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  • 7/28/2019 B026-Lou Carrigan-Um Tiro No Azul

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    LOU CARRIGAN

    BRIGITTE MONTFORT

    U M T IR O N O A Z U LM T I RO N O A Z U L

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    PRIMEIROUma chegada, uma inocente mentira e um telegrama de verdade.

    Desfile oportuno e uma conversa em francos novos.Risco perto do lago.

    O que torna Brigitte Montfort uma espi extremamenteagradvel o fato de no se considerar uma pessoainfalvel, como tantos agentes modernos cabotinos daera atmica. Linda de morrer, perigosssima com uma armana mo, e at mesmo sem armas de fogo pois seu feitio

    de fmea d para desnortear o mais frio inimigo Brigittemantm-se humana e simptica, generosa e simples paracom seus velhos amigos.

    Os que acompanham suas aventuras de espi e jornalistasabem que, na redao do matutino Morning News, deNova Iorque, todos a admiram, do porteiro ao diretor. E,

    entre todos, Frank Minello, o redator esportivo, rapagobonito, um tanto boal, mas fiel nas horas difceis. Frank oque o pessoal de Manhattan costuma chamar de boca decaapa, isto , uma espcie de boa pinta, nutrido acenouras, que preferiu a cultura fsica cultura clssica.Frank, o forte, o parrudo, o guarda-costas, o escravo

    sentimental de Brigitte.Nossa histria comea com ele, um tanto indeciso,

    parado diante da entrada do Morning News, fazendo horapara tomar o txi que o levar ao Stadium onde se travasensacional luta de boxe. Tem ainda cinqenta minutos pelafrente e no sabe o que fazer deles. Est a ponto de

    caminhar at o bar da esquina para um rpido drink quandov aproximar-se da calada um veloz Yellow Cab e dele

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    descer a jovem morena mais provocante de Nova Iorque.Frank no se contm e solta um grito:

    Brigitte!E em seguida, numa pantomima gozadssima, ajoelha-se

    para receber a jovem reprter, exclamando: Brigitte, meu amor! At que enfim!A cena, de pera bufa, chama a ateno dos

    circunstantes que se aproximam, meio espantados, e pem-se a rir da situao. Mas Brigitte, por sua vez, toma parte nabrincadeira, faz uma exagerada pose de modelo parisiense,

    sorrindo deliciosamente e respondendo, em tommelodramtico:

    Meu amor, meu amor! No fiques assim ajoelhado noasfalto selvagem. Ergue-te e enlaa-me com teus braosfortes.

    O atltico Frank Minello, diante da provocao, no se

    faz de rogado. Toma nos braos a linda reprter e carrega-a,como um trofu, at a portaria do Morning News, sob osaplausos da pequena multido que j se havia formado emtorno dos dois. Brigitte fala:

    Frankie! Voc o idiota mais querido que j conheci.Agora chega! Ponha-me no cho, por favor.

    Mas o redator-esportivo no quis encerrar ali abrincadeira. Segurar Brigitte nos braos uma experinciapor demais agradvel para ser abandonada em to poucosminutos. Frank prosseguiu com a palhaada at chegaremao gabinete de Miky Grogan, o diretor-redator-chefe. Ajovem no teve remdio seno aceitar tudo resignadamente,

    fazendo um ar de quem pede desculpas diante dos colegasda redao.

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    Miky teve um susto com toda a algazarra, mas logorecobrou a calma vendo, diante de si, a linda reprter queFrank, generosamente depositava no cho, no sem antesarriscar um olho malicioso para as belas pernas da moa

    que, no movimento, haviam ficado mostra. Minha querida Montfort! foi ele dizendo. At

    que enfim, tenho-a de volta. Como correu tudo em Capri?1

    Como voc j deve saber, Miky! No me diga que oPitzer ainda no lhe contou os detalhes do leilo?

    Claro, claro... Sei de tudo. Mas quero sua verso. E

    este Frank Minello que agora a carrega no colo... Por queno o manda plantar batatas bem longe daqui?

    O redator esportivo fez uma careta incompreensvel efoi-se retirando antes que o chefe lhe desse uma boa broncapela travessura. Miky Grogan dirigiu-se a Brigitte.

    Como est queimadinha de sol italiano! At parece

    uma daquelas figuras de San Michele, uma namorada deAxel Munthe...

    Ora, meu querido chefe... fez Brigitte, irnica vejo que andou melhorando seus conhecimentos literrios,ultimamente.

    No me venha com seu sarcasmo, ao menos por

    enquanto! protestou Miky, a quem as ironias da reprterperturbavam um pouco. Quero elogi-la e voc logo metolhe a iniciativa.

    Brigitte, guisa de desculpas, deu-lhe dois beijos nasbochechas, deixando o velhote mais do que feliz. Emseguida vieram as conversas profissionais. Ele queria saber

    1Novela: Um Episdio em Capri, imediatamente anterior aesta.

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    se sua bela reprter, alm da histria do leilo de espies deCapri, tinha mais alguma novidade a contar.

    S fiz uma pequena reportagem sobre um outroassunto banal! informou Brigitte, como quem se

    desculpa.Mas o velho Miky se atiava facilmente: Fale, menina! Que reportagem ! Desembuche,

    vamos! Calma, chefe! A reportagem escrita e no contada.

    Todas as novidades esto batidas a mquina, em espao

    dois. Alis, no so grandes novidades. Histria boba einspida.

    Ento, deixe-me ver... Oh! Esqueci tudo em casa... Trago amanh. Amanh? Voc est louca, menina? Quer que os

    outros jornais nos furem?

    Oua, querido Miky... acalme-se! Nenhum jornal vainos furar nesse assunto. No h interesse. tudo fantasia deuma velha amalucada. No se comprovou coisa alguma e apolcia certamente j deu o caso por encerrado.

    Mas... que histria essa? Explique-se! No estouentendendo bulhufas! Voc sempre com essa mania de fazer

    suspense. Vamos! Qual o assunto? Ora, Miky, eu pensava at que voc fosse medar uns dias de folga, mas j que gosta de fazer valer seupoder de gro-senhor sobre esta sua pobre escrava, v l...O negcio o seguinte: entrevistei uma velhota que me fezestranhas revelaes...

    Que revelaes? Diga! Ande! Bem... ela declarou que ontem, no seu quintal, desceuuma espaonave de formato incomum... e que desta

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    espaonave saram uns homenzinhos, pequenininhos, comanteninhas na cabea como se fossem chifres italianos. Elaos convidou para tomar ch e eles aceitaram...

    Oh!

    A expresso do velho Miky era um misto de pasmo,incerteza, indignao e humor. Mas foi a raiva que tomouconta dele, fazendo-o gritar:

    Saia daqui! Saia da minha frente antes que eu faauma besteira! No quero ver voc, nunca mais!

    Nunca mais? perguntou Brigitte, num tom

    altamente provocante que s as mulheres necessariamentelindas conseguem produzir. E por qu? Que foi que eufiz?

    Agora a reprter cruzava as pernas naquele ponto exatoque endoidece os homens.

    Grogan acalmou-se um pouco com a generosidade do

    espetculo que lhe era oferecido. H instantes na vida de umchefe em que o senso de hierarquia fica muito prejudicadopelo tumulto das emoes. Aquele era um desses. MikyGrogan sabia manter o respeito at mesmo diante daenfeitiante Brigitte, mas via-se que estava perturbado.Olhou para ela e, afinal, desfez a carranca para resmungar:

    Disco voador! Pois sim! Hominhos com chifres! Poissim! Ch com a velhota! Raios! Mas pura verdade! insistiu Brigitte, com o ar

    mais srio desse mundo. Foi o que ela me contou e todomundo quis saber. At a Polcia se movimentou! Se quiser,voc pode publicar meu artiguinho. Est muito engraado...

    No. No preciso! interrompeu Miky Grogan. O Morning News no vai fazer esse ridculo... Voc podetirar seus dias de folga. V andando, menina! Tenho muito

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    que fazer... Ah! Antes que me esquea. Tenho uma cartaaqui para voc.

    Remexeu entre os papis sobre a mesa tumultuada eapanhou um envelope. Estendeu-o a Brigitte dizendo:

    Veio da Frana... de Paris. Deve ser de algummarciano daRive Gauche..

    Que bom! exclamou a jovem, apanhando oenvelope e abrindo-o. Tomara que seja! Com licena.

    Retirou de dentro do envelope um papel que continhaum curto bilhete. Leu-o rapidamente, pestanejou, tornou a

    l-lo, Colocou-o no envelope e guardou-o na bolsa. Ficoualguns segundos pensativa. Miky interrompeu o Silncioque se seguira:

    Boas noticias?Brigitte no respondeu. Levantou-se e disse: Adeus, querido Miky. Tornarei a v-lo quando

    voltar... Como?! exclamou o redator-chefe. Quando

    voltar? De onde? De Paris, ora! Paris! E o trabalho aqui? E as reportagens? Nada de especial est acontecendo. E estou

    precisando mesmo de frias. Vou tomar o primeiro avio.No preciso nem de visto no passaporte. Adeus!E dizendo isto saiu rapidamente da sala, sem dar tempo a

    que Miky Grogan comeasse a esbravejar os seus protestos.* * *

    Na manh seguinte, sada do aeroporto de Orly, um

    motorista de txi aproximou-se de Brigitte.Mademoiselle Montfort? perguntou ele. Sim.

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    Recebemos seu telegrama. Fizemos reservas numbom hotel. Dadas as circunstncias, no convm que fiqueno Grand Hotel. Mas ter todo o conforto, numapartamento de luxo.

    Agradeo a ateno e as facilidades com a Alfndegae a Polcia Martima.

    Queira seguir-me, por favor. Permite que eu leve suavalise?

    No, obrigada. Eu mesma a levo.O motorista conduziu-a at o txi e poucos segundos

    depois se afastavam do aeroporto parisiense. Decorridoalgum tempo ele voltou a falar:

    A senhorita dever almoar no hotel e em seguidapoder descansar umas duas horas, ou mais, se quiser. scinco em ponto dever sair e dirigir-se ao nmero 112 doBoulevard des Oiseaux. uma casa de modas que tem

    exatamente esse nome: Maison de la Mode. Haverdesfile de modelos de vero. Espero que lhe agrade assisti-lo, senhorita.

    Tenho certeza que sim sorriu ela. Vocs somuito amveis.

    * * *

    Brigitte Montfort, principal reprter policial doMorning News, o matutino de maior circulao de NovaYork, trabalha sob as ordens de Miky Grogan, o simpticoredator-chefe, seu velho amigo. Formou-se em jornalismopela Universidade de Colmbia, revelando extraordinriopendor para as investigaes e as pesquisas.

    Simultaneamente, trabalha para a CIA, (Agncia Centralde Inteligncia, o servio de espionagem internacional dosEstados Unidos).

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    Brigitte herdou de sua me, Giselle2, a Espi Nua queAbalou Paris, no s os atributos de beleza e feminilidade,mas tambm a inteligncia aguda, a perspiccia, o destemore a audcia. E foi exatamente em virtude desses atributos

    que Alan Pitzer, chefe de um dos importantes setores daCIA, treinou-a em todos os segredos da espionageminternacional. Sob a segura orientao de Pitzer, a quem elachama de Tio Charlie, Brigitte torna-se eximia atiradoracom qualquer tipo de arma de fogo, e aprende a manejar,com igual destreza, as armas brancas. Quem a v sorridente,

    amvel e bela, no pode jamais suspeitar que sob suaaparente fragilidade feminina est uma violenta lutadora dejud, impiedosa e implacvel com seus Inimigos.

    Sua fama j chegou at aos servios secretos de vriospaises. Ela por todos respeitada e temida. No raro v-secontratada por algum pas do Ocidente para um servio

    especial de contra-espionagem ou de combate aobanditismo internacional.

    Mas, acima de tudo isso, Brigitte Montfort mulher.Neste exato momento, ela se delicia contemplando omaravilhoso desfile das ltimas criaes da alta costurafrancesa. De repente, a seu lado uma voz suave:

    Agrada-lhe algum modelo, machrie?Brigitte voltou-se lentamente para o cavalheiro que sehavia sentado a seu lado. Sorriu e murmurou:

    2Giselle Montfort, espi a servio dos maquis no perodo deocupao da Frana pelos alemes, durante a Segunda

    Guerra Mundial. Giselle foi fuzilada na priso de Cherche-Midl pelos nazistas, no sem antes ter dado luz a umalinda garotinha com um estrategista alemo.

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    Como est, MonsieurNez? Faz j muito tempo queno nos vemos, no mesmo?

    Realmente, muito tempo sorriu o homem doDeuxime Bureau, do servio secreto francs.

    Creio que a ltima vez foi em Casablanca, no? isso mesmo. E desde ento no voltou a recorrer

    aos meus servios. Por qu? Sou muito dispendiosa? sorriu a jovem.

    Por favor, senhorita Montfort! O que d bonsresultados nunca demasiado dispendioso. Entretanto,

    preciso admitir que voc uma das nossas agentesitinerantes mais caras. Tudo bem, l pela CIA?

    Que CIA? No sei do que est falando monsieur...O Senhor Nariz permitiu-se um ligeiro sorriso. Desculpe-me. Creio que a estou confundindo com

    outra dama. Minha memria ultimamente tem sido pssima!

    Deve ser isso... Diga-me, monsieurNez: por que mechamou a Paris? O que pretende de mim?

    Hummm... Por acaso, voc tem alguma enfermidadecardaca, ou heptica... ou talvez uma simples afeco dapele,Mademoiselle?

    De jeito algum... Receio que seja perfeita... em todos

    os sentidos sorriu Brigitte. Espero que isso no odesagrade. Pelo contrrio! No entanto, minha querida, acho que

    voc vai precisar arranjar uma doena qualquer dentre asque mencionei, pois ter que passar alguns dias numbalnerio francs.

    Bom... Vejamos. De incio, nada de afecesepidrmicas, Monsieur Nez, porque salta aos olhos queestou em perfeito estado e que minha pele maravilhosa.

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    Quanto ao fgado... Minha cor desmente qualquerenfermidade heptica. Minha cor magnfica e ningumacreditaria que eu tivesse esse tipo de complicao. Poroutro lado... o corao! Oh! meu pobre corao, tenro e

    dbil! Bem. Ser uma cardaca. Que horror! Serei apenas uma delicada senhorita,

    cujo corao est palpitando um pouco mais! Nada deexageros, senhor...

    Na sala de desfiles, a hostess descrevia detalhes dos

    modelos, apresentados por lindos manequins. De acordo assentiu o Senhor Nariz. Agrada-lhe algum destes vestidos? Todos! sorriu Brigitte. A voc no? Prefiro as garotas que os vestem... Permite que eu a

    presenteie com um desses modelos?

    S um?MonsieurNez suspirou. Est bem... Que sejam dois. Escolherei trs. Que preciso fazer nesse balnerio? Chama-se Hotel du Lac. Fica junto ao lago Lman

    que, como voc sabe, forma a fronteira entre a Frana e a

    Sua. O hotel est na sada de um povoado muitoagradvel, chamado Saint Honor. J ouviu falar dele? No. Voc vai gostar. um lugar bonito, pacfico,

    tranqilo. Nas proximidades erguem-se grandes montanhas,boas para esquiar... embora, nesta poca, talvez no haja

    muita neve. possvel que ainda reste alguma emChamonix, Les Houches... Saint Gervais, Les Contamines...

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    Mas no em Saint Honor. Fica muito baixo, junto ao lago.Voc vai gostar do ambiente.

    Adapto-me a qualquer ambiente, MonsieurNez. E oque que eu preciso fazer nesse lugar to maravilhoso?

    Bem... Nesse balnerio as guas termais soexcelentes. Voc pode tom-las e descansar seu delicadocorao. Enquanto isso, ficar vigiando certo homem. Abraesta revista na pgina vinte e oito, sim?

    Brigitte apanhou a revista que o homem do DeuximeBureau havia deixado a seu lado com toda a naturalidade e,

    aparentemente aproveitando o momento em que no havianenhum modelo na passarela, folheou-a at chegar pginaindicada. Ali, colada na folha da revista, havia a fotografiade um homem com seus cinqenta e tantos anos, muitoagradvel, embora mostrasse feies um tanto duras, o olharpenetrante, tambm duro. Tinha as tmporas

    esbranquiadas. Sim, agradvel, mas duro, fechado, rude... Chama-se Helmut von Mandle, alemo explicou o

    Senhor Nariz. Est agora com cinqenta e trs anos.Durante a Segunda Guerra foi comandante na InfantariaAlem, a princpio. Depois passou para uma PanzerDivision, comandando um grupo de carros blindados. Logo

    ingressou na SS. Foi a que o comandante voa Mandledemonstrou que no era pessoa grata. Pelo menos para osfranceses e belgas. A tal ponto, que, quando a guerraterminou, foi procurado por todos os cantos. Acabou sendoencontrado. Foi julgado e condenado a vinte anos de prisopor vrios crimes de guerra.

    Um anjinho, o senhor von Mandle murmurouBrigitte. J cumpriu sua pena.

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    Oh! Pensei que tivesse fugido da priso. No. Saiu normalmente, faz dois meses... Entretanto,

    em vista de seus antecedentes, pareceu-nos que deveramosvigi-lo durante algum tempo. Quando deixou a cadeia,

    regressou . Alemanha Ocidental. Naturalmente, no tinhadinheiro nem nada que lhe permitisse uma renda, a no sertrabalho. Mas no trabalhou. Esteve um ms e meio, oupouco mais, na Alemanha Ocidental, numa cidade chamadaBielefeld. Em seguida, repentinamente, vem para a Frana.Voc pode imaginar a nossa surpresa quando cruza a

    fronteira com um passaporte em nome de Anatole Sadiron,cidado francs, instalando-se numa luxuosa vila perto dobalnerio Hotel du Lac, em Saint Honor. De criminosode guerra, condenado a vinte anos de priso e pouco menosdo que morto de fome, passa a ser o cidado francsAnatole Sadiron que parece nadar na opulncia. No

    assombroso? interessante admitiu Brigitte. Onde

    conseguiu o dinheiro e a documentao? No sabemos. Repentinamente, arranjou tudo. Interessante, de fato. Vocs, pelo menos, tm alguma

    teoria?

    Claro. Achamos que algum companheiro de priso,que porventura saiu antes, tenha arrumado tudo. Ou queesse companheiro tenha levado um recado a algum quearrumou as coisas para quando Helmut von Mandle sasselivre. Ele no fez nada, de modo que tinha que ter tudopreparado.

    A vila est em seu nome? No atual, isto , em nome de Anatole Sadiron.Fantstico!

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    Mas isso no tudo. Na vila, moram com ele algunshomens que, at o momento, no tm feito nada deanormal... a no ser passear de lancha pelo lago emergulhar, de quando em quando, com equipamento de

    pesca submarina. E pescam uns belssimos exemplares!Quer virar para a pgina cinqenta e seis, por favor?

    Brigitte procurou a pgina, sorrindo. Recordava que, emuma de suas recentes aventuras, os personagens tambmeram aficionados da pesca submarina...

    Na pgina cinqenta e seis estavam coladas cinco

    fotografias, de tamanho menor que a de von Mandle. Eramde cinco homens e, enquanto Brigitte estudava atentamentesuas fisionomias, o inspetor do Deuxime Bureau iaexplicando:

    Da esquerda para a direita e, de cima para baixo,chamam-se, Windell, Heydrich, Goer, Filipo e Salvatore.

    Trs alemes e dois italianos, como v. Um faz o papel dechofer, de quando em quando; outro de jardineiro; o terceiroabastece a vila; este toma conta da cozinha e o ltimo cuidada arrumao da casa. Dividem o trabalho. So como cincocriados, mas com muito tempo livre.

    E como Helmut von Mandle ocupa seu tempo?

    No faz absolutamente nada. Fica na vila, nada napiscina, d um passeio por Saint Honor, percorre o lagonuma pequena lancha a motor... Quero dizer, no tem outraocupao a no ser gozar a vida.

    O que muito natural, depois de vinte anos de priso murmurou Brigitte. No lhe parece,MonsieurNez?

    Claro! Mas se passou vinte anos na cadeia foi parapagar seus crimes...

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    Bem, quanto a isso no h dvida. H maisfotografias na revista?

    Vire a pgina.Brigitte obedeceu e esteve a ponto de cair na gargalhada

    ao ver aquele rosto rechonchudo e simptico, de olhinhosvivos, bastante calvo e com uma expresso geral de meninobem comportado, apesar de estar nos seus quarenta anos.

    Chama-se Armand Priollet esclareceu o SenhorNariz e est sua espera em Saint Honor.Evidentemente, um dos meus homens. Muito inteligente!

    No parece. Felizmente. Claro! Bem, creio que a minha misso espiar o

    senhor Anatole Sadiron, no ? Isso mesmo. Mas h uma coisa que no entendo, Monsieur Nez:

    era necessrio mandar buscar-me, l em Nova York, s paraesse trabalho?

    Vou explicar... A principio, mandei Armand Priollet,o homem que est sua espera. Mas logo verificamos queum homem tem poucas possibilidades de entrar nessa vila,de penetrar na intimidade de Anatole Sadiron. Precisvamos

    de uma mulher. No existem mulheres no seu servio,MonsieurNez? Claro que existem. Mas no me atrevi a enviar

    nenhuma delas. E um assunto muito... muito perigoso,possivelmente.

    Perigoso? Por qu?

    preciso no esquecer que esse homem pertenceu SS e que esteve preso durante vinte anos por crimes deguerra. Uma pessoa assim no recomendvel para certas

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    senhoritas com pouca experincia, digamos. Helmut vonMandle, ou Anatole Sadiron, necessita de una adversriaespecial, bem preparada sob todos os aspectos.

    Suas lisonjas me encantam,MonsieurNez sorriu a

    bela espi. Mas, parece-me que talvez tivesse sido maissimples abordarem diretamente o senhor von Mandle,pedindo-lhe explicaes sobre seu novo nome e tudo omais.

    Claro. Mas queremos saber o que esta pretendendo. Eisso ele no nos diria.

    Talvez no pretenda nada. Simplesmente, conseguiualgum dinheiro, ou j o tinha, e resolveu vivertranqilamente o resto de seus dias numa vila luxuosa, comum nome francs, para esquecer o passado. Espero quevocs no queiram que eu o vigie durante vinte anos.

    Vigiaremos von Mandle durante algum tempo. Se

    no fizer nada de especial, faremos as coisas de outro modo.Esse homem, evidentemente, no pode permanecer naFranca e, multo menos, dizer que francs... o grandeporco!

    Brigitte ergueu os olhos assustada e brincalhona aomesmo tempo.

    Ssssss... Por favor, Monsieur Nez, controle-se. Sim... bem... desculpe-me e depois de uma ligeirapausa continuou: Falemos agora de seus honorrios.Estamos oferecendo dez mil francos novos, alm dasdespesas. Ah! Sim, e dois vestidinhos novos, desses a...

    Quando tenho que partir para Saint Honor?

    Amanh, as dez da manh. Tomar um avio emOrly, para Genebra. Em Genebra tomar um txi que alevar at Saint Honor, devendo chegar l na hora do

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    almoo, mais ou menos. Hospedar-se- no Hotei du Lac,evidentemente. Ali voc ficar aguardando at que Armandentre em contato.

    Alguma instruo especial?

    No. Nenhuma. Queremos saber o que pretendeAnatole Sadiron, Isso tudo. Voc precisa de alguma coisa,instrumentos, armas?

    Tenho tudo isso sorriu Brigitte. Sou uma garotaprecavida.

    Bem, creio que no temos mais nada que falar,

    mademoiselle. Como v disse ele, apontando para osalo num gesto largo procurei realizar esta entrevistanum ambiente agradvel para voc.

    Muita amabilidade de sua parte. Pode escolher os modelos que mais a agradem. Sero quatro agora,MonsieurNoz.

    Mas antes voc disse trs! Sero quatro sorriu docemente Brigitte. E meus honorrios no sero dez mil francos novos,

    mas vinte e cinco mil, alm das despesas, naturalmente. um abuso! Ser? Ora, vamos,MonsieurNez! Voc me escolheu

    porque sabe que eu no sou idiota, no mesmo? Claro! Evidente! Ento, se no sou idiota, por que iria contentar-me

    com menos do que aquilo que posso obter?O Senhor Nariz sorriu secamente. De acordo. Ser o seu preo. E agora, se me

    permite...

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    Pode retirar-se sorriu a jovem. Ainda no medecidi sobre quais modelos que iro enriquecer meu guarda-roupa.Bon soir, monsieur.

    Bon soir... Et bon Voyage, madeimoselle Montfort.

    O Senhor Nariz levantou-se e Brigitte pareceudesligar-se dele completamente, como se a discretaconversa entre ambos tivesse sido apenas casual. Mas, naverdade, estava pensando naquele homem para quem haviatrabalhado j vrias vezes em outras ocasies. Um velhoamigo... que continuava avarento como sempre.

    CAPTULO SEGUNDOTurista americano de pistola em punho.

    Brigitte no aceita mentiras.No campanrio falta um sino.

    Francs amvel tem adega.

    De fato, Saint Honor um vilarejo tranqilo, pacifico eensolarado. Um agradvel ambiente provinciano, quasebuclico, O Hotel du Lac apresentou-se muito maisconfortvel do que imaginava Brigitte, e seu apartamento detrs peas pareceu-lhe luxuoso, considerando o lugar. Tinhavista para o lago e para as pequenas piscinas de guas

    termais muito bem arrumadas e construdas. Apenas umadelas exalava cheiro um pouco acentuado de enxofre, masisso era precisamente o que grande parte dos hspedes dohotel ia buscar, sendo de se esperar, portanto, que o cheirono incomodasse ningum.

    As guas do lago Lman tm uma cor azul-chumbo,

    sombria, mas no desagradvel. A nica coisa que deprimiuum pouco Brigitte foi o cu escuro, carregado. Mas,segundo lhe afirmou o camareiro, aquilo era passageiro

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    durante a primavera e, possivelmente, j no dia seguintepoderia gozar o sol lmpido que notara durante o trajetode txi, de Genebra at Saint Honor. Serviram-lhe umalmoo simples, leve, de fcil digesto. A sesta era

    praticamente obrigatria, principalmente para uma pobrejovem cujo corao no funcionava como devia.

    Mas algum em Saint Honor, aparentemente, no levoumuito a srio a enfermidade cardaca de Brigitte Montfort.Um homem gorducho, trajando calas de flanela branca epalet azul-marinho, leno de seda no pescoo e culos

    escuros.Tipo um tanto especial, j que entrou nos aposentos de

    Brigitte empregando uma gazua com toda a tcnica. E assimque cruzou a porta, fechando-a atrs de si, sacou umapistola enorme, passando a examinar o ambiente com seusolhinhos vivos e irrequietos.

    Mas no viu ningum na primeira pea.Passou ento para a segunda, que tambm estava

    deserta. Evidentemente, pois, a ocupante daqueleapartamento, Brigitte, deveria estar no dormitrio.

    Para surpresa do gorducho, a recm-chegada hspede doHotel du Lac tampouco estava no dormitrio. E foi assim

    que o homem ficou sem saber o que fazer com sua pistola. Eu tambm tenho uma pistola disse uma vozmuito suave, por trs dele. E lhe asseguro de que seiutiliz-la muito bem, cavalheiro. Alm disso, estou por trsdo senhor, de maneira que lhe aconselho a deixar cair a sua.

    O gorducho suspirou quase aliviado.

    Senhorita Montfort? Eu mesma, cavalheiro. Em carne e osso. Eu sou...

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    No me conte. Vou procurar adivinhar... Hummm...Vejamos... Ser por acaso o senhor Armand Priollet?

    Psssss! Por favor, senhorita! Neste lugar meu nome outro: Jack Tryon, turista americano.

    Muito divertido. Deixe cair a pistola e volte-se paramim, senhor... Mister Jack Tryon.

    Mas a pistola... Deixe-a cair e volte-se. Ou voc no entende meu

    francs?Maisoui, mademoiselle! Mas a pistola...

    Senhor... Tryon, tenho um costume muito feio:quando alguma coisa no me agrada, disparo. Depois vouver como arranjar as coisas...

    O gorducho assentiu com a cabea, deixou cair a arma evoltou-se... Seus olhos se arregalaram desmesuradamentediante daquela maravilha humana em corpo de mulher,

    coberta apenas com um baby-dollde nylon. Sou de seu agrado, Mister Tryon? Ah!... ... Si... Sim...Mademoiselle Montfort. Voc tambm me agrada. H gordos feios e gordos

    simpticos. A sua gordura, Monsieur Priollet, do tiposimptico. Tenha a bondade de aproximar-se.

    Armand Priollet obedeceu, de muito boa vontade, porcerto. Brigitte estava ao lado da cama e parecia ter sado debaixo dela. Mas o que menos Priollet esperava era que aformosa mulher estendesse a mo esquerda e tocasse emsuas bochechas, desse um ligeiro puxo em sua papada efinalmente passasse a mo por sua careca.

    A jovem olhou-o por alguns segundos e finalmentesorriu, atirando a pistola com cabo de madreprola sobre acama.

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    Muito bem, senhor Priollet. Voc o homem que meindicaram.

    Pensou que eu no fosse? murmurou o homem doDeuximeBureau.

    Estava quase certa de que era, pois vi sua fotografiaem Paris. Mas s vezes algum pode parecer outra pessoa,com alguns recheios aqui e ali e um pouco de maquilagem.Vejo que a sua papada e a sua barriga so autnticas, senhorPriollet.

    Magnfico sorriu o agente francs. Magnfico!

    O... o senhor... Que nome usa em relao a ele?MonsieurNez.Priollet soltou uma divertida risada, breve e aguda. Muito bem aplicado, o apelido! Pois bem... o Senhor

    Nariz, como a senhorita o chama, disse-me claramente queeu ia ter por colaboradora uma pessoa muito inteligente e

    que podia confiar cegamente em seu trabalho... tranqilizador verificar que isso verdade. Fez boa viagem?

    Muito boa. E muito bonita. Posso fazer-lhe umasugesto, senhor Priollet?

    Pois no. Sua maneira de entrar em contato com agentes me

    parece deplorvel... Oh!... que todos esto dormindo a estas horas nohotel.

    No hotel, sim. Mas fora do hotel? Refere-se a Helmut Von Mandle? Naturalmente.

    Est na sua vila, dormindo pacificamente a sesta.Creio queMonsieurNez lhe explicou de que se trata, o que que ns dois estamos fazendo aqui.

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    Estou a par. Aceita um cigarro americano, Armand? Aceito, obrigado. Hummm... Posso fazer uma

    observao? Claro!

    Mesmo uma observao de carter pessoal?Brigitte ergueu as sobrancelhas e sorriu, dizendo: Querido Armand, as observaes s podem ser de

    carter pessoal. Do contrrio, deixam de ser observaespara se converterem em tagarelice de papagaios. Qual aobservao que deseja fazer?

    Considero um dever da minha parte declarar-lhe quea senhora a mulher mais formosa que j vi em toda aminha vida.

    Obrigada... Voc cumpriu seu dever. Agora, falemosdo que nos interessa profissionalmente, claro, e saia oquanto antes. Sua visita est me comprometendo, senhor

    Priollet.Armand Priollet, gorducho e rosado, mas de movimentos

    geis e olhar vivo, acendeu o cigarro, enquanto olhavasorridente para a bela espi.

    Certo, como dizem os ianques. Comecemos pelo queconsidero o mais importante: creio que o senhor Anatole

    Sadiron est tramando algo. Algo muito importante. Mas no sabe o que seja? Assim de momento, no. Mas preciso afastar a idia

    de que ele veio a Saint Honor apenas para vivertranqilamente. Deve ter vindo aqui procura ou esperade algo muito importante. Outra coisa que observei que

    seus cinco amigos, ou empregados, so gente que se cuida.As coisas ficam interessantes quando vistas atravs debinculos.

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    E que foi que viu atravs de seus binculos, Armand? Esses cinco homens so montanhas de msculos. E? Bem... Treinam diariamente, fazem exaustivos

    exerccios fsicos. Correm pelo jardim da vila, praticamnatao, mergulham, lutam e at fazem tiro ao alvo numpolgono especial. So homens diferentes. Como se fossemmquinas.

    Robs? sorriu Brigitte. Quase.

    Diria voc que so agentes secretos? No. Falta-lhes... Como direi?... Falta-lhes certa

    finesse para isso. A senhorita sabe que um agente secreto... Tenho vrios anos de experincia nisso cortou

    Brigitte. No precisamos perder tempo. De fato. Diga-me apenas como pensa abordar

    Anatole Sadiron e eu evitarei ter que lhe falar sobre umasrie de teorias que a senhorita j conhece.

    timo! Como a vila do senhor Sadiron? Muito grande, cercada de grades. Tem cachorros? No.

    Continue. Pode-se pular as grades, claro. Chega-se ao jardim,que bem grande. Existem pinheiros, amoreiras, algumasflores... esquerda da casa fica a piscina. A residncia temoito quartos, quatro banheiros, uma cozinha, vestbulo, salade estar, dois terraos.

    Poderia desenhar uma planta? Agora? Agora, senhor Priollet.

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    Bem...Brigitte apanhou um bloco de papel e uma caneta

    esferogrfica e Priollet, em cinco minutos, desenhou umesboo da planta da casa de Sadiron. Era evidente que a vila

    no tinha segredos para o agente francs. Em seguida,explicou a Brigitte todas as entradas e sadas e outrospormenores sobre os quais ela fez perguntas especificas.

    Muito bem... disse ela, por fim. O senhorSadiron tem conta aberta no banco de Saint Honor?

    No.

    Comprou alguma coisa, alm da vila? Terrenos,barcos, casas, automveis? Aes de qualquer tipo, mveis?

    Nada. Instalou-se na vila e isso foi tudo. Falemos agora desses cinco homens que esto com

    ele. Pelo que me diz, so lutadores perigosos. Usam armas? Algumas vezes, mas em geral andam desarmados.

    Mas podem dispor de armas, se for necessrio. isso?

    Sim. Compraram o equipamento de homens-rs aqui em

    Saint Honor? No. Trouxeram com eles.

    Bem... Mergulham sempre no mesmo lugar? No. Mergulham por todas as partes. Ficam muito tempo embaixo dgua? Uns dez minutos, quinze... s vezes cinco, s vezes

    vinte... Parece que levam uma boa vida, sua maneira. E o tal Anatole Sadiron? pessoa relacionada em

    Saint Honor? Em absoluto. No tem amigos? Vida social?

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    No. Mas considerado homem rico? Milionrio! Chegou h pouco e tomou esta que uma

    das melhores vilas nos arredores de Saint Honor. Muito

    revelador para os habitantes da localidade, no acha?Brigitte permaneceu pensativa, fumando, sentada na

    cama, com as pernas cruzadas, mais provocante ainda emseu minsculo baby-doll. Armand Priollet contemplava-aabsorto, com os pensamentos longe de Anatole Sadiron

    A jovem, alheia ao olhar sfrego do gorducho agente

    francs, quebrou repentinamente o silncio: O que exatamente que estamos procurando,

    Armand? Hem? Como? exclamou ele, voltando de sbito

    realidade. Procurando? No entendo... Voc no sabe oque estamos fazendo aqui, ns dois?

    Pergunto-lhe o que que o DeuximeBureau estprocurando com relao a Helmut Von Mandle.

    Pois, no procuramos nada. Estamos, simplesmente,vigiando esse alemo que pertenceu s SS, que foi julgado econdenado.

    Conheo a histria. Boa-tarde, Armand.

    O francs olhou-a espantado. Tenho que me ir, j?Mais oui... Mas... No quer saber de mais nada? Pensei que... No gosto de mentiras. Voltaremos a ver-nos dentro

    de vinte e quatro horas e ento veremos que rumo tomar a

    nossa conversa,Adieu, mon ami.Et bien... Adieu, Madeimoselle Montfort.

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    Armand Priollet deixou o apartamento com um gesto umtanto ofendido mas, na realidade, sentindo grandeadmirao por aquela garota de lindos olhos azuis e sorrisodoce. Talvez fosse a primeira experincia do agente do

    DeuximeBureau com uma mulher autenticamente bela eautenticamente inteligente... e que tinha a coragem de dizerque no acreditava numa s palavra do que lhe dizia umcompanheiro de servio.

    * * *Por volta das seis e meia da tarde, j evidente o

    crepsculo, Brigitte saiu para dar um passeio pelo povoado,a menos de trezentos metros do Hotel du Lac. Tudocontribua para uma temporada agradvel: o hotel um poucoisolado, mas suficientemente prximo do centro demovimento; o lago em frente; o caminho at o vilarejo,bonito, ensombreado, at romntico, suscitando ternuras.

    Nas ruas estreitas e limpas do povoado, entre casaspitorescas no mais altas do que dois pavimentos, algunshspedes do hotel passeavam sossegadamente. Meia dziadeles mostrava, nos rostos macilentos, a que vinham, isto ,revelavam, com muita nitidez, a necessidade das guas deenxofre. Uns poucos, mais saudveis, que j haviam Visto

    Brigitte durante o almoo, cumprimentaram-na,amavelmente. A linda reprter sentia-se ali como umaestranha personagem do filme Oito e Meio de Fellini,uma dessas freqentadoras surrealistas de estnciashidrominerais onde o tdio s quebrado pelo mexerico dascomadres.

    A calma era tanta que Brigitte comeou a sentir a sutildoena das almas solitrias. Ao poente j definido, as guas

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    do Lago Lman pareciam incendiar-se de vermelho elaranja.

    Aquilo tudo era absurdo. Tratava-se, simplesmente, deum ex-oficial das SS que, aps haver cumprido sua pena por

    crimes de guerra, tinha decidido viver em paz, escondendoum passado que a ele mesmo parecia vergonhoso. Semdvida alguma, Helmut Von Mandle era o homem menosindicado para a espionagem ou para exercer qualquer outraatividade que exigisse discrio, anonimato...

    Com esses pensamentos no esprito, Brigitte chegou a

    uma grande praa, a da igreja matriz. Construo um tantopretensiosa, mas as pedras se mostravam bem velhas elustrosas. Torre alta onde se viam trs aberturas em formade ogiva com dois bonitos sinos.

    Que coisa estranha pensou Brigitte, de si para si. Dois sinos, onde evidentemente deveria haver trs.

    Falta o sino maior disse uma voz por trs dela,como se tivesse adivinhado seu pensamento. Perdeu-sedurante a Segunda Guerra Mundial.

    Brigitte voltou-se lentamente. A voz era to agradvel, ofrancs to fino e correto, to suave, que temeu ter umadecepo quando visse o rosto do homem que havia falado.

    Mas no houve decepo.Pelo contrrio. A surpresa foi to deliciosa, que Brigitteno pode evitar um sorriso. O dono da voz deveria ter seustrinta anos, era alto, bem proporcionado, atltico, elegante.A pele bronzeada destacava seus olhos azuis, combinandocom os cabelos negros, talvez um pouco compridos. Estava

    vestido inteiramente de negro, com uma camisa-esporte demalha sinttica que assentava de maneira perfeita sobre seusombros largos e o peito amplo, revelando uma perfeita

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    musculatura. Tinha os braos cruzados sobre o trax, comas mangas da camisa arregaadas at a metade doantebrao.

    Era uma figura to agradvel que parecia incrvel sua

    presena ali, naquele lugarejo. Espero que no se tenha assustado disse o homem,

    sorrindo. No, no... De maneira alguma. S que... fiquei um

    pouco surpresa. No percebi ningum atrs de mim. Peo-lhe que me perdoe. Vi que estava olhando a

    igreja com muito interesse... pelo menos foi o que mepareceu.

    Com muito interesse? murmurou Brigitte. Bem... a senhora est parada aqui, imvel, h uns trs

    minutos. Tanto assim?

    Pois foi... Pensei que a senhora gostaria de ter umaexplicao sobre o que tanto a interessava, aparentemente, afalta do terceiro sino.

    O senhor muito amvel... Mas... sou senhorita. Foi o que pensei sorriu ele, magnificamente.

    Mas me pareceu melhor pecar por excesso do que por falta.

    Brigitte sorriu francamente. O senhor muito... precavido. Ser que estou mesmoaqui h trs minutos, olhando para o alto?

    No mnimo. Se estiver interessada, posso dar-lhe algumaexplicao sobre o sino. Asseguro-lhe que no sou... guia deturistas... cicerone. Moro em Saint Honor e acho que devo

    agradecer a todos os seus visitantes a ateno que nosdispensam.

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    uma qualidade rara, hoje em dia... Por que falta osino maior?

    Roubaram... Faz mais de vinte e trs anos. Quem roubou?

    Os alemes. Disseram... Disseram que era bronzemuito bom e que com ele se poderia lazer um canho de boaqualidade.

    E fizeram o canho? Supomos que sim. Por isso, nunca mais o

    substitumos. Seria como... como uma traio ao sino.

    Estivemos sua procura durante vrios anos, depois que aguerra terminou. Mas jamais foi encontrado.

    uma pena. Por que no levaram os outros dois? Levaram, Mas logo foram encontrados. Os alemes

    resolveram abandon-los na estrada para chegarem maisdepressa Alemanha.

    Abandonaram os pequenos e levaram o maior? o que parece. No creio que seja lgico. O maior era muito maior

    que os outros dois? Cinco vezes maior. Este sino era o orgulho de Saint

    Honor. Seu dobre chegava a mais de trinta quilmetros de

    distncia. Em certos dias ia mais longe ainda. Era feito dobronze mais perfeito que h, com o timbre mais puro, deconfeco a mais esmerada. Estvamos sob o domnio dogoverno de Vichy, mas um francs gravou umas palavras nosino.

    Que palavras?

    Viva la France! uma histria muito bonita. Mas pergunto se vale apena conservar o campanrio vazio devido a ela.

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    O sino ser recuperado No sabemos como, nemquando. Mas voltar ao campanrio.

    Parece um pouco difcil, se foi transformado emcanho.

    O francs permaneceu alguns segundos olhandofixamente, com altivez, o espao vazio na torre.

    Voltar murmurou. Todos sabemos quevoltar.

    Isso uma lenda, suponho. Que se transformar em realidade, tenho certeza!

    disse ele.O jovem francs olhou para Brigitte, sorrindo

    amavelmente. E continuou: Posso convid-la a tomar alguma coisa? Meti nome

    Michel Padirac e asseguro-lhe que no haver mal-entendidos se a virem em minha companhia.

    Brigitte sorriu ironicamente. Meu nome Brigitte Montfort, senhor Padirac.

    Quanto aos mal-entendidos, faz muito tempo que estouacima dessas coisas. O que que o senhor me oferece?

    Posso convid-la para o que mais lhe agrade,senhorita Montfort.

    Champanha? Em Saint Honor existe um champanha excelente.Bem... No da mesma qualidade que o de outras regiesfrancesas, mas espero que seja do seu agrado. Na minhaadega a senhorita poder escolher o sabor e o ano de suapreferncia.

    Na sua adega?

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    As velhas casas de Saint Honor so grandes. Muitasdelas tm adegas bem amplas. Entretanto, se preferir tomaro champanha no bar do cassino, ou no Hotel du Lac...

    Brigitte olhou fixamente o msculo francs.

    Ficarei encantada em visitar a sua adega, monsieurPadirac.

    CAPTULO TERCEIROConfiar desconfiando sempre.

    Entendidos em champanha.Cmara indiscreta.

    Quando todos vigiam todos.

    A adega era bastante espaosa. Constava de um corredorcom uma fileira de tonis de cada lado, colocados emposio vertical sobre slidos montantes. Michel Padiracacendeu uma lamparina de querosene explicando:

    Achamos que no necessrio fazer uma instalaoeltrica aqui em baixo. Descemos apenas seis vezes por anoe o emprego da lamparina torna a coisa muito maisromntica.

    quase medieval sorriu Brigitte. Um pouco tenebroso corrigiu Padirac. Mas eu

    j estou acostumado, O lugar confortvel. Deve acharestranha a definio que dou minha adega, no ?

    Sendo sua, pode defini-la da maneira que acharmelhor riu Brigitte. Todos os tonis contmchampanha?

    No, S os deste lado respondeu Padirac,

    apontando para a direita, Os outros so de vinho. Ochampanha algo especial. Prefere doce ou seco?

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    Por acaso o senhor sovina? perguntou Brigitte,em tom de brincadeira.

    Creio que no. Por qu? Ento, provarei de todos!

    Para mim, isto uma honra. Permita-me... Incomoda-se de ficar um instante no escuro?

    No. Com licena.Michel Padirac afastou-se, levando a lamparina erguida

    bem alto. Brigitte saiu imediatamente do lugar onde o

    francs a havia deixado e a mo direita baixou tocando apistola presa com esparadrapo na coxa.

    Colocou-se entre dois grandes tonis, ficando em dvidasobre se sacava ou no a pistola. Via Padiracencaminhando-se para a sada. Para atingir a pesada portade madeira, teria que subir pelo menos uns doze degraus de

    pedra. Uma vez fechada aquela porta, a pessoa que ficasseencerrada na adega no teria a menor possibilidade deescapar.

    Brigitte fixou o olhar no vulto do agradvel francs.Apenas iniciasse a subida daqueles degraus, receberia umbalao pelas costas. Ningum iria encarcer-la numa adega.

    Mas Michel parecia no ter essas intenes. Abriu umpequeno armrio embutido na parede, justamente ao p daescada. Brigitte ouviu o timbre de cristais que se tocam,ntido, puro, vibrante.

    Pouco depois Michel voltava para junto dela, trazendouma bandeja com dez ou doze taas na mo direita,

    segurando com a mo esquerda a lamparina. Comecemos pelo ltimo tonel disse ele, com oentusiasmo de uma criana prestes a fazer uma travessura.

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    Tem vinte e seis anos. Mas na minha opinio, j est umpouco passado. Creio que o sabor picante chegou a um grauque o torna quase desagradvel. Por favor, segure alamparina, enquanto eu sirvo.

    O champanha oferecido em primeiro lugar tinha, de fato,o sabor muito picante e Brigitte concordou com ele. O dosegundo tonel era um pouco neutro. O do terceiro...

    Hummm! Perfeito! murmurou Brigitte. Maravilhosamente envelhecido senhor Padirac.

    A senhorita entende do assunto.

    Um pouco... Agora prove... No, no... Seria absurdo. No se pode melhorar o

    perfeito. Se provar outro, receio ficar decepcionada.Importa se eu repetir este?

    Por favor!

    Era um champanha leve, transparente, dourado, Tinha ofrescor da adega, e no o frio artificial de um refrigerador.

    Acho melhor eu esquecer este champanha, senhorPadirac. No quero ficar tonta.

    Pode beber o quanto quiser. Trs taas o suficiente. Senhor Padirac...

    Sim? Diga-me uma coisa: o senhor assim, to amvel,com todos os forasteiros?

    De forma alguma. Apenas com os que se interessampelo sino. Alm disso, sou um enamorado da beleza.Compreenda, senhorita Montfort, que, para mim, a sua

    presena, a sua companhia, extremamente agradvel. Noentanto, lamento hav-la conhecido.

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    Brigitte olhou para ele espantada, com a taa erguida ameia altura.

    Lamenta me haver conhecido? No entendo! Quero dizer... a sua presena em Saint Honor,

    evidentemente, se deve a algum problema de sade. Se nofosse por isso, eu no a teria conhecido. por isso quelamento hav-la conhecido nestas circunstncias. Prefeririaque no tivesse que vir a Saint Honor por motivos desade.

    Senhor Padirac! riu Brigitte. O senhor muito

    simptico! Acha? replicou Michel com um ligeiro tom de

    dvida. Creio que a senhorita a primeira pessoa quetem essa opinio a meu respeito.

    Oh! No! impossvel! Na verdade, sou muito sombrio, triste. E tudo se

    relaciona com o sino. Com o sino? Meu pai foi um dos tantos maquis que lutaram pela

    Frana Livre. Quando os alemes carregaram o sino, ele ealguns companheiros decidiram reav-lo.

    E?

    Isso foi a ltima coisa que soubemos deles. Quandotodos compreenderam, em Saint Honor, que Andr Padirace o sino no voltariam mais ao povoado, o menino Michelpassou a ser quase um traidor.

    O senhor? murmurou Brigitte. Eu tinha uns seis anos ento. E desde aquele

    momento, sinto-me culpado. como se todos os meusvizinhos e amigos estivessem esperando que eu lhesdevolva o sino, de um momento para outro.

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    Mas isso absurdo! Tambm acho. Mais champanha? No, no... Muito obrigada. Seu pai comandava

    aquele grupo de maquisards?

    Sim. Quando a guerra terminou, outros homensvoltaram a Saint Honor e souberam do roubo do sino.Todos eles... todos, disseram que eles no teriam deixadoaquilo acontecer. E continuam dizendo, de quando emquando.

    E aborrecem o senhor por causa disso? O senhor, que

    na poca tinha apenas seis anos?Michel Padirac deu de ombros. Se no quiser mais champanha, melhor sairmos

    daqui. O lugar muito mido e no quero prejudicar suasade.

    muita ateno sua murmurou Brigitte.

    Eu gostaria que Saint Honor fosse um lugar comoNice, Antibes, Jean-les-Pins. L, todo o mundo vai paradivertir-se. Aqui, vm para curar-se de alguma coisa. Qual a sua enfermidade, se a pergunta no for indiscreta?

    Corao. Dizem que no est muito forte. Sinto.

    Dirigiram-se escada de pedras, ele na frenteiluminando o caminho com a lamparina. Naquele momento,nem sequer ocorreu a Brigitte que o homem poderia terintenes de encerr-la na adega. Michel Padirac pareciademasiado humano e natural para que ela pudesse pensarqualquer coisa estranha a seu respeito. No parecia ser o

    tipo de homem capaz de prejudicar algum. Entretanto...Entretanto, ela tambm parecia ser uma doce garotinha,de inocentes olhos azuis, mas era capaz de matar com toda a

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    frieza do mundo, disparando tranqilamente contra qualquerpessoa que julgasse merecer a morte.

    Afinal de contas, a hipocrisia a melhor arma do espioconsciente e eficaz.

    Um sino...Que teria um simples sino a ver com sua permanncia

    em Saint Honor? Por melhor que fosse a qualidade dobronze, por mais ntido e puro o seu timbre? Habituada smais estranhas situaes, s relaes mais inesperadas eperigosas, acreditou por um instante que Michel Padirac

    poderia estar ligado, de alguma forma, com o motivo da suaida a Saint Honor. Mas... Um sino?

    No! Decididamente, no.J na rua, no porto da casa de Michel, este sorriu

    ligeiramente. Gostaria de jantar com a senhorita murmurou.

    Mas receio que sua sade no o permita.Brigitte esteve a ponto de dizer que sua sade no a

    impedia de nada. Mas, naquele instante, um carro cruzou apraa em direo margem do lago, para os lados docassino e do Hotel du Lac. Na direo do carro ia um doscinco homens que moravam com Anatole Sadiron, o que se

    chamava Filipo, segundo a foto que lhe mostrara MonsieurNez. No banco de trs, expresso dura, olhos frios, ia oprprio Anatole Sadiron. Brigitte os reconheceu a ambos.

    Sim. Lamento, senhor Padirac, mas creio que voudeitar-me cedo esta noite.

    Compreendo. Talvez amanh?

    Amanh?

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    Poderamos passear pelo lago. agradvel. De l sepodem ver as montanhas, ainda com uns restos de neve, Ovento frio, mas seco, bom para seu corao.

    O senhor tem barco?

    Uma lancha. Est bastante velha, mas no faz gua,isso eu garanto.

    Nesse caso sorriu Brigitte acho que eu poderiaaceitar seu convite.

    timo! A que horas vou apanh-la? Tarde. No posso dizer a hora, exatamente. Acontece

    que devo dormir sem horrio. Quanto mais descanse,melhor. s vezes no consigo pegar no sono at demadrugada. Ento, acordo muito tarde.

    Ficarei sua espera no vestbulo do hotel. J lhe disse que no sei a hora. No tem importncia. Esperarei.

    Brigitte fez um ligeiro ar de espanto e olhou paraaqueles nobres olhos azuis, mais claros que os dela. Afronte larga, a boca firme e varonil; o queixo slido; osombros largos!

    Procurarei no descer muito tarde, senhor Padirac murmurou. At amanh, ento.

    Michel apertou suavemente a mo que ela lhe estendeu. At amanh sussurrou.Brigitte afastou-se lentamente para o lago tomando o

    rumo do hotel e do cassino... Esperava que tivesseacontecido o mais lgico: que Anatole Sadiron se tivessedirigido ao bar do cassino.

    Michel Padirac ficou na soleira da porta de sua casa,pensativo, imvel. Afinal, fechou a porta, guardou a chave e

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    cruzou a praa em direo a um bar ao ar livre. Sentou-se auma mesa e pediu um copo de vinho.

    Dois minutos mais tarde, a seu lado sentou-se umhomem de seus cinqenta anos, cabelos brancos, rosto

    tostado pelo sol e olhar alerta. Pediu tambm um copo devinho.

    Chama-se Brigitte Montfort, e vem de Paris disseele.

    No francesa, Richer comentou Michel. Mas o nome...

    No francesa. Fala bem a lngua, de maneira,perfeita. Tanto, que preciso ser muito bom francs paraperceber pequenas irregularidades, o levssimo sotaque...

    Acha que alem? No! Alem, nunca! Tem o sotaque neutro, como o

    das pessoas que dominam vrios idiomas. Ela estava

    olhando para o campanrio, Richer. Muita gente olha para o campanrio. Mas no assim, to ensimesmada. possvel que

    tenha ficado absorta, pensando em outras coisas. No sei...Falou com Bizard?

    Falei. Mas estava com muita pressa. Disse que

    voltaria o mais cedo possvel. Estava com pressa?Richer fez que sim com a cabea. Resmungou que tinha coisas interessantes e afastou-

    se de mim quase correndo. Estava com a cmara?

    Como que vou saber? Essa cmara fotogrfica quemais parece uma caixa de fsforos pode ser escondida emqualquer lugar. Nos meus tempos...

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    Richer disse, secamente Padirac os seus temposj ficaram muito atrs. A guerra terminou h mais de vinteanos. Hoje em dia se luta de outra maneira.

    Bah! s vezes creio que estamos um pouco

    ofuscados, com essa sua grande espionagem. Eu sou ummaquisard, seu pai tambm foi, assim Bizard, Vallat,Chassin...

    Conheo muito bem os que foram amigos de meu pai,Richer. E sei o que voc fez e foi pela Frana Livre. Mashoje em dia, aquele que era uma criana, pode ensinar

    algumas coisas a vocs. Bl, bl, M. Vamos esperar por Bizard sorriu Michel. E

    veremos ento o que que voc acha dos novos mtodos.* * *

    Bizard, que tambm tinha seus cinqenta anos, apareceu

    alguns minutos mais tarde e juntou-se aos outros dois,pedindo vinho.

    Michel murmurou tenho algo de grande,incrvel! Essa mulher no o que parece, creia-me.

    Tirou as fotografias, como lhe disse? perguntouMichel.

    Sim. No sei como voc veio a suspeitar dela. simples explicou Michel. No pareciadoente, chegou s, de txi, vinha de Genebra, tinhaaposentos reservados. Que foi que Vallat disse sobre ela?

    Bizard desconcertou-se: Mas... no foi Richer quem esteve com Vallat?

    Eu sei. E Vallat disse o que interessava. Mas penseique voc talvez tivesse conseguido mais alguma coisa.

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    No, no... Como eu sabia que Vallat, na qualidadede recepcionista do Hotel du Lac, ia conversar comRicher, cuidei apenas das fotografias. Fiquei vigiando aporta dessa mulher, pois se ela usasse o telefone, Vallat o

    diria a Richer. Bem, por volta das cinco, chegou um homem porta dessa Brigitte Montfort. Voc pensa que ele bateu porta, ou que chamou? No senhor! Nada disso. Tirou umferro do bolso, meteu-o na fechadura e entrou noapartamento como se isso fosse.

    Uma gazua murmurou Michel, com o cenho

    franzido, Fotografou esse homem? Claro! E o americano, esse cara que as vezes se veste

    de maneira to extravagante! Esse to americano quanto eu chins riu Richer.Padirac estava examinando as microfotografias

    ampliadas. Na primeira via-se Armand Priollet olhando para

    um lado; na outra, estava com a mo no bolso; em seguida,inclinado para a porta, mas no se via a mo.

    Era um pedao de ferro explicou Bizard.A quarta foto mostrava Armand Priollet entrando no

    apartamento de Brigitte Montfort. A foto seguinte foratomada no momento em que ele fechava de novo a porta

    depois de sair. Ficou muito tempo com ela? perguntou Michel. Vinte minutos, mais ou menos respondeu Bizard.

    Voc acha que... Nada disso.A sexta fotografia mostrava Priollet afastando-se pelo

    corredor, olhando para um lado e, segundo parecia, dispostoa olhar em seguida para o outro.

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    Um homem cauteloso comentou Padirac. A stimafoto mostrava Brigitte saindo do apartamento. As trsseguintes, que completavam o rolo de dez, da cmara demicrofotografias barata, mostravam as costas de Brigitte,

    descendo as escadas, no vestbulo, saindo do hotel. Isso tudo, Michel disse Bizard, com ar de

    desculpas. Veja que eu no sou um tcnico nessas coisas,de modo que...

    um bom trabalho, Bizard. Digno de voc. Ora, obrigado, Michel.

    Padirac sorriu distraidamente. De maneira que o falso americano tambm est

    metido nisso? perguntou Padirac, mais para si mesmoque para os outros. Bem... pelo menos parece que a coisa sria. A no ser que...

    Bizard e Richer ficaram olhando o jovem Michel, na

    expectativa de algo sensacional. A no ser qu?... perguntaram. Bem... espero que vocs no se tenham enganado ao

    identificar o alemo. J gastamos muito dinheiro e umbocado de trabalho nisto. E eu sou apenas um amador daespionagem. No se esqueam.

    Bizard e Richer empalideceram, mas seus rostosadquiriram uma expresso intensamente dura. Michel, eu juro... murmurou Bizard. Ns dois

    juramos, juramos todos ns, se voc quiser, esse homemque se faz passar por Anatole Sadiron, um comandantealemo, chamado Helmut Von Mandle! Todos ns

    lembramo-nos muito bem dele. Temos amargos motivospara no esquec-lo. Seria ridculo se estivssemos enganados, Bizard.

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    Afirmo que ele! o comandante alemo, atrs doqual saram seu pai e mais alguns homens. o alemo quelevou o sino para o lago. Com toda a certeza, ele e seussoldados mataram seu pai e os outros.

    Michel Padirac empalideceu um pouco. melhor vocs irem agora. Tenho que pensar.

    Avisem os outros: quero que vigiem esse americano JackTryon, Anatole Sadiron e a mulher chamada BrigitteMontfort Podem faz-lo repartindo o trabalho entre todos?

    Os olhos brilharam alegremente nas faces de Richer e

    Bizard. Claro que sim, Michel! disseram eles. Pois ento, caminhem Faam como quiserem, mas

    no percam de vista essa gente. Quando todos estiveremrecolhidos em seus aposentos, um ou dois ficaro vigiando.Os outros viro ver-me em minha casa e contar o que houve

    Entendido? Certo. Vigiem principalmente a mulher. Quando ela viu o

    carro de Sadiron passar, apressou-se em despedir-se demim. Talvez esteja conversando com eles, tramando algumacoisa. Vigiem bem, mas tenham cuidado.

    Saberemos tudo o que fizerem, Michel afirmouBizard. Lembrem-se que, talvez, daquilo que fizermos

    depende a volta do Sino. Mas no entendo... falou Richer. apenas um

    sino. Ser que o comandante alemo voltou por causa de

    algo relacionado com ele? S sei que ele o levou e que ns agora o temos aqui.E o nico homem que pode saber alguma Coisa a seu

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    respeito. preciso vigi-lo bem como a todos os que estorelacionados com ele. E agora, a caminho

    CAPTULO QUARTOE difcil conter o riso em certas circunstncias.

    Pieguice no lago.Quem engana quem?

    Brigitte s no entrou no cassino de Saint Honor rindoabertamente, porque no ficava bem a uma jovemdesacompanhada entrar rindo num bar. Chamaria muito aateno, principalmente estando enferma.

    Mas o caso, sem dvida, tinha graa.Depois de se despedir de Michel Padirac e afastar-se

    convenientemente, Brigitte voltou praa e, de umaesquina, disfarando suas intenes, como convm a umaboa espi, ficou observando o movimento daquelesfranceses reunidos numa mesa do bar ao ar livre epraticamente adivinhou tudo. Percebeu a gesticulao, adiscusso, o exame das fotografias que um deles trouxe.Que espcie de agentes secretos eram Michel Padirac eaqueles homens de idade avanada? Que coragem!Enfrentar a melhor espi da CIA, como se tudo fosse umabrincadeira! A nica concluso plausvel que se tratava deamadores.

    Mas... o que estavam tramando? E que histria malucaera aquela do sino? Ser que a consideravam to idiota aponto de acreditar nas palavras de Michel Padirac? Ou teriaele pensado que ela iria revelar-se com trs taas de

    champanha?Amadores. Simples e inocentes amadores.

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    Sentou-se numa banqueta junto ao balco do bar docassino, olhando ao seu redor para ver quem estava ali. Seuolhar cruzou rapidamente com o de Anatole Sadiron,sentado a uma mesa dos fundos em companhia de trs de

    seus homens. Onde estariam os outros dois?Pediu uma gua Tonica ao barman que a veio atender e

    acendeu um cigarro. Continuou a fazer seu reconhecimentodo ambiente. O bar no era muito grande, mas bastanteconfortvel e quase luxuoso. Ao fundo, uma porta muitogrande dava para um terrao de onde se contemplava o lago.

    O lugar, bastante concorrido, era habitado por pessoaselegantes, silenciosas ou, pelo menos, discretas nas suasconversas.

    De repente Brigitte notou outro daqueles espiesamadores. Entrou olhando para todos os lados, fixando oolhar nela assim que a localizou. Dissimulava to bem

    quanto um hipoptamo patinhando na margem de um rio.Brigitte teve vontade de rir novamente, mas precisouconter-se. A idade do novo espio era aproximadamente amesma dos outros dois que estiveram conversando comMichel Padirac.

    Sua tnica, madame anunciou o barman,

    colocando a bebida na sua frente.Mademoiselle corrigiu Brigitte. Voc daquide Saint Honor?

    Sim, senhorita. timo! Ento conhece todos os personagens

    importantes do lugar?

    Naturalmente, senhorita. Ento diga: quem aquele senhor l na mesa dosfundos, com trs homens mais jovens?

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    Aquele senhor no de Saint Honor. No o conhece? Oh! Sim! Chama-se Anatole Sadiron. muito rico,

    aparentemente, pois dono de uma das melhores vilas de

    Saint Honor. Dentro do povoado? perguntou Brigitte, com ar de

    ingnua. No, no. Fica para os lados do lago, seguindo a

    margem pela esquerda. O antigo proprietrio tinha dado residncia o nome de Fleur du Lac e o senhor Sadiron

    parece no pretender troc-lo. um cavalheiro simptico.O barman pestanejou, meio surpreendido. possvel, senhorita... Suponho que seja francs, no ? Parece que sim... Com licena.

    O barman afastou-se para a outra extremidade do balcoa fim de atender a outros clientes. Brigitte passou a olharnovamente em torno de si, sempre com a expresso dequem acha que precisa conhecer bem o lugar onde seencontra. E de novo seu olhar cruzou-se com o de AnatoleSadiron, durssimo. Brigitte sorriu ligeiramente, em estilo

    de bandida moderada e desviou os olhos para continuarseu exame do ambiente. Tomou um gole da tnica eprocurou, com a mo direita, abaixar um pouco mais a saia,mas propositadamente no o conseguiu.

    Fingindo querer dissimular olhou mais uma vez paraAnatole Sadiron, com ar atribulado. Encontrou seu olhar,

    sorriu e desviou os olhos.Foi quando viu Armand Priollet, fantasiado de turistaamericano, entrando no bar do cassino e indo direto ao

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    balco para sentar-se a seu lado. Ordenou em tom exigente,em tom bem alto!

    Whiaky?O barman olhou para ele com um ligeiro ar de desprezo

    e serviu a bebida em silncio. Quando se afastava, Armandacendeu um cigarro e, sem olhar para Brigitte, murmurou,escondendo com a mo que acendia o cigarro o movimentodos lbios:

    Voc est sendo seguida. E voc no? murmurou Brigitte por sua vez.

    Desceu da banqueta, mal contendo o riso, e encaminhou-se at a porta. As coisas estavam saindo como queria. Osprimeiros contatos haviam sido feitos e cada qual comeavaa pensar no jeito de arrumar as coisas de maneira que lhefosse mais conveniente.

    Foi para o hotel e jantou ligeiramente, indo em seguida

    para seus aposentos. Abriu a porta com todo o cuidado... e opequeno papelzinho que sempre colocava entre a moldura ea porta, caiu a seu ps. Incrvel! Ningum entrara pararevistar seus quartos! Talvez no tivessem tido tempo, oueram muito espertos e haviam descoberto o truque dopapelzinho.

    Examinou sua bagagem e encontrou tudo em ordem.Desligou a carga de magnsio e abriu a maleta. Tambm aliestava tudo em ordem: os dois rdios de bolso, a cigarreira-pistola, os trs ouvidos mgicos teis aparelhinhos quepermitem ouvir o que outras pessoas dizem a duzentosmetros de distncia a pequena lanterna, a piteira-

    punhal...Tantas coisas, que at mesmo um espio de dcimaclasse saberia em um segundo que espcie de senhorita

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    doente do corao era ela, apenas abrisse a maleta e desdeque tivesse desligado a carga de magnsio, pois do contrrioficaria cego por umas trs horas.

    Deixou tudo em ordem. Vestiu o baby-dolle deitou-se.

    Adormeceu imediatamente, apesar de serem apenas nove danoite.

    Tinha que madrugar no dia seguinte.* * *

    Levantou-se, apenas amanheceu, bem antes da seis.Vestiu-se rapidamente, pondo calas compridas, uma blusa

    de l, botas, uma jaqueta de camura e um gorrinho de l nacabea. Ficou, assim, muito graciosa.

    Apanhou a piteira-punhal e deixou o apartamento. Nohall do hotel, o recepcionista da noite cochilava por trs dobalco, de maneira que pode sair sem ser vista.

    Soprava uma brisa fria, embora o sol j estivesse

    surgindo. Metendo as mos nos bolsos, Brigitte dirigiu-se margem do lago, passeando pelos bonitos jardins dobalnerio, solitrios quela hora da manh. Passou peloancoradouro, com numerosas lanchas, algumas de bomtamanho. Uma delas pertenceria a Anatole Sadiron.

    Seguindo as indicaes que lhe dera o barman na noite

    anterior que, afinal, coincidiam com as instrues dadas porArmand Priollet durante a tarde, Brigitte logo chegou vilade Anatole Sadiron, parando a uma distncia que lhepermitia ler o nome na placa, junto ao porto de entrada:Fleur du Lac. Mau gosto! pensou.

    Durante mais de uma hora, ficou dando voltas ao redor

    da vila, o quanto permitiam as condies do terreno.Afastava-se, aproximava-se, tornava a afastar-se examinavaas grades a distncia, o caminho, o terreno... Em mais de

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    Ser um prazer...Logo que Brigitte terminou a ligeira refeio da manh,

    dirigiram-se ao embarcadouro. A lancha de Michel erapequena e no muito nova. Mas servia perfeitamente para

    dar voltas pelo lago, espere dos homens de AnatoleSadiron a fim de observar suas atividades.

    Chegaram por volta das onze, quando a lancha deMichel ancorada, balanava suavemente sobre as guasclaras, a menos de um quarto de milha do ancoradouro,depois de haver dado uma longa e veloz volta pelo lago.

    Brigitte estava deitada junto cabina, aproveitando osol. Michel a seu lado fazia interminveis ns numa corda,enquanto conversavam.

    ... e espero que uma temporada aqui seja realmentebenfica para o meu corao, Michel.

    Mas no espera uma cura definitiva?

    Creio que j no h mais cura definitiva! Mas jfalamos muito de mim. Voc faz tantas perguntas!

    Eu a aborreci? No... sorriu Brigitte mas acho que a minha

    histria pouco interessante. A sua, talvez, seja mais... Duvido sorriu ele secamente. Nem ao menos

    posso dar-me ao luxo de sair daqui. Se ficasse doente, teriaque ficar por aqui mesmo. No poderia procurar umbalnerio.

    O que que voc faz? Eu? Nada de especial. No trabalha?

    De vez em quando. s vezes viajo, a negcios, Vou aGenebra ou a Paris. Sempre por conta de outras pessoas.

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    Sou o que se chama um intermedirio Minhas necessidadesso poucas em Saint Honor.

    Voc no gostaria de morar em outro lugar, com maispossibilidades? Paris, por exemplo?

    A expresso de Michel tornou-se sombria por uminstante.

    Jurei que ficaria em Saint Honor at que aparea osino.

    O sino? Aquilo de que me falou ontem? Voc noacha que est exagerando um pouco? Refiro-me a esse

    sentimento de culpa. So pontos de vista. Alm do mais, agora, sinto-me

    feliz por ter ficado em Saint Honor.Olhou fixamente para Brigitte e ela lhe devolveu um

    sorriso, com aquela sua doura, capaz de derreter pedras. Ser que eu... tenho alguma coisa a ver... com a sua

    felicidade por ter ficado aqui? perguntou ela, com umtom de malcia na voz.

    Sim. Espero que no se sinta contrariada. Claro que no, Michel murmurou ela. Eu

    tambm me sinto feliz por ter vindo a Saint Honor. Serfeliz um pouco difcil, para mim. E com voc, sinto que...

    que...Brigitte calou-se e, muito devagarinho, avanou a mo eacariciou o queixo de Padirac enquanto fixava seus olhosnos dele.

    Brigitte...Ela sorriu, com um trejeito triste em que procurava

    denotar coragem. Michel aproximou-se vagarosamente seurosto. Brigitte cerrou os olhos, passou sua mo pela nuca dofrancs que por fim levou seus lbios aos dela. A outra mo

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    de Brigitte se juntou primeira, por trs da nuca de Padirac.Ele estreitou a esbelta cintura da jovem e seus lbios seaprofundaram definitivamente nos de Brigitte Montfort.

    Ela afastou a boca e deixou pender a cabea,

    entristecida, num gesto teatral Ser... ser melhor darmos outro passeio de lancha. O que que voc tem? murmurou ele. Pensei

    que quisesse isso, tanto quanto eu, Brigitte. Sim... Mas aprendi, faz pouco, a no desejar nada.

    possvel que nem chegue a...

    Esse no o momento para... Suplico-lhe, Michel, vamos dar uma volta. Como voc quiser concordou ele. Mas espero

    poder falar disso noutra ocasio. Podemos almoar juntos? No, no, no... E jantar?

    Por favor, Michel... Brigitte, acho que impossvel no ficar apaixonado

    por voc.Ela mordeu os lbios, afastou-se mais dele e ficou

    olhando aparentemente as guas. Mas, na verdade, estavaolhando a poderosa lancha em que os homens de Anatole

    Sadiron se dirigiam para o interior do lago. Iam trs, apenas.Sadiron no estava entre eles. Talvez, aqueles trs homens,alm de seus passeios e mergulhos habituais pelo lago,tivessem agora a misso de vigi-la. Principalmente depoisdo interesse que, havia demonstrado por Sadiron no bar docassino. Tampouco era de se duvidar que no a tivessem

    notado, rondando pela vila naquela manh.

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    Michel Padirac interpretou erroneamente o silncio deBrigitte e decidiu continuar falando. Pos a lancha emmovimento, dirigindo-a para o centro do lago.

    Passaram bem perto de onde os homens de Sadiron

    faziam os preparativos para lanar-se na gua. Um delesparecia estar no seu turno ao volante da lancha e seguravauma longa tbua com lemes de direo horizontais; deveriater um metro e oitenta de comprimento por sessenta delargura e Brigitte viu muito bem qual era sua utilidade. Umhomem deitava-se sobre a tbua e submergia com ela,

    rebocada pela lancha. O homem manejava as aletas, quefuncionavam como os lemes de profundidade de um avio.Desta maneira conseguia percorrer rapidamente o fundo dolago, ou meio submerso apenas, sem o menor esforo a noser o de manobrar os lemes. Era o que comumente se chamade aqualung, mas to grande que cabiam ali facilmente os

    dois homens que se dispunham a utiliz-lo.E assim foi, de fato. Quando Michel regressava, de volta

    ao ancoradouro, viu os dois homens deitados sobre aprancha, barriga para baixo, j na gua. A poderosa lanchainiciava a partida naquele momento, arrancando com grandevelocidade. Os homens manejaram os lemes e a tbua

    comeou a submergir com eles, velozmente.Por volta do meio-dia, Brigitte resolveu dar porterminada sua vigilncia que parecia no conduzir a nada.Os homens de Sadiron tinham vindo superfcie vriasvezes e mergulhado de novo em pontos distantes uns dosoutros.

    Aquilo no parecia ser uma simples diverso. Percebeu,de repente, que Michel havia estacionado a lancha junto aoembarcadouro e que a olhava fixamente.

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    Oh! Creio que estava distrada... Faz tempo, h... que voc est assim! murmurou

    ele. Quer dar mais um passeio? No. Creio que no. Estou um pouco cansada,

    Michel. Levarei voc at o hotel. Podemos ver-nos esta noite? Eu... eu avisarei voc, sim? Est bem.

    * * *Brigitte entrou em seu apartamento e encontrou ali

    Armand Priollet sua espera, sentado na cama. Olhava comar divertido a pequena pistola que Brigitte tinha na mo.

    Pretende matar-me? perguntou sorrindo. Eu sabia que algum estava aqui, mas no quem era.

    Alguma novidade? Sim. Telefonei para MonsieurNez, em Paris. Ontem

    noite. Hoje ao meio-dia, quando voltei do banho, recebi aresposta. sobre os homens que nos esto vigiando eseguindo. Seus nomes so Vallat, Chassin, Bizard, Richer,Pleven, Soequet e Merle. Revezam-se na viglia.

    J tinha notado isso. Suponho que voc sabe queviram voc entrar aqui.

    Claro sorriu Priollet. Ontem tambm me viram.Chegaram mesmo a tirar fotografias. Mas voc no me contou isso, Armand, por qu? Talvez por no querer assust-la. No diga bobagens, querido riu Brigitte. Se eu

    me assustasse com essas coisas, estaria em casa, fazendo

    tric. Essas fotos devem ser as que mostraram a MichelPadirac. Com toda a certeza. Como vai o seu caso com ele?

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    Muito bem! Passou a manh toda me interrogando eacho que est convencido de que o fez com muitahabilidade. Contei mais mentiras a esse rapaz do que as quej falei em toda a minha vida. E acho que estou um pouco

    arrependida. Por qu? perguntou Armand, admirado. Suas intenes so boas, parece. Boas? O que que voc quer dizer com isso? No sei exatamente, mas sei que pessoa honrada.

    Quero dizer, no devemos esperar nada de mal da parte

    dele, desde que no prejudiquemos a ele ou Frana. possvel que voc tenha razo, Brigitte. Com

    relao aos homens sobre os quais pedi informaes aParis...

    So maquis, no ? Sim... Como que voc sabe?

    Elementar, meu querido Watson sorriu a divinaespi. Que nos diz deles nosso amado Senhor Nariz?

    Coisas muito boas. Todos eles, inclusive o pai deMichel Padirac, lutaram pela Frana. So todos nascidos emSaint Honor. Quando terminou a guerra, simplesmenteretiraram-se para a vida civil, como antes, sem outras

    reivindicaes. Boa gente! Nem todos os maquis fizeram o mesmo,no Armand?

    De fato. Alguns logo exigiram postos militares,posies oficiais... Mas no esse o caso que nos preocupa: outro. Esses homens fizeram coisas boas pela Franca, de

    modo que cabe perguntar: o que que pretendem agora?Brigitte ficou pensativa durante alguns segundos.

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    O sino... murmurou por fim. Isso o quequerem Michel e os amigos de seu pai. Voc sabia,Armand, que Andr Padirac e uns companheiros saramatrs dos alemes que haviam carregado com os trs sinos

    da igreja de Saint Honor? Dois deles, os menores, foramrecuperados Mas o maior desapareceu... o alemo quecomandava aquela fora do Reich era o nosso queridoamigo Helmut Von Mandle, alis, Anatole Sadiron.

    Interessante... sorriu Armand. No me digaagora que Von Mandle veio a Saint Honor em busca desse

    sino.Brigitte ergueu as sobrancelhas, como que surpreendida

    pela idia. Por que no? sorriu ela. Parece que era um sino

    maravilhoso, Armand! Ora, vamos!

    A espi internacional olhou friamente para o homem doDeuximeBoreau.

    J lhe disse que no gosto que me enganem, Armand. No estou entendendo... Voc acha que eu a estou

    enganando? Estou convencida disso. Voc e esse narigudo do seu

    chefe. Se voltar a comunicar-se com ele, diga-lhe isso daminha parte: Narigudo! E que meu preo especial no mais vinte e cinco mil francos, mas cinqenta mil.

    Isso brincadeira? sorriu Armand, um poucoplido.

    Retire-se, quero descansar um pouco. E voc v

    descansar tambm, pois esta noite temos muito trabalho. Que espcie de trabalho?

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    Espere-me s oito da noite na sada dos jardins, nolado que se dirige para a esquerda do lago. E no deixe quenenhum desses maqui o siga nesta ocasio.

    Eu gostaria de saber...

    At as oito. Durma bem a sesta, Armand.

    CAPTULO QUINTONo parque algum dorme o sono da inocncia.

    Na boca do cofre.Espi profissional vira amadora.

    Astcia contra astcia.

    Pelas sete e meia da noite, Anatole Sadiron fez suaentrada no cassino de Saint Honor, acompanhado por doisde seus homens. Atravs de uma das janelas, Brigitte viu osoutros trs dirigirem-se tranqilamente para a praa dopovoado.

    Isto significava que os seis estavam ali.Indiscutivelmente, Helmut von Mandle no tinha perdido asua astcia. Dirigiu-se para a mesma mesa da noite anterior,enquanto um de seus homens, Filipo, aproximava-se dobalco do bar e pedia qualquer coisa ao barman, reunindo-se depois a von Mandle e ao outro, tambm italiano,

    Salvatore.Brigitte olhou duas vezes para von Mandle, insinuando

    um dbil sorriso, que o alemo pareceu ignorar. Durante unsquinze minutos, Brigitte permaneceu junto ao balco,bebendo parcimoniosamente sua gua tnica e olhando dequando em quando seu pequeno relgio de pulso,

    dissimuladamente. s oito menos quinze, quando a noite jhavia descido completamente decidiu que havia chegado omomento de agir.

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    Saiu do cassino e dirigiu-se para a praa, como seestivesse passeando. Ali, num dos bares ao ar livre, viu ostrs homens restantes de Sadiron: Goer, Windell eHeydrich. Voltou-se e viu o francs encarregado de vigi-la

    quela hora.Caminhou um pouco pela praa, contemplou o

    campanrio e, repentinamente, fez meia-volta regressandoao lago. Entrou pelos jardins do balnerio, desertos quelahora. Em alguns pontos viam-se manchas de luz no cho,procedentes das grandes janelas do hotel. Sempre

    caminhando como quem d um passeio, foi-se afastando,deixando as luzes para trs. Por fim, quando ela e seuseguidor alcanaram uma rea mais escura, Brigitte fez oque menos esperava o pobre Richer: voltou-se e caminhouresolutamente em sua direo.

    Richer ficou petrificado quando a formosa espia

    colocou-se diante dele e, sorrindo, cumprimentou-o: Boa-noite, senhor... Mmmm... Boa-noite...Mal contendo o riso, Brigitte estendeu-lhe a mo

    dizendo: Meu nome Brigitte Montfort... Como tem passado o

    senhor?Richer viu-se apertando aquela suave mozinha,delicadssima e fresca. Mas isto foi s por um segundo.

    Quando estava comeando a pensar no que dizer, aindadesconcertado, algo aconteceu. Algo inesperado, brutal: opobre Richer saiu voando para cima e para frente, por sobre

    o delicado ombro feminino. A aterrissagem foi tremenda:caiu aos trambolhes e quase perdeu os sentidos. Quandotentava levantar-se, sem saber se o conseguiria ou no, a

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    delicada mozinha de Brigitte aplicou-lhe na nuca, de canto,um perfeito golpe de Tegatana-Ate3.

    E o bom Richer se ps a dormir enquanto Brigitte,sorrindo, tirou do bolso um papelucho que colocou numa

    das mos do homem inconsciente.Em seguida, caminhou tranqilamente para o ponto de

    encontro com Armand Priollet que surgiu silenciosamente aseu lado.

    Tudo bem disse. E do seu lado? Tudo bem sorriu Brigitte.

    Bom... Qual o tipo de trabalho que voc tem emmente?

    Vamos at a vila de Anatole Sadiron e entrar na casa. Voc est... ... louca? interrompeu Brigitte, sorrindo. Claro

    que no, querido Armand. Vamos at l e pelo caminho

    explicarei meu plano.Vinte minutos depois, enquanto Armand Priollet, no

    jardim, vigiava do lado de fora, Brigitte estava diante de umcofre, girando cuidadosamente a combinao. O cofreestava embutido na parede, por trs de um quadro, e sualocalizao fora muito fcil para a hbil espi.

    Estava convencida de que poderia abrir aquela caixa-forte, embora no com tanta facilidade. Em seu ltimo

    3Tegatana-Ate um golpe de jud, pertencente ao grupoUde-Waza, ou seja, golpes dados com extremidadessuperiores. Junto com os desfechados com os membrosinferiores, esto compreendidos os chamadosAte-Waza, ou

    seja, golpes e choques, em japons. Outros golpes so:kobachi-Ate, com os punhos; Hiji-Ate, com o cotovelo;Ubisaki_Ate, com as pontas dos dedos...

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    estgio de aperfeioamento na escola da CIA havia coisasmais difceis. O cofre era slido, mas...

    Com o ouvido colado caixa, ouvia os leves rudos domecanismo atravs da grossa porta. Entretanto, seu senso

    auditivo e sua ateno dividiam-se com o resto do salo emque se encontrava.

    Por isso, percebeu perfeitamente os passos atrs dela.Pisadas lentas, cautelosas, quase inaudveis... No eram asde Armand Priollet que vinha avisar-lhe de alguma coisa...

    Havia chegado o momento.

    Deu a ltima volta ao disco da combinao, virou amaaneta e puxou... A porta do cofre se abriu. Enfiou a moe retirou-a com um mao de notas. Foi quando ouviu atrsdela a voz grave;

    Bom trabalho, senhorita Montfort.Brigitte saltou sobressaltada, girando sobre si mesma e

    colocando-se de p, ao mesmo tempo em que se ouvia umestalido de dedos e a luz inundava o salo. Junto aointerruptor estava Filipo com uma pistola na mo, apontadapara ela.

    Encontrou o que procurava, senhorita Montfort?Brigitte mordeu os lbios. Olhou o mao de notas de alto

    valor que segurava na mo e gaguejou muitoconvincentemente: Eu... eu... o... o... devol... devolverei, senhor

    Sadiron... Mas claro!... Bem... acho que... que no tenho... nenhuma

    desculpa, para isso... Tambm acho, senhorita. Mas quem sabe se no lheocorre uma, dentro de alguns segundos? Voc parece uma

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    pessoa de imaginao muito viva. Diria at que inteligente.

    Eu sou! resmungou Brigitte. Mas esse idiota...Onde est Jack?

    Anatole Sadiron ergueu as sobrancelhas. Refere-se ao seu companheiro? Sim...Sadiron voltou-se para a grande porta e ordenou em voz

    alta:Tragam o homem aqui.

    Salvatore e Goer entraram, com Armand Priollet entreeles, seguro pelos braos. E o homem do Deuxime Bureaurealmente precisava de apojo, sob pena de cair ao cho.Tinha um profundo talho na testa e o rosto coberto desangue, estando solidamente amordaado com um leno.Por trs deles vinham Heydrich e Windell cada um com um

    revlver na mo direita. Tivemos que lhe dar uma coronhada um pouco

    violenta disse Sadiron num tom seco de falsaamabilidade. Mas nessas circunstncias, natural...

    Brigitte olhava Priollet com ar de fria. Eu no lhe disse?! gritou indignada. Era muito

    cedo! Tnhamos que esperar mais alguns dias, ter certeza deque no iam voltar para a vila. Eu no devia ter dado ouvidoa voc... maldito idiota.

    Por favor, senhorita Montfort... Acalme-se aconselhou Sadiron. No me parece justo que seucompanheiro fique com toda a culpa do seu fracasso. Vocs

    queriam o dinheiro? E que mais havamos de querer? murmurouBrigitte.

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    E sabiam que havia um bom dinheiro no cofre? Esse idiota esteve vigiando o senhor h vrios dias...

    Disse que o senhor no tinha conta no banco de SaintHonor e era, portanto, a... Bem, a...

    A vtima mais indicada? ajudou o alemo. Brigitteficou silenciosa durante alguns segundos, com expressoagressiva. Olhou ento diretamente para Sadiron eperguntou:

    O que que o senhor pretende fazer conosco? Francamente, no sei... Qual a sua sugesto?

    Vai chamar a polcia, no ? Isto seria o lgico. Entretanto... estou pronto a aceitar

    sugestes, senhorita Montfort. Tenho uma idia muito boa, senhor Sadiron disse

    Brigitte, tentando sorrir de maneira sedutora Deixe-nos irembora...

    De fato, uma Sugesto bem boa. Mas antes de medecidir, eu gostaria de saber como planejaram este rouboPoderia ter a amabilidade de contar-me, senhorita Montfort?

    Escute, senhor Sadiron... Por favor disse o alemo, secamente. Bem... ele veio para c, para Saint Honor, antes de

    mim, pois assim no iriam suspeitar de que trabalhamosjuntos. Em geral, nos balnerios de pouca importncia comoeste, as pessoas so pacificas de boa-f... Tentamos fazer omesmo em Evian, mas ali havia muita gente... O mesmo emThonon, que tambm fica perto daqui... Por fim, decidimo-nos por Saint Honor. Jack chegou, estudou o terreno,

    investigou... e escolheu o senhor.Anatole Sadiron olhou os dois com expresso de pena.

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    E vocs se atreveram a assaltar uma casa ondemoram seis homens?!... Isso ... uma loucura, senhoritaMontfort.

    Os senhores estavam no cassino e na praa... De

    qualquer maneira eu disse a esse imbecil que era precisoesperar mais... Mas ele insistiu que seria hoje, ou nunca. E...a est o resultado... Idiota!

    A profisso de vocs muito arriscada, no acha? sorriu Sadiron.

    Depende de como se olha. Mas uma coisa certa:

    nunca mais voltarei a trabalhar com um estpido! Quer dizer que renega seu companheiro?

    espantou-se Sadiron. Claro que sim! exclamou ela e, olhando

    furiosamente para Priollet, Continuou: Est ouvindo?Quando sairmos desta, no me procure mais, seu cretino!

    Esquea-se de mim e eu agradecerei o favor. Maldito idiota! Vamos, no o insulte mais... No necessrio. A

    senhorita me parece uma mulher valente... Mas seucompanheiro... lamentvel, muito lamentvel. Solte-o,Salvatore: deixe-o ir...

    Deix-lo ir?! Mas senhor Sadiron! exclamou

    Salvatore. Deveramos entreg-lo... J disse que ele pode ir interrompeu Sadiron, emtom peremptrio. Solte-o.

    Goer e Salvatore soltaram Priollet que se apartou deles,retirou a mordaa e olhou para Brigitte e para os demais. Derepente, sem dizer nada, se ps a correr em direo ao

    terrao.Quando Sadiron tornou a encarar Brigitte, esta o olhavafixamente.

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    Por que fez isto, senhor Sadiron? Segui a sua sugesto... No est satisfeita? Oh! Sim!... Posso ir tambm? Eu preferiria que ficasse mais alguns minutos. H

    inconveniente nisso? No! Seria absurdo. Ficarei o tempo que quiser,

    senhor Sadiron. timo! exclamou o falso francs e, dirigindo-se

    para os outros homens: Trs de vocs fiquem de guarda,l fora. Os demais vo para a cozinha... ou qualquer outro

    lugar.Brigitte e o alemo ficaram a ss. Ele permaneceu

    calado, estudando-a durante alguns segundos, comexpresso de curiosidade e de aprovao ao mesmo tempo.Por fim, sorriu e perguntou:

    Quer tomar alguma coisa?

    Devo aceitar? Acho que sim... gua tnica, talvez? disse,

    ironicamente. Whisky, se no tiver objeo. Claro que no. Sente-se, senhorita Montfort... No,

    no preciso devolver o dinheiro. Pode ficar com ele,

    seu...Dirigiu-se ao bar e serviu whisky puro com gelo em doiscopos, voltando para Brigitte.

    Ficou surpreendida? Muito, senhor Sadiron. natural... Mas, por favor, sente-se.

    Brigitte sentou-se e apanhou o copo que Anatole lheestendia, enquanto ele se acomodava em outra poltrona,diante dela.

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    O que espera conseguir com esse dinheiro, senhorSadiron?

    No seja maliciosa... um simples presente. Quantocalcula que h nesse mao?

    Uns dez mil francos, no? Uma misria. Misria? sorriu Brigitte. Claro. Tudo relativo na vida. Para mim uma

    misria. Gostaria de ganhar cem mil, duzentos mil, ou ummilho, talvez?...

    No creio que seja o momento apropriado parabrincadeiras murmurou Brigitte.

    Hummm... Bem, creio que devo comear peloprincipio... A senhorita, evidente, tem grande beleza, issono se pode negar. Ningum pode deixar de olh-la cominteresse. Entretanto, o meu interesse por sua pessoa no se

    refere diretamente sua beleza... Est querendo propor alguma coisa? Estou. Digamos, inicialmente, que estou pensando

    em dedicar-me a negcios diversos. Isto, claro, depois quedeixar Saint Honor, e mesmo a Frana. Para essesnegcios, sempre interessante contar com pessoas fortes

    de um lado e inteligentes e audaciosas de outro... Se a parteinteligente for mulher, tanto melhor. Receio que no esteja entendendo, senhor Sadiron. Estou lhe propondo que trabalhe comigo. Vi-a ontem

    e hoje, e agora estou comprovando que a senhorita inteligente e audaciosa. a mulher que preciso para certos

    trabalhos... delicados. Que tipo de trabalho?Sadiron sorriu amavelmente.

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    Nunca sei exatamente, at chegar o momento deexecut-los... Est armada, senhorita Montfort?

    Bem... No tenha receio, no pretendo tir-l