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Área temática: Economia das Organizações Título do trabalho: Breves Considerações sobre a Origem e as Causas do Empreendedorismo de Negócios AUTORES DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] FERNANDA MARIA FELÍCIO MACÊDO Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] Resumo: Neste ensaio busca-se responder duas questões relacionadas ao empreendedorismo de negócios: a) porque ele existe? e b) qual sua origem? Para tal, são efetuadas análises fenomenológicas sobre o tema. Busca-se a essência do problema, com o intuito de se chegar a alguns constituintes invariantes. O foco é a economia, com aporte da filosofia econômica. Entende-se que a relevância do estudo está em descortinar possibilidades não contempladas pela forma tradicional de se estudar o fenômeno empreendedorismo de negócios baseada no funcionalismo. Alguns conceitos da Teoria dos custos de transação são empregados para execução desta proposta. Racionalidade limitada/substantiva, assimetria de informações e oportunismo/oportunidade são conceitos utilizados para se chegar às repostas das perguntas propostas, a saber: a) o empreendedorismo de negócios existe para dar sustentação ao modo de produção capitalista e ao estilo de vida da sociedade contemporânea e b) tal empreendedorismo se origina em função do empreendedor e sua racionalidade substantiva, sendo sua consciência intencional e doadora de sentido. O empreendedorismo de negócios permite, assim, a configuração da sociedade atual, pois através do empreendedor há a indução da livre iniciativa e o desenvolvimento econômico e social. Palavras-chave: Empreendedorismo de Negócios; Racionalidade; Teoria dos Custos de Transação. Abstract: In this essay seeks to answer two questions related to entrepreneurship of business: a) because it exists? and b) what is its origin? For that, are made phenomenological analysis about the theme. Search is the essence of the problem, in order to reach some constituents invariant. The focus is the economy, with the contribution of economic philosophy. It is understood that the relevance of the study is uncover possibilities not contemplated by the traditional way of studying the entrepreneurship of business phenomenon based on functionality. Some concepts of the theory of transaction costs are employed to implement this proposal. Rationality limited / substantive, information asymmetry and opportunism / opportunity are concepts used to get answers to the questions posed, namely: a) entrepreneurship business exists to give support to the capitalist mode of production and lifestyle of contemporary society b) such entrepreneurship arises due to the entrepreneur and his substantive rationality, and its intentional consciousness and sense-giving. The entrepreneurship of business thus allows the configuration of today's society, because by the entrepreneur for the induction of free enterprise and economic and social development. Key-words: Business Entrepreneurship, Rationality, Transaction Costs Theory.

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Área temática: Economia das Organizações Título do trabalho: Breves Considerações sobre a Origem e as Causas do Empreendedorismo de Negócios AUTORES DIEGO LUIZ TEIXEIRA BOAVA Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] FERNANDA MARIA FELÍCIO MACÊDO Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] Resumo: Neste ensaio busca-se responder duas questões relacionadas ao empreendedorismo de negócios: a) porque ele existe? e b) qual sua origem? Para tal, são efetuadas análises fenomenológicas sobre o tema. Busca-se a essência do problema, com o intuito de se chegar a alguns constituintes invariantes. O foco é a economia, com aporte da filosofia econômica. Entende-se que a relevância do estudo está em descortinar possibilidades não contempladas pela forma tradicional de se estudar o fenômeno empreendedorismo de negócios baseada no funcionalismo. Alguns conceitos da Teoria dos custos de transação são empregados para execução desta proposta. Racionalidade limitada/substantiva, assimetria de informações e oportunismo/oportunidade são conceitos utilizados para se chegar às repostas das perguntas propostas, a saber: a) o empreendedorismo de negócios existe para dar sustentação ao modo de produção capitalista e ao estilo de vida da sociedade contemporânea e b) tal empreendedorismo se origina em função do empreendedor e sua racionalidade substantiva, sendo sua consciência intencional e doadora de sentido. O empreendedorismo de negócios permite, assim, a configuração da sociedade atual, pois através do empreendedor há a indução da livre iniciativa e o desenvolvimento econômico e social. Palavras-chave: Empreendedorismo de Negócios; Racionalidade; Teoria dos Custos de Transação. Abstract: In this essay seeks to answer two questions related to entrepreneurship of business: a) because it exists? and b) what is its origin? For that, are made phenomenological analysis about the theme. Search is the essence of the problem, in order to reach some constituents invariant. The focus is the economy, with the contribution of economic philosophy. It is understood that the relevance of the study is uncover possibilities not contemplated by the traditional way of studying the entrepreneurship of business phenomenon based on functionality. Some concepts of the theory of transaction costs are employed to implement this proposal. Rationality limited / substantive, information asymmetry and opportunism / opportunity are concepts used to get answers to the questions posed, namely: a) entrepreneurship business exists to give support to the capitalist mode of production and lifestyle of contemporary society b) such entrepreneurship arises due to the entrepreneur and his substantive rationality, and its intentional consciousness and sense-giving. The entrepreneurship of business thus allows the configuration of today's society, because by the entrepreneur for the induction of free enterprise and economic and social development. Key-words: Business Entrepreneurship, Rationality, Transaction Costs Theory.

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1. Introdução Neste ensaio pretende-se esclarecer dois aspectos centrais do moderno

empreendedorismo de negócios, considerando sua dimensão econômica: 1) Por que o empreendedorismo de negócios existe? 2) Qual sua origem?

Para responder tais questionamentos, recorre-se a algumas proposições da Teoria dos custos de transação, efetuando-se uma digressão. Busca-se ir além do convencional, na busca por dimensões não contempladas, em uma espécie de extrapolação. Ou seja, extrair-se-á da própria economia as respostas para as perguntas propostas.

Trata-se, portanto, de uma investigação sobre o caráter econômico da atividade empreendedora. Isso, porém, não significa uma abordagem economicista, ao contrário, indica uma abertura para outras possibilidades de estudo.

A tarefa é revestida de diversos obstáculos, em função da dificuldade intrínseca à própria definição do que seja empreendedorismo. Isso faz com que o termo empreendedorismo seja daquelas palavras que todos sabem o que é, mas ninguém sabe definir o que seja, a exemplo de tantas outras, como liberdade, amor, felicidade etc.

Diversos autores observam este aspecto da pesquisa em empreendedorismo, no tocante a dificuldade científica em se estabelecer compreensões mais aprofundadas sobre a temática (Mossberg, 1994; Galloway e Wilson, 2003; Kilby, 1983, Lock, 2009; Jackson, Gaulden e Gaster, 2001; Brown, 2007; Johnstone, 2008).

Não obstante, fazem-se algumas definições pontuais para nortear o trabalho investigativo em tela, para mitigar a dificuldade apontada.

Faz-se uso da fenomenologia e do método fenomenológico nas análises, principalmente através de Heidegger (1973; 1999a; 1999b; 2006), Sartre (1966; 1997) e Husserl (1965; 1990; 1992; 2001; 2002, 2006). Busca-se a essência do problema, com o intuito de se chegar a alguns constituintes invariantes.

O foco é a economia, com aporte da filosofia econômica. Entende-se que a relevância do estudo está em descortinar possibilidades não contempladas pela forma tradicional de se estudar o fenômeno empreendedorismo de negócios baseada no funcionalismo.

Tal fato se deve as maneiras pelas quais muitas investigações são efetuadas, visando características particulares do tema, suas aplicações imediatas e resultados que se possam generalizar.

Neste trabalho, inverte-se o polo de análise; deixa-se a esfera dos efeitos e caminha-se para a esfera das causas. Os efeitos do empreendedorismo viraram objeto de investigação desde os trabalhos pioneiros de Cantillon (1755) e Say (1803).

O avanço do conhecimento sobre a temática foi elevado desde então, especialmente o conhecimento de natureza epistemológica. Mas o que se observa é que esse interesse pelo efeito traz consigo um viés significativo: a ciência não consegue, por exemplo, definir empreendedorismo. São inúmeras as definições, dos mais variados autores.

A busca pelas causas é especialmente importante para auxiliar a Academia na busca para a fonte do desempenho empreendedor, na compreensão holística da atividade empreendedora como catalisadora do capitalismo contemporâneo.

Ademais, traz subsídios para a administração estratégica e mercadológica, reduzindo o hiato entre as pesquisas puras e as aplicadas. Em suma, busca-se estreitar os laços entre a filosofia e o estudo científico do empreendedorismo de negócios no campo econômico.

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2. O Empreendedorismo na Visão Econômica – Breves Considerações Shumpeter (1949) analisando a teoria econômica e a história do empreendedorismo,

observa que Adam Smith (1776), David Ricardo (1817) e John Stuart Mill (1848) fazem considerações sobre o empreendedorismo, porém sob o espectro do termo em inglês "gestão de negócios." Considera ainda que tanto Smith (1776) como Marx (1867, 1885, 1894), se fossem pressionados, teriam reconhecido a importância da atividade.

Hébert e Link (2006, p.295-6) analisando as perspectivas históricas do empreendedorismo, apontam que originalmente se empregava em inglês três termos para qualificar a palavra francesa entrepreneur (empreendedor): aventureiro, projetor e empresário, cada uma em um contexto particular. Porém, não foram essas as palavras consagradas para designar o empreendedor, mas sim entrepreneur, devido a proeminência de Say (1803) e Cantillon (1755).

Hoselitz (1960) fazendo uma breve história da teoria empreendedora e analisando a questão da palavra entrepreneur, diz:

As palavras têm sua história, o que reflete a história das instituições e costumes. Quando uma palavra aparece em uma nova língua ou quando uma velha palavra assume um novo significado é a prova de que o desenvolvimento social fez este novo significado necessário, a fim de encontrar uma designação para a nova realidade (HOSELITZ, 1960, p.234).

Não obstante, o primeiro estudioso do empreendedorismo de negócios é Cantillon (1755). Na obra “Essai Sur la Nature du Commerce en General” o autor discute em vários capítulos a atividade do empreendedor, de forma direta ou indireta. Dentre outros pontos abordados, afirma que o empreendedor é uma pessoa que paga certo preço em um produto para revendê-lo a um preço incerto, tendo que tomar decisões sobre a obtenção e utilização dos recursos, por conseguinte, assumindo o risco do negócio. Ou seja, os empreendedores conscientemente tomam decisões sobre alocações de recursos. Além disso, classifica as pessoas em dois tipos: empreendedoras e as assalariadas (CANTILLON, 1755, cap. XIII, parte 1). Destaca-se o pioneirismo do autor ao usar o termo entrepreneur como equivalente ao moderno empreendedor.

Smith (1776) em seu livro “An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations” não utiliza o termo entrepreneur, mas sim as palavras aventureiro, projetor e empresário. Aventureiro é quem corre riscos, projetor especula, projeta e o empresário é o homem prudente, acumula capital e obtém um progresso lento, mas constante. Destaca-se que o autor não falou diretamente sobre o empreendedor ou empreendedorismo, mas deu indicações neste sentido.

Assim, o empreendedor de Smith (1776) é próximo ao de Cantillon (1755): alguém que deseja obter um excedente de valor sobre o custo de produção. O empreendedor é um proprietário capitalista, que enfrenta o risco e a incerteza, combinando e orientando a produção.

Say (1803) é consagrado como o primeiro autor a caminhar no sentido de criar uma teoria para o empreendedorismo. Através da descrição dos acontecimentos econômicos de sua época, o autor de “Traité d’économie politique” busca estudar a função do empreendedor, que consiste em ser um agente da produção, objetivando coisas úteis, de valor. Dele também deriva a noção de inovação, ao buscar conciliar o conhecimento científico com a aplicação deste conhecimento e sua produção.

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Por sua vez, Ricardo (1817) não faz uso do termo empreendedor. De certa forma, o autor subestima a atividade, a exemplo de Smith (1776). A questão de não haver palavra inglesa correspondente ao termo francês entrepreneur (empreendedor), e apontada por Mill (1848):

É de se lamentar que esta palavra, neste sentido, não é familiar para um ouvido inglês. Os economistas políticos franceses podem desfrutar de uma grande vantagem por serem capazes de falar atualmente dos lucros do entrepreneur (MILL, 1848, p. 478).

Outro economista importante na discussão é Mill (1848), que na obra “The Principles of Political Economy” identifica as funções do empreendedor como sendo direção, controle e superintendência. Ademais, não faz uma separação clara entre o capitalista e o empreendedor. Basicamente, o autor discute brevemente a temática empreendedora, não fazendo quaisquer distinções aprofundadas entre as atividades dos capitalistas e dos empreendedores.

Marshall (1890) faz considerações sobre diversos aspectos ligados ao empreendedorismo. Na obra “Principles of Economics” o autor observa que o empreendedorismo (organização) é o quarto fator de produção, além da terra, trabalho, capital. O empreendedor, assim, imiscuí-se na organização, tendo a tarefa de coordenação dos outros fatores, sendo ele o responsável pela inovação. Outro aspecto investigado relaciona-se às habilidades que o empreendedor detém, sendo raras e limitadas no fornecimento, pois são tão grandes que poucas pessoas possuem. Porém, pode-se ensinar empreendedorismo. Analisa ainda o empreendedorismo familiar, particularmente a sucessão nos negócios, dentre outros aspectos.

A contribuição de Schumpeter (1911, 1997) foi decisiva para a consolidação do empreendedorismo como área de estudos da economia. No livro “Theorie der wirtschaftlichen Entwicklung”, o autor apresenta a teoria do desenvolvimento econômico, demonstrando que o empreendedor é o agente responsável por romper o equilíbrio existente entre a oferta e demanda, utilizando para isso a inovação. Assim, o empreendedorismo (inovação) torna-se o motor da economia. O empreendedor promove a inovação, sendo essa radical, pois destrói e substitui os modos de produção operantes. Por isso, surge o conceito de destruição criativa. Para o autor, o empreendedor promove uma mudança radical destruindo as tecnologias existentes, sendo quem propõe novidades. A necessidade de inovar é ditada pelo ambiente externo e o empreendedor só existe no momento da inovação, não podendo ser profissão, nem classe social, mas que pode desenvolver um sistema de valores. Finalmente, fez considerações sobre o que atualmente se designa de intraempreendedorismo.

Kirzner (1973) observa que a existência de oportunidades requer acesso à informação, pois a assimetria de informação nos mercados tradicionais é um importante componente para o empreendedorismo. Assim, o empreendedor pode perceber as oportunidades e lucrar com isso. Deste modo, a análise do mercado possibilita a ação empreendedora como, por exemplo, comprar por um preço e vender por outro maior, obtendo lucro.

Na literatura econômica sobre empreendedorismo são encontrados diversos outros autores que discutem o tema. Knight (1921) faz considerações sobre a incerteza e o risco. Hayek (1945) destaca a questão da assimetria de informação e seu papel para a descoberta de oportunidades. Von Mises (1949) distingue empreendedores de não empreendedores e considera o empreendedor como aquele que toma as decisões. Como foi possível observar, na literatura clássica econômica o empreendedorismo é apresentado como importante componente do mercado capitalista. Porém, os estudos efetuados não procuram esclarecer a origem da atividade, limitando-se a observar seus efeitos, não suas causas.

Na sequência apresentam-se definições de empreendedorismo e empreendedor, para auxiliar as análises.

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3. Definições Preliminares sobre Empreendedorismo e o seu Agente: O Empreendedor Para se conhecer os componentes centrais do empreendedorismo de negócios, é

necessário saber o que é empreendedorismo. Tal empreitada, por si só, revela-se complexa e desafiadora, pois ainda não há consenso entre os pesquisadores do que exatamente seja a atividade. Há tantas definições quantos autores que estudam o tema. Ou seja, o empreendedorismo encontra-se naquilo que Khun (1962) chama de fase pré-paradigmática.

Boava e Macedo (2006, 2009) discutem tais aspectos e apresentam a chamada teoria tridimensional do empreendedorismo, afirmando que a atividade empreendedora consiste em uma ação, orientada por um valor para um fim. Deste modo, haverá empreendedorismo em qualquer atividade humana, sendo que a ação representa seu início, o valor aquilo que lhe dá sentido e a finalidade seu princípio explicativo.

Desta maneira, o empreendedorismo pode ser entendido como próprio do homem. Acontece que o tipo de empreendedorismo mais estudado e conhecido é o de negócios, que acaba por determinar como as pessoas enxergam o fenômeno, em função da ideologia capitalista.

Porém, muitos dos estudos efetuados destinam-se a aspectos subsidiários da atividade econômica empreendedora, com a finalidade de se estudar os efeitos do empreendedorismo nos mercados e sociedades, ao invés de se esclarecer os porquês da atividade.

Assim, não é possível saber por que o empreendedorismo existe nem sua origem. Esta é a novidade deste ensaio. Busca-se esclarecer preliminarmente tais aspectos, no

âmbito do empreendedorismo de negócios. Para tal, deve-se esclarecer que o empreendedorismo de negócios consiste em uma

série de práticas e atividades que envolvem e contém elementos econômicos relacionados à criação, manutenção e expansão de negócios com finalidade lucrativa. Tal atividade, na atualidade, revela-se estratégica para as nações, em função das múltiplas implicações que decorrem do fato de haver empreendedores dinamizando suas localidades. Por isso ocorre a valorização social do empreendedorismo, seja através da incorporação de sua prática na produção cultural atual, seja por meio de sua institucionalização em escolas e universidades, seja decorrente dos discursos e ações governamentais incentivando sua eclosão e implantação.

Nesta direção, entende-se como empreendedor de negócios o agente econômico imbuído de uma consciência ética que age mediante valores para um fim. Tal agente é o responsável pelo suporte da atividade capitalista contemporânea, na busca de sua realização pessoal e pleno desenvolvimento econômico e social. Sua ação se dá no interior dos mercados, fazendo uso de uma série de estratégias que lhe são próprias e peculiares, sendo difícil caracterizá-lo ou rotulá-lo, devido as suas singularidades decorrentes de sua constituição bio-psico-social. Ou seja, o empreendedor de negócios, dentre todos os empreendedores, é o tipo mais complexo e menos acessível, apesar de ser o mais estudado. Torna-se assim pouco compreendido.

Mas tal situação não impede que se avance em direção a uma clarificação destas questões, ao contrário; é ela que possibilita que isso ocorra. Basta para tal a utilização de um método de análise que consiga atingir a essência do fenômeno investigado, no caso o método fenomenológico.

Na próxima sessão, discute-se sobre alguns aspectos da Teoria dos custos de transação, para demonstrar posteriormente que a própria economia tem algumas das respostas para as perguntas que são efetuadas neste ensaio, e que só não foram respondidas ainda em função do triunfo da visão científica funcionalista (com sofisticados métodos quantitativos) da economia atual em detrimento da visão da filosofia econômica (interpretativa) de outrora.

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4. Apontamentos sobre a Teoria dos custos de transação A Teoria dos custos de transação fornece importantes subsídios para o esclarecimento

sobre a origem do empreendedorismo de negócios, não tanto por seu conteúdo formal, mas sim por suas premissas em relação aos atributos humanos do empreendedor-coordenador.

Coase (1937), vencedor do prêmio Nobel de economia, é apontado como o pioneiro da Teoria de custos de transação. Em seu estudo o autor indaga: por as firmas existem? Em suas análises, observa que a teoria tradicional considera o sistema econômico autorregulável pelos preços, negligenciando o papel das organizações (firmas). Tal aspecto é relevante, pois demonstra que os preços, fora das organizações, são inerentes a uma série de transações que ocorrem no mercado, ao passo que na firma há o papel desempenhado pelo empreendedor, que atua como coordenador, aquele que dirige a produção.

Assim, embora os economistas tratem o mecanismo de preços como um instrumento de coordenação Coase (1937) observa que eles também admitem a função de coordenação do empreendedor. Desta forma, em seu estudo o autor visa preencher a lacuna entre o pressuposto que os recursos são alocados por meio do mecanismo de preços e a suposição que essa atribuição é dependente do empreendedor-coordenador. Portanto, a origem da firma ocorre em função da existência de custos (ao se negociar nos mercados) que são passíveis de redução ou que podem ser evitados. O empreendedor-coordenador define a alocação dos recursos. Apesar de muito lido, Coase (1937) foi pouco compreendido e um longo período se passou até que suas ideias fossem retomadas.

Williamson (1975), outro vencedor do prêmio Nobel de economia, recorre aos estudos efetuados por Coase (1937) para desenvolver uma espécie de teoria da evolução das firmas. O autor considera que os mercados e as hierarquias são formas alternativas de se organizar a produção, deste modo o sistema econômico constitui-se de diferentes modos de governança: mercados, hierarquias e estruturas mistas. Tal autor, em estudos subsequentes, foi um dos responsáveis pela eclosão e consolidação da Teoria dos custos de transação como campo de pesquisas econômicas.

A transação é ato por meio do qual se trocam ou transferem bens, serviços ou valores. O custo de transação é aquele custo que se tem ao se negociar, elaborar e cumprir os contratos existentes para a concretização de uma operação comercial. O empreendedor-coordenador é o agente que se ocupa dos fatores que fazem surgir os custos de transação. Deste modo, a firma surge para equacionar essa questão.

Portanto, no tocante a Teoria dos custos de transação, o empreendedor torna-se também um coordenador, que faz a combinação dos diferentes recursos visando um melhor posicionamento da organização quando da negociação no mercado (COASE, 1937; WILLIAMSON, 1975, 1985, 1992, 1996, 2006).

Uma aplicação da Teoria dos custos de transação em empreendedorismo é encontrada em Michael (2007), que identifica três fatores fundamentais para a transação: o custo de medição da qualidade, o excesso de confiança do empreendedor (denominado de risco de identidade), e os custos de operação específicos necessários.

Em termos propedêuticos, o exposto apresenta as condições básicas para a compreensão do que seja a Teoria dos custos de transação, sendo que na sequência verificar-se-á os elementos ligados ao agente econômico (empreendedor-coordenador) que fornecem as bases para a elucidação das perguntas propostas anteriormente, a saber: racionalidade limitada, oportunismo e assimetria de informações.

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5. Esclarecimento Preliminar sobre a Origem e Causas do Empreendedorismo de Negócios

Na Teoria dos custos de transação há três componentes humanos que se destacam: a racionalidade limitada, o oportunismo e a assimetria de informações.

Racionalidade limitada designa o modo de pensar do agente econômico, que padece de limitações. Simon (1959), outro prêmio Nobel, é o autor utilizado na Teoria dos custos de transação para explicar esse processo cognitivo do agente. Para agir e decidir, o homem não consegue enxergar todas as possibilidades e efetuar todos os cálculos necessários para atingir o melhor resultado. Isto se dá devido a incerteza sobre o futuro e limitações de conhecimento e habilidades. Assim, o agente se dá por satisfeito em alcançar objetivos possíveis, a partir de sua capacidade e buscando o caminho do menor esforço de acordo com as contingências.

A assimetria de informações consiste no conhecimento, por parte do agente, de informações que não estão disponíveis para os outros agentes de uma transação. No caso de não haver incentivos para o agente detentor da informação, existe a possibilidade de comportamento duvidoso, o chamado risco moral (WILLIAMSON, 1985).

O oportunismo decorre da assimetria de informações, significando a tendência, prática ou política do agente econômico que busca tirar proveito das oportunidades, circunstâncias ou fatos em uma transação, em transigência ou em detrimento dos princípios morais ou de normas contratuais.

Os três componentes humanos apresentados indicam o caminho para se esclarecer o proposto neste ensaio. Porém, no empreendedorismo de negócios tais componentes sofrem uma transformação, sendo que a racionalidade limitada dá lugar a racionalidade substantiva, o oportunismo vira oportunidade e a assimetria de informações assume lugar de destaque, devido a consciência intencional.

O empreendedor de negócios é dotado de racionalidade substantiva. Tal racionalidade se pauta por imperativos de natureza ética valorativa (WEBER, 1999), se originado da consciência intencional. O homem toma consciência de si. Guerreiro Ramos (1989) indica que a racionalidade substantiva demonstra a possibilidade de emancipação do homem.

No empreendedorismo de negócios a racionalidade limitada é suplantada pela substantiva, pelo fato de o empreendedor ser o ente que determina suas possibilidades. Ele é o construtor da feitura de seu mundo, que será aquilo que ele idealizar. Os riscos, insucessos e incertezas são fases pelas quais passará para a concretização de seus objetivos, uma aprendizagem. Ele decide de maneira racional e substantiva, a partir de seus valores. Em relação ao fato de não se saber de antemão todos os vieses do caminho, estes não limitam sua capacidade cognitiva, pois ele sabe que o importante é o fim de sua ação empreendedora, não o caminho tortuoso que precisa atingir. Assim, ele se liberta dos condicionantes ambientais que frenam suas ações.

A assimetria de informações consiste em uma espécie de capacidade que o empreendedor possui para captar as informações e possibilidades existentes no meio em que vive. Ou seja, ele percebe e vislumbra potenciais negócios onde os outros não veem nada. Trata-se da projeção da consciência para fora de si, em um tipo de iluminação do caminho em que está a trilhar. Neste caso, tal assimetria não é prejudicial, em virtude de não haver uma transação. O problema poderá existir depois que o negócio comece a funcionar e o empreendedor deixe de lado o empreendedorismo para se dedicar a gestão.

O oportunismo não existe, pois o empreendedor busca sua realização pessoal, não está a fazer uma transação. Então, o que há é a oportunidade, que advém da assimetria de informações. Ou seja, por conhecer e vislumbrar aspectos que os outros não veem, o empreendedor constata uma oportunidade, e lucra com ela.

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A grande questão nesta discussão consiste no pós-empreendedorismo, ou seja, depois que o negócio começa a funcionar. Muitas vezes ocorre de o empreendedor deixar de ser empreendedor e se tornar gerente. Isto explica porque muitos empreendedores não administram suas empresas, mas lá atuam para sempre estar desenvolvendo novas ações, produtos, processos e ideias. Enfim, tais pessoas estão sempre empreendendo e se realizando. Estes esclarecimentos ainda não respondem as questões propostas, a saber: 1) Por que o empreendedorismo de negócios existe? 2) Qual sua origem?

O que foi discutido até o momento, serve de subsídio para as respostas, pois situa o debate. Em relação à primeira indagação, a resposta é que o empreendedorismo de negócios existe para dar suporte, apoio e sustentação ao modo de produção capitalista. Tal afirmação é corroborada pela própria época de surgimento da atividade, concomitante com a revolução industrial. E os responsáveis por tal revolução foram empreendedores de negócios. Ao longo da história, diversos estudiosos observaram os avanços do capitalismo, e neste avanço a figura proeminente era do empreendedor, aquele indivíduo que toma para si a responsabilidade pela consecução das atividades que são as mais arriscadas e incertas para se empregar o capital.

Assim, sem o empreendedorismo de negócios pode-se dizer que não haveria o capitalismo contemporâneo, a sociedade estaria em algo próximo ao o que ocorria na idade média. Foi e é tal empreendedorismo o responsável pela maneira de viver da sociedade atual, pautada por imperativos de natureza técnica e científica.

A ênfase dada pelos estudiosos do empreendedorismo para sua natureza econômica também explica o proposto neste ensaio, pois a Academia converte-se na guardiã do modo de viver atual. Portanto, o motor desta assertiva é a ideologia. Pode-se exemplificar tal situação verificando-se três dos componentes ideológicos:

1. Literatura: a bibliografia sobre o tema compõe-se manuais de planos de negócios, receitas para abrir empresas, estudos sobre a realidade posta (não se problematiza a realidade), estudos sobre como maximizar os resultados a partir de práticas preexistentes (com a introdução das mais recentes descobertas) etc.

2. Ensino: nas universidades ocorre a difusão das técnicas para o aluno transformar-se em empreendedor, não havendo discussões transcendentes, apenas as imanentes. Ou seja, os alunos são capacitados a dominar um conjunto articulado de conhecimentos com a finalidade de reproduzir a realidade posta.

3. Discursos: a mídia, políticos, órgãos de fomento etc. utilizam em seus discursos, basicamente, a visão econômica: empreendedorismo como gerador de riqueza. Não há espaço para outras possibilidades não ideológicas.

Isso ocorre devido à incorporação do termo entrepreneur na agenda de pesquisa econômica. E isso acarreta na procura sem fim da definição do que seja empreendedorismo. Como um moto-contínuo. Na física, não é impossível o moto-contínuo, mas para isso é necessário rever as leis da termodinâmica ou da mecânica (novas descobertas, ruptura de paradigmas). No empreendedorismo ocorre situação análoga.

Logo, o empreendedorismo de negócios existe para garantir o modo de vida da sociedade capitalista, suas empresas, os empregos das pessoas etc. E ele começa a partir de uma simples ideia do empreendedor, que faz uso de sua racionalidade substantiva, da assimetria de informações e das oportunidades que enxerga.

Mas tal empreendedor não é um herói ou uma pessoa dotada de talentos extraordinários, é um homem que atua observando certos valores para um fim.

Em relação ao segundo questionamento, a origem do empreendedorismo de negócios é o seu agente, o empreendedor. Tal pessoa rompe com a atitude natural e desenvolve ações visando a consecução de seu mundo.

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Ou seja, individualmente age para concretizar suas ideias. Para tal faz uso de uma série de ações visando seu objetivo. Seja através de sua rede de contatos, seja por meio de convencimento de possíveis financiadores, seja através de sacrifícios familiares, o empreendedor de negócios acaba por conseguir realizar o que se propõe.

O estudo sobre grandes corporações demonstra isso. A Microsoft, por exemplo, começou a partir das ideias de Bill Gates e Paul Allen, funcionando em uma garagem. Tais empreendedores, na fundação da empresa, não imaginavam que ela se tornaria um expoente do capitalismo. Visconde de Mauá, quando trabalhava em uma mercearia, também não imagina se tornar o homem mais rico do Império e empreendedor notável. Tampouco Conde Matarazzo, que iniciou seus negócios com uma mercearia que vendia banha, e que acabou por construir o maior complexo industrial da América Latina do início do século XX.

Tais exemplos demonstram que o empreendedorismo de negócios se origina de e a partir de uma simples pessoa: o empreendedor. Fatores extra-humanos, contingenciais, estruturais etc., são acessórios na ação singular humana. Um personalismo, portanto.

Com tal entendimento, demonstra-se que o empreendedorismo é um modo de ser do homem e que qualquer pessoa pode empreender. Não há condicionantes externos, limites ou impedimentos. O que fará ou não uma pessoa empreender é seu projeto existencial, ligado a um conjunto de escolhas que pode fazer (não escolher é uma escolha). Ao decidir-se conscientemente empreender, o homem efetua uma ruptura com aquilo que lhe dá segurança e estabilidade, entrando em uma zona de dúvidas e incertezas. Aquele que não empreende, não possui tantas incertezas, pois saberá, de antemão, das suas possibilidades futuras.

O modo de ser é a possibilidade de resgate, manifestação, desvelamento. É a transformação de uma vontade, desejo, potência em ato. O indicativo maior do modo de ser empreendedor, o princípio explicativo fundamental na organização e transformações decorrentes da ação empreendedora é a finalidade, por isso os economistas tanto estudam a atividade e ela acaba existindo para dar suporte ao capitalismo.

Há de se evitar, porém, reducionismos na pesquisa e no entendimento do fenômeno empreendedor. Neste estudo investiga-se um tipo de empreendedorismo, o de negócios. Há outros, menos estudados. Mas igualmente relevantes. Porém, ocorrem habitualmente quatro ismos principais no estudo sobre a realidade empreendedora, que tem implicações substanciais para sua plena compreensão, a saber:

1. Economicismo: o empreendedorismo é reduzido a sua esfera econômica. Todos os fatores subjacentes ao fenômeno são transpostos à sua dimensão econômica, não sendo levadas em consideração análises de outra natureza.

2. Organilogismo: reduz o empreendedorismo a um processo dentro de estruturas/sistemas com delimitação (organização). Fatores extrínsecos são considerados integrantes do sistema (economia, psicologia, sociologia etc.).

3. Sociologismo: a redução do empreendedorismo ocorre em se considerar o fenômeno a partir do contexto inerente ao mesmo, especialmente no que tange a seus efeitos para a sociedade, sendo o mesmo considerado um fato social.

4. Psicologismo: reduz-se o empreendedorismo a psique do empreendedor, seu comportamento, suas aspirações etc. Outros fatores são considerados marginais.

Tal situação ocorre por parte daquelas pesquisas que consideram os efeitos suficientes para fornecer uma explicação holística sobre a atividade, ao invés de se conhecer as causas.

A decisão sobre explicar ou compreender o fenômeno empreendedor está ligada ao objetivo de pesquisa ao qual o investigador pretende alcançar, o tipo de conhecimento de mundo que ele possui, o domínio metodológico e conceitual das teorias etc.

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Contudo, faz-se necessário ressaltar a primazia que ocorre na investigação do empreendedorismo a partir de uma perspectiva explicativa. É preciso que os estudos compreensivos passem a ser mais empreendidos, pois se ambos se complementam devem apresentar o mesmo interesse de pesquisa por parte dos investigadores.

No mais, é preciso salientar que a epistemologia do empreendedorismo está em fase de construção e que a existência de mais pesquisas compreensivas será de grande valia nesse processo, pois tais investigações permitem acessar regiões desconhecidas dos fenômenos pesquisados.

Caso a epistemologia do empreendedorismo apresente somente avanços explicativos sua base será limitada, uma vez que não haverá aprofundamento na discussão acerca de questões intrínsecas aos significados e experiências perceptivas do ser que empreende.

Porém, a área de empreendedorismo na atualidade está dominada por um forte caráter positivista/funcionalista, o que dificulta o desenvolver de outras abordagens. Ademais, tem a questão que a atividade está em uma fase pré-paradigmática. Neste sentido, Aldrich e Baker (1997) observam:

A julgar pelas normas da ciência normal, a pesquisa sobre empreendedorismo ainda se encontra em uma fase muito precoce. Se nenhum paradigma único e poderoso existe, então há ainda menos evidências para vários pontos de vista coerentes [...] a pesquisa em empreendedorismo está melhorando, mas ainda apresenta uma preocupação tópica limitada concernente ao valor da prática empreendedora (ALDRICH e BAKER, 1997, p. 398).

Em relação ao funcionalismo, Grant e Perren (2002) analisam 36 artigos publicados pelos autores de mais destaque nos Estados Unidos em 2002 e confirmam a predominância do funcionalismo como perspectiva de estudos sobre empreendedorismo e pequenos negócios.

Utilizando a matriz de Burrell e Morgan (1979), os autores observam que dos 36 artigos publicados, 32 foram amplamente funcionalistas e 04 foram interpretativos, enquanto nenhum foi humanista radical ou estruturalista radical.

Pittaway (2000) também considera o campo funcionalista. Em sua tese de doutorado, o autor observa que as abordagens de pesquisa que utilizem pressupostos funcionalistas tendem a desconsiderar o comportamento intencional, resultando em explicações relativamente pobres sobre o comportamento empreendedor.

No Brasil, Nassif et al. (2010) analisam 290 artigos publicados em anais dos eventos Enanpad (Encontro Nacional Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração) e EGEPE (Encontro de Estudos sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas).

Do Enanpad os autores utilizam artigos publicados nas áreas de Empreendedorismo e Comportamento Empreendedor (de 2003 a 2008) e Empreendedorismo e Negócios Inovadores (de 2005 a 2008). Do EGEPE faz uso de artigos publicados entre 2000 e 2008.

Na referida investigação, Nassif et al. (2010) utilizam a matriz proposta por Burrel e Morgan (1979), constatando que uma significativa maioria de pesquisadores opta pelo funcionalismo, em detrimento ao caminho interpretativo, conforme se pode ver na figura 1:

Figura 1: Distribuição dos artigos em relação à base epistemológica

Fonte: Nassif et al. (2010, p.183)

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Como é possível verificar na figura 1, cerca de 75% da pesquisa em empreendedorismo é funcionalista, o que demonstra a dificuldade em se conhecer as causas do empreendedorismo e, não apenas seus efeitos. Dizem os autores:

Como em estudos anteriores em outras áreas, caracterizou-se assim uma baixa diversidade de paradigmas, especialmente no encontro da própria área, o que pode vir a se tornar um aspecto limitador caso o campo não consiga absorver novas teorias e com isso desenvolver-se e avançar [...] Corre-se o risco de desenvolver uma tendência à entropia, caso nada de novo seja criado, além de, ao longo do tempo, permanecer apenas testando e verificando a aplicabilidade das teorias existentes sem que se crie nada de novo (NASSIF et al., 2010, p. 184-185).

Por fim, Pittaway (2003) realiza uma análise sobre as metateorias em empreendedorismo subjacentes às teorias econômicas, apresentada na figura 2, em que se condensa o que foi debatido.

Figura 2: Resumo das abordagens econômicas em empreendedorismo

Fonte: Pittway (2003, p. 12) Como se observa, a pesquisa em empreendedorismo apresenta muitas sutilezas e

nuances. Não obstante, a ciência tem evoluído na compreensão do fenômeno, com o surgimento de novas pesquisas multidisciplinares. Ehrstén e Kjellman (2003) apresentam a figura 3 que descreve a evolução das pesquisas na área:

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Figura 3: Raízes da pesquisa em empreendedorismo Fonte: Ehrstén e Kjellman (2003, p. 7)

As pesquisas mais recentes sobre empreendedorismo (multidisciplinares), buscam a compreensão do fenômeno, não apenas a descrição ou aplicação. Isso ocorre em função da atividade ser inerente ao homem.

Para ilustrar essa questão, constata-se que o primeiro filósofo conhecido foi também o primeiro empreendedor de negócios.

Há aproximadamente 2500 anos, Tales de Mileto (nascido em torno de 624 a.C e morto em torno de 547 a.C) foi um exímio sábio, geômetra, político e grande negociante que obtinha fortuna com seus negócios. A descrição de sua capacidade empreendedora para os negócios é relatada por Aristóteles (Pol. I):

Trata-se de uma das especulações gerais para alcançar a fortuna, mas atribuída a ele [Tales] por causa de sua sabedoria. Como o censuravam pela pobreza e zombavam de sua inútil filosofia, o conhecimento dos astros permitiu-lhe prever que haveria abundância de olivas. Tendo juntado todo o dinheiro que podia, ele alugou, antes do fim do inverno, todas as prensas de óleo de Mileto e de Quios. Conseguiu-as a bom preço, porque ninguém oferecera melhor e ele dera algum adiantamento. Feita a colheita, muitas pessoas apareceram ao mesmo tempo para conseguir as prensas e ele as alugou pelo preço que quis. Tendo ganhado muito dinheiro, mostrou a seus amigos que para os filósofos era muito fácil enriquecer, mas que eles não se importavam com isso. Foi assim que mostrou sua sabedoria (ARISTÓTELES, Pol. I, 11, 1259 a 8-10).

A citação demonstra que Tales, há aproximadamente 2500 anos, já desenvolvia a inovação, o emprego de capital de risco etc. Ao alugar as prensas, colher o capital necessário para tal e fazer uma especulação, ele praticamente inventava o empreendedorismo. O que Aristóteles chama de monopólio, foi realizado mediante uma ação empreendedora, com os riscos inerentes a atividade. Porém, naquela época não existia o capitalismo, mas existia o empreendedorismo. Mas, o empreendedorismo de negócios, da forma que se conhece na atualidade, tem origem no empreendedor e existe para dar suporte ao capitalismo. 6. Considerações Finais

Neste ensaio buscou-se esclarecer as razões pelas quais o empreendedorismo de negócios existe e qual sua origem. Através de uma abordagem fenomenológica, com aporte da filosofia econômica, esclareceu-se que a origem da atividade encontra-se no empreendedor, que mediante sua consciência intencional rompe com a atitude natural na busca de ser sujeito da ação. A razão de existir o empreendedorismo de negócios é que tal atividade dá suporte ao capitalismo contemporâneo.

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O empreendedorismo de negócios permite a configuração da sociedade atual, pois através do empreendedor há a indução da livre iniciativa e o desenvolvimento econômico e social. Neste sentido, o ramo adquire destaque e relevância, pois atua como um catalisador de crescimento, sendo assim incentivado e valorizado.

A Teoria dos custos de transação, indiretamente, contribui neste trabalho por fornecer três elementos de análise: racionalidade, assimetria de informações e oportunismo, que se revelaram profícuos para uma melhor compreensão do fenômeno.

Há de se destacar que o empreendedor é o ente necessário e suficiente para que haja a implementação de ações empreendedoras em qualquer lugar. Não há condições, limites ou determinantes extra-humanos que possam impedir tal implementação.

Tal fato se dá em virtude de haver uma ética do empreendedorismo que atua como propulsora da intenção consciente do empreendedor. Tal ética se fundamenta em um conjunto de valores deste agente, que constrói a si e ao mundo em que vive.

Neste sentido, o empreendedor acaba por criar e configurar um modo de vida para toda a sociedade, pois o resultado de sua ação tem influência sobre o conjunto de seres humanos que lhe rodeiam. As empresas, os empregos, o avanço técnico-científico etc. decorrem, muitas vezes, da realização e concretização da vontade do empreendedor. Não se trata, porém, de um super-homem que muda o mundo, mas sim alguém que atua por motivos personalistas e que acaba por determinar os rumos dos acontecimentos. A visão romântica do empreendedor está dando lugar a visão real, ou seja, deixa-se de lado o herói e entra em cena o planejador, que faz ações estratégicas, através de sua racionalidade substantiva.

Por sua vez, a atividade do empreendedor de negócios existe como uma espécie de laboratório-oficina do capitalismo, o tipo de ente que pode reinventar-se permanentemente para manter vivo o modo de produção vigente. Em outras palavras, devido ao empreendedorismo de negócios o capitalismo possui uma espécie de fonte da eterna juventude, em que pode periodicamente revigorar-se sempre que suas estruturas sofrerem vieses que abalem seu vigor.

A recente crise econômica provou tal assertiva, de dois modos distintos, mas complementares: a) o empreendedor de negócios individual atuou de forma decisiva, ao enxergar oportunidades em meio ao caos, realizando grandes lucros (os empreendedores especuladores obtiveram fortunas com o uso da racionalidade substantiva); b) devido a crise surgiu um “novo” empreendedor de negócios, o Estado. O mais proeminente foi o governo dos EUA, que assumiu o controle de muitas empresas privadas, além de se tornar sócio de outras. E igualmente obteve lucros.

Finalizando, é possível afirmar que o empreendedorismo de negócios e seu agente, o empreendedor, são na atualidade os responsáveis pelo sucesso ou fracasso da economia de uma nação. Um país forte se faz com empreendedores capazes e competentes. 7. Referências Bibliográficas ALDRICH, H.E.; BAKER, T.; Blinded by the cities? Has there been progress in entrepreneurship research? In: SEXTON, D.L.; SMILOR, R.W. Entrepreneurship 2000. Chicago: Upstart Publishing, 1997. ARISTOTELES. Politics. Londres: Longmans e Green, 1877. Disponível na internet: <http: //ia341333.us.archive.org/1/items/cu31924071172914/cu31924071172914.pdf> Acesso em 02 fev. 2010. [Texto de Bekker] BOAVA, D.LT.; MACEDO, F.M.F. Esboço para uma teoria tridimensional do empreendedorismo. In: Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração, 33, 2009, São Paulo. Anais... São Paulo: ANPAD, 2009.

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