artigo 06 - gestão do design sustentável

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  • CONTRIBUIO AO DISCURSO DA

    GESTO DE DESIGN COMO UM ATIVO

    NA TRANSIO AO

    DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    Dr. Luiz Fernando Gonalves de Figueiredo

    (UFSC)

    Alberto Ribeiro Palmieri

    (UFSC)

    Resumo O artigo que aqui se apresenta debate, de maneira crtica, os

    princpios empregados nos processos de produo linear capitalista e

    de desenvolvimento sustentvel, contrapondo-os para afirmar a

    necessidade de transio entre estes. Busca-se compor um conceito

    intermedirio tido como responsvel e vivel para, assim, debater e

    contribuir para com o discurso da Gesto de Design, compreendendo-

    a como atividade significativa na transio entre tais conceitos, uma

    vez que esta um ativo determinante na produtividade e no consumo,

    apta a propor e conduzir projetos responsveis, coerentes e contnuos

    formando um conjunto de solues em resposta aos conflitos desta

    transio.

    Para tanto, rene-se atravs de pesquisa terica, pontos de vistas

    diferentes e complementares de autores que discutem produo,

    desenvolvimento sustentvel e gesto de design sob a tica de

    diferentes reas.

    Palavras-chaves: Gesto de design; Produo responsvel;

    Desenvolvimento sustentvel.

    8 e 9 de junho de 2012

    ISSN 1984-9354

  • VIII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELNCIA EM GESTO 8 e 9 de junho de 2012

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    1. Introduo

    Este artigo parte da afirmao de que a conformao e apropriao do ambiente pela produo

    humana influncia diretamente, no s o sistema econmico, mas tambm o equilbrio

    ecolgico e a organizao social como fatores interdependentes, devendo haver

    responsabilidade nas decises tomadas nos processos produtivos, de forma a ponderar suas

    consequncias. Como complementa Arajo (2007), os problemas no podem ser

    compreendidos de forma isolada, e sim como sistemas interconectados e interdependentes.

    Apresenta-se ento, um debate sobre a transio entre os princpios produtivos lineares

    capitalistas e os ditos sustentveis ideais, onde, perante os conflitos e distncias entre estes

    modelos, se faz necessria uma abordagem intermediria, baseada na responsabilidade que

    viabilize o modelo de desenvolvimento sustentvel.

    Posteriormente, se explana a postura da gesto de design neste cenrio transitrio, colocando-

    a como uma atividade contribuinte ao desenvolvimento sustentvel, afirmando seu carter

    sistmico, metodolgico e estratgico, estando esta diretamente envolvida com decises nos

    meios de produo, comunicao, e, por tanto, de consumo. Vindo, ainda, a corroborar e

    ilustrar a articulao da gesto de design em trs nveis complementares: design estratgico

    voltado para o desenvolvimento sustentvel (longo prazo), design ttico voltado para o

    conjunto de prticas responsveis (mdio prazo) e design operacional focado na

    responsabilidade pontual de cada ao de projeto (curto prazo).

    O design preocupa-se com o desenvolvimento de produtos, utenslios, mquinas,

    artefatos e outros dispositivos, e esta atividade exerce uma influncia profunda e

    direta sobre a ecologia. A resposta do design deve ser positiva e unificadora;

    deve ser a ponte entre as necessidades humanas, a cultura e a ecologia

    (PAPANEK, 1995, p. 31).

    Para tanto, este artigo se d sob forma de pesquisa terica, delimitado como pesquisa

    bibliogrfica, visto que compreende os assuntos em discusso, atravs de materiais j

    concludos como peridicos, artigos cientficos e livros (GIL,1991). Renem-se pontos de

    vistas complementares sob a tica de autores de diferentes reas, compondo um debate

    multidisciplinar. Sendo fundamental a conceituao dos temas abordados, partindo de uma

    breve anlise da funo da produo na humanidade, colocando-a como eixo do debate de

    forma a esclarecer o vinculo entre gesto de design e desenvolvimento sustentvel.

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    Posteriormente se identifica o cenrio de transio, para enfim, debater a relao entre os

    modelos abordados conceitos e colaborar com o discurso da Gesto de Design neste cenrio.

    2. Conceituao de Produo

    Nozaki (2008), afirma que na produo, os seres humanos se apropriam da natureza para

    satisfazer suas necessidades, sendo esta ao determinante na sua sobrevivncia e expanso.

    Observa-se, ento, que a histria da humanidade marcada e at mesmo dividida por

    evolues tecnolgicas produtivas (Idade da Pedra, do Bronze e do Ferro), que so resultantes

    da busca por sanar necessidades e conceber formas de proteo atravs da gerao de

    conhecimento, sistemas, processos e objetos segundo a manipulao dos recursos naturais.

    Conforme o progresso tecnolgico atribuiu eficincia produo, seus detentores notaram

    que seus produtos poderiam ter uma funo diferente da original, tornando-os smbolos de

    valor e troca, pois havia cobia por parte de seus semelhantes que compartilhavam das

    mesmas necessidades, mas que no detinham as inovaes. Com a troca assumindo a

    principal funo dos produtos, os produtores passaram a se dedicar a esta demasiadamente.

    Perante a difuso do conhecimento, a diferenciao e o melhoramento do que cada homem ou

    grupo produzia, tornaram-se importantes para garantir o poder de troca, que mais tarde se

    tornou o poder econmico, tendo seus valores regidos pela regra de oferta (quantidade

    disponvel para aquisio) e procura (aquisies por indivduos).

    Destaca-se aqui, que a economia visa na produo a crescente gerao de bens de consumo e

    servios segundo os valores de mercado, e que para poder existir deve buscar uma forma de

    equilibrar a delicada equao: produo x consumo (MORAES FILHO, 2009, p. 4).

    Corroborando com Marx (1982), que afirma que produo e consumo so indissociveis:

    (...) a produo imediatamente consumo, e o consumo imediatamente

    produo; cada termo imediatamente o seu contrrio. Mas, simultaneamente,

    h um movimento mediador entre ambos; a produo intermediria do

    consumo, cuja matria cria; sem esta, aquele ficaria privado do seu objeto; por

    sua vez, o consumo intermedirio da produo, pois proporciona aos seus

    produtos o sujeito para o qual eles o so (produtos). (...) Sem produo no h

    consumo; mas sem consumo, tambm no h produo, pois, nesse caso, a

    produo seria intil (MARX, 1982, p. 9).

    Como a produo no pode ser compreendida isoladamente, uma vez que o produto gerado

    possui um ciclo de vida que vai alm das linhas fabris, neste artigo, se refere e reflete sobre

    produo compreendendo-a como uma cadeia de aes em torno do produto, sendo composta

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    por extraes, transformao, servios, distribuio, comercializao, consumo (consumo

    final e de recursos durante os processos) e descarte, sendo estas etapas complementares.

    Mesmo que a compreenso de princpios bsicos como estes paream simples, e ainda que se

    resguarde a devida profundidade mantendo o foco em um breve esclarecimento, so

    importantes uma vez que, segundo Godelier (1981 apud GAIGER, 2003) a alterao profunda

    do modo de apropriao da natureza requisito e vetor de toda nova formao social. Vindo a

    observar que a produo e o consumo so ativos sociais, ambientais e econmicos

    interdependentes, pois influenciam e so influenciados nas relaes socioambientais

    (alteraes no ecossistema extrao, conformao, poluio ; alterao na qualidade de

    vida e bem-estar da populao) e socioeconmicas (dinmica de mercado; divises de

    trabalho; distribuio de renda e incentivo ao desenvolvimento).

    Fica assim clara a relevncia das decises tomadas dentro dos processos produtivos ao

    vislumbrar seus potenciais impactos e condicionantes, exponencializados pela industrializao

    globalizada, justificando assim ter os princpios produtivos como eixo do debate.

    3. Conflitos entre os princpios produtivos

    Melo (2006) verifica que a produo meramente capitalismo tem foco unilateral, que ignora

    as relaes diversas que o sistema produtivo tem para com outros sistemas, fragmentando seu

    objeto apenas ao lucro como uma soluo continua de crescimento infinito. Tal fragmentao

    da problemtica ocorre devido influncia do pensamento linear, ou metodologia cartesiana,

    que prega a resoluo de problemas atravs do estudo apenas da parte objetiva, separando-a

    do todo que a influencia, a fim de detalh-la com maior preciso (BISPO JNIOR, 2008).

    Apesar de suas contribuies a tecnologia e a sociedade moderna, a filosofia linear encontra-

    se em defasagem. Pode-se citar, como reflexo deste pensamento na produo capitalista, que

    um dos problemas cruciais consiste na subordinao do valor de uso em funo de suporte de

    troca, valorando os fatores envolvidos apenas como mercadorias (MELO, 2006, p. 42).

    Neste sentido Fialho et al. (2008), acrescenta que o sistema capitalista linearizado prioriza o

    capital, gerando contradies dicotomia capital versus trabalho e entre economia versus

    natureza que sustenta esse sistema condenado a uma crise terminal. Havendo um confronto

    com as leis que regem os fenmenos naturais, pois a busca do maior e imediato lucro

    incoerente para com o ciclo de regenerao da natureza (FIALHO et al., 2008, p. 67).

    Agrega-se a esta discusso a queda da justificativa econmica que defendia a obteno do

    lucro como objetivo maior, como afirmado por Mendes (2009), supunha-se que o aumento

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    das riquezas poderia melhorar as condies de vida da populao, o que, no entanto no

    ocorreu como esperado, pois no se avaliava o processo como um todo, propondo uma

    poltica de crescimento continuo infundada, uma vez que os recursos que a sustentam so

    limitados. Logo, na equao em que se dizia haver riquezas, na verdade no se contabilizava a

    manuteno social e os prejuzos ambientais.

    A percepo dos limites da produo e seus reflexos geraram preocupaes coletivas levando

    a manifestaes sociais questionadoras que buscaram modelos de desenvolvimento com viso

    mais abrangente. Tais manifestaes vo desde movimentos ambientalistas, a organizaes de

    economia solidria, organizaes sem fins lucrativos e debates cientficos, surgindo, destas

    discusses o conceito de desenvolvimento sustentvel.

    Ainda que destacado como um movimento ambientalista, o conceito de sustentabilidade surge

    incorporando a reflexes econmicas e sociais, tendo como objetivo maior o bem-estar

    continuo desta e das futuras geraes, no podendo ser garantido com foco apenas no capital.

    Para Arajo (2007) a atividade econmica, o meio ambiente e o bem-estar da sociedade

    formam o trip bsico no qual se apoia a ideia de desenvolvimento sustentvel.

    O conceito de desenvolvimento sustentvel firma-se no pensamento sistmico, que segundo

    Bispo Jnior (2008), seu principal objetivo a reafirmao do todo em relao s partes,

    afirmando que as partes esto totalmente interligadas e so totalmente interdependentes.

    Arajo (2007) concorda e acrescenta que a proposta do pensamento sistmico consiste em:

    (...) Compreender conjuntos de vrios elementos que se inter-relacionam de tal

    forma que, juntos, passam a exibir uma estrutura ou comportamentos

    organizados. (...) Aspira ao conhecimento muldimensional, mas sabe desde o

    comeo que o conhecimento completo impossvel. Toma conscincia da

    natureza e das consequncias dos paradigmas que mutilam o conhecimento e

    desfiguram o real (ARAJO, 2007, p. 4 e 5).

    Diferentemente do pensamento linear, que busca a fragmentao como soluo, o pensamento

    sistmico busca estudar as relaes entre os fragmentos, compreendendo a interdependncia

    entre eles. Capra (1996) contribui afirmando que o todo maior do que a soma das partes.

    Logo o desenvolvimento sustentvel visa o equilbrio como um todo atravs da anlise das

    relaes entre os fatores que o promovero. Para tanto as aes devem buscar o mximo de

    reflexo entre causa e consequncia, atuando em conjunto coerentemente uma vez que uma

    ao isolada e pontual pode ignorar fatores adjacentes, comprometendo o todo e a si mesma.

    Nesse sentido, segundo Arajo (2007, p. 3), falar em desenvolvimento sustentvel, de forma

    isolada, pode nos levar a cometer os mesmos erros anteriores.

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    4. Debate quanto fase de transio

    Brseke (1995 apud DICKIE, 2010, p. 53) afirma que a teoria do desenvolvimento

    sustentvel est inacabada, mas que aponta na direo correta. Sendo pertinente ressaltar, que

    como um termo em construo, o desenvolvimento sustentvel, recebe questionamentos e

    crticas, no s para valid-lo como uma alternativa correta, mas tambm para format-lo

    sobre bases coerentes com a realidade.

    Nota-se que este conceito apresenta-se como uma mudana radical, principalmente nos meios

    de produo e consumo. No entanto a transio no pode ser de total contraposio ao modelo

    atual, devendo respeitar alguns critrios da organizao socioeconmica existente, elaborando

    e inserindo alteraes de forma cautelosa, buscando a viabilidade e a aceitao.

    Mendes (2009, p. 2), afirma que o conceito de sustentabilidade vai muito alm de explicar a

    realidade, pois exige aplicaes prticas. E segue ao citar Foladori, que:

    A sustentabilidade econmica apresenta uma anlise mais complicada do que a

    ambiental, pois o conceito restringe o crescimento econmico e a eficincia

    produtiva. Tal concepo admite que o crescimento no pode ser ilimitado

    (como prega o capitalismo) pois no congruente com a dimenso ambiental

    (FOLADORI, 2002 apud MENDES, 2009, p. 5).

    Daly (2004) acrescenta a observao de que o desenvolvimento sustentvel possvel, mas

    atenta para um fator agravante nos debates de transio, que seria o crescimento sustentvel

    defendido pela dimenso econmica. O autor afirma que tal crescimento impossvel e que

    ao se iludir com sua possibilidade, rotulando-o de sustentvel, ou colorindo-o de verde,

    apenas retarda a transio inevitvel, tornando-a mais dolorosa (DALY, 2004, p. 3). Para

    este autor uma economia dentro nos parmetros sustentveis, adapta-se e aperfeioa-se em

    conhecimento, organizao e eficincia tcnica sem assimilar e acrescentar uma porcentagem

    cada vez maior de matria e energia do ecossistema, retendo para uso uma escala na qual o

    ecossistema remanescente possa continuar a funcionar e renovar-se. Assim Daly defende a

    ideia de uma economia de crescimento nulo, mas no esttica.

    Conforme Cury, Vargas Neto (2008), e Melo (2006) constatam em seus estudos, o relatrio

    Brundtland1 apresenta um discurso diplomtico ao tratar de questes polmicas, contribuindo

    para sua grande aceitao, mas no enfrentando o conceito de crescimento econmico, que se

    subentendeu poder continuar indefinidamente. Neste contexto, o debate apenas contorna a

    essncia do problema da insustentabilidade, deixando ntida a existncia de conflitos

    1 Relatrio Nosso Futuro Comum, conhecido como Relatrio de Brundtland, um importante marco histrico

    no debate sobre sustentabilidade - Comisso Mundial para o Ambiente e o Desenvolvimento, em 1987.

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    ideolgicos entre interesses socioambientais e socioeconmicos, estagnando a implementao

    do conceito de sustentabilidade, gerando oposies, que se no enfrentadas, deixaro o

    conceito por ser claramente debatido e consolidado.

    Portanto, o principal conflito para a transio aparece no cenrio produtivo, uma vez que o

    atual pensamento econmico defende o crescimento da produo e do consumo (exacerbado)

    em nome do maior lucro e da dinmica de mercado e trabalho, enquanto o pensamento

    sustentvel defende a reduo destes fatores para nveis mnimos, uma reduo de at 90% do

    que dos nveis atuais. Sendo um desafio desvincular, na atual sociedade industrial, o bem-

    estar da quantidade de produtos disponveis (MANZINI e VEZZOLI, 2008).

    Visto assim, se o problema, para os estudiosos da ecologia, focalizar os

    aspectos fsicos do metabolismo de uma sociedade, a fim de evitar a catstrofe

    ambiental, para outros atores sociais, em particular para os projetistas e para os

    produtores, o problema como favorecer uma transio que atinja tal objetivo

    sustentvel, sem que se verifiquem catstrofes sociais (e, portanto, culturais,

    polticas e econmicas) (MANZINI e VEZZOLI, 2008, p. 32).

    Manzini e Vezzoli, ainda afirmam que necessria uma transio por escolha por parte da

    sociedade, havendo aes conscientes dos produtores e consumidores reconhecendo, na

    prpria transio, uma oportunidade para melhorar o seu grau de bem-estar, evitando qualquer

    moralismo, pois a aceitao depender da adequao das propostas sustentveis, isto , da sua

    credibilidade ambiental, econmica, social e cultural. Livremente, ningum vai escolher

    seguir numa direo em que o ponto de chegada considerado pior que o ponto de partida

    (MANZINI e VEZZOLI, 2008, p. 45). Para tanto os autores defendem a necessidade de

    mudanas tecnolgicas para lidar com problemas de eficincia, e culturais para transformar os

    juzos de valores e os critrios de qualidade que interpretam a ideia de bem-estar.

    Como visto, h diversos conflitos em torno do conceito de desenvolvimento sustentvel ideal,

    assim como tambm empregos errneos do termo ainda em construo, inviabilizando sua

    implantao imediata e at mesmo em mdio prazo. Este somente ser atingido quando os

    vnculos de interdependncia (entre ambientais, sociais e econmicos), concebidos como

    essenciais para o bem-estar contnuo, forem estabelecidos de forma que no se agridam,

    garantindo a continuidade, no s das partes, mas do todo.

    Logo no se trata de aes pontuais, mas mltiplas aes, em um cenrio complexo,

    preservando cada vnculo, pois o desgaste de qualquer um destes compromete o sistema como

    um todo, tornando-o insustentvel.

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    Podendo assim afirmar que o desenvolvimento sustentvel s ser alcanado com o decorrer

    de uma transio baseada no desenvolvimento de aes responsveis que sejam coerentes

    entre si. Compreendendo, para tanto, neste artigo, como responsveis s aes conscientes

    para com suas causas e consequncias, que compreendam suas falhas, buscando evit-las

    constantemente e/ou repar-las.

    E, ao focar no sistema de produo e consumo, as empresas so apontadas como os atores

    sociais que detm os maiores recursos em influencia, organizao e capacidade para tomar

    iniciativas, tendo um papel central nesta transio (MANZINI e VEZZOLI, 2008, p. 73).

    Quanto necessidade de mudana, principalmente para com a viso das empresas, os autores

    Fialho et al. (2008, p. 50), afirmam que no apenas a legislao , ento, utilizada para

    regular as relaes das atividades econmicas com o meio, mas tambm uma srie de

    comportamentos de cunho ambiental por parte de consumidores impe padres produo, o

    que para os autores geram oportunidades de negcios, onde empresas perceberam no

    movimento ambientalista a possibilidade de estabelecer estratgias mercadolgicas.

    O importante que as organizaes entendam a importncia de fazer avaliaes

    de estratgicas nesse sentido, a fim de analisar os impactos das decises tomadas

    ao longo do processo de adaptao, especialmente no inicio do negcio, como o

    intuito de dar continuidade e de melhorar os produtos/servios oferecidos pela

    empresa, gerando vantagem competitiva (FIALHO et al., 2008, p. 91).

    Para Albuquerque e Oliveira (2009) as empresas que investirem em uma imagem mais

    responsvel, utilizando processos menos poluidores e colaborem para a preservao do

    ambiente, alm de manter seus recursos, ganham maior respeito perante consumidores.

    Moraes Filho (2009) corrobora afirmando que os desafios para com a sustentabilidade

    revelam oportunidades como economia de recursos e eliminao de desperdcios, melhoria do

    desempenho produtivo e ambiente de trabalho, cenrio favorvel inovao, comunicao de

    valores e satisfao de clientes.

    5. Gesto de Design como atividade colaborativa ao Desenvolvimento

    Sustentvel

    Antes de compreender a atividade da gesto de design, se faz interessante compreender,

    isoladamente, a atividade de design como um ativo no processo.

    5.1. Conceituao de Design

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    Segundo Mozota et al. (2011) e Melo Filho (2009) o termo design deriva do termo latino

    designare, traduzido como designar, desenhar, projeto e inteno, pressupondo

    sempre um plano, um objetivo, pois o design pode ser compreendido como uma atividade de

    resoluo de problemas, usando de criatividade e metodologia para tanto, sem se desvincular

    das restries e especificaes mercadolgicas, tecnolgicas e produtivas, sendo necessrias

    ponderaes para que haja equilbrio nas solues elaboradas.

    Moura (2009) concorda com a compreenso do design, atravs do sentido de designar, bem

    como a funo de desenvolver projetos e planos, e acrescenta que design trabalhar com a

    inteno, com o cenrio futuro, executando a concepo e o planejamento daquilo que vir a

    existir, e que neste contexto, desenvolve, elabora, implanta e acompanha projetos ao pesquisar

    e trabalhar com referncias culturais e estticas, lidando com a forma, configurao e funo.

    No entanto h uma dificuldade de consolidar o conceito de design, que, possivelmente, est

    no fato de o termo design e projeto pressuporem um objetivo varivel, que ser diferente

    de projeto para projeto. Permitiu-se, portanto, a subjetividade de cada estudioso ou

    profissional ao caracteriz-lo e defini-lo segundo a experincia que pode observar em prtica.

    Um exemplo de alternncia no foco do design ao longo da histria industrial como citado

    por Casas, Souza e Straioto (2010), onde o design passou por trs abordagens diferentes que

    assinalam a prpria cultura industrial e ps-industrial, passando de sua essncia funcionalista

    com foco no usurio, para uma abordagem ctica com foco mercadolgico, perante a

    necessidade de criar diferenciais frente ao aumento da concorrncia em um cenrio

    caracterizado pela produo especulativa e incertezas de investimento. E por ltimo e mais

    atual, uma abordagem sistmica e ecolgica, com foco no processo como um todo,

    assimilando a preocupao para com a sustentabilidade dos recursos ambientais, sociais e

    econmicos. Logo o design configura-se e expande-se segundo o que lhe destacado como

    objetivo para o projeto, de acordo com a problemtica a ser solucionada, quer seja do ponto

    de vista do usurio, do mercado ou da sociedade, construindo e se utilizando de bases

    metodolgicas que do suporte aos projetos de design em suas variaes.

    Martins e Merino (2011), afirmam que o objetivo do design consiste em pensar e pesquisar a

    coerncia do sistema de objetos, otimizando as solues bem como os processos que as

    envolvem, concebe marcas, espaos ou objetos para satisfazer necessidades especficas

    segundo um processo lgico. Bonsiepe (2011) acrescenta que esta atividade projetual pode ser

    empregada em outras atividades onde se busca solues inovadoras.

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    5.2. Relao entre Design e Sustentabilidade

    Quanto a incorporao do design como viabilizador do desenvolvimento sustentvel, Takara

    (2008, p. 48) ressalta que o desafio da sustentabilidade diz respeito a implement-la, tratando-

    se de uma questo de design, uma vez que 80% do impacto ambiental de um produto ou

    servio definido no estgio de projeto.

    Mozota et al. (2011, p. 45) defende que o design est assumindo este desafio, e afirma que o

    design para a sustentabilidade no se trata de fazer uma limpeza aps ter feito uma baguna,

    mas sim de projetar modos de eliminar o desperdcio e a desordem desde o princpio.

    O principal desafio do design na contemporaneidade , justamente, desenvolver

    e/ou suportar o desenvolvimento de solues em questes de alta complexidade,

    que exigem uma viso alargada do projeto, envolvendo produtos, servios e

    comunicao, de forma conjunta e sustentvel (KRUCKEN, 2009, p.1).

    Moraes Filho (2009) coloca, em seu discurso, o design como uma ferramenta que as empresas

    devem buscar para fazer com que os desafios da sustentabilidade tornem-se oportunidades.

    Quando apontada a necessidade de se tornar os projetos mais responsveis, caber ao design

    dedicar-se a esta aplicao, mas como visto anteriormente, esta fase de transio

    conflituosa, cabendo aos empreendedores que decidirem seguir e incentivar o

    desenvolvimento responsvel, rumo ao sustentvel, quer seja por tica, ideologia, normas e

    legislaes ou por foco oportuno, devero se valer de estratgias inovadoras, compreendendo

    a necessidade de se tratar problemas e solues sob a tica sistmica, verificando a

    importncia no s de objetos estticos, mas principalmente de fenmenos que envolvem e

    modificam este objeto ao longo do tempo.

    Empresas, processos produtivos e/ou produtos no podem ser considerados sustentveis por si

    s, pois, retomando o pensamento sistmico, as partes so dependentes de outras partes e,

    portanto, do todo. Cabe a estes, o desenvolvimento de aes responsveis, conjuntas,

    coerentes e contnuas para que atinjam a sustentabilidade do todo. Ficando claro que o

    objetivo futuro e distante devido complexidade, onde aes pontuais isoladas no so

    suficientes, sendo necessria a aplicao de estratgias que as embasem, e gesto que as

    coordenem rumo a ao objetivo comum da sustentabilidade.

    O design ento definido como uma disciplina colaborativa para com o desenvolvimento

    sustentvel, mas, destaca-se aqui em particular, sua forma otimizada, com o foco estratgico,

    que se d na gesto de design, apresentando-a, a seguir, como ferramenta mais adequada para

    a transio e viabilizao do desenvolvimento sustentvel.

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    5.3. Conceituao de Gesto de Design

    A gesto de design surgiu, ainda que voltada para a competitividade, da percepo de que a

    atividade de design pode contribuir para com a orientao empresarial atravs de seu carter

    projetual, no que diz respeito ao arranjo de fatores que determinem um trajeto inovador rumo

    a um objetivo. Enquanto a gesto vem contribuir para com o design permitindo-lhe aplicar

    ferramentas de decises, diagnsticos, articulao e coordenao para a eficcia dos projetos,

    inclusive de diversos projetos inter-relacionados (MARTINS e MERINO, 2008).

    A gesto de design embasa-se em projetos e em qualidade, visando contribuir para a mudana

    do comportamento e da viso coorporativa (MOZOTA et al., 2011, p. 91).

    A unio destas duas disciplinas, na formao do termo Gesto de Design, permite um maior

    alcance estratgico, dinmico e coordenado que visa construo de um ambiente favorvel

    inovao para grupos de projetos coerentes, paralelos e atemporais, com objetivos em comum.

    O design um processo que nunca termina, e sua gesto essencial para o sucesso da

    poltica de inovao de uma empresa (MOZOTA et al., 2011, p. 63- 64).

    DAjus (2003) coloca o processo da gesto como um gerenciador de recursos organizacionais

    para alcanar objetivos estabelecidos, envolvendo fatores como o planejamento, execuo,

    controle e aes corretivas, alm do direcionamento de pessoas para a obteno de resultados.

    Para Roda e Krucken (2004, p. 7) a gesto de design apresenta uma viso sistmica e

    integrada da atuao do designer nas organizaes, que fundamental para a coordenao das

    atividades e das vises estratgicas que mantm a organizao a curtos, mdios e longos

    prazos. Desta forma desempenha um papel na criao de sinergia organizacional.

    Wolf (1998) concorda que a gesto de design possui a funo de planejar e coordenar as

    estratgias correspondentes aos objetivos e valores da empresa, suas atividades consistem

    tambm na motivao de colaboradores e controladoria de trabalhos, assegurando o

    cumprimento das metas nos prazos e custos planejados.

    Magalhes (1997) compreende a gesto de design como aquela que analisa os fatores externos

    e internos empresa, buscando a integrao de setores. O mesmo prope que profissionais de

    diversos setores trabalhem juntos nas diferentes etapas de criao de um projeto, tendo em

    vista produtos mais funcionais e eficazes, que atendam exigncias de diversas reas.

    5.4. Gesto de Design voltada para o Desenvolvimento Sustentvel

    Observa-se que a Gesto de Design compartilha, de ao menos duas caractersticas, para com o

    desenvolvimento sustentvel:

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    a)- seu embasamento sistmico, que visa a integrao de diversos fatores em prol do

    funcionamento do todo, utilizando de uma viso cada vez mais abrangente e multidisciplinar;

    b)- seu carter estratgico, focado na continuidade, na otimizao dos fatores necessrias.

    Esta potencialmente colaborativa para com a sustentabilidade, no s por atuar sobre a

    produo, mas por poder atuar em decises em nveis corporativos, levando mudanas

    poltica interna e ao foco empresarial, permitindo-a empregar solues no apenas em

    produtos e comunicao grfica, mas tambm em ambientes internos, comunicao de

    valores, conscientizao, inovaes tecnolgicas e sociais, processos produtivos e elaborao

    de servios, integrando-as de maneira coerente, em um sistema de solues que forneam

    suporte umas as outras, tendo maior condio de responder aos conflitos da transio.

    A aplicao de conceitos de gesto ao design permite o uso de ferramentas como a

    estruturao administrativa de aes em nveis estratgico, ttico e operacional (MARTINS e

    MERINO, 2008). Faz-se aqui, ento, uma explanao destes nveis segundo sua aplicao na

    gesto de design voltada para o desenvolvimento sustentvel.

    Como se trata de uma estruturao, para fins administrativos, importante ressaltar que a

    gesto de design no se dissocia dos trs nveis, e sim estando em cada nvel e entre eles, no

    intuito de t-los como um todo, articulando-os e coordenando-os (figura 01), tal como

    tambm a face que deve estabelecer contato com outros setores e disciplinas. Esta forma de

    verificar as aes em nveis permite um maior acompanhamento do conjunto de projetos

    estipulados pelo objetivo geral, segundo os prazos que lhes cabem, facilitando o detalhamento

    e verificao de acertos e falhas. Os nveis de design e suas funes so:

    Nvel estratgico Trabalha com aes que visam resultados em longo prazo. Determina

    o objetivo. Escolhe uma direo, em vez de outra. Toma decises que a compromete com

    um conjunto particular de aes e com um padro de decises subsequentes refletindo,

    ento, seu comprometimento continuo em determinada direo (SLACK, CHARNBERS

    e JOHNSTON, 2002). Faz planejamento (controle, prazos, pessoal, recursos para os

    projetos). Tem ao catalisadora e pensamento global. Monitora os problemas e

    prospeces de oportunidades (MARTINS e MERINO, 2008). Para com a

    sustentabilidade, o nvel onde esta ser estipulada como objetivo, reunindo informaes

    para ter critrios de deciso, definindo o que ideal, adequado e/ou errado para com o

    objetivo, diagnosticando as atividades dos demais nveis, traando caminhos viveis.

    Nvel ttico Trabalha com prazos mdios em um grupo de projetos organizados por

    correlao direta segundo uma determinada meta originada como parte da estratgia.

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    Articula informaes especificas. intermedirio entre os nveis estratgico (objetivo

    geral) e o operacional (aes pontuais e submetas). Para com o desenvolvimento

    sustentvel, este nvel colabora projetando um conjunto de solues diretamente

    relacionadas o que permite o desenvolvimento de especialidades. Possui um carter

    motor uma vez que intermedirio e subsequente. Promove projetos responsveis para

    alcanar a sustentabilidade.

    Nvel operacional Atua com curto prazo e projetos pontuais detalhados. Os projetos

    elaborados neste nvel fazem cumprir as metas do nvel ttico, portanto so submetas.

    Opera etapas voltadas a um nico projeto/soluo (MARTINS e MERINO, 2008). No

    cenrio de transio, este nvel realizar projetos pontuais focados na responsabilidade.

    Figura 01 - dos autores. Adaptado de: SLACK, CHARNBERS e JOHNSTON, 2002.

    A figura 02 ilustra a aplicao de algumas aes segundo seus nveis para melhor

    compreenso da estruturao de gesto de design com foco no desenvolvimento sustentvel.

    Trata-se de um exemplo ilustrativo, onde foram escolhidas aes, defendidas por autores de

    design, voltadas para uma estratgia de desenvolvimento sustentvel. Reconhece-se que as

    aes no se limitam a apenas estas, muito pelo contrrio, como visto a gesto de design

    busca ampliar sua atuao para cada vez mais se aproximar do objetivo estratgico.

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    Neste exemplo coloca-se uma empresa que tem como objetivo promover o desenvolvimento

    sustentvel, que como visto anteriormente, trata-se de um objetivo estratgico. Logo esta deve

    buscar (continuadamente) conceituar o termo sustentabilidade reunindo informaes que lhe

    serviro de guia para caracterizar seu objetivo, diagnosticar sua atuao e oportunidades

    encontrando bases para coordenar e viabilizar este processo atravs de projetos diversos.

    Figura 02 Ilustrao de possveis aes organizadas em nveis de Gesto de Design. Dos autores.

    No nvel ttico, descrevem-se trs focos de projetos segundo trs metas estipulados pela

    estratgia como fundamentais para viabiliz-la. Estes geram, por sua vez, conjuntos de

    projetos/submetas que sero articulados em aes pontuais no nvel operacional, que dever

    gerar solues responsveis para com o desenvolvimento sustentvel.

    No exemplo ilustrativo, o primeiro foco de projeto ttico visa anlise de ciclo de vida de

    produtos e/ou servios, segundo Manzini e Vezzoli (2008), esta se refere a verificar a relao

    entre o ambiente e o conjunto de processos que acompanham o nascimento, vida e a

    morte de um produto, passando ento pela pr-produo, produo, distribuio, uso e

    descarte. Este tem como objetivo identificar os impactos ambientais gerados pelo produto

    buscando intervenes no projeto ou via outros projetos (processos, servios, polticas

    externas, entre outros) para que se possa melhorar seu grau de eco-eficincia, havendo, assim,

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    uma serie de aes que configuram um conjunto de projetos responsveis e contnuos em prol

    desta meta e que sero desenvolvidas no nvel operacional com maior detalhamento.

    O segundo foco de projeto ttico refere-se criao de um ambiente empresarial inovador

    responsvel, uma vez que se compreende a necessidade de novas solues tecnolgicas e

    sociais para promover o desenvolvimento sustentvel, pois este depender de mudanas

    (MANZINI e VEZZOLI, 2008).

    O terceiro foco de projeto em nvel ttico refere-se construo do valor de marca da

    empresa, tratando-se de cultivar valores internos como diferenciais e comunic-los ao pblico

    alvo, com coerncia e eficcia, identificando e destacando a empresa no mercado (MOZOTA

    et al., 2011). Busca-se, ento a criao de uma relao saudvel entre funcionrios, empresa e

    sociedade. Uma forma de ampliar tal relao a disseminao de valores, que no caso da

    sustentabilidade se d na promoo da conscientizao, onde a empresa que se apresentar

    como responsvel ganhar destaque e a oportunidade de ampliar seu pblico.

    A figura 03 (uma explanao didtica da figura 02) ilustra a importncia da gesto de design

    como mantenedora da coerncia entre projetos, demonstrando a relao de interdependncia

    entre eles, tanto verticalmente (entre nveis, das partes para o todo), quanto horizontalmente

    (entre aes e grupos de aes). As relaes e comunicaes entre projetos devem estar

    sempre presente, respeitando a particularidade de cada qual, mas mantendo-os sob o objetivo

    estratgico. Pois, com o emprego de uma gesto adequada, as solues de um projeto

    fornecem bases para dinamizar os demais projetos, j que possuem um objetivo comum,

    estando diretamente interligados. Da mesma forma, se houver falhas em um projeto, ou

    submetas conflitantes, esses prejudicaram os demais projetos e o objetivo geral.

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    Figura 03 Explanao ilustrativa de relaes interdependentes sob a gesto de design - dos autores.

    Sucintamente, neste exemplo demonstra-se que o objetivo estratgico gerou a meta ttica de

    inovao responsvel, que por sua vez articulou em nvel operacional, uma srie de aes,

    como a de projetar ferramentas para o gerenciamento de informaes. Considerando o sucesso

    deste projeto, ele ir refletir no contedo de informaes a serem transmitidas interna e

    externamente, podendo se aproveitar desta para estimular a conscientizao, que por sua vez

    facilita a logstica reversa do produto consumido, contando com a colaborao do

    consumidor, viabilizando a reciclagem do material e a economia de recursos.

    Este apenas um exemplo de como a gesto de design pode usar de diversos projetos

    responsveis interligando-os para consolidar um objetivo de longo prazo. Certamente os

    efeitos de causa e consequncia dentro do processo produtivo podem ir alm e gerar um

    conjunto sistmico de solues capazes de responder aos conflitos que inviabilizam a

    transio, afirmando a gesto de design como uma disciplina contribuinte para com o

    desenvolvimento sustentvel, atuando nos processos de produo, comunicao e consumo.

    6. Consideraes Finais

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    Ainda que o debate sobre a transio entre os princpios produtivos capitalistas lineares e de

    desenvolvimento sustentvel meream uma continuidade aprofundada, neste artigo pode-se

    evidenciar a necessidade de uma postura rumo sustentabilidade, uma vez que o capitalismo

    j no corresponde s expectativas de bem-estar socioambiental e socioeconmico.

    Observou-se que o desenvolvimento sustentvel baseia-se no pensamento sistmico visando,

    nos vnculos de interdependncia, a essncia para o bem-estar contnuo da sociedade.

    Trata-se, porm, de um conceito idealista, ainda no viabilizado perante conflitos de

    interesses, que deixam o conceito de sustentabilidade por ser claramente debatido. Logo,

    trata-se de um objetivo de longo prazo, necessitando-se de um perodo transitrio, que gere

    solues tecnolgicas e culturais em resposta aos conflitos.

    Nesta transio, segundo o pensamento sistmico, clareou-se que aes isoladas no so

    suficientes, e no podem ser declaradas sustentveis. De forma que as aes devem ser

    responsveis, conjuntas, continuas e coerentes para com os princpios da sustentabilidade,

    para assim viabiliz-la. Colocando o sistema produtivo como um ator de potencial impacto

    ambiental, social e econmico, sendo essencial para a dinmica de conscientizao.

    Aps a evidenciao da relevncia dos conceitos de produo e de desenvolvimento

    sustentvel, afirmou-se a gesto de design como uma disciplina apta a desenvolver estratgias

    com foco sustentvel, articulando projetos responsveis e interdependentes em nveis ttico e

    operacional, coordenando-os com coerncia para formar um conjunto de solues capazes de

    responder aos desafios e conflitos no cenrio de transio, vislumbrando oportunidades e

    inovaes tecnolgicas e culturais.

    Este estudo conclui, ento, seu objetivo de contribuir para com o discurso da gesto de design,

    destacando-a como uma ferramenta empresarial capaz de articular estratgias e projetos que

    viabilizem a transio. E ainda, este, coloca-se como uma proposta introdutria a continuao

    do debate atravs de novos estudos que contribuam com o tema, como, por exemplo, estudos

    sobre aes estratgicas, tticas e operacionais de design, que aqui no se pde dar um maior

    aprofundamento, mas que so essenciais para o desenvolvimento de aes responsveis.

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