto: obrigações conjuntivas, facultativas ou alternativas (vide aulas anteriores).Neste ponto examinaremos as obrigações complexas com multiplicidade de sujeito.

Se há mais de um credor ou mais de um devedor, é preciso verificar se a obrigação se divide ou não em partes. Divide-se a obrigação em tantas obrigações independentes quantas forem as partes, conforme a regra “concurso partes fiunt”. Cada credor recebe a sua parte da prestação e cada devedor paga a fração correspondente ao seu débito. É a regra do art. 257, CC/ 02.

Obs.: é chamada de obrigação conjunta a que apresenta pluralidade de sujeito (chamamos de obrigação conjuntiva a que tem pluralidade de objeto, sendo cumulativa).Ocorre que por vezes não é possível aplicar a regra supra descrita, de divisão do objeto pelo número de devedores e/ou de credores do vínculo obrigacional.

Verificaremos, portanto, as exceções à regra exposta acima:

1. Indivisibilidade: pela natureza do objeto (que não pode ser repartido) é possível que haja vários devedores, e qualquer um deles seja obrigado a entregar por inteiro a prestação. E mesmo com vários credores, deve ser paga a um só a prestação. Ainda que cada credor só tenha direito à sua parte, e ainda que o devedor só precise, na realidade, pagar a sua parte.

2. Solidariedade: pela lei ou por convenção, o objeto aqui é divisível, mas cada devedor (na solidariedade passiva) pode ser compelido a entregar o

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todo. Na solidariedade entre credores (solidariedade ativa), cada um dos credores pode receber o todo.

Obs.: se a obrigação é simples o objeto é devido por inteiro, pelo devedor, e não há por que indagar se é divisível ou indivisível. Quando é complexa a obrigação, faz-se necessário o exame da indivisibilidade ou da solidariedade.

Obrigação indivisível:É indivisível a obrigação quando for indivisível seu objeto, pela própria natureza. É indivisível o objeto que, se repartido, os valores das partes em separado, ainda que existam, não alcançam, somados, o valor do todo.Então: um relógio, uma gravata, um sofá, um quadro, um cavalo de corridas, são indivisíveis, tornando indivisível a obrigação de entregar (dar, restituir) tais objetos.

São indivisíveis os bens quando o objeto pode ser repartido, mas tal repartição implica em diminuição de valor. Um relógio de ouro ao ser repartido pode até dar ensejo a pedaços de certo valor, mas as partes, reunidas, não alcancem o valor do todo (original).

Vimos que a indivisibilidade decorre da natureza do objeto. Mas excepcionalmente pode decorrer da lei ou da vontade das partes. Pode ser pactuada a indivisibilidade de um imóvel rural, por exemplo. Ou as partes estabelecem para a garantia do credor que certa prestação em dinheiro é indivisível, e pode ser cobrada integralmente de cada devedor.

A indivisibilidade sempre favorece o credor que, podendo exigir a prestação de quaisquer dos devedores, a exige do mais capaz em pagá-la.Podem ser indivisíveis obrigações de dar, fazer ou não fazer.

Na obrigação de dar, quando se encomenda de duas pessoas uma tela de Chagall, não é intuito do credor receber a parte ideal – a obrigação é indivisível. O mesmo ocorre com um apartamento.

Obrigação de fazer: a elaboração de certo projeto de arquitetura, por exemplo, é obrigação indivisível; o mesmo ocorre com a obrigação de outorgar escritura.

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Obrigação de não fazer indivisível: não exploração de comércio em certo bairro – não é possível cumpri-la ou descumpri-la em parte.A obrigação de fazer fungível é divisível. Ex.: três devedores cuja prestação seja de fertilizar cinco Km de terra.

Efeitos da indivisibilidade da prestação (se for divisível, a obrigação se divide em tantas obrigações quantos forem os credores ou devedores – “concursu partes fiunt”; art. 257, CC/ 02).

1. Caso de pluralidade de devedores: cada devedor é obrigado pela dívida toda (art. 259, CC/ 02). Ex.: dois indivíduos devem conseguir certa estátua para um museu.Obs.:

a) Cada devedor só deve parte da dívida. Então, ao pagar, o devedor se sub-roga (259, parágrafo único, CC) no direito do credor, em relação aos demais co-devedores.

b) Se a obrigação for indivisível, cada devedor pode ser compelido a satisfazê-lo por inteiro. Caso a obrigação se converta em perdas e danos por força do inadimplemento, torna-se divisível (art. 263, CC). O objeto pode ser indivisível, em espécie, mas o dinheiro é sempre passível de divisão.

As perdas e danos é responsabilidade de quem teve culpa no descumprimento da obrigação (art. 263, §§1º e 2º do CC).

2. Caso de pluralidade de credores: cada credor pode exigir a dívida por inteiro. Mas o(s) devedor(es) só se desobriga(m) quando:

2.1– Pagam a todos os credores conjuntamente. Isso porque se só um credor recebe (e há quitação), os demais ficam sem garantia. Os co-credores, então, não têm direito apenas de exigir o pagamento do credor (o que ocorre na obrigação solidária) que recebeu a prestação indivisível, mas, também , têm direito de exigir do devedor. Este paga a todos , ou paga a um credor autorizado pelos demais credores.

2.2– O pagamento pode ser a um co-credor, se este der caução (garantia) de ratificação dos outros credores. Assim, os demais credores com a caução garantem o seu crédito. Art. 261, CC. Se apenas um dos credores receber a

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prestação inteira, a cada um dos demais assiste o direito de exigir daquele, em dinheiro, a parte que lhe caiba no total – art. 261, CC/ 02. Da extinção da obrigação para um dos co-credores (remissão, novação, compensação, transação ou confusão):

Cada um dos co-credores tem direito apenas a uma parcela da prestação – se recebe a prestação total é por causa da indivisibilidade do objeto (ex.: um livro).

Havendo remissão, transação, novação, compensação ou confusão da dívida em relação a um dos devedores, o devedor perdoado aproveita. Os co-credores, ao receberem o objeto indivisível, devolvem ao devedor, em dinheiro, a parcela perdoada (do credor remitente).

Ex.: Quando se deve máquina fotográfica a três credores e um dos credores efetua a remissão, como a máquina é indivisível, os outros dois credores a exigem, mas devolvem em dinheiro ao devedor a parte do crédito do credor remitente.

Das obrigações solidárias:

Solidariedade - mais de um credor ou mais de um devedor: cada um com direito ou obrigado à dívida toda.

A SOLIDARIEDADE representaexceção à regra de que a obrigação se reparte em tantos quantos forem os sujeitos. Aqui, cada credor exige do devedor a totalidade da prestação; ou cada devedor paga a um co-credor a dívida integral (art. 264, CC).

Solidariedade ativa e solidariedade passiva.1.Solidariedade ativa: vários credores. Cada um exige do devedor comum a dívida por inteiro (art. 267 e s., CC). Cada credor só tem direito a parte da prestação mas, por causa da solidariedade, pode exigi-la por inteiro.

2.Solidariedade passiva: vários devedores. O credor exige de cada um deles a dívida por inteiro (art. 275 e s., CC).

Solidariedade: reunião de relações jurídicas autônomas.

Consequência da solidariedade:

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a) Solidariedade ativa: o pagamento parcial feito a um dos credores deve ser rateado por todos, se o devedor se tornou insolvente.

b) Se o devedor não solidário se tornar insolvente, o credor sofre a perda, pois não se pode reclamar o pagamento dos demais devedores. Se houver solidariedade passiva, o credor pode exigir pagamento dos demais devedores, caso um se torne insolvente.

Distinção entre obrigações solidárias (reembolso) e indivisíveis (sub-rogação):

Solidárias: decorre das partes ou da lei. Se for descumprida e se verter em perdas e danos, continua solidária.

Indivisíveis: decorre da natureza do objeto. Convertida em perdas e danos, torna-se divisível (art. 263, CC).

Quando paga a dívida em obrigação indivisível, o devedor se sub-roga nos direitos do credor, para cobrar o que pagou dos demais co-devedores. Na solidariedade, o direito do co-devedor que paga a totalidade da dívida é apenas de reembolso, em relação aos demais co-devedores.

Vantagens da solidariedade:Solidariedade passiva é garantia do credor. É comum porque geralmente é o credor quem dita as regras do negócio.

Fontes da solidariedade:A solidariedade não se presume. Decorre da lei ou da vontade das partes (art. 265, CC/ 02).Na doutrina italiana, a solidariedade se presume, e só não se afastada por vontade das partes ou pela lei.

1. Solidariedade convencional: decorre da vontade das partes. A vontade deve ser expressa, sem deixar ensejo a dúvida. Decorre do contrato ou do testamento.

2. Solidariedade legal (entre co-locatários; dos cônjuges; entre co-fiadores): decorre da lei.

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É solidária, ainda como exemplo, a obrigação dos devedores de indenização por ato ilícito, como pena (942, CC/02). A solidariedade aumenta a garantia do credor e pune o autor do ato ilícito ou as pessoas por ele responsáveis.

Solidariedade ativa: é rara.

Cada credor pode exigir do devedor a prestação integral. O devedor se libera da dívida pagando qualquer dos credores. É inconveniente porque se só um credor recebe e se torna insolvente, os demais não recebem nada (podiam exigir o rateio mas não podem mais, por causa da insolvência – do credor).

Mandato:Substitui a solidariedade ativa, assumindo a única vantagem que é a de receber a totalidade da dívida, evitando a cobrança parcelada, com vantagens adicionais: responsabilidade do mandatário mais a possibilidade de revogação ad nutum do mandato.Ex.: contas conjuntas – credores solidários.

Cada credor só o é de parte da prestação e, se a recebe inteira, deve oferecer aos co-credores os quinhões a eles correspondentes.

O mesmo ocorre em caso de novação, compensação ou remissão.

Falecimento de credor solidário: cada um dos seus herdeiros recebe apenas uma fração do direito creditório. Não pode o herdeiro exigir e receber a totalidade da prestação, como podia fazê-lo o “de cujus”. Cada herdeiro só pode cobrar a parte do crédito correspondente ao seu quinhão hereditário, salvo se prestação for indivisível (art. 270, CC).Não é que com a morte do credor solidário desaparece a solidariedade, mas cada herdeiro só pode cobrar a sua parte (seu quinhão).

Caso haja apenas um herdeiro (fica no lugar do “de cujus”, como credor solidário), pode cobrar a prestação integral. E se os herdeiros agirem em conjunto, também podem cobrar a prestação integral.

Solidariedade passiva (art. 275, CC/02):Vários devedores, e o credor pode exigir de um ou de vários deles o pagamento da dívida, parcial ou totalmente.

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Requerendo o pagamento parcial de um dos devedores, o credor pode requerer o resto dos demais, que continuam solidários (art. 275, CC/02).Obrigação solidária é fusão de várias obrigações individuais e autônomas, de cada um dos devedores. Por isso, apesar da solidariedade, um co-devedor não pode prejudicar os demais. Então, se um devedor aumentar a taxa de juros, ou abreviar o termo do (antecipar o) vencimento, não vincula a tais reajustes os demais co-devedores (arca sozinho com os ônus). Art. 278, CC/02.

Solidariedade passiva é fusão de obrigações autônomas – a relação jurídica apresenta um lado externo, onde o conjunto dos devedores forma um único devedor, pois dele pode o credor exigir a totalidade do crédito; e um lado interno, onde cada devedor tem a sua obrigação, individual ou autônoma.

Por isso, a regra do art. 281, CC/02, segundo o qual o devedor demandado não pode opor as exceções (defesas) pessoais dos outros. Só pode opor as suas (ex.: compensação) e as de todos (ex.: prescrição).

Se só houvesse uma relação jurídica a exceção de um devedor seria a de todos, bastando a sua oposição ao credor para suspender a cobrança.

Execução da obrigação por um dos devedores solidários:O devedor demandado pelo pagamento integral da dívida, como na realidade só deve a sua parte, sofre um empobrecimento em favor dos demais co-devedores, e pode requerer o reembolso de cada co-devedor, relativo à quota de cada um.Art. 283, CC/02: se um co- devedor estiver insolvente, os demais co- devedores repartem a quota do insolvente, restituindo-a ao devedor que foi demandado e pagou a dívida inteira.Art. 284, CC/02: até os co- devedores exonerados da solidariedade pelo credor ratearão a quota do co-devedor insolvente.Art. 285, CC/02: se a dívida solidária interessar somente a um dos co- devedores, como por ex.: o locatário é o único interessado no pagamento, embora o fiador possa ser solidário, o devedor interessado (inquilino) fica obrigado a reembolsar o co-devedor não interessado (fiador). Isto porque a obrigação solidária é reunião de obrigações autônomas.

Execução parcial da obrigação solidária por um dos co-devedores:

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Quando o credor exige ou recebe do devedor escolhido parte da prestação – a solidariedade persiste, vinculando os demais obrigados. Mas o credor só pode cobrar o restante (o saldo remanescente) dos outros devedores (art. 277, CC).O mesmo ocorre se o credor perdoa (remissão) um dos devedores – só pode cobrar o saldo remanescente, dos demais.Isso porque o perdão da dívida é, como o pagamento, meio de extinção da obrigação.

Renúncia à solidariedade: Não pratica remissão o credor que renuncia à solidariedade. Apenas deixa de ter vantagens, e só pode cobrar de cada devedor a sua cota.A renúncia à solidariedade pode se referir a todo os devedores ou apenas a alguns deles.- Renúncia total (a todos os devedores) - a solidariedade desaparece e a obrigação se divide em tantos quantos forem os devedores – regra “concursu partes fiunt”.- Renúncia parcial – a relação jurídica se divide: parte dos devedores só respondem por sua quota (obrigação simples de cada devedor) e a outra parte responde solidariamente.O credor para demandar o devedor solidário não deve abater do débito a parte do devedor exonerado da solidariedade. O fundamento está no art. 282, parágrafo único do CC.Obs.: art. 912, parágrafo único do CC/1916 era incorreto. Falava em abater a parte do devedor exonerado da solidariedade quando da cobrança de outro devedor ainda solidário. Ocorre que a dívida do exonerado permanece. Só está extinta, para o exonerado, o fato da solidariedade.1.Inadimplemento da obrigação solidária:Seja a cobrança em juízo ou não – se o credor não recebe, pode demandar outro devedor solidário. O credor reclama até receber o pagamento (no direito romano, cobrado um dos devedores, os demais estavam liberados).

1.1- Se a obrigação se impossibilitar:a) Por força maior: os co-devedores se livram da obrigação. Esta se extingue.

Ex.: o objeto a ser entregue perece por força maior.b) Por culpa de um dos obrigados (devedores): o credor recebe o equivalente

da prestação, mais as perdas e danos. O equivalente da prestação é por todos devido, mas as perdas e danos só são devidas pelo co-devedor que culposamente impossibilitou a obrigação. Isso porque um dos co-devedores não pode agravar a obrigação dos coobrigados

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voluntariamente (art. 278, CC), e, obviamente, portanto, não pode agravar a obrigação dos coobrigados por ato ilícito.

Mora: quando o devedor não paga no tempo certo, lugar certo ou forma certa, conforme convencionado.O efeito da mora é gerar a responsabilidade do culpado pela reparação das perdas e danos a que der causa. Se a prestação for pecuniária, o prejuízo é representado pelos juros que fluírem durante o retardamento.Não só o devedor que ocasionou a mora responde pelas suas consequências (ex.: pelos juros), mas sim todos os devedores solidários – para a maior proteção de credor. Conforme art. 280, CC. E os demais devedores não culpados pelos juros podem pleitear do culpado o reembolso.

Dos efeitos da morte do devedor solidário:Herdeiros reunidos ficam no lugar do co-devedor, podendo o credor cobrar deles a totalidade da dívida. O mesmo se pode dizer em relação ao espólio.Mas cada herdeiro só deve uma fração, e, portanto, separadamente não pode ser obrigado a pagar a dívida integralmente, mas, apenas, parte do débito – correspondente à sua participação na herança – art. 276, CC. Salvo se a obrigação for indivisível.

Obrigações civis e naturais.São civis as obrigações protegidas pela lei. Nelas o vínculo é jurídico, podendo o devedor ser compelido judicialmente ao cumprimento da prestação assumida, sob pena de sanção aplicável pelo Estado, através da sua função Judiciária, inclusive com a penhora de bens e leilão para que se alcance o valor suficiente para o resgate do crédito. Como exemplos: obrigações decorrentes de contrato de venda e compra de imóveis, ou de alienação fiduciária em garantia.

São naturais as obrigações em que o devedor não pode ser compelido judicialmente ao cumprimento da prestação. Aqui o adimplemento depende meramente da vontade do devedor, por questões de ordem moral, já que a lei não serve de instrumento para que o credor alcance em juízo meios coercitivos para que a prestação seja efetivamente honrada.

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As obrigações naturais não são protegidas ou defensáveis judicialmente. São exemplos clássicos de obrigação natural a dívida prescrita ou a obrigação de pagar dívida decorrente de contrato de jogo ou de aposta.

É importante ressaltar que, uma vez cumprida a obrigação natural, não cabe ao devedor recobrar o que pagou. Alguém que paga dívida prescrita não pode, por exemplo, exigir a restituição do valor pago, como se houvera ocorrido enriquecimento ilícito do credor. Até porque a prescrição extingue a pretensão de ajuizar ação cobrando a dívida, mas não elimina o direito material do credor ao recebimento do crédito.

São raras as hipóteses em que se pode recobrar valor pago em cumprimento de obrigação natural. É o caso da dívida de jogo paga por incapaz ou paga em caso de jogo ou aposta vencido por má-fé – nesses casos é possível exigir a restituição da quantia paga em cumprimento de obrigação natural.

Obrigações de meio, de resultado e de garantia.

Obrigação de meio: o devedor deve atuar diligentemente, com esforço, para alcançar o resultado, sem vincular-se a obtê-lo. Ex.: médico que trata de paciente terminal; advogado que atua no contencioso. Na obrigação de meio só responde por culpa ou dolo o devedor. Não é obrigado a alcançar o resultado pretendido pelo credor.O médico assume obrigação de resultado em casos excepcionais, como na cirurgia plástica estética.

Obrigação de resultado: o devedor precisa apresentar o resultado esperado pelo credor, sob pena de inadimplência. Ex.: transportador, mecânico, empreiteiro.Na obrigação de garantia o devedor se compromete, por lei, a garantir a satisfação do interesse do credor. A lei assim exige por força do Código de Defesa do Consumidor, em relação ao fornecimento de produtos e serviços, sendo que em geral ainda se obrigam, os fornecedores, a garantir a segurança dos consumidores (obrigação de segurança).

Obrigações de execução instantânea, diferida e continuada.As obrigações de execução instantânea, como a do comprador em contrato de venda e compra em que não se estipula prazo para o

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pagamento, ou do vendedor que não tem prazo de entrega da mercadoria, esgotam-se de imediato. O cumprimento é imediato, à vista.A obrigação de execução diferida é aquela em que a prestação é cumprida em data previamente fixada, que depende, portanto, de termo ou de condição suspensiva. Ocorre por exemplo na venda e compra a prazo.Na obrigação de execução continuada, como a do fornecedor no contrato de fornecimento, ou do locatário, a prestação vai se cumprindo mês a mês, ou a cada período previamente convencionado, renovando-se a cada período. É a obrigação de trato sucessivo.

Obrigações puras e modais.São puras (simples) as obrigações que não têm sua eficácia subordinada a condição, termo ou encargo, os acidentes ou modalidades do negócio jurídico.São modais as obrigações sujeitas a condição, termo ou encargo. A condição subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e incerto. O termo subordina a eficácia do negócio jurídico a evento futuro e certo. O encargo é ônus que diminui vantagens auferidas em negócio jurídico geralmente benéfico.

Líquidas e ilíquidas.São líquidas as obrigações definidas quanto aos elementos envolvidos, valores, objetos. É certa quanto à existência e determinada quanto ao seu objeto ou valor. Na obrigação líquida se conhece quantidade, espécie e qualidade. Os juros são computados desde o vencimento da prestação. Isto porque a partir do vencimento já está inadimplente o devedor, que sabia quanto deveria custear e não cumpriu.A obrigação ilíquida depende de apuração para a determinação do seu objeto. É necessário neste caso o alcance do valor da prestação, a apuração (liquidação da dívida), para que ocorra o pagamento.

Principais e acessórias.A importância de tal distinção é mais intensa no campo da responsabilidade civil.É principal a obrigação que existe por si, como a do locatário, de recolher os alugueres. A obrigação acessória depende de outra, pressupõe a obrigação principal, como a obrigação de honrar o cumprimento de valor estabelecido em cláusula penal (multa), ou as obrigações do garantidor (fiador; avalista).

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A distinção é importante, posto que a obrigação acessória segue a sina da obrigação principal. É nula se for nula a principal; anulável se for anulável a principal. O valor da obrigação acessória não pode superar o da obrigação principal.As obrigações acessórias reforçam, asseguram o cumprimento da obrigação principal.

Das obrigações reais ou propter rem.A obrigação real decorre não da vontade das partes, mas da relação do devedor e do credor com a coisa. A fonte da obrigação real é a lei, não a vontade e nem o ato ilícito. São obrigações frequentes no direito de vizinhança, quando atribuem prestações recíprocas para os vizinhos, com o objetivo de propiciar a convivência harmônica e pacífica.Ex.: por ser proprietário, deve custear metade da cerca, muro ou vala divisória entre os prédios; deve ceder passagem forçada ao vizinho, proprietário de prédio encravado. No direito de vizinhança, credor e devedor são proprietários da mesma coisa (condôminos) ou de coisas vizinhas.Decorrem de direito real como a propriedade, o usufruto, o uso e a habitação (rol taxativo dos direitos reais no art. 1.225, CC) e por vezes a obrigação real é ônus até do possuidor direto, como o locatário ou o comodatário.

Ao deixar de ser titular do direito real, o devedor se livra da obrigação propter rem, que perde a sua fonte imediata.

A obrigação propter rem não se restringe ao direito real sobre bem imóvel. Obrigações condominiais[1] são obrigações reais, decorrentes do direito real sobre imóveis, mas também são reais certas obrigações tributárias, como recolher o IPTU ou o IPVA, este vinculando o dono do veículo automotor (bem móvel).Da natureza jurídica das obrigações reais.

A obrigação propter rem tem natureza jurídica híbrida, com características de direito pessoal e outras de direito real.

Por ter sujeito passivo e prestação, aproximam-se, as obrigações reais, do direito pessoal (obrigacional).

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Ocorre que as obrigações em geral não se transmitem ao sucessor a título singular, como o legatário. Neste ponto as obrigações reais mais se parecem com os direitos reais, porque se transmitem ao adquirente a título singular, posto que acompanham o dono. O legatário (sucessor a título singular) contemplado com coisas individuadas, por força de testamento, não assume dívida deixada pelo autor da herança, como fazem os herdeiros (sucessores a título universal), mas está obrigado a honrar as obrigações propter rem, já que estas vinculam o dono da coisa.Por ter como objeto uma prestação, e não uma coisa, não se trata exatamente de direito real. E não é simplesmente uma obrigação, porque pode haver cessão de débito sem anuência do credor, além de se transmitir ao sucessor a título singular e de se extinguir com a perda do direito real.

Da transmissão das obrigações.Ônus e crédito podem ser transmitidos a terceiros por seus titulares. Ativo e passivo podem ser cedidos a terceiro, conforme as regras estabelecidas em lei. Em contrato sinalagmático, as partes são reciprocamente credoras e devedoras, e a cessão de contrato implica cessão simultânea de crédito e débito.

O tema é tratado pelo CC/2002 após “modalidades” e antes de “inadimplemento das obrigações”. O CC/1916 não tratava da assunção de dívida e disciplinava a cessão de crédito após tratar de modalidades e efeitos das obrigações.

Da cessão de crédito. Art. 286 e s. do CC.Conceito – é negócio jurídico em que o credor transfere a terceiro, que não participou da relação jurídica originária, o crédito que tem em relação ao cedido, com todos os seus acessórios, e independentemente da anuência do cedido (devedor).Quem cede é o cedente; quem adquire o crédito, a título oneroso ou gratuito, o cessionário; o devedor é o cedido.

O crédito é bem como outro qualquer, com valor maior ou menor conforme a maior ou menor capacidade de solvência do credor. Trata-se de bem incorpóreo que compõe o ativo patrimonial do cedente. Aplicam- se à cessão de crédito onerosa as regras da venda e compra; e à cessão gratuita, as regras da doação.

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Cessão de crédito e novação:São institutos diferentes, porque a novação pode ser objetiva, subjetiva ativa e subjetiva passiva. A novação subjetiva ativa não implica transmissão, ao novo credor, dos acessórios como cláusula penal, fiança, juros. A novação extingue a obrigação anterior, é modo de adimplemento obrigacional pela via indireta, enquanto a cessão de crédito é a transferência da mesma obrigação, com todos os seus acessórios, a terceiro, o cessionário. Não há, na cessão de crédito, extinção de vínculo obrigacional.

Cessão de crédito e sub-rogação:A cessão de crédito é feita visando ao lucro do cessionário, enquanto na sub-rogação o terceiro, que passa a ser titular do crédito, por ter realizado o seu pagamento, no lugar do credor originário, faz jus aos acessórios do crédito, e recebe exatamente a mesma quantia que desembolsou (não há, na sub-rogação, escopo lucrativo).

Da evolução histórica:Não havia no direito romano a cessão de crédito, por causa do caráter personalíssimo da relação obrigacional. Não se podia fazer substituir o credor (e nem o devedor). Havia interesse do devedor no caráter personalíssimo do credor, que tinha direito de agir contra a sua pessoa, com direito de escravidão, mutilação e morte. O credor deveria ser paciente e piedoso. A novação, com o ingresso de terceiro na relação obrigacional desde que alcançada a anuência de todos os envolvidos, foi a primeira forma de delegar crédito a terceiro, mas a obrigação originária se extinguia com todos os seus acessórios, e o terceiro, novo credor, não teria por exemplo direito a garantia de fiador.

Surge posteriormente a procuração em causa própria, em que o credor originário transmite seu direito a terceiro, o procurator in rem suam, através de contrato de mandato e com o instrumento da procuração, sem a obrigação de prestar contas ao credor originário (mandante). Esse instituto tinha a desvantagem da revogação do mandato por vontade do credor ou por ocasião de sua morte.

Dos pressupostos de validade da cessão de crédito:Por ser negócio jurídico, os requisitos de validade estão no art. 104 do CC: agentes capazes, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei. Além da capacidade requer-se a legitimação para alienar.

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O objeto será lícito se a lei, a convenção ou a natureza da obrigação não impedir a cessão de crédito (art. 286 do CC). Não são suscetíveis de cessão, por sua natureza, direitos personalíssimos ou créditos alimentícios (de caráter assistencialista).

Convenção que proíba a cessão de crédito só pode ser oposta ao cessionário de boa-fé se constar do instrumento originário. Cf. art. 286 do CC.

A cessão de crédito é não solene e consensual. Para valer perante terceiro, a cessão depende de escritura pública ou de instrumento particular com as solenidades do §1º do art. 654 – deve ter assinatura de duas testemunhas e registro público.

Para o cedido, devedor, terceiro, não bastam as formalidades supra: e necessária a sua notificação.

A notificação do cedido não visa à sua anuência, mas evitar o pagamento válido ao cedente e possibilitar a oposição ao cedente e ao cessionário de exceções, como pagamento já realizado, compensação, existência de vícios como erro, dolo ou coação. Se não opuser exceção nesse momento, aceitou a cessão e não mais pode opor. Até a compensação, que opera sem necessidade de manifestação das partes, deixa de ocorrer e não pode ser alegada posteriormente pelo cedido, em homenagem à boa-fé do cessionário.

A notificação é prescindível, presumida por lei, quando o devedor, cedido, declarou-se ciente da cessão efetuada em escrito público ou particular.

O que garante o cedente ao cessionário:Garante a existência do crédito, do mesmo modo que o vendedor, sob pena de responder por evicção.

Responde pela devolução do que recebeu, com juros e despesas e, diante da má-fé, ainda arca com as perdas e danos caso se prove que não existia o crédito no momento da cessão.

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Obs.: É possível, por cláusula expressa em contrato, responder o cedente pela solvabilidade do cedido, com duas limitações, para não prejudicar a necessária álea que equilibra a cessão de crédito: a garantia é de solvabilidade no momento da cessão; e se provada a inexistência da solvabilidade no momento da cessão o cedente restitui apenas o valor recebido pelo cessionário, acrescido de juros e despesas da cessão, e as despesas que o cessionário houver feito com a cobrança (não responde pelo valor que o cessionário receberia do cedido).

O lucro do cessionário é a remuneração pelo risco assumido – se recebesse proveito sem risco ocorreria enriquecimento sem causa, e poderia haver por parte do cessionário empréstimo com elevada taxa de juros, com a garantia de recebimento total a final.

* Não responde o cedente pela existência do crédito se a cessão foi gratuita, pois em contratos gratuitos o autor da liberalidade só responde se agiu de má-fé.

Crédito penhorado: não pode ser cedido, pois responderá pelas dívidas do credor. A cessão caracterizaria fraude à execução. O devedor intimado da penhora do crédito deve pagar em juízo, sob pena de cumplicidade em fraude e obrigação de novo pagamento.

Da assunção de dívida. Art. 299 e s. do CC.

É negócio jurídico em que, com a anuência do credor, o sujeito passivo transfere a terceiro, que não participou da relação obrigacional originária, a sua obrigação.

Aqui a anuência do credor é necessária porque a solvência do devedor lhe interessa. O silêncio do credor significa recusa. A anuência é expressa, quando por escrito ou verbal; e tácita, quando o credor se comporta como quem a aceita, anuindo com o pagamento de terceiro, negociando a dívida com terceiro.

O devedor primitivo, cedente da dívida, continua obrigado se o cessionário, novo devedor, era insolvente ao tempo da assunção e o credor ignorava (art. 299, CC).

É diferente da novação subjetiva passiva porque nesta a obrigação inovada se extingue, enquanto na cessão de dívida persiste o

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mesmo vínculo, inclusive com seus acessórios como juros, índice de correção monetária, cláusula penal.

As garantias, no entanto, só persistem com a concordância de garantidores, como fiadores e proprietários de coisas oferecidas em penhor, anticrese ou hipoteca.

Evolução Histórica:Nodireito romano não era possível, pois, como na cessão de crédito, era impossível incluir terceiro no vínculo obrigacional, de caráter personalíssimo, vez que as qualidades do devedor interessavam (e ainda no direito moderno interessam) ao credor. Parte da doutrina ainda nega a sua possibilidade. Na prática, é menos importante que a cessão de crédito.

Cessão de débito feita entre credor e terceiro : não depende de anuência do devedor originário. É como a novação subjetiva passiva por expromissão.

O adquirente de imóvel hipotecado pode assumir o crédito garantido; se o credor não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento – art. 303 do CC. Silvio Rodrigues entende que se o crédito é garantido por garantia real, sem risco de não recebimento para o credor, este não pode se opor à cessão de dívida (Direito Civil – Parte Geral das Obrigações, 30ª ed., Editora Saraiva, 2008. P. 107 e 108).

Da cessão de contrato.Trata-se de instituto não disciplinado no Direito Brasileiro, mas possível em vista da autonomia de vontade, desde que lícito o objeto, capazes e legitimadas as partes e assumida uma forma não proscrita pelo ordenamento jurídico. São comuns a sublocação, o substabelecimento, a cessão de contrato de compromisso de venda e compra, ou de empreitada. Aplicam-se por analogia as regras sobre cessão de crédito e assunção de dívida. Leis alienígenas, como as do Código Civil italiano, ingressam como fonte pelos princípios gerais de direito (art. 4º da LICC).Contratos sinalagmáticos, em que as partes são reciprocamente devedoras e credoras, podem ser objeto de cessão. Há crítica doutrinária quanto à expressão cessão de contrato, porque não é o contrato que se cede, mas a posição contratual – crédito e dívida decorrentes da posição contratual.

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Conceito: trata-se da transferência de crédito e dívida decorrentes de relação contratual sinalagmática a terceiro, que não participou do contrato-base, com a anuência do contratante cedido.

O contrato-base, originário, está aperfeiçoado, mas ainda não foi integralmente cumprido, está em andamento (ainda não foi concluída a sua execução). O cedente transfere ao cessionário direitos e obrigações decorrentes desse contrato (se fosse unilateral, só poderia a parte ceder crédito ou dívida, pois o contrato unilateral é o que atribui a apenas uma das partes as obrigações, enquanto a outra tem as prerrogativas).

Trata-se de economia negocial, simplificação dos procedimentos, porque não se desfaz o contrato originário, para posteriormente firmá-lo com terceiro. Em um único negócio, o da cessão de contrato, a relação é transferida a terceiro

Anuência do cedido – como a cessão de contrato é transferência a terceiro de direitos e obrigações (cessão de crédito e de dívida), é necessária a anuência do cedido, que pode já estar expressa no contrato-base, ou constar da cláusula à ordem.

Caso não haja anuência do cedido, não há liberação do cedente – o cedente continua obrigado, solidariamente, com o cessionário.

O cedente garante perante o cessionário a validade do contrato. Pode ainda garantir por cláusula expressa o seu adimplemento, comportando-se então como fiador.

http://pt.scribd.com/doc/7089085/Direito-Das-ObrigaCOes-Resumao