cedin. vii anuário brasileiro de direito internacional

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VOLUME 2 | NÚMERO 13 | JULHO DE 2012

VIIAnuário Brasileiro

de Direito Internacional

Brazilian Yearbook of International Law

Annuaire Brésilien de Droit International

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Copyright © 2012 by Leonardo Nemer Caldeira Brant/CEDINTodos os direitos reservados

Centro de Direito Internacional – CEDIN

EDITOR E DIRETOR DO ANUÁRIO BRASILEIRO DE DIREITO INTERNACIONALLeonardo Nemer Caldeira Brant

CONSELHO CONSULTIVO E EDITORIAL DO CEDINAdemar G. Bahadian, Alain Pellet, André de Carvalho Ramos, Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros, Antônio Remiro Brotóns, Arthur José Almeida Diniz, Bruno Simma, Celso Lafer, Eduardo Grebler, Fausto Pocar, Francisco Orrego Vicuña, Francisco Rezek, Gilbert Giullaume, Ireneu Cabral Barreto, José Henrique Fischel, Laurence Boisson de Chazournes, Luigi Condorelli, Roy Lee, Vicente Marotta Rangel, Welber Barral.

COORDENAÇÃO EXECUTIVADélber Andrade Lage

PRODUÇÃO EXECUTIVAJúlia Soares Amaral

COLABORADORESBruno Fernandes de Araújo, Deborah Avelar Freitas, Délber Andrade Lage, Hélio Renato Marini Minoda, João Paulo Guerra Vieira, Leonardo Lima Naranjo, Luiza Galuppo Azevedo, Natália Meirelles Teixeira, Rodrigo Rocha Feres Ragil, Vanessa Morato Resende.

Submissão de Artigos para Publicação | Articles SubmissionsAdmite-se Permuta | Exchanges are AcceptedData Limite para Entrega dos Artigos | Deadline: 04/2013E-mail | [email protected]

EDITORAÇÃOPablo Evangelista Rodrigues

APOIOFaculdade Novos Horizontes (www.unihorizontes.br)Fundação Alexandre de Gusmão - FUNAG (www.funag.gov.br)Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG (www.fapemig.br)Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - PUC Minas (www.pucminas.br)Ramo Brasileiro da International Law Association - ILA Brasil (www.ilabrasil.org.br)

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

A636 Anuário Brasileiro de Direito Internacional = Brazilian yearbook ofInternational Law = Annuaire Brésilien de Droit International /Coordenador: Leonardo Nemer Caldeira Brant - v.1, n.1, 2006 - BeloHorizonte: CEDIN, 2006

Semestral1. Direito Internacional. I. Centro de Direito Internacional. II. Brant, LeonardoNemer Caldeira. III. Título: Brazilian yearbook of InternationalLaw. IV. Título: Annuaire Brésilien de Droit International.

CDU: 341.

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ApresentaçãoLeonardo Nemer Caldeira Brant

L’interaction Normative entre Droit International Humanitaire Et Droit International des Droits de L’homme : De La Fragmentation a La ComplementariteJean Baptiste Harelimana

Stocktaking at the Evolution of the UN Human Rights ProgramJohannes van Aggelen

Contratos internacionais e os (futuros) Princípios da Haia: desafios da aplicação e interpretação do direito não-estatal (non-state law)Lauro Gama Jr.Geneviève Saumier

O Alcance do Consentimento como Fundamento da Autoridade da Sentença da Corte Internacional de JustiçaLeonardo Nemer Caldeira Brant

As transformações do direito internacional e algumas visões sobre um eventual processo de constitucionalizaçãoMarcelo D. Varella

Armed Conflicts And The Rights Of Minorities: The Case Of LebanonRenata Mantovani de Lima

From Sustainable Development to Earth System Governance – a view from the southSusana Camargo Vieira

A Arbitrabilidade dos Litígios Transnacionais de Propriedade Indus-trial - Uma leitura a partir do ordenamento jurídico portuguêsSuzana Santi Cremasco

La Diligence Due Dans La Prévention Des Dommages À L’environnementThiago Braz Jardim Oliveira

SUMÁRIO

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ANEXO I Jurisprudência da Corte Internacional de Justiça em 2011

Coordenador Geral: Leonardo Lima Naranjo

ANEXO II Tratados Internacionais – Brasil 2011

Coordenador Geral: Leonardo Lima Naranjo

ANEXOS

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ANEXO I Jurisprudência da Corte Internacional de Justiça em 2011

Coordenador Geral: Leonardo Lima Naranjo

ANEXO II Tratados Internacionais – Brasil 2011

Coordenador Geral: Leonardo Lima Naranjo

Apresentação

A partir do diálogo entre o meio acadêmico e a sociedade civil, o Anuário Brasileiro de Direito Internacional tem como finalidade estabelecer no país, em definitivo, uma publicação semestral, com inserção internacional, engaja-da na promoção e consolidação de uma visão brasileira do Direito Internacio-nal. Visa-se, assim, simultaneamente, contribuir para uma melhor compreen-são do sistema normativo internacional, bem como assegurar um espaço para reflexão acerca de seus recentes desafios.

Este sétimo número apresenta anexos que trarão a jurisprudência do Su-premo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça relativa ao Direito Internacional, os casos contenciosos e pareceres consultivos da Corte Inter-nacional de Justiça e uma compilação dos tratados ratificados pelo Brasil no ano de 2011, além de contribuições de importantes doutrinadores do Direito e das Relações Internacionais.

A iniciativa é resultante da visão empreendedora do Centro de Direito In-ternacional (CEDIN) e conta com o fundamental apoio da Faculdade Novos Horizontes, da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e do Ramo Brasileiro da International Law Association (ILA Brasil).

Esta realização é, igualmente, o resultado da competência, da generosidade e do compromisso com o Direito Internacional de brilhantes jovens. Agradeço profundamente ao Bruno Fernandes de Araújo, à Deborah Avelar Freitas, ao Délber Andrade Lage, ao Hélio Renato Marini Minoda, ao João Paulo Guerra Vieira, ao Leonardo Lima Naranjo, à Luiza Galuppo Azevedo, à Natália Mei-relles Teixeira, ao Rodrigo Rocha Feres Ragil, à Vanessa Morato Resende e, em especial, à Júlia Soares Amaral e ao Pablo Evangelista Rodrigues.

Leonardo Nemer Caldeira Brant Belo Horizonte, junho de 2012

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Presentation

From the dialogue between academia and the civil society, the Brazilian Yearbook of International Law aims to establish in the country a defini-tive biannual publication with international visibility, engaged in the pro-motion and consolidation of the Brazilian vision of International Law. The aim is thus to simultaneously contribute to a better understanding of the in-ternational legal system and to ensure a space for reflection about its re-cent challenges.

This seventh edition contains attachments of the jurisprudence of the Bra-zilian Supreme Court (STF) in relation to International Law, the contentious cases and advisory opinions of the International Court of Justice, and a com-pilation of treaties ratified by Brazil in 2011, in addition to contributions by important scholars of International Law and International Relations.

The initiative is the result of International Law Center’s (CEDIN) entre-preneurial vision and has full support of the “Faculdade Novos Horizon-tes”, “Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG)”, “Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais” (FAPEMIG), “Pontifícia Universi-dade Católica” of Minas Gerais (PUC-MG) and the Brazilian Branch of the International Law Association (ILA Brazil).

This achievement is also the result of the competence and devotion to Inter-national Law of brilliant young students. I would like to deeply thank Bruno Fernandes de Araújo, Deborah Avelar Freitas, Délber Andrade Lage, Hélio Renato Marini Minoda, João Paulo Guerra Vieira, Leonardo Lima Naranjo, Luiza Galuppo Azevedo, Natália Meirelles Teixeira, Rodrigo Rocha Feres Ragil, Vanessa Morato Resende and, specially, Júlia Soares Amaral and Pablo Evangelista Rodrigues.

Leonardo Nemer Caldeira Brant Belo Horizonte, junho de 2012

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11L’interaction Normative Entre Droit International Humanitaire et Droit International des Droits de l’homme : de la Fragmentation a la Complementarite

L’INTERACTION NORMATIVE ENTRE DROIT INTERNATION-AL HUMANITAIRE ET DROIT INTERNATIONAL DES DROITS DE L’HOMME : DE LA FRAGMENTATION A LA COMPLEMENTARITE

Jean Baptiste HARELIMANA1

L’article invite à une odyssée prospective du débat consacré à la relation entre le droit des conflits armés et le droit international des droits de l’homme. L’auteur y aborde la problématique de leur interaction, signifiant dynamique et non statique, à partir du débat large portant sur le caractère fragmentaire du droit international. L’examen des différen-tes manières dont ces corpus s’articulent permet de comprendre que leur complementarité s’est construite sous l’influence mutuelle de la doctrine, du juge et du législateur, tous trois surdéterminés par la nécessité de relever les défis des conflits armés asymétriques et identi-taires pour mieux proteger l’universel humain.

The article is an invitation to a prospective odissey in the debate dedicated to the rela-tionship between the Law of ArmedConflicts and the international human rights law. The author provides a examination of the their interaction, meaning dynamic and not static, from the wide debate over the fragmentation of the international law.The examination of the relationship between these two fields of law allows to understand that their complementar-ity is built on the mutual influence of the doctrine, the judge and the legislator, every three over-determined by a complex of factors related to the non-international armed conflicts, and more.

Les relations entre le droit international des droits de l’homme (DIDH) et le

droit international humanitaire (DIH) ont suscité un débat doctrinal particulière-ment riche depuis cinquante ans2 et l’intérêt de la doctrine pour cette question

1 Docteur en droit international, Enseignant à l’Université de Caen Basse- Normandie.

2 Robert Kolb, “Human Rights and Humanitarian Law”, dans Max Planck Encyclopaedia of Public International Law, accessible en ligne depuis le 1er janvier 2010 ; Droege, Cordula, “The Interplay between International Humanitarian Law and International Human Rights Law in Situations of Armed Conflict”, Israel Law Review , Vol. 40, No. 2 (2007), p. 310. ,Doswald-Beck, Louise, “The right to life in armed conflict: does international humanitarian law provide all the answers?”, 864 In-ternational Review of the Red Cross , 2006,Hampson, F.and Salama, I., “Working paper on the relationship between human rights law and international humanitarian law”, UN Sub-Commission on the Promotion and Protection of Human Rights, E/CN.4/Sub.2/2005/14 (21 June 2005), ;Hans-Joachim Heintze, “On the relationship between human rights law protection and international humanitarian law”, 856 International Review of the Red Cross , 2004, p. 789; Lubell, Noam, “Challenges in Applying Human Rights Law to Armed Conflict”, 860 International Review of the Red Cross, 2005,

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12 VII ANUÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL

est grandissant3 à tel point qu’à première vue, on pourrait douter de l’utilité d’y consacrer une étude supplémentaire. Repetita iuvant.Même si le sujet a été ample-ment traité le phénomène actuel d’intensification de conflits armés non-interna-tionaux4 conjugué au mouvement de juridictionnalisation du droit international ces dernières décennies donne un nouveau relief à leur gémellité et justifie qu’on s’y intéresse de nouveau5.

Depuis de l’adoption du pacte Briand-Kellogg, en passant par la Charte des Nations Unies (le jus ad bellum ayant été transformé en jus contra bellum par le biais de l’article 2§4), le droit des conflits armés devenait superflu alors que le DIDH prenait son envol. Dès l’émergence du corpus du droit international des droits de l’homme, certains prétendaient que ces deux corps de normes ne pou-vaient que se développer séparément.6 C’est ainsi qu’en 1949, la Commission du Sassòli M., and Olson, L.M., “The legal and internment of fighters in non-international armed conflict”, 871 International Review of the Red Cross 90, 2008, pp. 599-627, Gérad AIVO, “Convergen-ces entre droit international humanitaire et droit international des droits de l’homme: vers l’assimilation des deux corps”,Rev trim .dr.h,82/2010.

3 Eric David, «Droits de l’homme et droit humanitaire », in Mélanges Fernand Dehousse, F. Nathan-Labor, Paris-Bruxelles, 1979, vol. I, p. 169; Jean Pictet, Développement et principes du droit international humanitaire, Pédone-Institut H. Dunant, Paris-Genève, 1983; Mohamed El Kouhene, Les garanties fondamentales de la personne en droit humanitaire et droits de l’homme, Martinus Nijhoff, Dordrecht, 1986; Eric David, Principes du droit des conflits armés, Bruylant, Bruxelles, 2e éd., 1999; A. Migliazza, « L’évolution de la réglementation de la guerre à la lumière de la sauvegarde des droits de l’homme », RCADI , vol. 137, 1972-III, pp. 164-165, Pierre Apraxine, « Observations sur la distinction et la complémentarité entre droit international humanitaire et droits de l’homme », Rev. rég. dr., 1999, p. 111

4 Il existe trois paliers d’applicabilité pour les conflits armés non internationaux.Le plus bas est celui de très troubles et tensions intérieures, non considérés comme conflit armé. Le Statut de la CPI stipule d’ailleurs que ses dispositions ne s’appliquent pas « aux situations de troubles et ten-sions internes telles que les émeutes, les actes isolés et sporadiques de violence ou les actes de nature similaire.  Le suivant est leCANI selon l’Art. 3 CG ,« mini-convention », et épicentre de protection des personnes dans des conflits internes ; et finalement le CANI selon les provisions prévues dans le PA II.Le PA II créé un régime supplémentaire à celui de l’article 3, en ajoutant de nouvelles normes ap-plicables aux CANI les plus intenses. Voir également SASSOLI, M., « The Role of Human Rights and International Humanitarian Law in New Types of Armed Conflicts », in : International Humanitarian Law and International Human Rights Law : Pas de deux, Oxford : Oxford University Press, 2011, pp. 34-94 ; MOMTAZ, D., « Les défis des conflits armés asymétriques et identitaires au droit international humanitaire », in : Les règles et institutions du droit international humanitaire à l›épreuve des conflits armés récents, Leiden : Nijhoff, 2010, pp. 3-137

5 Leur interaction est si variée que l’on devra se contenter d’ailleurs de quelques exemples importants pour l’illustrer ici.

6 Héctor Gros Espiell, Human Rights: Concept and Standards, in HUMANITARIAN LAW AND HUMAN RIGHTS 345, 352 Janusz Symonides ed., 2000); Héctor Gros Espiell, Personne humaine et droit international, Bruylant, Bruxelles, 1997, vol. II, pp. 1839 et ss. E. David, Droits de 1’Homme et Droít Humanitaire, Revue de 1’Institut de Sociologie, Bruxelles, No 1, 1977.

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13L’interaction Normative Entre Droit International Humanitaire et Droit International des Droits de l’homme : de la Fragmentation a la Complementarite

droit international nouvellement créée a refusé de se pencher sur les règles du droit international humanitaire, par peur que cela ne soit interprété par l’opinion publi-que comme un manque de confiance envers le système de securité collective.7La raison principale a trait aux origines respectives de ces deux branches et à leur champ d’application. Le DIDH est conçu pour les temps de paix alors que le DIH, fruit d’une expérience sanglante séculaire, est aménagé pour les temps de guerre. L’un tente de refouler la guerre alors que l’autre vise à réguler la guerre. Le droit de la guerre s’appliqua dès la proclamation de l’état de guerre alors que le droit de paix trouve son application dès la fin de la guerre. Le hiatus était d’une transpa-rence cristalline.

A l’heure où la fragmentation est devenue une question canonique de la dis-cipline du droit international, il n’est donc pas surprenant que ce questionnement s’inscrive dans ce débat doctrinal par excelence.8 Alors que certains frémissent même devant l’éventuel risque de « régionalisation » du droit international huma-nitaire9 faissant écho à une préoccupation liée à une interprétation du DIH par les systèmes régionaux des droits de l’homme10, d’autres estiment que l’extension de 7 International Law Commission, « Report to the General Assembly », Yearbook of the Inter-national Law Commission, 1949, p. 281, §18. Il a même été soutenu lors des discussions au sein de la C.D.I. que “ war having been outlawed, the regulation of its conduct had ceased to be relevant”.voir l’ Intervention de J.L. Brierly devant laCommission du droit internationalle 21 avril 1949A/CN.4/SR.6p. 14.

8 Voir P.-M. DUPUY, « Un débat doctrinal à l’ère de la globalisation: Sur la fragmentation du droit international », http://www.ejils.eu. 60; Georges Abi-Saab, “Fragmentation or unification: some concluding remarks’, in New York University Journal of International Law and Politics, Vol. 31, No. 4, 1999, pp. 919–933; Alexander Orakhelashvili, The Interaction between Human Rights and Humanitar-ian Law:A Case of Fragmentation? International Law and Justice Colloquium New York University (NYU), 26 February 2007, Alexander Orakhelashvili, The Interaction between Human Rights and Hu-manitarian Law: Fragmentation, Conflict, Parallelism, or Convergence?, 19 EUR. J. INT’L L. 161 (2008), Nancie Prud’homme, « Lex specialis: Over simplifying a More Complex and Multifaceted Relationship? », Israel Law Review, vol. 40(2) (2007).

9 Confrontées à des situations de troubles et tensions intérieurs, voire à de véritables con-flits internes dans les États membres de leur système respectif, les cours régionales - européenne et interaméricaine - ont invoqué le droit international humanitaire en vue de produire des conséquences juridiques alors même que ce régime n’est pas objectivement applicable. Si le régionalisme juridique traduit d’abord et avant tout une volonté de se soustraire à l’application du droit commun – ce qui se traduit par une distance prise à l’égard de ce dernier pouvant conduire à sa franche contestation ou tout du moins à en freiner l’évolution, il peut aussi déboucher sur son renforcement – le droit régional pou-vant s’avérer un très utile « laboratoire d’idées et de pratiques » susceptible de permettre « grâce à cette anticipation expérimentale, (…) de nouveaux progrès au niveau mondial » (P. Daillier, M. Forteau, A. Pellet, Droit international public (Nguyen Quoc Dinh) : LGDJ-lextenso, Paris, 2009, pp. 86-89, n° 3 .

10 Ainsi Martti Koskenniemi faisait remarquer que : « le droit international est découpé entre des réseaux fonctionnels (DIH, DIDH) et des réseaux géographiques, s’adressant à des audi-

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14 VII ANUÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL

l’application rationae materiae, rationae loci et rationae temporis du DIDH va recouper le DIH11. L’extension des compétences des Etats au-delà de leur territoire emportent également les obligations en matière des droits de l’homme. Les parties à un conflit armé doivent respecter les règles fondamentales du droit internatio-nal des droits de l’homme indépendamment de la nature juridique des territoires qu’elles contrôlent.

Dans de nombreuses décisions, les instances judiciaires internationales sont ve-nues mettre en place certaines balises afin de préciser les relations entre le DIDH et le DIH. Un corps important de jurisprudence du Comité des droits de l’home et de la Cour Internationale de Justice permet de conclure à l’applicabilité extrater-ritoriale du DIDH.Dans l’affaire du mur en Territoire palestinien (2004), la CIJ débattit longuement du rapport entre les droits de l’homme et le droit international humanitaire.12

Ayant été pendant longtemps appréhendés comme deux corpus juridiques séparés, traitant de sujets différents et ayant des racines spirituelles distinctes, c’est désormais les similitudes et leurs interactions entre eux qui sont mises en avant.13 Si au départ les Nations Unies ont contribué au décloisonnement de ces corpus ju-ridiques, l’organisation a fini par partager la thèse complémentariste dès 1968 lors de la conférence de Téhéran. Le mouvement s’intensifiera de manière significative et leurs relations se sont depuis multipliées et complexifiés.

Ils posent néamoins une nouvelle question, celle du rapport et des délimita-tions entre le DIH et DIDH, du fait de leur interpénétration croissante, le dernier devenant un pallier salutaire pour combler les lacunes du premier.Nourri et renfor-cé l’un par l’autre, les règles de ces deux disciplines imprègnent peu à peu la ma-trice de l’ordre international, au point que certains auteurs ont prétendu, de manière

ences spéciales, ayant des intérêts et un mode de pensée spéciaux »Voir KOSKONNIEMI, M., « Le droit international et la voie de l’éducation juridique: entre constitutionnalisme et gestionnariat », Euro-pean Journal of Legal Studies : issue 1, avril 2007.

11 Hans-Joachim Heintze, « Recoupement de la protection des droits de l’Homme et du droit international humanitaire (DIH) dans les situations de crise et de conflit », Cultures & Conflits, 60, hiver 2005.

12 CIJ, Avis consultatif sur les conséquences juridiques de l’édification d’un mur dans le ter-ritoire palestinien §§ 86-113.

13 « Fragmentation du droit international : difficultés découlant de la diversification et de l’expansion du droit international », Rapport du Groupe d’études de la Commission du droit international, 13 avril 2006, Documents officiels de l’O.N.U., cinquantecinquième session, A/CN.4/L.682., §254.

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15L’interaction Normative Entre Droit International Humanitaire et Droit International des Droits de l’homme : de la Fragmentation a la Complementarite

un peu abusive, que ces deux corpus juridiques étaient devenus le fondement de l’ordre juridique international.14 D’autres parlent de « molécule » du constitution-nalisme sauvage en droit international comme on avait dit en son temps de la coutume sauvage. . Le tableau de leurs relations reste à peindre pour répondre à la question, aujourd’hui remise sur le métier, de la protection des droits de l’homme des civils dans les conflits armés.15

Aussi cette évolution relance-t-elle naturellement les questions relatives à leur articulation.S’agit-il de deux corpus juridiques indépendants? Ou sont-ils au con-traire influencés l’un par l’autre, comme certaines théories le professent de manière récurrente ? Quelles relations entretiennent-ils réellement ? Quelles articulations et quels effets sont en jeu ? Dans quelle mesure et pour quelles raisons s’opèrent leur interaction normative ? Dans la présente étude, nous allons tenter de répon-dre à ces questions. Avant d’aborder les possibilités d’interaction, il convient de rappeler certaines distinctions fondamentales entre ces deux corpus juridiques.16 Après un bref exposé sur la nature et sources de ces deux corpus juridiques, ainsi qu’une délimitation de différentes conceptions doctrinales sur des rapports entre le DIH et DIDH (I), nous présenterons les lignes de force de leur convergence progressive (II).

14 Pour F.Sudre : « l’affirmation que les normes relatives aux droits de l’homme ont la qualité de normes de ius cogens participe « de l’ancrage du principe de respect des droits de l’homme comme éléments constitutifs de l’ordre public international » Droit européen et international des droits de l’homme, P.U.F., coll. ... R.A.E 2006-1, p, 86. La CIJ en revanche a attendu plus longtemps pour con-sacrer explicitement la notion de ius cogens, au point qu’on a pu dire qu’elle semble « jouer à cache cache avec le principe d’ius cogens. Elle se résoudra à utiliser le mot « tabou en 2006 pour la première fois dans l’affaire L’affaire des activités armées sur le territoire du Congo (République démocratique du Congo C. Rwanda).

15 Voir A/HRC/11/31, Rapport du Haut-Commissariat aux droits de l’homme du 4 juillet 2009. Dans sa résolution 9/9, le Conseil des droits de l’homme invitait le Haut-Commissariat des Nations Unies aux droits de l’homme (HCDH) à convoquer une consultation d’experts sur la question de la protection des droits de l’homme des civils dans les conflits armés. Ce présent rapport donne un résumé des débats tenus par les experts. Voir également Orna BEN-NAFTALI (ed.), International Humanitarian Law and International Human Rights Law, Oxford/New York, Oxford University Press, 2011, Collected Courses of the Academy of European Law, XIX/1, 201-249.

16 L’interaction normative est définie ici comme l’action réciproque de normes. Elle peut pren-dre des différentes formes. L’interaction se traduit, notamment, par l’attention portée au corpus juridique préexistant lors de la rédaction d’une convention internationale ou lors de l’interprétation d’un droit par un organe international de contrôle.

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16 VII ANUÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL

I.DROIT INTERNATIONAL DES DROITS DE L’HOMME ET DROIT INTERNATIONAL HUMANITAIRE : VICISSITUDES ET AMPLITUDES DE LEURS ARTICULATIONS

Longtemps, le DIH et le DIDH ont été présentés et distingués selon un critère temporel : temps de paix, temps de guerre. Avec la montée en puissance du droit international des droits de l’homme, le thème de leur convergence et de leur com-plémentarité devient récurrent en doctrine et dans la jurisprudence internationale. La question de leur articulation, de leur harmonisation, de leurs différences, voire de leur incompatibilité reste cependant posée notamment en cas d’occupation où le DIH s’applique, selon la CIJ, comme lex spécialis. L’examen de ces règles et des différentes manières dont elles s’articulent au cas par cas permet, en effet, de mieux comprendre le processus de leurs interactions normatives et de détermi-ner la règle la plus spécifique, détaillé et protectrice. Il s’agira ici de circonscrire l’amplitude et les types de rapports qui se sont instauré progressivement entre ces deux régimes juridiques. Etudier ce processus invite à regarder le droit au cours du temps et non dans l’instant.

A. LA PARTICULARITÉ DU DIH ET DU DIDH AU SEIN DU DROIT INTERNATIONAL PUBLIC

Le DIH et le DIDH ont tous deux jailli, dès leur naissance, des mêmes exigences métajuridiques ou de la même source fondatrice17 ou pour reprendre l’expression de G. Ripert, des « forces créatrices à l’arrière-plan des normes juridiques ».18 Il s’agit, en effet, d’un même attachement à la personne humaine et à l’universalité de ses droits que le droit international humanitaire et le droit des droits de l’homme promeuvent.19 « Le principe général du respect de la dignité humaine est à la base

17 Pour une présentation, fine et érudite, de la force normative, voir C. THIBIERGE et al., La force normative. Naissance d’un concept, Bruxelles, Paris, Bruylant, L.G.D.J., 2009,891 p.

18 Voy. G. RIPERT, Les forces créatrices du droit, Paris, L.G.D.J., 1955. Dans le même sens Fuller parle de valeurs matérielles qui sont fonction de la moralité « externe » du droit ; Lon Fuller, The Morality of Law, Yale, Yale University Press, 1969.

19 La dignité humaine « est un principe dont chacun ressent intuitivement la réalité et la force, même si les appréciations relatives à sa consistance peuvent varier. C’est de l’essence même de l’homme dont il est question», voir B. MATHIEU, « La dignité de la personne humaine : quel droit ? Quelle titulaire ? », D., 1996, p. 282

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17L’interaction Normative Entre Droit International Humanitaire et Droit International des Droits de l’homme : de la Fragmentation a la Complementarite

du droit international humanitaire et des droits de l’homme et en est, en fait la rai-son d’être; il est désormais si important qu’il imprègne le droit international dans son ensemble ».

20 Les deux branches de droit international se «fertilisent» donc

l’un l’autre, puisent l’un dans l’autre une inspiration féconde, et il n’est pas rare qu’ils se prêtent réellement secours. Il convient dès lors de distinguer les particu-larités de ces corpus juridiques en droit international pour mieux appréhender leur osmose. Cette approche suppose le repérage, au sein de ces branches juridiques pris dans toute leur épaisseur historique, des schèmes conceptuels à partir desquels leur corpus juris a été organisé et justifié. Il ne s’agira pas ici de rendre compte de l’histoire complexe des idées politiques et philosophiques qui les soutendent mais de comprendre leur grammaire et leur logique de protection.

1. Genèse et développement progressif du DIH

Comme le rappelle finement la déclaration célèbre d’Hersch Lauterpacht, « Si le droit international est en quelque sorte le point de fuite du droit, le droit de la guerre est quant à lui, et de manière sans doute plus manifeste encore, le point de fuite du droit international »21. Le DIH, bien qu’il autorise implicitement de tuer, blesser ou capturer l’adversaire, reste quand même du droit qui s’imbrique dans l’ordre juridique international.

L’acte de naissance du droit international humanitaire est étroitement lié à la création de la Croix-Rouge, qui survient en 1863, consécutivement au choc psychologique provoqué par la bataille de Solférino chez Henri Dunant.22 Le DIH est né donc de la confrontation sur le champ de bataille entre souverains égaux en droits. Théoriquement, il trouve sa raison d’être dans le besoin d’humaniser

20 TPIY, Anto Furundzija, § 183.

21 Hersch Lauterpacht, ‘The problem of the revision of the law of war’, dans British Yearbook of InternationalLaw, Vol. 29, 1952–1953, pp. 381–382. Cité par Yves Sandoz dans sa préface de M. Sassòli et A. Bouvier, Un droit dans la guerre ?, CICR, Genève, Vol. 1, 2003, p. 5.

22 Henry Dunant sera témoin d’une bataille particulièrement meurtrière à Solferino entre l’empereur Napoléon III et les Autrichiens en 1854. M. Dunant improvisera alors des secours avec le concours des populations civiles locales. Il aidera sans discrimination les soldats appartenant aux deux camps. À son retour il publiera un ouvrage intitulé « Un souvenir de Solferino »; ces récits ont su mobiliser l’opinion publique et c’est seulement cinq ans après sa publication qu’un comité de cinq personnes se constituait à Genève afin d’étudier les moyens pouvant êtres mis en oeuvre pour protéger les blessés sur les champs de bataille.

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l’une des plus anciennes prérogatives de l’État souverain dans ses relations avec les autres États : le droit de faire la guerre. La guerre était licite lorsqu’elle était le fait du prince, qui était seul juge des raisons pour lesquelles il avait recours aux armes.23 Alors que les droits de l’homme étaient un domaine interne des États, le droit international humanitaire, par sa nature même, a pris racine dans les relations entre États en droit international (même si certains des textes antécédents, comme le Code Lieber 24, avaient été conçus pour des guerres civiles). En tant que produit du droit de la guerre, on rattache habituellement ce droit à l’ancestrale tradition des codes guerriers et aux tentatives de codification systématique de cette dernière « à l’occasion des guerres que se sont livrées les États européens » au sortir du Moyen Âge.25 Il a montré son utilité dans des circonstances tragiques ultérieures.

Le DIH se divise en plusieurs branches. La doctrine juridique distingue, au sein du droit international humanitaire, le « droit de la Haye » 26 du « droit de Genève »27 : « le droit de la guerre se subdivise lui-même en deux rameaux : celui de La Haye, ou droit de la guerre proprement dit, et celui de Genève ou droit humanitaire proprement dit ».28Certains auteurs ont ajouté à ces deux catégories le droit de New

23 Classiquement, le passage de la paix à la guerre s’effectue (ait) par une déclaration de guerre ou un ultimatum ; le passage de la guerre à la paix, par une convention d’armistice (fin des hostilités mais pas de l’état de guerre) puis un traité de paix (fin de l’état de guerre).

24 Les instructions pour les armées en campagne des États-Unis. Il fut promulgué aux États-Unis par le Président Lincoln pendant la guerre civile dite de Sécession. Bien qu’il ne s’agisse pas d’un traité international, il représente cependant, dans une large mesure, les lois et les coutumes de guerre existant à cette époque. Il a exercé, en fait, une grande influence sur les traités internationaux ultérieurs. Voir Daniel Lagolnitzer, « le droit international et la guerre » évolutions et problèmes actuels, éd. L’Harmattan, Paris, 2007, p. 16.

25 Robert Kolb, « Relations entre le droit international humanitaire et les droits de l’homme », Revue internationale de la Croix-Rouge, septembre 1998, p.437.

26 Son nom provient des Conférences internationales de la paix de La Haye organisées en 1899 et 1907 qui traitent de la guerre proprement dite.

27 Le droit de Genève regarde et répertorie essentiellement les victimes des conflits – blessés, prisonniers de guerre, internés et autres non-combattants. Il s’attache à réglementer leur protection. Son nom provient des Conférences internationales de Genève : 1863,1907, 1929, 1949 et 1977. L’instance d’adoption des deux protocoles, habituellement dénommée « Conférence diplomatique de Genève de 1974-1977 », s’intitulait officiellement : « Conférence diplomatique sur la réaffirmation et le dévelo-ppement du droit international humanitaire applicable dans les conflits armés ». De plus depuis 1980 d’autres traités ont été signe ailleurs qu’à ces lieux historiques. Le droit de New York peut être considéré à posteriori comme un ensemble de textes renouvelant le droit international humanitaire classique, c’est--à- dire les droits de Genève et de La Haye.

28 J. Pictet, Droit humanitaire et la protection des victimes de la guerre, Genève, Institut Henri

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York29, sans que des différences juridiques ne justifient cette séparation et sans que la définition de cette nouvelle catégorie apparaisse clairement- en dehors du lien avec l’Organisation des Nations Unies.30

Le droit de La Haye est aussi appelé « droit des conflits armés » du fait qu’il concerne les droits et les devoirs des belligérants dans la conduite des opérations armées et qu’il cherche à limiter les moyens utilisés dans la guerre, notamment en termes d’armement.31Le professeur Calogeropoulos-stratis souligne que « le droit de Genève est appelé droit humanitaire de par son origine humanitaire et chari-table et de par son but, qui vise clairement la protection de l’être humain ».32

Le caractère de ces distinctions est purement didactique. L’entrecroisement progressif des préoccupations dans les textes du droit de La Haye et du droit de Genève, mais surtout la reconnaissance, à leur source, des mêmes principes fon-damentaux, ont rendu cette opposition artificielle. Cette dernière est d’ailleurs of-ficiellement tombée en désuétude depuis l’adoption, en 1977, des deux protocoles additionnels aux Conventions de 1949, qui consacrent l’expression générique de «droit international humanitaire». La Cour internationale de Justice indique claire-ment dans son avis consultatif du 8 juillet 1996 que: « Ces deux branches du droit applicable dans les conflits armés ont développé des rapports si étroits qu’ils sont regardés comme ayant fondé graduellement un seul système complexe, qu’on ap-pelle aujourd’hui droit international humanitaire. Les dispositions des protocoles additionnels de 1977 expriment et attestent l’unité et la complexité de ce droit ».33

Ce droit ancien dans le champ du droit international34 trouve ses origines dans Dunand, Ed. Sijtoff, 1973,p.11

29 Frits KALSHOVEN, Restrictions à la conduite de la guerre, Genève, Comité international de la Croix-Rouge, 1991, p. 19.

30 Même si ce n’est pas la distinction proposée habituellement, on pourrait nommer droit de New York l’ensemble du jus ad bellum, en particulier les mécanismes permettant au Conseil de sécurité de l’Organisation des Nations unies de déclencher ou d’autoriser des actions armées contre un État.

31 Il a le mérite de suggérer l’extension des règles humanitaires à des conflits qualifiés de non internationaux.

32 A.S. CALOGEROPOULOS-STRATIS, Droit Humanitaire et Droit de l’Homme. La pro-tection de la personne en période de conflit armé, Institut Universitaire de Hautes Études Internationa-les, Genève, p.56.

33 Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires, Avis consultatif du 8 juillet 1996, CIJ Recueil 1996, p34, §75.

34 Le Droit de la guerre, au sens strict, désigne le jus in bello qui régit l’usage de la force armée en déterminant qui a le droit de faire la guerre et comment a-t-on le droit de faire la guerre. Autrement

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le mouvement de codification des usages et coutumes de guerre. Le DIH repose sur deux grandes sources : le droit conventionnel et le droit international coutumier.35 Élaboré au cours des siècles sous la forme d’accords temporaires entre les parties en conflit36, le DIH se décline principalement sous la forme de conventions inter-nationales. Il s’agit de la source principale du DIH. Comme le souligne finement Robert Kolb, aucune autre matière du droit international public n’est aussi codifié que le DIH, car il s’adresse moins à des juristes qu’à des militaires appelés à agir dans une situation urgente : « Discipliner l’action du personnel militaire ne peut réussir qu’en formulant des règles claires, soigneusement soupesées du double point de vue humanitaire et militaire. Ces normes sont donc nécessairement écri-tes. C’est donc à travers une longue séquence de textes conventionnels que le droit des conflits armes s’est à peu à peu constitué »37.

Le droit conventionnel est bien développé et couvre de nombreux aspects de la conduite de la guerre depuis la première convention de 1864.38S’ensuit dès lors un important courant de codification des règles concernant le droit humanitaire ayant pour objectif d’organiser de façon plus stricte l’apport des secours aux victimes de crises humanitaires. Ce droit est aujourd’hui largement codifié dans les quatre Conventions de Genève du 12 août 194939, auxquelles tous les États de la planète dit, qui sont les acteurs, qui sont les combattants. Quels sont les instruments utilisés et les modalités des conflits armés?. Le jus in bello se découpe selon les théâtres en droit de la guerre terrestre ou générale, maritime, aérienne ou aérospatiale, les questions environnementales intéressant tous les théâtres.

35 S’agissant de l’identification du contenu des normes de droit international coutumier, il est important de resouligner que le CICR a publié en 2005 les résultats d’une importante étude, s’échelonnant sur plus de 10 ans, qui établit l’existence de 161 règles coutumières du droit international humanitaire applicables dans les conflits armés internationaux et non internationaux, voir . Jean-Marie Henckaerts et Louise Doswald-Beck, Customary International Humanitarian Law, two volumes, Vol-ume I. Rules, Volume II. Practice (Two Parts), Cambridge University Press, 2005.

36 On peut relever qu’à partir du XVème siècle, des « cartels » sont conclus, la plupart du temps entre les chefs d’armées avant le combat, afin de fixer les modalités relatives au sort des prison-niers et des blessés, à l’enterrement des morts, etc. Ces conventions constitueront les fondements d’un droit coutumier : de 1581 à 1864, on a pu en recenser 291. Dans son ouvrage «De jure belli ac pacis», Grotius énumèrera ces «temperamenta belli» qui, au XVIIème siècle, font partie du droit positif.

37 Robert Kolb, « Ius in bello », op.cit, p. 101.

38 Dans son ouvrage intitulé Développement et principes du droit international humanitaires, Institut Henry-Dunant, Genève, Pédone, Paris, 1983, p.39, le professeur Jean PICTET, en parlant de ce premier instrument du DIH qu’il a qualifié de « Convention-mère » rappelle que cette dernière a marqué un tournant dans l’histoire de l’humanité puisque pour la première fois, les Etats ont accepté, par un engagement formel et permanent de limiter leur souveraineté en faveur de l’individu.

39 198 États ont ratifié les quatre Conventions de Genève de 1949, (1 - Convention de Genève pour l’amélioration du sort des blessés et des malades dans les forces armées en campagne, 2 – Conven-

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sont parties, et dans leurs Protocoles additionnels de 1977.40Ce droit étant limité à ceux qui exercent la violence, il devient à l’égard de ceux qui sont protégés, les non combattants, un droit de l’assistance et de l’humanité. Il s’applique ainsi ex-clusivement aux situations de conflits armés à la différence du droit international des droits de l’homme, créé pour policer les relations entre les gouvernements et les personnes sous leur contrôle.

La notion de conflit armé représente donc l’écorce du droit international humanitaire, seule la présence factuelle d’une réalité « belligène » engendre l’application de cet ensemble normatif. La Chambre d’appel du Tribunal, dans l’arrêt Tadic du 2 octobre 1995, a été conduite à s’interroger sur l’existence et la nature du ou des conflits pour identifier le droit applicable.A partir d’une analy-se des Conventions de Genève de 1949 et de leur second protocole, la Chambre d’appel précise : « Un conflit armé existe chaque fois qu’il y a recours à la force armée entre États ou un conflit armé prolongé entre les autorités gouvernementa-les et des groupes armés organisés ou entre de tels groupes au sein d’un État. Le droit international humanitaire s’applique dès l’ouverture de ces conflits armés et s’étend au-delà de la cessation des hostilités jusqu’à la conclusion générale de la paix; ou, dans le cas de conflits internes, jusqu’à ce qu’un règlement pacifique soit atteint. Jusqu’alors, le droit international humanitaire continue de s’appliquer sur l’ensemble du territoire des États belligérants ou, dans le cas de conflits internes, sur l’ensemble du territoire sous le contrôle d’une partie, que des combats effectifs s’y déroulent ou non ». 41

Historiquement, le droit humanitaire s’est développé de manière autonome par rapport au droit international des droits de l’homme. La doctrine semble déjà divisée à savoir si le système de droit humanitaire est entièrement autonome ( self-contained system ») en ce qui a trait à ses mécanismes de mise en œuvre. En

tion pour l’amélioration du sort des blessés, des malades et des naufragés des forces armées sur mer, 3 - Convention relative au traitement des prisonniers de guerre , 4 - Convention relative à la protection des personnes civiles en temps de guerre); Données CICR au 24 février 2009, disponible à l’adresse suivante: www.cicr.org/DIH.

40 Cent soixante-huit États ont ratifié le Protocole additionnel I de 1977 (protection des vic-times des conflits armés internationaux) et 164 États ont ratifié le Protocole additionnel II de 1977 (protection des victimes des conflits armés non internationaux); Données CICR au 24 février 2009, disponible à l’adresse suivante: www.cicr.org/DIH.

41 Arrêt Tadic de 1995 (IT-94-1-AR-72, §§ 67 et 70.

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s’appuyant sur la jurisprudence internationale constante et à la lumière des com-mentaires de la Cour internationale de justice au sujet de la notion de « régime se suffisant à lui-même », le Professeur Marco Sassoli affirme que : «To hold that international humanitarian law may be implemented only by its own mechanisms would leave it as a branch of law of a less compulsory character and with large gaps ».42

Lors d’un rapport rendu en 2006 sur la question du morcellement du droit in-ternational, la Commission du droit international ( CDI) a évoqué notamment la question des «régimes spéciaux» ou «régimes autonomes» définis comme «un groupe de règles et de principes intéressant une matière particulière souvent dotés d’institutions qui leurs sont propres pour administrer les règles permanentes». On note à cet égard que la CDI prend l’exemple du «droit de la mer», du «droit huma-nitaire» ou des «droits de l’homme» comme régimes pouvant tendre à fonctionner de manière totalement autonomes et cloisonnés les uns des autres. Cependant si l’on désigne par «self-contained regimes» des systèmes juridiques internationaux prétendant fonctionner totalement en vase clos, ce que l’expression veut d’ailleurs dire littéralement, alors il s’agit tout simplement d’un mythe.43 Sans être autono-me vis-à-vis du droit international général, «cette approche suggère que le droit international nous parvient dans des boîtes séparées, .., pouvant répondre à des principes et à des objectifs différents ne s’appliquant pas au-delà des frontières fixées par de telles boîtes ».44Dans la même veine Robert Kolb représente le DIH comme un droit autosuffisant formulé comme du droit administratif directement applicable et détaillé.45

En l’absence de toute définition conventionnelle, coutumière ou jurisprudenti-elle on peut avancer que le DIH constitue une branche du droit international public

42 Marco Sassàli, « State Responsibility for Violations of International Humanitarian Law» (2002) 84,RICR, p. 403.

43 P.M Dupuy, Fragmentation du droit international ou des perceptions qu’on en a ? L’influence des sources sur l’unité et la fragemntation du droit international, travaux du séminaire tenu Palma, Brux-elles, Bruylant, 2006, p. V-XXII,P.3. Cette théorie du « self-contained regime »), poserait un obstacle majeur à la reconnaissance de normes extérieures.

44 Martti KOSKONNIEMI, « Le droit international et la voie de l’éducation juridique: entre constitutionnalisme et gestionnariat », European Journal of Legal Studies : issue 1, avril 2007. [www.ejls.eu

45 Robert Kolb, Ius in bello, Le droit international des conflits armés, Bâle/Bruxelles, Helbing & Lichtenhahn/Bruylant, 203, p.4.

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qui réglemente la conduite des hostilités au cours du conflit armé en vue de pren-dre en compte les considérations humanitaires sans porter préjudice aux nécessités militaires.46 Cette proposition doctrinale met en exergue deux principes fonda-mentaux : les nécessités militaires et les considérations humanitaires consacrées par la CIJ.L’usage de la force doit être militairement nécessaire, proportionné par rapport à l’objectif visé (proportionnalité) et licite.47

En tant que principal organe judiciaire du droit international public, la Cour in-ternationale de Justice a dégagé et spécifié les principes fondamentaux du droit in-ternational humanitaire48. Il convient de rappeler ici que la Cour n’est pas obligée de se prononcer sur des questions qui ne lui ont pas été posées dans la demande : « La demande que l’Assemblée générale a adressée à la Cour soulève la question de l’applicabilité des principes et règles du droit humanitaire en cas de recours aux armes nucléaires, et celle des conséquences que cette applicabilité aurait sur la licéité du recours à ces armes; mais elle ne soulève pas la question de savoir quelle serait la nature du droit humanitaire qui s’appliquerait à l’emploi des ar-mes nucléaires. La Cour n’a donc pas à se prononcer sur ce point ».

49

Les considérations élémentaires d’humanité, considérées comme un aspect coutumier du droit international humanitaire par la CIJ dans son arrêt inaugural, sont un ensemble d’éléments d’appréciation qui tendent à la protection des be-

46 Les exemples fournis par la jurisprudence du TPIY relative à la campagne de purification ethnique conduite par les forces croates en Bosnie centrale en 1993 sont particulièrement intéressants (affaire Blaskic, première instance en 2000 et appel en 2004 et affaire Kordic, première instance 2001, appel 2004).

47 Le concept de « guerre juste » imposait déjà un certain nombre de critères dont la propor-tionnalité de l’action menée par rapport à celle qui l’a causée. Le principe de la proportionnalité, appli-cable en DIH et en droits humains, a un contenu différent dans les deux branches. Pour déterminer la nécessité et la proportionnalité, l’avis de la Commission de Venise s’appuie sur la jurisprudence de la Commission. Dans l’affaire Moss-v- McLachlan « il faut examiner les circonstances propres à chaque affaire. Lorsqu’on prévoit, honnêtement et raisonnablement, un risque réel de troubles, cela peut justifier une ingérence de la part de la police » COMMISSION EUROPÉENNE POUR LA DÉMOCRATIE PAR LE DROIT, Avis sur la protection des droits de l’homme dans les situations d’urgence, adopté par la Commission de Venise à sa 66e session plénière (Venise, 17-18 mars 2006) par 22. Voir aussi KRIEGER , pp. 280-281

48 «  Considérant que la Cour estime nécessaire de souligner que toutes les parties qui se présentent devant elle doivent agir conformément à leurs obligations en vertu de la Charte des Nations Unies et des autres règles du droit international, y compris du droit humanitaire » CIJ: affaire relative à la licéité de l’emploi de la force (Yougoslavie c. France), Demande en indication de mesures conservatoires, Recueil 1999 p.10-11 § 15-18.

49 CIJ, Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires, Recueil 1996 p. 36 § 83

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soins fondamentaux de l’être humain (vie, intégrité physique, bien être, etc.…)50. Le développement international de la réglementation de la guerre est ici assimilé à une diminution de la cruauté des guerres comme à une conséquence évidente. C’est là le thème classique de l’humanisation de la guerre par le droit.51Dans un jugement rendu par le Tribunal pénal international pour l’ex-Yougoslavie, le terme d’humanisation pourtant contesté par la doctrine, apparait comme: « Le caractère absolu de la plupart des obligations prévues par les règles du droit international humanitaire vient de la tendance progressive à l’« humanisation » des obligations de droit international, qui s’illustre par le recul généralisé du rôle de la réciprocité dans l’application du droit humanitaire au cours de ce dernier siècle ».52

En effet, les règles du droit de La Haye ne sont pas toujours formulées en des termes aussi inconditionnels que le droit de Genève. En ce qui concerne le traite-ment des victimes de guerre, les obligations sont absolues, le droit de Genève inter-dit « en toute circonstance », c’est un droit inconditionnel, et cette inconditionnalité a un rapport avec le fait que les personnes qu’il protège se trouvent aux mains d’un belligérant. Ces règles se rapportent à une phase non dynamique de la guerre, où rien ne peut excuser leur violation. A l’inverse, un certain nombre de règles du droit dit de La Haye (pas toutes) n’interdisent pas de manière inconditionnelle. Elles se rapportent à l’aspect « dynamique » de la guerre, où le belligérant d’une part doit faire face à l’activité de l’ennemi, et d’autre part, conduit des opérations de guerre qui engendrent par hypothèse des destructions. Il est plus que jamais nécessaire de cerner l’étendue de l’amplitude et la force normative de ces corpus juridiques.

2. Le DIDH : un droit progressivement enrichi et fragmenté

50 CIJ, Personnel diplomatique et consulaire des États Unis à Téhéran, arrêt du 24 mai 1980, Rec., 1980, pp. 42 et 43. ; CIJ, Activités militaires et paramilitaires au Nicaragua et contre celui-ci, fond, arrêt du 27 juin 1986, CIJ, Rec., 1986,p. 112.

51 Le champ lexical de l’humanisation, en tant que concept historique, est en effet courant. Il est exprimé avec justesse par J. C. Bluntschli : «  C’est au milieu de ces luttes sauvages des peuples, que la force civilisatrice du droit international vient faire sentir ses heureux effets. On a réussi à civiliser les lois de la guerre et à renverser en grande partie les usages barbares admis jadis pendant la durée des hostilités. Les guerres sont devenues plus humaines ; on les a régularisées ; on en a diminué les horreurs, et cela non seule-ment par des perfectionnements de fait dans la manière de faire la guerre, mais encore par le développement de principes internationaux sur la matière ». J. C. Bluntschli, Le droit international codifié, p. 35-36.

52 Le Procureur c. Zoran Kupreškić et consorts, IT-95-16, Jugement du 14 janvier 2000, §518.

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Le droit international de manière générale et la société internationale répon-dent, de manière synthétique, à l’interaction de variables souvent contradic-toires telles que la globalisation et la régionalisation, l’unité et la fragmentation, l’humanisation et la technicisation, le développement et le conservatisme53. Ainsi donc les normes juridiques se multiplient et leur prolifération s’accompagne de leur fragmentation, selon des ensembles qui ne sont ni totalement autonomes, ni parfaitement intégrés. Le phénomène de la fragmentation est appréhendé comme processus de diversification et de sectorialisation du droit international. Certains soulignent les dangers de menace de son unité54 alors que d’autres, dont le Profes-seur KOSKENNIEMI, préfère le terme « diversification». Le titre adopté en cours des travaux du Groupe d’étude de la C.D.I.55traduit bien le compromis entre ces deux positions. La fragmentation est une réalité empirique et classique acceptée mais les divergences sur ses conséquences persistent.RobertKOLB illustre bien le caractère fragmentaire originel, traditionnel, du droit international : « appliqué aux rapports entre États, le positivisme fragmentait tout l’ordre juridique inter-national. La règle était qu’il ne peut pas y avoir de droit international général, qu’il n’y a que du droit particulier, issu d’un accord de volontés empiriques. […] Le droit international n’est donc qu’une série d’îlots accommodant les volontés et réciprocités momentanés du pouvoir »56.

Le droit international des droits de l’homme est une branche du droit interna-tional général bien que cette idée n’est certes pas partagée par toute la doctrine ju-ridique.57 Loin d’être un appendice du droit international contemporain, il en con-

53 Voir Jorge Cardona Lorens : « Ma vision du droit international », in Regards d’une gé-nération sur le droit international, pp.123-148.

54 HAFNER (G.), « Les risques que pose la fragmentation du droit international » in « Rap-port de la Commission du droit international sur les travaux de sa cinquante-deuxième session » (1er mai-9 juin et 10 juillet-18 août 2000) », p.281.

55 Rapport préliminaire sur la fragmentation du droit international : difficultés découlant de la diversification et de l’expansion du droit international, Groupe d’étude sur la fragmentation, Commis-sion du droit international, ILC(CVI)/SG/FIL/CRD.1, 2004.

56 R. KOLB , Réflexions de philosophie du droit international – Problèmes fondamentaux du droit international public : théorie et philosophie du droit international, Bruxelles, Bruylant, 2003, p. 21.

57 Voir dans ce sens J.-F. FLAUSS, « La protection des droits de l’homme et les sources du droit international » in La protection des droits de l’homme et l’évolution du droit international, Colloque de Strasbourg de la SFDI, éd. A. Pedone, 1998, pp. 11-79. L’auteur met en lumière trois camps qui s’opposent à l’idée d’intégrer ou pas la protection internationale des droits de l’homme dans le droit international. Ainsi, il y a les « intégristes » qui pensent que « le droit international est déjà fortement

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stitue désormais l’un des fondements. La problématique des droits de l’homme, contrairement à celle du droit humanitaire ne dérive pas du droit international, mais se situe dans le cadre des systèmes internes. L’individu, avant tout sujet de droit interne, ses rapports avec l’ordre juridique international sont indissociables de la notion d’écran étatique.58 Ainsi les droits de l’homme oscillent entre le droit constitutionnel, ordonnant les rapports des individus avec l’État et le droit inter-national porteur d’incertitudes et de complexité. Le DIDH lie évidemment l’État à l’intérieur de son territoire national, mais il s’applique également dans les cas où l’armée exerce son pouvoir ou un contrôle effectif sur des individus à l’étranger59.

Le DIDH apparait comme une conquête progressive des droits collectifs et indi-viduels au gré des contingences fondée sur axiologie juridique de portée universelle. Il a de toute évidence une fonction idéologique. Comme l’écrit Marcel Gauchet « Le sacre des droits de l’homme est à coup sûr le fait idéologique et politique majeur de nos vingt dernières années.L’idéologie des droits de l’homme pose par ailleurs

malade de ses normes, le développement, voire le foisonnement, des règles de protection des droits de l’homme, constituent par définition un facteur d’aggravation de la pathologie en cause. Pour faire pièce à tous ces dangers, une démarche « intégrationniste est pratiquée et recommandée (…) ». Le second courant qualifié « d’autonomiste ou de sécessionniste » qui développe une conception que FLAUSS dénommait de messianique. En effet, ce courant considère que « le droit international, dans sa configuration actuelle, constitue un obstacle plus ou moins rédhibitoire au développement de la protection internationale des droits de l’homme (…). Et ces auteurs sont portés à voir le droit international comme un droit essentiellement d’application interne…affirme l’existence d’une branche autonome du droit international : le droit international des droits de l’homme ». A ces deux courants, s’ajoute un troisième dit, toujours selon les mots de l’auteur, « d’évolutionnisme modéré » qui met l’accent sur la complémentarité entre le droit inter-national et la protection des droits de l’homme. On peut considérer que chacune des ces approches sous-tend une logique juridique précise. Dans le même ordre d’idée on peut lire aussi, A. PELLET, « Droits de l’hommisme et droit international », Droits fondamentaux, n°1, juillet- décembre 2001, pp. 167-179.

58 Comme le soulignait René Cassin, l’accès de l’individu à la qualité de sujet direct du droit international ne peut être élargie que si » l’écran opaque constitué par les États entre l’homme et la communauté humaine organisée est aminci ou crevé. Voir R. Cassin le monde du 14Février 1948 cité par Eric Pateyron, La contribution française à la rédaction de la Déclaration universelle des droits de l’homme, René Cassin et la Commission consultative des droits de l’homme, La Documentation fran-çaise, 1998, p.153. L’écran s’est aminci mais on ne peut dire qu’il a été crevé. L’État ne constitue plus un voile opaque permettant de séparer une « sphère interne » d’une « sphère internationale », puisque l’ordre juridique est une unité. Il en découle nécessairement une plus grande transparence quant à la position de l’individu vis-à-vis du droit international : celui-ci est un sujet indirect du droit internatio-nal, en ce sens que les individus « sont indirectement et collectivement, en leur qualité d’organes ou de membres de l’ État, les sujets des obligations, responsabilités et droits subjectifs présentés comme les obligations, responsabilités et droit subjectifs de la personne juridique de l’ État ».Voir Le Procureur c. Anto Furundija, jugement rendu le 10 décembre 1998, affaire no IT-95-17/1.

59 Voir par exemple Cour internationale de Justice (CIJ), Activités armées sur le territoire du Congo (République démocratique du Congo c/Ouganda), Jugement, CIJ Recueil 2005, para. 216.

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l’humanité unifiée à la fois comme une donnée de fait et comme un idéal, comme un être et un devoir-être. Si on examine intellectuellement la Charte des droits de l’homme, il est facile de constater qu’il s’agit d’un énoncé d’objectifs, d’un idéal à atteindre mais assez souvent la réalité historique et concrète. Pour certains, après la disqualification postmoderne de tout méta-récit, les droits de l’homme constituent la dernière des utopies des sociétés.60Selon Réne Provost « In many ways, the hu-man rights regime provides a constitution for a utopian society ».61

La naissance du concept62 a lieu au 18e siècle. Si leur émergence et leur posi-tivation juridique sont incontestablement liés aux traits caractéristiques de la mo-dernité que sont l’individualisme, le rationalisme, la sécularisation et le contrac-tualisme, leur internationalisation commence au 20e siècle. L’idée de promulguer un corpus d’instruments internationaux relatifs aux droits de l’homme est apparue immédiatement après l’adoption de la Charte des Nations Unies.Jusqu’en 1948, le droit international ne s’intéresse pas aux relations entre les États et leurs indivi-dus63. L’internationalisation de la question des droits de l’homme suite à la remise en cause de l’ État-nation comme entité à partir de laquelle les classifications et les anatomies du pouvoir sont établies va modifier plus profondément encore les pers-pectives : alors que l’État était conçu comme le lieu de réalisation et le dispositif de garantie des droits de l’homme, ceux-ci pèsent désormais sur lui comme contrainte et des dispositifs ont été établis afin de contrôler le respect des engagements pris. L’émergence du droit international des droits de l’homme a enrichi considérable-

60 Voir Gilbert HOTTOIS, Dignité et diversité des hommes, Vrin, Paris, 2009, p.123, Michael Ignatieff, Human Rights as Politics and Idolatry, Princeton NJ: Princeton University Press, 2001. Pour Marcel Gauchet, L’idéologie des droits de l’homme pose l’humanité unifiée à la fois comme une donnée de fait et comme un idéal, comme un être et un devoir-être. L’idée-clé est que les hommes sont partout dotés des mêmes droits parce que, fondamentalement, ils sont partout les mêmes. En dernière analyse, l’idéologie des droits de l’homme, vise à soumettre l’humanité entière à une loi morale particulière rele-vant de l’idéologie du Même.

61 René Provost, The International Committee of the Red Widget? The Diversity Debate and International Humanitarian Law, Israel Law Review, March 2007,p.17

62 Pour P.Lerat : « le terme de concept désigne un ensemble d’idées articulées et abstraites, de caractère invariant, alors que la notion se caractérise par son imprécision, liée aux caractères réels de l’objet ». P. LERAT, La banque des mots, Gallimard, Paris, 1989, p. 56.

63 Joseph Goebbels illustre cela de manière paroxysmique en 1933 au siège de la Société des Na-tions avec ce propos annonciateur des pires atrocités du nazisme:« Messieurs, charbonnier est maître chez soi. Nous sommes un État souverain. Tout ce que dit cet individu ne vous regarde pas. Nous faisons ce que nous voulons de nos socialistes,nos juifs ou nos pacifistes ». Cité par J.-C. BUHRER & C.-B. LEVENSON, L’ONU contre les Droits de l’homme, Paris, Mille et Une Nuits, 2003, p. 14.

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ment le droit international contemporain, tant au niveau du fond qu’à celui de la procédure.

L’adoption de la Déclaration universelle des droits de l’homme (DUDH) en1948 qui fonde véritablement la naissance du droit international des droits de l’homme .64 Noberto Bobbio explique que « la déclaration universelle représente la conscience historique que l’humanité a de ces valeurs fondamentales dans la seconde moitié du XXe siècle».65 Pendant ces cinq dernières décennies, le droit international des droits de l´homme s’est converti en un corpus juris pour la pro-tection des êtres humains, constitué d’une multiplicité d’instruments qui opèrent au niveau régional et universel et qui montrent qu’il existe une unité fondamentale quant à leur conception et leur finalité. Ces instruments conventionels posent des obligations propres aux Parties qui ne sont obligatoires qu’entre elles et sont donc, au moins potentiellement, des ferments de fragmentation66.

La vision traditionnelle de séparation entre le DIDH, applicable en temps de paix et le DIH applicable en temps de guerre s’est écroulée à la montée de conflits armés non internationaux. On a dés lors déterminé que le champ d’application du DIDH devait être universel et s’appliquerait tant en temps de paix qu’en temps de guerre mettant les conflits armés sous le double feu du DIH et du DIDH .Cependant les instruments relatifs à la protec-tion des droits de l’homme ne forment pas un ensemble cohérent67. Ils sont tiraillés entre deux logiques : celle de l’unification qui correspond au respect d’une stricte hiérarchie normative, et celle de l’harmonisation qui permet à chaque État une marge de manœuvre dans la mise en application .Ils sont affecté par une fragmen-

64 La Déclaration universelle des droits de l’homme doit à René Cassin- l’un de ses rédac-teurs- que certains ont appelé son « prophète » - deux apports fondamentaux, entre autres : D’une part le remplacement, dans son titre initial de la formule « Déclaration internationale » d’inspiration anglo--saxonne, par « universelle », et d’autre part la rédaction de son article premier qui proclame : « Tous les êtres humains naissent libres et égaux en dignité et en droits. Ils sont doués de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraternité. Voir à ce sujet R. Kolb, « Les relations entre le droit international humanitaire et les droits de l’homme, Aperçu de l’histoire de la Déclaration universelle des droits de l’homme et des Conventions de Genève », RICR, 1998, pp. 437-447.

65 N. Bobbio, « L’âge des droits de l’homme », in Le futur de la démocratie, Paris, Seuil, pp.55.

66 P-M. DUPUY , « Préface – Fragmentation du droit international ou des perceptions qu’on en a ? », in HUESA VINEIXA (R.), WELLENS (K.), (dir.), L’influence des sources sur l’unité., pp. XIX-XX.

67 Olivier De Schutter & Francoise Tulkens, Rights in Conflict: The European Court of Human Rights as a Pragmatic Institution, in CONFLICTS BETWEEN FUNDAMENTAL RIGHTS 169 (Eva Brems ed., 2008).

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tation formelle et matérielle.L’idée d’un droit international des droits de l’homme laisse croire qu’on se-

rait en face d’une nouvelle catégorie qui se consacre uniquement aux droits de l’homme. Dans cette veine, les cours des droits de l’homme auraient une compé-tence ratione materiae liée (et limitée) aux droits de l’homme. On devrait ainsi redouter la dislocation du système ou l’ordre international suite à l’inflation de droits sectoriels souvent assimilée à une inflation de leges speciales structurant le droit international en différents compartiments ultra spécialisés.En effet, il n’est pas étonnant que le développement du droit international des droits de l’homme s’adapte à la structure originaire de l’ordre juridique international.

En effet, le DIDH ne constitue pas un bloc monolithique de droits cohérents, aux contours clairement délimités et aux finalités précises. On peut constate d’abord une forme de fragmentation verticale du droit international des droits de l’homme depuis le jus cogens jusqu’à la soft law, ce qui en fait une matière propice à l’identification de phénomènes de densification normative. On remarque la prolifération progressive de certains instruments, appelés instruments du soft law, dont la portée juridique et politique, contrairement au droit des traités, n’était pas clairement définie.

Les procédés alternatifs aux réserves qui se concrétisent par des clauses con-ventionnelles spéciales : clauses d’opting out68 ou d’opting in69 et clauses permet-tant à l’État de choisir « à la carte » entre différentes obligations énumérées dans le traité sont également instructifs sur leur fragmentation. Les motivations des États à apposer leur signature sur ces textes sont certes variables : elles peuvent être politiques, religieuses ou simplement morales. Une analyse fine des « objec-tions », mieux des réserves formulées par les États dans le cadre des six princi-paux traités en matière de droits de l’Homme peut nous renseigner sur la portée de l’universalité des droits de l’homme.

68 Art. 28 § 1 et art. 30 § 2 Convention des Nations Unies contre la torture et autres peines ou traitements cruels, inhumains ou dégradants (CCT) ; art. 29 § 2 CEDF ; art. 10 § 1 du protocole facultatif à la CEDF.

69 On englobe dans cette catégorie toutes les clauses facultatives d’acceptation de la compé-tence obligatoire d’un organe de contrôle : procédure de requête interétatique dans le cadre du P.I.D.C.P. (art. 41) ; procédure de requête individuelle dans le cadre de la CEDR (art. 14) ; procédures de requête individuelle et interétatique dans le cadre de la CCT (art. 21 et 22).

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A cette fragmentation matérielle s’est ajoutée une fragmentation formelle.70Dans un obiter dictum qui probablement fera date, la CIJ constate la prolifération des droits de l’homme en ces termes : «En raison de l’évolution matérielle du droit international au cours de ces dernières décennies, dans le domaine des droits re-connus aux personnes, le champ d’application ratione materiae de la protection diplomatique, à l’origine limité aux violations alléguées du standard minimum de traitement des étrangers, s’est étendu par la suite pour inclure notamment les droits de l’homme internationalement garantis ».71

La théorie des droits de l’homme s’est également fragmentée au contact de la diversité culturelle, malgré les prétentions des premiers rédacteurs.72 La frag-mentation a surgi du fait même de la dissociation des droits politiques et civils, d’un côté, et des droits économiques et sociaux d’un autre côté, dans les Pactes de 1966. Cette dissociation a ouvert la voie au refus de leur ratification simultanée.73 Faisant une typologie de la fragmentation, le groupe d’étude sur la fragmentation a fait observer que le droit des droits de l’homme, par exemple, avait toujours été fragmenté: droits politiques, droits économiques, droits de troisième génération, notamment.

On assiste donc non seulement à une expansion du nombre de normes in-ternationales des droits de l’homme et, par conséquent, à une augmentation du potentiel d’osmose et de conflit entre ces normes mais aussi à émergence d’un

70 M. Koskenniemi, Rapport sur la fragmentation du droit international : difficultés découlant de la diversification et de l’expansion du droit international, Groupe d’étude sur la fragmentation, Com-mission du droit international, A/CN.4/L.676 du 29 juillet2005,§22

71 Ahmadou Sadio Diallo (République de Guinée c. République démocratique du Congo, Ar-rêt, du 24 mai 2007, p. 17, § 39.

72 La naissance des conventions régionales et religieuses sur les droits de l’homme comme la Convention européenne(1950), la Convention américaine (1969), la Charte africaine (1981) et la Charte arabe de 1994, précédée en 1981 par la Déclaration islamique universelle des droits de l’homme publiée par le Conseil Islamique. Toutes ces textes régionaux se référent à la DUDH et ses textes fils, mais ils ne traduisent pas pour autant une même approche des droits de l’homme.

73 C’est ce que Louise Arbour a appelé le « schisme de la Guerre froide » : il ne s’agit pas d’idéologie, mais d’un schisme juridique qui, dans le cadre des neuf grands traités internationaux qui ont offert un fondement contractuel et contraignant à la DUDH, a donné successivement prééminence aux droits civils et politiques, ou aux droits économiques, sociaux et culturels .voir Louise Arbour, haut-commissaire de l’ONU aux Droits de l’homme, Le Temps, 10 décembre 2007. En dépit de l’influence pratique inhibitrice qu’elle a eue sur l’effectivité du droit international et sur la fragmentation du DIDH, la bipolarisation s’est paradoxalement attachée à invoquer de façon concurrente certaines règles du droit international.

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noyau axiologique autour duquel gravite l’ensemble du droit international, une moelle épinière qui, forte d’un statut normatif spécial (jus cogens et obligations erga omnes) infuse et irradie tous les domaines du droit international. Avec M. Nuss, nous sommes d’avis qu’« il y a une complémentarité des systèmes et non concurrence, et en matière de droits de l’homme plus qu’en toute autre sûrement, cette complémentarité doit être mise à profit, l’objectif final à atteindre étant la protection des droits de l’homme ». 74En effet, contrairement à une vision morcelée et éclatée attachée au DIH, une certaine vision unitaire de la structure générale des droits de l’homme peut se dégager.

Le DIDH étant multidimensionnel ne peut s’enfermer dans une quelconque branche parce que la sauvegarde de la vie et de la dignité humaine transcende les divisions juridiques. Il ne saurait être «cliniquement séparé» des textes applicables en situation de conflit armé. Plus personne aujourd’hui ne conteste la complémen-tarité des instruments applicables en temps de paix et de ceux applicables en situa-tion de conflit, même si des difficultés d’articulation peuvent surgir. Comme l’écrit M. Bothe : « le droit international évolue en fonction des événements, des possi-bilités et des idées. C’est ce qui explique sa fragmentation en un grand nombre de régimes de traités créés à telle ou telle occasion précise, traitant de problèmes spé-cifiques suscités par des événements concrets. Mais comme tout est lié, ces régimes se recoupent. On s’aperçoit alors que les règles ne sont pas toujours cohérentes, mais qu’elles peuvent aussi se renforcer mutuellement. La question se pose donc de savoir s’il y a conflit et tension, ou plutôt synergie, entre les divers régimes ».75

Le professeur Flauss estime quant à lui que l’on peut « espérer ou redouter selon le cas, l’émergence d’un corpus de droit international commun, des droits fondamentaux de l’individu qui intègre les normes des droits de l’homme au sens strict, du droit humanitaire et les exigences du droit international pénal».76A la suite de Régis de Gouttes qui reconnaît la grande difficulté qu’impliquent le trait-

74 Pierre NUSS, Le renvoi en droit international des droits de l’homme, Thèse de doctorat de l’Université R. Schuman – Strasbourg III, 1996, p.127.

75 Michael Bothe, « The Historical Evolution of International Humanitarian Law, International Human Rights Law, Refugee Law and International Criminal Law », dans : Horst Fischer, Ulrike Frois-sart, Wolff Heintschel von Heinegg et Christian Raap (éd.), Crisis Management And Humanitarian Pro-tection, Berliner Wissenschafts-Verlag, Berlin, 2004, p. 37.

76 J.F. FLAUSS, « La protection des droits de l’homme et les sources du droit international », in SFDI, Colloque de Strasbourg, éd. Pedone, Paris, 1998, p. 79

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ement et l’analyse du rapport entre droits de l’homme et droit pénal77, on peut dire des droits de l’homme et droit international humanitaire qu’ « il faudrait beaucoup de temps et de place pour retracer l’histoire de ce couple mouvementé, souvent désuni, parfois réconcilié, mais inévitablement complémentaire».78

B. LES DIFFÉRENTES CONCEPTIONS DOCTRINALES DES RAP-PORTS ENTRE LE DIH ET LE DIDH

La question des relations entre ces branches du droit international est clas-sique. La doctrine s’est trouvée partagée sur la question de la relation conceptuelle existant entre droits de l’homme et droit international humanitaire. Robert Kolb souligne que « le rapprochement considérable entre les droits de l’homme et le droit des conflits armés a été rationalisé de trois manières différentes par la doc-trine79. Schématiquement on peut présenter, selon la méthode chronologique sug-gérée par Mme Rosemary Abi-Saab80, les trois différents courants doctrinaux qui s’affrontent : théorie séparatiste ou différentialiste qui les considère comme deux branches totalement distinctes, théorie complémentariste (coexistence des deux ré-gimes) intégrationnistes (DIH et DH forment un même ensemble normatif tourné vers la protection de la personne humaine).Il convient dès lors examiner leurs significations et leur pertinence.

77 Structurellement, cette distinction se manifeste par le fait que les instruments internationaux relatifs aux droits de l’homme énoncent une série de droits protégés, tandis que le droit international pénal établit des listes d’infractions. En effet, le droit international pénal est constitué par les normes internationales visant à qualifier, poursuivre ou réprimer les infractions graves au DIH. Il constitue un ensemble de règles gouvernant l’incrimination et la répression des infractions qui représentent un élé-ment d’extranéité ou qui sont d’origine internationale. Le terme droit international pénal permet ainsi de recouvrir non seulement le DIH matériel au sens strict mais aussi toutes les règles de fonds. Or, si on retient une définition stricte et retreinte du terme DIH, une partie des crimes autonomes par rapport aux conflits armés pourraient ne pas trouver sa place dans le DIH. Voir CIJ, affaire du génocide, 2007 : obligation de répression et de prévention.

78 De Gouttes, R. (2000). «Droit pénal et droits de l’homme». Revue de science criminelle, (1), jan-mars, p. 133

79 Robert Kolb, Ius in bello, Le droit international des conflits armés, Précis, Helbing Lichten-hahn / Bruylant, Bâle / Bruxelles, deuxième édition, 2009, p.233, R. KOLB, « Aspects historiques de la relation entre le droit international humanitaire et les droits de l’homme », RCDI, 1999, vol. 37, note 142, pp. 92-94).

80 R. ABI-SAAB, “Human Rights and Humanitarian Law in Internal Conflicts”, in Human rights and humanitarian law – The Quest for Universality, Martinus Nijhoff, D. Warner (ed.), La Haye, Nijhoff Law Specials vol. 29, 1997, p. 107.

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1. La conception séparatiste ou différentialiste

Certains auteurs refusent tout rapprochement entre le DIH et DIDH. Provost note que: «Human rights and humanitarian law constitute two wholly independent systems, allowing for the possibility of concurrent application to the same situation or, less happily, of the inapplicability of both systems ».81

La thèse séparatiste préconise que le DIDH et le DIH sont incompatibles et leur intégration serait dangereuse pour la protection de la personne humaine.82 L’asso-ciation des deux régimes aurait comme conséquence de politiser le DIH. Ce der-nier est en effet un droit que l’on peut qualifier d’ancien,83 dont l’efficacité serait liée à son étanchéité face à toute forme d’idéologie. Le DIH est un droit dépolitisé, élaboré pour des situations de guerre et vise certes une protection maximale en temps de guerre.

Henri Meyrowith est l’un des principaux défenseurs de cette thèse.84 Il sou-ligne l’antinomie irréductible entre le droit de la guerre et la théorie des droits de l’homme. Pour lui il s’agirait de deux matières distinctes ce qui implique le refus d’appliquer les normes de la protection des droits de l’homme lors des conflits armés.85 Cette incompatibilité s’observe dans les différences d’origine, de fonde-ment, de nature, d’objet, de finalité et de contenu de deux systèmes. En plus du fait qu’ils ont des histoires très différentes, c’est d’abord leur champ d’application qui sépare le droit humanitaire des droits de l’homme. De façon schématisée, les normes du DIDH s’appliquent en temps de paix et les règles du DIH s’appliquent en temps de conflit armé. Meyrowitz appuie son raisonnement en soulignant l’absence de fondement commun entre le DIH et DIDH. Pour lui le DIH protège

81 René Provost, International Human Rights and Humanitarian Law, Cambridge University Press, 2002,p.274

82 EL KOUHENE (M.) : Les garanties fondamentales de la personne en droit humanitaire et droits de l’homme, Dordrecht/Boston/Lancaster, Martinus Nijhoff Publishers, 1986, p.11

83 Idem

84 MEYROWITZ, Henri, « Le droit de la guerre et les droits de l’homme », Revue du droit public et de la science politique en France et à l’étranger, 1972, pp. 1059ss

85 Idem, p. 1104

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les droits du citoyen ennemi, ce qui rend impossible, la conciliation du point de vue méthodologique de la protection des droits ennemis avec le système des droits de l’homme.86

Pour d’autres leur fondement, leur nature, et donc leur vocation ne se confond-ent pas. «L’on peut considérer que les droits de l’homme constituent un code de conduite de good governance, alors que les Conventions de Genève sont un droit pour la tempête qui s’applique lorsque les conditions requises pour le respect des droits de l’homme viennent à cesser d’exister ».87

Le principe du droit international des droits de l’homme postule un contrôle effectif de la population, alors que le principe du droit international humanitaire postule l’évanouissement du léviathan, un effondrement du pouvoir en place à la suite d’un conflit armé. Le droit des droits de l’homme est axé sur l’emploi de la force aux fins de l’application des lois, tandis que le droit humanitaire, de manière générale, se focalise sur le champ de bataille (à l’exception des situations d’occupation).

Sur le terrain des droits de l’Homme, les mécanismes internationaux sont paralysés, lorsqu’il n’y a pas d’État, ou même d’entité pour répondre aux viola-tions massives et systématiques qui sont commises. La construction d’une opposi-tion systémique entre droit humanitaire et droit international de droits de l’homme transparait aussi dans le jugement de Chambre de 1ère instance n° II du TPIY dans l’affaire Kunarac: « Le rôle et la position de l’État sont complètement différents dans les deux régimes. Le droit des droits de l’homme est né des abus étatiques sur ses citoyens et de la nécessité de protéger ceux-ci de la violence organisée ou sou-tenue de l’État. Le droit humanitaire (quant à lui) cherche à limiter la conduite de la guerre dans le but de protéger les victimes des hostilités »88. Pour le professeur Serge SUR, ces deux branches du droit international (DIDH et DIH) restent diffé-rentes par leur nature, leur contenu, leur régime,89 il n’en demeure pas moins que

86 .Idem, p. 1100.

87 Pasquier André, « Action humanitaire : une légitimité en question ? », in Revue internationa-le de la Croix-Rouge, n°842, juin 2001, p. 317.

88 Le Procureur c. Kunarac et consorts, affaire no IT-96-23-T et IT-96-23/1-T, 22 février 2001,§ 470

89 SUR (S.), « Vers une Cour pénale internationale : la Convention de Rome entre les ONG et le Conseil de Sécurité », RGDIP 1999, p. 35.

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des ponts certains sont établis entre elles. Certains préfèrent définir leur relation ré-ciproque en termes de « fertilisation croisée » d’avantage qu’en termes de conflit.90

La théorie différentialiste va être mise à mal et ne va pas résister à l’extension du champ d’application des droits de l’homme. Cette doctrine semble d’ailleurs assez problématique, voire erronée. Selon la Chambre l’affaire Kunarac précédem-ment citée : « Mais en réalité, en droit international des droits de l’homme et en droit humanitaire on cherche bien à diminuer la violence étatique ou autrement collective (entité insurrectionnelle). La seule différence réside dans l’intensité de la violence qu’on cherche à limiter, qui est directement fonction des situations dans lesquelles s’appliquent ces deux corps de normes ».91

1. La conception intégrationniste

Selon l’approche intégrationniste, les deux systèmes – droits de l’homme et droit international humanitaire - font partie d’un seul ordre juridique au service de la personne humaine. Les deux corpus juridiques ont une histoire distincte et ont suivi des processus qui leur sont propres mais peuvent se rejoindre. La visée commune du droit humanitaire et du DIDH est un argument avancé pour leur réconciliation. Le droit humanitaire s’inscrit dans la continuité des droits de l’homme et pourrait être considéré comme une sous-catégorie du DIDH. « Le droit humanitaire peut donc être considéré comme une espèce appartenant au genre du droit des droits de l’homme. Cette distinction n’est pas fondée sur leur nature intrinsèque, mais sur le contexte d’application des règles désignées pour protéger les êtres humains dans différentes circonstances ».92

En effet, les défenseurs de cette école cherchent à englober l’une des branches dans l’autre ; ainsi, la fusion peut se réaliser sous l’enseigne du DIH ou inverse-ment. « Puisque les conflits actuels mêlent atteintes aux droits de l’homme et vio-lations du droit humanitaire, puisqu’en outre la finalité de ces deux branches est la même (la protection de l’individu), il peut être souhaitable de décloisonner les

90 René Provost, International Human Rights and Humanitarian Law, Cambridge, Cambridge University Press, 2002, aux pp. 1-5.

91 Affaire Kunarak, op.cit., para 438.

92 Chetail Vincent, « The contribution of the International Court of Justice to international humanitarian law », in Revue internationale de la Croix-Rouge, n°850, juin 2003, p. 241

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deux matières afin de répondre au mieux à cette réalité complexe93 ».On considère que le droit international humanitaire intègre en son sein le droit

International des droits de l’homme ou qu’il est compris dans cette seconde branche ainsi plus générale94.Pour ce qui le concerne, R.-J. Dupuy développe une conception assimilatrice avec intégration du droit humanitaire dans les droits de l’homme (« le droit humanitaire n’est qu’un aspect des droits de l’homme » 95mais note une «disparition progressive de la distinction traditionnelle du droit humani-taire et des droits de l’homme».96

Pour Sayeman Bula-Bula «Nonobstant, le désir compréhensible de fondre les deux branches du droit international, il est des motifs décisifs qui rendent l’entreprise spéculative en l’état actuel du droit. Les droits de l’homme comme le droit international, envisagé dans leur globalité se révèlent être branches distinctes, autonomes, régissant des matières parfois similaires ; par ce qu’il s’agit des matières analogues ; elles ne sont donc pas identiques ; c’est pour cela qu’ils demeurent différents ». 97 A l’ombre de ce débat, et alors que se pose la question des moyens plus efficaces de veiller à ce que les droits de l’homme et les obligations relatives au droit humanitaire soient respectés par les parties à un conflit, l’approche complémentariste prospère. Elle accède progressive-ment à une consécration judiciaire entière. Sous l’impulsion de la doctrine et décisions judiciaires internationales est née l’idée d’un «human rights-based law of war»,98 traduisant l’impact de plus en plus en plus important de la thé-matique des droits de l’homme dans le développement du droit international humanitaire.

2. La conception complémentariste

93 Martin Fanny, op. cit., p. 137.

94 R. KOLB, « Aspects historiques de la relation entre le droit international humanitaire et les droits de l’homme», RCDI, 1999, vol. 37, note 142, pp. 92-94).

95 « La notion de conflit armé à caractère non international », op.cit., p. 276.

96 Dupuy, L’humanité dans l’imaginaire des nations, op.cit., p. 215

97 Sayeman Bula-Bula, Le droit international Humanitaire, Bruylant, 2010,p.51.

98 David Koller, «The moral Imperative: toward a human rights-based law of war», Harvard International Law Journal, vol. 46, 2005,pp. 247 et s.

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La conception complémentariste99 permet une approche moins radicale quant au rapport entre le droit international des droits de l’homme et le droit humani-taire. Il s’agit de considérer que leurs objectifs et leurs logiques sont les mêmes. Le droit international des droits de l’homme et le droit humanitaire ne sont pas totalement étrangers l’un à l’autre et un certain nombre de droits peuvent être con-sidérés comme communs aux deux ensembles juridiques. D’ailleurs, les standar-ds fondamentaux «illustrent la complémentarité, la convergence et l’interaction de ces deux branches connexes du droit international, dont l’objectif commun est la sauvegarde de la dignité humaine, même si leurs racines, leur nature et leurs teneurs sont différentes ».100

Cette conception s’appuie sur le caractère complémentaire des deux corpus juridiques qui bien qu’appartenant à deux branches distinctes. L’idée principale défendue par cette conception est donc de rechercher leurs corrélations tout en conservant une distinction de principe entre eux. Il s’agit de compléter les lacunes du DIH par le DIDH.101D’une part, les droits de l’homme renforcent les normes du droit humanitaire car dans la plupart des cas, les obligations qui en découlent sont plus précisément formulées. A l’inverse, le droit humanitaire peut également préciser les obligations des droits de l’homme. D’autre part, pour l’interprétation uniforme des droits et des obligations, une branche ne peut pas faire abstraction de l’interprétation de l’autre.

Le noyau dur des droits de l’homme qui concerne le droit à la vie, l’interdiction de la torture et des traitements inhumains, la prohibition de l’esclavage, les garan-ties judiciaires, les respects de la religion et de la liberté de conscience et la protec-tion des enfants et de la vie familiale102 trouve des échos dans le droit humanitaire. «Il est donc possible de trouver un langage commun aux droits de l’homme et au droit humanitaire, sous forme de principes tirés de ces deux droits, applicables en tous temps et à tout acteur, qu’il soit étatique, interétatique non étatique ou qu’il

99 Voir Martin Fanny dans « Le droit international humanitaire devant les organes de contrôle des droits de l’homme », in Droits fondamentaux, n°1, juillet-décembre 2001, pp. 119-148.

100 Thompso Cecilia et Vigny Jean-Daniel, op. cit. p. 932.

101 Voir H-P Gasser, International Humanitarian Law and Human Rights Law in Non-interna-tional Armed Conflict: Joint Venture of Mutual Exclusion? 45 German Yearbook of International Law (2002),p.242

102 Bad Abdelwahab, Droit international humanitaire, Paris, Ed. Ellipses, 2006,p. 42.

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s’agisse d’un individu ».103

La complémentarité signifie que le droit relatif aux droits de l’homme et le droit humanitaire, loin d’entrer en conflit, peuvent s’influencer et se renforcer mutuelle-ment puisqu’ils reposent sur les mêmes principes et valeurs. Dans cette acception, la complémentarité reflète une méthode d’interprétation inscrite au paragraphe 3 c) de l’article 31 de la Convention de Vienne sur le droit des traités, qui précise qu’il convient, pour interpréter une règle, de tenir compte « de toute règle pertinente de droit international applicable dans les relations entre les parties ». Ce principe consacre, d’une certaine manière, l’idée du droit international conçu comme un système cohérent.104L’accent est mis également sur les principes de la lex specialis et de la lex posterior comme principes de prioritarisation entre traités applicables simultanément à une même situation juridique.105

La complémentarité est devenue indéniable vu l’extension du champ d’application des droits de l’homme.106 Cette conception semble désormais re-cueillir le plus de suffrages, ainsi qu’en témoigne par exemple la jurisprudence de la CIJ et des cours régionales de protection des droits de l’homme. Le Comité des droits de l’homme, dans son Observation générale no 31, a déclaré ce qui suit: «le Pacte international relatif aux droits civils et politiques s’applique aussi dans les situations de conflit armé auxquelles les règles du droit international humanitaire sont applicables. Même si, pour certains droits consacrés par le Pacte, des règles plus spécifiques du droit international humanitaire peuvent être pertinentes aux fins de l’interprétation des droits consacrés par le Pacte, les deux domaines du droit sont complémentaires et ne s’excluent pas l’un l’autre». Il ne s’agit jamais pour lui, bien entendu, de nier l’importance des régimes spéciaux, mais simple-ment d’insister sur le fait que le droit international public, loin d’être optionnel et périphérique, constitue le tissu systémique dont nul régime, aussi autonome soit-il,

103 Thompso Cecilia et Vigny Jean-Daniel, op. cit, p. 932.

104 Le principe dit de l’ « intégration systémique » Campbell McLachlan, « The Principle of Systemic Integration and Article 31 (3)(c) of the Vienna Convention » (2005) 54 International and Comparative Law Quarterly 279.

105 Anja Lindroos, « Addressing Norm Conflicts in a Fragmented Legal System: The Doctrine of Lex Specialis » (2005) 74 Nordic Journal of International Law 27 ; Amna Guellali, « Lex specialis, droit international humanitaire et droits de l’homme: leur interaction dans les nouveaux conflits armés » (2007) 111 R.G.D.I.P, 539 ;

106 MEURANT, Jacques, « Droit humanitaire et droits de l’homme: Spécificités et convergen-ces », Revue Internationale de la Croix-Rouge, 1993, pp. 93ss

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ne peut se défaire complètement. Il existe cependant nombreux axes de tensions dialectiques entre ces deux

corpus juridiques mais elles sont en quelque sorte sublimées ou « surdétermi-nées» par la soumission à un même code de valeurs humanitaires fondamenta-les. Pour la CDI, une solution à ce problème pourrait se trouver dans «le principe d’harmonisation », selon lequel « lorsque plusieurs normes ont trait à une question unique, il convient, dans la mesure du possible, de les interpréter de manière à faire apparaître un ensemble unique d’obligations compatibles.107 F. WOLF, ne disait pas autre chose lorsqu’il écrivait que : « la sève qui alimente le droit interna-tional est de provenance variée et ne peut qu’être le produit d’éléments multiples se complétant harmonieusement les uns les autres ».108 Des auteurs ont proposé d’autres modèles tels que la lex specialis, qu’ils ont appelés « théorie pragmatique de l’harmonisation », « pollinisation mutuelle ». Leur complémentarité ne peut que renforcer la protection des droits de l’homme en toutes circonstances, un ob-jectif dans lequel M. George Abi-Saab voit «la plus grande conquête du droit inter-national d’après-guerre».109Les interactions entre le DIH etDIDH sont récemment devenues extrêmement multiples et complexes.

II. COMPLÉMENTARITÉ ET INTERDEPENDACE DU DROIT IN-TERNATIONAL DES DROITS DE L’HOMME ET DU DROIT INTERNA-TIONAL HUMANITAIRE

Le principe d’interdependance renvoie ici au principe du soutien mutuel qui

107 Voir Rapport de la Commission du droit international, 58e session, 1er mai à 9 juin et 3 juillet à 11 août 2006, Nations Unies, Assemblée générale, Documents officiels, 61e session, Supplé-ment n° 10 (A/61/10), p. 427. Harmonisation (dér. lat. harmonia : arrangement), a selon le dictionnaire juridique établi sous la direction de Gérard CoRnu, trois significations suivantes : « 1. Opération législa-tive consistant à mettre en accord des dispositions d’origine (et souvent de date) différente, plus spé-cialement à modifier des dispositions existantes afin de les mettre en cohérence avec une réforme nou-velle. V. codification, coordination, modification, ordre ; 2. Opération consistant à unifier des ensembles législatifs différents par élaboration d’un droit nouveau empruntant aux uns et aux autres. V. unification, unité ; 3. Désigne parfois un simple rapprochement entre deux ou plusieurs systèmes juridiques. Ex. harmonisation des législations européennes. V. coordination (…) » ; CoRnu Gérard (dir.), Vocabulaire juridique [AssoCIAtIon HEnRI CApItAnt (édit.)], 7e éd., Paris 2005, p. 423.

108 F. WOLF, « L’interdépendance des conventions internationales du travail », Recueil des Cours de l’Académie de Droit International, 1967, p. 119.

109 George Abi-Saab,Whither the International Community? European Journal of International Law 9, 1998, p. 262.

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s’inscrit dans le cercle des «formules de compromis» qui « impliquent effective-ment la volonté de reconnaître l’existence d’obligations conventionnelles parallèles et potentiellement conflictuelles ».110 L’idée du renforcement mutuel impliquait un renforcement en vue d’une action à mener. La notion de complémentarité relève davantage de la politique que du droit. Le souci de la complémentarité va dans le sens d’une gestion efficace qu’on peut nommer harmonisation. Il impose une «lec-ture harmonieuse » tendant à la cohérence et la coexistence entre divers instruments internationaux.Notre démarche sera ici celui de l’archéologue du droit, en ce sens qu’il faut fouiller dans les confins de ces deux corpus juridiques pour évaluer le degré et la portée de leurs interactions. Parmi les matières où les interactions sont les plus intenses, on compte le droit des conflits armés non internationaux domaine sous développé d u D I H e t e n q u ê t e d e c o m p l é m e n t . C e t t e « fertilisation croisée » est d’autant plus pertinente qu’il s’agit ici d’un conflit à l’intérieur d’un territoire opposant le pouvoir publique à des individus discriminés.

A. Complémentarité progressive des droits de l’homme dans les conflits armés

Les analyses sur les relations entre le DIH et le DIDH montrèrent que les deux corpus ont évolué en vases clos et que les Nations Unies n’ont pas voulu au départ créer de passerelles laissant le monopole des conflits armés au CICR. L’intrusion des droits de l’homme dans les conflits armés a été entretenue par les organes politiques des Nations Unies. L’Assemblée Générale se déclare souvent «guidée par les principes énoncés dans la Charte des Nations Unies, la Décla-ration universelle des droits de l’homme, les Pactes internationaux relatifs aux droits de l’homme et les normes humanitaires que consacrent les Conventions de Genève du 12 août 1949 et les Protocoles additionnels de 1977 s’y rapportant»111.Ainsi les instruments de soft law issus des organes et mécanismes en charge de la

110 Fragmentation du droit international: difficultés découlant de la diversification et de l’expansion du droit international, Rapport du Groupe d’étude de la Commission du droit international établi sous sa forme définitive par Martti Koskenniemi, A/CN.4/L.682, 13 avril 2006, disponible sur : http://dac-cessdds.un.org/doc/UNDOC/LTD/G06/610/78/PDF/G0661078.pdf?OpenElement, para. 276.

111 Résolution 46/136 sur la situation des droits de l’homme en Afghanistan. Voir aussi, entre autres, la Résolution 46/135 sur la situation des droits de l’homme au Koweït sous occupation iraqui-enne et la déclaration 47/133 sur la protection de toutes les personnes contre les disparitions forcées

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protection et de la promotion des droits de l’Homme et du Conseil de sécurité ont jouée ici un rôle important dans l’établissement d’un lien de complémentarité entre le DIH et DIDH. Dotés d’une autorité variable, ces nouveaux foyers de normativité ont influé, à un degré ou à un autre sur la cristallisation des droits intangibles et sur l’activité du juge judiciaire. Il s’agira ici de nouer ici le juridique et le politique en montrant que la complémentarité peut s’opérer au niveau institutionnel, inter--normatif ou herméneutique.

1. Aspects normatifs de l’intrusion progressive des droits de l’homme dans les conflits armés

En 1945, les peuples des Nations du monde ont eu un rêve : créer les bas-es d’une société internationale plus juste, plus solidaire, basée sur le respect des droits de l’homme et du droit des peuples à disposer d’eux-mêmes. Ils ont signé la Charte des Nations Unies, créant l’Organisation des Nations Unies. Celle-ci, do-tée d’organes spécifiques et d’institutions spécialisées, serait la garante ultime du maintien de la paix et de l’avènement d’une justice sociale fondée sur le droit. Des textes juridiques ont précisé le contenu et la portée des droits de l’homme, reconnus comme fondamentaux, universels, indivisibles et interdépendants.

En 1949, la Commission du droit international a décidé de ne pas inscrire à son ordre du jour le droit des conflits armés, car elle avait estimé que l’examen de cette branche du droit international pourrait être considéré comme une absence de confiance dans la capacité de l’ONU de maintenir la paix et la sécurité. Dès lors que la guerre avait été déclarée illégale, était-il raisonnable de se concentrer sur le développement du droit humanitaire au lieu de porter les efforts sur le droit de la paix ? 112 En effet, Comme le souligne Dupuy il est alors tentant de se concentrer sur l’analyse d’un champ de production déterminé en le coupant volontairement

112 En effet, le jus ad bellum ayant été transformé en jus contra bellum par le biais de l’article 2§4 de la Charte des Nations Unies (CNU), le jus in bello n’avait plus sa raison d’être, du moins dans l’édi-fice de la Charte. Les rédacteurs de la CNU, à peine sortis de l’horreur de la seconde guerre mondiale, pensaient avoir conçu un système de sécurité collective sans faille apte à stopper toute agression et toute velléité d’agression. La guerre étant interdite et le système de sécurité collective étant considéré comme implacable, le droit des conflits armés en devenait superflu, voire gênant, car il laissait planer un doute sur l’efficacité de ce système.

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de tout contexte normatif ».113 Néanmoins l’attitude de l’ONU a progressivement évolué et va donc affirmer l’importance du respect des droits de l’homme en pé-riode de conflits armés.

Dans les années 60 l’ONU a participé plus largement à l’édification d’un systè-me de droit international humanitaire. L’ONU et le CICR ont entrepris une nouvel-le phase dans leur coopération, qui a consisté à élargir leurs relations et à soutenir ensemble des initiatives humanitaires. La jurisprudence internationale récente et la pratique des organes pertinents créés en vertu d’instruments internationaux re-connaissent que le droit des droits de l’homme et le droit international humanitaire sont complémentaires et qu’ils se renforcent mutuellement. Cette complémentarité était déjà en germe dans, la clause de Martens mentionnée dans le préambule de la Convention II de la Haye de 1899114 qui disposait qu’ « en attendant qu’un code plus complet des lois de la guerre puisse être édicté, les Hautes Parties contractan-tes jugent opportun de constater que dans les cas non compris dans les dispositions réglementaires adoptées par elles, les populations et les belligérants restent sous la sauvegarde et sous l’empire des principes du droit des gens tels qu’ils résultent des usages établis entre nations civilisées, des lois de l’humanité et des exigences de la conscience publique » . 115 En d’autres termes, cette clause incluse aujourd’hui dans les pertinentes conventions du DIH, préconisait qu’en temps de guerre, les règles protectrices, et notamment les plus élémentaires pour l’individu, devaient continuer à s’appliquer.

Depuis 1967, les Nations Unies ont « pris l’initiative d’envisager l’applica-tion des droits de l’homme pendant les périodes de conflit armé »116 qu’ils soient

113 P.M Dupuy, La fragmentation ou l’impression qu’on en a, op.cit.p.3

114 Convention (II) concernant les lois et coutumes de la guerre sur terre, La Haye, 29 juillet. Ci-après Convention II de La Haye de 1899.

115 Du nom de son inspirateur, Frédéric de Martens, jurisconsulte russe d’origine estonien au service du tsar qui l’avait proposé à la conférence de la paix en 1899 et qui stipule « Les personnes civiles et les combattants restent sous la sauvegarde et sous l’emprise des principes du droit des gens, tels qu’ils résultent des usages établis, des principes de l’humanité et des exigences de la conscience publique » Cette clause, figure désormais dans de nombreuses conventions internationales. (4e Convention de La Haye de 1907, préambule, 8e considérant; CG de 1949, art. commun 63/62/142/158 ; 1er PA, art. 1, §2 ; 2e PA, préambule, 4e considérant ; Convention des NU de 1980, préambule, 5e considérant)», cf. DAVID (E.) : Principes de droit des conflits armés, quatrième édition, Bruxelles, Bruylant, 2008, p.93. Voir également : BUIRETTE (P.), LAGRANGE (Ph.) : Le Droit international humanitaire, op.cit., p.38 ; CARREAU (D.) : Droit international, op.cit., p.87.

116 CALOGEROPOULOS-STRATIS (A. S.) : Droit Humanitaire et Droits de l’Homme. La

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internes ou internationaux. L’Organisation l’a proclamé à plusieurs reprises et dans différentes enceintes. Dans sa résolution 237 (1967) adoptée à l’unanimité et relative au conflit israélo-arabe communément appelé « guerre des six jours »,117 le Conseil de sécurité a admis que : «les droits de l’homme essentiels et ina-liénables doivent être respectés même dans les vicissitudes de la guerre ».118 A partir de 1968119, la question du « Respect des droits de l’homme en période de conflit armé » est incluse à l’ordre du jour de l’Assemblée générale de l’ONU120 qui accorde une attention particulière à leur respect dans les zones de conflit. Cette évolution a commencé à se dessiner lors de la Conférence des Nations Unies sur les droits de l’homme qui s’est tenue à Téhéran en 1968 : non seulement le développe-ment du droit international humanitaire y fut encouragé, mais on vit se dégager une tendance consistant, pour les Nations Unies, à faire de plus en plus usage du droit humanitaire lorsqu’elles examinent la situation des droits de l’homme dans certains pays ou lorsqu’elles étudient certains grands thèmes.

Ces antécédents furent à l’origine d’une véritable prise de qui conduira à l’adoption par la Conférence de Téhéran 121 sous l’égide des Nations Unies, d’une célèbre résolution XXIII relative au respect des droits de l’homme en période de conflit armé (12 mai 1968). D’après le 1 er alinéa de la résolution adoptée par la

protection de la personne en période de conflit armé, Genève, Institut Universitaire de Hautes Etudes Internationales, 1980, p.35. Sur le problème de l’applicabilité des droits de l’homme en période de conflit armé ou du respect de la personne humaine en période de conflit voir notamment : EL KOU-HENE (M.) : Les garanties fondamentales de la personne en droit humanitaire et droits de l’homme, Dordrecht/Boston/Lancaster, Martinus Nijhoff Publishers, 1986, 258p. ; MERON (T.) : « La protection de la personne humaine dans le cadre du droit relatif aux droits de l’homme et du droit humanitaire », Bulletin des Droits de l’Homme, vol. 91, n°1, Nations Unies, septembre 1992, pp.36-50 ; DOSWALD--BECK (L), KOLB (R.) : « Le droit international humanitaire et le droit des droits de l’homme », op.cit., p.99-128; KOLB (R.) : « Aspects historiques de la relation entre le droit international humanitaire et les droits de l’homme », ACDI, vol. 37, 1999, pp.57-97.

117 Sur la « guerre des six jours » voir RAZOUX (P.) , La guerre des six jours (5-10 juin 1967). Du mythe à la réalité, Paris, Economica, 2004, 314p.

118 Résolution 237 (1967) du Conseil de sécurité en date du 14 juin 1967, 2e considérant.

119 Cf. Résolution 2444 (XXIII) du 19 décembre 1968 sur le respect des droits de l’homme en période de conflit armé.

120 CALOGEROPOULOS-STRATIS (A. S.) : Droit Humanitaire et Droits de l’Homme. La protection de la personne en période de conflit armé, op.cit., p.35.

121 Cette Conférence a été organisée pour marquer le 20e anniversaire de la Déclaration univer-selle des droits de l’homme. Une deuxième conférence internationale s’est tenue à Vienne en Autriche du 14 au 25 juin 1993 au cours de laquelle fut adoptée la « Déclaration et programme d’action de Vienne », cf. doc. ONU, A/CONF.157/24, 13 octobre 1993.

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Conférence, le recours à la force est en soi une violation des droits de l’homme. Les délégués adoptèrent une résolution qui invitait le Secrétaire général des Na-tions Unies à se pencher sur le développement du droit humanitaire et à examiner les mesures qu’il faudrait adopter pour en favoriser le respect.122 L’Assemblée gé-nérale renfermira cette idée dans sa résolution intitulée «Principes fondamentaux touchant la protection des populations civiles en cas de conflit armé».

Y figure en bonne place le principe selon lequel «les droits fondamentaux de l’homme, tels qu’ils sont acceptés par le droit international et énoncés dans les instruments internationaux, demeurent applicables en cas de conflit armé»123.Comme le souligne Robert Kolb, « la conférence de Téhéran fournit l’occasion de cristalliser nettement par un acte international solennel, les tendances du rap-prochement que la pression des faits avait imprimé aux deux branches du droit en question ».124Pour sa part, l’Assemblée générale adopta d’importantes résolutions faisant référence au respect des droits de l’homme en période de conflit, parmi lesquelles on peut citer la résolution 2444 (XXIII) du 19 décembre 1968, la résolu-tion 2675 (XXV)125, la résolution 2676 (XXV)126.

Depuis ces premières initiatives, l’idée selon laquelle le droit international rela-tif aux droits de l’homme continue de s’appliquer en période de conflit armé a été confirmée par un nombre considérable de textes internationaux qui condamnent fermement leurs violations. La résolution de l’Institut de droit international (IDI) adoptée lors de la Session de Berlin le 25 août 1999 s’inscrit dans cette logique. Il est indiqué dans ce texte que toutes les parties à un conflit armé ont l’obligation

122 Résolution XXIII, «Protection des droits de l’homme en cas de conflit armé», adoptée par la Conférence internationale des droits de l’homme, Téhéran, 12 mai 1968.

123 Rés. 2675 – 9 décembre 1970 intitulée «principes fondamentaux touchant à la protection des populations civiles en période de conflit armé».

124 R. KOLB, « Le droit international humanitaire et le droit des droits de l’homme », op.cit., p.230.

125 Cette résolution intitulée « Principes fondamentaux touchant la protection des populations civiles en période de conflit armé », a été adoptée par l’Assemblée générale de l’ONU le 9 décembre 1970. En vertu de son §1 : « les droits fondamentaux de l’homme, tels qu’ils sont acceptés en droit international et énoncés dans des instruments internationaux, demeurent pleinement applicables en cas de conflit armé ».

126 Adoptée par l’Assemblée générale le 9 décembre 1970 ainsi que la Résolution 2677 (XXV) sur le « Respect des droits de l’homme en période de conflit armé » (9 décembre 1970). Position répétée par l’AG dans de nombreuses résolutions particulières relatives à l’Afghanistan, Irak, Soudan, Russie, Yougoslavie, Ouganda

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de respecter les droits fondamentaux de l’homme, particulièrement le droit à la vie, l’interdiction de la torture et des traitements inhumains ou dégradants, le droit à la liberté et à la sécurité de la personne, le droit à un procès équitable127. Dans cette résolution, l’IDI s’est particulièrement basé sur les règles et les principes coutumiers applicables aux conflits internes mais également sur le PAII de 1977. Comment peut-on penser que la résolution en question n’aura aucune influence sur la manière dont les États vont interpréter et appliquer le DIH.

A l’évidence, ces dispositions confirment la pertinence du droit international relatif aux droits de l’homme en période de conflit. Certains droits de l’homme sont indérogeables et de ce fait, ils doivent être respectés en tout temps. Selon M. Olivier de Frouville « il est toujours impossible de leur porter atteinte. Leur intangibilité est totale, absolue, les atteintes toujours injustifiables »128 parce qu’ils intéressent « au plus haut degré la dignité de la personne humaine ».129 Depuis que le droit international humanitaire a été inclus dans la sphère de compétence de l’Organisation, ses organes ont été amenés à se prononcer à plusieurs reprises sur son applicabilité et à agir en faveur de son application.

2. Le rôle des organes et mécanismes onusiens en charge de la protection et de la promotion des droits de l’Homme

L’application du droit humanitaire est un thème qui est revenu constamment dans les débats et les décisions de la Commission des droits de l’homme et de la Sous-Commission de la lutte contre les mesures discriminatoires et de la protec-tion des minorités et du Conseil des droits de l’homme même si ce dernier a pour but principal «d’aborder des situations de violations des droits de l’homme et ne s’occupe que des situations de conflit armé que sous l’angle des droits de l’homme ».

127 Résolution sur « l’application du droit international humanitaire et des droits fondamen-taux de l’homme dans les conflits armés auxquels prennent part des entités non étatiques », Annuaire IDI, 1999, II, p.386, article X.

128 Olivier de FROUVILLE, L’intangibilité des droits de l’homme en droit international. Régi-me conventionnel des droits de l’homme et droit des traités, Paris, Pédone, 2004, p.70.

129 MAIA (C.) : « De la signification des clauses de non-dérogation en matière d’identification des droits de l’homme impératifs », in BEN ACHOUR (R.) et LAGHMANI (S.) (dir.) : Les droits de l’homme: une nouvelle cohérence pour le droit international ?, Colloque de la Faculté des Sciences Juridiques, Politiques et Sociales de Tunis, 17, 18 et 19 avril 2008, Paris, Pédone, 2008, p.43.

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La Commission des droits de l’homme, dans sa résolution 2005/63 sur la pro-tection des droits fondamentaux des personnes civiles en temps de guerre, a posé trois principes, à savoir que: «le droit international des droits de l’homme et le droit international humanitaire sont complémentaires et se renforcent l’un l’autre», que «la protection garantie par le droit international des droits de l’homme demeure dans les situations de conflit armé, eu égard aux circonstances dans lesquelles le droit international humanitaire s’applique en tant que lex specialis», et enfin que « les actes qui constituent une violation du droit international humanitaire peuvent aussi constituer une violation flagrante des droits de l’homme».

Le Comité des droits de l’homme des Nations Unies a jugé, tant dans ses ob-servations finales sur les rapports présentés par les pays que dans ses constata-tions sur des cas individuels130, que le PIDCP s’appliquait dans des situations de conflit armé tant international que non international, y compris dans des situations d’occupation. Il a réaffirmé son point de vue selon lequel «l’applicabilité des règles du droit international humanitaire en période de conflit armé ainsi que dans une situation d’occupation ne fait pas en soi obstacle à l’application du Pacte in-ternational relatif aux droits civils et politiques, si ce n’est par l’effet de l’article 4, qui prévoit qu’il peut être dérogé à certaines dispositions en cas de danger public exceptionnel».131

Dans ses Observations générales n° 29 et n° 31, le Comité des droits de l’homme a précisé que le Pacte continuait de s’appliquer aux situations de conflit armé aux-quelles les règles du droit international humanitaire sont aussi applicables. «Même si, pour certains droits consacrés par le Pacte, des règles plus spécifiques du droit international humanitaire peuvent être pertinentes aux fins de l’interprétation des droits consacrés par le Pacte, les deux domaines du droit sont complémentaires et ne s’excluent pas l’un l’autre».132 Il en va de même des observations finales du Co-

130 Observations finales du Comité des doits de l’homme – République Démocratique du Congo, doc. NationsUnies CCPR/C/COD/CO/3, 26 avril 2006 ; Belgique, doc. Nations Unies CCPR/CO/81/BEL, 12 août 2004 ;Colombie, doc. Nations Unies CCPR/CO/80/COL, 26 mai 2004

131 Comité des droits de l’homme, Observation générale n° 31 [80], La nature de l’obligation juridique générale imposée aux États parties au Pacte, doc. Nations Unies CCPR/C/21/Rev.1/Add.13, 26 mai 2004, par. 10.

132 Comité des droits de l’homme, Observation générale no 29, par. 3, repris aussi dans l’Observation générale no 31, par. 11.

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mité des droits économiques, sociaux et culturels,133 du Comité pour l’élimination de la discrimination raciale,134 du Comité pour l’élimination de la discrimination à l’égard des femmes135 et du Comité des droits de l’enfant.136 Le Comité pour la prévention de la torture a souligné, dans ses conclusions sur le rapport des Etats--Unis, que l’application de la Convention pour la prévention de la torture ne cesse pas en cas de conflit armé.137

La Commission des droits de l’homme de l’ONU a élaboré sous forme défi-nitive les Principes fondamentaux et directives concernant le droit à un recours et à réparation des victimes de violations du droit international relatif aux droits de l’homme et du droit international humanitaire adoptés en 2005 par l’Assemblée générale dans sa résolution 60/147.138 Ils soulignent que les victimes devraient être traitées avec humanité ainsi que dans le respect de leur dignité et de leurs droits humains.

La Commission des droits de l’homme avait initialement la faculté de tenir des sessions d’urgence pour répondre aux violations graves des droits de l’homme.139

133 Comité des droits économiques, sociaux et culturels, Observations finales : Colombie, doc. Nations UniesE/C.12/1/Add.74, 6 décembre 2001

134 Comité pour l’élimination de la discrimination raciale, Conclusions : Israël, doc. Nations Unies CERD/C/304/Add.45, 30 mars 1998.

135 Rapport du Comité pour l’élimination de la discrimination à l’égard des femmes, Vingt--deuxième session, Conclusions : République du Congo, par. 194 à 238,

136 Comité des droits de l’enfant, Observations finales : République démocratique du Congo, doc. Nations UniesCRC/C/15/Add.153, 9 juillet 2001 ; Sri Lanka, doc. Nations Unies CRC/C/15/Add.207, 2 juillet 2003 ;Colombie, doc. Nations Unies CRC/C/COL/CO/3, 8 juin 2006. Voir Weissbrodt, David, Joseph C. Han-sen and Nathaniel H. Nesbitt. The role of the Committee on the Rights of the Child in interpreting and developing international humanitarian law,24 Harv. Hum. Rts. J. 115-153 (2011).

137 Committee against Torture, Consideration of reports submitted by States parties under article 19 of the Convention, Conclusions and recommendations of the Committee against Torture, United States of America, CAT/C/USA/CO/2, 18 May 2006, § 14.

138 Il convient juste de rappeler ici que dans son approche d’analyse du droit coutumier, la Chambre d’appel du TPIY, toujours dans l’affaire Tadic (arrêt du 2 octobre 1995) nous a proposé une définition de la « violation grave ». La Chambre présente deux critères permettant de qualifier la gravité de la violation du droit de la guerre. Elle doit en effet: « constituer une infraction aux règles protégeant des valeurs importantes et cette infraction doit emporter des graves conséquences pour la victime ». TPIY,Tadic,ch. D’appel, arrêt relatif à l’appel de la défense concernant l’exception préjudicielle d’in-compétence, 2 octobre 1995,§94

139 DECAUX Emmanuel, « Les mesures d’urgence devant la Commission des droits de l’homme des Nations Unies et ses organes subsidiaires » in COHEN-JONATHAN Gérard et FLAUSS Jean-Fran-çois (dir.), Mesures conservatoires et droits fondamentaux, n° 65, Nemesis, Bruylant, Coll. Droit et justice,

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Le Conseil des droits de l’homme a gardé cette faculté de se réunir en sessions ex-traordinaires, avec la modification néanmoins de certains aspects procéduraux. Dix des dix sept sessions extraordinaires du Conseil des droits de l’homme tenues à ce jour se sont occupées d’une situation de conflit armé, dont cinq du Moyen Orient.140 Lorsqu’une telle situation fait l’objet d’un examen (actuellement par exemple la Syrie, la Libye ou les territoires palestiniens occupés) ou qu’une question relevant du droit international humanitaire est abordée, cela permet au moins une discussion sur le droit applicable lors du conflit armé qui n’avait pas été prévue dans ce forum.

La résolution 5/1 donne expressément le pouvoir à l’Examen Périodique Uni-versel (EPU) de vérifier si les obligations en matière de droit international humani-taire sont respectées.141 Le DIH a été abordé à plusieurs reprises lors du processus d’examen, notamment quand le pays en question était impliqué dans un conflit armé. Cela a également été le cas dans d’autres mécanismes, notamment au nouve-au Comité consultatif, qui sert de « groupe de réflexion » au Conseil, lui fournissant connaissances et conseils sur des questions de droits de l’homme.

Bruxelles, 2005, pp. 241-275.

140 Les cinq sessions extraordinaires précédentes du Conseil relatives au conflit israélo-arabe verront le jour suite à des événements d’une grande ampleur à l’échelle internationale, notamment des opérations militaires.. La session des 5 - 6 juillet 2006 (Document A/HRC/S-1/3 du 18 juillet 2006, Rapport du Conseil des droits de l’homme sur sa première session extraordinaire) a été convoquée suite à l’opération militaire israélienne « Pluie d’été » dans la bande de Gaza. La session du 11 août 2006 voit le jour suite aux affrontements entre l’armée israélienne et les forces armées du Hezbollah au Liban (Document A/HRC/S-2/2 du 17 août 2006, Rapport du Conseil des droits de l’homme sur sa deuxième session extraordinaire). L’opération « Nuage d’automne » menée par l’armée israélienne dans le village de Beit Hanoun à Gaza va être le facteur de la mise en place de la session du 15 novembre 2006 (Docu-ment A/HRC/S-3/2 du 20 novembre 2006, Rapport du Conseil des droits de l’homme sur sa troisième session extraordinaire). La session des 23-24 janvier 2008 roquettes dans le nord d’Israël (Document A/HRC/S-6/2 du 31 mars 2008, Rapport du Conseil des droits de l’homme sur sa sixième session extraor-dinaire). Finalement, la session des 9 et 12 février 2009 est convoquée suite à l’opération « Plomb Durci » dans la bande de Gaza (Document A/HRC/S-9/2 du 27 février 2009, Rapport du Conseil des droits de l’homme sur sa neuvième session extraordinaire). Le 23 août 2011le Conseil des droits de l’homme lors de sa dix-septième session extraordinaire a adopté une résolution aux termes de laquelle il décide de dépêcher d’urgence une commission d’enquête internationale indépendante afin d’enquêter sur toutes les allégations de violations du droit international des droits de l’homme commises en République arabe syrienne depuis mars 2011, d’établir les faits et circonstances de ces violations et des crimes perpétrés.

141 L’Examen Périodique Universel (EPU) est un nouvel et unique mécanisme du Conseil des droits de l’homme des Nations Unies (ONU) ayant pour but d’améliorer la situation des droits de l’homme sur le terrain dans chacun des 192 États membres de l’ONU.Par ce mécanisme, la situation des droits de l’homme de tous les pays membres des Nations Unies est examiné tous les quatre ans (48 États sont examinés par année lors de 3 sessions de l’EPU de 16 pays chacune).Le résultat de chaque examen est un «document final» listant les recommandations faites à l’État examiné dont celles accep-tées par celui-ci.

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Sous la demande du Conseil des droits de l’homme de l’ONU, une mission d’établissement des faits à Gaza a été demandée. Instituée à l’issue de la neuviè-me session extraordinaire du Conseil142, la mission devait enquêter sur les viola-tions des droits de l’homme et du droit international humanitaire commises lors de l’opération militaire israélienne « Plomb durci » lancée contre la bande de Gaza (du 27 décembre 2008 au 18 janvier 2009).143 Présidée par le juge Richard Goldstone144, son cadre normatif a été le droit international général, la Charte des Nations Unies, les droits humains, le DIH et le droit international pénal145.

À sa quatorzième session, le 1 er juin 2010, le Conseil des droits de l’homme a décidé, par sa résolution 14/1, d’envoyer une mission pour enquêter sur les «viola-tions» du droit international, notamment du droit international humanitaire et du droit des droits de l’homme, résultant des «attaques» israéliennes sur la flottille de bateaux transportant de l’aide humanitaire.146 De plus le Conseil de sécurité a lancé de nombreux appels demandant par exemple la reconnaissance de l’applicabilité de la IVe Convention de Genève, la libération et le rapatriement des prisonniers de guerre, un accès non limité et un passage sûr pour les convois d’aide, une in-terdiction de voyager et un gel des avoirs imposés aux responsables de violations, la création d’une commission d’enquête, la mise sur pied de tribunaux pénaux ad

142 Document A/HRC/S-9/2 du 27 février 2009, Rapport du Conseil des droits de l’homme sur sa neuvième session extraordinaire.

143 Selon la résolution prise à l’issue de la session, la mission devait « enquêter sur toutes les violations du droit international des droits de l’homme et du droit international humanitaire perpétrées par la puissance occupante, Israël, contre le peuple palestinien sur l’ensemble du territoire palestinien occupé, en particulier dans la bande de Gaza occupée, lors de l’agression en cours ». Après les critiques émises notamment par Mary Robinson et Richard Goldstone, l’enquête s’est étendue aux violations commises par les deux parties (Israël et le Hamas). V. résolution du Conseil A/HRC/S-9/L.1 du 12 janvier 2009, Graves violations des droits de l’homme dans le territoire palestinien occupé résultant en particulier des récentes attaques militaires israéliennes contre la bande de Gaza occupée

144 La publication d’un article de presse du juge Goldstone a remis en cause la « crédibilité » du rapport collectif qui porte son nom.

145 Voir le rapport de la Mission d’établissement des faits de l’Organisation des Nations Unies sur le conflit de Gaza, A/HRC/12/48 (25 septembre 2009), par. 270-278. La situation des droits de l’homme en Palestine et dans les autres territoires arabes occupés. Le rapport Goldstone (comptant 575 pages) visait à enquêter sur les allégations de crimes de guerre commis par Israël et le Hamas, sur leurs territoires respectifs, du 27 décembre au 3 janvier 2009 durant l’Opération Plomb durci. Durant cette opération, les organisations internationales sur le terrain ont dénombré près de 1 400 victimes (Rapport Goldstone, AlHRC/12/48, p. 107, par. 353-355.)

146 Cette Mission, conformément au paragraphe 9 de la résolution: le juge Karl Hudson-Philips (Président), Sir Desmond de Silva et Mme Mary Shanthi Dairiam.

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hoc ou la saisine de la Cour pénale internationale, même si l’État concerné n’était pas partie au Statut de Rome.

Et au sein du système des Nations Unies, il n’existe dès lors pas de comité ni de juridiction qui dispose d’une compétence générale en ce qui concerne le respect des droits de l’homme garantis dans les conventions des Nations Unies. La coor-dination au sein du système onusien dans le domaine des droits de l’homme, évo-quée brièvement dans la résolution instituant le Conseil, est souhaitable.147 Dans un premier temps, les mécanismes de contrôle pourraient être consolidés au sein de deux comités disposant d’une compétence générale. À long terme, on pourrait envisager de créer une Cour des droits de l’homme des Nations Unies avec une fonction consultative et même de contentieux.148

3. Le rôle du Conseil de sécurité

En promouvant le respect des droits de l’homme, les organes pertinents des Na-tions Unies ont donné encore plus d’importance au respect du droit international humanitaire à l’extérieur du système conventionnel. En effet, la nécessité de faire suivre les missions d’enquête d’un vrai processus de responsabilisation a amené le Conseil de sécurité à mandater de missions d’enquête qui ont débouché sur des enquêtes criminelles et qui ont constaté les violations des droits de l’homme et du droit international humanitaire. Les résolutions adoptées par le Conseil de sécurité se sont multipliées, l’activisme de l’organe exécutif de l’ONU ayant conduit à une véritable inflation normative.149 Les mécanismes mis en œuvre par le Conseil de sécurité sont indispensables, du simple appel au respect du droit international

147 EUDES Marina, « De la Commission au Conseil des droits de l’homme : vraie réforme ou faux-semblant ? », Annuaire français de droit international, 2007, pp. 599-616..

148 Buergenthal a proposé de créer une cour internationale des droits de l’homme, dont le pou-voir se limiterait initialement à formuler des avis (advisory opinions) plutôt qu’à prononcer des juge-ments contraignants dans le cadre de différends. À long terme, cette juridiction pourrait effectivement régler des différends. L’American Bar Association a proposé dès 1998 de ramener les six comités qui contrôlent le respect des traités des Nations Unies relatifs aux droits de l’homme à deux comités disposant d’une compétence générale en matière de droits de l’homme. T. Buergenthal, « A Court and Two Consolidated Bodies », dans A.F. Bayefsky (ed.), The UN Human Rights Treaty System in the21st Century, 300.

149 Vooir E. Decaux, « Le développement de la production normative : vers un ordre juridique international », in B. Badie, G. Devin (dir.), Le multilatéralisme – Nouvelles formes de l’action inter-nationale, La découverte, Paris 2007

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humanitaire jusqu’à la création de tribunaux pénaux internationaux, et au renvoi devant la Cour pénale internationale.

Le Conseil de sécurité a déterminé, dans certaines situations, que des viola-tions graves des DIDH/DIH constituaient une menace contre la paix. Compte tenu de l’absence de mécanismes appropriés de responsabilisation dans le domaine du droit international humanitaire, le Conseil de sécurité avait décidé de créer des tri-bunaux spéciaux. Les deux premières missions d’établissement des faits du Con-seil de sécurité visant à identifier les responsables de crimes internationaux en vue de les traduire devant la justice furent établies à la suite des événements tragiques survenus en ex-Yougoslavie150 et au Rwanda.151

Le 6 octobre 1992, alors que la guerre fait rage sur le territoire de l’ex-Yougos-lavie et le Conseil adoptait la résolution 780 qui chargeait le Secrétaire général de constituer d’urgence une commission impartiale d’experts pour faire la lumière sur les événements qui s’y produisaient. Cette commission d’experts s’était vue attribuer le mandat suivant : examiner et analyser l’information fournie en vertu de la résolution 771 et de la présente résolution, ainsi que toute autre information que la Commission d’experts pourra obtenir par ses propres enquêtes où grâce aux efforts d’autres personnes ou d’autres organes en vertu de la résolution 771, en vue de fournir au Secrétaire général ses conclusions sur les violations graves des Con-ventions de Genève et les autres violations du droit humanitaire international dont on aurait la preuve qu’elles ont été commises sur le territoire de l’ex-Yougoslavie.

Le 26 juillet 1994, moins de deux ans après la création de la Commission pour l’ex-Yougoslavie, le Conseil donnait le mandat identique à la Commission d’experts pour le Rwanda qui s’est prononcée en faveur d’une extension de la juridiction du TPIY aux crimes commis au Rwanda plutôt que pour la création d’un nouveau tribunal ad hoc, ce choix se justifiant par des raisons administra-tives et par le souci de garantir une plus grande cohérence dans l’interprétation et l’application du droit pénal international.La création des tribunaux pénaux ad hoc constitue un moment crucial dans l’histoire des cette fusion de ce régimes des droits humains. Ils ont permis, l’apparitiond’une nouvelle discipline formée par la convergence des règles du droit humanitaire, des droits de l’homme152. Le décloi-150 Résolution 780 du Conseil de sécurité (6 octobre 1992).

151 Résolution 935 du Conseil de sécurité (1 juillet 1994).

152 Un «corpus international » de protection des droits de la personne, pour reprendre une

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sonnement entre toutes ces disciplines, opérées par la jurisprudence du TPIY et celle du TPIR, permet de percevoir non seulement leur parenté conceptuelle mais également leur unité fonctionnelle : « En raison des points communs à ces deux branches (objectifs, valeurs et terminologie), cette méthode est généralement d’une aide appréciable voire nécessaire pour déterminer l’état du droit interna-tional coutumier en matière humanitaire. On peut en effet considérer que, sur cer-tains points, le droit international humanitaire a fusionné avec la branche du droit touchant les droits de l’homme »153.

Dans la foulée,la Commission internationale d’enquête sur le Darfour va con-firmer la doctrine de la complémentarité entre DIH et DIDH : «Les deux principaux corpus juridiques qui s’appliquent au Soudan dans le conflit du Darfour sont : le droit international des droits de l’homme et le droit international humanitaire. Ils se complètent l’un l’autre. Ainsi, ils visent l’un comme l’autre à protéger la vie et la dignité humaine, à interdire la discrimination fondée sur un certain nombre de motifs et à protéger de la torture ou d’autres traitements cruels, inhumains et dégradants.. Ils diffèrent en ceci que si le droit des droits de l’homme protège l’individu en tout temps, le droit international humanitaire, quant à lui, est la lex specialis qui ne s’applique qu’aux situations de conflit armé».154

Le Conseil de sécurité peut prendre des décisions de grande portée et même innover à condition d’agir dans le cadre assez large de la Charte des Nations Unies et de ne pas contrevenir aux normes du jus cogens. Face à ces situations inqui-étantes, depuis près de deux décennies, l’ONU a toujours expressément rappelé aux belligérants et explicitement stipulé, dans de nombreuses résolutions, que les droits de l’homme constituaient la clé de voûte du système des Nations Unies et le fondement de la sécurité et du bien-être collectif155.

Mais comme le rappelle le professeur Condorelli, «la machine du Conseil de sécurité est trop lourde, trop compliquée et trop tributaire d’une énorme variété de

expression chère à la Cour interaméricaine des droits de l’homme CrIADH, arrêt du 23 nov. 2004, Las hermanas Serrano Cruz c. El Salvador (exceptions prélimi naires), série C n° 118, §§ 111-120.

153 TPIY, ch. de lère instance, jugement du 22 février 2001, Procureur c. Kunarac, Kovac et Vukovic, IT-96-23-T et IT-96-23/1-T. § 467.

154 Rapport de la Commission internationale d’enquête sur le Darfour au Secrétaire général établi en application de la résolution 1564 (2004,§143

155 Dans la Résolution 1674 (2006) du Conseil de sécurité des Nations Unies, réaffIrmant les Résolutions 1265 (1999) et 1296 (2000) relatives à la protection des civils en période de conflits armés.

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contraintes politiques et économiques (…) pour pouvoir fonctionner comme le moyen courant d’assurer le respect du droit international humanitaire dans toutes les situations ».156Ce fait a conduit le Secrétaire général, dans ses plus récentes propositions de réforme, à la conclusion suivante:«Le Haut-Commissaire des Nations Unies aux droits de l’homme doit jouer un rôle plus actif dans les dé-libérations du Conseil de sécurité et de la commission pour la consolidation de la paix qu’il est proposé de créer, une attention particulière devant être accordée à l’application des dispositions pertinentes des résolutions du Conseil». Util-isant l’ensemble des organes conventionnels de défense des droits de l’homme et procédures spéciales que les uns appellent l’«arsenal humanitaire» du Haut-Commissaire, Mme Robinson, dans son rapport rendu à la Commission des Na-tions Unies, sur la situation dans la République de Tchétchénie de la Fédération de Russie, priait instamment les combattants «de respecter les normes interna-tionales en matière de droit de l’homme et de droit humanitaire».157

En octobre 2010, dans un rapport signé par le Haut-Commissaire des Nations Unies aux droits de l’homme la complémentarité entre DIH et DIDH apparaît clairement densifiée : «. Ces deux régimes, à la fois complémentaires et distincts, partagent un même objectif de protection de la vie et de la dignité humaine. On trouve dans ces deux corpus les règles essentielles visant la protection du droit à la vie et à l’intégrité physique et morale des personnes, de même que les garanties judiciaires fondamentales dont il sera traité par la suite. La principale distinction se trouve dans leur champ d’application, les droits de l’homme protégeant en tout temps, le droit international humanitaire ne couvrant que les périodes où sévit un conflit armé ».158 Il avait été recommandé dans ce projet de procéder à un inven-taire des violations les plus graves des droits de l’homme et du droit international humanitaire commises sur l’ensemble du territoire de la RDC.159

156 L. Condorelli, « L’évolution des mécanismes visant à assurer le respect du droit interna-tional humanitaire », L’évolution du droit international – Mélanges offerts à Hubert Thierry, Pedone, Paris, 1998, p. 131.

157 E/CN.4/2001/36, 20 février 2001.

158 Le Rapport du Projet Mapping concernant les violations les plus graves des droits de l’homme et du droit international humanitaire commises entre mars 1993 et juin 2003 sur le territoire de la République démocratique du Congo§783.

159 Contrairement à certaines commissions d’enquête dont le mandat requiert spécifiquement d’identifier les auteurs des violations afin de s’assurer que les responsables ont à répondre de leurs actes, l’objectif du Rapport de Mapping est d’exposer clairement la gravité des violations commises

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B. Le rôle des juridictions internationales : Aspects herméneu-tiques de la convergence entre le DIH et le DIDH

Dans leur jurisprudence constante, les Cours européenne et interaméricaine des droits de l’homme ont interprété ces traités de façon dynamique et évolutive (la dimension temporelle) afin de répondre à l’évolution des besoins en matière de protection des êtres humains .Le droit international général lui-même témoigne du principe selon lequel l’interprétation doit permettre au traité d’avoir des effets appropriés.Le principe d’humanité imprègne l’ensemble du corpus juris relatif à la protection internationale des droits de la personne humaine (qui comprend le droit international humanitaire, le droit international des droits de l’homme et le droit international des réfugiés), aux niveaux universel et régional. Ce principe illustre les ressemblances ou convergences entre ces branches complémentaires, au niveau herméneutique, qui se manifestent également aux niveaux normatif et opérationnel. Une attention particulière sera accordée ici à la pratique jurisprudentielle des di-fférents organes de contrôle des traités relatifs aux droits de l’homme et du DIH160 avant de nous focaliser sur l’apport indéniable de la CIJ qui a donné à cette théorie ses lettres de noblesse.

1. Contribution du système régional européen et interaméricain des droits de l’homme

La Cour européenne des droits de l’homme a appliqué la Convention euro-péenne, tant dans des situations de conflit armé non international que dans des situations d’occupation ; ces dernières années, la Cour européenne des droits de l’homme, en particulier, a rendu plusieurs jugements qui ont un impact sur la lec-

dans le but d’inciter une démarche visant à mettre fin à l’impunité. Le rapport du Projet Mapping com-prend une description de plus de 600 incidents violents survenus sur le territoire de la RDC entre mars 1993 et juin 2003. Chacun de ces incidents révèle la perpétration de graves violations des droits de l’homme ou du droit international humanitaire.

160 Pour les details voir Philip Alston, Jason MorganFoster and William Abresch, ‘The Com-petence of the UN Human Rights Council and its Special Procedures in relation to Armed Conflicts: Extrajudicial Executions in the “War on Terror”‘, 19(1) EJIL 183 (2008).

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ture juridique des situations de conflit armé et du droit applicable.161 La Cour eu-ropéenne a d’abord évité toute allusion explicite au droit international humani-taire.162 On constate une application stricte de la convention européenne des droits de l’homme mais d’une manière qui rappelle curieusement le droit international humanitaire (comme si les droits de l’homme devaient être interprétés au regard du DIH dans la situation de conflits armés)163.

Dans son arrêt «Loizidou contre Turkey», la CEDH n’a pas appliqué le DIH, malgré l’existence de violations issues d’une occupation militaire : la plaignante chypriote ne pouvait plus faire usage de ses biens dans le Nord de Chypre, après l’invasion et occupation turque de 1974. En 1989, elle a déposé une plainte fondée sur le fait que l’interdiction constante d’accès à sa propriété constitue une viola-tion du droit à l’usage de ses biens, selon l’article 1 du Protocole Additionnel 1 à la CESDH. Dans une décision CEDH en date du 28 juillet 1989, la plaignante a finalement obtenu gain de cause. En l’espèce, étant donné que la plaignante ne pouvait plus disposer librement de ses biens suite à leur occupation par les troupes turques, selon l’article 1 de la CESDH c’est la juridiction turque qui est respon-sable de ces évènements.

En effet, Loizidou a été chassée de ce territoire, sans qu’on ait démontré que la sécurité de la population ou d’impérieuses raisons militaires l’exigeaient. Ceci est également contraire à l’obligation de respecter la propriété de personnes civiles dans un territoire occupé. Mais, donnant la priorité à la lex specialis, la Commis-sion européenne des droits de l’homme n’a pas estimé nécessaire d’analyser si la détention de prisonniers de guerre chypriotes par la Turquie constituait une vio-lation de l’art. 5 de la Convention européenne.164 La Cour a condamné la Turquie pour le fait que des Chypriotes turcs civils puissent être jugés, dans la partie Nord de Chypre occupée par la Turquie, devant des tribunaux militaires de la « Répu-

161 Plus de 3 300 requêtes ont été déposées à la CEDH contre la Géorgie par des Ossétiens du Sud. et la Géorgie a présenté une requête interétatique contre la Russie.

162 Voir par exemple Cour européenne des droits de l’homme (CEDH), affaire Issaïeva, Yous-soupova et Bazaïeva c. Russie, arrêt du 24 février 2005; affaire Ergi c. Turquie, arrêt du 28 juillet 1998, Rapports 1998-IV; affaire Ahmet Özkan et autres c. Turquie, arrêt du 6 avril 2004.

163 G. GAGGIOLI / R. KOLB, « L’apport de la Cour européenne des droits de l’homme au droit international humanitaire en matière de droit à la vie », RSDIE, vol. 17, 2007, p. 3 - 11.

164 Rapport de la Commission dans l’affaire Chypre c. Turquie du 10 juillet 1976, in : Euro-pean Human Rights Reports Vol. 4, pp. 532-533, § 313.

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blique turque de Chypre du Nord » (RTCN)165 (dont les pratiques étaient attri-buables à la Turquie). Cela correspond à la pratique générale de la Cour.166 Selon l’article 66 de la Convention IV, toutefois, un occupant peut juger des personnes protégées (catégorie qui couvre les Chypriotes turcs tout comme les Chypriotes grecs) pour des infractions à la législation en matière de sécurité, mais uniquement devant « ses tribunaux militaires, non politiques et régulièrement constitués». Si la Cour avait appliqué le DIH, elle aurait dû autoriser le jugement de civils devant des tribunaux militaires de l’occupant en vertu de la lex specialis que constitue en l’occurrence le DIH.

Dans les affaires McCann, Ergi, Özkan ou Issaïeva, Youssoupova et Bazaïeva et Issaïeva, dans lesquelles les forces gouvernementales sont engagées dans des opé-rations de lutte contre des mouvements insurrectionnels, la Cour semble appliquer implicitement le DIH. La Cour européenne des droits de l’homme l’a reconnu dans les affaires Khachiev et Akaïeva contre la Russie,167 Issaïeva contre la Russie168 et Issaïeva, Youssoupova et Bazaïeva contre la Russie.169 Dans ces affaires, la Cour européenne a conclu que la Russie a violé le droit à la vie édicté à l’article 2 de la CEDH, du fait du décès des proches des requérants, causé par ses soldats lors de ses opérations militaires à Grozny en Tchétchénie.170

165 Chypre c. Turquie [note 4], §§ 354-359.

166 CEDH, arrêt du 9 juin 1998, Incal c. Turquie, Recueil 1998IV p. 1572-1573, §§ 70-72.

167 CEDH, arrêt du 24 février 2005, affaires Khachiev et Akaïeva c. Russie (requêtes n°57942/00 et 57945/00), §§136-147. Les requérants (Magomed Khachiev et Rosa Akaïeva) dénonçaient les exé-cutions extrajudiciaires de leurs proches par des soldats de l’armée russe à Grozny à la fin du mois de janvier 2000. Les corps du frère et de la sœur de M. Khachiev ainsi que ceux de deux fils de celle-ci et du frère de Mme Akaïeva furent retrouvés criblés de balles et portant des traces de torture et mauvais traitements.

168 CEDH, arrêt du 24 février 2005, affaire Issaïeva c. Russie (requête n°57950/00), §§179-201. Cette affaire concernait le bombardement sans discernement du village de Katyr-Yourt, effectué par l’artillerie de la Russie le 4 février 2000, ayant causé la mort du fils et des trois nièces de la requé-rante Zara Issaïeva.

169 CEDH, arrêt du 24 février 2005, affaires Issaïeva, Youssoupova et Bazaïeva c. Russie (re-quête n°57947/00, 57948/00 et 57949/00), §§174-200. Cette requête introduite par Medka Issaïeva, Zina Youssoupova et Libkan Bazaïeva concernait le bombardement aérien par l’armée russe d’un con-voi civil de refugiés qui tentaient de fuir Grozny le 29 octobre 1999. Au cours de ce bombardement, Medka Issaïeva fut blessée, ses deux enfants et sa belle-fille furent tués ; Zina Youssoupova fut bles-sée et le véhicule de Libkan Bazaïeva fut détruit avec tous les biens de la famille qui se trouvaient à l’intérieur.

170 Pour une analyse de ces arrêts voir Ph. WECKEL, « Chronique de jurisprudence internatio-nale », in RGDIP, tome CIX, 2005/2, pp.473-480.

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Dans l’arrêt « Ergi contre Turkey »,171la cour a estimé que la responsabilité de l’État n’est pas seulement engagé dans le cas où preuves significatives montrent que de l’État ont provoqué la mort d’un civil ; elle peut aussi l’être lorsque les dits agents n’ont pas, en choisissant les moyens et méthodes à employer pour mener une opération de sécurité contre un groupe d’opposant, pris toutes les précautions en leur pouvoir pour éviter de provoquer accidentellement la mort des civils, ou à tout le moins pour réduire ce risque.172 Dans ces dernières affaires, la Cour semble appliquer des critères qui sont, implicitement sinon explicitement, inspirés par le droit humanitaire, en particulier la question de savoir si tout a été entrepris pour éviter des pertes incidentes en vies civiles.

Les expressions comme « tirs mal dirigés, moyens et méthodes font pen-ser respectivement aux principes du DIH : Le principe d’humanité repose sur la volonté d’éviter dans toute la mesure du possible les maux superflus engendrés par le recours à la force. Le principe de discrimination, également connu sous le nom de principe de précaution, impose aux belligérants de distinguer les objec-tifs militaires, qui peuvent être attaqués, des biens et populations civils qui ne doivent faire l’objet d’aucune attaque volontaire, Le principe de proportionnalité vise à s’abstenir de lancer une attaque dont on peut attendre qu’elle cause inci-demment des pertes en vies humaines dans la population civile, des blessures aux personnes civiles, des dommages aux biens de caractère civil, ou une combinaison de ces pertes et dommages, qui seraient excessifs par rapport à l’avantage militaire concret et direct attendu.173

Les organes strasbourgeois de protection des droits de l’homme se faciliteraient la tâche si, ils se réfèrent aux critères d’appréciation du DIH, en particulier aux principes de proportionnalité et de mise en balance. En 2009, la CEDH a franchit le Rubicon dans l’affaire Varnava et autres c.Turquie, en faisant expressément

171 Dans l’affaire Ergi c. Turquie (arrêt rendu le 28.7.1998), le plaignant accusé d’être lié à l’activité de PKK de réputation terroriste, s’est référé aux § 136 et 140-141 de l’arrêt Godinez Cruz c. Honduras (CIADH, arrêt rendu le 20.1.1989

172 Dans l’affaire Ergi c. Turquie§72.

173 CIJ, avis sur les armes nucléaires, § 78  : «  le droit humanitaire a très tôt banni certaines armes, soit parce qu’elles frappaient de manière indiscriminée les combattants et les populations civiles, soit parce qu’elles causaient des souffrances supérieures aux maux inévitables que suppose la réalisation d’objectifs militaires légitimes ».

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référence au DIH174. C’est la raison pour laquelle il faut convenir avec Laursen d’accorder au moins un « potentiel pour l’application future du droit humanitaire international » réduit à la CEDH.175

Par ailleurs la Cour européenne des droits de l’homme s’est appuyée sur le rapport explicatif relatif à la Convention des Nations Unies sur la réduction des cas d’apatridie du 30 août 1961176. Un arrêt récent rendu en Grande chambre par la Cour de Strasbourg dans l’affaire Korbely c. Hongrie en apporte une nouvelle illustration dans cette affaire elle a utilisé le commentaire du droit international humanitaire coutumier édité par le Comité international de la Croix-Rouge177.

Le système régional interaméricain a été pour certains plus audacieux que la cour européenne.178 La Commission et la Cour interaméricaines des droits de l’homme ont reconnu l’applicabilité aux situations de conflit armé de la Déclara-tion américaine des droits et devoirs de l’homme et de la Convention américaine relative aux droits de l’homme.179La jurisprudence constante de la Commission interaméricaine des droits de l’homme considère le DIH comme une source de normes applicables par elle.180 Dans l’affaire Arturo Ribón Avila contre Colombie,

174 Varnava et autres c. Turquie (requête nos 16064/90,16065/90, 16066/90, 16068/90, 16069/90, 16070/90, 16071/90, 16072/90 et 16073/90). L’affaire concerne les requêtes qui ont été introduites devant la Cour au nom et pour le compte de 18 ressortissants chypriotes. Neuf d’entre eux furent portés disparus après avoir été appréhendés et détenus par l’armée turque au cours d’opérations militaires menées dans le nord de Chypre en juillet et août 1974. Les neuf autres – dont trois sont décédés au cours de la procédure que leurs ayants droit ont décidé de poursuivre – sont ou étaient des proches des disparus.

175 Laursen A., « Nato, the War over Kosovo, and the ICTY Investigation », in American Univer-sity International Law Review, 17, 2002, p. 804.

176 Cour. E.D.H., Mihail Ciprian Ghiban c. Allemagne, n° 11103/03 (déc.), 16 septembre 2004.

177 CEDH, Korberly c. Hongrie, n° 9174/02, 19 septembre 2008, §§ 51 et 90.

178 Gérad AIVO, “Convergences entre droit international humanitaire et droit international des droits de l’homme: vers l’assimilation des deux corps”,Rev trim .dr.h,82/2010,p.367.

179 Cour interaméricaine des droits de l’homme, affaire Bámaca Velásquez c. Guatemala, arrêt du 25 novembre 2000, Série C n° 70, par. 209 ; Commission interaméricaine des droits de l’homme, affaire n° 10.951, Coard et autres c. États-Unis, doc. OEA/ser.L/V/II.106 doc. 3 rev., 1999, par. 37 ; affaire n° 11.589, Alejandre c. Cuba, Rapport N° 86/99, doc. OEA/Ser.L/V/II.106 doc. 3 rev., 1999 ; Victor Sal-daño c. Argentine, Rapport n° 38/99, OEA/Ser.L/V/II.95, doc. 7 rev., p. 289, 1998, par. 18 ; Rafael Ferrer--Mazorra et autres c. États-Unis, affairen° 9903, Rapport n° 51/01, doc. OEA/Ser.L/V/II.111, doc. 20 rev., 1980, par. 179 ; Request for Precaution-ary Measures Concerning the Detainees at Guantánamo Bay, Cuba, arrêt du 12 mars 2002, International Legal Materials (ILM) vol. 41 (2002), p. 532.

180 Avila c. Colombia 30 septembre 1997; Hugo Bustios Saacedra c. Perou, 16 octobre 1997 ; Monsignor Oscar Arnulfo Romero y Galdamez c. El Salvador, 13 avril 2000 ; Guantanamo Bay, 12

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la commission « devait nécessairement se référer à et appliquer des normes de définition et des règles pertinentes du droit humanitaire, comme sources d’orienta-tion autorisées afin de résoudre ces cas », ce qu’elle fit, en prenant en considération l’article 3 commun des Conventions de Genève de 1949 afin d’établir la violation, par l’État colombien, du droit à la vie consacré par l’article 4 de la Convention.

La pratique ultérieure le confirme. Il convient de se référer en particulier au rapport d’expertise de l’Inter-American Commission on Human Rights dans sa décision « Tablada », relative à l’attaque, par quarante-deux personnes armées, de la caserne des forces armées argentines. La Tablada, le 30 octobre 1997. La commission a confirmé le fait qu’un organe de protection des droits de l’homme pouvait procéder à l’application directe du DIH vis-à-vis d’un État signataire d’une convention de protection des droits de l’Homme.181

Dans sa décision « Los Palmeras », laquelle concernait l’exécution de six civils non armés par les policiers colombiens, la Cour a ainsi déclaré que la convention «a seulement donné compétence à la Cour pour déterminer si oui ou non les actes et les normes des États sont compatibles avec la Convention elle-même et non avec la Convention de Genève de 1949 ».182 La Cour Interaméricaine a, en revanche, abouti à un tout autre résultat dans sa décision « Bamaca-Velasquez » relative à la torture et à l’exécution d’un guérillero par des militaires guatémaltèques. Ce juge-ment confirme l’application directe du DIH par les cours chargées de la protection des droits de l’Homme.

Il reste toutefois difficile à déterminer si l’on peut appliquer sans autres précau-tions la jurisprudence des organes de mise en œuvre des droits humains, même si celle-ci a été rendue en dehors de conflits armés comme le fait le CICR dans son étude du DIH coutumier.183

La Cour interaméricaine des droits de l’homme et la Cour européenne des droits de l’homme, ont fait progresser fortement la mise en œuvre du droit international humanitaire, même s’ils ne l’appliquent par formellement. L’interaction entre les normes internationales de protection peut donc conduire à la pollinisation croisée mars 2002

181 Inter-Am.Ct.H.R. (Ser.C), n° 67 (2000). « La Tablada », n°11.137, Rapport n°55/97 de la Commission paru dans le rapport annuel de la Commission de 1998, Chapitre III.

182 Inter-Am. Ct.H.R. (Ser.C) n°70, 2000.

183 HEnCKAERts et DosWALD-BECK, vol. I, p. 299.

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de ces corpus juridiques au-delà des frontières normatives. Cependant, tout comme dans le monde végétal, des croisements peuvent échouer en raison de l’éloignement trop important des espèces ou d’éléments environnementaux externes (un terrain normatif peu favorable, notamment). Une interprétation du DIH à la lumière des droits humains présuppose toujours une vérification si la règle des droits humains est effectivement applicable dans la situation couverte par le DIH, compte tenu des limitations et des dérogations admissibles selon les droits humains.184 On doit du reste mettre en relation la méthode interprétative en faveur de l’individu avec le principe de l’interprétation évolutive des textes internationaux consistant à ajuster un instrument aux nécessités fluctuantes de la vie et du droit international.

2. La Cour internationale de Justice : la (non)pertinence opéra-toire du lex specialis

Ce n’est certainement pas le lieu ici de revenir en détail sur l’ensemble de la pratique de la CIJ. Cela a été abondamment fait ailleurs, de manière aussi exhaus-tive qu’éclairée185, mais d’offrir à travers trois décisions qui offrent un panorama gradué de la manière dont la Cour peut être mobilisée pour tenter de résoudre un cas d’interaction du droit international humanitaire et le droit international des droits de l’homme. Il arrive souvent, que la relation entre le droit international des droits de l’homme et le droit international humanitaire soit décrite comme une relation entre droit général et droit spécialisé, dans laquelle le droit humanitaire

184 Par exemple le principe de l’interprétation «dynamique» ou téléologique beaucoup plus profondément ancré dans le droit des droits de l’homme que dans le droit international humanitaire envahit peu à peu le DIH. L’interprétation stricte des règles du droit international humanitaire depuis la fin de la seconde guerre mondiale, commence à céder à l’interprétation téléologique comme il ressort dans l’arrêt Zlatko Aleksovski « dans la mesure où elle permet une meilleure protection des victimes civiles des conflits armés, cette norme différente et moins stricte est totalement en harmonie avec le but fondamental de la IVe Convention de Genève, consistant à assurer la protection maximale possible aux civils ». Procureur c. Zlatko Aleksovski (2000), Affaire n°IT-95-14/1-A (Tribunal Pénal International pour l’Ex Yougoslavie, Chambre d’appel), para. 146. La démarche du TPIY se justifie à plusieurs égards. Selon le paragraphe 1 de l’article 31 de la Convention de Vienne sur le droit des traités, « un traité doit être interprété de bonne foi suivant le sens ordinaire à attribuer aux termes du traité dans leur contexte et à la lumière de son objet et de son but. ». Voir KRIEGER, op.cit., pp. 279 et 281.

185 Voir l’article de GUELLALI (A.) : « Lex specialis, droit international humanitaire et droits de l’homme : leur interaction dans les nouveaux conflits armés », in RGDIP tome CXI, 2007/3, pp.539-574. Sassoli, Marco, “Le DIH, une lex specialis par rapport aux droits humains?”, in AUER, FLÜCK-IGER, HOTTELIER (éds.), Les droits de l’homme et la constitution, Études en l’honneur du Professeur Giorgio Malinverni, Schulthess, Genève, 2007, pp. 375-395.

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joue le rôle de lex specialis.186 L’adage lex specialis derogat generali a pour fonction première de résoudre

un conflit normatif mais ne rend pas compte, de manière exhaustive, des relations que peuvent entretenir le DIH et DIDH.Lorsqu’on a en effet en vue les droits de l’homme dans leur amplitude, il est difficile d’appliquer le DIH comme lex spe-cialis. Il convient donc au préalable de mieux cerner cette notion multiforme, d’en définir les contours, de repérer les formes d’émergence.

La CIJ distingue d’abord trois situations : «certains droits peuvent relever ex-clusivement du droit international humanitaire; d’autres peuvent relever exclusi-vement des droits de l’homme; d’autres enfin peuvent relever à la fois de ces deux branches du droit international».187 Saisi à titre consultatif, la CIJ a conclu à la violation d’un certain nombre de droits civils politiques mais également économi-ques et sociaux. Dans l’affaire sur la Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires en ce sens que « La Cour observe que la protection offerte par le pacte international relatif aux droits civils et politiques ne cesse pas en temps de guerre, si ce n’est par l’effet de l’article 4 du pacte, qui prévoit qu’il peut être dérogé, en cas de danger public, à certaines des obligations qu’impose cet instrument. Le respect du droit à la vie ne constitue cependant pas une prescription à laquelle il peut être dérogé. En principe, le droit de ne pas être arbitrairement privé de la vie vaut aussi pendant des hostilités. C’est toutefois, en pareil cas, à la lex specialis applicable, à savoir le droit applicable dans les conflits armés, conçu pour régir la conduite des hostilités, qu’il appartient de déterminer ce qui constitue une priva-tion arbitraire de la vie ».188

186 Par exemple la Convention III implique que des membres des forces armées ennemies peuvent être internés en tant que prisonniers de guerre pour la simple raison qu’ils sont des combattants et sans aucune décision individuelle, judiciaire ou administrative. Lorsqu’il n’est pas controversé que l’individu appartient aux forces armées, un recours n’aurait donc aucun sens. Cela justifie une privation de liberté prévalant sur la règle des droits humains et du droit national qui exige une décision judiciaire ou, de façon indérogeable, une possibilité de recours à un organe judiciaire contre toute détention. La Convention III, est également une lex specialis par rapport aux droits humains en ce qui concerne la liberté personnelle des prisonniers de guerre, leur droit à être traités humainement, leur droit au respect de la vie familiale et privée, leur droit au travail ou leur droit à la santé.

187 Conséquences juridiques de l’édification d’un mur , § 106.

188 Affaire relative à la Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires, Avis consultatif du 8 juillet 1996, CIJ Recueil 1996, §25 (thèse complémentariste). La CIJ a confirmé cet avis dans l’affaire sur les Conséquences juridiques de l’édification d’un mur dans le territoire palestinien occupé, avis con-sultatif du 9 juillet 2004, CIJ Recueil 2004, p.178, §§105-106 (thèse intégrationniste)Pour une analyse de ce dernier avis voir : GOMEZ-ROBLEDO (J. M.) : « L’avis de la C.I.J. sur les conséquences juridiques de

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Dans son avis consultatif sur les conséquences juridiques de l’édification d’un mur dans le territoire palestinien occupé, la Cour a élargi cet argument à l’ap-plication générale des droits de l’homme en situation de conflit armé, déclarant que «la protection offerte par les conventions régissant les droits de l’homme ne cesse pas en cas de conflit armé, si ce n’est par l’effet de clauses dérogatoires du type de celle figurant à l’article 4 du Pacte international relatif aux droits civils et politiques.189Dans cette affaire la Cour estime que la quatrième Convention de Genève s’applique aux territoires palestiniens occupés par Israël190. A cet effet, elle prend en compte une pratique abondante, parmi laquelle l’adoption de plusieurs résolutions par lesquelles le Conseil de sécurité s’est prononcé en ce sens191. La qualification d’un territoire de territoire occupé est d’une importance capitale.Conformément à la quatrième Convention de Genève, elle permet d’accorder aux personnes se trouvant au pouvoir de l’Etat qui occupe le statut de la personne protégée.

Dans le même sillage la Cour a reconnu la responsabilité de l’Uganda, dans l’affaire qui l’oposait à la RDC, non seulement pour violations du droit interna-tional humanitaire, mais également pour violations des droits de l’homme, notam-ment droits civils et politiques, pour violations de l’article 6 du PIDCP (droit à la vie) et de l’article7 relatif à l’interdiction de la torture. Dans cet arrêt rendu le 19 décembre 2005, la CIJ a reconnu que l’Ouganda a notamment violé « le principe conventionnel et coutumier qui impose de respecter et de faire respecter les droits fondamentaux de la personne, y compris en période de conflit armé, conformé-ment au droit international humanitaire ».192 En déclarant que l’Ouganda, puis-l’édification d’un mur dans le territoire palestinien occupé : timidité ou prudence ? », in RGDIP, tome CIX, 2005/3, pp.521-537.

189 CIJ, Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires, avis consultatif du 8 juillet 1996, CIJ Recueil 1996, p. 226, par. 25.

190 C.I.J., Affaire des Conséquences juridiques de l’édification dTun mur dans le territoire pales-tinien occupé, par. 94 à 101

191 Idem, par. 99.

192 CIJ, Activités armées sur le territoire du Congo (République démocratique du Congo c. Ouganda), fond, arrêt, op.cit, §§219-220. Sur cette affaire voir : FORLATI (S.) : « La protection diplo-matique, droits de l’homme et réclamations ‘directes’ devant la Cour internationale de justice. Quelques réflexions en marge de l’arrêt Congo/Ouganda », in RGDIP tome CXI, 2007/1, pp.89-116. Le respect du noyau dur des droits de l’homme s’impose dans toutes les circonstances, même en cas d’occupation. Les puissances occupantes ont l’obligation « de garantir le respect des droits humains et à éviter toute situation de ‘trou’ dans l’application des droits de l’homme », cf. HAUPAIS (N.) : « Les obligations de la puissance occupante au regard de la jurisprudence et de la pratique récentes », in RGDIP tome CXI,

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sance occupante, est responsable du fait du « défaut de la vigilance requise pour prévenir les violations des droits de l’homme et du droit international humanitaire par d’autres acteurs présents sur le territoire occupé, et ce y compris les groupes rebelles agissant pour leur propre compte »,193 la Cour a réitéré le contenu de son avis consultatif rendu dans l’affaire du Mur.194Ce mouvement apporte une nouvelle lumière sur la puissance intrusion des droits de l’homme dans les conflits armés. Mais cela ne permet pas de conclure à l’absorption du DIH dans les DIDH. La CIJ veille au contraire à préserver leur autonomie respectif, et par là à maintenir dis-tinction entre la guerre et la paix. La CIJ a omis volontairement toute la référence à la lex specialis. Pour Amna Guellali en adoptant ce pragmatisme jurisprudentiel il s’agissait « de la volonté délibérée de mettre l’accent sur les droits communs aux deux branches de même que sur l’identification des règles fondamentales de protection de la personne humaine en période de conflit armé ».195

Même si ces avis consultatifs jalons juridiques et politiques susceptibles d’entraîner de changements pratiques, n’ont pas encore pleinement révélé leurs effets, il est devenu clair que les règles internationales en matière de droits de l’homme ne sont pas suspendues en temps de conflit armé. La CIJ considère théoriquement que le DIH constitue un corps de règles spéciales par rapport au DIDH. Or à l’analyse, il appert que l’adage ne conduit pas à écarter entièrement l’application du DIDH en l’espèce196.Bien que ces deux corpus juridiques soient liés à des principes, des sources et des instruments juridiques différents, à la suite de la production normative qui s’est développée dans la période successive à la deuxième guerre, on a assisté en pratique à une confluence (ou du moins une convergence) de ces deux régimes, axée sur l’extension du DIH toujours plus com-plémentaire et convergent avec les droits fondamentaux de la personne humaine.

2007/1, pp.117-146.

193 CIJ, arrêt, 19 décembre 2005, Rec. 2005, §179.

194 Dans son jugement final dans l’affaire Congo, la Cour a ordonné à l’Ouganda de payer des réparations à la RDC270. Ce jugement a certainement encouragé une prise de conscience, mais il n’a pas encore été appliqué.

195 Amna Guellali, op.cit, p.547.

196 Licéité de la menace ou de l’emploi de l’arme nucléaire, C.I.J., op. cit., pp. 239-240, §§ 24-25.

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3. Droits intangibles : nœud « stellaire » de la convergence entre DIH et DIDH

Le droit international classique ne connaît pas de hiérarchie des sources, que ce soit au sein des sources conventionnelles ou au sein des sources coutumières, pas plus qu’entre sources conventionnelles et sources coutumières. Toutefois, l’article 103 de la Charte des Nations Unies et la Convention de Vienne de 1969 ont mis en relief une nouvelle hiérarchie entre les normes, en prévoyant la nullité des « traités en conflit avec la Charte197 et avec une norme impérative du droit internatio-nal général. Il existe donc en droit international une « normativité graduée » : les normes internationales ne sont pas toutes dotées de la même portée, de la même intensité normative. Les normes qui ne supportent aucune dérogation ne sont pas extrêmement nombreuses. On en trouve quelques exemples au sein de chaque or-dre juridique. Ainsi endroit international général, certaines règles contenues dans les traités ou d’origine coutumière sont dotées d’une portée supérieure aux autres. Il s’agit des règles de jus cogens, dont l’existence est consacrée par l’article 53 de la Convention de Vienne du 23 mai 1969 relative au droit des traités.

Il n’est pas sans intérêt de noter que la CIJ a pu présumer l’existence de «princi-pes intransgressibles du droit international coutumier» sans soulever d’objections fondamentales.198La CIJ dans son avis sur la Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires rappelle : « qu’un grand nombre de règles du droit humanitaire applicable dans les conflits armés sont si fondamentales pour le respect de la personne humaine et « pour des considérations élémentaires d’humanité » selon l’expression utilisée par la Cour dans son arrêt du 9 avril 1949 (···) queces règles fondamentales s’imposent d’ailleurs à tous les États, qu’ils aient ou non ratifié les instruments conventionnels qui les expriment, parce qu’elles constituent des principes intransgressibles du droit international coutumier ».199

197 Art 103 :« en cas de conflit entre les obligations des membres des Nations Unies en vertu de la présente Charte et leurs obligations en vertu de tout autre accord international, les premières pré-vaudront ».

198 Affaire du Détroit de Corfou (Royaume-Uni c. Albanie), C.I.J. Recueil 1949, p. 22; Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires, Avis consultatif, C.I.J., Recueil 1996, p. 257, par. 79. Le débat relatif à une constitution internationale ne ressemblera pas à l’élaboration d’une constitution nationale. Cela s’explique non seulement en raison de l’absence dans le domaine international de pouvoir constitu-ant.

199 Avis du 8 juill. 1996, Rec. CIJ, 1996, p. 257, § 79. Voir également Decaux (Emmanuel), «

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Les « considérations élémentaires d’humanité »200, plus « absolues encore en temps de paix qu’en temps de guerre »201 et « les principes de morale les plus élé-mentaires »202 ont une vie juridique internationale autonome de l’instrument qui les institue. La plupart de normes de ius cogens et des obligations erga omnes, (mais pas toutes), ont pris naissance dans le domaine des droits de l’homme et du droit humanitaire203.Le juge Tanaka dans l’Affaire du Sud-Ouest Africain affirmait dès 1966 « Si l’on est fondé à introduire en droit international un ius cogens (ques-tion récemment étudiée par la Commission du droit international), sorte de droit impératif par opposition au jus dispositivum susceptible de modification par voie d’accord entre les États, il n’y a pas de doute que l’on peut considérer le droit rela-tif à la protection des droits de l’homme comme relevant du jus cogens204.Le droit international graviterait en effet, aujourd’hui, autour d’un noyau axiologique stable et cohérent formé par ces deux branches de droit international.

En effet « la plupart des droits de l’homme sont des droits conditionnels, c’est--à-dire susceptibles d’être temporairement suspendus ou restreints en cas de néces-sité »205. Toutefois, certains droits fondamentaux énoncés dans d’importants textes internationaux doivent être respectés par les États en toutes circonstances, même en cas de conflits ou de troubles. A l’exception de la Charte africaine des droits de l’homme et des peuples (CADHP), les trois principaux instruments relatifs à la protection des droits de la personne humaine (Convention Européenne des droits

La Cour internationale de justice et les droits de l’homme », in Studi in onore di Gaetano Arangio-Ruiz, Editoriale scientifica, 2004, tome II, p. 921

200 Affaire du Détroit de Corfou, arrêt du 9 avril 1949, C.I.J. Recueil 1949, p. 22, Activités militaires et paramilitaires au Nicaragua et contre celui-ci (Nicaragua c. Etats-Unis d’Amérique), arrêt du 27 juin 1986, C.I.J. Recueil 1986, para. 215 et s

201 Affaire du Détroit de Corfou, p. 22

202 Réserves à la Convention sur le Génocide, avis consultatif du 28 mai 1951, C. I. J. Recueil 1951, p. 24

203 Voir Fragmentation of International Law: Difficulties Arising from the Diversification and Ex-pansion of International Law, Report of the Study Group of the International Law Commission, Finalized by Martti Koskenniemi, A/CN.4/L.682, 13 April 2006,§391. «  Le jus cogens est une technique juridique qui vise à maintenir l’unité et l’intégrité d’un régime juridique en ne permettant pas sa fragmentation en régimes juridiques plus particuliers qui seraient autrement applicables prioritairement en vertu du principe de la lex specialis, et ce dans tous les cas où il existe un intérêt public (collectif) à cet effet. Pierre-Marie Dupuy. L’unité de l’ordre juridique international : cours général de droit international public (2000).

204 Opinion dissidente du juge Tanaka, Statut international du Sud-Ouest africain, p. 298.

205 SINKONDO (M.) : Droit international public, op.cit., p.414.

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de l’homme de 1950206, Pacte international relatif aux droits civils et politiques de 1966, Convention américaine relative aux droits de l’homme de 1969207) compor-tent des droits intangibles communs, désignés sous le nom de « noyau dur » des droits de l’homme ou encore « minimum standard ».208

En droit européen, l’article 15 de la Convention européenne des droits de l’homme distingue deux catégories d’obligations, celles qui peuvent faire l’objet de dérogations « en cas de guerre ou en cas d’autre danger public menaçant la vie de la nation » et d’autres obligations pour lesquelles aucune dérogation n’est auto-risée. Ces dernières sont le droit à la vie, l’interdiction de la torture, l’interdiction de l’esclavage et le principe de légalité des peines. On déduit également des con-ventions sur le droit humanitaire, outre les droits déjà évoqués, deux autres droits auxquels il ne peut être dérogé en temps de guerre, à savoir le droit à un procès équitable et le droit d’accès à un tribunal impartial. Certains éléments du droit à un procès équitable étant expressément garanti par le droit international humanitaire en cas de conflit armé, le Comité ne voit aucune justification à ce qu’il soit dérogé à ces garanties au cours d’autres situations d’urgence.209

Le noyau dur des droits fondamentaux de la personne humaine s’applique en toutes circonstances. Ce noyau dur repose d’une part sur l’article 3 commun aux quatre conventions de Genève du 12 août 1949, qui définit les règles essentielles

206 Cette Convention complétée par ses Protocoles, définit six droits indérogeables. Il s’agit du droit à la vie (article 2), du droit de ne pas être soumis à la torture ni à des peines ou traitements inhu-mains ou dégradants (article 3), du droit de ne pas être réduit en esclavage (article 4), des principes de légalité des délits et des peines et de la non rétroactivité de la loi pénale (article 7), de la règle non bis in idem (article 4 du Protocole n°7) et de la l’abolition de la peine de mort en toutes circonstances (article 2 du Protocole n°13). Ci-après CEDH.

207 A l’instar des autres instruments pertinents du droit international des droits de l’homme, cette Convention reconnaît aussi un certain nombre de droits comme étant intangibles. Il s’agit du droit à la vie (article 4), la reconnaissance de la personnalité juridique (article 3), le droit à l’intégrité physique de la personne (article 5), l’interdiction de l’esclavage et de la servitude (article 6), le principe de légalité et de non-rétroactivité de la loi pénale (article 9), la liberté de conscience et de religion (article 12), etc. Ci-après CADH.

208 Le professeur CALOGEROPOULOS-STRATIS a consacré d’importants développements à l’analyse du « minimum standard » des droits de la personne humaine, dans le chapitre VII (troisième partie, pp.139-169) de son excellent ouvrage intitulé : Droit Humanitaire et Droits de l’Homme. La protection de la personne en période de conflit armé, op.cit. Pour lui, le « standard minimum » peut être défini comme « les droits qui forment le minimum irréductible absolument nécessaire à la personne humaine et sans lequel l’homme cesse tout simplement d’exister, physiquement, moralement ou juridi-quement », cf. ibid., p.139.

209 Comité des droits de l’homme, observation générale No. 31, UN Doc. CCPR/C/21/Rev.1/Add. 13, 26 mai 2004, para. 16

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de sauvegarde de la personne humaine, et d’autre part sur le corpus juridique des droits de l’homme, qui énonce les trois grands principes que sont : le principe d’inviolabilité, qui garantit à tout homme et à tout combattant le droit au respect de sa vie ainsi que de son intégrité physique et morale ; le principe de non-discri-mination, le principe de sûreté.Ce noyau dur se situe au rang des «considérations élémentaires d’humanité»210, selon l’expression utilisée par la C.I.J. dans l’arrêt relatif à l’affaire du Détroit de Corfou211, dans l’affaire des Activités militaires et paramilitaires au Nicaragua et contre celui-ci212 et dans l’avis consultatif relatif à la Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires.213

Au-delà du droit à la vie qui constitue pour le Comité des droits de l’homme des Nations Unies « le droit suprême de l’être humain »214, la question de l’interdit de la torture a une acuité particulière s’agissant de l’interaction entre DIH et DIDH. Universellement prohibée, l’universalité de cette prohibition se double d’un refus conventionnel de toute dérogation. Le Pacte précise en son article 4.2 qu’aucune dérogation à cet article, même en cas d’urgence publique, ne saurait être justi-fiée. Une première affaire, la célèbre affaire Furundzija (jugement du 10 décembre 1998), fournit aux juges du TPIY l’occasion de se prononcer sur la torture. Ils y affirment que la prohibition de la torture constitue une norme de jus cogens (droit impératif) à laquelle on ne peut jamais déroger. Les juges estiment également que la prohibition de la torture créeé des obligations erga omnes, c’est à dire des obli-210 Voir R. ABI-SAAB, « Les ‘Principes généraux’ du droit humanitaire selon la Cour interna-tionale de justice », in RICR, n°766, juillet-août 1987, pp.381-389 ; DUPUY (P.-M.) : « Les considéra-tions élémentaires d’humanité’ dans la jurisprudence de la Cour internationale de justice », in Droit et Justice – Mélanges en l’honneur de Nicolas VALTICOS, Paris, Pédone, 1999, pp.117-130.

211 Cf. Affaire du Détroit du Corfou (fond), Royaume-Uni c. Albanie, arrêt du 9 avril 1949, CIJ Recueil 1949, p.22. Dans cette affaire la CIJ a affirmé avec force que l’obligation consistant à faire connaître l’existence d’un champ de mines dans les eaux territoriales albanaises était fondée « non pas sur la Convention VIII de La Haye de 1907, qui est applicable en temps de guerre, mais sur certains principes généraux et bien reconnus, tels que des considérations élémentaires d’humanité, plus abso-lues encore en temps de paix qu’en temps de guerre ». (Nous soulignons).

212 Cf. Affaire des Activités militaires et paramilitaires au Nicaragua et contre celui-ci, op.cit., p.114, §218

213 Cf. Affaire relative à la Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires, op.cit. Au paragraphe 79 de cet avis, la CIJ évoque aussi les « considérations élémentaires d’humanité » et précise même que « ces règles fondamentales s’imposent d’ailleurs à tous les États, qu’ils aient ou non ratifié les instruments conventionnels qui les expriment, parce qu’elles constituent des principes intransgressibles du droit international coutumier ».

214 Voir Comité des droits de l’homme, Observation générale no 6 (1982).

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gations dont la violation lèse tous les États, tous les États étant en conséquence autorisés à s’en plaindre au niveau international. Ces proclamations-affirmations ont trouvé un écho dans d’autres jurisprudences nationales et supra-nationales. On signalera ainsi que la Cour européenne des droits de l’homme (CEDH) cite le juge-ment dans son propre arrêt rendu, en matière de torture, dans l’affaire Al Adsani.

CONCLUSION

Malgré les promesses de la Charte des Nations Unies la paix peine à devenir un droit de l’homme justifiable au delà des droits intangibles.215 Certes les liens transnationaux minimiseraient largement les risques de guerres mais celles-ci res-tent un phénomène régi par le droit international, même si l’évolution du droit de la guerre, depuis trois siècles, semble se caractériser par la limitation croissante de ius ad bellum

et l’essor du ius in bello. Ce dernier s’impose pour compléter le

droit international des droits de l’homme en cas de mois de stabilité et de contrôle effectif, ou pour parodier le TPIY en cas d’hostilités non pas sporadiques mais de longue durée.

Comme le remarquait Charles Chaumont: « Il y a bien le moment de la minute de vérité. C’est le moment où il faut confronter la norme avec la situation con-crète »216. Devant ce que Ricœur appelle la guerre dénaturée, le projet du DIH de protéger les civils devient impossible. D’où l’interaction entre DIH et DDH en cas de conflit armé non internationaux et d’ l’occupation de guerre, oùl’occupant militaire fait face à des populations locales hostiles et donc contre laquelle il prend des mesures limitatrices, restreignant leurs droits de l’homme. La pratique montre que les droits de l’homme et le droit humanitaire ne s’excluent pas mutuellement,

215 La conception paix étant classiquement essentiellement négative elle tend à devenir un droit humain. Voir Le processus actuel de codification du droit humain à la paix par le Conseil des Droits de l’Homme et son Comité Consultatif, et en particulier la résolution du CDH 14/3, de 17 Juin 2010 et la recommandation du CC 5/2 du 6 août 2010 et la recommandation 6/3, 21 Janvier 2011. Le Comité consultatif du Conseil des droits de l’homme a entamé, le 18, 19 et 20 janvier 2011, l’examen de la question de l’élaboration d’une déclaration sur le droit des peuples à la paix sur la base du projet de rapport intérimaire. L’article 15 de la Déclaration stipule notamment: « Les personnes et les peuples ont le droit d’exiger que la paix soit une réalisation effective, en conséquence de quoi ils pourront: a) Exiger des États qu’ils s’engagent à appliquer effectivement le système de sécurité collective établi par la Charte des Nations Unies, mais aussi qu’ils résolvent leurs différends pacifiquement et, dans tous les cas, en plein respect des normes du Droit international des droits humains et du Droit international humanitaire... »

216 6e Rencontre de Reims. Réalités du droit international contemporain, 4, pp. 18 et s.

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mais sont interdépendants, se complètent et se renforcent l’un l’autre. Très tôt formulé, ce constat prend un relief particulier à mesure que la multiplication de conflits non internationaux impose que le droit humanitaire s’occupe de cette «po-pulation civile» qui, stricto sensu, devrait être protégée par le droit international des droits de l’homme. Rompant la réciprocité traditionnelle du DIH, force est de constater que les conflits armés non internationaux cadrent avec le DIDH. Certains ont d’ailleurs parlé, à propos de l’article 3 commun, d’un « moment stellaire de l’interaction » entre ces deux branches du droit international.217 Il va sans dire que le droit international des droits de l’homme, de part sa nature de lex generalis, reste applicable en toute circonstance

Meme si le Conseil des droits de l’homme et les organes créés en vertu d’instruments internationaux relatifs aux droits de l’homme ont ajusté leurs mé-canismes de telle sorte qu’ils puissent répondre à des situations de conflit armé non internatinaux, leurs relations se sont davantage cristallisées à travers les ju-ridictions internationales. La jurisprudence de la Cour internationale de Justice a été scrutée à l’aune de cette problématique, et les résultats de l’analyse de ses avis consultatifs et ses affaires contentieuses attestent de l’influence mutuelle et du renforcement mutuel entre DIH et DIDH. Ici leur complémentarité peut s’opérer de deux manières : interprétation conforme et lex specialis (en cas de conflit). La lex specialis signifie simplement que, dans les situations de normes conflictuelles, la règle la plus détaillée et la plus spécifique devait prévaloir sur la règle plus gé-nérale, sur la base d’une analyse au cas par cas. Ayant déjà commencé à s’appuyer sur le cadre du droit international humanitaire dans leur l’interprétation, la Cour eu-ropéenne des droits de l’homme et la Cour interaméricaine des droits de l’homme, en contact avec des droits allogènes et sans mandat spécifique, ont poursuivi le tra-vail d’élucidation du cadre juridique d’application du droit international des droits de l’homme dans les situations de conflit armé et montrent à suffisance que ces deux corpus s’éclairent mutuellement. Il convient dès lors de remarquer que les faiblesses du droit humanitaire à cet égard (tant au niveau du droit matériel que des recours) qui ont poussé les organes protecteurs des droits de l’homme à étendre le

217 Draper, « The relationship between the human rights regime and the law of armed conflicts », Revue de droit pénal militaire et de droit de la guerre, vol. XV, 1976, p. 394; M. Madrid-Malo Garizábal, « Convergencia y complementaridad del derecho internacional humanitario y el derecho internacional de los derechos humanos», Conflicto Armado y Derecho Humanitario, CICR/Universidad Nacional de Colombia/I.E.P.R.I., Bogota, 1994.

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droit international des droits de l’homme aux situations de conflits armés. Si le système international prévoyant des mécanismes de responsabilisation

face aux violations des droits de l’homme prolifère et se complexifie, il n’existe pas encore aucun mécanisme similaire pour les violations du droit internatio-nal humanitaire. En attendant que l’idée séduisante, mais peu opératoire de la Commission internationale d’établissement des faits, demeurée à l’état proche de l’hibernation, soit revigorée et qu’un véritable désarmement général soit amorcé, des moyens de prévention et des mécanismes d’alerte rapide face aux risques de violation des droits de l’homme et du droit humanitaire, renforcé par une Cour mondiale des droits de l’homme revêtent une grande importance.

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Stocktaking at the Evolution of the UN Human Rights Program1

Dr.Johannes van Aggelen

Abstract

The article traces the evolution of the human right programme of the United Nations from its inception until the present. It shows the insides and outsides of the programme containing a continued prog-ress with up and downs, written by an author with almost 30 years of experience within the system. The gravamen of the argument is that human beings are entitled to have locus standing before human rights bodies to defend themselves. The article also demonstrates the in-credible expansion of the programme over more than 60 years. Cur-rently thereexists an holistic approach to human rights protection and human rights are being mainstreamed throughout the United Nations system.

I. Introduction

Serious concern for the protection of human rights finds its roots in the barbaric acts committed during the Second World War.

The preambular paragraphs of both the UN Charter and the Univer-sal Declaration of Human Rights clearly bear witnessof the impor-tance of the individual human dignity on which the evolution of the

1 Dr.Johannes van Aggelen(“ Docteur en droit”University Nijmegen, the Netherlands,1976,;Doctor of Civil Law, McGill University,Montreal,Canada, 1989, former Senior Staffmember of OHCHR ,Geneva. This article is the result of a course delivered at Cedin in August 2010

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human rights program would manifest itself over the years.2

However, the London Declaration of 12 July 1941 was the first step in the direction of a universal charter where representatives of a num-ber of governments, including those in exile, committed themselves to establish an organization based on voluntary cooperation with the aim to strive for peace.

On14 August 1941, American President, Wilson and British Prime Minister, Churchill, signed the so-called

Atlantic Charter in which both leaders expressed the desire of a new world community in which cooperation among nations would lead to better working conditions, economic development, social se-curity and peace.

On 1 January 1942, 26 representatives of governments signed a document using for the first time the name “United Nations”.

The Moscow Conference of 1 November 1943 and the Teheran Conference of January 1944 strived for the same ideals.

The final stretch occurred with the Dumbarton Oaks Conference, August-October 1944 and the Yalta Conference in February 1945. The Conference establishing the United Nations took place in San Francisco from 25 April- 26 June 1945 and the UN Charter entered into force on 24 October 1945.3

Another important trend is that until world war II, the relation State-individual was vertical when only states could represent nationals before international tribunals, but where individuals had no real legal recourse by themselves.2 See Johannes van Aggelen:”The Preambular Paragraphs of the UN Declaration of Human Rights”,Denver Journal of International Law and Policy”,vol.28, Nr 2,2000,pp.129-141; see in generalLeonardo Nemer Brant Caldeira(editor):”Comentario da Carta das Nações Unidas”,Cedin,2008

3 United Nations Conference on International Organization,San Francisco,1945,UNCIO,14 volumes(Conference Proceedings:texts of documents adopted by the Conference,(London 1945)

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With the adoption of the Universal Declaration, the relation be-came horizontal and individuals gradually acquired legal rights as human rights.

II. The First Phase of Human Rights Protection (1946-1966)

The United Nations Preparatory Conference had recommended to the first session of Ecosoc to establish a Human Rights Commission in accordance with art.68 of the UN Charter, which it did in February 1946.

At the same time the General Assembly, in January 1946, transmit-ted to Ecosoc a draft Declaration on Human Rights and Fundamental Freedoms as a reference point for the Human Rights Commission.

The work was carried out by a drafting committee chaired by Mrs. Roosevelt. At the beginning of the drafting process it was acknowl-edged that although civil and political rights were the first condition of liberty, the progress in scientific and industrial civilization had cre-ated economic organizations which were inflicting on politically free peoples intolerable servitudes.

Hence the declaration should be extended to cover economic and social fields.4

Subsequently, the first director of the Human Rights Division, the late Professor Humphrey, submitted a 44 article draft containing 10 articles on economic, social and cultural rights.5

There were doubts from the beginning about the legal status of the 4 UN Doc E/HR/6 dated 1 May 1946

5 Section IV ,arts.35-44(unpublished manuscript in the McGill Law Library on file with author,whoworked with Professor Humphrey in the late 1970s);See also Fontanus,vol.II,1989,private collection McGill University, A.J.Hobbins:”The first draft of the Universal Declaration of Human Rights”

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proposed declaration. Mrs. Roosevelt stated that it was more advan-tageous to include a statement of ideals and aspirations and that it should be considered an educational document rather than a cov-enant of legally enforceable rights.6

Others expressed the view to elaborate 2 documents, first a declara-tion which contained general principles or international human rights norms and secondly an agreement which defined certain rights and their limitations. In this sense the drafting committee sent to the Hu-man Rights Commission a draft of an international declaration and an international agreement on human rights.

From December 1947-May 1948, 3 drafting committees worked on these documents and the Human Rights Commission subsequent-ly reviewed the drafts in the light of comments by governments and Unesco, but did not have time to consider whether a human rights covenant would oblige states to respect these rights as a legally en-forceable document.7

On 10 December 1948 the General Assembly adopted the Univer-sal Declaration8; however, the United States stated that the Declara-tion would not be an enforceable document.

Mrs. Roosevelt told the General Assembly: “In giving our approval to the Declaration today, it is of primary importance that we keep clearly in mind the basic character of the document. It is not and does 6 Doc. E/CN.4/SR 29 dated 8 December 1947

7 See for an excellent survey:Antonio Augusto Cançado Trindade:Tratado de Direito Inter-nacional dos Direitos Humanos, vol.1, 2nd ed. Sergio Fabris Editor, Porto Alegre, 2003,pp.51-59;for specific referencesJohannes van Aggelen:Implementation of Article28 of the Universal Declaration of Human Rights by the UN Conferences in the 1990’s,.key-note speech,30 Hamline Journal of Public Law and Policy,,Fall 2008,pp.1-32

8 GA Res.217(III),adopted with 48 votes, in favour,8 abstentions and none against with two delegations absent.

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not purport to be a statement of law or legal obligation. It is a declaration of basic principles of human rights and freedoms,

to be stamped with the approval of the General Assembly by a formal vote of its members, and to serve as a common standard of achieve-ment for all peoples of all nations”.9

Indeed, the Declaration represents a universal “ethique” of human rights and nowadays the Declaration forms part of customary inter-national law or expresses general principles of international law.10

Unlike previous human rights bills such as the American and French Declarations of the 18th and 19th centuries, the Universal Dec-laration contains civil and political rights as well as economic, social and cultural rights.11

After an Australian proposal to establish a mechanism to imple-ment the Declaration was defeated early on12,the Commission was to embark on the task to elaborate a Convention with measures of implementation for states to comply with upon ratification.13

9 Bulletin of the State Department,19 ,(1948),p.751

10 Eduardo MuylaertAntunes:”Naturezajuridica da Declaração Univer-sal de DireitosHumanos”,Revista dos Tribunais, Nr. 446,p.35,december 1972,São Paulo ;J.P.Humprhrey:”Human Rights and the United Nations:A Great Adventure”,DobbsFerry,TransnationalPublishers,New York, 1984,p.85;L.B.Sohn:”The Universal Declaration of Human Rights ,A Common Standard of Achievement?-The Status of the Universal Declaration in International Law”,Journal of the International Commission of Jurists,vol.8, pp.23-26in passim;Th.Meron:”Human Rights and Humanitarian Norms as Customary Law”,Oxford, Clarendon Press,1989;A. Eide ,G.Alfredssoned.”The Universal Declaration of Human Rights-A Commentary”,Oslo,Scandinavian University Press,1992”;Philosophical Foundations of Human Rights “,Unesco, Paris,1986;H. Han-num :”The Status of the Universal Declaration in National and International Law”,Georgia Journal of International and Comparative Law, vol. 25(1995-1996),pp.289-354

11 H.Lauterpacht:”International Human Rights Law”,London,Stevens, 1950,pp.321-355;L. Sohn and T.Buergenthal:”International Protection of Human Rights”,Bobbs- Merill,Indianapolis, 1973,p.516;A.Cassesse:”Human Rights in a Changing World”,Philadelphia,Temple Press, 1990,pp.38-39;J.Donnelly:”International Human Rights:a regime analysis” in International Organization,MassachusettsInsitute of Technology.Summer 1986,pp:599-642;K. Vasak:”Human Rights as a Legal Reality” in The International Dimensions of Human Rights,Vasaked, Paris,Unesco/Greenwood Press,1982

12 Proposal by Australian delegate Hodgson ,draft res.E/CN.4/15 and E/CN.4/21,p.89,,

13 R.Cassin:”LaDéclarationuniverselle et la mise en oeuvre des droits del’homme”,Collected

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During the period 1950-1954 the Commission on Human Rights worked diligently together with ECOSOC and the General Assembly on the issue. Due to different visions and interpretations between the Western and Eastern bloc, the General Assembly during its 6th ses-sion decided to draft two Covenants, one on civil and political rights and another on economic, social and cultural rights.14

In the US Senate, there was considerable opposition to enforceable rights in view of segregation policies and outlawing racial discrimi-nation was so difficult to realize that President Eisenhower had to abandon support for the two Covenants.15

In this connection one should not forget that the US Senate only ratified the Covenant on Civil and Political Rights on 8 June 1992 and entered into force for the US three months later.16

The Covenants were adopted on 16 December 1966 and entered into force in 197617.Courses of the Hague Academy of International Law”,vol.79,1951,pp.241-362;B.Mirkine-Guetzévitch:”Quelques problèmes de la mise en oeuvre de la declaration universelle des droits de l’homme”,Collected Courses,,vol.83,1953,pp.255-376;A.Verdoodt:”La Naissance et Signification de la déclarationuniverselle des droits de l’homme”,Louvain,1964;C.Malik:”The Drafting of the Universal Declaration of Human Rights”,Bulletin of Human Rights, vol.1,1986,UN Center for Human Rights, Geneva;A. CançadoTrindade:”Co-existence and Co-ordination of Mechanisms of Interna-tional Protection of Human Rights at the Global and Regional Level”,Collected Courses, vol.202, 1987,pp.21-428

14 G.A.Res.543(VI) of 5 February 1952

15 See Kaufman,Hevener and Witheman:”Opposition to Human Rights Treaties in the United States Senate:The Legacy of the Bricker Amendment”,Human Rights Quarterly,vol.10, Nr.3,August 1988,pp.309-337;C. Roberts:”Exploring the Fractures with Human Rights:An Empirical Study of Resistance”PHDDissertation,Ann Arbor, University of Michigan,2010

16 A de Zayas:”The Potential for US Ratification and Enforcement of the Covenants on Civil and Political Rights and Economic, Social and Cultural Rights”Georgia Journal of International and Comparative Law,vol.20,1990,pp.299-310. 102 Congress.Rec.4781-4784.The ratification was encum-bered by five reservations;five understandings, four declarations and one proviso. The International Covenant on Economic,Social and Cultural Rights Covenant was only signed by the American gov-ernment on 5 October 1977, but pressure by the Senate on subsequent administrations have prevented until now ratification of the Covenant.See also for the status of all ratifications www.ohchr.org treaty bodies,ratifications

17 Covenant on Economic,Social and Cultural Rights, GA Res.2200 A(xxi),21 UN GAOR

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The International Convention on the Elimination of All Forms of Racial Discrimination preceded the adoption of the two Covenants (18)18. Although President Johnson signed the Convention on 28 September1966, it was not transmitted to the Senate until President Carter did so in 1978. Neither President Reagan nor first President Bush supported ratification. The Clinton administration finally rec-ommended ratification and proposed three reservations, one under-standing and one declaration.19

These are two examples to show how domestic politics permeates the evolution of international human rights. It shows by the same token that international human rights law is in principle dependent on the willingness of national authorities to abide by international norms. However, this is a phenomenon not only limited to human rights law, but it is also recurrent in international criminal law and humanitarian law.

A major step forward in the evolution of international human rights law is the possibility of individuals, directly or through intermediar-ies, to obtain locus standing before human rights bodies. The primus inter pares is the Human Rights Committee which, by virtue of a Pro-tocol adopted on the same day as the Covenant on Civil and Political Rights, is authorized to consider complaints of individuals against their governments. Over 1500 complaints have filtered through the procedures since 1977. If the complaint is considered admissible, the Committee may pronounce so-called “views”. These are recommen-

Supp.(No .16) at 49,993 UNTS,3,entered into force on 3 January 1976;Covenant on Civil and Political Rights,at ibidem,999 UNTS 171, entered into force on 23 March 1976,both documents in A/6316(1966)

18 GA Res .2106 A adopted on 21 March 1965; entered into force on 4 January 1969;666 UNTS 195

19 140 Congress Rec.S .7634 dated 24 June 1994

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dations to the government in question to alleviate the situation of the individual concerned, but they remain recommendations, although the Committee follows-up on its views.20

Implementation of the Covenant on Economic, Social and Cultural Rights took a different venue. As the realization of these rights is rather progressive in venue, the ECOSOC in its resolution LX of 11 May 1976, invited state parties to the Covenant to submit to it, through the Secretary-General, reports on the measures that they had adopted and the progress they had made in achieving observance of the rights recognized in the Covenant and to indicate, when neces-sary, factors and difficulties affecting the degree of fulfillment of their obligations.

In order to assist in the consideration of such reports, the Coun-cil established by the same resolution, a sessional working group, and invited representatives of specialized agencies to take part in its proceedings when matters falling within their respective spheres of competence were considered.

By its decision 1981/158, the Council renamed the working group “Sessional Working Group of Governmental Experts on the Imple-mentation of the International Covenant on Economic, Social and Cultural Rights” and made some changes in its administrative ar-rangements.

The Working Group encountered some difficulties in establishing

20 The best book ever written on the jurisprudence of the Human Rights Committee under the Optional Protocol, giving detailed description of procedural requirements for locus standing as well as the practical implications for governments resulting from the views of the Committee is the book by JakobTh.Moller and Alfred M.de Zayas: “The United Nations Human Rights Com-mittee Case Law 1977-2008: A Handbook ( N.P.Engel Publishers,Kehl,Strassburg,,2009,ISBN 9783883571447,reviewed by Johannes van Aggelen in Human Rights Quarterly, vol.32,Nr.1, February 2010,pp .237-240

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its methods of work and in 1981 and 1982 its composition and orga-nization were modified by the Council.

In its resolution 1985/17 of 28 May 1985, the Council renamed the Working Group “Committee on Economic, Social and Culture Rights”.

The Committee is composed of 18 independent experts and serve as any other member of any other human rights treaty body in their individual capacity.

In view of the fact that the Committee was not established when the Covenant was adopted, the Committee is considered to have a quasi-judicial function. The Committee started its work in 1987.

Since 1988, the then chairman of the Committee, Prof. Philip Alston has been working on a protocol to the Covenant similar to that of the Covenant on Civil and Political Rights in order to give individuals and groups of persons locus standing before the Committee.

He submitted a detailed report to the Commission on Human Rights in 1997, but due to the progressive implementation of the rights en-shrined in the Covenant, the process took far more time to materialize and the General Assembly finally adopted the Protocol in 2008.21

Another feature of the formative years of human rights protection was the positive impact on the development of human rights by the members of the Sub -Commission on Prevention of Discrimination and Protection of Minorities.

Established by the Commission on Human Rights in 1947, the Sub-

21 Alston report: E/CN.4/1997/105; the Optional Protocol was adopted by the General Assembly by Resolution A/63/117. For an excellent survey on the history of the Optional Protocol see:Catarina de Albuquerque: “Chronicle of an Announced Birth: The Coming into Life of the Op-tional Protocol to the International Covenant on Economic, Social and Cultural Rights-The Missing Piece of the International Bill of Human Rights”, Human Rights Quarterly,vol. 32,No.1, February 2010,.pp144-178

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Commission was mandated in 1949 to undertake studies, particularly in the light of the Universal Declaration of Human Rights, and to make recommendations to the Commission on Human Rights con-cerning the prevention of discrimination of any kind relating to hu-man rights and fundamental freedoms and the protection of racial, national, religious and linguistic minorities.

The Sub-Commission really functioned as a think-thank for the Commission on Human Rights, but also stimulated the ever-increas-ing NGO community and civil society to ponder on the depth of in-ternational protection of human rights.

In the first 25 years of its existence, studies were carried out in the field of education, discrimination in matters of religious and politi-cal rights and practices, discrimination in respect of the right of ev-eryone to leave any country, including his own, and to return to his country, discrimination against persons born out of wedlock, equality in the administration of justice, racial discrimination, the question of slavery and slave trade in all their practices and manifestations, the rights of persons belonging to ethnic, religious and linguistic minori-ties, the problem of discrimination against indigenous populations, the question of prevention and punishment of the crime of genocide, exploitation of labor through illicit and clandestine trafficking, the adverse consequences for the enjoyment of human rights of assis-tance given to the then colonialist and racist regimes in southern Africa, the protection of human rights of non-citizens, the right to self-determination through the implementation of United Nations resolutions22

22 reference to many of the studies can be found on the homepage of ohchr.org under the successor of the Commission on Human Rights, namely the Human Rights Council; see for the forma-tive years of the Commission on Human Rights,HowardTolleyJr: “The UN Commission on Human

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In the formative years, the drafting of specific human rights took place in the Commission on Human Rights with feedback from the Sub-Commission, which sent its recommendations to the ECOSOC and the ECOSOC then forwarded the text to the General Assembly for adoption. In addition, the initial intent of drafting was the right to be adopted as a recommendation or declaration.

As an example, the Declaration on the Rights of the Child was ad-opted on 20 November 1959 in the form of a Declaration, only fol-lowed 30 years later by the adoption of a Convention. This process enables national jurisdictions to familiarize themselves with interna-tional obligations and has proven to be quite successful.

It is generally acknowledged that the formative years of human rights protection came to an end when the first international confer-ence on human rights was held in Teheran in May 1968.

It was the first moment of really stock- taking on the improvement of human rights protection in connection with the celebration of the 20th anniversary of the adoption of the Universal Declaration

The Proclamation of Teheran adopted on 13 May 1968 listed apartheid , forms of racial discrimination , the remaining pockets of colonialism and the massive effects of aggression , armed conflicts and occupation. 23

The Conference in paragraph 12 pointed to the widening gap be-tween economic developed and developing countries as the major obstacle to the realization of human rights. While the proclamation underlined the indivisibility of human rights, which had been regu-

Rights”, Westview Special Studies in International Relations, University of Cincinnati, 1987; see in general also “the United Nations and Human Rights, 1945-1995 section One, Subparagraphs II and III, United Nations, New York 1995

23 contained in A/Conf. 32/41

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larly expressed in General Assembly resolutions since 1952, para-graph 13 reminded the international community that “since human rights and fundamental freedoms are indivisible, the full realization of civil and political rights without the enjoyment of economic and social rights is impossible “.

III. The Second Phase of Human Rights Protection: implementa-tion of standards and refinement of the law.

This period covers approximately a quarter of a century and culmi-nated in the organization of the second world conference on human rights in Vienna.

It was not until the mid-1960s that states empowered the United Nations human rights program to monitor the implementation of con-ventions and to remedy gross and systematic violations of human rights outside conventional mechanisms.

Every year victims of human rights violations have sent the United Nations communications and petitions concerning these violations and in July 1959 the ECOSOC instituted a procedure which to a cer-tain extent allowed these complaints to be dealt with while respecting the principle of non-interference in States’ internal affairs.

This principle, contained in article 2 paragraph 7 of the UN Charter was championed by many countries including the ex-USSR, China and their allies, although one of the outstanding international lawyers of the first half of the 20th century, the late Hersch Lauterpacht, al-ready in the early days maintained that article 2 paragraph 7 did not apply to human rights protection.24

24 HerschLauterpacht: “International Protection of Human Rights”, Collected Courses,vol. 70(1947-I),pp. 5-107;ibid “International Law and Human Rights”, London, Stevens 1950; the proce-

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Under this procedure the Secretariat was instructed to compile a confidential list containing brief indications of the substance of each communication and any replies from governments concerned. This list was then circulated to the Commission on Human Rights and the Sub-commission. These bodies however, could not take any ac-tion pursuant to these communications which were treated with strict confidentiality.

In June 1967, following a recommendation by the Commission, the ECOSOC established a procedure for examination of human rights violations in particular at that time the apartheid practices in southern Africa and Rhodesia.25

Following the adoption of that resolution the Commission initiated a study of the mechanisms that the Commission and Sub- commis-sion could use to deal with communications by individuals and non-governmental organizations. This study resulted in the adoption of the confidential procedure under ECOSOC resolution 1503 adopted on 27 May 1970.

This procedure outlived the Vienna conference and was subse-quently reviewed by a working group of the Human Rights Council, which replaced the Commission on Human Rights in 2006. The new procedure established two distinct working groups, one on Situations and another one on Communications. It retains confidentiality and is victim-oriented and brings to the attention of the Human Rights Council consistent patterns of gross and reliably attested violations of human rights and fundamental freedoms.26

Beginning in the 1970s, additional conventions, which anticipated dure is known as ECOSOC resolution 728 F(XXIII) of 30 July 1959

25 ECOSOC resolution 1235( XLII) of 6 June 1967

26 HumanRights Council resolution 5/1(2007)

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the establishment of systems for monitoring standards-setting texts, began to be adopted. These conventions restated and refined a num-ber of the principles contained in the International Covenants. Each dealt with one specific type of right and articulated in more detail then in the Covenants, the preventive measures and sanctions to which contracting parties should have recourse.27

Parallel to the confidential procedure, the Commission on Human Rights gradually developed a consistent practice to publicly scruti-nize human rights violations in countries.

The first case examined was Chile following the overthrow of Al-lende by Pinochet. The Commission established a working group to launch an inquiry into the situation. In 1978, the working group was replaced by a Special Rapporteur, who was requested to submit an annual report. The Special Rapporteur’s mandate lasted until 1990 until Chile became a constitutional elected government. This initia-tive led to investigation of human rights violations by other South American countries under dictatorial regimes.

How power politics can interfere with human rights protection, shows the case of the third Director of the Human Rights Division, Dr. Theo van Boven, who was dismissed on 8 February 1982 from the United Nations by the then Secretary General of the United Nations, Mr.Javier Perez de Cuellar, under pressure from the then American Ambassador to the United Nations in New York, Mrs. Kirkpatrick. The Argentinian government had protested against the position taken by Dr.vanBoven on human rights violations in that country.28

27 see for a detailed list of human rights conventions elaborated over the last 60 years the websites of www.ohchr.org and un.org, under treaties.

28 I witnessed personally the event which took place at the opening of the 38th session of the Human Rights Commission. For a narrative account, see Theo van Boven and Hans Thoolen: “People Matter: Views on International Human Rights Policy”,Meulenhof, Amsterdam, 1982. The position of

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A quite exhaustive list of so-called country rapporteurs may be found on the website of the Office of the High Commissioner for Human Rights29…

Special Rapporteurs also played an increasing important role in ini-tiating measures to prevent or remedy violations of human rights in urgent cases. This procedure in turn was taken over by certain human rights bodies, such as the Committee on the Elimination of All Forms of Racial discrimination. The Office of the High Commissioner also maintains a so-called hot line to report urgent cases.

There is also coordination between human rights bodies and spe-cial procedures to enhance protection. Since 1984 the chairpersons of treaty bodies are meeting annually and since 1995 they are joined by mandate holders of special procedures.30

Alongside investigations of cases in specific countries, the Com-mission established a mechanism for examining certain particularly grave human rights violations in countries all over the world under so-called “thematic mandates”. The first one was the Working Group on Enforced for Involuntary disappearances, established by the Com-mission on 29 February 1980. Allegations that several thousand peo-ple had been victims of such practices made this issue of high priority for the Commission. The reports by the Working Group have gone far

the Secretary-General has been the subject of controversy. An early negative account was given by Shirly Hazard, who worked in the office of the first two secretary generals under the title “Defeat of an Ideal: a Study of the Self-Distruction of the United Nations”, Little Brown and Company, Boston, Toronto, 1973. After the vigorous defense of human rights by Dr. van Boven, the human rights Sec-retariat came into the limelight, which led Dr.Ramcharan to write an over- enthusiastic book entitled “Keeping Faith with the United Nations”,Nijhoff, the Netherlands, 1987. See for a recent, balanced book on the role of the Secretary-General of the United Nations: “Secretary or General? The UN Secretary-General in World Politics”,SimonChestermaned, New York 2007, reviewed by Dr.Johannes van Aggelen in Case Western Reserve Journal of International Law,vol. 42,No.3, 2010

29 www.ohchr.org

30 see the website www.ohchr.org

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beyond the scope of a single state to embrace a number of countries where such phenomena have been observed.

Once this mechanism had been put in place, it became possible to address other human rights violations. The next step was the ap-pointment in 1982 of a Special Rapporteur on questions related to extrajudicial, summary or arbitrary executions. This procedure is still in place and Prof. Philip Alston in his capacity as Special Rapporteur undertook a visit to Brazil in November 2007.31

Since 1986, the Commission has gone far beyond the scope of vio-lations of a natural person to address violations of fundamental free-doms by appointing Special Rapporteurs on the implementation of the Declaration on the Elimination of Forms of Intolerance and of Discrimination Based on Religion and Belief, and the Special Rap-porteur on the sale of children, child prostitution and child pornog-raphy.

The Special Rapporteur on the sale of children, child prostitution and child pornography visited Brazil under the old Commission man-date in November 2003.32

In the 1970s, the international human rights community started to be convinced that the achievement of progress in the implementation of all human rights was dependent upon sound and effective national and international policies of economic and social development. Nev-ertheless, this formulation, which was filled with ambiguity became a major source of controversy within the human rights bodies of the United Nations for almost two decades. These ambiguities included the following: what would be required in order to ensure the enjoy-31 A/HRC/11/2/Add. 2 dated 23 March 2009 and addendum A/HRC/8/3/Add.4 dated 14 May 2008

32 Doc. E/CN.4/2004/9/Add.2 dated 2 March 2004

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ment of economic and social rights; were states prepared to ensure the necessary combination of measures required, such as respecting and protecting the freedom of the individual to engage in economic activity, together with the adoption of the necessary measures for social justice; while the full enjoyment of civil and political rights might not be possible without some basic enjoyment of economic and social rights, do they give any justification for the government to adopt measures violating civil and political rights? If so, exactly which rights should be limited and how would that contribute to the realization of economic and social rights.

The Declaration on Social Progress and Development adopted by the General Assembly in 1969 can be seen as a significant step in the implementation of article 28 of Universal Declaration. This declara-tion brought attention to human rights as well as development issues. It stated that “man can achieve complete fulfillment of his aspirations only within a just social order”33

The Western approach concentrated on civil and political rights, while others took their inspiration from the Proclamation of Teheran, focusing on measures to transform social and international conditions in order to make enjoyment of human rights for all possible. From 1973, these two approaches were merged into one Agenda item by the Commission, entitled “Alternative Ways and Means for the pro-motion of human rights by the United Nations”.

By 1976, the dominant trend was to insist on structural changes as the major road to implementation of human rights. The right to development was first expressed in a resolution by the Commission in 1978.

33 General Assembly Res. 2542(XXIV) of 11 December 1969; see for the report doc. A/7630

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One of the landmark documents in this regard was the adoption, after 10 years of intense negotiations, of the Declaration on the Right to Development by the General. Assembly in December 1986.34

In the aftermath of the adoption of the declaration, a Global Con-sultation on the Right to Development as a Human Right to place in Geneva in January 1990.35

This issue remains high on the agenda as the Commission on Hu-man Rights established an Intergovernmental Working Group in 1998 to monitor and review progress made in the implementation of the declaration.36.

Under the Human Rights Council procedure, the 12th session of that working group will take place in May 2011 as requested by the Coun-cil in October 2010.37

The adoption of the declaration became the last important issue before the fall of the Berlin Wall, which facilitated much the con-vergence of different ideological positions towards the protection of human rights. The adoption of the Convention on the Rights of the Child took place less than two weeks after this event. It is hitherto the only human rights convention with universal ratification.38

IV. External Activities to Further Compliance with International Human Rights Law.

The first resolution concerning technical assistance in the field of

34 General Assembly Res. 41/128 dated 4 December 1986. The crucial final debate took place at the Commission’s session in March 1986 where finally a consensus could be reached.

35 See for the proceedings document HR/PUB/91/2

36 Commission resolution 1998/72

37 HRC resolution 15/25 dated 7 October 2010

38 General Assembly resolution 44/25 of 20 November 1989

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human rights was adopted in 1953. In 1955, the General Assembly decided to consolidate several technical assistance programs within a broad program of assistance in the field of human rights to be known as “advisory services in the field of human rights”. This program con-tained advisory services of experts, fellowships and scholarships for people who deal with human rights issues in their home countries and training courses and seminars on human rights topics. This program was renamed the “Technical Cooperation” program in 1988.39

The Commission on Human Rights through this program encour-aged the establishment and development of institutions and infra structures for promotion and protection of human rights at the region-al and national level. Many technical assistance programs, especially with developing countries have led to important results. The African Commission on Human and Peoples’ Rights was established in 1986 and the African Center for Democracy and Human Rights Studies as well as the Arab Institute of Human Rights were established in 1989 with a major input by the Human Rights Secretariat.

The question of the establishment of national commissions on hu-man rights has been on the agenda of the United Nations from its very inception. However, it was not until 1978 that the Commission on Human Rights induced governments to set up national human rights institutions. Guidelines were developed and one of the recommenda-tions was to study and keep under review the status of legislation, judicial decisions and administrative arrangements for the protection of human rights.40

39 see for a detailed survey” United Nations Action in the Field of Human Rights”, United Nations 1994, Chapter VI

40 Commission on Human Rights res.23( XXXIV) of 8 March 1978; see also the seminar on this issue contained in ST/HR/SER/A.2(1978)

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In 1991, following a report by the Secretary-General on concep-tual models of national institutions, a United Nations workshop was held in Paris where participants discussed the relationship between national institutions and states, the role of international, regional and non-governmental organizations.

The workshop led to the so-called Paris principles to guide national human rights institutions41.

Another growing trend during that period was to include human rights provisions in peace agreements. In the case of human rights in-stitutions, by drawing on international law notions of best practices, peace agreements underwrite international legal movement towards ideal-type institutional arrangements. International law influences peace agreements and vice versa.

Normally, peace agreements are aimed at reducing violence and sections on civil, political, social and economic rights are important to stimulate the local new infrastructure and to correct former human rights abuses.42

As an illustration, the peace agreements in Bosnia, Northern Ire-land and South Africa contained important human rights institutions as an integral part of the deal. It contained over arching justiciable rights, the establishment of constitutional or human rights courts, the independence of the judiciary, reform of the criminal justice system as well as reform of the police. 43

41 General Assembly Res.48/134 of 4 March 1994 ;further developments in A/RES.63/169 of 20 March 2009 on he role of the Ombudsman in national institutions

42 See in general “ Honoring Human Rights and Keeping the Peace”,Lessons from El Salvador,Cambodia and Haiti,Recommendations for the United Nations,Aspen Institute, 1995.Cristine Bell:”Peace Agreements and Human Rights”,Oxford University Press, 2000

43 Bell,Chapter 7;see for the current role of OHCHR in peace agreement the final chapter of this article

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So-called Truth Commissions also rely heavily on human rights procedures.

V. Second World Conference on Human Rights: from implementa-tion to mainstreaming human rights.

In the immediate aftermath of the fall of the Berlin wall, the Gen-eral Assembly requested the convening of a second world conference to evaluate overall progress made in the implementation of human rights.44

In accordance with resolution 45/155, a Preparatory Committee was established open to all states members of the United Nations, specialized agencies and other observers.

During its first session in September 1991 the committee decided to establish a provisional agenda and to request additional funds in order to accommodate representatives of developing countries. It was also decided to convoke three regional preparatory meetings.45

The second preparatory meeting took place in April 1992 with rep-resentatives of 125 states and the 77 NGOs. It was decided that one regional preparatory meeting would take place in Africa at the end of 1992, one in Latin America and one in Asia both to take place in early 1993. It was also decided that national human rights commissions could participate in the capacity of observers.46

It became clear that the conference should deal with the following

44 General Assembly resolutions 44/156 dated 15 December 1989 and 45/155 dated 18 december 1990

45 Doc.A/CONF/157/PC/13 of 20 September 1991.

46 Doc.A/CONF/157/PC/37 of 7 May 1992

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issues: the relationship between human rights, democracy and de-velopment, the impact of poverty on the enjoyment of human rights, national measures of implementation of human rights (judicial, leg-islative and administrative), improvement of the functioning of the human rights bodies, the relationship between international law, international human rights law and international refugee law, prin-cipal of equality and the problem of discrimination against vulner-able groups(indigenous populations and minorities), the rights of the child, the problem of sexual orientation, administration of justice and the rule of law and the establishment of programs in teaching human rights law.47

It is very encouraging that the Secretary-General of the World Con-ference openly invited non-governmental organizations to participate in view of their liberty of expression, flexibility of action which en-abled them to exercise a fundamental complementary function.48

The third session of the Preparatory Committee took place in Sep-tember 1992 and finalized the agenda for the world conference. The outcome also made clear that the conference should allow open de-bate between states, non-governmental organizations and civil soci-ety.49

The regional preparatory meeting for Africa took place in Tunis in November 1992. 42 African states and a great number of NGOs adopted a declaration and 14 resolutions by consensus. The declara-tion affirmed the universality of human rights and that the promotion

47 report of the Secretary-General on studies and documentation for the world conference, doc.A/CONF.157/PC/20 dated 26 March 1992

48 UN Center for Human Rights Newsletter vol.5,(1992)

49 Doc.A/CONF.157/PC/54 dated 8 October 1992; the provisional agenda for the world con-ference is contained in document A/CONF.157/1 dated 18 May 1993

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and protection of rights was independent of any political or economic system. It warned against new forms of extremism which would un-dermine the universal values of human rights.50

The regional meeting for Latin America took place in San Jose, Costa Rica in January 1993. The meeting did not adopt resolutions, but instead an extensive declaration in which it emphasized the rela-tionship between human rights, democracy and development. It also recognized the importance of coordination between the United Na-tions system and the Latin American human rights system. It sug-gested a study on the establishment of a “permanent commissioner for human rights”, but the declaration failed to refer to refugees and humanitarian law.51

The Asian Conference took place in Bangkok at the end of March 1993. It adopted a declaration in which reference was made to the richness and diversity of cultures and traditions of Asian countries. It also recalled the indivisibility of human rights and called on all states to ratify human rights conventions

The declaration, in addition, referred to vulnerable groups and the right to a clean environment. It called on the United Nations human rights program to rationalize its mechanisms in order to avoid dupli-cation.

The Conference had been proceeded by a large NGO meeting in which 240 representatives of 110 NGO’s participated. The NGO dec-laration went further than the official one adopted a few days later, in particular as far as cultural diversity and the universality of human

50 See Doc.A/.CONF.157/AFRM/14-A/CONF.157/PC/57

51 The declaration is contained in document A/CONF.157/LACRM/15-A/CONF.157/PC /58

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rights was concerned.52

In addition, a number of so-called satellite meetings were held in Island, Sintra (Portugal), Laguna (Canary Islands), New Delhi (In-dia), which proposed to establish a Human Rights Council), Barce-lona, Spain, Sydney (Australia) and Strasburg (France) between June 1991 and January 199353

The Conference took place from 14-25 June 1993.In his opening address, then UN Secretary-General Mr. Boutrous Ghali, outlined the following key questions for the Conference:

-What progress had been made since the Universal Declaration of 1948?

What are the obstacles and how are they to be over-come?

- How can the implementation of the human rights in-struments be enhanced?

- How effective are the methods and mechanisms es-tablished by the United Nations?

- What financial resources should be allocated for United Nations action to promote human rights?

- And, at a deeper level, what are the links between the goals pursued by the United Nations and human rights, including the link between development, democracy, and the universal enjoyment of economic, social, cul-tural, civil and political rights?54

The conference adopted the Vienna Declaration and Program of Action55 reaffirming the human right principles which constitute the

52 The declaration is contained in document A/CONF.157/ASRM/8- A/CONF.157/PC/59

53 See documents A/CONF.157/PC 6/Add 7 ;A/CONF.157/PC 7 and doc.A/CONF.157/PC 42; see for a detailed legal and narrative account:Antonio Augusto Cançado Trindade:”Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos,vol.I,2nd edition, Porto Alegre,2003,pp.177-201

54 Contained in doc.A/CONF.157/22 of 12 June 1993

55 Contained in doc.A/CONF.157/24 OF 25 June 1993

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95Stocktaking at the Evolution of the UN Human Rights Program

very foundation of the United Nations, in particular the universal-ity, objectivity, non-selectivity, interdependence and equality of those rights. As the subject of these rights and liberties, the individual was considered the main beneficiary of these rights.

The conference appealed to member states to ratify all human rights, limit the scope of reservation and eventually withdraw them.

The conference noted several key areas on which the organization should focus its effort in years to come. The document reaffirmed the right to development as a universal and inalienable right which should meet as well environmental needs of present and future gen-erations (para.11 of the Declaration) It stressed that the existence of widespread extreme poverty inhibits the full and effective enjoyment of human rights.

The human rights of women and children were considered an in-tegral and indivisible part of universal human rights. Gender-based violence and all forms of sexual harassment and exploitation, includ-ing those resulting from cultural prejudice and international traffick-ing, are incompatible with human dignity (para18.)

The Conference also was mindful of the problems relating to mi-norities and indigenous populations (para.19,20).

The Conference appealed to states to provide effective remedies to redress human rights grievances and violations. The administration of justice, including law enforcement, especially an independent ju-diciary, in full conformity with applicable standards of international human rights law, are essential to the full and non-discriminatory re-alization of human rights.(para.27)

The programs of advisory services and technical cooperation should be reinforced and states were called upon to increase their contribu-

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96 VII ANUÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL

tions to these programs (para.34)Regional arrangements also played an important role in promot-

ing and protecting human rights (para.37). The world conference also recognized the important role of non-

governmental organizations. It recognized their contribution to standard setting and called upon states to continue their dialogue.

The Program of Action of 100 paragraphs was divided into the following sections: increased coordination on human rights within the United Nations system, equality, dignity and tolerance, coopera-tion, development and strengthening of human rights, human rights education, implementation and monitoring methods and follow-up to the World Conference, in which it requested an annual review in this regard.

A review process took place in July 1998 at the coordination seg-ment of ECOSOC followed by a review by the General Assembly in November 1998 in which the implementation by states parties to human rights treaties was reviewed after the High Commissioner for Human Rights had submitted a report in which she emphasized the mainstreaming of human rights in all United Nations activities.

One of the most important recommendations to the General As-sembly was the request to establish the post of High Commissioner for Human Rights (para.18 of the program of action).

It should be recalled that this initiative was not new at all.As early as 1947, while drafting the Universal Declaration, the

Australian delegate proposed the creation of a post called Advo-cate- General or High Commissioner for Human Rights56.

The cold war brought the initiative to a hold for almost 30 years.56 Doc.E//CN.4 /AC.21/L1 at para.152; see a general discussion of this issue E/CN.4/SR.29 of 8 December 1947

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97Stocktaking at the Evolution of the UN Human Rights Program

In 1977, the General Assembly finally discussed reports by the Secretary-General from 197557 and proposed the establishment, un-der the authority of the Secretary-General, of a United Nations High Commissioner for Humans Rights.58

The Commission on Human Rights as well as the Sub- Commis-sion lingered for a few years on the question and a mandate was pro-posed by the Sub- commission in 198359.

It was not until 10 years later that the post was finally approved by the General Assembly.60

The United Nations-sponsored world conferences in the 1990s are excellent examples of the new trend of mainstreaming human rights. Although the United Nations organized many conferences before that period, there exists a structural difference between the period before and after the cutting-edge of the 90s. Previous conferences were or-ganized to tackle a particular issue, but no implementation proce-dures were envisaged.

The new trend in the 90s focused on a careful assessment of im-pacts long after the final documents were adopted through so-called “+5” follow-up conferences. Another reason for the new strategy is that many problems are so universal in nature that old forms of diplo-macy are inadequate and very often inappropriate. The fundamental

57 Documents A/10235;A/32/178; A/32/179

58 See for an academic approach to the issue the book by Roger Clark:” a United Nations High Commissioner for Human Rights”,MartinusNijhoff,The Netherlands,1972

59 Doc. E/CN.4/Sub .2/1983/43

60 GA Res 48/141 of 20 December 1993,see for a narrative account of the mandate ,B.Ram-charan : ‘The United Nations High Commissioner for Human Rights :The Challenges of International Protection”,MartinusNijhoff, The Netherlands,2002,see also M.Schmidt:”What Happened to the Spirit of Vienna??The Follow-up of the Vienna Declaration and Program of Action and the Mandate of the UN High Commissioner for Human Rights”,Nordic Journal of International Law,vol.64,1995,pp.591-617; A de Zayas:”United Nations High Commissioner for Human Rights”,Encyclopedia of Public Interna-tional Law,Max Planck Institute, Heidelberg,electronic edition,2010

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transformations in the international community paved the way for the transformation of epoch in the 21st century. It is our conviction that the outcome of the 1990 conferences would have been totally differ-ent if the Berlin wall had not fallen in November 1989.

The first conference in the series was the 1992 UNCED conference held in Rio de Janeiro. The United Nations conference on environ-ment and development, held in June 1992 produced a declaration and the daunting agenda: “Agenda 2161”

The declaration consists of 27 principles and links the right to de-velopment, sustainable development and environment. Agenda 21 addresses the pressing needs of today and aims at preparing the world for the challenges of the current century. It reflects global consensus and political commitment at the highest level on development and environmental cooperation. The programs constituting agenda 21 are described in terms of basis for action, objectives, activities and means of implementation.

The Rio conference also dubbed” the Earth Summit” influenced all subsequent conferences.

The mandate of the High Commissioner for Human Rights also provides an example of mainstreaming human rights as the High Commissioner is requested to coordinate human rights promotion and protection activities throughout the United Nations system.

The Cairo International Conference on Population and Develop-ment took place in September 1994. It adopted 15 Principles and a Program of Action62. The principles called for an improvement in the standard and quality of life, it noted that human beings are at the 61 Report of the conference contained in doc.A/CONF. 151/26/Rev.1 (vol.I) and ( vol.II) covering agenda 21 dated 1 January 1993

62 Report of the conference contained in doc. A/CONF.171/13 dated 18 October 1994

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center of concern for sustainable development, referred to vulnerable groups and reiterated that the right to development is a universal fun-damental human right. The program of action referred to universally recognized human rights standards, insisted upon poverty eradication as a major challenge in order to achieve sustainable development and called for compliance with treaties protecting the human person.

The follow-up of the conference noted that implementation of the program of action at all levels ought to be viewed as part of an inte-grated follow-up effort to major world conferences convened by the United Nations. The commitments made stretch over the period of 20 years and three bench mark reviews have taken place in 1999, 2004 and 2009.

The World Summit for Social Development took place in March 1995 in Copenhagen.63

This conference achieved a landmark shift by governments to sup-port policies that promote a people-centered framework for social development and justice. It focused on eradication of poverty, ex-pansion of productive employment and policies for social integra-tion. It is considered a centerpiece in a series of global conferences on development. The 125-page declaration and program of action represents the largest international consensus achieved on key social development priorities leading to a new agenda which places people and societies at the policy-making process. The critical innovation of the agreement was that several dimensions of social development endorsed by previous world conferences have been brought together for the first time into a coherent and integrated framework. It focused attention on vulnerable groups, including migrants, refugees and dis-63 Report of the World Summit for Social Development contained in document A/CONF.166/9 dated 19 April 1995

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100 VII ANUÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL

placed persons. It warned against the risks of social liberation and the need to promote social development in light of the observing of hu-man rights, setting forth a detailed agenda for law-making by states and for coordinated action by international organizations. The Gen-eral Assembly devoted in June 2000 a special session to the imple-mentation of the outcome of the summit and took further initiatives.

The fourth World Conference on Women took place in September 1995 in Beijing. The Beijing declaration and platform of action ex-pressed its determination to advance the goals of equality, develop-ment and peace for all women everywhere in the interest of humanity as well as to ensure respect for international law, including humani-tarian law, in order to protect women and girls in particular.64

Implementation of the platform of action required changes in val-ues, attitudes and practices and policies at all levels. Governments and United Nations agencies agreed to promote mainstreaming of a gender perspective in policies and practices. The conference called for greater interaction between key UN bodies focusing on wom-en’s issues. In paragraph 8 of the declaration reference was made to the Universal Declaration of Human Rights and other human rights treaties providing for equal rights and inherent human dignity for women. The platform of action warned against violence originating from certain cultural practices. Like other final documents of recent conferences, the platform so itself is part of the process of formation of the international agenda-centered on human beings, their needs and rights in the 21st century.

It was acknowledged that the key function of a longer-term confer-

64 Fourth World Conference on Women, 4-15 September 1995, Beijing China. The report is contained in document A/CONF.177/20 dated 17 October 19 95

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ence process is to highlight progress of individual nations by review-ing their national practices and policies as well as commitments. In June 2000, the General. Assembly devoted a special session to the implementation of the program of action.

The UN Conference on Human Settlements (Habitat II) took place in June 1996 in Istanbul. This conference was the last to shape the development agenda and the first to officially give a platform to civil society. The Habitat Agenda noted the interdependence of economic and social development and environmental protection.65

It affirmed the right of everyone to an adequate standard of living, including adequate food, clothing, water and sanitation and to contin-uous improvement in living conditions. The conference stated that its objectives were in full conformity with the purposes and principles of the United Nations Charter and international law, adding that to safeguard the interests of present and future generations in human settlements is one of the fundamental goals of the international com-munity. The agenda devoted special attention to vulnerable groups and people with special needs. It expressed the belief that obtaining the goals listed in the conference document would promote “a more stable and equitable world free from injustice and conflict”. The first human settlement conference had taken place in Vancouver in 1976, where strategies to mitigate the negative effects of rapid urbaniza-tion were outlined. Subsequently the General Assembly adopted the Global Strategy for Shelter to the year 2000 in 1988. The conference reached consensus on the issue of the right to adequate housing and pressed the office of the High Commissioner to have it recognized

65 The report of the conference is contained in document A/CONF.165/14 dated 7 August 1996

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as a human right. In June 2001, the General Assembly held a spe-cial session to consider progress made in the implementation of the agenda.

The World Conference against Racism, Racial Discrimination, Xe-nophobia and Related Intolerance took place in Durban in Septem-ber 2001 .

The Durban Declaration and Program of Action, unlike previous final documents, was totally victim-oriented. 66

The declaration singled out the dehumanizing conditions of ex-treme poverty to which more than 1 billion people were subjected and to which historical injustices had undeniably contributed. The program of action also addressed itself to vulnerable groups, such as members of minorities, persons subjected to marginalization and social exclusion. They should be able to fully and effectively benefit from all human rights and fundamental freedoms without distinction and in full equality before the law. It also urged states to incorporate a gender perspective in all programs of action against racism and racial discrimination, xenophobia and related intolerance.

The conference urged states to take or strengthen measures, includ-ing through bilateral or multilateral cooperation, to address the root causes, such as poverty under development and lack of equal oppor-tunity, which could be associated with discriminatory practices.

It is indeed a bad turn of history that the conference finished only a few days before 9/11, which put all the commitments made in jeop-ardy for the next decade. The review conference which took place in April, 2009 in Geneva, could not change the minds of delegations and was considered by many a failure.66 The report of the conference is contained in document A/CONF.189/12 dated 1 January 2002

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103Stocktaking at the Evolution of the UN Human Rights Program

A brief overview of these conferences was considered necessary to demonstrate the new holistic approach to human rights after the Vienna conference which is also evident in the UN reform propos-als by former Secretary-General Kofi Annan.67

In this very detailed report on visions for the future, Mr.Annan cor-rectly the finger on the weak spot when he wrote “we will not enjoy development without security and security without development and we will not enjoy either without respect for human rights ( para.17 of the main report).

VI. The Current State of Affairs: human rights protection dur-ing the first decade of the new millennium.

In September 2000, heads of state and governments held a summit in order to take stock at what United Nations could do to alleviate the most urgent needs of the world’s population. They adopted the so-called “Millennium Declaration” which contained fundamental values for the 21st century. They are liberty, equality, solidarity, tol-erance, respect for nature and common responsibility.68

They also adopted so-called 8 Millennium Development Goals to be attained in full by the year 2015. They are eradicating extreme poverty and hunger; achieving universal primary education; promote gender equality and empowerment of women; reduce child mortal-ity; improve maternal health; combat HIV/AIDS, malaria and other

67 “ Strengthening of the United Nations: an Agenda for further Change”, contained in document A/57/387 dated 9 September 2002; “ High-level Panel Report on Threats, Challenges and Change” contained in document A/59/565 dated 2 December 2004; “In Larger Freedom: Towards Development and Security : Follow-up of the Millennium Summit”, contained in document A/59/2005 dated 21 March 2005 +Add.1-3

68 Millenium Declaration ,A/ RES/55/2 of 8 September 2000, paragraph 6

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diseases; ensure environmental sustainability and creating a global partnership for development.

Recently, the General Assembly convoked another summit to con-sider what progress had been made and what obstacles still have to be superseded.69

In September 2005, honoring the so-called +5 review conference cycle, heads of state and governments once more met in New York. In a very long resolution, containing 178 paragraphs, they affirmed the millennium declaration and recognized the valuable function of con-ferences and summits at the highest level in the economic and social area. The final document also reaffirms the universality, indivisibility, interdependence and interrelation of all human rights.70

This summit was also to consider the reports on UN reform submit-ted by the former Secretary-General in order to optimize and rational-ize the functioning of the United Nations.

One of the addenda to his main report of 2005 contained a Plan of Action by the High Commissioner for Human Rights putting in place measures to combat human rights problems caused by poverty, dis-crimination, conflict, impunity and institutional weaknesses.71

The plan contained the following proposals:-greater country engagement through expansion of

geographical desks, the selection of more staff for coun-tries and regions; human rights capacity building; and providing advice to transitional justice systems and the rule of law.

-enhanced leadership, greater interaction with UN

69 Report entitled “Keeping the promise : United to Achieve the Millennium Development Goals”, A/RES/65/1 dated 22 September 2010

70 Final document of the 2005 World Summit, contained in A/RES/60/1 dated 16 September 2005

71 contained in document A/59/2005 Add. 3 dated 26 May 2005

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105Stocktaking at the Evolution of the UN Human Rights Program

bodies, system wide human rights consulta-tions, the establishment of an annual the-matic human rights report and revitalize the global campaign for human rights in order to reduce poverty and implement the Millen-nium Development Goals

-a closer relationship with civil society and the UN agencies; entertaining a rights-based approach in human rights activities and guidance to resident coordinators on human rights issues

-convoking an intergovernmental meeting to consider the possibility to establish a uni-fied standing human rights treaty body

-increase in staff and staff training and the establishment of a field rotation system for staff at headquarters

As a result of this plan of action, the external activities of the office of the High Commissioner increased enormously.

There are currently human rights advisers to 12 UN country offices: Bolivia, Cambodia, Colombia, Guatemala, Guinea, Mauritania, Mexico, Nepal, the Occupied Palestin-ian territories, Kosovo, Togo and Uganda.

In addition, the High Commissioner’s office has estab-lished regional offices in East Africa, Southeast Asia, the Middle East, Central Asia, West Africa, Latin America and the Southern Pacific.

The office currently works very closely with the Depart-ment of Peace Keeping Operations in that it furnishes hu-

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man rights components in Peace Missions. Currently there are human rights components in Afghanistan, Burundi, Central African Repub-lic, Chad, Côte d’Ivoire, Democratic Republic of Congo Ethiopia/Eritrea, Georgia/Abkazia, Guinea- Bissau, Haiti, Iraq, Liberia, Sierra Leone, Somalia, Sudan and Timor-Leste.

In the meantime, the election process and functioning of the Com-mission on Human Rights had come under severe criticism by gov-ernments, intergovernmental organizations, non-governmental orga-nizations and civil society.

Representatives of countries which did not respect human rights were elected to key positions which led the United States to withdraw from the Commission in 2002 to return one year later.

This unfortunate process led the General Assembly to adopt the a resolution in March 2006 to establish the Human Rights Council to replace the Commission on Human Rights.72

The Council consists of 47 members of which six come from Latin America instead of 53 members of the old Commission and meets four times a year. As with the old commission, special sessions on specific topics can be organized.

The Council at its fifth session in June 2007, instituted a new pro-cedure, the so-called “Universal Periodic Review” or UPR to which all members of the United Nations are subjected over a period of four years which coincides with the request of the General Assembly to review the work and functioning of the Council in 2011.73

It is interesting to note that Brazil was selected for the first meeting on the UPR in April 2008.72 Res. A/RES/60/251 dated 15 March 2006

73 Human Rights Council Resolution 5/1 entitled “Institutional-building of the Human Rights Council dated 18 June 2007 giving a detailed requirement for the functioning of the UPR

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The review of Brazil followed the following process:First, Brazil presented a national report which was

compiled after consultation with various ministries, non-governmental organizations and civil society, in-cluding a public session of the Senate74. Brazil expected that these periodic reports would not only increase the critical analysis of compliance of states with their obli-gations under international human rights law, but also would promote constructive dialogue in order to over-come challenges.

Subsequently, the office of the High Commissioner prepared a compilation of information contained in the reports of treaty bodies, special procedures, including observations and comments by the state concerned and other relevant official United Nations documents.75

The office of the High Commissioner also prepared a summary of stakeholders’ submissions to the Universal Periodic Review process76

Then, representatives of three countries are selected to prepare questions for the meeting. This is called the “troika”. The countries for Brazil were Gabon, Saudi Arabia and Switzerland. In addition, a list of written questions were received from Ireland, Germany, Portu-gal, Denmark, Italy and Sweden.

During the meeting which took place on 11 April 2008, 44 countries took part in the interactive dialogue with Brazil.

The final document contained 15 recommendations77:

Prison conditions should be improved; the crimi-nal justice system, including the juvenile should be reformed;violence and extrajudicial killings by state

74 Document A/HRC/WG.6/1/BRA/1 dated 7 March 2008

75 Document A/ /HRC/WG.6/1/BRA/2 dated 31 March 2008

76 In the case of Brazil there were 22 submissions, see document A/HRC/WG.6/1/BRA/3 dated 6 March 2008

77 contained in document A/HRC/8/27 dated 22 May 2008

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military police should be investigated; human rights de-fenders should have more protection; violence against women should be investigated; child and slave labor should be abolished,; there should be no impunity for human trafficking and corruption,; the recommenda-tions by the Committee against Torture and the Human Rights Committee should be implemented and serious violations of human rights should become federal law.

In addition, national should be established in conformity with the Paris principles.

At the end of the meeting Brazil committed itself to establish an-nual reports on human rights and create a national system of human rights indicators.

VII. Concluding remarks

The evolution of human rights protection at the international level is steadily growing. Nevertheless, it remains up to states to imple-ment their international commitments at the national level. Indeed, the number of ratifications of international instruments is constantly on the rise and some are almost universally ratified. There are cur-rently nine supervisory human rights bodies as the refinement of the law also continues.

It is difficult to make a prognosis whether the Human Rights Coun-cil will be an improvement in comparison with the old Commission. The review of its activities in 2011 could become a benchmark.78

A major obstacle remains the supervisory functions of human rights

78 See Carlos Villan-Duran : “Lights and Shadows of the Human Rights Council”,SUR, International Journal of Human Rights, São Paulo, vol. 5 , 2007; Analytical Assessment of UPR 2008-2010 available at UPR.info.org;B.Ramcharan : “The Protective Concept of the Human Rights Council” in International Criminal Law and Human Rights,Manoj Kumar Sinha edi-tor ,ManakPublications,NewDehli, 2010

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109Stocktaking at the Evolution of the UN Human Rights Program

treaty bodies. Is it possible to streamline guidelines of all treaty bod-ies and will the creation of single super treaty body, analyzing all reports by existing treaty bodies not be more wishful thinking than a reality check?

It is far too early to predict the viability of yet another world con-ference on human rights, but the United Nations program of human rights over the last couple of decades has done much to change per-ceptions about human rights protection in states, intergovernmental organizations and foremost civil society. Human dignity remains the centerpiece of human rights protection and a daunting project has recently seen the light called “2048: Humanity’s Agreement to Live Together”79

As the first High Commissioner for Human Rights, Mr.Jose Ayala Lasso stated in a preface: “Human rights are a permanent vocation. Even after the wonderful work of codification by the United Nations and of the regional human rights commissions and courts, reflection goes on because we need better mechanisms of implementation, such as the World Court of Human Rights envisaged by project 2048. This is a noble task that should reflect the views of all of humanity, includ-ing the approaches of the thinkers and the lawyers of Central and South America”.

Dr.Johannes van Aggelen Brasilia, 31 January 2010

79 J . Kirk Boyd : “2048 : “ Humanity’s Agreement to Live Together”, The International Movement for Enforceable Human Rights,,Berrett-Koehler Publishers, San Francisco, 2010 see the website 2048 project.org

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111Contratos Internacionais e os (Futuros) Princípios da Haia: Desafios da Aplicação e Interpretação do Direito Não-Estatal (Non-State Law)

Contratos internacionais e os (futuros) Princípios da Haia: desafios da aplicação e interpretação do direito não-estatal

(non-state law)

Lauro Gama Jr.1

Geneviève Saumier2

Em 2009, a Conferência da Haia sobre o Direito Internacional Privado3decidiu elaborar um instrumento de soft law – por definição, não-vinculante – sobre a escolha do direito aplicável aos contratos comerciais internacionais. Para esse fim, nomeou um Grupo de Trabalho (“GT”) formado por cerca de vinte especialistas em contratos e arbitragem comercial internacional.4

1 * Doutor em Direito Internacional (USP); Professor-adjunto, Direito Internacional Privado e Contratos, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); Diretor do Comitê Brasileiro de Arbitragem (2010-2013); advogado no Rio de Janeiro e São Paulo; Membro do Grupo de Trabalho dos (futuros) Princípios da Haia. Os autores agradecem aos acadêmicos Maria Letícia Alencar, Adriana Lacombe e Filipe Seixo pela tradução, para o idioma português, de uma versão anterior deste artigo, escrita em inglês, e que pode ser encontrada no seguinte endereço eletrônico: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1971302>.

2 **Doutora em Direito (Cambridge); Professor-associado, Faculty of Law, McGill University; advogada inscrita na Quebec Bar. Membro do Grupo de Trabalho dos (futuros) Princípios da Haia.

3 A Conferência da Haia sobre o Direito Internacional Privado é uma organização inter-governamental de caráter global. Criada em 1893, tornou-se uma organização permanente em 1955, quando da entrada em vigor do seu Estatuto. A missão da Conferência da Haia consiste na “progressiva unificação” das regras de Direito Internacional Privado. Isso inclui a construção de consensos internacionais em torno de questões como jurisdição dos tribunais, direito aplicável, e o reconhecimento e execução de sentenças estrangeiras em um variado campo de domínios jurídicos, que vão desde o direito commercial e o direito bancário ao direito processual internacional; e desde a proteção das crianças até temas ligados ao casamento e ao estado das pessoas. Para maiores informações, veja: <www.hcch.net>.

4 O Grupo de Trabalho é formado por: Neil B. COHEN, Professor of Law, Brooklyn Law School (U.S.A); Hon. Justice Clyde CROFT, Supreme Court of Victoria, Melbourne, Australia; Sibidi Emmanuel DARANKOUM, Professor of Law, University of Montreal (Canada); Andrew DICKINSON, Visiting Fellow in Private International Law, British Institute of International & Comparative Law; Solicitor Advocate, Consultant to Clifford Chance LLP, London, United Kingdom; Ahmed Sadek EL KOSHERI, Partner of Kosheri, Rashed & Riad, Legal Consultants & Attorneys at Law, Cairo, Egypt; Bénédicte FAUVARQUE-COSSON, Professor of Law, University Paris II Panthéon-Assas, France;

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Neste artigo, procuramos examinar as principais questões enfrentadas pelo Grupo de Trabalho no tocante à aplicação do direito não-estatal (non-state law) aos contratos internacionais. Tal aplicação se torna possível e efetiva através da escolha, pelas partes, de regras de direito (“rules of law”)para reger os vários aspectos do contrato. Em particular, analisamos os argumentos favoráveis à proposta, finalmente aceita pelos integrantes do GT, de conferir às partes a faculdade de designar normas não-estatais como direito aplicável às suas relações contratuais, independentemente de terem elas concordado em submeter eventual disputa à arbitragem.

I. IntroduçãoII. Devem os (futuros) Princípios da Haia permitir que as

partes escolham regras não-estatais (incluídas na noção de regras de direito)para reger o contrato internacional?

Opção 1) Limitar a possibilidade de escolha do direito não-estatal ao contexto da arbitragem;

Opção 2) Permitir a designação do direito não-estatal

Lauro GAMA Jr., Advogado especializado em direito internacional e arbitragem comercial; Professor-adjunto, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil; Francisco J. GARCIMARTÍN ALFÉREZ, Professor of Law, University of Rey Juan Carlos, Madrid, Spain; Daniel GIRSBERGER, Professor, University of Lucerne, Law School, Switzerland; Yujun GUO, Professor of Law, Wuhan University, China; Marielle E. KOPPENOL-LAFORCE, Professor of Law, University of Leiden; Lawyer (International Contracts and Litigation), Houthoff Buruma, Amsterdam, Netherlands; Dieter MARTINY, Professor Em. of Law, Max-Planck-Institut für ausländisches und internationales Privatrecht Mittelweg, Hamburg, Germany; Campbell McLACHLAN, Professor of Law, Victoria University of Wellington, New Zealand; José Antonio MORENO RODRÍGUEZ, Professor, CEDEP – Centro de Estudios de Derecho, Economía y Política, Asunción, Paraguay; Jan L. NEELS, Professor of Private International Law, Faculty of Law, University of Johannesburg, South Africa; Yuko NISHITANI, Associate Professor, Max-Planck-Institut für ausländisches und Internationales Privatrecht, Hamburg, Germany; Richard F. OPPONG, Lecturer in Law, Lancaster University, Law School, Lancaster, United Kingdom; Geneviève SAUMIER, Professor of Law, McGill University, Faculty of Law, Canada; Ivan ZYKIN, Vice-Chair of the International Commercial Court of Arbitration, Chamber of Commerce and Industry of the Russian Federation, Moscow, Russia.

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independentemente do método de resolução de disputas escolhido pelas partes;

Opção 3) Silenciar, nos Princípios da Haia, quanto à aplicação do direito não-estatal.

III. “Direito não-estatal” e “Regras de Direito”: definições e limitações

IV. Os (futuros) Princípios da HaiaV. Conclusões

I. Introdução

É óbvio que, nos estreitos limites deste artigo, não pretenderemos revisitar as bases teóricas da autonomia da vontade. Por isso, partimos da ideia convencional segundo a qual tal princípio se eleva ao status de conceito basilar do Direito Internacional Privado, permitindo às partes que figuram em contrato internacional desfrutar do poder de eleger a lei aplicável às suas relações.

Além disso, consideramos que a autonomia da vontade, presente em diversas culturas jurídicas mundo afora, goza atualmente de sólidas justificativas, quer fundadas na clássica liberdade geral de contratar e definir o conteúdo do contrato, quer no respeito que se deve render às expectativas razoáveis e legítimas das partes,5à eficiência econômica ou à necessidade de identificar um direito que seja neutro em relação às partes de um contrato internacional. Daí podermos adotar como premissa que o princípio da autonomia

5 Veja, por exemplo: P. E. Nygh, “The Reasonable Expectations of the Parties as a Guide to the Choice of Law in Contract and in Tort”, 251-1995, Recueil des cours, p. 297: “As part of that freedom to determine the terms and conditions of their contract, the parties also have the freedom to choose the applicable law. The principle of autonomy of the will of the parties represents the clearest expression of the ‘legitimate expectations of the parties’.”

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da vontade das partes (“party autonomy”) desfruta de suficiente maturidade para integrar todo e qualquer sistema contemporâneo de Direito Internacional Privado.

Este foi, precisamente, o ponto de partida para a elaboração dos Princípios da Haia sobre a Escolha do Direito Aplicável aos Contratos Internacionais, um projeto idealizado pela Conferência da Haia de Direito Internacional Privado.6

Sua gênese coincide com a celebração, em 2005, da Convenção da Haia sobre Acordos de Eleição de Foro, que ratificou a tendência de promover a autonomia da vontade nos contratos internacionais.7 A partir da daí, o Conselho da Conferência da Haia recomendou à Secretaria Permanente, em 2006, que prosseguisse nos estudos de viabilidade de um novo instrumento, de caráter universal, sobre a escolha da lei aplicável aos contratos internacionais,8 já que os instrumentos regionais existentes, embora dotados de boa técnica legislativa, exibem aceitabilidade bastante distinta: veja-se, por exemplo, a Convenção Interamericana sobre o Direito Aplicável aos Contratos Internacionais (México, 1994) e a Regulamento 593/2008, da União Europeia (mais conhecido como “Regulamento

6 Para uma visão geral do projeto, veja: The PermaNeNT Bureau of The hague CoNfereNCe oN PrivaTe iNTerNaTioNal law, “Choice of Law in International Commercial Contracts: Hague Principles?”,Unif. L. Rev./Rev. dr. unif, 3-4,2010, pp. 883. French version: “Choix de la loi applicable aux contrats du commerce international: Des Principes de La Haye?”, Rev. crit. DIP, 99:1, 2010, pp. 83-102; Spanish version: “Elección de la ley aplicable a los contratos de comercio internacional: ¿Principios de La Haya?” in: J. Basedow / D.P. Fernández Arroyo / J.A. Moreno Rodríguez (eds.), ¿Cómo se codifica hoy el derecho comercial internacional?, Asunción, CEDEP, 2010, pp. 341-363. Para dados mais atualizados do projeto, veja: The PermaNeNT Bureau of The hague CoNfereNCe oN PrivaTe iNTerNaTioNal law, “Choice Of Law In International Contracts - Development Process Of The Draft Instrument (Prel. Doc.No 6)”, February 2011 (todas as referências a documentos produzidos pela Conferência da Haia acham-se disponíveis online no seguinte endereço: www.hcch.net - “Work in Progress” e, após, “International Contracts”).

7 Embora já assinada pela União Europeia, Estados Unidos e México, a Convenção apenas foi ratificada por este último. Para maiores informações, vide: www.hcch.net

8 “Feasibility Study on the Choice of Law in International Contracts - Report on Work Carried Out and Preliminary Conclusions (Prel. Doc. No 22 A)”, March 2007.

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Roma I”). Na sequência dos estudos preparatórios efetuados pela Secretaria

Permanente da Conferência da Haia, da análise de questionários enviados aos seus mais de 70 Estados-membros e organizações internacionais, como a Câmara de Comércio Internacional (“CCI”), e após uma série de relatórios preliminares, produzidos entre 2007 e 2009,9 o Grupo de Trabalho foi nomeado em fins de 2009. Seu mandato restou assim definido pelo Conselho de Direção da Conferência da Haia:

O Conselho convidou a Secretaria Permanente a dar continuidade ao trabalho de promoção da autonomia da vontade das partes em matéria de contratos comerciais internacionais. Em particular, a Secretaria Permanente foi convidada a formar um Grupo de Trabalho composto por especialistas nas áreas de direito internacional privado, direito do comércio internacional e arbitragem internacional a viabilizar o desenvolvimento de um projeto de instrumento não-vinculante por este Grupo de Trabalho.10

O Grupo de Trabalho reuniu-se, presencialmente, em janeiro e novembro de 2010, e, mais recentemente, em junho de 2011, na sede da Conferência da Haia. Para auxiliar nas suas discussões e deliberações, seus membros foram divididos em

9 ”Feasibility Study on the Choice of Law in International Contracts - Overview and Analysis of Existing Instruments (Prel.Doc.No 22 B)”, March 2007; “Feasibility Study on the Choice of Law in International Contracts - Special Focus on International Arbitration (Prel.Doc. No 22 C)”, March 2007; “Feasibility Study on the Choice of Law in International Contracts - Report on Work Carried Out and Suggested Work Programme for the Development of a Future Instrument (Prel. Doc.No 7), March 2009 (todos disponíveis online no endereço: www.hcch.net).

10 “Report of the Council on General Affairs and Policy of the Conference of 31 March to 2 April 2009 (Prel.Doc.No 1)”, December 2009.

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Subgrupos, incumbidos de preparar documentos preparatórios para as reuniões, nos quais se definiram posições de política normativa e propostas objetivas. Esses documentos foram a base das discussões havidas nas reuniões, que culminaram na elaboração da primeira minuta dos Princípios da Haia, em fins de 2011. Depois de uma revisão formal e estilística, essa minuta e um breve documento descritivo das posições adotadas pelo GT serão submetidos à consideração do Conselho Diretor da Conferência de Haia, em abril de 2012.

Nosso breve artigo baseia-se em dois documentos preparatórios, elaborados pelo Subgrupo que integramos,11e nos quais examinamos as implicações relacionadas à escolha de um direito não-estatal para reger o contrato internacional. Esse trabalho também se inspira nas deliberações do Grupo de Trabalho e na minuta de instrumento a ser submetida, em breve, ao Conselho Diretor da Conferência da Haia. É evidente que os pontos de vista e opiniões aqui apresentados são da exclusiva responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a visão de outros membros do Subgrupo, do Grupo de Trabalho ou da Conferência da Haia.

O Subgrupo incumbido do direito não-estatal foi instado a responder à seguinte questão: devem os Princípios da Haia permitir que as partes escolham um direito não-estatal para reger seu contrato? Em caso afirmativo, impõe-se uma nova indagação: devem os Princípios de Haia definir o que é – e o que não é – “direito não-estatal”?12 Em outras palavras, que tipo de direitos não-estatais,

11 O Subgrupo também era integrado por Emmanuel Daramkoum, para o primeiro relatório (maio de 2010), e José Moreno Rodriguez, para o segundo relatório (junho de 2011). Todavia, esse trabalho reflete apenas as visões e opiniões de seus co-autores, formuladas a partir de dois relatórios (ainda não publicados) submetidos à Secretaria Permanente.

12 A questão da incorporação por referência do direito não-estatal não foi enfrentada neste

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regras e normas poderão as partes eleger? A seguir, abordaremos essas e outras questões.

II. Devem os(futuros) Princípios da Haia permitir que as partes escolham regras não-estatais (incluídas na noção de regras de direito)para reger o contrato internacional?

No que tange à questão principal – i.e., se os Princípios de Haia devem chancelar a possibilidade de as partes em um contrato internacional designarem normas não-estatais para regê-lo – três alternativas logo se delinearam : poder-se-ia cogitar de (i) limitar a possibilidade de escolha do direito não-estatal ao contexto da arbitragem; de (ii) permitir a designação do direito não-estatal independentemente do método de resolução de disputas escolhido pelas partes; ou, ainda, de (iii) silenciar, nos (futuros) Princípios da Haia, quanto à aplicação do direito não-estatal.

Embora o Grupo de Trabalho se haja inclinado pela segunda alternativa,13será proveitoso examinar em detalhe todas as três opções que se lhe apresentaram.

Opção 1) Limitar a possibilidade de escolha do direito não-estatal ao contexto da arbitragem

Esta opção reflete o status quoda matéria, quer no plano

projeto da Conferência da Haia, eis que não equivale à escolha de um direito não-estatal como aplicável ao contrato.

13 Report on the Second Meeting of the Working Group on Choice of Law in International Contracts (15-17 November 2010), p. 3 (disponível online).

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internacional, quer nos direitos nacionais. Atualmente, a imensa maioria dos instrumentos que regulam a arbitragem permite a escolha de regras de direitopara disciplinar o mérito do litígio.14 Esse conceito, como se sabe, inclui a aplicação ao contrato internacional tanto das normas do direito estatal como das regras de direito não-estatal.

Por outro lado, a imensa maioria dos ordenamentos nacionais e dos instrumentos internacionais sobre o tema proíbem– ou, pelo menos, não admitem clara e expressamente – a escolha de normas não-estatais para reger o contrato internacional. E isso se dá, especificamente, quando as controvérsias entre as partes contratantes são submetidas a um juízo estatal.15 E assim se dá porque, perante órgãos do judiciário somente o direito estatal eleito pelas partes é levado em consideração na solução do litígio contratual (supondo-se, ainda, que seja reconhecido às partes o direito de escolher a lei aplicável ao contrato). Em outras palavras, o direito não-estatal escolhido pelas partes normalmente não terá vez na solução da controvérsia, a menos que as partes também tenham ajustado uma convenção de arbitragem.

Essa posição, que é dominante, reflete mudanças que ocorreram no direito da arbitragem nos últimos quarenta anos, tudo como demonstra a seleção que fizemos de leis nacionais de arbitragem e de regras arbitrais aprovadas por instituições e organizações internacionais.

Vejamos, em primeiro lugar, uma relevante fonte internacional: os instrumentos de arbitragem elaborados pela Comissão das Nações

14 Prel. Doc. No 22 C (nota 4).

15 L. gaNNagé. « Le contrat sans loi en droit international privé », 11.3 Electronic Journal of Comparative Law, 2007, pp. 12 ss., disponível em : <www.ejcl.org>.

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Unidas para o Direito do Comércio Internacional (CNUDCI/UNCITRAL).16 Suas referências à lei aplicável ao mérito da arbitragem exibem nitidamente a evolução do tratamento do tema em direção à possibilidade de escolha de um direito não-estatal, ora adotada em Haia. Em especial, confira-se abaixo as duas versões, de 1976 e de 2010, das Regras de Arbitragem da UNCITRAL:

Regras de Arbitragem da UNCITRAL (1976)Artigo 33 1. O tribunal arbitral aplicará a lei que as partes tenham designado

como aplicável ao mérito do litígio. Caso as partes não indiquem a lei aplicável, o tribunal arbitral aplicará a lei determinada segundo as normas de conflito de leis que estime aplicáveis.

(grifos nossos)

Regras de Arbitragem da UNCITRAL (2010)Artigo 351. O tribunal arbitral aplicará as regras de direito que as partes

tenham designado como aplicáveis ao mérito do litígio. Caso as partes não indiquem as normas de direito aplicáveis, o tribunal arbitral aplicará a lei que estime apropriada.

(grifos nossos)

Foi em 1985, com a publicação da Lei-Modelo da UNCITRAL sobre Arbitragem Comercial Internacional, que se passou a adotar a expressão “regras de direito”, em lugar de “lei” aplicável. O Comentário Oficial ao artigo da Lei-Modelo assim

16 Sobre o trabalho da CNUDCI/UNCITRAL, veja-se: www.uncitral.org

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justificou a modificação:(...) Ademais, ao se referir à escolha de “regras de direito” e não

de uma “lei”, a Lei-Modelo amplia o leque de opções disponíveis para a partes no que tange à escolha das normas de direito substantivo aplicáveis ao mérito da controvérsia, porquanto as partes podem, por exemplo, eleger de comum acordo normas de direito que tenham sido elaboradas por um organismo internacional, e que, no entanto, ainda não tenham sido incorporadas a nenhum ordenamento jurídico nacional. As atribuições do tribunal arbitral, por outro lado, se ajustam a pautas mais tradicionais. Quando as partes não tenham designado a lei aplicável, o tribunal arbitral aplicará a lei, é dizer a lei nacional, que determinem as normas de conflitos de leis que estime aplicáveis.17

A mudança empreendida pela UNCITRAL em seus instrumentos sobre arbitragem, ampliando a noção de direito aplicável, foi determinante para subsidiar a formulação de uma regra que possibilitasse a escolha dirigida a normas de direito não-estatal.

Além do mais, tais instrumentos serviram de modelo para outros organismos, como evidencia a evolução experimentada, a partir de 1988, pelas Regras de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional (CCI):

ICC Arbitration Rules (1988)Artigo 133. As partes terão liberdade para determinar a lei a ser aplicada

pelo árbitro ao mérito da disputa. Na ausência de indicação pelas

17 http://www.uncitral.org/pdf/spanish/texts/arbitration/ml-arb/ml-arb-s.pdf

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partes da lei aplicável, o árbitro aplicará a lei designada como competente pelas regras de conflito que julgue apropriadas.

ICC Arbitration Rules (1998) Artigo 17 Regras de direito aplicáveis ao mérito

1. As partes terão liberdade para escolher as regras jurídicas a serem aplicadas pelo Tribunal Arbitral ao mérito da causa. Na ausência de acordo entre as partes, o Tribunal Arbitral aplicará as regras que julgar apropriadas.

ICC Arbitration Rules (2012) Artigo 21Regras de direito aplicáveis ao mérito

1. As partes terão liberdade para escolher as regras de direito a serem aplicadas pelo tribunal arbitral ao mérito da causa. Na ausência de acordo entre as partes, o tribunal arbitral aplicará as regras que julgar apropriadas.

Hoje, a referência a “regras de direito” tornou-se comum tanto em regras de arbitragem institucionais como em legislações nacionais. Confira-se:

Costa Rica

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Lei sobre Arbitragem Comercial Internacional (2011)Artigo 281. O Tribunal Arbitral decidirá o litígio em conformidade com

as normas de direito escolhidas pelas partes como aplicáveis ao mérito do litígio.

MéxicoCódigo de ComércioArtigo 1445 O tribunal arbitral decidirá o litígio em conformidade com as

normas de direito escolhidas pelas partes.

Regras do Centro de Arbitragem do México (CAM, 2009)Artigo 23 As partes podem escolher livremente o direito que o Tribunal

Arbitral deverá aplicar ao mérito do litígio. Na ausência de escolha, o Tribunal Arbitral aplicará as regras de direito que julgue apropriadas.

Estados Unidos – Canadá – MéxicoCentro de Arbitragem e Mediação Comercial das Américas

(CAMCA/AAA) Regras de Arbitragem (1996)Artigo 30 1. O tribunal arbitral deve aplicar as leis ou regras de direito

designadas pelas partes como aplicáveis à disputa. Caso as partes deixem de indicá-las, o tribunal aplicará a lei ou leis que determine serem apropriadas.

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BrasilLei de Arbitragem (1996)Artigo 2o

§ 1. Poderão as partes escolher livremente as regras de direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.

FrançaNovo Código de Processo Civil (Décret 2011-48)Article 1511 O tribunal arbitral decidirá o litígio de acordo com as regras

de direito escolhidas pelas partes ou, na falta destas, de acordo com aquelas que ele considere adequadas.

JapãoLei de Arbitragem 2003Article 36 Direito substantivo a ser aplicado no laudo arbitral1. O tribunal arbitral decidirá a disputa em conformidade com as

regras de direito acordadas pelas partes como aplicáveis ao mérito do litígio.

Como se vê, a expressão “regras de direito” é hoje predominante, assim em leis de arbitragem como em instrumentos internacionais e regras institucionais. Seu significado, geralmente aceito, é o de que as partes podem escolher algo diverso de uma legislação nacional para reger sua relação contratual, inclusive o acordo mediante o qual

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submetam quaisquer disputas à arbitragem. Ainda existem algumas poucas leis de arbitragem, instrumentos internacionais e regras institucionais ainda limitam a escolha das partes apenas à “lei” aplicável. Parece-nos, todavia, que tais instrumentos se encontram presos a uma época já revoluta, sendo o mais recente deles da década de 1980.18

Às vezes, um contrato ou cláusula de lei aplicável em separado podem omitir-se em declarar expressamente a possibilidade de as partes escolherem regras não-estatais. Ainda assim, é bem provável que um tribunal arbitral venha a acatar as indicações das partes e aplicar, ao mérito da causa, as regras indicadas. Se não houver, nos termos da lei da sede da arbitragem ou da lei do Estado de reconhecimento da sentença arbitral,proibição expressa à aplicação de regras não-estatais em arbitragem, a escolha das partes deverá ser admitida e respeitada. Em nossa opinião, não haverá razão para a incidência das hipóteses de recusa previstas no Artigo V (1) ou (2) da Convenção de Nova Iorque sobre o Reconhecimento e Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras.

Portanto, os Princípios da Haia efetivamente refletem a política e prática atuais ao chancelarem, no contexto arbitral, a possibilidade de as partes de escolherem, como direito aplicável ao contrato, normas diversas das leis de um determinado país. Os Princípios da Haia também exprimem a atualidade quando se valem da expressão “regras de direito” para indicar a possibilidade de escolha de regras não-estatais. Permanece a questão, no entanto, de saber se esta política e prática devem se limitar ao cenário arbitral ou devem

18 Ver, por exemplo, Rules of Procedure of the Inter-American Arbitration Commission (1988), Rules of Procedure of the Inter-American Arbitration Commission (1988), International Arbitration Rules of Zurich Chamber of Commerce (1989).

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estar igualmente disponíveis aos litigantes em sede judicial, ou seja, independentemente do método de resolução de conflito. Esta segunda opção é explorada a seguir.

Opção 2) Permitir a designação do direito não-estatal independentemente do método de resolução de disputas escolhido pelas partes;

Esta seria uma opção inovadora para praticamente todos os sistemas jurídicos contemporâneos. De fato, fora do contexto arbitral nenhum sistema de direito internacional privado prevê explicitamente a possibilidade de escolha de regras não-estatais pelas partes em um contrato internacional.19 Em outras palavras, quando as partes não tiverem acordado resolver seus conflitos através de arbitragem, ficarão limitadas à designação da lei de um determinado paísquando forem exercer sua opção pelo direito aplicável.

O Subgrupo de regras não-estatais defendeu esta opinião em seu relatório preliminar, submetido à discussão na segunda reunião do Grupo de Trabalho, em novembro de 2010. Entre as opções 1 e 2, ou seja, entre reservar a designação de regras não-estatais para o cenário arbitral ou permitir esta designação independentemente do método de resolução de conflitos, esta última é sem dúvida a mais racional. Pelo simples fato de que, na maior parte dos ordenamentos jurídicos contemporâneos, a arbitragem hoje desfruta de legitimidade e efetividade idênticos ao de que goza o sistema judicial de solução

19 Embora alguns autores argumentem que, em algumas jurisdições, a legislação permite às partes eleger o direito não-estatal para reger um contrato internacional. Vide as dos Estados de Oregon e Louisiana, in S.C. SymeoNideS, “Contracts Subject to Non-State Norms”, AJCL, 54, 2006, p. 209.

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de conflitos.

No plano teórico, permitir a designação de regras não-estatais não necessariamente implica admitir a possibilidade de um “contrat sans loi/droit”, assim entendido como o contrato independente de qualquer direito, e governado unicamente por suas próprias provisões.20

Bem ao contrário, ao prever-se tal possibilidade nos Princípios da Haia, as regras não-estatais aplicáveis ao contrato serão determinadas através de um sistema de normas de conflito. Dito de outro modo, o direito não-estatal designado pelas partes não terá efeito vinculante per se, mas tornar-se-á vinculante em consequência da vontade das partes de se vincularem ao sistema jurídico não-estatal designado. E a efetividade da vontade das partes, a seu turno, advém de uma regra conflitual prevista,ou diretamente pela lei do Estado (i.e., no seu sistema de DIPr), ou, indiretamente,em procedimentos arbitrais dotados de efeitos vinculantes, como tal reconhecidos por ordenamentos e jurisdições estatais. Na verdade, esse argumento deita raízes nas mesmas razões que sustentam a expressão tradicional da autonomia das partes nos inúmeros sistemas que autorizam a escolha da lei aplicável ao contrato.21

A autonomia da vontade exprime a intenção das partes de se vincularem ao seu compromisso contratual. Por sua vez, a eleição da lei aplicável constitui um meio de maximizar a autonomia das partes, porque reconhece que elas, no âmbito das relações contratuais internacionais, podem ter um interesse legítimo em

20 Vide L. gaNNagé (nota 13).

21 Vide a discussão em Prel. Doc. No 22 B (nota 7).

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escolher uma lei que regerá seu contrato, que seja, por exemplo: a) uma lei neutra, que não seja vista como benéfica para uma das partes em detrimento da outra (por ex. a lei suíça; b) uma lei que atenda às suas necessidades particulares (por ex. uma lei comercial bem desenvolvida – Nova York); c) uma lei melhor adaptada às relações comerciais internacionais (que pode não ser uma lei estatal, mas um instrumento internacional ou outra fonte de direito não-estatal, como os Princípios do UNIDROIT).

Permitir a designação de regras não-estatais alarga o escopo do princípio da autonomia da vontade das partes. De uma perspectiva econômica,pode ser entendida como um modo de maximizar o interesse individual das partes (por ex., na escolha de regras que vigorem em ramos específicos de comércio), um relacionamento mais equilibrado (ou seja, em prol da neutralidade e da minimização dos efeitos de normas imperativas e da ordem pública) e a transparência em suas relações.22 Isto, por sua vez, promove a estabilização da expectativa das partes no contrato, muito embora a eventual escolha de um sistema não-estatal possa tornar mais difícil a verificação do seu conteúdo e também limitar a obtenção de informações, em comparação com as fornecidas pela lex fori, o que afeta a certeza jurídica.

Apesar do forte apoio à autonomia da vontade das partes como base para permitir a designação de regras não-estatais, esta orientação igualmente apresenta limitações. Assim, as posições adotadas pelos Princípios da Haia sobre a designação do direito

22 Vide J. BaSedow, “Lex Mercatoria and the Private International Law of Contracts in Economic Perspective” in: J. Basedow / T. Kono / G. Ruhl (eds.), An Economic Analysis of Private International Law, Tubingen, Mohr Siebeck, 2006, p. 71.

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aplicável contemplaram situações em que a autonomia das partes já é tradicionalmente restrita, a fim de compensar outras políticas relevantes. Por exemplo, os Princípios da Haia não se aplicarão a relações de consumo nem a contratos internacionais de trabalho, tampouco a quaisquer outros contratos nos quais as partes tipicamente não possuam igual poder de barganha.23 Em outras palavras, a escolha de um direito não-estatal não se estenderá a contratos nos quais a autonomia das partes já seja limitada pela maioria dos sistemas jurídicos domésticos e internacionais. Ademais disso, a designação de regras não-estatais também é balizada pelos mesmos limites impostos à eleição da lei de qualquer Estado, ou seja, pelo respeito às normas imperativas e à ordem pública.24

Cabe ainda notar que esta opção, ora adotada pelo Grupo de Trabalho, tem a vantagem adicional de incentivara atuação dos tribunais nacionais na resolução de disputas comerciais internacionais, bem como o desenvolvimento de uma jurisprudência pretoriana do direito comercial internacional. Tal circunstância, ademais, converge com os propósitos da Convenção da Haia sobre Acordos de Eleição de Foro, de 2005, que oferece às as partes em contratos comerciais internacionais uma alternativa judicial efetiva para a resolução de litígios. Se optasse por excluir a designação de regras não-estatais nos Princípios da Haia, a Conferência da Haia acabaria por reduzir significativamente o papel da Convenção sobre Eleição de Foro.

Em nossa opinião, a autonomia da vontade das partes é reforçada quando as partes passam a dispor de opções efetivas a respeito da

23 Report of the Working Group Meeting (21-22 January 2010), p. 2 (disponível online em http://www.hcch.net/upload/wop/contracts_rpt_e.pdf).

24 Como previsto na proposta dos Princípios da Haia.

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solução de conflitos e da lei aplicável. Ao estender a possibilidade de escolha de regras não-estatais para a esfera judicial, estes dois elementos de conflitos comerciais internacionais são finalmente dissociados, maximizando a autonomia da vontade das partes. Dito de outro modo: para conferir efetividade à escolha de um direito não-estatal deixa de ser imperativa a escolha da via arbitral para a solução de litígios.

Finalmente, vale notar as variantes em torno desta opção, que incluem, por exemplo, restringir a escolha em favor de regras não-estatais (no cenário judicial) a normas elaboradas por organizações de reputação internacional especializadas no tema, como UNIDROIT, UNCITRAL, CCI etc., ou a regras não-estatais já estabelecidas como tais pela comunidade jurídica (e.g., Princípios do UNIDROIT, Princípios do Direito Contratual Europeu - PECL etc.). Esta variante, por exemplo, está ligada a uma outra questão: a definição do que sejam regras não-estatais (ou “regras de direito”) ou a imposição de limitações aos seus contornos, e será explorada mais a fundo na Parte III a seguir.

Se, de um lado, ainda há consenso generalizado sobre o fato de o direito positivo não conferir aptidão a um sistema não-estatal para regular contratos objeto de disputas submetidas a tribunais judiciais, a proposta da Comissão Europeia para um Regulamento sobre o Direito Aplicável às Obrigações Contratuais,25pretendeu, alguns anos atrás, modificar esta atitude.

Roma I, proposta de 2005 (2005/0261 (COD)Artigo 3- Liberdade de escolha

25 Regulamento (EC) No 593/2008, conhecido como “Roma I”.

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1. Sem prejuízo dos artigos 5, 6 e 7, o contrato será regido pela lei escolhida pelas partes.

As partes também podem escolher como lei aplicável os princípios e regras de direito substantivo contratual reconhecidos internacionalmente ou na Comunidade (...)

A redação proposta contemplava a designação de regras não-estatais, tal como esclarecido no comentário ao Artigo 3:

Para fortalecer ainda mais o impacto da vontade das partes, um princípio-chave da Convenção, o parágrafo 2 autoriza as partes a escolherem como lei aplicável um conjunto de regras não-estatais. O formato das palavras utilizadas autoriza a escolha dos Princípios do UNIDROIT, dos Princípios do Direito Contratual Europeu ou de um possível futuro instrumento opcional de direito comunitário, ao mesmo tempo em que exclui a lex mercatoria, que não é suficientemente precisa, ou codificações privadas não reconhecidas adequadamente pela comunidade internacional.26

Portanto, em sua proposta original, o atual Regulamento Roma I – que disciplina os conflitos de leis em matéria contratual em toda a União Europeia – aceitava a escolha de certas manifestações do direito contratual não-estatal, rejeitando outras. Ao final, no entanto, este segundo parágrafo foi excluído da versão definitiva do Regulamento adotado,27 eliminando a opção, então conferida

26 Proposal for a Regulation of the European Parliament and the Council on the Law Applicable to Contractual Obligations (Rome I), COM(2005) 650 final, Brussels, 15.12.2005.

27 O Artigo 3o do Regulamento Roma I exibe a seguinte dicção: Artigo 3o Liberdade de escolha1. O contrato rege-se pela lei escolhida pelas partes. A escolha deve ser expressa ou resultar de

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às partes, de selecionar outro direito que não a legislação estatal. As razões para tal exclusão permanecem obscuras e, de certo modo, surpreendentes, dada a acolhida majoritariamente positiva experimentada, em vários setores, deste ponto da proposta.28

Em vista do status quo do cenário jurídico, onde impera a recusa de Estados e sistemas uniformes de direito internacional privado em permitir a designação de regras não-estatais, a opção final dos Princípios da Haia poderia ter sido a de não tomar posição sobre o tema. O significado e a consequência de tal atitude são considerados na seção seguinte.

Opção 3) Silenciar, nos Princípios da Haia, quanto à aplicação do direito não-estatal.

Esta opção consistiria em nada explicitar a respeito do significado de “lei” na fórmula normativa adotada para a escolha da lei aplicável aos contratos internacionais. Uma opção como esta não exprime nenhuma posição particular na designação de um direito não-estatal, mas, ao contrário, deixa espaço para a interpretação a ser dada pelo tribunal arbitral ou pelo juiz incumbidos de decidir o litígio.

forma clara das disposições do contrato, ou das circunstâncias do caso. Mediante a sua escolha, as partes podem designar a lei aplicável à totalidade ou apenas a parte do contrato. 2. Em qualquer momento, as partes podem acordar em subordinar o contrato a uma lei diferente da que precedentemente o regulava, quer por força de uma escolha anterior nos termos do presente artigo, quer por força de outras disposições do presente regulamento. Qualquer modificação quanto à determinação da lei aplicável, ocorrida posteriormente à celebração do contrato, não afecta a validade formal do contrato, nos termos do artigo 10.o, nem prejudica os direitos de terceiros. 3. Caso todos os outros elementos relevantes da situação se situem, no momento da escolha, num país que não seja o país da lei escolhida, a escolha das partes não prejudica a aplicação das disposições da lei desse outro país não derrogáveis por acordo.

28 Ver a discussão em K. Boele-woelki, “Where Do We Stand on the Rome I Regulation?”, in: K. Boele-Woelki/F. Grosheide (eds), The Future of European Contract Law, Kluwer Law International, 2007, pp. 19-41, na seção 3.4 do trabalho.

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Como a eleição de regras não-estatais pelas partes é aceita no contexto arbitral, isso não representaria qualquer mudança no status quo. No plano judicial, contudo, a ambiguidade resultante do silêncio nos Princípios da Haia poderia ensejar modificações no status quo, sem as impor. Cada jurisdição teria a possibilidade de evoluir conforme o seu próprio ritmo, dependendo da avaliação que fizesse dessa opção e, talvez, do influxo da experiência de outras jurisdições estatais. Esta opção implica um modelo explícito e dinâmico de harmonização, mais orgânico do que formal, fundado na experiência prática enquanto significativa (e legítima) fonte de mudança normativa.29

A opção de permanecer silente sobre a designação do direito não-estatal não envolve presunções (sejam negativas ou positivas) sobre o que as partes em controvérsias comerciais internacionais desejam no tocante à lei reguladora do contrato. Em verdade, deixa que as próprias partes determinem, baseadas em seus interesses e necessidades particulares, o caminho que a lei deve seguir. Neste sentido, esta opção pode ser entendida como a que é mais reverente à autonomia da vontade das partes.

Por outro lado, deixar de fazer qualquer menção ou afirmação sobre o direito não-estatal apresenta a notável desvantagem de criar insegurança jurídica e deixar sobre os ombros dos agentes do comércio internacional o ônus de fazer avançar o direito. Isto talvez reduziria o importante papel da Conferência da Haia na evolução de regras comerciais internacionais não-estatais e nas respectivas normas de conflito.

29 Vide, por exemplo, H.P. gleNN, “Conflicting Laws in a Common Market? The NAFTA Experiment”, Chicago-Kent Law Review, 76, 2001, pp. 1789-1819.

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Por todas estas razões, o Subgrupo incumbido de elaborar propostas sobre o direito não-estatal optou por não defender esta terceira opção, preferindo, de longe, a segunda opção acima discutida. Tendo decidido endossar a designação de regras não-estatais tanto para o contexto arbitral quanto para o judicial, o Subgrupo teve de encarar o desafio posterior de decidir sobre a necessidade de uma definição dos contornos do direito não-estatal ou de outros meios de limitar esta designação. A Parte III deste trabalho é devotada para esta incômoda questão.

III. “Direito não-estatal” ou “Regras de Direito”: definições e limitações

Numa visão mais ampla, a autonomia da vontade das partes favorece uma formulação aberta de “regras de direito”, reconhecendo-lhes a oportunidade de designar a lei aplicável de acordo com o que consideram o seu melhor interesse. Qualquer limitação na opção exercida pelas partes requer, ou estabelecer uma lista fechada de escolhas potenciais, ou um critério de seleção. Ambas as alternativas restringem a autonomia das partes e apresentam obstáculos, tanto em termos teóricos como práticos.

No plano teórico, qualquer tentativa de estabelecer uma lista fechada de critérios supõe a possibilidade de identificar ou distinguir corpos normativos de acordo com objetivo ou critério definido. Isto implica normalmente a divisão entre normas escritas e não-escritas, particulares e gerais, hard ou soft law etc. Uma concepção binária de normais legais, como esta, não mais reflete a realidade da criação

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normativa ou do comportamento das normas. Normas estatais vêm sendo, cada vez mais, elaboradas com

a contribuição próxima de entidades privadas, ou, até mesmo, através de delegação a essas entidades (e.g., normas contábeis do International Financial Reporting Standards, adotadas no Brasil).30 De outro lado, cada vez mais empresas e grandes corporações tratam como compulsórias normas tradicionalmente vistas como não-vinculantes. Como demonstrado por Peer Zumbansen no tocante a normas de governança corporativa:

Normas de governança corporativa constituem um exemplo eloquente da transformação do tradicional cenário de normatividade oficial, exclusivamente centrada no Estado, em favor de um processo cada vez mais descentralizado, dotado de vários níveis de produção normativa. Ao mesmo tempo, as normas passam não apenas a ser produzidas em múltiplos níveis: a natureza destas normas muda, ela mesma, dramaticamente. Esta constelação, no entanto, sugere nada menos do que uma contestação fundamental e erosão de limites entre atores estatais e não-estatais, entre leis oficiais e não-oficiais, entre uma ordenação privada e pública...31

Seguindo o entendimento mais atual, atinente à natureza das normas e suas respectivas fontes, o Subgrupo para o direito não-estatal propôs que os Princípios da Haia evitassem impor qualquer

30 No Brasil, a Lei 11.638, sancionada em 2007, alterou a Lei das Sociedades Anônimas, de 1976, e determinou que todas as empresas brasileiras de capital aberto apresentem seus demonstrativos financeiros elaborados segundo a norma internacional de contabilidade denominada IFRS. Esta, por sua vez, são normas criadas e publicadas pelo International Accounting Standards Board (IASB), um organismo privado sem fins lucrativos.

31 P. ZumBaNSeN, “Neither ‘Public’ nor ‘Private’, ‘National’ nor ‘International’: Transnational Corporate Governance from a Legal Pluralist Perspective”, J. Law & Soc., 38, 2011, p. 50 at p. 73.

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critériodistintivo entre as diversas “regras de direito”porventura escolhidas pelas partes. De fato, qualquer imposição nesse sentido teria exigido, igualmente,adotar posição teórica acerca da natureza da lei, de modo a justificar a decisão de limitar as opções disponíveis através de um critério seletivo. Entendemos que essa tentativa estaria fadada ao insucesso no seio do Grupo de Trabalho,eis que elefunciona mediante a construção de consensos em torno dos temas debatidos, a partir da visão de especialistas de diversas tradições e formações jurídicas.

Ademais, proceder de modo diverso geraria sérias implicações práticas, que poderiam minar a posição de princípio adotada sobre o direito não-estatal. É que, se a eleiçãodo direito aplicável for balizada por um critério de seleção das regras, estabelecido no sistema de conflitos,então a escolha das partes perderá seu caráter definitivo, já que a adequação das “regras de direito” eleitas poderá ser desafiada.32 No entender do Subgrupo, os Princípios cumprem melhor o seu papel ao evitar a adoção de qualquer regra que, em seus próprios termos, encoraje litígios relacionados à sua interpretação ou âmbito de aplicação. Enquanto evita este risco, uma lista fechada traz consigo a óbvia, porém igualmente negativa,consequência potencial de tornar-se obsoleta dentro de um curto prazo (por exemplo, uma lista restrita aos instrumentos atualmente existentes excluiria a opção de incorporar um futuro Código Europeu de Direito Contratual).

Para que a autonomia da vontade seja integralmente prestigiada e responda aos objetivos insculpidos no Preâmbulo dos Princípios da

32 Por exemplo, uma das partes em disputa poderá atacar as regras de direito escolhidas sob a alegação de que elas não são “amplamente reconhecidas”.

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Haia,33 a melhor alternativa é formular uma norma aberta (“open-ended rule”), que não limite aprioristicamente as escolhas a serem feitas pelas partes que pretendam submeter suas relações ao direito-não estatal.34

Esse caminho oferece às partes todas as vantagens de uma verdadeira autonomia da vontade, mas por outro lado impõe-lhesa responsabilidade associada ao exercício da escolha. Considerando que a designação do direito não-estatal resulta da intenção das partes, presume-se que tal escolha seja fundamentada, e não aleatória.

Antes de mais nada, relembre-se que a autonomia da vontade não impõe a escolha do direito não-estatal às partes contratantes. As razões para limitar a extensão do poder de escolha das partes, caso decidam exercê-la, não se coadunam com o próprio princípio da autonomia da vontade. E, porquanto esta designação será sempre balizada pela ordem pública e por normas imperativas internacionais, o risco de as partes abusarem desta liberdade de eleição do direito não-estatal não se contrapõe, em igual medida, à violação representada por qualquer restrição apriorística à própria liberdade de escolha.

33 Para um versão anterior do Preâmbulo, ver Prel. Doc. 6 (Nota 4), Anexo IV, p. i.

34 Tal abordagem está em consonância com o significado atual do princípio da autonomia da vontade das partes, como asseverado por P.E. Nygh na seguinte passagem de seu curso da Haia:

“Há muito é fundamental no direito dos contratos que: ‘As partes são livres para celebrar um contrato e para determinar seu conteúdo’. Conforme o UNIDROIT corretamente declara: ‘O princípio da liberdade contratual é de suma importância no contexto do comércio internacional. O direito dos empresários de decidir livremente a quem vão oferecer seus produtos ou serviços e por quem eles desejam ser providos, bem como a possibilidade de livremente acordarem com os termos e condições de transações individuais, são os pilares de uma ordem econômica internacional aberta, orientada para o mercado e competitiva’Como parte dessa liberdade para determinar os termos e condições do seu contrato, as partes também têm a liberdade de escolher a lei aplicável. O princípio da autonomia da vontade das partes representa a mais clara expressão das ‘expectativas legítimas das partes’.” (P.E. Nygh (Nota 3)).

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Cumpre salientar que, durante as negociações do Regulamento Roma I,houve uma tentativa de circunscrever o direito não-estatal segundo a sua fonte. O Instituto Max Planck de Direito Internacional Privado e Comparado propôs um tipo de “appellation contrôlée” para o direito não-estatal, sugerindo a seguinte emenda à Proposta Roma I original:

3(2). As partes poderão igualmente escolher como direito aplicável os princípios e conjuntos de regras de direitocontratual substantivo reconhecidos internacionalmente ou no âmbito da Comunidade.35

A explicação apresentada pelo Instituto para a referida proposta foi a seguinte:

Artigo 3 (2) Roma I-P: Possibilidade de escolha de princípios reconhecidos internacionalmente

26. O Instituto apoia a decisão da Comissão Europeia no sentido de permitir que as partes em contratos transfronteiriços possam escolher, como direito aplicável, princípios e regras internacionalmente reconhecidos. Todavia, tais princípios devem satisfazer determinados requisitos. O respectivo conjunto de princípios há de ter sido criado por um órgão independente, imparcial e neutro; seu conteúdo deve ser equilibrado e protegido contra abusos e desvio de certasnormas imperativas; deve, ainda, regular direitos e deveres de modo razoavelmente abrangente. O

35 RabelsZ, 71, 2007, p. 225; ver também RabelsZ, 68, 2004, p. 1.

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Instituto recomenda sejam tais critérios explicitamente declarados nos consideranda do Regulamento...

30. O Instituto acolhe o entendimento da Comissão de que a chamada lex mercatoria não se qualifica como um conjunto de regras suscetíveis de eleição.

31. Para fins de esclarecimento, deve também constar do próprio texto do Artigo 3 (2) P – Roma I que somente um conjunto de regras suficientemente abrangente poderá ser eleito como direito aplicável.

32. Com efeito, o Instituto sugere sejam inseridas as palavras “conjunto de” antes do termo “regras”.

Como indicado anteriormente, a proposta da Comissão Europeia no sentido de estender a autonomia da vontade à escolha do direito não-estatal não logrou sucesso. Embora não seja possível afirmar que tal fato estivesse relacionado a questões conceituais, a natureza controversa de tal intento não pode ser subestimada.

Na verdade, uma referência aberta ao direito não-estatal nos Princípios da Haia gera o desafio adicional de identificar o conteúdo do direito não-estatal designado, particularmente quando a escolha não recai sobre um instrumento ou codificação já existentes, mas sim sobre princípios não-escritos ou não-sistematizados, como a lex mercatoria. Esta ausência de precisão, ou mesmo de abrangência, é muitas vezes citada comoforte argumento contrário ao acerto de se permitir que tal escolha seja autorizada às partes contratantes.

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Mais uma vez, entretanto, o próprio princípio da autonomia da vontade fornece a resposta a este desafio. Se a autonomia das partes é levada à sério e valorizada, porquanto corresponde a interesses legítimos das partes (e dos Estados que a apoiam), não há razões para limitar-se a opção das partes com base em nenhum destes dois potenciais defeitos. Contanto que as partes sejam as responsáveis por identificar e estabelecer a natureza e o conteúdo das regras relevantes do direito não-estatal que invocam em apoio aos seus pleitos, a dificuldade desta tarefa não deve configurar uma objeção válida à escolha realizada. Sustentar o contrário sugere paternalismo, que é a antítese da autonomia da vontade.

Esta posição adotada pelo Grupo de Trabalho não requer, necessariamente, uma nova regra em matéria de produção ou ônus da prova, embora isto possa ser aconselhável. Tal regra poderia especificar que as partes que elejam o direito não-estatal tenham o ônus de estabelecer o seu conteúdo e significado para o julgador, seja ele juiz ou árbitro.36 Isto não impediria a aplicação de regras mais generosas em matéria de prova, disponíveis em determinados ordenamentos, e que permitem aos tribunais buscar opiniões de especialistas acerca do conteúdo do “direito estrangeiro” ou mesmo fazer sua própria pesquisa.37

Reconhecendo a novidade de sua proposta (e sua natureza controversa), o Subgrupo para o direito não-estatal sugeriu que

36 Ver o 2008 Report and Resolution on Ascertaining the Contents of the Applicable Law in International Commercial Arbitration da ILA, que inclui orientações úteis sobre as responsabilidades das partes neste tocante (disponível em http://www.ila-hq.org/en/committees/index.cfm/cid/19).

37 Por exemplo, uma regra relevante no Código Civil do Québec determina que a “pode-se levar em consideração a lei ... de um Estado estrangeiro, desde que tenha sido pleiteado. O tribunal pode ainda exigir que a prova seja feita nos termos de tal lei; isto pode ser feito, dentre outros meios, pelo depoimento de um especialista ou pela apresentação de um certificado emitido por um jurisconsulto ... (art. 2.809).

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o comentário oficial que acompanhará os Princípios da Haia forneça exemplos de direito não-estatal, desde os instrumentos já existentes (e.g. Convenção de Viena sobre a Venda Internacional de Mercadorias - CISG),38 até codificações a-nacionais (e.g. Princípios do UNIDROIT, PECL), e referências mais abertas como a lex mercatoria. O comentário também poderá oferecer exemplos de cláusulas de eleição do direito aplicável que visem à escolha de direito não-estatal, como fez o UNIDROIT em nota de rodapé no Preâmbulo dos seus Princípios,39 e como também faz a CCI em vários de seus modelos contratuais.40

Por fim, tendo em mira que os Princípios da Haia não preveem uma regra de conflito para os casos em que as partes tenham deixado de efetuar a escolha do direito aplicável (“absence of choice”),41 a título principal ou subsidiário, o Subgrupo entendeu que o comentário oficial devia também orientar as partes no tocante ao preenchimento de lacunas que possam surgir na aplicação do direito não-estatal designado. Sobre este tema, os Princípios UNIDROIT sugerem alternativas às partes em nota de rodapé do

38 Nos casos em que a CISG não se aplica em virtude de seus próprios termos, previstos no seu Artigo 1, mas em razão de as partes a terem escolhido como direito aplicável ao contrato de venda internacional (como, por exemplo, num contrato entre vendedor estabelecido no Brasil e comprador no Reino Unido).

39 “Partes que desejem dispor no sentido de que seu contrato seja regulado pelos Princípios podem usar as seguintes palavras, acrescidas das exceções ou modificações desejadas: “Este contrato será regulado pelos Princípios UNIDROIT (2010) [exceto em relação aos artigos ...]”, Princípios UNIDROIT relativos aos Contratos Comerciais Internacionais (disponível em www.unidroit.org).

40 Vide, por exemplo: F. BORTOLOTTI, Drafting and Negotiating International Commercial Contracts, Kluwer, 2009, chap. 2.8.

41 A cláusula de preenchimento de lacunas na Proposta de Roma I - 2005 (art. 3 (2)) especificamente incluíu uma referência à lei aplicável na falta de escolha: “... questões relativas às matérias reguladas por estes princípios ou regras que não são expressamente previstos por eles serão regidos pelos princípios gerais subjacentes ou, na falta de tais princípios, de acordo com o direito aplicável na ausência de escolha nos termos do presente regulamento. “

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seu Preâmbulo.42

Uma regra ou princípio que oriente o preenchimento de lacunas pode ser especialmente importante nos casos em que as partes são incapazes de estabelecer, de modo satisfatório para o julgador, o conteúdo relevante do direito não-estatal designado. Neste caso, a regra pode operar indicando o regime padrão aplicável quando a escolha original não possa ser efetivada. Neste sentido, o eventual direito aplicável permanece sendo aquele escolhido pelas partes, o que enfatiza e ratifica o princípio da autonomia da vontade das partes.

IV – Os (futuros)Princípios da Haia

À luz da discussão acima descrita, o Subgrupo para o direito não-estatal propôs ao Grupo de Trabalho que os Princípios da Haia previssem explicitamente a possibilidade de escolha do direito não-estatal, seja qual for o mecanismo de solução de disputas (i.e. arbitragem ou judiciário).

Aceitando a prática estabelecida em inúmeros instrumentos arbitrais, através da referência à expressão “regras de direito”, o Subgrupo entendeu que a referida expressão deveria permanecer indefinida nos próprios Princípios, sujeitando-se apenas a explicações contidas nos comentários oficiais. As limitações às “regras de direito” escolhidas pelas partes devem permanecer sendo as mesmas aplicáveis quando da designação de um direito estatal, isto é, afronta à ordem pública e observância de normas

42 Este contrato será regido pelos Princípios UNIDROIT (2010) [exceto em relação aos artigos ...], suplementados, quando necessário, pela lei do [ordenamento X] “. Princípios UNIDROIT (nota 37).

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imperativas, tal como previsto nos próprios Princípios, bem como no Direito Internacional Privado em geral.

Ambas as propostas do Subgrupo para o direito não-estatal foram finalmente adotadas no texto proposto para os Princípios da Haia.43 Há que se ver, ainda, se elas sobreviverão ao escrutínio do Conselho de Direção da Conferência da Haia. Não há dúvida deque a posição de política normativa assumida pelo Grupo de Trabalho representa um passo significativo para além do status quo, embora certamente esteja em sintonia como seu mandato de prover apoio para aperfeiçoar e promover a autonomia da vontade como princípio fundamental na escolha do direito aplicável aos contratos internacionais.

Ademais, o caráter não-vinculante do instrumento proposto oferece um incentivo à inovação e a uma visão voltada para o futuro. Tendo em vista que o público-alvo deste instrumento é múltiplo e diversificado, os princípios e regras nele previstos devem ser ampliados tanto quanto possível, oferecendo alternativas para os que decidam adotá-los ou a eles se referirem. Além disso, uma vez que os Princípios podem ser usados para dar suporte a soluções inovadoras, atinentes a uma ampla gama de regras de conflito já existentes, ou podem ser usados também na ausência de tais regras, eles não precisam ficar limitados ao que já existe no direito positivo, sempre que houver justificativa para disponibilizar uma nova alternativa. Os Princípios da Haia devem ser mais do que uma reafirmação da lei em vigor caso queiram contribuir para o desenvolvimento do Direito do Comércio Internacional.

43 O texto proposto será disponibilizado em breve no site da Conferência da Haia, como parte do Relatório da Terceira Reunião do Grupo de Trabalho.

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V. Conclusão

Alguns estudos empíricos sugerem que as partes, quando lhes é dada a opção, não designam o direito não-estatal como aplicável ao contrato.44Se isto é, ou não,um reflexo preciso da prática atual ou pretérita, nãodeve todavia levar à conclusão de que é inoportuno permitir tal escolha no âmbito dos Princípios da Haia. Pelo contrário, a eleição do direito não-estatal, tanto no campo arbitral quanto no judicial, deve ser vista de uma perspectiva utilitarista e pragmática, quando não prospectiva.

O direito e a praxe jurídica, especialmente no âmbito do direito comercial, constituem campos da atividade humana tipicamente tradicionais e conservadores, pelo que a mudança é lenta. Minimizar o risco legal é um dever relevante na prática da advocacia. Neste contexto, não é de se estranhar que a preferência dos advogados, diante de uma situação conectada internacionalmente, recairá provavelmente na eleição de um sistema jurídico que lhes seja familiar, apesar das suas eventuais deficiências materiais ou estratégicas. Mais uma vez, contudo, esta não é uma razão para negar-se a possibilidade de as partes elegerem um direito não-estatal. Bem ao contrário, autorizar tal designação representa um incentivo para que os juristas forneçam maiores informações e melhores lições sobre as opções não-estatais. Mas, até que a escolha do direito não-estatal seja adotada em cláusulas de lei aplicável e

44 Ver, por exemplo, F. DASSER, “Mouse or Monster? Some Facts and Figures on the Lex Mercatoria”, in: R. Zimmermann (ed.), Globalisierung und Entstaatlichung des Rechts, Teilband II Nichtstaatliches Privatrecht: Geltung und Genese, Tübingen, 2008, p. 129; porém, compare com L. gama Jr, “Perspectives for the UNIDROIT Principles in Brazil”, Unif. L. Rev./Rev. dr. unif (no prelo).

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seja efetivamente reconhecida perante órgãos judiciais, somente o mundo acadêmico do direito é que promoverá, em grande medida, esse incentivo.

Se a escolha do direito não-estatal limitar-se ao contexto arbitral, o seu conteúdo, sua interpretação e aplicação provavelmente permanecerão ignorados ou pouco conhecidos do público em geral.Apenas quando o direito não-estatal tornar-se mais acessível é que estará apto a revelar suas verdadeiras virtudes e defeitos. Recusar-se a dar esse passo a frente é o mesmo que permanecer preso a um círculo vicioso: a eleição de um direito não-estatal continua a ser muito arriscada porque suas consequências nãosão suficientemente previsíveis. Dizer que os agentes do comércio internacional nãoescolherão o direito não-estatal mesmo que estejam autorizados a fazê-lo não é um argumento contra este avanço. Nós, autores deste artigo, somos cautelosamente otimistas de que tais argumentos hão de convencer o Conselho de Direção da Conferência da Haia a aceitar a proposta do Grupo de Trabalho no tocante à possibilidade de eleição do direito não-estatal em todos os contratos comerciais internacionais, sejam suas disputas submetidas à arbitragem ou ao foro judicial.

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O Alcance do Consentimento como Fundamento da Autoridade da Sentença da Corte Internacional de Justiça

Leonardo Nemer Caldeira Brant1

À luz de uma distinção clássica, as ordens jurídicas de natureza in-terna e internacional apresentam numerosas qualidades que lhes são próprias. Assim, sem pretender entrar em detalhes e apenas a títu-lo preliminar deve-se verificar que, no âmbito do direito doméstico, toda a ordem jurídica repousa sobre a Constituição. Esta regulamen-ta, a seu modo, a atividade jurisdicional e define os limites de auto-ridade das decisões dos tribunais legalmente constituídos. Partindo desse princípio o Estado de direito indica que qualquer controvérsia pode encontrar resguardo em uma determinada solução jurisdicional independentemente de comprovação do consentimento de todas as partes em litígio. Tal fato significa que a autoridade do ato jurisdicio-nal encontrará seu fundamento na Constituição do Estado e não no consentimento individualizado das partes litigantes.

A questão que se coloca então é a de saber como se reconhece a autoridade incerta e difusa do ato jurisdicional em uma sociedade fragmentada como é ainda o caso da sociedade internacional. Afinal, como determinar a força normativa e obrigacional da sentença em um direito de igualdade, de coordenação e que é descentralizado por na-tureza, como é o caso do direito internacional? De fato, este é essen-

1 Doutor em Direito Internacional pela Université Paris X. Tese laureada com o Prix du Mi-nistère de la Recherche. Professor de direito internacional da Faculdade de Direito da UFMG e da PUC--Minas. Ex Jurista Adjunto da Corte Internacional de Justiça da Haia. Professor convidado do Institut des Hautes Études Internationales de la Université Panthéon-Assas Paris e da Université Caen Basse-Normandie, França. Visiting Fellow do Lauterpacht Centre of International Law, Cambridge University, Diretor Presidente do Centro de Direito Internacional – CEDIN e do Anuário Brasileiro de Direito Internacional.

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cialmente um direito que nasce «sem juiz»2, cuja intervenção de uma autoridade dotada de competência para emitir decisões de natureza obrigatória representa mais a exceção do que a regra.

A base do problema reside na história controversa da justiça obri-gatória a qual almejavam certos redatores do Estatuto da Corte Per-manente de Justiça Internacional e que veio finalmente a ser rejeitada tanto no Estatuto da C.P.J.I. quanto no da C.I.J.3 É, portanto exata-mente a partir do reconhecimento da natureza facultativa da principal jurisdição internacional permanente que foi confirmado o princípio fundamental segundo o qual o consentimento dos Estados em litígio está na base da jurisdição internacional. Este é o postulado sobre o qual repousa o sistema de solução de controvérsias internacionais4. Entende-se por aí que, diferentemente da situação dos particulares diante dos tribunais internos, os Estados apenas submetem-se à ju-risdição da C.I.J. na medida de seu consentimento5. Como sublinha a C.P.I.J no seu parecer consultivo a respeito do Estatuto da Carélia oriental, ‘está bem estabelecido no direito internacional que nenhum Estado poderia ser obrigado a submeter suas controvérsias com os outros Estados seja à mediação, seja à arbitragem, seja enfim a qual-quer outro procedimento de solução pacífica, sem o seu consenti-

2 Embora algumas experiências de natureza arbitral como no caso Jay ou no caso Alabama possam servir de exemplo para justificar certa tradição jurisdicional anterior ao século XX, a verdade é que a existência de jurisdições internacionais de natureza permanente somente será observada a partir das primeiras décadas do século passado.

3 A Corte Permanente de Justiça Internacional precede a Corte Internacional de Justiça. Am-bos os Estatutos são quase idênticos ressalvados algumas pequenas alterações como o fato da C.I.J. ser parte integrante das Nações Unidas. Ver artigo 92 da Carta das Nações Unidas.

4 S. Rosenne, ‘The World Court What It Is and How It Works’, Oceana, New York, 1963, p. 32-33.

5 P. Daillier, A. Pellet, ‘Droit International Public’, LGDJ, Paris, 2009, p. 857.

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mento’6.De fato, a necessidade do consentimento dos Estados Partes para

que a Corte possa exercer sua competência contenciosa é sistema-ticamente, e em termos categóricos, sublinhada pelas duas cortes mundiais. Assim, no caso relativo aos Direitos das Minorias na Alta--Silésia, a Corte assinalou que a jurisdição da Corte depende da von-tade das Partes7. No caso relativo ao Ouro monetário removido de Roma em 1943, a Corte declarou que ela apenas pode exercer sua jurisdição com relação a um Estado se dispuser do consentimento desse último8. Da mesma forma, no caso relativo à Plataforma conti-nental do Mar Egeu, a Corte assinalou que um exame de ofício desse consentimento é tanto mais imperativo quando uma das partes se abstém de comparecer ou de apresentar os seus argumentos9. A C.I.J. recordou na sentença de 30 de junho de 1995, no Caso do Timor Les-te, que ela própria não pode decidir a respeito de uma controvérsia entre dois Estados sem que esses tenham consentido em sua jurisdi-ção10. O mesmo foi declarado pela Corte mais recentemente no Caso de 2008 relativo à Aplicação da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial entre a Geórgia e a Federação da Rússia11.

Isso quer dizer que, salvo pedido de interpretação ou de revisão de uma decisão da C.I.J.12, a função jurisdicional é essencialmente de 6 C.P.J.I., série B, N°5, p. 27.

7 Ver o caso dos Direitos das Minorias na Alta Silésia C.P.J.I., Série A, n° 15, p. 22. Ver tam-bém o caso da Fábrica em Chorzow, Série A, n° 17, p. 37-38.

8 C.I.J., Rec. 1954. p. 32.

9 C.I.J., Rec. 1978, p. 9.

10 C.I.J., Rec. 1995, p. 101.

11 C.I.J. Rec 2008.

12 ‘Seja qual for o modo de decisão inicial da Corte, o consentimento da parte contrária não é

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natureza voluntária. Em realidade, ao conceder tal consentimento, os Estados por essa via aceitam o juízo e a autoridade do julgamento. O vínculo entre a autoridade das decisões da C.I.J. e o consentimento dos Estados fica assim bem estabelecido. Em consequência do con-sentimento das partes em litígio, a jurisdição internacional produzirá um ato jurisdicional normativo de natureza obrigatória e definitiva cujos efeitos serão estendidos às partes conforme a demanda. É bem esse o conteúdo do provérbio «res inter alios judicata aliis neque nocet prodest». É igualmente este o significado do artigo 59 do Esta-tuto da Corte que determina que «a decisão da Corte só é obrigatória para as partes em litígio e no caso em questão». Esse é igualmente o objetivo último do artigo 36 do Estatuto da C.I.J, ou seja, impedir que os direitos de terceiros sejam decididos em definitivo sem o seu consentimento. Eis a realidade inegável do direito internacional.

Tal realidade, contudo, conduz a uma questão elementar. Afinal qual é, verdadeiramente, o alcance do consentimento como fun-damento da autoridade da sentença da C..I.J.? Considerando que a própria existência da jurisdição internacional manifesta a necessária cooperação para a manutenção da paz e da segurança jurídica, não seria adequado reconhecer a autoridade do ato jurisdicional como reflexo de um interesse coletivo? Desse ponto de vista, a questão será, portanto, de saber até que ponto a jurisdição internacional é independente dos Estados soberanos, isto é, onde cessam as exigên-cias formais para o estabelecimento da jurisdição e onde começa sua autoridade, independentemente da vontade das partes (A). Por outro lado, não se pode negar a extensão de certa autoridade da sentença da Corte vis à vis de terceiros Estados cujos interesses serão atingidos necessário para que um pedido com base no artigo 60 do Estatuto seja admissível. ’ (Ver o caso de 10 de dezembro de 1985, Rec. 1985. p. 216). O mesmo se aplica aos casos de petições para revisão.

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ou afetados pela decisão (B). As decisões da Corte podem igualmen-te ter certa autoridade de facto sobre os terceiros Estados na medi-da em que interpretam inter-partes convenções multilaterais (C). A jurisprudência da Corte pode também produzir efeitos para além do limite das partes na medida em que ela pode servir de inspiração para a produção do direito internacional ou mesmo quando ela revela ou interpreta o verdadeiro sentido de uma norma internacional (D). Finalmente, há também os debates a respeito da natureza erga omnes ou o reconhecimento de uma autoridade absoluta de certas decisões jurisdicionais (E).

A) – A autoridade da sentença da C.I.J. é estabelecida pela natureza jurisdicional da Corte e tem seu fundamento no interesse coletivo

Preliminarmente, não se pode admitir o argumento de que o fundamento do direito deva ser encontrado unicamente no próprio direito. A autoridade da sentença não pode residir unicamente no ato jurídico correspondente ao consentimento. Não existe ‘direito puro’ que desconheça os interesses e o movimento da comunidade em que se insere. Isso significa que a autoridade das decisões da C.I.J. res-ponde não apenas a uma consequência unicamente jurídica do ato ju-risdicional relacionada ao consentimento, mas também a uma finali-dade social de estabilidade e harmonia. A sentença internacional não pode ser compreendida exclusivamente como uma resposta a uma ordem contratual fundada no princípio do pacta sunt servanda. A sentença é na realidade um verdadeiro ato jurisdicional que demons-

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tra a afirmação da superioridade da jurisdição enquanto manifesta-ção do ordenamento jurídico da comunidade internacional. Como assinala M. Virally: ‘toda ordem jurídica confere aos destinatários dessas normas direitos e poderes jurídicos que a si mesmos não po-deriam atribuir sem essa ordem, a qual lhes impõe obrigações que os vinculam. Por isso mesmo, toda ordem jurídica afirma-se como sendo superior a seus sujeitos, ou então inexiste como norma’13.

Assim, deve-se colocar a questão de saber até que ponto, na prá-tica, os Estados controlam o estabelecimento da competência juris-dicional e a autoridade da sentença que dela decorre. As limitações relativas à emenda ou a retirada de um consentimento eventualmente dado14, não demonstram que, na prática, a autoridade da jurisdição ultrapassa com frequência a vontade imediata e manifesta dos Esta-dos? Do mesmo modo, a liberdade que possui a C.I.J. de analisar o alcance do consentimento, conforme disposto no artigo 36, §6, do Estatuto15, não indica que esta pode estabelecer sua própria compe-tência, tantas vezes em detrimento da interpretação do Estado inte-ressado, provocando uma sucessão de atos claramente ditados pelas regras previstas no Estatuto e no Regimento que ela própria estabe-leceu, de acordo com o que prevê o artigo 30 do Estatuto16? Tal re-gra expressa no principio da «competência da competência» implica uma decisão dotada de efeito obrigatório e definitivo e destinada aos Estados13 M. Virally, ‘Sur un pont aux ânes : les rapports entre droit international et droit interne’, Mélanges offerts à Henri Rolin, Pédone, Paris, 1964, p. 497.

14 Ver o caso Nicarágua (jurisdição e admissibilidade parágrafos: 63-65).

15 Tal dispositivo prevê que a Corte tem a competência para avaliar o alcance de sua própria competência.

16 Artigo 30 do Estatuto da C.I.J.: ‘A Corte formulará um regulamento, de acordo com o qual será determinada a maneira de que suas funções sejam exercidas. Estabelecerá, em particular suas regras do procedimento’.

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Essa situação relativamente corrente tem origem na possibilidade para os Estados de suscitarem exceções preliminares de competência e de admissibilidade. Nada de mais revelador, portanto, da autoridade da jurisdição do que a oposição dos Estados à interpretação que for dada do seu próprio consentimento. Os exemplos desse desacordo são bastante frequentes. Existem, contudo, situações excepcionais, como as questões relativas ao Pessoal Diplomático e Consular dos Estados Unidos em Teerã17 ou o caso relativo à Delimitação Marí-tima de 1 de julho 1994 entre Catar e Barein18, ou mesmo no caso relativo às Ações Armadas Fronteiriças entre a Nicarágua e Hondu-ras19, em que a Corte manifestou uma grande liberdade de aprecia-ção. Nesses casos, pode-se mesmo perguntar se ‘a Corte respeitou verdadeiramente à intenção de uma ou de outra parte na causa, cujo respeito escrupuloso é, portanto indispensável à observância do fun-damento consensual de sua competência’20.

O problema, contudo, não se limita unicamente ao poder da Corte de determinar sua própria competência e o alcance do consentimento. Na realidade, se o consentimento pode ser claro e resultar de uma declaração expressa contida em prévio compromisso formal, ele pode igualmente ser presumido após análise de todo ato conclusivo,21 17 O Iran não tomou parte no processo. O Estado não apresentou provas documentais, não foi representado na audiência e conclusões não foram apresentadas em seu nome. Contudo, sua atitude definiu-se em duas cartas enviadas pelo Ministro de Negócios Estrangeiros à Corte, nos dias 9 de de-zembro de 1979 e 16 de março de 1980. Nelas, o Ministro argumenta que a Corte não pode e não deve assumir o caso. Apesar da posição tomada pelo Irã, a Corte decide que o Estado violou obrigações com os Estados Unidos, definidas em acordos internacionais ainda em vigor nestes países. Caso do dia 20 de maio 1980, C.I.J., Rec. 1980. , p. 3-46.

18 C.I.J., Rec. 1994, p. 127.

19 C.I.J., Rec. 1988, p. 82.

20 P. M. Dupuy, Droit international public, 4° éd, Dalloz, Paris, p. 486.

21 O caso dos Direitos das Minorias na Silésia Superior, C.P.J.I., Série A, n° 12, 1928, p. 23.

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em especial do comportamento do Estado demandado, em seguida a petição inicial juntada à Corte22. De fato, nem o Estatuto nem o Regimento exigem que o consentimento se exprima em formato es-pecífico23. A Corte ‘nunca pretendeu que o consentimento devesse sempre ser expresso e ainda menos que obedecesse a uma liturgia pré-estabelecida. Com efeito, nas relações entre Estados, é razoável admitir o assentimento tácito, bem como a validade, em certas cir-cunstâncias, de uma presunção de assentimento’24. Eis aí a aplicação pela Corte do princípio do forum prorogatum25.

Isso quer dizer que, apesar da existência de certa jurisprudência indicando as condições necessárias para o estabelecimento da com-petência da Corte26, a realidade é que a apreciação da atitude de certo Estado, enquanto manifestação de seu consentimento, é por-tanto subjetiva da Corte e a parte demandada não tem mais direito de retroceder, em nome da boa fé ou do estoppel. Isso significa que as declarações feitas pelos agentes das partes podem ser vistas pela Corte como indicação fatual da situação, mas também podem ser consideradas dotadas de efeito normativo e compulsório vinculando as partes mediante consentimento. Não faltam exemplos, como de-monstra o caso do Mavrommatis ou, mais recentemente, o caso das

22 P. Daillier, A. Pellet, Droit international public, L.G.D.J., Paris, p. 859.

23 Détroit de Corfou, C.I.J, Rec. 1947-1948, p. 27.

24 F. Rezek, ‘Sur le fondement du droit des gens’, Theory of International Law at the Threshold of the 21st Century, Essays in Honour of Krzyszt of Skubiszewsk, Klumer, La Haye, 1996, p. 273.

25 Tal mecanismo foi utilizado pela C.P.I.J. no caso dos Direitos das Minorias na Alta Silé-sia, no caso da Interpretação da Descisão n° 3e no caso das Concessões Mavrommatis na Palesti-na. A C.I.J. descreveu-o no casoHaya de la Torre. A distinção estabelecida entre a jurisprudência do caso do Estreito de Corfu e do caso da Companhia Anglo-Iraniana de Petróleo é ainda, neste sentido, emblemática.

26 Tem-se, por exemplo, como estabelecida a jurisprudência que indica que o fato de argumen-tar sobre questões de mérito, sem suscitar a questão da incompetência da Corte, seria manifestamente uma forma de reconhecimento da competência dessa última.

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Ilhas Kasikili Seduku e LaGrand.Portanto, pode-se concluir que a jurisdição internacional manifesta

certo equilíbrio entre a vontade das partes e a autoridade desta na ex-tensão do efeito compulsório e definitivo da sentença internacional. Ao verem reconhecida sua intenção de recorrer à principal jurisdição das Nações Unidas para a solução pacífica de suas controvérsias, os Estados colocam-se ipso facto sob o império das regras do direito objetivo que dominam o processo internacional, limitam sua sobera-nia e impõem-lhe certas obrigações27. Em outros termos, a sentença judicial não exprime forçosamente a visão das partes, mas é, em larga medida, exterior a essa visão. Resulta que uma vez estabelecido o consentimento pela Corte, o Estado parte em uma controvérsia inter-nacional, não poderia pleitear sua soberania para escapar às obriga-ções do direito internacional a ele imposto. Em última análise, ainda que a autoridade da sentença decorra formalmente do consentimento, seu alcance normativo esta submetido a uma avaliação subjetiva da Corte que independe da aceitação ou do acolhimento pelos Estados.

B) – O potencial de autoridade da sentença da C.I.J. vis à vis de terceiros Estados atingidos ou afeta-dos por sua decisão

A Corte, como no caso relativo à Controvérsia Territorial e Marí-tima entre a Nicarágua e a Colômbia de 201128 faz frequentemente referência ao fato de que seu julgamento é compulsório unicamente para as partes em litígio e no caso decidido. Bem entendido, o vínculo 27 E. Zoller, La bonne foi en droit international public, Pédone, Paris, 1977, p. 123.

28 C.I.J. Doc 2011. Liste général, par: 66-67.

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entre o consentimento e a autoridade da sentença permite às partes, seja de se beneficiar do julgado exigindo a execução, seja de se pro-teger no interior da decisão jurisdicional que determina exatamente o que deve ser executado. Por conseguinte, a sentença jurisdicional se insere em um contexto que não pode prejudicar ou beneficiar tercei-ros Estados. A delimitação do efeito da decisão jurisdicional relativa às partes que manifestaram o seu consentimento possui assim uma dupla natureza. Inicialmente esse vínculo pretende definir o que deve ser executado e quais as partes que devem fazê-lo. Por outro lado, esse vínculo revela-se como mecanismo de proteção dos interesses de terceiros Estados que não poderiam ser obrigados pelo resultado de uma instância à qual não se apresentaram como partes29.

Com efeito, se a regra é simples, a realidade dos fatos pode gerar dificuldades alarmantes, pois o vínculo existente entre Estados partes e terceiros Estados apresenta variações potencialmente significati-vas. Diante de tal desafio a Corte distinguiu os terceiros Estados em uma instância cujo interesse jurídico constitui «o próprio objeto da decisão », dos Estados cujo interesse jurídico será suscetível de ser «atingido, ou afetado» por uma decisão da Corte. A fronteira parece tênue, mas é de profundo significado. No primeiro caso, requere-se o consentimento para que a Corte possa pronunciar-se. Diferentemen-te, no segundo caso a Corte sustenta que os interesses dos terceiros Estados já estão preservados pelo disposto no artigo 59 do Estatuto, ou seja, resguardados pela relatividade da decisão da Corte as partes litigantes. Nesta situação, os terceiros Estados suscetíveis de serem «atingidos, ou afetados» pela decisão da Corte não poderiam impedi-

29 Charles Rousseau trata esta relatividade a partir de dois pontos de vista: uma priori e outro, a posteriori. C. Rousseau, ‘Le règlement arbitral et judiciaire et les Etats tiers’, Problèmes de droit des gens, Mélanges offerts à Henri Rolin, Pédone, Paris, 1964, p.301.

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-la de estatuir sem o seu consentimento, mas guardam a faculdade de intervir nos debates, como indica os artigos 62 e 63 do Estatuto da Corte.

O ponto de partida dessa jurisprudência da Corte pode ser loca-lizado no caso relativo ao Ouro Monetário Removido de Roma em 194330.Tal litígio teve início com a petição da República italiana con-tra a França, o Reino Unido e os Estados Unidos da América31. Ocor-re que a solução do litígio implicaria necessariamente no tratamento de matéria cujo consentimento da Albânia era necessário. Neste caso, a Corte reconhece que os interesses jurídicos da Albânia - que não era uma das partes - seriam não somente atingidos pela sentença, mas constituiriam o próprio objeto da dita decisão32. A Albânia é, portanto parte necessária e, neste sentido, a Corte conclui que ‘o Estatuto não pode ser considerado de modo a autorizar implicitamente a continu-ação do procedimento na sua ausência’33. A Corte aplicou a mesma jurisprudência ao decidir, em 30 de junho de 1995, no caso relativo ao Timor Leste que opunha Portugal e Austrália. Neste litígio, Por-tugal, representando os interesses do Timor Leste, denunciava, em uma ação contra a Austrália, a assinatura por Esta com a Indonésia do tratado do ‘Timor gap’. A Corte reconheceu que não poderia se pronunciar acerca de tal demanda na ausência do consentimento da Indonésia, pois o interesse jurídico desta deve ser visto necessaria-mente como ‘o próprio objeto da decisão’34.

O real significado do princípio do ‘Ouro monetário’ revela então a

30 C.I.J., Rec. 1954, p.9ss.

31 C.I.J. Rec. 1954, p. 33.

32 C.I.J., Rec. 1954, pp.19 ss.

33 C.I.J., Rec 1954, p.32

34 C.I.J., Rec. 1995, p.102.

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complexidade de seu paradoxo. De início, a Corte deve declinar sua própria competência e abster-se de julgar nos termos em que a con-trovérsia foi a ela deferida, se tal fato vier a levá-la a pronunciar-se - expressa ou implicitamente – sobre direitos, pretensões jurídicas ou ainda sobre deveres de Estados com relação às quais, a Corte não tem poderes para julgar, dado que inexiste a base consensual35.

A face oculta dessa jurisprudência implica no reconhecimento de que a Corte pode vir a ser conduzida a pronunciar-se indiretamente sobre a situação jurídica de um terceiro Estado visto que ela teria se pronunciado acercada situação de uma das partes. A Corte de fato admite tal possibilidade na medida em que ela reconhece a distin-ção entre os interesses de terceiros Estados que podem ser somente afetados por sua decisão, mas não constituem o próprio objeto desta. Nesse caso, a Corte poderia exercer suas funções, julgando o litígio e apelando para a proteção decorrente do artigo 59 de seu Estatuto. Existem diversos exemplos de tal procedimento. No caso relativo à Controvérsia de Fronteiras entre a Burkina Faso e a República do Mali, a Corte estimou que ‘sua competência não estaria restringida pelo simples fato de que o ponto terminal da fronteira se situe sobre a fronteira de um terceiro Estado que não é uma das partes nessa instância. A Corte considerou finalmente que: ‘os direitos do Esta-do vizinho, o Níger, estão salvaguardados em todo estado de causa pela aplicação do artigo 59 do Estatuto’. Quanto ao fato de saber se considerações ligadas à salvaguarda dos interesses do terceiro Esta-do envolvido deveria levá-la a abster-se de exercer sua competência para identificar o traçado da linha até o fim, a Corte responde que ‘os

35 Giuseppe Sperduti, ‘L’intervention de l’Etat tiers dans le procès international: une nouvelle orientation’, A.F.D.I., 1986, p.291.

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interesses jurídicos daquele Estado seriam não apenas atingidos, mas haveriam de se constituírem no próprio objeto da decisão. Tal não é o caso atual’36.

Mas, finalmente qual será o peso da autoridade da decisão da Corte frente a terceiros Estados? Penso nos direitos e obrigações em parte ou no todo idênticos, pertencentes a um número de Estados, dentre os quais, alguns são partes em um determinado litígio e outros apresen-tam-se como terceiros. Nesse caso é impossível negar que um juízo da Corte sobre direitos e obrigações das partes teria sido, se não for-malmente, pelo menos materialmente um juízo sobre os direitos e de-veres dos terceiros Estados. A autoridade da decisão há, portanto de ultrapassar forçosamente a fronteira das partes. Neste sentido, alguns exemplos comprovam a dificuldade da matéria. Em 1986, a Corte não hesitou em resolver a questão de saber se um ataque da Nicará-gua contra um dos terceiros Estados (Honduras, El Salvador, Costa Rica) havia ocorrido e, por conseguinte, se um deles tinha direito de agir em autodefesa. Na realidade, ao responder à questão de saber se a ação da Nicarágua - ao apoiar as forças rebeldes em El Salvador - deveria ser vista como ataque armado37, a Corte se posiciona sendo, assim, difícil não verificar certa ofensa ao direito de El Salvador de ver a Corte abster-se de resolver uma controvérsia que não lhe havia sido submetida por Este Estado. A Corte chega mesmo a observar ‘que é inegável que o direito de El Salvador veio a ser afetado pela decisão da Corte’38

O caso relativo a Certas Terras Fosfáticas em Nauru é ainda mais

36 C.I.J.,Rec.1986 , pp. 547ss.

37 C.I.J., Rec. 1986, p.36.

38 C.I.J., Rec. 1986, p.36.

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notável. Neste caso a Austrália buscava demonstrar que o acordo de tutela concluído no quadro das Nações Unidas em 1947, previa que os três governos do Reino Unido, da Nova Zelândia e da Austrália ficariam conjuntamente encarregados de administrar o território de Nauru. Por conseguinte, a Austrália sustentava a inadmissibilida-de da petição de Nauru e a incompetência da Corte alegando que ‘todo julgamento sobre a questão da violação do acordo de tutela redundaria em reconhecer a responsabilidade dos terceiros Estados que não consentiram na jurisdição da Corte no caso atual’39. A Corte rejeitou a exceção levantada pela Austrália e reafirmou que ‘não é necessário que ela se pronuncie sobre a responsabilidade da Nova Zelândia e do Reino Unido a fim de estatuir sobre a responsabilidade da Austrália’40. Nessa circunstância, os interesses dos dois Estados não constituem o objeto da decisão a ser pronunciada sobre o fundo da petição de Nauru e a situação é a esse respeito diferente da que a Corte conheceu no caso do Ouro Monetário. Em definitivo, no litígio atual, os interesses jurídicos dos terceiros Estados seriam apenas afe-tados, mas não se constituiriam no próprio objeto da decisão, o que permitiria à Corte exercer suas funções41.

Nota-se que a Corte reserva evidentemente a obrigatoriedade de sua decisão as partes litigantes. Mas isso não significa que a deci-são não possa vir a ter uma ampla margem de autoridade frente aos terceiros Estados afetados. A comprovação pode ser observada no fato de que, tendo fracassado na fase inicial do processo, o Gover-no australiano, preferindo aparentemente conjurar qualquer risco de

39 C.I.J., Rec. 1992, p. 250-260.

40 C.I.J.,Rec. 1992, p. 259-261.

41 B. Conforti, ‘L’arrêt de la Cour Internationale de Justice dans l’affaire de Certaines terres à phosphates à Nauru (Exceptions préliminaires)’, A.F.D.I., 1992, p. 471.

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perder a causa preferiu pagar mais de 100 milhões de dólares a Nauru com a condição de este desistir de dar continuidade aos procedimen-tos legais.42. Evidentemente, embora os casos de desistência sejam numerosos, esse entendimento amigável apresenta um aspecto inte-ressante: a Grã-Bretanha e a Nova Zelândia que eram associadas à Austrália, na ocasião dos fatos que Nauru reclamava - mas não eram partes litigantes - participaram do financiamento da transação entre a Austrália e Nauru43. Esse acordo ilustra o fato de que a garantia pre-vista no artigo 59 do Estatuto, bem como a garantia oferecida pelo princípio do Ouro Monetário, parecem bem mais formais que reais.

C) – As decisões da Corte podem apresentar uma autoridade de facto sobre os Estados terceiros na medida em que podem interpretar as convenções mul-tilaterais

Com efeito, uma nova problemática surge quando as decisões da Corte apresentam uma autoridade de tal modo condicionante que chega mesmo a vincular de facto os Estados terceiros. Refiro-me, sobretudo, às decisões da Corte que interpretam de forma abstrata as convenções multilaterais. De fato, como observado pela própria Corte: “Não há razão pela qual os Estados não poderiam demandar à Corte uma interpretação abstrata de uma convenção. Esta parece ser uma das suas funções mais importantes”. No entanto, qual será a autoridade de uma decisão judicial proferida em uma disputa entre dois Estados Contratantes, vis à vis das outras partes contratantes? 42 Jean-Marc Thouvenin, «L’arrêt de la C.I.J. du 30 juin 1995 rendu dans l’affaire du Timor oriental (Portugal c. Australie)», A.F.D.I., 1995, p. 334.

43 Ibid, p. 335.

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“O problema se coloca quando é preciso determinar a força obrigató-ria de uma decisão declaratória acerca de uma interpretação abstrata de um tratado multilateral, no que diz respeito aos signatários que não teriam exercido o seu direito de intervir no julgamento. Nesse sentido, a decisão declaratória restaria para aqueles como uma res inter alios acta? Ou seria preciso atribuir a tal julgamento uma força crescente”44?

Em face desse impasse, a posição da doutrina não é uníssona. De uma parte, George Scelle faz referência à incorporação da inter-pretação da regra de direito. Este ilustre jurista reconhece, assim, a aceitação da extensão da autoridade da sentença a todas as partes contratantes, sem distinção da qualidade do signatário. Com efeito, segundo Scelle : ‘Se a decisão internacional conduzir à interpretação abstrata de uma regra de direito positivo [...] convencional, deve--se admitir que esta interpretação objetiva é incorporada à regra de direito uma vez que não se admite a existência de uma interpretação legislativa’45. Tal concepção dos efeitos da sentença da Corte Interna-cional de Justiça é evidentemente contrária ao dispositivo constante no artigo 59 do Estatuto da Corte que dispõe que – para os outros signatários – a sentença entre as partes será necessariamente uma “res inter alios acta”.

Nós nos encontramos, portanto, aqui, diante de um problema com-plexo que pode ser resumido por uma equação um tanto paradoxal46. Se a sentença jurisdicional demandada pelos Estados A e B, a qual

44 N. Scandamis, Le jugement déclaratoire entre Etats; La séparabilité du contentieux inter-national, Pédone, Paris, 1975, p. 289.

45 Georges Scelle, Principes de droit public, Cours D.E.S., Paris, 1942-43, p. 244.

46 J. Limburg, 1L’autorité de la chose jugée des décisions des juridictions internationales’, R.C.A.D.I., vol. 30, 1929, p. 551.

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interpreta certas disposições do tratado sobre as quais esses Estados não estavam de acordo, vier a ser considerada pelos outros Estados contratantes como uma res inter alios acta, o tratado pode não mais possuir o mesmo sentido para todas as partes contratantes. Em ou-tras palavras, o mesmo artigo pode vir a ser interpretado, por duas outras partes contratantes em um sentido diametralmente oposto à interpretação original levada a cabo pelas primeiras partes litigan-tes. Se, ao contrário, considera-se que a sentença jurisdicional deva possuir autoridade estendida a todos os Estados partes do Tratado, uma interpretação solicitada por duas das partes pode apresentar for-ça obrigatória para todas as outras partes contratantes. Neste caso, as partes contratantes, mas não litigantes poderiam reclamar que estas não teriam manifestado nenhum consentimento sobre o procedimen-to que acaba de ser concluído; ou, ainda, que elas não teriam neces-sidade de nenhuma interpretação judiciária, uma vez que estavam em consonância entre si com o sentido das disposições que deram lugar ao processo jurisdicional47. Em outras palavras, significa dizer que as partes contratantes, mas não litigantes, não colaboraram para a modificação do Tratado, modificação que, como consequência, não poderá apresentar nenhum efeito para elas.

Esta conclusão não esgota, porém, o problema. Pode ocorrer que uma demanda de interpretação de um determinado dispositivo de uma convenção multilateral venha a surgir entre um Estado (que já era parte de uma disputa anterior cujo objeto era a interpretação da mesma convenção) e outro consignatário da mesma convenção (que não era parte na disputa precedente). As possibilidades são inúmeras.

47 J. Limburg, 1L’autorité de la chose jugée des décisions des juridictions internationales’, R.C.A.D.I., vol. 30, 1929,, p. 551.

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De fato, pode ocorrer, ainda, que após uma decisão de interpretação de uma convenção, dois outros consignatários (que não eram partes na disputa anterior) decidam enviar à jurisdição internacional uma nova demanda idêntica de interpretação da mesma convenção. Por fim, há a possibilidade de que se consubstancie uma disputa entre dois Estados em torno da interpretação de uma convenção e que fu-turamente dois ou mais Estados tenham formalizado entre eles, e de forma separada, exatamente a mesma convenção.

É evidente que, em todos estes casos, se o Estado terceiro não está de acordo com a decisão da Corte e, possuindo este, argumentos de fato e de direito para fundamentar uma posição diferente, nada lhe proíbe de propor uma demanda junto a um tribunal arbitral ou à própria Corte acerca dessa mesma questão. Resta claro que a coi-sa julgada da primeira decisão não pode ser estendida para a nova demanda, na falta de identidade das partes. Esta regra em nada fica prejudicada pela decisão anterior.

Entretanto, a autoridade de facto da decisão precedente é de tal forma conclusiva que não se vê claramente como uma jurisdição in-ternacional possa vir a interpretar de duas maneiras distintas uma convenção em razão de uma nova disputa entre outras partes. Corre--se o risco, pois, que o peso da primeira decisão intervenha de for-ma decisiva na balança, ou caso contrário, permita que se estabeleça uma contradição entre duas decisões sendo a segunda contrária à primeira48. Pode-se concluir, pois, que a autoridade de facto de uma decisão anterior pode ir além de uma simples clarificação do direito. A necessidade social, mais do que nunca, aumenta o potencial de autoridade da decisão anterior sem exigir, para tanto, que a jurisdição 48 J. Salmon, ‘Autorité des prononcés de la Cour internationale de La Haye’, Arguments d’autorité et arguments de raison en droit, Nemesis, Bruxelles, 1988, p.33.

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internacional reproduza o seu fundamento formal.A jurisprudência da Corte demonstra claramente essa controversa

possibilidade. Refiro-me, por exemplo, ao fato de que - no caso rela-tivo às Ações Armadas Fronteiriças e Transfronteiriças (competência e admissibilidade)49entre Nicarágua e Honduras - não há como negar o impacto da interpretação dada pela Corte do artigo XXXI do pacto de Bogotá, que fundamentou o estabelecimento da sua competência, sobre as relações dos outros Estados-partes contratantes do referido pacto. Por se tratar de convenção multilateral este mesmo artigo, e a referida interpretação da Corte, pode evidentemente servir de base para novas solicitações e arguições de competência. Outro exemplo pode ser observado no caso da Elettronica Sicula S.P.A.50. Nesta oca-sião a C.I.J. analisa e interpreta os artigos III, V et VII do Tratado de Amizade, de Comércio e de Navegação (FCN) entre os Estados Uni-dos e a Itália, assim como o artigo primeiro do acordo complemen-tar51. No entanto, essas disposições jurídicas foram constantemente reafirmadas em numerosos tratados com características similares e foram, também, ratificadas pelos Estados Unidos frente a diferentes partes52. Com efeito, a C.I.J. teve a oportunidade de analisar e inter-pretar outras disposições figurando sobre os Tratados (FCN) no caso do Incidente aéreo de 3 de julho de 198853, no caso das Atividades 49 C.I.J., Rec. 1988, pp. 69-107

50 C.I.J., Rec. 1989, pp. 15-82.

51 C.I.J., Rec. 1989, pp. 48-49.

52 Dezesseis instrumentos deste tipo serão concluídos pelos Estados Unidos, notadamente com a Alemanha, China, Dinamarca, Iran, Irlanda, Itália e Japão. Patrick Juillard, « L’arrêt de la Cour Inter-nationale de Justice (Chambre) du 20 juillet 1989 dans l’affaire de L’Elettronica Sicula (Etats-Unis c. Italie) procès sur un traité ou procès d’un traité’ ?, A.F.D.I., 1989, pp. 288-289.

53 G. Guyomar, ‘L’ordonnance du 13 décembre 1989 dans l’affaire de l’Incidente aérien du 3 juillet 1988, Iran c. Etats-Unis’, A.F.D.I., 1990, pp. 390-394.

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Militares e Paramilitares da Nicarágua e Contra Esta54 e, ainda, na questão das Plataformas Petrolíferas(República Islâmica do Iran c. Estados Unidos da América – exceção preliminar)55.

Há, finalmente, outro importante exemplo. No caso relativo à Aplicação da Convenção para Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio de 1996, a Bósnia Herzégovina apresentou sua demanda contra a Ex-Iugoslávia com base no artigo IX da Convenção sobre o Genocídio. A Corte aceitou seus argumentos e considerou-se com-petente sob esse fundamento. Ela chega, até mesmo, a reafirmar a sua posição mediante uma segunda decisão no caso da Demanda de Revisão da Sentença de 11 de julho de 1996. Todavia, a C.I.J., na ocasião de uma nova demanda provocada pela Sérvia e Montenegro contra 8 Estados membros da Otan, decidiu sobre o mesmo ponto e questão de uma maneira consideravelmente diferente. Com efeito, em 8 decisões de 15 de dezembro de 2004, a C.I.J não se reconheceu competente com base no mesmo dispositivo previsto na Convenção de 1948 que havia previamente fundado sua competência.

O que vale destacar, portanto, neste momento, não é o reconheci-mento da capacidade da Corte, para julgar de forma distinta, deman-das de casos ou questões de natureza similar. Este é sem dúvida o fundamento contido no artigo 59 de seu Estatuto. O que nos interes-sa, aqui é demonstrar a oposição marcante diante da tomada de tal posicionamento. Na realidade, longe da unanimidade conveniente a uma decisão da Corte Internacional de Justiça, observa-se que, neste

54 Fred L. Morison, ‘Treaties as a Source of Jurisdiction Especially in U.S. Practice’, ‘The International Court of Justice at crossroads’, LoriF. Damrosch, Transnational publishers, New York, 1987, p. 65.

55 O caso das Plataformas petrolíferas (República Islâmica do Iran c. Estados Unidos da Amé-rica) (exceção preliminar), C.I.J. Rec. 1997, §§. 12-16.

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caso, 7 juízes juntaram uma declaração individual criticando, de uma maneira consideravelmente enérgica, a referida decisão da Corte56.

D) – A autoridade da sentença da C.I.J. pode ir além das partes e do caso decidido, tendo em vista sua aptidão para revelar ou inspirar a formação do direito internacional

O artigo 38, §1, (d), do Estatuto da C.I.J, prevê o caráter não vincu-lante das decisões jurisdicionais precedentes e, por consequência, sua utilização como meio auxiliar de determinação das regras de direito. Essa interpretação formal está de acordo com o previsto no artigo 59 do Estatuto da C.I.J. e se justifica no fato de que, temendo que o precedente vinculante aportasse à Corte uma grande influência sobre o desenvolvimento do direito internacional, os Estados delegaram à principal jurisdição das Nações Unidas a competência exclusiva para declarar o direito e não para criá-lo57.

Nesse contexto, uma nova questão se coloca. Seria a autoridade da sentença emanada da C.I.J. capaz de ir além das partes e do caso decidido, uma vez que ela é apta a revelar ou inspirar a formação do direito internacional58. A resposta é formalmente simples, mas um olhar atento pode revelar uma profunda complexidade já que a Corte inegavelmente reconheceu, como foi observado por Fitzmaurice, que suas decisões devem ser vistas como ‘authority, but not necessarily

56 A. Pellet, The Statute of the International Court of Justice, A commentary: Article 38. An-dreas Zimmermann, Christian Tomuschat, Karin Oellers-Frahm, Oxford University Press, p. 786.

57 Como destaca a C.I.J. no caso doCamarão Septentrional, exceções preliminares: ‘a função da Corte é de dizer o direito’, C.I.J., Rec. 1963, pp. 33-34.

58 A. Boyle, C. Chinkin, ‘The making of International Law’, 268, 2007.

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as authoritative’59. A questão, como aponta a Corte nas objeções preliminares relativas

à questão da Nigéria no caso das Fronteiras Terrestres e Marítimas de 1998, é a de saber por qual razão ela não deve seguir seus argu-mentos anteriores60. De fato, a própria Corte se esforça para recordar, sistemática e exaustivamente, suas posições anteriores com relação a um mesmo ponto. Ela pretende, assim, demonstrar a constância de seus julgados, a continuidade de sua jurisprudência e a harmonia no desenvolvimento do direito internacional. Na realidade, a referência à sua própria jurisprudência tornou-se um dos traços mais caracte-rísticos da prática levada a efeito pelas duas Cortes61. Apenas como exemplos recentes, podemos ver que, no caso de Kasikili Sedudude 1999, a Corte fez referência à sete jurisprudências anteriores uni-camente para mostrar que a atuação prática das partes logo após o estabelecimento dos tratados deve ter sua importância reconhecida

59 G.Fitzmaurice, ‘The Law and Procedure of the International Court of Justice’, vol.I, p. xxxii, note.22.

60 C.I.J., Rec 1998, pp. 275-292.

61 S. Bastid, ‘La jurisprudence de la Cour internationale de Justice’, R.C.A.D.I., vol. I, 1951, p.631. G. Scelle, ‘Les sources des diverses branches du droit, Essais sur les sources formelles du droit international’, in Recueil d’études sur les sources du droit en l’honneur de François Gény, Paris, 1934, III, p. 427. H. Lauterpacht, ‘The Development of International Law by the International Court’, Stevens and Sons, Londres, 1959, p. 15. Julio.A.Barberis, ‘La Jurisprudencia Internacional como Fuente de Derecho de Gentes Segun la Corte de la Haya’, ZoV, vol. 31, 1971, pp. 641-670. S. Rosenne, ‘The Law and the Practice of the International Court’, Martinus Nijhoff, La Haye, 1997, pp. 231-232. Assim, no casoMavrommatisC.P.J.I., série A, n°2, p. 16, a C.P.J.I. faz referência a seu parecer consultivo de 7 de fevereiro de 1923 no caso doDecreto de Nacionalidade promulgado na Tunísia e no Marrocos(C.P.J.I., série B, n°4., p. 12). No parecer consultivo relativo a Escola Minoritária na Albania, a C.P.J.I. faz referência ao seu parecer consultivo n° 7 e ao parecer consultivo n°6 (C.P.J.I., série A/B, n°64, p. 20). No caso daCompanhia de Eletricidade da Sofia e da Bulgária, a Corte insiste sobre o que ela já havia dito no caso doFosfato do Marrocos(C.P.J.I., série A/B n°77, p. 82). No caso daReparação dos Danos Oriundos do Serviço das Nações Unidas, a C.I.J. reconhece o ‘implied power’ e apoia sua constatação sobre o fato de que a C.P.J.I. já o havia considerado em seu parecer consultivo n°13 (C.P.J.I., série B, n°13, p. 18). No caso do parecer consultivo Relativo a Competência da Assembléia Geral para a Ad-missão de um Estado nas Nações Unidas, a Corte incorpora aquilo que ela já havia preceituado no caso doServiço Postal Polonês, C.I.J. Rec.1950, p. 8. No casoRelativo a Certos Empréstimos Noruegueses, a Corte funda sua decisão sobre a jurisprudência da C.P.J.I. (C.I.J.,Rec.1957, pp. 23-24).

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no momento de sua interpretação62. Da mesma forma, consoante a opinião consultiva da Corte relativa às Conseqüências Jurídicas da Edificação de um Muro no Território Palestino Ocupado63, a Corte fez 28 referências cruzadas à decisões precedentes64.

Tal realidade deixa claro que, não obstante o fato de a Corte jul-gar de acordo com as circunstâncias e ter a prerrogativa de dar so-luções diferentes em razão da conjectura delineada, do momento da demanda e das características da questão não se pode negar a força do precedente na formação do direito internacional.

Mas isso não é tudo. Na verdade, como reagir quando a Corte ser-ve como agente revelador e formador do direito internacional? Na realidade, já no seio do Comitê consultivo de juristas encarregados de elaborar o projeto do Estatuto da C.P.J.I.65, a questão de saber se as decisões jurisdicionais declaram o direito existente ou se elas contribuem para a criação do direito internacional foi levantada, e a solução encontrada não ocultava uma considerável ambivalência66. Ao julgar, a Corte faz, normalmente, uma escolha entre diversas pos-sibilidades normativas. Contudo, ela não relega seu poder de decidir em razão do silêncio ou da obscuridade do direito. Dito isto, ela pode igualmente interpretar o sentido das normas internacionais, embora

62 C.I.J. Rec. 1999, pp. 1045-1076.

63 C.I.J., Rec. 2004, pp. 135, 154-156

64 A. Pellet, The Statute of the International Court of Justice, A commentary: Article 38. An-dreas Zimmermann, Christian Tomuschat, Karin Oellers-Frahm, Oxford University Press, p. 785.

65 ‘Segundo a proposta histórica seguida pelo Barão Descamps no Comité Consultivo de Ju-ristas, o juiz, quando da solução de disputas internacionais deve considerar, inter alia, a jurisprudência internacional como um meio para a aplicação e desenvolvimento de direito. M. Bos, ‘A Methodolo-gie of International Law’, North Holand, Amsterdam, 1984, pp.75-76. C.P.J.I., Comité consultatif des juristes, Procès-Verbaux des Séances du Comité, 16 juin -24 juillet 1920, avec annexes, La Haye, 1920, pp. 673-695.

66 M. Shahabuddeen, ‘ Precedent in the World Court’, Grotius Publications, Cambridge, 1996, p. 48.

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não possa revisá-los67. Nesse caso, não restam dúvidas de que a Corte pode contribuir para o desenvolvimento do direito internacional68. Tal fato já foi inclusive devidamente reconhecido pela Assembleia Geral desde 1947.

A solução de um caso específico, em direito internacional, possui profundas repercussões. Os conceitos utilizados podem alcançar um valor quase legislativo a despeito de todas as explicações jurídicas que pretendem determinar que a sentença tem necessariamente um efeito normativo apenas entre as partes envolvidas69. Na realidade, a distinção entre os conceitos de desenvolvimento progressivo (que teoricamente deve preencher a lacuna oriunda do silêncio do direito e respeitar a natureza inter partes da decisão) e o eventual exercí-cio legislativo da Corte é de tal modo estreita que se pode chegar a confundi-los segundo as conveniências70.

A Corte não resta insensível a esses argumentos. Sua jurisprudência no caso da Aplicação da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio é clara. A Corte determina que a intenção do demandante, (…), não é de obter uma orientação para que ela indique o dever do defensor de observar certas disposições para a salvaguarda dos direitos do demandante, mas, principalmente, que a Corte faça uma declaração definindo esses direitos, declaração esta que ‘clarificaria a situação jurídica em consonância à intenção do

67 C.I.J. Rec. 1966, par. 91.

68 A. Pellet, ‘Shaping the Future of International Law: The Role of the World Court in Law-Making, in Looking to the Future’: ‘Essays on International Law in Honor of W. Michael Reisman’, pp. 1065-1083.

69 Opinião do Juiz Azevedo no caso do Droit d’asile.C.I.J., Rec.1950, p. 332.

70 W. M. Reisman, ‘Judge Shigeru Oda: Reflections on the formation of a Judge’, in Liber Amicorum Judge Shigeru Oda, 2002, p.66

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conjunto da comunidade internacional’71. Com efeito, na decisão pro-ferida no caso da Plataforma Continental do Mar do Norte a C.I.J. explicitamente admitiu que, a despeito do artigo 59 de seu Estatuto, um raciocínio e uma conclusão jurídica dela proveniente poderia ser invocado diretamente nas relações entre Estados terceiros. Assim, a Corte sustenta que: ‘é evidente que toda decisão sobre a situação do Ato de 1928, pelo qual a Corte declarava que esta é ou não é mais uma convenção em vigor, poderia influenciar as relações de outros Estados além da Grécia e da Turquia’72.

Na realidade, a autoridade da sentença emanada da Corte frente a terceiros pode apresentar uma abordagem consideravelmente pro-gressiva. De fato, ainda que a Corte evite fazer referência a certa capacidade legislativa, ela não hesita, quando isso lhe parece neces-sário, a interferir no processo de elaboração normativa, seja quan-do ela completa a norma, seja quando ela a influencia seja, ainda, quando ela decide prevenir ou retardar as evoluções em curso73. Isto posto, não se trata mais de demonstrar o vínculo entre uma sentença e uma decisão precedente, mas de verificar que, apesar do que dispõe o artigo 59 do Estatuto da Corte, algumas decisões já consolidadas e clássicas tornar-se-ão decisivas para a formação do direito inter-nacional e possuirão uma autoridade que vai além das partes e do caso decidido. O jogo de palavras entre o exercício legislativo e o desenvolvimento progressivo do direito aparece, assim, como uma proteção puramente cosmética.

71 C.I.J. Rec. 1993, pp. 325-344.

72 C.I.J., Rec.1978, p. 17.

73 A. Pellet, ‘L’adaptation Du droit international aux besoins changeants de la société interna-tionale’, Conférence inaugurale session de droit international public, Académie de Droit International de la Haye, 2007, p. 44.

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Esse cenário é tão verdadeiro, que no caso Mavrommatis e no caso relativo à Usina de Chorzow, a C.P.J.I. elaborou os princípios funda-mentais do direito da responsabilidade internacional. O parecer con-sultivo concernente à Reparação dos Danos Sofridos no Serviço das Nações Unidas reconheceu, finalmente, a personalidade jurídica das Organizações Internacionais. Por outro lado, o parecer consultivo re-ferente às Reservas a Convenção sobre o Genocídio representou uma reconsideração ou um reexame das regras aplicáveis às reservas nos tratados multilaterais. O caso da Plataforma Continental do Mar do Norte delineou, também, a origem das regras que orbitam em torno da plataforma continental. A questão da Delimitação Marítima no Mar Negro definiu igualmente as etapas segundo as quais deve se pautar o procedimento de delimitações das plataformas continentais ou das zonas econômicas exclusivas ou, ainda, a concepção de uma simples linha demarcatória. Ademais, o caso das Pescarias contem declarações importantes relativas às regras que trataram das águas costeiras. A comprovação do que se expõe pode ser encontrada na observância da celeridade com a qual os pareceres emanados pela Corte foram devidamente transpostos para a Convenção de Genebra de 195874.

Isso demonstra, em outra perspectiva, que a sentença da C.I.J. pode apresentar certa autoridade independente do consentimento, vez que as fórmulas jurisprudenciais podem subsidiar as principais fontes do direito internacional e, assim, contribuir, de maneira decisiva, para a criação de normas de natureza obrigatória, ainda que por outros meios. Há, nesse intento, importantes exemplos ilustrativos. O re-

74 M. Shahabuddeen, ‘Precedent in the World Court’, Grotius Publications, Cambridge, 1996, p.209. H.Thierry, ‘L’évolution du droit international’, R.C.A.D.I., vol.222, 1990, p. 42.

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171As Transformações Do Direito Internacional e Algumas Visões Sobre um Eventual Processo de Constitucionalização

As transformações do direito internacional e algumas visões so-bre um eventual processo de constitucionalização

Marcelo D. Varella1

O direito internacional ganha densidade e é objeto de intensas transformações nos últimos anos: multiplicação de fontes, de atores, de métodos de implementação, e tribunais. Este processo é acompa-nhado por um fenômeno de maior adensamento de juridicidade de determinados subsistemas júridicos, com a criação de determinados núcleos normativos praticamente obrigatórios a todos Estados. Vá-rios autores identificam em diferentes vertentes deste fenômeno um processo de “constitucionalização”.

Diferentes fatores contribuem para as transformações normativas: políticos, econômicos, científicos, ambientais, sanitários, entre vários outros. No plano político, o fim da União Soviética tornou possível a construção do poder por meio de normas jurídicas, sobretudo no to-cante ao direito de ingerência humanitária, no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. No campo econômico, nota-se o avanço do liberalismo e a reformatação de instituições que servem para viabilizar a maior integração comercial, financeira e econômica multilateral. No campo tecnológico, há o desvanecimento dos con-ceitos de tempo e espaço que permitem a maior integração global, com a criação de comunidades transnacionais, em diferentes temas e contextos. No plano ambiental, descobrem-se problemas globais compartilhados, que exigem soluções acordadas globalmente. Nos assuntos sanitários, a luta contra pandemias torna-se um dos mais bem sucedidos exemplos de iniciativas coordenadas globalmente.

Todos estes fatores contribuem para alterar o sistema jurídico, que é obrigado a oferecer respostas, de acordo com suas próprias lógicas, para os demais sistemas sociais. Em algumas situações, o sistema jurídico oferece obstáculos de difícil transposição para os processos de integração. O apego a elementos culturais nacionais, dificuldades de tradução de linguagens e valores e mesmo o desconhecimento do 1 Doutor em Direito pela Universidade de Paris. Professor do Programa de Mestrado e Dou-torado do Centro Universitário de Brasília. Pesquisador do CNPq. Visiting Scholar na Faculdade de Direito da George Washington University (EUA). Email: [email protected]

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estrangeiro dificultam a integração.

Os principais fatores de superação de todos os difíceis obstáculos são as crises, que afetam os diferentes sistemas sociais e impõem aos Estados a necessidade de atuar em conjunto. De fato, compartilha-mos a ideia de que a comunidade internacional se movimenta para soluções comuns, mas pelo medo dos efeitos negativos da ação isola-da do que na busca de objetivos comuns de desenvolvimento. Crises2 ambientais, terroristas, humanitárias, pandêmicas e financeiras estão entre os principais elementos que movimentam este processo. Vive--se uma era de transições, como diria Habermas, em direção a um cenário ainda desconhecido3.

O objetivo deste artigo é discutir diferentes visões sobre a interpre-tação de partes deste fenômeno como um processo de constituciona-lização. Para desenvolver o tema, pretendemos avaliar rapidamente quais os principais efeitos das transformações sociais sobre as dife-rentes formas de construção, implementação e controle do direito, para em seguida, mostrar quais elementos deste fenômeno têm sido considerado com parte de um processo de constitucionalização.

O direito nacional se internacionaliza, basicamente por dois pro-cessos: primeiro, há uma intensificação dos instrumentos tradicio-nais de construção de tratados, costumes e outras fontes de direito internacional. Segundo, há a aproximação dos sistemas jurídicos nacionais, públicos e privados, por meio da ação de redes de atores, descentralizados, que criam normas próprias independente do con-trole estatal central.

1. A expansão do direito internacional pelos mecanismos tradi-cionais

No plano estatal, por sua vez, nota-se a transformação do direito

2 Ver as diferentes obras de Ulrich Beck (Sociedade do Risco e outras) e de Hans Jonas e Marie-Angèle Hermitte, sobre o tema.

3 HABERMAS, J. Era das transições. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

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internacional. Certos ramos do direito sofrem um processo rápido de transformação, sobretudo nos últimos vinte anos. É o caso do direito internacional humanitário, da proteção internacional dos direitos hu-manos, do direito ambiental, do direito econômico, do direito penal internacional e de vários outros. É importante tecer alguns comentá-rios rápidos sobre as mudanças em cada um destes subsistemas que mais sofreram a internacionalização, para poder ter os elementos ne-cessários para a discussão. Chamamos de subsistemas os conjuntos normativos específicos (ou ramos do direito), mas que contem uma lógica própria, muitas vezes de pretensão universalizante4.

O direito internacional humanitário compreende o conjunto de normas e princípios derivados das ações de ingerência, em especial do Conselho de Segurança da ONU, voltadas para a violação massi-va de direitos humanos. Trata-se de um conjunto normativo, criado por um grupo seleto de países – os quinze membros do Conselho de Segurança, com primazia dos cinco membros permanentes (Rússia, Estados Unidos, Reino Unido, França e China), que têm poder de veto. Estes países têm o poder de criar normas (atos unilaterais) que se tornam imediatamente imponíveis a todos os países do mundo, mesmo àqueles que não são membros da ONU.Os Estados que não as cumprem podem ser objeto de retaliações militares em nome da Comunidade Internacional.

Não se tratam de medidas comuns. As resoluções do Conselho de Segurança (decisões e recomendações) podem compreender o blo-queio de bens de pessoas físicas, jurídicas ou Estados; embargos eco-nômicos ou militares, a criação de tribunais com competência para aplicar penas de prisão ou penas de morte, o envio de tropas a Es-tados, a deposição de lideres políticos, a convocação de eleições ou indicação de administradores temporários para os países sob inter-venção e até a divisão do pais em vários países independentes. Em outras, palavras, em nome da paz internacional, não há muita coisa que o Conselho de Segurança esteja privado de realizar.

Impressiona o aumento da quantidade e qualidade das resoluções publicadas pelo Conselho de Segurança nos últimos vinte anos. Des-4 Neste sentido, ver os trabalhos de Gunther Teubner, em especial .”And if I by Beelzebub cast out Devils,...”: An Essay on the Diabolics of Network Failure. In: German Law Journal 10, Special Issue: The Law of the Network Society: A Tribute to Karl-Heinz Ladeur, 2009, 115-136

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de a queda do Muro de Berlim e o esfacelamento do império so-viético, tornou-se um campo propício a construção de relações de poder por meio de normas jurídicas. Os atos unilaterais do Conselho de Segurança atingem hoje praticamente todos os países do planeta. Não há praticamente nenhum Estado fora deste processo, seja como fonte de tropas para as ações de ingerência, seja como objeto da in-gerência internacional. O numero de resoluções publicadas por ano entre 1990 e 2010 é cerca de 14 vezes superior ao período entre 1946 e 1989.

Qualitativamente, as ações foram mais incisivas. Antes de 1989, a única intervenção em nome da Comunidade Internacional, aprovada pelo Conselho de Segurança ocorreu na Coréia, nos anos 505. Desde 1990, a ONU autorizou ações em todos os Continentes. Na Áfri-ca, Angola, Namíbia, Moçambique, Somália, Ruanda, Serra Leoa, República Centro-Africana, Eritréia, Etiópia, Congo, Chade, Sudão. Nas Américas, República Dominicana, Haiti, El Salvador, Guatema-la. Na Ásia, no Camboja, Croácia, Bósnia, Iugoslávia. No Oriente Médio, no Iraque e no Kuait. Atualmente, há cerca de 16 operações em andamento, com ou menor grau de ingerência nas ações internas dos Estados envolvidos.

As resoluções do Conselho de Segurança são consideradas como normas obrigatórias, imponíveis a todos os Estados, mesmo àqueles que não são membros da Organização das Nações Unidas.

A priori, a competência de ação do Conselho de Segurança está limitada apenas a situações onde há ameaça da paz internacional, um conceito tradicionalmente relacionado a guerras entre países. No entanto, desde 1990, houve uma expansão do conceito para situações restritas as fronteiras nacionais, como a morte de civis, a tortura, o desaparecimento forçado de pessoas e outros crimes considerados como crimes contra a humanidade.

O direito internacional econômico ganhou novas dimensões a partir da criação da Organização Mundial do Comércio, em 1995. 5 A intervenção apenas foi aprovada porque a União Soviética se absteve de votar, em fun-ção do boicote pelo reconhecimento do Governo de Taiwan como legítimo representante da China no Conselho de Segurança. Os soviéticos acreditavam que a abstenção seria considerada uma forma de veto, mas finalmente foi considerada insuficiente para bloquear a ação coletiva. Os demais dados apresentados nesta parte vêm do site do Conselho de Segurança da ONU (www.un.org/sc, acesso em 13.02.2012).

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O seu Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) é responsável pelo controle e indução ao cumprimento de cerca de 50 tratados multila-terais sobre diferentes temas, que vão desde o comércio de bens, ser-viços, até acordos setoriais bastante específicos, como aviação civil, compras públicas, investimentos ou propriedade intelectual. Diversos temas relacionados direta ou indiretamente com o comércio, antes de competência exclusiva das autoridades nacionais, foram regulados pela OMC e podem ser objeto da apreciação pelo seu tribunal. Entre os temas mais polêmicos, encontram-se os critérios para aplicação de medidas anti-dumping, normas de propriedade intelectual, questões relacionadas a segurança alimentar, restrições comerciais em nome do meio ambiente e da saúde humana e barreiras técnicas.

O principal mecanismo de indução ao cumprimento são as nor-mas para solução de litígios. O OSC já se tornou um dos principais tribunais internacionais em funcionamento. Seu caráter jurisdicional, dúbio em um primeiro momento, hoje é ponto pacífico na teoria jurídica. O Sistema como um todo prevê várias etapas progressivas, em que os Estados defendem interesses comerciais de suas empresas (regra geral) e tentam resolver pacificamente qualquer litígio envol-vendo comércio ou outros acordos da OMC. Assim, em face de uma situação concreta de dano ou quebra de expectativa (não-prejuizo), os Estados devem passar por tentativas de negociação bilateral, como negociação diplomática, depois conciliação, com períodos mínimos pré-estabelecidos. No caso de insucesso, podem recorrer a mecanis-mos arbitrais e, por último, a um sistema jurisdicional. O Tribunal de Apelação, com 7 juízes, condena os Estados a retirar determinada medida que viola o direito da OMC. Em geral, são normas admi-nistrativas ou legislativas posteriores aos tratados de 1995 e que, de acordo com o direito interno da maioria dos Estados, prevaleceriam sobre as normas internacionais, ainda que gerassem a ilicitude do Estado face ao direito internacional. Todo o processo dura em torno de um ano e meio a três anos, conforme um rígido calendário que apenas em raros casos foi descumprido pela Organização. Ao todo, já foram protocolados mais de 400 processos, com um índice de cum-primento das decisões superior a 83%, bastante alto mesmo para o direito interno.

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A novidade do sistema OSC/OMC está no mecanismo criativo de indução ao cumprimento de suas decisões. Este deve ser suficien-temente forte para fazer com que o Estado em situação ilícita alte-re uma norma nacional considerada muitas vezes válida no plano domestico, em favor de um grupo econômico politicamente forte e ceder aos interesses de outros países, em valores que variam entre algumas centenas de milhões de dólares a vários bilhões. Ao publi-car o relatório, o Órgão concede um prazo de até 18 meses para o Estado derrotado alterar suas práticas consideradas violadoras do direito internacional econômico. A supervisão se dá pelo Estado in-teressado. Passado o período, face a manutenção da situação ilícita, o interessado pode solicitar o direito de retaliar economicamente o pais em situação irregular, até que a mesma seja corrigida. O Estado retaliado não tem o direito de contra-retaliar. Na prática, os Estados interessados escolhem setores politicamente fortes, como vitimas da retaliação, de forma a criar antagonismos entre setores econômicos dentro do Estado em situação irregular. Assim, o interesse pelo cum-primento não virá da pressão de um tribunal internacional, mas gru-pos políticos internos que agora são colocados em conflito.

Na prática, mesmo os Estados desenvolvidos mais poderosos, como Estados Unidos, preferem cumprir as decisões da OMC do que simplesmente ignorar as retaliações. A manutenção da legitimidade do sistema é buscada de forma a permitir a sua consolidação e expan-são sobre novos temas. Uma vez que os ganhos com a consolidação de processos jurídicos transnacionais e a existência de um sistema econômico internacional orientado por regras é de interesse destes Estados, eles preferem assumir perdas pontuais a ameaçar a legitimi-dade do conjunto. Assim, as normas da OMC tornam-se imponíveis e têm um índice de cumprimento, tanto ou mais do que normas na-cionais equivalentes.

A proteção internacional dos direitos humanos se expande a partir de uma lógica própria, diferente das anteriores. Há diferen-tes movimentos paralelos. Primeiro, em vários países, os tratados de direitos humanos foram erigidos a status quasi-constitucional. Em alguns Estados, como o Brasil, foram criados procedimentos para a

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incorporação direta dos tratados de direitos humanos ao texto consti-tucional. Segundo, houve a proliferação de tratados de direitos huma-nos, centrados em diferentes temas importantes, como proteção das mulheres, crianças, pessoas portadoras de necessidades especiais, discriminação racial, prevenção contra a tortura, desaparecimento forcado, direitos de imigrantes, entre outros.

Trata-se de um conjunto normativo forte, que se impõe aos Estados, não necessariamente por tratados, mas pelos avanços de discursos entre diferentes atores subnacionais, públicos e privados. Constrói-se uma lógica de pertencimento ou não a um grupo de países com pa-drões civilizatórios mais avançados, padrões estes que são, sobretudo fixados pelos avanços normativos europeus ou impostos pelos tribu-nais regionais de direitos humanos. Critica-se assim a existência de um sistema produtor de normas, Europa e Estados Unidos, e diferen-tes pólos consumidores, em uma relação unilateral. A desobediência ou não-adoção de uma determinada proteção é considerada com um desvio do Estado em relação aos padrões de uma civilização mais avançada.

Ao contrario do direito internacional humanitário e do direito in-ternacional econômico, que têm mecanismos mais centralizados de tomada de decisões, na proteção internacional dos direitos humanos, existem dois tribunais regionais mais ativos e um terceiro em imple-mentação. No plano europeu, destaca-se a atuação da Corte Européia de Direitos Humanos e, no americano, a Corte Interamericana de Di-reitos Humanos. Na África, há um tribunal em implementação, mas ainda precário6. No plano global, destaca-se a Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, que atua globalmente, muitas vezes com uma função quasi-judicial.

Estes tribunais não têm poder de retaliar Estados, nem autorizar retaliações. Suas decisões, sobretudo no contexto interamericano, não têm a mesma efetividade dos demais órgãos. No entanto, os dis-cursos comunicativos dos direitos humanos têm sido consideradas como fortes o suficiente para alterar questões fundamentais dos orde-namentos jurídicos nacionais. No âmbito europeu, tem sido a lógica fundamental da integração regional. No âmbito interamericano, tem

6 Não há mecanismos similares nos demais continentes.

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sido incisivo em questões centrais. No Brasil, em especial, destaca--se pelas negociações ou condenações que deram origem a Lei Maria da Penha, contra a violência domestica (a partir do Caso Maria da Penha); na reforma do sistema manicomial (a partir do caso Ximenes Lopes); na criação das Comissões da Verdade (a partir do caso sobre a Guerrilha do Araguaia); e na revisão das regras para escutas telefô-nicas (a partir do caso Escher).

O direito internacional ambiental também tem lógica própria, agora mais descentralizada, menos cogente, mas igualmente rele-vante. O tema ganha relevância na mesma época, a partir dos anos 90, com a realização de diferentes conferencias ambientais de grande porte, cada uma com mais de 120, por vezes, 170 chefes de Estado, como as Conferencias das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; Desenvolvimento Social; Estabelecimentos Hu-manos, Habitat e Mulheres.Diferentes organizações internacionais cuidam das questões ambientais, como a ONU e suas instituições, a OMC, o Banco Mundial e o FMI, os acordos regionais e diferentes organizações bilaterais.

O direito internacional do meio ambiente se construiu a partir da proliferação de tratados multilaterais sobre diferentes temas. De um direito voltado para a poluição, passou a regular os bens comuns da humanidade, como mar internacional, Antártica, corpos celestes, para em seguida tratar de cursos hídricos, então biodiversidade, mudanças climáticas, além de diferentes temas até então tipicamente de direito interno, relacionados não apenas a natureza, mas também a saúde hu-mana. De certa forma, absorveu princípios fundamentais do antigo direito do desenvolvimento, como o princípio das responsabilidades comuns mais diferenciadas, que fundamenta o mercado de carbono com países em desenvolvimento no contexto da Convenção sobre Mudanças Climáticas.

Ao mesmo tempo, houve a proliferação de tratados com mecanis-mos de controle mais rígidos. Até os anos 90, a maioria dos tratados ambientais eram controlados por relatórios, produzidos pelos próprios Estados, sem possibilidade de controle ou questionamentos externos. Raramente os próprios Estados se denunciavam ou apontavam falhas em suas gestões. Nos últimos vinte anos, nota-se a adoção sistemá-

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tica de procedimentos de contestação, por outros Estados ou ONGs; a adoção de metodologias comuns de produção de informações; a criação de instrumentos de controle por organizações internacionais e mesmo procedimentos de investigação, em caso de suspeitas de descumprimento.

De forma semelhante aos direitos humanos (aliás muitas vezes tratado dentro da lógica dos direitos humanos), o direito ambiental também possui uma lógica comunicativa de pertencimento ou não pertencimento, que contribui para a imposição de padrões positivos de conduta. Da mesma forma, é marcado pela forte participação de redes de atores subnacionais, públicos e privados, que colaboram para sua implementação, de forma independente das autoridades es-tatais centrais.

2. A transformação do direito internacional em relação as fon-tes, sujeitos e obrigatoriedade dos seus compromissos.

O direito internacional se transforma com a multiplicação de fontes, de atores, de tribunais. De um direito sem dentes, nasce um direito com poder de cogência e maior intromissão nos assuntos domésticos.

A multiplicação de fontes normativas advém da expansão dos sistemas regionais de integração e a maior produção normativa pri-vada, com a intensificação de redes autônomas de atores viabilizadas pelas transformações sociais, tecnológicas, econômicas do final do século XX. Primeiro, no tocante aos sistemas regionais de integra-ção, há atualmente mais de 500 tratados minilaterais de integração regional. Alguns mais relevantes são a União Européia, o MERCO-SUL e o Acordo de Livre Comércio da America do Norte.

A União Européia, para nos concentrar no apenas processo mais avançado de integração regional, se tornou em uma fonte de normas tão relevante que em diferentes casos supera a quantidade e densida-de das normas nacionais dos Estados membros. Estima-se em mais de 60 mil o numero de normas comunitárias, alem da imposição de mecanismos de formulação, implementação e controle de políticas públicas para acessar os recursos europeus que, em função da sua importância no desenvolvimento regional, implicam na reformatação

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do território, dos objetivos e das formas de pensar a coletividade. Apenas para efeitos de comparação, o orçamento europeu (excluindo o orçamento dos Estados membros) entre 2007 e 2013 era de cerca de 120 bilhões de euros por ano, ou cerca de R$ 270 bilhões, quase todo destinado para investimentos. No mesmo período, o orçamento brasileiro para investimentos era cerca de R$ 110 bilhões.

Em seguida, em relação a redes privadas de produção, imple-mentação e controle normativo. Há diferentes fenômenos: uma nova Lex mercatoria, criada a partir de redes de empresas a partir de suas cadeias produtivas estimuladas pela globalização; Lex deporti-va, com a intensificação de instrumentos de produção normativa e imposição de padrões aos Estados nacionais para participar ou se-diar grandes eventos desportivos; a Lex eletronica, com o processo de expansão da internet. Todos estes conjuntos normativos seguem lógicas próprias, têm a capacidade de impor normas aos Estados e de descumprir determinações estatais no território dos Estados. Em casos específicos, mas cada vez mais freqüentes, desenvolvem me-canismos próprios de sanção contra atores que descumprem suas re-gras, independente da ação estatal.

Há vários exemplos. Tomemos apenas as discussões entre a FIFA e o Brasil para sediar a copa do mundo, com a alteração de diferen-tes normas nacionais consideradas fundamentais, como a lei da meia entrada ou a proibição de bebida alcólica em estádios, ou então a discussão entre o Tribunal Arbitral do Esporte (Lausanne, na Suíça) e a Espanha sobre a suficiência ou não de um determinado exame anti-doping para fundamentar a condenação de um ciclista em 2005. Enquanto que a autoridade desportiva considerou o exame realiza-do suficiente e condenou o ciclista a um período de afastamento, o Judiciário espanhol considerou o exame nulo e ordenou os organi-zadores das competições de ciclismo a aceitar sua participação nos jogos desportivos. Em última decisão, o TAS indicou que a Espanha tinha o direito de impor suas decisões no seu território, mas ao fazê--lo poderia ser “descredenciada de participar em eventos desportivos internacionais, em diferentes modalidades”7.

7 Sentença no. 2006/A/1119, apud NEVES, M. Transconstitucionalismo, ob. cit., p. 198-199.

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Por conseqüência, há uma multiplicação dos atores relevantes na construção do direito internacional. Antes, apenas os Estados cria-vam, implementavam e controlavam o direito internacional. Mesmo o número de Estados sofreu grande expansão. Ao final da segunda guerra mundial, havia apenas 75 Estados no planeta. Atualmente, são mais de 200. Além disso, com a multiplicação de organizações re-gionais e internacionais, a maior importância de redes privadas, sem falar no aumento da relevância de Organizações Não-Governamen-tais, e da participação direta de atores sub-nacionais, como Estados, prefeituras, o número de atores participantes no processo é muito su-perior, aumentando a complexidade da lógica do seu funcionamento.

Por fim, há um processo de multiplicação das instâncias interna-cionais de solução de conflitos. O numero de tribunais internacio-nais foi bastante ampliado nos últimos anos. Classificamos como tal todas as instâncias internacionais, criadas pelos sujeitos de direito in-ternacional, que julgam conflitos específicos e atuam de acordo com o direito internacional. Além de alguns mecanismos temporários, os principais tribunais existentes foram a CPJI e a CIJ. Nos anos 80, houve a criação do ITLOS. Desde então, diversos tribunais e meca-nismos permanentes de solução de conflitos foram criados. Em direi-tos humanos, houve a criação e/ou adesão expressiva aos tribunais já existentes, como a CIDH ou a CEDH. Em direito do comércio internacional, o Órgão de Solução de Controvérsias da OMC. Em direito humanitário, o Tribunal Penal para Ex-Iugoslávia, Ruanda, Serra Leoa, Timor Leste, Líbano e o próprio Tribunal Penal Interna-cional. No plano regional, há dezenas de mecanismos permanentes, como o Tribunal Permanente de Revisão do MERCOSUL, o Tribu-nal de Justiça da União Européia, a Corte de Justiça da Comunidade Centro-Americana, o Tribunal do Pacto Andino, entre muitos outros.

A lógica de funcionamento dos tribunais também foi modificada, tanto em relação. Primeiro, a lógica internacional de conflitos era marcada por tribunais com competência facultativa, agora são na maioria de adjudicação compulsória. Ou seja, todos os Estados partes em um tratado ou organização internacional são obrigados a aceitar a competência do tribunal. Antes, com competência genérica. Agora, têm competências específicas, para resolver conflitos relativos a um

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sistema normativo. Na lógica anterior, enquanto os tribunais tradicio-nais tinham maior liberdade na escolha do direito aplicável, dentre as normas de direito internacional, a maioria dos tribunais criados recentemente devem primeiro aplicar os tratados do subsistema jurí-dico a que estão vinculados e apenas depois dos demais subsistemas8.

Por fim, nota-se alguns elementos que aumentam a efetividade das decisões tomadas. O sistema da OMC talvez seja o mais criativo. Composto por um sistema de múltiplas formas de resolver conflitos, exige que os Estados tentem solucionar suas controvérsias em me-canismos de negociação diplomática por um período mínimo de 30 dias. Em seguida, podem iniciar um painel arbitral. O resultado do painel pode ser objeto de recurso a um verdadeiro tribunal de ape-lações. Caso o resultado final não seja implementado num prazo de tempo entre 15 e 18 meses, o Estado prejudicado pode pedir autori-zação para retaliar o outro Estado. Em geral, a retaliação é realizada com sobretaxas a produtos importados do Estado irregular, com a suspensão de direitos de propriedade intelectual ou outra medida que gere prejuízos equiparáveis a economia do Estado que mantém a me-dida ilícita. A novidade do sistema é que permite-se, em última ins-tancia, que qualquer produto seja objeto de retaliação. Na prática, os Estados interessados retaliam produtos de grupos econômicos fortes do Estado em situação irregular, gerando o próprio interesse econô-mico e político interno de indução ao cumprimento.

Alem da expansão de determinados núcleos temáticos por meio do adensamento do direito internacional clássico, há um processo de in-tensificação da aproximação dos direitos nacionais, a partir da cria-ção de redes entre atores privados e sub-estatais.

3.A internacionalização do direito nacional, a partir da aproxi-mação aos direitos estrangeiros e criação de redes transnacionais

O direito nacional se internacionaliza a partir da aproximação das soluções aportadas pelos demais atores a problemas comuns. Estes atores podem ser públicos, como agentes governamentais, legisla-

8 SHANY, Y. No longer a weak department of Power? Reflections on the emergence of a new international judiciary in European Journal of International Law, v. 20, n.1, p. 79-80.

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dores, membros do poder Executivo nacional ou local; como atores privados, a exemplos de empresas organizadas em cadeias produti-vas. Há vários fenômenos concorrentes: confluência constitucional, fertilização cruzada, criação de regimes privados, com maior ou me-nor autonomia.

Chamamos de confluência constitucional o processo de aproxima-ção das constituições de diferentes países, sobretudo com o avanço de gerações de direito9. De fato, quase um terço das constituições do planeta foram objeto de reformas nos últimos 30 anos, inclusive a Constituição Brasileira. Diferentes temas foram incorporados de forma quase idêntica em todas estas constituições, aproximando os ordenamentos nacionais com soluções comuns, a exemplo do meio ambiente no art. 225 da Constituição Brasileira, ou o tratamento de populações tradicionais, questões urbanas, status de vários direitos específicos como garantias individuais, que encontra paralelos quase idênticos em outros Estados.

Em seguida, por fertilização cruzada, a aproximação do direito criado pelos tribunais, ou melhor da forma como o direito é interpre-tado pelos tribunais. O processo conhecido como dialogo entre juízes possibilita a migração de idéias e adoção de posições comuns em tornos de problemas que ocorrem em diferentes lugares do planeta. Aqui, não se trata apenas de questões de direito internacional priva-do, que exigem conhecimento do tratamento jurídico no estrangeiro, mas de questões quotidianas, como o conceito de tratamento cruel e degradante, a possibilidade de acesso a justiça por organizações não-governamentais ou os direitos de crianças, mulheres ou grupos minoritários.

Terceiro, as redes privadas, sobretudo quando organizadas em for-mas de cadeias produtivas, que geram normas internas com vali-dade e mecanismos de indução ao cumprimento que muitas vezes independem dos Estados. As cadeias produtivas podem excluir deter-minados atores que descumprem os padrões fixados ou não cumprem as expectativas de qualidade. Em poucas palavras, torna-se possível que atores de uma cadeia produtiva participem da sanção contra em-presas que sequer mantinham relações contratuais diretas, em uma

9 BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2004

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nova lógica em rede. A sua exclusão pode significar muitas vezes em uma sanção maior do que aquela promovida pelo Estado, por meio de uma condenação a indenizar, como até o fechamento da empresa. Neste caso, as normas privadas ganham autonomia em relação aos sistemas estatais de solução de conflitos.

4. Problemas de coerência entre lógicas autônomas

Não apenas as regras de validade de normas identificadas em Kel-sen10 não se aplicam ao direito internacional contemporâneo, como o acúmulo de lógicas distintas relatado acima é caracterizado também pela construção autônoma de formas de interpretação do direito, que se comunicam entre os diversos elementos do mesmo subsistema, mas não entre os diferentes subsistemas jurídicos internacionais. O direito internacional ambiental possui por vezes regras distintas do direito internacional econômico e, estes, do direito internacional hu-manitário. Este tema já foi trabalhado anteriormente por alguns au-tores11 e demonstra-se que se constrói uma hierarquia de fato entre os subsistemas normativos, em função da capacidade de coerção das suas decisões, hierarquia esta que se opõe à idéia tradicional de não hierarquia entre tratados multilaterais. A existência de um jus cogens apenasfoi reconhecida pela Corte Internacional de Justiça há poucos anos, mas sem consenso em relação a extensão e efeitos de tais nor-mas. Tal cenário se torna mais interessante com a criação de novos tribunais e com o aumento de cogência de tribunais existentes12.

O principal problema é aquele da coerência entre as normas relati-vas a setores diferentes. As normas dos direitos humanos, as normas econômicas, aquelas da propriedade intelectual, do meio ambiente e as normas militares são com freqüência organicamente desconec-tadas entre si. O conjunto é somente uma coleção fragmentada de diferentes textos raramente colocados em relação uns com os outros. Esse mosaico formado pelas normas do direito internacional começa 10 KELSEN, Teoria geral do Estado e do direito. São Paulo: Martins Fontes, 1998/2000.

11 VARELLA, M. D. Direito internacional econômico ambiental. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.

12 Neste sentido, veja-se a interessante discussão decorrente da obrigatoriedade das decisões da CIJ, a partir do contencioso LaGrand, entre Estados Unidos e Alemanha.

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a conectar-se aos poucos em alguns contatos entre os regimes, mas raramente com coordenação e racionalidade. A comparação entre o direito internacional posterior à Segunda Guerra Mundial e o direi-to internacional contemporâneo é, a esse respeito, interessante: os primeiros instrumentos jurídicos importantes como o GATT, criado em 1947, as cartas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Interna-cional não fazem quase nenhuma referência aos valores emergentes da época, como aqueles dos direitos do homem. O mesmo ocorre no tocante à Convenção Européia dos Direitos do Homem, de 1950, ou do Pacto sobre os Direitos Civis, Políticos, Econômicos e Sociais, de 1966. Evidentemente, alguns elementos garantindo a conexão entre os diferentes setores do direito podem ser encontrados, como a Parte IV do GATT, de 1976, e o Pacto sobre os Direitos Civis, Políticos, Econômicos e Sociais, relativo aos países em desenvolvimento, mas são elementos pontuais e pouco marcantes13.

5. Diferentes visões sobre processos constitucionais globais

A criação de diferentes processos de construção, ampliação, maior efetividade e participação no processo de internacionalização do di-reito leva ao debate sobre uma eventual constitucionalização do direi-to internacional. Diferentes correntes discutem o mesmo fenômeno.

Os autores positivistas, como Kelsen, entre os mais tradicionais, ou Dupuy, entre os mais recentes, vêem na Carta da ONU um pacto político, firmado entre os Estados (sujeitos primários de direito inter-nacional), que poderia ser equiparado a uma constituição. A Carta da ONU representaria um pacto em nome da paz, da convivência e traria os elementos jurídicos necessários para um sistema jurídico global, a ser implementado por meio dos processos descritos acima. As di-

13 Häberle e Kotzur, por exemplo, sugerem uma reestruturação do direito constitucional, con-siderando parte do fenômeno da internacionalização do direito. Segundo o autor isso se mostra possível na lógica atual, porque que se mostra possível na medida em que a Constituição de um país é cultura, é uma expressão de um estado de desenvolvimento cultural, meio de auto representação cultural do povo, espelho de seu patrimônio cultural e fundamento de suas esperanças. No processo de internacionaliza-ção do direito, torna-se necessário um quinto método de hermenêutica constitucional, a comparação ju-rídica, que teria por objetivo aproximar as normas constitucionais de diferentes nações. Ver HÄBERLE, Peter e KOTZUR, Marcus. De la soberania al derecho constitucional común: pálabras clave para um diálogo europeu-latinoamericano. Trad: Héctor Fix-Fierro. Universidad Nacional Autônoma de Méxi-co, México, 2003.

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vergências entre os tribunais na verdade seriam parte de um estágio intermediário em busca de coordenação. A partir de uma análise mais detalhada de eventuais conflitos, nota-se um núcleo duro de interpre-tações que induz a conclusão da superficialidade de diferenças e a ex-pansão de um direito internacional compartilhado entre os diferentes atores e discursos do sistema júridico14.

Para outros autores, sistêmicos, como Luhman, a Constituição é um elemento que permite a conexão entre os discursos políticos e jurídicos. Entre os seguidores, há autores como Marcelo Neves ou Teubner, com visões próprias do que poderia ser um processo de constitucionalização a partir do direito internacional ou de diferentes processos jurídicos transnacionais. Na visão de Marcelo Neves, nota--se a emergência de conjuntos normativos com força suficiente para vincular os Estados, por meio de diferentes características, a exemplo daquelas expostas inicialmente neste artigo. As divergências entre os sistemas e a busca de regras de coerência entre diversas ilhas nor-mativas com pretensão universalizante viria dos juízes, verdadeiras pontes de dialogo entre diferentes sistemas jurídicos, em múltiplos processos nomeados pelo autor como transconstitucionalismo15.

Consideramos sedutora a idéia de Teubner que, por outro lado, identifica o processo de constitucionalização, não por meio de juízes, mas por meio de um multitude de atores políticos, econômicos, esta-tais, não-estatais, sobretudo da periferia do sistema, em torno de lógi-cas comunicativas com pretensão universalizante. A expansão destas lógicas comunicativas autônomas levaria a construção de discursos obrigatórios, com efeitos de levar a emergência de um direito acima dos demais, similar a um direito constitucional. O direito constitu-cional global seria assim construído por meio de uma multitude de processos periféricos (da periferia para o centro), portanto dentro de uma lógica centrípeta, em detrimento da idéia d um direito dire-cionado dos centros de produção do poder para as periferias (lógica centrífuga)16. Há outros autores importantes em posições distintas, 14 Em especial, ver DUPUY, P.-M. L’unité de ordre juridique international..., ob. cit..

15 O conceito de sistema é próprio da teoria Luhmaniana, cuja definição não cabe detalhar neste trabalho. Ver NEVES, M. Transconstitucionalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

16 TEUBNER, G. A Bukowina Global sobre a emergência de um pluralismo jurídico transna-cional in Impulso, vol. 14, n. 33, p. 9-11.

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187As Transformações Do Direito Internacional e Algumas Visões Sobre um Eventual Processo de Constitucionalização

mas cujas definições centrais variam em torno destas mesmas pre-missas fático-teóricas17.

Em outras palavras, qualquer conceito de constituição que se ado-te pressupõe uma modificação do conceito tradicional, variando en-tre um pacto político entre novos sujeitos ou a imposição de normas obrigatórias. As dificuldades colocadas a qualquer conceito são sem-pre a falta de um povo constitucional, a inexistência de mecanismos de legitimidade das normas, a assimetria de poder entre os atores, a falta de elementos democráticos e a sobreposição de discursos tota-lizantes, ou seja, de várias “constituições”, muitas vezes antagônicas entre si18. Entre os autores mais críticos à idéia, encontra-se Haber-mas, que identifica no cenário político global formas de dominação, de radicalização de procedimentos não-democráticos, mais do que a construção de regimes autônomos mais participativos.

Não há como negar que os processos jurídicos transnacionais im-põem normas e novas formas de construção do direito. Se por cons-tituição consideramos um conjunto normativo cogente, contra o qual não se pode resistir, talvez tenhamos sim diferentes constitui-ções paralelas, com alguma conexão entre si. De qualquer modo, os mecanismos de legitimidade exigidos por Habermas não encontram paralelo nem nos regimes nacionais. As lógicas comunicativas, da mesma forma, representam relações de dominação, tanto no plano interno, como no plano internacional, ainda que impostas por atores diferentes. A falta de legitimidade apenas pode ser invocada contra os processos transnacionais se também o for no âmbito domestico.

Acreditamos que este novo direito internacionalizado se construa por meio de redes relativamente dependentes e tendem a se impor sobre os ordenamentos jurídicos nacionais, seja como princípios, seja como normas detalhadas, similar a uma lógica constitucional. De qualquer modo, muito além de um documento único, como a Carta da ONU. A diferença está nas formas de participação dos diferentes povos e o desafio em como interpretar e criar mecanismos de legi-timação para uma sociedade que cada vez menos é local e cada vez 17 KOSKENNIEMI, M. Constitutionalism as mindset: reflections on kantian themes about international law and globalization in Theoretical inquires in Law, v. 8, n. 1, 2007.

18 Ver em especial os livros Constelação Pós-Nacional e A Era das Transições, ambos publica-dos no Brasil pela Martins Fontes.

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mais caminha para ser global. O desafio para estar em como transfor-mar as novas formas constitucionais em instrumentos dirigidos para a paz e desenvolvimento, como deveriam servir os textos constitu-cionais nacionais.

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ARMED CONFLICTS AND THE RIGHTS OF MINORI-TIES: THE CASE OF LEBANON

Renata Mantovani de Lima1

1. Introduction. – 2. Historical Elements of the Conflict and the Formation of the Special Tribunal for Lebanon. – 3. Legal Base of the Special Tribunal for Lebanon. – 3.1. Applicable Law. – 3.2. Specific Competences.– 3.2.1.Rationemateriae competence.– 3.2.2.Ratione-temporis competence.– 3.2.3.Ratione loci competence.– 3.2.1.Ra-tione personae competence. – 4. Relation with the Internal Legal System. – 5. Composition of the Special Tribunal for Lebanon. – 6. Sources of financing. – 7. Conclusion. – 8. Bibliographic references.

1. INTRODUCTION

The involvement of national States in disputes of power, the hu-man element’s ethnical, cultural and religious diversity which com-poses such States, the terrorist threat, as well as the economical and technological development base and imply the increase in the destructive power of armed conflicts. Moreover, the proportion of victims involved in conflicts – combatants, former combatants and civilians – reached alarming levels at the end of the 20th century2.

It is true, however, that the nature of the conflicts has been changing since the end of the Cold War, causing a progres-sive decrease in the number of fatal victims. If the two World Wars victimized around 70 million people, current conflicts, however crescent and numerous, add up to about 3 million.

Nowadays interstate conflicts have given place to intrastate con-

1 Lawyer, Doctor and Master in Law from PontifíciaUniversidadeCatólica de Minas Gerais, having carried out researches in University of Pisa-Italy, Professor of Graduation and Master’s Degree Courses at Universidade Itaúna/MG, Coordinator and Professor of the Law Course at Centro Universi-tário UNA.

2 In total armed conflicts in the 20th century caused around 90 million fatal victims. Information available in documents – barometers elaborated by Heidelberg Institute on International Conflict Research. Available at: <http://www.hiik.de/en/index.html>.

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flicts3. In this sense it is possible to infer that, if apparently or yet the-oretically cooperation among States, respect to human rights norms and mechanisms of negotiation have been proving efficient, therefore avoiding or diminishing the triggering of wars, in the internal set of many States the same is not true. By the way, it is there that the great-est violations to human rights have taken place recently. Conflicts which before had worldwide progression and were based on an ideo-logical dispute start to draw attention due to their cultural and politi-cal nature, which in turn causes the disintegration of a set of values capable of basing the legitimacy of the State or the current Power4.

In this context it is possible to include several conflicts that take place in the Asian and the African continents in which ethnical and religious groups are persecuted, showing a clear preference to the idea of group in spite of the notion of a national identity or of di-vergent coexistence. The latter understood as the cohabitation of people with distinct traditions, cultures and characteristics, who are, however, legally and politically subject to the same State5.

In conflicts of this kind the transgression and the disrespect to the rights of minorities are evident, the damages and losses are immea-surable, and the international peace and security are threatened. Thus, 3 “In 2010, a total of 363 conflicts were observed. Among these were six wars and 22 severe crises, amounting to 28 highly-violent conflicts, i. e. conflicts fought out with the use of massive violence”. 19th Annual Conflict Analysis. Available at: <http://www.hiik.de/en/index.html>.

4 CICR. Los conflitos armados relacionados con la desintegración de las estructuras del Estado. Documento preparatorio del Comité Internacional de La Cruz Roja para la primera reunión periódica sobre el derecho internacional humanitário. Ginebra, 19-23 de enero de 1998. Available at: <http://www.icrc.org/spa/resources/documents/misc/5tdlnd.htm>.

5 In this sense the International Covenant on Civil and Political Rights of 1966 states that: “Article 25: Every citizen shall have the right and the opportunity, without any of the distinctions men-tioned in article 2 and without unreasonable restrictions: to take part in the conduct of public affairs, directly or through freely chosen representatives; to vote and to be elected at genuine periodic elec-tions which shall be by universal and equal suffrage and shall be held by secret ballot, guaranteeing the free expression of the will of the electors; to have access, on general terms of equality, to public service in his country. Article 26: All persons are equal before the law and are entitled without any dis-crimination to the equal protection of the law. In this respect, the law shall prohibit any discrimination and guarantee to all persons equal and effective protection against discrimination on any ground such as race, colour, sex, language, religion, political or other opinion, national or social origin, property, birth or other status. Article 27: In those States in which ethnic, religious or linguistic minorities exist, persons belonging to such minorities shall not be denied the right, in community with the other mem-bers of their group, to enjoy their own culture, to profess and practise their own religion, or to use their own language”.

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to face these matters and with the purpose of settling these relations, measures of different natures are adopted by the international society and by international organisms. As examples it is possible to mention the statements of repudiation on the part of States, the humanitarian interventions and the instauration of Tribunals by the United Nations.

It must be noted that, however considerable they are, the pres-ent article does not aim at analyzing the reasons of multiple con-flicts started recently, the international tendency of belligerent manifestations, or even the measures taken for the containment of such conflicts, but only aims at examining the matters relat-ed to the conflict in Lebanon and the consequent instauration of the Special Tribunal, legal means used to guarantee the effective-ness of the protection of the fundamental rights of the peoples.

This way, at first the historical bases which determined the con-flict will be introduced. Later, considerations will be made about the formation of the Tribunal, its legal base, several competences, relation with the Lebanese legal system, composition, financing, so that thus it can be shown that it is a mechanism of settlement. That is, in persecuting crimes, identifying the persons responsible for them, guaranteeing the basic and essential premises to a fair and impartial trial, even if repressively or a posteriori, the fundamental rights of a part of the society, which have been violated due to the disrespect for a multiethnic composition and to religious and politi-cal diversity are ensured by an international jurisdictional measure.

2. HISTORICAL ELEMENTS OF THE CONFLICT AND THE FORMATION OF THE SPECIAL TRIBUNAL FOR LEBANON

At the end of the battles of World War I the changes in the com-position and definition of the territorial boundaries of the States were evident. Some of them apparently interesting for the peoples which before the war were subject to empires, oriental or occiden-tal. The Russian revolution caused a considerable weakening of the central power, which allowed the appearance of Muslim national

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regimes in parts of its territory. Great Britain and France pointed to the possibility of granting autonomy to the Arab peoples domi-nated by them and the Tripolitanian Republic, proclaimed in the north of Africa came to be recognized by Italy for a short period6.

The set, however, was fast altered. Moscow regained control over the attempts at independence, and Italy fought and defeated the Trip-olitanian Republic, which came to be part of Libya. In Asia the cov-enants of peace allowed concessions to the Arabs, but not satisfac-torily. The European powers did not share anymore the territories in colonies, but in new States that remained under their control through “mandates” of the League of Nations. This way, for example, Iraq became a monarchy under the British “mandate” and the so-called Syria was divided, its northern area being bestowed to France.

The French divided once more the territories to which they were entitled, keeping a part with the name of Syria and naming the oth-er Lebanon. When Lebanon became independent, in 1943, it com-prised three different regions, with a multiethnic population, con-taining even several government traditions. The first was the region of Mount Lebanon, in the north, with a major Christian maronite population. The cities in the coast with Christian and Muslim popu-lations, and the rural areas, east and south of Mount Lebanon with a major Muslim shi’ite population comprised the other regions.

With the retreat of France the leaderships of the several communi-ties made an agreement so that the power was divided but remained also in Christian hands7. During approximately 13 years (between 1945 and 1958) the balance was kept, but a meaningful demograph-ic change contributed decisively to the change in the correlation of forces. The Muslim population growth made their leaders start to have difficulty in accepting a system of power in which the functions of effective decision were always with the Christian communities.

Another decisive factor was the economic growth of the country

6 LEWIS, Bernard. O Oriente Médio: do advento do cristianismo aos dias de hoje. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed., 1996.

7 HOURANI, Albert. Uma história dos povos árabes. São Paulo. Companhia das Letras, 1994.

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concentrated especially in Beirut, where half the country population lived. Income concentration, nevertheless, was huge and favored the dominant groups, causing that the poor population was widely Muslim.

The first civil war started in 1958 and, after months, caused a rearrangement of forces under the slogan “there are neither win-ners nor losers”. The conditions which originated the conflict, however, were not solved and to this fragile balance another dan-gerous and delicate ingredient was added: the increasing par-ticipation of Lebanon in the Israeli and Palestinian conflicts.

The action of Palestinian armed organizations on the bor-ders of the country created an uncomfortable double-sid-ed situation: on the one hand, Israel reacted to the activi-ties of the armed groups and threatened the independence of Lebanon; on the other, Christian leaders also saw in the same groups a dangerous source of support to the Muslim communities.

In 1982 the situation became dangerously worst. The nationalist government in Israel was trying to impose its own solution to the Pal-estinian problem, which implied the attempt to destroy the military and political power of the Palestine Liberation Organization (PLO) in Lebanon, installing a collaborative regime and later carrying own its policy of settlement and annexation of occupied Palestine.

Without the United States presenting any difficulty, Israel in-vaded Lebanon in June 1982. The invasion produced a long siege to the part of Beirut that was inhabited and dominated by PLO. The siege ended in an agreement negotiated through the American government, by means of which PLO was to leave Western Beirut relying on security guarantees for civil-ian Palestinians assured by Lebanese and American governments.

If on the one hand the retreat of PLO caused a decrease in the number of conflicts for some time, on the other it made the situa-tion worse. The difference among local groups increased, especially among those supported by Israel and that counted on the support of Syria, which kept troops in Lebanon. The presence of Ameri-can troops during some time in the 1980’s was not enough to with-hold the conflict which continued up to the beginning of 1990.

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The period of instability and the 15 years of continuous Civ-il War saw the emergence of the figure of Rafiq Al Hariri, a busi-nessman that made a fortune out of the increase in petroleum price and whose performance during the war period had stood out. Be-sides leading a foundation which granted scholarships to Lebanese students to study abroad, Hariri financed several meetings abroad among Lebanese leaders, in the attempt to reach peace agreements.8

With the emphasis he obtained during the war, Hariri ended up being nominated Prime-Minister in 1992, function which he per-formed up to 1998. During this period he coordinated a wide proj-ect of reconstruction of the State. In 2000, he was nominated again. Nonetheless, on February 14, 2005 he was murdered in a terrorist attack in Beirut which killed another 22 persons, supposedly by in-telligence agents of Syria, country to which Hariri opposed himself firmly during his government period. The international community was fast to condemn the attack; on the same day Kofi Annan, at the time Secretary-General of the UN asserts: “the secretary-gen-eral condemns in the strongest terms those who instigated, planned and executed this callous political assassination”9. The Security Council on the following day issued the statement that follows:

The council calls on the Lebanese government to bring to justice the perpetrators, organizers and sponsors of this heinous terrorist act, and noting the Lebanese government’s commitments in this regard. The council urges all states, in accordance with its Resolutions 1566 (2004) and 1373 (2001), to cooperate fully in the fight against terrorism.10

UN in its turn through Resolution n. 1595 of April 7, 2005 es-tablished an International Independent Investigation Commis-sion with the purpose of gathering evidences and helping the Lebanese authorities in the investigation of the attack of February 14, 2005. Right after the mandate of such Commission was ex-tended further and expanded, so as to include investigations of

8 Information available at: <http://www.rhariri.com> and <http://www.libano.or.br>.

9 Available at: <http://www.stl-tsl.org/en/about-the-stl/timeline-of-events>.

10 Available at: <http://www.stl-tsl.org/en/about-the-stl/timeline-of-events>.

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previous and subsequent assassinations to Hariri’s11. The involve-ment of the head of the Syrian regime in the attempt against Hari-ri had been discovered still in April, 2005 by the Commission.

However, a strong wave of protestations overtook the country and the internal stability was put at stake. In this set, on December 13, 2005 the Lebanese government asked the Secretary-General of the UN help to establish a Special Tribunal with jurisdiction over the persons responsible for the terrorist attacks perpetrated after Octo-ber 1, 2004. Nevertheless, only on March 30, 2006 the negotiations for the conclusion of an agreement which would constitute such Tribunal were authorized by the Security Council via Resolution n. 1664. In its turn, on November 22, 2006 the UN resolved to in-stall a Tribunal for the investigation of the former Lebanese leader.

As it happens, due to Lebanese political matters the agreement which resulted from the negotiations could not be signed. This way on March 30, 2007 the UN Security Council, acting under Chap-ter VII of the Charter of the United Nations decided that the agree-ment and the Statute of the Special Tribunal for Lebanon would come into effect on June 10, 2007 (Resolution n. 1757). The ac-tivities of the Tribunal started only in March, 2009, in Leidchen-dam, near The Hague, in the Netherlands, when the International Independent Investigation Commission, whose mandate expired on February 28, 2009, handed over to the Tribunal’s Office of the Prosecutor the information gathered. The Special Tribunal for Lebanon is an independent judicial organization, not a UN court.

The agreement, at first to remain in force for three years, was extended further for an equal period, from March 1, 2012, by determination of the UN’s Secretary-General with the consent of the Lebanese government, as well as of the Security Council (article 21 (2) of the Agreement).

11 The mandate of the International Independent Investigation Commission expired in June, 2007. The heart of the future Tribunal’s Office of the Prosecutor would be constituted by this Com-mission.

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3. LEGAL BASE OF THE SPECIAL TRIBUNAL FOR LEB-ANON

The legal base for the establishment of the Special Tribunal for Lebanon is an agreement between the United Nations and the Leba-nese Government which equally formalized its Statute, based on the highest international standards of criminal justice. This way, the Spe-cial Tribunal is not bound to the Lebanese judicial system, and is not considered a subsidiary organ of the United Nations Organization.

Although international character has not been expressly attributed to the Tribunal, its constitutive instruments reveal a shape and a sub-stance eminently international. Thus, it is possible to notice in its com-position a strong international presence; standards of justice, including the principles of the due process of law, all applicable to international jurisdictions; rules of procedure and evidence inspired on the material standards of international criminal justice; and by the fact that it de-pends and can rely on the cooperation of the States pertaining to the UN system. As regards the material law applicable, it is essentially national.

The Lebanese Special Tribunal is distinguished from other Interna-tional Penal Tribunals created or assisted by the UN in two main aspects12:

(a) in the proceedings established by the Tribunal and in the conduct of the proceedings it is possible to notice the pri-macy of elements derived from the civil law system, though it also has characteristics derived from the common law;

(b) the investigations carried out by the Interna-tional Independent Investigation Commission re-flect the source of the prosecution related to the Tribunal.

The law applicable by the Tribunal denotes the highest standards of international penal procedures13. Together with other rules, such as the reinforcement of the powers of the Tribunal as regards measures which guarantee quick proceedings and which avoid excessive de-

12 Examples of International Tribunals are former Yugoslavia and Rwanda, of assisted ones are Kosovo and Sierra Leone.

13 Article 28 of the Statute. Available at: <http://www.stl-tsl.org>.

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lays14, and the possibility of trials in absentia of the defendant in cer-tain circumstances15, as, for example, guaranteeing that the suit is not unduly or indefinitely postponed due to the absence of some defen-dants are remarkable manifestations of the elements of the civil law system. By the way it is the only Tribunal which admits such a trial.

In fact, by introducing the institute of the trial in absentia in situations when the accused has waived his right to be present in court, or when he has not been handed over, has absconded or cannot be found, the Statute of the Tribunal acts according to precedents of the European Tribunal of Human Rights which determine the regularity of the trials in absentia, with full respect to the rights of the accused16. In this sense article 22 of the Statute asserts that the hearings conducted in the ab-

14 Article 21 of the Statute. Available at: <http://www.stl-tsl.org>.

15 Article 22 of the Statute. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Article 22: (Trials in absen-tia) 1. The Special Tribunal shall conduct trial proceedings in the absence of the accused, if he or she: (a) Has expressly and in writing waived his or her right to be present; (b) Has not been handed over to the Tribunal by the State authorities concerned; (c) Has absconded or otherwise cannot be found and all reasonable steps have been taken to secure his or her appearance before the Tribunal and to inform him or her of the charges confirmed by the Pre-Trial Judge. 2. When hearings are conducted in the absence of the accused, the Special Tribunal shall ensure that: (a) The accused has been notified, or served with the indictment, or notice has otherwise been given of the indictment through publication in the media or communication to the State of residence or nationality; (b) The accused has designated a defence counsel of his or her own choosing, to be remunerated either by the accused or, if the ac-cused is proved to be indigent, by the Tribunal; (c) Whenever the accused refuses or fails to appoint a defence counsel, such counsel has been assigned by the Defence Office of the Tribunal with a view to ensuring full representation of the interests and rights of the accused. 3. In case of conviction in absen-tia, the accused, if he or she had not designated a defence counsel of his or her choosing, shall have the right to be retried in his or her presence before the Special Tribunal, unless he or she accepts the judgment.

16 See cases: Krombach vs. France, n. 29731/96, tried on February 13, 2001; Sejdovic vs. Italy, n. 56581/00, tried on March 1, 2006. Conviction in absentia of an applicant not to be found and declared a runaway, without having informed him of the proceedings against him: violation: “Further-more, the remedy provided for in Article 175 of the CCP, likewise referred to by the Government, had not guaranteed with sufficient certainty that the applicant would have the opportunity of appearing at a new trial to present his defence. It had not been argued that he had any other means of obtaining the reopening of the time allowed for appealing, or a new trial. Accordingly, the applicant, who had been tried in absentia and had not been shown to have sought to escape trial or to have unequivocally waived his right to appear in court, had not had the opportunity to obtain a fresh determination of the merits of the charge against him by a court which had heard him in accordance with his defence rights. Information note n. 84. Available at: <http://www.echr.coe.int/ECHR/EN>.

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sence of the accused shall be followed either by a counselor appointed by the defendant or by the Defence Office of the Tribunal. In case of conviction in absentia, the accused who did not designate a counsel for the defense may request a new trial, unless he accepts the judgment.

The judge, in this system, performs an active role both in the conduct of trial proceedings and in the examination of witnesses. As regards the first, there has been a recent decision of the Trial Chamber of the Tribunal trying in absentia four Hezbollah members accused of the as-sassination of the former Lebanese Prime-Minister Rafiq Hariri. The Trial Chamber considered that all the reasonable measures had been taken to guarantee the presence of the accused and to notify them of the charges against them. In this sense, on June 30, 2011, the Tribunal issued warrants for the arrest of SalimAyyash, Mustafa Badreddine, Hussein Anaissi and Assad Sabra, to be carried out by the Lebanese au-thorities, who did not succeed in the task, even with the aid of Interpol.

As to the examination of witnesses, according to article 20 of the Statute, unless otherwise decided by the Trial Chamber, it shall com-mence with questions posed by the presiding judge, followed by questions posed by other members of the Trial Chamber, the Prosecu-tor and the Defence. The judge may even, at any time, designate ad-ditional witnesses and/or order the production of additional evidence.

3.1 Applicable Law

Article 2 of the Statute of the Special Tribunal17 consid-

17 Article 2 of the Statute: “(Applicable criminal law) The following shall be applicable to the prosecution and punishment of the crimes referred to in article 1, subject to the provisions of this Statute: (a) The provisions of the Lebanese Criminal Code relating to the prosecution and punishment of acts of terrorism, crimes and offences against life and personal integrity, illicit associations and failure to report crimes and offences, including the rules regarding the material elements of a crime,

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ers the following applicable to the prosecution and punish-ment of the persons responsible for the attack of February 14, 2005 which resulted in the death, among others, of Hariri:

(a) the provisions of the Lebanese Criminal Code relat-ing to the prosecution and punishment of acts of terror-ism, crimes and offences against life and personal integ-rity, illicit associations, including the rules regarding the material elements of a crime, criminal participation and conspiracy;

(b) articles 6 and 7 of the Lebanese law of January 11, 1958.18

It must be noted that the Lebanese Law is much wider, however its applicability is limited to the crimes and offences mentioned in article 2 of the Statute. As regards the penalties prescribed for the crimes, the following are mentioned in the provisions of the Stat-ute: imprisonment for life or for a specified number of years, taking into account the gravity of the offence and the individual circum-stances of the convicted person19. The death penalty and the hard labor penalty established in Lebanese Law are, therefore, excluded.

It is interesting to observe that when the Statute was elabo-rated, the possibility was taken into consideration of quali-fying the crimes as against humanity and defining them as assassination or other aggravated inhuman acts that cause suf-

criminal participation and conspiracy; and (b) Articles 6 and 7 of the Lebanese law of 11 January 1958 on “Increasing the penalties for sedition, civil war and interfaith struggle”. Available at: <http://www.stl-tsl.org>.

18 Article 314 of the Criminal Code: “The term ‘acts of terrorism’ includes all that are intend-ed to cause a state of alarm and have been committed by means such as explosive devices, inflam-mable substances, toxic or corrosive products or infectious or microbial agents that are liable to be punishable by hard labour for life. Capital punishment shall be incurred if there were human fatalities or if a building has been wholly or partially destroyed when a person was inside, or if the act results in damage to communication or transport links.” Conspiracy to commit one of the crimes mentioned in the preceding articles shall be punishable by hard labour for life.”

19 Article 24 of the Statute. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 16, 2010.

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fering, or body or mental injures, if committed as part of a wide-spread and systematic act against the civil population. This way they would come to have the nature of international offences.

Even if not completely, the 15 attacks perpetrated in Lebanon from October 1, 2004 revealed a methodical plan against the civil population. Maybe it was possible to observe the definition of crime repeated in the precedents of the International Criminal Courts, al-though the differences, especially those related to the range of the offence and the amount of victims could be noted. It is true, how-ever, that for considering homicide a crime against humanity its magnitude or mass scale is not an indispensable element. The ques-tion, then, is about the nature of the attack which must be either systematic or widespread20. In the specific case of Lebanon they could be interpreted as collective (successive), or multiple, which, thus, excludes a sole, isolated or random act from and individual.

Nevertheless, in analyzing the opinions of the members of the Se-curity Council it is found that there was no support for the inclusion of the crimes against humanity under the jurisdiction of the Special Tribunal. For this reason the qualification of the crimes was limited to the ordinary crimes as established in the Lebanese Criminal Code21.

Finally, it is noted that the Statute provides for the principles of individual penal responsibility and of non bis in idem, and for the guarantees of the due process of law, according to the highest stan-dards of international criminal justice, and as determined by the Stat-

20 Article 7 (2) (a) of the Rome Statute (ICC) defines crime against humanity as a course of conduct involving the multiple commission of acts committed in a set of a widespread or systematic attack, pursuant to or in furtherance of a State or organizational policy, directed against any civilian population.

21 Report of the Secretary-General for the establishment of the Special Tribunal for Lebanon. Available at: <http://www.un.org.br>. Accessed on Oct. 16, 2010.

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ute of the ICC. This way, no one can be tried by a Lebanese court if he or she has already been tried by the Special Tribunal. However, if the trial by the national Tribunal has not been impartial, indepen-dent or has been carried out with the intention to protect the ac-cused, the res judicata shall not prevent trial by the Special Tribunal.

Similarly, it lists the rights of the accused, including specifically the presumption of innocence, the onus of the Prosecutor to prove the guilt of the accused, the right not to be compelled to testify against himself or herself, the right to be previously informed of the nature of the charges against him or her, the right to be questioned only in the pres-ence of a defense counsel and to always have legal assistance22.The Statute also safeguards the rights of the victims when their personal interests have been affected. Although it does not recognize them as member parties in the proceedings, it allows their views and concerns to be presented and considered at every stage of the proceedings23.

3.2 Specific Competences

This specific section deals with the role and the limits of the Special Tribunal for Lebanon in what concerns the mat-ters (3.2.1), the facts object to the jurisdiction (3.2.2), the territorial range (3.2.3) and, lastly, the subjects (3.2.4).

22 Articles 15 and 16 of the Statute. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 16, 2010.

23 “Where the personal interests of the victims are affected, the Special Tribunal shall permit their views and concerns to be presented and considered at stages of the proceedings determined to be appropriate by the Pre-Trial Judge or the Chamber and in a manner that is not prejudicial to or inconsistent with the rights of the accused and a fair and impartial trial. Such views and concerns may be presented by the legal representatives of the victims where the Pre-Trial Judge or the Chamber considers it appropriate”. Article 17 of the Statute. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 16, 2010.

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3.2.1 Ratione materiae competence

The Special Tribunal for Lebanon shall have jurisdiction over all the persons responsible for the attack of February 14, 2005 which result-ed in the death of Rafiq Hariri and in the death or injury of other per-sons. If the Tribunal finds that other attacks that occurred in Lebanon between October 1, 2004 and December 12, 2005, or any later date decided by the Parties and with the consent of the Security Council, are connected to the attack of primary competence, it shall also have jurisdiction over such attacks. This connection includes but is not lim-ited to a combination of the following elements: criminal intent (mo-tive), the purpose behind the attacks, the nature of the victims target-ed, the pattern of the attacks (modus operandi) and the perpetrators24.

The Tribunal shall try and punish the persons who have com-mitted the following crimes: acts of terrorism, crimes and of-fences against life and personal integrity, illicit associations and failure to report crimes and offences, including the rules re-garding the material elements of a crime, criminal participa-tion, conspiracy, sedition, civil war and interfaith struggle25.

3.2.2 Ratione temporis competence

Firstly, it is to be noted that by establishing the temporal ju-risdiction of any court, the United Nations Organization aims at reaching a balance between the specification of the time period sufficiently wide as to cover the most serious crimes, and the ac-

24 Article 1 of the Statute. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 16, 2010.

25 Article 2 of the Statute. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 16, 2010.

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tivities to be carried out by the Prosecution and the Tribunal, al-ways seeking to reach objectivity, efficiency, cost-benefit, jus-tice and impartiality in the conduct of proceedings and trials.

Resolution n. 1595/2005 of the Security Council was limited to the investigation of the aspects of the terrorist attack of February 14, 2005 which killed the former Prime-Minister Rafiq Hariri and others26. However, on December 13, 2005, one day after the assassination of GebranTueni, member of the Lebanese parliament, the government of Lebanon, represented by its Prime-Minister FuadSiniori addressed a letter to the Secretary-General of the United Nations requesting the creation of an International Tribunal as well as extending the mandate of the International Investigation Commission to include attacks, as-sassinations and explosions perpetrated in Lebanon from the day of the attack to Minister Marwan Hamadeh, dated October 1, 200427. In response the Security Council extended the mandate of the Com-mission and authorized the extension of specialized technical assis-tance to the Lebanese authorities to carry out the investigations about the terrorist attacks perpetrated in Lebanon from October 1, 200428.

When starting its activities and investigating the possible links among the attacks, the Commission identified convergent charac-26 “(…) 1. Decides, consistent with the above-mentioned letter from the Chargé d’affairesa.i. of Lebanon, to establish an international independent investigation Commission (“the Commission”) based in Lebanon to assist the Lebanese authorities in their investigation of all aspects of this terrorist act, including to help identify its perpetrators, sponsors, organizers and accomplices; (…)”. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 16, 2010.

27 “I have the honour to forward herewith a letter from FuadSiniora, Prime Minister of Leba-non, addressed to you (see annex) concerning the request of the Government of Lebanon to establish a tribunal of an international character to try all those who are found responsible for the assassination of the late Prime Minister Rafiq Hariri, and to expand the mandate of the International Independent Investigation Commission or create an independent international investigation commission to investi-gate the assassination attempts and assassinations and explosions that took place in Lebanon starting with the attempt on the life of Minister Marwan Hamade on 1 October 2004.” Available at: <http://www.stl-tsl.org>.

28 Security Council Resolution n. 1644/2005. Available at: <http://www.stl-tsl.org>.

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teristics, namely: the work, or the pattern of the use of explosive devices; the nature of the crimes or the criminal intent behind the attacks (common targets: influential politicians or journalists); main-tenance of an atmosphere of widespread fear and anxiety among the population, due to the fact the attacks were perpetrated in pub-lic places; destabilization of security; damages to infrastructure and to the identity of the perpetrators. Hence its preliminary conclusion that the 14 cases analyzed could not have been carried out by dif-ferent persons or groups, or even with different motives29. The con-text of the attack that killed Hariri was similar to those of the at-tacks perpetrated between October 1, 2004 and December 12, 2005.

Consequently, expanding the competence of the Special Tribunal besides the assassination of Rafiq Hariri does not imply an extension of the temporal jurisdiction of the Tribunal, but extending its own competence to include, in a certain period, other attacks which would probably be of the same gravity and connected to the assassination of Hariri30. The reasons, therefore, would basically be the following:

(a) as the investigations of the Commission went by similari-ties between the elements of the attacks were evidenced, which re-futed criticism on the objectivity and impartiality of the Tribunal;

(b) the extension of the mandate attributed to the Com-mission, as well as the technical assistance to the Leba-nese authorities in relation to the other 14 attacks, show an effective interest on the part of the Security Council in the ju-dicial responsibility besides the assassination of Rafiq Hariri;

(c)the limitation or choice of the attacks under the com-petence of the Tribunal in a context permeated by so many

29 “4th report of the International Independent Investigation Commission established pursu-ant to Security Council resolutions (10/06/2006)”. Available at: <http://www.stl-tsl.org>.

30 The list of the attacks can be found in the Commission’s report (S/2006/161, n. 55). Avail-able at: <http://www.stl-tsl.org>.

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other offences points to a selective justice perception.

3.2.3 Ratione loci competence

The territorial competence of the Tribunal is defined only to the terrorist acts perpetrated in the geographical boundaries of Beirut. Nonetheless, it must be noted that, for reasons of security, justice and administrative efficiency, the Tribunal is placed in Leidschen-dam, in the Netherlands, with only an office in Lebanon so as to facilitate future investigations31. It must be reiterated that due to the fact that it is placed outside the country, the development of some work with the Lebanese society became necessary so as to inform it and make it aware of the activities in progress in the Tribunal.

3.2.4 Ratione personae competence

Resolution n. 1664/2006 does not regulate the personal ju-risdiction of the Tribunal, although the Security Council was aware of the demand of the Lebanese people that all those per-sons responsible for the terrorist attack which killed, among others, the former Minister Hariri were identified and tried.

Article 1 of the Statute of the Special Tribunal, in its turn, establish-es the competence for the trial over the persons responsible for the crimes within the range of its jurisdiction. It is, therefore, a broad def-inition of personal jurisdiction, which allows the prosecutor a wide and free strategy for the criminal persecution and for the determina-tion of the list of possible persons to indict. Of course, respecting the exhibits and the evidences of perpetration or participation in it.

31 Article 8 of the Agreement. “Seat of the Special Tribunal: 1. The Special Tribunal shall have its seat outside Lebanon. The location of the seat shall be determined having due regard to con-siderations of justice and fairness as well as security and administrative efficiency, including the rights of victims and access to witnesses, and subject to the conclusion of a headquarters agreement between the United Nations, the Government and the State that hosts the Tribunal. 2. The Special Tribunal may meet away from its seat when it considers it necessary for the efficient exercise of its functions. 3. An Office of the Special Tribunal for the conduct of investigations shall be established in Lebanon subject to the conclusion of appropriate arrangements with the Government”. Available at: <http://www.stl-tsl.org>.

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As regards criminal responsibility, article 3 (1) of the Statute es-tablishes that all the persons who committed, participated as accom-plices, organized or directed others to commit the crime, or in any other way contributed to the attack, shall be considered individually responsible.Such provision is a reflex of the Lebanese Criminal Code, of the general principles of criminal law and of article 2 (3) of the In-ternational Convention for the Suppression of Terrorist Bombings of 199732. Article 3 (2) denotes the principle of command responsi-bility, both under international and domestic laws. Thus, it refers to military penal codes and to article 28 (b) of the Statute of the Inter-national Criminal Court. Whereas article 3 (3) establishes that the al-legation of obedience to a higher rank order shall not be admitted as an excuse or defense. It can, nonetheless, be taken into consideration as a circumstance that authorizes the reduction of the punishment.

4. RELATION WITH THE INTERNAL LEGAL SYSTEM

The Special Tribunal for Lebanon is a jurisdictional or-gan created by the Security Council by means of Resolution n. 1757/2007, with specific material competence over the terror-ist attacks perpetrated in the Lebanese territory but, formally, it is not a part of neither the national judiciary system nor the UN’s33.

Because it has international juristic personality, the Tribunal can cele-brate all the necessary agreements to its regular performance34. It is im-portant to note that the Lebanese judicial authorities also have compe-tence over the acts subject to the Special Tribunal. Although concurrent, the STL has primacy35 over the Lebanese national Courts which shall also mandatorily cooperate with the Special Tribunal, especially with the

32 Resolution of the General Assembly 52/164. Available at: <http://www.un.org>. Accessed on Oct. 16, 2010.

33 Article 4 (1) of the Agreement. Available at: <http://www.un.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

34 Article 7 of the Agreement. Available at: <http://www.un.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

35 Article 4 of the Statute of STL. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

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Prosecutor and the Defence Counsel, at every stage of the proceedings36. Moreover, it must be noted that when the Security Council is-

sued resolutions 1595/2005, 1636/2005 and 1644/2005, according to which the Member-States are forced to cooperate fully with the Commission in its investigation of Hariri’s assassination, it estab-lished for the Special Tribunal the prerogative of, whenever appro-priate, and if need be, taking the measures that allow it to adopt a more effective way of trying those persons responsible for the attack to Hariri, as well as other attacks under the Tribunal’s jurisdiction.

5. COMPOSITION OF THE SPECIAL TRIBUNAL FOR LEBANON

The Special Tribunal for Lebanon consists of the following organs: three Chambers, comprising a Pre-Trial Judge, a Trial Chamber and an Appeals Chamber, a Prosecutor, a Registry and a Defense Office37.

36 The Agreement and the Statute regulate the cooperation between the STL and the Leba-nese judicial authorities. Article 15 of the Agreement: “The Government shall cooperate with all organs of the Special Tribunal, in particular with the Prosecutor and defence counsel, at all stages of the proceedings. It shall facilitate access of the Prosecutor and defence counsel to sites, persons and relevant documents required for the investigation. 2. The Government shall comply without undue delay with any request for assistance by the Special Tribunal or an order issued by the Chambers, including, but not limited to: (a) Identification and location of persons; (b) Service of documents; (c) Arrest or detention of persons; (d) Transfer of an indictee to the Tribunal.” Article 4 of the Statute: 1. The Special Tribunal and the national courts of Lebanon shall have concurrent jurisdiction. Within its jurisdiction, the Tribunal shall have primacy over the national courts of Lebanon. 2. Upon the assumption of office of the Prosecutor, as determined by the Secretary-General, and no later than two months thereafter, the Special Tribunal shall request the national judicial authority seized with the case of the attack against Prime Minister Rafiq Hariri and others to defer to its competence. The Lebanese judicial authority shall refer to the Tribunal the results of the investigation and a copy of the court’s records, if any. Persons detained in connection with the investigation shall be transferred to the custody of the Tribunal. 3. (a) At the request of the Special Tribunal, the national judicial authority seized with any of the other crimes committed between 1 October 2004 and 12 December 2005, or a later date decided pursuant to article 1, shall refer to the Tribunal the results of the investigation and a copy of the court’s records, if any, for review by the Prosecutor; (b) At the further request of the Tribunal, the national authority in question shall defer to the competence of the Tribunal. It shall refer to the Tribunal the results of the investigation and a copy of the court’s records, if any, and persons detained in connection with any such case shall be transferred to the custody of the Tribunal; (c) The national judicial authorities shall regularly inform the Tribunal of the progress of their investigation. At any stage of the proceedings, the Tribunal may formally request a national judicial authority to defer to its competence”. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

37 Article 7 of the Statute of the STL. Available at: <http://www.stl-tsl.org>.Accessed on Oct. 15, 2010.

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The composition of the chambers is mixed, and comprises an inter-national judge in the Pre-Trial chamber, three judges (one Lebanese one two international ones) in the Trial Chamber, and five in the Ap-peals Chamber (two Lebanese and three international ones). The Tri-bunal also has two alternate judges, one Lebanese and the other inter-national, who are present at every stage of the proceedings, in order to replace a judge if that judge is unable to continue sitting. The judges of the Trial Chambers and the Appeals Chamber shall elect a presid-ing judge who shall conduct the proceedings. The presiding judge of the Appeals Chamber shall be the President of the Special Tribunal38.

The judges are appointed by the Secretary-General of the UN – who shall previously consult with the Lebanese govern-ment – for a three-year period and may be eligible for reappoint-ment for a further period. The judges shall be persons of high moral character, impartiality and integrity, with extensive judi-cial experience. They shall be independent in the performance of their functions and shall not accept or seek instructions from any Government or any other source. In the composition of the Cham-bers, due account shall be taken of the established competence of the judges in criminal law and procedure and international law39.

It is important to note that the proceedings in the Pre-Trial chamber vary depending on the International Criminal Court considered. To illustrate the comparison, in the International Criminal Tribunals the for the former Yugoslavia and for Rwanda or even in the Special Court for Sierra Leone, the judge in the Pre-Trial Chamber is appointed by the president of the Trial Chamber among its members, whereas in the Special Tribunal for Lebanon one only judge is appointed to comprise the Pre-Trial Chamber, even before the commencement of the proceedings, without comprising any of the other Chambers. It is a permanent judge as the one in the International Criminal Court.

This judge’s function consists mainly of reviewing the charges pre-

38 Article 8 of the Statute of the STL. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

39 Article 8 of the Statute of the STL. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

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sented by the Prosecutor and, in case he finds all the formal requi-sites present, he confirms the indictment. During this stage the judge may, for the purpose of investigation and on request of the Prosecu-tor, issue orders and warrants for the arrest or transfer of persons40.

The Prosecutor, in his turn, shall be responsible for the investigation and prosecution of persons responsible for the crimes falling within the jurisdiction of the Special Tribunal. In the interest of proper ad-ministration of justice, he shall be assisted by a Lebanese Deputy Prosecutor, and shall have the power to question suspects, victims and witnesses, to collect evidence and to conduct on-site investigations, besides counting on the assistance of the Lebanese authorities con-cerned. Likewise the judges, he shall act independently as a separate organ of the Special Tribunal, also being appointed by the Secretary-General in consultation with the Lebanese government for a three-year term, and also being eligible for reappointment for a further period41.

The Registry shall be responsible for the administration and ser-vicing of the Tribunal. The nature of the function is mainly admin-istrative and involves several duties, especially in the area of staff, finances, languages, management of the Tribunal, support to the other organs, protection and psychological support to the witness-es, staff selections, security, press, statements and detention. It is also responsible for establishing and maintaining contact with the other International Courts, as well as with the international com-munities, including non-governmental organizations. It comprises a registrar and some other staff, all appointed by the Secretary-Gen-eral, and it is under the authority of the President of the Tribunal42.

The last organ which comprises the Tribunal is the Defence Of-fice. It is justified by the necessity to protect the rights of the ac-

40 The International Criminal Courts created or assisted by the UN have shown how impor-tant the performance of Pre-Trial judges has been, since they guarantee the efficiency and the celerity of the proceedings. Source: Report of the Secretary-General pursuant to Resolution n. 1757 of the Security Council. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

41 Article 11 of the Statute of the STL. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

42 Article 12 of the Statute of the STL. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

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cused, due to the demand of balance or condition equality, since the Prosecutor is an organ of the Tribunal, financed by it, and of investigative and accusatory nature43. The head of the Defence Of-fice is appointed by the Secretary-General, in consultation with the President of the Special Tribunal for a three-year term. In the performance of his functions he shall act independently and safe-guard the defence rights, provide the list of defence counsels and extend support and assistance to the defence counselor, as well as to the people who are entitled to legal assistance44. It is impor-tant to notice that neither the head of the Defence Office nor the other staff may represent a suspect or accused. In all the cases, the Head of the Defence Office shall assign an attorney for the case.

Finally, it is relevant to state that the first charge related to the attack of the Lebanese Prime-Minister Rafiq Hariri and others on February 14, 2005 was filed in the Registry of the Tribunal on January 17, 2011. The prosecution started the first stage of the trial in the Tribunal with Canadian Prosecutor Daniel A. Bellemare, whose mandate expired on 43 In this sense, see the news on the official website of the Tribunal: “Leidschendam, 18 January 2011: If the indictment is confirmed by the Pre-Trial Judge, the Defence Office wishes to draw attention to the fact that, since its establishment, it has put into place procedures that will allow future accused persons to be represented by counsel of their choice, in accordance with the rules of the STL. In the ensuing legal debate, the Defence Office will ensure that all the necessary means are made available to the defence teams so as to afford them the indispensable equality of arms with the Office of the Prosecutor. This equality of arms obviously includes the time that will be required to prepare an effective defence. The Defence Office, which is an independent organ of the Tribunal, requests that there be no speculation at this stage, either with regard to the identity of the suspects, or to their possible guilt, or to the starting date of the proceedings”. Access on Oct. 15, 2010.

44 On March 9, 2009, the Secretary-General of the UN, in consultation with the President of the Tribunal, Judge Antonio Cassesse, appointed François Roux as head of the Defence Office. “Prac-tically, this means that the Defence Office has a number of responsibilities, which have been specified in the rules. Amongst others, the Head of Defence Office is responsible for: Maintaining a list of counsel who are eligible to be assigned to suspects or accused who do not have the financial means to pay for the counsel themselves; Identifying duty counsel who can be quickly assigned to suspects or to accused for their initial appearance or any urgent matter; Confirming the representation of those defence counsel that suspects and accused have retained themselves without the financial assistance of the STL; Assigning one or more defence counsel to those suspects and accused who lack the means to pay for counsel themselves; Assigning counsel for trials in absentia where the accused has not chosen his own counsel; Providing facilities, assistance, advice and training to defence counsel; Appearing before the Pre-Trial Judge or Trial and Appeals Chamber with regard to the general issued affecting the rights of suspects and accused and any other concerns in this regard; Monitoring the effectiveness of the legal assistance provided by defence counsel; seeking cooperation in a manner consistent with the Statute from any state, entity or person to assist with the defence of suspects and accused before the Tribunal”. Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Oct. 15, 2010.

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February, 2012. From that date on the investigative activities will con-tinue under the responsibility of another Canadian, Norman Farrell45.

6. SOURCES OF FINANCING

Fifty-one percent of the STL’s budget comes from voluntary contri-butions of UN Member-States, and the rest is borne by the Lebanese government. The agreement states that the Tribunal shall receive funds to finance its activities in the first year, however, itpledges to fund the next two years so that it can function (article 5). In case the voluntary contributions are not sufficient the Security Council shall explore alter-nate means of financing46. The projections are that the activities of the Tribunal cost yearly around thirty-five and forty-five million dollars.

Lastly, it must be noted, once more, that the Special Tribunal for Lebanon was preceded by the Investigation Commission installed by Security Council Resolution n. 1595/2005, responsible for as-sisting the Lebanese authorities in the investigations and in the col-lection of evidences related to the terrorist attack that killed former Prime-Minister Rafiq Hariri and others. Such Commission had the purpose of reducing the activities which could be attributed to the

45 “Leidschendam, 17 January 2011 – The Registrar of the Special Tribunal for Lebanon, Herman von Hebel, can confirm that the Prosecutor of the tribunal has submitted an indictment and supporting materials to the Pre-Trial Judge. The documents, which relate to the assassination of Rafiq Hariri and others, were handed to the Registry at 16:35PM (local time) on Monday 17th January 2011. They will now be reviewed by the Pre-Trial Judge, Daniel Fransen. The contents of the indictment remain confidential at this stage”. “Leidschendam, 17 January 2011: Today, the Prosecutor of the Spe-cial Tribunal for Lebanon, Daniel A. Bellemare, filed a confidential indictment in connection with the attack on former Lebanese Prime Minister Rafiq Hariri and others on 14 February 2005. The indict-ment was filed with the Tribunal’s Registrar, who will submit it to the Pre-Trial Judge. The indictment marks the beginning of the judicial phase of the Tribunal’s work. The Prosecutor and his team will continue to vigorously pursue his mandate with respect to both continued investigative activity and the prosecution of this case.The Prosecutor will address the significance of the filing of this indictment in a videotaped statement to be issued tomorrow.” Available at: <http://www.stl-tsl.org>. Accessed on Jan. 18, 2011.

46 The definition of alternate means of financing is not clear. It is more an open concept to be determined by the UN. Maybe an example can be a grant from the regular budget of the United Na-tions Organization similar to the one made to the Special Tribunal for Sierra Leone. Handbook on the Special Tribunal for Lebanon. Available at: <http://www.ictj.org>. Accessed on May 30, 2010.

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Tribunal, consequently increasing efficiency and diminishing costs.

7. CONCLUSION

From the analysis of the conflict in Lebanon, of the process of the installation of the Special Tribunal and its constitutive aspects, it is possible to observe the crescent movement of reconstruction and effective protection of fundamental rights, considered as par-adigms of the contemporary international order. The repression of armed conflicts, the defence of religious, ethnical and politi-cal plurality, or even the struggle against impunity must be objec-tives constantly pursued, however long and hard the task may be.

The increasing perception that some crimes committed within a national territory have international resonance, besides violating ba-sic individual and indisposable rights, points to the necessity of the development of a peace preservation system. This way, intrastate conflicts that up to then were not within the competence of the Se-curity Council come to have a transnational status, becoming object to the resolutions issued under Chapter VII of the Charter of the UN.

Human rights in turn come to be considered fundamen-tal for any legal system, having primacy even over the internal norms of the State, which evidences the recognition of the exist-ing linkbetween the internal set and the international reality.

It is necessary to comprehend that a society free from im-punity, based on a culture of responsibility and compromised with the construction of truth and justice sets solid pillars in the search of the fulfillment and the respect to human rights.

This way, the installation of an impartial and independent Tribunal, guided by international principles and norms, represents a measure not only to safeguard the rights of minorities, but to reestablish peace and security, human and political aid, and even the rehabilitation of the main functions the local Government.All because it allows the ad-equation of the national law to the parameters established by the inter-national legal body, at the same time that it ensures the compliance and the application of the law, through the end of impunity, aiding reflex-

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ively in the reconstruction and capacitation of the local judicial system. It is encouraging to notice that this legitimate wish for justice, respon-sibility and protection to the differences gets more and more impulse.

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sis en que la colisión perdure, no obstante el empeño del intérprete.

Más allá de reflexionar sobre cuestiones estructurales del derecho internacional contemporáneo, el presente estudio busca elaborar ins-trumentos para integrar el comercio y el medio ambiente con base en el desarrollo sostenible, única manera de eliminar el riesgo a la super-vivencia humana provocado por la degradación ambiental. Evocando a Charles Dickens en “El Cuento de las Dos Ciudades”, vivimos el mejor y el peor de los tiempos, en la era de la sabiduría y de la estu-pidez, en la época de la creencia y de la incredulidad, en la estación de la Luz y de las Tinieblas, en la primavera de la esperanza y en el invierno de la desesperación. Cabe a nosotros elegir los caminos que permitan realizar lo que de mejor existe en el hombre.

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From Sustainable Development to Earth System Governance – a view from the south

Susana Camargo Vieira1

1. An (very personal) introduction.In 1992 I had the opportunity to attend the UN Conference on En-

vironment and Development in Rio (UNCED, also known as Rio 92) as observer for the Brazilian Society of International Law. This unforgettable experience entailed (i.a.) a lot of driving between two extremes of the city - the official conference site (Riocentro, where representatives of 178 UN Member Countries met) and the NGO Fo-rum (in Atêrro do Flamengo, which received, according to the main TV chain in Brazil, circa 25,000 people originating from every pos-sible area of international civil society2). Rio 92 was a very special moment in the history of international relations and international law – and in my case (and I suspect, in many others), it also (re)set the course for academic life.

In 1993 I was nominated by the Brazilian Branch of the Interna-tional Law Association, ILA3, as the national member of a new inter-national committee – the one on Legal Aspects of Sustainable Devel-opment. This Committee was the natural consequence of a previous 1 Professor, Graduate and undergraduate courses in Law, Universidade de Itaúna (MG, Bra-zil); Leader of CNPq registered Research Group on Global Governance and Human Rights; Member of the Scientific Steering Committee of theEarth System Governance Project; Director of the Brazil-ian Branch of the International Law Association and member of the ILA International Committee on International Law on Sustainable Development.

2 For a very interesting account, see http://memoriaglobo.globo.com/Memoriaglobo/0,27723,GYN0-5273-256540,00.html access on August 22, 2011 17:10 .Videos of interviews available.

3 For more on the ILA and its international committees, see www.ila-hq.org .

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one – Legal Aspects of the New International Economic Order – and, upon completion of its work, gave rise to a third one in 2002 – Inter-national Law on Sustainable Development, still operating in 2011. I had the chance of also being a member of two other interesting ILA Committees – Transnational Environmental Law and Legal Issues of the Outer Continental Shelf. These Committees, which member-ship and work is recorded in the ILA General (biannual) Conference Reports, were unique fora for discussion of widely varying cultural and legal perspectives, and produced many seminars, in all conti-nents, and collective books4, portraying the discussion (environ-ment x development, developed and developing countries) which led to the concept of sustainable development.

The discussion on global climate change and its consequences ac-celerated with recurring environmental catastrophes. It was again a privilege to participate in the 2002 Johannesburg Summit on Sustain-able Development – even if the international environment, post 2001 and the Washington Consensus, was very different from that of Rio 92. Then came the UNCTAD Conference in Brazil in 2004, centered on Sustainable Development. And, since 2009, the experience in the Scientific Steering Committee of a most interesting project, Earth System Governance5, which name alone would have been unthink-able when I participated in that first ILA Seminar (1993, Graz) which discussed sustainable development and good governance – concept then just emerging. The project, which describes itself as “the largest 4 I.a., Subrata Roy Chowdhuryet al (org.)The Right to Development in International Law, Kluwer: 1992; Bowman and Boyle (eds.), Environmental Damage in International and Comparative Law, Oxford : Oxford University Press, 2002; Ginther et al (org),Sustainable Development and Good Governance, Dordrecht : MartinusNijhoff, 1995; Weiss et al (eds), International Economic Law with a Human Face, The Hague : Kluwer Law International, 1998; Schrijver and Weiss(eds), International Law and Sustainable Development – Principles and Practice, Brill:Leiden, 2004.

5 See www.earthsystemgovernance.org .

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social science research network in the area of governance and global environmental change”, is a core project of the International Human Dimensions Programme on Global Environmental Change (IHDP)6, sponsored by several international institutions in some manner con-nected to the United Nations, which multi and intra-disciplinary na-ture gives us the unique opportunity to see how different geographi-cal and cultural areas are dealing with the fundamental issue of global change.

The global nature of the problem; the geometrical progression of technology; the human dimension and political consequences, in summa, the need for agents to foresee rules (agency) which foster desirable conducts and allow our civilization to create structures (architecture), adapt and mitigate (adaptiveness), reallocate in fair-ness (allocation and access) and yet survive as a democratic society (accountability) are our formidable challenge. Never has Bobbio´s “politics create and law consolidates” seemed more urgent, or fitting. Never has Ortega Y Gasset´s “I am myself and my circumstances” proved more true.

In short, the idea behind this article is – bearing in mind twenty years of discussions and experiences - to try to address the evolution in law and mind (which Willis HARMAN so well sized up in his Global Mind Change series of books7) of sustainable development in the context of global change, drawing from and combining with lessons from other sciences. Many books and articles have been writ-ten in the English language on the subject, but not so many by writ-ers from one of the largest mega-diverse countries in the Southern 6 See http://www.ihdp.unu.edu/ .

7 For complete list of books see http://en.wikipedia.org/wiki/Willis_Harmanacess on Nov 12011 18:33.

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hemisphere.

2. The Building Blocks (or moments?)2.1. Stockholm 1972: confrontation. Going back to circumstances: when the UN Conference on the

Human Environment happened in Stockholm, in 1972, Latin Amer-ica was still one of the areas in which the Cold War was steaming hot and dictatorships were seen as more US than URSS prone, thus tolerated. Dictatorships were never especially fond of environmental concerns (economic development being the driving motto) and even less of human rights discussions. Actually, these two themes were seen as “subversive”.

Yet, Brazil participated in Stockholm. NASCIMENTO E SIL-VA8 and the Report of the Brazilian Delegation to the 1992 UNCED9 recall the 1972 context: the First UN Development Decade had just ended; UN bodies had pledged to concentrate efforts in improving life quality in the Third World, but the balance was not encouraging; many developing countries saw diverting the eye of the international community from the development issue to a new issue (environmen-tal protection) as the true goal of the Conference; developing coun-tries rejected the developed countries argument that environmental degradation threatened equally the whole humanity.

Brazil denounced the fallaciousness of the “Spaceship Earth” metaphor as merely targeting at maintaining the status quo10. Thus, its

8 Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva, Direito Ambiental Internaciona. Rio de Janeiro: TEX, 1995, pp 25-30.

9 Relatório da Delegação Brasileira. 1992 Conferencia das Nações Unidas sobre meio ambiente e desenvolvimento. Brasília:FUNAG/IPRI, 1992, pp 9-11.

10 AnsKolk, Forests in International Environmental Politics.International organizations, NGOsand the Brazilian Amazon.Utrecht:International Books, 1996, p.36.

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steady position(recognizing the importance of environmental prob-lems provided environmental protection be not achieved by hamper-ing development) was initially seen as an effort to obstruct the Con-ference, but, in time, understood – and the fact that the Stockholm Declaration duly points out at the problems of Developing Countries in several of the Principles stated11 is proof of this.

In retrospect, Principle 15 was a sort of mea culpa12.NAS-CIMENTO E SILVA13 takes us back to the 1971 Founex meeting, preparatory to the 1972 Conference, quoting the Brazilian represen-tative to that meeting, Ambassador Miguel Osório de ALMEIDA: “if all the pollution generated by industrialized countries could be withdrawn from the world, world pollution would be almost insig-nificant; on the contrary, if all the pollution attributed directly to ac-tivities in underdeveloped countries could today be withdrawn from the world, all the dangers related to pollution would still exist, with practically the same intensity”14.

Guido SOARES believed the Stockholm Declaration to be, for international law and international diplomacy, as relevant as the 1948 Universal Declaration of the Rights of Man15. In fact, it dealt

11 And especially those 8 to 14.

12 Principle 15: Planning must be applied to human settlements and urbanization with a view to avoiding adverse effects on the environment and obtaining maximum social, economic and environmental benefits for all. In this respect projects which arc designed for colonialist and racist domination must be abandoned (enhanced by the author). Available at http://www.unep.org/Docu-ments.Multilingual/Default.asp?documentid=97&articleid=1503 access 21 May 2012 10:20.

13 In which 27 experts, chosen according to geographic criteria, produced a Report which reflexes can be seen in Principles 9-12, 16, 20 and 26 of the Stockholm Declaration. Op. cit, p. 28-29.

14 Translation by the author from the Portuguese language.

15 Guido F. SOARES, As Responsabilidades no Direito Internacional do Meio Ambiente.Campinas:Komedi, 1995, p.52.

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with human rights16, national sovereignty over natural resources17, the management of natural resources and threats due to pollution18, the correlation development/environment19, planning, environment and demographic policies20, environmental education21, development and transfer of science and technology22, responsibility23, respect for national values and standards of environmental protection24, and the nuclear threat to the environment25.

For developing countries the greatest achievement in Stockholm was to associate the environmental issue to that of development. And, as for Principle 21, its importance comes from associating the right to national sovereignty over natural resources to responsibility in exercising it.

2.2. Rio 1992 – cooperation. Between Stockholm and Rio several important documents

saw the light, and events took place. Dictatorships had fallen or were crumbling down in Latin America; the Berlin Wall had fallen by the end of the 80s, Germany was reunified; and the unthinkable had happened – the USSR had been dissolved, giving rise to many new 16 Principles 1, 16

17 Principle 21. In 1995 Nico SCRIJVER defended his PhD at the University of Groeningen on the subject – published in 1997 by Cambridge University Press as Sovereignty over Natural Re-sources – balancing rights and duties, ISBN 0 521 56269 4. On the Stockholm Declaration and this principle, see pp.122-129 of this book.. See also, on sovereignty over natural resources as a basis for sustainable development, its pp. 368-398.

18 Principles 2-7.

19 Principles 8-12.

20 Principles 13 to 17.

21 Principle 19.

22 Principle 20.

23 Principle 22.

24 Principles 23-25.

25 Principle 26.

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“old” countries in Europe; the Cold War was over, and there was hope that the new themes (environment, sustainable development, human rights) would lead countries to cooperate to solve common problems. In short, everything seemed possible. The circumstances in which Rio 92 happened were, in fact, unique.

In 1982 the UN had proclaimed The World Charter for Nature.26.It not only restated the main Stockholm principles, but included oth-er, stated in the World Conservation Strategy, published in 1980 by IUCN – of which it is said27 it may have put together the two terms, sustainable and development28.

KOESTER29 said, of The World Charter for Nature, that al-though devoid of formal binding effect, as a recommendation of the UN General Assembly, some of its provisions could be interpreted as being (or having become) international customary law. Plus: it was not issued, but solemnly proclaimed; it states principles of a very comprehensive nature; it is directed towards all; and it employs the imperative shall, rather than the conditional should. This should give it the same standing as that of the 1948 UN Declaration on Human Rights; the 1970 UN Declaration on Friendly Relations and Coop-eration among States according to the UN Charter; and the 1974 UN Charter on the Economic Rights and Obligations of States (the latter

26 Resolution A/RES/37/7 of 29 October 1982.

27 International Law Association, Report f the Sixty-Seventh Conference, Helsinki, 1996, p. 280 (Second Report of the ILA Committee on Legal Aspects of sustainable Development).

28 International Union for the Conservation of Nature, also known as World Conservation Union. In Brasil it works closely with a Brazilian NGO, InstitutoODireitopor um Planeta Verde (Law for a Green Planet). Together they have been organizing, for about 17 years, a very huge annual envi-ronmental law conference, among other things. For more (and information on this year´s conference) go to http://www.planetaverde.org/acessoem 21/10/2012 15:24.

29 V. Koester, From Stockholm to Brundtland. In Environmental Policy and law, ns. 1 and 2, 1990, pp.14-19.

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already embodying certain obligations, on the part of states, to pro-tect and conserve the natural environment).

In 1983 the UN created the World Commission on Environ-ment and Development, which soon became known by the name of its Norwegian head – Gro H. Brundtland. Initially mandated to re-evaluate critical environmental and development issues (and present proposals to deal with them); propose new forms of international cooperation for these issues (which influence policies and events in the right direction); increase the levels of understanding and engage-ment (of individuals, business, NGOs, institutes and governments), in 1985 it was further charged with helping UNEP to outline strategies for the XXI Century. It produced the Brundtland Report, published as a book in 1987–Our Common Future – which core is the concept of sustainable development –described as that which responds to the needs of present generations, without compromising the ability of future generations to provide for its own needs.

The report of the Brazilian Delegation to UNCED30 informs on the political negotiation which led to the definition of this concept in the XV Session of the UNEP Governing Council. The Brundt-land Commission also established a Group of Experts in Environ-mental Law (experts invited in their personal capacity, no longer political representation, and which included one Brazilian – Paulo NOGUEIRA NETO, who was also responsible for creating the first environmental governmental institution at the federal level in Brazil – IBAMA, the Brazilian Institute for Renewable Resources. He sub-sequently created SEMA (a special Secretariat for the Environment, at Federal Level, which later evolved to the present Ministry for the

30 Cited in Note 9. Definition in p. 13.

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Environment.). The result of their work – 22 Legal Principles Pro-posed for Environmental Protection and Sustainable Development - was appended to the Brundtland Report, which states that the prin-ciples have not been approved or considered in detail by the World Commission31.However, KOESTER shows that several of those ap-pear, directly or indirectly, in the Report itself, and for this reason KISS considers that they were adopted by the Commission32.

We all know the results of Rio 92 – two binding conventions (biodiversity and climate change), two Declarations (the Rio Declara-tion and the Declaration on Forests), and Agenda 21. The ILA Com-mittee on Legal Aspects of Sustainable Development, in its Report to the 1994 Buenos Aires ILA General Conference, draws attention to the importance of the participation of 178 states, a record in the his-tory of international organizations33; considers the Rio Declaration a notable result; notes the fact that beyond the Declaration on Forests, a recommendation was adopted to start negotiations for another global convention on desertification – which effectively did happen in 1994, Brazil is a party to that Convention.

The Report further notes that Rio 92 contributed to a signifi-cant growth in the body of legal principles on environment and sus-tainable development, and to place the subject on a higher level in the international agenda. On the other hand, by chasing concomitantly two objectives by some considered incompatible, it took the light off some basic needs, such as lowering the consumption level of rich countries, reducing mobility and, in general, inducing a change in

31 KOESTER, op. cit, in note 29, p. 16.

32 Charles Alexandre Kiss, Droit de l´Environnement. Paris:Pedone, 1991, p. 94.

33 Phillip Sands points at the importance of the participation of several dozens of inter-gov-ernmental organizations and several thousand NGOs.

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lifestyle.2.3. Johannesburg 2002–Realpolik? The Johannesburg Conference took place under very differ-

ent circumstances – in the post September 11 2001 world, fear was beating hope. The Washington Consensus had replaced the 1992 ide-alism. There was doubt about the feasibility of attaining the Mille-nium Goals. There were enough legal documents, and the world was facing the challenge of implementation.

The decision to concentrate discussions on two themes – poverty reduction and water – led to the fear that rich countries would back off from pledges already made, that the principle of common but dif-ferentiated responsibilities be forgotten. Brazil led the Latin Ameri-can And Caribbean Initiative by presenting the Brazilian proposal that by 2010 10% of world energy should come from renewable sources (which was not accepted in Johannesburg); it proposed that Megadiverse countries articulate and create, i.a., a fund for Biodiver-sity (the articulation proceeded); it presented international coopera-tion projects which had been successful in Brazil, such as PPG-734; and organized its own Rio+10, which resulted in a pledge by the Presidents of Brazil and South Africa, plus the Swedish Prime Min-ister and the British Deputy Prime Minister, to fight jointly to defend, in Johannesburg, the 1992 acquis. And Brazil was a driving force behind the Kyoto Protocol.

In 2002 the ILA Committee on Legal Aspects of Sustainable De-velopment ended its work presenting a Resolution – adopted by the

34 On the subject of PPG-7 from a legal point of view see, in English, Susana Camargo Vieira, The Right to Sustainable Development in Amazonas – in Reflexions on Emerging Interna-tional Law – essays in memory of late Subrata Roy Chowdury. ( Ed.) By Dr. A. Jayagovind et al, Calcutta:International Law Association/Calcutta Centre, 2004:pp 141-156. ISBN 81-85792-05-4. From a political angle, see AnsKolk, op. cit note 10.

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ILA Plenary and later by the UN General Assembly by initiative of the Governments of Bangladesh and The Netherlands –The ILA New Delhi Declaration of Principles of International Law Relating to Sustainable Development35. In short, these principles are:

1. The duty of States to ensure sustainable use of natural resources; 2. The principle of equity and the eradication of poverty; 3. The principle of common but differentiated responsibilities; 4. The principle of the precautionary approach to human health,

natural resources and ecosystems; 5. The principle of public participation and access to information

and justice; 6. The principle of good governance; and 7. The principle of integration and interrelationship, in particular in

relation to human rights and social, economic and environmental ob-jectives.

Celso LAFER, privileged participant in Rio 1992236 and Johan-nesburg 200237, recently referred to his experience in an acceptance speech of a honorary doctoral degree by Lyon 3 Jean Moulin Uni-versity38.For him, these were experiences revealing the challenges of diplomatic activity in international cooperation – the diplomat has to perceive common and shareable interests of the states and at the same

35 Available in English and French as UN doc.A/57/329, 31 August 2002. See on the subject NicoSchrijver, The Evolution of Sustainable Development in International Law:Inception, Meaning and Status. Pocketbooks of the Academy of International Law. Leiden: MartinusNijhoff, 2008. ISBN 978-90-04-17407-8. Declaration available also from ILA website – www.ila-hq.org

36 As Minister for Foreign Affairs of Brazil, thus heading the Brazilian Delegation and acting as host.

37 Once more Minister for Foreign Affairs and leading the Brazilian Delegation.

38 The author is indebted to Professor Lafer for receiving a copy of his speech in Lyon, which reading is recommended – see on the subject http://www.comunidadefb.com.br/web/pdf/Bro-chure_DHC_WEB.pdfacessoem 21/05/2002 22:02.

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time manage the prevailing power inequalities. He sees the environ-mental agenda as complex, because it involves, on one hand, gover-nance issues pertaining to one side - the internal sphere of countries, with their different visions, interests and sensitivities - and on the other, the imperative of what Kant saw as a comprehensive opera-tive vision of humanity.

LAFER recalls that the mega-diverse countries agreed on some goals, such as reducing significantly their rate of biodiversity loss and, at the same time, ensuring that benefits deriving from the con-servation and sustainable use of biologic resources be used in the development of their countries of origin and their local populations, as well as in that of humanity in general. This was translated into initiatives, within the WTO, which see intellectual property rights in a more open and less individualistic perspective.

As I said, I was in Johannesburg. It was very different from Rio 92, for all the above mentioned reasons and many others- I will never forget hearing from a South African lawyer, which office organized a very interesting preparatory meeting in Durban, that 10 years ago he had cried when he could not participate in Rio because of the apart-heid sanctions imposed upon his country (he told me he was the first white member of ANC). Holding the Conference made a big differ-ence in the life of not only South Africans, but Africans in general. And the implementation plan is being carried out.

2.4. Rio + 20 – who has a crystal ball? Once more, conditions are very different. The economic cri-

sis in Europe, the slow economic recovery in the US, the fact that elections will take place in the US and in many European countries, do not allow us to hope for a repetition of 1992. Already the number

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of delegations and heads of state or government seems much smaller. On the other hand, the agenda is being discussed. Earth Sys-

tem Governance, the project mentioned in the introduction, has pre-pared several documents, some of which were already discussed at the London preparatory conference Planet Under Pressure, but which will all be available in Rio. I would recommend reading Rio +20 Policy Brief nr. 3 – Transforming governance and institutions for a planet under pressure; Towards a Charter Moment – Hakone vision on Governance for Sustainability in the 21st Century39; and Navigat-ing the Anthropocene: Improving Earth System Governance40, which proposes seven building blocks to improve environmental gover-nance and hopefully help steer change in the destructive course hu-manity seems intent on following:

1. reform and upgrading of UN environmental programs and agen-cies;

2. strengthening the integration of the social, economic and envi-ronmental pillars of sustainable development, from local to global levels;

3. closing remaining regulatory gaps at the global level in order to achieve better integration of sustainability governance;

4. governments must place a stronger emphasis on planetary con-cerns in economic governance, if we want to integrate sustainability policies;

5. stronger reliance of qualified majority voting to sped up interna-tional norm-setting;

39 Both of these available from www.earthsystemgovernance.org At least the first one should be distributed to all participants in the Conference.

40 Published in Science Magazine (www.sciencemag.org )on 16 March 2012 Vol 335 pp. 1306-1307. Also available now at www.earthsystemgovernance.org.

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6. stronger intergovernmental institutions raise important ques-tions of accountability and legitimacy;

7. equity and fairness must be at the heart of a durable international framework for sustainable development – we must resort to novel finance mechanisms.

3. Some final thoughts When I wrote my doctoral dissertation on International Co-

operation in Brazilian Amazonia, back in 199941, I opened it with a quotation by James Crawford in The Rights of Peoples: “while the international system reflects, only too emphatically, the power rela-tions between states (as well as strongly entrenched nationalistic at-titudes on the part of the people of most states) it has, as a result of its history and intellectual tradition, a broader orientation. Here as elsewhere the flexibility of international law can be a strength as well as a source of weakness42”.

The book dates of 1988, and much water has passed under the bridge, but the quotation still applies. The difference is, I hope, that we (in the South) have learnt to make better use of this flexibility, to our advantage. What we still have to learn, however, is to make bet-ter use of our comparative advantages – and for this we must “mar-ket” ourselves better.

Specifically in terms of Brazil – we have developed interesting ex-periences, expertise and legal solutions, but the language barrier is

41 Principle 15: Planning must be applied to human settlements and urbanization with a view to avoiding adverse effects on the environment and obtaining maximum social, economic and environmental benefits for all. In this respect projects which are designed for colonial and racist domi-nation must be abandoned.

42 James Crawford (ed), The Rights of Peoples. Oxford: Oxford University Press, 1988, p. 175. ISBN0-19-825624-8.

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still to be overcome. Brazilian authors have much to say, but do not often write in English, and the result is that international law remains rather Eurocentric. Yet Latin American jurists were already active in the early 19th century 43. If one looks at environment and sustainable development law in Brazil, for instance, and I hope this paper has helped show this, much has been said, discussed and done over the years.

International law can, and should, be used to transform (improve!) reality. It will be no different in the environmental/sus-tainable development front (which definitely respects no physical boundaries…). Despite all controversies, one feels daily the effects of climate change – only today I was reading that in the northeast of Brazil draught is reaching the cities, no longer just land once used for agriculture; that the beautiful city of Bologna, in Italy, has suffered terrible damage from an earthquake; that earthquakes have also been felt in Asia this week. And yet we keep destroying, thinking only of our own petty interests until…

Development presupposes involvement. We are lawyers. We must study and teach international law44. And do what we preach…

Key words: international law; sustainable development; gover-nance; international politics; UN conferences

Abstract: This paper discusses, from the point of view of the “South”, international law and politics in the evolution of the envi-43 And here I remember a special session on the subject organised by the late ShabtaiRo-senne in the 1994 Buenos Aires Conference of the ILA.

44 One last suggestion, in Portuguese – Marcelo D. Varella and Ana Flávia Barros-Platiau (org), Proteção Internacional do Meio Ambiente. Brasília:Unitar /Uniceub/UNB, 2009. ISBN 978-85-61990-00-8, e-book.

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ronmental/sustainable development issue. The subject is approached from the point of view of the significance of the three main world conferences held in a period of 20 years, and the urgent need to im-prove environmental governance in view of climate change.

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A ARBITRABILIDADE DOS LITÍGIOS TRANSNACIONAIS DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Uma leitura a partir do ordenamento jurídico português

Suzana Santi Cremasco1.

Sumário: 1. Considerações iniciais. 2. A arbitragem como método de solução de controvérsias. 3. A arbitrabilidade dos litígios em matéria de propriedade industrial. 3.1. As vantagens da utilização da via arbitral para a solução de controvérsias nesta temática. 3.2. As razões da tendência à judicialização dos litígios em matéria de propriedade industrial. 4. O tratamento dispensado à arbitrabilidade dos direitos de propriedade industrial pelo regime jurídico português. 4.1. A disciplina constante no Código de Propriedade Industrial. 4.2. A novidade encampada pela Lei n.º 62/2011 de 12 de dezembro. 5. Conclusão. 6. Bibliografia.

1. Considerações iniciais

Por propriedade intelectual entende-se o conjunto de direitos decorrentes da apropriação, pelo homem, dos produtos da sua atividade criativa ou inventiva nos campos industrial, científico, literário e artístico. Esse conjunto de direitos se divide em dois grandes grupos: de um lado, (a) a propriedade industrial - que compreende as invenções, marcas, modelos de utilidades, indicações geográficas, desenhos industriais, topografia de circuitos integrados e obtenção

1 Doutoranda em Direito pela Universidade de Coimbra, Portugal. Mestre em Direito Processual Civil pela UFMG. Professora Coordenadora do NEArb - Núcleo de Estudos em Arbitragem. Membro do IBDP - Instituto Brasileiro de Direito Processual e do CBAr - Comitê Brasileiro de Arbitragem. Advogada.

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de vegetais - e, de outro, (b) a propriedade literária e artística - que engloba os direitos de autor, os programas de computador e os direitos conexos2.

Tanto no que pertine à propriedade industrial, quanto no que toca à propriedade literária e artística, a criação de um regime jurídico, com o estabelecimento de normas legais para a sua proteção, em caráter global, tem por escopo, essencialmente, inibir e corrigir a existência de lesão, desvio ou abuso praticado por terceiros contra a atividade intelectual, através da instituição e garantia para o criador, inventor ou artista de um direito de controle exclusivo do uso da sua criação, invenção ou obra, por tempo determinado.

Busca-se, com isso, por um lado, “dar expressão legal aos direitos morais e patrimoniais dos criadores em suas criações e garantir os direitos do público de acesso a elas”3 e, por outro, “promover, como um ato deliberado de política de Governo, a criatividade, a divulgação e a aplicação dos seus resultados e encorajar o comércio justo, que contribui para o desenvolvimento econômico e social”4.

Destarte, assegurar a proteção dos direitos de propriedade intelectual é medida fundamental para que o inventor, criador ou artista sinta-se estimulado a prosseguir com o seu trabalho, ciente e consciente de que o(s) Estado(s) no(s) qual(is) o direito de exclusivo for garantido irá(ão) (a) reconhecê-lo frente a terceiros, (b) possibilitar o seu controle pelo titular por um dado período de 2 BASSO, Maristela. O direito internacional da propriedade intelectual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000, p. 53.

3 WIPO - The Word Intellectual Property Organization. The concept of intellectual property..Disponível em <http://www.wipo.int/export/sites/www/about-ip/en/iprm/pdf/ch1.pdf>. Último acesso em 04/02/2012, p. 03, em tradução livre da autora.

4 WIPO - The Word Intellectual Property Organization. The concept of intellectual property..Disponível em <http://www.wipo.int/export/sites/www/about-ip/en/iprm/pdf/ch1.pdf>. Último acesso em 04/02/2012, p. 03, em tradução livre da autora.

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tempo e (c) permitir a sua difusão para o público em geral de forma segura, com a correspondente contrapartida pecuniária.

A tutela dos direitos de propriedade intelectual apresenta-se, assim, como vetor essencial para a manutenção de um processo contínuo de criação e invenção entre os membros da comunidade mundial, indispensável para o alcance de progresso científico, tecnológico e artístico permanente da humanidade, o que, por sua vez, é de interesse de toda coletividade5.

Embora a necessidade e mesmo a existência incipiente de tutela dos direitos de propriedade intelectual remonte a tempos antigos6, a disciplina da proteção dessa modalidade de direitos que hoje está presente nos principais ordenamentos jurídicos existentes - inclusive o brasileiro e o português - é proveniente de Convenções e Tratados Internacionais como a Convenção de Paris de 18837 e a Convenção de Berna de 18868 que foram responsáveis por trazer o tema ao 5 Quanto a esse aspecto, precisas são as considerações do Prof. João Paulo Remédio Marques, quando afirma que: “O direito-liberdade à investigação científica é uma projecção do direito-liberdade à criação científica, ambas protegidas pela Constituição. O progresso científico, incentivado e apoiado pelo Estado em benefício da comunidade, para além dos interesses egoísticos dos investigadores, garante a difusão e a circulação da informação e do conhecimento científico. E a Constituição também impõe como tarefa dos poderes públicos a promoção da ciência e da investigação científica e tecnológica em benefício do interesse geral”. In: Biotecnologia(s) e propriedade intelectual. v. 1. Dissertação para doutoramento em Ciências Jurídico Empresariais na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Coimbra, 2005, p. 13.

6 A esse propósito, a Profa. Carla Eugênia Caldas Barros aponta que, embora já na Grécia antiga houvesse um reconhecimento do autor e um “louvor de seus talentos”, inclusive com o estabelecimento de “sanções morais da sociedade, que excluía o plagiador dos meios intelectuais”, pois considerava o plágio “tão reprovável quanto os furtos”, foi apenas em Roma que surgiu a forma jurídica dos direitos autorais. Durante a Idade Média, esses direitos passaram para as mãos da Igreja e, em 1557, foi outorgada pela Realeza à Associação dos Donos de Papelarias e Livreiros, na Inglaterra, onde, também, em 1710, foi editada a primeira lei que outorgou ao criador o direito exclusivo sobre um livro por 14 anos e, se o autor ainda estivesse vivo quando o direito expirasse, poderia renovar o direito por mais 14 anos. In: Manual de direito da propriedade intelectual. Aracajú: Evocati, 2007, p. 467.

7 A Convenção de Paris de 1883 foi responsável por criar o Sistema Internacional de Propriedade Industrial e representou a primeira tentativa de uma harmonização internacional dos diferentes sistemas jurídicos nacionais relativos ao tema.

8 A Convenção de Berna de 1886 instituiu à proteção das obras literárias e artísticas, ao promover o reconhecimento do direito de autor entre nações soberanas.

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cenário jurídico mundial.Foi, porém, com a Convenção de Estocolmo de 14 de julho de

19679 - que instituiu a WIPO como agência especializada das Nações Unidas para propriedade intelectual - e, ainda e sobretudo, mais recentemente, com a assinatura do Acordo TRIPs10, ao final da Rodada do Uruguai, em 1994, que a proteção da propriedade intelectual passou a contar com um tratamento mais adequado e sólido no cenário mundial. Isso ocorreu na medida em que esses diplomas foram responsáveis por introduzir uma disciplina jurídica que não apenas reconhece a existência dessa ordem de direitos, outorgando-lhes proteção, mas, igualmente, estabelece mecanismos eficazes de ação e de solução de controvérsias, que impõem sanções de natureza civil, criminal e administrativa em caso de sua violação e que são extensivos, de modo uniforme, a todos os seus signatários.

Com efeito, quando se pensa na proteção e tutela de direitos de propriedade intelectual, evidentemente que o que está em causa é não só o reconhecimento do direito material (ou substantivo) de propriedade intelectual, com todos os seus consectários, mas, 9 A Convenção de Estocolmo de 1967 foi responsável por promover a última revisão na redação da Convenção de Paris de 1883. Antes disso, o texto já havia sido objeto de revisão pelas Convenções de Bruxelas de 14/12/1900, de Washington de 02/06/1911, da Haia de 06/11/1925, de Londres de 02/06/1934 e, finalmente, de Lisboa de 31/10/1958.

10 O Agreement on Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights - ou, simplesmente, Acordo TRIPs - integra o conjunto de acordos assinados ao final da Rodada do Uruguai, em 1994, na mesma oportunidade em que foi criada a Organização Mundial do Comércio. Competiu aos Estados Unidos - com o apoio, sobretudo, do Japão e da União Européia - a iniciativa de vincular as políticas de comércio internacional à padrões de respeito à propriedade intelectual, como forma de proteção das suas corporações frente à pirataria mundial. Desde então, a ratificação do Acordo TRIPs passou a ser requisito obrigatório para a filiação de qualquer país à OMC, sendo, portanto, um grande incentivo à adoção de regras rigorosas no tocante à proteção da atividade intelectual. Por conta disso, ainda hoje, se diz que o Acordo TRIPs é o principal instrumento multilateral existente para a tutela global da propriedade intelectual. A propósito do Acordo TRIPs, cf: GERVAIS, Daniel. The TRIPS agreement : drafting history and analysis. 3. ed. London: Sweet and Maxwell, 2008; e MARQUES, João Paulo Fernandes Remédio. Anuencia prévia : a ilicitude da interferencia da autoridade sanitária brasileira nos procedimentos de patenteabilidade de fármacos. In: Actas de Derecho Industrial y Derecho de Autor, v. 31. Madrid: Marcial Pons, 2010-2011, pp. 373-400.

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também, a existência de mecanismos processuais que, sempre que necessário, se mostrem capazes de assegurar essa tutela, através da defesa do direito ameaçado ou violado e da conseqüente imposição de responsabilidade pela infração eventualmente praticada, tanto em âmbito interno, quanto no âmbito internacional.

Esse sistema de proteção e de solução de controvérsias é o ponto de partida da nossa discussão. Isso porque, quando se tem em conta os mecanismos para efetivação da tutela da propriedade intelectual - e, de modo especial, na sua modalidade industrial - normalmente se pensa na tutela estatal, decorrente da intervenção de órgãos administrativos específicos de cada país - como é o caso do Instituto Nacional da Propriedade Industrial - ou de órgãos do Poder Judiciário.

Não se tem em conta, pelo menos em princípio, o recurso a outros métodos de solução de litígios como a conciliação, a mediação, os comitês de resolução de disputas e, quanto àquilo que é objeto de investigação deste trabalho, a arbitragem, cujo uso tem se acentuado nos últimos anos, notadamente em conflitos de caráter transnacional.

2. A arbitragem como método de solução de controvérsias

A arbitragem é um dos métodos que a ordem jurídica põe à disposição dos seus jurisdicionados com vistas a solucionar as controvérsias existentes. De fato, da mesma forma que a parte é livre para recorrer ao Poder Judiciário e solicitar a tutela estatal para a proteção dos seus interesses ou, ainda, para transigir a respeito de um conflito e, mediante concessões recíprocas, encerrá-lo, a legislação em vigor também lhe permite delegar a um terceiro, um particular, essa solução. “Isto corresponde a uma inegável manifestação do

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poder de autodeterminação da vontade das pessoas: o submeter, pelos contraentes através de uma convenção de arbitragem, a resolução de um litígio a um tribunal arbitral”11.

A arbitragem, assim, nada mais é do que mecanismo de composição de conflitos por força do qual pessoas físicas ou jurídicas, públicas e privadas, desde que capazes de contratar e mediante consentimento recíproco, confiam o julgamento de litígios relativos a direitos disponíveis a um tribunal formado por um ou mais árbitros, terceiros imparciais, especialmente escolhidos para esse fim e indicados pelas partes ou não.

É um método de solução de conflitos de interesses, na medida em que estabelece um modo de agir, um caminho a ser percorrido desde a constatação de que há uma controvérsia entre duas ou mais pessoas que precisa ser resolvida até o alcance da solução que, espera-se, seja a mais adequada e a mais justa para aquela situação. Contempla, pois, uma série de atos coordenados, encadeados, preestabelecidos, vinculados e coesos, que têm como única finalidade a composição do litígio existentes, a qual vai se dar pelas mãos de terceiro(s) estranho(s) ao conflito, idôneo(s) e imparcial(is). A atuação desse(s) terceiro(s) faz com que a arbitragem insira-se entre os chamados métodos heterocompositivos de solução de controvérsias.

A arbitragem é, outrossim, uma modalidade especial de solução de entraves que, embora prestigie, na sua essência, a capacidade e a autonomia da vontade das partes envolvidas no conflito, no caso do ordenamento jurídico português pode assumir tanto o caráter voluntário - quando o método é escolhido livremente pelas partes

11 MARQUES, João Paulo Fernandes Remédio. Acção declarativa à luz do Código revisto. 3.ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2011, pp. 51.

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para solucionar o litígio existente entre elas por meio de uma convenção de arbitragem - como o caráter necessário - quando o legislador impõe às partes o recurso à arbitragem.12

Disso decorre que, na sistemática portuguesa, exige-se para a utilização da arbitragem a existência de disposição legal que determine o uso de arbitragem, se for o caso de arbitragem necessária ou, se se tratar de arbitragem voluntária, a existência de convenção de arbitragem válida entre os litigantes13, o que inclui, por certo a arbitrabilidade do litígio.

É de se destacar que, no caso do ordenamento jurídico português, salvo as exceções constantes no Capítulo IX da Lei de Arbitragem Voluntária, “são aplicáveis à arbitragem internacional, com as devidas adaptações, as disposições relativas à arbitragem interna” (art. 49º, n. 2), sendo certo que, por arbitragem internacional entende-se aquelas que põem em jogo interesses do comércio internacional. “Esta noção ampla de arbitragem internacional compreende não apenas as arbitragens cujas partes se encontrem estabelecidas em países diferentes, mas também aquelas - embora apresentem conexões com um só país - versem sobre litígios emergentes de operações econômicas que envolvam a circulação de produtos, serviços ou capitais através das fronteiras”14 e que, por evidente, notadamente no caso da circulação de produtos, pode afetar direitos de propriedade

12 É o que ocorre, por exemplo, na fixação do valor da indenização por expropriação por utilidade pública, nos conflitos laborais coletivos decorrentes da celebração, revisão ou caducidade de uma convenção coletiva e na fixação e definição dos serviços mínimos que devem ser mantidos durante o direito de greve. Sobre o tema, cf: MARQUES, João Paulo Fernandes Remédio. Acção declarativa à luz do Código revisto. 3.ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2011, pp. 59-60.

13 Com a ressalva de que tratando-se de arbitragem internacional, é aplicável à validade da convenção de arbitragem o disposto no art. 51º, da LAV.

14 MENDES, Armindo Ribeiro et al. Lei da arbitragem voluntária anotada. Coimbra: Almedina, 2012, p. 99.

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intelectual e industrial.Nesse sentido, se não se tratar de arbitragem necessária, para que

a controvérsia existente entre as partes seja solucionada por meio da arbitragem, tenha ela caráter transnacional ou não, é indispensável, em primeiro lugar, que exista entre elas consentimento, isto é, acordo de vontades no sentido de que o entrave existente será solucionado por um tribunal arbitral especificamente constituído para esse fim. Toda arbitragem voluntária tem por pressuposto uma convenção arbitral, estabelecida por meio de cláusula ou compromisso, cuja natureza é contratual.

Como acordo de vontades no qual as partes interessadas resolvem submeter a lide existente entre elas ao tribunal arbitral, a convenção de arbitragem é, essencialmente, um negócio jurídico na exata medida em que cria, modifica e conserva direitos entre os seus signatários a partir de uma manifestação de vontade que é expressão da autonomia negocial das partes.

De fato, uma vez assinada, a convenção (a) gera para as partes o direito de ver o tribunal arbitral constituído e, se necessário, de ir a juízo para que isso ocorra; (b) afasta a competência do juiz natural, modificando, pois, o direito geral dos contratantes de submeter todas as lesões ou ameaças ao seu direito ao Poder Judiciário; e (c) conserva as pretensões materiais das partes, anteriores ou concomitantes à sua assinatura. Não se trata, porém, de um negócio jurídico comum, mas de um negócio jurídico processual, eis que “a convenção de arbitragem produz essencialmente efeitos processuais (atribuição de competência ao tribunal arbitral e excepção processual perante os tribunais estaduais)”.15

15 .PINHEIRO, Luís de Lima. Arbitragem transnacional – A determinação do estatuto da

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O requisito da arbitrabilidade, por fim, refere-se à possibilidade - ou não - de que uma determinada controvérsia seja submetida à arbitragem pelas partes interessadas. Ele decorre do fato de a arbitragem se tratar de um procedimento privado que não contempla alguns tipos de disputas, para os quais a competência para processamento e julgamento é exclusiva das Cortes Estatais16. Trata-se, com efeito, da “qualidade que se aplica a uma matéria, a uma questão ou a um litígio que pode ser submetido ao poder jurisdicional dos árbitros, tendo em conta não só a natureza do objecto do litígio, como também a qualidade das partes”17.

No tocante à natureza do objeto do conflito (arbitrabilidade objetiva), dois são os critérios fundamentalmente levados em consideração para a sua determinação: (a) a natureza patrimonial do litígio (art. 1º, n. 1, Lei 63/2011) e (b) a disponibilidade, para além da patrimonialidade, do objeto da controvérsia (art. 1º, n. 2, Lei 63/2011).

O critério da patrimonialidade da pretensão foi importado pelo direito português do direito alemão (art. 1030º, ZPO) e do direito suíço no que pertine à arbitragem internacional (art. 177º, n. 1, da Lei Federal de Direito Internacional Privado), e cinge-se ao fato de a pretensão ser “susceptível de ser objeto de uma avaliação pecuniária”18.

arbitragem. Coimbra: Almedina, 2005, p. 86. No mesmo sentido, cf.: REMÉDIO MARQUES, João Paulo. Acção declarativa à luz do código revisto. 3.ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2011, p. 51; LEBRE DE FREITAS, José. Introdução ao processo civil, conceito e princípios gerais. 2.ed.. Coimbra: Coimbra Editora, 2006, pp. 70-71; e TEIXEIRA DE SOUSA, Miguel. As formas de composição da acção in Estudos sobre o Novo Processo Civil, 2.ed., Lisboa, 1997, p. 193.

16 É o que ocorre, por exemplo, com os conflitos no âmbito do direito de família, no direito das sucessões, no direito individual do trabalho e no direito penal.

17 OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litígios com entes públicos. Coimbra: Almedina, 2007, pp. 9-10.

18 PINHEIRO, Luís de Lima. Arbitragem transnacional – A determinação do estatuto da arbitragem. Coimbra: Almedina, 2005, p. 105.

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Já o critério da disponibilidade do direito, que até há bem pouco tempo19 figurava como regra geral no ordenamento jurídico nacional (art. 1º, Lei 31/86), é adotado pela legislação suíça em relação à arbitragem interna (art. 5º, Concordat Sur L’Arbitrage) e pela lei italiana (art. 806º, CPC). Além disso, também está imerso na legislação brasileira, cujo art. 1º da Lei 9.307/96 é expresso ao afirmar que “as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis”, não obstante o art. 852 do Código Civil de 2002 admita a realização de compromisso para a generalidade de questões de caráter estritamente patrimonial, dando a entender que adotaria um critério misto quanto ao conteúdo da convenção arbitral.

Se “diz que um direito é disponível quando ele pode ser ou não exercido livremente pelo seu titular, sem que haja norma cogente impondo o cumprimento do preceito, sob pena de nulidade ou de anulabilidade do ato praticado com sua infringência. Assim, são disponíveis (do latim, disponere, dispor, pôr em vários lugares, regular) aqueles bens que podem ser livremente alienados ou negociados, por se encontrarem desembaraçados, tendo o alienante a plena capacidade jurídica para tanto”.20

A disponibilidade dos direitos que são objeto de discussão se relaciona, portanto, à ampla liberdade do indivíduo que for seu titular

19 O Diário da República de 14 de Dezembro de 2011 publicou a Lei n.º 63/2011, que aprovou a nova disciplina da arbitragem voluntária no ordenamento jurídico português. O novo diploma normativo substituiu a Lei n.º 31/86 de 29 de agosto e foi responsável por estabelecer a mudança no critério de arbitrabilidade que, inspirado pelos preceitos da lei alemã sobre arbitragem, aprovada em 1988 e integrada à ZPO, deixou de estar atrelado exclusivamente ao caráter disponível da questão submetida à arbitragem e passou a ser pautado, em primeiro plano, pela natureza patrimonial (art. 1º, 1) e, apenas secundariamente, pela transigibilidade do objeto do litígio (art. 1º, 2).

20 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e processo: um comentário à Lei n. 9.307/96. 3 ed. rev., atual. e ampli. – São Paulo: Atlas, 2009, p. 38.

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de fazer aquilo que bem lhe aprouver em relação à eles, inclusive a sua negociação e alienação, na medida em que não há qualquer disciplina normativa, nenhum comando imperativo que limite a autonomia da sua vontade.

Quanto ao requisito da arbitrabilidade relacionado à qualidade dos sujeitos envolvidos na controvérsia (arbitrabilidade subjetiva), a questão toca, essencialmente, à (im)possibilidade de o Estado e as demais pessoas coletivas de direito público figurarem como partes no procedimento arbitral.

Destarte, na sistemática jurídica moderna, a questão da arbitrabilidade dos litígios relativos à relação de direito público está entre as mais complexas e controvertidas, tanto quando o que está em foco são (a) conflitos decorrentes de relações entre o particular e o Estado no exercício da sua autoridade, mas no domínio do direito privado - como ocorre nos direitos de propriedade industrial - como quando o objeto da discussão refere-se a (b) litígios entre o particular e o Estado, no âmbito do direito público.

Afinal, num primeiro momento, poderia causar espécie a possibilidade de o Estado e as pessoas jurídicas de direito público, com todas as particularidades que lhe são inerentes - notadamente a proteção do interesse público - subtraírem-se à jurisdição estatal para entregar a solução dos seus litígios a juízes privados. E, se por um lado é hoje certa “a abstracta admissibilidade da submissão desses sujeitos à via arbitral, e ultrapassado mesmo o tradicional dogma da interdição da arbitragem no campo jurídico-público, o debate em torno do tema deve deslocar-se para o plano da concreta configuração e limites do recurso à arbitragem pelos entes públicos”21.

21 OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litígios com entes públicos. Coimbra:

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3. A arbitrabilidade dos litígios em matéria de propriedade industrial

3.1. As vantagens da utilização da via arbitral para a solução de controvérsias nesta temática

Quando a questão em foco é a arbitrabilidade dos litígios decorrentes de direitos de propriedade intelectual - e, especialmente, no que pertine à propriedade industrial - ainda que sejam inúmeras as questões a ela inerentes22, o primeiro ponto a se considerar são as vantagens que a arbitragem pode representar para a solução das controvérsias oriundas desta temática. E, aqui, são três os aspectos que mais se destacam, a saber: (a) a confidencialidade quanto ao conteúdo discutido no procedimento, tanto quanto à dados e informações, quanto a documentos, (b) a celeridade com que se alcança o encerramento do litígio e (c) a especialidade técnica dos responsáveis pelo julgamento do conflito.

A regra da confidencialidade da jurisdição arbitral é uma característica que se contrapõe ao princípio da publicidade que é inerente à jurisdição estatal. De fato, a publicidade do processo judicial é uma exigência constitucional (art. 206º, CRP) que tem por objetivo assegurar o controle público da administração da justiça

Almedina, 2007, p. 11.

22 Quanto a este aspecto, anota Bernard Hanotiau: “Em geral, admite a legislação a arbitrabilidade dos litígios em matéria de propriedade intelectual? Em todas as matérias ou apenas em algumas delas? Se a arbitrabilidade é geralmente reconhecida, quais são os seus limites? Em particular, podem os árbitros julgar os litígios relativos à validade do título de propriedade industrial? No caso afirmativo, essa competência limita-se a uma decisão a título incidental ou prévio? Ou pode o tribunal arbitral julgar igualmente a questão a título principal? E, no caso afirmativo, essa competência limita-se às partes na arbitragem ou tem igualmente efeito erga omnes? In: HANOTIAU, Bernard. L’arbitrabilité. Recueil des Cours de lÁcadémie de Droit International, t. 296, a. 2002, p. 202, em tradução livre da autora.

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e, assim, garantir que o Poder Judiciário atue com independência e imparcialidade na promoção de um processo justo e efetivo. Nas lições do Prof. João Paulo Remédio Marques, “este princípio processual assenta na idéia de controlo popular dos tribunais, que são, como se sabe, órgãos de soberania: permite combater a desconfiança na (independência e imparcialidade) administração da justiça; e permite reforçar a legitimidade democrática que se revestem as decisões dos tribunais, embora os juízes não sejam eleitos por sufrágio directo e universal”23.

É certo - e não se desconhece aqui - que na esteira do que determina o art. 20º, n. 3, da Constituição da República, a lei deve definir e assegurar a adequada proteção do segredo de justiça, o que, por sua vez, está inserto no art. 168º, n. 1, do Código de Processo Civil e refere-se a situações em que a divulgação do conteúdo dos autos pode causar dano à dignidade das pessoas, à intimidade da vida privada ou familiar, à moral pública ou comprometer a eficácia da decisão que vier a ser proferida nos autos.

As limitações previstas na legislação processual não abrangem, em princípio, causas que versem sobre propriedade industrial - sobretudo após a publicação do pedido no Boletim de Propriedade Industrial (art. 29, n. 5, CPI) - mas nas quais há sim - e mesmo a priori - questões ligadas a segredos de mercado que, por vezes, precisam ser tuteladas. Com efeito, é difícil encontrar uma ação relacionada à propriedade industrial que não envolva a apresentação - quando não a discussão - de informações estritamente confidenciais, dados sigilosos, segredos de criação, produção e desenvolvimento.

Nesse contexto, a opção por um processo público poderia 23 REMÉDIO MARQUES, João Paulo. Acção declarativa à luz do código revisto. 3.ed. Coimbra: Coimbra Editora, 2011, p. 220.

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comprometer esses segredos revelando, por vezes, detalhes técnicos que confeririam ao seu detentor uma vantagem concorrencial24. Além disso, não há como negar, também, que “a notícia de litígios tem impacto direto na opinião de investidores, incluindo-se, mas não se limitando a este, o seu grau de confiança na companhia, e dos consumidores”25.

Disso decorre que a escolha de um método que, como a arbitragem, possibilite a preservação do sigilo das questões nele tratadas pode representar um diferencial considerável para as partes envolvidas no conflito.

O mesmo se pode dizer quanto a questão da especialidade, decorrente da possibilidade de escolha pelas partes de experts nas temáticas que estão em discussão e julgamento como árbitros.

A propriedade industrial é um campo cujos conflitos normalmente envolvem questões técnicas de grande complexidade. Por conseguinte, a escolha de árbitros que detenham um conhecimento específico no tema - e, portanto, capacidade técnica subjetiva - pode representar considerável economia de tempo e de recurso, que, caso contrário, seria empregado na contratação de terceiros especialistas, tal como ocorre na justiça estatal com peritos e assistentes técnicos, com o agravante de seus laudos e pareceres não serem vinculativos, na medida em que, a decisão final sobre a controvérsia, competirá, sempre, ao julgador, seja ele juiz ou árbitro.

Por fim, quanto a celeridade, trata-se, sem dúvida, de uma das

24 A propósito do paralelo entre o direito da concorrência e a titularidade de direitos de propriedade intelectual, sob o viés do interesse público, cf.: REMÉDIO MARQUES, João Paulo Fernandes. Propriedade intelectual e interesse público. Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, v. LXXIX, Coimbra, pp. 293-354.

25 EICHIN-AMARAL, Pedro. Arbitragem Internacional em Propriedade Intelectual. Revista Brasileira de Arbitragem, Porto Alegre, v. 4, n.13, p. 07-23, jan./mar. 2007, p. 20.

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principais vantagens da arbitragem em relação à justiça estatal, sobretudo em matéria de propriedade industrial. Isso ocorre por duas razões: (a) o fato de que, nesta seara, os contratos, normalmente, são de longa duração e, portanto, da necessidade de que os conflitos eventualmente existentes sejam solucionados de forma célere para que a relação contratual não se perca26; e (b) porque “hoje, a tecnologia avança rapidamente, enquanto que o mesmo não se pode dizer a respeito da resolução de conflitos estatais”27. Desse modo, as celeumas a ela relativas devem ser solucionadas com a máxima agilidade possível a fim de não inviabilizar a própria contribuição que a criação ou inovação poderiam proporcionar para a sociedade - e, em conseqüência, a valorização do seu titular - em razão do decurso excessivo de tempo.

Tratando-se de arbitragem transnacional, a esses três aspectos, deve ser acrescido, também, o critério da independência, na medida em que a arbitragem se apresenta como um instituto autônomo, que não necessita da interferência estatal para alcançar a justiça. De fato, especialmente no contexto do comércio internacional, no qual os conflitos oriundos de propriedade intelectual e industrial podem se originar, a existência de subordinação ao Poder Judiciário é extremamente indesejável, na medida em que poderiam levar à alegação de parcialidade ou favorecimento na decisão que fosse ao final alcançada.

26 LEMES, Selma Ferreira. Arbitrabilidade de litígios na propriedade intelectual. Disponível em <http://cacb.org.br/mediacao_arbitragem/artigos/Arbitralidade%20em%20Lit%EDgios%20na%20Propriedade%20Intelectual%20-%20Por%20Selma%20Lemes.pdf>. Último acesso: 05/02/2012, p. 06

27 EICHIN-AMARAL, Pedro. Arbitragem Internacional em Propriedade Intelectual. Revista Brasileira de Arbitragem, Porto Alegre, v. 4, n.13, p. 07-23, jan./mar. 2007, p. 20.

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3.2. As razões da tendência à judicialização dos litígios em matéria de propriedade industrial

A despeito das vantagens inequívocas quanto a sua utilização como método de solução de controvérsias em matéria de propriedade industrial, a questão relativa à arbitrabilidade dessa modalidade de direitos deve ser tratada sob dois aspectos distintos, de forma a permitir a análise, em dois momentos, do “receio em admitir a resolução privada de litígios relativos a direitos atribuídos por acto de Direito público, bem como a circunstância de os efeitos da decisão potencialmente afectarem terceiros exteriores à convenção de arbitragem, que têm explicado a problemática arbitrabilidade dos litígios em causa”28.

O primeiro momento, contempla àquelas situações em que o que está em discussão são questões relacionados à validade de um exclusivo concedido, à caducidade da patente ou à concessão de uma licença obrigatória, em relação às quais o litígio se dá, normalmente, entre particulares e o Estado, no exercício do seu poder de império. O segundo, diz respeito às hipóteses em que o objeto da controvérsia guarda relações com matérias essencialmente obrigacionais - e, por conseguinte, de início - inequivocamente arbitráveis, como é o caso dos contratos de licença para exploração de patentes, cessão de uso de marcas e franquia.

Quanto ao primeiro ponto, nos parece que, em princípio, as questões existentes entre os particulares e o Estado, quando transcendem os limites do direito privado e impactam terceiros - como ocorre, sobretudo, com a validade ou invalidade de um exclusivo concedido 28 OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litígios com entes públicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 43

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- deveriam ser debatidas e decididas apenas perante os órgãos estatais. E três são as razões fundamentais que justificariam a exclusão29

destas temáticas da arbitragem: (a) a eficácia erga omnes da decisão que aponta a validade ou invalidade do direito de exclusivo, que, por certo, não está ao alcance ao procedimento arbitral; (b) o fato de os direitos serem atribuídos, com exclusividade, por ato soberano do Estado - emanado de órgãos competentes para tanto, como é o caso do INPI - que não poderia ter a sua soberania afrontada por atos de entidades privadas, como o são os tribunais arbitrais, e (c) a existência de interesse público relacionado com o tema, considerando, sobretudo, os impactos econômicos decorrentes da decisão30.

Diferente seria a solução, contudo, quando o que estivesse em causa são litígios oriundos de contratos relativos a direitos de propriedade industrial, nos quais se questionasse, por exemplo, a sua interpretação, validade, extinção ou mesmo a responsabilidade contratual decorrente do seu eventual descumprimento. Não existiria, destarte, “qualquer obstáculo à sujeição da arbitragem de quase todos os litígios emergentes de contratos [relativos à propriedade industrial], nomeadamente no que concerne à interpretação e execução da maioria das suas cláusulas”31. O tratamento da controvérsia, aqui, deveria 29 Cumpre esclarecer que tais questões poderiam vir a ser enfrentadas pelo tribunal arbitral, como matéria prejudicial e com eficácia apenas inter partes, caso fossem abordadas como condicionantes de litígio envolvendo temática contratual. A propósito, cf.: OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litígios com entes públicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 44.

30 Nesse sentido: LEMES, Selma Ferreira. Arbitrabilidade de litígios na propriedade intelectual. Disponível em <http://cacb.org.br/mediacao_arbitragem/artigos/Arbitralidade%20em%20Lit%EDgios%20na%20Propriedade%20Intelectual%20-%20Por%20Selma%20Lemes.pdf>. Último acesso: 05/02/2012, p. 06; OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litígios com entes públicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 43; MONTEIRO, César Bessa. Arbitrabilidade. Propriedade industrial e direitos do autor. Jornal do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, a. XIII, n. 4, dez. 1998, p. 15, entre outros.

31 MONTEIRO, César Bessa. Arbitrabilidade. Propriedade industrial e direitos do autor. Jornal do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, a. XIII, n. 4, dez. 1998, p. 15. Na mesma esteira são também os ensinamentos da doutrina estrangeira. A propósito, cf.: FOUCHARD, Philippe;

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ser exatamente o mesmo dispensado a qualquer outra modalidade contratual.

Nesse contexto, como explicar, então, o receio perceptível que ainda existe na utilização da arbitragem como método de solução de conflitos de propriedade industrial?

Ao longo da história recente, vários fatores - e de diversas ordens - já foram apresentados na tentativa de encontrar uma justificativa plausível.

Assim é que, ainda quando da assinatura do acordo TRIPs, a WIPO evidenciou a existência de três itens sensíveis32 à implementação da arbitragem em matéria de propriedade industrial: (a) os procedimentos cautelares; (b) a confidencialidade dos processos e (c) a existência de pessoal qualificado para compor o painel de árbitros.

Mais adiante, houve quem questionasse o custo do procedimento arbitral e a sua morosidade frente ao Poder Judiciário quando o que está em voga são questões sofisticadas e complexas33.

Mas foi, sem dúvida, o Professor David Caron34 quem melhor sintetizou os motivos existentes para a resistência na utilização da arbitragem, apontando, em princípio, dois fatores fundamentais: (a) o gosto daqueles que lidam com propriedade industrial pela justiça

GAILLARD, E.; GOLDMAN, B..Traité de l’Arbitrage Commercial International. Paris: Litec, 1996, p. 359 e 363; e CRAIG, W. Laurence; PARK, William W., PAULSSON, Jan. International Chamber of Commerce Arbitration, 3.ed.,Ocena Publications, New York: Dobbs Ferry, 2000, p. 68.

32 Os referidos pontos já não se justificavam à época - notadamente à luz dos preceitos insertos na Convenção de Nova York de 1958 e da Lei Modelo da Uncitral de 1985 - e, tanto menos, se sustentam nos dias atuais, em face da evolução e amadurecimento que a arbitragem enquanto método de solução de conflitos já experimentou e que não deixam dúvidas acerca da sua capacidade para acautelar situações de urgência e garantir a confidencialidade do conteúdo de informações e documentos constantes no processo.

33 FONTES, Marcos Rolim Fernandes. Nomes de domínio no Brasil: natureza, regime jurídico e solução de conflitos. São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 122-123

34 CARON, David C. O mundo da propriedade intelectual e a decisão pela arbitragem. Revista de Arbitragem e Mediação, São Paulo, ano 4, n. 13, abr./jun. 2007, p. 151.

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estatal em virtude da segurança jurídica que ela proporcionaria; e (b) o fato de que as disputas envolvendo a propriedade intelectual em geral - e a propriedade industrial, em particular - supostamente terem fundamentos diferentes dos demais conflitos econômicos-comerciais e dadas as suas particularidades, não encontrarem solução adequada na via arbitral. Ambos os motivos têm “sua origem no mesmo receio que usualmente é demonstrado por aqueles que hesitam a utilização da arbitragem: a busca de um conjunto de regras previamente definidas e, de preferência, específicas, que para muitos, somente a norma positiva submetida à tutela jurisdicional do Estado enfrenta de forma adequada”35.

Além disso, outros quatro motivos - de natureza subliminar e subjetiva, no entender do autor, mas diretamente decorrentes dos anteriores - também poderiam ser apontados.

O primeiro36 deles seria a visão de “jóias de família” que os titulares - essencialmente as empresas - têm frente aos seus direitos, em relação aos quais não se admite qualquer tipo de risco no tocante à sua proteção. “É uma luta de tudo ou nada, sem misericórdia”, na qual se ver cerceado de alguns expedientes processuais comuns - como, por exemplo, a exceção de foro competente ou a oposição eventual de recurso contra a sentença arbitral, mesmo que equivocada - se revela preocupante. Nesse contexto, ainda que levar o conflito às cortes estatais eventualmente acarrete o atraso na solução do conflito, de modo a preservar a sua segurança, a parte prefere optar 35 QUEIROZ, Raul Loureiro. Arbitragem internacional na solução de controvérsias em propriedade intelectual. Dissertação de mestrado apresentada, defendida e aprovada perante o Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação da Profa. Dra. Véra Maria Jacob de Fradera. Porto Alegre, 2008, p. 67.

36 CARON, David D. O mundo da propriedade intelectual e a decisão pela arbitragem. [trad. Marcos Rolim F. Fontes] Revista de Arbitragem e Mediação, São Paulo, a. 4, n. 13, p. 151-160, abr./jun. 2007, pp. 154-155.

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pela via judicial e ver assegurado o seu direito de acesso à todos os expedientes processuais e à todas as instâncias recursais possíveis, que lhe permita sustentar, à exaustão se preciso for37, a defesa do seu ponto de vista, do que se valer da via arbitral.

O segundo38 fator estaria relacionado à visão do “mercado”, na medida em que um eventual ataque às “jóias da família”, poderia causar “a perda da confiança do investidor”. Este, por sua vez, se sentiria mais seguro, confiante e tranqüilo quanto a existência de um processo em curso perante uma corte estatal local, em que houvesse a possibilidade de se reconhecer medidas protetivas conhecidas, do que em um tribunal arbitral privado, em curso em qualquer país do mundo e regido sabe-se lá por que regras e regulamentos.

O terceiro39 ponto é aquele relativo ao ‘zeitgeist’ do mundo da alta tecnologia, ou seja, ao “espírito” que envolve o ambiente em que se situa a propriedade industrial, herdado dos pioneiros no desenvolvimento da tecnologia da informação nos Estados Unidos. Segundo o Professor Caron, aqueles que se dedicam ao desenvolvimento desses setores teriam aversão “à dependência a arranjos sociais consubstanciados em leis”, pois vivem imersos em conceitos extremamente fugazes, visões que se inovam e se readaptam em altíssima velocidade. Assim, eles não querem antecipar uma convenção arbitral e se engessar a ela, estando, a priori, obrigados a 37 QUEIROZ, Raul Loureiro. Arbitragem internacional na solução de controvérsias em propriedade intelectual. Dissertação de mestrado apresentada, defendida e aprovada perante o Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação da Profa. Dra. Véra Maria Jacob de Fradera. Porto Alegre, 2008, p. 68.

38 CARON, David D. O mundo da propriedade intelectual e a decisão pela arbitragem. [trad. Marcos Rolim F. Fontes] Revista de Arbitragem e Mediação, São Paulo, a. 4, n. 13, p. 151-160, abr./jun. 2007, p. 156.

39 CARON, David D. O mundo da propriedade intelectual e a decisão pela arbitragem. [trad. Marcos Rolim F. Fontes] Revista de Arbitragem e Mediação, São Paulo, a. 4, n. 13, p. 151-160, abr./jun. 2007, p. 157.

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se submeter a arbitragem, que vêem como um formalismo prévio - porque anterior à existência de um conflito que não se sabe sequer se irá ocorrer - que é contrário à própria velocidade de transformação do capital intelectual e a um dinamismo desejável que seria “o de poder optar pelo tipo de procedimento que se julgasse adequado somente no momento em que surgisse a necessidade de recorrer ao judiciário para fazer valer um direito tido como violado”40.

Por fim, o quarto41 aspecto existente seria a preferência dos advogados em lidar com processos judiciais por estarem mais familiarizados com o Poder Judiciário do que com os trâmites do procedimento arbitral, havendo, pois, uma “tendência de manter as disputas nas cortes locais”.

A nosso ver, considerando o arcabouço legislativo existente nos ordenamentos jurídicos mais avançados - notadamente europeus e norte-americanos - tanto no que pertine à arbitragem interna, quanto no que toca à arbitragem internacional, não há, destarte, outra razão que justifique a tendência à judicialização de procedimentos relativos à propriedade intelectual de uma forma geral - e industrial, de modo particular - que não aspectos culturais e subjetivos relacionados à arbitragem, como bem delineados pelo Professor David Caron.

Não se trata de um fenômeno privativo da propriedade industrial. “As resistências são muito mais de caráter generalizados em relação ao instituto em si, do que direcionados em função da natureza singular

40 QUEIROZ, Raul Loureiro. Arbitragem internacional na solução de controvérsias em propriedade intelectual. Dissertação de mestrado apresentada, defendida e aprovada perante o Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação da Profa. Dra. Véra Maria Jacob de Fradera. Porto Alegre, 2008, pp. 68-69.

41 CARON, David D. O mundo da propriedade intelectual e a decisão pela arbitragem. [trad. Marcos Rolim F. Fontes] Revista de Arbitragem e Mediação, São Paulo, a. 4, n. 13, p. 151-160, abr./jun. 2007, p. 158.

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do objeto”42 e não há outra alternativa possível para combatê-lo senão a existência de um esforço concreto por parte da comunidade da arbitragem no sentido de informar, treinar e educar43 os operadores dos direitos materiais especializados acerca do que é, como funciona e quais os benefícios decorrentes da utilização do procedimento arbitral.

4. O tratamento dispensado à arbitrabilidade dos direitos de propriedade industrial pelo regime jurídico português

Em matéria de arbitrabilidade de direitos de propriedade industrial, o ordenamento jurídico português conseguiu equacionar a disciplina da questão e detém, atualmente, uma legislação favorável ao uso da arbiragem para a solução de controvérsias nesta seara, inclusive em âmbito internacional, podendo-se apontar a ocorrência de duas inovações legislativas fundamentais que corroboram esta tendência.

4.1. A disciplina constante no Código de Propriedade Industrial

A primeira delas foi, sem dúvida, a entrada em vigor do novo Código de Propriedade Industrial - Decreto-Lei n.º 36/2003, de 05 de março - que pacificou a controvérsia então existente quanto aos limites da arbitrabilidade dos direitos de propriedade industrial, notadamente quando o que estava em voga eram questões relativas à titularidade 42 QUEIROZ, Raul Loureiro. Arbitragem internacional na solução de controvérsias em propriedade intelectual. Dissertação de mestrado apresentada, defendida e aprovada perante o Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob orientação da Profa. Dra. Véra Maria Jacob de Fradera. Porto Alegre, 2008, p. 69.

43 CARON, David D. O mundo da propriedade intelectual e a decisão pela arbitragem. [trad. Marcos Rolim F. Fontes] Revista de Arbitragem e Mediação, São Paulo, a. 4, n. 13, p. 151-160, abr./jun. 2007, p. 159.

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e à validade do título que outorgava o direito de exclusivo.Com efeito, até então, defendia-se, na esteira do entendimento global,

que “as questões relativas à titularidade ou validade de um direito de propriedade industrial não seriam arbitráveis, porque o registro tem carácter constitutivo e tem efeitos erga omnes”, sendo que “qualquer decisão que implique a alteração do registro tem de ser proferida pelo tribunal estadual”44. Nesse sentido, é, aliás, o ensinamento do Professor César Bessa Monteiro, em trabalho publicado em 1998, no qual assentou que “no âmbito da Lei Portuguesa de Propriedade Industrial, o registro tem carácter constitutivo. Por conseguinte, aos respectivos direitos são concedidos efeitos erga omnes por uma entidade pública - o Instituto Nacional da Propriedade Industrial. (...) Nestas circunstâncias, em nossa opinião, as matérias que envolvam a titularidade ou validade de um direito de Propriedade Industrial não podem ser submetidas à arbitragem, nomeadamente porque nenhuma decisão arbitral pode ser exequível erga omnes”45. Admitia-se, contudo, desde àquela época, a possibilidade de que os árbitros decidissem, como questão prejudicial no procedimento arbitral - e, portanto, sem eficácia de caso julgado - a existência de violação de um direito de propriedade industrial46.

O novo Código de Propriedade Industrial, ainda na redação originária de 2003, previu, no seu art. 48º, que “sem prejuízo da possibilidade de recurso a outros mecanismos extrajudiciais de 44 PINHEIRO, Luís de Lima. Arbitragem transnacional - A determinação do estatuto da arbitragem. Coimbra: Almedina, 2005, p. 109.

45 MONTEIRO, César Bessa. Arbitrabilidade. Propriedade industrial e direitos do autor. Jornal do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, a. XIII, n. 4, dez. 1998, p. 15.

46 A propósito, cf: LEITAO, João Morais; VICENTE, Dário Moura. Portugal. In: International Handbook on Commercial Arbitration. Kluwer Law International, 2002, p. 9 e PINHEIRO, Luís de Lima. Arbitragem transnacional - A determinação do estatuto da arbitragem. Coimbra: Almedina, 2005, pp. 109-110.

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resolução de litígios, pode ser constituído tribunal arbitral para julgamento de todas as questões susceptíveis de recurso judicial” (n.1), exceto “nos casos em que existam contra-interessados, salvo se estes aceitarem o compromisso arbitral” (n.2).

As hipóteses de cabimento de recurso judicial - e, portanto, passíveis de serem suscitadas na via arbitral - foram previstas no art. 39º do CPI e englobam as decisões do INPI que (a) concedam ou recusem direitos de propriedade industrial e (b) relativas a transmissões, licenças, declarações de caducidade ou a quaisquer outros atos que afetem, modifiquem ou extingam direitos de propriedade industrial.

Nesse contexto, por força do art. 48º do CPI, instituiu-se na sistemática jurídica portuguesa a via arbitral como alternativa aos recursos dos tribunais estaduais nos casos previstos no art. 39º do CPI. A partir de então, permitiu-se, pois, a instituição de um tribunal de arbitragem em que são partes o INPI, na sua condição de ente público e o particular, para decidir, inclusive, as questões relativas à concessão ou recusa da outorga do direito de exclusivo47.

O art. 49º, a seu turno, foi ainda além, ao estabelecer a possibilidade de que “o interessado que pretenda recorrer à arbitragem, no âmbito dos litígios previstos no artigo anterior, pode requerer a celebração de compromisso arbitral, nos termos da lei de arbitragem voluntária, e aceitar submeter o litígio à arbitragem”. Vale dizer: “nos termos do art. 49º, o legislador reconhece, inclusivamente, um direito do interessado a requerer a celebração de compromisso arbitral pelo Estado, i.e., prevê-se a possibilidade de o Estado ser forçado pelo particular a recorrer à arbitragem”48.

47 OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litígios com entes públicos. Coimbra: Almedina, 2007, p. 41.

48 OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Arbitragem de litígios com entes públicos. Coimbra:

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Cumpre esclarecer que a possibilidade de participação do Estado e das demais pessoas coletivas de direito público já era expressamente contemplada na legislação do país por força do art. 1º, n. 4, da Lei n.º 31/86, de 29 de agosto, que permitia a celebração de convenção de arbitragem com a participação deles, “se para tanto forem autorizados por lei especial ou se elas tiverem por objecto litígio respeitantes a relações de direito privado”. A previsão foi integralmente mantida no art. 1º, n. 5, da Lei n.º 63/2011, de 14 de dezembro último, que alterou o regime da arbitragem voluntária em Portugal.

O problema da eficácia erga omnes da decisão arbitral foi resolvido pelo legislador com a imposição da exigência de eventuais co-interessados no procedimento aceitarem o compromisso arbitral.

Em que pese a concessão e a recusa do título de propriedade industrial estejam sujeita à análise por parte do tribunal arbitral - evidenciando, de forma inequívoca, o princípio do favor arbitrandum49 que permeia a disciplina da matéria no ordenamento jurídico português - a questão relativa à (in)validade do exclusivo outorgado permaneceu restrita à competência das cortes estatais, nos termos em que determina o art. 35, n. 1, do CPI: “a declaração de nulidade ou a anulação só podem resultar de decisão judicial”. Segue-se, com isso, uma tendência geral no sentido de que “o domínio reservado à inarbitrabilidade não pára de se reduzir, a ponto de não mais subsistir, a título de ‘núcleo duro’, que a arbitrabilidade erga omnes da validade do título”50.

Almedina, 2007, p. 41.

49 A evolução e a consolidação da arbitragem como método de composição de controvérsias acarretou, pouco a pouco, um alargamento - ou, porque não dizer, uma flexibilização - dos critérios de determinação da arbitrabilidade, a partir da tomada de consciência quanto a importância do favorecimento do uso do procedimento arbitral. Com isso, as hipóteses de inarbitrabilidade foram se transformando cada vez mais em exceção.

50 HANOTIAU, Bernard. L’arbitrabilité. Recueil des Cours de lÁcadémie de Droit International, t. 296, a. 2002, p. 212, em tradução livre da autora.

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O texto do Decreto-Lei n.º 36/2003 foi objeto de revisão legislativa por parte do Decreto-Lei n.º 143/2008, de 25 de julho, com a qual se consolidou no texto do Código de Propriedade Industrial todas as alterações legislativas esparsas até então existentes, bem se introduziu medidas de simplificação e de acesso à tutela da propriedade industrial. A revisão do diploma então em vigor teve por objetivo “tornar o sistema de propriedade industrial mais simples, cómodo e amigo do utilizador, dotando-o de instrumentos modernos e actualizados, capazes de assegurar uma regulação adequada dos direitos e de contribuir, efectivamente, para fomentar o uso da propriedade industrial, colocando-a ao serviço dos cidadãos e das empresas, do desenvolvimento económico, da inovação e do investimento em Portugal”51.

No que concerne à disciplina da arbitragem, houve a inclusão (a) de um n. 3 no art. 48º que prevê a possibilidade de o tribunal arbitral determinar a publicidade da decisão por ele proferida quando do julgamento do recurso; (b) de um n. 4 no art. 49º, com vistas a permitir a vinculação do INPI a centros de arbitragem voluntária institucionalizada - como é o caso do Arbitrare - Centro de Arbitragem para Propriedade Industrial, Nomes de Domínio, Firmas e Denominações - bastando, para tanto, a existência de portaria de membro do Governo que estabeleça o tipo e o valor máximo dos litígios abrangidos e confira aos interessados o poder de se dirigir a esses centros para a resolução dos seus conflitos; e (c) de mudanças singelas de redação no n. 1 e no n. 3 do art. 49º, visando ao seu aperfeiçoamento, sem alteração, entretanto, do seu significado.

51 INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Introdução ao Decreto-Lei n.o 143/2008, de 25 de Julho. Disponível em http://www.marcasepatentes.pt. Último acesso em 05/02/2012.

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Não ocorreram mudanças, pois, no critério de arbitrabilidade dos litígios de propriedade industrial anteriormente existente. O mesmo se pode dizer da entrada em vigor da Lei n.º 63/2011 de 14 de dezembro último, que instituiu a nova disciplina da arbitragem voluntária no país.

É de se destacar que a revisão legislativa do Código de Propriedade Industrial teve por escopo fomentar a participação estrangeira no país ao permitir o acesso direto ao sistema de propriedade industrial em Portugal pelos interessados ou pelos titulares dos direitos de propriedade industrial, independentemente do local onde se encontrem situados. Dentro desse contexto, não há como negar, também, que a possibilidade do recurso à arbitragem e a existência de uma legislação amigável exercem um importante papel.

4.2. A novidade encampada pela Lei n.º 62/2011 de 12 de dezembro

A inovação mais recente na matéria ficou por conta da entrada em vigor da Lei n.º 62/2011, em 12 de dezembro de 2011, que criou um regime de composição de litígios emergentes de direitos de propriedade industrial quando esteja em causa medicamentos de referência e medicamentos genéricos, entre outras questões.52

O novo diploma tem sua origem na Proposta de Lei n.º 13/52 Assim é que a nova lei: (a) visou, ainda, encerrar a controvérsia há tempos existente em doutrina e jurisprudência no tocante à não violação de direitos de propriedade industrial pela concessão de AIM, PVP ou comparticipação no preço do medicamento; (b) estabeleceu a publicação, no site do INFARMED, de todos os pedidos de AIM de medicamentos genéricos, independentemente do procedimento a que eles obedeçam; (c) procedeu à alterações no art. 188º do Estatuto do Medicamento para reforçar os deveres de confidencialidade e sigilo e introduzir a presunção relativa de que todas as informações e documentos apresentados ao INFARMED são suscetíveis de revelar segredos comerciais ou industriais; e (d) estabeleceu que o PVP dos medicamentos genéricos que serão introduzidos no mercado português deverão ser inferiores a, no mínimo, 50% do PVP do medicamento de referência, com igual dosagem e na mesma forma farmacêutica, embora sem prejuízo das especificidades estabelecidas na legislação sobre a formação de preços dos medicamentos.

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XII/1º, de iniciativa do Conselho de Ministros, apresentada à Mesa da Assembléia da República em 02/09/2011, com o objetivo de “estabelecer um mecanismo alternativo de composição dos litígios que, num curto espaço de tempo, profira uma decisão de mérito quanto à existência, ou não, de violação dos direitos de propriedade industrial”53, quando o que está em voga são medicamentos genéricos e de referência.

Fruto do Memorando de Entendimentos sobre Condicionalidades de Política Econômica firmado pelo Governo Português com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Comissão Européia (CE) e o Banco Central Europeu (BCE), em 17/05/2011, a proposta integra um conjunto de ações que visam “contribuir para a criação de condições de sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde e de acesso dos utentes a medicamentos a custos comportáveis, bem como para o desenvolvimento dos meios alternativos de solução de litígios”54.

Destarte, sob a disciplina da legislação então em vigor, não era rara a ocorrência de intervenção reiterada de terceiros em procedimentos administrativos destinados à concessão de autorização para introdução no mercado (AIM), de autorização de preço de venda ao público (PVP) e de autorização da comparticipação do Estado no preço de medicamentos genéricos, que criavam entraves à comercialização de fármacos com eficácia equivalente e preços reduzidos, de suma importância “numa conjuntura econômico-financeira em que se

53 Presidência do Conselho de Ministros. Exposição de motivos da Proposta de Lei 13/XII/1º, p. 2. Disponível em http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012.

54 Presidência do Conselho de Ministros. Exposição de motivos da Proposta de Lei 13/XII/1º, p. 4. Disponível em http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012.

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impõe reduzir os níveis de despesa”55. Com efeito, como oportunamente apontou o INFARMED, “existe,

neste momento, pendentes nos Tribunais Administrativos um conjunto de litígios da ordem de cinco centenas, entre providências cautelares e ações administrativas especiais, instaurados pelas empresas titulares de direitos de propriedade industrial relacionados com medicamentos - as patentes invocadas são, em regra, patentes de processos requeridas e concedidas na década de 1990 e em que são demandados o INFARMED ou a Direcção Geral das Actividades Económicas e o Ministério da Saúde, bem como as empresas titulares de autorização de introdução no mercado (AIM) de medicamentos genéricos. Geralmente o que se discute nesses processos judiciais é a validade ou não dos actos administrativos de concessão de AIM, da aprovação de venda ao público (PVP) e da autorização de comparticipação do Estado relacionadas com medicamentos genéricos”56.

Considerando esse cenário e, ainda, o fato de que a legislação comunitária não contempla a participação de terceiros no âmbito do processo administrativo, criou-se, com a Lei 62/2011, um regime no qual a competência para a concessão de autorizações e a solução de conflitos de propriedade industrial dela decorrentes foram separadas e desvinculadas, tornando-se completamente autônomas.

Por força dele, todos os litígios que guardem relação com a temática, inclusive procedimentos cautelares, independentemente se se refiram a patentes de processo, de produtos de utilização ou de

55 Conselho Superior do Ministério Público. Parecer sobre a Proposta de Lei 13/XII/1º, p. 2. Disponível em: http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012.

56 INFARMED - Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde. Parecer sobre a Proposta de Lei 13/XII/1º, pp. 7-8. Disponível em: http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012

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certificados complementares de proteção ficam sujeitos, a partir de então, à arbitragem necessária (=obrigatória), institucionalizada ou não.

Com isso, o legislador retira dos tribunais civis estaduais a competência para o processamento e julgamento do tema, relegando à via arbitral o tratamento do tema. A escolha da arbitragem necessária para a composição dos litígios se deu com base na solução anteriormente adotada para os conflitos atinentes aos direitos do autor 57.

De acordo com a disciplina trazida pela Lei n.º 62/2011, no prazo de 30 dias a contar da publicação no site do INFARMED de um pedido de autorização ou registro de introdução no mercado (AIM) de medicamentos genéricos, o interessado que pretenda invocar o seu direito de propriedade industrial deve fazê-lo junto ao tribunal arbitral institucionalizado ou efetuar o pedido de submissão do litígio à arbitragem não institucionalizada.

Recebido o pedido, o tribunal arbitral notificará o requerente da autorização ou registro de introdução no mercado de medicamento genérico para que, no prazo de 30 dias a contar do recebimento da notificação, apresente contestação à alegação de titularidade suscitada, sob pena ficar impedido de iniciar a sua exploração industrial ou comercial durante o prazo de vigência dos direitos de propriedade industrial invocados. Estabelece-se, com isso, uma cominação de sanção contra o requerente ou titular da AIM que eventualmente se mantiver inerte durante o pedido de oposição.

Apresentada a contestação e havendo a necessidade de coleta de prova oral, o tribunal arbitral deverá designar audiência de instrução, 57 Presidência do Conselho de Ministros. Exposição de motivos da Proposta de Lei 13/XII/1º, p. 2. Disponível em http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012.

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no prazo máximo de 60 dias a contar da apresentação do pedido de oposição, procedendo-se, em seguida, ao julgamento da controvérsia, sendo certo que a prova documental deve ser apresentada pelas partes com seus respectivos articulados.

Da decisão do tribunal arbitral, caberá recurso para o Tribunal da Relação competente, com efeito meramente devolutivo, produzindo o julgado, de imediato e por conseguinte, todos os seus regulares e jurídicos efeitos, na medida em que a interposição de recurso não suspende a execução da decisão recorrida.

Tanto a não apresentação de contestação, como a decisão arbitral serão comunicadas por meios eletrônicos às partes, ao INFARMED e ao INPI, que promoverá a sua publicação no Boletim da Propriedade Industrial.

Em caso de omissão, aplicar-se-á ao procedimento as regras dos regulamentos do centro de arbitragem institucionalizado ou não institucionalizado escolhido pelas partes e, subsidiariamente, o regime geral da arbitragem voluntária constante na Lei n.º 63/2011, de 14 de dezembro.

A disciplina apresentada pelo Governo e recém aprovada pela Assembléia da República é das mais controversas e, já durante a sua tramitação, encontrou fortes críticas à sua adoção, não obstante a sua Exposição de Motivos assegure que o novel diploma procurou contemplar “uma tramitação consentânea com a preocupação de celeridade, com garantia pelo devido contraditório das partes, bem como o direito a uma instância de recurso”58.

A primeira - e mais contundente - dessas críticas diz respeito, exatamente, ao estabelecimento de uma arbitrabilidade compulsória 58 Presidência do Conselho de Ministros. Exposição de motivos da Proposta de Lei 13/XII/1º, p. 3. Disponível em http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012.

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para a temática, decorrente da opção legislativa pela adoção da arbitragem obrigatória como método de composição de litígios. Num primeiro momento, por força da inclusão no ordenamento jurídico português de mais um caso de arbitragem necessária, que, pelo simples fato de ser imposta pelo legislador, atenta contra a autonomia da vontade e a liberdade das partes que constituem a pedra fundamental na qual se assenta a escolha dos litigantes pela arbitragem.

A despeito de não se questionar aqui a constitucionalidade ou inconstitucionalidade da adoção da arbitragem necessária59, fato é que a previsão vai na contramão do tratamento proposto para o instituto nos principais ordenamentos jurídicos existentes, que não toleram a possibilidade de utilização compulsória da arbitragem como método de solução de controvérsias.

Outrossim, o caráter obrigatório da arbitragem necessária acaba por prejudicar a possibilidade de recurso da arbitragem voluntária, notadamente quando o art. 1º, n. 1, da Lei 63/2011, de 14 de dezembro, estabelece como primeiro critério de arbitrabilidade a ser aferido no caso concreto, o fato de a questão que é objeto de conflito não estar submetida exclusivamente à arbitragem necessária por força de lei especial.

Assim, embora a intenção, à toda evidência, não tenha sido esta e que a opção pela arbitragem, por certo, se deu pelo reconhecimento 59 Pois, a nosso ver, quanto a esse aspecto, precisas são as lições da APA - Associação Portuguesa de Arbitragem no Parecer à Proposta de Lei n.º 13/XII/1º quando afirma que: “até o presente, o Tribunal Constitucional não formulou qualquer juízo de inconstitucionalidade relativamente aos casos de arbitragem necessária, em que avulta o juízo arbitral que existe nos processos de expropriação litigiosa de bens e direitos por utilidade pública, com larga tradição no Direito português”. Disponível em: http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012. A favor do reconhecimento da inconstitucionalidade da imposição da arbitragem necessária, cf: Conselho Geral da Ordem dos Advogados. Parecer à Proposta de Lei n.º 13/XII/1º, pp. 7 e seguintes. Disponível em: http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012.

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dos benefícios que poderiam advir da sua adoção, o legislador andou mal neste tocante e prestou um verdadeiro desserviço ao princípio do favor arbitrandum. Afinal, “impor legalmente o recurso à arbitragem é transformar essa via de resolução de litígios, cuja natureza encontra os respectivos fundamentos e justificação na autonomia e liberdade dos próprios cidadãos, num instrumento que lhes suprime e os despoja dessas mesmas autonomia e liberdade”60.

Acresça-se, ainda, que o regime de arbitrabilidade forçada encampado na nova lei suscita questionamentos, também, acerca da vedação do acesso aos tribunais estaduais, sobretudo em se considerando o conteúdo da Lei n.º 46/2011, de 24 de junho, que previu a criação e a instituição até março de 2012 do Tribunal de Propriedade Intelectual e da Concorrência em alternativa ao Tribunal de Comércio.

E o problema, aqui, é que não se sabe sequer se a disciplina da arbitragem necessária proposta pela Lei n.º 62/2011 se trata (a) de algo transitório - a ser adotado enquanto o Tribunal de Propriedade Intelectual e da Concorrência ainda não estiver instalado, o que, evidentemente, considerando o lapso de tempo em questão (pouco mais de 04 meses) não se justificaria; ou (b) de algo definitivo - que deverá ser observado mesmo quando a Corte especializada já estiver operando normalmente61.

Esse tratamento acaba por fomentar críticas como a apresentada pela APIFARMA - Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica

60 Conselho Geral da Ordem dos Advogados. Parecer à Proposta de Lei n.º 13/XII/1º, p. 9. Disponível em: http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012.

61 Vale destacar que as sugestões apresentadas à Assembléia da República no sentido de esclarecer a questão, através da inclusão de um n. 4, no art. 9º - Das Disposições Transitórias, foram rejeitadas.

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no sentido de que “a previsão legal de arbitragem necessária para conflitos emergentes entre os produtores de medicamentos de referência e os produtores de medicamentos genéricos retira totalmente a liberdade de escolha destes operadores entre, por um lado, os tribunais judiciais, e, por outro, os meios de resolução alternativa de litígios disponíveis (que vão para além da arbitragem, designadamente a mediação e a conciliação)”62.

Mas não é só.Ainda no tocante à arbitrabilidade, a redação trazida pelo art. 2º

da Lei n.º 62/2011 não esclarece se a sistemática da arbitragem necessária ali encampada inclui, também, os litígios que tenham como pressuposto a validade dos direitos de propriedade industrial outorgados, sendo de se destacar que a proposta formulada pelo INFARMED para inclusão de um n. 2 na redação do artigo para clarificar a questão, foi afastada.

Nesse contexto, pergunta-se: se quando estiver em causa medicamentos genéricos e de referência e o objeto da discussão versar sobre a validade ou invalidade do exclusivo outorgado - como, aliás, se dá na maioria dos casos - deverão os interessados se valer da arbitragem compulsória prevista no art. 2º da nova lei ou

62 APIFARMA - Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica. Parecer à Proposta de Lei n.º 13/XII/1º, pp. 7-8. Disponível em http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012. O referido parecer questiona, ainda e sem qualquer plausibilidade neste aspecto, a existência de benefícios concretos para o sistema judicial a partir da adoção da arbitragem necessária, bem como o fato de que os tribunais arbitrais não seriam órgãos do Estado, não funcionariam permanentemente, não compreenderiam juízes de carreira sujeitos às garantias constitucionais que lhe são inerentes, havendo dúvidas mesmo se, à luz do art. 202º da CRP, poderiam ser considerados como órgãos soberanos. Como contraponto às afirmações lançadas pelo Parecer da APIFARMA, vale trazer à colação as lições do Conselho Superior do Ministério Público, quando afirma: “o tribunal arbitral, no plano constitucional e legal, [não] deixa de ser reconhecido como ‘real e verdadeiro Tribunal’ pela jurisprudência do Tribunal Constitucional (Ac. TC n.º 230/86 e Ac. TC n.º 181/2007) e de vigorar no nosso sistema jurídico o reconhecimento de eficácia jurisdicional da decisão arbitral” In: Conselho Superior do Ministério Público. Parecer sobre a Proposta de Lei 13/XII/1º, p.p. 5-6. Disponível em: http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012.

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a competência continuará sendo exclusiva das cortes estatais, como determina o art. 35, n. 1, do Código de Propriedade Industrial? E mais, seria dado ao interessado, para além de apresentar contestação, também oferecer reconvenção à oposição deduzida, invocando para tanto a validade do seu título e os efeitos daí decorrentes? Em caso positivo, qual seria a extensão da eficácia da decisão arbitral, notadamente quando não há qualquer previsão quanto a possibilidade de intervenção de terceiros no procedimento? A intervenção deverá ser admitida nos termos do art. 36º da Lei n.º 63/2011?

O texto também merece censura quando se tem em conta a previsão constante no mesmo art. 2º no sentido de que a arbitragem necessária abarcaria também os procedimentos cautelares. Embora a intenção seja claramente cercear a possibilidade de acesso à via estatal nessas situações - que, ressalte-se, representam a imensa maioria dos processos existentes quanto a essa matéria - e, não obstante o ordenamento jurídico português conte hoje com regulamentação expressa acerca da concessão de ordens preliminares e providências cautelares em sede arbitral (art. 20º e seguintes, Lei n.º 63/2011), fato é que os tribunais arbitrais não têm funcionamento permanente. Disso decorre que, à luz do art. 7º da Lei 63/2011 - cuja aplicação é subsidiária à Lei n.º 62/2011, em razão da previsão constante no seu art. 3º, n. 8, em caso de omissão - nos casos em que o tribunal arbitral não estiver constituído, ainda, e, uma vez demonstrados os requisitos do periculum in mora e do fumus boni iuris, a providência cautelar, em caráter preparatória, poderá ser ajuizada perante o tribunal estatal.

Mas, nesse contexto, considerando o objetivo perseguido pelo legislador com a norma proposta, faria algum sentido admitir a existência dessa possibilidade de requerimento de providências

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cautelares nas cortes estatais? E, por outro lado, não o havendo, como compatibilizar a questão com a garantia constitucional de acesso à justiça, na medida em que inexistiriam “instrumentos processuais de reação [para o jurisdicionado] se e enquanto o tribunal arbitral não estivesse constituído e, por isso, em condições de deliberar sobre requerimentos com medidas cautelares”63?

Como se vê, mesmo tomando em consideração apenas questões relativas à arbitrabilidade da matéria, são inúmeras as indagações que o novo diploma desperta, que precisam ser amadurecidas e cuidadosamente enfrentadas pelos operadores, com vistas a permitir que o texto legislativo, por um lado, cumpra com os objetivos para os quais foi proposto e, ao mesmo tempo, possa ser integrado ao sistema normativo existente de forma harmônica, com o mínimo possível de anacronismo e estranhamento.

Dentro desse escopo, é possível dizer que as discussões em torno da (in)constitucionalidade do instituto ou da conveniência da sua adoção - e despeito de extremamente relevantes do ponto de vista técnico - ficam um pouco prejudicadas no plano pragmático.

A questão relativa à natureza transitória da arbitragem necessária, considerando o texto proposto, a rejeição da proposta de inclusão de dispositivo na lei nesse sentido, a incongruência em se estabelecer a disciplina a poucos menos de quatro meses do prazo final para instituição do Tribunal da Propriedade Intelectual e da Concorrência e, sobretudo, a especialidade do tema, nos faz crer que se trata de regra de caráter inequivocamente definitivo, de modo que, a menos que seja apresentado um novo diploma legislativo com texto diverso, fará com que o tribunal estatal especializado opere com competência 63 APA - Associação Portuguesa de Arbitragem. Parecer à Proposta de Lei n.º 13/XII/1º, p. 3. Disponível em: http://app.parlamento.pt. Último acesso: 06/02/2012.

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reduzida, isto é, que não diga respeito a medicamentos genéricos.Quanto à possibilidade de que o tribunal arbitral se manifeste

acerca da validade ou invalidade do exclusivo outorgado, em princípio, não haveria como negá-la. Em primeiro lugar, porque se trata, fundamentalmente, da principal causa de pedir invocada pelo requerente nos processos judiciais que estão em curso. Em segundo lugar, porque se trata de norma mais específica - competência para julgamento de litígios envolvendo direitos de propriedade industrial sobre medicamentos genéricos - que, por certo, abarca a regra geral de competência para a julgamento de conflitos envolvendo a validade de títulos de propriedade industrial. Em sendo isso admitido, a conseqüência lógica é aplicar a regra supletiva constante no art. 3º, n. 8, para - com base no regulamento do centro de arbitragem ou nos preceitos da Lei n.º 63/2011 - responder aos questionamentos relativos à reconvenção, intervenção de terceiros, prazos, etc.

Não se pode deixar de afirmar, porém, o enorme desacerto que permeia essa sistemática, do ponto de vista técnico, tendo em vista que, para ficar apenas em dois aspectos, não há no procedimento aprovado nem a previsão de participação dos órgãos estatais que concedem o título cuja validade é questionada, nem, tanto menos, a possibilidade de inclusão de co-interessados, o que nos leva a crer que não se poderia sustentar a existência de eficácia erga omnes para a decisão. Isso nos levaria de volta, portanto, ao entendimento que prevalecia na doutrina quanto ao tema, anteriormente à entrada em vigor do Código de Propriedade Industrial, em 2003.

Por fim, com relação ao procedimento cautelar, a melhor forma de solucionar a questão é reconhecer a competência do tribunal arbitral naquelas hipóteses em que ele já estiver constituído, isto

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é, quando se tratar de pedido acautelatório incidental e, outrossim, estabelecer uma competência transitória específica para os tribunais estatais apenas e tão-somente quando o tribunal arbitral não estiver constituído e, frente aos elementos do caso concreto, o perigo de dano seja iminente a ponto de desaconselhar por completo que se aguarde a sua formação.

Nesse caso, a tutela estatal seria pontual e perduraria única e exclusivamente até que se ultimasse a instituição do tribunal arbitral - obrigatória, em prazo certo e determinado a contar da concessão da providência cautelar e inclusive sob pena de perda de eficácia - a quem competiria rever a decisão e, nessa qualidade, mantê-la, revogá-la ou modificá-la, a seu critério.

5. Conclusão

De todo o exposto, extrai-se que a questão relativa a arbitrabilidade dos litígios tranacionais decorrentes de propriedade industrial é admitida como regra geral - em face da sua natureza de direito eminentemente privado e dos benefícios decorrentes da sua adoção, notadamente, a especialidade dos árbitros responsáveis pelo julgamento, a confidencialidade do procedimento, a celeridade com que se consegue encerrar o litígio, e, tratando-se de arbitragens internacionais, a independência dos julgadores.

Excepciona-se dessa disciplina a discussão da validade ou invalidade do título de propriedade industrial, “núcleo duro” cuja apreciação permanece restrita às cortes estatais, por força das particularidades a ele inerentes e, sobretudo, dos efeitos decorrentes da decisão.

A despeito disso, observa-se a existência de resistência para

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a utilização da arbitragem como método de composição de controvérsias em sede de propriedade industrial, o que pode ser explicado, entre outras razões, pela necessidade dos seus operadores de se verem amparados por um conjunto de regras específicas e pré-determinadas para a solução de conflitos o que, no seu entender, só poder ser alcançado com a escolha da tutela estatal.

No direito português, percebe-se uma forte tendência ao incentivo do uso da arbitragem como instrumento de composição de controvérsias, o que pode ser aferido pelos preceitos insertos no texto do Código de Propriedade Industrial de 2003 - no qual se estabeleceu a arbitragem voluntária como alternativa à via judicial para o combate das decisões proferidas pelo INPI que (a) concedam ou recusem direitos de propriedade industrial e (b) relativas a transmissões, licenças, declarações de caducidade ou a quaisquer outros atos que afetem, modifiquem ou extingam direitos de propriedade industrial - e, mais recentemente, na Lei n.º 62/2011 - que instituiu um sistema por força do qual todos os litígios de propriedade industrial que tenham em causa medicamentos genéricos e medicamentos de referência, inclusive procedimentos cautelares, independentemente se se refiram a patentes de processo, de produtos de utilização ou de certificados complementares de proteção ficam sujeitos, a partir de então, à arbitragem necessária (=obrigatória), institucionalizada ou não.

Especificamente quanto ao regime da Lei n.º 62/2011, inúmeras são as críticas a ele apresentadas - adequação de escolha de arbitragem compulsória, constitucionalidade do sistema, caráter transitório ou definitivo frente às previsões da Lei n.º 46/2011, possibilidade de processamento e julgamento da temática relativa à validade ou invalidade do exclusivo outorgado, outorga de providências

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cautelares, entre outras. É, contudo, importante amadurecê-las e enfrentá-las com prudência

e cuidado, de modo a possibilitar que o diploma possa ser integrado ao sistema normativo existente de forma harmônica, com o mínimo possível de anacronismo e estranhamento e, por conseguinte, cumprir com os objetivos com que foi proposto.

Foi o que se buscou fazer neste trabalho quando (a) assentamos o caráter perene da disciplina proposta, salvo nova disposição em contrário, reduzirá a competência do Tribunal da Propriedade Intelectual e da Concorrência a serem futuramente instituídos; (b) reconhecemos a possibilidade de que o tribunal arbitral se manifeste acerca da validade ou invalidade do exclusivo outorgado, a despeito de discordarmos do regime instituído, porque incompleto e falho; e (c) apontamos a competência do tribunal arbitral para processamento e julgamento de medidas cautelares naquelas hipóteses em que ele já estiver constituído, isto é, quando se tratar de pedido acautelatório incidental, estabelecendo-se, outrossim, uma competência transitória específica para os tribunais estatais apenas e tão-somente quando o tribunal arbitral não estiver constituído e, frente aos elementos do caso concreto, o perigo de dano seja iminente a ponto de desaconselhar por completo que se aguarde a sua formação, caso em que seria dado ao tribunal arbitral, tão logo formado, rever a decisão da corte estatal.

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LA DILIGENCE DUE DANS LA PRÉVENTION DES DOMMAGES À L’ENVIRONNEMENT

Thiago Braz Jardim Oliveira1*

I. Introduction

Le propos de ce travail est de relever les aspects fondamentaux de la relation entre le concept de diligence due et le principe de préven-tion, en particulier la manière dont le concept de diligence due se manifeste dans le domaine de la protection environnementale. Mal-gré les références abondantes à l’obligation de prévention des dom-mages transfrontières à l’environnement, l’analyse des spécificités de l’objet de la norme, ainsi que du contenu et du rôle du concept de diligence due qui y est afférent, semble n’avoir pas encore fait l’objet d’une étude systématique.

La notion de diligence, en tant que contenu d’obligation, existe là où il faut une solution de droit pour contourner les aléas intrinsèques à certaines situations.2 L’obtention d’un résultat voulu étant dépen-dant du jeu de certains facteurs objectifs de risque3, le devoir qu’on est en mesure d’exiger n’est que la réalisation d’un simple effort. Pourtant, le risque peut ne pas concerner un événement imprévisible ou spontané. Il existe le dommage découlant d’un événement déli-bérément fabriqué. La source du dommage est, donc, identifiable et, en quelque sorte, tolérée. Ainsi, s’il est vrai que « la vigilance et la prévention s’imposent en raison du caractère souvent irréversible des dommages causés à l’environnement et des limites inhérentes au 1 * Assistant d’enseignement à la Faculté de droit de l’Université de Genève, doctorant en droit international à l’Institut de hautes études internationales et du développement (IHEID).

2 Zannas, P. A., La responsabilité internationale des États pour les actes de négligence (Mon-treux : Ganguin & Laubscher, 1952), 54.

3 Pisillo Mazzeschi, R., «Due Diligence» e Responsabilità Internazionale Degli Stati (Milan: Giuffrè, 1989), 394.

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mécanisme même de réparation de ce type de dommages »4, l’objet d’un devoir d’exercer la diligence a préséance sur la prévention du dommage lui-même et répond d’abord à la prévention du risque.

D’abord, l’examen et le constat d’une expansion vis-à-vis le champ d’intervention traditionnel de la diligence due (II), puis de l’évolu-tion des formes de manifestations du concept (III), permettront de faire ressortir la place qu’occupe la diligence due et son rôle dans la détermination du contenu et de la portée d’un devoir de prévention. Ainsi, à partir de la compréhension des rapports entre la diligence due et l’objet de l’obligation de prévention, il y aura lieu d’analyser les conditions et les conséquences de la mise en œuvre de la respon-sabilité internationale pour défaut de diligence (IV).

II. L’expansion du champ d’application de la diligence due

L’idée sous-jacente au mot « diligence » – celle d’un certain niveau de soin apporté dans ou pour l’exécution d’une tâche – fait que, dès qu’il est présent dans le contenu d’une norme, la nature de l’obliga-tion correspondante est affectée et l’on y repère un effet de relativi-sation. Mais le concept peut intervenir implicitement. Un exemple peut être dégagé de l’histoire de la rédaction de la Convention sur le droit relatif aux utilisations des cours d’eau internationaux à des fins autres que la navigation.5 Alors que l’article 7 du texte adopté prévoit qu’aux fins d’une utilisation non dommageable, « les États du cours d’eau prennent toutes les mesures appropriées »6, l’article à l’origine de la version conventionnelle dans les travaux de la Com-mission du droit international indiquait, à cette même fin, que « [l]es États du cours d’eau [fassent] preuve de toute la diligence voulue ».7 Ainsi, depuis la perspective de la nature et de la portée d’une obliga-

4 Projet Gabčikovo-Nagymaros (Hongrie/Slovaquie), arrêt, C.I.J. Recueil 1997, 7, para. 140.

5 Adoptée le 21 mai 1997 à la cinquante et unième session de l’Assemblée Générale, A/RES/51/229 (1997).

6 Article 7, Ibid.

7 ACDI, vol. II (2) (1994), 108.

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tion de prévention d’un événement dommageable, que le respect de celle-ci dépende de l’exercice de la diligence due ou de l’adoption de mesures appropriées revient au même. Il en est également ainsi pour toute obligation « de veiller à » ou « de faire en sorte que ». Ce qui est nécessaire pour que l’État s’en acquitte est conditionné par le concept de diligence due, le contenu de l’obligation qui en dépend commandant l’adoption d’un certain comportement.8

Il semble opportun de lancer l’examen du concept de diligence due et de son application dans le domaine du droit environnemental à partir de l’Affaire de la Fonderie de Trail.9 Ce choix n’étant pas arbi-traire, on s’accorde généralement à y reconnaître la première instance dans le contentieux international où a eu lieu la consécration du prin-cipe de l’utilisation non dommageable du territoire en rapport avec la pollution transfrontière.10 Or, puisqu’il s’agit de s’interroger sur le champ d’application de la diligence due, il faut examiner dans quelle mesure il est possible, d’abord, d’envisager l’intervention du concept à l’égard d’un objectif de prévention, évoqué sous l’idée du principe de l’utilisation non dommageable du territoire, pour, ensuite, identi-fier l’étendue de son champ d’opération.

Dans l’Affaire de la Fonderie de Trail, le tribunal arbitral avait re-péré «[the] duty of a State to respect other States and their territory » comme étant un principe bien établi en droit international.11 Pour-tant, il a soulevé une certaine difficulté dans la concrétisation de ce devoir. C’était celle de déterminer ce qu’est un acte dommageable

8 Voir Combacau, J., « Obligations de résultat et obligations de comportement. Quelques réflexions et pas de réponse », Mélanges offerts à Paul Reuter. Le droit international : unité et diversité (Paris: Pedone, 1981), 181.

9 Affaire de la Fonderie de Trail (États-Unis d’Amérique c. Canada), sentences du 16 avril 1938 et du 11 mars 1941, RSA, vol. III, 1905-1982.

10 La célèbre formule du tribunal disposait : « [U]nder the principles of international law … no State has the right to use or permit the use of its territory in such a manner as to cause injury by fumes in or to the territory of another or the properties or persons therein, when the case is of serious consequence and the injury is established by clear and convincing evidence » Ibid., 1965. De Sadeleer, N., Environmental principles: from political slogans to legal rules (Oxford: OUP, 2002), 62. Sands, P., Principles of International Environmental Law (Cambridge: CUP, 2003), 242.

11 Ibid., 1963.

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soumis à la norme de prévention.12 Or, s’il était d’abord question de savoir si et sous quelles conditions un acte dommageable devait être empêché, c’est parce que l’acte dommageable n’était pas pros-crit en soi. Au contraire d’une simple détermination de ce que serait l’acte dommageable relevant d’un devoir de prévention et comment l’Etat aurait pu l’empêcher, il était question d’établir, d’abord, les conditions de la licéité du comportement de l’État à l’égard d’un acte dommageable en quelque sorte permissible. Or, la nouveauté dans l’application du principe de prévention, tel qu’énoncé dans l’Affaire de la Fonderie de Trail, réside dans le fait que les conditions pour la licéité du comportement étatique vis-à-vis l’acte dommageable se confondent avec les conditions pour la «licéité» de ce même acte. Il en résulte qu’à l’égard de l’obligation de prévention, l’opération tra-ditionnelle du concept de diligence due, selon laquelle « l’État doit exercer la diligence due pour prévenir toute conduite qui, si l’État en était l’auteur, constituerai un fait illicite »13, ne peut exister de la sorte. C’est que la «licéité» de la « conduite » ou de l’événement à la source du dommage reste encore à établir. L’activité de la fonde-rie étant imputée au Canada, quoiqu’aient été les faiblesses de cette conclusion14, il n’était pas question d’identifier en bloc toute pollu-tion transfrontière comme étant un fait illicite de l’État.15

Force est de constater qu’ayant déterminé que le niveau de pollu-tion provenant de la fonderie constituait un acte dommageable rele-12 « … But the real difficulty often arises rather when it comes to determine what, pro sub-jecta materie, is deemed to constitute an injurious act » Ibid.

13 Smith, B., State responsibility and the marine environment: the rules of decision (Oxford: Clarendon Press, 1988), 36: « The state must first exercise ‘due diligence’ to prevent conduct which, if the state were the actor, would breach its international obligations » (nos soulignés et traduction).

14 Il n’était pas indispensable d’ « attribuer » les actes de la fonderie au Canada : le traité conclu pour le règlement du différend, en prévoyant la détermination de véritables obligations internationales incombant à la fonderie – personne privée –, situait sur le même plan l’activité de cette dernière et l’activité de l’État canadien. Cf., Knox, J. H., « The Flawed Trail Smelter Procedure », in Rebecca M. Brastspies et al (eds) Transboundary Harm in International Law: Lessons from the Trail Smelter Arbitration (Cambridge: CUP, 2006) 69.

15 Comme le tribunal l’a souligné, il restait à déterminer ce qu’était l’acte dommageable « pro subjecta materiae » – c’est-à-dire, l’acte devant être empêché – et, deuxièmement, de quelle sorte une obligation de prévenir opérait à son égard. Au titre de la question numéro III, le tribunal devait répondre, pour le maintien des activités de la Fonderie, « what measures or régime, if any, should be adopted and maintained by the Trail Smelter ». Supra n. 8, 1966.

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vant de l’obligation de prévention, le tribunal n’en a pas pour autant dégagé la conclusion selon laquelle l’activité à son origine était inter-dite. Au contraire, tout en indiquant dans quelle « mesure » le dom-mage en question aurait dû être empêché dans l’avenir – moyennant l’adoption d’un régime ou de mesures de contrôle de l’activité16 – le tribunal marquait, à la fois, le champ d’opération du principe de l’uti-lisation non dommageable du territoire et, incidemment, sa portée juridique ; portée qui, à l’évidence, n’était autre qu’une portée condi-tionnée par le concept de diligence due.17 C’était dire que l’obligation de prévenir la survenance d’un dommage ne partait pas de l’illicéité de l’ « acte » ou de « l’activité » aux conséquences préjudiciables – et d’un conséquent devoir d’abstention fût-ce l’État son auteur – mais, plutôt, déterminait les conditions pour que « la conduite » d’une acti-vité potentiellement dommageable soit considérée licite.

Or, dans cette sentence arbitrale servant d’inspiration aux déve-loppements ultérieurs du droit international pour la prévention des dommages transfrontières à l’environnement, ce sont précisément l’objet (II.1) et le temps (II.2) de détermination de la « mesure » pour la réalisation du devoir de prévention, en l’occurrence l’opération du concept de diligence due, qui sont redéfinis. Pourtant, quoique la lecture dominante de la sentence de la Fonderie de Trail continue à confirmer l’intervention du concept de diligence due18, elle semble négliger cette réorientation du champ d’intervention du concept. L’objet n’est plus la détermination de l’illicéité du « comportement » de l’État dans la « proscription » d’une conduite dommageable, mais de la licéité des modalités d’« exercice » de l’acte aux conséquences préjudiciables, susceptible d’être imputé à l’État sans pour autant préjuger sa licéité internationale. Dans le temps, l’intervention de la diligence due s’anticipe puisqu’elle définit les conditions de mise en œuvre du seul risque qui précède la survenance du dommage phy-16 Ibid.

17 Le tribunal parle de « relativity of the rule ». Ibid., 1963.

18 Dupuy, P.-M., La responsabilité internationale des États pour les dommages d’origine technologique et industrielle (Paris : Pedone, 1976), 33, 186 ; Andrassy, J., « Les relations internationales de voisinage », RCADI (1951), 96 ; De Visscher, C., Problèmes de confins en droit international public (Paris : Pedone, 1969), 85.

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sique.

II.1. Le concept de diligence due vis-à-vis les activités non interdites par le droit

Le raisonnement juridique et le résultat en droit de la sentence arbi-trale dans l’Affaire de la Fonderie de Trail annonçaient déjà certaines spécificités dans l’intervention du principe de prévention qui, si on était soucieux de la synchronie entre signifiant et signifié, aurait pu remettre en question le choix taxonomique qui qualifie le principe de prévention comme celui de l’utilisation non dommageable du « ter-ritoire ». Le principe 21 de la Déclaration de Stockholm, dont la formule est reprise dans un nombre de textes subséquents, énonce en effet le devoir de prévention dans des termes légèrement différents : « le devoir de faire en sorte que les activités exercées dans les limites de leur juridiction ou sous leur contrôle ne causent pas de dommage à l›environnement ».19

À l’évidence, l’élargissement plus fondamental du champ d’appli-cation de l’obligation de prévenir – dont les nouveaux contours se percevaient déjà de par la reconnaissance de la licéité de certains actes dommageables – concerne un changement d’orientation du « territoire » lui-même et les faits dommageables dans leur acception abstraite vers « l’activité » et les dommages résultant des modalités de son exercice. Or, pouvoir étendre un devoir de prévention, par exemple, aux fonds marins et leur sous-sol20, des zones au-delà des limites de la juridiction nationale et – qui plus est – impossible d’être en tant que telle contrôlée, ne fait que confirmer qu’il s’agit plus pré-cisément de l’ « activité » sur laquelle l’État exerce un certain niveau de contrôle qui est soumise à des conditions dans sa conduite. Si

19 Déclaration finale de la Conférence des Nations Unies sur l’environnement, Stockholm, 16 juin 1972, 11 ILM 1416 (1972).

20 Voir, concernant le régime juridique de la Zone des fonds marins, l’article 137 de la Convention des Nations Unies sur le droit de la mer, 10 décembre 1982, 1834 RTNU 3 (entrée en vigueur le 16 novembre 1994).

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certains auteurs, pour dégager la présence du concept de diligence dans l’Affaire de la Fonderie de Trail, ont souligné que le devoir de prévention visait les « modalités » d’utilisation d’un territoire21, la formule du principe 21 précise plus clairement qu’il s’agit moins pro-prement des modalités de l’utilisation du territoire sinon des modali-tés d’exercice d’une « activité » à l’égard de laquelle l’État possède une certaine autorité.22

C’est dans ce sens que l’on envisage la catégorie d’activités non interdites par le droit à l’égard desquelles le concept de diligence due peut intervenir. Alors que l’obligation générale de l’État d’exercer la diligence à l’intérieur de son territoire suppose la condamnation, au sens large, de l’acte dommageable, dans le domaine de la protection environnementale des normes prohibitives sont largement absentes.23 En effet, certains auteurs avaient déjà évoqué la distinction entre la licéité de l’« activité » et l’illicéité de l’« acte » dommageable découlant de l’activité.24 Il semble, pourtant, que, si la distinction est pertinente, elle peut s’avérer ambigüe. Or, si l’acte de polluer n’est en somme qu’un acte, c’est bien une activité qui l’occasionne. Frap-per d’illicéité toute pollution correspond, ipso facto, à mettre hors la loi toute activité du moment qu’elle s’avère polluante. Pourtant, conformément à la pratique internationale, il n’y a pas d’interdiction générale de dommage écologique, qu’il soit assimilé à un acte ou à

21 Dupuy, P.-M., op. cit., 186.

22 On pourrait dire que traditionnellement, ce qui constituait l’ « activité » relevant d’un devoir de diligence était l’activité étatique propre à la condition de souveraineté, à savoir le monopole de la force, la compétence pour imposer et faire valoir un certain ordre juridique, en somme la gestion territoriale. Dans le domaine de la protection de l’environnement, en revanche, l’ « activité » soumise à un devoir de prévention est l’activité économique, industrielle ou technologique aux conséquences dommageables – « activité » qui naturellement s’insère dans le cadre plus large de l’« activité » de ges-tion spatiale.

23 Pisillo Mazzeschi, R., op. cit., 383.

24 Akehurst, en se référant à l’Affaire de la Fonderie de Trail, affirme : « The fact that operating a smelting plant is permitted by international law does not necessarily mean that all acts committed in the course of that activity are permitted by international law ; the activity of operating a smelting plant is lawful, but the act of discharging fumes from that plant is not lawful ». Akehurst, M., « International liability for injurious consequences arising out of acts not prohibited by International Law », NYIL, vol. 16 (1985), 8.

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une activité.25 En fait, ces sont certaines modalités de la « conduite » d’une activité aux conséquences préjudiciables qui pourraient rele-ver d’un illicite.

L’absence d’interdiction de l’activité ou de l’acte aux conséquences préjudiciables implique, ainsi, une expansion du champ d’opération du concept : c’est que l’État lui-même peut devenir, lui, l’auteur du fait dommageable et, nonobstant, échapper à la responsabilité in-ternationale. Il en est ainsi parce, quoique le comportement ou la conduite de l’État demeure le terme de référence de la diligence, l’illicéité est ici déterminée vis-à-vis du « comportement » de l’État dans la « conduite » de l’activité dommageable et non pas à l’égard de son « comportement » dans la « proscription » de celle-ci.

L’Affaire du Lac Lanoux est instructive à cet égard, d’autant plus qu’il s’agissait d’une situation où le risque posé par l’activité d’un État menaçait une ressource internationalement partagée. Aussi, bien qu’il s’agissait de l’interprétation d’un traité bilatéral, le tribunal ar-bitral a recouru au droit international général pour l’interpréter.26 En l’espèce, l’exécution par la France des travaux d’utilisation des eaux du Lac Lanoux, posant le risque de modifier les conditions naturelles du bassin hydrographique respectif en territoire espagnol, soulevait la question de savoir si et dans quelle mesure le projet français n’était pas contraire au droit. En d’autres termes, l’activité sous contrôle français faisait-elle l’objet d’une interdiction pourvu qu’un préjudice transfrontière ou son risque se fût avéré ou, au contraire, étaient-ce les modalités de la conduite de celle-ci – indépendamment des pos-sibles effets de l’activité elle-même – qui évoquaient des considéra-tions sur leur licéité27 ?

Certes, il ne faut pas faire dire au tribunal arbitral ce qu’il n’a pas eu l’occasion d’examiner. En effet, s’il entrevoyait l’hypothèse d’une règle prohibitive, il ne s’est pas prononcé sur l’existence, dans le 25 Conforti, B., « Do States Really Accept Responsibility for Environmental Damage ? », in F. Francioni et T. Scovazzi (eds), International Responsibility for Environmental Harm (London : Graham & Trotman), 179.

26 Affaire du Lac Lanoux, sentence du 16 novembre 1957, RSA, vol. XII, 308, para. 12.

27 L’illicéité frappant les conditions dans l’exécution de celle-ci ne correspond qu’à une inter-diction de certaines modalités d’exercice de l’activité et non pas de l’activité elle-même.

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domaine spécifique du droit des cours d’eau internationaux, d’une obligation de résultat interdisant toute activité dommageable.28 Pour-tant, la conclusion du tribunal selon laquelle l’activité française n’en-trainait pas de changements affectant des droits ou intérêts espagnols est construite en fonction de l’adoption par la France de certaines mesures techniques dans la conduite de l’activité ; des mesures pré-ventives qui, « aussi satisfaisantes que possible », ne garantissaient aucunement la non survenance d’un événement dommageable.29 Or, le constat selon lequel l’adoption d’un certain nombre de « mesures préventives » impliquait le respect d’une obligation conventionnelle, correspondant à la maxime sic utere tuo ut alienum non laedas30, confirme l’absence en principe d’un devoir d’abstention de pour-suivre l’activité31, puisque l’illicéité se rapporte non pas à l’activité sinon aux modalités de sa conduite.

II.2. Le concept de diligence due dans la responsabilité de l’État par fait propre

Certes, la responsabilité internationale suppose toujours l’existence d’obligations internationales incombant à l’État : elle ne sera engagée par l’État qu’en vertu de la méconnaissance de l’une de ses obli-gations. Bien entendu, cette méconnaissance implique toujours un fait propre du sujet de l’obligation qui ne remplit pas l’engagement correspondant. Dans quel sens peut-on, donc, identifier une expan-sion du champ d’opération du concept de diligence due et le situer à l’égard de la responsabilité de l’État par fait propre si, de toutes ma-nières, la responsabilité de l’État est toujours engagée suite à un de 28 Supra n. 25, para. 13.

29 « Si, malgré les précautions prises, la restitution des eaux souffrait d’un accident, celui-ci n’aurait qu’un caractère occasionnel et … ne constituerait pas une violation de l’article 9 ». Ibid., 303, para. 6.

30 Selon l’article 9 de l’Acte additionnel, la légalité de l’usage des eaux était subordonnée à la condition d’un usage non abusif. Ibid., 302, para. 4.

31 Certes, à dépendre de la forme et des critères pour la détermination de ce qu’être diligent, la liberté de poursuivre une activité pourrait être limitée de sorte à aboutir dans une interdiction de facto.

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ses propres faits ? Or, c’est que le fait propre de l’État se réfère ici au fait à la source directe du dommage. Ainsi, si le concept de diligence due possède, certes, un rôle dans le procédé indirect d’engagement de la responsabilité de l’État par fait ou acte dommageable d’autrui32, son intervention à l’égard du fait dommageable qui peut lui être im-putable comporte quelque chose de nouveau.

§ L’incompatibilité traditionnelle entre l’imputation à l’État du fait dommageable et l’opération du concept de diligence due. Dans les domaines traditionnels d’intervention du concept, on faisait appel à la diligence due afin de déterminer l’étendue d’une obligation de prévention à l’égard d’actes dommageables proscrits. Son opération constituait une sorte de lien de « causalité normative » en ce qu’elle déterminait la responsabilité de l’État par un acte ou fait domma-geable dont il n’était pas l’auteur.33 Ainsi, la seule attribution de l’acte dommageable à l’État – et non pas d’une omission de sa part dans sa prévention – suffisait pour que la responsabilité de celui-ci soit engagée.

Dans l’Affaire de l’Alabama, le Royaume-Uni, ayant déclaré la neutralité à l’égard de la guerre entre les États du Sud et les États du nord des États-Unis, était, d’après le droit de la neutralité de l’époque, sous une obligation de se maintenir à l’écart des hostilités et de n’apporter aucune aide aux belligérants.34 L’existence de cette véritable obligation d’abstention, à l’appui du caractère synallagma-tique des droits et devoirs découlant de la juxtaposition internationale des souverainetés, étayait l’obligation accessoire de l’État de faire en sorte que le territoire sur lequel il est maître ne soit pas utilisé à 32 Voir García Amador, F., « Deuxième Rapport », ACDI, vol. II (1957), 138; Ago, R., « Qua-trième rapport sur la Responsabilité des États », ACDI, vol. II (1972), 108. para. 72.

33 « II faut, en effet, qu’en dehors de l’acte dommageable du particulier, on puisse attribuer à l’État, à l’égard de cet acte, un certain comportement impliquant de la part de l’organe ou du fonction-naire une faute ou un dol délibéré. II n’est donc pas difficile de voir qu’en déterminant la responsabilité par ce procédé indirect, ce qu’en définitive (et en réalité) on impute à l’État, ce n’est pas à proprement parler l’acte dommageable original, mais l’inexécution d’une obligation internationale dont le contenu et la portée sont extrêmement difficiles à préciser en théorie et parfois absolument impossibles à préciser dans la pratique. Cette “obligation” … est énoncée sous la forme de la règle ou du critère de la “diligence requise” ». García Amador, F., « Deuxième Rapport », ACDI, vol. II (1957), 138.

34 Chaumont, C., « Nations Unies et neutralité : cours à l’Académie de la Haye », RCADI 89 (1956), 9.

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des fins contraires à son engagement de neutre. La participation du Royaume-Uni dans la création de l’événement dommageable, ou sa seule complicité à l’égard de ces actes, aurait constitué un fait illicite. Le critère de la diligence due n’aurait donc pas eu de place dans ce scénario, la correspondance du fait dommageable avec le fait propre de l’État étant suffisant pour que sa responsabilité internationale ait été engagée.

C’est, d’ailleurs, ce que la Cour Internationale de Justice a pu constater dans l’Affaire relative au personnel diplomatique et consu-laire. Alors que, dans un premier temps, elle avait établi que les auto-rités iraniennes avaient « manqué de prendre des mesures appropriées » pour prévenir la survenance des évènements préjudiciables menés par des personnes privées35, elle a, ensuite, attribué ces actes dom-mageables commis par des particuliers à l’État.36 Le concept de dili-gence due, servant de base pour l’engagement de la responsabilité de l’État iranien, n’a été pertinent que dans la qualification juridique de la première situation. Certes, une fois la conduite des particuliers assimilée à la conduite de l’État, le fait dommageable « proscrit » constituait lui-même le fait internationalement illicite. Il est vrai qu’à la différence de l’Affaire de l’Alabama, l’existence en l’espèce d’une obligation de résultat de ne pas causer un dommage paraissait résulter plutôt de la nature de l’objet de l’obligation de prévention que d’une véritable norme d’interdiction autonome. Or, précisément cette par-ticularité met en exergue avec plus de force la vocation classique du concept de diligence due vis-à-vis la prévention des risques inhérents à la vie en société : c’est que, en toute logique, le devoir de l’État de « faire en sorte » qu’un fait dommageable ne se produise pas était 35 Personnel diplomatique et consulaire, arrêt, C.I.J. Recueil 1980, 31 et 32, paras. 63 et 67.

36 À propos de ce qui semble le passage d’une « causalité normative » à une « causalité naturelle » vis-à-vis l’événement dommageable, la Cour a dit que : « La politique ainsi annoncée par l’ayatollah Khomeini, consistant à maintenir l’occupation de l’ambassade et la détention des otages afin de faire pression sur le Gouvernement des États-Unis, a été appliquée par d’autres autorités iraniennes et appuyée par elles de façon réitérée dans des déclarations faites à diverses occasions. Cette politique a eu pour effet de transformer radicalement la nature juridique de la situation créée par l’occupation de l’ambassade et la détention de membres de son personnel diplomatique et consulaire en otages. L’aya-tollah Khomeini et d’autres organes de l’État iranien ayant approuvé ces faits et décidé de les perpétuer, l’occupation continue de l’ambassade et la détention persistante des otages ont pris le caractère d’actes dudit État ». Ibid., 35, para. 74.

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instantanément méconnu une fois avéré sa paternité étatique.Ce véritable effet prohibitif vis-à-vis la participation de l’État dans

la production du dommage peut, bien entendu, être retrouvé dans le domaine de la protection environnementale, à la condition que ce soit la survenance de l’activité dommageable elle-même qui doive être empêchée. L’article 7, paragraphe 5, de la Convention sur la réglementation des activités relatives aux ressources minérales de l›Antarctique37, qui n’est jamais entrée en vigueur, en aurait fourni un exemple : « Each Party shall exert appropriate efforts … to the end that no one engages in any Antarctic mineral resource activities contrary to the objectives and principles of this Convention ». Mais en droit international général, le devoir de prévention se rapporte aux modalités d’exercice d’une activité susceptible d’emporter des conséquences négatives. L’événement préjudiciable, objet de la pré-vention, n’est pas l’activité dommageable, sinon la conduite d’une activité en méconnaissance de certaines exigences. La diligence due détermine l’étendue de ces exigences et ainsi son manquement de-vient indissociable de la caractérisation de l’événement préjudiciable devant être évité, si bien que le l’État peut en devenir l’auteur pourvu que la diligence ait été déployée.

§ L’indissociabilité entre la licéité du fait dommageable propre de l’État et le concept de diligence due. L’obligation de « faire en sorte » qu’une activité dommageable se « déroule » sans porter atteinte aux intérêts d’autres États resitue l’opération du concept de diligence due dans sa relation entre le fait dommageable et le fait illicite. Or, si à l’égard de « l’acte dommageable [non étatique qui] n’engage pas directement la responsabilité de l’État », le premier Rapporteur spé-cial sur le droit de la responsabilité disait que « l’imputabilité de la responsabilité dépend nécessairement de faits ou de circonstances étrangers à l’acte même qui a causé le dommage »38, c’est le concept de diligence due qui était assimilé à ces critères extérieurs à l’acte dommageable.39 Pourtant, dans le cadre général de la protection de 37 Voir le texte de la Convention in RGDIP, vol. I (1989), 182-250.

38 García Amador, F., « Deuxième Rapport », ACDI, vol. II (1957), 137.

39 Dans son premier rapport, García Amador, en envisageant « le cas de la responsabilité

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l’environnement, l’activité préjudiciable pouvant relever d’un fait propre de l’État en vertu de sa licéité de principe, il devient difficile d’insister sur la complète séparation entre l’acte dommageable et les circonstances déterminantes du comportement diligent.

Quoique les conditions d’exercice d’une activité aux conséquences préjudiciables ne se confondent pas avec l’activité elle-même, la dé-termination du fait illicite se développe nécessairement en rapport avec l’acte dommageable40 : les facteurs pertinents pour la détermina-tion de la licéité du comportement de celui-ci intègrent et définissent les contours de l’activité elle-même, si bien que la conduite de l’acti-vité dommageable peut être la conduite de l’État sans qu’il en résulte un fait internationalement illicite. En d’autres termes, alors qu’il peut ne plus y avoir de dissociation entre l’auteur du fait dommageable et l’État qui en répond, l’illicéité de l’acte aux conséquences préju-diciables se détermine vis-à-vis les modalités d’existence de l’acte même ; des modalités qui, déterminées par le concept de diligence due, ont trait au comportement de l’État dans la mise en œuvre et la gestion de l’activité à risque.

La Convention des Nations Unies sur le droit de la mer41 avance en caractères explicites l’extension du champ d’application du concept de diligence due dans le domaine de la protection des espaces ma-rins. L’article 139, à titre d’exemple, dispose qu’ « [i]l incombe aux États Parties de veiller à ce que les activités menées dans la Zone, que ce soit par eux-mêmes, … le soient conformément [aux disposi-tions pertinentes de la Convention] ».42 Or, l’opération de veiller à ce qu’une activité, inter alia, ne cause pas de dommage à l’environne-de l’État à raison d’actes commis sur son territoire par un autre État », disait qu’ « [i]l faudr[ait] … recourir à des critères extérieurs pour déterminer si la responsabilité de l’État se trouve engagée du fait de son comportement à l’occasion de l’acte illégal dont il s’agit ». On voit ici, à prime abord, l’une des raisons pour insister sur la séparation entre l’acte dommageable et l’acte étatique et, ainsi, évoquer la diligence due en tant que critère « fonctionnel » d’attribution : c’est que l’acte dommageable constitue un acte dont l’illégalité est déjà établie. García Amador, F., « Responsabilité internationale : Rapport », ACDI, vol. II (1956), 188.

40 L’emploi des meilleures pratiques écologiques est une bonne illustration d’une mesure adoptée pour la prévention des dommages et qui est inséparable de la mise en œuvre d’une activité rentrant dans le champ d’application du principe de prévention. Voir infra III.2.

41 Supra n. 19.

42 Article 139, (1), Ibid.

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ment s’étendant expressément à l’activité proprement étatique, il en ressort que, devant une obligation de prévention énoncée en de tels termes, l’identification du fait dommageable à un fait propre de l’État ne suffit pas pour que sa responsabilité internationale soit engagée. Il est nécessaire la preuve d’un manquement à la diligence due qui conditionne, d’abord, la «licéité» du fait dommageable pour, ensuite, répondre à la licéité du fait étatique. C’est l’interprétation donnée par le Tribunal du droit de la mer dans son premier avis consultatif, au sein duquel, pour expliquer la portée normative du verbe « veiller », il endosse les commentaires de la Commission du droit internatio-nal relatifs à un devoir d’exercer la diligence pour la prévention des dommages transfrontières : « l’État d’origine est tenu … de faire de son mieux pour réduire le risque au minimum. Dans ce sens, il ne garantit pas que des dommages ne surviendront pas ».43

Ainsi, pour que la violation d’une obligation de prévention du fait que l’État est l’auteur de l’activité dommageable soit affirmée, c’est le manquement à un certain nombre de conditions inhérentes ou, du moins, accessoires à la conduite de l’activité qui doit émerger. Or, c’est dire que le défaut de diligence constitue un élément de l’évé-nement préjudiciable devant être évité. Une activité susceptible d’un impact négatif important, pourvu qu’elle soit menée en méconnais-sance de mesures appropriées pour la réduction du risque de dom-mage, est proprement l’objet d’une obligation sous-jacent de ne pas faire. Il est ainsi que le concept de diligence due se mêle avec l’objet du devoir de prévention et détermine la licéité ou non du fait domma-geable propre de l’État.

L’Affaire du canal de Bystroe44 confirme ces particularités d’inter-vention du concept de diligence due. La mise en œuvre d’un pro-jet ukrainien relatif au canal de navigation en eau profonde dans le delta du Danube relevait des faits propres de l’État. Les travaux de

43 Chambre pour le règlement des différends relatifs aux fonds marins du Tribunal International du Droit de la Mer, Responsabilités et obligations des États qui patronnent des personnes et entités dans le cadre d’activités menées dans la Zone, avis consultatif du 1er février 2011, para. 118.

44 Voir Review of compliance, Submission by Romania having concerns about Ukraine’s compli-ance with its obligations under the Convention (EIA/IC/S/1), United Nations Economic Commission for Europe, documents disponibles sur : http://live.unece.org/env/eia/implementation/eia_ic_s_1.html.

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construction, maintenance et exploitation du canal ont été considé-rés par une commission d’enquête internationale45, suite à des ré-clamations du Gouvernement roumain, comme relevant du champ d’application de la Convention d’Espoo.46 Le concept de diligence due y est présent dans l’objet et but du traité ainsi qu’au sein de cer-taines dispositions.47

La Roumanie avait fait état de ses préoccupations quant au respect par l’Ukraine de l’obligation de prévention telle qu’inscrite dans la Convention. L’avis du comité d’application a été que l’Ukraine, en ne prenant pas les mesures appropriées, a manqué à l’obligation re-flétant le principe coutumier de prévention48 et que la mise en place du projet devrait être suspendue jusqu’à ce qu’il soit conforme aux mesures constitutives de la diligence due.49 Or, si l’on peut affirmer la méconnaissance de l’obligation de prévention à partir du man-quement à certaines mesures clairement définies, il en résulte que le concept de diligence due constitue lui-même le seuil de licéité du fait susceptible de causer des conséquences préjudiciables, lequel à son tour se confond avec la licéité du fait étatique. En l’espèce, les obligations de notifier au gouvernement roumain l’autorisation de construction et de réaliser une étude d’impact selon les termes de la Convention – des circonstances intrinsèques à la mise en place de l’activité aux conséquences dommageables – se sont avérées méconnues.

À l’évidence, aux fins de déterminer les limites à la licéité du com-portement de l’État par rapport au principe de prévention des dom-mages transfrontières à l’environnement, l’obligation d’être diligent intervient donc de manière distincte à celle de son champ tradition-

45 Report on the likely significant adverse transboundary impacts of the Danube-Black Sea navigation route, 10 Juillet 2006, disponible sur : www.unece.org/env/eia/implementation/inquiry.html

46 Convention sur l’évaluation de l’impact sur l’environnement dans un contexte transfrontière, 25 février 1991, 1989 RTNU 309 (entrée en vigueur le 10 septembre 1997).

47 Par exemple, Article 2 (1) et Article 5 (1), Ibid.

48 Conclusions et recommandations formulées comme suite à une communication de la Rou-manie concernant l’Ukraine (EIA/IC/S/1), 27 février 2008, ECE/MP.EIA/2008/6, para. 48.

49 Ibid., para. 55.

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nel d’application. L’incidence, à cet effet, des mesures constitutives de la diligence due répond, d’une part, à l’existence d’une sorte d’éventail de règles d’autorisation et d’opération relatives à l’activité aux conséquences préjudiciables dont l’État doit assurer l’exécution et, d’autre part, à l’établissement d’un certain nombre d’obligations primaires dont la méconnaissance conditionne l’engagement de la responsabilité de l’État, y compris par son propre fait dommageable.

III. Du standard de comportement aux obligations primaires inter-nationales

En commentant sur l’article 3 du projet de 2001 sur la prévention des dommages transfrontières résultant d’activités dangereuses50, la Commission du droit international affirme que « [l]’obligation faite à l’État d’origine de prendre des mesures pour prévenir les dommages ou pour en réduire le risque au minimum est un devoir de diligence ».51 On s’accorde à dire que l’adoption des mesures, jugées suffisantes pour atteindre l’objectif de prévention, constitue la réalisation de la diligence due. Pourtant, la Commission du droit international insiste que c’est « en prenant les mesures législatives, administratives ou autres nécessaires pour assurer l’exécution des lois, des décisions ad-ministratives et des principes d’action qu’il a adoptés »52 que les États s’acquittent de l’obligation de prévention qui leur incombe.

Or, il s’agit d’une dimension strictement unilatérale du concept de diligence due : d’une part, l’adoption en droit interne de législation lato sensu relative à l’évènement dommageable et, de l’autre, la mise en œuvre de mécanismes de surveillance pour l’application de ces normes et directives de droit interne.53 La latitude de ces mesures, conclue la Commission du droit international en s’appuyant sur le précédent de l’Alabama, se détermine par référence au « degré de

50 ACDI, vol. II (2) (2001), 159-183.

51 Commentaire à l’article 3, Ibid., 165.

52 Ibid.

53 ACDI, vol. II (2) (2001), 166

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vigilance attendu d’un bon gouvernement ».54

Pourtant, l’obligation générale de prévention, reflétée par cet article 3, constitue la norme fondamentale autour de laquelle tout le pro-jet d’articles de la Commission se construit. Parmi les articles qui y figurent, des obligations bien précises d’évaluation des risques55, de notification56, d’information du public susceptible d’être affecté57, d’échange d’information58, entre autres, s’articulent de manière à ce que le devoir de diligence puisse être effectivement accompli. Qui plus est, d’après la Commission, un « principe de coopération … est essentiel tant pour définir que pour mettre en œuvre des moyens effi-caces de prévenir des dommages transfrontières significatifs … [et] est [requis] à toutes les phases de la planification et de la mise en œuvre ».59

Or, ne ressort-il pas que le concept de diligence due doit ici être considéré comme comprenant ces « mesures de coopération », ainsi que des mesures unilatérales indéterminées ou préétablies, en tant que composante des « mesures nécessaires » pour le respect de l’obligation de prévention dans laquelle il s’inscrit ? Évidemment, la réponse définitive à la question dépend du traitement juridique qui est donné aux situations dans lesquelles une activité à risque, rele-vant d’une obligation de prévention, est mise en place suite à la méconnaissance de l’une de ces obligations primaires desquelles relève aussi la coopération. L’émergence d’un devoir de réparation de l’illicéité de l’activité – et des préjudices physiques qui peuvent en résulter –, en vertu de l’engagement de la responsabilité de l’État, serait l’évidence que le concept de diligence due implique la néces-sité d’adopter des mesures qui ne soient pas uniquement unilatérales. Il s’agit ici de mesures de réglementation au regard de l’ordre juri-

54 Ibid., 167.

55 Article 7, Documents officiels de l’Assemblée générale, cinquante-sixième session, Supplément n° 10 (A/56/10).

56 Article 8, Ibid.

57 Article 13, Ibid.

58 Article 12, Ibid.

59 Voir commentaire à l’article 4, ACDI, vol. II (2) (2001), 167.

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dique interne de l’État mais dont la latitude du contenu est limitée par la concertation internationale (III.1), des mesures de prévention au regard de modalités de conduite de l’activité à risque dont le contenu est déterminé par l’existence d’obligations autonomes en droit inter-national (III.2) et des mesures de coopération dont l’exécution est fondamentale pour achever l’effort de prévention (III.3).

III.1. La règlementation interne : le standard a priori indéter-miné de la diligence due

Bien que le contenu de la diligence de la coexistence n’ait pas été l’objet d’un examen plus attentif, la conclusion selon laquelle l’obli-gation de prévention qui en découle s’exprime sous deux aspects est largement confirmé par la doctrine60 : l’un étant la possession par l’État d’un appareil juridique et matériel minimum ; l’autre étant la mise en œuvre de cet appareil de manière adaptée aux circonstances. Dans ce contexte, être diligent requiert de l’État qu’il possède les « moyens » raisonnables et qu’il les fasse « fonctionner » raisonna-blement au vu de la prévention de l’événement dommageable. Or, il est certain que la constitution de l’État en tant que sujet de droit inter-national dépend nécessairement de l’existence de certaines effecti-vités dont une infrastructure légale et administrative suffisante. Si, d’une part, il y a une liberté de choix quant au mode d’organisation de l’État, de l’autre, il doit exister un « minimum internationalement indispensable »61 afin que l’État puisse être identifié comme tel. Ainsi, l’indétermination – entendue en tant que latitude pour l’accomplisse-ment de la diligence de la coexistence – frappe moins les modes ou les moyens d’organisation interne de l’État sinon, plutôt, la manière dont il en ferait l’exécution.62

Or, en ce qui concerne la diligence dans la prévention des dommages 60 Dupuy, P.-M., « La diligence due dans le droit international de la responsabilité », Aspects juridiques de la pollution transfrontière (Paris : OCDE, 1977), 369-370. Zannas, P. A., op. cit., 84 et seq.

61 Selon la formule de Triepel, H., Droit international et droit interne (Paris : Pedone, 1920), 297.

62 Pisillo Mazzeschi, R., op. cit., 234.

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transfrontières à l’environnement, l’indétermination des moyens ou des mesures de prévention de dommage comprend, à la fois, tant la mise en place de l’appareil juridique que la mise en œuvre de celui-ci. C’est qu’en l’absence d’une interdiction de l’activité à risque, la réglementation de l’activité doit être conçue avant qu’une surveil-lance et un contrôle puissent avoir lieu. La latitude dans le choix des moyens de s’acquitter de la diligence est, en quelque sorte, plus large, parce que les mesures de diligence doivent, avant tout, déterminer les « modalités » – et non pas la simple « proscription » – d’exécution de l’activité, tant d’un point de vue légal que technique. Ceci se fai-sant a priori par l’adoption unilatérale de mesures de prévention de dommage, l’indétermination des mesures s’explique par le caractère discrétionnaire de la décision de l’État à l’égard d’un domaine où il n’existe d’interdiction. Elles prennent forme, notamment, dans la promulgation de législation et la mise en place de systèmes de ges-tion et de contrôle.

L’analyse des normes pertinentes du droit international public à l’égard de la pollution du Rhin, en 1986, suite à un incendie des usines chimiques de Sandoz en Suisse, exemplifie le caractère a prio-ri indéterminé des mesures constitutives de la diligence due. Ayant engendré des préjudices physiques importants à l’Allemagne et à la France, l’événement survenu à Bâle a conduit à des réclamations d’indemnisation contre la Suisse. Alors que le gouvernement suisse ne s’est pas prononcé sur la question de sa responsabilité interna-tionale, il a contribué au montant payé à titre de réparation.63 Une partie de la doctrine a soutenu que le défaut de diligence pourrait être le fondement juridique.64 À coté du principe de prévention du droit international général, l’article 7, paragraphe 1, de la Convention de Bonn commandait l’adoption de « toutes les mesures législatives et

63 “Sandoz agrees to Meet Claims Over Rhine Pollution.” Financial Times, 4 novembre 1986, 1; “Sandoz Accepts Responbility for Spill in the Rhine.” San Francisco Chronicle, 13 novembre 1986, 21, comme cités in Xue, H., Transboundary Damage in International Law (Cambridge: CUP, 2003), 91.

64 La Commission du droit international, d’ailleurs, affirme catégoriquement que « [l]e Gou-vernement suisse a reconnu sa responsabilité pour avoir manqué à son devoir de diligence », ACDI, vol. II (2) (2001), 165. Pour une analyse détaillé de l’affaire, voir Kiss, A.-C., « «Tchernobâle» ou la pollution accidentelle du Rhin par des produits chimiques », AFDI, vol. 33 (1987), 719-727.

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réglementaires garantissant que la mise en dépôt des substances … soit effectuée de telle manière qu›il n›y ait pas de menace de pol-lution ».65 Or, les moyens devant être employés pour que la Suisse s’acquitte de son obligation, malgré la précision des dispositions conventionnelles, demeuraient largement indéterminés, d’autant plus que les causes du dommage – hypothétiquement illicites – avaient trait au défaut d’autres mesures, identifiables ex post facto, telles que l’absence d’un bassin de rétention des eaux d’écoulement qui aurait pu empêcher le déversement des substances toxiques directement dans le Rhin.66

Le Tribunal du droit de la mer dans l’avis consultatif sur les res-ponsabilités des États pour les activités menées dans la Zone, à propos de « l’obligation de veiller » consacrée à l’article 139 de la Convention sur le droit le mer67, a dit que la « Convention laisse à l’État qui patronne le soin de déterminer quelles sont les mesures qui lui permettront de s’acquitter de ses responsabilités ».68 Mais s’il est vrai que par ailleurs le Tribunal semble confiner le contenu du concept de diligence due à la discrétion de l’État dans les limites du raisonnable et eu égard à son propre ordre juridique69, il ne faut pas perdre de vue que la question qui lui avait été posée concer-nait seulement les obligations de l’État vis-à-vis les activités menées par des particuliers sous le régime de patronage.70 Or, s’agissant de l’État entrepreneur, la correspondance du critère de la diligence due à la seule adoption des mesures règlementaires de droit interne non seulement paraît insuffisante pour garantir un objectif de prévention 65 Convention de Bonn relative à la protection du Rhin contre la pollution chimique, 3 décembre 1976, 1124 RTNU 386 (entrée en vigueur le 1er février 1979).

66 Suite à l’incident, le Gouvernement suisse a adopté un certain nombre de « mesures de prévention », dont l’interdiction de certains procédés de fabrication, de certains moyens de stockage et de certaines substances particulièrement dangereuses. Kiss, A.-C., op. cit., 719-727.

67 Convention des Nations Unies sur le droit de la mer, supra n. 19.

68 Responsabilités et obligations des États dans la Zone, supra n. 42, para. 227.

69 Ainsi, le Tribunal répond à la première question en affirmant que « l’obligation de “veiller à” en faisant preuve de la “diligence requise” impose à l’État qui patronne de prendre des mesures au sein de son ordre juridique et que ces mesures doivent être “raisonnablement appropriées” ». Ibid., para. 120.

70 Ibid., para. 1

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mais surtout inadéquat pour « mesurer » la licéité internationale de la conduite étatique.71

En effet, alors que la détermination du contenu des mesures de diligence au niveau du droit interne jouit d’une grande latitude, elle ne semble convenable que pour dicter les conditions de légalité de l’activité de particuliers soumis à la juridiction de l’État. Puisque ce n’est pas toujours le cas, cette indétermination a priori n’écarte pas le rôle d’une directive internationale quant au contenu de ces mesures et non plus le besoin de leur adoption en dehors d’un cadre règlemen-taire strictement au niveau du droit national.72 Ainsi, la suffisance des « mesures » adoptées par un État au vu de la prévention des dom-mages transfrontières peut être « mesurée » par des règlements et des standards techniques internationaux.73

En plus de la multiplication des directives et des recommandations d’organismes techniques indépendants74, un grand nombre d’instru-ments conventionnels établissent des codes techniques et possèdent des mécanismes internes de mise à jour : des procédés simplifiés d’adoption d’annexes dont la confection est confiée à des experts scientifiques.75 Ces conventions réglementaires peuvent définir, par exemple, des substances polluantes dont l’utilisation est interdite, des seuils de pollution tolérable, ainsi que les modalités d’exécu-tion d’une activité entière. Qui plus est, ces standards techniques, à 71 La qualification du fait internationalement illicite serait, ainsi, dépendante d’une qualifica-tion du droit interne. Alors que ce qui constitue le « raisonnable » et l’ « approprié » pourraient relever des standards du droit international, ce serait donner à l’État les seuls moyens d’exprimer leur contenu. Voir articles 3 et 32 du projet d’articles sur la responsabilité de l’État pour fait internationalement illicite, A/RES/56/83 (2001).

72 Il faut noter que, dans le cadre de la Convention du droit de la mer, l’Autorité internatio-nale des fonds marins est compétente pour édicter des normes à l’égard desquelles les États Parties doivent se conformer. Ceci implique, incidemment, une prédétermination du contenu des mesures de droit internes que les États sont tenus d’adopter. Voir l’article 153 (4) et (5) de la Convention des Nations Unies sur le droit de la mer, supra n. 19.

73 Voir Dupuy, P.-M., op. cit. (1976), 261-274.

74 Pour une analyse des interactions entre les règles internationales et les standards tech-niques, voir Boisson De Chazournes, L., « Normes, standards et règles en droit international », in E. Brossett et E. Truilhé-Marengo (eds.), Les enjeux de la normalisation technique internationale : entre environnement, santé et commerce international (Paris : Documentation française, 2006), 43-56.

75 Contini, P. et Sand, P. M., « Methods to expedite environment protection : International ecostandards », AJIL vol. 66, no. 1 (1972), 37.

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dépendre de la force contraignante de l’instrument qui les incorpore, peuvent rapprocher l’obligation de « faire en sorte que » à une obli-gation de garantie de résultat. C’est que, par exemple, la « mesure appropriée » étant la définition de la limite maximale de déversement d’une certaine substance polluante, le dépassement du seuil de la norme technique engage directement la responsabilité internationale.

Voici donc l’un des effets possibles de la diligence due de la coopé-ration : tout en se constituant sous forme de normes qui déterminent la mesure du dommage toléré, elle donne lieu à une responsabilité fonctionnellement absolue du fait de la méconnaissance d’un stan-dard technique prédéfini. C’est, d’ailleurs, ce que la Cour Interna-tionale de Justice dans l’Affaire pâte à papier a pu confirmer : alors qu’elle s’était livrée à l’examen d’une obligation qu’elle a qualifié d’obligation de diligence, elle a suggéré qu’il y aurait violation de l’obligation dont il s’agissait si le niveau de pollution prouvé était supérieur à celui établi par les mesures réglementaires adoptés par les Parties dans un cadre institutionnel de coopération.76

Mais la standardisation technique ne se confond pas avec la déter-mination des mesures qui la véhiculent. La discrétion de l’État dans le choix de celles-ci reste a priori limitée par les notions du « raison-nable » et du « approprié ».77 Et si l’évaluation de la suffisance des mesures préventives des dommages transfrontières, certes, ne peut normalement se faire qu’à partir de l’analyse impartiale d’une partie tierce, la pratique internationale rend compte de l’établissement d’ins-titutions indépendantes, dans des cadres conventionnels, chargées d’examiner la conformité des mesures réglementaires de prévention et de surveiller leur mise en œuvre à l’égard des cas concrets.78 Pour-tant, la spécification du contenu et des modalités de manifestation de 76 Affaire relative à des usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay (Argentina v. Uruguay), C.I.J., arrêt du 20 avril 2010, para. 239.

77 Voir Salmon, J., « Les notions à contenu variable en droit international public », in Mélanges offerts à Paul Reuter. Le droit international : unité et diversité (Paris : Pedone, 1981), 447-478.

78 Voir, par exemple, l’article 4 de la Convention sur la protection du lac de Constance contre la pollution, 620 RTNU 191 (entrée en vigueur le 10 novembre 1961) ; le chapitre XIII du Statut du fleuve Uruguay, 26 février 1975, 1295 RTNU 348 (entrée en vigueur le 18 septembre 1976) ; l’article IV de la Convention internationale pour la conservation des thonidés de l’Atlantique, 14 mai 1966, 673 RTNU 63 (entrée en vigueur le 1er avril 1969).

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ces mesures peut également être obtenue in abstracto par l’existence de certaines obligations internationales autonomes qui commandent certaines conduites bien précises et qui intègrent le contenu de la diligence due.

III.2. Les obligations internationales autonomes : le seuil minimum de la diligence

Si les mesures constitutives de la diligence due restent, en principe, largement indéterminées, un certain nombre d’obligations interna-tionales commandent l’adoption de mesures précises dans la mise en œuvre des activités susceptible de conséquences préjudiciables importantes. La relation qu’entretiennent ces obligations avec l’obli-gation générale de prévention répond, en partie, pour la matérialisa-tion du concept de diligence due : les mesures commandées par ces obligations constituent, elles, des mesures certaines au vu du respect de l’obligation de prévention. De ce fait, leur manquement implique l’insuffisance de la diligence déployée et se prête aux conséquences attachées au défaut de celle-ci.79

Étant donnée que la diligence due opère dans la détermination de la licéité de l’activité aux conséquences dommageables, le défaut par l’État d’adopter les mesures de diligence entraine l’illégalité de la poursuite de l’activité en question. À l’évidence, si les mesures constitutives de ce qu’est la diligence due n’étaient pas susceptibles d’une détermination préalable, il serait invraisemblable que l’on puisse établir l’illicéité de la mise en œuvre d’une activité avant que toute conséquence préjudiciable sensible n’en résulte et mette en cause le degré de soin apporté. Or, l’existence de certaines obliga-tions internationales autonomes permet la spécification de la forme et le contenu de quelques mesures préventives. Et s’il est évident que ces obligations peuvent puiser leur source et leur contenu dans des engagements conventionnels et se mettre en rapport avec le prin-cipe de prévention de manière expresse, la pratique internationale

79 Voir infra IV.

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confirme le caractère général et obligatoire d’au moins deux d’entre elles en étroite interdépendance avec le concept de diligence due.

§ L’obligation de procéder à une évaluation de l’impact sur l’environnement. En plus d’être consacrée dans un certain nombre de conventions internationales80, l’obligation qu’ont les États de procéder à une évaluation de l’impact sur l’environnement de toute activité comportant un risque de dommage transfrontière important a été reconnue comme faisant partie du droit international coutumier.81 Qu’elle commande l’adoption d’une mesure ayant trait au respect de la diligence due avait déjà été souligné, non pas sans quelque hésita-tion, par certains auteurs.82 Pourtant, la jurisprudence internationale s’est chargée de consolider ce qui nous paraît une évidence. Dans l’Affaire pâte à papier, la Cour a affirmé qu’ « on ne pourrait consi-dérer qu’une partie s’est acquittée de son obligation de diligence … lors que … elle n’aurait pas procédé à une évaluation de l’impact sur l’environnement ».83

S’il dit déjà beaucoup, ce dictum mérite d’être remis en contexte. En l’espèce, l’obligation que la Cour examinait découlait de l’ar-ticle 41 du Statut du fleuve Uruguay.84 Il s’agissait d’un devoir de protection et préservation du milieu aquatique et, en particulier, d’« en empêcher la pollution … en adoptant les mesures appro-priées ».85 Or, si le seul manquement à l’obligation coutumière qui commande la réalisation d’une étude d’impact implique une défail-lance de l’adoption des mesures appropriées, c’est que l’obligation en question constitue un seuil minimum indispensable au respect de

80 Voir, par exemple, Convention sur l’évaluation de l’impact sur l’environnement, supra n. 45; articles 205 et 206 de la Convention des Nations Unies sur le droit de la mer, supra n. 19; article 14 (1), (a) et (b), de la Convention sur la diversité biologique, 5 juin 1992, 1760 RTNU 79 (entrée en vigueur le 29 décembre 1993).

81 Affaire relative à des usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay, supra n. 75, para. 204 ; Responsabilités et obligations des États dans la Zone, supra n. 42, para. 145.

82 Voir, par exemple, Lefeber, R., Transboundary environmental interference and the origin of State liability (The Hague : Kluwer Law International, 1996), 54.

83 Affaire relative à des usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay, supra n. 75, para. 204.

84 Statut du fleuve Uruguay, supra n. 77.

85 Article 41 (a), Ibid.

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la diligence due. Ce n’est pas dire qu’elle mesure la diligence, sinon qu’elle en intègre le contenu.86

D’autre part, la conduite d’une évaluation de l’impact environne-mental possède un rôle fondamental dans la détermination des autres mesures constitutives de la diligence. Il en est ainsi parce que l’in-cidence complète du concept de diligence due au vu de la préven-tion est dépendante de l’existence d’un risque de dommages d’une certaine magnitude.87 Or, déterminer qu’une activité donnée rentre dans son champ application dépend d’une évaluation préalable des caractères de l’impact qui peut en résulter. Qui plus est, la détermi-nation de l’étendue des mesures de prévention d’un dommage qui ne s’est pas encore produit suppose une connaissance préalable qui n’est satisfaisante qu’en tenant compte d’une évaluation technique approfondie.88

§ L’obligation d’employer les meilleures pratiques ou la meilleure technique disponible. L’emploi des meilleures pratiques écologiques ou de la meilleure technique disponible constitue une mesure de dili-gence qui met en évidence l’objet même de l’obligation de préven-tion des dommages transfrontières à l’environnement : le devoir de faire en sorte qu’« une activité se déroule » sans causer des préjudices physiques importants. Or, en vertu du « caractère souvent irréversible des dommages causés à l›environnement et des limites inhérentes au mécanisme même de réparation de ce type de dommages »89, on

86 Okowa, de sa part, dit que l’obligation de procéder à une étude d’impact peut avoir un rôle auxiliaire dans la détermination du respect à la diligence due. Okowa, P. N., State responsibility for transboundary air pollution in international law (Oxford : OUP, 2000), 133.

87 Le risque d’un « dommage transfrontière significatif » est le critère retenu par la Commis-sion du droit international à l’article 1er du projet de 2001. ACDI, vol. II (2) (2001). Ce critère entend refléter la pratique internationale, tant conventionnelle que jurisprudentielle. Les sentences arbitrales dans les affaires de la Fonderie de Trail et du Lac Lanoux utilisent, respectivement, les expressions « serious consequence » et « pollution définitive ». Supra n. 8, 1965 et supra n. 25, 303, para. 5.

88 Dans les procédures de 1995 devant la Cour Internationale de Justice, la Nouvelle-Zélande a fait valoir l’argument d’ordre logique selon lequel la réalisation d’une étude d’impact environnemen-tal doit précéder l’adoption de toute autre mesure vis-à-vis des activités que l’on a raison de croire être susceptible de risques importants. Demande d’examen de la situation au titre du paragraphe 63 de l’arrêt rendu par la Cour en 1974 dans l’Affaire des Essais nucléaires (Nouvelle-Zélande c. France), Compte Rendu, CR 95/20, Séance Public du 12 septembre 1995, 27.

89 Projet Gabčikovo-Nagymaros, supra n. 3, para. 140.

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pourrait soutenir qu’il est inimaginable qu’il n’existe pas une obliga-tion faite aux États de garantir que toute activité susceptible de causer de tels préjudices utilise la technologie la moins nuisible. Pourtant, à lui seul, cet argument logique semble insuffisant pour prédéterminer le contenu de la diligence due. C’est que, ainsi que l’énonce la Dé-claration de Stockholm, le niveau de développement des pays peut déterminer l’inadéquation des certaines mesures de prévention vis-à-vis leurs capacités techniques.90

Or, la meilleure pratique ou les meilleures techniques disponibles peuvent ne pas être accessibles aux États sous les mêmes condi-tions, bien si que l’exigence de la diligence est généralement celle de « s’efforcer dans la mesure du possible ».91 Ainsi, en l’absence d’une obligation internationale autonome imposant la nécessité d’utiliser la meilleure technologie, il est difficile de la faire ressortir uniquement à partir de la logique intrinsèque au concept de diligence due. Pour-tant, indépendamment d’un cadre conventionnel, il semble que cette exigence relève dorénavant du droit international général.

Dans le cadre du régime d’exploitation des ressources de la Zone des fonds marins, c’est un des règlements de la Convention sur le droit de la mer qui impose à l’État l’obligation d’appliquer les meil-leures pratiques écologiques.92 Un deuxième règlement concernant l’exploration de nodules polymétalliques et qui était adopté précé-demment ne contient pas une telle règle. À sa place, l’une de ses annexes se réfère à l’emploi de « la «meilleure technologie» dont dispose le contractant ».93 Pourtant, le Tribunal a déclaré la portée générale d’une obligation inconditionnée d’adopter les meilleures pratiques écologiques en soulignant l’émergence d’une opinio juris

90 Principe 23, Déclaration finale de la Conférence des Nations Unies sur l’environnement, Stockholm, 16 juin 1972, 11 ILM 1416 (1972).

91 Sur l’obligation de « veiller » de l’article 139 de la Convention sur le droit de la mer, le Tribunal a dit : « Il s’agit plutôt d’une obligation de mettre en place les moyens appropriés, de s’efforcer dans la mesure du possible et de faire le maximum pour obtenir ce résultat ». Responsabilités et obliga-tions des États dans la Zone, supra n. 42, para. 110.

92 Article 33 (2) du Règlement relatif à la prospection et l’exploration des sulfures polymétal-liques dans la Zone, référé in Ibid., para. 59.

93 Ibid., para. 136. (nos soulignés)

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au sein des États Parties à la fois à la Convention sur le droit de la mer et à l’Autorité internationale des fonds marins.94

Dans l’Affaire pâte à papier, l’Argentine soutenait que l’État uru-guayen n’avait pas pris toutes les mesures propres à empêcher la pollution du fleuve Uruguay faute de l’utilisation des « meilleures techniques disponibles ».95 La thèse argentine était que cette exi-gence découlait de l’article 5 (d) de la Convention de Stockholm sur les Polluants Organiques Persistants96, incorporée dans le Statut du fleuve Uruguay par l’effet d’une « clause de renvoi ».97 Or, ayant écarté précédemment l’argument selon lequel la Convention invo-quée était incorporée dans le traité en question98, la Cour a tout de même affirmé que « l’exercice de la diligence requise … entraîne la nécessité d’examiner avec soin la technologie à laquelle l’installation industrielle a recours ».99 Qui plus est, elle a jugé nécessaire l’éva-luation de la correspondance entre la technologie employée et « les meilleures techniques disponibles » pour enfin rejeter la prétention argentine.100

§ Quelques remarques. Or, si les mesures commandées par ces obligations internationales peuvent ressortir de la logique inhérente à un devoir de prévention qui concerne une catégorie de risque dont la source est identifiable, le potentiel que d’autres mesures s’asso-cient au contenu de la diligence due est considérable. À l’égard d’un éventail d’obligations conventionnelles qui vont au-delà des deux mentionnées ci-dessus relevant du droit international général, le Tri-bunal du droit de la mer dans son avis consultatif de février 2011 a déclaré que « l’exécution de ces obligations peut également être considérée comme un facteur contribuant au respect de l’obligation

94 Ibid.

95 Affaire relative à des usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay, supra n. 75, para. 220.

96 Convention de Stockholm sur les polluants organiques persistants, 22 mai 2001, 2256 R.T.N.U 119 (entrée en vigueur le 17 mai 2004).

97 Voir l’article 41 (a) du Statut du fleuve Uruguay, supra n. 77.

98 Affaire relative à des usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay, supra n. 75, para. 63.

99 Ibid., para. 204.

100 Ibid., para. 225.

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de «veiller à» avec la diligence requise ».101

Quoiqu’on puisse objecter que la logique n’est pas une source d’obligation en droit international, elle peut certes se prêter à dévoi-ler le contenu de concepts tels que le raisonnable et le diligent.102 Ce que disait un conseil devant la Cour International de Justice à propos de l’absence de nécessité d’une obligation internationale pour qu’il y ait le devoir de conduire une étude d’impact peut certes s’étendre à d’autres mesures qui passent de la sorte à intégrer la diligence due.103 Toutefois, en présence d’obligations internationales autonomes qui indiquent et imposent ces mesures, le rôle a posteriori du juge dans la détermination du contenu du concept devient plus limité ainsi que les marges aux États pour esquiver les contraintes.

III.3. Les obligations de coopération internationale : le para-chèvement de la diligence

Les mesures de prévention ayant une forme définie, elles se prêtent à une relation particulière dans le cadre de la coopération internatio-nale : c’est que, par exemple, le résultat d’une étude d’impact est ce à quoi se réfère généralement un devoir subséquent de notification et d’échange d’information.104 Par ailleurs, l’obligation de consultation avec les États potentiellement affectés au vu du contrôle continu de la mise en œuvre de l’activité peut, elle, mettre au point la pratique écologique la mieux adaptée.105 Pourtant, dire que le « principe de la 101 Responsabilités et obligations des États dans la Zone, supra n. 42, para. 123.

102 Salmon, J., « Les notions à contenu variable en droit international public », in Mélanges offerts à Paul Reuter. Le droit international : unité et diversité (Paris : Pedone, 1981), 447-478.

103 Conseil de la Nouvelle Zélande, MacKay disait : « Thus, there is no need to look for a specific, legal obligation to conduct an EIA. That duty flows from the legal duty to protect the environ-ment: it is logically inseparable. You cannot have a legal duty to protect the environment without there being a legal duty to ensure, in advance, that an activity in contemplation does not contain a risk to the environment. The two necessarily go hand-in-hand » Compte Rendu, CR 95/20, Séance Public du 12 septembre 1995, 22.

104 Article 8, projet d’articles sur la prévention des dommages transfrontières résultant d’activités dangereuses, Documents officiels de l’Assemblée générale, cinquante-sixième session, Supplément n° 10 (A/56/10), (2001); Article 3 (2), Convention sur l’évaluation de l’impact sur l’environnement, supra n. 45.

105 Article 9, projet d’articles sur la prévention, supra n. 103; Article 5, Convention sur l’évalua-

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coopération entre les États [est] essentiel tant pour définir que pour mettre en œuvre l’obligation de prévention des dommages transfron-tières écologiques »106 n’implique pas qu’il intègre et s’assimile au concept de diligence due. Or, pour que les obligations internatio-nales de coopération correspondent à des mesures constitutives de la diligence due, il faut que l’exécution des mesures commandées par celles-là soit indispensable au respect d’une obligation de prévention qui commande l’exercice de celle-ci.

§ Le présage d’un arrêt de principe. Dans l’Affaire du Lac Lanoux, l’une des thèses espagnoles était de dire qu’en l’absence d’un « ac-cord préalable », la France ne pouvait pas poursuivre l’activité.107 Alors que l’argument espagnol avait été avancé plus généralement vis-à-vis toute liberté d’entreprendre une activité d’aménagement des eaux soumises au régime conventionnel qui en régissait l’utilisation, le tribunal, après l’avoir écarté, le redéfinit en relation avec l’obliga-tion générale de coopérer de bonne foi.108 Les parties devant s’engager dans des négociations, la détermination des mesures préventives pour la mise en œuvre du projet français semblait en dépendre. Celles-ci n’ayant pas abouti, le tribunal a tout de même considéré que l’exécu-tion de l’activité, dans des conditions prévues par le projet français, n’était pas contraire au droit. D’une part, le tribunal a pu reconnaître la suffisance des mesures de prévention proposées unilatéralement par le projet français, avant qu’il n’ait été mis en place. De l’autre, il a jugé que les efforts de coopération avaient eu lieu et que, étant donné la suffisance des garanties fournies, la France était en droit d’exercer ses compétences souveraines.109

Pourtant, une démarche interprétative semble instructive afin d’exa-tion de l’impact sur l’environnement, supra n. 45.

106 Commentaire à l’article 4, ACDI, vol. II (2) (2001), 167.

107 Affaire du Lac Lanoux, supra n. 25, 295-296.

108 Ibid., 308, para. 13.

109 Le tribunal a affirmé qu’ « il appartient à chaque État d’apprécier, raisonnablement et de bonne foi, les situations et les règles qui le mettent en cause; son appréciation peut se trouver en contra-diction avec celle d’un autre État; dans ce cas, apparaît un différend que les Parties cherchent norma-lement à résoudre par la négociation, ou bien en se soumettant à l’autorité d’un tiers; mais l’une d’elles n’est jamais obligée de suspendre, du fait du différend, l’exercice de sa compétence, sauf engagement de sa part ». Ibid., 310, para. 16.

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miner la relation entre la diligence due et l’obligation de coopérer. Alors que le tribunal disait en l’abstrait – vis-à-vis l’hypothèse d’un défaut de négociation – que l’État, « en exerçant sa compétence, … prend le risque de voir sa responsabilité internationale mise en cause s›il est établi qu’ [il] n›a pas agi dans la limite de ses droits »110, à l’égard de quelle obligation internationale parlait-il d’un engagement de la responsabilité ? S’il s’agissait de l’obligation de coopérer de bonne foi considérée indépendamment, il semble que la référence à « la limite [des] droits [de l’État] » n’aurait pas été faite, parce que les corollaires de la liberté de poursuivre l’activité ne seraient pas affec-tés. Or, pourrait-on donc dégager la conclusion qu’en cas de refus de coopération et de survenance d’un préjudice suite à une activité à potentiel dommageable transfrontière, l’État ayant refusé de coopérer et à la source du dommage serait tenu d’y réparer ? À l’évidence, cela équivaut à situer le devoir de coopération à l’intérieur du principe de prévention, la coopération étant l’une des mesures constitutives de la diligence due. Le risque qu’assumerait l’État serait celui de voir sa responsabilité internationale engagée en cas de survenance d’un dommage issue de l’activité qui s’est déroulé en méconnaissance de l’obligation de coopérer.

§ Le fondement conventionnel. Certes, ainsi que les mesures décou-lant d’autres obligations internationales précédemment examinées, un devoir de notification ou de consultations peut – dans un cadre conventionnel qui le détermine – intégrer les mesures nécessaires au respect d’une obligation de prévention qui y est consacrée. Le régime établi par le Statut du fleuve Uruguay111 que la Cour Internationale de Justice a eu l’occasion d’examiner fournit un exemple de la pratique. D’après la Cour, l’objet et le but du traité, consacrés à l’article 1er sous la forme d’obligation, « consistent … à parvenir à «l’utilisation rationnelle et optimale du fleuve Uruguay», au moyen des «méca-nismes communs» de coopération, constitués … par les dispositions de nature procédurale ».112

110 Ibid.

111 Statut du fleuve Uruguay, supra n. 77.

112 Affaire relative à des usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay, supra n. 75, para. 75.

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Il importe de souligner que ce que la Cour a considéré être le prin-cipe de « l’utilisation rationnelle et optimale du fleuve », aussi restric-tive qu’ait été son interprétation, se chevauchait avec le principe de prévention des dommages à l’environnement. En effet, elle a précisé que le respect de celui-là dépendait non seulement d’un équilibre entre les droits et les besoins économiques des Parties mais aussi de l’obligation de prévenir tout dommage à l’environnement.113 Or, cette obligation, dont la nature est celle « de faire en sorte que l’activité susceptible de conséquences préjudiciables ne cause pas de dom-mage à l’environnement »114, commande l’exercice de la diligence due. Si, comme la Cour le dit par ailleurs, les mesures de coopération envisagées dans le Statut s’articulent de manière à ce que les Parties « soient en mesure, au terme du processus, de s’acquitter de leur obli-gation de prévenir »115, c’est que la coopération constitue, elle, l’une des composantes du concept de diligence due.

Cette relation entre des obligations internationales relevant de la coopération et le contenu de la diligence due ressort d’un impor-tant nombre de traités bilatéraux et de conventions multilatérales.116 Qu’ils soient l’évidence d’une pratique internationale suffisante pour faire émerger cette même relation en droit international coutumier demeure un argument valable. Pourtant, il est certain que l’obligation générale de coopération dont il s’agit ici existe indépendamment de la façon dont elle s’articule avec le principe de prévention. Mais si ce n’est pas en vertu de la coutume internationale qu’une relation entre eux autour du concept de diligence due s’établit, elle semble émerger à partir d’un changement structurel de la communauté internationale.

§ Le fondement en droit international général. L’existence même d’une communauté internationale se trouve en aval dans le proces-

113 Ibid., para. 175.

114 La Cour avait déjà rappelé que « l’État est tenu de mettre en œuvre tous les moyens à sa disposition pour éviter que les activités qui se déroulent sur son territoire, ou sur tout espace relevant de sa juridiction, ne causent un préjudice sensible à l’environnement d’un autre État ». Ibid., para. 101.

115 Ibid., para. 139. (nos soulignés)

116 Voir le Chapitre III (« mésures préventives ») de l’Étude de la pratique des États concernant la responsabilité internationale pour les conséquences préjudiciables découlant d’activités qui ne sont pas interdites par le droit international, Document des Nations Unies A/CN.4/384, 62-79.

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sus d’un développement structurel qui partait de la notion de société d’États souverains et indépendants. Le partage de valeurs communes entre les sujets du droit international en est l’un des fondements. Qui plus est, l’interdépendance de ses acteurs dans la poursuite des be-soins individuels a marqué en quelque sorte le terrain des besoins collectifs. Ainsi, la protection de l’environnement s’est imposée en tant que l’une de ces valeurs communes et l’un de ces besoins col-lectifs.

Or, si les États ont fait valoir que la souveraineté territoriale leur confère des droits exclusifs – y compris sur l’environnement qu’elle renferme –, il a toujours été difficile de soutenir que l’existence d’un intérêt d’un autre État pouvant être affecté serait sans conséquence sur les modalités de poursuite de ces droits.117 C’est, d’ailleurs, cet état des choses qui a souvent été évoqué inter alia pour expliquer le fondement du concept de diligence due dans le domaine de la protec-tion environnementale.118 Dans l’Affaire du Lac Lanoux, alors que tribunal arbitral interprétait un traité bilatéral, il s’est référé au droit international général pour dire qu’ « [i]l faut tenir compte, quelle qu’en soit la nature, de tous les intérêts qui risquent d’être affec-tés par les travaux entrepris, même s’ils ne correspondent pas à un droit ».119 Par ailleurs, le tribunal a précisé « la méthode suivant la-quelle ces intérêts pourront être sauvegardés », en l’occurrence la nécessité d’entretiens constants entre les parties et l’ « obligation » d’en prendre en compte.120

Or, c’est le principe de coopération dont il est question, en parti-culier l’obligation de négocier en bonne foi. Étant donné que cette « méthode » ne devait pas être purement formelle, sa réalisation préalable à la poursuite du projet semblait se constituer en tant que

117 À cet égard, voir Lauterpacht, H., Private law sources and analogies of international law : with special reference to international arbitration (London/New York : Longmans Green, 1927), 41 et seq; Politis, N., « Le problème de la limitation de la souveraineté et la théorie de l’abus de droit dans les rapports internationaux », RCADI 6 (1925). 

118 Pour un inventaire critique de la doctrine d’abus de droit, voir Dupuy, P.-M., op. cit. (1976), 26-30.

119 Affaire du Lac Lanoux, supra n. 25, para. 22.

120 Ibid., 315, para. 22.

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modalité nécessaire à la conformité de l’activité de l’État au droit international. Or, les contraintes dans la poursuite d’une activité, qui peuvent relever de son caractère illicite, s’établissent en fonction du concept de diligence due. En l’espèce, les droits et intérêts interve-nant découlaient d’un traité, mais la relation qui a été établie entre l’obligation de coopération et l’obligation de veiller à ce que certains intérêts ne soient pas touchés semble avoir été le résultat nécessaire des relations bilatérales qui mettaient en cause ces derniers.

À plus forte raison, dans une communauté internationale marquée par l’existence d’intérêts communs, l’impact de ceux-ci sur les modes de poursuite de droits individuels commande le recours à la coopé-ration internationale. Il ne semble pas être laissé au hasard que la re-connaissance du principe selon lequel « [l]es États doivent coopérer … en vue de conserver, de protéger et de rétablir la santé et l›intégrité de l›écosystème terrestre »121 rallie la coopération à la prévention. La coopération étant le comportement, et la protection étant le résultat conditionné, c’est dire qu’à l’intérieur de l’obligation qu’ont les États d’exercer la diligence au vu de la prévention des préjudices à l’envi-ronnement, l’on repère un devoir de coopérer.

§ Quelques remarques. Ce que la devancière de la Cour Internatio-nal de Justice a qualifié de « communauté d’intérêts »122, pour mar-quer l’égalité de droits et d’obligations de ses membres dans l’usage d’une ressource partagée, était le résultat d’un régime découlant de la volonté des États. Cette idée d’une « communauté d’intérêt » ne semble pas être sans rapport avec la notion de « communauté inter-nationale », ses valeurs communes et les intérêts concurrents de ses composantes. Or, si la première était à la base d’un régime volontaire de droits équitables, la deuxième ne peut s’y rapprocher qu’au biais d’un devoir de coopération internationale qui permette aux États de parvenir à l’équilibre de ces intérêts tout en préservant les droits de

121 Principe 7, Déclaration de Rio sur l’environnement et le développement, Rio de Janeiro, 14 juin 1992, 31 ILM 874 (1992) ; En le comparant avec le principe 22 de la Déclaration de Stockholm, on s’aperçoit d’un changement de l’objet au vu duquel la coopération doit être déployée. 11 ILM 1416 (1972).

122 Juridiction territoriale de la Commission internationale de l’Oder, C.P.J.I., Série A, No. 23, 1929, 27.

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souveraineté.C’est, par ailleurs, ce que semblait entrevoir la Cour dans l’Af-

faire pâte à papier. Alors que c’était le traité qu’elle interprétait qui avait inscrit des obligations spécifiques relevant de la coopération à l’intérieur d’un devoir d’exercer la diligence, la Cour indique l’effet et la fonction d’un devoir général de coopérer : l’établissement d’ « une réelle communauté d’intérêts et de droits dans la gestion … et dans la protection de [l’] environnement ».123 Or, quel que soit le fondement de leur relation avec le devoir d’exercer la diligence, il demeure vrai que la consécration d’obligations relevant de la coo-pération internationale dans un cadre formel procédural constitue le lieu où l’interaction entre celles-ci et le principe de prévention peut être appréhendé le mieux. Si nul ne conteste la nature coutumière, par exemple, des devoirs de notification, d’échange d’information et de consultation, l’évaluation de leur respect ainsi que des consé-quences de leur défaut dépendent généralement d’un mécanisme institutionnel qui prévoit une procédure d’examen de la « procédure coopérative ».

Il en est ainsi que, dans le contexte de l’autorisation par le Royaume-Uni en octobre 2001 de la mise en œuvre de l’usine MOX, une prétendue méconnaissance d’une obligation de satisfaire aux demandes d’informations – et qui a donné lieu à un arbitrage indépendant d’après la Convention qui le consacrait124 – a pu être évoquée par l’Irlande devant un autre tribunal arbitral afin de, tout en étayant la thèse d’un manquement à l’obligation de coopérer, fonder une demande de suspension de l’activité.125 La prochaine section se propose, ainsi, d’analyser les conséquences juridiques de la relation entre les obligations relevant de la coopération internationale, com-

123 Affaire relative à des usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay, supra n. 75, para. 281.

124 Affaire concernant l’accès à l’information prévu par l’article 9 de la Convention pour la protection du milieu marin de l’Atlantique du Nord-Est (Irlande c. Royaume-Uni), sentence du 2 juillet 2003, RSA, vol. XXIII, 59-151.

125 Mémoire de l’Irlande, 26 juin 2002, Partie III, 164-165, Affaire de l’usine MOX (Irlande c. Royaume-Uni), procédure arbitrale constituée conformément à l’annexe VII de la Convention des Nations Unies sur le droit de la mer. Documents disponibles sur : http://www.pca-cpa.org/showpage.asp?pag_id=1212

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posante du concept de diligence due, et le principe de prévention des dommages pouvant résulter de telles activités.

IV. La mise en œuvre de la responsabilité internationale pour le non respect de la diligence due

Le principe de prévention des dommages transfrontières ne peut pas être dissocié du concept de diligence due. D’une part, le « de-voir d’être diligent » est ce que commande le principe. De l’autre, l’étendue de l’obligation qui en découle, du moins en ce qui concerne le comportement dont l’État est redevable, constitue l’étendue même du concept de diligence due. Pourvu que des obligations dont celles relevant de la coopération internationale constituent une partie des mesures nécessaires aux fins de la prévention, elles intègrent et com-plètent le contenu de la diligence. Certes, ces obligations primaires internationales possèdent une existence autonome et, de ce fait, leur méconnaissance se soumet aux conséquences classiques du régime général de la responsabilité internationale.126 Mais, en tenant en compte tant leur existence indépendante comme celle à l’intérieur du concept de diligence due, comment s’articulent-elles ces obliga-tions primaires internationales avec le principe de prévention (IV.1) et quelles sont les conséquences de cette articulation au niveau de la responsabilité internationale (IV.2) ?

IV.1. L’articulation entre les obligations primaires et le prin-cipe de prévention

La détermination des conditions de licéité d’une activité suscep-

126 En reprenant la distinction de Combacau entre obligation de résultat et de comporte-ment, Bianchi observe : « As to the general nature of responsibility rules connected with the breach of procedural norms, they usually appear as obligations of result and not of due diligence » Bianchi, A., « Environmental Harm Resulting from the Use of Nuclear Power Sources in Outer Space », in F. Francioni et T. Scovazzi (eds), International Responsibility for Environmental Harm (London : Graham & Trotman), 250-1.

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tible de causer des préjudices transfrontières étant la fonction de la diligence due, il est ainsi que, compte tenu de l’examen réalisé pré-cédemment, elle devient aussi la fonction des obligations primaires internationales. À l’égard des conséquences juridiques en vertu de l’engagement de la responsabilité internationale, la conduite d’une activité à risque par l’État n’ayant pas été conforme à ces obliga-tions, le résultat est double : en premier lieu, l’illicéité de la mise en œuvre de l’activité implique la nécessité de cessation de cette mise en œuvre127 ; deuxièmement, tout dommage transfrontière important causé par cette mise en œuvre commande la réparation.128

L’Affaire du canal de Bystroe dévoile cette interdépendance. Le non respect par l’Ukraine de la procédure prévue dans la Convention d’Espoo129 a donné lieu à une décision de suspension de l’activité projetée en territoire Ukrainien susceptible de causer un dommage transfrontière important.130 En l’espèce, une étude d’impact envi-ronnemental, telle que commandée par une obligation convention-nelle, n’avait pas eu lieu, ainsi que la notification du projet aux États susceptible d’être touchées. Pourtant, le fondement juridique de la décision de suspension, à l’encontre d’un droit de souveraineté, était bel et bien le principe coutumier de prévention en rapport avec ces obligations primaires internationales.131

Dans l’Affaire de l’usine MOX132, l’Irlande demandait la suspen-sion par le Royaume-Uni de la mise en œuvre d’une usine suscep-tible d’avoir un impact négatif sur la côte Irlandaise. L’argument de fond était que la mise en opération de l’usine était illicite parce que le Royaume-Uni, inter alia, n’avait pas respecté les dispositions per-tinentes de la Convention sur le droit de la mer. Parmi ces disposi-tions étaient, notamment, celles relatives à la réalisation d’une étude d’impact environnemental conformément aux exigences conven-127 Voir l’article 30 (a) du projet d’articles sur le droit de la responsabilité, supra n. 70.

128 Voir l’article 31, Ibid.

129 Convention sur l’évaluation de l’impact sur l’environnement, supra n. 45.

130 Conclusions et recommandations concernant l’Ukraine, supra n. 47, para. 55.

131 Ibid., para. 48.

132 Affaire de l’usine MOX (Irlande c. Royaume-Uni), supra n. 124.

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tionnelles (Chapitre 7) et à la coopération (Chapitre 8).133 S’il est vrai que le règlement judiciaire du différend n’a pas pu aboutir134, le Tribunal du droit de la mer, en attendant la constitution du tribunal arbitral conformément à l’annexe VII de la Convention sur le droit de la mer, a eu l’occasion de « prescrire toutes mesures conserva-toires qu’il jug[ait] appropriées en la circonstance pour … empêcher que le milieu marin ne subisse de dommages graves en attendant la décision définitive ».135 Alors que, faute d’urgence, il a rejeté la demande de suspension de l’activité britannique, il a ordonné aux Parties qu’elles coopèrent, en soulignant que « l’obligation de coo-pérer constitue, en vertu de la partie XII de la Convention et du droit international général, un principe fondamental en matière de préven-tion ».136 Quoiqu’on ne puisse pas affirmer quel aurait été le résultat d’un règlement définitif du différend, il semble que le manquement à l’obligation internationale de coopération aurait pu constituer le fondement pour établir la violation de l’obligation de prévention et en tirer toutes les conséquences qui en découlent.

L’Affaire pâte à papier fournit une instance dans laquelle la rela-tion entre certaines obligations de nature procédurale (notification, échange d’informations, négociation) et le principe de prévention a été envisagé expressément. L’examen conjoint des règles qui inter-venaient et du résultat obtenu par la Cour Internationale de Justice semble se prêter à la conclusion selon laquelle ces obligations inter-nationales et le principe de prévention s’interpénètrent au tour du concept de diligence due. En l’espèce, la Cour avait qualifié d’obli-gation de fond les obligations conventionnelles dont le but était la prévention de préjudices physiques à l’environnement du fleuve

133 Voir mémoire de l’Irlande, 26 juin 2002, Partie III, 139 et seq, Ibid.

134 Order N°3, Suspension of Proceedings on Jurisdiction and Merits, and Request for Further Provisional Measures, 24 June 2003 et Order N°6, Termination of proceedings, 6 June 2008, Ibid.

135 Ce sont les termes de l’article 290 (5), qui fondait la demande irlandaise, de la Convention des Nations Unies sur le droit de la mer, supra n. 19. Voir Affaire de l’usine MOX (Irlande c. Royaume-Uni), demande en prescription de mesures, Tribunal International du Droit de la Mer, ordonnance du 3 décembre 2001, para. 89.

136 Ibid., para. 82.

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Uruguay.137 Chacune de ces obligations, à leur tour, ont été classées comme étant des obligations de comportement, la diligence due étant le comportement spécifique commandé.138 Ainsi, à l’égard d’un article qui imposait une obligation dite de fond, la Cour a affirmé que les États concernés devaient « faire preuve de la diligence requise («due diligence») en agissant dans le cadre de la commission pour prendre les mesures nécessaires à la préservation de l’équilibre éco-logique du fleuve ».139 Or, il en est que le respect des obligations de nature procédurale, dont la coopération à l’intérieur de la commis-sion du fleuve, constituait l’une des mesures de diligence due.

Pourtant, une certaine contradiction ne peut pas échapper à l’exa-men attentif de l’arrêt. Antérieurement, la Cour avait déjà souligné, en termes généraux, que « c’est en coopérant que les États concernés peuvent gérer en commun les risques de dommages à l’environne-ment … de manière à prévenir les dommages en question ».140 Mais par ailleurs, en expliquant les « moyens » pour ce faire, elle sug-gère la possibilité de mettre en œuvre les obligations de prévention sans égard aux mesures qu’elle avait précédemment assimilées à la diligence due : « [ce] à travers la mise en œuvre des obligations tant de nature procédurale que de fond prévues par le statut de 1975 ». Or, la mise en œuvre de l’obligation de fond n’est autre chose que la mise en œuvre de la diligence due elle-même. Si, comme la Cour le dit, pour faire preuve de la diligence due il faut agir dans le cadre procédural institué, le respect d’une obligation de fond conditionnée par la diligence due ne peut pas se soustraire au respect des obliga-tions de nature procédurale.

Même si la Cour insiste qu’on ne peut pas soutenir « qu’une viola-137 Affaire relative à des usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay, supra n. 75, paras. 159-266.

138 À l’égard de cette correspondance : « La Cour considère que l’obligation formulée à l’article 36 incombe aux deux Parties et leur impose d’adopter un comportement spécifique consistant à prendre les mesures nécessaires de façon coordonnée, par l’intermédiaire de la commission, pour éviter toute modification de l’équilibre écologique. L’obligation d’adopter des mesures réglementaires ou administratives, que ce soit de manière individuelle ou conjointe, et de les mettre en œuvre constitue une obligation de comportement ». Ibid., para. 187

139 Ibid., para. 187 (nos soulignés)

140 Ibid., para. 77.

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tion des obligations de nature procédurale emporterait automatique-ment celle des obligations de fond »141, elle se voit contrainte à recon-naître l’existence d’un « lien fonctionnel » entre les deux catégories d’obligations.142 In concreto, les conséquences établies par la Cour de par la mise en œuvre de la responsabilité internationale dévoilent l’articulation entre les obligations de nature procédurale et le prin-cipe de prévention autour du concept de diligence due. En reconnais-sant la violation par l’Uruguay des ses obligations procédurales lors de la mise en place de l’usine, la Cour semble fonder le rejet de la demande argentine de démantèlement de l’activité sous l’argument du caractère disproportionné qu’aurait cette forme de réparation, et non pas parce que la mise en œuvre de l’activité avait été licite.143 Si, ensuite, elle affirme que l’Uruguay a respecté ses obligations de prévention, c’est parce qu’elle s’appuie soit sur l’absence de preuve de dommage soit, précisément, sur le respect de l’une des procédures de coordination au sein de la CARU.144

Or, le raisonnement de la Cour semble suggérer qu’une demande relative à l’indemnisation aurait pu être accueillie si un préjudice physique à l’environnement du fleuve avait été avéré dans les cir-constances. S’agissant des obligations de « veiller » à ce qu’une acti-vité ne cause pas de dommage à l’environnement, le fondement du 141 Ibid., para. 78.

142 Ibid., para. 79.

143 Le paragraphe pertinent lit : « La Cour a relevé cependant que la construction de cette usine avait commencé avant la fin des négociations, en violation des obligations de nature procédurale énoncées par le statut de 1975. Par ailleurs, ainsi que la Cour l’a constaté sur la base des éléments de preuve qui lui ont été soumis, le fonctionnement de l’usine Orion (Botnia) n’a pas entraîné une viola-tion des obligations de fond prévues par le statut de 1975 (paragraphes 180, 189 et 265 ci-dessus). Dès lors qu’il n’était pas interdit à l’Uruguay de construire et de mettre en service l’usine Orion (Botnia) après l’expiration de la période de négociation, et que l’Uruguay n’a violé aucune des obligations de fond imposées par le statut de 1975, ordonner le démantèlement de cette installation ne saurait consti-tuer, de l’avis de la Cour, une forme de réparation appropriée à la violation des obligations de nature procédurale ». Ibid., para. 275 (nos soulignés).

144 Au paragraphe 180, l’examen par la Cour du respect d’une obligation dite de fond est fait par référence à l’absence de dommages attribuables à l’activité. Ensuite, au paragraphe 189, elle établit le respect d’une autre obligation de prévention, curieusement, sous la base du respect de l’une des procédures de coordination au sein de la CARU. Finalement, au paragraphe 265, la Cour considère qu’une autre obligation de prévention a été respectée en l’absence des preuves, soit d’un manquement à la diligence par l’Uruguay, soit des effets délétères à l’environnement du fleuve attribuables à l’activité. Ibid.

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devoir d’indemniser que la Cour laisse ouvert ne pourrait être assi-milé qu’au manquement à la diligence due en raison de la violation par l’Uruguay de ses obligations procédurales.

IV.2. L’indépendance vis-à-vis tout préjudice physique à l’environnement

D’après les règles du droit international général, le dommage n’est, certes, pas un élément constitutif du fait internationalement illicite.145 Ainsi, affirmer que la responsabilité de l’État peut être en-gagée indépendamment de la survenance d’un préjudice physique à l’environnement paraît une banalité. Mais, s’agissant des obliga-tions internationales dont le contenu est la prévention d’un événe-ment donné, quelques évidences peuvent être trompeuses. L’une de ces évidences est qu’en effet, le fait illicite qui engage la responsa-bilité de l’État requiert seulement un comportement (i) attribuable à celui-ci en vertu du droit international et (ii) qui constitue une violation d’une obligation internationale de l’État.146 Pourtant, toute norme de prévention s’établit à l’égard d’un « objet ». Cet objet étant un « évènement préjudiciable », il intègre le contenu de l’obli-gation. De ce fait, pour qu’il y ait la violation d’une obligation qui commande à l’État qu’il prévienne la survenance d’un « événement préjudiciable », il faut que celui-ci survienne suite à un défaut du comportement de l’État dans sa prévention.147

Si une obligation de prévention d’un événement préjudiciable est ainsi qualifiée d’obligation de comportement, c’est que, seule,

145 Cf. commentaires au projet d’articles sur le droit de la responsabilité, ACDI, vol. II (2) (2001), 35-37.

146 Ibid.

147 Ceci ne contredit nullement les règles coutumières du droit de la responsabilité, telles que codifiées par la Commission du droit international. De fait, le même Rapporteur spécial responsable pour la suppression du dommage en tant qu’élément constitutif du fait illicite a fait dire à la Commis-sion que « la survenance d’un événement extérieur est une condition de la violation d’une obligation [ayant pour but d’éviter qu’un événement préjudiciable ne se produise], et non pas un nouvel élément qui devrait venir s’ajouter à cette violation pour qu’il y ait fait illicite », parce que « l’élément objectif du fait internationalement illicite … fait défaut ». ACDI, vol. II (1973), 185.

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la survenance du résultat faisant l’objet de la norme de prévention n’engage pas la responsabilité de l’État. Il faut que, lui, le résultat, soit accompagné par un défaut du comportement commandé à l’État. Mais, bien entendu, il faut la survenance du résultat, qui est l’événe-ment faisant l’objet de la norme.148 Or, le concept de diligence due a toujours été assimilé au contenu d’une obligation de comportement. En particulier, la diligence due traditionnellement déterminait le com-portement nécessaire au vu de la prévention d’un événement probable mais incertain, en l’occurrence un acte ou une activité dommageable.

Il est vrai, dans le contexte de la prévention des dommages trans-frontières à l’environnement, la Cour Internationale de Justice a noté qu’une certaine « obligation d’adopter des mesures réglementaires ou administratives, que ce soit de manière individuelle ou conjointe, et de les mettre en œuvre constitue une obligation de comportement ».149 Pourtant, la même Cour, en rejetant la violation d’une telle obliga-tion du seul fait de l’adoption de mesures de prévention, ne semblait pas écarter en définitive que la responsabilité internationale de l’État puisse être engagée en l’absence de pollution. Or, comment peut-on reconnaître la violation d’une obligation internationale de prévention dans le simple fait de la non adoption par l’État de mesures propres à prévenir un événement théoriquement possible, mais pas encore concrètement réalisé ?

L’examen de la pratique permet d’envisager deux réponses. La première, moins satisfaisante, est que les mesures constitutives de la diligence due se manifestent en obligations primaires internationales indépendantes. Alors qu’elles servent à la détermination du seuil mi-nimum du concept et parachèvent le respect de l’obligation de pré-vention, elles puisent leur existence dans des dispositions conven-tionnelles indépendantes de l’obligation de fond. Leur passage dans le droit international coutumier, naturellement, suit le même sort.150 148 C’est la conclusion à laquelle la Commission du droit international est arrivée suite à un examen exhaustif de la pratique internationale. Ago, R., « Septième rapport sur la responsabilité », ACDI, vol. II (1) (1978), 30-4.

149 Affaire relative à des usines de pâte à papier sur le fleuve Uruguay, supra n. 75, para. 187.

150 En est un exemple l’obligation coutumière, telle que déclarée par la Cour, qui exige la réali-sation d’une étude de l’impact sur l’environnement avant la mise en œuvre d’une activité susceptible de

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D’un point de vue pratique, la diligence se détache de l’évènement dommageable : le manquement aux mesures de diligence peut être redressé grâce aux conséquences de la mise en œuvre de la respon-sabilité à l’égard des obligations primaires spécifiques qui les incor-porent. Pourtant, à la rigueur, étant donné que l’obligation de préven-tion dont il s’agit s’articule autour d’un événement devant être évité, le non respect du comportement commandé implique seulement la violation des obligations qui manifestent la diligence due, et non pas proprement de l’obligation de prévention elle-même. Ainsi, si la diligence due se détache de l’événement dommageable, c’est parce qu’elle se détache de l’obligation de prévention.

Dans l’Affaire pâte à papier, la Cour reconnaît l’existence d’un « lien fonctionnel » entre les obligations procédurales et les obligations de prévention.151 Elle maintient pourtant que les États peuvent être appelés à répondre séparément des unes et des autres.152 Si, comme il a été relevé précédemment, le respect de l’obligation de préven-tion dépend nécessairement des obligations de nature procédurale, il demeure que ces dernières retiennent une existence indépendante de celle-là. En effet, dans le cas d’espèce, la responsabilité internatio-nale de l’Uruguay a été engagée du fait du non respect de quelques obligations constitutives de la diligence due nonobstant l’absence de preuve de préjudice physique à l’environnement du fleuve.

L’examen des décisions des mécanismes de contrôle du respect de quelques conventions multilatérales confirme également cette indé-pendance, dans la mise en œuvre de la responsabilité, entre la diligence due et la survenance d’un préjudice physique à l’environnement. Alors qu’on pourrait objecter que ces mécanismes correspondent à des régimes spéciaux de la responsabilité internationale en déroga-tion des règles générales153, ils ne contiennent pas, en leur majorité, des dispositions particulières quant à l’identification du fait illicite.

causer des dommages transfrontières significatifs. Ibid., para. 204.

151 Ibid., para. 79.

152 Ibid.

153 À cet égard, voir Koskenniemi, M., « Breach of Treaty or Non-Compliance? Reflections on the Enforcement of the Montreal Protocol », YIEL, vol. 3 (1992), 123-162.

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Ainsi, si les conséquences du non respect des obligations conven-tionnelles peuvent être déterminées par des règles particulières, la pratique des mécanismes de contrôle fonde la détermination de la situation de non respect sur les règles générales relatives à l’identifi-cation du fait qui de toute façon engage la responsabilité de l’État.154 Dans le cadre du Protocole de Kyoto155, par exemple, la chambre de l’exécution du comité de contrôle, à l’égard du respect par la Grèce des dispositions dudit traité, a conclu que les mesures du Gouverne-ment grec n’étaient pas conforme à l’article 5.156 Or, l’article 3 dudit protocole contient l’obligation de « faire en sorte » qu’un certain événement dommageable ne se produise pas. D’autres dispositions, dont l’article 5, constituent les mesures pour que les parties puissent s’acquitter de leur obligation principale de prévention. Mais l’affir-mation du non respect de l’une de ces mesures de diligence due s’est fait indépendamment de l’examen des conséquences préjudiciables physiques qu’elles visaient à éviter.

Pourtant, si le défaut de diligence constitue en soi un fait inter-nationalement illicite, en vertu de son existence sous forme d’obli-gations internationales autonomes, rappelons ici la question posée précédemment : est-il possible qu’une obligation internationale de prévention de dommage à l’environnement, reflétant le principe sic utere tuo ut alienum non laedas, soit méconnue, en l’absence du pré-judice physique, du seul fait de la non adoption par l’État des me-sures propres à en prévenir ?

La deuxième réponse envisagée est plus complète, en ce qu’elle rend compte de la violation de l’obligation de prévention elle-même, et non pas seulement des obligations autonomes qui peuvent expri-mer le contenu de la diligence due, d’autant plus que, de ce fait, elle permet d’expliquer toutes les conséquences juridiques du manque-

154 « Breach entails wrongfulness; wrongfulness calls for responsibility which in turn may be realized either through recourse to third-party settlement or, in certain circumstances, by taking counter-measures against a non performing party » Ibid., 125.

155 Protocole de Kyoto à la Convention-cadre des Nations Unies sur les changements climatiques, 11 décembre 1997, 2302 RTNU 148 (entrée en vigueur le 16 février 2005).

156 Chambre de l’exécution du comité de contrôle du respect des dispositions, décision finale, adoptée par consensus le 6 mars 2008, CC-2007-1-8/Greece/EB (17 avril 2008).

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ment à la diligence. La plus importante d’entre elles est que, même en l’absence de préjudice physique à l’environnement, la conduite de l’activité susceptible de causer des dommages devient illicite. Or, il en est ainsi parce que, comme il a pu être démontré, l’ « objet » de l’obligation générale de prévention des dommages à l’environne-ment n’est pas proprement le dommage ou l’activité dommageable, mais les modalités dans la conduite de cette activité. Ainsi, l’événe-ment dont l’État est obligé d’empêcher la survenance constitue une telle activité en l’absence de mesures satisfaisant la diligence due. Par conséquent, la conduite de « l’activité en manquement à la dili-gence » correspond à la violation de l’obligation de prévention, et non seulement de quelques obligations autonomes imposant l’adop-tion d’un comportement, puisque l’événement objet de la norme se produit concrètement. Le concept de diligence due se détache, ainsi, du préjudice physique à l’environnement, mais non pas de l’obliga-tion de prévention. Au niveau des conséquences juridiques qui en découlent, l’État non seulement doit redresser le défaut de diligence mais, si ce défaut persiste, doit également mettre fin à la conduite de l’activité qui, en ces circonstances, correspond à l’événement préju-diciable objet de la norme. Bien entendu, tout dommage qui en ré-sulte fonde un devoir d’indemnisation, puisque produit à partir d’une situation d’illicéité, mais il ne constitue pas pour autant un élément intrinsèque de l’obligation de prévention nécessaire pour qu’il y ait violation de celle-ci.

Pour partir d’un schéma du droit international coutumier, on s’ac-corde à reconnaître que « l’obligation générale qu’ont les États de veiller à ce que les activités exercées dans les limites de leur juridic-tion ou sous leur contrôle respectent l›environnement dans d›autres États … »157 reflète le principe de base du droit international de l’en-vironnement. Il exprime une obligation qui commande l’exercice de la diligence due à une fin de prévention. Mais l’événement que l’État doit empêcher n’est pas le fait dommageable. L’objet de la norme est, au contraire, la manière dont l’activité susceptible de causer des

157 Licéité de la menace ou de l’emploi d’armes nucléaires, avis consultatif, C.I.J. Recueil 1996 (I), 242, para.29.

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dommages transfrontières importants est menée. Ainsi, la diligence due étant situé au regard des modalités de conduite d’une telle acti-vité, l’événement que l’État est obligé de prévenir est l’exercice de l’activité en méconnaissance de la diligence. Si, comme c’est le cas, l’obligation coutumière de procéder à une évaluation de l’impact sur l’environnement lorsque une activité projetée risque d’avoir un impact transfrontière important est constitutive de la diligence due, la réalisation d’un tel ouvrage en l’absence d’une telle mesure em-porte, à la fois, le comportement fautif de l’État et la réalisation de l’événement objet de l’obligation de prévention. Ainsi, il y a non seulement violation de l’obligation internationale relative à l’étude d’impact et, de ce fait, de la diligence due, mais aussi de l’obligation de prévention. Le fait illicite comprend ainsi l’événement concrète-ment réalisé dont l’État était obligé d’empêcher la survenance. Étant donné que « la réparation doit, autant que possible, effacer toutes les conséquences de l’acte illicite et rétablir l’état qui aurait vraisembla-blement existé si ledit acte n’avait pas été commis »158, la mise en œuvre de l’activité doit être interrompue, jusqu’à ce que les mesures de diligence soient adoptées, et, le cas échéant, tout préjudice phy-sique qui en résulte indemnisé.

Les dispositions conventionnelles, quant à elles, se conforment au droit international général. À titre illustratif, l’article 2, paragraphe 1, de la Convention d’Espoo159 commande l’adoption, « individuelle-ment ou conjointement, [de] toutes mesures appropriées et efficaces pour prévenir, réduire et combattre l›impact transfrontière préjudi-ciable important ».160 Il est vrai que la règle ainsi formulée paraît imposer une obligation d’exercer la diligence indépendamment d’un événement que l’État devrait empêcher. On pourrait ainsi la ranger à coté des obligations autonomes qui commandent l’adoption d’un certain comportement spécifique, telles les obligations directes et procédurales. La seule différence serait le caractère a priori indé-terminé des mesures commandées par celle-là. Mais en l’espèce, 158 Usine de Chorzów, C.P.J.I., Série A, No. 17, 1928, p. 47.

159 Convention sur l’évaluation de l’impact sur l’environnement, supra n. 45.

160 Article 2 (1), Ibid.

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d’autres dispositions densifient le contenu de ces mesures, en impo-sant, inter alia, un devoir de notification161 et un devoir de réalisation de l’évaluation de l’impact162 de l’activité relevant du champ d’appli-cation de la Convention.

Or, l’application in concreto de la Convention a révélé que la dili-gence due s’insère également dans une obligation qui vise à préve-nir un évènement donné, en l’occurrence l’exercice d’une activité en méconnaissance des mesures de diligence. L’Affaire du canal de Bystroe a permis au Comité d’application de la Convention, suite à un défaut de diligence et à la réalisation concrète de l’évènement que l’Ukraine devait empêcher, d’établir les conséquences de la violation de l’obligation de prévention. Tout en laissant de coté l’examen des préjudices physiques à l’environnement, alors même que la mise en place de l’activité susceptible d’en produire n’était pas achevée, il a conclu que « l’Ukraine … en n’initiant pas de procédure transfron-tière … a fait obstacle à l’exercice de l’obligation qui lui incombait d’empêcher la phase I du projet d’avoir un impact environnemental transfrontière préjudiciable important ».163

Ainsi, l’examen de la pratique confirme que la mise en œuvre de la responsabilité internationale pour défaut de diligence est indépendante de la réalisation d’un préjudice physique à l’environnement. D’une part, l’existence de la diligence due sous forme d’obligations auto-nomes implique la possibilité que l’État violateur soit appelé à ré-pondre de leur violation indépendamment de la méconnaissance d’une obligation de prévention d’un événement dommageable. D’autre part, le concept de diligence due étant situé à l’intérieur d’une l’obligation de « faire en sorte » qu’une activité ne cause pas de dommage, son intervention s’anticipe sur le préjudice physique à l’environnement et détermine les conditions de licéité de l’activité. Puisque ce sont les modalités de mise en œuvre de l’activité à risque le véritable objet de la norme de prévention, le non respect des conditions de la dili-gence due accompagné par la mise en œuvre de celle-ci implique la 161 Article 3, Ibid.

162 Article 4, Ibid.

163 Conclusions et recommandations concernant l’Ukraine, supra n. 47, para. 48.

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violation d’une telle obligation de prévention, indépendamment des conséquences dommageables physiques qui peuvent en découler.

V. Conclusion

Il n’est pas surprenant qu’en droit international de la protection de l’environnement, le concept de diligence due soit employé pour signifier à la fois les mêmes et de différents phénomènes, et parfois ne soit pas employé du tout. Dans la version anglaise des commen-taires au projet d’articles sur la prévention des dommages transfron-tières résultant d’activités dangereuses164, la Commission du droit international, en soulignant l’importance de la notion de prévention, introduit l’expression « due diligence » à l’appui d’une conjonction alternative dans la formule « [d]ischarge of the duty of prevention or due diligence ».165 Par ailleurs, alors que le concept lui-même ne figure pas expressément dans le texte des articles, il est évoqué non pas pour signifier cette obligation générale de prévention, mais pour qualifier sa nature : « [t]he obligation of the State of origin to take preventive or minimization measures is one of due diligence ».166

En quelque sorte ces hésitations terminologiques, bien qu’indica-tives de certains aspects inhérents à l’idée de diligence due et de sa relation avec un devoir de prévention, contournent une question qui ne paraît pas avoir été posée jusqu’ici : celle de la correspondance, ou de l’adaptation, dans un domaine où l’État peut lui-même participer licitement à la création d’un dommage en puissance, d’un concept dont le champ d’intervention a toujours présupposé, simultané-ment, d’une part, la survenance d’un dommage physique réel et, de l’autre, la constatation de l’insuffisance d’un comportement de l’État à l’égard d’actes de particuliers contraires au droit international. Pourtant, s’il demeure vrai que le concept de diligence due ait fait son entrée au sein de la Commission du droit international, en 1957, 164 YILC, vol. II (2) (2001), 148-170.

165 Ibid., 148. En français : « s’acquitter du devoir de prévention ou de diligence », ACDI, vol II (2) (2001), 159.

166 Commentaire à l’article 3, YILC, vol. II (2) (2001), 154.

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dans la tentative du Rapporteur spécial García Amador de codifier la responsabilité de l’État à raison des dommages causés sur son terri-toire à la personne ou aux bien des étrangers167, c’est dans le projet abouti en 2001 sur la prévention des dommages transfrontières168 – en théorie distinct du problème de la responsabilité – que le concept de diligence due a étendu ses racines. Au-delà des préoccupations de la première moitié du XXème siècle relatives au droit de la neutralité et à la protection des étrangers, il était question des risques posés à l’environnement par les activités industrielles et technologiques. En raison de la difficulté marquée par les États de dissocier tout devoir de réparation de l’illicéité, la Commission du droit international a entendu détailler des mesures préventives, sous forme d’obligations internationales primaires, s’inscrivant dans le cadre d’un « devoir de diligence »169 aux fins de la prévention des dommages transfrontières.

En pratique, un pas est franchi dans le sens de l’expansion du champ d’opération du concept de diligence due aux rapports interétatiques pour la protection environnementale.170 Pourtant, la Commission semblait encore attacher à la notion de diligence l’idée traditionnelle d’un comportement de l’État qui se manifeste et s’applique stricte-ment de manière unilatérale.171 Il s’agit là d’une approche limitée du concept qui se confond avec une diligence propre aux besoins tradi-tionnels de surveillance d’actes menés par des personnes soumises à la juridiction de l’État.172 Il s’avère, cependant, que « [l]’obligation générale qu’ont les États de veiller à ce que les activités exercées

167 Voir García Amador, F., « Responsabilité internationale : Rapport », ACDI, vol. II (1956), 175-231.

168 Projet d’articles sur la prévention, supra n. 103.

169 « Le devoir de diligence constitue la norme de base de la protection de l’environnement contre les dommages » Commentaires au projet d’articles sur la prévention, ACDI, vol. II (2) (2001), 165.

170 « La notion de diligence due prend de plus en plus d’importance et dépasse le cadre des préjudices subis par des étrangers sur le territoire d’un autre État » Rao, P. S., « Deuxième rapport … », A/CN.4/501, para. 10.

171 « [Pour] s’acquitter du devoir de diligence … les États sont tenus de prendre des mesures unilatérales pour prévenir les dommages transfrontières significatifs … [qui] trouvent leur expression dans la législation et les règlements administratifs » ACDI, vol. II (2) (2001), 166.

172 Voir Anzilotti, D., « La responsabilité internationale des États à raison des dommages soufferts par des étrangers », RGDIP, t.13 (1906), 7.

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dans les limites de leur juridiction ou sous leur contrôle respectent l’environnement dans d’autres États »173, telle que révélée par la pra-tique internationale, a situé le devoir d’exercer la diligence par rap-port à la mise en œuvre d’une activité à risque et non pas en rapport avec le dommage. L›aspect proactif de cette approche focalisée sur la prévention du seul risque affecte le champ d’incidence et la fonction du concept de diligence due. L’État lui-même peut devenir licitement l’auteur d’un fait qui s’avère dommageable pourvu que la diligence ait été respectée dans la gestion du risque. Et l’activité susceptible de conséquences préjudiciables – et seulement par voie indirecte le comportement étatique – devient l’objet dont la licéité dépend des mesures constitutives de la diligence due.

Il en est ainsi qu’aux « insuffisances propres aux règles tradition-nelles de la diligence due », conformément à l’expression du Pro-fesseur Pierre-Marie Dupuy174, s’ajoute l’insuffisance des règles de la diligence due traditionnelle. En effet, ce que cet auteur appelle « standardisation » de la responsabilité internationale pour fait il-licite175, en tant que mouvement répondant à cette insuffisance, ne touche que l’une des dimensions du concept : celui du contenu et de l’exécution par l’État des règles édictées dans son propre ordre juridique. Or, en présence d’un risque de dommage écologique à la production duquel l’État peut directement contribuer, s’il est vrai que l’État ne sera tenu d’en réparer les conséquences que s’il n’a pas fait preuve de diligence due, la détermination du respect de son devoir de prévention ne peut pas à bon droit dépendre exclusivement de l’exis-tence et de l’exécution des dispositions règlementaires au niveau du droit national. Ainsi, l’analyse de l’évolution du concept de dili-gence, pour qu’elle puisse embrasser toutes les manifestations nor-matives qui en découlent et propres à son intervention dans le droit international de l’environnement, doit s’emparer non seulement de la densification technique du contenu des normes de l’État eu égard à

173 Projet Gabčikovo-Nagymaros, supra n. 3, para. 53; Licéité de la menace ou de l’emploi, supra n. 156.

174 Dupuy, P.-M., op. cit. (1976), 261.

175 Ibid., 259-274.

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son ordre juridique, mais aussi de l’émergence d’obligations interna-tionales primaires à la charge de l’État souverain vis-à-vis ses pairs et, en dernière analyse, la communauté internationale.

Ce n’est pas dire, pourtant, que cette expansion du champ d’inter-vention du concept de diligence due, ainsi que les conséquences nor-matives qui en ont résulté, soient le résultat d’un choix conscient, d’une prise de conscience collective de l’importance de l’adoption ou du renfort de mesures préventives dans la protection environne-mentale ou, à l’inverse, des considérations d’ordre pragmatique dans la limitation de la responsabilité internationale en fonction des be-soins du développement à l’abri de la souveraineté. Il semble être le résultat d’une nécessité posée par la structure même de la société internationale, par ses nouvelles possibilités d’activité à répercussion transfrontière et par les changements correspondants des besoins relationnels, de la coexistence vers la coopération. Le concept de diligence due est à l’intérieur de ce phénomène normatif. Pour em-prunter les termes de Wolfgang Friedmann sur les finalités de l’ordre juridique international176, le concept de diligence due est en quelque sorte le dénominateur commun relevant du passage, en vertu des spé-cificités du droit international pour la protection environnementale et des besoins de concertation au vu de la réalisation d’objectifs com-muns, de la « diligence due de la coexistence » à la « diligence due de la coopération ».

176 Friedmann, W., The changing structure of international law (London : Stevens & Sons, 1964), 410 p.

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DECISÕES E OPINIÕES CONSULTIVAS DA

CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA

EM 2011

Coordenação Geral de Pesquisas: Leonardo Lima Naranjo

Pesquisadores:

Maria Walkiria De Faro Coelho Guedes Cabral (Coordenadora)FábioMartins

Lúcia Maria Brito deOliveiraMaitê de Souza Schmitz

Nathalie Machado

1) Caso concernente às imunidades jurisdicionais do Estado. Alemanha versus Itália - Intervenção da Grécia em 17 de ja-neiro de 2011. (Lúcia Maria Brito de Oliveira e Maitê de Souza Schmitz)

O litígio teve início em 2008, após tribunais domésticos italianos terem decidido julgar a Alemanha em ações cíveis nas quais vítimas do Reich alemão solicitavam reparação pelos danos sofridos durante a II Guerra Mundial1. Além de julgar e condenar a Alemanha a pagar

1 Em 11 de março de 2004, a Corte de Cassação italiana decidiu ao analisar o caso Ferrini ajuizado em 1998 que não havia imunidade do Estado alemão e que, portanto Luigi Ferrini tinha direito a reparações por haver sido deportado em 04 de agosto de 1944 por soldados nazistas para um campo

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reparações a vítima de trabalhos forçados, a justiça italiana permi-tiu a hipoteca de propriedade do governo alemão em consequência da homologação de sentença proferida na Grécia2, a qual também condenava a Alemanha a reparar civis por danos decorrentes do mas-sacre em Distomo, ocorrido em junho de 1944. A Alemanha alegou que a Itália violou sua obrigação de respeitar a imunidade do Estado, prevista no direito internacional, ao permitir: i) o julgamento de casos pelo seu judiciário contra o Estado alemão; ii) a constrição de propriedades do governo da Alemanha; e iii) a ho-mologação de sentenças da justiça grega que condenavam o Estado alemão. A Itália, por sua vez, aduzia que a imunidade do Estado seria afastada nos processos judiciais em que indivíduos solicitam repa-rações por graves violações de direitos humanos. Não chegou a de-fender a legalidade, porém, da hipoteca contra o imóvel do governo alemão, a qual, aliás, já estava suspensa, por meio de decreto, desde o início da demanda na Corte Internacional de Justiça (CIJ). A Grécia havia apresentado requerimento de intervenção, nos ter-mos do art. 62 do Estatuto da CIJ, em 13/01/2011. Diferentemente do que ocorreu nos recentes pedidos de intervenção formulados por Costa Rica e Honduras no caso Nicarágua v. Colômbia,3 não foram realizadas audiências sobre a questão na presente demanda, uma vez que nenhuma das Partes do litígio manifestou objeções à intervenção da Grécia (art. 84.2 do Regulamento da CIJ)4. Enquanto a Itália enfa-de concentração onde foi obrigado a realizar trabalhos forçados para a indústria de armamentos nazista.

2 Vítimas de um massacre perpetrado em 10 de junho de 1944 contra 218 mulheres, crianças e idosos na cidade grega de Distoimo pelas forças de ocupação alemãs.

3 Nicarágua v. Colômbia, Julgamentos nos Pedidos de Intervenção da Costa Rica e de Hon-duras, 04/05/2011.

4 Art. 84.2. “If, within the time-limit fixed under Article 83 of these Rules, an objection is filed to an application for permission to intervene, or to the admissibility of a declaration of interven-tion, the Court shall hear the State seeking to intervene and the parties before deciding.”

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329Jurisprudência da Corte Internacional de Justiça em 2011

tizou que caberia à CIJ determinar se haviam tinham sido cumpridos os requisitos do art. 62 do Estatuto, a Alemanha - apesar de não ob-jetar formalmente o requerimento grego - levantou vários argumentos contrários à possibilidade de intervenção da Grécia no presente caso. Em Ordem datada de 04/07/2011, a Corte Internacional de Justiça concedeu o pedido de intervenção da Grécia no caso. A Corte recordou, em sua decisão, processos cíveis contra a Alemanha iniciados por cidadãos gregos, familiares de vítimas de crimes cometidos por forças nazistas durante a II Guerra Mundial. Em um dos casos, relativo ao massacre ocorrido em Distomo (junho de 1944), a Corte Suprema Helênica (Areios Pagos) determinou o pagamento de compensação aos familiares das vítimas, o que, toda-via, não pode ser executado na Grécia por ausência de autorização do Ministro da Justiça - requisito necessário para implementar decisões judiciais contra Estados estrangeiros no direito grego. Os cidadãos gregos recorreram à Corte Européia de Direitos Humanos, a qual, em 2002, considerou inadmissíveis os pedidos dos autores, com base no princípio da imunidade do Estado. Os tribunais italianos, porém, autorizaram a execução, na Itália, das decisões das cortes gregas con-tra a Alemanha, a qual, por sua vez, contesta tal medida na presente demanda perante a Corte Internacional de Justiça. Uma vez que a Grécia solicitou intervir como não-parte (ou seja, a decisão da CIJ não vinculará o Estado grego), bastava comprovar que interesses seus de natureza jurídica poderiam ser afetados pela decisão do caso principal. A Corte concluiu que, no julgamento da demanda principal, poderá ser necessário considerar as decisões dos tribunais gregos no “caso Distomo”, à luz do princípio da imuni-

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dade do Estado, a fim de avaliar se a Itália de fato violou tal norma ao permitir a execução das referidas decisões em seu território. Por esta razão, por quinze votos a um (dissidente o Juiz Giorgio Gaja, ad hoc indicado pela Itália), a CIJ autorizou a Grécia a intervir como não-parte, e limitou a participação grega aos aspectos referentes às decisões de seus tribunais domésticos no “caso Distomo”. O Juiz Gaja, em sua Declaração de Voto, afirmou que a Grécia não teria interesse jurídico na questão referente à possibilidade de execução de julgamentos emanados de seus tribunais nas cortes itali-anas. Para o Juiz ad hoc, como não existe regra de direito internacio-nal que obrigue a Itália a executar as decisões dos tribunais gregos, tal medida estaria no âmbito exclusivo da discricionariedade do Es-tado italiano, sobre a qual a Grécia não poderia ter interesse. Curiosa-mente, tal argumentação aproxima-se daquela defendida pela própria Alemanha, em suas observações escritas ao pedido de intervenção grego. O Juiz brasileiro Cançado Trindade, que votou com a maioria, apensou Voto em Separado à Ordem relativa ao pedido de interven-ção, no qual explicita seu posicionamento nesta questão. Em linha com votos anteriores - tanto na Corte Internacional de Justiça5 quanto na Corte Interamericana de Direitos Humanos -, e em consonância com seus escritos acadêmicos,6 o Juiz brasileiro enfatiza o papel do indivíduo como sujeito do direito internacional, titular, portanto, de direitos e obrigações nesta esfera. A partir desta premissa, assevera que a imunidade do Estado não constitui conceito estático, devendo

5 Ver, e.g., Voto Separado no Caso “Diallo” (República da Guiné v. República Democrática do Congo), Julgamento de Mérito, 30/11/2010.

6 Ver, e.g., CANÇADO TRINDADE, Antonio Augusto. The Access of Individuals to Inter-national Justice. New York: Oxford University Press, 2011.

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reajustar-se ao direito das gentes contemporâneo. Afirma, nesse sentido, que “State immunity and the fundamental rights of the hu-man person are not to exclude each other, as that would make im-munity unacceptably tantamount to impunity”. Coincidentemente, a Ordem da Corte Internacional de Justiça foi adotada dois dias antes de julgamento da Corte Europeia de Di-reitos Humanos no caso Sfountouris e outros v. Alemanha7, em que sobreviventes do massacre de Distomo buscavam invalidar decisão de tribunais alemães que lhes negaram o pagamento de compensa-ção. A Corte Europeia considerou, por maioria, inadmissível a de-manda dos cidadãos gregos, por entender que inexiste fundamento, seja no direito internacional, seja no direito alemão, que obrigue o pagamento de compensação neste caso. No mérito, a Corte Internacional de Justiça, em 03 de fevereiro de 2012, decidiu favoravelmente à Alemanha. A decisão da Corte analisou em detalhes a questão das imunidades, no que poderia ser visto como uma tentativa de elucidar o direito internacional na matéria e de fechar as portas para outras teorias nesta área. A Corte, inicialmente, esclareceu que o litígio refere-se exclusivamente à eventual violação, pela Itália, das imunidades de jurisdição e de ex-ecução da Alemanha, e não tem como objetivo julgar as ações per-petradas pelas forças nazistas, cuja ilegalidade sequer era contesta-da pelas Partes. De fato, ao longo do texto do julgamento, os juízes majoritários procuraram afastar as regras substantivas (referentes às graves violações de direitos humanos durante a II Guerra Mun-dial) daquelas processuais (relativas às imunidades), e ressaltar que os crimes perpetrados naquele período “somente poderiam ser de-

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scritos como um completo desrespeito às considerações básicas de humanidade”.8 A Corte afirma, nesse contexto, que não há dúvidas de que os assassinatos em massa, as deportações para trabalho escravo e os trabalhos forçados cometidos pelo Reich alemão já consistiam violações graves do jus in bellum (direito internacional aplicável a conflitos armados) entre 1943-1945, quando foram cometidos. Com relação à imunidade, tanto Itália quanto Alemanha con-cordavam que não se trata de mera cortesia entre Estados, mas sim de matéria governada pelo direito internacional. Uma vez que ne-nhuma das Partes havia assinado a Convenção das Nações Unidas sobre a Imunidade Jurisdicional dos Estados9 de 2004 (a qual, de todo o modo, ainda não está em vigor), a CIJ passou a analisar as normas costumeiras sobre o tema. Para tal, como de praxe, inves-tigou a prática dos Estados e a opinio juris (crença dos Estados de que determinada prática é exigida e protegida pelo direito e não por outras considerações) em relação às regras de imunidade. Destacou, ademais, que já em 1980 a Comissão de Direito Internacional (CDI) da ONU concluíra que a imunidade dos Estados era adotada como regra geral de direito costumeiro. Conquanto as Partes não contestassem a importância da imuni-dade dos Estados no direito costumeiro, a divergência se apresen-tava quanto ao escopo e extensão de tal norma. A Corte recordou a já corrente distinção entre atos soberanos (acta juri imperii) e atos de gestão (acta juri gestionis), presente na hoje predominante teoria da imunidade jurisdicional relativa dos Estados. Os atos das forças armadas e órgãos alemães que deram ensejo aos processos na Itália

8 Julgamento de Mérito, 03/02/2012, parágrafo 52.

9 02 de dezembro de 2004.

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seriam, segundo a CIJ, atos soberanos, e, como tal, estariam protegi-dos pelas regras de imunidade do Estado. A Corte afastou o argumento italiano de que a imunidade por atos soberanos não se estenderia a ações judiciais de responsabili-dade civil relativas a danos pessoais, morte ou danos à propriedade ocorridos no território do país que busca exercer jurisdição sobre o Estado estrangeiro. Tal possibilidade, prevista no art. 12 da Conven-ção da ONU de 2004, não seria aplicável, conforme afirmou a Corte, a atos cometidos pelas forças armadas de determinado Estado no curso de um conflito armado. Dentre as decisões judiciais de tribu-nais nacionais, a ela citou, inclusive, sentença da justiça brasileira – a qual não era emanada de tribunais superiores, mas de juízo de primeira instância no Rio de Janeiro. Assim, sem precisar detalha-damente seus critérios, a CIJ passou a elencar precedentes de tribu-nais domésticos com o fim de comprovar que o direito internacional costumeiro continua a prever a imunidade do Estado em processos judiciais relativos a danos causados por forças armadas ou outros órgãos do Estado no curso de um conflito armado. Tampouco foi acolhido o segundo argumento da Itália, de que a gravidade das ações perpetradas impediria a aplicação das normas de imunidade de jurisdição. Para a Corte, o direito internacional costumeiro não se desenvolveu a ponto de afastar a imunidade do Estado, mesmo em caso de graves violações de direitos humanos e do jus in bellum. Além de fazer referência a leis e decisões judiciais de diversos países, a Corte citou ainda famoso precedente da Corte Europeia de Direitos Humanos (Al Adsani v. Reino Unido10, 2001), que, por estreita maioria (9 a 8), concluiu que os Estados mantêm a

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imunidade perante tribunais estrangeiros, ainda que em processos nos quais vítimas de tortura buscam reparações. A Corte esclareceu, ademais, que suas conclusões neste ponto não afetam eventual dis-cussão sobre a imunidade de Chefes de Estado em processos penais – tema, aliás, que tem sido recorrente no âmbito do Tribunal Penal In-ternacional (no caso de jurisdição internacional),11 e que foi discutido pela CIJ no caso Arrest Warrant (no caso de jurisdição doméstica).12

A CIJ não chega a afirmar categoricamente que as ações do Reich alemão mencionadas no presente caso, como uso de trabalho escravo e assassinatos em massa, teriam violado normas de jus cogens (para as quais não se permite derrogação), mas parece indicar nesse sen-tido. Afirma, contudo, que inexiste conflito entre, de um lado, o jus cogens(substantivo) e, de outro, a imunidade (procedimental), razão pela qual a violação de normas peremptórias não teria como conse-quência o afastamento da imunidade do Estado. A Corte acrescenta que o direito internacional não contém regra não derrogável “que exija o pagamento de compensação integral a toda e qualquer vítima individual”13de crimes de guerra, o que inviabilizou a tese italiana de que o direito à reparação se sobrepunha à imunidade do Estado. Os magistrados concluem, portanto, que mesmo sob a presunção de que as ações julgadas pelos tribunais italianos tivessem envolvido viola-ções de jus cogens, a aplicação da norma costumeira da imunidade do

11 Sobre imunidades de Chefes de Estado em jurisdição internacional, ver TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL, Decisão conforme Artigo 87(7) do Estatuto de Roma atinente à recusa da República do Chade em cumprir com os pedidos de cooperação emitidos pelo Tribunal em relação à detenção e entrega de Omar Hassan Ahmad Al Bashir, 13/12/2011; TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL, Decisão conforme Artigo 87(7) do Estatuto de Roma atinente à falha da Re-pública do Malawi em cumprir com os pedidos de cooperação emitidos pelo Tribunal em relação à detenção e entrega de Omar Hassan Ahmad Al Bashir, 12/12/2011.

12 República Democrática do Congo v.Bélgica, Julgamento de Mérito, 14/02/2002.

13 Julgamento de Mérito, 03/02/2012, parágrafo 94.

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Estado não seria afetada. O julgamento reconhece que, no caso de alguns italianos, não haveria outro meio de obter compensação pelas violações de direitos humanos sofridas durante a II Guerra Mundial. A Corte afirma, nesse contexto, que “it is a matter of surprise – and regret – that Germany decided to deny compensation to a group of victims on the ground that they had been entitled to a status which, at the relevant time, Germany had refused to recognize.”14Refere-se, assim, aos pedidos de compensação formulados na Alemanha, que foram rejeitados nos casos de vítimas qualificadas como prisioneiros de guerra, condição esta que não lhes havia sido reconhecida durante a II Guerra. A Corte ressalta, porém, que a responsabilidade do Estado pelo descumpri-mento do direito internacional – e o consequente dever de reparar – é questão distinta daquela relativa às imunidades. Uma vez que a própria CIJ negou a reconvenção italiana,15 cujo objeto consistia em requerimento à Alemanha de reparação por tais violações, parece evidente que inexistem remédios jurídicos alternativos para que as referidas vítimas obtenham algum tipo de reparação. A Corte sugere, neste ponto, que os pedidos referentes ao tratamento de nacionais italianos pelas forças nazistas entre 1943-1945 sejam tratados em negociações futuras entre Alemanha e Itália. Com base nas conclusões supracitadas, a CIJ decidiu, por 12 vo-tos a 3 (dissidentes os juízes Cançado Trindade – Brasil, Abdulqawi Yusuf – Somália, e ad hoc Giorgio Gaja – Itália), que a Itália violou sua obrigação de respeitar a imunidade do Estado alemão ao permitir o julgamento de ações cíveis fundamentadas em violações do direito

14 Id., parágrafo 99.

15 Ordem de 06/07/2010

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internacional humanitário cometidas pelo Reich alemão entre 1943 e 1945. Tendo prevalecido a imunidade do Estado neste que era o ponto mais controverso, as demais decisões da Corte Internacional de Justiça – referentes à imunidade de execução e à homologação de sentença estrangeira – foram adotadas por 14 votos a 1 (dissidente o juiz Cançado Trindade). A Corte Internacional de Justiça recordou que a imunidade de execução (a qual impede medidas de constrição contra bens do Gov-erno estrangeiro) é ainda mais abrangente do que a imunidade de jurisdição. Mesmo que um julgamento tenha corretamente afasta-do a imunidade de jurisdição do Estado (como nos casos de atos de gestão), não se desconsidera, automaticamente, a imunidade de execução usufruída pelos Estados em relação às suas propriedades localizadas em território estrangeiro. A imunidade de execução se estenderia tanto a atos soberanos quanto a atos de gestão, e permitiria medidas de constrição apenas contra bens utilizados para atividades não governamentais (comerciais, por exemplo). Com relação à homologação da decisão das cortes gregas na Itália, a Corte Internacional de Justiça afirmou não haver nada que impeça tribunais nacionais de se assegurarem, antes de reconhecer a decisão judicial estrangeira, de que esta não foi emanada em violação às regras de imunidade. A Corte esclareceu, todavia, que não cabia, no presente caso, avaliar se os tribunais gregos violaram o direito internacional ao julgar a Alemanha, mesmo porque a Grécia não era Parte na demanda. A questão se resumiria, portanto, a verificar se as cortes italianas respeitaram a imunidade do Estado alemão ao per-mitir a homologação da sentença grega pelo seu judiciário. A res-posta, como era de se esperar, foi negativa.

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Para a Corte, o tribunal italiano que homologou a decisão ju-dicial grega deveria ter avaliado se a Alemanha teria imunidade de jurisdição na própria Itália, tendo como base a natureza da demanda iniciada na Grécia. Nessecontexto, a CIJ afirmou, como regra ger-al, que o tribunal que avalia a homologação de sentença estrangeira “has to ask itself whether, in the event that it had itself been seized of the merits of a dispute identical to that which was the subject of the foreign judgment, it would have been obliged under international law to accord immunity to the respondent State”16. Embora a Corte Internacional de Justiça não pudesse decidir quanto à legalidade da própria ação dos tribunais gregos, toda a argumentação desse ponto leva à conclusão de que a Grécia também teria violado a imunidade jurisdicional da Alemanha no presente caso. A Corte busca, talvez com pouco êxito, afastar essa impressão ao afirmar que se trata de questões independentes, e que a decisão do tribunal grego poderia ter se dado em conformidade com o direito internacional se, por ex-emplo, a Alemanha tivesse consentido com o exercício da jurisdição. Não era esse o caso, como se evidenciava não apenas pelas provas contidas no processo, mas pela própria lógica subjacente ao conten-cioso na CIJ. A Corte Internacional de Justiça determinou, como consequên-cia da violação do direito internacional, que a Itália deverá adotar legislação (ou outras medidas que julgar cabíveis) com vistas a fazer cessar os efeitos das decisões judiciais que violaram a imunidade da Alemanha. A decisão inclui não apenas os julgamentos de mérito, mas destina-se, sobretudo, às medidas de constrição adotadas pela Itália contra propriedades alemãs situadas em território italiano, as

16 Julgamento de Mérito, 03/02/2012, parágrafo 130.

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quais deverão deixar de ter efeito. O juiz Cançado Trindade, em seu voto dissidente, criticou a de-cisão e os argumentos adotados pela Corte Internacional de Justiça no presente litígio. A seu ver, a imunidade dos Estados não poderia ser analisada no vácuo, mas sim em conexão com os fatos que deram origem ao processo no qual esta é invocada. Por conseguinte, haveria na prática um conflito entre o direito humano de acesso à justiça (que deveria prevalecer, sobretudo face a crimes internacionais) e a norma costumeira de imunidade do Estado. Para o magistrado brasileiro, graves violações de direitos humanos e do direito humanitário af-astariam eventuais obstáculos à jurisdição impostos pelas regras de imunidade quando se tratasse de pedidos de reparação pelas vítimas de tais atrocidades. O juiz brasileiro retoma o conceito de “crime de Estado”, que chegou a estar presente em versões mais antigas dos Artigos da Comissão de Direito Internacional (CDI) sobre responsabilidade do Estado,17 e que substanciou alguns de seus votos quando membro da Corte Interamericana de Direitos Humanos.18 Cançado Trindade vê como uma incongruência (“absurdo jurídico”) o afastamento da imu-nidade do Estado em casos de relações comerciais ou de acidentes de carro (já aceito como costume internacional), e a sua manutenção face a graves violações de direitos humanos e de direito humanitário. Crimes internacionais cometidos por entes estatais não constituiriam,

17 Pode-se dizer que Roberto Ago, um dos relatores do tópico sobre responsabilidade dos Estados na CDI, introduziu o conceito de crimes de Estado na agenda da Comissão. Ele, que já tinha defendido a propriedade dessa abordagem em seu curso da Haia, em 1939, foi quem propôs, em 1976, a redação do artigo 19 do projeto de artigos que continha a distinção entre crimes e delitos internacionais.

18 Ver, e.g., CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Goiburú y Otros v.Paraguay, 22 de setembro de 2006. Voto do Juiz Antonio Augusto Cançado Trindade. Parágrafo 40 e seguintes.

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nessa linha, atos soberanos ou de gestão, mas “delicta imperii”, para os quais não haveria imunidade. A presente decisão da Corte Internacional de Justiça, que pela primeira vez toca tão detalhadamente na questão da imunidade do Estado, constitui precedente relevante, na medida em que esclarece a posição daquele tribunal sobre tema corrente nos sistemas jurídicos dos países. Em muitos aspectos, a linha argumentativa se aproxima daquela adotada pelo Supremo Tribunal Federal brasileiro em processos ati-nentes à imunidade do Estado estrangeiro. Quanto à jurisdição ex-ecutória, a Corte Internacional de Justiça chega a ir além de posição tradicional que privilegia a imunidade absoluta, ao sugerir ser pos-sível adotar medidas de constrição contra bens estrangeiros, contan-to que estes sejam especificamente utilizados para atividades com propósitos outros que governamentais não-comerciais, em linha com o disposto na Convenção das Nações Unidas de 2004.

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lia). Julho de 2011. http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=2&case=143&code=ai&p3=4INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Application for Per-mission to Intervene sumitted by Hellenic Republic (Alemanha versus Italia). Janeiro de 2011. http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=2&case=143&code=ai&p3=0INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Application by the Hel-lenic Republic for Permission to Intervene (Alemanha versus Ita-lia). Julho de 2011. http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=2&case=143&code=ai&p3=0INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Written observations of the Federal Republic of Germany on the Application for per-mission to intervene filed by Greece (Alemanha versus Italia). Mar-ço dde 2011. http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=2&case=143&code=ai&p3INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Counter-Memorial of Italy (Chapter VII (“Counter-Claim “) and Submissions) (Ale-manha versus Italia). Dezembro de 2009.http://www.icj-cij.org/do-cket/index.php?p1=3&p2=2&case=143&code=ai&p3=11INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Judgment of 3 Febru-ary 2012. (Alemanha versus Italia). Fevereiro de 2012. http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=2&case=143&code=ai&p3=4

2) Caso relativo às atividades da Nicaragua na fronteira com a Costa Rica (Costa Rica v. Nicaragua) – Ordem de Medidas Cau-telares de 8 de março de 2011 - (Lucia Maria Brito de Oliveira e Maite de Souza Schmitz)

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No dia 18 de novembro de 2010, a República da Costa Rica peti-cionou junto à Corte Internacional de Justiça (CIJ) contra a Repúbli-ca da Nicarágua por alegada “incursão no território costarriquenho pelo exército nicaraguense que o ocupa e o utiliza em parte, bem como violações pela Nicarágua de obrigações devidas à Costa Rica”, fulcradas em uma série de convenções e tratados internacionais. A Costa Rica firmou em seu pedido que o envio de contingentes, assim como o estabelecimento de acampamentos militares em seu território, consistiria flagrante violação, pela Nicarágua, do regime fronteiriço estabelecido entre os dois países. Consistiria também, acrescentou, desrespeito aos princípios da integridade territorial e da proibição do recurso à ameaça ou ao emprego do uso da força, previstos tanto na Carta das Nações Unidas (artigo 2 parágrafo 4) quanto na Carta da Organização dos Estados Americanos (artigos 1º e 19). Cabe destacar que em dois incidentes distintos a Costa Rica acu-sa a Nicarágua de ter ocupado o território costarriquenho: quando da construção de um canal entre o rio San Juan e a lagoa de Los Portillos, também conhecida como Harbour Head, causando danos ao meio ambiente; e quando da realização de certas atividades con-exas de dragagem levadas a cabo no rio San Juan. Segundo o Estado demandante, ambas as atividades afetariam o curso das águas do Rio Colorado e causariam danos ao território inclusive sobre áreas prote-gidas. A Costa Rica fundamentou a sua jurisdição tanto em cláusula compromissória (art. 36.1 do Estatuto da CIJ) contida no Pacto de Bogotá – que tem sido cada vez mais utilizado como base jurisdicio-nal na Corte –, quanto nas declarações unilaterais de ambos os países

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aceitando a jurisdição compulsória do tribunal (“Cláusula Raul Fer-nandes”, art. 36.2 do Estatuto da CIJ). Deve-se sublinhar que a Costa Rica afirma que a Nicarágua tan-to rejeitou todos os pedidos de retirada de seu exército do território “ocupado” quanto recusou qualquer tipo de negociação, acrescendo que a Nicarágua não teria intenção de cumprir a Resolução adotada pelo Conselho Permanente da OEA de 12 de novembro de 2010. Nes-ta resolução, o Conselho Permanente da OEA solicitava a retirada das forças armadas nicaraguenses da região fronteiriça, de modo a evitar a presença de forças armadas ou de segurança na área de con-flito. A Costa Rica solicitou em especial que a Corte Internacional de Justiça diga e julgue que a Nicarágua violou, por seu comportamen-to:

- o território da República da Costa Rica tal como o convencionado e delimitado pelo Tratado de Limites de 1858, o laudo arbitral Cleveland, bem como o primeiro e segundo laudos arbitrais Alexander;

- os princípios fundamentais da integridade territorial e da proibição do uso da força, consagrados pela Carta das Na-ções Unidas e pela Carta da Organização dos Estados Ameri-canos;

- a obrigação, contida no artigo IX do tratado de lim-ites de 1858, de não utilizar o rio San Juan para perpetrar atos hostis;

- a obrigação de não causar danos ao território costar-riquenho;

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- a obrigação de não desviar artificialmente o rio San Juan de seu curso natural sem o consentimento da Costa Rica;

- a obrigação de não proibir a navegação de costar-riquenhos no rio San Juan,e a denão levar a cabo operações de dragagem no rio San Juan se estas atividades tiverem efeito danoso para o território costar-riquenho (incluso o rio Colorado) de acordo com a sentença Cleveland de 1888 - obrigações estas mencionadas pela própria CIJ em decisão de 2009 no caso sobre a navegação do Rio San Juan

- as normas ambientais contidas na Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas, de 1971;

- a obrigação de não agravar ou estender a disputa quer seja por atos ante a Costa Rica e consistente a aumentar a por-ção invadida e ocupada do território costarriquenho ou pela adoção de qualquer outra medida ou condução de atividades que visassem a atingir a integridade territorial da Costa Rica em violação do direito internacional. Foi solicitado também que fossem determinadas reparações

pela Nicarágua em caso da constatação das violações anteriormente citadas. Também no mesmo dia da apresentação da petição, a Costa Rica apresentou pedido de medidas cautelares tendo por fulcro o ar-tigo 41 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça. A Costa Rica chegou, neste ponto, a sugerir a iminência de um conflito armado, ao afirmar: “the threat of armed conflict will overshadow the proceed-ings before the Court”. Elencou, assim, seis pedidos cautelares: i) a retirada imediata e incondicional de todas as tropas nicaraguen-ses dos “territórios costarriquenhos ilegalmente invadidos e ocupa-

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dos”; ii) a cessação imediata da construção de canal entre o Rio San Juan e a Lagoa Los Portillos; iii) a cessação imediata da derrubada de árvores e da retirada de vegetação e terra do território da Costa Rica; iv) a cessação imediata do depósito de sedimentos no território costarriquenho; v)a suspensão pela Nicarágua do atual programa de dragagem do Rio San Juan; vi) a proibição de atos, pelo Estado de-mandado, que possam agravar a disputa em curso. Nas audiências referentes ao pedido de medidas cautelares, re-alizadas entre 11 e 13 de janeiro de 2011, as Partes repetiram, em grande parte, as equipes de advogados que atuaram na controvérsia anterior entre os dois países, relativa à navegação sobre o Rio San Juan. Figuraram como Agentes da Costa Rica o Chanceler René Cas-tro, o Embaixador da Costa Rica junto à Colômbia, Sr. Edgar Ugalde Álvarez, e o Embaixador junto aos Países Baixos, Sr. Jorge Urbina. Dentre os advogados, destaca-se a presença de James Crawford e Marcelo Kohen pelo lado costarriquenho. A Nicarágua, por sua vez, fez-se representar pelo seu Embaixador junto aos Países Baixos, Sr. Carlos José Argüero Gómez, e contou com a presença, na Delegação, da sua Ministra de Meio Ambiente e Recursos Naturais, bem como dos advogados Alain Pellet e Stephen McCaffrey. Na audiência, fo-ram também apresentados os juízes ad hoc para a presente deman-da: a Costa Rica indicou John Dugard, sul-africano, que atuou como juiz ad hoc em dois casos anteriores; e a Nicarágua indicou Gilbert Guillaume, francês, que foi Presidente da CIJ de 2000 a 2003. Não houve divergências quanto à jurisdição da Corte. O próprio Agente da Nicarágua afirmou, em sua alocução, que seu país sempre teve a intenção de submeter o diferendo com a Costa Rica à Corte da Haia. Recordou, nesse sentido, que o Presidente Ortega já havia

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anunciado publicamente, em 2/11/2010 (antes, portanto, da institui-ção de procedimentos pelo país vizinho), que a Nicarágua iniciaria demanda na CIJ para solicitar, dentre outros, o direito de navegação sobre parte do Rio Colorado na medida necessária para garantir o acesso nicaraguense ao Mar do Caribe, até que a limpeza do Rio San Juan fosse concluída. O Embaixador Argüello Gómez acrescentou, ainda, que “a reação da Costa Rica foi antecipar o inevitável e submeter o caso à Corte”, “em seus próprios termos”, o que limitaria a disputa aos interesses costarriquenhos. Expressou que a Nicarágua estaria preparando um caso contra a Costa Rica, nas linhas anunciadas pelo Presidente Ortega em novembro de 2010, o que de fato ocorreu, em dezembro de 2011. No que tange à discussão quanto à existência de “direito plausí-vel” (requisito para a concessão de medida cautelar), a controvérsia recaiu sobre a natureza da demanda. A Costa Rica seguiu a linha de casos de ocupação territorial, e alegou a utilização ilícita de área so-bre a qual exerceria soberania (“Nicaragua ... a tout simplement pré-tendu inventer ex post factoun différend frontalier inexistant comme ultime recours justificatif de son occupation et utilisation illicites du territoire costarricien”). Apresentou mapas, produzidos por institui-ções oficiais costarriquenhas, nicaraguenses e norte-americanas, os quais incluem a “Isla Portillos” no território da Costa Rica. Expôs, inclusive, mapas submetidos pela Nicarágua à CIJ em 2007 na de-manda sobre navegação no Rio San Juan, nos quais a região em dis-puta é considerada território costarriquenho. A Nicarágua, por sua vez, tentou caracterizar o caso como uma disputa territorial (“a dispute over a swamp of under 3sq km”) e,

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principalmente, como uma controvérsia sobre o uso do Rio San Juan (“the real objective of this dispute is to stop any attempt by Nicaragua to even moderately dredge and clean up the San Juan river”). Buscou demonstrar que os mapas apresentados pela Costa Rica baseavam-se em interpretação antiga do Tratado de Fronteira de 1858 e dos Lau-dos Arbitrais Cleveland e Alexander, a qual não corresponderia mais à realidade local. Alegou, ademais, que o a soberania efetiva sobre a região era exercida, há cerca de um século, pela Nicarágua, sem contestação por parte do país vizinho.

Ambas as Partes apresentaram mapas que incluem a região “ocupada” (conforme a Costa Rica) ou “em litígio” (conforme a Ni-carágua) em seus respectivos territórios, embora a documentação ni-caraguense fosse menos abundante. A linha de defesa da Nicarágua fundamentou-se em interpretação do laudo Alexander segundo a qual a linha fronteiriça recairia no primeiro canal encontrado a partir das águas da Lagoa Harbor Head (“on reaching the waters of Harbor Head Lagoon the boundary line shall turn to the left, or southeast-ward, and shall follow the water’s edge around the harbor until it reaches the river proper by the first channel met”). A Costa Rica buscou demonstrar que a interpretação do laudo apresentada pela Nicarágua jamais havia sido aventada até aquele momento e contrariava a cartografia oficial existente há mais de um século. Ademais, ainda que a situação no local tivesse sido modi-ficada por fatos naturais, como o surgimento de um novo canal, o princípio da estabilidade de fronteiras impediria a alteração da linha fronteiriça, segundo defendido pela Costa Rica em sua réplica. Quanto ao risco de dano irreparável, a Costa Rica sublinhou cinco áreas que poderiam ser atingidas: soberania e integridade territorial;

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ocupação do território; derrubada de árvores por forças estrangeiras; depósito de sedimentos e construção de canal artificial em seu terri-tório; e efeitos da dragagem do Rio San Juan sobre as terras e o meio ambiente da Costa Rica, bem como sobre o fluxo de águas do Rio Colorado. A Nicarágua, inicialmente, destacou que parte dos direi-tos mencionados nesta fase da demanda pela Costa Rica seriam, em realidade, a antecipação de pedidos de mérito. Assim, não caberia à Corte manifestar-se agora a respeito da soberania sobre a região em disputa e, consequentemente, sobre a sua “ocupação”. A Costa Rica apresentou inventário das árvores na região, bem como fotos do desmatamento que teria sido causado pela Nicarágua. Acrescentou que a área ocupada seria o habitat de espécies amea-çadas de extinção, além de ser utilizada por tartarugas marinhas e peixes migratórios. Recordou que, desde 1966, a região faz parte de sítio incluído na Lista de Zonas Úmidas de Importância Internacio-nal da Convenção de Ramsar (1971), razão pela qual a Costa Rica solicitou ao Secretariado da Convenção o envio de missão ao país para avaliar as consequências ambientais que as ações nicaraguenses poderiam causar àquela área. A argumentação costarriquenha, assim, baseou-se fortemente no relatório produzido pela Missão Ramsar para buscar provar a existência de danos irreparáveis aos seus direi-tos sobre a região. A Nicarágua, por sua vez, confirmou a derrubada de espécies vegetais, que teria sido autorizada com base em estudo de impac-to ambiental. Garantiram, porém, que este trabalho está encerrado e que não será derrubada nenhuma outra árvore. O Estado demanda-do buscou desqualificar o relatório da Missão Ramsar, uma vez que os técnicos enviados não foram pessoalmente ao local sobre o qual

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elaboraram o relatório. Por terem passado todos os dias da missão em São José, os técnicos produziram o documento com base exclusi-vamente em informações disponibilizadas pelo governo costarrique-nho, sem consultas ao Governo da Nicarágua – o qual teria convida-do reiteradamente a missão para visitar o país, segundo afirmado na audiência. O que a Costa Rica classificou como “construção de um canal”, a Nicarágua denominou como “limpeza de um canal já existente”. A parte demandada alegou que teria não apenas o direito, mas a obriga-ção, com base nas “Regras de Helsinki sobre o Uso de Águas de Rios Internacionais” (1966), de proceder à dragagem do Rio San Juan. O Advogado da Nicarágua não chegou a mencionar, entretanto, que as Regras de Helsinki constituem apenas diretrizes, sem caráter vincu-lante. A urgência, outro requisito para a concessão de medida cautelar, foi explorada pela Costa Rica quanto à soberania sobre a região e quanto ao risco de dano ambiental. No que tange à soberania, embora tenha reiterado que o presente caso não constitui uma controvérsia fronteiriça, a Costa Rica buscou fundamentar seu pedido com pre-cedentes de disputas territoriais. Já na justificativa ambiental, citou a decisão da CIJ no caso dos testes nucleares (Nova Zelândia vs. França), em que foram concedidas medidas cautelares ante a possibi-lidade de que fossem causados danos à Nova Zelândia. Para a Costa Rica, no presente caso haveria a certeza de que o país continuará a sofrer danos por parte da Nicarágua. Em resposta, a Nicarágua valeu-se de declarações do Ministro René Castro perante a Assembleia Legislativa da Costa Rica em 08 de setembro de 2010, segundo as quais a dragagem do San Juan não te-

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ria impactos adversos no Rio Colorado. Na ocasião, o Ministro René Castro citou também estudos desenvolvidos por peritos costarrique-nhos, que estariam em linha com essa conclusão. Apresentou, ainda, dados técnicos segundo os quais as ações nicaraguenses não teriam impacto significativo sobre o fluxo das águas do Rio Colorado. Ao final da réplica na audiência, a Costa Rica modificou seus pedidos de medidas cautelares para, ao que parece, contornar obje-ções de que estes visariam a pré-julgar questões de mérito. Assim, no lugar de denominar a área objeto da demanda como “território da Costa Rica”, passou a referir-se à região de forma neutra, caracteri-zando-a por suas coordenadas geográficas. Solicitou que, na referida área, a Nicarágua se abstenha de: i) manter tropas armadas ou outros agentes estatais; ii) construir ou alargar um canal; iii) proceder à der-rubada de árvores ou à retirada de vegetação ou de terra; iv) depositar sedimentos. Adicionalmente, pediu a suspensão do programa de dra-gagem do Rio San Juan e a abstenção de ações, pela Nicarágua, que possam prejudicar os direitos costarriquenhos ou agravar o presente litígio. A Nicarágua buscou demonstrar, na tréplica, que a modificação nos pedidos de medidas cautelares demonstrava que a parte autora havia retrocedido em sua posição. O Embaixador Argüello, ao con-cluir a apresentação, solicitou fossem negadas todas medidas caute-lares requeridas pela Costa Rica. Ao mesmo tempo, pareceu admitir outra possibilidade, a de concessão de medidas determinando a ab-stenção de ações pelas duas Partes (“if the Court were to consider there is a need for ordering this type of measure, then it is only logi-cal and fair it should be applicable to both States”). Em 08 de março de 2011, em audiência pública, a Corte procedeu

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à leitura da Ordem de Medidas Cautelares. A Corte considerou plau-síveis os direitos buscados pela Costa Rica, para fins da concessão das medidas cautelares. Esclareceu, entretanto, que tal constatação não afeta eventual plausibilidade dos direitos nicaraguenses, nem tampouco prejulga o mérito da demanda. Considerou estabelecida, também, a relação entre as medidas cautelares requisitadas e os direi-tos que a Parte autora buscava proteger. De forma unânime, a Corte determinou que ambas as Partes de-vem evitar o envio ou a manutenção, na área em disputa, de quais-quer agentes, sejam civis, policiais ou de segurança. A única exceção, aprovada por 13 votos a 4, consiste em possibilitar que a Costa Rica envie à região em litígio pessoal civil responsável pela proteção am-biental, na medida necessária para evitar danos irreparáveis às zonas úmidas localizadas no referido território. De modo similar a ordens de medidas cautelares anteriores, a CIJ determinou, outrossim, que ambas as Partes devem: a) se abster de todas as ações que possam agravar ou estender a disputa perante a Corte ou dificultar sua so-lução; e b) informar o tribunal sobre o cumprimento das medidas cautelares. Tais dispositivos foram aprovados por unanimidade.

ReferênciaINTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Order Fixing of time-limits: Memorial and Counter-Memorial (Costa Rica v. Nicara-gua). 5 de Abril de 2011. Disponível em: http://www.icj-cij.org/docket/files/150/16462.pdf

INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Order - request for the indication of provisional measures. (Costa Rica v. Nicara-

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gua).8 de março de 2011. Disponível em: http://www.icj-cij.org/docket/files/150/16324.pdf

INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE.Application instituting proceedings.(Costa Rica v. Nicaragua).18 de Novembro de 2010 Disponível em: http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&k=ec&case=150&code=crn&p3=0

3) Caso concernente à aplicação da Convenção para a Elimina-ção de todas as Formas de Discriminação Racial – Geórgia v. Federação Russa. (Maitê de Souza Schmitz)

O presente caso começa em 12 de agosto de 2008, com a submissão, pela Geórgia, de requerimento inicial contra a Rússia, a fim de determinar a responsabilidade internacional deste país por alegadas violações da Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (CERD, na sigla em inglês), de 1965. O início do caso, quatro dias após a eclosão do con-flito armado entre as Partes nas províncias de Ossétia do Sul e Ab-khazia, foi imediatamente seguido de pedido de medidas cautelares pela Geórgia, em 14/08/2008.19

A Geórgia sustentava a atribuição de responsabilidade inter-nacional à Rússia pelas ações de seus órgãos, agentes e outras pes-soas ou entidades exercendo autoridade governamental, bem como por meio das forças separatistas da Ossétia do Sul e Abkhazia e de outros agentes agindo sob as suas instruções, ou sob sua direção e

19 A Geórgia submeteu, ademais, emenda ao pedido inicial de medidas cautelares, em 25/08/2008, no qual atualizava a situação do conflito armado que se desenrolava nas províncias de Ossétia do Sul e Abkhazia.

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controle.20 O ilícito internacional consistiria em violações da CERD, especificamente seus artigos 2, 3, 4 e 5, em razão da prática, pa-trocínio e apoio de discriminação racial, pela Rússia, contra georgia-nos, por meio de ataques e expulsões maciças de pessoas dessa etnia das províncias de Ossétia do Sul e Abkhazia.

O fundamento jurisdicional apresentado pela Geórgia consis-tia em cláusula compromissória prevista no Art. 22 da CERD,21 que estabelece a jurisdição da Corte Internacional de Justiça (CIJ) para controvérsias não resolvidas por negociação ou pelo procedimento especial estabelecido pela própria Convenção. Sendo este o único embasamento jurídico para a jurisdição da CIJ, a contenda deveria, assim, restringir-se à interpretação e aplicação das normas da CERD, ainda que o conflito russo-georgiano se estendesse a diversas outras áreas do direito internacional, como uso da força e direito humani-tário. Conquanto alegações em outras áreas do direito internacional pudessem eventualmente oferecer um melhor caso à Geórgia, inex-istia fundamento jurisdicional alternativo,22 o que levou a Rússia a alegar que o art. 22 da CERD teria sido “usado como pretexto para abusar da Corte, envolvendo-a em consideração de disputas que não

20 Embora não faça menção expressa aos Artigos da Comissão de Direito Internacional so-bre Responsabilidade dos Estados por Atos Ilícitos Internacionais, o Requerimento georgiano parece referir-se às hipóteses previstas nos artigos 5, 6 e 8 daquele instrumento. A tentativa de atribuição de responsabilidade internacional à Rússia por atos das forças separatistas, ademais, se assemelharia a ar-gumentos levantados pela Nicarágua na demanda contra os Estados Unidos, os quais, entretanto, não foram acolhidos pela CIJ. Military and Paramilitary Activities in and against Nicaragua (Nicaragua v. United States of America), Julgamento, 27/06/1986.

21 Art. 22. “Any dispute between two or more States Parties with respect to the interpretation or application of this Convention, which is not settled by negotiation or by the procedures expressly pro-vided for in this Convention, shall, at the request of any of the parties to the dispute, be referred to the International Court of Justice for decision, unless the disputants agree to another mode of settlement.”

22 A Geórgia chegou a mencionar o Art. IX da Convenção sobre Genocídio em seu Requerimento Inicial, mas não avançou nessa linha.

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guardam nenhuma relação com a Convenção.”23

O papel da discriminação racial no conflito russo-georgiano – se irrelevante, paralelo ou central à disputa – foi um dos pontos mais controversos ao longo do caso, não apenas entre as Partes, mas entre os juízes. O padrão de votação (8 a 7 nas Medidas Cautelares e 10 a 6 nas Exceções Preliminares) e a aparente mudança de percepção da CIJ sobre o caso entre uma fase e outra do processo sugerem alto grau de divergência dos magistrados, que pode não ser restrita à questão da jurisdição, mas abarcar também a própria visão que os membros da CIJ têm a respeito do poder e das funções daquele tribu-nal.24

Ainda em meados de agosto, a CIJ fixou o dia 08/09/2008 como data inicial das audiências sobre as medidas cautelares solic-itadas pela Geórgia. Dada a situação do conflito, mesmo antes da fase oral, o Presidente da Corte enviou comunicações às Partes, em linha com o Art. 74.4 do Regulamento, solicitando urgentemente que estas agissem de modo a permitir que eventuais Ordens de Medidas Cautelares determinadas pela CIJ tivessem efeito. A Corte determinou as medidas cautelares em 15/10/2008 – mais rápido, portanto, do que os dois meses que, em média, tem levado para decidir matérias de urgência em casos mais recentes. Para tanto, analisou as condições, estabelecidas em sua jurisprudência, para a concessão de medidas cautelares: i) fundamento jurisdicional estabe-

23 Georgia v. Russia. Verbatim Record, 08/09/2008, CR 2008/23.

24 Para uma análise sobre este ponto, ver SZEWCZYK, BART M. J. International Decisions: Application of the International Convention on the Elimination of all Forms of Racial Discrimination (Georgia v. Russian Federation): International Court of Justice judgment on the Convention on the Elimination of All Forms of Racial Discrimination as the basis for the Court’s jurisdiction. American Journal of International Law, v. 105, outubro/2011, p. 747 e ss.

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lecido “prima facie”;25 ii) vínculo entre o alegado direito que neces-sita de proteção por meio da medida cautelar e a matéria objeto do mérito da demanda;26 iii) risco de dano irreparável a esse direito caso a medida não seja concedida;27 iv) urgência, isto é, o risco de que sejam tomadas ações prejudiciais a esse direito antes do julgamento definitivo da controvérsia.28

Em linha com o art. 75, parágrafo 2º, do seu Regulamento, a Corte determinou medidas cautelares para ambas as Partes na de-manda, que deveriam: “1) abster-se de qualquer ato de discriminação racial contra pessoas, grupos de pessoas ou instituições; 2) abster-se de patrocinar, defender ou apoiar discriminação racial por quaisquer pessoas ou organizações; 3) fazer tudo a seu alcance, onde e quando for possível, para garantir, sem distinção de origem nacional ou ét-nica, i) a segurança das pessoas; ii) o direito das pessoas à liber-dade de movimento e residência dentro das fronteiras do Estado, iii) a proteção da propriedade de refugiados e de deslocados internos; e 4) fazer tudo a seu alcance para assegurar que autoridades e in-stituições públicas sob seu controle ou influência não se envolvam em atos de discriminação racial contra pessoas, grupo de pessoas ou instituições.” A CIJ determinou, ademais, que ambas as Partes de-

25 Arbitral Award of 31 July 1989(Guiné Bissau v. Senegal), Ordem de Medidas Cautelares de 02/03/1990, parágrafo 20.

26 Georgia v. Russia, Ordem de Medidas Cautelares, parágrafo 118. A plausibilidade do direito cuja proteção é buscada por meio das medidas cautelares passou a ser requisito da CIJ em decisões subsequentes sobre medidas cautelares. Nesse sentido: Questions relating to the Obligation to Prosecute or Extradite (Bélgica v. Senegal), Ordem de Medidas Cautelares, 28/05/2009,parágrafos 56-57; Certain Activities carried out by Nicaragua in the Border Area (Costa Rica v. Nicarágua), Ordem de Medidas Cautelares, 08/03/2011, parágrafos 53-54.

27 Application of the Convention on the Prevention and Punishment of the Crime of Genocide (Bósnia- Herzegovina v. Iugoslávia), Ordem de Medidas Cautelares, 08/04/1993, parágrafo 34.

28 Questions relating to the Obligation to Prosecute or Extradite (Bélgica v. Senegal), Ordem de Medidas Cautelares, 28/05/2009, parágrafo 62.

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vem facilitar e abster-se de colocar obstáculos a ações de assistência humanitária em apoio aos direitos da população local previstos na CERD.

Na decisão de 2008, a Corte Internacional de Justiça consid-erou que o art. 22 da CERD conferia jurisdição “prima facie” para a demanda. Afirmou, destarte, que “a expressão ‘qualquer disputa (...) não resolvida por negociação ou pelo procedimento expressamente previsto na Convenção’ não sugere, em seu significado natural, que negociações formais no quadro da Convenção ou recurso aos proce-dimentos referidos no Art. 22 sejam condições a serem preenchidas antes do recurso à Corte”. Acrescentou, ainda, que “é aparente, no processo, que tais questões [sobre discriminação racial] foram le-vantadas em contatos bilaterais entre as Partes e que estes assuntos, manifestamente, não foram resolvidos por negociação antes da sub-missão do Requerimento Inicial.”29

Em 2011, a Corte revisitou a referida linha de argumentação, passando a seguir, em grande parte, a tese defendida pelos juízes dissidentes na Ordem proferida em 2008. Decidiu, em 01/04/2011, que não tinha jurisdição para analisar o mérito do caso, acolhendo, assim, exceção preliminar levantada pela Federação Russa.

A primeira exceção preliminar alegada pela Rússia – de que inexistiria disputa entre as Partes – foi rejeitada pela CIJ por doze votos a quatro. Foram dissidentes os Juízes Tomka (Eslováquia), Koroma (Serra Leoa), Skotnikov (Rússia) e Xue (China). Com vo-tação mais estreita (dez votos a seis), a CIJ acolheu, entretanto, a segunda exceção preliminar, relativa aos requisitos procedimentais para recurso à cláusula compromissória da CERD. Dissentiram os

29 Geórgia v. Rússia, Ordem de Medidas Cautelares, parágrafos 114 e 115.

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Juízes Owada (Japão, Presidente), Simma (Alemanha), Abraham (França), Cançado Trindade (Brasil), Donoghue (Estados Unidos) e Gaja (Itália; ad hoc indicado pela Geórgia). Uma vez acolhida a se-gunda exceção preliminar, a CIJ entendeu não ser necessário analisar as outras duas exceções apresentadas pela Federação Russa, atinen-tes, respectivamente, à falta de jurisdição “ratione loci” e “ratione temporis” pela Corte.

Nas audiências sobre as exceções preliminares, realizadas em setembro de 2010, a Geórgia reiterou como único fundamento juris-dicional da demanda a cláusula compromissória contida no Art. 22 da CERD, o qual prevê o recurso à CIJ para “qualquer disputa entre dois ou mais Estados relativa à interpretação ou aplicação da Convenção”. Já a Rússia manteve sua tese de que a Geórgia teria alegado a existên-cia de disputa no âmbito daquela Convenção de direitos humanos como meio de estabelecer jurisdição da Corte sobre divergência com escopo muito maior, relativa ao conflito armado entre os dois países e ao status de Abkhazia e Ossétia do Sul. A Geórgia, por sua vez, afirmava que as divergências quanto à aplicação de normas relativas à discriminação racial existiam mesmo antes da entrada em vigor da CERD para ambos os Estados.

A CIJ reservou considerável parte do julgamento para análise das provas apresentadas pelas Partes. Com abordagem caracterizada, pelos juízes dissidentes, como excessivamente formalista, a Corte considerou “serem desprovidos de significado jurídico” diversos documentos apresentados pela Geórgia, por não terem sido produzi-dos ou endossados pelo Poder Executivo, por não terem feito menção específica à Federação Russa, ou mesmo ante a inexistência de pro-vas de que o Estado demandado tinha conhecimento de tal documen-

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tação. A análise – e posterior desconsideração – dos referidos docu-mentos levou a CIJ a concluir ter havido disputa relativa à CERD entre as Partes somente a partir de 9 de agosto de 2008.

A segunda exceção preliminar referia-se à parte do Art. 22 da CERD que, segundo concluído pela maioria dos juízes, condiciona a jurisdição da CIJ à existência de prévia negociação entre as Partes e/ou (a Corte não chegou a decidir se os requisitos eram cumulativos ou alternativos) prévio recurso aos procedimentos da Convenção. Uma vez que a Geórgia não recorreu aos procedimentos da CERD, a Corte tratou somente da questão quanto à existência ou não de ne-gociação no período entre 09 (surgimento da disputa) e 12 de agosto (submissão do caso).

A exigência de negociação prévia ao recurso à CIJ no âmbito do Art. 22 da CERD é, como se nota, conclusão nova para a Corte, que contrasta com a Ordem de Medidas Cautelares de 2008. Ainda que a Corte possa alterar suas conclusões quanto à jurisdição – que na fase de medidas cautelares pode ser apenas “prima facie” – a mu-dança, aqui, parece guardar mais relação com as transformações na composição do tribunal e na posição de alguns juízes do que com eventual fato novo apresentado pelas Partes.

No presente caso, a Corte estabelece a necessidade de ter ha-vido “uma tentativa genuína de se engajar em discussões com a outra parte, com vistas a resolver a controvérsia”. Ademais, uma vez ini-ciadas as negociações, estas devem ter falhado, se tornado infrutífe-ras ou levado a um impasse. A presente decisão, assim, adota posição mais formalista do que a de julgamentos em casos anteriores como o “Lockerbie”30 e o “United States Diplomatic and Consular Staff in 30 Questions of Interpretation and Application of the 1971 Montreal Convention Arising from the Aerial Incident at Lockerbie (Libya v. United States of America), Julgamento de Exceções Prelimi-

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Tehran”31, em que foi dado mais peso às atitudes e percepções das Partes, sobretudo no que tange à possibilidade de negociações.32

Para a Corte, o tópico de limpeza étnica não se tornou objeto de negociações genuínas entre as Partes. A CIJ tampouco interpretou a recusa da Federação Russa em negociar com a Geórgia sobre o conflito armado como falha na disposição russa de negociar sobre as obrigações contidas na CERD, que constituiriam matéria distinta. A Corte concluiu, portanto, que, entre 9 e 12 de agosto, a Geórgia não tentou, genuinamente, negociar matéria do âmbito da CERD com a Federação Russa. Em não tendo sido atendido o requisito do Art. 22 referente à negociação prévia, a Corte acolheu a segunda exceção preliminar levantada pelo Estado demandado e concluiu, dessarte, não ter jurisdição para analisar o mérito da demanda.

Em opinião dissidente conjunta, os juízes Owada, Simma, Abraham, Donoghue e o “ad hoc” Gaja interpretaram a expressão “which is not settled by negotiation”, contida no Art. 22 da CERD, como constatação de fato, e não como pré-condição para submissão do caso à Corte. Comparou, nesse sentido, o presente caso com o “Oil Platforms”,33 no qual a CIJ interpretou frase semelhante (“not

nares, 27/02/1998, parágrafos 17-20.

31 United States Diplomatic and Consular Staff in Tehran (United States v. Iran), Julgamento, 1980, parágrafo 51.

32 Ainda nesse aspecto, cabe recordar “dictum” da predecessora da CIJ, a Corte Permanente de Justiça Internacional, no caso “Mavrommatis Palestine Concessions”: “the question of the importance and chances of success of diplomatic negotiations is essentially a relative one. Negotiations do not of necessity always presuppose a more or less lengthy series of notes and despatches; it may suffice that a discussion should have been commenced, and this discussion may have been very short; this will be the case if a deadlock is reached, or if finally a point is reached at which one of the Parties definitely declares himself unable, or refuses, to give way, and there can therefore be no doubt that the dispute cannot be settled by diplomatic negotiation.” P.C.I.J., Series A, No. 2, p. 13.

33 Oil Platforms (Islamic Republic of Iran v. United States of America), Julgamento das Ex-ceções Preliminares,1996, parágrafos 15-16; Julgamento, 2003, parágrafo 107.

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satisfactorily adjusted by diplomacy”) não como um obstáculo à ju-risdição, mas como referência ao fato de que a controvérsia não tinha sido resolvida satisfatoriamente por vias diplomáticas. Nessa pers-pectiva, a questão residiria não na ausência de negociações, mas na inexistência de solução negociada para o conflito.

Ainda que o art. 22 exigisse negociações como pré-requisito para submeter a disputa à CIJ, os magistrados dissidentes alegam que faltou realismo na análise dos fatos pela maioria do tribunal. Ao analisarem a documentação probatória apresentada pelas Partes, os juízes dissidentes concluíram que a Rússia teria mantido uma posi-ção “imutável”, com negação de qualquer responsabilidade por atos de limpeza étnica e recusa ao diálogo com a Geórgia. Não haveria, assim, qualquer possibilidade razoável de uma solução negociada para o conflito.

Em seu voto, o juiz brasileiro Cançado Trindade, além de discordar, como os demais Juízes dissidentes, do tratamento dado às provas no presente caso, questionou a interpretação dada pela CIJ ao Art. 22 da CERD. Para ele, o referido dispositivo deveria ter sido interpretado no contexto da Convenção, levando em conta a natureza e substância do tratado de direitos humanos.

O presente caso é de extrema relevância, não apenas pelo que foi, mas pelo que poderia ter sido. Trata-se do primeiro litígio, na CIJ, envolvendo a Federação Russa – que, conquanto sempre tenha tido magistrado de sua nacionalidade entre os Membros do tribunal, mantinha postura reticente à adjudicação de suas disputas pela Corte da Haia. Como enfatizou o Agente da Rússia no caso, o país adota política de “aceitação passo-a-passo da jurisdição da CIJ”. De fato, a Rússia não aceita a jurisdição compulsória da Corte (por meio de

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declaração unilateral, nos termos do Art. 36.2 do Estatuto), e havia feito diversas reservas a cláusulas compromissórias de tratados mul-tilaterais que prevêem recurso à CIJ. A partir da década de 1980, a Federação Russa passou a, em geral, não mais fazer reservas a cláu-sulas estabelecendo a jurisdição da Corte, e a retirar aquelas que ha-via feito, especialmente em instrumentos de direitos humanos.

Ao evitar adentrar no mérito da disputa, a Corte deixou de analisar questões ainda controversas no direito internacional, como o grau de aplicação das normas de direitos humanos em conflitos armados,34 e a extraterritorialidade da aplicação dos tratados de di-reitos humanos, abordada apenas tangencialmente na Ordem de Me-didas Cautelares. Seria, ademais, o primeiro caso da CIJ a analisar, no mérito, alegações de violações à CERD. Ainda que a Convenção tenha sido levantada em ocasiões anteriores,35 assim como no pre-sente caso, a disputa teve fim antes da análise do mérito da questão.

No primeiro litígio da Federação Russa perante a Corte In-ternacional de Justiça, a posição majoritária dos magistrados privi-legia, assim, o princípio do consentimento dos Estados ao do acesso à justiça internacional, mencionado nos votos dissidentes. O método formalista adotado nesta demanda constitui precedente relevante, embora não definitivo. Pode ser revisitado em ocasiões futuras, so-bretudo tendo em vista as mudanças de composição da Corte no ano de 2012 e a estreita margem com que foi adotado na decisão de 2011. Como afirmaram os juízes dissidentes, a jurisprudência da Corte so-bre cláusulas compromissórias similares à do Art. 22 da CERD “não 34 O tema chegou a ser abordado, ainda que de forma não conclusive, na Opinião Consultiva sobre o Muro, de 2004. “Legal Consequences of the Construction of a Wall in the Occupied Palestin-ian Territory”, 2004, parágrafo 106.

35 Ver, e.g., Armed Activities on the Territory of the Congo (New Application: 2002) (Demo-craticRepublic of Congo v. Rwanda).

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é consistente, mas fluida e incerta.”36

ReferênciasINTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Application of the In-ternational Convention on the Elimination of All Forms of Ra-cial Discrimination (Georgia v. Russian Federation). Application instituting proceedings. Disponível em http://www.icj-cij.org/dock-et/files/140/14657.pdfINTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Application of the In-ternational Convention on the Elimination of All Forms of Ra-cial Discrimination (Georgia v. Russian Federation). Request for the Indication of Provisional Measures. Disponível em http://www.icj-cij.org/docket/files/140/14663.pdfINTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Application of the In-ternational Convention on the Elimination of All Forms of Racial Discrimination (Georgia v. Russian Federation). Order: Request for the Indication of Provisional Measures. Disponível em http://www.icj-cij.org/docket/files/140/14801.pdfINTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Application of the In-ternational Convention on the Elimination of All Forms of Ra-cial Discrimination (Georgia v. Russian Federation). Judgment: Preliminary Objections. Disponível em http://www.icj-cij.org/dock-et/files/140/16398.pdf

4) Competência judiciária e execução das decisões em matéria ci-vil e comercial.Bélgica vs. Suíça. Decisão em 12 de abril de 2011. (Nathalie Machado)36 Georgia v. Russia, Julgamento das Exceções Preliminares, Voto Dissidente Conjunto, parágrafo 30.

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Trata-se de requerimento feito perante a Corte Internacional de Justiça, pelo Reino da Bélgica, em data de 21 de dezembro de 2009, em face da Confederação Suíça.

No caso em tela, a Bélgica leva à Corte um litígio oposto à Suíça, relativo à interpretação e à aplicação da Convenção de Luga-no, de 16 de setembro de 1988, no tocante à competência judiciária e à execução das decisões em matéria civil e comercial, bem como, em relação à aplicação das regras do direito internacional geral regula-mentando o exercício das competências estatais, principalmente em matéria judiciária.

O litígio se deu em face a decisão das jurisdições suíças, que não reconheceu decisão das jurisdições belgas, assim como não sus-pendeu processo iniciado posteriormente na Suíça relativo ao mesmo litígio.

Em requerimento inicial, a Bélgica afirma que dois proces-sos judiciais paralelos foram instaurados, na Bélgica e na Suíça, rela-tivos a um litígio em matéria civil e comercial. O litígio opunha, de um lado, os principais acionários da sociedade Saben – antiga com-panhia aérea nacional belga, hoje em falência –, quais sejam, a Swis-sair e sua filial SAirLines (“acionários suíços”), e, por outro lado, o Estado belga e três sociedades detidas por ele (“acionários belgas”).

No contexto da entrada das sociedades suíças no capital da sociedade Sabena em 1995 e de sua parceria com os acionários bel-gas, contratos foram firmados, entre 1995 e 2001, em vista do finan-ciamento e da gestão comum da sociedade Sabena. Este conjunto contratual previa a competência exclusiva dos tribunais de Bruxelas em caso de litígio, e a aplicação do direito belga.

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Em 3 de julho de 2001, considerando que os acionários suíços tinham violado suas obrigações contratuais, os acionários belgas propuseram ação diante do Tribunal de Comércio de Brux-elas. Neste contexto, os acionários belgas exigiam, principalmente, o pagamento de indenização para compensar a perda de investimentos provocada pelos acionários suíços. Em 20 de novembro de 2003, o Tribunal de Comércio de Bruxelas se declarou competente para con-hecer as ações em matéria contratual e extracontratual, se baseando nos artigos 17 e 5, parágrafo 3o, da Convenção de Lugano. Os artigos preveem a competência exclusiva das jurisdições escolhidas pelas partes do contrato em matéria contratual, e a competência das juris-dições do lugar do ato prejudicial, em matéria extracontratual. Em uma sentença proferida em 19 de maio de 2005, a Corte de Apelação de Bruxelas confirmou a competência dos tribunais belgas para con-hecer o litígio, baseando-se na Convenção de Lugano. O processo continua em curso diante das jurisdições belgas.

Ocorre que, em 4 de outubro de 2001, as sociedades suíças requereram concordata diante do Tribunal de Zurich, Suíça, resultan-do em sua liquidação. Em 30 de janeiro de 2002, os acionários belgas declararam seus créditos no processo de liquidação. Os créditos as-sim declarados correspondiam àqueles fundados na responsabilidade civil contratual e extracontratual das sociedades suíças, sendo assim, o objeto da ação já intentada anteriormente diante dos tribunais bel-gas.

Assim, deu-se início a dois processos distintos e con-comitantes diante das jurisdições suíças. No primeiro processo, os acionários belgas requereram a suspensão das ações na Suíça, com o objetivo de aguardar o resultado da ação belga, com base no artigo

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21 da Convenção de Lugano. No segundo processo, os acionários requereram a inscrição de seus créditos no passivo da empresa a ser liquidada, e, preliminarmente, que o processo de inscrição dos crédi-tos fosse suspensa, também com base no artigo 21.

Em uma decisão de 2 março de 2007, o Tribunal Superior de Zurich concluiu que a Convenção de Lugano não era aplicável, tendo em vista que a ação de inscrição de créditos no passivo da empresa decorria do direito das falências, sendo assim excluída do campo de aplicação da Convenção.

Após a propositura de vários recursos, em data de 29 de junho de 2008, o embaixador da Bélgica informou a Ministra de Relações Exteriores da Suíça da intenção da Bélgica de requerer a intervenção da Corte Internacional de Justiça em relação à interpre-tação e à aplicação da Convenção de Lugano.

Por fim, em seu requerimento à Corte, a Bélgica afirma que a violação da Suíça de suas obrigações internacionais estão ligadas, direta ou indiretamente, à Convenção de Lugano. Esta convenção, assinada em 16 de setembro de 1988, e da qual a Bélgica e a Suíça são partes, liga os Estados membros da União europeia e dos Esta-dos da Associação Europeia de Livre Comércio. A Bélgica requer assim que a Corte declare a responsabilidade internacional da Suíça.

Em data de 18 de fevereiro de 2011, a Confederação Suíça apresenta sua contestação. Em sede preliminar, ela indica que “a re-ferencia ao não-reconhecimento de uma decisão belga, feita pelo Tribunal Federal Suíço em sua decisão de 30 de setembro de 2008, não havia adquirido autoridade de coisa julgada, e não se impunha às instâncias cantonais inferiores, nem ao próprio Tribunal federal, e, consequentemente, nada se opunha ao fato que uma decisão bel-

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ga, uma vez pronunciada, fosse reconhecida na Suíça conforme as disposições convencionais aplicáveis”.

Diante disto, em data de 21 de março de 2011, a Bélgica comunicou à Corte Internacional de Justiça sua decisão de desistir de sua ação contra a Suíça. Ela afirmou que, “em vista da declaração da Suíça, a Bélgica, (...), em acordo com a Comissão da União Euro-peia, estimava poder desistir da ação intentada contra a Suíça” e re-quereu, desta forma, que a Corte proferisse uma decisão levando em conta sua desistência, assim como a radiação do processo da pauta.

A desistência da Bélgica foi comunicada à Suíça, que dis-pôs de um prazo de uma semana para se opor à desistência. Não o fazendo, a Corte Internacional de Justiça se pronunciou, em uma decisão de 5 de abril de 2011, declarando a desistência da Bélgica assim que a radiação do processo da pauta.

Referências:COUR INTERNATIONALE DE JUSTICE. Compétence judiciaire et exécution des décisions en matière civile et commerciale, Bel-gique c. Suisse. Requête introductive d’instance, 21 décembre 2009. Disponível em < http://www.icj-cij.org/docket/files/145/15764.pdf >.COUR INTERNATIONALE DE JUSTICE. Compétence judiciai-re et exécution des décisions en matière civile et commerciale, Belgique c. Suisse. Mémoire de la Belgique, 23 novembre 2010. Disponível em < http://www.icj-cij.org/docket/files/145/16718.pdf >. COUR INTERNATIONALE DE JUSTICE. Compétence judiciai-re et exécution des décisions en matière civile et commerciale,

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Belgique c. Suisse. Exceptions préliminaires de la Confédération su-isse, 17 février 2011. Disponível em < http://www.icj-cij.org/docket/files/145/16720.pdf >. COUR INTERNATIONALE DE JUSTICE. Compétence judiciaire et exécution des décisions en matière civile et commerciale, Belgi-que c. Suisse. Ordonnance du 5 avril 2011. Radiation du Rôle. Dis-ponível em < http://www.icj-cij.org/docket/files/145/16461.pdf >.

5) Caso relativo à interpretação do julgamento de 1962 sobre o Templo de Preah Vihear. Inclusão em 02 de maio de 2011. (Maitê de Souza Schmitz e Fabio Martins)

Em 02/05/2011, o Camboja submeteu requerimento de inter-pretação do julgamento de 15 de junho de 1962, relativo à dispu-ta com a Tailândia pela soberania sobre o Templo de Preah Vihear. Apresentou, ademais, pedido de medidas cautelares (“mesures con-servatoires”), o qual passa a ter precedência sobre os demais casos, nos termos do art. 74, parágrafo 1º, do Regulamento da Corte Inter-nacional de Justiça (CIJ).

O pedido de interpretação de sentença residiria, segundo o Camboja, em divergências entre as Partes quanto à extensão do jul-gamento de 1962. Tal decisão concluiu, por nove votos a três, que “o Templo de Preah Vihear está situado em território sob a jurisdição do Camboja” e que “a Tailândia se encontra sob a obrigação de retirar quaisquer forças militares ou policiais, ou outros guardas ou guardi-ões, por ela colocados no Templo ou em seus arredores localizados em território do Camboja”. Na parte argumentativa, a CIJ esclareceu que sua decisão se baseava em mapa submetido pelo Camboja nas

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alegações escritas, o qual jamais foi contestado pela Tailândia desde sua finalização em 1907.

O requerimento de interpretação afirma que a Tailândia con-sideraria que a decisão de 1962 seria restrita ao perímetro do Templo, sem englobar áreas adjacentes, onde a fronteira ainda estaria por ser definida. Já para o Camboja, tal julgamento seria baseado em linha fronteiriça, reconhecida pelos dois Estados e ratificada pela Corte em 1962, a qual situaria em seu território não só a área do Templo, mas também o seu entorno.

Até a presente demanda, a Corte Internacional de Justiça ha-via tratado de somente quatro casos de interpretação de julgamento,37 sendo o mais recente o Avena (2008), que opôs México e Estados Unidos. Consoante a jurisprudência da Corte, qualquer pedido de interpretação deve ser relacionado apenas aos parágrafos operativos do julgamento ou às partes argumentativas que lhes sejam insepa-ráveis.38 Se for seguida essa mesma linha para a presente demanda, caberá à CIJ estabelecer o vínculo inseparável entre a soberania sobre o território onde se localiza o Templo (parágrafo operativo) e a deter-minação da linha fronteiriça, largamente abordada na parte argumen-tativa, mas omitida no texto conclusivo.

O objeto do requerimento, ademais, deve ser exclusivamente o esclarecimento quanto ao significado e o escopo da decisão, e não respostas a questões que, embora levantadas, não tenham sido decidi-37 Request for Interpretation of the Judgment of 31 March 2004 in the Case concerning Avena and Other Mexican Nationals (México v. Estados Unidos); Request for Interpretation of the Judgment of 11 June 1998 in the Case concerning the Land and Maritime Boundary between Cameroon and Nigeria(Camarões v. Nigéria), Exceções Preliminares; Application for Revision and Interpretation of the Judgment of 24 February 1982 in the Case concerning the Continental Shelf (Tunísia v. Líbia); Re-quest for Interpretation of the Judgment of 20 November 1950 in the Asylum Case (Colômbia v. Peru).

38 Request for Interpretation of the Judgment of 11 June 1998 in the Case concerning the Land and Maritime Boundary between Cameroon and Nigeria(Camarões v. Nigéria), Exceções Preliminares, parágrafo 10.

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das pela Corte na ocasião.39 Assim, o pedido de interpretação somente será considerado admissível se o Estado demandante demonstrar que há uma disputa entre as Partes referente à interpretação do texto da decisão. Trata-se do que o Camboja busca fazer em seu requerimento, ao qual apensa documentos (como carta do Representante Perma-nente da Tailândia junto às Nações Unidas dirigida ao Presidente do Conselho de Segurança em 2008) contendo a interpretação dada pela Tailândia à decisão de 1962. Para o Camboja, a referida interpretação iria de encontro à integralidade do julgamento da Corte, por questio-nar a linha fronteiriça que fundamentou a conclusão favorável à sua soberania sobre o Templo de Preah Vihear.

Ainda que a Tailândia não esteja mais na lista de países que aceitam a jurisdição compulsória da CIJ, o fundamento jurisdicional neste caso se encontra no Art. 60 do Estatuto da Corte, relativo à interpretação de julgamentos. Como afirmou o Tribunal da Haia no caso Avena, “a jurisdição com base no Art. 60 não é condicionada pela existência de outros fundamentos jurisdicionais entre as Partes do caso original”.40

O Camboja solicitou, ademais, a indicação de medidas caute-lares pela CIJ, até a solução definitiva do litígio. O pedido refere-se a três aspectos: (i) retirada imediata e incondicional de todas as forças tailandesas das partes do território do Camboja na área do Templo de Preah Vihear; (ii) a proibição de toda atividade militar da Tailândia na área do Templo de Preah Vihear; (iii) a abstenção de todo ato ou ação da Tailândia que possa prejudicar os direitos do Camboja ou agravar

39 Request for Interpretation of the Judgment of 20 November 1950 in the Asylum Case (Colômbia v. Peru), p. 402.

40 Request for Interpretation of the Judgment of 31 March 2004 in the Case concerning Avena and Other Mexican Nationals (México v. Estados Unidos), Ordem de Medidas Cautelares, parágrafo 40.

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a disputa. As audiências realizaram-se em 30 e 31 de maio de 2011.

Como não há nacionais de nenhuma das partes dentre os membros permanentes da Corte, ambos indicaram juízes “ad hoc”, nos termos do Art. 31 do Estatuto da Corte. Enquanto o Camboja designou o Sr. Gilbert Guillaume (francês, Presidente da CIJ de 2000 a 2003), a Tailândia indicou o Sr. Jean-Pierre Cot (também francês, membro do Tribunal Internacional para o Direito do Mar) como juízes “ad hoc”.

O Camboja repetiu em sua sustentação oral, essencialmente, os argumentos contidos em seu requerimento escrito. Aduziu, nessa linha, ser o Camboja vítima de agressões armadas por parte da Tai-lândia, que assim agiria por adotar interpretação “tanto falsa quanto inaceitável”41 do julgamento de 1962. O Vice-Primeiro Ministro do Camboja, Hor Namhong, Agente no caso, acrescentou que a alegada agressão da Tailândia estaria relacionada à inclusão do Templo de Preah Vihear na lista de patrimônio mundial da UNESCO, em julho de 2008, e teria se intensificado recentemente, inclusive em áreas interiores do Templo. Segundo Hor Namhong, os ataques teriam pro-vocado mortos e feridos, além do deslocamento de população resi-dente no local.

A defesa da Tailândia, desconhecida até então, concentrou-se na jurisdição da Corte e nos requisitos para a concessão de medidas cautelares. O Embaixador da Tailândia nos Países Baixos, Virachai Plasai, Agente no caso, asseverou que o país aceitou a decisão de 1962, “apesar de seu caráter controverso”.42 Acrescentou que a Tai-41 Caso relativo à interpretação do julgamento de 1962 sobre o Templo de Preah Vihear (Cam-boja v. Tailândia), “Compte Rendu”, Audiências relativas ao pedido de medidas cautelares, 30/05/2011, CR/2011/13, página 15.

42 Caso relativo à interpretação do julgamento de 1962 sobre o Templo de Preah Vihear (Cam-boja v. Tailândia), “Compte Rendu”, Audiências relativas ao pedido de medidas cautelares, 30/05/2011,

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lândia apenas recorreu à força em situações de legítima defesa, e que seria o Camboja o violador do “jus ad bellum” na presente situação. Criticou, ademais, a inscrição do Templo unilateralmente pelo Cam-boja na lista de patrimônio mundial da UNESCO, e acusou o país vizinho de tentar ocupar de fato terras tailandesas.

A concessão de medidas cautelares pela CIJ tem, em geral, quatro condições, estabelecidas ao longo dos precedentes do tribunal: i) fundamento jurisdicional estabelecido “prima facie”;43 ii) vínculo entre a medida cautelar requerida e um direito plausível que necessite de proteção;44 iii) risco de dano irreparável a esse direito caso a medi-da não seja concedida;45 iv) urgência, isto é, o risco de que sejam to-madas ações prejudiciais a esse direito antes do julgamento definitivo da controvérsia.46 Em sua sustentação oral, James Crawford, Advo-gado para a Tailândia, mencionou outro requisito, específico para o caso de interpretação de julgamentos, relativo à existência de disputa quanto à interpretação da decisão judicial objeto do litígio.

A divergência entre as Partes quanto à interpretação da deci-são de 1962 pareceu evidente nos argumentos apresentados por am-bos os Estados nas audiências. A Tailândia afirmou, reiteradamente, que o julgamento da CIJ não decidiu sobre a linha fronteiriça, posi-ção contrária à do Camboja. Para este, os parágrafos vinculantes do CR/2011/14, página 11.

43 Arbitral Award of 31 July 1989(Guiné Bissau v. Senegal), Ordem de Medidas Cautelares de 02/03/1990, parágrafo 20.

44 Questions relating to the Obligation to Prosecute or Extradite (Bélgica v. Senegal), Ordem de Medidas Cautelares, 28/05/2009,parágrafos 56-57; Certain Activities carried out by Nicaragua in the Border Area (Costa Rica v. Nicarágua), Ordem de Medidas Cautelares, 08/03/2011, parágrafos 53-54.

45 Application of the Convention on the Prevention and Punishment of the Crime of Genocide (Bósnia- Herzegovina v. Iugoslávia), Ordem de Medidas Cautelares, 08/04/1993, parágrafo 34.

46 Questions relating to the Obligation to Prosecute or Extradite (Bélgica v. Senegal), Ordem de Medidas Cautelares, 28/05/2009, parágrafo 62.

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acórdão de 1962 somente podem ser entendidos com base na prévia aceitação, pela Corte, de mapa que delimita a fronteira entre os países na área do Templo.

O Camboja chegou a fundamentar sua argumentação no caso Avena, único na história da Corte em que foram pedidas medidas cautelares associadas a requerimento de interpretação de julgamento. No caso Avena, porém, não havia divergências, como aqui, quanto ao fato de que a interpretação seria restrita ao dispositivo do acórdão. No presente caso, a Tailândia contesta a própria aplicação do Art. 60 do Estatuto da CIJ, como fundamento jurisdicional, por entender que o Camboja busca a interpretação não dos parágrafos vinculantes (dis-positivo), mas da parte argumentativa do julgamento. Ademais, no caso Avena, conquanto tenham sido concedidas medidas cautelares ao México, o referido Estado não logrou convencer a Corte, na fase de mérito, de que existia disputa das Partes quanto à interpretação do julgamento.

O Juiz brasileiro Cançado Trindade foi o único a apresentar perguntas às Partes, nos seguintes termos:

In the present request for the indication of provisional measures by the Court, it is stated, inter alia, that, as a result of the incidents occurred since 22 April 2011 in ‘the area of the Temple of Preah Vihear’, as well as at other places along the boundary between the two con-tending States, ‘fatalities, injuries and the displace-ment of local inhabitants’ were caused. What further information can be provided by the Par-ties to the Court about such displaced local inhabit-ants? How many inhabitants were displaced? Have they safely and voluntarily returned to their homes? Whereabouts do they live in the region? Have they

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been settled there for a long time? What is their mo-dus vivendi? What is the population density of the region ?

A Ordem de MedidasProvisórias no presente caso foi lida em audiência pública em 18/07/2011. Além de decidir quanto ao pedi-docambojano de medidas cautelares, coube à CIJ julgar,outrossim, pedido tailandês de retirada do caso da ListaGeral, por alegada falta de jurisdição.

A Corte, por unanimidade, rejeitou o pedido tailandês dereti-rada do caso da Lista Geral, por entender que pareceexistir, na pre-sente situação, uma disputa entre as Partesquanto ao significado ou à extensão do julgamento de 1962.Mais especificamente, a Corte con-siderou que a diferença deopinião entre os dois países refere-se ao termo “arredores doterritório cambojano” (“vicinity of Cambodian territory”),bem como à natureza da obrigação de retirada das tropas daregião pela Tailândia, imposta pela Corte em 1962: secontínua (ou seja, válida até hoje) ou instantânea.

A Corte esclareceu, ademais, que o art. 60 não estabelecepra-zos para a submissão de requerimentos, os quais podem serapresen-tados a qualquer tempo, contanto que exista umadisputa quanto aos termos da decisão. Tal disputa,acrescentou, pode até mesmo surgir a partir de fatosposteriores à data do julgamento.

Ao analisar os requisitos para a concessão de medidascau-telares, a Corte considerou que todos estavamsuficientemente pro-vados na presente demanda. A CIJ fezmenção aos incidentes entre as Partes, ocorridos no entorno doTemplo. Observou que, desde 15 de julho de 2008, eespecialmente entre 4 e 7 de fevereiro de 2011,

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houveconflitos armados na área em disputa, os quais ocasionaramda-nos às pessoas (deslocamento dos habitantes locais, além demortos e feridos) e a bens, inclusive no próprio Templo.

Conquanto o pedido tenha sido submetido pelo Cam-boja, aCorte, em linha com o art. 75, parágrafo 2º, do seu Regulamento,determinou medidas cautelares para ambas as Partes nademanda. Pela primeira vez em sua história, criou uma zonadesmi-litarizada, que engloba tanto a região em disputa quantoparte incon-testada do território dos dois países. Segundodecidido pela CIJ, por onze votos a cinco (dissidentes osJuízes Owada, do Japão, Al-Khasa-wneh, da Jordânia, Xue, daChina, Donoghue, dos Estados Unidos, e Jean-Pierre Cot, “adhoc” pela Tailândia), as duas Partes deverão reti-rar o pessoalmilitar que se encontra atualmente na «zona desmilitari-zadaprovisória», tal como definida na Ordem de MedidasCautelares, e se abster de se engajarem em atividades armadasna área em tela.

Ainda que não seja esta a primeira ordem de medidascaute-lares em casos que envolvem ação militar, emdemandas anteriores a Corteem geral se limitava a ordenar às Partes queretirassem os mili-tares do «território em disputa»47 ou garantissem que suas forçasar-madas não ultrapassassem a posição que ocupavam antes doinício do conflito.48No presentelitígio, a própria Corte criou uma zona desmili-tarizada, aqual excede a área cuja soberania é disputada.

As demais medidas cautelares, aprovadas por quinze votosa um (dissidente a Juíza Donoghue), determinaram que aTailândia não deverá obstruir o livre acesso do Camboja aoTemplo de Preah Vihear,

47 Certain Activities carried out by Nicaragua in the Border Area (Costa Rica v. Nicarágua), Ordem de Medidas Cautelares, 08/03/2011.

48 Land and Maritime Boundary between Cameroon and Nigeria (Camarões v. Nigéria), Or-dem de Medidas Cautelares, 15/03/1996.

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inclusive para o provimento desuprimentos ao pessoal civil situado no Templo; e que as duasPartes deverão prosseguir com a cooperação com a ASEAN e, emparticular, deverão permitir o ingresso dos ob-servadoresapontados pela Organização à zona desmilitarizada. Com amesma votação, foram ainda aprovadas as medidas cautelares»de praxe», em que se exige que as Partes se abstenham deações que pos-sam agravar o conflito e informem a Corte sobreo cumprimento da presente Ordem. Também por quinze votos aum, a Corte estabeleceu que deverá acompanhar atentamente asmatérias objeto da presente decisão («it shall remain seisedof the matters»).

Os Juízes dissidentes, em geral, manifestaram em seusvo-tos que a posição adotada neste litígio pela Corteextrapolaria os li-mites da sua própria jurisdição, nos termosdo Art. 60 do Estatuto. Para os referidos magistrados,embora a situação permitisse - e de-mandasse - a determinaçãode medidas cautelares, estas deveriam ter sido restritas àregião em disputa, sem abarcar, portanto, áreas que são,incontestavelmente, parte do território de uma ou outraParte. A Juíza Donoghue, que dissentiu em todos os parágrafosoperativos re-lativos às medidas cautelares (inclusive aqueles “de praxe”, o que é raro entre os Membros da Corte),questiona em seu voto a proprieda-de da concessão de medidascautelares em pedidos de interpretação de julgamento,fundados no Art. 60 do Estatuto.

O Juiz brasileiro Cançado Trindade, que votou com amaioria, apresentou Voto Separado à decisão, por considerarque a Corte teria chegado às conclusões corretas, mas peloscaminhos errados. Segun-do o magistrado brasileiro, o enfoque da decisãodeveria ter sido nas pessoas vitimadas pelo conflito, e nãono território dos Estados. O Voto do Juiz Cançado Trindadeaborda ainda, dentre outros temas, a

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relação entre o tempo eo direito - o qual ganha em relevância em caso reiniciadoquase cinquenta anos após seu julgamento -, direitoscultu-rais, patrimônio cultural da humanidade, direito à vidae proibição do uso da força.

Para o Juiz Cançado Trindade, a proibição da destruiçãode patrimônio cultural de grande valor universal e enormeimportância para a humanidade seria, possivelmente, umaobrigação «erga om-nes». Ademais, o respeito à diversidadecultural estaria, a seu ver, na base da universalidade dodireito internacional. Em visão ao que pa-rece diametralmenteoposta à da Juíza dissidente Donoghue, o magis-tradobrasileiro favorece em seu voto o ajuste do quadro conceituale da linguagem da Corte Internacional de Justiça para abrigar novas formas de proteçãoao decidir sobre medidas cautelares, de modo a priorizar oindivíduo e seus direitos fundamentais.

ReferênciasINTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Request for inter-pretation of the Judgment of 15 June 1962 in the case concerning the Temple of Preah Vihear (Cambodia v. Thailand). Application instituting proceedings. Disponível em http://www.icj-cij.org/dock-et/files/151/16470.pdfINTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Request for interpre-tation of the Judgment of 15 June 1962 in the case concerning the Temple of Preah Vihear (Cambodia v. Thailand). Request for the Indication of Provisional Measures. Disponível em http://www.icj-cij.org/docket/files/151/16472.pdfINTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Request for interpre-tation of the Judgment of 15 June 1962 in the case concerning the

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Temple of Preah Vihear (Cambodia v. Thailand). Order: Request for the Indication of Provisional Measures. Disponível em http://www.icj-cij.org/docket/files/151/16564.pdf

6) Disputa Territorial e Marítima (Nicarágua vs. Colômbia) 04 de maio de 2011. (Lucia Maria Brito de Oliveira e Maitê de Sou-za Schmitz)

No dia 06 de dezembro de 2001, aRepública da Nicarágua apresentou ação contra a República da Colômbiajunto à Corte Inter-nacional de Justiça (CIJ), reclamando a soberania doArquipélago de San Andrés contestando a validade do Tratado de 1928,49 bem como solicitando nova delimitação marítima entre os dois países.

O requerimento da Nicarágua afirmava que a situação, tal como estava, comprometia gravemente os meios de subsistência do povo nicaraguense, emparticular os habitantes do litoral do mar das Caraíbas – tradicional e destacadamente muito dependentes dos recursos marinhos do local.Destacam ainda que, por conta do uso ou da ameaça do uso da força por parte da Colômbia, os navios nica-raguenses foramlevados a explorar os recursos marinhos a leste do meridiano 82, dadoque as forças navais da Nicarágua não estão em posição dedefendê-los contra a marinha colombiana.

A Nicarágua solicita, assim, determinação da CIJ em favor de sua soberania sobre as ilhas de Providencia, San Andrés e San-taCatarina, bem como de Roncador, Serrana,Serranilla e Quitasueño

49 Tratado de Barcenas-Esguerra, de 1928.

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– na medida em que seja possível a sua apropriação. Requer, ade-mais, a determinação, pela Corte, do curso da fronteira marítima en-tre as áreas de plataformacontinental e da zona econômica exclusiva pertencentes, respectivamente, à Nicarágua e à Colômbia.

A posição colombiana tem sido a de mostrar que, desde o início de sua vida como nação independente, exerceu de forma pública, pacífica e ininterrupta sua soberania e jurisdição sobre o arquipélago de San André, incluindo Roncador, Quitasueño, Ser-rana, Serranilla, Bajo Nuevo e Albuquerque, entre outros. Embasa seu posicionamento no princípio de direito internacional público “pacta sunt servanda”.

A Corte Internacional de Justiça decidiu pela validade do Tratado Esguerra-Bárcenas de 1928, pela soberania da Colômbia sobre o Arquipélago de San Andrés, mais precisamente de San An-drés, Providencia e Santa Catalina. Os tópicos que ficaram por definir pela Corte foram a soberania sobre Roncador, Quitasueño e Serrana – quehistoricamente fizeram parte do Arquipélago de San Andrés e outros componentes insulares deste Arquipélago e a delimitação ma-rítima entre os dois países.

Como costuma ocorrer em disputas marítimas, a presente de-manda suscitou o interesse de diversos Estados vizinhos. Entre 2003 e 2006, os Governos de Honduras, Jamaica, Chile, Peru, Equador e Venezuela solicitaram documentações do caso, nos termos do Art. 53.1 do Regulamento da Corte. Após a decisão quanto às exceções preliminares, a qual restringiu o litígio à delimitação marítima e à questão da soberania sobre formações marítimas outras que as ilhas

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de San Andrés, Providencia e Santa Catalina, tanto Costa Rica (em 25/02/2010) quanto Honduras (em 10/06/2010) submeteram requeri-mentos de intervenção.

Após a submissão, por Honduras, Costa Rica, Nicarágua e Colômbia, de manifestações escritas, foram realizadas audiências sobre o pedido de intervenção em outubro de 2010. Enquanto a Co-lômbia não objetou os pedidos da Costa Rica e de Honduras – con-siderando, inclusive, que os Estados em tela teriam cumprido os re-quisitos do Estatuto para intervirem como não-partes –, a Nicarágua opôs-se aos dois requerimentos.

A tarefa de Costa Rica e Nicarágua, entretanto, não era das mais fáceis. O procedimento de intervenção é um dos mais difíceis de ser obtido na Corte, já conhecida por sua abordagem extremamente restritiva na matéria. De fato, contado tanto o período da CIJ quanto da Corte Permanente de Justiça Internacional, dos quinze pedidos de intervenção formulados, apenas dois foram concedidos: o de Guiné Equatorial, na controvérsia entre Cameroon e Nigéria, e o da Nica-rágua (parcialmente concedido), na disputa entre El Salvador e Hon-duras. Como ambos os casos referiam-se a questões de delimitação marítima, havia a expectativa de que, embora difícil, a tarefa – espe-cialmente da Costa Rica – seria ao menos viável.

As decisões quanto aos pedidos de intervenção foram lidas em audiências públicas realizadas em 04/05/2011. Na ocasião, a CIJ de-cidiu negar os requerimentos da Costa Rica, por 9 votos a 7 (dissi-dentes os Juízes Al Khasawneh, Simma, Abraham, Cançado Trinda-de, Yusuf, Donoghue, e Juiz “ad hoc” Gaja), e de Honduras, por 13

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votos a 2 (dissidentes os Juízes Abraham e Donoghue).

A votação apertada na decisão sobre o requerimento da Costa Rica demonstra a força do caso daquele país no sentido de poder intervir na demanda. O pedido costarriquenho, vale ressaltar, era ex-clusivo para os aspectos de delimitação marítima, e consistia apenas na participação nos procedimentos como não-parte (recebimento de documentos, apresentação de manifestações escritas e orais, etc.). Ao analisar a questão, a Corte estabeleceu que o objeto do pedido de intervenção costarriquenho consistia em informar a Corte sobre seus interesses de natureza jurídica que poderiam ser afetados pela decisão no caso entre Nicarágua e Colômbia, de modo a protegê-los no futuro julgamento. Para a CIJ, tal objeto estaria em conformidade com os requerimentos do seu Estatuto e do seu Regulamento.

A Corte notou, ainda, que, embora Nicarágua e Colômbia dis-cordem quanto aos limites da área em que a Costa Rica possa ter interesse jurídico, ambos concordam que tal interesse existe em pelo menos algumas áreas disputadas pelas Partes na demanda principal. A CIJ concluiu, porém, que a Costa Rica não teria demonstrado que o referido interesse poderia ser afetado pela futura decisão do caso. Acrescentou que, ao seguir a sua jurisprudência em litígios de deli-mitação marítima, a Corte, se necessário, limitará as eventuais linhas fronteiriças para que não atinjam áreas em que interesses jurídicos de terceiros Estados possam estar envolvidos. Como apontaram, en-tretanto, os Juízes Cançado Trindade e Yusuf, em voto dissidente, resta saber como o Tribunal da Haia definirá as áreas em que pode haver interesses jurídicos de terceiros Estados, sem que estes tenham podido se manifestar no caso (“It is not, however, clear how it would

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know about areas where third State interests of a legal nature may exist, without affording a hearing to such States in the main procee-dings”).

O caso de Honduras, como a votação já demonstra, encontrava maiores dificuldades para prosperar. Diferentemente da Costa Rica, Honduras solicitava intervir como parte na demanda e, alternativa-mente, como não-parte. O objeto do pedido para intervir como parte seria o de que a Corte fixasse definitivamente a delimitação marítima entre Honduras, Nicarágua e Colômbia na área em questão. Como não parte, o objeto se assemelhava ao da Costa Rica, pois teria o ca-ráter informativo e protetivo de interesses jurídicos do país na região em disputa.

A Corte recordou que um Estado, ao pedir para intervir, não pode, sob a “máscara da intervenção”, buscar introduzir um novo caso no procedimento já em aberto. Fez referência, ademais, ao seu julgamento de 2007 no litígio entre Nicarágua e Honduras, ao reafir-mar o princípio de “res judicata”. Afirmou, assim, que não teria in-tenção de construir o significado ou o escopo da decisão de 2007, que teria sido claro quanto à irrelevância do paralelo 15 na consideração da delimitação marítima entre Honduras e Nicarágua. A Corte rejei-tou, nessa linha, o argumento de Honduras de que “uma fronteira que não tenha ponto final não pode ser fixada em sua integralidade”, o que deixaria em aberto a delimitação marítima com a Nicarágua, cujo ponto final não foi determinado pela Corte em 2007. Ao contrário, a CIJ esclarece que “what was decided by the Court with respect to the maritime delimitation between Honduras and Nicaragua in the Caribbean Sea is definitive” e que “the decision made by the Court in

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its 2007 Judgment leaves no room for any alternative interpretation”.

A CIJ conclui que os direitos de Honduras em algumas áreas mencionadas no pedido de intervenção não foram contestados nem por Nicarágua nem por Costa Rica. Logo, quanto a essas áreas, não pode haver interesse de natureza jurídica por parte de Honduras que poderia ser afetado pela decisão da Corte na demanda principal. Quanto ao argumento de Honduras relativo ao Tratado de 1986 com a Colômbia, a CIJ recorda o clássico princípio “res inter alios acta”, segundo o qual, de modo geral, tratados bilaterais não conferem di-reitos e deveres a terceiros. A Corte afirmou, em sequência, que não usará como base o Tratado de 1986 ao determinar a fronteira maríti-ma entre Colômbia e Nicarágua. Acrescentou, por fim, que o pedido de Honduras para que a CIJ delimite a fronteira marítima entre os três Estados não guarda relação com o presente procedimento.

Referências:INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Application instituting proceedings.(Nicarágua vs. Colômbia). 6 de dezembro de 2001. Dis-ponível em : http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&k=e2&case=124&code=nicol&p3=0INTERNATIONAL COURT OF JUS-TICE. Merits.Written Proceedings. Memorial of Nicaragua(Nicarágua vs. Colômbia). 28 de Abril de 2003.Disponível em : http://www.icj-cij.org/docket/files/124/13870.pdfINTERNATIONAL COURT OF JUS-TICE. Merits.Written Proceedings.

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Counter-Memorial of Colombia (Nicarágua vs. Colômbia). 11 November 2008.Disponível em: http://www.icj-cij.org/docket/fi-les/124/16969.pdfINTERNATIONAL COURT OF JUS-TICE. Merits.Written Proceedings. Reply of Nicaragua(Nicarágua vs. Colômbia). 18 September 2009.Disponível em: http://www.icj-cij.org/docket/files/124/16971.pdfINTERNATIONAL COURT OF JUS-TICE. Merits.Written Proceedings. Rejoinder of Colombia (Nicarágua vs. Colômbia). 18 June 2010. Disponível em: http://www.icj-cij.org/docket/files/124/16973.pdfINTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Judgments. (Nicarágua vs. Colômbia). em: http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&k=e2&case=124&code=nicol&p3=4

7) Caso sobre o Acordo Interino de 13 de julho de 1995 (Macedô-nia vs. Grécia). Decisão de 05 de dezembro de 2011. Por: Fabio Henrique Araújo Martins.

I - Introdução.Em 05 de dezembro de 2011 foi publicada a decisão da Cor-

te Internacional de Justiça (CIJ) sobre a interpretação eaplicação do Acordode 13 de Setembrode 1995, entre a Macedônia (Requerente) e a Grécia (Requerida).

Nos seus pedidos a Macedônia formulou três requerimentos, vejamos:

(1) Rejeitar as objeções da Grécia sobre a jurisdição da Corte Intenacional de Justiça e a admissibilidade dos pedidos da Reque-

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rente; (2) Julgar e declarar que a Grécia violou o Acordo Interino no

seu Artigo 11, paragrafo 1º; (3) Ordenar que a Grécia tome as medidas necessaria para

cumprir suas obrigações relativas ao Artigo 11, paragrafo 1º do Acor-do Interino de 1995.

O julgamento da Corte vai analisar inicialmente a existencia ou não de jurisdição para atuar no caso e a admissibilidade da deman-da, passando, posteriomente para a análise das contrarazões apresen-tadas pela Grécia, para ao final proferir sua decisão.

II - Da competência da Corte e admissibilidade da deman-da.

A Corte recorda o Artigo 21, parágrafo 2º, do acordo provisó-rio, nos termos do qual qualquer “diferença ou controvérsia” quanto à “interpretação ou implementação” do Acordo Interino é abrangido à jurisdição da Corte, com exceção da “diferença” (relativa ao nome) referida no artigo 5º, parágrafo 1º, do acordo provisório.

A Gréciaalega que a Cortenão teriacompetência para conhe-cerdo presente processo equea demanda é inadmissívelcom basenas seguintes razões.

Em primeiro lugar, alega que acontrovérsiadiz respeito àdife-rençasobre o nomedo Requerente, referidano artigo 5º, parágrafo 1º, do AcordoInterino e que, conseqüentemente, está excluídaa compe-tência da Corteem virtude daexceção prevista no artigo21, parágrafo 2º. Quanto a esse argumento a Corte considera que o texto do Acordo é claro no sentido que a Grécia não poderia levantar objeções sobre a adesão da Macedônia na OTAN.

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Em segundo lugar, a Grécia alega queo objeto do litígioéatri-buível aOTANe todos os seus Estados membros, não estando, por-tanto, sujeita a Requeridaà jurisdiçãoda Corte, nopresente caso. Por outro lado, sustenta ainda que se admitida à demanda, a decisão não poderia ser dada sem determinar a responsabilidade de outros Estados membros da OTAN, o que violaria o artigo 36 (1) do Estatuto da Corte que trata da impossibilidade de pronúncia de Estado não submetido à jurisdição da Corte. Neste ponto a Corte entende que seu julgamento deve analisar no merito se a Grécia cumpriu ou não suas obrigações firmadas no Acordo Interino, sendo necessaria tão somente a analise da conduta Grega, não importando os demais membros da OTAN.

Em terceiro lugar, a Grécia alegaque o acórdão daCorte Inter-nacional de Justiça nopresente caso,seria incapaz deaplicação efetiva, porque não poderia mudar a decisão da OTAN acerda da admissãoda Macedônia naOrganização. Quanto a este ponto a Corte entende que a Macedônia não requer que seja revertida a desição da OTAN, mas requer que se declare se a Grécia violou ou não o Acordo Interino.

Em quarto lugar, a Grécia alega queo exercício da jurisdição-pela Corteiria interferir comcursonegociações diplomáticasmediadas peloConselho de Segurançasobrea diferençado nomee, portanto,seria incompatívelcom a funçãojudicialdo Corte. Quanto a este ponto a Corte entende que seaspartes firmaram um Acordo que previa a ju-risdição da Corte é porque consideraram queuma decisãofuturaneste assunto não poderia interferirnas negociaçõesdiplomáticas entre os países.

*Após a apreciação destes pontos a Corte conclui que temjuris-

dição sobre a controvérsiae que a demanda é admissível.

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III - Se A Grécia não cumpriu com a obrigação prevista no artigo 11, parágrafo 1º, do Acordo.

Primeiramente a Corte considera que a origem da disputa está no entendimento divergente quanto ao conteúdo da obrigação do re-ferido Artigo do citado Acordo.

Então a Corte vai examinar o significado da obrigação de não se opor a adesão da Macedônia a OTAN, observando que as partes concordam que a obrigação de “não levantar objeções”, é uma obri-gação de conduta e não de resultado, assim, não se trata da Corte de-cidir se a Requerida mantém ou não o direito de opôr-se a admissão do Requerente às organizações internacionais.

A Corte ponderará, em seguida, se a Grécia realmente fez oposição à admissão da Macedônia na OTAN. Para isso, ira se de-bruçar sobre as provas que lhe são submetidas pelas partes, a fim de decidir se o registrado apoia a tese da Requerente de que a Requerida opôs à sua participação no âmbito da OTAN. A Corte conclui que a Grécia opôs à admissão da Macedônia a OTAN, violando a parte primeira do artigo 11, parágrafo 1º, do Acordo Interino.Em seguida a Corte se volta para a questão de saber se a objeção da Grécia para admissão da Macedônia à OTAN caiu dentro da exceção contida na parte segunda do artigo 11, parágrafo 1º, do Acordo Inte-rino.

A interpretação da referida norma, em conformidade com os artigos 31 e 32 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, levou a Corte a concluir que a Grécia não tem o direito de opor-se a admissão da Macedônia a uma organização baseada na perspectiva de que a Requerente se referir a si em tal organização com o seu

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nome constitucional. Finalmente, a Corte, considerando que as partes não tinham a inten-ção de esvaziar o conteúdo da primeira parte do artigo 11, sendo, por-tanto, impossível aceitar a interpretação defendida pela Reclamada.

À luz do exposto, o julgamento conclui que a Grécia não cumpriu com sua obrigação nos termos do artigo 11, parágrafo 1º, do Acordo, opondo-se a admissão da Macedônia na OTAN em Bucareste. Considerando que a perspectiva da Requerente se referir a si mesma no âmbito da OTAN com o seu nome constitucional não tornar essa objeção legal ao abrigo da excepção contida na parte segunda do artigo 11, parágrafo 1º. Acrescenta-se que, nas circunstâncias do presente caso, o artigo 22 do Acordo não fornece uma base para a Reclamada fazer uma objeção quanto à inconsistência do artigo 11, parágrafo 1º.

IV - Das justificativas adicionais invocadas pela Grécia.No exame das demais contrarazões apresentadas pela Grécia

a Corte Internacional de Justiça observa que, como uma alternativa para o seu principal argumento de que cumpriu as suas obrigações decorrentes do Acordo, a Grécia alega que a ilicitude de qualquer ob-jeção à admissão da Macedônia a OTAN é excluída pela doutrina da ‘exceptio non adimpleti contractus’ (tal princípio prescreve que ne-nhuma parte pode exigir da outra parte o cumprimento da obrigação, antes de cumprir sua obrigação).

A Reclamada ainda sugere que qualquer falha em cumprir com suas obrigações do Acordo pode ser justificada tanto como uma resposta a uma violação substancial de um tratado e como uma con-tramedida ao abrigo da lei da responsabilidade do Estado. Evocando

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o artigo 60 da Convenção de Viena sobre os Tratados.A Grécia apresenta três argumentos distintos para a exceptio,

afirmando que a Macedônia violou diversas disposições do Acordo, justificando que a objeção da Reclamada para admissão da Macedô-nia na OTAN foi feita em resposta a essas violações.

(A). Alegada violação pela Macedônia da segunda parte do artigo 11, parágrafo 1º.A Corte observa que o texto da segunda parte do artigo 11, parágrafo 1º, não impõe a obrigação da Macedônia de não se referir pelo seu nome constitucional em uma organização internacional ou instituição, senão com a referência provisória “An-tiga República Iugoslava da Macedônia”.

Para a Corte a segunda parte contém uma importante exceção à obrigação, mas que não a transforma em uma obrigação do Reque-rente. Assim, a Corte não encontra nenhuma violação desta disposi-ção, não sendo dada guarida a argumentação Grega.

(B). Alegada violação pela Macedônia do artigo 5º, pará-grafo 1º.Sobre esta alegação a Corte observa que embora o artigo 5º, parágrafo 1º, não contenha qualquer exigência expressa de que as partes devam negociar de boa fé, essa obrigação é implícita a esta disposição. Observando que o fracasso na negociação, 16 anos após a conclusão do Acordo, não significa em si, que qualquer das partes descumpriu sua obrigação de negociar com boa fé. A Corte considera, portanto, que a obrigação contida no Acordo não é de fim (alcançar uma solução), mas, de meio (realizar uma ne-gociação). Além disso, observa que há evidências suficientes de que as partes estavam negociando séria e honestamente, como propostas e contrapropostas de ambas as partes.

Assim, a Corte conclui que a Grécia não satisfez o seu ônus

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de demonstrar que a Macedônia descumpriu a sua obrigação de ne-gociar com boa fé, rejeitando este argumento.

(C). Alegada violação pela Macedônia do artigo 6º, pará-grafo 2º.A Corte considera que a Grécia não apresentou qualquer evidência convincente para sugerir que a Macedônia tem interpreta-do a Constituição com o sentido de proporcionar o direito de inter-ferir nos assuntos internos da Grécia em nome de cidadãos Macedô-nios. A Corte, portanto, não entende que a Macedônia tema violado o referido dispositivo, como alega a Requerida.

*As outras alegações de violação pela Macedônia estão rela-

cionadas ao artigo 7º em seus três paragrafos que tratam das relações entre os dois países.

(D). Alegada violação pela Macedônia, do artigo 7º, pa-rágrafo 1º.Aqui a Grécia alega a violação do Acordo Interino no que diz respeito à relação entre os dois países, particularmente no que tange a proibição de atos hostis, ou propaganda negativa que deprecie o outro país. Neste ponto a Corte também considera que a Macedônia não violou a citada norma, já que a Grécia não apresen-tou nenhum indicio ou provas robustas que convalide sua afirmativa.

(E). Alegada violação pela Macedônia, do artigo 7º, pará-grafo 2º.A Corte lembrou que a Macedônia até o ano de 2004 ainda possuia um regimento que utilizava no uniforme à antiga banderia contendo a Estrela de Vergina, sendo extindo tal simbolo antes da petição, não havendo, a época da petição, qualquer violação do su-pracitado dispositivo.

(F). Alegada violação pela Macedônia do artigo 7º, pará-grafo 3º.Por fim esta alegação de violação do ultimo parágrafo do

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artigo citado, que prevê a possibilidade do alerta de uma parte para a outra, caso, uma destas venha oficialmente a empregar indevida-mente simbolos históricos-culturais da outra, obrigando a correção ou justificativa do ato por parte de quem o cometa.

Sobre esta objeção a Corte conclui que a Grécia não cum-priu o ónus de demonstrar uma violação do artigo 7º, parágrafo 3º, por parte da Macedônia, não apresentando elementos consistentes de suas alegações. *

Assim sendo o Corte conclui que não houve qualquer vio-lação do Acordo Interino por parte da Macedônia, já que não existe ilicito que aponte o descumprimento do Acordo pela mesma.

V - Remédios.Em primeiro lugar, a Macedônia pede a declaração da Corte

de que a Grécia agiu ilegalmente e, por outro, pede a Corte que se ordene a Grécia a se abster de qualquer ação que viole as suas obriga-ções nos termos do artigo 11, parágrafo 1º, do Acordo Interino.

Ao cabo de sua análise, a Corte constatou a violação pela Gré-cia de sua obrigação nos termos do artigo 11, parágrafo 1º, do Acor-do. Quanto a possíveis soluções para tal violação, a Corte considera que a declaração de que a Grécia violou sua obrigação de não se opor à admissão da Macedônia como candidato ou membro da OTAN se justifica.

Além disso, a Corte considerou desnecessário ordenar a Gré-cia, como requer a Macedônia, que se abstenha de qualquer com-portamento futuro que viola a sua obrigação nos termos do artigo 11, parágrafo 1º, do Acordo. Para o Corte não há razão para supor

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que, um Estado cuja ação ou conduta tenha sido declarada ilegal pela Corte, irá repetir esse ato ou conduta no futuro, já que a boa-fé deve ser presumida.

Nestes termos a Corte conclui que a declaração de que a Gré-cia violou sua obrigação nos termos do artigo 11, parágrafo 1º, do Acordo, constitui uma reparação adequada, não havendo necessida-de de sentença condenatória.

VI - Votação.(1) Por quatorze votos a dois: 14/2.

A Corte conclui que tem competência para conhecer do re-querimento apresentado pela ‘Antiga República Iugoslava da Macedônia’ em 17 de Novembro de 2008 e que esta aplica-ção é admissível;

(2) Por quinze votos a um: 15/1.

A Corte conclui que a Grécia, opondo-se a admissão da Ma-cedônia à OTAN, violou a sua obrigação nos termos do artigo 11, parágrafo 1º, do Acordo Interino de 13 de Setembro de 1995;

(3) Por quinze votos a um: 15/1.

A Corte rejeita todos os demais pedidos formulados pela Ma-cedônia.

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Referências Acordo Interino entre Macedônia e Grécia de 13 de setembro de 1995. Disponível em: [http://www.macedonian-heritage.gr/Official-Documents/Interim.html]. Acesso em 02 de maio de 2012.Resolução 817 de 07 de abril de 1993. Disponível em: [http://dac-cess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N93/203/74/IMG/N9320374.pdf?OpenElement]. Acesso em 02 de maio de 2012.Resolução 845 de 18 de junho de 1993. Disponível em: [http://www.hri.org/docs/fyrom/S.RES.845.html]. Acesso em 02 de maiio de 2012.Summaries of Judgments and Orders of 5 December 2011. Disponív-el em: http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=2&case=142&code=aci&p3=5.Acesso em 02 de maio de 2012.

8)Construção de Estrada na Costa Rica ao Longo do Rio San Juan- (Nicarágua v. Costa Rica) - (Lucia Maria Brito de Oliveira)

No dia 22 de dezembro de 2011, a República da Nicarágua apresentourequerimento ante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) contra a República da Costa Ricapor “violações à soberania nicara-guense e graves danos ambientais a seu território” por obrasna cons-trução de uma estrada na região fronteiriça do rio San Juan50.

As autoridades nicaraguenses destacaram que o requeri-

50 Estrada paralela na margem esquerda do rio San Juan de Nicarágua com uma extensão de 120 kmque se inicia em Los Chiles (a oeste) e se encerra no Delta (a leste).

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mento apresentado erauma resposta às ações unilaterais costarrique-nhas que ameaçavam destruir o rio San Juan deNicarágua e seu frágil ecossistema que incluía também as reservas adjacentes de biosfera eas zonas úmidas internacionalmente protegidas dependentes de um fluxo ininterrupto e limpodo rio’. Sublinharam também que as obras já havia resultado em um lançamento de volumessubstanciais de se-dimentos produzidos pelas escavações do terreno contíguo ao rio. Estasedimentação do rio implicava em um claro e iminente perigo para a qualidade da água e da vidaaquática e para a flora e a fauna, raras e diversas, que povoavam as margens do rio de modoparticular a Reserva Biosfera Índio Maiz.

No requerimento apresentado, as autoridades nicaraguenses afirmaram que omaior impacto ao meio ambiente seria a degradação posterior do solo já devastado pelodesflorestamento devido princi-palmente aos empreendimentos agrícolas e industriais noterritório costarriquenho e danos substanciais ao rio San Juan, à paisagem e à biodiversidade.

Afirmam que a Costa Rica não somente se recusou repeti-damente a fornecer informações àNicarágua através de dados apro-priados sobre as obras como também negou que tenhaobrigação de elaborar e de fornecer a Nicarágua uma avaliação do impacto am-biental daconstrução da estrada que permita uma visão dos trabalhos em curso. O pretendente pedeconsequentemente à Corte para requi-sitar a produção de uma avaliação de impacto ambientalpor parte das autoridades costarriquenhas e comunicá-la à Nicarágua.

Nicarágua salientou que os aspectos factuais e legais conec-tados ao caso emcurso ante à Corte Internacional de Justiça também o eram no caso igualmente em cursoreferente a Certas Atividades

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393Jurisprudência da Corte Internacional de Justiça em 2011

Realizadas pela Nicarágua na Área de Fronteira (Costa Ricaver-sus Nicarágua)51 e se reservou o direito de considerar em uma fase subsequente dopresente requerimento a reunião de ambos os casos.

Cabe destacar que no caso acima mencionado (Costa Rica versus Nicarágua),Costa Rica apresentou quatro alegações contra Nicarágua: incursão no territóriocostarriquenho pelo Exército nica-raguense, ocupação e utilização de uma parte deste eviolações pela Nicarágua das obrigações com relação à Costa Rica em virtude de diversosinstrumentos de direito internacional. A Costa Rica acusou a Nicarágua de ter ocupado em doisincidentes distintos seu território para a construção de um canal entre o rio San Juan e alaguna de los Portillos além de algumas atividades conexas de dragagem levadas a cabo noRio San Juan. A este propósito, a requerente declarou que os “trabalhos de dragagem atuais eprevistos bem como a construção do canal alterarão gravemente o fluxo das águas quealimenta o rio Colorado, rio costarriquenho, e causarão outros danos a seu terri-tório, sobretudoàs zonas úmidas e às reservas nacionais da flora e fauna selvagens da região.”, solicitando àCorte que a Nicarágua não causasse danos ao território costarriquenho, de não desviarartificial-mente o rio San Juan de seu curso natural sem o consentimento da Costa Rica, de nãoproibir a navegação de costarriquenhos no rio San Juan, de não realizar operações dedragagem no rio San Juan se estas atividades tiverem um efeito danoso para o territóriocostarriquenho e a determinação de reparações devidas pela Nicarágua.

No caso Nicarágua versus Costa Rica, a solicitação nica-

51 Certain Activities Carried out by Nicaragua in the Border Area (Costa Rica versus Nica-ragua). 18de dezembro de 2010.

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raguense no que tangeàs obras de construção da estrada em região fronteiriça não se circunscreve somente àrestauração do status quo ante e ao ressarcimento dos danos causados (inclusos os custosadi-cionais pela dragagem do rio San Juan), mas também a necessidade de que futurosempreendimentos na área não sejam levados a cabo sem a existência de uma avaliaçãotransfronteiriça de impacto am-biental e que haja tempo suficiente para análise e reação porparte do requerente, Nicarágua, dado que segundo no processo, a Costa Rica teria serecusado repetidamente a dar informações sobre a construção e seus impactos ambientais.

À Corte Internacional de Justiça, a requerente solicitou uma declaração de que aCosta Rica violou tanto suas obrigações de não violar a integridade territorial nicaraguense ede não causar danos ao território nicaraguense quanto à obrigação geral de direitointernacio-nal e de relevantes convenções ambientais.

Após a oitiva das partes pelo Presidente da Corte no dia 19 de janeiro de 2012sobre o lapso temporal necessário para a elabora-ção para a primeira rodada de defesasescritas, a Corte Internacional de Justiça fixou como prazos para as defesas escritas os dias 19de dezembro de 2012 para o memorial da República da Nicarágua e o dia 19 de dezembro de2013 para o contra memorial da República da Costa Rica bem como reservas.

Referências:INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Application of the Re-public of Nicaraguainstituting Proceedings against the Republic of Costa Rica. Dezembro de 2011. http://www.icj-cij.org/docket/in-dex.php?p1=3&p2=2&case=152&code=ncr2&p3=0. Acesso: 13 de abrilde 2012.

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395Jurisprudência da Corte Internacional de Justiça em 2011

INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Order: Fixing of time-limits Memorial and Counter-Memorial. General List No. 152. Ja-neiro de 2012. http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=2&case=152&code=ncr2&p3=3. Acesso: 13 de abril de 2012. INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Certain Activities Car-ried out by Nicaragua in the Border Area (Costa Rica versus Ni-caragua). Dezembro de 2010. http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&k=ec&case=150&code=crn&p3=0. Acesso: 13 de abril de 2012.INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. Fixing of time-limits: Memorial and Counter-Memorial (Costa Rica versus Nicarágua). Abril de 2011. http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&code=crn&case=150&k=ecAcesso: 13 de abril de 2012.

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TRATADOS INTERNACIONAIS 2011

Coordenação Geral de Pesquisas: Leonardo Lima Naranjo

Pesquisadores:

Flavia Salum Carneiro Soares (Coordenadora)Efson Batista Lima

Mariana Cecília Rodrigues NogueiraMonique Rocha Salermo Lisboa

Paula Uematso Arruda

1) Tratados Bilaterais

a) Brasil e países europeus/União Europeia

Alemanha: Ajuste Complementar, por Troca de Notas, ao Acordo Básico de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo República Federal da Alemanha sobre Projeto de Cooperação Acadêmica na Área de Florestas Tropicais, Eficiência Energética e Energias Renováveis. Dispõe sobre a promoção do projeto “ Cooperação acadêmica orientada pela demanda entre o Brasil e Alemanha nas áreas “Florestas Tropicais” e ‘Energia’ no Brasil com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento social e econômico no Brasil nas áreas de proteção e uso sustentável da floresta tropical. Assinado em 18 de outubro de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

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Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-por-troca-de-notas-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-republica-federal-da-alemanha-sobre-projeto-de-cooperacao-academica-na-area-de-florestas-tropicais-eficiencia-energetica-e-energias-renovaveis/at_download/arquivo

Alemanha: Ajuste Complementar, por Troca de Notas, ao Acordo Básico de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Federal da Alemanha sobre as Negociações Intergovernamentais realizadas em setembro de 2009. Os países acordam em dar continuidade a projetos cujo objetivo principal é contribuir para o desenvolvimento social e econômico da República Federativa do Brasil. Assinado em Brasília em 29 de setembro de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Alemanha: Ajuste Complementar, por Troca de Notas, ao Acordo Básico de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Federal da Alemanha sobre as Negociações Intergovernamentais realizadas em setembro de 2009 [Nota 3/2011]. Dispões sobre a continuidade do suporte dos projetos “ Áreas Protegidas e Uso Sustentável dos Recursos Naturais”,”Demarcação e Proteção de terras Indígenas”,”Ordenamento Territorial e Planejamento Regional na Amazônia”, “Promoção do Fundo Amazônia”; “Programa Fontes Renováveis de Energia e Eficiência Energética”. Assinado dia 29 de setembro de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-por-troca-de-notas-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-entre-

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o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-federal-da-alemanha-sobre-as-negociacoes-intergovernamentais-realizadas-em-setembro-de-2009-nota-3-2011/at_download/arquivo

Alemanha: Acordo, por Troca de Notas, entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo República Federal da Alemanha para Isenção Recíproca de Imposto de Renda sobre Juros de Bancos Oficiais. Dispõe que os rendimentos auferidos por um banco brasileiro a título de pagamentos de juros, ou similares, bem como comissões e outros custos incidentais resultantes de contratos de empréstimos, garantias ou créditos por meio de garantias bancárias, originários da Alemanha, são isentos de impostos sobre a renda na Alemanha. Assinado em Brasília em 14 de setembro de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Alemanha: Declaração Conjunta sobre o Intercâmbio na Área de Combustíveis Alternativos e Tecnologias de Propulsão Inovadoras entre o Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e o Ministério Federal de Transportes, Construção Civil e Desenvolvimento Urbano da República Federal da Alemanha. Dispõe sobre o desejo das partes em aprofundar a cooperação em curso no que tange às questões fundamentais de combustíveis alternativos e tecnologias de propulsão inovadoras em prol de uma mobilidade apta para o futuro. Assinado em Brasília, no dia 31 de março de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Alemanha: Ajuste Complementar, por Troca de Notas, ao Acordo

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Básico de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo República Federal da Alemanha sobre as Negociações Intergovernamentais de 2007. Dispõe sobre a contribuição da Alemanha para o desenvolvimento social e econômico na República Federativa do Brasil nas áreas de Meio Ambiente e de Desenvolvimento Regional Integrado. Assinado em Brasília, no dia 7 de dezembro de 2011- aguarda aprovação.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Alemanha: Ajuste Complementar, por Troca de Notas, entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo República Federal da Alemanha sobre Cooperação Financeira relativo ao Projeto *Programa Aberto Energias

Renováveis/Eficiência Energética (Eletrobrás) e Copa Solar . Dispõe sobre a concessão de contribuições financeiras não reembolsáveis, bem como de empréstimos alemães, com vistas a promover o desenvolvimento na República Federativa do Brasil. Assinado em Brasília, no dia 27 de junho de 2011- aguarda aprovação.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/*

Alemanha: Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Republica Federal da Alemanha sobre Cooperação no Contexto de Grandes Eventos Internacionais. Dispõe sobre o apoio às ações preparatórias para a organização dos Eventos por meio da prestação de cooperação técnica entre as Partes, que incluem atividades de formação profissional, capacitação técnica, transferência de conhecimento e fortalecimento institucional em áreas identificadas como de prioridade entre as Partes. Assinado em Brasília, em 13 de setembro de 2011 e com

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401Tratados Internacionais 2011

entrada em vigor na mesma data. Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Bulgária: Declaração Conjunta para Cooperação no Campo das Tecnologias da Informação e das Comunicações entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Bulgária. A declaração estabelece o Intercâmbio de informações, experiências e melhores práticas sobre assuntos relacionados a Tecnologias da Informação e das Comunicações. Assinado em Sofia, no dia 5 de outubro de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Dinamarca: Protocolo Alterando a Convenção entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Reino da Dinamarca Destinada a Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre a Renda. Dispõe sobre o desejo das partes em concluir um Protocolo para alterar a Convenção entre o Brasil e a Dinamarca destinada a Evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal em Matéria de Impostos sobre a Renda, celebrada em Copenhague em 27 de agosto de 1974 (doravante referida como “a Convenção”), celebrado em Copenhague em 27 de Agosto de 1974. Celebrado em Copenhague, em 23 de março de 2011 - aguarda aprovação.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Eslovênia: Acordo Quadro de Cooperação no Domínio educacional entre o Governo da República Federativa do Brasil e o

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Governo da República da Eslovênia. Dispõe sobre o aprofundamento das relações entre os países na área educacional. Celebrado em Liubliana, em 20 de setembro de 2011 – não está vigente.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/pesquisa_ato_bil

França: Declaração de Intenções entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Francesa para a Implementação de Projeto de Cooperação Bilateral em Computação de Alto Desempenho (“Supercomputação”). Dispõe sobre o apoio desses governos no quadro da parceria estratégica bilateral com o objetivo de instalar uma infraestrutura de computação de alto desempenho no Brasil.Assinado em Brasília, em 22 de fevereito de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

França: Acordo entre a República Federativa do Brasil e a República Francesa

em Matéria de Previdência Social. Dispõe sobre o estreitamento dos laços de cooperação em matéria de previdência social. Assinado em Brasília, no dia 15 de dezembro de 2011- aguarda aprovação.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

França: Memorando de entendimento entre o Ministério da Educação (MEC), da República Federativa do Brasil, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) da República Federativa do Brasil e o Ministério das Relações Exteriores e Européias da República Francesa, relativo à recepção de estudantes bolsistas brasileiros na França. Dispõe sobre o desejo das partes de que a França receba, em um período de três anos, a partir de 2012, 10.000 bolsistas brasileiros,

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403Tratados Internacionais 2011

apoiados pelo programa “Ciência sem Fronteiras“. Assinado em Brasília, no dia 15 de dezembro de 2011.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-do-primeiro-ministro-da-franca-francois-fillon-ao-brasil-brasilia-15-de-dezembro-de-2011/print-nota

França: Acordo de Cooperação entre a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de nível Superior (CAPES) e Campusfrance visando a implantação de Bolsas de estudo de graduação sanduíche na França, previstas no programa Ciência sem Fronteiras. Dispõe sobre o apoio, por intermédio de bolsas de estudo, a brasileiros que pretendem realizar estudos de graduação sanduíche em uma instituição francesa. Assinado em Brasília, no dia 15 de dezembro de 2011.

Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-do-primeiro-ministro-da-franca-francois-fillon-ao-brasil-brasilia-15-de-dezembro-de-2011

França: Acordo de cooperação entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Campusfrance visando a implantação de bolsas de estudo de graduação sanduíche na França, previstas no programa Ciência sem Fronteiras. Dispõe sobre a concessão de bolsas de estudo a cidadãos brasileiros de excelente desempenho acadêmico, matriculados em cursos de graduação, que pretendem realizar estudos de graduação em uma instituição francesa. Assinado em Brasília, no dia 15 de dezembro de 2011.

Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-do-primeiro-ministro-da-franca-francois-fillon-ao-brasil-brasilia-15-de-dezembro-de-2011

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Grã- Bretanha e Irlanda do Norte:Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte sobre Intercâmbio e Cooperação Cultural. Dispõe sobre o acordo das partes em desenvolver ações conjuntas de cooperação e intercâmbio cultural, concentradas no fortalecimento de seus laços culturais e no aumento do intercâmbio cultural entre indivíduos e instituições de ambos os países. Assinado em Brasília, no dia 21 de junho de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Grã- Bretanha e Irlanda do Norte: Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte sobre Parceria para o Desenvolvimento Mundial. Dispõe sobre o desejo das partes em desenvolver uma parceria para desenvolvimento global. O objetivo da parceria será o de cooperar para promover a redução da pobreza mundial, por meio de práticas e políticas melhoradas de desenvolvimento internacional. Assinado em Brasília, no dia 21 de junho de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Lituânia: Memorando de Entendimento entre o Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e o Ministério dos Negócios Estrangeiros da República da Lituânia sobre Consultas Políticas. Dispõe sobre o acordo das partes em estabelecer consultas políticas e a troca de opiniões, em diferentes níveis, sobre temas

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405Tratados Internacionais 2011

das relações bilaterais e problemas regionais e internacionais de interesse mútuo.Assinado em Brasília, no dia 11 de abril de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Noruega: Memorando de Entendimento entre o Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido da Noruega. Dispõe sobre o desejo das partes em intensificar as consultas políticas entre elas e estabelecer um mecanismo prático e eficiente para consulta sobre questões de mútuo interesse. Assinado em Brasília, no dia 30 de março de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/

Países Baixos: Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o

Reino dos Países Baixos Relativo à Cooperação em Assuntos de Defesa. Dispõe sobre a promoção da cooperação em assuntos relativos à defesa, principalmente nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, apoio logístico e aquisição de produtos e serviços de defesa. Assinado em Brasília, no dia 7 de dezembro de 2011 - aguarda aprovação.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/pesquisa_ato_bil

Turquia: Acordo sobre Transferência de Pessoas Condenadas entre a República Federativa do Brasil e a República da Turquia. Dispõe sobre o desejo dos países em facilitar a reabilitação de pessoas condenadas consideram que esse objetivo deve ser satisfeito mediante a concessão a nacionais estrangeiros que tenham sido condenados e sentenciados, como resultado da comissão de um

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406 VII ANUÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL

crime, de oportunidade de cumprir suas penas em sua própria sociedade.Assinado em Ancara, no dia 7 de outubro de 2011- aguarda aprovação.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/pesquisa_ato_bil

UNIÃO EUROPÉIA:

Carta de Intenções para diálogo em políticas espaciais entre o sr. Aloizio Mercadante, ministro da ciência, tecnologia e inovação da República Federativa do Brasil e o sr. Antonio Tajani, vice-presidente da Comissão Europeia. Dispõe sobre a pretensão das partes em estabelecer um diálogo estruturado em cooperação espacial, envolvendo a Agência Espacial Européia e a Agência Espacial Brasileira, com o objetivo de construir um sistema efetivo de parceria e cooperação entre a UE e a República Federativa do Brasil em atividades espaciais civis em diversas áreas. Assinada em Bruxelas, no dia 4 de outubro de 2011

Fonte: http://europa.eu/index_pt.htm

Carta de Intenções – Cooperação entre o Ministério da ciência, tecnologia e inovação do Brasil e o Joint Reserarch Centre da Comissão Européia. Dispõe sobre o fortalecimento da cooperação científica por meio do Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica (C&T) entre o Brasil e a União Européia, assinado em 2004, que proporciona um quadro amplo para cooperação e baseia-se nos princípios de benefício mútuo, intercâmbio de informações, acesso recíproco às atividades e programas de cada parte e proteção efetiva dos direitos de propriedade intelectual.Assinada em Bruxelas, no dia 4 de outubro de 2011.

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Page 407: CEDIN. VII Anuário Brasileiro de Direito Internacional

407Tratados Internacionais 2011

Fonte: http://europa.eu/index_pt.htm

Declaração Conjunta entre o Ministro de Turismo da República Federativa do Brasil e o vice-presidente da Comissão Europeia sobre a experiência piloto dos 50.000 turistas com vistas ao fortalecimento dos fluxos turísticos entre a América do Sul e a Europa. Dispõe sobre a promoção de ações para facilitar os fluxos turísticos entre a Europa e o Brasil por meio da promoção de viagens. Assinada em Bruxelas, no dia 4 de outubro de 2011.

Fontes: http://europa.eu/index_pt.htm

b) Brasil e Ásia

Camboja: Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Reino do Camboja sobre Isenção de Visto para Portadores de Passaportes Diplomáticos, Oficiais ou de Serviço. Dispõe sobre a isenção de Visto para Portadores de Passaportes Diplomáticos. Celebrado em Brasília, no dia 2 de maio de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/acordo-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-do-reino-do-camboja-sobre-isencao-de-visto-para-portadores-de-passaportes-diplomaticos-oficiais-ou-de-servico

Filipinas: Declaração Conjunta do Ministro das Relações Exteriores do Brasil e do Secretário de Negócios Estrangeiros das Filipinas sobre Cooperação no Enfrentamento ao Problema Mundial das Drogas e Crimes Conexos. Dispõe sobre a cooperação no Enfrentamento ao Problema Mundial das Drogas e Crimes Conexos

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Page 408: CEDIN. VII Anuário Brasileiro de Direito Internacional

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celebrado em Brasília, no dia 23 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/declaracao-conjunta-do-ministro-das-relacoes-exteriores-do-brasil-e-do-secretario-de-negocios-estrangeiros-das-filipinas-sobre-cooperacao-no-enfr-entamento-ao-problema-mundial-das-drogas-e-crimes-conexos

Nepal: Memorando de Entendimento para o Estabelecimento de Mecanismo de Consultas Bilaterais entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Federal Democrática do Nepal. Dispõe sobre o estabelecimento de Mecanismo de Consultas Bilaterais. Celebrado em Brasília, no dia 3 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/memorando-de-entendimento-para-o-estabelecimento-de-mecanismo-de-consultas-bilaterais-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-gover-no-da-republica-federal-democratica-do-nepal

Sri Lanka: Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Socialista do Sri Lanka sobre Isenção de Vistos para Portadores de Passaportes Diplomático, Oficial e de Serviço. Dispõe sobre a isenção de Vistos para Portadores de Passaportes Diplomáticos .Celebrado em Brasília, no dia 7 de março de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/acordo-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-socialista-do-sri-lanka-sobre-isencao-de-vistos-para-portadores-de-passaportes-diplomatico-oficial-e-de-servico/

Sri Lanka: Memorando de Entendimento entre o Ministério das

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409Tratados Internacionais 2011

Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e o Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Democrática Socialista do Sri Lanka para o Estabelecimento de um Mecanismo para Consultas Políticas. Dispõe sobre a cooperação para o estabelecimento de um Mecanismo para Consultas Políticas. Celebrado em Brasília, no dia 7 de março de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/memorando-de-entendimento-entre-o-ministerio-das-relacoes-exteriores-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-ministerio-dos-negocios-estrangeiros-d-a-republica-democratica-socialista-do-sri-lanka-para-o-estabelecimento-de-um-mecanismo-para-consultas-politicas

c) Brasil e África/Oceania

Benin: Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica entre o Governo da Republica Federativa do Brasil e o Governo da República do Benin para a Implementação do Projeto-piloto “fortalecimento institucional do setor portuário do Benin”. Dispõe sobre a cooperação técnica na área de portos marítimos. Assinado em Brasília, no dia 23 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-de-cooperacao-tecnica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-do-benin-para-a-implementacao-do-projeto-piloto-201cfortalecimento-institucional-do-setor-portuario-do-benin201d/

Benin: Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica entre o Governo da Republica Federativa do Brasil e o Governo da República do Benin para a Implementação do Projeto “ Inserção

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410 VII ANUÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL

Social Pela pratica Esportiva do Futebol. Dispõe sobre a cooperação técnica para o desenvolvimento.Assinado em Brasília, no dia 23 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte: http://dai-mre.serpro.gov.br/pesquisa_ato_bil

Benin: Protocolo de Intenções entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República do Benim para Cooperação Técnica na Área de Inclusão Social por meio da Prática Esportiva. Dispõe sobre a cooperação Técnica na Área de Inclusão Social por meio da Prática Esportivo. Assinado em Brasília, no dia 16 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/protocolo-de-intencoes-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-do-benim-para-cooperacao-tecnica-na-area-de-inclusao-social-por-meio-da-pratica-esportiva

Cabo Verde: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica e Cientifica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Cabo Verde para a Implementação do Projeto “Reforço Institucional da Infraestrutura de Chaves Públicas de Cabo Verde (ICP-CV)”. Dispõe sobre a cooperação técnica na área de tecnologia da informação, especificamente da certificação digital. Assinado em Brasília, no dia 2 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-cabo-verde-para-a-implementacao-do-projeto-201creforco-institucional-da-infraestrutura-de-chaves-publicas-de-cabo-verde-icp-cv-201d

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411Tratados Internacionais 2011

Cabo Verde: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica e Cientifica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Cabo Verde para a Implementação do Projeto “Fortalecimento da Gestão do Patrimônio Material e Imaterial de Cabo Verde: Os Casos de Cidade Velha e Cimboa”. Dispõe sobre a cooperação técnica na área de gestão de patrimônios culturais. Assinado em Brasília, no dia 2 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-cabo-verde-para-a-implementacao-do-projeto-201cfortalecimento-da-gestao-do-patrimonio-material-e-imaterial-de-cabo-verde-os-casos-de-cidade-velha--e-cimboa201d

Cabo Verde: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica e Cientifica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Cabo Verde para a Implementação do Projeto “Consolidação da ARFA como Agente Regulador dos Setores Farmacêutico e Alimentar em Cabo Verde – Fase 2”. Dispõe sobre a cooperação técnica para a proteção e a promoção da saúde da população de Cabo Verde por meio do acesso a medicamentos e alimentos com maior qualidade e segurança. Assinado em Brasília, no dia 2 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-cabo-verde-para-a-implementacao-do-projeto-201c-consolidacao-da-arfa-como-agente-regulador-dos-setores-farmaceutico-e-alimentar-em-cabo-verde-201-

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412 VII ANUÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL

3-fase-2201d

Cabo Verde: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica e Cientifica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Cabo Verde para a Implementação do Projeto “Apoio ao Desenvolvimento Habitacional de Cabo Verde – Fase 2”. Dispõe sobre a cooperação técnica para o fortalecimento da capacidade de resposta do Governo caboverdiano no combate ao déficit habitacional nacional quantitativo e qualitativo. Assinado em Brasília, no dia 2 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-cabo-verde-para-a-implementacao-do-projeto-201capoio-ao-desenvolvimento-habitacional-de-cabo-verde-2013-fase-2201d

Cabo Verde: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica e Cientifica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Cabo Verde para a Implementação do Projeto “Fortalecimento da Capacidade Institucional da Agência de Aviação Civil de Cabo Verde”. Dispõe sobre a cooperação técnica na área de regulação e fiscalização da aviação civil . Assinado em Brasília, no dia 2 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-cabo-verde-para-a-implementacao-do-projeto-201cfortalecimento-da-capacidade-institucional-da-agencia-de-aviacao-civil-de-cabo-verde201d

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413Tratados Internacionais 2011

Cabo Verde: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica e Cientifica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Cabo Verde para a Implementação do Projeto “Reforço do Sistema das Áreas Protegidas de Cabo Verde”. Dispõe sobre a cooperação técnica para a conservação e gestão de áreas protegidas. Assinado em Brasília, no dia 2 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-cabo-verde-para-a-implementacao-do-projeto-201creforco-do-sistema-das-areas-protegidas-de-cabo-verde201d

Gana: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica e Científica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da república de Gana para Implementação do Projeto “Centro de Hemoterapia e Doença Falciforme de Kumasi”. Feito em Acra, em 9 de fevereiro de 2011,

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-gana-para-implementacao-do-projeto-centro-de-hemoterapia-e-doenca-falciforme-de-kumasi

Guiné: Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Guiné Relativo ao Estabelecimento de um Mecanismo de Consultas Políticas. Dispõe sobre o estabelecimento de um Mecanismo de Consultas Políticas. Assinado em Brasília, no dia 25 de julho de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

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414 VII ANUÁRIO DE DIREITO INTERNACIONAL

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/memorando-de-entendimento-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-da-guine-relativo-ao-estabelecimento-de-um-m-ecanismo-de-consultas-politicas

Guiné: Memorando de Entendimento sobre Cooperação entre o Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores da República Federativa do Brasil e a Academia Diplomática do Ministério das Relações Exteriores da República da Guiné. Dispõe sobre a colaboração no treinamento de diplomatas. Assinado em Brasília, no dia 5 de abril de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/memorando-de-entendimento-sobre-cooperacao-entre-o-instituto-rio-branco-do-ministerio-das-relacoes-exteriores-da-republica-federativa-do-brasil-e--a-academia-diplomatica-do-ministerio-das-relacoes-exteriores-da-republica-da-guine

Guiné Bissau: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica e Científica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Guiné-Bissau para Implementação do Projeto “Implantação e Implementação de Unidade de Processamento do Pedúnculo do Caju e outras Frutas Tropicais na Guiné-Bissau”. Dispõe sobre a cooperação técnica na área de geração de emprego e renda na Guiné-Bissau.Assinado em Brasília, no dia 20 de julho de 2011e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-da-guine-

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415Tratados Internacionais 2011

bissau-para-implementacao-do-projeto-201cimplantacao-e-implementacao-de-unidade-de-processamento-do-pedunculo-do-caju-e-outras-frutas-tropicais-na-guine-bissau201d

Marrocos: Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Reino do Marrocos sobre Cooperação em Matéria de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural. Dispõe sobre a cooperação em Matéria de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural. Assinado em Brasília, no dia 30 de abril de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/memorando-de-entendimento-entre-o-ministerio-do-desenvolvimento-agrario-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-ministerio-da-agricultura-e-pecuaria-da-republica-de-el-salvador-na-area-de-desenvolvimento-agrario-e-fortalecimento-da-agricultura-familiar

Moçambique: Ajuste Complementar ao Acordo Geral de Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para o Projeto de Instalação da Fábrica de Antirretroviaris e Outros Medicamentos em Moçambique. Dispõe sobre a cooperação técnica para produção de medicamentos. Assinado em Brasília, no dia 22 de dezembro de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-geral-de-cooperacao-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-mocambique-para-o-projeto-de-instalacao-da-fabrica-de-antirretroviaris-e-outros-medicamentos-em-mocambique

Moçambique: Ajuste Complementar ao Acordo Geral de

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Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Moçambique para Implementação do Projeto “Capacitação Jurídica de Formadores e Magistrados”. Dispõe sobre a cooperação técnica na área jurídica e judiciária. Assinado em Brasília, no dia 19 de fevereiro de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-geral-de-cooperacao-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-mocambique-para-implementacao-do-projeto-201ccapacitacao-juridica-de-formadores-e-magistrados201d

Namíbia: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Namíbia para Implementação do Projeto “Apoio ao Desenvolvimento Urbano da Namíbia – Fase II”. Dispõe sobre a cooperação técnica na área de desenvolvimento urbano. Assinado em Brasília, no dia 14 de julho de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-tecnica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-da-namibia-para-implementacao-do-projeto-201capoio-ao-desenvolvimento-urbano-da-namibia-2013-fase-ii201d

República Democrática do Congo: Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica e Científica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Democrática do Congo para Implementação do Projeto “Capacitação

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417Tratados Internacionais 2011

dos Especialistas da OCC no Campo da Normalização pela ABNT”, Dispõe sobre a cooperação técnica nas áreas da normalização, avaliação da conformidade, capacitação e informação tecnológica.Assinado em Brasília, no dia 19 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-democratica-do-congo-para-implementacao-do-projeto-201ccapacitacao-dos-especialistas-da-occ-no-campo-da-normalizacao-pela-abnt201d

República Democrática do Congo: Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica e Científica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Democrática do Congo para Implementação do Projeto “Capacitação em Agroecologia e Agricultura Familiar, para a Produção de Alimentos Básicos e Fundamentais, no viés da Segurança Alimentar e suas Correlações Econômicas e Socioambientais”. Dispõe sobre a cooperação técnica nas áreas de agricultura familiar e agroecologia. Assinado em Brasília, no dia 19 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-democratica-do-congo-para-implementacao-do-projeto-201ccapacitacao-em-agroecologia-e-agricultura-familiar-para-a-producao-de-alimentos-basicos-e-fundamentais-no-vies-da-seguranca-alimentar-e-suas-correlacoes-economicas-e-socioambientais201d

República Democrática do Congo: Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica e Científica entre o Governo

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da República Federativa do Brasil e o Governo da República Democrática do Congo para Implementação do Projeto “Formação de Recursos humanos do Setor Público de Comunicação da República Democrática do Congo”. Dispõe sobre a cooperação técnica na área de comunicação. Assinado em Brasília, no dia 19 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-democratica-do-congo-para-implementacao-do-projeto-201cformacao-de-recursos-humanos-do-setor-publico-de-comunicacao-da-republica-democratica-do-congo201d

República Democrática do Congo: Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica e Científica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Democrática do Congo para Implementação do Projeto “Apoio ao Cultivo do Café Kivu na República Democrática do Congo, no âmbito da Agroecologia, tendo-se como referência, as Ações Extensionistas Participativas para Agricultura Familiar Desenvolvidas no Projeto Carrancas (cnpq 552171/2007-7)” .Dispõe sobre a técnica nas áreas de agricultura familiar e agroecologia .Assinado em Brasília em 19 de agosto de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-de-cooperacao-tecnica-e-cientifica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-democratica-do-congo-para-implementacao-do-projeto-201capoio-ao-cultivo-do-cafe-kivu-na-republica-democratica-do-congo-no-ambito-da-agroecologia-tendo-se-como-referencia-as-acoes-extensionistas-participativas-para-agricultura-familiar-desenvolvidas-no-projeto-carrancas-cnpq-552171-2007-7-201d

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Ruanda: Memorando de Entendimento entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República de Ruanda para A Promoção da Cooperação SUL-SUL relativa ao Fortalecimento da Agricultura e da Segurança Alimentar. Dispõe sobre a promoção da Cooperação SUL-SUL relativa ao Fortalecimento da Agricultura e da Segurança Alimentar. Assinado em Brasília, no dia 24 de junho de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/memorando-de-entendimento-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-ruanda-para-a-promocao-da-cooperacao-sul-sul-relativa-ao-fortalecimento-da-agricultura-e-da-seguranca-alimentar

São Tomé e Príncipe: Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Científica e Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Democrática de São Tomé e Príncipe para Implementação do Projeto “IV Recenseamento da População e Habitação de São Tomé e Príncipe. Dispõe sobre a cooperação técnica na área de desenvolvimento socioeconômico. Assinado em Brasília, no dia 1 de agosto de 2011e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-complementar-ao-acordo-basico-de-cooperacao-cientifica-e-tecnica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republic-a-democratica-de-sao-tome-e-principe-para-implementacao-do-projeto-201civ-recenseamento-da-populacao-e-habitacao-de-sao-tome-e-principe201d

Seichelles: Acordo entre o Governo da República federativa do Brasil e o Governo da república de Seicheles sobre Isenção de Vistos em favor de Nacionais Portadores de Passaportes Diplomáticos ou

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de Serviço. Dispõe sobre a cooperação diplomática, reconhecendo a necessidade de facilitar as viagens entre os dois países de nacionais portadores de passaportes diplomáticos, oficiais ou de serviço.Assinado em Brasília, no dia 13 de dezembro de 2011e com entrada em vigor no dia 9 de fevereiro de 2012.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/acordo-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-de-seicheles-sobre-isencao-de-vistos-em-favor-de-nacionais-portadores-de-passaportes-diplomaticos-ou-de-servico

Sudão do Sul: Comunicado Conjunto sobre o Estabelecimento de Relações Diplomáticas entre a República Federativa do Brasil e a República do Sudão do Sul. Dispõe sobre o estabelecimento de relações diplomáticas. Assinado em Brasília no dia 9 de julho de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/comunicado-conjunto-sobre-o-estabelecimento-de-relacoes-diplomaticas-entre-a-republica-federativa-do-brasil-e-a-republica-do-sudao-do-sul

Timor Leste: Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Educacional entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Democrática de Timor-Leste para Implementação do Programa ``Qualificação de Docentes e Ensino da Língua Portuguesa em Timor-Leste”. Dispõe sobre a cooperação educacional na área da formação e capacitação de docentes. Celebrado em Brasília, no dia 2 de março de 2011. Promulgado pelo Decreto nº. 7.448, de 3 de março de 2011, publicado no D.O.U de 4 de março de 2011.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/ajuste-

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complementar-ao-acordo-de-cooperacao-educacional-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-da-republica-democratica-de-timor-leste-para-implementacao-do-programa-qualificacao-de-docentes-e-ensino-da-lingua-portuguesa-em-timor-leste

d) Brasil e América do Norte

Canadá: Acordo de Previdência Social entre a República Federativa do Brasil e o Canadá. Deliberam cooperar no campo da previdência social. Assinado em Brasília, no dia 08 de agosto de 2011 - aguarda aprovação.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-ao-brasil-do-primeiro-ministro-do-canada-stephen-harper-2013-brasilia-8-de-agosto-de-2011

Canadá: Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Canadá sobre Transporte Aéreo. Desejam assegurar o mais alto grau de segurança operacional e da aviação civil no transporte aéreo internacional, reconhecendo a importância do transporte aéreo internacional no estímulo ao comércio, ao turismo e aos investimentos e suplementando a Convenção sobre Aviação Civil Internacional, feita em Chicago no dia 07 de dezembro de 1944. Assinado em Brasília, no dia 08 de agosto de 2011 - aguarda aprovação.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-ao-brasil-do-primeiro-ministro-do-canada-stephen-harper-2013-brasilia-8-de-agosto-de-2011

Estados Unidos da América: Acordo sobre Transportes Aéreos entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos

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Estados Unidos da América. Dispõe sobre a promoção do sistema de aviação internacional baseado na competição entre as empresas aéreas no mercado, com o mínimo de interferência e regulação governamental, desejando oferecer ao público usuário de passagens e carga variedade de opções de serviço e encorajando as empresas aéreas individualmente a implementarem preços inovadores e competitivos, assim como garantir o mais alto nível de segurança operacional e de segurança da aviação no transporte aéreo internacional. Assinado em Brasília, no dia 19 de março de 2011 – aguarda aprovação.

Fonte: http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/acordo-sobre-transportes-aereos-assinado-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-dos-estados-unidos-da-america-2013-brasilia-19-de-marco-de-2011

Estados Unidos da América: Acordo de Comércio e Cooperação Econômica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América. Dispõe sobre a promoção da cooperação econômica e comercial. Assinado no dia 19 de março de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/acordo-de-comercio-e-cooperacao-economica-assinado-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-dos-estados-unidos-da-america-2013-brasilia-19-de-marco-de-2011

Estados Unidos da América: Acordo Quadro entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América sobre Cooperação nos Usos Pacíficos do Espaço Exterior. Estabelecem as obrigações, os termos e as condições para a cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e

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423Tratados Internacionais 2011

o Governo dos Estados Unidos da América na exploração e uso do espaço exterior para fins pacíficos nas áreas de interesse comum e tendo como base a igualdade e o benefício mútuo e tem a intenção de suplantar o Primeiro Acordo de Cooperação. Assinado em Brasília, no dia 19 de março de 2011 – aguarda aprovação.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/acordo-quadro-sobre-cooperacao-nos-usos-pacificos-do-espaco-exterior-assinado-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-governo-dos-estados-unidos-da-america-2013-brasilia-19-de-marco-de-2011

e) Brasil e América Central

Costa Rica: Tratado entre a República da Costa Rica e a República Federativa do Brasil sobre Cooperação Jurídica Internacional em Matéria Civil. Dispõe que as Partes comprometem-se a prestar ampla cooperação jurídica em matéria civil, comercial, administrativa, trabalhista, de família e em reparação de danos em material civil, originados de processo penal. Assinado em Brasília, no dia 04 de abril de 2011 - aguarda aprovação.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-ao-brasil-do-ministro-de-relacoes-exteriores-e-culto-da-costa-rica-rene-castro-salazar-2013-brasilia-5-de-abril-de-2011

Costa Rica: Acordo sobre Serviços Aéreos entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da Costa Rica, Dispõe que cada Parte concede à outra Parte os direitos especificados neste Acordo, com a finalidade de operar serviços aéreos internacionais nas rotas especificados, acordadas conjuntamente pelas autoridades de ambas as Partes. Assinado em Brasília, no dia 04 de abril de 2011

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- aguarda aprovação. Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-

assinados-por-ocasiao-da-visita-ao-brasil-do-ministro-de-relacoes-exteriores-e-culto-da-costa-rica-rene-castro-salazar-2013-brasilia-5-de-abril-de-2011

Costa Rica: Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Costa Rica para Implementação do Projeto “Dinamização e Transferência de Conhecimento para o Desenvolvimento Sustentável da Agricultura Protegida na Costa Rica”. Dispõe sobre intercâmbio de conhecimento e experiências em temas de relevância para a agricultura protegida na Costa Rica, beneficiando as relações entre setores público e privado e propiciando o trabalho conjunto entre especialistas costarriquenhos e brasileiros. Assinado em Brasília, no dia 04 de abril de 2011e com entrada em vigor no dia 20 de julho de 2011.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-ao-brasil-do-ministro-de-relacoes-exteriores-e-culto-da-costa-rica-rene-castro-salazar-2013-brasilia-5-de-abril-de-2011

Costa Rica: Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República da Costa Rica para Implementação do Projeto “Análise da Institucionalidade do Sistema Elétrico Brasileiro e sua Aplicabilidade no Novo Modelo do Mercado para o Setor Elétrico da Costa Rica”. Dispõe sobre a finalidade, cuja atribuição é analisar a evolução da institucionalidade do setor elétrico do Brasil e seu modelo do setor elétrico, com vistas a determinar sua aplicabilidade nas funções da UEN CENCE NA Costa Rica como Operador do

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Sistema e Operador do Mercado Nacional. Assinado em Brasília, no dia 04 de abril de 2011 e com entrada em vigor dia 20 de julho de 2011.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-ao-brasil-do-ministro-de-relacoes-exteriores-e-culto-da-costa-rica-rene-castro-salazar-2013-brasilia-5-de-abril-de-2011

f) Brasil e América do Sul

Argentina: Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Argentina para a Construção de uma Ponte Internacional sobre o Rio Peperi-Guaçu, entre as Cidades de Paraíso, Brasil, e San Pedro, Argentina. Dispõe sobre a construção de uma Ponte Internacional sobre o Rio Peperi-Guaçu, entre Brasil e Argentina. Assinado em Buenos Aires, Argentina, no dia 31 de janeiro de 2011- aguarda aprovação.

Fonte:http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=534977

Argentina: Ajuste Complementar ao acordo básico de cooperação técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Argentina para a implementação do projeto “Fortalecimento das farmacopeias do Brasil e da Argentina e de seus laboratórios nacionais de controle para a criação de uma farmacopeia regional”. Dispõe sobre a implementação do projeto “Fortalecimento das Farmacopeias do Brasil e da Argentina e de seus Laboratórios Nacionais de Controle para a Criação de uma Farmacopeia Regional” (doravante denominado “Projeto”), cuja finalidade é ampliar o escopo do trabalho desenvolvido no âmbito do Mecanismo de Integração e Coordenação Brasil-Argentina –

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MICBA, com vistas à criação futura de uma Farmacopeia Region. Assinado em Buenos Aires, Argentina, no dia 31 de janeiro de 2011 e com entrada em vigor dia 18 de maio de 2011.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-da-presidenta-dilma-roussef-a-argentina-2013-buenos-aires-31-de-janeiro-de-2011

Argentina: Plano de ação conjunta entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Argentina para fazer avançar a cooperação bilateral na área de massificação do acesso à internet em banda larga (2011 - 2015). Dispõe sobre uma associação estratégica funcional que permita o desenvolvimento digital inclusivo à população dos dois países. Assinado em Buenos Aires, no dia 31 de janeiro de 2011 e com entrada em vigor dia 31 de janeiro de 2011

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-da-presidenta-dilma-roussef-a-argentina-2013-buenos-aires-31-de-janeiro-de-2011

Argentina: Protocolo Adicional ao Acordo para a criação da comissão de cooperação e desenvolvimento fronteiriço (CODEFRO) entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Argentina.Dispõe sobre o aprofundamento e a cooperação para o desenvolvimento e a integração de sua fronteira comum, conforme as legítimas aspirações das comunidades fronteiriças. Assinado em Buenos Aires, no dia 31 de janeiro de 2011 e com entrada em vigor dia 31 de janeiro de 2011.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-da-presidenta-dilma-roussef-a-argentina-2013-buenos-aires-31-de-janeiro-de-2011

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Argentina: Acordo de Cooperação entre CNEN( Comissão de Energia Nuclear) e CNEA( Comisión Nacional de Energía Atómica) sobre Projeto de Novo Reator de Pesquisa Multipropósito. Dispõe que os dois reatores de pesquisa serão do tipo multipropósito e possuem os mesmos objetivos gerais de “produção de radioisótopos, testes de irradiação de combustíveis e materiais, e pesquisas com feixes de nêutrons”. Assinado em Buenos Aires, Argentina ,no dia 31 de janeiro de 2011.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-da-presidenta-dilma-roussef-a-argentina-2013-buenos-aires-31-de-janeiro-de-2011

Uruguai: Acordo- Quadro entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo da República Oriental do Uruguai para o Intercâmbio de Informações e Cooperação em Segurança Pública. Dispõe em desenvolver a cooperação bilateral em segurança pública nas áreas de segurança preventiva, modernização e capacitação das instituições policiais, sistema penitenciário e combate aos crimes transnacionais e controle de fronteiras. Assinado em Montevidéu, no Uruguai, no dia 30 de maio de 2011- aguarda aprovação.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-da-presidenta-dilma-rousseff-ao-uruguai-montevideu-30-de-maio-de-2011

Uruguai: Sexagésimo Nono Protocolo Adicional ao Acordo de Complementação Econômica no2 (69PA-ACE2) entre os Governos da República Federativa do Brasil e da República Oriental do Uruguai. Dispõe sobre o intercâmbio comercial dos bens listados, doravante denominados Produtos Automotivos, sempre que se tratar

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de bens novos, compreendidos nos códigos da Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM - versão SH 2007), com suas respectivas descrições. Assinado em Montevidéu, Uruguai, no dia 24 de agosto de 2011. Promulgado pelo Decreto n.º 7.658, de 23 de dezembro de 2011 e publicado no D.O.U. de 26 de dezembro de 2011 com retificação no dia 29 de dezembro de 2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7658.htm

Venezuela: Acordo de Cooperação entre o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (INMETRO), da República Federativa do Brasil, e o Serviço Autônomo Nacional de Normalização, Qualidade, Metrologia, e Regulamentação Técnica (SENCAMER), da República Bolivariana da Venezuela, para Intercâmbio de Experiência em Metrologia, Qualidade, Avaliação da Conformidade e Regulamentação Técnica. Dispõe sobre a cooperação mútua entre as Partes no campo da metrologia, regulamentação técnica e avaliação da conformidade e, sempre que possível, apoiar e encorajar as relações entre as Partes e fornecer um marco para o intercâmbio de conhecimentos científicos e técnicos e a ampliação da capacidade científica e técnica das Partes. Assinado em Brasília, Brasil, no dia 06 de junho de 2011.

Fonte:http://www.itamaraty.gov.br/sala-de-imprensa/notas-a-imprensa/atos-assinados-por-ocasiao-da-visita-ao-brasil-do-presidente-da-republica-da-venezuela-hugo-chavez-brasilia-6-de-junho-de-2011

MERCOSUL: Acordo Modificativo do Anexo do Acordo sobre Documentos de Viagem dos Estados Partes do MERCOSUL e Estados Americanos. Dispõe sobre as modificações relativas quanto

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aos respectivos documentos de viagem dos cidadãos dos Estados Partes. Assinado em Assunção, no Paraguai, no dia 28 de junho de 2011.

Fonte:http://www.mre.gov.py/dependencias/tratados/mercosur/registro%20mercosur/Acuerdos/2011/portugues/PORTUGUES-acuerdomodif.pdf

MERCOSUL: Tratado de Livre Comércio entre o MERCOSUL e o Estado da Palestina. Dispõe sobre os seguintes aspectos: comércio de bens, regras de origem, salvaguardas bilaterais, regulamentos técnicos, normas e procedimentos de avaliação e conformidade, medidas sanitárias e fitossanitárias, cooperação técnica e tecnológica, disposições institucionais e solução de controvérsias. Assinado em Montevidéu, Uruguai, no dia 20 de dezembro de 2011 - aguarda aprovação.

Fonte:http://www.mercosur.int/innovaportal/v/3750/1/secretaria/tratados_protocolos_y_acuerdos_depositados_en_paraguay

MERCOSUL: Decisão CMC nº 08/11 Contribuições para o Orçamento do Instituto Social do MERCOSUL. Estabelece que o orçamento anual do Instituto Social do MERCOSUL será financiado com contribuições regulares anuais dos Estados Partes, através dos Ministérios de Desenvolvimento Social ou outros organismos responsáveis na matéria, sem prejuízo do estabelecido no Art. 5º da Dec. CMC Nº 37/08. As contribuições regulares ao orçamento anual do Instituto Social do MERCOSUL serão efetuadas conforme as seguintes porcentagens: Argentina: 24%, Brasil: 39%, Paraguai: 24% e Uruguai: 13%. Assinada em Assunção, Paraguai, em 28 de junho de 2011- aguarda aprovação.

Fonte:http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposi

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2) Tratados multilaterais

Convênio de Santo Domingo - Ata de Registro dos Estatutos da Organização de Educação Ibero-americana – OEI, subscrevem Brasil, Colômbia, Cuba, Chile, República Dominicana, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru e Venezuela. Dispõe sobre realização de cooperação educacional entre os países ibero-americanos. Assinado em São Domingos, República Dominicana, no dia em 31 de outubro de 1957. Aprovado pelo Decreto Legislativo n.o 97, de 25 de setembro de 1980. Promulgado pelo Decreto nº 7.503, de 24 de junho de 2011 e publicado no D.O.U. de 27 de junho de 2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7503.htm

Grupo de Estados da África, do Caribe e do Pacífico-Grupo ACP: Memorando de Entendimento para o Estabelecimento de Mecanismo de Diálogo sobre Cooperação Técnica entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Secretariado do Grupo de Estados da África, do Caribe e do Pacífico. Dispõe sobre o estabelecimento de mecanismo de diálogo para a promoção e a ampliação das relações de cooperação técnica internacional. Celebrado em Brasília, no dia 9 de dezembro de 2011 e com entrada em vigor na mesma data.

Fonte:http://dai-mre.serpro.gov.br/atos-internacionais/bilaterais/2011/memorando-de-entendimento-para-o-estabelecimento-de-mecanismo-de-dialogo-sobre-cooperacao-tecnica-entre-o-governo-da-republica-federativa-do-brasil-e-o-secretariado-do-grupo-de-estados-da-africa-do-caribe-e-do-pacifico-

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TPI: Acordo relativo aos Privilégios e Imunidades da Organização Internacional do Tribunal Penal. Nova York, 09 de setembro de 2002. Aprova o texto do Acordo sobre Privilégios e Imunidades do Tribunal Penal Internacional, celebrado durante a Primeira Assembléia de Estados Partes no Estatuto de Roma, realizada em Nova Iorque, entre os dias 3 e 10 de setembro de 2002. Depósito do instrumento com o Secretário-Geral das Nações Unidas Nações no dia 12 dezembro 2011. Data de efeito: 11 de janeiro de 2012. Registro junto ao Secretariado das Nações Unidas: ex officio, 12 de dezembro de 2011. Ratificação pelo Brasil através do Decreto Legislativo nº 291/2011, D.O.U de 23 de setembro de 2011.

Fonte:http://legislacao.planalto.gov.br/LEGISLA/Legislacao.nsf/b110756561cd26fd03256ff500612662/1eea3c48e813d274832579140045d759?OpenDocument

3) Tratados realizados entre Brasil e Nações Unidas (sistema ONU)

OMS: Acordo entre o Governo da República Federativa do Brasil e a Organização Mundial da Saúde relativo à Realização da 14ª Conferência Mundial da Saúde Rio de Janeiro, Brasil, 19 a 21 de outubro de 2011. Assinado no dia 27 de abril de 2011. Promulgado pelo Decreto Executivo de 3 de Março de 2011. Publicado no D.O.U de 04/03/2011.

Fonte:https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Dsn/Dsn13025.htm

ONU: Acordo entre Republica Federativa do Brasil e ONU para organização da Conferência das Nações Unidas sobre

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Desenvolvimento Sustentável a se realizar em 2012, na cidade do Rio de Janeiro, doravante denominada Conferência Rio+20. Dispõe sobre a criação da Comissão Nacional para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, o Comitê Nacional de Organização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Assessoria Extraordinária para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável e dispõe sobre o remanejamento de cargos em comissão do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores -DAS. Promulgado pelo Decreto nº 7.495 de 07/06/2011, publicado em D.O.U de 08/06/2011.

Fonte:https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/d7495.htm

Conselho de Segurança: Resolução no 1.928, de 7 de junho de 2010, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que prorroga o mandato do Painel de Peritos estabelecido para auxiliar o Comitê do Conselho de Segurança sobre a República Popular Democrática da Coreia (RPDC). Promulgada pelo Decreto 7.479 de 16.5.2011. Publicado no D.O.U de 17.5.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7479.htm

Conselho de Segurança: Resolução n° 1945, de 14 de outubro de 2010, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que, entre outras providências, prorroga o mandato do Painel de Peritos estabelecido para auxiliar o Comitê do Conselho de Segurança sobre o Sudão a monitorar as medidas descritas no parágrafo 3º (d) e (e) da Resolução nº 1.591 (2005). Promulgada pelo Decreto nº 7.463 de 19.4.2011. Publicado no D.O.U. de 20.4.2011.

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Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7463.htm

Conselho de Segurança: Resolução no 1946, de 15 de outubro de 2010, “ A situação da Costa do Marfim”, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que renova o regime de sanções contra a República da Costa do Marfim.Promulgado pelo Decreto nº 7.549 de 12.8.2011. Publicado no D.O.U de 15.8.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7549.htm

Conselho de Segurança: Resolução nº 1952, de 29 de novembro de 2010, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que renova o regime de sanções contra a República Democrática do Congo. Promulgada pelo Decreto nº 7.450, de 11.3.2011. Publicado no D.O.U de 14.3.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7450.htm

Conselho de Segurança: Resolução no 1961, de 17 de dezembro 2010, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que renova o regime de sanções contra a Libéria.Promulgada pelo Decreto nº 7.444, de 25.2.2011 .Publicado no D.O.U. de 28.2.2011.

Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7444.htm

Conselho de Segurança: Resolução no 1970, de 26 de fevereiro de 2011, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que estabelece regime de sanções à Jamahiriya Árabe da Líbia e prevê, entre outras providências, o embargo de armas e a remessa da situação do país

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ao Tribunal Penal Internacional, além de determinar proibição de viagens e congelamento de fundos de indivíduos especificamente designados.Promulgada pelo Decreto nº 7.460, de 14.4.2011. Publicado no D.O.U de 15.4.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7460.htm

Conselho de Segurança: Resolução no 1972, de 17 de março de 2011, “A situação na Somália”do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que define as exceções ao regime de sanções previsto na Resolução no 1844, de 20 de novembro de 2008, do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Promulgada pelo 7.609, de 17.11.2011. Publicado no D.O.U. de 18.11.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-014/2011/Decreto/D7609.htm

Conselho de Segurança: Resolução 1973 (2011), adotada em 17 de março de 2011, “A situação na Líbia”, pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que estabelece zona de exclusão no espaço aéreo da Jamahiriya Árabe da Líbia e prevê, entre outras disposições, o reforço do embargo de armas e do congelamento de ativos financeiros de autoridades líbias, bem como a autorização aos Estados-membros das Nações Unidas para tomar as medidas que julgarem necessárias para proteger as populações civis na Jamahiriya Árabe da Líbia. Promulgado pelo Decreto nº 7.527, de 18.7.2011.Publicado no D.O.U. de 19.7.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7527.htm

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Conselho de Segurança: Resolução no 1980, de 28 de abril de 2011, “A situação da Costa do Marfim”,do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que renova, até 30 de abril de 2012, o regime de sanções contra a República da Costa do Marfim.Promulgado pelo Decreto nº 7.551 de 2011. Publicado no D.O.U de 15.08.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7551.htm

Conselho de Segurança: Resolução 1975 (2011), adotada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, em 30 de março de 2011, que, entre outras determinações, conclama as partes envolvidas na crise política pós-eleitoral na Costa do Marfim a reconhecer a eleição do Sr. Alassane Dramane Ouattara, insta o Sr. Laurent Gbagbo a afastar-se do processo político, reitera a firme condenação de toda violência praticada contra a população civil no país e estabelece regime de sanções contra indivíduos especificados. Promulgada pelo Decreto nº 7.518, de 8.7.2011. Publicado no D.O.U de 11.7.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7518.htm

Conselho de Segurança: Resolução no 1988, de 17 de junho de 2011, “Tratados pela paz internacional e segurança causados por atos terroristas”, adotada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que trata de sanções contra indivíduos e entidades do Talibã e aqueles associados ao Talibã que constituam ameaça à paz, à estabilidade e à segurança do Afeganistão. Promulgada pelo Decreto nº 7.608 de 17.11.2011 Publicado no D.O.U de 18.11.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-014/2011/Decreto/D7608.htm

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Conselho de Segurança: Resolução no 1989, de 17 de junho de 2011, “Tratados pela paz internacional e segurança causados por atos terroristas”, do Conselho de Segurança das Nações Unidas”, que trata de sanções contra indivíduos, grupos, empreendimentos e entidades da Al-Qaeda e a ela associados. Promulgado pelo Decreto nº 7.606, de 17.11.2011. Publicado no D.O.U de 18.11.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-014/2011/Decreto/D7606.htm

Conselho de Segurança: Resolução no 2002 , de 29 de julho de 2011,“A situação na Somália” adotada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que especifica duas novas práticas para a aplicação das medidas seletivas previstas na Resolução no 1844, de 20 de novembro de 2008, do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Promulgado pelo Decreto 7.610, de 17.11.2011. Publicado no D.O.U de 18.11.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-014/2011/Decreto/D7610.htm

Conselho de Segurança: Resolução no 2009, de 16 de setembro de 2011, “ A situação da Líbia”, do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que altera o regime de sanções aplicadas à Líbia. Promulgado pelo Decreto nº 7.607, de 17.11.2011. Publicado no D.O.U de 18.11.2011.

Fonte:http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-014/2011/Decreto/D7607.htm

BIRD: Resolução 10 de 2011 (Regida pelo art. 52, inciso VII da Constituição Federal do Brasil). Acordo de Empréstimo

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entre República Federativa do Brasil e Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento. Autoriza o Estado do Rio de Janeiro a contratar operação de crédito externo, com garantia da União, com o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), no valor de até US$ 485.000.000,00 (quatrocentos e oitenta e cinco milhões de dólares norte-americanos). Senado Federal, 15/07/2011. Publicado no D.O.U. de 18/07/2011.

Fonte :ht tp : / /www6.senado.gov.br / legis lacao/Lis taTextoIntegra l .action?id=243663&norma=263787

BIRD: Resolução nº 12 de 2011 (Regida pelo art. 52, inciso VII da Constituição Federal do Brasil). Acordo de Empréstimo entre República Federativa do Brasil e Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento. Autoriza a República Federativa do Brasil a conceder garantia à Caixa Econômica Federal (CEF), para contratar operação de crédito externo com o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), no valor de até US$ 50.000.000,00 (cinquenta milhões de dólares norte-americanos), cujos recursos destinam-se ao “Programa de Financiamento para a Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos e Mecanismos de Desenvolvimento Limpo”. Senado Federal, 11/10/2011. Publicado no D.O.U de 13/11/2011.

Fonte:http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=264106&tipoDocumento=RSF&tipoTexto=PUB

BIRD: Resolução nº 14 de 2011 (Regida pelo art. 52, inciso VII da Constituição Federal do Brasil). Acordo de Empréstimo entre República Federativa do Brasil e Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento. Autoriza a República Federativa

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do Brasil a contratar operação de crédito externo no valor de até US$ 107.332.500,00 (cento e sete milhões, trezentos e trinta e dois mil e quinhentos dólares norte-americanos) junto ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), destinada ao financiamento do “Programa de Desenvolvimento do Setor Água (Interáguas)”. Senado Federal, em 11 de outubro de 2011. Publicado no D.O.U. de 13/11/2011.

Fonte:http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=264108&tipoDocumento=RSF&tipoTexto=PUB

BIRD: Resolução nº 25 de 2011 (Regida pelo art. 52, inciso VII da Constituição Federal do Brasil). Acordo de Empréstimo entre República Federativa do Brasil e Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento. Autoriza a República Federativa do Brasil a contratar operação de crédito externo, no valor de até US$ 49.604.127,00 (quarenta e nove milhões, seiscentos e quatro mil, cento e vinte e sete dólares norte-americanos), com o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird). Senado Federal, 29/12/2011. Publicado no D.O.U. de 30/12/2011.

Fonte:http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=264546&tipoDocumento=RSF&tipoTexto=PUB

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