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Área temática: Governança ADERÊNCIA AS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA DO SEBRAE/SC À LUZ DAS RECOMENDAÇÕES DO IBGC ELIZÂNGELA DUARTE Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] EVELYSE NICOLE CHAVES DE AMORIM Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] ERNESTO FERNANDO RODRIGUES VICENTE Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] ALTAIR BORGERT Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] RESUMO Diante da relevância dos valores recolhidos a título de contribuição compulsória na folha de pagamento das empresas brasileiras, o SEBRAE, como um dos beneficiários desse valor, tem a necessidade de informar a contrapartida à sociedade. Neste sentido, a presente pesquisa tem como objetivo geral verificar qual o grau de aderência do SEBRAE/SC com relação às práticas e recomendações de Governança à luz do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais do IBGC. Trata-se de uma pesquisa documental e bibliográfica, com base em um estudo de caso com abordagem qualitativa, utilizando-se dados secundários. Com base na análise dos dados coletados tem-se como resultado que dos 7 itens analisados, sendo eles (i) Missão e Operações; (ii) Titularidade; (iii) Conselho; (iv) Gestão; (v) Auditoria Independente; (vi) Conselho Fiscal; (vii) Conduta, conflito de interesse e divulgação das informações, 6 apresentaram aderência superior a 50%. O item que trata de “Auditoria Independente” apresentou maior aderência, 75% e em segundo lugar o item “Missão e Operações”, 73%. Com menor aderência é o item “Conselho”, com 40%. Como conclusão, infere-se que o SEBRAE/SC apresenta um grau de aderência geral de 63% com relação às práticas e recomendações de Governança à luz do Guia. Palavras-chave: Governança. SEBRAE. IBGC.

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Área temática: Governança

ADERÊNCIA AS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA DO SEBRAE/SC À LUZ DAS RECOMENDAÇÕES DO IBGC

ELIZÂNGELA DUARTE

Universidade Federal de Santa Catarina

[email protected]

EVELYSE NICOLE CHAVES DE AMORIM

Universidade Federal de Santa Catarina

[email protected]

ERNESTO FERNANDO RODRIGUES VICENTE

Universidade Federal de Santa Catarina

[email protected]

ALTAIR BORGERT

Universidade Federal de Santa Catarina

[email protected]

RESUMO Diante da relevância dos valores recolhidos a título de contribuição compulsória na folha de pagamento das empresas brasileiras, o SEBRAE, como um dos beneficiários desse valor, tem a necessidade de informar a contrapartida à sociedade. Neste sentido, a presente pesquisa tem como objetivo geral verificar qual o grau de aderência do SEBRAE/SC com relação às práticas e recomendações de Governança à luz do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais do IBGC. Trata-se de uma pesquisa documental e bibliográfica, com base em um estudo de caso com abordagem qualitativa, utilizando-se dados secundários. Com base na análise dos dados coletados tem-se como resultado que dos 7 itens analisados, sendo eles (i) Missão e Operações; (ii) Titularidade; (iii) Conselho; (iv) Gestão; (v) Auditoria Independente; (vi) Conselho Fiscal; (vii) Conduta, conflito de interesse e divulgação das informações, 6 apresentaram aderência superior a 50%. O item que trata de “Auditoria Independente” apresentou maior aderência, 75% e em segundo lugar o item “Missão e Operações”, 73%. Com menor aderência é o item “Conselho”, com 40%. Como conclusão, infere-se que o SEBRAE/SC apresenta um grau de aderência geral de 63% com relação às práticas e recomendações de Governança à luz do Guia.

Palavras-chave: Governança. SEBRAE. IBGC.

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Abstract Given the importance of the amounts collected of compulsory contribution on the payroll of Brazilian companies, SEBRAE as one of the beneficiaries of that value, has the need to inform the counterpart to society. In this respect, this research aims to verify which the general degree of compliance SEBRAE / SC with respect to the practices and recommendations according to Governance Best Practices Guide of Governance for Business Foundations and Institutes of IBGC. It is a bibliographic and documentary research, based on a case study with a qualitative approach, using secondary data. Based on analysis of data collected has resulted in seven of the items analyzed, they are (i) Mission and Operations (ii) Ownership, (iii) Board, (iv) Management, (v) Independent Audit (vi ) Fiscal Committee, (vii) Conduct, conflict of interest and disclosure of information, six had more than 50% adherence. The item which addresses "independent audit" had greater adherence, 75% and the in the second place the item "Mission and Operations," 73%. With less adherence is the item "Board" with 40%. In conclusion, it appears that the SEBRAE / SC has an overall degree of adherence of 63% with respect to governance practices and recommendations according of the Guide. Keywords: Governance. SEBRAE. IBGC.

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1 INTRODUÇÃO

A cobrança por maior prestação de contas, equidade e transparência por parte das organizações tem levado inúmeras Entidades a buscar práticas que estejam de acordo com princípios de Governança. Spitzeck e Hansen (2010) aduzem que a Governança corporativa é entendida como o sistema pelo qual as sociedades são controladas e dirigidas.

Nesta linha de pensamento, de acordo com os princípios emanados pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC, 2009a), com a intenção de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade, pautando-se pela transparência, equidade, responsabilidade corporativa e prestação de contas, a Governança se apresenta como indispensável para entidades dos mais variados setores da economia, inclusive para o terceiro setor.

No contexto das organizações do terceiro setor, de acordo com Leal e Famá (2007) aduzem que a sobrevivência desse tipo de entidade possui relacionamento com se relaciona com diversas variáveis, como, por exemplo, o crescimento no número destas organizações e o mutações de suas estruturas, associados, bem como rapidez no ritmo das mudanças do ambiente. Destarte, há um aumento das exigências para essas organizações, que devem ampliar sua capacidade de formular e implementar estratégias, para superar os desafios e atingir as suas metas de curto, médio e longo prazos.

Uma das entidades que se enquadram nesta linha é o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, entidade privada sem fins lucrativos, surgiu em 1972 para estimular o empreendedorismo e o desenvolvimento do Brasil com a missão de promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos empreendimentos de micro e pequeno porte (SEBRAE, 2011). A instituição atua também com foco no fortalecimento do empreendedorismo e na aceleração do processo de formalização da economia por meio de parcerias com os setores público e privado, programas de capacitação, acesso ao crédito e à inovação, estímulo ao associativismo, feiras e rodadas de negócios.

Nesse contexto, ressalta-se que parte dos recursos repassados ao SEBRAE são oriundos da contribuição compulsória, de 0,3% e 0,6% calculada sobre o total da folha de salários das empresas nacionais, sendo, portanto, de interesse geral que o órgão mantenha um nível adequado de governança, com intuito de bem informar, com transparência, responsabilidade e adequada prestação de contas, seus financiadores e demais interessados.

Em termos de receitas, o orçamento de 2011 do SEBRAE, segundo a própria instituição, ficou assim distribuído, conforme quadro 01:

Contribuição Social do Exercício R$ 1.985.083.000 71% Contribuição Social do SEBRAE/NA - CSN R$ 48.172.000 2% Convênios R$ 101.044.000 4% Aplicações Financeiras R$ 179.054.000 6% Receitas Diversas R$ 111.993.000 4% Saldo de Exercício Anteriores R$ 352.074.000 13% Total R$ 2.777.420.000 100%

Fonte: SEBRAE,2011 (www.sebrae.com.br) Quadro 01: Quadro do orçamento de receitas do SEBRAE Nacional para o exercício de 2011.

A presente pesquisa se embasa e tem como afiliação teórica o conceito de governança corporativa da quarta edição do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (IBGC, 2009), bem como os princípios e recomendações estabelecidos pelo referido

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código, por ser atualmente o órgão de referência no assunto do Brasil.

De acordo com o IBGC (2010, p. 19), “As boas práticas de governança corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade” .

Neste contexto, tem-se como problemática da pesquisa: Qual o grau de aderência do SEBRAE/SC com relação às práticas e recomendações de Governança à luz do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais do IBGC?

Para responder a esta problemática o objetivo geral da pesquisa é verificar qual o grau de aderência do SEBRAE/SC com relação às práticas e recomendações de Governança à luz do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais do IBGC. Neste sentido, constituem-se os seguintes objetivos específicos: (i) analisar as práticas e recomendações de governança propostas pelo Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais do IBGC; (ii) criar um check-list com base no referido Guia; e (iii) Aplicar o check-list ao caso do SEBRAE/SC.

A justificativa do artigo se dá pela relevância dos valores repassados pela sociedade ao SEBRAE/SC, além da necessidade de prestação de contas e transparência da organização junto a sociedade e associados, e de cunho científico, deve-se ao fato de existirem poucos trabalhos relacionados ao tema governança no terceiro setor e nenhum localizado especificamente no SEBRAE.

2. GOVERNANÇA: ORIGEM E EVOLUÇÃO

A governança teve origem nos Estados Unidos e na Inglaterra onde o conflito de

interesse entre os acionistas e administradores relacionados às questões de desempenho patrimonial das organizações ficou explícito. Os escândalos financeiros ocorridos em função das fraudes e falência em diversas corporações, como por exemplo o caso da Enron e WorldCom, além das privatizações de amplitude mundial ocasionando nova reestruturação societária, acabaram por fortalecer as práticas de governança. (GALLON e BEUREN, 2006; ALMEIDA et al, 2008; ALMEIDA et al, 2009).

Esses acontecimentos deram impulso para que diversos órgãos como o governo, órgãos reguladores e investidores, CVM e BOVESPA estabelecessem novos mecanismos para fortalecimento de questões relativas à governança corporativa. (ALMEIDA et al, 2008).

Outro fator importante que impulsionou o movimento da governança corporativa, citado por alguns autores foi a necessidade das empresas estarem captando novos recursos, além da necessidade de manterem um bom relacionamento com seus acionistas (OLIVEIRA et al., 2004).

Em se tratando de abertura de capital e captação de recursos, a Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA também tem contribuído com a implementação do novo mercado e os níveis diferenciados de governança corporativa I e II, sendo que as empresas podem aderir de forma voluntária se comprometendo a seguir um conjunto de normas e condutas superiores de governança corporativa em comparação com as exigidas por lei (ALMEIDA et al, 2008; ROGERS et al, 2008).

Dessa forma, entende-se por Governança Corporativa a aplicação de práticas relacionadas à gestão da empresa e os relacionamentos de todas as partes interessadas

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(internas e externas), com a finalidade de valorizar os ativos da empresa, envolvendo transparência, direito dos acionistas, equidade de tratamento e prestação de contas. (OLIVEIRA et al, 2004; RAMOS e MARTINEZ, 2006; RIBEIRO NETO e FAMÁ, 2003).

2.1 Objetivos e Benefícios da Governança

Conforme mencionado por Malacrida e Yamamoto (2006) e Dedonatto e Beuren (2010), a governança corporativa tem como objetivo criar mecanismos que permitam proteger o interesse dos acionistas, controlando e monitorando negócios, sendo importante tanto para os gestores internos como pelos acionistas, de forma que possibilite identificar e solucionar possíveis conflitos de agência.

Diversos autores tratam a governança como um conjunto de regras e práticas relacionadas à gestão da entidade e a relação entre as partes interessadas (shareholders - relação entre acionistas e os stakeholders -clientes, funcionários, fornecedores, comunidade, etc) com o objetivo de minimizar o conflito de agencia, decorrente da assimetria informacional (LEAL e SAITO, 2003; RIBEIRO NETO e FAMÁ, 2003; BORGES e SERRÃO, 2005).

Para o IBGC (2009), a Governança Corporativa se resume num conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, que tem por finalidade assegurar que o comportamento dos executivos esteja sempre alinhado com o interesse dos acionistas, sendo a base da Governança Corporativa a transparência, a prestação de contas, a equidade e a responsabilidade corporativa.

No que tange aos benefícios da governança, Monforte (2006, p.18) apud Rabelo et al (2007) coloca que um sistema de governança corporativa eficaz pode fortalecer as empresas, reforçar competências para enfrentar novos níveis de complexidade, ampliar as bases estratégicas da criação de valor, ao mesmo tempo em que torna-se fator de harmonização de interesses e, ao contribuir para que os resultados corporativos se tornem menos voláteis, aumenta a confiança dos investidores, fortalece o mercado de capitais e é fator coadjuvante do crescimento econômico.

Para o IBGC (2009), a Governança Corporativa se resume num conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim de assegurar que o comportamento dos executivos esteja sempre alinhado com o interesse dos acionistas, sendo a base da Governança Corporativa a transparência, a prestação de contas, a equidade e a responsabilidade corporativa.

2.2 Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais.

Resultado de parceria inédita entre o IBGC e o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas), o Guia tem como objetivo oferecer aos dirigentes de fundações e institutos empresariais uma referência para a adoção das melhores práticas de Governança em suas organizações, consolidando as orientações do IBGC e as práticas do GIFE sobre o tema.

O Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais é um instrumento utilizado para a consolidação das lições aprendidas no que diz respeito à boa administração dessas organizações, em um ambiente auto-regulado. Ganha ainda mais

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importância ao destacar o conjunto de processos, costumes, políticas, leis, regulamentos e instituições que regulam a forma como devem ser dirigidas e controladas.

Com o crescimento do número de fundações e associações privadas que realizam investimentos sociais, houve também uma crescente preocupação das partes interessadas da sociedade em relação a controles, transparência, gestão e prestação de contas dessas organizações, das quais acionistas, órgãos regulatórios, governos, organizações da sociedade civil, consumidores e mídia em geral demandam, cada vez mais, uma melhor governança. O GIFE tem como objetivo promover esse debate e desenvolver projetos para melhorar não apenas a sua gestão, como também sua a governança.

O IBGC, por sua vez, como introdutor, disseminador e principal referência no Brasil no campo da Governança Corporativa, também reconhece as particularidades dessas organizações, seu impacto e relacionamento com a governança das empresas (sejam elas instituidoras ou mantenedoras) e a necessidade de elaboração de uma publicação específica.

O Guia trata Governança como o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo o relacionamento entre Conselho, equipe executiva e demais órgãos de controle. As boas práticas de governança convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar a reputação da organização e otimizar seu valor social, facilitando seu acesso a recursos e contribuindo para sua longevidade.

As recomendações se dão através de seus 7 itens, sendo eles: 1º. Missão e Operações; 2º. Titularidade; 3º. Conselho; 4º. Gestão; 5º. Auditoria Independente; 6º. Conselho Fiscal; 7º. Conduta, conflito de interesse e divulgação das informações.

A base dessas recomendações são os princípios básicos de Governança, que tratados no Guia são:

a) Transparência: se dá pela apresentação das informações para as partes interessadas além daquelas impostas por lei, resultando em um clima de confiança entre as partes.

b) Equidade: é o tratamento justo entre as partes interessadas (stakeholders), sendo inaceitáveis atitudes ou políticas discriminatórias.

c) Prestação de Contas: que se dá pelos agentes de governança (associados, conselheiros, executivos, entre outros) que atuam na entidade, assumindo as conseqüências de seus atos e omissões.

d) Responsabilidade: os agentes devem zelar pela sustentabilidade, visando a sua continuidade, levando em considerações ações de ordem social e ambiental.

3 O SEBRAE/SC

O estudo de caso foi realizado no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas –

SEBRAE/SC que, de acordo com seu Estatuto Social (SEBRAE/SC,2010), é uma entidade civil sem fins lucrativos, instituída sob a forma de Serviço Social Autônomo, presente em todos os estados da federação regulado em 1990 pelas Leis 8.029/90 e 8.154/90.

O SEBRAE trabalha desde 1972 pelo desenvolvimento sustentável das empresas de pequeno porte, na promoção de cursos de capacitação, além de facilitar o acesso à serviços financeiros, estimular a cooperação entre as empresas, além de organizar feiras e rodadas de

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negócios e incentivar o desenvolvimento de atividades que possam contribuir para a geração de emprego e renda.

Atualmente o SEBRAE é mantido pelo recolhimento compulsório, pago pelas empresas através do percentual de 0,3% a 0,6% sobre a folha de pagamentos, através da Guia de Recolhimento da Previdência Social (GRPS). Dependendo do ramo de atividade da Entidade, verificado através do seu Código da CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas), o percentual a ser repassado para o SEBRAE irá variar, podendo, inclusive, ser isento.

Com a missão de "promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável das MPE e fomentar o empreendedorismo" (SEBRAE, 2011), de 2009 a 2010, mais de 75 mil empresários foram atendidos por meio de palestras, consultorias e cursos, além de 111 mil pessoas capacitadas e atendidas pelo Programa Faça e Aconteça. Além disso, uma das conquistas da última gestão foi tornar realidade a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa e do Empreendedor Individual, que foi aprovada e sancionada em 97% dos municípios catarinenses.

Outra informação relevante fornecida pelo SEBRAE/SC é que em 2010, Santa Catarina ultrapassou a meta fixada pelo Programa Empreendedor Individual, de cadastrar 25 mil profissionais que possuem um pequeno negócio na informalidade, como cabeleireiros, costureiras ou pedreiros. No Estado, de julho de 2009 até dezembro de 2010, 27,3 mil autônomos procuraram o Programa e passaram a ser microempresários formalizados.

O SEBRAE/SC é ligado ao Sistema SEBRAE Nacional, e apresenta em sua estrutura o Conselho Deliberativo, o Conselho Fiscal e a Diretoria Executiva. Tais órgãos são fundamentais em uma organização e tem como finalidade auxiliar o funcionamento da entidade, além de definir suas estratégias e fiscalizar suas decisões.

4 METODOLOGIA

Inicialmente, cabe destacar que não se pretende nesta pesquisa medir o nível de governança do SEBRAE/SC, nem tampouco analisar criticamente as recomendações do Guia do IBGC. Mas sim, verificar o percentual de aderência – atendimento – às práticas e recomendações de governança presentes no Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais do IBGC.

Assim, o cálculo do percentual de aderência – atendimento – se dá com base na quantidade de quesitos com resposta “Atende”, dividida pela quantidade total de quesitos de cada item. O quadro 02 apresenta os itens, e seus respectivos quesitos.

Item Quantidade de Quesitos

1º. Missão e Operações 11 2º. Titularidade 24 3º. Conselho 81 4º. Gestão 26 5º. Auditoria Independente 12 6º. Conselho Fiscal 26 7º. Conduta, conflito de interesse e divulgação das informações 39

Quadro 02: Item do Guia x Quantidade de Quesitos Fonte: adaptado do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais (IBGC,

2009b).

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Quanto à abordagem do problema, trata-se de uma pesquisa qualitativa. Segundo Richardson (2009), o método qualitativo se caracteriza como uma forma para o entendimento da natureza de um fenômeno social. Para tanto, os procedimentos utilizados para realização da pesquisa se deram a partir dos seguintes passos:

1) Primeiramente, foi estruturado o check-list com base no guia obtido através do site do IBGC. Esse guia é composto por 7 itens, sendo eles: 1º. Missão e Operações; 2º. Titularidade; 3º. Conselho; 4º. Gestão; 5º. Auditoria Independente; 6º. Conselho Fiscal; 7º. Conduta, conflito de interesse e divulgação das informações.

2) Os itens foram transformados em quesitos para posterior confrontação e verificação da aderência.

3) A partir do estudo da documentação (Estatuto, Regimento Interno, Código de Ética e Relatório de Gestão) disponibilizada verificou-se o atendimento ou não aos quesitos elencados.

4) Ao final, após a verificação do atendimento dos quesitos, analisaram-se os principais pontos de aderência.

O quadro 03 apresenta o check list do primeiro item, “Missão e Operações”, estruturado com os 11 quesitos extraídos do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais.

1º. MISSÃO E OPERAÇÕES Atende Não Atende

1.1 Missão de uma fundação ou instituto empresarial 1.1.1 Fundação ou instituto empresarial é um veículo para algumas práticas de ações

socioambientais de uma empresa e a sua contribuição, com recursos financeiros e conhecimento, para a construção de uma sociedade mais justa e sustentável.

1.1.2 Ao mesmo tempo, cumpre um papel importante na construção da reputação da empresa.

1.1.3 Sua atuação tem ênfase no interesse público e dá-se pelo fomento a iniciativas em campos diversos (educação, meio ambiente, esporte, cultura, saúde, etc.), atendidos por meio do investimento voluntário monitorado, controlado e avaliado de recursos de origem privada, ainda que com uso de incentivos fiscais.

1.1.4 Para isso, a organização deve definir sua atuação em territórios, públicos ou programas que atendam a demandas sociais reais.

1.1.5 Isto não impede que essa atuação contribua, simultaneamente, para a melhoria da imagem da empresa.

1.1.6 É boa prática a inclusão da missão da organização no seu Estatuto Social de maneira clara e objetiva.

1.2 Articulação com exigências legais da mantenedora 1.2.1 A atuação de uma fundação ou instituto empresarial deve zelar para que o

cumprimento de exigências legais impostas à operação de um empreendimento da empresa mantenedora (quotas de aprendizagem e deficientes, condicionantes ambientais, contribuições compulsórias para fundos etc.) não seja confundido com as ações voluntárias desta.

1.2.2 Nada impede, porém, que a fundação ou instituto empresarial preste serviços à mantenedora, visando ao atendimento das exigências impostas à operação daquela, desde que essa prestação de serviços não seja a razão de existir da organização.

1.2.3 É recomendável que a fundação ou instituto empresarial procure relativa independência e autonomia na busca de seus propósitos institucionais, desde que estejam alinhados à visão da empresa mantenedora.

1.3 Suporte operacional e logístico da mantenedora 1.3.1 Embora seja conveniente que fundações ou institutos empresariais tenham quadros

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1º. MISSÃO E OPERAÇÕES Atende Não Atende

próprios, eles podem valer-se do suporte operacional e logístico da mantenedora para o desenvolvimento de suas atividades, inclusive pela cessão de instalações físicas e de pessoal. Deve-se evitar, contudo, que a organização participe de rateios desses custos, com o intuito de evitar controvérsias de natureza tributária, que podem colocar em risco sua imunidade ou isenção de tributos.

1.4 Uso de nome e marca 1.4.1 A fundação ou instituto empresarial pode adotar, em sua denominação social, o

nome da mantenedora. A organização deve, contudo, abster-se de adotar o nome de algum dos produtos da mantenedora, dado o seu caráter nitidamente comercial. O uso de logomarca da mantenedora é aceito, desde que a título gratuito. Neste caso, a organização deverá, ainda, abster-se de custear quaisquer campanhas publicitárias utilizando tal logomarca, pois se trataria de aplicação de recursos em beneficio do fortalecimento de ativo de terceiros.

Quadro 03: Check list – item Missão e Operações Fonte: adaptado do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais (IBGC,

2009b).

Todos os demais itens do Guia tiveram o mesmo tratamento conforme apresentado no quadro 02, sendo, portanto, transformados em quesitos para posterior confrontação com a documentação para cálculo da aderência.

Ressalta-se que se buscou no site do SEBRAE/SC, documentos e informações que pudessem ser utilizados para posterior confrontação com o check list, para verificação da aderência. Em decorrência das informações necessárias não estarem disponíveis no site do SEBRAE/SC, entrou-se em contato com a gerência da entidade para solicitar alguns documentos para realização da presente pesquisa. Após realização do pedido, foram disponibilizados o Estatuto Social, Regimento Interno, Relatório de Gestão e o Código de Ética da Organização.

Os documentos citados foram tratados na presente pesquisa como dados secundários, caracterizando a pesquisa quanto a sua estratégia como um estudo de caso com pesquisa documental e bibliográfica. Beuren (2009) afirma que a pesquisa documental baseia-se em materiais que ainda não receberam um tratamento analítico.

Na ocasião da coleta dos relatórios, foi informado que esses documentos estão disponíveis sem nenhuma restrição, a quem possa interessar.

Em posse dos documentos disponibilizados, foi possível responder ao check list e verificar a aderência do SEBRAE/SC às recomendações do Guia.

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Os resultados da presente pesquisa se deram com base no check list, divididos em 7 itens, adaptados do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais do IBGC e análise dos documentos disponibilizados pelo SEBRAE/SC, conforme descrito na metodologia, com o objetivo de verificar o grau de aderência do SEBRAE/SC com relação às práticas e recomendações de Governança à luz do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais do IBGC, não tendo a pretensão de medir o nível de governança do SEBRAE/SC ou analisar criticamente as recomendações do Guia.

O referido guia está dividido em 7 itens, os quais foram analisados individualmente.

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No primeiro item, Missão e Operações, apresentado no quadro 04, o SEBRAE/SC atendeu 8 quesitos, que resulta no grau de aderência de 73%.

1º. Missão e Operações Quantidade Quesitos Atende Não Atende Grau de Aderência em %

11 8 3 73% Quadro 04: Resumo do resultado da pesquisa – item Missão e Operações

Fonte: dados da pesquisa.

Pode-se citar que uma das perguntas identificadas como “Não Atende” se refere à atuação da fundação ou instituto empresarial no dever de zelar para o cumprimento de exigências legais impostas à operação de um empreendimento da empresa mantenedora (quotas de aprendizagem e deficientes, condicionantes ambientais, contribuições compulsórias para fundos etc.). Ou seja, as ações da mantenedora não devem ser confundidas com as ações voluntárias da própria fundação. Nesse item, o SEBRAE/SC não evidenciou em seus relatórios tal atuação.

Outro item, que cabe mencionar, refere-se ao cumprir um papel importante na reputação da empresa, no caso, da mantenedora, que pela própria característica do SEBRAE/SC, que é mantido através de um imposto parafiscal, não tem preocupação direta com a reputação dessas empresas que o mantém.

O quadro 05 apresenta o item Titularidade, composto por 24 quesitos, dentre eles, o SEBRAE atende 14, que resulta no grau de aderência de 58 %.

2º. Titularidade

Quantidade Quesitos Atende Não Atende Grau de Aderência em % 24 14 10 58%

Quadro 05: Resumo do resultado da pesquisa – item Titularidade Fonte: dados da pesquisa.

Um dos itens sinalizados como “não atende” se referia ao regime de frações ideais do

patrimônio, sugerindo que não deva ser adotado por institutos empresarias, porém o SEBRAE/SC adota tal regime.

Quanto à recomendação sobre a representação em órgãos colegiados pelos seus stakeholders (governo, comunidades como um todo e os indivíduos beneficiados, em particular), verificou-se que não existe essa representação, fazendo com que esse item também tenha sido classificado como “não atende”.

Também ocorreram algumas situações onde não foram encontradas as respostas nos documentos utilizados, fazendo com que a resposta tenha sido dada como “não atende” como é o caso da utilização de instrumentos que facilitem o acesso à assembléia (voto por procuração ou eletrônico, webcast, transmissão online), os quais deverão estar previstos no Estatuto Social, podendo ser detalhados em regras complementares fixadas pelo Conselho.

Outro item classificado como “não atende” é a respeito da votação com instrumento de mandato, visto que o SEBRAE/SC não permite que conselheiros e suplentes se façam representar por procuradores ou prepostos.

O quadro 06 apresenta o item Conselho, composto por 81 quesitos, dentre eles, o SEBRAE atende 32, que resulta no grau de aderência de 40 %.

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3º. Conselho

Quantidade Quesitos Atende Não Atende Grau de Aderência em % 81 32 49 40%

Quadro 06: Resumo do resultado da pesquisa – item Conselho Fonte: dados da pesquisa.

Nesse item, percebe-se que muitas das recomendações do Guia não foram atendidas,

em virtude de não terem sido localizadas nos documentos analisados nessa pesquisa. Dessa forma, isso não quer dizer necessariamente que o SEBRAE/SC não atenda a tais recomendações, assim como nos demais itens analisados.

Um exemplo de itens não encontrados e classificados como “Não Atende” trata do “papel individual de cada conselheiro” e “qualificações do conselheiro”. Assim como o item que se refere ao número recomendado de conselheiros, que para o guia deve ser entre 5 e 11 conselheiros e para o SEBRAE/SC, o Conselho Deliberativo Estadual (CDE) é composto por 15 conselheiros titulares e respectivos suplentes.

O quadro 07 apresenta o item Gestão, composto por 26 quesitos, dentre eles, 17 atendem as recomendações, sendo o grau de aderência de 65%.

4º. Gestão Quantidade Quesitos Atende Não Atende Grau de Aderência em %

26 17 9 65% Quadro 07: Resumo do resultado da pesquisa – item Gestão

Fonte: dados da pesquisa.

Destaca-se que como resultado de uma política de comunicação e de relacionamento com as partes interessadas, a organização deve divulgar, de forma completa, objetiva, tempestiva e igualitária, além das informações econômico-financeiras e das exigidas por lei, relatórios periódicos sobre todos os aspectos de suas operações, transações e, inclusive, informações sobre as atividades do Conselho, assim como detalhamento do modelo de gestão e de governança.

Nos Relatórios disponibilizados não foi identificado detalhes das divulgações sobre o modelo gestão e de governança, sugerindo que esse item merece necessidade grande de revisão e adequação, por ser um dos mais relevantes.

Outro ponto importante a ser destacado é o que tange aos Canais virtuais e outras tecnologias devem ser explorados para buscar a rapidez e larga difusão de informações. Ao analisar este item, constata-se que a maioria das informações obtidas foram colhidas no site do SEBRAE NACIONAL (www.sebrae.com.br), ou repassadas pela Gerência da Entidade de Santa Catarina, sendo que as divulgações efetuadas no site do SEBRAE/SC são insuficientes para analisar o grau de aderências às recomendações emanadas pelo IBGC.

Apesar de quando solicitado aos responsáveis pelo SEBRAE/SC os documentos foram disponibilizados, verificou-se falta de utilização de meios e canais de comunicação, por parte da unidade de Santa Catarina, que informassem aos interessados acerca das prestações de contas, responsabilidade, transparência e equidade.

O quadro 08 apresenta o item Auditoria Independente, composto por 12 quesitos, dentre eles, 9 atendem as recomendações, sendo o grau de aderência de 75%.

5º Auditoria Independente Quantidade Quesitos Atende Não Atende Grau de Aderência em %

12 9 3 75%

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Quadro 08: Resumo do resultado da pesquisa – item Auditoria Independente Fonte: dados da pesquisa

Uma situação apontada como “Não Atende” é a não divulgação dos honorários pagos aos auditores referente à outros serviços, demonstrando pouca transparência e prestação de contas inadequada, tendo em vista os princípios emanados pelo IBGC.

O quadro 09 apresenta o item Conselho Fiscal, composto por 26 quesitos, dentre eles, 18 atendem as recomendações, sendo o grau de aderência de 69%.

6º Conselho Fiscal Quantidade Quesitos Atende Não Atende Grau de Aderência em %

26 18 8 69% Quadro 09: Resumo do resultado da pesquisa – item Conselho Fiscal

Fonte: dados da pesquisa

Segundo o Guia, O Conselho Fiscal, parte integrante do sistema de governança das entidades sem-fins lucrativo brasileiras, é um órgão que tem como principal objetivo fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e verificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários. Destarte, no Estatuto do SEBRAE/SC não se localizou como um dos objetivos a fiscalização dos atos dos administradores, embora seja essência de um Conselho.

O quadro 10 apresenta o item Conduta, Conflito de Interesse e Divulgação das Informações, composto por 39 quesitos, dentre eles, 24 atendem as recomendações, sendo o grau de aderência de 61%.

7º Conduta, Conflito de Interesse e Divulgação das Informações

Quantidade Quesitos

Atende Não Atende

Grau de Aderência em %

39 24 15 61%

Quadro 10: Resumo do resultado da pesquisa – item Conduta, Conflito de Interesse e Divulgação Fonte: dados da pesquisa

A Guia apresenta que dentro do conceito das melhores práticas de governança, além do respeito às leis do País, toda organização deve ter um código de conduta que comprometa administradores e funcionários, elaborado pela equipe técnica, de acordo com os princípios e políticas definidos.

No que tange ao Código de Conduta, constata-se que o código existente se aplica apenas aos Empregados do SEBRAE/SC, sendo que há Regimentos Internos para os Conselhos. Além disso, itens importantes, como Nepotismo, Segurança no Trabalho, Tratamento de Fraudes, Exploração do Trabalho Infantil, Transações com Partes Relacionadas e Processos Judiciais e Arbitragem não foram abordados.

Constata-se que esses itens não abordados são de fundamental importância dentro da perspectiva da Governança, pois prevêem transparência, divulgação, equidade e prestação de contas aos interessados.

Outro item relevante é o que trata sobre a organização elaborar uma política formal sobre suas contribuições voluntárias a outras entidades, sendo vedada a doação para fins político-partidários. Não foi localizado nos documentos disponibilizados pelo SEBRAE/SC

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nenhum item que verse a respeito de políticas formais de contribuições a outras entidades e a vedação à fins políticos partidários.

Tais políticas são mecanismos de controle das contas da Entidade e regulam a utilização dos seus recursos. Verifica-se que dispor de regras claras e formais a respeito da utilização desses recursos é de suma importância para a Organização e imprescindível para um controle efetivo por parte dos interessados.

Como uma das formas de materialização do princípio da transparência, a organização deve formalizar uma política de divulgação de informações vinculada à sua macro política de fins. Além disso, essa política deve contemplar a divulgação de informações, além das exigências legais, e primar para que sua divulgação seja completa, objetiva, tempestiva e igualitária.

Acredita-se que esse seria um dos principais pontos a serem urgentemente corrigidos pelo SEBRAE/SC, pois não se verifica a evidenciação da contrapartida dos recursos repassados a Entidade através de um dos principais canais de divulgação, que é a internet.

Segundo os princípios emanados pelo Guia (2010), a organização deve disponibilizar à sociedade suas demonstrações financeiras, preferencialmente auditadas, por meio da sua página na internet e outros meios usuais de comunicação, destacando, em notas explicativas, as contribuições dos 10 principais financiadores e os valores pagos aos 10 principais fornecedores, ativos tangíveis e intangíveis de maior relevância e compromissos com patrocinadores.

Verifica-se que a divulgação das demonstrações contábeis completas se dá através do Relatório de Gestão, que não está disponibilizado no site da Entidade. Salienta-se que as demonstrações contábeis estavam de acordo com as normas vigentes, e auditadas por auditor independente.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do aumento no número de fundações e associações privadas que realizam investimentos sociais, constata-se de igual forma uma crescente preocupação das partes interessadas da sociedade em relação a controles, transparência, gestão e prestação de contas dessas organizações, das quais os interessados demandam, cada vez mais, uma melhor governança.

Em decorrência dessa cobrança, as Entidades devem buscar práticas que estejam de acordo com princípios de Governança, inclusive as entidades sem fins lucrativos, como o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE.

Com a intenção de verificar como essas informações são repassadas, elaborou-se um check list para identificar o grau de aderência às práticas de Governança, com base no Guia para Fundações e Institutos Empresariais elaborado pelo órgão de referência no Brasil, o IBGC.

Após as verificações citadas, constata-se que dos 7 itens analisados, 5 obtiveram aderência superior à 60%, conforme apresentado no quadro 11.

Item % de Aderência 1º. Missão e Operações 73% 2º. Titularidade 58% 3º. Conselho 40%

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4º. Gestão 65% 5º. Auditoria Independente 75% 6º. Conselho Fiscal 69% 7º. Conduta, conflito de interesse e divulgação das informações 61%

Quadro 11: Resultados obtidos no check-list Fonte:Dados da Pesquisa.

O item com menor grau de aderência foi o “Conselho”, composto por 81 perguntas, dentre elas, 32 atenderam as recomendações, representando 40 % de aderência. Um dos itens que se constatou que “Não Atende”, refere-se ao número recomendado de conselheiros, que para o guia deve ser entre 5 e 11 conselheiros. No caso do SEBRAE/SC, o Conselho Deliberativo é composto por 15 conselheiros titulares e respectivos suplentes.

Os quesitos relacionados à “Auditoria” e “Missão e Operações” apresentam maior grau de aderência, refletindo maior atendimento às práticas estabelecidas pelo Guia.

Entretanto, quesitos importantes como a comunicação e prestação de contas através de relatórios que contivessem informações específicas que externam a responsabilidade, equidade, prestação de contas e transparência não foram observados.

Contudo, a partir da análise dos dados da pesquisa, torna-se possível a identificação de itens de aprimoramento e melhoria para o caso objeto do estudo. Dessa forma, constata-se que os principais pontos a serem urgentemente observados pelo SEBRAE/SC, seria a melhor evidenciação da contrapartida dos recursos recebidos com a divulgação em diversos canais de divulgação, principalmente através da internet, com a disponibilização de relatórios completos e transparentes, que contivessem as informações financeiras, políticas, de gestão e institucionais.

De maneira geral, verifica-se que dos 7 itens citados, o grau geral de aderência é de 63% com relação às práticas e recomendações de Governança à luz do Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais do IBGC.

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