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(45) 3097-4512 Pronto Atendimento 24h Cascavel, 9 de outubro de 2020 Ano XXIV - Nº 2.268 - R$ 3,00 [email protected] 45 99921-0456 45 3333-9999 www.hyundaivetor.com.br AK e o buraco negro Não foi fácil a conversa. Faz meses que o editor do Pitoco vem tentando uma entre- vista com o ex-deputado Alfredo Kaefer (AK). Ele cumpre prisão domiciliar em sua residência no alto do bairro Neva. Até que, na manhã da última terça-feira, a reporta- gem arriscou uma última tacada. Chegou ao portão da garagem, deixado aberto pelo jar- dineiro, e “invadiu” o local. Kaefer estava sorvendo seu chimarrão matinal, na sala do café da manhã. Um tanto quanto resignado, disse uma palavra apenas: “Entre”. Ali começaram as negociações para uma entrevista. Antes de ligar o gravador, uma série de exigências. AK não queria fa- lar de assuntos familiares. Ele e a ex-esposa Clarice Roman se enfrentam em uma ba- talha judicial. E querem preservar o casal de filhos que tem em comum. O casal conviveu por 24 anos. A união selou-se no distante 1996, mediante a assinatura de um acordo pré-nupcial prevendo a separação de bens. Tudo ia muito bem até o final da primeira década do novo milênio. Em 2008 a Diplo- mata, estrela do firmamento Kaefer, fatu- rou 1 bilhão de dólares, equivalente a uma Copacol inteira. O grupo empregava 8,5 mil funcionários e AK acumulou uma fortuna pessoal de R$ 1 bilhão. Em 2012, com Kaefer já eleito deputado em expressiva votação, a empresa passou a ter problemas. Foi quando AK transferiu as ações a Diplomata para Clarice. Ele se recusa De bilionário ao nada, Alfredo Kaefer perdeu de uma só vez o mandato parlamentar, as empresas que controlava, a esposa e a liberdade. Mas garante: “Voltarei” a entrar em detalhes, mas nas petições ajui- zadas é possível encontrar seus argumentos. Ali AK diz que passou as ações para a esposa com o compromisso de recebê-las de volta. E que a medida era necessária para preservar a empresa de intercorrências políticas. AK tinha claro que a transferência das ações se dava sob confiança e recebeu de Clarice uma procuração de plenos poderes para continuar administrando o grupo. Em meados de 2019, Kaefer solicitou o retorno ao status anterior, com as ações em seu nome. Clarice resistia. Em setembro do ano passado, AK, soube que a procuração havia sido revogada e foi tirar satisfações com a esposa. O episódio resultou na sepa- ração do casal. Em dezembro último, Kaefer ingressou na justiça para reaver a titulari- dade das ações. Clarice alega que recebeu o controle acionário da empresa em definitivo, sem compromisso de devolução. O Pitoco apurou que houve tratativa de acordo extra- -judicial. E chegou-se até a um número: R$ 29 milhões. Por esse valor, as ações voltariam para AK. Porém, as partes não se entenderam na forma de pagamento. AK não se conforma: em menos de meio ano, perdeu o mandato parlamentar, as ações da empresa, a esposa e a liberdade, condenado que foi pelo STF por crime contra o sistema financeiro. Nas páginas seguintes, AK fala so- bre o “buraco negro” nesta quadra da sua vida. Em tempo: O grupo permanece em re- cuperação judicial e tem sob seu controle o frigorífico em Capanema com abate de 140 mil frangos/dia e a indústria de óleo de soja, em Cascavel, além dos jornais, que agora vol- tam para AK. Ao todo, 1,5 mil postos de traba- lho, 299 famílias integradas e dezenas de cre- dores dependem do desfecho do imbróglio. n Kaefer: batalha judicial para reaver o controle do grupo Diplomata

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(45) 3097-4512

Pronto Atendimento24h

Cascavel, 9 de outubro de 2020 Ano XXIV - Nº 2.268 - R$ 3,00

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45 99921-045645 3333-9999

www.hyundaivetor.com.br

AK e o buraco negro

Não foi fácil a conversa. Faz meses que o editor do Pitoco vem tentando uma entre-vista com o ex-deputado Alfredo Kaefer (AK). Ele cumpre prisão domiciliar em sua residência no alto do bairro Neva. Até que, na manhã da última terça-feira, a reporta-gem arriscou uma última tacada. Chegou ao portão da garagem, deixado aberto pelo jar-dineiro, e “invadiu” o local.

Kaefer estava sorvendo seu chimarrão matinal, na sala do café da manhã. Um tanto quanto resignado, disse uma palavra apenas: “Entre”. Ali começaram as negociações para uma entrevista. Antes de ligar o gravador, uma série de exigências. AK não queria fa-lar de assuntos familiares. Ele e a ex-esposa Clarice Roman se enfrentam em uma ba-talha judicial. E querem preservar o casal de filhos que tem em comum. O casal conviveu por 24 anos. A união selou-se no distante 1996, mediante a assinatura de um acordo pré-nupcial prevendo a separação de bens.

Tudo ia muito bem até o final da primeira década do novo milênio. Em 2008 a Diplo-mata, estrela do firmamento Kaefer, fatu-rou 1 bilhão de dólares, equivalente a uma Copacol inteira. O grupo empregava 8,5 mil funcionários e AK acumulou uma fortuna pessoal de R$ 1 bilhão.

Em 2012, com Kaefer já eleito deputado em expressiva votação, a empresa passou a ter problemas. Foi quando AK transferiu as ações a Diplomata para Clarice. Ele se recusa

De bilionário ao nada, Alfredo Kaefer perdeu de uma só vez o mandato parlamentar, as empresas que controlava, a esposa e a liberdade. Mas garante: “Voltarei”

a entrar em detalhes, mas nas petições ajui-zadas é possível encontrar seus argumentos. Ali AK diz que passou as ações para a esposa com o compromisso de recebê-las de volta. E que a medida era necessária para preservar a empresa de intercorrências políticas. AK tinha claro que a transferência das ações se dava sob confiança e recebeu de Clarice uma procuração de plenos poderes para continuar administrando o grupo.

Em meados de 2019, Kaefer solicitou o retorno ao status anterior, com as ações em seu nome. Clarice resistia. Em setembro do ano passado, AK, soube que a procuração havia sido revogada e foi tirar satisfações

com a esposa. O episódio resultou na sepa-ração do casal. Em dezembro último, Kaefer ingressou na justiça para reaver a titulari-dade das ações. Clarice alega que recebeu o controle acionário da empresa em definitivo, sem compromisso de devolução. O Pitoco apurou que houve tratativa de acordo extra--judicial. E chegou-se até a um número: R$ 29 milhões. Por esse valor, as ações voltariam para AK. Porém, as partes não se entenderam na forma de pagamento.

AK não se conforma: em menos de meio ano, perdeu o mandato parlamentar, as ações da empresa, a esposa e a liberdade, condenado que foi pelo STF por crime contra o sistema financeiro. Nas páginas seguintes, AK fala so-bre o “buraco negro” nesta quadra da sua vida.

Em tempo: O grupo permanece em re-cuperação judicial e tem sob seu controle o frigorífico em Capanema com abate de 140 mil frangos/dia e a indústria de óleo de soja, em Cascavel, além dos jornais, que agora vol-tam para AK. Ao todo, 1,5 mil postos de traba-lho, 299 famílias integradas e dezenas de cre-dores dependem do desfecho do imbróglio.

n Kaefer: batalha judicial para reaver o controle do grupo Diplomata

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02 l [email protected] 9 de outubro de 2020

ENTREVISTA EXCLUSIVA

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Para os assinantes Adelino Ribeiro, Deoclécio

Adão Paz, Fabricio Morandi, Nilson Gomes Vieira, Zai

Sarolli, Mafarlani da Cruz Correa e Osni Iori.

Aquele abraço

Deputado federal em três mandatos, frequentador de gabi-netes poderosos, como os do en-tão presidente Michel Temer e do então governador Geraldo Alckmin, Alfredo Kaefer era ouvido, notadamente em suas análises econômicas.

Empresário bem sucedido, multimilionário, aparentava conduzir uma união feliz e pro-missora de mais de duas déca-das com a esposa. Tudo ruiu de repente, ou como enfatiza o poeta, “não mais que de repen-te”. Nesta entrevista, AK versa sobre economia, política e pega de “raspão” nos temas familiares mais sensíveis.

Em um dos trechos afirma que, se fosse vidrado em dinhei-

Alfredo Kaefer: “Eu voltarei com tudo!” “Se fosse focar em dinheiro, com as perdas que tive, pegaria um revólver e teria me suicidado”

ro, teria tirado a própria vida diante das circunstâncias que se apresentaram. Acompanhe a pri-meira entrevista concedida por Kaefer após a tempestade per-feita que lhe subtraiu mandato, empresas, esposa e a liberdade:

Pitoco - Em que contexto o senhor considera injusta a sen-tença do STF?

Alfredo Kaefer - Em 2004 eu era controlador de uma insti-tuição financeira devidamente registrada no Banco Central (BC) e simultaneamente controlador da Diplomata. Tínhamos títulos de um cliente que foram descon-tados na financeira. Aconteceu um mero erro burocrático, um erro técnico...Nossos diretores, ao invés de creditar o cliente, o devedor dos títulos, creditaram a Diplomata. Era simples ter evita-do isso: bastava fazer a operação

normal, descontava o título do cliente que era a empresa Fran-gosul e ela pagava a Diplomata. Erro trivial, por desconhecimen-to, não tem minha assinatura, eu não estava na operação. Anos depois soube que se tratava de operação vedada pelo BC, é con-siderada crime financeiro. Ou seja, não houve desvio, fraude, ninguém foi lesado. Realmente um erro administrativo. Tanto é que em 2010 eu vendi a fi-nanceira com total regularidade

aprovada pelo Banco Central.

Porém, a sentença aponta crime contra o sistema financeiro...

Após uma fiscali-zação corriqueira de auditores do BC, fui chamado no Ministério

Público de Porto Alegre para ex-plicar a operação. A pergunta foi essa: houve fraude? Não, houve uma operação que não deve-ria ser feita. Foi liquidada, não houve dolo, fraude ou prejuízo a qualquer investidor, ninguém foi lesado. Em 2007, já eleito deputado federal, recebi foro de prorrogativa de função. Não se trata de privilégio, pelo me-nos no meu caso, não. Foi pior, só tive uma instância judiciária para contestar a acusação. Não

n Kaefer observa certificados em sua residência na Neva. O quadro maior emoldura o título de “Cidadão Honorário do Paraná”, obtido quando a roda gigante da vida o colocou no ponto mais alto

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tive primeira, segunda instân-cia, STJ. Foi direto para o STF, em Brasília, onde respondi ao inquérito. 19 dias depois do final do meu mandato, fui condenado. Avaliaram o último embargo em sistema não presencial, sumário. Assisti em vídeo, não durou mais que 2 minutos.

Cabe recurso?Entramos com uma ação re-

visional, permitida quando se afronta a liberdade pessoal. Não foi atendido o pressuposto da prescrição do processo. Sou réu primário, não tenho nenhuma condenação anterior. Para casos como o meu, se comprovada a ir-regularidade, está prevista pena de 2 anos e 4 meses. Se assim fosse, estaria prescrita. O que o STF fez: imputou a pena máxi-ma de 4 anos e 6 meses para não atender o pressuposto da pres-crição. É desproporcional para quem, como eu, nunca teve uma condenação nem mesmo na vida política, onde cumpri 12 anos de mandato sem nenhuma mácula.

Considera-se fora do jogo no cenário político?

Estou num momento inusi-tado, um período sabático, to-talmente recluso, uma pausa. É uma situação familiar, empresa-rial, somada a pandemia, tudo isso me trouxe para esse momen-to inédito de minha vida. Agora é reaver liberdade de ir e vir. Es-tou restrito a cidade, não posso sair de Cascavel. Fico em domi-ciliar das 19 às 7 da manhã, não posso sair sábados, domingos e feriados. Obtendo a suspensão do processo, posso reaver meus direitos políticos, para daí então desenhar novos cenários.

Como é a rotina pessoal? Levanto por volta de 7 ho-

ras, tomo meu chimarrão, leio os principais jornais do país, “Fo-

lha”, “Estadão”, “Valor’, e, lógico, “O Paraná”. Procuro fazer exercí-cio, esteira, e uso a piscina para me exercitar, ter atividade física, baixar o stress que tenho vivido nos últimos meses. Quando era deputado fazia isso nos aeropor-tos. Por muitos anos minha roti-na era não usar cadeira de rodas, só mesmo quando os horários apertavam. Procurava caminhar com a malinha de roda servindo de apoio. Caminhei muito nestas idas e vindas a Brasília nestes 12 anos. Saio de casa, vejo algumas coisas pela cidade. Vez por outra vou no meu escritório na Diplo-mata. Pensa numa agonia, você estar dentro da sua empresa e não poder ter o mando...

O senhor teve um problema de saúde, ano passado...

Sim, tirei a tireóide em fe-vereiro de 2019, em Brasília, na mesma semana que saiu a con-denação. Foi um procedimento complexo, havia neoplasia, tu-mor maligno, e a recomendação foi extirpar a tireoide. Fui ope-rado por um médico especialis-

ta em cabeça e pescoço, cerca de duas horas cirurgia. Agora estou curado, sem recidiva.

Tem acompanhado as ques-tões administrativas do grupo que fundou?

Vivo uma situação inusitada, tendo que provar que sou o dono da Diplomata, empresa que fun-dei e criei há 43 anos. Não quero entrar em detalhes, pois envolve situação familiar, mas estou fora das empresas, não sou eu quem estou administrando. Prefiro não falar a respeito. É difícil manter a serenidade quando enfrentamos tiroteio de todos os lados.

Qual seu projeto de vida a partir destes fatos?

Sempre cultivei três pilares em minha vida. Todos estão mo-mentaneamente abalados: o em-presarial, o familiar, neste mo-mento arranhado, e o político, hoje desabilitado. Meu projeto de vida é reorganizar, reconstruir os pilares. Vou fazer 65 anos, acredito que, tendo saúde para isso, seja possível reconstrui-los.

9 de outubro de 2020

“Estou restrito à cidade, não posso sair de Cascavel. Fico em domiciliar das 19 às 7 da manhã, não posso sair aos sábados, domingos e

feriados.”

SEGUE

[email protected] l 03

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9 de outubro de 2020

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2021 é o ano de rees-truturar minha vida, em todos os sentidos. Objetivamente, recon-quistar e reconstruir a Diplomata, como or-ganização empresarial, voltar a ser modelo no agronegócio; ser um homem público qua-lificado, seja por um mandado ou sem ele. Concomitantemente me reorganizar na vida pessoal. Não posso des-perdiçar minha energia, meu desprendimento, minha vonta-de de fazer. E vou reorganizar o IAK, Instituto Alfredo Kaefer, li-quidado indevidamente pelo juiz na falência da Diplomata.

Como enfrentou a derrota nas urnas em 2018?

Acredito que o prejuízo maior foi da sociedade que me negou os votos. Dei provas de talento, capacidade e dedicação. Cada pouco sou lembrado em Brasília pelas contribuições que deixei no debate econômico, de

finanças e negócios. Contribuí na reforma trabalhista, ajudei a desenhar a reforma tributária, que infelizmente não avançou e talvez não venha a acontecer.

Por que não? O ministro Guedes está isolado? Posto Ipi-ranga sem gás?

Guedes é um liberal pragmá-tico, competente, tem uma visão muita clara do que fazer na eco-nomia nacional. Somos afiniza-dos nas ideias, ambos da escola do Roberto Campos. Mas ele não avança por falta de traquejo polí-

tico. Na função públi-ca tem que equilibrar capacidade técnica e nivelamento político; se não unir as duas

coisas, dá com a cara na parede.

Guedes permanece à frente da Fazenda?

Se não entregar resultados rapidamente após a superação da epidemia, ele cai. Bolsonaro deve saber que a economia dá ou tira eleição. O presidente pode ser reeleito em 2022 se a economia reagir. E se ele se dedicar a proje-tos sociais que dão voto, como o Renda Brasil, que irá substituir o Bolsa Família. Somado à legião de seguidores conservadores e liberais, vem forte para a reelei-

ção. Foi assim com FHC e com Lula. Sem resultado na econo-mia, não tem voto. Se o Guedes não entregar, não fica.

O Centrão blindou o presi-dente no Congresso?

Precisa ver se ele tem votos suficientes, isso não foi colocado à prova ainda. Com o Centrão ele tem um poder maior sobre o Congresso. Mas há um detalhe importante: o Centrão é forte na Câmara, mas pouco influente no Senado.

A economia volta em “V” ou em “U”?

Primeiro é preciso controlar a pandemia. Quando as pesso-as puderem voltar a andar sem máscara, movimentação do ir e vir, a economia dirá se irá fluir ou

n Kaefer e Clarice Roman viveram juntos 24 anos. Uniram-se por acor-do pré-nupcial de separação de bens e edificaram um império do agrone-gócio que chegou a faturar “uma Copa-col por ano”

“Já tive patrimônio de 200 milhões de dólares e hoje, zero. Não sou

apaixonado pelo capital, por bens materiais, dinheiro por

si só não me atrai.”SEGUE

04 l [email protected]

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9 de outubro de 2020 06 l [email protected]

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não. A meu ver somente quando tivermos uma vacina eficaz te-remos sinais mais claros, isso é lá para abril ou metade do pró-ximo ano. Então podemos ava-liar a retomada. Há indicadores preocupantes. Qual a moeda que mais desvalorizou no planeta? O Real, com grande evasão de divi-sas. Estamos tendo saída grande de capitais, que farão falta na retomada do desenvolvimento pós-pandemia. Juros e inflação baixos é bom, mas isso é consis-tente ou resultado da economia represada?

Queimadas e derrubadas vão fechar mercados para o Brasil?

O mundo legou ao Brasil a condição de área de preservação ambiental do planeta. Não entro no mérito se isso é verdadeiro ou não, mas estigmatizou-se desta forma. Se não mostrarmos capa-cidade de aliar desenvolvimento econômico com sustentabilida-de, teremos sérios problemas. Há queimadas nos EUA, África e Eu-ropa, mas se queimou no Brasil, é um pecado mundial. Temos que mostrar capacidade de preservar a Amazônia e outros biomas, e mostrar para o mundo que so-mos capazes de dar conta disso.

Se tivesse ficado no 17, o partido do presidente em 2018, teria sido eleito, dizem seus apoiadores. Concorda?

Conheço bem o presidente, convivi com ele 12 anos no Con-gresso. Amigos dizem que cometi um erro estratégico. Se eu fos-se um bolsonarista de primeira hora, teria mais de 100 mil votos. Mas eu tinha um compromisso com Alvaro Dias, no 1º turno... Perdemos juntos, mas seguimos até o fim. Compromisso é com-promisso. Votei no Bolsonaro no 2º turno. Valeu, porque derrotou o PT, e bem ou mal vai dar rumo diferente ao país.

Tem acompanhado a campa-nha eleitoral em Cascavel?

Acompanho, sim. A meu ver, a pandemia ajuda quem está no exercício do mandato. Acredito que Paranhos conduziu razo-avelmente bem a situação do abre-e-fecha da economia, teve equilíbrio, tomou atitudes firmes quando era preciso, e flexibili-zou quando necessário. Realizou obras importantes e está admi-nistrando bem o município. Mes-mo com vários candidatos, acre-dito que o prefeito tem grande chance de ganhar já no 1º turno.

Alguém da oposição pode subir e surpreender?

São eleitoralmente fracos. É legítimo que queiram disputar a eleição, mas alguns estão ali só para marcar posição e se projetar com vistas às eleições para depu-tado de 2022. Outros são apenas folclóricos, sabedores de suas pouquíssimas possibilidades.

Entre os abalos na vida, qual lhe abateu com mais força?

Todos me abalaram em pro-porções idênticas. Construí um projeto empresarial do nada, fundei uma empresa que saiu do zero e no auge, em 2008, teve 8,5 mil funcionários e faturou 1 bilhão de dólares naquele ano. E ver-me fora disso... Não falo do valor pecuniário. Sou capita-lista, porque os negócios exigem que eu seja um capitalista, mas não sou materialista. Meu pro-jeto de vida não é pecuniário,

não é financeiro. Se fosse focar em dinheiro, com as perdas que tive, pegaria um revólver e teria me suicidado. Já tive patrimô-nio de 200 milhões de dólares e hoje, zero. Não sou apaixonado pelo capital, por bens materiais, dinheiro por si só não me atrai. Estou atrás de um projeto de construção institucional.

Que lições as dificuldades da vida lhe ensinaram?

Que devo concluir meu proje-to de vida, retomar meu projeto empresarial, espero retomar o controle das empresas e conso-lidar uma estrutura institucional. Que devo voltar ao pilar políti-co, resolver a inegibilidade e em algum momento poder voltar a disputar. Já vou para 65 anos, mas a energia vem da vontade de fazer. E energia não me falta. Quero viver bem com filhos e ne-tos, tenho energia de juventude para recomeçar e reconstruir.

Onde busca motivação para enfrentar tantos reveses?

Vivemos de expectativas. Se eu imaginar que amanhã o mundo vai acabar, eu desisto. O que você não pode fazer jamais é desistir. Temos uma missão para cumprir. Não fiz jus ainda ao espaço que recebi neste pla-no, não retribui integralmente ainda o privilégio de ter recebido o ar que respiro. Eu voltarei com tudo, só Deus para me impedir.

“Construí um projeto empresarial do nada, fundei

uma empresa que saiu do zero e no auge, em 2008,

teve 8,5 mil funcionários e faturou 1 bilhão de dólares.”

CLARICE ALEGA SEGREDOl O Pitoco tentou ouvir a empresária Clarice Roman. Ela ale-

gou, via WhasApp, que a demanda judicial pelo controle acionário do grupo corre em segredo de Justiça, e que, portanto, não poderia se manifestar a respeito. Clarice limitou-se a dizer que está empenhada em cumprir o plano de recuperação judicial da Diplomata.l “Já cumprimos as 24 parcelas e estamos finalizando para o le-

vantamento da recuperação, ajustando pendências. A pandemia afe-tou todo mundo. Não teve ninguém que não foi afetado. Isso atrasou algumas metas do plano”, ressalvou.

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Uma pergunta

Pitoco - O que lhe inspira a disputar a eleição para

a Câmara Municipal?E d s o n

Queiroz - Sou um in-c e n t i v a d o r do esporte. Quero devol-ver ao esporte o status de secretaria específica na Prefeitura. Atuo no agro-negócio, conheço bem a vida do homem do campo, trabalho com sementes há 21 anos, farei um manda-to colado no esporte e na agricultura.

Ladislau Wychoski Benfatti - Sou biólogo, tenho proje-tos no meio ambiente, ajudei a im-plantar a coleta seletiva em Cascavel. O caminho é aliar desenvolvimento eco-nômico com preservação ambiental. Neste campo, tenho conhecimento para dar minha contribuição.

UMAS & OUTRAS

9 de outubro de 2020 08 l [email protected]

Salto do Marial O folclórico Moacir Ma-

ria irá, sim, participar das elei-ções municipais deste ano, dife-rente do que publicamos aqui, na edição passada.l A diferença é que ele trans-

feriu o domicílio eleitoral para Salto do Lontra, no Sudoeste do Paraná, e lá irá concorrer a uma cadeira na Câmara.l Moacir tem parentes in-

fluentes naquele município, in-clusive um ex-prefeito. E acredi-ta na força do sobrenome Maria para emplacar um mandato fora de seu reduto tradicional. l Vai tentar, em Salto do

Lontra, uma espécie de salto tri-plo carpado.

Céu é o limitel A Construtora JL

tem frequentado o notici-ário pelo gigantismo nas ambições empresariais. l Está presente na arti-

culação do consórcio regio-nal para disputar a conces-são da BR 277;l Está construindo o

“teto do Oeste”, o edifício mais alto da região, no bairro Neva;l Acaba de ser selecio-

nada em concorridíssimo certame para edificar o Trevo Cataratas, contrata-da pela Ecorodovias.

Rápidasl Líder do partido Novo em

Cascavel, Dirceu Soligo foi al-çado por meritocracia (palavra sagrada para os liberais da sigla) a dirigente estadual da turma que veste laranja.l Leonaldo Paranhos des-

cartou de forma contundente e definitiva qualquer hipótese de deixar o mandato pela metade (se reeleito), para disputar o Senado ou vice-governadoria em 2022. l Com a intenção de migrar

da condição de pinto para frango, e, quem sabe, depois, para fran-gão, Pintinho disputa a verean-ça pela quinta vez em Cascavel. l Pintinho foi bilheteiro por

14 anos, e desta vez apoia o pre-feiturável Evandro Roman. “Vou continuar teimando”, disse.

The End“Diga-me com quem tu andas, que direi

quem tu és...”

Novos amigos“Bolsonaro já encadeou vá-

rias medidas, desde o Coaf, a questão da Receita, a nomeação do Aras, a demissão do Moro, agora a nomeação do Kassio. É o grande legado que ele pode deixar para o Brasil: o desmonte desse sistema policialesco.”l Renan Calheiros, réu do Petrolão e investigado em outros oito inqué-ritos por corrupção, saudando o des-monte da operação Lava Jato.

AGENDAEscritor Siro Reis Stempi-nhaki lança no domingo, na Feira do Teatro, o livro “O Diá-rio do Andarilho sem Sombra”.