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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU O USO DA FORÇA E DAS ARMAS NÃO LETAIS PELA POLÍCIA MILITAR. Rodolfo Parreira Falconi ORIENTADOR: Prof. Jean alves Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O USO DA FORÇA E DAS ARMAS NÃO LETAIS PELA

POLÍCIA MILITAR.

Rodolfo Parreira Falconi

ORIENTADOR:

Prof. Jean alves

Rio de Janeiro 2016

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O USO DA FORÇA E DAS ARMAS NÃO LETAIS PELA

POLÍCIA MILITAR.

.

.

Rio de Janeiro 2016

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Pós Graduação em direito e processo penal.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que me ajudaram e incentivaram em todos os momentos.

Aos meus avós, que me proporcionaram momentos inesquecíveis.

À Instituição pela dedicação em nos oferecer os melhores orientadores.

Aos meus irmãos pelo apoio emocional desde o primeiro dia de aula.

.

.

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DEDICATÓRIA

Dedica-se a minha mulher

Jozy Falconi

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RESUMO

Este artigo teve como objetivos, descrever a contextualização histórica

do uso legal da força, relacionando seus principais instrumentos internacionais

e nacionais, verificar o modelo do uso legal da força utilizado pela Corporação,

apresentar as diversidades de armas não letais existentes, bem como suas

contribuições para sociedade, demonstrar o processo de inclusão das armas

não letais nas Unidades de Polícia Pacificadora, propor uma padronização no

emprego dessas armas na Corporação e finalmente demonstrar a importância e

as vantagens proporcionadas pelo uso legal da força e das armas não letais. A

pesquisa teve o viés bibliográfico, documental e qualitativo, sendo aplicado um

questionário anônimo com perguntas fechadas e abertas a 53 praças do BPChq

e 34 praças da 1ª CIPM, quando do retorno do serviço, tendo em vista essas

duas unidades se depararem frequentemente com manifestações populares de

cunho político, social e econômico, resultando diretamente no emprego da força

por parte dos encarregados de aplicação da lei.

O Estudo foi acessado por amostragem probabilística aleatória, com o

propósito de coletar dados sobre a utilização das armas não-letais pelas

unidades, bem como o conhecimento dos policiais militares sobre o uso legal da

força. Foi utilizado o pensamento de Alexander1, bem como o de Barbosa e

Ângelo2 como obras de referência, tendo em vista os mesmos serem

considerados as maiores autoridades no assunto. Concluindo, o utilização de

armas não letais pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro traz vantagens

claras ao encarregado de aplicação da lei, pois permite a esse profissional de

Segurança Pública uma ferramenta racional e eficaz, acolhendo os preceitos da

dignidade da pessoa humana e dos direitos humanos, solucionado conflitos,

preservando vidas, minimizando lesões, contribuindo para o uso legal da força

de maneira mais proporcional, reduzindo com isso os índices de letalidade

1ALEXANDER, John B. Armas não-letais: Alternativas para os conflitos do século XXI. Tradução de José Magalhães de Souza. Rio de Janeiro: Condor, 2003. 2BARBOSA, Sérgio Antunes; ÂNGELO, Ubiratan de Oliveira. Distúrbios Civis: Controle e uso da força pela polícia. 5 v. Coleção Polícia Amanhã. Textos Fundamentais de Polícia. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001.

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policial e criminalidade, e consequentemente enaltecendo a imagem da

Corporação, perante os organismos nacionais e internacionais vinculados a

Organização das Nações Unidas.

Palavras-chave: uso legal da força, armas não letais e mediação de conflitos.

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METODOLOGIA

A pesquisa teve o viés bibliográfico, documental e qualitativo. O Estudo foi

realizado por amostragem probabilística aleatória, com o propósito de coletar dados

sobre a utilização das armas não-letais pelas unidades, bem como o conhecimento

dos policiais militares sobre o uso legal da força

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 09

2 DESENVOLVIMENTO 11

2.1 A Evolução Dos Direitos Humanos E Dos Direitos Internacionais 11

2.2 Principais Instrumentos Legais Para Os Encarregados Da Aplicação Da Lei

19

2.3 O Emprego Da Força Policial 23

2.4 O Uso Da Força Não Letal Na Atividade Policial 28

2.5 Tecnologias Não Letais Na Atuação Policial 31

2.6 Apresentação E Análise Dos Dados Apurados 39

3 CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA 48

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1. INTRODUÇÃO.

Ao longo de sua história secular, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro

convive com altos índices de letalidade decorrentes de ações policiais violentas,

refletindo diretamente na morte de infratores da lei e de vítimas inocentes, levantando

várias discussões sobre a violência policial, principalmente no que tange a utilização

correta da força e consequentemente a legalidade desses atos. Dentre as principais

queixas de violências policiais estão às ações truculentas, as exibições de armas de fogo

sem necessidade, os disparos de intimidação, as agressões numa simples abordagem, a

inobservância do uso legítimo da força, e principalmente a falta de mudança na

mentalidade policial, utilizando-se ainda de métodos obsoletos e letais nas soluções de

conflitos. A herança de décadas de repressão social imposta pelo Estado, principalmente

por ações autoritárias de governantes e a falta de instrumentos adequados que pudessem

conduzir o Policial Militar a utilizar uma força de forma mais gradual e legítima na

solução de conflitos sociais, em respeito principalmente aos direitos humanos e a

dignidade da pessoa humana, acabaram por disseminar ainda mais a violência policial

contra a sociedade. Força jamais pode se confundir com violência, pois mesmo

caminhando bem próximas, são bem diferentes no seu contexto, conforme afirma

Muniz:

A força pressupõe superioridade e método, força significa respeito aos direitos humanos, é o que dá razão de ser ao Estado, o monopólio legal do uso da força que respalda a autoridade e o enraizamento desta autoridade legal, universal e legítima do cotidiano dos cidadãos.Violência é universal no sentido perverso, porque todos nós podemos usar. Ele é amador, ilegal, ilegítimo, improdutivo. Nossa tradição é usar violência para conter violência, que é algo incompetente e desqualifica uma atividade fundamental da polícia que é atividade repressiva qualificada.3

Com a Constituição Federal de 1988 foi inaugurado no Brasil uma nova ordem

jurídica, sob o primado do estado de direito. Inúmeras transformações e evoluções nos

campos jurídico-sociais foram introduzidas, dentre elas a missão da Polícia Militar,

como um dos órgãos responsáveis pela Segurança Pública do Estado. Essa mudança

direcionou a sociedade brasileira a novos tempos, inclusive no concerto das relações

3MUNIZ, Jaqueline. Polícia brasileira tem história de repressão social, 2001. Disponível em: <http://www.comciencia.br/entrevistas/jacquelinemuniz.htm>. Acesso em 19 abr. 2011.

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internacionais. Tempos estes, de direitos, deveres e liberdades individuais e sociais,

obrigando as corporações policiais militares a repensarem o seu papel perante a

sociedade. Mesmo cercada de lentidão, essas transformações vêm acontecendo ao

mesmo tempo em que se configura um quadro de criminalidade violenta. Não é segredo

que a violência é um dos principais problemas encontrados pelas pessoas nos dias de

hoje, que não sabem mais a quem recorrer para reencontrar a tranquilidade perdida,

embora Governos de todo o mundo se esforcem em encontrar soluções imediatas para

diminuir a violência, sobretudo, nos grandes centros urbanos. Acompanhando essas

inúmeras transformações a sociedade se vê na era do conhecimento, onde dados geram

informações, que resultam na interação do conhecimento tácito em explícito, definindo

Nonaka e Takeuchi como:

A externalização é um processo de articulação do conhecimento tácito em conceitos explícitos. É um processo de criação do conhecimento perfeito, na medida em que o conhecimento tácito se torna explícito, expresso na forma de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos.4

No âmbito da Segurança Pública também não é diferente. Várias inovações

tecnológicas foram obtidas através de estudos direcionados, que têm sido cada vez mais

aprimorados para que se estabeleça uma melhor relação entre policia e sociedade.

Dentre essas novas tecnologias surgem as armas não-letais, ferramentas que chegam

para preencher uma lacuna na solução de conflitos entre polícia e cidadão, visando

principalmente atender as novas demandas e anseios da sociedade moderna, no que

tange ao uso gradual e responsável da força policial.

4NONAKA, Ikujiro e TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de conhecimento na empresa. 1. ed. Rio de Janeiro: Campos, 1997, p.71.

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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E DOS DIREITOS

INTERNACIONAIS.

A civilização humana passou por várias gerações, em sua grande maioria

truculenta, cada uma delas com sua própria tipicidade, alcançando pontos satisfatórios e

muita das vezes não, atrasando com isso suas evoluções científicas, tecnológicas,

econômicas, políticas, jurídicas e sociais. Nemetz definiu que a origem dos direitos

humanos teve início desde os filósofos, atravessando pela Idade Média, com a Carta

Magna de João Sem Terra, na Inglaterra de 1215, sendo seguida pelo Ato de Habeas

Corpus de 1679 e pelo Bill of Rights de 1688, vindo todos esses documentos serem

elaborados para se limitar os poderes do Estado Absolutista, na pessoa do Rei e

principalmente se garantir direitos individuais e de liberdade.5 Nesse mesmo sentido

Bobbio afirma que:

Os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstânciais, caracterizados por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de vez por todas.6

Tentar se compreender os direitos humanos e os direitos fundamentais, são

relacioná-los dentro da história da humanidade, pois estes se revelam dentro da própria

evolução da sociedade, através do pensamento comum de vários individuos construídos

ao longo de décadas, não apenas de base teóricas ou acadêmicas, mas de vivência

humana contra a dominação do poder. Entre os séculos de XVII e XVIII, pensadores

iluministas como: John Locke, Jean-Jacques Rousseau, Charles de Montesquieu

inspiraram a origem das primeiras cartas dos direitos fundamentais, dentre elas a

Declaração de direitos do bom povo de Virgínia de 1776 e a Declaração dos Direitos do

Homem e do Cidadão de 1789, sendo esta última intitulada como a consagração dos

direitos fundamentais a todo o povo, sendo considerada o pilar de fundamentação para o

5NEMETZ, Erian Karina. A Evolução histórica dos direitos humanos. Rev. de Ciênc. Jur. da Unipar. v.7, n.2, jul./dez., 2004, p.233-242.

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surgimento de um dos mais importantes documentos de representação internacional nos

dias atuais: a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Rover define que:

Um direito é um título. É uma reivindicação que uma pessoa pode fazer para com outra de maneira que, ao exercitar esse direito, não impeça que outrem possa exercitar o seu. Os Direitos Humanos são títulos legais que toda pessoa possui como ser humano. São universais e pertencem a todos, rico ou pobre, homem ou mulher. Esses direitos podem ser violados, mas não podem jamais ser retirados de alguém.7

Com essa definição, afirma-se que os direitos humanos fundamentais, são na

verdade, garantias proporcionadas aos cidadãos contra possíves atrocidades,

arbitrariedades e ingerências políticas do Estado, através de seus diversos órgãos e

agentes. Siqueira e Piccirillo compreendem que a relação entre direitos humanos e

direitos fundamentais embora pareçam sinônimos,parte da doutrina entende que existem

algumas diferenças entre elas. Cabendo os direitos humanos não apenas reconhecer os

frutos da própria qualidade de pessoas humana, mais também, os direitos oriundos das

transformações pelas quais a humanidade passa.8

Luño conceitua direitos humanos como:

Los derechos humanos aparecen como un conjunto de facultades e instituciones que, en cada momento histórico, concretan las exigencias de la dignidad, la libertad y la igualdad humana, las cuales deben ser reconocidas positivamente por los ordenamientos jurídicos a nivel nacional e internacional.9

Quanto aos direitos fundamentais, estes se originam no processo de positivação

dos direitos humanos, a partir do reconhecimento, pelas legislações positivas de direitos

considerados inerentes a pessoa humana.

Em resumo, os direitos humanos fundamentais se concretizam no momento em

que as pessoas conseguem construir sua vida em liberdade, igualdade e dignidade,

fazendo emergir juntamente com isso, seus direitos civis, sociais, políticos, econômicos

6BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p.5. 7ROVER, Cees de. Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário para forças Policiais e de Segurança: Manual para instrutores. Genebra. Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 2009, p.72. 8SIQUEIRA, Dirceu Pereira e PICCIRILLO, Miguel Belinati. Direitos fundamentais: a evolução histórica dos direitos humanos, um longo caminho, 2009. Disponível em <http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5414>. Acesso em 19 set. 2011. 9LUÑO, Antonio Enrique Pérez. Derechos Humanos, Estado de Derecho y Constitucion. 6. ed. Madrid: Tecnos, 1999, p.48. Os direitos humanos aparecem como um conjunto de poderes e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências da dignidade, da liberdade e da igualdade

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e coletivos, sendo consolidados primeiramente nas suas legislações internas, antes de se

tornarem matéria de Direito Internacional. Rover define Direito Internacional como:

normas relativas aos direitos territoriais dos Estados (com respeito aos territórios terrestre, marítimo e espacial), a proteção internacional do meio ambiente, o comercio internacional e as relações comercias, uso da força pelos Estados, os direitos humanos e o direito internacional humanitário (grifo meu).10

Existem várias teorias diferentes que explicam as origens do direito

internacional, bem como sua evolução, porém todas são categóricas em afirmar que

tanto os direitos humanos quanto o direito internacional humanitário são ramos desse

direito. Ambos sendo criados para protegerem direitos e liberdades fundamentais

individuais bem como coletivos (a vida, a saúde, a dignidade dos indivíduos, etc.)

embora em circunstâcias diferentes. Os direitos internacionais dos direitos humanos

estabelecem padrões de responsabilidade dos Estados, em relação aos direitos e

liberdades individuais dos povos, protegendo-os dos abuso das autoridades. No direito

internacional humanitário, são fornecidos os padrões mínimos aplicados na proteção de

pessoas e bens, resguardando o indivíduo em conflitos armados em guerra, voltando-se

ainda, à situações de violência em conflitos internos nos Estados. A Segunda Guerra

Mundial demonstrou a ineficácia das normas e medidas de proteção aos direitos

individuais. O mundo testemunhou o extermínio de milhares de civis inocentes,

significando a ruptura da ordem internacional com os direitos humanos. O Nazismo da

era Hitler só veio a contribuir com essa ruptura, dizimando mais de 12 milhões de civis,

incluindo prisioneiros de guerra e quase todos os judeus que viviam na Alemanha.

humana, as quais devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos à nível nacional e internacional (minha tradução). 10ROVER, Cees de. Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário para forças Policiais e de Segurança, p.36.

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Fig. 1- Foto da Segunda Guerra Mundial. Fonte: <http://www.fotolog.com.br/felipevenancio/42060940>. Acessado em 25 ago. 2011. Lima Jr. entende que:

Apesar dos primeiros passos rumo à construção de um Direito Internacional dos Direitos Humanos terem sido dados logo após o fim da Primeira Guerra Mundial, com o surgimento da Liga das Nações e da Organização Internacional do Trabalho, a consolidação deste novo ramo do Direito ocorre apenas com o fim da Segunda Guerra Mundial.11

Ao final da Segunda Guerra Mundial, houve um forte sistema de proteção

internacional dos direitos humanos, responsabilizando-se os Estados que por ventura

viessem a violar esses direitos, passando assim a se ter uma verdadeira preocupação a

nível mundial, o que impulsionou o processo da universalização e o desenvolvimento do

Direito Internacional dos Direitos Humanos. Rover descreve que com o final da

Segunda Guerra Mundial, foram os aliados que decidiram criar uma organização

mundial e internacional devotada à manutenção da paz e segurança internacional. A

formulação dos planos definitivos para essa organização deu-se por etapas, em Teerã,

em 1943, em Dumbarton Oaks, em 1944 e em Yalta, em 1945. Vindo finalmente, na

Conferência de São Francisco, em junho de 1945, cinqüenta governos participarem da

elaboração da Carta das Nações Unidas. Tratando-se não só de um instrumento de

fundação da Organização das Nações Unidas, mas também um tratado multilateral que

estabelece os direitos e deveres legais dos Estados Membros da ONU. Passando-se a

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vigorar formalmente no dia 24 de outubro de 1945, dia celebrado como o aniversário

oficial da ONU. Com a criação da ONU, a Carta não formou um superestado, nem criou

algo parecido com um governo mundial. A preocupação primordial da Organização das

Nações Unidas foi com a paz e a segurança internacional.12 Segundo Lima Jr. a Carta da

Nações Unidas gerou enormes possibilidades para o desenvolvimento dos direitos

humanos a nível Internacional. Vindo em 10 de Dezembro de 1948, em Paris, foi

adotada e proclamada pela Resolução nº 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações

Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo este instrumento o marco

do Direito Internacional dos Direitos Humanos, e conseqüentemente, da tutela universal

dos direitos humanos, que visa a proteção de todos os seres humanos, independente de

quaisquer condições.13 Dentro do direito internacional dos direitos humanos existem

instrumentos com força legal Tratados e Convenções e instrumentos sem força legal

princípios, diretrizes e códigos de conduta. O primeiro gera obrigações legais aos

Estados Partes, forçando a adaptação plena das suas lei internas com o tratado em

questão, bem como a modificação de suas políticas e práticas relevantes. Já o segundo

mesmo não tendo força legal, podem ser comparados com normas administrativas que

existem em todos os órgãos dos Estados Partes, vindo seu teor gerar especial

importância na prática da aplicação da lei, logo seu cumprimento é altamente

recomendado.

Resumindo, as grandes conquistas humanísticas alcançadas pela Organização

das Nações Unidas após a Segunda Guerra Mundial, principalmente no direito

internacional, alcançaram expressão capaz de interferir no direito interno das nações,

delimitando o uso indiscriminado e abusivo da força pelos Estados, enfocando ainda à

dignidade da pessoa humana, sob o império da obediência ao conjunto de valores

denominados como direitos humanos. Porém, foi apenas no século XIX, durantes as

grandes batalhas, que um direito de guerra, firmado em tratados multilaterais, foi

pormenorizado. A elaboração do Código de Lieber em 1863, o qual reunia todas as

normas e práticas de guerra à época, foi o grande percussor para o desenvolvimento da

primeira mais importante Convenção Internacional: A Convenção de Genebra de 1864,

11LIMA JR., Jayme Benvenuto; GORENSTEIN, Fabiana; HIDAKA, Leonardo Jun Ferreira. Manual de Direitos Humanos Internacionais: Acesso aos Sistemas global e Regional de Proteção dos Direitos Humanos. Recife: MNDH/GAJOP, 2001, p. 4. 12ROVER, Cees de. Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário para forças Policiais e de Segurança, p.75. 13LIMA JR., Jayme Benvenuto; GORENSTEIN, Fabiana; HIDAKA, Leonardo Jun Ferreira. Manual de Direitos Humanos Internacionais, p. 8.

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que preconizava a melhoria das condições dos feridos nos exércitos em campanha, bem

como ressaltava o direito internacional humanitário que ainda não havia sido

clarificado. Os constantes e sucessivos conflitos armados mundiais, só fizeram o

sofrimento humano aumentar progressivamente, provocando uma evolução permanente

nas normas relativas à conduta de hostilidades e à proteção das vítimas de conflitos

armados. Comprovando que as normas de direito internacional humanitário estão

sempre um conflito armado atrasado. A prova de que as normas de direito internacional

humanitário estão em constante desenvolvimento, é que até o presente século, estas já

evoluíram para quatro Convenções de Genebra e dois Protocolos Adicionais, sendo eles

definidos como: (i) 1ª Convenção de Genebra (1865), protegem os feridos e doentes das

forças armadas em campanha; (ii) 2ª Convenção de Genebra (1906), protegem os

náufragos militares; (iii) 3ª Convenção de Genebra (1929), protegem os prisioneiros de

guerra; (iv) 4ª Convenção de Genebra (1949), protegem as pessoas civis em tempo de

guerra; (v) Protocolo Adicional I (1977), reafirma e desenvolve as disposições das

Convenções de Genebra, na proteção de civis contra os efeitos das hostilidades; e, (vi)

Protocolo Adicional II (1977), reafirma e desenvolve as disposições das Convenções de

Genebra, porém para conflitos internos, sem caráter internacional.

O Direito Internacional Humanitário se destina a assegurar o respeito pelos seres

humanos, em conflitos armados de qualquer natureza, visando atenuar os sofrimentos

provenientes de hostilidades. Este direito é dividido em duas classes: O Direito de

Genebra que visa basicamente a proteção das vítimas de guerra, militares ou civis e o

Direito de Haia que preocupa-se com a regulamentação dos métodos e meios de

combate, e na condução das operações militares. Com o passa dos tempo, foi constato

que apenas o Direito de Genebra evoluiu, permanecendo o Direito de Haia inalterado

desde de 1907, sendo necessário sua inclusão nos esboços dos Protocolos Adicionais às

Convenções de Genebra de 1949, para sua atualização. Após este fato, um terceiro

direito veio a emergir, o chamado Direito Misto, que trata tanto da proteção das vítimas

de situações de conflitos armados, sejam elas civis ou militares, quanto dos direitos e

deveres das partes beligerantes na conduta de operações militares. Segundo Rover, a

fusão desses dois tipos de direitos foram incorporados nos dois Protocolos Adicionais

de 10 de Junho de 1977, sendo o primeiro relativo a conflitos armados internacionais, e

o segundo a conflitos armados não internacionais, que até 31 de Março de 1997, foram

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ratificados por 147 e 139 Estados, respectivamente.14 Juntamente com o Direito de

Genebra, nasceu a Cruz Vermelha. Relatos dizem que na noite sangrenta da Batalha de

Solferino (Itália), no ano de 1859, Henry Dunant, ao presenciar o sofrimento agonizante

dos feridos de guerra, abandonados ao relento, sem qualquer tipo de cuidados médicos,

procurou uma forma de impedir este sofrimento em guerras futuras, dando origem então

a Cruz Vermelha e consequentemente ao direito internacional humanitário. De suas

idéias, posteriormente, surgiu o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Fig. 2 - Conflito na Líbia já configura guerra civil, diz Cruz Vermelha. Fonte: < http://www.soalagoas.info/2011/03/conflito-na-libia-ja-configura-guerra.html>. Acessado em 22 jul. 2011.

O CICV atua como intermediário neutro, essencialmente em tempos de guerra,

guerra civil ou distúrbios interiores e tensões internas, esforçando-se para assegurar que

as vítimas militares e civis recebam proteção e assistência. Age ainda como promotor

das Convenções de Genebra e seus protocolos, desenvolvendo e aplicando o direito

internacional humanitário em todo mundo. O sistema das Nações Unidas, juntamente

com o Conselho da Europa desenvolveram instrumentos internacionais, que versam

sobre questões envolvendo conduta ética e legal na aplicação da lei. Essas normas

internacionais visam basicamente os respeito universal aos direitos humanos, bem como

são relevantes no domínio da aplicação da lei proporcionando uma base sólida para uma

atividade policial ética e lícita. No entanto, certas normas dizem particularmente

14ROVER, Cees de. Direitos Humanos e Direito Internacional Humanitário para forças Policiais e de Segurança, p.118.

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respeito a ética policial, e outras colocam questões de ordem ética aos organismos e

funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Em suma, a polícia enquanto força

responsável pela aplicação da lei, tem claramente a obrigação de respeitar esta mesma

lei, e ainda zelar pela proteção, promoção e respeito a dignidade da pessoa humana.

Segundo Andrade, o termo Encarregados da Aplicação da Lei é definido de maneira a

incluir todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderes

policiais, especialmente poderes de prisão ou detenção. E ainda, que a essência do tema

em questão, está diretamente voltada para policiais, por analogia, está ligada ao Uso de

Armas Não Letais por profissionais de segurança em respeito aos Direitos Humanos.15

Esses conjuntos de práticas da aplicação da lei devem estar em conformidade aos

princípios que regem o uso legal da força, que são: a legalidade, oportunidade,

necessidade, proporcionalidade e a ética. Qualquer prática da aplicação da lei deve estar

fundamentada primeiramente na lei. Visando principalmente regular o uso legal da força

policial e estabelecer parâmetros e limites efetivos para as ações policiais.

15ANDRADE, José Helder de Souza. Armas Não Letais: Habilitação para Uso Eficiente. 1. ed. Rio de janeiro: Ciência Moderna, 2011, p.14.

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2.2 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS LEGAIS PARA OS

ENCARREGADOS DA APLICAÇÃO DA LEI.

Em 17/12/1979, através da Resolução n° 34/169, foi adotado pela Assembléia

Geral das Nações Unidas o Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da

Lei (CCEAL), sendo um instrumento internacional, com o objetivo de orientar os

Estados membros, quanto à conduta dos policias nos encontros com o público. Este

código não tem força de tratado, porém proporcionam normas orientadoras aos

Governos de aplicação da lei de acordo com as disposições básicas de direitos humanos

e justiça criminal. Sendo um código de conduta ética se baseia no exercício do

policiamento ético e legal. O CCEAL é composto por oito artigos, destacando-se os

seguintes:

Artigo 2º. No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos humanos de todas as pessoas; Artigo 3º. Os Encarregados responsáveis pela aplicação da lei, só podem empregar a força quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do seu dever.16

Basicamente o artigo terceiro, busca criar padrões de conduta para o emprego da

força, respeitando-se principalmente os direitos humanos e a dignidade da pessoa

humana, tendo este sido incorporado a Constituição Federal de 1988. Segundo Siqueira,

o CCEAL é um instrumento de recomendação direta aos Funcionários Encarregados da

Aplicação da Lei, sendo um norteador para uso correto da força policial. A partir dele se

originaram as disposições contidas nos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força

e de Arma de Fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei da ONU.17

O PBUFAF, foi adotado no Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a

“Prevenção do Crime e o Tratamento dos Infratores”, realizado em Havana, Cuba, de 27

de agosto a 7 de setembro de 1990, sendo o segundo instrumento internacional mais

importante sobre o uso da força e arma de fogo. Neste instrumento se reconhece a

importante atividade dos encarregados da aplicação da lei, bem como seu papel na

16ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Código de Conduta dos Encarregados da Aplicação da Lei. Resolução nº. 34/169 de 17 de dezembro de 1979. Institui o Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei. 1979. 17SIQUEIRA, Eddie Metello de. Armas Não Letais: Opções Táticas para os Encarregados da Aplicação da Lei. 2008. 22 f. Trabalho Monográfico. Curso Superior de Polícia Militar. Academia de Polícia Militar Costa Verde, Mato Grosso: Várzea, 2008.

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proteção da vida, liberdade e segurança dos cidadãos. Orientando ainda os governos a se

adaptarem aos princípios inseridos no referido documento, modelando suas legislações

e práticas nacionais, e principalmente implementando normas e regulamentos sobre o

uso da força e arma de fogo, utilizando-se do princípio da Legalidade, oportunidade,

proporcionalidade, necessidade e ética. Dentre as suas 26 recomendações o PBUFAF

tem como as mais importantes:

1.Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem adotar e aplicar regras sobre a utilização da força e de armas de fogo contra as pessoas, por parte dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Ao elaborarem essas regras, os Governos e os organismos de aplicação da lei devem manter sob permanente avaliação as questões éticas ligadas à utilização da força e de armas de fogo; 2.Os Governos e os organismos de aplicação da lei devem desenvolver um leque de meios tão amplo quanto possível e habilitar os funcionários responsáveis pela aplicação da lei com diversos tipos de armas e de munições, que permitam uma utilização diferenciada da força e das armas de fogo. Para o efeito, deveriam ser desenvolvidas armas neutralizadoras não letais, para uso nas situações apropriadas, tendo em vista limitar de modo crescente o recurso a meios que possam causar a morte ou lesões corporais. Para o mesmo efeito, deveria também ser possível dotar os funcionários responsáveis pela aplicação da lei de equipamentos defensivos, tais como escudos, viseiras, coletes e veículos blindados, a fim de se reduzir a necessidade de utilização de qualquer tipo de armas; 3.o desenvolvimento e utilização de armas neutralizadoras não letais deveria ser objeto de uma avaliação cuidadosa, a fim de reduzir ao mínimo os riscos com relação a terceiros, e a utilização dessas armas deveria ser submetida a um controlo estrito; 4. Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, no exercício das suas funções, devem, na medida do possível, recorrer a meios não violentos antes de utilizarem a força ou armas de fogo. Só poderão recorrer à força ou a armas de fogo se outros meios se mostrarem ineficazes ou não permitirem alcançar o resultado desejado; 5.Sempre que o uso legítimo da força ou de armas de fogo seja indispensável, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem: a - Utilizá-las com moderação e a sua ação deve ser proporcional à gravidade da infração e ao objetivo legítimo a alcançar; b - Esforçar-se por reduzirem ao mínimo os danos e lesões e respeitarem e preservarem a vida humana; c - Assegurar a prestação de assistência e socorros médicos às pessoas feridas ou afectadas, tão rapidamente quanto possível; d - Assegurar a comunicação da ocorrência à família ou pessoas próximas da pessoa ferida ou afetada, tão rapidamente quanto possível.18

18ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Princípios Básicos sobre o Uso da força e Arma de Fogo. In: Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Crime e o Tratamento dos Infratores, realizado em Havana, Cuba, de 27 de agosto a 7 de setembro de 1990.

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Os dois instrumentos internacionais acima descritos, como já dito, mesmo não

estando como forma de tratado, adimite o uso da força para qualquer finalidade policial

militar legítima, confirmando que a atividade policial busca resolver qualquer conflito

na sociedade na qual a força possa ser usada.

Além desses instrumentos, existem dispositivos legais que versam e regulam o

uso da força e da arma de fogo, que estando dispostas no Código de Penal, Código de

Processo Penal, Código Penal Militar e Código de Processo Militar, sendo eles:

O Código Penal Brasileiro compreende os seguintes artigos:

Art.23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: I - em estado de necessidade; II - em legítima defesa; III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito; § único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. Art.25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.19

O Código de Processo Penal Brasileiro relaciona os seguintes dispositivos sobre

o uso da força:

Art. 284. Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso. Art. 292. Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas. Art. 293. Se o executor do mandado verificar, com segurança, que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obedecido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e, sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se preciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e logo que amanheça, arrombará as portas e efetuará a prisão.20

O Código Penal Militar em vigor, relaciona o seguinte artigo:

19STEBEL, Vanessa de Fátima (org.). Código Penal. 3. ed. Curitiba: Juruá, 2004, p. 127.

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Art. 42. Não há crime quando o agente pratica o fato: I – em estado de necessidade; II – em legítima defesa; III – em estrito cumprimento do dever legal; IV - no exercício regular de direito.21

E por fim, o Código de Processo Penal Militar descreve os seguintes dispositivos

que tratam do uso da força:

Art. 231. Se o executor verificar que o capturando se encontra em alguma casa, ordenará ao dono dela que o entregue, exibindo lhe o mandado de prisão. Art. 231 § único. Se o executor não tiver certeza da presença do capturando na casa poderá proceder a busca, para a qual, entretanto, será necessária a expedição do respectivo mandado, a menos que o executor seja a própria autoridade competente para expedi-la; Art. 232. Se não for atendido, o executor convocará duas testemunhas e procederá da seguinte forma: sendo dia, entrará à força na casa, arrombando-lhe a porta, se necessário; sendo noite, fará guardar todas as saídas, tornando a casa incomunicável, e, logo que amanheça, arrombar- he-á a porta e efetuará a prisão; Art. 234. O emprego da força só é permitido quando indispensável, no caso de desobediência, resistência ou tentativa de fuga. Se houver resistência da parte de terceiros, poderão ser usados os meios necessários para vencê-la ou para defesa do executor e seus auxiliares, inclusive a prisão do defensor. De tudo se lavrará auto subscrito pelo executor e por duas testemunhas. Art.234 §1º O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fuga ou de agressão da parte do preso, e de modo algum será permitido, nos presos a que se refere o art. 242 Art.234 §2º. O recurso ao uso de armas só se justifica quando absolutamente necessário para vencer a resistência ou proteger a incolumidade do executor da prisão ou a de auxiliar seu.22

Tendo como referência os Instrumentos Internacionais sobre o uso da força,

CCEAL, PBUFAF, Princípios orientadores para a Aplicação Efetiva do Código de

Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei e na Convenção

Contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, o

Ministério da Justiça anunciou no final do ano de 2010, a Portaria Interministerial nº

4226 composta por 25(vinte e cinco) diretrizes sobre o uso da força policial, buscando

orientar e padronizar a atuação dos policiais, visando a redução dos níveis de letalidade

nas ações policiais. Cabendo a ressalva que tal documento obriga a polícia federal e a

20BRASIL. Código de Processo Penal Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 647. 21BRASIL. Código Penal Militar Brasileiro. 1 ed. São Paulo: Rideel, 2003, p. 376. 22BRASIL. Código de Processo Penal Militar Brasileiro. 1 ed. São Paulo: Rideel, 2003, p. 540.

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polícia rodoviária federal a cumprirem o que prescreve as suas diretrizes, no entanto

para as demais policiais estaduais, este apenas serve como texto de recomendação.

Dentre as suas principais diretrizes, estão:

Diretriz 2. O uso da força por agentes de segurança pública deverá obedecer aos princípios da legalidade, necessidade, proporcionalidade, moderação e conveniência; Diretriz 3. Os agentes de segurança pública não deverão disparar armas de fogo contra pessoas, exceto em casos de legítima defesa própria ou de terceiro contra perigo iminente de morte ou lesão grave; [...]; Diretriz 6. Os chamados "disparos de advertência" não são considerados prática aceitável, por não atenderem aos princípios elencados na Diretriz n.º 2 e em razão da imprevisibilidade de seus efeitos; Diretriz 7. O ato de apontar arma de fogo contra pessoas durante os procedimentos de abordagem não deverá ser uma prática rotineira e indiscriminada; Diretriz 8. Todo agente de segurança pública que, em razão da sua função, possa vir a se envolver em situações de uso da força, deverá portar no mínimo 2 (dois) instrumentos de menor potencial ofensivo e equipamentos de proteção necessários à atuação específica, independentemente de portar ou não arma de fogo; [...]; Diretriz 10. Quando o uso da força causar lesão ou morte de pessoa(s), o agente de segurança pública envolvido deverá realizar as seguintes ações: a. facilitar a prestação de socorro ou assistência médica aos feridos; b. promover a correta preservação do local da ocorrência; c. comunicar o fato ao seu superior imediato e à autoridade competente; e d. preencher o relatório individual correspondente sobre o uso da força, disciplinado na Diretriz n.º 22.23

2.3 O EMPREGO DA FORÇA POLICIAL.

O uso da força pela polícia militar do Estado do Rio de Janeiro tem sido objeto

de investigação empírica por décadas. Nesse tempo, muito se foi aprendido sobre a

23MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Portaria Interministerial n° 4226, de 31 de dezembro de 2010. Disponível em

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natureza e a extensão da força usada pela polícia, bem como as condições que afetam a

sua correta aplicação. Entre os problemas mais importantes que se tenha percebido, um

deles, consiste no uso da força excessiva que venha causar lesões desnecessárias a

vítimas inocentes, levando por algumas vezes à óbito.

Barbosa e Angelo tratam força como:

Toda intervenção compulsória sobre o indivíduo ou grupos de indivíduos, reduzindo ou eliminando sua capacidade de auto-decisão; [...] O uso da força está cada vez mais subordinado ao interesse coletivo, servindo mesmo como medidor de desenvolvimento social.24

Segundo relatos de Silva, a subcultura no uso da força policial impulsiona o agente

policial à prática do uso desproporcional da força. Tal fato constitui-se em um dos

principais mecanismos de tensão entre a polícia e a sociedade, uma vez que se cria no

imaginário do policial a possibilidade da existência de um criminoso em cada cidadão, o

qual, segundo a sua convicção, exteriorizará o seu lado delinquente se a ação da polícia

for frágil e sem emprego de força física.25 Segundo Lazzarini em situações de

confrontos letais envolvendo pessoas armadas e policiais em serviço, a proporção letal é

de 3x1, respectivamente.26 Em 1992 nos Estados Unidos, o Instituto de Treinamento

Policial da Universidade de Ilinois desenvolveu uma pirâmide de uso de força crescente,

chamada de "Modelo de Uso de Força" adotado nos cursos políciais.27 Este modelo

envolve a percepção do policial quanto ao agressor em cinco níveis: submissão à ordem,

resistência passiva, resistência ativa, agressão física não letal, e agressão física letal.

Cada grau corresponde a ação de resposta do policial contra o suspeito na mesma

ordem: verbalização, contato físico, imobilização, força não letal e força letal.

<http://www.defensoriapublica.mg.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=922&Itemid=49>. Acesso em 2 jun. 2012. 24BARBOSA, Sérgio Antunes; ÂNGELO, Ubiratan de Oliveira. Distúrbios Civis, p.107 e 109. 25SILVA, S. S. Teoria e prática da educação em Direitos Humanos nas instituições policiais brasileiras. Rio Grande do Sul: Edições CAPEC, 2003. 26LAZZARINI, Alvaro. Poder de Polícia e Direitos Humanos. In: Revista Força Policial. Polícia Militar de São Paulo, n. 30. abr./mar./jun. 2001. São Paulo, 2001. 27LEAO, Décio Jose Aguiar. Quando Atirar. O Conceito Americano do Uso da Força Letal. Unidade n. 45. jan./mar. Revista de Assuntos Técnicos de Polícia Militar, 2001.

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Fig. 3 - Modelo do Uso da Força - FLETC.

Fonte - Disponível em: < http://agendadacidadania.blogspot.com.br/2009/07/sobre-o-uso-da-forca-4- parte.html>. Acesso em 10 mai. 2012.

Em 1994, tendo como base o modelo acima, a polícia militar do Estado do Rio

de Janeiro, publicou a Nota de Instrução Nº 007/94 de 27 de Setembro de 199428, a qual

visava fornecer subsídios à instrução do policial militar, no sentido de evitar acidentes e

riscos, para si e para terceiros, quanto ao uso inadequado ou exagerado da força.

Objetivando ainda a criação de mecanismos de avaliação graduada e seletiva ao uso da

força, numa seqüência lógica e legal, bem como o desenvolvimento de atitudes de

cautela no momento da utilização da força policial. Essas medidas foram tomadas

visando evitar o uso desnecessário da força policial, lesões de policiais a vítimas

inocentes e ainda a redução da alta taxa de letalidade no Estado do Rio de Janeiro, no

referido ano. No mesmo sentido, Barbosa e Angelo afirmam que:

O uso desnecessário da força elimina a possibilidade de qualquer instrumento de garantia legal à ação policial, excluindo a ilicitude do feito, conforme prevê, por exemplo, a lei nacional, ao abrigar os institutos da legítima defesa e do estrito cumprimento do dever legal.29

Entende Morgado que fatores como a ação impulsiva, descontrole emocional e

despreparo técnico não são suficientes para explicar o uso desmedido da força na ação

policial. Há outros fatores que contribuem para essa possível manifestação de um

28Conforme Anexo A. 29 BARBOSA, Sérgio Antunes; ÂNGELO, Ubiratan de Oliveira. Distúrbios Civis, p.131.

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policial, tais como aprovação popular ao uso da força e uma cultura repressiva e

permissiva do Estado, pois há de se considerar, portanto, que desde a sua criação, a

polícia política foi treinada para, nos momentos de suspensão dos direitos políticos,

combater um inimigo representado pelos opositores internos.30 O uso da força nas ações

policiais militares, deve ocorrer de forma pontual e gradual, na medida da resistência do

seu oponente. A força sendo utilizada de forma tardia, é encarada como uma punição,

não sendo essa a competência do policial militar. O objetivo principal ao se utilizar a

força policial é de salvaguardar vidas e não retirá-las.

Uma pesquisa de cinco anos, sobre o uso da força policial, que decorre sobre

lesões a policiais e cidadãos, financiado pelo National Institute of Justice - NIJ, no ano

de 2006, entregue no ano de 2010, conhecido como, A Multi-Method Evaluation of

Police Use of Force Outcomes: Final Report to the National Institute of Justice, relatou

que:

Research also suggests that suspects have a higher likelihood of injury when officers use canines, bodily force, and impact weapons (such as batons or flashlights), and officers are more likely to sustain injury when they use bodily force. The implications of this last pattern suggest the need for agencies to consider alternatives to officer use of hands-on tactics and impact weapons if they wish to reduce injuries, which as the above discussion on the frequency of officer injury suggests may be found in less-lethal weapons such as OC and CEDs.31

O NIJ - Instituto Nacional de Justiça é a agencia de desenvolvimento, estudo,

investigação e avaliação do Departamento de Justiça dos EUA. Foi criado para melhorar

o conhecimento e a compreensão das questões da criminalidade e da justiça através da

ciência. O NIJ gera conhecimento objetivo independente, fornecendo ferramentas para

reduzir a criminalidade promovendo a justiça, particularmente nos níveis estaduais e

30 MORGADO, Maria Aparecida. A Lei Contra a Justiça. Um mal estar na Cultura Brasileira. Brasília: Plano Editora, 2001.

31NATIONAL INSTITUTE OF JUSTICE. A Multi-Method Evaluation of Police Use of Force Outcomes: Final Report to the National Institute of Justice Michael R. Smith; Robert J. Kaminski; Geoffrey P. Alpert; Lorie R. Fridell; John MacDonald; Bruce Kubu. EUA, Carolina do Sul. 2010, p. 2-6. - A Pesquisa também relata que os suspeitos(cidadãos) tem uma maior probabilidade de se lesionarem quando policiais usam cães, força corporal e armas de impacto (tais como bastões ou lanternas) e os policiais são mais susceptíveis de resistirem a mais lesões quando eles usam força corporal. As implicações deste último padrão, sugere a necessidade das agências policiais considerarem as alternativas de utilização de métodos de defesa pessoal e armas de impacto, se quiserem reduzir as lesões, e conforme mencionado acima um dos meios para se reduzir as frequentes lesões, pode ser encontrado em armas menos que letais como OC - Oleoresina Capsaicina(Spray de Pimenta) e CEDs - dispositivos condutores de energia(armas de eletrochoque) (minha tradução).

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locais. Um dos seus cinco desafios estratégicos é o avanço da tecnologia, financiando

pesquisas para construção mais eficaz de um sistema criminal justo e eficiente através

da tecnologia. O Instituto recomenda a utilização de tecnologias não letais em três

situações: quando a força letal não é apropriada, quando a força letal é justificada, mas

uma força moderada pode subjugar o agressor e quando a força letal é justificada, mas

seu uso pode gerar efeitos colaterais.

Segundo Alexander os estudos do NIJ envolvem todo o ciclo criminal, desde o

ato criminoso e a condenação, até o encarceramento por longo tempo, vindo as

tecnologias desenvolvidas pelo NIJ abrangerem desde armas inteligentes e

equipamentos de proteção, até sistemas empregados no controle de distúrbios

carcerários. 32 Na área da Segurança Pública brasileira, não observamos qualquer tipo de

organismo governamental ou não governamental com todas essas características.

Cabe salientar que todos estes instrumentos internacionais não tem força de

tratado, servindo apenas como normas orientadoras para os Estados, consequentemente

para a Policia Militar do Estado do Rio de Janeiro, ficando a cargo destes edificar um

arcabouço jurídico de âmbito interno que positive toda essa questão. Sendo assim, como

se pode perceber, em toda legislação nacional existem institutos que direcionam a

regulamentação do assunto, porém, sem objetividade. Deixando no escuro e não

contemplando em sua magnitude a questão do uso da força policial.

A Secretaria Nacional de Segurança Pública entende que:

Uma boa estrutura jurídica pode proporcionar uma orientação para o uso da força, embora não ofereça uma solução implementável para um conflito a ser resolvido. O sistema jurídico brasileiro apresenta lacunas e imprecisões quanto à legalidade e limites permitidos do uso da força.33

É de se salientar que a ausência de objetividade e clareza na legislação brasileira sobre o

uso da força, dificulta a atuação dos policiais militares em particular, impossibilitando uma

interpretação mais exata em relação a intensidade de força(proporcionalidade) a ser empregada,

bem como as situações em que seu uso é permitido.

32 ALEXANDER, John B. Armas não-letais, p. 20. 33 BRASIL. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Uso Progressivo da Força. Brasília: 2007, p. 07. Disponível em:<http://senaspead.ip.tv/default.asp?login=09883968744&auth=1>. Acesso em 15 abr. 2008.

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2.4 O USO DA FORÇA NÃO LETAL NA ATIVIDADE POLICIAL.

Um esforço sócio educativo na mudança da cultura policial militar relacionada

ao uso da força ocorreu a partir do ano de 2000 pela Secretaria Nacional de Segurança

Pública (SENASP) sob coordenação do Ministério da Justiça. Tal escolha deu-se ao fato

do Estado do Rio de Janeiro constar em relatórios da SENASP como sendo uma das

Unidades da Federação que se adequou a política do governo federal. Nos currículos

implementados, os policiais aprendem principalmente sobre o uso legal da força, com

ênfase nas disciplinas de direitos humanos, defesa pessoal e tiro policial. No mesmo

sentido o governo federal institui o Programa Nacional de Segurança Pública com

Cidadania (PRONASCI), destinando-se à prevenção, controle e repressão da

criminalidade, com promessas de investimento de R$ 6,707 bilhões até 2012. Uma de

suas principais metas refere-se a valorização dos profissionais de segurança pública,

com ações voltadas no campo das tecnologias não letais, incentivando o policial ao uso

dessas tecnologias por meio de oficinas e cursos de capacitação e aperfeiçoamento.

Todo esse esforço e investimento do Governo Federal no campo da Segurança Pública,

visava basicamente a redução dos níveis de letalidade policial, bem como o combate

direto da criminalidade. Para Governo Federal, a forma mais adequada de se diminuir o

uso exagerado e exacerbado da força policial, seria através do readequação dos

currículos policiais.34 Segundo Sandes o grande desafio é estabelecer que o uso legal da

força não resulte do acaso no momento de agir, é preciso ter mediação entre o

aprendizado curricular e a prática policial. Talvez o campo sócioeducativo seja apenas

um lado da “moeda”, um outro lado complementar precisa ser explorado com uma

contribuição tecnocientífica.35

34BRASIL. Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania. Segurança Pública e Cidadania. Disponível em: < http://www.aprapr.org.br/wp-content/uploads/2011/10/2010_Seguran%C3%A7aP%C3%BAblica12.pdf>. Acesso em 10 jul. 2012. 35SANDES, Wilquerson Felizardo. O Uso da Força na Formação de Jovens Tenentes: Um Desafio para a Atuação Democrática da Polícia Militar de Mato Grosso. Dissertação de Mestrado em Educação. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, 2007.

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TABELA. 1 - Investimentos em Segurança Pública (R$ Milhões)

Fonte - Disponível em: < http://www.aprapr.org.br/wpcontent/uploadds/2011/10/2010_Seguran%C3%BAblica 12.pdf>. Acesso em 12 ago. 2011.

Sobre o Uso Legal da Força a Secretaria Nacional de Segurança Pública -

SENASP, através do seu plama curricular apresentou vários modelos sobre o uso

diferenciado da força, visando orientar a ação policial diante da reação de uma pessoa

cometendo um delito, sendo eles: FLETC, GILIESPIE, REMSBERG, CANADENSE,

NASHVILLE e PHOENIX.36 Esses modelos variam ao nível de força aplicada,

avaliação da atitude do suspeito e percepção de risco, variando também em seus

formatos gráficos, círculos, tabelas e gráficos. Na mesma direção a Polícia Militar do

Estado do Rio de janeiro, edita várias publicações relativo a doutrinas, instruções e

treinamentos sobre uso legal da força e técnicas e tecnologias não letais, se destacando

as seguintes: Boletim da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro nº 035 de 25 de

Março de 200837, determinou o estabelecimento da doutrina de emprego das munições,

armamentos e dos equipamentos não letais, pelo Batalhão de Polícia de Choque;

Boletim da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro nº 115 de 24 de Julho de 200838,

publicou o código de conduta para funcionários encarregados de fazer cumprir a lei, da

ONU, visando orientação para tropa; Boletim da Polícia Militar nº 090 de 16 de

36BRASIL. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Uso Diferenciado da Força. Brasília: 2011, p. 63. Disponível em: <http://ead.senasp.gov.br/modulos/_compartilhado/scorm/edu_curso_inicio.asp?sii=680>. Acesso em 10 jul. 2012. 37Conforme Anexo B. 38Conforme Anexo C.

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Novembro de 200939, publica o programa de capacitação continuada, visando a

reciclagem dos policiais militares, relativo a várias matérias, entre elas o uso comedido

da força; Boletim da Polícia Militar nº 085 de 18 de Maio de 201040, publicou o Curso

de Uso Progressivo da Força e Técnicas e Tecnologias Não Letais - Primeira Edição,

que visa proporcionar a 500 policiais militares, instruções com a finalidade de prepará-

los para o uso legal da força e o uso de técnicas e tecnologias não letais no policiamento

em geral, destinado aos eventos esportivos que ocorrerão no Rio de Janeiro. Todo esse

esforço basicamente, visou adequar o treinamento com a função policial militar,

buscando o enriquecimento do portfólio policial, na idéia de que não se bastava apenas

possuir uma doutrina de uso da força, sem que se desenvolvessem mecanismos para

colocá-la em prática.

39Conforme Anexo D. 40Conforme Anexo E.

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2.5 TECNOLOGIAS NÃO LETAIS NA ATUAÇÃO POLICIAL.

Com a entrada do Estado do Rio de Janeiro no cenário esportivo mundial dos

grandes eventos, tendo início com os Jogos Pan Americano de 2007, houve um

despertar para a necessidade de se buscar novos meios eficazes de redução da

criminalidade e da letalidade policial.

Em seu relatório final de pesquisa, Misse relata que: No ano de 2007, os “autos de resistência” atingiram o seu ápice, sendo contabilizados 1330 casos no Estado, e 902, na capital. O modelo repressivo de incursões policiais tópicas e eventuais, com altas taxas de letalidade da ação policial, que marcava a política de confronto predominante até os anos de 2007 e 2008, vem sendo progressivamente substituído pela ocupação estável e duradoura de favelas por uma polícia com uma proposta de policiamento comunitário de proximidade, reformulando-se a lógica de combate à criminalidade organizada (grifo meu).41

A partir do ano de 2007, percebe-se um avanço significativo por parte da policia

militar do Estado do Rio de Janeiro no campo da Segurança pública, no que diz

respeito ao trato com o cidadão e ao uso da força. Uma nova mentalidade policial surge,

que mesmo nova, começa a enraizar. O currículo oculto42 que antes era ensinado aos

policiais, começa a ser erradicado do seio da Corporação. Colaborando para isso, no

mesmo ano o governo federal investe 8 milhões de reais na aquisição de munições e

armas não letais para os policiais do Estado do Rio de Janeiro, visando a segurança nos

Jogos Pan Americanos de 2007.43 Essa nova tecnologia Não letal surge, como uma nova

resposta às demandas sociais que buscam do Estado o combate da violência e à

criminalidade de forma eficiente, com o uso legal da força na solução de conflitos,

dentro dos princípios básicos da legalidade, oportunidade, moralidade,

proporcionalidade e da ética, com o mínimo de dano á pessoas e ao meio ambiente.

41 MISSE, Michel. et al. Autos de Resistência: Uma análise dos homicídios cometidos por policiais na Cidade do Rio de Janeiro (2001-2011). Rio de Janeiro: UFRJ, 2011. p. 7-9 (Relatório Final de Pesquisa, MCT/CNPq N° 14/2009). 42 Currículo oculto: conjunto de conhecimentos, crenças e valores transmitidos pelos professores aos seus alunos, sem, no entanto, estarem previstos no currículo oficial da instituição de ensino. DE SOUZA, Marcelo Tavares; RIANI, Marsuel Botelho. Curso de Técnicas e Tecnologias Não-Letais de Atuação Policial, Brasília: SENASP, 2007, p. 19. 43Disponível em: <http://www.band.com.br/entretenimento/noticia/?id=32894>. Acessado em 15 jul. 2012.

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Segundo Alexander nos Estados Unidos, tais sistemas de armas são designados

oficialmente pelo termo não-letal, como foi formalmente anunciado na II Conferencia

de Defesa Não Letal, em Mclean, Virginia, em março de 1996, onde o Embaixador H.

Allen Holmes, Subsecretário de Defesa (Operações Especiais e Conflito de Baixa

Intensidade) tratou da complexidade do termo, definindo-o como armas

especificamente projetadas e empregadas para incapacitar pessoal ou material, ao

mesmo tempo em que minimizam mortes, ferimentos permanentes no pessoal, danos

indesejáveis à propriedade e comprometimento do meio ambiente. Diferentemente das

armas letais convencionais, que destroem principalmente por meio de explosão,

penetração e fragmentação, as armas não letais empregam outros meios, que não a

destruição física indiscriminada, para neutralizar seus alvos.44

No dia 9 de julho de 1996 foi criado pelos EUA, pelo seu Departamento de

Defesa, um programa chamado de Joint Non Lethal Weapons Program. Tal programa

editava a Directiva nº 3000.3 - Department of Defense de 09 de Julho de 199645, que

instituía a política de armas não letais para Departamento de Defesa dos EUA,

atribuindo responsabilidades para o desenvolvimento e o emprego dessas armas, bem

como designava o Comandante do Corpo de Fuzileiros navais como agente executivo

neste programa.

O conceito Não letal, levanta vários questionamento sobre a sua terminologia

mais correta, tendo em vista alguns doutrinadores que versam sobre o assunto

considerarem esse termo ser totalmente equivocado, pois, nenhum sistema pode ser

descrito como totalmente livre de mortes, dando a se entender que nenhum indivíduo

poderá ser morto por um sistema de armas não letais. No entanto as armas não letais

foram projetadas no intuito de limitar danos físicos, e nada irá impedir seu uso indevido

ou evitar acidentes, que são uma questão de treinamento e controle.

Alexander revela que as armas não letais não são uma panacéia, pois em

conjunto com as armas letais, proporcionam opções adicionais aos seus comandantes,

sem restrição das letais. Mostrando que a forças policial, empenhada na manutenção da

paz, busca através das armas não letais restringir o uso da força ao necessário para

atingir seus objetivos, apontando tais missões para a necessidade urgente de mais e

melhores opções de armas não letais. Os termos armas menos letais e armas não letais,

como já dito, ainda são usados com frequencia pela polícia militar, causando dúvidas

44ALEXANDER, John B. Armas não-letais, p. 18 e 19. 45Conforme Anexo F.

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conceituais sobre a sua real definição. Várias definições são usadas para conceituar esse

termo como: Armas de Destruição Suave, Armas para abortar a Missão, Armas menos

Letais ou Menos que Letais e Armas Piores que Letais. Se destacando nos Estados

unidos o conceito oferecido pelo Grupo de Assessoria em Pesquisa e Desenvolvimento

Aeroespacial da OTAN, em seus estudos envolvendo armas não letais: Armas não letais

são aquelas projetadas para degradar a capacidade do pessoal ou do material e,

simultaneamente, evitar baixas não desejadas. Finalizando, as armas não-letais não têm

o papel de substituir totalmente as armas letais, mas sua principal finalidade é permitir o

uso da força em uma escalada sem produzir mortes. Não devendo restar dúvida na

mente do agressor sobre a existência de força suficiente para cumprir a missão que a

situação exigir.46

Existe hoje no mundo uma grande diversidade de armas não letais, utilizadas

pelos agentes responsáveis pela aplicação da lei no combate da criminalidade.

Sandes destaca alguma delas:

O Laser Atordoante utiliza luzes brilhantes que ofuscam a visão temporariamente na direção geral do laser iluminado. A aplicação original visa perturbar e desorientar suspeitos a cerca de 17 metros. O equipamento ainda está restrito ao uso militar; O Feixe de Energia Direcionada atua por ondas que causam dor no suspeito. O uso é muito polêmico devido ao feixe de radiofreqüência causar o aquecimento da área em exposição; A Arma Eletrônica de Atordoamento (TASER) projetada em 1960 e empregada pelo Departamento de Polícia de Los Angeles desde 1980, incapacita pelo descontrole eletromuscular por meio de lançamento de dardos conectados a fiação da arma de ar comprimido. Esta arma é utilizada em vários departamentos de polícia. Um microchip registra todas as ocasiões em que a arma é testada ou disparada, evitando, assim, o uso criminoso; Os Lançadores de Bean Bag (saco de feijão) utilizam armas como calibre 12, dispara pequenos pacotes de malha com carga de projeção dentro. Possui baixa energia cinética que tende a causar ferimento não-letal; Os Sistemas PepperBall são armas de gás comprimido que arremessam projéteis fragmentáveis de plástico, do tamanho de uma bola de gude, carregados de gás de pimenta, atingem o alvo até 10 metros. Além do impacto de baixa energia cinética, libera pó químico que produz uma pequena nuvem de poeira fortemente irritante; Os Sistemas Acústicos visam assustar, irritar e surpreender um sujeito-alvo provocando alguma dor no sistema auditivo e causando vibração física. As freqüências operam em infra-som, som audível e ultra-som.47

46 ALEXANDER, John B. Armas não-letais, p. 20, 21, 32 e 33. 47SANDES, Wilquerson Felizardo. Uso Não-Letal da Força na Ação Policial: Inteligência, Pesquisa, Tecnologia e Intervenção Sócio educativa. Cuiabá: Universidade Federal de Mato Grosso, 2007.

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Segundo Dantas e Medeiros durante várias décadas utilizou-se da nomenclatura

não letal para se identificar as munições e armas que teriam uma carga de letalidade

muito baixa, ou seja, que na verdade são menos letais. Na verdade a tecnologia de arma

não letal tem menos de duas décadas de existência. A evolução das armas não letais e

menos letais no mundo segue uma trajetória histórica crescente, já que há 2000 anos os

chineses já utilizavam de tecnologia menos letais para combater contra os revoltosos em

seus territórios, ou mesmo, que entre os anos 1200 a 1500 DC, um grupo de

mercenários, conhecidos como Condottieri, conduziu, na península italiana, o que tem

sido considerado uma forma de guerra menos letal, onde na maioria dos confrontos

entre os Condottieri, não havia baixa. No Brasil, como já dito, não existem políticas de

integração tecnológica dos órgãos de segurança pública com os centros de pesquisa das

universidades, ou ainda, não existem investimentos direcionados para a criação e

desenvolvimento de novas tecnologias “não letais”, a fim de serem utilizadas pelos órgãos de

segurança pública, percebe-se a enorme dificuldade de se efetivar a utilização, pela polícia, de

uma tecnologia “não letal” existente no mundo.48

Ao final das duas grandes guerras, consequentemente após a Guerra Fria, com a

queda do muro de Berlim, os interesses por armas não letais aumentaram, tendo em

vista uma importância maior dada às Operações de Paz da ONU, originando condições

favoráveis para a investigação dessas armas emergindo características que pudessem

facilitar esse tipo de operação. Segundo Alexander as armas letais, durante as grandes

guerras, foi um fator primordial e essencial para o surgimento das armas não letais,

tendo em vista três pontos fundamentais: a dramática e conturbada reorganização de

cenário geopolítico; os avanços da tecnologia, particularmente a guiagem de precisão,

que viabilizou o desenvolvimento de sofisticadas armas não letais e a experiência dos

comandantes em Operações de Paz, que possibilita estabelecer requisitos operacionais

precisos para o desenvolvimento de sistemas de armas.49

No Brasil, seguindo a visão de Alexander, se criou um paralelo no campo da

Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, culminando justamente na transição da

política de repressão para a política de pacificação, atualmente denominada como

Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), acarretando uma reestruturação geopolítica em

toda área policial, ou seja: a de não letalidade, a característica principal das armas não

48DANTAS, Glayson Jean Moreno; MEDEIROS, Fabiano Mendes de. A Utilização da Arma não letal Taser pela Polícia Militar do Estado da Paraíba: Parecer do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos do Homem e do Cidadão. 2006. 19 f. Trabalho Monográfico (Especialização em Segurança Pública). Centro de Ensino da Polícia Militar, Paraíba, 2006.

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letais. Conforme o discurso do Governador do Estado do Rio de Janeiro Sergio Cabral,

foram doadas 315 pistolas modelo Taser, pelo Ministério da Justiça, sendo distribuídas

a policiais das Unidades de Polícia Pacificadora, afirmando ainda que chegariam mais

2.000 armas não letais para a polícia da paz.50

Fig. 4 - O governador Sérgio Cabral mostra a pistola Taser, arma não-letal que será usada nas UPP. Fonte: Disponívem em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/916923-pms-vao-usar-armas-nao-letais- em-nova-upp-do-rio.shtml>. Acesso em 16 jul. 2012. No Rio de Janeiro, apesar da cultura de confronto por parte de suas forças

policiais, passa a ser verificada uma adesão crescente ao emprego de armas não-letais.

No entanto, se não bastasse a falta de um adequado padrão normativo a regular a

matéria, outra grande dificuldade para ampliar o emprego desses equipamentos no país

é a ausência de recursos e mais ainda a falta de incentivo na área de ensino da

Corporação sobre o tema.

Uma pesquisa com o título Unidade de Polícia Pacificadora: O que pensam os

policiais, dividida em duas fases, foi aplicada pelo Centro de Estudos de Segurança e

Cidadania (CESeC), da Universidade Candido Mendes a policiais militares lotados nas

Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). A sua primeira fase foi realizada no período de

22 de Novembro à 14 de Dezembro de 2010 abrangendo nove UPP, localizadas em

Santa Marta, Cidade de Deus, Batan, Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, Borel, Tabajaras,

49ALEXANDER, John B. Armas não-letais, p. 19 e 20.

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Chapéu Mangueira e Babilônia, Formiga e Providência. A segunda fase realizada no

período 1 à 23 Março de 2012, englobava além das nove UPP da primeira fase, mais

onze UPP: Vidigal; Salgueiro; Mangueira e Tuiutí; Andaraí; Prazeres e Escondidinho;

Cidade de Deus Caratê; Cidade de Deus Quadras; Cidade de Deus Apartamentos;

Coroa, Fallet e Fogueteiro; São João, Matriz e Quieto; Macaco e Turano. Na primeira

fase dessa pesquisa observou-se que somente um terço dos policiais militares que

realizavam o policiamento portavam armas não letais, mesmo sendo considerada pela

absoluta maioria como necessária, sobretudo os agentes químicos Spray de pimenta e a

arma de eletro choque Taser.51

GRÁFICO 1

Fonte: Disponívem em: <http://www.ucamcesec.com.br/>. Acesso em 20 jul. 2012.

GRÁFICO 2

50Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/916923-pms-vao-usar-armas-nao-letais-em-nova-upp-do-rio.shtml>. Acessado em 16 jul. 2012. 51Disponível em: < http://www.comunidadesegura.org/files/SumarioUPPs_PoliciaisPensam.pdf >. Acessado em 21 jul. 2012.

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37

Fonte: Disponívem em: <http://www.ucamcesec.com.br/>. Acesso em 21 jul. 2012.

A constatação do baixo número de policiais militares portando armas não letais

no policiamento diário nas UPP, conforme os gráficos acima, mesmo tendo sido

considerado por sua maioria seu uso imprescindível, como já dito, se deve ao fato dos

policiais se sentirem despreparados para utilização dessas armas, visto que tanto os

treinamentos como as instruções ministradas na sua formação, não foram suficientes ou

adequadas para sanarem todos óbices relativos a correta utilização desses equipamentos

não letais. Na segunda fase desta pesquisa, foi realizado no período do dia 1 à 23 de

Março deste ano, um comparativo em relação ao ano de 2010, relativo aos conteúdos de

instrução e treinamento ministrados na formação dos policiais militares, segundo quadro

abaixo.

GRÁFICO 3

Fonte: Disponívem em: <http://www.ucamcesec.com.br/>. Acesso em 21 jul. 2012.

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No gráfico acima pode-se perceber que na avaliação dos policiais, apenas 33,6%

considerou adequada a instrução de armamento menos letal ministrada na sua formação

profissional. Observando ainda que em relação ao ano de 2010, essa porcentagem vem

decrescendo, ficando o nível de instrução cada vez mais inadequado com o passar dos

anos.

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2.6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS APURADOS.

Objetivando tornar a pesquisa estruturada, as respostas aos questionários foram

grupadas na seqüência das questões investigadas. Este questionário foi elaborado a fim

de se atingir os policiais militares do Batalhão de Polícia de Choque e da 1ª Companhia

Independente de Polícia Militar, tendo em vista essas duas unidades se depararem

frequentemente com manifestações populares de cunho político, social e econômico,

resultando diretamente no emprego da força por parte dos encarregados de aplicação da

lei. Para tanto foram aplicados 84 questionários, 53 ao BPChq e 34 a 1ª CIPM,

independente de graduação. O questionário, contendo nove questões fechadas, busca

conhecer o nível de conhecimento do policial militar relativo ao uso legal da força e das

armas não letais na Corporação.

Gráficos 4 - Conhecimento sobre o Código de Conduta para os Encarregados

da Aplicação da Lei (CCEAL) e Princípios Básicos sobre a Utilização da Força

e de Arma de Fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei

(PBUFAF) - PM do BPChq e 1ª CIPM.

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40

Analisando os gráficos 4, verifica-se que no BPChq a maioria dos policiais

militares tem conhecimento sobre os principais instrumentos internacionais que

orientam o uso da força, devido ao fato de permanentemente os mesmos passarem por

treinamentos e instruções diárias, voltadas para o controle de multidões. Já no caso da 1ª

CIPM, a maioria desconhece esses principais instrumentos, pelo fato dos mesmo, não

estarem envolvidos constantemente em instruções e treinamentos voltados para o uso da

força policial.

Gráficos 5 - Conhecimento sobre o modelo de uso da força policial chamado de

Modelo FLETC - PM do BPChq e 1ª CIPM.

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41

Analisando os gráficos 5, verifica-se que existe um equilíbrio tanto dos policiais

militares do BPChq, quanto da 1ª CIPM, relativo ao conhecimento do Modelo Fletc,

que preconiza o uso da força, metade dos policiais conhecem o referido modelo, tendo

vista o mesmo ter sido amplamente divulgado em instruções e publicado em Boletim

Ostensivo da Polícia Militar.

Gráficos 6 - Conhecimento sobre o conceito de armas não-letais - PM do BPChq

e 1ª CIPM.

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Analisando os gráficos 6, quase a totalidade dos policiais militares do BPChq e

da 1ª CIPM, sabem o que são armas não letais, devido as mesmas estarem sendo

divulgadas em instruções e principalmente na mídia.

Gráficos 7 - Sobre a forma correta de se utilizar as principais armas não-letais

disponíveis hoje na Corporação - PM do BPChq e 1ª CIPM.

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43

Analisando os gráficos 7, a maioria dos policiais das duas unidades informaram

que sabem utilizar corretamente as armas não letais, disponíveis na Corporação,

levando-se a crer que as instruções estão sendo adequadas e bem aproveitadas.

Gráficos 8 - Sobre a existência de algum tipo de arma não letal na reserva de

armamento da unidade para uso policial - PM do BPChq e 1ª CIPM.

Analisando o gráfico 8 percebe-se que nas duas unidades existem armas não

letais para pronto emprego, principalmente pelo fato das mesmas contidianamente se

envolverem em manisfestações sociais, economicas e políticas nas suas respectivas

areas de atuação. Sendo o Batalhão de Polícia de choque responsávem pelo controle de

multidões em todo o Estado do Rio de Janeiro, e a 1ª Companhia Independente da

Pòlícia Militar responsável pelo policiamento do Palácio da Guanabara, sede do

governo do estado, palco da maioria das manifestações ocorridas no Rio de Janeiro.

Gráficos 9 - Sobre a utilização de arma não letal ao assumir o serviço policial

militar na unidade - PM do BPChq e 1ª CIPM.

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Analisando os gráficos 9, se observa uma grande disparidade entre as duas

unidades, sendo observado que 85% dos policiais militares do BPChq se equipam com

algum tipo de arma não letal ao assumirem o serviço, contra apenas 32% dos policiais

da 1ª CIPM. Este fato se dá por alumas razões, primeiro pelo fato do BPChq ser uma

unidade especializada, sendo seu serviço voltado exclusivamente para o controle de

multidões, segundo devido a grande maioria dos policiais possuirem cursos voltados

para área de controle de disturbios civis, como Curso de Controle de Distúrbios Civís

(CCDC) e o Curso de Operações de Polícia de Choque (COPC), sendo em todos

preconizado a importancia dessa ferramenta conhecida como arma não letal e

principamente por já está incutido em grande parte dos policiais uma mudança de

mentalidade relativo ao uso legal da força.

Gráficos 10 - Sobre não portar algum tipo de arma não-letal por desconhecer a

sua correta utilização - PM do BPChq e 1ª CIPM.

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Analisando os gráficos 10, percebe-se que a 1ª CIPM ainda se sente receiosa e

despreparada em relação a alguns tipos de equipamentos não letais, devido ao fato da

mesma não estar habituada a ter um treinamento constante com todos os equipamente

não letais existentes e disponíveis na Corporação, diferentemente do BPChq que possui

e necessita ter treinamento diário com todos os tipos de armas não letais, pois seu

serviço especializado, como já tipo, é voltado basicamente para o controle de multidões,

utilizando na grande maioria das vezes a força policial.

Gráficos 11 - Opinião sobre a criação de um curso eficiente e eficaz para o

Policial Militar, voltado basicamente para a utilização de armas não letais - PM

do BPChq e 1ª CIPM.

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Analisando os gráficos 11 das duas unidades, verifica-se a importância e a

necessidade da criação de um curso voltado exclusivamente para utilização de armas

não letais, onde na grande maioria dos policiais, os mesmos achariam válido essa

proposta, devido ao fato destes reconhecerem a importancia dessa nova tecnologia para

emprego na atividade policial.

1ª CIPM97%

1ª CIPM3%

SIM NÃO

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3. CONCLUSÃO.

O emprego das armas não letais por parte do Policial Militar, estando este bem

treinado e equipado, representa uma oportunidade única de diminuição dos índices de

letalidade policiais e a criminosos da lei, evitando ainda possíveis processos judiciais

desnecessários, bem como o desgaste da imagem da Corporação perante a Sociedade. O

treinamento constante é necessário, servindo de subsídio ao policial militar em sua

tomada de decisão, efetivando a sua correta aplicação de força e devida utilização das

tecnologias não letais, a fim de se evitar equívocos, num possível uso inadequado dessa

tecnologia.

A ausência de treinamento adequado na formação policial ainda é um ponto

sensível da Instituição, pois as estatísticas demonstraram que houve investimento

financeiro na aquisição de tecnologia, estando as armas não letais a disposição dos

policiais, porém pela falta de instrução qualificada, essas ferramentas deixam de serem

utilizadas por receio policial.

A falta de legislação e de uma padronização na utilização das armas não letais,

constitui um abismo institucional, podendo se dar ao acaso de cada policial utilizar essa

tecnologia da sua maneira.

A Corporação hoje, carece de dados mais detalhados sobre o resultado da

implantação das armas não letais no campo da Segurança Pública, devendo se criar

mecanismo que possibilitem avaliar o impacto dessa nova tecnologia não letal na

sociedade, assim como é feito nos Estados Unidos, pelo National Institute of Justice

(NIJ).

Finalmente, é preciso que a Corporação se empenhe não só no aspecto de

adquirir equipamentos não letais com alta tecnologia, mas principalmente se esforçar

para fortalecer no seio da Instituição, uma mudança de mentalidade policial, pautada na

necessidade e proporcionalidade, não tolerando práticas voltadas para satisfação pessoal

ou sadismo.

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