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    VOAR PRPRIO DOS ANJOS

    Charles Pitzer, chefe do Setor Nova Iorque da CIA,consultou mais uma vez seu relgio, com visvel

    impacincia. Havia mais de dez minutos que chegara oavio procedente de Washington, de modo que...

    A vem ela murmurou Johnny. Acompanhou oaviso com uma cotovelada, que esta vez seu chefe noconsiderou impertinente, limitando-se a recomendar:

    As rosas.

    Johnny levantou o ramo de esplndidas rosas vermelhas:duas dzias, exatamente. Como sempre. Ambos desceramdos banquinhos que ocupavam junto ao balco do bar dasala de espera dos vos internacionais, dirigindo-se para apessoa que tinham estado aguardando.

    Pessoa pela qual, certamente, valia muitssimo a pena

    esperar. Jovem, elegante, formosa, cabelos louros,estupendos olhos azuis... Trazia uma pequena maletavermelha na mo esquerda; na direita, o talo para a retiradada bagagem. Olhava ao redor de si com um doce sorriso,como se estivesse encantada com a vida. Afinal de contas,voltava para casa mais uma vez. E voltar mais uma vez para

    casa, tendo em conta sua profisso, era-lhe motivosuficiente para sorrir.Viu-os de imediato, claro. Parecia ver tudo, na verdade.

    Seus belos olhos moviam-se para todos os lados, sempressa, mas... Sim: eram capazes de ver tudo. E quando osdois homens j quase a alcanavam, arqueou as

    sobrancelhas, entreabriu os rseos lbios numa expresso de

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    surpresa e, finalmente, sorriu-lhes como o poderia fazer umanjo.

    Tio Charlie! exclamou, quando os teve suafrente. Como foi gentil vindo receber-me! E com rosas

    vermelhas...! Al, Johnny. Al limitou-se a dizer o normalmente risonho

    espio. Que h? ela entrecerrou as plpebras. No est

    contente por ver-me? Bem...

    J sei! O nosso odioso chefe fez voc passar algummau pedao. No foi isso, tio Charlie?

    Eu, no resmungou Pitzer. Ah... Bom, suponho que tenham trazido um carro.

    Vejamos se consigo retirar logo minha bagagem e... Poderamos tomar alguma coisa, antes props

    Pitzer. Ha? Agradeo-lhe, tio Charlie, mas estou querendochegar em casa para lavar a cabea. Esta tintura loura umaafronta aos meus cabelos negros to bonitos. Imagino queda Central lhes tenham avisado que eu chegaria nesteavio...

    Claro, fomos avisados. Sabemos que voc terminouto eficazmente como sempre uma difcil misso emGutemgua.

    Oh, at que no foi difcil... Mas que lindas rosas!Vou coloc-las imediatamente naquele Jarro que...

    Est, recusando nosso convite? cortou Pitzer.

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    Brigitte Montfort olhou-o, depois olhou para omacambzio Johnny... Por suas pupilas azuis passou umclaro de inteligncia.

    Creio que a hora boa para um martini disse.

    Dirigiram-se para o bar, ocupando uma mesinhaafastada. O relgio que estava mais perto marcavaexatamente meio-dia e seis minutos. Pediram um martini,gua mineral e suco de tomate. Johnny ofereceu-lhe umcigarro, que ela aceitou de boa vontade. Pitzer olhou para ocu, atravs das amplas janelas e pigarreou. Brigitte tomou

    um pequeno gole do seu martini e mordeu a azeitonafincada no palito. Johnny, que parecia no fazer caso do seusuco de tomate, olhava com obstinao a brasa do cigarroque tinha entre os dedos.

    Pitzer tornou a pigarrear. Bem... Na verdade, Brigitte, no viemos esper-la...

    Oh, que tremenda desiluso! Mas por que as rosasvermelhas? Vo me dizer que tm outra espi qualcostumam d-las de presente?

    Os dois homens se entreolharam. Claro que no isso! exclamou vivamente

    Johnny. Para ns, voc nica, "Baby".

    Obrigada, querido. O fato esclareceu Pitzer que viemos esperaroutra pessoa aqui mas sabamos que voc chegava nesteavio e nos adiantamos um pouco... E por isso trouxemosas rosas.

    Que so sempre bem recebidas sorriu "Baby".

    Vai demorar muito essa pessoa que esto esperando?

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    O avio chegar dentro de vinte minutos. Vem deLisboa.

    Encantadora cidade... Vem de l essa pessoa? No exatamente. Vem de Tnger. Pelo vo Tnger-

    Lisboa-Nova Iorque. um agente nosso. Ah, sim? Um dos meus queridos Johnnies vai

    regressar? Sbito, seu rosto se tornou sombrio. Espero que no esteja ferido.

    No, no... balbuciou Pitzer. No... Est morto disse, quase brutalmente, Johnny.

    O chefe do Setor Nova Iorque da CIA mordeu os lbiose baixou a cabea. Brigitte ficou imvel, enquanto seu rostoperdia visivelmente a cor. Tirou uma longa baforada de seucigarro.

    Ele sofreu um acidente? quis saber, por fim. Meteram-lhe trs balas no corao, pelas costas...

    Um acidente, sem dvida: um acidente profissional. Foi assassinado em Tnger? Exato. Por quem? No sabemos... ainda. Esto acontecendo coisas

    estranhas por l. Os nossos outros agentes parece que no

    compreendem muito bem a situao. Tm um suspeito sobvigilncia, ao que parece, mas no sabem o que fazer paraque sua ao resulte em alguma coisa. Pediram instrues aWashington.

    Esta manh, s oito, despedi-me de MT. Cavanagh...Ele j tinha conhecimento deste assunto?

    Naturalmente.

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    Pois no me disse nada. No quis aborrec-la, por certo. Todos sabemos

    quanto voc sente a morte de um de seus rapazes. Bem, naverdade, ns devamos fazer como Cavanagh: no tocar no

    fato. Mas, como voc compreende, no lhe poderamossorrir enquanto esperamos o cadver de um companheiro.. .

    Compreendo muito bem, tio Charlie. Sem dvida,vocs no vo deixar as coisas assim, tero pensado emfazer algo... Que instrues a Central enviou a Tnger?

    Nenhuma, ainda. Como voc sabe, quando se trata de

    um assunto desta espcie, s podemos lanar mo depessoal especializado. Nos ss agentes em Tnger so bonsmas nada tm de notvel. Precisam de algum que osdirija... Sim, algum como... como...

    Como eu? sorriu levemente "Baby". Sim, justamente! Oh, mas no pode ser... Voc tem

    estado sobrecarregada ultimamente, Brigitte. No creia quetenhamos pensado em envi-la a Tnger, quando aindanem sequer chegou em casa... Seria o cmulo!

    Claro, seria o cmulo... Mas suponhamos que eu meoferea voluntariamente: voc se oporia, tio Charlie?

    No, lgico. Mas voc deve estar cansada. Ser

    melhor enviarmos outro agente... Eu gostaria de ir. Vejamos quando sair o primeiroavio para Lisboa e...

    Mmm... Pois casualmente tenho aqui... sacou umenvelope do bolso. Sim, casualmente, tenho aqui umapassagem para o prximo vo Nova Iorque-Lisboa-

    Tnger...

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    E em que nome est, casualmente? Pois... em nome de Brigitte Lamartine... Oh, mas a prpria casualidade! Foi com esse nome

    que realizei minha ltima misso... E de cabelo louro, coisa

    que me aborrece. A que horas tem incio esse vo paraTnger?

    Dentro de oitenta minutos. No me sobra muito tempo, hem? De acordo: tomarei

    o tal avio. E voc sabia perfeitamente disso, tio Charlie.Pitzer e Johnny trocaram um olhar, depois ambos

    suspiraram ao mesmo tempo. Tnhamos certeza, mas tambm no queramos

    abusar... Juro, "Baby", que gostaria de dar-lhe um anointeiro de frias.

    Que horror! exclamou ela. Eu morreria detdio. Estaro minha espera em Tnger?

    Avisaremos imediatamente de sua chegada e algumir busc-la no aeroporto, certamente. Johnny vaiencarregar-se de levar sua bagagem para o outro avio.Enquanto isso, voc ter tempo de vir dar uma olhadela aonosso companheiro. O avio est para chegar.

    Brigitte Montfort moveu negativamente a cabea.

    No... murmurou. Prefiro no o ver. Isso meabalaria os nervos, o que no me convm. Vo vocsesper-lo. Eu me ocuparei de minhas maletas e do resto.Avisaram Peggy?

    Avisamos... Quer dizer: dissemos suaempregadinha que talvez voc tornasse a viajar...

    Bem, at volta, ento.

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    Levantou-se. Os dois homens imitaram-na rapidamente. Mas objetou Pitzer h certos detalhes que... Os rapazes de Tnger me poro ao corrente. No se

    esquea de anunciar-lhes minha chegada, tio Charlie. Ah:

    obrigada pelo martini. Adeus. Boa viagem murmurou Pitzer. E breve

    regresso.Brigitte j se afastava, quando Johnny a chamou,

    erguendo o ramo de rosas. "Baby", as suas flores...

    Leve-as para o nosso companheiro, Johnny. E,mesmo julgando que ele no o escuta, diga-lhe que eu ovingarei... antes que essas rosas tenham murchado em suasepultura.

    Os dois espies ficaram sozinhos mesa, silenciosos.Momentos depois ouviram o avio procedente de Lisboa,

    que estavam esperando. Johnny moveu o ramo de rosasvermelhas. Estou certo de que ela far o que prometeu

    murmurou. Claro. Mas creio que estamos abusando de "Baby"...

    Sempre viajando, sempre voando...

    Johnny sorriu, assentindo com a cabea. Mas est muito certo: afinal, voar no o destino dosanjos?

    CAPTULO PRIMEIROUm homem dedica-se a passear...

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    As dez e meia da manh seguinte, aps haverdescansado toda a noite em Lisboa, miss Brigitte Lamartinechegava ao aeroporto de Tnger. Como todos os seusdocumentos eram uma verdadeira obra-prima de

    falsificao, no teve a menor dificuldade em entrar no pas.Uma vez mais, Marrocos seria o palco de uma sensacionalaventura da agente Baby.

    Quando, j terminados todos os trmites, surgiu na salados vos internacionais um homem alto, sardento, deexpresso um tanto sria, olhou-a fixamente, esmagou o

    cigarro com o p e aproximou-se dela. Baby?perguntou em voz baixa. Al, Johnny. Estvamos sua espera... Seja bem-vinda. Obrigada. Alguma novidade? Nenhuma. Tudo continua na mesma. Avisaram voc

    que estamos vigiando um suspeito? Sim. Ele continua sob vigilncia, espero. Est cercado. Embora no saiba, claro. Deixamos que

    se mova por Tnger com toda a facilidade. Resultados satisfatrios? At agora, nenhum. No se comunicou com

    ningum... Quero dizer, fisicamente, pessoalmente, emborano esteja sozinho, de modo que deve dispor de um rdio debolso.

    o comum, no? Esclareamos uma coisa, Johnny:vocs suspeitam que esse homem tenha assassinado nossocompanheiro?

    Exato.

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    Qual sua nacionalidade? Hum... Eu diria que russo. Mas no d muita

    Importncia a isso. Estive algum tempo na Rssia e agora,cada vez que acontece alguma coisa estranha, vejo russos

    por toda parte. Compreendo sorriu levemente Brigitte.

    Decerto, voc fala o russo muito bem.No tive outro remdio que aprend-lo to bem como

    o ingls. Mas aqui isso no me serve de nada. Quem sabe?

    Vou encarregar-me de sua bagagem.Dez minutos mais tarde, j colocada a bagagem noporta-malas do carro, Johnny sentava-se ao volante, tendoBrigitte sua direita. Saram do estacionamento e, durantealguns segundos, nenhum dos dois disse nada, at queJohnny, franzindo a testa, murmurou:

    Antes, quando lhe disse que no havia novidade,referia-me ao caso desse suspeito. Mas creio que meexpressei mal. Quer dizer que h algo novo, em outro aspecto do

    assunto? Bem... Mais ou menos isso. Embora no saibamos se

    uma coisa est relacionada com outra. A que se refere? Em Tnger somos trs agentes, secundados por

    pessoal marroquino de relativa confiana. Um desseselementos locais chama-se Mordecai e voc logo o ver. Elecostuma incumbir-se de pequenos servios de apoio; um

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    auxiliar, numa palavra. Procuramos mant-lo no muito aocorrente de tudo. Acho lgico. H um outro elemento chamado Muley Hassim, que

    tem uma pequena villano Monte.O Monte, ou Montagne, como o chamam aqui, uma

    colina que domina a cidade e na qual moram as pessoasendinheiradas, de modo que em sua maioria as residnciasso suntuosas. L costumavam viver alguns sultes e ondeest o formoso palcio do Governador.

    Conheo alguma coisa de Tnger. Que h com MuleyHassim? Desapareceu. Assassinado? Desapareceu. No sabemos nada dele. Costumava

    comunicar-se conosco quando a importncia do caso o

    requeria, utilizando para isso um pequeno transmissor,Segundo Mordecai, o outro marroquino, nosso companheiromorto recebeu uma comunicao de Muley Hassim, que ofez ir a certa casa, onde o assassinaram. E vocs no puderam estabelecer contato com Muley

    Hassim, para que lhes desse uma explicao.

    Justamente. No sabemos nem sequer por que nossocompanheiro foi quela casa. Temos apenas conhecimentode que o fez devido comunicao de Muley Hassim. compreendo. Mas deste no h sinal. De onde surgiu

    a pista que os levou ao suspeito que esto vigiando? No sei se devo pensar que foi pura sorte, ou que

    Mordecai mais esperto do que imaginvamos. Veja como

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    ocorreram as coisas: nosso companheiro foi casa emquesto, com Mordecai... Por que ele sozinho? O outro Johnny e eu estvamos fora da cidade,

    resolvendo certo assunto com os colegas de Rabat. Quandovoltamos, quer dizer, quando j nos encontrvamos adistncia de alcance do rdio de bolso, Mordecai nos avisoudo ocorrido, por meio do radinho que trazia. Disse-nos ondeestava morto o nosso companheiro e fomos l.Conseguimos retir-lo em sigilo, enviando-o de volta

    ptria pelo conduto habitual. Sabemos que j chegou. Sim, e quase pude v-lo... murmurou Brigitte.

    Por que esse Mordecai lhe parece agora mais esperto queantes?

    Bem... Ele ficou na rua, dentro do carro, esperandoJohnny. Este entrou na casa e, poucos segundos depois,

    Mordecai viu entrar o suspeito. Dois minutos mais tarde,viu-o sair com cautela.., e precipitao. Alarmado,pressentindo qualquer coisa, foi atrs do homem, a p; mas,na prxima esquina, o suspeito entrou num pequeno carro ese foi. Mordecai anotou o nmero da placa, depois dirigiu-se casa e encontrou o cadver de Johnny.

    Qual era o nmero da placa? CE-9768. De Ceuta. Era um desses carrinhosespanhis da fbrica SEAT, modelo 600-D. Cor verde.

    Encontraram o carro e por meio dele localizaram osuspeito?

    Exatamente. E agora est vigiado, como lhe disse.

    Mas enquanto nossos auxiliares marroquinos procuravam o

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    carro e o homem que o usava, tentamos estabelecer contatocom Muley Hassim, naturalmente, pois Mordecai nosdissera que dele Johnny recebera o Informe que o fizera irquela casa... Muley Hassim no respondia aos nossos

    chamados, por isso fomos procur-lo em sua casa do Monte.No estava. Nem ele, nem seus criados, nem as trs esposasque tem apareceram em parte alguma.

    E o transmissor? Ns o encontramos, claro. Estava em seu esconderijo,

    intacto. Ali parecia no haver ocorrido nada, como se

    Muley Hassim e os seus fossem voltar de um momento paraoutro. No levaram malas, nem o carro... Tudo totranqilo, que resolvemos nos instalar l provisoriamente, espera de acontecimentos. Enquanto isso, Mordecai deuordem para que nossos auxiliares marroquinos procuremMuley Hassim.

    Vamos agora a essa vila do Monte? Sim, se voc est de acordo. Estou, embora deva admitir que Isso no me agrada

    muito. Poderia ser uma armadilha... E entendo que, nomomento, s esto em Tnger voc e outro companheiro.

    Sim, s ns dois sorriu Johnny. E voc. Isso

    aumenta um bocado o nosso nmero, no acha? Voc gentil, Johnny. Uma ltima pergunta: quemmorava na casa onde mataram o nosso companheiro?

    Ningum. uma casa grande, velha, quepossivelmente ser demolida para dar lugar a um edifcionovo. Por isso nos foi to fcil retirar Johnny sem que

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    ningum visse. A gente da vizinhana no notou nada,tenho certeza.

    Quero tambm ver essa casa, Johnny. Perfeito. Mas vamos primeiro ao Monte?

    Sim... Ah, mais uma pergunta ainda: at que pontovocs confiam nesse Mordecal?

    Bom... Sempre tem sido fiel e eficiente em seuspequenos trabalhos. No nos inspira desconfiana, emboraestejamos sempre dispostos a admitir que qualquer um podevender-se.

    E ainda nada sabem sobre a verdadeira natureza doassunto?

    Nada. Esperamos que Manuel Ortega possaesclarecer-nos muitas coisas, quando finalmente oagarrarmos.

    Manuel Ortega o nome utilizado pelo suspeito que,

    segundo voc, parece russo? Oh, sim... Esqueci de mencionar isto. Ele estregistrado como Manuel Ortega, de nacionalidadeespanhola, no hotel onde se hospeda.

    Que hotel? O Tnger, nmero 16, Rue Delacroix. bastante

    confortvel... Apartamento 412, o que no deixa de sercurioso. Curioso? que comunica com o 411 por meio de um banheiro.

    No... sorriu. No h ningum ocupando o 411. Ah. Mas talvez algum logo o ocupe, no?

    possvel. Est reservado.

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    Por quem?Johnny pestanejou. No averiguamos isso... ainda. Um pequeno descuido, Johnny.

    Sim... Bom, talvez no seja to pequeno resmungou o espio. Vou me ocupar disso enquanto...

    Esquea. Eu o farei. Mas, no momento, iremos a essavilla do Monte.

    * * *Finalmente o carro deteve-se e Brigitte desceu.

    Contemplou um instante a casa, branca, de telhado escuro.Havia palmeiras no jardim, no muito grande. Flores,arbustos... Quando se virou, viu as outras casas daMontagne, todas cercadas de jardins. Ao fundo, Tnger. Aestrada at ali, bastante ngreme, oferecia entretantosegurana e comodidade.

    Um marroquino tinha aberto a porta e olhava em silnciopara os dois. V avisar Michael, Mordecai disse-lhe Johnny.O rabe desapareceu no interior da casa e o espio virou-

    se para Brigitte. Ele est junto ao transmissor... Que , Baby?

    No gosto de ouvir nomes, Johnny. Embora tocomum e inexpressivo como o de Michael. Oh... Sinto muito. Voc ser Johnny I e ele ser Johnny II. S isso. H

    muitos anos que evito saber os nomes de meuscompanheiros.

    Bem, no tornar a acontecer. Entramos?

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    Havia um formoso vestbulo, com flores. Pelas janelas,via-se o jardim. Os mveis eram europeus... at queentraram numa sala com tapetes nas paredes, divas cheiosde almofades, panplias exibindo armas. Johnny I correu a

    cortina da ampla janela. Mal terminava de faz-lo,apareceram Johnny II e Mordecai, silenciosamente. Oprimeiro colocou-se diante de Brigitte, contemplando-a comrisonha curiosidade, enquanto lhe estendia a mo.

    Como vai? saudou. Bem... sorriu "Baby". Nada de novo no

    transmissor? Nada. Mudamo-nos para c depois de receber em

    Tnger a notcia de sua prxima chegada. Agora que vocveio, j no precisamos contatos com ningum. Apenascom Muley Hassim, mas parece que j o devemos esquecer.

    Talvez. Tm certeza de que no est na villa?

    Claro... Johnny n pestanejou. Revistamostudo, naturalmente. Posso faz-lo eu? Sem dvida! Sabemos muito bem que, a partir deste

    momento, voc quem manda, "Baby". Vou lhe mostrar oesconderijo do transmissor, depois examinaremos

    novamente toda a casa... sorriu esperanado. Oxalvoc seja mais esperta que ns.Mas no.Aparentemente, "Baby" no era mais esperta que os

    Johnnies, que j tinham demonstrado s-lo descobrindo otransmissor, embutido na parede, por trs de um grande

    armrio, num quarto. Fechada uma portinhola que se

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    confundia com a parede e colocado o armrio em seu lugar,o esconderijo podia considerar-se quase perfeito. A villatinha mais cinco quartos, um deles enorme, com leitosformados por almofades em reentrncias retangulares nas

    paredes. No centro havia um espesso tapete, que parecia deplo de camelo. Nas janelas, de bonitos arcos rabes, viam-se vasos de flores. Dali se avistava o jardim, a garagem e,ao longe, Tnger. Sempre Tnger vista.

    Bem murmurou Brigitte , parece que nesta casas podemos esperar. Entretanto, acho que j esperamos

    bastante. A que se dedica o tal Manuel Ortega? A passear... murmurou Johnny II. Todos os

    comunicados que recebo so nesse sentido. J esteve naKasbah, visitou o palcio do sulto, foi de carro at o CaboEspartel, passeou pela Avenida de Espanha, pelo BoulevardPasteur, pelo Mirante, pelo Zoco... Passeia. tudo o que

    faz. Ainda no fez nenhum contato? Nenhum. Est sempre s. Claro que no me fiaria

    muito nos amigos de Mordecai que o vigiam. Sabemos queum profissional da espionagem como... como ns mesmos,pode falar com algum sem que os menos avisados se dem

    conta. Sim. Pode ter falado com algum, em qualquer caf;no hotel, num esbarro casual em plena rua... Acho que jesperamos bastante.

    Vamos deitar-lhe as garras? sorriu Johnny I. Claro. J passeou muito.

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    CAPITULO SEGUNDOInutilidade de um ciclo defensivo

    Por volta das sete e meia da noite, Manuel Ortega

    regressou ao seu hotel. Pediu a chave e meteu-se noelevador, cuja porta lhe foi aberta pelo prprio encarregadoda portaria, um berbere de pele escura e grandes olhosinjetadas de sangue, que usava bombachas, jaquetavermelha, meias e turbante brancos. Media pelo menos ummetro e noventa de altura.

    Nisto, entretanto, Manuel Ortega no tinha muito quelhe invejar, pois media um metro e oitenta, no mnimo.Largo de ombros, esbelto, mas musculoso, ele produzia passagem uma curiosa sensao de surpresa e ameaa. Sriocomo um morto, de inexpressivos olhos escuros e lbiossempre apertados numa linha reta, era um tipo

    impressionante. Mais de uma camareira havia quase gritadoao tropear com ele nos corredores, pois o homem surgiainesperadamente, como se transportado at ali por umadessas misteriosas mquinas do tempo que aparecem noscontos fantsticos.

    Quando introduziu a chave na fechadura, destacou-se

    sua mo, grande, plida, fortssima. Abriu, entrou, acendeua luz, tornou a fechar e encaminhou-se diretamente para oquarto, deixando sua esquerda a porta do banheiro.

    Acendeu a luz do quarto... e ficou como que cravado nocho.

    Ol saudou amavelmente a loura, em russo. Como vai, senhor Ortega?

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    Estava sentada na pequena cama suplementar que haviaa um canto, que podia servir de sof. Apoiada nosalmofades, cruzadas as pernas sensacionais, tinha umapequena pistola na mo direita. Junto a ela, sobre a cama,

    estava uma graciosa maletinha vermelha adornada deminsculas flores azuis.

    Como disse? murmurou por fim Ortega, emespanhol.

    Disse ol repetiu a loura, agora em perfeitoespanhol.

    Ol, ento... Enganou-se de apartamento? Parece que no d importncia minha pistola,

    senhor Ortega. No creio que tenha muito que roubar aqui. Mas

    como no penso discutir com quem empunha uma arma,veja se algo lhe agrada e retire-se em seguida.

    Ora, sejamos conseqentes, senhor Ortega. No meenganei de apartamento e se estou aqui porque o procuro. Pois j me encontrou. Que quer? Est armado? Talvez. Neste caso, sugiro-lhe que saque sua arma, com dois

    dedos, deixando-a cair a seus ps sem rudo desnecessrio.Depois empurre-a para mim, sempre evitando movimentosbruscos.

    No estou armado. Que diabo deseja exatamente? Faremos uma viagem juntos. E quando estivermos

    num lugar tranqilo, o senhor me dir por que matou um

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    homem com trs balaos pelas costas, h poucos dias, numacasa praticamente em runas.

    Est louca? sorriu Ortega. Nunca mateiningum. Asseguro-lhe que no uso armas.

    Eu creio que sim, pois revistei toda a sua bagagem eno encontrei nenhuma. De modo que deve t-la consigo.Por favor, siga minhas indicaes.

    No estou armado. Isso j veremos. Por enquanto, lhe direi exatamente o

    que vamos fazer. Vi que deixou seu carro nesse pequeno

    estacionamento diante do hotel... Um carrinho com placade Ceuta. Como v, no estou enganada a seu respeito.Agora, depois de me entregar sua arma, sairemos ambosdaqui, como bons amigos. Ningum se surpreender, poisesta tarde hospedei-me no hotel. Todos pensaro que vamosjantar por a. O senhor estar sorridente e...

    No costumo sorrir quando no tenho vontade. Far um esforo. Mas continuo: desceremos peloelevador, atravessaremos o vestbulo, iremos aoestacionamento e entraremos no carro. Eu atrs, sempre lheapontando to discretamente minha pistolinha que ningumse dar conta... Quando estivermos dentro do carro, chegar

    um amigo meu, que se sentar a seu lado. Ento sairemosdo estacionamento, iremos ao Boulevard Pasteur, subiremosat a Praa de Frana c, a partir desse momento, meu amigoir lhe indicando o caminho at nosso destino. Entendido?

    Perfeitamente. Mas no vou fazer nada disso.

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    Far. Pois do contrrio, senhor Ortega, eu o matareiagora mesmo. Pensa que no sou capaz? Trata-se apenas deapertar o gatilho.

    Manuel Ortega contemplou-a turvamente durante uns

    segundos. De acordo... murmurou por fim. Irei com voc. timo. Continua negando que porta uma arma? Naturalmente. Vire-se. Com as mos sobre a cabea. No estou

    brincando.

    Ele encolheu os ombros, ps as mos sobre a cabea egirou sobre si mesmo, ficando de costas para Brigitte. Estalevantou-se. A ponta de sua pistola se apoiou nas costas deOrtega, enquanto sua mo esquerda explorava-lhe o peitodeste lado. Seu sorriso esfriou ao tocar a arma que ele tinhasob a axila.

    De modo que no estava...?No terminou a sarcstica frase. O homem baixouvelozmente o brao, lanando um golpe para trs, emdireo ao ponto onde se apoiava a pistola. Era a sadaclssica desta espcie de apuro: desviar a arma, virar-se,lanar um, tremendo golpe e inverter os trunfos.

    Mas no foi assim daquela vez.O brao de Ortega no chegou a tocar a pistola, pois aloura retrocedera um passo com rapidez fantstica. Jimpulsionado, ele completou mecanicamente a ao devirar-se, lanando o punho direito... Tudo calculado erealizado em frao de segundo. Por isso, embora sem

    nenhuma vantagem a seu favor, ele cumpriu todo o ciclo

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    defensivo, mas falhando o golpe contra a pistola e contra orosto da loura, que quando o teve cambaleante sua frenterecuou outro passo, ergueu a perna direita e aplicou-lhe umaviolenta joelhada em pleno ventre.

    Gemendo, Ortega curvou-se, enquanto ela girava sobreum p, descrevia uma volta completa e, sempre com a pernalevantada, atingia-lhe agora o queixo, atirando-o de costassobre a cama, de onde caiu de bruos no cho. Levantou-serapidamente, olhos muito abertos, lanando-se outra vezcontra a desconhecida, que se agachou diante dele,

    endireitando-se justamente quando teve seu abdome sobreos ombros. Projetado para cima e para adiante, ele tombouagora sobre a pequena cama suplementar, da qual resvalouno cho, ficando estirado de costas esta vez.

    Levou a mo direita axila esquerda, mas o agudo saltode um dos sapatinhos da loura cravou-se em sua garganta,

    enquanto a pistolinha apontava-lhe firmemente a cabea. Vamos... ofegou ela. Jogue fora essa arma,depressa, do contrrio eu lhe estouro os miolos.

    Lentamente, ele retirou a mo, que j empunhava orevlver, deixando-o cair. A loura apanhou-o. Depoisapanhou tambm a maletinha vermelha, abriu-a e nela

    guardou a arma. Levante-se, Ortega. Se tornar a fazer-se de espertocomigo, eu o matarei. Est claro?

    Est. Vamos ento.Enquanto ele ajeitava suas roupas, Brigitte cobriu a mo

    armada com um grande leno que encontrou nas costas de

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    uma cadeira, ocultando a pistolinha. Depois, com a canhota,tomou a maleta.

    Pronto? Podemos ir. Vejamos se um homeminteligente ou um suicida.

    Ele revelou, afinal de contas, ser um homem inteligente.Saram sem novidade do hotel, sorrindo, conversando emespanhol sobre uma possvel ida ao Cassino Municipal.Dirigiram-se ao estacionamento, e o marroquino que estavacuidando dos veculos aproximou-se pressurosamente paradirigir a manobra de sada, um tanto difcil dadas as

    reduzidas propores do local.Primeiro entrou Brigitte, aps afastar o assento dianteiro

    para ter passagem. Depois entrou Ortega, colocando-se aovolante. Em seguida apareceu um homem, que bateu novidro da porta oposta. Ortega inclinou-se para aquele lado,abriu a porta e o homem entrou, sentando-se junto a ele.

    Tudo bem aqui fora, Baby disse. Vamos. Em marcha, Ortega sorriu a loura. Abandonaram oestacionamento, sobressaltando o marroquino que pretendiadirigir a operao. Percorreram as estreitas ruas at sair noBoulevard Pasteur, seguiram por este acima, cruzaram aPraa de Frana, seguiram pela Rue de Belgique, depois

    pela Saint Franois... Estavam quase chegando a Sidi Amar,quando Johnny ordenou: Encoste direita e pare, Ortega.Este obedeceu. Deteve o carro borda da calada

    solitria, comeou a virar-se para Johnny... e recebeu nacabea o tremendo golpe que o agente americano desferiu-

    lhe com a pistola. Sem um gemido sequer, Manuel Ortega

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    perdeu os sentidos, tombando contra seu agressor, que oempurrou rudemente para o outro lado.

    No era necessrio murmurou Brigitte. Este homem um assassino... resmungou Johnny.

    No serei eu quem se arrisque com ele. E muito menospenso admitir que seja voc quem corra os riscos. Assimest bem.

    Saiu do carro, abriu a outra porta, empurrou Ortega ecolocou-se ao volante.

    Quando voltar a si, j no poder tentar nada... E

    parece-me que no vai gostar da situao.

    CAPTULO TERCEIROPlanos de sabotagem

    De fato a situao no podia agradar a Manuel Ortega

    nem a ningum. Quando, aps piscar algumas vezes, ficouafinal com os olhos abertos e tomou contato com oambiente, encontrou-se atado de ps e mos a uma cadeira,entre decorao marroquina. Sentada diante dele, a louraolhava-o friamente, tendo de cada lado um homem que oolhava mais friamente ainda. As janelas de estilo rabe

    estavam ocultas por cortinas de vermelho intenso. Sabe onde est, Ortega? perguntou-lhe "Baby". No. Na villa de Muley Hassim. Ignoro de quem fala. No sabe quem Muley Hassim?

    No.

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    Tampouco sabe nada sobre um homem que foibaleado pelas costas numa casa desabitada da rua Hasnona?

    Tampouco.Ela virou-se para o marroquino que estava diante da

    porta. este homem, Mordecai? perguntou. . Sem a menor dvida. Foi ele quem entrou atrs

    de... de Johnny e saiu dois ou trs minutos depois. Bem. Quer um drinque, Ortega? Virou-se para a

    mesinha de madeira de cedro com incrustaes de marfim e

    levantou ostensivamente uma garrafa de vodka. Junto a elahavia um copo. Ficou olhando para o prisioneiro, esperade sua resposta, para servir ou no a bebida. Como ele norespondesse, arqueou interrogativamente as sobrancelhas.Manuel Ortega passou a lngua pelos lbios.

    No disse finalmente.

    Como queira. Eu, entretanto, que adoro o penso quevou me permitir um pequenoServiu-se meia polegada, tomou um gole e sorriu. Mas o

    sorriso no agradou nada a Manoel Ortega. Bem, a fim de no cometermos erros, falarei em

    primeiro lugar, bem claramente. Meu nome de guerra

    Baby. Da CIA. E estou certa de que j o ouviu muitasvezes. Temos certeza que voc no espanhol e quasecerteza de que russo. Uma diferena muito grande, noparece? Agora, preste ateno: seja voc espanhol ou russo,o certo que est fichado como responsvel peloassassinato de um de meus companheiros, coisa que jamais

    perdo. Jamais, todas estas circunstncias, s podem

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    ocorrer duas coisas. Primeira: voc me explica o queaconteceu, para ver se pode convencer-me a ser indulgentecom voc. Segunda: se no me convencer, ou no meresponder, eu o matarei. Tem trs segundos para comear a

    falar. Empunhou a pistolinha e ficou olhando fixamentepara Ortega, que tornou a passar a lngua pelos lbios.Somente um louco faria caso omisso do olhar daquelesmaravilhosos olhos azuis.

    Sergei Savoritchenko... murmurou subitamenteele. Do MVD sovitico.

    Assim est melhor suspirou Brigitte. Vejamosagora se...

    Mas eu no matei seu companheiro. No? Quem o matou? Outro homem. Que homem?

    No sei. Ora vamos, camarada Sergei... No suficiente dizerque no o fez, compreenda. Existe um culpado e s temosvoc mo. Se no se estender mais em suas declaraes,receio que no lhe daremos crdito.

    Quando entrei naquela casa, seu companheiro

    acabava de morrer. E no viu ningum l, salvo o cadver? Ningum. Est querendo zombar de ns? interveio Johnny I. Tm apenas de confrontar as balas de meu revlver

    com as que mataram seu amigo, para verem que estou

    falando a verdade.

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    Que est dizendo? perguntou Brigitte. Refiro-me arma do morto... Ele foi assassinado

    com ela. No o sabia?Sobrancelhas contradas, "Baby" virou-se para os

    Johnnies. Ambos pareciam estupefatos. Sabamos? perguntou-lhes secamente. No... Bom, quando chegamos junto a ele, Mordecai

    estava nos esperando l. Disse que no havia tocado emnada... Ele estava cado de braos, com trs balaos nascostas, tendo ao lado sua pistola...

    Tinha disparado com ela? Sim, sim... Tinha disparado. Quantas vezes?Johnny I e Johnny II trocaram um olhar. Trs vezes, disse o segundo, por fim. Mas ns pensamos que ele tentara defender-se, ou

    algo assim acrescentou rapidamente Johnny I. Nonos ocorreu que o tivessem baleado com sua prpria arma...Ora vamos, isso seria impossvel!

    Por que impossvel? retrucou Savoritchenko. Quando eu cheguei, estava morto, com a pistola ao lado. Equando olhei seu rosto, vi neste as marcas de dois golpes...

    A coisa est bem clara: golpearam-no, tiraram-lhe a pistolae mataram-no com ela. uma explicao muito conveniente... para voc,

    claro. No tenho outra. Pois essa no nos satisfaz em absoluto afirmou

    Johnny II.

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    verdade que Johnny tinha marcas de golpes norosto? perguntou Brigitte.

    Bom... Sim, verdade... Onde est sua pistola?

    Ns a enviamos com ele, bem como todas as suascoisas, para os Estados Unidos.

    Teremos de perguntar Central se as balas que eletinha no corpo eram de sua prpria pistola...

    Que provaria isso? atalhou Johnny I. Eu possogolpe-la, aturdi-la e mat-la com sua prpria pistola, no

    assim? Significaria que eu no a tinha assassinado o fato devoc estar morta por balas de sua prpria pistola?

    No admitiu Brigitte. Mas pediremos esseesclarecimento Central. Enquanto isso, claro, ocamarada Sergei nos dir como sabia que Johnny sedirigiria quela casa e por que o estava esperando. De

    acordo, Sergei? Eu no sabia que seu companheiro iria l. Compreendo. Isso significa que voc estava espera

    de outra pessoa, pois no vai me dizer que foi l por simplescasualidade.

    No.

    Ah... Diga-me: que motivo o levou quela casa? Estava vigiando um homem que entrou l. O homem que, segundo voc, matou o nosso

    companheiro? Sim. Vejamos, camarada Sergei: nosso companheiro

    Johnny recebeu um chamado pelo rdio e foi quela casa.

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    Tratava-se, evidentemente, de um encontro com algum.Algum que primeiro tinha conseguido comunicar-se comMuley Hassim, o dono desta villa. Hassim transmitiu acomunicao a Johnny, o qual deve ter considerado muito

    importante o assunto. To importante, que compareceu aoencontro sem esperar por seus companheiros de Tnger... indicou os dois Johnnies. Muito bem, mas aconteceuque, ao chegar l, o homem que com ele marcara encontropor intermdio de Muley Hassim o matou, simplesmente.Isto lhe parece razovel? Voc marcaria encontro com um

    agente qualquer da CIA apenas para mat-lo numa casaabandonada?

    No. Ento, por que aquele homem matou meu

    companheiro, se antes havia marcado encontro com ele? Porgosto? Esse tipo de espionagem j pertence ao passado,

    Savoritchenko. Agora os espies geralmente se dedicam avigiar outros espies apenas isso. E s matam quando inevitvel. Por motivos importantes ou por seguranapessoal, o que me parece compreensvel. Acha voc quemeu companheiro atacou o homem que marcara encontrocom ele?

    No sei. Eu sei que no o fez. Se aquele homem o chamou, que nada receava da CIA. E Johnny foi ao seu encontroconvencido disso. Ento, por que o matou? Ficamos em queno foi por gosto, por segurana pessoal... Que outra razopode restar?

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    Temo que, de certo modo, tenha sido eu o causadorde sua morte.

    Sim? De que modo? Quando entrei atrs do seu amigo, o outro pode ter-se

    assustado ao ouvir-me, imaginando tratar-se de umaarmadilha... E por isso o matou, depois de golpe-lo,escapando em seguida.

    Os espies americanos trocaram olhares deperplexidade.

    Parece-me que voc no est se explicando muito

    bem, Savoritchenko murmurou Brigitte. Penso que sim. Eu estava vigiando o homem que

    marcou encontro com seu companheiro e ele tinha medo.Quando me ouviu chegar, ele ficou convencido de que tudoera uma cilada... Por outro lado, duvido muito que elesoubesse que o homem com quem marcara encontro fosse

    da CIA.Os americanos tornaram a entreolhar-se, perplexos. Agora, sim, que no entendemos mais nada

    resmungou Johnny I. Nem eu admitiu Baby. Se o homem que

    esperava Johnny marcara encontro com ele atravs de

    Muley Hassim, tinha que saber que era da CIA. No creio que as coisas tenham acontecido assim. No? Ser interessante ouvir sua verso dos fatos, j

    que parece disposto a colaborar. Digamos sorriu o sovitico que acabo de ter

    uma boa idia e que por meio dela talvez nos

    transformemos em aliados.

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    pouco provvel comentou Johnny II. Muitopouco provvel.

    Por qu? duvidou Brigitte. Se o camaradaSergei diz isso, deve ter muito slidas razes. E talvez as

    possamos compreender se ele nos der sua prpria verso.Est disposto, Sergei? Prossiga, ento.

    Comearei por dizer que, h duas semanas, trsagentes do MVD escaparam da Rssia levando uma pasta.Trs traidores, claro. Imediatamente, o MVD lanou umaordem de captura contra eles. Estivemos seguindo-os por

    toda a Europa, at que finalmente vieram parar em Tnger.Cheguei em seguida, localizei um deles e fiquei espera,pois o que primordialmente interessa no mat-los, masrecuperar a pasta.

    Que contm essa pasta? Depois chegaremos a isso. Por enquanto, digo apenas

    o seguinte: seu contedo to interessante que, posto venda num mercado de espionagem, no duvido quealcanasse o preo de cinco milhes.

    De rublos? De dlares. Johnny I emitiu um assobio.

    Acha que esses trs traidores vieram a Tnger paravender o contedo dessa pasta? Evidentemente. Todos sabemos que h um mercado

    muito bom para estas coisas aqui. Certo? o que se diz... sorriu Brigitte. E ento? Eles chegaram a Tnger, fizeram correr a voz de que

    tinham algo muito bom e, de um ou de outro modo,

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    evidente que esse amigo de vocs, Muley Hassim, veioa saber. Sendo um rabe, muito possvel que se tenhaposto em contato com os trs traidores, ou com um deles, oucom um intermedirio. Conseguiu um encontro... e enviou

    seu companheiro Johnny como comprador do contedo dapasta, mas sem informar que tal comprador era da CIA. Demodo que um dos traidores, o nico que eu havia localizadoe que estava vigiando, dirigiu-se ao local do encontro.Entrevistou-se com o companheiro de vocs e, quando meouviu chegar, receou alguma coisa, golpeou-o e escapou.

    Enquanto isso, eu, que estivera justamente esperando quemeu perseguido se pusesse em contato com algum, poisisso significaria que tinha conseguido o contedo da pasta,ainda que microfotografado, imaginei que chegara omomento e subi disposto a tudo... Infelizmente, fiz maisrudo do que pensava, o traidor assustou-se, matou o

    companheiro de vocs e escapou. Retirei-me logo emseguida, naturalmente, para evitar complicaes comigo. Muito lgico. De onde se depreende que quem matou

    Johnny no foi voc, mas um dos traidores da Rssia e doMVD.

    Sim. S pode ter sido ele.

    Qual o seu nome? Bom... hesitou Savoritchenko. Se vamos colaborar, voc dever ser bastante claro e

    explcito, no? Ele se chama Igor Fiodorovitch. E os outros dois?

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    Georgi Vlady e Ivan Ovanikov disse Sergei, comevidente m vontade.

    Est bem. Esses trs homens tm algo que est dentrode uma pasta e pode valer at cinco milhes de dlares. Por

    que no haviam de oferec-lo CIA? No somosexatamente um servio de espionagem pobre. E pagamosmuito mais pontualmente que vocs, por exemplo.

    No creio que eles se atrevessem a vend-lo CIA.Francamente, no creio. O encontro entre Johnny eFiodorovitch naquela velha casa s significa que Muley

    Hassim conseguiu uma boa informao e passou-aimediatamente ao primeiro. S isso. Mas sei que os trstraidores no se atrevero a tratar com a CIA. Preferirovender o contedo da pasta a um agente de qualquer outropas. China, possivelmente. Com maior certeza, aoVietnam... No sei. A nica coisa que sei que tenho que

    recuperar essa pasta antes que se realize a venda, ou que seucontedo passe ao conhecimento de algum. E voc espera que ns o ajudemos a recuperar a

    pasta? Espero. Acaso est sozinho em Tnger, Sergei?

    Claro que no. Mas s localizamos Fiodorovitch etalvez seja justamente ele quem no tenha a pasta. Com aajuda da CIA, tudo seria mais fcil. Poderamos apanhar ostrs traidores entre dois fogos.

    Vocs j poderiam ter agarrado Fiodorovitch e faz-lo confessar onde esto os outros dois e a pasta.

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    Se pusermos a mo em Fiodorovitch, os outros doisdesaparecero. Eu sei. Por isso, antes de agir, queremossaber onde est a pasta. No podemos permitir que ningumdela se apodere.

    Compreendo. Bem, pode-se saber agora o quecontm essa pasta?

    Planos de sabotagem. Contra quem? Contra os Estados Unidos.Brigitte olhou fixamente o espio russo.

    Neste caso, creio que seus colegas traidores poderiamoferecer com grande vantagem esses planos CIA, quepagaria um bom preo por eles.

    No o faro. Primeiro, porque esperam conseguirmais dinheiro no mercado de espionagem de Tnger, ao quesupomos. Segundo, porque sabem muito bem que os

    primeiros que vigiaremos sero os agentes da CIA.Terceiro, porque sabem perfeitamente que, se fizerem umtrato com vocs, tero que viajar para os Estados Unidos e,l, nossos companheiros acabariam com eles. No, no...Preferem um pas que possa dar-lhes proteo muito maissegura que os Estados Unidos durante algum tempo. A CIA,

    como o MVD, demasiado conhecida. Coisa muitoperigosa para eles. E poder provar o acerto desta minhateoria o fato de Fiodorovitch ter assassinado Johnny, quetalvez tenha comeado por dizer-lhe que era da CIA e queestava disposto a pagar-lhe multo bom preo. Ou foi Isso,ou ele me ouviu subir a escada e assustou-se, julgando

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    tratar-se de um amigo de Johnny que fazia parte daarmadilha.

    Brigitte esteve pensativa quase meio minuto, antes deassentir gravemente.

    Sua histria convence, Sergei. E enquanto noencontrarmos Muley Hassim, que o nico que sabe porque Johnny foi velha casa da rua Hasnona, no possocontest-la. Contudo, continuo pensando que seus trstraidores teriam feito bom negcio vendendo o contedodessa pasta CIA.

    Sei que no o fariam. Com absoluta certeza. Est bem. Que espcie de sabotagem esto planejadas

    em tal contedo? So cinqenta e duas, ao todo. Foram planejadas

    durante o bloqueio de Cuba e, exceto trs ou quatro, soperfeitamente viveis. Estavam arquivadas, claro, j que a

    Rssia no pensava fazer uso das mesmas... por enquanto. Compreendo sorriu Brigitte. Mas se as coisaspiorassem entre vocs e ns, tais planos poderiam ser postosem prtica num curto espao de tempo, no assim?

    Exato. E sem dvida, se carem nas mos de algum que no

    vocs ou ns, podero ser levados a efeito sem necessidadede nenhuma declarao de guerra. Voc bem sabe sorriu tambm Savoritchenko

    que vrios pases pagariam muito dinheiro para poder agirna sombra contra os Estados Unidos. E estou certo de queestes acusariam o golpe, Baby.

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    Naturalmente. Pode mencionar-me algumas dessassabotagens?

    Oh... A represa Hoover, centrais eltricas, fbricas dearmamento pesado, portos, aeroportos, centrais nucleares,

    bases de investigao espacial... Tudo est calculado paraque, num s dia, mesma hora, aps trs dias de preparaoapenas, todos esses atos de sabotagem possam serrealizados simultaneamente.

    Brigitte contraiu as sobrancelhas. Estava algo plida,mas disposta a no demonstrar ao agente russo o quanto a

    perturbava aquela revelao. H cpias desses atos de sabotagem planejados em

    Moscou? Sim, naturalmente. Mas se chegarmos a recuperar as que os trs traidores

    roubaram, poderemos encontrar meios de prevenir todos

    esses atos, no assim? , penso eu resmungou Savoritchenko.Brigitte disfarou um suspiro de alvio, enquanto

    permanecia sorridente. Ns o ajudaremos, Sergei. Poderiam comear por soltar-me. No estou em

    posio muito confortvel. Oh... Eu suponho que querer tambm sua arma, bemcomo o rdio de bolso que lhe confiscamos.

    Bom, somos aliados, estou sozinho e vocs soquatro.

    Mas ainda no temos plena certeza de que voc esteja

    dizendo a verdade, Sergei. Creio que s a saberemos depois

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    de comunicar-nos com Washington e verificar se as balasque mataram Johnny partiram de sua prpria pistola. Seassim foi, eu acreditarei em voc.

    Posso ir a Tnger e fazer o chamado props

    Johnny I. Antes de... No, no. Eu me encarregarei disso, Johnny. Irei ao

    hotel, apanharei algumas coisas e falarei pelo telefone. Sermais rpido e menos comprometedor, se pedir um certonmero que sei. Quer que lhe traga alguma coisa do hotel,Sergei?

    Vai me deixar aqui? E ainda amarrado e bem guardado, querido colega.

    Bem... Trago-lhe alguma coisa? Encontrar uma carteira dentro do colcho da cama

    que no utilizo, em meu apartamento. Muito lhe agradeceriaque a trouxesse. Apenas isso.

    Assim farei. No fique zangado. Talvez aindacheguemos a ser bons amigos. Tudo depende da veracidadede suas palavras. Fique prevenido se as balas que mataramJohnny no foram de sua prpria pistola, tornaremos acomear... e de outro modo, compreende?

    Ouvi falar de voc... murmurou Savoritchenko.

    Suponho que, se algo no lhe agradar a meu respeito,saber demonstr-lo cabalmente. Disso no tenha dvida. Entretanto, como no

    momento nossas relaes esto... em suspenso, e quaseacredito completamente em sua soa inteno de evitarcontratempos aos Estados Unidos...

    E Rssia interps o sovitico.

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    Certo sorriu "Baby". E Rssia. Porque sealgum desses atos de sabotagem for posto em prtica epudermos conseguir os planos traados pela Rssia, noacreditaramos que tivessem sido roubados e que vocs no

    estivessem envolvidos no fato. Isso criaria uma enormesrie de dificuldades, que agravaria muitssimo a jcomplicada situao mundial.

    No se pode dizer que ele esteja completamentedesinteressado resmungou Johnny II.

    No admitiu Brigitte. Mas, seja como for,

    Johnny, as circunstncias nos obrigam a colaborar com oMVD e reconhecer que, sua maneira e ainda que por suaprpria convenincia, este nos beneficia... Ou tentabeneficiar-nos, pelo menos. Soltem-no.

    Os dois agentes da CIA ficaram estupefatos. Como? perguntou Johnny I, por fim.

    Soltem-no, foi o que eu disse. No percamos acortesia. O camarada Sergei Savoritchenko ganhou umatrgua, o direito a certa comodidade e at um pouco devodka... Ou continua no o aceitando, colega?

    Tomarei o vodka com muito gosto sorriu o russo. Embora esteja bastante aliviado, cheguei a sentir a boca

    um tanto seca, "Baby". Acredito. Voc sabe muito bem que sua negativa emcolaborar conosco lhe teria trazido desastrosasconseqncias. No sou das que brincam quando matam umde meus companheiros, Sergei.

    Mas devemos solt-lo mesmo? hesitou Johnny I.

    Eu j o disse duas vezes.

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    Com evidente m vontade, o agente da CIA desamarrouo do MVD, que esfregou os pulsos e os tornozelos,sorrindo. Brigitte empurrou para ele a garrafa de vodka e ocopo. Servindo-se uma dose generosa, Sergei bebeu-a de

    um trago e estalou a lngua, satisfeito. Suponho que no acreditaro nisto, quando o contar

    em Moscou. Ainda no o contou murmurou Baby. Por

    enquanto, deixaremos as coisas assim, Sergei.Naturalmente, no lhe devolveremos ainda seu revlver

    nem seu rdio de bolso... Deveriam devolver-me o rdio sugeriu o russo.

    Se meus companheiros me chamarem para dar notciassobre o paradeiro dos traidores que estamos procurando,ficaro alarmados ao no receber resposta... E muitopossvel que tudo seja posto a perder.

    Oua resmungou Johnny II , se voc... Vamos devolver-lhe o rdio cortou Brigitte. Ele tem razo, Johnny. O que menos interessa nestemomento alarmar algum. Quero que isto fique bemclaro. Tirou o rdio ao russo da maletinha, entregando-oa este. Tome cuidado com o que disser por este rdio,

    Sergei, pois meu companheiro fala o russo to bem comovoc e eu. Estou jogando limpo protestou Savoritchenko. Melhor. Levem-no para um quarto, l em cima.

    Amarrem-no, s pelos ps, a uma cama e permaneam comele at que eu regresse, vigiando-o por turnos, j que um de

    vocs dever estar sempre atento ao rdio de Muley

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    Hassim, pois pode chegar alguma notcia. Quanto ao resto,peo-lhes que tratem com considerao o nosso colega.

    Parece-me considerao demais... reclamouJohnny I. Afinal de contas, o mais provvel que tenha

    sido ele quem matou nosso companheiro e que nos estejafazendo de tolos.

    Brigitte Montfort olhou-o inexpressivamente. Ser melhor para ele que nos tenha dito a verdade.

    Levem-no para cima. Mordecai.O marroquino aproximou-se, enquanto os dois Johnnies

    levavam o sovitico. s suas ordens. Passe uma revista no carro do russo, com muita

    ateno. Lembra-se do nmero da casa onde mataramJohnny, na rua Hasnona?

    Lembro-me.

    Brigitte desdobrou um mapa da cidade de Tnger eestendeu-o sobre a mesa. Mostre-me onde est essa rua e anote o nmero. V

    em seguida revistar o carro. Fico sua espera aqui.Mordecai obedeceu ponto por ponto. Quando regressou

    sala, Baby estava fumando, muito pensativa. Levantou a

    cabea, olhou-o e sorriu amistosamente. Algo interessante? perguntou. Veja por si mesma.O marroquino depositou sobre a mesinha o que havia

    encontrado no carro de Savoritchenko: luvas, cigarrosmarroquinos, documentos do carro, uma pequena lanterna,

    uma chave de fenda, um estojo com pequenas ferramentas

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    de emergncia, uma planta de Tnger... Nada que valesse apena, evidentemente.

    Quanto ao prprio carro murmurou Brigitte,olhando a documentao , alugado, em Ceuta. Bem...

    Ponha-se disposio de meus amigos, Mordecai. Tenho algo para lhe dizer murmurou este. Sim? olhou-o, interessada. Eu deveria atender ao rdio de Muley. Se algum de

    meus amigos chamar e no lhe responderem em rabe,cortar a comunicao.

    Compreendo... E muito razovel. Quantos delesdispem de rdio de bolso?

    Seis. Podem chamar a qualquer momento, sechegarem a saber algo interessante. Esto desnorteados, masfaro alguma coisa, espero. De qualquer modo, estotambm assustados, portanto, depois do desaparecimento de

    Muley Hassim, possvel que no queiram saber nada doassunto se eu no lhes falar. Isso os tranqilizaria. De acordo. Diga isso a Johnny. E que os dois fiquem

    vigiando o russo. Espero estar d volta consultou orelgio entre a meia-noite e a uma da madrugada. Muitocuidado. E no tenha contemplaes com ningum, se as

    coisas se complicarem. At logo.

    CAPTULO QUARTOVantagem de ser bonita

    Ela regressou villa de Muley Hassim exatamente sduas menos vinte minutos da madrugada. Da janela de onde

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    vigiava, Johnny viu-a chegar no carro, convenceu-se de queera ela e foi abrir a porta.

    Alguma novidade? perguntou "Baby". No. Nenhuma. Encontrou alguma coisa

    interessante? Interessantssima, Johnny. Vamos ver Savoritchenko.Quando entraram no quarto, Johnny II guardou a pistola

    e relaxou-se na cadeira. Savoritchenko estava na cama, comos ps amarrados a ela, tal como indicara Brigitte. Vendo-aentrar, ele saudou com a mo.

    Resolveu algum problema? interessou-seamavelmente.

    Por enquanto, no sorriu Brigite, sentando-se numlado da cama. Estive naquela velha casa e, efetivamente, muito possvel que as coisas tenham acontecido comovoc disse, Sergei. No h nenhuma dificuldade em escapar

    de l por vrios outros lugares que a porta da rua. De modoque, enquanto no se demonstre o contrrio, vamos acusar otraidor Igor Fiodorovitch do assassinato de meucompanheiro.

    Obrigado. Trouxe a minha carteira? Claro Brigitte tirou-a da maletinha, entregando-a

    ao russo. No me diga que no a examinou. Que acha voc? sorriu ela. Seria absurdo que no o fizesse. O dinheiro ingls,

    assim como meu falso passaporte dessa nacionalidade,prev o caso de se tornarem feias as coisas em Marrocos

    para Manuel Ortega, compreende?

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    Dessas coisas no tenho nada que aprender, Sergei.Vamos ao que interessa.

    Sim o russo tirou trs pequenas fotos da carteira eestendeu-as. Imagino que tambm as tenha visto,

    Baby. Claro. So os trs traidores? So. Este Igor Fiodorovitch. Este Georgi Vlady, e

    este Ivan Ovanikov. Espero que j esteja convencida deque colaboro sinceramente. Sem estas fotografias, no lheseria fcil encontr-los.

    Tem razo. Meus amigos e eu fizemos algumas cpias delas, para

    que nossos colaboradores daqui possam procur-los comcerta comodidade. Mas acontece que nossos colaboradoresno so muitos em Tnger, pois tivemos que deslocaralguns para a Arglia, a Lbia e o Egito.

    O mesmo fizemos ns sorriu Brigitte. Est deacordo em que eu tambm obtenha umas quantas cpias eas distribua entre os colaboradores da CIA, para que osprocurem... com certa comodidade?

    No me havia ocorrido isso sorriu tambmSavoritchenko.

    Johnny I interveio: Diabo! resmungou. Voc est nos utilizando,sovitico. Naturalmente entregou essas fotos a "Baby"para que ela obtivesse cpias! Assim, a CIA ajuda vocs aencontrar os traidores.

    No pode negar que a idia boa, ianque

    retorquiu Sergei.

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    Johnny lanou uma imprecao e acendeu um cigarro.Brigitte riu em silncio, enquanto guardava as fotos namaletinha vermelha.

    A astcia russa admirvel. Mas, como esta vez nos

    serve muito bem, nada tenho a opor. Faremos as cpias eamanh comear a busca, a srio. Recebeu algumchamado, Sergei?

    No. Bem... Nesse caso, voc chamar agora. Diga aos

    seus amigos o que ocorre, que a CIA tambm vai procurar

    os trs traidores, que nada de violncias ou jogo sujo.Termine avisando que, se forem eles que encontrem ostraidores, devero comunic-lo a voc antes de tudo. Estclaro?

    Est. Posso falar em russo? Naturalmente.

    Savoritchenko fez a chamada com seu rdio de bolso.Ponto por ponto, obedeceu s instrues de Brigitte, que iaassentindo com movimentos de cabea. Por fim, olhou-ainterrogativamente e ela fez sinal para fechar o rdio.

    De acordo, Sergei. Agora, Johnny, seria convenienteque um de vocs fosse a Tnger levar estas fotos a um de

    nossos colaboradores, para que tire as cpias e as, distribuaentre os outros. Acontece observou Johnny II que esses

    colaboradores no nos conhecem. Somente a Mordecai, que o elemento de ligao. Mas como ele tem que ficaratendendo ao rdio, o melhor seria que os avisasse, para que

    algum nos espere em nossa base na cidade.

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    Est bem. Assim ser feito. Por que no se ocupam antes de Fiodorovitch?

    sugeriu Sergei. De Fiodorovitch? surpreendeu-se Brigitte.

    Claro. Sei onde se aloja. Creio que se o vigiarem acoisa se simplificar.

    uma brincadeira, Sergei? No acredito que, depoisdo que ocorreu, ele continue no mesmo lugar.

    Pois est enganada. Eu sei que voltou l, poiscontinuei vigiando-o para ver se Ovanikov e Glady

    reuniam-se a ele. Esse Fiodorovitch deve estar doido murmurou

    Johnny I. No discordou Brigitte. O fato de ter

    comparecido a um encontro no significa que tenha ditoonde est alojado, de modo que, depois de ver-se em perigo

    ou acreditar em tal, deve ter regressado a seu esconderijo.Isso forma sentido. Garanto-lhe que ele voltou l disse Savoritchenko.

    Depois do que aconteceu na Rua Hasnona, eu pudeverificar isso. Quando voc me visitou no hotel, minhainteno era jantar rapidamente e continuar vigiando o local

    durante toda a noite. Bem. De modo que temos um localizado... Isso vaifacilitar muito as coisas. De qualquer maneira, Johnny,direi a Mordecai que chame pelo rdio, para que um doscolaboradores nos espere na base da cidade. Volto j.

    Regressou cinco minutos depois, satisfeita a respeito do

    trabalho feito por Mordecai.

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    Assunto resolvido. Iremos entregar as fotos, depoisfaremos uma visita a Igor Fiodorovitch. Oxal ainda estejaem seu alojamento.

    Sergei Savoritchenko olhou-a, sobressaltado.

    Uma visita? Mas isso seria um erro! Por qu? Se os outros souberem que Igor est localizado,

    levantaro vo! Devem ter algum meio de comunicar-secom ele, naturalmente. E vice-versa.

    No lhe daremos tempo.

    arriscar muito... Temos que esperar que se renam,para apanhar os trs! Se Igor der o alarma, tudo ir por guaabaixo.

    Ele no dar alarma nenhum, Sergei. O que far,garanto-lhe, dizer-nos onde esto os outros dois. E sabidoisto, teremos essa pasta.

    O russo moveu negativamente a cabea. Sair mal... pressagiou. Sair mal, eu sei. E sevoc insiste em seu projeto de visitar Fiodorovitch, saibaque declino de toda responsabilidade quanto ao fracasso darecuperao desses planos de sabotagem.

    Por que h de sair mal? Tenho apenas que agarrar

    Fiodorovitch e asseguro-lhe que ele me dir tudo quanto euqueira. Voc no o conhece. Ainda que o mate, no lhe dir

    nada. melhor esperar... Penso que, ao querer enfrentar-secom ele, voc est se deixando levar mais pelo empenho emvingar a morte de seu companheiro que pelo de concluir

    adequadamente este trabalho. E de uma coisa pode estar

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    certa: se voc lhe disser que agente da CIA, Fiodorovitchj no querer ouvir nada mais.

    Ter que me ouvir enquanto eu quiser. Diga-me ondeest.

    uma loucura... Quero saber onde est, Sergei. Do contrrio, nosso

    trato fica automaticamente desfeito.Sergei Savoritchenko respirou profundamente. Pois seja: Rua Mulein, 22... Perto da Kasbah. Mas

    no lhe ser fcil encontrar essa rua, portanto, irei com voc

    para... No se incomode cortou sarcasticamente Johnny I.

    Conheo Tnger como a palma da minha mo. Eu ireicom "Baby".

    Vocs vo estragar tudo. Eu lhe provarei o contrrio. Vamos, Johnny. Ah,

    Johnny II dirigiu-se ao outro. Se Sergei quiser algumacoisa, sirva-lhe. Inclusive vodka. Ele est fazendo jus...embora a contragosto.

    Assim farei. Tomem cuidado. Fique tranqilo: voltaremos.Saram do quarto. Pouco depois, Sergei e Johnny II

    ouviram o motor do carro, afastando-se. Em seguida oagente da CIA deixou a janela, olhando com expressoinquieta para o sovitico.

    No to esperta como dizem resmungou. Vaiestragar tudo, se no fizermos alguma coisa.

    Sossegue sorriu o homem do MVD. Estou

    certo de que ele me entendeu. Sinto por Fiodorovitch.

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    * * *Igor Fiodorovitch despertou de sbito, sobres-saltado.

    Abriu os olhos, quis soerguer-se na cama... e uma pequenamo impediu-o. Ao mesmo tempo, sentia na garganta a

    presso inconfundvel do cano de uma pistola. Fala francs? perguntou-lhe uma voz feminina,

    nesta lngua. Que...? Fala francs? Um pouco...

    Pois bem. Vai ficar quieto na cama... Completamentequieto, Fiodorovitch. Compreende?

    Sim. A luz, Johnny.Ela afastou-se da cama, enquanto se acendia a luz do

    quarto. O russo pestanejou, protegeu os olhos com a mo e

    s alguns segundos mais tarde pde enfrentar a claridade.Ento, viu Johnny junto porta. Empalideceu e desviou oolhar para a mulher, que o contemplava friamente.

    Creio que voc tem algo que est disposto a vender,Fiodorovitch prosseguiu ela, sempre em francs. Qual o preo?

    No... no tenho nada para vender... No? Nesse caso, talvez um de seus companheiros otenha. Refiro-me aos dois outros traidores, os camaradasIvan e Georgi... Onde esto eles?

    No sei de que est falando... Nem me chamoFiodorovitch... Quem voc?

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    Uma espi que pode pagar muito bem por certa pasta.Diga-me o preo.

    Igor passou a lngua pelos lbios e olhou novamentepara Johnny, que tinha a pistola na mo e no o perdia de

    vista. Por fim, moveu negativamente a cabea. No tenho nenhuma pasta.Baby no se perturbou. Com a pistolinha, indicou a

    seu redor todo aquele srdido aposento. Fiodorovitch, voc est numa casa asquerosa, perto

    da Kasbah, perto do mar, cheia de ratos e podrido. Imagino

    que algum velho amigo daqui tenha-lhe proporcionado esteesconderijo, e voc deve-lhe ser grato por isso. Sim: comoesconderijo, est bem... Mas no como tmulo.Compreende? Como tmulo, simplesmente infame.Vamos fazer o negcio, depois falaremos de outras coisas.Afinal de contas, voc est suportando tudo isto para

    realizar o negcio. Qual o seu primeiro preo pela pasta?Cinco milhes de dlares americanos? No tenho nada para vender. Seja razovel, j que estou tentando s-lo... Seis

    milhes? No.

    Olhe, no abuse demasiado de minha bondade... Seismilhes um bom preo. Tem o rdio mo? Que rdio? O que utiliza para comunicar-se com Ovanikov e

    Vlady. Chame-os e diga-lhes que uma espi francesa estoferecendo sete milhes de dlares pela pasta... com seu

    contedo, naturalmente.

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    Voc no francesa. No sou? Qual lhe parece que seja minha

    nacionalidade? Russa.

    Oh... Compreendo. Voc acha que somos russos, queo estamos enganando, no assim? Asseguro-lhe que no o caso. S queremos a pasta e estou lhe oferecendo um bompreo. No lhe parece bom? Acaso espera conseguir mais?

    Igor Fiodorovitch no respondeu. Seus lbios apertaram-se com a expresso caracterstica de quem se nega

    absolutamente a falar. E assim o compreendeu "Baby", quefranziu a testa. Por um instante, pensou na convenincia deapresentar-se como agente da CIA, mas descartou a idia.Se aquele homem assassinara um Johnny, ainda teria maismotivos para permanecer em silncio diante de dois agentesamericanos.

    Talvez a pasta esteja escondida aqui disse JohnnyI, em ingls. Duvido... murmurou Brigitte. Mas no

    perdemos nada a procurando. No o perca de vista, Johnny.Tornou a olhar para o russo, que parecia apavorado.

    Talvez por t-los ouvido falar em ingls? Olhou a seu redor.

    Na verdade, pouco havia o que olhar ali. Nem sequer umarmrio. Somente a cama, duas cadeiras, uma mesaempoeirada... O resto da casa estava ainda em piorescondies, pois inclusive se ouvia a bulha dos ratos noaposento vizinho e no corredor. Aquele quarto era o nicolugar habitvel, e isto at certo ponto...

    Cuidado! gritou Johnny.

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    Plop, plop, plop!Brigitte saltara para um lado, virando-se como um raio

    para a cama, apontando sua pistolinha, enquanto os trstiros com silenciador eram nitidamente ouvidos no quarto

    em runas.Em seguida viu Fiodorovitch com a cara e o pescoo

    cheios de sangue, estirado na cama, olhos arregalados deespanto. Diante da porta, ainda encolhido e como a ponto decontinuar, disparando, Johnny, feies crispadas,empunhara a pistola, da qual saa um delgado fio de

    fumaa... Brigitte aproximou-se rapidamente deFiodorovitch e um s olhar bastou-lhe para compreenderque estava morto. Virou a cabea para Johnny, quepermanecia na mesma atitude, como petrificado.

    Voc enlouqueceu? perguntou-lhe asperamente. Ele era a nossa nica pista e voc o matou!

    Johnny endireitou-se com lentido. Ele... ele ia disparar contra voc... Disparar contra mim? Com qu? Com o dedo? Vi quando se virou... para meter a mo debaixo do

    travesseiro...Ela levantou o travesseiro, mostrando o espao vazio.

    No havia ali nenhuma arma. Quando tornou a olhar paraJohnny, este se encontrava a seu lado, mordendo os lbios.Diante dos olhos da espi mais astuta de todos os tempos,ele baixou a cabea.

    Sinto muito... balbuciou. a primeira vez quecometo uma tolice to grande, Baby. Se pudesse...

    Ressuscit-lo?

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    Acho que estraguei tudo... Est -bem, Johnny... No se culpe demais. Creio que

    eu teria feito o mesmo. Suponho que no lhe agradou aidia de que um tipo semelhante pudesse liquidar com

    "Baby". Voc est tentando suavizar, meu erro, eu sei... Mas

    que ele se moveu e pensei que queria sacar uma arma... Vamos dar por terminado este assunto. Afinal de

    contas, ele no era nada mais que um traidor. Savoritchenko vai ficar furioso quando souber.

    Parece-me que compliquei muito seu trabalho, "Baby". Sim admitiu ela. Mas no contaremos a

    Savoritchenko o ocorrido. Nem sequer a nossocompanheiro. Diremos que Igor Fiodorovitch j no estavaaqui. De acordo?

    Voc no tem obrigao de arcar com a

    responsabilidade disto. A culpa... Vamos, vamos... sorriu ela. Esquea-o. Vocsabe muito bem que eu faria qualquer coisa pelos meusqueridos Johnnies. No fundo,

    Que lhes faa bom proveito. Embora, talvez, searrisquem a uma indigesto... Os traidores no so bons

    nem para os ratos. Vamos base.* * *A base estava situada numa pequena oficina mecnica

    cujo proprietrio, segundo constava da tabuleta, era francs.Ficava numa viela por trs da Rua Moussa. Tiveram quedeixar o carro meio montado numa das estreitas caladas e,

    quando saltaram, um homem saiu do lbrego portal da

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    oficina. Vestia camisola, calava babuchas e cobria-se comum fez. Tinha uma barbicha e seus olhos cintilavam naescurido.

    Gesticulando com impacincia, dizia qualquer coisa em

    rabe e s uma palavra foi inteligvel para Brigitte: dirhan. Est bem, amigo impacientou-se. No lhe

    vamos dar nenhuma esmola: vimos da parte de Mordecai.O marroquino calou-se, olhando atentamente de um para

    outro. Seu rosto nada tinha de tranqilizador. Ele nunca nos tinha chamado aqui disse em bom

    francs. Onde ento? Em outros lugares. De acordo, mas esto acontecendo muitas coisas, eu

    no conheo Tnger muito bem e suponho que ele tenhaquerido facilitar meus momentos.

    Enquanto falava, Brigitte compreendeu que aquelehomem, como os outros colaboradores de Mordecai sordens da CIA, no tinha a menor ideia de que ali, naquelaoficina, estavam o Transmissor e demais instalaes daAgncia Central de Inteligncia em Tnger. Melhor. E noseria ela quem revelaria esses detalhes.

    Est bem, terei isto em conta na prxima vez. Como seu nome? Abdel. Vou lhe entregar as fotos de trs homens, Abdel, para

    que voc se encarregue de obter algumas dezenas de cpias,o quanto antes. Depois as distribuir entre seus

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    companheiros e todos se dedicaro a procurar esses homens.Entendido?

    Abdel olhou fugazmente para Johnny, antes demurmurar:

    Queremos ver Mordecai. Podero v-lo quando no estiver ocupado. Que h

    com voc? No quer ganhar trinta mil dlares?Ele pareceu ficar petrificado. Trinta... mil dlares? balbuciou. Foi o que eu disse. Dez mil o preo de cada um

    desses homens. Pouco me importa como depois voc faa apartilha, Abdel. Tem apenas que, ao serem encontrados ostrs, chame: Mordecai pelo rdio... Ou talvez seja eu mesmaquem responda chamada. Tudo entendido

    Nunca nos pagaram tanto... Faremos como diz. Mas,se os encontrarmos, queremos ver Mordecai. S a ele

    conhecemos. Quando chegar o momento, Mordecai vir comigo,fique tranqilo. Est bem assim?

    O marroquino hesitou visivelmente. Est bem murmurou por fim. Guardou as fotos

    entre as dobras de sua camisola e, segundos depois, tinha

    desaparecido nas sombras. Johnny indicou o portal. Entramos? Para qu? J vimos o elemento de ligao. No creio

    que entrar a nos sirva de nada. J avisei pelo telefone dohotel que este transmissor fica neutralizado, por enquanto;s utilizaremos nossos rdios de bolso e o da villa de Muley

    Hassim. Vamos.

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    Entraram no carro e Johnny ps o motor em marcha,pensativo.

    J que mencionou o telefone, disseram-lhe deWashington que a pistola que matou Johnny era a sua

    prpria, a que foi enviada para l com o cadver? Sim. J tinham verificado isso. Acha que se fosse de

    outro modo o camarada Savoritchenko ainda estaria vivo? Compreendo... sorriu Johnny. Diabo, voc

    dispe de recursos que no podemos utilizar, Baby.Refiro-me a esse nmero de Washington. Um telefonema,

    uma conversa em cdigo e pronto. Nada de transmissor,nenhum perigo de que seja interceptada a comunicao... Eupoderia saber esse nmero?

    Brigitte olhou-o com simpatia. Talvez eu o diga quando isto terminar, Johnny. Bom. Esperarei. No tenho pressa, mas pergunto-me

    por que no nos so dadas as mesmas facilidade que a voc. Porque sou mais bonita riu ela.

    CAPITULO QUINTOPodendo ser s oito, por que s nove

    No me agrada isto disse Sergei Savoritchenko. Se Fiodorovitch abandonou seu alojamento, talvez se tenhadado conta de que o estvamos vigiando. Mas surpreendente... Quando fui ao hotel, deixei-o l, parecendobastante tranqilo.

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    muito possvel que ele tenha percebido suavigilncia, Sergei. E deve ter aproveitado para escaparquando voc foi ao hotel.

    Isso significa que o perdemos completamente. E sabe

    de quem a culpa? perguntou o russo em tom spero. Claro sorriu Baby. Minha, por ter trazido

    voc para c em lugar de deix-lo prosseguir tranqilamentecom sua vigilncia.

    Exato. Bom, tomemos as coisas com calma. Voc

    comunicou-se com seus amigos, de modo que eles e osrabes que trabalham para vocs esto procura dessestraidores. Nosso pessoal est fazendo o mesmo, portanto jso muitos e todos conhecem bem a cidade. Eles seroencontrados. Temos apenas que esperar.

    E depois?

    Depois? A que se refere? Que acontecer se os encontrarem? Seremos avisados e lanaremos uma redada perfeita.

    Que outra coisa poderia acontecer? Isso eu sei. Refiro-me ao contedo da pasta... Ficar

    com voc Ou comigo?

    Oh... Creio que deveria ficar comigo. Sim? E por qu? Porque vocs j tm cpias desses planos de

    sabotagem, segundo me disse. E ns no temos cpiaalguma.

    Voc est querendo divertir-se minha custa...

    resmungou Savoritchenko. Parece que todas as

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    vantagens vo ser para a CIA verdade que no ficaramoscomprometidos como aconteceria se esses planos cassemem outras mos, porm no menos verdade que vocssairo muito mais beneficiados.

    Por que neg-lo? O conhecimento desses planos desabotagem nos permitir tomar as medidas necessrias paratorn-los inservveis. Jamais podero ser utilizados porvocs. Mas admita: melhor assim que permitir que gentedesconhecida os utilize e inteirar-nos depois de suaprocedncia.

    J se inteiraram comentou o sovitico Sim. Mas no podemos culpar o MVD ou a Rssia

    pelo uso que trs traidores russos dem a esses planos. Que fique isto bem claro enfatizou Savoritchenko.

    Se no recuperarmos os planos, a Rssia no serculpada do que outros possam fazer com eles nos Estados

    Unidos. No se preocupe sorriu friamente Brigite. Eume encarregarei de que a informao nesse sentido chegueao meu Governo. Bem, creio que por hoje desenvolvemosatividade suficiente. So cinco e dez minutos da madrugada,cavalheiros. Que tal se descansarmos um pouco?

    Aqui? espantou-se Sergei. Claro. Por enquanto, considero este um lugarseguro... com todo o desaparecimento de Muley Hassim edos seus.

    Mas voc e eu teramos que voltar ao hotel. Avisei que tnhamos sido convidados para passar dois

    dias com uns amigos tornou a sorrir Baby. No se

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    preocupe. Nunca me escapam os pequenos detalhes,camarada.

    Eu sei sorriu tambm o russo. Ah, obrigado porpermitir que me dessem mais vodka.

    Espero que tambm lhe tenham servido um jantar.Irei agora ver Mordecai para dar-lhe as ltimas instrues.Uma coisa, Sergei, sinto muito, mas ter que dormiramarrado na cama. E poremos caarolas nas cordas, demodo que, se tentar soltar-se, ser ouvido.

    Pensei que no me considerasse um prisioneiro, mas

    um colaborador... Assim . Mas j lhe disse que nunca passo por alto os

    pequenos detalhes. At amanh.Foi encontrar Mordecai diante do rdio, em outro quarto. Alguma novidade? perguntou-lhe. Nenhuma.

    Suponho que esteja cansado, mas seus amigos soteimosos. S querem falar com voc. Assim, ter que ficaratento ao rdio... Mas pode ir dando seus cochilos.

    Farei assim. Sobretudo, no se afaste desse aparelho. A qualquer

    momento pode chegar algum chamado interessante. Se

    tivssemos certeza de que esses trs homens esto emTnger, todos ns ficaramos tambm escuta com nossosradinhos de bolso, mas se chamarem de mais longe...

    Compreendo. No me moverei daqui. Obrigada. Esteve neste quarto toda a noite? Estive.

    Sem se mover para nada?

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    Absolutamente para nada. Sou dos que gostam defazer um bom trabalho.

    Sim, parece. Boa noite, Mordecai... Ou talvez sejamelhor dizer bom dia.

    Saiu do quarto, procurou outro pequeno para ela eaproximou-se da cama. Tocou-a e sorriu ao encontr-labastante macia. Fechou a porta, aproximou uma cadeira edeixou-a quase tocando nesta. Depois colocou na borda dacadeira um jarro de porcelana, em to precrio equilbrio,que bastaria encostar um dedo na cadeira para que ele casse

    no cho... Com mais motivo cairia se algum abrisse aquelaporta.

    Voltou cama, abriu a maletinha e tirou um frasco delavanda. Desenroscou o fundo falso, extraindo duas dasquatro diminutas cpsulas de vidro que continham gs.Deixou-a na cabeceira da cama, presas por uma curta tira de

    esparadrapo cor de carne. Em seguida meteu a pistolinha nodecote, colocou-se vestida sobre a cama e adormeceuimediatamente.

    * * *s sete horas da noite seguinte, Mordecai apareceu na

    sala, excitadssimo.

    Foram encontrados! anunciou.Sergei Savoritchenko levantou-se de um salto,assustando Johnny I, que sacou precipitadamente a pistola.

    Os trs? quase gritou. S dois, dizem. Mas, se encontraram dois, o terceiro

    no deve estar longe!

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    Calma recomendou Brigitte. Johnny, guarde apistola, por favor. E voc, Sergei, no perca o controle,coisa que no combina com nossa profisso.

    Ele resmungou alguma coisa e guardou a arma. O russo

    tornou a sentar-se, lentamente. Assim... aprovou Brigitte. Muito bem,

    Mordecai: onde esto esses homens que estivemosprocurando?

    No me disseram. Como?

    Querem que eu v l. L? Onde l? No fim da Avenida de Espanha. Bem. Abdel j me disse que queria v-lo. E, na

    verdade, no me ocorre nenhum motivo pelo qual nodevamos satisfazer o seu amigo.

    Terei que abandonar o transmissor? O assunto est praticamente resolvido, se de fatoforam encontrados dois dos russos. Por outro lado, se j ochamaram Avenida de Espanha, no creio que tornem autilizar o rdio. , portanto, desnecessrio que vocpermanea em seu posto.

    Suponho que me deixar tomar parte nessa caada,"Baby" disse Savoritchenko. uma falsa suposio, Sergei. Mas, nosso trato... Nosso trato no inclui um comportamento de imbecil

    por minha parte. E creio que voc pode compreender

    perfeitamente minha atitude. Afinal de contas a misso de

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    voc e seus companheiros evitar que essa pasta caia emmos de pessoas que poderiam utilizar os planos desabotagem a qualquer momento, com gravecomprometimento para a Rssia, talvez. Minha misso e a

    de meus companheiros consiste em evitar o mesmo, porm,alm disso, no vamos desdenhar a oportunidade deconhecer cinqenta e dois planos de sabotagem soviticanos Estados Unidos.

    Isso uma sujeira! No diga tolices, Sergei. Voc faria o mesmo em meu

    lugar. Que mais quer? Ns o ajudemos a encontrar essestraidores e possivelmente no teremos mais remdio queelimin-los, j que no se entregaro sem luta... Aindadeseja receber mais servio por parte da CIA?

    Esse camarada bastante cara-de-pau riuJohnny II.

    Savoritchenko dirigiu-lhe um olhar assassino. Pelo menos, deixem-me avisar meus companheirosde que vocs localizaram os traidores. No h razo paraque continuem perdendo tempo.

    No seja to atencioso... Afinal, tempo o que nonos falta a todos, neste momento. Quer dizer, a todos menos

    Mordecai e eu. E ns? perguntou Johnny I. Ficaro aqui, com o colega Sergei. E dadas as

    circunstncias, peo-lhes encarecidamente que no opercam de vista. O melhor ser que o levem novamente paraseu quarto e o amarrem, cama.

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    Mas no convm que acompanhemos voc? sugeriu Johnny II.

    Prefiro mant-los como reserva, pois algumimprevisto pode impedir que eu consiga essa pasta. Johnny

    I conhece Abdel e, se Mordecai e eu sofrermos algumcontratempo, poderia procur-lo e orientar o assunto deoutro modo, contanto que, fosse como fosse, conseguisse apasta. Mais alguma dvida?

    Bom... Que far voc uma vez com a pasta em seupoder? No a tornaremos a ver?

    Brigitte arqueou as sobrancelhas, assombrada. Claro que sim, querido. Virei aqui, para que Sergei

    examine os planos, pois seus compatriotas traidores podemter cometido a esperteza de alter-los. Bem, levem Sergeipara cima. Ah... E tirem-lhe o rdio de bolso, j no vaiprecisar dele.

    Claro que no sorriu Johnny I. Aproximou-se dorusso, que o olhou torvamente, ainda sentado na poltrona.Inclinou-se, estendendo a mo esquerda para tirar-lhe ordio. Recebeu uma violenta cabeada no queixo, que oatirou para trs, de encontro mesinha onde estava a garrafade vodka. Derrubou-a e a garrafa caiu, fazendo-se em

    pedaos, mas ningum prestava ateno a tais minudncias.Johnny II tinha sacado rapidamente a pistola, masSavoritchenko, com o mesmo impulso com que selevantara, avanou para ele como uma locomotiva, dando-lhe um esbarro que o fez dar uma volta completa no arantes de cair de costas, perdendo a pistola.

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    Aos tropeos, a ponto de tombar para frente a cadapasso, o russo chegou at a arma e sua mo crispadafechou-se sobre ela... Mas ento a agente Baby j estavaao seu lado e, com um pontap, arrancou-lhe a pistola dos

    dedos. Com outro, no ventre, arrancou-lhe um grito de dor eraiva impotente. Contudo, ele conseguiu endireitar-se,saltou sobre ela e seus braos fortssimos cingiram-lhe odorso, obrigando-a a dar uma volta e colocando-a suafrente como um escudo protetor contra as balas quepudessem disparar contra eles os Johnnies, ambos j

    bastante recuperados e o segundo j recolhendo sua arma. Se atirarem...! comeou ele a avisar. "Baby"

    baixou bruscamente o ombro esquerdo, escapando presapor aquele lado. Levantou Imediatamente o brao direito esua mo pareceu cravar-se no de Sergei, enquanto aesquerda agarrava a manga de seu outro brao.

    Simultaneamente, seu joelho esquerdo se dobrava, suaperna direita estendia-se para um lado e ela puxava com osdois braos para frente, girando um pouco direita... Aexecuo da quarta chave de ombro do jud foi impecvel:Sergei Savoritchenko, com todo seu peso e envergadura, foiarremessado por cima do ombro da mais perigosa espi do

    mundo.Lanou um grito enquanto cruzava o ar, caiu sobre apoltrona e pelas molas desta foi projetado contra Mordecai,que abriu a boca com expresso de espanto, vendo-ochegar...

    No ati...! comeou Brigitte.

    Plop, plop, plop, plop...

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    Johnny I e Johnny II j estavam disparando contra orusso, que havia tropeado antes de atingir o marroquino. Eenquanto Sergei caa de braos, as quatro balas seguiam seucaminho... em direo a Mordecai, que estremeceu e saltou

    a cada impacto, recuando para o fundo da sala, onde caiumorto.

    Todos ficaram imveis ento.Brigitte j empunhava sua pistolinha, apontava-a para

    Savoritchenko, que permanecia estendido de bruos,erguendo apenas a cabea. Aps um profundo suspiro,

    Johnny II balbuciou. Por Deus... Ns o matamos... Esto satisfeitos? perguntou friamente Brigitte. Satis...? Mas... foi uma fatalidade... Que espcie de espies so vocs? perguntou ela,

    com clara irritao. No se tratava de atirar, isso eu

    poderia ter feito desde o primeiro momento. Mas o russo... ia fugir... No teria fugido. E vocs no deveriam esquecer de

    que o necessitamos vivo, para que identifique os planoscontidos na pasta. Cuidem dele.

    Levem-no para cima e amarrem-no de maneira que nem

    em mil anos possa soltar-se. Est claro? Os dois Johnniestrocaram um olhar consternado. Assentiram com a cabea eaproximaram-se do sovitico. Johnny I lanou-lhe umtremendo pontap nas costas, fazendo-o soltar um grito eencolher-se.

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    Para cima, russo! ordenou. E se tentar algumacoisa, no atiraremos para matar, mas ser -pior para voc.Vamos!

    Brigitte, que se tinha ajoelhado junto a Mordecai, deixou

    de contemplar aqueles olhos escuros, arregalados peloespanto. Franzindo a testa, olhou seus companheiros, quevigiavam atentamente Savoritchenko, sem o ajudar alevantar-se. O russo conseguiu-o finalmente, lvido, ecomeou a caminhar torpemente, mas Johnny II sorriu comsarcasmo hostil.

    Caminhe direito e deixe-se de truques, Sergei!Este se endireitou e os trs saram da sala. Cinco

    minutos mais tarde, regressaram os dois Johnnies. Suaexpresso no podia ser mais desolada.

    Est amarrado como um fardo resmungou JohnnyI. No conseguir soltar-se.

    Ficaram ambos olhando para Brigitte, que se instalaranuma poltrona e fumava tranqilamente. A reao de Sergei Savoritchenko disse por fim

    foi um tanto temerria, mas absolutamente normal. No opodemos culpar de nada.

    Parece que a culpa foi nossa murmurou Johnny II.

    No devamos ter perdido o controle. Este assunto nos mantm demasiado tensos disseJohnny I. Tambm me ocorreu algo parecido comrelao a Fiodorovitch.

    Fiodorovitch? Johnny II olhou-o vivamente. Eu o matei.

    Como?! Johnny II estava estupefato.

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    Pareceu-me que tinha uma arma debaixo dotravesseiro. Baby lhe virar as costas e ele se moveu... explicou brevemente o ocorrido. Enfim, no se podedizer que nossa atuao tenha sido feliz.

    Pelo contrrio... sorriu "Baby". Ao menos, foiprovidencial no que se refere a Igor Fiodorovitch, Johnny.Vejamos: efetivamente, seus companheiros de fuga etraio, isto , Ivan Ovanikov e Georgi Vlady, estavam emcontato com ele por meio do rdio de bolso. Enquanto nohouve perigo direto, cada qual permaneceu em seu

    esconderijo, esperando... no sei que coisa. Podiam tervendido essa pasta cem vezes desde que chegaram aTnger, Entretanto, os trs mantiveram-se escondidos,esperando algo. Mas, quando os outros dois chamaram eno obtiveram resposta de Igor Fiodorovitch,compreenderam que as coisas comeavam a complicar-se.

    Talvez, inclusive, tenham podido ver o cadver de Igor nacasa da rua Muleim... Talvez. De qualquer modo,assustaram-se com o silncio do companheiro e, aconcluso s podia ser uma: algo lhe havia acontecido. Ejustamente isso foi o que os assustou, a ponto de semobilizarem procurando, segundo presumo, escapar de

    Tnger o mais depressa possvel. De onde se depreende,Johnny, que voc foi feliz ao atirar contra IgorFiodorovitch.

    Puxa! um consolo saber disso. Entretanto, no creioque surja outro imprevisto capaz de consolar-me da mortede Mordecai. Era um bom sujeito, estava h bastante tempo

    trabalhando conosco... E ns mesmos o matamos.

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    No se atormente; j no tem remdio. Eu sei... E h o caso do encontro na Avenida de

    Espanha com o tal Abdel. Esta madrugada ele disse que squeria falar com Mordecai... E nada de rdios: queria v-

    lo pessoalmente. Como voc sabe, ele nem sequer lhe quisdizer pelo rdio onde esto os dois russos... Que faremosagora? Abdel no nos revelar em que local se encontramOvanikov e Vlady.

    Terei que convenc-lo... murmurou Brigite. Claro, a morte de Mordecai um grave contratempo para a

    concluso deste assunto. E o pior que nem sequer tenhodisponveis os trinta mil dlares que prometi a Abdel. Seagora, alm de apresentar-me sem Mordecai, apresento-metambm sem o dinheiro, calculo que inclusive rir de mim.

    Poderamos convenc-lo de alguma forma sugeriuJohnny II.

    Est brincando? replicou asperamente Baby. Abdel trabalha para a CIA e no merece maus tratos. Porminha parte, compreendo muito bem sua atitude, ele semprerecebeu ordens por intermdio de Mordecai. Por que vaiconfiar agora no primeiro que se apresente dizendo-se daCIA? Vocs o fariam?

    No... Claro que no. Menos mal suspirou Brigitte, tentando sorrir. Bem, queridos, temos a informao a nosso alcance, o que tanto quanto ter a pasta, pois esses russos no meescapariam. Mas, sem Mordecai e sem os trinta mil dlaresem dinheiro, tudo se torna difcil. A menos que vocs

    tenham algum, meio de obter essa importncia em uma ou

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    duas horas... Podem faz-lo? Conviria inclusive que fossemcinqenta mil, para... deslumbrar Abdel. Os rabes adoramdinheiro. Vocs podem fazer alguma coisa? Os doisJohnnies trocaram um olhar.

    Bem... murmurou Johnny I. No sei... Poderiatentar, claro. Mas, no caso de conseguir essa quantia, noseria em dlares, seria em irhans.

    No creio que Abdel desdenhasse fez rapidamenteo clculo duzentos e cinqenta mil irhans, mais oumenos.

    Conhecemos uma pessoa em Tnger que talvez possadispor desse dinheiro em menos de duas horas, Baby.

    Pois recorramos a essa pessoa. Voc dirigiu-se aJohnny II ficar aqui vigiando Savoritchenko. E