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Boletim Criminal Comentado–julho 2018 (semana 1) 1 CAO-Crim Boletim Criminal Comentado - julho 2018 (semana 1) Mário Luiz Sarrubbo Subprocurador-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais Coordenador do CAO Criminal: Arthur Pinto de Lemos Júnior Assessores: Fernanda Narezi Pimentel Rosa Marcelo Sorrentino Neira Paulo José de Palma Ricardo José Gasques de Almeida Silvares Rogério Sanches Cunha Analista de Promotoria: Ana Karenina Saura Rodrigues

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Boletim Criminal Comentado–julho 2018

(semana 1)

1

CAO-Crim

Boletim Criminal Comentado - julho 2018

(semana 1)

Mário Luiz Sarrubbo

Subprocurador-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais

Coordenador do CAO Criminal:

Arthur Pinto de Lemos Júnior

Assessores: Fernanda Narezi Pimentel Rosa

Marcelo Sorrentino Neira Paulo José de Palma

Ricardo José Gasques de Almeida Silvares

Rogério Sanches Cunha

Analista de Promotoria:

Ana Karenina Saura Rodrigues

Boletim Criminal Comentado–julho 2018

(semana 1)

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Sumário

ESTUDOS DO CAOCRIM ............................................................................................................... ..3

1 - Colaboração premiada, legitimidade do Delegado de Polícia e as atribuições/deveres do Ministério

Público.....................................................................................................................................................3

2 - Conflito de atribuições entre MPs e o Aviso 150/17 PGJ e CGMP........................................................5

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM .......... ..........................9

DIREITO PROCESSUAL PENAL............................................................................................................9

1 – Tema: Reconhecimento fotográfico. Validade quando ratificado em juízo.......................................9

2 – Tema: Testemunho prestado por policiais. Validade........................................................................10

DIREITO PENAL...............................................................................................................................12

1 - Tema: STJ. Aplicação da pena. Possibilidade ou não de substituição da pena privativa de

liberdade por restritiva de direitos quando o tráfico de drogas for praticado com o intuito de

introduzir substâncias ilícitas em estabelecimento prisional....................................................12

STF/STJ: Notícias de interesse institucional. ...................................................................... ..........14

Boletim Criminal Comentado–julho 2018

(semana 1)

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ESTUDOS DO CAOCRIM

1 - Colaboração premiada, legitimidade do Delegado de Polícia e as atribuições/deveres do

Ministério Público

Após a decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 5.508-DF, na qual julgou constitucional os

parágrafos 2o. e 6o. do art. 4o. da Lei 12.850/13, reconhecendo a legitimidade de o Delegado

de Polícia celebrar acordo de colaboração premiada, foi formado, a pedido do CAOCRIM,

Grupo de Trabalho na Subprocuradoria-Geral de Justiça Criminal (ATO 43/18) para tratar dos

seus reflexos nas atribuições e os deveres do órgão de execução do Ministério Público quando

diante de um acordo policial.

Muito antes do prazo estipulado para o encerramento dos trabalhos, o Grupo apresentou ao

Procurador-Geral de Justiça os seguintes enunciados, todos aprovados por unanimidade:

ENUNCIADO N. 1

Apresentada proposta de acordo de colaboração premiada subscrita pelo Delegado de Polícia

para homologação judicial, pode o Ministério Público, como titular da ação penal (art. 129, I,

da CF), depois de ouvido o colaborador na presença de seu defensor:

a) ratificar os termos do acordo, em especial quando dele participou desde a origem;

b) substituir o acordo por outro;

c) recusar o acordo, ressalvada a possiblidade de o juiz, dissentindo, remeter a questão ao

Procurador-Geral de Justiça, aplicando, por analogia, o art. 28 do CPP;

d) entendendo não existir justa causa para a ação penal, manifestar-se pela rejeição do acordo

policial, promovendo o arquivamento da investigação;

e) realizar ou requisitar diligências imprescindíveis à análise dos termos do acordo ou da

formação da “opinio deliciti”.

ENUNCIADO N. 2

O acordo celebrado pela Autoridade Policial não deve impedir ou restringir, direta ou

indiretamente, o direito de ação ou de punir do Estado, ficando vedada a concessão de

imunidade processual, perdão judicial, substituição de pena, regime prisional diverso daquele

ditado pelo art. 33 do CP ou efeitos de eventual condenação.

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ENUNCIADO N. 3

Não havendo previsão legal do cabimento de recurso em sentido estrito, da decisão que

homologa o acordo policial desafia recurso de apelação, com fundamento no art. 593, II, CPP;

se proferida por Tribunal, agravo interno.

ENUNCIADO N. 4

A atribuição do Delegado de Polícia para firmar acordo se limita à fase de investigação, com a

fiscalização do Ministério Público, sob pena de reclamação. Proposta a ação penal, a

Autoridade Policial fica impedida de celebrar acordo de colaboração envolvendo fatos e

pessoas constantes da denúncia-crime, sob pena de violação do art. 129, I, da CF.

ENUNCIADO N. 5

Acordo celebrado pela Autoridade Policial versando, direta ou indiretamente, sobre matérias

extrapenais deve ser recusado pelo Ministério Público.

ENUNCIADO N. 6

Na hipótese de homologação judicial da colaboração premiada celebrada pela Autoridade

Policial, cabe ao MP ou querelante, como titular da ação penal, após analisar a eficácia da

colaboração com base nos resultados obtidos, requerer a concessão parcial ou integral dos

benefícios previstos no acordo, ou deixar de requerer sua aplicação.

Participaram ativamente do Grupo os seguintes colegas:

Mário Luiz Sarrubbo (Subprocurador-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais),

Marcio Sergio Christino (134o. Procurador de Justiça da Proc. de Justiça Criminal), Adriana

Ribeiro Soares de Morais (Promotora de Justiça Secretária da 3a. Promotoria Criminal da Barra

Funda), Alexandre Affonso Castilho (Promotor de Justiça – GAECO/Vale do Paraíba), Alexandre

Cebrian Araujo Reis (Promotor de Justiça – assessor da Procuradoria-Geral de Justiça), Amauri

Silveira Filho (Promotor de Justiça – Secretário Executivo dos GAECOs), Arthur Pinto de Lemos

Jr. (Promotor de Justiça - Coordenador do CAOCRIM), Cléber Rogério Masson (Promotor de

Justiça – assessor da Procuradoria-Geral de Justiça), Daniel Zulian (Promotor de Justiça –

GAECO/Campinas), Guilherme Sampaio Sevilha Martins (Promotor de Justiça –

GAECO/Bauru), Letícia Rosa Ravacci (Promotora de Justiça – GAECO/SP), Leonardo Leonel

Romanelli (Promotor de Justiça – GAECO/Ribeirão Preto), Rafael Queiroz Piola (Promotor de

Justiça – GAECO/Franca), Roberto Victor Anelli Bodini (Promotor de Justiça – GEDEC), Rogério

Sanches Cunha (Promotor de Justiça – assessor CAOCRIM).

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2 - Conflito de atribuições entre MPs e o Aviso 150/17 PGJ e CGMP

O Supremo Tribunal Federal, nas Ações Cíveis Originárias (ACO) 924 e 1394, mudou seu

posicionamento e decidiu que, no conflito de atribuições entre Ministérios Públicos de

Estados diversos, ou entre o Ministério Público estadual e Ministério Público da União, é o

Procurador Geral da República quem deve solucionar a controvérsia.

Essa decisão tem merecido críticas, não sem razão, pois afronta a Constituição Federal e a

legislação infraconstitucional. O novo posicionamento rendeu MOÇÃO DE

DESCONTENTAMENTO aprovada no Conselho Nacional de Corregedores Gerais dos Estados e

da União, em agosto de 2016. Vejamos.

Nos termos do art. 128 da CF/88, o Ministério Público abrange: o Ministério Público Federal,

o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar, o Ministério Público do Distrito

Federal e Territórios e os Ministérios Públicos dos Estados. O §1o. do mesmo artigo anuncia

que o Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-Geral da República (...).

Percebe-se, com certa facilidade, autonomia entre o MPU os MPEs, os últimos não sendo

subordinados funcional, financeira e/ou administrativamente ao primeiro. Essa arquitetura

montada pelo Constituinte fica confirmada pelos §§ 1o. ao 3o. do art. 127 da Carta Maior, ao

dispor que são princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a

independência funcional (§1o.), sendo que cada MP elaborará sua proposta orçamentária

dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias (§3o.).

Informada pela estrutura anunciada na Constituição, a Lei Complementar 75/93(Lei Orgânica

do MPU), nos seus artigos 26, inciso VII, e 49, inciso VIII, estabelece ser atribuição do PGR,

como chefe do MPU, dirimir conflitos de atribuição entre integrantes de ramos diferentes do

MPU e os conflitos de atribuições entre órgãos do MPF. Já a Lei 8.625/93 (Lei Orgânica

Nacional dos MPs estaduais), no seu artigo 10, inciso X, prevê competir ao PGJ, como chefe

da instituição, dirimir conflitos de atribuições entre seus membros.

A LOMPU, portanto, seguindo fielmente a Carta Maior, consideradas as atribuições legais do

PGR, estabeleceu a ele competir, como chefe do MPU, apenas e tão somente solucionar os

conflitos entre integrantes de ramos diferentes do MPU e entre órgãos do MPF. E não poderia

ser diferente. MP da União e MP dos Estados têm estruturas funcionalmente autônomas. Por

isso, alerta Emerson Garcia:

“Tratando-se de estruturas funcionalmente autônomas, é juridicamente insustentável a tese

de que o conflito deveria ser solucionado por integrante de uma delas, o que terminaria por

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dar azo a uma espécie de subordinação institucional. Nessa perspectiva, sendo a federação a

forma de Estado adotada no Brasil, não é admissível, com parece a alguns, que um órgão que

atue no âmbito federal, como é o PGR, possa impor suas deliberações aos MPs dos Estados. A

resolução dos conflitos de atribuições, em sede administrativa, pressupõe a existência de um

escalonamento hierárquico entre a autoridade que irá solucioná-lo e aqueles que deverão

acatar sua decisão, pressupondo que permitirá a eventual punição do recalcitrante e que se

encontra ausente na hipótese” (Ministério Público: organização, atribuições e regime jurídico,

5a.ed, SP, Saraiva, 2015, p. 315).

Ora, não sendo possível, lógica, política e juridicamente, a tese de o PGR dirimir conflitos

envolvendo órgãos do MPU e MP dos Estados ou entre MPs de Estados diferentes, pergunta-

se: qual (a instituição) o órgão que deve assumir essa tarefa? A lacuna existe e o uso da

analogia é inevitável. Na tarefa de suprimi-la, no entanto, o intérprete deve ater-se aos

seguintes pressupostos, a saber: a existência de um conflito federativo, cuja apreciação só

pode passar por órgão institucionalmente equidistante daqueles envolvidos e, ao mesmo

tempo, colegiado.

Dentro desse espírito democrático, no plano constitucional chama a atenção um dispositivo:

o artigo 102, inciso I, “f”, que afirma ser de competência do STF processar e julgar,

originariamente, as causas e conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal,

ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta.

Quando dois MPs de Estados diferentes (ou MP estadual e MPF) colidem nas suas teses,

instaurado está um conflito federativo. Por esta razão, parece-me que o STF é o órgão

competente para dirimir a controvérsia, na esteira do já mencionado artigo 102, I, “f”, da

nossa Bíblia Política”. E não seria a primeira vez que se recorreria à Corte Maior na salvaguarda

da federação. Sabemos que a ação popular deve ser proposta, originariamente, no primeiro

grau da Justiça comum, não existindo competência originária dos Tribunais para julgar ações

dessa natureza, ainda que movida contra alguma autoridade detentora de foro por

prerrogativa de função. Contudo, como bem lembram Juliano Taveira Bernardes e Olavo

Augusto Vianna Alves Ferreira, o STF, na ACO 622/RJ e Rcl 2.833/RR, já decidiu a ele competir

julgar originariamente ação popular quando envolver conflito federativo estabelecido entre a

União e Estado-membro ou Distrito Federal, aplicando o art. 102, I, “f”, da CF (Direito

Constitucional Positivo, T II, 2017, Salvador: Juspodivm, versão digital).

E, de fato, não existe no nosso arcabouço legislativo, constitucional ou infraconstitucional,

solução melhor. De lege lata, não cabe ao STJ, pois encarregado apenas de resolver conflitos

de jurisdição (art. 105, I, “d”, CF). Ao PGR muito menos, pois lhe falta os pressupostos acima

mencionados, destacando-se: órgão institucionalmente equidistante dos interessados e

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colegiado. Aliás, suas decisões em futuros conflitos não vinculam o Judiciário, bem como os

MPs sobre os quais não exerce tem função de chefia.

Existem ações institucionais visando reverter esse quadro, como, por exemplo, a reunião do

CONACRIM (Centros de Apoio de todos os Estados), a ser realizada no dia 17/8, em Goiânia,

tendo como um dos temas da pauta exatamente o conflito de atribuições entre MPs.

Por ora, enquanto não se reverte a decisão aqui combatida, os colegas devem observar o

AVISO 150/17, subscrito conjuntamente pela Procuradoria-Geral de Justiça e Corregedoria-

Geral do Ministério Público, nos seguintes termos:

O Procurador-Geral de Justiça e o Corregedor-Geral do Ministério Público, no uso de suas

atribuições,

Considerando que, nos casos de conflito de atribuições entre Ministério Público Federal e

Ministério Público Estadual, ou entre Ministérios Públicos de Estados diversos, não ha como

se reconhecer simples conflito entre membros dos Ministérios Públicos envolvidos, mas entre

as próprias Instituições;

Considerando a existência de divergências no Supremo Tribunal Federal, conforme se vê de

inúmeras decisões proferidas em Ações Cíveis Originárias ou Petições que por la tramitaram

(Pet 3528, ACO 1445/MG, Pet 5117, AgrReg na Petição 5098/SP, ACO 852/BA, ACO 889/RJ,

ACO 1041/SP, ACO 1079/SP, ACO 1193/PI, ACO 1239/DF, ACO 2739/RJ, Petição no 1503/MG,

Petição no 3094, ACO 924, ACO 1394);

Considerando que as decisões proferidas nas ações cíveis originárias não possuem efeito

vinculante em relação a parte dispositiva e mesmo em relação aos chamados fundamentos

ou motivos determinantes, pois, de conformidade com o disposto no artigo 102, § 2o, da

Constituição Federal, essa força cabe apenas às Ações Declaratórias de Constitucionalidade

(ADC) e às Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADI); e,

Considerando que compete ao Procurador-Geral de Justiça representar judicialmente o

Ministério Público, nos termos do art.10, I, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei

no 8625/93), e do art.19, II, a, da Lei Orgânica Estadual do Ministério Público (Lei

Complementar Estadual no 734/93);

Avisam aos senhores membros do Ministério Público do Estado de São Paulo que, em casos

concretos, desde que formada a convicção no sentido da necessidade de instauração de

conflito de atribuições entre o Ministério Público do Estado de São Paulo e o Ministério Público

Federal, ou Ministérios Públicos de outros Estados, provoquem a instauração do conflito

mediante representação fundamentada dirigida a Procuradoria-Geral de Justiça.

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Avisam, ainda, que a provocação não deve ser encaminhada diretamente, pelo membro do

Ministério Público, ao E. Supremo Tribunal Federal ou a D. Procuradoria- Geral da República,

para fins de instauração do conflito, dada a atribuição exclusiva do Procurador-Geral de Justiça

para representação judicial da instituição.

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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM

DIREITO PROCESSUAL PENAL:

1 – Tema: Reconhecimento fotográfico. Validade quando ratificado em juízo.

Para STJ, o reconhecimento fotográfico do réu, quando ratificado em juízo, sob a garantia

do contraditório e ampla defesa, pode servir como meio idôneo de prova para fundamentar

a condenação.

Comentários do CAOCRIM:

Pode se definir o reconhecimento como o cotejo entre elementos atuais e passados, capazes

de propiciar a identidade de determinada pessoa ou coisa. Nesse sentido pronuncia-se Enrico

Altavilla, citado por Adalberto Camargo Aranha, para quem o reconhecimento “é um juízo de

identidade entre uma percepção presente e uma percepção passada” (Da prova no processo

penal. Saraiva: São Paulo, 2007, p. 168). Numa definição mais estrita, formulada por Hélio

Tornaghi, “reconhecimento é o ato pelo qual alguém verifica e confirma a identidade de

pessoa ou coisa que lhe é mostrada, com pessoa ou coisa que já viu” (Curso de processo penal,

1990, vol. 1, p. 429).

Considerando que se trata de meio de prova que pode realmente contribuir para a imputação

da autoria delitiva, o Código de Processo Penal estabelece, no art. 226, diversos requisitos

para que o ato de reconhecer alguém seja seguro e livre de induzimento ou sugestionamento.

A despeito disso, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é absolutamente pacífica no

sentido de que, não atendidas tais formalidades, nem por isso perde o ato a sua validade:

“É pacífico o entendimento do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que é legítimo o

reconhecimento pessoal ainda quando realizado de modo diverso do previsto no art. 226 do

Código de Processo Penal, servindo o paradigma legal como mera recomendação” (HC

443.769/SP, j. 12/06/2018).

Uma das formas pelas quais o reconhecimento se dá sem a observância do art. 226 é a

fotográfica, não contemplada.

Se ao reconhecimento pessoal já são apontadas restrições, com muito mais razão doutrina e

jurisprudência nutrem enormes ressalvas quanto à validade do chamado reconhecimento

fotográfico. Há quem simplesmente lhe negue a natureza probatória, enquanto outros

defendem sua utilização, como José Frederico Marques ao alertar que “não nos parece muito

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acertado rejeitar-se de plano, como elemento de prova, o reconhecimento feito diante de

fotografias. Tudo depende, em cada caso, das circunstâncias que rodearam o reconhecimento

e dos dados que foram fornecidos pela vítima ou testemunha, para fundamentar suas

afirmativas” (Elementos de direito processual penal, Bookseller: Campinas, 1997, vol. II, p.

308).

Com efeito, embora precário, o reconhecimento fotográfico submete-se, como de resto toda

e qualquer prova penal, a uma análise global, dentro de um contexto probatório forjado nos

autos e, como tal, deve ser tomado pelo juiz, na formação de sua convicção, dentro da

liberdade que orienta tal raciocínio. Não tem, é óbvio, valor absoluto – que, aliás, não tem

nem a confissão judicial – e, portanto, não pode isoladamente fundamentar um decreto

condenatório. Deve ser recebido com as ressalvas decorrentes de sua natureza precária e

cotejado com os demais elementos probatórios que compõem o processo, especialmente

aqueles produzidos sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. É neste sentido a tese

firmada pelo STJ:

(…) V – O reconhecimento fotográfico não é inválido como meio de prova, pois, conquanto

seja aconselhável a utilização, por analogia, das regras previstas no art. 226 do Código de

Processo Penal, as disposições nele previstas são meras recomendações, cuja inobservância

não causa, por si só, a nulidade do ato. Precedentes. VI – In casu, consta que o reconhecimento

fotográfico não foi o único elemento de prova a fundamentar a condenação, pois foi

corroborado por outros elementos, como ‘termos de reconhecimento pessoal’ e os ‘relatos

efetuados pelos ofendidos em juízo’” (HC 427.051/SC, j. 05/04/2018).

2 – Tema: Testemunho prestado por policiais. Validade.

Para o STJ, é válido e revestido de eficácia probatória o testemunho prestado por policiais

envolvidos em ação investigativa e/ou responsáveis por prisão em flagrante, quando estiver

em harmonia com as demais provas dos autos e for colhido sob o crivo do contraditório e

da ampla defesa.

Comentários do CAOCRIM:

A regra geral estabelecida no Código de Processo Penal é de que toda pessoa pode ser

testemunha (art. 202), assim considerada a pessoa física que narra em juízo qualquer

circunstância a respeito de determinada prática delituosa de que tenha conhecimento.

Ao dispor que toda pessoa pode servir como testemunha, procurou o Código afastar qualquer

espécie de preconceito, deixando a critério do julgador, em uma análise global do conjunto

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probatório, a valoração de cada depoimento de acordo com os princípios da busca da verdade

real e da livre apreciação da prova.

Há, no entanto, certa controvérsia a respeito da validade do depoimento de policiais que

efetuaram a prisão em flagrante ou de alguma forma atuaram na investigação do fato

criminoso.

Parte da jurisprudência e da doutrina veem com enormes reservas essa espécie de

depoimento. Afinal – argumentam – se o policial foi o responsável pela prisão do réu ou pela

investigação, buscará, sempre, conferir ares de legalidade ao seu ato. Em vista da posição

antagônica em que se encontra em relação ao acusado, sua tendência seria de carregar nas

cores, pintando um quadro mais grave do que o efetivamente verificado, de modo a prejudicar

a situação do agente.

Há, de outra parte, posicionamento francamente favorável ao depoimento de policiais. É que,

tendo participado diretamente da diligência que culminou com a deflagração de processo

contra o réu, mais do que ninguém se encontra preparado para depor sobre os fatos. Demais

disso, importaria em verdadeiro contrassenso que o Estado, de um lado, habilitasse o agente

a prestar-lhe serviços, mediante, inclusive, ingresso na carreira por um concurso público para,

de outro, negar credibilidade a seu depoimento.

De fato, não há razão plausível para colocar sob suspeita o relato de um agente público

legitimado para o combate ao crime simplesmente em razão de sua condição. Seu testemunho

deve ser tomado sem nenhuma espécie de reserva a esse respeito, e deve ser cotejado – como

qualquer outro – com outros elementos probatórios que integrem o processo. Se não há

indicação de vício no relato apresentado, é plenamente possível sua utilização para

fundamentar a sentença condenatória. O simples fato de que a testemunha é policial não

pode jamais servir para desacreditá-la.

Assim se firmou a tese do Superior Tribunal de Justiça:

“Conforme entendimento reiterado do Superior Tribunal de Justiça, os depoimentos dos

policiais responsáveis pela prisão em flagrante são meio idôneo e suficiente para a formação

do édito condenatório, quando em harmonia com as demais provas dos autos, e colhidos sob

o crivo do contraditório e da ampla defesa, como ocorreu na hipótese, cabendo a defesa

demonstrar sua imprestabilidade” (HC 436.168/RJ, j. 22/03/2018).

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DIREITO PENAL:

1 - Tema: STJ. Aplicação da pena. Possibilidade ou não de substituição da pena privativa de

liberdade por restritiva de direitos quando o tráfico de drogas for praticado com o intuito

de introduzir substâncias ilícitas em estabelecimento prisional.

Comentários do CAOCRIM:

Sempre se discutiu (na doutrina e jurisprudência) a possibilidade de pena alternativa para

crime rotulado como hediondo (ou equiparado). Vamos analisar a questão seguindo a ordem

cronológica das várias leis (e decisões) que, explicita ou implicitamente, trataram do assunto.

A Lei nº 8.072/90 não trouxe, expressamente, qualquer vedação ao benefício. Contudo, na

versão primeira, previu o regime integral fechado, fomentando a controvérsia: para uns, tal

regime tornava inviável a substituição (vedação implícita); para outros, partindo da premissa

que não existem vedações implícitas (devendo ser, sempre, explícitas) e que o regime integral

fechado era inconstitucional, ferindo, dentre outros, o princípio da individualização da pena,

não havia base legal para a vedação da substituição.

Depois de mais de uma década, o STF declarou a inconstitucionalidade do regime integral

fechado (HC 82.959-7), silenciando sobre a compatibilidade ou não dessa espécie de crime

com as penas alternativas (a discussão persistiu).

Com o advento da Lei nº 11.464/2007, alterou-se a redação do artigo 2º, §1º da Lei de Crimes

Hediondos, não mais prevendo o regime integral, mas sim inicial fechado.

Com a mudança, a maioria entendeu não haver mais óbice (implícito ou explícito) à

substituição da pena em se tratando de crimes hediondos ou equiparados.

Restava, contudo, a vedação expressa na Lei de Drogas (Lei 11.343/06), que foi também

declarada inconstitucional pelo STF (HC 97.256) e teve sua eficácia suspensa por meio de

resolução do Senado Federal (Resolução nº 5 de 2012).

Diante desse quadro, cabe ao magistrado, na análise do caso concreto, aquilatar se estão

presentes os requisitos que autorizam a substituição, observando, ainda, o princípio da

suficiência da pena alternativa diante da gravidade do crime hediondo (ou equiparado)

cometido pelo sentenciado, evitando, assim, insuficiente intervenção do Estado. Aliás, em

várias oportunidades, o STF vem reafirmando o seu posicionamento sobre a

inconstitucionalidade de qualquer cláusula legal que veda, apenas com base na gravidade em

abstrato do crime, benefícios penais (restritivas de direitos, por exemplo) ou processuais

(como a liberdade provisória). Vislumbra, nessas situações, um abuso do poder de legislar por

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parte do Congresso Nacional que, na verdade, culmina por substituir-se ao próprio magistrado

no desempenho da atividade jurisdicional.

O caso ora comentado se resume num processo em que o réu é acusado de tráfico, mais

precisamente, de buscar introduzir drogas no sistema prisional. O juiz, analisando o caso

concreto, negou a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,

julgando ausentes os requisitos subjetivos permissivos da benesse legal. Não sem razão,

entendeu que a pena diversa da prisão, no caso, era insuficiente para atingir as finalidades da

retribuição e prevenção.

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STF/STJ: Notícias de interesse institucional

Notícias STF 2 de julho de 2018 1- Decisão determina arquivamento de inquérito contra deputado federal Bruno Araújo Clique aqui para ler a íntegra da notícia 3 de julho de 2018 2-Relatores determinam arquivamento de inquéritos contra senadores por ausência de provas na investigação Clique aqui para ler a íntegra da notícia 3- Ação pede que STF afirme direito de transexuais e travestis de cumprir pena em presídio feminino Clique aqui para ler a íntegra da notícia 4 de julho de 2018 4-Ministra Cármen Lúcia assina protocolo para ampliar atendimento a mulheres em situação de violência doméstica Clique aqui para ler a íntegra da notícia 5- Liminar suspende ação penal contra sócios de rede varejista acusados de crime tributário Clique aqui para ler a íntegra da notícia 6- Mantida pena de ex-prefeito de município do Paraná condenado por desvio de recursos Clique aqui para ler a íntegra da notícia 5 de julho de 2018

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7-Íntegra do voto do ministro Celso de Mello no julgamento sobre condução coercitiva Clique aqui para ler a íntegra da notícia 6 de julho de 2018 8- Relator restabelece decisão de primeira instância e absolve acusado de dispensa ilegal de licitação Clique aqui para ler a íntegra da notícia Notícias STJ 5 de julho de 2018 9- Terceira Turma não admite novas provas sobre fato antigo apresentadas em momento

processual inoportuno

Clique aqui para ler a íntegra da notícia

6 de julho de 2018 10-Alteração de marco para concessão de benefícios da execução penal, por unificação das penas, não tem respaldo legal Clique aqui para ler a íntegra da notícia