avm – faculdade integrada pÓs-graduaÇÃo lato sensu

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AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU ANÁLISE DO PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO TÉCNICO E EMPREGO (PRONATEC) COMO POLÍTICA PÚBLICA DE CONTENÇÃO AO ACESSO DO ENSINO SUPERIOR. Por: Washington Ferreira da Silva. Orientador: Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho Recife 2016

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Page 1: AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

ANÁLISE DO PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO

TÉCNICO E EMPREGO (PRONATEC) COMO POLÍTICA

PÚBLICA DE CONTENÇÃO AO ACESSO DO ENSINO

SUPERIOR.

Por: Washington Ferreira da Silva.

Orientador: Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho

Recife

2016

Page 2: AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

ANÁLISE DO PROGRAMA NACIONAL DE ACESSO AO ENSINO

TÉCNICO E EMPREGO (PRONATEC) COMO POLÍTICA

PÚBLICA DE CONTENÇÃO AO ACESSO DO ENSINO

SUPERIOR.

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em docência do ensino superior.

Por: Washington Ferreira da Silva.

Recife

2016

Page 3: AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e a minha família, por

me fortalecer nas dificuldades.

Page 4: AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais

Amaro Ferreira da Silva e Terezinha

Vicente da Silva, a minha esposa

Vanessa Fitipaldi e ao meu filho Caio

Fitipaldi Veloso Ferreira.

Page 5: AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo analisar o Programa Nacional de Acesso

ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), mediante ao processo de

formação profissional dos jovens de baixa renda nos Cursos de Formação

Inicial e Continuada (FIC) e nos Cursos Técnicos, objetivando atender a grande

demanda mercado de trabalho brasileiro por mão de obra qualificada, onde ao

mesmo tempo o programa propõe através de seu discurso combater as

desigualdades sociais e educacionais através da inserção desses atores no

mercado de trabalho. Implicitamente o programa visa atender a demanda do

mercado por mão de obra qualificada e de nível técnico, negando o direito de

acesso à educação superior para aqueles que sobrevivem da sua força de

trabalho, aproveitando-se desta forma da reserva dos menos favorecidos

socialmente, visando apenas o extrativismo da mais valia.

Page 6: AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

METODOLOGIA

Para realizar a investigação proposta, foi definida a abordagem

qualitativa, por existirem múltiplas fontes que proporcionam várias avaliações

do mesmo fenômeno, buscando correlacionar e identificar informações

implícitas através de dados obtidos através da ótica interpretativa das leis e

suas portarias, na participações de seus atores sociais e das instituições

educacionais envolvidos na implantação do PRONATEC.

Para Gerhardt e Silveira (2009, p.34), a pesquisa qualitativa tem como

objetivo a interpretação dos fatos no aprofundamento de suas

representatividades para a compreensão de um grupo ou fato social. Para os

autores, a pesquisa qualitativa preocupa-se com os aspectos da realidade que

não podem ser quantificados, focando no entendimento e na explicação da

estrutura de funcionamento das relações sociais. Desta forma, a pesquisa

qualitativa poderá ser concatenada a uma conjuntura mais ampla de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que

corresponde a uma visão mais profunda dos fenômenos e das relações, tendo

assim, como as principais áreas de aplicabilidade os campos de estudo

referentes à antropologia, à sociologia, à psicologia e à educação.

Neste sentido, as pesquisas que possuem caráter estrutural qualitativo

buscam explicar através de uma ordem lógica das ações como: descrever,

entender e explicar determinado fenômeno através dos confrontos entre o

mundo social e o natural, entre o teórico e o empírico, buscando assim a

obtenção de resultados mais precisos para a pesquisa (GERHARDT e

SILVEIRA 2009, p.34).

Segundo Lüdke e André (1986, p. 13):

“A pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos,

obtidos no contato direto do/a pesquisador/a com a situação

estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se

preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”.

Este tipo de pesquisa permite o contato direto com os sujeitos e a

compreensão sobre os processos desenvolvidos nas escolas pesquisadas.

Adicionalmente, para Marconi e Lakatos (2003), a pesquisa qualitativa

descreve a complexidade do comportamento humano e fornece uma análise

Page 7: AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de

comportamento entre outros aspectos. É utilizada quando se busca descrever a

complexidade de determinado problema, não envolvendo manipulação de

variáveis e estudo experimentais. Uma das preocupações dessa abordagem é

com a descrição e apresentação da realidade tal como é em sua essência.

Na perspectiva de Richardson (1999, p. 90), este tipo de pesquisa “pode

ser caracterizada como uma tentativa de uma compreensão detalhada dos

significados e características situacionais apresentadas pelos seus atores”.

Diante deste contexto, a utilização do método qualitativo, como

metodologia mais apropriada para conduzir esta pesquisa, será descrita em

tópicos a seguir:

1. Analise da educação no Brasil a partir da década de 1990.

2. Análise documental da Lei 12.513 e suas variações através de suas

portarias;

Para a coleta de dados desta pesquisa, será realizada a análise

documental, que possibilitarão ter uma visão mais ampla das políticas de

educação em esfera nacional.

Segundo Marconi e Lakatos (2003, p.174),

“a análise documental é a fase da pesquisa realizada com intuito de recolher informações prévias sobre campo de interesse o que implica o levantamento de dados de variadas fontes. O acervo documental nos guiará a uma pesquisa de campo mais precisa. Esse material-fonte geral é útil não só por trazer conhecimentos que servem de back-ground ao campo de interesse, como também para evitar possíveis duplicações e/ou esforços desnecessários; pode, ainda, sugerir problemas e hipóteses e orientar para outras fontes de coleta”.

Na fase da análise documental, os documentos oficiais serão

submetidos a uma abordagem cognitiva das políticas públicas. Nesta corrente

de análise, busca-se compreender as políticas públicas como matrizes

cognitivas e normativas na construção de sistemas de interpretação do real,

onde a sua estruturação se dá pela ação de diferentes atores, sejam eles

públicos ou privados.

Dentro deste cenário, buscar-se-á identificar o peso da influência do

empresariado brasileiro sobre o Estado e do Estado sobre o empresariado, no

Page 8: AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

que se refere à formulação da agenda e reformulação da lei através de suas

portarias e na execução das propostas do PRONATEC, como também na

condução dos recursos destinados para o setor educacional privado, na

tentativa de tentar desvelar o quanto uma política pública se destina a atender

interesses públicos e privados na distribuição dos seus recursos.

Nesta ótica para Muller e Surel (2002, p.45), a abordagem cognitiva tem

como objetivo analisar o peso das ideias através das influências de seus atores

e preceitos gerais de suas representações na condução sobre o quadro

evolutivo social, norteando assim, os interesses durante a legitimação do

constructo social e de suas práticas no real num determinado momento

preciso, atuando na distribuição do peso dos valores simbólicos das políticas

públicas na ação do Estado e também pelas dinâmicas intrínsecas de trocas

simbólicas e materiais a respeito das práticas estatais no âmbito do Estado.

Page 9: AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 11

CAPÍTULO I - O PRONATEC, AS ORIGENS E O DESENVOLVIMENTO DE

UM PROJETO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL 16

CAPÍTULO II - FORMAÇÃO DA CLASSASSE TRABALHADORA NA

PERSPECTIVA NEOLIBERAL, E A NEGAÇÃO DO ACESSO AO ENSINO

SUPERIOR. 21

CAPÍTULO III - ANÁLISE E PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

COMO POLÍTICA DE ESTADO NO BRASIL 25

CONCLUSÃO 32

BIBLIOGRAFIA 33

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11

INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objetivo analisar a implantação do

Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC),

mediante ao processo de formação profissional dos jovens e adultos de baixa

renda nos Cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) e nos Cursos Técnicos,

que se objetivam a atender a grande demanda mercado de trabalho brasileiro por

mão de obra qualificada e, onde ao mesmo tempo o programa pretende combater

as desigualdades sociais através da inserção desses atores no mercado de

trabalho, mas sem lhes proporcionar o crescimento educacional através dos

programas de formação inicial e continuada.

Com base na discursão e no empirismo do campo das políticas públicas

educacionais direcionadas à formação do trabalhador, mais especificamente ao

conjunto de ações e procedimentos, que tem como objetivo, promover a educação

profissional concatenada com a educação regular no país de forma

universalizada. Tais políticas se direcionadas a suprir os anseios da classe

trabalhadora, deveriam desde sua agenda, assegurar meios adequados para o

desenvolvimento do trabalhador em todas as suas dimensões: social,

educacional, econômica e cultural, porém nem todas partem desta perspectiva.

A educação profissional é marcada como campo de disputa que sempre

esteve presente no planejamento das políticas públicas em educação. O foco de

divergência está no direcionamento da formação dos trabalhadores nas

perspectivas de formação aos moldes e exigências das classes dominantes

pertencentes à estrutura capitalista.

De um lado, macro estrutura bilateral, e o empresariado brasileiro que

influenciam e investem diretamente na qualificação profissional com fator crucial

do crescimento econômico e a erradicação da pobreza no Brasil. Um

empresariado brasileiro que constantemente tenta adequar-se as exigências do

mercado globalizado, fundamentando-se na Teoria do Capital Humano,

estabelecendo a relação direta entre desempenho educacional e desenvolvimento

econômico.

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12

Do lado oposto se encontra a classe trabalhadora, que no campo de

disputa, luta através de suas representações, por mudanças educacionais e

sociais de forma concreta e pela materialização de um projeto de formação mais

humanizada e omnilateral, permitindo a ascensão educacional, social e cultural de

seus atores. O que não é permitido dentro de um sistema de formação

profissional objetivado a alta produtividade.

A partir destes pressupostos busca-se compreender como, e de que

forma o Governo Federal, através de sua bilateralidade política estrutural,

pretende através de um programa de Educação Profissional, atender a

necessidade do empresariado brasileiro, que é a da formação de mão de obra

qualificada e de qualidade, em um curto espaço de tempo, visando suprir a

grande demanda dos sistemas de produção modernos, na tentativa de adequar-

se às exigências do sistema econômico mundial e dos altos níveis de

competitividade dos processos produtivos globalizados e, ao mesmo tempo

combater os altos níveis de desigualdade socais historicamente imperantes, sem

se quer ter resolvido a questão da precarização da educação brasileira em todos

os seus níveis.

A tendência mundial aponta para um fenômeno irreversível e com

intensidade crescente: a globalização dos mercados decorrente da

internacionalização da economia. Nesse novo ambiente, o Brasil, para ampliar e

consolidar sua presença no comércio internacional, precisa adequar sua produção

aos padrões de qualidade e produtividade vigentes na economia mundial, e ao

mesmo tempo suprir uma grande demanda da indústria brasileira, que é a mão de

obra especializada de nível técnico. Este cenário de competitividade tem

privilegiado, principalmente, a adoção de um modelo econômico mais aberto à

lógica do mercado e à tentativa de fazer com que a produção nacional esteja

capacitada a disputar novos mercados externos (OLIVEIRA, 2005).

Analisando a necessidade de suprir a demanda da classe empresarial por

mão de obra qualificada, em 26 de outubro de 2011, foi instituído pelo Governo

Federal a Lei 12.513 do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e

Emprego (PRONATEC), onde em seu artigo 20, passa a integrar ao sistema

federal de ensino, os Serviços Nacionais de Aprendizagem, com o objetivo de

ampliar em um curto prazo a oferta de cursos de educação profissional e

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tecnológica, impondo ao país um enorme obstáculo a vencer, o de qualificar, em

tempo coerente os trabalhadores, para assegurar-lhes empregos de qualidade e

garantir o sucesso do processo de evolução da modernização produtiva.

Nesta perspectiva, foi firmado o acordo de gratuidade entre o Governo

Federal e o Governo do Estado, através da Secretaria de Trabalho Qualificação e

Empreendedorismo (SQTE), com o objetivo de ampliar progressivamente a

aplicação de recursos no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e

no Serviço Social da Indústria (SESI), para serem ofertados cursos técnicos e de

formação inicial e continuada ou de qualificação profissional, com vagas gratuitas

destinadas a pessoas de baixa renda, priorizando estudantes e trabalhadores

destas localidades (BRASIL, 2011).

Com toda esta euforia do desenvolvimento, e da promessa de

oportunidade e melhoria da condição social destas regiões, ocorre em nosso

Estado de forma implícita, uma nova fase da Revolução Industrial, onde no

passado os atores se deslocavam das zonas rurais para os grandes centros

urbanos industrializados, e hoje vem ocorrendo o inverso, onde os polos

industriais se deslocam para as zonas rurais, através do discurso do

desenvolvimento socioeconômico igualitário das regiões, na busca do

extrativismo da mais valia da mão-de-obra local (OLIVEIRA, 1996).

Neste sentido, hoje nota-se a incompreensão de como se dá as

implementações das políticas públicas de ensino técnico profissionalizante, e se

elas são responsáveis pela inicialização do processo de transformação exercida

pela inserção de uma nova consciência capitalista, e se objetiva a educação do

trabalhador em seus moldes de alta produtividade, exigindo um maior nível de

qualificação profissional, tornando possível o acesso ao emprego só para os mais

qualificados, descartando do mercado aqueles que não conseguem alcançar os

níveis desejados de qualificação, criando grandes desnivelamentos sociais,

tornando esse processo um grande desafio que esbarra no que se refere à

superação dos seguintes pontos:

1. A adequação do sistema de formação profissional no âmbito histórico

e sociocultural dos municípios beneficiados pelos programas de

desenvolvimento, para atender com rapidez às mudanças

tecnológicas e gerenciais;

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2. A universalização do acesso ao trabalho;

3. Os baixos níveis de escolaridade dos trabalhadores;

4. O grande número de jovens egressos, a cada ano, do sistema

educacional, com preparo inadequado para enfrentar as exigências

do mercado de trabalho;

5. Adequações do sistema educacional profissionalizante às práticas

pedagógicas capitalistas, para suprir as novas necessidades do setor

produtivo;

6. A escassez estratégias de continuidade do desenvolvimento

educacional, permitindo que a formação de nível técnico seja

sequenciada até superior na região.

Tendo em vista estas questões a serem investigadas, buscar-se-á um

conjunto significativo de abordagens, destacando as distintas contribuições de

cada uma delas, para que possam oferecer uma análise da politica pública

educacional e de transformação de cunho social e cultural.

Atualmente, no Brasil, há a necessidade de enfrentar a questão

educacional com a finalidade de melhorar o seu desempenho, para obter bons

resultados em curto prazo e, ao mesmo tempo, equacionar uma política de

formação profissional que aproxime a qualificação dos trabalhadores das

exigências do setor produtivo. Contudo, graves problemas continuam a cercar a

educação como prática social devido à inadequação das políticas educativas que

estão sendo postas em ação para equacioná-los. Novas demandas de formação e

de conhecimento são requeridas pelas mudanças sociais em curso, sem sequer

ter assegurado o direito a escolarização fundamental de qualidade para a maioria

da população, o que exemplifica tanto a permanência quanto o agravamento dos

níveis da desigualdade social historicamente imperante (AZEVEDO, 2004).

Desde a década de 1980, o empresariado brasileiro destaca a fragilidade

do sistema educacional que constrangia a formação de recursos humanos para o

setor produtivo. A quantidade elevada de analfabetos em decorrência das falhas

do sistema educacional impunha limites à capacidade da força de trabalho

brasileira a ser aproveitada no desenvolvimento de um novo modelo econômico.

Além destas debilidades, o distanciamento entre o sistema educacional e as

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exigências do setor produtivo era marcante, demonstrando a necessidade de

reformulação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), posto que,

em virtude das constantes modificações técnicas, corria-se o risco de acentuar o

distanciamento entre o exigido nos processos de produção e as respostas que os

trabalhadores poderiam oferecer (OLIVEIRA, 2005).

Passado mais de duas décadas, hoje ainda é pertinente destacar este

distanciamento educacional, bem como os altos níveis de qualificação exigidos

pelo sistema produtivo, tendo em vista o curto espaço de tempo com que as

tecnologias de produção são atualizadas. Esta urgência produtiva faz com que,

boa parte da população das regiões da Zona da Mata não tenha a oportunidade

do acesso a formação profissional, ou não alcancem níveis satisfatórios de

qualificação, várias vezes devido a defasagem escolar, permitindo que surjam de

forma acentuada, o não aproveitamento do capital humano oriundo destas

regiões, deixando de lado a preocupação do acesso ao emprego de uma forma

mais universalizada, a qual poderia proporcionar um maior equilíbrio social.

Destacam-se ainda os fatores históricos e socioculturais destas regiões,

em que os atores em sua maioria possuem origem familiar escravocrata e

sobrevivem da monocultura da cana-de-açúcar, por vezes, sem acesso a uma

educação básica de qualidade, permanecendo fora dos padrões educacionais

exigidos pelo setor produtivo industrial das empresas ali ancoradas (FUNDAÇÃO

JOAQUIM NABUCO, 2013).

Com este perfil, o Município de Goiana torna-se um importante

instrumento de estudo, onde se encontram ancorados novos empreendimentos

como o centro automobilístico da Fiat, da Empresa Brasileira de Hemoderivados e

Biotecnologia (HEMOBRAS) e a Companhia Brasileira de Vidros Planos (CBVP),

revelando-se um novo complexo industrial e de desenvolvimento econômico.

Nesta perspectiva, surge a preocupação com a escassez de estudos

empíricos que revelem resultados alcançados pela implantação destes polos de

desenvolvimentos industriais, bem como do processo de transformação

sociocultural ocorrido nestas regiões e, de como os programas educacionais de

formação profissional se tornam fatores importantes na inclusão de uma nova

consciência capitalista, dentro de um processo de inclusão e exclusão da força de

trabalho.

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CAPÍTULO I

O PRONATEC, AS ORIGENS E O DESENVOLVIMENTO

DE UM PROJETO DE EDUCAÇÃO

PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL.

Atualmente, no Brasil, há a necessidade de enfrentar a questão

educacional com a finalidade de melhorar o seu desempenho, para obter bons

resultados em curto prazo e, ao mesmo tempo, equacionar uma política de

formação profissional que aproxime a qualificação dos trabalhadores das

exigências do setor produtivo.

Desde a década de 1990, as Políticas de Educação Profissional

redesenham um novo cenário para a escola pública brasileira, afastando-se

cada vez mais do modelo de formação mais geral pautado nas bases técnicas,

científicas, sociais e culturais, assumindo assim um novo formato educativo

voltado para a reprodução do trabalho simples, ou seja, a forma de trabalho

que não requer altos níveis de escolaridade, um modelo educacional instituído

principalmente pela participação das instituições de ensino privado (OLIVEIRA,

2014).

Neste sentido, o Decreto n° 2208/97 (BRASIL, 1997) materializou uma

política profissional técnica separada da educação básica, proporcionando a

materialização de uma formação precária e aligeirada, sendo aplicada tanto em

sistemas públicos, quanto nos privados através do repasse de verbas públicas.

Segundo o documento elaborado pelo IPEA (BRASIL, 2014, p. 13)

referindo-se ao Decreto n° 2208/97,

“Contrário à política de expansão da rede federal, o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) lançou, em 1997, uma Reforma da Educação Profissional para separar o ensino profissional do ensino médio regular, que passaram a ser estabelecidos em sistemas paralelos, cumprindo determinação do MEC, de que não deveriam mais ser ofertados cursos de ensino médio para os alunos das escolas das redes públicas de educação profissional. Foi também criado o

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Programa de Expansão da Educação Profissional (PROEP), com recursos externos – Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) – e internos – MEC e MTE –, para financiar a expansão física da Rede de Educação Profissional, pública (estados e municípios) ou privada, e não mais para investir na expansão da Rede Federal. Os recursos poderiam também ser utilizados para financiar as adaptações necessárias à implantação da reforma”.

Esta ação promovida pelo governo de FHC também foi alvo de críticas

de vários intelectuais da educação (FRIGOTTO, 1999; GIULIANI e PEREIRA,

1998; KUENZER, 1997, 1998), por ser um projeto audacioso com o objetivo de

enfraquecer a expansão da rede federal existente e aumentar a participação

das instituições privadas, o que ecoou como uma ação estratégica de

minimização do papel do Estado na sua participação e obrigatoriedade de

provedor da educação profissional pública e de qualidade no país (BRASIL,

2014).

O Decreto nº 2.208/1997 foi revogado durante o início do governo do

presidente Lula, no dia 23 de Julho de 2004, com a publicação do Decreto nº

5.154, suas motivações ocorreram no seguinte contexto:

“[...] A educação profissional, integrada às diferentes

formas de educação, ao trabalho, à ciência e à

tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de

aptidões para a vida produtiva”. Em essência, é um

decreto que introduz flexibilidade à educação

profissional, especialmente em sua articulação com o

nível médio, e dá liberdade às escolas e aos estados

(no caso do nível médio) de organizar a sua formação,

desde que respeitando as diretrizes do Conselho

Nacional de Educação (CNE) (IPEA, BRASIL, 2014,

p.13).

Sendo assim, o Decreto nº 5154/04 (BRASIL, 2004) contribuiu de forma

marcante no governo Lula, por retomar a forma “integrada” entre ensino médio

e educação profissional. No entanto, manteve as bases estruturais da

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18

educação profissional que continuaram a ser balizadas pelos sistemas

produtivos e pela educação profissional das instituições privadas,

permanecendo distante da concepção de uma escola de ensino médio

constituída de forma unitária (FRIGOTTO, 1999).

Referindo-se ao percurso das mudanças ocorridas nas restruturações da

educação com foco na produtividade, Neves e Pronko (2008, p. 24) destacam

que:

“[...] a escola vai se metamorfoseando de acordo com o desenvolvimento das forças produtivas e com as mudanças nas relações de produção, nas relações de poder e nas relações sociais gerais”, visando à reprodução material da existência e a coesão social. A expansão do capitalismo monopolista tem alterado a escolaridade mínima para o trabalho simples, visando o aumento de produtividade, através de uma escolaridade básica em virtude do seu grau de generalização”.

Ainda nesta ótica, e em busca de uma melhor compreensão da atual

estruturação balizadora da Educação Profissional no Brasil, Neves e Pronko

(2008, p. 37-38) fazem uma retomada histórica nas origens da formação

técnica para o trabalho, estabelecidos especificamente em sua maioria pelas

instituições privadas.

“As décadas de 1930 e 1940 constituíram o marco cronológico específico para o desenvolvimento dos debates em torno da implementação do ensino técnico profissional e da definição das modalidades que deveriam integrá-lo, como parte de uma crescente ação reguladora do Estado sobre o mercado e as relações de trabalho. [...] Uma de suas consequências mais importantes, paradoxalmente, foi a “privatização” de uma parcela fundamental daquele tipo de formação: a criação em 1942 do SENAI. Dessa forma, estabelecia-se uma distinção fundamental entre as “escolas industriais” de nível médio e caráter tecnológico, destinadas à formação para o trabalho complexo, e o ensino profissionalizante, representado pelos cursos de aprendizagem e de formação básica (treinamento), orientados para a formação direta e imediata da força de trabalho que se preparava crescentemente à vida urbano-industrial do país”.

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Nesta perspectiva, a reestruturação da educação profissional, se

estabeleceu através de um novo cenário econômico globalizado, que teve

como principal eixo norteador a realidade do mercado de trabalho, responsável

por ditar as atualizações da formatação do trabalhador que por sua vez,

correspondem às demandas do capital através de suas lógicas sistêmicas de

acumulação e produção flexível (KUENZER, 2008).

Desta forma, a educação pública deixa de ser estabelecida como direito

e passa a assumir um caráter subordinado à esfera do mercado privado que,

por conta de sua essência, não legitima o processo histórico do trabalho, de

produção da existência humana e da dimensão ontológica do trabalho e

promove através de suas práticas o esvaziamento da possibilidade de

materialização de uma educação objetivada na construção de um ser

“omnilateral” (FRIGOTTO, 2010).

Subsequente ao Decreto nº 5154/04 (BRASIL, 2004), a atualização das

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional, o Conselho

Nacional de Educação (BRASIL/MEC/CNE, 2010) destaca um novo modelo de

desenvolvimento das competências para a “laboralidade”, ou seja, a

capacidade de transitar por diferentes ocupações, orientada “[...] pelos

princípios da flexibilidade, interdisciplinaridade e contextualização” (BRASIL,

MEC/CNE, 2010, p. 27) e iniciada na década de 1990, que por sua vez

retomam um modelo educativo baseado na estruturação do capitalismo

dependente brasileiro. Todos estes fatores culminam na ruptura e substituição

de paradigmas, dando início à formulação de um novo perfil de trabalhador que

visa unicamente atender a demanda e exigências dos sistemas produtivos

capitalistas.

Dentro desta nova proposta de perfil do trabalhador, Vieira e Alves

(1995, p. 9) nos esclarece sobre os fatores que são considerados

indispensáveis na formatação deste novo trabalhador norteado pelas

competências.

“Da mão-de-obra será exigido maior capacidade de autoaprendizagem, compreensão dos processos, capacidade de observar, de interpretar, de tomar decisões e de avaliar resultados. É necessário, ainda,

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20

o domínio da linguagem técnica, a capacidade de comunicação oral e escrita, a disposição e habilidade para trabalhar em grupo, a polivalência cognitiva e a versatilidade funcional no trabalho”.

Na ideologia neoliberal, a globalização constitui as relações através do

mercado como forças que regem as relações humanas. Tendo como resultante

o distanciamento da educação omnilateral como direito social e universal,

trazendo a incorporação de uma sistemática capitalista de valorização do

capital humano1, que por sua vez, surge como teoria que profetiza a “extinção

das desigualdades” entre nações e indivíduos (FRIGOTTO, 2010).

A partir do governo da presidente Dilma Rousseff, com a instituição da

Lei 12.513, de 26 de outubro de 2011, os sistemas privados de educação

profissional, ganham força na esfera governamental e passam a ser inseridos

no âmbito do sistema federal de ensino Técnico e Tecnológico, de forma

oficializada através do artigo 20 da lei. Dando continuidade e de forma mais

enfática à sistemática de privatização da Educação Profissional no Brasil,

iniciado no governo de FHC.

Nesta nova estruturação da Educação Profissional e Tecnológica, o

PRONATEC passa priorizar a qualificação profissional concomitante ao Ensino

Médio Público, mediante as parcerias público/privadas, seguindo o caminho

inverso pelo que foi proposto pela Presidente Dilma, no que diz respeito ao

enfrentamento da problemática histórica da qualidade da escola pública.

Interrompendo assim, o processo de construção da escola unitária2, como fator

1 A teoria do capital humano tem como base ideológica estruturante a ligação linear entre o desenvolvimento econômico através da qualificação da mão de obra na superação das desigualdades sociais. Sendo assim a teoria é apoiada na produtividade gerada pelo “fator humano” na produção. A sua concepção é de que o trabalho humano, quando qualificado através da educação, influenciará diretamente no aumento da produtividade, e por consequência na produtividade econômica gerando por sua vez crescimento na lucratividade do capital. Sob a disseminação da visão tecnicista, passou a materializar-se a ideia de que a educação está ligada diretamente ao desenvolvimento econômico, bem como a ascensão econômica do indivíduo, que, ao educar-se ou qualificar-se, estaria “valorizando” a si próprio, tendo assim, a mesma lógica valorativa do capital. Desta forma, o capital humano, conduz o individuo a si posicionar dentro de uma perspectiva de responsabilidade individual nas suas relações com os problemas sociais, do emprego e do desempenho profissional, fazendo da educação uma espécie de “moeda de troca”, fundamentando-se a partir das teorias econômicas neoclássicas, deixando por muitas vezes implícitos seus reais objetivos (FRIGOTTO 2010 p.30). 2 A escola unitária, para Gramsci, necessita de uma organização em que as atitudes tomadas sejam equilibradas e efetivamente exista um relacionamento constante entre o trabalho manual, técnico,

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21

crucial na luta pela materialização de um início da transformação social no

Brasil (BRASIL, 2011).

Desta forma, graves problemas ainda continuam a cercar a educação

como prática social devido à inadequação das políticas educativas que estão

sendo postas em prática para equacioná-los. Novas demandas de formação e

de conhecimento são requeridas pelas mudanças sociais e tecnológicas em

curso, sem sequer ter assegurado o direito a escolarização fundamental de

qualidade para a maioria da população, o que exemplifica tanto a permanência

quanto o agravamento dos níveis da desigualdade educacional, econômica e

social historicamente imperante no Brasil (AZEVEDO, 2004).

CAPÍTULO II

FORMAÇÃO DA CLASSASSE TRABALHADORA NA

PERSPECTIVA NEOLIBERAL, E A NEGAÇÃO DO

ACESSO AO ENSINO SUPERIOR.

A Educação Profissional e Tecnológica se materializa na última década,

como uma das principais políticas públicas já implantadas pelo Governo Federal

em toda a história da educação, tendo como estruturação um conjunto de ações

e programas que objetivam em um curto espaço de tempo o aumento

significativo da oferta de vagas através da expansão da rede federal e das

parcerias público/privadas, focados na expansão da educação de nível Técnico

e Tecnológico e também em cursos de qualificação profissional de curta

duração (BRASIL, 2011).

Essas ações e programas levaram a Rede Federal a obter um aumento

significativo. No período de 1902 a 2002 existiam 140 campi, de 2003 a 2010

foram criados mais 214 e desde a implantação do PRONATEC de 2011 a 2014

mais 208 novos campi, tendo como resultado o aumento em unidades da Rede

Federal em aproximadamente 300% no período de 2003 a 2014.

industrial e o trabalho intelectual. A escola unitária por ele defendida reúne em si características que priorizam uma cultura humanística e formativa ( COUTINHO, 1981).

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22

Segundo o IPEA3 (BRASIL, 2014, p. 20), em 2011, 132 mil alunos

estavam matriculados nas unidades recém-implantadas, quando todas as novas

unidades de ensino estiverem plenamente constituídas, o total de alunos na

rede federal terá aumentado de cerca de 300 mil, para mais de 600 mil

estudantes.

Mesmo com o crescimento expressivo da Rede Federal de Ensino

Técnico e Tecnológico, o Relatório de Gestão elaborado pelo IPEA (2014),

mostra que a presença dos campi´s federais ainda é uma realidade de poucos

municípios brasileiros. Tais dados mostram que em 2011 a rede federal estava

presente em apenas 5% dos municípios, o que representava apenas 10% de

toda educação profissional de nível técnico do país.

Mesmo com todo o investimento na educação profissional, esta

abrangência ainda é considerada pequena, no que diz respeito à expansão da

Rede Federal de ensino técnico e tecnológico. Desta forma, o Governo Federal,

passa a dar respaldo concreto para a oficialização da participação na Rede

Federal, dos Serviços Nacionais de Aprendizagem constituída pelo Sistema S4 e

para as instituições privadas “sem fins lucrativos”, no intuito de aumentar

significativamente o número de vagas ofertadas e de forma imediata (BRASIL,

2011).

Referindo-se ainda ao relatório elaborado pelo IPEA (BRASIL, 2014,

p.28), o documento enfatiza a disputa das forças, no que se refere ao formato

que deverá ser assumido pelo PRONATEC.

[...] “em 2011, o ambiente era bastante favorável à aprovação do PRONATEC, mesmo com todas as inovações que trazia e a forte disputa havida entre o MEC e as confederações patronais pela regulação da aplicação dos recursos arrecadados pelo Sistema S”.

Contudo, o Governo Federal/MEC não conseguiu reverter a

predominância histórica da oferta privada da EPT no Brasil que, em 2010,

respondia por 56,49% do total das matrículas. Neste sentido, o Sistema

3 Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas. 4 Fazem parte do sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI); Serviço Social do Comércio (SESC); Serviço Social da Indústria (SESI); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (SENAC). Existem ainda os seguintes: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR); Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP); e Serviço Social de Transporte (SEST). (BRASIL, 2014, p.28).

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23

Nacional de Aprendizagem (Sistema S) assume um papel central para na sua

consolidação para a condução do PRONATEC. Assim, o Sistema S em 2011,

passa a responder isoladamente por 80% das matrículas na Educação

Profissional de nível Técnico, pertencentes à categoria Bolsa-Formação

Estudante (BRASIL, 2014).

Em um novo discurso o Governo Federal (BRASIL, 2011) explana que

estas parceiras com as instituições privadas têm garantido ao programa o

cumprimento de suas metas, onde fazem parte delas os seguintes objetivos: (I)

Expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação

Profissional Técnica de nível médio e de cursos e programas de Formação

Inicial e Continuada (FIC) de trabalhadores; (II) Promover e sustentar a

expansão da rede física de atendimento da Educação Profissional e

Tecnológica; (III) Contribuir para a melhoria da qualidade do Ensino Médio

Público, por meio da Educação Profissional; e (IV) Ampliar as oportunidades

educacionais dos trabalhadores por meio do incremento da formação

profissional.

Para alcançar estes objetivos, foram definidas pelo Governo Federal

(BRASIL, 2011) as seguintes ações: (I) Ampliação de vagas e expansão da

Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica; (II) Promoção à

ampliação de vagas e à expansão das redes estaduais de Educação

Profissional; (III) Incentivo à ampliação de vagas e à expansão da rede física de

atendimento dos Serviços Nacionais de Aprendizagem; (IV) Oferta de Bolsa-

Formação, nas modalidades Estudante e Trabalhador; (V) Financiamento da

Educação Profissional e Tecnológica (FIES); e (VI) Expansão da oferta de

Educação Profissional e Técnica de nível médio na modalidade de educação à

distância (ETEC).

Visando à materialização destas ações o Governo Federal, através do

PRONATEC implementou as seguintes iniciativas: (I) Expansão da Rede

Federal de EPT; (II) Bolsa-Formação Estudante e Bolsa-Formação

Trabalhador, onde esta última está relacionada ao Seguro-Desemprego e

Inclusão Produtiva; (III) FIES Técnico Estudante e Empresa; (IV) E-TEC

Brasil; (V) Brasil Profissionalizado; (vi) Continuidade do Acordo de Gratuidade

Sistema S; e (VII) Ampliação da Capacidade do Sistema S.

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24

Desta forma, o programa enfatiza na sua estruturação, que a sua

materialização acontecerá através das relações entre os agentes públicos e

privados. Segundo o Governo Federal, para garantir a expansão da educação

profissional e tecnológica no Brasil, será indiscutível a necessidade de unir

esforços para a participação do “Sistema S”, que por sua vez, passa assumir um

papel importantíssimo na execução do PRONATEC (MEC/MTE/MF/MP/MDS,

2011).

Com relação aos incentivos do programa, o PRONATEC em sua base

legal prevê a distribuição de recursos financeiros (Bolsa Formação), com a

finalidade de custear o deslocamento dos alunos para as escolas técnicas

multiplicadoras do programa (BRASIL, 2011), sendo a Bolsa dividida em três

modalidades: (I) Bolsa Formação Estudantes, direcionada aos alunos dos

cursos de Formação Inicial e Continuada e cursos Técnicos concomitantes aos

estudantes do Ensino Médio oriundos da rede pública de ensino; (II) Bolsa

Formação Trabalhador, na modalidade Seguro-Desemprego, onde os

trabalhadores estão sob o benefício do seguro-desemprego; e (III) Bolsa

Formação Trabalhador, na modalidade Inclusão Produtiva, com oferta dos

cursos FIC concatenados aos programas federais de inclusão social como:

Bolsa Família, Brasil Alfabetizado atendendo a classe trabalhadora com baixos

níveis de escolaridade e faixa etária elevada (BRASIL, 2011).

Além da Bolsa Formação, uma das mais novas ações do PRONATEC é o

FIES Técnico, que tem como objetivo o repasse de recursos públicos para

instituições privadas, dividindo-se nas modalidades Estudante e Empresa. Esta

ação está diretamente vinculada à concessão de linhas de crédito para

estudantes, trabalhadores e para empresas que não disponham de capital

imediato para qualificar seus funcionários (BRASIL, 2013).

Sendo assim, toda a expansão de infraestrutura para as instituições

privadas que integram o programa, terão o apoio direto, através do

financiamento direto do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES). Desta forma, o PRONATEC pretende ampliar ainda mais a

infraestrutura dos Serviços Nacionais de Aprendizagem, com a adequação

tecnológica de seus laboratórios, visando tanto a expansão do número de vagas

ofertados, quanto a reprodução em sala de aula das tecnologias em curso no

mercado (BRASIL, 2011).

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Neste contexto, fica evidente que as múltiplas ações têm por objetivo fazer com

que o PRONATEC se torne “atraente” para a classe trabalhadora,

principalmente pela distribuição de “bolsas formação”, a qual tem por finalidade

aumentar a oferta de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para

estudantes do Ensino Médio da rede pública e para trabalhadores a partir da

concessão de bolsas financiadas pelo Governo Federal para ocupar vagas em

cursos ofertados pela Rede Pública e Sistema S.

CAPÍTULO III

ANÁLISE E PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO

SUPERIOR COMO POLÍTICA DE ESTADO NO BRASIL.

Diante das barreiras educacionais a serem ultrapassadas, o Brasil inicia

o seu processo de crescimento educacional de forma precária, esse movimento

se deu tardiamente, a partir da Constituição Federal de 1988, que representou

um significativo avanço para a educação (CURY, 2008), e em função de

políticas adotadas a partir de 1995, dando início a um movimento de expansão

em grandes proporções, que se segue à promulgação da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDBEN) em 1996, que determinou um conjunto

de alterações para a Educação Superior. Essas mudanças se fazem

necessárias, principalmente, devido à revolução tecnológica, que alterou o

processo produtivo e consequentemente, o conteúdo e as formas de trabalho,

dando origem ao crescimento da demanda por uma qualificação adequada,

que torna imprescindível o aumento na oferta e a atenção para a educação

superior.

Nesse contexto a universidade passa a ser entendida como locus da

formação de profissionais e compete à universidade contribuir

significativamente com a produção de “mais-valia” relativa, ou seja, ela deve

formar profissionais e gerar tecnologias e inovações que sejam colocadas a

serviço do capital produtivo (DOURADO; CATANI; OLIVEIRA, 2003). Ainda

segundo os autores, no governo FHC, a diversificação, diferenciação e

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26

privatização do sistema de ensino superior foram adotadas como política de

expansão em função da demanda crescente de vagas, por meio de

mecanismos que objetivam a massificação desse nível de ensino. Essas

políticas de expansão se deram na forma de decretos complementares, mais

que alteraram a própria LDB e claramente favoreceram o crescimento das

instituições privadas.

No governo Lula deu continuidade ao processo de expansão com o

mesmo caráter, criando, por exemplo, através da Lei n° 11.096/2005, o

Programa Universidade para Todos (ProUni), com o objetivo de conceder

bolsas integrais e parciais nos cursos de graduação e seqüenciais de formação

específica, em instituições privadas, para estudantes de baixa renda. Em 2006,

por meio do Decreto n.° 5.800/06, o MEC criou o Sistema Universidade Aberta

do Brasil (UAB), que permite as universidades federais e os Institutos Federais

de Educação, Ciência e Tecnologia a oferta de educação superior gratuita por

meio da modalidade à distância, com o intuito de expandir, interiorizar e

democratizar a educação superior no país, principalmente em microrregiões e

municípios com pouca ou nenhuma oferta. No ano seguinte, o Governo

Federal estabeleceu o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e

Expansão das Universidades Federais, agora Reuni, por meio do

Decreto n° 6096/07, como forma de incentivar as universidades públicas a

contribuir significativamente com o desenvolvimento econômico e social do

País. O objetivo do Programa é criar condições para ampliação do acesso e

permanência na educação superior, pelo melhor aproveitamento da estrutura

física e de recursos humanos existentes.

Percebe-se que maior parte das políticas de expansão favoreceu as

instituições privadas e resultaram em um intenso processo de massificação e

privatização, que comprometem o papel social da educação superior. Além

disso, apesar de expressiva não foi suficiente para alterar o fato de que, na raiz

do problema, persiste a realidade de uma pirâmide educacional profundamente

perversa, que só permite que uma fração muito pequena de estudantes se

aproxime efetivamente da educação superior (NEVES, 2007).

Como resultado das políticas de expansão, é possível perceber que o

déficit educacional dos indivíduos dentro do país está diminuindo ao longo do

tempo. Porém, nota-se uma persistente desigualdade regional, por gênero, cor

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e classe social na distribuição do acesso a níveis educacionais mais elevados,

o que compromete a capacidade para superar a pobreza (FIGUEIREDO,

NETTO JUNIOR, PORTO JUNIOR, 2007). Apesar da diminuição do déficit

entre as regiões, em 2011, a região Nordeste contava com 20% das matrículas

da educação superior, enquanto que o Sudeste contava com 46% (RISTOFF,

2013), o que nos mostra que as diferenças ainda são consideráveis.

Deste modo, percebe-se que, toda política pública é fundamentalmente

uma forma de preservação ou de redistribuição do poder social que circula,

alimenta e produz as forças vivas da sociedade. Considerando suas condições

materiais as bases de sua estrutura social e de consciência humana, este

poder está distribuído segundo linhagens históricas, segundo a montagem das

divisões e alianças de classes e grupos sociais e, também pela configuração

do Estado; mas é preciso entender qual distribuição de poder social pode ser

alterada, transformadas ou conservadas pelas políticas públicas (GOMES,

2011).

Desta forma, o sistema de globalização econômica através de sua

influência nas construções das politicas públicas vem se tornando responsável

por profundas transformações nos campos sociais, econômico e político.

Partindo desse pressuposto, a forma de organizar o trabalho no sistema

industrial contém um projeto pedagógico muitas vezes implícito, mas sempre

presente. Seu objetivo é a constituição de um trabalhador aos seus moldes,

que atenda aos seus interesses capitalistas proporcionando-lhes cada vez mais

um aumento da produtividade (OLIVEIRA, 2005).

Para Gomes (2011) no seu estudo sobre Políticas Públicas e Gestão da

Educação

“Compreender os determinantes sociais, políticos, culturais e econômicos que compõem a contextura fundamental das políticas públicas e, por isso, da produção e distribuição do poder social, é afirmar sua natureza múltipla e complexa. Isso é o mesmo que afirmar que as políticas públicas de educação, ou qualquer política pública, não é fenômeno monocausal. Basta considerarmos que, por exemplo, sobre a formulação de uma política pública de educação pesa, explícita ou implicitamente, a divisão da população em classes”.

Desta forma, pode-se dizer que não é a consciência dos homens que

determina sua forma de ser, mas é sua forma de ser social que determina sua

consciência. Esta afirmação é fundamentada por Marx e Engels em A

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ideologia alemã, e em O capital: “o homem se educa, se faz homem, na

produção e nas relações de produção, através de um processo contraditório

em que estão sempre presentes e em confronto, momentos de educação e de

deseducação, de qualificação e desqualificação e, portanto, de humanização e

de desumanização” (KUENZER, 2011).

Para Oliveira (2005), no sistema capitalista, a compra e venda da força

de trabalho e a exclusão social prevalece, voltado aos interesses dos situados

na base do sistema, em quanto a democracia privilegia o interesse de todos,

inclusive os economicamente em desvantagem, o mercado ao contrário,

favorece aqueles no topo da estrutura econômica, fortalecendo assim o

interesse dos grandes empresários e das elites econômicas.

Para isso Boron (1999), afirma que:

“(...) se a democracia orienta-se tendencialmente para integração de todos, conferindo a todos o status de cidadão, o mercado opera sobre a base da competitividade e da ‘sobrevivência dos mais aptos’, e não está em seus planos promover o acesso universal da população a todos os bens que são trocados em seu âmbito. O mercado é na realidade, um âmbito das confrontações impiedosas – a esfera do egoísmo universal, como observava Hegel – na qual há ganhadores que são fortemente recompensados e perdedores que são correspondentemente castigados”.

Logo, torna-se necessário repensar os desafios da relação educação-

trabalho diante das “exigências” impostas pelos contornos econômicos da

globalização econômico-financeira. Portanto, na nova ordem mundial, de

grandes transformações políticas, econômicas, culturais e sociais, a formação

profissional é considerada um elemento estratégico para o desenvolvimento do

país (FARIA et al., 2008)

No entanto, as instituições de formação profissional e a rede de ensino

técnico não têm conseguido dar conta dessas novas exigências. Dois fatores

podem explicar tal incapacidade: a baixa qualidade do ensino fundamental e

médio que constitui uma barreira à evolução da formação especificamente

profissional; a concepção pedagógica continua, em boa parte, baseada no

modelo fordista (de larga presença ainda no setor industrial) (VIEIRA; ALVES,

1995).

Desta forma, a educação profissional com foco no mercado de trabalho

e com curta duração se torna uma aliada às preocupações do governo em

relação à geração de emprego e renda, no momento estimula o

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29

desenvolvimento da produtividade em toda a economia brasileira. Por outro

lado, o mercado exige qualificação constante para as novas exigências da

economia, ao mesmo tempo em que é altamente seletivo, pois busca

profissionais capacitados para o desenvolvimento das suas funções de forma

eficiente, porém para um bom preparo profissional é necessária uma educação

básica de qualidade.

Neste contexto, o SENAI, por ser executor de políticas da formação

profissional, tendo respaldo e seguindo as proposições de uma importante

fração do empresariado industrial brasileiro, através da CNI (Confederação

Nacional da Indústria), também apresenta modificações nas suas políticas para

o acompanhamento da competitividade global. A instituição afirma que a

educação profissional deixa de privilegiar somente a dimensão técnica, para

desenvolver competências profissionais que completam aquelas formadas na

educação básica, atendendo a prerrogativas do mundo do trabalho. Assim, se

materializa a articulação entre educação profissional e educação básica, sem

que aquela adote um caráter substitutivo ou supletivo a essa (OLIVEIRA,

2006).

Os princípios guiadores das diretrizes gerais seguidas pela concepção

técnico pedagógica da aprendizagem no SENAI são os abarcados no Parecer

CNE/CEB nº 16/99, o qual decreta as diretrizes nacionais para a educação

profissional de nível técnico. Assim, a complementaridade entre a educação

profissional e a educação básica e o respeito aos valores estéticos políticos e

éticos, [...], contribuem para o desenvolvimento de competências cada vez

mais valorizadas no mundo do trabalho. (SENAI. DN, 2002, p. 36).

Para Vieira e Alves (1995) no seu estudo sobre proposta política para

qualificação profissional

“Da mão-de-obra será exigido maior capacidade de auto-aprendizagem, compreensão dos processos, capacidade de observar, de interpretar, de tomar decisões e de avaliar resultados. É necessário, ainda, o domínio da linguagem técnica, a capacidade de comunicação oral e escrita, a disposição e habilidade para trabalhar em grupo, a polivalência cognitiva e a versatilidade funcional no trabalho”.

Neste contexto, torna-se importante o desenvolvimento da capacidade de

adquirir e processar intelectualmente novas informações, de superar hábitos

tradicionais, adequando-se a uma nova forma de, gerenciar-se, de verbalizar e se

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comunicar com a equipe, nos moldes exigidos pelos padrões do sistema produtivo

(LAHIRE, 2002).

Torna-se necessário, portanto, conceber políticas de emprego e

qualificação profissional que levem em conta essa realidade, a fim de que a

flexibilização das relações de trabalho não prejudique os trabalhadores com

menor qualificação. Por outro lado, para que o governo incentive a modernização

produtiva das empresas e o desenvolvimento econômico das regiões onde elas

serão implantadas seja de fato produtivo para ambas as partes, é indispensável

que as políticas públicas estejam amarradas também com as questões

socioculturais, educacionais e protejam os trabalhadores mais vulneráveis a esse

processo, através de programas que envolvam todos esses fatores.

Neste sentido, a transformação da Educação Superior segundo Martin

Trow, formulado em 1973, que o ilustra de três formas: os sistemas de elite,

massa e universal. Deve ser enfatizado que a teoria de Trow não é uma descrição

empírica de sistemas de ensino superior de verdade, e sim modelos ou, no

sentido de Max Weber, "tipos ideais" que auxiliam na compreensão de tais

sistemas. Deve-se considerar também que embora sejam etapas sequenciais,

uma não substitui completamente as anteriores. Ele observou possibilidades

concretas de exemplos de formas de elite sobreviventes no sistema de massa e

fases universais.

O modelo, em termos quantitativos, considera de elite, o sistema de

educação superior com acesso para até 15% dos jovens com idade de 18 a 24

anos. Sua classificação considera de massas o que permite acesso para entre

16% e 50% desses jovens, considerando consolidado ao atingir 30%, e a partir de

50%, considera como de acesso universal. Em termos qualitativos ele considera a

análise de um conjunto de características que são: atitudes em relação ao acesso;

funções da Educação Superior; currículo e formas de instrução; a “carreira” do

estudante; características e limites institucionais; locus da tomada de decisão;

padrões acadêmicos; formas de acesso e seleção; formas de administração

acadêmica; governança interna. Ou seja, as diferenças entre estas fases são

bastante fundamentais e referem-se a todos os aspectos da ensino superior.

Neste modelo de fases, quanto mais o sistema se expande, mais difícil

será definir com precisão a fase atual, por várias razões, como a diversificação da

educação superior, dos estudantes, dos currículos e das instituições. Nas

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instituições, por exemplo, é difícil identificar se o sistema é de elite, a massa, ou o

acesso universal, pois muitas instituições oferecem formas reconhecíveis de todos

os três lado a lado na mesma instituição (TROW, 2005, p. 6).

O ensino superior de elite, em seu modelo tradicional, é definido tanto

pelo seu conteúdo cultural, quanto pelo caráter das relações, que foi projetado

para ensinar como viver um certo modo de vida; ele não foi feito para treinar os

jovens para profissões específicas. A ênfase na transmissão de uma cultura geral

e um estilo de vida era uma característica das formas tradicionais de ensino

superior de elite.

Segundo Trow (2005, p. 9), a educação superior de elite tem atualmente

mais a ver com as formas de ensino e aprendizagem, com as configurações em

que é realizado, e com as relações de professor e aluno, do que com o conteúdo

do currículo. Não há acordo sobre o que é o conteúdo essencial do ensino

superior para uma elite, o que o obriga a ser descrito pelas suas características. O

crescimento da educação após a Segunda Guerra Mundial levou a mudanças no

caráter de ambos os estudos liberais e de formação profissional, e não apenas

para a expansão deste último. O sistema de elite que era entendido como uma

forma da educação liberal, e o de massa como uma forma de educação

profissional, já não aceitam essa distinção, o que leva ao que Santos (2011, p. 9),

identifica como a crise de hegemonia, resultante das contradições entre as

funções tradicionais da universidade e as que ao longo do século XX lhe tinham

vindo a ser atribuídas.

As formas de ensino superior de elite não são mais uniformemente

marcadas por tentativas de incutir uma perspectiva moral e cultural em geral,

através de esforços para moldar qualidades da mente e do sentimento, atitudes e

caráter, ele também pode tentar transmitir habilidades e conhecimento. Enquanto

isso, com algumas exceções, o ensino de graduação vem mais de perto para se

assemelhar ao ensino ministrado em instituições de educação superior de massa,

isso ocorre, devido à crescente demanda por facilitar a transferência entre

instituições além das fronteiras nacionais, o que aumenta a importância e o valor

de um treinamento padronizado em temas, proporcionando aos alunos um

conhecimento básico e habilidades no assunto que pode ser reconhecida em

instituições similares em outros lugares.

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32

CONCLUSÃO

Diante de tudo, o que pode-se observar em todo o percurso da educação

brasileira existe um projeto a ser executado de forma implícita, e aqui nos

referimos a todos os níveis. É neste cenário que para o mercado de cunho

capitalista e neoliberal, é preciso estabelecer níveis de contingencia na relação

entre os níveis educacionais e o mercado de trabalho, onde através dos

programas de acesso ao ensino superior, é possível perceber o grande número

de diplomados de nível superior que lançada ao mercado, onde por sua vez, o

diploma de nível superior não lhes dá garantia alguma de uma carreira de

sucesso no mercado, causando assim, um excesso no número de mão de obra

pertencente ao exército de reserva que o mercado tem a sua disposição a fim

de manter os níveis de barganha em relação aos valores pagos por mão de

obra técnica de nível superior.

Para tanto, para o Estado se faz necessária a materialização de políticas

públicas como o PRONATEC, que tem como objetivo não só formar a classe

trabalhadora de forma precarizada, mas também tem como objetivo criar um

atalho entre os filhos da classe trabalhadora oriundos de uma educação pública

de baixa qualidade e o mercado de trabalho, que por sua vez aproveitando-se

da necessidade de sobrevivência daqueles que necessitam da venda da força

de trabalho como meio de sobrevivência, o próprio Estado os nega quase que

completamente o direito do acesso a educação de nível superior como um

direito social através da exploração da força de trabalho desses sujeitos.

Desta forma, por um lado para uns cria-se um maior espaço de tempo

para que estes sujeitos consigam ter acesso aos níveis de educação superior,

e para outros simplesmente a condição social e o mercado simplesmente

extinguem qualquer possibilidade para que estes sujeitos consigam sua

ascensão educacional, econômica e social, materializando assim, cada vez

mais um Brasil pautado sobre a manutenção e agravamento das desigualdades

sociais e econômicas que por sua vez materializam uma disputa desleal de

classes nas relações com o Estado através da materialização de suas políticas

públicas.

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BIBLIOGRAFIA

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