civil - direito das obrigações - apostila 01

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1 MATERIAL DE APOIO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES Apostila 01 Direito das Obrigações Introdução e Classificação das Obrigações PROF.: PABLO STOLZE GAGLIANO 1. Introdução e Conceito do Direito das Obrigações O desenvolvimento do Direito das Obrigações liga-se mais proximamente às relações econômicas, não sofrendo, normalmente, acentuadas influências locais, valendo destacar que é por meio das “relações obrigacionais que se estrutura o regime econômico, sob formas definidas de atividade produtiva e permuta de bens”, como já salientou ORLANDO GOMES 1 . Em objetiva definição, trata-se do conjunto de normas e princípios jurídicos reguladores das relações patrimoniais entre um credor (sujeito ativo) e um devedor (sujeito passivo) a quem incumbe o dever de cumprir, espontânea ou coativamente, uma prestação de dar, fazer ou não fazer. 2. Conceito de “obrigação” Em sentido amplo, podemos definir “obrigação” como sendo a relação jurídica obrigacional (pessoal) entre um credor (titular do direito de crédito) e um devedor (incumbido do dever de prestar). Não se confunde, pois, com a relação jurídica real, estudada pelo Direito das Coisas. 1 GOMES, Orlando, Direito das Obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p.3.

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Curso de Direito Civil - Direito das Obrigações - apostila 01

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    MATERIAL DE APOIO

    DIREITO DAS OBRIGAES

    Apostila 01

    Direito das Obrigaes

    Introduo e Classificao das Obrigaes

    PROF.: PABLO STOLZE GAGLIANO

    1. Introduo e Conceito do Direito das Obrigaes

    O desenvolvimento do Direito das Obrigaes liga-se mais

    proximamente s relaes econmicas, no sofrendo, normalmente,

    acentuadas influncias locais, valendo destacar que por meio das relaes

    obrigacionais que se estrutura o regime econmico, sob formas definidas de

    atividade produtiva e permuta de bens, como j salientou ORLANDO GOMES1.

    Em objetiva definio, trata-se do conjunto de normas e princpios

    jurdicos reguladores das relaes patrimoniais entre um credor (sujeito ativo)

    e um devedor (sujeito passivo) a quem incumbe o dever de cumprir,

    espontnea ou coativamente, uma prestao de dar, fazer ou no fazer.

    2. Conceito de obrigao

    Em sentido amplo, podemos definir obrigao como sendo a relao

    jurdica obrigacional (pessoal) entre um credor (titular do direito de crdito) e

    um devedor (incumbido do dever de prestar).

    No se confunde, pois, com a relao jurdica real, estudada pelo Direito

    das Coisas.

    1 GOMES, Orlando, Direito das Obrigaes. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p.3.

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    Relao Jurdica Obrigacional:

    Sujeito Ativo (credor) ----- relao jurdica obrigacional ----- Sujeito

    Passivo (devedor)

    Relao Jurdica Real:

    Titular do Direito Real ------------relao jurdica real------------

    Bem/Coisa

    A relao obrigacional composta por trs elementos fundamentais:

    a) subjetivo ou pessoal:

    - sujeito ativo (credor)

    - sujeito passivo (devedor)

    b) objetivo ou material: a prestao

    c) ideal, imaterial ou espiritual: o vnculo jurdico

    Questo de Concurso 1- O que obrigao propter rem?

    Tambm chamada de ob rem ou simplesmente in rem.

    Trata-se, em verdade, de uma obrigao de natureza mista (real e pessoal), e

    que se vincula a uma coisa, acompanhando-a (ex.: obrigao de pagar taxa

    condominial). So determinadas por lei.

    Nesse sentido, confira-se o seguinte julgado do STJ:

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    AO DE COBRANA. COTAS DE CONDOMNIO. LEGITIMIDADE PASSIVA.

    PROPRIETRIO DO IMVEL, PROMISSRIO COMPRADOR OU POSSUIDOR.

    PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. OBRIGAO PROPTER REM.

    DISSDIO JURISPRUDENCIAL. AUSNCIA DE SIMILITUDE FTICA. RECURSO

    NO CONHECIDO.

    1. As cotas condominiais, porque decorrentes da conservao da coisa, situam-

    se como obrigaes propter rem, ou seja, obrigaes reais, que passam a

    pesar sobre quem o titular da coisa; se o direito real que a origina

    transmitido, as obrigaes o seguem, de modo que nada obsta que se volte a

    ao de cobrana dos encargos condominiais contra os proprietrios.

    2. Em virtude das despesas condominiais incidentes sobre o imvel, pode vir

    ele a ser penhorado, ainda que gravado como bem de famlia.

    3. O dissdio jurisprudencial no restou demonstrado, ante a ausncia de

    similitude ftica entre os acrdos confrontados.

    4. Recurso especial no conhecido.

    (REsp 846.187/SP, Rel. Ministro HLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA,

    julgado em 13.03.2007, DJ 09.04.2007 p. 255)

    No prximo julgado, muito interessante, observamos que a obrigao de pagar

    taxa de condomnio (propter rem) tem preferncia, inclusive, sobre a

    obrigao de pagar credor com garantia de hipoteca sobre o imvel:

    CIVIL E PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.

    CRDITO CONDOMINIAL. PREFERNCIA AO CRDITO HIPOTECRIO.

    OBRIGAO PROPTER REM. ALEGAO DE OFENSA A DISPOSITIVOS

    CONSTITUCIONAIS. ANLISE IMPOSSVEL NA VIA RECURSAL ELEITA.

    IMPROVIMENTO.

    I. O crdito condominial tem preferncia sobre o crdito hipotecrio por

    constituir obrigao propter rem, constitudo em funo da utilizao do

    prprio imvel ou para evitar-lhe o perecimento. Precedentes do STJ.

    II. Invivel ao STJ, na sede recursal eleita, a apreciao de suposta ofensa a

    normas constitucionais, por refugir sua competncia.

  • 4

    III. Agravo regimental improvido.

    (AgRg no REsp 1039117/SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR,

    QUARTA TURMA, julgado em 23/06/2009, DJe 24/08/2009)

    E vale anotar ainda esta interessante aplicao, no mbito do Direito

    Ambiental:

    AGRAVO REGIMENTAL EM EMBARGOS DE DECLARAO EM RECURSO

    ESPECIAL.

    DIREITO ADMINISTRATIVO. MEIO AMBIENTE. REA DE RESERVA LEGAL EM

    PROPRIEDADE RURAL. DEMARCAO, AVERBAO E RESTAURAO.

    LIMITAO ADMINISTRATIVA. OBRIGAO EX LEGE E PROPTER REM,

    IMEDIATAMENTE EXIGVEL DO PROPRIETRIO ATUAL. VIOLAO DA LEI DE

    INTRODUO AO CDIGO CIVIL. INOCORRNCIA.

    1. A obrigao do atual proprietrio pela reparao dos danos ambientais,

    ainda que no tenha sido ele o responsvel pelo desmatamento, propter

    rem, ou seja, decorrente da relao existente entre o devedor e a coisa,

    independente das alteraes subjetivas. Dessa forma, transferida do

    alienante ao novo proprietrio a obrigao de demarcar e averbar no registro

    de imvel a reserva legal instituda no artigo 16 do Cdigo Florestal, no

    resultando disso violao qualquer do artigo 6 da Lei de Introduo ao Cdigo

    Civil.

    2. Agravo regimental improvido.

    (AgRg nos EDcl no REsp 1203101/SP, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO,

    PRIMEIRA TURMA, julgado em 08/02/2011, DJe 18/02/2011)

    No confunda a obrigao propter rem com a obrigao com eficcia

    real, que traduz, simplesmente, uma obrigao com oponibilidade erga

    omnes, ou seja, oponvel a qualquer pessoa. o caso da anotao da

    obrigao locatcia (contrato de locao) levada ao Registro de Imveis (art. 8

    da Lei do Inquilinato): neste caso, mesmo com a alienao do imvel a

    obrigao em face do locatrio dever ser respeitada por qualquer eventual

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    adquirente. Trata-se de uma obrigao com eficcia real (cf. Novo Curso de

    Direito Civil Obrigaes, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho,

    Cap. 01).

    OBS.:

    No julgado abaixo, o STJ entendeu que a penhora on line no

    descaracterizaria a obrigao propter rem:

    EXECUO DE DVIDA CONDOMINIAL. PENHORA ON LINE.

    Na execuo de dvida relativa a taxas condominiais, ainda que se trate de

    obrigao propter rem, a penhora no deve necessariamente recair sobre o

    imvel que deu ensejo cobrana, na hiptese em que se afigura vivel a

    penhora on line. Para chegar ao entendimento, a Min. Relatora relembrou a

    natureza da taxa condominial, destinada manuteno ou aprimoramento da

    coisa comum. Em funo do carter solidrio da taxa de condomnio, a

    execuo desse valor pode recair sobre o prprio imvel, sendo possvel o

    afastamento da proteo dada ao bem de famlia. Dessa forma, pretende-se

    impedir o enriquecimento sem causa do condmino inadimplente em

    detrimento dos demais. Essa construo jurisprudencial e doutrinria no

    significa, contudo, que a execuo tenha que obrigatoriamente atingir o

    imvel, se for possvel satisfazer o crdito de outra forma, respeitada a

    gradao de liquidez prevista no art. 655 do CPC (com redao dada pela Lei

    n. 11.382/2006). Assim, encontrado saldo suficiente para o pagamento da

    dvida em conta corrente do executado, cabvel a penhora on line, sem que

    isso importe em violao ao princpio da menor onerosidade para o executado

    (art. 620 do CPC). Pelo contrrio, a determinao de penhora on line

    representa observncia ao princpio da primazia da tutela especfica, segundo o

    qual a obrigao deve, sempre que possvel, ser prestada como se tivesse

    havido adimplemento espontneo. Precedentes citados: AgRg no Ag

    1.164.999-SP, DJe 16/10/2009; AgRg no Ag 1.325.638-MG, DJe 18/5/2012;

  • 6

    AgRg no Ag 1.257.879-SP, DJe 13/5/2011, e REsp 1.246.989-PR, DJe

    15/3/2012. REsp 1.275.320-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em

    2/8/2012.

    Questo de Concurso 2 O que obrigao natural?

    Em essncia e na estrutura, a obrigao natural no difere da obrigao civil:

    cuida-se de uma relao de dbito e crdito que vincula objeto e sujeitos

    determinados. Todavia, distingue-se da obrigao civil por no ser dotada de

    exigibilidade jurdica.

    Tal inexigibilidade pode pretender preservar a segurana e a estabilidade

    jurdicas, como ocorre, por exemplo, na prescrio de uma pretenso

    decorrente de uma dvida (em que o direito no se satisfaz com obrigaes

    perptuas) ou na impossibilidade de cobrana judicial de dvida de jogo (pelo

    reconhecimento social do carter danoso de tal conduta).

    A conseqncia ou efeito jurdico decorrente da obrigao natural a

    reteno do pagamento (soluti retentio), ou seja: posto no possa cobr-lo,

    caso receba o pagamento, poder o credor ret-lo.

    Questo de Concurso 3 Que se entende por Schuld e Haftung?

    Em alemo, Schuld pode significar culpa ou dbito. Haftung, e tambm

    Haftpflicht, por sua vez, podem traduzir responsabilidade.

    Muito bem.

    No Direito Civil, a palavra Schuld identifica-se com o dbito e Haftung

    com a responsabilidade.

    Sobre o tema, anota, com sabedoria, GUILHERME C. N. DA GAMA:

    Normalmente, dbito e responsabilidade se verificam conjuntamente na

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    mesma pessoa do devedor, mas perfeitamente possvel que a

    responsabilidade seja de outro sujeito que no o devedor, como nos casos de

    fiana, de aval, de direitos reais de garantia (hipoteca, penhor, anticrese).2

    3. Classificao Bsica e Especial das Obrigaes3

    3.1. Classificao Bsica

    As obrigaes, em uma classificao bsica, apreciadas segundo a

    prestao que as integra, podero ser: POSITIVAS (de dar coisa certa ou

    coisa incerta; de fazer) e NEGATIVAS (de no fazer).

    Em sala de aula, desenvolveremos esta temtica.

    3.2. Classificao Especial

    Sero estudadas tambm outras categorias especiais de obrigao.

    Considerando o elemento subjetivo (os sujeitos), as obrigaes

    podero ser:

    a) fracionrias;

    b) conjuntas;

    c) disjuntivas;

    d) solidrias.

    Considerando o elemento objetivo (a prestao) - alm da

    classificao bsica, que tambm utiliza este critrio (prestaes de dar, fazer

    2 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito Civil Obrigaes. So Paulo: Atlas, 2008, pg. 31. 3 A aula sobre a classificao especial das obrigaes ser ministrada pelo Prof. Flvio Tartuce.

  • 8

    e no fazer) -, podemos apontar a existncia de modalidades especiais de

    obrigaes, a saber:

    a) alternativas;

    b) facultativas;

    c) cumulativas;

    d) divisveis e indivisveis;

    e) lquidas e ilquidas;

    E, quanto ao elemento acidental, encontramos:

    a) obrigao condicional;

    b) obrigao a termo;

    c) obrigao modal.

    Finalmente, quanto ao contedo, classificam-se as obrigaes em:

    a) obrigaes de meio;

    b) obrigaes de resultado;

    c) obrigaes de garantia.

    Classificao Especial Quanto ao Elemento Subjetivo (Sujeitos).

    Obrigaes Fracionrias.

    Nas obrigaes fracionrias, concorre uma pluralidade de devedores ou credores, de forma que cada um deles responde apenas por parte da dvida ou tem direito apenas a uma proporcionalidade do crdito.

    Uma obrigao pecuniria (de dar dinheiro), em princpio, fracionria.

    Obrigaes Conjuntas.

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    So tambm chamadas de obrigaes unitrias ou de obrigaes em mo comum (Zur gesamtem Hand), no Direito germnico.

    Neste caso, concorre uma pluralidade de devedores ou credores, impondo-se a todos o pagamento conjunto de toda a dvida, no se autorizando a um dos credores exigi-la individualmente.

    Obrigaes Disjuntivas.

    Nesta modalidade de obrigao, existem devedores que se obrigam alternativamente ao pagamento da dvida. Vale dizer, desde que um dos devedores seja escolhido para cumprir a obrigao, os outros estaro conseqentemente exonerados, cabendo, portanto, ao credor a escolha do demandado.

    De tal forma, havendo uma dvida contrada por trs devedores (A, B, C), a obrigao pode ser cumprida por qualquer deles: ou A ou B ou C.

    Obrigaes Solidrias.

    Existe solidariedade quando, na mesma obrigao, concorre uma

    pluralidade de credores, cada um com direito dvida toda (solidariedade

    ativa), ou uma pluralidade de devedores, cada um obrigado dvida por

    inteiro (solidariedade passiva).

    A solidariedade no se presume nunca: resulta da lei ou da vontade

    das partes.

    Veja, por exemplo, a respeito da solidariedade passiva, recente julgado

    do STJ:

    DIRIETO CIVIL. SOLIDARIEDADE PASSIVA. TRANSAO COM UM DOS

    CO-DEVEDORDES. OUTORGA DE QUITAO PLENA. PRESUNO DE

    RENNCIA SOLIDARIEDADE.

    DIREITO CIVIL. INDENIZAO. DANO EFETIVO. DANOS MORAIS.

    ALTERAO PELO STJ. VALOR EXORBITANTE OU NIFMO. POSSIBILIDADE.

    DIREITO PROCESSUAL CIVIL. SUCUMBNCIA. FIXAO. PEDIDOS

    FORMULADOS E PEDIDOS EFETIVAMENTE PROCEDENTES.

  • 10

    - Na solidariedade passiva o credor tem a faculdade de exigir e receber,

    de qualquer dos co-devedores, parcial ou totalmente, a dvida comum.

    Havendo pagamento parcial, todos os demais co-devedores continuam

    obrigados solidariamente pelo valor remanescente. O pagamento parcial

    efetivado por um dos co-devedores e a remisso a ele concedida, no alcana

    os demais, seno at a concorrncia da quantia paga ou relevada.

    - Na presente lide, contudo, a sobrevivncia da solidariedade no

    possvel, pois resta apenas um devedor, o qual permaneceu responsvel por

    metade da obrigao. Diante disso, a conseqncia lgica que apenas a

    recorrida permanea no plo passivo da obrigao, visto que a relao solidria

    era constituda de to-somente dois co-devedores.

    - O acolhimento da tese da recorrente, no sentido de que a recorrida

    respondesse pela integralidade do valor remanescente da dvida, implicaria, a

    rigor, na burla da transao firmada com a outra devedora. Isso porque, na

    hiptese da recorrida se ver obrigada a satisfazer o resto do dbito, lhe

    caberia, a teor do que estipula o art. 283 do CC/02, o direito de exigir da outra

    devedora a sua quota, no obstante, nos termos da transao, esta j tenha

    obtido plena quitao em relao sua parte na dvida. A transao implica em

    concesses recprocas, no cabendo dvida de que a recorrente, ao firm-la,

    aceitou receber da outra devedora, pelos prejuzos sofridos (correspondentes a

    metade do dbito total), a quantia prevista no acordo. Assim, no seria

    razovel que a outra devedora, ainda que por via indireta, se visse obrigada a

    despender qualquer outro valor por conta do evento em relao ao qual

    transigiu e obteve quitao plena.

    - Os arts. 1.059 e 1.060 do CC/02 exigem dano material efetivo como

    pressuposto do dever de indenizar. O dano deve, por isso, ser certo, atual e

    subsistente. Precedentes.

    - A interveno do STJ, para alterar valor fixado a ttulo de danos

    morais, sempre excepcional e justifica-se to-somente nas hipteses em que

    o quantum seja nfimo ou exorbitante, diante do quadro delimitado pelas

    instncias ordinrias. Precedentes.

  • 11

    - A proporcionalidade da sucumbncia deve levar em considerao o

    nmero de pedidos formulados na inicial e o nmero de pedidos efetivamente

    julgados procedentes ao final da demanda. Precedentes.

    Recurso especial parcialmente conhecido e, nesse ponto, provido.

    (REsp 1089444/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,

    julgado em 09/12/2008, DJe 03/02/2009)

    Em geral, entende-se que a obrigao de pagar alimentos traduz, no

    propriamente uma tpica solidariedade legal, mas sim uma

    complementaridade jurdica entre os coobrigados: por exemplo, eu devo

    alimentos ao meu filho, no entanto, caso haja insuficincia ou ausncia total de

    recursos, os meus pais (avs da criana) podero ser chamados. Note-se, pois,

    que, em tese, poder haver a participao em litisconsrcio de mais de um

    legitimado passivo, mas a regra no sentido de haver preferncia de uns

    em face de outros (eu respondo em face do meu filho, antes dos meus pais,

    que s atuariam complementarmente ou em subsidiariedade).

    Todavia, se os alimentandos (credores) forem idosos, para ampliar

    a sua tutela, o STJ, aplicando o Estatuto do Idoso, j entendeu haver

    inequvoca solidariedade passiva entre os devedores (legitimados passivos):

    Direito civil e processo civil. Ao de alimentos proposta pelos pais

    idosos em face de um dos filhos. Chamamento da outra filha para integrar a

    lide. Definio da natureza solidria da obrigao de prestar alimentos luz do

    Estatuto do Idoso.

    - A doutrina unssona, sob o prisma do Cdigo Civil, em afirmar que o

    dever de prestar alimentos recprocos entre pais e filhos no tem natureza

    solidria, porque conjunta.

    - A Lei 10.741/2003, atribuiu natureza solidria obrigao de prestar

    alimentos quando os credores forem idosos, que por fora da sua natureza

    especial prevalece sobre as disposies especficas do Cdigo Civil.

    - O Estatuto do Idoso, cumprindo poltica pblica (art. 3), assegura

    celeridade no processo, impedindo interveno de outros eventuais devedores

    de alimentos.

  • 12

    - A solidariedade da obrigao alimentar devida ao idoso lhe garante a

    opo entre os prestadores (art. 12).

    Recurso especial no conhecido.

    (REsp 775.565/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,

    julgado em 13.06.2006, DJ 26.06.2006 p. 143)

    Outro importante julgado do STJ no sentido de reconhecer a

    solidariedade entre o proprietrio e o condutor do veculo por acidente:

    ACIDENTE DE TRNSITO. TRANSPORTE BENVOLO. VECULO CONDUZIDO

    POR UM DOS COMPANHEIROS DE VIAGEM DA VTIMA, DEVIDAMENTE

    HABILITADO.

    RESPONSABILIDADE SOLIDRIA DO PROPRIETRIO DO AUTOMVEL.

    RESPONSABILIDADE PELO FATO DA COISA.

    - Em matria de acidente automobilstico, o proprietrio do veculo responde

    objetiva e solidariamente pelos atos culposos de terceiro que o conduz e que

    provoca o acidente, pouco importando que o motorista no seja seu

    empregado ou preposto, ou que o transporte seja gratuito ou oneroso, uma

    vez que sendo o automvel um veculo perigoso, o seu mau uso cria a

    responsabilidade pelos danos causados a terceiros.

    - Provada a responsabilidade do condutor, o proprietrio do veculo fica

    solidariamente responsvel pela reparao do dano, como criador do risco para

    os seus semelhantes.

    Recurso especial provido.

    (REsp 577.902/DF, Rel. Ministro ANTNIO DE PDUA RIBEIRO, Rel. p/

    Acrdo Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em

    13.06.2006, DJ 28.08.2006 p. 279)

    Finalmente, segue julgado sobre a solidariedade e o instituto processual

    do chamamento ao processo:

    TRIBUTRIO. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. EMPRSTIMO

    COMPULSRIO SOBRE ENERGIA ELTRICA. UNIO FEDERAL.

  • 13

    RESPONSABILIDADE SOLIDRIA. LITISCONSRCIO PASSIVO FACULTATIVO.

    COMPETNCIA. JUSTIA ESTADUAL. ENTENDIMENTO CONSOLIDADO.

    "RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVRSIA" (REsp

    1145146/RS). ARTIGO 543-C, DO CPC. RESOLUO STJ 8/2008. ARTIGO 557,

    DO CPC. APLICAO.

    1. A solidariedade obrigacional no importa em exigibilidade da obrigao em

    litisconsrcio necessrio (art. 47 do CPC), mas antes na eleio do devedor

    pelo credor, cabendo quele, facultativamente, o chamamento ao processo

    (art. 77, do CPC).

    2. A Unio Federal responde solidariamente pelo valor nominal dos ttulos

    relativos ao emprstimo compulsrio institudo sobre energia eltrica, nos

    termos do art. 4, 3, da Lei 4.156/62, in verbis: "Art. 4 At 30 de junho de

    1965, o consumidor de energia eltrica tomar obrigaes da ELETROBRS,

    resgatveis em 10 (dez) anos, a juros de 12% (doze por cento) ao ano,

    correspondentes a 20% (vinte por cento) do valor de suas contas. A partir de

    1 de julho de 1965, e at o exerccio de 1968, inclusive, o valor da tomada de

    tais obrigaes ser equivalente ao que fr devido a ttulo de impsto nico

    sbre energia eltrica. (Redao dada pela Lei n 4.676, de 16.6.1965)

    (omissis) 3 assegurada a responsabilidade solidria da Unio, em

    qualquer hiptese, pelo valor nominal dos ttulos de que trata ste artigo." 3. A

    parte autora pode eleger apenas um dos devedores solidrios para figurar no

    plo passivo da demanda, consoante previsto no art.

    275 do Cdigo Civil, que regula a solidariedade passiva: "Art. 275. O credor

    tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou

    totalmente, a dvida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os

    demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

    Pargrafo nico. No importar renncia da solidariedade a propositura de

    ao pelo credor contra um ou alguns dos devedores." 4. A solidariedade

    jurdica da Unio na devoluo dos aludidos ttulos, enseja a que a mesma seja

    chamada ao processo na forma do art. 77 do CPC, com o consequente

    deslocamento da competncia para a Justia Federal.

  • 14

    5. O autor, elegendo apenas um dos devedores solidrios para a demanda, o

    qual no goza de prerrogativa de juzo, torna imutvel a competncia ratione

    personae.

    6. Outrossim, a possibilidade de escolha de um dos devedores solidrios afasta

    a figura do litisconsrcio compulsrio ou necessrio por notria antinomia

    ontolgica, porquanto, o que facultativo no pode ser obrigatrio.

    (Precedentes: REsp 1111159/RJ, Rel. Ministro BENEDITO GONALVES,

    PRIMEIRA SEO, julgado em 11/11/2009, DJe 19/11/2009; REsp

    1018509/DF, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em

    24/03/2009, DJe 23/04/2009; AgRg no CC 92.312/RS, Rel. Ministro HERMAN

    BENJAMIN, PRIMEIRA SEO, julgado em 12/11/2008, DJe 05/03/2009; REsp

    1052625/PE, Rel.

    Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/08/2008, DJe

    10/09/2008; AgRg no CC 83.169/RJ, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA

    SEO, julgado em 12/03/2008, DJe 31/03/2008) 7. luz da novel

    metodologia legal, publicado o acrdo do julgamento do recurso especial,

    submetido ao regime previsto no artigo 543-C, do CPC, os demais recursos j

    distribudos, fundados em idntica controvrsia, devero ser julgados pelo

    relator, nos termos do artigo 557, do CPC (artigo 5, I, da Res. STJ 8/2008).

    8. Agravos regimentais desprovidos.

    (AgRg no REsp 1119095/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado

    em 06/05/2010, DJe 19/05/2010)

    Classificao Especial Quanto ao Elemento Objetivo (Prestao).

    Obrigaes Alternativas.

    As obrigaes alternativas ou disjuntivas so aquelas que tm por objeto

    duas ou mais prestaes, sendo que o devedor exonera-se cumprindo apenas

    uma delas.

    Exemplo da aplicao:

  • 15

    DIREITO COMERCIAL. FALNCIA. PEDIDO DE RESTITUIO DE

    DINHEIRO.

    ALIENAO DE MERCADORIAS RECEBIDAS EM CONSIGNAO ANTES

    DA QUEBRA.

    CONTABILIZAO INDEVIDA PELA FALIDA DO VALOR EQUIVALENTE S

    MERCADORIAS. DEVER DA MASSA RESTITUIR OU AS MERCADORIAS OU O

    EQUIVALENTE EM DINHEIRO. SMULA 417 DO STF.

    - O que caracteriza o contrato de venda em consignao, tambm

    denominado pela doutrina e pelo atual Cdigo Civil (arts. 534 a 537) de

    contrato estimatrio, que (i) a propriedade da coisa entregue para venda no

    transferida ao consignatrio e que, aps recebida a coisa, o consignatrio

    assume uma obrigao alternativa de restituir a coisa ou pagar o preo dela ao

    consignante.

    - Os riscos so do consignatrio, que suporta a perda ou deteriorao da

    coisa, no se exonerando da obrigao de pagar o preo, ainda que a

    restituio se impossibilite sem culpa sua.

    - Se o consignatrio vendeu as mercadorias entregues antes da

    decretao da sua falncia e recebeu o dinheiro da venda, inclusive

    contabilizando-o indevidamente, deve devolver o valor devidamente corrigido

    ao consignante. Incidncia da Smula n. 417 do STF.

    - A arrecadao da coisa no fator de obstaculizao do pedido de

    restituio em dinheiro quando a alienao da mercadoria feita pelo

    comerciante anteriormente decretao da sua quebra.

    Recurso especial ao qual se nega provimento.

    (REsp 710.658/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,

    julgado em 06.09.2005, DJ 26.09.2005 p. 373)

    Em caso de impossibilidade total ou parcial das obrigaes

    alternativas, apresentamos o seguinte quadro-resumo, para facilitar a sua

    fixao:

  • 16

    1. Impossibilidade Total (todas as prestaes alternativas):

    a) sem culpa do devedor extingue-se a obrigao

    (art. 256, CC-02, art. 888, CC-16);

    b) com culpa do devedor se a escolha cabe ao

    prprio devedor: dever pagar o valor da prestao

    que se impossibilitou por ltimo, mais as perdas e

    danos (art. 254, CC-02, art. 886, CC-16);

    - se a escolha cabe ao credor:

    poder exigir o valor de qualquer das prestaes,

    mais perdas e danos (art. 255, segunda parte, CC-02,

    art. 887, segunda parte, CC-16).

    2. Impossibilidade Parcial (de uma das prestaes alternativas):

    a) sem culpa do devedor concentrao do dbito na

    prestao subsistente (art. 253, CC-02, art. 885, CC-

    16);

    b) com culpa do devedor se a escolha cabe ao

    prprio devedor: concentrao do dbito na

    prestao subsistente (art. 253, CC-02, art. 885, CC-

    16);

    - se a escolha cabe ao prprio

    credor: poder exigir a prestao remanescente ou

    valor da que se impossibilitou, mais as perdas e

    danos (art. 255, primeira parte, CC-02, art. 887,

    primeira parte, CC-16).

    Obrigaes Facultativas.

  • 17

    A obrigao considerada facultativa quando, tendo um nico objeto,

    o devedor tem a faculdade de substituir a prestao devida por outra de

    natureza diversa, prevista subsidiariamente.

    No se confunde com a obrigao alternativa, cujo objeto j nasce

    composto.

    Obrigaes Cumulativas.

    As obrigaes cumulativas ou conjuntivas so as que tm por objeto

    uma pluralidade de prestaes, que devem ser cumpridas conjuntamente. o

    que ocorre quando algum se obriga a entregar uma casa e certa quantia em

    dinheiro.

    Obrigaes Divisveis e Indivisveis.

    As obrigaes divisveis so aquelas que admitem o cumprimento

    fracionado ou parcial da prestao; as indivisveis, por sua vez, s podem ser

    cumpridas por inteiro.

    Obrigaes Divisveis:

    Art. 257. Havendo mais de um devedor, ou mais de um

    credor em obrigao divisvel, esta presume-se dividida em tantas

    obrigaes, iguais e distintas, quanto os credores ou devedores.

    Obrigaes Indivisveis:

  • 18

    Art. 258. A obrigao indivisvel quando a prestao tem

    por objeto uma coisa ou um fato no suscetveis de diviso, por

    sua natureza, por motivo de ordem econmica, ou dada a razo

    determinante do negcio jurdico.

    Fique atento: No confunda indivisibilidade com solidariedade.

    Por bvio, qualquer que seja a natureza da indivisibilidade (natural, legal ou

    convencional), se concorrerem dois ou mais devedores, cada um deles estar

    obrigado pela dvida toda (art. 259, CC-02, art. 891, CC-16), eis que no se

    admite o fracionamento do objeto da obrigao. Note-se, todavia, que o dever

    imposto a cada devedor de pagar toda a dvida no significa que exista

    solidariedade entre eles, uma vez que, no caso, o objeto da prpria obrigao

    que determina o cumprimento integral do dbito. Por bvio, se A, B e C

    obrigam-se a entregar um cavalo, qualquer deles, demandado, dever entregar

    todo o animal. E isso ocorre no necessariamente por fora de um vnculo de

    solidariedade passiva, mas sim, pelo simples fato de que no se poder cortar

    o cavalo em trs, para dar apenas um tero do animal ao credor.

    Com a sua peculiar erudio, CAIO MRIO DA SILVA PEREIRA enumera

    os caracteres distintivos das duas espcies de obrigao4 (indivisvel e

    solidria):

    a) a causa da solidariedade o ttulo, e a da indivisibilidade ,

    normalmente, a natureza da obrigao;

    b) na solidariedade, cada devedor paga por inteiro, porque deve

    integralmente, enquanto na indivisibilidade, solve a totalidade,

    4 PEREIRA, Caio Mrio da Silva, Instituies de Direito Civil Rio de Janeiro: Forense.

  • 19

    em razo da impossibilidade jurdica de se repartir em quotas a

    coisa devida;

    c) a solidariedade uma relao subjetiva, e a indivisibilidade

    objetiva, em razo de que, enquanto a indivisibilidade assegura

    a unidade da prestao, a solidariedade visa a facilitar a

    satisfao do crdito;

    d) a indivisibilidade justifica-se com a prpria natureza da

    prestao, quando o objeto , em si mesmo, insuscetvel de

    fracionamento, enquanto a solidariedade sempre de origem

    tcnica, resultando da lei ou da vontade das partes;

    e) a solidariedade cessa com a morte dos devedores, enquanto a

    indivisibilidade subsiste enquanto a prestao suportar;

    f) a indivisibilidade termina quando a obrigao se converte em

    perdas e danos, enquanto a solidariedade conserva este

    atributo.

    Obrigaes Lquidas e Ilquidas.

    Lquida a obrigao certa quanto sua existncia, e determinada

    quanto ao seu objeto. A prestao, pois, nesses casos, certa, individualizada,

    a exemplo do que ocorre quando algum se obriga a entregar ao credor a

    quantia de R$100,00. A obrigao ilquida, por sua vez, carece de especificao

    do seu quantum, para que possa ser cumprida.

  • 20

    Classificao Especial Quanto ao Elemento Acidental5.

    Obrigaes Condicionais.

    Trata-se de obrigaes condicionadas a evento futuro e incerto, como

    ocorre quando algum se obriga a dar a outrem um carro, quando este se

    casar.

    Obrigaes a Termo.

    Se a obrigao subordinar a sua exigibilidade ou a sua resoluo,

    outrossim, a um evento futuro e certo, estaremos diante de uma obrigao a

    termo.

    Obrigaes Modais.

    As obrigaes modais so aquelas oneradas com um encargo (nus),

    imposto a uma das partes, que experimentar um benefcio maior.

    Classificao Especial Quanto ao Contedo.

    Obrigaes de Meio.

    A obrigao de meio aquela em que o devedor se obriga a empreender

    a sua atividade, sem garantir, todavia, o resultado esperado.

    As obrigaes do mdico, em geral, assim como as do advogado, so,

    fundamentalmente, de meio, uma vez que esses profissionais, a despeito de

    deverem atuar segundo as mais adequadas regras tcnicas e cientficas

    5 Cf. Novo Curso de Direito Civil Parte Geral, Volume I, captulo XV (Plano de Eficcia do Negcio Jurdico) Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho - Saraiva.

  • 21

    disponveis naquele momento, no podem garantir o resultado de sua atuao

    (a cura do paciente, o xito no processo).

    Obrigaes de Resultado.

    Nesta modalidade obrigacional, o devedor se obriga, no apenas a

    empreender a sua atividade, mas, principalmente, a produzir o resultado

    esperado pelo credor.

    Em geral, a obrigao do mdico de meio, no entanto, no caso do

    cirurgio plstico (cirurgia plstica esttica), a jurisprudncia entende ser de

    resultado:

    AGRAVO REGIMENTAL. AO DE INDENIZAO. ERRO MDICO.

    CIRURGIA PLSTICA. OBRIGAO DE RESULTADO. JULGAMENTO EM

    SINTONIA COM OS PRECEDENTES DESTA CORTE. CULPA DO PROFISSIONAL.

    FUNDAMENTO INATACADO. DANOS MORAIS. QUANTUM INDENIZATRIO. R$

    20.000,00 (VINTE MIL REAIS). RAZOABILIDADE.

    I - A jurisprudncia desta Corte orienta que a obrigao de

    resultado em procedimentos cirrgicos para fins estticos.

    II - Esta Corte s conhece de valores fixados a ttulo de danos morais

    que destoam razoabilidade, o que no ocorreu no presente caso.

    III - O agravo no trouxe nenhum argumento novo capaz de modificar a

    concluso alvitrada, a qual se mantm por seus prprios fundamentos.

    Agravo improvido.

    Agravo Regimental improvido.

    (AgRg no Ag 1132743/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,

    julgado em 16/06/2009, DJe 25/06/2009)

    AGRAVO REGIMENTAL. RESPONSABILIDADE MDICA. OBRIGAO DE MEIO.

    REEXAME FTICO-PROBATRIO. SMULA 07/STJ. INCIDNCIA.

  • 22

    1. Segundo doutrina dominante, a relao entre mdico e paciente contratual

    e encerra, de modo geral (salvo cirurgias plsticas embelezadoras),

    obrigao de meio e no de resultado. Precedente.

    2. Afastada pelo acrdo recorrido a responsabilidade civil do mdico diante da

    ausncia de culpa e comprovada a pr-disposio do paciente ao descolamento

    da retina - fato ocasionador da cegueira - por ser portador de alta-miopia, a

    pretenso de modificao do julgado esbarra, inevitavelmente, no bice da

    smula 07/STJ.

    3. Agravo regimental improvido.

    (AgRg no REsp 256.174/DF, Rel. Ministro FERNANDO GONALVES, QUARTA

    TURMA, julgado em 04.11.2004, DJ 22.11.2004 p. 345)

    CIVIL E PROCESSUAL - CIRURGIA ESTTICA OU PLSTICA - OBRIGAO DE

    RESULTADO (RESPONSABILIDADE CONTRATUAL OU OBJETIVA) -

    INDENIZAO - INVERSO DO NUS DA PROVA.

    I - Contratada a realizao da cirurgia esttica embelezadora, o cirurgio

    assume obrigao de resultado (Responsabilidade contratual ou objetiva),

    devendo indenizar pelo no cumprimento da mesma, decorrente de eventual

    deformidade ou de alguma irregularidade.

    II - Cabvel a inverso do nus da prova.

    III - Recurso conhecido e provido.

    (REsp

    81.101/PR, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA TURMA, julgado em

    13.04.1999, DJ 31.05.1999 p. 140)

    OBS.: Existe, na jurisprudncia, entendimento no sentido de que

    a cirurgia para a correo de miopia, por se tratar de procedimento

    mdico, encerra OBRIGAO DE MEIO, e no de RESULTADO (ou seja,

    havendo melhora na acuidade visual, a sua finalidade foi atingida, no

    podendo o mdico garantir a viso perfeita): Por considerar que uma

    clnica no foi responsvel pelos danos no olho de um paciente, a 10 Cmara

  • 23

    Cvel do Tribunal de Justia de Minas Gerais reformou o entendimento de

    primeira instncia e a dispensou de pagar indenizao. Para o relator, Pereira

    da Silva, a cirurgia no olho do paciente, para correo de miopia, foi realizada

    com a tcnica certa, com destreza e zelo, sendo certo que a seqela decorreu

    por fatores pessoais do paciente. Ainda segundo o relator, vale registrar que

    o contrato de prestao de servios mdicos , em geral, considerado de meio,

    como no presente caso, e no de resultado. Assim, cabe a indenizao

    quando o servio prestado de forma negligente. Havia um risco intrnseco

    ao procedimento adotado, que na poca era o nico existente e adequado

    doena, afirmou. Mas, de acordo com o desembargador, houve tambm uma

    reduo da miopia de 13 para 3,5 graus. A cirurgia custou R$ 420. Durante a

    recuperao, a regio central da crnea ficou prejudicada e, com isso, houve

    uma reduo da viso do olho operado. O rapaz entrou na Justia contra a

    clnica. Alegou falha no procedimento cirrgico. J a clnica alegou ter

    informado sobre a possibilidade de uma m cicatrizao, que poderia gerar um

    corpo opaco no olho. Tambm argumentou que, aps a cirurgia, o paciente

    no compareceu mais ao local para aplicao de colrio. Cabe recurso. Leia a

    deciso: APELAO CVEL 1.0707.01.044481-8/001 (Informao do Consultor

    Jurdico: http://www.conjur.com.br/static/text/56944,1#null, acessado em 20

    de setembro de 2008)

    Obrigaes de Garantia.

    Tais obrigaes tm por contedo eliminar riscos que pesam sobre o

    credor, reparando suas conseqncias.

    Na exemplificao sobre a matria, observa MARIA HELENA DINIZ:

    Constituem exemplos dessa obrigao a do segurador e a do fiador, a do

    contratante, relativamente aos vcios redibitrios, nos contratos comutativos (CC,

    arts.441 e s.); a do alienante, em relao evico, nos contratos comutativos

  • 24

    que versam sobre transferncia de propriedade ou de posse (CC, arts. 447 e ss); a

    oriunda de promessa de fato de terceiro (CC, art. 439). Em todas essas relaes

    obrigacionais, o devedor no se liberar da prestao, mesmo que haja fora maior

    ou caso fortuito, uma vez que seu contedo a eliminao de um risco, que, por

    sua vez, um acontecimento casual ou fortuito, alheio vontade do obrigado.

    Assim sendo, o vendedor, sem que haja culpa sua, estar adstrito a indenizar o

    comprador evicto; igualmente, a seguradora, ainda que, p. ex., o incndio da coisa

    segurada tenha sido provocado dolosamente por terceiro, dever indenizar o

    segurado6.

    Obrigao Natural

    J mencionamos linhas acima. Mas vale a pena relembrar.

    Em essncia e na estrutura, a obrigao natural no difere da obrigao civil:

    trata-se de uma relao de dbito e crdito que vincula objeto e sujeitos

    determinados. Todavia, distingue-se da obrigao civil por no ser dotada de

    exigibilidade jurdica.

    Sobre o tema, o CC estabelece (o art.882):

    Art.882. No se pode repetir o que se pagou para solver

    dvida prescrita, ou cumprir obrigao judicialmente inexigvel

    Nessa mesma linha, as dividas de jogo ou aposta, na forma do art.814,

    CC-02:

    6 DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro, 2 vol., 16 ed., So Paulo: Saraiva, 2002, p.186.

  • 25

    Art. 814. As dvidas de jogo ou de aposta no obrigam a

    pagamento; mas no se pode recobrar a quantia, que

    voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o

    perdente menor ou interdito.

    1o Estende-se esta disposio a qualquer contrato que

    encubra ou envolva reconhecimento, novao ou fiana de dvida

    de jogo; mas a nulidade resultante no pode ser oposta ao

    terceiro de boa-f.

    2o O preceito contido neste artigo tem aplicao, ainda

    que se trate de jogo no proibido, s se excetuando os jogos e

    apostas legalmente permitidos.

    3o Excetuam-se, igualmente, os prmios oferecidos ou

    prometidos para o vencedor em competio de natureza

    esportiva, intelectual ou artstica, desde que os interessados se

    submetam s prescries legais e regulamentares.

    Destaque-se, por fim, que a irrepetibilidade do pagamento existe na

    obrigao natural ainda que se trate de caso de erro quanto incoercibilidade

    da dvida, sendo irrelevante o fato de o devedor ter realizado a prestao na

    convico de que podia ser compelido a pagar. Trata-se da soluti retentio

    (reteno do pagamento).

    4. Pea Prtica - Sentena

    Segue, abaixo, uma sentena homologatria de transao, que enfrenta

    uma das mais tormentosas questes do Direito Brasileiro: a composio de

    lides em face de imveis sem registro.

    Buscamos no Direito Obrigacional a fundamentao jurdica necessria para a

    homologao do acordo, pondo fim ao litgio.

  • 26

    No caso, constituiu-se um titulo obrigacional com fora executiva entre as

    partes.

    E a lide, ento, pde ser devidamente solucionada.

    JUZO DE DIREITO DA COMARCA DE AMLIA RODRIGUES

    ESTADO DA BAHIA

    AUTOS N. xxxx

    AUTORA: ELA

    RU: ELE

    SENTENA

    Trata-se de Ao de Dissoluo de Sociedade de Fato (Unio

    Estvel), proposta por ELA, por conduto de advogado constitudo, em face de

    ELE, em que se alegou a falncia do vnculo afetivo, na convivncia

    concubinria, mantida ao longo de onze anos.

    Em curso o feito, as partes juntaram termo de acordo, referente,

    apenas, diviso, por igual (50%), do stio So Joo, localizado na Rua

    XXXXXX, neste municpio, tendo havido consenso quanto aos demais

    interesses patrimoniais atinentes lide (fls. 22-23).

  • 27

    Reiteraram, portanto, o pleito dissolutrio.

    O Ministrio Pblico pugnou pela homologao do acordo e a

    extino do feito, com resoluo do mrito (fl. 24 v.).

    Juntou-se certido de registro imobilirio do referido bem, a fl. 28.

    Brevemente relatados, DECIDO.

    Este processo traz caractersticas bastante inusitadas, posto

    freqentemente comuns no interior do nosso Pas, em que o Direito Registrrio

    acaba por no acompanhar a realidade dos fatos e a perspectiva econmica

    das relaes negociais do cidado brasileiro.

    Muito clara a inteno dos conviventes de se separarem, pretenso

    reforada pelas suas diversas manifestaes, no curso do presente feito, o que

    nos impe soluo imediata, para que no se desdobre mais.

    Alis, dentro da nova perspectiva do Direito Civil, de valorizao do

    vnculo socioafetivo na formao do conceito moderno de famlia, no pode e

    no deve o Poder Judicirio manter unidas pessoas que no se gostam mais.

    Alis, como bem observou RODRIGO DA CUNHA PEREIRA:

    A partir do momento em que a famlia deixou de ser o ncleo

    econmico e de reproduo para ser o espao do afeto e do

  • 28

    amor, surgiram novas e vrias representaes sociais para

    ela7.

    Tendncia essa observada, entre os clssicos, pelo grande CAIO

    MRIO, em uma de suas ltimas e imortais obras:

    Numa definio sociolgica, pode-se dizer com Zannoni que a

    famlia compreende uma determinada categoria de relaes

    sociais reconhecidas e portanto institucionais. Dentro deste

    conceito, a famlia no deve necessariamente coincidir com

    uma definio estritamente jurdica.

    E arremata:

    Quem pretende focalizar os aspectos tico-sociais da famlia,

    no pode perder de vista que a multiplicidade e variedade de

    fatores no consentem fixar um modelo social uniforme8.

    7 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de famlia e o novo Cdigo Civil. Coord.: Rodrigo da Cunha Pereira e Maria Berenice Dias. Belo Horizonte: Del Rey/IBDFAM, 2002, p. 226-227. 8 PEREIRA, Caio Mrio da Silva. Direito civil: alguns aspectos da sua evoluo. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 170.

  • 29

    Nesse contexto, no poderia uma mera discusso patrimonial

    prejudicar o desiderato do casal de ver reconhecido o fim do vnculo

    concubinrio que os unia, especialmente porque firmaram transao,

    solucionando amigavelmente este aspecto que impedia o desfecho da lide.

    Todavia, algumas observaes, segundo a boa doutrina, devem ser

    feitas.

    Consoante podemos observar da anlise dos termos de fls. 09-11 e

    28, o imvel Stio So Jos fora objeto de Cesso de Direitos Hereditrios, em

    que figuraram como cedentes JOO XXXX e MARIA XXXXX, e cessionrio

    JOELIO XXXXXXXX. Posteriormente, este ltimo firmou Contrato Preliminar de

    Compra e Venda (Promessa), em favor do ru, ELE.

    De logo, portanto, registro que o a transao celebrada entre as

    partes gerar efeitos apenas no plano obrigacional, e no no plano dominial,

    eis que o registro imobilirio do bem ainda pende de regularizao no

    que tange sua cadeia sucessria.

    Nada impede, todavia, que o presente acordo seja homologado,

    ainda que no plano meramente pessoal ou obrigacional, firmando-se os

    direitos das partes, nos termos propostos, e obrigando-as, reciprocamente, a

    que procedam, a posteriori, regularizao dominial, pela via adequada

    (adjudicao compulsria ou usucapio), uma vez que os pressupostos da

    transao encontram-se devidamente configurados:

    Para reconhecer a existncia efetiva de uma transao,

    faz-se mister a conjuno de quatro elementos constitutivos fundamentais:

    a) acordo entre as partes: a transao um negcio

    jurdico bilateral, em que a convergncia de vontades essencial

    para impor sua fora obrigatria. Assim sendo, imprescindvel o

  • 30

    atendimento aos requisitos legais de validade, notadamente a

    capacidade das partes e a legitimao, bem como a outorga de

    poderes especiais, quando realizada por mandatrio (art.661,

    1, CC-02, art.1.295, 1, CC-16);

    b) existncia de relaes jurdicas controvertidas: haver

    dvida razovel sobre a relao jurdica que envolve as partes

    fundamental para se falar em transao. Por isso mesmo, nula

    a transao a respeito do litgio decidido por sentena passada em

    julgado, se dela no tinha cincia algum dos transatores, ou

    quando, por ttulo ulteriormente descoberto, se verificar que

    nenhum deles tinha direito sobre o objeto da transao (art. 850,

    CC-02, art.1.036, CC-16). Como observa SILVIO VENOSA,

    qualquer obrigao que possa trazer dvida aos obrigados pode

    ser objeto de transao. Deve ser elstico o conceito de

    dubiedade. Somente no podem ser objeto de transao, em tese,

    as obrigaes cuja existncia, liquidez e valor no so discutidos

    pelo devedor;

    c) animus de extinguir as dvidas, prevenindo ou

    terminando o litgio: atravs da transao, cada uma das partes

    abre mo de uma parcela de seus direitos, justamente para evitar

    ou extinguir o conflito. Essa a idia regente do instituto;

    d) concesses recprocas: como a relao jurdica

    controversa, no se sabendo, de forma absoluta, de quem a

    razo, as partes, para evitar maiores discusses, cedem

    mutuamente. Se tal no ocorrer, inexistir transao, mas, sim,

    renncia, desistncia ou doao.9

    9 GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil Obrigaes. 7. Ed. So Paulo: Saraiva, 2006, pgs. 201-202.

  • 31

    Assim entendo, no apenas porque no haveria razo e sentido em

    manter os conviventes unidos em uma relao exaurida, mas, especialmente,

    porque o reconhecimento da composio nos termos propostos no infringe

    nem vulnera norma de ordem pblica, estando perfeitamente harmonizado

    com o Direito Obrigacional.

    Assim, acolho o parecer ministerial, e, a teor do art. 269, III, CPC,

    HOMOLOGO O ACORDO, declarando extinto o processo, com resoluo do

    mrito, para dissolver a unio estvel entre ELA e ELE.

    Custas processuais pro rata, devendo cada parte arcar com os

    honorrios dos seus advogados.

    P.R.I.

    Amlia Rodrigues, em XX de junho de 2006.

    Pablo Stolze Gagliano

    Juiz de Direito

    5. Texto Complementar

    Recomendamos a leitura de texto do culto Prof. Carlos Alberto Bittar Filho,

    cujo trecho abaixo destacamos:

    Ensaio sobre a mecnica obrigacional e contratual: o iter obligacionis e o iter contractus (*)

    Carlos Alberto Bittar Filho Procurador do Estado De So Paulo Doutor Em Direito Pela Usp

    *** Eu no sei que imagem o mundo far de mim, mas eu me vejo como um menino brincando na praia, divertindo-se ao descobrir de vez em quando um

  • 32

    seixo mais liso ou uma concha mais bonita do que o usual, tendo diante de si o imenso e desconhecido oceano da verdade. (Isaac Newton) I DA MECNICA OBRIGACIONAL Em que consiste a obrigao (obligatio)? Cuida-se de relao jurdica caracterizada pelos seguintes elementos formadores: a) sujeito ativo (credor), relativamente ao qual se fala em crdito (creditum); b) sujeito passivo (devedor), relativamente ao qual se fala em dbito (debitum); c) vinculum iuris, que o elo de ligao entre os sujeitos; d) objeto imediato, que a prestao, consistente em dar, fazer ou no-fazer (dare, facere ou non facere); e) objeto mediato, que o bem da vida almejado (coisa, pecnia, servio, etc.); f) responsabilidade na hiptese de inadimplemento (caracteristicamente, ela atribuda ao devedor, podendo, no entanto, ser atribuda a outra pessoa que a assuma, como, exemplificativamente, o fiador). Adotamos, como se v, a concepo dualista da obrigao, que faz a separao entre dbito (Schuld) e responsabilidade (Haftung). O crdito direito de natureza relativa, pois que oponvel apenas ao sujeito passivo do vnculo obrigacional, apartando-se, dessarte, dos direitos qualificados como absolutos (direitos da personalidade e direitos reais), cuja oponibilidade erga omnes. A essas consideraes se deve acrescer que fulcral que as partes se portem com lisura e correo, o que conseqncia da boa-f objetiva, que impe norma de conduta quelas. Ademais, enquanto vinculadas pela obrigao, as partes ho de manter-se em perfeito equilbrio, de maneira que uma no prevalea sobre a outra. Esse equilbrio de poder entre as partes, no microcosmo da relao jurdica obrigacional, realiza a justia comutativa e, mais ainda, aquilo que poderamos denominar democracia obrigacional. Corolrio do equilbrio de poder no microcosmo obrigacional o equilbrio das prestaes avenadas pelas partes, de modo que no h prevalncia de uma sobre outra. (continua) Para ler a ntegra do texto do Professor Bittar Filho: Este texto do Prof. Bittar Filho est disponvel no: http://www.diritto.it/materiali/straniero/dir_brasiliano/filho59.html, acessado em 21 de setembro de 2008.

    6. Fique por Dentro

    Recentemente, a Fundao Getlio Vargas reeditou a clssica obra A

    Obrigao como um Processo do grande professor Clvis do Couto e Silva

    (2007).

    Trata-se de uma das mais importantes obras do Direito Obrigacional brasileiro.

  • 33

    Segundo o autor, a relao obrigacional somente poderia ser compreendia em

    seu aspecto dinmico, tal como se d em uma relao processual:

    A obrigao um processo, vale dizer, dirige-se ao adimplemento, para

    satisfazer o interesse do credor. A relao jurdica, como um todo, um

    sistema de processos. No seria possvel definir a obrigao como ser dinmico

    se no existisse separao entre o plano do nascimento e desenvolvimento e o

    plano do adimplemento. A distncia que se manifesta, no mundo do

    pensamento, entre esses dois atos, e a relao funcional entre eles existente,

    que permite definir-se a obrigao como fizemos. (trecho das concluses

    da obra).

    Vale a pena conferir!

    J no campo da jurisprudncia, vale a pena ficar por dentro das notcias do

    STJ!

    ESPECIAL

    As ciladas do consumo na mira da Justia

    Estudos do Ministrio da Fazenda apontam que, em 2020, o pas ser o quinto

    mercado consumidor do mundo. Se as previses estiverem certas, os

    brasileiros vo estar dispostos a gastar mais com moradia, lazer, educao e

    alimentos. Os dados informam que o consumo das famlias passar de R$ 2,3

    trilhes em 2010 para R$ 3,5 trilhes at o final da dcada, um nmero que

    chama a ateno para a necessidade do consumo consciente.

    As decises do Superior Tribunal de Justia (STJ) podem auxiliar as pessoas a

    no cair nas ciladas do consumo. Com frequncia, so apresentadas demandas

    envolvendo consumidores que no atentam para as clusulas do contrato e

    vendedores que no procuram esclarec-las. E h at a situao de pessoas

    que compram um produto no exterior e buscam a garantia no Brasil.

    Inmeros so os problemas de consumo que chegam ao Tribunal como o

  • 34

    caso dos consumidores que j no conseguem pagar as contas e acabam com

    o nome inscrito nos servios de proteo ao crdito.

    Princpio da transparncia

    Uma informao clara, precisa e adequada sobre os diferentes produtos e

    servios princpio bsico previsto pelo Cdigo de Defesa do Consumidor

    (CDC) e que, muitas vezes, no observado. Para o STJ, a informao

    defeituosa aciona a responsabilidade civil, abrindo espao para indenizaes

    (REsp 684.712).

    dever de quem vende um produto destacar todas as condies que possam

    limitar o direito do consumidor. As clusulas de um contrato devem ser

    escritas de forma que qualquer leigo possa compreender a mensagem, em

    nome da transparncia.

    Por esse princpio, o consumidor tem direito, por exemplo, fatura

    discriminada das contas de energia eltrica ou de telefonia,

    independentemente do pagamento de taxas. O Ministrio Pblico ajuizou ao

    contra uma empresa de telefonia alegando prestao de servios inadequados,

    no tocante s informaes contidas nas faturas expedidas.

    O STJ reafirmou a tese de que o consumidor tem direito a informao precisa,

    clara e detalhada, sem a prestao de qualquer encargo (REsp 684.712). Um

    dever que permeia tambm a relao entre mdico e paciente.

    A Terceira Turma julgou caso em que o profissional se descuidou de informar a

    paciente dos riscos cirrgicos, da tcnica empregada, do formato e das

    dimenses das cicatrizes de uma cirurgia de mama.

    Os ministros decidiram que o profissional, ciente do seu ofcio, no pode se

    esquecer do dever de informao ao paciente, pois no permitido criar

  • 35

    expectativas que, de antemo, sabem ser inatingveis (REsp 332.025).

    Informao dbia

    O entendimento do Tribunal no sentido de que informao dbia ou maliciosa

    dever ser interpretada contra o fornecedor de servio que a fez vincular,

    conforme disposio do artigo 54, pargrafo quarto, do CDC.

    Em um recurso julgado, em que houve dvida na interpretao de contrato de

    assistncia mdica sobre a cobertura de determinado procedimento de sade,

    a Quarta Turma deu ganho de causa ao consumidor, que buscava fazer

    transplante de clulas (REsp 311.509).

    Para o STJ, no razovel transferir ao consumidor as consequncias de um

    produto ou servio defeituoso (REsp 639.811). Se o fornecedor se recusar a

    cumprir os termos de uma oferta publicitria, por exemplo, o consumidor,

    alm de requerer perdas e danos, pode se valer de execuo especfica,

    pedindo o cumprimento forado da obrigao, com as cominaes devidas

    (REsp 363.939).

    Propaganda enganosa

    Diversas decises do STJ vo contra qualquer tipo de publicidade enganosa ou

    abusiva. Em julgamento no qual se analisou a explorao comercial de gua

    mineral por parte de uma empresa, a Primeira Turma se posicionou contra a

    atitude de encartar no rtulo do produto a expresso diet por natureza.

    O STJ entendeu que somente produtos modificados em relao ao produto

    natural podem receber a qualificao diet, sejam produtos destinados a

    emagrecimento, sejam aqueles determinados por prescrio mdica. Assim, a

    gua mineral, que comercializada naturalmente, sem alteraes em sua

    substncia, no pode ser qualificada como diet, sob o risco de configurar

  • 36

    propaganda enganosa (REsp 447.303).

    Da mesma forma que uma cerveja, ainda que com teor de lcool abaixo do

    necessrio para ser classificada como bebida alcolica, no pode ser

    comercializada com a inscrio sem lcool, sob o risco de se estar ludibriando

    o consumidor (REsp 1.181.066).

    Planos de sade

    A empresa que anuncia plano de sade com a inscrio de cobertura total no

    ttulo de um contrato no pode negar ao paciente tratamento de uma

    patologia, se acionada, mesmo que no corpo do texto haja limitao de

    cobertura.

    A Terceira Turma decidiu que as expresses assistncia integral e cobertura

    total tm significado unvoco na compreenso comum, e no podem ser

    referidas num contrato de seguro, esvaziadas do seu contedo prprio, sem

    que isso afronte o princpio da boa-f nos negcios (REsp 264.562).

    Operadoras de planos de sade tm tambm obrigao de informar

    individualmente a seus segurados o descredenciamento de mdicos e

    hospitais. A Terceira Turma julgou caso de um paciente cardaco que, ao

    buscar atendimento de emergncia, foi surpreendido pela informao de que o

    hospital no era mais conveniado (REsp 1.144.840).

    A informao deve sempre estar mo do consumidor.

    Marcas internacionais

    Diante das sedues de mercado do mundo globalizado, com propostas cada

    vez mais tentadoras, o STJ proferiu deciso no sentido de que empresas

    nacionais que divulgam marcas internacionais de renome devem responder

  • 37

    pelas deficincias dos produtos que anunciam e comercializam.

    O consumidor, no caso, adquiriu no exterior uma filmadora que apresentou

    defeito. A empresa sustentava que, apesar de ser vinculada matriz que

    funcionava no Japo , no poderia ser responsabilizada judicialmente no

    Brasil, pois a prestao da garantia ocorria de forma independente (REsp

    63.981).

    A Quarta Turma decidiu que, se as empresas nacionais se beneficiam de

    marcas mundialmente conhecidas, incumbe-lhes responder tambm pelas

    deficincias dos produtos que anunciam e comercializam, no sendo razovel

    destinar ao consumidor as consequncias negativas dos negcios envolvendo

    objetos defeituosos.

    O mercado consumidor, no h como negar, v-se hoje bombardeado

    diuturnamente por intensa e hbil propaganda, a induzir a aquisio de

    produtos, notadamente os sofisticados de procedncia estrangeira, levando em

    linha de conta diversos fatores, dentre os quais, e com relevo, a

    respeitabilidade da marca, afirmou o ministro Slvio de Figueiredo na ocasio

    em que proferiu o voto. Ele considerou pertinente a responsabilizao da

    empresa.

    Desequilbrios contratuais

    As disposies contratuais que ponham em desequilbrio a equivalncia entre

    as partes so condenadas pelo Cdigo do Consumidor. Segundo inmeras

    decises do STJ, se o contrato situa o consumidor em posio de inferioridade,

    com ntidas desvantagens em relao ao fornecedor, pode ter sua validade

    questionada.

    O Tribunal admite a modificao de clusulas contratuais que estabeleam

    prestaes desproporcionais, e a sua reviso possvel em razo de fatos

  • 38

    supervenientes que as tornem excessivamente onerosas (AgRg no REsp

    849.442). No importa, para tanto, se a mudana das circunstncias tenha

    sido ou no previsvel (AgRg no REsp 921.669).

    Tem sido igualmente afirmado, em diversos julgamentos, que possvel ao

    devedor discutir as clusulas contratuais na prpria ao de busca e apreenso

    em que a financeira pretende retomar o bem adquirido.

    A ministra Nancy Andrighi, em voto-vista proferido sobre o assunto, ponderou

    que seria pouco razovel reconhecer determinada nulidade num contrato

    garantido por alienao fiduciria e no declar-la apenas por considerar a

    busca e apreenso uma ao de natureza sumria (REsp 267.758).

    Consumidor inadimplente

    O consumidor deve ser previamente informado quanto ao registro de seu nome

    nos servios de proteo ao crdito. Assim, ter a oportunidade de pagar a

    dvida e evitar constrangimentos futuros na hora de realizar novas compras

    (REsp 735.701).

    Se a dvida foi regularmente paga, o credor tem a obrigao de providenciar o

    cancelamento da anotao do nome do devedor no banco de dados, no prazo

    de cinco dias (REsp 1.149.998).

    O prazo de prescrio para o ajuizamento de ao de indenizao por cadastro

    irregular de dez anos, quando o dano decorre de relao contratual, tendo

    incio quando o consumidor toma cincia do registro (REsp 1.276.311).

    No cabe indenizao por dano moral, segundo o STJ, em caso de anotao

    irregular quando j existe inscrio legtima feita anteriormente (Rcl 4.310).

    Para o Tribunal, o ajuizamento de ao para discutir o valor do dbito, por si

    s, no inibe a inscrio do nome do devedor nos cadastros de proteo ao

    crdito. Para isso ocorrer, necessrio que as alegaes do devedor na ao

  • 39

    sejam plausveis e que ele deposite ou pague o montante incontroverso da

    dvida (REsp 856.278).

    Fonte: http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=107582 acessado em 04 de novembro de 2012.

    7. Bibliografia Bsica do Curso

    Fonte: Novo Curso de Direito Civil vol. II Obrigaes. Pablo Stolze

    Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (Ed. Saraiva)

    www.editorajuspodivm.com.br ou www.saraivajur.com.br

    8. Mensagem

    O que quer que seja que pedirdes na prece, crede que o

    obtereis, e vos ser concedido (Marcos, cap. XI, v. 24).

    A orao verdadeira aquela que se pronuncia com o corao, e que nos faz

    sentir toda a plenitude da Presena de Deus.

    Esta Fora est ao seu alcance!

    Nos momentos de desnimo, recorra a Ela!

    E lembre-se: Para Deus nada impossvel!

    Nada!

    Um forte abrao!!

    O amigo,

    Pablo.

    www.facebook.com/pablostolze

    @profpablostolze

    Revisado.2012.2.OK C.D.S.